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SEGUNDA- FEIRA [28-04-2014]: 10:30 – 12:00h - CONFERÊNCIA [Auditório B2 CP2] A contribuição da sociolinguística no (re)conhecimento do português brasileiro Maria Eugênia L. Duarte (Universidade Federal do Rio de Janeiro) A palestra buscará abordar quatro pontos a que o desenvolvimento dos estudos sociolinguísticos nos levou: a destruição de alguns mitos em torno do português brasileiro e do próprio conceito de “variável sociolinguística”; a possibilidade de desfazer alguns equívocos entre modelos teóricos para o estudo da mudança e sua necessária associação a uma teoria linguística, confusões que não percebíamos porque partíamos de alguns pressupostos equivocados; o avanço que conseguimos no reconhecimento da gramática do português brasileiro, chegando a resultados impressionantes relativos à regularidade na distribuição de fenômenos morfossintáticos nos centros urbanos analisados; e, finalmente, o quanto temos avançado na descrição da escrita brasileira contemporânea, produto de um embate entre (a) a gramática que falamos e (b) a gramática que nos serviu de modelo no processo de letramento. Isso me levará a algumas reflexões finais sobre a necessidade de direcionar tais resultados para o ensino.

SEGUNDA- FEIRA [28-04-2014]: 14:00 - 16:00h - SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 1 [Auditório B2 CP2] A estrutura passiva em português europeu e em português de Moçambique Antónia Estrela (CLUL/CLUNL/ESELx) e Luísa Alice Santos Pereira (CLUL) O objetivo desta comunicação é apresentar uma análise comparativa da construção passiva em Português Europeu (PE) e Português de Moçambique (PM), a partir das recentes propostas de tipologia que classificam as passivas como eventivas, resultativas e estativas (Embick 2004; Alexiadou & Anagnostopoulou 2008; Duarte & Oliveira 2010, Duarte 2013). Duarte e Oliveira (2010) e Duarte (2013) apresentam vários argumentos a favor da adequação da proposta de Embick (2004) para o PE e apontam argumentos nesse sentido. Tendo em conta a tipologia tripartida, os exemplos de (1) a (3) constituem passivas eventivas (1), resultativas (2) e estativas (3):

(1) O livro foi revisto por um leitor experiente. (2) O livro ficou revisto. (3) O exemplo está revisto.

As passivas eventivas e as passivas resultativas descrevem diferentes fases de situações dinâmicas, focalizando as primeiras a fase do processo de mudança de estado, lugar ou posse, e as segundas o estado que resulta dessa mudança, sendo este perspetivado como uma consequência da mudança. Para além destes dois tipos de passivas, destacam-se as passivas estativas que, apesar de exibirem um formato sintático muito próximo do das passivas resultativas, descrevem situações estativas, sem a presença de uma componente eventiva relacionada com mudança de estado (Duarte 2013). As passivas eventivas são geralmente as únicas que, em princípio, podem ocorrer, com agente da passiva, com advérbios orientados para o agente, com sintagmas preposicionais de valor instrumental e podem controlar o sujeito nulo de orações finais. A diferença que se estabelece entre passivas resultativas e estativas pode ser percecionada através da utilização da expressão em x tempo, dado que as primeiras assinalam não só o estado resultante como ainda a fronteira da passagem a esse estado, pelo que admitem a expressão referida. A análise a ser efetuada centrar-se-á nos seguintes aspetos: levantamento das frases passivas eventivas, resultativas e estativas em PE e PM; tipificação dos verbos que ocorrem com cada um dos tipos de passivas; análise das propriedades que ocorrem nestas construções em PM e que são diferentes das do PE; identificação do subtipo de passiva no qual ocorrem mais construções divergentes em PM, quando comparadas com PE. O corpus que serve de base à análise do PE é o C-ORAL-ROM, um corpus multilingue de língua falada espontânea, para quatro línguas românicas (Espanhol, Português, Francês e Italiano), com cerca de 300 mil palavras cada língua, abrangendo discurso formal e informal, de acordo com duas diferentes estratégias de amostragem. O discurso informal seguiu parâmetros referentes à estrutura do evento (diálogo vs. monólogo) e ao domínio sociológico de uso (familiar-privado vs. público) (Bacelar do Nascimento et al. 2005). Para a análise do PM, usa-se o corpus África, um corpus de variedades africanas do português, com 3 milhões de palavras do discurso escrito e oral, constituído por 5 subcorpora entre os quais o correspondente à variedade de Moçambique. A nossa análise recai sobre o corpus oral de Moçambique que engloba cerca de 26 mil palavras.

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Paralelamente, recorreu-se ao Dicionário de Regências de Verbos do Português de Moçambique (DRVPM), “uma base de dados de verbos, organizados por ordem alfabética, que apresentam propriedades lexicais distintas do português europeu padrão (PE)”. Neste dicionário, foram incluídas as frases passivas formadas a partir de verbos que, no PE padrão, ou selecionam um complemento preposicionado (objeto indireto ou oblíquo) ou são intransitivos (Gonçalves & Justino 2013). A análise comparativa, referente à construção passiva, incluirá referência a outros aspetos de propriedades do PM, como se mostra evidente nos exemplos (4) a (6), de Gonçalves & Justino (2013):

(4) [os jovens] são dados responsabilidades de família (5) não estou para [ - ] ser abusado por militares (6) [ - ] fui nascido em 1 de Janeiro

Referências bibliográficas Alexiadou, Artemis & Elena Anagnostopoulou (2008). Structuring participles. In Charles Chang & Hannah Haynie (orgs.)

Proceedings of the 26th West Coast Conference on Formal Linguistics. Somerville: Cascadilla Proceedings Project. 33-41 (disponível em http://alturl.com/4c8yo )

Bacelar do Nascimento, Maria Fernanda, José Bettencourt, Rita Veloso, Sandra Antunes, Florbela Barreto & Raquel Amaro (2005). The portuguese corpus. In Emanuela Cresti & Massimo Monegnia (eds.) C-ORAL-ROM: Integrated Reference Corpora for Spoken Romance Languages. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins Publishing Company. 163-207. [com DVD]

Duarte, Inês (2013). Construções ativas, passivas, incoativas e medias. In Eduardo Buzaglo Paiva Raposo, Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, Maria Antónia Coelho da Mota, Luísa Segura & Amália Mendes (orgs.) Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Duarte, Inês & Fátima Oliveira (2010). Particípios resultativos. In Ana Maria Brito, Fátima Silva, João Veloso & Alexandra Fiéis (eds.) Textos Seleccionados, XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Porto: Associação Portuguesa de Linguística. 397-408.

Embick, David (2004). On the structure of resultative participles in english. Linguistic Inquiry, 35, 3, 355-392. Gonçalves, Perpétua & Víctor Justino (2013). Dicionário de Regências de Verbos do Português de Moçambique (1987-2012).

http://www.catedraportugues.uem.mz/?__target__=drvpm. Gonçalves, Perpétua (1996). Português de Moçambique: Uma Variedade em Formação. Maputo: Livraria Universitária e

Faculdade de Letras da Universidade Eduardo Mondlane. Gonçalves, Perpétua (1990). A construção de uma gramática de português de Moçambique: Aspectos da estrutura argumental dos verbos. Dissertação de Doutoramento. Universidade de Lisboa.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Direcionalidade da mudança linguística e aquisição de orações relativas no português brasileiro Ana Cristina Baptista e Christina Abreu Gomes (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Este estudo enfoca a aquisição de orações relativas por crianças falantes do português brasileiro baseando-se em uma tarefa de repetição de sentenças conforme proposto por Diessel e Tomasello (2005), além da observação da produção espontânea de crianças em idade pré-escolar. Crianças que estão adquirindo construções relativas no Português Brasileiro (PB) são submetidas a um input variável no qual relativas padrão piedpiping (por exemplo: O menino de quem eu falei faltou hoje) variam com a estratégia do pronome resumptivo que não envolve apagamento, mas a manutenção da preposição in situ, seguido por um pronome resumptivo de um sintagma nominal relativizado (por exemplo: O menino que falei dele faltou hoje) e uma estratégia de apagamento de sintagma preposicional em que a preposição e o SN preposicionado estão ausentes (por exemplo: O menino que falei faltou hoje). Entretanto, o envelope da variação depende da posição sintática do núcleo, portanto, orações relativas de sujeito e objeto direto variam somente com orações relativas que usam a estratégia do pronome resumptivo enquanto as relativas com núcleos preposicionados são raramente usadas na variante padrão. De acordo com Tarallo (1983), relativas padrão piedpiping têm sido substituídas pelo apagamento do sintagma preposicional, então a aquisição de orações relativas no PB envolve não só a incorporação gradual de padrões gramaticais ainda mais complexos como em alemão e inglês, mas também a aquisição de variantes. Considerando que a similaridade estrutural a sentenças simples atua na aquisição de relativas, conforme Diessel (2009) propõe, que a similaridade entre tipos de sentenças diferentes facilitam o processo de aquisição de construções mais complexas, e considerando a mudança observada no PB, 78 sentenças estímulos foram construídas. Estes estímulos foram criados de acordo com duas condições: o tipo de relativas (sujeito, objeto direto, objeto indireto, adjunto adverbial e genitivo) e a variante dos estímulos (padrão, copiadora e cortadora) controlando fatores estruturais, semânticos e pragmáticos. Quarenta e sete crianças entre quatro e sete anos foram instruídas a repetir estímulos que foram distribuídos em três listas equivalentes de acordo com a metodologia do quadrado latino em que cada criança foi

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exposta às mesmas condições, mas a variantes diferentes de uma mesma sentença, repetindo 26 sentenças teste e 9 distratoras. As respostas foram classificadas em uma escala em que 0 corresponde a omissões, estruturas esquecidas ou produção de estrutura inexistente na língua, 1 corresponde à repetição da sentença utilizando uma variante possível na língua diferente do estímulo com ou sem alteração vocabular e 2 corresponde à repetição da sentença tal qual o estímulo ou com alterações lexicais de tempo, número, definitude, inserção ou omissões de pronomes que não afetem a estrutura relativa. Dados de produção espontânea de crianças entre 1,11 e 5,1 anos revelaram a presença de poucas ocorrências – 24 ocorrências -, com o seguinte tipo estrutural: relativas apresentativas, ou seja, relativas introduzidas por uma oração com um verbo de cópula em que há somente uma proposição apesar de haver duas orações (por exemplo: Este é o brinquedo que o menino ganhou). Apesar das poucas ocorrências, observou-se que as relativas infantis, embora proposicionalmente mais simples, seguiam o padrão de uso dos adultos. Esses dados revelam que a similaridade estrutural influencia no processo de aquisição, uma vez que a maioria das ocorrências observadas é da variante padrão em núcleos sintáticos não preposicionados à semelhança do que ocorre na fala dos adultos, visto que as relativas de sujeito ou de objeto direto com núcleos não preposicionados predominam na amostra infantil. Além disso, o tipo encontrado mais frequentemente foi de sujeito que conserva a ordem estrutural das sentenças mais simples da língua, ou seja, S (ou nome) Verbo e Complemento, o que também facilita a aquisição de orações mais complexas como as outras relativas. Os resultados da ANOVA revelaram o efeito do tipo de relativa e idade. As crianças apresentaram níveis de acuracidade maiores repetindo relativas padrão de sujeito e objeto direto e repetindo variantes cortadoras para posições em que preposições são necessárias, exceto as genitivas. Este comportamento indica um estágio de completude da mudança observada em Tarallo (1983) para o PB. Referências Diessel, H. (2009) On the role of frequency and similarity in the acquisition of subject and non-subject relative clauses In Talmy Givón and Masayoshi Shibatani (eds.), Syntactic Complexity, Amsterdam: John Benjamins, p. 251-276. Diessel, H. and Tomasello, M. (2005) A new look at the acquisition of relative clauses. Cognitive Linguistics 81(4), p. 882-906. Tarallo, F. (1983) Relativization Strategies in Brazilian Portuguese. PhD Dissertation, University of Pennsylvania. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Análise comparativa das interrogativas-Q em peças de teatro do PB e do PE Mayara Paula (Universidade Federal do Rio de Janeiro) O presente trabalho se propõe a dois objetivos principais: traçar o perfil da ordem dos constituintes (V)erbo (S)ujeito em sentenças interrogativas-Q do Português Europeu e elaborar uma comparação com os resultados já existentes para as mesmas estruturas do Português Brasileiro (cf. Duarte 2002). Uma terceira forma variante, as interrogativas-Q com sujeitos nulos farão parte da análise, a fim de testar a hipótese de Kato e Duarte (2002), para quem o aumento de sujeitos expressos no segundo quartel do século XX teria provocado a mudança em favor da ordem SV que acontece somente no PB. Com base em leituras sobre o mesmo fenômeno no PE contemporâneo (cf. Âmbar, 1993 e Brito, Duarte e Matos, 2003), e, levando em conta o fato de que o PE apresenta um sistema de sujeitos nulos estável, a hipótese que norteia esta pesquisa é a seguinte: esperamos um comportamento diferente na gramática do PE, com a ordem QVS ativa e a ocorrência de QSV condicionada à presença da clivagem. Tendo como aparato teórico o modelo de estudo da mudança proposto por Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]) associado à uma teoria linguística, o modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsky, 1995), o trabalho apresentará (i) uma investigação diacrônica das interrogativas-Q do PE com base em uma amostra constituída de dados coletados em peças teatrais portuguesas escritas ao longo dos séculos XIX e XX e (ii) uma comparação dos resultados obtidos para o PE com os já existentes para o PB. Essa comparação se faz possível já que ambas as pesquisas foram conduzidas com base em grupos de fatores semelhantes e utilizam amostras comparáveis distribuídas ao longo do tempo de forma similar em relação ao PB. Resultados preliminares, com base na análise de uma peça por período contemplado, confirmam nossa hipótese inicial, com expressiva ocorrência de sujeitos nulos (1), ordem VS (2) e SV com a presença de clivagem (3), mas foram atestados alguns poucos casos de ordem SV sem a clivagem no século XIX e inícios do século XX (4):

(1) a) Como vais modificar a peça? (João Pedro de Andrade, Continuação de comédia – 1931) b) Que barulho temos por cá? (Pinheiro Chagas, Quem desdenha... – 1874) (2) a) Que resposta deu o barão à minha carta? (Antonio Pedro Lopes de Mendonça, Casar ou meter freira –

1848)

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b) Que pretendes tu da feira de São Lourenço? (Norberto Ávila, A donzela das cinzas – 1990) (3) a) Como é que você veio dar consigo neste clima? (Pinheiro Chagas, Quem desdenha... – 1874)

b) O que foi que tu disseste? (Luís Francisco Rebello, Alguém terá que morrer – 1954) (4) a) Como nós poderíamos então diferençar uns dos outros? (Antonio Pedro Lopes de Mendonça, Casar ou

meter freira – 1848) b) Quem nós temos por aí apresentável? (Pinheiro Chagas, Quem desdenha – 1874) c) Com que então Vossa Inselência não teve medo ao mau tempo? (Bento Mântua, O álcool – 1912)

Espera-se trazer evidências empíricas que deem suporte às diferentes gramáticas do PE e PB. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Análise comparativa dos objetos cognatos em PE e PB: algumas propriedades sintático-semânticas Celda Choupina (Instituto Politécnico do Porto e CLUP) Nesta comunicação, analisaremos alguns aspetos sintáticos e semânticos de construções verbais com objetos cognatos (OC) (dançar-dançar; sonhar-sonho), na posição de complemento direto, comparando as suas propriedades em PE e PB. Faremos um estudo comparativo a partir de cinco construções, (1) a (5), a fim de sistematizar algumas semelhanças e diferenças entre as duas variantes do Português:

1) Os bailarinos dançaram uma dança diferente. 2) O meu filho sonhou um sonho agradável. 3) O João dormiu um sono rápido. 4) Fatalmente, ela morreu (de) uma morte atroz. 5) Ele beijou um beijo na/a Maria.

Partiremos da apresentação dos resultados de um inquérito aplicado a dois grupos de estudantes adultos, um de PE e outro de PB, de cursos de nível superior não linguísticos; inquérito esse que incide em juízos individuais de gramaticalidade acerca daquelas 5 construções, assim como das suas paráfrases por estruturas com verbos leves (ou pleno correspondente) seguidos da nominalização deverbal, como em (6) a (10).

6) Os bailarinos fizeram uma dança diferente. 7) O meu filho teve um sonho agradável. 8) O João fez/teve um sono rápido. 9) Fatalmente, ela teve uma morte atroz. 10) Ele deu um beijo à/na Maria.

Com este instrumento de investigação pretendemos explorar duas questões: a consideração das construções com OC como uma estrutura dialetal (PE vs. PB) e também como uma variedade idioletal, na medida em que pode haver diferenças individuais na preferência da construção com OC (1-5) ou da respetiva paráfrase (6-10). Os estudos precedentes (cf. Leung, 2007, para o PB, e Choupina, 2013, para o PE) indicam que o PB prefere as estruturas com verbo pleno e nominalização correspondente (estruturas com OC, (1) a (5)); e, no âmbito da variedade idioletal, no PE, regista-se preferência pelo uso das paráfrases (verbo leve seguido da nominalização deverbal, (6) a (10), reconhecendo-se, no entanto, a estrutura com OC como regional e típica de discursos pouco vigiados. Faremos, posteriormente, a análise sintático-semântica das construções, quer das que contêm OC quer das suas paráfrases, uma vez que os OC são de vários tipos, exibindo propriedades sintáticas e semânticas distintas, quer numa mesma língua, quer entre variantes, ou mesmo línguas diferentes, por exemplo, PE – Francês, Ingês, Espanhol: verdadeiros cognatos (sonhar-sonho); cognatos aparentados (dançar-dança); objetos cognatos preposicionais (morrer-(de) morte). (Hale & Keiser, 2002; Leung, 2007; Real-Puigdollers, 2008; Silva, 2010; Choupina, 2013) Em (1) a (5), temos construções com verbos de tipos sintáticos diferentes (alternância transitiva/intransitiva; intransitivo inergativo; intransitivo inacusativo; transitivo direto), assim como tipos semânticos distintos (execução; atividade intelectual; reação corporal; atitude) (cf. Mateus et al., 2003; Höche, 2009). Estas diferenças de base levam a diferenças sintáticas e semânticas importantes na construção: desde logo, o que distingue, as frases (1) a (5) é a obrigatoriedade de artigo indefinido e de modificador restritivo nos verdadeiros cognatos (12a,b), contrariamente à sua opcionalidade nos objetos aparentados (11a,b); os OC verdadeiros não admitem a construção passiva (12c) enquanto os aparentados admitem (11c); os OC verdadeiros não permitem a pronominalização (12d), os aparentados permitem (11d).

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11) a) Os bailarinos dançaram a dança diferente. b) Os bailarinos dançam a/uma dança. c) Uma dança diferente foi dançada pelos bailarinos. d) Os bailarinos dançaram-na.

12) a) *O meu filho sonhou o sonho agradável. b) *O meu filho sonhou o/um sonho. c) *Um sonho agradável foi sonhado pelo meu filho. d) *O meu filho sonhou-o.

As Línguas Românicas, especificamente o PE e o PB, colocam problemas novos quanto à temática dos OC e das paráfrases e, em parte, põem em causa o tratamento clássico deste fenómeno, encetado por Hale & Keyser (1993; 2002), assim como a perspetiva comparativa realizada por Real-Puigdollers (2008). Nesta comunicação, além de se descreverem, comparativamente, as propriedades sintático-semânticas dos OC, faz-se uma abordagem sintática de algumas dessas construções, no quadro da Morfologia Distribuída e de algumas ideias do Programa Minimalista. Dado que uma teoria estritamente lexicalista como a desenvolvida por Hale & Keyser (1993, 2002), para o Inglês, não permite dar conta de todas as particularidades levantadas pelas construções em Português, propôs-se uma análise que concilia os contributos de Haugen (2009), a propósito dos OC no Inglês e a ideia de movimento por cópia (Chomsky, 1995). Palavras-chave: sintaxe, verbos, objetos cognatos, Morfologia Distribuída, movimento por cópia. Referências: Choupina, C. M. (2013): Contributos para uma análise sintática dos objetos cognatos em PE. Studia Romanica Posnaniensia, Adam Mickiewicz University Press. Poznán, vol.XL/1, pp. 59-79. ISBN 978-83-232-2542-3. Chomsky (1995). The Minimalist Program. Cambridge, Mass.: The MIT Press. Hale, K., Keyser, S.J. (1993). On Argument Structure and the Lexical Expression of Syntactic Relations. In Hale, K & Keyser, S.J. (eds.). The View From Building 20: Essays in Linguistics in honour of Sylvain Bromberger. Cambridge. Mass.: MIT Press., 53-109. Hale, K., Keyser, S.J. (2002). Prolegomenon to a theory of argument structure. Cambridge, Mass., MIT Press. Haugen, J. D. (2009). Hyponymous objects and Late Insertion. Lingua 119 (2). 242-262. Real-Puigdollers, Cristina (2008) The Nature of Cognate Objects. A Syntactic Approach. In Proceedings ConSOLE XVI, pp. 157–178. Disponível em: http://media.leidenuniv.nl/legacy/console16-real-puigdollers.pdf (27/05/2011). Silva, M. L. (2010). As construções com objeto cognato em Português – análise e esboço de modelagem sociocognitiva. Disponível em: http://marcelolopesdasilva.com.br/index.php/textosdoautor/doc_details/12-2010b-as-construcoes-com-objeto-cognato-em-portugues-analise-e-esboco-de-modelagem-sociocognitiva.html (27/05/2012). Leung, R., (2007). Um estudo sobre os objetos cognatos e os adjetivos adverbiais no português do Brasil. São Paulo. Tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo. [On-line], disponível em http://www.fflch.usp.br/dl/pos/teses/LEUNGrenata.pdf (acedido em 20/03/2012).

SEGUNDA- FEIRA [28-04-2014]: 14:00 - 16:00h - SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 2 [Auditório ILCH]

A variação geolingüística nos provérbios portugueses

Lucília Chacoto (Universidade do Algarve e CLUL) Os provérbios são etnotextos de uma extrema riqueza não só do ponto de vista etnológico, cultural, mas também linguístico. Estes enunciados, muito embora se caracterizem pela sua fixidez, apresentam amiúde variantes, que não alteram o significado global do provérbio (em geral, idiomático) e formam um paradigma restrito. Sendo veiculados sobretudo oralmente, no uso quotidiano da linguagem, os provérbios sofrem alterações sobretudo fonéticas e lexicais, mas também morfológicas e sintáticas, dependendo do grau de literacia dos falantes e da sua região. O objectivo do presente trabalho é analisar a variação geolinguística dos provérbios portugueses, a partir de corpora datados e localizados. Por variantes de um mesmo provérbio deve entender-se enunciados sintática e semanticamente equivalentes. Por exemplo, o provérbio: Em Junho, foice no punho. (recolhido em Trás-os-Montes e Alto Douro por Ferreira 1999: 217) apresenta a seguinte variante: Em Junho seitoira em punho. (recolhida em Faia por Moura 1960: 259) Seitoira é

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um regionalismo utilizado nas Beiras e em Trás-os-Montes, para designar um instrumento agrícola que se usa para segar ou cortar cereais (o mesmo que foice). A ocorrência de um regionalismo pode permitir a localização do provérbio, restringindo-o (ou a uma variante em particular) a uma área geográfica específica. Apesar de os provérbios serem, regra geral, grafados ortograficamente nas recolhas e dicionários da especialidade, algumas obras como atlas linguísticos e dissertações recorrem à transcrição fonética ou a situações de compromisso, dando ao leitor uma melhor perceção da produção dos falantes. Veja-se, nomeadamente, o provérbio: Dia de S. Lourenço, bai à vinha e enche o lenço. (recolhido em Quadrazais por Braga 1971: 249-B) que atesta a neutralização da oposição fonológica entre /v/ e /b, vulgarmente designada troca do v pelo b, um dos traços característicos dos dialetos setentrionais. Este fenómeno pode levar inclusive a hipercorreções como vago por bago: Pelo S. Tiago pinta o vago. (recolhido em Miranda do Corvo por Ralha 1994: 12) No que concerne à morfologia, provérbios como: Vale mais o pouco certo, que o muito desencerto. (recolhido em Murteira por Costa 1961: 332) permitem ilustrar erros de metanálise, ou seja, análise morfológica incorreta, que podem levar falantes iletrados ou com baixo nível de instrução a empregar simultaneamente dois prefixos de negação (respetivamente in- e des-), porventura para conferir uma maior ênfase. Por último, embora a língua portuguesa apresente variação diatópica sobretudo no que respeita à fonética e ao léxico, os provérbios dão conta de variação ao nível sintático. A par de: Remenda o teu pano que te chega ao fim do ano, e no fim de remendares verás o que te sobrará. (recolhido em Escusa por Baptista 1967: 301) encontramos: Arremenda o teu pano chegará-te ao ano, torna-o a arremendar, tornará-tea chegar. (recolhido em Monsanto por Buescu 1961: 310). A dificuldade que representa a mesóclise – que apenas existe em português europeu – e o facto de ocorrer com o verbo unicamente no Futuro do Indicativo ou no Condicional, leva os falantes não escolarizados ou com baixo nível de escolarização a produzirem frases agramaticais como esta. De notar que, curiosamente, o facto de se tratar de uma frase fixa – memorizada em bloco – não representa um impedimento à introdução de incorreções provocadas pelo desconhecimento das regras da gramática do português. Estes e outros fenómenos podem ser observados em enunciados paremiológicos, dado que são enunciados linguísticos e estão consequentemente sujeitos às regras da gramática da língua. Citados por falantes de diferentes dialetos, os provérbios sofrem, por vezes, as influências linguísticas próprias de cada região. É, pois, nosso objetivo analisar a variação diatópica que os provérbios apresentam em português, dada a relevância destes enunciados fraseológicos para a geolinguística. Algumas referências bibliográficas Baptista, Cândida da Saudade Costa. 1967. O Falar de Escusa, dissertação de Licenciatura em Filologia Românica, Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Braga, Franklim Costa. 1971. Quadrazais – Etnografia e Linguagem, dissertação de Licenciatura em Filologia Românica, Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Buescu, Maria Leonor Carvalhão. 1961. Monsanto – Etnografia e Linguagem, Lisboa: Publicações do Centro de Estudos Filológicos. Carpitelli, E.;Contini, M. & J. É. Médélice (dirs.). 2012. Géolinguistique, 13, Grenoble: Centre de Dialectologie GIPSA-lab UMR 5216 – Université de Grenoble. Costa, Maria Rosa Lila Dias. 1961. Murteira – Uma Povoação do Concelho de Loures, Etnografia – Linguagem. Folclore, Lisboa: Edição do Serviço Especial de Cultura da Junta Distrital de Lisboa. Ferreira, Joaquim Alves. 1999. Miscelânia, IV vol.: Literatura Popular de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real: Minerva Transmontana Tipografia, Lda. Moura, Constança da Silva Pires. 1960. Faia, aldeia do concelho de Sernancelhe – Etnografia, Linguagem e Folclore, dissertação de Licenciatura em Filologia Românica, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ralha, Maria Arlete (orientadora). 1994. Provérbios e Lengalengas, Miranda do Corvo: Edição da Câmara Municipal de Miranda do Corvo. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Denominações em entrevistas com falantes de português de países africanos e de Timor Leste

Klébia Silva, Camila M. Peixoto e Maria Elias Soares (Universidade Federal do Ceará) O presente trabalho tem como objetivo analisar como falantes de países africanos de língua oficial portuguesa e no Timor-Leste (os PALOPs) categorizam conceitos em termos de unidades semântico-lexicais, em língua portuguesa, isto é, busca verificar os diversos modos de denominar, de nomear um elemento, utilizados por tais falantes, quando lhes é oferecida uma definição. Visa-se, dessa forma, identificar as variedades lexicais utilizadas por esses falantes de língua portuguesa para caracterizar um conceito, já que ao utilizarem uma expressão lexical para nomear algo,

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estão denominando conceitos segundo os propósitos ou efeitos de sentido que querem alcançar. Esse estudo está inserido em um projeto maior do grupo Profala que tem como objetivo disponibilizar um banco de dados do português falado em tais países e, assim, possibilitar uma análise descritiva, sob a perspectiva dos aspectos fonético-fonológicos, semântico-lexicais, morfossintáticos e pragmático-discursivos da Língua Portuguesa. O grupo Profala está construindo um banco de dados com a participação de 120 informantes dos PALOPs e do Timor-Leste, através da aplicação de uma adaptação do questionário do Atlas Linguístico do Brasil (ALIB). Para este trabalho especificamente, realizamos um recorte em que focalizamos apenas um dos questionários aplicados nas entrevistas que constituem o corpus do projeto Profala, o questionário semântico-lexical, uma vez que nele o entrevistador dar um conceito para que o informante nomeie o elemento. Analisamos cinco questionários de cada país que compõe o corpus. Isso faz com que possibilite a identificação das diversas formas usadas para nomear um conceito e, assim, possa-se analisar variantes de um mesmo termo resultantes de usos característicos em comunidades de língua portuguesa, de acordo com sua diversidade social, linguística e geográfica. Nosso estudo segue os princípios metodológicos da sociolinguística variacionista que postula ser a língua um fenômeno inerentemente variável. Nesse sentido, a língua deixa de ser vista como uma realidade exclusivamente linguística e para ser compreendida como um elemento dependente da estrutura social em que seus usuários se inserem (LABOV, 2008 [1972]). Cabe, ainda, conforme afirma Mateus (2009), aclarar que, em nossa pesquisa, a concepção de que a variabilidade resultante dos dados é tratada em termos de índice de diversidade e não como prova de inferioridade ou superioridade do falar de um determinado país. LABOV, William (1972). Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. [Padrões Sociolinguísticos. Trad.: Marcos Bagno; Marta Scherre e Caroline Cardoso. São Paulo: Parábola, 2008.] MATEUS, Maria Helena Mira. Uma política de língua para o português. Mesa redonda sobre política linguística, 2009.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Uso variável de aí, daí e então no português brasileiro

Marília Vieira (Universidade de São Paulo) Com base em uma amostra de 48 entrevistas, analisa-se o uso variável de AÍ, DAÍ e ENTÃO como itens de articulação de orações em duas comunidades de fala brasileiras: Campo Grande e São Paulo. Campo Grande é a capital do estado de Mato Grosso do Sul e fica no centro-oeste do país. São Paulo, capital do estado homônimo, no sudeste do Brasil, dista 1000 quilômetros de Campo Grande e é a maior metrópole da América Latina. A partir dos postulados de Traugott e Heine (1991) acerca da gramaticalização de operadores argumentativos, pressupõe-se que AÍ, DAÍ e ENTÃO tenham percorrido o trajeto espaço > (tempo) > texto, alcançando, ainda, um estágio posterior, o do discurso. Logo, tais elementos atuam como advérbios (“o mundão está AÍ, né?”; “a gente sente fragilizado ainda é... nisso DAÍ”; “eu saí do bairro e, desde ENTÃO, não fui mais na casa dela”) como conectores e como partículas anafóricas. Para Traugott e Heine (1991), no processo dêitico-discursivo, ocorre uma transferência do contexto situacional externo ou referencial para o contexto discursivo interno, resultante do conhecimento compartilhado por falante e ouvinte. Com base no aporte teórico da Sociolinguística Variacionista (Labov, 1972, 2001) e da Gramaticalização (Givón, 1995), este trabalho pretende demonstrar a intercambialidade dos itens em questão em cinco contextos linguísticos:

1) Sequenciação ordenativa (“eu estava no ônibus aí/daí/então sentou um moleque... um moleque de tudo do meu lado”);

2) Sequenciação não-ordenativa (“eu trabalho por conta aí/daí/então quando tem o serviço eu vou e faço, quando não tem eu fico em casa”);

3) Causa e efeito (“ele falava que eu era de Campo Grande aí/daí/então ficava difícil as pessoas não saberem isso”);

4) Repetição de tópico discursivo (“eu já fui pra Americana, mas eu só fui a trabalho, que teve uma feira né? da Darling aí/daí/então eu peguei e fui”);

5) Síntese (“eu não sei, eu acho que São Paulo tem muita contradição, aí/daí/então é isso”).

