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PROJETO SANTO AMARO – BA aglutinando ideias, construindo soluções 

DIAGNÓSTICOS 

 

Editores: Francisco Rego Chaves Fernandes 

Luiz Carlos Bertolino Silvia Gonçalves Egler 

 

 

 

 

 

 

RIO DE JANEIRO 

CETEM­ CENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL  

2012 

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PROJETO SANTO AMARO ­ BA  aglutinando ideias, construindo soluções 

 DIAGNÓSTICOS  2ª EDIÇÃO 

Coordenação Francisco Rego Chaves Fernandes 

Luiz Carlos Bertolino 

Pesquisadores Allegra Viviane Yallouz 

Carla Costa (ISCSP/UTL‐PT) Carlos Eduardo Gomes de Souza Débora Monteiro de Oliveira 

Keila Valente de Souza Lílian Irene Dias da Silva 

Luis Gonzaga dos Santos Sobral Luiz Carlos Bertolino Manuel Castro Carneiro 

Maria de Fátima das Dores dos Santos Lima Paulo Fernando de Almeida Braga 

Rui C. Hasse Ferreira (Consultor Independente) Silvia Cristina Alves França Silva 

Silvia Gonçalves Egler Thais de Lima Alves Pinheiro Fernandes 

Apoio Técnico Daniel da Silva Teixeira Danielle Duarte Gomes 

Maria Inês F. C. Almeida Ribeiro Natália Souza e Souza 

Raquel Lucena de Oliveira 

Programação Visual Vera Lúcia Espírito Santo S. Ribeiro 

O conteúdo deste trabalho é de responsabilidade  exclusiva do(s) autor(es) 

 

 

 

Centro de Tecnologia Mineral 

Projeto  Santo  Amaro  –  BA:  aglutinando  ideias,  construindo  soluções  – diagnósticos/Eds.:  Francisco  Rego  Chaves  Fernandes,  Luiz  Carlos  Bertolino.  Silvia Egler – Rio de Janeiro: CETEM/MCTI, 2012). 2ª Edição 

252p.: il. 

1.  Contaminação.  2.  Metais  pesados.    3.  Desenvolvimento  sustentável.  4.  Saúde humana. I. Centro de Tecnologia Mineral. II. Fernandes, Francisco Rego Chaves (Ed.). III. Bertolino, Luiz Carlos (Ed.). IV. Egler, Silvia Gonçalves (Ed.)  

ISBN 978‐85‐61121‐94‐5          CDD 363.1791 

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SSUUMMÁÁRRIIOO  

Apresentação Fernando A. Freitas Lins, Diretor do CETEM ............................................................................................... 3 

Prefácio Francisco Rego Chaves Fernandes, Luiz Carlos Bertolino e Silvia Gonçalves Egler ..................... 5 

Depoimentos ...................................................................................................................................... 9 

Santo Amaro precisa de um tratamento de choque emergencial,  um PAC pela vida. Senador pela Bahia, Walter Pinheiro ...................................................................................................... 9 

Perspectivas para a mineração de chumbo no Estado da Bahia.  Deputado Federal pela Bahia, Luiz Alberto  ...................................................................................... 10 

Superando a dor, mensagem sobre a questão ambiental em Santo Amaro/BA. Senador pelo Rio Grande do Sul,Paulo Paim ...................................................................................... 12 

Depois de uma grande quantidade de estudos o que falta é a solução.  Prefeito de Santo Amaro, Ricardo Machado ...................................................................................... 15 

Diagnósticos 

Passivos socioambientais da minerometalurgia do chumbo em Santo  Amaro (BA), Boquira (BA), Vale do Ribeira (PR) e Mauá da Serra (PR).  Keila Valente de Souza e Maria de Fátima das D. dos Santos Lima .......................................... 19 

Governação e Responsabilidade Social Empresarial: a necessária convivência.  Carla Guapo Costa e Francisco Rego Chaves Fernandes ............................................................... 42 

Desafios e propostas para o enfrentamento da contaminação por chumbo  em Santo Amaro.  Maiza Ferreira de Andrade  ...................................................................................................................... 64 

Estudos de avaliação da exposição ambiental humana ao chumbo no  Brasil: uma análise comparativa.  Eduardo Mello De Capitani e Mônica Maria Bastos Paoliello ..................................................... 75 

Avaliação da exposição ocupacional ao chumbo em 1992 e monitorização  biológica da comunidade do entorno da antiga fundição em 2011.  O que mudou em quase 20 anos.  José A. Menezes Filho e Vanesca Luana Silva ..................................................................................... 86   

Remediação de áreas contaminadas: proposições para o sítio da Plumbum  em Santo Amaro da Purificação – BA.  Jose Ângelo Sebastião Araujo dos Anjos, Luis Enrique Sánchez e Luiz Carlos Bertolino 103 

Avaliações ecológicas e ecotoxicológicas relacionadas ao caso da Plumbum  em Santo Amaro (BA).  Júlia Carina Niemeyer, Silvia Egler e Eduardo Mendes da Silva .............................................. 131 

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Metalurgia do chumbo: processos de produção e refino.  Luis Gonzaga dos Santos Sobral, Débora Monteiro de Oliveira, Carlos Eduardo Gomes  de Souza, Silvia Cristina Alves França Silva e Paulo Fernando Almeida Braga  ................ 150 

Química analítica aplicada ao estudo do chumbo, Santo Amaro­BA.  Lílian Irene Dias da Silva, Manuel Castro Carneiro e Thais de Lima Alves P. Fernandes174 

Casos paradigmáticos sobre contaminação provocada por chumbo em várias regiões do mundo.  Carla Costa, Eliane Araujo, Renata Damico Olivieri, Maria Inês F. C. Almeida Ribeiro e Raquel Lucena .............................................................................................................................................. 191 

Quarenta anos de estudos: bibliografia referenciada sobre o chumbo.  Sílvia Egler e Natália Souza  .................................................................................................................. 222 

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AApprreesseennttaaççããoo  

 

Com  o  apoio  do  MCTI‐Ministério  da  Ciência,  Tecnologia  e  Inovação,  por  meio  da SCUP‐Subsecretaria das Unidades de Pesquisa, o CETEM‐Centro de Tecnologia Mine‐ral,  coordenou  o  “Projeto  Santo  Amaro  ‐  BA”  que  tem,  como  lema  principal,  o subtítulo deste livro: aglutinando ideias, construindo soluções. A partir de um extenso levantamento  bibliográfico,  que  ocupou  o  primeiro  mês  do  projeto,  focando  a contaminação de chumbo em Santo Amaro da Purificação e, ainda, outros exemplos como  Boquira  (BA),  Vale  do  Ribeira  (SP), montadoras  e  recicladoras  de  baterias  – recolheram‐se  cerca de quatro  centenas de  referências de  trabalhos de  cientistas  e pesquisadores  sobre  o  assunto,  dos  quais mais  de  uma  centena  focados  em  Santo Amaro. 

Com base neste levantamento convidamos os autores, realizamos um grande debate em um Seminário especializado (aberto ao público) nos dias 24 e 25 de outubro de 2012  e  contamos  com  a  presença  de  mais  de  meia  centena  de  pesquisadores,  de representantes  da  sociedade  civil  de  Santo Amaro  e  autoridades,  entre  as  quais  se destacam o Sr. Prefeito da cidade, secretários de governo municipal de Santo Amaro e Boquira,  representantes  de  senadores  e  deputados  federais,  além  de  diferentes órgãos  públicos  da  Bahia.  A  todos  que  colaboraram,  registramos  nossos  sinceros agradecimentos. 

Os  Diagnósticos  a  seguir  apresentados  ‐  aglutinando  ideias  ‐  são  12  capítulos abrangendo os  balanços das  áreas  de  Saúde Humana  e Risco,  Exposição Ambiental Humana,  Ecotoxicologia, Metalurgia,  Engenharia  Ambiental,  Geoquímica  Ambiental, Remediação  de  Áreas  Contaminadas,  Democracia,  Comunidade  Alargada  e  Estudos Socio‐econômicos‐ambientais no Território, Educação Ambiental, Casos Paradigmáti‐cos  para  Regiões  do Mundo,  Investimento  Estrangeiro  e  Boa  Governança,  além  da apresentação comentada da bibliografia.  

Deste  livro DIAGNÓSTICOS  – aglutinando  ideias  –  se  passa  para  um  segundo  livro, PLANO DE AÇÃO – construindo soluções – no qual um conjunto de recomendações so‐bre o que deve ser feito será apresentado. 

Rio de Janeiro, novembro de 2012. 

Fernando A. Freitas Lins Diretor do CETEM 

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PPrreeffáácciioo  

Francisco Rego Chaves Fernandes Luiz Carlos Bertolino Silvia Gonçalves Egler (editores) 

A  coordenação  do  Projeto  Santo  Amaro,  em  execução  pelo  CETEM/MCTI,  realizou durante dois dias, 23 e 24 de outubro de 2012, o Seminário Santo Amaro. Foi um en‐contro nacional com grande participação, mais de meia centena de membros da co‐munidade científica e tecnológica brasileira e ainda de membros do governo munici‐pal, estadual e federal. Destacam‐se, dentre estes últimos, a presença do Sr. Prefeito de  Santo  Amaro  e  secretários  municipais,  o  secretário  municipal  de  Saúde  de Boquira, representantes de secretarias do Estado da Bahia de Indústria e Mineração e de Saúde, representante do MCTI e do Min. da Saúde, representantes de senador e de deputado federal da bancada da Bahia e do senador presidente da Comissão de Direi‐tos Humanos do Senado, além de membros da sociedade civil de Santo Amaro.  

Deste  seminário  saíram  um  conjunto  de  DIAGNÓSTICOS  que  hoje  estão  reunidos neste  livro  e  ainda um conjunto de  sugestões  e  recomendações  que  farão parte do LIVRO II PLANO DE AÇÃO. Estes diagnósticos compõem 12 capítulos com 30 autorias. 

Inicia‐se  o  livro  com  o  DEPOIMENTOS,  transcrevendo  as  visões  dos  políticos  que clamam que Santo Amaro precisa de um tratamento de choque emergencial, um PAC pela vida, até ao postulado de que depois de uma grande quantidade de estudos o que falta  é  a  solução.  Os  discursos  demonstram  a  necessidade  de  ações  para  que  a contaminação por chumbo em Santo Amaro venha ser remediada.  

Já em seguida, vêm os DIAGNÓSTICOS. Passivos socioambientais da minerometalurgia do chumbo Santo Amaro e Boquira  (BA), Vale do Ribeira  (PR) e Mauá da Serra  (PR) expõem‐se os casos do passivo socioambiental da Plumbum em Santo Amaro (BA), os rejeitos  da  mineração  e  beneficiamento  com  altos  teores  de  metais  pesados  em Boquira (BA), a contaminação do solo e habitantes da região do Vale do Ribeira (PR) e  a  mobilização  social  contra  a  operadora  de  recicladora  de  chumbo  em Mauá  da Serra (PR).  

O capítulo Governação e Responsabilidade Social Empresarial: a necessária convivência constata que  o  cumprimento  de  critérios  de  responsabilidade  social  empresarial  e dos governos não é feito de forma muito afirmativa, verificando‐se poucos casos de sucesso, sendo na maioria das situações um acumular de mal feitos comprovados, a existência de grandes passivos (econômicos, sociais, ambientais) durante o período de permanência das empresas no empreendimento ou depois do abandono das ativi‐dades. Relata‐se o caso, no noroeste da França, da Metaleurop Nord  (ex‐Pennaroya, que controlava no Brasil a COBRAQ, no Vale do Ribeira, a Plumbum em Santo Amaro e  a  Mineração  Boquira,  em  Boquira),  famoso  pelos  efeitos  de  contaminação  por 

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chumbo  que  gerou  no  noroeste  da  França  e  as  políticas  de  remediação  que  foram aplicadas para resolver ou, pelo menos, minorar o problema.  

Ressalta ainda o capítulo, que a grande diferença em relação ao caso brasileiro é que, nos países desenvolvidos,  foram criados  fortes  laços de governação, muito além da capacidade financeira, criaram a capacidade institucional necessária para contrariar estratégias menos  sustentadas das  grandes  empresas  transnacionais,  e  induzi‐las  a participar  ativamente  no  processo  de  construção  e  manutenção  da  cidadania.No âmbito do Projeto Santo Amaro, o caso da Metaleurop Nord assume uma importância acrescida, por se tratar do mesmo grupo empresarial Metaleurop que detinha a usina de mineração na cidade de Santo Amaro, a Plumbum. 

Desafios  e  propostas  para  o  enfrentamento  da  contaminação  por  chumbo  em  Santo Amaro  retrata  o  fato  de  passados  quase  20  anos  do  fechamento  da metalurgia  de chumbo em Santo Amaro, o interesse por este campo de estudo foi crescente se ob‐servada a evolução das pesquisas ao  longo dos últimos 37 anos, desde que a conta‐minação  por  chumbo  e  cádmio  provocada  apresentou  suas  primeiras  evidências, tanto  nas  águas  do  rio  Subaé,  quanto  na  urina  dos  trabalhadores  da  antiga  fábrica (BAHIA/CEPED,  1977).  Faz  algumas  recomendações  para  a  superação  do  embate latente entre a ciência e o mundo da vida, considerando indispensável a participação dos interessados, comunidade alargada na definição e enfrentamento dos riscos. 

Estudos de avaliação da exposição ambiental humana ao chumbo no Brasil: uma aná­lise comparativa relata que em Santo Amaro, os valores de  chumbo em sangue das crianças, mostram um decréscimo nas últimas décadas, resultado provável do fecha‐mento da empresa. Nenhuma medida prática de descontaminação da área foi imple‐mentada. Nem mesmo um programa  regular de monitoramento biológico, diagnós‐tico  e  seguimento  das  crianças  com  problemas  secundários  à  contaminação  foi implantado. Conclui ainda que a contaminação do solo, água e sedimentos dos rios e riachos  da  bacia  do  rio  Subaé  continuam  sendo  fonte  secundária  de  contaminação das ruas, do  interior das casas, dos quintais, dos alimentos, dos peixes e crustáceos locais,  colocando as  crianças e  adultos em contato direto  com o  chumbo em algum grau, exigindo a instalação de um programa abrangente de avaliação, planejamento e remediação a curto, médio e longo prazo da área.  

Complementando o capítulo anterior, Avaliação da exposição ocupacional ao chumbo em 1992 e monitorização biológica da comunidade do entorno da antiga fundição em 2011. O que mudou em quase 20 anos, apresenta uma revisão dos dados da avaliação da exposição dos  trabalhadores da antiga Plumbum em 1992, através do marcador de exposição chumbo sanguíneo  (Pb‐S) e dos biomarcadores de efeito:  ácido delta‐aminolevulínico urinário  (ALA‐U),  zincoprotoporfirina  eritrocitária  (ZnPP)  e  hemo‐globina (Hb). Uma análise é feita de acordo com as diferentes ocupações na metalúr‐gica.  Nesta  oportunidade,  216  pessoas  foram  avaliadas  através  das  determinações dos níveis sanguíneos de chumbo (Pb‐S) e cádmio (Cd‐S), além da determinação dos níveis  de ALA‐U.  Por  fim,  faz  uma discussão das  condições  de  exposição  ambiental 

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atual  em  Santo  Amaro,  Bahia  e  dos  fatores  de  risco  associados  com  exposição  ao chumbo na população em geral. Apresenta propostas de novas abordagens para ava‐liação da exposição crônica a metais pesados como Pb e Cd.  

A estratégia para a recuperação da área afetada pela Plumbum é tratada em Remedia­ção de áreas contaminadas: proposições para o sítio da Plumbum em Santo Amaro da Purificação/BA, que aborda o planejamento e ações  sequenciadas para  recuperação do sítio, contemplando medidas de intervenção que deverão começar nas instalações industriais da metalurgia, até a área contaminada do estuário do rio Subaé. Como es‐tratégia inicial de ação foi avaliada a extensão da contaminação por meio da análise de  todos  os  dados  disponíveis  sobre  a  área  e  nesta  averiguação  foram delimitadas três áreas distintas para intervenção: a primeira representada pela metalurgia e seu entorno imediato; a segunda compreendendo as áreas de aterros de escória e a ter‐ceira reunindo a zona rural, o rio Subaé e seu estuário.  

Sendo um complemento ao capítulo anterior, em Avaliações ecológicas e ecotoxicoló­gicas relacionadas ao caso da Plumbum em Santo Amaro (BA) aprofunda‐se e prova‐se a constatação que os resultados indicaram risco ecológico para os organismos e pro‐cessos  do  solo  mesmo  após  quase  duas  décadas  do  término  das  atividades  da Plumbum, relacionado à exposição dos receptores ecológicos ao solo contaminado. A avaliação de risco ecológico  apontou um alto risco ecológico em locais dentro da área da Plumbum, indicando a necessidade de medidas de remediação e posterior restau‐ração da área. A restauração ecológica das áreas degradadas e o  reestabelecimento dos processos ecológicos são essenciais para evitar que a contaminação continue se dispersando através da poeira e do escoamento superficial para outros locais. 

A metalurgia do chumbo: processos de produção e refino, onde o processo tecnológico produtivo é dissecado ao detalhe, sendo concluído que pouca importância foi dada às emanações  produzidas  durante  aquele  processo  produtivo  de  chumbo  em  Santo Amaro  (BA),  em especial  aos danos que  tais  emanações  causariam aos operadores. Não houve, por parte dos dirigentes técnicos, a preocupação de informar aos opera‐dores,  de  forma  palatável,  as  propriedades  físicas  e  químicas  dos  compostos  de chumbo, aos quais estavam constantemente expostos, e de prover os equipamentos de proteção  individual.  Com a  operação  interrompida há muitos  anos,  ficou um  le‐gado de  enfermidades  causadas pelos metais pesados dispostos,  de  alta periculosi‐dade, a exemplo do chumbo, cádmio, arsênio, bismuto, entre outros, que devem, sem sombra de dúvidas, ser removidos daquele território.  

Um conjunto de ferramentas fundamental para as ciências estão no capítulo Química analítica  aplicada  ao  estudo  do  chumbo.  Num  primeiro  momento,  as  análises  de amostras ambientais devem contribuir para responder a questões como a identidade e concentração dos poluentes e análises mais detalhadas contribuem para a elucida‐ção  da  mobilidade,  estabilidade,  transformações,  acumulação  e  efeitos  de  curto  e longo prazo das espécies presentes no ecossistema. 

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Uma pesquisa em outros lugares do mundo resultou em Casos paradigmáticos sobre contaminação provocada  chumbo  em  várias  regiões do mundo.  Pinçando  apenas  al‐guns países e algumas regiões do mundo, documenta diversos casos, passados e pre‐sentes  de  exploração  irresponsável  de  recursos  naturais,  sem preocupação  com  os objetivos  de  desenvolvimento  sustentável,  afetando  países  desenvolvidos  e  em  de‐senvolvimento. Na França, na cidade australiana de Port Pirie; nos Estados Unidos da América; na China em Portugal e na Nigéria. 

Finalmente  no  último  capítulo  do  livro, Quarenta anos de  estudos  sobre  chumbo no Brasil: bibliografia referenciada o  resultado de uma intensa busca, realizada por vá‐rias  pessoas,  de  publicações  sobre  a  contaminação,  principalmente,  de  chumbo  e cádmio em Santo Amaro e Boquira (BA), na região do Vale do Rio Ribeira do Iguape (SP  e  PR),  locais  reconhecidamente  contaminados  pelas  atividades  de mineração  e metalurgia  do  chumbo  e  ainda  nas  indústrias  de  baterias  em  outros  lugares  do mundo. Ao longo deste processo diferentes assuntos relacionados com estes metais foram sendo incorporados à lista. As referências foram divididas em grandes temas: Sítios contaminados; O elemento e seus usos; O ambiente físico; Influências no meio ambiente e saúde humana; Avaliação de risco e valores orientadores e Remediação.  

 

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DDeeppooiimmeennttooss    

Santo Amaro precisa de um  tratamento de choque emergencial, um PAC pela vida. 

Senador pela Bahia, Walter Pinheiro1  

As imagens chocantes do passivo da contaminação por chumbo na cidade baiana de Santo Amaro nos convencem a lutar por reparação incondicionalmente, a despeito da indignação  pela  ação  criminosa  deflagrada  pela  Companhia  Brasileira  de  Chumbo (Cobrac),  subsidiária  da  empresa  francesa  Penarroya  Oxyde.  Após  exploração  de mais  de  três  décadas,  a  empresa  despejou  na  cidade  490 mil  toneladas  de  rejeitos contaminados por esse e outros metais perigosos, como cádmio e mercúrio. 

A tragédia, que se iniciou ainda nos anos 60, desdobra‐se até hoje. Os danos causados ao meio ambiente  tiveram como consequência a contaminação da população santa‐marense, primeiro os ex‐trabalhadores e moradores do entorno da fábrica, que pas‐saram a conhecer o saturnismo, uma doença que afina os braços, paralisa as mãos, provoca dores agudas, causa impotência sexual nos homens e nas mulheres, aborto e má formação fetal. Por causa do excesso de metais na água e no solo, outras doenças também foram identificadas como anemia, câncer de pulmão, lesões renais, hiperten‐são arterial, doenças cerebrovasculares e alterações psicomotoras. 

A cidade, que já se chamou Santo Amaro da Purificação, é considerada uma das mais poluídas por chumbo no mundo, de acordo com estudos da Universidade Federal da Bahia. Calcula‐se que 80% da população esteja contaminada pelos resíduos deixados pela mineradora. É doloroso assistir o drama daqueles que tem uma herança maldita no seu próprio corpo, cidadãos doentes e marginalizados, crianças com deformações – ou que convivem sob o risco de águas e solo comprometidos. 

Nem o município de Santo Amaro nem o Estado da Bahia têm condições de resolver o problema  que  demanda  ações  das  mais  variadas  frentes,  como  de  descontaminação, atendimento em saúde, indenizações e aposentadorias especiais. Era preciso envolver a União e pedir cooperação de organismos internacionais no caso, um verdadeiro ‘PAC pela Vida’, encaminhando questões trabalhistas, de infraestrutura, de saúde e meio ambiente. 

Ano passado, entregamos a presidenta Dilma Rousseff um dossiê que mostra o quadro dramático vivido pela população de Santo Amaro. Dilma – também chocada com as ima‐gens de um legado nefasto – determinou a imediata interferência do governo federal. 

Há muito que fazer para limpar, do futuro das gerações santamarenses, esse passado de resíduo mortal que assombra os moradores. Sem um plano de manejo de  fecha‐

                                                            

1 Walter de Freitas Pinheiro, 25 de maio de 1959, Deputado Federal (1997‐2011) e Senador eleito pelo PT (2011‐2016) 

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mento da mineradora, a população, desavisada dos riscos, chegou a pavimentar ruas, construir casas e até mesmo prédios escolares e creches com o resíduo do chumbo utilizado na atividade industrial. 

A cidade foi vítima da insensatez de uma ação criminosa, que menosprezou e negli‐genciou a vida. Santo Amaro não pode esperar mais. 

Perspectivas para a mineração de chumbo no Estado da Bahia 

Deputado Federal pela Bahia, Luiz Alberto2  

A  existência  de  uma  política  mineraria  atualizada,  bem  como  a  inclusão  do  setor como atividade econômica estratégica, colaboraria sobremaneira para o crescimento do País.  Traria  como  resultados benéficos, mais  investimentos  internos  e  externos, mais estímulos à geração de emprego e renda, atenção à conservação do meio ambi‐ente em municípios com vocação mineraria e proteção à população na sua saúde. 

É nesse contexto que se insere o Estado da Bahia que, pela ausência de apoio gover‐namental, viveu entre 1960 e 1993, um período conturbado na atividade mineraria e metalúrgica do chumbo, insumo indispensável na indústria automobilística e em ou‐tros setores da economia brasileira. 

O minério de chumbo era lavrado e beneficiado pela Plumbum Mineração e Metalur‐gia Ltda., no Município de Boquira, localizado no sudoeste do estado e distante cerca de 600 km da cidade de Salvador. As ligas de chumbo eram produzidas pela mesma empresa em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, distante cerca de 100 km daquela capital baiana. 

A tecnologia era da empresa francesa Penarroya, que se associou à COBRAC (Compa‐nhia Brasileira de Chumbo) para a implantação do empreendimento no fim da década de 50. Os funcionários começaram a ser contratados nos anos 60 pela COBRAC, de‐pois Mineração Boquira e Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda, atualmente sob o controle do grupo gaúcho Trevisa, Adubos Trevo S/A. 

A Penarroya é líder mundial na produção de óxidos de chumbo destinados à fabrica‐ção de baterias, cristais, plásticos e tubos de televisão. A partir de 1994, ela faz parte do Grupo Metaleurop. Atualmente,  a Penarroya detém 60% do mercado europeu e 25% do mercado mundial em seu segmento de atividades. A fábrica em Santo Amaro da  Purificação  produzia  anualmente  cerca  de  30.000  (trinta  mil)  toneladas  de chumbo, o que corresponde a 20% da atual produção mundial da Penarroya. Pelos valores atuais do chumbo no mercado mundial, o grupo Penarroya/Plumbum faturou no Estado da Bahia, cerca de US$ 500 milhões, durante os 30 anos de atividade. 

                                                            

2 Luiz Alberto Silva dos Santos, 3 de janeiro de 1959, Deputado Federal (1995‐2011). Reeleito Deputado Federal pelo PT para o período 2011‐2015. 

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A lavra do minério em Boquira e a sua industrialização em Santo Amaro deixaram um extenso passivo ambiental a ser remediado, além de uma lista de pessoas contamina‐das, algumas já indenizadas pelos empreendedores, restando, porém, a grande maio‐ria a ser ressarcida pelos danos morais e patrimoniais em decorrência da contamina‐ção.  Durante  as  três  décadas  de  funcionamento  do  empreendimento  no  Estado  da Bahia foram geradas em Boquira cerca de cinco milhões de toneladas de rejeito e em Santo Amaro, cerca de 500 mil toneladas de resíduos. 

São  desconhecidas  as  pesquisas  toxicológicas  realizadas  na  população  de  Boquira. Com relação a Santo Amaro, o Departamento de Saúde Ocupacional, da Universidade Federal da Bahia, constatou que a população adulta e infantil tinha um elevado grau de persistência de contaminação, acima dos índices permitidos pela OMS ‐ Organiza‐ção Mundial  de  Saúde.  A maioria  das  crianças  residentes  no  raio  de  900 metros,  a partir da chaminé, também tinha concentração de cádmio no sangue acima do valor normal de referência, demonstrando inequivocamente o elevado grau de contamina‐ção ambiental da região. 

A Resolução do CEPRAM – Conselho de Proteção Ambiental da Bahia nº812/93, que estabeleceu extensa  lista de exigências para a  renovação da  licença de operação da fábrica de chumbo de Santo Amaro da Purificação, possivelmente tenha sido o fator determinante para o abandono da fábrica, em 1993, pela Plumbum. 

O terceiro período, que se inicia com o abandono da mina de Boquira e da metalúr‐gica de Santo Amaro, é representado pelo diagnóstico irrefutável e contundente, rea‐lizado pelo Departamento de Engenharia de Minas, da Escola Politécnica da Univer‐sidade  de  São  Paulo,  sobre  a  contaminação  por metais  pesados  no meio  físico  e  a recomendação das medidas para a remediação das áreas contaminadas. Este período teve seu final em 2001, com o encapsulamento do resíduo e a intervenção judicial na área  da  fábrica,  determinada  pelo  Juízo  da  Vara  Cível  Única  da  Comarca  de  Santo Amaro  da  Purificação,  em  cumprimento  à  Ação  Civil  Pública  nº302/97,  contra  a Plumbum. 

O quarto período desta história de contaminação se inicia em 25 de outubro de 2001, com uma Audiência Pública na Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, da Câmara dos Deputados, organizada pelo Grupo de Trabalho coordenado pelo deputado baiano Luiz Alberto e pelo relator o deputado Fernando Gabeira. O GT é assessorado pelo consultor João Salles, que publicou artigo no periódico francês La Voix du Nord, relatando as atividades da Penarroya no Brasil. 

Participaram deste evento, como de outro realizado em 14 de dezembro de 2002, au‐toridades municipais e estaduais, especialistas em poluição por metais pesados, em toxicologia e epidemiologia, além de membros da sociedade civil organizada e repre‐sentante da ONG francesa EDA. 

Em 12 de dezembro de 2001 e 06 de março de 2004,  foram  realizadas Audiências Públicas, respectivamente em Santo Amaro e Boquira, ficando registrado pelo Grupo 

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de Trabalho as reivindicações e as solicitações apresentadas pelos depoentes e pela sociedade civil santamarense e boquirense. 

Como pode ser observado,  se passaram 11 anos do abandono do empreendimento, ocorrido  em 1993,  e  sete  anos da Ação Civil  nº302/97,  sem que o problema  tenha sido efetivamente resolvido. 

Para superar este  impasse, a AVICCA  ‐ Associação das Vítimas da Contaminação de Chumbo, Cádmio e outras Substâncias Químicas, sediada em Santo Amaro, com a co‐laboração do Dr. João Salles e de outros profissionais, está atuando para restabelecer a economia santamarense através da  remediação das áreas  contaminadas pela me‐talúrgica e a  justa  indenização das vítimas da poluição. No caso de Boquira, como a vocação municipal é a mineração, pretende‐se  incentivar, em bases sustentáveis, as atividades de reprocessamento do rejeito através da instalação de uma indústria me‐talúrgica no local, o que proporcionaria a retomada do desenvolvimento de Boquira, cuja economia atual está apoiada nos trabalhadores aposentados da mina. 

Paralelamente,  o  Grupo  de  Trabalho  da  Comissão  de  Defesa  do  Consumidor,  Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados está analisando, em comum acordo com os órgãos  federais e estaduais afins e a participação da sociedade civil organi‐zada, a criação no Estado da Bahia, de um Centro Nacional de Referência para Reme‐diação de Áreas Contaminadas por Metais Pesados. Tal Centro pretende ter o caso do chumbo baiano como referência para problemas semelhantes no restante do País. 

Superando  a  dor, mensagem  sobre  a  questão  ambiental  em  Santo Amaro/BA. 

Senador pelo Rio Grande do Sul, Paulo Paim3 

Quero expressar nesta mensagem que envio a  todos, minha profunda gratidão pelo convite que me foi feito para participar deste evento. 

Quero que saibam, também, que eu ficaria profundamente feliz em poder estar com vocês  e  compartilhar  deste  debate  tão  importante,  mas  compromissos  agendados previamente não me permitem. 

Mas, gostaria de pedir a todos que sintam que estou presente aqui, na cidade do Rio de Janeiro, neste encontro promovido pelo Centro de Tecnologia Mineral – CETEM – do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação! 

Esta cidade tão querida que me agraciou com o título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro! 

                                                            

3 Paulo Renato Paim, 15 de março de 1950, Deputado Constituinte em 1959 e eleito Deputado Federal (1991‐2002). Senador do Rio Grande do Sul desde 2002 e reeleito para novo período (2011‐2017). 

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Considero muito nobre  a  atitude das pessoas preocupadas  com a questão  ambiental  na cidade baiana de Santo Amaro, antigamente chamada de Santo Amaro da Purificação. 

Que ironia! A cidade, antes chamada de Purificação, foi, lamentavelmente, maltratada pela contaminação por chumbo desde os anos 60. 

Santo Amaro vem sofrendo as consequências dessa contaminação desde a instalação, em 1960, da empresa de Mineração e Metalurgia ‐ Companhia Brasileira de chumbo – Cobrac,  pertencente na  época  ao  grupo multinacional  francês Penarroya Oxide  S.A. (hoje Metaleroup S.A.) que começou a produzir lingotes de chumbo na cidade. 

O que houve neste local foi um verdadeiro crime contra a humanidade! 

Um crime que condenou toda a população, o solo, a fauna, a flora, a água e, com isso, os mariscos do rio Subaé, ao resíduo contaminado com metais pesados, em especial o chumbo e o cádmio. 

Toda esta agressão socioambiental teve impacto na economia da cidade, pois diver‐sas comunidades tiravam seu sustento do rio, por meio da pesca. 

Também prejudicou quem plantava, quem criava gado, pois o solo e o ar ficaram con‐taminados por estes resíduos tóxicos. 

E, o mais triste de tudo foram os danos causados à saúde da população!!! 

Fiquei  com  lágrimas nos olhos quando presidi  a Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos  e  Legislação  Participativa  do  Senado  Federal,  em maio  de  2011, vendo as imagens de pessoas mutiladas, deformadas, fetos com má formação, devido ao excesso de metais na água e no solo da região. 

Foram cenas chocantes. Uma dor profunda tocou todos que lá estavam. 

Sei bem que as consequências desse crime vão além: existe a incidência de doenças como a anemia, impotência sexual, lesões renais, câncer de pulmão, entre outras. 

Assim  como  eu  frisei  na  audiência,  repito  aqui:  Há  urgência  em  se  tomar medidas concretas para solucionar estes problemas na cidade de Santo Amaro! 

Estudos já foram realizados, agora é a hora da ação! 

Aproximadamente 80% da população de Santo Amaro está afetada pela exposição ao chumbo,  concentração  do  metal  acima  do  permitido  pela  Organização  Mundial  da Saúde – OMS. 

Isto  também afeta  as  relações  de  trabalho,  pois  as  empresas  hesitam em  contratar trabalhadores, mesmo aqueles que não apresentam sintomas,  são considerados um “passivo” em termos de saúde. 

Após a Audiência Pública realizada na Comissão de Direitos Humanos do Senado, foi entregue por mim e pelo Líder do PT no Senado, o Senador Walter Pinheiro, um dos‐siê à Presidenta Dilma. 

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Ela se propôs a encaminhar o debate junto aos Ministérios competentes em prol de soluções que venham a proteger a população de Santo Amaro. 

Acredito que este empenho do Governo Federal há de construir um caminho abran‐gendo ações que envolverão as áreas de meio ambiente, saúde,  justiça e até mesmo esforços no campo das relações exteriores, ao qual estou engajado e unido. 

Também  apoio  os  esforços  deste  grupo  de  pesquisadores  do  CETEM,  coordenado pelos Drs. Francisco Fernandes e Luiz Carlos Bertolino, para que juntos, através deste Seminário,  tracemos  ações  concretas  para  a  solução  dos  problemas  da  população desta cidade que tão maltratada foi, e continua sofrendo as consequências. 

Antes de finalizar, quero deixar minha preocupação com outra questão levantada na Audiência Pública, as dificuldades enfrentadas pela população na busca de seus direi‐tos nos campos trabalhista e previdenciário! 

Clamo e acredito em uma maior aproximação da  justiça com a população, para que estas perdas sejam amenizadas e reparadas da melhor forma possível. 

É muito importante lembrar que o meio ambiente está ligado ao nosso ciclo de vida. A natureza pulsa em nós. Nós  temos vida a partir dela e com ela. Nós  todos somos parte  da mesma  energia  que  flui  em nosso  planeta.  Aquilo  que  afeta  um único  ser humano, na verdade, diz respeito a todos nós. 

Por isso, deixo meu profundo sentimento de solidariedade e meu total apoio à luta da população  tão maltratada e  tão sofrida, da cidade de Santo Amaro, pois,  sem digni‐dade humana, sem a proteção de nosso semelhante desde seu nascimento e por toda a sua existência, com respeito e equilíbrio, é impossível a democracia! 

Ficam aqui, meus sinceros cumprimentos e meu agradecimento a este grupo de ab‐negados homens e mulheres que sensíveis à causa, organizaram este debate. 

Por isso estou aqui, sendo representado por uma de minhas assessoras do Gabinete, na crença de que podemos avançar pelo bem desta cidade que padece tanto devido à irresponsabilidade de uma empresa que visava apenas seu lucro e assim prejudicou toda uma população. 

Quero dizer de coração: como é bom saber que no mundo existem pessoas como vocês! 

 

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Depois de uma grande quantidade de estudos o que falta é a solução 

Prefeito de Santo Amaro ­ BA Ricardo Machado4  

Muito foi explanado aqui por vários estudiosos, e hoje já experts, PhD’s, sobre a con‐taminação em Santo Amaro. 

Podemos falar, que estudos e mais estudos já foram feitos, durante aproximadamente 40 anos! 

Donde que, por  ironia da vida, muitos que estão aqui trabalhando nesta questão da descontaminação do chumbo de Santo Amaro, começaram jovens e ainda de cabelos pretinhos e cheios de gás. Hoje esses ex cabelos pretinhos, já cheios de cabelos bran‐cos e já talvez avós, ainda estão debruçados nessas questões. 

Durante  todo o dia de ontem pude ouvir várias  falas: um disse,  existem  lugares no mundo que problemas  iguais  a  esses  já  foram resolvidos. Mas não  sabe  como, mas que  foi  resolvido  foi,  afirmou  aqui.  Outros  disseram:  Por  quê  fazer?  Como  fazer? Quando fazer? E para quem fazer? Muitos afirmaram, a maioria aqui reconheceu que existe uma quantidade de estudos sobre os problemas de Santo Amaro e que agora depois de tantos estudos o que falta é a solução!  

A assessora do Senador Paulo Paim, reconhece que os necessários estudos já foram feitos, agora precisamos é agir, que agora é hora de serem traçadas as diligências e sermos objetivos. O assessor do Senador Walter Pinheiro disse que essa situação pre‐cisa de um tratamento de choque. O assessor do Deputado federal Luiz Alberto tam‐bém disse, citando o Deputado: coloco o meu mandato à disposição desta causa.  

Ainda, na fala de Dona Maíza de Andrade, ficou muito claro para nós que não faltam mais  estudos,  que  realmente  só  falta  é  ação,  que de  estudiosos  e  de  técnicos  estão bem servidos, em outras palavras, ninguém aguenta mais esperar, agora temos que ter a solução. Mas no final de sua fala, ela disse que não está iludida em acreditar que daqui vá sair a diretriz a se tomar.  

Uma pergunta minha, quer isto dizer que se volta a ter mais estudos? 

Mais um estudo, mais pesquisas? 

Bate um desânimo. 

 Foi o que colocaram aqui. 

Nossa cidade é uma cidade sofrida e pobre. Vivemos com essa situação há décadas. Acho que hoje depois de tantos estudos chegamos a uma conclusão, que temos uma 

                                                            

4 Prefeito de Santo Amaro (2009‐2012). Reeleito Prefeito pelo PT no período de 2013‐2016. 

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DDeeppooiimmeennttooss  

 

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herança maldita, que precisamos abarcar tudo isso de uma vez por todas e tentar re‐solver os problemas da cidade, os seus problemas atuais. 

Não podemos mais esperar por mais décadas, vamos dar um prazo. Essa foi uma pro‐posta que eu e alguns companheiros discutimos ontem, mas que eu quero recuar com relação a isso até a próxima reunião. Nós queríamos na verdade dar um prazo de no máximo seis meses para todos os estudiosos dessas causas, todos os professores, to‐dos  os  técnicos  e  um  prazo  até  para  os  poderes,  seja  ele  estadual  ou  federal,  esse prazo seria de seis meses. 

Se isso não se resolvesse, a nossa atitude seria fazer um chamamento público. Temos força política junto ao governo estadual e ao governo federal e legitimidade de uma população. A Presidenta Dilma quer resolver e o momento é esse. 

Em minha opinião,  reconhecendo e valorizando  todos os  estudiosos e  as pesquisas que  já  foram realizadas, vejo que o maior problema deste caso é Santo Amaro, e aí diante de tantas dúvidas, eu ouso aqui até em dar uma resposta. 

O problema hoje é,  sem desmerecer a nenhum estudioso do assunto, mas de  forma muito humilde e humana até porque o ser humano não é eterno, o problema está no excesso de estudos sendo a solução a seguinte: 

― Primeiro,  saber  quem  verdadeiramente  quer  ajudar  os  humanos  que  estão  em Santo Amaro. 

― Segundo, saber quem estará disposto em deixar a vaidade de lado. 

― Terceiro, quem é que está preocupado em ser o pai da criança. 

― Quarto, quem é que quer fazer parte de um time que vai ajudar Santo Amaro. 

― Quinto,  colocar  a  mão  na  massa  e  ajudar  a  definir  uma  lista  de  prioridades  e diligenciar. 

Meus amigos, depois de 40 anos não dá mais para ter paciência!  

Eu aprendi durante esta campanha eleitoral que terminou tem tão pouco tempo, uma estória que diz o seguinte: existem duas formas de vida para cada um. Você pode es‐colher, a primeira é  ficar em uma arquibancada de um campo de  futebol assistindo aos jogadores desse campeonato, e a segunda é você entrar em campo. 

Só que, quando passarem muitos anos da sua vida, você terá também apenas uma das duas estórias para contar: uma é que você assistiu a todos os jogos de todos os cam‐peonatos, conhecendo os jogadores, podendo relatar isso para os seus netos, para os seus filhos, e a outra é você contar a eles quantos gols você fez, quantas partidas você participou,  quantos  títulos  você  ganhou.  Cabe  então  a  você  escolher  qual  o  tipo de vida que você quer. A história em Santo Amaro se confunde muito com a estória de vida que os senhores querem fazer da sua vida. 

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PPrroojjeettoo  SSaannttoo  AAmmaarroo­­BBaahhiiaa::  aagglluuttiinnaannddoo  iiddeeiiaass,,  ccoonnssttrruuiinnddoo  ssoolluuççõõeess  ––  DDiiaaggnnóóssttiiccooss   17  

 

Quanto à minha, desde que venci a primeira eleição em 2008, eu na minha ousadia, ou talvez na minha inocência, ou na minha inexperiência, ou na minha simplicidade, eu levantei a esperança junto a algumas pessoas de poder resolver. Completei quatro anos como prefeito e eu não consegui resolver e agora começa uma jornada de mais quatro anos. 

Dona Canô é uma senhora que nunca colocou uma placa de nenhum político na pa‐rede da casa dela, nem de Lula, ele nunca colocou. Ela aos 104 anos pela primeira vez na  vida dela,  contra  a  vontade dos  filhos  dela,  Caetano Veloso  e Maria Betânia,  ela colocou a minha placa,  e o que ela me pediu:  ‐ Eu não quero morrer  sem ver o  rio Subaé purificado. 

Eu sei que ela  falou  isso,  talvez sem saber o  tamanho da problemática, mas só que, nas  duas  oportunidades  que  eu  tive  de  estar  com  a  Presidenta  Dilma,  eu  transferi esse pedido de Dona Canô para ela. E talvez, eu não sei se a Presidenta através de al‐gum assessor, ou através de algum ministro ou de alguém, chegou aqui até vocês, sei que a Presidenta disse, me deu a sua palavra que iria resolver essa questão. 

Para concluir, eu quero dizer que saber esperar é uma virtude, aceitar que cada coisa tem o seu tempo certo para acontecer é ter fé. 

Só para comparar aqui uma coisa assim talvez muito parecida. Muitos cientistas pas‐saram anos e anos de sua vida estudaram de fio a pavio como levar o homem à Lua. Estudos foram feitos, muitos anos se passaram e alguém, entre eles mesmos, gritou: nós já sabemos como é que o homem chega à Lua! E alguém teve que tomar uma de‐cisão e o homem chegou à Lua. 

Esse problema de Santo Amaro, se a gente não o abordar, eu estou vendo a hora, de vocês companheiros e companheiras se aposentarem e não se resolver. 

Então eu quero pedir, que ficou muito claro para mim aqui companheiro coordena‐dor  do  Projeto  Francisco  Fernandes,  que  estudos  que  deveriam  ser  feitos  já  foram feitos. Eu inclusive ontem, na minha ignorância na área, eu pude perceber explicações de professores, passando no datashow, praticamente a mesma coisa, ou seja, nós es‐tamos estudando em círculos, todo mundo já conhece os estudos, nós temos é que ir para a prática. 

Se o que está faltando para a prática é o campo político, o momento é esse, porque o ex‐Presidente Lula, e eu posso aqui estar falando isso para vocês porque foram pala‐vras do Governador da Bahia, ele encerrou o seu mandato de oito anos com um frus‐tração muito grande porque ele prometeu isso para Dona Canô e ele não conseguiu resolver. Entra agora uma nova Presidenta e ela disse que quer resolver. 

Se  a  gente  destaca  um  assessor  de  um  senador,  como  está  aqui  a  senhora  Ingrid Carlucci,  assessora  do  Senador  Paulo  Paim,  o  Claúdio  Santos,  assessor  do  Senador Walter Pinheiro, o António Santos, assessor do Deputado Luiz Alberto,  se está aqui um representante da presidente Dilma na plateia ouvindo os senhores, enquanto um 

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diz que um diz que  tem que ser  feito de uma  forma e o outro contesta que não,  se vocês  não  estão  se  entendendo,  imagina  na  cabeça  do  político  que  é  altamente fiscalizado hoje pelo TCN, TCE, TCU, CGU, pelo Ministério Público, pela Câmara dos Vereadores e pela mídia.  

Hoje para colocarmos os pés em qualquer tipo de coisa temos que ter o aval dos téc‐nicos, e aí um fala que é inerte, e outro fala que não é inerte, aí gera uma discussão e ali no meio está o político.  

Vocês precisam entender que são vidas, são vidas! 

Santo Amaro não pode ser mais cobaia, Santo Amaro não pode ser mais laboratório, quem tinha que aprender, aprendeu, quem tinha que estudar, estudou, quem é capaz, tem que demonstrar que é capaz. 

Se estiver faltando coragem, eu não sei onde que existe na farmácia o remédio da co‐ragem, mas nós temos que resolver. Eu sou prefeito de uma cidade, tenho responsa‐bilidade com o povo.  

Adorei  conhecer  vocês,  vamos  com  certeza  criar  aqui  uma  amizade, mas uma  ami‐zade que seja sincera que a gente queira resultados. 

Está  aqui  agendado  esse  compromisso  nosso  na  Bahia,  até  o  dia  15  de  novembro, para uma reunião preliminar para que a gente possa discutir as questões em comum acordo, fechar, para no dia seguinte a gente ir ao gabinete do Governador da Bahia. Eu  preciso  desta  agenda  com  antecedência,  porque  a  agenda  do Governador  não  é assim de uma hora para outra, então para eu já deixar agendado com o Governador.  

A gente vai promover essa  reunião  lá, vou apresentar o projeto que  já está pronto. Quero agradecer a sensibilidade da Presidenta Dilma e de todos vocês aqui envolvi‐dos e me desculpa alguma coisa mas a gente quer agora é solução.  

 

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PPaassssiivvooss   ssoocciiooaammbbiieennttaaiiss   ddaa   mmiinneerroommeettaalluurrggiiaa   ddoo   cchhuummbboo   eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ee BBooqquuiirraa  ((BBAA)),,  VVaallee  ddoo  RRiibbeeiirraa  ((PPRR))  ee  MMaauuáá  ddaa  SSeerrrraa  ((PPRR))  

KKeeiillaa  VVaalleennttee  ddee  SSoouuzzaa11  MMaarriiaa  ddee  FFááttiimmaa  ddaass  DD..  ddooss  SSaannttooss  LLiimmaa22  

Introdução 

O  projeto  Banco  de  Dados  Recursos  Minerais  e  Sociedade:  Impactos  Territoriais, Sociais,  Ambientais  e  Econômicos,  desenvolvido  no  CETEM  ‐  Centro  de  Tecnologia Mineral/MCTI  ‐  Ministério  da  Ciência,  Tecnologia  e  Inovação,  lista  mais  de  uma centena  de  empreendimentos  minerais  com  registros  dos  impactos  gerados  nos processos de uso e ocupação dos territórios. 

Os  verbetes  foram  selecionados  e  elaborados por  uma  ampla  equipe  redacional  de acordo com suas relevâncias sociais, ambientais e econômicas. Em uma extensa revi‐são bibliográfica foram utilizadas as informações presentes em documentos disponi‐bilizados publicamente (reportagens, artigos científicos, relatórios acadêmicos e/ou técnicos e ações do Ministério Público ou da Justiça) na internet, nas bibliotecas, den‐tre outros. Os verbetes são complementados com acervo fotográfico e revisados tec‐nicamente por um comitê editorial composto por aproximadamente 10 especialistas. 

Para este capítulo foram selecionados quatro verbetes que relatam situações de im‐pactos  sociais,  econômicos  e  ambientais  deixados  pela  atividade  de  mineração  de chumbo como a contaminação do solo, sedimento e habitantes oriunda das ativida‐des  da  Plumbum Mineração  e Metalurgia  em  Santo  Amaro  (BA)  e  Vale  do  Ribeira (PR), os rejeitos com altos teores de metais pesados em Boquira (BA) e a mobilização social contra a operadora de recicladora de chumbo em Mauá da Serra (PR). 

Santo Amaro: Plumbum deixa grande passivo socioambiental 

As  instalações da Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda.,  localizadas no município de Santo Amaro  [antigamente chamado de Santo Amaro da Purificação], no Recôn‐cavo Baiano, foram abandonadas em 1993, deixando um passivo com 490 mil tonela‐das de resíduo contaminado com metais pesados, em especial chumbo e cádmio. Boa parte da população da região, dentre eles ex‐funcionários da metalúrgica, bem como 

                                                            

1 Geógrafa. Bolsista PCI do CETEM/MCTI. 

2 Geógrafa. Assistente de pesquisa do CETEM/MCTI 

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PPaassssiivvooss  ssoocciiooaammbbiieennttaaiiss  ddaa  mmiinneerroommeettaalluurrggiiaa  ddoo  cchhuummbboo  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ee  BBooqquuiirraa  ((BBAA))......  20 

o solo, os sedimentos e os organismos do estuário do rio Subaé foram contaminados com resíduos industriais (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). 

Com 492,912 km² e 57.800 habitantes (IBGE, 2010a), o município histórico de Santo Amaro localiza‐se a 100 km da capital, Salvador, e tem no setor de serviços a base de sua economia (MANZONI; MINAS, 2009). 

Tudo  começou  em  1960,  quando  a  Companhia  Brasileira  de  Chumbo  (Cobrac),  à época  pertencente  ao  grupo  multinacional  Penarroya  Oxide  S.A.  (hoje  Metaleurop S.A.),  iniciou a produção de  lingotes de chumbo em Santo Amaro (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001).  

Em 1974, a Cobrac fez o primeiro pedido de licenciamento, com o objetivo de aumen‐tar sua capacidade de produção de 30 mil toneladas de chumbo metálico para 45 mil t/ano,  bem  como  para  modernizar  as  instalações  do  complexo  metalúrgico (OLIVEIRA, 1977 apud ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). O governo do Estado da Bahia, no en‐tanto,  indeferiu o pedido (MANZONI; MINAS, 2009) e sugeriu a  transferência do em‐preendimento  para  o  Centro  Industrial  de Aratu  (CIA),  na  região metropolitana  de Salvador,  levando em consideração os aspectos ambientais e o estado de deteriora‐ção em que o empreendimento se encontrava (OLIVEIRA, 1977 apud ANJOS; SÁNCHEZ, 2001).  

A permanência da metalúrgica no  local condenado manteve contínuo o processo de degradação ambiental, contribuindo para que as águas, o solo, a flora e a fauna, assim como,  a  população  local,  principalmente  as  crianças,  fossem  contaminadas  por chumbo e cádmio (CARVALHO et al., 2003).  

Em 1989, a usina foi vendida à empresa Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda., per‐tencente ao grupo brasileiro Trevo (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). Dois anos depois, a em‐presa solicitou ao Centro de Recursos Ambientais (CRA), órgão ambiental da Bahia, licença de operação. O CRA emitiu parecer com 27 condicionantes para a liberação da licença por três anos. No entanto, “os condicionantes não foram atendidos e, em de‐zembro de 1993, a Plumbum encerrou suas atividades em Santo Amaro” (PNUD, 2003 apud MEYER; GENERINO; CRISTANI, 2007, p. 3). 

Para produzir as ligas de chumbo em Santo Amaro, a metalúrgica usava o minério de chumbo  lavrado  e  beneficiado  no município  de Boquira,  no  sudoeste  do  Estado  da Bahia (MANZONI; MINAS, 2009). Com a exaustão da mina, em Boquira, a Plumbum passou a importar o minério do Peru (MACHADO et al., 2004).  

Durante o processo de beneficiamento havia muito pouco controle dos danos ao meio ambiente  e  das  medidas  de  proteção  e  segurança  destinadas  aos  funcionários  e moradores. A escória era considerada inócua e amontoada no terreno (Figura 1) no entorno da usina e ainda havia o particulado de chumbo ‐ decorrente do processo de sinterização ‐ que era expelido pela chaminé (SOBRAL, 2008). A partir do fechamento da empresa, o resíduo e o solo contaminado se constituem nas principais  fontes de poluição ambiental por chumbo no município (CARVALHO et al., 2003). 

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   KKeeiillaa  VVaalleennttee  ddee  SSoouuzzaa  ee  MMaarriiaa  ddee  FFááttiimmaa  ddaass  DD..  ddooss  SSaannttooss  LLiimmaa     21 

 

 Figura 1 ‐ Pilhas de escória dispostas sobre o solo, a céu aberto.

Durante os anos de operação da Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda., foram pro‐duzidas  aproximadamente  900 mil  toneladas  de  concentrado  de  chumbo,  gerando milhões de toneladas de resíduos e cerca de 500 mil toneladas de escória (MANZONI; MINAS, 2009). Desde o início do funcionamento da metalurgica, o município apresen‐tou sinais de contaminação, com a morte de animais nas áreas próximas ao empreen‐dimento (ANJOS, 2001), localizado a noroeste da área urbana de Santo Amaro, a 300 metros do rio Subaé, principal rio da bacia hidrográfica de mesmo nome (MANZONI; MINAS, 2009). 

Dentre  os  principais  impactos  socioambientais  causados  pelas  atividades  da meta‐lúrgica no município baiano, podem‐se citar: a contaminação das águas do rio Subaé por substâncias tóxicas, impactando diversas comunidades que tiravam seu sustento do rio; a poluição do ar pela fumaça da indústria, que somente, em 1989, após deter‐minação da Justiça, passou a usar filtro em sua chaminé (ALCÂNTARA, 2010); o depó‐sito de grandes pilhas de resíduos diretamente sobre o solo, a céu aberto, ameaçando as águas subterrâneas e o rio Subaé (CARVALHO et al., 2003); a distribuição pela em‐presa da escória contaminada com 2% a 3% de chumbo para uso como aterro pela população e pela prefeitura na pavimentação de  ruas e  construções públicas,  como creches e escolas; e a contaminação do solo por grande quantidade de soluções com contaminantes  que  se  infiltrou  no  subsolo  durante  os  anos  de  funcionamento  da usina (ALCÂNTARA, 2010). 

O alto nível de chumbo e cádmio, no ar, na água e no solo, também prejudicou as ati‐vidades econômicas na região, como a pesca (ALCÂNTARA, 2010), a produção horti‐frutigranjeira  e  a  criação  de  gado,  e  ainda  causou  danos  à  saúde  da  população (MANZONI;  MINAS,  2009),  em  especial  aos  trabalhadores,  que  não  usaram,  em  ne‐

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nhum momento, proteção adequada para o manuseio da matéria prima considerada altamente  tóxica  pela  Organização  Mundial  de  Saúde  (OMS)  (ALCÂNTARA,  2010; SOBRAL, 2008). 

A  partir  de  1975,  pesquisas  desenvolvidas  pela  Universidade  Federal  da  Bahia (UFBA), na bacia do rio Subaé, identificaram como causas da contaminação: a instala‐ção  da metalurgia  em uma  área  onde  predominavam ventos  de  baixa  velocidade  e constantes  inversões  térmicas,  prejudicando  a  dispersão  e  facilitando  a  deposição dos particulados na  área urbana;  a  proximidade da  empresa do  leito  do  rio  Subaé, bem  como  de  suas  áreas  de  inundação;  o  transbordamento  da  bacia  de  rejeito  em períodos de muita chuva; a baixa vazão do rio Subaé, prejudicando a diluição e a dis‐persão dos efluentes  líquidos  lançados sem tratamento; a deposição  inadequada da escória  em aterros,  e  seu  reuso para a  construção de estradas,  casas etc,  o que au‐mentou a contaminação do solo, de águas superficiais, subterrâneas e da população residente  nos  arredores  do  empreendimento;  a  alta  concentração  dos  metais  nos manguezais  do  estuário  do  rio  Subaé,  contaminando os moluscos  e  prejudicando  a base alimentar da população; os particulados lançados pela chaminé da metalúrgica; e o fato de a empresa considerar a escória inócua, depositando‐a sem critérios técni‐cos (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). 

Em 1980, novo estudo da UFBA constatou que 96% das crianças residindo a menos de  900 m da  chaminé  da  companhia  apresentavam níveis  de  chumbo  e  cádmio no sangue acima do limite de toxicidade (Figura 2). Detectou também que o nível de me‐tais no sangue da população crescia à medida que seu local de residência se aproxi‐mava das instalações da metalúrgica (MACHADO et al., 2004). 

Em 1998,  outro  estudo  realizado  pela UFBA,  com  crianças  de  1  a  4  anos  de  idade, nascidas após o fechamento da metalúrgica, constatou que o passivo ambiental dei‐xado pela Plumbum permanecia como uma fonte de exposição relevante para a into‐xicação  pelo  chumbo  (CARVALHO  et al.,  2003).  Provavelmente  em  consequência  da contaminação, muitas pessoas  foram acometidas por  saturnismo, doença que  fragi‐liza os ossos, paralisa  as mãos, provoca dores  agudas,  causa  impotência  sexual nos homens e aborto em mulheres e má formação fetal nos bebês. Devido ao excesso de metais na água e no solo, a incidência de outras doenças, como anemia, lesões renais, hipertensão arterial, câncer de pulmão etc., também aumentou (BAHIA JÁ, 2011). 

Em função do grande passivo deixado e de seu impacto, nos anos de 1994 e 1995 o CRA classificou a escória da Plumbum como resíduo perigoso devido a sua toxidade. Foram solicitadas à empresa, então, medidas mitigadoras, que incluíam, inicialmente, a colocação de cercas e a sinalização de toda a área onde se encontravam depositados os resíduos. Além disso,  foi  indicado que a metalúrgica elaborasse um plano de dis‐posição  adequada  para  a  escória,  fizesse  a  instalação  de  poços  de monitoramento para detecção de possíveis poluentes no lençol freático, e realizasse estudos que im‐pedissem a propagação da contaminação e possibilitasse o encapsulamento da escó‐ria (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). 

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Figura 2 ‐ Crianças expostas ao rejeito contaminado.

Diante da recusa da Plumbum em atender às exigências do órgão ambiental,  foram tomadas medidas  jurídicas pelo CRA e  iniciada, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Superintendência de Geologia e Recursos Minerais (SGM), uma pesquisa para im‐plementação  de  um  plano  de  gestão  ambiental  destinado  aos  sítios  contaminados com resíduos industriais no local (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). 

A pesquisa acabou gerando o projeto Purifica, financiado pela Financiadora de Estu‐dos e Projetos (Finep) e desenvolvido pela UFBA, USP, CRA e Centro de Estudos, Pes‐quisas e Desenvolvimento do Estado da Bahia. Com  início em 2000, o projeto diag‐nosticou a contaminação de toda a zona urbana de Santo Amaro e ampliou as pesqui‐sas sobre a contaminação nas instalações da Plumbum (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). 

Além disso, sugeriu várias medidas de mitigação, como a elaboração de um plano de remediação para a área urbana do município, com a definição das áreas prioritárias para  intervenção, estimativa da quantidade de escória disposta na cidade, plano de ação e previsão de custos. O projeto recomendou a raspagem do solo superficial para remover a escória depositada de forma aleatória no entorno da usina, bem como do solo superficial que foi mais impactado, e posterior tratamento para separar a escória do solo. Foi sugerido ainda que o solo contaminado fosse utilizado para fabricação de telhas e blocos cerâmicos ‐ uma vez que o processo demonstrou alta capacidade de imobilização dos poluentes, além de envolver baixo custo ‐ e recomendado que, até que a remoção do solo superficial e da escória fosse concluída, se deixasse intacta a zona alagadiça (PROJETO PURIFICA, 2003). 

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Esta  zona  alagadiça  (ou  wetland),  situada  a  jusante  do  principal  barramento  de escória e com extensão de cerca de 90 metros, teve origem num aterro de águas plu‐viais do empreendimento e tem se mostrado eficaz para o controle da contaminação das  águas  superficiais,  uma  vez  que  retém  a  grande  maioria  dos  metais  pesados (ANJOS, 2003). 

Em 2004, os riscos de contaminação por via aérea já estavam mais reduzidos na área urbana de Santo Amaro, devido ao fato de quase todos os pontos de lançamento da escória de chumbo estarem recobertos com paralelepípedo ou asfalto.  

A impermeabilização promovida por esse tipo de cobertura diminui a infiltração das águas das chuvas no solo, reduzindo a  lixiviação da escória depositada e o espalhamento e arraste de partículas de poluentes pelo vento. Contudo, esse resí­duo é, de tempos em tempos, trazido à tona por serviços de reparos na rede de água e esgoto,  instalação de dutos,  reativando diversas  rotas de contaminação (MACHADO et al., 2004, p. 142). 

Ao longo dos anos, foram realizadas diversas análises de caracterização de chumbo e de  outros  metais  pesados  no  resíduo  metalúrgico  em  Santo  Amaro  (LIMA; BERNARDEZ, 2010, 2011a e 2011b) e, até 2010, aproximadamente 500 mil toneladas de escória encontravam‐se no terreno da metalúrgica, sem o devido encapsulamento (ALCÂNTARA,  2010).  Muitos  dos  ex‐funcionários  apresentavam  doenças  ocupacio‐nais, recebendo apenas aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ou auxílio‐doença. Embora a empresa tenha pagado algumas  indenizações, existiam ainda “cerca de dois mil processos  individuais tramitando na Delegacia Regional do Trabalho  de  Santo  Amaro.  E,  com  relação  aos  danos  ambientais,  nada  foi  feito” (ALCÂNTARA, 2010, p. 109). Cabe mencionar que recente pesquisa realizada a partir de  amostras  da  escória  diverge  das  anteriormente  realizadas  em  Santo Amaro  por considerar que não constitui fonte de contaminação. (LIMA; BERNARDEZ, 2010, 2011a e 2011b). 

Independente de quais sejam as vias de contaminação, no entanto, especialistas aler‐tam que o município de Santo Amaro precisa não só de um plano de gestão ambien‐tal, como também de uma comunicação e governança de riscos eficazes, que possibi‐litem um diálogo participativo com as comunidades afetadas e a divulgação de dados para mídia e órgãos governamentais (DI GIULIO et. al, 2010). Por sua vez, em 26 de maio de 2011, a Presidenta da República Dilma Rousseff determinou providências ao governo para resolução do passivo do município (AGÊNCIA SENADO, 2011).  

“Santo Amaro é considerada uma das cidades mais poluídas por chumbo no mundo. Na literatura mundial, é o caso‐referência para estudar a contaminação por chumbo e cádmio” (ALCÂNTARA, 2010, p.114). 

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Boquira: lavra de minério de chumbo deixa rejeitos com altos teores de metais pesados 

A exemplo do que ocorreu no município de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, os moradores do município de Boquira, localizado no sudoeste da Bahia, estiveram ex‐postos à contaminação por chumbo durante décadas (Figura 3) (BARRERO, 2008). 

 

Figura 3 ‐ Cidade de Boquira.  

A exploração do minério de chumbo em Boquira – 1.482,704 km² e 22.037 habitantes (IBGE, 2010a) – começou no final da década de 1950 pela Penarroya S.A, que criou a Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac) para atuar no Brasil como sua subsidiária. Posteriormente, a empresa foi incorporada à Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda. (MANZONI;  MINAS,  2009),  pertencente  ao  Grupo  Trevo  (ANJOS;  SÁNCHEZ,  2001; CAMELO,  2006;  BARRERO,  2008).  O  minério  de  chumbo  lavrado  e  beneficiado  em Boquira era usado para produzir  ligas de chumbo em Santo Amaro (CAMELO, 2006; BARRERO, 2008; MANZONI; MINAS, 2009). 

Boquira nasceu do antigo distrito Assunção, no município de Macaúbas. Com o início da exploração do minério de chumbo, na década de 1950, o distrito de Assunção de‐senvolveu‐se  tanto  que  representantes  do  povo  na  Câmara  de  Vereadores  de Macaúbas  entraram  com  um  projeto  de  emancipação  política,  dando  origem,  em 1962, ao município de Boquira (ARAÚJO; PINHEIRO, 2004). 

O minério de chumbo foi descoberto por acaso por um padre chamado Macário que procurava  um  local  para  instalar  uma  paróquia  em  Macaúbas.  Em  suas  andanças, recolheu amostras de minério que ocorriam a céu aberto, nas proximidades do povo‐ado  de  Boquira.  Análises  laboratoriais  das  amostras,  realizadas  no  Rio  de  Janeiro, 

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comprovaram  as  suspeitas  do  padre  de  que  se  tratava  de  minério  de  chumbo (FERRAN, 2007). 

O padre, então, largou a batina e começou um negócio. Fez contato com a fábrica de baterias Prest‐o‐Lite, sediada em São Paulo, que se mostrou interessada em comprar o minério alterado do Morro Pelado, constituído de cerussita, carbonato de chumbo de fácil  fusão e redução. A empresa  iniciou a operação subterrânea, abrindo galeria no Morro Pelado e obtendo rapidamente galena [minério de chumbo] por debaixo do afloramento de  cerussita,  e  ao mesmo  tempo  iniciou  a montagem de uma usina de flotação na frente do morro do Cruzeiro (FERRAN, 2007). 

O minério extraído tinha 9% de chumbo, 3% de zinco e 32 gramas de prata por to‐nelada, e era beneficiado em dois concentrados de flotação, o de chumbo, com 70% do metal,  e o de zinco,  com 51%. Estes concentrados eram encaminhados de cami‐nhão para a Cobrac, em Santo Amaro, a 500 km da mina onde, depois da ustulação [queima  de  sulfeto]  e  fusão,  viravam  chumbo  com  praticamente  100%  de  pureza, prontos  para  entrarem  no  mercado.  Os  concentrados  de  zinco  eram  exportados (FERRAN, 2007). 

Como a operação de flotação não estava dando os resultados esperados, Macário en‐trou em contato com a Plumbum ‐ uma associação da Peñarroya francesa ‐ na época especialista  em  chumbo  e  zinco  ‐  que  operava  as minas de  chumbo do Vale  do  rio Ribeira do Iguape, entre São Paulo e Paraná (FERRAN, 2007). 

Durante o período de operação da mina, Boquira conheceu a prosperidade. A mina atingiu seu auge de produção nos anos 1970 (DNPM, 2006). No entanto, as reservas economicamente mais viáveis  se  esgotaram e a Mineração Boquira  foi  vendida,  em 1986, aos grupos brasileiros CMP e Luxma. As empresas passaram a explorar os pila‐res de sustentação da mina de Boquira ‐ áreas que tinham de ser poupadas para as‐segurar a sustentação das galerias abertas no subsolo. Porém, os custos da atividade inviabilizaram o negócio, pois, para cada pilar de sustentação explorado, a empresa tinha de construir, por questão de segurança, um novo pilar artificial, com material trazido de fora para dentro das galerias (FERRAN, 2007). 

Somado aos altos custos de operação, o excesso de oferta  internacional de chumbo fez com que as cotações do minério caíssem, o que levou ao fechamento da mina de Boquira (FERRAN, 2007). A mina foi desativada em 1992 (CAMELO, 2006). Hoje, a ci‐dade está à espera de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) e de um plano que permita que toda a infraestrutura da mina seja aproveitada por ativi‐dades compatíveis com a localidade (FERRAN, 2007). 

Em Boquira, uma das maiores preocupações é com a disposição dos rejeitos do be‐neficiamento desenvolvido ao longo de mais de três décadas (Figuras 4 e 5). Os rejei‐tos do beneficiamento  apresentam  teores de  zinco,  cádmio,  arsênio,  prata,  além de chumbo e outros metais, e não foram dispostos segundo parâmetros ambientais acei‐

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táveis, colocando em risco os mananciais e solos após o rompimento de uma antiga barragem de contenção (DNPM, 2006). 

Figura 4 ‐ Pilha de rejeitos da mineração.  

 

Figura 5 ‐ Pilha de Rejeitos ao lado da cidade. 

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Peritos  do  Programa  de  Fiscalização  Preventiva  Integrada,  coordenado  por  órgãos ambientais e de fiscalização estaduais e federais e pelo Ministério Público do Estado da Bahia, estiveram, em 2008, em Boquira para avaliar a situação das antigas galerias no Morro Pelado,  hoje  interditadas,  da  pilha  com  reserva de minério  e  da pilha de rejeito  do  beneficiamento,  sobre  a  qual,  há  anos,  foi  instalado  o  lixão municipal.  À época, constataram instabilidade do material contido na pilha de rejeito, com diver‐sos canais de erosão conduzindo sedimentos e contaminando há décadas águas su‐perficiais e subterrâneas com resíduo de chumbo (BARRERO, 2008). 

