Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E REGIÃO DO PANTANAL - UNIDERP AMANDA OLIVEIRA DE MELLO MELONI JULIANA JACOB MACEDO OBCECADOS PELA BELEZA – A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

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Livro escrito pelas jornalistas Amanda Meloni e Juliana Jacob.

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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E REGIÃO DO PANTANAL - UNIDERP

AMANDA OLIVEIRA DE MELLO MELONI

JULIANA JACOB MACEDO

OBCECADOS PELA BELEZA – A vida dos anoréxicos e

bulímicos de Campo Grande

CAMPO GRANDE – MS2008

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AMANDA OLIVEIRA DE MELLO MELONI

JULIANA JACOB MACEDO

OBCECADOS PELA BELEZA – A vida dos anoréxicos e

bulímicos de Campo Grande

Livro-reportagem apresentado como exigência para conclusão do Curso de Graduação em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, oferecido pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - UNIDERP sob a orientação do Prof. MSc. Clayton Wander Nascimento de Sales.

CAMPO GRANDE - MS2008

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Dedicamos...

Aos nossos familiares por serem as razões

do nosso trabalho e esforço, pela

compreensão e principalmente por acreditar

na gente, sempre nos dando ajuda nos

momentos mais difíceis.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar queremos agradecer a Deus, por iluminar nossos

caminhos e nos auxiliar na conclusão de todas as etapas deste trabalho.

Ao professor mestre Clayton Sales, pela orientação, paciência para

conosco, principalmente por nos agüentar em tantos devaneios e por ter sido

fonte de nosso aprendizado e conhecimento.

Aos professores que fizeram parte de nosso caminho e aprendizado

durante o curso de Jornalismo e que contribuíram de alguma maneira para que

hoje chegássemos onde estamos hoje.

Aos todos os nossos amigos, pela compreensão e por nos terem nos

entendido e ajudado muito neste momento tão importante de nossas vidas.

E por fim, aos nossos pais que sempre confiaram no nosso potencial e

acreditaram na gente, sempre nos dando apoio, incentivo em todos os

momentos da nossa vida, principalmente esses quatro difíceis anos de

faculdade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................6

PRIMEIRA PARTE – Beleza e vaidade – “Antigas Buscas”

Capítulo I - Beleza e vaidade – “Antigas Buscas”...............................14

Anorexia: Busca excessiva pelo corpo ideal........................................18

Bulimia: Medos e exageros..................................................................20

SEGUNDA PARTE – Depoimento das vítimas de anorexia e bulimia

Anorexia X bulimia: quem ganha e quem perde neste round ?.........24

Capítulo II – Jovem é feliz mesmo tendo bulimia................................28

Capítulo III – Anorexia X Mundo da Moda ..........................................34

Capítulo IV – Jovem distorcia sua imagem a se ver no espelho........41

Capítulo V – Gravidez x Anorexia e bulimia ......................................46

Capítulo VI – Paixão platônica leva jovem ao mundo da anorexia ....52

Capítulo VII – Garota vomita para ser que nem a Barbie ..................57

TERCEIRA PARTE – Relato dos especialistas

Psicologia o primeiro passo para o tratamento ...................................64

Psiquiatra não trata só loucura ............................................................68

O prazer aliado ao cardápio balanceado ...........................................70

Desordem alimentar pode ser tratada .................................................74

O movimento x prazer de ser saudável ...............................................78

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................82

REFERÊNCIAS.................................................................................................86

ANEXOS

Anexo I

Remédios de anorexia e bulimia..........................................................91

Remédios usados.................................................................................91

Tipos de Tarjas.....................................................................................92

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Algumas Recomendações....................................................................93

Auto-medicação....................................................................................94

Cuidados especiais..............................................................................95

Dados da receita médica......................................................................95

Anexo II

Fotos de Anoréxicas e Bulímicas.........................................................97

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Introdução

Anorexia e Bulimia foi o tema escolhido para o nosso livro-

reportagem. A justificativa principal da escolha foi para que fosse

melhor divulgado e houvesse melhor compreensão da sociedade e

dos jovens e suas famílias sobre essas doenças. Neste trabalho,

abordamos histórias desde a pré-adolescência até a vida adulta de

pessoas que têm ou tiveram algum ou os dois transtornos.

Segundo Lima (1993, p. 7), diante da dissipação de fatos no

jornalismo, o livro-reportagem se materializa como um veículo de

comunicação bastante próprio, que dinamiza e trabalha com uma

série de possibilidades na grande reportagem, aumentando o

conhecimento, aprofundando um tema, de uma forma como não é

tratado nos jornais diários.

A proposta de escrever um livro sobre anorexia e bulimia se

explica no papel do jornalismo de registrar fatos e histórias. É

imprescindível escrevê-lo para mostrar que mais de um milhão de

pessoas, tanto homens quanto mulheres no mundo, entre 10 e 45

anos, sofrem de anorexia e/ou bulimia. Não esquecendo que o nosso

desafio é, também, mostrar o que são essas doenças, como começam,

de onde vieram, quais as causas e os tratamentos. Tudo é claro,

baseado principalmente, nas histórias de vida dos jovens

entrevistados.

De acordo com Lopes (2003, p. 174), anorexia é muito mais

comum em mulheres adolescentes que em homens. Comenta:

Trata-se de uma doença causada pela perda deliberada de peso do paciente. È mais comum no sexo feminino, sobretudo durante a fase da adolescência; porém, pode aparecer em mulheres e homens, independentemente da idade. Essa perda de peso, não é resultado da falta de apetite, mas é causada pelo fato de negar a alimentação. Normalmente o paciente cisma com uma parte do corpo, o que o faz se enxergar sempre gordo, embora, por vezes, esteja

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no peso certo, ou até abaixo, desencadeando a chamada distorção da realidade [...].

Anorexia tem vários conceitos e um deles, de acordo com o site

“UOL Boa Saúde”, tem a ver com o hipotálamo, que controla o sono,

o apetite e a temperatura corporal. Então, segundo a página, a

anorexia “a origem da síndrome é hipotalâmica, mas, se essa

disfunção hipotalâmica é um problema primário ou secundário à

perda de peso, ainda não está totalmente esclarecido”. Já a bulimia,

de acordo com o dicionário Houaiss, é o “distúrbio do apetite

caracterizado por episódios incontroláveis, chamados de acessos de

hiperfagia, que, independentemente da anorexia nervosa, ocorrem

ao menos duas vezes por semana durante três meses ou mais”.

No mundo inteiro, independentemente de raça, credo, cor ou

qualquer outra característica física, adolescentes que querem

chamar atenção para si ou que se consideram fora do contexto social

onde a sociedade valoriza indivíduos em contrário dos obesos, param

de comer e acabam chegando aos extremos da anorexia e da bulimia:

a morte. Foi observando a desinformação da sociedade sobre esse

tema, que se justificou a intenção de produzir um livro-reportagem –

que é uma grande reportagem aprofundada sobre um tema livre, de

interesse público – para que, assim, possamos esclarecer à

sociedade, sobre a importância dessas patologias, fazendo com que

isso de alguma maneira possa contribuir para evitar mais mortes de

crianças, jovens e até adultos, que possam vir a ter ou os até mesmo

os que já apresentam esses distúrbios.

Escrever um livro sobre o tema permite uma maior liberdade

de escrever. A forma como será descrito no texto tende a passar uma

maior compreensão da origem da doença e a obsessão pela beleza,

relatando alguns acontecimentos. É importante transmitir às pessoas

que não presenciam essas tragédias, essas doenças, o fato, a emoção

e dramaticidade, que não são mostrados pela televisão.

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Historiar um livro-reportagem é registrar uma grande e boa

reportagem. Devido a isso, o jornalismo literário é a forma que mais

nos atrai, pois não se tem um lead no primeiro parágrafo, como nas

matérias jornalísticas, mas todas as seis perguntas básicas e

essenciais para um bom texto como: O que? Por quê? Como? Onde?

Quando? Quem? e até Quantos? vão estar distribuídas durante todo o

texto a ser desenvolvido.

Essa forma de jornalismo literário zela por tentar atrair o

leitor, por meio de uma linguagem diferente, longe das frases

mecânicas e frias utilizadas no jornalismo diário. Dessa maneira, o

jornalismo literário torna-se um instrumento mais ativo do que a

escrita do jornalismo cotidiano, já que um livro-reportagem é um

material mais extenso. Ao contrário, deve dar informações de uma

forma mais simples, acessível e eficaz, unindo o aprofundamento dos

fatos com uma exposição que explore “pontos” diferenciados,

focados nos personagens e nos acontecimentos.

A descrição dos ambientes, das feições, dos gestos,

sentimentos que demonstram ansiedade, desconforto, liberdade de

falar dos entrevistados foi feita de forma literária, com um texto solto

e dinâmico, para que não fosse cansativo, e que qualquer pessoa

entenda o que desejamos passar. Além disso, há várias fotos,

desenhos e figuras retratando as doenças.

Tomando o jornalismo como o processo de divulgação contínua

de fatos, histórias, acontecimentos para a sociedade, mostrando que

determinados problemas podem ser entendidos, resolvidos ou

prevenidos, é que se justifica a escolha do tema e o formato de

apresentação do nosso trabalho.

O livro-reportagem é o exercício de escrever literariamente

uma grande, extensa e detalhada reportagem na forma de livro, de

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forma diferente de todos, ou seja, ativo, bastante individual, pessoal,

às vezes, sobre algo polêmico, e que segue algumas regras na hora

de escrever. Lima (1993, p. 7) avalia de uma forma mais abrangente

o conceito:

Livro-reportagem é um produto cultural contemporâneo bastante peculiar. Mais que simples repetidor de padrões e formas de praticar a comunicação jornalística com o público esse veículo renova e dinamiza principalmente quando trabalha, com todo o seu arsenal de possibilidades, a grande reportagem.

De acordo com o dicionário Aurélio, “livro” significa publicação

não periódica impressa, com no mínimo 49 páginas, excluídas as

capas, e “reportagem” significa a cobertura de um acontecimento. A

verossimilhança também está contida no texto de Lima (1993, p. 8),

que diz: “Um livro, você sabe, é a publicação não periódica que

reúne um conjunto de folhas, geralmente impressas, formando uma

unidade individualizada, cujos símbolos identificados por excelência

são um título e uma capa especifica”.

Para que possamos entender o livro-reportagem, é preciso

apresentar algumas características dele, que o conceituam de uma

forma simples e fácil de ser entendida. O livro-reportagem nem

sempre procura tratar de um tema atual, fugindo dos conceitos

antigos e padrões do que chamamos de jornalismo “cotidiano”. Além

disso, o texto de uma reportagem solta, rica em detalhes, que não

seja rebuscado, mas de uma linguagem acessível, agradável e de um

jeito que prenda e conquiste o leitor a querer ler mais e mais, não

deixando o livro ser repetitivo e cansativo, viajando no mundo do

autor.

Lima (2003, p. 143) ainda cita o jogo do aprofundamento e o

fato da escrita ser leve e solta, atraindo o leitor:

O jogo consiste em captar o leitor, atraí-lo do seu mundo mental e emocional, cativá-lo para abstrair-se – do momento da leitura, ou nos momentos dos diversos segmentos que constituem a leitura de ma obra escrita – desse mundo, em alguma medida, para o mergulho no universo

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particular contido, representativamente, no livro. Por associações de idéias, memórias, identificações e projeções – nos níveis intelectuais, emocionais -, o leitor pode sentir-se algo familiarizado com o mundo contido no livro, inclinando a penetrá-lo.

O livro-reportagem traz grandes vantagens ao seu leitor. Além

de contar uma história atual, ou seja, um tema que seja de interesse

público, e além de ser um texto solto, ele faz com que o leitor

navegue no conhecimento daquilo que se pode dizer moderno, ou

presente na nossa sociedade, como é explicado no texto de Lima

(1993, p. 7): “[...] Recuperando para o leitor a gratificante aventura

da viagem pelo conhecimento da contemporaneidade”. Contudo, o

texto tende a misturar história, literatura e jornalismo, dando a idéia

da informação.

Resolvemos abordar mais a frente como foi o nosso processo de

pesquisa e de entrevista com os nossos entrevistados bulímicos e

anoréxicos. Foi um processo longo. Primeiramente entramos em

contato com eles via MNS e ORKUT para ver quem poderia contar

suas histórias. Chegamos a ter pessoas fora do Brasil querendo nos

dar seus depoimentos.

Depois de sabermos um pouco sobre todas as histórias,

conversamos entre nós para decidimos quais seriam os nossos

entrevistados. Depois de muita conversa, chegamos a conclusão de

que seria interessante mostrar que jovens de Campo Grande também

tinham essas doenças.

Assim que decididas, resolvemos abordar nossos entrevistados.

Demoramos três semanas para convencê-los a contar suas histórias e

fazer com que eles tivessem confiança em nós para darmos

prosseguimento as nossas entrevistas. Posteriormente, para

podermos fazer as entrevistas levamos aproximadamente mais três

ou quatro semanas até finalizarmos as nossas histórias.

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Quanto mais o autor tiver acesso a dados, tanto na hora de

escrever informações importantes para o seu livro-reportagem, mais

completo, amplo e cheio de detalhes, melhor será para o seu leitor

que vai ter mais conhecimento sobre o tema abordado, que também

é desconhecido pelo leitor. Por isso, a atração do leitor pelo tema.

Diante disso, Lima (2004, p. 40) afirma que “o aprofundamento

extensivo, ou horizontal, quando o leitor é brindado com dados,

números, informações, detalhes que ampliam quantitativamente sua

taxa de conhecimento do tema”.

A construção de uma grande e bem feita reportagem precisa

passar por alguns processos até chegar na hora de escrever. O fator

principal e importante do texto no livro-reportagem é a fluência, ou

seja, aquilo que é natural, espontâneo e fácil, juntamente, com aquilo

que produz o efeito desejado pelo autor, cumprindo a tarefa do

jornalista que é de informar.

No texto da reportagem, o autor não precisa dar sua opinião,

caso não queira, e pode ser escrito tanto na primeira pessoa e, em

seguida, pode mudar para a terceira pessoa, desde que não

atrapalhe o andamento do texto e seu ritmo, e a ordem das cenas a

serem descritas.

O objeto básico e importante no jornalismo é o acontecimento,

a história, fazendo com que o jornalista resuma os fatos mais

relevantes para a sociedade. Caso o tema precise de uma

abrangência maior, como no livro-reportagem “Obcecados pela

beleza – a vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande”, é

necessário mostrar a realidade sob diversos aspectos.

Para ilustrar mais, sobre o jornalismo e o autor, Lima (1993, p.

10) descreve:

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O instrumento básico para o relato jornalístico é a notícia, forma de comunicação que condensa a reprodução dos fatos sociais. Mas como a temas que requerem abordagem mais ampla, o jornalismo desenvolveu, ao longo do tempo, uma forma de mensagem mais rica, cujo teor procura redimensionar a realidade sob um horizonte de perspectivas onde não são raro existem várias dimensões dessa mesma realidade.

O livro-reportagem, juntamente com o jornalismo, possui

alguns aspectos interessantes e vantajosos que outros não têm como

o poder de detalhar os acontecimentos, de um tema, de uma história.

Esse veículo proporciona a escrita em equipe ou individualmente. Ele

também não exige periodicidade, não se limita a ficar preso à

quantidade de linhas, nem com o “lead” ou com o relato dos

detalhes, ou das informações mais importantes no primeiro

parágrafo, como toda regra de um texto jornalístico. Lima (2005, p.

18) verifica a participação do jornalismo da escrita no livro-

reportagem:

É a ampliação do relato simples, raso, para uma dimensão textual. Em especial, esse patamar de maior amplitude é alcançado quando se pratica a grande reportagem, aquela que possibilita o mergulho de fôlego dos fatos e em seu contexto, oferecendo, seu autor ou aos seus autores, uma dose ponderável de liberdade para escapar aos grilhões normalmente importantes pela fórmula convencional do tratamento da notícia, com lead e com as pirâmides.

A vantagem desse aprofundamento no tema é, além do melhor

conhecimento, a ida ao resgate do passado, a compreensão do

presente e as possibilidades do futuro. Esse trecho é amplamente

explicado por Lima (2004, p. 45) “[...] pode o livro-reportagem

escapar do passado, embora mergulhe nele, focalizar o presente,

mas também avançar ao futuro, antecipando a continuidade do atual,

mediante seus desdobramentos, no que virá a ser”. Esse tipo de

mídia só consegue aproximar o leitor da realidade, quando o escritor

sugere uma viagem aos princípios ou padrões sociais aceitos ou

mantidos por um indivíduo, mostrando as realidades de forma clara e

objetiva.

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O autor pode ser observador-participante, que é aquele que, ao

mesmo tempo, observa e participa, tentando compreender os

comportamentos. Pode escrever sobre algo que aconteceu, acontece

ou pode acontecer, caso haja interesse, informando a todos e

orientando sobre algum acontecimento do mundo.

Quando os escritores tiverem passado por todos esses

processos, ele pode começar a escrever seu livro-reportagem. Após o

livro ser escrito, vem o processo final da edição, que inclui o projeto

gráfico, a correção do texto, a capa, a diagramação, a escolha das

fotos, o título do livro, entre outros.

Lima (1993, p. 34 - 37) consegue ser mais objetivo, quando

ressalta:

A construção da grande reportagem passa pelas etapas de pauta, captação, redação e edição. A pauta, ponto de partida, roteiro e banaliza-guia da produção da reportagem nasce mais solta na forma de livro porque o autor normalmente não se encontra preso à periodicidade que escraviza o ritmo de trabalho nas grandes redações. [...] O instrumento por excelência da captação é a entrevista. E esta pode ser mais interativa e esclarecedora do que normalmente se pratica na imprensa [...]

Medina (1995, p. 93) ainda hierarquiza tudo até a finalização

do trabalho do autor, que está escrevendo o livro-reportagem:

Reportagem – Todo o trabalho de campo, desenvolvido na captação de informações. Ai se incluem pautas, levantamento de dados, no arquivo da empresa jornalística (pesquisa), atividade do repórter através da sua observação do acontecimento e através das entrevistas que a realizam. Especificamente se identificam como reportagem já editada uma matéria mais ampla e mais complexa que a notícia.

Escrever um livro sobre um tema polêmico não é fácil, mas

denominamos como um desafio a ser cumprido. Este livro foi

necessário ser escrito para que abordemos todos os conceitos da

beleza e que a obsessão por ela leva a essas doenças de hoje em dia.

É com ele que poderemos demonstrar isso em detalhes, de forma

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mais solta, dinâmica e com fotos, para que o leitor saiba mais sobre

esse tema que não é tão divulgado quanto deveria ser.

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Primeira Parte – Beleza e vaidade – Antigas Buscas

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CAPÍTULO 1: Beleza e vaidade – “Antigas Buscas”

Quando eu entro na história o roteiro é só pra mim

Não agüento essa história que não quer me ver assim

Poderosa, Preciosa, generosa até demais

Minha imagem dá o brilho no cenário dos mortais

Quando eu chego nos lugares viro o centro da atenção

Umas morrem de inveja, outros morrem de paixão

Poderosa, Luxuosa, caridosa até demais

Com esse mundo tão cafona limitado dos mortais

Meu nome é Vaidade

Não nasci pra Amélia

Eu não quero saber quanto é

Vaidade é pra quem pode

Vai dizer que você não quer?

