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  • Pequenos NegciosDesafios e Perspectivas

    Educao Empreendedora

    CoordenaoCarlos Alberto dos Santos

    Antonio Carlos Teixeira Liberato | Antonio Fernando Leal | Carlos Alberto dos Santos | Cndida Bittencourt | Cndido Borges | Clarice Veras | Claudia A. G. Brum | Cristina

    Castro Lucas de Souza | Ednalva Fernandes C. de Morais | Elyzabeth Tscha | Etel Tomaz | Flvia Azevedo Fernandes | Gensio Gomes da Cruz Neto | Hannah F. Salmen | Juliano Seabra | Karen Virgnia Ferreira | Lus Afonso Bermdez | Louis Jacques Filion | Marcela

    Souto de Oliveira Cabral Tavares | Marilda Corbellini |Marcos Hashimoto | Mariana Camargo Marques | Mirela Malvestiti | Mnica Dias Pinto | Tain Borges Andrade

    Garrido | Ricardo Rivadvia Lucena Sampaio | Rita Vucinic Teles | Rodrigo Estrela de Freitas | Rosngela M. Angonese | Wilma Resende Araujo Santos

    Vol.

  • Educao Empreendedora

    Pequenos NegciosDesafios e Perspectivas

    Carlos Alberto dos SantosCoordenao

    Antonio Carlos Teixeira Liberato | Antonio Fernando Leal | Carlos Alberto dos Santos

    | Cndida Bittencourt | Cndido Borges | Clarice Veras | Claudia A. G. Brum |

    Cristina Castro Lucas de Souza | Ednalva Fernandes C. de Morais | Elyzabeth Tscha

    | Etel Tomaz | Flvia Azevedo Fernandes | Gensio Gomes da Cruz Neto | Hannah

    F. Salmen | Juliano Seabra | Karen Virgnia Ferreira | Lus Afonso Bermdez | Louis

    Jacques Filion | Marcela Souto de Oliveira Cabral Tavares | Marilda Corbellini

    |Marcos Hashimoto | Mariana Camargo Marques | Mirela Malvestiti | Mnica

    Dias Pinto | Tain Borges Andrade Garrido | Ricardo Rivadvia Lucena Sampaio

    | Rita Vucinic Teles | Rodrigo Estrela de Freitas | Rosngela M. Angonese | Wilma

    Resende Araujo Santos

    4Vol.

  • Sebrae Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    Presidente do Conselho Deliberativo NacionalRoberto Simes

    Diretor-PresidenteLuiz Eduardo Pereira Barretto Filho

    Diretor-TcnicoCarlos Alberto dos Santos

    Diretor de Administrao e FinanasJos Claudio dos Santos

    Informaes para contato

    Sebrae Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SGAS 605 Conjunto A Asa SulCEP 70200-904 Braslia/DFTelefone: 55 61 3348-7192

    Portal Sebrae: www.sebrae.com.br

  • Esta coletnea tem o objetivo de provocar o debate sobre o desenvolvimento bra-sileiro na perspectiva dos pequenos negcios, a partir de abordagens que privilegiam a reflexo terica da prtica, conectando o debate acadmico com o cotidiano da assis-tncia tcnica e dos servios empresariais.

    Com duas edies temticas anuais, abertas colaborao de tcnicos e gerentes do Sistema Sebrae, bem como seus parceiros na iniciativa privada, universidades e governos, esta coletnea rene as seguintes publicaes:

    Vol. 1 Programas NacionaisVol. 2 Desenvolvimento Sustentvel Vol. 3 Inovao

    Comentrios, sugestes e crticas so bem-vindos: [email protected].

    CoordenaoCarlos Alberto dos Santos

    Educao Empreendedora

    Vol. 4

    Pequenos NegciosDesafios e Perspectivas

  • 2013. Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas Sebrae

    CoordenaoCarlos Alberto dos Santos

    Apoio tcnicoCludia Patrcia da Silva, Denise Chaves, Elizabeth Soares de Holanda, Lorena Ortale, Mirela Malvestiti, Sandra Pugliese, Vinicius Lages

    Reviso editorialMagaly Tnia Dias de Albuquerque, Miriam Zitz, Silmar Pereira Rodrigues, Jos Marcelo Goulart de Miranda EdioTecris de Souza

    Projeto GrficoGiacometti Comunicao

    Editorao EletrnicaGrupo Informe Comunicao Integrada

    Reviso OrtogrficaGrupo Informe Comunicao Integrada

    As opinies emitidas nesta publicao so de responsabilidade exclusiva dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas.

    permitida a reproduo desde que citada a fonte. Reprodues com objetivo comercial so proibidas (Lei n 9.610).

    S237 Santos, Carlos Alberto.

    Pequenos Negcios : Desafios e Perspectivas:

    Educao Empreendedora / Carlos Alberto dos Santos, coordenao. --

    Braslia: SEBRAE, 2013.

    384 p. : il.

    ISBN 978-85-7333-583-5

    1. Atendimento ao cliente. 2. Pequenos negcios. 3. Empreendedorismo. 4. Desenvolvimento

    econmico. II. Ttulo

    CDU 334.012.64

  • Sumrio

    Apresentao .....................................................................................11Luiz Barretto

    PREFCIO ............................................................................................19Aloizio Mercadante

    Captulo IEDUCAO EMPREENDEDORA DE DEBATE

    DESAFIOS DA EDUCAO EMPREENDEDORA:

    REVISITANDO SCHUMPETER ....................................................................29Carlos Alberto dos Santos

    DEZ CONSELHOS PARA OS CRIADORES DE EMPRESAS ............................43Louis Jacques Filion e Cndido Borges

    NEGCIOS EM EDUCAO EMPREENDEDORA:

    SABERES PARA EMPREENDER ..................................................................61Antonio Fernando Leal

    RAZO E EMOO NA EDUCAO EMPREENDEDORA .........................75Clarice Veras

    NOVOS TEMPOS, NOVA EDUCAO PARA O EMPREENDEDORISMO ......85Ednalva Fernandes C. de Morais e Lus Afonso Bermdez

  • Captulo IIENSINO FORMAL E EDUCAO EMPREENDEDORA

    EMPREENDEDORISMO NO ENSINO SUPERIOR: O CASO

    SEBRAE NO DF E UNIVERSIDADE DE BRASLIA .....................................113Cristina Castro Lucas de Souza, Hannah F. Salmen e Karen Virgnia Ferreira

    ADOLESCNCIA ADMINISTRANDO O FUTURO: UMA ExPERINCIA

    PIONEIRA DE EMPREENDEDORISMO JUVENIL NO BRASIL ....................129Marilda Corbellini e Rosngela M. Angonese

    UM RETRATO DOS CENTROS DE EMPREENDEDORISMO

    NAS IES BRASILEIRAS .........................................................................151Marcos Hashimoto

    CLULAS EMPREENDEDORAS: TRANSFORMANDO O

    MUNDO POR MEIO DE UMA EDUCAO PAUTADA NA

    GESTO COLABORATIVA DO CONHECIMENTO .................................167Gensio Gomes da Cruz Neto e Elyzabeth Tscha

    EDUCAO EMPREENDEDORA EM SOLO POTIGUAR: UM

    NOVO CAMINHO PARA O ENSINO PBLICO ......................................183Antonio Carlos Teixeira Liberato

    EDUCAO EMPREENDEDORA SOB O PRISMA DA

    JUNIOR ACHIEVEMENT NO BRASIL O CASO DO PROGRAMA

    MINIEMPRESA ..................................................................................197Wilma Resende Araujo Santos

    EDUCAO EMPREENDEDORA: DESAFIOS E

    PERSPECTIVAS PARA O BRASIL ...........................................................209Juliano Seabra

    EDUCAO, TRABALHO, EMPREENDEDORISMO:

    NASCE O PRONATEC EMPREENDEDOR .............................................219Flvia Azevedo Fernandes, Marcela Souto de Oliveira Cabral Tavares e Mirela Malvestiti

  • Captulo IIINOVAS TECNOLOGIAS E EDUCAO EMPREENDEDORA

    EDUCAO EMPREENDEDORA A DISTNCIA: ACESSO,

    APRENDIZAGEM EM REDE E CONECTIVIDADE ...................................231Rodrigo Estrela de Freitas

    O DESENVOLVIMENTO DO PERFIL EMPREENDEDOR POR MEIO DA

    COMUNICAO NA PRODUO DE CONTEDO PARA CURSOS

    DE EAD EM EMPREENDEDORISMO ..................................................245Rita Vucinic Teles

    MANTENDO O FOCO NO CLIENTE NO DESENVOLVIMENTO

    DE CONTEDOS ..............................................................................265Claudia A. G. Brum

    CAMINHOS PARA UMA EDUCAO EMPREENDEDORA:

    ALIANA ENTRE COMUNICAO E EDUCAO...............................281Mnica Dias Pinto

    Captulo IVExPERINCIAS QUE DISSEMINAM A CULTURA EMPREENDEDORA

    EDUCAO EMPREENDEDORA PARA UM PAS EMPREENDEDOR.........299Etel Tomaz e Cndida Bittencourt

    O PAPEL DA UNIVERSIDADE E DO SEBRAE NA DISSEMINAO DA

    CULTURA EMPREENDEDORA ENTRE OS ESTUDANTES UNIVERSITRIOS ...315Tain Borges Andrade Garrido

    UNIVERSIDADES CORPORATIVAS: ENSINO E APRENDIZAGEM

    ORGANIZACIONAL .........................................................................327Ricardo Rivadvia Lucena Sampaio

    DESAFIOS EM GESTO DAS EMPRESAS CANDIDATAS

    AO PRMIO MPE BRASIL NO ESTADO DE SO PAULO .........................361Mariana Camargo Marques

  • Inovar para sustentar o desenvolvImento

    Inovar para sustentar o desenvolvimen-to: desafio para o Brasil

    Os pequenos negcios e o empreen-dedorismo inovador no sculo 21

    Inovao para a sustentabilidade o imperativo de uma nova era

    A competitividade e a inovao uma questo de capacidade

    Inovao: conceitos e abordagens

    Captulo 1

  • Inovar para sustentar o desenvolvImento

    Inovar para sustentar o desenvolvimen-to: desafio para o Brasil

    Os pequenos negcios e o empreen-dedorismo inovador no sculo 21

    Inovao para a sustentabilidade o imperativo de uma nova era

    A competitividade e a inovao uma questo de capacidade

    Inovao: conceitos e abordagens

    Captulo 1

    Apresentao

  • Apresentao

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    O Desafio da Educao Empreendedora no Brasil

    A construo de um Brasil mais produtivo e justo depende di-retamente da educao de seu povo. Nenhum pas do mundo se transforma em nao desenvolvida sem estabelecer e colocar em prtica polticas para levar o conhecimento e a capacitao tc-nica sua populao, especialmente, parcela mais jovem dela.