De acordo com o parecer técnico, não foi observada qualquer ação para contenção de enxurradas ou reparo dos impactos negativos causados pela pilha de rejeito, embora estivesse previsto um plano de recuperação da área degradada. Outra constatação foi a presença de catadores de material reciclável no lixão instalado sobre a pilha de re‐jeito (BARRERO, 2008). 

O  plano  de  recuperação  estaria  a  cargo  da  empresa  Bolland  do  Brasil  (BARRERO, 2008), a mesma que, em 2007, apresentara, ao Departamento Nacional de Produção Mineral  (DNPM),  um  estudo  de  viabilidade  para  reativação  da mina  de  chumbo  no município e da fundição de chumbo em Santo Amaro. O projeto previa, dentre outras ações, o processamento dos rejeitos estocados na antiga mina e a exploração de 900 mil toneladas de minério contendo chumbo (REUTERS, 2007). 

De  acordo  com  a  Bolland,  o  chumbo  seria  extraído  da  pilha  de  rejeitos  através  do processo químico de lixiviação. (BRASIL MINERAL, 2007). 

Em 2007 o DNPM  informou que a Bolland  já detinha autorização para pesquisa de minério de chumbo em quatro áreas de Boquira (JORNAL A TARDE, 2007). Contudo, posteriormente a Bolland desistiu do empreendimento, e a Mineração Cruzeiro Ltda., subsidiária da Metal Data S.A., assumiu os direitos da concessão da Plumbum Mine‐ração  e Metalurgia  S.A.  para  iniciar  o  projeto  de  reavaliação  da mina  de Boquira  e aproveitamento do rejeito. A empresa planeja  inicialmente  investir, US$ 18 milhões em  pesquisa  mineral  visando  diagnosticar  a  reserva  de  chumbo,  os  subprodutos conhecidos, bem como o minério de ferro que ocorre na área da concessão. O projeto  previa também a construção de uma usina siderúrgica em Boquira para verticalizar a produção no Estado da Bahia (SILVA; TEIXEIRA, 2009). 

Vale do Ribeira: chumbo contamina solo e habitantes da região 

A mineração e a metalurgia  realizadas no alto vale do rio Ribeira do  Iguape,  locali‐zado entre os estados do Paraná e São Paulo, geraram com o passivo ambiental a con‐taminação  de  rios  e  solos  em  diversas  áreas  da  região  (CUNHA  et  al.,  2006).  Além disso, submeteram a população a problemas de saúde, decorrentes, inclusive, da con‐taminação por arsênio, cuja principal  fonte no  local é a arsenopirita (SAKUMA et al., 2010). 

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O vale do Ribeira  já  foi uma das maiores províncias metalogenéticas de chumbo do Brasil. Há na região um importante reservatório de água doce, além de boa parte da Mata Atlântica remanescente (Figura 6) (LOPES Jr. et al., 2006). Ao longo do século XX, diversas minas de chumbo, zinco e prata foram exploradas no alto vale (CUNHA et al., 2006). 

 

Figura 6 ‐ Vale do rio Ribeira de Iguapé (SP e PR).  

Durante os anos de ápice da mineração, a população local experimentou um nível de vida  relativamente  próspero.  Com  a  exaustão  do  solo  e  o  fechamento  das minas  e refinarias,  ocorreu  uma  forte  decadência  nos  índices  econômicos  e  sociais.  Hoje, Adrianópolis (PR), assim como outros municípios que tiveram forte atividade mine‐radora no passado, está entre os mais pobres da região (CUNHA et al., 2006). Com a escassez de emprego e as precárias condições de vida, a população de Adrianópolis caiu pela metade. Já a base econômica do município passou a girar em torno do fun‐cionalismo  público,  da  agricultura,  da  pecuária  e  do  setor  de  comércio  e  serviços (IPARDES, s.d. apud DI GIULIO; PEREIRA; FIGUEIREDO, 2008). 

Adrianópolis  localiza‐se  na  região  metropolitana  de  Curitiba  (MAPA  DA  INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL, 2009). Com 1.349,335 km² e 6.376 habitantes (IBGE, 2010), o município foi alvo, por mais de 50 anos, das atividades de extração e refina‐mento de chumbo pela Plumbum do Brasil Ltda (CUNHA et al., 2006), pertencente ao grupo Trevo  e que  se  instalou no bairro Vila Mota,  na  zona  rural  do município  (DI GIULIO;  PEREIRA;  FIGUEIREDO,  2008).  A  Plumbum  começou  a  explorar  chumbo  e prata no município, em 1954. Devido ao esgotamento das jazidas, a empresa fechou em 1995, deixando grande passivo  ambiental.  Suas  atividades atingiram ainda, por meio da poluição atmosférica e hídrica, outros municípios paranaenses, como Cerro Azul, Bocaiúva do Sul, Doutor Ulysses, Tunas do Paraná e Colombo, e também Apiaí, 

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Ribeira, Iporanga e Itaóca, no estado de São Paulo (MAPA DA INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL, 2009). 

Durante  os  50  anos  de  funcionamento,  a  Plumbum,  lançou  na  atmosfera  grande quantidade de material particulado rico em chumbo, que se depositou nos solos de áreas próximas. Mesmo depois de uma década do fechamento da usina e das últimas minas de chumbo, o passivo ambiental permanece, bem como o risco de contamina‐ção das populações locais (FIGUEIREDO, 2005 apud DI GIULIO; PEREIRA; FIGUEIREDO, 2008). 

Em áreas próximas à refinaria desativada da empresa, o acúmulo de rejeitos do pro‐cesso  industrial,  depositados  durante  anos  a  céu  aberto,  levou  à  contaminação  do solo por chumbo (CUNHA et al., 2006). Rejeitos da mina de Panelas, outra antiga pro‐priedade da empresa em Adrianópolis, atingiram o rio Ribeira do Iguape, pois ao be‐neficiar o minério (predominantemente galena), a empresa jogava resíduos e efluen‐tes diretamente no leito do rio. Além disso, empilhava o rejeito e a escória do refino junto à sua margem (LOPES Jr. et al., 2006). 

Parte  dos  rejeitos  estocados de  forma  inadequada pela  empresa  ainda  foi  utilizada pelos moradores no calçamento das ruas de Vila Mota e de Vila Capelinha, localidades operárias  vizinhas  à  antiga  refinaria,  em Adrianópolis.  Em área próxima  a Panelas, constatou‐se  grande  concentração  de  chumbo  em  rejeitos  despejados  em  um  local onde crianças costumavam brincar diariamente (LOPES Jr. et al., 2006). 

O chumbo pode ser absorvido por ingestão de alimentos e de água ou por inalação de poeira  contaminada,  forma comum principalmente entre  crianças pequenas. A  con‐taminação  pode  gerar  diversos  efeitos  nocivos  à  saúde,  entre  os  quais:  distúrbios irreversíveis  no  sistema nervoso  central,  anemia  e  alterações  renais  (CUNHA et. al., 2006). 

Estudos  diagnosticaram  a  presença  elevada  de  chumbo  no  sangue  de  crianças  em Adrianópolis e adjacências (CUNHA et. al., 2006; SAKUMA et al., 2010). A pesquisa cole‐tou amostras de sangue de 335 crianças na faixa etária entre sete e 14 anos e de 350 adultos,  entre 15 e 70 anos,  residentes em Adrianópolis e nos municípios de Cerro Azul, Ribeira e  Iporanga. Coletaram‐se, ainda, amostras do solo e da água da região estudada (CUNHA et. al., 2006; LAMMOGLIA et al., 2010). 

Exceto pela  população da  cidade de Cerro Azul,  onde não houve  atividade minera‐dora, a média aritmética do percentual de chumbo encontrado no sangue dos indiví‐duos analisados foi considerada alta e perigosa para a saúde humana. Os índices re‐gistrados em Ribeira e Iporanga também despertaram preocupação. Entre os adultos, os  índices mais altos  foram encontrados em ex‐operários da refinaria da Plumbum, residentes em Vila Mota e Vila Capelinha, em Adrianópolis. Entre crianças moradoras das vilas, os valores de chumbo no sangue ficaram acima de 10 gramas por decilitro (g/dL),  valor  considerado  alarmante  pelos  pesquisadores  (CUNHA  et.  al.,  2006; LAMMOGLIA et al., 2010). 

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Quanto  à  contaminação  por  arsênio,  pesquisadores  do  Instituto  Adolfo  Lutz  (São Paulo),  Centro  de  Controle  de  Intoxicações  da  Universidade  Estadual  de  Campinas (Campinas‐SP),  Instituto  de  Geociências  da  Universidade  Estadual  de  Campinas (Campinas‐SP), Centro de Ciências da  Saúde da Universidade Estadual de Londrina (Londrina‐PR) e da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais  (Rio de  Janeiro‐RJ) verificaram a presença da substância em amostras de urina de crianças entre sete e 14 anos das cidades de Cerro Azul, Adrianópolis, Ribeira e Iporanga. De acordo com os  resultados,  a  diferença  entre  a  quantidade  de  arsênio  encontrada  no  grupo  de Cerro Azul, não exposto a atividades minerárias e os demais, que moravam mais pró‐ximos das áreas minerarias foi bem grande (SAKUMA et al., 2010). 

A  exposição  crônica  aos  compostos  de  arsênio  pode  causar  vários  danos  à  saúde, como desordens  vasculares  periféricas,  hiperpigmentação,  hiperqueratose,  além de câncer de pele, bexiga, pulmão, fígado e outros órgãos (SAKUMA et al., 2010). 

Vários estudos continuam sendo realizados para tentar dimensionar a amplitude da contaminação por chumbo no alto vale do rio Ribeira do Iguape. O Ministério Público do  Paraná  vem  trabalhando  juntamente  com  uma  comissão  interinstitucional  para discutir  e  tentar  oferecer  soluções  para  os  problemas  que  afligem  moradores  de Adrianópolis e outros municípios (MP‐PR, 2009). 

Em 2011, foi concedida liminar contra a Plumbum, o Departamento Nacional de Pro‐dução Mineral (DNPM), o município de Adrianópolis e a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), pela contaminação ambiental e danos à saúde da população da Vila Mota e da Vila Capelinha. Os réus deverão adotar várias medidas para remediar os danos causados ao meio ambiente e oferecer tratamento a todas as pessoas impac‐tadas pelas atividades minerárias na região (PARANÁ. EXTRA.COM.BR., 2011). 

Mauá da Serra: mobilização comunitária impede a instalação de reci­cladora de chumbo 

O município de Mauá da Serra, no Paraná, enfrentou grande apreensão frente à pos‐sibilidade da instalação de uma indústria recicladora de chumbo na cidade. Estudio‐sos da região temiam pelo início de sua operação devido às falhas no projeto de pro‐teção  ambiental  apresentado  pela  empresa  e  que  foi  desconsiderado  pelo  Instituto Ambiental do Paraná (IAP), órgão responsável pelo  licenciamento e fiscalização dos empreendimentos  potencialmente  impactantes  ao  meio  ambiente  (BEM  PARANÁ, 2007a MARTONI, 2008a;).  

Mauá da Serra é um pequeno município com 8.555 habitantes e 108,325 km2 (IBGE 2010),  situado  no  norte  paranaense  (Figura  7),  e  que  faz  fronteira  com Tamarana, Ortigueira, Faxinal e Marilândia do Sul (MAPA DA INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL, 2009). 

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Figura 7 ‐ Localização geográfica de Mauá da Serra‐ PR. Google (2012). 

A empresa responsável pela recicladora era a Metalúrgica CPG Ltda, que pretendia se instalar na Serra do Cadeado, no divisor das  sub‐bacias do  rio Preto e  rio do Meio, afluentes do rio Tibagi, utilizado como manancial de abastecimento público de água. A localização no divisor dessas sub‐bacias foi constatada em vistoria feita por técni‐cos ambientais do Centro de Apoio ao Meio Ambiente (Caopma), órgão do Ministério Público do Paraná (MP‐PR) (BEM PARANÁ, 2007b). 

Em 2007, a empresa tinha  licença prévia ‐ que autoriza o  local de construção ‐ e  li‐cença de instalação ‐ que permite a realização das obras ‐, mas ainda aguardava a de operação, que havia sido suspensa quando a população se insurgiu contra o empre‐endimento (MARTONI, 2008a). No local, já haviam sido construídos um amplo barra‐cão,  lagoas  para  despejos  de  efluentes  industriais  e  toda  a  base  para  instalação  de caldeiras, fornos entre outros equipamentos (BORGES, 2007). 

Segundo o relatório encomendado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) aos es‐pecialistas  da Universidade Estadual  do Centro‐Oeste  (Unicentro),  a  empresa  tinha cumprido todos os seus deveres e obrigações, dentro de suas possibilidades econô‐micas e também as exigências legais. Porém, o diretor da Associação Nacional de De‐fesa  do  Consumidor  e  Cidadania  (Andec),  Fernando Monteiro,  questionava  a  capa‐cidade econômica da empresa de arcar  com as medidas de  seguranças necessárias, que  têm um custo milionário,  incompatível com seu capital social, que segundo do‐cumentos emitidos pela  Junta Comercial é de R$ 100 mil. Segundo ele, mesmo com todo aparato tecnológico de  filtros, a empresa não daria conta de conter o espalha‐mento do material (MARTONI, 2008a).  

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Segundo informações dos técnicos da CAOPMA (Centro de Apoio às Promotorias do Meio Ambiente), que fizeram a vistoria no local, em 2007, efluentes líquidos seriam gerados pela atividade de reciclagem de baterias automotivas. Também seriam lan‐çados gases com chumbo para a atmosfera, pois o reaproveitamento do chumbo uti‐lizaria fornos para derreter o metal pesado (BEM PARANÁ, 2007b). 

Ainda, de acordo com o consultor para assuntos ambientais e professor da Universi‐dade Estadual de Londrina (UEL), Ewerton de Oliveira, a instalação da indústria pre‐judicaria mananciais do rio Tibagi, contaminando uma das principais fontes de abas‐tecimento da região. Apesar do relatório do consultor apontar como inapropriada a instalação da recicladora na cidade, o presidente do IAP, Vitor Hugo Burko, afirmava não haver respaldo científico para o estudo (MARTONI, 2008a). 

O chumbo das baterias é considerado resíduo perigoso pela legislação nacional e in‐ternacional (BEM PARANÁ, 2007b). Uma das principais  fontes de contaminação pelo chumbo está no descarte inadequado de baterias automotivas usadas. Neste caso, as recicladoras têm um importante papel na destinação destas peças, pois impedem que as carcaças sejam enviadas aos aterros sanitários. Contudo, pode se tornar uma ati‐vidade de risco quando não avaliado os aspectos técnicos do empreendimento (BEM PARANÁ, 2007a). 

As recicladoras, se não forem gerenciadas corretamente, podem ocasionar problemas como o lançamento de água proveniente das baterias em rios; a liberação de vapores com chumbo na atmosfera (que posteriormente podem contaminar o solo) e a dispo‐sição inadequada de restos de chumbo diretamente no solo (BEM PARANÁ, 2007b).  

O chumbo é um metal pesado altamente tóxico, que se acumula na corrente sanguí‐nea e pode provocar anorexia, vômitos, convulsão, dano cerebral permanente,  lesão renal, perda de peso, anemia, deficiência de sistema nervoso, manifestações gastroin‐testinais, alterações neurológicas, cólicas, (MAPA DA INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL, 2009) e saturnismo (BEM PARANÁ, 2007a). 

Devido ao seu alto potencial de contaminação, o chumbo não pode ser manipulado em zona estritamente rural e com mananciais de água (BEM PARANÁ, 2007b). Para o Ministério Público do Paraná, o risco de contaminação seria iminente na região onde se pretendia construir a recicladora de chumbo em Mauá da Serra, pois os moradores vizinhos  têm  seu  abastecimento  de  água  feito  por meio  de  poços  artesianos.  Além desse fato, a fábrica ficaria próxima de lavouras de milho, feijão e assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), gerando o temor quanto à  contaminação  da  criação  de  bovinos  e  ovinos,  e  das  hortaliças  (BEM  PARANÁ, 2007b). Próxima à  fábrica  também há uma  reserva  indígena e diversos empreendi‐mentos de ecoturismo que poderiam ser prejudicados pela atividade da recicladora (MARTONI, 2008a). 

Entre março  e  setembro  de  2007,  a  população  de Mauá  da  Serra  e  entidades  que atuam na defesa da região realizaram diversas manifestações e atos contrários à ins‐

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talação da usina de reciclagem de chumbo na localidade. No dia 27 de março de 2007, moradores  da  localidade  fecharam  a  BR‐376  por  uma  hora,  para  protestar  contra essa situação (MAPA DA INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL, 2009). 

Ainda temendo o risco de contaminação do solo, do ar e principalmente dos rios da região,  os  índios  Caingangues  que  vivem  na  reserva  Apucaraninha,  em  Tamarana (PR), invadiram a área na qual a indústria recicladora de chumbo havia instalado um galpão, e passaram três dias acampados em setembro daquele ano. Com isso, conse‐guiram fazer com que os proprietários se comprometessem formalmente, por meio de documento registrado em cartório, a abandonar o local e a não construir a usina. Pelo termo firmado entre as duas partes, os proprietários se comprometiam a retirar todas as  instalações do que seria a usina até o dia 30 de  janeiro de 2008  (BORGES, 2007; MARTONI, 2008b).   

Ainda por conta da polêmica causada na região, no mesmo ano, o Ministério Público (MP) de Marilândia do Sul (norte do Paraná) obteve liminar, requerida em ação civil pública ambiental, para paralisar a  implantação da  indústria de reciclagem de bate‐rias automotivas e sucata de chumbo na Serra do Cadeado em Mauá da Serra (FOLHA DE LONDRINA, 2007). 

Neste mesmo período, o secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná, Rasca Rodrigues, suspendeu o  licenciamento ambiental de novos empreendimentos relacionados  à manipulação  de  chumbo  e  seus  derivados,  até  que  obtivesse maior conhecimento  sobre  dados  técnicos,  científicos  e  administrativos  sobre  as  baterias descartadas em todo o Estado do Paraná. Entre os empreendimentos estavam as re‐cicladoras de baterias de veículos que trabalham com a refundição do chumbo encon‐trado nestes produtos (BEM PARANÁ, 2007a). No Estado do Paraná, 25 recicladoras têm autorização de funcionamento e passavam por inspeções periódicas (MARTONI, 2008a). 

A decisão de suspender os licenciamentos foi tomada depois que o presidente do IAP encaminhou  um  ofício  ao  secretário  do Meio  Ambiente  e  Recursos  Hídricos  solici‐tando a criação de um Grupo de Trabalho para discutir a sustentabilidade social, am‐biental e de saúde pública das atividades que utilizam chumbo. Este grupo forneceria um  parecer  técnico  incluindo  proposta  de  regulamentação  para  a  continuidade  ou não destes empreendimentos no Paraná (BEM PARANÁ, 2007a).  

Posteriormente, uma decisão judicial impediu a recicladora de entrar em operação e a prefeitura de Mauá da Serra cancelou o alvará que permitia a instalação. Na ocasião, o  IAP  informou  que,  após  a  revogação  municipal,  houve  suspensão  automática  da licença prévia de operação, dada em 2007 (MARTONI, 2008b). 

Atualmente, ainda são encontradas fábricas de liga e reciclagem de chumbo em ope‐ração no estado. Os problemas decorrentes da falta de infraestrutura dessas fábricas levaram a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná a elaborar e implantar o projeto de controle da exposição ao chumbo. Neste projeto ficaram evidentes os sérios proble‐

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mas  da  falta  de  segurança  ambiental  e  do  trabalhador  por  conta  de  equipamentos precários, armazenamento inadequado da produção e descuido no descarte da escó‐ria (CENTRO ESTADUAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR, 2011). 

Contudo, os diversos problemas advindos da contaminação por chumbo não são res‐tritos  ao  Estado  do  Paraná  e  podem  ser  vistos  em  diversos  lugares  do  Brasil  e  do mundo, a exemplo do que aconteceu em Bauru (SP), em 2007, quando fecharam uma fábrica  de  baterias  por  irregularidades  ambientais  e  logo  apareceram os  primeiros intoxicados: 860 crianças (MARTONI, 2008a).  

Em  outros  países  também  têm  sido  registrados  casos  de  contaminação,  como  na China, onde mais de 1000 crianças foram contaminadas pelo metal pesado em 2009, por  conta da maior  fundição de chumbo do país. O  fato  levou à  remoção de 15 mil pessoas  do  local  (BBC  BRASIL,  2009).  No  ano  seguinte,  na  Nigéria,  163  pessoas,  a maioria crianças, foram envenenadas por chumbo (BBC BRASIL, 2010). 

As crianças são as maiores vítimas dos casos de contaminação por chumbo porque têm  organismo mais  propenso  à  absorção  do metal  e  assimilam maior  quantidade por quilo que os adultos, já que pesam menos. Elas também colocam objetos na boca com frequência, levando sujeiras do solo, que pode estar contaminado, para seus or‐ganismos (MARTONI, 2008a). 

O desfecho atípico do caso de Mauá da Serra se deve à participação da comunidade, que pode contar também com a força da mobilização de grupos e entidades da socie‐dade  civil  organizada  e  com  o  apoio  dos  Ministérios  Públicos,  federal  e  estaduais (MAPA DA INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL, 2009). 

Considerações finais 

Os quatro estudos de caso apresentados demonstram a  ligação direta entre a ativi‐dade de minerometalurgia  e  a qualidade de vida da população  local. A  ausência de responsabilidade social por parte de atividades econômicas pretéritas não deve ser repetida pelas atuais administrações das grandes, médias e pequenas mineradoras. É exigida uma governança sustentável por parte dos municípios, estados e União. 

Os  impactos negativos resultantes do fechamento de empreendimento mineral e da falta de destino para os seus resíduos podem se configurar em sérios problemas de saúde para os ex‐trabalhadores e para a comunidade  local, além dos problemas so‐cioeconômicos decorrentes do desemprego e forte redução da atividade econômica. Doenças no sistema nervoso central e nos ossos devido a inalação e/ou ingestão de chumbo  são  observados  em  todos  os  estudos de  caso  relatados  nesse  capítulo,  de‐monstrando a seriedade com que deve ser tratada a questão do descarte dos resíduos da mineração. 

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Não obstante, o meio ambiente também é impactado negativamente com a disposição inadequada de restos de chumbo diretamente no solo que acaba por levar à contami‐nação da água e do ar. 

Ações judiciais realizadas nos municípios com passivos da atividade mineral demons‐tram que a responsabilidade de tais impactos é passada para a empresa, para os ór‐gãos  responsáveis  pela  emissão da  licença  (DNPM)  e  até  para  o  próprio município, como é o caso de Adrianópolis (PR). Os réus devem adotar várias medidas para re‐mediar os danos causados ao meio ambiente e oferecer  tratamento a  todas as pes‐soas impactadas pela mineração. 

Existe ainda um grande passivo ambiental de minerações paralisadas por todo o país, sendo necessário que exista um inventário sobre tais situações, além de uma regula‐mentação sobre as garantias de  recursos  financeiros para o encerramento da ativi‐dade de mineração, sejam cauções, fianças, fundos e outros mecanismos. Também é necessário pesquisar a eficácia de iniciativas e programas de responsabilidade social das  empresas  e  analisar  os  impactos  socioeconômicos  a  longo  prazo  para  retroali‐mentar  futuras  avaliações  de  impacto.  Nesses  casos,  as  ONGs,  instituições  de  pes‐quisa  e  universidades  desempenham  importante  papel  para  relatar  os  incômodos causados pela atividade de mineração à sociedade.  

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SAKUMA,  Alice  Momoyo;  CAPITANI,  Eduardo  Mello  de;  FIGUEIREDO,  Bernardino Ribeiro;  MAIO,  Franca  Durante  de;  PAOLIELLO,  Monica  Maria  Bastos;  CUNHA, Fernanda Gonçalves da; DURAN, Maria Cristina. Avaliação da exposição de crianças ao arsênio em área de mineração de chumbo na Região Sudeste do Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. 2010, v.26, n.2, p. 391‐398. 

SILVA,  Benedito  Célio  Eugênio;  TEIXEIRA,  Juliana  Ayres  de  A.  Bião.  Chumbo. Departamento  Nacional  de  Produção  Mineral,  seção  Bahia,  Sumário  Mineral  2009. Disponível  em:  <http://www.dnpm.gov.br/assets/galeriaDocumento/Sumario Mineral2008/chumbo.pdf>. Acesso em: 17 set. 2012. 

SOBRAL,  Luis  Gonzaga  Santos.  Relatório  de  viagem  a  Salvador  –  BA  24  a  26 mar. 2008. Palestra sobre a hidrometalurgia do chumbo no  fórum de "Tecnologia Limpa para  Santo  Amaro  da  Purificação”.  Relatório  de  viagem  elaborado  para  o CETEM/MCT, mar. 2008. 

VALVERDE, José. Atualidades. Ambiente. Metais pesados pagam remediação na Bahia. In:  Revista  Química  e  Derivados,  n.  463,  jul.  2007.  Disponível  em:<http://www. quimica.com.br/revista/ qd463/atualidades1.html>. Acesso em: 14 set. 2012. 

 

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Introdução e problemática 

Os  anos  mais  recentes  têm  testemunhado,  em  vários  países  desenvolvidos  e  em desenvolvimento,  um  interesse  claro  dos  investidores  pelos  setores  ligados  à exploração de recursos naturais, com destaque para a mineração e para a exploração de recursos energéticos fósseis. 

Na  realidade,  países  como  o  Brasil,  Moçambique  ou  Austrália,  para  citar  apenas alguns  casos,  têm  realizado  esforços  significativos  para  introduzir  na  legislação regras  condicionantes  da  atuação  dos  investidores,  nacionais  e  estrangeiros,  que fazem  depender  a  autorização  da  exploração  dos  recursos  (em  particular  da mineração)  ao  cumprimento  de  um  conjunto  de  requisitos,  que  podem  passar  por pagamentos  financeiros,  apoio  à  população,  construção  de  infraestruturas  ou preocupações ambientais. 

No entanto, apesar dos esforços, a análise da situação internacional permite concluir que  o  cumprimento  desses  critérios  de  responsabilidade  social  empresarial  não  é feito  de  forma  muito  afirmativa,  verificando‐se  mesmo  a  existência  de  elevados passivos  (econômicos,  sociais,  ambientais)  durante  o  período  de  permanência  das empresas ou depois do abandono das atividades. Por outro  lado,  tentamos também demonstrar que os governos dos países de acolhimento não estão totalmente isentos de  responsabilidade,  pois,  na  disputa  pelo  investimento,  põem  muitas  vezes  em prática  políticas  públicas  competitivas  na  captação  daqueles  capitais,  e  cuja competitividade decorre, muitas vezes, na flexibilização e minoração dos critérios de proteção econômica, social ou ambiental. 

Neste  contexto,  a  estrutura do  artigo  centra‐se  na  análise  das  Políticas  Públicas  de Atração de Investimento em setores de exploração de recursos minerais, elaborando em seguida sobre os modelos de governação e o conceito de Responsabilidade Social Empresarial  (RSE)  no  setor  da  mineração.  Introduzimos  como  paradigma  da necessidade de  articulação da RSE  com a  capacidade  institucional  e de  governança 

                                                            

1   Professora Associada do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa, Portugal. 

2   Tecnologista Senior do CETEM/MCTI. 

 

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dos  países  receptores  do  investimento,  o  caso  da Metaleurop  Nord,  famoso  pelos efeitos  de  contaminação  por  chumbo  que  gerou  no  noroeste  da  França  e  também pelas  políticas  de  remediação  que  foram  aplicadas  para  resolver  ou,  pelo  menos, minorar o problema. No âmbito do Projeto Santo Amaro, o caso da Metaleurop Nord assume uma  importância acrescida, por se  tratar do mesmo grupo empresarial que detinha a usina de mineração na cidade de Santo Amaro, a Plumbum. 

A globalização e os fluxos internacionais de capital 

A  internacionalização  das  economias,  que  tradicionalmente  se  caracterizava fundamentalmente  pelos  fluxos  de  comércio  externo,  traduz‐se  atualmente  numa intensificação  dos  movimentos  internacionais  de  fluxos  de  capitais,  constituindo, estes últimos, um instrumento prioritário dessa internacionalização. Efetivamente, os fluxos  de  capitais  que  circulam,  sem  restrições,  entre  as  várias  regiões  do  globo, constituem, neste momento, os mais importantes sinais do processo de globalização. Desde  meados  da  década  de  1980,  esses  fluxos  registram  um  crescimento  muito superior aos fluxos de comércio internacional, e, em escala ainda maior, da produção mundial realizada (COSTA, 2005). 

Neste  âmbito,  é  interessante  destacar  a  importância  da  atuação  das  Empresas Transnacionais  (ETN),  que,  sob  várias  perspectivas,  acabam  por  ser  os  principais agentes da globalização,  sendo,  igualmente,  as maiores beneficiárias  (COHN, 2008). Na  verdade,  as  ETN,  que,  pela  importância  assumida  na  economia  internacional, transformaram‐se  em  veículos  de  (des)articulação  das  relações  econômicas internacionais, exercendo grande influência sobre os estados emissores e receptores, nomeadamente  no  que  respeita  à  conceção  e  implementação  de  políticas  públicas favoráveis  à  sua  atuação,  levando  à  redefinição  das  relações  tradicionais  entre estados e empresas e à emergência de uma nova diplomacia econômica (CARRIÈRE, 1998).  Entre  os  fatores  que  terão  exercido  maior  influência  no  aumento  do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) mundial destacam‐se, nomeadamente a partir dos anos de 1980, a re‐emergência da ortodoxia neoliberal, que concede uma maior liberdade de ação às ETN para expandir as suas atividades, no contexto de uma maior desregulamentação  da  atividade  econômica,  dos  processos  de  privatizações  e  da abolição das restrições à circulação dos fluxos de capital (COSTA, 2009).  

Como  podemos  verificar  pela  análise  da  Figura  1,  a  volatilidade  dos  fluxos  de  IDE constitui uma característica predominante na evolução dos mesmos. Verifica‐se uma tendência para acompanhamento intenso do ciclo econômico, crescendo fortemente em  anos  de  crescimento  econômico  generalizado,  e  abrandando  em  períodos  de desaceleração. Em 2011, último ano para o qual existem dados disponíveis, verificou‐se um aumento de 16% em 2010, refletindo a existência de lucros mais elevados por parte das empresas transnacionais, e o maior crescimento econômico por parte das economias  em  desenvolvimento  (UNCTAD,  2012).  No  caso  das  economias  em desenvolvimento e em processo de transição, que registraram um aumento de 12%, 

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ocorreu  um  aumento  dos  projetos  envolvendo  investimentos  de  raíz  (greenfield investments),  enquanto  as  economias  desenvolvidas  (com  um  aumento  de mais  de 20%  em  2010)  testemunharam  a  expansão  de  movimentos  de  fusão  e  aquisição transfronteiriços. 

 Fonte: UNCTAD, 2012.  

Figura  1  –  Investimentos  Diretos  Estrangeiros  (IDE)  mundial,  entre  1995  e  2011,  mil milhões de dólares. 

Quando  analisamos  o  protagonismo  de  países  e  regiões,  para  além  do  grupo  das economias  desenvolvidas,  que  absorve  cerca  de  70%  dos  fluxos  mundiais  de  IDE, evidenciam‐se alguns países pertencentes ao grupo dos emergentes, como sendo dos principais receptores de IDE a nível global (UNCTAD, 2012). Os casos da China e do Brasil  são os mais  significativos,  tendo  recebido,  respetivamente,  15,5% e 4,5% do total (31% dos fluxos de IDE na região da América Latina e Caraíbas), o que os torna líderes incontestados das respectivas regiões. 

 Fonte: Ernst & Young, 2012 

Figura 2 ‐  Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) no Brasil, uma evolução sustentada nos últimos anos. 

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De acordo com dados da consultora  internacional Ernst and Young,  registrou‐se um aumento  do  número  de  projetos  de  IDE  em  39%  em  2010,  acompanhando  o crescimento do valor dos fluxos de IDE. Este aumento deve‐se, fundamentalmente, ao reforço  das  condições  de  atração  da  economia  brasileira,  como  o  dinamismo  da procura  interna  (alimentada  pelo  reforço  da  classe  média),  o  anúncio  de  grandes eventos  internacionais  que  necessitam  de  fortes  investimentos  em  infraestruturas físicas  (Copa do Mundo da FIFA de 2014 e os  Jogos Olímpicos de 2016) e enormes reservas  inexploradas  de  recursos  naturais.  Uma  componente  fundamental  para  a atração de IDE reside nas políticas públicas desenvolvidas pelo governo brasileiro de estímulo  aos  investimentos  estrangeiros,  de onde  se destacam os  incentivos  fiscais centrados  na  produção  e  conteúdos  locais,  a  simplificação  de  procedimentos  de licenciamento  e  da  estrutura  regulatória,  crédito  subsidiado  e  acesso  facilitado  ao financiamento. 

 

Fonte: UNCTAD, 2012. 

Figura 3 ‐ Distribuição sectorial do Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) em 2011. 

A distribuição setorial do  IDE, em 2011,  também revela dados  interessantes para o nosso  trabalho.  Assim,  o  setor  primário,  que  engloba  as  atividades  de  mineração, extração  de  pedras  naturais  e  de  petróleo,  foi  aquele  que  registrou maior  taxa  de crescimento  em  2010,  46%  de  acréscimo  dos  fluxos  de  capital  estrangeiro,  tendo estas  atividades  registrado  um  aumento  de  51%,  o  que  traduz,  claramente,  o interesse  dos  investidores  na  exploração  deste  tipo  de  recursos,  e  o  potencial  de crescimento do setor, que representa, atualmente, 14% do total das preferências dos investidores (UNCTAD, 2012). 

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Em  termos  de  vantagens  comparativas,  o  Brasil  detém  uma  das  maiores concentrações mundiais de minerais, que origina a sexta maior produção mineral do mundo, detendo posições de liderança na produção de várias commodities: é o maior produtor  mundial  de  nióbio;  o  segundo  maior  produtor  de  minério  de  ferro  e tantalita; o terceiro maior produtor de bauxita; e o quinto maior produtor de cobre, estanho  e  caulim.  O  setor mineral  contribui  para  4,2%  do  PIB  e  20%  do  total  das exportações brasileiras, gerando um milhão de empregos diretos, o equivalente a 8% dos empregos da indústria (PNM, 2011). O país destaca‐se internacionalmente como produtor  de  nióbio,  minério  de  ferro,  bauxita,  manganês  e  vários  outros  bens minerais.  Apesar  de  o  setor  brasileiro  de  mineração  ter  sido  afetado  pela  crise financeira de 2008, as companhias vêm aumentando seu  investimento desde então. De acordo com o relatório da Ernst & Young, o setor de mineração e metais do Brasil foi responsável pela captação de 35 projetos de IDE em 2011, ou seja 7% do total de projetos financiados por capital estrangeiro no país.  

Concentradas  nas  regiões  sudeste  e  sul  do  país,  as  empresas  que  exploram  os recursos  minerais  em  território  brasileiro  englobam  ETN  de  capitais maioritariamente  estrangeiros  (britânicos,  australianos,  canadenses),  mas  também existem  grandes  players  de  origem  nacional,  como  a  Vale  do  Rio  Doce,  Grupo Camargo Corrêa, Gerdau, Grupo Votorantim, entre outros.  

Embora apresente perspectivas muito otimistas de crescimento, o setor de recursos minerais  brasileiro  apresenta  alguns  riscos  significativos,  como  a  excessiva dependência da exportação de commodities, como o comércio com a China, com todos os  custos  da  volatilidade habitualmente  associada  a  esses mercados,  assim  como a falta  de  infraestruturas  físicas  e  humanas  e  a  complexidade  do  enquadramento regulatório podem atuar como fatores desestimulantes do investimento estrangeiro. Apesar disso, o governo pôs em marcha um ambicioso Plano de Mineração até 2030, que prevê investimentos muito significativos e a triplicação da produção nacional de ouro,  ferro  e  cobre  até  ao  ano  referido,  assim  como  a  dinamização  da  exploração mineral na Amazônia, criando condições para a facilitação das trocas através da im‐plementação de uma zona de comércio livre. (PNM, 2011).  

Este Plano Nacional de Mineração – 2030 deverá servir como referência para definir o  planejamento  estratégico  do  setor  mineral  brasileiro  nos  próximos  20  anos,  no contexto das políticas ambientais e industriais, com o objetivo comum de promover o desenvolvimento  sustentável  do  Brasil  (PNM,  2011).  O  Plano  centra‐se  em  três vetores fundamentais: 

•   uma governação pública eficaz,  para promover o uso dos bens minerais extraídos no país, no interesse nacional, incluindo a consolidação do novo marco regulatório do  setor  mineral,  com  a  criação  do  Conselho  Nacional  de  Política  Mineral, mudanças no modelo de concessão, a criação da Agência Nacional de Mineração, e a revisão da política para a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (os royalties da mineração); 

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•   agregação de valor e adensamento de conhecimento em todas as etapas da cadeia produtiva mineral, desde a geologia até a mineração e a  transformação mineral, pelo estímulo à expansão de cadeias produtivas minerais no país, melhorando o rendimento, o emprego e a inovação tecnológica. 

•   assumir  a  sustentabilidade  como  premissa  fundamental,  pela  manutenção  da qualidade ambiental do território, citadas na Agenda 21. 

Políticas públicas de atração de IDE: concorrência aguerrida e pouco transparente 

Nos últimos anos, no contexto da globalização financeira e do apogeu do capitalismo liberal, o investimento privado, nacional e, principalmente, estrangeiro, é visto como fator de dinamização do crescimento econômico, devido aos efeitos, potencialmente positivos e dinamizadores  sobre o  conjunto da economia,  a  saber:  transferência de tecnologia,  criação  de  emprego,  desenvolvimento  de  infraestruturas  físicas  e humanas,  melhoria  da  produtividade  dos  fatores  de  produção  e  reformulação  do perfil das exportações, melhorando o conteúdo em termos de valor acrescentado, e permitindo um ganho global nos termos de troca, principalmente para as economias menos desenvolvidas. 

Mas  grande  parte  dos  países  concebeu  e  implementou  políticas  de  atração  do  IDE, nem  sempre  coincidentes  com  as  necessidades  das  economias  domésticas,  tendo  a concorrência  entre  os  países  em  desenvolvimento  e  economias  emergentes  para captação dos  fluxos de capital  levado à definição de políticas permissivas, e mesmo predatórias,  que,  em  muitos  casos,  tiveram  uma  influência  nefasta  sobre  as economias de acolhimento (FORSTATER et al, 2010). 

Para  além  das  políticas  comerciais,  os  países  em  desenvolvimento  oferecem  uma grande  variedade  de  apoios  às  empresas  estrangeiras,  tais  como  incentivos  fiscais, isenção ou redução de direitos sobre as  importações de componentes ou promoção de exportações. 

 No  entanto,  não  há  uma  evidência  conclusiva  de  que  estes  incentivos  tenham importância na decisão de investimento das empresas estrangeiras.  

Os  países  em  desenvolvimento  podem  ser  compelidos  a  oferecer  tais  incentivos devido à concorrência,  já que se nenhum país oferecer  tais  incentivos, a decisão de IDE será baseada na dotação de recursos de cada país e nas condições mais eficientes que eles proporcionam (COSTA, 2005). 

O  Brasil  não  constitui  exceção  a  esta  tendência,  já  que  é  consensual  entre  vários autores registrar que o protecionismo constitui um dos elementos mais marcantes da economia  brasileira  desde  o  início  dos  anos  1930,  até  à  liberalização  da  atividade econômica, que marcou a década de 1990 (COSTA, 2005). 

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Um  outro  poderoso  fator  de  atração  do  IDE  é,  naturalmente,  a  disponibilidade  de recursos  naturais,  energéticos  e  afins.  Os  dados  disponíveis  apontam  para  a concentração dos  fluxos de IDE num sentido norte‐sul, ou seja, os países de origem eram  as  grandes  potências  europeias,  os  EUA,  Canadá  e  Japão,  enquanto  os  de acolhimento  se  situavam  na  Ásia,  África  e  América  Latina,  evidenciando  um  fraco nível de desenvolvimento econômico. Este tipo de IDE centrava‐se em indústrias que tiravam partido da exploração dos recursos naturais. 

A  importância  decrescente  dos  recursos  naturais  nos  anos  que  se  seguiram  à  II Guerra  Mundial,  assim  como  a  emergência  de  novos  países  independentes abundantemente dotados de recursos naturais e pouco receptivos ao IDE, levaram a um  declínio  no  tipo  de  IDE  que  se  deslocalizava  em  busca  de  recursos  naturais (UNCTAD, 1999), que, no entanto, tem vindo a registrar um notável crescimento nos anos mais recentes. 

A capacidade institucional e a qualidade da governação 

Um  dos  principais  objetivos  da  Conferência  das  Nações  Unidas  sobre  Ambiente  e Desenvolvimento, que teve lugar no Rio de Janeiro, em 1992, foi o de estabelecer um conjunto de princípios comuns e compromissos entre os vários países para definir e implementar  processos  de  desenvolvimento  sustentável  por  todo  o  globo.  Esta conferência  deu  origem  à  famosa  Agenda  21,  que  apelava  a  uma  cooperação reforçada  entre  países  desenvolvidos  e  em  desenvolvimento  naquele  domínio específico, dados os custos da sustentabilidade ambiental e social, e reconhecendo a necessidade  do  envolvimento  de  vários  atores,  para  além  dos  estados  nacionais, como  os  atores  não  governamentais,  associações  profissionais  e  entidades acadêmicas e científicas. 

Como referem Freitas et al  (2001),  esta participação em rede  confere à questão da sustentabilidade  uma  dimensão  não  só  de  governabilidade,  mas  também  de capacidade de governação, ao nível nacional e internacional, para o aumento de uma responsabilidade coletiva. 

No caso dos países em desenvolvimento, a situação torna‐se ainda mais complexa, já que, de acordo com Freitas et al (2001), estes países defrontam‐se com dois tipos de vulnerabilidades:  a  maior  parte  das  regras  e  especificidades  técnicas  e  científicas relativas à sustentabilidade são definidas no contexto dos países mais desenvolvidos, existem muitas dificuldades por parte dos países em desenvolvimento de conseguir congregar os recursos técnicos, econômicos e humanos para avaliar as situações de risco e implementar medidas corretivas.  

Não só as populações são mais vulneráveis aos danos ambientais, até pela sua fraca formação  e  exclusão  social,  mas  as  próprias  instituições  públicas  revelam  uma fragilidade  acrescida,  dadas  as  deficiências  estruturais  em  temos  de  definição  e 

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implementação  de  políticas  públicas,  processos  de  tomada  de  decisão  e disponibilidade de meios para detectar e prevenir situações de risco.  

A  falta de  legislação adequada, o desequilíbrio de  forças entre os  intervenientes no processo  (governos  locais  e  instituições  públicas  versus  grandes  empresas  e interesses  instalados)  e  o  desconhecimento  das  populações  afetadas  gera  uma assimetria de informação muito grande, que lesa principalmente os mais vulneráveis. 

O caso do Brasil não constitui exceção, combinando a vulnerabilidade institucional e a complexidade no processo de tomada de decisão com a escassez de meios técnicos e  humanos  disponíveis,  tornando  as  populações,  em  risco  de  exclusão  social, mais expostas a riscos em termos de saúde pública e degradação ambiental, em presença de  práticas  empresariais  (nomeadamente  na  exploração  dos  recursos  naturais) menos responsáveis (FREITAS et al, 2001). 

A doença holandesa ou a maldição dos recursos naturais 

O  setor  da  exploração  de  recursos  naturais  (com  destaque  para  a mineração)  não constitui  exceção  a  este  tipo  de  comportamento,  aumentando  o  potencial  de ocorrência da  ‘doença holandesa’,  com  todos os vícios que a mesma acarreta,  como sejam o desvio de recursos, corrupção e conflitos, a volatilidade econômica, o reforço da especialização primária do aparelho produtivo, os impactos locais prejudiciais e as políticas públicas de fraca qualidade (CORDEN, 1984). 

Na verdade, os recursos naturais e a riqueza mineral podem constituir um poderoso catalisador  do  processo  de  desenvolvimento,  agregando  investimento,  emprego  e receita  para  o  estado  receptor.  No  entanto,  muitos  países  dotados  de  recursos naturais  abundantes  não  têm  conseguido  sair  das  armadilhas  do subdesenvolvimento,  da má  gestão  política  e  da  corrupção  instalada,  pelo  que,  em muitos  casos,  a  descoberta  de  petróleo  ou  de  recursos  minerais  não  levou  à prosperidade  sustentável,  mas  antes  ao  conflito  político  e  à  ruptura  econômica (FORSTATER et al, 2010). 

Tal fato ficou conhecido na literatura como a denominada  ‘maldição da abundância’ ou a praga dos recursos naturais, mais conhecida pela ‘doença holandesa’, traduzindo o  fato  de  países  ricos  em  recursos  naturais  terem  sido  incapazes  de  utilizar  essa riqueza para melhorar a situação econômica doméstica. 

Os principais fatores disruptivos são a possibilidade de corrupção e peculato, já que os  fluxos monetários  provenientes  da  exploração  dos  recursos  naturais  podem  ser facilmente apropriados para uso indevido e fraudulento, de uma forma mais fácil do que os ganhos derivados do comércio internacional; a volatilidade econômica, já que uma  dependência  excessiva  das  receitas  de  exportação  centradas  nos  recursos naturais e em commodities deixa as economias muito vulneráveis à evolução do ciclo económico,  dificultando  a  definição  de  politicas  econômicas  mais  sustentadas  e induzindo à deterioração do clima de negocios.  

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O afluxo de grandes quantidades de dinheiro pode levar a uma apreciação da moeda, o  que  torna  menos  rentável  a  exportação  de  produtos  agrícolas  e  de  bens manufaturados,  levando  a  uma  excessiva  especialização  exportadora  no  setor  dos recursos minerais, o que, a  longo prazo, compromete a sustentabilidade do próprio processo  de  desenvolvimento,  num  fenômeno  que  vários  autores  denominam  de especialização reversa (BRESSER‐PEREIRA, 2008). 

Um  outro  problema  tem  a  ver  com  a  fraca  qualidade  das  políticas  públicas,  já  que muitos  países  com abundância  de  recursos naturais  são muitas  vezes  afetados por deficientes  estruturas  institucionais.  A  aparente  facilidade  de  arrecadação proveniente  da  exploração  dos  recursos  naturais  leva muitas  vezes  os  governos  a menosprezar outros setores de atividade, a negligenciar as obrigações e os contratos sociais que devem existir entre as empresas e os seus trabalhadores.  

Finalmente,  a  exploração  de  recursos  naturais  pode  ter  impactos  muito  negativos sobre  a  economia  local,  originando  a  desestruturação  de  setores  da  economia doméstica,  e  agravando  as  condições  socio‐econômicas  da  população.  No  caso brasileiro,  vários autores  têm alertado para os  riscos da excessiva concentração do minério de ferro na pauta de exportações de bens minerais, destinadas, na sua maior parte  a  um  único  comprador,  a  China.  De  acordo  com  o  PNM,  em  1990,  a  China importava 2% do minério de ferro brasileiro e esta substância representava 5% nas exportações  totais  brasileiras.  Duas  décadas  depois,  em  2009,  esses  percentuais passaram  para  59%  e  9%,  respetivamente  (PNM;  2011),  configurando, potencialmente,  um  risco  de  “especialização  reversa”  da  pauta  de  exportações:  de acordo  com  dados  do  IPEA  (2009),  em  2000,  42%  dos  bens  exportados  estavam classificados como commodities e bens energéticos, enquanto os bens de média e alta intensidade  tecnológica  correspondiam  a  36%  das  exportações.  Em  2008,  essas percentagens passaram para 56% e 27%, respetivamente (PNM, 2011). 

Em síntese, é uma condição imprescindível para prevenir ou minimizar os efeitos da ‘doença holandesa’ que exista uma forte capacidade de governação e uma arquitetura institucional  robusta,  para  que  os  desafios  do  desenvolvimento  coletivo  se sobreponham  aos  interesses  particulares  ou  de  grupos  de  interesse.  Infelizmente, não  é  o  que  acontece  na maior  parte  dos  casos,  sendo  a  qualidade  da  governação bastante débil. 

Nos anos mais recentes,  tem emergido um consenso internacional sobre o conjunto de medidas a serem empreendidas de modo que a exploração dos recursos naturais possa, efetivamente, contribuir para o desenvolvimento sustentável. 

Por  um  lado,  por  em  prática  um  conjunto  de  medidas  de  salvaguarda  social  e ambiental, de modo a reduzir os impactos sociais mais negativos (deslocalização das populações, perda de emprego, fraca ligação com a atividade local), mitigar os danos ambientais e lutar contra a corrupção.  

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Os  recursos  naturais  são,  por  definição,  localmente  esgotáveis,  pelo  que  o  grande desafio em termos de políticas públicas será o de criar condições para desenvolver uma  economia  local  sustentável,  que  sobreviva  à  insustentabilidade  dos  recursos naturais, em termos de criação de emprego, de envolvimento dos parceiros locais, da criação  de  infraestruturas  e  da  criação  de  capacidade  institucional  e  governativa, aproveitando  as  receitas  da  exploração  dos  recursos  naturais  para  financiar  esses objetivos (Figura 4). 

 

Figura 4 ‐ Desafios à (in)sustentabilidade dos recursos naturais 

O conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) 

É um conceito recente, que começa a assumir uma maior importância nos anos 1990, com o aumento do protagonismo das empresas transnacionais na economia global, e nos  países  de  acolhimento  em  particular.  Está  intimamente  ligado  ao  processo  de globalização, e às suas consequências negativas, do ponto de vista social: decorre da concorrência  desenfreada  dos  países  pela  captação  de  capitais  externos,  e  pela dificuldade em responsabilizar as ETN, cada vez mais globalizadas, pelas suas ações concretas  num determinado país.  Em vários  países,  a  emergência  de preocupações com a sustentabilidade ambiental e social leva à necessidade de equacionar uma ação conjunta  entre  ETN,  governos  e  organizações  internacionais,  no  sentido  de  definir ações  que  promovam  a  RSE,  numa  dinâmica  de  rede  e  interação  entre  os  vários agentes.  

São  necessárias  formas  alternativas  de  regulação,  que  não  passem  somente  pela atuação dos governos, mas envolvam  também as próprias ETN, monitorizadas pela sociedade  civil.  Como  refere  Fernandes  (2006),  a  responsabilidade  social  é  um conceito amplo, porque diz respeito à empresa se empenhar na construção de uma sociedade mais justa e ambientalmente sustentável, incluindo questões relacionadas 

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a  direitos  humanos,  trabalho,  relações  com a  comunidade  e  a  sociedade  e  relações entre fornecedores, fornecedores de seus fornecedores e consumidores 

Embora  a  RSE  tenha  emergido  diferenciada  em  vários  países,  incorporando elementos da  cultura de negócios  local,  é possível detectar um padrão de  evolução mais  ou menos  comum em vários  países.  A  primeira  geração  de  práticas  de RSE  é geralmente caracterizada por um conjunto de práticas ad­hoc, de resposta a questões ambientais e a ameaças sobre o desenvolvimento do negócio. A segunda geração  já testemunha  o  empenho  das  várias  empresas  a  introduzir  uma  abordagem  mais profissionalizante, definindo compromissos e objetivos, e reportando o impacto dos mesmos  sobre  a  respectiva  performance.  A  terceira  geração  pressupõe  que  as empresas  definam  as  suas  estratégias  negociais  no  contexto  do  desenvolvimento sustentável,  o  que  implica  contribuírem  ativamente  para  criar  impactos  positivos sobre as condições de vida dos habitantes locais e sobre o ambiente.  

Entre  os  fatores  determinantes  para  a  construção  da  RSE,  destacamos  a  rápida globalização  da  economia,  com  efeitos  na  sociedade,  ambiente  e  estratégias empresariais;  o  declínio  da  influência  estatal  na  esfera  pública,  ascensão  do neoliberalismo  nos  anos  1980  e  a  consequente  transposição  do  poder  governativo para  a  sociedade  civil.  A  formulação  da  business  ethics  (acadêmicos, policy­makers, ETN):  a  própria  ETN  reconhece  os  ganhos  que  terá,  para  a  imagem  pública,  da definição de uma politica de RSE. 

Na  verdade,  não  existe  uma  definição  global, mas  um  tema  comum:  preencher  um conjunto de requisitos  legais e  expectativas ampliadas dos  stakeholders,  de modo a contribuir  para  uma  sociedade mais  equitativa  e  harmoniosa,  através  de  ações  no local de trabalho, nos mercados, na comunidade e através de políticas públicas e de parcerias entre os vários membros da sociedade civil. Como refere Fernandes (2006), existe  uma  relativa  contradição,  entre  a  atuação  do  empresariado  que  na média  já incorporou bem razoavelmente o ambiental e utiliza o desenvolvimento sustentável como  uma  palavra  chave  incluída  em  todos  os  seus  textos  das  estratégias empresariais, mas que em relação ao social, na média, só aceita pouco mais do que um mínimo no que se refere a todas as suas obrigações legais. 

Entre  os  vários  contribuintes  para  a  definição,  destacamos  a  posição  oficial  do governo  chinês,  que  enfatiza  a  responsabilidade das  empresas perante  a  sociedade civil  e  o  ambiente,  considerando  que  as  empresas,  ao  mesmo  tempo  que desempenham  a  sua  função  principal  de  criar  valor,  têm  de  prestar  contas  aos acionistas,  trabalhadores,  consumidores,  fornecedores,  a  comunidade  no  seu conjunto e os stakeholders, em geral, assim como proteger o ambiente.  

Como  verificamos,  a  RSE  é  encarada,  do  ponto  de  vista  do  discurso  oficial,  numa posição  holística,  integrada.  Por  seu  turno,  o  governo  britânico  procura  conjugar interesses competitivos e interesse social, em busca do desenvolvimento sustentável. Tal concepção prevê que as empresas desenvolvam práticas de RSE que implicam em 

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uma  atuação  voluntária,  para  além  dos  critérios mínimos  legais,  no  respeito  pelos interesses  competitivos  e  pela  sociedade  no  seu  conjunto.  Finalmente,  o  Banco Mundial  percebe  a  RSE  como  uma  convergência  de  interesses  de  todos  os intervenientes  sociais,  de  modo  a  melhorar  o  contexto  de  atuação  dos  agentes econômicos empresariais e da qualidade de vida da comunidade. 

No caso do Brasil, como refere Kirshner (2009), a par de situações que relatam uma ausência de efetiva RSE, existem casos de empresas que desenvolvem uma atuação virada para a comunidade, assumindo responsabilidades que se estendem para além das suas atividades habituais. A título de exemplo, relatamos o caso da ETN Alcoa e o projeto Viva a vida,  em que a empresa ajuda a construir um conjunto de pilares de atuação  social,  promovendo  iniciativas  nos  domínios  da  saúde,  segurança, alimentação  e  cultura  da  comunidade,  agindo  através  da  mudança  de  hábitos  dos próprios habitantes  locais. A Unilever e o projeto Mais vida, que desenvolveu várias intervenções  no  município  de  Araçoiaba  (Recife,  PE),  caracterizado  por  uma profunda  pobreza  e  depauperação,  com  vista  à melhoria  das  condições  de  vida  da população local, alavancando projetos de desenvolvimento sustentável, promovendo ações  sociais  e  de  capacitação  profissional  e  colaborando  com  organizações ambientais. A empresa aderiu a uma iniciativa do movimento Greenpeace, em 2008, apelando  à  suspensão  do  corte  de  palmeiras,  mesmo  sendo  uma  das  principais utilizadoras do óleo de palma para o fabrico de produtos de higiene. Essas atividades, que procuram minimizar os  efeitos  sociais  e  ambientais do extrativismo,  envolvem melhorias na rede escolar, habitação e infraestruturas locais. 

Estes casos enfatizam o papel que a  interrelação entre estas grandes empresas e as comunidades locais pode ter como contribuinte para o desenvolvimento, ao mesmo tempo,  expõem  as  fragilidades  dos  poderes  públicos  em  dinamizar  essas  redes  de cooperação:  tudo depende da  iniciativa e empenho das empresas envolvidas, numa situação  que  é  característica  de  grande  parte  dos  países  em  desenvolvimento  com grandes  dotações  de  recursos  naturais.  As  ETN,  por  definição,  atuam  em  zonas  de jurisdição  transversal,  pelo  que  são  menos  suscetíveis  a  serem  condicionadas  por normativos  dos  países  de  acolhimento.  Neste  contexto,  torna‐se  ainda  mais fundamental  a  construção  de  redes  de  atores,  formados  por  vários  atores  da sociedade  civil  (empresas,  governos,  agências,  consumidores,  fornecedores,  ONG, comunidade  em  geral),  que  induza  a  práticas  empresariais  condizentes  ao desenvolvimento sustentável (ver Figura 2). 

Por  outro  lado,  como  referem  Gifford  et  al  (2010),  historicamente  os  países  em desenvolvimento  onde  estavam  instaladas  grandes  ETN  não  tinham  grande influência sobre a atividade dessas empresas, mesmo nos seus próprios  territórios, dada  a  dimensão  e  poder  daquelas  e  a  fraqueza  das  arquiteturas  institucionais autóctones. Com o advento da internet e da globalização dos meios de comunicação social,  da  proliferação  de  ONGs  e  de  fundações  e  associações  da  sociedade  civil,  a atividade  daqueles  agentes  econômicos  tornou‐se  mais  exposta  à  avaliação  da 

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sociedade  internacional,  o  que  aumenta  a  sua  responsabilidade  social  face  aos territórios onde estão instalados. O impacto da atuação das ETN, particularmente do ponto de vista social e ambiental nas regiões de exploração dos recursos naturais, e a pressão da opinião pública  internacional, mais do que das autoridades  locais,  levou muitas daquelas empresas a desenvolverem esforços conjuntos com parceiros locais, muitas vezes não tradicionais (tribos, por exemplo) para desenvolver estratégias de RSE. 

 

Fonte: Adaptado de Gonzalez‐Perez et al (2011)  

Figura 2 ‐ A rede da Responsabilidade Social Empresarial (RSE). 

Ao  contrário do que acontecia há  cerca de 30 anos,  as práticas de  sustentabilidade estão se tornando uma fonte de vantagens competitivas para as empresas no setor da mineração,  aportando  benefícios  para  a  imagem  da  empresa  e maior  facilidade  de acesso aos recursos, enquanto o surgimento de acordos e organismos internacionais fomentam o desenvolvimento da RSE: são exemplos mais significativos a criação da Comissão  Internacional  de  Mineração  e  Metais,  em  2001,  e  a  formação  da  United Nations  Global  Compact,  em  2002,  em  que  os  respetivos  membros,  as  ETN,  se comprometem  a  desenvolver  práticas  negociais  social  e  ambientalmente responsáveis. A própria OCDE lançou, em 2000, o Guia para a Atuação das Empresas Multinacionais, onde estão  listados os  requisitos e padrões que as empresas devem assegurar  voluntariamente,  em áreas  como o  emprego  e  as  relações  industriais,  os direitos  humanos,  ambiente,  combate  à  corrupção,  interesse  dos  consumidores  ou inovação e desenvolvimento.  

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Como é natural,  a motivação das ETN para participar neste  tipo de  iniciativa não é orientada,  exclusiva  ou mesmo primariamente,  por  fins  altruístas  ou humanitários. Existe  uma  preocupação  com  a  imagem  pública  da  empresa,  face  à  crescente exposição na mídia e ao acréscimo das preocupações com a sustentabilidade no seio da opinião pública internacional. Por outro lado, as empresas que promoverem ações de RSE podem ter um acesso privilegiado a determinado tipo de recurso, conseguem diminuir  os  custos  de  transações  pelas  boas  relações  com  as  instituições  e  com os responsáveis governamentais locais, aumentar os ganhos de eficiência na adoção de equipamentos menos poluentes, por exemplo. 

Como  refere  Fernandes  (2006),  nos  anos  2000,  pode‐se  afirmar  que  a responsabilidade  socioambiental,  não  é  um  adendro,  um  apêndice  facultativo  às atividades estratégicas da empresa, mas sim é a forma como uma empresa é gerida no contexto da globalização e é hoje um referencial competitivo para as empresas de todos os segmentos de mercado. Este fator possui importância estratégica, e poderá, num  futuro  próximo,  ser  tão  importante  como  a  qualidade,  a  competitividade,  os preços e a capacidade de atrair mão‐de‐obra altamente qualificada. 

7. O caso da Metaleurop: da França a Santo Amaro, a importância da governação 

A problemática 

Um dos casos mais famoso de poluição resultante de contaminação por chumbo é o da empresa Metaleurop Nord, cuja atividade afetou, durante mais de um século, uma região do noroeste da França, o Nord Pas de Calais,  e  se  tornou emblemática pelas implicações  que  teve  de  articulação  da  RSE  com  a  capacidade  institucional  e  de governação.    Cobrindo  uma  área  de  cerca  de  120  km2,  a  região  foi  dominada  pela exploração de duas grandes empresas metalúrgicas: Metaleurop e Nyrstar  . Durante mais de um século, as duas fábricas, com atividades relacionadas com a extração do carvão  e  com  atividades  metalúrgicas,  emitiram  para  a  atmosfera    quantidades consideráveis de elementos metálicos, contaminando solos, ar, água e rios (chumbo, cádmio, zinco). Os rejeitos aquíferos e o  transporte  fluvial dos minerais originaram uma  forte  contaminação  dos  sedimentos  do  Canal  de  Deule,  que  passa  pela  região onde  estiveram  situadas  as  duas  fábricas,  a  Metaleurop  em  Noyelles‐Godault  e  a Nyrstar em Auby, distando menos de quatro quilômetros uma da outra, como se pode ver pela figura 3, ao longo do Canal de Dêule.  

As origens da Metaleurop remontam a 1894, quando a empresa  francesa Malfidano, instala na região de Nord Pas de Calais uma metalurgia para tratar minerais de zinco. Essa  fábrica,  localizada especificamente na cidade de Noyelles‐Godault,  foi ocupada pelos  alemães,  e  utilizada  como  um  depósito  de  munições  durante  a  I  Guerra Mundial, tendo sido completamente destruída por bombardeios em 1917. A empresa renasceu  em  1920,  com  a  compra  por  parte  da  empresa  francesa  Penarroya, 

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tornando‐se rapidamente um dos maiores produtores mundiais de chumbo e zinco, a que  se  juntaram  mais  tarde  as  produções  de  germanium,  índio  e  trióxido  de antimônio,  a  partir  de  1976.  A  importância  da  região  é  muito  considerável:  era responsável  por  2/3  da  produção  nacional  de  chumbo,  1/3  da  produção  de  zinco, sendo  também  o  primeiro  produtor  mundial  de  germanium    e  de  indío,  a  que  se juntavam as produções de cádmio, prata e arsênico, entre outras (SAFIR, 2012). 

 

Figura 3 ‐ Bacia metalúrgica em Nord Pad de Calais, com as duas empresas, Metaleurop e Nyrstar. 

 

 

 

 

 

 

  

Figura 4 ‐ A região de Nord Pas de Calais e a cidade de Noyelles‐Godault 

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Em 1988, foi criada a Metaleurop, através da fusão da Penarroya, e de uma empresa de metais não ferrosos alemã, Preussag.  

Nos anos 1980, a empresa já constituía uma unidade de produção que causava gran‐des níveis de poluição, nos solos, no ar, na água e nos seres humanos. A partir dos anos  1970,  já  como  resposta  à  poluição  que  afetava  os  solos  e  a  água,  são desenvolvidos trabalhos de remediação, que visavam a redução dos resíduos, como a filtração dos fumos ou o tratamento de águas.  

No entanto, e apesar das medidas, a quantidade de rejeitos permanecia assustadora‐mente perigosa; em 2001, o complexo produzia 18,3 toneladas de chumbo, 26 tone‐ladas de zinco, 0,8 de cádmio, 6800 de dióxido de enxofre e ainda 10 a 15 toneladas de rejeitos indiferenciados. 

Para, além disso, o sistema de filtração adotado tinha um efeito perverso, pois permi‐tia a passagem das partículas mais finas,  justamente aquelas que são mais assimilá‐veis  pelo  organismo  humano,  em  particular  o  das  crianças,  que  foram  particular‐mente  afetadas  pelo  saturnismo,  nos  municípios  de    Courcelles‐les‐Lens,  Dourges, Evin Malmaison, Leforest e Noyelles‐Godault. O programa de avaliação do saturnismo identificou 11% das crianças registrando uma taxa de chumbo no sangue superior a 100  µg/por  litro  de  sangue,  o  máximo  aceitável,  especialmente  na  cidade  de  Evin Malmaison, onde a  taxa atingiu uns assustadores 25% de crianças com um nível de chumbo  no  sangue  40  vezes  superior  ao  aceitável  (FRANGI;  RICHAR,  1997)  .  De acordo  com  a  DIRE  (Direção  Regional  da  Indústria,  Pesquisa  e  Ambiente),  serão necessários  entre  5000  a  10000  anos  para  descontaminar  as  áreas  poluídas.  As pesquisas  desenvolvidas  ao  longo  dos  últimos  15  anos  para  identificar  casos  de envenenamento por chumbo na região revelaram a existência de 260 ocorrências, em crianças,  enquanto,  entre  1996  e  2001,  foram  registrados  36  casos  de envenenamento  entre  os  trabalhadores  da  fábrica,  tendo  outros  172  sido considerados inaptos para a atividade profissional (SAFIR, 2012). 

No entanto, as várias campanhas desenvolvidas para lutar contra o saturnismo reve‐laram uma queda dos níveis de chumbo no sangue depois do fechamento da fábrica : em 2000, 27 crianças tinham uma taxa de chumbo no sangue superior a 100 µg/por litro de sangue; em 2002, registravam‐se 30 crianças com esse valores, 32 em 2003,  tendo o número baixado para 7 em 2004 (já depois do encerramento do complexo) e 1  criança  em  2006,  embora  houvesse  registros  de  um  número  significativo  de crianças  com  níveis muito  próximos  do máximo  permitido.  Em  2009,  os  níveis  de chumbo  presentes  no  sangue  de  crianças  pequenas  ainda  eram  superiores  aos admissíveis pela Organização Mundial de Saúde. 

Há ainda que se registrar os acentuados níveis de poluição da água e dos solos, que teriam alcançado uma área  superior  a 45 quilômetros quadrados,  tornando a  terra imprópria para culturas ou pecuária. 

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Na sequência de dois acidentes graves, em 1993 e 1994, que provocaram a morte de uma dezena de trabalhadores da empresa, o acionista principal, a Preussag, retira‐se do capital da Metaleurop, sendo substituída pela Glencore, empresa conhecida pelas suas  atividades  na  exploração  de  matérias‐primas,  dando  origem  à  empresa Metaleurop Nord.  Vários  registros  mencionam  que  a Metaleurop  transferiu  para  a Metaleurop Nord  as  perdas  financeiras  associadas  aos  dois  acidentes,  o  que,  num contexto  de  baixa  generalizada  dos  preços  mundiais  de  commodities,  não  terá contribuído para a saúde financeira da empresa. Depois de efetuar mais de duas cen‐tenas de despesas, a empresa mãe decide encerrar o complexo industrial de Noyelles‐Godault,  justificando a  ausência de  financiamento por parte do  setor  financeiro e  a necessidade  de  garantir  a  estabilidade  financeira  do  grupo.  No  início  de  2003,  a empresa solicita a declaração de falência junto do Tribunal de Primeira Instância de Béthune, sendo a sentença proferida dois meses depois. Todo o complexo industrial é encerrado,  lançando  no  desemprego  830  trabalhadores  e  deixando  um  aterrador passivo ambiental: a região é considerada a mais poluída em todo o território francês, já que na altura do encerramento, a fábrica ainda emitia 50 quilogramas de chumbo por dia.  

Os representantes sindicais formalizaram uma ação junto ao tribunal de Béthune, em abril  de  2003,  com  o  objetivo  de  liquidar  os  bens  da  empresa mãe, Metaleurop,  e obrigar a empresa a assumir as suas responsabilidades legais  :um plano de seguros aos trabalhadores despedidos, o pagamento a dezenas de subcontratados e o financi‐amento da recuperação ambiental da região afetada. O tribunal rejeitou a ação, e os trabalhadores viram‐se obrigados a aceitar um plano social, financiado pelo governo francês e pela SGS (Seguro de Garantia dos Salários), financiado pelo MEDEF, a fede‐ração francesa de empresários, com valores muito mais reduzidos do que os solicita‐dos anteriormente (SAFIR, 2012). 

A remediação 

O encerramento do complexo industrial da Metaleurop Nord originou um conjunto de consequências  devastadoras  sociais,  econômicas  e  ambientais,  que  não  foram  re‐solvidas,  como  testemunhamos  acima,  por  práticas  de  Responsabilidade  Social Empresarial por parte da empresa envolvida. 

