Livro Extensao Rural

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    Nmeros Anteriores:

    Solos: Propriedades, Classificao e Manejo

    Lcio Salgado VieiraPaulo Cezar Tadeu C. dosSantosMaria de Nazareth F. Vieira

    Necropsia e Remessa deMaterial para Laboratrioem Medicina Veterinria

    Anilton Csar VasconcelosPlantas Medicinais de Uso Popular

    Pe. Jos Maria de Albuquerque

    Prximos Lanamentos:

    Morfologia e Germinao deSementes de Plantas Invasorase de Essncias Florestais daAmaznia

    Jos Maria de Albuquerque

    Materiais de Construo paraEstruturas Agrcolas

    Irenilza de Alencar Ns

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    PESQUISA

    EM

    EXTENSO RURAL

    UM MANUAL DE

    METODOLOGIA

    JOAQUIM ANECIO ALMEIDAUFSM

    ASSOCIAO BRASILEIRA PE EDUCAO AGRCOLA SUPERIOR

    MINISTRIO DA EDUCAO - SECRETARIA GERAL

    BRASLIA- 1989

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    Este livro ou parte dele no podeser reproduzido por qualquer meio sem autorizao

    escrita do Editor

    Impresso no BrasilAssociao Brasileira de Educao Agrcola Superior

    SCS - Ed. Cear, 5 andar, salas 505/09,70.303, Braslia, DF

    Copyright 1989 by

    Joaquim Anecio Almeida

    Direitos exclusivos para esta edio:Associao Brasileira de Educao Agrcola Superior

    Editorao e Reviso do texto:Thelma Rosane Pereira de Souza

    Composio e Arte Final:Joo Carlos Almeida

    Fernando Peixoto

    Capa:Fernando Peixoto

    ISBN 85-85234-01-6

    Ficha Catalogrfica

    Almeida, Joaquim AnecioPesquisa em extenso rural: um manual de metodologia.

    Brasilia, MEC/ABEAS, 1989.

    182 p. (Programa Agricultura nos Trpicos, v.1)

    1. Pesquisa - extenso rural - metodologia. 2. Extenso

    Rural - pesquisa - metodologia. LA II. T.

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    MINISTRIO DA EDUCAO

    Ministro da Educao: Hugo NapoleoSecretrio Geral: Luiz Bandeira da RochaSecretrio SESU/MEC: Jos Camilo da Silveira Filho

    Diretoria da Associao Brasileira de Educao Agrcola Superior - ABEAS

    Antonio Carlos Albrio

    Francisco Marinho de MedeirosLeila HadlerMarco Antonio Arajo PintoWaldir GandolfiNelson VenturinAntonio Jorge D. de AlbuquerqueRonaldo Pereira de Sousa

    Presidente

    Vice-Presidente2 Vice-Presidente1 Secretrio2 Secretrio1 Tesoureiro2 TesoureiroSecretrio Executivo

    Conselho Editorial

    Ronaldo Pereira de SousaPaulo Roberto da SilvaOsmar Bettiol

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    FRANCESCA, ANAND e RAVI

    Agradecimentos:

    Enio ToniniMaria Virginia dos Santos SilvaAna Mirtes de Souza Trindade

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    PREFCIO

    A Extenso rura l, no Brasil, tem atravessado fases diversas em termos de concepo filosfica, abordagem emprica, organizao e trabalho de campo desde a sua introduo no incio do sculo. Emboraa ao extensionista tenha precedido anlise e conceituao do fenmeno extensionista, vrios encontros, seminrios e dissertaesuniversitrias tm contribudo para o desenvolvimento de uma preocupao cientfica em Extenso ru ra l. Isto tem sido possvel, sobretudo,por causa da acumulao dos dados e anlise dos resultados de aspectos tais como a adoo de tecnologias processo, fatores adjuvan

    tes, pontos de estrangulamento problemas do pequeno produtore sua crescente marginalizao, mulher rural, fenmeno da migrao e xodo rural, meios de comunicao de massa, estudos avaliativos dos programas de treinamento de mo-de-obra rural, cooperativismo e outros problemas que direta e indiretamente afetam o homemdo campo.

    Sem dvida, a pesquisa na cincia social relativamente novacomparada com aquela desenvolvida nas cincias exatas e biolgicas.Mais recentes ainda so as investigaes no campo especfico da Ex

    tenso rural. Com o incio dos cursos de graduao e de ps-graduaoem Extenso rural no pas, a metodologia de pesquisa tornou-separte integrante do programa de ensino na maioria das universidadesonde tais cursos eram implantados. Nessas instituies, em geral, adisciplina de metodologia da pesquisa orientada para a elaboraoda monografia cientfica e dissertao de mestrado, e os manuaisconsultados so da rea de cincias sociais. A pesquisa em Extensotem sido importante tanto para o desenvolvimento do carter cient fi co da disciplina de Extenso rural como para a promoo racional

    e sistemtica da atividade extensionista. Entretanto, h falta de ummanual de mtodos de pesquisa adaptado rea de Extenso rural.

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    Este livro pretende preencher essa lacuna. A idia de escrev-losurgiu quando, lecionando a disciplina de Metodologia da Pesquisanos cursos de graduao e ps-graduao em Extenso rural nosvrios departamentos agronomia, zootecnia, veterinria, engenharia agrcola, educao, etc. da Universidade Federal de Santa Maria,pudemos observar as preocupaes metodolgicas dos estudantesque se iniciam na arte de pesquisar. Assim, os conceitos e etapas depesquisa so explicados em funo daquelas preocupaes. Os diagramas, figuras e esquemas possibilitam uma melhor compreenso damatria tratada. Os exemplos tm a funo de esclarecer uma idiaou de fazer uma transio da teoria para a prtica. Tais exemplos

    foram retirados no apenas da rea de Extenso rural mas tambmdas reas de Comunicao, Educao, etc, utilizando-se, para esteefeito, as dissertaes dos alunos e depoimentos de extensionistas ede produtores rurais. Acreditamos que o manual ser til no s aospesquisadores mas tambm aos extensionistas e ao pessoal que lidacom o meio rural.

    Prof. Joaquim A. Almeida, ph. D.

    Universidade Federal de Santa Maria.Rio Grande do Sul Brasil

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    SUMRIO

    CAPTULO I

    PESQUISA E EXTENSO RURAL 5Pesquisa 5As qualidades de um bom pesquisador 8Extenso rural 9A pesquisa em Extenso rural 12

    CAPITULO IIPESQUISA E METODOLOGIA 17

    O mtodo dedutivo 17

    O mtodo indutivo 180 mtodo cientf ico 19Caractersticas da metodologia cientfica 20

    CAPTULO IIIAS ETAPAS DO PROCESSO DA PESQUISA 25

    A gnese do problema em pesquisa 26Como detectar um problema que seja relevante para a pesquisa? 26

    Seleo e formulao do problema 29A formulao do problema em Extenso rural 30Diagrama esquemtico das etapas de pesquisa 32Tipos de pesquisa 33

    CAPTULO IVALGUMAS CONSIDERAES SOBRE O MODELO CONCEITUAL 37

    Introduo 37Modelos conceituais e pesquisa 38

    Modelos conceituais e teoria 39Modelos conceituais e literatura 40B i t l it t 41

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    CAPTULO VAS HIPTESES EM PESQUISA 43

    Definio da hiptese 43Fontes da hip tese 47Tipos de hiptese 50A forma das hipteses 51As caractersticas de uma hiptese 52A formulao das hipteses 53A funo da hiptese 55A relao hiptese-teoria 550 rot ei ro cient fico para a teoria e cincia 57

    CAPTULO VIVARIVEIS INDICADORES E MEDIDAS 59

    Defin io da vari vel 60Classificao das variveis 60Tip olo gia das variveis 61Indicadores 66Medidas 67

    CAPTULO VIIDELINEAMENTO DA PESQUISA 69

    Definio 69Estratgias de pesquisa 70Caractersticas dife renciais dos modelos da pesquisa 75

    CAPTULO VIIIAMOSTRAGEM 77

    Introduo 77Proced imentos amostrais 80Consideraes gerais 87

    CAPTULO IXA OBSERVAO 89

    Definio 89O conceito 90Caractersticas de observao cient fica 90Tipos de observao 91Mtodos de observao assistemtica ... 92

    Mtodos sistemticos de observao 94A observao classificada segundo a ati tude do ob se rv ad or .. . 95

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    Observao no-par ticipante 95Observao par tici pan te 96

    Consideraes de ordem prtica 98Orientao para o pesquisador sobre a tcnica de observao 100Diretr izes para coleta de dados pela observao 105O dir io do pesquisador 111

    CAPTULO XENTREVISTA 113

    Introduo 113Defini o e conceito da entrevista 113

    Objetivos da entrevi sta na extenso rura l 114Vantagens e desvantagens da ent revi sta 114Tipos de entrevista 116a) Entrev ista informal 118b) Entrevista fo rmal 119Crit rios para um bom ro te iro 119A elaborao de um ro te iro 120Tipos de perguntas no rot ei ro 121Observaes gera is sobre o ro te iro de ent revi sta 123

    Riscos de erros na ent rev istas 127Orien tao para o ent rev istador 129Cons ideraes gera is 132Validao da amostra 134

    CAPTULO XIO QUESTIONRIO

    Definio 135Vantagens do que sti on rio 135Desvantagens do questionr io 136Question rio enviado pelo cor reio 139Consideraes especficas 140

    CAPTULO XIIESCALAS DE MENSURAO 145

    Definio 145Escala nominal 145Escala ordina l 146EscaIa intervalar 146Escala proporcional 147

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    Como medir as atitudes 150Principais tipos de escalas 151

    CAPTULO XIIIPROCESSAMENTO DOS DADOS: ANLISE, TABULAO E INTERPRETAO 159

    Introduo 159Anlise dos dados 159Tabulao dos dados 163Interpretao dos dados 169

    CAPTULO XIVRELATRIO CIENTFICO 171

    1 - Introduo: O problema e sua importncia 1722- O Corpo do relatrio 1743 - Concluso 176

    BIBLIOGRAFIA 181

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    CAPITULO I

    PESQUISA E EXTENSO RURAL

    Pesquisa

    Pesquisa uma investigao sistemtica de um problema com ofim de descobrir novos conhecimentos, princpios e fatos. A pesquisacomea sempre com a formulao de questes pertinentes a umadeterminada rea de estudo englobando diversas fases de investigao cientfica como a elaborao e teste de hipteses e inferncia deconstantes, leis e teorias baseadas nos dados empricos.

    O termo "pesquisa" utilizado para indicar um campo to amplo

    de atividades que se torna difcil s vezes identificar o seu sentidoexato. Curiosamente, em certos contextos, a palavra pesquisa associada ao status. Assim, a atividade de pesquisa tida como mais prestigiosa que a atividade de ensino e, conseqentemente, nas instituiesde ensino superior, o professor "pesquisador" se considera superior

    ao professor "docente". Diga-se de passagem, que ensino e pesquisaso atividades complementares e inerentes ao ensino universitrio.