    Capacitar e educar fazem parte da essncia do Sebrae desde sua criao. Promovemos o desenvolvimento competi-tivo e sustentvel das micro e pequenas empresas brasileiras que so 99% das empresas, responsveis por mais da metade das vagas de emprego e por pagar 40% da massa salarial no pas. Fomentamos o empreendedorismo como uma alternativa vivel de ocupao e renda para a populao.

    Um grande pas no se faz apenas com funcionrios, mas tambm com empreendedores. Nem todas as pessoas pos-suem um dom natural para a gesto empresarial, mas podem aprender desde cedo. Por isso, trabalhamos para que o em-preendedorismo avance como tema de interesse prioritrio nas trs etapas do ensino Fundamental, Mdio e Superior, atuan-do na base de formao dos estudantes desde a sua infncia.

    A educao empreendedora possui papel estratgico no campo econmico e social e est se tornando uma agenda indispensvel para o sculo 21. preciso aprender sobre em-

    Luiz BarrettoPresidente do Sebrae

  • 12

    Apresentao

    preendedorismo. Para o Sebrae, o tema inspira reflexes, dis-cusses, eventos e novas possibilidades.

    Nesse ambiente, estamos lanando este volume da cole-tnea Pequenos Negcios Desafios e Perspectivas, que tem o propsito de pensar e discutir a educao empreendedora voltada aos pequenos negcios. Colaboradores do Sebrae, professores e especialistas trazem nesta edio percepes plurais sobre o tema da educao empreendedora no universo das micro e pequenas empresas.

    O comportamento empreendedor til para quem vai ter o prprio negcio ou para quem vai trabalhar em uma empresa. O mercado de trabalho est cada vez mais competitivo e glo-balizado e exige candidatos bem qualificados, mas que tenham um diferencial. Precisamos de pessoas autnomas, com com-petncias mltiplas, que saibam trabalhar em equipe. E que te-nham, principalmente, capacidade para aprender e adaptar-se a situaes novas e complexas, de enfrentar novos desafios e promover transformaes.

    J ensinamos empreendedorismo para cerca de 2 milhes de pessoas, de crianas de apenas seis anos at empresrios com negcios consolidados. H projetos, programas e cursos voltados para diferentes perfis, idades e objetivos na nossa car-teira de atuao. Somente no ensino formal nas escolas, mais de 600 mil alunos do Ensino Fundamental, Mdio e Superior foram capacitados em projetos de educao empreendedora.

    O projeto Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEEP) oferece nove cursos para crianas e adolescentes de 6 a 14 anos que estejam cursando o Ensino Fundamental. Ele viabilizado por parcerias com secretarias de Educao de esta-dos e municpios, no caso de escolas pblicas, ou diretamente com as instituies privadas. Em 2011, conseguimos ampliar o alcance do JEEP para todo o Brasil e atingimos a marca de 25 mil alunos atendidos.

  • Apresentao

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    Professores so capacitados pelo Sebrae para tratar de empreendedorismo de acordo com a faixa etria de seus es-tudantes. As crianas aprendem, por meio de oficinas ldicas, noes sobre planos de negcio, como a importncia de con-trolar o dinheiro essa conscientizao ainda na infncia vai ajudar, no futuro, a valorizar prticas como o controle de fluxo de caixa, por exemplo. Os contedos no projeto so aprofun-dados conforme a idade dos alunos. Novos temas so inseri-dos, como cultura da cooperao, tica e cidadania.

    Voltados ao Ensino Mdio, temos programas como o Cres-cendo e Aprendendo, Despertar e Formao Jovens Empreen-dedores, que buscam estimular a viso empreendedora como uma das estratgias para a incluso social e acesso ao merca-do de trabalho.

    No Ensino Superior, contamos com a parceria de 19 insti-tuies de Ensino Superior para pesquisas relacionadas viso empreendedora e difuso do empreendedorismo. Outra atu-ao relevante junto ao pblico universitrio o Desafio Sebrae, que estimula o esprito empreendedor por meio de jogos em-presariais. Em 12 anos, atendemos mais de 1 milho de alunos no Brasil e mais de 135 mil estudantes em oito pases da Am-rica Latina somente com o Desafio Sebrae.

    Para fortalecer nosso trabalho para a educao empreende-dora, mantemos parcerias estratgicas com instituies como o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Fundao Roberto Marinho, Junior Achievement e Endeavor. Trabalhando em conjunto com o Ministrio da Educao, tambm estamos inserindo o empreendedorismo na grade dos cursos de ensino tcnico: o Pronatec Empreendedor vai oferecer cursos tcnicos e profissionais de nvel mdio para adolescentes de todo o Brasil.

    Em 2013, estamos comemorando os 20 anos do Empre-tec, metodologia das Naes Unidas que desenvolve carac-tersticas do comportamento empreendedor e estimula mu-

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    Apresentao

    danas comportamentais, sugerindo que o participante reveja conceitos e atitudes. Ao todo, 34 pases promovem essa ca-pacitao no mundo todo. No Brasil, onde mais de 185 mil pessoas j passaram pelo seminrio, o Empretec executado com exclusividade pelo Sebrae.

    Assim, o Sebrae atua em diversas frentes para multiplicar os empreendedores no nosso pas. Os jovens so curiosos e esto interessados em empreender. Precisamos nos valer des-sa qualidade para estimul-los a desenvolver comportamentos empreendedores.

    Nos ltimos dez anos, constatamos a participao maior de jovens no empreendedorismo. Pessoas com idade entre 25 e 34 anos respondem pela criao de 34% das empresas, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada no Brasil pelo Sebrae e Instituto Brasileiro de Quali-dade e Produtividade (IBQP). Os negcios iniciais esto mais concentrados nesse pblico porque cada vez mais empreender est se tornando uma opo de emprego e renda.

    O momento econmico que o Brasil vive tambm est fa-vorecendo o empreendedorismo. A taxa de juros est baixa, temos uma situao de pleno emprego e um mercado interno consumidor de cerca de 100 milhes de pessoas. De cada dez empresas abertas, sete so por oportunidades de negcios. O sonho de abrir um negcio prprio faz parte do imaginrio de 44% dos brasileiros, frente a 25% que desejam seguir carreira em uma empresa pblica ou privada.

    A qualidade do empreendedorismo mudou e hoje o nvel de escolaridade do empreendedor est acima da mdia brasileira. Os candidatos a empreendedores e empresrios esto mais preocupados em buscar conhecimento e capacitao. E ns, do Sebrae, estamos empenhados em colaborar na realizao desse sonho de empreender e ter sucesso.

  • Prefcio

  • Prefcio

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    Empreendedorismo, Sociedade e Educao

    O Brasil apresenta hoje um perfil socioeconmico muito di-ferente de anos atrs. Cresceu o nvel de emprego e de renda; houve mobilidade social cerca de 40 milhes de brasileiros ascenderam nova classe mdia, reduzindo a base da pir-mide e incluso produtiva. H mais crdito a um custo mais acessvel. O dinamismo da economia brasileira, sustentado por seu mercado interno, com crescimento evidente dos setores do comrcio e servios, impe novos desafios nossa sociedade.

    Os megaeventos esportivos nos prximos anos no Brasil tambm geram novas possibilidades de negcios, empregos e melhorias nas cidades que sediaro os jogos e seu entorno. So inadiveis e vm sendo feitos investimentos em infraes-trutura, mobilidade urbana e, principalmente, em educao. certo que para uma sociedade ser equilibrada, o caminho mais eficaz passa pela educao, e no s por ela. So necessrios suportes sociais, e nesse sentido, o governo federal est aten-to, com uma viso sistmica de todo o processo de mudana pelo qual o pas atravessa.

    Diante de desafios to promissores para o desenvolvimen-to brasileiro, o governo federal tem se dedicado ao esforo de elevar o grau de instruo dos brasileiros com resultados posi-tivos: hoje o Brasil investe 5,55% do Produto Interno Bruto (PIB)

    Aloizio Mercadante Ministro da Educao do Brasil

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    Prefcio

    em educao. Essa taxa, embora tenha crescido praticamente a cada ano, ainda no suficiente para fazer frente ao analfa-betismo, baixa escolaridade da populao, bem como para enfrentar a questo da qualidade do ensino. O Plano Nacional da Educao (PNE) vai garantir o investimento de 10% do PIB em educao. Aprovado na Cmara dos Deputados, porm, o PNE ainda encontra-se em tramitao no Senado Federal.

    Os obstculos e desafios vm sendo enfrentados siste-mtica e efetivamente pelo Governo Dilma. Temos conseguido mudar a realidade do Ensino Bsico e de nvel Mdio, alm da educao profissional, por meio do Pronatec, que j ofereceu mais de 3 milhes de vagas em dois anos. Ampliamos tambm a oferta de bolsas de estudos no exterior, especialmente por meio do programa Cincia Sem Fronteiras, visando ao aperfei-oamento dos nossos profissionais, bem como ao intercmbio com centros de ensino e pesquisa internacionais.

    O Brasil est fazendo investimentos e reduzindo a carga tributria para aumentar a competitividade de sua economia. Precisamos ampliar a formao profissional e tecnolgica dos trabalhadores, pois estamos prximos do pleno emprego em alguns setores e no temos mo de obra disponvel com qualifi-cao. O aumento da produtividade, questo fundamental para o Brasil de hoje, est ligado capacitao dos trabalhadores. Os institutos tecnolgicos so instrumentos imprescindveis ao cumprimento dessa tarefa, que, na atualidade, indispensvel para o Brasil continuar crescendo.

    Nova realidade, novos desafios e solues

    Em meio a tantas mudanas, temos uma nova realidade de pas que demanda ateno especial do governo federal e est

  • Prefcio

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    relacionada a um contexto mais amplo de transformaes na sociedade brasileira. O empreendedorismo avana e assume contornos relevantes para o desenvolvimento nacional. Abrir o prprio negcio passou a ser o sonho do brasileiro.

    Se antes o sonho se concentrava prioritariamente na aqui-sio da casa prpria, no contexto atual, a opo de ter um ne-gcio prprio sustentada pelas oportunidades que o mercado oferece em vez de servir para contrapor ao desemprego, como ocorria na dcada passada. o chamado empreendedorismo por oportunidade e no mais por necessidade.

    Soma-se o fato de, nos ltimos anos, um contingente de quase 3 milhes de brasileiros ter se formalizado como micro-empreendedor individual, abandonando a condio de traba-lhador autnomo informal. Nesse sentido, o Brasil virou uma pgina importante de sua histria econmica, ao registrar es-ses empreendedores em cerca de 460 ocupaes. Todos com CNPJ. Portanto, com cidadania econmica, podendo emitir nota fiscal, alm da garantia de direitos previdencirios e aces-so ao crdito.