(Vaidade – Luciana Mello)

Composição: Desconhecido

Segundo o dicionário Houaiss, a palavra “beleza” vem do latim

belleza que significa qualidade, propriedade, caráter ou virtude do

que é belo; manifestação característica do admirável.

Por isso, não é necessário ir muito longe para ver como as

pessoas são capazes de ficar horas e horas em frente a um espelho,

seja se maquiando, penteando o cabelo ou até mesmo vendo em que

parte do corpo tem gordurinhas que precisam ser liberadas.

Muitos acreditam que a indústria da vaidade começou a existir

há pouco tempo, pois, o “vício” das pessoas de quererem ficar cada

vez mais vaidosas, já vem de longas décadas.

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Isso pode ser percebido através dos estudos que vêm sendo

feito ao longo dos anos, mostrando que o ser humano continua se

cuidando cada vez mais, principalmente da aparência, por ter medo

de não ser aceito pela sociedade. Aliás, quem não adora ficar horas

em frente ao espelho se produzindo?

Acessórios como escovas de cabelo, pintura para o rosto

existem desde o Egito Antigo. A beleza e a estética sempre foram os

principais utensílios para saber quais são os sonhos das mulheres e

homens. Nas tribos da Birmânia - localizada entre a China e a Índia –

as mulheres, por exemplo, para serem consideradas belas pela

sociedade em que elas vivem, têm o costume de alongar seus

pescoços usando como instrumento argolas de cobre.

Aqui no Brasil, as indígenas têm o hábito de utilizar o “puxo”

(ato ou efeito de alongar), pois elas fazem isso para aumentar as

partes do corpo como, por exemplo, a orelha, os lábios e outras

diversas partes do corpo. As mulheres brasileiras também são

capazes de fazer tratamento para ficar mais jovem, ou deixar tudo

em cima, como tirar as rugas, colocar bótox, assim como colocar

silicone, entre outros.

crédito: netviagens.com crédito:Estivaltur.pt

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O padrão de beleza ao longo da história jamais se manteve

estável, estando sempre em constante mudança. Até a algum tempo

atrás, a beleza era mostrada por meio de pessoas que às vezes eram

magras e outras vezes gordinhas. Isso dependia muito da moda e da

época.

A busca pela magreza ou corpo ideal, não é o objetivo principal

só da sociedade na qual nós vivemos nos dias de hoje. Isso vem de

longas décadas. O diferencial entre as épocas é o grau de

importância que hoje é dado com relação à beleza.

Ultimamente, muitas mulheres fazem qualquer coisa,

principalmente para se tornarem magérrimas e ser consideradas

mais saudáveis, flexíveis para poder realizar atividades, no qual

muitos ainda acham que os gordinhos não podem praticar, por não

ter essa capacidade física que a sociedade acha que os magros têm.

É importante fazer um retrospecto para vermos onde e desde

quando a beleza surgiu e qual o grau de importância era dada em

sua devida época, já que a mesma veio aumentando de geração em

geração.

O histórico do belo começou lá na Grécia Antiga, onde a beleza

começou a ser observada por causa dos objetos que na época eram

considerados exuberantes e decoravam o ambiente, como pinturas e

esculturas. Platão e Aristóteles complementavam-se, mostrando a

completa simetria e estrutura da beleza nas artes.

Na Idade Média, a intenção de estudar a estética surgiu

independente de outros ramos filosóficos. Depois, com o filósofo

alemão Alexander Gottlieb Baumgarten com o qual designou a

ciência que trata do conhecimento sensorial que chega à apreensão

do belo e se expressa nas imagens da arte, e em 1750, com

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Immanuel Kant, outro filósofo alemão é que designou uma ciência de

estudo do belo e da beleza no âmbito geral, como das formas físicas

e nos objetos.

Já no Brasil, Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista e poeta

brasileiro, em sua obra “Iniciação a Estética”, trabalha de forma

curiosa com o que é considerado bonito e feio, e onde isso chegaria e

quais os problemas que poderiam causar.

Nos séculos XV, XVI e XVII, as pessoas eram definidas da

cintura para cima como um corpo esteticamente bonito, esguio, ou

como dizem nos dias de hoje, em excelente forma física. Depois da

virada do século XIX, em 1900, as manequins representavam as

mulheres mais velhas, pois tinham quadris mais largos e também

seios grandes, como por exemplo, a modelo Isadora Duncan. Nos

dias atuais, esse tipo de mulher, é considerada “gostosa”, ou seja,

mulher com corpo, com carne.

Já em 1920, as modelos começaram a mostrar seus corpos em

desfiles. As pernas já ganham destaque e os seios começam a ser

aceitos pela sociedade. Em 1940, durante os anos das guerras, as

modelos parecem menores. No final dessa década, as criações da

marca Christian Dior aumentam e as modelos ficam com as cinturas

mais finas que os anos anteriores, dando mais destaque.

Antigamente, eram comuns as pessoas acreditarem que ser

belo era um ser abençoado, pois nem todas as pessoas eram belas. A

mulher bela, por exemplo, dependia dos próprios esforços para ser

assim. Com o desenvolvimento do meio urbano, as mulheres

passaram a sair para a rua e ter mais contato com outras pessoas, o

que provocou o movimento de seus corpos, tornando-os mais

flexíveis.

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A idéia que milhares de pessoas têm até os dias de hoje, de que

“só é feio quem não cuida da própria beleza”, foi “salva” pelo

surgimento da cirurgia plástica nos anos 60. Ser “feio ou mal

cuidado” significava não ter vontade própria ou auto-estima, até

porque a cirurgia plástica era um grande motivo para poder se

cuidar e não ser obesa para o resto da vida.

A moda nos anos 70 começou a ser estudada no Brasil com a

revista “Manequim”, depois do golpe militar, em 1964, onde a

repressão era constante e o cenário era de total censura. As revistas

mostravam as últimas tendências da moda industrial e isso entrava

em conformidade com o novo ideal de moda feminina, ou seja, estava

surgindo o estilo da mulher executiva.

A moda refletia através do corte das roupas, formas e estilos,

mas também sinalizava para a feminilidade através do realce dos

quadris, com o desejo de independência. Dessa forma, houve uma

redefinição da silhueta feminina. As revistas apontavam para um

novo imaginário feminino que consumia cada vez mais, fazendo

crescer a produção industrial do vestuário.

Foi nos anos 80, que as manequins começam a aparecer com

seus corpos mais definidos. É nessa época também que ganham

destaque Brooke Shields, Joan Colins, entre outras. Em 1990, as

modelos adotam a imagem de carne e osso (esquelética). Foi nessa

época que surgiram Kate Moss, Julia Roberts e também apareceu o

caso da brasileira bicampeã de surf Andréa Lopes, que na época

chegou a pesar 39 kg por causa da anorexia.

Longe da disputa pela vaidade com a mulher, a beleza

masculina veio à tona em 1994, quando o jornalista inglês Mark

Simpson criou o termo “metrossexual”, que mostra que o homem se

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preocupa muito mais com sua aparência, mas sem ter jeito de ser

mulher.

Até os dias de hoje, esse padrão que “nasceu” na década de 90

está presente na vida de várias mulheres conhecidas. Como exemplo,

temos a modelo Gisele Bunchen e Giane Albertoni.

O cuidado com a beleza não é mais somente com mulheres,

mas também com homens, crianças, adolescentes e adultos, que se

cuidam continuamente para sempre manter o corpo em forma.

ANOREXIA: Busca excessiva pelo corpo

ideal

“Às vezes eu reflito a luz do sol.Às vezes eu começo pelo fim.

Apagaram minha lua e o meu lençol,Nunca mais cobria o sangue em mim.

Eterno o nome que andava a pé,Para me derrubar no fundo do céu.

Acharam o resto desse velho imortalQue era tão forte que a si mesmo matou.

E esqueceu que o forte pode morrer.E esqueceu que o sol encobre você.

E avancei, avancei, avancei, avancei.

O mistério foi a fonte que me fez colarNos olhos de alguém que sempre me estudou.

Meu karma foi tão forte a ponto de acreditarQue a brincadeira dela, sem brinquedo quebrou.

E esqueceu que o forte pode morrer.E esqueceu que o sol encobre você.

E Avancei, avancei, avancei, avancei”.

Anorexia - Karma NegativoComposição: desconhecido

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Além de uma reflexão sobre o culto à beleza, o foco do trabalho

concentra-se nos distúrbios patológicos da “anorexia” e da “bulimia”,

decorrente da técnica de estabelecer os padrões de beleza. A

anorexia é conceituada como um transtorno alimentar que existe há

muitos anos, desde a época do Egito. Essa doença nunca foi

divulgada como deveria e nunca foi levada a sério, pois, a maioria

das pessoas até hoje não sabe realmente o seu verdadeiro conceito.

Sabe-se apenas que anorexia é não comer, ou passar dias sem

comer, até chegar à morte.

crédito: http://www.esramada.pt

Quem faz parte das histórias de anorexia, são, na maioria,

mulheres (95%) e em alguns casos, os homens (5%), mas não deixa

de estar fora dessa porcentagem, mesmo que insignificante.

Na Idade Média, surgiu o que mais tarde se veio a denominar

de anorexia mística, que é diferente do que hoje conhecemos de

anorexia. O primeiro caso de anorexia foi em uma mulher no ano de

1694, diagnosticado pelo inglês Thomas Morton, que deu como

“caquexia nervosa” e a transcreveu como “atrofia nervosa”, sem

qualquer sintoma aparente.

Já a anorexia nervosa, que conhecemos nos dias de hoje,

nasceu com William Gull a partir do ano de 1873, referindo-se à falta

de apetite, decorrente de um estado doentio e não a qualquer

problema estomacal. Foi a partir do século 20, mais especificamente

Page 24: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

24

nos anos 70, que as pessoas começaram a estudar seriamente sobre

anorexia nervosa e três grandes nomes contribuíram para isso: Hilde

Bruch, Arthur Crisp e Gerald Russel.

Hilde Bruch foi quem chamou a atenção pela primeira vez para

a agitação para a vontade de transformação da imagem física das

pessoas que sofrem de anorexia. Já Arthur Crisp, foi quem definiu a

anorexia como uma “fobia de peso”, por causa do medo excessivo

que se tem de engordar e modificar seu corpo, distorcendo-a, o que

inclui as dificuldades psicológicas, sociais, biológicas, emocionais de

encarar as transformações da pré-adolescência e da adolescência.

No ano de 1970, Gerald Russel, propôs pela primeira vez as três

principais características da anorexia:

1. Preocupação exagerada com comida e sentimento de

perda de controle;

2. Problemas psicológicos que são acarretados pelo medo

doentio de engordar;

3. Uso de remédios, laxantes, chás, diuréticos com o

objetivo de emagrecer.

Crédito: acordapraweb.com

BULIMIA: Medos e Exageros

Page 25: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

25

Só pensava em comer e comer sem pararDepois corria pro banheiro vomitarFazer um tratamento nem pensar!

Por que não tinha dinheiro pra pagar

Bulimia... Doença bem fudida!Bulimia... não faz mais parte da minha vida!

Chega aos poucos sem sentirQuando vê já faz parte de ti

Te deixa baixo astral,e com vontade de sumirPor favor, alguém me ajuda!

Não sei mais o que fazer...Por que minha imagem no espelho,

Eu não agüento nem mais ver!

(refrão)

Anacrônicos – Bulimia

Composição: desconhecido

Contribuição - Henrique Pulga

A bulimia nervosa é conceituada como alterações endócrinas

(referente às glândulas de secreção interna), como a ausência de

menstruação na mulher e a falta de apetite sexual nos homens.

De acordo, com o site da “Universidade Federal do Ceará –

faculdade de medicina”, a palavra “bulimia nervosa”, vem do grego

“bous” (boi) e “limos” (fome), atribuindo-se a uma fome exagerada de

comer muito como a de um boi. Contudo, esse transtorno alimentar,

foi visto como um desvio de irregularidades.

As ingestões descontroladas de alimentos, em geral são

rápidas. Não se pensa muito no que está comendo, pois o mais

importante é comer. São casos de verdadeiras “misturas” de

alimentos, onde os “doentes bulímicos” só interrompem a ingestão,

quando terminam de comer ou quando são surpreendidos comendo

escondido.

Page 26: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

26

A bulimia nervosa, na maioria dos casos, começa por uma

obrigação real ou imaginária pela perda de peso, decorrente do

desagrado com o próprio corpo. Doentes bulímicos, costumam

centrar seus pensamentos baseando-se em sua aparência física.

Anseios de baixa auto–estima dependem do efeito de seus

procedimentos para conseguir o corpo desejado. Isso tudo funciona

como se outras importâncias pessoais ficassem em segundo plano ou

até mesmo como se não existissem. Acontece mais quando o foco é a

sua aparência física, fazendo com que a pessoa se isole das outras,

evitando reuniões sociais ou viagens, quando não se sentem em

condições de preencher os requisitos, que a sociedade impõe.

Conseqüentemente, a pessoa acaba tendo sentimentos de

ansiedade, tristeza, raiva, entre tantos outros, na maioria das vezes,

no final do dia e ou à noite.

Segundo o site “Brasil Escola”, a bulimia começou a ser

estudada em 1940, quando foi apresentada junto com a anorexia.

Russel teve uma importante participação nessa época, pois ele criou

um trabalho que se tornou muito importante na diferenciação da

bulimia nervosa com os outros transtornos alimentares, como, por

exemplo, da anorexia nervosa.

Foi a partir dos anos 60, que o interesse pelos transtornos

alimentares começou a crescer no campo da pesquisa e no público

em geral, com o aumento de divulgação na mídia, pois várias pessoas

famosas começaram a ter esse transtorno, por causa da valorização

da aparência física, como o caso da atriz Sally Field, que lutou

durante três anos contra a anorexia e, por isso, acabou ganhando

grande destaque nessa época.

Até os anos 70, a bulimia não tinha sido reconhecida como um

transtorno psiquiátrico, pois só apareceu no Manual Diagnóstico e

Page 27: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

27

Estatístico de Transtornos Mentais III (DSM III) nos anos 80. Depois

disso, houve uma enorme conscientização sobre o transtorno e o

aperfeiçoamento das técnicas do diagnóstico e dos procedimentos de

tratamento. Hoje em dia, tanto a anorexia quanto a bulimia não

ganham tanto destaque como deveriam ter, apesar de infelizmente,

levarem muitas pessoas a morte.

Em sondagens feitas antes de escrever esse capítulo,

perguntamos a 100 pessoas se elas tinham noção do que eram esses

transtornos. 50% das pessoas não tinham noção do que eram; 45%

sabiam o básico - sabiam apenas que anorexia era deixar de comer, e

a bulimia era vomitar - e 5% sabiam o que realmente eram essas

patologias.

Infelizmente essa é a realidade que vemos, pois, infelizmente

essa grande porcentagem contribui para a morte de muitas meninas

e meninos, já que a maioria não sabe o perigo e o risco de querer

ficar magra (o), mas de uma forma que não é tão saudável.

Page 28: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

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Nessa segunda parte do livro, histórias de jovens com

transtornos alimentares como a Anorexia e Bulimia serão abordadas.

Falar da história de cada um aqui é de mera relevância para que os

jovens, suas famílias e a sociedade em geral compreendam mais

sobre as doenças.

Segunda Parte – Depoimentos das vítimas de anorexia e bulimia

Page 29: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

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Aqui são explicitados sintomas, medos, exageros, que são

características dessas patologias, o que para os jovens é bom para se

identificarem, para as famílias saber se um filho faz algo como se

esconder no banheiro ou não almoçar junto com a família, e para a

sociedade ver um pouco mais sobre o que são e como são encarados

já que não há o conhecimento ou que haja apenas o conhecimento

superficial do assunto em questão.

É importante ressaltar que todos os nomes são fictícios para

que haja a preservação da identidade das nossas (os) entrevistadas

(os), já que a relevância não são as pessoas e sim, suas histórias.

Não podemos esquecer de que todos esses jovens que

entrevistamos são apenas de Campo Grande. Quisemos mostrar que

não é somente nas metrópoles que existem pessoas com essas

doenças, mas sim, no mundo todo, até mesmo onde menos

imaginamos.

Gostaríamos que essas entrevistas realmente surtissem efeitos

e muitos de vocês, sejam jovens, crianças, ou até mesmo adultos,

compreendam e vejam pelo lado crítico o que essa doença pode

causar se levada muito à sério.

Anorexia X bulimia: quem ganha e quem perde neste

round ?

Você se preocupaCom o que aparece na mídia

Com opiniões alheias E padrões de beleza!

Esquece de notar quem realmente é vocêO que você tem de melhor!

Anorexia[você está doente]Anorexia[você está doente]

Page 30: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

30

Não seja mais uma garota reprimida Que se esconde dos outros por não ser bonita

Esqueça todos esses padrões de belezaQue te privam daquilo que é o melhor da vida!

Anorexia[você esta doente]Anorexia[você esta doente]

Anorexia (Anna) - Clotildes

Tudo começou em uma noite de terça-feira. Eram apenas seis

horas da tarde. Depois da checagem geral de e-mails e verificação de

mensagens no Orkut, como rotineiramente, decidimos por um

momento começar a procurar o tema já definido do nosso futuro

Trabalho de Conclusão de Curso. Este que sairá daqui alguns meses!

Depois de longas conversas pessoalmente e muitas vezes via

MSN, já que estávamos correndo contra o tempo para conseguir

coletar informações para esse livro, discutimos muito sobre qual

tema de fato iria ser abordado. Depois de meses de conversas e

indecisões, nos decidimos e resolvemos iniciar a procura do tema

escolhido.

Primeiramente fizemos um MSN e um Orkut sobre o tema,

para entrar em contato com os nossos futuros entrevistadores.

Adicionamos todos, sem exceção, os jovens que queriam nos contar

suas histórias. Até nos surpreendemos com a quantidade de pessoas

que realmente queriam contribuir para o nosso trabalho.

No começo foi tudo excitante. Não achávamos que seria tão

fácil assim conseguir fontes para tal, pelo preconceito e pela

exposição dos envolvidos. Talvez até pelo fato de não achar um tema

que realmente nos desse motivação para seguir em frente. Pensamos

Page 31: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

31

que se caso não conseguíssemos, mudaríamos de tema pela

trigésima sexta vez.

Foi quando de repente achamos algumas comunidades e

resolvemos arriscar um recado, pois pensando bem, achamos que

não sairíamos perdendo. O máximo que aconteceria era levarmos um

NÃO.

Vendo que não obtínhamos as respostas necessárias,

resolvemos procurar novamente nas comunidades, só que agora em

vez de deixar recados, e encontrar pessoas que sofrem ou sofreram

esses transtornos.

Foi aí, que, participando dessas comunidades, resolvemos

interagir até mesmo com o intuito de adquirir confiança das nossas

futuras fontes. Primeiro de tudo criamos um e-mail para que

pudéssemos ser adicionadas, e futuramente receber depoimentos

sobre o assunto em questão.

Depois de termos adicionado tantos jovens, entre eles meninas

e meninos, ficamos totalmente pasmas ao saber que tinham pessoas

de outros países como Uruguai, Canadá, Portugal, entre outros, que

gostariam de contribuir para o nosso temido desafio. Acreditamos

que depois disso, de vermos aproximadamente 100 pessoas no nosso

MSN que queriam falar com a gente, conseguiríamos escolher dentre

tantos os que realmente eram de Campo Grande para nos relatar

suas histórias.