Nos três primeiros contextos, AÍ, DAÍ e ENTÃO atuam como juntivos e, nos últimos, como marcadores discursivos. De acordo com Braga & Paiva (2003), quando comparados aos juntivos, os marcadores discursivos são formas mais gramaticalizadas; consequentemente, têm carga semântica enfraquecida e apresentam menor mobilidade sintática. Desse modo, a análise qualitativa dos dados dirige à sua organização em dois envelopes de variação, que se definem não só pelas especificidades desses dois conjuntos, mas também pela necessidade de discutir, teórica e

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metodologicamente, os limites funcionais de AÍ, DAÍ e ENTÃO nos pontos focais (juntivo e marcador discursivo) e contextos considerados. Atentando para possíveis correlações entre esses itens, os contextos discursivos elencados e os fatores estruturais e sociais testados neste estudo, as análises quantitativas do Goldvarb X (Sankoff et al., 2005) identificarão convergências e divergências no uso de tais elementos em Campo Grande e São Paulo. Dentre as variáveis estruturais que norteiam o tratamento estatístico dos dados estão o tipo de sequência discursiva (narração, descrição e argumentação) e o aspecto verbal das orações que precedentes e subsequentes aos juntivos/marcadores. Em ambas as comunidades de fala, a ocorrência de AÍ e DAÍ tem sido maior em função juntiva e entre a faixa etária jovem. Em função discursiva, ENTÃO parece ser mais frequente que AÍ e DAÍ, principalmente na fala de informantes mais escolarizados. Ao cotejar duas amostras de fala, esta pesquisa pretende identificar padrões de uso dos operadores argumentativos AÍ, DAÍ e ENTÃO no português brasileiro. Referências BRAGA, M. L; PAIVA, M. C. Do advérbio ao clítico é isso aí. In: RONCARATI, C; ABRAÇADO, J. (org). Português brasileiro – contato linguístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003, p.206-212. GIVÓN, Talmy. Functionalism and Grammar. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 1995. LABOV, William. Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972. ______________. Principles of linguistic change: social factors. Oxford: Blackwell, 2001. SANKOFF, D.; TAGLIAMONTE, S. & SMITH, E. Goldvarb X: A variable rule application for Macintosh and Windows. Department of Linguistics, University of Toronto, 2005. TRAUGOTT, Elizabeth Closs; HEINE, Bernd eds. Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: Benjamins, 1991, 2 vols. SEGUNDA- FEIRA [28-04-2014]: 16:30 -18:30h PROJETO PSFB [Auditório B2 CP2] Portanto no falar bracarense: valores contextuais Maria Aldina Marques e Micaela Aguiar (CEHUM/Universidade do Minho) E à volta era tudo quintas que era miúdo e à volta daqui desta zona era tudo quintas. ((hesitação)) Portanto• • • esta zona daqui da Sé e Maximinos ou isso, (16H2C)

O trabalho que apresentamos é a continuação de uma primeira análise já realizada, numa perspetiva quantitativa, das ocorrências do marcador discursivo “ portanto” na fala bracarense. Esta segunda fase do estudo privilegia uma análise qualitativa dos dados recolhidos nas 74 entrevistas que constituem o corpus construído no âmbito do projeto Perfil sociolinguístico da fala bracarense, com a referência FCT PTDC/CLE-LIN/112939/2009. A abordagem qualitativa de portanto já foi realizada por outros investigadores, portugueses e brasileiros, de que salientamos Lopes, Pezatti e Novaes (2001) e Freitas e Ramilo (2003), cujos trabalhos, numa perspectiva descritiva, não normativa, constituem a base da análise agora realizada. Estes dois trabalhos fazem a descrição das propriedades discursivas de portanto, que estão na base de duas propostas de tipologização, uma proposta inicial de Lopes et al., reformulada por Freitas e Ramilo. Os usos recenseados têm origem em corpora diversos; Lopes et aliae utilizaram o CRPC para o PE e o corpus do projeto NURC para o PB, a que acrescentaram um corpus escrito de revistas e jornais de circulação nacional; Freitas e Ramilo usaram unicamente o corpus REDIP. O nosso objetivo é confrontar os resultados obtidos nestes dois trabalhos com os resultados da análise do corpus da fala bracarense, a fim de testar as categorizações definidas e propor alterações e reformulações que decorrem, em primeiro lugar, do facto de considerarmos que portanto é polifuncional e, por isso, apresenta valores semântico-discursivos que confluem num mesmo contexto, se combinam e se sobrepõem, criando diferentes efeitos de sentido. Referências bibliográficas Bouchard R. (2000): “M’enfin !!! Des ‘petits mots’ pour les “petites” émotions ?”. C. Plantin, M. Doury e V. Traverso, (éds), Les émotions dans les interactions. Lyon, PUL/ARCI, 223-238. Bruxelles, Sylvie, Traverso, Véronique (2001), “Ben : apport de la description d’un “petit mot” du discours à l’étude des polylogues”, Marges linguistiques – Numéro 2, Novembre 2001 http://www.marges-linguistiques.com Freitas, Tiago e Ramilo, M. Celeste (2003), “O actual estatuto da palavra portanto”, in Actas do XVIII Encontro da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: Colibri. Lopes, Ana C. M., Pezatti, Erotilde e Novaes, Norma (2001), “As construções com portanto no PE e no PB, Scripta, vol5, nº9. Belo Horizonte: PUC Minas Lopes, Ana C. (2004), “A polifuncionalidade de bem no PE contemporâneo”, Semantics 4, New-York: Academic Press, 1-36. Marques, M.Aldina e Aguiar, Micaela (2013), Usos de portanto no falar bracarense. Póster apresentado no XXIX Encontro APL, Coimbra, 23 a 25 de outubro.

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----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A realização das oclusivas vozeadas em falantes do PSFB Celeste Rodrigues (CLUL), Anabela Rato, Henrique Barroso, Patrícia Varanda, Micaela Aguiar e Vera Barbosa (CEHUM/Universidade do Minho) As oclusivas vozeadas são tema de debate em muitas línguas, sobretudo no que se refere à questão do vozeamento. Esses segmentos, descontínuos fonologicamente, caracterizam-se por ter uma oclusão, na sua primeira fase, seguida de explosão, apresentando vozeamento ao longo de toda a duração. Esta descrição simplificada caracteriza [b], [d] e [g], mas não esgota, no entanto, as realizações possíveis das três unidades fonológicas /b/, /d/ /g/. Há várias décadas, o assunto tem merecido alguma atenção de fonólogos e de foneticistas do português (entre outros, Andrade 1977, Andrade et al. 1978, Viana 1979, Veloso 1995, Rodrigues 2003), ainda que não muita da parte dos estudos dialetais e de história da língua portuguesa. As principais variantes fonéticas identificadas são as correspondentes fricativas não-estridentes vozeadas [B], [D], [ƒ] e as formas desvozeadas, que representaremos, em conformidade com o IPA, com o sinal diacrítico ” 8”subposto (por exemplo, [b8]). Rodrigues 2003, após observação de múltiplas gravações com falantes de Lisboa e de Braga tendo como base transcrições de base exclusivamente percetiva, pode concluir que existe assimetria na frequência das formas oclusiva e fricativa entre as três consoantes que não é explicável em função do perfil de falante. De todas as oclusivas, a que menos fricatiza segundo a sua análise é o /d/ nas duas cidades. Uma vez que a análise de base percetiva pode não ser fiel às propriedades acústicas do sinal, ainda que possa ser determinante para questões de processamento linguístico e possam levar à existência de mudança na língua, desenvolvemos este trabalho acústico exploratório dos dados do PSFB, cujo principal objetivo é o de determinar se as variantes fricativas não-estridentes são mais comuns do que as formas verdadeiramente oclusivas e se todos os falantes apresentam a mesma preferência pelas formas oclusiva ou fricativa. Na impossibilidade de observarmos todos os contextos de ocorrência das três consoantes, cingir-nos-emos ao contexto em que a fricatização é tida como mais comum. Por essa razão, não serão de estranhar altas percentagens de realização das variantes fricatizadas. O maior interesse deste trabalho, comparativamente com o de trabalhos anteriores com base em materiais especificamente criados para testar a realização destes segmentos, prende-se com o uso de gravações semi-espontâneas, nas quais nenhuma atenção foi colocada neste tipo de segmentos, o que promove a espontaneidade dos dados e a sua representatividade da variedade linguística. Procuramos perceber se os dados se enquadram nos tipos de realização previsíveis em função das descrições já existentes e qual a sua frequência de uso, por grupo de falantes. O nosso estudo inclui falantes de Braga dos dois géneros dos seguintes perfis: escolaridade até ao 9º ano, entre 26-59 e acima de 75 anos, ou seja das células: H2B, H4B, M2B e M4B do PSFB). Ao todo pretendemos analisar dados de oito falantes, dois falantes por célula. Os dados do PSFB indicam uma percentagem de fricatização elevada em posição intervocálica. Embora se registem diferenças nos dados dos falantes dos diversos perfis, é de reter que a taxa de incidência da fricatização é quase sempre superior a 80% dos casos. No PSFB as formas fricativas das oclusivas dento-alveolares não apresentam resultados muito diferentes das restantes, mostrando por isso que os resultados da fricatização no CPE-Var reportados por Rodrigues (2003) não devem ser excessivamente valorizados ou, alternativamente, que houve uma mudança nos contextos abrangidos pelo fenómeno (o que só pode ser comprovado se os seus dados forem analisados acusticamente). Verificamos que há algumas diferenças entre falantes e entre as células, ainda que os resultados não sejam muito divergentes. O desvozeamento ocorre com baixa frequência e sobretudo associado a formas fricatizadas. No caso dos falantes do género feminino, o desvozeamento ocorre apenas na faixa etária mais jovem. A generalização da fricatização nos dados do PSFB parece estar relacionada com a própria natureza do fenómeno. Trata-se de um processo de relaxamento da tensão articulatória que, em vez de unir os articuladores, apenas reduz o canal por onde o ar pode transitar entre articuladores. Não havendo obstrução, o grau de contraste percetivo existente entre V e C diminui, mas o esforço articulatório é menor, pelo que o processo, deste ponto de vista, deve ser entendido como fenómeno de redução, facilmente compreensível numa língua de ritmo acentual como o Português Europeu. Referências Andrade, E. 1977, Aspects de la Phonologie (Générative) du Portugais, INIC, CLUL, Lisboa. Andrade, A., E. d’Andrade e Viana 1978, A fricatização das oclusivas sonoras em Português, Relatório do grupo de Fonética e Fonologia, nº 3. Rodrigues, C. 2003, Lisboa e Braga: Fonologia e Variação, FCT-FCG, Lisboa.

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Veloso, J. 1995, Aspectos da percepção das “Oclusivas fricatizadas” do Português, Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, FLUP, Porto. Viana, M. C. 1979, Études sur la perception du voisement des occlusives en Portugais, D.E.A. de Phonétique, Institut d’Études Linguistiques et Phonétiques, Paris. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ O vocalismo acentuado bracarense: resultados comparados de três amostras

Celeste Rodrigues (CLUL), Anabela Rato (CEHUM) e Catarina Silva (CLUL) O vocalismo acentuado do Português Europeu da variedade falada em Lisboa já foi objeto de alguns trabalhos (Delgado-Martins 1973, 1975; Escudero, Boersma, Rauber, & Bion 2009), porém as características da variedade bracarense ainda são grandemente desconhecidas (apesar de Rodrigues e Martins 1999). Recentemente, Rato (2013) apresenta os valores acústicos dos segmentos vocálicos acentuados produzidos por vinte e seis falantes do distrito de Braga, entre os quais oito de freguesias urbanas de Braga, estudantes universitários entre os 18 e 40 anos de idade, com base em dados de fala controlada. O presente trabalho procura preencher a lacuna existente na investigação do vocalismo bracarense obtido em fala não preparada, com a apresentação do estudo de dezasseis novos falantes, inquiridos no âmbito de duas pesquisas sociolinguísticas existentes com dados de falantes da cidade de Braga, para além dos dados de Rato (2013). Nessa medida, estende o estudo de material de fala controlada a fala semi-espontânea. Trata-se de falantes do PSFB e do CPE-Var (Rodrigues 2003), pertencentes a duas faixas etárias distintas (entre os 20-30 e entre os 50-60 anos de idade), dos dois géneros e só da parte de discurso informal. Serão descritos os dados referentes a dois informantes de cada célula de cada uma das amostras. Este perfil foi escolhido com a finalidade de comparar duas faixas etárias afastadas e relativamente estreitas. Os falantes têm diversos graus de escolaridade em cada um dos grupos, de modo a afastar a possibilidade de enviesamento dos resultados devido ao grau de instrução. Os falantes dos dois corpora, CPE-Var e PSFB, foram considerados com a finalidade de verificar se existe alguma diferença relevante entre os dados do vocalismo nas duas amostras recolhidas com cerca de vinte anos de intervalo, já que pequenas diferenças observadas neste período podem, por exemplo, condicionar o uso dos resultados como elemento de comparação em pesquisas forenses. Rato (2013) mediu a duração e os valores de frequência de F1 e F2 das sete vogais acentuadas produzidas por oito falantes em seis contextos fonológicos, num total de 336 ocorrências. Os dados foram obtidos através de um teste de produção, que consistiu na leitura da frase veículo “Digo CVCo novamente” (C= Consonante; V= vogal alvo). No estudo dos dezasseis falantes do CPE-Var e do PSFB, foram realizadas medições acústicas dos quatro formantes (F1, F2, F3 e F4) e da frequência fundamental (F0) dos mesmos segmentos vocálicos, num total de 1680 ocorrências. Os resultados referentes a cada um dos conjuntos de dados serão apresentados primeiro separadamente com o objectivo de depois servirem para a comparação. Os resultados da amostra controlada do estudo de Rato (2013) mostram que os valores de F1 são mais altos nas produções dos falantes de Braga quando comparados com os dados de Escudero et al. (2009), ou seja, as vogais acentuadas de Braga são mais abertas do que em Lisboa. Em relação aos valores de F2, as vogais posteriores apresentam valores mais altos nas produções dos homens do que os reportados em Escudero et al. (2009), o que indica que estas são mais recuadas em Lisboa do que em Braga. A vogal /E/

destaca-se por ser consideravelmente mais baixa na fala Bracarense do que na fala Lisboeta. Os resultados dos dados do CPE-Var recolhidos em 1996-97 mostram que os falantes de Braga produzem as vogais acentuadas de forma mais aberta do que os falantes de Escudero et al. (2009), em consonância com os resultados de Rato em fala controlada. Do mesmo modo, apresentam valores de F2 na ordem dos 1000Hz para a vogal /u/ tanto nas mulheres como nos homens, o que torna essa vogal substancialmente mais avançada do que descrita no trabalho de Escudero et al. (2009) com valores na ordem dos 800Hz. Apresentaremos os resultados das análises do PSFB, que nos permitem concluir que o vocalismo acentuado desta cidade possui características distintas do PE da região de Lisboa, mantendo o mesmo número de contrastes vocálicos, ainda que com áreas de dispersão menos confluentes do que a variedade de Lisboa. Referências Delgado-Martins, Maria Raquel (1973) “Análise acústica das vogais orais tónicas em português, Boletim de Filologia, Universidade de Lisboa, 22, 303-314. Delgado-Martins, Maria Raquel (1975). Vogais e consoantes do português: estatística de ocorrências, duração e intensidade. In

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M. R. Martins (2002) Fonética do português: trinta anos de investigação (pp. 53-63). Lisboa: Caminho. Delgado-Martins, M. R. 2002, Fonética do português: trinta anos de investigação, Caminho, Lisboa. Escudero, Paola & Boersma, Paul & Rauber, Andréia Schurt & Bion, Ricardo A. H. 2009: “A cross-dialect acoustic description of vowels: Brazilian and European Portuguese,” J. Acoust. Soc. Am. 126-3, September 2009, 1379-1393. Rato, Anabela 2013: Cross-language Perception and Production of English vowels by Portuguese Learners: The effects of Perceptual Training, PHD, UM, Braga. Rodrigues, C. 2003: Lisboa e Braga: Fonologia e Variação, FCT-FCG, Lisboa. Rodrigues, Celeste e Fernando Martins 1999: Espaço acústico das vogais acentuadas de Braga”, Actas do 15º EN da APL, vol. II, p. 301-317. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ As palavras também se abatem: variação, léxico e significado José Teixeira (CEHUM/Universidade do Minho)

Para a perspetiva cognitiva, o léxico das línguas naturais não é apenas um conjunto de exceções que não obedecem aos princípios normais de organização linguística, mas antes uma estrutura onde transparecem as concetualizações e o significado corporizado (“embodied meaning”) que constitui a essência da finalidade do fenómeno linguístico. O corpus do Perfil Sociolinguístico da Fala Bracarense permite comprovar como determinadas concetualizações básicas numa dada época e ambiência social e que as línguas transformam em unidades lexicais podem deixar de existir sem praticamente deixarem rastos nos registos oficiais das línguas que são os dicionários. A partir da palavra “cascavelho” utilizada por um entrevistado do PSFB e dado o facto de que nenhum dicionário da Língua Portuguesa a regista, efetuou-se um conjunto de mais de 500 inquéritos feitos no Norte de Portugal para tentar perceber: 1. A atual existência ou não da palavra no léxico regional da zona geográfica que inclui a fala bracarense; 2. A dimensão sócio-cognitiva que a palavra evidencia; 3. A relação entre o conhecimento da palavra e as dimensões regionais e etárias; 4. O léxico como um sistema aberto, composto por unidades que foram estruturantes mas que podem desaparecer sem (quase) deixarem vestígios. Palavras-chave: cognição, léxico, significado, variação regional, cascavelho TERÇA-FEIRA [29-04-2014]: 9:00 – 11:00h – SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 3 [Auditório B2 CP2] Para uma tipologia da concordância sujeito-verbo em português

Maria Antónia Mota (Universidade de Lisboa / CLUL) No âmbito da pesquisa levada a cabo no quadro de um projecto sobre a concordância em português, e da sua continuação, tratar-se-á a questão da concordância entre sujeito e verbo em variedades africanas, brasileiras e europeias do português, com base em corpora fundamentalmente orais1. Retomando, com vista a uma generalização, os resultados já obtidos e maioritariamente já publicados por membros da equipa, consideram-se agora novos dados, de um corpus de português de Angola (Luanda) ainda inédito2 - corpus compatível com os pré-existentes, porque organizado segundo os mesmos parâmetros dos do projecto acima referido. Por outro lado, serão considerados dados das variedades cabo-verdiana e moçambicana, pouco exploradas no trabalho anterior da mencionada equipa: do corpus oral e escrito de português de Cabo Verde (cf. Lopes 2011) e do escrito do português de Moçambique, disponíveis no site da Cátedra de Português da Universidade Eduardo Mondlane. O facto de os informantes destes dois últimos corpora não corresponderem a um perfil totalmente compatível com os dos restantes e o facto de agora se considerar também texto escrito levam a que os dados recolhidos sejam tomados como subsídios complementares, não podendo ser analisados quantitativamente. Concretamente, visa-se propor uma tipologia da concordância sujeito-verbo em português, apresentando, como suporte, uma tentativa de generalização dos factores linguísticos (morfossintácticos, fonológicos e semânticos) e extra-linguísticos mais relevantes para explicar os padrões variantes de concordância mais frequentemente atestados em todas as variedades analisadas, considerando não só as conclusões até ao presente obtidas pela equipa (por exemplo, a importância do factor sintáctico ‘ordem VS’ – portanto continua os tempos a evoluir cada vez mais

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(Oeiras); de quando em vez, aparece algumas oportunidades (São Tomé) –, nomeadamente com verbos inacusativos), como o contributo dos novos dados de Angola e dos dados recolhidos nas fontes complementares acima indicadas. Será apresentada uma reflexão sobre os limites da variação neste domínio, em português, considerando aspectos linguísticos, evocando factores sociológicos e históricos que se revelam determinantes na formação de alguns padrões de concordância especificamente atestados em variedades do português L2 e que permitem, pelo menos parcialmente, distinguilas de variedades de português L1 (por exemplo, L2 tu não vai para funeral (São Tomé)); L2 mas como você cresceste na cidade ... (Moçambique); L1 nós já vivia até com um certo medo (Brasil)) – entre esses factores, a transmissão linguística irregular, cf. Baxter 1997, Lucchesi 2003, Lucchesi & Baxter 2009. Para o efeito, ter-se-á em consideração bibliografia relevante sobre a questão teórica da concordância e sobre estudos de caso sobre outras línguas (cf., entre outros, Corbett 1998a, 1998b, 2006, Stump 1998, Cysouw 2008). 1 No referido projecto, usaram-se corpora do grande Rio de Janeiro e da grande Lisboa, recolhidos pelos seus membros, e um recorte do corpus de São Tomé (cedido, para o efeito, por Tjerk Hagemeijer). 2 O corpus foi disponibilizado pelo doutorando que o recolheu (Tese de Doutoramento em curso), para a presente finalidade.