    As definies de pesquisa so diversas. O Webster College Dictio

    nary define a pesquisa como uma busca cuidadosa, investigao crtica e exaustiva ou experimentao, cujo objetivo de rever concluses aceitas luz de fatos mais recentes. Pesquisa tambm definidacomo qualquer investigao ou estudo realizado com a finalidade decorrigir, verificar ou acrescentar novos elementos ao conhecimentoexistente. Certos autores relacionam a pesquisa aos mtodos cientficos. Para Greenwood, a pesquisa consiste no uso de procedimentoscientficos padronizados na busca do conhecimento. Ao conjuntodesses procedimentos organizados numa ordem lgica, d-se o nome

    de metodologia. A metodologia da pesquisa se refere, portanto, aosprincpios, processos e procedimentos atravs dos quais so aborda

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    0 que "no" pesquisa? Um mero recenseamento ou simplesregistro de fatos nao pesquisa, embora os dados do censo possamservir de base para inmeras pesquisas. Um projeto, cuja finalidade a de coletar dados ou informaes, unicamente, nao pode ser considerado urna pesquisa. Por exemplo, no uma investigao cientfica registrar o nmero de produtores alfabetizados ou coletar informaes sobre os produtores que adotaram novas prticas agrcolas. Tais dados constituem uma fonte primria para urna pesquisaque ser dirigida por um objetivo especfico. A mesma pode ter aforma de descrio de uma realidade ou da explicao de um problema. 0 conhecimento buscado atravs da pesquisa deve ter algode 'novo' em relao ao conhecimento existente. Isto pode significarconsolidao ou reformulao de uma teoria, teste de hipteses emoutros contextos, ou avaliao dos mtodos de trabalho.

    A funo da pesquisa a de buscar respostas para as perguntaspela aplicao de procedimentos cientficos. Pergunta-se, por exemplo, por que certos produtores adotam novas prticas agrcolas, porque h diferena de caractersticas entre os adotantes e no-adotantesou por que certas inovaes tecnolgicas na agricultura so mais facilmente aceitveis do que outras? O avano do conhecimento cien

    tfico depende das respostas aos "por qus", pela utilizao sistemtica de mtodos seguros. Portanto, no se pode conceber progresso cientfico sem a pesquisa.

    Aqui, cabe salientar certos termos que so associados pesquisa mas que tm uma conotao especfica. Exemplos: a tcnica dapesquisa um meio concreto para se chegar ao conhecimento dosfatos. As tcnicas podem variar conforme as diferentes etapas dapesquisa e a sua escolha depende dos objetivos de estudo e dos recursos disponveis. Design a montagem das condies necessriaspara realizar a pesquisa. O design inclui tcnicas e procedimentosa serem utilizados para a coleta e anlise dos dados de uma maneirasegura e eficiente. Procedimento o sistema de operacionalizar apesquisa. Experimento um procedimento que consiste em manipular os estmulos a fim de verificar a relao causai entre as variveisanalisadas. Laboratrio o espao fsico onde a manipulao dasvariveis realizada, sob condies ideais. Nas cincias comportamentais, o laboratrio no ocupa um lugar de relevncia, pela prpria natureza das variveis estudadas.

    A pesquisa deve utilizar hipteses bem elaboradas. As hipteses podem ser explcita ou implicitamente expressas conforme o tipo

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    de pesquisa. A maneira como as hipteses so elaboradas um aspecto importante que deve merecer especial cuidado e ateno do

    pesquisador.A pesquisa emprica supe uma populao onde as hipteses

    so testadas. Essa populao tem que ser cuidadosamente definida.Uma populao ou universo pode ser homogneo ou heterogneodependendo dos critrios da definio. Raramente se investiga utilizando uma populao mas, geralmente, se trabalha com uma amostragem representativa do universo.

    Para testar as hipteses preciso elaborar um instrumento. Estepode ter formas diversas mas deve adequar-se aos objetivos da pesquisa. O instrumento deve ser vlido para garantir a fidedignidadedos dados coletados. Existem vrios mtodos para coleta de dadostais como observao participante, entrevista, questionrio, escalas,testes e experimentao, para citar alguns. Cada um destes mtodospode ser usado isoladamente ou em combinao com um ou maismtodos. O essencial se obter dados seguros e fidedignos.

    Espera-se, finalmente, que o pesquisador possua conhecimentodas tcnicas relativas anlise dos dados e descrio dos resulta

    dos. Isto supe uma certa capacidade de raciocinar e relacionar as concluses e as inferncias.

    Em linhas gerais, as etapas de pesquisa so as seguintes:

    definio do problema base de dados existentes; coleta de dados relevantes; anlise dos dados e interpretao dos resultados; e relatrio, descrevendo os resultados.

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    As qualidades de um bom pesquisador

    A atividade de pesquisa requer certos atributos da partedo pesquisador.

    1 Aptido para pesquisa: consiste na aquisio de conhecimentos e habilidades necessrias para levar a bom termo

    todo o processo de investigao cientfica. O sucesso dapesquisa depende, em grande parte, da preparao intelectual do pesquisador.

    2 Atitude cientfica, isto , uma paixo pela verdade,clareza de idias, imparcialidade na interpretao e umsenso de relacionamento entre as idias.

    3 Imaginao criativa: uma imaginao disciplinada afonte de criatividade.

    4 Honestidade intelectual: considerada um pr-requisito fundamental para um bom pesquisador. Os fatos devemser expostos sem distores, sem medo e sem intenode agradar.

    5 Gostar do tema: sem dvida, atravs de um esforoconsciente, o pesquisador pode conduzir ao trmino umtrabalho que no do seu interesse, mas ser difcil que

    demonstre um esprito de perseverana para continuar apesquisa sob tais condies. 0 trabalho rende muitomais se o objetivo da pesquisa do agrado do pesquisador.

    6 Muita pacincia: porque o processo de investigaocientfica longo e desgastante. Imediatismo e superficialidade podem comprometer o bom andamento dapesquisa e a seriedade dos resultados.

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    Extenso rural

    "Extenso rural" um termo difcil de ser definido por causa damultiplicidade dos objetivos e da diversidade dos meios para se atingiros mesmos. 0 trmo, por isso, pode ter significados diferentes para diferentes pessoas, mas com base na literatura disponvel torna-se possvel estabelecer algumas caractersticas mais comumente aceitas pelos"extensionlogos".

    Extenso rural, segundo Swanson e Claar, compe-se de duasdimenses: uma comunicacional e outra educacional, sendo um pro

    cesso dinmico que consiste em levar ao produtor rural informaesteis e relevantes (dimenso comunicacional) e ajud-lo a adquirirconhecimentos, habilidades e atitudes para utilizar com eficinciaessas informaes (dimenso educacional). O objetivo final desseprocesso o de tornar o agricultor capaz de melhorar o seu nvelde vida, pela utilizao racional e efetiva dos conhecimentos, habilidades e informaes adquiridas. Neste sentido, a Extenso ruralse confunde com a educao no-formal e suas metodologias de trabalho so, de fato, empregadas em programas no especificamente

    agrcolas, tais como higiene, desenvolvimento comunitrio ou planejamento familiar. A extenso rural , portanto, um termo amplo,abrangendo as mais variadas atividades rurais, envolvendo diferentestipos de organizaes (pblicas ou privadas) para atingir diversos pblicos (homens, mulheres, jovens) com diferentes mensagens sociais.

    A Extenso Agrcola restringe o campo de ao onde a filosofiada extenso aplicada. Maunder define a extenso agrcola como."umservio ou sistema que assiste o produtor rural, atravs dos procedimen

    tos educacionais de aperfeioar mtodos e tcnicas agrcolas, aumentara produtividade e a renda, melhorar os nveis de vida e elevar os padres sociais e educacionais da vida rural", (p.3) Neste sentido, a extenso rural no pode ser equacionada com a tranferncia da tecnologia,que, alis, uma das funes dos servios da extenso rural.

    Segundo Mosher, a insistncia sobre o aspecto "educao" na definio do conceito "extenso" est relacionada com a experincia dospases onde j existia uma agricultura moderna h bastante tempo.Alis, as razes histricas da extenso rural justificam tal insistncia

    pois, desde o perodo de Renascena tem havido um esforo para relacionar a educao e os novos conhecimentos cientficos com as necessi

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    em 1873, no mbito da extenso universitria. 0 termo significava umaextenso da universidade com o ensino, funcionando fora do campus.

    As pessoas que ensinavam na universidade tambm ensinavam nas outras localidades, longe da universidade. Essa extenso nao era necessariamente agrcola; podia-se abordar qualquer assunto. A universiade levava o ensino para o lugar onde a gente vivia e trabalhava.

    O termo "extenso agrcola" nasceu nos Estados Unidos, no finaldo sculo passado. Os programas de extenso agrcola eram lanados,independentemente, em diversas partes do pas como respostas s necessidades locais e eram patrocinados por diversos rgos. Em lowa,por exemplo, a extenso agrcola se articulou em volta de dois estmu

    los. De um lado os agricultores fizeram presso sobre os colgios agrcolas estaduais para que seus professores fossem enviados a localidades rurais para ensinar diretamente os agricultores, em vez de restringir o ensino aos alunos dos colgios. Por outro lado, os produtores rurais se organizaram em associaes para discutir os problemas agrcolas e para ir busca das informaes e da assistncia. E curioso que oprimeiro agente de extenso a ser contratado por tempo integral nosEstados Unidos era pago pela Cmara de Comrcio da pequena cidadede Clinton. O interesse dos comerciantes e banqueiros era baseado napremissa de que a sua prosperidade dependia da prosperidade dos

    agricultores. Sendo assim, valia a pena visando o aumento da produo e da renda dos produtores rurais financiar um agente de extenso para ajud-los.

    O ponto de vista que Mosher quer avanar que a extenso agrcola foi introduzida nos Estados Unidos no contexto de uma agricultura que j era moderna e amplamente comercial. Os agricultores compravam os insumos, as agncias de crdito rural j existiam, quase todasas lavouras se situavam dentro do raio de dez quilmetros de uma cidade onde os produtores podiam adquirir os implementos e se abastecer de raes e sementes. Toda lavoura tinha acesso para urna estradapblica. Nestas circunstncias diz o autor a extenso agrcola podia concentrar seus esforos no aspecto "educao" da extenso, desde que os servios essenciais para a produo agrcola eram providenciados atravs de outros rgos mais competentes.