A reciprocidade das fontes para contar sua história, sobre o

que sofreram e principalmente para alertar outros (as) jovens, foi

Page 32: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

32

além do esperado. A nossa segunda surpresa depois de explicar o

objetivo, e ver tantas pessoas querendo relatar suas histórias, foi à

quantidade de meninas e meninos que sofrem desse mal. Não

imaginávamos que essa doença atingisse um grande número de

jovens. Achávamos sim que teriam bastante, mas essa grande

proporção não era tão esperada por nós.

Quando resolvemos mesmo encarar o desafio atenuante,

decidimos entrar no MSN e ficamos admiradas com a quantidade de

adolescentes e adultos querendo falar e até mesmo desabafar sobre

o assunto. Eram tantas janelas, que nos dificultou as respostas.

Ficamos estarrecidas com a gravidade dos casos, ao mesmo em que

estávamos felizes por termos passado confiança em receber tais

depoimentos.

Além desses jovens, decidimos encontrar profissionais

relacionados ao tema para nos dar informações necessárias sobre o

assunto em questão. É claro que eles jamais poderiam ter faltado ao

nosso livro, já que nós por saber um pouco mais sobre anorexia e

bulimia, nos achamos leigas para dar informações tão importantes e

necessárias para a explicação dos casos.

Graças a Deus, depois de muita procura atenuada e

sacrificante, quase sem esperanças, conseguimos encontrar médicos

(as) entendidos no assunto, dispostos a nos explicar a fisiologia da

doença.

Depois de tantas conversas, tantos questionamentos nossos

querendo cada vez mais saber sobre o dia a dia das meninas e

meninos escolhidos, e como tudo havia começado, que não

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queríamos mais sair da frente do computador, ansiando cada vez

mais por novas histórias.

Fazia apenas quatro horas que estávamos em frente ao

computador, e cada vez mais em nossos Orkuts chegavam recados de

jovens que queriam falar de sua história de vida, e sempre dispostos

a nos relatar fatos impressionantes. O engraçado de tudo isso, era

que os mesmos não tinham vergonha de falar o que tinham passado,

do mal que tinham sofrido. E também de saber que a bulimia e a

anorexia estavam totalmente relacionadas, pois muitas vezes

começava com uma e terminava com a outra.

Quando percebemos, estávamos dispostas, não somente a

saber sobre a doença ou o que havia em cada rosto e inocência de

tantas meninas e meninos, mas também a ajudá-los a superar tal

crise que ainda destruía essas vidas. Depois de encerrada a primeira

parte do projeto, que era de conhecer esses jovens – mas que foi

além de uma simples apresentação -, percebemos que ainda havia

muito a nos comunicar com eles, para saber cada vez mais e mais.

Em tão pouco tempo de conversa, envolvemo-nos tanto, que a

vontade era estar presente na vida de cada um ou cada uma para

poder ajudá-los pessoalmente.

A seguir emocionantes histórias vão conduzi-lo a um mundo

totalmente desconhecido onde a surpresa, a emoção e a realidade

vão tomar conta de vocês.

Capítulo II – Depoimentos das vítimas de anorexia e bulimia

- Pra mim, vomitar é como pentear meu cabelo, é uma rotinha diária, comenta Felipe*

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Bulimia ilusão de ser feliz

São quatro horas da tarde de um domingo ensolarado.

Acabamos de chegar à casa do nosso entrevistado Felipe*. È a nossa

primeira entrevista e estamos animadas, apesar de um pouco

amedrontada.

No começo estávamos bastante nervosas por pensar se

saberíamos conduzir essa entrevista, pois se trataria de uma

conversa sobre a vida de Felipe*. Era uma casa que fica em um local

de classe média em Campo Grande.

Quando Felipe* foi nos atender na porta, ele estava vestindo

uma bermuda jeans e uma camiseta preta ajustada ao corpo. Ele tem

estatura mediana e é um pouco magro e de cara nos apresentou ter

17 anos. Nós duas entrevistadoras estávamos usando calça jeans e

uma de nós blusa branca com detalhes na frente e a outra blusa rosa.

Essa foi a primeira vez que nos víamos pessoalmente, pois só o

conhecíamos por fotos através do Orkut e muitas conversas no MSN.

Na porta da casa dele mesmo, nos apresentamos e cumprimentamos.

Felipe* foi bastante simpático com nós duas.

Em seguida, ele pediu que entrássemos em sua sala, e ali nos

instalamos até o final da conversa. No começo estávamos apenas nós

e ele, mas no meio da entrevista chegou sua amiga Beatrice*.

Desde o primeiro contato no Orkut e posteriormente no MSN,

mostrou-se bem solícito. Decidimos fazer a entrevista em partes para

que não ficasse cansativa e também assim poderíamos saber mais

detalhes. Por isso pedimos que Felipe* começasse descrever sua

infância e os primeiros sinais a doença.

Page 35: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

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Na sala da casa de Felipe*, tinham dois sofás de dois lugares.

No que estava perto da janela nós nos sentamos e no da porta estava

Felipe* junto com sua amiga Beatrice* que vestia uma blusinha

branca mostrando a barriga e calça jeans.

Felipe* sempre foi um menino tímido em relação aos colegas,

vizinhos e até mesmo familiares. Nunca se interessou em fazer

academia, mesmo sendo um garoto que já foi considerado como

gordo.

Ao perguntar sobre sua época na escola, ele não se sente bem

ao lembrar, fica inquieto e cheio de lágrimas nos olhos, pois sua

aparência o incomodava bastante. Nessa parte da entrevista ele nos

contou que seus amigos, tiravam sarro dele, por ter sido gordinho e

também que ele não gostava de brincadeiras como “Verdade ou

Desafio” (brincadeira na qual ficamos em uma roda de pessoas e

giramos uma garrafa no meio desse círculo e em quem parar o bico

da garrafa faz a pergunta ou dá o desafio pra quem estiver com a

outra parte apontada.).

- Eu não gostava desse tipo de brincadeira porque no fundo

sabia que me sentiria ofendido, apesar de sempre ter levado na

brincadeira todos os apelidos que as pessoas me davam.

Felipe* também não gostava de ter contato próximo com as

garotas. Preferia deixar para os amigos, porque sabia que não

chamava a atenção delas. Ele teve uma infância tranqüila em Campo

Grande, apesar de seu pai possuir um temperamento bem forte.

Beatrice* chegou à sala onde estava sendo realizada a

entrevista. Apresentamo-nos e logo perguntamos se ela também

tinha bulimia.

Page 36: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

36

- Não tenho bulimia, nem anorexia apesar de ser magrinha.

Sou magra de ruim, pois adoro comer. (risos)

Ela é um pouco mais baixa que seu amigo. Tem cabelos claros,

na altura do ombro, e olhos cor de mel. Depois de termos

conversado um pouco com Beatrice*, retomamos a nossa entrevista

com Felipe*.

Ele já estava se sentindo mais a vontade nessa parte da

entrevista e já não ficava se mexendo de um lado para outro no sofá

que estava sentado, estava bem à vontade com as pernas cruzadas

em forma de índio.

Quando criança, Felipe* só teve contato com um primo, pois

toda sua família não era de Campo Grande. Perguntamos se ele

ligava para a moda, o que acabou por nos responder que não.

- Eu só gostava de me ver no espelho, porque sempre quis

emagrecer.

Mesmo preocupado com a estética corporal, ele não tinha força

de vontade, pois amava comer, comer, comer. Sua empregada fazia

comidas gostosas, o que o fazia não resistir e comer exageradamente

e compulsivamente.

Um dia comeu tanto, que começou a se sentir culpado por ter

sido tão guloso. O que ele resolveu fazer? Vomitar. Achava que isso o

aliviaria de consumir calorias e de ficar mais gordo ainda, já que

tinha visto tanto alguns amigos fazerem. Nesse instante, nos

surpreendemos quando perguntamos sobre sua doença. Felipe* se

sentiu nervoso, gesticulando muito e inquieto no sofá apesar de nos

contar um fato que, a nosso ver, foi tremendamente assustador:

Page 37: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

37

- Pra mim, vomitar é como pentear meu cabelo, é uma rotinha

diária – comenta.

Ele não se lembra ao certo quando decidiu que queria

emagrecer, mas que apenas queria emagrecer, custe o que custasse.

Felipe* acredita que foi vendo na televisão e também nas revistas os

corpos malhados dos artistas, quando resolveu mudar de vida e de

corpo né?!.

Nós entrevistadoras, já estávamos mais a vontade, fazendo com

que a entrevista fosse mais bem conduzida. Apesar de expressar em

nossas faces uma feição assustadora a cada revelação, não deixamos

transparecer para não o assustar ou intimidar.

- Na época eu tinha uma amiga próxima que também era

gordinha, mas ela já fazia regime e então me passou uma dieta, que

era bastante simples e fácil de executar.

Ele nos contou que o regime se chamava cetônico, e consistia

em comer carne vermelha e alface, além de beber água. Por ver que

esse regime estava dando certo, a vontade de querer emagrecer se

tornou cada vez mais forte. Chegou a pesar 57 kg, comparados com

os 70 kg que já pesou.

Nervoso e um pouco agitado ao falar sobre a doença, Felipe*

mais uma vez nos surpreendeu:

- Nunca pensei na morte, pois pra mim, não tenho bulimia. Sou

normal como vocês. Doente são essas modelos e meninas

magérrimas, não eu, pois eu sei o que estou fazendo, ele admite.

Todas as vezes que Felipe* exagerava e comia muito, em

seguida ia ao banheiro de sua casa, alegando que ia tomar banho,

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38

ligava a torneira, o chuveiro e ao invés de realmente tomar banho,

preferia vomitar tudo o que tinha comido, para que a culpa não o

atormentasse.

- Já passei o dia todo, tendo ingerido apenas um picolé, e

mesmo assim resolvi vomitar porque achava que tinha engordado só

por causa disso.

Foi vomitando direto e fazendo o mesmo processo de ligar a

torneira e o chuveiro que sua mãe começou a supor o que podia

estar acontecendo. Tinha percebido que o filho andava estranho nas

atitudes e não comia como antes, além de ver em seu quarto que

possuía um monte de revistas de dieta. No começo achou normal,

mas quando realmente se deu conta, desconfiou que algo de errado

estivesse acontecendo. Via em Felipe* muitas atitudes diferentes

como, por exemplo, estar sempre com os olhos vermelhos e

inchados. Por isso decidiu verificar escondido para que Felipe* não

desconfiasse de nada.

Ao perguntar o que estava acontecendo, Felipe* mentia ao

dizer que não havia nada, com medo de sua mãe brigar e contar para

o pai, do qual ele tinha muito medo. Assim que descobriu realmente

o que seu filho fazia, a primeira reação de Elenice*, mãe de Felipe*,

foi querer levar o filho ao psicólogo.

Ao saber da descoberta da mãe, Felipe* resolveu despistar a

mãe, alegando que ela estava imaginando coisas e resolveu que toda

vez que quisesse vomitar, iria ao escritório de seu pai, que fica na

esquina da sua casa, alegando que ia telefonar, mas ia mesmo pra

vomitar.

Em seguida, Felipe* pediu licença que ele gostaria de ir à

cozinha e já voltava. Enquanto isso, conversávamos com Beatrice*.

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39

Ele foi até a cozinha da sua casa e trouxe um pratinho com

brigadeiro mole e perguntou se também queríamos.

Depois que ele voltou da cozinha, nos contou que tudo

começou aos 15 anos e dura até hoje com seus 20 anos. Ao ficar mais

velho e ainda com a doença, Felipe* arrumou um emprego.

- Eu trabalho, mexo com dietas e Herbalife que são multi –

vitaminas. Mas não posso comer na hora que estou trabalhando.

Felipe* diz não tomar esses suplementos ou shakes que

substituem a alimentação, pois acha que isso também pode

engordar.

Quando perguntamos se ele se considerava uma pessoa infeliz,

ele disse que não, porque seu sonho sempre foi emagrecer e hoje

esse sonho se tornou realidade, mesmo tenho consciência que é uma

batalha diária e perigosa. Ficamos mais uma vez surpresas, quando

perguntamos o que ele achava de fazer uma dieta saudável com uma

nutricionista, sem se preocupar em parar de comer, e mais uma vez

ele nos espantou.

- Acho que isso é coisa de menina. E também não me considero

bulimico. Não tomo refrigerante porque fiquei sabendo que demora

mais para ser digerido do que uma alimentação. O resto, eu como de

tudo, só pelo prazer de comer, e vomitar depois.

De repente, um momento de silencio. Não conseguíamos falar

nada e ele também não disse mais nada. Aliás, não sabíamos o que

falar.

Felipe* nos revela que ainda sobre recaída, e vomita de vez em

quando, mas como ele mesmo diz, isso faz parte do seu cotidiano, e

Page 40: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

40

não pretende parar. Hoje, com 64 kg e medindo 1,77 m, sua meta é

chegar aos 43 kg.

Quase no final da conversa ao falarmos da influência da mídia e

das revistas de dietas, Felipe* nos interrompe e diz que a mídia só

fala sobre anorexia e bulimia e que não tem mais nada de

interessante pra falar. Ele admite saber que anorexia é quando se

para de comer e bulimia quando se come demais e em seguida

vomita tudo. Mas não sabe o porquê, ou quando começou.

- Não me interesso em saber mais sobre esses transtornos, pois

sei que não sou doente e não preciso saber. Não gosto nem de

comentar muito sobre isso, o que pra mim é natural, e para mim isso

se torna normal perante as outras pessoas.

Mesmo ele sendo uma pessoa totalmente magra, ele gosta de

brincar com as pessoas chamando-as de gordas, pois um dia ele

também foi chamado assim.

Despedimo-nos de Felipe* e entramos no carro que nos

esperava na frente de sua casa.

No caminho pra nossas casas, conversamos um pouco pasmas

sobre a entrevista que tivemos com esse garoto que não admite ter

bulimia e percebemos que o mesmo assim como os outros, são

pessoas normais tendo uma doença como a de Felipe*.

Ir à escola, conversar com seus amigos, sair pra baladas, são

coisas do dia a dia desses jovens que não deixam ninguém perceber

que eles têm bulimia se caso eles não contarem.

Page 41: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

41

Por um lado, ficamos satisfeitas por ter dado tudo certo e ter

saído melhor que esperávamos e por outro lado, triste por ver que é

uma doença perigosa no qual não conseguimos convencê-lo disso.

CAPÍTULO III -

- Elas faziam dietas sem acompanhamento de nutricionista,

ficavam sem comer por alguns dias, tomavam chás junto

laxantes, além de ficarem horas na academia,

relatou Cínthia

Mundo da moda: Um passo para anorexia

Chegou mais um dia de relatar uma próxima história. Cínthia*

era a próxima entrevistada para o nosso desafiante livro. Saber de

mais uma história era emocionante e pelo que pudemos perceber em

encontros diferentes, hoje seria um dia de muitas emoções, pois já

que tínhamos noção que seria uma história triste perto das outras.

O grande dia chegou. Lá fora estava bastante calor. Era um

sábado de sol. Então resolvemos antes de irmos até o prédio dela,

passar em alguma padaria pra tomarmos um picolé, para conversar,

e discutir como seria feita a entrevista, para depois irmos ao

encontro de Cínthia*. Pegamos nosso celular e procuramos o

telefone dela para confirmar o endereço onde a mesma aproveitou

para nos explicar de uma maneira bem mais fácil de chegar lá.

Anotamos e terminamos de nos deliciar com nosso picolé de

chocolate e entramos no carro novamente, mas agora para ir fazer a

entrevista. Estávamos ansiosas como em todas as outras.

Page 42: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

42

Novamente tivemos que parar, só que dessa vez em num posto

para colocar gasolina no carro, por que senão, não conseguiríamos

chegar nunca ao local que estávamos indo.

Depois de termos abastecido, finalmente conseguimos chegar à

frente do prédio de Cinthia*. Descemos e fomos falar com o porteiro.

Ele perguntou quem éramos nós. Identificamo-nos como amigas de

Cínthia* e dissemos também que ela estava esperando a nossa visita.

Seu apartamento fica em uma região bem valorizada da capital.

Depois que o porteiro já sabia quem éramos, abriu o portão e fomos

em direção a entrada do prédio onde logo avistamos o elevador, que

iria nos levar ao 23° andar, onde Cínthia* mora.

Quando ainda estávamos dentro do elevador, encontramos com

um amigo que pra nossa surpresa também conhecia Cínthia*.

Despedimo-nos dele e tocamos a campainha do apartamento e ao se

abrir, demos de cara com uma mulher muito bonita, loira de cabelos

longos, alta e de olhos claros, que aparentava ter 23 anos. Ela estava

usando um vestido todo florido. Apresentamo-nos e cumprimentamo-

la.

Cínthia* disse para entramos e ficarmos a vontade. Já dentro

do seu apartamento, ela nos levou até o seu escritório, contendo um

sofá de couro branco perto da porta, um armário com muitos livros e

fotos de família e uma mesa de escritório com um computador onde

seria realizada a nossa entrevista.

Ela se mostrou agradável e disponível. No começo ficamos

acovardadas, mas depois de um bate bola enquanto íamos em

direção ao escritório, ficamos mais a vontade.

Page 43: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

43

O apartamento era lindo, todo decorado com móveis de

primeira linha. Até achamos que ela seria uma jovem como

denominam hoje me dia de “patricinha”. Mas não nos empolgamos

com a primeira impressão. Depois de conversarmos e nos

apresentar, vimos que estávamos erradas, pois Cínthia* além de ser

uma jovem que freqüentava a alta sociedade e usava roupas de

marca, era simpática e humilde.

Fomos bem sinceras, dizendo qual era o objetivo do trabalho,

fazendo com que ela nos conhecesse mais e vice versa. Isso ajudou

muito para que pudéssemos realizar o nosso propósito.

Cínthia* estava à vontade, e falou que esclareceria todas as

nossas possíveis dúvidas e também que teria todo o tempo

necessário para nos ajudar. Disse também que estava disposta

justamente por saber o quanto já sofreu com essa doença e o quanto

queria ajudar outras pessoas a enxergar e mostrar o que essas

patologias podem fazer na vida de uma pessoa que também entra

para esse mundo.

Pedimos para ela nos contar como foi sua infância, para

posteriormente entrarmos na parte da doença.

- Tudo começou quando eu tinha de 10 para 11 anos. Minha

infância foi tranqüila, meus pais sempre realizaram todos meus

desejos e também prezávamos muito a união familiar. Alias, até hoje.

Só que na escola a história não era bem assim.

Desde criança Cinthia* sempre foi gordinha e seu maior sonho

era ser modelo. Para realizar o sonho da filha, sua mãe Regina* foi

com ela em uma agência de modelo e ao conversar com o dono, o

mesmo disse que a jovem não tinha perfil, pois era gorda demais

apesar de ser alta pra sua idade na época.

Page 44: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

44

Posteriormente, isso geraria um trauma na vida de Cínthia*.

O escritório onde estávamos era grande, e nas paredes

estavam pendurados vários belos quadros e tinha uma estante com

vários livros, dois sofás de três lugares cada e a mesa outra ela

trabalhava no seu computador.

Mesmo estando à vontade, ela gesticulava muito ao se lembrar

detalhadamente de sua infância.

- Meu grande sonho era ser modelo, mas eu sabia que isso

nunca iria se acontecer, por ser rechonchudinha. No colégio todos

viviam rindo de mim, por ser assim.