Referências bibliográficas Baxter, Alan N. (1997) Creole-like features in the verb system of an Afro-Brazilian variety of Portuguese. A. K. Spears & D. Winford (eds.) The Structure and Status of Pidgins and Creoles. Amsterdam: John Benjamins: 265-288. Corbett, Greville G. (1998a) Agreement in Slavic. Workshop on Comparative Slavic Morphosyntax, Indiana, http://www.indiana.edu/~slavconf/linguistics/index.html ____ (1998b) Morphology and agreement. Andrew Spencer & Arnold Zwicky (eds.) The Handbook of Morphology. Oxford. Blackwell: 191-205. ____ (2006) Agreement. Cambridge. Cambridge University Press. Cysouw, Michael (2008) The Paradigmatic Structure of Person Marking. Cambridge. Cambridge University Press. Lopes, Amália Maria de Melo (2011) As línguas de Cabo-Verde: uma radiografia sociolinguística. Tese de Doutoramento, ms., Universidade de Lisboa. Lucchesi, Dante (2003) O conceito de transmissão lingüística irregular e o processo de formação do português do Brasil. In Português brasileiro: contato lingüístico, heterogeneidade e história (Cláudia Roncarati & Jussara Abraçado, orgs.), pp. 272-84. Rio de Janeiro: 7 Letras. Lucchesi, Dante & Baxter, Alan (2009) A transmissão linguística irregular. In O Português Afro-Brasileiro (Dante Lucchesi, Alan Baxter & Ilza Ribeir, orgs.), pp. 101-24. Salvador: Edufba. Stump, Gregory (1998) Inflection. Andrew Spencer & Arnold Zwicky (eds.) The Handbook of Morphology. Oxford. Blackwell: 13-43. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Um caso surpreendente de concordância variável em português europeu Maria do Pilar Barbosa e Telma Freire (CEHUM/Universidade do Minho) A concordância verbal enquanto “regra” variável em português tem sido objeto de estudo sobretudo por investigadores brasileiros, no quadro da Sociolinguística Variacionista (Scherre, l994; Scherre e Naro, l998, Rodrigues 2004). Assim, é sabido que, em variedades não escolarizadas do português do Brasil (PB), é atestada a ausência de concordância entre o sujeito e o verbo: (1) Nós não tinha medo de sucuri, não tinha medo de onça, não pensava em nada (Rodrigues 2004: 134) No caso do português europeu (PE), estudos recentes (Mota e Vieira, 2008; Cardoso, Carrilho e Pereira, 2012) centraram-se na alternância entre a terceira pessoa do plural e do singular em coocorrência com um sujeito plural (cf. quando morria pessoas), tendo concluído que o tipo de verbo (inacusativo) e a posição do sujeito (pós-verbal) são fatores determinantes em favor da concordância não padrão. Neste estudo, investiga-se um caso de variação na concordância verbal em PE que, tanto quanto sabemos, não foi antes descrito na literatura, e tem uma distribuição e propriedades particulares. Trata-se da omissão dos traços da concordância verbal em contextos de infinitivo flexionado, na presença de sujeito lexical, como se exemplifica a seguir (exemplos retirados da fala espontânea de alunos da Escola Profissional de Felgueiras) (2) # Se é para nós comer, eu venho. (3) # É melhor nós ir lá. (4) # Isto é para nós fazer? Este tipo de concordância não-padrão é atestado (pelo menos) numa determinada região do Norte de Portugal, nomeadamente o Vale do Sousa e o Vale do Ave, e é particularmente intrigante se atendermos ao facto de ser conhecida a tendência, já observada na literatura (cf. Duarte, Gonçalves e Santos, 2013), por parte da generalidade dos falantes de PE, para o uso do infinitivo flexionado mesmo em contextos que exigem a forma não flexionada na variedade padrão (cf. #Eles acabam de falarem com a Maria). Para melhor compreender o fenómeno em apreço, aplicou-se a 50 falantes da zona do Vale do Sousa e do Vale do

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Ave um teste de aceitabilidade com base numa escala de Likert bipolar. O teste foi aplicado a falantes adolescentes, todos atualmente no décimo ano do ensino secundário. Criaram-se condições para testar orações finitas e infinitivas. Tanto nas orações finitas como nas infinitivas criaram-se contextos com orações finais, orações completivas de objecto com e sem preposição e completivas de sujeito. Relativamente às orações finitas, testaram-se orações matriz e orações subordinadas condicionais com o futuro do conjuntivo (i.e., alternâncias do tipo se nós for, ... / se nós formos, ...). Em cada um destes contextos, variou-se a pessoa e, no caso da 3P, alternou-se entre o uso do pronome e de sujeitos lexicalmente realizados. Em cada condição, havia orações com concordância e sem concordância. Concluiu-se que há uma diferença relevante entre os juízos de aceitabilidade relativos às formas sem concordância das orações infinitivas (56,2% de aceitação) e das orações finitas (22,7% de aceitação). Do cômputo das orações finitas excluímos os contextos com o futuro do conjuntivo dado que os níveis de aceitação relativos a este contexto são de 50,8%, um resultado muito semelhante ao das orações infinitivas sem concordância (56,2%). A omissão dos traços de concordância com o futuro do conjuntivo é, de facto, atestada em contextos de fala espontânea nesta região (cf. # Se nós acabar a ficha, podemos sair mais cedo.). Para verificar se este fenómeno está circunscrito à região do Vale do Sousa e do Vale do Ave, aplicou-se o mesmo teste de aceitabilidade a falantes escolarizados (a partir do 9º ano de escolaridade) dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Aveiro, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro, que nunca tivessem vivido nem no Vale do Sousa e no Vale do Ave. Os resultados obtidos permitem concluir que estes falantes não aceitam as formas infinitivas sem concordância, ao contrário do grupo em estudo. As frases sem concordância são terminantemente não aceites, quer se trate de contextos infinitivos (94,66%) quer se trate de contextos finitos (96,54%); do mesmo modo, estes falantes rejeitam a ausência de concordância nas estruturas com o futuro do conjuntivo (95,78%). Com o intuito de determinar se a omissão afeta todos as pessoas da concordância verbal, do mesmo modo, foi aplicado novo teste de aceitabilidade aos mesmos participantes. Neste segundo teste, foram acrescentados contextos com a segunda pessoa do singular, como #Este livro é para tu ler. Se a neutralização afetasse o traço [Pessoa], a omissão da concordância de 2P do singular deveria exibir índices de aceitabilidade comparáveis aos verificados com a omissão das formas de 1P e 3P do plural. Esta predição não foi confirmada. Os níveis de aceitação das orações infinitivas agramaticais relativos às 1P e 3P são, novamente, elevados (63,6%), mas, em contrapartida, os resultados das orações com a 2P do singular mostram que os falantes não aceitam esta estrutura (83,2% de não aceitação) e não a reconhecem como fazendo parte da sua gramática. Em síntese, o fenómeno de concordância variável em discussão possui as seguintes propriedades distintivas: 1. não afeta a 2P do singular; 2. não ocorre apenas com as formas infinitivas dado que abrange o futuro do conjuntivo. Em nosso entender, esta segunda propriedade é um forte indicador de que o fenómeno em causa não é puramente sintático situando-se antes no nível morfológico da gramática. Apresentaremos uma hipótese de explicação destes resultados baseada na combinação da teoria da Morfologia Distribuída (Halle e Marantz l993) com a noção de ‘regra variável’ da Sociolinguística Variacionista (Labov l966), tal como proposto em Nevins e Parrot (2010). Em particular, sugeriremos que o fenómeno em causa se deve à aplicação de uma regra de Empobrecimento no nível pós-sintáctico da gramática. No modelo da MD, as regras de Empobrecimento operam sobre os traços morfossintáticos eliminando certas distinções. Em resultado da sua aplicação, o item de Vocabulário esperado não pode ser inserido e, por conseguinte, um item menos especificado, geralmente o item default (elsewhere) é inserido. No caso em apreço, propomos a aplicação de um regra de Emprobrecimento que elimina o traço de número [Plural] dos morfemas positivamente especificados para esse traço e está condicionada aos contextos de infinitivo flexionado e de futuro do conjuntivo. Em consequência da aplicação da regra, dá-se um “recuo” para a escolha do item usado elsewhere, que é o expoente ø. No espírito de Nevins e Parrot (2010) propomos que esta regra de Emprobrecimento é uma regra variável na aceção da Sociolinguística Variacionista (Labov l969, Guy l991), i.e., é uma regra cuja aplicação é probabilística e não determinista; daqui decorre a variação intraindividual. Nevins e Parrot (2010) propõem que as operações de Empobrecimento morfológico são induzidas pelo carácter marcado dos traços morfossintáticos. Em particular, defendem (na linha de Greenberg l966, entre outros) que o valor positivo de um traço morfossintático é marcado. Os dados aqui discutidos estão em conformidade com esta proposta já que os morfemas afetados são os que são positivamente especificados para o traço [+Pl]. Em síntese, este estudo vem confirmar o interesse da aplicação do modelo teórico da MD ao estudo da variação intra e inter-individual em morfossintaxe. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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Um português, duas variedades: que teoria (s) para o infinitivo em construções de controlo? Diana Amaral e Sandra Serra (CLUL / FLUL) O objetivo deste artigo é analisar o uso dos infinitivos em Construções de Controlo (CC), numa perspetiva comparativa entre as duas variedades dominantes do português: o Português Europeu (PE) e o Português do Brasil (PB), tendo presente o trabalho de Raposo (1987) sobre a distribuição de infinitivos flexionados em PE, assim como a apresentação de contextos (obrigatórios, opcionais e impossíveis) da flexão infinitiva para o PB em Modesto (2011). Nas duas variedades, as CC podem ocorrer não só com infinitivos não flexionados (mais comum noutras línguas) mas também com infinitivos flexionados (menos comum). Partindo desta primeira observação para uma análise mais cuidada, verificamos que os dados do PE e do PB mostram não só algumas semelhanças, mas também algumas diferenças, de que pretendemos dar conta no seguimento deste trabalho. Assim, na primeira parte, procedemos à delimitação e classificação das estruturas em análise, dentro da família das CC – Construções de Controlo Obrigatório. Num segundo momento, apresentamos uma descrição das semelhanças encontradas, nomeadamente no comportamento das CC com infinitivos flexionados e não flexionados com verbos volitivos em (i), por um lado, e com verbos proposicionais em (ii), por outro:

(i) a. As crianças querem comer um gelado (PE/PB) b. *As crianças querem comerem um gelado (PE/PB) (ii) a. Os pensionistas lamentam perder regalias (PE/PB) b. Os pensionistas lamentam perderem regalias (PE/PB)

A terceira parte deste trabalho implica uma descrição das diferenças. Talvez contrariamente ao que seria de esperar, quando comparamos em detalhe o PE e o PB, verificamos alguns contrastes: (a) em PB, o infinitivo flexionado é excluído de complementos frásicos de verbos epistémicos e declarativos, o que não acontece em PE. Vejam-se os exemplos em (iii), retirados de Ambar, 2005 (p.112):

(iii) a. Penso terem eles comprado o livro (PE) b. *Penso terem eles comprado o livro (PB)

(b) contrariamente ao PE, o PB não permite apagamento do complementador em (iv), vide op. cit. (p.113): (iv) a. Solicito me seja concedida autorização (PE) b. **Solicito me seja concedida autorização (PB)

(c) outro contraste interessante são as diferenças associadas ao licenciamento de sujeitos lexicais com as diferentes classes de predicados, sendo possível tê-los em alternância com uma categoria vazia nos complementos frásicos de verbos epistémicos em PE (em que o verbo no infinitivo precede necessariamente o sujeito lexical), mas não em PB, em (v):

(v) a. Os alunos pensam acabarem eles o trabalho antes do prazo (PE) b. * Os alunos pensam acabarem eles o trabalho antes do prazo (PB)

Radicando a motivação para estes contrastes no diferente estatuto de Tempo nas duas variedades do português, como acreditamos, observar o comportamento destas estruturas relativamente a constituintes topicalizados, pode contribuir para um maior esclarecimento acerca da natureza destas construções, dependendo da (não) flexão do infinitivo. Finalmente, exploramos as consequências da análise apresentada para a Teoria do Movimento e para a definição do carácter da posição controlada (PRO?) e das suas propriedades. Partindo de dados empíricos do PE e do PB, pretendemos apresentar uma proposta que comporte a multiplicidade de dados. Palavras-chave: construções de controlo; infinitivos (flexionados); Movimento; PRO. Bibliografia AMBAR, M. 1998. Inflected Infinitives Revisited: Genericity and single event. Canadian Journal of Linguistics 43, 1, 5-36. AMBAR, M. 2005. Inflected Infinitives in Romance – Tense Domains and Phases, Agree and conditions on Merge and Move. Article for Henk Riemsdijk e Martin Everaert (eds.), SynCom. LANDAU, I. 2000. Elements of Control: Structure and Meaning in Infinitival Constructions. Studies in Natural Language and Linguistic Theory. Kluwer Academic Publishers, Dordrecht. LANDAU, I. 2004. The scale of finiteness and the calculus of control. Natural Language & Linguistic Theory. 22: 811-877. MODESTO, Marcelo 2010. What Brazilian Portuguese Says about Control: Remarks on Boeckx & Hornstein. Syntax, 13:78-96. MODESTO, Marcelo 2011. Infinitivos flexionados em Português Brasileiro e a sua relevância para a teoria do controlo. D. Da

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Hora e E. Negrão (eds.), Estudos da Linguagem. Ed. Ideia, 63-87. RAPOSO, E. 1987. Case Theory and Infl-to-Comp: The inflected infinitive in European Portuguese. Linguistic Inquiry 18, 85-109. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ The Portuguese inflected infinitive accross varieties Alexandra Fiéis e Ana Madeira (Universidade Nova de Lisboa / CLUNL) The inflected infinitive (InflInf) represents a marked grammatical option, found, within the group of Romance languages, only in Portuguese, Galician and Sardinian, albeit displaying different properties in the three languages. The aim of this talk is to investigate the properties and distribution of the InflInf in different varieties of Portuguese: standard and nonstandard European Portuguese (EP), and spoken Mozambiquean, Angolan and Brazilian Portuguese. In standard contemporary EP, InflInf is allowed in complements to certain verbs (declarative, epistemic, factive, object control), in subject and predicative position, as comparative clauses, and as adjunct and complement clauses introduced by a preposition (Raposo, 1987). In the first written Portuguese texts, from the 12th to the 16th centuries, inflected forms of the infinitive are attested in independent domains (a context from which they are excluded in contemporary varieties of the language) with an imperative and/or optative interpretation, alternating with subjunctives (Martins, 2001). An analysis of a subcorpus of texts from the 13th century (Corpus Informatizado do Português Medieval) confirms that inflected infinitives occur predominantly in clauses introduced by the copulative conjunction e ‘and’, coordinated either with an uninflected infinitive or with a subjunctive, and appearing either in subject or in complement position (Fiéis & Madeira, 2013). The types of verbs which allow inflected infinitives in these constructions, e.g. modals, do not coincide with those which allow them in standard contemporary EP. Diachronically, these constructions stop being productive when InflInf starts to appear in the complement clauses of causative and perception verbs in the 16th century. The emergence of the InflInf in these domains coincides with the appearance of other properties of infinitival complements (namely, the ability to host clitics and negation), which indicates a trend towards an increasing degrammaticalization of these structures (Martins, 2006). An analysis of grammars from the 16th century (Ponce de León Romeo, 2004) shows that, by this time, the InflInf has become an option in several contexts (complements to declarative verbs, subjects, clauses introduced by a preposition), although it is still not unanimously accepted by normative grammarians. Interestingly, some of these more conservative grammarians produce structures with inflected infinitives in their texts, showing a mismatch between the norm and vernacular use. In fact, an analysis of a corpus of texts from the 15th and 16th century (Tycho Brahe Parsed Corpus of Historical Portuguese) shows a predominance of InflInf in adjunct clauses introduced by preposition, as well as in subject and complement position, mostly subcategorized by declarative verbs, such as afirmar ‘say’ and jactar-se ‘boast’ (Fiéis & Madeira, 2013). However, there are also examples of complements embedded under verbs which do not allow InflInf in standard contemporary EP, namely certain control verbs such as costumar ‘use to’ (the same situation has been reported for Old Neapolitan; see Vincent, 1998). The InflInf gradually spreads to other contexts until it reaches its present-day distribution by the 18th century. Although the contexts described for standard EP are common to most other varieties of the language, in some contexts, the InflInf appears to exhibit different properties in some of these varieties. The complements of declarative/epistemic verbs, for example, may have a lexical subject in standard EP, which may be referentially disjoint from the matrix subject; in standard Brazilian Portuguese (BP), however, the infinitival subject may not be lexically realised and it is controlled by the matrix subject, which must be included in its reference (Modesto, 2010). The distribution of inflected infinitives with control verbs largely coincides with the divide between partial control (PC) and exhaustive control (EC) (Landau, 2000). Hence, there appears to be an overlap between the group of PC verbs – which includes declarative/epistemic, factive and desiderative verbs – and those which allow InflInf, on the one hand, and EC verbs – e.g. implicative verbs such as conseguir ‘manage’ and non-implicative verbs such as tentar ‘try – and those which disallow it. Other verbs with which InflInf is excluded, both in standard EP and in standard BP, are modal and aspectual verbs. However, this correlation is not a straightforward one (see also Modesto, 2010). On the one hand, there is some degree of variation among PC verbs, particularly desiderative verbs, regarding both the acceptability of inflected infinitives and their properties. On the other hand, there are varieties of Portuguese in which EC verbs, as well as modals and aspectuals, may occur with InflInf, similarly to what is observed in the diachronic data. Regarding the latter (modal, aspectual and EC verbs), occurrences of InflInf with these verbs are found in nonstandard EP (1), as well as in spoken Mozambiquean and Angolan Portuguese (sometimes, but not necessarily, in

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coordination with a non-inflected infinitive). In these cases, the subject is not realized and it is obligatorily co-referential with the matrix subject. Following Duarte et al (2012), we assume that, in these contexts, InflInf are, in fact, control structures, where the person number inflection corresponds to the spell-out of an AGREE operation between the matrix T and the infinitival C-T (Landau 2000, 2004). In the few cases where they are not co-referential with the matrix subject, the reference of the matrix subject must be included in the reference of the infinitival subject (2). The same situation is found with object control verbs such as obrigar ‘force’, which have also been argued by Negrão (1986) to be control structures, as they disallow lexical subjects and they are obligatorily controlled by the matrix object. As for PC verbs, they appear to display a non-homogeneous behaviour. Considering desiderative verbs such as preferir ‘prefer’ and prometer ‘promise’, for example, although they freely allow InflInf with a lexical subject when this subject is referentially disjoint from the matrix one, certain restrictions apply whenever the matrix subject acts as the controller (Sheehan, 2013; Modesto, 2011). Hence, InflInf is disallowed with ‘prefer’ on a co-referential reading; moreover, there is variation in judgements, at least in standard EP, both with ‘prometer’ on a co-referential reading and with the two types of verbs on a partial control reading, i.e. when the controlling subject is included in the reference of the infinitival subject. In these cases, lexical subjects are still allowed, although there are restrictions as to their nature. Examples (1) por nem sequer conseguir serem apresentadas nos mercados de vendas for not even to.manage to.be.3pl presentes in.the markets of sales “because they didn’t even manage to be presented in the sales market” (2) podem juntar-se-nos e fazermos uma lista de consenso can.3pl to.join.SE.us and make.3pl a list of consensus “they can join us and (we can) make a list of consensus” References: Duarte, I. A. Gonçalves & A. L. Santos (2012) Infinitivo flexionado, independência temporal e control. Textos Selecionados, XXVII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL, pp. 217-234. // Fiéis, A. & A. Madeira (2013) O infinitivo flexionado na diacronia do português. Paper presented at the XXIX Encontro Nacional da APL. University of Coimbra. Landau, I. (2004) The scale of finiteness and the calculus of Control. Natural Language & Linguistic Theory 22, pp. 811-877./ Landau, I. (2000) Elements of Control. Structure and Meaning in Infinitival Constructions. Dordrecht: Kluwer. Martins, A.M. (2006) Aspects of infinitival constructions in the history of Portuguese. In Gess, R. S. & D. Arteaga (eds.) Historical Romance Linguistics: Retrospective and Perspectives. Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, pp. 327-355. Martins, A.M. (2001) On the origin of the Portuguese inflected infinitive: A new perspective on an enduring debate. In L. Brinton (ed.) Historical Linguistics 1999: Selected Papers from the 14th International Conference on Historical Linguistics. Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, pp. 207-222. Modesto, M. (2011) Infinitivos flexionados em português brasileiro e sua relevância para a teoria do controle. In D. Da Hora & E. Negrão (eds.) Estudos da Linguagem. Ed. Ideia, p. 63-87. Modesto, M. (2010) Inflected infinitives in BP and the structure of nonfinite complements, ms. USP. // Negrão, Esmeralda V. 1986. Anaphora in Brazilian Portuguese complement structures. Ph.D. dissertation, University of Wisconsin, Madison. Ponce de León Romeo, R. (2004) Infinitus lusitanus: considerações sobre o infinitivo flexionado nas gramáticas latino-portuguesas renascentistas. In Linguística Histórica e História da Língua Portuguesa: Actas do Encontro de Homenagem a Maria Helena Paiva. Porto: Universidade do Porto, pp. 315-327. Raposo, E. (1987) Case theory and Infl-to-Comp: The inflected infinitive in European Portuguese. Linguistic Inquiry 18, pp. 85-109./ Sheehan, M. (to appear) Portuguese, Russian and the Theory of Control. Proceedings of NELS 43. // Vincent, N. (1998) On the grammar of inflected non-finite forms (with special reference to Old Neapolitan).” Copenhagen Studies in Language 22, pp. 135-158. TERÇA-FEIRA [29-04-2014]: 9:00 – 11:00h – SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 4 [Auditório ILCH] The intonation of yes-no question in three varieties of Brazilian Portuguese

Joelma Silva e Sónia Frota (CLUL) Across languages, the intonation of yes-no questions is characterized by the use of diverse intonational features (Jun 2005, Ladd 2008, a.o.), such as final pitch (high/rising, e.g. Dutch, Standard Italian, Japanese, or low/falling, e.g. Chickasaw, Palermo Italian, Greek), peak alignment in the nuclear syllable (e.g. Neapolitan Italian), peak height

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(e.g. Russian), or register expansion and reduction of downdrift (e.g. Wollof, Danish). A similar amount of variation has been reported within languages, as yes-no questions have been found to be among the sentence types that display more intonational variation across varieties of a given language (see Savino 2012 for Italian, Prieto 2014 for Catalan, and Frota et al. in press for Portuguese). In this work, we analyse the nuclear contours of yes-no questions in three Brazilian Portuguese varieties, as spoken in Aracaju, Rio de Janeiro and Florianópolis. According to the dialectal division proposed by Nascentes (1953), the three varieties spoken in these capitals belong to different dialectal areas of Brazilian Portuguese, respectively, Baiano, Fluminense and Sulista. Previous descriptions of the melodic contours for Rio de Janeiro (Cunha 2000; Moraes 2008; Silva 2011) and Florianópolis (Nunes 2011; Silva 2011) describe a rise-fall contour for yes-no questions. However, these descriptions do not offer a compared phonological analysis of intonational variation on the basis of homogenous materials and similar methodologies. Integrated within the project Interactive Atlas of the Prosody of Portuguese (InAPoP), that investigates prosodic variation in the Portuguese spoken in Portugal and Brazil, the goal of the present study is to provide a phonological analysis of the nuclear contours of yes-no questions using the same corpora and methods applied cross varieties of Portuguese. The empirical basis of the study consists of 27 interrogative utterances in which the stress pattern of the final word was varied (e.g. mar, Marina, lâminas). The utterances were elicited via the presentation of written contexts, and were produced twice by four female native speakers from each capital, aged between 20 and 45. The speakers were born and have always lived in each of the capitals. A total of 648 utterances (27x2x4x3) were analyzed. The analysis follows the autosegmental-metrical framework of Intonational Phonology (Jun 2005; Ladd 2008; Frota 2002, 2014). Preliminary results indicate that the main difference between varieties occurs at the boundary tone level. A L (H) H melody was found in Aracaju in contrast with a L H L melody in the two more Southern varieties. Given the contrast in final pitch, we analyze the difference as a boundary tone distinction, H% vs. L% (Figs 1-2). The nuclear accent tends to show a common rising pitch pattern (LH), but with variation in the alignment of the peak (later in Florianopolis than in Rio: Figs 2-3). In Aracaju, the rising nuclear accent also found in the Southern varieties co-occurs with the realization of a low tone (L*) on the last stressed syllable (Fig.1). In utterances with a final stress nuclear word, the two Southern varieties show contrasting tune-text accommodation strategies. In Rio de Janeiro, the low boundary tone L% is not realized when there is no posttonic syllable to host it (Fig. 4), a phenomenon known as tonal truncation (Ladd, 2008). In Florianópolis, truncation is not obligatory and the full LHL melody can be produced. Therefore, the tones of the nuclear contour are compressed into a single syllable. These results confirm previous observations on the melodic shape of yes-no questions in some Southern varieties (Cunha, 2000; Moraes, 2008; Silva, 2011, Nunes 2011) while offering a new phonological analysis, and provide new data on the Baiano variety. Importantly, our findings point to a division between Baiano and more Southern varieties with respect to the tonal boundary, and to differences between Southern varieties relative to peak alignment and tune-text accommodation. Studies of additional varieties are required to confirm the suggested geographical distribution of these intonational features and their role in the characterization of intonational variation in Brazilian Portuguese. Selected References FROTA, Sónia (2002). “Nuclear falls and rises in European Portuguese: a phonological analysis of declarative and question intonation” Probus 14, 113-146. FROTA, Sónia (2014). “The intonational phonology of European Portuguese.” Sun-Ah Jun (ed.) Prosodic Typology II. Oxford: Oxford University Press, pp. 6-42. Ladd, D. Robert (2008). Intonational Phonology. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press. MORAES, João (2008). “The Pitch Accents in Brazilian Portuguese: analysis by synthesis” In: Fourth Conference on Speech Prosody, 2008, Campinas. Proceedings of the Speech Prosody. Campinas: Unicamp. Nascentes, Antenor (1953). O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Organização Simões. NUNES, Vanessa (2011). Análises entonacionais de sentenças declarativas e interrogativas totais nos falares florianopolitano e lageano. Master dissertation in Linguistics. Florianópolis, UFSC. SAVINO, Michelina (2012). “The intonation of polar questions in Italian: where is the rise?” Journal of the International Phonetic Association, vol. 42, 23-48. SILVA, Joelma (2011). Caracterização prosódica dos falares brasileiros: as orações interogativas totais. Master dissertation in Portuguese Language. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, UFRJ. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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A pausa e o sintagma entonacional como fatores diferenciadores da leitura de falantes do PE e do PB Camila Leite (Universidade Federal de Alagoas) Diferentes pesquisadores afirmam que a prosódia apropriada durante a leitura em voz alta caracteriza uma leitura fluente (RASINSKI, 1990; SAMUELS, REINKING, SHAERMER, 1992). Resultados de pesquisas indicam que, à medida que as crianças se tornam mais fluentes na leitura, estas leem com pausas mais curtas e declinação gradual da frequência fundamental ao final das sentenças (SCHWANENFLUGEL, HAMILTON; WISENBALER; KUHN; STAHL, 2004). Dowhower (1991), após uma investigação da prosódia na leitura em voz alta de estudantes, identificou seis marcadores relacionados à leitura, dos quais dois serão aqui abordados: 1. A presença ou ausência de pausas de intrusão – um menor número dessas pausas foi indicativo de melhores habilidades prosódicas na leitura –; 2. O tamanho das frases entre as pausas, isto é, a organização dos Sintagmas Entoacionais (I) (NESPOR; VOGEL, 1986) – leitores fluentes apresentam menor número de Sintagmas Entoacionais (I). De acordo com os passos metodológicos apresentados por Tarallo (2006), foram gravados 10 sujeitos de três diferentes faixas etárias e três diferentes níveis de escolaridade, totalizando 30 participantes, todos falantes do Português Europeu, doravante PE, da região de Lisboa. Foram gravados também outros 30 sujeitos, todos falantes do Português Brasileiro, doravante PB, da região de Belo Horizonte, também divididos em três faixas etárias e três níveis de escolaridade como apresentado na tabela 1.

Tabela 1 – Participantes da pesquisa

PORTUGUÊS EUROPEU PORTUGUÊS BRASILEIRO

IDADE ESCOLARIDADE Nº de

sujeitos IDADE ESCOLARIDADE Nº de

sujeitos

11 6º ano do Ensino Básico 10 11 6º ano do Ensino

Fundamental 10

15 10º ano do Ensino

Secundário 10 15 1º ano do Ensino

Médio 10

20 1º ano da graduação 10 20 1º ano da graduação 10

TOTAL 30 TOTAL 30 O corpus foi constituído de duas leituras de dois textos com diferentes graus de dificuldade. Para uma análise comparativa, foram selecionados dois sujeitos, um português e um brasileiro, que tiveram suas leituras consideradas “controle”, com as quais as demais foram comparadas. A escolha destes sujeitos como “controle” considerou o fato de tais participantes serem alunos de doutoramento na área de prosódia, ambos do sexo feminino, com 30 anos de idade. Os dados foram analisados sob a luz das seguintes teorias: Fonologia Prosódica (NESPOR; VOGEL, 1986), Fonologia Entoacional (PIERREHUMBERT, 1987; LADD, 1996). Um total de cinco enunciados, três do texto “O ratinho Dadá” e dois do texto “A Amazônia”, foi escolhido para análise prosódica minuciosa realizada no programa de análise acústica PRAAT. Os enunciados selecionados encontram-se em diferentes partes do texto, início, meio e fim para o texto “O ratinho Dadá” e início e fim para o texto “A Amazônia”. A análise dos dados do PE e do PB nos permitiu afirmar que a pausa parece ser a variável que, analisada juntamente com o número de Sintagmas Entoacionais, vai diferenciar as variedades PE e PB e, dentro de cada variedade, os diferentes grupos de sujeitos (11 anos, 15 anos, 20 anos). Em geral, notamos maior tempo de pausa em PE, e observamos que a pausa realizada em PB serve como ferramenta de marcação de Sintagma Entoacional. Essa marcação, em PE, normalmente, parece se dar através da realização do tom de fronteira alto H%. Entre os grupos com diferentes idades e diferentes níveis de escolaridade temos: em PE, os sujeitos de 11 anos apresentaram elevados tempo de pausa e número de Sintagmas Entoacionais. A fronteira de Sintagma Entoacional, que em PE apresentou-se marcada com o tom H% foi marcada pelos sujeitos de 11 anos também com a pausa. Em PB, a pausa, sozinha, não diferencia os grupos, mas, somada aos dados de número de Sintagma Entoacionais vemos que os sujeitos de 11anos realizam maior número de Sintagmas Entoacionais, o que nos possibilita afirmar que esses sujeitos realizam maior número de pausas e pausas mais curtas. Este trabalho é parte de uma pesquisa de doutoramento que teve como principal objetivo apresentar a relação entre a compreensão e os aspectos prosódicos na leitura em voz alta de falantes do PE e do PB.