    A dimenso "educao" cedeu, paulatinamente, lugar dimenso"assistncia" no conceito e, sobretudo, na prtica extensionista, e aindamais drasticamente nos pases em desenvolvimento. Nestes pases, a

    atividade de extenso rural foi introduzida na dcada de 50 para 60,com exceo da frica, onde a mesma foi estabelecida a partir de

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    1970. A Extenso rural dos pases em desenvolvimento marcadapelas seguintes caractersticas:

    1. o modelo de extenso rural transplantado para os pases emdesenvolvimento de origem norte-americana, caracterizadopelo assistencialismo. Concorrem, para isto, de um lado, osprogramas internacionais de assistncia financiados pelosbancos e empresas americanas e, de outro lado, a falta de demanda local para servios de extenso;

    2. quando da introduo da Extenso rural, estes pases nopossuam colgios ou universidades agrcolas. Na falta de en

    sino agrcola, foi sentida a escassez do pessoal qualificado narea;

    3. Assim, quando a Extenso rural foi introduzida ela ficouligada ao Ministrio de Agricultura, cujos programas eramvoltados para a produo de exportao e no para o abastecimento interno do pas. Alm do mais, o pessoal do Ministrio de Agricultura foi designado para operar os servios deextenso rural, tendo resultado como conseqncia umanfase maior na parte administrativa dos servios do que nasprprias atividades de extenso. Com o decorrer do tempo,e sob presses tanto internas quanto externas, em muitospases do Terceiro Mundo, a Extenso rural tornou-se umrgo repassador das tecnologias dos pases desenvolvidospara os pases subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.

    Hoje, quase todos os pases em desenvolvimento possuem uma ououtra forma organizada de Extenso rural, marcada pela filosofia de

    assistencialismo e pela prtica de transferncia da tecnologia.H, ainda, uma corrente em Extenso rural que considera ser o

    objetivo da extenso o de simplesmente levar os resultados da pesquisaagrcola para os produtores rurais. Isto significa que a nica ou amais importante fonte de informao para os agricultores a pesquisaagrcola. No se considera, neste caso, a quantidade substancial deprticas agrcolas aperfeioadas, j em uso numa determinada comunidade, as quais podem beneficiar os agricultores de uma outra comunidade. No se considera, tambm, a "pesquisa" realizada pelos prprios produtores quando fazem modificaes nos implementos adquiridos para adapt-los s condies locais.

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    priados para os servios de extenso rural, os cinco, a seguir:

    1. o objetivo central da extenso a "educao" - ajudar os

    produtores a obter novas informaes e a desenvolver novashabilidades;

    2. nos pases em desenvolvimento - onde existe um "vaziorural" - tarefa da Extenso rural atender no s a parte deproduo mas tambm de comercializao;

    3. importante que a Extenso rural leve os "resultados dapesquisa" aos produtores, mas a mesma deve estar atentapara o desenvolvimento de tecnologias locais;

    4. a extenso rural deve treinar o agricultor no processo de"tomada da deciso". 0 extensionista no impe uma determinada linha de ao mas coloca considerao do produtoras vrias alternativas para que o mesmo possa escolher aquelaque melhor lhe convier;

    5. no contexto da economia de subsistncia, o extensionistaexerce o papel do "companheiro e amigo", encorajando oprodutor nos momentos difceis, assistindo-o na obteno docrdito e treinando-o no manuseio de novas tecnologias.

    Em resumo, a Extenso rural desenvolve sua ao na rea de produo e bem-estar social do produtor, mas pretende ser tambm umacincia, com seu objeto formal e seus mtodos de anlise.

    A pesquisa em Extenso rural

    A Extenso rural enquanto cincia entra na categoria das cinciassociais e os mtodos de pesquisa que mais se utilizam em extensorural so geralmente emprestados das cincias sociais. A peculiaridadeda pesquisa nesta rea reside mais no tipo de problemas abordados enao tanto no arsenal de mtodos e instrumentos disponveis paraabord-los. Por conseguinte, quanto maior for o nmero de problemas estudados dentro das normas cientficas, maior ser o avano dacincia de extenso rural e maior ainda ser sua maturidade e autonomia como disciplina.

    De fato, j tempo de a Extenso rural definir o seu campo de

    abrangncia e assumir suas metodologias a fim de aprofundar seu conhecimento de fatos e princpios concernentes realidade extensionista. t t b d b f t hi t i d t

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    rural desde os seus primrdios at os nossos dias. A Extenso rural,como qualquer outro ramo da cincia, teve seus pioneiros e seus pensa

    dores; correntes ideolgicas diversas influem em sua ao. Na sua tentativa de ser aceita como cincia dever adotar uma viso mais globale universal, tentar descobrir as grandes constantes do comportamentoextensionista, sem esquecer as particularidades locais e contextos regionais. Passada a fase inicial de acumulao dos dados, a extensorural precisa determinar suas reas especficas de ao e reflexo, observar as constantes atravs de comparaes transculturais, realizar estudostericos interligando hipteses indutivas, trabalhar sobre os dadosde arquivos para estudar a evoluo e as ideologias subjacentes ao

    extensionista para, finalmente, chegar a formular as "mini-teorias" -como diz Merton - explicativas dos fenmenos da extenso rural e,tambm, preditivas dos mesmos. Este esforo tem que ser realizadocom seriedade, perseverana e objetividade, isto , com a utilizaode tcnicas e mtodos vlidos, seguros e fidedignos.

    Durante bastante tempo, ainda, a pesquisa emprica e descritivaser a principal forma de investigao cientfica em extenso rural.Isto se explica facilmente pelo seu passado. A extenso rural foi origi

    nariamente concebida como uma ao que consistia em levar aos produtores conhecimentos novos em matria da agricultura e tecnologiasmais adaptadas ao nvel cognitivo e aspiracional do produtor rural.A transferncia de conhecimentos e tecnologia se fazia dentro dos planos de ao ou programas. No incio, esses programas eram executadosnum contexto onde o produtor era um receptor passivo. Frente aosproblemas, porm, a extenso rural sentiu a necessidade de levar emconsiderao as situaes existenciais no s do produtor rural comoindivduo e elemento privilegiado da ao extensionista, mas tambm

    da sua famlia e da sua comunidade. Assim, para reforar a eficciados programas da extenso, foi necessrio conhecer previamente oestgio de desenvolvimento da populao, o passado e o presente dasua situao agrcola e dos sistemas de produo, enfim, o conjuntoaspiracional do homem do campo. Atravs do esforo sistemticode pesquisa, a extenso rural conseguiu determinar os meios mais eficazes de persuaso, detectar os pontos de estrangulamento e estudaras crenas mais suscetveis de gerar atitudes de resistncia mudana.

    Alm do mais, a extenso rural hoje uma organizao polticabem estruturada. Na maioria dos pases em desenvolvimento ela parte integrante dos planos nacionais do desenvolvimento rural do

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    agricultura. Nos pases desenvolvidos a ao da extenso, emboradiscreta, indispensvel para a reabilitao de zonas rurais carentes e

    em declnio. As universidades e escolas agrcolas estudam, investigame praticam a extenso. Os extensionistas locais procuram estmulosmais eficientes e tcnicas de avaliao mais satisfatrias. A busca, sejapela ao seja pela reflexo, assume propores maiores a medida quese acumulam perguntas sem respostas, da a necessidade de pesquisarsempre. Por exemplo, preciso investigar se os mtodos tradicionaisda extenso ainda garantem resultados esperados, quais dentre osmesmos respondem melhor segundo diversos contextos regionais,quais se tornaram obsoletos devido ao avano dos meios de comuni

    cao de massa, ou se eles devem ser considerados como tendo validadeeterna e transmitidos de uma gerao a outra como algo sagrado. preciso estudar tambm se os mtodos existentes se adaptam snecessidades e interesses do agricultor considerando-se os diferentespadres culturais.

    Isto indica que a pesquisa indispensvel para o desenvolvimento e progresso da cincia de extenso rural cuja funo a de esclarecer, explicar e predizer problemas da vida rural bem como a de antecipar ou sugerir solues adequadas.

    Mencionou-se o termo "sistematizao" do conhecimento. Sistematizao um processo importante no desenvolvimento da cincia.O que significa "sistematizao do conhecimento" em extenso rural?Como foi dito, anteriormente, para a extenso rural ultrapassar oestgio de simples atividade e coleta de informaes e ser aceita comocincia, a pesquisa deve desenvolver seus prprios conceitos, princpios e teorias que permitam estabelecer uma logicidade no raciocnioextensionista e gozar de uma capacidade de predio de eventos dentrodo campo de abrangncia da extenso rural. Para isso, os estudiosos e

    pesquisadores da rea de extenso rural devem se familiarizar com ospostulados tericos das disciplinas como a Sociologia, Educao, Comunicao, Psicologia e outras disciplinas afins e tentar adapt-los,na medida do possvel, extenso rural. Numa etapa ulterior, a cinciade extenso deve poder formular suas prprias teorias baseadas nasgeneralizaes das pesquisas empricas. Assim, a teoria teria a duplafuno de explicar e de predizer.

    Na prtica, a investigao cientfica comea pela formulao de umproblema e este pode surgir de uma dificuldade ou de uma curiosidade. Um exemplo simples: observa-se que o pessoal da extenso ruralno atinge o nvel ideal de rendimento no seu trabalho de campo.

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    O problema: como melhorar a eficincia profissional do pessoal da Extenso rural? Para obter maior preciso e clareza, vrias perguntas

    devem ser feitas. O que significa "eficincia profissional"? Como diferenciar o eficiente do ineficiente? Quais so os critrios para medir o"nvel ideal de rendimento" no caso do extensionista? Quais os fatores relacionados com a baixa "performance", quais os sintomas maisevidentes? etc.

    O primeiro esforo na formulao do problema a clareza dosconceitos. Os termos tcnicos devem ser definidos. As definies dadaspelos dicionrios servem como orientao, contudo, preciso recorrer

    aos livros especializados, consultar a literatura pertinente e ler os trabalhos de pesquisa j realizados sobre o assunto. A definio dostermos importante para que se saiba o sentido exato que se d aosmesmos no mbito da pesquisa e para que haja uma comunicaoentre o autor e o leitor.

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    CAPITULO II

    PESQUISA E METODOLOGIA

    A pesquisa foi definida como uma busca do conhecimento. No setrata de urna busca que gere uma verdade infalvel mas uma busca parase chegar ao esclarecimento de dvidas, soluo de problemas, resposta s questes, quando estas despertam o interesse ou a curiosidade.Esta indagao da verdade, que engloba uma srie de etapas, regidapor normas e, o conjunto de normas, instrumentos e procedimentosutilizados com o intuito de descobrir a verdade dos fatos conhecidocomo "mtodo" e a cincia que estuda os mtodos da investigao

    cientfica chama-se "metodologia".Em termos gerais, distinguem-se trs tipos de mtodos: o mtodo

    dedutivo, o mtodo indutivo e o mtodo cientfico. Enquanto os primeiros dois so considerados como mtodos tradicionais, o ltimo chamado moderno, e tambm o mtodo mais empregado nas cinciassociais e na cincia da extenso rural.

