Livro reportagem os radiojornalistas

149

description

 

Transcript of Livro reportagem os radiojornalistas

Page 1: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 2: Livro reportagem   os radiojornalistas

Os radiojornalistas

Page 3: Livro reportagem   os radiojornalistas

PAULO MARCOS

Os radiojornalistasO pensamento e o perfil dos produtores de

notícias da Região Sisaleira da Bahia

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

Page 4: Livro reportagem   os radiojornalistas

(CC) 2009 Paulo Marcos

Pesquisa, textos e edição: Paulo MarcosDesing gráfico (capa e capítulos): Márcio MendesSupevisão para editoração: Kleuber CedrazEditoração: Paulo MarcosImpressão: Nossa Gráfica EditoraFormato: 14 X 21Papel: 75 g.Capa: Papel Cochê 230Orelha: Sim

Ficha Catalográfica - Bibliotecário Roberto Freitas

BPJCA - Biblioteca Professor José Carlos dos Anjos (UNEB)

S237 Santos, Paulo Marcos Queiroz dos

Os radiojornalistas: O pensamento e o perfil dos produtores denotícias da Região Sisaleira da Bahia. / Paulo Marcos Queiroz dosSantos. Conceição do Coité: o próprio, 2009.

160p. il.

Jornalismo-Entrevistas. 2. Reportagens. 3. Título

CDD 070.449

Page 5: Livro reportagem   os radiojornalistas

Agradecimentos

Meu professor/orientador é um cara tranquilo. Ele

chega cedo com livros, novas ideias e um bom papo. Senta-

se numa das cadeiras da biblioteca que está sempre movi-

mentada. Preocupado com o andamento do trabalho faz logo

aquela boa pergunta:

- E aí rapaz, como vão os textos?

- A semana foi muito boa. Muitas novidades - res-

pondi.

Quem circula pelo Departamento de Educação do

Campus XIV da UNEB - Universidade do Estado da Bahia já

conhece o professor Jorge Soares, anda sorridente, disposto

a uma boa conversa, um conselho e fazer novas amizades.

Durante a pesquisa se empenhou bastante no acompanha-

mento semanal dos trabalhos e é parte integrante do resulta-

do;

Também sou grato ao antropólogo Márcio

Mascarenhas, pois gentilmente fez uma leitura mais atenta

dos textos, fez boas críticas e sempre me apoiou ao longo de

minha vida profissional;

Ao bibliotecário Roberto Freitas que também teve

importante papel neste trabalho ao sugerir e orientar na

formatação técnica;

À professora Carolina Ruiz, que tanto contribuiu na

elaboração do projeto de pesquisa e fez várias sugestões no

Page 6: Livro reportagem   os radiojornalistas

texto final;

Ao professor Tiago Sampaio, que assim como Jorge

e Carolina, também compôs à banca de avaliação e contri-

buiu com o resultado deste livro;

Ao professor Francisco de Assis, que ao longo dos

quatro anos foi grande apoiador dos meus trabalhos;

Agradeço também a kleuber Cedraz, Gilmara Portu-

gal, Meire Nunes, Adalício Ramos, Maria Dalva, Bruna San-

tos, Maria Queiroz (D. Lia), Del Feliz, Delma Nunes, aos ami-

gos, colegas, professores e parentes pelo incentivo e cola-

boração. Por fim, aos radialistas, funcionários e dirigentes

das rádios que facilitaram o acesso às informações e estarão

presentes em cada uma das páginas seguintes.

Muito obrigado!

“Pelo direito à palavra e apaixonado por rádio igual a

todo brasileiro”, Paulo Marcos

Para Odenice Queiroz dos Santos (Dene)

In memorian

Page 7: Livro reportagem   os radiojornalistas

Apresentação, 9

Introdução, 15

Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo, 18Região: o que é isso?, 23O rádio: popular e sempre, 20Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados, 26

CAPÍTULO 1Chegada do rádio na Região Sisaleira, 29

Difusora AM: a primeira rádio da região, 34Morena FM: 22 anos sem jornalismo, 35Regional AM: a menina dos olhos de Lomes, 36Sisal AM: o trono da família Rios, 38Jacuípe AM: muda de dono, mas não de objetivo, 41Rádios Comunitárias: a voz de quem só ouvia, 43Valente FM: não desiste nunca, 45Santa Luz FM: uma rádio premiada, 46Curso de Rádio e TV: a formação profissional, 49

CAPÍTULO 2Fazendo jornal pelo rádio, 53

Radiojornalismo: perfil e características na Região Sisaleira, 55

CAPÍTULO 3Tocando ética, 69

Profissão: a legislação e a prática, 71Terceirização: a falsa liberdade comprada, 79

CAPÍTULO 4Os radiojornalistas sisaleiros, 83

O radiojornalista poeta, 86

SUMÁRIO

Page 8: Livro reportagem   os radiojornalistas

Uma mulher em movimento, 92

Do sisal ao rádio: uma trajetória de sucesso, 96

Deus, Ferraz e o povo!, 100

O radialista professor: meio século de rádio, 106

Genivaldo: seu sobrenome é criatividade, 109

“O Bola de Ouro do rádio”, 113

Feliz é esporte nas ondas do rádio, 120

Da Capital Federal ao Sertão da Bahia, 125

Filho de radialista, radialista é, 130

Valdemi de Assis: do rádio para a Internet, 135

Ícone do rádio comunitário no Sertão, 139

CONCLUSÃO, 145

Cronologia histórica apresentada no livro, 151

Lista de imagens e créditos, 154

Referências Bibliográficas, 155

Page 9: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 10: Livro reportagem   os radiojornalistas

APRESENTAÇÃO

Este é o resultado de uma pesquisa fundamentada e

planejada para analisar o perfil e pensamento dos

radiojornalistas e não apenas a confecção de um livro sobre

a história de cada entrevistado. Esta é uma oportunidade,

em forma de reportagem, para entender como anda o

radiojornalismo neste pedaço de chão do Sertão baiano. O

projeto surge das ideias temáticas para a pesquisa de con-

clusão do meu Curso de Comunicação Social com habilita-

ção em Rádio e TV no Campus XIV da Universidade do Esta-

do da Bahia, mas principalmente das minhas inquietações

sobre o radiojornalismo da região a partir das várias experi-

ências que desenvolvi. Em 1997, comecei fazendo locução

na Rádio Comunitária Barreiros FM e no Serviço de Comuni-

cação “Voz da Sociedade Barreirense” do Distrito de Barreiros,

em Riachão do Jacuípe-BA, onde nasci, em 1982. Depois

atuei no Projeto Comunicação Juvenil e no Programa de Co-

municação do Movimento de Organização Comunitária entre

2002 e 2007. Atuei também nas rádios Barreiros FM, Arcos

FM, Sabiá FM, Sisal AM, Difusora AM, Regional AM e Jacuípe

AM, onde basicamente trabalhei com jornalismo.

Durante o curso de Rádio e TV, que iniciei em 2006,

identifiquei que não há estudos sobre a atuação dos

radiojornalistas na Região Sisaleira da Bahia, principalmente

10

Page 11: Livro reportagem   os radiojornalistas

sobre a produção de notícias para o rádio: e este é um dos

fatores importantes para entender como se dá o desenvolvi-

mento da comunicação na região. O radialista é um persona-

gem importante no estudo do rádio, mas ainda pouco valori-

zado nas pesquisas.

A proposta da pesquisa orientada pelo professor Jor-

ge Soares é avaliar, através da atuação e experiência dos

profissionais, se o radiojornalismo da região possui caracte-

rísticas que o diferencie da atividade de produção e divulga-

ção de notícias radiofônicas que se propõe nos manuais de

radiojornalismo; apresentar as características técnicas e hu-

manas dos radiojornalistas das principais emissoras de rádio

da região; analisar a relação dos comunicadores com a dire-

ção das emissoras; identificar as principais fontes e critérios

noticiosos dos radialistas; e observar como se dá o cumpri-

mento da legislação e dos tratados como Código de Ética e

Manual do Radialista dentro dos programas por eles produzi-

dos e/ou apresentados.

No primeiro capítulo Chegada do Rádio na Região

Sisaleira, há uma breve história, o perfil e elementos do fun-

cionamento de sete emissoras. São três FMs e quatro AMs:

Morena FM (Serrinha), Valente FM (Valente) e Santa Luz FM

(Santa Luz); Sisal AM (C. do Coité), Continental AM (Serrinha),

Jacuípe AM (R. do Jacuípe) e Regional AM (Serrinha).

No segundo capítulo do livro, Fazendo jornal pelo

rádio, mostro qual é o perfil dos programas jornalísticos da

região, através do olhar dos próprios radialistas, e as pers-

pectivas a partir de análises da prática de cada um.

11

Page 12: Livro reportagem   os radiojornalistas

No terceiro capítulo, Tocando ética, levanto uma dis-

cussão sobre os princípios éticos da atuação dos

radiojornalistas. Faço um breve relato e análise sobre os

Códigos, Leis, Manifestos e Convenções sobre o tema.

Penso que um estudo sobre a atuação dos profissio-

nais desta área poderá contribuir também com a formação

de novos radialistas servindo de fonte de pesquisas e para a

comunidade como meio de entender o outro lado do rádio,

que é a produção. É exatamente este o enfoque do quarto e

último capítulo deste livro. Estão presentes os principais per-

sonagens do rádio sisaleiro que atuam diretamente com o

jornalismo e o jornalismo-esportivo e que sem eles não acon-

teceria esta publicação.

Outra reflexão me direciona para a importância da

formação de profissionais da comunicação com consciência

crítica de sua área de atuação. Acredito que é conhecendo a

realidade em que se vive que o profissional poderá desenvol-

ver práticas cidadãs, se engajar nos processos de consolida-

ção da democracia e buscar a superação dos problemas eco-

nômicos, sociais e éticos dos quais tanto padece a popula-

ção da Região Sisaleira e do Brasil como um todo.

Boa leitura!

O autor.

Conceição do Coité-Bahia, dezembro de 2009.

13

Page 13: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 14: Livro reportagem   os radiojornalistas

Introdução

É hora de começar. Este é o momento de esclarecer

um pouco mais sobre o que estamos debatendo. Antes de

ligar o microfone e entrarmos direto no ar é preciso apresen-

tar o porquê de um livro-reportagem. Algumas pessoas po-

dem perguntar: por que não fazer uma monografia, um vídeo

ou um sítio na Internet? O fato é que o livro-reportagem me

chamou mais atenção, me aproximou mais do que eu sem-

pre quis. E como diz Belo (2006) é mais uma experiência na

faculdade.

Produzir um livro-reportagem não exige anos de re-

portagem em jornalismo. Tanto que muitas escolas superio-

res facultam a seus alunos essa opção de trabalho de con-

clusão de curso. Bem orientada essa é uma atividade que

garante ao formando um preparo extraordinário quanto a al-

guns dos principais aspectos da prática profissional, como

apuração, texto e edição. (BELO, 2006, P. 69)

O livro-reportagem dá mais liberdade de pensamen-

to e criatividade. Além disso, é preto no branco. Transformar

notícias, opiniões, comentários, informarções e notícias numa

grande reportagem.

Quando falei sobre notícia eu mesmo me perguntei:

– O que é notícia?

Com essa dúvida, surge o momento certo de chamar

quem entende. Na faculdade a gente chama de “voz autori-

17

Page 15: Livro reportagem   os radiojornalistas

zada”, pesquisadores, especialistas, acadêmicos, seja lá o

que for: é quem já tem experiência própria, já pesquisou a

área em questão.

É aí que surge Nilson Lage. O escritor tem uma obra

prima sobre o assunto. No livro A Reportagem: teoria e pes-

quisa jornalística, ele define que:

a notícia ganhou sua forma moderna, copiandoo relato oral dos fatos singulares, que, desdesempre, baseou-se, não na narrativa em seqüên-cia temporal, mas na valorização do aspectomais importante de um evento. (LAGE, 2006, P.18)

Sendo assim, vamos lá. Resolvi então, neste livro,

reportar relatos orais sobre o surgimento, desenvolvimento e

perspectivas do radiojornalismo na Região Sisaleira. É aí que

surge uma nova dúvida: o que é um livro-reportagem? Fui

buscar nas obras de Edivaldo Pereira Lima e Eduardo Belo

as respostas para essa dificuldade.

Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo

O livro-reportagem, segundo Belo (2006), tem dife-

renças do jornalismo praticado atualmente nas redações da

imprensa no Brasil, mas:

é apenas uma reportagem, passível de empre-gar exatamente o mesmo padrão técnico e deconduta, como se fosse publicada em qualqueroutro meio de informação. (BELO, 2006, P. 41)

18

Page 16: Livro reportagem   os radiojornalistas

Perfil e Retrato, estes são os modelos de livro-repor-

tagem propostos no projeto da pesquisa. O primeiro, segun-

do os estudos de Edivaldo Pereira Lima (1993), tem como

objetivo evidenciar o lado humano de uma personalidade

pública ou de uma personagem anônima (que por algum

motivo, torna-se de interesse). Ainda segundo Lima, seme-

lhante ao livro-reportagem-perfil, diferindo no objeto de análi-

se: ao invés de uma figura humana, o livro-reportagem-retra-

to focaliza uma região geográfica, um setor da sociedade,

um segmento da atividade econômica e procura traçar o re-

trato do objeto em questão (elucidando seus mecanismos de

funcionamento, seus problemas, sua complexidade).

Basicamente é para isto que serve o livro-reporta-

gem – para estender o papel do jornalismo contemporâneo.

Este produto do jornalismo ultrapassa também as concep-

ções do jornalismo atual:

Tem potencial para assumir posturas experimen-tais. Tem pique suficiente, se trabalhado de for-ma adequada, para fazer nascer a vanguardade um jornalismo realmente afinado com as ten-dências mais avançadas do conhecimento hu-mano contemporâneo. (LIMA, 1993, P. 16)

E neste sentido, este livro-reportagem apresenta his-

tórias de vida, conceitos e experiências de profissionais que

atuam no rádio sisaleiro sob o enfoque da produção de notí-

cias. Logo, faz um retrato da profissão de radialismo na re-

gião, mas enfocando as práticas dos profissionais envolvidos

na pesquisa.

19

Page 17: Livro reportagem   os radiojornalistas

REGIÃO: o que é isso?

O conceito de Região Sisaleira aqui adotado englo-

ba dois Territórios Rurais de Identidade*, que foram definidos

pelo Governo Federal, entre 2003 e 2004: o Território do Sisal**

e o Território da Bacia do Jacuípe***. Antes de nos

aprofundarmos neste debate precisamos entender um pou-

co mais o que aqui é denominado de região. Para isso bus-

quei os conceitos de Durval Muniz de Albuquerque Júnior,

que no livro A Invenção do Nordeste diz:

ela [região] remete a uma visão estratégica doespaço, ao seu esquadrinhamento, ao seu re-corte e à sua análise, que produz saber. Ela éuma noção que nos envia a um espaço sob do-mínio, comandado. Ela remete, em última ins-tância, a regio (rei). Ela nos põe diante de umapolítica de saber, de um recorte espacial dasrelações de poder. Pode-se dizer que ela é umponto de concentração de relações que procu-ram traçar uma linha divisória entre elas e o vastocampo do diagrama de forças operantes numdado espaço. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2001,P. 25-26).

* Para saber mais sobre o processo de revelação dos territórios de identidade na Bahiaver o livro DIAS, Wilson José Vasconcelos. Territórios de Identidade: um novo caminhopara o desenvolvimento rural sustentável na Bahia. Feira de Santana: Gráfica Modelo,2006.** Composto por Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité,Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia,Santa Luz, Serrinha, São Domingos, Teofilândia, Tucano e Valente (GOVERNO DA BAHIA,2009). Disponível em http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15de Outubro 2009.*** Composto por Baixa Grande, Capela do Alto Alegre, Gavião, Ipirá, Mairí, Nova Fátima,Pé de Serra, Pintadas, Quixabeira, Riachão do Jacuípe, São José do Jacuípe, SerraPreta, Vázea da Roça e Vázea do Poço. (GOVERNO DA BAHIA, 2009). Disponível emhttp://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15 de Outubro 2009.

20

Page 18: Livro reportagem   os radiojornalistas

A professora Vilbégina Monteiro dos Santos, que tem

pesquisas em andamento, sobre o Território do Sisal, aponta

que:

A constituição do Território do sisal se faz a par-tir de uma comunidade imaginada, na qual suapopulação é chamada a valorizar as caracterís-ticas do clima, vegetação e do povo sisaleiro,positivando os estigmas a eles imputados. Essacomunidade é conclamada a partilhar os valo-res de luta e resistência promovidos pela socie-dade civil, tomando posições de sujeitos na histó-ria. Ao construir e pensar essa identidade comoestratégia política e cultural, esse território temconseguido reverter suas demandas emimplementação de políticas públicas que aten-dam aos interesses do lugar. (SANTOS, 2009,P. 20).

Ao longo dos anos nem sempre foi esse o discurso

empreendido no interior do Nordeste brasileiro como todo.

Na maioria das vezes, o Território do Sisal foi tratado apenas

como um lugar pobre e atrasado.

Nesta entrevista* Albuquerque Júnior disse que este

fator também teve o incentivo do rádio que, ao invés de con-

tribuir em debater as condições de desenvolvimento que o

lugar pode oferecer, acaba repetindo o discurso de

”pobrezinho” criado pelas elites dominantes:

* A entrevista aconteceu no dia 13 de outubro de 2009, no Centro Cultural deConceição do Coité, durante a participação do professor Durval Muniz deAlbuquerque Júnior no Seminário Diálogos Possíveis realizado pela UNEB.

21

Page 19: Livro reportagem   os radiojornalistas

P.M.: Professor, o rádio ajuda a manter esse discur-

so regionalista do Nordeste?

Albuquerque Jr.: O rádio em grande medida repro-

duz essas mesmas falas, esses mesmos enunciados sobre

a região, esse discurso da pobreza, esse discurso da

vitimização, esse discurso da discriminação, esse discurso

de que somos vítimas do Sul, somos vítimas do Estado, e

esse próprio discurso da homogeneização, ou seja, tratar a

região como se ela fosse homogênea, como se ela tivesse

os mesmos problemas, como se não tivesse divisões de clas-

ses no seu interior, como se não tivesse uma parte da popu-

lação que é rica; você fala da pobreza da região como se

todo mundo fosse pobre, quer dizer você fala da miséria como

se a miséria fosse uma realidade de todas as áreas e de

todos os grupos sociais da região, então, o rádio veicula mui-

to isso, né? Como veicula essa própria ideia da discrimina-

ção, de que o Nordeste é discriminado, quer dizer esse dis-

curso de vítima ele é o tempo todo reproduzido, né?

P.M.: Como mudar isso a partir das universidades que

acabam muitas vezes reproduzindo também este discurso?

Albuquerque Jr.: Exatamente fazendo uma crítica a

essas imagens, a esses discursos. Você fazer as pesquisas

que mostrem justamente essa diversidade da região, essa

realidade diversa, essa realidade que é em grande medida

desigual, mas que é uma realidade que está em desacordo

com essas falas, com esses discursos, com esses estereóti-

pos.

22

Page 20: Livro reportagem   os radiojornalistas

O rádio: popular e sempre

Dia de sol na Fazenda Morrinhos. Quase às 5h30 da

manhã e o rádio já está ligado. No meio do curral o vaqueiro

Hamilton “Grande” ouve as primeiras notícias do dia enquan-

to tira leite fresquinho para o café da manhã. Na cidade tam-

bém não é diferente. Logo cedo já tem gente de rádio ligado.

O fazendeiro Paulo “Velho” acorda cedo. Liga o carro, depois

o rádio e segue em direção à fazenda. Embora com atenção

marginal à transmissão, tanto o vaqueiro como o fazendeiro,

podem realizar atividades paralelas enquanto ouvem rádio

com certa facilidade e baixo custo. Para captar as emissões,

basta um simples receptor transistorizado que pode ser ad-

quirido por menos de R$ 5,00, em qualquer esquina de uma

cidade, onde tenha um camelô. Nessa facilidade toda teria

que ter algo para dificultar.

No Brasil tanto rádio como televisão depende de ou-

torga do governo federal, que tem o poder concedente*. No

caso das rádios comunitárias um processo pode levar até

dez anos, como é o caso da Santa Luz FM. Outra vantagem

que o rádio tem é que, em geral, a programação volta-se ao

município sede da emissora e sua região. Um exemplo disso

é a Morena FM, que embora esteja em mais de 100 municípi-

os, tem uma programação voltada para Serrinha e, no máxi-

mo, cinco ou seis municípios vizinhos.

* Constituição Federal, Capítulo V, da Comunicação Social, diz no Artigo 223,que “compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão eautorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observa-do o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”.

23

Page 21: Livro reportagem   os radiojornalistas

O advento das redes de rádio via satélite altera um

pouco esta realidade. As grandes cadeias de emissora têm

sede, na maioria dos casos, em São Paulo, com casos isola-

dos em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Na região, a Rádio 96.5 FM, de Riachão do Jacuípe,

repete a programação de rede com uma emissora de Salva-

dor, que começa a desenvolver a experiência na Bahia; as

demais emissoras geram seus próprios programas.

A versatilidade e agilidade do rádio fazem acontecer

transmissões diversas ao vivo, dependendo, geralmente, de

uma linha telefônica fixa ou móvel. Essa facilidade concede

ao rádio a capacidade de noticiar rapidamente o fato, poden-

do narrá-lo em paralelo à sua ocorrência e com baixo custo.

O radialista Milton Jung (2005; P. 62) defende que é preciso

entender o rádio como uma linguagem. Devido à sua

abrangência e pelas características que possui, o discurso

radiofônico deve ser: claro, preciso, conciso e usar com o

máximo de propriedade o repertório de seu público prioritário.

“Ser simples, claro e objetivo é usar linguagem coloquial, sem

vulgaridade. É falar e escrever de forma que o ouvinte enten-

da de imediato”, explica Jung.

Nos seus mais de 90 anos no Brasil, o veículo é o

meio de comunicação mais popular que existe. Ao longo da

história revelou talentos para a TV, foi palanque eleitoral e

ajudou a vender música. Neste sentido, a figura do radialista

tem um papel estratégico.

– O que me deixa triste – desabafa o radialista

Genivaldo Silva –, é ver que em nossa região esse veículo

24

Page 22: Livro reportagem   os radiojornalistas

não se expande, não valoriza o profissional e tão pouco ofe-

rece a ele as dignas condições de exercer esta função tão

prestigiada pela nossa gente.

– O trabalho do comunicador é super importante –

explica o radialista Tony Brasília –, temos que parar de olhar

ele como alguém que só está ali para ganhar dinheiro. É al-

guém que também ajuda as pessoas. Agora o que precisa

mesmo são os radialistas se valorizarem, se unirem. Se o

sindicato chegar aqui vai fechar as portas porque está tudo

irregular. Falta união, um exemplo é que no dia do radialista

ninguém nem lembrou.

– Para ser um bom comunicador – comentei com

ele –, é preciso também saber usar os recursos de redação e

de sonoplastia, cuidar e usar bem a voz, além de desenvol-

ver e respeitar as regras para a elaboração de textos e a

produção de programas.

Não existem estudos sobre audiência, mas em pou-

co tempo de convívio na região é possível notar a popularida-

de do veículo como meio de comunicação de massa. Mesmo

com problemas enfrentados pelos radialistas ou mesmo pe-

las rádios, mesmo com a influência política no conteúdo das

emissoras, o que se percebe facilmente é que o sertanejo

não vive sem rádio, seja na fazenda onde mora o vaqueiro ou

mesmo na cidade em que vive o fazendeiro. Com este deba-

te sobre o radiojornalismo acredito que será possível contri-

buir para a construção de conhecimento na academia e nas

comunidades dos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe.

25

Page 23: Livro reportagem   os radiojornalistas

Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados

Nesta pesquisa busquei entrevistar radialistas que

atuam na atividade de produção do rádio nos setores de dire-

ção, criação, interpretação e locução. Todos os radialistas

foram entrevistados, especificamente com o objetivo de con-

tarem suas histórias e opinarem sobre o desenvolvimento da

profissão de radiojornalista na região. Os perfilados são:

Aluízio Farias, Cival Anjos, Edisvânio Nascimento, Genivaldo

Silva, Gilberto Oliveira, José Ferraz, José Ribeiro, Nilton Fe-

liz, Tony Brasília, Tony Sampaio, Valdemi de Assis e Vilmara

de Assis*. Os entrevistados receberam contatos antes pes-

soalmente ou por telefone para entender a proposta do pro-

jeto e marcar o dia da conversa “em profundidade”.