    Assim como precisamos ampliar e aprofundar a formao profissional e tecnolgica dos trabalhadores brasileiros, tendo em vista a maior competitividade da nossa economia, tambm esses empreendedores demandam conhecimento e informa-o para que possam prosperar e gerar mais emprego e renda ao pas. H um ambiente mais favorvel ao desenvolvimento dos pequenos negcios, por isso, chegada a hora de tratar o empreendedorismo com a devida ateno que a educao profissional requer.

    Outro aspecto importante dessa nova perspectiva que se abre no Brasil refere-se ao esforo de agncias de fomento e instituies de Ensino Superior no sentido de promover o acesso educao empreendedora, por meio de oficinas e cursos de extenso, bem como da incluso de disciplina es-

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    Prefcio

    pecfica na grade curricular. So iniciativas que valorizam o desempenho daqueles profissionais que, para sua atuao, demandam desenvoltura em gesto de processos, pessoas e empreendimentos ou que desejam abrir um negcio. Esse empenho, ao longo de muitas dcadas, tem transformado realidades e contribudo para prolongar a sobrevivncia dos pequenos negcios em nosso pas.

    Educao, empreendedorismo e Pronatec

    Mas o que educao empreendedora? Cada um dos ter-mos contidos nesse conceito educao e empreendedoris-mo pode ser analisado separadamente. Porm, somente jun-tos eles fazem sentido no contexto de formao emancipatria e autnoma de jovens e adultos da educao profissional.

    Educao o processo social pelo qual uma gerao transmite outra a viso de mundo que define sua identidade coletiva. Assentada nas ideias de Paulo Freire, a vocao his-trica e ontolgica do homem ser mais. A educao nesse sentido no somente o processo de adaptao do indivduo sociedade, mas tambm o instrumento que possibilita aos ho-mens transformar a realidade, por meio do trabalho, para ser mais, para desenvolver suas potencialidades enquanto sujeito.

    A educao a nossa prpria vida. Para autores progres-sistas como Freire, educar conscientizao, emancipao. Defende-se a ideia da produo de uma conscincia verdadei-ra e recusa-se a modelagem de pessoas, a mera transmisso de conhecimentos e a pura competio.

    Educao para emancipao humana um empreendi-mento que exige um esforo transformador, coletivo e siste-

  • Prefcio

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    mtico. Esse investimento requer a assuno de responsa-bilidades sociais por parte da sociedade de maneira geral e, especialmente, por parte do poder pblico e, como parte dele, o Ministrio da Educao.

    Empreendedorismo o estudo voltado para o desenvolvi-mento de conhecimentos e habilidades relacionados criao de um projeto, seja ele um projeto de vida, um projeto tcnico, cientfico, ou laboral. Tem origem no termo empreender, que significa realizar, fazer ou executar. Assim, compreendemos que toda educao empreendedora, visto que, como prin-cpio, educar realizar, inventar, criar, inovar, promover mudanas e construir transformao nos sujeitos.

    A educao empreendedora um processo coletivo, in-tencional e sistemtico de desenvolvimento de caractersticas de criatividade, capacidade de organizao e planejamento. Envolve ainda responsabilidade, liderana, persistncia, habi-lidade para trabalhar em equipe, viso de futuro, interesse em buscar novas informaes e correr riscos, bem como desenvol-ver a capacidade de solucionar problemas e inovar em sua vida ou seu trabalho.

    Dessa forma, buscamos relacionar educao, trabalho e empreendedorismo em busca de novas polticas de incluso social, a exemplo do Pronatec e, agora, do Pronatec Empre-endedor.

    Criado em outubro de 2011, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Tcnico e Emprego (Pronatec), do MEC, tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democrati-zar a oferta de cursos de educao profissional e tecnolgica (EPT) para a populao brasileira. Para tanto, prev uma srie de subprogramas, projetos e aes de assistncia tcnica e financeira, os quais, juntos, oferecero 8 milhes de vagas a brasileiros de diferentes perfis at 2014.

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    Prefcio

    Os referenciais curriculares nacionais da educao profis-sional de nvel tcnico (RCNEPT) preveem a construo de sa-beres para o desenvolvimento de competncias ligadas, den-tre outros aspectos, aplicao de conceitos e princpios de gesto e percepo e anlise de condies de oportunidade (mercado). Ou seja, o documento refora a necessidade de aprender sobre empreendedorismo, alm da aprendizagem por competncias em si.

    Assim, surge o Pronatec Empreendedor, que poder agregar ao Pronatec a perspectiva do autoemprego, alm do desenvolvi-mento de competncias empreendedoras que so fundamentais para a trabalhabilidade conceito indicado nos RCNEPT como componente da dimenso produtiva da vida social.

    O pblico do Pronatec deve pensar no projeto de futuro (pessoal e profissional) de forma empreendedora. A qualificao profissional pea-chave nesse processo. preciso, porm, estabelecer metas, definir estratgias e meios para alcan-las. O mundo est em constante mudana, e aprender a lidar com a mudana na vida significa, tambm, fazer um contraponto com a necessidade de estabilidade que, muitas vezes, aponta para um emprego fixo.

    Este volume, dedicado educao empreendedora, rene textos que podero auxiliar os operadores do Pronatec a com-preender melhor as dimenses do empreendedorismo e sua fundamental complementaridade com a capacitao profissio-nal para que jovens e adultos estudantes tenham mais chances de incluso social e produtiva na sociedade brasileira.

  • EDUCAO EMPREENDEDORAEM DEBATE

    Desafios da educao empreendedora: Revisitando Schumpeter

    Dez conselhos para os criadores de empresas

    Negcios em educao empreendedora: saberes para empreender

    Razo e emoo na educao empreendedora

    Novos tempos, nova educao para o empreendedorismo

    Captulo 1

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    Desafios da Educao Empreendedora: Revisitando Schumpeter

    Carlos Alberto dos Santos1

    Se a educao sozinha no pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.

    Paulo Freire

    O desafio da educao empreendedora no Brasil , antes de mais nada, o desafio quantitativo representado pelos mi-lhes de pequenos negcios j existentes em nosso pas aos quais se juntam inmeros outros, diariamente.

    Como levar educao empreendedora de qualidade em grande quantidade e em todo o territrio nacional?

    nesse cenrio que emerge o desafio de atender ao expo-nencial aumento da demanda por capacitao empresarial sem o comprometimento da sua qualidade. Por isso, a forte amplia-o das atuais iniciativas e instrumentos de educao empreen-dedora deve ter como um de seus vetores a busca da exceln-cia na formao dos empreendedores. A excelncia imperativo prprio do ambiente de negcios e seu desenvolvimento, das oportunidades e desafios colocados pela conjuntura.

    1 Doutor em economia pela Freie Universitaet Berlin, diretor-tcnico do Sebrae

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    Mas o que qualidade quando se trata de educao em-preendedora?

    De forma pragmtica: a qualidade da educao empreen-dedora ser tanto melhor, quanto maior for a sua capacidade de ajudar o empreendedor a desenvolver a sua atividade em-presarial em bases competitivas e sustentveis.

    O duplo desafio de incremento da quantidade e da quali-dade sugere uma estratgia que esteja alicerada para alm da expanso das atuais experincias de educao empreendedora em nosso pas. Tanto quantidade sem qualidade, como quali-dade sem quantidade no so solues. No basta fazer mais, preciso tambm fazer melhor!

    Em um pas continental como o Brasil, com mais de 10 milhes de pequenos negcios, esse desafio est sendo enca-rado no s com a vigorosa ampliao da atuao do Sistema Sebrae em todo o pas, como tambm pela emergncia de in-meras e promissoras iniciativas de introduo de disciplinas de empreendedorismo no ensino formal, em todos os seus nveis, e o surgimento de um mercado privado de servios empresa-riais de capacitaes e consultorias.

    O desafio quantitativo diz respeito a uma ambincia favo-rvel ao empreendedorismo, traduzida em polticas e recursos compatveis com os volumes de investimentos necessrios. Os desafios da educao empreendedora a partir da perspectiva da qualidade, por sua vez, coloca no centro do debate a per-gunta: quem o empreendedor?

    Como frequente, so as perguntas simples as mais dif-ceis de serem respondidas. O uso sem critrio do conceito em-preendedor dificulta a construo de estratgias mais rigorosas e consistentes e, consequentemente, mais efetivas de apoio e fomento dos pequenos negcios, especialmente daquelas re-lacionadas com a educao empreendedora.

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    As reflexes contidas neste artigo so uma contribuio ao incipiente debate sobre essa questo. Adotamos como ponto de partida os ensinamentos de Malcolm Knowles sobre educa-o de adultos e os elementos centrais do debate acadmico sobre empreendedorismo em uma perspectiva econmica, re-ferenciada na obra seminal de Joseph A. Schumpeter, Teoria do Desenvolvimento Econmico.

    Andragogia, conhecimentos, habilidades e atitudes empreendedoras

    A complexidade e diversidade de estratgias e instrumen-tos de educao empreendedora resultam da amplitude de uma abordagem que abarque contedos e metodologias adequa-dos para disseminar conhecimentos e desenvolver habilidades e atitudes no campo do empreendedorismo.

    A partir dessa perspectiva, um debate profcuo sobre os di-versos e mltiplos desafios da educao empreendedora deve ter como referncia a perspectiva andraggica proposta por Malcolm Knowles.

    Em sua obra seminal, Knowles2 define Andragogia como a arte e cincia que estuda as melhores prticas para orientar adultos a aprender. O pressuposto bsico o de que a expe-rincia a melhor fonte de aprendizagem para os adultos, cuja motivao resulta de suas necessidades e interesses. O mode-lo andraggico alicera-se em seis princpios:

    1. Necessidade de saber: adultos precisam saber por que de-vem aprender algo e qual ser o fruto do aprendizado;

    2 Knowles, Malcolm S. (1950). Informal adult education: a guide for administrators, leaders, and teachers. New York: Association Press.

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    2. Autoconceito do aprendiz: adultos so responsveis por suas decises e por sua vida, portanto, querem ser vistos e tratados como tal;

    3. Experincias: so a base do aprendizado do adulto;

    4. Prontido para aprender: a disposio de aprender do adulto quando a ocasio exige algum tipo de aprendizagem relevante para o seu cotidiano;

    5. Orientao para aprendizagem: a contextualizao da aplicao e utilidade dos conceitos apresentados;

    6. Motivao: so os valores intrnsecos como autoestima, qualidade de vida e desenvolvimento, os quais exercem forte motivao no processo de aprendizagem de adultos.

