LIVRO DE CIRURGIA TORÁCICA DA SBCT

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A ANESTESIA PARA CIRURGIAS TORÁCICAS Artur Burlamaque (*) Fábio Amaral Ribas (**) Muitos foram os avanços introduzidos em anestesia para cirurgia torácica nos últimos sessenta anos. Iniciando com a utilização da ventilação por pressão positiva intermitente em 1938, passando pelas técnicas de isolamento e ventilação monopulmonar nas décadas de 50 e 60, pela analgesia peridural na década 80 e chegando a complexa individualização das técnicas empregadas para o transplante de pulmão e para a  pneumoplastia na década de 90. Além destes marcantes eventos, outros tantos aconteceram, convergindo para as rotinizações das técnicas de monitorização, intubação, analgesia pós-operatória, acessos venosos, entre outros, os quais vieram a dar qualidade e, principalmente, segurança a  procedimentos utilizados. É intenção deste capítulo descrever alguns destes conhecimentos e rotinas estabelecidas. 1. ISOLAMENTO PULMONAR 1.1. Indicações As indicações para utilização de dispositivos para o isolamento pulmonar estão listadas no Quadro 1. Com exceção das toracoscopias, todas relacionadas no item de exposição cirúrgica são indicações relativas. A utilização, cada vez mais abrangente, tem sido a regra. Isto se deve a vários fatores, entre eles a diminuição do tempo e trauma cirúrgicos e por outro lado, o baixo índice de complicações graves decorrentes da utilização destes dispositivos por pessoal experiente.

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  • A ANESTESIA PARA CIRURGIAS TORCICAS

    Artur Burlamaque (*)

    Fbio Amaral Ribas (**)

    Muitos foram os avanos introduzidos em anestesia para cirurgia torcica nos

    ltimos sessenta anos. Iniciando com a utilizao da ventilao por presso positiva

    intermitente em 1938, passando pelas tcnicas de isolamento e ventilao monopulmonar

    nas dcadas de 50 e 60, pela analgesia peridural na dcada 80 e chegando a complexa

    individualizao das tcnicas empregadas para o transplante de pulmo e para a

    pneumoplastia na dcada de 90.

    Alm destes marcantes eventos, outros tantos aconteceram, convergindo para as

    rotinizaes das tcnicas de monitorizao, intubao, analgesia ps-operatria, acessos

    venosos, entre outros, os quais vieram a dar qualidade e, principalmente, segurana a

    procedimentos j utilizados. inteno deste captulo descrever alguns destes

    conhecimentos e rotinas estabelecidas.

    1. ISOLAMENTO PULMONAR

    1.1. Indicaes

    As indicaes para utilizao de dispositivos para o isolamento pulmonar esto

    listadas no Quadro 1. Com exceo das toracoscopias, todas relacionadas no item de

    exposio cirrgica so indicaes relativas. A utilizao, cada vez mais abrangente, tem

    sido a regra. Isto se deve a vrios fatores, entre eles a diminuio do tempo e trauma

    cirrgicos e por outro lado, o baixo ndice de complicaes graves decorrentes da utilizao

    destes dispositivos por pessoal experiente.

  • Quadro 1- Indicaes para a Anestesia Monopulmonar 1.Controle de secrees Abscesso Bronquiectasias Hemoptise Cisto Hidtico 2. Controle de via area Fstula broncopleural Resseco brnquica sem coto 3. Exposio cirrgica Resseco pulmonar Cirurgia esofgica Cirurgia artica Toracoscopia 4. Procedimentos especiais Lavagem pulmonar Ventilao diferencial Embolectomia pulmonar Modificado de Wilson SR-1997 (1)

    1.2. Descrio dos dispositivos

    Os dispositivos capazes de realizar o isolamento pulmonar so os bloqueadores

    brnquicos, os tubos endobrnquicos e os tubos de duplo lmen. No Quadro 2 esto

    relacionados alguns tipos destes dispositivos.

    Os tubos de duplo lmen so os mais utilizados em adultos, disponveis na forma

    descartvel e reutilizvel (borracha vermelha), a partir da numerao 26 at a 41. Os tubos

    hoje comercializados tm algumas diferenas dos descritos originalmente, tendo sido

    gradualmente descaracterizados e recebendo outras denominaes conforme o seu

    fabricante.

    Em 1982 se tornou disponvel o tubo de Univent, que se caracteriza por um tubo

    simples com um pequeno lmen coaxial, por onde introduzido um bloqueador brnquico.

  • Para adultos, so comercializados nos dimetros de 6.0 9.0 e para uso peditrico nos

    dimetros de 3.5 e 4.5.

    Em pediatria, os bloqueadores brnquicos so os mais utilizados, especialmente o

    de Fogarty, associados aos tubos simples traqueais.

    Atualmente esto disponveis os bloqueadores de Arndt, que comercializado

    associado a um peca de conexo para ventilao e broncoscopia e o bloqueador de Cohen,

    no qual pode ser ajustado um torque para facilitar o seu posicionamento (2,3). A extenso

    dos dimetros destes bloqueadores para uso peditrico desde 2001, provavelmente

    diminuir o uso do bloqueador de Fogarty nos prximos anos.

    Quadro 2- Dispositivos para as Vrias Tcnicas de Isolamento 1. Bloqueadores brnquicos

    Maguill Fogarty Foley Tubo Univent Arndt Cohen

    Tubos endobrnquicos de lmen simples Macintosh-Leatherdale (esquerdo) Gordon-Green (direito)

    Tubos endobrnquicos de duplo lmen Carlens (esquerdo) White (direito) Robertshaw (esquerdo e direito) Descartveis - vrios fabricantes (esquerdo e direito)

    Modificado de Kaplan JA 1991 (4)

    1.3. Seleo do dimetro do tubo

    A correta seleo do dimetro do tubo de fundamental importncia para a

    profilaxia das complicaes decorrentes do seu uso. Um tubo muito fino em relao ao

    brnquio, alm de freqentemente no se posicionar de forma correta, necessita de grandes

  • volumes de ar nos balonetes, criando grandes presses e possibilidade de dano brnquico.

    Por outro lado, um tubo muito largo pode traumatizar a rvore traqueobrnquica durante a

    introduo, bem como pode ter o posicionamento difcil de ser realizado.

    Brodsky JB, em 1996 (5), descreveu uma tcnica de escolha do dimetro do tubo

    baseado no dimetro da traquia medido no Rx pstero-anterior de trax, nvel da

    clavcula. O resultado da medida aplicado na Tabela 1, obtendo-se o tamanho adequado

    do tubo. A despeito deste mtodo, muitos anestesiologistas utilizam regras prticas

    baseadas em sua experincia. Os tubos de Carlens nmeros 39 e 41 so adequados para a

    grande maioria dos homens, enquanto que os nmeros 35 e 37 para a grande maioria das

    mulheres.

    Tabela 1- Escolha do Dimetro do Tubo de Duplo Lmen Esquerdo (TDLE) Dimetro medido Dimetro predito do Dimetro Dimetro externo da traquia(mm) brnquio esq.(mm) do TDLE do lume esq.(mm) >18 >12.2 41Fr 10.6 16-17 >10.9 39Fr 10.1 15 >10.2 37Fr 10.0

  • 3-Hipoxemia.

    4-Disfonia ps-operatria.

    5-Odinofagia ps-operatria.

    6-Leses de dentes e partes moles orais.

    7-Leso esofgica.

    As complicaes graves so raras. A imunossupresso, a corticoterapia e as leses

    traqueais e brnquicas prvias, principalmente as invases tumorais, contribuem para a

    ocorrncia de uma das complicaes mais graves que a ruptura brnquica ou traqueal. A

    mortalidade desta leso de 7 16% (6). O conjunto dos estudos realizados at o momento,

    no permite que se conclua pela superioridade de um tubo em relao outro. Os relatos de

    ruptura traqueobrnquica esto presentes com o uso dos dois tipos de tubos. Fitzmaurice(6),

    props que sejam observadas as seguintes recomendaes para a profilaxia destas leses:

    a. Inflar os balonetes lentamente.

    b. No inflar demasiadamente o balonete brnquico. Normalmente 2 ou 3ml so

    suficientes se o tubo foi corretamente selecionado.

    c. Quando possvel, evitar o uso de xido Nitroso (N2O) ou inflar os balonetes

    com uma mistura de N2O e oxignio.

    d. Quando possvel, desinflar ambos os balonetes no posicionamento e o balonete

    brnquico quando no necessrio o isolamento.

    e. Testar a integridade do brnquio ao final do procedimento, para o diagnstico

    precoce.

    2. FISIOLOGIA DO DECBITO LATERAL E DA VENTILAO

    MONOPULMONAR

    2.1.Distribuio da ventilao e da perfuso

  • Na posio vertical, em funo da existncia de presses pleurais mais elevadas nas

    bases provocadas pela gravidade, os alvolos da base pulmonar se encontram mais

    "comprimidos". Isto significa que estes alvolos se encontram em uma regio da curva de

    complacncia mais favorvel ao enchimento. Portanto, os alvolos da base recebem maior

    ventilao em comparao aos do pice pulmonar. Por sua vez a perfuso, em funo da

    gravidade, maior nas bases do que nos pices. Nas bases h ainda maior perfuso do que

    ventilao e nos pices h ainda menor perfuso do que ventilao, fazendo com que exista

    uma relao V/Q global de 0,8.

    Da mesma forma, quando o paciente se encontra em decbito lateral, o pulmo

    inferior recebe maior ventilao e perfuso que o superior. Na realidade o pulmo inferior

    faz as vezes das regies basais e o superior das regies mais apicais.

    Quando o paciente anestesiado e o trax aberto, diversas foras incidem sobre o

    pulmo inferior, comprimindo-o ainda mais. Com isso os alvolos deste pulmo passam a

    uma posio desfavorvel da curva de complacncia, recebendo menor ventilao que o

    superior. Ver Figura 1.