Neste contexto, a prefeitura de Nord Pas de Calais encarrega a ADEME – Agência para o Ambiente e Energia francesa de programar um conjunto de medidas de gestão do risco, envolvendo agentes da sociedade civil, Municípios, várias universidades  fran‐cesas  de  renome,  agências  nacionais  de  proteção  ambiental  e  vultosos  fundos comunitários, para resolver o problema.  

O  encerramento  da  Metaleurop  significou  o  desemprego  de  830  trabalhadores, aumentando a taxa de desemprego na região para 30% (40% para os mais  jovens), um conjunto de tradições familiares que se quebram (varias gerações trabalharam na empresa ao longo de mais de século), e ainda uma perda de 3 milhões de euros em 

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receitas provenientes de taxas profissionais para os municípios em causa, nomeada‐mente Noyelle‐Godault e Courcelle‐les‐Lens. 

Do ponto de vista ambiental, as consequências são também devastadoras, com uma empresa obsoleta e uma fábrica onde se acumularam várias dezenas de milhares de toneladas de rejeitos industriais perigosos, gerando poluição para as regiões adjacen‐tes durante mais de 100 anos. 

Atualmente,  todo o estaleiro é propriedade da empresa SITA, pertencente ao Grupo SUEZ, que desmantelou completamente as antigas instalações da Metaleurop, reabili‐tando o local, para acolher um conjunto de atividades eco‐industriais e de reciclagem. 

Para a reconversão da região, um processo muito complexo e  financeiramente one‐roso, foi necessário a intervenção de vários atores, dos quais destacamos a DRIRE – Direção Regional de Indústria, Pesquisa e Ambiente francesa, que pôs em marcha um plano  formado  por  duas  vertentes:  um  conjunto  de  medidas  de  acompanhamento com caráter de urgência, e um plano de reconversão da região num horizonte de mé‐dio prazo. 

As medidas de urgência eram de índole, essencialmente, social, agindo sobre os tra‐balhadores  desempregados  e  sobre  os  subcontratados,  que  receberam ajuda  finan‐ceira até conseguirem encontrar nova atividade profissional. 

O plano de reconversão previa a valorização dos fatores de produção locais (infraes‐truturas,  mão  de  obra  qualificada,  centros  de  pesquisa),  tendo  sido  criadas  várias zonas de atividades e hotéis, assim como uma zona franca, o que permitiu às empre‐sas beneficiarem‐se de isenções fiscais  e sociais. 

Logo após a  falência da empresa  ter sido decretada, o  tribunal de Béthune, que  jul‐gara o caso, lançou um apelo a empresas que quisessem por em prática um plano de descontaminação da área. A empresa SITA elaborou um plano em comum acordo com as  entidades  locais,  com  antigos  sindicalistas  e  trabalhadores,  com  uma  dupla orientação:  sanitária,  para  que  a  descontaminação  fosse  rápida,  e  econômica,  para criar ou favorecer a criação de empregos. 

O  projeto  Agora  foi  selecionado  para  reconverter  todo  o  estaleiro  da Metaleurop, através da empresa SITA, a partir de novembro de 2003, com base em compromissos recíprocos. Entre esses compromissos, destacam‐se: a realização de estudos prévios, nomeadamente uma análise detalhada dos riscos que  tinham sido pedidos, sem su‐cesso,  quer  à Metaleurop,  quer  à  entidade  liquidatária.  Os  antigos  empregados  da empresa tiveram um papel muito  importante neste processo, pois detinham conhe‐cimentos insubstituíveis sobre os riscos inerentes ao processo. A SITA comprometeu‐se também a tornar a região apta para uma nova utilização industrial, assim como a realizar  um  inventário  dos  rejeitos,  trata‐los  e  evacua‐los,  desmantelar  as  antigas máquinas  e  instalações,  limpar  e  lavar  os  edifícios  retirar‐lhes  o  amianto  e,  final‐mente, demoli‐los para tratar a poluição dos solos. Também era suposta a criação de 190 empregos, através da implantação de um eco‐polo. 

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O estado francês e a região de Nord Pas de Calais  foram envolvidos em todo o pro‐cesso, nomeadamente através de uma participação financeira de mais de 13 milhões de euros. 

Os trabalhos de descontaminação foram muito significativos: mais de 130 mil tonela‐das  de  rejeitos  foram  tratadas,  e  40 mil  toneladas  valorizadas;  83000 metros  qua‐drados de amianto foram desmantelados; uma superfície de 500 mil metros quadra‐dos  foi descontaminada e  confinada. No  total,  estes  trabalhos permitiram reduzir o impacto ambiental em cerca de 10000 vezes menos a quantidade de nuvens de pó de chumbo, zinco e cádmio. 

É importante ressaltar que,  logo em 1994, tinha sido criado pelo Conselho Regional da Região de Nord Pas de Calais um programa intitulado Programme de Recherches Concertées (Programa de Pesquisas Concertadas) sobre locais e solos poluídos. Este Programa  permitiu  acompanhar,  até  2009,  equipes  de  pesquisadores  regionais dedicadas  à  contaminação  dos  solos  em  redor  das  grandes  metalurgias,  e  que visavam,  essencialmente,  analisar  o  impacto  dos  poluentes  sobre  o  ambiente  e  a saúde humana. Esses pesquisadores trabalharam em estreita ligação com equipes das Universidades  de  Lille  I,  Lille  II,  Escola  de  Minas  de  Douai,  do  INRA  (Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica), do CNRSSP  (Centro Nacional de Pesquisa  sobre Locais  e  Solos  Contaminados),  entre  outros.  Foram  também  realizados  estudos  a pedido  de  parceiros  industriais  e  institucionais  (empresas,  câmaras  agrícolas  e  de comércio, coletividades  locais, etc), evidenciando a participação de vários atores da sociedade civil. 

Em  simultâneo,  durante  o  período  de  implementação  do  Programa,  várias  equipes externas à região intervieram, em interação com outros programas regionais ligados à saúde e ao ambiente, numa abordagem transdisciplinar, com o desenvolvimento de pesquisas  relacionadas  com  a  contaminação  de  solos  cobertos  por  gramíneas,  da qualidade  dos  produtos  hortifrutícolas,  a  exposição  aos  contaminantes  de  crianças pequenas  ou  a  implementação  de  ferramentas  de  diagnóstico  no  domínio  da ecotoxicologia ou da fitoestabilização, por exemplo. 

Neste contexto, é de salientar a ação da ADEME, a agência de ambiente francesa, que contribuiu para  o  desenvolvimento de  conhecimentos  através  do  financiamento de teses e programas de pesquisa pluridisciplinares. 

Durante o período de atividade da Metaleurop Nord, a ADEME tinha conseguido de‐monstrar que as produções vegetais ou agrícolas locais apresentavam concentrações de  chumbo  e  cádmio  que  ultrapassavam os  valores  regulamentares  em  vigor,  pelo que, a partir de meados dos anos 1990, e com o objetivo de impedir a plantação de produtos agrícolas em solos contaminados, se decidiu criar um cinturão verde. Assim, cada  ano,  entre  cinco  a  10  hectares  eram  reconvertidos,  com  a  instalação  de  uma vegetação herbácea  e plantação de  árvores. Desde o  final  de 2009,  este dispositivo experimental  foi  integrado  num  vasto  programa  pluridisciplinar,  o  Phytener, 

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financiado pela ADEME, com vista a avaliar o interesse da fitoestabilização com fins energéticos em solos fortemente contaminados.  

Estes  mesmos  trabalhos  também  permitiram  empregar  140  pessoas,  em  que  um terço era de antigos trabalhadores da Metaleurop. Desde janeiro de 2006, foi lançado um  programa  de  desenvolvimento  de  uma  zona  voltada  para  atividades  terciárias, com a reabilitação de 8000 quilômetros quadrados de escritórios e locais para ativi‐dades  regionais.  Nesta  zona,  foram  criados  mais  de  160  empregos,  ligados  a atividades  como  a  coleta  de  rejeitos,  operação  de  caldeiras  industriais,  atelier  de mecânica  e  reparação,  lavanderias  industriais,  um  gabinete  de  estudos  ambientais, entre outros.  

Notas  Finais:  uma  nova  geração  de  políticas  de  promoção  do investimento centradas na RSE 

O Relatório da UNCTAD (2012)  sobre  IDE revela que os países  continuam a  imple‐mentar políticas facilitadoras do IDE, mas o setor da mineração foi o único a endure‐cer  as  regras  e  a  incrementar  práticas  de  sustentabilidade.  Em  vários  países,  de acordo com o Relatório, verificou‐se um acréscimo das políticas regulatórias no setor da mineração, incluindo mesmo nacionalizações, expropriações, assim como aumen‐to nas taxas sobre os lucros das empresas, royalties e renegociação contratual.  

As preocupações com os compromissos assumidos no âmbito da RSE foram, também, uma constante, com um grau de complexidade, por vezes, superior aos vigentes nas economias de origem das empresas em questão. De acordo com o Relatório, assiste‐se  à  emergência  de  uma  nova  geração  de  políticas  de  investimento,  que,  num contexto de crise persistente e desafios sociais e ambientais, caracterizada por uma preocupação  de  conciliar  a  liberalização  dos  regimes  regulatórios  do  IDE  com  a implantação de políticas públicas direcionadas para as necessidades locais.  

Como foi referido, a nova geração das políticas de investimento visa operacionalizar o conceito de desenvolvimento sustentável em medidas e mecanismos concretos, ao nível  nacional  e  internacional,  nos  planos  do  policy­making  e  da  respectiva implementação. 

 Estas novas políticas vão procurar atingir três objetivos centrais: criar sinergias com políticas de fomento industrial, visando uma integração das estratégias de desenvol‐vimento,  e  baseadas  num  envolvimento  dos  stakeholders  e  num  enquadramento institucional baseado no direito e na qualidade da governação;  incentivar ao desen‐volvimento e cumprimento da RSE, ao nível do benchmarking  internacional; assegu‐rar  o  cumprimento  dos  direitos  e  deveres  de  todos  os  intervenientes:  ao  estado receptor do IDE cabe promover e proteger o investimento enquadrado nos objetivos de desenvolvimento sustentável e o interesse nacional.  

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O investimento nacional e internacional, de caráter produtivo, pode desempenhar um papel  extremamente  importante nas  economias  em desenvolvimento, muitas  vezes afetadas por uma insuficiência de capital produtivo, promovendo a competitividade internacional, a transferência de tecnologia e a formação de capital físico e humano. Mas, na ausência de capacidade institucional e de governação e políticas públicas in‐tegradoras, o mesmo IDE pode fomentar processos de crescimento e captação de re‐ceita sem qualquer ligação com a economia local ou com a qualidade de vida das po‐pulações. Neste  contexto,  as  crescentes  importâncias dos  compromissos  assumidos no âmbito da RSE possam,  influenciando práticas empresariais,  comportamentais e decisões  de  investimento,  funcionar  como  complemento  do  enquadramento regulatório e maximizar os benefícios do investimento. 

O caso prático que analisamos a Metaleurop, no noroeste francês, pode ser conside‐rado um paradigma das consequências que resultam da ausência de práticas de RSE, e da necessidade de envolver os vários atores da sociedade civil na procura de solu‐ções para problemas transversais, como é o caso dos danos ambientais e das proble‐máticas  socioeconômicas,  que  requerem uma dinâmica  rede de  atores  e  interações para funcionar eficazmente. Como vimos as catástrofes ambientais e/ou sociais não são  exclusivas  dos  países  em  desenvolvimento,  ocorrendo  também  em  países  com níveis de riqueza e desenvolvimento econômico relevantes, como é o caso da França. A  grande diferença  é  que,  nestes  últimos  casos,  existe,  para  além da  capacidade  fi‐nanceira,  a  capacidade  institucional  necessária  para  contrariar  estratégias  menos sustentadas  das  grandes  empresas  transnacionais,  e  induzi‐las  a  participar  ativa‐mente no processo de construção e manutenção da cidadania. 

Referências 

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   CCaarrllaa  GGuuaappoo  CCoossttaa  ee  FFrraanncciissccoo  RReeggoo  CChhaavveess  FFeerrnnaannddeess       6633  

 

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DDeessaaffiiooss   ee   pprrooppoossttaass   ppaarraa   oo   eennffrreennttaammeennttoo   ddaa   ccoonnttaammiinnaaççããoo  ppoorr  cchhuummbboo eemm SSaannttoo AAmmaarroo MMaaiizzaa  FFeerrrreeiirraa  ddee  AAnnddrraaddee11  

Introdução 

Passados quase 20 anos do fechamento da metalurgia de chumbo em Santo Amaro, o interesse  por  este  campo  de  estudo  é  crescente  se  observada  a  evolução  das pesquisas  ao  longo  dos  últimos  37  anos,  desde  que  a  contaminação  por  chumbo  e cádmio provocada pela Cobrac apresentou suas primeiras evidências, tanto nas águas do  rio  Subaé,  quanto  na  urina  dos  trabalhadores  da  antiga  fábrica  (BAHIA/CEPED, 1977). A última década foi o período de maior produção de pesquisas representando 61%  do  total  desde  1975  (ANDRADE,  2012)  e  a  razão  disso  é  a  persistência  da contaminação que tem sido evidenciada em estudos recentes (CARVALHO et al., 2001; GUERRA,  2010;  ZENTNER;  RONDÓ,  2004;  ZENTNER;  RONDÓ;  LATORRE,  2005; ZENTNER; RONDÓ, MASTROENI, 2006;  ZENTNER et al., 2008).   

A essas evidências somam‐se aquelas que apontam para o sentimento de saturação dos santamarenses por mais pesquisas (BAHIA/CEPED, 1977; BRASIL, 2003; DI GIULIO, 2010). Esse dado revela um paradoxo entre o grandioso empreendimento científico desenvolvido  em  Santo  Amaro,  que  beira  uma  centena  de  relatórios  técnicos, dissertações  de mestrado, monografias  de  graduação,  teses  de  doutorado  e  artigos publicados  e  a  insuficiência  de  ações  no  sentido  de  fazer  cessar  a  fonte  de  conta‐minação.  Este  artigo,  construído  a  partir  dos  dados da dissertação A  contaminação por chumbo em Santo Amaro: a ciência e o mundo da vida no estuário do  rio Subaé (ANDRADE,  2012),  discute  essa  problemática  e  faz  algumas  recomendações  para  a superação  do  embate  latente  entre  a  ciência  e  o  mundo  da  vida,  tomando  como referência  os  limites  da  metodologia  da  avaliação  de  risco  à  saúde  humana  e  o paradigma emergente da participação dos interessados na definição e enfrentamento dos riscos.  

Avaliação de risco à saúde humana 

Em Santo Amaro, convive‐se com o  fato da contaminação como se natural  fosse.  “A cidade está toda contaminada” ou “tá  todo mundo contaminado” são expressões do senso  comum  naquela  comunidade.  No  estuário  do  rio  Subaé,  a  rotina  de marisqueiras  e pescadores  em nada  se  alteraram ao  longo de  todos  esses  anos  em que o rio recebeu toneladas de metais pesados, e outras contribuições de efluentes 

                                                            

1   Jornalista e mestre pelo Programa de Pós‐Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho – PPGSAT da Faculdade de Medicina da Bahia/Universidade Federal da Bahia. 

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industriais e domésticos desde a sua nascente, em Feira de Santana, a 55 km da foz, na  baía  de  Todos  os  Santos  (BAHIA/CEPED,  1977).  Com  exceção  da  época  em  que ocorreu  uma  mortandade  de  peixes,  ostras,  siris,  sururus  e  todo  tipo  de  vida estuarina, na década de 1980, como lembram os mais velhos, não se deixou de tirar do  mangue,  ou  das  coroas,  os  mariscos,  que  garantem  a  sobrevivência  de  muitas famílias. Se não parou a coleta, também não cessou o consumo desses produtos, es‐pecialmente o sururu, que teve o seu consumo desaconselhado na Avaliação de Risco à  Saúde Humana  por Metais Pesados  em  Santo Amaro  realizada  pelo Ministério  da Saúde, em 2001 (BRASIL, 2003). 

Para pescadores e marisqueiras, o tema causa desconforto uma vez que a referência à contaminação diz respeito a sua atividade de subsistência. O desconforto também é proveniente  da  falta  de  informações  precisas  sobre  a  situação  da  contaminação no estuário. “Sim, está contaminado, mas onde, em que parte do rio tem metais pesados, onde  é  que  tem  marisco  contaminado,  quanto  tem  de  contaminação?”  (ANDRADE, 2012) são questões que um pescador levanta, desafiando o conhecimento técnico. Um possível caminho para tais respostas teria sido a avaliação de risco à saúde humana. Mas, assim como o da maioria das pesquisas realizadas em Santo Amaro, o relatório do Ministério da Saúde repousa numa estante. Não somente porque o relatório não esteja  acessível  à  população  interessada,  mas,  também  pelo  fato  de  as  suas recomendações ainda não terem sido cumpridas, a avaliação de risco não parece ter cumprido  o  seu  papel,  especialmente  quanto  à  comunicação  de  risco  (ANDRADE; MORAIS, 2010). 

O  grupo  populacional  das  crianças  foi  o  mais  pesquisado,  embora  as  primeiras evidências da contaminação em humanos tenham sido detectadas em trabalhadores e pescadores. A opção por estudos epidemiológicos do tipo transversal proporcionou resultados  rápidos  e  significativos  da  contaminação  por  chumbo  em  crianças, mas não  permitiu  um  acompanhamento  mais  prolongado  dos  efeitos  desse  metal  no desenvolvimento delas,  sobretudo quanto ao aspecto cognitivo (GUERRA, 2010). Es‐tudos  de  coorte  que  poderiam  revelar  tais  relações  de  causa  e  efeito  foram descartados por serem ‘muito caros’ e mais demorados como revela o senso comum entre  epidemiologistas  e  gestores  de  saúde.  Da  mesma  forma,  as  medições  das concentrações de metais pesados no solo, ar e água, e na biota do rio Subaé têm sido feitas de forma pontual nas pesquisas, não permitindo o conhecimento sistemático da qualidade ambiental de Santo Amaro.  

Diante  da  justa  e  veemente  cobrança  por  soluções  que  começa  a  pulsar  em  Santo Amaro,  como  se  pôde  perceber  na  fala  do  prefeito  daquele  município  diante  dos especialistas reunidos em seminário organizado pelo Centro de Tecnologia Mineral, o desafio é pensar no que fazer com o passivo ambiental em torno de 500 mil toneladas de  escória  de  chumbo  (ANJOS,  1998)  e  que  tem  sido  apontado  como  a  causa  da persistência da contaminação. Soluções como a do processamento hidrometalúrgico a  base de  ácido  clorídrico  separaram os  campos da Engenharia  e  da  Saúde  em um embate de racionalidades que paralisou a discussão desde 2008, quando o Conselho 

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Estadual de Meio Ambiente opinou sobre a questão. Sem a participação qualificada da  comunidade  de  Santo  Amaro  nessa  discussão,  corre‐se  o  risco  de  o  valor  de mercado  do  chumbo  e  do  zinco,  remanescentes  na  escória,  ser  o  balizador  das decisões a serem tomadas.    

Neste  sentido,  cabe  pensar  em  uma metodologia  de  avaliação  de  risco  que  avance para a construção de práticas de comunicação de risco, entendida esta não como um mero  canal  para  o  conteúdo  técnico,  mas  como  um  processo  de  diálogo  entre  os diferentes  campos  científicos,  os  gestores  públicos  e  a  população  interessada.  A ausência das Ciências Sociais nas pesquisas sobre a contaminação em Santo Amaro acompanhou uma tendência global observada desde a década de 1980 pelos críticos do  modelo  de  avaliação  de  risco.  É  recente  o  interesse  desse  campo  científico, notadamente  da  comunicação.  A  demanda  por  participação  na  tomada  de  decisão envolvendo  riscos  é  uma  tendência  irreversível  e  desafia  a  busca  por  novas metodologias  para  além  do  que  estabelece  as  agências  norte‐americanas,  que  têm sido referência no País.  

Os  pescadores  (aí  incluindo  as  marisqueiras)  ainda  não  receberam  a  atenção recomendada  pela  avaliação  de  risco.  A  coleta  de  sururu  no  rio  Subaé  é  a  base  da subsistência  de  cerca  de  100  famílias  segundo  a  prefeitura  de  Santo  Amaro,  que estima em 800 a 1.000 kg a produção por dia. Na sua avaliação, o Ministério da Saúde deixa dúvidas. Ora afirma que, partindo de Santo Amaro até a foz, em São Francisco do Conde, os sedimentos estão todos contaminados. Ora especifica que os moluscos (sururus) que estão contaminados provêm de uma única coroa e descarta as outras 15 estudadas. Na comunidade, sabe‐se que este tipo de molusco ocorre no mangue e não em coroas. Extraídos do mangue ou das coroas, os moluscos continuam na dieta das comunidades pesqueiras e dos consumidores que apreciam esta iguaria.  

Embora não venha sendo feito um monitoramento sistemático dos sedimentos e dos produtos da biota quanto à presença dos metais pesados, concentrações de chumbo foram encontradas no sangue de crianças, no cordão umbilical e em recém‐nascidos em  Santo  Amaro  (GUERRA,  2010;  ZENTNER;  RONDÓ,  2004;  ZENTNER;  RONDÓ; LATORRE, 2005; ZENTNER et al., 2008). Essas análises datam de 2002, e tiveram seus resultados  publicados  nos  últimos  anos  por  uma  pesquisadora  de  outra  nacio‐nalidade que não tem currículo registrado na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de  Desenvolvimento  Científico  e  Tecnológico  (CNPq).  A  autora  cita  nos  artigos  ter obtido  aprovação  do  estudo  em  comitê  de  ética  de  duas  unidades  hospitalares  de Santo  Amaro,  mas  esta  informação  não  foi  confirmada  pelos  gestores  dessas instituições. O fato aponta para a necessidade de mecanismos de controle do aspecto da  ética  em  pesquisas  com  seres  humanos  em  Santo  Amaro,  que  inclua  o  acesso público aos projetos e aos respectivos relatórios, bem como ao resultado das análises. 

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Retorno das pesquisas 

A  produção  científica  sobre  o  caso  da  contaminação  por  chumbo  em  Santo Amaro teve  início  no  ano  de  1975  e  decorridos  36  anos  é  constituída  de  pelo  menos  26 pesquisas  (15  de  mestrado,  cinco  de  doutorado  e  seis  monografias)  e  36  artigos publicados  (ANDRADE,  2012).  Para  verificar  o  dado  do  senso  comum  de  que  as pesquisas  não  retornam  para  a  comunidade,  este  estudo  definiu  como  indicador  a disponibilidade de relatórios de pesquisas nas bibliotecas da cidade de Santo Amaro. Foram  visitadas  três  bibliotecas,  duas  públicas  e  uma mantida  por  uma  fundação, bem como 22 escolas situadas na sede do Município. Apenas duas dissertações e dois artigos  foram  encontrados,  que  representam  apenas  6,45%  do  total  de  teses, dissertações, monografias e artigos.  

Professores  das  escolas  visitadas  relataram  a  necessidade  de material  de  consulta sobre  o  caso  da  contaminação  e  da  insuficiência  de  conhecimento  do  assunto  por parte deles.  “O  conhecimento  foi  todo para  fora”. O acervo  constituído no presente estudo  foi  doado  à  Biblioteca  Padre  José  Gomes  Loureiro,  de  Santo  Amaro,  numa tentativa  de  fazer  voltar  aos  santamarenses  o  conhecimento  que  também  lhes pertence. Acredita‐se que o acesso ao conhecimento produzido sobre o caso possa vir a ser um importante passo para que a comunidade venha a usufruir dos benefícios do conhecimento produzido  tanto pela  sua  aplicação  técnica,  quanto pelo  aumento da massa crítica dos cidadãos locais. 

O  debate  em  torno  da  questão  do  retorno  dos  resultados  de  pesquisas,  embora incipiente,  mostra‐se  mais  aberto  no  campo  das  ciências  humanas  e  também  da etnobotânica.  Debert  (2003)  nos  lembra  de  ter  sido  a  antropologia  a  primeira disciplina  das  ciências  sociais  a  formular  um  código  de  ética  e  de  colocar  em discussão questões como dar ou não aos pesquisados acesso em primeira mão à obra produzida.  Do  seu  ponto  de  vista,  é  “imperativo  nas  ciências  humanas  politizar  o debate  nesses  domínios  que  afetam  nossa  vida  cotidiana  e  a  vida  dos  grupos  que pesquisamos” (DEBERT, 2003).  

Interessadas  em  discutir  o  retorno  do  conhecimento  etnobotânico  sistematizado  à comunidade, Patzlaff e Peixoto (2009) afirmam que os cientistas deste campo têm se preocupado  em  compartilhar  o  saber  com  as  comunidades  pesquisadas.  Tal preocupação,  contudo,  teve  propulsão  com  o  advento  da  Convenção  sobre  a Diversidade  Biológica  firmada  em  1992  por  162  países,  incluindo  o  Brasil,  que estabeleceu como uma obrigação a  repartição de benefícios derivados da utilização dos  recursos  genéticos  (DEBERT,  2003).  Práticas  de  pesquisa  em  Saúde  Ambiental têm  demonstrado  novos  compromissos  como  o  de  “não  abrir mão  de  devolver  os resultados  aos  sujeitos da pesquisa”  como destaca  a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigoto (RIGOTO, 2010).   

Freitas  e  Gomez  (1997)  já  chamavam  a  atenção  para  os  inúmeros  desafios  que  as Ciências  Sociais  devem  enfrentar  para  ampliar  sua  presença  no  campo  da  saúde ambiental,  especialmente  nas  análises  de  risco,  dentre  os  quais  o  de  incorporar  o 

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saber e a participação daqueles que vivenciam e se encontram expostos aos riscos no seu dia‐a‐dia. Falas como a de um santamarense, “o conhecimento foi todo embora”, revelam  a  percepção  da  não  participação  da  população  local  no  empreendimento científico em torno do caso da contaminação. Embora não se questiona a qualidade das  pesquisas  sobre  o  caso  da  contaminação  em  Santo  Amaro,  essa  fala,  mais  a ausência  dos  relatórios  das  pesquisas  nos  espaços  públicos  da  comunidade,  como escolas e bibliotecas (BRASIL/CEPED, 1977) são sintomas da qualidade da relação da ciência com os aspectos sociológicos e éticos (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1997).  

A tais desafios, Funtowicz e Ravetz (1997) recomendam a democratização da ciência com a  inclusão dos afetados como participantes do processo de  investigação. Esses, “não apenas enriquecem as comunidades tradicionais de pares, criando o que se pode chamar de comunidade ampliada de pares, como são necessários para a transmissão de habilidades e para a garantia da qualidade dos resultados” (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1997).  Para  esses  autores,  a  inclusão  dos  afetados  não  é  mero  gesto  ético,  mas político.  “As pessoas que dependem da solução de problemas que estão ameaçando suas  vidas  e  sustento  têm  consciência  aguçada  de  como  os  princípios  gerais  se materializam em seus quintais” (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1997).       

Abordagens  inovadoras de pesquisa baseadas na democratização do conhecimento, como a epidemiologia popular, também referida como pesquisa participativa de base comunitária (LEUNG; YEN; MINKLER, 2004) têm se mostrado adequadas em contextos nos quais o conhecimento científico é  reconhecido como algo  inacessível. Em casos como o de Santo Amaro, bem como no das demais comunidades extrativistas da baía de  Todos  os  Santos,  que  são  impactadas  pela  contaminação  por  metais  pesados (PAREDES et al.,  1995)  faz‐se necessário a construção de processos de comunicação de risco partindo do interesse da comunidade sobre o que deve ser pesquisado, como e a finalidade da pesquisa. De acordo com Leung, Yen e Minkler (2004), achados de estudos epidemiológicos podem não ser comunicados na comunidade em estudo por medo  de  que  esse  conhecimento  poderia ser  perturbador, confuso, ou  ambos:  “Por deixar  de compartilhar tal  conhecimento,  entretanto,  os  epidemiologistas negam  à comunidade a oportunidade de tornar‐se mais crítica e consciente da sua situação e, finalmente, para enfrentar os problemas descobertos” (LEUNG; YEN; MINKLER, 2004). 

A  discussão  do  retorno  das  pesquisas  para  as  comunidades  pesquisadas  é  uma discussão que perpassa a questão da ética em pesquisa. Neste sentido, se ainda é uma discussão  incipiente  nas  Ciências  Sociais,  no  campo  das  Ciências  da  Saúde  já  tem princípios estabelecidos como é o caso da Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de  Saúde  –  CNS  (BRASIL,  1996)  que  prevê  entre  os  aspectos  éticos  da  pesquisa envolvendo  seres  humanos,  a  garantia  de  retorno  dos  benefícios  obtidos  por meio das pesquisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas; a comunicação  às  autoridades  sanitárias  dos  resultados  da  pesquisa,  sempre  que  os mesmos puderem contribuir para a melhoria das condições de saúde da coletividade; e  assegura  aos  sujeitos  da  pesquisa  os  benefícios  resultantes  do  projeto,  seja  em termos  de  retorno  social,  acesso  aos  procedimentos,  produtos  ou  agentes  da 

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pesquisa. Esta regulamentação, no entanto, é omissa no que se refere à comunicação dos  resultados  das  pesquisas  para  os  indivíduos  e  comunidades  pesquisadas.  Por aproximação,  seria  possível  interpretar  como  benefícios  obtidos  por  meio  das pesquisas  o  conhecimento  alcançado,  e  assim  tratar  o  retorno  dos  resultados  das pesquisas como o retorno social a que alude a Resolução n° 196/96. A Resolução n° 196/96 revogou a resolução anterior n° 01/88 do Conselho Nacional de Saúde, que restringia as normas de ética em pesquisa às instituições de saúde. Na resolução de 88  também não  havia  referência  à  comunicação  dos  resultados  para  os  indivíduos “objetos  da  pesquisa”,  mas  se  previa  que  o  pesquisador  devesse  elaborar  e apresentar  relatórios  parciais  e  finais  e  publicar  seus  achados  por  outros  meios, respeitando  o  caráter  confidencial  a  que  têm  direito  os  “indivíduos  objeto  da pesquisa”. Tal designação dos participantes das pesquisas foi alterada na Resolução n°  196/96  que  passou  a  identificá‐los  como  “sujeitos  da  pesquisa”,  estes  definidos como “os (as) participantes pesquisados (as), individual ou coletivamente, de caráter voluntário,  vedada  qualquer  forma  de  remuneração”.  Esta  nova  designação demonstrava  a  tendência  para  uma nova  postura  em  relação  aos  pesquisados,  que deixavam o lugar de objeto para a de sujeito. 

Participação: uma tendência contemporânea 

Os estudos  técnicos e quantitativos de avaliação de  risco  surgiram nos anos 60 em respostas aos impactos da indústria química, e aos protestos contra usinas nucleares, sendo adotados  inicialmente pelas  agências  reguladoras norte‐americanas  e depois servindo de parâmetro para outros países (FREITAS; GOMEZ, 1997; GUIVANT, 1998). Para subsidiar essas agências, o Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA (National Research  Council/NRC),  vinculado  à  Academia  Nacional  de  Ciências  produziu  uma série de estudos voltados para a melhoria das decisões sobre riscos e saúde pública, segurança e meio ambiente. Com o relatório Understanding Risks; Informing Decisons in  a  Democratic  Society  (STERN,  2009),  o  NRC  responde  à  demanda  por  maior participação  do  público  nas  decisões  e  propõe  uma  nova  abordagem  para  a superação do paradigma dominante segundo o qual a avaliação e a caracterização do risco  caberiam  tão  somente  aos  cientistas,  ficando  separada  do  gerenciamento  do risco,  este  sim  aberto  ao  envolvimento  das  partes  interessadas  (SHRADER‐FRECHETTE, 2010).      

 Essa questão não parece resolvida nos EUA, se tomarmos o estudo do NRC, Science and Decision (NRC, 2009), o qual demarca o lugar das partes envolvidas no processo de decisão sobre riscos. Convocado a revisar os conceitos e as práticas adotadas pela EPA  (Environmental  Protection  Agency)  em  análise  de  risco,  o  National  Research Council  (NCR)  conclui  que  o  risk  assessment  está  numa  encruzilhada,  com  sua credibilidade desafiada, e que, justamente por ser a primeira base científica da regu‐lação no campo dos  impactos ambientais na saúde humana com impacto nacional e global,  está  sujeito  a  um  considerável  escrutínio  de  ordem  científico,  político  e público (NCR, 2009). De acordo com o relatório, o processo de tomada de decisão com 

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base  em  avaliação  de  risco  também  estaria  atolado  (bogged  down)  por  conta  das incertezas dos dados científicos e das suas múltiplas interpretações.  

No  caso  do  Brasil,  o  conflito  entre  leigos  e  peritos  não  se  dá  da  mesma  forma, segundo Guivant (1998). Aqui, “os leigos tendem a se manifestar mais apaticamente na relação com os peritos, o que talvez explique o porquê de o tema não ter atraído muito  a  atenção”,  hipótese  que  ela  sugere  para  estudos  futuros.  Guivant  também observa que o papel dos peritos no País não é tão central na formulação de políticas, e que atuam primordialmente em auditorias e  juízos, concluindo que a comunidade acadêmica não tem dado muita atenção ao tema dos riscos. 

 Para  Freitas  e  Gomez  (1997),  no  Brasil,  é  no  campo  da  saúde  do  trabalhador  que algumas  experiências  concretas  de  investigação  de  acidentes  industriais  e  da exposição do trabalhador aos agentes químicos têm caminhado na superação desses desafios.  Assim,  tendo  em  vista  a  incipiente  prática  da  avaliação  de  risco  no  País torna‐se imprescindível que se discuta a metodologia adotada incorporando à mesma o paradigma da participação do público, especialmente dos mais diretamente afeta‐dos. Ferramentas como a comunicação de risco que também foi objeto de estudos do NRC  (Improving Risk Communication)  (NCR,  1989),  na década de 1980, mostram‐se adequadas  para  alavancar  tal  discussão.  De  acordo  com  o  NRC,  a  comunicação  de risco é o principal elemento do gerenciamento de risco numa sociedade democrática e será bem sucedida na medida em que eleva a compreensão das questões relevantes por parte dos envolvidos, dentro dos limites do conhecimento disponível.  

Pensar que a análise técnica dos riscos substitui o debate político é privar de direitos as pessoas que não têm conhecimento técnico ou achar que a análise técnica é mais importante para a tomada de decisões do que os valores. Não estamos minimizando o conhecimento técnico, mas enfatizamos que escolhas tecnológicas são carregadas de valores. Assim como os não experts devem buscar conhecimento técnico, os experts e  funcionários públicos também precisam conhecer sobre  interesses, valores e preo­cupação dos não experts (NCR, 1989). 

Tomando o caso da avaliação de risco à saúde humana realizada pelo Ministério da Saúde  em  Santo  Amaro,  é  possível  reconhecer  a  distância  entre  o  conhecimento perito  que  caracteriza  o  risco  e  a  conduta  da  população  considerada  exposta.  Um exemplo disso é que a extração e o consumo de moluscos continuam fazendo parte da rotina da população, que não foi envolvida no processo de avaliação de risco, apesar de  o  estuário  do  rio  Subaé  ter  sido  classificado  como  área  de  perigo  para  a  saúde pública por causa da concentração de metais pesados em seus sedimentos.  

Pescadores e marisqueiras questionam sobre que alternativas restariam a eles se não puderem dispor dos produtos do estuário conforme recomenda a avaliação de risco do  Ministério  da  Saúde.  Neste  sentido,  observa‐se  a  pertinência  do  que  propõe  o Improving  Risk  Communication  ao  considerar  que,  no  plano  da  ação  pessoal,  a comunicação  de  risco  será  bem  sucedida  somente  se  informar  adequadamente  o indivíduo sobre as alternativas a sua disposição (NCR, 2009). 

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Conclusões e recomendações     

Diante da legítima cobrança por soluções para o caso de Santo Amaro, que é latente naquela  comunidade  ante  ao  volume  de  pesquisas  já  realizadas,  torna‐se imprescindível a abertura de canais de diálogo entre  todos os setores  interessados. Por um dever ético, a comunidade científica que se dedicou a estudar o tema nesses quase 40  anos,  deve  atender  ao  apelo histórico pronunciado pelo  gestor municipal durante o Seminário Santo Amaro, realizado pelo Centro de Tecnologia Mineral, em outubro do ano corrente.  

A solução desejada pelo prefeito, no entanto, deve ser construída com a indispensável participação da comunidade de Santo Amaro nessa discussão, como protagonista do seu próprio destino. Para isso, é necessário qualificar tal participação promovendo o acesso  dos  interessados  ao  conhecimento  que  foi  possível  construir.  Assim,  seria recomendável  o  inventivo  à  criação  de  um  fórum  local  permanente  dedicado  à promoção do diálogo entre especialistas,  gestores públicos e  a  comunidade,  consti‐tuindo‐se na chamada comunidade ampliada de pares (FREITAS; GOMEZ, 1997) à qual cabe, no novo contexto científico, o controle da qualidade dos resultados da pesquisa, segundo Funtowicz e Ravetz (1997). 

As lacunas deixadas pelos estudos realizados, sobretudo quanto ao monitoramento e cuidado  permanente  das  vítimas  da  contaminação  e  das  concentrações  de  metais tóxicos  nos  compartimentos  ambientais  (solo,  água,  ar  e  biota)  tornam  urgente  a instalação de uma instituição pública a exemplo do Instituto Nacional da Doença de Minamata (JAPAN, 2012), onde a difícil superação da contaminação por mercúrio tem ocorrido  graças  à  conjugação  de  pesquisa  e  atenção  à  saúde  humana.  O  National Institute  for  Minamata  Disease  (NIMD)  foi  instalado  em  1978,  após  22  anos  do reconhecimento  oficial  da  doença  de  Minamata.  Sua  estrutura  conta  com departamentos de Ciências Ambientais e Assuntos  Internacionais; Medicina Clínica; Ciências  Médicas;  e  Epidemiologia.  Em  2001,  foi  agregado  ao  NIMD  o Minamata Disease  Archives  destinado  à  coleta  e  organização  de  informações  relacionadas  à doença  para  o  público,  ao  compartilhamento  de  lições  sobre  a  doença  e  à contribuição para o desenvolvimento da pesquisa relacionada à doença de Minamata e  o  mercúrio.  Dessa  forma,  Santo  Amaro  passaria  da  condição  estigmatizada  de “cidade mais contaminada por chumbo do mundo”, como propugna o senso comum, para  se  tornar  em um  centro  irradiador  de  conhecimento  sobre  contaminação  por metais pesados.  

O fomento ao protagonismo local pode se constituir numa importante ferramenta a ser  incorporada  à  metodologia  de  avaliação  de  risco  à  saúde,  que  ainda  não  tem práticas  consolidadas  em  comunicação  de  risco,  conforme  se  pode  verificar  nas Diretrizes  para  Elaboração  de  Estudo  de  Avaliação  de  Risco  à  Saúde  Humana  por Exposição a Contaminantes Químicos (BRASIL, 2008).  Pensar a comunicação de risco neste contexto significa refletir sobre os desafios da sua aplicabilidade na proteção da 

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saúde  e  na  ausência  de  um  consenso  entre  os  autores  quanto  ao  modelo  a  ser desenvolvido (RANGEL, 2007).  

A falta de consenso, no entanto, também pode ser encarada como oportunidade para ousar  em  práticas  inovadoras  centradas  no  fortalecimento  da  cidadania.  Segundo Moreno e Peres (2011):  

Cuando  se  le da  la oportunidad a  la  ciudadanía para participar activamente  em discussiones  enfocadas  em  minimizar  y  controlar  riesgos  de  salud  se  abre  la oportunidad para que se minimice el ressentimiento de las personas que se sienten excluídas de  las políticas de  salud  y propicia que  se mantengan  las normas o  se cambie el statu quo, logrando reducir la morbilidad, salvar vidas y empoderar a las personas (MORENO; PERES, 2011).  

Outra  importante  medida  a  ser  tomada  em  Santo  Amaro  é  a  estruturação  de  um comitê de ética em pesquisa dentro dos princípios da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para o devido cumprimento da Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de  Saúde  –  CNS  (BRASIL,  1996)  que  prevê  entre  os  aspectos  éticos  da  pesquisa envolvendo seres humanos. Medidas como essa poderão evitar a prática de pesquisas controversas que não garantem o retorno dos benefícios obtidos por meio das pes‐quisas  para  as  pessoas  e  as  comunidades  onde  as  mesmas  forem  realizadas;  nem comunicam as autoridades sanitárias dos resultados da pesquisa, nem asseguram aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa.  

Exemplo disso foram as pesquisas em mulheres grávidas admitidas na maternidade de Santo Amaro, quando se detectou que  três delas  tinham resultado positivo para chumbo  no  sangue  e  no  cordão  umbilical  em  concentrações  acima  de  10µ/dL (ZETNER; RONDÓ; LATORRE, 2005). Embora seja mencionado nesses artigos que tais estudos  teriam  sido  aprovados  por  comitês  de  ética  em  pesquisa  das  unidades hospitalares  de  Santo  Amaro,  não  há  registros  desses  estudos  nessas  instituições, nem a indicação de medidas para a proteção da saúde das pessoas pesquisadas.  

Referências 

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EEssttuuddooss   ddee   aavvaalliiaaççããoo   ddaa   eexxppoossiiççããoo   aammbbiieennttaall   hhuummaannaa   aaoo  cchhuummbboo  nnoo  BBrraassiill::  uummaa  aannáálliissee  ccoommppaarraattiivvaa  EEdduuaarrddoo  MMeelllloo  DDee  CCaappiittaannii11  MMôônniiccaa  MMaarriiaa  BBaassttooss  PPaaoolliieelllloo22  

Apesar  da  difusão  de  empreendimentos  industriais  de  pequeno,  médio  e  grande porte, manipulando chumbo metálico e seus compostos em todo o país há diversas décadas, são poucos os estudos epidemiológicos avaliando a exposição não ocupacio‐nal de populações expostas ambientalmente a chumbo no Brasil (TRIVELATO, 2006). 

Com  relação  a  avaliações  epidemiológicas  de  adultos,  o  estudo  pioneiro  é  o  de Carvalho (1978), contido em tese acadêmica de cunho mais abrangente, e posterior‐mente publicada como artigos científicos em 1983 e 1984 (CARVALHO et al., 1983; CARVALHO, et al., 1984).  

Nesse estudo Carvalho e  cols  (1983, 1984) dosaram chumbo em cabelo de popula‐ções de pescadores de  três  localidades próximas da  fundição de chumbo Plumbum, localizada em Santo Amaro da Purificação, BA, e em funcionamento desde 1960, e de uma localidade controle localizada a cerca de 80 km de distância (CARVALHO et al., 1983; CARVALHO, et al., 1984). A Tabela 1 mostra os resultados desse estudo, com a média  das  concentrações  de  Pb  em  cabelo  nas  respectivas  localidades,  mostrando haver situação de contaminação elevada em Santo Amaro da Purificação, e um gradi‐ente decrescente conforme as comunidades se distanciam da fonte poluidora.  Entre‐tanto, o estudo não fornece resultados de análise de chumbo em sangue. Esses resul‐tados  confirmavam  o  que  já  se  pressentia  na  região,  que  a  refinadora  de  chumbo Plumbum poluía o ambiente a ponto de alcançar as águas do rio Subaé, fornecedora de subsistência e pesca comercial de grande parte da população ribeirinha. 

Desde essa época,  e  apenas mais  recentemente,  alguns poucos estudos produziram resultados em adultos expostos ambientalmente em áreas contaminadas por  indús‐trias, refinarias e mineração.  

                                                            

1   Doutorado em Saúde Coletiva, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Centro de Controle de Intoxicações, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo. 

2   Doutorado em Saúde Coletiva, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Departamento de Patologia, Análises Clínicas e Toxicológicas ‐ Universidade Estadual de Londrina, Paraná 

 

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EEssttuuddooss  ddee  aavvaalliiaaççããoo  ddaa  eexxppoossiiççããoo  aammbbiieennttaall  hhuummaannaa  aaoo  cchhuummbboo  nnoo  BBrraassiill::  uummaa  aannáálliissee...... 76 

Tabela 1 ‐ Chumbo em cabelo de populações de pescadores de 3 localidades próximas à fundição Plumbum em Sto Amaro e uma localidade controle a 84 km de distância (1978).

Localidade  Distância da fonte 

n Média (ppm) DP Min ‐ Máx 

Santo Amaro  3,5 km 31 55,5 60,2 2 – 267 São Braz  5,0 km 35 22,3 33,4 2 – 161 S. Francisco do Conde 

7,5 km 50 14,1 11,2 0 – 49 

Guaibim  84 km 63 12,1 14,9 0 ‐ 73 

Fonte: Carvalho et al. Absorção e intoxicação por chumbo e cádmio em pescadores da região do Rio Subaé. Ciência Cultura.1983; 35(3):360‐66. 

Na região do alto Vale do rio Ribeira, em área de  fronteira entre os estados de São Paulo e Paraná, parte da população de adultos e crianças continua exposta a um pas‐sivo de contaminação com compostos inorgânicos de chumbo, apesar do fechamento de  refinaria/fundição  primária  de  chumbo,  também  pertencente  à  Plumbum,  que funcionou na região de 1940 a 1995.  

Em estudo realizado entre 1999 e 2000 no alto Vale do Ribeira, 350 adultos  foram amostrados no total, sendo que aqueles que moravam a uma distância igual ou me‐nor a 1000 m da ex‐refinaria primária de  chumbo apresentaram níveis de chumbo em sangue de 14,55 g/dL para homens (n=46) e 6,80 g/dL para mulheres (n=55) (PAOLIELLO et al., 2002). Dentre as variáveis estudadas associadas aos altos níveis de chumbo em sangue em adultos está a área residencial (PAOLIELLO et al., 2005). 

Em outro estudo na década de 90 de população moradora próxima a uma recicladora de baterias no vale do rio Paraíba, em São Paulo, observaram‐se níveis de plumbemia variando de 21,22 g/dL (numa distância entre 600 a 800 metros da planta) e 4,85 g/dL (em moradores a 2 km da planta) (KUNO et al., 1994). 

Em 2004, em Santo Amaro da Purificação, um estudo mostrou que a plumbemia mé‐dia de grávidas vivendo ao redor de antiga refinaria de chumbo apresentava gradien‐te decrescente de acordo com a distância da fonte primária de poluição (0,44 mol/L [9,11  g/dL]  perto  da  fonte;  0,231  mol/L  [4,78  g/dL]  distância  média;  0,053 mol/L  [1,09  g/dL]  longe  da  fonte),  tendo‐se  obtido  uma  boa  correlação  entre plumbemia  das  mães  e  níveis  de  chumbo  no  cordão  umbilical  durante  o  parto (r=0,86; p<0,001) (ZENTNER; RONDÓ, 2004). Quando esses resultados são compara‐dos com resultados de estudo feito em grávidas não expostas na cidade de São Paulo, onde a média de plumbemia encontrada foi de 2,39 g/dL (ROSALÉM, 2004), cons‐tata‐se que as grávidas de Santo Amaro residindo próximas da fonte de poluição es‐tão com níveis médios de chumbo cerca de 3 vezes maiores.  

Em estudo realizado em população adulta moradora das margens do rio Tapajós, PA, Barbosa e cols. (2009) obtiveram média de plumbemia de 13,1 µg/dL (DP=8,5) e me‐diana de 11,2 µg/dL (intervalo de 0,59 a 48,3 µg/dL) em 448 adultos vivendo em 12 localidades do baixo Tapajós sem exposição ocupacional a chumbo. Os homens apre‐

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sentavam  mediana  significativamente  maior  que  as  mulheres  (15,3  µg/dL  vs  7,9 µg/dL,  respectivamente).  Aprofundando  o  estudo  de  possíveis  fontes  locais  de chumbo os autores apontam para a contaminação da farinha de mandioca durante o processo de fabricação, tendo em vista que as concentrações de Pb em mandioca crua são 10 vezes mais baixas quando comparadas com a farinha torrada (média de 0,017 ± 0,016 µg/g vs 0,19 ± 0,10 µg/g, respectivamente)    (BARBOSA, 2012; BARBOSA et al., 2009). 

Com relação à exposição de crianças, apesar de não dispormos de valores de referên‐cia atualizados para fins de comparação dos resultados de estudos epidemiológicos, os trabalhos de avaliação de exposição realizados no Brasil tem utilizado os parâme‐tros estabelecidos pelo CDC norte‐americano como referência para tomadas de deci‐são quanto a medidas de intervenção. Nesse sentido o CDC, desde 1990 estabeleceu o valor de plumbemia de 10 g/dL como limite da ação para crianças (CDC 1991). Esse valor tinha por base estudos realizados até aquela data mostrando baixo risco de da‐nos neurológicos a  longo prazo em crianças com exposições ambientais que manti‐vessem  níveis  de  plumbemia  abaixo  desse  valor.  A  Alemanha  adotou  oficialmente esse valor como limite em 1996 (WILHELM; IDEL, 1996) e outros países, na ausência de valores próprios, mantiveram os parâmetros estabelecidos pelo CDC como baliza‐dor de suas ações de controle de exposição ambiental a chumbo. 

Convém ressaltar no entanto que, no inicio de 2012, o Comitê Assessor para Preven‐ção de Intoxicação por Chumbo em Crianças (ACCLPP), do CDC recomendou o uso de valor de referência (VR), ao  invés de nível de ação, como balizador das medidas de prevenção nos EUA, definindo VR como a margem superior da distribuição das medi‐das laboratoriais de um determinado analito numa determinada população (ACCLPP‐CDC, 2012). Nesse  sentido o ACCLPP propõe que  o nível  de  ação de 10 g/dL  seja substituído pelo VR  de 5 g/dL, valor este derivado do percentil 97,5% dos valores obtidos  em  crianças  de  1  a  5  anos  de  idade  amostradas  pela  NHANES  (National Health and Nutrition Examination Survey), e que seja revisto a cada 4 anos (ACCLPP‐CDC, 2012). 

Os primeiros estudos de avaliação de crianças expostas ao chumbo por poluição am‐biental no Brasil foram também realizados em Santo Amaro da Purificação, nas déca‐das de 80 e 90 pelo grupo da Universidade Federal da Bahia, liderado pelo professor Fernando Carvalho (CARVALHO et al., 1984; CARVALHO et al., 1995; CARVALHO et al., 2003).  

Como já referido anteriormente, nesse município, durante o período de 1960 a 1993 funcionou uma fundição primária de chumbo que poluiu as áreas urbana e rural ao seu redor com óxidos e outros sais de chumbo. Além disso, a escória do processo de fundição, contendo até 2% de chumbo,  foi distribuída pela municipalidade ao  longo dos anos, como material de pavimentação de ruas, calçadas e até de quintais domés‐ticos, democratizando o risco de exposição até então definido pela distância das mo‐radias da fonte de poluição (ANJOS, 2012).  

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EEssttuuddooss  ddee  aavvaalliiaaççããoo  ddaa  eexxppoossiiççããoo  aammbbiieennttaall  hhuummaannaa  aaoo  cchhuummbboo  nnoo  BBrraassiill::  uummaa  aannáálliissee...... 78 

Os estudos desenvolvidos no início dos anos 1980, contendo os primeiros resultados da avaliação de crianças expostas em Santo Amaro apresentaram, numa amostra de 555 crianças entre 1 e 9 anos morando dentro do perímetro de 900 metros da em‐presa, média de plumbemia de 59.1  25.0g/dL (CARVALHO et al., 1985). Esses va‐lores  são  extremamente  elevados  e,  seguramente,  produziram  danos  neurológicos nas crianças que se mantiveram expostas por tempo prolongado. 

Em  1989,  após  a  adoção  de  algumas  medidas  de  controle  ambiental,  a  média  de plumbemia  de  53  crianças,  amostradas  de  forma  representativa,  foi  de  36.9   22.9g/dL (SILVANY‐NETO et al., 1989).  

Em 2003, 10 anos após o fechamento definitivo da fundição, amostrando crianças de 1 a 4 anos, o mesmo grupo de pesquisadores obteve média de plumbemia de 17.1  7.3g/dL, porém com 88% das crianças ainda com níveis acima de 10g/dL e 32% acima de 20g/dL (CARVALHO et al., 2003) (Tabela 2). Desde essa última avaliação, os níveis de chumbo no sangue das crianças não foram mais monitorados.  

Tabela 2 ‐ Estudos epidemiológicos avaliando exposição ambiental a chumbo por crianças no Brasil. 

Local  Fonte Distância da fonte 

Idade  Expostos Controles Referência 

 n 

Plumbemia µg/dL (média) 

n Plumbemia µg/dL (média) 

 

Sto Amaro, BA 

Fundição 1ária 

Até 900m 

1–9 555 59,1 ± 25,0 ‐ ‐ Carvalho  et al, 1985 

Sto Amaro, BA 

Fundição 1ária 

Até 900m 

1–9 53 36,9 ± 22,9 ‐ ‐ Sylvani‐Neto et al, 1989 

Sto Amaro, BA 

Fundição 1ária 

Até 1km 

1–4 47 17,1 ± 7,3 ‐ ‐ Carvalho  et al, 2003 

Cubatão, SP  Complexo industrial 

Rio Cubatão 

4‐5 199 5.02 ‐18.51 

‐ ‐ Azevedo  et al, 1989 

Cubatão, SP  Complexo industrial 

Rio Cubatão 

1–10  251 17,8 ± 5,8 ‐ ‐ Santos Filho et al, 1993 

Adrianópolis, PR 

Fundição 1ária 

500m a 1,5km 

7–14  94 11,5 (mediana) 

39 1,8 (mediana) 

Paoliello  et al, 2002 

Bauru, SP  Recicladora de baterias 

Até 1km 0 – 14  825 9,8 31 < 5,0 Freitas et al, 2002 

 

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EEdduuaarrddoo  MMeelllloo  DDee  CCaappiittaannii  ee  MMôônniiccaa  MMaarriiaa  BBaassttooss  PPaaoolliieelllloo  7799 

 

Tabela 3  ‐ Concentração de Pb em poeira doméstica em casas de crianças com plumbe‐mias maiores de 20 g/dl (Adrianópolis, PR) 

Amostra  Valor de plumbemia da criança moradora Concentração de Pb  em g/g (ppm) 

A 1 A 2 B C D E 1 E 2 F 

37,8 37,8 24,1 29,0 19,5 24,0 24,0 23,0 

1.100569 538 218 299 994 3.268 552 

Nota: EPA‐USA 400 mg/kg (ppm), valor limite guia para solo (soil screening guidance) (ATSDR, 2000). 

Em  Cubatão,  São  Paulo,  área  de  desenvolvimento  industrial  considerada  um  dos maiores  complexos  siderúrgicos,  químicos  e  metalúrgicos  do  país,  em  operação desde os anos 50 e, além disso, considerada uma das áreas urbanas  mais poluídas no mundo, um estudo publicado em 1993 avaliou 199 crianças de 4 a 5 anos em 10 es‐colas públicas.  Foram encontrados níveis de plumbemia variando de   5.02 g/dL a 18.51 g/dL (AZEVEDO et al., 1989; CETESB, 2001), ou seja, comparável com a faixa de plumbemias encontradas em Santo Amaro em 2003 (Tabela 2) . Corroborando es‐ses dados, outro estudo em Cubatão, de Santos Filho e cols (1993) encontrou média de plumbemia de 17.8  5.8g/dL em 251 crianças de 1 a 10 anos (SANTOS FILHO et al., 1993). Aparentemente, nenhuma medida de remediação específica foi tomada em Cubatão frente a esses resultados. 

Na região do Vale do rio Ribeira, na fronteira entre São Paulo e Paraná, uma fundição primária de chumbo de menor capacidade que a de Santo Amaro da Purificação, per‐tencente à mesma empresa Plumbum, operou de 1946 a 1995, poluindo o ar e o solo na proximidade da empresa, e as águas e sedimentos do rio Ribeira onde foram des‐pejados resíduos e escória do processo de beneficiamento durante algumas décadas até a agência de meio ambiente do estado do Paraná proibir esse procedimento no início da década de 1980.  

Entre 1999 e 2000, Paoliello e cols (2002) avaliaram os níveis de plumbemia de 295 crianças entre 7 e 14 anos, obtendo mediana de 11.25 g/dL (1,8 ‐ 37,8 g/dL) numa distância até 1,5km da fonte (nessa época já fechada) (Tabela 2) (Figura 1). Cerca de 72% das crianças apresentavam níveis maiores que 10 g/dL, e 12,8% acima de 20 g/dL. Crianças avaliadas como controle, morando em município a 40 km a montante da fonte de contaminação, mostraram média de plumbemia de 1,8 g/dL (provavel‐mente este é o valor de referência para essa região do Brasil) confirmando o impacto do passivo ambiental deixado pela empresa na carga corpórea de chumbo das crian‐ças (PAOLIELLO et al., 2002).  

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Figura 1  ­ Localização da  fundição primária de  chumbo Plumbum em Adrianópolis, PR, com relação à vila Mota, área de estudo de avaliação de exposição humana.  

Como ação isolada de remediação da área, uma montanha de rejeito da fundição dis‐posta a céu aberto próximo das moradias da área,  foi  retirada do  local. As crianças com  níveis  acima  de  20 g/dL  foram  encaminhadas  para  avaliação  clínica  geral  e neurológica em Curitiba, pela Secretaria de Estado da Saúde.  

No interior das casas localizadas dentro de um raio de 1000 metros da empresa fo‐ram coletadas amostras de poeira depositada em cima dos batentes de porta e de ja‐nelas, sobre guarda roupas e armários, e sobre superfícies de madeira e alvenaria às quais as crianças regularmente tinham acesso (Figura 2). Os resultados da análise de chumbo nessas amostras podem ser vistos na Tabela 3. 

 

Figuras  2a  e  2b  ‐  Detalhes  do  interior  de  casas  localizadas  próximas  à  fundição  em Adrianópolis, PR, mostrando locais de acúmulo de poeira contaminada. 

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EEdduuaarrddoo  MMeelllloo  DDee  CCaappiittaannii  ee  MMôônniiccaa  MMaarriiaa  BBaassttooss  PPaaoolliieelllloo  8811 

 

Frente  a  esses  resultados  foi  proposto  em  relatório  final  à  Secretaria  de Estado da Saúde uma campanha de educação e higiene ambiental, junto com proposta de muti‐rão de limpeza e aspiração do interior das casas visando diminuir a carga de exposi‐ção a chumbo por parte das crianças. Essas propostas não foram implementadas até o momento, e proposta de realização de novas dosagens de chumbo no sangue das crianças  , dez anos após o primeiro estudo,  foram rechaçadas pelas autoridades  lo‐cais e estaduais, quando feitas pela equipe de pesquisa entre 2010 e 2011.  

Tabela 3  ‐ Concentração de Pb em poeira doméstica em casas de crianças com plumbe‐mias maiores de 20 g/dl (Adrianópolis, PR) 

Amostra  Valor de plumbemia da criança moradora 

Concentração de Pb em g/g (ppm) 

A 1 A 2 B C D E 1 E 2 F 

37,837,8 24,1 29,0 19,5 24,0 24,0 23,0 

1.100569 538 218 299 994 3.268 552 

Nota: EPA‐USA 400 mg/kg (ppm), valor limite guia para solo (soil screening guidance)(ATSDR, 2000). 

Em Bauru, na região central do estado de São Paulo, a partir de medidas de chumbo no ar feitas pelo órgão de fiscalização ambiental do estado (CETESB) e posterior ve‐rificação de existência de solo contaminado com níveis elevados de chumbo ao redor de  uma  recicladora  de  baterias,  onde  funcionava  uma  fundição  secundária  de chumbo, 624 crianças de 0 a 12 anos foram amostradas em área residencial até 1 km de  distância  da  empresa,  em  conjunto  com  as  Secretarias Municipal  e  Estadual  de Saúde  e  duas  universidades.  Um  grupo  de  31  crianças  da mesma  faixa  etária, mo‐rando a 11 km de distância, foi também avaliado para servir como controle. A média de plumbemia das 624 crianças expostas mostrou ser de 9,28 g/dL comparada com valores inferiores a 5,0 g/dL no grupo controle (Tabela 2).  

Das  crianças  com  concentrações  acima  de  10  g/dL  (n=311)  a  média  foi  de  16,5 g/dL (DP= 6,36). Uma reavaliação desse subgrupo de crianças feita 6 meses após o fechamento da empresa mostrou ainda níveis médios de 16,6 g/dL (DP=8,52). Após medidas de controle da exposição, que incluíram a aspiração da poeira intradomici‐liar e a retirada e substituição do solo superficial peridomiciliar onde moravam essas crianças, a média de plumbemia de 241 crianças foi de 9,05 g/dL (DP=4,82), ou seja, 46,2% mais  baixa  (p  <  0,0001), mostrando  que medidas  de  remediação  desse  tipo tem impacto significativo no grau de exposição das crianças (FREITAS et al., 2007).  

Também  em  Bauru  foram  coletadas  amostras  de  poeira  domiciliar  depositada  em áreas  inacessíveis e áreas acessíveis às crianças. Os resultados podem ser vistos no 

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Quadro 1 ‐ Ressalte‐se o gradiente de concentração decrescendo com a distância da fonte e os elevados níveis em casas dentro do perímetro de 1000 metros. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quadro  1  ‐  Concentração  média  de  chumbo  em  poeira  domiciliar  em  três  bairros  de Bauru‐SP 

As mesmas propostas  de  remediação  com  relação  à  educação  e  higiene  ambientais feitas  em  Adrianópolis  foram  repetidas  em  Bauru,  com  implementação  parcial  das medidas de remediação,  incluindo  limpeza e aspiração de algumas das casas conta‐minadas, o que resultou em decréscimo das médias de plumbemia colhidas cerca de 6 meses após os procedimentos (Tabela 4). 

Tabela 4 ‐ Evolução das plumbemias de crianças com mais de 10 μg/dL na 1ª avaliação. Bauru, SP  

Avaliação  n  Plumbemia μg/dL média (DP) 

Plumbemia μg/dL mediana 

1ª  311  16,52 (6,36)  14,7 

2ª (6 meses após o fecha‐mento da empresa) 

241  16,63 (8,52)  15,0 

3ª (18 meses após a pri‐meira avaliação, e 6 meses após medidas de remedia‐ção) 

241  9,05 (4,82)   8,0*  

*46% de decréscimo 

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EEdduuaarrddoo  MMeelllloo  DDee  CCaappiittaannii  ee  MMôônniiccaa  MMaarriiaa  BBaassttooss  PPaaoolliieelllloo  8833 

 

Em Montevidéu, Uruguai, no final dos anos 90, foi detectado um problema de conta‐minação por chumbo em área urbana comparável, em termos de magnitude dos ní‐veis  de  chumbo  no  sangue  de  crianças  detectados,  com  as  áreas  contaminadas  no Brasil  acima descritas  (COUSILLAS et al.,  2008). A Tabela  5 mostra  a  evolução dos níveis  de  plumbemia  em  crianças moradoras  nessa  área  ao  longo  dos  anos,  verifi‐cando‐se um decréscimo  fruto de múltiplas ações conjuntas da comunidade, do go‐verno, das instituições de saúde, da universidade, etc. (Quadro 2). 

Tabela 5 ‐ Contaminação ambiental por chumbo em área urbana de Montevidéu (La Teja) – resultados crianças. 

Ano  n  Idade (anos) (intervalo) Plumbemia

μg/dL (min‐max) Referência 

1994  47  5,2 (2 – 11) 9,7 (4,7 – 19,1) Schutz et al, 1997 1998  107  7,8 (0 – 14) 9,4 (5,5 – 18,6) Cousillas et al, 2005 2004*  180  6,3 (0 – 14) 5,7 3,0 – 16,0) Cousillas et al, 2008 

Nota: * resultados após as medidas de comunicação de risco, educação e remediação. 

Fonte: Cousillas et al, 2012. Impacts of multidisciplinary actions on environmental lead exposure in Uruguay. Environ Geochem Health. 34:207‐211. 

Quadro 2 ‐ Ações de controle realizadas em La Teja, Montevidéu, Uruguai durante episó‐dio de contaminação urbana por chumbo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Cousillas et al, 2012. Impacts of multidisciplinary actions on environmental lead exposure in Uruguay. Environ Geochem Health. 34:207‐211. 

― Formação de um Comitê Interinstitucional e Multidisciplinar ― Avaliação de solo, água, poeira, visitas domiciliares ― Amplicação da oferta de plumbemias 

Faculdade de Química da UdelaR ― Comunicação do risco ― Educação ambiental e de higiene e saúde ― Assistência médica especializada 

CIAT (Centro de Informação e Assistência Toxicológica  Grupo de Pediatria ligado à Fa. Mediciana e ao CIAT (UPA)  Diagnóstico, tratamento, orientação e seguimento 

― Localização, isolamento, contenção, e desocupação das fontes de contaminação (100 empresas avaliadas) 

― Legislação  2003 – lei sobre descarte de baterias  2004 – banimento de gasolina com mais de 13 mg/L Pb  2004 – Lei com dispositivos sobre tintas, descartes, teores em água etc.  2004 – Lei de vigilância de trabalhadores expostos

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Em Santo Amaro da Purificação, as medidas de chumbo em sangue das crianças, apa‐rentemente mostram um decréscimo nas últimas décadas (Tabela 2), resultado pro‐vável do fechamento da empresa, cessando completamente a fonte primária de con‐taminação  do  processo  de  urbanização, mudança  de  hábitos  das  pessoas,  e  outros fatores ainda desconhecidos. Nenhum programa de remediação foi implantado até o momento. Nenhuma medida prática de descontaminação da área  foi  implementada. Nem mesmo um programa regular de monitoramento biológico, diagnóstico e segui‐mento das crianças com problemas secundários à contaminação foi implantado.  

O fato é que a contaminação do solo, água e sedimentos dos rios e riachos da bacia do Subaé continuam sendo fonte secundária de contaminação das ruas, do interior das casa, dos quintais, dos alimentos, dos peixes e crustáceos locais,  colocando as crian‐ças  e adultos em contato direto com o chumbo em algum grau, exigindo a instalação de um programa abrangente de avaliação, planejamento e remediação a curto, médio e longo prazo da área. 

Referências 

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ANJOS, J.A.S.A. Conflito no uso do solo de sítios contaminados por resíduos tóxicos: o caso da Plumbum em Santo Amaro da Purificação, Bahia. 46o Congresso Brasileiro de Geologia. 2012. 

AZEVEDO,  F.A.  et  al.  Avaliação  tóxico‐epidemiológica  da  exposição  ambiental  da população infantil do Município de Cubatão (SP‐Brasil) a metais pesados: chumbo e mercúrio. Rev Bras Toxicol. 1989; v. 2, p. 25‐32. 

BARBOSA  F.,  JR.  et  al.  Elevated  blood  lead  levels  in  a  river  side  population  in  the Brazilian Amazon. Environ Res. 2009 Jul; v. 109, n. 5, p. 594‐9. 

BARBOSA  JR,  F.  Monitoring  Hg  and  Pb  exposure  in  a  riverside  population  of  the Brazilian Amazon. Rev Bras Toxicol. 2012; v. 25, Supl 1, p. 33‐4.  

CARVALHO,  F.M.  Absorção  e  intoxicação  por  chumbo  e  cádmio  em  pescadores  da região do Rio Subaé. Ciência Cultura. 1983; v. 35, n. 3, p. 360‐66. 

CARVALHO F. et al. Lead and cadmium concentrations in the hair of fishermen from the Subae River basin, Brazil. Environ Res. 1984 Apr; v. 33, n. 2, p. 300‐6. 

CARVALHO, F.M. et al. Lead poisoning among children from Santo Amaro, Brazil. Bull Pan Am Health Organ. 1985; v. 19, n. 2, p. 165‐75. 

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EEdduuaarrddoo  MMeelllloo  DDee  CCaappiittaannii  ee  MMôônniiccaa  MMaarriiaa  BBaassttooss  PPaaoolliieelllloo  8855 

 

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CETESB. Relatório Técnico  ‐  Sistema Estuarino de  Santos  e  São Vicente.  São Paulo: CETESB ‐ Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental,   Governo do Estado de São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente2001. 

COUSILLAS,  A. et al.  Comparative  study  of  blood  lead  levels  in Uruguayan  children (1994‐2004). Biol Trace Elem Res. 2008 Apr; v.122, n. 1, p. 19‐25. 

FREITAS,  C.U.  et  al.  Lead  exposure  in  an  urban  community:  investigation  of  risk factors and assessment of the impact of lead abatement measures. Environ Res. 2007 Mar; v.103, n. 3, p. 338‐44. 

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TRIVELATO, Gd.C. Os  (des)caminhos e  riscos do chumbo no Brasil. Estudo de caso: Análise sistêmica da gestão de riscos na reciclagem de baterias chumbo‐ácido, 1976‐2005. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2006. 