Dos 14 radialistas previstos apenas dois não foram

entrevistados: o primeiro foi presidente e fundador da Rádio

Comunitária Barreiros FM, Manoel Missias, que atua na co-

municação no Distrito de Barreiros, no município de Riachão

do Jacuípe, desde a década de 1980, com o Serviço de Alto-

falante A Voz da Sociedade Barreirense, onde tive meu pri-

meiro contato com o microfone; e o segundo foi o radialista

Tony Sena, que é comunicador da Rádio Jacuípe AM. Tony já

está no ramo desde 1987 e atualmente apresenta o Notícias

da Hora, informativo no qual também fui produtor e apresen-

tador, em 2008, na mesma emissora. O noticiário tem dura-

ção de dois a cinco minutos e vai ao ar a cada hora dentro da

programação. As entrevistas foram canceladas por incompa-

tibilidade de agenda de ambos os lados.

26

Page 24: Livro reportagem   os radiojornalistas

Os Territórios do Sisal e da Bacia do Jacuípe, que

demarcam o foco deste trabalho, possuem outras emissoras

comerciais e comunitárias, que ficaram de fora por não per-

tencerem ao recorte de municípios priorizados para a pesqui-

sa (Conceição do Coité, Riachão, Serrinha, Valente e Santa

Luz). Neste locais além de existirem estudantes do Curso de

Rádio e TV, as emissoras de rádio possuem estrutura e his-

tórico de radiojornalismo reconhecidos pela comunidade a

mais de 10 anos.

* A presença de apenas uma mulher neste time de radialista mostra quanto àprofissão é centrada nos homens. São poucas as mulheres âncoras de noticiári-os e com experiência em radiojornalismo nestas emissoras. No decorrer da pes-quisa conheci outras três mulheres que estão iniciando em comentários, reporta-gens e apresentações de noticiários.

27

Page 25: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 26: Livro reportagem   os radiojornalistas

Chegada do rádio na RegiãoSisaleira

No Sertão da Bahia, o pequeno rádio de pilhas colo-

ridas é usado constantemente para ouvir o principal veículo

de comunicação de massa com produção local, que vence

distâncias e aproxima as pessoas.

Quase um milhão de habitantes estão espalhados em

mais de 30 municípios dos Territórios do Sisal e da Bacia do

Jacuípe e são alvo de pelo menos vinte emissoras de rádios

entre comerciais, educativas e comunitárias. Na maioria das

vezes, as rádios pertencem e são chefiadas por grupos polí-

ticos, que também comandam as Prefeituras, Câmaras de

Vereadores e as poucas empresas que existem.

– Eles só querem as rádios para fins políticos, nin-

guém pode negar isso – informa o radialista Nilton Feliz que

atua no rádio desde o final dos anos 90.

– Aqui em Serrinha mesmo – conta o radialista José

Ferraz –, todas as rádios são políticas.

No sentido específico da palavra, Ferraz quer dizer

que as rádios são formas de poder com forte influência na

administração das cidades e diz que os donos estão filiados

a algum partido ou tem relação direta com os dirigentes

partidários e os gestores públicos:

– É complicado – analisa Ferraz –, se você falar mal

31

Page 27: Livro reportagem   os radiojornalistas

de um que é aliado a Lomes ele lhe tira do ar. Ou então, lhe

chama e lhe fala “não vai falar nada porque esse cara é alia-

do da gente”. Por mais que o cara erre, o cara desvia dinhei-

ro público, é usurpador de dinheiro público e você não pode

falar. O ouvinte é quem fica sem ter a informação. A mesma

coisa é na rádio de Plínio. Lá você não pode falar da sobrinha

dele que é vereadora. É tudo assim.

O radialista José Ferraz também não esquece as pro-

postas que recebeu para retornar para a Continental.

– Quando eu já estava na Jacuípe a diretoria da

Continental tornou a me convidar com um salário melhor e

eu não aceitei porque lá é trabalho teleguiado e aqui [na

Jacuípe] não, tem dois nomes que eu não posso falar, mas

Zevaldo não interfere no meu programa, concluiu Ferraz.

– Todas as rádios são lideradas por políticos – afir-

ma José Ribeiro, que tem 30 anos de rádio –, o Grupo Lomes,

o Grupo da Universal, enfim todas as emissoras estão subor-

dinadas a administrações de políticos ou igrejas. Se você não

faz aquilo que o patrão quer... e dentro da moralidade você

tem mais é que fazer, porque se não fizer vai para o olho da

rua e tem muita gente esperando você sair para entrar e fa-

zer o trabalho que você não quis fazer.

Na história do rádio o envolvimento político e as con-

trovérsias estão desde o início. No Brasil, a primeira emisso-

ra de rádio data de 1919, que é a Rádio Clube de Recife, em

Pernambuco. Mas, os pesquisadores registram que a primei-

ra operação de rádio no país foi no Rio de Janeiro, em 7 de

setembro de 1922, para transmitir o discurso do Presidente

32

Page 28: Livro reportagem   os radiojornalistas

Epitácio Pessoa, durante a comemoração do centenário da

Independência do Brasil e que somente em 20 de abril do

ano seguinte, o Brasil conhecia “oficialmente” a sua primeira

emissora: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por

Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. Enquanto aqui

engatinhavam as primeiras tentativas para transmissão de

rádio, nos EUA, no final de 1922, os americanos contavam

com 382 emissoras. No início eram emissoras coletivas,

elitizadas e chamadas de “sociedade” ou de rádio “clube”. Os

ouvintes mantinham as emissoras com mensalidades, pois

não havia os reclames, que só surgiram a partir de 1932 atra-

vés de Decreto de Getúlio Vargas – o presidente brasileiro

que melhor soube utilizar o rádio para pretensões políticas. A

entrada da publicidade também marcou na mudança de com-

portamento das emissoras, como registra Gisela Ortriwano:

Com o advento da publicidade, as emissoras tra-taram de se organizar como empresas para dis-putar o mercado. A competição teve, original-mente, três facetas: desenvolvimento técnico,status da emissora e sua popularidade. A preo-cupação educativa foi sendo deixada de lado e,em seu lugar, começaram a se impor os inte-resses mercantis. (ORTRIWANO, 1985, P. 15)

De acordo com o IBGE, em 1937, o Brasil tinha 59

emissoras de rádio transmitindo óperas, músicas e textos ins-

trutivos. Destas, 55 eram particulares e 04 dos governos fe-

deral e estaduais.

33

Page 29: Livro reportagem   os radiojornalistas

DIFUSORA AM: a primeira rádio da região

A primeira emissora da Região Sisaleira surgiu qua-

se 50 anos depois da primeira transmissão de rádio no Bra-

sil. A Rádio Difusora AM de Serrinha entrou no ar em 1969* e

seus fundadores, segundo narram integrantes da emissora,

foram José Barradas Neto, Plínio Carneiro, Luiz Viana Neto,

dentre outros. Quem primeiro assumiu a função de radialista

da emissora foi José Malta e, em 1983, o sindicalista Carlos

Miranda Lima** assumiu os destinos administrativos da rádio

por 20 anos.

– Eu vim para Serrinha na década de 1970 – lembra

Aluízio Farias – porque era a única cidade da região que ti-

nha rádio. Eu trabalhava como funcionário de uma cerveja-

ria, onde atuei até 1998, e nos finais de semana fazia jogos

pela Difusora.

* Neste ano já existiam 31 emissoras de rádio na Bahia e 959 no Brasil, segundodados do IBGE. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_xls/palavra_chave/cultura/radiodifusao.shtm>. Situação Cultural de 1969, apud Ser-viço de Estatística da Educação e Cultura. Tabela extraída de: Anuário estatísticodo Brasil 1969. Rio de Janeiro: IBGE, v. 30, 1969. Acesso em 13 de outubro de2009.

** Carlos Miranda postou o seguinte comentário no site www.paulomarcos.com.“Sempre que falar sobre início dos trabalhos radiofônicos na Região Sisaleiranão deve esquecer que a Rádio Difusora de Serrinha, a ZYC 36 em 1330 KHZ éa DECANA, sempre deu oportunidade a todos com o seu espírito liberal por mimimplantado, fomos a primeira a transmitir ao vivo de várias cidades. Tudo come-çou em 1969”. Disponível em http://softwarelivre.org/paulomarcos/blog/livro-mos-trara-o-lado-de-dentro-do-radio-na-regiao-sisaleira.

34

Page 30: Livro reportagem   os radiojornalistas

Da decadência vivida nos últimos anos da adminis-

tração de Miranda, a primeira rádio da região se transformou

em Continental AM. Foi em 23 de abril de 2004 que aconte-

ceu sua re-inauguração. Além de ganhar nova diretoria, tam-

bém passou para novo endereço com equipamentos moder-

nos e outra programação. Daí em diante também com trans-

missão ao vivo na Internet.

– A “morte” da Rádio Difusora – comentou Cival

Anjos –, e o surgimento da Continental foi um marco na valo-

rização do profissional. Foi essa nova rádio que ajudou a mu-

dar um pouco a postura das emissoras na região com a

contratação de profissionais.

MORENA FM: 22 anos sem radiojornalismo

Na Praça Luiz Nogueira, em Serrinha, é fácil encon-

trar um parque infantil, onde meninos e meninas brincam;

árvores históricas, que sombreiam os jardins enfeitados de

esculturas e flores; no mesmo lugar é fácil de visualizar – de

todos os ângulos – o prédio do Grupo Lomes de Radiodifu-

são.

O portão eletrônico está fechado. Antes quem che-

gava entrava sem se identificar, subia a escada de madeira

que leva ao primeiro andar, onde ficam os estúdios de duas

emissoras de rádio. Neste dia depois de me identificar tive

acesso pela terceira vez naquele mês ao estúdio da segunda

rádio de Serrinha, fundada em 1986, por Antônio Lomes do

Nascimento. Denominada no Ministério das Comunicações

35

Page 31: Livro reportagem   os radiojornalistas

como Serrinha FM, opera em 97.9 Mhz no ar 24 horas e é

basicamente musical. Com o slogan “A dona do primeiro lu-

gar” a emissora é a mais potente da região e recebe muitas

críticas por oferecer uma programação pouco variada, com

muita propaganda e apenas músicas de “mercado”.

– O pessoal da Morena não sabe o que é música

não – diz José Ribeiro, que coordena o programa jornalístico

da rádio e é um dos entrevistados desta pesquisa.

Diversidade musical não é mesmo o forte da emisso-

ra, mas é disso que sobrevive. O único programa de notícias

da Morena FM é o “Pauta Livre”, que está no ar desde o início

de abril de 2008, das 12 às 13 horas de segunda a sexta-

feira. O programa demonstra de fato que é um espaço livre

sem grandes produções, ou seja, vai acontecendo tudo ao

vivo e na base dos comentários, porém sem participação

popular.

O proprietário impõe seu poder de influência usando

o veículo para expressar suas preferências políticas, assim

como faz com mais ênfase na Regional AM, a terceira emis-

sora de Serrinha.

REGIONAL AM: a menina dos olhos de Lomes

Foi também em 1986, quando Antônio Carlos Maga-

lhães era Ministro das Comunicações, que o Grupo Lomes

de Radiodifusão conseguiu outra outorga de funcionamento

de rádio. A Rádio Regional AM 790 Khz é uma emissora bem

popular com programação basicamente informativa, mas tam-

36

Page 32: Livro reportagem   os radiojornalistas

bém com programas de entretenimento.

O estúdio é bem climatizado, ainda no estilo antigo

com cabine de locução separada da mesa de áudio. Segun-

do informações da própria emissora, sua abrangência pode

chegar a mais de 120 municípios da Bahia e Sergipe. O pro-

prietário Antônio Lomes é um empresário da radiodifusão com

várias emissoras de rádio AM e FM espalhadas na Bahia e

em outros Estado*, mas prefere esta emissora para falar to-

dos os dias por telefone. Ele tem fortes vinculações políticas

com partidos de Serrinha e usa a rádio para expor sua posi-

ção que acaba sendo também a visão dos comunicadores.

Lomes foi Superintendente de Desporto do Estado da Bahia

(Sudesb) e diretor da Empresa de Produtos Farmacêuticos

da Bahia (Bahiafarma) em governos do PFL, atual DEM. Atra-

vés do rádio, e em especial da Regional, Lomes mantém con-

tato direto com a população serrinhense e expõe suas opini-

ões políticas. Mesmo com todo aparato de rádios, em 2008,

perdeu a eleição municipal. A esposa do empresário foi

candidata a re-eleição para o cargo de prefeita, mas foi der-

rotada.

* Ver estudo do FNDC que aponta a existência de 65 emissoras na Bahia perten-centes a políticos em exercício ou seus parentes com base em um levantamentofeito por Katherine Funke [DRT 2266/BA], para reportagem publicada no jornal ATarde, de Salvador, em 26/12/2005. Foram considerados os levantamentos feitospor Venício de Lima [UnB], para deputados federais, e James Görgen [FNDC],para senadores. Disponível em http://www.fndc.org.br/arquivos/Politicos-emisso-ras-BA.pdf . Acessado em 03 de novembro de 2009.

37

Page 33: Livro reportagem   os radiojornalistas

SISAL AM: o trono da família Rios

“O símbolo de maior riqueza da nossa região” este é

um dos primeiros slogans da Rádio Sisal, que foi gravado

numa antiga vinheta na voz de Lucival Lopes um de seus

maiores comunicadores. Depois de se destacar na emissora,

Lucival com sua voz grave, foi para Feira de Santana, onde

comanda programas jornalísticos de grande repercussão.

A Sisal não vive mais na “Era de Ouro” dos anos 90,

porém está no ar diariamente já com sistema digitalizado e

pode ser sintonizada em 900 Khz AM em aproximadamente

30 municípios do Sertão baiano e pelo sítio que mantém na

Internet. Situada na Rua Wercelêncio Calixto da Mota, 81, no

centro da cidade de Conceição do Coité, ganhou o nome em

20 de dezembro de 1986, durante sua inauguração numa

homenagem dos proprietários ao Sisal, a planta que por dé-

cadas foi a principal base econômica da região.

Segundo a diretoria da rádio, os primeiros documen-

tos da iniciativa datam de março de 1979 e os seus fundado-

res foram Tiago Ferreira de Carvalho – segundo o sítio Do-

nos da Mídia* também é proprietário de outra emissora em

Euclides da Cunha –; Gilberto Mota, Roberto Pinto Lopes e

Edvaldo de Carvalho Santiago. Em maio de 1982, ingressa-

ram os sócios Hamilton Rios de Araújo e João Carvalho.

* Ver site http://www.donosdamidia.com - Acesso em 10 de outubro de 2009.

38

Page 34: Livro reportagem   os radiojornalistas

Por falta de capital suficiente para adquirir os equipa-

mentos os sócios resolveram, em dezembro de 1985,

transformá-la em sociedade anônima composta por 31 acio-

nistas. Hamilton Rios de Araújo tem grande poder de decisão

na emissora. HR, como o chamam na rádio, tornou-se a mai-

or liderança política de Coité da década de 1970, se manten-

do no poder até os dias de hoje, porém em decadência polí-

tica.

– Seus interesses sempre se refletiram no perfil e

na programação da rádio –, relata Valdemi de Assis, que por

quase 20 anos foi o principal radiojornalista da emissora.

A Sisal tem uma programação direcionada ao pú-

blico rural e não arrisca colocar ouvinte no ar dentro do jorna-

lismo como acontece em outras rádios. Mantém no ar o Jor-

nal da Sisal pela manhã e o programa Sisal Esportes e Notí-

cias ao meio dia, que se constituem nos espaços de maior

dedicação ao radiojornalismo. No final de semana, a rádio

transmite jogos de futebol amador e se mantém, desde 1992,

como referência neste setor na região.

– Em vez de fiscalizar se estamos seguindo a linha

da rádio eles deveriam corrigir e ajudar a gente. Seria bom

para a Rádio e para a gente também –, reclama Nilton Feliz,

que coordena o esporte na rádio.

– Você fala também em termos de corrigir para me-

lhorar a qualidade dos programas? –, pergunto.

– Exato. E também assim, aqui na Sisal, hoje não,

mas antes já teve momento de ninguém da direção ouvir e a

rádio sair do ar e o locutor continuar fazendo o programa sem

39

Page 35: Livro reportagem   os radiojornalistas

saber – concluiu Nilton Feliz.

Com a nova estrutura talvez isso não aconteça mais.

A Sisal comemorou seus 23 anos de cara nova. Foram inves-

tidos mais de R$ 200 mil em equipamentos de última gera-

ção para operação e transmissão, além de novos estúdios

climatizados, com paredes coloridas e quadros bonitos.

Ainda é preciso ir mais fundo numa pesquisa que

aponte a Rádio Sisal e as demais não apenas como um bra-

ço direito das prefeituras ou dos gestores públicos, mas que

possa investigar como de fato o rádio contribui na manuten-

ção de cargos públicos, por exemplo, eleições e derrotas de

vereadores, prefeitos e deputados da região.

O comunicador Valdemi de Assis sabe bem o que é

isso. Ele foi vereador e radialista ao mesmo tempo na déca-

da de 1980. Em 2006, candidatou-se a deputado contra a

vontade do grupo político que comanda a Sisal e foi expulso:

– O rádio aqui é usado também como forma de ma-

nutenção do poder político – explica Valdemi –, por influenci-

ar diretamente na opinião pública. É através dele que as

mensagens dos políticos chegam diariamente ao povo seja

no período eleitoral ou fora dele. Por seus proprietários man-

terem ligações diretas com os partidos acabam fornecendo

as emissoras como instrumento de manipulação da opinião

pública a partir do fechamento que há na programação. Não

pode ter a participação do povo. Só se for para elogiar eles.

40

Page 36: Livro reportagem   os radiojornalistas

JACUÍPE AM: muda de dono, mas não muda de ob-

jetivo

A emissora é comercial e é propriedade do ex-prefei-

to de Serrinha Josevaldo Lima, que deixou o cargo em 2004,

ano que adquiriu a rádio e disputou a re-eleição (sem suces-

so) assim como na eleição seguinte, em 2006, quando dispu-

tou a eleição de deputado.

O radialista José Ferraz, que trabalha na rádio há

mais de dois anos, sustenta que a emissora ajudou na última

eleição do prefeito de Serrinha, em 2008, quando o filho do

político disputou a eleição como vice-prefeito na chapa de

Osni Cardoso:

– A rádio foi multada em R$ 22 mil na política passa-

da – exemplifica Ferraz –, a coligação de Tânia entrou na

Justiça alegando que estávamos beneficiando Osni do PT e

realmente ele foi eleito com o apoio da rádio Jacuípe porque

aqui todas as rádios eram contra ele.

Antes a emissora já era comandada por político. O

presidente anterior era ex-prefeito de Riachão do Jacuípe,

Valfredo Matos, que faleceu logo após o final do segundo

mandato, em janeiro de 2005. A mudança de propriedade

não mudou a concepção, utilidade e nem mesmo o conteúdo

do veículo.

Hoje, melhor equipada, ainda sofre as mesmas difi-

culdades de emissoras comunitárias, como a falta de investi-

mento financeiro. Seus radialistas dizem que são reconheci-

dos pela população, mas pouco valorizados profissionalmente

41

Page 37: Livro reportagem   os radiojornalistas

como na maioria das rádios. Na maior parte do tempo a rádio

está a serviço dos governos ou dos políticos que estão fora

da estrutura administrativa dos municípios. Serve como apên-

dice das campanhas políticas e é usada para garimpar votos

e prestígio*. Percebe-se também que a emissora presta rele-

vante serviço para a comunidade e é o principal meio de co-

municação do lugar.

Outro momento marcante na emissora foi o atentado

contra o radialista Gilberto Oliveira, em 1999, que foi espan-

cado no meio da rua por pessoas até hoje não identificadas.

O radialista disse que não tem suspeita e prefere não ligar o

fato à questão política:

– Existem aqueles radialistas que ficam subordina-

do a políticos – denuncia Gilberto –, chantageando, receben-

do propina pra divulgar isso ou aquilo ou não divulgar•c e eu

desafio no meu caso. Tem gente até que me chama de bobo

que eu levanto muita gente, mas eu não quero nada dos ou-

tros. Não faço isso. Tenho minha consciência tranquila.

Situada na Rua Padre Argemiro Guimarães, 32, no

centro de Riachão, a Rádio Jacuípe foi criada em 1987 e,

segundo dados do sítio do Ministério das Comunicações, os

primeiros sócios-proprietários foram José Aloir Carneiro Ara-

újo e Valfredo Carneiro de Matos.

* Para saber mais sobre este comportamento da emissora ver SILVA, Gladston.Riachão Recente. Riachão do Jacuípe: Clip Gráfica e Editora, 2003.

42

Page 38: Livro reportagem   os radiojornalistas

A ideia deste e outros estudos que precisam ser fei-

tos é trazer para o debate problemas antigos e ao mesmo

tempo bem atuais envolvendo o rádio na região: controle po-

lítico partidário sobre o conteúdo; falta de planejamento es-

tratégico; pouco financiamento para produção; ausência de

qualificação profissional; dentre outras questões que interfe-

rem diretamente no radiojornalismo como, por exemplo, o

surgimento das rádios comunitárias que pode ser considera-

do um divisor de águas na comunicação.

RÁDIOS COMUNITÁRIAS: a voz de quem só ouvia

A implantação das rádios comunitárias no final da

década de 1990 foi uma das maiores transformações no se-

tor e que gerou duas significantes situações: primeiro a pró-

pria população passou a produzir o rádio com seus conheci-

mentos e necessidades de pautas; segundo é que as rádios

comerciais sentiram-se ameaçadas por perceber que a po-

pulação estava ouvindo e aceitando cada vez mais as novas

emissoras, como explica Edisvânio Nascimento da Rádio

Comunitária Santa Luz FM e diretor da Abraço Sisal - Associ-

ação de Rádio e TV Comunitárias do Território do Sisal:

– Você pode apontar alguma característica do

radiojornalismo proposto pelas rádios comunitárias?

– Sim. – respondeu Edisvânio –, fazemos o

contraponto aos veículos de massa. Eles trabalham para aten-

der a interesses particulares e nós não. Buscamos o compro-

misso com a sociedade. Não fazemos sensacionalismo com

43

Page 39: Livro reportagem   os radiojornalistas

a notícia nem com a miséria do povo.

A associação das rádios comunitárias foi criada, em

2004, para manter o movimento articulado em torno das ques-

tões de democratização da comunicação na região, princi-

palmente visando atender os interesses das emissoras co-

munitárias*.

Uma pesquisa que tive o prazer de ser colaborador,

em 2005, intitulada Rádios Comunitárias da Região Sisaleira

da Bahia: memória, conjuntura e perspectivas**, e realizada

pelo professor Doutor Antônio Dias Nascimento, mostra o

papel do rádio como um meio eficaz de fazer valer os anseios

de justiça e de melhores condições de vida e trabalho para

as populações que são agregadas e organizadas pelos movi-

mentos sociais locais, em torno das emissoras comunitárias.

Por isso resolvi investir também nesta pesquisa em duas

emissoras comunitárias que mais se destacam nestes muni-

cípios que fiz o recorte.

– A gente dá nossa opinião também – diz Tony

Sampaio da Rádio Valente FM –, mas sempre deixa o cami-

nho aberto para a interpretação do ouvinte, inclusive recebemos

* Rádios que compõem a Abraço Sisal: Água Fria FM, Barreiros FM, Estrela FMde Retirolândia; Cultura FM de Araci, Cruzeiro FM de Tucano; Independente FMde Ichú; Nordestina FM; Santa Luz FM; Valente FM, São Domingos FM, Juá FMde Juazeirinho - Conceição do Coité, Quijingue FM, Mairí FM, Contorno FM deCapim Grosso e Quixabeira FM.

** NASCIMENTO, A. D. Rádios Comunitárias da Região Sisaleira da Bahia: Me-mória, conjuntura e perspectivas. Relatório de Pesquisa. MOC/UNICEF, Salva-dor - Bahia, 2005. Disponível em www.moc.org.br. Acesso em 10 de Agosto de2009.

44

Page 40: Livro reportagem   os radiojornalistas

mos ligações contrárias a nossas colocações, mas sempre

procuramos ouvir o máximo de opiniões. E nunca esquece-

mos os fatos de um dia para o outro, se for preciso voltamos

ao tema anterior, refazemos matérias, fazemos novas entre-

vistas.

Em relação às emissoras AM, além de transmitirem

em FM com melhor qualidade, as novas rádios, ainda prome-

tem uma programação diversificada com prioridade para os

assuntos da própria comunidade, a prestação de serviço, a

notícia e a cultura local.

VALENTE FM: não desiste nunca

Fundada em fevereiro de 1998, a Rádio Valente FM

foi uma das primeiras comunitárias da Região Sisaleira e por

isso sempre foi referência dentro do movimento de radiodifu-

são comunitária. A emissora já teve características de uma

transmissão regionalizada podendo ser sintonizada em vári-

os municípios como Serrinha, Conceição do Coité, Santa Luz,

Riachão do Jacuípe, dentre outros. Na época da inaugura-

ção a rádio chegou a alcançar um raio de quase 100 km, com

boa qualidade. Hoje atua apenas no município de Valente

com um transmissor de 25 Kws e em 104.9 Mhz.