Cínthia* teve vários apelidos, como elefante, dumbo, bolinha,

hipopótamo, apelidos que a magoavam demais, mesmo se mostrando

forte na frente dos outros, fingindo que não ligava para as ironias.

Apenas sabia que quando chegasse em casa, choraria de raiva por

longas horas, mas sempre escondido dos pais, pois ela não queria

que eles soubessem.

Ao perguntar aos seus pais o porquê de ser tão gorda, os

mesmos sempre negavam e diziam que seus coleguinhas tinham

inveja dela por sempre ser a primeira da turma, a mais inteligente.

Foi ai que resolveu ser igual às meninas da sua sala, ou seja,

magra. Pediu então para os pais matriculá-la em uma academia, pois

assim ela poderia perder alguns quilinhos. No começo eles não

queriam, mas depois eles aceitaram.

Nas primeiras semanas, Cínthia* começou a ficar desesperada,

pois não via resultados. Perguntou as amigas ser era assim mesmo, e

elas contaram que emagreciam sim, mas com apenas grande detalhe:

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45

- Elas faziam dietas sem acompanhamento de nutricionista,

ficavam sem comer por alguns dias, tomavam chás junto com

laxantes, além de ficarem horas na academia, relatou Cínthia*.

Ela achou o MÁXIMO os “conselhos maravilhosos” que suas

amigas lhe passaram. Então resolveu que iria fazer as mesmas

coisas.

Passados três meses de pura adrenalina, um dia fazendo

esteira, ela começou a passar mal, mas mesmo assim, continuou a

correr. De repente sua visão começou a escurecer, até que

desmaiou.

A única coisa que se lembra é que estava no leito do hospital.

Ao se ver naquele estado, foi ficando nervosa ao comentar tal fato,

que Cínthia* desabafou:

- Achei que naquele momento fosse morrer. Não sei se me

sentia feliz por ter emagrecido ou triste por ter causado isso ao

mesmo tempo. Não sei realmente qual era o meu sentimento. A única

coisa que aconteceu foi que comecei a chorar compulsivamente com

medo dos meus pais descobrirem que eu queria emagrecer de uma

forma como aquela. Eles iriam me matar quando soubessem.

Cínthia* gesticulava as mãos de uma maneira exagerada e

chegou a nos ocorrer que estivesse nervosa ao se lembrar do

ocorrido. Nessa hora, sua empregada foi o escritório para perguntar

se queríamos beber alguma coisa. Dissemos que queríamos água.

Cínthia* tinha apenas 11 anos e media 1,69m e apenas 40 kg,

sendo que seu peso era de 85 kg. Depois de sair do hospital, Cínthia*

se sentia a mais gorda de todas, mesmo sabendo que já tinha

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46

emagrecido o suficiente. Achava que tinha banhas e isso ainda a

atormentava. Queria de todo o jeito emagrecer mais e mais.

Minutos depois, a empregada dela, nos levou a água que

pedimos e então Cínthia* continuou contando sua história.

Estávamos bastante felizes em saber que a entrevista estava

correndo bem, apesar da história de vida da jovem ser bastante

triste.

- Foi a partir daí que eu comecei a ficar dias e dias sem comer

e usando laxantes e dietas para emagrecer.

Nessa hora Cinthia* ficou emocionada, caia lágrimas de seu

rosto ao se lembrar que certo dia, ela tomou tanto laxante, que não

conseguiu ir para o colégio durante vários dias, bem na semana que

tinha provas e ela quase reprovou por ter faltando seguidamente.

Ao mesmo tempo enquanto ouvíamos Cínthia* relatar a parte

triste de sua história, nos emocionamos, que quando vimos,

estávamos chorando junto com ela.

- Lembro-me que os meus pais descobriram minha doença por

eu estar magérrima. Queriam a todo custo me levar ao médico, mas

eu não queria ir de jeito nenhum por sentir medo, pois, queria

continuar emagrecendo custe o que custasse. Era o meu sonho

querer ser modelo, mas eu sabia que isso só iria acontecer se eu

fosse muito magra.

Como estava perto do Natal, os pais de Cinthia* ameaçaram a

única filha dos três irmãos, que eram alguns anos mais velhos que

ela, dizendo que se ela não fosse ao médico, não iria ganhar os

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47

presentes que tanto queria, além de contar para seus irmãos e

amigos. Mesmo morrendo de medo, ela foi.

Nessa hora em que Cínthia* estava nos contando isso tudo, ela

gesticulava muito as mãos e balançava compulsivamente seu pé

esquerdo.

De repente, seu celular tocou e teve que sair do escritório pra

atender. Enquanto isso, ficamos conversando uma com a outra sobre

o que estávamos achando da entrevista. Não demorou muito e

Cínthia* logo voltou e nos pediu desculpa, mas tinha que atender o

celular, por que era sua mãe.

- Bom, vamos continuar. Recordo que quando o médico me

perguntou por que eu estava indo lá, eu apenas disse: Não sei. Meus

pais que quiseram me trazer aqui, porque se eu não viesse não iria

ganhar meus presentes de Natal.

Foi ai que o doutor que estava me atendendo, resolveu

perguntar para minha mãe qual era a razão de eu estar ali.

Ela se lembra que sua mãe foi acordá-la para ir ao colégio e

colocou a mão na testa da filha e viu que estava com muita febre.

Cínthia* nos contou que nesse dia, ela estava com 39,5 de febre. Foi

então que sua mãe, não pensou duas vezes e ligou para o marido e

disse que tinham que levar a filha urgentemente ao pronto socorro.

Cínthia* nos revelou que nesse dia o médico depois que a

examinou, passou alguns remédios para baixar a febre.

- Infelizmente nessa época, o médico que eu fui, não reparou

que eu estava muito magra, pois ele não falou nada. Uma das únicas

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coisas que ele falou, foi que se a febre não passasse, era para os

meus pais me levarem no consultório dele.

A jovem se mexia bastante no sofá enquanto estávamos

conversando. E nós estávamos apreensivas para saber o que estava

ainda por vir.

Depois de duas semanas que Cínthia* tinha ido ao médico, em

uma tarde, ela encontrou com uma amiga que era alguns anos mais

velhos que ela.

- Durante alguns minutos que eu conversei com essa minha

amiga, ela me disse que eu estava muito magra e que ela achava que

eu estava com anorexia. Eu, é claro, disse que não, que ela estava

ficando doida de dizer que eu estava magra. Ela falou que iria me

levar em uma psicóloga amiga dela. Relutei dizendo que não

precisava coisa nenhuma de ir consultar psicóloga, nem psiquiatra,

nem ninguém, mas não adiantou não. Tive que ir do mesmo jeito.

Cínthia* foi levada à psicóloga pela amiga que depois de ter

examinado a garota, contou pra elas que se Cínthia* demorasse mais

alguns dias para procurar ajuda, ela iria acabar morrendo.

- Graças a Deus, essa minha amiga me obrigou a ir fazer essa

consulta, porque caso eu não fosse, hoje provavelmente eu não

estaria aqui contando pra vocês a minha história e sim morta.

Ficamos bastante emocionadas e choramos ao saber dessa

revelação.

Ela nos contou também que ficou bastante feliz quando ficou

sabendo que queríamos que relatasse sua história, porque ela sabia

que ela estaria ajudando outros jovens que entraram para o mundo

da anorexia ou querem entrar.

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Hoje em dia, Cínthia* já tem consciência que essa doença não

tem cura, mas ela faz tratamento com psicóloga, psiquiatra e

nutricionista há aproximadamente 3 anos.

Vimos que estava tarde e tínhamos que ir pra faculdade.

Despedimo-nos, ela nos acompanhou até o elevador e de lá fomos

sozinhas até o carro, onde tinha gente nos esperando para nos

levarmos embora.

CAPITULO IV -

- O máximo de dias que consegui ficar sem comer foi de

dois dias, falou Mariana*

Ela se via obesa no espelho

A próxima entrevistada é uma menina ex-anoréxica, a qual

denominamos Mariana*. Depois de ter conversado com alguns

jovens, nos sentimos fascinadas com nossa entrevista de hoje. Contar

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histórias de vidas não é simplesmente relatar, é viver junto a eles e

voltar ao passado imaginando e participando onisciente de suas

histórias.

Marcar o local da entrevista não foi tão difícil. É claro que

marcamos no lugar mais acessível para nossa entrevistada. Assim

que chegamos ao local, esperamos um pouco e logo em seguida

nossa entrevistada chegou. Antes de irmos para a sala que ela

estuda, passamos em um dos blocos para que ela pudesse pegar um

cigarro com um amigo e a chave da sala. Em seguida, fomos com ela

até a cantina comprar coca-cola.

Mariana*, é de estatura mediana e magra, tem cabelo castanho

escuro na altura do ombro e olhos também. Ela vestia uma blusa

preta, calça jeans e estava usando sandália anabela, aquelas de

plataforma.

Andamos mais um pouco até chegarmos de fato na sala onde

seria a entrevista. Era uma sala grande, com várias carteiras

alinhadas. Tivemos que esperar um pouquinho até a luz acender.

Além de nós, estava uma colega de sala que não participou da

entrevista.

Nós sentamos nas primeiras carteiras perto da porta para que

ela pudesse fumar seu cigarro. Mariana* se sentia a vontade, até

parecia que nós conhecíamos há anos.

Enquanto esperávamos a luz da sala acender, explicamos pra

ela como a entrevista seria realizada.

- Mariana*, vamos fazer algumas perguntas, e as que você não

quiser responder, não precisa, ok?

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Mariana* concordou na hora em nos contar toda sua história

de vida sem esconder nada. Então perguntamos:

Sua infância foi tranqüila? Conte-nos um pouco.

- Sim, foi tranqüila, mesmo eu tenho perdido meu pai, quando

criança. Meus avôs sempre foram presentes na minha vida e da

minha irmã, porque minha mãe trabalhava bastante, mas mesmo

assim, quando tinha tempo, ficava com agente.

Mariana* sempre morou aqui em Campo Grande e sempre foi

bastante mimada pela mãe e pelos avôs.

Perguntamos se a razão de ter tido anorexia foi por causa da

perda do pai, mas ela nós revelou que o grande motivo foi sua

separação com o ex- namorado. Além desse motivo, Mariana* sempre

teve que conviver com a “paranóia” da mãe em relação a ser gorda,

justamente por causa da sua irmã que era cheinha.

Apesar de essa ser a nossa terceira entrevistada, estávamos

mais nervosas que ela. Mariana* viu o nosso nervosismo e nos fez

relaxar, nos deixar bem à vontade para podemos perguntar o que

quiséssemos.

Saber que seu ex-namorado a tinha largado, sem saber qual o

motivo da separação e ver sua mãe sempre reclamando do peso de

sua irmã, fez Mariana* fugir das reclamações da mãe e por isso

decidiu querer sempre ser magrinha, apesar de gostar de comer

muita massa e pouco doce. Mariana* entrou no mundo da anorexia

quando tinha 16 anos e no auge da doença seu peso foi de 41 kg e

sua altura era de 1,60.

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A jovem na época, praticava esportes como natação, no qual

fez cinco anos por causa de sua bronquite, pois não ligava muito para

beleza, dando mais importância na pré-adolescência onde seu corpo

começou a se desenvolver e perceber o quanto era paquerada.

Mariana* quando criança não gostava de roupas que

mostrassem o corpo, como as outras meninas, pois, tinha muita

vergonha. Tinha vários apelidos na escola como linguicinha, nana

banana, mas isso não a deixava triste.

Então, perguntamos se ela gostava de sair. Nesse momento,

Mariana* mexia no cabelo e nos disse que sempre gostou, pois seu

relacionamento com os amigos sempre foi bastante tranqüilo

principalmente com as meninas. Já com os meninos, era um pouco

mais perturbado, pois eles paqueravam bastante ela, deixando – a

sempre muito envergonhada.

- Eu era a mais nova da minha turma, pois como eu tinha o

corpo bastante desenvolvido então não parecia tanto.

Depois que ela já estava na adolescência, Mariana* estava com

16 anos e no colegial terminou seu namoro, o que acabou gerando

uma depressão profunda, deixando-a vários dias trancada em seu

quarto o que conseqüentemente ocasionou o início da anorexia.

- Ele simplesmente chegou um dia do nada e terminou nosso

namoro. Parecia que o mundo tinha desabado em mim.

Mariana* tentou conversar com ele para tentar entender o

motivo da separação, mas ele foi muito cético ao declarar que não

queria mais, e não sabia o porquê. Nessa época Mariana* entrou em

depressão. Achou que sua mãe iria a ajudar a superar o

relacionamento terminado, mas não foi isso que aconteceu, pois

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sabia que ela mesma teria que se virar sozinha e tentar superar o

acontecido.

Mariana* continuou mexendo bastante em seu cabelo. Parecia

um pouco agitada nas cadeiras da sala de aula, mas como nos viu

“preocupada”, ela nos disse que era um tique.

- O máximo de dias que consegui ficar sem comer foi de dois

dias, falou Mariana*.

Nessa época ela se sentia gorda, mesmo ter sido sempre muito

magra. Ao ver sua imagem no espelho, acabava distorcendo e

querendo de qualquer jeito emagrecer.

Mariana* era assinante da revista Capricho, aproveitava e fazia

sempre os testes sobre beleza que mostrava que as garotas de hoje

em dia eram gordas em relação às jovens que apareciam na revista.

Mariana* também assinava a revista “Caras”, já que essa era uma

revista onde apareciam muitos corpos malhados e esbeltos que dão

invejas nas jovens.

Essas duas revistas acabaram influenciando bastante

Mariana*, pois ela não sabia das conseqüências que a doença

poderia trazer pra sua vida. Mariana* desde a pré–adolescência foi

bastante vaidosa, mas isso acabou passando dos limites, por ver que

a maioria das pessoas eram magras.

- Na época eu não achava que tinha anorexia, pois nunca

conversei com minha mãe e nem com meus avôs sobre isso.

Mesmo mexendo bastante em seu cabelo, durante a entrevista,

Mariana* não demonstrou que estava nervosa, pois, depois de várias

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conversas pelo MSN ficamos tentando convencê-la de fazer a

entrevista pessoalmente.

Nos primeiros contatos que tivemos com ela via MSN e

também através de conversas pelo telefone, ela nos passava a

impressão que estava um pouco receosa de nos contar sua história,

mas desde o começo deixamos bem claro o nosso principal objetivo,

que não pretendíamos de forma alguma revelar seu nome e que o

seu depoimento só seria usado para trabalho de conclusão de curso e

isso acabou deixando Mariana* mais a vontade, o que a fez aceitar

na hora.

Quem acabou ficando um pouco receosa com essa entrevista

fomos nós, pois várias vezes tentamos marcar com ela, mas por

algumas razões, e uma delas foi que como cada uma de nós mora em

um local diferente da capital, isso acabou fazendo com que

desmarcássemos as entrevistas de última hora. Até que um dia,

quando estávamos conversando nos três, Mariana* deu a idéia de

fazermos à entrevista na universidade que ela estuda.

No dia marcado choveu até um pouco antes de irmos para o

encontro. Achamos que ela fosse desistir e marcar outro dia para

realizarmos a entrevista. Chegamos até conversar com ela para

deixarmos para fazer outro dia, mas ela pediu para esperar até um

pouco antes da entrevista para ver se a chuva passava.

Por sorte depois de várias horas chovendo forte, acabou

parando o que não atrapalhou de realizar a nossa entrevista com

Mariana*. Estava disposta a nos relatar

- Consegui superar a doença, quando eu tinha 18 anos e meio,

pois tive que ir várias vezes ao psicólogo e também na época, minha

mãe e meus amigos me ajudaram bastante a superar isso.

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Hoje em dia, Mariana* já tem quase 21 anos e pesa 55,5 kg e

só de vez em quando tem recaídas, mas mesmo assim, continua

fazendo de tudo para ter uma vida tranqüila com seus familiares,

amigos e namorado.

Quando estava indo nos levar até a saída da universidade,

fomos conversando com ela e se dispôs a procurar algumas fotos da

época que ela teve a doença para colocarmos no nosso livro, assim

que tivesse tempo.

Já na frente da universidade, nos despedimos, pois também

tínhamos que ir pra aula. Falar com Mariana* e saber de sua história

de vida, nos deixou um pouco triste, apesar de tentarmos não nos

envolver muito com os relatos, mas não conseguimos. Choramos,

abraçamos e a felicitamos principalmente por ter superado mais uma

etapa de sua vida.

CAPÍTULO V -

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Grávida e separada do namorado, Antônia* engordou

30kg, passando de 50kg para 80 kg. Ao se olhar no espelho e

ver o quanto tinha engordado, Antônia* resolveu parar de

comer, e quando comia alguma coisa, fazia o possível e o

impossível pra vomitar.

Gravidez inesperada levou a anorexia e bulimia

Numa manhã de quarta-feira batemos um papo bastante

descontraído por MSN com Antônia* e depois de termos nos

apresentado, dissemos que queríamos entrevistá-la. Ela adorou a

idéia e de cara aceitou. Marcamos para ir a sua casa no que seria o

próximo sábado. Anotamos o endereço e telefone dela, caso a gente

precisasse.

Tivemos uma semana bastante corrida, pois tínhamos que ir

atrás de mais jovens para contar sua história. Então, o sábado logo

chegou e fomos para casa da nossa entrevistada. Eram apenas 8

horas da manhã e já estávamos na lá na frente. Tocamos a

campainha e quem nos atendeu foi dona Filomena*, mãe dela.

Antônia* tinha ido levar a filhinha na casa do pai.

Dona Filomena* nos convidou para entrarmos e esperarmos a

nossa entrevistada na sala. Enquanto isso, a mãe de Antônia* nos

mostrou algumas fotos de sua filha e também de sua netinha, a

Paloma* na qual estavam expostas em vários portas – retratos, além

de conversarmos por alguns minutos com ela.

A sala da casa não era muito grande, mas era bem arrumada.

Nem parecia que a tinha uma criança, de tão arrumado o lugar.

Depois de alguns minutos esperando, Antônia* enfim chegou.

Ela estava vestida com uma blusa um pouco larga, short colorido e

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nos pés, rasteirinha. Ela é baixinha com o cabelo “chanel” e

vermelho. Cumprimentamo-nos e logo começamos a entrevista.

Primeiro pedimos para que ela nos contasse como tinha sido

sua infância, pois assim, seria mais fácil de conduzir a entrevista e

também ela iria se soltando aos poucos, ao invés de logo de cara,

falarmos sobre a época que ela entrou para o mundo da bulimia e da

anorexia.

- A minha infância foi bastante tranqüila. Passei toda no

interior de São Paulo, numa cidadezinha chamada Itatiba. Lá eu

morava com meus pais e meus três irmãos. Nas férias vínhamos

sempre pra Campo Grande, na casa dos nossos avôs e de alguns

primos também.

Enquanto Antônia* estava sentada com os pés em cima do sofá

e contando sobre sua infância, percebemos que ela não parava de

estralar os dedos tanto das mãos, quanto dos pés.

Perguntamos quais eram as brincadeiras que ela gostava.

Contou-nos que curtia passar os finais de tarde, jogando bola com os

vizinhos e conversar com amigos.

De repente um grande segredo veio à tona: Antônia* nos

contou que foi em um desses dias de brincadeira que conheceu o pai

de sua filha.

Ficamos bastante curiosas em saber sobre isso, então pedimos

para ela nos contar. Mas é claro, se ela quisesse.