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AAvvaalliiaaççããoo   ddaa   eexxppoossiiççããoo   ooccuuppaacciioonnaall   aaoo   cchhuummbboo   eemm   11999922   ee  mmoonniittoorriizzaaççããoo   bbiioollóóggiiccaa   ddaa   ccoommuunniiddaaddee   ddoo   eennttoorrnnoo   ddaa   aannttiiggaa  ffuunnddiiççããoo  eemm  22001111.. OO  qquuee  mmuuddoouu  eemm  qquuaassee  2200  aannooss

JJoosséé  AA..  MMeenneezzeess­­FFiillhhoo11    VVaanneessccaa  LLuuaannaa  SSiillvvaa22  

Monitorização biológica da exposição ocupacional nos trabalhadores da extinta Plumbum em 1992 

Nesta sessão apresentamos uma reformatação dos dados de avaliação da exposição ocupacional  de  todos  os  trabalhadores  ativos  da  antiga  fundição primária  que  fora realizada em 1992 e publicada em 2004 na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (Menezes‐Filho, JA, Spínola, AG e Carvalho, WA, 2004). 

Apresentação do problema 

Os processos de fundição e refinaria são provavelmente, entre todas as modalidades de exposição ocupacional, as que apresentam maior risco de exposição ao metal, pro‐vavelmente porque envolvem operações nas quais o chumbo  fundido e as  ligas são aquecidas  a  temperaturas  elevadas  com  desprendimento  de  vapores  de  chumbo (WHO, 1979; Gerhardsson, 1992 e Gover, 1991). 

No  ambiente  laboral  a  absorção  do  chumbo  resulta  principalmente  da  inalação  de pequenas partículas de tamanho respirável ou dos fumos do metal. Secundariamente, pode ocorrer absorção da ingestão de alimentos contaminados, água e por hábitos de trabalho, como o de fumar e por contaminação dérmica e do vestuário (WHO, 1979 e Gerhardsson, 1992). 

Diversos estudos epidemiológicos e  toxicológicos têm sido realizados recentemente em populações com exposição ocupacional ao chumbo com o objetivo de desenvolver marcadores  biológicos  de  toxicidade  subclínica  adequados  para  aplicação  em  pro‐gramas  de  saúde  ocupacional,  particularmente  para  baixos  níveis  de  exposição (Landrigan et al., 1999; Gerhardsson, 1992 e Landrigan, 1989). Os Indicadores Bioló‐gicos de Exposição (IBE) mais comumente empregados e recomendados para moni‐torização biológica da exposição ocupacional ao chumbo do sangue (Pb‐S), zinco pro‐toporfirina (ZnPP) e ácido d‐aminolevulínico (ALA‐U). Outros indicadores com ácido d‐aminolevulínico  desidratase  (ALA‐D)  e  a  coproporfirina  urinária  (CP‐U),  não  são comumente  empregados  em  saúde  ocupacional,  principalmente  por  apresentarem 

                                                            

1   Professor Doutor de Toxicologia, Faculdade de Farmácia – Universidade Federal da Bahia. 2   Bolsista de iniciação científica, Laboratório de Toxicologia, Faculdade de Farmácia – 

Universidade Federal da Bahia. 

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   JJoosséé  AA..  MMeenneezzeess­­FFiillhhoo  ee  VVaanneessccaa  LLuuaannaa  SSiillvvaa        87 

pouca especificidade (Correy & Galvão, 1985; Goyer, 1991; Cramer & Selender, 1965 e Moore et al., 1980). 

O nosso objetivo foi avaliar o nível de exposição ao chumbo na fundição primária na época  em que  ainda  operava  em 1993.  Essa  avaliação da  exposição  ocupacional  se deu  através  da monitorização biológica  dos  trabalhadores  ativos,  através  da  deter‐minação dos indicadores biológicos de exposição e efeito do chumbo, a fim de esta‐belecer um mapeamento das áreas de risco da planta industrial. 

Caracterização dos grupos ocupacionais e metodologias 

Foram investigados cento e noventa e cinco trabalhadores adultos do sexo masculino da refinaria primária de chumbo em Santo Amaro, Bahia, Brasil no ano de 1993. De acordo com o fluxograma do processo de produção da planta industrial e de organi‐zação e distribuição de  cargos e  função da empresa,  os  trabalhadores  foram distri‐buídos nos  seguintes  grupos de  atividade  laboral:  sinterização  (n = 23),  fusão  (n = 41), refinaria (n = 49), laboratório (n = 8), serviços gerais (n = 17), manutenção (n = 26) e administração (n = 31). Os grupos de sinterização,  fusão e refinaria exerciam suas atividades  laborais nos respectivos setores  industriais, os  indivíduos do grupo de serviços gerais, com atividade de  limpeza; e os da manutenção com atividade de manutenção dentro da planta. O pessoal do laboratório participava da execução, co‐leta  e  determinação  analítica  das  amostras  destinadas  ao  controle  de  qualidade de produção e da monitorização ambiental nos programa de higiene  industrial da em‐presa.  O  grupo  controle  foi  constituído  de  65  indivíduos  pareados  por  sexo,  idade, raça, hábitos alimentares, tabagismo e alcoolismo com o grupo de trabalhadores ex‐posto na planta industrial, diferindo apenas quanto ao aspecto de não se referirem a exposição atual ou no passado aos compostos de chumbo. 

Este  foi um estudo de corte  transversal  incluindo os grupos exposto e controle nos quais foram realizadas as determinações de chumbo no sangue (Pb‐S) por espectro‐metria  de  absorção  atômica  em  forno  de  grafite,  ácido  d‐aminolevulínico  na  urina (ALA‐U) por espectrofotometria, zinco protoporfirina (ZnPP) por fluorescência direta e hemoglobina (Hb) no sangue total por analisador automatizado. 

O sangue foi coletado por punção venosa em veia cubital, através do sistema a vácuo, em dois tubos de vidro com EDTA livre de resíduo de chumbo. O tubo de sangue des‐tinado a determinação do chumbo foi armazenado em geladeira a até o momento da análise e o tubo coletado para a determinação de Hb foi imediatamente processado. A urina  foi  coletada  em  coletores  de  polietileno  descontaminado  com  ácido  nítrico  a 2% em água pura Tipo I (Sistema Milli‐RX45 acoplado a um Milli‐Q, Millipore). 

Nesta oportunidade todas as análises toxicológicas foram realizadas no Laboratório de Toxicologia do Hospital São Rafael da Fundação Monte Tabor, em Salvador, Bahia. A concentração de chumbo no sangue foi determinada em duplicata por espectrosco‐pia de absorção atômica, usando o método eletrotérmico de digestão da amostra em forno de grafite, segundo o método de Fernadez modificado (Pruszakowasaka et al., 

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AAvvaalliiaaççããoo  ddaa  eexxppoossiiççããoo  ooccuuppaacciioonnaall  aaoo  cchhuummbboo  eemm  11999922  ee  mmoonniittoorriizzaaççããoo  bbiioollóóggiiccaa  ......  88 

1983), utilizando o equipamento Perkin Elmer 5000 equipado com forno de grafite P.E. HGA 500.  A  dosagem do ALA‐U  foi  realizada  pelo método  espectrofotométrico (Tomokumi & Ogata, 1992), usando o espectrofotômetro Perkin Elmer, Lambda I. O resultado foi corrigido pelo valor da creatinina urinária, que foi dosada pelo método cinético de Jaffé no analisador bioquímico Mega (Merck Diagnósticos). A determina‐ção  da  ZnPP  foi  executada  por  fluorimetria  direta  em  sangue  total,  utilizando‐se  o hematofluorômetro Protofluor‐Z (Helena Laboratories). A hemoglobina  foi determi‐nada  imediatamente  após  a  coleta  do  sangue,  usando‐se  o  sistema  automatizado STKS (Colter®). 

O controle de qualidade analítica para a determinação do Pb‐S foi realizado usando o sangue controle fornecido pela Bio‐Rad®, Liphochek Nível I e II, Além do controle ex‐terno de qualidade do Programa de Intercalibração de Controle de Qualidade do Ins‐tituto Nacional de  Seguridad y Higiene del Trabajo  (Espanha). O  controle de  quali‐dade das determinações bioquímicas foi realizado através do programa de Controle Externo de Qualidade da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e SEGULAB (Itália). 

Após a estratificação por grupos de atividade,  as médias aritméticas de cada grupo foram comparadas  através do  teste não paramétrico de Wilcoxon para médias não pareadas, análise de variância one‐way (ANOVA) e análise de correlação, utilizando‐se programa estatístico Epinfo 6.0. 

Resultados e DisCu­Ssão 

Os valores médios, mais desvio padrão (DP) e intervalo mínimo e máximo das deter‐minações de Pb‐S, ALA‐U, ZnPP e Hb do grupo controle e dos grupos trabalhadores da metalúrgica de acordo com a função estão resumidos na Tabela 1. 

Tabela  1  –  Valores  indicadores  biológicos  de  efeito  e  exposição  nos  grupos  expostos  e controle. 

Grupos Avaliados  Pb‐S ALA‐U Mg/g creat. 

ZnPPPg/dl 

Hbg/dl 

Grupo Controle N=65 

5,4 ± 3,1 (1,4 ‐ 16,6) 

1,9 ± 0,9 (0,5 ‐ 6,3) 

16,5 ± 7,0(8,5 ‐ 59) 

14,0 ± 1,3(0,7 ‐ 17,4) 

Administação n = 31 

13,1 ± 8,4*(1,4 ‐ 34,8) 

4,6 ± 3,0 (1,2 ‐ 17,4) 

21 ± 28(5,5 ‐ 125) 

14,4 ± 1,5(11,6 ‐ 16,9) 

Ser. Gerais n = 17 

25,1 ± 9,1*(11,7 ‐ 46,3) 

6,0 ± 3,8 (2,5 ‐ 18,3) 

25,5 ± 20(9 ‐ 80) 

15,0  ± 0,8(13,5 ‐ 16,1) 

Manutenção n = 26 

28,5 ± 9,8 *(10,7 ‐ 42,6) 

6,9 ± 8,4 *(1,4 ‐ 42,1) 

33 ± 38(10,5 ‐ 150) 

14,8 ±  0,9(13,2 ‐ 16,1) 

Laboratório n = 8 

23,1 ± 7,6*(11,0 ‐ 56,5) 

4,3 ± 1,0 (3,3 ‐ 6,6) 

25,5 ± 17(10 ‐ 63,5) 

15,6  ± 0,4(14,8‐ 16,1) 

Sinterização n = 23 

36,7 ± 9,8*(5,6 ‐ 55,4) 

11,9 ± 9,3*(2,54 ‐ 32,55) 

87,5 ± 107 *(14,5 ‐ 458) 

15,0 ± 0,9(13,9 ‐ 17,0) 

Fusão n = 41 

37,9 ± 8,5 *(24,8 ‐ 55,0) 

11,1 ± 6,9*(2,4 ‐ 30,9) 

65,5 ± 45,5*(11,5 ‐ 150) 

14,4 ±1,2(11,9 ‐ 16,9) 

Refinaria n = 49 

36,0 ± 9,1*(11,0 ‐ 56,5) 

10,3 ± 9,5*(1,2 ‐ 47,0) 

65,5 ± 61,5*(11 ‐ 307) 

15,1 ± 0,9(12,9 ‐ 16,8) 

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Comparando‐se os valores de Pb‐S do grupo controle (5,4±3,9µg/dL) com o grupo de indivíduos de área administrativa (13,1±8,4µg/d/L), constatou‐se uma diferença es‐tatisticamente  significativa  (p<0,001) entre eles, demonstrando que embora os  tra‐balhadores  administrativos  não  exerçam  atividade  na  área  de  produção  da  planta, possuíam uma  fonte adicional de exposição, oriunda provavelmente, da contamina‐ção ambiental da metalúrgica. Não foi observado diferença signicativa (p>0,05) entre os  indicadores  de  efeito  (ALA,  ZnPP  e  Hb)  deste  grupo  quando  comparado  com  o grupo controle. Diferença ainda mais significativa (p<0,0001) foi constatada compa‐rando‐se o Pb‐S do grupo dos trabalhadores de Serviços Gerais (25,1±9,1 µg/dL), da Manutenção  (28,5±9,8µg/dL),  do  Laboratório  (23,1±7,6µg/dL)  e  da  Sinterização (36,7±9,8 µg/dL). Entretanto não foi observado diferença significativa (p>0,05) entre o Pb‐S dos grupos de Refinaria, Fusão e Sinterização, sugerindo níveis semelhante de exposição,  bem  como os  grupos de  Laboratório, Manutenção  e  Serviços Gerais.  Em relação ao ALA‐U, que é o biomarcador de efeito, foi constatada uma diferença alta‐mente  significativa  (p<0,0001)  quando  comparada  a  média  do  grupo  controle (1,9±0,9  mg/g  creat.)  com  as  médias  dos  grupos  da  Manutenção  (6,9±3,8  mg/g creat.), Sinterização (11,9±9,3 mg/g creat), Fusão (11,9±6,9 mg/g creat.) e Refinaria (10,3±9,5 mg/g  creat.),  não  sendo,  porém,  observada  diferença  estatística  entre  as médias  deste  grupo  de  trabalhadores.  Considerando  a  ZnPP,  outro  marcador  de efeito da ação do  chumbo na  síntese do grupamento Heme,  constatou‐se uma dife‐rença  altamente  significativa  (p<0,0001)  entre  as  médias  do  grupo  controle (13,5±0,9 µg/dL) e as médias dos grupos de Fusão (65,5±45,5 µg/dL), Sinterização (87,5±107,0 µg/dL) e Refinaria (65,5±61,5 µg/dL). Esta diferença foi menos significa‐tiva (p<0,0001) para o grupo de Manutenção (33,0±38,0 µg/d/L) e para o grupo de Serviço Gerais (25,5±20,0 µg/dL). Não sendo observada, porém, diferença significa‐tiva  (p>0,05)  entre  os  grupos  controle  (25,5±20,0  µg/dL)  e  o  da  Administração (21,0±28,0 µg/dL). 

A  Figura  1  apresenta  uma distribuição  gráfica  dos  valores médios  de  Pb‐S,  ZnPP  e ALA‐U dos grupos controle e dos grupos de trabalhadores expostos da metalúrgica. 

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Figura 1 – Distribuição dos bioindicadores PB‐S, ALA e ZnPP nos grupos controle e nos grupos de trabalhadores expostos. 

Os níveis de chumbo no sangue da população geral têm diminuído ao longo do tempo em  diversos  países  do mundo,  provavelmente  resultante  das  ações  de  controle  de determinadas fontes de emissão de chumbo, como as de origem industrial e de deri‐vados do petróleo. O uso do álcool adicionado à gasolina reduziu a utilização de anti‐detonante à base de chumbo, contribuindo substancialmente para redução da emis‐são atmosférica de chumbo pelos automóveis, como acontece no Brasil (WHO, 1996 e Torra et al., 1995).  

O  grupo  da  administração  apresentou  Pb‐S  de  13,1  µg/dL,  significativamente mais elevado que o grupo controle (p<0,001), demonstrando que a proximidade do escri‐tório administrativo da área de produção da planta industrial e o uso do mesmo re‐feitório de outras instalações da empresa, podem ter contribuído para uma maior ex‐posição ambiental deste grupo, passando a apresentar níveis sanguíneos de chumbo semelhante aos de indivíduos que convivem próximo a áreas industriais de produção de  chumbo  reportada  por  outros  pesquisadores  (Carvalho et al.,  1986;  0MS,  1979; WHO, 1996 e Fernícola & Azevedo, 1981). 

Embora tenha ocorrido considerável aumento na produção e consumo dos compos‐tos de chumbo na década de 1970, observou‐se paralelamente uma redução substan‐cial nos níveis de Pb‐S de indivíduos ocupacionalmente expostos, refletindo uma me‐lhoria e maior atenção aos programas de vigilância epidemiológica, de medidas mais eficazes  de  higiene  industrial  e monitorização  biológica  dos  trabalhadores  exposto  (Landrigan, 1999; WHO, 1996 e Gerhadsson et al., 1996). Os processos de fundição e refinaria de chumbo são os que provavelmente representam maior risco de exposi‐ção,  confirmando  os  resultados  obtidos  neste  estudo  no  qual  os  trabalhadores  nas áreas de refinaria,  fusão e sinterização apresentam as concentrações mais elevadas 

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de chumbo no sangue (Wineger et al., 1997; Landrigan, 1999; WHO, 1996; Baker et al., 1979 e Lundstron et al., 1997). 

No Brasil o Ministério do Trabalho (Ministério do Trabalho, 1994) adota como valor de referencia do Pb‐S de até 40 µg/dL e para exposições ocupacional o IBMP (Índice Biológico Máximo Permitido) de 60 µg/dL. Neste estudo constatamos que 43,5% dos trabalhadores do grupo de sinterização, 36,6% de fusão, 32,6% da refinaria e 23 % da manutenção  possuíam  chumbo  superior  a  40  µg/dL,  considerado  como  normal pela legislação brasileira é igual ou superior ao LTB estabelecido em diversos países, enquanto 12,2% dos trabalhadores da área de fusão, 12,2% da de refinaria e 7% da de sinterização, totalizando 12 trabalhadores nos três grupos, revelaram Pb‐S supe‐rior  a  50  µg/dL,  valor  de  chumbo  sanguíneo  mais  elevado  do  que  o  estabelecido como  LTB  pela  Organização  Mundial  de  Saúde  e  a  ACGIH  dos  Estados  Unidos  da América do Norte. 

No que concerne o bioindicador de efeito, concentração urinária de ALA, observamos que 85,4% dos  trabalhadores da área de Sinterização e de 81,6% da Refinaria pos‐suíam ALA‐U superior a 4,5 mg/g creat. que é estabelecido como valor de referência pela  legislação  brasileira,  enquanto  que  36,6%  dos  indivíduos  da  de  Sinterização, 48,8% da de fusão e 30,6% da de refinaria apresentaram ALA‐U superior a 10 mg/g creat.,  adotado  pela  legislação  brasileira  como  Índice  Biológico  Máximo  Permitido (IBMP). 

É  possível  concluir,  portanto,  que  os  trabalhadores  com maior  risco  de  exposição ocupacional ao chumbo na planta da metalúrgica estudado são representados pelos grupos da fusão, sinterização e refinaria alguns deles com elevadas concentrações de chumbo  no  sangue  e  importante  alterações  na  concentração  de  ZnPP  sanguíneo  e ALA urinário. 

Apesar da constatação de considerável constatação nos níveis de Pb‐S nos trabalhado‐res expostos em todo o mundo, motivando inclusive a revisão dos LTB’s estabelecidos na  legislação  de  saúde  ocupacional  de  diversos  países,  mas  recentemente  tem enfatizado  a  importância  da  toxicidade  subclínica  do  chumbo,  demonstrando  que concentrações  de  chumbo  no  sangue  mesmo  abaixo  do  LTB’s  adotados  atualmente, podem desencadear  importante  toxicidade com nefropatia, neurotoxicidade central e periférica,  efeitos  sobre  a  reprodução,  câncer  renal  e  hipertensão  arterial.  Por  outro lado, a associação de outros metais,  como arsênico,  cádmio e zinco presentes em de‐terminados tipos de minério, como a galena, utilizada pela metalúrgica avaliada pode aumentar  o  risco  de  toxicidade metal,  como  também  influenciar  na  cinética  de  pro‐dução  de  determinados  indicadores  biológicos  utilizados  na  monitorização  dos  tra‐balhadores expostos (Landrigan, 1989, 1999; Gerhadsson et al., 1996; Lundstron, 1997 e Candela et al., 1991). Desse modo o zinco pode ativar o ácido delta‐aminolevulínico desidratase (ALA‐D), influenciando na produção de ALA‐U22, o cádmio pode aumentar a nefrotoxicidade do chumbo, bem como outros fatores, com o consumo de álcool, que influencia na produção de alguns destes indicadores (Candela et al., 1991). 

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Monitorização biológica da exposição ambiental da população do en­torno da extinta metalúrgica em 2011 

Aplicação piloto do Protocolo de Avaliação 

A aplicação piloto do Protocolo de Avaliação da População de Santo Amaro (SESAB) desenvolveu‐se entre agosto de 2010 e setembro 2011, como uma ação conjunta da Secretaria de  Saúde do Estado da Bahia,  com envolvimento do Laboratório Central (Lacen) da Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde (SUVISA) e da Secre‐taria de Saúde do Município de Santo Amaro. O protocolo é composto de uma série de questionários que devem ser  aplicados a  cada morador por  enfermeiros e médicos em cada PSF das subregiões do município, com prioridade para aquelas comunidades do  entorno  da  antiga  fábrica.  Esses  questionários  têm  por  objetivo  levantar  dados sóciodemográficos,  hábitos  de  vida,  histórico  de  exposição  ocupacional,  anamnese médica entre outros. Em seguida, essas pessoas deveriam ser convidadas para coleta de sangue e urina, para avaliação clínica e dos biomarcadores de exposição a metais pesados,  sendo  eles:  Chumbo  sanguíneo  (Pb‐S),  cádmio  sanguíneo  (Cd‐S),  cobre sérico (Cu‐S), zinco sérico (Zn‐S) e ácido delta‐aminolevulínico urinário (ALA‐U).  

O  Laboratório  de  Toxicologia  (LabTox)  da  Faculdade  de  Farmácia,  através  de  um convênio firmado entre a Universidade Federal da Bahia e a SESAB em 2009, passou a ser o Laboratório de referência para o Estado da Bahia em análises  toxicológicas. Portanto, todas as determinações dos biomarcadores de exposição humana a metais pesados do Projeto Purifica seriam executadas pelo LabTox‐UFBA.  

Após  diversas  reuniões  entre  as  equipes  do  LabTox  e  do  Lacen,  um  procedimento operacional  padrão  foi  elaborado,  sob  título:  “Fluxo  de  Recepção,  Cadastramento, Armazenamento  e  Transporte  das  Amostras  Biológicas  do  Projeto  “Purificação  de Santo Amaro”. De acordo com o próprio título, este documento padronizaria o proce‐dimento de  acompanhamento das  amostras  da  coleta,  recepção no Lacen,  envio  ao LabTox, assim como a emissão dos laudos e entrega dos resultados. 

As análises toxicológicas foram executadas por metodologias de referência para aná‐lise  de metais.  Sendo  espectroscopia  de  absorção  atômica  em  forno de  grafite  com efeito Zeeman (AA GT240, Varian Inc), para análises de chumbo e cádmio sanguíneo de  acordo  com os métodos  descritos  no manual  da Organização Mundial  de  Saúde (WHO, 1996) e Kummrow et al., 2008, respectivamente. Espectroscopia de absorção atômica no modo chama no equipamento EAA B55, Varian  Inc.  foi aplicada para as análises de zinco e cobre séricos, baseando em metodologias descritas por Ince et al., 2008 e Kelson et al., 1978, respectivamente. A dosagem de ALA na urina  foi execu‐tada espectrofotometria no visível de acordo com o método descrito por Katsumara & Masana, 1978. Todas as análises foram acompanhadas por utilização em cada bate‐ria de material de referência para fins de controle interno de qualidade, sendo San‐gue níveis 1 e 2, Lyphocheck (BioRad), soro níveis 1 e 2 (Lyphocheck (BioRad). Além disso,  o  LabTox  participa  do  Programa  de  Proficiência  Analítica  da  Dosagem  de 

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Chumbo Sanguíneo do Instituto Adolfo Lutz, do qual detém o Certificado de Profici‐ência Analítica nos anos de 2010 e 2011. 

Resultados e disCu­Ssão 

Foram avaliados 216 moradores atendidos no PSF do Trapiche. Foram 114 (52,8%) do sexo feminino e 102 (47,2%) do sexo masculino. Apenas 4,7% das pessoas avalia‐das tinham menos que 17 anos. Na faixa etária entre 20 e 40 anos foram 13,6%, entre 40 e 60 anos foram 43,5% e acima de 60 anos foram 37% dos participantes.  A Tabela 2  apresenta  os  resultados  dos  valores  médios,  mínimos  e  máximos  do  chumbo  e cádmio no sangue, estratificados por faixa etária e sexo. 

Tabela 2 ‐ Níveis médios, mínimos e máximos de Pb‐S e Cd‐S estratificados de acordo com a faixa etária e sexo. 

Faixa Etária  Sexo N  Pb‐S (µg/dL)  Cd (µg/L) 

<20  M

03

07

5,8 (0,5 – 15,5)

1,3 (0,5 – 2,4) 

0,37 (0,21‐0,66)

0,33 (0,05 ‐0,87) 

20 – 39,9  M

08

18

5,7 (0,5 – 14,6)

1,4 (0,8 – 8,6) 

0,67 (0,20 – 1,12)

0,57 (018 – 1,79) 

40 – 59,9  M

42

48

6,4 (0,5 – 22,8)

3,3 (0,5 – 15,3)

0,63 (0,18 – 1,66)

0,67 (0,10 – 5,17) 

>60  M

43

32

9,6 (0,5 – 33,6)

4,6 (0,5 – 14,4)

0,91 (0,09 – 3,38)

0,94 (0,12 – 2,94) 

A média do chumbo no sangue entre os homens foi de 7,7 µg/dL e nas mulheres 3,2 µg/dL, alcançando uma diferença estatisticamente significante (p<0,001). A maioria das pessoas avaliadas apresentaram plumbemia abaixo de 4,0 µg/dL. Apenas 6% ti‐veram plumbemia acima de 15 µg/dL e desses, somente cinco pessoas tiveram Pb‐S acima de 20 µg/dL, sendo somente um caso com Pb‐S igual a 33,6 µg/dL e todos do sexo masculino. Assim sendo, pode‐se observar na Tabela 2 que em todas as  faixas etárias os níveis médios da plumbemia são sempre maiores nos homens do que nas mulheres e tendem a aumentar com a idade em ambos os sexos, demonstrando seu caráter acumulativo no organismo. Os níveis maiores observados no sexo masculino podem estar associados à exposição ocupacional pregressa na antiga  fábrica ou em atividades  que  envolvessem  o manuseio  do  solo  contaminado,  como  a  agricultura, pavimentação de vias,  instalação de  rede  sanitária  etc. A Figura 2 apresenta  repre‐sentação gráfica dos níveis medianos da plumbemia de acordo com a  faixa etária e sexo. 

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AAvvaalliiaaççããoo  ddaa  eexxppoossiiççããoo  ooccuuppaacciioonnaall  aaoo  cchhuummbboo  eemm  11999922  ee  mmoonniittoorriizzaaççããoo  bbiioollóóggiiccaa  ......  94 

Figura 2 ‐ Mediana da plumbemia (µg/dL) nas diferentes faixas etárias estratificadas de acordo com o sexo. 

Os níveis de cádmio variaram entre 0,05 µg/L a 5,17 µg/L, com valor médio de 0,74 µg/L. O valor esperado na população geral não fumante é de 0,50 µg/L e de até 1,5 µg/L em fumantes (WHO, 1996). Infelizmente não tivemos acesso aos dados coleta‐dos  na  aplicação  dos  questionários  do  protocolo  ou  mesmo  se  todas  as  pessoas avaliadas passaram pela  entrevista  e  aplicação dos  questionários.  Portanto não  co‐nhecemos o status dessas pessoas quanto ao hábito de fumar. Apenas 18 (8%) pes‐soas tiveram Cd‐S acima de 1,5 µg/L. A Norma Regulamentadora No 7 do Ministério do Trabalho estabelece o valor de 5,0 µg/L para Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP) para o Cd‐S. O que significa dizer que trabalhador com valor de Cd no sangue maior que este deveria ser afastado da sua função. No entanto, estamos tratando de exposição  ambiental  e  esta  pessoa  observada  com Cd‐S maior  que  5,0  µg/L  é  uma mulher  de  quase  60  anos.  Esses  resultados  refletem  uma  exposição  excessiva  por parte da população, as quais em tese deveriam ser afastadas da fonte de exposição. A Figura 3 mostra os histogramas das distribuições de frequência dos níveis de Cd‐S es‐tratificado pelo sexo. Enquanto que a Figura 4 apresenta as medianas dos níveis de Cd‐S de acordo com a faixa etária e sexo. 

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Figura 3 ‐ Histogramas das frequências de indivíduos em cada nível de Cd no sangue de acordo com o sexo. Setas mostram os valores de  referência do Cd‐S para não  fumantes (NF) e fumantes (Fum.). 

Podemos observar na Figura 4 um significante aumento dos valores médios de Cd‐S com a  idade, refletindo dessa  forma o  forte potencial cumulativo do Cd. Este metal, diferente do  chumbo que  tem um  tropismo pelos  tecidos ósseos acumulando‐se na forma de pirofosfato de chumbo com meia‐vida de 5 a 25 anos, tem a capacidade de acumular‐se no córtex renal onde  fica depositado com uma meia‐vida estimada em 30 anos (Roberts et at. 2001; WHO, 1996). 

 

 

 

 

 

Figura 4  ‐ Mediana dos níveis de cádmio sanguíneo  nas  diferentes  faixas  etárias estratificada de acordo com o sexo. 

    Fem 

     Mas 

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AAvvaalliiaaççããoo  ddaa  eexxppoossiiççããoo  ooccuuppaacciioonnaall  aaoo  cchhuummbboo  eemm  11999922  ee  mmoonniittoorriizzaaççããoo  bbiioollóóggiiccaa  ......  96 

Quanto aos níveis de ALA‐U, um biomarcador de efeito do chumbo, a média entre as mulheres foi 1,9 mg/g de creatinina, variando de 0,2 a 4,9 mg/g de creatinina. A mé‐dia no grupo masculino foi 2,0 mg/g de creatinina, variando de 0,6 a 7,5 mg/g de cre‐atinina. Segundo a NR‐7 (MT‐Br) o valor normal de ALA‐U é de 4,5 mg/g de creati‐nina e o  IBMP de 10,0 mg/g de creatinina. Dentre  todas as pessoas avaliadas 3,6% apresentaram níveis de ALA urinário acima do valor de referência. A Figura 5 apre‐senta a distribuição de frequência dos níveis de ALA‐U de acordo com o sexo. 

Figura 5 ­ Frequências dos indivíduos de acordo com os níveis de ALA‐U estratificadas de acordo com o sexo. 

Foi observada uma fraca correlação (Spearman rho=0,198, p=0,009) entre os níveis de  Pb‐S  e  os  níveis  de  ALA  na  urina,  somente  quando  este  parâmetro  não  era corrigido pela  creatinina urinária.  Esta baixa  correlação deve‐se  ao  fato dos baixos níveis  de  Pb‐S  observados  neste  grupo,  em  que  poucos  valores  de  plumbemia estavam  acima  de  20  µg/dL.  O  aumento  dos  níveis  de  ALA  reflete  a  inibição  pelo chumbo da enzima ALA‐desidrogenase nas mitocôndrias do sistema hematopoiético, resultando no seu acúmulo no organismo e consequente excreção através da urina. Esta  inibição  enzimática  resultará  na  redução  da  síntese  do  grupamento  Heme  da hemoglobina, tendo como consequência uma anemia hipocrômica (WHO, 2002). 

Os demais parâmetros analisados como Cu‐S, Zn‐S apresentaram valores dentro da faixa normal esperada na população geral, não havendo nenhuma correlação com os níveis de Pb‐S ou Cd‐S.  

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O que mudou em quase 20 anos 

Após  vinte  anos  de  cessada  a  operação  da  fundição  primária  de  chumbo,  os  níveis desse metal suspenso no ar têm decaído sensivelmente, o que se reflete nos valores de plumbemia na população adulta e,  sobretudo na população  infantil. Os níveis de plumbemia reportados ao  longo desses anos apresentam médias cada vez menores em crianças. Carvalho et al. (1980) avaliaram 555 crianças de 1 a 9 anos e encontra‐ram uma média de Pb‐S de 59,1±25,0 µg/dL; em 1985 Silvany‐Neto et al. (1989) ava‐liaram 53 crianças após adoção de medidas de controle de emissão na fundição e en‐contraram uma média de plumebemia de 36,9±22,9 µg/dL. Os últimos resultados de plumbemia  em  crianças  dessa  localidade  disponíveis  na  literatura   mostram que  o valor médio em 47 crianças de 1 a 4 anos de idade foi de 17,1±7,3 µg/dL, onde 88% estavam acima de 10 µg/dL (Carvalho et al. 2003). Em adultos, de acordo com os da‐dos apresentados nas sessões anteriores, em 1992 a média de Pb‐S nos 31 trabalha‐dores da administração da empresa de  fundição  foi de 13,1±7,3 µg/dL, variando de 1,4 a 34,8 µg/dL. Já em 2011, o valor médio da plumbemia observada em adultos de 20 a 40 anos na população do entorno da antiga fábrica foi de 2,6±7,3 µg/dL. Esses dados demonstram como os valores de plumbemia tendem a aproximar‐se dos valo‐res esperados da população sem uma  fonte pontual de contaminação após o encer‐ramento das atividades da fundição primária de chumbo em dezembro de 1993. 

A fonte de exposição atual é o solo contaminado das ruas próximas da antiga fundi‐ção  e  a montanha  de  490.000t  de  escória  contaminada  (Anjos,  1998).  Essas  fontes podem contaminar produtos nele cultivados,  lixiviar para os recursos hídricos, con‐taminando os frutos do mar, sobretudo os bivalves que são filtradores, assim concen‐trando  os metais  pesados.  Como  foi  o  observado  por  Carvalho  et al.  (2003)  que  o chumbo depositado no solo e na poeira torna‐se uma fonte de exposição duradoura. Estima‐se  que  os  níveis  de  chumbo no  sangue  aumentem em 3  a  7µg/dL por  cada aumento de 1 000 ppm do metal no  solo ou poeira  (CDC, 2002).  Isto  significa,  que embora o risco tenha diminuído, o perigo continua, pois a mobilização do solo con‐taminado pode elevar outra vez os níveis de partículas de chumbo em suspensão na atmosfera e culminar com a reexposição da comunidade a concentrações perigosas. 

Recomendações sobre os biomarcadores 

Diante da necessidade de prover evidências científicas incontestáveis quanto  aos ní‐veis atuais e pregressos de exposição, aliado ao fato que deve haver uma otimização dos recursos públicos investidos neste estudo; é que, baseados nos resultados preli‐minares  desta  avaliação  e,  sobretudo,  na  toxicologia  desses  metais  pesados,  reco‐mendamos uma revisão nos biomarcadores a serem monitorados nesta população: 

Para monitorização da exposição ao cádmio 

A concentração de cádmio no organismo aumenta continuamente até cerca de 60‐70 anos, quando pode decrescer. Acumula‐se principalmente em rins e  fígado devido à 

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habilidade desses tecidos em sintetizar metalotioneina, proteína que inativa o metal e protege o sistema enzimático celular (Bernard, 2008) da ação tóxica do cádmio, a qual se deve à afinidade por radicais sulfidrila, hidroxila, carboxila, fosfatil, cisteinil e histidil e ação competitiva com elementos essenciais como zinco, cobre, ferro e cálcio (Ramirez, 2002). Depois de  ligado a metalotioneina, o cádmio é  filtrado nos glomé‐rulos  renais  e  reabsorvido  nos  túbulos  proximais.  A metalotioneina  é  então  degra‐dada nas células tubulares, liberando o metal, o qual estimula a produção tubular da proteína. Em altas concentrações de Cd no córtex renal, o metal  livre alcança níveis também elevados, provocando dano tubular. Visto que a toxicidade do cádmio é de‐pendente  da  concentração  nos  rins,  os  efeitos  adversos  não  são  observados  após curto período de exposição (ATDSR, 2008). Assim sendo, a dosagem do cádmio uri‐nário (CdU) é o melhor marcador para exposição de longo de prazo. 

Ainda, sugerimos a inclusão de um ou mais biomarcador de efeito sub‐clínico. O rim por ser um órgão compensatório só revela alterações dos valores de uréia e creati‐nina com perda de dois terços da função. Dessa forma, outros biomarcadores são re‐comendados a fim de detectar injúria precoce. Sugerimos a dosagem de um ou mais marcadores  de  lesão  renal,  como N‐acetil‐β‐glucosaminidase  (NAG),  retinol binding protein (RBP) e/ou β2‐microglobulina, os quais estão relacionados a danos provoca‐dos no túbulo contornado proximal. A β2‐microglobulina, expressa em células nucle‐adas  e  encontrada  em  baixas  concentrações  no  plasma,  e  a  RBP,  responsável  pelo transporte de retinol do fígado para os tecidos epiteliais, consistem em proteínas de baixo  peso  molecular  geralmente  filtradas  pelos  glomérulos  renais  e  reabsorvidas nos  túbulos  proximais.  Em  caso  de  dano  tubular,  teores  elevados  dessas  proteínas são  detectados  na  urina  e,  por  isso,  são marcadores  utilizados  na monitoração  de disfunção renal (Prozialeck et al,, 2007). 

Para monitorização da exposição ao chumbo 

Com base nos dados aqui apresentados, os níveis de chumbo sanguíneo observados nesta população não são elevados o suficiente para refletir um aumento significativo nos níveis de ALA urinário. Como foi observado por Lee (1982) e Menezes‐Filho et al. (2004)  somente  a  um  aumento  da  excreção  de  ALA  quando  os  níveis  de  Pb‐S  são acima de 40 µg/L. Neste grupo estudado, o valor mais elevado de Pb‐S foi de um ho‐mem que teve 33,6 µg/L e o ALA na urina de 1,0 mg/g de creatinina. Além do mais, o ALA não é um biomarcador específico dos efeitos do chumbo, ele pode estar elevado em  doenças  relacionadas  ao  sistema  hematopoiético,  sobretudo  as  porfirias.  Deste modo, sugerimos que apenas indivíduos que tenha níveis de Pb‐S acima de 40 µg/L sejam requisitadas a dosagem de ALA urinário e da zinco‐protoporfirna eritrocitária (ZnPP).  

Para os ex‐trabalhadores da fundição primária, a dosagem de Pb‐S não vai refletir os elevados níveis que estes  trabalhadores  tiveram no passado,  como está descrito na primeira  sessão  deste  capítulo.  O  ideal  seria  a  quantificação  dos  níveis  de  chumbo depositados nos ossos, através de método não invasivo. Os ossos chatos ou trabecu‐

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lares, a exemplo do externo, patela, etc, por sua alta perfusão são considerados depó‐sitos mais curto do chumbo, onde sua meia‐vida é estimada de 5 a 10 anos. Os ossos corticais como fêmur, tíbia, etc são mais rígidos e a meia‐vida do chumbo nesses teci‐dos é de 15 a 30 anos  (ATSDR, 2005). Diversos estudos  têm associado a exposição crônica ou pregressa de longo prazo ao Pb com uma série de efeitos como: hiperten‐são  (Weaver  et al.,  2008), neurobehavioral  effects  (Dorsey  et al.,  2006)  e  danos  na função renal (Muntner et al., 2007, Weaver et al., 2011).  No entanto, esta metodolo‐gia  baseia‐se  na  fluorescência  de Raio‐X  (XRF),  a  qual  usa  uma  fonte  radioativa  de Cd109. Do nosso conhecimento, só existe um grupo no mundo que detém esta tecnolo‐gia  e  presta  esse  serviço  através  de  consultoria,  está  localizado  em  Nova  York  na Mount Sinai School of Medicine, sendo coordenado pelo Dr. Andrew Todd. 

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AAvvaalliiaaççããoo  ddaa  eexxppoossiiççããoo  ooccuuppaacciioonnaall  aaoo  cchhuummbboo  eemm  11999922  ee  mmoonniittoorriizzaaççããoo  bbiioollóóggiiccaa  ......  102 

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RReemmeeddiiaaççããoo  ddee  áárreeaass  ccoonnttaammiinnaaddaass::  pprrooppoossiiççõõeess  ppaarraa  oo  ssííttiioo  ddaa  PPlluummbbuumm  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ddaa  PPuurriiffiiccaaççããoo//BBAA    

JJoossee  ÂÂnnggeelloo  SSeebbaassttiiããoo  AArraauujjoo  ddooss  AAnnjjooss11    LLuuiiss  EEnnrriiqquuee  SSáánncchheezz22    LLuuiizz  CCaarrllooss  BBeerrttoolliinnoo33  

Introdução 

Num bairro da Zona Leste do município de São Paulo, cerca de cem famílias ocupam um terreno onde funcionou uma fábrica de revestimento cerâmico, constroem casas e  criam  alguns  animais  domésticos.  Em  abril  de  1997,  ao  fazerem  uma  escavação para instalar uma manilha de águas servidas, descobrem uma substância com cheiro muito  forte. Uma vaca pasta na área. Descobre‐se que a  substância é BHC, produto organoclorado usado como agrotóxico, proibido no Brasil, que nada tem a ver com a fábrica  de  revestimentos  cerâmico  e  que  foi  provavelmente  abandonado  clandesti‐namente no terreno. Apela‐se para diferentes repartições dos governos municipal e estadual. Alguma medida urgente parece necessária, tanto em vista a periculosidade desse  produto  químico.  Diversas  perguntas  se  colocam:  o  que  fazer?  como  fazer? quem deve  fazer  o  que?  quando? Esta  repartição pública  tem atribuição  legal  para fazer alguma providência? É sua competência? Quais as consequências se nenhuma medida  for  tomada?  Quais  as  consequências  se  alguma  medida  for  tomada? (SANCHEZ, 2001)                              

Com o objetivo de  limpar o  solo e as águas  subterrâneas de  substâncias  tóxicas  foi formulado pela Environmental Protection Agency (EPA), em 1986, a primeira sequen‐cia de procedimentos de correção para uma área contaminada. Estas ações corretivas foram desenvolvidas em cinco fases, sendo a inicial uma vistoria e avaliação prelimi‐nar do sitio, passando pela proposição de técnicas de remediação até a implantação das medidas corretivas e estabilizadoras (BERTENFELDER, 1992). 

Neste período, no Brasil, em 1987, ocorre o acidente com o césio‐137 em Goiânia e, segundo Terra e Ladislau (1991), “a não definição dos culpados pelo acidente é que retarda  o  devido  atendimento  às  vitimas,  seja médico,  seja  financeiramente”  o  que 

                                                            

1   Doutorado em Engenharia Mineral/Universidade de São Paulo. [email protected] 2   Doutorado em  Economia dos Recursos Naturais e do Desenvolvimento pela Escola de Minas de 

Paris. [email protected] 3   Doutorado  em  Engenharia  de  Materiais.    Pontifícia  Universidade  Católica  do  Rio  de  Janeiro. 

[email protected] 

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RReemmeeddiiaaççããoo  ddee  áárreeaass  ccoonnttaammiinnaaddaass::  pprrooppoossiiççõõeess  ppaarraa  oo  ssííttiioo  ddaa  PPlluummbbuumm  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ...... 104 

caracteriza uma ação desarticulada das instituições, por falta de leis específicas sobre a contaminação industrial, e suas consequências na saúde humana. 

Dentro deste contexto, a partir da década passada, em São Paulo, um número expres‐sivo de trabalhos envolvendo o gerenciamento de áreas contaminadas por resíduos industriais  e  proposições  para  remediação  de  sítios  foram  se  multiplicando,  tais como Marker et al. (1994), Pompeia (1994), Sanchez (1995), Cunha (1997), Gloeden et  al.  (1997),  Hassuda  (1997),  Leite  et  al.  (1997),  Sígolo  (1997),  Anjos  (1988), Gloeden  (1999), CETESB  (1999), Crozera  (2001),  Silva, A.L.B.  (2001),  Silva,  F. A. N. (2001), Toso Júnior (2001), Borba (2002), Sanchez (2006) e Marker (2008). 

O termo remediation, na língua inglesa, refere‐se à abordagem de cunho educacional, uma  “ação  ou  processo  de  correção  ou  domínio  do  conhecimento  ou  problema” (WEBSTERS,  1995).  Contudo,  este  termo  foi  introduzido  nos  Estados Unidos  e  Eu‐ropa,  pelos  formadores  de  opinião,  como  um  “conjunto  de  medidas  objetivando  a limpeza de sítios degradados por atividades  industriais”, notadamente a disposição de  resíduos  tóxicos,  que  tenha  causado  a  contaminação  do  solo  ou  do  aquífero (SÁNCHEZ, 1994). 

A USEPA define remediação como um conjunto de ações corretivas aplicáveis a um determinado  sítio  contaminado por  resíduos perigosos. Na prática,  essas  ações mi‐nimizam os efeitos da contaminação, o que significa que dificilmente pode‐se recupe‐rar o sítio (BERTENFELDER, 1992). Enquanto que Bitar (1997) define a remediação como  técnicas  de  tratamento  que  se  destinam  a  “eliminar,  neutralizar,  imobilizar, confinar ou  transformar elementos ou  substâncias presentes no ambiente e,  assim, alcançar a estabilidade química do ambiente”. 

O  termo  remediação  por  vezes  se  confunde  com  recuperação.  Gloeden  (1999)  e Sanchez  (2001)  discutiram  as  diferenças  e  aplicação  destas  terminologias,  que  se‐gundo  (GLOEDEN  op.  cit.)  podem  ser  empregadas  quando  determinarem  medidas para compatibilizar o uso atual e futuro da área contaminada. Dentro deste contexto, a recuperação de áreas contaminadas seria todo o processo de aplicação de medidas corretivas necessárias para minimizar ou eliminar a contaminação, visando a utiliza‐ção  da  área  para  um  determinado  uso,  enquanto  a  remediação  está  relacionada  a medidas de  contenção ou  isolamento da  contaminação. Enquanto  Sanchez  (op. cit.) enfatiza a recuperação como medidas para eliminar ou reduzir a quantidade de subs‐tâncias  nocivas  presentes  no  solo  ou  na  água  subterrânea,  enquanto  a  remediação estaria  relacionada a medidas para  isolar os  setores mais  contaminados e  remoção dos contaminantes a níveis seguros à saúde humana e ao ecossistema. 

Todavia, a aplicação do termo remediação por vezes torna‐se improcedente quando dependente de respaldo  jurídico, visto que, até o momento, não existe  lei específica no Brasil para remediação de sítios contaminados. Entretanto, o mesmo não ocorre com a especificação do termo recuperação na Constituição Federal de 1988, regula‐mentado pelo Decreto Federal 97.632/89 para projetos de mineração e denominado Plano  de Recuperação  de  Áreas Degradadas. Nestas  condições,  a  recuperação  deve 

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   JJoossee  ÂÂnnggeelloo  SSeebbaassttiiããoo  AArraauujjoo  ddooss  AAnnjjooss,,  LLuuiiss  EEnnrriiqquuee  SSáánncchheezz  ee  LLuuiizz  CCaarrllooss  BBeerrttoolliinnoo   105  

 

ser entendida como o resultado da aplicação de técnicas de manejo objetivando tor‐nar a área adequada para um novo uso (SANCHEZ, 2001). 

Schianetz (1999) não utilizou o termo remediação e correlaciona o passivo ambien‐tal4 de áreas contaminadas por resíduos industriais a ações para a sua recuperação, tais  como:  necessidade  de  ações  imediatas;  objetivos  da  recuperação;  duração  da ação da recuperação; tipos de contaminantes e suas relações com o subsolo; recursos financeiros disponíveis e; aspectos legais referentes à segurança da operação. 

Já o manual de gerenciamento de áreas contaminadas (CETESB, 1999), primeiro pro‐tocolo brasileiro  sobre áreas  contaminadas, define  a  remediação  como a  “aplicação de técnica ou conjunto de técnicas em uma área contaminada, visando à remoção ou contenção dos contaminantes presentes, de modo a assegurar uma utilização para a área, com limites aceitáveis de riscos aos bens a proteger”.  

Desta forma, o sistema de gerenciamento de áreas contaminadas da CETESB contem‐pla uma etapa para investigação para a remediação (selecionar dentre as varias op‐ções de técnicas existentes aquelas mais apropriadas para o caso considerado) e em seguida um projeto de remediação (base técnica para o órgão gerenciador ou órgão de  controle  ambiental  avaliar  a  possibilidade  de  autorizar  ou  não  a  implantação  e operação dos sistemas de remediação propostas). 

Todavia,  duas  décadas  após  as  primeiras  regulamentações  efetuadas pelos Estados Unidos5 para  limpeza de  solos  contaminados e, da  intensa  investigação  tecnológica patrocinada  pelos  países  industrializados,  em especial,  Estados Unidos,  Canadá,  In‐glaterra, Holanda e Alemanha, constata‐se que as dificuldades de recuperação dessas áreas contaminadas continuam. Esta conclusão decorre da complexidade que envolve a  contaminação dos  sítios,  das  técnicas  aplicadas não  atingirem seus objetivos ple‐namente e, notadamente, pelos elevados custos para implementação da remediação. 

Estas  condições  vêm  favorecendo  a  especificidade  de  técnicas  de  remediação  com menores  custos,  como  as  apresentadas  nas  Sixth  and  Seventh  International Conference  on  Contaminated  Soil,  realizadas  sequencialmente,  em  1988,  em Edinburgh, UK e 2000, em Leipzig, Alemanha. Nestas conferências foram enfatizadas as  dificuldades  de  atingir  padrões  mais  restritivos  com  as  tecnologias  atuais,  a 

                                                            

4   Segundo Schianetz (op. cit.), passivos ambientais são deposições antigas e sítios contaminados que  produzem  riscos  para  o  bem  estar  da  coletividade,  segundo  a  avaliação  tecnicamente respaldada das autoridades competentes. Porém, para Sánchez (op. cit.), o passivo ambiental é o acúmulo de danos (impactos) ambientais que devem ser reparados a fim de que seja mantida a qualidade ambiental de um determinado local. 

5   Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability Act (CERCLA), aprovado em 1980, foi a primeira lei  que tratou da contaminação do solo e das águas subterrâneas, também conhecida como “Superfund”. Esta lei foi precedida das regulamentações especificas para água, ar e resíduos sólidos,  respectivamente, Water Pollution Control Act (1948), Clean Air Act (1955) e Solid Waste Control Act (1965) (SÁNCHEZ 2001)  

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RReemmeeddiiaaççããoo  ddee  áárreeaass  ccoonnttaammiinnaaddaass::  pprrooppoossiiççõõeess  ppaarraa  oo  ssííttiioo  ddaa  PPlluummbbuumm  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ...... 106 

necessidade  de  conviver  com  as  áreas  contaminadas  e  a  urgência  na  utilização  do bom  senso  para  determinação  dos  sítios  com  riscos  imediatos,  além  de  serem enfatizadas  as  pesquisas  sobre  técnica  de  atenuação  natural  dos  contaminantes, caracterizada pelo seu baixo custo na execução da remediação. 

Nessas  circunstâncias,  diversas  organizações  mundiais,  em  especial  as  instituições ligadas  ao  Mercado  Comum  Europeu6,  Leste  Europeu  e  América  do  Norte,  vêm apresentando propostas de cooperação, para troca de conhecimento científico e pro‐posições de metodologias e testes de novas tecnologias de remediação para os solos e as águas subterrâneas. 

No Brasil, desde 1992, algumas técnicas de descontaminação de solo já vinham sendo executadas pelo setor privado, dentre elas o processo Bergmann  e  tecnologias con‐vencionais  como:  incineração,  extração química,  descoloração,  biodegradação,  esta‐bilização e vitrificação. Todavia, um dos grandes empecilhos à implementação da re‐mediação nos  solos  contaminados estava  relacionado ao  custo operacional das  tec‐nologias que variava de US$ 122/m3 quando utilizado o processo Bergmann,  a US$ 1.282/m3  o  custo  para  a  incineração  com  remoção  do  contaminante  (ROHRIG; SINGER 1996). 

Contudo, em 1997, a revista Química e Derivados apresentou uma grande discussão denominada de “Controle ambiental chega ao subsolo”. Neste artigo são apresentadas as  proposta  dos  planos  de  ação  da  CETESB  para  sítios  contaminados  em  conjunto com  a  Agência  Ambiental  do  Governo Alemão  (GTZ)  e,  são  enfatizados  os  procedi‐mentos para desenvolvimento do Manual de Áreas Contaminadas, além do estabele‐cimento dos valores de referência e intervenção para solo e água subterrânea no Es‐tado de São Paulo (FURTADO, 1997). 

Durante este período,  a metodologia adotada para diagnóstico e avaliação de áreas contaminadas seguiu os procedimentos aplicados pela USEPA, e sequenciado em três fases: 

 Fase 1 – Auditoria de conformidade, quando serão levantadas as legislações ambien‐tais pertinentes; licenças Municipais, Estaduais, Federais e Ambientais; mapas e lau‐dos de riscos ambientais, saúde ocupacional, ergonômico e notificações de acidentes, além  de  inspeção  e  conhecimento  dos  equipamentos  instalados  a  céu  aberto  e  em sub‐solo; 

Fase  2  –  Delineamento  da  contaminação,  quando  serão  levantadas  as  informações que permitam quantificar o nível de contaminação existente no solo e água subterrâ‐nea, por meio do conhecimento geológico e hidrológico da área, utilização de proce‐

                                                            

6   O  Concerted  Action  on  Risk  Assessment  for  Contaminated  Sites  in  the  European  Union (CARACAS);  Contaminated  Land  Rehabilitation  Network  for  Environmental  Technologies  in Europe (CLARINET); Network for Industry Contaminated In Europe (NICOLE) e Risk Abatement Center for Central and Eastern Europe (RACE). 

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dimentos normalizados para amostragem e caracterização da/s fonte/s de contami‐nação  e  qualificação  e  quantificação  das  substâncias  tóxicas  por  meio  de  análises químicas. Nesta fase também devem ser estabelecidas as prioridades para a remedia‐ção, o risco imediato à saúde publica, além dos custos e detalhamento para a remedi‐ação; e  

Fase 3 – Programa detalhado de monitoramento e ações corretivas, por meio de pro‐gramas de risco à saúde e ao ecossistema, aplicação de técnicas de remediação e ava‐liação sistemática da persistência das substâncias tóxicas no sitio contaminado.  

Porém é cada vez maior o número de sítios contaminados que vêm sendo identifica‐dos no Brasil, principalmente, em função do descarte inadequado ou clandestino dos resíduos industriais7 existentes no passado. Embora não exista um cadastro de áreas contaminadas  no  Brasil,  somente  o  estado  de  São  Paulo  contempla  um  programa para a região metropolitana e, que já teria 2300 áreas potencialmente identificadas. Dados apresentados por Gloeden (1999) apresentam somente para a bacia do Gua‐rapiranga, no Estado de São Paulo, 1267 áreas potencialmente contaminadas. 

Todavia, com a implantação de protocolos específicos para os sítios contaminados no Estado de São Paulo, em especial o Manual para Gerenciamento de Áreas Contamina‐das (Figura 1), os Valores de referência de qualidade do solo e águas subterrâneas e a nova  legislação  implementada pela  prefeitura de  São Paulo para ocupação de  lotes urbanos  que  dispõe  de  diretrizes  e  procedimentos  relativos  ao  gerenciamento  de áreas  contaminadas  no  Município8,  o  Estado  de  São  Paulo  tornou‐se  pioneiro  na América do Sul por possuir mecanismos específicos e legais para avaliação de sítios contaminados. 

A partir da implementação dos protocolos estaduais, a CETESB apresentou em maio de  2002  o  primeiro  cadastro  de  áreas  contaminadas,  compreendendo 255  sítios  já em  fase  de  remediação.  Este  cadastro,  disponível  na  internet  (www.cetesb.sp.gov. br/Solo/areas_contaminadas/relacao_areas.htm),  é  compreendido  por  uma  ficha com dados sobre a área contaminada.  

Em 2009, foi promulgada a Resolução CONAMA 420/2009 que dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quando à presença de substâncias quími‐cas  e  estabelece diretrizes para o  gerenciamento  ambiental  de  áreas  contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas.                                                              

7   Segundo a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), órgão do governo federal, as áreas com maior potencial de risco a saúde humana são: Santana, no Estado do Amapá, presença de arsênio; Santo Amaro da Purificação, no Estado da Bahia, contaminação por chumbo e cádmio; Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, contaminação por pesticidas; Goiânia, Goiás, contaminação por material radioativo e, em São Paulo, entre outros o Condomínio Barão de Mauá, presença de benzeno, Recanto dos Pássaros em Paulínea, presença de organoclorados e Fabrica de Bateria Ájax, contaminação por chumbo. 

8   Decreto n 42.319, de 21 de agosto de 2002. 

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Nesta Resolução fica estabelecido que a avaliação da qualidade do solo, quanto à pre‐sença de substancias químicas, deve ser efetuada com base em Valores Orientadores de Referencia de Qualidade, de Prevenção e de Investigação, sendo que os Valores de Referência de Qualidade do solo‐VQRs (concentração de determinada substância que define  a  qualidade  natural  do  solo,  sendo  determinada  com base  em  interpretação estatística de  análises  físico‐químicas de  amostras  de diversos  tipos de  solos) para substâncias  químicas  naturalmente  presente  serão  estabelecidos  pelos  órgãos ambientais competente dos Estados e do Distrito Federal, em até 04 anos após a pu‐blicação  desta  Resolução,  de  acordo  com  o  procedimento  estabelecido  no  anexo  I desta Resolução (CONAMA 420/2009). O prazo final para estabelecimento do VRQs finda em 27 de dezembro de 2013. 

Todavia, em 2011 foi negada pelo órgão ambiental do Estado da Bahia, a  licença de localização  do  projeto  imobiliário MCMV  –  Residencial  Solar  Paraíso,  vinculado  ao PAC‐ Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, localizado na Fa‐zenda  Mucumbe,  à  200  (duzentos)  metros  da  metalurgia  da  Plumbum.  Embora  o projeto estivesse fora da área de restrição do uso do solo segundo o plano diretor do município  de  Santo  Amaro,  o  órgão  ambiental  considerou  que  a  área  apresentava risco à saúde humana. 

1. Tecnologias de remediação 

Após a revolução industrial, responsável pela concentração e disposição inadequada de  resíduos  tóxicos,  e  dos  problemas  causados  à  saúde humana pela migração dos metais pesados no solo e águas subterrâneas nas formas potencialmente disponíveis, tais como os exemplos mundialmente conhecidos do “Love Canal”, nos Estados Uni‐dos, “Lekkerkerk” na Holanda, e “Minamata” no Japão. 

As  técnicas de  remediação evoluíram rapidamente, principalmente as oriundas dos processos consagrados na metalurgia. Porém, as pesquisas sobre sítios contaminados conviveram,  por muito  tempo,  dividida  em  dois  grandes  grupos  de  tecnologias  de remediação (ANDERSON, 1994a; 1994b; 1994c; 1994d e 1994f; USEPA, 1990). A rea‐lizada ex situ, caracterizada por técnicas que promovem a remoção do solo para des‐contaminação e posterior reposição no local de origem ou disposição em aterro ade‐quado.  E  a  técnica  in  situ,  realizada  no  local  da  contaminação,  e  sendo  largamente utilizada  tanto para remover a contaminação do solo como para as águas subterrâ‐neas. 

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Fonte: CETESB (1999) 

Figura 1 – Fluxograma de procedimentos para avaliação de sítios contaminados 

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Segundo Schianetz (1999), as técnicas de remediação podem ser diferenciadas entre processos in site (sem remoção do material), on site (remosão e tratamento no local) e off site (tratamento fora do local). Estas técnicas apresentam vantagens e desvanta‐gens que devem ser avaliadas, conforme o Quadro 1. 

Quadro 1 ‐ Vantagens e desvantagens dos processos de remediação 

  Processo in site 

Vantagem  relativamente barato 

Desvantagens  dificuldade de descontaminar de forma uniforme;  problemas consequentes são de difícil avaliação;  grande despêndio de tempo; e  êxito da recuperação não pode ser constatado com confiabilidade 

  Processo on site 

Vantagem  êxito da recuperação é de fácil repetibilidade 

Desvantagens  após o tratamento o solo fica biologicamente morto e mineralogicamente alterado; 

a utilização de solventes para a extração compromete sua separa‐ção no final do processo; 

na escavação ocorrem riscos ao meio ambiente e a saúde; e  é 2 a 3 vezes mais caro que os processos in site  

  Processo off site 

Vantagens  geralmente rentável; e  a área ter um destino imediato a uma utilização 

Desvantagens  problema é transferido;  são necessários centros de tratamento para a descontaminação; e  grande dispêndio no transporte e proteção no trabalho 

Fonte: Schianetz (1999) 

As  principais  técnicas  de  remediação  testadas  pela  USEPA,  durante  o  período  de 1990,  nos países  industrializados,  e  aplicadas  em escala piloto  e  reais  (ROEHRING; SINGER, 1996), se deram em função do número expressivo de áreas potencialmente contaminadas na Comunidade Européia, cerca de 1.500.000 (CROZERA, 2001), e das 500.000 áreas na América do Norte (SANCHEZ, 2001).  

Isso foi possível graças a políticas especificas para esses sítios e à disponibilidade de recursos financeiros pelos Governos envolvidos. Segundo Cunha (1997), entre 1980 e 1986  foi destinado pelo Superfund,  respectivamente, US$ 1,6 bilhão e 9,0 bilhões, e segundo Sanchez (2001), o custo médio da remediação do Superfund por sítio  ficou em US$ 29 milhões.  

Porém, já no ano fiscal de 1993, a USEPA realizou a primeira seleção de tecnologias de  remediação mais  frequentemente usadas nos  sítios  contaminados  e  controladas 

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pelo Superfund. A aplicação e desenvolvimento destas  técnicas nos  sítios Superfund proporcionaram a elaboração de uma coletânea denominada Innovatie site remedia­tion technology, organizada pela Americam academy of environmental erngineers com a assistência da USEPA,  composta por oito volumes. Este  trabalho  foi desenvolvido por  mais  de  100  especialistas,  que  classificaram  como  principais  tecnologias  de remediação, a biorremediação, o tratamento químico, o tratamento por extração, os processos de solidificação e estabilização, a lavagem e vaporização do solo, a dessor‐ção termal, a destruição termal e a extração por vapor a vácuo. 

Esta publicação se constituiu em uma grande avaliação dos resultados quantitativos das principais  técnicas empregadas pela USEPA,  sendo discutido amplamente o po‐tencial de aplicação das técnicas, seus processos e evolução, suas limitações e seu po‐tencial como tecnologia inovadora (ANDERSON, 1994a e 1994b). 

Em USEPA (1990), foram apresentadas três classes de tecnologias utilizadas especifi‐camente  para  metais  pesados.  Elas  foram  classificadas  como  contenção,  solidifica‐ção/estabilização e separação/concentração (Quadro 2). 

Quadro 2 ‐ Tecnologias de remediação 

Classificação da tecnologia  Tecnologia especifica 

Contenção  Cobertura  Barreiras verticais  Barreiras horizontais 

Solidificação/Estabilização  Micro‐encapsulamento de polímeros  Vitrificação 

Separação/Concentração  Lavagem de solo in situ  Lavagem solo ex situ  Pirometalurgia  Eletrocinetica 

Fonte: USEPA (1990) 

Na USEPA (1990) foram selecionadas as mais promissoras tecnologias  in situ de re‐mediação para sítios contaminados por compostos orgânicos e inorgânicos. Esta pro‐posição foi determinada pelo aumento significativo destas tecnologias nos processos de  seleção  e  avaliação das  remediações desenvolvidas  nos  sítios Superfund.  As  tec‐nologias para tratamento de solo foram: 

― Eletrocinética – a) eletromigração (transporte e troca de espécies químicas dentro do gradiente elétrico, acarretando a captura dos contaminantes (Figura 2); b) ele‐tro‐osmose  (transporte  de  fluído  no  gradiente  elétrico);  e  c)  eletrólise  (reações químicas associadas com o campo elétrico). 

― Fitorremediação – a) fitoextração (tecnologia que usa plantas hiperacumuladoras para transporte de metais (Ni, Co, Cu, Cr e Zn) do solo para dentro da raiz); b)  fi‐

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toestabilização (uso de plantas para limitar a mobilidade e biodisponibilidade dos metais (Zn, Pb e Cu) no solo; e c) rizofiltração (uso de raízes de plantas aquáticas para absorver, concentrar e precipitar metais de resíduos). 

― Lavagem do solo in situ (soil flushing) – usado em solos com alta permeabilidade quando são utilizadas águas ou reagentes químicos para solubilização e extração dos contaminante (Figura 3). 

Fonte: USEPA (1990) 

Figura 2 – Remediação de solo contaminado por eletromigração 

― Solidificação/estabilização  (S/S)  –  solidificação  é  o  processo  de  troca  das características físicas no resíduo para controle e redução da mobilidade dos con‐taminantes, criando uma barreira física para a lixiviação. Enquanto a estabilização é o processo de  tratamento que converte o contaminante para baixas  formas de mobilidade através interações termais e químicas (imobilização). Exemplos de S/S são a vitrificação do solo e a utilização de reagentes de estabilização in situ (Qua‐dro 3). 

 

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 Fonte: USEPA (1990) 

Figura 3 – Remediação por lavagem do solo. 

Jaagumagi (2002) apresentou, além das técnicas in situ e ex situ (remoção seguida de tratamento e disposição), a atenuação natural como a terceira e mais nova categoria básica de remediação para limpeza de sedimentos de canais de porto. Segundo o au‐tor,  a  atenuação natural  é uma abordagem baseada em procedimentos e monitora‐mento  de  processos  biológicos  e  químicos  que  ocorrem naturalmente,  reduzindo  a contaminação  do  solo  e  águas  subterrâneas.  Requer  o  conhecimento  detalhado  de químicos,  físico‐químicos,  hidrologistas  e  biólogos.  Esta  nova  forma de  remediação vem se consagrar com a European conference on natural attenuation realizada em ou‐tubro de 2002, em Heidelberg na Alemanha. 

Segundo Oliveira (2000), a Atenuação natural monitorada (ANM) se caracteriza como a  tecnologia  de  remediação  com  maior  viabilidade  econômica  para  o  acompanha‐mento  geoquímico  e  atividade microbiológica  de  contaminantes  orgânicos  em  sub‐superfície.  Estes  dados  são  referendados  pelos  projetos  de  remediação  utilizando ANM  em  tanques  subterrâneos  nos  Estados  Unidos  (Figura  4).  Entretanto,  para  o National  Reserch  Council  (NRC)  dos  Estados  Unidos  a  ANM  é  uma  técnica  de remediação  até  o  momento  desenvolvida  para  os  contaminantes  orgânicos,  BTEX, 

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hidrocarbonetos  oxigenados  (álcoois,  cetonas  e  ésteres  de  baixo  peso molecular)  e cloreto de metileno.  

Quadro 3 ‐ Tecnologias de solidificação/estabilização 

Reagentes de estabilização in situ  Vitrificação 

Adição de reagentes pozzolanicos com ou sem aditivos para converter quimicamente e fisicamente contaminantes para baixas formas de mobilidade 

Uso de energia para dissolver solos e en‐capsular contaminantes quimicamente e fisicamente produzindo baixa mobilidade e maior forma estável 

Aplicado para muitos metais tais como o arsênio, mercúrio e cromo hexavalente 

É aplicada geralmente para arsênio , chumbo, cromo, cádmio, cobre, zinco, as‐besto e metais radioativos  

A sua eficiência depende de baixas percen‐tagens de argilas 

A presença de voláteis e altas concentra‐ções de contaminantes orgânicos pode diminuir a sua eficiência.  

Fonte: USEPA (1990) 

 Fonte: Tulis et al. (1997 apud Oliveira, 2000) 

Figura 4 – Programas de remediação em tanques subterrâneos  

Outra forma de implementar técnicas de remediação em sítios contaminados é defi‐nida  por  meio  da  caracterização  do  alvo  a  ser  atingido  no  projeto  de  remediação (SMITH et al., 1995). Por meio deste procedimento devem ser enfatizado critérios e opções  aproximadas  para  os  principais  objetivos  da  remediação,  sendo  preponde‐rante a redução do volume do contaminante; o estabelecimento de forma de estacio‐nar  a mobilidade  do meio  contaminado  e  diminuir  sua mobilidade.  Estes  procedi‐mentos são distribuídos nos seguintes grupos: 

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1. Tratamento por imobilização ‐ são técnicas  in situ que se caracterizam pela re‐dução da mobilidade dos contaminantes na matriz do solo ou no transporte dos con‐taminantes nas águas, por meio dos seguintes mecanismos: redução da infiltração no meio  contaminado por meio do uso de barreiras;  redução da  infiltração através da modificação  da  permeabilidade  da  matriz  contaminada;  redução  da  solubilidade  e consequentemente a mobilidade do contaminante nas águas subterrâneas; e o con‐trole  do  fluxo  dos  contaminantes  nas  águas  para  permitir  a  coleta  e  tratamento (SMITH et al,. 1995). As técnicas mais empregadas são: 

― Sistema de encapsulamento; 

― Barreiras verticais; 

― Barreiras horizontais, e 

― Solidificação/Estabilização. 

2. Tratamento de redução da toxicidade ‐ são técnicas aplicadas para redução da toxicidade por processos químicos e biológicos. Geralmente converte os contaminan‐tes metálicos da matriz do resíduo sólido para uma forma menos tóxico. As principais tecnologias de tratamento químico são: 

― Oxidação química – reações que alteram o estado de oxidação dos átomos através da perda dos elétrons. As reações predominantes são a precipitação e a solubiliza‐ção, e são processos utilizados basicamente para compostos orgânicos; 

― Redução química – é um processo de redução no qual o estado de oxidação de um átomo tende a decrescer. As principais reações são a precipitação e a solubiliza‐ção, e 

― Neutralização  química  –  reações  que  regulam  as  concentrações  de  soluções  de íons hidróxido e hidrogênio. São utilizados para tratamento de sólidos que são ex‐cessivamente ácidos ou básicos. 