O jornalismo na Valente FM começou em abril de 1998

e foi planejado para ter notícias locais, regionais, estaduais e

nacionais, mas principalmente locais. Enquanto o processo

de outorga era travado no Ministério das Comunicações, a

Anatel - Agência Nacional das Telecomunicações e a Polícia

45

Page 41: Livro reportagem   os radiojornalistas

Federal cuidavam de calar a rádio.

– O jornalismo da emissora foi se tornando mais

crítico e fiscalizador, virando cada vez mais alvo da repres-

são. Por diversas vezes a rádio foi lacrada e teve equipa-

mentos confiscados –, denuncia Tony Sampaio.

Quando foi criada, o país vivia um grande movimento

pela democratização da comunicação com a aprovação da

Lei 9.612/1998 que institui a modalidade de rádio comunitá-

ria. Algumas entidades da sociedade civil, como a APAEB -

Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da

Região Sisaleira, as igrejas e o Sindicato de Trabalhadores

Rurais de Valente discutiam esse projeto desde meados dos

anos 90.

A Valente FM somente conseguiu a outorga depois

de quase cinco anos de luta. Dirigentes da emissora foram

processados por operarem sem a autorização e até hoje,

mesmo depois que a rádio obteve a outorga, os processos

não foram extintos.

SANTA LUZ FM: uma rádio premiada

A Santa Luz FM opera 24 horas modulando em 104.9

Mhz e é uma emissora referência na radiodifusão comunitá-

ria no Brasil. A rádio tem uma associação comunitária que é

gerenciada pela própria comunidade através de seus repre-

sentantes, que são jovens comunicadores, dirigentes de en-

tidades sociais de bairros e de classes e estudantes. As deci-

sões da rádio são tomadas através de reuniões com os mem-

46

Page 42: Livro reportagem   os radiojornalistas

bros da diretoria, locutores e entidades que compõem o Con-

selho Comunitário e que garantem uma atuação apartidária

da emissora.

– O negativo que me marcou – relata Edisvânio Nas-

cimento –, foi ter participado de uma capacitação do UNICEF

durante três dias, em Salvador, e quando cheguei aqui, em

Santa Luz, a Polícia Federal já estava me esperando na por-

ta do ônibus pra me pegar. Então, essa pra mim desabou... –

na fala uma pausa, emoção e choro.

– Você ter trabalhado numa perspectiva de constru-

ção cidadã – tentando refazer a voz, ele continua –, buscar

aprendizado para incentivar a sociedade do que nossas cri-

anças precisam e você chegar e ser tratado como bandido

foi isso que eu senti. Ser obrigado a sentar num carro de

polícia com armas aos seus pés é muita humilhação.

A Santa Luz FM, ao longo de dez anos, quando a

Polícia Federal deixava, apresentou um conjunto de reporta-

gens que contribuíram para a discussão de políticas públicas

dirigidas à população infanto-juvenil na Região Sisaleira e,

assim, se tornou referência no assunto. A prática da rádio

demonstra, através das escutas que realizei que atua com

responsabilidade social enquanto formadora de opinião e

contribui para a construção de novos valores, buscando uma

mudança de comportamento em seu público no que diz res-

peito aos direitos e deveres da população; e estimula a parti-

cipação de adolescentes e jovens em sua programação.

Desde dezembro de 2008, a Santa Luz FM está no

ar com outorga – depois de dez anos de luta – e sem inter-

47

Page 43: Livro reportagem   os radiojornalistas

rupções. Agora também disponível na Internet através de seu

blogue: santaluzfm.blogspot.com.

O maior problema enfrentado pelas rádios Valente

FM e Santa Luz FM foi a burocracia para a liberação da ou-

torga, que levou a estas e ainda leva outras emissoras a fun-

cionarem sem concessão. Sobre essa questão de rádio fun-

cionar sem autorização são diversas as opiniões:

– A Região do Sisal tem que criar um sindicato –

defende José Ferraz –, para combater rádio pirata que dá

prejuízo as rádios comerciais e também para combater os

radialistas clandestinos, todo mundo hoje é locutor.

– Elas estão ocupando um espaço – sinalizou Nilton

Feliz –, que as comerciais estão deixando por questões polí-

ticas. A Sisal comandou a região por uma década e meia e

agora as comunitárias por terem baixo custo e serem mais

abertas para a comunidade conseguiram atrair ouvintes e

anunciantes•... a rádio aqui [Sisal] tem que investir em qua-

lidade para superar isso.

As rádios criadas pelos movimentos comunitários em

vários municípios apesar de muitas vezes passarem pelos

mesmos problemas das emissoras comerciais no tocante a

controle político ou mesmo não desempenharem o papel so-

cial do rádio, tiveram e têm o papel de aproximar as pessoas

do veículo e ao mesmo tempo oferecer o acesso ao direito

humano de se comunicarem via a mídia. É também um espa-

ço onde surgem novos comunicadores, que depois de algu-

ma experiência migram para outras emissoras.

48

Page 44: Livro reportagem   os radiojornalistas

CURSO DE RÁDIO E TV: a formação profissional

Jota Sampaio, Paulo Catu, Rodrigo Carneiro, Marce-

lo Felipe e eu eramos inseparáveis na faculdade. Juntos, em

2008, criamos o Na Cangaia. O projeto de comunicação via

rádio e Internet serviu como experiência para integração dos

estudantes de Rádio e TV e cinco emissoras de rádios co-

munitárias* da região.

– Foi via o Programa Na Cangaia – informou Jota

Sampaio –, que trocamos ideias, reportagens e diversos pro-

dutos radiofônicos como músicas, vinhetas, spots, rádio-no-

velas, dentre outros.

– O Na Cangaia também foi bacana porque tivemos

um espaço de experimentação do que estávamos discutindo

no curso – comentei.

– Foi um período onde ousamos, criamos e recria-

mos personagens – lembrou Sampaio –, como Dona Zumira,

Val Queiroz e tantos outros que estão registrados em nossa

memória. Sem esquecer dos músicos regionais que passa-

ram pelo programa como Dó Nascimento, A Banda No Name,

Caé, Chaonda, Ninho Santana e muito mais.

O curso que surgiu, em 2006, pretende formar profis-

sionais conscientes da realidade em que vivem e aptos a

dominarem as linguagens audiovisuais.

* Os primeiros quatro programas foram apresentados ao vivo na Rádio EducativaSabiá. A emissora pertence à Fundação Bailon Lopes Carneiro e está no ar des-de 2005. A rádio apenas toca músicas através e uma programação automáticade computado. Durante mais de um ano vários estudantes do curso se dedica-ram voluntariamente à produção de notícias na emissora.

49

Page 45: Livro reportagem   os radiojornalistas

A proposta de implantação da graduação surgiu no

movimento de radiodifusão comunitária, em 2004, na criação

do Plano de Comunicação do Território do Sisal, como apon-

ta Giovandro Ferreira e Gislene Moreira:

A chegada de um curso de comunicação no Ter-ritório do Sisal foi reflexo da efervescência des-te sistema comunicativo, principalmente, no quese refere à mobilização da sociedade organiza-da local e seu amplo aparato comunicacionalcomunitário. Sua instalação pode ser conside-rada como o primeiro produto efetivo do Planode Comunicação do CODES, o qual contribuiudecisivamente para o re-direcionamento da atu-ação acadêmica no território, viabilizando inclu-sive destinação orçamentária para o início deseu funcionamento. (FERREIRA e MOREIRA,2008, P. 10)

Com o curso, jovens e experientes comunicadores

de diversas cidades da Bahia obtiveram a profissionalização,

realizaram laboratórios de pesquisas na área de comunica-

ção e iniciaram a construção de um novo processo de comu-

nicação no já desenvolvido e habitado Sertão baiano. Quase

a totalidade dos formandos da primeira turma do curso é dos

municípios de Conceição do Coité, Riachão do Jacuípe,

Serrinha e Valente.

O Departamento de Educação do Campus XIV con-

ta com professores – mestres e doutores – com formação,

principalmente, em Língua Portuguesa, Literatura, Linguística,

História, Jornalismo e Rádio e TV aptos a ministrarem as dis-

ciplinas que envolvem Domínio das Linguagens; Domínio dos

50

Page 46: Livro reportagem   os radiojornalistas

Fundamentos da Comunicação; Domínio da Formação Só-

cio-Cultural e Humanística; e Domínio da Formação Especí-

fica. A proposta do currículo é que o radialista formado seja

voltado à percepção, à interpretação e à recriação da realida-

de social, cultural e com ambientes naturais, através de som

e imagem. Além disso, tenha condições de desenvolver as

atividades de criação, produção, formação, direção e progra-

mação requeridas para as elaborações audiovisuais.

Com o término da formação da primeira turma já são

muitos os ensinamentos e desafios para os alunos e profes-

sores envolvidos na proposta pedagógica. A estrutura de todo

o curso foi aprimorada ao longo dos semestres, a partir do

envolvimento dos estudantes e da chegada de cada novo

professor selecionado pela instituição. A matriz curricular em

experimentação ainda deve passar por adaptações à reali-

dade, os estudantes não conseguiram implantar um movi-

mento estudantil pró-ativo e as pesquisas de campo ainda

precisam ser melhor exploradas para contribuir com o de-

senvolvimento do radiojornalismo na região.

51

Page 47: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 48: Livro reportagem   os radiojornalistas

Fazendo jornal pelo rádio

Radiojornalismo: perfil e características na Região

Sisaleira

“O ouvinte da região gosta de um trabalho bemfeito, bem mastigado, bem explicado e nem sem-pre isso acontece”

O depoimento é de Genivaldo Silva, um dos rema-

nescentes da Agência Calila e hoje apresentador do Jornal

da Sisal. A declaração mostra que é dia de debate no rádio.

Pensadores e experientes radialistas vão conversar agora

sobre o radiojornalismo na Região Sisaleira. Para chegar neste

momento passamos pela Era de Ouro do Rádio – década de

1940 –, quando surgiu o Jornal Falado, que deu origem ao

que chamamos atualmente de radiojornalismo. Dentre os for-

matos, que estão presentes neste gênero, o de maior desta-

que, neste livro, é o “Jornal de Rádio”, que é um modelo de-

senvolvido em todas as rádios pesquisadas. São programas

diários com duração média de 60 minutos, quadros fixos como

esporte, política, polícia, tempo, dentre outros. Barbosa Filho

(2003; P. 89) explica que o gênero jornalístico ”é o instrumen-

to de que dispõe o rádio para atualizar seu público por meio

da divulgação, do acompanhamento e da análise dos fatos”.

Edisvânio Nascimento é um jovem atualizado e aten-

to às discussões sobre a comunicação. Ele é sempre otimis-55

Page 49: Livro reportagem   os radiojornalistas

ta e gosta de desafios:

– Não existe jornalismo imparcial – contesta o radi-

alista –, existe jornalismo sério, que trabalha com transpa-

rência e busca envolver a sociedade, por exemplo, não faze-

mos perseguição a ninguém. Atendemos as necessidades

do povo.

– E o que é notícia prioritária na Santa Luz FM? –

pergunto.

– A notícia prioritária pra nós é a que aponta pers-

pectivas para a sociedade, que realmente vai gerar frutos e

tem relevância para a sociedade.

– Você tem um exemplo?

– Se tiver um assassinato – diz ele –, e uma reunião

de professores é claro que a reunião pra nós precisa de um

destaque maior.

Geralmente os programas jornalísticos das emisso-

ras sisaleiras são apresentados por homens que usam do

estereótipo da masculinidade para falar forte, fazer comentá-

rios duros e bater na mesa assim como o Varella da Rádio

Sociedade da Bahia.

– Quando eu comecei no rádio – denuncia Vilmara

de Assis –, era muito preconceito com a presença da mulher

neste ambiente. Sofri muito com isso.

Vilmara é uma das poucas mulheres presente há mais

de 10 anos no radiojornalismo da região – média dos entre-

vistados deste debate. De 1992 a 2007, Vilmara de Assis tra-

balhou na produção de programas jornalísticos da Agência

Calila. Do surgimento até 2006 os programas eram apresen-

56

Page 50: Livro reportagem   os radiojornalistas

tados na Rádio Sisal AM e depois durante dois anos na Rá-

dio Regional. O maior sucesso do grupo que terceirizou os

horários destas rádios foi o Jornal das Oito, um noticiário que

se destacava por estar presente nos principais acontecimen-

tos políticos, sociais e econômicos da região:

– Tudo aconteceu naturalmente – informou Valdemi

de Assis, que é irmão de Vilmara –, não teve planejamento

não. A gente ia fazendo, gostando e fazendo de novo. A co-

bertura policial mesmo eu fui criando um estilo próprio que

virou referência.

– O jornalismo produzido pela Equipe da Agência

Calila – comemora Vilmara –, era sempre de primeira e com

boa produção. Não tinha essa de ir para o ar sem planejar.

Para mim o fim do programa Jornal das Oito foi um divisor de

águas no jornalismo da região.

O veterano Aluízio Farias aponta para a necessidade

de planejamento para os programas de notícias da região:

– Nós temos bons radialistas, mas está faltando

mais profissionalismo. As pessoas fazem programas de uma

hora só com manchetes e comentários, sem redigir nada.

– Eu não trabalho com pautas – salienta José Ribei-

ro –, eu não faço o programa lendo nada, aquele negócio

preestabelecido. Eu conheço muita gente que teve uma edu-

cação milhões de vezes melhor que a minha e quando chega

aqui na Regional se treme todinho diante de mim e não tem

condições de ter um raciocínio rápido sem ler nada.

Ao contrário do que diz Ribeiro, um elemento em

destaque da Rádio Valente FM é a estrutura proposta no jor-

57

Page 51: Livro reportagem   os radiojornalistas

nalismo. Os programas são roteirizados, com pautas e pla-

nejamento para cada edição. Além de avaliações constan-

tes, como narra Tony Sampaio:

– Não existe esse negócio de experiência fazer jor-

nalismo, não há mágica•c você tem que ter informação•c

você tem que trabalhar com responsabilidade e não deve fi-

car fazendo julgamentos.

Tony explica que no dia-a-dia faz contato com as fon-

tes, busca a notícia com responsabilidade e tem a certeza do

que vai trabalhar sem prejudicar terceiros, sem inventar ou

estar a serviço de políticos. Para ele a falta de planejamento

dos programas é coisa de radialista preguiçoso ou a fim de

manipular.

– Claro que um experiente terá melhor possibilidade

de fazer um comentário, por exemplo – reconhece Sampaio

–, mas é preciso trabalhar bem, ouvir os diversos lados para

conseguir, inclusive, formar uma opinião.

Para o radiojornalismo de uma emissora funcionar

bem, Maria Elisa Porchat, no Manual de Radiojornalismo da

Jovem Pan (1993; P. 47), diz que é preciso ter reuniões de

pauta em vários momentos do dia. Segundo ela, as reuniões

são responsáveis, em grande parte, pelo desempenho positi-

vo da Rádio Jovem Pan. •”As matérias já feitas são comen-

tadas, considerando-se a conveniência de prosseguir com

os assuntos”, defende Porchat.

O radialista Edisvânio Nascimento volta a argumen-

tar que o radiojornalismo na Região Sisaleira é comprometi-

do com um lado só:

58

Page 52: Livro reportagem   os radiojornalistas

– É o lado que paga – diz ele –, temos que melhorar

muito esse comprometimento. Outra coisa é que estamos

muito voltados para as fontes ditas oficiais como os registros

dos livros de ocorrência da polícia.

Já Nilton Feliz entende que depende muito do radia-

lista e das circunstâncias:

– Por não concordar com algumas situações eu me

exponho muito – argumenta Nilton –, pago um preço por isso

e sou perseguido, às vezes punido, ameaçado... na verdade

eu não tenho paz, mas é meu estilo, né? De coragem, na

verdade. Claro que a gente sabe de nossas limitações por

várias circunstâncias. Quebro alguns tabus. Muita gente tem

medo de falar de assuntos que envolvem polícia, que é um

caso muito complicado. É meu estilo de coragem.

José Ribeiro também contra argumenta a visão de

Edisvânio:

– Eu não sou um sujeito dado a abrir espaço para

que as pessoas digam o que é que eu tenho que fazer –

explica Ribeiro –, aqui na Rádio Regional, por exemplo, já fui

demitido cinco vezes. Estou aqui a mais de vinte anos e sou

o segundo mais velho daqui (...) Fui demitido por não concor-

dar com algumas situações, comentários, por alguém querer

impor.

– E você é feliz fazendo radiojornalismo? – pergun-

to.

– Não – responde Ribeiro –, você tem que ter dois

corações... eu já cheguei a tomar remédio controlado para

conseguir desempenhar minha função. Se eu começasse hoje

59

Page 53: Livro reportagem   os radiojornalistas

no rádio eu não faria jornalismo.

Pelo fato de alguns radiojornalistas ouvidos nesta

pesquisa atuarem no esporte ou também no esporte, talvez

seja mais fácil argumentar a ideia de liberdade como explica

o comunicador Tony Brasília:

– A diferença é que no esporte você é mais livre e no

jornalismo não, você tem que se policiar (...) pessoas que

são seus parceiros, seus amigos, com uma “criticazinha” fi-

cam seus inimigos.

A ausência de uma produção qualificada pode ser

explicada pela falta de recursos para investir em boas repor-

tagens. Nilton Feliz informou que os repórteres e comentaris-

tas de seu programa esportivo, por exemplo, na maioria das

vezes são voluntários e nem sempre estão disponíveis para

debates, reportagens especiais e divulgar outros esportes,

além do futebol.

Segundo Tony Sampaio, a Valente FM é referência

na troca de notícias com diversas rádios de Coité, Feira de

Santana e outras cidades. Para ele um diferencial da emis-

sora é apostar no ouvinte:

– Existe um perfil criado por vocês aqui em Valente?

– Temos um perfil do radiojornalismo que é desde o

início da rádio ... eu não sei se foi copiado de outro lugar, mas

é diferente dos outros da região porque é uma programação

aberta para a participação da população e sempre traz temas

importantes para o debate. O Rádio Comunidade hoje é uma

referência nisso.

Volto a falar com o radialista Nilton Feliz para tentar

60

Page 54: Livro reportagem   os radiojornalistas

entender um pouco mais aquele argumento sobre a sensa-

ção de liberdade dos radialistas na região.

– Qual a sua avaliação sobre a relação dos dirigen-

tes da rádio e os radiojornalistas?

– Péssima – responde Nilton demonstrando infelici-

dade –, eles impõem, eles querem que você siga uma linha

que não é a sua e nós somos forçados a obedecer. Ou obe-

dece ou cai fora. Então isso não é bom. Para o rádio isso é

péssimo. E talvez as rádios comunitárias, que eu apoio e

admiro também, estão surgindo e crescendo por isso, por-

que elas têm essa liberdade (...) o certo é falar, mas ... eles

não vão deixar que digam as verdades que precisam ser di-

tas contra políticos do seu grupo.

Isso parece ser uma unanimidade mesmo. Tony

Sampaio defende que as rádios comunitárias crescem mais

rápido pela liberdade de contestar, por ouvir mais opiniões e

talvez por não ter o xerife, o dono:

– Você fazer um programa com prazer e sem pres-

são é muito bom – comemora Tony –, aqui [na Valente FM]

não há pressão de não poder ou ter que falar de político a ou

b ... sem maquiagem, sem tapeação ... todas as comerciais

não, mas a maioria é ligada a político e os radialistas não têm

essa liberdade.

Em Riachão do Jacuípe a situação para Gilberto Oli-

veira melhorou nos últimos anos:

– Como é a pressão política da direção da rádio no

conteúdo do programa?

– Quando a rádio é direcionada a um político – ex-

61

Page 55: Livro reportagem   os radiojornalistas

plica Gilberto –, você tem que fazer o que ele quer. Tive difi-

culdades no início, mas agora o dono é de Serrinha e meu

trabalho direcionado a Riachão. No início a minha ideia de

fazer algo independente era complicada.

– E a receita qual é? – pergunto.

– No Jornal da Manhã eu procuro sempre fazer com

independência e sem lado político. Falar para todos. Sempre

de forma transparente e imparcialidade. Todos os partidos

falam. Agora eu sempre procuro falar a eles que lá não é o

lugar de tratar de assuntos pessoais. – argumentou Gilberto

Oliveira.

Em Serrinha, pergunto a José Ribeiro:

– Por que você está insatisfeito com o que vive no

dia-a-dia?

– O rádio de Serrinha é provinciano. Meu irmão, o

jornalista Valdomiro Silva, costuma dizer o seguinte: “você é

fim de carreira”, porque ele encara o rádio de Serrinha assim

muito tendencioso; e é realmente – afirmou –, eu não enten-

do o radiojornalismo de Serrinha bem feito, mas pode melho-

rar.

Para Tony Brasília a perseguição nem sempre é de

dentro da rádio:

– No rádio de Serrinha todo dia tem um político pre-

ocupado em processar radialista. Agora mesmo na Câmara

tem um político dizendo que vai fazer um dossiê sobre minha

vida. O rádio é a quarta força e é político. E a gente enfrenta

os políticos porque a gente é o olho do cidadão.

A melhor saída, segundo Vilmara de Assis, é mudar

62

Page 56: Livro reportagem   os radiojornalistas

o foco jornalístico.

– Eu defendo que coisa boa também é notícia. Só

que a maioria só quer trabalhar com violência e política, 80%

do que você ouve nos programas jornalísticos na região é

política. Isso é muito ruim.

O problema no pensamento de Aluízio Farias está no

próprio radialista:

– Como assim no radialista? – Pergunto.

– Uma mistura conturbada – comentou ele –, o ra-

dialista acaba transformando a notícia em atrito entre os po-

líticos e isso é muito ruim, mas a relação com as diretorias

das rádios eu tenho tirado isso de letra. Nunca fui chamado a

atenção por nenhum dono de rádio ou mesmo nunca teve

nenhum que chegou pra mim pra dizer o que falar ou não

falar. Eles conhecem meu conceito e conhecem minha ma-

neira.

O debate até aqui centrou-se em pelo menos duas

questões que estão intrinsecamente ligadas: as rádios co-

merciais de Serrinha, Coité e Riachão são concentradas nas

mãos de políticos; e as experiências das rádios comunitárias

Valente FM e Santa Luz levam a crer que, sem o envolvimento

de políticos na gestão da emissora, o debate é ampliado nas

redações e nos programas. Mas este argumento de Aluízio

aponta para o que disseram Gilberto Oliveira, Nilton Feliz e

José Ribeiro: a profundidade, o foco e a narrativa do jornalis-

mo nas rádios também dependem do profissional:

– Como você pode explicar isso Gilberto?

– Eu não crio polêmicas para chamar audiência do

63

Page 57: Livro reportagem   os radiojornalistas

povo. Eu sou simples e tudo é natural. Não tem isso de

polemizar para ter audiência. Eu trabalho com a verdade, com

sinceridade, com respeito a todos. – provoca o radialista.

Na Continental Tony Brasília atua por outra lógica:

– A notícia para o programa é aquela que causa

impacto de positivo ou negativo. Você não consegue manter

audiência só com coisas boas. Se você fala que um

motoqueiro atropelou e levou a criança para o hospital as

pessoas vão dizer “não fez mais que a obrigação”, mas se

ele fugir e você disser isso... é isso que vai dar audiência –

ele continua acreditando que o velho grito e tapa na mesa

para chamar a atenção é o que aumenta a audiência –, as

pessoas querem ouvir as coisas ruins. Deveria ser diferente,

mas só coisa boa as pessoas não querem.

– É esse o retorno das pessoas que ouvem o seu

programa? –, insisto.

– Em Serrinha não tem pauta – relata Brasília –,

aqui não tem padrão, ao contrário da capital. Se eu faço a

pauta antecipadamente o povo não quer isso e muda tudo. O

povo liga e dita as regras do programa querendo ridicularizar

o prefeito, o vereador... o povo liga para trazer problemas. A

cada 100 ligações 99 é de coisa ruim.

Sobre a definição de notícia pergunto a Tony Sampaio

se o Jornal Rádio Comunidade da Valente FM, tem alguma

prioridade e ele responde:

– Principalmente aquelas informações que possam

causar um senso crítico nas pessoas – diz ele com facilidade

–, as coisas boas que acontecem, as reclamações popula-

64

Page 58: Livro reportagem   os radiojornalistas

res, os acontecimentos do dia-a-dia, a falta de segurança e

diversos temas como a luta pelos direitos trabalhistas das

pessoas da comunidade.