    A nfase na experincia, na contextualizao, na relevn-cia prtica dos contedos e em aspectos comportamentais dos princpios andraggicos referencial constitutivo a ser observado no desenvolvimento e operacionalizao de meca-nismos e estratgias de educao empreendedora. A impor-tncia desses princpios aumenta com as possibilidades que as novas tecnologias de informao e comunicao propiciam para uma ampliao significativa, com grande flexibilidade e baixo custo, da educao empreendedora, por meio de meca-nismos de ensino a distncia (EaD).

    Uma parte do sucesso de instrumentos e iniciativas de educao empreendedora dependeria, portanto, da capacida-de de transmitir conhecimentos j existentes com metodologias alinhadas aos princpios andraggicos.

    De fato, grande parte das dificuldades de constituio e operao de uma empresa diz respeito legislao, regras e normas por um lado, e conceitos, mtodos e rotinas de gesto,

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    por outro lado; os quais devem ser aplicados no gerenciamento e administrao cotidiana do negcio, a partir de uma aborda-gem racional e rotinas preestabelecidas.

    A relevncia prtica de tcnicas e mtodos de gesto au-toexplicativa. Logo, quanto mais eficiente for o seu processo de aprendizado, melhor ser a gesto e com ela a competitividade e sustentabilidade do empreendimento.

    Nesse quadrante, o desafio da educao empreendedora diz respeito capacidade de implementar, em grande escala, instrumentos e metodologias adequados para transmitir esse tipo de conhecimento3. Por outro lado, a importncia desse aprendizado deriva da necessidade do dono do negcio exercer mltiplas funes de natureza gerencial e administrativa. Uma necessidade que inversamente proporcional ao tamanho da empresa: conhecimentos gerenciais so to mais importantes para o proprietrio, quanto maior for a necessidade de seu en-volvimento direto em funes de gesto do seu negcio.

    Para estar frente de um negcio, no basta conhecimen-to (saber) necessrio tambm habilidades (saber fazer).

    A racionalidade e os procedimentos operacionais da ges-to financeira de uma empresa, por exemplo, demandam com-petncias que podem ser adquiridas por meio do processo de aprendizagem j descrito. O mesmo no pode ser dito para o aprendizado de tticas de negociao, habilidade fundamental para uma boa gesto financeira empresarial. Exemplo anlo-go pode ser encontrado no mbito de uma capacitao sobre formao de preos que resulte na identificao da necessida-de de mudanas na estrutura de custos do empreendimento e demande, portanto, habilidades negociais de seu proprietrio.

    3 Nesse aspecto. o sistema de ensino tradicional, pblico e privado, tambm fundamental para a disseminao de conhecimentos e tcnicas de gesto e administrao voltadas para quem j possui ou quer criar um pequeno negcio.

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    O desenvolvimento de habilidades no se restringe apreenso de conhecimentos j existentes. Habilidades so desenvolvidas por meio de observao (aprendendo com os casos de sucesso, mas tambm e, especialmente, com os erros prprios e de terceiros4), experimentao e treinamento em um aperfeioamento constante baseado na prtica concre-ta em um processo permanente de tentativa e erro.

    Interagir com outros empreendedores, trocar experincias, participar de feiras e misses, enfim, ver para crer facilita e es-timula o desenvolvimento de habilidades necessrias para uma competente gesto do negcio. Instituies de representao empresarial, associaes de classe, sindicatos, arranjos produ-tivos locais e cooperativas so importantes espaos de apren-dizado coletivo e desenvolvimento de habilidades individuais.

    A pesquisa e o debate acadmico sobre empreendedoris-mo da escola comportamentalista5 produziram uma vasta lite-ratura com grande diversidade de definies de empreendedor e suas caractersticas.

    Louis Jacques Filion6 identifica cerca de 60 definies de empreendedor na literatura e 24 caractersticas7, mais frequen-temente atribudas aos empreendedores pelos behavioristas.

    essa proliferao de definies e conceitos soma-se o controverso e inconcluso debate a respeito das possibilidades e limites de se ensinar atitudes empreendedoras. No obstante,

    4 Sobre a racionalidade de se aprender com os erros veja Santos (2012).

    5 Psiclogos, psicoanalistas, socilogos e outros especialistas em comportamento humano.

    6 Renomado professor da Escola de Altos Estudos Comerciais (HEC) de Quebec e um dos maio-res estudiosos do empreendedorismo da escola behaviorista no mundo.

    7 Inovao, liderana, riscos moderados, independncia, criatividade, energia, tenacidade, ori-ginalidade, otimismo, orientao para resultados, flexibilidade, habilidade para conduzir situa-es, necessidade de realizao, autoconscincia, autoconfiana, envolvimento a longo prazo, tolerncia ambiguidade e incerteza, iniciativa, capacidade de aprendizagem, habilidade na utilizao de recursos, sensibilidade a outros, agressividade, tendncia a confiar nas pessoas, dinheiro como medida de desempenho (Filion 1999).

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    a importncia das atitudes e aspectos comportamentais para o sucesso de um negcio consenso entre os estudiosos e especialistas que se dedicam ao tema.

    Discutveis so tambm concepes e representaes te-ricas das caractersticas do empreendedor como um ser dotado de inmeras qualidades subjetivas ideais, as quais, em sua quan-tidade e diversidade, encontram pouco amparo na realidade.

    Do ponto de vista prtico, a idealizao do empreendedor como um quase super-homem ou uma quase mulher-maravilha pode estar na origem de estratgias de capacitao empresarial que colocam esse tipo ideal como um objetivo a ser alcanado, na fronteira da induo do desenvolvimento pessoal do empreende-dor (a partir do ser) e a prescrio normativa e a priori do dever ser.

    A qualidade da educao empreendedora ser discutida na sequncia desde uma perspectiva econmica, alargando a abordagem behaviorista tradicional.

    Qualidade da educao empreendedora

    Produtos de educao empreendedora oferecidos em ba-ses comerciais tm sua qualidade atestada pelo prprio merca-do. Como o adgio popular: produto bom aquele que vende!

    No Brasil, como em muitos outros pases, entendeu o le-gislador que os pequenos negcios devem ter um tratamento diferenciado e favorecido e, para tal, legislao pertinente (LC 123/06 e LC 128/08) soma-se a prpria existncia do Sebrae (e seus recursos subsidiados) para apoiar os pequenos negcios e fomentar o empreendedorismo.

    Frente a isso, como estabelecer uma oferta de servios

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    educacionais subsidiados para pequenos negcios com a maior qualidade possvel?

    Instituies de apoio aos pequenos negcios enfrentam o desafio de ofertar servios empresariais que correspondam, o mais prximo possvel, real demanda de seu pblico-alvo. Uma tarefa nada trivial, vista a diferena intrnseca entre ne-cessidade e demanda.

    Sempre existe uma grande quantidade de necessidades de capacitaes e consultorias nos pequenos negcios. Entre-tanto, somente parte dessas necessidades traduz-se em de-manda por meio da disposio dos empreendedores em pagar por esses servios. A disposio de pagar (ou no) por eles estabelece uma hierarquia de prioridades entre as diferentes necessidades, o que na microeconomia conhecido como a funo de utilidade e de preferncias reveladas.

    Portanto, a oferta de servios empresariais para peque-nos negcios em bases comerciais conta com o mecanismo de preos para identificar a real demanda de seus clientes po-tenciais. Dito de outra forma: um mercado, no qual, como em outro qualquer, a demanda uma funo do preo.

    Na inexistncia do mecanismo de preo, como estabelecer uma oferta de servios empresariais em bases subsidiadas que corresponda, o mais prximo possvel, real demanda dos pe-quenos negcios?

    Em posio contrria a dos economistas do mainstream, acreditamos que possvel utilizar subsdios de forma inteligen-te, por meio do estabelecimento de uma proxy entre as neces-sidades e as demandas dos pequenos negcios por servios empresariais.

    No campo da educao empreendedora essa proxy deve ponderar as caractersticas inerentes do negcio e de seu pro-

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    prietrio, dado a sua importncia para o sucesso ou no do empreendimento, delas derivando as necessidades e, a partir dessas, estimar-se a demanda por educao empreendedora.

    A segmentao por porte, diferenciando micro de pequena empresa e essas do microempreendedor individual, um pri-meiro e importante passo nessa direo. O raciocnio simples e intuitivo: diferentes nveis de faturamento indicam diferentes graus de complexidade na gesto e insero do negcio no mercado. Diferenas que devem ser observadas no desenvolvi-mento de produtos e estratgias de educao empreendedora, adequadas s caractersticas e especificidades dos pequenos negcios em seus diferentes segmentos.

    Nessa busca por qualidade, a segmentao por porte condio necessria, mas insuficiente. Especialmente quan-do prevalece uma viso biolgica evolutiva das relaes de mercado, segundo a qual os diferentes portes de em-presa representariam estgios de um contnuo processo de crescimento. Uma concepo sem amparo na realidade: em economias de mercado os pequenos negcios so sempre a ampla maioria das empresas. tambm uma concepo problemtica por sugerir que o crescimento deve ser um ob-jetivo em si e funo primordial de polticas e estratgias de fomento dos pequenos negcios.

    segmentao por porte deve-se acrescentar uma acu-rada anlise das caractersticas e perspectivas do negcio e de seu proprietrio, elementos qualitativos que complementam a dimenso quantitativa expressa no volume de faturamento.8

    8 Na sequncia, sero discutidas estratgias de educao empreendedora para empresas j constitudas. O vasto e instigante campo do fomento e estmulo a novos negcios excede o escopo deste artigo.

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    Empreendedor, empresrio, administrador, proprietrios-gerentes: tudo a mesma coisa?

    Mundo afora, os conceitos de empreendedor e empreen-dedorismo, em suas inmeras variaes, esto associados ao economista austraco Joseph Schumpeter autor da A Teoria do Desenvolvimento Econmico, reconhecida como uma das obras mais importantes da cincia econmica do sculo XX.

    Na contramo do mainstream, que preconiza o equilbrio dos mercados em seus modelos econmicos, Schumpeter con-cebe a economia como um processo dinmico, orientado para mudanas induzidas por inovaes, e identifica no empresrio, ao desenvolver e implementar novas combinaes dos fatores de produo, o ator central no desenvolvimento econmico.

    As novas combinaes (posteriormente denominadas inovaes) concorrem com as prticas tradicionais e as supe-ram, induzindo a chamada destruio criadora, o motor da dinmica do desenvolvimento capitalista. A inovao possibilita ao empresrio obter uma lucratividade superior da concor-rncia, a qual reage imitando-a e copiando-a, desencadeando uma onda de investimentos que estimula a economia e impul-siona o crescimento econmico, a prosperidade e o bem-estar social. Para recuperar a dianteira o empresrio precisa conti-nuar inovando na linguagem atual: empresas inovadoras tem na busca incessante por inovao o cerne de sua estratgia.