― Os processos biológicos empregados na remediação de áreas contaminadas obti‐dos  por  intermédio  da  decomposição  da molécula  orgânica  em moléculas mais simples,  por  exemplo:  CO2,  CH4,  sais  inorgânicos  e  água.  Este  processo  envolve reações de absorção, oxidação, redução, biolixiviação, bioextração, biosorção e re‐dução ou oxidação biológica. As principais tecnologias de tratamentos biológicos são: 

Bioacumulação  –  é  o  processo  de  transferência  de metal  da matriz  contami‐nada para a biomassa, podendo o metal  ser acumulado em organismos vivos seletivos ou biomassas não vivas; 

Oxido‐redução  biológica  –  é  uma  técnica  utilizada  para  selecionar microorganismos através da redução ou oxidação dos metais, e 

Metilização –  é o processo através do qual organismos atacam o grupo metil (CH3) para formar metais inorgânicos. 

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3. Tratamento por  concentração e  separação  –  são  tecnologias  desenvolvidas  a partir das técnicas de tratamento de minério. As principais técnicas são os processos físicos de separação pirometalúrgicas e hidrometalúrgicas. As tecnologias in situ são os processos por lavagem de solos e a extração eletrocinética por águas subterrâneas. O principal  problema que  envolve  a  implementação destas  tecnologias  é  o  elevado custo e a obtenção de um desejável nível dos resultados. 

Principais tecnologias de remediação aplicada para metais 

Algumas tecnologias para tratamento de solos e águas contaminadas por metais pe‐sados,  especialmente,  chumbo,  cádmio,  zinco  e  cobre,  são  encontradas  em  grande densidade  na  literatura.  Daí,  sua  aplicação  e  eficiência  no  processo  de  remediação dependem do tipo de remediação proposto (contenção, estabilização ou limpeza), do acesso a tecnologias disponíveis no mercado além do custo para a remediação. Estes fatores têm levado muitos sítios contaminados a utilizarem mais de uma tecnologia de remediação para que haja êxito no processo de recuperação. 

A USEPA (1990) apresentou uma  listagem dos principais  contaminantes que sofre‐ram tratamento in situ enfocando somente a contaminação no solo. Os metais identi‐ficados  são:  chumbo  (445  sítios);  arsênio  (388  sítios);  cromo  (352  sítios);  cádmio (276  sítios);  níquel  (276  sítios)  e  zinco  (273  sítios),  além do mercúrio  e  cobre  em menores  proporções  em  sítios  Superfund.  O  Quadro  4  apresenta  as  tecnologias  de contenção aplicadas nos principais sítios do Superfund. 

Quadro 4 ‐ Tecnologias de contenção 

Nome do sitio  Tecnologia especifica 

Metais  Tecnologia asso­ciada 

Situação 

Ninth Avenue Dump, IN  Contenção  Pb  Barreira vertical e cobertura 

Selecionado 

Industrial Waste Control, AK  Contenção  As, Cd, Cr e Pb 

Cobertura e drenos  Em operação 

E.H. Shilling Landfill, OH  Contenção  As  Cobertura e berma de argila 

Selecionado 

Chemtronic, NC  Contenção  Cr e Pb  Cobertura  Selecionado 

Ordnance Works Disposal, WV 

Contenção  As e Pb  Cobertura  Selecionado 

Industriplex, MA  Contenção  As, Pb e Cr  Cobertura  Selecionado 

Fonte: USEPA (1990) 

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O  Quadro  5  apresenta  as  tecnologias  de  solidificação/estabilização  aplicada  no Superfund. 

Quadro 5 ‐ Tecnologias de solidificação/estabilização 

Sitio  Tecnologia especifica  Metais  Tecnologia asso­ciada 

Situação 

DaRewal Chemical, NJ  Solidificação  Cr, Cd e Pb  Bombeamento e tratamento 

Selecionada 

Marathon Battery Co.,m Ny 

Fixação química  Cd e Ni  Dragagem e dis‐posição off­site 

Em operação 

Nascolite, Millville, NJ  Estabilização de solo em wetlands 

Pb  Disposição on‐site  Selecionada 

Roebling Steel, NJ  Solidificação/estabilização  As, Cr e Pb  Cobertura  Selecionada 

Waldick Aerospace, Nj  Solidificação/estabilização  Cd e Cr  Disposição off­site  Executado 

Palmerton Zinc, Pa  Estabilização  Cd e Pb  _  Em operação 

Tonnoli Corp., PA  Solidificação/estabilização  As e Pb  Barreira química  Selecionada 

Whitmoyer Laboratories, PA 

Oxidação/ficação  As  Bombeamento e tratamento, cober‐tura e revegetação 

Selecionada 

Bypass 601, NC  Solidificação/estabilização  Cr e Pb  Cobertura e bom‐beamento e tra‐tamento 

Selecionada 

Flowood,MS  Solidificação/estabilização  Pb  Cobertura  Executada 

Independente Nail, SC  Solidificação/estabilização  Cd e Cr  Cobertura  Executada 

Papper’s Steel and Alloys, FL 

Solidificação/estabilização  As e Pb  Disposição on­site  Executada 

Gurley Pit, AR  Solidificação/estabilização  Pb    Executada 

Pesses Chemical, TX  Estabilização  Cd  Cobertura com concreto 

Executada 

E.I. Dupont de Nemours, IA 

Solidificação/estabilização  Cd, Cr e Pb  Cobertura e reve‐getação 

Executada 

Shaw Avenue Dump, IA 

Solidificação/estabilização  As e Cd  Cobertura e moni‐toramento das águas subterrâ‐neas 

Executada 

Gould Site, OR  Solidificação/estabilização  Pb  Cobertura e reve‐getação 

Em operação 

Fonte: USEPA (1990) 

Page 121: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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O Quadro 6 apresenta as tecnologias de lavagem de solo ex‐situ (soil washing)1 e in‐situ (soil flushing)2 aplicada no Superfund. 

Quadro 6 ‐ Tecnologias de lavagem de solo 

Sitio  Tecnologia especifica 

Metal  Tecnologia associa‐da 

Situação 

Ewan Property, NJ  Tratamento da água1 

As, Cr, Cu e Pb 

Pré‐tratamento com extração de solven‐tes para remoção de orgânicos 

Selecionada 

GE Wiring Divices, PR  Água com solução adi‐tiva de Kl1 

Hg  Tratamento de re‐síduo, disposição on site e cobertura com solo argiloso 

Selecionada 

King of Prússia, NJ  Água tratada com aditivos1 

Ag, Cr e Cu  Disposição de solo no solo 

Executada 

Zanesville Well Field, OH  Lavagem de solo1 

Hg e Pb  SVE  para remover orgânicos 

Selecionada 

Twin Cities Army Ammunition Plant, MN 

Lavagem de solo1 

Cd, Cr, Cu, Hg e Pb 

Lixiviação do solo  Executado 

Sacrament Army Depot CA 

Lavagem de solo1 

Cr e Pb  Disposição de resí‐duos líquidos off‐site 

Selecionado e posteriormente retirado 

Lipari Landfill, NJ  Lavagem de solo e resí‐duos2 

Cr, Hg e Pb  Contenção com barreiras horizon‐tais e wetlands 

Em operação 

United Chrome Products, OR 

Lavagem de solo2 

Cr  Eletrocinetica  Em operação 

Fonte: USEPA (1990)   

No ConSoil’ 98 diversas tecnologias de remediação para metais pesados foram apre‐sentadas. Entre elas as técnicas hidrometalúrgicas para a remoção de metais por lixi‐viação apresentaram resultados significativos com a utilização de ácido cítrico (H3C), Na2 EDTA e HCl‐CaCl2 (Quadro 7), a lavagem de partículas finas do solo contaminado com zinco por  flotação e a utilização de tecnologias usando fosfatos, sedimentos de origem biológicas e cinzas para a estabilização de solos altamente contaminados nas área de mineração (KONTOPOULOS; THEODORATOS 1998) . 

Page 122: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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Quadro 7 ‐ Testes de lixiviação para extração de metais 

  Pb  Zn  Cd  As  Ca  Mg  Al  Fe  Mn 

Conc. inicial do solo (mg/kg) 

34800 2020 100 2800 72800 15200 12900  60000  3500 

Ácido cítrico (H3C) 

3,3 moles H3C/kg solo %

6,6 moles H3C/kg solo %

 

54,6 

66,1 

 

61,4 

72,8 

 

72,0

92 

 

3,6 

10 

 

65,2 

70,9 

 

37,5 

53,3 

 

9,3 

12,1 

 

3,5 

5,5 

 

74,3 

86 

Na2 EDTA% 

2,5 moles Na2H2L/kg solo 

2,5 moles Na2H2L/kg solo  

 

75,6 

79,9 

 

55,4 

67,8 

 

96,0

100

 

21,0 

26,1 

 

78,7 

82,6 

 

6,4 

6,7 

 

6,3 

7,9 

 

2,8 

4,2 

 

82,9 

90,0 

HCL 

5,6 moles HCL/kg solo %

6,7 moles HCL/kg solo %

 

88,1 

91,1 

 

 

87,8 

91,3 

 

87,4

91,8

 

0,01 

6,1 

 

 

91,7 

 

88,1 

93,9 

 

 

47 

 

1,4 

7,0 

 

93,0 

94 

Fonte: Papassiopi et al. (1998) 

Enquanto  que  no  Prague  (20009),  foi  dada  grande  ênfase  na  remediação  in  situ  de sedimentos, principalmente em canais de portos com grandes movimentações de produ‐tos industrializados. Estes sedimentos geralmente precisam ser dragados, remediados e dispostos adequadamente. Desta forma as principais tecnicas de remediação in situ para metais pesados em sedimentos são apresentadas no Quadro 8. 

                                                            

9   Fifth International Symposium and Exhibition on Environmental Contamination in Central and Eastern Europe, 12‐14 setembro de 2000, Praga/Republica Checa. 

Page 123: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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Quadro 8 ‐ Remediações in situ de sedimentos 

Remediação  Tipo de con­

taminante 

Tecnologia utilizada  Implementação da tecnologia 

Remoção dos con‐taminantes e con‐centração biológica 

Ni, Zn, Cu e Cd 

Fitoextração (entrada de metais na planta) 

Introdução da espécie vegetal, cultivo e incineração 

Transformação quí‐mica 

Metais  Precipitação de metais  Infiltração de sais e construção de wetlands 

Fixação de contami‐nantes por sorção ou imobilização 

Metais  Precipitação de metais como hidróxidos ou complexos insolúveis.    Encapsulamento de metais em matriz inorgânica. 

Aumento do pH por adição de cal ou hidróxidos alternativos; Precipitação ou adsorção perto das raízes das plantas.  Adição de cimento; Vitrificação usando corrente elétrica; Adsorção de metais nas su‐perfícies de aluminossilicatos  e argilas. 

Redução da dispersão advectiva próximo a superfície da água. 

Todos os con‐taminantes 

Aumento da resistência hidrológica.  Redução da erosão. Isolamento hidrogeo‐lógico. 

Recobrimento por camadas; Desnitrificação do sedimento. Introdução de espécies vegetais Desvio de drenagens 

Redução da dispersão advectiva próximo a água subterrânea.  

Todos os con‐taminantes 

Aumento da resistência hidrogeológico. Isolamento hidrogeo‐lógico. 

Aplicação de camada de argila. Medidas de controle do nível hidrostático. 

Ações para contenção  Todos os contaminan‐tes 

Redução do risco  Troca de função do canal  nave‐gável 

Fonte: Zeman; Patterson (2000) 

Pesquisas desenvolvidas por Marseille et al. (2000) enfocaram a mobilidade dos me‐tais pesados nas espécies vegetais (Quadro 9) e sedimentos contaminados dragados do  rio  Scarpe,  no  norte  da  França.  A  contaminação,  oriunda  de  uma metalurgia  de zinco, apresentou as seguintes concentrações (mg/kg) nos sedimentos: Zn (6000); Pb (600); Mn (230); Fe (17000) e Ti (1400). 

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Quadro 9 ‐ Concentrações de Zn, Pb, Cd e Cu nas raízes 

Espécies  Zn (mg/kg)  Cd (mg/kg)  Pb (mg/kg)  Cu (mg/kg) 

Urica diosca  104010  29,40,4  300,7  33,60,4 

Epilobium parviflorum  4307  8,70,2  5,30,2  9,50,1 

Epilobium hirsutum  33010  7,10,7  5,20,2  8,00,2 

Polygonum hydropiper 240090  884  21020  633 

Rononculus sceleratus  10001600  5060  100140  3043 

Ellytdrigia repens  170050  444  1846  603 

Fonte: Marseille et al. (2000) 

Quanto aos sítios contaminados por metais pesados no estado de São Paulo e que se encontram em processo de remediação e disponíveis no site da CETESB, constata‐se que  em muitos  sítios  contaminados,  já  estão  sendo  aplicadas  técnicas  de  controle (Quadro 10).  

Entre estes sítios avaliados pela CETESB encontra‐se a Plumbum Mineração e Meta‐lurgia Ltda, à margem do ribeirão Furnas Iporanga/SP. O plano de recuperação ambi‐ental para este sítio contaminado prevê as seguintes etapas (POMPEIA, 2002): remo‐ver e isolar as fontes ativas de contaminação; minimizar o transporte secundário de metais pesados; reduzir o risco de exposição humana aos poluentes; tornar os níveis remanescentes de contaminação em superfícies compatíveis com os usos de preser‐vação ambiental  e  turismo;  e  estabelecer mecanismos de monitoramento da  conta‐minação remanescente. 

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Quadro 10 ‐ Sítios contaminados por chumbo e metais associados 

Sitio  Contaminante  Ações imediatas  Remediação 

Tonolli do Brasil, Jacareí/SP 

Chumbo  Cobertura do resíduo;Remoção do resíduo/solo; Tratamento de líquidos con‐taminados; Monitoramento ambiental 

A ser definida 

Saturnia Sistema de Energia Ltda, Sorocaba/SP 

Chumbo  Cobertura do resíduoPrevenção/consumo de água; Tratamento de Líquidos con‐taminados; Monitoramento ambiental 

Bombeamento e tratamento das águas subterrâ‐neas 

Acumuladores Ájax Ltda, Bauru/SP 

Chumbo  Prevenção do consumo de alimentos; Monitoramento ambiental 

A ser definido 

CAF Argentifera Furnas Mineração, Iporanga/SP 

Chumbo  Remoção de resíduos/solo Projeto ‐ Remoção de resíduos  

Emplas Comércio e Be‐neficiamento de Metais Ltda, Elias Fausto/SP 

Chumbo  Monitoramento ambiental A ser definida 

Gerdau S/A, Cotia/SP Chumbo e Ácido clorídrico 

Prevenção ao consumo de água; Tratamento de líquidos con‐taminados; Monitoramento ambiental 

A ser definida 

Mangels Insdústrias  Ltda, São Bernardo do Campo/SP 

Chumbo, zinco e bário 

Tratamento de líquidos con‐taminados 

Bombeamento e tratamento de águas subterrâ‐neas 

Panasonic do Brasil Ltda, São José dos Campos/SP 

Chumbo, cádmio e zinco 

Barreira física e hidráulica;Remoção de resíduos/solo; Tratamento de líquidos con‐taminados; Monitoramento ambiental 

Bombeamento e tratamento de águas subterrâ‐neas 

Prolub Rerrefino de lu‐brificantes Ltda, Presi‐dente Prudente/SP 

Chumbo, cádmio e cromo 

Monitoramento Ambiental A ser definido 

Região dos lagos de Santa Gertrudes, Santa Gertrudes/SP 

Chumbo, cád‐mio, zinco e boro 

Cobertura de resíduos;Estabilidade de aterro; Isolamento da área; Prevenção ao consumo de água e alimentos; Monitoramento ambiental 

Remoção de con‐taminante e cober‐tura de sedimento de fundo de lagos 

Polibrasil Resinas S.A, Mauá/SP 

Chumbo, cádmio e mercúrio 

Monitoramento ambiental A ser definido 

Fonte: www.cetesb.sp.gov.br/Solos/areas_contaminadas/relacao_areas.htm (2002) 

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Proposições para remediação do sitio da PLUMBUM 

A estratégia para a recuperação da área afetada pela Plumbum deve alcançar toda a área contaminada em ações que contemplem intervenções  imediatas, a médio e em longo prazo. O planejamento e ações seqüenciadas para recuperação do sítio deverão contemplar medidas de intervenção que deverão começar nas instalações industriais da metalurgia, até a área contaminada do estuário do rio Subaé. 

Como estratégia inicial de ação foi avaliada a extensão da contaminação por meio da análise de todos os dados disponíveis sobre a área. Nesta averiguação foram delimi‐tadas três áreas distintas para intervenção: a primeira representada pela metalurgia e  seu  entorno  imediato;  a  segunda  compreendendo  as  áreas  de  aterros  de  escória (quintais de residências, sub‐base de calçamento das ruas de Santo Amaro e aterros em vias públicas na zona urbana) e; a  terceira reunindo a zona rural, o rio Subaé e seu estuário. 

Todavia,  a  implementação de medidas de  remediação para o  sítio da Plumbum de‐pende do grau de recuperação que se deseja alcançar na área, o que está relacionado com seu uso futuro. Esta condição está subordinada a valores de intervenção do solo estabelecido pela CETESB (2009), e ao aporte de recursos a ser disponibilizados para o Plano de Recuperação Ambiental, que envolve diretamente os  custos para  imple‐mentação das tecnologias de controle, monitoramento ambiental e, principalmente, a remediação do solo e da escória. 

De acordo com estas premissas foram levantadas as principais etapas a serem desen‐volvidas para formulação do Plano de Recuperação Ambiental no sitio da Plumbum, que são as seguintes (ANJOS, 2003): 

Delimitação das áreas de abrangência da contaminação: foram delimitadas as seguintes áreas (Figura 5): 

― a área de  influência direta e  fonte principal de contaminação é delimitada pelas instalações da Plumbum e seu entorno imediato;  

― avaliação da fonte de contaminação na área industrial, com o objetivo determinar a extensão e o grau de comprometimento da fonte de contaminação, do solo e se‐dimento, além das águas superficiais e  subterrâneas; 

― a área de influência indireta, compreendendo as fontes primárias e secundárias de contaminação situadas na zona urbana da cidade, que ocorreram por meio da de‐posição inadequada, em forma de aterros, da escória, em ruas sem calcamento e disposição de escória nas sub‐base de estradas calçadas ou asfaltadas, dos conta‐minantes carreados para o do rio Subaé, além da poeira, e 

― a área de influência aqui denominada regional é composta pelo entorno da cidade de Santo Amaro até a nascente do rio Subaé e o seu estuário. 

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Determinação dos valores orientadores de qualidade do solo quanto à pre­sença de substâncias químicas: 

― determinação  das  áreas  de  investigação  (agrícola  e  APMax;  residencial  e  indus‐trial); e 

― estabelecimento de diretrizes para o gerenciamento ambiental da área contami‐nada e uso do solo; 

a. Definição da área emergencial de intervenção: por se tratar da principal fonte de contaminação, a área industrial da Plumbum e seu entorno deverão sofrer in‐tervenções,  em  curto  prazo,  por  meio  de  um  Plano  de  Recuperação  Ambiental para o sítio industrial; 

b. Delimitação das áreas de  intervenção a curto e médio prazo: áreas urbanas, em especial a Av. Ruy Barbosa e o alto da COBRAC; 

c. Complementação  da  avaliação  de  risco  à  saúde  humana:  Reavaliação  e complementação dos estudos nos compartimentos ambientais e seu risco à saúde humana, desenvolvido pela FUNASA em 2003. 

d. Plano de  remediação para o  sítio da PLUMBUM:  definição  das  tecnologias  e técnicas de remediação para intervenção a curto, médio e longo prazo. 

e. Plano  de  recuperação  das  edificações:  projeto  de  uso  futuro  da  área  que contemple a reutilização ou demolição das instalações;  

f. Programa de Educação Ambiental:  que  contemple  a  compatibilidade  de  viver em área contaminada; e 

g. Plano de monitoramento Ambiental. 

Estratégia para recuperação da área 

A estratégia para definição do Plano de Remediação proposta para a  área pauta‐se nos seguintes critérios: 

― delimitação das áreas de validação dos dados disponíveis e intervenção: a) área de influência  direta  compreendida  pelas  instalações  da  Plumbum  e  seu  entorno imediato  (Sub‐área 0);   b) área do entorno até 300m (Sub‐área  I);  c) área entre 300 e 600m (Sub‐área II); área entre 600 e 900m (Sub‐área III); área entre 900 e 2.000m  (Sub‐área  II‐a);  área  entre  2.000  e  3.000m  (Sub‐área  II‐b)  e  área  entre 3.000  e  final  da  zona  urbana  e  estuário  do  Subaé  (Sub‐área  II‐C)  (adaptado  de TAVARES, 1990) (Figura 5) 

― a validação dos  levantamentos realizados nas áreas, para determinação de todas ocorrências  da  escória  e  resíduos  finos  depositados  nas  instalações  industriais, sub‐base das ruas e quintais, além da poeira e águas superficiais e subterrâneas; 

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― determinação de todos os metais tóxicos contidos na fonte de contaminação, solo e sedimentos; 

  Fonte: Tavares (1990) 

Figura 5 – Delimitação das áreas e subareas para intervenção 

Proposições para intervenção na Subárea 0 – instalações da Plumbum 

a. Remoção  da  escória  e  solo  contaminado  para  tratamento  ex­situ:  O  trata‐mento ex­situ,  fora da  cidade de Santo Amaro, da escória poderá  ser viabilizado por meio de tecnologias de hidrometalurgia (PURIFICA, 2002) ou pirometalurgia, retirando‐se os metais contidos na escória e a tornando inerte;   

b. Disposição  da  escória  e  solo  contaminado  das  ruas  e  quintais  em  aterro industrial  dentro  das  instalações  da  Plumbum:  A  disposição  controlada  se dará  por  meio  de  aterro  industrial  para  os  solos  contaminados  e  escória (PURIFICA, 2002), e o controle da contaminação via águas superficial por meio de célula de wetlands (ANJOS, 2003) 

O aterro industrial terá as seguintes características (PURIFICA, 2002):  

Primeira  etapa  –  isolamento da  área!  –  se  caracteriza pela  construção de  cerca  em todo domínio da Plumbum e que  tem como objetivo  impedir o acesso de pessoas e animais na área contaminada. 

Segunda etapa  – deslocamento  e  aterramento da  escória: Esta  fase  corresponde ao serviço de terraplanagem para deslocamento da escória que se encontra no entorno da  fábrica e disposição da mesma no vale onde grande quantidade de escória  já  se encontra  em  forma de  um barramento.  A  execução  desta  etapa  tem  como objetivo 

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dispor os 57.160 m3 de escória de forma adequada até a cota 115 e um deslocamento até 53m em direção à zona alagadiça estudada. 

Terceira etapa – Sistema de impermeabilização: Esta etapa tem como objetivo a exe‐cução do sistema de impermeabilização do topo e laterais do barramento da escória, com o  intuito  de  evitar  a  lixiviação da  escória.  O  sistema de  impermeabilização do topo do barramento é composto por camadas superpostas de solo vegetal, material drenante e uma barreira hidráulica composta por argila compactada (espessura mí‐nima de 0,6, grau de compactação superior a 95%, teor de umidade dentro da faixa de  2% e permeabilidade inferior a 10‐7 cm/s) intercalada por uma geomembrana de polietileno com espessura de 1mm. Complementando o sistema foi prevista a im‐permeabilização  do  fundo  da  lagoa  com  camadas  de  argila  compactada  de  0,3m  e uma  geomembrana de 1mm de  espessura  e  uma  alvenaria  de pedra  com  fundação situada a 2m de profundidade da superfície e topo na cota 108 (Figura 6). 

Fonte: Machado (2001) 

Figura 6 – Esquema do sistema de impermeabilização 

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Quarta etapa – sistema de drenagem: Nesta etapa foram dimensionados os elementos de  drenagem  superficial  composto  por  canaletas  e  bermas  com  o  objetivo  de  in‐terceptar e desviar o escoamento das águas pluviais para fora da área do barramento e  evitar  o  aparecimento  de  erosão,  além  de  sugerir  uma  galeria  para  a  remoção  e condução das águas acumuladas a montante do barramento da escória. 

Quinta etapa – sistema de contenção: Se refere à  construção de um muro de gravi‐dade com cerca de 4m de altura total, incluindo a altura da base (2 m), que tem como objetivo evitar a percolação da água da lagoa. 

A célula da wetland proposta consiste tem como características: solo com alta capa‐cidade de atenuação física (condutividade hidráulica do solo igual a 10 –9 cm/s), ate‐nuação  química  dada  pela  alta  capacidade  de  troca  catiônica  da montimorilonita  e matéria orgânica; terreno plano e de fácil adaptação às obras da wetland. 

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__________. Avaliação da eficiência de uma zona alagadiça (wetland) no controle da  poluição  por  metais  pesados:  o  caso  da  Plumbum  em  Santo  Amaro  da Purificação­BA.  271.  Tese  (Doutorado  em  Engenharia Mineral)  –  Universidade  de São Paulo, Escola Politécnica, São Paulo, 2003. 

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Page 134: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

 

   

AAvvaalliiaaççõõeess   eeccoollóóggiiccaass   ee   eeccoottooxxiiccoollóóggiiccaass   rreellaacciioonnaaddaass   aaoo   ccaassoo  ddaa  PPlluummbbuumm  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ((BBAA))  JJúúlliiaa  CCaarriinnaa  NNiieemmeeyyeerr11  SSiillvviiaa  EEgglleerr22  EEdduuaarrddoo  MMeennddeess  ddaa  SSiillvvaa33  

Introdução 

Em  áreas  contaminadas  por metais,  estudos  envolvendo  a  avaliação  e  o monitora‐mento dos ecossistemas envolvidos são necessários para entender e prever a biodis‐ponibilidade, a transferência, a bioacumulação e os efeitos dos poluentes para as co‐munidades biológicas e para a saúde humana (DOUAY et al., 2009). Estes estudos ge‐ralmente envolvem a determinação da concentração de metais nos compartimentos ambientais (solo, água subterrânea, água superficial, sedimentos, poeira) e na biota (DOUAY et al., 2012), visando a proteção da saúde humana e dos ecossistemas, além de  envolver  a  realização  de  avaliações  ecotoxicológicas  e  da  estrutura  e  funciona‐mento dos ecossistemas impactados. 

Este capítulo tem como objetivo dar uma visão geral dos estudos envolvendo ecolo‐gia e ecotoxicologia relacionados à contaminação por metais gerada pela atividade da antiga Plumbum Mineração e Metalurgia em Santo Amaro (BA). Tais estudos  foram realizados no solo da região de influência da antiga fábrica, na zona urbana de Santo Amaro, nos sedimentos do rio Subaé e na baía de Todos os Santos, desde a época em que a usina estava em funcionamento até o presente. Estes estudos, embora disper‐sos, buscaram caracterizar a contaminação e as possíveis rotas de exposição aos me‐tais no solo e sua biota; água, sedimento e biota do rio Subaé; além do risco ecológico envolvendo  tanto  ecotoxicidade dos metais  quanto  impacto  físico  da disposição do resíduo sobre os organismos do solo. 

Dentre os  fatores que controlam o destino dos contaminantes  inorgânicos, como os metais, nos ecossistemas, estão a proximidade em relação à fonte, a persistência no ambiente,  os  fatores  de  bioconcentração  e  bioacumulação,  e  a  biodisponibilidade (WALKER et al., 2006). Os metais não se degradam e podem acumular‐se nos compo‐nentes  do  ambiente  onde manifestam  sua  toxicidade,  sendo  os  solos  e  sedimentos seus  locais  de maior  deposição,  e  a  biota  associada  a  estes  compartimentos  é  a  de maior preocupação pela possibilidade de causar risco à saúde humana. Além de po‐der causar toxicidade aos organismos terrestres e aquáticos, pela absorção direta ou biomagnificação,  os metais  também  podem  se  depositar  na  superfície  das  plantas.                                                             

1   Mestrado em Ecologia e Biomonitoramento. UFBA ‐ Universidade Federal da Bahia. 2   Mestrado em Ecologia. UNICAMP ‐ Universidade Estadual de Campinas. 3    Doutorado em Biogeografia. Universitat des Saarlandes. Alemanha 

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Através do consumo de água ou da biota contaminada, inalação de poeira ou ingestão acidental de solo pelas crianças, alguns metais podem fazer parte da cadeia alimentar humana  e  causar  intoxicação  (JÄRUP,  2003),  como  já  constatado  em  Santo  Amaro (CARVALHO et al., 1996). 

O caso de Santo Amaro tem sido alvo de vários estudos sobre a caracterização da con‐taminação nos compartimentos ambientais, através de análises químicas para a de‐terminação da concentração de metais. Porém, no foco ambiental e envolvendo risco ecológico, poucos trabalhos têm estudado como a contaminação existente afeta ainda hoje a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas atingidos, e consequentemente, os serviços oferecidos pelos ecossistemas para a vida humana. Esta abordagem pode incluir  tanto  levantamentos de  campo,  como por  exemplo,  a  análise  da  estrutura  e diversidade da comunidade vegetal ou de comunidades aquáticas  in situ, quanto os ensaios  de  ecotoxicidade,  usando  organismos  vivos  e  os  expondo  ao material  cole‐tado  nos  locais  em  análise.  Em  geral,  há  uma  ausência  de  estudos  integrados  e  de longa duração com estas abordagens. 

Avaliações biológicas são especialmente importantes porque o risco ecológico não é previsível a partir de análises químicas. Isto porque a biodisponibilidade dos metais vai depender das características do meio (por exemplo, pH, matéria orgânica, capaci‐dade de troca catiônica) e pode ser alterada ao longo do tempo por fatores físicos do meio, ou pode ser alterada pela atividade dos organismos  (atividade enzimática de microrganismos do solo, pH intestinal de invertebrados de solo, bioturbação de ma‐riscos que vivem no sedimento, dentre outros) (ALLEN, 2002). 

 Dentre  as  avaliações  biológicas  disponíveis,  os  ensaios  de  ecotoxicidade  têm  sido usados em conjunto com as análises químicas para avaliar o risco ecológico de áreas contaminadas por metais,  como áreas de mineração e áreas  industriais desativadas (ALVARENGA et al., 2008; ANTUNES et al. 2008; WEEKS et al., 2004). Os ensaios de ecotoxicidade são usados para expor organismos‐teste a um meio (água, sedimento ou solo) contaminado, com o objetivo de avaliar se a contaminação é alta o suficiente para causar algum efeito adverso sobre a sobrevivência, crescimento, reprodução ou outros atributos destes organismos (USEPA, 1994). Dentre as vantagens dos ensaios de ecotoxicidade estão o fato de que eles revelam o efeito combinado da mistura de contaminantes presentes,  incluindo contaminantes não analisados ou para os quais não  existem  limites  máximos  estabelecidos  (FERNANDEZ  et  al.  2005;  JENSEN; MESMAN, 2006; WEEKS et al. 2004). Alguns ensaios são especialmente úteis em es‐tudos  de  “varredura”,  usados  para  identificar  os  locais  onde  há maior  toxicidade  e consequentemente  maior  risco  ecológico,  como  os  ensaios  de  comportamento  de fuga, enquanto que outros ensaios revelam os efeitos crônicos sobre a biota em uma exposição prolongada (JENSEN; MESMAN, 2006). 

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A bacia do rio Subaé   

A bacia hidrográfica do rio Subaé encontra‐se localizada no Recôncavo Norte, abran‐gendo  parte  de  sete municípios:  Feira  de  Santana,  São  Gonçalo  dos  Campos,  Santo Amaro,  São  Francisco  do  Conde,  São  Sebastião  do  Passé,  Amélia  Rodrigues  e Conceição do  Jacuípe, numa área de 655 km². Está  localizada entre as coordenadas geográficas de 12o 15’ e 12o 40’ latitude sul e 38o37’ e 39o00’ longitude oeste. O prin‐cipal curso d’água é o rio Subaé, o qual tem sua nascente na chamada Lagoa do Subaé (bairro  Subaé  e  Loteamento  Parque  do  Subaé)  no  perímetro  urbano  de  Feira  de Santana, servindo como corpo receptor de efluentes industriais do Centro Industrial do  Subaé  e  esgotos  domésticos  provenientes  de  vários  bairros  adjacentes.  Este aporte provoca diminuição da concentração de oxigênio dissolvido na estação seca e pH  do  sedimento  de  neutro  a  básico  (HATJE  et  al.,  2006;  2010).  Seus  principais afluentes  são:  a) margem  direita:  rio  Sergi  (principal  afluente),  rio  Pirauna,  rio  da Serra e rio Serji‐Mirim e b) margem esquerda: rio Traripe (principal afluente) e rio do Macaco. Sua foz está localizada no município de São Francisco do Conde na baía de Todos os Santos, em frente à ilha de Cajaíba. O rio Subaé é considerado como a prin‐cipal  fonte de material em suspensão para a baía de Todos os Santos (HATJE et al., 2006),  transportando  e  distribuindo partículas  contaminadas para  as  águas  e  sedi‐mentos da baía. 

De um modo geral a área da bacia hidrográfica é recoberta com espécies que comu‐mente  constituem  a  Floresta  Perenifólia  (vegetação  secundária)  e manguezais  que recobrem  as margens  desde  a  foz  do  rio  Subaé  até  as  proximidades  da  cidade  de Santo Amaro.  A  vegetação  típica  de Mata  Atlântica  vem  sendo  degradada  devido  à ação antrópica,  inicialmente pelo extrativismo e posteriormente por culturas diver‐sas e pastagens. Atualmente, restam cerca de 5% da sua cobertura original.  

Primeiros  indícios  de  contaminação  e  de  ecotoxicidade  relacionados  à Plumbum 

Uma completa revisão sobre o histórico de contaminação em Santo Amaro pode ser vista na  tese de Anjos  (2003). É  lá que encontramos o  relato de que,  em 16 de de‐zembro de 1961, o jornal de maior circulação no município, “O Archote”, trazia como manchete principal “COBRAC: fábrica de chumbo e de morte”. A reportagem referia‐se a um estudo desenvolvido pelo engenheiro químico Dr. Hans Dittmar, contratado por  pecuaristas  da  região,  alarmados  com  a  grande mortalidade  de  gado  e  suínos. Após um estudo minucioso, o Dr. Dittmar atribuiu às atividades da fábrica a morte de cerca de 250 burros, 200 bovinos, além de outros animais, relacionando‐as às emis‐sões atmosféricas tóxicas, e alegou que os processos usados pela fábrica para o pro‐cessamento do chumbo eram dos mais primitivos. A polêmica levou a fábrica a tomar algumas medidas de controle da contaminação atmosférica, além da aquisição de ter‐ras no seu entorno, buscando continuar sua produção (ANJOS, 2003). 

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Em 1975, o prof. José Oscar N. Reis realizou estudos sobre a qualidade das águas do rio  Subaé.  Os  valores  encontrados  para  Cd  variaram  entre  0,0042  mg/L  e  0,0813 mg/L e para Pb  entre 0,04 mg/L e 6,18 mg/L,  superando os  limites máximos para esses elementos na água estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde – O.M.S. (REIS, 1975 Apud SANTOS, 2011). Como resultado, a Secretaria do Meio Ambiente do Governo  Federal  firmou  convênio  com  o  Centro  de  Pesquisa  e  Desenvolvimento (CEPED),  na  época  responsável  pela  execução  da  política  ambiental  no  estado,  e  a equipe da UFBA do Projeto de Estudos Ecológicos do Recôncavo,  para  estudos dos níveis de contaminação por metais  nas águas, nos sedimentos e na fauna na área da baía de Todos os Santos (OLIVEIRA, 1977). Estes levantamentos mostraram a região do estuário do rio Subaé como sendo a mais crítica de contaminação de Pb e Cd. Nos moluscos,  as  concentrações de metais  foram em média  superiores  aos  limites para consumo humano estabelecidos pela FAO/WHO para Pb, 2 ppm (matéria úmida) e 10 ppm (matéria seca) e para Cd 500 µg (valor máximo semanal) (OLIVEIRA, 1977).  

Em  um  estudo  preliminar  dos  poluentes  metálicos  da  baía  de  Todos  os  Santos, Donnier et al.  (1977, apud CARVALHO et al., 1982) encontraram em sedimentos do rio  Subaé,  concentração média  de  23,7  ppm  de  Cd,  com  intervalo  entre  0,5  –  120 ppm. Estes  autores  reportaram  teores  de  cádmio  (em peso  seco)  variando de 80  a 135 μg/g em amostras de ostra, de 13 a 40 μg/g em amostras de siri e de 40 a 60 μg/g em amostras de sururu, na época em que a usina estava em funcionamento, se‐gundo dados relatados na dissertação de Santos (2011). A zona mais crítica de con‐taminação dos sedimentos e biota compreendia o estuário do rio Subaé. As altas con‐centrações de Pb e Cd encontradas nos mariscos levaram à realização de estudos vol‐tados para as populações consumidoras.  

Entre o período de 1975 e 1980, a equipe do Projeto Estudos Ecológicos do Recôn‐cavo (PEER) da UFBA e do CEPED realizaram vários estudos sobre a contaminação por Pb e Cd em diferentes compartimentos ambientais. Costa (2001, Tabela 7, p. 44) apresenta os resultados das concentrações obtidas para estes metais:  

1. Rio Subaé: a) águas: Pb média = 1,6 mg/L; próximo à PLUMBUM: Pb máximo = 6,0 mg/L). Valores de referência para água: Cd = 0,003 mg/L e Pb = 0,01 mg/L (W.H.O., 2011). 

2. Alimentos: a) ostras: Cd média = 4 µg/g; b) frutas e verduras: Cd mínima = 0,004 µg/g, Pb em banana e  laranja mínima = 0,010 µg/g, e vegetais  folhosos: Cd má‐xima = 11,8 µg/g e Pb máxima = 215 µg/g. Valores de referência para alimento Cd = < 10 µg/g  (W.H.O., 2004). 

Em  1996,  os  resultados  dos  estudos  da  Universidade  Federal  da  Bahia,  através  do Programa de Monitoramento dos Ecossistemas ao Norte da Baía de Todos os Santos (UFBA, 1996 Apud FUNASA, 2003), mostraram que as concentrações médias de me‐tais nas amostras de sururu coletadas em São Brás (Pb = 1,36 µg/g e Cd = 0,86 µg/g) e São Francisco do Conde (Pb = 33,7 µg/g e Cd = 0,25 µg/g) representavam um im‐portante indicativo sobre a possível exposição humana a alimentos contaminados. 

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   JJúúlliiaa  CCaarriinnaa  NNiieemmeeyyeerr  ,,  SSiillvviiaa  EEgglleerr  ee  EEdduuaarrddoo  MMeennddeess  ddaa  SSiillvvaa   135  

Em 2001, Cunha e Araújo (2001, apud FUNASA, 2003) realizaram um estudo pericial onde, em amostras de águas superficiais na área da Plumbum, as concentrações má‐ximas para Pb foram de 37,2 mg/L e para Cd de 0,46 mg/L. O estudo também incluiu amostras de frutas (sete amostras), com concentrações de Pb = 12,35 ± 0,30 µg/g  e de Cd = 1,88 ± 0,03 µg/g,  tubérculos (quatro amostras) com concentrações de Pb = 14,1 ± 1,55 µg/g e de Cd = 2,32 ± 0,54 µg/g e gramíneas, concentrações de Pb = 85,0 μg/g e de Cd = 41,3 μg/g. Outro estudo foi realizado com amostras de gramíneas no mesmo  ano,  2001,  coletadas  a  300 m  da  Plumbum  e  a  1,  6,  10  e  14  km  de  Santo Amaro por  Costa  (2001). As  concentrações  (em peso  seco)  encontradas  em gramí‐neas a 300 m da Plumbum foram Pb = 30,2 ± 2,7 μg/g e Cd = 1,23 ± 0,05 μg/g; e a 14 km, Pb = 0,897 ± 0,386 μg/g e Cd = 0,302 ± 0,036 μg/g.  Correlações positivas foram encontradas  entre  as  concentrações  de  Pb  nas  plantas  e  no  solo.  Para  comparação com concentrações de Pb e Cd de áreas não contaminadas, a autora considerou como valores de referência 1 μg/g para Pb, e 0,3 μg/g para Cd. 

Em um estudo mais recente, realizado pela Funasa (2003), coletas de sedimento fo‐ram realizadas a 500 m à montante da Plumbum, da Plumbum até o início do mangue em Santo Amaro, e do mangue de Santo Amaro até São Brás. Os metais determinados nos sedimentos foram: As, Cu, Hg, Pb, Ni e Zn. Os resultados obtidos foram divididos em duas faixas, T = 0‐5 cm e F = 5‐10 cm, onde as concentrações de metais determi‐nadas foram: Pb na faixa T = 24,39 ± 10,64 ppm (n = 17) e F = 32,25 ± 31,15 ppm (n = 17); As na faixa T = 0,94 ± 0,31 ppm (n = 5) e F = 0,63 ± 0,08 ppm (n = 4); Cd na faixa T = 0,54 ± 0,08 ppm (n = 4) e F = 0,73 ± 0,33 ppm (n = 4). Também foram coletadas nove amostras de moluscos (sururu) no mangue entre Santo Amaro e São Brás, onde em um ponto a concentração máxima de Pb foi de 5,73 ppm.  

O  estudo  realizado  pela  Funasa  (2003)  relata  que,  na  colônia  de  pesca  de  Caieira, onde os pescadores e suas famílias vivem à beira do rio Subaé, quando questionados sobre a qualidade do pescado e da água do rio, os pescadores informaram que entre 1994 e 1995 o “mangue morreu”, e que “hoje é necessário andar mais, para se encon­trar mariscos”. Relatam ainda que a quantidade e a qualidade das espécies foram re‐duzidas  (FUNASA,  2003).  Estes  relatos mostram  um  possível  efeito  tóxico  para  os ecossistemas em questão, com um impacto sobre um serviço do ecossistema essen‐cial para a sobrevivência destas comunidades, que pode ser resultado da contamina‐ção gerada pela Plumbum ou por outros impactos que o rio Subaé vem sofrendo.  

A contaminação dos compartimentos ambientais e da biota atualmente 

A Tabela 1 apresenta uma compilação dos dados existentes sobre a determinação dos metais Pb e Cd nos compartimentos ambientais e na biota. Pode‐se notar que a con‐taminação persiste na biota associada a solos e sedimentos contaminados. 

Uma das conclusões da análise de risco à saúde humana realizada pela Funasa (2003) é a de que os mariscos contaminados constituíam‐se em uma rota presente e possi‐velmente em uma rota  futura de contaminação humana. Os dados  levantados neste 

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estudo  e  em  estudos  anteriores  corroboraram  a  contaminação  passada,  presente  e possível contaminação futura da cadeia trófica deste compartimento aquático. Os au‐tores  recomendaram  a  realização  de  estudos  que  determinem  os  pontos  de maior concentração  dos  metais  nos  sedimentos,  principalmente  nas  proximidades  da Plumbum, para melhor delimitar as áreas que oferecem riscos. 

Hatje et al. (2006) estudaram a contaminação por metais no rio Subaé, a estrutura da comunidade de organismos bentônicos (coletados no sedimento), e a contaminação por metais em amostras de solo nas vizinhanças da usina da Plumbum. As estações de coleta no canal principal do rio estavam distribuídas desde o estuário, na baía de Todos os Santos, até a montante da cidade de Santo Amaro. Os metais analisados na fração < 63 µm foram: Cd, Co, Cr, Cu, Mn, Ni, Pb e Zn. Além da digestão para a análise total com água‐regia, foi realizada outra com solução de HCl 1M, utilizada para obter dados sobre biodisponibilidade. A menor concentração total no sedimento foi de Cd (0,223 mg/kg) e a maior de Zn (877 mg/kg). Nas amostras de solo, as maiores con‐centrações foram de Pb (> 15091 mg/kg) e de Zn (2291 mg/kg).  Das extrações com HCl 1M, Cd, Zn, Mn e Pb apresentaram as maiores porcentagens de recuperação com 60  a  90%,  60%,  60%  e  80%,  respectivamente,  sugerindo  que  esses metais  foram, principalmente,  solubilizados  pela  dissolução  de  óxidos  metálicos.    Os  resultados obtidos com a análise das comunidades bentônicas indicaram que estas foram nega‐tivamente afetadas pelas altas concentrações de metais, especialmente de Co em to‐das  as  estações  amostradas.  Os  autores  concluíram  que  o  passivo  da  usina  da Plumbum representa uma fonte contemporânea (alta mobilidade e contínuo alto po‐tencial de impacto ambiental) de contaminação fluvial, subterrânea e atmosférica de metais como Pb, Zn e Cd. 

Hatje et al.  (2010) determinaram a  concentração de As em amostras de  sedimento coletadas em 11 pontos ao longo do canal principal do rio Subaé. A fração analisada foi a < 63 µm. Além do AsT (arsênio total) foi realizada a  análise das  espécies As(III) e  As(V).  De  acordo  com CRA  (2004,  apud HATJE,  2010)  as  concentrações  de back­ground de AsT na baía de Todos os Santos variam de 5 a 17 mg/kg. As concentrações de As(V) são maiores, representando entre 69 e 83% do As presente no sedimento. Esta espécie é menos tóxica que o As(III) e menos móvel, apresentando maior adsor‐ção ao sedimento. A concentração de AsT (5‐15 mg/kg) e As(III) (1‐3 mg/kg) dimi‐nuiu da foz para montante. Os autores atribuíram esta distribuição às regiões petro‐líferas na baía de Todos os Santos e ao passivo da usina da Plumbum.  

O trabalho de Santos (2011) confirma que a exposição humana à biota contaminada continua  atualmente.  Em  amostras  oriundas  de  três  associações  de  pescadores  em São Francisco do Conde, coletadas durante os anos de 2010 e 2011, foram encontra‐dos altos  teores de Pb  em amostras de  sururu  (Mytela guyanensis),  variando numa faixa de 0,28 μg/g a 5,4 μg/g, e em amostras de camarão (Penaeus brasiliensis), vari‐ando de 0,19 μg/g a 3,4 μg/g, peso seco, excedendo o limite estabelecido pela Anvisa (BRASIL, 1998) de 2,0 μg/g. Em relação ao cádmio, o sururu (M.guyanensis), com teor máximo  de  1,1  μg/g,  ultrapassou  o  limite  desse  metal  estabelecido  pela  Anvisa 

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   JJúúlliiaa  CCaarriinnaa  NNiieemmeeyyeerr  ,,  SSiillvviiaa  EEgglleerr  ee  EEdduuaarrddoo  MMeennddeess  ddaa  SSiillvvaa   137  

(BRASIL, 1998), que é de 1,0 μg/g. As amostras de tainha (Mugil brasiliensis) e de ro‐balo (Centropomus undecimalis) apresentaram baixos teores de chumbo (0,10 a 0,81 μg/g  e  0,14  a  1,5  μg/g  ,  respectivamente),  dentro  dos  valores  recomendados  pela Anvisa, o que está de acordo com o comportamento dos metais,  já que tendem a se depositar no sedimento e não permanecem na coluna d’água. 

No trabalho de Ramos et al. (2012a), as concentrações de Zn, Cu, Pb, Hg e Cd foram determinadas em exemplares de Callinectes exasperatus (siri)  capturados na baía de Todos os Santos por pescadores locais utilizando técnicas artesanais, e adquiridos no porto de Acupe, distrito de Santo Amaro. Os resultados das análises para o Pb apre‐sentaram concentrações abaixo do limite de detecção, tendo o mesmo ocorrido com o Cd nas amostras de tecido muscular. Os principais locais de armazenamento de cobre e zinco foram as brânquias e músculo, respectivamente; para o cádmio e o mercúrio, as  vísceras  constituíram o principal  local  de  armazenamento. Os  valores  de metais encontrados no estudo, em peso seco, variaram entre 73,29 e 202, 74 μg/g para o Zn; 47,66 e 290,7 μg/g para o Cu; 0,71 a 1,96 μg/g para o Cd, e 1,13 a 4,43 μg/g para o Hg. Após conversão para peso úmido, foi verificado que os níveis de mercúrio (vísce‐ras) e  cobre  (vísceras e brânquias),  estão acima dos  limites estabelecidos pelos ór‐gãos sanitários, devendo os riscos associados ao seu consumo ser avaliados (RAMOS et al., 2012a). 

Os teores de cobre encontrados por Ramos et al. (2012b) em Ucides cordatus (caran‐guejo‐uçá), coletados na região entre Acupe e São Francisco do Conde, variaram entre 41,33 e 329 μg/g e 43 e 284 μg/g,  em peso seco,  em  fêmeas e machos,  respectiva‐mente. As brânquias constituíram o principal local de acumulação do cobre. Em rela‐ção aos níveis de zinco, estes variaram entre 86,94 e 300,55 µg/g (peso seco) nas fê‐meas, e 68,94 e 266,11 μg/g (peso seco) nos machos, sendo o tecido muscular o prin‐cipal sítio de acumulação do zinco.  

Em relação à contaminação no solo, o trabalho de Rabelo (2010) concluiu que as an‐tigas emissões atmosféricas ainda desempenham um papel  importante na contami‐nação de áreas no entorno da Plumbum, onde se verificou uma clara correlação entre os valores de concentração no solo e os valores obtidos na simulação da concentra‐ção atmosférica, indicando que, quanto mais próximo da fábrica, maiores os níveis de contaminação  no  solo.    Os  resultados  deste  trabalho  também  evidenciaram  que  o aumento dos níveis de contaminação na área urbana está diretamente relacionado ao uso de escória para pavimentação de ruas e aterro de quintais da cidade. Em geral, os resultados confirmam a persistência nos níveis de contaminação por  chumbo e um pequeno decréscimo para o cádmio, quando comparados com estudos realizados an‐teriormente.  

A atual contaminação do solo se reflete na contaminação de frutas e verduras, onde os vegetais folhosos têm apresentado concentrações mais altas de metais do que as frutas locais. Magna et al. (2011) estudaram vegetais que ocorriam em quintais e hor‐tas de moradores próximos a usina da Plumbum e gramíneas em áreas adjacentes a 

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AAvvaalliiaaççõõeess  eeccoollóóggiiccaass  ee  eeccoottooxxiiccoollóóggiiccaass  rreellaacciioonnaaddaass  aaoo  ccaassoo  ddaa  PPlluummbbuumm  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ((BBAA))  138 

usina. Os alimentos vegetais selecionados  foram: acerola (Malpighia glabra L.), aro‐eira (Schinus molle L.), alumã (Vernonia bahiensis Toledo), banana (Musa paradisiaca L.), boldo do Chile  (Peumus boldus Molina), capim santo (Cymbopogon citratus (DC) Stapf.),  cana  (Arundo donax  L.),  cidreira  (Lippia alba  (Mill.) N.E.  Br.  ex Britton & P. Wilson), goiaba (Psidium cattleyanum Sabine),  limão (Citrus  limonum Risso),  laranja (Citrus aurantium L.) e manga (Mangifera indica L.). As espécies de gramíneas anali‐sadas  foram  capim  de  burro  (Eleusine  indica  (L.)  Gaertn.)  e  capim  braquiária (Brachiaria decumbens Stapf.). Na  localidade de referência, Oliveira dos Campinhos, foram selecionadas as espécies vegetais banana, limão, aroeira, cana, cidreira, capim santo, alumã e boldo do Chile. Os resultados obtidos detectaram a presença de Pb (de 0,18 até 118,2 mg/kg) e Cd  (de 0,04  até 7,39 mg/kg). Todos os  alimentos vegetais avaliados apresentaram conteúdos médios de Pb e Cd acima dos valores limites per‐mitidos  pela  OMS.  As  gramíneas  apresentaram  conteúdos  de  Pb  (máximo  de  820 mg/kg) e Cd  (máximo de 7,99 mg/kg). Os valores de concentração obtidos nos ali‐mentos vegetais e gramíneas variaram conforme a espécie vegetal. 

Apesar do risco de consumo de alguns grupos de alimentos cultivados em solo dos quintais  contaminados  ou  consumo  de  mariscos  oriundos  de  sedimento  contami‐nado, o trabalho realizado por Almeida e Pena (2011), com o objetivo de compreen‐der  os  significados  do  risco  da  contaminação  alimentar  para  os  feirantes  de  Santo Amaro, apontou que a possível contaminação pelo chumbo é percebida pelos entre‐vistados  como  algo  distante.  Os  autores  concluíram  que  a  percepção  do  risco  está presente no  pensamento  e  na  reflexão quando há questionamento  acerca do  tema, mas não na prática cotidiana, o que aponta para a necessidade de trabalhos de cons‐cientização desta população. 

Efeitos ecológicos e ecotoxicológicos já demonstrados 

No caso da área da antiga Plumbum e seus arredores, uma Análise de Risco Ecológico (ARE)  foi  realizada por Niemeyer et al.  (2010) entre os anos de 2006 e 2008,  inte‐grando informações de três linhas de evidência: química, ecotoxicológica e ecológica (JENSEN; MESMAN, 2006). Foram analisados 11 pontos, distantes até 1000 m da área da antiga fundição da Plumbum, distribuídos em dois transectos, e mais três locais de referência, distantes  três e nove km da área. Os resultados da  fase de varredura da ARE ou fase 1 são apresentados em Niemeyer et al. (2010), enquanto que os resulta‐dos da fase 2 estão publicados em Niemeyer et al. (2012a, 2012b) e serão apresenta‐dos em uma tese de doutorado que encontra‐se em fase de finalização (NIEMEYER, in preparation). 

A linha de evidência química da fase 1 da ARE apontou altas concentrações totais de metais, especialmente Pb, Cd, Cu e Zn, no solo superficial da área da Plumbum e arre‐dores. Apesar da baixa extractabilidade dos metais em extrações brandas realizadas com uma solução CaCl2 0,01M, o que significaria baixa biodisponibilidade dos metais para os organismos, altos valores de risco ecológico foram determinados para vários 

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   JJúúlliiaa  CCaarriinnaa  NNiieemmeeyyeerr  ,,  SSiillvviiaa  EEgglleerr  ee  EEdduuaarrddoo  MMeennddeess  ddaa  SSiillvvaa   139  

locais  dentro da  área da  Plumbum,  indicados pelos  ensaios  de  ecotoxicidade  e  por avaliações ecológicas em campo (NIEMEYER et al., 2010).  

A linha de evidência ecotoxicológica da fase 1 da ARE incluiu ensaios comportamen‐tais  com  invertebrados  de  solo,  os  chamados  ensaios  de  comportamento  de  fuga, normatizados internacionalmente pela Norma ISO 17512‐2 (ISO, 2011) para colêm‐bolos, e pela Norma ISO 17512‐1 (ISO, 2008) para minhocas, esta última já adotada nacionalmente pela Norma ABNT NBR/ISO 17512‐1 (ABNT, 2011). Os ensaios com‐portamentais com minhocas e colêmbolos mostraram que estes organismos evitaram os solos de todos os pontos contaminados quando comparados aos locais de referên‐cia.  Isto significa que, no ambiente,  temos a perda destes grupos de organismos no solo e consequentemente temos um impacto sobre os processos de ciclagem de nu‐trientes, estrutura e fertilidade do solo, além de impacto sobre a cadeia trófica, já que tais organismos servem de alimento para outros. As minhocas são organismos consi‐derados “engenheiros do ecossistema” porque estão entre os  invertebrados de solo mais  importantes em termos de biomassa e atividade,  influenciando a estrutura e a composição  química  do  solo,  e  particularmente  os  processos  de  decomposição  do material orgânico (RÖMBKE et al. 2005).  Já os colêmbolos são considerados “catali‐sadores” do processo de ciclagem de nutrientes (ZEPPELINI FILHO; BELLINI, 2004). Além dos ensaios com a matriz solo, ensaios de ecotoxicidade aquáticos com bacté‐rias  e  cladóceros  foram  realizados  com elutriatos  dos  solos,  e  apontaram um  com‐prometimento da função de retenção do solo nos locais correspondentes aos depósi‐tos de escória dentro da área da Plumbum, indicando risco da contaminação migrar para águas subterrâneas ou superficiais (NIEMEYER et al., 2010). 

Na  linha de evidência ecológica da  fase 1 da ARE  foi observado um baixo  índice de cobertura vegetal nos pontos dentro da área da Plumbum, e baixa atividade alimen‐tar de organismos do solo, usando‐se o ensaio bait  lamina,  indicando  impacto para plantas e  invertebrados de solo  (NIEMEYER et al., 2010). Ao  integrar os  resultados das três  linhas de evidência (química, ecotoxicológica e ecológica) na fase de varre‐dura  da  ARE,  um  alto  risco  ecológico  foi  indicado  nos  pontos  dentro  da  área  da Plumbum (NIEMEYER et al., 2010), o que foi confirmado posteriormente através de ensaios de ecotoxicidade crônica (Niemeyer et al., in preparation) e avaliações ecoló‐gicas mais detalhadas (Niemeyer et al., 2012a, 2012b). 

Os solos de áreas de deposição de rejeitos costumam ser instáveis e podem ser fontes de contaminação de outros compartimentos ambientais. Esta situação é visível atual‐mente na  área da  antiga  fábrica  da Plumbum,  como  se  pode  ver  na  Figura 1, mos‐trando a ausência de vegetação em épocas secas, com a possível dispersão de poeira, e  as  evidências  do  escoamento  superficial  ocasionado  pelas  chuvas,  descobrindo  o rejeito que está logo abaixo de uma fina camada de solo. O trabalho de Oliveira et al. (2011) apresentou dados sobre a contaminação por poeira em ar condicionados na cidade  de  Santo Amaro,  o  que  evidenciou  a  exposição  atual  da  população  por  esta rota, neste caso provavelmente a contaminação é ocasionada pela poeira das ruas e quintais contaminados.  

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Outro  trabalho,  ainda não publicado  (NIEMEYER et al.  in preparation),  incluiu uma amostragem de sedimento no canal que liga a área da Plumbum ao rio Subaé, além de um ponto a montante e outro a jusante no próprio rio. Os resultados apontaram altas concentrações de metais no sedimento do canal, especialmente Pb, Cd, Zn, Cu, Hg e As. Além da análise química, os sedimentos dos três pontos foram avaliados em en‐saios de ecotoxicidade. O ensaio realizado com Heterrocypris incongruens (Crustacea, Ostracoda) para avaliar o efeito sobre o crescimento após seis dias de exposição ao sedimento, apresentou 100% de mortalidade para os organismos expostos ao sedi‐mento do  canal,  indicando alta  toxicidade. O  ensaio  realizado  com  larvas do  inseto Chironomus  riparius  (Insecta,  Diptera),  para  avaliar  o  crescimento  após  10  dias  de exposição,  apontou  um  crescimento  significativamente  inferior  nas  larvas  expostas ao sedimento do canal em relação aos outros pontos,  indicando toxicidade.  Já o en‐saio realizado com peixes da espécie Danio rerio para observar a sobrevivência após 96 h de exposição, indicou ausência de toxicidade na coluna de água obtida pela adi‐ção de água ao sedimento de cada um dos pontos (NIEMEYER et al., in preparation). Os resultados deste trabalho, bem como os resultados já mostrados por Anjos (2003), apontam a contaminação do canal e a provável migração dos contaminantes da área da Plumbum para o rio Subaé, o que indica a necessidade de medidas de intervenção na área da Plumbum para impedir a migração destes contaminantes para dentro do rio. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1 – Esquerda: a área da Plumbum na estação seca (ausência de cobertura vegetal). Direita: evidência de escoamento superficial após a chuva em uma área de deposição de rejeitos. Imagens registradas em 2008. Fotos: Júlia Niemeyer. 

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   JJúúlliiaa  CCaarriinnaa  NNiieemmeeyyeerr  ,,  SSiillvviiaa  EEgglleerr  ee  EEdduuaarrddoo  MMeennddeess  ddaa  SSiillvvaa   141  

O  estabelecimento  de  uma  cobertura  vegetal  torna‐se  essencial  para  estabilizar  a área descoberta e para minimizar os problemas de contaminação de outros compar‐timentos ambientais (OLIVEIRA et al., 2006), e está entre as diversas técnicas de con‐trole  e  de  remediação  que  podem  ser  aplicadas  na  área  da  Plumbum  (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). Um exemplo da importância da vegetação pode ser visto em Anjos (2003) que avaliou a eficiência de uma zona úmida (ou wetland), situada à juzante do principal barramento de escória na área da Plumbum e com extensão de cerca de 90 m, no controle da contaminação das águas superficiais. Esta zona úmida teve origem em um aterro para canalização de águas pluviais do empreendimento. O autor con‐cluiu que esta zona úmida se mostrava eficaz para o  controle da contaminação das águas superficiais, uma vez que retinha a grande maioria dos metais. 

Na restauração de áreas contaminadas, além da escolha correta das técnicas de con‐trole e remediação, faz‐se necessário a escolha de uma vegetação apropriada para o local, tanto em termos de tolerância às condições locais, quanto com os objetivos de estabilização do solo (fitoestabilização), melhoramento do aspecto visual e diminui‐ção da exposição humana ao solo contaminado (WONG, 2003). Em trabalhos de res‐tauração  de  áreas  degradadas,  também  é  importante  que  o  processo  de  sucessão ecológica ocorra da forma mais semelhante possível em relação à condição natural da região. Para tanto, faz‐se importante entender como os processos sucessionais ocor‐rem em cada área, e tais estudos ainda são escassos em áreas contaminadas no Brasil. 

Em solos contaminados por metais, além da toxicidade, outros fatores podem ser ad‐versos ao estabelecimento da vegetação, tais como, ausência de solo superficial, ero‐sões periódicas, estação seca, compactação, ampla flutuação da temperatura e escas‐sez de nutrientes essenciais (WONG, 2003). Por isso, faz‐se importante a utilização de espécies que tenham potencial para tolerar tais condições. No caso de Santo Amaro, Viana  (2008)  estudou  o  potencial  da  mamona  (Ricinus  communis  L.)  para  uso  em processo  de  fitorremediação  na  área  da  antiga  Plumbum  e  arredores.  Esta  espécie ocorre naturalmente no local e poderia servir como alternativa econômica para a re‐gião, já que pode ser explorada comercialmente para a ricinoquímica e produção de biodiesel a partir da semente. Os resultados apontaram que a mamona não concentra As, Cd, Pb, Zn e Cu no óleo, porém acumula Zn e Cu na casca e na torta, produzida du‐rante  a  extração  do  óleo,  indicando  a  necessidade  de  estudos  adicionais  sobre  o aproveitamento  da  torta  como  adubo  orgânico  neste  caso.  O  estudo  de  Azzollini (2008), realizado em áreas de depósito de cinza de carvão mineral no sul do Brasil, conclui que a mamona pode auxiliar no processo de restauração das áreas degrada‐das, favorecendo o estabelecimento de outras espécies que necessitam de condições mais específicas de substrato, e que pode contribuir para a fitoestabilização de cromo e níquel, principais contaminantes nos locais estudados pelo autor.  

Além da importância da vegetação para os objetivos relacionados acima, a microbiota do solo e os processos realizados por ela também estão estreitamente relacionados à vegetação e ao uso do solo (FAGOTTI et al., 2012; NOGUEIRA et al., 2006; ZAK et al., 2003). A vegetação contribui para reduzir a toxicidade dos metais, oferecendo condi‐

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AAvvaalliiaaççõõeess  eeccoollóóggiiccaass  ee  eeccoottooxxiiccoollóóggiiccaass  rreellaacciioonnaaddaass  aaoo  ccaassoo  ddaa  PPlluummbbuumm  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ((BBAA))  142 

ções  favoráveis aos microrganismos na  rizosfera  (DIAS‐JUNIOR et al.,  1998),  e pelo fornecimento de material orgânico que serve como fonte de carbono e energia para os microrganismos. No caso da área da Plumbum, Niemeyer et al. (2012a) concluíram que,  além do efeito direto da  toxicidade dos metais  sobre a atividade e a biomassa microbiana no solo, há efeitos indiretos relacionados às mudanças na cobertura vege‐tal, taxas de carbono orgânico do solo, pH e disponibilidade de nutrientes. Esses atri‐butos  têm alterado o microclima e as propriedades  físico‐químicas do solo, e dessa forma o solo deixa de servir como habitat para os microrganismos (o que chamamos de perda da função de habitat), e consequentemente temos um impacto sobre os pro‐cessos‐chave desempenhados por  estes organismos,  como a  ciclagem do  carbono e dos nutrientes.  

O  processo de decomposição de material  orgânico  foi  avaliado por Niemeyer  et al. (2012b) em locais dentro e fora da área da antiga Plumbum, distantes até 1 km, e em três locais de referência, distantes 3 km e 9 km. A técnica utilizada foi a montagem de bolsas de decomposição, os chamados  litter bags, seguindo‐se as recomendações da Norma OECD  (2006)  e  o  recomendado  por  Römbke  et al.  (2003).  As  bolsas  foram preenchidas com folhas de aroeira‐vermelha Schinus terebinthifolius Raddi e expostas por períodos de 15, 43, 83 e 131 dias. Os resultados mostraram baixas taxas de de‐composição  dentro  da  área  da  fábrica,  onde  este  processo  foi  significativamente comprometido, e os resultados apontaram que a taxa de decomposição foi negativa‐mente correlacionada com as concentrações de metais.  Isto pode ser explicado pela reduzida atividade microbiana nestes locais (NIEMEYER et al. 2012a), reduzida ativi‐dade alimentar da fauna do solo (NIEMEYER et al. 2010), e menor densidade de de‐tritívoros,  aliados  às  condições  de  baixa  umidade  e  altas  temperaturas  nos  locais mais expostos sem cobertura vegetal. Ou seja, o impacto sobre este serviço do ecos‐sistema (decomposição) está relacionado não só aos efeitos diretos da toxicidade dos metais,  mas  também  aos  efeitos  indiretos  ocasionados  pelas  características  físicas dos locais com disposição de rejeitos e pela ausência de cobertura vegetal, resultando em condições adversas para os microrganismos e para a fauna do solo (NIEMEYER et al. 2012b). 

Conclusão geral 

Os dados existentes sobre a determinação de metais em solos da área da Plumbum e arredores,  e nos quintais das  casas das  ruas Rui Barbosa  e  Sacramento,  e  em sedi‐mentos do estuário do rio Subaé, indicam a persistência da contaminação por metais nestes  compartimentos.  Os  dados  das  determinações  de  metais  na  biota  apontam para a biodisponibilidade de Pb e Cd para mariscos no estuário do Rio Subaé, e para plantas (gramíneas, frutas e ervas) nos arredores da Plumbum e nos quintais das ca‐sas que receberam escória. Os níveis de Pb e Cd em mariscos continuam acima dos níveis máximos recomendados pela Anvisa para consumo humano.  

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   JJúúlliiaa  CCaarriinnaa  NNiieemmeeyyeerr  ,,  SSiillvviiaa  EEgglleerr  ee  EEdduuaarrddoo  MMeennddeess  ddaa  SSiillvvaa   143  

As avaliações ecológicas e ecotoxicológicas realizadas na área da Plumbum e arredo‐res indicaram impacto negativo sobre serviços ecossistêmicos, como ciclagem de nu‐trientes e produtividade vegetal, e impacto sobre a função de retenção do solo, o que indica que a contaminação ainda pode migrar para outros compartimentos ambien‐tais, como água subterrânea e águas superficiais próximas, como o rio Subaé. 

Em geral, os resultados indicaram risco ecológico para os organismos e processos do solo mesmo após quase duas décadas do término das atividades da Plumbum, rela‐cionado à exposição dos receptores ecológicos ao solo contaminado. A avaliação de risco  ecológico  realizada  na  área  da  Plumbum  e  arredores  apontou  um  alto  risco ecológico em locais dentro da área da Plumbum, indicando a necessidade de medidas de remediação e posterior restauração da área. A restauração ecológica das áreas de‐gradadas e o  reestabelecimento dos processos ecológicos  (por exemplo, a partir da reestruturação da comunidade vegetal de acordo com o ecossistema no qual está in‐serida), são essenciais para melhorar as condições ecológicas do local e assim evitar que a contaminação continue se dispersando através da poeira e do escoamento su‐perficial para outros locais. 

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WEEKS, J.M. et al. Biological Test Methods for Assessing Contaminated Land, Stage 2: A demonstration of  the use of a  framework  for  the ecological risk assessment of  land contamination.  Environment  Agency  of  England  and  Wales,  Science  Report  P5‐069/TR1, 2004. 108 p. 

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WONG, M.H. Ecological  restoration of mine degraded soils, with emphasis on metal contaminated soils. Chemosphere, v. 50, p.775‐780, 2003. 

ZAK, D.R. et al. Plant diversity, soil microbial communities, and ecosystem function: are there any links? Ecology, v. 84, p. 2042‐2050, 2003. 