A rádio Valente FM aparentemente sempre separa o

joio do trigo. Tony contou que se um radialista prestar servi-

ços em campanhas eleitorais tem que se afastar da emissora

durante todo o período:

– Eu mesmo me afastei para trabalhar numa cidade

vizinha e depois passei um tempo fora da rádio, demorou um

pouco para voltar porque depende sempre de uma avaliação

sobre o meu comportamento no trabalho que fiz. Isso sem-

pre acontece aqui e está correto.

Vilmara de Assis acredita que o envolvimento político

partidário dos donos das emissoras impede as rádios de fa-

zerem um jornalismo mais plural e muitas pautas de interes-

se público ficam de fora dos programas. E outro problema

que ela já passou ao longo de seus 17 anos de profissão é

que essa relação dos proprietários com a política também

expõe o radialista.

– Que tipo de exposição? - pergunto a Vilmara.

– Antigamente a minha voz ia também para os car-

ros de som das campanhas políticas do dono da rádio – con-

ta Vilmara com ar de arrependimento –, e hoje não faço isso

mais –, argumenta demonstrando alívio.

Cival Anjos entende que o contraponto não é apre-

sentado pelos radialistas por falta de formação profissional:

– Os radialistas precisam entender que, por exem-

plo, em vez de ficar cobrando que a polícia mate bandidos

65

Page 59: Livro reportagem   os radiojornalistas

devem abrir o espaço para cobrar dos governantes ações,

melhorias, geração de emprego e renda, qualificação no en-

sino, enfim, a saída para a situação de violência, devemos

exaltar o que é bom para também dar o exemplo.

– E o que impede que isso aconteça?

– Falta qualificação – acredita Cival –, sem qualifi-

cação diminui essa possibilidade de atuação. Eu penso que

pra mim é fácil dizer isso depois de cursar uma faculdade e

ter participado do movimento social, que me deram esta pos-

sibilidade de visualizar isso.

Para entender este comportamento da imprensa fiz

uma entrevista* com a professora e pesquisadora da USP -

Universidade do Estado de São Paulo, Cremilda Medina, num

seminário sobre jornalismo cultural. Ela disse que o jornalista

tem o hábito de procurar uma causa só para tudo, “mas não

é por aí”, alertou. Ela defende que é preciso entrar num pro-

cesso chamado de multicausalidade, ou seja, não buscar

apenas uma causa para os problemas.

– Essa visão de um jornalismo centrado em busca

de um culpado é algo que se concentra mais no interior?

– Não, é geral – respondeu Medina –, É uma ques-

tão que a gente precisa se debruçar.

– Como é possível mudar este comportamento?

– Só existe uma forma de enfrentar esse problema

que é criar laboratório de pesquisa – afirmou Medina.

* Entrevista realizada durante a II Conferência Estadual de Cultura, realizada de26 a 28 de outubro de 2007, em Feira de Santana.

66

Page 60: Livro reportagem   os radiojornalistas

Ela defende que as faculdades preparem os estu-

dantes mais para a pesquisa do que para o mercado de tra-

balho, como acontece hoje em dia. Essa talvez seja uma hi-

pótese interessante para se abordar quando o jornalismo

comunitário revela-se mais pretensioso e muitas vezes apre-

senta melhores resultados.

Organizações comunitárias como a Abraço Sisal e o

MOC - Movimento de Organização Comunitária na Região

Sisaleira investem na capacitação dos comunicadores das

rádios comunitárias visando um jornalismo que pesquise a

realidade local antes de qualquer julgamento, avaliação e

outras condutas assumidas pelo jornalismo no dia-a-dia.

Na comparação entre o jornalismo das rádios comu-

nitárias e o das comerciais foram encontrados diversos pon-

tos que são extremos, mas dentro do próprio setor das co-

mercias, lideradas por políticos, não há um mesmo perfil. Em

Conceição do Coité, por exemplo, a Sisal AM tem um perfil

de rádio que apenas promove os políticos de seu grupo e

pouco ataca os adversários, na maioria das vezes os ignora,

ao contrário das rádios de Serrinha. Cival Anjos pensa que a

Rádio Sisal não é concentrada na política porque a emissora

é ligada a administração pública local e, portanto, faz um jor-

nalismo sem polêmicas. Pensamento que é corroborado por

José Ferraz, da Rádio Jacuípe:

– Coité é diferente de Serrinha porque lá só tem

uma rádio e só fala o que o prefeito quer. Então isso dificulta

e a rádio fica ludibriando o povo. Aqui [em Serrinha] tem três,

é diferente.

67

Page 61: Livro reportagem   os radiojornalistas

– Eu sempre me exponho – novamente contesta

Nilton Feliz –, porque faço cobranças de ações públicas no ar

e às vezes tenho atritos com algumas prefeituras que inclusi-

ve nos patrocinam, como a de Coité.

Como o debate sobre o tema deve continuar em ou-

tros programas, livros e pesquisas eu resolvi ouvir a opinião

de Cival Anjos para concluir esta etapa e abrir o microfone

para novas discussões:

– Só sei que a forma de fazer rádio na região tem

que ser passada a limpo de verdade, como dizia aqui o nome

de um programa da Continental – afirmou o radialista.

68

Page 62: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 63: Livro reportagem   os radiojornalistas

Tocando Ética

PROFISSÃO: a legislação e a prática

“É quase impossível, mas o ideal é a liberdade.Que todos pudessem falar. É um sonho… temque surgir uma rádio que ofereça isso”.

A denúncia do radialista Valdemi de Assis refere-se

aos proprietários das emissoras, que na maioria das vezes

colocam seus interesses diante do bem comum. Para o radi-

alista isso se reproduz em todas as emissoras:

– Aqui na região não tem como você cumprir a legis-

lação – comenta Valdemi –, você faz o que determina o pa-

trão. Acúmulo de função, muitas horas no ar, pouca estrutu-

ra, não pode falar o que realmente tem que falar.

O cumprimento do Código de Ética do Jornalismo não

está presente de forma explícita no rádio da Região Sisaleira.

É possível ouvir constantemente radiojornalistas fazendo de

conta que está ao vivo num determinado local, quando de

fato está no estúdio e solta uma gravação. Isso é feito para

conquistar prestígio e dizer que é “boca quente”, mas no rá-

dio, que é um veículo íntimo, deve prevalecer a verdade para

conseguir conquistar o ouvinte. Quem quer ouvir aquele ou

este conteúdo não desliga o rádio porque não é ao vivo. En-71

Page 64: Livro reportagem   os radiojornalistas

tão por que mentir? Para que esconder que a entrevista é

gravada? Qual o problema disso?

Mas esse não é o único problema. Ao longo dos meus

estudos fui entendendo que o comunicador deveria tomar

como base para suas ações pelo menos os seguintes docu-

mentos: Código de Ética dos Radialistas, Código de Ética

dos Jornalistas e a Declaração Universal dos Direitos Huma-

nos, que completou 61 anos em 2009, além, é claro, da Cons-

tituição Federal de 1988, que é a Carta Magna de todos os

brasileiros. Muitos dos radialistas que entrevistei nunca le-

ram nada sobre o assunto. Alguns que, por exemplo, já leram

o Código dizem que é impraticável.

A Lei dos Radialistas foi criada na década de 1970, e

está valendo desde 16 de dezembro de 1978 com o número

6.615. Nesta legislação, admite-se como radialistas aqueles

que comprovem a atuação no rádio anterior a esta data. Era

o chamado “direito adquirido”. Depois de 1978, somente po-

dem trabalhar como profissionais em empresas de radiodifu-

são quem tiver a carteira da DRT, que é o Registro na Dele-

gacia Regional do Trabalho.

Em 1979, surge o Código, com o Decreto 84.134, de

30 de outubro 1979, que trata de regulamentar as funções e

setores de atuação do profissional de rádio.

Diz o Código:

Art. 7 - Para registro do Radialista é necessáriaa apresentação de: I - diploma de curso superi-or, quando existente, para as funções em quese desdobram as atividades de Radialista, for-

72

Page 65: Livro reportagem   os radiojornalistas

necido por escola reconhecida na forma da lei;ou II - diploma ou certificado correspondente àshabilitações profissionais ou básicas de segun-do grau, quando existente, para as funções emque se desdobram as atividades de Radialista,fornecido por escola reconhecida na forma dalei ou III - atestado de capacitação profissional.(Código do Radialista, 1979)

Alguns radialistas concordam com a obrigatoriedade

da DRT, mas nem sempre do diploma de nível superior. É o

caso do Radialista Gilberto Oliveira:

– Toda formação é boa – acredita Oliveira –, mas

não adianta você ir para a faculdade fazer um curso e dizer

que agora vai narrar futebol. Tudo é dom.

Com a criação do Curso de Rádio e TV na UNEB, em

Conceição do Coité, muitos radialistas discursam preocupa-

dos com os formandos. Entendem que simplesmente chegar

com o diploma na mão não significa ser um radialista. A

comunicadora Vilmara de Assis defende a necessidade da

faculdade de comunicação para quem quer trabalhar no rá-

dio, mas faz um alerta:

– Agora um detalhe, a gente respeita muito quem

está chegando e essas pessoas devem respeitar a gente tam-

bém, pois a experiência é válida – aconselha Vilmara.

Um dos princípios fundamentais do jornalismo pre-

sente no Código é “ouvir sempre, antes da divulgação dos

fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas

em uma cobertura”. O Artigo 12 do Código de Ética dos Jor-

nalistas define que o profissional deve:

73

Page 66: Livro reportagem   os radiojornalistas

I - ressalvadas as especificidades da assesso-ria de imprensa, ouvir sempre, antes da divul-gação dos fatos, o maior número de pessoas einstituições envolvidas em uma coberturajornalística, principalmente aquelas que são ob-jeto de acusações não suficientemente demons-tradas ou verificadas;

II - buscar provas que fundamentem as infor-mações de interesse público;

III - tratar com respeito todas as pessoas men-cionadas nas informações que divulgar;

IV - informar claramente à sociedade quandosuas matérias tiverem caráter publicitário oudecorrerem de patrocínios ou promoções;

V - rejeitar alterações nas imagens captadas quedeturpem a realidade, sempre informando aopúblico o eventual uso de recursos defotomontagem, edição de imagem,reconstituição de áudio ou quaisquer outrasmanipulações;

VI - promover a retificação das informações quese revelem falsas ou inexatas e defender o di-reito de resposta às pessoas ou organizaçõesenvolvidas ou mencionadas em matérias de suaautoria ou por cuja publicação foi o responsá-vel;

VII - defender a soberania nacional em seus as-pectos político, econômico, social e cultural;

VIII - preservar a língua e a cultura do Brasil,respeitando a diversidade e as identidades cul-turais;

74

Page 67: Livro reportagem   os radiojornalistas

IX - manter relações de respeito e solidariedadeno ambiente de trabalho;

X - prestar solidariedade aos colegas que so-frem perseguição ou agressão em conseqüên-cia de sua atividade profissional. (FENAJ, Códi-go de Ética dos Jornalistas, 2007)

– Da forma que eu aprendo eu procuro colocar em

prática – explica Cival Anjos –, mas essa questão de ética na

prática quase não funciona aqui na região.

– E o que pode ser feito para mudar esta realidade?

– pergunto.

– Nós deveríamos fazer nossa própria censura e

definir que algumas coisas não deveriam ir ao ar, devería-

mos ler e cumprir os manuais e código de ética; principal-

mente os radialistas mais velhos que não ligam pra isso.

– Tem outra coisa – alerta Aluízio Farias –, nada de

piadinha no ar. Não coloco informações que a pessoa me

pede segredo no ar e tem muita coisa no rádio que não deve-

ria ir ao ar e não deve ir para o rádio a desavença familiar que

está escrita nos registros da polícia, por exemplo, isso eu

vejo muita gente fazendo e não deveria ser colocado no ar de

jeito nenhum. Não vai resolver nada.

– Os processos que muitos enfrentam referem-se

diretamente com ao descumprimento do Código de Ética? -

pergunto a Farias.

– Sim – respondeu demonstrando experiência no

assunto –, ética tem que existir em todos os sentidos. E a

75

Page 68: Livro reportagem   os radiojornalistas

ética profissional deve funcionar. Por isso eu nunca sofri ne-

nhuma agressão nem física nem verbalmente – ele lembrou-

se de um amigo que criticava seu estilo moderado de ser no

rádio –, sempre me comportei bem em rádio e eu tinha um

companheiro que dizia que eu gostava muito de ensebar, ou

seja, defender as pessoas. Mas é melhor defender do que

ridicularizar. E lá na frente quando se precisar fazer uma crí-

tica você faz.

Gilberto Oliveira também entrou no debate:

– Não tenho problema nenhum na justiça e penso

que isso é por causa da responsabilidade. Procuro sempre

cumprir as leis. Faço rádio com responsabilidade.

De volta a Serrinha, é hora de ouvir o experiente José

Ribeiro que tem 30 anos de rádio.

– Zé como se dá a prática dos princípios éticos nos

seus programas? – pergunto.

– Eu nunca respondi a nenhum processo por ter

feito qualquer coisa que vá de encontro à ética ou que diz

respeito a minha vida profissional ou que está escrito na Lei

de Imprensa.

– E como você se comporta?

– Eu sempre me pautei pela seriedade, embora eu

brinque muito no rádio, mas quando é pra falar sério eu falo

mesmo. Nunca fui ao Fórum pra responder processo e posso

ser o maior mentiroso de Serrinha e da Bahia, mas sou inca-

paz de mentir nos microfones.

Depois disso Ribeiro lembrou-se que, em 2000,

descumpriu a Lei Eleitoral ao divulgar uma pesquisa sem re-

76

Page 69: Livro reportagem   os radiojornalistas

gistro. Segundo ele, o programa ficou fora do ar por 30 dias:

– Foi um comentário infeliz que eu fiz com o Juiz de

Serrinha. Ele veio na emissora, pediu para falar, explicou tudo

aos ouvintes e mandou suspender imediatamente eu e o pro-

grama por 30 dias. Por pouco não tirou a rádio também.

Ele também se envolveu noutra polêmica, em 2009,

quando o vereador Jorge Gonçalves (PT) lhe denunciou por

tentativa de extorsão. José Ribeiro esclareceu que tudo não

passou de um mal entendido:

– É o caso do vereador Jorge foi que ... eu ofereci a

ele um espaço para um comercial na Rádio Regional e ele

não quis. No outro dia fiz um comentário sobre outro assunto

também na rádio e ele não entendeu e deu uma polêmica,

mas isso nós já esclarecemos.

Segundo ele, muitos confundem também o seu tra-

balho na internet com o trabalho no rádio. “Para aparecer no

meu blogue tem que pagar mesmo porque tem um custo pra

isso”, comunicou.

– Aqui no interior ética funciona assim – comentou

Tony Brasília –, se você for aliado o cara lhe trata bem e vice-

versa. Se você não for aliado por mais que você o trate bem,

ele não quer saber se você tem ética ou se você não tem, ele

quer é mandar ver. E se você suportar segura como a gente

está segurando até hoje.

Na Rádio Valente FM o princípio da ética é um dos

mais fundamentais da emissora, segundo informou Tony

Sampaio. O âncora do jornalismo disse que já recebeu pres-

são para divulgar nomes de pessoas que foram ao seu pro-

77

Page 70: Livro reportagem   os radiojornalistas

grama anonimamente fazer alguma denúncia:

– Recebemos também ligações com ameaças por

estarmos tocando em algum assunto que alguém não queria,

mas nunca abrimos mão desse dever de proteger nossas

fontes e a maior agressão que sofremos aqui foi mesmo da

Polícia Federal.

– A formação influencia no comportamento do radi-

alista? – perguntei.

– Não sou formado em jornalismo, mas aprendi em

muitos cursos que fiz como se comportar no radiojornalismo

– informou Tony Sampaio – , aprendi que não devo me apro-

veitar da notícia pra fazer autopromoção, sensacionalismo,

mexer com vida pessoal das pessoas, misturar o trabalho no

rádio com as conversas na rua e aqui estamos sempre cum-

prindo os princípios éticos do jornalismo com base nessas

capacitações. Agora eu tenho vontade de fazer o curso de

rádio.

Independente de ser rádio comunitária o tratamento

desta questão de ética e prática deve ser levado à risca. Ser

comunitária como a Valente FM não nos dá garantia de emis-

sora ética. A mesma coisa se a rádio for comandada por po-

lítico ou não. Ser político e dono de rádio não significa ter um

jornalismo antiético. Para a maioria dos entrevistados a ques-

tão também é individual de cada profissional e não depende

apenas da formação de nível superior. Outra questão que

tem ligação direta com o cumprimento das leis e tratados da

profissão é a terceirização de horários no rádio.

78

Page 71: Livro reportagem   os radiojornalistas

TERCEIRIZAÇÃO: a falsa liberdade comprada

Desde os tempos do Estado Novo que o uso dos

meios de comunicação e as estratégias de quem não tinha

os veículos a seu favor são feitos na base da compra de es-

paço publicitário ou mesmo com a criação de meios alterna-

tivos. Segundo Skidmore (1982) Vargas também enfrentava

os meios de comunicação de massas com caminhões equi-

pados com alto-falantes e volantes impressos. Na Região

Sisaleira os políticos financiam horários e pagam matérias: e

se aproveitam dos radialistas que precisam de grana para

“pagar a rádio”. Isso mesmo. Rádio não paga a ninguém.

Quem quiser ser radialista tem que pagar a rádio:

– Para sobreviver no rádio aqui na região tem que

fazer jabá – abre o jogo José Ferraz, que disse não ter língua

presa –, eu nunca gostei porque perde a credibilidade, mas

tem radialista aqui que quando o prefeito não paga ele bate

no ar. Eu trabalho na rádio e sou servidor público pra sobrevi-

ver porque notícia paga é ruim, isso é péssimo no rádio. Em

2004, uma revista e um jornal disseram que Zevaldo ganha-

va a eleição e ele perdeu. Não posso dizer que foi matéria

paga, mas dá pra desconfiar.

Ferraz criticou a postura das emissoras que em nome

do dinheiro aceitam qualquer pessoa fazer programa:

– Tem gente que pensa que Jornalismo e Radialismo

é a mesma coisa. Com esse negócio de queda do diploma

todo mundo quer ser radialista. Esse negócio de horário

terceirizado é ruim. Tem rádio aí que todo mundo que quiser

79

Page 72: Livro reportagem   os radiojornalistas

comprar um horário compra.

Tony Brasília, que trabalha neste sistema, afirma que

realmente é assim que funciona:

– O programa terceirizado é ruim porque você fica

escravo para pagar a rádio e tem um custo muito alto, inclusi-

ve a sua liberdade de expressão. Você depende de políticos,

o comércio não banca isso sozinho. Às vezes quer dar ape-

nas uma ajuda.

Nos seus quase 50 anos de rádio como “colabora-

dor”, como ele mesmo diz, Aluízio Farias verifica que a

terceirização do rádio faz com que haja um desempenho maior

de seus profissionais:

– E foi uma forma que as rádios encontraram para

diminuir os gastos – considera Farias –, mas eu não sou a

favor. Radiojornalista não tem que vender comerciais, mas

acredito que o jabá também foi quem ajudou nesse processo

da terceirização. Uma coisa é a gratificação que tem desde o

início do rádio. Mas esse esquema de jabá antigamente não

tinha. Eu condeno essa prática.

Também na Regional, onde atua Aluízio Farias, há

opiniões divergentes.

– Esse negócio de jabá foram os donos de rádio

que criaram. Eu não vejo esse negócio de jabá. Quando um

ouvinte ou um comerciante lhe dá uma ajuda é problema do

locutor ... Já me chamaram de “jabazeiro”, descontaram do

meu salário, mas eu já desafiei a encontrarem alguma coisa

contra mim - comenta José Ribeiro.

Sobre a terceirização ele disse que já quis terceirizar,

80

Page 73: Livro reportagem   os radiojornalistas

mas o dono da rádio não aceitou.

– Como eu sou muito polêmico – argumenta Ribeiro

–, e iria faturar muito, então eles não deixaram.

Para ele a terceirização é boa para o radialista e

para o dono do rádio.

– Só não é boa para o ouvinte, mas todas as emis-

soras do mundo estão fazendo isso e não tem pra onde fugir

– explica o radialista –, mas a qualidade do jornalismo fica

duvidosa. A pessoa paga por um produto seja ele ruim ou

não.

Tony Sampaio é contra a terceirização no rádio, prin-

cipalmente no jornalismo e no esporte. Para ele “o bom é a

rádio dar condições de trabalho para o comunicador. Pelo o

lado do radialista pode até ser bom para ganhar dinheiro,

mas para o rádio não é bom”, defende.

– Terceirização do rádio é um jogo perigoso – consi-

dera Edisvânio Nascimento da Santa Luz FM –, muitos

radiojornalistas da região são bancados por políticos e isso é

muito ruim. Por mais vontade que você tenha de fazer a coi-

sa certa você sabe que depende do dinheiro para se manter.

Os radiojornalistas Nilton Feliz e Gilberto Oliveira eram

contratados da rádio, mas agora pagam para falar:

– Sempre trabalhei para a rádio – disse Gilberto –, e

hoje estou terceirizado. Essa é uma questão que requer um

pouco de estudo. Você pode ter certa liberdade, mas ao mes-

mo tempo poderá somente divulgar o que é pago. Isso é ruim.

A mudança não interferiu neste sentido na minha postura

antes e depois, mas nem sempre é assim.

81

Page 74: Livro reportagem   os radiojornalistas

– Sendo funcionário eu tinha meus direitos de profis-

sional respeitados – lembra Nilton –, férias, décimo terceiro,

FGTS eram pagos pela rádio agora nada e eu acredito que

enquanto funcionário certamente eu tava agradando. E de-

pois, eu estou no rádio porque eu pago. Por eles gostarem ou

não do trabalho eles não levam isso em conta, querem é rece-

ber, querem é o dinheiro para manter a rádio. Esse é o motivo.

Para finalizar este debate vamos conhecer mais um

importante Artigo do Código de Ética do Jornalismo:

Artigo 11. O jornalista não pode divulgar infor-mações:

I - visando o interesse pessoal ou buscando van-tagem econômica;

II - de caráter mórbido, sensacionalista ou con-trário aos valores humanos, especialmente emcobertura de crimes e acidentes;

III - obtidas de maneira inadequada, por exem-plo, com o uso de identidades falsas, câmerasescondidas ou microfones ocultos, salvo emcasos de incontestável interesse público e quan-do esgotadas todas as outras possibilidades deapuração; (FENAJ, Código de Ética dos Jorna-listas, 2007)

Ainda segundo o Código de Ética dos Jornalistas, quem

descumprir o que está previsto será sujeito “às penalidades de

observação, advertência, suspensão e exclusão do quadro so-

cial do sindicato e à publicação da decisão da comissão de

ética em veículo de ampla circulação”, diz o Artigo 17.

82

Page 75: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 76: Livro reportagem   os radiojornalistas

Os radiojornalistas sisaleiros

Todo mundo já mostrou seus pensamentos em cada

debate aqui promovido, mas agora é o momento de conhe-

cermos a história e as perspectivas profissionais de cada um

dos radiojornalistas entrevistados. As entrevistas no ponto de

vista dos objetivos são do tipo “em profundidade”.

Segundo Lage (2006), o objetivo deste tipo de entre-

vista não é explorar um tema em particular ou um aconteci-

mento específico. Ele aponta que a ideia deste tipo de entre-

vista é ter como foco:

[...] a figura do entrevistado, a representação demundo que ele constrói, uma atividade que de-senvolve ou um viés de sua maneira de ser,geralmente relacionada com outros aspectos desua vida. Procura-se construir uma novela ouum ensaio sobre o personagem, a partir de seuspróprios depoimentos e impressões. (LAGE,2006, P. 75)

E quanto às circunstâncias de realização, segundo

Lage (2006; P-77), as entrevistas são “dialogais”, ou seja, é a

entrevista por excelência e é marcada com antecedência com

fins de aprofundamento e detalhamento dos pontos aborda-

dos.

Os entrevistados formam um conjunto plural e repre-

sentativo dos profissionais que atuam na produção de notíci-

as para o rádio nesta região. O objetivo, portanto é conhecê-

los mais de perto.

85

Page 77: Livro reportagem   os radiojornalistas

O radiojornalista poeta

Sempre na defesa dos direitos da criança e do ado-

lescente, o radialista Edisvânio do Nascimento Pereira, é uma

das referências do rádio comunitário no Brasil. Escolhido pela

ANDI - Agência Nacional dos Direitos da Infância como Jor-

nalista Amigo da Criança, em 2007, o comunicador baiano

faz da deficiência visual uma fortaleza para enxergar o mun-

do com o coração. Emocionado e com lágrimas no rosto ele

contou cada momento da sua difícil trajetória de poeta a co-

ordenador executivo da Rádio Santa Luz FM, uma das princi-

pais emissoras comunitárias do país.