    O mtodo dedutivo

    Este mtodo, que nos conhecido atravs da filosofia clssicagrega, um processo mental que parte do geral para o particular sendoexpresso sob forma de um silogismo que consiste de trs premissas:a maior, a menor e a concluso. A premissa maior uma afirmaouniversal indiscutivelmente aceita por todos. A premissa menor umcaso particular da premissa maior. Eis um exemplo clssico:

    1 ) Todos os homens so mortais2) Scrates homem premissas3) Scrates mortal concluso

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    Aristteles, o principal proponente desse mtodo, insistia que aspremissas tinham de ser verdadeiras e fundadas na observao direta

    dos fenmenos da natureza. No se podia inferir verdades das premissas falsas. Mais tarde, as afirmaes bblicas, pseudo-inspiradas, oumesmo pronunciamentos humanos ocupavam o lugar da premissamaior e as concluses nem sempre correspondiam s descobertas cientficas. Por exemplo, a afirmao de Galileu de que a terra girava emtorno do sol (e no o contrrio como se deduzia dos textos da bblia)foi por muitos sculos condenada como heresia e o autor mereceu apena da morte.

    O mtodo indutivo

    O processo indutivo do racioncnio, ao invs do mtodo dedutivo,comea pela coleta de fatos especficos, que organizados conformeas leis da induo permitem chegar a certas inferncias e generalizaes. Procede-se da seguinte maneira: primeiro, observa-se a ocorrncia de certos fatos e as causas provveis que expliquem essa ocorrncia.As explicaes nao-verificadas so as hipteses. Segundo, a partir da

    hiptese tenta-se deduzir uma srie de conseqncias possveis relacionando os fatores explicativos com os fatos observados. Terceiro,escolhe-se um mtodo cientfico para observar a relao causa-efeitoou a sua probabilidade. Se a relao se verifica, a hiptese considerada vlida, condicionalmente. No caso contrrio, a hiptese invlida, isto , sob tais condies de observao tal fator no explica o fatocuja explicao se procura.

    O raciocnio indutivo pode ser ilustrado pelo seguinte exemploda agro-qumica:a descoberta de um pesticida.

    Observa-se a ocorrncia de sintomas da doena nas plantas; Indaga-se sobre os provveis fatores que se relacionam como

    causas do fenmeno observado; Deduz-se as conseqncias para cada causa provvel; Recria-se condies ideais para solar o agente causador da

    doena; Das diversas hipteses, uma se conf irma, isto , explica a

    ocorrncia do fenmeno;

    Percorrendo um roteiro idntico, procura-se um antdoto parao agente causador da doena. O antdoto testado no labo i d li d i li d

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    Para que a ao do pesticida seja efetiva preciso que as condiesdo laboratrio sejam idnticas s condies naturais do comportamento

    do agente causador da enfermidade.As pesquisas em extenso rural mostram que a abordagem clssica

    do mtodo dedutivo pouco utilizado em parte por falta de um quadroconceitual especfico para a rea. O pesquisador da extenso rural sesatisfaz com generalizaes modestas de aplicao restrita. Existe jmaior sensibilizao pelas teorias desenvolvidas em outros ramos cientficos como a sociologia, educao, psicologia, comunicao, informtica, e outros. No seu estgio atual, a pesquisa em extenso segue principalmente as normas da lgica indutiva.

    O mtodo cientfico

    Esse mtodo pode ter duas formas: quando a deduo precede a induo e quando a induo precede a deduo e utilizado nas seguintes condies:

    a) quando a hiptese no pode ser verificada

    b) quando possvel relacionar sistemtica e logicamente umasrie de indues e da deduzir leis e teorias.c) quando, devido a dificuldades ou por falta de informaes su

    ficientes e fidedignas sobre o fenmeno pesquisado, considera-seimportante confirmar os resultados indutivamente inferidos porum estudo dedutivo independente luz do conhecimento existente ou testar empiricamente uma concluso dedutiva.

    Exemplos que ilustram a aplicao do mtodo cientfico:

    I) Da anlise dos dados primrios ou secundrios, uma hiptese inferida que ulteriormente testada.

    II) Relaciona-se a hiptese X com a hiptese Y e se deduz a hiptese Z que posteriormente dividida em subipteses. Essas so,por sua vez, submetidas anlise emprica.

    opinio corrente entre os pesquisadores de que no possvelconfiar exclusivamente seja no mtodo dedutivo seja no mtodo indutivo quando se trata de estudar fatos sociais. A cincia da extensorural difere neste sentido das cincias biolgicas ou exatas como a agro

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    envolve a pessoa humana com o seu nvel de conhecimento, suas crenas, suas aspiraes e a natureza humana tem aspectos previsveis e

    aspectos que mudam segundo os condicionamentos de tempo e lugar.Da, a metodologia cientfica empregada no estudo dos problemasda extenso rural, utiliza, de um lado, os princpios das cincias especulativas que a ajudam na formulao de postulados tericos e, de outro lado, as tcnicas e procedimentos das cincias exatas que garantem uma relativa objetividade.

    Caractersticas da metodologia cientfica

    1 Objetividade: a regra de objetividade foi enunciada porDurkheim e consiste em considerar os fatos, eventos e opinies como"coisas" distintas das opinies e personalidade do pesquisador. Um mtodo objetivo quando os resultados obtidos atravs da sua aplicaoso, em princpio, independentes do pesquisador que o aplica, de maneira que duas pessoas estudando o mesmo fenmeno pela utilizaodo mesmo mtodo devem chegar a idnticas concluses. Vrios fatorescomo a idade, a posio social, as opinies, podem influir na apreensoviesada dos fatos pelo pesquisador.

    2 Generalizao: teoricamente, as concluses de um estudo devem ser de aplicabilidade universal. Nas cincias sociais, porm, raramente atingida uma universalidade completa. A generalizao significa que as concluses so vlidas condicionalmente, isto , dentro deparmetros preestabelecidos. Por exemplo, a afirmao de que osprodutores que olham o programa dominical de televiso "G loboRural" so abertos inovaes tecnolgicas, devem ser entendidacom restries: tipo de produtor, seu nvel scio-econmico, educa

    o, a viabilidade econmica, o crdito, etc, contudo, um mtodoque no garanta a generalizao dificilmente poder ser consideradoum mtodo cientfico.

    3 Confiabilidade: um mtodo confivel na medida em que asua repetio, mesmo por outros pesquisadores, produza resultadosidnticos, dadas as mesmas condies de observao. Em outros termos, os resultados obtidos pelo uso de um determinado mtodo soconfiveis se os mesmos so independentes do pesquisador e doutrosfatores contingentes. A confiabilidade do mtodo depende primariamente da sua exatido ou preciso. Se, por exemplo, as perguntasso vagamente formuladas de modo que o indivduo reage diferente-

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    mente segundo as ocasies em que so feitas as mesmas perguntas, aconfiabilidade e a reaplicabilidade do mtodo torna-se duvidosa. 0

    problema de confiabilidade est tambm relacionado com o de subjetividade no sentido do entrevistador enfatizar discriminadamente eassim provocar respostas diferentes. Evita-se tais ameaas confiabilidade por uma maior padronizao do mtodo.

    4 Predio: os resultados confiveis e objetivos de um estudo levam a poder predizer eventos futuros com relativa segurana. O graude segurana na predio maior nas cincias exatas do que nas cincias sociais. Contudo, com o auxlio de mtodos estatsticos e doutrastcnicas possvel predizer que "sob tais circunstncias tal fenmeno

    ocorrer". Pode-se prever, por exemplo, que uma prtica agrcolainovadora simples, compatvel culturalmente e vivel economicamente ter maiores chances de aceitao da parte dos produtores do queuma prtica complexa, incompatvel no contexto cultural e dispendiosa em termos de recursos financeiros.

    5 Observao: o pesquisador da realidade rural no deve partirde pressupostos fictcios e imaginrios, mas da observao direta dosfatos. Para Goode e Hatt a cincia comea e termina pela observao.

    A observao, no mtodo cientfico, tem algumas caractersticas quevale a pena considerar:

    Os fatos em extenso rural no so fatos isolados mas existeminterligao e entrelaamento entre eles. Os fatos sociais sofenmenos totais (Mauss) profundamente conexos (Comte) destacando-se o carter da unidade e da solidariedade ntima entreos elementos (Malinowski). Portanto, preciso no desvincularo fato do seu contexto.

    Na observao dos fenmenos preciso descobrir a estrutura eos vrios nveis em que uma determinada realidade est integrada. H que se descobrir tambm uma infra-estrutura econmica e uma superestrutura ideolgica, pois, entre ambas existeminfluncias recprocas.

    Na explicao, os fatos sociais devem ser apreciados no seu conjunto procurando-se a sua causa eficiente, os seus antecedentese a sua funo.

    Na prtica, porm, os mtodos acima descritos se encontram e semisturam na elaborao de um trabalho cientfico. De fato, torna-sedifcil limitar-se a um mtodo nico a medida que a cincia avana com

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    leis e com a formulao de novas teorias. A utilizao ou escolha de ummtodo tem a ver como o tipo do problema abordado e com a etapa do

    processo da pesquisa. Assim, por exemplo, o mtodo dedutivo maisadequado para as partes tericas e interpretativas do trabalho cientfico, enquanto que o mtodo indutivo serve melhor ao propsito da anlise dos dados. A metodologia cientfica integra essas abordagens comas tcnicas e procedimentos especficos. Portanto, seria intil dizer queo pesquisador em extenso rural deva preferir ou adotar de prefernciatal ou qual mtodo de pesquisa. Em termos gerais, a escolha do mtodopode valer-se das seguintes consideraes:

    a) Tipo do problema

    b) Conhecimento disponvel sobre o problemac) Tipo de dados a obterd) Campo da generalizao ou aplicao dos resultadose) Qualidade de inferncias.

    O pesquisador , portanto, livre na escolha de um mtodo ou nautilizao de vrios mtodos - aquilo que convm melhor para o tratamento do seu problema. bom lembrar que o carter cientfico da investigao se define pela segurana e acuidade dos mtodos empregados.Qualquer que seja o mtodo, o que interessa ao pesquisador o produ

    to final que o conhecimento ou a cincia.A cincia definida como um conjunto sistemtico de conheci

    mentos ordenado de uma maneira lgica e coerente. O conhecimentocientfico em extenso rural baseado nas observaes empricas queso verificveis e podem ser replicadas. Essas observaes interligadas,organizadas coerentemente e elevadas a um nvel abstrato de reflexocom o objetivo de explicar a realidade extensionista mais abrangente- a cincia da extenso, ou o conhecimento cientfico da extensorural.