    2.2.Ventilao monopulmonar

    Quando passamos ventilao monopulmonar, o pulmo superior (no dependente)

    colaba e a perfuso neste pulmo, devido vasoconstrio hipxica e a diminuio do

    dimetro dos vasos pelo colabamento, diminui muito, evitando o shunt e a queda da

    saturao de oxignio da hemoglobina.Vrios so os fatores que podem alterar este estado

    de equilbrio. Entre eles se encontram: altas concentraes de vapores anestsicos

    halogenados, drogas vasodilatadoras, alteraes V/Q no pulmo inferior (dependente),

    extremos da PaCO2, volume corrente ou PEEP demasiados no pulmo dependente,

  • Figura 1- Distribuio da Ventilao Posio Vertical Decbito Lateral Acordado Volume A B Presso

    Acordado Anestesiado Volume B Presso C Anestesiado Anestesiado Trax Fechado Trax Aberto Pab Pmed Volume Pab C Presso D Modificado de Benumof JL 1995 (7)

  • Figura 2- Experincia Anestsica e a VCH Regional Compartimento Compartimento Normxico Hipxico

    1.PEEP 9. DROGAS VASODILATADORAS 2.PACO2 8.DROGAS 3.FIO2 ANESTSICAS 4.DROGAS 7.CPAP VASOCONSTRITORAS

    5.PVP 6.PVP Modificado de Benumof JL- 1995 (7)

    alteraes da saturao de oxignio do sangue venoso misto, drogas vasoconstritoras. Os

    mecanismos para as alteraes so diversos, incluindo inibio da vasoconstrio hipxica,

    compresso mecnica de capilares com desvio do fluxo, passagem de um sangue venoso

    muito dessaturado por um shunt de pequena magnitude, entre outros. A Figura 2 ilustra

    alguns destes diversos fatores. O conhecimento da dinmica destes fatores tem grande

    importncia prtica para o anestesiologista torcico.

    2.3. Manejo da ventilao monopulmonar(VMP)

    Existem algumas recomendaes bsicas para o manejo da ventilao

    monopulmonar. Estas so(7):

    a. Manter ventilao bipulmonar o maior tempo possvel.

    b. Usar FIO2 de 100%.

    a. Utilizar 8 10ml/Kg de volume corrente.

  • b. Ajustar a freqncia respiratria para PaCO2 de 40mmHg.

    c. Monitorizar oxigenao e ventilao.

    No caso da ocorrncia de hipoxemia, as recomendaes a serem seguidas so (7,8):

    a. Certificar-se do correto posicionamento do tubo.

    b. Utilizar CPAP no pulmo no dependente.

    c. Utilizar PEEP no pulmo dependente.

    d. Utilizar ventilao bipulmonar intermitente.

    e. Clampeamento da artria pulmonar (na pneumonectomia).

    O CPAP no pulmo no dependente com nveis de presso entre 5 e 10cmH2O,

    usualmente no compromete o campo operatrio. Sua funo tanto comprimir vasos

    pulmonares divergindo o fluxo para o pulmo ventilado, como promover oxigenao do

    fluxo de sangue do pulmo no ventilado.

    O PEEP no pulmo dependente tem funo de recrutamento de alvolos que, como

    descrevemos anteriormente, esto "comprimidos". S ser benfico se houverem reas de

    baixo V/Q no pulmo inferior. Nveis muito elevados podem divergir o fluxo de sangue

    para o pulmo no ventilado, aumentando o shunt.

    Atualmente tem sido enfatizada a adoo de medidas profilticas da leso pulmonar

    secundria a presses inspiratrias elevadas (volutrauma). Assim, Grichnik(9), sugere que a

    estratgia proposta inicialmente por Amato(10), de limitar as presses inspiratrias na sara,

    dentro da possibilidade, deve tambm ser adotada para a ventilao monopulmonar

    A utilizao de ventilao com presso controlada (PCV) pode ser vantajosa para a

    estratgia de proteo pulmonar durante a VMP. Como j foi mencionado, limitando-se as

    presses inspiratrias podemos contribuir para a diminuio do dano mecnico pulmonar.

    Alm disso, com o padro em desacelerao do fluxo, a distribuio do gs pode

  • melhorar(11). Tugrul(12), comparou o uso de ventilao controlada a volume(VCV) com a

    PCV durante a VMP e encontrou que as presses inspiratrias e o shunt foram maiores na

    VCV do que na PCV.

    Um aspecto que na prtica eventualmente transgride as recomendaes bsicas para

    a VMP, o valor da PaCO2. De fato, durante a VMP em um paciente com uma doena

    obstrutiva grave, pode ser extremamente difcil a manuteno de uma PaCO2 normal. Alm

    disso, essa tentativa entra em conflito com a estratgia de limitar as presses inspiratrias

    descritas anteriormente. A experincia mundial com a hipercapnia permissiva, tem

    demonstrado a sua segurana e esta tem sido proposta tambm para a VMP em pacientes

    com doena obstrutiva grave (9).

    BRONCOSCOPIA RGIDA

    A broncoscopia rgida um procedimento indicado para uma variedade de situaes,

    que incluem a remoo de corpo estranho traqueobrnquico, o manejo da hemoptise, a

    dilatao da estenose traqueal e como auxiliar na colocao de prteses em "T"

    (Montgomery).

    O procedimento exige anestesia geral com boa qualidade de relaxamento muscular.

    Isto facilita a execuo, com menor trauma ao paciente. Como a maioria dos procedimentos

    rpida, existe a preferncia por drogas que permitam uma rpida recuperao.

    O relaxamento promovido, naturalmente implica na necessidade de ventilao do

    paciente. Os broncoscpios rgidos possuem uma entrada lateral que permite a adaptao

    aos sistemas ventilatrios. Pode-se ventilar o paciente de forma convencional ou utilizar

    ventilao de alta freqncia. H sempre um escape de gs de intensidade varivel entre as

    paredes do instrumento e as da traquia, o que pode ser compensado com altos fluxos de

  • admisso ao circuito anestsico. A Figura 3, ilustra um broncoscpio rgido devidamente

    adaptado ao sistema ventilatrio anestsico.

    Para a realizao de bipsia, aspirao ou captura de um corpo estranho, h a

    necessidade de retirada da pea de visualizao que oclui o orifcio de entrada. O

    anestesiologista e o cirurgio integram-se, neste momento, na funo de administrar os

    perodos de apnia necessrios. Estes perodos podem ser bastante reduzidos em pacientes

    obesos, pneumopatas e crianas.

    Figura 3- Ventilao Atravs do Broncoscpio Rgido Grande Escape Areo se Escape Areo Varivel a Pea de Visualizao entre o Broncoscpio e

    Removida a rvore Traqueobrnquica Pea de Visualizao Entrada Lateral do Broncoscpio Conector Flexvel Sistema Circular de Anestesia Modificado de Benumof JL-1995 (7)

  • As complicaes decorrentes tm freqncia varivel dependendo da experincia do

    cirurgio. Estas incluem as fraturas de dentes, as reaes vasovagais com a hiperextenso

    do pescoo, a hemorragia macia, a ruptura traqueal, a hipoxemia, a hipercarbia grave e as

    arritmias. O anestesiologista deve estar preparado para elas.

    Ao final do procedimento aguarda-se a recuperao do paciente com ventilao

    atravs de uma mscara, um tubo simples ou uma cnula em "T" colocada em uma

    traqueostomia.

    4. MEDIASTINOSCOPIA

    A mediastinoscopia usualmente realizada para estabelecer diagnstico de diversas

    patologias e ou estadiamento de uma neoplasia. Pode ter acesso cervical ou paraesternal. As

    contra-indicaes a sua realizao incluem a mediastinoscopia prvia, a sndrome da veia

    cava superior, o desvio severo da traquia, a doena cerebro-vascular e o aneurisma de

    aorta torcica. Estas podem ser relativas conforme a individualizao do caso.

    A tcnica anestsica preferida para este procedimento a geral, para facilitar a

    disseco, para melhor controle das complicaes e maior conforto para o paciente.

    Entretanto, existem outras tcnicas descritas para situaes especficas, menos utilizadas

    atualmente. Assim, Morton (13), relatou a possibilidade de realizao da mediastinoscopia

    com anestesia local e Benumof (7), cita a anestesia local como possibilidade para os

    pacientes com doena cerebro-vascular, para o controle do estado neurolgico.

    No existe a necessidade de drogas anestsicas especficas ao procedimento, sendo

    importante que o paciente seja mantido relaxado, para evitar a tosse pelo estmulo traqueal

    e para a completa imobilidade, fator importante na reduo das complicaes. Estas so:

    a. Hemorragia.

    b. Pneumotrax.

  • c. Embolia area.

    d. Compresso da aorta (arritmias).

    e. Compresso da artria inominada (hemiparesia e perda do pulso radial direito).

    f. Compresso da traquia.

    g. Leso do nervo larngico recorrente.

    h. Leso do nervo frnico.

    i. Leso do esfago.

    Segundo Ashbaugh (14), as complicaes mais freqentes so a hemorragia (32%), o

    pneumotrax (28%), e a leso do nervo larngico recorrente (14%). A incidncia global de

    complicaes foi 1,5 3% e a mortalidade 0,1%.

    Durante o procedimento o anestesiologista tem sua ateno voltada para o

    diagnstico e tratamento de eventuais complicaes. Um cateter de grosso calibre em uma

    veia perifrica deve ser instalado para reposio rpida de volume e sangue. O sangue deve

    estar previamente disponvel para utilizao imediata no caso de hemorragia aguda. A

    correo cirrgica da hemorragia grave se d atravs de uma toracotomia transesternal ou

    lateral. Roberts(15), cita a possibilidade da realizao de hipotenso controlada para o

    sangramento arterial at a hemostasia cirrgica. Nas leses de cava superior necessria a

    cateterizao emergencial de uma veia para reposio nos membro inferiores. A utilizao

    de um tubo simples com extremidade distal prxima a carina ou um tubo de duplo lmen,

    minimiza a possibilidade de compresso traqueal e orienta o cirurgio na disseco. Deve-

    se ter o cuidado de colocar pelo menos um monitor, oxmetro ou presso arterial invasiva,

    no membro superior direito, para deteco da compresso da artria inominada e portanto

    diminuio do fluxo para cartida direita. A oximetria um monitor menos eficiente neste

    caso, pois necessrio apenas um pequeno fluxo para o seu funcionamento.

  • 5. RESSECO TRAQUEAL

    A resseco traqueal realizada em pacientes portadores de patologias segmentares

    da traqueia de diversas etiologias, como os tumores da via area, as seqelas de processos

    inflamatrios e as seqelas das intubaes traqueais. O acesso cirrgico pode ser realizado

    por cervicotomia, esternotomia ou ainda por toracotomia lateral.

    Na monitorizao utilizada a oximetria e a capnometria para controle indireto, mas

    instantneo, dos gases arteriais, a eletrocardioscopia e uma linha de presso arterial

    invasiva para controle contnuo da presso, e eventuais gasometrias arteriais.

    prudente a utilizao de um acesso venoso de grosso calibre (16 ou 14) para

    eventuais sangramentos. O acesso venoso central til, principalmente para o ps-

    operatrio.