Foto 1 - Edisvânio Nascimento. Rádio Santa Luz FM - 02.11.2009

86

Page 78: Livro reportagem   os radiojornalistas

O radialista de cabelos amarelados e já um pouco

calvo é poeta e nasceu na pequena fazenda Boa Vista, em

Quijingue-BA, no mês de julho de 1978, numa pequena casa

da zona rural. Foi lá que começou a escrever as primeiras

linhas da arte literária, usando lápis e caderno. Os pais semi-

analfabetos e sempre trabalhando duro no roçado. Edisvânio

não trabalhava como os irmãos porque era portador de defi-

ciência visual e tinha problemas de saúde, apenas se dedi-

cava a seus escritos.

A dor de ser pobre, semi-analfabeto e da zona rural

de um dos municípios de menor IDH* do Brasil lhe fizeram

escrever os sentimentos através da poesia. Encontrou-se na

literatura de cordel e aprendeu a fazer sonetos e prosas so-

bre amor, natureza e o cotidiano sertanejo. Autor de O fim

dos tempos e A luta de Zé Luiz pelo amor de Rosinha tem

vários outros livros sem publicar, dentre eles o Evangelho de

São Matheus em poesia e Joãozinho o menino que venceu.

Quando fala sobre os livros se emociona e desabafa que lhe

faltam recursos, patrocínio e até mesmo reconhecimento para

colocar suas ideias disponíveis ao público.

O desafio de vencer os problemas da vida começou

logo cedo, mas foi em meados da década de 1990 que teve

os primeiros contatos com os microfones de rádio. Aquele

contato na Rádio Sisal AM, através de um programa de Nelcy

Lima da Cruz, “o poeta de Santa Luz”, mudaria para sempre

os destinos do jovem poeta. De lá partiu para o Serviço de

Alto-falante de Santa Luz coordenado por Manoel de Léia.

Meio tímido, dava hora e lia alguns textos, inclusive às poesi-

87

Page 79: Livro reportagem   os radiojornalistas

as que fazia. A repercussão do bom trabalho do poeta correu

pela cidade luzense, que adotou como morada. Quando sur-

giu o movimento de criação da Santa Luz FM, em 1998,

Edisvânio foi convidado a participar por Manoel, que já era

parceiro no alto-falante.

Atualmente ele está na programação em dois horári-

os: o primeiro das 8h às 10h da manhã, com um programa de

variedades, e o segundo ao meio dia, com o jornalismo.

Edisvânio Nascimento entra no ar na hora do almoço, ao lado

de jovens comunicadores que estão iniciando na profissão.

Ele é uma espécie de referência para os garotos e ao mesmo

tempo um colega de trabalho. No ar, recebe ligações de di-

versas pessoas que sentem no poeta uma companhia agra-

dável. Com uma fala sempre segura, porém suave, e boa

leitura ele narra os fatos e faz comentários interpretativos das

notícias.

Quando o assunto é a luta pela democratização da

comunicação aí ele não perdoa e, como se diz no popular,

ele “desce a madeira”. Não tem medo das grandes redes de

comunicação e nunca se entregou nas horas mais difíceis.

Edisvânio já andou até em camburão da Polícia Federal por

fazer rádio sem concessão até 2008.

O comunicador conta que participou de diversos cur-

sos sobre comunicação realizados por ONGs e pelo UNICEF,

também fez o Curso de Radialista para “tirar” a DRT** ofere-

cido pelo sindicato da categoria e a UEFS - Universidade Es-

tadual de Feira de Santana, em 2005. Responsável pelos

rumos da emissora onde trabalha, também coordena proje-

88

Page 80: Livro reportagem   os radiojornalistas

tos de formação de novos comunicadores visando aprimorar

os conhecimentos dos mesmos. Começou a estudar no Cur-

so de Letras na UNEB, em Coité, mas acabou desistindo e

disse que pretende fazer faculdade de comunicação.

A história da Rádio Favela de Belo Horizonte-MG

mostrada no filme Uma onda no ar (2002), também se refle-

tiu na Santa Luz. Em 2007, o UNICEF e o Estado brasileiro

bateram cabeça e perderam a rima da poesia. Um homena-

geava e o outro o repreendia.

– Este foi o momento que mais te marcou?

– Exato – respondeu Edisvânio –, a rádio estava

fechada pela Polícia Federal e a Anatel e ao mesmo tempo

eu recebia a notícia de ter sido escolhido Jornalista Amigo da

Criança, sendo que eu era apenas um radialista sem rádio e

no Sertão da Bahia, aliás, somente dois da Bahia foram pre-

miados. O outro era um jornalista do A Tarde... depois de

minha participação na cerimônia de premiação, em Brasília,

o Governo Federal levou um “tapa” na cara e logo depois

desarquivou o processo da rádio. A outorga foi liberada no

ano seguinte.

Mais emoção e uma sensação de vencedor já esta-

vam no ar, misturada com as lágrimas que ainda desciam.

Alívio e gratidão: parecem que foram estes os sentimentos

demonstrados pelo radialista quando contava a história. O

alívio da perseguição que sofria quando não tinha a outorga

de funcionamento, mas precisava fazer as campanhas con-

tra o trabalho infantil e em defesa do ECA - Estatuto da Crian-

ça e do Adolescente que lhe deram o prêmio, e a gratidão

89

Page 81: Livro reportagem   os radiojornalistas

pelo próprio prêmio oferecido pela ANDI e o UNICEF, que

serviu também como pressão internacional. De certa forma a

certificação repercutiu nos destinos da emissora e do

comunicador, que depois do título nacional recebeu convites

de outras rádios, mas “preferi continuar em Santa Luz para

batalhar na luta pela liberdade e autonomia”, acrescenta.

Edisvânio ajudou a criar a Agência Mandacaru de

Comunicação e Cultura, um projeto desenvolvido pelo MOC

- Movimento de Organização Comunitária. Na entidade, for-

mada por jovens de vários municípios, ele produziu diversas

reportagens especiais. Foi premiado com a série “As pedrei-

ras de Santa Luz”, em que denunciou os maus tratos que

vivem os trabalhadores da pedra no município. Os mutilados

sem auxílio e as pessoas que continuam trabalhando sem

segurança foram o ponto forte da investida do comunicador,

além deste, teve vários outros produtos publicados em sítios

na Internet e divulgados em emissoras da região. Em 2004,

ele ajudou a criar e ainda é diretor da Abraço Sisal - Associa-

ção de Rádio e TV Comunitárias do Território do Sisal.

No final da entrevista que realizei com Edisvânio na

sala de reuniões da rádio, no dia 28 de setembro de 2009,

ele fez um pedido:

– Paulo não me faça chorar mais não, viu? (risos)

Um dia eu lhe pego, – prometeu.

Apenas sorri e agradeci outra vez, mas fiquei com

vontade de dizer que aquela tarde para mim foi mais uma

lição de como se segurar para não perder o controle da en-

trevista em momentos de muita emoção como foram aqueles

90

Page 82: Livro reportagem   os radiojornalistas

50 minutos de conversa “em profundidade”.

* Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil. Atlas do Desenvolvi-mento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)(2000). Página acessada em 17 de outubro de 2009. Quijingue tem IDH - Índicede Desenvolvimento Humano em 0.526. É o segundo pior da Bahia e um dospiores do Brasil.

** Art. 6° do Código do Radialista - O exercício da profissão de Radialista requerprévio registro na Delegada Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho oqual terá validade em todo o território nacional. Não é obrigatório para quem atuaem Rádios Comunitárias.

91

Page 83: Livro reportagem   os radiojornalistas

Uma mulher em movimento

Em pleno meio dia de domingo (23 de janeiro de1972), eu estava chegando... Nasci em casa(parto natural) e já cheguei toda pintadinha! Éque a minha mãe teve catapora na gestação eeu acabei pegando a doença antes mesmo denascer. Foi tudo tranquilo, isso porque o meupai conseguiu um médico, na época recém-for-mado, que estava na cidade a passeio e que fezo parto. (VIDA PESSOAL,www.vilmaradeassis.com.br).

A tímida menina da infância e adolescência se tor-

nou, aos 20 anos de idade, uma das primeiras apresentado-

Foto 2 - Vilmara de Assis. Rádio Regional AM - 29.10.2009

92

Page 84: Livro reportagem   os radiojornalistas

ras de jornal de rádio da Região Sisaleira. “No início foi difícil

porque havia muito preconceito com as mulheres por parte

das pessoas que estavam fora e dentro do rádio, mas eu

conquistei meu espaço e o respeito dos colegas”, argumen-

tou.

O nome verdadeiro não “emplacou” como se diz na

gíria. Batizada de Vilmara Maria Silva ela teve novo nome no

rádio, em 1992, quando apresentava o quadro de Cartas do

Ouvinte no Programa Alô Sertão. “Logo o povo começou a

me chamar de Vilmara de Assis por causa de meu irmão

Valdemi de Assis que era apresentador do programa e já bas-

tante conhecido na região”, explica a comunicadora.

Apresentadora - De posse do sobrenome do irmão

ela começou a criar o estilo próprio de se comunicar com o

público. Quando veio o programa Jornal das Oito entrou para

apresentação se tornando, ao lado de Genivaldo Silva, ânco-

ra do noticiário. O jornal que ficou no ar na Rádio Sisal por

mais de 10 anos e era líder em audiência. “A equipe era mui-

to unida e todo o trabalho feito no coletivo”, lembra.

A base do jornal era notícia da região com política e

noticiário policial. Ela sentia falta de outros temas em debate

na rádio e foi aí que criou o Mulher em Movimento. “A minha

realização no rádio é esse programa. Com ele eu trato de

temas que não abordava nos programas jornalísticos e tenho

mais contato com o público”, declara. O programa ainda está

no ar nas manhãs de segunda a sexta pela Rádio Regional

de Serrinha. E o Jornal das Oito ficou no ar durante dois anos

também na Regional, depois de sair da Sisal, em 2006. Ela

93

Page 85: Livro reportagem   os radiojornalistas

contou que foi demitida da Sisal e até hoje não recebeu ne-

nhuma explicação sobre o motivo. No mesmo ano foi contra-

tada pela Rádio Regional AM de Serrinha onde apresenta

um programa de entretenimento dedicado ao público femini-

no.

No Grupo Lomes, Vilmara também atuou com outros

programas jornalísticos na Regional e ajudou a criar e foi

apresentadora do Pauta Livre da Rádio Morena FM, porém

não conseguiu o sucesso que esperava nestas experiências.

“O estilo do radiojornalismo de Serrinha é diferente”, argu-

menta. Para ela, na Rádio Sisal tudo era organizado para

acontecer. “A gente trabalhava muito porque tínhamos pou-

cos recursos tecnológicos, mas a equipe era grande. Em

Serrinha não. Com toda estrutura disponível faltam profissio-

nais. A gente hoje no rádio faz tudo sozinha”, compara. Se-

gundo ela a principal diferença é que em Coité se preparava

antes, tinha equipe e tudo que ia para o ar era planejado e

em Serrinha a base dos programas são os comentários dos

apresentadores/comentaristas.

Boa entrevistadora que é, se lembrou também de uma

entrevista com Antônio Carlos Magalhães (ACM), em 2001,

na época do grampo do Senado. “Ele entrou ao vivo no Mu-

lher em Movimento por telefone e no outro dia a entrevista foi

publicada na íntegra no Correio da Bahia (risos). Nesta en-

trevista ele falou da renúncia do mandato. Isso foi muito

marcante pra mim, pois foi um furo de reportagem que todo

mundo queria”, comemorou.

Durante o bate-papo com Vilmara duas paradas para

94

Page 86: Livro reportagem   os radiojornalistas

um diálogo com Gabi. A garota que é filha da radialista é a

sua principal companhia quando está em casa. Orgulhosa

por ser mãe, falou que a experiência vivida nestes 10 últimos

anos também ajudou no desenvolvimento do programa. “A

minha experiência como mãe facilitou muito para que eu pu-

desse discutir vários temas ligados à gravidez e aos filhos

com minhas ouvintes”, considerou.

“Eu procuro usar a comunicação não apenas como

fonte de realização e sobrevivência, mas como forma de pro-

porcionar aos meus ouvintes conhecimento, alegria e paz in-

terior”. Falando com tranquilidade e com uma boa dicção,

sempre alegre e muito sorridente foi assim que Vilmara de

Assis se comportou na entrevista que realizei na residência

da própria comunicadora numa tarde de terça-feira, 15 de

setembro de 2009.

Nas mais de duas horas de conversa, ela contou

muitas histórias e experiências, mostrou seus pensamentos

sobre o rádio e a profissão de radialista. Sonhou com uma

rádio democrática e declarou que nasceu pra ser o que é.

Perguntei o que seria se não fosse comunicadora de rádio e

ela não soube explicar. “Eu não sou locutora, eu sou uma

radialista. Comecei fazendo a locução de um comercial a

pedido de meu irmão e hoje sou apaixonada pelo que faço.

Eu faço de tudo um pouco, mas o que gosto mesmo é da

produção e apresentação de programas, em especial o Mu-

lher em Movimento”, afirma.

– Muito obrigado pela a atenção nesta entrevista.

– Eu que agradeço a você e desejo sucesso em sua

caminhada.

95

Page 87: Livro reportagem   os radiojornalistas

Do sisal ao rádio: uma trajetória desucesso

Trabalhou na roça quando criança. Viveu com as tias

durante a infância no povoado de Bandiaçu, em Conceição

do Coité, e recorda que “antes de nove anos eu já trabalhava

no motor de sisal, mas foi com nove anos que recebi meu

primeiro pagamento de cem cruzeiros”, conta Lucivaldo dos

Anjos Oliveira.

“Estudava e trabalhava, mas depois parei na 4ª sé-

Foto 3 - Cival Anjos. Rádio Continental AM - 11.11.2009

96

Page 88: Livro reportagem   os radiojornalistas

rie. Voltei a estudar já aqui em Serrinha, quando meu pai

resolveu me tirar da roça e me trouxe para a cidade, onde fiz

vários trabalhos e estudava”, relembra. “Não fiz curso para

rádio, mas tenho DRT por ter comprovado experiência”.

Cival foi o primeiro radialista de Serrinha a frequentar

o Curso de Rádio e TV da UNEB e disse que não pretende

parar os estudos após a formatura.

O radialista faz operação de áudio, participa como

repórter esportivo num programa jornalístico e apresenta o

programa de esportes e a Revista Continental. A trajetória de

Cival desde aquele 15 de abril de 1967, quando nasceu, ao

momento desta entrevista, em 23 de setembro de 2009, foi

marcada com muita perseverança e vontade de vencer. Tam-

bém de vitórias. Os olhos brilham, a voz demonstra seguran-

ça e algumas pausas nas frases. Ele pensava e falava com

atenção a cada pergunta.

Conversamos ali mesmo no ambiente de trabalho:

Rádio Continental de Serrinha, a antiga Difusora. O prédio

tem paredes brancas e alguns detalhes em azul, existem sa-

las de produção, estúdios, sala de visita, banheiros e uma

varanda. Conversamos na varanda, que tem vista para a Praça

Luiz Nogueira, onde quase tudo acontece naquela cidade.

Na mesma praça tem uma igreja, a prefeitura e outras duas

rádios. O calor era grande e a história também.

No dia-a-dia ele é amigo de todo mundo tanto no rá-

dio, na Faculdade como na rua. Mas antes era muito mais

difícil. Desde os tempos do motor de sisal à profissão de vigi-

lante que exerceu de 1987 a 1999. Na época Lucivaldo virou

97

Page 89: Livro reportagem   os radiojornalistas

delegado sindical da categoria. Se tornou conhecido na cida-

de e, em 1995, começou na comunicação falando a hora cer-

ta no Serviço de Alto-falante Vagão Som, por incentivo do

comunicador Luis Antônio. De lá, em 1998, seguiu para a

Rádio Comunitária Serrinha FM, que foi fechada dias depois

por não ter outorga. Em 2000, teve a primeira oportunidade

no radiojornalismo apresentando o Jornal Falado da Rádio

Difusora AM. Foi substituir o radialista Maurílio Souza que

era candidato a vereador. Depois comprou horários e foi ocu-

pando outros espaços.

Na mesma época, começou a participar de transmis-

sões esportivas ainda pela Difusora e, insatisfeito com a pos-

tura do diretor da rádio, resolveu ir para a Regional, em 2001.

“Eu não dormi direito quando Reinaldo Lima disse que eu iria

estrear no final de semana transmitindo jogo da Copa Bahia

com o “professor” Aluízio Farias direto de Ipiaú, mas depois

deu tudo certo. O jogo foi bom apesar do aperto que passa-

mos lá. Muita chuva, pingueira na gabine e sem retorno de

áudio”, lembrou.

Na mesma época fez reportagens de rua para o pro-

grama A voz do Povo, de José Ribeiro. “O garoto dos bairros

foi o que mais me marcou. Eu pude através do rádio, na épo-

ca na Regional, ajudar muita gente. Um exemplo é o asfalto

de algumas ruas de Serrinha que foram cobranças que reali-

zamos na rádio”, comemora.

Já em 2003, Cival Anjos, como é conhecido, partici-

pou da experiência de uma TV do Governo de Josevaldo Lima,

em Serrinha. A emissora não durou muito, pois também não

98

Page 90: Livro reportagem   os radiojornalistas

tinha concessão para funcionamento.

Depois de um período fora do ar, em 10 de janeiro de

2005, com programa terceirizado, retornou para a Continen-

tal AM. Em 2008, foi contratado como funcionário da emisso-

ra com Carteira de Trabalho assinada.

Experiente na vida, casado e pai. “Meu filho de 9 anos

diz que quer ser radialista e isso é muito bom. Eu gosto muito

de rádio e futebol e muitas pessoas que estão próximas de

mim também aprenderam isso”, fala emocionado. Experien-

te no rádio e na vida, Cival considera que trabalhou, conquis-

tou e venceu. ”Sou um apaixonado pelo que faço”, concluiu.

99

Page 91: Livro reportagem   os radiojornalistas

Deus, Ferraz e o povo!

“Êta rapaz! Hoje o pau tá comendo na rádio Conti-

nental”, comentou minha vizinha logo cedo. Liguei o rádio e

pude conferir que realmente era um dia agitado, apesar da

data. Era feriado municipal em Serrinha e também em Coité,

pois o 23 de setembro é Dia do Evangélico nas duas cidades.

Tomei um banho, comi uma maçã e desci a ladeira da Rua

Carijé em direção ao centro da cidade. Não dava tempo para

Foto 4 - José Ferraz. Estúdio da Rádio Jacuípe AM, em Serrinha - 29.10.2009

100

Page 92: Livro reportagem   os radiojornalistas

mais nada. Já passava das 7h30 da manhã. Peguei um fa-

moso “carro bomba” e fui para Serrinha. Esperar um ônibus

do transporte “oficial” não era um bom negócio naquele mo-

mento.

Um dos meus entrevistados daquela manhã sairia do

ar às 8 horas e esse era o momento ideal para a conversa.

Afinal hoje é feriado. Tarde demais. Quando cheguei para a

minha primeira visita ao estúdio da Rádio Jacuípe AM na “Prin-

cesa os Tabuleiros” já eram 8h20 da manhã. “Ele já foi”, res-

pondeu o vigilante.

– E agora como faço para falar com ele?

– Ligue pra o celular. Aqui o número.

– Tá legal. Obrigado!

– Liguei e logo ele atendeu.

– Oi Ferraz! Como vai? É Paulo Marcos.

– Diga rapaz! Isso é hora? Esperei aí e você não

chegou então eu vim aqui em casa. Espere aí que daqui a

pouco eu volto.

– Valeu! Estarei aqui.

Passaram vinte minutos e ele chegou todo apressa-

do.

– E aí rapaz! Como vai?

– Tudo em paz.

– Você não quer ser correspondente do meu pro-

grama lá em Coité, não? – perguntou ele pela segunda vez. A

primeira tinha sido no primeiro contato que fiz para marcar a

entrevista.

– Opa! Gostaria sim, mas vamos conversar mais

101

Page 93: Livro reportagem   os radiojornalistas

sobre isso. – respondi.

– Diga aí o que você quer?

Então fui direto ao ponto. E não imaginava o que se-

riam aqueles 40 minutos de conversa. Comecei brincando

um pouco para descontrair.

– Seu nome completo?

– José Ferraz Lima.

– Parente de Josevaldo Lima, dono da rádio?

– Não. Zevaldo é rico e eu sou pobre. – respondeu

ele em tom de brincadeira.

Nascido em 14 de maio de 1957, teve o primeiro con-

tato com o microfone em 1977, no serviço de Alto-falante Novo

Horizonte, de João Ramos no Bairro Cidade Nova. Antes era

cobrador e narrava jogo sozinho dentro do ônibus. Certo dia

“Sargento Dadá, amigo meu e já falecido, me levou pra a

Rádio Sociedade da Bahia e me apresentou a Marco Aurélio,

coordenador de esportes da emissora. Eu fiquei pouco lá,

apenas uns dois meses, pois para ficar ali tinha que ser fera”,

relembra.

Em 1984, foi convidado por Nelson Lopes para fazer

reportagens de polícia para o Programa Difusora Sem Hora e

Sem Medo. “Eu entrava ao vivo do telefone da delegacia fa-

lando o que aconteceu no plantão das últimas 24 horas e

fiquei fazendo isso anos e anos... e ao mesmo tempo tam-

bém transmitia jogos de futebol, inclusive, a final de Serrinha

no Intermunicipal contra Itajuípe, em 1988. Daí fiquei fora de

Rádio uns dois anos. Carlos Miranda [coordenador da Rádio]

era um cara complicado de se trabalhar”.

102

Page 94: Livro reportagem   os radiojornalistas

Ele lembra que chegou a atuar na equipe esportiva

da Rádio Sisal AM com Lelo Pereira e Nilton Feliz. Em 1993

foi convidado por José Ribeiro, também para fazer reporta-

gens de polícia na Rádio Regional. “Depois Manelito e um

rapaz chamado Zé Coco vieram falar comigo para ir para a

Difusora, aí eu disse que era pra esperar que eu fosse con-

versar com Zé Ribeiro e com Willian Jatobá, o gerente da

rádio, para dar uma satisfação”.

Isso já era em 2005, e a Rádio Difusora já estava sob

nova direção. Ferraz acabou indo apresentar o Programa

Serrinha Hoje. Na segunda-feira seguinte, após o convite,

chegou cedo e animado com o novo trabalho: “O programa

era eu e Aluízio Bahia com Pedro Santos na técnica. A rádio

não tinha nada. Aí logo deu uma chuva e molhou tudo. Eu

disse ‘que diacho vim fazer aqui? Deixei uma rádio

arrumadinha para vir pra isso aqui’. Foi quando Plínio mudou

o nome da rádio para Continental, levou a rádio pra praça e

botou tudo novo... na época tinha um quadro chamado ‘Pátio

do Povo’, que foi a maior realização da minha vida no rádio.

Eu ajudei muita gente que eu não sei nem quem é”, contou.

Segundo Ferraz, o programa era líder de audiência e

anos depois teve que abandonar. “Então, Plínio negociou a

Rádio com o empresário Vardinho Serra e eu disse que não

trabalhava com ele”, comenta. Ele conta que, em 2007, so-

freu um atentado e os boatos que corriam na rua é que foi a

mando de Vardinho. “O povo comentava que tinha sido ‘o

homem do boi’, mas eu não tinha prova como não tenho até

hoje”, concluiu.

103

Page 95: Livro reportagem   os radiojornalistas

– Como foi isso?

– Dois elementos me pegaram e colocaram o revól-

ver em minha cabeça, me disseram que era para eu deixar

os nomes de Vardinho e Ferreirinha e falaram que vieram pra

me matar, mas não ia matar não. Daí foi quando quebraram

todo meu rosto e fiquei internado cinco dias, em Feira de

Santana, fui submetido a uma cirurgia no nariz e no outro dia

mesmo enfaixado falei com toda imprensa o que aconteceu.

Todas as rádios de Feira mandaram repórter e eu falei ao

vivo, menos a Rádio Povo, que queria gravar eu não aceitei...

acho que era ciúmes do jornalista Valdomiro Silva, irmão de

Zé Ribeiro, porque eu deixei o programa do irmão dele na

Regional e criei o meu próprio programa. Ele até comentou

que ‘fazer jornalismo é uma coisa e falar da vida dos outros é

outra coisa’, e eu fiquei chateado com ele. Eu não estava

falando mal da vida dos outros.

– Então você resolveu sair da rádio Continental e

fez o que depois?

– É eu não aceitei trabalhar desconfiado com

Vardinho. Então Zevaldo mandou me chamar e eu fui con-

versar com ele ... queria que eu comandasse dois programas

na Jacuípe AM e ele mesmo deu o nome “Ferraz e o Povo”;

aí acertei o salário e coloquei o nome do Programa ”Deus,

Ferraz e o Povo”. E a tarde é o “Tribuna Popular”.