    Neste contexto, h que se distinguir o conhecimento emprico doconhecimento cientfico. O primeiro se adquire pela experincia cotidiana, pelo bom senso e pela reflexo. O segundo se obtm pelo rigorna utilizao de mtodos. O conhecimento emprico fragmentrio eparcial e o conhecimento cientfico , ao contrrio, mais consistentee global e caracteriza-se por:

    a) seu objetob) seu fim

    c) seu tipo de explicaoa) por seu objeto: a cincia como foi di to um conhecimento

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    exato, objetivo e comunicvel dos fatos. Os fatos podem ser externseinternos. Os fatos externos so fatos exteriores ao. homem os quais po

    dem ser expressos simbolicamente e so suscetveis de observao direta; por exemplo: a dieta alimentar ou a moradia do produtor. Os fatosinternos so os que revelam tendncias, aspiraes, motivaes, atitudes, opinies e outros elementos subjetivos do indivduo, sendo observados indiretamente seja por via de fatos externos indicadores, sejapor via de comunicao com os prprios agentes. Exemplo: a atitude(ato interno) do produtor rural em relao ao da extenso rural,

    exemplos:

    fatos externos indicadores: aceitao do extensionista, visitasao escritrio local, participao das reunies, clubes, dias decampo, adoo das prticas agrcolas,...

    fatos internos sero conhecidos entrevistando diretamente oprodutor sobre o que ele pensa, sente, acha,...da extenso rural.A anlise mostrar qual a atitude.

    b) por seu fim: o conhecimento cientfico no se limita a descreveros fatos mas ordena e relaciona os mesmos entre si e a partir do conhecimento das relaes estabelece constantes e leis. Portanto, o conheci

    mento cientfico engloba uma parte descritiva, uma parte analticae uma parte inferencial. Exemplo: estudo de uma comunidade rural.

    estgio descritivo: rea, recursos naturais, dados demogrficos, densidade do habitat, tipo das moradias, tamanho da propriedade, produo agrcola...

    estgio anal tico: relao entre educao e adoo das inovaes; ou entre a produo e o nvel de vida.

    estgio inferencial: os pequenos produtores rurais migram para

    a cidade por falta de assistncia tcnica e crediticia adequadas suas necessidades como motivos de sade, educao dos filhos e conforto material. Ou ainda, a mobilidade social na cidade mais fcil de ser efetivada do que no campo.

    c) Pelo tipo de explicao: a cincia no se limita a estabelecer a legalidade dos fatos ou descrever a sua ocorrncia mas investiga as causasdeterminantes da ocorrncia dos fatos. Por que certas inovaes agrcolas tem maior aceitao entre os produtores? Por que certos produtoresse expem ao risco enquanto outros so mais resistentes mudana?

    Resumidamente: quando se conhece o fato; quando se estabelece a relao entre o fato e suas explicaes provveis; quando se comprova

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    generalizaes abrangentes... o conhecimento resultante desse processo cientfico. E ainda quando se relaciona esse conhecimento com os

    conhecimentos existentes; e assim se amplia o seu campo de aplicaoformulando teorias explicativas temos a Cincia.

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    CAPITULO III

    AS ETAPAS DO PROCESSO DA PESQUISA

    Na anlise de um trabalho de pesquisa se distinguem as seguintesetapas principais:

    1. Preparao terica: estruturamento conceitual do tema (modeloconceitual) e a formulao de perguntas relevantes.

    2. Plano de pesquisa ou design: parte tcnica duma investigaocientfica. Inclui as fases de operacionalizao dos conceitos, amostra

    gem e mtodos do levantamento de dados tais como escalas, ndicese questionrios.

    3. Execuo ou a pesquisa de campo: resume-se coleta de dados.

    4. Interpretao dos resultados: anlise de dados tendo em vistaresponder s perguntas formuladas inicialmente.

    5. Concluses:tericas, estabelecendo relao entre as observaes dos resultados e as teorias existentes.

    prospectivas, referindo-se a novos temas a serem pesquisadosou hipteses a serem testadas.prticas, incluindo sugestes ou alternativas de soluo para oproblema estudado.

    As diferentes partes que compem um trabalho cientfico so interdependentes existindo entre elas uma concateno lgica (indutivaou dedutiva) e uma complementariedade onde as primeiras etapas preparam as subsequentes ou as modificam em funo da descoberta de

    elementos novos, ou as conduzem a um nvel de abstrao mais elevado. Seja o que for, nunca se deve perder de vista, no incio de cadaetapa do processo de pesquisa a estrutura bsica do trabalho e o con

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    quisador a condio sine qua non para um bom funcionamento dapesquisa. Dificuldades de vrios gneros e espcies, previsveis e mesmo

    imprevisveis, surgiro no processo de investigao mas o pesquisadorpoder contorn-las facilmente se estiver habilitado tecnicamente.

    A gnese do problema em pesquisa

    Nos manuais da metodologia de pesquisa, geralmente se omite aquesto do problema. s vezes, aparece um ou outro pargrafo referente a essa questo no captulo que descreve a teoria das hipteses. Essalacuna tem a sua explicao. Qualquer problema pesquisvel envolve

    dois componentes essenciais: o contedo e o mtodo. O contedo fornecido pelas disciplinas como a sociologia rural, comunicao, difuso ou extenso rural cujos objetivos principais so de articular etransmitir conhecimentos tericos especficos s respectivas reas.A funo da metodologia , antes de tudo, a de habilitar os que se interessam pela atividade de pesquisa no manuseio de tcnicas cientficascujo valor est suficientemente comprovado. Portanto, quando se discute aqui o problema em pesquisa, no significa que se vai abordarquestes especficas ou fornecer uma lista de assuntos relevantes rea

    da extenso rural, mas descrever algumas normas que podem servirde guias para determinar e definir problemas pesquisveis.

    Identificar um problema que merea ser investigado uma dasmaiores dificuldades, sobretudo quando se trata de iniciantes na artede pesquisar. O extensionista que se inicia na arte de pesquisar vai sesentir, ao menos momentaneamente, fecundo em idias mirabolescase projetos ambiciosos para descobrir que alguns carecem da relevncia desejada e outros so complexos demais para o seu nvel de conhecimento. Segundo Mills, o processo de pesquisa se inicia muito antes

    da elaborao do projeto propriamente dito, pois o mesmo comeano fichrio dos autores, nos apontamentos das leituras e nos resumosdos trabalhos j realizados.

    Como detectar um problema que seja-relevante para a pesquisa?

    De acordo com a teoria analtica da cincia, a seleo do problema arbitrria, isto , a mesma no determinada pela formao bsi

    ca do pesquisador. Sendo assim, nada impede que um agrnomo cultive interesse pelos problemas scio-culturais de uma comunidade ou

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    que um socilogo se dedique ao estudo de problemas agrrios ou ambientais. 0 critrio fundamental nesse caso o interesse do pesquisa

    dor ou da instituio financiadora do projeto. 0 interesse por um determinado tema pode surgir a partir da leitura de teorias existentesonde se descobrem "vazios" ou dvidas, ou da experincia engajantedo pesquisador numa comunidade ou ainda das suas elucubraesmentais onde se confrontam os fatos, as experincias e os postuladostericos.

    Para a teoria analtica da cincia, a natureza do problema, na suafase inicial, nao precisa ser muito clara e evidente. Haver um proces

    so de maturao na prpria seleo do tema, na escolha de um aspectorelevante ou na sua determinao final. O que interessa nessa fase uma leitura intensa e dirigida como tambm uma troca constante deidias com especialistas e colegas. A leitura servir como base para adefinio terica do problema, suas interligaes no contexto maiore seus limites quanto ao "vazio" a ser explorado. A troca de idiaspermitir ao pesquisador externalizar-se, colocar uma ordem nos conceitos assimilados, explicar a si mesmo o contedo do problema,testar a sua capacidade de se exprimir corretamente, convencer-see convencer os outros da importncia do problema argumentado logicamente e saber aceitar com descriminao, mas respeito, as crticasfeitas.

    Quanto s questes estudadas, so destacados temas de ordemterica relacionando comportamento com normas e valores. O estudo do problema orientado mais no sentido da sua compreenso doque da sua aplicao prtica. Para melhor explicitar este ponto sofeitas trs consideraes: primeiro, a escola analtica d preferncia aos

    assuntos da pesquisa que emanam da teoria versus temas que surgemda observao direta da realidade. Segundo, presume-se que existe umacuriosidade abstrata e reflexiva de "conhecer o desconhecido" de"descobrir a natureza das coisas", de desvendar as estruturas dos mecanismos sociais. Terceiro, o interesse ltimo do estudo de um problema social de explicar a realidade social, descobrindo suas leis e mecanismos e, por via da explicao, sugerir alternativas para ao. A aopode ser de aplicao imediata ou pode aparecer melhor articuladanas etapas subseqentes. A falta de uma estratgia de ao resultanteda discusso terica significa ou que a questo era trivial o que o problema no era um problema merecedor de tanto esforo intelectual.

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    vncia quando a rea de estudo nao oferece um quadro terico abrangente.

    A escola dialtica mantm a postura de que o assunto da pesquisa determinado pela preparao intelectual do pesquisador e pela sua insero na sociedade. Conseqentemente, e em princpio, a escolha de umtema para investigao no arbitrria. De acordo com a posio destaescola, o processo cientfico tem como finalidade a anlise crtica dasociedade. A medida dessa crtica ou o seu ponto ideal de refernciatem que ser achado objetivamente na prpria realidade social. As metas, os valores e normas no so algo abstrato e universal mas emergemda conscincia social coletiva. Neste sentido, o pesquisador tem um

    ponto seguro de referncia para o seu trabalho (embora seja difciltraduzi-lo em prtica) como tambm uma norma geral e consistentepara formular questes relevantes. Tal norma consistiria em saber quala diferena entre o que e o que deve ser, suas causas, suas razes histricas, suas discrepncias e suas possibilidades de mudanas de "o que" para "o que deve ser".

    A diferena entre as duas escolas pode ser resumida a dois itens:incio e fim.

    Incio

    Fim

    Analtica

    Teoria abstrata

    Explicao

    Dialtica

    Realidade social

    Ao

    Confrontando o essencial das duas escolas, pode-se dizer que na escolha de um tema entram em jogo trs elementos.

    a) Os interesses particulares do pesquisador que podem ser de natureza acadmica e no-acadmica.

    b) Os interesses dos grupos sociais onde o pesquisador est inserido.

    c) Os interesses da cincia que podem abranger um campo muitovasto desde a validao das hipteses at a elaborao dasteorias.

    Estes interesses no so mutuamente exclusivos mas, ao contrrio,

    so convergentes no processo da pesquisa. Assim, se o pesquisador porqualquer motivo, no estiver pessoalmente interessado no assunto,f l lh d d i i di l i i id d A f l

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    ta de conhecimentos tericos e metodolgicos influir negativamentena qualidade do trabalho. E, na ltima anlise, todo trabalho cientfi

    co deve reverter em benefcio do grupo social.

    Seleo e formulao do problema

    A escolha do problema e sua elaborao constitui a fase mais importante e tambm a mais difcil do processo da investigao cientfica.Na rea da Extenso rural existe uma gama interminvel de assuntospesquisveis mas a dificuldade se chegar a decidir sobre"o problema".