    Antes da induo da anestesia a posio, tipo, e grau da estenose so fatores que

    devem ser conhecidos. A presena do cirurgio e do material cirrgico pronto para

    intervenes emergenciais vital. O anestesiologista deve ter disponvel, junto a todo

    material de instrumentao da via area, uma ampla variedade de dimetros de tubos

    traqueais.

    Na induo um relaxante de curta latncia e durao aconselhvel, pois a

    ventilao sob mscara pode tornar-se difcil e na impossibilidade de intubao, o paciente

    rapidamente recupera-se e volta a ventilar espontaneamente.

    O estabelecimento da via area pode ser feito de diversas formas aps a induo.

    Estas incluem:

    a. Colocao de um tubo simples com extremidade cranial estenose.

    b. Dilatao com broncoscpio rgido, e colocao de um tubo simples com

    extremidade caudal estenose.

  • c. Colocao de um tubo fino com extremidade caudal estenose sem prvia

    dilatao.

    Dentre as tcnicas descritas para manuteno da ventilao e oxigenao durante a

    resseco encotram-se:

    a. Tubo oro-traqueal standart.

    b. Insero de um tubo na traquia aberta.

    c. Ventilao de alta freqncia com tubo fino atravs da estenose.

    d. By-pass cardio-pulmonar.

    Na Figura 4 esto ilustrados os passos progressivos de resseco com uma tcnica

    bastante empregada. A traquia aberta, um tubo colocado distalmente para ventilao, a

    resseco completa realizada e a sutura posterior feita. O tubo oro-traqueal avanado e

    a anastomose completada. Perodos de apnia so eventualmente realizados, retirando-se

    os tubos do campo operatrio, principalmente na realizao da sutura posterior. Nas

    resseces prximas ou na carina traqueal, necessrio um tubo distal no brnquio, com

    ventilao monopulmonar.

    A existncia de perodos de apnia contra-indica o uso do xido nitroso para a

    manuteno da anestesia. A utilizao de FIO2 de 100% aumenta os tempos de tolerncia

    s apnias. A manuteno do paciente relaxado durante a cirurgia evita o reflexo de tosse

    que ocorre pela manipulao da via area e diminui a necessidade de outros anestsicos.

    No final do procedimento o paciente deve ser mantido com a cabea fletida para

    evitar a tenso sobre a anastomose. Extubao precoce altamente desejvel. Se for

    necessria a manuteno do tubo traqueal no ps-operatrio, este deve ser posicionado de

    forma que o balonete no fique sobre a linha de anastomose.

  • Figura 4- Passos Seguidos na Resseco Traqueal (A-D) A B C D Modificado de Benumof JL-1995 (7)

    6. RESSECO PULMONAR

    As resseces pulmonares (segmentectomias, lobectomias e pneumonectomias), so

    realizadas para uma grande variedade de patologias. Os processos diansticos e

    teraputicos das neoplasias e das alteraes inflamatrias so a sua maioria. Os pacientes

    com freqncia so idosos, apresentam patologias pulmonares prvias e as alteraes

    cardiovasculares concomitantes so freqentes (4).

    A monitorizao utilizada consiste de eletrocardioscopia, oximetria, capnografia,

    presso arterial invasiva, presso inspiratria e termometria.

    Os acessos venosos utilizados consistem do cateterismo de uma veia perifrica de

    grosso calibre (14F ou 16F) e uma veia central. A veia perifrica bem como a puno

    arterial, ficam melhor posicionadas no membro contra-lateral cirurgia. A puno da veia

  • central no lado da toracotomia, evita os riscos de um eventual pneumotrax contra-lateral.

    As drogas anestsicas so individualizadas condio clnica do paciente.

    A via area usualmente mantida com um tubo de duplo lmen, o que facilita o

    campo operatrio e diminui o trauma e o tempo cirrgicos. Para maiores detalhes sobre o

    isolamento pulmonar e a ventilao monopulmonar ver as seces correspondentes.

    A maioria das resseces pulmonares realizada atravs de toracotomias laterais. A

    posio adotada requer cuidados para evitar as leses mais frequentes. Estas so a leso do

    plexo braquial, a leso do nervo tibial anterior, a leso peniana, a leso do membro superior

    que fica comprimido contra a mesa cirrgica e as queimaduras (7).

    A possibilidade de dano por estiramento do plexo braquial maior quanto maior for

    a supinao, a abduo, a posteriorizao e a extenso do membro superior. Alm disso, a

    incorreo do eixo da cabea com o eixo das colunas torcica e cervical, no plano

    horizontal, fator predisponente para a mesma leso. O suporte de apoio do brao superior,

    com freqncia causa leso por compresso do plexo. As regies com maior freqncia de

    queimaduras esto localizadas no membro inferior que fica flexionado e prximo das

    bordas descobertas da mesa metlica. O coxim na axila inferior evita a compresso do

    membro sobre a mesa e assegura adequado fluxo sanguneo para o mesmo.

    A integrao do anestesiologista com o cirurgio nos diversos tempos cirrgicos,

    com a visualizao direta do campo e eventual ventilao manual fundamental.

    Na recuperao, deve-se evitar a ventilao espontnea at que o trax esteja

    fechado e os drenos estejam conectados em selo d'gua. Caso isso no seja observado, o

    balano de mediastino e a ventilao paradoxal resultaro em conseqncias

    hemodinmicas e gasomtricas que podem ser srias. A ventilao expontnea e a

    extubao so desejveis ao final do procedimento. Caso seja necessrio suporte

  • ventilatrio, o tubo de duplo lmen trocado por um tubo simples.

    As complicaes ps-operatrias incluem (7):

    a. Dor aguda.

    b. Hrnia cardaca.

    c. Hemorragia maior.

    d. Fstula brnquica.

    e. Insuficincia respiratria.

    f. Insuficincia cardaca direita.

    g. Shunt atravs de forme oval patente.

    h. Arritmias.

    i. Injrias nervosas.

    Todas so tambm de interesse do anestesiologista e este deve estar familiarizado com seus

    detalhes.

    7. ANESTESIA PARA O TRANSPLANTE DE PULMO

    A anestesia para o transplante de pulmo um procedimento de alta complexidade,

    demandando do anestesiologista uma srie de conhecimentos e habilidades no

    corriqueiras. So exemplos das questes enfrentadas, o manejo do paciente com doena

    pulmonar avanada, a hipertenso arterial pulmonar, a disfuno aguda do ventrculo

    direito, o isolamento pulmonar, a circulao extracorprea (CEC) e o tratamento da dor

    ps-operatria. Os resultados se mostram melhores a medida que um pequeno nmero de

    anestesiologistas da equipe se dedica e obtm experincia com estes casos. Esta tem sido a

    tendncia atual.

    Ensaios clnicos controlados tm se mostrado de difcil realizao, pois o nmero de

  • casos limitado e as situaes de admisso hospitalar rpida de um paciente extremamente

    ansioso, dificultam a permisso para incluso em pesquisa. Por esta razo, os

    conhecimentos existentes so baseados em experincias pessoais, relatos de casos, srie de

    casos dos centros de maior volume e estudos experimentais em modelos animais (16).

    As tcnicas de transplante pulmonar incluem o transplante monopulmonar (MPTx),

    o transplante bipulmonar ou bilobar (BPTx) e o transplante de corao e pulmo (CPTx).

    Existem cuidados especficos para cada uma destas tcnicas que podem ser

    complementados com os trabalhos citados.

    Alguns dos importantes objetivos do anestesiologista so evitar a contaminao do

    paciente imunossuprimido, manter estabilidade hemodinmica e adequada oferta de

    oxignio tecidual, seja sem ou com o auxlio da circulao extracorprea, e evitar o

    incremento do tempo de isquemia do pulmo doado.

    7.1. Monitorizao e acessos venosos

    A monitorizao necessria consiste em eletrocardioscopia, oximetria de pulso,

    capnografia/capnometria, presso arterial invasiva, termometria, presso de artria

    pulmonar, presso capilar pulmonar, dbito cardaco, presso venosa central, dbito

    urinrio e gasometrias seriadas. Outros monitores tm sido estudados e utilizados. Estes so

    a espirometria contnua no sistema ventilatrio, a frao de ejeo de ventrculo direito, o

    dbito cardaco contnuo, a monitorizao contnua do ph e dos gases arteriais, a saturao

    de oxignio contnua do sangue venoso misto, e a ecocardiografia transesofgica

    (17,18,19,20). Esta ltima tm grande utilidade na avaliao dos fluxos atravs das

    anastomoses vasculares, detectando precocemente as alteraes nestes segmentos (16).

    necessria a utilizao de um acesso venoso central, geralmente o introdutor do

    Swan-Ganz, para infuso de drogas e acessos venosos de grosso calibre que possibilitem a

  • infuso rpida de sangue e cristalides.

    7.2. Cuidados com a temperatura

    Vrios estudos tm demonstrado a importncia da manuteno da temperatura

    corporal na diminuio de eventos mrbidos nas cirurgias de grande porte (21,22,23). O

    agravamento da hipertenso arterial pulmonar, os distrbios da coagulao, o

    comprometimento da funo miocrdica e o retardo da recuperao anestsica so

    exemplos destes eventos (17). No transplante de pulmo, alm da perda de calor

    relacionada anestesia e exposio da cavidade aberta, existe ainda a perda decorrente do

    implante do rgo frio. No transplante bipulmonar seqencial a perda ainda mais

    importante, com duas cavidades abertas, dois rgos implantados e um tempo cirrgico

    elevado.

    Os dispositivos disponveis para manuteno da temperatura corporal so os

    aquecedores de solues endovenosas, aquecimento com utilizao de ar quente forado e

    os colches trmicos com gua circulante. Esse ltimo tem eficcia limitada em decbito

    lateral em virtude da pequena rea de contato e possibilidade de leses com temperaturas

    baixas (24). A circulao extracorprea uma alternativa para o aquecimento de um

    paciente que tornou-se gravemente hipotrmico com complicaes.

    7.3. Reposio sangunea e hdrica

    A adaptao hipoxemia crnica eleva o hematcrito destes pacientes, tornando a

    necessidade de reposio de sangue pouco freqente no MPTx. Os pacientes que so

    submetidos aos transplantes bilaterais e os que necessitam de CEC so os que mais

    freqentemente utilizam reposio sangunea (25). Quando necessria, esta feita com

    concentrado de glbulos, que devem ser deleucotizados para evitar os fenmenos de

    imunomodulao e a infeco por citomegalovirus (26).