- Claro que eu aceito sim, não tem problema nenhum. Bom, ele

é primo de um amigo nosso, que morava na mesma rua que eu, e um

dia ele foi junto brincar com a gente de pega-pega. Depois desse

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encontro nos vimos mais algumas vezes, até ficarmos juntos

definitivamente.

Antônia* disse que uma vez, eles foram tomar sorvete que

ficava na pracinha da cidade e ele contou pra ela que sua irmã estava

muito magra e isso estava deixando seus pais bastante preocupados.

- Ele me contou que ela tinha lido numa revista que se ficasse

alguns dias sem comer, poderia emagrecer. Essa foi à única vez que

eu me lembro de ter escutado alguma pessoa comentar sobre

anorexia. Nessa época eu nem sabia o que era essa doença, até então

desconhecida por mim.

- Na hora que ele me contou, fiquei horrorizada e pensei: - Isso

nunca vai acontecer comigo. Infelizmente foi ao contrário. Depois de

três anos, numa tarde de domingo comecei a ter muitos enjôos e

passei vários dias mal. Nisso, descobri que estava grávida. Foi um

choque e tanto pra mim, quanto pra ele. Quando ele ficou sabendo

sumiu por um tempo da minha vida. Em seguida tive uma forte

depressão, pois não queria mais sair de casa. Eu passava 24 horas

por dia no quarto e comia tudo que via pela frente.

Nessa parte do depoimento Antônia* ficou bastante

emocionada. Até perguntamos se ela gostaria que marcássemos

outro dia, mas ela nos disse que estava tudo bem e que poderíamos

continuar. Queria muito que soubéssemos de seu problema para que

assim pudéssemos ajudá-la.

Grávida e separada do namorado, Antônia* engordou 30 kg,

passando de 50 kg para 80 kg. Ao se olhar no espelho e ver o quanto

tinha engordado, Antônia* resolveu parar de comer, e quando comia

alguma coisa, fazia o possível e o impossível pra vomitar.

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- Infelizmente não me importava com o bebê que estava

esperando, pensava só em mim, em emagrecer e até morrer, não me

importando com a gravidez, já que tinha perdido o grande amor da

minha vida mesmo. Então se a criança não sobrevivesse, não estava

nem ai. É claro que naquela época, eu estava muito depressiva,

porque hoje em dia eu dou a minha vida pela minha filha.

Conseqüentemente, Antônia* parou de exagerar na comida, e

parou definitivamente de comer. Passado uma semana, e vendo que a

filha não saia mais do quarto nem mesmo pra comer, dona Filomena*

desconfiou que estivesse acontecendo algo de errado, já que

Antônia* só queria dormir e ir direto ao banheiro para vomitar,

mesmo que fosse só água.

Assim, a mãe dela resolveu conversar com o marido para eles

tivessem uma conversa séria com a filha, já que desconfiava que

Antônia* estava aprontando alguma coisa.

- Quando entramos no quarto, vimos Antônia* desmaiada no

chão com uma caixa de remédios ao seu lado, totalmente vazia.

Imediatamente a pegamos e levamos ao hospital, disse Filomena*

bastante emocionada.

Nessa parte da entrevista, quem se emocionou também, fomos

nós, mas pedimos para ela continuar mesmo assim.

- Chegando lá, o médico que me atendeu descobriu que eu

estava intoxicada e desacordada havia alguns minutos. Perceberam

que eu estava tendo hemorragia interna e acabaram me internando

imediatamente na UTI, diz Antônia*.

Dona Filomena* nos conta que ficou apavorada, pois não queria

perder a filha, nem a neta:

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- Me senti culpada por não ter percebido antes o que estava

acontecendo já que sabia que algo grave estava ocorrendo com

minha filha e minha neta.

Passado 5 horas de puro nervosismo o médico que atendeu

Antônia* informou aos pais o que estava acontecendo com ela. Então,

eles pediram para ele contar de uma vez só. Antônia* sofria de

bulimia e anorexia nervosa. De cara eles não entenderam nada, pois

apenas sabíamos que era grave pela expressão do médico.

- O Dr. Marcelo Guimarães*, nos contou que Antônia* teria que

ficar em observação por alguns dias, principalmente por causa da

criança, mas adiantou que a mesma não corria risco de morte,

desabafou a mãe dela.

Como eles não tinham muito que fazer, a não ser esperar,

resolveu então ir a uma livraria procurar algum livro ou revista que

falasse sobre essas doenças. Só que infelizmente eles não acharam

nadinha.

Depois que Antônia* e sua mãe contaram um pouco da história,

perguntamos qual cidade isso tinha acontecido.

- Aconteceu aqui em Campo Grande, pois se tivesse sido em

Itatiba, com certeza eu teria morrido.

A mãe de Antônia* balançava bastante as mãos e as passava

nos finos e curtos cabelos, quando nos disse que sua filha ficou

internada durante dois meses na UTI, porque estava bastante

desidratada e precisava recuperar um pouco do peso por causa do

bebê.

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- Me lembro, que quando fiquei internada, - relata Antônia* -

tudo era razão de choro. Na época o meu médico, disse que era por

causa da gravidez, pois eu estava bastante sensível. Depois de uma

semana que eu já tinha recebido alta, tive que voltar ao hospital

novamente, só que dessa vez pra ganhar minha vida. Que Graças a

Deus nasceu com muita saúde.

Até hoje, os médicos que a atenderam não sabem como o bebê

não teve nenhuma complicação por causa do seu estado de saúde

que era bastante grave.

Uma vez em que seus pais e seus irmãos foram para casa

descansar, Antônia* teve que ficar por algumas horas no hospital

sozinha.

Em razão disso, ela aproveitou e desobedeceu a enfermeira e

foi até o banheiro vomitar tudo que tinha comido naquele dia. Depois

veio o arrependimento que a fez contar para sua mãe e foi ai que

Antônia* resolveu se esforçar ao máximo pra sair o mais rápido

possível de lá e não prejudicar o bebê estava esperando.

- Nos primeiros 15 dias, minha filha não aceitava comer nada,

por que achava que iria engordar, mesmo que tomasse água, disse

Filomena*.

Atualmente, Antônia* conseguiu controlar tanto a anorexia

quanto a bulimia. Pra isso ser possível, duas vezes na semana ela faz

seções de psicoterapia com uma psicóloga e também faz

acompanhamento com um neurologista e segue uma dieta

balanceada, feita exclusivamente pra ela, conformo orientações de

uma nutricionista.

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62

- Tenho consciência que essas doenças que tive, não tem cura,

posso ter recaídas a qualquer momento, mas posso controlar. Então,

sigo todas as orientações dos especialistas, porque sei que tenho

uma filha que é minha vida, tenho ela pra criar e não posso morrer,

diz Antônia* emocionada.

Emocionada, nós, depois de 2 horas de bate-papo a nossa

entrevista chegou ao fim. Apesar de ser mais uma história triste,

como todas as outras e tínhamos consciência de que seria assim

mesmo, estávamos satisfeitas e felizes, pela entrevista ter corrido

como gostaríamos.

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CAPÍTULO VI -

- Quando eu tinha apenas 15 anos de idade, me apaixonei

loucamente pelo meu professor de matemática.

Paixão platônica leva ao mundo da anorexia

Numa linda tarde de domingo ensolarado, resolvemos ir

caminhar na avenida Afonso Pena, para caminhar ao ar livre e

descansar um pouco da nossa rotineira vida de estudantes.

Chegando lá, avistamos um amigo nosso que estava com seu primo.

Edson* que era nosso amigo há 2 anos, veio nos cumprimentar e logo

nos apresentou seu primo Caio*

Conversamos por alguns minutos com eles e no meio da

conversa Edson* perguntou sobre o andamento do nosso TCC

(trabalho de conclusão de curso). Contamos que estávamos

escrevendo um livro sobre anorexia e bulimia e que precisávamos de

depoimentos de jovens que tivessem ou ainda tinham algumas dessas

duas essa doença. Foi então que Caio*, primo do nosso amigo, nos

contou que ele tinha anorexia.

Ficamos surpresas e perguntamos se ele aceitava nos relatar

sua história, lembrando sempre prometer o sigilo do seu nome.

Ele achou bastante interessante a idéia do livro, mas disse que

precisava pensar se iria dar seu depoimento ou não, porque não

queria que a mãe ficasse sabendo.

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- É que se ela ficar sabendo vai ficar brava comigo. Só o meu

primo Daniel*, o Edson* e agora vocês que sabem.

Dissemos pra ele que não precisava se preocupar, por que seu

nome não seria revelado de forma alguma. Ele gostou de saber, mas

disse que iria pensar mesmo assim. Cada uma passou o número do

celular pra ele e vice – versa.

Passado uma semana, Caio* nos ligou e disse que estava

aceitando dar seu depoimento. Marcamos para ir a sua casa, numa

quarta-feira à noite.

A quarta-feira chegou e lá estávamos nós mais uma vez na

frente da casa do entrevistado e agora era a vez de conversarmos

com Caio*, um garoto que tem anorexia.

Tocamos o interfone e Caio* mesmo que veio nos atender.

Ele estava usando uma calça jeans preta escura, blusa do São

Paulo e nos pés estava usando tênis. Caio* é alto, tem cabelos e olhos

castanhos claro, e a pele bem bronzeada.

Cumprimentamo-nos e cada uma disse o nome pra ele.

Entramos em sua casa, que por sinal era bonita, com uma sala

grande, muitos quadros de vários pintores conhecidos e também

alguns porta-retratos com fotos dele e da sua irmã.

Ele nos disse que a entrevista, seria realizada no escritório, e

então o acompanhamos até o local.

Era um escritório bastante diferente dos que vai tínhamos

visto. Esse tinha dois andares. No primeiro era da sua irmã e o outro

dele. Tivemos que subir uma escada para ir até o segundo andar.

Page 65: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

65

Quando chegamos à porta, ele apenas digitou uma senha num

aparelhinho digital e se abriu. Entravamos e ele nos disse que era

para ficarmos a vontade, além de podermos perguntar tudo que

desejássemos, por que ele estava disposto a responder todas nossas

eventuais dúvidas.

Pedimos a ele que nos contasse um pouco sobre sua infância,

como de costume, para começar nossa longa e exaustiva entrevista

de uma forma bem leve.

- Passei toda minha infância aqui em Campo Grande, mas não

foi muito tranqüila, porque meus pais se separam quando eu tinha

apenas um ano e meio e minha irmã 12 anos. Por causa disso,

tivemos que ser criados pelos nossos avôs maternos, porque mamãe

trabalhava o dia todo e não tinha tempo de cuidar da gente.

Infelizmente, durante a infância, Caio* não teve muito contato

com os pais. Tudo o que ele precisava, tinha que recorrer aos seus

avôs, porque sua mãe nunca tinha tempo. Ele e a irmã já chegaram

ficar uma semana inteira sem vê-la. E o pai ele nem se lembra a

última que o viu.

Em um determinado momento da entrevista, o que nos deixou

bastante tristes e chateadas, Caio* lembrou-se de um aniversário em

que a mãe simplesmente não se lembrou da data.

- Tirando essas lembranças tristes, as outras que tenho são

bastante alegres, pois apesar de não convivido quase com meus pais,

sempre estava em contato com minha irmã, meus avôs e primos.

Page 66: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

66

Apesar de antes da entrevista Caio* ter estado nervoso; quando

começamos a conversar, ele já se encontrava mais tranqüilo e até

parecia que já nos conhecíamos há bastante tempo.

Quando ele ia começar contar sua história, seu celular tocou e

ele saiu do escritório para atender. Logo que voltou, disse que tinha

uma coisa para contar e que nos deixaria de boca aberta quando

soubéssemos, já que era um segredo seu.

Ficamos entusiasmadas e curiosas para saber o que era, e

assim a verdade veio a tona.

- Quando eu tinha apenas 15 anos de idade, me apaixonei

loucamente pelo meu professor de matemática. Só que como eu era

bastante gordinho, tinha certeza que ele não iria nem olhar pra mim.

Então, resolvi parar de comer, pois eu sabia que se eu fizesse isso

iria emagrecer, por que já tinha lido numa revista, desabafou.

Realmente ficamos bastante surpresa com a revelação dele. É

que não esperávamos que fosse alguma coisa desse tipo o que ele ia

nos contar.

- Cheguei a ficar uma semana sem comer nada. Água eu

também já não bebia mais, por que eu tinha medo de engordar. No

começo, como eu não via resultados, resolvi cortar de vez a água.

Comer? Só quando tinha algum jantar em casa, pra ninguém

desconfiar que estivesse de regime, mas depois que passava, ficava

mais alguns dias sem comer.

Enquanto conversarmos, ele estava com uma caneta nas mãos

e não parava de girá-la no ar.

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67

Nessa época, sempre que Caio* se olhava no espelho, via-se

mais gordo do que realmente estava. Por causa disso, resolveu que

não iria mais comer quando tivesse jantares em sua casa. Resolveu

dar desculpas dizendo que já tinha jantado e que precisava dormir

pra acordar cedo e ir pro colégio. Sua avó nunca desconfiou de nada,

ao contrário do avô que achava que cada vez mais o neto estava mais

magro. Chegou a comentar com sua esposa, mas ela sempre dizia

que era por que Caio* estava em fase de crescimento.

- Teve um dia, que eu estava no colégio e de repente, me senti

mal e desmaiei. Só fui acordar algumas horas depois já no hospital.

Foi lá que fiquei sabendo que estava com anorexia nervosa. Na hora,

fiquei desesperado, porque não sabia o que iria acontecer comigo e

não queria que minha mãe, meus avôs e minha irmã ficassem

sabendo da minha doença. Pedi então para que meus amigos não

comentassem nada com eles, pois eu mesmo queria fazer isso.

Já faz três anos que Caio* tem anorexia nervosa e até hoje,

apenas seu primo Daniel* e outro primo, o Edson* sabem da doença.

Ele faz o possível e o impossível para ninguém mais descobrir,

porque sabe que quando alguém ficar sabendo, a primeira pessoa

que irão contar, vai ser pra mãe dele.

Mais uma revelação “bombástica” de Caio*:

- Minha mãe, ficou bastante chateada, quando ela descobriu

que sou homossexual. Se imaginasse que também sou anoréxico,

com certeza ela ia ter um “treco” e ia falar que estou louco e que

preciso de tratamentos, mas sei que isso não é verdade.

Mesmo Caio* ter estado bastante tranqüilo durante a

entrevista, não parou de brincar com a caneta que estava em suas

mãos.

Page 68: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

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- Na metade do ano passado, resolvi procurar ajuda, mas

infelizmente não consegui, porque na época eu estava desempregado

e não queria pedir dinheiro pra minha mãe, porque ela iria querer

saber pra que eu estava querendo dinheiro. Resolvi então, desistir de

procurar ajuda.

Caio* nos contou que antes de ser anoréxico, chegou a pesar

90 kg e atualmente está com 47 kg e tem 1.75 de altura.

- Tenho consciência que estou muito magro, por causa da

minha altura, mesmo assim quero chegar aos 39 kg. Pra isso

acontecer, estou usando laxantes e fico alguns dias sem comer. Teve

uma vez que passei o dia todo com apenas dois copos de águas no

estômago, mesmo assim eu não sinto fome, pois já estou

acostumado. Já é super comum isso pra mim.

- No começo da doença, eu tentava vomitar depois que comia

alguma coisa, mas como as vezes que tentei não foram bem

sucedidas, resolvi então só ficar sem comer. É bem melhor! Assim

ninguém desconfia de nada (risos).

Antes de encerrarmos a nossa entrevista, perguntamos se ele

tinha medo de morrer e ele nos resolveu que não. Que seu objetivo

estava sendo realizado e para que isso acontecesse, ele não mediria

esforços para conseguir.

Pois bem, agradecemos Caio* pela entrevista, despedimo-nos e

fomos embora. Antes de ir embora comentamos uma com a outra a

tranqüilidade do comentário sobre a morte. Mas o que poderíamos

fazer se ele pensava assim???

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69

Essa foi à história de mais um jovem que tem anorexia. Seu

depoimento é bastante emocionante e triste. Ficamos muito mal por

não termos conseguido fazê-lo entender o perigo da doença, ficamos

contentes pela graça de ter conseguido finalizar e escrever mais uma

história de vida.

CAÍTULO VII -

[...] eles me disseram que sua amiga, tinha dito que as Barbies

são magras, por que simplesmente vomitam sempre que

comem. Achei o máximo, mesmo sabendo que Barbies são

apenas bonecas que não falam. Mesmo assim gostei da

resposta que eles me deram.

Bulimica para ser como a Barbie

Tínhamos ido à casa de uma amiga tomar tereré e contamos

pra ela que estávamos finalizando a faculdade, e o que nos

atormentava um pouco eram as noites sem sono por causa do nosso

livro sobre “anorexia e bulimia”.

Ela ficou surpresa e nos contou que sua melhor amiga tem

bulimia. Essa seria a última jovem que iríamos entrevistar para o

nosso livro, pois antes dela já tínhamos escolhidos mais algumas

histórias para colocar no trabalho.

Page 70: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

70

Perguntamos se ela poderia nos passar o número do telefone

dessa garota, e ela disseram que sim. Mas antes, explicamos que

precisávamos conversar com a jovem por que estávamos atrás de

pessoas que aceitassem dar seu depoimento.

Quando chegamos em casa, a primeira coisa que fizemos foi

ligar pra Andrezza*.

Falamos pra ela que quem tinha passado o número do seu

telefone tinha sido a Anna Paula*, sua melhor amiga.

Quando contamos o nosso propósito de escrever um livro sobre

anorexia e bulimia para ajudar tanto as meninas quanto as famílias e

a sociedade de saber mais sobre essa doença que mata por ano

várias pessoas, ela disse que estaria disponível na quarta-feira de

tarde para conversarmos. Só que infelizmente na quarta, ela teve

alguns compromissos e tivemos que desmarcar.

No outro dia (quinta-feira), Andrezza nos ligou às 16h50

dizendo que estaria livre às 18h pra fazermos à entrevista. Então

confirmamos o endereço, nos arrumamos, pegamos os materiais que

iríamos usar e fomos pra casa dela.

Chegando lá, batemos palma e quem abriu o portão pra nós foi

sua empregada, a dona Regina*. Levou-nos até a o quarto, onde foi

nossa conversa com Andrezza*.

Ela não era muito alta, tinha os cabelos ruivos, seus olhos eram

esverdeados, tinha sardas no rosto e ela estava usando uma calça

jeans com uma bata e nos pés estava de sapato fechado.

Page 71: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

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O quarto de Andrezza* onde seria nossa entrevista não era

muito grande, mas também não muito pequena. Tinha alguns objetos

em cima da mesa, parede rosa choque e sua cama de solteira.

Enquanto estávamos nos preparando pra entrevista, Andrezza*

chegou com seu cachorrinho poodle no colo. Cumprimentamo-nos e

mais uma vez dissemos a razão na qual nos levou entrar em contato

com ela.

- Fiquei muito feliz em pode colaborar com vocês. Eu sempre

quis contar minha história para alguém, mas nunca quiseram

escutar. Agradeço de coração por estarem me dando essa

oportunidade. Obrigada mesmo!!!!

Nós estávamos muito felizes por conseguir mais uma pessoa

para que pudéssemos continuar o nosso grande desafio: levar o

conhecimento e essas tristes histórias à sociedade.

Em seguida como de costume, pedimos pra ela nos contar

sobre sua infância.

- Hum... Minha infância foi perfeita. Eu viajava muito para o

exterior. Pelo menos uma vez por mês, eu ia pros EUA, porque meus

pais têm empresa lá. Minha família sempre foi muito unida.