    Embora qualquer assunto pesquisvel englobe uma questo ou umasrie de questes, nem todas se qualificam para um estudo cientfico.Merton distingue trs componentes na formulao do problema

    da pesquisa:

    I) a questo in ic ial :o que se quer saber ou conhecer?II) conceitualizao: por que se quer conhecer? quais so os inte

    resses em jogo? porque uma questo demanda resposta?Il l) explicaes possveis: resposta s perguntas especficas egerais.

    Isso significa que o trabalho da pesquisa propriamente dito comea quando se tem uma idia sobre a validade e viabilidade do problema em extenso. Para isso, os seguintes critrios devem ser levados emconsiderao.

    o estudo em questo contribui para aumentar o acervo de conhecimentos existentes?

    o estudo tem uma abrangncia prtica? a quem se destinam os resultados do trabalho? quem so o pro

    motor e os consumidores? o pesquisador est suficientemente preparado? - sua experin

    cia de campo, seus conhecimentos tericos, seu interesse, etc? at que ponto o estudo vivel em termos de tempo, espao,

    custos e recursos diversos? a questo a ser investigada uma questo cientfica?

    Uma questo cientfica quando:

    1 ) descreve a relao entre, pelo menos, dois fenmenos.exemplo: educao e alimentao; treinamento e motivao

    2) a relao entre os fenmenos pode ser testada mediante umainvestigao sistemtica, controlada e crtica.

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    mente cientfica. Porque, de um lado, a possibilidade de verificaose manifesta muitas vezes no processo de pesquisa e, doutro lado,

    sendo o processo dispendioso, a investigao no ser realizada seno houver esperana de encontrar respostas para as perguntas.

    Como proceder? Antes da formulao provisoria do problemarecomenda-se ter em conta as seguintes consideraes:

    a) Analisar o que conhecido sobre o tema atravs do exame daliteratura disponvel, entrevista com os especialistas na matria,documentao histrica, etc.

    b) Observar as deficincias nos dados ou nas explicaes.c) Determinar as incongruncias, contradies, pontos contro

    vertidos e concluses ainda no verificadas.d) Anotar as sugestes feitas no final do livro, conferindo as

    reas mais exploradas e os aspectos menos trabalhados.

    A formulao do problema em Extenso Rural

    Em geral, os estudos em Extenso rural se orientam para soluo deproblemas especficos. A experincia demonstra que, no incio da ati

    vidade de pesquisa, o estudante tenta explorar uma rea do seu interesse, onde existe a possibilidade de realizar vrias pesquisas. Tomemospor exemplo o assunto do "impacto da adoo da tecnologia agrcola".Qual tecnologia agrcola? Tecnologia geral ou especfica? Impacto sobre que? Condies de vida, renda, ou sobre o sistema de valores doprodutor? Outro tema familiar em extenso rural o treinamento damo-da-obra rural. O que se entende por treinamento? Treinamentona rea tcnica ou na rea do bem-estar social? Treinamento sobretodo o processo de cultivo ou sobre uma prtica especfica? Por que

    nesta e em uma outra? Treinamento no planejamento rural, ou no domnio de comercializao? A deciso de estudar esse tema se deve aqu? Mo-de-obra rural: qual? masculina? feminina? adultos, crianas?Pequenos, mdios ou grandes produtores? Treinamento para melhoraro cultivo de uma variedade existente ou de uma cultura recentementeintroduzida? Qual seria o grau de aceitao da parte da populaorural? Quais os possveis obstculos? qual a melhor poca para treinamento? etc. etc.

    Os dois exemplos acima citados indicam que h inmeras perguntas a serem levantadas dentro de um determinado assunto ou rea de

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    interesse e que cada uma dessas perguntas ou uma srie delas pode constituir objeto de trabalhos cientficos. Da, a primeira preocupao naarticulao do problema a de escolher uma pergunta estratgica,isto , aquela que satisfaa os critrios da cientificidade e da viabilidade. Uma vez selecionado, o problema merece toda a ateno do pesquisador em termos de tempo, interesse e flexibilidade intelectual.Isso no significa que no decorrer da investigao se descubra que oproblema - vlido e vivel - j foi suficientemente abordado nas pesquisas anteriores. Frente a tais situaes, o pesquisador ter de buscaraspectos no-explorados ou optar por outro tema mais "manejvel".

    A formulao do problema, em resumo, envolve as seguintes etapas:Quando o problema percebido, o primeiro passo o de delimit-lo;delimitar o problema significa descrev-lo minuciosamente sob todosseus aspectos e ramificaes. Nesta etapa deve-se ampliar o escopo daquesto tratando exaustivamente todos os quesitos surgidos. O segundo passo o de reduzir o tema ao seu tamanho operacional, o que consiste em diferenci-lo dos outros problemas afins. O terceiro passo secaracteriza pela definio mais detalhada do problema envolvendo adescrio dos conceitos, a anlise do problema dentro do contextoterico mais amplo e a sua relao com a situao existencial.

    Identificado o problema a ser tratado, o pesquisador precisa estabelecer um programa sistemtico de leitura. Esta tem a funo de esclarecer os conceitos e sobretudo de evitar repeties desnecessrias.Dessa reviso da literatura surgiro algumas hipteses, uma abordagemmetodolgica para sua testagem e um quadro conceitual adequadopara a interpretao dos resultados.

    Portanto, as fases subseqentes de um projeto de pesquisa so:

    formulao de hipteses

    operacionalizao da pesquisa, que envolve:seleo da populao da populao ou amostradeterminao das tcnicas para coleta de dados.

    anlise e interpretao dos dados concluses e generalizaes perspectivas tericas e sugestes prticas.

    As diferentes etapas da pesquisa podem ser visualizadas no diagrama seguinte:

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    Diagrama esquemtico das etapas de pesquisa

    Problema

    Formulao doproblema

    Reviso daliteratura

    Abordagemmetodolgica

    Coleta de dados

    vivncialeituraopinio dos especialistas

    delimitao do problemadefinio dos conceitoshiptese de trabalho e objetivos

    maior explicitao dos conceitosrelao com a teoria existente

    formulao de hipteses verificveis

    populao amostragemtcnicas para coleta de dadosinstrumentos para coleta de dados

    operaes de campoexecuo da pesquisa

    Anlise dos dados

    Concluses e generalizaes

    Sugestes para pesquisa e ao

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    Tipos de pesquisa

    Um tema ou problema pode ser abordado de vrias formas, dependendo da natureza do objeto da pesquisa e do grau do conhecimento disponvel. Para comear, pode-se distinguir os seguintes tiposde pesquisa.

    a) Quanto ao objeto de pesquisa: pesquisa bsica (problemas tericos) pesquisa aplicada (problemas prticos)

    b) Quanto ao grau do conhecimento: pesquisa descritiva

    pesquisa explicativa

    Pesquisa bsica: tambm chamada pesquisa pura ou fundamental, apesquisa bsica se orienta para o desenvolvimento de um corpo de conhecimentos cientficos em uma determinada rea. Geralmente, apesquisa pura idealizada como uma forma obscura e inacessvel e oprprio conceito refora essa impresso. De fato, trata-se de uma forma mais abstrata da investigao cientfica cuja finalidade a de apro

    fundar os conhecimentos existentes e tentar compreender as questesmais pertinentes da nossa existncia, que estas sejam de naturezabiolgica e fsica ou de ordem econmica e social. A pesquisa bsica importante para a consolidao terica de qualquer disciplina. Istopode ser alcanado de diversas formas, por exemplo, revisando asteorias antigas e relendo-as luz de situaes novas ou adaptandoteorias de um campo da cincia para outro, ou ainda ampliando ereforando o poder explicativo de uma teoria no mbito de uma disciplina. Em Extenso rural, por exemplo, a teoria de adoo das ino

    vaes tecnolgicas na agricultura precisaria ser mais claramente formulada base de nmeros estudos realizados no pas e em vriasoutras partes do mundo. As diferentes teorias psicolgicas (comportamento, atitude etc), sociolgicas (mudana, ao etc.) e econmicas(efeitos perversos etc.) poderiam ser adaptadas para estudo de problemas em extenso rural.

    Pesquisa aplicada: a preocupao na pesquisa aplicada no mais odesenvolvimento terico da disciplina mas a aplicao dos modelose teorias para a soluo de problemas especficos. A diferena, portanto entre a pesquisa aplicada e pura que enquanto esta trata de

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    solver problemas mais mediatos. Pesquisas sobre a mecanizao agrcola, produo, renda, o impacto destes fatores sobre as condiesde vida da familia rural, o efeito multiplicador do treinamento doslderes rurais, a influncia dos meios de comunicao so exemplos depesquisas aplicadas.

    Ruthenberg emprega uma terminologia diferente. O autor fazdistino entre "pesquisa para compreenso" e "pesquisa para ao".A primeira no pretende alcanar objetivos imediatos tais como retornos econmicos ou a adoo da tecnologia mas pretende resolver problemas relevantes para o desenvolvimento da cincia. Na segunda categoria, o autor inclui pesquisa "dirigida", "aplicada" e

    "de desenvolvimento". difcil estabelecer uma linha divisria entre a pesquisa pura eaplicada como difcil demarcar a teoria da prtica.

    Pesquisa descritiva e explicativa: em termos gerais, a pesquisa descritiva pretende descobrir as formas caractersticas dos fenmenos sociaise a explicativa tenta descobrir as relaes entre diferentes fenmenossociais.

    Na pesquisa descritiva, a investigao feita sobre as condies,

    prticas, crenas, opinies, atitudes e tendncias. Relaciona-se o que ou o que existe com o evento anterior que tem influncia sobre a situao atual. O produto da pesquisa descritiva a descrio e a classificao dos fenmenos observados atravs dos mtodos da investigaocientfica: coleta e tabulao dos dados, anlise e interpretao dos resultados, classificao e comparao das variveis observadas. Exemplosdas questes descritivas: que tipos de propriedades rurais se encontramno Estado e qual a incidncia de cada tipo? Qual o grau de satisfao dos produtores rurais e qual o seu potencial de migrao? Quais

    so os valores e normas que mantm a famlia rural no campo?A pesquisa explicativa se desenvolve no sentido de observar e ana

    lisar as relaes de causalidade entre os fenmenos. Que fatores estariam relacionados com a ocorrncia de certos tipos de comportamento?Em outras palavras, as questes na pesquisa explicativa abordam relaes de causalidade para explicar a ocorrncia e a natureza do fenmeno. Por exemplo: como a renda afeta a satisfao profissional? Qual o papel da mulher no processo decisrio na agricultura? Esse papelafeta positivamente ou negativamente produo agrcola? Por que

    se considera a religiosidade como um fator resistente ao progressorural? Sem dvida, os problemas podem ser mais complexos interre-

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    lacionando-se mais de dois fatores: educao - salrio - nvel de vidae satisfao profissional. No caso do xodo rural, os fatores mais rela

    cionados com o fenmeno, segundo a pesquisa realizada por Arend,eram: sade, educao dos filhos, falta de assistncia e problemas naagricultura (endividamento e venda de terras).