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Page 151: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

AAvvaalliiaaççõõeess  eeccoollóóggiiccaass  ee  eeccoottooxxiiccoollóóggiiccaass  rreellaacciioonnaaddaass  aaoo  ccaassoo  ddaa  PPlluummbbuumm  eemm  SSaannttoo  AAmmaarroo  ((BBAA))  148 

Tabela 1 ‐ Resumo dos dados existentes sobre a contaminação por metais nos comparti‐mentos ambientais e biota relacionados ao caso da Plumbum em Santo Amaro (BA). 

Compartimento Ambiental 

Concentração de metais (mg/kg ou mg/L) Valores de referência  Fonte Chumbo Cádmio

Mínima Média Maxima Mínima Média Máxima Pb Cd

Águas do rio Subaé 

0,04 6,18  0,0042 0,0813

0,01 0,003

Reis, 1975* 

1,6  6,0    CEPED # 

      37,2        0,46  Cunha; Araújo, 2001 Sedimentos  do rio Subaé 0,5 23,7 120

     

Donnier et al., 1977@ 

Sedimentos do rio Subaé em São Brás    

119   

   1,19     UFBA, 1996 

Sedimentos do rio Subaé em São Francisco do Conde    

62,2   

   0,189     UFBA, 1996 

Sedimentos da baía de Todos os Santos    

    

877     0,223  Hatje et al., 2006 

Peixes     1,03        0,19    

2,0ⁿ 1ⁿ 

Cunha; Araújo, 2001 Tainha  0,1 0,81    

Santos, 2011 Robalo  0,14 1,5    

Ostras    4

2,0 1 

CEPED # 

80 135 Donnier et al., 1977@ 

Siris    CEPED # 

13 40 Donnier et al., 1977@ 

Vísceras de siris  1,13 4,43 Santos, 2012a 

Sururus 40 60 Donnier et al., 1977@ 

5,73    Funasa, 2003 

Sururus ‐ São Brás    1,36        0,86     UFBA, 1996    1,15        1,06     Cunha; Araújo, 2001 

Sururus ‐ São Francisco do Conde 

   33,7        0,25     UFBA, 1996 0,28 5,4    1,1 Santos, 2011 

Camarão ‐ 0,19 

  3,4           Santos, 2011 

São Francisco do Conde

n ANVISA, decreto, 1965

 ANVISA, 1998 " peso seco * Apud Santos, 2011 # período de 1975 a 1980 @ Apud Carvalho et al., 1982

 Apud FUNASA, 2003 

 

 

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   JJúúlliiaa  CCaarriinnaa  NNiieemmeeyyeerr  ,,  SSiillvviiaa  EEgglleerr  ee  EEdduuaarrddoo  MMeennddeess  ddaa  SSiillvvaa   149  

Tabela 1 – Continuação... 

Compartimento ambiental 

Concentração de metais (mg/kg ou mg/L) Valores de referência  Fonte Chumbo Cádmio

Mínima Média Máxima  Mínima Média Máxima Pb Cd

Frutas e verduras     0,004

0,5ⁿ 0,5ⁿ 

CEPED # 

   12,35        1,88     Cunha; Araújo, 2001 Banana e laranja  0,01 CEPED # 

Manga  0,530 0,601 0,685 Funasa, 2003 

Frutas e chás  0,18 118,2 0,04 7,39 Magna et al., 2011 

Tubérculos     14,1        2,32     Cunha; Araújo, 2001 Aipim  0,610 0,691 0,808 Funasa, 2003 

Vegetais folhosos    215  11,8 CEPED # 

Gramíneas     85        41,3    

1  0,03‐0,3"  

Cunha; Araújo, 2001 Gramíneas     

Costa, 2001 (peso umido) 

300 m  26,4   1,07

< 1 km  4,13   0,635

> 6 km  6,03   0,201

> 10 km  4,19   0,096

> 14 km  0,767   0,263

Gramíneas  820  7,99 Magna et al., 2011 

n ANVISA, decreto, 1965       

 ANVISA, 1998                            " peso seco        * Apud Santos, 2011       # período de 1975 a 1980        @ Apud Carvalho et al., 1982       

 Apud FUNASA, 2003                            

 

 

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MMeettaalluurrggiiaa  ddoo  cchhuummbboo::  pprroocceessssooss  ddee  pprroodduuççããoo  ee  rreeffiinnoo  LLuuiiss  GGoonnzzaaggaa  ddooss  SSaannttooss  SSoobbrraall11    DDéébboorraa  MMoonntteeiirroo  ddee  OOlliivveeiirraa22    CCaarrllooss  EEdduuaarrddoo  GGoommeess  ddee  SSoouuzzaa33    SSiillvviiaa  CCrriissttiinnaa  AAllvveess  FFrraannççaa  SSiillvvaa44    PPaauulloo  FFeerrnnaannddoo  AAllmmeeiiddaa  BBrraaggaa55  

Introdução 

Esta compilação bibliográfica tem por objetivo descrever os processos de produção primária e secundária de chumbo. Na produção primária o minério de chumbo é pro‐cessado em dois estágios: 

1. A  ustulação  do  sulfeto  de  chumbo  (galena  –  PbS),  com  formação  do  óxido  do chumbo  correspondente  (litargírio  –  PbO)  que  é,  posteriormente,  reduzido  a chumbo metálico por reação pirometalúrgica com a adição de coque e  

2. Refino do chumbo metálico impuro, também por processo pirometalúrgico.  

Tais processos são praticados, convencionalmente, no mesmo local. Na produção se‐cundária  de  chumbo,  o  que  se  caracteriza  como  um  processo  de  reciclagem,  o chumbo é extraído de materiais usados, tais como sucatas e baterias automotivas. O chumbo,  nesse  caso,  pode  ser  recuperado  por  fusão  ou  por  refino,  dependendo do tipo  de  sucata  que  o  contém.  Após  processo  de  refino,  o  chumbo  é,  em  seguida, transformado em outros produtos tais como ligas (liga fusível, anodos (Pb‐Sn, Pb‐Sb, Pb‐Ag, Pb‐Tl)) e folhas de chumbo. 

O minério  de  chumbo mais  importante  é  a  galena  (PbS  –  sulfeto  de  chumbo),  que ocorre, frequentemente, em combinação com o zinco, a pirita (FeS2) e a prata. A ceru‐sita  (carbonato de chumbo – PbCO3) e a anglesita  (sulfato de chumbo – PbSO4) são outros  minerais  comercialmente  importantes  originários  da  oxidação  e  intempe‐rismo  da  galena.  A  Figura  1  mostra  os  aspectos  físicos  dos  referidos  minerais  de chumbo. 

O chumbo tem sido utilizado desde a época dos Romanos no Reino Unido. A indústria do  chumbo  ganhou  ímpeto  no  começo  de  1800,  quando  se  utilizou minério  local‐

                                                            

1   Doutorado em Hidrometalurgia. Imperial College of Science and Medicine. UK. 

2   Mestrado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos.Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. 

3   Graduação em Química Industrial. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. 

4   Doutorado  em  Engenharia  Química. Coordenação  dos  Programas  de  Pós  Graduação  em Engenharias. UFRJ. 

5   Mestrado em Engenharia Mineral. Universidade de São Paulo, USP.  

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   LLuuiiss  GGoonnzzaaggaa  ddooss  SSaannttooss  SSoobbrraall  eett  aalliiii......   151  

mente  prospectado  em  muitas  localidades  naquele  país,  tais  como  Derbyshire  e Cornwall. Esses minérios eram, usualmente, fundidos e transformados em barras de chumbo próximo às  fontes desses metais e de carvão. O chumbo, assim obtido, era, então, refinado em instalações de pequeno porte.    

Figura 1 ‐ Aspectos físicos da galena (a), cerusita (b) e anglesita (c). 

Esta autossuficiência resultou na especialização regional em tipos de chumbo e pro‐dutos químicos desse metal. Londres começou a produzir o chamado chumbo branco (carbonato de chumbo – PbCO3) para a indústria de tintas e para exportação. Os óxi‐dos de chumbo, o litargírio (PbO), e o chumbo vermelho (Pb3O4),  foram produzidos na  região  central  da  Inglaterra  para  as  indústrias  de  vidro  e  cerâmica.  Peltre  (liga principalmente  de estanho,  com antimônio, cobre e chumbo)  e  balas  de  chumbo  fo‐ram produzidas a partir de chumbo duro (argentífero) em Bristol. A Figura 2 mostra os aspectos físicos dos óxidos de chumbo. 

PbO  Pb3O4

Figura 2 ‐ Aspectos físicos dos óxidos de chumbo. 

Em meados do século 19, Newcastle tornou‐se uma das principais áreas de produção de  chumbo,  com  a  vantagem  da  importação  de  minério  de  chumbo  e  barras  de chumbo impuro da Espanha (já inicialmente fundido neste país). Os produtos manu‐faturados  foram  o  chumbo  branco,  o  chumbo  vermelho,  o  litargírio,  chumbo  lami‐nado, tubos e em grãos. Hull, Liverpool e Swansea eram portos que tiveram a vanta‐gem de importar minérios com preços baixos. 

 (a) 

 (b) 

 (c) 

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MMeettaalluurrggiiaa  ddoo  cchhuummbboo::  pprroocceessssooss  ddee  pprroodduuççããoo  ee  rreeffiinnoo  

 

152 

No  início do século 20,  a produtividade de  chumbo do Reino Unido  conhecia o  seu declínio.  À medida  que  o  suprimento  de minério  diminuía  e  se  tornava  gradativa‐mente mais caro a sua prospecção, as instalações menores e mais antigas tenderam a parar de funcionar em favor de plantas localizadas em regiões onde as importações eram mais baratas. Nesse momento as principais fontes e produtores de chumbo são os Estados Unidos, Austrália, os estados que eram anteriormente parte da União So‐viética, México, Canadá e Peru. 

Desde a década de 50, a  indústria de chumbo do Reino Unido se envolveu, mais  in‐tensamente,  com  o  processamento  de  fontes  secundárias  desse  elemento.  O  reuso mais  intenso de chumbo é devido à sua resistência a corrosão e a  facilidade de sua separação  de  outros  materiais.  Somente  um  segmento  primário  de  produção  de chumbo opera no Reino Unido nos dias atuais. Todo o bullion de chumbo produzido naquele seguimento é exportado para ser refinado em outra unidade. Existem quatro unidades  fundidoras  de  chumbo  no  Reino  Unido,  lidando  com materiais  contendo chumbo, na produção secundária e existem quatro outras plantas refinando chumbo a partir de sucatas para a produção, principalmente, de lençóis de chumbo. A Figura 3 mostra bobinas de lençol de chumbo. 

O  chumbo  é um metal  cinzento,  azulado brilhante,  não  elástico, mole,  riscável  com unha, deixa traço cinzento no papel, dúctil, maleável, trabalhável a frio, razoável con‐dutor de calor e eletricidade, possui condutividade térmica de 0,83 cal/cm3/cm/°C/S a  0°C  e  0,81  cal/cm3/cm/°C/S  a  100°C,  coeficiente  de  expansão  térmica  linear  de 29,10‐5 a 1°C e aumento em volume (de 20°C ao ponto de fusão) de 6,1 %. Peso espe‐cífico de 11,37, baixo ponto de fusão (327 °C), peso atômico 207,2 e ponto de ebuli‐ção de 1717°C, emitindo, antes desta temperatura, vapores tóxicos. Apresenta retra‐ção linear na solidificação de 1 a 2,5% e alongamento de 31%.  

 

Figura 3 ‐ Bobinas de lençol de chumbo. 

As ocorrências minerais de  chumbo no vale do  rio Ribeira do  Iguape,  (São Paulo  – Paraná),  são  conhecidas  desde  o  século  XVII, mas  a  exploração  de  chumbo  e  prata somente começou no inicio deste século na Mina de Furnas, inclusive exportando mi‐nério para a Espanha, durante a primeira guerra mundial (ROCHA, 1973). 

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   LLuuiiss  GGoonnzzaaggaa  ddooss  SSaannttooss  SSoobbrraall  eett  aalliiii......   153  

Os primeiros estudos geológicos na mina de Panelas, no Paraná, foram realizados por Moraes Rego em 1935, e a  lavra  foi  iniciada em 1938, por Adriano Seabra Foncesa (ROCHA, 1973). 

As  ocorrências  na  região  de Macaúbas,  na Bahia,  são,  também,  conhecidas  desde  o século XVII e em 1928, no Compêndio de Minerais do Brasil, Luiz Caetano Ferraz re‐gistra a ocorrência de anglesíta no município de Macaúbas (ROCHA, 1973).  

Em 1954 foi formada a Mineração Boquira para lavrar a jazida do município de Ma‐caúbas,  posteriormente  município  de  Boquira.  Em  1955  começou  a  produção  em Boquira (BA), que se constituiu na maior mina em atividade no país, mesmo sendo uma  mina  de  tamanho  médio,  de  acordo  com  os  padrões  internacionais  (ROCHA, 1973). 

Naquela ocasião, encontrava‐se em atividade a mina de Boquira, com reservas para sete anos, explorada pela Mineração Boquira e as minas de Panelas e Rocha, com re‐servas  para  quatro  anos,  exploradas  pela  PLUMBUM.  Essas  companhias  eram  rela‐cionadas  à  Societè Minière  et Metallurgique de Peñarroya,  que  também mantinham minas e metalúrgicas na França, Espanha, Itália, Grécia, Iran e Marrocos.  

O  chumbo  é  um dos metais  de maior  uso  industrial.  É  empregado,  principalmente, nos  acumuladores de  automóveis  (baterias  chumbo‐ácido),  como aditivo  anti‐deto‐nante na gasolina e, em geral, nas construções civis, inclusive tintas. Outro uso impor‐tante é na fabricação de munição para armas esportivas e militares, embalagens, im‐pressão e revestimentos de cabos. 

Raramente  ocorre  no  seu  estado  natural, mas  sim  em  combinação  com outros  ele‐mentos, e seus mais  importantes minérios são a galena (PbS), cerusita (PbCO3), an‐glesita (PbSO4), piromorfita Pb3Cl(PO4)3, vanadinita [PbCl(VO4)2], crocoita (PbCrO4) e a Wulfenita (PbMoO4).  

O  advento  do  arranque  elétrico  nas máquinas  de  combustão  interna  deu  lugar  ao grande aumento de consumo, que se expandiu, novamente, com a necessidade de adi‐tivo antidetonante para uso nas máquinas de alta compressão.  

O maior aumento na procura de chumbo  tem sido para baterias e aditivo antideto‐nante para gasolina. O uso de sucedâneos de chumbo tem se desenvolvido em muitas aplicações, o que tende a diminuir o ritmo do aumento da procura. 

Embora  a presença de  chumbo na  crosta  terrestre  seja de  somente 0,002%,  existem jazidas em varias partes do globo, algumas exploradas até com teor de 3% desse metal. 

Os  principais  países  mineradores  de  chumbo  são  Austrália,  os  Estados  Unidos,  o México, o Canadá e o Peru que, junto com a ex‐URSS, perfazem mais de 50% da pro‐dução mundial. Outros países com mineração de chumbo importante são Iugoslávia, Marrocos, Espanha e Suécia.  

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154 

Estrutura da indústria 

Localização das minas brasileiras 

Estado do Paraná 

A mina de Panelas situava‐se no Município de Adrianópolis, ex‐Paranaí, a 14 km da sede, à margem direita do rio Ribeira do Iguape, que aí divide os estados de São Paulo e Paraná. Era uma mina  integrada,  compreendendo mineração,  concentração e me‐talurgia.  

A mina do Rocha, no vale do Ribeirão do Rocha, afluente do rio Ribeira do Iguape, si‐tuava‐se nos municípios  de Adrianópolis  e  Cerro Azul,  distando 42  km da Mina de Panelas, para onde era transportado o minério produzido.  

Estado da Bahia 

A Mina de Boquira era a principal mina do país, não só quanto às reservas como ao teor do minério. Situava‐se na cidade de Boquira, no Estado da Bahia, no vale do rio Paramirim, a 28 Km ao norte de Macaúbas, comarca a que pertence o Município de Boquira, seu ex‐distrito. Distam 440 km em linha reta de Salvador, estando pratica‐mente no mesmo paralelo desta Capital. 

O acesso, a partir de Salvador, além da via aérea, era feito, naquela época, pela Rodo‐via Salvador‐Brasília (BR‐242), que passa a 90 km ao Norte de Boquira. A distância Santo Amaro‐Boquira é de 650 km.  

a) qualidade do minério 

O teor médio em chumbo do minério explorado em Boquira era de 8,88% enquanto que em Panelas o teor médio do minério era de 5% e economicamente aproveitável devido à presença de prata que oscilava em torno de 15 kg por tonelada de chumbo refinado. 

Os  teores  dos minérios  das minas  de  Panelas  e  Rocha  eram menores  que  5%  em chumbo após rigorosa escolha, tanto no interior como no exterior da mina, contrari‐amente à Mina de Boquira onde não havia escolha. 

As  variações  dos  teores  de  chumbo  e  outros  elementos  nas  Minas  de  Boquira  e Panelas, eram:  

BoquiraPb  Zn  Fe S CaO MgO CO2 Al2O3  SiO2 

9,03%  2,40% 21,10% 5,65% 0,50% 4,40% 2,05% 2,10%  0,37% Panelas

Pb  PbO  S* CaO Fe Zn Ag 5,0%  0,70% 3,5% 31,4% 4,5% 0,7% 76 g/t b) fabricação 

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As  seções,  a  seguir,  descrevem os processos praticados em uma unidade pirometa‐lúrgica  típica  de  produção,  refino  e  de  processamento  de  fontes  secundárias  de chumbo. Os estágios principais de processos são: a concentração do minério, em ter‐mos de espécies minerais de chumbo, a sinterização, a redução do PbO em chumbo metálico impuro e seu posterior refino.  

Produção primária de chumbo 

O  chumbo  era  produzido,  tradicionalmente,  pelo  aquecimento  da  galena  em  forno Revérbero  para  a  sua  oxidação  a  óxido  de  chumbo  e  sulfato  de  chumbo  e, eventualmente, a bullion de chumbo. Esse método foi substituído pelo método do alto forno (blast furnace) que é utilizado até os dias atuais. Os vários processos utilizados na produção primária de chumbo estão resumidos abaixo na Figura 4. 

MINÉRIO DE CHUMBO

Britagem

Concentração Pó de CarvãoReciclo de material sinterizado, calcário (fluxo)

Bullion de Chumbo

Alto Forno Pó de Carvãocalcário (fluxo)reciclo de escória

Bullion de Chumbo

Alto Forno

Bullion de Chumbo

Alto FornoEnxofre Cobre

Planta de Harris

NaOH NaNO3

As, Sn, Sb

Forno deAmolecimento

As, Sn, SbPanela para Remoção de PrataAu e Ag

Destilação a Vácuo

Zinco

Refino CáusticoFinal

NaOH

ProcessoKroll-Betterton

Liga Ca-Mg

Liga Ca-Mg-BiChumbo Primário

Refinado  

Figura 4 ‐ Processos utilizados na produção primária de chumbo. 

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Chumbo PrimárioRefinado

Tratamento Químico

Compostos Orgânicosde Chumbo e Óxidos de Chumbo

ProcessosEspeciais

Piguimentos e Coberturas

Fundição

Laminação

Chapa metálica

Grânulos e ligas

Extrusão

Tubos, arames e cabos

 

Figura 5 ‐ Utilização de chumbo primário refinado. 

Processamento mineral 

Antes do processo de oxidação pirometalúrgica, o minério de chumbo, este deve ser processado  para  se  elevar  o  teor  em  chumbo.  O minério  é,  inicialmente,  britado  e moido,  até  finamente  dividido,  e,  em  seguida,  concentrado  quer  por  separações mecânica  e  gravitacional  quer  por  técnicas  de  flotação.  No  processo  de  flotação  o minério finamente dividido é suspenso, mecanicamente, em água contendo reagentes específicos  quando  ocorre  a  formação  de  grande  volume  de  espuma.  As  partículas minerais  aderem  à  espuma  que  se  forma  no  topo  da  célula  de  flotação,  sendo  os minerais da ganga do minério afundados para a base da célula. A espuma gerada é retirada da célula de flotação e posteriormente secada. As técnicas de flotação podem ser, também, ajustadas para separar distintos metais e não somente a separação do metal  de  interesse  da  ganga.  A  concentração mineral  por  flotação  eleva  o  teor  de chumbo no minério para a faixa de 65 a 80% e, dessa forma, o minério resultante é considerado um concentrado mineral. A Figura 6 mostra uma instalação de flotação com detalhe na formação das bolhas carreadoras do sulfeto de chumbo. 

 (a) 

 (b) 

Figura 6 ‐ Unidade de flotação (a) com detalhe das bolhas de ar carreando a galena (PbS)(b). 

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Sinterização 

Antes da fusão do concentrado de flotação para a devida redução dos compostos de chumbo em chumbo metálico, esse deve ser ustulado para a remoção de grande parte do  enxofre  contido  (proveniente  da  galena  –  PbS)  e  posterior  aglomeração  das partículas  finas  produzidas  (litargírio  –  PbO),  pois  não  podem  ser  introduzidas  no alto forno dessa forma. Esse processo é conhecido como “sinterização”. O processo de ustulação é representado pela equação 1, a seguir. 

2PbS + 3O2 → 2PbO + 2SO2↑               (1) 

O  concentrado  de  flotação  é  misturado  com  fundentes  (i.e.:  calcário),  produtos reciclados  (i.e.:  sinterizado  reciclado)  e  coque  em  pó.  Essa  mistura  é  alimentada, através da máquina de sinterização, no alto forno onde ocorre a ustulação. O material sinterizado reciclado é adicionado ao  forno para controlar a  temperatura e diluir o teor de sulfeto. O material sinterizado é aglomerado, na forma de agregado (torrão), e classificado em um tamanho próprio para o alto forno. A Figura 7 mostra detalhes de um alto  forno para o processamento pirometalúrgico de  concentrado de  sulfeto de chumbo. 

Os  rejeitos  originários  desse  processo  são,  primeiramente,  gases  e  emissão  de particulados, que requer um controle rigoroso. A maior parte do enxofre é removido do concentrado nesse estágio do processo e convertido em dióxido de enxofre (SO2). Nos dias atuais esse gas (SO2) é, usualmente, convertido em ácido sulfúrico, em uma unidade  secundária  de  sub‐produtos  que  deve  estar  presente  no mesmo  local.  No passado, o SO2 era emitido diretamente para a atmosfera. 

A utilização, atualmente, de sistemas de coleta de particulados é prática padrão  em instalações industriais desse tipo. 

 

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Figura 7 ‐ Detalhes do alto forno. 

Redução em alto forno 

O  concentrado  ustulado,  ou  sinterizado,  agora  já  na  forma  de  aglomerado,  é carregado  no  topo  do  alto  forno  aquecido,  juntamente  com  o  calcário  e  outros compostos  fundentes,  e  coque  de  carvão  como  combustível.  Ar  pré‐aquecido  é insuflado  na  parte  inferior  do  forno  para  auxiliar  no  processo  de  combustão  e completar a  formação de óxidos metálicos. Os óxidos são reduzidos aos respectivos metais  pelo  coque  e  monóxido  de  carbono  presente.  As  reações  que  traduzem  o processo de redução são listadas abaixo. 

calorCPOOC 22               (2) 

2COCOC 2                 (3) 

2o COPbcalorCOPbO             (4) 

COPbCPbO o               (5) 

 1. Minério  de  chumbo  +  fluxo,  2.  Coque,  3.  Elevador,  4.  Entrada  de  alimentação,  5.  Camada  de coque,  6.  Camada  de material  sinterizado,  7.  Soprador  de  ar  quente  (em  torno  de  1200oC),  8. Remoção de escória, 9. Torneira para  liberação de chumbo  fundido, 10. Reservatório de coleta de escória, 11. Reservatório de coleta de chumbo metálico bruto, 12. Ciclone para coleta de poeira, 13. Forno Cowper para ar quente, 14. Saída de  fumação, 15. Alimentação de ar para o  forno Cowper (pré‐aquecedores de ar), 16. Carvão em pó, 17. Forno de coque, 18. Coque e 19. Gás do alto forno. 

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O  resíduo  não‐metálico  (i.e.,  sulfetos,  silicatos  etc.)  formam  uma  escória  com  os fundentes anteriormente adicionados [SiO2, FeO, CaO, Zn, S e pequenas quantidades de As,  Sb,  Pb  (1  a 3%)]. O  chumbo metálico produzido,  que  se  apresenta na  forma líquida, devido a elevada temperatura interna do forno, é vazado pela parte inferior do forno diretamente em moldes metálicos. O chumbo metálico formado dessa forma é  um  produto  semi‐acabado  conhecido  como  “bullion”.  Esse  chumbo  contém impurezas metálicas tais como prata, ouro, cobre, zinco, antimônio, estanho, arsênio, bismuto e outros contaminantes menores que podem ser totalmente ou parcialmente removidos, por processo de refino, para produzir um chumbo metálico comercial. 

A escória produzida nesse processo de fusão é removida no topo da massa metálica fundida    e  descartada.  Os  teores  de  chumbo,  antimônio,  zinco  e  outras  impurezas metálicas são, ainda, relativamente elevados nessa escória.  

Processo de refino 

O  bullion  de  chumbo  necessita  ser  refinado,  posteriormente,  para  remover  as impurezas metálicas. No passado, o chumbo era importado na forma de bullion e não na forma de minério. 

Em  primeiro  lugar,  o  cobre  é  removido  em  uma  planta  de  geração  de  escória.  O bullion de chumbo é fundido e resfriado à  uma temperatura um pouco acima de seu ponto  de  fusão.  O  cobre  cristaliza  e  sobrenada  na  superfície  da  massa  fundida  e recolhido como uma escória rica em cobre. Enxofre elementar é adicionado ao bullion de chumbo fundido para reduzir o  teor de cobre pela  formação de sulfeto de cobre que é, também, removido da superfície do chumbo fundido. 

Após  a  remoção  do  cobre,  distintos  métodos  são  utilizados  para  remover  as impurezas metálicas remanescentes no bullion de chumbo. Esses métodos podem ser pirometalúrgicos  ou  eletrolíticos.  No  processo  eletrolítico,  o  chumbo  puro  é depositado  nos  catodos  de  chumbo  e  as  impurezas  metálicas  permanecem  nos anodos. 

Nos processos pirometalúrgicos, a mistura metálica obtida, após remoção do cobre, é sequencialmente  aquecida  e  resfriada  em  diferentes  condições  e  em  diferentes temperaturas.  Esses  processos  oxidam,  preferencialmente,  ou  se  não  removem  as impurezas metálicas do chumbo refinado. Alguns dos principais processos utilizados são mostrados na Figura 7 e descritos a seguir. 

Amolecimento 

A presença de arsênio, estanho e antimônio tornam o chumbo metálico mais duro; o forno  utilizado  para  a  remoção  desses  metais  é,  portanto,  chamado  forno  de amolecimento. O bullion de chumbo é fundido e agitado com insuflação de ar. 

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Processo Harris 

Nesse  processo  um  fluxo,  constituído  pela  mistura  fundida  de  hidróxido  de  sódio (NaOH) e nitrato de sódio (NaNO3), é adicionado ao bullion de chumbo fundido. Após total  mistura  desses  materiais,  as  impurezas  metálicas  como  arsênio,  estanho  e antimônio  são  removidas  em  um  fluxo  alcalino  na  forma  de  arseniato  de  sódio (Na3AsO4),  estanato  de  sódio  (Na2SnO3)  e  antimoniato  de  sódio  (Na3SbO4) (MATTHIAS, 1929). 

Processo Parke (remoção de prata) 

Esse  processo  remove  prata  e  ouro  pela  adição  de  zinco  metálico  no  reator  de remoção  de  prata.  O  ouro  e  a  prata  são  dissolvidos,  preferencialmente,  no  zinco  o qual, sendo mais leve que o chumbo, surge na superfície do banho fundido (bullion de chumbo). A temperatura do banho fundido é diminuída e a escória sobrenadante, rica em prata e zinco, se solidifica e removida do forno. Os componentes dessa escória são separados  por  destilação.  O  zinco  é  reciclado  ao  processo  de  remoção  de  prata enquanto a escória rica em prata é refinada, posteriormente, usualmente em forno de copelação. No processo de copelação, o chumbo presente é oxidado a litargírio (PbO) (que  é  utilizado  em  outros  seguimentos  industriais  –  e  a  escória  rica  em  prata  é contatada com um fluxo de nitato de sódio que reduz ao mínimo os teores de outras impurezas,  tais  como  o  cobre,  bismuto  e  ferro.  Esse  processo  conta,  de  forma vantajosa,  com duas propriedades do zinco quando no estado  líquido. A primeira é que o zinco é imiscível em chumbo, e a outra é que a prata é 3000 vezes mais solúvel em  zinco  do  que  no  chumbo.  Quando  zinco  é  adicionado  ao  chumbo  líquido,  que contém prata como um contaminante, a prata migra, preferencialmente, para o zinco. Visto que o zinco é imiscível no chumbo, ele permanece em uma camada separada e é facilmente removido. A solução prata‐zinco é, então, aquecida até que ocorra a total vaporização do zinco, deixando quase prata pura. Se o ouro está presente no chumbo líquido,  este  pode,  também,  ser  removido  e  isolado  pelo  mesmo  processo (BRITANNICA ONLINE; LINUS, 1947). 

Remoção de zinco 

O zinco é removido do bullion primário de chumbo utilizando a destilação a vácuo. O vácuo é criado na superfície do bullion fundido e os vapores de zinco se condensam nas  paredes  do  recipiente  de  vácuo.  O  zinco  metálico  é  coletado  e  reutilizado  no processo de remoção de prata. 

Processo Betterton­Kroll 

O  processo  Betterton‐Kroll  é  amplamente  utilizado  na  remoção  de  bismuto  do chumbo, acrescentando uma liga cálcio‐magnésio a um banho constituído da mistura fundida de chumbo e bismuto, em uma faixa de temperatura de 380 a 500 oC. Com‐postos são formados com bismuto que têm pontos de fusão mais elevados e densida‐des mais baixas do que o chumbo e, assim, podem ser separados como na forma de escórias sólidas. O bismuto pode, então, ser extraído da mistura dos elementos cálcio 

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e  magnésio  pelo  tratamento  com  cloro.  O  método,  desenvolvido  pela  American Smelting and Refining Co., na década de 1930, é as vezes chamado processo Asarco. Esse  processo  foi  desenvolvido  por  William  Justin  Kroll  em  1922  (BETTERTON; LEBEDEFF,  1937;  KROLL,  1925)  e  melhoras  processuais  foram  desenvolvidas  por Jesse Oatman Betterton na década de 30 (BETTERTON; LEBEDEFF, 1940; SAMANS, 1949). 

Refino final com soda cáustica 

A adição de soda cáustica ao bullion, em temperaturas elevadas, conduz à  formação de  uma  escória,  constituída  de  antimoniato  de  sódio  (Na3SbO4)  e  zincato  de  sódio (Na2ZnO2), que é removida do banho metálico fundido. 

Os  processos  supramencionados  são  combinados,  quando  necessário,  para  refinar bullions de  chumbo. O  chumbo metálico puro  resultante  é moldado  em  lingotes  ou barras para distintos usos comerciais. 

As  escórias  obtidas  dos  processos  de  refino  são,  usualmente,  re‐fundidas  para  se obter as impurezas como subprodutos e recuperar o chumbo nelas contido. A escória de  cobre  é  tratada  e  o  cobre  removido  na  forma  de  mate,  que  pode  ser comercializado  para  a  recuperação  desse  metal.  O  antimônio  e  estanho  são, usualmente,  recuperados  como  ligas mais  concentradas  com  chumbo  e  podem  ser utilizadas diretamente na confecção de outras ligas de chumbo, como no caso da liga estanho‐chumbo  que  é  utilizada  como  liga  fusível  (soldas).  Fundentes  e  outros materiais  formadores  de  escória  são  usados  nesses  processos  de  fusão  e, inevitavelmente,  alguns  metais  são  retidos  nas  escórias  resultantes.  O  bullion  de chumbo recuperado volta ao processo de refino. 

Produção secundária de chumbo 

As fontes primárias de chumbo secundário são: 

Sucata  de  chumbo  (i.e.:  sucata  de  bateria  veicular,  tubos  e  chapas  de  chumbo descartados).  A  sucata  de  bateria  veicular  tem  constituído  uma  proporção substancial de matérias prima na indústria de chumbo em nível mundial. Parte dessa sucata pode ser previamente fundida em lingotes pelos fornecedores. 

Escórias de chumbo contendo entre 35 e 90% de chumbo. Essas escórias surgem em diversas formas e são adquiridas como resíduos de outros processos metalúrgicos. 

Invólucro  de  chumbo.  O  chumbo  nessa  forma  foi  usado  no  passado  em  cabos telefônicos e de enegia protegendo fios de cobre que deve ser removido antes de se recuperar o chumbo. 

O preparo da sucata de chumbo pode envolver separação física de materiais antes de processá‐la.  Esse  tipo  de  preparo  prévio  se  aplica,  particularmente,  à  sucata  de bateria automotiva. No passado, muitos locais adquiriam baterias inteiras. Nesse caso a  solução  sulfúrica  era  removida  dessas  baterias  exáustas  e  a  carcaça  de  ebonite 

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tinha  que  ser  quebrada  manualmente.  Entretanto,  todas  as  fundidoras  modernas possuem  sistemas mecânicos  de  rompimento  e  separação  de materiais,  bem  como instalações de tratamento dos efluentes ácidos (solução de ácido sulfúrico contendo chumbo solúvel). As baterias modernas possuem estojo em polipropileno, que deve ser removido. 

As  operações  individuais  envolvidas  no  processo  de  refino  de  chumbo  são, essencialmente,  as  mesmas  usadas  na  produção  primária  de  chumbo;  embora,  as empresas  tendem  a  realizar  suas  próprias  adaptações.  A  extensão  da  remoção  de impurezas  metálicas  depende  da  matéria  prima  em  processamento,  i.e.,  sucata  de chapas  de  chumbo  necessita  somente  de  refino,  ao  passo  que  escória  de  chumbo necessita de um processo de fusão como etapa que antecede o processo de refino. 

A sucata de chumbo é, geralmente, carregada no recipiente de fusão. Durante a fusão uma  quantidade  considerável  de  escória  é  formada  (contendo  cobre  livre,  ferro, óxidos, sujeira etc.). Essa escória é removida da superfície do chumbo fundido para posterior  processamento  pirometalúrgico.  O  chumbo metálico  remanescente  é,  em seguida,  refinado  usando  processos  similares  aos  usados  na  produção  primária  de chumbo. Como exemplo, o cobre é removido como sulfeto, após a adição de enxofre elementar,  o  estanho  e  antimônio  são  removidos,  como  estanato  de  sódio  e antimoniato de sódio, pela adição de hidróxido de sodio e nitrato de sódio à massa fundida. O  chumbo metálico  fundido é vazado em  lingotes antes de processamento posterior. 

As escórias provenientes da  fusão e  refino de sucatas de chumbo e materiais como sucata  de  bateria  automotiva  são  fundidas  em  fornos  rotatórios.  No  passado,  alto forno  ou  forno  revérbero  foram  utilizados.  Fundentes  como  carbonato  de  sódio (Na2CO3),  sílica  (SiO2)  e  escamas  de  fusão  removem  as  impurezas  do  chumbo  e outros metais formando escória. Na recuperação de chumbo de baterias, o fundente absorve os sulfetos, silicatos e impurezas não‐metálicas e é descartado como resíduo. Os metais são re‐introduzidos no processo de refino.  

Processamento posterior 

A  fabricação  de  produtos  à  base  de  chumbo  refinado  pode  envolver  diverssos processos,  alguns  dos  quais  são  praticados  nas  instalações  de  fusão  e  refino  de chumbo. Os processos mais simples são a fundição e moldagem do metal no produto desejado. Essas atividades não envolvem o uso de produtos químicos e são, portanto, relativamente  limpos.  Outros  processos  são  altamente  especializados  e  podem acontecer em locais separados que adquirem chumbo refinado como matéria prima. 

 Processos físicos 

Esses processos incluem a fusão, a laminação e a extrusão. 

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A fundição (verter metal fundido em moldes) é o processo mais antigo empregado na indústria. A fundição e transformação em chapas e tubos foram realizadas no início do século 18.  

Em  meados  do  século  19,  a  fundição  convencional  foi  quase  que  completamente substituída  pela  laminação.  A  laminação  a  frio  convencional  envolve  a  fusão  do chumbo em grandes blocos retangulares e passados através de um par de rolos para produzir chapas finas.  

Os  tubos  foram, originalmente, produzidos pela  fusão em moldes e,  então, puxados (extrusão) a frio através de uma série de cunhos. Esse método foi substituído, no final do ano de 1820, pelo uso do pistão hidráulico. A extrusão do chumbo pelo pistão foi adaptada e estendida à produção de arame e cabos. 

Processos especiais e tratamentos químicos 

Esses processos envolvem a produção de ligas de chumbo e outras formas de chumbo para mercados definidos:  

Ligas  

As ligas de chumbo são feitas pela adição de outros metais em teores variando entre 0,1  e  70%.  O  antimônio  e  estanho  são  usados,  frequentemente,  para  a  proteção anticorrosiva,  para  melhorar  a  fluidez  quando  fundido  ou  endurecer  quando resfriado. O cádmio é, também, um costituinte de ligas facilmente fusíveis e de soldas maleaveis,  apesar  de  não  ser  usado  amplamente.  As  ligas  de  chumbo  são  mais comuns em baterias, soldas, metais de impressão e revestimentos protetores. 

Chumbo branco (carbonato de chumbo) 

A  produção  desse  produto  químico  foi  comum  nos  séculos  18,  19    e  20.  Vários processos  de  produção  foram  usados,  tais  como  o  velho  processo  holandes  e  os processos  Carter,  Euston,  Sperry  e  Thompson‐Stewart,  que  usam  a  mesma  reação química básica. O chumbo, quer como sólido ou como pó, era convertido em acetato de  chumbo  pela  reação  com  acido  acético  e  o  acetato  resultante  era,  então, convertido  em  carbonato  de  chumbo  por  reação  com  dióxido  de  carbono  (CO2).  O chumbo branco era amplamente utilizado como pigmento na indústria de tintas e em cerâmicas,  embora  tenha  sido  substituído  em  tintas  pelo  uso  de  dióxido  de  titânio (TiO2). 

Litargírio (monóxido de chumbo, PbO) e chumbo vermelho (óxido de chumbo, Pb3O4) 

O litargírio é formado pela fusão de barras de chumbo em fornos revérbero e de co‐pelação  na  presença  de  ar.  Alguns  processos  de  produção  envolviam  a  queima  do chumbo com formação de fumaça na presença de oxigênio. O litargírio, que tem sido 

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usado em uma ampla variedade de indústrias, em escamas ou na forma de pó, pode ser conhecido como  litargírio de vidreiro  (utilizado na  fabricação de uma  forma de vidro  endurecido),  litargírio  cerâmico  (usado  como um costituinte  vitrificante para cerâmicas e esmaltes), litargírio colorante (usado na fabricação de pigmentos) ou li‐targírio para  fabricantes de borracha (usado como acelerador ou enrigecedor na fa‐bricação  de  borracha).  O  chumbo  vermelho,  que  é  usado  como  pigmento,  é  uma forma de chumbo mais oxidada que a do litargírio. Ele é formado pelo aquecimento do litargírio em pó em temperatura cuidadosamente controlada. O litargírio absorve oxigênio e é convertido em chumbo vermelho. 

Resíduos dos processamentos primário e secundário de chumbo 

Escória 

A escória proveniente da operação do alto forno contém minerais e muitas impurezas metálicas,  incluindo de 2 a 4% de chumbo. A escória da pirometalurgia do chumbo tem  sido  sempre  reciclada  no  processo  para  propiciar  a  máxima  recuperação  das impurezas metálicas  que  permanecem  após  processo  de  fusão.  Em  alguns  casos,  a escória  é  volatilizada,  posteriormente,  em  um  forno  para  coletar  algo  de  zinco recuperável.  Da  mesma  forma,  os  processos  de  refino  produzem  pequenas quantidades de escória metálica e rejeito sólido. Caso essas substâncias não  fossem recicladas em um forno de fusão elas teriam sido dispostas ou em outro local ou no mesmo local onde foram produzidas (em caso de disponibilidade de espaço). Nesse momento, existem controles estritos para a disposição desses materiais se não forem reciclados. 

Dejetos 

Os  dejetos  provenientes  dos  processos  de  refino  contêm  chumbo,  cobre,  arsênio, antimônio,  prata  e  bismuto.  Os  teores  desses  metais  vai  depender  das  suas quantidades  originalmente presentes na matéria prima. A recuperação desses metais dos dejetos vai ocorrer caso seja rentável. 

Poeiras e fumaças 

Nos  processos  de  sinterização,  fusão  e  refino,  fumaça  e  poeiras  contendo  metais podem  ser  emitidas  durante  o  processamento  e  durante  as  operações  de  carga  e descarga dos fornos. Essas poeiras podem conter de 10 a 20% de chumbo bem como uma  ampla  faixa  de  metais  e  metaloides,  especialmente  cobre,  zinco,  arsênio, antimônio,  estanho,  cádmio,  prata,  ouro  e  bismuto.  As  unidades  fabris  são, normalmente, projetadas para operarem com sistemas de captação de emanações e as  poeiras    são  usualmente  extraídas  em  ciclones  e  filtros.  A  poeira  retida  nesses sistemas é re‐fundida ou, como no passado, disposta no próprio local da produção de chumbo.  As  poeiras  ricas  em metal  estão,  comumente,    presentes  nos  fornos,  nos dutos e por  toda a unidade operacional. No passado, o chão dessas unidades  fabris 

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não eram pavimentadas e a contaminação direta do solo ocorria como resultado do contato com fumaças, respingos de escórias e minério.  

Águas residuais  

Águas residuais podem surgir de diversas  fontes,  incluindo plantas para reciclagem de baterias automotivas, como também das operações de lavagem e vazamentos. 

Os  gases  emanados  nas  plantas  de  produção  pirometalúrgica  de  chumbo  são,  as vezes, lavados produzindo efluente líquido contendo metais pesados. Esses efluentes necessitam, portanto, serem tratados para neutralização e precipitação desses metais (na  forma  de  lama)  antes  do  descarte.  Essa  lama  é,  então,  disposta  em  aterros apropriados,  possivelmente  existente  no  próprio  perímetro  industrial,  ou  ser posteriormente refundida. 

Opções  tecnológicas para o  tratamento dos resíduos de chumbo em Santo Amaro 

Durante o processo produtivo de chumbo praticado em Santo Amaro gerava‐se uma escória que era disposta no meio ambiente sujeita a  intempéries com possibilidade de  liberação  de  metais  pesados,  tais  como  chumbo,  arsênio,  cádmio,  bismuto  etc., quer por processos químicos oxidativos ou por processos biológicos naturais. Além dessa escória, durante a produção pirometalúrgica do chumbo, material particulado, constituído por PbO (litargírio), Pb3O4  (óxido salino de chumbo), PbSO4  (sulfato de chumbo),  era  emitido  pela  chaminé  e  se  depositava  nas  cercanias  da  fábrica  sem mencionar  o  anidrido  sulfuroso  (SO2)  emitido  continuamente  que  em  contato  com umidade e chuvas gerava chuva ácida responsável por disponibilizar metais, em suas formas solúveis, ao meio ambiente. 

Diante desse cenário de agressão ambiental, vislumbram‐se rotas de tratamento des‐ses materiais, escória e particulado, quer conjuntamente, pela fusão desses materiais com agregação de fontes secundárias de chumbo (i.e.: baterias automotivas exaustas, tubos de chumbo,  laminados de chumbo etc.), ou em separado pelo processamento da escória em moinho de barras, seguido de um peneiramento em uma série de pe‐neiras a ser definida, posteriormente, para a retenção de lâminas de chumbo, resul‐tado da laminação de gotículas de chumbo encapsuladas na matriz da escória. O ma‐terial  fino,  resultado  dessa  operação  de moagem,  deverá  ser  submetido,  posterior‐mente, a um processo de flotação, cuja faixa granulométrica carreadora de partículas minúsculas  de  chumbo  será  definida  quando  da  realização  dos  testes  de  flotação. Essa rota, como pode ser depreendido, não contempla o processamento do material particulado supramencionado que será realizado por um processo de fusão com adi‐ção de um agente redutor (coque) e agentes químicos de escorificação para a trans‐formação desses compostos de chumbo em chumbo metálico.  

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O fluxograma da Figura 8 mostra as operações e processos unitários necessários para a transformação dos compostos de chumbo em chumbo metálico, que se  juntará ao chumbo metálico  contido  na  escória  (gotículas  de  chumbo),  chumbo  esse  que  será carreado para a base de um alto forno com o auxílio da adição de agentes químicos de escorificação (fluxo), bem como das fontes secundárias de chumbo (baterias automo‐tivas, tubos de chumbo, lâminas de chumbo etc.). 

Escória da ProduçãoPirometalúrgica do Chumbo

Fusão EscorificanteCoque

Fonte secundáriade Chumbo:-baterias automotivas exaustas-Tubos de chumbo-Laminados de chumbo

MaterialParticulado:-PbO-Pb O3 4PbSO4-

Escória

[Pb]< 2ppm

Descarte

[Pb]>2ppm

Reprocessamento

Bullion de Chumbo

 

Figura 8 ‐ Operações e processos unitários necessários para a transformação dos compos‐tos de chumbo em chumbo metálico. 

A ideia de se agregar fontes secundárias de chumbo à mistura escória‐compostos de chumbo  tem  dois  objetivos.  Um  desses  objetivos  visa  aumentar  a  quantidade  de chumbo metálico à mistura a ser fundida para facilitar a coalescência das micro gotí‐culas de chumbo encapsuladas na matriz da escória. O outro objetivo é justificar um investimento em infraestrutura para a construção de uma fundidora para o proces‐samento pirometalúrgico do passivo ambiental existente em Santo Amaro, a ser rea‐lizado em local a ser definido posteriormente, de preferência, segundo a opinião pú‐blica local, fora da cidade de Santo Amaro. No caso da utilização de baterias automo‐tivas, essas se constituem como uma fonte constante de chumbo visto que as mesmas 

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duram, em funcionamento, de 1 a 3 anos e o grande crescimento do mercado de bate‐rias no século XX foi decorrente do crescimento da indústria automobilística, na qual as baterias são aplicadas para a partida, iluminação e ignição (baterias SLI – starting, lighting and  ignition) dos veículos. Estima‐se que esse mercado consome entre 70 a 75%  da  produção  mundial  de  chumbo  (JOST,  2001).  A  maior  parcela  do  chumbo atualmente consumido no mundo destina‐se à fabricação de acumuladores elétricos para diferentes  fins.  As  baterias  chumbo‐ácido  são universalmente utilizadas  como fonte de energia em veículos automotores, em sistemas de fornecimento de energia elétrica e em produtos de consumo em geral. Quando essas baterias chegam ao final de sua vida útil devem ser coletadas e enviadas para unidades de recuperação e reci‐clagem. Esta providência garante que seus componentes perigosos (metais e ácido) fiquem afastados de aterros e de incineradores de lixo urbano e que o material recu‐perado possa ser utilizado na produção de novos bens de consumo. Todos os consti‐tuintes  de  uma  bateria  chumbo‐ácido  apresentam  potencial  para  reciclagem.  Uma bateria que  tenha  sido  impropriamente disposta,  ou  seja,  não  reciclada,  representa uma importante perda de recursos econômicos, ambientais e energéticos e a imposi‐ção de um risco desnecessário ao meio ambiente e seus ocupantes.  As baterias au‐tomotivas, estacionárias e tracionárias, contêm chumbo na massa positiva, massa ne‐gativa,  nas  grelhas  e  conexões  e  ainda  na  solução  eletrolítica  de  ácido  sulfúrico; portanto,  nas  instalações,  durante  o  uso  das  mesmas,  no  transporte,  manutenção, armazenamento temporário e na disposição final, cuidados devem ser tomados para que não ocorra vazamento de chumbo e ácido sulfúrico que exponha os usuários e contamine o solo, ar e água. Se após o seu esgotamento energético essas baterias não forem segregadas e seu conteúdo reciclado, causarão ameaça ambiental significativa.  

Não há um substituto economicamente interessante para o chumbo nas baterias au‐tomotivas chumbo‐ácido. A produção total mundial, de acordo com o dado mais re‐cente  de  2006,  foi  de  8,6 milhões  de  toneladas.  Estima‐se  que  60%  das  toneladas desse metal produzidas provêm da produção secundária, ou seja, devido à reciclagem propriamente dita  e o  restante de minas. A  reciclagem  formalizada das baterias de chumbo‐ácido é a alternativa que se mostra mais adequada para compatibilizar inte‐resse de economia e proteção ao meio ambiente. 

O fluxograma da Figura 9, a seguir, mostra as operações unitárias utilizadas, conven‐cionalmente, no processamento das baterias automotivas exaustas. A  fração pesada desse  processamento  se  constitui  como  a  fase metálica  a  ser  adicionada  à mistura escória‐compostos de chumbo, que comporão a carga a ser alimentada no alto forno para a produção do bullion de chumbo. Esse chumbo bruto produzido carece de uma etapa de refino para livra‐lo de impurezas metálicas caso se pretenda utilizá‐lo para fins mais nobres.  

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Bateria Automotiva(Exausta)

Drenagem(Ácida) Trituração

PeneiramentoEletrólito Ácido

Finos e Pastados Eletrodos

Trituração

SeparaçãoGravítica

Fração Leve

SeparaçãoGravítica

MaterialMetálico

Fração Pesada

Ebonite

Polipropileno

Fração Pesada

Fração Leve 

Figura 9 ‐ Operações unitárias no processamento  inicial de baterias automotivas exaus‐tas. 

Por outro lado, o fluxograma da figura 10 mostra as operações e processos unitários utilizados no processamento dos componentes e resíduos das baterias exaustas. 

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Finos e Pastados Eletrodos

Material Metálico Eletrólito Ácido

Dessulfurização

Óxidos deChumbo

Neutralização

Hidróxido de Chumbo

[Pb(OH) ]

Fluxo(Fundentes)

SubstânciasRedutoras

Forno Escória

Chumbo Bruto(Bullion de Chumbo)

2

Solução de Na SO2 4

NaOH

 

Figura 10 ‐ Operações e processos unitários utilizados no tratamento dos resíduos sólidos e solução sulfúrica. 

Caso seja do interesse o processamento em separado da escória existente em Santo Amaro,  um  processamento  físico  inicial  pode  ser  utilizado.  Essa  etapa  consiste  na moagem dessa escória, em moinho de barras, para propiciar a laminação das gotícu‐las de chumbo encapsuladas naquela matriz. O resultado dessa operação de moagem é um material particulado, contendo  lâminas de chumbo, que deve ser, em seguida, peneirado para a retenção desse material metálico, em forma de lâminas,  posterior‐mente, fundido. Os finos dessa operação de moagem, contendo, possivelmente, partí‐culas metálicas muito  finas,  devem  ser  submetidos  ao  processo  de  flotação,  com  a utilização de reagentes específicos, a serem definidos posteriormente, e a fase metá‐lica resultante deverá se juntar àquela fase metálica anterior retida na série de penei‐ras utilizadas. O fluxograma da Figura 11 mostra as operações e processos unitários que deverão  ser  utilizados no processamento da  escória  da produção pirometalúr‐gica de chumbo. 

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Escória da ProduçãoPirometalúrgica do Chumbo

Moagem(moinho de barras)

Peneiramento(série Tyler)

Lâminas de Chumbo

Refusão

Bullionde

Chumbo

Partículas Finas de Escória

Processo de Flotação

Chumbo Metálico(Partículas Finas)

Partículas finas de Escória

(Isentas de Pb)  

Figura 11 ‐ Operações e processos unitários que deverão ser utilizados no processamento da escória da produção pirometalúrgica de chumbo. 

Contaminação 

A contaminação de uma área  industrial dependerá, em muito, da história pregressa dessa  área  e  da  diversidade  de  materiais  nela  produzidos.  Os  contaminantes  em potencial  estão  listados abaixo e as  informações  referentes à  toxicidade dos metais presentes nos resíduos podem ser acessadas na literatura (SAMANS, 1949). É muito pouco provável que qualquer uma dessas áreas contenha todos esses contaminantes citados.  É  recomendado  que  uma  investigação  criteriosa  desses  locais  sejam conduzidas para  se determinar  a natureza  exata da  contaminação  associada  a uma determinada área. 

Os compostos químicos e outros materiais listados na Tabela 1, abaixo, refletem, ge‐ralmente,  aqueles  associados  com  esse  seguimento  industrial  e  têm potencial  para contaminar o solo. Essa lista não é exaustiva, nem significa que todos esses produtos químicos possam estar presentes nem ter causado contaminação. 

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Tabela  1‐  Compostos  químicos  e  outros  materiais  considerados  como  potenciais contaminantes na metalurgia do chumbo. 

Metais, metaloides e ligas metálicas 

Pb, As, Sn, Sb, Cd, Cr, Bi, Mg, Mn, Cu, Zn, Ag e Fe 

Compostos Inorgânicos Sulfetos, sulfatos, cloretos, Carbonatos (ie., PbCO3, Na2CO3), óxidos (ie., PbO, Pb3O4), sais de sódio (ie., NaNO3, Na3AsO4, Na2SnO3, Na3SbO4 e Na2ZnO2 

Ácidos  H2SO4 Álcalis   NaOH Produtos de carvão CoqueÓleos  Óleo combustível, incluindo diesel e óleos 

lubrificantes 

Aspectos Ambientais e da contaminação por chumbo em Santo Amaro 

Quando das transformações pirometalúrgicas do chumbo metálico e seus compostos, cuidados devem ser tomados visando livrar o operador, dos fornos de fusão, dos va‐pores de  chumbo metálico que  causam danos  irreversíveis  ao  sistema  respiratório, com possibilidade de transformações químicas orgânicas gerando compostos orgâni‐cos contendo chumbo (organo‐metálicos) com acesso direto à corrente sanguínea.  

Toxicocinética do chumbo 

Absorção 

O processo de absorção do  chumbo, proveniente de  fontes ambientais,  depende da quantidade do metal nas vias de introdução e de seu estado físico e químico. A absor‐ção  é  também  influenciada  por  características  relacionadas  ao  hospedeiro,  como idade, estado fisiológico, condição nutricional e, possivelmente, fatores genéticos. 

Absorção pulmonar 

A passagem do chumbo, presente na atmosfera, para o sangue envolve duas etapas: a deposição  das  partículas  de  chumbo  no  trato  respiratório  e  remoção/absorção  do metal do  trato  respiratório para a  circulação. As partículas  são depositadas, princi‐palmente, nos sacos alveolares do pulmão. Fumos e vapores gerados em operações, nas quais os metais são cortados ou aquecidos, caso típico das unidades pirometalúr‐gicas de chumbo, a exemplo da operada em Santo Amaro, são de tamanho muito pe‐queno e, portanto, podem ser absorvidos. A absorção depois da deposição varia con‐forme a solubilidade dos compostos de chumbo e da toxicidade inerente para os ma‐crófagos e cílios do pulmão (AZEVEDO; CHASIN, 2003).  

No homem, a deposição respiratória do chumbo da atmosfera está na  faixa de 30 a 50% e varia com o tamanho da partícula e taxa de ventilação. Taxas elevadas de de‐

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posição podem ocorre com partículas maiores; entretanto, essa deposição acontece no trato respiratório superior, podendo, eventualmente, haver deslocamento de par‐tículas para o trato gastrintestinal  (AZEVEDO; CHASIN, 2003). 

A via respiratória constitui a principal via de absorção do chumbo na exposição ocu‐pacional. Cerca de 20 a 40% do metal que entram no trato respiratório permanecem no  organismo,  e  a maior  parte  é  removida  para  o  trato  gastrintestinal  através  dos movimentos  ciliares.  A  quantidade  que  permanece  nos  pulmões  é  rapidamente absorvida, independente da forma química do metal (JOST, 2001). 

Absorção oral 

A extensão e a  taxa de absorção gastrintestinal  são  influenciadas por  fatores  relacio‐nados  à  dieta,  ao  estado  nutricional  e  à  forma  química  do  metal.  Por  exemplo,  o chumbo ingerido durante períodos de jejum é absorvido numa extensão muito maior do  que  o  ingerido  com  alimentos  (AZEVEDO;  CHASIN,  2003).  No  caso  de  adultos  e crianças mais velhas sem exposição ocupacional, o chumbo absorvido pelo  trato gas‐trintestinal é proveniente da ingestão do metal em alimentos, bebidas e solo ou poeira. 

Absorção cutânea 

A taxa de absorção dérmica dos compostos de chumbo inorgânicos é bastante redu‐zida, sendo esta via muito menos significativa do que a oral e a respiratória. Com re‐lação aos compostos tetra‐alquilados de chumbo, estudos em animais de experimen‐tação indicaram que são extensivas e rapidamente absorvidas pela pele de coelhos e ratos (ASTDR, 1999). 

Conclusões 

Diante do exposto, e considerando os aspectos operacionais quando da operação da planta pirometalúrgica de produção de chumbo em Santo Amaro, podemos concluir que: 

Pouca importância foi dada às emanações produzidas durante aquele processo pro‐dutivo, em especial aos danos que tais emanações causariam aos operadores daquela unidade pirometaúrgica, num primeiro momento, e, por extensão, aos moradores que ali  viviam  e  que  permanecem  penalizados  pela  persistência  dos  compostos  de chumbo depositados por décadas; 

Não houve, por parte dos dirigentes técnicos, a preocupação de informar aos opera‐dores,  de  forma  palatável,  as  propriedades  físicas  e  químicas  dos  compostos  de chumbo, aos quais estavam constantemente expostos, e de prover os equipamentos de proteção individual que, certamente, os  livrariam,  localmente, de tais exposições que  tanto  os  debilitaram de  forma  continuada,  por  tanto  tempo.  Essa  exposição  se estendeu aos moradores circunvizinhos quer pelo material particulado expelido pela 

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   LLuuiiss  GGoonnzzaaggaa  ddooss  SSaannttooss  SSoobbrraall  eett  aalliiii......   173  

chaminé da fábrica e, ainda, pelo transporte dinâmico dos operadores em retornando aos seus lares com as vestimentas de trabalho;  

Com a operação interrompida há muitos anos, ficou um legado de enfermidades cau‐sadas pelos metais pesados dispostos, de alta periculosidade, a exemplo do chumbo, cádmio, arsênio, bismuto etc., que devem, sem sombra de dúvidas, ser extraídos da‐quela localidade e devolver, com a maior brevidade possível, aos moradores de Santo Amaro o direito de um meio ambiente sadio para seus filhos; 

Foram acenadas as alternativas  tecnológicas para  tal descontaminação, sendo a  im‐plantação dessas rotas processuais uma decisão que deverá ser tomada, num futuro bem próximo, e em  lugar apropriado com a devida  infraestrutura operacional. Cer‐tamente, será necessário congregar uma mão de obra qualificada e informada, ante‐cipadamente, dos riscos de se  lidar com esse  tipo de matéria prima e rotas proces‐suais, pois não podemos, mais uma vez, incorrer nos mesmos erros do passado. 

Referências bibliográficas 

ATSDR.  Agency  for  Toxic  Substances  and Disease  Registry. Toxicological Profile  for Lead. Atlanta: ATSDR, 1999. 587p. 

AZEVEDO,  F.A.;  CHASIN,  A.A.M.  Metais,  Gerenciamento  da  Toxicidade.  Atheneu, Intertox, 2003. 

BETTERTON, J. O.; LEBEDEFF, Y. E. Refining lead. 1937. 

BETTERTON, J. O.; LEBEDEFF, Y. E. Recovery of bismuth. 1940. 

BRITANNICA  ONLINE  ENCYCLOPEDIA.  Disponível  em:  <www.britannica.com>. Acesso em: 20 de agosto 2009. 

JOST, M.  Technical  guidelines  for  the  environmentally  sound management  of  lead‐acid  battery  waste.  In:  The  Basel  Convention  on  the  control  of  Transboudery Movements of Hazardous Wastes and their Disposal. 2001. 

KROLL, W. Process for the separation and recovery of metals from metal alloys. 1925. 

LINUS, P. General Chemistry. W.H.Freeman ed., 1947.  

MATTHIAS, F. T. (ed.). The Wisconsin engineer. v. 33, n. VII, 1929. 

ROCHA,  A.  J.  D.  Perfil  Analítico  do  Chumbo.  Boletim  No.  8,  Ministério  das  Minas  e Energia, Departamento Nacional da Produção Mineral, 1973.  

SAMANS, C. H. Engineering Metals and their Alloys, MacMillan, 1949. 

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QQuuíímmiiccaa  aannaallííttiiccaa  aapplliiccaaddaa  aaoo  eessttuuddoo  ddoo  cchhuummbboo  LLíílliiaann  IIrreennee  DDiiaass  ddaa  SSiillvvaa11  MMaannuueell  CCaassttrroo  CCaarrnneeiirroo22  TThhaaiiss  ddee  LLiimmaa  AAllvveess  PPiinnhheeiirroo  FFeerrnnaannddeess33  

Introdução 

Os alquimistas acreditavam que o chumbo era o mais antigo dos metais e o associa‐vam ao planeta Saturno: saturnismo, ainda hoje, é o envenenamento por inalação ou ingestão de chumbo. Este elemento tem uma vasta gama de aplicações, sendo um dos metais mais utilizados no mundo. 

O chumbo raramente é encontrado no seu estado natural, mas sim, em combinações com outros elementos, sendo os mais importantes, os minérios galena (PbS), cerus‐sita (PbCO3) e anglesita (PbSO4). A galena geralmente ocorre associada com a prata e é o mínero‐mineral mais importante de chumbo. O zinco, o cádmio, o cobre, o ouro e o antimônio são outros metais que, por vezes, aparecem associados ao chumbo. 

A  química  analítica  apresenta  um  conjunto  de  ferramentas  fundamentais  para  as ciências  ambientais,  tecnológicas  e  para  a  legislação.  Num  primeiro  momento,  as análises de amostras ambientais devem contribuir para responder questões quanto à identidade e concentração dos poluentes. Um estudo mais detalhado deve ser capaz de  contribuir  para  a  elucidação  da  mobilidade,  estabilidade,  transformações, acumulação e efeitos de curto e longo prazo das espécies presentes no ecossistema. 

Independente  do  nível  de  detalhamento  da  abordagem,  a  amostragem  é  sempre  a primeira etapa de qualquer procedimento analítico (Figura 1). 

                                                            

1 Mestra em Química Analítica pelo IQ ‐ Instituto de Química  da UFRJ – RJ. 2 Doutor em Química Analítica pela Universidade de Barcelona – Espanha. 3 Doutora em Ciência de Materiais e Metalurgia pela PUC‐Rio. 

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Figura 1 ‐ Etapas de um procedimento analítico completo (Cornelis et al., 2003). 

Definição do problema 

Em primeiro  lugar deve‐se ter em mente que a definição do problema analítico  im‐plica na  seleção e desenho do procedimento experimental. Portanto,  a definição do problema é crucial e todas as propriedades relevantes do analito de interesse, da ma‐triz  e  da  técnica  analítica,  além de  diversos  parâmetros  necessários  para  avaliação dos resultados analíticos, devem ser levados em consideração. 

Para amostragem de solos e sedimentos, o aspecto mais difícil e critico é a represen‐tatividade. É condição sine qua non para garantia da qualidade dos resultados analíti‐cos, que as amostras sejam coletadas levando‐se em consideração todos os parâme‐tros que afetam a representatividade das mesmas. A campanha de amostragem nor‐malmente  leva  em  consideração  o  conhecimento  prévio  do  ambiente,  assim  como dados geológicos, meteorológicos,  geográficos, biológicos e das atividades humanas no local. 

Desenho do processo – plano de ação 

O objetivo de qualquer análise química é obter a  informação necessária num prazo aceitável para o usuário/cliente. Isto significa que o analista deve reunir a informação necessária e suficiente, incluindo revisão bibliográfica, para resolver o problema em questão. Os principais componentes a serem considerados na planificação das análi‐ses estão resumidos na Figura 1. Cada componente é importante para obter informa‐ção confiável a partir dos resultados analíticos. A amostragem de campo e procedi‐mentos de subamostragem em laboratório devem ser desenhados para garantir a in‐

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   LLíílliiaann  IIrreennee  DDiiaass  ddaa  SSiillvvaa,,  MMaannuueell  CCaassttrroo  CCaarrnneeiirroo  ee  TThhaaiiss  ddee  LLiimmaa  AAllvveess  PPiinnhheeiirroo  FFeerrnnaannddeess 176 

tegridade dos resultados. Para armazenar as amostras e os padrões, devem ser ado‐tados procedimentos adequados. Todas as amostras devem ser rotuladas e registra‐das. Os procedimentos físicos e químicos realizados com as amostras antes das me‐didas  servem  para  remover  ou  reduzir  interferentes,  ajustar  as  concentrações  do analito para uma faixa adequada para a medida, ou produzir espécies do analito que possuam propriedades mensuráveis. Estes procedimentos incluem dissolução, sepa‐ração, diluição, concentração e derivatização química. Controlar e conhecer o ambi‐ente químico frequentemente é necessário para garantir que o analito seja medido na forma desejada e para minimizar os efeitos dos interferentes. Os parâmetros ambien‐tais incluem temperatura, pH, dados meteorológicos, etc. 

Amostragem 

Em qualquer análise química, clássica ou instrumental, inorgânica ou orgânica, é exi‐gido que o analista inicie com uma quantidade conhecida da amostra. A falta de uma amostra  bem  definida  é,  com  frequência,  motivo  de  discordância  entre  analista  e cliente  ou  entre  laboratórios.  Os  resultados  analíticos  apenas  terão  validade  se  a amostra  representa  o material  de  interesse.  Embora  nem  sempre  seja  fácil  é  reco‐mendável que todas as amostras sejam submetidas a procedimentos de preparação que garantam granulometria adequada, homogeneidade e representatividade. 

Processamento da amostra – secagem 

Uma  vez  obtida  a  amostra  representativa,  a  maioria  das  análises  começa  com  a secagem. Embora muitos métodos possam ser utilizados,  a  secagem  tradicional  em estufas  (105°C)  e  o  equilíbrio  em  dessecadores  oferecem  resultados  satisfatórios para a maioria das análises inorgânicas. 

Pesagem da amostra 

O  termo pesagem é  inadequado porque  a massa desconhecida  é  comparada  com a massa  de  um  padrão  analítico  conhecido.  Atualmente  a  grande  maioria  dos laboratórios  utilizam  balanças  analíticas  eletrônicas  que  embora  fáceis  de  operar, estão sujeitas a variações que precisam ser levadas em consideração. É fundamental que estejam instaladas em mesas antivibração e em salas com controle de umidade e temperatura. Além disso, é importante um plano de calibração periódica das balanças e a obervação dos limites de capacidade de carga das mesmas.  

Armazenamento 

Uma vez preparadas, as soluções padrão e as soluções amostra não têm uma vida útil indefinida e precisam ser armazenadas em recipientes adequados. Para as soluções contendo cátions, a melhor opção é manter a acidez em ácido 1% ou 2%. A maioria das  espécies  inorgânicas  são  estáveis  indefinidamente  em meio  ácido.  O  problema reside na contaminação causada pelo material do recipiente. Embora os recipientes 

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de  vidro  não  permitam  o  transporte  de  massa  através  das  paredes,  o  vidro lentamente se dissolve no solvente, liberando seus elementos mais abundantes (Si, K, Na,  Ca,  Mg  e  Al).  O  grau  de  contaminação  depende  do  tempo  de  armazenamento. Recipientes  de  quartzo  são  os  mais  próximos  do  ideal  porque  são  essencialmente confeccionados em silica pura, liberando praticamente apenas Si. 

Frascos  de  polietileno  são  comumente  usados  para  armazenar  soluções  de inorgânicos,  enquanto  que  o  vidro  é  usado  para  soluções  de  orgânicos.  A  maior desvantagem do polietileno é a transpiração através das paredes, perdendo cerca de 0,25%  do  conteudo  por  ano.  Para  armazenamento  por  longos  períodos,  Teflon  e outros  fluoropolímeros  são  os mais  indicados,  pois  as  perdas  são  bem menores.  A Tabela  1  apresenta  dados  sobre  as  impurezas  presentes  no  material  usado  para confeccionar  os  recipientes  de  laboratório.  É  importante  ressaltar  que  estes elementos traço podem ser lixiviados das paredes dos recipientes pela solução neles contida,  variando  em  quantidade  e  qualidade,  em  função  do  material,  do  pH  da solução e do tempo de armazenamento. 

Tabela  1  ‐  Principais  elementos  traço  presentes  na  vidraria  usada  em  laboratório (Kosta,1982). 