  • O pulmo implantado no tem drenagem linftica e tem a possibilidade de sofrer

    injria de reperfuso. Estes fatores colocam o rgo sob o risco de edema, existindo receio

    quanto a hiperhidratao (27,28). Contudo, na ausncia de edema pulmonar e ou de presso

    capilar pulmonar elevada, no existem evidncias cientficas consistentes para que se possa

    recomendar um balano hdrico negativo. No entanto, deve-se ter em mente que,

    eventualmente, esses pacientes fazem edema pulmonar com presso capilar pulmonar

    normal e que muitas vezes, esse edema responde dramaticamente a terapia com restrio

    hdrica e diurticos. No se sabe se existe um nvel de presso capilar pulmonar seguro. Se

    algumas vezes o equilibrio entre o edema pulmonar e a baixa perfuso sistmica estreito,

    outras vezes ele no existe.

    7.4. Drogas anestsicas

    No existem contra-indicaes a quaisquer drogas venosas de induo da anestesia,

    desde que observadas e corrigidas as conseqncias hemodinmicas de cada uma. O

    etomidato oferece boa estabilidade cardiovascular, o que particularmente til nos

    pacientes enfisematosos, os quais apresentam grande tendncia a hipotenso, causada pela

    diminuio do retorno venoso quando ventilados com presso positiva.

    Os relaxantes musculares utilizados para intubao traqueal so os de latncia curta

    (succinilcolina e rocurnio), pela dificuldade de ventilao sob mscara que alguns

    pacientes apresentam e tambm para induo rpida com manobra de Selick nos pacientes

    considerados de estmago cheio. No caso da utilizao da succinilcolina, o paciente aps

    mantido relaxado com uma droga de ao prolongada.

    A manuteno da anestesia usualmente feita com um anestsico inalatrio

    halogenado. O isoflurano tem sido o anestsico inalatrio mais utilizado. Este tambm pode

    contribuir para broncodilatao e vasodilatao arteriolar pulmonar.

  • 7.6. Etapas transoperatrias

    a. Induo

    O preparo para a induo da anestesia inclui a monitorizao e as punes venosas e

    arterial, usualmente realizadas com anestesia local e sedao. necessria tcnica assptica

    rigorosa.

    O momento da induo deve ser muito bem sincronizado com a equipe de retirada

    do rgo doado, de forma que quando este chega, o paciente dever estar em condies de

    recebe-lo. Nesse sentido importante que o anestesiologista participe deste esforo

    coletivo em reduzir o tempo de isquemia do pulmo doado.

    Na induo da anestesia, os principais problemas se relacionam ao

    comprometimento hemodinmico por vezes importante e dificuldade de ajuste

    ventilatrio, tanto sob mscara como aps a intubao. A hemodinmica pode ser corrigida

    com infuso lquida, vasopressores e eventualmente requerer ajuste ventilatrio, evitando o

    alaponamento de ar com conseqente diminuio do retorno venoso. A ventilao no

    enfisema requer tempo expiratrio muito prolongado, sendo eventualmente necessria a

    reduo da freqncia respiratria para que o tempo inspiratrio no fique demasiadamente

    curto (29). No Quadro 3 esto alguns parmetros recomendados para a ventilao no

    enfisema. Na doena restritiva so necessrias altas presses inspiratrias, tempo

    inspiratrio longo, baixo volume corrente e freqncia respiratria alta.

    b. Ventilao Monopulmonar

    Aps a induo e o posicionamento do paciente, o prximo desafio a manuteno

    da saturao de oxignio da hemoglobina arterial em ventilao monopulmonar. Neste

    momento, a hipoxemia exige FiO2 100%, ajustes ventilatrios ou ventilao bipulmonar

    intermitente. No consiste indicao de CEC pois muitas vezes desaparece aps o

  • clampeamento da artria pulmonar. Se a saturao persiste baixa (
  • vasodilatadores endovenosos, pois estes atuam indiscriminadamente nas regies

    pulmonares produzindo aumento do shunt intrapulmonar e diminuio da PaO2. Sua

    indicao atual o tratamento da hipertenso pulmonar e da hipoxemia sistmica no trans e

    no ps-operatrio do transplante. Rocca (30), em sua srie de dez pacientes, encontrou

    melhores resultados na diminuio da presso da artria pulmonar e do shunt intrapulmonar

    quando o NO foi combinado com a prostaciclina inalatria. Durante a administrao do

    NO, devem ser monitorizados os nveis de dixido de nitrognio (NO), produto da reao

    do NO com o oxignio, que altamente txico para os pulmes. Seus nveis no devem

    exceder 3 PPM. Outra conseqncia da administrao, a formao de metahemoglobina,

    que compromete o transporte de oxignio. Nveis elevados de metahemoglobina so

    incomuns com doses abaixo de 80 PPM de NO.

    importante que se observe um perodo de alguns minutos de estabilidade antes

    que se autorize o cirurgio a progredir com a retirada do pulmo nativo, pois nem a entrada

    em CEC nem o implante do enxerto podem ser feitos de maneira to imediata. Alguns

    critrios que auxiliam na deciso de utilizao da CEC esto no Quadro 5. necessria a

    avaliao de vrios critrios em conjunto, mais do que um valor absoluto. Algumas vezes,

    apesar da manuteno da homeostasia por perodos de cinco ou dez minutos aps o

    clampeamento, a descompensao uma questo de tempo. Um exemplo desta situao

    ocorre quando temos um progressivo aumento da PaCO2 nos portadores de doenas

    obstrutivas, o que leva um aumento paralelo da presso arterial pulmonar e em um

    perodo varivel de tempo, descompensao hemodinmica.

  • Figura 5- Eventos que Podem ser Desencadeados com o Clampeamento da Artria Pulmonar Clampeamento da Artria Pulmonar Aumento da presso da Artria Pulmonar

    Hipxia Acidose

    Insuficincia de Ventrculo Direito(VD) Dilatao de VD e abaulamento do septo Diminuio do enchimento e contratilidade do Ventrculo Esquerdo(VE) Aumento da Presso Venosa Central Isquemia de VD Insuficincia de VE Reduo da perfuso orgnica Modificado de Myles PS-1998 (17)

  • Quadro 4 Manejo da Hipertenso Pulmonar Aguda e da Insuficincia de VD 1.Avaliao pr-operatria Para identificao dos pacientes de risco 2.Monitorizao invasiva Cateter de artria pulmonar Oximetria venosa mista Frao de ejeo de VD Dbito cardaco Ecocardiografia transesofgica 3.Evitar vasoconstrio pulmonar Hipxia, hipercapnia, e acidose Resposta reflexa anestesia superficial Cautela com a terapia vasoconstritora 4.Usar vasodilatadores pulmonares

    Nitroprussiato, 0.2 2mcg/Kg/min Prostaciclina, 2 15 ng/Kg/min Isoflurano Anestesia epidural 5.Terapia inotrpica Epinefrina, 20 200 ng/Kg/min Dobutamina, 5 20 mcg/Kg/min Dopamina, 5 20 mcg/Kg/min Milrinona, 0.125 0.375 mcg/Kg/min 6.Oxido Ntrico inalatrio

    20 40 ppm 7.Se no responsiva, ou piora da insuficincia de VD

    Araminol 0.5 2.0mg Norepinefrina, 20 200 ng/Kg/min 8.Se no responsiva, iniciar CEC Modificado de Myles PS-1998 (17) Quadro 5 - Dados que Indicam a CEC 1.Presso arterial mdia < 50-60mmHg 2.Presso arterial pulmonar mdia >40mmHg 3.Saturao de oxignio arterial

  • d. Circulao Extracorprea (CEC)

    O uso da CEC traz consigo diversos riscos, incluindo as alteraes da coagulao, a

    sndrome inflamatria sistmica e alguns efeitos deletrios na funo imediata do enxerto.

    Aeba(31), encontrou vrias diferenas significativas na funo pulmonar imediata, entre os

    pacientes que foram e os que no foram submetidos a CEC. Entre elas esto infiltrados

    pulmonares mais intensos ao RX e tempo de intubao mais prolongado.

    Alm disso, este estudo encontrou maior taxa de mortalidade em um ano no grupo que foi

    submetido a CEC. Contudo, no se deve hesitar na sua instituio quando for necessria. A

    tentativa de evit-la, quando se tm critrios para sua indicao, pode levar a conseqncias

    catastrficas. Nos pacientes que apresentam previamente hipertenso pulmonar, a CEC no

    resulta em deteriorao da funo do pulmo transplantado estatisticamente demonstrvel

    (16).

    Na eventualidade de sua realizao so seguidos os protocolos existentes para esta

    conduta, porm, alguns aspectos merecem consideraes especiais. O fluxo de sangue

    fornecido pela mquina pode ser parcial, para que haja diminuio da circulao do sangue

    pelo circuito. Com isso, necessria a manuteno da normotermia e de presses

    adequadas de enchimento cardaco, para garantir o complemento do fluxo sanguneo da

    mquina s necessidades de entrega de oxignio tecidual. Portanto, o priming deve ser

    previamente aquecido e devem ser monitorizadas as presses de enchimento cardaco.

    No transplante bipulmonar ou bilobar, durante o implante do segundo enxerto sob

    CEC, considerando que no existe fluxo brnquico, se o fluxo da mquina for total o

    primeiro rgo implantado estar isqumico. Por outro lado, se as presses de enchimento

    forem muito elevadas, poder haver hiperfluxo atravs do pulmo recm implantado,

    causando edema do mesmo.

  • O Oxigenador de membrana extracorpreo (ECMO) descrito como uma

    possibilidade de assistncia pr, intra e ps-operatria. Uma das vantagens da sua utilizao

    evitar a heparinizao plena do paciente. Apesar disso, Pereszlenyi (32) encontrou uma

    taxa de reoperaco por sangramento de 23% em sua srie de 17 pacientes submetidos a

    ECMO. Nesta srie, os pacientes receberam essa modalidade de assistncia com

    permanncia de at 12 horas de ps-operatrio, com uma mortalidade perioperatria de

    5,9%. Algumas das desvantagens do mtodo so a impossibilidade de aproveitamento do

    sangue aspirado, j que o sistema fechado e a dificuldade de se atingir um fluxo elevado

    caso este seja necessrio.

    e. Abertura do Clampeamento (CL) da Artria Pulmonar

    Na abertura do CL h perda sangunea para retirada do ar residual do sistema

    venoso pulmonar e o sangue que preenche o leito vascular pulmonar deixa o sistmico.