Ferraz já tem dois anos e meio de Rádio Jacuípe,

nos dois horários. “Pela manhã o programa é dedicado a

Serrinha e a tarde é mais regionalizado. Nos dois eu falo a

língua do povo da classe média baixa. Quem ouve a gente é

104

Page 96: Livro reportagem   os radiojornalistas

o povão e eu falo pro povão entender. Eu rasgo o verbo ‘esse

cara é um bandido violento, é um ladrão’ eu divulgo o que

está errado, as mazelas da cidade, um rico não ouve meu

programa”.

Ferraz fez uma lista de radialistas que “passaram na

minha mão e me traíram” e disse que a segunda maior de-

cepção é que as rádios da região são de políticos.

– Um sonho no rádio.

– A Jacuípe aumentar a potência – disse ele – O

dono da rádio investir aqui em novos equipamentos para pe-

gar na região toda e a gente ganhar dinheiro... e tenho sem-

pre o esporte na cabeça, queria trabalhar no esporte.

Terminei a entrevista agradecendo a disputada aten-

ção daquele dia. No feriado ele pretendia ir a uma chácara

com a esposa que lhe esperava no pátio da emissora. Du-

rante a conversa recebeu quatro ligações no celular. Aparen-

tava ser um dia tranquilo, mas para radialista não tem feria-

do.

– Obrigado pela entrevista.

– Tá bom. Me ligue de lá com umas notícia, viu?

105

Page 97: Livro reportagem   os radiojornalistas

O radialista professor: meio séculode rádio

Casado, tem cinco filhos e seis netos. Vivendo no

segundo casamento, aos 65 anos de idade, Aluízio Otoni de

Farias disse que é muito feliz e vive bem. Essa juventude que

sente na terceira idade afeta diretamente a sua atuação no

rádio. “A pessoa com boa convivência familiar facilita a har-

monia no trabalho. Aos meus filhos e netos sempre procuro

mostrar que a gente deve viver em paz, em harmonia com as

pessoas. E assim também eu faço no rádio. Sempre estou

Foto 5 - Aluízio Farias. Rádio Regional AM - 29.10.2009

106

Page 98: Livro reportagem   os radiojornalistas

aprendendo com isso”, explicou Aluízio.

Num calor de 30 graus na primavera/verão do Sertão

baiano, em pleno 23 de setembro de 2009, Aluízio não teve

dificuldades de lembrar cada momento importante que viveu

durante seus quase 50 anos de rádio. A entrevista foi logo

após o programa esportivo que apresenta na Rádio Regional

AM de Serrinha, sempre ao meio-dia. Foi ali mesmo na Pra-

ça Luiz Nogueira, onde fica a rádio, que conversamos naque-

la quarta-feira de feriado na cidade e com pouco movimento.

Farias entrou na comunicação em 1961, aos 16 anos

de idade, na rádio de poste da cidade de Gravatá, em

Pernambuco, onde nasceu em 02 de janeiro de 1945. Lem-

bra-se que foi substituir o locutor da emissora que há dois

dias não fazia programa reivindicando aumento salarial.

“Lulinha, como eu era conhecido, fui incentivado a falar a

hora certa pelo presidente da associação que mantinha o alto-

falante e daí em diante não parei mais”. No mesmo ano Fari-

as entrou no quadro de locutores da Rádio Cultura de Caruaru

participando de programas esportivos e depois foi para a

Difusora, onde começou a fazer plantão esportivo e narrar

jogos de futebol. Lá ele teve a Carteira de Trabalho assinada

pela primeira e única vez no rádio. Foi demitido na época por

excesso de radialista na emissora. Foi também na Difusora

que viveu a experiência de radioteatro.

Em 1969, passou num concurso de uma cervejaria e

veio morar em Feira de Santana-BA. Nos finais de semana

continuou atuando em rádio como colaborador. Ingressou na

Sociedade AM de Feira, onde fez jogos da Seleção Brasilei-

ra, Campeonato Baiano e Brasileiro. Começou como repór-107

Page 99: Livro reportagem   os radiojornalistas

ter esportivo e depois foi para a narração. Na época o narradortitular da emissora era Edmundo de Carvalho. Ficou na emis-sora até 1974, onde também apresentava o Programa En-

quanto o tempo não passa.Quando deixou Feira de Santana, Farias foi morar

em Serrinha. Logo no início atuou na Difusora AM e ele serecorda que transmitiu uma final de Campeonato Brasileirodireto do Mineirão, em Belo Horizonte-MG, acompanhado dofalecido radialista Vivaldo de Lima.

Depois que saiu da cervejaria, em 1998, foi tambémassessor de prefeitos e ouvidor geral da prefeitura de Serrinha.Fez programas e transmissões esportivas em várias emisso-ras de rádio da Bahia, dentre elas na Sisal e Jacuípe.

Aluízio reconhece que no rádio sisaleiro faltaprofissionalização. Informou que, desde a sua saída daDifusora de Caruaru, nunca mais quis fazer rádio profissio-

nalmente, e o faz por amor. “Não preciso disso para sobrevi-ver”, comentou. Na Rádio Regional, onde está atualmente, élocutor e apresentador esportivo. Atua na Junta Comercial dacidade e diz “faço rádio como um quebra-galho”. Mesmo sendotitular de equipes esportivas também fez programas musi-cais e jornalísticos ao longo da carreira.

Formado em contabilidade e nível superior em Admi-nistração, Aluízio Farias nunca deu aulas, mas é considera-do um “professor” de quase 50 anos de carreira. Ele finalizaexplicando como surgiu essa marca. “Gosto muito de cola-borar com os colegas e é por isso que todos me chamam de

professor. Por não gostar de gírias eu comecei a chamar as

pessoas assim e elas retribuem também”, concluiu Farias.

108

Page 100: Livro reportagem   os radiojornalistas

Genivaldo: seu sobrenome écriatividade

Todas as manhãs, logo cedo, Genivaldo Oliveira da

Silva vai para o estúdio de produção da Rádio Sisal AM para

fechar a pauta do dia e produzir o roteiro do Jornal da Sisal,

que ele apresenta de segunda a sexta, às 7h. Depois do pro-

grama é hora do café da manhã. São 8h15 do dia 22 de se-

tembro de 2009. No quintal da casa do radialista tem uma

área de serviço e uma parte coberta onde fica uma mesa de

madeira não muito grande, forrada com uma toalha e com

Foto 6 - Genivaldo Silva. Rádio Sisal AM - 29.10.2009

109

Page 101: Livro reportagem   os radiojornalistas

algumas cadeiras ao redor. Foi lá que ele me recebeu com

café, leite, pão e beiju. Começamos a falar sobre a produção

do radiojornalismo da região e nem percebi quando termina-

mos o café.

O comunicador contou suas vivências, sonhos e de-

cepções. Disse que vive do rádio, mas não faz somente isso.

Atua numa fundação do bairro Terra Nova, onde mora desde

20 de maio de 1965 (data em que nasceu). Faz o Almanaque

Nordestino uma vez por ano e participa como animador de

eventos na região.

No início foi tudo mais difícil. Inclusive entrar na Rá-

dio Sisal, em 1986. “Fizeram um teste e eu não tinha uma

voz boa igual à de Lucival Lopes. Para público e eventos eu

fazia bem, mas não tinha aquela voz bonita. Foi aí que eu me

denominei de ‘peão do rádio’ e depois Valdemi [de Assis] in-

sistiu junto à direção e eu fui chamado para fazer operação

de áudio no programa de Lucival. Uma semana depois preci-

saram de um locutor para um programa romântico e eu enca-

rei”.

Aos poucos Genivaldo foi conquistando espaço e

assumiu o Sisal em Notícias, no final da década de 1980. O

informativo que foi apresentado ao vivo durante um bom tempo

passou a ser gravado e ficou no ar até 2007. O programa

tinha um patrocinador forte e durava em média cinco minutos

com notícias locais e nacionais a cada hora. Segundo o

comunicador, o informe acabou por falta de tempo na grade

de programação. “Era uma produção que me tomava quase

que o dia inteiro de trabalho e foi reduzindo cada vez mais o

110

Page 102: Livro reportagem   os radiojornalistas

tempo de apresentação. A rádio decidiu cortar para colocar

mais comerciais no horário”, comenta.

Antes da Sisal, Genivaldo Silva foi sindicalista e, no

início dos anos 80, ele fez um programa do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais de Conceição do Coité, junto com

Valdemi de Assis e Jorge Teles, na Rádio Difusora de Serrinha

e logo depois começou no serviço de alto falante de Coité*.

Além da Sisal, também trabalhou por nove meses,

em 2006, na Rádio Regional AM de Serrinha, onde apresen-

tou o Jornal das Oito, o programa de maior audiência da Rá-

dio Sisal, que era de responsabilidade da Agência Calila.

Depois Genivaldo acabou voltando para a Sisal na condição

de coordenador de programação e jornalismo. Na Sisal tam-

bém mantém o programa Forrobodó desde 1996, com o “Véi

do Forrobodó”, uma personagem que criou no início dos anos

90. Diversificado com músicas, causos, piadas e manifesta-

ções da cultura popular da região, o programa, segundo

Genivaldo, foi apontado por uma pesquisa realizada em 2008,

pela própria emissora em parceria com a CDL - Câmara de

Dirigentes Lojistas, como um dos três mais ouvidos da rádio.

Ele também se recorda do programa Panorama Ge-

nial, uma produção que ia ao ar às 10h da manhã. Naquele

período, década de 1990, ele lembra que fez diversas apre-

sentações em circos, cantando músicas sertanejas em diver-

sos lugares da região.

– Era neste programa que você tomava bênção pelo

rádio?

– Era sim, confirmou Genivaldo –, eu dizia assim

111

Page 103: Livro reportagem   os radiojornalistas

Bahia querida, meu amor bom dia, minha Santa mãezinha lá

em Terra Nova minha bênção e meu beijo em seu coração, a

você Amado [nome do pai] ouvinte meu abraço.

Foi no rádio que aprendeu a gostar de futebol. Além

de bater uma bolinha com o time da rádio ou mesmo da co-

munidade ele também se divertia narrando jogos ao vivo para

a emissora coiteense. O criativo Genivaldo narrou diversos

jogos dos Campeonatos Brasileiro, Baiano, Intermunicipal,

dentre outros. Parou de narrar depois que apresentou pro-

blemas na garganta e não podia forçar a voz. Sofreu muito

com o cigarro e hoje é um testemunho vivo da união equivo-

cada do fumo com o uso da voz. “Depois que parei de fumar

tenho mais força e uma voz mais limpa e hoje eu sonho em

voltar a narrar [uma pausa, emoção], é uma paixão!”, decla-

ra.

– E por que peão do rádio?

– Sou peão do rádio porque já topei fazer de tudo

pela sobrevivência: de sonoplasta, narrador esportivo, comen-

tarista, repórter, apresentador a produtor etc. já passei desde

a mordomia da Fonte Nova com ar condicionado a narrar

jogo no chão na zona rural.

Simples e ao mesmo tempo dinâmico. Esse é mais

um Silva que também tem criatividade no sobrenome e faz

parte da história do rádio nesta região.

* No sítio Esporte Sisal.com surgiu, em 2009, uma coluna somente para entrevis-tas com radialistas e Genivaldo Silva conta num texto perfil, que foi para o Altofalante Jota Ramos Publicidades a convite de Deda e incentivado por Teó, seuirmão. •”Até hoje tenho orgulho de ter sido um aluno do mestre Deda Ramos quefoi sem dúvidas o melhor comunicador daquela época”.

112

Page 104: Livro reportagem   os radiojornalistas

“O Bola de Ouro do rádio”

Para realizar a entrevista que resultou neste perfil

esperei aproximadamente duas horas. Quando cheguei na

Rádio Jacuípe eram 9 horas e 15 minutos da manhã da quin-

ta-feira 24 de setembro. Naquele dia o Governador da Bahia,

Jaques Wagner, iria para o município de Pé de Serra e este

era um dos assuntos principais do programa Jornal da Ma-

nhã. Apenas observava um repórter no estúdio passando uma

entrevista, gravada no celular, direto para o ar sem nenhuma

edição. Nem me lembro direito o assunto, mas o fato de não

Foto 7 - Gilberto Oliveira. Rádio Jacuípe AM - 02.11.2009

113

Page 105: Livro reportagem   os radiojornalistas

colocar aquela produção no computador e editar para deixá-

la com mais qualidade me incomodou.

O apresentador era Gilberto Oliveira, que, depois da

matéria, voltou logo ao tema do dia: a vinda do Governador.

Muita gente no estúdio. Eram curiosos, visitantes e os dois

repórteres do programa. “Silêncio” – a luz vermelha indicava

para ninguém conversar no pequeno estúdio climatizado (num

dia de calor) e de visita do Governador ao município vizinho.

Gilberto entra no ar e anuncia:

“Provavelmente não haverá a tão esperada inaugu-

ração no dia de hoje. O governador cancelou a agenda da

tarde por motivos pessoais. Esta informação ainda não está

confirmada”.

Saí do estúdio e fiquei na recepção da emissora

aguardando o término do programa. Vi pessoas entrando e

saindo, movimentação de repórteres, telefonemas a todo ins-

tante e ouvintes no ar comentando algum assunto. Terminou

o programa e eu fiquei ansioso pela confirmação da notícia

sobre o Governador, o que só aconteceu minutos depois, já

no programa seguinte. Gilberto voltou ao ar as 9h35 e disse:

“A visita do Governador realmente foi cancelada.

Conversei agora por telefone com o prefeito de Pé de Serra.

Ele pediu desculpas aos convidados e informou que anunci-

ará em breve a nova data da inauguração da estrada e de

outras obras que o Governador entregaria neste dia”.

Missão cumprida. O radialista contribuiu para que os

moradores da microrregião de Pé de Serra soubessem o que

estava acontecendo. Agora é minha vez de contar como esse

114

Page 106: Livro reportagem   os radiojornalistas

dia-a-dia do radialista acontece. Mas demorou um pouco mais.

Cheio de atribuições lá se foi Gilberto resolver outras

coisas mais urgentes e eu fiquei ali, lendo A Cabana, um livro

que ganhei de presente de uma pessoa muito especial. O

livro que fala da importância da vida, da crença e do respeito

às pessoas era meu companheiro nestes momentos ao lon-

go da pesquisa. Passado um tempo, fomos de moto até a

sede da Liga Jacuipense de Futebol, onde poderíamos con-

versar mais tranquilos.

Na Liga, mais um atendimento a ser feito e depois foi

minha vez. Já de olho no relógio eram 11h10 da manhã. Fo-

ram exatos 40 minutos de conversa e Gilberto falava baixo e

com muita tranquilidade; nem parecia que ao meio-dia ele

tinha mais um programa para apresentar. Ao longo da entre-

vista fomos interrompidos com dois telefonemas. No celular

ele orientava dirigentes de times de futebol.

O início – “A notícia, a prestação de serviço e trans-

mitir esporte pelo rádio é o que eu mais gosto”, conta Gilberto

de Oliveira Matos, que nasceu na zona rural de Riachão do

Jacuípe, em 17 de outubro de 1970. Por influência do primo

Moreira, o jovem, aos vinte e um anos, resolveu ir até a Rá-

dio Jacuípe AM para fazer um teste. “Desde pequeno eu tínha

essa vocação. Fiz o teste e passei”. Desde o dia 26 de janei-

ro de 1991 ele é o principal âncora do jornalismo e do esporte

na emissora, que fica situada no município de Riachão do

Jacuípe, no Território Bacia do Jacuípe. Começou participan-

do do Jacuípe Esportivo aos sábados e em novembro do

mesmo ano criou o Bola na Rede, um programa diário.

115

Page 107: Livro reportagem   os radiojornalistas

No esporte além de cronista também é dirigente.

Depois do envolvimento com o rádio esportivo resolveu atuar

para fazer o esporte amador de Riachão acontecer na práti-

ca. Foi eleito diretor da Liga Jacuipense de Futebol e conti-

nua no cargo desde 1997. “Eu sempre coloquei o cargo a

disposição em cada eleição, mas nunca apareceu ninguém

para concorrer. Os times pedem que eu continue. Eles dizem

‘se está dando certo para que mudar?’”

No rádio, ao meio dia pontualmente o ouvinte já está

acostumado com o jingle provavelmente mais antigo do rádio

esportivo da região. Desde o surgimento do Bola na Rede na

Jacuípe ele mantém a mesma abertura:

“A nossa equipe vai entrar no ar,

Vibrando, curtindo a emoção.

Bola na Rede é sensacional,

Tocamos a bola, driblamos com o pé, damos olé...

Oléééé!!

O futebol é a nossa paixão,

Pelos gramados vivemos da emoção.

Timbaladas da cidade,

O futebol que faz a festa do povão!

Gilberto Oliveira”.

Na hora do gol, a vinheta com muito entusiasmo anun-

cia: “Bola na rede é gol legal!” e ainda tem “Gilberto Oliveira –

o bola de ouro do rádio” todas essas são marcas registradas

na história do rádio sisaleiro. Ainda adolescente eu era ou-

166

Page 108: Livro reportagem   os radiojornalistas

vinte de todas as edições do programa e quando morava no

Distrito de Barreiros, no município de Riachão, cheguei a

participar do programa como repórter entre 1998 e 2001.

O radialista também foi responsável pela entrada de

muita gente na Rádio Jacuípe, a exemplo do narrador Maurí-

cio Oliveira, que trabalhava comigo na Barreiros FM e teve

várias oportunidades de atuar lá. A experiência e o carisma

de narrador também renderam a Gilberto reconhecimento de

outras emissoras da região.

Mesmo atuando na AM 1500 Khz sempre faz jogos

em outros lugares. “Há três anos faço um trabalho de narra-

ção de jogos para a Rádio Pombal de Ribeira do Pombal.

Além de várias transmissões para a Rádio Sisal e outras

emissoras que sempre me chamam para este serviço. As vi-

agens me fizeram conhecer muitos lugares, fazer jogos do

Intermunicipal em vários lugares, jogos da Seleção Brasileira

em Salvador e muito mais”.

Em 1997, começou a apresentar o Programa Jornal

da Manhã, principal programa de notícias da emissora. “Tra-

balho com uma equipe pequena de três repórteres da cida-

de, mais uma correspondente de Brasília e também as maté-

rias da Radioweb... eu ouço muito rádio, gosto de ler jornais

antes de entrar no ar, leio também na internet, ouço as pes-

soas na rua”, explicou Gilberto.

Em 1999, ele sofreu um atentado. A notícia espalhou-

se rápida e facilmente e pode ser encontrada nas páginas de

internet que denunciam a violência contra radialistas e jorna-

listas*. Na época a situação política de Riachão estava “quen-

117

Page 109: Livro reportagem   os radiojornalistas

te . Gilberto não faz ligação das denúncias realizadas pela

emissora naquela época com o caso e também prefere não

falar sobre o assunto. “Eu não tenho inimigos, chego a hora

que quero em casa, frequento qualquer ambiente... isso só

depende de mim, até divulgo no rádio para onde vou e infeliz-

mente sofri uma tentativa... fui bruscamente agredido, fiquei

um tempo desacordado, mas venci. Não quero atribuir a nin-

guém nem quero pensar neste fato, acho que o mais impor-

tante é que estou vivo e continuo realmente buscando ajudar

as pessoas. Esse foi o único fato negativo que vivi no rádio”,

relembrou.

O prefeito da cidade era Herval Lima Campos e o ex-

prefeito, Valfredo Matos, era o dono da Rádio Jacuípe. Aque-

les quatro anos (1997-2000) foi o único período que Valfredo

não esteve no comando da prefeitura desde a abertura políti-

ca. Eleito em 1988, governou até 1992, quando elegeu um

sucessor. Em 2000, voltou para a prefeitura e morreu em ja-

neiro de 2005, três dias depois de passar o cargo ao novo

gestor eleito em outubro de 2004. Antes da sua morte havia

“vendido” a concessão da rádio para um grupo político de

Serrinha. Depois da fama e do sucesso nos 18 anos de rádio

ele conta que a vida não mudou. “Continuo fazendo as coi-

sas que fazia antes. Tem gente que diz ‘já trabalhei na roça,

fiz isso e fiz aquilo’, eu não. Continuo tirando leite todos os

dias, se tiver que dar ração a gado eu dou, cortar palma eu

vou... isso me faz bem. Não preciso fazer isso, eu vivo do

rádio, mas gosto de fazer”, explica.

Ele conclui a conversa dizendo que gosta de ajudar

118

Page 110: Livro reportagem   os radiojornalistas

as pessoas e sempre leva “mensagens de paz e de Deus a

cada coração”.

– Gilberto a quê você atribui esta estabilidade aqui

na Rádio Jacuípe desde 1991, no mesmo horário? – pergun-

to.

– Dedicação e amor acima de tudo. Seriedade e

buscar sempre agradar ao máximo os ouvintes. Sempre com

objetividade e humildade. Trabalho com seriedade.

– Obrigado e corra que o programa vai começar.

São 11h50.

– Muito obrigado e estou sempre a disposição.

119

Page 111: Livro reportagem   os radiojornalistas

Feliz é esporte nas ondas do rádio

Pelo nome a gente conhece o homem. Gente boa e

de qualidade, mas de “pavio curto” como se diz aqui no Ser-

tão. “Eu falo a verdade doa em quem doer. Às vezes eu igno-

ro algumas leis e sei que estou ferindo, mas tem hora que

não aguento. Fui processado uma vez porque denunciei o

presidente da Liga Coiteense de Futebol e não dei direito de

resposta e outra vez por questões políticas envolvendo as

eleições de Santa Luz”, explicou o radialista.

A entrevista aconteceu no dia 26 de setembro de

Foto 8 - Nilton Feliz. Rádio Sisal AM - 16.11.2009

120

Page 112: Livro reportagem   os radiojornalistas

2009, e começou, logo cedo, num sábado de sol. José Nilton

Nunes Mascarenhas, que nasceu em 14 de abril de 1961,

ganhou novo nome em 1988, quando iniciou na Rádio Regi-

onal de Serrinha. Ele me recebeu na própria casa com um

café da manhã regado a mugunzá, cuscuz e pão. O negócio

estava bom e o papo também. Ele contou cada momento da

carreira, inclusive o surgimento do nome:

– Como foi essa escolha do nome artístico?

– As esposas de Aluízio Farias e Aldroaldo de Ma-

tos, lá em Serrinha disseram “esse menino só anda rindo, é

muito feliz. Vamos botar um nome nele” e daí em diante co-

meçaram a me chamar de Nilton Feliz e pegou.

Antes da entrevista ele estava meio desconfiado e

mesmo já sabendo do objetivo da pesquisa perguntou:

– Tu vai colocar tudo que eu falar mesmo?

– Tem coisas que você quer falar e não é para publi-

car? – respondi com uma pergunta e completei com uma in-

formação – Eu não sei se publicarei tudo, mas pretendo ser

fiel ao que disser.

Superado o momento da incerteza fomos navegan-

do pela história, experiência e pensamentos de um dos mai-

ores incentivadores do esporte amador da região. “O futebol

é prioridade porque é de onde tiro meu sustento, principal-

mente, o amador”, explica. Quando começou na Regional fez

o que mais tem desejo no rádio: o plantão esportivo. Ele re-

corda que na época trabalhou ao lado de Floriano Dutra, que

já estava no setor há algum tempo.

Em 1989, a equipe de Aluízio saiu da Regional e foi

121

Page 113: Livro reportagem   os radiojornalistas

para a Sisal AM de Conceição do Coité. O surgimento de

uma nova cervejaria ligada ao dono da rádio impediu o su-

cesso da equipe na nova cidade. No final de 1991, Aluízio

Farias deixou a Sisal porque o patrocínio principal do seu

programa era outra cervejaria. Na época Lelo Pereira, que já

estava na rádio há mais tempo e integrou-se ao time de Aluízio,

resolveu reclamar da postura da emissora e acabou saindo

também. Nilton Feliz resolveu permanecer na rádio e assu-

miu, em abril de 1992, os destinos do jornalismo esportivo da

emissora. “No início fui contratado pela emissora e treze anos

depois entrei no rol dos terceirizados. Hoje tenho que coor-

denar a equipe, apresentar programa, buscar notícias, ven-

der comercial, editar, operar e ainda ser pai. Tenho que cui-

dar da família de seis filhos”.

Antes de se tornar o principal repórter e apresenta-

dor esportivo da Sisal, Nilton já havia tentado entrar na emis-

sora, em 1986, mas não conseguiu. “Eu não tinha conheci-

mento político com o grupo que detinha a concessão da emis-

sora e isso dificultou”. Hoje ele mantém no ar de segunda a

sábado um programa ao meio-dia e, aos domingos, das 14

às 18 horas, a jornada esportiva com jogos ao vivo.