Referências Bibliográficas RASINSKI, T. Effects of repeat reading and listening while reading in reading fluency. Journal of Educational Research, v.83,

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n.3, p.147-150, 1990. SAMUELS, S. J.; SCHERMER, N.; REINKING, D. Reading fluency: techniques for making deconding automatic. In: SAMUELS, S; FARSTRUP, A. (ed.) What research has to say about reading instruction. Newark: International Reading Association, 1992. SCHWANENFLUGEL, P.; HAMILTON, A.; WISENBAKER, J.; KUHN, M.; STAHL, S. Becoming a fluent reader: reading skill and prosodic features in the oral reading of young readers. Journal of Educational Psychology. 2004, v.96, n.1, p.119-129. NESPOR, M.; VOGEL, I. Prosodic Phonology. Dordrecht: Foris. 1986 TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. 7.ed. São Paulo: Editora Ática, 2006. PIERREHUMBERT, J. The Phonology and Phonetics of English Intonation. Bloomington: Indiana University Linguistics Club Publications, 1987. LADD, R. Intonational Phonology. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Building a prosodic profile of European Portuguese varieties

Marisa Cruz, Pedro Palma, Bruno Neto, Pedro Oliveira e Sónia Frota (CLUL) Mapping variation is not a trivial task. Goebl (2006, 2007), Maguire & McMahon (2011), inter alia, discuss several difficulties in mapping variation in English. Among multiple obstacles, the following questions arise: (i) how to quantify relations between dialects, (ii) how many features are needed to define a dialectal area, (iii) how to delimit isoglosses when two non-contiguous varieties share similar features. In addition to these difficulties, the amount of data also constrains its cartographic representation in the sense that fair amounts of data are needed to propose areas of prosodic variation or to draw prosodic isoglosses. Such difficulties are discussed in the present research by using data from the ongoing project Interactive Atlas of the Prosody of Portuguese (InAPoP), obtained in different speech styles. This project aims to analyze three main prosodic dimensions (phrasing, intonation and rhythm) in two geographical points (one urban and one rural) in each of the 18 Portuguese districts and Azores and Madeira regions, as well as in 10 locations in the Brazilian Atlantic coast. Our present goal is to define a methodology to map prosodic variation in two of the three dimensions investigated within InAPoP – intonation and rhythm – each involving different challenges. For the representation of intonation, the following aspects could be considered: (i) the simple mapping of the dominant nuclear contour might not provide sufficient information on each variety in the sense that two varieties may present the same dominant contour, but different alternative contours, with different weights; (ii) a given nuclear contour may be the dominant one in one variety and the alternative one in another variety (geographically contiguous or not); (iii) the fact that some varieties may present one single nuclear contour to convey a specific sentence type or pragmatic meaning and other varieties may present a wide range of alternatives could reflect the relationship between varieties (in contact and/or non-contiguous). However, the joint representation of the dominant as well as the alternative(s) contour(s) could affect the readability and the interpretation of variation data. Because we aim to generate a cartographic representation that provides enough and clear information, these aspects are discussed by using the results of the phonological analysis of the nuclear contours of yes-no questions produced in two different speech tasks – a reading task and the Discourse Completion Task (DCT – Blum-Kulka, House & Kasper 1989, inter alia), by speakers aged between 20-45, from 7 European Portuguese (EP) urban areas: Braga (Bra), Ermesinde (Por), Lisbon (SEP), Castelo Branco (CtB), Évora (Eva), Castro Verde (Ale), and Albufeira (Alg). For the representation of rhythm, a different challenge is involved. According to Ramus, Nespor & Mehler (1999) and Frota & Vigário (2001), the rhythmic characterization of languages/varieties is given by the combination of arguably independent parameters such as the proportion of vocalic intervals (%V), and the variability of the duration of consonantal intervals (C or %C). The difficulty lies in the cartographic representation of the combination of more than one quantitative variable. Our preliminary attempt to map rhythmic distinctions across EP varieties is based on the conjunction of two measures (%V and %C) obtained by means of the analysis of 30 sentences per region, read by speakers aged between 20-45, from 5 urban areas: Braga (Bra), Ermesinde (Por), Lisbon (SEP), Castro Verde (Ale), and Albufeira (Alg). The mapping methods used involve Geographical Information Systems (GIS), spatial interpolation methods and spatial interaction methods (Bailey & Gatrell 1995, Cliquet 2006). GIS consists in an extremely useful tool, that has assumed an important role in different academic fields, namely in Geography, Business, Marketing, among others. In the present research, we tested (i) spatial interaction methods for the representation of nuclear contours (dominant and alternative(s)) across varieties, and (ii) spatial interpolation methods for the representation of rhythmic distinctions across varieties, by combining two different quantitative variables. Spatial interaction methods generate spheres of influence of a given variable, allowing us to predict, on the basis of a few selected geographical points,

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how much a given factor can spread to adjacent points. Preliminary results on the dominant and the most frequent alternative nuclear contours of yes-no questions produced in the DCT (Fig. 1) lead to the conclusion that low/falling nuclei and rising tonal boundaries dominate, with the South and Ermesinde showing all-rising contours. The most frequent alternative contour in most regions is the SEP one. Differently, by using a known scattered set of points, spatial interpolation methods allow to predict unknown values for any geographic point based on a discrete set of known data points (as in Fig. 2). Our preliminary results point to a rhythmic variation characterized by more extreme stress-timing in the Alg, less extreme stress-timing in the Northern regions studied, and more syllable-timed rhythm in the SEP and Ale areas. Finally, as a major goal to be attained within the InAPoP project, we aim to provide a prosodic profile of EP varieties, by prosodic dimension and by clustering of several prosodic features. A preliminary test will be done on the basis of intonational and rhythmic properties in the 7 urban areas considered in this study, by analyzing the geographical distribution of these variables in order to capture surfacing patterns. Again, we will use GIS and spatial analysis tools to perform this task, as they are a powerful way to analyze spatial data.

Fig. 1 – Geographical distribution of the dominant and the most frequent alternative nuclear contours in yes-no questions produced in the DCT. Fig. 2 – Geographical distribution of rhythmic properties in 5 regions, by combining two quantitative measures of rhythm (%V and %C).

Selected references Bailey, T.C. & A. C. Gatrell. 1995. Interactive Spatial Data Analysis. Addison Wesley Longman, Harlow, Essex. Blum-Kulka, S., J. House & G. Kasper (eds.). 1989. Cross-cultural pragmatics: Requests and Apologies. Norwood, NJ: Ablex. Frota, S. & M. Vigário. 2001. On the correlates of rhythmic distinctions: the European/Brazilian Portuguese case. Probus 13, 247-273. Maguire, W. & A. McMahon. 2011. Quantifying relations between dialects. In W. Maguire & A. McMahon (eds.), Analysing variation in English, 93-120. Cambridge: Cambridge University Press. Ramus, F., M. Nespor & J. Mehler. 1999. Correlates of linguistic rhythm in the speech signal. Cognition 73(3), 265-292. TERÇA-FEIRA [29-04-2014]: 11:30 -13:00h – SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 5 [Auditório B2 CP2] Agreement in Portuguese: contributions from a research Project

Sílvia Vieira e Sílvia Brandão (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Based on descriptions of contemporary data from three varieties of Portuguese, this paper focuses on agreement : (1) plural agreement within the Noun Phrase, (2) third and (3) first plural person agreement, and (4) agreement in predicative structures, in order to establish the staus of the different linguistic rules – categorical, semi-categorical and variable one (Labov 2003) – and discuss the grammatical profile of each variety regarding number marking. The Comparative study of agreement patterns in African, Brazilian and European varieties of Portuguese Project has been developed, since 2008, by a binational team consisting of Brazilian and Portuguese researchers. This group has not only organized brand-new samples representative of urban speech of Brazilian Portuguese, European Portuguese and Portuguese of Sao Tome, but also, based on them, carried out several studies that provide relevant contribution on the status of the updated rules in each variety of Portuguese. Results from Brandão (2011, 2013), Brandão & Vieira (2012a, 2012b), Vieira & Bazenga (2013), Marcotulio,

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Vianna & Lopes (2013), among others, developed under the assumptions of Variationist Sociolinguistics, demonstrate that agreement rules have different status depending on the phenomenon, the national variety, as well as the social groups considered in each case. For the development of the subject, in the first step, we 1) present, briefly, the results obtained in these studies, indicating, whenever appropriate, linguistic and extra linguistic factors relevant to the actuation of each rule, and, based on Labov (2003), (2) characterize the status of each linguistic rule according to the speech community. Secondarily, it is discussed, based on Vieira´s assumption (2013), if the categorization of linguistic rules would configure, in typological terms, languages and/or different linguistic varieties, that is, if when we establish the categorical, variable and semi-categorical rules as different linguistic realities, we can dispose of an instrument to propose what is usually treated, regardless of the theoretical framework adopted, as different parameters or different linguistic types. References: Brandão, S. F. (2011) Concordância nominal em duas variedades do português: convergências e divergências. Revista Veredas (Juiz de Fora), 15 (1), 2011: 264:278 Brandão, S. F. (2013) Patterns of 3rd person verbal agreement. Journal of Portuguese Linguistics, 12 (2) Patterns of verbal and nominal agreement in Portuguese varieties. Lisboa: Edições Colibri-AEJPL. Brandão, S. F. & S. R. Vieira (2012a) Concordância nominal e verbal: contribuições para o debate sobre o estatuto da variação em três variedades urbanas do português. Alfa: Revista de Linguística. (São José Rio Preto), 56 (3), 1035-1064 Brandão, S. F. & Vieira, S. R. (2012b) Concordância nominal e verbal no Português do Brasil e no Português de São Tomé: uma abordagem sociolinguística. Papia, 22 (1) : 7-40. Labov, W. (2003) Some sociolinguistic principles. In Sociolinguistics: the essential readings (C. P. Paulston, & G. R. Tucker, eds.). Oxford: Blackwell, pp. 235-250. Marcotulio, L.; Vianna, J.; Lopes, C. (2013) Agreement patterns with a gente in Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics. 12 (2) – Patterns of verbal and nominal agreement in Portuguese varieties. Lisboa: Edições Colibri-AEJPL. Vieira, S. R. (2013) Entre o variável e o categórico: a concordância verbal e a colocação pronominal em variedades do Português. In: BERLINCK, R. de A.; HATTNHER, M. M. D.; IAGALLO, P. O. Estudos lingüísticos: níveis de análise. Araraquara; FCL-UNESP Laboratório Editorial; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013. (Série Trilhas linguísticas) (no prelo) Vieira, S.R.; Bazenga, A. (2013) Patterns of 3rd person verbal agreement. Journal of Portuguese Linguistics. Volume 12 (2) Patterns of verbal and nominal agreement in Portuguese varieties. Lisboa: Edições Colibri-AEJPL. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Os home chegaram: um estudo da variação na concordância nominal de número em Feira de Santana Norma da Silva Lopes (Universidade Estadual da Bahia e Universidade Estadual de Feira de Santana) A variação da concordância nominal de número no português é um fenômeno que se transformou em alvo de estudos diversos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, dentre outros, principalmente após a polêmica criada por Guy (1981), sobre as origens do português brasileiro, o trabalho de Scherre (1988), sobre a concordância nominal de número na fala carioca, e os trabalhos de Baxter (1992; 1997; 1998; 2001), os de Baxter e Lucchesi (1997; 1999), e os de Holm (1992; 2000), com as hipóteses da transmissão linguística irregular e da semi-crioulização na história do português popular da Brasil. A variação da concordância nominal de número estudada neste trabalho é exemplificada a seguir:

(1) Os homem / os home (ao invés de os homens) (2) essas VIOLÊNCIA tudo (ao invés de todas essas violências)

Em Lopes (2001), utilizando o suporte teórico/metodológico da sociolinguística variacionista, apresenta-se um resultado do estudo do fenômeno na capital do estado da Bahia, Salvador. São consideradas variáveis linguísticas condicionantes da concordância: (i) a classe e posição relativa (amalgamadas); (ii) a saliência fônica, (iii) as marcas antecedentes, (iv) o contexto posterior. Dentre as variáveis sociais estudadas, são consideradas como favorecedoras da concordância (i) a escolaridade, (ii) a faixa etária e (iii) o tipo de sobrenome do falante (como indicador do tipo de ancestralidade – se negra ou não-negra). O estudo revela uma relação entre a variação da concordância nominal de número e a história de aquisição do português: em um estudo de tempo aparente, vê-se que, enquanto os que têm ancestralidade negra a cada dia fazem mais concordância (indicando aquisição das marcas de plural), os que não fazem parte desse grupo apresentam uma tendência de redução no uso de marcas de plural redundantes. O município de Feira de Santana, foco de estudo do presente trabalho, dista a 93 quilômetros da capital Salvador, indo pela BR-324, e é considerado o 2° maior polo comercial e a 2ª maior cidade da Bahia.. A cidade de Feira de Santana está localizada no chamado Polígono das Secas, e possui um centro industrial, o Subaé, onde estão instaladas empresas de grande porte.

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Faz-se uma análise sociolinguística variacionista de 06 entrevistas com falantes de Feira de Santana (amostra constituída por Norma Lúcia Fernandes de Almeida e Zenaide de Oliveira Novais Carneiro), com o intuito de verificar parte das variáveis linguísticas estudadas em Salvador, com vistas a possibilitar o confronto entre os resultados das duas pesquisas. Tem-se como objetivo contribuir para o entendimento da sócio-história linguística do português brasileiro, através do confronto entre comunidades em que a formação do povo se deu através de forma diversa.

REFERÊNCIAS

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brasileiras Anthony Naro (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marta Scherre, Camila Foeger e Samine Benfica (Universidade Federal do Espírito Santo)

Apresentamos evidências do vigoroso encaixamento linguístico e social que norteia o uso variável de <-mos> com o pronome nós em três amostras distintas do português brasileiro. As três amostras envolvem [a] de 19 falantes de Cuiabá, Mato Grosso, Centro-Oeste; [b] 46 falantes de Vitória, Capital do Espírito Santo, Sudeste; e [c] 32 falantes de Santa Leopoldina, cidade serrana do Espírito Santo, com 78,5% de habitantes na área rural. Os falantes das três amostras são de faixas etárias distintas e de ambos os sexos. A amostra da Baixada Cuiabana abarca falantes sem escolarização, com escolarização de 1 a 4 anos, de 5 a 8 e de mais de 11. A amostra de Vitória possui falantes com 1 a 8 anos de escolarização; 9 a 11; e mais de 11. A de Santa Leopoldina apresenta falantes com escolarização de 1 a 4; e de 5 a 8. Exemplos do uso variável de <-mos>, extraídos da amostra da Baixada Cuiabana, com o verbo analisado em caixa alta, podem ser vistos em [1], [2] e [3]: [1] Então aquela parma benta nós TEMO ele com grande valor em nossa casa. Se vem um vento, nós PANHA três palminha dele e PÕE no fogo. Se nós TÁ com uma dor, PANHA três raminho, COZINHA com boa fé que aquele é abençoado por Deus, a dor que for nós TAMOS curado dele. [1-4 anos de escolarização, feminino, 39 anos] [2] ... fui lá, arranquei a mandioca, cheguei aqui e muntuei, casquei ele, as criança lavou, PEGUEMO no ralo, RELEMO ele, eu com Juliano e Vitor [1-4 anos esc., feminino, 39 anos]

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[3] Sempe nóis METXIA co horta. PRANTAVA cove, cebola, arface, essas coisinha... (...) Nóis PRANTAVA só pra despesa, só pra TCHUPÁ. Nóis TCHUPAVA cana caiana. [sem escolarização, feminino, 44 anos] Os resultados estatísticos (Sankoff, Tagliamonte e Smith, 2005) permitem evidenciar a regularidade de dois princípios linguísticos estabelecidos em Naro et al (1999): desfaça a neutralização entre pretérito perfeito e presente nos casos de verbos de conjugação regular atribuindo marca de pretérito perfeito ao morfema <-mos> e utilize com mais frequência o morfema <-mos> com formas verbais de oposição mais saliente na relação singular/plural. Exemplificando também com a amostra da Baixada Cuiabana, os resultados das três amostras permitem apresentar as seguintes sínteses: 1) Com verbos em que há presença de neutralização entre as formas do pretérito e do presente (a grande maioria de conjugação regular), há uso quase categórico de <-mos> com o pretérito perfeito (Nóis nascemo – 98% e peso relativo de 0.99) e baixo uso de <-mos> com o presente (nóis come mais é carne. Nóis compra e come – 24% e peso relativo de 0.27), indicando assim forte contraste de tempo entre a presença e a ausência de <-mos>, reafirmando a tendência a se desfazer a neutralização entre presente/pretérito perfeito, e não se evidenciando simplesmente a ausência de contraste de número. 2) Com verbos em que há presença de neutralização entre as formas do pretérito e do presente (todos de conjugação irregular), há também uso quase categórico de <-mos> no pretérito perfeito (aí nós tivemos que vim tudo embora: 96% e peso relativo de 0,98) e forte uso de <-mos> no presente (nós temo, nós temos e nós tamos: 81% e peso relativo de 0,83), indicando assim o forte efeito de marcação explícita de número em função da maior diferenciação fônica na relação singular/plural dos verbos, previsto pelo princípio da saliência fônica. Os resultados das análises das três amostras permitem também observar o forte encaixamento linguístico no plano estritamente fonológico (Bortoni-Ricardo, 1985: 236), ou seja, permitem observar a sistematicidade da variação do uso de <-mos> em construções com o pronome nós em função do princípio “evite proparoxítona”, não explicitado em Naro et al (1999). Exemplificando novamente com resultados da amostra da Baixada Cuiabana, apresentamos a terceira síntese: 3) Com verbos do pretérito imperfeito de conjugação regular (nóis PRANTAVA, nóis COIIA e COMIA) ou irregular (nós ERA tudo grande), há sistematicamente menor uso de <-mos> (respectivamente, 2,7% e peso de 0,007; 27,3% e peso de 0,20). As tendências linguísticas são sistemáticas, mas o uso variável de <-mos> com o pronome nós revela também que os anos de escolarização dos falantes são um grande divisor de águas, fato que se observa nos percentuais globais de uso de <-mos> com o pronome nós na amostra da Baixada Cuiabana (223/430=51,9%), na de Santa Leopoldina (46,6%) e na de Vitória (90,3%). No caso da Baixada Cuiabana, com mais diversidade de escolarização, a variação vai de 29,9% a 97,6%. Resultados detalhados serão oportunamente apresentados. Para um entendimento mais amplo da sistematicidade deste fenômeno, cuja variação é alvo de forte estigma em áreas urbanas, análises de amostras rurais de Minas Gerais, de Goiás e de São Paulo e sua relação com abordagens sócio-histórica se fazem necessárias para entendermos o significado da variação de uso de <-mos> com o pronome nós, bem como a sua menor presença com o pronome a gente pelos caminhos diferentes e múltiplos que seguiram as variedades da língua portuguesa em Portugal e no Brasil (Mattos, 2013, Rubio, 2012). Referências BORTONI-RICARDO, Stella Maris. The urbanization of rural dialect speakers – A sociolinguistic study in Brazil. New York: Cambridge University Press, 1985. MATTOS, Shirley Eliany Rocha. Goiás na primeira pessoa do plural. 2013. 136 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013. NARO, Anthony J.; GORSKI, Edair; FERNANDES, Eulália. Change without change. Language Variation and Change. v. 11, n. 2, 1999. SANKOFF, David; TAGLIAMONTE, Sali A. & SMITH, E. Goldvarb X – A multivariate analysis application. Toronto: Department of Linguistics; Ottawa: Department of Mathematics. 2005. RUBIO, Cássio Florêncio. Padrões de concordância verbal e de alternância pronominal no português brasileiro e europeu: estudo sociolinguístico comparativo. São José do Rio Preto, 2012. 391 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, 2012.

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TERÇA-FEIRA [29-04-2014]: 11:30 -13:00h – SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 6 [Auditório ILCH] As vogais médias pretônicas na variedade porto-alegrense do português brasileiro: a elevação sem motivo aparente Cláudia R. Brescancini e Ana Paula Correa da Silva (Pontifícia Universidade Católica-RS) Este estudo tem por tema o processo variável de elevação das vogais médias /e / e /o/ em posição pretônica na fala de adultos e jovens da cidade de Porto Alegre (Rio Grande do Sul, Brasil), em casos como s[e]nhor ~ s[i]nhor, p[e]queno ~ p[i]queno, g[o]verno ~g[u]verno e c[o]mer ~ c[u]mer. Parte-se do pressuposto neste estudo de que as vogais em sílaba pretônica na variedade porto alegrense do português brasileiro (doravante PB) sofrem variavelmente dois processos distintos que conduzem ao seu alçamento, o de harmonização vocálica (BISOL, 1981, entre outros), em que se observa o condicionamento variável da vogal alta em sílaba subsequente, como em qu[e]rido ~ qu[i]rido b[o]nito ~ b[u]nito, c[o]ruja ~ c[u]ruja, e o de elevação da vogal sem motivação aparente, foco desta pesquisa, em que não há vogal alta em sílaba subsequente, conforme se observa nos exemplos do parágrafo anterior. À luz dos pressupostos teóricos e metodológicos da Teoria da Variação (LABOV, 1972), a elevação sem motivação aparente é tratada no PB em Marchi e Stein (2007), Klunck (2007) e Cruz (2010), que já apresentam indícios em suas análises de que o léxico, e não o contexto segmental ou prosódico, exerce papel principal no processo variável. Em Bisol (2009), que retoma os resultados oferecidos em Marchi e Stein (2007) e em Klunck (2007), a elevação das vogais médias pretônicas que ocorre na ausência de uma vogal alta subsequente é entendida como processo de cunho difusionista, já que não são encontrados contextos fonéticos específicos para a aplicação da elevação. Sendo assim, o presente estudo, cujo objetivo é verificar estatisticamente o grau de favorecimento dos vocábulos lexicais que compõem a amostra em exame para a aplicação do processo de elevação da vogal média pretônica sem motivação aparente quando também consideradas, em uma mesma iteração, variáveis contextuais e sociais. A análise conjunta de variáveis preditivas e aleatórias será realizada com o auxílio do programa Rbrul (JOHNSON, 2009), que performa o cálculo de regressão logística, comum aos estudos variacionistas, a partir do modelamento de efeito misto. Parte-se, portanto, da hipótese de que tal processo específico de elevação em pretônicas, em vocábulos lexicais, é condicionado principalmente pelo léxico. Considera-se, para tanto, a fala de 53 falantes nativos do PB, homens e mulheres, nascidos e residentes na cidade de Porto Alegre-RS, distribuídos em três faixas etárias (de 15 anos a 35 anos; de 36anos a 50 anos; a partir de 51 anos)e três níveis de escolaridade (educação de nível fundamental,; de nível médio; de nível superior). As variáveis operacionais envolvem a variável dependente, definida como a elevação sem motivação aparente das vogais médias pretônicas, composta pelas variantes vogal alta (como em s[i]nhor e g[u]verno) e vogal média (como em s[e]nhor e g[o]verno). Investiga-se o papel das variáveis independentes linguísticas de natureza preditiva, Altura da Vogal Precedente à Vogal Alvo (ex.:comecei); Altura da Vogal Seguinte à Vogal Alvo (ex.: beleza); Tipo de Sílaba (se aberta ou fechada); Posição do Alvo (se no prefixo ou no radical); Presença de Nasalidade na Vogal Alvo; Distância da Sílaba Tônica; Atonicidade da Vogal (se permanente ou casual); Contexto Segmental Precedente; Contexto Segmental Seguinte; Classe Gramatical, e da variável independente linguística de natureza aleatória Tipo de Vocábulo. Com relação às variáveis sociais, são examinadas as variáveis independentes de natureza preditiva Sexo, Faixa Etária e Escolaridade. Considera-se ainda a variável controle Informantes, a fim de que diferenças individuais quanto à produção do processo de elevação da vogal média pretônica sem motivação aparente possam ser detectados. Além da abordagem variacionista, que se mostra limitada para a análise adequada do fenômeno, este estudo avança na direção da Difusão Lexical (CHEN, WANG, 1975) e da Teoria dos Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001, 2003). Os resultados obtidos a partir da computação estatística efetuada pelo Rbrul indicaram que a elevação sem motivação aparente das pretônicas /e/ e /o/ é pouco variável, o que apontou para a necessidade de se eliminar da análise os vocábulos lexicais invariantes. A computação estatística conduzida a partir da amostra reorganizada indicou apenas a variável Vocábulo como relevante, o que evidenciou o léxico como o componente linguístico que governa primariamente a variação nesse processo. Tal resultado é corroborado pela presença do alçamento em determinados paradigmas, como o que se desenvolve, por exemplo, a partir do radical começ- (c[u]meçar, c[u]mecei, c[u]meça), avaliados como frequentes no PB, conforme indica o corpus Brasileiro disponibilizado por Berber Sardinha (acesso em novembro de 2012). O papel do contexto segmental, conclui-se, parece ser o de fixar o local da variante, atuando assim como um condicionador secundário, não responsável pela propagação do processo. A insignificância estatística das variáveis sociais, apontada pela análise regressiva performada pelo Rbrul, aponta para o fato de que a elevação sem motivação aparente das vogais pretônicas na variedade porto alegrense do PB não é sensível à valoração social, o que vai ao encontro dos pressupostos difusionistas.