    Tais questes podem ser formuladas diferentemente, isto , nocomo questes mas como proposies indicando a natureza provvelda associao. As explicaes provveis do fenmeno so as hipteses.Os resultados de pesquisa confirmam ou rejeitam a hiptese ou ofazem sob outras condies no consideradas pela hiptese. Sob o ponto de vista analtico da cincia, a certeza absoluta ou verificao conclu

    siva estritamente impossvel. Tanto a confirmao como a rejeioda hiptese so condicionais e provisrias.

    Quando se comparam os dois tipos de pesquisa, a pesquisa explicativa geralmente considerada como um passo importante no desenvolvimento cientfico de uma disciplina. A descrio em si no conduz explicao do fenmeno nem sua avaliao crtica. Contudo, dependendo do grau de maturidade de um ramo da cincia ou de uma disciplina, possvel que a pesquisa descritiva se imponha como necess

    ria a fim de acumular dados suficientes para a formulao de hiptesese inferncias mais abrangentes e assim caminhar para a elaborao deteorias explicativas. Embora a pesquisa descritiva e a explicativa se diferenciem pelo tipo de questes propostas, resultados esperados e mtodos utilizados, as duas formas no se excluem mutuamente mas secomplementam no processo da investigao cientfica.

    Alm de pesquisas descritivas e explicativas, existem outras formasintermedirias como, por exemplo, pesquisa exploratria, estudo piloto, estudo de caso, pesquisa diagnstico e pesquisa experimental, quesero abordados nos captulos subseqentes.

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    CAPTULO IV

    ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE O MODELOCONCEITUAL

    Introduo

    Parece existir pouca controvrsia entre os autores sobre a importncia do modelo conceitual em pesquisa. O mesmo definido comoum conjunto de noes utilizadas basicamente como um esquema declassificao ou taxonomia, ou ainda, como um pequeno nmero de

    definies que delineiam os poucos aspectos da realidade que so objeto do estudo. Essas definies dizem ao pesquisador o que importante observar quando se estuda o comportamento humano, um grupoou uma sociedade. Os esquemas de classificao ou taxonomias servem para resumir o que foi dito ou feito sobre um determinado temae servem igualmente para inspirar novos estudos. Hill e Hansen (1960)incluem cinco categorias de conceitos na definio de modelos conceituais: o fenmeno tratado como problema, o espao social onde omesmo ocorre, a dimenso temporal do fenmeno, teorias ou escolas de

    pensamento relacionadas e os pressupostos bsicos de pesquisa e ao.De acordo com esses autores, a identificao dos modelos conceituais crucial tanto para a coleta de dados e anlise dos resultados quanto para o desenvolvimento e a formulao de novas proposies de pesquisa. Para Nye e Berardo o modelo conceitual formadode conceitos essenciais, ou relevantes, inerentes aos diferentes aspectosdo problema e os pressupostos tericos que explicam esses conceitos,integrados em uma configurao mais ampla mas significativa.

    Alm do que considerado como o mago do modelo conceitual,

    os tericos de pesquisa do importncia ao desenvolvimento histricodo problema, os seus condicionantes sociolgicos, as avaliaes reali-

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    zadas e o impacto do estudo sobre a pesquisa, teoria e ao. Em outraspalavras, o problema, por um movimento de abstrao, tem que ser

    relacionado com os conceitos e estes, por sua vez, situados dentro deuma perspectiva histrica, explicados os seus condicionantes sociolgicos e avaliado o impacto do trabalho realizado sobre a pesquisa,teoria e ao.

    Resumindo: as trs definies concordam com que o modelo conceitual seja um conjunto de conceitos centrais. Para a primeira definio, o modelo conceitual no passa de um conjunto de conceitos usados como taxonomias no esquema classificatrio. Para Hill e Hansen,este conjunto de conceitos pode ser dividido em subconjuntos homo

    gneos, envolvendo as dimenses de tempo e espao. Nye e Berardoenfatizam a importncia dos pressupostos bsicos que estabelecem relaes entre as diferentes partes ou subconjuntos do modelo terico.

    Modelos conceituais e pesquisa

    Os conceitos so instrumentos importantes para a pesquisa social.Em Extenso rural esse potencial no tem sido suficientemente valo

    rizado porque muita ateno prestada s tcnicas de amostrageme manipulao dos dados. A falta de uma slida base terica e a ausncia da relao entre as definies operacionais e os conceitos notm permitido o surgimento de grandes linhas de pesquisa na reada extenso rural. Ao contrrio, os modelos conceituais atualmenteutilizados, defasados no tempo e no espao, e perpetuados pela ignorncia de modelos alternativos, tm conduzido a pesquisa em extenso a um estgio de pouco desenvolvimento, para no dizer de estagnao. Modelos conceituais coerentes, entrelaados por definies apro

    priadas teriam contribudo para a expanso do campo de pesquisaem extenso rural e para a sua consolidao terica. Os modelos conceituais facilitam o processo da pesquisa, providenciando um acervode idias. impossvel para o pesquisador pensar em todas as variveispossveis relacionadas com o problema. Abordar um problema atravsde um modelo terico significa escolher variveis relevantes que, alis,poderiam passar despercebidas.

    Na rea de extenso rural, estudiosos de vrias disciplinas e escolas de pensamento realizam pesquisa e ao. E importante que o pes

    quisador conhea os resultados das investigaes realizadas por outroscolegas mas sumamente importante que o mesmo entenda as con-

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    ceituaes fundamentais e os pressupostos bsicos que acompanhamos resultados. Isto essencial para que haja uma comunicao efetiva

    entre os pesquisadores e estudiosos da rea. Acontece que o relativodesenvolvimento da cincia de extenso e seu carter interdisciplinaradmite a presena de vrias "linguagens". Isto algo de positivo no processo da formao de uma cincia, mas impede que os intelectuais secomuniquem entre si ou que sejam informados do contedo conceitual e interpretao dos resultados de outros pensadores.

    Mais difcil ainda conhecer os pressupostos tericos que servemde base para os diferentes modelos conceituais. s vezes, esses pressupostos esto implcitos e devem ser deduzidos das variveis estudadase das interpretaes realizadas. O conhecimento da natureza dessespressupostos importante para o desenvolvimento conceitual do problema, escolha das variveis, teste das hipteses, interpretao dos resultados e construo da teoria.

    Para os efeitos de pesquisa, a contribuio dos modelos conceituaispode ser resumida ao seguinte:

    apresenta as diversas perspectivas tericas e correntes de pensamento referentes ao problema estudado;

    proporciona uma lista dos conceitos centrais e de suas def inies;

    torna explc itos os pressupostos implcitos de cada abordagemterica;

    proporciona uma bibliografia das pesquisas realizadas de modoa permitir ao pesquisador acesso literatura relevante.

    Modelos conceituais e teoriaA teoria um conjunto de proposies, sistematicamente organiza

    das, explicativas de um determinado fenmeno ou conjunto de fenmenos. O pesquisador em extenso rural encontra srias dificuldadesem descobrir tal conjunto, coerente e organizado de proposiesrelacionados com o fenmeno extensionista, que permita a formulao de hipteses significativas. Isto porque a cincia de extenso ruralainda guarda os traos da sua origem, isto , a de ser antes de tudo uma

    atividade destinada a transferir tecnologia e no a de considerar o homem do campo na sua globalidade.

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    de pesquisa. O modelo conceitual um instrumento til para levantarproposies que sero testadas por vrios pesquisadores em popula

    es de culturas e subculturas diversas. Enfim, os modelos conceituaisso necessrios para que hajam pesquisas relevantes e pesquisas relevantes so, por sua vez, necessrias para o desenvolvimento de teoriasvlidas e abrangentes.

    Modelos conceituais e literatura

    A busca de modelos conceituais adequados e sua adaptao para

    novas situaes se faz pela consulta literatura disponvel. Esta fasede pesquisa que d muita dor de cabea aos iniciantes tem vriasfunes:

    a) Pelo conhecimento da literatura sobre o tema, o pesquisador podedelimitar a sua rea de pesquisa e definir o problema do estudo. Cadapesquisa realizada em extenso rural contribui com algo de novo,seja para a soluo dos problemas reais, seja para a teorizao dos mesmos. A leitura das pesquisas anteriores permite descobrir a contribuio de cada autor e, conformemente, situar a proposta atual no seu

    devido contexto, seja em termos de continuidade, seja em termos deaprofundamento. Para usar uma analogia: A descobriu isso sobre oproblema, B e C avanaram em dois sentidos diferentes mas complementares; D acrescentou novos conhecimentos; neste contexto, qual a contribuio da minha proposta?

    b) A literatura e os modelos conceituais auxiliam o pesquisador a recolocar a questo na sua devida perspectiva. Esta perspectiva pode tervrias dimenses: temporal, espacial, explicativa ou descritiva, terica ou prtica. Tudo depende do desenvolvimento emprico e terico

    da questo. Hipteses relacionadas com teoria so mais teis do quehipteses isoladas que tendem a produzir dados isolados de uso limitado.

    c) A leitura das investigaes passadas informa o pesquisador sobreos procedimentos e tcnicas metodolgicas empregadas em diversoscontextos sociais e circunstncias temporais. Existem tcnicas quedo maior segurana, outras so mais eficientes e, ainda outras quese adequam melhor realidade estudada. H tcnicas que foram empregadas com sucesso em certos contextos culturais mas demonstra

    ram falhas em outros. Enfim, a consulta s fontes bibliogrficas evitarepeties metodolgicas desnecessrias que, muitas vezes, uma

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    praga que afeta a produo cientfica em Extenso Rural.

    Breves orientaes para leitura e anotaes

    0 pesquisador nao pode confiar inteiramente na sua memria. necessrio tomar notas das leituras e reunir essas anotaes de umamaneira sistemtica e organizada, desde o incio. Algumas sugestesque podem ajudar.

    a) Comear a leitura pelos estudos mais recentes e depois consultar os estudos anteriores. Freqentemente, os trabalhos recentes incorporam o essencial das pesquisas passadas, corrigindo eventualmenteseus erros. Outra vantagem que esses estudos incluem refernciasbibliogrficas que so importantes para o direcionamento do trabalho.Qualquer pesquisa cientfica supe uma consulta aos livros considerados clssicos na matria. Contudo, o processo tem seus limites poisno precisa ser uma consulta exaustiva. Acima de tudo, deve-se cuidarpara que o trabalho de investigao do prprio pesquisador no sejaofuscado pelas citaes longas de outros autores.

    b) Numa leitura exploratria, rever os resumos e ndices dos livros para verificar se so relevantes para o estudo do problema.c) Anotar em fichas as citaes, os resumos, e os comentrios,

    observando, no processo, as normas tcnicas relativas s refernciasbibliogrficas.