    Para Schumpeter, s empresrio aquele que ... efetiva-mente levar a cabo novas combinaes e perde esse carter... quando dedicar-se a dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negcios. (Schumpeter 1999: 56).

    A quem se refere Schumpeter ao mencionar outras pessoas?

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    Ele estabelece uma tipologia com ...dois tipos de conduta que, seguindo a realidade, podemos descrever como dois tipos de indivduos: os meros administradores e os empresrios. (Schumpeter 1999: 59).

    As outras pessoas a quem ele se refere so os meros ad-ministradores?

    Aqui podemos identificar um equvoco na traduo do Theorie der wirtschaftlichen Entwicklung9 para o portugus. Seno, vejamos.

    Os dois tipos de conduta identificados por Schumpeter no so, como consta na verso em portugus, o empresrio e o administrador. O que ele diferencia so as condutas, os comportamentos do empresrio (Unternehmer) e do Wirt. Ao contrrio de Unternehmer (empresrio) a palavra alem Wirt, em seu significado econmico, no possui traduo para o portugus. Exprimir Wirt como administrador,10 alm de equi-vocado, no faz sentido. Para Schumpeter, o que importa de fato e isso fundamental para uma estratgia consistente de educao empreendedora so os dois tipos de conduta, no as funes que o empresrio eventualmente exera em seu es-tabelecimento11.

    Wirt deve ser definido como o proprietrio de empresa que toca seu negcio de forma tradicional e que se contenta em obter o lucro mdio de seu segmento empresarial. Dito

    9 Veja a Teoria do Desenvolvimento Econmico da Coletnea Os Economistas, Editora Abril.

    10 Verwalter em alemo.

    11 Como sabemos, administrador apenas uma das muitas funes que o proprietrio de um pe-queno negcio pode assumir no dia a dia da empresa. O empresrio dos tempos mais antigos no s era, via de regra, tambm o capitalista, mas frequentemente era ainda como ainda hoje no caso de estabelecimentos menores seu prprio perito tcnico, enquanto um especia-lista profissional no fosse chamado para os casos especiais. Da mesma forma era (e ainda ), muitas vezes, o seu prprio agente de compras e vendas, o chefe de seu escritrio, seu prprio diretor de pessoal e, s vezes, seu prprio consultor legal para negcios gerais, mesmo que, na verdade, via de regra, empregasse advogados. E era executando algumas dessas funes ou todas que ele preenchia regularmente seus dias. (Schumpeter 1999: 56)

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    de outra forma: Wirt o empresrio que no se comporta como (no demonstra a conduta de) um empreendedor, no sentido schumpeteriano.12

    As consequncias das dificuldades de traduo da influen-te obra de Schumpeter para o portugus no se limitam a uma curiosidade filolgica ou preocupao lingustica. Adiciona-se a elas a grande influncia da literatura relacionada ao empreen-dedorismo de origem anglo-saxnica13 e tem-se um forte indi-cativo do porqu empreendedor utilizado na linguagem co-loquial refletindo e ao mesmo tempo influenciando o senso comum ora como sinnimo de empresrio, ora sugerindo que o empreendedor antecede o empresrio (o empreendedor de sucesso se torna um empresrio).

    Dessa forma, todos que j possuem, ou querem criar uma empresa, so ou deveriam se tornar empreendedores. Nessa viso a funo da educao empreendedora seria transformar todos os proprietrios de (pequenos) negcios em empreende-dores schumpeterianos.

    No entanto, na linha preconizada por Schumpeter, as evidncias empricas sugerem a predominncia do Wirt na economia. O que no diminui, ao contrrio ressalta, o papel do empreendedor no processo de desenvolvimento. Sabe-mos que a competitividade de uma economia depende de mltiplos fatores inter-relacionados, dentre os quais assu-me especial nfase a sua capacidade de inovao. Nessa perspectiva, estimular e fomentar o empreendedorismo ino-

    12 Filion (1999) define Wirt como proprietrio-gerente de pequenos negcios que no assume um papel empreendedor. Certamente uma melhor caracterizao do Wirt, ao identific-lo como proprietrio da empresa, mas insuficiente. No a funo desempenhada, mas sim a conduta frente ao negcio a diferena que caracteriza o empreendedor, segundo Schumpeter. Um pro-prietrio pode ser gerente de sua empresa e imprimir nela uma dinmica inovadora no sentido schumpeteriano.

    13 O equivalente em ingls para a palavra alem Unternehmer entrepreneur, o que, por sua vez, significa empreendedor, em portugus.

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    vador so to importante quanto apoiar e induzir a grande maioria do segmento, o Wirt, a introduzir em suas empre-sas inovaes j existentes no mercado14.

    Consideraes finais

    Em nosso pas consolidou-se, nas ltimas dcadas, a per-cepo bastante disseminada de que o empreendedorismo um fator do desenvolvimento econmico e o empreendedor um agente das mudanas e transformaes na economia.

    Assim sendo, ao facilitar e induzir uma melhoria na ao cotidiana dos empreendedores frente dos seus negcios, investimentos em educao empreendedora constituiriam um importante vetor para fomentar o desenvolvimento econmico.

    O desafio de ampliar consideravelmente o alcance e a qua-lidade dos instrumentos de educao empreendedora ganha, portanto, premncia na atual conjuntura.

    Uma forte ampliao dos instrumentos de educao em-preendedora depende de polticas e recursos compatveis com os volumes de investimentos necessrios. J o desafio do in-cremento da qualidade da educao empreendedora deve con-siderar os princpios do modelo andraggico, cujo pressuposto bsico de que a experincia a melhor fonte de aprendiza-gem para os adultos, cuja motivao para o aprendizado resul-ta de suas necessidades e interesses.

    Para alm da perspectiva behaviorista, a qualidade da educa-o empreendedora tem em Schumpeter um importante referen-

    14 Alinhando assim a tipologia schumpeteriana referenciada na conduta com os conceitos de inovao incremental e de ruptura.

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    cial terico, especialmente a distino entre Wirt (o empreende-dor no dinmico, voltado primordialmente para a sobrevivncia e estabilizao de seu negcio) e empresrio/empreendedor. A edu-cao empreendedora, em suas estratgias de disseminao de conhecimento e desenvolvimento de habilidades e atitudes, deve levar em conta essas diferentes caractersticas e motivaes.

    Por ltimo, mas no menos importante, deriva da sua rele-vncia emprica a acuidade do instrumental terico de Schum-peter como referencial para a modelagem da necessria proxy identificadora das reais demandas dos proprietrios de peque-nos negcios por produtos e servios no mbito da educao empreendedora.

    Referncias bibliogrficas

    FILION, L. Jacques (1999): Empreendedorismo: empreen-dedores e proprietrios-gerentes de pequenos negcios. So Paulo: Revista de Administrao, vol. 34, n. 2, p. 05-28, abril/junho 1999.

    KNOWLES, Malcolm S. (1950). Informal adult education: a guide for administrators, leaders, and teachers. New York: Association Press.

    SANTOS, Carlos A. (2012): Desafios e perspectivas para os prximos anos. Coletnea Pequenos Negcios: desafios e perspectivas, vol. 1, p. 12-26. Braslia: Sebrae, 2012.

    SCHUMPETER, Joseph A. (1982): Teoria do Desenvolvimen-to Econmico. So Paulo: Abril Cultural, 1982. Traduo feita a partir do texto em lngua inglesa, intitulado The Theory of Econo-mic Development (1934). Ttulo Original: Theorie der wirtschaftli-chen Entwicklung (1911). Berlin: Duncker & Humblot, 1987.

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    Este artigo foi publicado na revista LExpansion Entrepreneuriat, n. 6, junho 2010, pp.15 23. Uma verso anterior deste texto foi publicada pela primeira vez em: Filion, L.J. e C. Ananou (sob a direo) (2010) De lintuition au projet dentreprise Montral, Trans-continental, captulo 25, pp. 487- 500, com o ttulo Quelques conseils pour russir la cration de son entreprise

    Dez conselhos para os criadores de empresas

    Louis Jacques Filion15

    Cndido Borges16

    A criao de empresas: uma aventura desafiadora

    Como passar pelo processo de criao de um novo ne-gcio com sucesso e sobreviver durante essa travessia? De acordo com nossas experincias prticas, segundo a anlise das pesquisas e o ensino sobre empreendedorismo, ns iden-tificamos uma srie de preceitos e conselhos e os transmitimos para aqueles que esto se preparando para abrir uma empre-sa. Ns escolhemos dez para compartilhar aqui. Eles esto primeiramente na Tabela 1, a seguir, e depois cada um deles brevemente discutido. Dada a grande variedade de contex-tos e situaes de novos empreendimentos, esses conselhos

    15 Professor titular diretor, Ctedra de Empreendedorismo Rogers-J.-A.-Bombardier HEC Montral.

    16 Professor-adjunto na Universidade Federal de Gois (UFG) Faculdade de Administrao, Cin-cias Contbeis e Cincias Econmicas (Face) Campus II

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    so apresentados despretensiosamente porque eles no se aplicam forosamente nem a todos os empreendedores nem a todos os contextos. Estes conselhos devem ser considera-dos com discernimento. Eles devem estimular uma reflexo e aprendizagem para melhorar as probabilidades de sucesso para a maioria dos empreendedores.

    Tabela 1 Dez conselhos para os criadores de empresas

    1. Estruturar seu modelo mental empreendedor

    2. Estabelecer seus critrios de sucesso, determinar alguns objetivos e saber se organizar para agir

    3. Conhecer e compreender seu setor, ouvir e estar focado no cliente

    4. Valorizar a oportunidade de negcio identificada e saber escolher o momento oportuno (timing)

    5. Contribuir com uma inovao e se diferenciar: no mode-lo de negcio, na escolha do nome, no preo

    6. Adotar ferramentas de reflexo

    7. Mobilizar sua rede desde o incio, ter relaes de apoio e contatos de negcio

    8. Definir seu prprio espao, o espao dos outros e delegar

    9. Saber estar rodeado de empreendedores: parceiros, mentor, coach e comit consultivo

    10. Preparar-se para a polivalncia e saber perseverar

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    Estruturar seu modelo mental empreendedor

    A preparao para a atividade empresarial requer uma in-troduo ao conhecimento que leva a uma maneira de pensar e de inovar. Alguns adquirem esse conhecimento estando em contato com empreendedores na sua prpria famlia, no seu ambiente durante seus estudos, ou por meio de leituras. O empreendedorismo segue a expresso de uma forma particular de pensar, foca na novidade, na mudana e na inovao.