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À luz da Teoria dos Exemplares, a interpretação de tais resultados indica que a variação faz parte do conhecimento linguístico do falante, que é adquirido através do armazenamento de exemplares ou ocorrências de formas alternantes que são estocadas na memória e ativadas através da frequência. Referências BISOL, L. Harmonia vocálica: uma regra variável. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981. ___. O alçamento da pretônica sem motivação aparente. In: BISOL, L.; COLLISCHONN, G. (orgs.). Português do sul do Brasil: variação fonológica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. CHEN, M.Y.; WANG, W.S-Y. Sound change: Actuation and implementation. Language 51, p. 255-81, 1975. CRUZ, M.. As vogais médias pretônicas em Porto Alegre-RS: um estudo sobre o alçamento sem motivação aparente. Dissertação (Mestrado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. JOHNSON, D. E. Getting off the Goldvarb standard: introducing Rbrul for mixed effects variable rule analysis. Language and Linguistics Compass, vol. 3, p.359-383, 2009. KLUNCK, P.Alçamento das Vogais Médias Pretônicas sem Motivação Aparente. Dissertação (Mestrado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Porto Alegre, 2007. LABOV, W. Sociolinguistic patterns. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 1972. MARCHI, F. de; STEIN, R. de C. G. Alçamento das Vogais Médias Pretônicas sem Motivação Aparente em Curitiba – PR. Cadernos de Pesquisas em Linguística, vol.3, n.1. Porto Alegre: EDIPUCRS. p.127-137, 2007. PIERREHUMBERT, J. Exemplar dynamics: word frequency, lenition, and contrast. In: BYBEE, J.; HOOPER, P. (eds.). Frequency effects and the emergence of lexical structure. Amsterdam: John Benjamins, p. 137-57, 2001. ___. Probabilistic Phonology: discrimination and robustness. In: BOD, R. H.; JANNEDY, S. (eds.). Probability theory in Linguistics. Cambridge: MIT Press, p. 177-228, 2003 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Assimilação progressiva e regressiva em contexto das consoantes oclusivas dentais /t,d/ Dermeval da Hora e Pedro Henrique (Universidade Federal da Paraíba) A palatalização das oclusivas dentais diante da vogal alta [i], como em [t]iro ~ [tʃ]iro, é um fenômeno presente em boa parte dos dialetos brasileiros. Ele já foi objeto de análise sociolinguística de pesquisadores como Bisol (1986), com base nos dados de fala coletados em comunidades Gaúchas (RS), Hora (1990), com dados da comunidade de Alagoinhas (BA), Macedo (2004), com dados da comunidade carioca (RJ), e Pagotto (2004) com dados da comunidade de Florianópolis (SC). Todos eles analisaram os contextos linguísticos e sociais desse fenômeno e apontaram, a partir dos resultados obtidos, a condição de prestígio que essa variável goza. No dialeto itabaiano (PB), entretanto, é observada uma exceção à regra de palatalização mais utilizada nessas regiões, já que os falantes de Itabaiana tendem a inibir a palatalização diante da vogal alta, comportamento muito comum em boa parte da região nordeste brasileira. Todavia, em palavras como jeito e oito, a palatalização é mais produtiva, resultando em j[etʃ]o e [otʃ]o. Dessa forma, a assimilação progressiva, em que o contexto fonológico anterior exerce influência sobre o seguinte, está mais presente no dialeto itabaiano do que a regressiva. Dentro desse contexto, o objetivo geral deste trabalho é analisar, com base na sociolinguística quantitativa, o comportamento das oclusivas dentais em contextos de assimilação regressiva e progressiva, na comunidade de fala de Itabaiana. Como objetivos específicos, propomos: traçar o perfil linguístico da comunidade de Itabaina-PB, considerando como variável dependente a palatalização das oclusivas dentais no que concerne ao uso da assimilação progressiva e identificar quais as restrições sociais e linguísticas que favorecem as variantes selecionadas. A abordagem teórica que serve como pano de fundo para a pesquisa é a teoria da variação, ou sociolinguística quantitativa, Labov (1966, 1972). Este modelo enxerga a língua como um fenômeno social e cultural com variações que podem ser mensuradas e sistematizadas, a partir de um levantamento estatístico de ocorrências das variáveis na fala dos indivíduos da comunidade, ele opera com números e trata os dados estatisticamente, com o intuito de simplificar a obtenção da quantificação sobre o papel dos fatores condicionadores de aplicação da regra variável e torná-la mais precisa. Os dados coletados já estavam armazenados eletronicamente no corpus do VALPB (Projeto Variação Linguística da Paraíba) Hora, 1993. A amostra é constituída de 36 informantes da comunidade de Itabaiana, estratificados de acordo com o sexo, a faixa etária e os anos de escolarização, variáveis sociais selecionadas para a análise. Além delas, foram controladas as variáveis linguísticas: contexto fonológico precedente, tonicidade, número de sílabas, categoria gramatical e tipo de consoante. Para a análise dos dados, após sua transcrição e codificação, foi utilizado o Programa Goldvarb (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005), cuja lógica operacional se apoia na proposta metodológica da sociolinguística variacionista. Quanto aos resultados, dentre as variáveis sociais, o programa selecionou a idade como significante, com o grupo dos mais velhos apresentando peso relativo de 0.549, o que mostra a preferência

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pela forma não palatalizada pelos falantes mais jovens. Dentre as variáveis linguísticas, o contexto fonológico precedente é o mais significativo, selecionando como mais produtiva a aplicação da regra de assimilação progressiva quando estão presentes a fricativa coronal [s] ou a forma monotongada [o], [e], etc. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Glide insertion to break a hiatus in Portuguese: the role of prosodic, geographic and sociolinguistic factors

Pedro Oliveira, Nuno Paulino, Marisa Cruz e Marina Vigário (Universidade de Lisboa) Descriptions of segmental processes across European Portuguese varieties do not usually take into consideration phonological aspects that are known to play a role in the occurrence of phonological phenomena, such as prosodic structure and prominence. Furthermore, in many cases, details about the geographical and sociolinguistic distribution are still rather scarce (see, for example, several papers published in Revista Lusitana, such as Vasconcelos 1895, et seq., Lopo 1895, Santos 1897 or Pereira 1908; Paiva Boléo & M. H. Santos Silva 1959; Cintra 1971; Rodrigues 2003; Saramago 2006; Aguiar 2009). In this talk, we investigate glide insertion to break a hiatus, a phenomenon that has long been noticed in the literature. Typically, glide insertion is illustrated by examples like a-i-água (Lopo 1895). Apart from some notes on the segmental context and V2 word-level stress, the prosodic domain of the rule and possible effects of higher levels of prominence are not mentioned. While previous references to the geographic distribution pointed to an area confined to the northern varieties, including Vila Real de Trás-os-Montes and Beira Interior Norte (Lopo 1895, Santos 1897, Pereira 1908), recent work reports its presence also across central varieties, from Vieira de Leiria to the northeast of Castelo Branco (Segura 2013). This research is part of a larger project focusing on prosodic variation. In this presentation we enlarge the geographic area inspected so far. Our main goals are (i) to contribute to the phonological description of the phenomenon, (ii) to determine the geographic area in which it occurs and whether it has the same phonological properties across the territory, and (iii) identify possible sociolinguistic sources for variation. We have examined data from three districts in the North (Oporto, Braga, Viana do Castelo) and one in the Centre of Portugal (Portalegre). The preliminary data reported below, from 20 subjects, include the following data points, classified as urban (U) or rural (R): Oporto (Ermesinde – U – and Gião – R), Viana do Castelo (Arcos de Valdevez – U – and Castro Laboreiro – R), and Portalegre (Nisa – R). Collected data come from three sources: (i) a sub-corpus of a reading task (27 sentences, produced twice by each participant), (ii) a semispontaneous task (Map Task), and (iii) an interview. Speakers are evenly distributed in two age groups (20-45 and above 59 years-old). On the basis of what is known about prosodic domains and prominence and the way they may constrain the application of segmental phenomena (e.g. Nespor & Vogel 1986/2007, Frota 2000, Vigário 2003, 2010), we address the following research questions: (1) Is glide insertion equally available whether the word V1 belongs to is a prosodic word (PW) or clitic (CL) (e.g. dava aulas vs. da Ana, respectively)? (2) Is there a prosodic domain favoring/blocking glide insertion, such as (i) inside PW (e.g. Nunca tinha ouvido falar da região de (Simaári)PW Cura...); (ii) across PW, within prosodic word group (PWG) – e.g. O João era mesmo ganacioso, (ultraávido) PWG de vencer!; (iii) across PWG, within phonological phrase (PhP) – e.g. Aquele professor (também dava

aulas)PhP aos mais jovens; (iv) across PhP, within intonational phrase (IP) – e.g. Este agricultor (só plantava)PhP (árvores baixas)PhP; and (v) across IP (Quanto à Maria)IP, (aulas às oito da manhã nunca lhe agradaram)IP? (3) Is level of prominence of V2 relevant? Specifically, is there variation depending on V2 bearing PW, PWG or PhP levels of prominence? Results from the three tasks show that (i) the geographical distribution of the phenomenon considerably varies in the different areas in terms of frequency of glide insertion (Erm < Nis < Gia < ArV < CtL); (ii) importantly, Nisa (Portalegre) still shows glide insertion, adding to the regions previously reported; (iii) globally, there is more insertion when V1 is a CL, and some areas (almost) never show insertion when V1 belongs to a PW (Erm, Nis) – this may indicate a pattern in the loss of the phenomenon. Results from the read speech corpus, which allowed controlling for prosodic constituency and levels of V2 prominence, indicate that when V1 is part of a PW: (i) only in ArV and CtL glide insertion applies across PhP, and in several regions glide insertion also applies inside PW; IP boundaries by contrast always block insertion (fig. 1); (ii) to the exception of Gia, higher levels of prominence matter across regions: there is a preference for insertion when V2 is the head of PhP, or the head of PWG, in the case of CtL (fig. 2); in Gia, only prosodic constituency and word-level prominence affects insertion (fig. 3).

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Our preliminary results indicate that there is variation across speakers and age groups, but older subjects exhibit more insertion than younger ones (fig. 4). Results also show an effect of type of speech in the occurrence of glide, as semi-spontaneous data favours glide insertion. Overall, this research contributes to determining language internal and external factors relevant for glide insertion in Portuguese dialects and, more generally, to deepen our understanding of the mechanisms involved in phonological variation and change. Selected References Cintra, L. F. (1971). Nova proposta de classificação dos dialectos galego – portugueses. In Boletim de Filologia, Lisboa, Centro de Estudos Filológicos, 22: 81-116. Frota, S. (2000). Prosody and focus in European Portuguese. Phonological phrasing and intonation. New York: Garland Publishing. Nespor M. & I. Vogel. (1986/2007). Prosodic Phonology (second edition). Mouton de Gruyter. Revista Lusitana, 1ª série (1887/1943), coord. J. L. Vasconcelos. Lisboa: Livraria Portuense, Antiga Casa Bertrand. Rodrigues, C. (2003). Lisboa e Braga: Fonologia e Variação. Lisboa: FCG/FCT. Segura, L. (2013) Variedades dialectais do Português Europeu. In Raposo, E., M. F. B. Nascimento, M. A. Mota, L. Segura & A. Mendes. (org.) (2013). Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian. Vigário, M. (2003). The Prosodic Word in European Portuguese. (Interface Explorations Series, 6). Berlin/New York: Mouton de Gruyter. Vigário, M. (2010). Prosodic structure between the Prosodic Word and Phonological Phrase: recursive nodes or an independent domain? The Linguistic Review 27(4): 485-530. TERÇA-FEIRA [29-04-2014]: 14:30 – 16:00h SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 7 [Auditório B2 CP2] Possessives in Portuguese and grammars in competition

Ana Maria Brito (Universidade do Porto) 1. Main goal: The main goal of this paper is to propose that there are three grammars in competition as for pre-nominal Portuguese possessives. Despite this variation, it will be also proposed that, except for a non-dominant grammar where possessives are almost clitics to the definite article, can be reduced and presumably occupy the D position (Castro 2005), Portuguese pre-nominal possessives occupy the spec of a high functional category in the DP (AgrP) and the co-occurrence or no co-occurrence of the possessive with the definite article is not due to the different category of the possessive (contrary to Giorgi & Longobardi 1990’s parameter) but to the presence / absence of the definite article itself, a proposal already done in Rinke (2010). 2. Introduction: Starting with the different position occupied by pre-nominal possessives in languages like Italian, which accepts the co-occurrence between articles and pre-nominal possessives, and English and French, which do not accept this co-occurrence, Giorgi and Longobardi (1991: 154) proposed the “Possessive Parameter” in (1): (1) “Possessive elements are syntactically specified to be realised on the surface either as ADJs (as in Italian) or as DETs (as in English and French).”

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This approach was adopted for Portuguese by Brito (2001), who suggested that in European Portuguese (EP) possessives are mainly adjectives and in Brazilian Portuguese (BP), which allows isolated possessives, possessives are mainly determiners (2a and 2b): (2) a. A minha carteira está aqui (EP) the my bag disappeared ‘my bag disappeared’ b. Minha carteira está aqui (BP) ‘my bag disappeared’ However, this approach is problematic for several reasons. In EP it is also possible to have isolated possessives, in particular with kinship nouns (data from CORDIAIL-SIN, in Carrilho, E. & S. Pereira 2006): (3) Mas meu pai tinha era gado. (PST) (but my father had cattle) And in Brazilian Portuguese (BP), the two constructions are also possible, although the absence of the definite article is the most common option, as in (2b), as already referred above. Also, the research developed by Rinke (2010) on the history of Portuguese has shown that the change operated in Portuguese from the XIV century (where the absence of the definite article was dominant) until contemporary Portuguese (where the presence of the definite article is dominant) does not indicate a different category status of the possessive; on the contrary, it indicates that the absence / presence of the article was mainly due to a process of grammaticalization and to discursive / semantic reasons. That is, micro-variation and change in possessives do not justify the sort of parameter proposed by Giorgi and Longobardi. In more theoretical terms, in the framework developed in the Minimalist Program, the variation between grammars is not due to different categorial status of words but to the features of lexical and functional categories. So, the variation and micro-variation in the possessive system may not be due to the possessives themselves but to the nature and features of D, in particular if D has some lexical material or not, which features D codifies, how agreement (case, number and person) checking is done in each grammar, and, consequently, the different computational procedures that are instantiated (Chomsky 2000). Cardinaletti (1998) for Italian is an attempt to reconsider Giorgi and Longobardi’s parameter. Starting from Italian, she proposes that possessives may be strong, weak and clitic; the weak / strong nature is noticed in pre and post-nominal possessives, respectively, in Italian (4) and it may be verified from the different behaviors possessives present as for focalization, coordination, modification by exclusion adverbs and other tests; prenominal possessives cannot be focalized, coordinated nor modified by exclusion adverbs and therefore they are weak; post-nominal possessives may be focalized, coordinated, modified by exclusion adverbs and therefore they are strong: (4) la sua casa (weak possessive); la casa sua (strong possessive) (lit. the his/her house) Castro and Costa (2003) adopted this distinction and proposed that Portuguese has also weak pre-nominal possessives and strong post-nominal possessives, suggesting that the first ones are heads, X and the second ones are phrasal, XP (Castro 2005): (5) o meu livro / um livro meu (lit. the my book / a book my or of mine) But if pre-nominal possessives may be focalized and coordinated when focalized, as Castro and Costa propose, as in (6), then their X nature is not proved at all. (6) Este é o MEU problema, não (o) teu (lit. this is the my problem, not (the) yours) (7) ? O meu e TEU artigo está aqui. (lit. the my and your paper is here) Then a more detailed analysis is necessary. 3. Three grammars in competition: Miguel (2002) and Brito (2007) had already proposed that the oscillation in the acceptability of the order indefinite+possessive+N by Portuguese speakers, represented in (8) and (9): (8) * uma minha amiga (lit. a my friend / a friend of mine) (9) uma minha amiga (lit. a my friend / a friend of mine) is the signal of the competition of two different grammars of possessives in Portuguese: a formal and nondominant grammar where pre-nominal possessives co-occur with indefinites, as in (9), and the dominant grammar, where pre-nominal possessives do not co-occur with indefinites, as in (8). The two grammars accept focalization (6) and coordination of pre-nominal possessives associated to focus (7). But they differ in other phenomena, in particular, in the non-dominant grammar possessives may have degree (see (10)); (10) O muito meu e muito teu amigo de Paris chega amanhã (lit. the very my friend and the very your friend....) Therefore, in this grammar pre-nominal possessives are clearly XP and occupy the spec position of a functional category (AgrP). In this formal grammar, indefinites and prenominal possessives may cooccur, as referred above, and possessives may also be focalized (11): (11) Uns MEUS amigos, não TEUS, vieram visitar-me (lit. some my friends, not yours,.. ) There is also a non-dominant grammar, limited to southern and oral dialects of EP, mainly characterized by the phonological reduction of pre-nominal possessives (13)

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(12) o me livro (the my-reduced book) In this grammar, possessives are almost clitics to D, are associated to definiteness and are strictly adjacent to the definite article (Castro and Costa 2003). The dominant grammar of pre-nominal possessives in Portuguese is neither represented by data as in (9) or (13): it has mixed properties of the other two: pre-nominal possessives may be focalized and coordinated, as already seen in (6) and (7), they admit weak temporal and aspect adverbs (ainda, já) between the definite article and the possessive, as in (13), (13) a ainda minha mulher (lit. the still my wife) In this dominant grammar, possessives have no degree and are not reduced; but accepting (13) they are XP, codifying φ features (in particular person and number related to the possessor, and also gender, related to the possessed element), in the spec of a high functional category, AgrP; the use of the definite article with possessives is dominant in EP (but not in BP), with the exception of kinship nouns (Rinke 2010: 136). In the formal grammar represented by (9) and (11), possessives are completely independent of definiteness. In the southern and oral dialects of EP, represented by (12), the possessive is tendentially codifying a [+def] feature. References: Brito, Ana (2001) Presença / ausência de artigo antes de possessivo no Português do Brasil. In Actas do XVI Encontro da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL/ Colibri, 551-575. Brito, Ana (2007) European Portuguese possessives and the structure of DP. Cuadernos de Lingüistica XIV, 2007, Instituto Universitario de Investigación Ortega y Gasset, pp. 27-50. Cardinaletti, Anna (1998) On the deficient / strong position in possessive systems. In A. Alexiadou and C. Wilder. (eds.), Possessors, Predicates and Movement in the Determiner Phrase. Amsterdam: John Benjamins Publ. Company, 17-53. Carrilho, E. & S. Pereira 2006. On the areal distribution of non-standard syntactic constructions in European Portuguese, presented at the Vith Congress of Dialectology and Geolinguistics, Univ. Maribor, Slovenia, September. Castro, Ana (2005) Possessives in European Portuguese, Ph. D. presented to the Universidade Nova de Lisboa and to Paris VIIISaint Denis. Castro, Ana and João COSTA (2003): Weak forms as Xº: Prenominal possessives and preverbal adverbs in Portuguese. In A. T. PÉREZ-LEROUX and Y. ROBERGE (eds.), Romance Linguistics: Theory and Acquisition. Amsterdam: John Benjamins, 95-110. Chomsky, Noam (2000) Minimalist Inquiries. In R. MARTIN, D. MICHAELS and J. Uriagereka (eds.), Step by Step. Essays on Minimalist Syntax in Honor of Howard Lasnik. Cambridge, Mass.: The MIT Press, 89-155. Giorgi, Alessandra and Giuseppe LONGOBARDI (1991): The Syntax of Noun Phrases. Cambridge, Cambridge University Press. Miguel, Matilde (2002) Possessive pronouns in European Portuguese and Old French. Journal of Portuguese Linguistics, 2: 214-240. Rinke, E. (2010) A combinação de artigo definido e pronome possessivo na história do português. Estudos de Lingüistica Galega, volume 2, 2010, 121-139. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

A relação entre a frequência da posse [DP+DP] e o tempo de escolarização dos falantes do português de português de Moçambique e São Tomé e Príncipe: um estudo sociolinguístico

Elaine Melo (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Neste trabalho, pretendemos discutir a emergência da construção de posse [DP+DP] em duas variedades do português em África: moçambicano e de São Tomé e Príncipe. Em especial, analisaremos construções como (1) que não são gramaticais no Português Europeu. Portanto, trataremos das construções de posse [DP+DP] em contextos de tópico sujeito, (1a), tópico pendente, (1b), que se singularizam por ocorrer o alçamento do DP [possuidor], e também serão observadas construções como (1c) em que não há o alçamento do DP [possuidor], mas ainda assim ocorre a posse [DP+DP]. O trabalho segue os pressupostos da Teoria de Variação e Mudança (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 2006 [1968]), observando, principalmente, os fatores sociais que estão condicionando a marcação ou não da construção de posse [DP+DP]. (1) a. Um dia, [+possuidor]o céui caiu no mar [+possuído]todas as estrelas [-]i (Acessado em 30/12/2013 – Disponível em http://st-pt.qazgames.com/1486/) b. [+possuidor]O jogoi, o juiz apitou [+possuído]o final [-]i. c. Lá circula mais dinheiro. Dinheiro lá faz movimento, [+possuído]dinheiro [+possuidor]São Tomé está parado. É só para quê? Pão, arroz, mercado, banana. (Entrevista, São Tomé e Príncipe) (2) a. Um dia, caiu no mar [+possuído]todas as estrelas [+possuidor]do céu (Acessado em 30/12/2013 – Disponível em http://st-pt.qazgames.com/1486/) b. O juiz apitou [+possuído]o final [+possuidor]do jogo

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c. Lá circula mais dinheiro. Dinheiro lá faz movimento, [+possuído]dinheiro [+possuidor]de São Tomé está parado. É só para quê? Pão, arroz, mercado, banana. (Entrevista, São Tomé e Príncipe) A construção de posse [DP+DP] caracteriza-se pela ausência de um morfema responsável por dar as marcas de posse à construção. Assim, observando as sentenças em (1) vemos que não há a preposição “de” que está presente na construção canônica do português expressa em (2). É a ausência da preposição “de” que permite afirmarmos que há em (1) a construção de posse [DP+DP]. A hipótese desse trabalho é de que a emergência de construções como (1) no Português de Moçambique e de São Tomé e Príncipe está relacionada ao contato do português com as línguas da família bantu. A questão do contato linguístico é importante porque revela traços sociais (WEINREICH, 1968) que estão influenciando essas variedades do português. Segundo Gonçalves (2010), o português em Moçambique e em São Tomé e Príncipe é maioritariamente uma segunda língua, portanto, a criança aprende a variedade do português em um contexto em que traços da sua língua materna podem ser transferidos para o português. Trabalhos acerca das línguas em contato têm revelado que em muitos casos palavras que têm apenas significado gramatical são apagadas. Esse fenômeno parece ser o mesmo que encontramos em construções como (1). A preposição “de” em (1) não é dotada de significado lexical, sendo apenas responsável por checar o caso oblíquo (DUARTE, 2003). O fato é que mesmo com a questão do contato sendo a explicação para o apagamento da preposição, a posse [DP+DP] em construções como (1c) só é encontrada em textos orais ou escritos produzidos por falantes com baixa escolarização. Os resultados mostram que 77% dos dados de posse [DP+DP] em estruturas como (1c) são produzidos por falantes que têm no máximo o sexto ano de escolaridade, os outros 33% dos dados foram produzidos por informantes que tinham no máximo o nono ano de escolarização. Esses resultados são importantes na medida em que revelam até que ponto o processo de ensino da língua portuguesa nos bancos escolares está aproximando ao português europeu as variedades do português de Moçambique e São Tomé e Príncipe. No que concerne às construções expressas em (1a-b) – tópico sujeito e tópico pendente - os resultados revelam que estas construções se fazem presentes em textos jornalísticos, em livros, ou seja, foram produzidas por falantes com maior escolarização. A realização das construções com alçamento do DP [possuidor] em textos mais formais indica que em contextos como (1a-b) o processo de escolarização pode ser um fator condicionador da mudança na medida em que torna menos freqüente a realização dessa construção, mas não a impede de ser realizada pelos falantes com maior escolarização. A especificidade da construção de posse [DP+DP] tornou impossível que esta análise fosse feita com base em apenas um corpora. Dessa maneira, dados que foram analisados nesse trabalho constituem parte dos Corpora do Corpus de Referência do Português Contemporâneo, disponível em www.clul.ul.pt, e foram coletados a partir de buscas automáticas. Constituem também a amostra entrevistas realizadas em São Tomé e Príncipe que fazem parte do Corpus Português em África, além da amostra da Universidade Eduardo Mondlane. Foram feitas ainda buscas no site de pesquisas Google a partir da ferramenta “busca avançada”. Os dados coletados foram codificados segundo fatores lingüísticos e extralinguísticos, posteriormente, foram submetidos ao pacote de programas Goldvarb-x (SANKOF, SMITH, TAGLIAMONTE, 2001) que permitiu uma análise estatística dos resultados. Referências Bibliográficas DUARTE, Inês. (2003). “Relações gramaticais, esquemas relacionais e ordem de palavras”. In.: Mateus, Maria Helena Mira et alli,Gramática da Língua Portuguesa.Lisboa, Caminho, p 275- 320 GONÇALVES, Perpétua (2010). A génese do Português de Moçambique. Lisboa: INCM. SANKOF, David; SMITH, Eric; TAGLIAMONTE, Sali. (2001) GoldVarb: A multivariate analysis application for Windows. University of York: Department of Language and Linguistic Science and Computer Services WEINREICH, U., LABOV, W. & HERZOG, M. (1968) Fundamentos Empíricos para uma teoria da mudança linguística. tradução Marcos Bagno- São Paulo, Parábola Editorial, 2006. WEINREICH, URIEL. (1968). Languages in contact: Findings and problems. The Hague: Mouton. [Originally published as Publications of the Linguistic Circle of New York,no. 1, 1953.

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Dative variation in Santomean Portuguese

Rita Gonçalves (CLUL) Santomean Portuguese (STP), originally acquired as second language in contact with L1 varieties of Creole and Bantu languages, with a major role for Santome (ST), has become a widespread L1 variety in São Tomé and Príncipe, in particular after the country’s independence. STP is spoken by almost 100% of the population, while just

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a third of the population speaks ST (e.g. RGPH 1991, 2001, 2012; R. Gonçalves 2010). First of all, this talk contrasts the dative expression in STP variety with other L1/L2 varieties of Portuguese. STP exhibits the canonical European Portuguese (EP) strategy: a DP preceded by the dative case marker a and the possibility of cliticization of third persons. In addition, STP displays a prepositional ditransitive construction, introduced by the lexical preposition para or, in pronominal contexts, the preposition a (DCP) (cf. (1)), as well as highly productive use of double object constructions (DOC), in both nominal and pronominal contexts (cf. (2)). Moreover, R. Gonçalves (2010) concludes that around 40% of the nominal IO contexts employ a non EP strategy. The higher use of DOC (27%) over DCP (17%) was considered to be related to verbal argument restructuring in STP, which leads to a tendency towards (di)transitivization. In this domain, the influence of ST, where the only IO strategy available is the DOC, plays a role. The use of the non IO canonical strategies in Non-European varieties of Portuguese is very common, since Brazilian and Angolan Portuguese tend to use a prepositional ditransitive construction (in the former the most common preposition is para and in the latter is em) and Mozambican Portuguese largely uses DOCs. Furthermore, instead of dative clitics strong pronominal forms are used (e.g. P. Gonçalves 2002; 2005; 2010; Cabral 2005; Torres Morais & Berlinck 2006; Brito 2008; 2009; Torres Morais & Salles 2010). We also propose to discuss the correlation observed between both DOC and DCP and linguistic factors, in STP, such as the type of dative verb (main or light verb) and animacy of IO [±HUM]. The data were drawn from a spoken corpus of STP (280.000 words) and from a grammaticality judgment task applied to STP informants. We will use the classic requirement of animacy in DOC – noted in English by Pinker (1989), Jackendoff (1990), among others, and in Greek, by Anagnostopoulou (2003, 2004) – to explain the correlation observed in STP between DOC (just nominal occurrences) and IO [+HUM] (p=0,000 r=0,855), on the one hand, and DCP and IO [-HUM], in both nominal (p=0,000; r=0,977) and pronominal (p=0,000; r=0,840) contexts, on the other. Furthermore, we will apply the semantic approach to dative verbs proposed by Rappaport-Hovav & Levin (2002; 2008). According to their analysis of the English dative alternation, the give-type verbs are associated with caused possession, whereas throw-type verbs have both caused motion and caused possession meanings. Consequently, while give-type verbs may occur in both DOC and DCP, throw-type verbs occur only in DCP. This explains the apparent correlation in STP between DCP, with para, and main verbs (tell ‘dizer’ and throw ‘atirar’), independently of the OI being nominal (p=0,000; r=0,865) or pronominal (p=0,000; r=0,929). In contrast, no different correlations were found between DOC and main verb (p=0,000; r=0,807) or light verb (give ‘dar’ and do ‘fazer’) (p=0,000; r=0,808). Examples (1) a) Isso cria problema para homem. b) Mãe tem um sobrinho que faz aguardente, vende para ela, ela volta a revender. c) Nós vamos lá servir comida e dar um pouco de conforto a eles. (2) a) Entrega senhor uma cerveja. b) Dou ela uns cinco contos e ela vai falar, mas eu não percebo nada. Selected references BRITO, Ana Maria. (2008). Grammar variation in the expression of verb arguments: the case of the Portuguese Indirect Object. Phrasis. Studies in Language and Literature, 49 (2), pp.31-58. GONÇALVES, Rita. 2010. Propriedades de subcategorização verbal no português de São Tomé. Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa. GONÇALVES, Perpétua. 2010. A génese do português de Moçambique. Lisboa: INCM. RAPPAPORT-HOVAV, M. & LEVIN, B. (2008). The English dative alternation: the case for verb sensitivity. Linguistics, 44. UK: Cambridge University Press, pp. 129-167. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Se constructions in East-Timorese Portuguese Susana Afonso (University of Exeter) Portuguese was chosen, together with Tetum, to be the official language of East-Timor following independence in 2002, as part of an ongoing process of language planning. Portuguese in East-Timor is an L2 variety which is at the very early stages of nativisation, after 25 years of Indonesian rule during which Portuguese was banned. L2 varieties exhibit similar patterns such as simplification and overgeneralisation of features. Furthermore, marked structures, i.e. complex overtly coded, are less likely to be used in L2 use (Thomason and Kaufman, 1998), such is the case of the Portuguese reflexive and related types, here referred to as SE constructions. SE constructions are highly polysemous constructions and are overtly coded by the same polifunctional marker, the clitic pronoun SE. The present paper aims to discuss the SE constructions in the idiolects of East-Timorese and investigate to what

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extent the exhibited patterns are contact-induced or due to internal explanatory factors. The data from the corpus Diaspora TL-PT (Goglia and Afonso, 2012) show three tendencies (Afonso and Goglia, to appear): generalization of the SE marker to all grammatical persons (see (1)), elision of the marker (see (2)), and use of the marker in domains where the SE constructions are typically not used (see (3)). (1) Agora eu acho é que temos que em primeiro lugar sentir-se orgulhosos (2) Eu acho é que temos que estimularmos a nós próprios (3) Essa é outro massacre que se existe em Timor que ninguém sabia These patterns may be partly explained by contact between Portuguese and Tetum (Afonso and Goglia, to appear). On the other hand, it is nonetheless interesting to note that similar patterns are also observed in other varieties of Portuguese, such as Mozambican Portuguese (MP) and Brazilian Vernacular Portuguese (BVP), as (4) and (5) illustrate. (4) Vou-se embora. (Naro and Sherre, 2004: 187) (5) …eles também não podem respeitar as si próprio (Bacelar do Nascimento et al., 2008: 53) In both cases, it has been argued that such patterns are the result of contact between substrate African languages and Portuguese. However, the contact situation in the East-Timorese case is very different and it may indicate that other explanations must also be considered. In the case of Brazilian Portuguese, it has been suggested that changes in SE constructions may be related the status of pro-drop (Cavalcante and Duarte, 2007). This paper will explore whether the patterns observed in East-Timorese SE constructions are related to properties of the pro-drop status, as advocated in the literature on Brazilian Portuguese. References: Afonso, S. and Goglia, F. to appear. “Linguistic innovations in the immigration context as initial stages of a partially restructured variety: evidence from SE constructions in the Portuguese of the East-Timorese diaspora in Portugal”. Studies in Hispanic and Lusophone Linguistics. Bacelar do Nascimento, M., Gonçalves, J., Pereira, L. Estrela, A. and Oliveira, S. 2008. “Aspectos de unidade e diversidade do português: as variedades africanas face à variedade europeia”. Veredas, Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, 9: 35–60 2 Cavalcante, S. and Duarte, M. 2007. “Arbitrary subjects and infinitival clauses in European and Brazilian Portuguese”. In Tsiplakou, S., Karyolemou, M. and Pavlou, P. (eds). Language Variation—European Perspectives II: Selected Papers from the 4th International Conference on Language Variation in Europe (ICLAVE 4). Amsterdam: John Benjamins. pp. 47–58. Goglia, F. and Afonso, S. 2012. “Language maintenance and shift in the East-Timorese diasporic community in Portugal”. Ellipsis (Journal of the American Portuguese Studies Association), 10: 97–123 Thomason, S.G., Kaufman, T., 1988. Language Contact, Creolization, and Genetic Linguistics. Berkeley: University of California Press Naro, A. and Sherre, M. 2004. “Sobre as origens do português brasileiro – retrospectiva de um garimpo”. Actas do XX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa, APL. pp. 183–194.