Faixa de concentração, mg/kgMaterial  100  10 – 0,1  0,1 – 0,01  0,01 – 0,001 

Polietileno  Na, Zn  K, Br, Fe, Pb  Mn, Al, Sn, Se 

Cu, Sb, Co, Hg 

Polipropileno Ca, Al, Ti  Cl, Si, Sr  Policloreto de vinila 

Na, sn, Al, Ca 

Br, Pb, Sn, Cd, Zn, Mg 

As, Sb   

Teflon  K, Na  Cl, Na, Al, W  Fe, Cu, Mn, Cr, Ni 

Cs, Co 

Policarbonato  Cl, Br  Al, Fe  Co, Cr, Cu, Mn, Ni, Pb 

Sc, Tl, U, Y, In 

Vidro Al, K, Mg, Mn, Sr 

Fe, Pb, B, Zn, Cu, Rb, Ti, Ga, Cr, Zn 

Sb, Rb, La, Au, As, Co   

Silica  Cl, Fe, K Br, Ni, Cu, Sb, Cr 

Sb, Sc, Th, Mo, Cd, Mn, Co, As, Cs, Ag 

Procedimentos analíticos 

Vários métodos  analíticos estão disponíveis para determinação de Pb  em amostras ambientais  e  biológicas.  Estes métodos  variam  em  custo  e  treinamento  de  pessoal especializado. Tanto na análise clássica como na instrumental, a determinação final é quase sempre precedida por uma ou mais etapas preparatórias. A precisão e a exati‐dão dos resultados analíticos não são melhores do que a precisão e exatidão conjunta das  etapas  de  preparação  e  podem  ser  afetadas  pela  contaminação  das  amostras dentro ou fora do laboratório. A maioria das etapas de preparação para a análise ins‐trumental  são  as  mesmas  adotadas  pelos  métodos  clássicos.  Portanto,  é 

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   LLíílliiaann  IIrreennee  DDiiaass  ddaa  SSiillvvaa,,  MMaannuueell  CCaassttrroo  CCaarrnneeiirroo  ee  TThhaaiiss  ddee  LLiimmaa  AAllvveess  PPiinnhheeiirroo  FFeerrnnaannddeess 178 

imprescindível  adotar  as  boas  práticas  de  laboratório.  A  fim  de  garantir  qualidade dos resultados o analista deve utilizar material de referência certificado semelhante à matriz  da  amostra  de  interesse.  Não  é  pretensão  desta  seção  fornecer  descrição exaustiva dos metodos analiticos disponíveis para detectar e quantificar niveis de Pb em  amostras  ambientais.  Trata‐se  tão  somente  de  uma  abordagem  dos  métodos citados  na  apresentação  durante  o  Seminário  “Santo  Amaro”  (CETEM,  24‐25  de outubro de 2012). 

Os métodos mais utilizados para determinação de Pb em amostras ambientais são a espectrometria de absorção atômica com chama (F‐AAS), espectrometria de absorção atômica  em  forno  de  grafite  (GF‐AAS),  espectrometria  de  emissão  atômica  com plasma  indutivamente  acoplado  (ICP‐OES),  espectrometria  de  massas  com  plasma indutivamente  acoplado  (ICP‐MS)  e  espectrometria  de  fluorescência  de  raios‐X (FRX).  Os  métodos  colorimétricos,  usando  1,5‐difeniltiocarbazona  (ditizona)  como reagente  colorimétrico,  também são muito usados,  embora menos  sensíveis  e mais laboriosos. Além dos métodos instrumentais, ainda são usados os chamados métodos clássicos, como a gravimetria e titrimetria.  

Métodos clássicos 

A  gravimetria  é  a  determinação  de  um  elemento  ou  espécie  através  da medida  da massa de um produto relativamente insolúvel de uma reação química bem caracteri‐zada envolvendo aquele elemento ou espécie. O produto  insolúvel pode ser um gás emanado da  solução, ou pode ser um resíduo sólido não volátil. Usualmente o pro‐duto insolúvel é um precipitado formado em uma solução aquosa. Os métodos clássi‐cos de gravimetria e titrimetria, juntamente com a colorimetria e a espectrometria de massas com diluição  isotópica (IDMS), são chamados de métodos definitivos ou ab‐solutos porque tem erros exatamente definidos e, sob condições adequadas, não ne‐cessitam de calibração externa.  

Um exemplo de método gravimétrico clássico para determinação de Pb é mostrado na Figura 2. O produto final da reação é o PbCrO4 (cromato de chumbo). Além da co‐loração característica (amarela), que ajuda na identificação, a quantificação é baseada na medida da massa do cromato de chumbo obtida. Neste método a amostra é tratada com uma mistura de ácido nítrico e sulfúrico. Uma vez dissolvida, a solução é aque‐cida para liberação de vapores de SO3, NO2, H2O e impurezas voláteis, até coloração branca dos vapores. O resíduo é composto de PbSO4 e impurezas não voláteis, como Cd, Bi, Ba, etc. A adição de uma solução de acetato de amônio 3 molar dissolve prefe‐rencialmente  o  PbSO4.  Finalmente  o  Pb  é  precipitado  na  forma  de  um  precipitado amarelo de cromato de chumbo, livre dos interferentes. Após secagem, o sólido pode ser pesado e o Pb quantificado usando relações estequiométricas adequadas. 

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Figura 2 ‐ Método gravimétrico para determinação de chumbo. 

Métodos de triagem 

De uma forma básica e bastante simplificada, os métodos de triagem podem ser con‐siderados como uma medida qualitativa do tipo sim ou não. Em um estudo recente, para avaliação da confiabilidade do kit de spot test, da marca LeadChek, para detecção de Pb em poeira doméstica, ficou evidenciado (Figura 3) que este método está sujeito a interferências, neste caso a carga de poeira, que levam a falsos positivos com muita frequência. A coloração esperada, quando na presença de Pb, é uma variação da cor de rosa ao vermelho, enquanto que a ausência de Pb é indicada apenas pela coloração amarela.  O percentual  de  resultados  positivos,  possíveis  positivos  e  negativos  para diferentes cargas de poeira sobre a superfície em teste, é apresentado na Figura 4. 

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Figura 3 ‐ (a) Fotografia de bastões LeadCheck mostrando resultados positivos, nega‐tivos e inconclusivos. (b) Vista do bastão sujo com rosa visível por trás da ponta su‐perior (Smith et al., 2007). 

Figura 4  ‐ Percentual de  resultados positivos, possíveis positivos e negativos para dife‐rentes cargas de poeira sobre a superfície (Smith et al., 2007) 

Métodos instrumentais 

Colorimetria 

Entre os métodos instrumentais, o colorimétrico, seja pela simplicidade de operação ou pelo baixo custo, é um dos mais utilizados. No exemplo abaixo o Pb é sucessiva‐mente  extraído  de  modo  a  eliminar  as  interferências.  O  Pb,  uma  vez  em  solução aquosa (pH 9,5 ‐ 10), é extraído com uma solução de ditizona. Agora na fase orgânica, o Pb é novamente extraído com uma solução aquosa de ácido nítrico. Novamente o pH é ajustado e o Pb extraído com ditizona. Finalmente, livre dos interferentes, o Pb pode ser quantificado espectrofotometricamente.  

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Figura 5 ‐ Determinação espectrofotométrica de Pb após extração com ditizona.

Cromatografia de íons 

Outro método  instrumental  utilizado  para  separação  e  quantificação  de metais  é  a cromatografia de íons (CI). A CI é útil para separar  íons livres e espécies facilmente ionizáveis. Como as espécies metálicas ocorrem frequentemente na forma ionizada, a CI  é muito  utilizada.  O  fato  de  a  separação  ocorrer  em meio  aquoso,  faz  a  técnica compatível  com os detectores elemento‐específicos  (ICP‐MS). Além do detetor  con‐vencional de condutividade iônica, é possível o acoplamento com um reator pós‐co‐luna para transformar o analito de interesse em uma espécie UV‐Vis absorvente. Na Figura 6  é mostrada uma  aplicação onde vários  elementos,  na  forma  catiônica,  são separados  e  detectados  por  um  detetor  de  absorção molecular  UV‐Vis.  O  reagente utilizado para a  reação pós‐coluna é o  (4‐(2‐piridilazo)‐resorcinol)  (PAR). É  impor‐tante  ressaltar  o  quanto  é  crítica  a  vazão  do  reagente  pós‐coluna,  principalmente para Pb. 

Fase orgânica 

Pb extraído com solução de ditizona 

Pb2+

 Aq.

Pb2+

 org.

(pH 9,5 – 10,0 c/ NH4OH aq.) 

Fase aquosa 

Pb extraído com solução de ditizona 

Pb2+

 org.

Pb extraído da fase orgânica com HNO3 aq.

Pb2+

 Aq.

Pb2+

 Aq.

Pb2+

 org.

(pH 11,5 c/ NH4CN) o cianeto mantém os interferentes em solução 

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Figura 6  ‐ Cromatograma de Cu2+, Ni

2+, Zn

2+ e Co

2+  (1,0 µg/mL), Pb

2+  (8,0 µg/mL) e Fe

2+ 

(2,0 µg/mL) em uma coluna IonPac CS2. Condições: eluente, 20 mM oxalato – 20 mM ci‐trato (pH 3,6) e vazão de 1,0 mL/min; reagente pos‐coluna, 0,2 mM PAR em tampão 1 M acetato  de  amônia  (pH  9,0),  medido  em  520  nm,  com  vazão  de  PAR  (A)  0,7  e  (B)  0,4 mL/min. (Rahmalan et al.,1996). 

Espectrometria 

Como informado anteriomente, os métodos mais utilizados para determinação de Pb em amostras ambientais são: F‐AAS, GF‐AAS, ICP‐OES, ICP‐MS e FRX. Embora a F‐AAS apresente  baixa  sensibilidade  relativa  e  limite  de  detecção  muito  próximo  da concentração  máxima  aceitável  pelos  padrões  ambientais,  é  uma  técnica monoelementar fácil de operar e de custo relativamente baixo. Por outro lado, a GF‐AAS, ao contrário da F‐AAS, apresenta uma excelente sensibilidade, no caso do Pb é da ordem de partes por trilhão (ppt). Além disso, é facilmente automatizada. Embora, tanto  a  F‐AAS  como  GF‐AAS  tenham  se  desenvolvido  como  técnicas monoelementares, atualmente é possível a utilização de lâmpada de xenônio de alta intensidade (fonte contínua), a qual possibilita a determinação de vários elementos simultaneamente. Algumas características analíticas são listadas e comparadas com o desempenho das técnicas aqui‐discutidas (Tabela 2). 

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Tabela 2 ‐ Comparação entre algumas técnicas de espectroscópicas 

  X‐RFS  F‐AAS  GF‐AAS  ICP‐OES  ICP‐MS 

Número de elementos medidos Capacidade multielementar Análise de sólidos Micro amostras Análise qualitativa Informação isotópica Limite de detecção Faixa dinâmica de trabalho Interferência espectral/ isobá‐rica Interferência química 

E E E A E P P A A A 

A P P P P P A P E A 

A P A E P P E P E A 

E E P P E P A E A E 

E E P A E E E E A E 

Nota: Desempenho: E = excelente; A = aceitável; P = pobre. 

A espectrometria de absorção atômica em forno de grafite é uma das  técnicas mais empregadas para determinação de Pb em amostras de solos e sedimentos devido a sua alta seletividade e sensibilidade. O uso de modificadores químicos convertem os analitos voláteis em espécies termicamente mais estáveis e removem a matriz antes da atomização/detecção. Na Figura 7 são apresentados o perfil de atomização do Cd e do Pb como resultado de um estudo para avaliar  as diferenças em performance de Mo, Ir, Ru, Mo–Ir e Mo–Ru como modificadores. As melhores condições foram obtidas com  a  mistura  Mo‐Ir  e  Mo‐Ru,  evidenciado  por  uma  menor  massa  característica, maior temperatura de pirólise, menor limite de detecção e vida útil mais longa para o forno. 

Figura 7 ‐ Perfil dos picos (A) Cd 2,15  µgL‐1;  (B)  Pb  em  solo  47 µgL‐1.  Perfil  de  atomização  e  do ruído  de  fundo  para  plataforma não‐recoberta  (‐‐‐‐‐)  e  recoberta (‒‒····). (Acar, 2005). 

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Espectrometria com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP) 

Entre  as  técnicas  baseadas  em  plasmas  como  fonte  de  atomização/ionização  da amostra, destacam‐se a espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado  (ICP‐OES)  e  a  espectrometria  de massas  com  plasma  indutivamente  aco‐plado  (ICP‐MS).  Em  ambas  as  técnicas,  a  temperatura  efetiva  do  plasma  é  duas  ou três vezes superior àquela observada na F‐AAS (4000 – 10,000K). O plasma é gerado pela  passagem  de  gás  argônio  através  de  um  conjunto  concêntrico  de  tubos  de quartzo, imerso num intenso campo de radiofrequência (RF). A energia da radiofre‐quência de 27 ou 42 MHz e 2 kW de potencia é acoplada a uma serpentina de indução refrigerada a água, localizada na extremidade do tubo de quartzo. Esta energia é sufi‐ciente para acelerar as partículas ionizadas em muitas colisões, provocando mais io‐nização e emissão de radiação de fundo do argônio. 

Comumente a amostra é introduzida no plasma através de um nebulizador. A função do nebulizador é converter a solução da amostra em um fino aerossol. Os nebulizado‐res são frequentemente acoplados a uma câmara de spray, onde grandes gotas, pre‐ferencialmente,  são  removidas  do  fluxo  de  aerossol.  Discriminação  contra  gotas maiores propicia plasmas mais estáveis e uma melhor precisão da medida. 

Sinais de emissão atômica no ICP são muito maiores do que aqueles na chama para quase todos os elementos e podem ser obtidos para uma vasta gama de elementos. A alta  temperatura e o ambiente  inerte de argônio conduzem a uma atomização mais completa e eficiente excitação dos analitos, resultando em sinais mais intensos. 

Sob condições  típicas de operação, cerca de metade dos elementos da  tabela perió‐dica são ionizados com uma eficiência de 90% ou maior. Na ICP‐OES, átomos e íons são  excitados para  emitir  radiação  eletromagnética  (luz).  A  luz  emitida  é  resolvida espectralmente com a ajuda de ótica difrativa, e a quantidade de luz emitida (sua in‐tensidade) é medida por um detetor. Na ICP‐OES, os comprimentos de onda são usa‐dos para a identificação dos elementos, enquanto que as intensidades servem para a determinação de suas concentrações (Nolte, 2003).  

A Figura 8 mostra o esquema de introdução de amostra de um ICP‐OES. 

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Figura 8 ‐ Esquema do sistema de introdução de amostra em ICP‐OES. 

A técnica de ICP‐OES é tradicionalmente utilizada para a análise de solos e sedimen‐tos. Ela tem sido amplamente empregada em análises ambientais devido a uma série de vantagens que oferece,  tais como: análise multielementar simultânea ou sequen‐cial,  sensibilidade e precisões altas,  rapidez, bem como ampla  faixa dinâmica  linear (Dalquist et al.,1978). Para a determinação de um elemento é necessário desenvolver um método de análise levando em conta o tipo de matriz, escolher o comprimento de onda (ou linha analítica) adequado e otimizar os parâmetros do método, tais como a potência do gerador de radio frequência, fluxo do gás de nebulização, fluxo do gás do plasma, velocidade da bomba peristáltica e etc. 

O primeiro critério para a escolha da linha analítica é ter ideia da faixa de concentra‐ção do analito. Se a análise for de elemento traço, as linhas mais sensíveis devem ser usadas. É recomendável a escolha de mais de uma linha analítica. No caso do chumbo, nosso elemento de interesse, a linha mais recomendada, para vários tipos de amostra como águas,  esgotos,  amostras  ambientais,  amostras de origem biológica,  amostras geológicas, solos e sedimentos, cerâmicos e lixiviados, é a 220,353 nm. Porém, como alternativa deve‐se testar a linha 283,306 nm e 217,000nm. 

Deve‐se  levar em conta também que o chumbo é um elemento que possui efeito de memória, portanto, é importante limpar o sistema de introdução de amostra em caso de suspeita de contaminação. 

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No caso de um ICP‐MS, a faixa linear dinâmica se estende por 8 a 9 ordens de magni‐tude, enquanto a sensibilidade é da ordem de sub‐ngL‐1. 

Uma vez atomizados/ionizados no plasma, os íons devem ser selecionados e analisa‐dos. Nos modernos  instrumentos, os  íons  são coletados por um sistema de cones e passam através de lentes iônicas, que seletivamente atraem os íons positivos, além de desviar a luz do eixo do detetor. Antes de entrarem no analisador de massas, os íons passam por uma célula de reação/colisão do tipo hexapolo ou octapolo na presença de um gás, a qual elimina ou reduz as interferências isobáricas provocadas por íons moleculares. Atualmente, cerca de 90% dos instrumentos ICP‐MS usados no mundo são equipados com analisadores de massas do tipo quadrupolo. Embora apresentem baixa resolução, uma unidade de massa atômica (u.m.a), com uma largura de pico de aproximadamente 0,5 u.m.a ao longo de toda a escala de massa, o quadrupolo pode realizar uma varredura completa da escala em 0,1 s.  

Infelizmente a técnica ICP‐MS também está sujeita a interferências do tipo não‐espec‐trais, supressão ou aumento do sinal induzido pela matriz, e espectrais, sobreposição dos sinais de íons que apresentam diferenças de massas < 0,5 u.m.a. Felizmente, di‐versos esforços vem sendo realizados para reduzir, eliminar ou corrigir tais efeitos.  

Sempre que possível estes efeitos podem ser evitados pela seleção adequada do isó‐topo a ser monitorado, mesmo que com perda de sensibilidade. Também, as interfe‐rências  espectrais podem ser minimizadas adotando‐se  técnicas adequadas de pre‐paração da amostra e ou separação das espécies. Com acoplamentos do tipo GC‐ICP‐MS  ou  HPLC‐ICP‐MS,  é  possível  separar  as  espécies  antes  que  sejam  atomiza‐das/ionizadas  no  plasma.  Nos  casos  relativamente  simples,  a  correção matemática pode ser usada com sucesso. As vezes a simples correção do branco ou a preparação das soluções analíticas na mesma solução do branco, já é suficiente. 

Alguns elementos exigem operação do plasma em condições de plasma  frio,  obtido com  baixa  potência  de  radiofrequência,  uso  de  placa  metálica  para  aterramento (shield plate) entre a serpentina de RF e a tocha, para desacoplamento capacitivo de ambos os componentes. Nessas condições, ocorre uma forte diminuição na produção de íons Ar+ e íons do tipo ArX+, permitindo que elementos como K, Ca e Fe sejam ana‐lisados. Infelizmente, nessas condições, os elementos com alto potencial de ionização são prejudicados. 

Entre os acoplamentos possíveis com o ICP‐MS, a cromatografia em fase gasosa (GC‐ICP‐MS) oferece um elevado poder de  resolução  e  uma eficiência  de  introdução de amostra  de  100%.  Além  disso,  favorece maior  estabilidade  ao  plasma  e  quase  ne‐nhuma  interferência  espectral,  plasma  seco,  prolongando  a  vida  útil  do  cone.  O principal campo de aplicação desta técnica é na determinação de compostos organo‐metálicos de  Sn, Hg,  Se e Pb. Com a  finalidade de  ilustração,  a  Figura 9 mostra um cromatograma multielementar para os organometálicos de Hg, Pb, Se e Sn.  

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Figura  9  ‐  Cromatogramas  de  compostos  voláteis  Se,  Sn,  Hg  and  Pb  por  GC‐ICP‐MS (Amouroux et al.,1998). 

Espectrometria de fluorescência de raios­X (FRX) 

A espectrometria de fluorescência de raios‐X (FRX) é uma poderosa técnica analítica, não destrutiva, que permite análise qualitativa (identificação dos elementos presen‐tes numa amostra) e também quantitativa dos mais variados materiais. A técnica ba‐seia‐se na excitação da amostra a ser analisada por um feixe de raios‐X e a quantifica‐ção da energia emitida por essa amostra após a excitação.  

Ao longo dos últimos 25 anos houve um considerável desenvolvimento da técnica de fluorescência  no  que  diz  respeito  à  eficiência  e  robustez  dos  equipamentos  e softwares  de  interface,  porém  a  etapa  de  preparação  de  amostra  ainda  precisa  ser melhorada  para  que  cada  vez  mais  seja  possível  se  obter  resultados  acurados  e precisos (Revenko, 2011).  

Os espectrômetros de FRX são capazes de ler amostras liquidas e sólidas, com ou sem preparação.  As  duas  formas  de  preparação  de  sólidos  mais  utilizadas  são  fusão  e prensagem e os dois  tipos de preparação apresentam vantagens e desvantagens  fa‐zendo com que a escolha seja específica para cada aplicação. De modo geral, não são de difícil execução se comparados com os procedimentos de abertura ácida requeri‐dos em outras técnicas (Tanja et al., 2009). 

O uso de amostras em pó traz efeitos indesejados relacionados a homogeneização e características  da matriz  do material.  Muitas  vezes  não  se  consegue  chegar  a  uma granulometria que permita  a disponibilidade  indistinta de  todos os  elementos pre‐sentes na amostra, na área útil de análise (Figura 10), isso pode levar a uma falta de 

Intensidade (unidades 

arbitrárias) 

Tempo de retenção, min

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precisão do resultado causada por segregação do material no decorrer do processo de prensagem. 

Figura  10  ‐  Esquema do  efeito  de  segregação  que  pode  ocorrer  durante  o  processo  de prensagem de amostra na forma de pó em FRX. 

Outro  problema  é  a  indisponibilidade  de  padrões  primários  com  características  de matriz semelhantes as do analito. O efeito matriz contribui para desvios nos resulta‐dos, e para se obter bons resultados a partir de pastilhas prensadas, a curva de cali‐bração deve ser construída a partir de materiais com as mesmas características da‐queles que serão analisados. 

Com relação a fusão pode‐se citar como principais desvantagens: a grande diluição da amostra que será analisada,  tempo de preparo e custo. A opção por essa técnica de preparação tem a vantagem de eliminar o efeito matriz, possibilitar a preparação de padrões artificiais para utilização na construção das curvas de calibração e minimizar os efeitos relacionados a tamanhos de partículas (Figura 11). 

Figura 11 ‐ Diagrama esquemática das etapas do processo de fusão. 

Estudos mostram que a espectrometria de  fluorescência de  raios X é uma eficiente ferramenta na determinação de metais pesados em solos e sedimentos (West et al., 2011). Porém, é importante ressaltar que, assim como a maioria das técnicas analíti‐cas  instrumentais, os  resultados obtidos a partir da análise por FRX são significati‐

Profundidade de penetração do raio X

Amostra Fundente

Cadinho Pt-Au

FUSÃO (1050 – 12000C)

Pastilha Fundida

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vamente  dependentes  da  homogeneidade  e  representatividade  do  material  a  ser analisado. Estudos realizados em solos contaminados por fertilizantes mostram que as  características  do  solo  podem mudar  significativamente  em  distâncias  relativa‐mente curtas de coleta e isso pode causar incoerência de resultados (El‐Ghawi et al., 1999). 

Considerando a amostragem representativa, a etapa de preparação de amostra deve consistir em: moagem, homogeneização, determinação da perda ao fogo do material seguida de prensagem ou fusão. 

De modo geral, a linha analítica observada para análise de chumbo é a Pb L, cristal analisador LIF 220 e detector de cintilação. Os tempos de contagem, filtros tensão e corrente devem ser definidos de acordo com o equipamento disponível para análise. 

Bibliografia 

Acar, O. Molybdenum, Mo–Ir and Mo–Ru coatings as permanent chemical modifiers for  the  determination  of  cadmium  and  lead  in  sediments  and  soil  samples  by electrothermal atomic absorption spectrometry. Analytica Chimica Acta, 542 (2005) 280–286. 

Ahmed,  N.K.;  Mohammad,  A.A.  Limits  of  detection  in  XRF  spectroscopy,  X‐Ray Spectrometry, 41 (2012) 350–354. 

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   LLíílliiaann  IIrreennee  DDiiaass  ddaa  SSiillvvaa,,  MMaannuueell  CCaassttrroo  CCaarrnneeiirroo  ee  TThhaaiiss  ddee  LLiimmaa  AAllvveess  PPiinnhheeiirroo  FFeerrnnaannddeess 190 

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CCaassooss   ppaarraaddiiggmmááttiiccooss   ssoobbrree   ccoonnttaammiinnaaççããoo   pprroovvooccaaddaa   ppoorr  cchhuummbboo  eemm  vváárriiaass  rreeggiiõõeess  ddoo  mmuunnddoo  CCaarrllaa  CCoossttaa11  EElliiaannee  AArraauujjoo22  RReennaattaa  DDaammiiccoo  OOlliivviieerrii33  MMaarriiaa  IInnêêss  FF..  CC..  AAllmmeeiiddaa  RRiibbeeiirroo44    RRaaqquueell  LLuucceennaa  ddee  OOlliivveeiirraa55  

Introdução 

A busca pelo acesso a recursos naturais tornou‐se uma fonte de vantagem competi‐tiva para  empresas,  de  grande  e  pequena dimensão,  e Estados pelo mundo  inteiro. Por  outro  lado,  em  muitos  países,  a  capacidade  de  atração  de  empresas  de  porte mundial  está  associada  a  um  processo  rápido  de  crescimento  e  desenvolvimento econômico,  o que  leva  a uma  concorrência  agressiva na definição das políticas que sejam mais apetecíveis para essas empresas. No entanto, essas empresas nem sem‐pre se pautam por práticas social e ambientalmente sustentáveis, deixando passivos difíceis de gerir e atenuar por vários anos.  

O mapeamento geográfico da disponibilidade de recursos naturais aponta para uma maior  concentração  relativa dos mesmos em regiões  situadas em países em desen‐volvimento,  com maior  dificuldade  em  implementar  políticas  de  salvaguarda  para proteção das suas populações do esgotamento dos recursos e dos passivos ambien‐tais e sociais que uma atuação irresponsável por parte de agentes econômicos mais oportunísticos possa gerar.  

No  entanto,  a  análise  de  vários  casos  paradigmáticos  em  várias  regiões  do mundo mostra que os casos de exploração irresponsável de recursos naturais, sem preocu‐pação com os objetivos de desenvolvimento sustentável, existem em todas as partes do mundo, afetando países desenvolvidos e em desenvolvimento, apesar das diferen‐ças em termos de capacidade institucional, e demonstrando que, na ausência de uma verdadeira governança global de apoio à  sustentabilidade,  a  lógica de maximização do lucro das empresas de maior porte continuará a ser predominante nas decisões de localização, no que concerne o acesso a baixo custo a recursos considerados estraté‐gicos. 

                                                            

1   Professora do ISCSP –  Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da UTL ‐ Universidade Técnica de Lisboa ‐ PT 

2   Jornalista, M.Sc. em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social. 3   Jornalista. 4   Mestranda em Serviço Social da PUC‐RJ.  5   Mestranda em Engenharia Urbana na UFRJ‐RJ 

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CCaassooss  ppaarraaddiiggmmááttiiccooss  ssoobbrree  ccoonnttaammiinnaaççããoo  pprroovvooccaaddaa  ppoorr  cchhuummbboo  eemm  vváárriiaass  rreeggiiõõeess  ddoo  mmuunnddoo 192 

Neste contexto, o presente artigo procura fazer um mapeamento de alguns dos casos mais  simbólicos  a nível mundial,  de  contaminação por  chumbo,  envolvendo econo‐mias de diferentes níveis de desenvolvimento e empresas transnacionais, com inte‐resses espalhados por várias zonas do globo. 

 O chumbo é o poluente que provoca maior ameaça em escala global. Estima‐se que 10 milhões de pessoas vivam em regiões contaminadas. Insumo chave para fabrica‐ção de baterias de carro (três quartos da produção anual é destinada à indústria au‐tomotiva), o chumbo é liberado no meio ambiente por meio de processos de recicla‐gem informais e pela atividade de mineração. As principais formas de contaminação se dão pela ingestão de alimentos ou água contaminados, e pela inalação de partícu‐las de poeira da substância, que pode se armazenar por até 30 anos no tecido ósseo (AG SOLVE, 2011). 

Os casos analisados são ilustrativos dos riscos a que estão sujeitas as populações e a qualidade  ambiental  local,  quando não  existem,  ou não  são  cumpridos,  os  critérios mínimos de proteção ambiental e/ou social, ou, pior, quando a ausência dos mesmos funciona como um vetor de atração na definição de políticas públicas que competem por investimentos considerados estruturantes.

Um dos casos mais famosos e estudados mundialmente, quer pelas suas consequên‐cias, quer pelo rasto de contaminação que deixou, é o caso de Noyelles – Godault, na região de Nord Pas de Calais, no noroeste da França,  região rica em recursos como chumbo  e  zinco,  que,  durante  mais  de  um  século  foi  dominada  pela  atividade prospetiva e transformadora de duas grandes empresas metalúrgicas, a Metaleurop e Nyrstar.  Durante  todo  aquele  tempo,  as  duas  fábricas  deitaram  para  a  atmosfera quantidades  consideráveis  de  elementos metálicos,  contaminando  solos,  ar,  água  e rios, com chumbo, cádmio e zinco. Do ponto de vista da disponibilidade de recursos, a importância  da  região  era  muito  considerável,  já  que  albergava  2/3  da  produção nacional  de  e  1/3  da  produção  de  zinco,  sendo  também o  1º  produtor mundial  de germânio.   

O encerramento da Metaleurop, em 2003, depois de ter sofrido acidentes em 1993 e 1994, e dos reveses provocados pela baixa do preço dos seus produtos nos mercados mundiais deixam um terrível passivo ambiental, de consequências devastadoras para as  regiões  envolventes.  Apesar  de  todas  as  medidas  e  meios  financeiros disponibilizados,  envolvendo  agentes  da  sociedade  civil,  municípios,  várias universidades  francesas  de  renome,  agências  nacionais  de  proteção  do  ambiente  e vultosos fundos comunitários, para resolver o problema. 

Em 2009, os níveis de chumbo presentes no sangue de crianças pequenas ainda eram superiores aos admissíveis pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

No que respeita a economias em desenvolvimento, o caso do Brasil em Boquira, Santo Amaro‐BA e região do Vale do Ribeira‐SP são abordados separadamente em artigos 

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   CCaarrllaa  CCoossttaa,,  EElliiaannee  AArraauujjoo,,  RReennaattaa  DDaammiiccoo  OOlliivviieerrii  ee  IInnêêss  RRiibbeeiirroo  ee  RRaaqquueell  LLuucceennaa   193  

 

destacados do  livro pelo que não  terão aqui considerações adicionais, apenas o seu registro. 

O caso da mineração no Peru tornou‐se também um exemplo de referência mundial, já  que  a  permissividade  da  legislação  no  setor  da  mineração  colocou  a sustentabilidade  das minas  de  ouro  em  causa,  levando  igualmente  a  processos  de contaminação com chumbo, mercúrio e cádmio. A constatação dos riscos e o desastre de Choropampa,  em 2000, que  teve origem no derramamento de mercúrio quando um caminhão e despistou, levou as autoridades a conseguirem estabelecer com uma das mais importantes empresas mineradoras, a Newmont, um novo enquadramento institucional, que passa pelo empenho conjunto das instituições locais e da empresa em causa na definição de uma nova carta de responsabilidade social corporativa, em que  a  empresa  em  causa  assumiu  um  papel  determinante  na  construção  de infraestruturas para o desenvolvimento da região. 

Estes  dois  casos,  já  devidamente  estudados  no  contexto  mundial,  levaram‐nos  a procurar ocorrências semelhantes, mas ainda pouco exploradas, que apresentamos a seguir.  

Na  escolha  dos  casos,  que  estão  situados  em diferentes  regiões  do  globo,  e  afetam regiões  pertencentes  a  países  com  níveis  de  desenvolvimento  diferenciados,  é possível  extrair  um  elemento  em  comum:  a  exploração  de  recursos  naturais, indispensáveis  ao  crescimento  econômico,  constituirá  sempre  um  fator  de concorrência  entre  os  vários  países  pela  atração  de  empresas  mais  performantes, nacionais  e  transnacionais.  A  única  forma  de  minimizar  os  riscos  decorrentes  da própria  atividade  é  definir,  mundialmente,  formas  de  governo  que  obriguem  os agentes  envolvidos  (empresas,  autoridades  nacionais  e  locais,  organizações  não governamentais,  sociedade  civil no  seu  conjunto)  a definir  e  implementar  redes de responsabilidade  social  dinâmicas  que  atuem  no  sentido  de  criar  uma  verdadeira cidadania. 

Caso 1: Contaminação por chumbo na cidade australiana de Port Pirie  

A Austrália fica localizada entre o Oceano Índico e o Sul do Oceano Pacífico. Segundo as informações do censo de 2012 tem uma população de cerca de 22 milhões de habi‐tantes, que na sua maioria se localiza em áreas urbanas (89%). Como principais ati‐vidades econômicas destacam‐se a agricultura e a indústria. País privilegiado em re‐cursos naturais, possuindo extensas reservas de carvão,  ferro, minério, cobre, ouro,  gás natural,  urânio,  chumbo,    zinco,    prata e  fontes de energia  renováveis,  torna‐se extremamente interessante para o investimento de capital estrangeiro, só em 2011 o investimento  estrangeiro  no  país  foi  de  US$  549.1  bilhões  de  dólares.  O  setor  de serviços contribui significativamente para a consolidação de uma economia forte pela exportação  de  recursos  naturais,  energia  e  produtos  agrícolas.  Extremamente competitiva  a  nível  internacional,  foi  das  poucas  economias  a  crescer  depois  da grande crise econômica mundial de 2008, crescendo no ano posterior cerca de 1,4% 

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CCaassooss  ppaarraaddiiggmmááttiiccooss  ssoobbrree  ccoonnttaammiinnaaççããoo  pprroovvooccaaddaa  ppoorr  cchhuummbboo  eemm  vváárriiaass  rreeggiiõõeess  ddoo  mmuunnddoo 194 

e  2,7%  em  2010,  tendo  tido  a melhor  performance  dos  países membros  da  OCDE (CIA, 2012).  Em 2011 cresceu 1,8% e tem um Produto Interno Bruto per capita de $ 40.800  (CIA,  2011).  A  percentagem  de  população  desempregada  é muito  baixa,  de 5,0% em 2011. 

Uma das cidades mais afetadas pela atividade da mineração é a cidade de Port Pirie, que fica localizada na costa oriental do Golfo Spencer no Sul da Austrália, a cerca de 230 km a norte de Adelaide (capital da Austrália do Sul). Fundada em 1845, constitui‐se como a sexta cidade mais populosa no sul da Austrália contando com uma popula‐ção  de  13.206  mil  habitantes  (censo  de  2006),  donde  92,7%  são  australianos residentes e 2,6% são indígenas (WIKIPÉDIA, 2012). 

 A  principal  atividade  econômica  da  cidade  é  a  exploração  da mina  de minério  de chumbo  e  da  usina  de  produção  de  chumbo metálico,  sendo  a  empresa Nyrstar  o principal empregador da região. Desde a sua instalação em 1880, alcançou o estatuto da  maior  mineradora  de  chumbo  e  refinaria  do  Hemisfério  Sul.  Criada  no  ano  de 2007 a empresa Nyrstar rapidamente constituiu‐se como uma das principais líderes mundiais  na  exploração  de  zinco  e  chumbo metálicos,  bem  como de  outros metais preciosos.  A  sua  sede  encontra‐se  localizada  em  Bruxelas  e  o  corpo  executivo  na Suíça. Inicialmente, a quando a sua criação, a presente empresa era uma associação entre a ZINIFEX  (Empresa Mineira Australiana) e a UNICORE  (Empresa Tecnológica de Materiais Belga).  

Hoje  as  atividades  da  empresa  estendem‐se  por  três  continentes:  América (Norte/Sul), Europa e Austrália. Na exploração mineira nas Américas as minas  locali‐zam‐se no México (Campo Morado); Peru (Contonga, Pucarrajo e Coricancha); Hon‐duras (El Mochito); Chile (El Toqui); Canada (Langlois, Myra Falls) e EUA (Tennessee Mines), na Europa localizam‐se na Finlândia (Talviaara). Como atividade metalúrgica, localiza‐se  na  Europa  na  França  (Auby);  Bélgica  (Balen/Overpelt)  e  na  Holanda (Budel), na América nos EUA (Clarksville) e na Austrália em Hobart e Port Pirie. Hoje a empresa emprega 7.000 trabalhadores sendo a sua maior concentração na América, com cerca de 4.368 trabalhadores, seguido da Europa com 1.439 e por fim da Austrá‐lia com cerca de 1.235 trabalhadores (HEIDRICK & STRUGGLES, 2012). 

No entanto, as operações realizadas pela empresa têm sido alvo de crescente preocu‐pação por parte das autoridades  locais, principalmente no que respeita à saúde pú‐blica, uma vez que, se  tem detectado elevadas concentrações de chumbo no sangue dos residentes locais, principalmente em crianças.   Além disso, tem sido igualmente preocupante os rejeitos de chumbo que alcançam uma pilha com altitude de 205 me‐tros que podem ser vistos à distância (WIKIPÉDIA, 2012). 

Segundo  MAYNARD  (2003)  anualmente  a  metalúrgica  é  responsável  por  produzir cerca  de  650.000  toneladas  de  metais.  De  acordo  com  Van  Alphen  (1999,  apud. MAYNARD, 2003) o nível de contaminação por chumbo em espaços abertos ronda os 5000  u.g  por  metro  quadrado/dia,  enquanto  a  contaminação  de  espaços  fechados (habitações) ultrapassa os 100 u.g por metro quadrado ao dia. 

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   CCaarrllaa  CCoossttaa,,  EElliiaannee  AArraauujjoo,,  RReennaattaa  DDaammiiccoo  OOlliivviieerrii  ee  IInnêêss  RRiibbeeiirroo  ee  RRaaqquueell  LLuucceennaa   195  

 

 Apesar desta contradição, a presente metalurgia desempenha um significativo papel na dinamização econômica da cidade e na região, pois é a ela que habitantes residen‐tes  em  outras  cidades  vizinhas  confluem  para  o  comércio  e  procura  de  emprego. Efetivamente, a mina de Port Pirie tem estado em constante funcionamento por mais de 120 anos, encontrando nesta cidade costeira as condições ideais para o seu funcio‐namento, pois é pelo porto que são também recebidos os concentrados, da minera‐dora  de  Broken  Hill,  que  após  serem  transformados  em  produtos  finais  são  facil‐mente  escoados  por  transportes  rodoviários  ou  ferroviários  que  servem  a  cidade (HEIDRICK & STRUGGLES, 2012).  

A  presente  mina  encontra‐se  estrategicamente  interligada  com  a  metalúrgica  de Hobart, pois o ciclo de produção de determinados produtos exige que determinados processos tenham lugar como a lixiviação, que ai são realizados. A indústria Flinders, recentemente  implementada  na  região,  tinha  como  projeto  a  construção  de  uma fábrica de ácido sulfúrico para apoiar a atividade da mina,  contudo este projeto  foi arquivado por ter sido considerado inviável. 

A mina constitui‐se como a maior metalurgia de chumbo a nível mundial e a terceira maior na produção de prata. O  valor  competitivo da presente mineração deve‐se  à exploração e produção de vários metais constitutivos de uma variedade de produtos, cuja  oferta  tem  crescido,  acompanhando  o  crescimento  do  mercado  asiático,  com especial destaque para o mercado chinês (HEIDRICK & STRUGGLES, 2012). 

No entanto, várias têm sido as vozes que chamam a atenção para os efeitos prejudi‐ciais para a saúde pública derivada das atividades desenvolvidas pela mineração com especial destaque na cidade de Port Pirie. Vários estudos e  relatórios  têm demons‐trado que famílias que vivem perto de centros de mineração de chumbo, metalurgias e refinarias são expostas diariamente à contaminação por chumbo, conhecido por ser altamente tóxico, principalmente a nível neurológico (THE CONVERSATION, 2012).  

A cidade de Port Pirie tem sido exposta a elevadas emissões de chumbo por cerca de 120 anos. Já em 1925 a Comissão Real da Austrália do Sul, num estudo realizado so‐bre o  envenenamento por  chumbo,  identifica  como a principal  causa de  envenena‐mento, a fina camada de poeira de chumbo. Durante as décadas de 80 e 90 vários go‐vernos  têm  chamado  atenção  para  o  aumento  histórico  da  poeira  causada  pelo chumbo, que se tem vindo a impregnar tanto nos solos da cidade como nas casas re‐sidenciais. 

 De acordo com o relatório da qualidade do ar de 2010, elaborado pela Environmental Protection Authority, a cidade de Port Pirie é considerada a região urbana mais con‐taminada por chumbo na Austrália (THE CONVERSATION, 2012). Segundo o referido relatório a cidade é regularmente sujeita a elevadas concentrações de chumbo no ar, contaminando  toda a  cidade,  impregnando‐se nos  solos e  superfícies externas e  in‐ternas. Só em 2011 foram lançados no ar cerca de 44.000 toneladas de chumbo.  

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CCaassooss  ppaarraaddiiggmmááttiiccooss  ssoobbrree  ccoonnttaammiinnaaççããoo  pprroovvooccaaddaa  ppoorr  cchhuummbboo  eemm  vváárriiaass  rreeggiiõõeess  ddoo  mmuunnddoo 196 

Ainda  no  ano  de  1976  a  Commonwealth  Scientific  and  Industrial  Research Organization (CSIRO) chama a atenção para a contaminação de solos, cereais e vege‐tais em áreas agrícolas perto da cidade de Port Pirie, contaminadas por chumbo. Em 1981 a mesma organização confirma os impactos negativos das emissões de chumbo na qualidade do meio ambiente.  

Por fim, em 2004 o jornal Crikey noticia que os cereais produzidos em Port Pirie fo‐ram misturados  com outros  cereais  devido  as  elevadas  concentrações  de  cádmio  e chumbo que ultrapassavam os limites estabelecidos a nível internacional, colocando em causa a sua comercialização (THE CONVERSATION, 2012). 

O impacto da contaminação de chumbo na saúde humana pode ser examinado e mo‐nitorizado  pela  sua  concentração  no  sangue  das  crianças.  Estudos  realizados  em 2011 demonstram que 25% das crianças com idades inferiores a 5 anos, apresentam índices elevados de concentração de chumbo no sangue, ou seja,  cerca de 10ug/dL. Mesmo  que  crianças  recém‐nascidas  tenham  baixos  níveis  de  concentração  de chumbo no sangue (menos de 5ug/dL) essa concentração tem tendência a aumentar passados 2 a 3 meses, o que demonstra que as crianças não escapam à contaminação pelo  chumbo,  tendo  efeitos  negativos  no  seu  desenvolvimento  saudável.  As  conse‐quências  mais  visíveis  e  retratadas  na  literatura,  associam  a  contaminação  de chumbo nas crianças ao baixo desenvolvimento do QI associado a um fraco desem‐penho escolar e a manifestação de problemas sócio comportamentais, como défices de atenção e hiperatividade. Estes efeitos não ficam limitados ao período da infância, pois as suas consequências estendem‐se na adolescência e na idade adulta. Segundo, informações oficiais a concentração de chumbo no sangue das crianças na cidade de Port Pirie é duas vezes maior do que os valores encontrados em outras cidades Aus‐tralianas, como as cidades de Broken Hill e Mount Isa (THE CONVERSATION, 2012). 

No ano de 1983, o pediatra Dr. Phillip Landrigan, depois de ter identificado a origem da  contaminação  atmosférica  e  dos  solos  pelo  chumbo,  junto  com  o Ministério  da Saúde elaborou um plano de ação. Este plano pretendia diminuir as concentrações de chumbo, durante um período de 10 anos, para níveis inferiores a 10up/dL em crian‐ças até aos 4 anos de idade. Apesar da grande quantia de dinheiro gasta, o plano não tinha atingido os seus objetivos no ano de 2010.  

Como forma de solucionar o problema da contaminação, procurou‐se educar os resi‐dentes  locais  para  determinados  hábitos  que  deveriam  desenvolver  para  evitar  a contaminação  como  o  de  lavar  regularmente  as  mãos,  superfícies  e  comida,  bem como evitar transportar poeira para dentro de casa. Estas medidas de prevenção re‐velaram‐se pouco eficazes para evitar a contaminação (THE CONVERSATION, 2012). 

Podemos  dizer  que  passados  30  anos,  ainda  não  se  viu  uma  resposta  decisiva  por parte das  autoridades para a  eliminação e prevenção da  exposição e  contaminação por chumbo. Para quebrar o ciclo de contaminação, seria necessário algumas mudan‐ças do contexto atual principalmente no que respeita à transparência da informação e soluções propostas. Algumas dessas soluções passam pelo fechamento da metalur‐

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   CCaarrllaa  CCoossttaa,,  EElliiaannee  AArraauujjoo,,  RReennaattaa  DDaammiiccoo  OOlliivviieerrii  ee  IInnêêss  RRiibbeeiirroo  ee  RRaaqquueell  LLuucceennaa   197  

 

gia ou pela adoção de tecnologias mais limpas e por isso menos poluentes e no trata‐mento da poeira já existente em solos e habitações.  

As causas e consequências, bem como possíveis soluções para a diminuição da con‐taminação por chumbo é de conhecimento dos profissionais que trabalham na indús‐tria como dos governos locais. A grande questão que se coloca é a de saber se o go‐verno local será mais assertivo na resposta dada ao problema ou se a população local terá mais uma vez de se sujeitar à contaminação, colocando em risco a sua saúde, por medo  de  perder  os  seus  empregos  que  representa  a  sua  única  forma  de  sustento (THE CONVERSATION, 2012). 

Bibliografia Caso 1 

CENTRAL  INTELLIGENCE  AGENCY  (CIA).  Disponível  em:  <  https://www.cia.gov/ library/publications/the‐world‐factbook/geos/as.html>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

DEPARTAMENTO  NACIONAL  DE  PRODUÇÂO  MINERAL  (DNPM).  Disponível  em: <http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=68&IDPagina=1990>.  Acesso em: 03 nov. 2012. 

HEIDRICK & STRUGGLES. Company, Position & Person Profile – Nyrstar. Maio 2012. 

MAYNARD,  E.;  THOMAS,  R.;  SIMON,  D.;    PHIPPS,  C.;  WARD,  C.;  CALDER  ,  I.  An evaluation  of  recent  blood  lead  levels  in  Port  Pirie,  South  Australia.  Science  of  the Total Environment, Amsterdam, v. 303, n. 1‐2,  p. 25‐33, fev. 2003. 

NYRSTAR:  potential  transformation  of  the  port  pirie  smelter:  media  speculation  in Australia.  Disponível  em:  <  http://www.nyrstar.com/investors/en/news/Pages/ 1626434. aspx>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

THE CONVERSATION. Lead poisoning of Port Pirie children: a long history of looking the other way. Disponivel em: http://theconversation.edu.au/lead‐poisoning‐of‐port‐pirie‐children‐a‐long‐history‐of‐looking‐the‐other‐way‐8296.  Acesso  em:  03  nov. 2012. 

WIKIPÈDIA.  Port  Pirie.  Disponível  em:  <  http://en.wikipedia.org/wiki/Port_Pirie>. Acesso em: 03 nov.2012. 

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Caso 2: Mesmo com uso estritamente regulamentado, chumbo ainda causa contaminações nos Estados Unidos da América 

Sendo a maior economia do mundo, responsável por mais de 20% do PIB mundial, os Estados Unidos da América possuem também a terceira maior reserva de chumbo do planeta (o mundo totaliza 80.000 t), sendo no ano de 1010 também o terceiro maior produtor mundial do metal  (406.000 t), atrás de China (1.750.000 t) e da Austrália (620.000 t), seguido por Peru com 280.000t, México com 185.000 t e outros países (853.000 t), como o Kasaquistão, Canadá e Marrocos, para uma produção mundial de metal primário de 3.860 milhões de toneladas6.  

No mesmo ano, o consumo do metal dos EUA para a indústria de baterias ácidas, que responde  por  88%  da  demanda,  foi  de  cerca  de  1,2  milhão  de  toneladas.  Já  os eletroeletrônicos, munições,  compostos  químicos  e  outros  usos,  corresponderam  a 12% (SILVA; TEIXEIRA, 2012). 

O  governo  norte‐americano  vem  regulamentando  o  uso  do  chumbo,  devido  a  seus efeitos adversos à saúde e ao meio ambiente. No entanto, ainda são vários os casos de contaminação no país. As crianças estão entre os mais vulneráveis, devido a razões neurológicas,  metabólicas  e  comportamentais,  como  o  fato  de  tenderem  a  colocar objetos, como brinquedos, na boca (BROWN; MARGOLIS, 2012). 

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, a presença de chumbo no sangue de crianças pequenas, se superior a 10 micrograma por decilitro (g/dl),  é  preocupante  (FREUDENRICH,  2012a),  podendo  causar  deficiências  de aprendizagem, distúrbios de déficit de atenção, problemas comportamentais, atraso no crescimento, deficiência auditiva e problemas renais (BROWN; MARGOLIS, 2012). Entretanto,  estudos  já  comprovaram  efeitos  fortes  e  duradouros  em  crianças,  cujo sangue continha apenas 2mg/l de chumbo, o que reforça a necessidade de se elimina‐rem  ou  controlarem  fontes  de  exposição  ao metal  em  ambientes  frequentados  por elas (LEVIN et al., 2008).  

Já para adultos, a média normal para chumbo no sangue, de acordo com a Enciclopé­dia MedlinePlus, é inferior a 20 g/dl (MEDLINEPLUS, 2012), e a exposição ao metal pode  causar  câncer,  neuropatia  periférica,  disfunção  do  nervo motor,  insuficiência renal, hipertensão, dentre outros problemas de saúde (BROWN; MARGOLIS, 2012). 

Segundo levantamento da agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (EPA ‐ US Environmental Protection Agency), durante o  século 20,  a maior parte das emis‐sões  de  chumbo  era  proveniente  de  fontes  veiculares,  como  carros  a  gasolina  con‐tendo chumbo (FREUDENRICH, 2012a; LEVIN et al., 2008). Como o metal não se de‐

                                                            

6   Já a produção secundária, obtida principalmente pela reciclagem de baterias automotivas, atingiu 5.000.000t de metal, 56% da produção mundial de chumbo refinado.  

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compõe  nem  é  destruído  pelo  calor,  minúsculas  partículas  de  emissões  veiculares contaminam o solo ao longo das estradas (FREUDENRICH, 2012a). 

Com a proibição do uso de combustíveis aditivados com chumbo no país, a partir de 1996,  a  principal  fonte  de  exposição  ao metal  passou  a  ser  outra  (FREUDENRICH, 2012a). Em uma análise realizada, em 2001, a EPA detectou que emissões industriais respondiam por 78% da contaminação do ar por chumbo; os combustíveis, por 10%, e  o  setor  de  transportes,  por  12%  (U.S.  EPA,  2007d  apud  LEVIN  et  al.,  2008).  Em 2004, quatro plantas de tratamento de resíduos estavam entre as 20 fontes que mais lançavam chumbo no meio ambiente, de acordo com o Toxics Release Inventory (TRI) da EPA (U.S. EPA, 2007d apud LEVIN et al., 2008). 

Após um período de declínio, que perdurou por mais de 25 anos, os níveis de chumbo no ar voltaram a subir no país entre 2004 e 2006. As maiores concentrações são en‐contradas nas proximidades de  fundições e  fabricantes de baterias,  constituindo as únicas violações às leis nacionais voltadas à presença do metal no ar (U.S. EPA, 2007a apud LEVIN et al., 2008).  Estudos mostram que crianças que moram perto de áreas de mineração e fundições correm risco de ter elevados níveis de chumbo no sangue (MAISONET et al., 1997; MURGUEYTIO et al., 1996; SWARUP et al., 2005 apud LEVIN et al.,  2008), mesmo até 20 anos depois do  fechamento das unidades  fabris  (DIAZ‐BARRIGA et al., 1997 apud LEVIN et al., 2008). 

No entanto, os dados nacionais de emissões de chumbo no ar não retratam com pre‐cisão as emissões locais, tampouco os riscos às populações envolvidas. Nem todas as fontes de emissão de chumbo estão listadas no TRI da EPA. Incineradoras municipais e reparadoras de autopeças são exemplos disto e podem contribuir para a contami‐nação de seus entornos (LEVIN et al., 2008). Além disso, demolições de construções antigas  contribuem para  emissões  locais  de  chumbo  e  podem aumentar  o  nível  do metal no sangue de crianças (FARFEL et al., 2003; RABITO et al., 2007 apud LEVIN et al., 2008).  

No que diz respeito à contaminação do solo, oito décadas de combustão de gasolina com chumbo, emissões  industriais e resquícios de tinta à base do metal, dentre ou‐tros fatores, deixaram um grande passivo ambiental, especialmente nos bairros mais pobres (LEVIN et al., 2008).  Devido ao tráfego intenso e ao número elevado de habi‐tações, o solo nas áreas urbanas do país pode ter uma média de 800 a 1.200 g/dl de chumbo (DUGGAN;  INSKIP 1985; LANPHEAR 1998a apud LEVIN et al., 2008). 

Pesquisas históricas sobre atividades comerciais podem  identificar  fontes atuais de exposição  (ECKEL  et  al.  2001  apud  LEVIN  et  al.,  2008).  Um  estudo  no  estado  de Washington, por exemplo (WOLZ et al. 2003 apud LEVIN et al., 2008), mostrou que moradias próximas a locais onde compostos de chumbo eram usados como pesticida, entre  1905  e  1947,  apresentam  contaminação  significativa  do  solo  e  da  poeira  in‐terna (LEVIN et al., 2008).  

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Cabe mencionar que o chumbo é o elemento químico mais frequentemente liberado em locais de destinação de resíduos não controlados. A Agency  for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR) identificou contaminação pelo metal em 59% das áreas atualmente monitoradas (ATSDR 2005, apud LEVIN et al., 2008). 

Outras fontes potenciais de contaminação por chumbo foram encontradas na poeira, em  alimentos  ‐  em  especial  o  chocolate  ‐  no  leite  materno,  doces  importados  do México,  água  potável,  suplementos  dietéticos,  vidros  e  louças,  cerâmicas,  e  numa vasta  gama  de  outros  produtos  (LEVIN  et  al.,  2008),  como  batons  (THE WASHINGTON POST, 2012). 

Em  2007,  a  Campanha  por  Cosméticos  Seguros  ‐  grupo  formado  por  consumidores que  pressiona  o  governo  norteamericano  a  estabelecer  limites  para  o  nível  de chumbo  encontrado  nos  batons,  testou  33  batons  vermelhos  e  descobriu  que  dois terços deles continham chumbo, sendo que, em um terço, o nível excedia o limite es‐tabelecido para  a presença de metais  em doces pela Food and Drug Administration (FDA), a agência de vigilância sanitária dos EUA (THE WASHINGTON POST, 2012). 

Desde então, a FDA realizou dois  testes. Em 2008, suas análises envolveram 20 ba‐tons,  e,  em 2011, 400. Foram encontrados níveis de chumbo em  todos os produtos testados. Nas análises de 2012, cinco batons da L'Oreal e da Maybelline, subsidiárias da L'Oreal norte americana, ficaram entre os 10 mais contaminados. Dois batons da Cover  Girl  e  dois  da  NARS  também  estão  nesta  lista,  bem  como  um  produto  da Stargazer (THE WASHINGTON POST, 2012). 

O nível mais alto de chumbo ‐ 7,19 partes por milhão – foi encontrado no batom Pink Petal,  da  série  Color  Sensational,  da  Maybelline.  Mas  a  concentração  média  de chumbo nos 400 batons testados foi de 1,11 partes por milhão, algo bem próximo da média obtida nas análises de 2008 (THE WASHINGTON POST, 2012). 

De acordo com a FDA, os níveis de chumbo detectados não representam riscos à saú‐de.  "Do  ponto  de  vista  científico,  não  é  válido  comparar  o  risco  que  a  presença  de chumbo nos doces, um produto destinado à ingestão, representa para o consumidor, ao risco associado a níveis de chumbo nos batons, um produto destinado ao uso tó‐pico  que  é  eventualmente  ingerido  em quantidades muito  inferiores  do que  os  do‐ces",  afirmou  a  FDA  em  comentários  publicados  na  internet  (THE  WASHINGTON POST, 2012). 

Já a Campanha por Cosméticos Seguros argumenta que a FDA não tem base científica para fazer tal afirmação. De acordo com seus integrantes, o nível de chumbo encon‐trado no Pink Petal, da Maybelline, corresponde a mais do que o dobro dos níveis en‐contrados no relatório anterior da FDA e a mais de 275 vezes o nível encontrado na marca menos contaminada dentre as testadas recentemente. A marca menos conta‐minada, Wet  & Wild  Mega Mixers  Lip  Balm,  era  também  a mais  barata,  "demons‐trando que o preço do produto não é um fator indicativo da adoção de práticas ade‐quadas na sua manufatura" (THE WASHINGTON POST, 2012). 

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Integrantes da campanha citaram pesquisas federais que haviam concluído que não existe nível  seguro de exposição ao chumbo para crianças,  e  ressaltaram a necessi‐dade  de  se  protegerem  crianças  e  mulheres  grávidas  da  exposição  ao  metal.  “O chumbo se acumula no corpo com o tempo, e a aplicação frequente e diária de batons que contenham chumbo pode representar a exposição a níveis significativos da subs‐tância",  disse Mark Mitchell,  co‐presidente  da  Força Tarefa  de  Saúde Ambiental  da Associação Nacional de Medicina (THE WASHINGTON POST, 2012). 

Em se tratando de crianças, cabe mencionar que a Academia Americana de Pediatria geralmente recomenda que sejam examinadas duas vezes, para o chumbo, antes dos 2 anos de idade, dependendo das condições locais (NEW YORK TIMES, 2011). 

Na  década  de  1970,  ganhou  bastante  repercussão  o  envenenamento  infantil  por chumbo  devido  à  exposição  a  tintas  de  parede  à  base  do  metal  (FREUDENRICH, 2012b). Quando a tinta se descasca, fragmentos que se destacam das paredes consti‐tuem uma grande fonte de contaminação, juntamente com a água que percorre canos de chumbo (FREUDENRICH, 2012a). Em 1978, o uso de chumbo em tintas de parede foi proibido e, atualmente, a maioria dos serviços de água públicos do país está em conformidade com o Safe Drinking Water Act Lead and Copper Rule  (LCR), de 1991. Como resultado, os níveis de metal no sangue de crianças diminuíram, em média, de cerca de 16,0 g/dl para menos de 2,0 g/dl (BROWN; MARGOLIS, 2012). 

Mesmo assim, anualmente, milhares de crianças do país ainda são contaminadas com chumbo dentro das suas próprias casas, devido à tinta contendo o metal. De acordo com o National Center for Environmental Health, em 2005, cerca de 50 mil crianças – 1,6% das crianças testadas –apresentaram testes positivos para o chumbo, sendo que por volta de 1998 esse número superava 100 mil (BIANCO, 2012). 

Hoje,  o Departamento Americano  de Desenvolvimento Urbano  estima  que  existam, nos  Estados  Unidos,  cerca  de  38  milhões  de  casas  que  ainda  contêm  tinta  com chumbo. O perigo de contaminação é maior se a tinta estiver em processo de deterio‐ração, pois  contamina a poeira e o  solo ao  redor da casa onde as  crianças brincam (BIANCO, 2012).  

A contaminação por chumbo nas casas podem atrapalhar o mercado imobiliário. Se uma casa é diagnosticada como “contendo chumbo”, o seu preço cai  imediatamente em dezenas de milhares de dólares, pois o custo do saneamento é muito caro. O risco do diagnóstico é muito alto, podendo espantar  investidores do mercado  imobiliário (BIANCO, 2012).  

Diante da situação, legisladores americanos optaram por uma saída política, transfe‐rindo a responsabilidade para o possível comprador da casa. Dependendo da  idade da casa, o comprador tem o direito de exigir um teste de contaminação por chumbo na propriedade que deseja  comprar.  Se houver  contaminação,  o  resultado  tem que ser, por  lei,  comunicado à prefeitura da  cidade,  e  a propriedade permanecerá mar‐

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cada até que seja saneada. Nesse caso, a lei proíbe que crianças de até 6 anos residam na propriedade (BIANCO, 2012).  

O  dono  da  casa  (vendedor)  tem  o  direito  de  recusar  o  teste,  esperando  um  outro comprador que não o solicite, mesmo que a casa tenha sido construída antes de 1978 e o comprador tenha crianças pequenas. Se o teste não for solicitado, o governo não intercede, e a operação de compra e venda ocorre normalmente. Uma eventual con‐taminação das crianças só será detectada pelo pediatra ou em testes de rotina reali‐zados  nas  escolas  da  comunidade,  às  vezes  tarde  demais  para  evitar  seus  efeitos (BIANCO, 2012). 

Algumas  tragédias  recentes  revelam que o problema de  contaminação por  chumbo ainda  persiste  nos  Estados  Unidos.  Para  citar  exemplos,  em  2004,  uma  criança  foi hospitalizada no Oregon, após  ingestão de um colar contendo chumbo, o que gerou um  recall  voluntário  de  150 milhões  de  peças  de  joias  para  crianças  (CDC,  2004b apud  LEVIN  et  al.,  2008).  Em Minnesota,  dois  anos  depois,  uma  criança  de  quatro anos morreu de envenenamento por chumbo depois de engolir um “brinde”, com teor de chumbo de 99%, que ganhara na compra de um par de sapatos (CDC, 2006 apud LEVIN et al., 2008).  

Os produtos importados também constituem fontes de exposição ao chumbo no país. Para  se  ter uma  ideia,  em 2007,  agências  reguladoras e  empresas norteamericanas instituíram inúmeros recalls para produtos defeituosos, perigosos ou tóxicos ‐ como pastas  de  dentes,  jóias  para  crianças,  brinquedos,  ferramentas,  comidas  para  cães, babadores, pneus e baterias para computador. Todos estes produtos haviam sido fa‐bricados na China ‐ país que, nos últimos anos, tem figurado cada vez mais no noti‐ciário internacional devido a casos de envenenamento em massa (REUTERS, 2011) ‐ e  continham  tinta  à  base  de  chumbo,  produto  já  proibido  nos  Estados  Unidos (SILVERMAN, 2012). 

Em  2011,  o  Dr.  Gerald  F.  O’Malley,  médico  do  setor  de  emergência  do  Jefferson Medical College, na Filadélfia, e um grupo de pesquisadores analisaram diversas ce‐râmicas vendidas na Chinatown  local e descobriram contaminação por  chumbo em utensílios de cozinha e mesa.   Mais de um quarto das amostras teve resultado posi‐tivo,  podendo  causar  danos  à  saúde  (THE  NEW  YORK  TIMES,  2011).  A  equipe  de O’Mailley realizou testes laboratoriais adicionais em 25 peças para confirmar as des‐cobertas, estabelecer o grau de contaminação e determinar se o chumbo poderia so‐frer lixiviação (reação com os sucos ácidos do estômago) ao ser ingerido com os ali‐mentos. Descobriu que três pratos e duas colheres sofriam lixiviação de chumbo em quantidades que excediam em muito os limites estabelecidos pela FDA. Um dos pra‐tos tinha chumbo lixiviado em mais de 145 partes por milhão, enquanto o limite es‐tabelecido pela agência americana é de 2 partes por milhão (THE NEW YORK TIMES, 2011). 

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Tais  acontecimentos  estão  fazendo  com  que  membros  de  agências  federais  cons‐truam um cenário mais completo dos riscos potenciais de exposição ao chumbo nos EUA (EPA, 2006a apud LEVIN et al., 2008).  

Enquanto isso, alguns casos de contaminação pelo metal continuam a ser noticiados. Em 2012, as autoridades de saúde dos Estados Unidos anunciaram a descoberta de riscos  de  contaminação  por  chumbo  em mulheres  grávidas  que  tomaram medica‐mentos  ayuvérdicos. De  acordo  com o CDC, no  ano anterior,  funcionários de  saúde pública da cidade de Nova York já haviam investigado seis casos de pacientes, cinco dos quais tinham nascido na Índia, com alto risco de contaminação por chumbo por terem ingerido compostos ayuvérdicos (FRANCE PRESS, 2012). 

Bibliografia Caso 2 

BIANCO,  Antônio.  Os  anos  de  chumbo  não  terminaram.  Revista  Fapesp,  out.  2012. Disponível  em:  <http://dev.drclas.harvard.edu/brazil/news/chumbo>.  Acesso  em: 03 nov. 2012. 

BROWN, Mary  Jean; MARGOLIS,  Stephen. Lead  in drinking water  and human blood  lead levels  in the United States, Centers for Disease Control and Prevention, 10 ago. 2012. Disponível em: <http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/su6104a1. htm?s_cid=su6104a1_w>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

FRANCE PRESS. EUA advertem para intoxicação por chumbo na medicina ayuvérdica, Correio  Braziliense,  23  ago.  2012.  Disponível  em:  <http://www.correiobraziliense. com.br/app/noticia/ciencia‐e‐saude/2012/08/23/interna_ciencia_saude,318792/eua‐advertem‐para‐intoxicacao‐por‐chumbo‐na‐medicina‐ayuverdica.shtml>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

FREUDENRICH  Craig.  Como  ficamos  expostos  ao  chumbo?  HowStuffWorks  Brasil.  Disponível  em: <http://ciencia.hsw.uol.com.br/chumbo2.htm>.   Acesso  em: 02 nov. 2012a. 

FREUDENRICH Craig. Introdução a como funciona o chumbo. HowStuffWorks Brasil.  Disponível  em: <http://ciencia.hsw.uol.com.br/chumbo2.htm>.   Acesso  em: 02 nov. 2012b. 

LEVIN,  Ronnie;  BROWN,  Mary  Jean;  KASHTOCK,  Michael  E;  JACOBS,  David  E.; WHELAN  Elizabeth  A.;  RODMAN,  Joanne;  SCHOCK  ,Michael  R.;    PADILLA,    Alma; SINKS, Thomas. Lead  exposures  in U.S.  children, 2008:  Implications  for prevention. In:  Environmental Health Perspectives, v. 116, n.10, out.2008.  

MEDLINEPLUS.    Lead  levels  –  blood.  Disponível  em:  <http://www.nlm.nih.gov/ medlineplus/ency/article/003360.htm> . Acesso em: 01 nov. 2012. 

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REUTERS.   Contaminação por chumbo atinge 103 crianças na China.  In: G1, 12  jun. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/06/contaminacao ‐por‐chumbo‐atinge‐103‐criancas‐na‐china.html>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

SILVA, Benedito Célio Eugênio; TEIXEIRA, Juliana Ayres de A. B. Chumbo. Disponível em: <https://sistemas.dnpm.gov.br/publicacao/mostra_imagem.asp?IDBancoArquivoArquivo=3981>. Acesso em: 02 nov. 2012 

SILVERMAN,  Jacob.  O  que  acontece  com  a  China  e  a  intoxicação  por  chumbo? HowStuffWorks  Brasil.    Disponível  em:  <http://saude.hsw.uol.com.br/chumbo‐toxico‐china.htm>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

THE NEW YORK TIMES. Belas cerâmicas escondem perigo de contaminação, Último Segundo,  03  abr.  2011.  Disponível  em:  <http://ultimosegundo.ig.com./ ciencia/belas+ceramicas+escondem+perigo+de+contaminacao/n1300021697960.html>. Acesso em: 03 nov. 2011. 

THE WASHINGTON POST.  Vigilância  sanitária  dos  EUA diz  ter  encontrado  chumbo em 400 batons. In: Estadão.com.br. Disponível em:   <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,vigilancia‐sanitaria‐dos‐eua‐diz‐ter‐encontrado‐chumbo‐em‐400‐batons,836300,0.htm>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

Caso 3: Contaminação por chumbo na China afeta habitantes, produ­tos industrializados, alimentos e meio ambiente  

A China tem figurado cada vez mais no noticiário internacional devido a casos de en‐venenamento em massa, principalmente de moradores que vivem próximo a fábricas (REUTERS, 2011). Um dos problemas do país é o fraco zoneamento urbano, o que faz com que existam áreas residenciais ao lado de unidades fabris. Em algumas cidades mais ricas, como Xangai, os moradores estão cada vez mais ansiosos para transferir as unidades industriais poluentes para outras localidades (AREDDY, 2012). 

Somado  aos  problemas  de  zoneamento,  há  questões  econômicas  que  contribuem para a disseminação da poluição. Como muitas das plantas industriais competem en‐tre si para produzir mais barato, e a regulamentação ambiental do país é deficiente, multiplicam‐se os casos de pessoas contaminadas por metais pesados, como chumbo, e problemas de saúde (REUTERS, 2011). 

Além das pessoas, alimentos e produtos fabricados no país também estão sendo en‐venenados. Um exemplo é o arroz, item básico do cardápio chinês, que está contami‐nado  por metais  pesados,  especialmente  cádmio,  chumbo  e mercúrio.  Uma  análise feita pela Secretaria da Agricultura, em 2002, em todo arroz disponível no país, de‐tectou que os níveis de chumbo ultrapassavam 28,4%, enquanto o de cádmio era su‐perior a 10,3%.  