Como Andrezza* era a mais nova entre seus dois irmãos, eles

sempre a mimaram muito.

-Me lembro, que quando eu tinha uns quatro anos e meus

irmãos 17 e 18 anos, meus pais começaram deixá-los me levar pra

passear de carro. Eu adorava, pois eles faziam todas minhas

vontades. Compravam todos doces que eu queria.

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72

Ela estava calma, apesar de ter sido a primeira vez que estava

contando sua história para alguém.

Quando Andrezza* era criança, além de gostar de passear de

carro com os irmãos, também curtia bastante, brincar de bonecas e

de Barbie com suas amigas.

- Teve uma vez que perguntei para minha mãe, por que as

minhas barbies eram tão magras, pois eu queria ser que nem elas.

Mas minha mãe me disse que não sabia. Então, como não gostei da

resposta dela, resolvi perguntar para os meus irmãos. Eles disseram

que não sabiam também, mas que iriam perguntar para uma amiga

deles e que depois me contava.

Passado umas duas semanas, eles ainda não tinham me dado a

resposta, então resolvi perguntar novamente pra eles. Foi ai que eles

me disseram que sua amiga, tinha dito que as Barbies são magras,

por que simplesmente vomitam sempre que comem. Achei o máximo,

mesmo sabendo que Barbies são apenas bonecas que não falam.

Mesmo assim, gostei da resposta que eles me deram.

Andrezza*, então resolveu fazer a mesma coisa, pois, seu sonho

era ser que nem suas Barbies. Magra e Bela!

Durante nossa conversa com Andrezza* que estava sentada na

cama com as pernas cruzadas em forma de índio, brincava com seu

poodle que estava em seu colo, além de expressar muita

tranqüilidade enquanto falava.

Quem estava bastante nervosa eram nós, que não parávamos

de estralar os dedos.

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Nas primeiras vezes, ela usava os dedos para vomitar o que

com o tempo foi sendo substituído pelo cabo da escova de dente e

pelo seu pente de cabelo. Depois de alguns meses, já não estava mais

precisando usar nenhum objeto pra forçar o vômito, por que ele já

saia “sozinho”.

- Pra ninguém da minha casa desconfiar, eu vomitava dentro de

uma sacolinha de supermercado e depois colocava na lixeira de

alguma casa, bem afastada da minha. Uma vez minha mãe, me viu

com uma sacolinha dessas e me perguntou o que tinha dentro e eu

claro, disse que eram os cocozinhos do meu cachorro, pois não

queria que ela ficasse sabendo que na verdade era vômito.

Passaram-se três anos desde que Andrezza* vomitava toda vez

que comia alguma coisa, mas em um certo dia, sua mãe resolveu

levá-la ao médico pra fazer alguns exames de rotina.

Nisso, foi descoberto que sua filha estava com bulimia. Na hora

que o médico falou isso pra Dona Maytê*, mãe de Andrezza*, da

doença da jovem, ela ficou desesperada, pois não sabia como iria

contar para seu marido nem pros filhos.

- Minha mãe chorou tanto nesse dia, que fiquei com muita dó

dela. Não contei pra ela, porque não queria que ficasse preocupada

comigo e ela não iria deixar eu vomitar sempre que comesse alguma

coisa.

Desse dia em diante, Andrezza* se esforçou a máximo pra não

vomitar mais. Nos primeiros meses, ela achou que não iria

conseguir, pois toda hora ela tinha vontade de ir ao banheiro e

colocar pra fora tudo aqui que tinha comido. Até mesmo quando ela

escovava os dentes, minutos depois já estava no banheiro

novamente, só para vomitar.

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- Pensei que não iria conseguir ficar sem vomitar, por que já

estava acostumada. Já era rotina pra mim. Fiz isso durante três anos,

mas graças a Deus, atualmente já consigo controlar a doença.

Hoje em dia Andrezza*, faz tratamentos com psicólogo,

psiquiatra, e também com uma nutricionista, mesmo sabendo que se

não cuidar, pode ter recaídas e pra ela voltar fazer parte do mundo

das bulímicas, é mais fácil do que ela imagina.

Depois do seu cachorrinho ter ficado no colo, ela resolveu

colocá-lo no chão e ficar acariciando-o com o pé.

- Antes de começar os tratamentos com os especialistas, eu não

tinha idéia da gravidade dessa doença. Só fui saber depois que

comecei fazer os tratamentos. No começo do tratamento pensei que

fosse morrer! Fiquei desesperada.

Andrezza* faz tratamento há dois anos e não teve mais

recaídas. Com apenas 12 anos e pesando 70kg, anormal para sua

idade, com a bulimia chegou a pesar 28kg.

A dificuldade para uma pessoa aceitar que tem a doença é

difícil, pois para eles o que importa é ser magro, independente do

que é preciso para que isso aconteça.

A obsessão pela vaidade e pela busca do belo é tão grande que

muitas vezes o medo de morrer nem é tão grande.

- Quanto tinha essa doença não tinha medo de morrer. Achava

que se morresse magra morreria feliz.

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Tanto a bulimia quanto a anorexia estão associadas com a

depressão. Tanto as meninas quanto os meninos tem crise de feiúra,

de se achar gordo mesmo que não esteja, e isso é crise de auto-

estima.

Muitas vezes por ser um pouco gordinho, na escola muitos

meninos colocam apelidos o que “favorece” negativamente para o

começo dessas doenças.

E com Andrezza* não foi diferente. Na escola tinha muitos

apelidos o que a deixava com sua auto-estima lá embaixo.

-Tinha apelidos como gorda, orca, baleia, elefante. Meus

amigos zoavam muito de mim e sempre me falavam que eu ia ficar

assim pra sempre. A partir daí, resolvi mostrar pra eles que jamais

seria assim. O grande problema é que não me preocupei em

emagrecer com saúde.

Andrezza* no começo queria emagrecer de qualquer jeito,

custe o que custasse. Não se importava com sua saúde. Queria

apenas mostrar pros outros que conseguia e pronto.

Infelizmente, Andrezza* ficou nessa durante três longos anos,

mas quanto foi levada a um especialista e o mesmo detectou sua

doença, Andrezza* aceitou facilmente por ver o perigo que estava

correndo.

Hoje, sabe que foi apenas uma fase, e não quer mais isso pra si

própria. Consegue emagrecer saudavelmente comendo de tudo em

pequenas proporções e não exagerando.

Apesar de ter tido problemas de estômago, na gengiva e na

boca, Andrezza* não esta totalmente curada, mas está em fase de

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76

tratamento. O mais importante é que sabe que o tratamento pode ser

longo, e não se importa com isso. Sabe que o mais importante é

saber controlar a doença.

- Quis contar minha história para mostrar as meninas e

meninos que tem tanto anorexia e ou bulimia, que essa doença não

nos leva a lugar algum. E quem está achando que é bom emagrecer

assim, não sabe os problemas que dá.

Feliz da vida ao nos contar sua triste história de vida,

Andrezza* nos contou muitas coisas dessa sua triste fase, o que

infelizmente não deu pra colocar no livro. Mas não pelo fato de não

querermos, mas sim por serem muitas as situações constrangedoras.

Choramos junto com ela, felizes por ver que foi descoberto a

doença a tempo de voltar para o caminho certo, o do tratamento.

- Não tenho vergonha disso que contei a vocês. Tenho orgulho

de mim mesma de ver que consegui em tempo sair dessa, relata.

São muitas as histórias de vida tristes, o que nos deixa

totalmente emocionadas. Claro que em alguns casos, como este, o

final é feliz, mas em outros não. Mas temos certeza que um dia, essas

meninas e meninos vão acordar e ver a realidade em que se

encontram.

Enquanto isso, nosso desafio continua, mas agora teremos que

ir em busca dos especialistas da área médica para que eles possam

nos contar quais são os procedimentos que eles usam quando um

jovem com essas doenças o procuram pela primeira vez, ou até

mesmo para pedir ajuda.

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Nessa parte do livro, resolvemos abordar detalhadamente e

nos aprofundar nas questões médicas, sobre o método dos médicos

Terceira Parte – Especialistas

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escolhidos, os que têm mais participação nos casos de bulimia e

anorexia.

O objetivo principal é detalhar os procedimentos desses

especialistas caso tivessem um paciente com sintomas de anorexia e

de bulimia em seu consultório.

Os médicos escolhidos foram: nutricionista, para a questão da

alimentação; psicólogo para falar sobre o que se passa na mente

desses jovens; psiquiatra, para complementar o psicólogo, para

recomendar a medicação caso a psicologia não consiga resolver;

preparador físico para ajudar através do exercício físico um jovem

anoréxico e bulimico, na qualidade de vida; e o endocrinologista,

para mostrar o qual a ação dos hormônios nesses jovens.

* * *

Dificuldades de conscientização dos jovens podem atrapalhar no progresso do tratamento

Psicologia o primeiro passo para o tratamento

Ser um psicólogo não é tarefa fácil e não é para qualquer um. A

palavra psicologia vem do grego que significa “alma”, e é a ciência

que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão), além

das emoções, a forma de pensar e o comportamento do ser humano.

Embora existam diversas áreas e linhas de atuação, a

psicologia busca o conhecimento e o desenvolvimento humano

individualmente ou em grupo. Além disso, a psicologia possui

algumas linhas, como: a abordagem centrada na pessoa, gestalt, o

Page 80: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

80

psicodrama, a psicanálise, a linha comportamental, a análise

transacional e a psicologia transpessoal.

Falar com especialistas também não é fácil. Entender sua

linguagem para passar para a sociedade é uma das tarefas mais

difíceis de ser jornalista. Mas encaramos como mais uma

experiência, o que nos faria além de aprender muitas coisas sobre

essas doenças, ajudar diversas pessoas que não sabem sobre elas.

Apesar de estarmos ansiosas com a nossa primeira e primordial

entrevista, pelo fato de ser a chave para o tratamento desses jovens,

fomos até o consultório da Renata. Esperar para ser atendidas nos

deu um frio na barriga enorme. Parecíamos crianças com medo de

conhecer a nova escola.

Encorajamos-nos, fizemos uma oração para que tudo corresse

perfeitamente como o planejado. E assim decorreu.

Em seguida, a secretária de Renata nos chamou para que

adentrássemos a sala do consultório. Quando entramos, Renata

vestida seu jaleco branco. Tinha pele clara, cabelos nem claros e nem

escuros, olhos castanhos e estatura mediana. Renata pediu para que

nos sentássemos e ficássemos a vontade para perguntar o que

gostaríamos de saber.

De imediato começamos a falar novamente sobre o nosso livro

que era um projeto de final de curso. Sua primeira pergunta foi

porque escolhemos esse tema para fazemos um livro, já que a mesma

o considerava complexo demais.

Respondemos a Renata que os dois motivos principais de

fazermos o livro- reportagem, eram o fato dos meios de comunicação

não aprofundarem sobre essas patologias e fazer com que tanto os

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jovens, suas famílias e a sociedade em geral conhecessem mais um

pouco sobre essas doenças.

Em seguida, Renata super simpática e adorável nos deixou bem

à vontade para interrompê-la quando não entendêssemos alguma

coisa que ela falasse. Parecia mais uma conversa de amigas, do que

de médica com duas jornalistas.

Achar que seria tão fácil assim não era o que imaginávamos.

Ficamos certas de que iríamos conseguir mais essa etapa do nosso

trabalho. E resolvemos abrir com a pergunta chave de ouro:

- Renata, explique-nos qual o procedimento do psicólogo no

tratamento de pacientes anoréxicos e bulímicos? Perguntamos.

- A paciente tem que já ter passado por uma avaliação médica e

psiquiátrica para ver qual foi o diagnóstico.

Se caso já os jovens tenham passado por esses profissionais é

necessário saber qual o médico que a encaminhou para a

psicoterapia que é o trabalho do psicólogo.

A ajuda do psicólogo para uma anoréxica e uma bulímica é de

imprescindível importância. E em uma primeira consulta com essas

pacientes é necessário ter certeza de que a menina ou menino tem a

doença para se poder pensar em um tratamento. A psicóloga Renata

do Valle nos explica o primeiro procedimento.

Além do médico, precisa ser trabalhado a auto-imagem, a auto-

estima, onde a imagem corporal que ele tem é totalmente distorcida,

e a mesma se vê gorda, quando não está.

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82

- Tanto a anorexia quanto a Bulimia estão associadas com a

depressão e por isso o tratamento medicamentoso com

antidepressivos é fundamental.

A psicoterapia é uma ação que complementa o médico

psiquiatra, já que somada a medicamentos existe maior possibilidade

de obter melhores resultados do que qualquer uma delas

separadamente. Além disso, é recomendável o psicólogo fazer um

psicodiagnóstico que consiste em um diagnóstico psicológico que é

realizado após solicitação ao psicólogo.

- O psicodiagnóstico tem o objetivo de clarear alguma dúvida

ou dificuldade no tratamento de um paciente.

O exame é realizado utilizando entrevistas (inicial, anamnese) e

aplicação de testes psicológicos para confirmar ou descartar

hipóteses levantadas durante as entrevistas.

Além disso, uma boa psicoterapia é indicada ao paciente para

ajudar a prevenir e identificar recaídas. Em alguns casos,

principalmente os mais graves, deve-se proceder com a internação

para o restabelecimento da saúde.

- É freqüente acontecer as recaídas, por isso é necessário um

profissional que estabeleça com um paciente um vinculo de confiança

duradouro - explica.

A psicoterapia deve ser associada a uma orientação familiar,

acompanhamento multidisciplinar com outros profissionais como

nutricionista, para estabelecer um plano alimentar, o

endocrinologista para corrigir as possíveis alterações metabológicas

provocadas.

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83

O tratamento de uma anoréxica e/ou bulímica não tem tempo

específico. Isso varia conforme a gravidade do caso do jovem.

Portanto, pode ser um “início de quadro”, descoberto recente a

doença ou pode ter tido várias internações médicas, sem que tenha

todo o atendimento psicológico.

- Muitas vezes, a família só faz o atendimento médico e não

procura o psicológico quando há melhora do quadro clinico do jovem.

Tanto para os jovens que possuem bulimia ou anorexia o

procedimento de um psicólogo é igual já que às vezes as duas estão

associadas, e fazem parte de um transtorno alimentar no qual o

objetivo principal é o emagrecimento, seja ele por parar de comer ou

vomitar.

Depois de quase duas horas de entrevistas agradecemos a

Renata pela colaboração, nos despedimos e fomos embora.

Saindo do consultório felizes, nos sentimos realizadas por

achar uma médica tão disponível e entendida sobre o assunto

abordado. Renata nos ajudou muito esclarecendo dúvidas

desconhecidas por nós e muitos jovens também tem, além dela

conseguir falar em uma linguagem fácil de ser entendida, para

podermos assim, passar aos nossos queridos leitores para que eles

também entendam um pouco mais sobre essas doenças que atingem

milhões de jovens no mundo todo.

A explicação de um profissional relacionado com essas

doenças, é imprescindível para o esclarecimento de todos, já que

temos certeza que muitos jovens ou até mesmo suas famílias,

conseguirão compreender e entender mais, e poder assim ajudar a

diagnosticar se os mesmos tem essas doenças ou não.

Page 84: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

84

*

* *

O uso de medicação no tratamento e recuperação

Psiquiatra não trata só loucuras

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85

Não adianta falar da psicologia sem passar pela psiquiatria. Os

dois médicos caso não haja rendimento somente na análise de

consciência dos jovens com a psicoterapia, é imprescindível a ajuda

de um médico psiquiatra que ajude no tratamento com a inclusão de

medicação.

Antes de adentrarmos nas explicações é importante esclarecer

o que é a psiquiatria e o que ela compreende.

A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer "arte de curar a

alma". Ela é uma especialidade da medicina que lida com a prevenção,

atendimento, diagnóstico, tratamento e reabilitação das doenças mentais

em humanos, sejam elas de cunho orgânico ou funcional, tais como

depressão, doença bipolar, esquizofrenia, transtornos de ansiedade e

anorexia e bulimia.

A meta principal da psiquiatria, é o alívio do sofrimento psíquico e o

bem-estar psíquico. Para isso, é necessária uma avaliação completa do

doente, com perspectivas biológica, psicológica, sociológica e outras áreas

afins.

E foi assim, procurando saber mais sobre essa especialidade

que conhecemos Rodrigo Ferreira Abdo, que é perito em anorexia e

tratamentos relacionados a transtornos alimentares.

Até chegarmos até Rodrigo, tivemos um trabalho bem árduo.

Primeiro entramos no site da Uniderp, fomos à parte de "Graduação"

e depois no link "Cursos". Em seguida procuramos "Medicina". Já no

link desse curso, fomos à parte que tem o nome do corpo docente

(professores), e clicamos um por um dos nomes. Tentamos falar com

todos os médicos da listagem, mas ninguém queria nos ajudar a

esclarecer sobre essas doenças. Quando cheguei à vez de ver o nome

do Rodrigo, resolvemos então mandar e-mail pra ele, para ver se ele

aceitava nos ajudar no nosso propósito.

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86

Como Rodrigo é um médico muito ocupado, com muitos

pacientes, e não tinha horário em sua agenda, ele mesmo perguntou

se a nossa entrevista poderia ser via e-mail. Porque assim quando

estivesse mais tranqüilo em casa, poderia nos atender de forma mais

tranqüila onde pudesse nos dar toda a atenção necessária e

responder nossas perguntas.

Já que não tínhamos tido sucesso com nenhum outro

resolvemos aceitar entrevista-lo dessa forma.

Ao ver que iríamos entrevistar um homem, ficamos com medo,

receio, já que nossa outra médica tinha sido mulher. Mas fomos

confiantes de que seria mais uma colaboração pra nossa história.

Fizemos todas as perguntas necessárias e básicas para

entendermos um pouco sobre os transtornos. Rodrigo respondeu

detalhadamente e de bom grado nossas dúvidas.

Vimos que quando o psicólogo fizer a avaliação inicial e o

diagnóstico clínico de sua patologia nos pacientes com transtornos

alimentares como anorexia e bulimia, é necessário mais uma vez,

deixá-los consciente da doença, fazendo com que ele ou ela comece a

ter noção e que fazer o tratamento é necessário para conseguir

melhorar.

O diagnostico desses transtornos alimentares é clínico. Os

exames complementares servem apenas para indicar

comprometimentos do paciente como alterações menstruais,

metabólicas, nutricionais e da personalidade. Por isso, além do

acompanhamento do psicólogo e psiquiatra que é o médico, devem

ser necessários avaliações de um endocrinologista bem como de uma

nutricionista para ajudar no tratamento.

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87

- O tratamento preferencial além desses especialistas, é

relevante à família fazer parte do tratamento por se tratar de uma

patologia crônica bastante complexa, onde a duração é longa e

definido caso a caso - relata o psiquiatra Rodrigo.

A anorexia e bulimia são transtornos alimentares e

compartilham sintomas, bem como de tratamentos semelhantes. O

importante é lembrar-se da individualidade de cada paciente e do

contexto onde o mesmo está inserido.

É comum acontecer às transições durante a vida entre os pólos

de anorexia e bulimia em um mesmo paciente.

- A questão principal não é o término do tratamento, mas deve-

se pensar no controle dos sintomas da patologia e na qualidade de

vida que esse paciente adquiriu com o tratamento - explica.

Geralmente, trata-se de pacientes que vão ser acompanhados

ao longo de vários anos, o que se chama de tratamento de

manutenção.