TERÇA-FEIRA [29-04-2014]: 14:30 – 16:00h SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 8 [Auditório ILCH] O ALIB: uma base de dados orais para o mapeamento da variação linguística do português

Josane Oliveira (Universidade Estadual de Feira de Santana), Jacyra Mota e Suzana Cardoso (Universidade Federal da Bahia) O Atlas Linguístico do Brasil (ALIB), projeto nacional nascido em 1996, objetiva cartografar o país, documentando e analisando o português brasileiro em vários níveis linguísticos: fonético-fonológico, morfossintático, semântico-lexical, pragmático e discursivo. Utilizando uma metodologia pluridimensional, investiga os vinte e seis estados brasileiros e considera, ao lado da variável diatópica, outras variáveis sociais, tais como sexo/gênero, faixa etária e escolaridade. De caráter inovador na Geolinguística brasileira, pois incorpora princípios da Sociolinguística, o projeto envolve pesquisadores de todo o país e muitos fenômenos linguísticos estão sendo objeto de estudo. Além de uma visão espacial, nosso Atlas permite também uma visão social da língua do Brasil, disponibilizando material para estudos de descrição, variação e mudança linguística. Na fase de coleta de dados, foram realizadas gravações com 1.100 informantes distribuídos por 250 localidades brasileiras espalhadas pelos quase 8.500.000 km2, aí incluídas todas as capitais (com exceção de Palmas – TO e Brasília – DF por serem cidades novas, sem indivíduos da segunda faixa etária com pais nascidos na mesma cidade), perfazendo um total de aproximadamente 3.300 horas de gravação. Os informantes são estratificados pelos dois sexos/gêneros, por duas faixas etárias (18 a 30 anos e 50 a 65 anos) e por dois níveis de escolaridade

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(fundamental e universitário). Em cada capital, foram inquiridos oito informantes; nas demais cidades, foram inquiridos quatro informantes. Quanto às entrevistas, foram aplicados um questionário fonético-fonológico (incluindo questões de prosódia), um questionário semântico-lexical (versando sobre várias áreas temáticas) e um questionário morfossintático, além de questões de pragmática, de discursos semidirigidos (com relatos pessoais), de perguntas metalinguísticas e de um texto para leitura. Com o objetivo de descrever a realidade linguística do Brasil, muitos trabalhos de análise foram e têm sido feitos e se apresentam sob a forma de comunicações, artigos, dissertações de Mestrado, teses de Doutorado e outros. Nesta comunicação, apresentamos nosso modelo de coleta e análise de dados e, a partir do exame da variação fonética [ti] / [di] (formas estigmatizadas) ~ [t∫i] / [di] (formas padrão) (tia, artigo, ativar, parte; dia, fadiga, adiar, desde) no português brasileiro, ilustramos as suas potencialidades para um mapeamento da variação sociolinguística. Para a análise desse fenômeno, são consideradas variáveis linguísticas (sonoridade da consoante, posição da sílaba, natureza da vogal alta, tonicidade da sílaba, vogal antecedente, consoante implosiva antecedente, nasalidade/oralidade da vogal) e sociais (procedência geográfica, nível de escolaridade, sexo/gênero, faixa etária, tipo de questionário) que podem condicionar a realização dento-alveolar ou palatalizada das consoantes /t/ e /d/ diante da vogal /i/. Os dados foram analisados de acordo com o quadro teórico-metodológico da Sociolinguística Quantitativa e utilizamos a ferramenta GoldVarb para o processamento dos dados. Referências: AGUILERA, V. A.; XXXX, X. X.; MILANI, G. A. L. (Org.). Documentos 1: Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Salvador: EDUFBA, 2004. AGUILERA, V. A.; ALTINO, F. C. Para um atlas pluridimensional: pesquisas e pesquisadores. Alfa, São Paulo, 56 (3), p. 871-889, 2012. CARDOSO, S. A. Projeto Atlas Linguístico do Brasil – Projeto ALIB: estágio atual. Atas do V Congresso da Associação Brasileira de Linguística. Belo Horizonte: UFMG, 2007, p.796-797. CARDOSO, S. A.; MOTA, J. A. Projeto Atlas Linguístico do Brasil: antecedentes e estágio atual. Alfa, São Paulo, 56 (3), p.855-870, 2012. COMITÊ Nacional do Projeto ALIB. Atlas Linguístico do Brasil: questionários 2001. Londrina: UESL, 2001. ISQUERDO, A. N.; ROMANO, V. P. Discutindo a dimensão sociolinguística do Projeto ALIB: uma reflexão a partir do perfil dos informantes. Alfa, São Paulo, 56 (3), p. 891-916, 2012. LABOV, William. The social stratification of English in New York City. Washington: Center of Applied Linguistics, 1966. LABOV, William. Sociolinguistics patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972. LABOV, William. Principles of linguistic change (internal factors), v.1. Oxford: Blackwell, 1994. LABOV, William. Principles of linguistic change (social factors), v.2. Oxford: Blackwell, 2001. LABOV, William. Principles of linguistic change (cognitive and cultural factors), v.3. Oxford: Willey-Blackwell, 2010. MOTA, J. A. O Projeto Atlas Linguístico do Brasil: uma visão crítica da metodologia utilizada. Atas do V Congresso da Associação Brasileira de Linguística. Belo Horizonte: UFMG, 2007, p.798-799. MOTA, J. A.; CARDOSO, S. A. (Org.). Documentos 2: Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Salvador: Quarteto, 2006. MOTA, J. A.; CARDOSO, S. A.; PAIM, M. M. T. Documentos 3: Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Salvador: Vento Leste, 2012. WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Empirical foundations for a theory of language change. In: LEHMANN, W. P.; MALKIEL, Y. (Ed.) Directions for historical linguistics. Austin: University of Texas Press, 1968. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Sobre o problema das variedades dialectais da Beira Alta e Alto Alentejo e do Barlavento algarvio

Fernando Brissos (CLUL) 1. Da proposta de classificação dos dialectos portugueses de Lindley Cintra (Cintra 1971 (1983)), seguida de forma praticamente unânime desde a sua publicação, ressalta, para além da divisão macrodialectal do país nos seus grupos principais, a existência de três «regiões subdialectais com características peculiares bem diferenciadas» (cf. ibid., mapa 2). Trata-se de áreas subdialectais que, sendo incluídas nos grupos primários (Norte ~ Centro-Sul) e secundários (bipartição dos primários: cf. ibid.) que o A. define, têm uma personalidade linguística que leva a que se destaquem do conjunto a que efectivamente pertencem. Das três áreas, duas estão localizadas no Centro-Sul, em extremos opostos: a «variedade dialectal da Beira Baixa e Alto Alentejo» e a «variedade dialectal do Barlavento do Algarve». Vejam-se os inventários dos traços linguísticos que, segundo Cintra, as individualizam respectivamente a pp. 155-156 e 157-158. Tal como a proposta de Cintra, os traços linguísticos que lhe subjazem ― que, é importante ter presente, são todos de ordem fonética e, no caso das variedades em consideração, respeitantes ao vocalismo (sobretudo tónico) ― têm sido revistos apenas em alguns casos específicos e ao nível do pormenor (precisão de

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regras contextuais de ocorrência, principalmente). A visão mais recente está em Segura 2013:102-104 e 104-105. O quadro que tem sido dado das duas variedades localizadas no Centro-Sul dá azo a duas questões decisivas para a teoria da formação dos dialectos de toda a área (onde está localizado o português padrão). A primeira questão rende-se com os graus de semelhança entre as duas variedades, que, não obstante elas estarem distantes geograficamente, é elevado; a segunda diz respeito ao contraste entre as duas variedades e o resto do Centro-Sul, pois fenómenos tidos como típicos das variedades têm sido registados ― perceptivamente ― fora das suas áreas geográficas (cf. e.g. Segura 1987:290-302). 2. Apresentarei dados dialectais relativos ao Centro-Sul a partir de 13 pontos de inquérito do Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG; descrição do projecto em Saramago 2006, entre outros):

Os dados são de dois tipos: a) Acústicos ― Dados sobre as vogais tónicas (em valores Hertz, sistematizáveis em gráficos como cartas de formantes) que acrescentam informação às duas questões referidas acima, desde logo pela quase inexistente tradição de estudo acústico dos dialectos portugueses (dos dialectos continentais, com a excepção do português padrão, apenas uma localidade tem, até hoje, o seu vocalismo descrito acusticamente: Sagres, em Segura 1987). São dados que permitem, por via da força inerente à abordagem acústica, clarificar vários pontos concernentes aos diferentes timbres vocálicos do Centro-Sul, bem como verificar traços tidos como típicos das duas variedades em locais longe das mesmas; exemplos: e velarizado em Alcochete, u palatalizado em Foros da Casa Nova. Metodologia de recolha dos dados acústicos: -1- Para cada ponto de inquérito foi seleccionado um informante masculino adulto e plenamente representativo do falar respectivo. -Mapa dos pontos de inquérito utilizados. Legenda: Alp = (inquérito de) Alpalhão. FA = Foros do Arrão. CV = Cabeço de Vide. Fr = Freixial. Alc = Alcochete. FCN = Foros da Casa Nova. Bl = Baldios. Cr = Carrapatelo. Qt = Quintos. Ms = Mesquita. ZM = Zambujeira do Mar. PS = Praia da Salema. SL = Santa Luzia. 2- Foram medidos os primeiros três formantes vocálicos (os essenciais para a caracterização das vogais: Ladefoged & Disner 2012:39-47, etc.). Os valores formânticos foram obtidos com medição no programa SpeechStation2 (f.a. = 11025Hz (Ladefoged 2003:26, etc.)), modo FFT, janela Hanning, espectrograma de banda larga, ferramenta «Spectral Slice», selecção de toda a área estável da vogal (configuração «Average Spectrum» na ferramenta «Spectral Slice»). A escolha da metodologia de análise acústica sujeitou-se ao princípio de escrutinar directamente dados que, em vista a terem plena fiabilidade dialectal, não são dados laboratoriais. -3- São utilizados exemplos de vogais produzidos em frases declarativas de entoação normal e integrados em sílabas CV iniciadas por quatro tipos de consoante: bilabial; alveo-dental; palatal; velar (portanto os tipos principais do sistema pandialectal português). Cada contexto tem, sempre que possível, 7 exemplos; portanto, cada vogal tem 28 exemplos. Na análise dos dados são abordadas tanto as médias contextuais como as médias gerais dos fonemas; no entanto, estas, de modo a não se privilegiar os contextos mais frequentes, são feitas a partir das médias dos contextos. Os dados acústicos permitem formular a hipótese de um fundo latente no Centro-Sul do qual as variedades da Beira Baixa e Alto Alentejo e do Barlavento do Algarve seriam exponenciações; estas variedades não poderiam, portanto, continuar a ser vistas como factos dialectais idiossincráticos e afastados do restante conjunto sulista do país, como até aqui (veja-se, p. ex., a sistematização das diferentes propostas de explicação da origem do u palatal das variedades ― o traço tido, na tradição de Cintra, como o principal das variedades e o utilizado para as demarcar geograficamente ― em Segura 1987:263 ss.). b) Perceptivos ― Os dados acústicos dão o mote para a análise perceptiva, que tem como objectivo dar a distribuição geográfica de todos os factos dialectais de interesse na área alvo de estudo acústico, com a excepção do timbre das vogais tónicas (tratado pela análise acústica); inclui todos os informantes de cada inquérito e abrange 69 traços distribuídos pelas áreas da fonética e morfo-sintaxe. Evita, portanto, a restrição tradicional da análise apenas fonética dos dialectos. O confronto dos dados perceptivos com os dados acústicos permite testar a hipótese sobre a origem das variedades destacadas do Centro-Sul ― e, bem assim, da generalidade dos dialectos portugueses do Centro-Sul, incluindo a

Mapa dos pontos de inquérito utilizados.

Legenda: Alp = (inquérito de) Alpalhão. FA = Foros do Arrão. CV = Cabeço de Vide. Fr = Freixial. Alc = Alcochete. FCN = Foros da Casa Nova. Bl = Baldios. Cr = Carrapatelo. Qt = Quintos. Ms = Mesquita. ZM = Zambujeira do Mar. PS = Praia da Salema. SL = Santa Luzia.

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variedade padrão actual ― que os dados acústicos permitem formular. A perspectiva daí resultante, multidisciplinar e holística ― análise, por meio de mais de uma ferramenta, dos sistemas linguísticos dos dialectos do Centro-Sul no seu todo, ou seja, sem deixar de parte nenhuma área gramatical ―, proporciona a visão de síntese necessária para o teste dessa hipótese e o relacionável aprofundamento das duas questões referidas no §1. 3. Referências citadas: Cintra, Luís Lindley. «Nova Proposta de Classificação dos Dialectos Galego-Portugueses» (1971), em: Estudos de Dialectologia Portuguesa. 1983, Lisboa: Sá da Costa Editora. Ladefoged, Peter. Phonetic Data Analysis: an Introduction to Fieldwork and Instrumental Techniques. 2003, Malden: Blackwell. Ladefoged, P. & Disner, S. F.. Vowels and consonants, 2012, 3.ª edição, Blackwell. Saramago, João. «O Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG)». Separata de Estudis Romànics, XXVIII. 2006, Barcelona: Institut d‘Estudis Catalans. Segura (da Cruz), (M.) Luísa. A Fronteira Dialectal do Barlavento do Algarve. Dissertação de doutoramento em linguística portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 1987. Segura, Luísa. «Variedades Dialectais do Português Europeu», em: Gramática do Português, vol. I. 2013, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Perfil geo-sociolinguístico do continuum Rio de Janeiro- Belo Horizonte: o /S/ em coda silábica Daniela Barros (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Este trabalho é parte de uma pesquisa de natureza fonético-fonológica, na qual analisamos a variação do S em coda silábica no falar de cidades localizadas no continuum linguístico entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte/MG. Tomamos como ponto de partida a cidade de Três Rios, na fronteira entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais e, na primeira fase desta pesquisa, consideramos também como pontos de inquérito as capitais dos estados cujos falares estão sendo investigados e mais dois pontos intermediários, localizados a mais ou menos a mesma distância do município-origem: os municípios de Petrópolis (RJ) e Juiz de Fora (MG). Traçamos, assim, um contínuo linguístico a partir da BR-040, principal ligação entre as localidades investigadas e a partir da qual toda a região se desenvolveu histórica e socialmente, já que a atual BR-040 era, no trecho Petrópolis – Juiz de Fora, a antiga Estrada União Indústria, e no trecho ampliado, RJ-BH, a famosa BR 3. Escolhemos Três Rios como ponto de partida da investigação pelo fato de ser uma localidade que ainda não serviu de alvo para estudos linguísticos mais amplos. Na segunda fase da pesquisa, ampliamos o número de localidades e escolhemos mais dois municípios do continuum Rio-BH, um em cada estado. A comparação entre os falares dos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais é algo inédito, principalmente porque esta pesquisa no permitiu constituir um corpus novo que poderá servir de base para outros estudos. Este corpus compreende entrevistas de informantes das localidades investigadas, de ambos os sexos, selecionados por critérios de escolaridade, sexo e faixa etária. Adotamos como principal linha teórica a perspectiva da Sociolinguística Variacionista (LABOV, [1972] 2008; 1994; 2001; 2010). Para mapear o S em coda no continuum linguístico Rio de Janeiro-Belo Horizonte, fizemos uma revisão dos estudos do S em coda nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, a partir de autores como Nascentes (1922, 1953), Zágari (1998, 2005), Scherre, Callou, Callou & Marques, Viegas, Ramos & Rocha, e Brandão (2008, 2009). Os resultados obtidos até agora comprovam a hipótese de que as concretizações do S em coda silábica ilustram um continuum linguístico existente entre RJ e BH, que transpassa as fronteiras geográficas e se constrói histórica e socialmente através do contato entre mineiros e cariocas/fluminenses.

Palavras-chave: Sociolinguística; Continuum Linguístico; Fronteira Linguística. Referências bibliográficas BRANDÃO, S. F. S em coda de sílaba interna à luz da geo e da sociolinguística. In Signum: Est. Ling., Londrina, v. 12, n. 1, p. 103-122, jul. 2009. ___________. A fala popular do Estado do Rio de Janeiro numa perspectiva geo-sociolinguística. In: RONCARATI, C. & ABRAÇADO, J. (Orgs.) Português brasileiro II: contato linguístico, heterogeneidade e história. Niterói: EdUFF, 2008 a. p. 268-284. ___________. Estudo variacionista sobre a palatalização de S em coda silábica na fala fluminense. In: ENCONTRO DO CELSUL, 8. Porto Alegre, 2008. Anais. Porto Alegre: UFRGS, 2008b. 1. CDRom. ___________. Réalité sociolinguistique brésilienne et géolinguistique pluridimensionnele. In PÉREZ, A.; AFONSO, X.; CARRILHO, E. & MAGRO, C. (eds.) (2012) Proceedings of the International Symposium on Limits and Areas in Dialectology (LimiAr). Lisbon, 2011. http://limiar.clul.ul.pt. Lisboa: Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, p. 53-77. ISBN: 978-

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Ivelã Pereira (Universidade Federal de Santa Catarina e UNISEP) Esta pesquisa objetiva mapear a variação morfêmica na P4 (nesse caso, nós) no presente do Indicativo e pretérito perfeito do Indicativo em verbos regulares de 2ª conjugação, para estabelecer uma diferenciação entre esses dois contextos temporais. Trata-se de uma pesquisa quantitativo-qualitativa, com foco na morfologia verbal, cujo corpus é composto por entrevistas gravadas do banco de dados VARSUL (agência UFSC) dos estados de Santa Catarina e Paraná. Para tanto, baseamo-nos em Camara Junior (1970), Monteiro (2002 [1987]) e Zanotto (2001), mas nossa metodologia está de acordo com Labov (2008 [1972]) e WLH (2006 [1968]). Ademais, baseamos nosso estudo nas seguintes pesquisas brasileiras: Amaral (1976 [1920]); Costa (1990); Zilles, Maya e Silva (2000); Zilles e Batista (2006); e Rubio e Gonçalves (2012). A variável dependente é composta por duas variantes: os morfemas –e– e –i–. As variáveis independentes externas são: ‘sexo’, ‘escolaridade’, ‘idade’ e ‘local, e as variáveis independentes internas: ‘realização do sujeito’ (explícito ou nulo), ‘tempo verbal’ (pretérito perfeito ou presente), ‘apagamento do –s final da desinência –mos’ e ‘elemento temporal’ (presença ou não). Nossa principal hipótese é de que os falantes menos escolarizados utilizam o morfema –i– para marcar contextos de passado, em oposição ao presente, enquanto os falantes mais escolarizados permanecem utilizando o morfema –e– nos dois contextos de passado e presente. REFERÊNCIAS AMARAL, A. O dialeto caipira. 3.ed. São Paulo: Hucitec, 1976 [1920]. BECHARA, E. O que muda com o Novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. CAMARA JUNIOR, J. M. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2010 [1970]. 41.ed. CASTILHO, A. T. de. O Português do Brasil. In: ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. São Paulo, Ática, p. 237-285, 1992. COSTA, I. B. O verbo na fala de camponeses: um estudo de variação. Tese de Doutorado. Campinas: Universidade de Campinas, 1990. FERNANDES, E.; GORSKI, E. M. A concordância verbal com os sujeitos Nós e A gente : um mecanismo do discurso em mudança. In: Atas do I Simpósio sobre a Diversidade Lingüística no Brasil. Salvador, Instituto de Letras da UFBA, 1986, p.175-83. FRANCESCHINI, L. O Uso dos Pronomes Pessoais Nós/ A Gente em Concórdia – SC. Anais do SILEL. vol 1. Uberlândia: EDUFU, 2009. FROSI, V.; MIORANZA, C. Dialetos italianos. Caxias do Sul: EDUCS, 1983. LABOV, W. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno, Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972]. _____. Some sociolinguistic principles. In: PAULSTON, C. B.; TUCKER, G. R. (eds.). Sociolinguistics: the essencial readings. Oxford: Blackwell, 2003 [1966]. MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. 4.ed.Campinas: Pontes, 2002. RUBIO, C. F.; GONÇALVES, S. C. L.. A fala do interior paulista no cenário da sociolinguística brasileira: panorama da concordância verbal e da alternância pronominal. Alfa: Revista de Linguística (UNESP. Online), São Paulo, v. 56, p. 1003-1034, 2012. SPESSATTO, M. B. Formas linguísticas não canônicas não conhecem fronteiras: nós/a gente na fala da população da Costa da Lagoa. Working Papers em Lingüística, v. 11. Florianópolis, 2010. Disponível em:

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------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ “Vocês tenham cuidado, sois educadas para isso”: formas de segunda pessoa do plural na fala bracarense

Joana Aguiar, Joana Veloso (CEHUM, Universidade do Minho) e Maria da Conceição de Paiva (Universidade Federal do Rio de Janeiro) A forma vós tem caído em desuso na modalidade oral do português europeu (Marques 2000), instaurando um quadro de variação com o pronome vocês. No português brasileiro, o pronome vós praticamente desapareceu (Menon, 2006) ficando restrito ao registo religioso, para se dirigir a Deus ou entidades religiosas, sinalizando a reverência, humildade e inferioridade. De notar que o declínio da forma vós como marca de distância social e cortesia, dirigida a alguém de condição social superior ou em situações de formalidade, terá começado já no século XVIII (Cintra, 1972: 38). Trabalhos anteriores (Silva, 2010) mostram que a persistência da variante vós não é uniforme no território português. O Linguistic Atlas of the Iberian Peninsula (ALPI), com base em dados coligidos na primeira metade do século XX, identifica a região Centro sul como a área geográfica de maior substituição de declínio de vós, principalmente entre falantes de área rural e sem escolarização (Heap, 2003). A região Norte é considerada uma área de conservação de vós, com uso mais restrito de vocês (Aguiar & Carrilho, 2006). A natureza pro-drop do português europeu instaura um quadro de variação mais complexo nas formas utilizadas para alguém se dirigir a dois ou mais interlocutores, com a possibilidade de concorrência entre os pronomes sujeito vós e vocês e os sujeitos nulos de segunda ou de terceira pessoa do plural. Neste trabalho, debruçamo-nos sobre estas diferentes possibilidades em um subcorpus extraído da amostra estratificada constituída no âmbito do Projeto Perfil Sociolinguístico da fala Bracarense. O estudo se sustenta nos pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista, particularmente na inter-relação entre variação e mudança (Weinreich et al, 1968; Labov, 1972, 1994). São consideradas as variáveis internas concordância, função (sujeito/complemento), tipo de verbo (regular/irregular) e as variáveis sociais género, intervalo etário e o nível de escolaridade do falante. Dado que as formas de tratamento codificam aspectos ligados às relações de poder e solidariedade (Brown & Gilman 1960, Silva, 2010), examinamos também o grau de familiaridade entre os interlocutores. O estudo permite mostrar, antes de mais nada, que a forma vocês ganha espaço principalmente na função de sujeito, de acordo com tendência já atestada em outros trabalhos. Diferentemente do pronome vós, que, quase sistematicamente, apresenta concordância com o verbo, a forma vocês admite oscilação de concordância. Há ainda casos em que se verifica, na mesma frase, a ocorrência da forma pronominal vocês e do verbo flexionado na segunda pessoa do plural, como mostra o exemplo: vocês tenham cuidado, sois educadas para isso. A distribuição diferenciada das variantes de acordo com as variáveis sociais controladas sugere a expansão da forma pronominal vocês, mais frequentemente utilizada pelos falantes mais jovens e impulsionada pelas mulheres. Referências AGUIAR, J. & CARRILHO, S. (2006) Pronominalização da segunda pessoa do plural no Português Europeu falado. Trabalho elaborado no âmbito da disciplina Variação e Mudança Linguística do Mestrado em Linguística. Universidade do Minho. BROWN, R. & A. GILMAN (1960) “The pronouns of power and solidarity”, in T. A. Sebeok (ed.), Style in language, Cambridge: MIT press., 253-276. CINTRA, L. F. L. (1972) Sobre “formas de tratamento” na língua portuguesa, Lisboa: Horizonte. HEAP, D. (2003) Atlas lingüístico de la península ibérica (ALPI), University of Western Ontario (http://www.westernlinguistics.ca/alpi/, accessed: 10/11/2011). LABOV, W. (1972) Sociolinguistic patterns. Philadelphia: Pennsylvania University Press, LABOV, W. (1994) Principles of linguistic change. Volume 1: Internal factors. Oxford: Blackwell. MARQUES, A. (2000) Funcionamento do discurso político parlamentar : a organização enunciativa no debate da interpelação ao governo. Braga : Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho MENON, O. P. S. (2006) “A história de você”, in M. GUEDES, R. A. BERLINCK, & C. A: A. MURAKAWA (orgs.), Teoria e análise lingüísticas: novas trilhas, Araraquara (São Paulo): Cult. Acadêmica, 99-160. SILVA, L.A. (2010) Formas de tratamento: contraste entre Portugal e Brasil. AL LÍMITE. I Congreso de la SEEPLU – Facultad de Filosofía y Letras. Cáceres, 5 y 6 de noviembre de 2009. Cáceres: Editorial Avuelapluma, pp. 56-62. WEINREICH, U., LABOV, W. & HERZOG, M. (1968) “Empirical foundations for a theory of language change”. In LEHMANN, W. & MALKIEL, Y. Directions for historical linguistics. Austin: University of Texas Press. pp. 97-195 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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A subida dos pronomes clíticos na fala bracarense