    A cultura que est na base de toda maneira de pensar e de agir se desenvolve em contato com pessoas que incor-poram essa cultura e se integraram bem a ela. Isso se aplica a qualquer pessoa que esteja pensando em se tornar um empreendedor. Ele est se preparando, colocando-se em contato com os empreendedores. No h uma gerao es-pontnea. O empreendedor no improvisado.

    til fazer um balano e identificar os papis que ns mes-mos temos desempenhado nas iniciativas ou nas atividades inovadoras e avaliar os pontos fortes e fracos nesse proces-so. Ser que no passado tivemos uma tendncia para definir o contexto das atividades futuras? Ser que j mostramos ter capacidade para expressar um pensamento projetivo? Os em-preendedores tentam antecipar o futuro e imaginar o que pode-ria ser. Eles definem grupos de atividades que querem realizar e como vo se organizar para conseguir. Eles so iniciadores e agregadores em torno de seus projetos.

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    Estabelecer critrios de sucesso, determinar alguns objetivos e saber se organizar para agir

    A criao de uma empresa, por excelncia, um exerccio

    de liberdade. Durante esse perodo o empreendedor define o que ser possvel para ele. Cada pessoa mantm critrios, quase sempre implcitos, do que ela quer realizar. Por que no torn-los explcitos e us-los para definir o sistema de ativida-des que quer realizar?

    O que eu quero realizar? Quais so meus objetivos? Como devo me organizar para conseguir? O empreendedor tem a van-tagem de estabelecer os objetivos gerais, mas os objetivos devem ser especficos e mensurveis ao logo do tempo. Por exemplo: atingir um nvel X de venda em trs meses; atingir o ponto de equilbrio em seis meses; atingir o nvel X de lucro durante o segundo ano de operao, etc.

    O fato de estabelecer e explicitar seus prprios critrios de sucesso, os quais podero variar ao longo do tempo, oferece valores de referncia para definir de objetivos, determinar as fron-teiras, definir melhor o alvo e escolher as atividades que realizar o que vai permitir tomar decises mais rpidas e mais justas.

    O empreendedor orientado para a ao. Ele pensa cons-tantemente na ao. Ele sabe escolher o momento oportuno para agir. Ele gosta de tomar decises. Em suma, o empreen-dedor um artista da ao. a passagem para a ao de maneira bem articulada, com a qual ele se engaja e depois ge-rencia que faz o sucesso do empreendedor.

    Como empreendedores, importante refletir sobre cada uma de nossas aes e que estejamos em condies de responder as seguintes perguntas: Por qu? Como? Com

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    quem? Quais os efeitos sobre as pessoas de dentro e de fora da empresa? Quais as contribuies e consequncias para a realizao de meus objetivos?

    Conhecer e compreender seu setor, ouvir e estar focado no cliente

    Existem alguns elementos indicadores de sucesso nos negcios. A experincia empresarial ou em gesto um de-les. O conhecimento do setor no qual se vai inserir ou-tro. Caminhar em um terreno familiar normalmente menos arriscado que explorar o desconhecido. Comear um novo negcio no diferente.

    Ter trabalhado no setor onde a empresa ser criada repre-senta um fator positivo destacado pelos empreendedores para ter sucesso no seu desenvolvimento. Essas experincias ante-riores facilitam o aprendizado necessrio para o desenvolvimen-to dos produtos/servios e de tecnologias envolvidas. O conhe-cimento do funcionamento do setor e de alguns de seus atores, como fornecedores e potenciais clientes, permitiro o acesso a informaes estratgicas e muito teis para melhor adaptar e ajustar o que se quer fazer.

    Quem so meus clientes? Quem so meus clientes potenciais? Eles precisam de qu? Quais so as melho-res estratgias para vender a esses clientes? Quem so os clientes de meus clientes? Quem so meus concorrentes? Essas so perguntas que um empreendedor tem que se fazer antes de abrir sua empresa. Os empreendedores que evoluem no B2B (Business to Business) nos dizem que eles foram mais bem-sucedidos no momento em que se coloca-ram na pele do cliente para entender melhor as necessida-des dos clientes de seus clientes.

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    As pesquisas mostram que os gestores de pequenos neg-cios que tm as estratgias mais eficazes dedicam tempo para encontrar os fornecedores, o que lhes permite estar mais bem informados sobre as mudanas em curso e futuras no seu setor.

    O empreendedor que anteriormente no trabalhou na rea na qual quer criar sua empresa, ter que encontrar maneiras para corrigir essa fraqueza. Existem vrias maneiras para fa-zer isso, por exemplo, observando o funcionamento de uma das empresas mais inovadoras desse setor ou de um setor relacionado ao seu, caso se trate de um setor emergente. Ter contato com os fornecedores do setor ou com os usurios de produtos atuais ou de produtos relacionados, tambm pode ajudar a enriquecer sua referncia sobre o que realmente pertinente e pode gerar efeitos nas vendas dos produtos/ser-vios a serem comercializados.

    Valorizar a oportunidade de negcio identificada e saber escolher o momento oportuno (timing)

    A oportunidade de negcio a pedra angular sobre a qual se constri o plano de negcio. Deve haver uma estreita corres-pondncia entre o empreendedor e sua oportunidade de neg-cio. Se o empreendedor tem uma paixo por um determinado assunto, ele ser altamente motivado a continuar aprendendo e com certeza vai vencer. Os empreendedores pensam intensa-mente sobre as maneiras originais de valorizar a oportunidade.

    preciso estar consciente que quanto mais ns avanamos no tempo, mais a janela de oportunidades diminui. Antigamente, uma oportunidade podia ser possvel e estar disponvel durante dcadas. Atualmente, na maioria das vezes uma questo de meses ou no mximo de alguns anos. Uma oportunidade per-

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    de sua fora quando muitas pessoas conseguem identific-la. importante escolher o momento oportuno, no se alongar muito, se preparar, e agir. Muitas hesitaes faro com que seja tarde demais, muitas precipitaes faro com que seja muito cedo. Os empreendedores multiplicam os ngulos a partir dos quais eles analisam o setor deles e acabam desenvolvendo um sexto senti-do quanto ao momento oportuno (timing) para agir.

    importante que a oportunidade identificada satisfaa uma necessidade. Muita gente se lana rapidamente a partir de uma ideia que elas acreditam que seja boa, mas na realidade ela no preenche uma real necessidade.

    No apenas a identificao de uma boa oportunidade de negcio que importa, mas tambm a maneira de dar forma a essa oportunidade. A maioria das oportunidades precisa passar por transformaes e por combinaes s vezes complexas. por isso que vrios autores preferem utilizar o termo criao de oportunidades em vez de simplesmente identificao de oportunidades. Uma vez finalizada, preciso test-la no mer-cado e ressalt-la de maneira segura e inteligente; o momento oportuno muito importante. Aqui, o artista da ao que o empreendedor precisa saber ao mesmo tempo usar sua intui-o, usar seu talento e manter o faro em alerta, saber fazer as coisas por conta prpria e com os recursos disponveis, dese-nhar e dar uma forma ao seu projeto potencial.

    Contribuir com uma inovao e se diferenciar: no modelo de negcio, na escolha do nome, no preo

    O empreendedor uma pessoa que apresenta uma inova-o, algo novo, diferente que agrega valor em relao ao que j existe. preciso trabalhar e retrabalhar a maneira de valorizar

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    a oportunidade de negcio e de entrar no mercado com novos

    elementos de novidade e diferenciao.

    Dessa forma, os empreendedores aumentaro suas

    chances de sucesso se trabalharem e retrabalharem seu mo-

    delo de negcio17, a coerncia entre as 4P ou 5P, a escolha

    do nome, a conexo lgica entre o tipo de produtos/servi-

    os, a distribuio e um preo justo. Um nome comercial

    geralmente deve se referir ao que faz o negcio, deve ser um

    nome fcil de ser lembrado e, alm disso, deve ser global,

    ou seja, que possa ser entendido em vrias lnguas, princi-

    palmente se planeja entrar para o mercado internacional.

    Para as empresas de alguns setores de servios, pode ser

    vantajoso que o nome comece com uma palavra que se refi-

    ra ao servio pertinente, por exemplo, Viagens 4D para uma

    agncia de viagens, ou com uma letra no incio do alfabeto.

    Apple aparece em primeiro lugar na lista das empresas, en-

    quanto que Microsoft mais explcito.

    No existe uma regra absoluta para a escolha do nome,

    mas existem vrias questes que devem ser consideradas de-

    pendendo do setor e do tipo de negcio. prefervel escolher

    um nome que seja lembrado facilmente.

    Quanto ao preo, este tema um dos pontos fraco de

    muitas empresas nascentes, principalmente no setor de ser-

    vio. importante fazer vrios testes de mercado antes de

    estabelecer o preo definitivo de venda dos produtos/servi-

    os. Uma vez os produtos/servios lanados ser difcil fazer

    grandes alteraes de preo.

    17 Ver em particular : Verstraet (Thierry) et Jouisson-Laffitte (Estle), Business Model pour entre-prendre, Paris,De Boeck, 2009.

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    Adotar ferramentas de reflexo

    Para adotar ferramentas de reflexo, aconselhvel pro-ceder com a elaborao de um quadro que vai esclarecer seu sistema de atividades empreendedoras. Primeiramente, conce-ber e descrever em algumas pginas a empresa ideal que voc gostaria de organizar (duas a cinco pginas). Isso vai permitir especificar vrios pontos de ancoragem sobre os elementos fundamentais que so importantes para o empreendedor e aos quais ele far referncia mais tarde.

    Em segundo lugar, esboar um guia de atividades para implantar o projeto (duas ou trs pginas). Em terceiro lugar, aps a realizao de um estudo de mercado, esboar um pri-meiro rascunho do projeto de empresa, pode ser um resumo de cinco a seis pginas. importante ver essas notas como um elemento de apoio a reflexo, a progresso e a concepo do projeto, mas no como planos a serem implantados a todo custo. Os empreendedores que fizeram esforos para conce-ber um projeto esto melhores equipados para enfrentar os imprevistos e as situaes difceis no futuro.

    Esse exerccio vai estimular o pensamento projetivo. Vai permitir ao empreendedor especificar a informao e os recur-sos necessrios para atingir seu objetivo, preparar seu plano de ao e se acostumar a trabalhar com vrios cenrios. O fato de considerar o que se quer fazer e como faz-lo geralmente permite simplificar os processos e diminuir os recursos even-tuais necessrios para levar as atividades a cabo. Isso permite tambm gerenciar melhor o principal recurso, que muito curto para a maioria dos empreendedores: o tempo.