O fundamental de todo o tratamento é a psicoterapia

acompanhada da nutricionista, e aí, dependendo do caso, o

psiquiatra entra com o medicamento.

- Alguns pesquisadores negam-se a medicar pacientes com

anorexia e bulimia. Entretanto, esses pacientes se beneficiam muito

do uso de psicofármacos tais como antidepressivos, estabilizadores

de humor e ansiolíticos (tranqüilizantes) - diz.

É importante sempre lembrar que a associação desses

transtornos com a dependência química de anorexígenos

Page 88: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

88

(medicamentos para anorexia) entre adolescentes e mulheres adultas

é muito grande, chegando a ser um problema de saúde pública.

Como Rodrigo falou muitas coisas técnicas, tivemos que

mandar diversos e-mails requerendo-o para que pudesse nos explicar

de forma mais fácil para que pudéssemos transcrevê-los.

Sem problema nenhum e cheio de disposição, Rodrigo em

seguida nos retornou o e-mail com as dúvidas respondidas e

detalhadas. No começo achávamos que não íamos conseguir dar

conta, por ser muito difícil de achar os especialistas quanto na hora

de transcrever aos nossos leitores de forma acessível. Mas com

dedicação e muito trabalho, mais uma entrevista tinha sido realizada.

*

* *

O uso rígido do cardápio é importante para se chegar à cura

O prazer aliado ao cardápio balanceado

A Bulimia e a Anorexia são doenças no qual já foi citado acima,

envolvem vários tipos de especialistas, cada qual com seu tratamento

diferenciado para cada situação ou paciente.

Nesse caso, resolvemos abordar de um âmbito geral, como uma

situação bem comum da anorexia e bulimia que é a falta de

alimentação para as anoréxicas e o exagero da ingestão de alimentos

e conseqüentemente depois o arrependimento para as (os) bulímicas

(os).

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89

Dia de semana ensolarado. Silvia também é uma médica muito

ocupada. Desde o momento em que a achamos na internet e

mandamos um e-mail falando sobre o nosso propósito, a mesma se

dispôs inteiramente em nos ajudar. Mais uma etapa do nosso

processo seria realizado.

Dessa vez, a entrevista seria um pouco diferente do normal.

Seria via MSN, já que ser médica é se doar de corpo e alma a sua

profissão. E com Silvia não seria diferente. Mandamos um e-mail

agradecendo a oportunidade e perguntamos onde e como seria mais

fácil realizar nosso encontro.

É claro que ela preferiu ser via internet, aliás, essa é uma das

melhores ferramentas que auxiliam na abordagem de um tema, ainda

mais esse quando se é complexo demais. No e-mail pedimos seu

MSN e assim marcamos em uma terça-feira à noite, já que Silvia

poderia somente nesse horário.

Na hora combinada lá estávamos nós duas autoras do livro

conversando o que seria melhor abordar durante a entrevista. Em

seguida, a nutricionista entrou no MSN empolgada, nos

bombardeando com milhares de perguntas sobre o nosso livro-

reportagem.

Respondemos a todas, é claro, com o maior detalhe possível

para que ela entendesse a finalidade do nosso trabalho. Em seguida

nos elogiou, e disse que agora sim, estaria pronta para as nossas

perguntas.

Antes de começarmos a conferência, pedimos para que Silvia

nos dissesse como é o processo de uma paciente com anorexia e

Page 90: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

90

bulimia, e como é o procedimento com essas jovens anoréxicas,

desde essa primeira consulta até a finalização do processo.

- Meninas, primeiramente, é preciso conquistar a sua confiança

acima de tudo. Estes pacientes normalmente não admitem a sua

doença, tem dificuldade em aceitar isso. Até mesmo agem sem receio

de suas conseqüências, relata Silvia.

Os tipos de pacientes que são consultados são espertos em

"burlarem" o tratamento, e enganarem facilmente os que estão a sua

volta, o que condiz com o que é escutado por eles nas entrevistas

feitas.

A nossa conversa estava bem engraçada e interessante, pois

parecia conversa de amigas, de comadre, e não de médica e

jornalistas. Até o que achamos o máximo o fato de que durante nossa

conversa Silvia falava com a gente de uma forma tão acessível que

até estranhamos, comentando isso com ela.

Ela nos respondeu dizendo que tanto para nós quanto para

escrevermos, seria de mais fácil entendimento. Ela ressaltou ainda

que não gostava de falar tecnicamente porque senão teria que

explicar tudo de novo as pacientes e aos seus familiares.

- Eu prefiro conversar como amiga, mãe e filha (o), orientando

sempre dos perigos da doença, explicando que eu posso ajudá-la

caso ela tenha força de vontade. Sempre deu certo, nos explica

Silvia.

A nutricionista nos explica que a primeira fase do tratamento é

uma fase educativa. É necessário abordar questões sobre

alimentação saudável, conceitos sobre saúde, padrões de fome e

saciedade, fontes de nutriente, recomendações nutricionais.

Page 91: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

91

- Devemos mostrar as conseqüências da restrição de alimentos,

as carências e, principalmente os perigos das purgações

(compensações), como vômito forçado, uso de medicamentos como

diuréticos, laxativos, relata a nutricionista.

O acompanhamento da família é fundamental para que haja o

esclarecimento da doença, dos riscos, e também do tratamento e

caso haja alguma dúvida, somente o especialista pode responder.

Já em relação ao tempo de tratamento, o mesmo não tem prazo

para terminar, pelo contrário, é longo como qualquer tratamento

psicológico. Depende muito da pessoa. Pode durar até muitos anos.

- Hoje em dia, existe muito preconceito da sociedade com as

doenças psiquiátricas. Existem até pais que não dão importância à

doença, tratam como se fosse "frescura" – explica Silvia.

Provavelmente, o médico deve pedir algum exame que meça

albumina, hemograma completo, para ver se há alguma deficiência já

instalada.

Silvia ainda explica o que deve ser feito antes de começar a

reeducação alimentar.

- Para o paciente com anorexia e bulimia nervosa, é necessário

fazer uma avaliação nutricional. Para os pacientes com anorexia,

normalmente eles estão bem abaixo do peso - diz.

Depois da avaliação com o paciente, é necessário fazer uma

dieta para que o peso seja recuperado. Entretanto, a quantidade

inicial dos alimentos é pequena, e vai se aumentando

progressivamente, até que as necessidades sejam atendidas.

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Para as pacientes com anorexia, deve-se tomar cuidado para

não causar Síndrome da Realimentação ao iniciar a dieta.

- Esta síndrome causa hipofosfatemia, hipocalemia,

hipomagnesemia, intolerância à glicose, e arritmias cardíacas

(aceleração), por isso deve se iniciar com uma quantidade baixa de

alimentos e ser evoluída gradativamente - ressalta.

Uma refeição balanceada, com quantidades mínimas, é uma

dieta que contenha uma fonte de carboidrato, proteína, lipídios,

vitaminas e minerais necessárias para o corpo humano. E

conseqüentemente vai-se aumentando a quantidade até atingir as

necessidades.

Os com anorexia nervosa, normalmente são desnutridos, por

isso é feita uma dieta para recuperar o peso. Já para bulímicos, é

necessário atuar de acordo com o estado nutricional dele. Pode ser

tanto com peso normal, levemente sobrepeso ou abaixo do peso,

onde a dieta varia de acordo com o estado nutricional dele.

- O tratamento deve ser multidisciplinar: com psicólogo,

psiquiatra, clínico geral e nutricionista são fundamentais. É

importante abordar também a questão da imagem corporal, por isso

deve-se esclarecer sobre peso ideal, desnutrição, obesidade - diz.

É interessante o paciente, tanto bulímica com anoréxica, fazer

um diário alimentar dizendo o que ele comeu durante o dia, quanto

comeu, a hora, local, se houve purgação, e o sentimento relacionado.

- Isso serve para que o paciente tenha uma auto-monitoração. É

de ótimo resultado. Assim, o paciente consegue se auto-avaliar e fica

mais fácil de nós especialistas avaliarmos - explica.

Page 93: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

93

A dieta para pessoas bulímicas é diferente. Normalmente

encontramos indivíduos com peso normal ou levemente acima ou

abaixo do peso. Diferentemente da anorexia nervosa em que

encontramos desnutridos.

Uma das metas principais para se chegar a um controle e

possivelmente uma cura, é a melhora do psicológico e emocional do

paciente e dos comportamentos alimentares.

*

* *

Endocrinologista só para bulímicos????

Desordem alimentar pode ser tratada

Depois de termos conversado com uma psicóloga, um

psiquiatra e uma nutricionista, fomos indicadas a entrar em contato

com algum endocrinologista que faz parte da equipe multidisciplinar

dessas patologias, que são a anorexia e bulimia.

E por isso conversamos com a médica Luciana M. Sobreira

para saber qual o seu papel dentro da equipe que ajuda na melhora e

no tratamento da anorexia e bulimia.

Conseguimos o telefone da Dra. Luciana, através da lista

telefônica, na parte de endocrinologistas. Tentamos ligar para vários

consultórios atrás de algum médico que fosse dessa área e que

aceitasse nos ajudar. De todos os que ligamos, essa doutora foi a

mais solicita.

A primeira vez que ligamos em seu consultório, pedimos para

sua secretária passar o endereço de e-mail dela, por que assim

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poderíamos explicar melhor como seria o procedimento de

entrevista, para depois marcarmos um horário para irmos conversar

pessoalmente com ela.

No mesmo dia, mandamos e-mail pra ela e no outro dia já

tínhamos resposta. Então ligamos novamente em seu consultório, só

que dessa vez foi para marcarmos um horário para com ela. A

secretária dela nos perguntou se poderia ser na sexta-feira final da

tarde, dizemos que sim.

O dia da entrevista finalmente chegou e lá estamos nós para

fazer entrevista com uma endocrinologista, que iria falar quando

esse tipo de profissional trata um paciente que tem transtornos

alimentares.

Quando chegamos, tivemos que esperar uns cinco minutos na

recepção e logo fomos chamadas.

Apresentamo-nos e logo de cara a médica, foi nos

aconselhando e dizendo que era importante colocarmos no livro que

os pacientes anoréxicos não procuram o “endócrino” com freqüência,

pois são mais comuns casos de bulimia, porque geralmente a pessoa

não altera o peso e por causa da compulsão alimentar, acaba

causando a obesidade.

- Essas desordens alimentares podem ser transformadas em

doenças cardíacas, insuficiência real, osteoporose e aumento na

mortalidade. Por isso no primeiro contato com o doente, é primordial

fazer uma anamnese (bateria de perguntas) completa – ressalta

Luciana.

Essa bateria de perguntas serve para o médico obter mais

informações a respeito do paciente. E no caso do endocrinologista,

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95

pergunta-se sobre a queixa principal, os sintomas, a duração do

quadro, e também se deve perguntar sobre os aspectos psicológicos,

como está a auto-estima, como se vê.

 

Isso acontece porque as anoréxicas têm muita alteração de

auto-imagem, se vêem gordas e sempre infelizes com o peso, além de

ansiedade, como está o sono.

- Na área clinica é importante perguntar hábitos alimentares,

funcionamento intestinal, se sente dispepsia (azia, queimação no

estômago) - explica. 

Não esquecendo que é importante fazer o Índice de Massa

Corporal, o IMC (peso dividido por altura ao quadrado) baixo no

exame físico, chama atenção, na anorexia. Já na bulimia, o endócrino

pode verificar se há machucados nas mãos do paciente pela tentativa

incessante de indução ao vômito e geralmente se há a alteração nas

unhas e nos cabelos. 

Como a anorexia e a bulimia são doenças diferentes,

conseqüentemente o tratamento também. A bulimia se apresenta

com binge (compulsão) recorrente, onde se ingere grande

quantidade de comida em curto tempo. 

- São adotados comportamentos compensatórios inapropriados

para não ganhar peso, como indução de vômito, abuso de laxantes

diuréticos e enema - diz. 

Além disso, há também uma obsessão constante por comida,

em alguns casos o peso é normal. Geralmente é uma desordem

crônica (duração maior que 6 meses), em 10 a 20% se transforma em

outras doenças como anorexia, compulsão e obesidade. 

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96

Para os endocrinologistas, é mais fácil tratar a bulimia que a

anorexia, pois é uma doença mais comum, há melhor adesão ao

tratamento, há maior noção que existe um problema e há melhor

resposta aos tratamentos. 

- Para tratar uma bulímica usam-se antidepressivos, como o

Topiramato. Os tricíclicos não funcionam bem. Os inibidores da

recaptação da serotonina, entre eles a fluoxetina, tem melhor

resposta. A fluoxetina é usada em maior dose, 60 mg por dia. Os

ansiolíticos, como benzodiazepínicos não são muito recomendados -

complementa.

 

Já para o tratamento da anorexia, como há apresentação do

IMC (Índice de massa corporal) abaixo de 17,5, há uma perda de

peso auto-induzida, imagem corporal distorcida, alterações

endócrinas no eixo hipotálamo-hipofisário e desordens no

crescimento (pacientes logo após a puberdade).

Existem também comorbidades psiquiátricas, como depressão,

ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, desordens afetivas. O

tratamento farmacológico não é o de primeira linha (deve-se fazer

terapia, e se há risco de vida a paciente deve ser internada).

- Dentre as medicações, os antidepressivos tricíclicos, têm

como efeito colateral sedação e ganho de peso, por isso são bem

indicados. Os inibidores da recaptação da serotonina são bons, a

fluoxetina é usada desde os anos 90 e traz ganho de peso, melhora

da depressão e do comportamento obsessivo compulsivo - explica. 

Geralmente a duração desses tratamentos varia de seis a 12

meses, no mínimo, dependendo da gravidade do caso. São doenças

altamente delicadas e precisam acompanhamento com especialistas

que tratam desse tipo de doenças. 

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97

Outros exames são importantes fazer para detectar a gravidade

da bulimia como: exames de sangue que incluem perfil lipídico

(colesterol), glicemia, proteínas totais e frações, cálcio e magnésio,

zinco e vitamina B12, função renal e hepática e perfil hormonal do

eixo hipotálamo-hipofisario (função da tireóide, dos ovários). Pode-se

pedir também endoscopia digestiva alta para avaliar se há esofagite

ou gastrite pela indução do vômito. Na anorexia pode-se pedir uma

densitometria óssea para avaliar osteoporose, ocasião em que a

osteopenia é freqüente e persistente.

- É importante a relação médico-paciente mais estabelecida

para falar sobre essas patologias - explica. 

A ligação do endócrino com transtornos alimentares é

geralmente por tratar mais compulsão e obesidade, mas, eles podem

ser a conseqüência de bulimia e anorexia na adolescência.  

O endócrino pode avaliar as alterações que essas doenças

estão trazendo no organismo, pois, acabam causando alterações

hormonais, como amenorréia, e osteopenia.

 - O endócrino pode prevenir esse quadro, além de dar suporte

ao tratamento psiquiátrico e psicoterápico – finaliza.  

Essas desordens exigem uma equipe multidisciplinar, pois

derivam de todo o cuidado e toda paciência, desde o paciente

portador da doença e de sua família.

*

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98

A educação corporal faz bem para o corpo, saúde e para a mente

O movimento X O prazer de ser saudável

Antes de explicarmos sobre a questão física dos jovens com

anorexia e ou bulimia, temos que esclarecer alguns pontos

importantes que são primordiais para que o preparador físico faça

sua parte dentro do processo clínico. 

1. Em primeiro lugar, tanto a paciente anoréxica

quanto a bulímica tem que ter passado primeiramente

pelo psicólogo e psiquiatra e pela nutricionista e fazer

exatamente o que mandam cada especialista. Para esse

último, é relevante seguir o cardápio corretamente.

2. Em segundo lugar, é necessário que ambas as

pacientes tenham conhecimento da doença e queiram

mudar.

Depois de entendidos esses dois pontos, podemos dar

prosseguimento ao nosso desafio que é analisar do ponto de vista

“educacional”, e ver o que o especialista em Educação Física,

Gustavo Barbieri, pode fazer para melhorar a vida dessas pacientes.

Page 99: Livro-reportagem Obcecados pela beleza - A vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande

99

 

Conhecemos Gustavo, através de um amigo incomum que

temos. Pegamos o telefone desse preparador físico com esse nosso

amigo e entramos em contato com ele. Ele foi bastante simpático

dizendo que estava disposto em nos ajudar no que precisássemos.

Então marcamos um dia para irmos a sua casa conversar sobre

a função do preparador físico durante o tratamento do anoréxico e

bulimico.

O dia chegou e lá estávamos na frente da casa de Gustavo.

Tocamos a campainha e quem nos atendeu, foi sua empregada a

dona Maria. Ela nos convidou para entrar e disse que iria chamar

ele. Minutos depois, ele estava lá pronto para ser entrevistado.

Bom, para começar temos que entender que essas duas

doenças têm processos diferentes para o profissional dessa área.

Ao mesmo em que começávamos conversar com Gustavo, o

mesmo nos ofereceu tereré, dizendo que era bom e digestivo.

Aceitamos na hora. E assim, Gustavo nos explicou sobre anoréxicas e

bulímicas.

 - Primeiro, uma não come e a outra come em curtos períodos

de tempo. Não posso passar um treino igual para as duas já que

ambas tem problemas diferentes. – explica.

O educador, nesse caso Gustavo, tem que entender o problema

das pacientes e fazer uma avaliação física nela, onde é visto índice

de massa corporal, índice de gordura, chances de problemas

cardíacos, etc.

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100

Além dessa avaliação, Gustavo faz uma bateria de perguntas

sobre a vida dessas pacientes onde é observado se bebem, fumam,

usam drogas, se a digestão é boa, se dormem bem, se vão para

balada, se tem problema de coração, de pressão, etc., para que assim

possa ver qual treinamento adequado para essas pacientes.

 

- Na verdade, tenho que ter o acompanhamento dessa paciente

com a nutricionista e com o psicólogo. Além disso, elas têm que ter

consciência de que tem um problema e querem ter uma estética boa

com uma excelente qualidade de vida, já que ambas não se

preocupam com isso.

No caso da anoréxica que é magra ou magérrima, é de

principal relevância analisar o fator genético, junto com a bateria de

perguntas e a avaliação feita. E aqui, o treino que vai ser passado a

seguir é apenas algo superficial, o que seria o mais indicado passar,

já que a paciente não foi analisada profundamente. 

- Para uma pessoa que é magérrima, é levando em

consideração que ela faz exercícios físicos exageradamente para

emagrecer, eu passaria um treino de hipertrofia muscular combinado

com treino aeróbico -  relata Gustavo. 

Na verdade o treino de hipertrofia é para acelerar o

metabolismo da paciente além de trabalhar com o estímulo da fibra

2A que serve para ganhar massa muscular e poder trabalhar todo o

corpo.  

O que se deve lembrar é que o aumento de massa muscular é

diferente do aumento de peso. 

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101

- Para que ela recupere seu corpo e que tenha uma estética boa

junto com a melhora na qualidade de vida, o treino tem que ser

combinado com a periodização, que é um treino em longo prazo.

O importante para essa paciente é que, além de comer

corretamente seguindo o cardápio, ela não vai aumentar sua gordura

corporal, vai apenas voltar ao seu corpo normal e não ter a

preocupação com o risco de morte. 

O ganho da massa muscular acontece na recuperação do

treino, ou seja, quando ela estiver em repouso, porque há a

supercompensação de proteína que é a ingestão necessária de

proteínas necessária para o corpo humano.