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    CAPITULO V

    AS HIPTESES EM PESQUISA

    Como o problema, a hiptese a pedra angular da investigaocientfica. Enquanto o problema traduz o estado de perplexidade doesprito diante de uma situao sentida como dificuldade (tericaou prtica), e para a qual nao se dispe, agora, de uma resposta, ahiptese oferece uma explicao provvel do problema. A hipteseou os raciocnios hipotticos pervagam a nossa vida cotidiana. A luz se

    apagou quando comeava a novela das oito. um fato. Saber "porque" a luz se apagou um problema. Vrias explicaes so provveis, desde uma pane na central eltrica ou no transformador localat a queima dos fusveis, em casa. O mesmo acontece com o mecnico que olha o motor do carro e o mdico que examina o paciente.Vrias hipteses so elaboradas, analisadas, algumas descartadas, outras retidas, para finalmente se testar aquelas que, no contexto, parecem as mais provveis de fornecer uma explicao para o fenmeno.A experincia e a formao valem muito para detectar hipteses maissignificativas.

    Definio da hiptese

    Os tericos da metodologia de pesquisa avanam vrias definies da hiptese:1. Webster: a hiptese uma proposio, condio ou princpio que

    pressuposto a fim de inferir conseqncias lgicas e testar a sua concordncia com fatos conhecidos ou a serem conhecidos.

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    3. Kerlinger: a hiptese um enunciado conjectural da relao entreduas ou mais variveis.

    4. Black: a hiptese uma proposio que no se sabe se verdadeiraou falsa. Ela testada para determinar a sua validade e as conseqncias que surgiro, caso se prove, vlida ou nao.

    Resumindo, alguns pontos podem ser salientados sobre as definies de hiptese.

    hiptese um palpite; estabelece relao entre duas variveis; uma proposio que precisa ser testada e serve como basepara a pesquisa.

    Portanto, a hiptese um palpite que orienta o pesquisador atravs de um conjunto no organizado de fatos a observar e escolheraqueles fatos que parecem mais relevantes para o estudo do problema.As hipteses formuladas especificamente para um projeto de pesquisa devem satisfazer os seguintes critrios.

    Primeiro, a hiptese deve estabelecer relao entre duas ou maisvariveis, por exemplo, salrio e satisfao profissional ou, ainda, tempode trabalho (isto , maior salrio, maior satisfao profissional e menortempo de trabalho). Segundo, uma hiptese deve ser verificvel, isto ,

    as variveis consideradas devem ser abertas observao e mensuraopela utilizao de mtodos apropriados. Terceiro, a relao postuladaentre as variveis no pode ocorrer uma nica vez, ou ocasionalmente, mas deve ser verificada consistentemente. O termo "consistentemente" no significa "sob todas as circunstncias", mas sob aquelascircunstncias bem determinadas que, alis, so expressas na prpriaformulao da hiptese. Pode acontecer tambm que a ocorrncia darelao se d sob condies que sejam desconhecidas; neste caso, ahiptese contm - implcita ou explicitamente - a clusula de que a

    relao se obtm em outras condies, desde que estas sejam iguais,isto , coeteris paribus.

    E, por fim, a hiptese deve ter o valor explicativo, isto , deveservir para explicar determinados fatos. Por exemplo, a situao econmica precria de uma comunidade rural poderia ser explicada peloseu excessivo apego s tradies religiosas que so contrrias a mudanas nas prticas agrcolas. Ou ainda, a hiptese que relacione a satisfao profissional com o salrio e horas de trabalho deve poder explicarporque os agricultores esto sempre insatisfeitos: trabalham muito e

    ganham pouco. O valor explicativo de uma hiptese maior quandoela postula uma relao causai.

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    s vezes, o termo "hiptese" empregado como um sinnimo dotermo "teoria", preciso notar que hiptese e teoria representam

    graus diferentes no processo de abstrao e, conseqentemente, naabrangncia da explicao. Webster diferencia os termos da seguintemaneira: hiptese uma tentativa provisria quanto explicao dacausalidade ou associao entre os fenmenos, enquanto a teoria uma hiptese verificada ou um conjunto delas, cuja fora explicativaultrapassa os limites de um determinado contexto onde a mesmafoi testada. Pode-se afirmar tambm que a hiptese o incio para urnapesquisa cientfica, constituindo a teoria o seu produto final. Um con

    junto de teorias forma o corpo da cincia. Para maior clareza, obser

    ve o diagrama pgina 57.O valor explicativo da hiptese maior se a relao postulada for

    deduzida das teorias existentes. Considere esse exemplo. Max Weber,no seu livro A tica protestante e o esprito do capitalismo, enfatizouque os valores ticos de um povo influem decisivamente na sua capacidade produtiva. Assim, a tica protestante facilita mais a industrializao e o esprito do capitalismo do que a tica catlica, enquantoa sociedade hind, muito ancorada tradio, seria resistente ao fe

    nmeno industrial. De outro lado, Robert Redfield, em uma srie deestudos realizados desde 1930, formulou o conceito do continuumrural - urbano. Nesse modelo conceitual a sociedade camponesa intermediria entre a sociedade rural e a sociedade urbana. Ela retm algumas caractersticas da primeira - como o isolamento nas suas relaes com outras comunidades - estabelecendo, no entanto, relaespolticas e econmicas com a cidade. Na sociedade camponesa prevalecem os valores morais da sociedade rural mas concomitantementecom os valores tecnolgicos (v.g. mecanizao agrcola, comrcio,

    administrao) prprios da sociedade urbana. Com base nessas premissas de Max Weber e Robert Redfield duas hipteses gerais podemser deduzidas:

    1. A orientao tica de um povo est relacionada com a inovaoeconmica.

    2. Uma comunidade impregnada de valores tradicionais da sociedaderural ser mais resistente mudana do que uma comunidade orientada por valores da sociedade urbana.

    Feitas estas dedues, o prximo passo o de escolher as variveiscondizentes a fim de poder formular hipteses mais especficas. Parai lt d d l d ti l b d

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    do pela predominncia da ordem moral, onde esto prescritas as obrigaes que cada indivduo deve cumprir. Ao contrrio, a sociedade

    urbana determinada pela ordem tcnica, onde predominam as relaes contratuais e racionais. Da, a varivel escolhida a racionalidade. A sociedade rural tem uma economia de subsistncia enquantoa sociedade urbana marcada pela economia do mercado. A varivelretida , portanto, o lucro. As outras variveis que diferenciam as sociedades rurais das sociedades urbanas so: cincia, tradio, religioe "familismo".

    As hipteses especficas:1. Numa comunidade rural, o "tipo urbano" ser caracterizado pelaatitude racional, cientfica e comercial, enquanto o "tipo-rural" tercaractersticas opostas.

    2. Espera-se que indivduos com mentalidade urbana aceitem e promovam mudanas, enquanto indivduos com mentalidade rural rejeiteme resistam s mudanas.

    As hipteses a serem testadas, estatisticamente, no caso de inovaes agrcolas:

    a) Existe uma correlao positiva entre, a atitude comercial, cientfica e racionalidade de um lado e a adoo de inovaes agrcolasde outro.

    b) Existe uma correlao negativa entre, tradicionalismo, adeso religiosa e familismo de um lado e a adoo de inovaes agrcolas deoutro.

    A verificao destas hipteses refora a teoria de Max Weber sobrea importncia do pensamento religioso no surgimento do capitalismoe do desenvolvimento econmico e a de Robert Redfield sobre o contnuo rural-urbano e demonstra ao mesmo tempo como teorias de outrasreas da cincia podem ser aproveitadas pela Extenso Rural. 0 exemplo acima baseado no estudo de S.P. Bose "Peasant values and innovation in India".

    No se deve confundir uma deduo com a especificao dos limites de uma pesquisa. Assim, a relao entre valores ticos e progressoeconmico se mantm independentemente do fator educao, porexemplo. A educao, neste caso, uma especificao de condies li

    mitantes e no a sua explicao.Se a relao postulada pela hiptese no pode ser empiricamente

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    ento se trata de uma correlao emprica, isto , uma mera coincidncia de acontecimentos localizados no tempo e no espao. Um exemplo

    tpico: verifica-se na mesma regio uma alta incidncia de peste sunae uma alta produo de cacau, no mesmo ano. A no ser que se proveque o vrus causador da peste suna benfico para a plantao decacau, trata-se de correlao emprica.

    Recapitulando: elaborado o problema e analisada a literatura relacionada com o tema, o pesquisador em Extenso Rural poder enunciaras hipteses que, de uma forma simples, representam suas espectativassobre a relao entre as variveis. As relaes hipotticas sero posteriormente testadas comprovando-se ou no a relao postulada. Portanto, a hiptese na sua qualidade de uma tentativa de explicao de umaproblema pode ser, aps devidos testes, aceita ou rejeitada.

    A rejeio de uma hiptese no implica em que o estudo invlidoou que o esforo foi intil. Pelo contrrio, isto pode dar lugar a questionamentos e dvidas sobre os pressupostos tericos que fundamentaram as proposies. A rejeio de uma hiptese, sobretudo quando setrata de estudos transculturais, pode significar que o campo de generalizao da hiptese restrito; isto , quando se trata da explicao do

    fenmeno pelo mtodo de hipteses assiste-se a um processo similarao do procedimento matemtico de comprovao por eliminao.Eliminando-se como improvveis certas relaes consideradas provveis, restringe-se o campo de explicaes mais provveis at se chegara localizar as relaes causais.

    Fontes da hiptese

    A hiptese uma criao mental, uma abstrao da realidadeobservada intuitivamente. Para estabelecer uma hiptese, precisouma capacidade de observao, intuio e imaginao mas, sobretudo, um conhecimento profundo do problema. O que segue deve serconsiderado como sugestes para fontes de hipteses.

    1 As leituras, ou melhor, um programa bem dirigido de leituras uma fonte indispensvel das hipteses. Uma investigao relacionada com o impacto da mecanizao agrcola sobre a vida familiar doprodutor rural dever apelar, necessariamente, a segmentos diversosda cincia. O pesquisador dever possuir uma boa dose de conhecimentos sobre o processo de mecanizao agrcola, elementos da sociologia

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    de obter subsdios tericos sobre o processo de adoo da tecnologiaagrcola. Sugestes de outros pesquisadores constituem uma fonte

    til para a elaborao de novas hipteses.2 A analogia pode servir como ponto de referncia para a formulao de uma hiptese. Diversas investigaes em extenso rural tmdemonstrado que a mecanizao agrcola, onde ela foi introduzida, influiu positivamente no aumento da produo, da produtividade e nopoder aquisitivo do produtor. No entanto, pouco se tem investigadose tais benefcios econmicos tiveram um impacto positivo sobre avida social e familiar do produtor, em termos de melhoria das condies de habitao, higiene, alimentao, educao das geraes futuras

    e do desenvolvimento da comunidade onde ele vive. Dependendo docontexto, a hiptese pode-se provar falaciosa. A propsito, relatam-secasos interessantes na literatura e nos depoimentos dos extensionistas.Em 1952, no Estado de So Paulo, onde a comercializao e a urbanizao haviam proporcionado um progresso