Em momentos memoráveis nestes anos transmitiu

duas grandes finais do futebol brasileiro. Em 1993, no

Morumbi, estádio lotado. Gente pra todo lado. Baianos x

paulistas. Rubro-negros x Alviverdes. E lá estava ele. Com

cabelos grandes, nervoso por fazer a primeira grande trans-

missão; naquele dia trabalhou ao lado de Manoel Messias de

Serrinha. Em campo, Palmeiras e Vitória. Era jogo decisivo

122

Page 114: Livro reportagem   os radiojornalistas

do Campeonato Brasileiro de Futebol: foi melhor para os

paulistas que venceram e conquistaram a competição. Em

2004, Estádio do Maracanã, palco de Copa do Mundo e sede

de grandes jogos. Nilton chegou cedo para dar tudo certo

como da outra vez – agora já não tinha mais a cabeleira de

dez anos a trás – mas carregava na mala a experiência ante-

rior e de tantos jogos que fez ao longo da década, inclusive

de Seleção Brasileira de Futebol, em Salvador. O jogo era a

decisão da Copa do Brasil entre Flamengo e Santo André.

Neste dia, trabalhou com o flamenguista Wilson Lima da ci-

dade de Valente. Lima é repórter da equipe esportiva da Sisal

desde 1994 e é um dos melhores amigos do radialista. “Ele

ficou nervoso e chorou pela derrota do Flamengo, mas deu

tudo certo”, comentou rindo.

Nilton também levou a Sisal para a primeira cobertu-

ra do Campeonato Intermunicipal de Futebol Amador, em

1992, e até hoje é uma das poucas rádios que transmite jo-

gos em todas as rodadas da competição. Ele também partici-

pou com a equipe da Agência Calila da cobertura das elei-

ções municipais e de micaretas de Coité durante muitos anos.

Dos entrevistados o eu que mais conhecia antes da

pesquisa era Nilton Feliz. Trabalhei com ele pela primeira vez

em março de 1999, quando eu tinha 16 anos, e ao longo

desses mais de dez anos sempre estivemos juntos fazendo

alguma transmissão esportiva para a Sisal. Hoje menos, mas

até 2007, quase todos os domingos. Antes de terminar aque-

la conversa, quando ele pensou que estava acabando, man-

dei mais uma pergunta:

123

Page 115: Livro reportagem   os radiojornalistas

– Você se acha chato, como alguns o rotulam?

– Não. Eu faço as coisas com consciência. Eu sou

amigo de todo mundo, reconheço quando erro•cpeço des-

culpas no ar, peço perdão quando erro... eu já errei por não

ouvir os dois lados... mas eu não me considero chato. Eu sou

sincero.

– E o que você faz pela audiência?

– Tenho coragem. Tem gente que diz ‘quando você

bate ou questiona alguma coisa tem mais audiência’, mas eu

não faço isso para ter audiência. Eu faço porque vejo que é o

momento.

Vivendo o segundo casamento, Nilton Feliz é pai de

seis filhos. Estudou até concluir o segundo grau e é daqueles

que respiram rádio. “Eu ligo o rádio o dia todo para ouvir in-

formação e agora estou com a proposta do jornalismo em

webradio”, expõe o comunicador. Para ele o futuro do rádio

na região é incerto e não há grandes perspectivas. A Internet

oferece mais liberdade e possibilidade de crescimento.

Encerrou a entrevista como sempre faz ao término

do programa na rádio:

– Desejo um mundo de amor e paz para todos nós.

124

Page 116: Livro reportagem   os radiojornalistas

Da Capital Federal ao Sertão daBahia

Antônio Carlos da Silva (ou simplesmente Carlos Sil-

va); quem sabe Carlos Brasília? E que tal Tony Brasília? No

Rádio Sisaleiro esses nomes são da mesma pessoa. Ele

nasceu no dia 05 de agosto de 1967, em Itaguatinga, cidade

satélite de Brasília no Distrito Federal. Brasília surgiu no nome

de Antônio Carlos depois de ter chegado ao rádio em 1987.

Ele lembra que foi uma tentativa de conseguir co-

mercial com uma prefeitura com um nome bonito que lhe

Foto 9 -Tony Brasília. Unidade Móvel da Rádio Continental AM - 29.10.2009

125

Page 117: Livro reportagem   os radiojornalistas

desse status. “Eu cheguei para morar numa cidade e liguei

para a prefeitura para pedir patrocínio e a moça que atendeu

disse ‘quem quer falar?’ aí eu disse Carlos Brasília. Então, eu

ouvi ela falar ‘é Carlos lá de Brasília’, aí num instante o pre-

feito me atendeu perguntando como estavam as coisas na

Capital e assim eu consegui o patrocínio, mas hoje não, se

você disser que é de Brasília as pessoas já pensam logo que

é ladrão” (risos) – brincou ele referindo-se aos escândalos

envolvendo os políticos na Capital Federal.

Encontrei-me com o radialista Tony Brasília na Rádio

Continental AM de Serrinha, na manhã do dia 25 de setem-

bro. Era dia de calor: parecia o verão naquele início de prima-

vera. Era a minha segunda conversa pessoalmente com ele.

A primeira foi em agosto, após uma transmissão esportiva

que realizamos em Santa Luz. Ele na Continental e eu na

Rádio Santa Luz FM.

Depois de explicar como surgiu o nome de “guerra”

ele começou a contar como entrou no rádio. O ano era 1987.

Já se passaram 22 anos, mas ele lembra de cada detalhe

dos momentos que viveu:

– Saí de minha cidade para buscar emprego em Juiz

de Fora-MG. Apesar do defeito físico eu sempre preferia não

pedir. Fiquei num albergue, depois comecei a vender bom-

bons para me manter e eu me vestia bem e num certo dia

entrei num restaurante, tomei um café grátis e sai espalitando

os dentes e repeti isso várias vezes. Outro dia um cidadão

chamado Carlos Eduardo me viu e falou comigo. Eu parei e

contei a verdade da história. Ele disse ”quer trabalhar em

126

Page 118: Livro reportagem   os radiojornalistas

rádio?” e eu disse quero. Ele me mandou para a Rádio Soci-

edade de Juiz de Fora para fazer um teste. Lá na rádio o cara

disse que só tinha para narrar jogo e eu topei, depois de um

bom tempo lá esperando fui chamado e ele me mandou co-

meçar no microfone, depois ele mandou eu parar e ir vender

laranja. Na saída da rádio encontrei Carlos Eduardo e ele

perguntou como foi o teste e eu respondi, já chorando. Ele

me deu um dinheiro e um cartão com os contatos dele. No

outro dia fui mais uma vez na Rádio Capital atrás de empre-

go e a moça foi logo dizendo “o senhor de novo?” (risos) Com

o cartão na mão a coisa mudou e eu consegui uma vaga. No

outro dia já entrei no ar lendo uma notícia sobre Fórmula 1. Li

tudo errado, mas eles me deram outra chance. Depois de um

tempo trabalhando no esporte descobriram que eu morava

num albergue e me mandaram embora. Foi assim que entrei

no rádio –, contou Antônio Carlos.

Em 1990, ele ligou para a Rádio Vanguarda de

Sorocaba-SP, e chegou a falar com o dono da emissora.

Brasília diz que quando chegou à rádio o dono estava viajan-

do, mesmo assim fez o teste. Lembra-se que leu notícias e

apresentou um programa, mas não agradou. No outro dia

conseguiu fazer outro teste de narrador na Rádio Cacique,

concorrente da Vanguarda. “Não sei se passei porque esta-

vam precisando de narrador ou eu fui bem”, conta sorrindo.

“Fiz o primeiro jogo no domingo e Dr. Salomão (dono da ou-

tra emissora) ouviu e me procurou. Contei o que aconteceu e

ele me mandou voltar no mesmo dia para a Rádio Sorocaba

lá ganhei um, depois dois programas e fiquei um bom tem-

127

Page 119: Livro reportagem   os radiojornalistas

po”, explica.

Dentre as várias rádios em que trabalhou depois de

sair de Sorocaba Tony Brasília lembra que em 1993 atuou na

Rádio Clube em Inhapim-MG e no mesmo ano passou pela

Rádio Globo de Brasília. Já em 1995 trabalhou na Rádio Lí-

der do Vale, integrante do Sistema Bandeirantes, em Santa

Catarina.

O namoro com a Bahia começou em 1997, quando

veio morar em Serrinha. Aqui trabalhou na Difusora AM por

um ano. No ano seguinte voltou para Brasília, onde passou

pela Rádio OK. Não demorou muito e retornou no final da

década para Feira de Santana, onde trabalhou na Rádio

Subaé AM, também neste período atuou em Santo Antônio

de Jesus. No retorno a Serrinha trabalhou nas Rádios More-

na FM e Regional AM do Grupo Lomes, em 2001. Depois

ficou um ano fora de rádio e desde 2005 está na Continental

AM, antiga Difusora. Hoje ele disse que está no auge da car-

reira. Faz o programa Jornal da Continental no início da tar-

de, reportagens para outros programas durante o dia e é

narrador esportivo no final de semana. Ele conta que o

radiojornalismo nunca foi seu forte. “Eu nunca gostei de jor-

nalismo, sempre fui apaixonado pelo esporte, mas coloca-

ram em minha cabeça que o jornalismo é que dá o dinheiro”,

falou Brasília.

Antônio Carlos Brasília tem segundo grau e estudou

contabilidade no ginásio. No primeiro estágio que encontrou

não conseguiu frequentar por causa de uma escada que ti-

nha no local e a deficiência física na perna não permitia. É a

128

Page 120: Livro reportagem   os radiojornalistas

favor da formação superior em Comunicação e diz que nun-

ca parou de ouvir e ler informações que alimentam seu co-

nhecimento. Conta que entrou no rádio por necessidade e já

fez e conquistou quase tudo que queria. O que falta segundo

ele é fazer um programa com coisas boas e transmitir uma

Copa do Mundo de Futebol.

Para encerrar mais uma frase de radialista, que ele

sempre usa no final de cada transmissão. “Deus me deu uma

cara pra eu não ter duas e enquanto eu conheço determina-

do tipo de pessoas eu prefiro amar os animais”, concluiu

Brasília.

129

Page 121: Livro reportagem   os radiojornalistas

Filho de radialista, radialista é

Ele nasceu numa sexta-feira dia 02 de janeiro de

1962, irmão de jornalista e filho de radialista. Então não tem

para onde correr: é radialista também. “Está no sangue”, afir-

ma José dos Santos Silva.

Com formação de nível médio, o comunicador tem

DRT desde 1981, mas disse que isso não credencia ninguém

a ter profissão. “Você nasce radialista, você nasce repórter...

Deus lhe deu isso. A faculdade não forma ninguém, você não

aprende no colégio a ser locutor, você assimila algumas coi-

Foto 10 - José Ribeiro. Rádio Morena FM - 11.11.2009

130

Page 122: Livro reportagem   os radiojornalistas

sas”, acredita Ribeiro.

Antes de começar na profissão “que Deus lhe deu”

foi camelô, comerciante, vendedor de doce, dentre outras

tentativas de ser o que não tinha nascido pra ser, como acre-

dita. Desempregado, em 1979 pediu emprego a Rubens Car-

neiro na Rádio Difusora de Serrinha, onde começou sendo

operador de som. “Eu já fiz de tudo no rádio, mas não sou

bom em nada. Gosto mais de musical, porque a responsabi-

lidade é grande, mas não é tanta. No jornalismo você bate de

frente com marginais, com fora da lei de todo tipo, com polí-

ticos ... então você tem que ser um cara consciente no que

diz para continuar na profissão”, comentou.

– E por que o nome Zé Ribeiro?

– O nome artístico eu coloquei em homenagem ao

meu pai “O Poeta Ribeirinho”, que aos 64 anos ainda atua no

rádio.

Funcionário do Grupo Lomes de Radiodifusão desde

1986, trabalha nas Rádios Regional AM e Morena FM, onde

me recebeu para uma entrevista no Dia do Rádio, em 25 de

setembro de 2009, no estúdio onde apresentava o Boa Tarde

Cidade pela emissora AM. Fazia calor lá fora como todos

aqueles dias que estive em Serrinha realizando a pesquisa.

No estúdio sempre climatizado, uma mesa de som, computa-

dores, microfones e no caso da Regional uma parede revestida

de madeira e espuma.

O dia-a-dia do radialista é corrido. É difícil encontrar

tempo para atividades como essa. No perfil do blogue pesso-

al ele exibe que é “correspondente do Jornal Tribuna Feirense,

131

Page 123: Livro reportagem   os radiojornalistas

repórter da CBN - Sistema Globo de Rádio e Grupo Lomes

de Rádio Difusão”. Foi a terceira tentativa que eu fazia para

conseguir 40 minutos de conversa sobre a profissão que exer-

ce.

Foi então, entre uma música e outra, que conversa-

mos naquela tarde de sexta-feira. Zé falou sobre as dificulda-

des, o que pensa sobre o radiojornalismo, contou suas expe-

riências e conquistas. Ao longo dos 30 anos de carreira já

atuou nas Rádios Sociedade, Povo e Subaé, em Feira de

Santana, mas ”lá eu não me adaptei”, explica-se e diz que

tem orgulho do que já fez na vida. “Eu conquistei tudo. Fui

escolhido melhor repórter do Estado, ganhei o prêmio máxi-

mo que foi de uma reportagem que fiz com um aidético. Na

época, em 1992, nenhum aidético tinha dado entrevista no

Estado da Bahia, com isso eu ganhei o prêmio reportagem

do ano, então eu vou me aposentar, mas com o dever cum-

prido mesmo”.

O telefone toca pela primeira e única vez naquele

programa. Ele ignora e liga a chave híbrida deixando a linha

telefônica ocupada para não interferir na gravação da entre-

vista. Faz a primeira parada para anunciar novas músicas,

mandar um alô e anunciar uma propaganda. Retorna para o

bate papo, baixa o retorno e diz:

– Que mais?

– Você vai se aposentar e sair do rádio? – pergunto.

– Eu criei uma radioweb e acho que no rádio já fiz a

minha parte. Eu vou continuar falando, mas não quero mais

ser funcionário, obedecer horário.

132

Page 124: Livro reportagem   os radiojornalistas

– E como será esse empreendidmento?

– Eu quero fazer uma coisa que me dê prazer e

quando eu quiser fazer. Eu pretendo fazer um jornalismo di-

ferente de tudo que é feito em Serrinha. Eu vou fazer uma

rádio com a linha editorial como a Istoé e a Veja, ou seja,

todos vão falar.

Depois de mais alguns minutos mais uma parada e

mais músicas a serem anunciadas. Ele brinca com um

comunicador da Morena FM e na volta fala sobre a progra-

mação musical das rádios que é imposta pelo o que ele cha-

ma de “sistema”. Ribeiro critica a programação da FM onde

apresenta o Pauta Livre e diz que sempre encerra o jornal

com uma música antiga para provocar os DJs da emissora.

“O pessoal da Morena não sabe o que é música não, mas

todas as emissoras fazem isso”, argumenta.

Zé produz e apresenta os programas Passando a Lim-

po, Pauta Livre, Arquivo Musical e o Boa Tarde Cidade. Se-

gundo ele este último é o mais antigo da emissora e o que

mais gosta de fazer.

Ao ser indagado sobre a brincadeira que fez com um

“colega” da Morena FM, ele respondeu pausadamente, que

era apenas para “os caras da rádio perceberem o que é música

boa” e fez questão de corrigir o que eu falei. “Eu não tenho

colega de profissão. Sou um cara solitário no rádio. Faço o

meu lado e também não ouço ninguém do rádio de Serrinha.

Se eu tiver que ouvir um colega não vai ser ninguém do meu

metiê. Aqui em Serrinha não é falta de coleguismo, é que eu

não considero ninguém colega. Eu tenho colegas em outros

133

Page 125: Livro reportagem   os radiojornalistas

lugares... se alguém me considera problema deles. Eu não

quero me misturar e faço meu trabalho sozinho. Eu sou con-

tra esse negócio de união, grupinho... Eu respeito e é isso

que está faltando aqui, em Serrinha. Está faltando respeito

entre os profissionais”.

Quando resolvi encerrar a entrevista já passava das

3h45 da tarde e ele sempre atento a cada momento, mesmo

com o programa no ar:

– O quê faltou perguntar?

– O que eu achei da entrevista – disse ele sorrindo –

Você deveria me perguntar isso.

– Então? Como fui nesta entrevista?

– Muito bem. Tem gente aqui na rádio que pergunta

e responde e não é direto nas questões. Você não perguntou

nada que eu não pudesse responder, nada que me deixasse

constrangido e nada de minha vida particular e isso é muito

bom para um repórter. Vá em frente no seu trabalho. E estou

aqui à disposição.

Agradeci e saí comemorando porque foi uma das mais

polêmicas entrevistas deste livro, como pode ser observado

nos textos.

134

Page 126: Livro reportagem   os radiojornalistas

Valdemi de Assis: do rádio para aInternet

Ele chegava cedo na rádio. Dava bom dia para co-

madres e compadres e junto com os pássaros fazia compa-

nhia para homens e mulheres do campo e da cidade. O

“Brasilzão de meu Deus” acordava para ouvir o radialista e

político Valdemi de Assis, ou simplesmente o “conhecido

Mitinho”. No Programa Alô Sertão tinha bois, vacas, cabras,

chocalhos, o bem-ti-vi e o Sabiá Laranjeira. Não podia faltar

Foto 11 - Valdemi de Assis. Calila Notícias.com - 18.11.2009

135

Page 127: Livro reportagem   os radiojornalistas

a moda de viola, a música caipira e sertaneja, os aboios dos

vaqueiros, samba de roda, batuque, reisado e notícias. Isso

mesmo. “Aqui você ouve as primeiras notícias do dia”, dizia

Mitinho.

Foi com o Alô Sertão que ele se consagrou na maior

audiência da Rádio Sisal, no início da década de 1990, mas

a sua entrada no rádio foi um pouco antes. ”Em 1980, eu era

assessor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Concei-

ção do Coité e criei o programa da entidade na Rádio Difusora

de Serrinha. Depois disso comprei um horário semanal para

fazer meu programa”, conta Valdemi. Em 1982 foi eleito ve-

reador pela primeira vez e re-eleito na eleição seguinte. Em

1986 assumiu parte da programação da Rádio Sisal AM. “Eu

fiz o Programa Alô Nordeste bem cedinho e no final da tarde

o Forró da Sisal e foi neste período que eu comecei esse

negócio de vender horário de rádio. Eu vendia parte do pro-

grama para os sindicatos”, relembra o radialista.

O espaço do Alô Sertão que surgiu no lugar do Alô

Nordeste começou a ficar pequeno com as investidas de

Mitinho. Ele estava presente em diversos eventos no Estado

e precisava de mais tempo no rádio. “Foi aí que criamos a

Agência Calila, veio o Jornal das Oito e outros programas

dentro da rádio”, lembrou.

No novo jornal ele era responsável pelas notícias

policiais. Fazia Coité e região parar para ouvir suas histórias

cheias de mistérios, depoimentos de acusados de crimes,

policiais e o dia-a-dia das delegacias da região. O horário

das oito horas era “sagrado” no rádio naquele período. “O

136

Page 128: Livro reportagem   os radiojornalistas

povo começou a gostar daquele estilo que eu criei. Quando

eu dizia assim “amigos e amigas boooomm diaaaa” e

•esangue de Jesus tem poder... as pessoas repetiam na rua

e sempre comentavam”, comemora.

Assassinatos, assaltos a banco e grandes tragédias,

lá estava ele com seu gravador. “Onde tinha notícia a nossa

equipe estava lá. É isso que hoje me angustia, porque a Rá-

dio Sisal fui eu que construí com todo o prazer, e por capricho

político dos donos fomos expulsos de lá e hoje até o site da

Calila é proibido ser acessado na emissora”, desabafa. Mitinho

acredita que a sua decisão de ser candidato a deputado, em

2006, motivou a sua saída da emissora. “O grupo político que

controla a rádio não aceita pião no poder”, denuncia o radia-

lista.

Ele nasceu em 12 de julho de 1961, em Conceição

do Coité, é locutor de palanque político, foi vereador e candi-

dato a deputado. Depois que saiu da Sisal, Valdemi passou

pelas rádios Regional (2006-2007), Jacuípe (2007-2008) e

Sabiá FM (2007-2008-2009).

– Você abandonou o rádio e agora mantém um site

de notícias no mesmo ritmo de produção de antes. Qual a

diferença entre os dois meios?

– Eu gosto muito de rádio – declara Mitinho –, mas

nunca mais irei conviver com esse meio tendo que falar e

fazer o que o dono pensa. Muitas vezes não tem a ordem,

mas só em saber que o dono não gosta disso ou daquilo a

gente não fala. Isso é muito ruim para o radiojonalismo. No

site Calila Notícias.com faço debate dos mais variados te-

137

Page 129: Livro reportagem   os radiojornalistas

mas com os leitores e ouvintes, e, o melhor é que eu tenho

independência.

Aparentemente o rádio não fez falta para o

comunicador. Ele continua sendo referência na cobertura

política e policial através do site e permanece fazendo o seu

estilo de radiojornalista mesmo utilizando-se de outra lingua-

gem.

138

Page 130: Livro reportagem   os radiojornalistas

Ícone do rádio comunitário no Sertão

Sábado de sol. Dia bom para tomar um banho de

piscina no Clube da APAEB - Associação de Desenvolvimen-

to Sustentável e Solidário da Região Sisaleira, ou quem sabe

tomar uma cervejinha gelada, depois de uma semana inteira

de muito trabalho. Ainda mais que amanhã é domingo e não

é dia de descanso para o radialista que irei conversar agora.

Cheguei na Rádio Valente FM – na cidade de mesmo nome –

quase 10 horas da manhã.

Na Valente FM pra todo lado tem computador, são

Foto 12 - Tony Sampaio. Rádio Valente FM - 02.11.2009

139

Page 131: Livro reportagem   os radiojornalistas

quatro salas bem climatizadas e nas paredes, em vez de es-

pumas importadas, o revestimento para evitar a reverbera-

ção é feito da fibra do Sisal. A fábrica da APAEB é uma das

principais referências no país na exportação de tapetes e esta

iniciativa deixou o estúdio ainda mais aconchegante e com a

•gcara•h da região.

Meu entrevistado daquele dia já estava lá no estúdio

gravando e mixando áudio. O rapaz trabalha todos os dias e

está sempre de bem com a vida. Vamos chamá-lo por en-

quanto de “Meu filhôôô!”.

– E aí “Meu filhô!”? Beleza?

– Tranquilo! – respondeu ele e logo emendou a per-

gunta –, E você?

– Tudo em paz. Vamos ao serviço? – sugeri.

– Rapaz pra entrevistar é melhor, mas pra ser entre-

vistado é mais complicado, cara bota o outro no canto e o

cara se aperta. Mas vamos ver.

– Qual seu nome?

– Completo ou apelido? – perguntou ele com uma

boa gargalhada.

– Os dois – respondi.

– Antônio dos Santos Sampaio e meu apelido é o

seguinte, né? (risos). Lá na região todo mundo só me cha-

mava de Toinho e aqui na Valente FM o radialista Raimundo

Ruy, que trabalhou aqui no início, disse “Toinho só quem vai

chamar é sua mãe e irmãos agora seu nome é Tony: vamos

botar seu nome Tony Sampaio”. Mas tem muita gente que

me chama de Toinho ainda (risos).

140

Page 132: Livro reportagem   os radiojornalistas

Depois dessa descoberta resolvi voltar ainda mais no

tempo. Fui até o ano de 1972, mais precisamente um dia

depois da reza de Santo Antônio, ou seja, dia 14 de junho.

Dona Florildes ou simplesmente Florzinha, quando viu aque-

le moleque que acabou de nascer e chorar, gritou:

– Meu filhôô!

Eu acho que ele ouviu porque até hoje toda vez que

alguém faz um gooooolll ou mesmo em momento de muita

emoção no jogo de futebol, é hora dele soltar esse mesmo

grito que dona Florzinha (há 37 anos, lá na fazenda Lagoa do

Pinhão Doce, município de Gavião, que na época ainda era

território de Riachão do Jacuípe) fez ecoar pelo Sertão.

Pois bem. Toinho, o filho de dona Florzinha, cresceu

forte e saudável morando, trabalhando e estudando na roça.

“No início a escola era na casa da minha prima Clarice, que

dava aulas para as crianças da redondeza. Mas foi na comu-

nidade de Santo Antônio [interior de São Domingos], onde

tive os primeiros contatos com carro de som, isso já em 1993.

Alguns anos antes disso, ainda adolescente, depois de tra-

balhar duro no motor de Sisal, fui morar com meu pai, em

Feira de Santana”, recordou Tony.