- É importante fazer a combinação da hipertrofia muscular

junto com o treino aeróbico, que libera a endorfina que é o hormônio

do prazer, e faz com ela tenha uma sensação agradável de sentir

bem e estar com a saúde em dia - afirma. 

Já para a bulímica que come em curtos períodos de tempo e

depois se arrepende do ato e vomita, é necessário também da

consciência em primeiro lugar, seguido da avaliação, da anamnese

(bateria de perguntas) e seguir o cardápio da nutricionista. O treino

para a recuperação do peso e para o aumento da qualidade de vida é

bem diferente. 

-Nesse caso seria interessante passar o treino de resistência

que é a predominância do uso da gordura como fonte de energia,

fazendo–a emagrecer, seguido é claro, do treino aeróbico, que traz a

perda de peso que é o objetivo principal, combinado com a saúde. 

A seguir, você confere abaixo as vantagens do treino de

resistência:

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102

Permite treinar a intensidades superiores às

conseguidas com os métodos contínuos, o que conduz a

adaptações mais rápidas e significativas.

A manipulação das variáveis envolvidas (nº de

repetições, séries, intervalos, distâncias, etc.) permite

escolher com rigor os efeitos pretendidos, pelo que se

obtém grande eficiência.

A vantagem é para aqueles que querem

adquirir maior resistência, condicionamento físico, seja

musculação ou treino aeróbico, etc.

Não existem desvantagens nesse treino, pois o mesmo,

beneficia quem for praticá-lo. 

Esse tipo de treino estimula a fibra número 1 que está contida

nos músculos da perna e barriga e só vai trazer resultados se o

professor estiver acompanhando o treino e a paciente. É claro, que a

força de vontade de ambas de se transformar e ter uma vida normal,

sendo “magra”, mas com saúde, é um dos pontos principais para a

realização.

 

Escrevendo este capítulo, vimos que os especialistas dependem

mutuamente um do outro para que as pessoas com transtornos

alimentares possam obter resultado em seu tratamento.  

Esses jovens não dependem somente dos especialistas para que

isso aconteça, e sim principalmente da aceitação do doente e do

incentivo dos familiares e amigos, fazendo com que assim o

tratamento seja realizado com sucesso.  

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103

Considerações Finais

Elaborar uma conclusão final de um curso não é uma tarefa

fácil. Há o momento da pesquisa onde devemos procurar em

bibliotecas das universidades e em sites para ver se não há a

existência deles, fazendo com que seja uma tarefa árdua, onde é

treinada a paciência. Depois de pesquisado e escolhido o tema, é

necessário determinar a metodologia que vai ser trabalhada dentro

desse tema, ou seja, o que vai ser abordado.

Escolher a anorexia e a bulimia como tema e escrever sobre

ele, foi muito trabalhoso, porém, muito satisfatório em questão de

aprendizagem. Concluímos que para iniciar o livro, deveríamos

recorrer a publicações de história, filosofia, medicina, psiquiatria e

psicologia, entre outras, para que pudéssemos mostrar a história

dessas doenças, já que os meios de comunicação trabalham as

matérias de forma superficial.

Associado com a anorexia e bulimia, está falar sobre a busca

excessiva e antiga pelo belo. Desde muitos anos atrás, o homem (ser

humano), buscava a beleza e a forma física, não só para atrair o sexo

oposto, mas como para mostrar a saúde e a aparência física. Depois

de tantos livros pesquisados para escrever sobre a história da beleza,

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104

resolvemos mostrar as histórias de vida de jovens, tanto meninas

como meninos, que tem ou tiveram essas doenças.

Tivemos que restringir a pessoas da capital sul-mato-

grossense, já que falarmos de todas as pessoas que possuem

algumas dessas doenças, poderia inviabilizar o trabalho. Tanto que

ao entramos em contato com esses jovens, descobrimos pessoas de

outros estados e também de outros países. Foi impactante ver que

jovens possuíam essas doenças, e que eram coisas sérias, que não se

devia brincar. Depois recorremos à nossa tecnologia e fomos

diretamente ao orkut, em comunidades de anorexia e bulimia.

Como vimos à dificuldade de conseguir pessoas de Campo

Grande para nos dar depoimentos sobre suas histórias de vida,

resolvemos posteriormente deixar recados nessas comunidades e

fizemos uma, composta por pessoas que tinham “Anna” e “Mia”

(abreviação de anorexia e bulimia), e ver se pessoas resolviam nos

ajudar. Não esquecendo que, no perfil, falamos que o que nos

importava eram as histórias e não os nomes, e acreditamos que, por

isso, meninas e meninos resolveram nos ajudar a continuar nosso

desafio.

Jovens nos adicionaram na comunidade e a partir daí, deixamos

recados nos orkut’s falando superficialmente sobre o nosso trabalho

e pedimos e-mail ou MSN para que pudéssemos explicar como

ocorreria a entrevista, já que os mesmos tinham aceitado a dar seu

testemunho.

Graças a Deus, conseguimos muitas histórias, tanto de meninas

quanto meninos que fizeram com que finalizássemos mais uma parte

do nosso desafiador livro-reportagem.

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105

Posterior a essa parte dos depoimentos, resolvemos abordar a

questão dos medicamentos usados por esses jovens. É claro que não

foi uma tarefa fácil, mas conseguimos com uma farmácia que ela nos

ajudasse a descobrir quais são os remédios usados e também sobre

as tarjas, já que a maioria desses remédios não pode ser usada a

qualquer hora e sem a indicação de um médico.

Antes de finalizarmos o livro, achamos de real importância

falar com os médicos, cada um dentro da sua especialidade clínica

para ver o processo e a influência deles dentro do tratamento desses

jovens. Por isso, entrevistamos nutricionista, endocrinologista,

preparador físico, psicólogo e psiquiatra que são os que têm mais a

ver no tratamento dessas doenças.

Na última parte do livro-reportagem, colocamos algumas fotos,

mapas para que houvesse mais a compreensão da sociedade e para

esses jovens e para suas famílias, já que como foram mencionados

acima, os meios de comunicação tratam dessas doenças de modo

totalmente superficial.

Foi gratificante escrever o livro porque, além de falarmos

vários aspectos que ajudam a entender mais sobre as doenças, fez-

nos perceber que são patologias fatais e que deve ter cuidado

especial e que não é só vaidade, mas vai além, muito além de ser

bonita, ter um corpo bonito. Acaba se tornando uma obsessão, do

qual muitos desses jovens não sabem o perigo e o que realmente

causam se não descobrir a tempo.

*

Ser jornalista é olhar sempre todas as matérias e todos os tipos

de reportagens com um olhar clínico. E fazer isso não é simples não.

Há muita técnica por trás. Quando abordamos o que sai nas mídias

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106

sobre anorexia e bulimia, vimos que muito do que sai publicado, é

superficial. Tudo isso, porque são apenas alguns meios de

comunicação que tratam do assunto de uma forma ampla,

aprofundada, falando sobre a história, tratamento, o que elas

causam, quais são os riscos, etc.

Além disso, quisemos fazer um livro-reportagem justamente

para falar mais sobre esse tema que não é tão divulgado ou é pouco

trabalhado nos meios de comunicação de massa. A ânsia pelo corpo

ideal, hoje bem menos roliço do que os corpos das musas de pintores

e escultores da Renascença continuam difundidos, talvez, não do

jeito que deveria, mas ainda é disseminada pelos meios de

comunicação.

Não foi possível localizar levantamentos sobre o número de

publicações voltadas ao culto ao corpo, mas basta ir à banca de

jornal para se perceber a fartura de revistas e livros sobre dietas,

forma física e cirurgias plásticas. Podemos ver que as principais

revistas semanais de interesse geral dedicaram diversas reportagens

de capa ao potencial transformador das operações que remodelam o

corpo.

Por trás dessas reportagens do culto ao físico bem definido,

seja esculpido com dietas à base de remédios e muita malhação, seja

por bisturis em salas cirúrgicas, há toda uma complexa rede de

lucros capaz de movimentar bilhões de reais por ano. Envolve em

graus diversos, desde os meios de comunicação e as academias de

ginástica até a indústria farmacêutica, as clínicas e os médicos

especializados em plásticas estéticas.

O jornalismo tem que ir além do básico, preocupando-se com

as técnicas que devem ser seguidas, mas investigando aquilo que o

leitor não sabe e vai fazê-lo entender mais sobre o tema em questão.

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107

*

A conquista ideal de um corpo perfeito centrado na magreza

influencia o desenvolvimento dos transtornos alimentares, mas não

age isoladamente. Fatores familiares e genéticos também estão

presentes. A primeira vez que ouvimos falar sobre essas doenças,

jamais imaginávamos saber que milhares de jovens no mundo inteiro

tivessem anorexia e/ou bulimia.

Aprendemos muito sobre essas duas doenças e concluímos que

a anorexia é um transtorno alimentar caracterizado por uma rígida e

insuficiente dieta alimentar e estresse físico. Já a bulimia é um

transtorno alimentar associado com a anorexia que tende a ser

compulsiva na alimentação, seguidos de culpa, por causa do ganho

de peso. Para eliminar esse excesso, as pessoas bulímicas exercitam-

se demais, vomita o que come e faz uso excessivo de laxantes e

diuréticos.

Além de saber mais sobre isso, aprendemos muito com a

história dela, vendo que existe desde muitas décadas atrás, assim

como soubemos sobre os efeitos dos remédios que são usados de

forma indevida como a automedicação e também saber mais o

processo dos especialistas quando o assunto é tratar de uma pessoa

anoréxica e bulímica.

Como o nosso digníssimo pintor Leonardo da Vinci disse em

uma sábia frase é que “aprender é uma coisa que nunca se cansa,

nunca tem medo e nunca se arrepende”.

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108

REFERÊNCIAS

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ESTEVES, Bernardo. Cintura fina: uma preferência universal?. Rio de

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110

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ANEXOS

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Anexo I - Remédios de Anorexia e Bulimia

Remédios Usados

Nessa parte, vamos abordar os remédios mais usados pelas

anoréxicas. Remédios para as bulímicas, não é necessário citar, já

que para elas o uso de pentes, cabos e mãos já são suficientes para

forçar o vômito.

Nome comercial: Absten, mais conhecido como Mazindol.

(produto psicoterápico).

Tarja: Preta (venda sobre prescrição médica)

Quantidade: 20 comprimidos contendo 1mg.

***Anorexígeno***

Características: Produz efeito sobre o centro de controle de

apetite no hipotálamo e diminui a fome mediante a alteração

do controle químico da transmissão do impulso nervoso.

Riscos:

secura da boca;

confusão ou depressão mental;

taquicardia;

nervosismo ou inquietude;

insônia;

diarréia;

dores estomacais;

diminuição sexual e de libido;

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Nome comercial: Desobesi-M, mais conhecido como

cloridato de femproporex.

Tarja: Preta (venda sobre prescrição médica)

Quantidade: 30 comprimidos contendo 25mg.

***Anorexígeno***

Características: Causa depressão do apetite e diminuição da

acuidade pelo sabor e odor, o que leva a uma redução da

ingestão de alimentos. Ocasiona aumento da atividade física, e

contribui para a perda de peso.

Riscos:

Vertigem;

Tremor;

Irritabilidade;

Fraqueza;

Arritmia;

Insônia;

Dor de cabeça;

Calafrios;

Alteração na libido, etc.

Os remédios chamados Inibex e Sibutramina são mais usados

para obesidade e obesidade mórbida.

Linguagem das Tarjas

Para melhor compreensão sobre o risco e o grau de

necessidade da prescrição médica, os medicamentos são distinguidos

com uma linguagem de tarjas impressas em suas embalagens.

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Tarja Preta: o remédio com tarja preta, mostra que o

medicamento é de elevado risco, e não pode ser usado sem

determinação médica podendo ser vendidos somente com

apresentação da receita.

Esses tipos de receitas ficam retidas nos estabelecimento

distribuidor do medicamento e são recolhidas, pelos serviços

públicos de saúde.

Tarja Vermelha: o medicamento com tarja vermelha é de

menor risco, ou seja, embora também seja vendido apenas com

receita médica, não representa risco de vida, mas apenas de efeitos

colaterais.

É importante que obtenha orientação médica correta para

utilizá-lo.

Tarja amarela: esta tarja deve constar na embalagem dos

medicamentos genéricos e deve conter a inscrição G e Medicamento

Genérico escritos em azul.

Sem Tarja: a ausência de tarja não é um indicador de que o

medicamento possa ser usado sem contra-indicação. A única

vantagem desse medicamento é que não há necessidade da

apresentação da receita médica.

Fonte: Legislação para Consumidores Brasileiros

Algumas Recomendações

Para o uso de devidos medicamentos, há sempre algumas

precauções que devemos tomar para evitar certos tipos de

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problemas. Assim, podemos usufruir a melhor forma e sabermos o

que deve ser feito ou não.

Essas são as mais importantes que devemos saber, que são:

Os medicamentos devem ser mantidos fora do alcance de

crianças e animais domésticos para evitar intoxicações;

Os medicamentos devem ser guardados em locais frescos,

arejados, bem ventilados e protegidos da luz e umidade;

As sobras de medicamentos utilizados devem ser jogadas fora,

principalmente antibióticos, colírio, remédio nasal e otológico;

Os pacientes que usam mais de um medicamento ao mesmo

tempo, não devem deixá-los fora da embalagem para evitar

confusões;

Nunca se devem usar medicamentos sem receita médica,

mesmo que ele já tenha sido receitado numa ocasião anterior;

Nunca se deve utilizar a mesma receita mais vezes, sem o

conhecimento do médico;

O medicamento precisa de tempo para agir. É absolutamente

errado imaginar que aumentando a dose do medicamento, o

efeito será mais rápido. Pelo contrário, esta atitude poderá

resultar em conseqüências graves para a saúde do usuário;

Não se deve usar quaisquer medicamentos com base em

propaganda veiculadas em jornais, TV’s e rádios. Os

medicamentos só serão úteis quando o organismo realmente

precisa deles, se usados corretamente e com equilíbrio;

O consumidor nunca deverá insistir com o médico para que ele

receite um determinado medicamento. O médico sempre sabe

qual o remédio mais adequado ao paciente;

O medicamento indicado deve ser tomado durante todo o

período estabelecido pelo médico;

O paciente não pode mudar a forma de tomar e nem

interromper o tratamento sem conhecimento do médico.

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Se durante o tratamento, o medicamento provocar alguma

reação que não foi alertada pelo médico, ele deve ser avisado

imediatamente, e parar o uso.

Auto-medicação

Se automedicar é uma coisa que normalmente as pessoas

fazem por achar que se conhecem e conhecem o problema que tem.

Só que esse tipo de medicação não pode ser feita sem o

conhecimento do problema, pois, em algumas situações ou em

determinados pacientes, estas complicações podem ser fatais.

As maiores incidências de problemas com auto-medicação

estão ligados à intoxicação e às reações de hipersensibilidade ou

alergia manifestada por pequena irritação.

É que o uso do medicamento sem o acompanhamento do

médico especialista, pode esconder alguns sintomas e depois a

doença volta a se manifestar de forma mais grave.

Por outro lado, quando houver o descuido do tratamento,

reduzindo ou interrompendo o uso do medicamento antes de atingir

a dosagem e o tempo de tratamento prescrito pelo médico, pode ter

o aparecimento de outras doenças devido ao agravamento da

primeira.

Exemplo: um simples resfriado, por exemplo, pode

transformar-se em pneumonia, e às vezes levar a morte.

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Antes de se automedicar, procure um especialista e mostre a

ele o seu problema, pois, somente ele, poderá te ajudar e medicar

aquilo que condiz ao seu problema.

Cuidados Especiais

Nessa parte, queremos mostrar quais são as atenções que você

deve ter, ao adquirir ou consumir um medicamento. Por isso, não se

esqueça de verificar as sugestões abaixo.

Nome do remédio: Ao comprar o remédio é importante conferir se

o nome, a composição e as características do medicamento recebido

estão corretas.

Prazo de validade: É importante conferir a data de validade na

embalagem do medicamento. O consumidor não deve usar

medicamento com prazo de validade vencido e nem deve aceitar

medicamentos com embalagem amassada, rasgada ou sem rótulo.

Dosagem ou potência: Os medicamentos de um mesmo nome e

marca podem ser vendidos em embalagens infantis ou adultas, ou

mesmo com dosagens mais altas ou baixas, assim, a receita deverá

indicar e o consumidor deverá conferir se o medicamento adquirido é

exatamente o mesmo prescrito pelo médico, tanto na dosagem

quanto na composição.

Bula: As informações contidas na bula são importantes e prestam

várias informações ao consumidor, como especificação da fórmula,

modo de usar, contra-indicações, efeitos colaterais e demais

precauções quanto ao seu uso.

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Dados da Receita Médica

É a receita médica dada pelo especialista, prescrita em razão

das informações obtidas do paciente e dos exames que foram

realizados e analisados, que deverá condizer o aproveitamento da

utilidade do medicamento com a menor possibilidade de efeitos

colaterais.

Este equilíbrio não deriva somente do tipo e características do

medicamento, mas também da forma de utilização e da dosagem em

relação ao tempo.

Por tudo isto, a receita contém, além do medicamento, a sua

quantidade total, a sua dosagem, os horários e modos de seu uso.

Ao receber uma receita, o paciente deve observar se as

informações e observações estão legíveis, se entendeu todo o seu

conteúdo e se não há mais nada a esclarecer. A receita deve conter:

Nome e endereço do paciente;

Nome do medicamento, tipo e quantidade receitada, horário de

tomá-lo, duração do tratamento e o modo de usá-lo;

Data, assinatura e número de registro do médico no Conselho

Regional de Medicina.

Importa observar, que somente o médico ou especialista do seu

problema que vai estar habilitado e tem o dever de esclarecer as

dúvidas que o paciente possa ter sobre a doença, o medicamento

prescrito e o tratamento recomendado.

Para maior comodidade e economia o consumidor poderá

solicitar ao seu médico que faça constar também da receita o nome

genérico (composto ativo) do medicamento para que, havendo

conveniência, possa substituí-lo sem problemas.

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A substituição de qualquer medicamento prescrito pelo médico,

somente pode ser ocorrer nesta hipótese, quando o medicamento

substituto contenha o mesmo composto ativo do medicamento

substituído.

Anexo II – Fotos de anoréxicas e bulímicas

O que a obsessão pela beleza resulta...

Crédito: http://br.geocities.com

Crédito: galileu.globo.com

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Crédito: china.cn

Crédito: http://www.obaoba.com.br

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Crédito: thesituationist.files.wordpress.com

Crédito: http://br.geocities.com/ano.rexicia/magalibulimica.JPG

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crédito: http://external.cache.el-mundo.net

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crédito: iemily.com

crédito: http://i151.photobucket.com

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crédito: anjonegrobulimia.blogspot.com

Crédito: http://acaricatura.zip.net/

Crédito: http://www.infobae.com

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Crédito: http://www.hcnet.usp.br

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crédito: http://www.cmcg.org.br

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crédito:http://br.geocities.com/ano.rexicia/mapa.JPG

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crédito: spider.ufrgs.br:8001

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crédito: invivo.fiocruz.br

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130

crédito: invivo.fiocruz.br

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Só que...

crédito: editoramythos.com.b

Será que a sua opção foi pela cura???

Porque se olhar no espelho e se amar...

NÃO TEM PREÇO!!!

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