    Esses fatores levam a hipotenso, que pode ser severa. Outros fatores que podem contribuir

    para a hipotenso so a embolia area coronariana, a liberao de produtos isqumicos e a

    liberao de vasodilatadores da pneumoplegia. A administrao de lquidos intravenosos e

    a utilizao de vasopressores podem ser necessrias. A abertura do CL com pulmo sendo

    ventilado parece ter valor profiltico para a leso de reperfuso.

    No transplante monopulmonar, durante esta fase podem ocorrer incongruncias da

    ventilao e da perfuso entre o pulmo transplantado e o nativo. Na verdade quando

    prevista uma ventilao ou uma perfuso significativamente maior no pulmo nativo, se

    tem indicao de transplante bipulmonar. Contudo, ainda que seja feita esta seleco,

    alteraes podem ocorrer, necessitando o manejo correto pelo anestesiologista. Assim

    sendo, na doena restritiva durante ventilao bipulmonar, o pulmo transplantado acaba

    recebendo maior ventilao e, enquanto em decbito lateral, menor perfuso, podendo

  • ocorrer algum grau de hipoxemia at que o paciente assuma o decbito dorsal ao final da

    cirurgia. Nos casos que se apresentam com hipertenso pulmonar, durante a ventilao

    monopulmonar, o shunt atravs do pulmo transplantado tambm pode causar hipoxemia

    impedindo a continuidade desta.

    Um outro aspecto importante durante esta etapa a diminuio, se possvel, da

    FiO2 para valores inferiores a 40% e a utilizao de PEEP (16).

    7.7. Analgesia ps-operatria no transplante

    A tcnica de analgesia ps-operatria baseada na utilizao de anestsicos locais e

    ou opiides, atravs de um cateter epidural torcico ou lombar respectivamente. A puno

    peridural na vigncia de distrbios da coagulao (aps utilizao de CEC e heparinizao),

    contra-indicada pelo risco de hematoma peridural. Por isso, a colocao do cateter deve

    ser feita no incio do procedimento. Os trabalhos relatam a segurana desta conduta, desde

    que a heparina seja usado pelo menos uma hora aps a colocao do cateter. (17,27,33).

    Para maiores detalhes ver seco correspondente.

    7.8. Extubao

    Atualmente no existe preocupao em extubao precoce. Esta realizada na CTI

    quando forem atingidos a estabilidade hemodinmica, a normotermia, a recuperao

    anestsica e os critrios ventilatrios para a extubao. Ao final da cirurgia o

    anestesiologista troca o tubo de dupla luz por um tubo simples, quando ento realizada

    uma fibrobroncoscopia para avaliar a anastomose brnquica.

    8. ANESTESIA PARA A CIRURGIA REDUTORA DO VOLUME PULMONAR

    A necessidade de uma proposta teraputica para um grande nmero de pacientes

    com enfisema pulmonar em fase avanada reeditou a pneumoplastia realizada e relatada

    por Bratingam (34) na dcada de 50 e 60. Naquela poca, a mortalidade elevada frustrou a

  • continuidade destas cirurgias. Atualmente, atravs de esforos multidissiplinares, podemos

    oferecer este procedimento teraputico com uma mortalidade muito menor. O manejo

    anestsico qualificado constituiu-se em um importante aspecto destes resultados.

    8.1. Perfil pr-operatrio do paciente

    Os pacientes candidatos a este tratamento cirrgico apresentam enfisema difuso

    heterogneo com grande comprometimento de sua funo respiratria e qualidade de vida.

    Em uma srie apresentada por Triantafillou (35), a idade variou entre 32 e 77 anos, com

    uma mediana de 50 anos. Usualmente estes pacientes necessitavam de oxignio

    suplementar ao repouso ou ao exerccio e tinham em mdia um volume expiratrio forado

    no primeiro segundo(VEF1) de 24% e capacidade vital forada (CVF) de 69% (Quadro 6).

    Quadro 6- Perfil Pr-Operatrio do Paciente (N=84) PaO2 61mmHg VEF1(aps broncodilatador) 0.69 l (24%) CVF 2.46 l (69%) Volume Residual(VR) 5.9 l (289%) Capacidade Pulmonar Total (CPT) 8.3 l (143%) Necessidade de Oxignio 90% Uso de Corticoesterides 52% Incapacidade para Caminhar 24% Triantafillou AN-1996 (35)

    Para a realizao deste procedimento os pacientes no devem possuir diagnstico de

    doenas em outros sistemas que possam aumentar o seu risco cirrgico. Contudo, a maioria

    dos centros no realiza de rotina o estudo extensivo da existncia de doena coronariana.

    Este procedimento esta sendo revisado, j que com freqncia a sintomatologia da isquemia

    coronariana est mascarada pela limitao fsica imposta pelo enfisema.

    Na srie descrita acima dois pacientes com doena coronariana no suspeitada

  • tiveram o infarto do miocrdio como complicao ps-operatria. De fato, os diversos

    eventos peri-operatrios enfrentados, como a taquicardia, a hipercapnia, o esforo

    ventilatrio, a ansiedade, os perodos de hipoxemia entre outros, so extremamente

    desfavorveis na existncia de doena cardaca isqumica.

    8.2. Medicao pr-anestsica

    A deciso de administrar medicaes pr-anestsicas deve ser individualizada para

    cada paciente. Os nveis de ansiedade e expectativa com relao aos resultados desta

    cirurgia se mostram muito elevados. A administrao de uma medicao ansioltica suave

    na vspera do procedimento pode ser extremamente benfica. No entanto, a funo

    respiratria muito comprometida e as respostas acentuadas s medicaes sedativas, que

    freqentemente estes pacientes apresentam, recomendam cautela nesta prescrio.

    importante lembrar que estes pacientes no apresentam caractersticas de retentores de

    CO2, pois esta uma contra-indicao cirurgia, o que representa um fator de relativa

    segurana. Se a prescrio de medicaes sedativas for realizada no dia da cirurgia, esta

    deve preferencialmente utilizar drogas que no possuam efeito residual ao final do

    procedimento.

    8.3. Linhas gerais da tcnica anestsica

    O desmame da ventilao mecnica (VM) ao final da cirurgia, bem como uma boa

    qualidade de analgesia no ps-operatrio, so importantes objetivos da tcnica anestsica.

    Isto se deve ao fato de que a presso positiva aumenta e prolonga o escape areo atravs

    das fstulas do parnquima pulmonar, constituindo-se na grande causa de morbi-

    mortalidade.

    Para cumprir estes objetivos, utilizado um cateter epidural torcico com a

    administrao de anestsicos locais, o que fornece anestesia cirrgica. Alm disso,

  • realizada anestesia geral para possibilitar o controle da ventilao, tolerncia do tubo

    traqueal e do posicionamento. As drogas utilizadas devem possibilitar mnimos efeitos

    residuais depressores na fase de desmame. Os halogenados que dependem muito da

    ventilao alveolar para serem eliminados, no so boas escolhas. O sevoflurano, devido a

    sua baixa solubilidade sangunea, depende menos da ventilao alveolar e mostrou ser uma

    excelente droga, com uma rpida eliminao mesmo com a hipoventilao alveolar que

    acompanha os perodos iniciais do ps-operatrio. A anestesia intravenosa total com

    propofol em infuso contnua, especialmente quando usada com sua bomba

    microprocessada especfica, tambm mostrou ser uma excelente tcnica. O paciente

    mantido em relaxamento muscular e no existem preferncias sobre qualquer relaxante

    especfico, porm, necessrio compreender que o paciente tem uma tolerncia muito

    diminuda para qualquer resduo destas drogas no desmame.

    8.4. Monitorizao e acessos venosos

    A monitorizao necessria consiste em eletrocardioscopia, oximetria de pulso,

    presso arterial invasiva, presso venosa central, presso endotraqueal, capnografia /

    capnometria e dbito urinrio. A espirometria contnua na via area pode ser utilizada,

    porm, ela usualmente mostra fenmenos que j esto bem conhecidos (36).

    As cardiopatias graves, sejam elas valvulares, isqumicas ou disfuncionais

    constituem-se em contra-indicao cirurgia. Isto elimina grande parte das indicaes do

    cateter de artria pulmonar. Seu uso infreqente e relacionado aos casos com presses da

    artria pulmonar nos limites superiores da indicao cirrgica.

    Os acessos venosos utilizados consistem de um cateter calibroso, 14F ou 16F, em

    uma veia perifrica e um cateter em uma veia central.

    8.5. Via area e ventilao

  • A via area mantida com tubo de duplo lmen, para a ventilao seletiva e para

    ajudar na identificao das pores do pulmo a serem ressecadas. Os segmentos que

    permanecem inflados aps alguns minutos de ausncia de ventilao com o sistema

    fechado, provavelmente so reas mais comprometidas. Essas observaes devem ser

    pareadas com as da cintilografia perfusional.

    A ventilao realizada com volume corrente de 8 10ml/kg, baixa relao I/E, e

    baixa freqncia respiratria, de forma a evitar a hiperinsuflao dos pulmes (Quadro 3).

    Essa poder acarretar a queda do dbito cardaco, pneumotrax no trax fechado e aumento

    do escape areo no trax j operado. permitida a reteno de CO2 at valores em torno

    de 100mmHg, se esta ocorre em benefcio da dinmica ventilatria e da manuteno da

    oxigenao (37).

    Uma variedade de condutas tem sido relatada para tratar o broncoespasmo

    transoperatrio, incluindo drogas em aerosol no circuito respiratrio, e pequenas doses de

    epinefrina endovenosa. O seu tratamento importante a medida que diminui o

    alaponamento de ar e as tenses nas linhas de sutura, ao mesmo tempo que facilita a

    ventilao espontnea no ps-operatrio imediato.

    8.5. Desmame

    Triantafillou (35) relata a superviso das fases iniciais da recuperao pelo prprio

    anestesiologista, seja na sala cirrgica ou na unidade de terapia intensiva. Perodos de at

    sessenta minutos podem ser necessrios at que se possa retirar completamente o paciente

    da assistncia ventilatria. Os critrios tradicionais utilizados para esta funo so

    usualmente transgredidos. Devemos manter a saturao de oxignio arterial em nveis

    adequados, porm a hipercapnia e o trabalho ventilatrio elevado, no so contra-

    indicaes absolutas a tentativa de desmame. Para que este tenha sucesso, necessrio que

  • o paciente tenha se recuperado das drogas anestsicas, esteja com excelente analgesia e

    ainda esteja adequadamente hidratado e normotrmico.