Pilar Barbosa (CEHUM/Universidade do Minho), Maria da Conceição de Paiva e Kellen Cozine (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Uma das características do português europeu, assim como de outras línguas românicas de sujeito nulo, é a possibilidade de afixação do pronome clítico complemento de uma forma verbal infinitiva ao verbo flexionado da oração matriz como exemplificado em (1) e (2): (1) Ó Maria, olhe, vou-lhe dizer uma coisa, • • a minha sogra também já ajudou • • ((hesitação)) a arranjar uma igreja • • em São Vitor, (Amostra PSFB, fal. 67) (2) Ora, • • o autocarro sai da paragem, vai- se deparar com uma rotunda... (Amostra PSFB, fal. 48) A afixação do clítico argumento do verbo encaixado ao verbo da oração matriz ocorre principalmente com verbos de elevação, nomeadamente os semi-auxiliares modais, temporais e aspetuais e com um pequeno conjunto de verbos de controlo do sujeito, como ‘querer’, ‘tentar’ ou ‘conseguir’. O fenômeno remonta às origens do português (Martins l994, Andrade 2010) e constitui o efeito visível de um processo mais geral através do qual as operações associadas a um dado predicado verbal se estendem ao domínio do verbo superior (cf. Rizzi l982 e, para o português, Gonçalves l999). Este processo, que toma o nome de reestruturação, tem sido observado relativamente a uma variedade de línguas, incluindo o alemão (Wurmbrand 2001) ou o francês (Kayne l989), e abrange uma série de fenómenos sintáticos. Um desses fenómenos é a subida de clítico, atestada apenas em línguas de sujeito nulo. Este processo é (aparentemente) opcional. Assim, a par de (1) e (2) encontramos exemplos como (3): (3) Passa essa ponte, • • vai deparar- se com outra via rápida e os sinais. (Amostra PSFB, fal 48) Com o objetivo de verificar os fatores que favorecem ou desfavorecem a subida do pronome clítico e o estado atual do fenômeno na fala da região de Braga, analisamos esta variação em uma subamostra constituída por 44 falantes distribuídos por quatro faixas etárias (1-25 anos, 26 a 59 anos, 60 a 75 anos e acima de 76 anos) e quatro níveis de escolaridade (analfabetos ou como máximo, três anos de escolarização, 4º. Ao 9º. Ano, 10º. ao 12º. ano). Os dados levantados foram submetidos a uma análise estatística, realizada com o auxílio dos programas GoldVarbX, que tornou possível identificar a relevância de alguns aspectos na configuração variável do fenômeno. Destacou-se, antes de mais nada, a não uniformidade de subida do clítico do ponto de vista lexical, corroborando o que já observaram Fiéis e Madeira (2004). Alguns itens lexicais apresentam subida de clítico categórica, outros admitem maior ou menor amplitude de variação e um terceiro grupo bloqueia a subida do clítico. Sustentamos que o comportamento diferenciado dos diferentes verbos de reestruturação não pode ser explicado unicamente em termos semânticos, já que, no interior do mesmo grupo, podem ser atestados comportamentos em direções opostas. A análise da correlação entre subida do clítico e as variáveis sociais consideradas (idade e escolaridade do falante) fornece evidências de que o fenômeno possui características conformes à de variação estável. A sensibilidade à escolha lexical aqui documentada sugere que o fenómeno da subida de clítico depende das propriedades de seleção do verbo, o que favorece a hipótese de que as construções de reestruturação correspondem a estruturas reduzidas em que o domínio infinitivo é defetivo (Wurmbrand 2001, Gonçalves l999, Martins 2000, Fiéis e Madeira 2012). Referências bibliográficas Andrade, A. (2010) A subida de clíticos em português: um estudo sobre a variedade europeia dos séculos XVI a XX. Dissertação de Doutoramento, Universidade de Campinas. Fiéis, A., Madeira, A. Predicados de controlo na diacronia do português. Disponível em www.clunl.edu.pt/resources/.../fieis%20&%20madeira%20(2012).pdf . Acessado em 05/04/2014. Gonçalves, A. (1999) Predicados Complexos Verbais em Contextos de Infinitivo não Preposicionado do Português Europeu. Dissertação de Doutoramento, Universidade de Lisboa. Kayne, R. (1989) Null subjects and clitic climbing. In O. Jaeggli & K. Safir (eds.) The Null Subject Parameter. Dordrecht: Reidel, pp. 239-261. Martins, A. M. (1994) Clíticos na História do Português. Dissertação de Doutoramento, Universidade de Lisboa. Rizzi, Luigi (1982) Issues in Italian Syntax. Dordrecht: Foris. Wurmbrand, Susi. (2001) Infinitives : restructuring and clause structure. Berlin: Mouton de Gruyter.

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QUARTA-FEIRA [30-04-2014] – 9:00 – 11:00h: SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 9 [Auditório B2 CP2] Variação na concordância nominal de número na fala dos habitantes do Alto Solimões, Amazonas Flávia Santos Martins (Universidade Federal do Amazonas) Esta pesquisa teve como objetivo geral investigar o fenômeno da concordância nominal de número no falar dos habitantes do alto Solimões a fim de contribuir para o conhecimento das áreas dialetais brasileiras através de um registro sistematizado do falar amazonense, à luz da Teoria da Variação e Mudança e da Dialetologia Pluridimensional. A fim de entendermos o funcionamento do objeto em estudo controlamos, nesta pesquisa, as seguintes variáveis independentes linguísticas: posição em relação ao núcleo/núcleo, posição linear, classe gramatical, processos morfofonológicos de formação de plural e tonicidade dos itens lexicais, marcas precedentes, contexto fonético/fonológico subsequente e características dos itens lexicais; e as seguintes variáveis independentes extralinguísticas: idade, escolaridade, sexo, diatopia, ocupação, mobilidade e localismo. Quanto à amostra, foram entrevistados 57 informantes em cinco das nove localidades pertencentes à microrregião do Alto Solimões (São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Içá, Tonantins, Jutaí e Fonte Boa). Foram transcritos das entrevistas um total de 4.458 SNs plurais dos cinco municípios investigados, resultando, após a devida categorização de cada elemento do SN, em um total de 7.270 dados submetidos ao programa estatístico Goldvarb 2001. Desses dados, 4.264 foram da variante “presença de marcas formais/informais de plural”, correspondendo a 58% dos dados, e 3006 foram da variante “ausência de marcas formais/informais de plural”, correspondendo a 42% dos dados. Quanto às variáveis independentes linguísticas e extralinguísticas controladas, considerando a rodada estatística sem a variável classe gramatical, todas se mostraram significativas na regra de funcionamento da concordância nominal de número na microrregião do alto Solimões. Esperamos com esta pesquisa ter mostrado como é realizada a concordância nominal de número na fala dos amazonenses entrevistados, assim como ter evidenciado a partir da análise das variáveis independentes quais delas (linguísticas e extralinguísticas) condicionam o uso da variante “presença de marcas formais/informais de plural”. Palavras-chave: Sociolinguística. Concordância Nominal de Número. Alto Solimões. Referências CRUZ, M. L. de C.. Atlas Linguístico do Amazonas – ALAM. Rio de Janeiro: UFRJ, Tese de Doutorado em Letras Vernáculas. 2 sem. 2004. FERREIRA, Carlota; CARDOSO, Suzana. A dialetologia no Brasil: metodologia do trabalho dialetal, inquérito linguístico e atlas dialetológicos, regionalismos léxicos. São Paulo: Contexto, 1994. LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola, 2008. MILROY, Lesley. Social Networks. In: Chambers, J. R; TRUDGILL, P; SCHILLING-ESTES, N. (eds.). The handbook of language variation and change. Oxford: Blackwell, 2004 [2002]. SCHERRE, Maria Marta Pereira. Reanálise da concordância nominal em português.Tese de Doutorado em Linguística. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, UFRJ, 1988. Em dois volumes, com 555p. mimeo. SCHERRE, Maria Marta Pereira. Paralelismo Linguístico. Revista de estudos da linguagem. v 7, n 2, p. 29-59, jul/dez, 1998a. ___________________. Aspectos da concordância de número no português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP): Norma e variação do português. Associação das Universidades de Língua Portuguesa, dez, 1994. __________________. Concordância nominal e funcionalismo. Revista Alfa. n 41, 181-206, 1997. ____________________. Sobre a influência de três variáveis relacionadas na concordância nominal em português. In: SILVA, Giselle Machline de Oliveira e SCHERRE, Maria Marta Pereira. Padrões sociolinguísticos: análise de fenômenos variáveis do português falado do Rio de Janeiro. 2 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, Departamento de Linguística e Filologia, UFRJ, 1998b. ____________________. Sobre a influência de variáveis sociais na concordância nominal. In: SILVA, Giselle Machline de Oliveira e; SCHERRE, Maria Marta Pereira. Padrões sociolinguísticos: análise de fenômenos variáveis do português falado do Rio de Janeiro. 2 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, Departamento de Linguística e Filologia, UFRJ, 1998c. __________________________________________. Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. In: RUFINO, Giovanni (org). Dialettologia, geolingüística, sociolinguística (Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza). Centro di Studi Filologic e Linguistic Siciliani, Universitá di Palermo. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 5: 509-523, 1998. THUN, Harald. La geolinguística como linguística variacional general (com ejemplos del Atlas Linguístico Diatópico y Diastrático del Uruguay). IN: INTERNATIONAL CONGRESS OF ROMANCE LINGUISTICS AND PHILOLOGY (21: 1995, Palermo). Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza. Org. Giovanni Ruffino. Tübingen: Niemeyer, 1998, p. 701-729. WEINREICH, Uriel; LABOV, William; HERZOG, Marvin. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. Trad. de Marcos Bagno. São Paulo: parábola editorial, 2006 [1968].

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------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estudo da concordância verbal de segunda pessoa do singular em Florianópolis-SC, Brasil

Julie Davet (IFSC e Universidade Federal de Santa Catarina) O presente trabalho trata da variação na concordância verbal de segunda pessoa do singular na fala de florianopolitanos residentes nas comunidades da Costa da Lagoa, Ribeirão da Ilha, Ingleses e Região Central (amostra Floripa – coletada ao final da primeira década de 2000). A partir da sociolinguística variacionista, i) verificamos a produtividade de uso das formas pronominais tu vs. você; ii) analisamos fatores linguísticos, estilístico-discursivos, sociais e geográficos que podem condicionar a variação com o pronome tu, considerando-se duas variáveis: ‘presença vs. ausência de marcas de concordância’ e ‘concordância canônica (tu cantaste) vs. canônica modificada’ (tu cantasse); iii) comparamos os resulta-dos com os obtidos em outros estudos, especialmente o de Loregian (1996) e Loregian-Penkal (2004) para a amostra Varsul coletada em Florianópolis no início da década de 1990; e iv) discutimos alguns aspectos relacionados à questão da identidade do florianopolitano. Os resultados apontam para: larga preferência dos informantes pelo uso do pronome tu em relação a você; baixa produtividade da regra variável de concordância (14% de marcas) em relação à amostra Varsul (50% de marcas); aplicação da regra de concordância condicionada por fatores linguísticos (explicitação do pronome, determinação do referente e classe gramatical), estilístico-discursivos (discurso reportado de terceiros e rela-ções simétricas); sociais (informantes com menor escolaridade, mais velhos e do sexo masculino); e geográfico (zona urbana). Em relação a possíveis traços identitários, informantes que avaliam positivamente o termo manezinho favore-cem a marcação de concordância de P2; a forma assimilada é mais frequente em marcadores discursivos do que em verbos, e na fala dos homens, dos mais velhos e dos menos escolarizados. Palavras-chave: Variação linguística. Formas pronominais de referência a P2. Concordância verbal. Amostra Floripa ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Você(s), Vós and Tu: pronominal and verbal morphologic variation in forms of address Ana Guilherme (CLUL) Describing the forms of address in European Portuguese it is not an easy assignment. The complexity of the Portuguese address system is already recognised in Cintra’s (1986) groundbreaking work regarding this topic. Since that monograph, and despite some appeals for a sociological and linguistic approach to this topic (Gouveia 2008), the subject of forms of address seems only to have raised interest in Brazil (ex: Faraco 1996, Lopes e Duarte 2004, Lopes 2006). Cintra (1986:12) describes the current Portuguese address system as follows:

• Pronominal treatment: tu, você(s) • Nominal treatment: o senhor, a senhora, o doutor, a doutora, o pai... • Verbal treatment: quer, queres...

Yet, if we broaden our observation from Standard European Portuguese, and focus our analysis in the geographic distribution of the forms of address, we come across some variation patterns. Hence, it is possible to divide the Portuguese territory, based on pronominal forms of address, as follows:

Table 1: pronominal address forms in Portugal From table 1, it is possible to observe the following: • The Centre-north varieties distinguish, based on the degree of politeness, vocês/vós. (Lara 2012: 69) • The Centre-north varieties also present variation in use of the familiar pronouns, in singular and plural –

Geographical area [+ formal] [- formal]

Centre-North Sing:você Pl:vocês Sing: tu/vós Pl:vocês/vós

Centre-South Sing: você Pl: vocês Sing: tu Pl: vocês

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tu/vós, vocês/vós. • The Centre-South, including Standard European Portuguese variety, only has one pronoun for plural addressees. Therefore, the pronoun vocês encodes both uses of tu and você (Lara 2012:65).

Besides pronominal variation in forms of address, data collected in dialectal corpora, such as Cordial-Sin1, also provides evidence of morphological variation, or morphological non-agreement, between pronoun and verbal form:

• Vocês [3ª pessoa do plural] andais [2ªpessoal do plural] a gastar dinheiro e dás cabo dela. (Covo, Aveiro) • Digo-lhe assim: “O que é que tu[2ª pessoa do singular] tiveste [2ª pessoa do singular]? ‘Caístes’ [2ª pessoa do plural]?” (Granjal, Viseu) The examples here included give some evidence that the use of pronominal forms of address and the corresponding verbal form is still in variation. Having this in mind, and bearing in mind that changes in language use contribute to changes in the language, i.e., changes in the grammar (Faraco 1996:52), it becomes relevant to explore certain questions: • How this can contribute to a better understanding of the morphological (non) agreement phenomenon such as “tu fizestes”? It is apparently a simple case of analogical leveling (Hock 2003:449) and has been described by linguists as an ongoing change in Contemporary European Portuguese, a typical feature of the uneducated (and some educated) speaker’s morphology. However, it is impossible to ignore the possible relationship between the diachronic disappearance of vós for a single speaker and the emergence of “ungrammatical” forms such as tu fizestes. • How data, namely statistical data, from Centre-North varieties, which still preserve vós for one speaker alongside with você and tu, can contribute to sustain the hypothesis previously mention. How these data can add to a better understanding of that linguistic innovation? • How the Spanish case (Lara 2012), similar to the Portuguese case in many aspects, can help to make sense of the Portuguese scenario? It is, then, my goal with this presentation to attempt to answer these questions through the observation dialectal data (e.g from Cordial-sin), in order to contribute to a better understanding of the use of Portuguese forms of address and the respective verbal morphology. Bibliografia: Cintra, Luís Filipe Lindley (1972/1986). Sobre formas de tratamento na língua portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte. Hock, H.,H. (2003), “Analogical Change” in in The Handbook of Historical Linguistics, Brian D. Joseph e Richard D. Janda (ed.), Blackwell: Oxford. Faraco, Carlos Alberto (1996), “O tratamento você em português: uma abordagem histórica” in Fragmenta, nº 13, pp:51-82, Curitiba: Editora da UFPR. Gouveia, Carlos M. (1996), “Pragmática” in Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, Isabel Hub Faria, Emília Ribeiro Pedro, Inês Duarte, Carlos A. M. Gouveia (org.), pp. 383-421, Lisboa: Editorial Caminho. Lara, V.B. (2012), “Ustedes instead of Vosotros and Vocês instead of Vós: an analysis through the Linguistic Atlas of Iberian Peninsula (Alpi)” in Dialectologia, Special issue, III, pp.:57-93. 1 http://www.clul.ul.pt/pt/recursos/212-cordial-sin-syntax-oriented-corpus-of-portuguese-dialects

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Variação e mudança na fala e na escrita: encaixamento e estigmatização

Lilian Yakovenco, Leila Tesch, Marta Scherre e Aline Berbert (Universidade Federal do Espírito Santo) Nosso objetivo é discutir a contribuição da pesquisa variacionista de base laboviana para o entendimento da entrada de fenômenos variáveis na escrita brasileira em diversos domínios e gêneros discursivos. Nosso principal ponto é evidenciar que entram na escrita, em especial na escrita da mídia, variações linguísticas que não são estigmatizadas pela comunidade de fala mais ampla, ou aspectos linguísticos mais encaixados linguisticamente, imperceptíveis do ponto de vista da marcação social. Sendo assim, argumentamos que, diferentemente do senso comum, não é o registro da tradição gramatical que regula estas questões. Para tanto, vamos apresentar uma síntese e uma hierarquização de fenômenos linguísticos variáveis que entram na escrita padronizada. Entre os fenômenos a serem hierarquizados, destacamos (1) o futuro perifrástico, (2) a expressão gramatical do imperativo no contexto do pronome você, (3) o uso de a gente na sua manifestação pronominal (4) a expressão do objeto direto anafórico e (5) a concordância verbal de terceira pessoa com sujeitos de estrutura complexa. O futuro do presente é apresentado na tradição gramatical de modo praticamente invariante: apenas a forma sintética é registrada nos paradigmas de conjugação verbal e, de modo sutil e descritivo, é encontrada a variação com o

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presente em verbos de movimento. Entretanto, textos jornalísticos mostram a variação entre o futuro sintético e o perifrástico, como vemos a seguir: (1) Mais sete ônibus articulados vão serão incorporados ao Sistema Transcol na próxima segunda-feira. Desse total, quatro veículos vão atender à linha 504 (Terminal de Itacibá X Terminal de Jacaraípe). Já os outros três serão utilizados na linha 591, (Serra Sede X Terminal de Campo Grande). (A Gazeta, 04 de julho de 2008). O imperativo afirmativo associado ao indicativo é registrado apenas em contextos do pronome tu. Contudo, em histórias em quadrinhos de A Turma da Mônica, cujo contexto de uso é o do pronome você, observamos o uso variável do imperativo, como exemplificado a seguir: (2a) “É agora, Tonicão. Faz o gol.” (Almanaque do Cebolinha – 54, Maurício de Sousa, Ed. Globo, dez/1999:75) (2b) “Faça essa bola se mexer AGORA” (Almanaque do Cebolinha – 54, Maurício de Sousa, Ed. Globo, dez/1999:75) O uso de a gente em sua manifestação pronominal é registrado em Bechara (2002) somente como uma forma de tratamento em situações que não sejam cerimoniosas. Entretanto, encontramos a variante como pronome pessoal de primeira pessoa em textos jornalísticos e em propagandas, exemplificada a seguir: (3a) Envie um comentário pra gente sobre qualquer filme em cartaz. (Seção Cri-crítico de A Gazeta, 18/10/2013) (3b) A gente ainda tem muito o que comemorar. HB20. As melhores condições e várias unidades para pronta entrega. (Propaganda veiculada em A Gazeta, Outubro de 2013) A expressão do objeto direto anafórico é tratada pela tradição gramatical como um fato invariável. Contudo, observamos na escrita jornalística a alternância entre as seguintes formas:

Retomada por sintagma nominal anafórico e pelo clítico acusativo:

(4a) Pintor reencontra Neném, mas decide doar a cadela. O pintor Eduardo Oliveira conseguiu rever a cadela Neném, após ficar um dia preso, mas decidiu entregá-la para adoção (A Gazeta, 10/10/2013, Manchete 1ª página)

Retomada pela anáfora zero:

(4b) Estado tem dinheiro, mas não consegue gastar [0]. (Manchete, 1ª página, 18/10/2013)

Retomada por pronome nominativo (4c) Ele estava atravessando o negócio, queria tomar a boca do Betinho. Aí, eu matei ele. A tradição gramatical registra de modo sistemático que a concordância verbal se faz com o núcleo do sujeito. Entretanto, a concordância verbal com sujeitos de estrutura complexa ocorre de modo variável em textos jornalísticos, como constatamos nos seguintes exemplos: (5a) Sabemos que a sobrecarga nos pés danificam outras estruturas, inclusive a coluna. (O Globo, 10/12/1995) (5b) As novas atribuições dos prefeitos faz crescer a resistência à reforma agrária (Folha de São Paulo, 10/09/1995) Os três primeiros fenômenos não apresentam estigmatização social. O primeiro, o futuro perifrástico, é o menos marcado socialmente, com índices de uso bastante altos na escrita jornalística brasileira. O segundo, a expressão do imperativo gramatical, constitui-se uma marca regional, especialmente na fala. Na escrita, a variação está condicionada a fatores ligados a marcas dialogais, como uso de balões indicadores de fala, exclamações e rimas. O terceiro, a alternância de primeira pessoa do plural, possui, na escrita, uma marca relativa à faixa etária, sendo a forma a gente comumente usada em propagandas destinadas a jovens. Nos dois últimos fenômenos há certa estigmatização, fato que implica a ocorrência menos frequente das variantes mais marcadas socialmente, no caso, a presença do pronome nominativo para a expressão do objeto direto anafórico ou a concordância considerada indevida pelas gramáticas tradicionais. Além da discussão acima apresentada, vamos trazer evidências de que as variações estigmatizadas entram, sim, em músicas regionais e/ou de grupos da periferia, demarcando um espaço de identidade cultural. Desta forma, consideramos que os resultados das pesquisas variacionistas podem contribuir, mais uma vez, para evidenciar que são as interações sociais, e não a tradição gramatical, que determinam, em primeiro plano, as dinâmicas linguísticas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro, Lucerna, 2002. CUNHA, C; CINTRA, L.F.L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro, Lexikon, 2008. QUARTA-FEIRA [30-04-2014] – 9:00 – 11:00h: SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 10 [Auditório ILCH] A indeterminação do sujeito no português falado em Salvador- Bahia Valter de Carvalho Dias (Universidade Estadual da Bahia) Este trabalho investigou as principais estratégias para marcar a indeterminação do sujeito utilizadas por falantes de Salvador. Todas as formas encontradas foram registradas e descritas. Para que a pesquisa tivesse um caráter mais descritivo, buscou-se não só as formas consideradas canônicas pelas gramáticas tradicionais, tais como as formas verbais sem sujeito lexical expresso, o verbo na 3ª pessoa do plural (Ø+V3PP), o verbo na 3ª pessoa do singular mais o pronome “se” (Ø+V3PS+SE) ou ainda o verbo no infinitivo impessoal (Ø+VINF), mas também outras estratégias como “você”, “a gente”, “nós”, “eles”, “eu”, voz passiva sem a gente (VPSA), voz passiva sintética (VPASSINT) e as “formas nominais”, como, por exemplo, “o cara, o sujeito, o pessoal” entre outras. Observou-se então que a mudança do quadro pronominal no português brasileiro também tem atuado no que se refere ao objeto de estudo desta pesquisa. O trabalho foi desenvolvido de acordo com o enquadramento teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista, buscando identificar os contextos extralinguísticos ou sociais (gênero/sexo, escolaridade e faixa etária) e linguísticos (forma antecedente, mudança/manutenção do referente, tempo e modo verbal, tipo de verbo, preenchimento do sujeito, tipo de oração, grau de indeterminação) que justificassem os usos encontrados. Para a realização desta pesquisa, foram analisados quarenta e quatro inquéritos do tipo DID (Diálogo entre Informante e Documentador) do Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador (PEPP) e do Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta de Salvador (NURC-SSA). Os dados, após sua coleta, foram submetidos à quantificação através do pacote de programa Varbrul 2S e do GoldVarb X. Os resultados mostraram que os falantes de Salvador, nos diversos níveis de escolaridade, fazem uso de várias estratégias para marcar a indeterminação do sujeito, principalmente das formas pronominais “você” e “a gente”, influenciadas por diversos fatores extralinguísticos e linguísticos. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Variação entre pretérito perfeito e pretérito-mais-que-perfeito: restrições morfológicas e discursivas

Kellen Cozine e Maria da Conceição de Paiva (Universidade Federal do Rio de Janeiro) A noção de anterioridade de um estado de coisas a outro já passado no sistema modo-temporal do português é, tradicionalmente, atribuída, ao pretérito mais-que-perfeito simples (amara) ou composto (tinha/havia amado). Diferentes autores (Mattoso Câmara Jr.,1984; Coan, 1997; xxxx, 2010) já mencionaram, no entanto, que essa noção também pode ser expressa pelo pretérito perfeito (amei), como ilustram os exemplos: (01) (...) Oh, Vítor falou que ele jogou ontem, nem vi e estou com o jornal aqui na mão, nem li, vou ler agora, mas acho que... Vamos ver, né? Porque isso é fase, isso... estão em crise, né? isso é crise, né? (Amostra Censo/RJ 2000 – Falante: 20 Rei) (02) fiz queixa só por agressão visto que não tinha sido assaltada... e acho que isto está cada vez a ficar pior...portanto u: se a gente antigamente podia andar na rua até à meia noite hoje a gente vai andar na rua sempre a olhar por cima do ombro...a ver se vem alguém...se vier a gente tenta-se desviar... (Amostra de Lisboa – Cacém – CAC-A-1-M)

Bennett (1910:45) sugere que, “originalmente no Indo-Europeu, anterioridade no passado deve ter sido indicada pelo pretérito aoristo”, dada a inexistência de formas verbais específicas para tempos relativos, como é o caso do pretérito mais-que-perfeito. Este emprego do perfeito simples persistiu no português, possivelmente, em virtude de três fatores: a) desuso da forma simples de mais-que-perfeito, especialmente, na modalidade falada; b) convergência