    Um mnimo de planejamento dever levar a maioria dos cria-dores de empresa a aprofundar as anlises de mercado, a com-preender melhor o mercado do setor assim como as necessidades

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    eventuais dos usurios quanto a produtos/servio, para destacar melhor as vantagens competitivas e conceber com mais coern-cia o sistema de recursos, particularmente, recursos humanos que precisaro para arrancar e gerenciar a empresa com mais eficcia.

    Depois do incio da empresa, normal aparecer impre-vistos, mudanas de situaes. O projeto da empresa um guia que no deve ser seguido ao p da letra e que deve ser modificado e adaptado s novas condies enfrentadas pela empresa. O esboo do plano no deve limitar as aes do em-preendedor, nem sua intuio. Toda essa preparao deve ser usada com bom senso e discernimento.

    Trata-se de uma ferramenta de orientao e de acompa-nhamento que permite dar uma direo e nos ajudar a tomar decises rapidamente. Ela tambm serve de ferramenta de co-municao para informar aos interessados o que se quer realizar.

    Mobilizar sua rede desde o incio, ter relaes de apoio e contatos de negcio

    Quais so as informaes que eu preciso? Quais so os supor-tes que poderiam ser teis pra mim? Com quem eu posso comear o negcio? Eu vou precisar me envolver com que tipo de pessoa? De quais recursos vou precisar? Onde vou encontrar esses recur-sos? Quais so os servios e programas que poderiam ajudar a criao de empresas e dos quais eu poderia me beneficiar?

    Os empreendedores ganham em comear cedo a criar e a mobilizar a rede de negcio deles. Primeiro, eles conversam so-bre as ideias de negcio deles com os clientes potenciais. Em alguns casos, esses clientes podem, inclusive, ser envolvidos no desenvolvimento de produtos.

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    Os clientes potenciais podem fornecer informaes que

    permitiro ajustar melhor o produto s condies do mercado

    e melhor atender s necessidades dos usurios potenciais.

    Isso pode facilitar a primeira venda, momento sempre crtico

    para uma empresa que est comeando. Um cliente potencial

    que participou do projeto poder no apenas ser o primeiro

    comprador, mas tambm indicar outros clientes potenciais.

    Durante muitos anos, a imaginao popular manteve o mito

    do heri empreendedor, ou seja, aquele que abre uma empresa

    sozinho e se debate com uma coragem excepcional para sobre-

    viver. No entanto, a pesquisa nos ensinou que o empreendedo-

    rismo um fenmeno coletivo, o empreendedor realizando seu

    sonho com a participao, a assistncia e o apoio de muitas

    outras pessoas, parentes, parceiros, colaboradores, contatos da

    sua rede, assim como membros de organizaes de apoio.

    preciso ter um mnimo de pessoas na rede do empreendedor, o

    que permite, em primeiro lugar, ser informado sobre o que acon-

    tece no setor, estimular a reflexo e o aprendizado.

    Definir seu prprio espao, o espao dos outros e delegar

    Se a criao de uma empresa tem uma dimenso coletiva

    que garante que o empreendedor tenha vantagem em recor-

    rer ajuda externa e interagir com as pessoas de sua rede, ela

    tem tambm, por outro lado, uma ao muito pessoal. Para

    conduzir bem seu projeto, o empreendedor tem que ter con-

    fiana em si mesmo, e nas suas competncias e ser capaz vi-

    ver em harmonia consigo mesmo e com os outros. Isso pode

    exigir que ele redefina seu prprio espao, o que lhe permitir

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    definir melhor os espaos dos outros que vai precisar.18

    Os empresrios asiticos dedicam muito tempo pensando em formas de organizar o sistema social da empresa, integran-do os valores que refletem a harmonia entre as pessoas. im-portante projetar e implantar um sistema social que reflita equi-lbrio entre as energias exigidas e as capacidades das pessoas. Esse equilbrio vai fazer bem ser refletido no prprio empreen-dedor, na empresa, na famlia e nas outras esferas de sua vida.

    Ao contratar aconselhvel definir um contrato psicolgi-co claro entre o empreendedor e as pessoas contratadas para fazerem parte de sua equipe: o que cada colaborador tem o di-reito de esperar do empreendedor que dirige a empresa e o que o empreendedor tem direito de esperar de cada colaborador.

    vantajoso considerar o critrio de delegao eventual e potencial de tarefas no momento de recrutamento e contrata-o. No basta contratar pessoas com base no seu know-how para completar uma tarefa num determinado prazo. O cresci-mento de uma empresa passa pela delegao de tarefas e esta comea pela concepo de um processo durante o qual so definidas tarefas a serem cumpridas e depois so determinada as tarefas que podero ser delegadas.

    Saber estar rodeado de empresrios: parceiros, mentor, coach e comit consultivo

    A cultura empreendedora se adquire, se desenvolve e se nutre por osmose em contato com os empreendedores. O

    18 Filion (Louis Jacques) et Bourion (Christian) (Eds.), Les reprsentations entrepreneuriales, Pa-ris, ESKA, 2008.

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    empreendedorismo est crescendo com as equipes empreen-dedoras compostas de parceiros com competncias com-plementares. As pesquisas mostram que a maioria das novas empresas criada por equipes19. Essa percentagem est con-firmada nas nossas prprias pesquisas. No caso das empresas de tecnologia, esse nmero sobe para mais de 95%20.

    importante que o empresrio ou os futuros empreende-dores identifiquem um mentor, um coach e um grupo de acon-selhamento. Na rea prtica, como o caso do empreendedo-rismo, no h substituto para a experincia. O empreendedor ter interesse em estar rodeado de especialistas. Esse um fator importante de sucesso.

    Mencionamos aqui uma pesquisa realizada nos Estados Unidos (EUA) sobre a criao de empresas durante os ltimos anos. Essa pesquisa indica que 52% das empresas criadas, na amostra, foram estudadas pelas equipes: Aldrich (Howard), Car-ter (Nancy) e Ruef (Martin), Teams, no Gartner (William), Shaver.

    Primeiro, o empreendedor precisa de um mentor. O papel desse ltimo fazer perguntas fundamentais sobre o modelo e o percurso empresarial do empreendedor. As relaes com o men-tor devem comear assim que o empreendedor decidir comear que quer comear um negcio. As reunies geralmente so rea-lizadas uma vez por ms e acontecem durante alguns anos21.

    O mentor quase sempre o empresrio aposentado. Ele no remunerado. Ele no nem um coach, nem um par-

    19 Mencionamos aqui uma pesquisa tipo realizada nos Estados Unidos sobre a criao de empre-sas durante os ltimos anos. Essa pesquisa indica que 52 % das empresas criadas na amostra foram estudadas pelas equipes: Aldrich (Howard), Carter (Nancy) e Ruef (Martin), Teams, no Gartner (William), Shaver (Kelly), Carter (Nancy) e Reynolds (Paul) (Eds.), Handbook of entrepre-neurial dynamics: The process of business creation, Thousand Oaks, Sage, 2004, p. 299-310.

    20 Filion (Louis Jacques), Borges (Cndido) e Simard (Germain) tude du processus de cration dentreprises structur en quatre tapes, Comunicao apresentada no 80 Congresso Inter-nacional Francofone sobre a PME, Fribourg, publicada nas Atas, CIFEPME 2006

    21 Ver programa de mentor da Fondation de lentrepreneurship (www.entrepreneurship.qc.ca).

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    ceiro e no investe na empresa. Ele orienta o empreendedor na aprendizagem de sua especialidade de empreendedor e de gestor. Os empreendedores tecnolgicos costumam recorrer a dois mentores: um pesquisador da rea da tecnologia e o ou-tro um empreendedor tecnolgico com experincia. O mentor enquadra uma abordagem reflexiva para articular melhor a coe-rncia do conhecimento para ser empreendedor.

    Aps o incio das operaes da empresa, o empreendedor vai precisar de um coach. No hockey, o coach est atrs do banco dos jogadores e d conselhos sobre o que deve ser feito durante a ao. No mundo dos negcios, o coach pode ser um empreen-dedor experiente, aposentado ou no, ou um executivo de uma empresa de grande porte, aposentado ou no, que tem a expe-rincia no setor (no sentido amplo). Pode ser ainda um especialista de marketing. Ele d conselhos sobre as aes a serem tomadas, ajuda a desenvolver cenrios, a avaliar os efeitos das decises e d conselhos sobre as aes a serem realizadas assim como faz-las.

    As reunies com o coach acontecero uma ou duas vezes por ms e duram de dois a quatro anos. Alguns coaches so remunerados, dependendo da quantidade de trabalho que lhe exigida, e da frequncia das reunies.

    O empreendedor ter vantagem em implantar um grupo de aconselhamento, composto de trs ou quatro pessoas com experincia com quem ele se reunir trs ou quatro vezes por ano para discutir sua estratgia e as decises de escopo estra-tgico a serem tomadas. O empreendedor poder transformar seu plano de negcios, ou a descrio da oportunidade ou a forma de apresentar seu plano empresarial em plano estratgi-co e us-lo como referncia de base para organizar o trabalho dos membros do grupo de aconselhamento que podem ser tanto de gestores de pequenas empresas como executivos de grandes empresas, ou especialistas em marketing, em finana, em gesto de operaes, em recursos humanos ou outros.

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    Eles so remunerados pelo trabalho que desenvolvem. O mandato deles geralmente dura dois anos e pode ser renovado. As associaes que agrupam os gestores de pequenas empresas geralmente oferecem capacitao e suporte para instalar grupos de aconselhamento na maioria dos pases22. O grupo de aconselha-mento tem a vantagem de ser mais leve que um conselho de ad-ministrao tradicional e no requer nenhuma documentao legal.

    O empreendedor que monta esses mecanismos de acon-selhamento ter uma estrutura que vai facilitar a aprendizagem e lhe permitir reduzir muito seus riscos. Todas essas pessoas com experincia dispem tambm de redes de relacionamento que podero ser teis ao empreendedor, principalmente durante os primeiros anos aps a abertura da nova empresa. Essa dinmica ajudar o crescimento e a lucratividade da empresa emergente.

    Prepare-se para a polivalncia e saiba perseverar

    Durante todo o processo de criao e operao de sua empresa, o empreendedor vai ter que lidar com diferentes tipos de atividades e tocar muitas reas de gesto: gesto financeira e administrao, pesquisa e desenvolvimento, gesto de ope-raes, promoo, relaes com os parceiros.

    Entretanto, algumas atividades devem concentrar sua ateno de maneira especial: na escolha dos colaboradores e na gesto de recursos humanos, na venda e na comercializa-o. Os criadores de empresa bem-sucedidos geralmente do uma ateno especial a essas atividades e dedicam a elas mais tempo que outros empreendedores.