    Nas fases iniciais comum uma grande elevao da PaCO2. Isto exige uma FiO2

    elevada, pois o CO2 alveolar dilui a concentrao de oxignio oferecida a valores

    eventualmente hipxicos. Existem sistemas respiratrios valvulares que fornecem FiO2 de

    100%. Estes podem ser utilizados para os perodos iniciais de ps-operatrio, mas no

    devem ser mantidos por longo perodo para evitar a toxicidade ao oxignio. Uma outra

    alternativa a mscara de Ventury, com a qual pode-se obter uma concentrao inspirada

    de oxignio mais elevada do que com o cateter nasal.

    Um aspecto importante da hipercapnia aguda grave, que esta pode causar narcose

    e depresso respiratria, impossibilitando a ventilao espontnea. Isto pode explicar

    porque pequenas doses residuais de anestsicos tenham um efeito to intenso sobre o

    sensrio e a ventilao. Na realidade existe uma somao de aes entre o efeito da droga e

    o efeito do nvel mais alto de PaCO2 criado, ambos deprimindo o sensrio. No

    infreqente a observao do acordar do paciente quando este ainda se encontra em

    assistncia ventilatria e a medida que este assume a ventilao espontnea volta a deprimir

    a conscincia, provavelmente por grave reteno aguda de CO2.

    Nos pacientes onde o padro respiratrio e a curva de progresso da PaCO2 indicam

    dvidas sobre a manuteno da ventilao espontnea, podemos manter um tubo

    endotraqueal com um t de Ayre. Este d segurana medida que evita a intubao

    emergencial na necessidade de ventilao mecnica na UTI, porm tem o inconveniente de

    que o paciente no tosse e no consegue realizar seu PEEP fisiolgico (soprar). Existe

    dispositivos, que permitem a utilizao de PEEP com o tubo endotraqueal. Quando

    utilizados seus valores no devem exceder os valores de PEEP intrnseco que tem, em

  • mdia, nveis de 4 5 cmH2O (38). A monitorizao seriada dos gases sanguneos e suas

    tendncias orientam as condutas posteriores. A Figura 6, ilustra uma estatstica a respeito

    dos valores da PaCO2 na admisso e na alta da UTI.

    8.6. Analgesia ps-operatria

    A infuso de anestsico local associado a um opiide em um cateter epidural situado

    a nvel torcico, se corretamente manejado, pode abolir a dor, melhorar alguns ndices de

    funo pulmonar e diminuir a morbidade respiratria (39). A utilizao rotineira desta

    tcnica para todos os pacientes submetidos toracotomias controversa, porm, na cirurgia

    redutora ela consenso (35,37,40,41). Para maiores detalhes sobre analgesia ps-operatria

    ver seco correspondente.

    Figura 6- PaCO2 na Admisso e na Alta da UTI 100 90 80 70 60 50 40 30 Admisso Alta

    Dados de Triantafillou AN-1996 (35) - Valores mximos, 75%, mediana, 25% e mnimos, de cima para baixo

    9. ANALGESIA PS-OPERATRIA NAS TORACOTOMIAS

    9.1. Linhas Gerais

    Usualmente a tcnica de analgesia ps-operatria que utilizada para as

    toracotomias, envolve uma combinao de trs tcnicas:

    1-Bloqueio intercostal.

  • 2-Analgesia sistmica com antiinflamatrios e outros analgsicos.

    3-Analgesia peridural, com opiides e anestsicos locais.

    Descreveremos aqui a utilizao da analgesia epidural, pilar fundamental nesta

    trade.

    A analgesia peridural tm oferecido excelente qualidade com baixos ndices de

    efeitos colaterais graves. Porm para que estes benefcios sejam atingidos necessria a

    correta compreenso dos seus princpios bsicos.

    Os efeitos dos opiides peridurais, se devem a sua ligao receptores medulares

    dos segmentos referentes ao stio cirrgico. Portanto existe a necessidade de chegada da

    droga a estes nveis (torcicos).

    Os opiides de baixa solubilidade lipdica, que tm capacidade de longa

    permanncia espinhal sem uma rpida absoro sistmica, podem ser injetados distalmente

    (lombar), pois migram cefalicamente no lquor antes da absoro para a vasculatura. Alm

    disso tm efeito prolongado e podem ser usados em doses intermitentes atravs do cateter

    peridural. A droga mais utilizada para este fim a morfina.

    Os opiides de alta solubilidade lipdica so rapidamente absorvidos sistemicamente

    e portanto so adequados para utilizao prxima aos segmentos referentes aos stios

    cirrgicos (epidural torcica). Se injetados distalmente ao stio cirrgico, tero efeito

    fundamentalmente por absoro sistmica. Alm disso tm efeito de curta durao, e so

    adequados para infuso peridural contnua. So exemplos o Fentanil e o Sufentanil.

    Os anestsicos locais peridurais bloqueiam a entrada de sdio nas razes nervosas de

    alguns poucos segmentos adjacentes ao local de uma infuso contnua. Portanto, devem ser

    infundidos prximos aos segmentos correspondentes a localizao cirrgica, ou seja,

    segmentos torcicos. A associao de um opiide lipossolvel a regra e tem ao

  • sinrgica, diminuindo a dose de ambos e diminuindo portanto os efeitos colaterais. Nas

    Tabelas 2 e 3 encontram-se sumarizadas as doses para os opiides epidurais contnuos e em

    bolus, e na Tabela 4 encontram-se as doses e concentraces para utilizao de anestsicos

    peridurais torcicos.

    9.2 Funo respiratria, morbidade ps-operatria e a dor

    A preocupao com a analgesia ps-operatria, principalmente para as cirurgias de

    abdome superior e torcicas, no tem unicamente funo de prover conforto ao paciente. Os

    escores de morbidade so diferentes entre os pacientes submetidos a tcnicas analgsicas

    eficazes e os que no o so.

    Ballantyne (39) realizou uma meta-anlise dos estudos randomizados e controlados

    sobre o efeito de sete diferentes tcnicas analgsicas, nos ndices de complicaes

    pulmonares e na funo respiratria, aps uma variedade de procedimentos cirrgicos. As

    tcnicas de analgesia avaliada foram:

    a. Opiides peridurais x opiides sistmicos.

    b. Anestsicos locais peridurais x opiides sistmicos.

    c. Opiides e anestsicos locais peridurais x opiides sistmicos.

    d. Opiides peridurais torcicos x opiides peridurais lombares.

    e. Bloqueio nervoso intercostal x opiides sistmicos.

    f. Anestesia interpleural x opiides sistmicos.

    g. Infiltrao com anestsico no local x nenhuma infiltrao.

    Os resultados que demonstraram significncia estatstica foram:

    a. Diminuio da incidncia de atelectasias quando os opiides peridurais foram

    comparados aos opiides sistmicos.

    b. Diminuio na incidncia de infeco pulmonar, diminuio das complicaes

  • pulmonares em geral e maior PaO2 quando os anestsicos locais peridurais

    foram comparados aos opiides sistmicos.

    Outras diferenas que no foram estatisticamente significantes, mas que podem ter

    significncia clnica, foram:

    d. Diminuio da incidncia de infeces pulmonares quando os opiides

    peridurais foram comparados a analgesia sistmica.

    e. Diminuio da incidncia de atelectasias e demais complicaes pulmonares

    quando o bloqueio intercostal foi comparado a analgesia sistmica.

    Neste trabalho, no houve outras diferenas estatsticas ou clnicas em outras variveis,

    inclusive as de funo pulmonar (VEF1, CVF, Peak Flow ).

    Uma questo mais recente, a comparao entre a tcnica peridural torcica com a

    lombar com relao morbidade. Slinger (42), analisa que a menor incidncia de

    complicaes eventualmente encontrada com os anestsicos peridurais torcicos (APT),

    possivelmente limitada a certos grupos de pacientes, como os de funo respiratria muito

    limitada e os submetidos esofagectomias. Esta anlise de suma importncia j que esta

    tcnica traz consigo o risco de leso medular com a puno peridural alta. Raymer (43), se

    referindo especificamente a toracotomias, props que na inexistncia de evidncias que os

    APT melhoram o prognstico em pacientes com boa reserva cardiopulmonar, esta deveria

    ser utilizada somente nas seguintes situaes:

    a. Doena pulmonar significativa (VEF1 < 60%, Difuso de CO < 60%,

    inabilidade de subir trs nveis de escada).

    b. Doena cardaca arterioesclertica sintomtica ou histria de insuficincia

    cardaca congestiva.

    c. Pneumonectomia, resseco de parede torcica ou esofagectomia.

  • d. Necessidade de controle timo da dor.

    Apesar disso, atualmente muitos servios com grande volume de cirurgias torcicas,

    adotam a peridural alta como rotina para analgesia de seus pacientes aps as toracotomias.

    Tabela 2- Dosagens para a Administrao de Opiides Peridurais Intermitentes Droga Solubilidade Dose Latncia Durao Comentrios Lipdica (min) (horas) Morfina 1 2-5mg 30-60 6-24 Devido a difuso no

    lquor, preferido para extensas incises

    ou stio de injeo dis- tante do local de dor.

    Fentanil 800 50-100mcg 5 4-6 No recomendado quando a inciso extensa, ou stio da injeo distante do local de dor.

    Tabela 3- Infuses Contnuas de Opiides Peridurais Taxa usual de infuso peridural Droga ( mg/hr ) Comentrios Morfina 0.2-1.0 Baixas taxas de infuso podem ser usadas aps pequeno bolus. Fentanil 0.03-0.1 Contribuio do nvel sistmico da analgesia pode ser significante

  • 9.3. Efeitos Colaterais

    a. Depresso respiratria

    A depresso respiratria pode ser decorrente da absoro sistmica do opiide

    peridural (precoce), ou da migrao ceflica de opiides peridurais ou subaracnides

    atravs do lquor (tardia). infreqente nas doses recomendadas e se no forem utilizadas

    outras medicaes depressoras. Se necessrio, o tratamento com naloxona deve ser feito em

    infuso contnua, devido a sua curta meia vida, principalmente quando estiver sendo

    utilizado um opiide menos lipossolvel.

    b. Reteno urinria

    Os opiides espinhais inibem as contraes volume-induzidas da bexiga e bloqueia

    o reflexo vsico-somtico necessrio para o relaxamento do esfncter externo. Se no for

    realizada a sondagem vesical de demora, com freqncia necessria a cateterizao

    vesical de alvio.

    c. Prurido

    A ocorrncia de prurido de grande intensidade que requeira tratamento rara com

    os opiides peridurais. A naloxona pode ser usada nestes casos. O Propofol em bolus ou em

    infuso contnua, em doses baixas outra opo teraputica com bons resultados.

    d. Nuseas e vmitos

    So causados pela absoro sistmica ou migrao ceflica no lquor. De qualquer

    forma o opiide age na zona gatilho central provocando os sintomas. Os estudos

    demonstram incidncia varivel entre 29 e 50%. Pode ser tratado com antiemticos

    convencionais. Pequenas doses de naloxona revertem o quadro.

    e. Inibio da funo gastrointestinal

    Estudos tm demonstrado que a utilizao de opiides espinhais pode retardar a

  • funo gastrointestinal. Porm doses equipotentes de opiides sistmicos causam uma

    diminuio muito maior desta mesma funo. Portanto a utilizao de drogas lipossolveis

    epidurais, pela maior absoro sistmica, pode apresentar efeitos maiores que as

    hidrossolveis, provocando estase gastrointestinal.

    f. Bloqueio simptico

    Os anestsicos locais peridurais, mesmo com as concentraes baixas usualmente

    empregadas para analgesia, bloqueiam as fibras nervosas do sistema nervoso simptico.