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entre as desinências de perfeito e mais-que-perfeito simples na terceira pessoa do plural; c) preservação do valor aoristo da forma de perfeito simples. Em razão do desparecimento da forma simples de mais-que-perfeito na modalidade falada do português contemporâneo, a variação na expressão do mais-que-perfeito fica restrita à alternância entre a perífrase com ter ou haver e a forma de perfeito simples, foco desta comunicação. Focalizamos esta alternância em uma amostra de entrevistas sociolinguísticas representativas das comunidades de fala carioca e lisboeta, gravadas na década de 2000. Tomando por base, os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, discutimos alguns contextos favoráveis ao uso do perfeito com valor de mais-que-perfeito no Português Contemporâneo, particularmente a importância das variáveis pessoa do discurso e tipo de ancoragem da forma de mais-que-perfeito. A análise estatística, conduzida com auxílio do instrumento computacional GoldVarb, permite mostrar que o uso da variante pretérito perfeito é independente da neutralização fonológica entre as desinências de perfeito simples e mais-que-perfeito simples na terceira pessoa do plural (amaram). Contrariando as expectativas, a ambiguidade entre as duas referências temporais parece ter impulsionado o uso de perfeito simples para referência de passado do passado. Esta expansão pode ser explicada em termos de extensão de uma forma discursivamente menos marcada, se considerarmos, seguindo Benveniste (1988), que, diferentemente das pessoas “eu” e “tu” que participam ativamente da construção do discurso, a terceira pessoa é uma “não-pessoa”, uma vez que se refere a um objeto localizado fora do contexto de interação direta. Apesar desta regularidade do ponto de vista morfológico, as variedades europeia e brasileira do português se distinguem no que tange à forma como se estabelece a ancoragem da forma de pretérito perfeito. Embora esta variável atue significativamente nas duas variedades, observam-se diferenças na hierarquia dos fatores. Na comunidade de fala carioca, a variante perfeito simples é significativamente mais recorrente em contextos nos quais a referência de passado do passado é discursiva e textualmente ancorada; na comunidade lisboeta, por sua vez, a presença de uma forma verbal perfectiva se destaca como o fator que mais propicia o uso da forma verbal perfeito simples. Há indicações, portanto, de que, enquanto no PB, a localização temporal do perfeito simples é expressa, preferencialmente, pelas relações discursivas, no PE, ela é garantida morfossintaticamente por uma forma verbal perfectiva na oração complexa. REFERÊNCIAS BECHARA, Evanildo, 2004. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro, Lucerna. BENNETT, Charles E, 1910. Syntax of early latin, v.1. The verb. Boston, Allyn and Bacon. BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. 2 ed. Campinas, SP: Pontes, 1988. BROCARDO, Maria Teresa, 2010. «Portuguese Pluperfect: elements for a diachronic approach», Estudos Linguísticos 5, 117-130. CAMPOS, M. H. C. Para a unificação dos valores do perfeito e do mais-que-perfeito em português. In. D. Carvalho et al. (eds). Des(a)fiando Discursos. Homenagem a Maria Emília Ricardo Marques. Lisboa: Universidade Aberta, 2005, pp. 133-139. . Sur les formes composées du prétérit en portugais. In. A. Englebert et al. (eds) Actes du XXIIe Congrès International de Linguistique et Philologie Romanes (Bruxelles 1998) Vol. II, 2000, pp. 57-63. CLIMENT, Mariano Bassols de. Sintaxis histórica de la lengua latina. v.2. Barcelona: Escuela de Filosogía, 1948. COAN, Márluce. Anterioridade a um ponto de referência passado: pretérito (mais-que) perfeito. 1997. 177 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina: Florianópolis. COMRIE, Bernard. Tense. 8. ed. London: Cambrigde University Press, 1985 [2004]. . Aspect. Cambridge: Textbooks in linguistics, Cambridge University Press, 1976 [1998]. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. 6. ed. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1967. 357 p. CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. KURYLOWICZ, Jerzy. The evolution of gramatical categories. in: Diogenes 51, 1965, 55-71. LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972. . Principles of Linguistics Change: internal factors. 2. ed. Oxford: Blackwell, 1994. MARTINS, Kellen Cozine. A expressão variável de anterioridade a um ponto de referência passado na escrita midiática. 2010. 131 f. Dissertação de mestrado (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro. . A variação entre o pretérito mais-que-perfeito simples e composto em textos jornalísticos. Diadorim (Rio de Janeiro), v. 8, 2011, p. 15-30. MATTOSO CAMARA JR., Joaquim. Estrutura da língua portuguesa. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 1984. 125 p. MIRA MATEUS, Maria Helena et al. Gramática da Língua Portuguesa. 7. ed. Lisboa: Editorial Caminho, 2003 SQUARTINI, Mario / BERTINETTO, Pier Marco, 2000. «The simple and compound past in Romance languages», in: Dahl, Östen (ed), 2000, Tense and aspect in the language of Europe: empirical approaches to language typology. Berlin, Mouton de Gruyter, 403-439. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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Gerundismo: is it the marked variant? Ana Gomes Quadros (Universidade Federal do Rio de Janeiro) In Brasil, the phenomena dubbed “gerundismo” has been treated with prejudice. Sociolinguistic analysis offers “an interpretation of the strong social stigma that surrounds the gerundismo” (SANTOS 2008). The future expression in Brazilian Portuguese (BrP) counts on those variants: (i) simple future (enviarei); (ii) periphrastic future (inflected verb ‘to go’, agreeing in person with the subject, + main verb in infinitive form: vou enviar); (iii) simple present (envio); and (iv) gerundive forms (estarei enviando, vou estar enviando). Vou estar enviando is “gerundismo”: verb ‘to go’ inflected in the present tense, agreeing in person with the subject, + ‘to be’ (temporary state) in infinitive form, + main verb (‘to send’) in progressive form (-ndo). “Gerundismo” is the marked variant, the one negatively evaluated by the speakers. From now on, we will call “gerundismo” Progressive Periphrastic Futurate (PPF). The problem with this view is that variants are, by definition, alternative forms to express the same meaning, although the choice of a particular variant is socially significant. If the PPF’s meaning is unique, then treating it as a variant among others alternatives to express future will be a mistake. Let us begin by considering the expression of future in BrP. There is a non-progressive form, the Infinitive Periphrastic Future (IPF) (irei enviar). The auxiliary ir (‘go’) always express future (vou enviar). However, progressive aspect (‘to be’ in present tense + main verb in gerundive form) will receive distinct interpretations depending on whether the main verb is dynamic (1a) or static (1b). Although grammar gurus keep advising BrPt speakers to employ IPF instead of PPF, both forms are not interchangeable. Among e.g. (2) and (3), only (2b) and (3b) can describe an event in progress in the future; only (2a) can express an order or convey the speaker’s contempt. Also, (3a) shows interactive/inceptive/habitual aspect, indicating that Mary’s sleep starts at Reference Time (10PM) and implying that she is still awake at 9:55PM every Sunday. On the other hand, (3b) conveys that Mary’s sleep continues at 10PM, so Mary will have started sleeping at some time before that. Besides, the event in (3b) applies only to a specific day: next Sunday. Thus, IPF has a modal flavor, which is absent in PPF. Moreover, IPF and PPF convey distinct aspects (respectively, habitual and progressive). Therefore, IPF and PPF are not synonyms. Let us consider the contribution of Progressive aspect. It describes a situation including the Reference Time (RT). The RT may be past (4a), future (4b), or not anchored in the actual world, conveying irrealis mood, or modality (4c). Examples (4) show that the Progressive relates two distinct events by including the time of the punctual one into the duration of the other. Progressive requires more explicit information, such as the overt expression of a pair of overlapped events, and the characterization of one as punctual and of the other as durative. Therefore, out of the blue, no sentence in Progressive is informative enough. That need for more information drives to the oddity of sentences like “ninguém vai estar ligando” (a partial realization of 4b). Such oddity feeling has been unfairly presented as an evidence of PPF being “bad language”. Adding periphrastic future to progressive increases the phrase complexity by bringing modality into the picture. For Scher & Viotti (2003), PPF is interpreted as “a lack of commitment (on the speaker side) about performing the future action”, and as a “strategy adopted by speakers which no power to make a decision”. We agree that a modality related to decision-making/planning is associated to PPF, but we disagree about its nature. Future is linked to “prediction” or “intention” (DAHL 1985, apud COPLEY 2002). The user of the English futurate must be confident enough that the event will occur (COPLEY 2002). The speaker must believe that someone able to determine if the event will or will not take place is committed to make it happen (or not). Alternatively, the speaker must believe that some non-accidental properties of the world will lead to the event existence. For Copley, the modality is planning: a plan will succeed in the relevant worlds. The plan executor may work as a director — who plans, wants it to become true and has the power to make it happen. A plan may also succeed without a director, due to inertia — the expected course of events will culminate in the plan accomplishment. BrP PPF behaves alike. In (5), the plan is to arrive on time. The director of (5a) is the speaker, who is able to ensure the punctuality to the meeting, and is committed to it. God is the director in (5c): in the worlds in which God wants it to happen, the arrival is on time. There is no director for (5b): if things meet expectations, the plan succeeds. Note that two of the modalities (planning without a director or inertial ordering) conveyed by the PPF do not imply any power of the speaker to make the future event come true. This meets Scher & Viotti’s intuitions. Only planning with a director the speaker presents herself to the listener as having the power to fulfill her promise. We claim that the PPF is the only future construction in BrPt to express planning modality and a relation between two events/situations. To illustrate this point, we offer sentences (6). No other future expression could replace PPF in (6). Therefore, we claim that PPF is not in variation. PPF sentences show unique aspectual and modal implications. Both the “gerundismo” detractors and variacionists should keep in mind that PPF does not mean the same of any other future form.

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EXAMPLES (1a) Eu estou indo aí mês que vem (I am coming next month – future action) (1b) Eu estou ouvindo música (I listen to music [right now] – a description of an ongoing event at speech time; no future action/activity interpretation is available) (2a) Vai trabalhar, vagabundo! (Go work, you tramp!) (2b) Terça, a esta hora, você já vai tá trabalhando! (Tuesday at this hour you’ll be already at work) (3a) Domingo, Maria vai dormir às 22h. ([If it is] Sunday, Mary goes to sleep at 10PM) (3b) Domingo, Maria vai estar dormindo às 22h. ([Next] Sunday, at 10PM, Mary will be sleeping) (4a) João ia estar viajando naquele avião que caiu, se não tivesse perdido o voo. (John would be travelling in the plane that fell, had he not lost the flight.) (4b) O mundo pode acabar amanhã que, na hora do bem bom, ninguém vai estar ligando.(The world may end tomorrow, but, at party time, nobody cares!) (4c) Condição para potencial beneficiário de Bolsa de Extensão: não estar cursando o último semestre quando da inscrição para o processo seletivo de concessão. (To benefit from the Program the applicant must not be attending the last semester of the course at the time of the scholarship request.) (5a) Se depender de mim, exatamente às 7h35min nós vamos estar chegando para a reunião. (If it is up to me, at 7:35 AM we will be arriving for the meeting.) (5b) Se tudo der certo, exatamente às 7h35min nós vamos estar chegando para a reunião. (If all goes well, at 7:35 AM we will be arriving for the meeting.) (5c) Se Deus quiser, exatamente às 7h35min nós vamos estar chegando para a reunião. (God willing , exactly at 7:35 AM we will be arriving for the meeting.) (6a) [Quando ele disse que já tinha resolvido tudo, respondi]: _É melhor você não estar mentindo. [When he told me that he had solved every problem, I said:] You would better not be lying. (a threat) (6b) O que você imagina que vai estar fazendo à s 20h12 de 20/12 de 2012? What do you figure you will be doing at 8:12 PM of December, the 12sd, 2012? (6c) [Meu filho surfa todo dia.] Se continuar assim, ele vai acabar criando guelras... [My sun surfs every day.] If he continues doing so, he will [eventually] develop gills. REFERENCES ALMEIDA SANTOS, Patrícia Tavares de. (2008) Só um instante, senhora, que eu vou tá verificando se o livro tá disponível na editora: gerundismo, preconceito e a expansão da mudança. Thesis (Master in Linguistic) – Universidade Federal de Brasília. COPLEY, Bridget. (2002) The semantics of the future. Ph. D. Thesis, MIT. OLIVEIRA, J. Moreira de. (2006) O futuro da língua portuguesa ontem e hoje: variação e mudança. Ph. D. Thesis, Universidade Federal do Rio de Janeiro. MÓIA & VIOTTI. (2004) Differences and similarities between European and Brazilian Portuguese in the use of the “gerúndio”, p. 111-139. POSSENTI. S. (2005) Defendendo o gerúndio. Discutindo Língua Portuguesa, 1, 1, p. 8-11. SANTOS J. R. dos. (2000) A variação entre as formas de futuro do presente no português formal e informal falado no Rio de Janeiro. Thesis (Master in Linguistic) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. SCHER, Ana Paula; VIOTTI, Evani. (2003) Semelhanças e diferenças entre o PB e o PE no que diz respeito à forma progressiva do infinitivo. ABRALIN (Curitiba), Fortaleza, v. 1, n. 26, p. 370-375. http://thelanguagelady.blogspot.com.br/2007_11_01_archive.html -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Bare nouns nas variedades africanas do Português Christina Märzhäuser (Universidade Ludovico Maximiliano de Munique) e Benjamin Meinstzer (Universidade Johannes Gutenberg de Mogúncia) O objetivo desta comunicação é discutir a distribuição e variação no uso de bare nouns (BN), nomeadamente em sintagmas nominais, sem um determinante explícito (e sem qualquer outro tipo de modificador/ especificador) nas variedades africanas da língua portuguesa. O estudo baseia-se na comparação da sistematicidade dos bare nouns em diversas línguas na interface entre sintaxe e semântica (Chierchia 1998; Baldwin et al. 2006; Zwarts & de Swart 2009; Le Bruyn et al. 2010), em teorias sobre a referência nominal (nomeadamente Krifka 1995, von Heusinger 2011) e observações de caráter tipológico. Nos estudos linguísticos dedicados à língua portuguesa, a utilização de bare nouns na variedade do português do

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Brasil (PB) é um objeto de estudo frequente (Schmitt & Munn 2000; Pires de Oliveira et al. 2006, Wall 2013). (1) Linguista a gente não pode conversar mais não. (PE – Com um linguista a gente [...]) (Mateus et al.

2003: 502)

Um estudo comparado revela que os padrões do BN no português vernacular do Brasil coincidem com os do crioulo de base portuguesa cabo-verdiano (cf. Inverno & Swolkien 2003). Lipski (2008) defende uma coincidência semelhante para substantivos genéricos e definidos no PB vernacular e no português em Angola. Para explicar este sistema distinto daquele que encontramos na norma do português europeu (PE), bem como a omissão do artigo definido e/ ou artigo indefinido têm de ser focados diversos contextos sintático-semânticos e tipos de referência. Para esta descrição servimo-nos de um modelo de referencialização nominal cognitivo, desenvolvido por Märzhäuser (desde 2010), para um projeto sobre construções com BN referenciais no francês e no espanhol. No que concerne as variedades africanas do português, tem vindo a ser afirmado por diversos autores que a ausência do artigo, em contraste com aquilo que prescreve a norma do PE, é uma peculiaridade e um elemento distintivo do “português africano” (cf. Bacelar do Nascimento et al. 2008; Endruschat 1996, Gärtner 1996). De um modo geral, este fenómeno foi sempre explicado através do contato linguístico, tendo sido atribuído a uma transferência da L1 num estado de aquisição incompleto da língua portuguesa ou uma influência de um adstrato ou superestrato. Além disso, foi documentado tratar-se de uma interferência típica no português de falantes de crioulo em Cabo-Verde (Cardoso 2005), Guiné-Bissau (Fonseca 2012) e em São Tomé e Príncipe (Afonso 2009: 110). Face à frequência com que esta omissão do determinante é realçada como uma peculiaridade do português africano, não deixa de surpreender a falta de dados empíricos para sustentar esta afirmação. Uma breve observação dos dados existentes para os PALOPes tão pouco serve para confirmar ou fundamentar esta descrição, uma vez que a maior parte dos discursos formais orais ou escritos seguem minuciosamente as regras do PE transmitidas pelo ensino escolar. Importa, por isso, observar pormenorizadamente a distribuição de BNs em dados do português vernacular de diversas fontes. Deste modo, se contemplarmos os dados para o português vernacular em Angola, recolhidos por Inverno, num corpus inédito de 2009, a ‘oralidade fingida’ nos romances de Mia Couto para Moçambique e os dados levantados por Fonseca (2012) para a Guiné-Bissau e por Gonçalves (2010) para os português falado em S. Tomé constatamos uma frequência bastante significativa de ocorrências de bare nous em posição de sujeito e objeto direto, bem como em sintagmas preposicionais, que tanto podem ser pós-verbais argumentais, adverbiais ou modificadores, coincidindo por vezes com uma elisão da preposição (Gonçalves 2010).

(2) Moçambique: Que quer vizinha? Ø Cadeira não dá jeito para dormir. (Couto 2000: 3) (3) Angola: Pára com Ø pressão. (Inverno 2009: 191) (4) Guiné-Bissau: Era uma vez Ø lobo convido o seu amigo lebre. (Fonseca 2012: 73) (5) S. Tomé: Com mais idade isso cria Ø problema para Ø homem. (Gonçalves 2010: 43)

Na nossa comunicação pretendemos discutir evidências, focando aquilo que estes dados nos revelam sobre a reestruturação em curso da determinação no domínio nominal nas variedades africanas do português. Para tal, as correlações sintáticas e outros padrões com recurso a BN têm de ser tidos em consideração e padrões semânticos, bem como as suas regularidades e variação têm de ser filtrados dos dados empíricos O tipo de contexto e a distribuição das ocorrências é relevante para qualquer afirmação relativa ao caráter marcado da respetiva ocorrência nas variedades do português em África. Deste modo, propomos analisar em que medida o sucesso da aquisição do português padrão, estritamente ligado ao nível de escolarização e formação, tem um impacto significativo na omissão dos artigos. A distribuição dos bare nouns será discutida atendendo variáveis discursivas, tais como o grau de elaboração formal, a ocorrência em discursos escritos ou falados, entre outras. Procuraremos demonstrar que, no que concerne a aceitabilidade de bare nouns, uma vez que um BN ascenda na escala da formalidade discursiva, deslocando-se para contextos e registos de maior elaboração formal, por opção dos falantes, apesar de uma aquisição completa do paradigma de determinação nominal, esta utilização passa a ser caraterística da respetiva variedade africana vernacular.

Bibliografia Afonso, Beatriz (2008): A problemática do bilinguismo e ensino da língua portuguesa em S. Tomé e Príncipe. Tese de Mestrado, Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Bacelar do Nascimento, Fernanda et.al. (2008): “Aspectos de unidade e diversidade do Português: as variedades africanas face à variedade europeia”. Veredas 9, 35-60. Baldwin, Timothy et al. (2006): “In Search of a Systematic Treatment of Determinerless PPs”, in: Patrick Saint-Dizier (ed.) Syntax and Semantics of Prepositions. Dordrecht: Springer, 163–179. Cardoso, Ana Josefa Gomes (2005): As interferências linguísticas do caboverdiano no processo de aprendizagem do português. Tese de Mestrado, Lisboa: Universidade Aberta.

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Chierchia, Gennaro (1998) “Reference to kinds across languages”. Natural Language Semantics 6, 339-405. Couto, Mia (2000): Mar me quer. Lisboa: Plátano. Endruschat, Annette (1997): “Die portugiesische Sprache in Afrika”, in: Briesemeister, Dietrich & Schönberger, Axel (eds.). Portugal heute: Politik, Wirtschaft, Kultur. Frankfurt am Main: Vervuert, 391-418. Fonseca, Susana Paula Bernardino da (2012): Aquisição e aprendizagem da referência nominal no contexto do português língua não-materna na Guiné-Bissau. Tese de Mestrado, Lisboa: Universidade Aberta. Gärtner, Eberhard (1996): “Coincidências dos fenómenos morfo-sintácticos do substandard do português do Brasil, de Angola e de Moçambique”, in: Degenhardt, Stolz, Thomas & Ulferts, Hella (eds.): Afrolusitanistik – Eine vergessene Disziplin in Deutschland? Dokumentation des 2. Bremer Afro-Romania Kolloquiums 27. – 29. Juni 1996. Bremen: Universität Bremen (Bremer Beiträge zur Afro-Romania, 2),146-180. Gonçalves, Rita Margarida Gamito (2010): Propriedades de subcategorização verbal no português de S. Tomé. Tese de Mestrado, Lisboa, Universidade de Lisboa. Inverno, Liliana & Swolkien, Dominica (2003) “O artigo definido zero em dois contextos específicos no português do Brasil e no crioulo de Cabo Verde”, Biblios n. I,179-192. Inverno, Liliana (2009): Contact-induced restructuring of Portuguese morphosyntax in interior Angola: evidence from Dundo (Lunda Norte). Tese de doutoramento. Coimbra: Universidade de Coimbra. Krifka, Manfred et al. (1995a): “Introduction to Genericity”, in: Carlson, Gregory & Pelletier Francis Jeffry (eds.): The Generic Book, Chicago & London: Chicago University Press. 1-124. Krifka, Manfred et al. (1995b): “Focus and the Interpretation of Generic Sentences”, in: Carlson, Gregory & Pelletier Francis Jeffry (eds.): The Generic Book, Chicago & London: Chicago University Press. 238 -264. Krifka, Manfred et al. (1995c): “Common Nouns: A Contrastive Analysis of English and Chinese”, in: Carlson, Gregory & Pelletier Francis Jeffry (eds.): The Generic Book, Chicago & London: Chicago University Press. 398-411. Le Bruyn, Bert; de Swart Henriëtte & Zwarts Joost (2010): “Bare PPs across languages”. Ms. Utrecht University. Lipski, John (2008): “Angola e Brasil: vínculos lingüísticos afro-lusitanos”, Veredas. Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, Vol. 9, 83-98. Mateus, Maria Helena Mira et al. (2003): Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho. Pires de Oliveira, Roberta; Fabiana Santolin & Ronald Taveira da Cruz (2006): “Bare Singular: Evidence from Brazilian Portuguese”. EVELIN. Ms. Schmitt, Cristina & Munn, Allan (2002): “The syntax and semantics of bare arguments in Brazilian Portuguese”. Linguistic Variation Yearbook 2, 253-269. von Heusinger, Klaus (2011): „Definiteness”, in: M. Aronoff (ed.). Oxford Bibliographies Online: Linguistics. New York: Oxford University Press. LRL: http://www.oxfordbibliographiesonline.com (consulta 14.01.2014). Wall, Albert (2013): “The distribution of specific and definite bare nominals in Brazilian Portuguese”, in: Kabatek, Johannes/Wall, Albert (eds.): New Perspectives on Bare Noun Phrases in Romance and Beyond. Amsterdam: John Benjamins, 223-254. Zwarts, Joost & de Swart, Henriette (2009): “Less from more meaning: why bare nominals are special”, in: Lingua 119. 280-295. QUARTA-FEIRA [30-04-2014] – 11:30- 13:00: CONFERÊNCIA [Auditório B2 CP2]

Syntactic variation: the subject doubling se construction Ana Maria Martins (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) This talk will discuss syntactic data made available by the CORDIAL-SIN: Syntax-oriented Corpus of Portuguese Dialects (http://www.clul.ul.pt) and consider their empirical and theoretical relevance. It will also illustrate how and why a corpus of spoken language can be an optimal tool to study syntactic variation. European Portuguese (EP) dialects display a double subject construction where the impersonal clitic se shares with a strong pronoun, a null pronoun, or less commonly a full DP, the role of sentential subject. This construction, exemplified in (1)-(2) below, is fully ungrammatical in standard EP and has gone unobserved by philologists and linguists who dealt with dialect variation in European Portuguese. The corpus CORDIAL-SIN brought it into light. (1) a. A gente chama-se rãs a isto. (CORDIAL-SIN. FLF) pron.1PL calls-SE rãs to that ‘We call these ones rãs (frogs).’ b. Chama-se-lhe a gente espigas. (CORDIAL-SIN. AAL) calls-SE-it.DAT pron.1PL espigas ‘We call it espigas (spikes of cereal).’

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(2) a. Há várias qualidades que até ainda nós não se

conhecemos. there.is several species that even already we not SE know-1PL ‘There are so many species among fish that even we (fishermen) do not know all of them yet.’

(CORDIAL-SIN. ALV)

b. Nunca se vimos este peixe. (CORDIAL-SIN. CLC) not SE saw-1PL this fish ‘We never saw that kind of fish.’ The talk will describe in detail the subject doubling se construction, as it surfaces in the corpus, and discuss the relevance of the geolinguistic information offered by CORDIAL-SIN to make full sense of the particular features of the dialectal construction. It will be proposed that a nominal that lacks a person feature may also be devoid of Case. This is how the clitic se of the relevant EP dialects is like: it has number (plural), but no person or Case. Its deficient nature is what makes subject doubling a grammatical option in dialectal EP (contrary to standard EP and other Romance languages). In a few dialects, the expletive-like se (whose interpretive contribution will be considered) drifted in the direction of a pure expletive: (3) a. Às vezes acontece; já se aconteceu. (CORDIAL-SIN. PIC) sometimes happens already SE happened.3SG ‘Sometimes it happens; it has already happened.’ b. Nunca se me aconteceu isso. (CORDIAL-SIN. CRV) never SE me.DAT happened.3SG that ‘It never happened to me a thing like that.’

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AUTORES

NOME

INSTITUIÇÃO

EMAIL

Alexandra Fiéis

Universidade Nova de Lisboa / CLNUL

[email protected]

Aline Berbert Universidade Federal do Espírito Santo

[email protected]

Ana Bastos-Gee

Universidade do Minho / CEHUM [email protected]

Ana Cristina Baptista de Abreu,

Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Ana Gomes Quadros

Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Ana Guilherme

Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

[email protected]

Ana Maria Brito Universidade do Porto

[email protected]

Ana Maria Madeira Universidade Nova de Lisboa / CLNUL

[email protected]

Ana Maria Martins Universidade de Lisboa / CLUL [email protected]>

Ana Paula Correa da Silva

Pontifícia Universidade Católica-RS [email protected]

Anabela Rato

Universidade do Minho / CEHUM [email protected]

Anthony Naro Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Antónia Estrela CLUL/CLUNL/ESELx [email protected]

Benjamin Meisnitzer Johannes Gutenberg-Universität Mainz

[email protected]

Bruno Neto Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

[email protected]

Camila Foeger Universidade Federal do Espírito Santo

[email protected],

Camila Leite

Universidade Federal de Alagoas [email protected]

Camila Maria Marques Peixoto

Universidade Federal do Ceará [email protected]

Catarina Silva Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

[email protected]

Celda Choupina

Instituto Politécnico do Porto e CLUP [email protected]

Celeste Rodrigues

Universidade de Lisboa / CLUL [email protected]

Christina Abreu Gomes Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Christina Märzhäuser Ludwig-Maximilians-Universität München

[email protected]

Cláudia R. Brescancini Pontifícia Universidade Católica-RS

[email protected]

Cristina Flores Universidade do Minho / CEHUM

[email protected]

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Daniela Barros

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

[email protected]

Dermeval da Hora Universidade Federal da Paraíba

[email protected]

Diana Amaral

Centro de Linguística da Universidade de Lisboa / FLUL

[email protected]

Elaine Melo Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Fernando Brissos

Universidade de Lisboa / CLUL [email protected]

Flávia Santos Martins Universidade Federal do Amazonas

[email protected]

Henrique Barroso Fernandes Universidade do Minho / CEHUM

[email protected]

Ivelã Pereira Universidade Federal de Santa Catarina e UNISEP

[email protected]

Jacyra Mota

Universidade Federal da Bahia [email protected]

Joana Aguiar Universidade do Minho / CEHUM

[email protected]

Joana Veloso Universidade do Minho / CEHUM

[email protected]

Joelma Castelo Universidade de Lisboa

[email protected]

Josane Oliveira Universidade Estadual de Feira de Santana

[email protected]

José Sousa Teixeira

Universidade do Minho / CEHUM [email protected]

Julie Cristiane Teixeira Davet

Universidade Federal de Santa Catarina

[email protected]

Kellen Cozine Martins Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Klébia Enislaine do Nascimento e Silva

Universidade Federal do Ceará [email protected]

Leila Tesch Universidade Federal do Espírito Santo

[email protected],

Lilian Yakovenco Universidade Federal do Espírito Santo

[email protected],

Lucília Chacoto

Universidade do Algarve e CLUL [email protected]

Luísa Alice Santos Pereira Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

[email protected]

Maria Aldina Marques

Universidade do Minho / CEHUM [email protected]

Maria Antónia Mota

Universidade de Lisboa / CLUL [email protected]

Maria da Conceição de Paiva Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Maria Elias Soares Universidade Federal do Ceará [email protected]

Maria Eugênia L. Duarte

Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Marília Vieira

Universidade de São Paulo [email protected]

Marina Vigário

Universidade de Lisboa / CLUL [email protected]

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Marisa Cruz

Universidade de Lisboa [email protected]

Marta Scherre Universidade Federal do Espírito Santo

[email protected],

Mayara Paula Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Micaela Aguiar

Universidade do Minho / CEHUM [email protected]

Norma da Silva Lopes

UNEB/UEFS [email protected]

Nuno Paulino

Universidade de Lisboa [email protected]

Patrícia Varanda

Universidade do Minho [email protected]

Pedro Henrique

Universidade Federal da Paraíba [email protected]

Pedro Oliveira

Universidade de Lisboa [email protected]

Pedro Palma Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa

[email protected]

Pilar Barbosa

Universidade do Minho / CEHUM [email protected]

Rita Gonçalves

Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

[email protected]

Samine Benfica

Universidade Federal do Espírito Santo

[email protected]

Sandra Serra

Universidade de Lisboa [email protected]

Sílvia Vieira

Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Sílvia Brandão Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

Sónia Frota

Universidade de Lisboa / CLUL [email protected]

Susana Afonso

University of Exeter [email protected]

Suzana Cardoso

Universidade Federal da Bahia [email protected]

Telma Freire Universidade do Minho

[email protected]

Valter de Carvalho Dias Universidade Estadual da Bahia [email protected]

Vera Barbosa

Universidade do Minho [email protected]