    22 Ver www.groupement.ca (Reunio dos gestores de empresas).

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    O caminho que leva a criao de uma empresa muitas ve-zes marcado por uma srie de pequenos passos e no por gran-des passos. Poucas empresas atingem rapidamente o ponto de equilbrio. Leva tempo para desenvolver um produto/servio, para atingir a clientela e alcanar um volume de vendas satisfatrio. Por isso, os empresrios precisam estar preparados para essa traves-sia do deserto. Eles precisam, entre outras coisas, mobilizar os re-cursos necessrios para apoiar o projeto at atingir a rentabilidade, e cobrir suas despesas de sobrevivncia pessoal.

    importante estar preparado para perseverar. Ser mais fcil para os apaixonados pelo tipo de negcio que esto crian-do. Durante todo o processo de criao de uma nova empre-sa, os empreendedores tero que enfrentar muitos obstculos: falta de financiamento, dificuldades para vender os produtos, rotao de pessoal, aparecimento de novos concorrentes, etc. Somente a perseverana vai ajudar a atravessar as ondas mais agitadas antes de atingir uma velocidade de cruzeiro mais se-rena. A prtica de um esporte vai eliminar o estresse, recuperar as foras, manter a sade mental e estar em boa forma fsica.

    Um dos problemas enfrentados, rapidamente, pela maioria dos empreendedores o isolamento. Uma das maneiras de combat-lo estar rodeado de gente, mas tambm implica es-tar envolvido, algumas horas por semana, numa atividade de voluntariado num ambiente onde a empresa opera. Isso permi-te manter um estado de equilbrio de si mesmo e contribui para a vida da comunidade. Em alguns casos os clientes vo surgir a partir dos contatos feitos durantes estas reunies.

    Consideraes finais

    A criao de uma nova empresa um marco importante na vida da maioria das pessoas que embarcam nesta aventura. um

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    perodo intenso, durante o qual se aprende, rapidamente, os os-sos do ofcio da carreira de empreendedor e de gestor. Este apren-dizado ser muito mais fcil se voc estiver bem preparado. A pro-fisso de empreendedor sempre uma profisso adicional que se agrega a uma carreira de base. O exerccio de qualquer profisso exige um aprendizado e o empreendedorismo no exceo.

    As diversas atividades relacionadas com a criao de uma nova empresa vo transformar a maneira de ser, de pensar e de agir do empreendedor. Todas estas atividades precisam apren-der novos papis. importante aprender a aprender tanto ouvin-do, observando, aprender a definir a conduo dos gestores e a viso daquilo que se quer realizar, mas tambm saber se comu-nicar. preciso saber estar rodeado, amar, progredir e saber agir.

    O empreendedorismo exige aprendizado contnuo de transcendncia. O exerccio bem-sucedido de uma das mais bonitas profisses do mundo d acesso a uma liberdade cada vez maior. Isso deve fornecer melhores meios para a realizao de si mesmo e a realizao dos outros aos quais o empreen-dedor est associado. Isso deveria permitir uma melhor contri-buio para o desenvolvimento das empresas. As sociedades sem empreendedores terminam morrendo, mas aquelas onde os empreendedores so bem-sucedidos devem colher os fru-tos e compartilhar as riquezas produzidas.

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    Negcios em Educao Empreendedora: Saberes para Empreender

    Antonio Fernando Leal 23

    Introduo

    O conhecimento imperativo, qualquer que seja a rea escolhida pelo empreendedor para iniciar um negcio. No somente dos aspectos mercadolgicos ou econmicos-finan-ceiros, explicitados no plano de negcio, como dos detalhes tcnicos e conceituais relativos ao prprio empreendimento.

    Empreender em projetos de educao empreendedora segue a regra. A atividade requer, do futuro empresrio, tanto informaes sobre a viabilidade do negcio, como o conhe-cimento de referenciais tericos alusivos ao tema. Isso ajuda a compreender, por exemplo, como as pessoas aprendem e a forma como esse aprendizado pode se tornar mais efetivo na formao dos comportamentos empreendedores, objeto do empreendimento. A conduo de atividade em educao empreendedora depende, em boa parte, desse conhecimento e do entendimento geral da importncia do aprendizado no de-sempenho do indivduo.

    23 Mestre em Educao pelo PPGE/UFPB e professor-adjunto do Centro Universitrio de Joo Pessoa (Unip).

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    O que dizem os estudos?

    A busca dos saberes necessrios para o desenvolvimen-to de negcios em educao empreendedora pode se dar em ambientes formais ou informais. A consulta a rgos especiali-zados, a conversa com outros empreendedores, a visita a em-preendimentos na rea, tudo isso pode ajudar. Indispensvel, no entanto, a investigao pelo conhecimento sistematizado, que encontrado nas pesquisas j desenvolvidas por outros profissionais. A formao do nivelamento conceitual acerca do negcio empreendedor, empreendedorismo, educao em-preendedora comea por a.

    Iniciando pelo vocbulo empreendedorismo e o seu per-curso ao longo do tempo, v-se que

    Este termo parece ter percorrido outros caminhos, passando primeiro pelo francs, entrepreneur, utilizado por volta do sculo XVI, para designar a pessoa que incentivava brigas ou coordenava operaes militares. Mais tarde foi incorporado ao vocabulrio da lngua ingle-sa e, por volta do sculo XVII, passou a ter conotao de empresrio, ou seja, pessoa que conduz um projeto ou um empreendimento, prximo ao sentido em que lhe atribudo hoje, no Brasil. (Dolabela, 2003, p.32)

    Segundo o prprio Dolabela, na mesma obra,

    Essa migrao do conceito do mbito da empre-sa para todos os demais atinge o empregado em or-ganizaes, chamado de intraempreendedor, algum capaz de inovar, de propor instituio onde trabalha caminhos que possam conduzir ocupao adequa-da de um espao no seu ambiente de atuao, otimi-zando os resultados institucionais. (p.36)

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    Estudo realizado por Filion (1988) identificou duas linhas principais seguidas pelos pesquisadores do tema empreende-dorismo: a dos economistas que associa os empreendedores inovao e a dos comportamentalistas que se concentra nas caractersticas da criao e da intuio dos empreendedo-res. Como representantes da primeira corrente aparecem Can-tillon, Say e Schumpeter, apud Filion (1988).

    Na vertente comportamentalista destaca-se David C. Mc-Clelland (1953) o autor que realmente lanou a contribuio das cincias comportamentais para o empreendedorismo (Fil-lion, 1988, p. 4). O domnio dessa corrente de pensamento estendeu-se at os anos 80, quando o campo do empreen-dedorismo alargou-se para quase todas as cincias sociais e administrativas. Tal fato confirmado em pesquisa no Banco de Teses da Capes, repositrio que facilita o acesso a informa-es sobre teses e dissertaes defendidas em programas de ps-graduao do pas, no perodo de 1987 a 2011. L esto depositados vrios trabalhos sobre o tema empreendedorismo, em linhas acadmicas diversas como Educao, Psicologia, Planejamento Urbano e Regional, Engenharia da Produo, Administrao, Servio Social, entre outras.

    Quando a busca se estende expresso educao em-preendedora, a partir de trabalhos elaborados em instituies de Ensino Superior brasileiras v-se que esses estudos so mais recentes.

    O primeiro trabalho depositado no Banco de Teses da Capes que registra o termo educao empreendedora como palavra-chave, do ano 2000 e foi realizado na Universidade de So Paulo/So Carlos, na rea de Engenharia da Pro-duo. O autor da dissertao Ricardo Correa de Oliveira Ramos, e tem como ttulo Perfil do Pequeno Empreendedor: Uma Investigao Sobre as Caractersticas Empreendedoras na Pequena Empresa.

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    Estendendo-se a busca ao doutorado, a primeira tese de 2004 e foi desenvolvida na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, em Servio Social. Trata-se de Empreendedo-rismo Juvenil: Caminhos e Travessias, de autoria de Marilda Lili Corbelline. A partir do ano 2000, os estudos se intensificaram, chegando ao total de 41 trabalhos no perodo, entre teses (5) e dissertaes (36). Mais de 50% desses registros foram realiza-dos nos ltimos trs anos.

    Nessa busca pelo nivelamento de informaes, dois con-ceitos de educao empreendedora se destacam. O primeiro deles encontrado no Glossrio Vade Mecum:

    Conjunto de aes desenvolvidas pelo sistema edu-cacional com o objetivo de valorizar o papel do empreen-dedor, disseminar a cultura empreendedora e despertar vocaes empresariais. Busca criar na escola e na socie-dade uma mentalidade empreendedora atravs do est-mulo gerao de negcios. (Fulgncio, 2007, p.237)

    O segundo, de Fowler (1997, p.19), define a educao em-preendedora como formas de organizao que transformam as pessoas, desenvolvendo-as nas mesmas caractersticas e atributos empreendedores que buscam atingir graus mais ele-vados de realizao pessoal e bem-estar social.

    Nota-se claramente, no primeiro exemplo, a as-sociao restrita da expresso educao empreen-dedora ao mundo da gerao de negcios, viso essa que foi ampliada por outros estudiosos do tema, atribuindo uma maior abrangncia ao termo, como aparece no olhar de Fowler. Tal amplitude compartilhada por Dolabela (2003, p.21), quando diz que a necessidade de aumentar a capacidade empreendedora fruto da educao empreendedo-ra no apenas resposta retrao atual do nvel

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    de emprego verdadeira , mas decorrncia direta de novos padres de relaes sociais e polticas que incluem o mercado, mas no se limitam a ele.

    Ressalte-se que, do nmero de dissertaes localizadas (36) que trazem a educao empreendedora como foco de estudo, apenas seis delas foram desenvolvidas na linha de Educao:

    A) Educao de Jovens de Classe Mdia para o Empreende-dorismo (estudo de egressos do Instituto Euvaldo Lodi, em Cuiab Mato Grosso), Eber Luis Capistrano Mar-tins, 2003;

    B) Jovens e educao empreendedora: que discurso esse? Adriano Mohn e Souza, 2006;

    C) O Ensino do Empreendedorismo no Curso de Graduao em Administrao da Universidade Federal de Sergipe: A tica dos seus Docentes, ngela Maria de Souza, 2006;

    D) Concepes sobre Empreendedorismo na Viso de Alunos e Professores de Cursos de Administrao de Braslia, Elia-na Pessoa, 2008;

    E) Aprender a Empreender: Um Pilar da Educao de Jovens e Adultos, Antonio Fernando Leal, 2009; e

    F) Governamentalidade Ne