    Com isso, freqente algum grau de hipotenso, e a utilizao de um vasopressor como a

    noradrenalina pode ser necessria. A bradicardia proveniente do bloqueio das fibras

    simpticas cardioaceleradoras rara.

    g. Bloqueio motor

    Os anestsicos locais peridurais podem, conforme a sua concentrao, bloquear as

    fibras nervosas motoras que inervam alguns dos msculos respiratrios. Porm, nas

    concentraes usualmente empregadas para analgesia, no existe bloqueio motor que possa

    interferir com a capacidade de ventilar.

    Tabela 4 Concentraes para Infuso Peridural Torcica de Anestsicos Locais

    Anestsico Concentraco Taxa de infuso

    bupivacana 0.125% 5 12 ml/h

    ropivacana 0.2% 5 12 ml/h

    9.4.Contra-indicaes

  • As contra-indicaes para a tcnica peridural incluem os distrbios da coagulao, a

    infeco do local de puno ou a sistmica, a hipertenso intracraniana, a recusa do

    paciente, as doenas neurolgicas preexistentes e a apresentao prvia de efeito colateral

    grave com a tcnica.

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    (*) Artur Burlamaque Diretor de Anestesia do Pavilho Pereira Filho.

    (**) Fbio Amaral Ribas Anestesista do Departamento de Cirurgia do Pavilho

    Pereira Filho e do Grupo de Transplante Pulmonar da Santa Casa de Porto Alegre-

    RS.

  • ANALGESIA EM CIRURGIA TORCICA

    Jayme da Rocha Heck*

    A dor ocasionada por uma toracotomia considerada uma das mais intensas e de

    maior durao entre os diversos procedimentos cirrgicos, podendo ocorrer por trauma

    tecidual extenso, fratura de costelas, neurite intercostal aguda, leso do ligamento

    costovertebral posterior, luxao costo-condral, resseco e compresso do parnquima

    pulmonar, colocao de drenos pleurais, pleurite, depresso e ansiedade.

    Abordando do ponto de vista fisiopatolgico, sabemos que quando um estmulo

    suficientemente intenso aplicado nos tecidos ocorre leso tecidual. As clulas lesadas

    liberam enzimas de seu interior, que, no ambiente extracelular, quebram cidos graxos de

    cadeia longa que vo atuar sobre os cininognios, os quais, por sua vez, formaro as

    cininas, principalmente a bradicinina, que uma substncia alggena e vasoativa. A partir

    da membrana celular, pela ao da fosfolipase A, libera-se cido araquidnico, o qual, por

    ao da ciclo-oxigenase e da lipo-oxigenase, d origem respectivamente a prostaciclinas,

    prostaglandinas, tromboxano, e leucotrienos. Essa biossntese de prostaglandinas promove

    diminuio do limiar de excitabilidade dos nociceptores, fazendo com que estmulos menos

    intensos sejam capazes de estimul-los.

    A leso tecidual resulta em resposta inflamatria que afeta a sensao dolorosa e a

    prpria estimulao nociceptiva tambm resulta em resposta inflamatria neurognica,

    provocando vasodilatao e extravasamento de protenas plasmticas e ao sobre as

    clulas inflamatrias com liberao de mediadores qumicos. Estas interaes resultam na

    formao de uma sopa inflamatria.

    Aps o aparecimento dessas substncias qumicas e sensibilizao dos nociceptores,

    estmulos de baixa intensidade passam a ser percebidos como dolorosos. Esta srie de

    eventos que se segue a uma leso tecidual conhecida como sensibilizao perifrica dos

    nociceptores, o que favorece o aparecimento de hiperalgesia que definida como uma

    resposta exagerada aos estmulos dolorosos.

  • Um dos princpios do tratamento da dor aguda o evitar o estabelecimento desta

    qumica inflamatria, com o emprego de drogas potentes puras ou associadas, pela via mais

    apropriada, em doses adequadas, e a intervalos regulares de acordo com sua meia-vida ou,

    mais modernamente, por infuso contnua.

    As vantagens de uma adequada analgesia ps-operatria incluem:

    - Maior conforto ao paciente;

    - Melhor expanso pulmonar e da caixa torcica;

    - Melhora da ventilao pulmonar;

    - Melhor mobilizao das secrees;

    - Reflexo de tosse mais efetivo;

    - Reduo na incidncia de atelectasias;

    - Menor freqncia de broncopneumonia;

    - Reduo do trabalho cardaco e consumo de oxignio pelo miocrdio;

    - Diminuio na incidncia de fenmenos tromboemblicos;

    - Reduo da imunossupresso;

    - Reduo do catabolismo protico;

    - Diminuio do leo ps-operatrio;

    - Diminuio da contrao reflexa dos esfncteres;

    - Alta precoce da unidade de terapia intensiva e hospitalar;

    A ocorrncia de dor ps-operatria determina alterao mecnica na parede

    torcica, a qual comporta-se como em presena de doena pulmonar restritiva aguda,

    levando a:

    - aumento da freqncia respiratria,

    - diminuio do volume corrente,

    - diminuio da capacidade vital,

    - reduo dos volumes expiratrios forados,

    - diminuio da capacidade residual funcional, que, se abaixo do volume

    de fechamento, pode levar : atelectasia, reduo da ventilao/perfuso

    e hipoxemia.

  • Os mtodos de analgesia ps-operatria mais empregados em cirurgia torcica

    podem ser relacionados em: sistmicos, anestesia regional e crioanalgesia.

    MTODOS SISTMICOS:

    A analgesia sistmica mais comumente realizada com: no-opiides (anti-

    inflamatrios no hormonais, dipirona e agonistas a2-adrenrgicos) e opiides.

    No-Opiides:

    Anti-inflamatrios No Hormonais (AINH):

    Possuem efeito analgsico fraco, sendo geralmente associados a outras drogas mais

    potentes, como opiides, reduzindo sua dose. Ainda apresentam efeito teto, ou seja, no

    melhoram sua efetividade com o aumento da dose ou da freqncia de administrao.

    Tenoxican:

    Quando empregado em dose nica de 20 mg, por via venosa, evidenciou menor

    necessidade de resgate com opiides nas primeiras 12 horas de ps-operatrio; resultado

    no observado aps 12 horas.

    Cetoprofeno:

    Disponvel para uso muscular ou venoso. A dose habitualmente usada por IV de

    100 mg a cada 8 horas; recomenda-se a injeo lenta e com diluio em soluo salina para

    diminuir a incidncia de dor injeo e/ou flebite.

    Diclofenaco:

    Quando associado a bloqueio intercostal em infuso contnua de 2 mg/kg/24h

    proporciona uma analgesia de qualidade para toracotomias mnimas, sendo geralmente

  • utilizado por dois dias. Efeitos colaterais, como aumento de sangramento, diminuio da

    adesividade e contagem plaquetrias no foram observados, quando utilizados por dois a

    trs dias.

    Dipirona:

    A associao de dipirona com AINH ou opiceos muito empregada no Brasil e

    melhora significativamente a qualidade da analgesia, se comparada com a obtida com as

    drogas isoladas. A dose utilizada de 25 a 30 mg/kg, IV, de 6/6 horas.

    Quadro 1 Doses de AINH e Dipirona por IV

    Cetoprofeno 100 mg 8/8 h

    Dipirona 30 mg/kg 6/6 h

    Tenoxican 40 mg/dia

    20 mg 12/12 h

    Agonistas a2-adrenrgicos:

    So representados pela clonidina e pela dexmedetomidina. A dexmedetomidina

    mais potente que a clonidina, com afinidade e seletividade pelo receptor oito vezes maior.

    A ao analgsica acompanhada por aes sedativa e ansioltica teis no tratamento do

    componente psquico que sempre acompanha a dor. Seus efeitos colaterais relacionam-se

    com diminuio da presso arterial e freqncia cardaca. A clonidina tem sido mais

    utilizada por via peridural, enquanto que a dexmedetomidina tem emprego por via IV, nas

    doses de 1 mcg/kg (ataque) seguida de infuso contnua de 0,5 a 0,7 mcg/kg/h por at dois

    dias. Nas traqueoplastias, onde a posio de imobilidade e flexo cervical mantida por

    dois a trs dias mostrou-se uma alternativa que diminui a percepo do desconforto pelo

    paciente, com ausncia de efeito depressor sobre a respirao.

    Opiides:

    Devido intensa dor observada no ps-operatrio de cirurgia torcica, no s pela

    extenso das incises, bem como pela seco muscular e, ainda, pela necessidade de drenos

  • tubulares colocados no espao intercostal e comprimindo estruturas nervosas, os opiides

    quase sempre esto presentes em todas as prescries. Podem ser utilizados opiides

    agonistas como morfina, meperidina, fentanila e tramadol ou agonista-antagonista como a

    nalbufina.

    Sua ao ocorre por ligao a receptores de opiide tipo mu, delta e kappa , inibindo

    a transmisso da dor na medula espinal, ativando os mecanismos inibitrios descendentes e

    alterando a reao emocional dor.

    As vias de administrao utilizadas podem ser: IV, IM, SC, SL. A via intramuscular

    no deve ser empregada, pois alm de provocar dor local ainda proporciona uma absoro

    muito errtica, com nveis sricos imprevisveis. Quando administrados por via subcutnea

    no ps-operatrio imediato tambm a absoro mostra-se varivel ou nula, por diminuio

    da circulao no subcutneo, pela diminuio da temperatura corporal, geralmente

    encontrada nos primeiros momentos. A via preferencial a venosa, a intervalos regulares

    variveis com a dose utilizada ou de maneira contnua ou ainda por PCA (analgesia

    controlada pelo paciente), embora por esta via sejam mais evidentes os efeitos adversos

    dessas substncias (nuseas e vmitos, sonolncia, prurido, constipao, reteno urinria e

    depresso respiratria).