No período que morou lá, trabalhou de ajudante de

pedreiro e não estudava “porque chegava cansado em casa”,

conta ele. Já havia parado os estudos na 4ª série, ainda quan-

do morava na fazenda Lagoa do Pinhão Doce e só retomou

aos estudos após voltar de Feira de Santana, e por incentivo

do primo Ylário, que também morava na roça e estudava em

Santo Antônio, onde tinha o colégio mais perto. “Naquele tem-

141

Page 133: Livro reportagem   os radiojornalistas

po a gente ia de bicicleta para a escola”, lembra Tony.

Depois de uma rápida experiência numa rádio em

Retirolândia, no ano de 1997, ele ganhou força para buscar

no ano seguinte um espaço na Valente FM. “O pessoal da

Igreja de Santo Antônio me incentivou. Falei com Raimundo

Ruy e ele me deu uma oportunidade de participar do progra-

ma matinal que era apresentado por Aluízio Lopes (Costinha

de São Domingos). Às vezes eu vinha até com ele e sempre

participava do programa e isso me ajudou muito a aprender,

foi muito bom pra mim... Depois surgiu uma vaga para apre-

sentar um programa à noite e eu assumi, foi aí que realmente

entrei na rádio Valente FM”, contou.

Daí foi um passo curto para entrar no Programa Bola

na Rede e nas transmissões esportivas ao vivo. A participa-

ção no programa de esportes lhe rendeu experiência, fama e

prestígio. Com a saída de Léo Santos para a rádio Andaiá

FM, de Santo Antônio de Jesus-BA, surgiu a vaga de apre-

sentador do Rádio Comunidade, o programa de maior audi-

ência da emissora. Em mais de dez anos de trabalho na Va-

lente FM, Tony foi quem mais apresentou o radiojornalismo.

“O bom aqui é que eu nunca fui pressionado, a gente tem

liberdade”, comemora o radialista.

Essa liberdade lhe custou caro ao apanhar da polí-

cia, em 20 de setembro de 2000, quando a emissora ainda

não tinha outorga para funcionar. Foram cinco anos sem a

liberação do Congresso Nacional e a rádio sofreu diversas

apreensões como lembra Tony Sampaio. “A que mais mar-

cou foi a invasão da Polícia Federal, que mesmo sem man-

142

Page 134: Livro reportagem   os radiojornalistas

dato de segurança entrou na rádio, quebrou equipamentos,

me bateu e me algemou. Depois disso pensei em desistir,

mas a comunidade se mobilizou, os estudantes nos apoia-

ram e foram às ruas, fizemos programas em carro de som•c

então a nossa luta e nosso ideal continuaram. Eu não imagi-

nava que iria ser agredido e algemado por estar numa emis-

sora de rádio ajudando a comunidade”, comentou emociona-

do.

Tony aponta que a sua maior realização foi ver a rá-

dio ajudar a resolver vários problemas da comunidade, até

mesmo situações complicadas de problemas de saúde de

muitas pessoas. “Ajudamos a mobilizar as pessoas ou enti-

dades para ajudar. Sempre fomos parceiros do povo, isso é o

que mais me marca”, comemora.

Hoje, além de ser o radiojornalista âncora da Valente

FM, também faz reportagens diariamente e é narrador espor-

tivo na Rádio Sisal AM, de Conceição do Coité. “Se fosse só

por dinheiro não estava no rádio, mas se eu não tivesse no

rádio talvez eu ainda fosse padeiro como antes de vir para a

rádio, ou mesmo ajudante de pedreiro ou trabalhando na roça,

como já fiz... mas no rádio eu faço muitas coisas e quero

voltar a estudar, ainda vou fazer uma faculdade de comuni-

cação”, finaliza o sonhador Tony Sampaio.

143

Page 135: Livro reportagem   os radiojornalistas
Page 136: Livro reportagem   os radiojornalistas

CONCLUSÃO

Depois de muitos debates, ideias já sinalizadas e

dúvidas novas surgidas, é hora de finalizar – para quem sabe

começar outra vez. No início deste trabalho a maior dúvida

era como um livro-reportagem poderia contribuir para que

estudantes, professores e pesquisadores da Região Sisaleira

pudessem tomar conhecimento do processo de produção de

notícias e as histórias de vida dos radialistas responsáveis

por essa produção.

Ao longo da pesquisa deu para entender um pouco

mais sobre o valor de um produto como o livro e ampliar mi-

nhas noções, experiências e vivências nesta área. Com esse

livro comecei a perceber o valor das escrituras para quem

tem uma boa história para contar, como os radiojornalistas

envolvidos na pesquisa. Eles se dedicaram a narrar suas tra-

jetórias, se expuseram ao emitir opiniões sobre diversos te-

mas polêmicos, inclusive sobre a relação com a diretoria de

suas rádios, e ao mesmo tempo valorizaram o direito à infor-

mação que nós cidadãos temos ao investigar, analisar ou

mesmo procurar entender assuntos do nosso cotidiano. Este

tema não está presente nos programas de rádio, nos jornais

e sites da região. O livro-reportagem foi o caminho que en-

contrei para dialogar com a sociedade sobre a função infor-

mativa, orientativa e formativa do radiojornalismo neste pe-

daço de chão onde nasci e quero tentar contribuir com o seu

147

Page 137: Livro reportagem   os radiojornalistas

desenvolvimento.

No texto me refiro ao debate como principal suporte

que utilizei neste livro. Aqui não é apenas a minha voz ou

minhas vivências. São diversas pessoas de realidades e cul-

turas diferentes. Penso que, enquanto estudante, pude, ao

longo do trabalho, analisar as informações, as provocações,

os comentários e os posicionamentos dos profissionais, cons-

truir canais de diálogo com eles os quais podem resultar em

novos trabalhos e quem sabe provocá-los para se inserirem

nos processos de formação profissional oferecidos pela

UNEB. Dos entrevistados apenas um está no Curso de Rá-

dio e TV, que é o meu colega Cival Anjos. Os demais, com

suas experiências, poderiam sim contribuir muito com a for-

mulação de conhecimentos sobre a Comunicação Social no

Sertão baiano, estando também na academia: e muitos ex-

puseram este desejo.

As emissoras de rádio precisam também migrar da

proposta atual de vender horários para qualquer um, como

foi apontado na pesquisa, e investir em contratar e contribuir

com a formação de bons profissionais, realizarem planeja-

mentos em longo prazo, modernizar suas estruturas e bus-

car novas formas de financiamentos, pois o rádio informa e

aproxima, mas também é uma mídia que se tornou uma das

principais formas de entretenimento e interação entre o cam-

po e a cidade. E para isso é preciso ter claro seu perfil e

conquistar as pessoas de forma decente e atraente, sem

apelar. Nesta conclusão, eu fico com a resposta de um dos

entrevistados que diz “se não mudar os donos de rádio, se os

148

Page 138: Livro reportagem   os radiojornalistas

filhos dos donos não tomarem conta e mudar o perfil das

rádios... a mudança é muito difícil. O radialista é feito pela

rádio”, acredita um dos radialistas.

Um campo que merece mais atenção em futuras pes-

quisas é o papel e a relação entre Jornalista e Radialista. O

Jornalista em rádio é o profissional que atua no processamento

noticioso dos fatos, como a redação de notícias, comentários

ou crônicas; a realização de entrevistas ou reportagens; e a

coleta de informações e a sua preparação para divulgação.

O Radialista, segundo a legislação, deve ocupar-se com as

questões mais técnicas da realização de um programa. No

meio disso surge o radiojornalista que assume as duas no-

menclaturas, mas que é algo ainda a ser pesquisado e me-

lhor definido na própria legislação. Seria necessário também

investir numa pesquisa qualitativa e na análise de conteúdo

destes veículos para saber quais as mudanças significativas

que eles promovem.

De alguma forma podemos, através deste trabalho,

avaliar a atuação e experiência dos profissionais e conhecer

as principais características do radiojornalismo da região, que

possui como diferente do tradicional proposto nos manuais

da profissão, a interferência dos dirigentes das emissoras,

que na maioria das vezes são políticos, exceto nas rádios

comunitárias pesquisadas, que demonstram maior indepen-

dência neste quesito. Foi possível também conhecer um pouco

da história dos principais radiojornalistas de sete emissoras

de rádio da região.

E, por fim, se observa que não há cumprimento do

149

Page 139: Livro reportagem   os radiojornalistas

Código de Ética do Jornalismo, com a falsa liberdade de ex-

pressão que vivem os radiojornalistas, porque pagam às rá-

dios para trabalhar – e precisam fazer do espaço que têm um

verdadeiro comércio de minutos jornalísticos – ou mesmo pela

falta de preparação efetiva para a função que exercem.

No geral também se pode identificar que com todas

as dificuldades que os profissionais enfrentam, eles são co-

rajosos, acreditam no que fazem, trabalham pela realização

de sonhos e não se entregam diante da difícil realidade. Nos

40 anos de rádio na Região Sisaleira, o radiojornalista é o

principal personagem desta história que foi narrada ao longo

deste livro e que também poderá ser registrada em novas

pesquisas provocadas a partir desta.

150

Page 140: Livro reportagem   os radiojornalistas

Cronologia histórica apresentada no livro

1919 – Criada a primeira emissora de rádio do Brasil: Rádio Clubede Recife, em Pernambuco.1922 – Em 7 de setembro acontece a primeira operação de rádiono país no Rio de Janeiro.1932 – A propaganda no rádio é autorizada através de Decreto deGetúlio Vargas.1937 – O Brasil tinha 59 emissoras de rádio.1945 – Nasce o radialista Aluízio Farias.1957 – Nasce o radialista José Ferraz.1961 – Aluízio Farias inicia sua carreira em alto-falantes ainda emPernambuco.1961 – Nascem os radialistas Nilton Feliz e Valdemi de Assis.1962 – Nasce o radialista José Ribeiro.1965 – Nasce o radialista Genivaldo Silva.1967 – Nascem os radialistas Cival Anjos e Tony Brasília.1969 – Fundação da Rádio Difusora AM. A primeira a operar naregião.1969 – Aluízio Farias vem para a Bahia e ingressa na Rádio Soci-edade de Feira.1970 – Nasce o radialista Gilberto Oliveira.1972 – Nascem os radialistas Vilmara de Assis e Tony Sampaio.1974 – Aluízio Farias sai da Sociedade e em seguida vai morar emSerrinha onde ingressa na Difusora.1977 – José Ferraz começa sua carreira em alto-falantes.1978 – Nasce o radialista Edisvânio Nascimento.1979 – Primeiros registros de documentos para a criação da RádioSisal.1979 – José Ribeiro ingressa na Rádio Difusora como operador desom.1980 – Valdemi de Assis cria o programa do Sindicato dos Traba-lhadores Rurais de Conceição do Coité na Rádio Difusora.1981 – José Ribeiro consegue o registro profissional (DRT).1982 – Valdemi de Assis elege-se vereador em Coité.1982 – Hamilton Rios entra como sócio da Rádio Sisal AM.1983 – Carlos Miranda assume a direção da Difusora AM.1984 – José Ferraz ingressa na Difusora AM.1985 – A Rádio Sisal vira sociedade anônima.1986 – Em 20 de dezembro entra no ar a Rádio Sisal AM e Valdemide Assis assume grande parte da programação da emissora.1986 – Genivaldo Silva começa sua carreira na Rádio Sisal.1986 – Fundadas as rádios Morena FM e Regional AM, e JoséRibeiro ingressa no Grupo Lomes.1987 – Fundada a Rádio Jacuípe AM.

151

Page 141: Livro reportagem   os radiojornalistas

1987 – Tony Brasília começa sua carreira na Rádio Capital de Juizde Fora-MG.1988 – O presidente da Rádio Jacuípe, Valfredo Matos, é eleitoprefeito de Riachão do Jacuípe.1988 – Nilton Feliz e Aluízio Farias ingressam na Regional AM e noano seguinte vão para a Rádio Sisal.1991 – Gilberto Oliveira assume o jornalismo da Rádio Jacuípe.1991 – Aluízio Farias sai da Sisal e retorna a Serrinha.1992 – Início das transmissões do Intermunicipal pela Rádio SisalAM.1992 – José Ribeiro entrevista um portador de AIDS para falar so-bre o assunto pela primeira vez no Estado da Bahia e ganha prê-mio.1992 – Vilmara de Assis inicia sua carreira na Rádio Sisal AM.1993 – José Ferraz ingressa na Regional AM.1993 – Tony Sampaio inicia sua carreira em carro de som.1993 – A Rádio Sisal faz sua primeira transmissão de final de Cam-peonato Brasileiro.1995 – Cival Anjos inicia sua carreira em alto-falantes.1996 – Começa o programa Forrobodó com Genivaldo Silva.1997 – Gilberto Oliveira cria o programa Jornal da Manhã naJacuípe.1997 – Tony Brasília vem para Serrinha e ingressa na Rádio DifusoraAM.1998 – Em fevereiro é regulamentado o serviço de Rádio Comuni-tária no Brasil e entra no ar ainda sem concessão a Rádio ValenteFM.1998 – Em abril começa o jornalismo da Valente FM.1998 – Entra no ar a Rádio Santa Luz FM.1999 – Gilberto Oliveira sofre atentado em Riachão do Jacuípe.1999 – Paulo Marcos ingressa na equipe esportiva da Rádio Sisal.2000 – Valfredo Matos, presidente da Rádio Jacuípe se elege pelasegunda vez como Prefeito de Riachão do Jacuípe.2000 – Tony Sampaio sofre agressões da Polícia Federal em Va-lente.2000 – Justiça eleitoral tira do ar programa apresentado por JoséRibeiro na Rádio Regional.2001 – Vilmara de Assis entrevista ACM ao vivo na Rádio Sisalsobre o Grampo no Senado.2003 – O Governo Federal adota o conceito de Territórios na suapolítica administrativa e o Território do Sisal é o primeiro a ser reco-nhecido.2003 – Cival Anjos participa da TV Serrinha uma emissora semconcessão que funcionou por pouco tempo durante o governo deJosevaldo Lima.2004 – A Rádio Jacuípe passa a ser presidida pelo Prefeito de

152

Page 142: Livro reportagem   os radiojornalistas

Serrinha Josevaldo Lima e ganha estúdio na “Princesa dos Tabu-leiros”. O dono da rádio perdeu as duas eleições que disputou de-pois que adquiriu a emissora (em 2004 e em 2006).2004 – A Rádio Difusora muda o nome para Rádio Continental AM2004 – Fundada a Abraço Sisal - Associação de Rádio e TV Comu-nitárias do Território do Sisal.2004 – É criado o Plano de Comunicação do Território do Sisal.2005 – Antônio Dias Nascimento realiza a primeira pesquisa sobreRádio Comunitária na Região Sisaleira que se tem conhecimento.2005 – Morre Valfredo Matos, fundador da Rádio Jacuípe.2005 – Depois de atuarem na Difusora e Regional, Cival Anjos,Tony Brasília e José Ferraz ingressam na Continental AM.2006 – Valdemi de Assis se candidata a deputado e Rádio Sisal AMtira do ar todos os programas da Agência Calila.2006 – Equipe da Calila vai para a Rádio Regional AM onde ficapor dois anos. Genivaldo Silva se desliga da Calila e volta para aSisal depois de nove meses.2006 – Começa o Curso de Rádio e TV na UNEB, em Conceiçãodo Coité.2007 – Valdemi de Assis sai da Regional e vai para as rádios Sabiáe Jacuípe, onde permanece até as eleições de 2008, quando vol-tou a ser candidato a vereador.2007 – Edisvânio Nascimento ganha o Prêmio Jornalista Amigo daCriança.2007 – José Ferraz sofre atentado em Serrinha.2007 – É extinto na Rádio Sisal o informativo Sisal e Notícias cria-do no início da rádio por Lucival Lopes e apresentado por GenivaldoSilva durante quase 20 anos.2008 – A Rádio Santa Luz FM recebe outorga de funcionamento.2008 – Morena FM cria o programa Pauta Livre.2008 – Rádio Jacuípe cria o Notícias da Hora.2008 – Surge o Programa Na Cangaia, que fica no ar por 26 sema-nas em cinco rádios comunitárias e na Internet. O site recebeu 300mil acessos em seis meses.2009 – Depois de regressar à Rádio Sabiá por alguns meses oradialista Valdemi de Assis deixa o rádio e se dedica apenas ao siteCalila Notícias.2009 – A fundação da Rádio Difusora completa 40 anos.

153

Page 143: Livro reportagem   os radiojornalistas

Lista de imagens e créditos

Foto 1 - Edisvânio Nascimento. Rádio Santa Luz FM. p. 86Foto 2 - Vilmara de Assis. Rádio Regional. p.92Foto 3 - Cival Anjos. Rádio Continental. p.96Foto 4 - José Ferraz. Rádio Jacuípe. p.100Foto 5 - Aluízio Farias. Rádio Regional. p.106Foto 6 - Genivaldo Silva. Rádio Sisal. p.109Foto 7 - Gilberto Oliveira. Rádio Jacuípe. p. 113Foto 8 - Nilton Feliz. Rádio Sisal. p.120Foto 9 - Tony Brasília. Rádio Continental. p.125Foto 10 - José Ribeiro. Rádios Regional e Morena FM. p.130Foto 11** - Valdemi de Assis. Calila Notícias. p.135Foto 12 - Tony Sampaio. Valente FM. p.139

* As fotos foram feitas por Paulo Marcos com câmera Canon EOS Digital RebelXSi, cedida pelo Laboratório de Imagens do Curso de Rádio e TV da UNEB e areprodução foi autorizada pelos radialistas.

** A Foto 11 é do fotógrafo Raimundo Mascarenhas que gentilmente fotografouValdemi de Assis especificamente para este trabalho.

154

Page 144: Livro reportagem   os radiojornalistas

Referências Bibliográficas

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nor-deste e outras artes. 2001, P. 25-26.

BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Contexto, 2006.P. 41.

BARBOSA FILHO, André. Gêneros Radiofônicos. São Paulo:Paulinas, 2003. P. 89.

CÓDIGO DO RADIALISTA (Lei 6.615/78; Dec. 84.134/79; Dec.95.684/88).

DIAS, Wilson José Vasconcelos. Territórios de Identidade: umnovo caminho para o desenvolvimento rural sustentável na Bahia.Feira de Santana: Gráfica Modelo, 2006.

DUARTE, Edson. Querem calar a voz do povo: um histórico daviolência contra as rádios comunitárias no Brasil. Brasília: Departa-mento de Serviços Gráficos da Câmara dos Deputados, 2005.

ENTREVISTA COM ALUÍZIO FARIAS: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (60min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM CIVAL ANJOS: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (65min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM CREMILDA MEDINA: depoimento [out. 2007].Entrevistador: Paulo Marcos. Feira de Santana, 2007. 1 gravadordigital (3 min), estéreo. Entrevista concedida ao sitewww.paulomarcos.com.

ENTREVISTA COM DURVAL MUNIZ DE ALBUQUERQUEJÚNIOR: depoimento [Out. 2009]. Entrevistador: Paulo Marcos.Conceição do Coité, 2009. 1 gravador digital (3 min), estéreo. En-trevista concedida ao Projeto Os radiojornalistas da Região Sisaleirada Bahia.

155

Page 145: Livro reportagem   os radiojornalistas

ENTREVISTA COM EDISVÂNIO NASCIMENTO: depoimento [set.2009]. Entrevistador: Paulo Marcos. Santa Luz, 2009. 1 gravadordigital (50 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM GENIVALDO SILVA: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (70 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM GILBERTO OLIVEIRA: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Riachão do Jacuípe, 2009. 1 grava-dor digital (45 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM JOSÉ FERRAZ: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (40min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM JOSÉ RIBEIRO: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (55min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM NILTON FELIZ: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (64 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM TONY BRASÍLIA: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (55min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM TONY SAMPAIO: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Valente, 2009. 1 gravador digital (80min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.

ENTREVISTA COM VALDEMI DE ASSIS: depoimento [out. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (40 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.

156

Page 146: Livro reportagem   os radiojornalistas

ENTREVISTA COM VILMARA DE ASSIS: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (120 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.

FENAJ. CÓDIGO DE ÉTICA DO JORNALISTA BRASILEIRO. Apro-vado por delegações de 23 estados, presentes no Congresso Ex-traordinário dos Jornalistas, realizado em Vitória (ES) de 3 a 5 deagosto de 2007.

FENAJ. Relatório Fenaj sobre Liberdade de Expressão e Vio-lência contra Jornalistas. Rio de Janeiro, 1999. Disponível em< h t t p : / / w w w. f e n a j . o r g . b r / f e d e r a c a o / c o m h u m a n o s /Relatorio1999.htm> - Acesso realizado em 17 de outubro de 2009.

FERREIRA, Giovandro Marcus. MOREIRA, Gislene. A constru-ção da comunicação comunitária da região do sisal: uma redetecida com fibra e resistência. In: CONGRESOLATINOAMERICANO DE INVESTIGACIÓN DE LACOMUNICACIÓN, IX, 2008, Cidade do México. Disponível em< h t t p : / / w w w. a l a i c . n e t / a l a i c 3 0 / p r o g r a m a c i o n G T /programaGT_15.html>. P. 10. Acesso realizado em 05 de outubrode 2009.

GOVERNO DA BAHIA. Relatório Perfil Territorial: Sisal. Salva-dor, maio 2009. Disponível em http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15 de Outubro 2009.

GOVERNO DA BAHIA. Relatório Perfil Territorial: Bacia doJacuípe. Salvador, maio 2009. Disponível em http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15 deOutubro 2009.

IBGE. Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Bra-sil. Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (PNUD) (2000). Página acessadaem 17 de outubro de 2009.

IBGE. Situação Cultural de 1937. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_xls/palavra_chave/cultura/radiodifusao.shtm> apud Anuario estatístico do Brasil 1937. Rio deJaneiro: IBGE, v. 3, 1937. Acesso em 13 de outubro de 2009.

IBGE. Situação Cultural de 1969, apud Serviço de Estatística daEducação e Cultura. Tabela extraída de: Anuário estatístico do Brasil1969. Rio de Janeiro: IBGE, v. 30, 1969. Disponível em <http://

157

Page 147: Livro reportagem   os radiojornalistas

www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_xls/palavra_chave/cultura/radiodifusao.shtm>. Acesso em 13 de outubro de 2009.

JUNG, Milton. Jornalismo de Rádio. 2.ed. São Paulo: Contexto,2005. P. 62.

LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e pesquisa jornalística. Rio deJaneiro: Record, 2006. P. 18.

LIMA, E. P. . O Que É Livro-reportagem. 1. ed. São Paulo-SP:Brasiliense, 1993.

NASCIMENTO, Antônio Dias. Rádios Comunitárias da RegiãoSisaleira da Bahia: Memória, conjuntura e perspectivas. Relatóriode Pesquisa. MOC/UNICEF, Salvador - Bahia, 2005. Disponívelem www.moc.org.br. Acesso em 10 de Agosto de 2009.

ORTRIWANO, Gisela S. A informação no rádio – os grupos depoder e a determinação dos conteúdos. 3ª ed. São Paulo: Summus,1985.

PORCHAT, Maria Elisa. Manual de radiojornalismo (Jovem Pan),São Paulo: Ática, 1993. P. 47

SANTOS, Vilbégina Monteiro. A construção de uma comunida-de imaginada do sisal. V ENECULT - Encontro de EstudosMultidisciplinares em Cultura: Salvador, maio de 2009.

SOUSA, Mauro Wilton. Recepção e comunicação: a busca dosujeito. In: ____. (org.) Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo:ECA-USP/ Brasiliense, 1995. P. 35.

SILVA, Gladston. Riachão Recente. Riachão do Jacuípe: Clip Grá-fica e Editora, 2003.

SKIDMORE, Thomas. Fim do Estado Novo: Governo Dutra (1945/1950). IN: Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco, 1930-1964. 7ª edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

BRASIL. Constituição (1988 ). Constituição da República Federa-tiva do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988.

Filme consultadoUMA ONDA NO AR. Diretor Helvécio Ratton. Produtora SimoneMagalhães Matos. Quimera Filmes: Brasil. 2002. DVD com dura-ção de 92 min.

158

Page 148: Livro reportagem   os radiojornalistas

Sites/sítios consultados

BASTIDORES DA CIDADE. PERFIL DE JOSÉ RIBEIRO. Disponí-vel em <http://nosbastidoresdacidade.blogspot.com>. Acesso em03 de agosto de 2009.

DONOS DA MÍDIA. Disponível em <http://www.donosdamidia.com- Acesso em 10 de outubro de 2009.

ESPORTE SISAL - disponível em <http://www.esportesisal.com -acesso em 24 de abril de 2009.

MICROFONE– disponível em http://www.microfone.jor.br - acessoem 24 de agosto de 2009.

PAULO MARCOS. Disponível em <http://paulomarcos.com>. Aces-so em 02 de agosto de 2009.

VILMARA DE ASSIS. Vida Pessoal. Disponível em <http://www.vilmaradeassis.com.br> Acesso em 15 de setembro de 2009.

159

Page 149: Livro reportagem   os radiojornalistas