    A massa de opiide empregada para efetivo controle da dor, bem como o intervalo

    entre as doses, variam de acordo com a via de administrao e devem ser corretamente

    estabelecidos para evitar dor nos intervalos, o que determinar o aparecimento de alterao

    qumica ou sopa inflamatria e necessidade de drogas mais potentes ou em doses e

    freqncias maiores. Portanto, devemos evitar prescries como se necessrio e se dor,

    a no ser como doses de resgate, quando outro mtodo de tratamento estiver sendo

    aplicado.

    Quadro 2 Doses de opiides por IV intermitente

    Morfina 0,08 0,12 mg/kg 3/3 h

    Meperidina 0,5 1,0 mg/kg 2/2 h

    Fentanila 1,0 2,0 mcg/kg 1/1 h

    Tramadol 0,5 1,0 mg/kg 4/4 h

    Nalbufina 0,1 0,3 mg/kg 3/3 h

  • A titulao, por observao clnica, de uma infuso contnua para cada paciente,

    parece ser uma alternativa adequada de tratamento da dor. O tramadol tem sido utilizado

    com resultados satisfatrios no seguinte esquema: antes do despertar da anestesia, quando

    da aproximao das costelas, dose de bolus de 150 mg seguidos de infuso venosa contnua

    de 450 mg/ 24 horas.

    Quadro 3 Doses de opiides por infuso IV contnua

    bolus infuso

    Morfina 0,08 0,12 mg/kg 0,06 0,18 mg/kg/h

    Fentanila 1 3 mcg/kg 1,8 6 mcg/kg/h

    Tramadol 150 mg 20 mg/h por 6 h

    10 mg/h aps 6 h

    ANESTESIA REGIONAL:

    bastante conhecida a superioridade das tcnicas de bloqueios segmentares, no

    tratamento da dor ps-operatria por toracotomia, sobre as tcnicas sistmicas.

    Como possibilidades mais freqentes podemos citar os bloqueios intercostal,

    paravertebral, pleural, subaracnideo e peridural.

    Bloqueio intercostal:

    mais utilizado naquelas situaes em que a dor por compresso intercostal pelos

    drenos pleurais mais importante do que a do trauma sobre a parede torcica, como na

    videocirurgia. Tem durao limitada a 6-8 horas, o que exige repetio geralmente mal

    aceita pelos pacientes por estimulao do peristeo o que pode provocar desconforto. Pode

    ser realizado sob viso direta no trans-operatrio ou por puno transcutnea antes do

    despertar da anestesia. Diversos estudos tm demonstrado sua utilidade no controle da dor

    ps-operatria, na diminuio da necessidade de opiides sistmicos, na melhoria da

    gasometria arterial e funo pulmonar, bem como alta mais rpida da UTI e do hospital.

  • Os anestsicos locais mais comumente empregados so a bupivacana 0,5% e a

    ropivacana 0,75%, com preferncia por esta ltima, pela menor neurocardiotoxicidade, na

    dose de 3 a 4 ml por espao, sempre acompanhadas de adrenalina na concentrao de

    1/200.000, o que retarda a absoro, que muito rpida no feixe vsculo-nervoso

    intercostal, evitando assim nveis sricos txicos de anestsico local e aumentando a

    durao do bloqueio, por permanncia mais prolongada do anestsico junto ao nervo

    intercostal.

    Bloqueio paravertebral:

    Esse tipo de bloqueio, simples e seguro, realizado pela colocao cirrgica de

    catter na goteira paravertebral, onde o nervo espinal emerge a partir do forame

    intervertebral. Isso resulta em bloqueio sensitivo e simptico em mltiplos e contnuos

    dermtomos torcicos, acima e abaixo do local de injeo. Pode ser realizado com o uso de

    injees intermitentes de 15 ml de bupivacana 0,5% ou infuso contnua de lidocana a 1

    mg/kg/h, dando-se preferncia para esse ltimo, pela no observncia de dor nos intervalos

    entre as injees. Por ocasionar bloqueio simptico unilateral, quando comparado com a

    tcnica peridural de controle da dor, apresenta a vantagem de menor incidncia de

    hipotenso e reteno urinria.

    Bloqueio pleural:

    Consiste na colocao de anestsico local em contato com a membrana pleural,

    podendo ser feito pelas tcnicas subpleural ou interpleural. Na primeira, catter fino

    multiperfurado colocado cirurgicamente abaixo da pleura parietal, junto goteira

    paravertebral, quando a cavidade torcica ainda encontra-se aberta, exteriorizando a ponta

    do catter por puno de dentro para fora. A injeo de bolus de 10 ml de lidocana 1% ou

    bupivacana 0,25% sem vasoconstrictor (para evitar a absoro pleural desse) seguida de

    infuso contnua na dose de 10 ml/h eficaz e segura. A tcnica interpleural consiste na

    administrao de anestsico local livre dentro da cavidade pleural, o que determinaria o

    bloqueio anestsico de todas as razes intercostais. Isso pode ser obtido por puno no oco

    axilar e injeo nica ou contnua. Ambas as tcnicas so interessantes nas leses

  • traumticas da parede torcica, com ou sem fratura de arcos costais. So complicaes do

    bloqueio pleural: sndrome de Horner e toxicidade sistmica.

    Bloqueio subaracnideo:

    A raqueanestesia de mais fcil execuo e de maior certeza tcnica que a peridural

    torcica, por injetar o anestsico diretamente no lquido cefalorraquidiano; ainda outra

    vantagem que permite puno lombar, de mais fcil realizao que a torcica. No entanto,

    tem sido pouco utilizada por dificuldade de obteno de catteres para execuo de forma

    contnua, tcnica mais empregada nos dias de hoje. Em injees intermitentes, morfina (0,2

    mg), fentanila (20 mcg) e sufentanila (15 mcg) t~em sido utilizadas, com vantagens para a

    morfina no que diz respeito durao do bloqueio. Os efeitos adversos mais observados,

    com doses usuais de opiides por via intratecal so: reteno urinria, prurido, nuseas e

    vmitos, sendo observados de forma mais freqente e intensa, se comparado com a

    peridural.

    Bloqueio Peridural:

    Constitui a tcnica de eleio para o tratamento da dor no ps-operatrio de

    toracotomias. Permite o uso de analgesia preemptiva, ou seja, antes que o estmulo

    nociceptivo se instale, quando realizada antes da sensibilizao central, com o paciente

    ainda desperto (mais segura) ou mesmo j anestesiado (mais confortvel), evitando a

    ocorrncia de situaes como hiperalgesia, alodinia e dor contnua. Propicia excelente

    controle da dor ps-operatria, permitindo uma ventilao pulmonar mais adequada,

    evidenciada por melhora significativa de gases arteriais e dos testes de funo pulmonar,

    permitindo ainda grande reduo nas doses de opiides sistmicos de resgate, condies

    que reduzem grandemente a incidncia de complicaes pulmonares ps-toracotomias.

    A puno do espao peridural pode ser realizada em nvel lombar (mais fcil), desde

    que utilizemos opiides hidroflicos, como a morfina, que custam mais a se fixar nas

    gorduras, abrindo o bloqueio, o que pode ser interessante quando da ocorrncia de cirurgias

    combinadas (toracofrenolaparotomias, incises torcicas combinadas com abdominais),

    mas, embora a maior dificuldade tcnica, a puno torcica utilizando drogas lipoflicas,

    como a fentanila, que se fixa rapidamente a de escolha da maioria por proporcionar um

  • bloqueio em faixa e, em conseqncia, com menor possibilidade de complicaes graves

    como a depresso respiratria.

    A associao de anestsico local com opiide permite a reduo da massa utilizada

    destas drogas, bem como do volume administrado, por promover um bloqueio duplo, ou

    seja, da raiz nervosa pelo anestsico local e dos receptores de opiide encontrados no corno

    posterior da medula. Isso importante, pois permite a diminuio das complicaes da

    tcnica.

    O uso de catteres permite uma maior certeza tcnica, e a administrao de soluo

    de maneira contnua, evitando o desconforto, pela dor no intervalo entre as injees

    observadas na tcnica intermitente. As associaes de anestsicos locais com opiides,

    mais comumente utilizadas, so: bupivacana 0,25 mg/ml + morfina 0,04 mg/ml e

    ropivacana 2,0 mg/ml + fentanila 2 mcg/ml, em infuso contnua de 7 a 10 ml/h, em

    adultos. Em crianas, essas associaes tm apresentado excelentes resultados, devendo-se

    reduzir a infuso para 2 a 4 ml/h.

    Quanto permanncia dos catteres, acredita-se ser segura por at sete dias, desde

    que curativos fechados sejam utilizados, bem como filtros de bactrias e a manipulao do

    catter e equipo seja reduzida. Deve ser empregada tcnica estril na troca das bolsas de

    soluo. Nos casos em que a permanncia do bloqueio necessite ser mais prolongada, a

    emergncia do catter por orifcio cutneo longe do stio de puno deve ser observada.

    Os principais efeitos colaterais com o uso de opiides por via peridural so prurido,

    nusea, vmito, sonolncia, reteno urinria e depresso respiratria. Esses efeitos so

    mais freqentes com a morfina, se comparada com a fentanila; j com os anestsicos locais

    podemos encontrar hipotenso por bloqueio simptico, reteno urinria e parestesias. A

    hipertenso costuma ser discreta pela baixa concentrao de anestsico local, mas, quando

    ocorrer, pode ser tratada por administrao moderada de volume, evitando o enxarcamento,

    ou, preferencialmente, por drogas vasoativas como o araminol IV e a efedrina SC. A

    infuso contnua de bupivacana pode, por sua cardiotoxidade elevada, ocasionar

    instabilidade cardiovascular importante, em pacientes limtrofes sob o ponto de vista

    cardaco.

    O uso de opiides de resgate, quando se usa a infuso contnua de opiide por via

    peridural, deve ser controlado para evitar nveis sricos altos e potencializao das

  • possveis complicaes. Uma alternativa a utilizao de vias de administrao com

    absoro mais lenta como a SC.

    CRIOANALGESIA:

    Consiste no congelamento dos nervos intercostais no final da cirurgia com

    nitrognio lquido a -600 C. Isso causa degenerao do axnio da fibra nervosa sem lesar o

    neurolema, o que possibilita o retorno gradativo da atividade neuronal.