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A principal  fonte de  contaminação  seria  a mineração,  que  libera  excesso de metais pesados no meio ambiente (THE EPOCH TIMES, 2012). 

Tendo em vista o risco que a contaminação dos solos por chumbo representa à saúde de seres humanos, animais e do meio ambiente, diversos estudos têm sido feitos para tentar  diminuir  a  biodisponibilidade  do metal.  Um  deles  utilizou  amostras  de  solo proveniente  de  uma  área  residencial  na  cidade  de  Fuyang,  na  província  de  Anhui, contaminada  por  uma  indústria  de  fundição.  Os  resultados  apontam  que  em  solos moderadamente contaminados por chumbo devem‐se usar adubos com altos teores de fósforo para produção de hortaliças, e que o hidroxiapatite seria um dos materiais mais  eficazes  para  recuperação  de  solos  contaminados  pelo  metal  (ZHU;  CHEN; YANG, 2004). 

Com  relação  à  contaminação  de  produtos  fabricados  na  China,  um  dos  casos mais exemplares ocorreu em 2007, quando brinquedos exportados para os Estados Unidos foram retirados das prateleiras pelas autoridades americanas por utilizarem tinta à base de chumbo. Esse tipo de tinta é barato e produz cores vivas, além de ter durabi‐lidade e  ser  resistente à  corrosão. Porém,  tem efeito  tóxico e, por  isso,  foi proibida nos Estados Unidos,  em 1962, para uso em brinquedos e produtos para crianças,  e também  em  apartamentos,  casas,  hospitais  e  outros  tipos  de  construção (SILVERMAN, 2012). 

Entre o  início de 2009 e meados de 2011,  foram descobertos milhares de casos de pessoas expostas a níveis tóxicos de chumbo em pelo menos nove das 31 províncias da China continental. A principal fonte das emissões foram fábricas de baterias e fun‐dições e, em muitos casos, houve manifestações da população local contra o envene‐namento por metais pesados (LA FRANIERE, 2011).  

Em 2009, as autoridades chinesas  fecharam uma  fundição na província de Shaanxi, no norte do país, onde mais de 600 crianças  foram envenenadas por chumbo (BBC BRASIL, 2009a).   Manifestantes invadiram a fábrica, quebraram caminhões e derru‐baram  cercas  antes  que  a  polícia  os  detivesse  (QING,  2012).  Poucos  dias  depois,  a fundição Wanyan  ‐  a maior da China e  a  segunda maior do mundo,  segundo dados oficiais ‐, situada na cidade de Jiyuan, província de Hunan, também foi fechada por ter contaminado  1.300  crianças.  Revoltados,  moradores  bloquearam  uma  estrada  de acesso à fábrica e entraram em confronto com a polícia. Na ocasião, dois executivos da empresa foram presos (BBC BRASIL, 2009a; BBC BRASIL, 2009b). 

Tem sido comum os moradores de Hunan apresentarem doenças decorrentes da po‐luição por metais pesados,  oriundos  indústrias de mineração,  químicas  e  empresas de  reciclagem de metal  (GREENPEACE, 2012). Diante desses  casos e da  revolta po‐pular, o governo chinês anunciou a remoção de 15 mil pessoas da área contaminada com chumbo na cidade de  Jiyuan. Na  região,  estão  localizadas várias  fundições que têm um peso significativo na economia local. Cerca de dez mil dos 670 mil moradores de Jiyuan trabalham diretamente para alguma das 35 fundições de chumbo da cidade, e outras 20 mil pessoas dependem indiretamente do negócio (BBC BRASIL, 2009b). 

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Em 2011, houve nova invasão a uma fábrica. Dessa vez, cerca de 200 pessoas ocupa‐ram a Indústria Zhejiang Haijiu, fabricante de baterias de chumbo para motos e bici‐cletas elétricas, e destruíram armários, escrivaninhas e computadores. Eles se revol‐taram depois  de  saber  que  trabalhadores  e  vizinhos haviam  sido  envenenados por emissões  de  chumbo  da  fábrica,  e  que,  apesar  de  flagrantes  violações  ambientais, operava há seis anos. Foi constatado que 233 adultos e 99 crianças tinham concen‐trações de chumbo no sangue até sete vezes acima do nível considerado seguro (LA FRANIERE, 2011). 

Em agosto de 2011, o governo chinês anunciou o  fechamento de 583  fábricas de reci‐clagem de baterias, devido a diversos casos de envenenamento por chumbo. Porém, não reconheceu os abusos ocorridos, como a recusa no tratamento de crianças envenenadas. Foi devido ao assédio de pais que buscavam reparação legal que a organização de defesa dos  direitos  humanos  Human  Rights  Watch  descobriu  casos  de  envenamento  por chumbo nas províncias de Henan, Yunnan, Shaanxi e Hunan (HRW, 2012).  

Alguns pais  relataram que muitos médicos  prescreviam apenas  a  ingestão de  leite, maças ou alho às crianças contaminadas. Já os funcionários do governo minimizavam os perigos do envenenamento pelo metal pesado (PÚBLICO, 2011). Algumas autori‐dades limitaram arbitrariamente os testes de nível de chumbo e, possivelmente, ma‐nipularam  resultados  desses  testes,  negando  tratamento  apropriado  a  crianças  e adultos (LA FRANIERE, 2011). Aqueles que tentavam falar sobre o assunto eram si‐lenciados (PÚBLICO, 2011). 

Em muitos casos, os problemas de envenenamento são ocultados da opinião pública não só pelas autoridades locais, como pelo governo central (PÚBLICO, 2011). Têm sido comum no país as autoridades desconsiderarem a contaminação ambiental, a segurança do trabalha‐dor e os riscos à saúde pública até serem obrigadas a assumir uma posição por força de manifestações revoltosas da população (LA FRANIERE, 2011). 

As principais vítimas das contaminações têm sido as crianças, que são mais sensíveis ao metal. O relatório de 2011 da Human Rights Watch aponta que milhões de crianças chinesas  são  envenenadas  por  chumbo  todos  os  anos  (PÚBLICO,  2011).  Estima‐se que  cerca  de  10%  da  população  infantil  chinesa  sofrem  intoxicação  devido  ao chumbo  encontrado  na  tinta,  na  comida,  na  água  e  em  outros  lugares  (PRESS INTERPRETER apud SILVERMAN, 2012). O chumbo pode impedir a aprendizagem e afetar o comportamento infantil (QING, 2012). 

 Segundo  informações  da  agência  estatal  chinesa  Xinhua,  em  2011,  103  crianças  e centenas  de  adultos  foram  contaminadas  pelo  metal  oriundo  de  fábricas  de  papel alumínio, situadas no leste do país. Exames feitos na ocasião em habitantes com me‐nos de 14 anos do município de Yangxunqiao, província de Zhejiang, indicaram a pre‐sença de 250 microgramas ou mais de chumbo por litro de sangue (REUTERS, 2011). De acordo com a Enciclopédia  MedlinePlus, dos Estados Unidos, a média normal para chumbo no sangue é  inferior a 20 microgramas por decilitro (mg/dl) em adultos, e menos de 10 mg/dl em crianças (MEDLINEPLUS, 2012). 

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Segundo  autoridades  de  saúde  de  Yangxunqiao,  26  adultos  possuíam mais  de  600 microgramas do metal por  litro de  sangue, o que  significa  envenenamento grave,  e 500 outros foram diagnosticados como moderadamente envenenados por apresenta‐rem de 400 a 600 microgramas de  chumbo por  litro de  sangue. A maior parte dos trabalhadores das plantas de papel  alumínio  são migrantes de  regiões mais pobres (REUTERS, 2011).  

A situação  levou à suspensão da produção em 25  fábricas de Yangxunqiao. Preocu‐pado com uma revolta popular, o Ministério do Meio Ambiente chinês solicitou me‐didas urgentes para combater a  intoxicação por chumbo, mas enfrentou problemas pelo fato de as autoridades locais colocarem “faturamento, crescimento e empregos à frente da proteção ambiental e da saúde pública” (REUTERS, 2011).  

Em fevereiro de 2012,  investigações preliminares,  feitas em amostras de sangue de 531 moradores de Dongtang, cidade localizada num cinturão de minério de chumbo e zinco, apontaram elevados níveis de chumbo no sangue de crianças, provavelmente devido  à  inalação  do  ar  e  à  ingestão  de  alimentos  contaminados  pelas  indústrias (QING, 2012).  

No mesmo ano, um site oficial do governo chinês divulgou que 29 crianças de uma área da cidade de Xangai chamada Kangqiao haviam sido contaminadas com chumbo devido a emissões de uma fábrica de baterias da Johnson Controls Inc. (JCI). A alega‐ção do governo era de que a fábrica estava usando mais chumbo em sua produção do que o permitido (AREDDY, 2012).  

Representantes da empresa americana baseada em Milwaukee, Wisconsin (EUA), ne‐garam que a planta fosse a fonte primária de envenenamento e, apesar de admitirem o uso de chumbo além da cota local, afirmaram que as emissões estavam abaixo dos níveis locais e nacionais. Alegaram ainda que, nos últimos anos, as autoridades locais estavam  dando  prioridade  aos  níveis  de  emissões  e  não  à  cota  de  uso  do  metal (KHAN, 2012; AREDDY, 2012).  

Apesar de apenas o caso da JCI ter chegado à imprensa, várias outras plantas indus‐triais  têm  sido  fechadas  por  provocarem  contaminação  por  chumbo.  Na  área  de Kangqiao, duas pequenas empresas foram fechadas pelo mesmo problema e, segundo uma fonte governamental, compartilham a responsabilidade pela contaminação com a JCI. As autoridades de Xangai têm sinalizado que não irão permitir o processamento de chumbo na província (KHAN, 2012; AREDDY, 2012). 

A ONG ambiental Greenpeace alertou que a China deve tomar medidas mais efetivas para  combater  a poluição por metais pesados,  especialmente o  chumbo. De acordo com a organização, as intoxicações recentes são apenas a ponta do iceberg das graves contaminações por metais pesados (KHAN, 2012).

Devido à grande pressão popular, em 2011, o governo chinês publicou, pela primeira vez,  um  documento  com  informações  relativas  à  poluição  causada  por  empresas (KHAN, 2012). Em janeiro de 2012, depois de muito clamor público, o governo pas‐

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sou a divulgar dados  sobre a qualidade do ar  em Pequim. As autoridades  reconhe‐ceram que 49 crianças que vivem na área apresentam sinais de excessiva exposição ao chumbo (AREDDY, 2012). 

Bibliografia Caso 3 

AREDDY, James T. Shanghai Halts Johnson Controls Lead Processing. The Wall Street Journal,  28  fev.  2012.  Disponível  em:  <http://online.wsj.com/article/SB100014 24052970204653604577248640436283030.html>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

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   CCaarrllaa  CCoossttaa,,  EElliiaannee  AArraauujjoo,,  RReennaattaa  DDaammiiccoo  OOlliivviieerrii  ee  IInnêêss  RRiibbeeiirroo  ee  RRaaqquueell  LLuucceennaa   209  

 

QING,  Koh  Gui.    China  lead  pollution  poisons  160  children:  report.  In:  Reuters,  03 mar.  2012.    Disponível  em:    <http://www.reuters.com/article/2012/03/04/us‐china‐lead‐posion‐idUSTRE82303F20120304>.  Acesso em: 01 nov. 2012. 

REUTERS.  Contaminação  por  chumbo  atinge  103  crianças  na  China.  In:  G1,  12  jun. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/06/contaminacao ‐por‐chumbo‐atinge‐103‐criancas‐na‐china.html>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

THE  EPOCH  TIMES.  Arroz  da  China  está  contaminado  com  mercúrio,  cádmio  e chumbo.  China,16 mar.  2012.  Disponível  em:  <http://www.epochtimes.com.br/  ar‐roz‐da‐china‐esta‐contaminado‐com‐mercurio‐cadmio‐e‐chumbo‐2/  Acesso  em:  01 nov. 2012. 

SILVERMAN,  Jacob.  O  que  acontece  com  a  China  e  a  intoxicação  por  chumbo? HowStuffWorks  Brasil.    Disponível  em:  <http://saude.hsw.uol.com.br/chumbo‐to‐xico‐china.htm>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

ZHU, Y.G; CHEN, S.B; YANG, J.C. Effects of soil amendments on lead uptake e by two vegetable crops from a  lead contamined soil  from Anhui, China. Environment Inter‐national, New York, US, v. 30, n.3, p. 351‐356, mai. 2004.  

Caso 4: União Europeia, as diretivas comunitárias e o caso particular de Portugal 

Na UE optou‐se por proibir ou limitar o uso de chumbo em diversas situações: entre outros na gasolina, nas tintas, nos alimentos, nos brinquedos, na água potável e nos equipamentos eletrônicos, existindo uma tendência ao seu total banimento para todo e qualquer bem de consumo. 

A UE adota duas diretivas que abordam os problemas suscitados pelos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos e uma terceira referente à proibição de adição de chumbo à gasolina e combustíveis.  

A  diretiva  relativa  aos  resíduos  de  equipamentos  elétricos  e  eletrônicos  (Diretiva REEE), que entrou em vigor em fevereiro de 2003, visa prevenir a produção e pro‐mover a reutilização, a reciclagem e outras formas de valorização desses resíduos, a fim de reduzir a quantidade a eliminar por depósito em aterro ou incineração. Impõe, pois,  a  recolha,  a valorização e  a  reutilização/reciclagem dos REEE. Onde se  justifi‐que, deve ser dada prioridade à reutilização do aparelho na sua totalidade. 

E  a  diretiva  relativa  à  restrição  do  uso  de  determinadas  substâncias  perigosas  em equipamentos elétricos e electrônicos (Diretiva RSP),  que entrou em vigor em julho de 2006, procura que, quando existam alternativas, o chumbo, o mercúrio, o cádmio, o  cromo  hexavalente,  os  bifenilos  polibromados  (PBB)  e  os  éteres  difenílicos  poli‐bromados (PBDE) do equipamento elétrico e eletrônico sejam substituídos, a fim de facilitar uma valorização correta e prevenir problemas durante a fase de gestão dos resíduos. Há ainda mais legislação comunitária incidente nos CFC, PCB e PVC.) 

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Quanto  à  primeira,  dados  de  base  sobre  resíduos  de  equipamentos  elétricos  e eletrônicos (REEE), indicam a produção de 21 kg por habitante e por ano – no total, cerca de 9 milhões de toneladas por ano (4% do fluxo de resíduos urbanos). A dire‐tiva assegura a criação de sistemas de recolha e garante que os produtores de equi‐pamento  elétrico  e  eletrônico  assegurem  o  financiamento  da  recolha,  tratamento, valorização e eliminação em boas condições ambientais. 

Quanto  à  segunda,  a UE  conta  com dispositivos  normativos  bastante  restritivos  no que diz respeito à proibição em equipamentos elétricos e eletrônicos de certos me‐tais pesados  (mercúrio,  chumbo,  cádmio e  cromo) e  substâncias halogenadas  (CFC, PCB, PVC e retardadores de chama bromados), substâncias ambientalmente proble‐máticas  que  estes  componentes  contêm  incluem‐se mercúrio,  cádmio,  cromo hexa‐valente, dentre outros elementos, em seus equipamentos eletrônicos. A  lei, de  julho de  2011,  foi  criada  para  reforçar  a  segurança  desses  produtos,  é  mais  extensiva, abrangendo todo equipamento eletrônico, cabos e peças sobresselentes. Agora, serão somados  ao  controle  de  segurança,  produtos  eletrônicos  como:  termostatos, dispositivos  médicos  e  painéis  de  controle.  O  objetivo  é  prevenir  a  liberação  de chumbo e outras substâncias no meio ambiente (PANASONIC, 2011). 

Abrangem um amplíssimo espectro de produtos, incluindo aparelhos eletrodomésti‐cos  pequenos  e  grandes,  equipamento  de  TI  e  telecomunicações,  equipamentos  de iluminação e bens de consumo como rádios,  televisores, câmaras de vídeo ou siste‐mas de alta fidelidade. Tais produtos comportam muitos e variados materiais e com‐ponentes, alguns dos quais perigosos – razão pela qual os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, se não forem adequadamente tratados, podem causar graves problemas ambientais durante a fase de gestão, nomeadamente depósito em aterro e incineração. 

No que concerne as normas de utilização de combustíveis, a UE, desde de 1998, proi‐biu o uso de gasolina com chumbo em todos os seus Estados‐Membros, a partir da implementação da Diretiva 98/70/CE. Essa Diretiva especifica a qualidade da gaso‐lina e do combustível para motores diesel que podem ser utilizados na Comunidade. Assim, desde  janeiro de 2000, os estados‐membros  foram obrigados a garantir que toda gasolina sem chumbo e todo o gasóleo (combustível para motores diesel), ven‐didos  nos  seus  territórios  respeitassem  os  níveis  máximos  de  enxofre  estipulados pela diretiva. 

Em  certos  países,  como Portugal,  o  chumbo desempenha um papel  importante nas atividades  de  caça,  como munição,  e  ainda na pesca  como  chumbada.  Contudo,  em anos recentes sua utilização na caça está sendo proibida, para cumprir o Acordo so‐bre a Conservação de Aves Aquáticas Migratórias Afro‐Eurasianas (Agreement on the Conservation  of  African‐Eurasian  Migratory  Waterbirds  ‐  AEWA),  do  qual  fazem parte  117  países;  da  Europa,  parte  da  Ásia,  África,  Oriente  Médio  e  Canadá.  Este acordo internacional obriga a interditar o uso do chumbo principalmente nas zonas 

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úmidas de cada território, em cartuchos carregados com granalha para a caça de aves aquáticas, sobretudo em regiões úmidas.  

O saturnismo ‐ processo que consiste no envenenamento pelo chumbo ‐ no caso dos patos e outras aves aquáticas ocorre, quando as aves ingerem grãos de chumbo resul‐tante dos tiros dos caçadores. 

Estas  aves  ingerem areia  e pequenas pedras  para  facilitar  a digestão mecânica dos alimentos na moela,  ingerindo  conjuntamente os  grãos de  chumbo que existem es‐palhados no meio ambiente, provocando, estima‐se, mais de dois milhões de mortes anualmente no mundo, só de patos bravos (JUCAS. 2006).  

Os dispositivos para caça, recomendados e disponíveis para compra, atualmente, são aqueles com granalha de metais alternativos, como o bismuto, e o aço. Não há estatís‐ticas das quantidades disponibilizadas de chumbo para o meio ambiente, mas o país vizinho, a Espanha estima em 6 mil toneladas por ano. Quanto à pesca, as chumbadas que são usadas para dar peso às iscas de pesca, não têm ainda regulamentação restri‐tiva em Portugal, podendo ser livremente comercializadas, ao contrário de vastas re‐giões dos EUA e Canadá onde foram suprimidas (JUCAS. 2006). 

Com relação à utilização de combustíveis como aditivos de chumbo, a comercializa‐ção  da  gasolina  com  chumbo  foi  proibida  desde  2000,  embora  Portugal  tenha  tido uma prazo maior, até 2005, para se adaptar a nova realidade. Anualmente, eram jo‐gados no meio ambiente 300 toneladas por ano de partículas de chumbo (Planetaa‐zul, 2012). 

Com relação  aos aparelhos elétricos e  eletrônicos,  Portugal  cumpre  a diretiva mais recente da União Européia, de 2011, que reforça a segurança desses equipamentos. (UNL, 1999)  

O  que  ainda  se  constitui  um  grave  problema  ambiental  em  Portugal  são  as  minas abandonadas.  Apesar  de  muitas  delas  já  terem  cessado  suas  atividades  há  alguns anos,  continuam representando uma ameaça à  saúde pública. Existem mais de 100 complexos mineradores abandonados, sendo a região do Alentejo é a mais problemá‐tica devido à Faixa Piritosa Ibérica (FPI), onde os minérios explorados, sobretudo os sulfetos,  são muito  instáveis,  dando origem a  águas muito ácidas e  liberando  subs‐tâncias tóxicas como: o chumbo, arsênio, mercúrio, cádmio, dentre outros. 

Aí se localiza a mina de Caveira, em Grândola. Sua atividade foi muito intensa nos sé‐culos I até IV. Contudo, foi nos anos 1950, que atingiu o seu auge com a utilização in‐tensiva da pirita como matéria‐prima para a produção de ácido sulfúrico e fertilizan‐tes  fosfatados,  bem  como  os  resíduos  resultantes  do  processo  de  beneficiamento como matéria‐prima para mineral de  ferro,  cobre,  zinco e  chumbo. O  foco dos pro‐blemas ambientais, como da maioria das minas portuguesas abandonadas, está loca‐lizado  na  pilha  de  resíduos  sólidos  deixada  pela  exploração,  onde  a  água  da  chuva provoca  a  formação  de  uma  fonte  de  drenagem  ácida.  Estudos  feitos  na  região  da 

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mina  apontam uma  alta  concentração  de  substâncias  prejudiciais  à  saúde,  como:  o cobre, o zinco, o chumbo, ferro e manganês (SIMÕES, 2012).  

As minas da Cunha Baixa, implantadas no Distrito de Viseu, Região Norte, no conse‐lho  de  Mangualde,  são  outro  exemplo  desse  problema  ambiental.  Sua  atividade  já cessou há alguns anos, mas a extração de urânio feita no local gera distúrbios ambi‐entais até hoje. O urânio e outros metais pesados contaminaram a  jusante da mina, uma vasta área onde se desenvolve a atividade agrícola, terrenos cultivados pela po‐pulação ao longo de uma linha d'agua que vai desde a mina até o rio Castelo, afluente do rio Mondego. A água proveniente da estação de tratamento da mina e de nascen‐tes, com origem nas pilhas de rejeitos, foi utilizada para rega dos solos com finalidade agrícola,  provocando  assim  sua  contaminação  e,  consequentemente  dos  vegetais  e legumes aí cultivados que são vendidos em outros centros urbanos. (SIMÕES, 2012; PSSSTI!, 2011). 

A UE  também destina  recursos do  seu orçamento para  requalificação ambiental de áreas afetadas pela atividade mineira, obrigando que os antigos espaços mineiros te‐nham que ficar em condições semelhantes aos que eram antes da instalação da mina, mas muito pouco foi feito ainda em Portugal para minimizar esse problema. 

Bibliografia Caso 4 

ABREU, I. Ambiente e Saúde. Naturlink. 2012. Disponível em: http://naturlink.sapo.pt /Natureza‐e‐ambiente/Interessante/content/Ambiente‐e‐Saude?viewall=true&print =true 

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http://www.planetazul.pt/edicoes1/planetazul/desenvArtigo.aspx?a=19527&c=4008&r=37 

JUCAS, I. A. G. M. Consequência do uso de chumbo na pesca. Câmara dos Deputados. Biblioteca Digital. 2006 

PESCA  E  CAÇA.  Cartuchos  de  chumbo  serão  proibidos  a  partir  da  próxima  época venatória  2010/2011.  2012.  Disponível  em:  http://pescaecaca.com/cartuchos‐de‐chumbo‐serao‐proibidos‐a‐partir‐da‐proxima‐epoca‐venatoria‐20102011 

PSSST!. Minas abandonadas: um problema sério. 2011. Disponível em: http:// quimica paratodosuevora.blogspot.com.br/2011/01/minas‐abandonadas‐um‐problema‐serio. html  

Planetazul, O Portal de Ambiente e Sustentabilidade. Intoxicação por metais pesados.  Saúde  e  Ambiente,  Beleza,  saúde  e  bem‐estar,  Vida  &  Lazer.  Planetazul.  2011. Disponível em:  

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PANASONIC.  Televisores  livres  de  chumbo.  2012.  Disponível  em:    http://www. panasonic.pt/html/pt_PT/Tecnologia/Meio+Ambiente/Televisores+livres+de+chumbo/5209759/index.html 

SIMÕES. S. A caveira que envenena o ecossistema. DN Portugal. 19 fev. 2012. Disponível em: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=231 3721 

Sites: 

www.ecoa.org.br   

http://europa.eu 

http://pagina.fenca.pt 

http://bd.camara.gov.br 

Caso 5: A mineração ilegal de ouro na Nigéria  

A Nigéria conta com grandes jazidas minerais de ouro, cobre, ferro e manganês, o que levou o governo do país africano a  inaugurar uma usina de processamento mineral no  estado  de  Zamfara,  no  norte  do  país,  e  a  buscar  investimentos  para  a  região (YAHAYA, 2010). 

Mas essa riqueza mineral associada à pobreza da população propicia a mineração ile‐gal,  com uso de  técnicas rudimentares e emprego de produtos químicos, o que  tem causado  envenenamento  da  população  por  metais  pesados  (ECO DESENVOLVIMENTO, 2010). 

Os moradores  dos  vilarejos  costumam  buscar  ouro  em  jazidas  onde  se  encontram também minerais contendo chumbo, cobre e mercúrio. Muitas vezes, o garimpo é a principal fonte de renda da população, que obtém maiores ganhos com a atividade do que  com a agricultura. Enquanto um grama de ouro é vendido a 3.500 nairas  (US$ 26), 50 kg de milho rendem 6.000 nairas (US$ 45) (ECO DESENVOLVIMENTO, 2010). 

Essa mineração ilegal de ouro foi a responsável pela pior intoxicação por chumbo já registrada no mundo (O GLOBO, 2010). Entre março e outubro de 2010, 400 crianças com idade inferior a cinco anos morreram no estado nigeriano de Zamfara devido ao envenenamento por chumbo (REUTERS, 2010), e estima‐se que haja 18 milhões de pessoas  contaminadas  (ECO DESENVOLVIMENTO,  2010).  As  aldeias  afetadas  estão localizadas árida região do Sahel, na  franja sul do Sahara, onde muitas pessoas  tra‐balham como garimpeiros e agricultores de subsistência (REUTERS, 2010).  

O envenenamento  foi descoberto pela agência humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), no início de 2010, quando desenvolvia seu programa de imunização anual. Os profissionais de saúde perceberam que a maioria das crianças da região estava mor‐rendo e que em alguns vilarejos elas quase haviam desaparecido. Os moradores sus‐peitavam de malária, mas exames de sangue  indicaram contaminação por produtos químicos  (ECO  DESENVOLVIMENTO,  2010;  BBC  BRASIL,  2010).  De  acordo  com  o 

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MSF, 90% dos menores de 5 anos apresentavam intoxicação por chumbo, e mais de 100 crianças tinham níveis de metal 10 vezes superior ao aceitável (HOEN, 2010). 

Foi identificada, entre as pessoas que estiveram em torno da área onde há escavações de ouro, uma grande  incidência de dores abdominais,  vômitos, náuseas e eventual‐mente convulsões (YAHAYA, 2010). Há registros também de altas  taxas de  infertili‐dade e abortos, segundo dados da MSF (ECO DESENVOLVIMENTO, 2010). 

As escavações de minérios são proibidas por lei na Nigéria, porém muito moradores ignoram e persistem na atividade, que libera quantidades letais de chumbo presente no solo. Acredita‐se que o material tóxico acabou por contaminar rios e locais onde as crianças brincavam (BBC BRASIL, 2010). 

Para piorar o quadro, muitos garimpeiros levavam o produto do garimpo para os vi‐larejos para processamento adicional, manual ou mecânico, o que envolve trituração e secagem. O trabalho é feito, geralmente, dentro de barracas onde vivem as famílias, por crianças e mulheres (ECO DESENVOLVIMENTO, 2010; MSF, 2012a).  

Mesmo quando não manipulam diretamente o metal, os habitantes dos vilarejos aca‐bam  contaminados  pela  poeira  trazida  pelos  trabalhadores  no  corpo,  nas  roupas  e nos  equipamentos  de  trabalho  (O  GLOBO,  2010;  ECO  DESENVOLVIMENTO,  2010; YAHAYA, 2010).  

O nível de contaminação atingiu níveis elevadíssimos. Numa das casas,  análises de‐monstraram que havia chumbo numa proporção de 11 mil partes por milhão, quando o nível seguro é de 400 partes por milhão, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (O GLOBO, 2010).  

Investigações  realizadas  pelo  Centro  de  Controle  de  Doenças  (CDC),  Ministério  da Saúde, OMS e MSF estimam que toda a população de sete vilas contaminadas possa estar sendo afetada. São aproximadamente 10 mil pessoas, dentre as quais 2 mil cri‐anças com menos de cinco anos (MSF, 2012).  

As crianças são as principais vítimas, pois, além de mais vulneráveis, costumam brin‐car no chão de barro, onde a poeira contaminada com chumbo se torna praticamente invisível (O GLOBO, 2010; ECO DESENVOLVIMENTO, 2010; YAHAYA, 2010). As mu‐lheres grávidas ou que estão amamentando também podem transmitir a contamina‐ção por meio da placenta ou da amamentação (REUTERS, 2010). 

A pedido do governo da Nigéria, entidades internacionais como a Organização Mun‐dial da Saúde (OMS), o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Uni‐dos e o Instituto Blacksmith, de Nova York (YAHAYA, 2010) ‐ uma organização inter‐nacional sem fins lucrativos que investiga riscos ambientais e organiza a limpeza de áreas contaminadas por chumbo (O GLOBO, 2010) ‐ têm atuado na região (YAHAYA, 2010).  

Uma missão da Organização das Nações Unidas (ONU) também constatou contamina‐ção por elevados níveis de chumbo na água que abastece quatro de cinco aldeias visi‐

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tadas: Abare, Bagega, Dareta, Kersa e Sunke. As concentrações de mercúrio no ar es‐tavam igualmente elevadas (REUTERS, 2010). De acordo com levantamento feito pela ONU, em 2011, os níveis de mercúrio no ar eram quase 500 vezes superiores ao  li‐mite  aceitável,  e  na  água  potável,  cerca  de  dez  vezes  acima  do  recomendado (PANDORA, 2012).  

O envenenamento por chumbo aconteceu no momento em que o preço internacional do  ouro  superou  US$  1.300  por  onça,  devido  à  crise  econômica  global  (O  GLOBO, 2010), o que estimulou a mineração e, consequentemente, a exposição dos garimpei‐ros ao chumbo (PANDORA, 2012). Para tentar controlar o problema, tem sido criados mutirões para remover a camada superficial do solo contaminado e substituí‐la por terra limpa (O GLOBO, 2010; BBC BRASIL, 2010). 

A organização internacional Human Rights Watch (HRW) destaca que o governo deve implementar, ao menos, três mudanças essenciais: práticas mais seguras de minera‐ção; limpeza das áreas contaminadas; e tratamento de crianças em risco de envene‐namento por chumbo (PANDORA, 2012).  

De acordo com a entidade, se as casas dos moradores dos vilarejos afetados não fo‐rem limpas e se os garimpeiros não passarem a usar técnicas mais seguras, que mi‐nimizem a exposição ao chumbo, o tratamento não será eficaz e as crianças vão con‐tinuar expostas (ECO DESENVOLVIMENTO, 2010).  

Representantes da MSF destacam que a perda dos meios de subsistência das famílias afetadas  também deve  ser  considerada pelas  autoridades,  para  que  as pessoas não continuem “a arriscar a saúde de suas famílias a fim de ganhar a vida” (MSF, 2012a). Em janeiro de 2011, um relatório da MSF alertava que algumas aldeias já desconta‐minadas apresentavam novamente vestígios de chumbo e mercúrio porque os mora‐dores  retomaram  a  exploração  das  minas  sem  tomar  as  devidas  precauções (AGÊNCIA BRASIL, 2012).  

Depois de representantes do governo terem minimizado os episódios de contamina‐ção  por  chumbo  (BBC  BRASIL,  2010),  o  presidente  nigeriano,  Goodluck  Jonathan, aceitou liberar 650 milhões de nairas, aproximadamente 4 milhões de dólares, para tratamento do meio ambiente e promoção de práticas mais seguras de mineração em Zamfara  (PANDORA,  2012),  mas,  até  2012,  a  verba  ainda  não  havia  sido  liberada (MSF, 2012b). 

Em 2012, o envenenamento na Nigéria voltou às manchetes dos veículos de comuni‐cação, depois que a MSF promoveu uma conferência internacional visando encontrar soluções  para  a  questão  da  contaminação  no  país.  Delegados  que  participaram  do evento, dentre eles os ministros do Zamfara, o chefe de estado dos Emirados de Anka, representantes  do  governo  nigeriano,  funcionários  de  organizações  humanitárias nacionais e internacionais, cientistas, e especialistas em saúde, meio ambiente e mi‐neração,  se  mostraram  desapontados  pela  ausência  dos  tomadores  de  decisão  da Nigéria  – ministros  de Minas, Meio Ambiente  e  Saúde  –  e  pelo  fato  de  que  não  foi 

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anunciada  nenhuma  ação  concreta  por  parte  do  governo  federal  para  enfrentar  o problema (MSF, 2012b).  

A MSF alertou que pelo menos 1,5 mil crianças contaminadas por chumbo na aldeia de Bajega estão sem tratamento médico desde 2010, o que pode provocar lesões ce‐rebrais graves e até mesmo a morte. Os moradores também continuam à espera da descontaminação de sua aldeia (AGÊNCIA BRASIL, 2012; MSF, 2012b). 

O coordenador de emergência da MSF, o australiano Lauren Cooney, advertiu sobre a necessidade de um programa coordenado de educação em saúde visando promover mudanças de comportamento entre a população  local para evitar novas recontami‐nações (MCLAUGHLIN, 2010). 

Estudos anteriores a 2010 parecem indicar que essa era uma tragédia anunciada. Um estudo  feito em 2009  já apontava que,  ao contrário dos países ocidentais, que pro‐gressivamente têm registrado queda no nível de chumbo no sangue da população, na Nigéria esses níveis têm sido mantido altos, não só entre os trabalhadores expostos, como entre a população não diretamente exposta. Segundo o estudo, as autoridades de saúde nigerianas e os pesquisadores não têm encontrado uma solução para o pro‐blema, apesar de sua relevância para a saúde pública (ORISAKWE, 2009). 

Um outro estudo, publicado em 2012, analisou a concentração de chumbo na água de poços do estado nigeriano de Benue. Foram coletadas água de 26 poços de comuni‐dades  rurais,  nos meses  de  outubro  e  fevereiro,  representando  as  estações  secas  e úmidas. Os  resultados mostraram que a  concentração de chumbo aparece em nível além  do  recomendável  pela  OMS  na  estação  chuvosa.  A  possível  causa  seria  o  au‐mento do uso de  fertilizantes químicos nas  fazendas nesse período, o que acabaria contaminando as águas subterrâneas (OCHERI; OGWUCHE, 2012). 

Bibliografia Caso 5 

AG  SOLVE.  Os  6  poluentes  tóxicos  que  mais  ameaçam  o  planeta,  25  jan.  2011. Disponível em: <http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=4346>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

AGÊNCIA  BRASIL.  Na  Nigéria,  crianças  contaminadas  por  chumbo  estão  sem tratamento  médico.  In:  Jornal  do  Commercio,  Recife,  11  maio  2012.  Disponível  em: <http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/mundo/internacional/noticia/2012/05/11/na‐nigeria‐criancas‐contaminadas‐por‐chumbo‐estao‐sem‐tratamento‐medico‐41780.php>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

BBC  Brasil.  Centenas  podem  morrer  envenenados  por  chumbo  na  Nigéria,  diz especialista,  07  jun.  2010.  Disponível  em:  <http://www.bbc.co.uk/portuguese/ noticias/2010/06/100607_chumbo_envenenamento_nigeria_mv.shtml>.  Acesso  em: 03 nov. 2012. 

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MCLAUGHLIN, Nicholas.  Nigeria: Education Crucial to Prevent More Lead Poisoning. The Epoch Times,  21  jun.  2010. Disponível  em: <http://www.  theepochtimes.com/ n2/world/nigeria‐education‐crucial‐to‐prevent‐more‐lead‐poisoning37714.html>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

MSF,  Médicos  sem  Fronteiras.  Nigéria:  intoxicação  por  chumbo  coloca  crianças  em risco de vida. Disponível em: <http://www.msf.org.br/noticias.aspx?n=1171>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

MSF, Médicos sem Fronteiras.  Contaminação por chumbo na Nigéria: é hora de agir, 11 maio  2012b.  Disponível  em:<http://www.msf.org.br/noticias/1467/  contaminacao‐por‐chumbo‐na‐nigeria‐e‐hora‐de‐agir/>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

O GLOBO.  Corrida por ouro provoca intoxicação por chumbo na Nigéria. Rio de Janeiro, 30  nov.  2010.    Disponível  em:<http://oglobo.globo.com/mundo/corrida‐por‐ouro‐provoca‐intoxicacao‐por‐chumbo‐na‐nigeria‐2917619>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

ORISAKWE,OE.  Environmental  pollution  and  blood  lead  levels  in  Nigeria:  who  is unexposed?    Int  J  Occup  Environ  Health.  Jul‐Set.  2009;15(3):315‐7.  Disponível em:<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19650587>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

OCHERI, Maxwell;  OGWUCHE,  Jonathan.  Lead  in  rural  groundwater  of  Benue  state, Nigeria. Department of Geography, Benue State University, Makurdi, Nigeria, 07 maio 2012.  Disponível  em:  <http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm= 1&source=web&cd=12&ved=0CCwQFjABOAo&url=http%3A%2F%2Fwww.wudpeckerresearchjournals.org%2FJESWR%2FPdf%2F2012%2FJune%2FOcheri%2520and%2520Ogwuche.pdf&ei=WLGVUOTMEITq9ATOmYGgAQ&usg=AFQjCNHu6HjaIO4rWpoId3Hg5aqAXKl1Kg&sig2=kLvXuoGZyOBuJ4q4JHzwIQ/>.  Acesso  em:  03  nov. 2012. 

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SAMPAIO, Madalena. Nigéria: mortes sobre o ouro.DW, 07 fev. 2012. Disponível em: <http://www.dw.de/nig%C3%A9ria‐mortes‐sobre‐o‐ouro/a‐15723499‐1>.  Acesso em: 03 nov. 2012. 

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YAHAYA, Sahabi. Envenenamento por chumbo mata 163 pessoas na Nigéria.  Reuters. In:  Estadao.com.br,  04  jun.  2010.  Disponível  em:  <http://www.estadao.com.br/ noticias/internacional,envenenamento‐por‐chumbo‐mata‐163‐pessoas‐na‐nigeria,561672,0.htm>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

Caso 6: A comunidade Roma do Kosovo (Ex­Iugoslávia) 

A contaminação por chumbo em campos para refugiados, onde há mais de uma dé‐cada  vivem  inúmeros  Roma  [comumente  chamados  de  ciganos]  desalojados  de  seu território de origem (OSCE, 2009; HUMAN RIGHTS WATCH, 2009), é um grave pro‐blema  em Kosovo,  país  com  10.887  km²,  localizado  nos  Bálcãs,  sudeste  da  Europa (SANTANNA, 2012). A despeito de várias iniciativas voltadas à garantia dos direitos humanos da  comunidade  cigana,  nenhuma  solução duradoura  foi  satisfatoriamente alcançada (OSCE, 2009; HUMAN RIGHTS WATCH, 2009).  

O Kosovo era uma província da Sérvia até 2008, quando declarou sua independência, após  o  conflito  de  1998‐1999  entre  a  guerrilha  separatista  kosovar  e  as  forças  de Belgrado, capital sérvia (FRANCE PRESS, 2012). O Kosovo é um dos países mais po‐bres  da  Europa.  Apesar  de  possuir  grandes  reservas  de  chumbo,  alumínio,  níquel, zinco, cromo, magnésio, entre outros minerais, não dispõe de infraestrutura e de in‐vestimentos suficientes para sua exploração (INFOPÉDIA, 2012), o que foi agravado pelo conflito de 1999 contra os sérvios. Desde então, o país vive da ajuda internacio‐nal, que somou US$ 11 bilhões entre 1999 e 2007 (SANTANNA, 2012). 

Devido à alta taxa de desemprego, muitos kosovares, que viviam em sua maioria em zonas  rurais,  buscaram  na  emigração  uma maneira  de melhorar  seu  nível  de  vida (INFOPÉDIA, 2012). Vários países europeus, no entanto, vêm, desde o  início da dé‐cada  de  2000,  deportando‐os  para  Kosovo,  num  ato  de  discriminação  étnica.  Até 2009, em toda a Europa, cerca de 8 mil albano‐kosovares foram enviados de volta seu país de origem (DW‐WORLD, 2009).  

Ao retornarem ao Kosovo, os deportados ficavam sob responsabilidade do Ministério do Trabalho e da Ação Social. No caso dos ciganos, o governo não tinha moradias ou empregos a lhes oferecer, portanto eram encaminhados aos já lotados campos de de‐sabrigados de Mitrovica (DW‐WORLD, 2009). 

Esta  cidade  cresceu  em  torno  das  atividades  da  Trepca,    importante  complexo mí‐nero‐industrial de Kosovo, composto por mais de 40 minas, fundições e fábricas sub‐sidiárias espalhadas por todo o país. Em Mitrovica, ficavam a mina principal do com‐plexo ‐ Stan Tërg/Stari trg  ‐  e várias plantas de processamento, que respondiam, nas décadas  de  1970‐1980,    por  70%  da  produção  mineral  da  antiga  Iugoslávia  (STUART, 2002). [Hoje, devido às constantes tensões entre sérvios e albaneses, ao con­flito de 1999 e às dificuldades do pós­guerra, a empresa está à beira do colapso]. 

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No entanto, de acordo com estudos, as atividades minerárias do complexo de Trepca em Mitrovica aumentaram consideravelmente os níveis de poluição ambiental na ci‐dade e seu entorno. Do final dos anos 1970 até a década de 1990, a Divisão de Epi‐demiologia e Saúde Pública da Universidade de Columbia realizou diversos estudos sobre o nível de contaminação da população residente nas proximidades da fundição. De acordo com as pesquisas, os habitantes de Mitrovica apresentavam níveis eleva‐dos de chumbo no sangue em virtude das emissões causadas pelas atividades mine‐rárias (OSCE, 2009). 

Segundo especialistas,  a  situação nutricional  e  as  condições de higiene dos  ciganos dos campos de Mitrovica, associadas às peculiaridades de suas etnias, deixaram‐nos mais vulneráveis à contaminação por chumbo (OSCE, 2009). Dorit Nitzan, represen‐tante da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Belgrado, ressalta que o envene‐namento por chumbo na região da Mitrovica é bastante grave, e a contaminação nos campos é pior, devido às precárias condições de vida dos ciganos (VIEGAS, 2009), e à grande proximidade com as antigas minas do complexo de Trepca e sua escória con‐taminada (OSCE, 2009). 

Em 2000, a fundição da Trepca em Mitrovica foi fechada pela Missão das Nações Uni‐das (Unmik, do inglês) em Kosovo, com o objetivo de reduzir os riscos à saúde causa‐dos pelo empreedimento. Entretanto, o chumbo não se decompõe e permanece nas camadas superiores do solo, continuando também a contaminar o ar, expondo os ha‐bitantes de Mitrovica e áreas próximas (OSCE, 2009). 

De  acordo  com  avaliações  realizadas  pela  Organização Mundial  de  Saúde  (OMS)  e pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, entre 2004 e 2007, a comunidade de ciganos permanecia como a mais afetada pelo metal (OSCE, 2009). 

Diante  da  situação,  o  escritório  do  Alto  Comissariado  da  ONU  para  Refugiados (UNHCR, do inglês) limitou‐se a distribuir alimentos aos ciganos e providenciou seu alojamento  nos  campos  Cesmin  Lug  and  Zitkovac,  ao  norte  de  Mitrovica  (HUMAN RIGHTS WATCH, 2009). Os campos eram para ser um local temporário até que as ca‐sas fossem reconstruídas em Roma Mahalla, mas há ciganos que já estão lá há mais de 10 anos (HUMAN RIGHTS WATCH, 2009). 

Outros ciganos ocuparam espontaneamente quartéis abandonados em Kablare, pró‐ximo  a  Cesmin  Lug,  e  Leposavic,  cidade  a  45  km  de  Mitrovica.  Com  exceção  de Leposavic,  todos os  campos estão na vizinhança do complexo minerário da Trepca, sendo que Cesmin Lug e Kablare localizam‐se exatamente ao lado do local onde estão depositadas  as  pilhas  de  escória  contaminada  com  chumbo  (HUMAN  RIGHTS WATCH, 2009). 

A partir de 2004, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, do inglês), entidade que  luta pelos direitos humanos de minorias étnicas, presente em Kosovo  desde  1999,  vem  monitorando  a  situação  dos  ciganos  nos  campos  de 

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CCaassooss  ppaarraaddiiggmmááttiiccooss  ssoobbrree  ccoonnttaammiinnaaççããoo  pprroovvooccaaddaa  ppoorr  cchhuummbboo  eemm  vváárriiaass  rreeggiiõõeess  ddoo  mmuunnddoo 220 

Mitrovica. Em conjunto com instituições locais e organizações internacionais, a OSCE luta para que os direitos dos ciganos sejam garantidos (OSCE, 2009). 

No decorrer dos anos, várias testagens foram realizadas no sangue de moradores dos campos  de  refugiados,  inclusive  de  crianças, mais  vulneráveis  à  contaminação  por chumbo  por  razões  neurológicas,  metabólicas  e  comportamentais,  como  o  fato  de tenderem a colocar objetos na boca (BROWN; MARGOLIS, 2012).  

Numa  destas  testagens,  realizada  em  outubro  de  2008  nos  campos  de  Leposavic, Cesmin Lug e Osterode, das 53 crianças que tiveram o sangue recolhido, 21 apresen‐taram níveis de chumbo elevados no sangue, com mais de 65 µg/dL, requerendo in‐tervenção  médica  imediata.  O  aceitável  é  até  10  µg/dL  (HUMAN  RIGHTS WATCH, 2009). 

Ainda  em  2005,  uma  força  tarefa,  envolvendo  várias  organizações,  dentre  elas  a OSCE, conseguiu que fossem realizadas algumas medidas paliativas nos campos para amenizar a situação dos ciganos, incluindo a distribuição de comida e de material de higiene. Em 2006, os campos de Zitkovak e Kablare foram fechados, e seus morado‐res, removidos para Osterode (HUMAN RIGHTS WATC). 

Bibliografia Caso 6 

BROWN, Mary  Jean; MARGOLIS,  Stephen. Lead  in drinking water  and human blood  lead levels  in the United States, Centers for Disease Control and Prevention, 10 ago. 2012. Disponível em: <http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/su6104a1. htm?s_cid=su6104a1_w>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

DW‐WORD. Alemanha prepara deportação de 14 mil refugiados para o Kosovo, 2009. Disponível  em:  <  http://refunitebrasil.wordpress.com/2009/10/19/alemanha‐prepara‐deportacao‐de‐14‐mil‐refugiados‐para‐o‐kosovo/>.  Acesso  em:  03  nov. 2012. 

FRANCE PRESS. Kosovo conquista 'soberania plena'. In: G1, 10 set. 2012. Disponível em:  <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/09/kosovo‐conquista‐soberania‐plena.html>. Acesso em: 04 nov. 2012. 

HUMAN RIGHTS WATCH. Kosovo: Poisoned by Lead A health and human rights crisis in Mitrovica’s Roma camps, jun. 2009. Disponível em: <http://www.observatori.org/ paises/pais_55/documentos/kosovo0609web.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

INFOPÉDIA. Kosovo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003‐2012. [Consult. 2012‐11‐03].  Disponível  em:  <http://www.infopedia.pt/$guerra‐no‐kosovo>.  Acesso em: 03 nov. 2012.  

O  GLOBO.  Aviso  contra  envio  de  ciganos  para  Kosovo,  19  ago.  2010.  Disponível  em: <http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1643930&seccao=Europa>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

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   CCaarrllaa  CCoossttaa,,  EElliiaannee  AArraauujjoo,,  RReennaattaa  DDaammiiccoo  OOlliivviieerrii  ee  IInnêêss  RRiibbeeiirroo  ee  RRaaqquueell  LLuucceennaa   221  

 

OSCE. Organization for Security and Co‐operation In Europe. Lead contamination in Mitrovicë:  mitrovicaaffectingthe  Roma  community.  Kosovo:  OSCE,  fev.  2009. Disponível em: <http://www.osce.org/kosovo/36234>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

VIEGAS,  Patrícia.  Kosovo  independente  tem  uma  geração  a  morrer  envenenada. Diário  de  Notícias,  jan.  2009.  Disponível  em:  <http://www.dn.pt/inicio/interior. aspx?content_id=1139225>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

SANTANNA, Lourival.  Sérvia e Kosovo  ‐ Ficha  técnica. Disponível em:<http://www. lourivalsantanna.com/paises/f_iugosla.html>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

STUART,  Paul.  O  complexo  de mineração Trepca:  Como despojos  do Kosovo  foram distribuídos. In: Word Socialist Web Site, 28 jun. 2002. Disponível em: <http://www. wsws.org/articles/2002/jun2002/trep‐j28.shtml>. Acesso em: 04 nov. 2012. 

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A bibliografia listada a seguir é resultado de uma intensa busca, realizada por várias pessoas, de publicações sobre a contaminação, principalmente, de chumbo e cádmio em Santo Amaro e Boquira (BA) e na região do Vale do Rio Ribeira do Iguape (SP e PR),  locais  reconhecidamente  contaminados pelas  atividades de mineração e meta‐lurgia do chumbo. Ao longo deste processo diferentes assuntos relacionados com es‐tes metais foram sendo incorporados à lista. As referências foram divididas em gran‐des temas: Sítios contaminados; O elemento e seus usos; O ambiente físico; Influên‐cias no meio ambiente e saúde humana; Avaliação de risco e valores orientadores e Remediação. 

Sítios contaminados 

Santo Amaro3 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: dissertações (12), teses (3), artigos científicos  (26), resumo executivo (1), monografias  (2),  capítulos de  livro  (2),  resumos de  congresso  (11),  relatórios  (20), documentos eletrônicos (6), laudo (1), protocolo (2), vídeos (8) e notícias (21). 

ADÔRNO,  E.  V.  et  al.  SIG  e  geoestatística  na  caracterização  dos  potenciais socioambientais  e  qualidade  da  água  no  alto  da  bacia  do  rio  Subaé.  In:  SIMPOSIO REGIONAL DE GEOPROCESSAMENTO E SENSORIAMENTO REMOTO, 5.,  2011,  Feira de Santana. Anais... Feira de Santana: UEFS, 2011. p. 80‐83. 

                                                            

1   Mestrado em Ecologia pela UNICAMP ‐ Universidade Estadual de Campinas. 2   Bacharelado  em  Biblioteconomia  pela  UNIRIO  ‐  Universidade  Federal  do  Estado  do  Rio  de 

Janeiro. 3   Todo  material  referenciado  está  disponível  no  Google  Drive.  Para  acessar  utilize  o  e‐mail 

[email protected], com a senha: stamaro2425bahia. 

  Qualquer adição, erro ou omissão nesta  lista,  entrar em contato com Natalia de Souza pelo e‐mail:[email protected]

  As  referências  marcadas  com  asterisco(*)  estão  disponíveis  na  Biblioteca  Padre  José  Gomes Loureiro. Localizada em Santo Amaro‐Bahia, na  rua Conselheiro Paranhos,64. Funcionamento de segunda a sexta, das 9 às 12h/13h às 17h30. 

 

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ALCÂNTARA,  M.  M.  Cidade  de  chumbo:  uma  experiência  de  divulgação  em  vídeo sobre a contaminação ambiental na cidade de Santo Amaro da Purificação. Diálogos &  Ciência,  Salvador,  ano  4,  n.  12,  p.  107‐118,  mar.  2010.  Disponível  em:<http:// dialogos.ftc.br/index.php?option=com_content&task=view&id=213&Itemid=1>. Acesso em: 02 jul. 2010.  

ALMEIDA, M. D. Significado da contaminação para  feirantes de Santo Amaro – BA.  150f.  Dissertação  (Mestrado  em  Saúde,  Ambiente  e  Trabalho)‐Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.* 

ANDRADE  LIMA,  L.  R.  P.;  BERNARDEZ,  L.  A.  Characterization  of  the  heavy  metals contamination due to a lead smelter in Bahia, Brazil. In:  A. Siegmund, L. Centomo, C.Geenen, N.Piret, G. Richards, R. Stephens. (Org.). Lead­Zinc 2010. New York: John Wiley & Sons; Warrendale: The Metals & Materials Society, 2010, p. 917‐927. 

ANDRADE LIMA, L. R. P.; BERNARDEZ, L. A. Characterization of the lead smelter slag in Santo Amaro, Bahia, Brazil. Journal of Hazardous Materials, Amsterdã, v. 189, n. 3, p. 692‐699, 30 maio 2011. 

ANDRADE LIMA, L. R. P.; BERNARDEZ, L. A. Isotope source signatures for a primary lead  smelter  located  close  to  Todos  os  Santos  Bay,  Brazil.  Soil  &  sediment contamination, Boca Raton, v. 20, n. 6,  p. 672‐687, 2011. 

ANDRADE LIMA, L. R. P.; BERNARDEZ, L. A. Evaluation of the chemical stability of a landfilled  primary  lead  smelting  slag. Environmental Earth  Sciences, Heidelberg,  05 Jul. 2012. 

ANDRADE, M. F. de. Devolução de pesquisas sobre contaminação por chumbo numa comunidade  do  recôncavo  baiano  como  estratégia  para  a  democratização  do conhecimento.  In:  ENCONTRO  NORDESTE  COMUNICAÇÃO  E  SAÚDE,  1.,  2012, Salvador. Anais... Salvador: ABRASCO, 2012. 

ANDRADE, M. F. de. A contaminação por chumbo em Santo Amaro­BA: a ciência e o mundo da vida no estuário do Rio Subaé. 2012. 106  f. Dissertação  (Mestrado em Saúde, Ambiente e Trabalho)‐Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012. 

ANDRADE, M. F. de.; MORAES, L. R. S. Communication approach in a risk assessment report: the case of Santo Amaro (BA). In: ENVIRONMENTAL HEALTH, 2011, Salvador. Anais... Salvador: Elsevier, 2011.  

ANDRADE,  M.  F.;  MORAES,  L.  R.  S.  A  abordagem  da  comunicação  em  estudos  de avaliação de risco em saúde ambiental: uma análise crítica do caso de Santo Amaro‐Bahia‐Brasil.  In:  CONGRESSO  INTERAMERICANO  DE  ENGENHARIA  SANITÁRIA  E AMBIENTAL, 33., 2012, Salvador. Anais... Salvador: AIDIS, 2012b.  p. 1‐6.* 

ANJOS, J.A.S.A. Estratégia para remediação de um sítio contaminado por metais pesados  estudo  de  caso.  1998.  157  f.  Dissertação  (Mestrado  em  Engenharia)‐Universidade de São Paulo, 1998.* 

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ANJOS,  J.  A.  S.  A.  Cobrac,  Plumbum,  Trevisan:  estudo  do  passivo  ambiental.  In: SEMINÁRIO  SOBRE A  CONTAMINAÇÃO POR METAIS  PESADOS EM  SANTO AMARO DA  PURIFICAÇÃO,  2001,  Santo  Amaro  da  Purificação.  [Anais...]  Santo  Amaro  da Purificação: [s.n], 2001. p. 1‐17.* 

ANJOS,  J.  A.  S.  A. Avaliação  da  eficiência  de uma  zona  alagadiça  (wetland) no controle da poluição por metais pesados: o caso da Plumbum em Santo Amaro da Purificação/BA.  2003.  301  f.  Tese  (Doutorado  em  Engenharia  Mineral)‐Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.* 

ANJOS, J. A. S. A. Conflito no uso do solo de sítios contaminados por resíduos tóxicos: o  caso  da  Plumbum  em  Santo  Amaro  da  Purificação,  Bahia.  In:  CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 46., 2012, Santos. [Anais...] Santos: SBG, 2012. 

ANJOS,  J.  A.  S.  A.  Contaminação  ambiental  proveniente  da  metalurgia  da Plumbum,  em  Santo  Amaro  da  Purificação/BA.  Engenharia  Mineral  USP.  São Paulo. 2012. 

ANJOS,  J.  A.  S.  A.  Contaminação  ambiental  proveniente  da  metalurgia  da Plumbum, em Santo Amaro da Purificação/BA. [2012]. Documento eletrônico em formato ppt. 

ANJOS,  J.  A.  S.  A.;  SÁNCHEZ,  L.  E.  Caracterização  da  escória  como  fonte  poluidora: estudo  de  caso  da  Plumbum Mineração  e  Metalurgia  Ltda.  In: WORKSHOP  SOBRE ÁREAS CONTAMINADAS, 1997, São Paulo.  Anais... São Paulo: [s.n], 1997. * 

ANJOS, J. A. S. A; SÁNCHEZ, L. E. Plano de gestão ambiental para sítios contaminados de  resíduos  industriais:  o  caso  da  Plumbum  em  Santo  Amaro  da  Purificação/BA. Bahia Análise & Dados, Salvador, v. 10, n. 4, p. 306‐309, mar. 2001.* 

ANTUNES,  C.G.C.  Análise  das  folhas  de  Rhizophora mangle  L.  submetidas  aos impactos ambientais do município de Santo Amaro­BA.  2006.  75f.  Trabalho  de conclusão de  curso  (Bacharelado  em Ciências Biológicas). Universidade Católica do Salvador, Bahia, 2006.* 

ARAGÃO, L. G. T.; ALONZO, H. G. A. Representações sociais de saúde e doença: o caso de  Santo  Amaro  da  Purificação,  Bahia,  Brasil.  Cadernos  Saúde  Coletiva,  Rio  de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 973 ‐ 990, 2005.* 

AUGUSTO,  L.  G.  S;  SILVESTE, D. R.  Contaminação química.  In: Relatores nacionais em  direitos  econômicos,  sociais,  culturais  e  ambientais:  informe  2005:  Rio  de Janeiro: DhESCA, 2006. 

BANCO NACIONAL DO NORDESTE.   Aspectos  sócio‐ambientais.  In: PRODETUR/NE II: PDITS. Brasília: BNN, 2006. cap. 3. 

BRAGA, J. R. M. Estudo preliminar do efeito mutagênico do chumbo e do cádmio em bovinos  (Bos  indicus) da cidade de Santo Amaro da Purificação, BA.  1995. 

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   SSiillvviiaa  GG..  EEgglleerr  ee  NNaattaalliiaa  ddee  SSoouuzzaa  ee  SSoouuzzaa   225  

 

43f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Biologia)‐Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia, 1995. 

BRANDÃO,  A.  M.;  TAVARES,  T.  M.  Distribuição  de  chumbo,  cádmio  e  zinco  em sedimentos  no  estuário  do  rio  Subaé,  Bahia.  Ciência  e  Cultura,  supl.,  n.30, p.406,1978.* 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas  Estratégicas.  Atenção  à  saúde  dos  trabalhadores  expostos  ao chumbo metálico. Brasília, DF: Ed. MS, 2006. 

CARNEIRO  JUNIOR,  I.  N.  C.  Relatório  do  grupo  de  trabalho  justiça  ambiental. Santo Amaro, 2010.  

CARVALHO, F. M. Intoxicação por chumbo e cádmio entre pescadores da Região do Rio Subaé e de Guaibim (área controle). 1978. 111f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1978.* 

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CARVALHO, F. M. et al. Chumbo e cádmio no sangue e estado nutricional de crianças de Santo Amaro, Bahia. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 21, n.1, p. 44‐50, fev. 1987.* 

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Notícias 

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CONTAMINAÇÃO de Santo Amaro: muito estudo, pouca ação. Agência Senado, mai. 2011. Disponível em:  <  http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2011  /05 /26/contaminacao‐de‐santo‐amaro‐muito‐estudo‐pouca‐acao>.  Acesso  em:  24  set. 2011. 

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DEPUTADO  compara  situação  de  Santo  Amaro  à  de  Chernobyl.  Disponível  em:  < http://www.senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id=1800>.  Acesso  em:  13  set. 2009. 

DILMA  diz  que  vai  resolver  desastre  ambiental.  Disponível  em:  <http://www. senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id=1795>. Acesso em: 01 jun. 2011. 

DILMA  determina  medidas  contra  contaminação  no  Recôncavo  Baiano.  Agência Senado,  27  mai.  2011.  Disponível  em:<http://www12.senado.gov.br/noticias /jornal/edicoes/2011/05/27/dilma‐determina‐medidas‐contra‐contaminacao‐no‐reconcavo‐baiano>. Acesso em: 02 out. 2012. 

DILMA receberá dossiê sobre danos causados por chumbo em Santo Amaro. Agência Senado,  27  mai.  2011.  Disponível  em:<http://www12.senado.gov.br/noticias /jornal/edicoes/2011/05/27/dilma‐determina‐medidas‐contra‐contaminacao‐no‐reconcavo‐baiano>. Acesso em: 02 out. 2012. 

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QQuuaarreennttaa  aannooss  ddee  eessttuuddooss  ssoobbrree  cchhuummbboo  nnoo  BBrraassiill::  bbiibblliiooggrraaffiiaa  rreeffeerreenncciiaaddaa 232 

O  JORNAL  da  Tarde:  Bahia:  Boquira:  expropriação  /  Santo  Amaro  da  Purificação: contaminação.  06  out.  2011.  Disponível  em:  <http://humntula.blogspot.com/ 2010/04/8‐o‐jornal‐da‐tarde‐bahia‐expropriacao_22.html>.  Acesso  em:  22  dez. 2011. 

MANZONI, P.; MINAS, R. Poluição por chumbo em Santo Amaro da Purificação. 08 jul.  2002.  Disponível  em:  <http://jangello.unifacs.br/stoamaro/poluicao_stoamaro. htm. Acesso em: 09 fev.  2012. 

MIRANDA,  O.  Santo Amaro  a  cidade mais poluída de  chumbo do mundo,  está perto de se livrar da contaminação.  Disponível em:  < http://bahiadefato. 

blogspot.com/2007/06/santo‐amaro‐cidade‐mais‐poluida‐por.html.  Acesso  em:  09 fev. 2012. 

MOURA. A. J. Meio ambiente: a dívida francesa com o Brasil. Bahia Já.  08 nov. 2009. Disponível  em:<  http://www.bahiaja.com.br/noticia.php?idNoticia=19562>.  Acesso em: 19 dez. 2011. 

A PEDIDO de senadores, Dilma determina solução para desastre ambiental em Santo Amaro.  Disponível  em:  <  http://www.senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id= 1806>. Acesso em: 13 set. 2012. 

POPULAÇÃO  exposta  a  metais  pesados  em  Santo  Amaro  ganha  protocolo  para atenção a saúde. Brasilus, 28 abr. 2010. Disponível em: <http://www.brasilsus. 

com.br/noticias/nordeste/103872‐populacao‐exposta‐a‐metais‐pesados‐em‐santo‐amaro‐ganha‐protocolo‐para‐atencao‐a‐saude.html>. Acesso em: 09 fev.  2012. 

RESÍDUOS:  tecnologia  e  sustentabilidade.  Disponível  em:  <http://www.cetem. gov.br/residuos_tecnologia/amaro.html>. Acesso em:  02 out. 2012 

THOMAZ, P.  Santo Amaro da Purificação:  “a herança maldita na  terra de Caetano e Bethânia”.  Carta  Capital.  São  Paulo,  13  jul.  2011.  Disponível  em: <http://www.cartacapital.com.br/carta‐verde/a‐heranca‐maldita‐da‐terra‐de‐caetano‐e‐bethania>. Acesso em: 27 jul. 2011. 

Vídeos 

Senado 

http://www.senado.gov.br/noticias/tv/programaListaPadrao.asp?COD_VIDEO=84142 

Cidade de chumbo 

http://www.youtube.com/watch?v=K1bfKaHZxtY&feature=related 

Cidades históricas do Recôncavo Baiano (Santo Amaro da Purificação e Cachoeira) 

http://www.youtube.com/watch?v=Not0LrbH6yA 

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Chumbados http://youtu.be/AW2Nd437sTA 

Notícia do Fantástico 

http://www.youtube.com/watch?v=rV­6jRxhUus 

Rádio da Câmera ­ Informativo MOPSAM (Movimento Popular de Saúde Ambiental Santo Amaro – BA) 

http://www.youtube.com/watch?v=yDZz73p_IUU&feature=player_embedded 

Globo Vídeos: enchente do Rio Subaé 

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM16849397823cidade+de+santo+amaro+da+purificacao+esta+em+estado+de+emergencia+por+causa+das+chuvas,00.html 

Contaminação: "Santo Amaro não pode esperar mais", afirma Pinheiro 

http://www.youtube.com/watch?v=apURNXYxggU 

Boquira 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: dissertação(1), documento eletrônico(5) e notícias(5) 

BOLLAND  investe  US$  10  milhões  em  reserva  baiana.  Disponível  em:http:// www.signuseditora.com.br/bm/default.asp?COD=2882&busca=&numero=295>. Acesso em: 14 set. 2012. 

BOQUIRA.  Disponível  em:<  http://www.cetem.gov.br/residuos_tecnologia/amaro. html>. Acesso em: 13 set. 2012. 

CAMELO,  M.  S.  M.  Fechamento  de mina:  análise  de  casos  selecionados  sob  os focos  ambiental,  econômico  e  social.  2006.  127  f.  Dissertação  (Mestrado  em Engenharia  Geotécnica  de  Barragens)‐Universidade  Federal  de  Ouro  Preto,  Ouro Preto, 2006. 

LAVRA de minério  de  chumbo  em Boquira  (BA)  deixa  rejeitos  com  altos  teores  de metais  pesados.  Banco  de  Dados  Recursos  Minerais  e  Sociedade:  Impactos Territoriais,Sociais, Ambientais e Econômicos, desenvolvido no Centro de Tecnologia Mineral/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Redigido por Renata Olivieri e Elaine Araújo. 

SILVA, M. G.; CUNHA, J. C. Formação Boquira. Disponível em:   <http://www.oocities.org/teomag/teogeo/bahiamapa/greenstboquira.htm>.  Acesso em: 22  dez. 2011. 

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QQuuaarreennttaa  aannooss  ddee  eessttuuddooss  ssoobbrree  cchhuummbboo  nnoo  BBrraassiill::  bbiibblliiooggrraaffiiaa  rreeffeerreenncciiaaddaa 234 

VALVERDE,  J.  Metais  pesados  pagam  remediação  na  Bahia.  Disponível  em:  < http://www.quimica.com.br/revista/qd463/atualidades1.html>. Acesso  em:  12  out. 2012 

Notícias 

ARAÚJO, O.; PINHEIRO, C. Boquira online. 2004. Disponível em:   <http://boquiraonline.com.br/Mineracao/mineracao.htm>. Acesso em: 19 dez. 2011. 

DNPM e Secretaria de Meio Ambiente da Bahia  se  reúnem em Salvador. Disponível em:http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=99&IDPagina=72&IDNoticiaNoticia=196>. Acesso em: 19 dez. 2011. 

MOURA, A. J. Meio ambiente: a dívida francesa com o Brasil. Bahia Já. 08 nov. 2009. Disponível  em:  http://www.bahiaja.com.br/noticia.php?idNoticia=19562.  Acesso em: 19 dez. 2011. 

O  JORNAL DA TARDE: Bahia: Boquira:  expropriação  /  Santo Amaro da Purificação: contaminação. Disponível em: <http://hum‐ntula.blogspot.com/2010/04/8‐o‐jornal‐da‐tarde‐bahia‐expropriacao_22.html>. Acesso em: 22 dez. 2011. 

EMPRESA  quer  reabrir  mina  e  fundição  de  chumbo  na  Bahia.  Disponível  em: <http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2007/03/08/ult29u54091.jhtm>. Acesso em: 22 dez. 2011. 

Vale do rio Ribeira do Iguape 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  dissertações(2),  documentos  eletrônicos(2),  notícias(2),  teses(4),  artigos cientificos(17), resumos de congresso(9) e relatórios(1). 

ANDRADE, M. G. et al. Metais pesados em solo de área de mineração e metalurgia de chumbo‐ II Formas e disponibilidade para plantas. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 33, p. 1889‐1997, 2009. Disponível em:  < http://www.scielo.br/pdf/rbcs/v33n6/a38v33n6.pdf>. Acesso em: 09 de abr. 2012. 

ARAÚJO,  C.  C.;  MACEDO,  A.  B.  Geoprocessamento  de  dados  geológicos,  para mapeamento de favorabilidade para cobre, chumbo e zinco no Vale do Ribeira SP‐PR. Revista  Brasileira  de  Geociências,  Curitiba,  v.  34,  n.  3,  p.  317‐328,  set.  2004. Disponível  em:  <  http://sbgeo.org.br/pub_sbg/rbg/vol34_down/3403/1361.pdf>. Acesso em: 25 set. 2012 

BARBOUR,  A.P.;  MACEDO,  A.B.;  HYPÓLITO,  R.  Correlação  dos  elementos  prata, chumbo, zinco e  ferro com bário em algumas  jazidas sulfetadas do Vale do Ribeira, Estados  de  São  Paulo  e  Paraná. Boletim  IG­USP,  Série  Científica,  São  Paulo,  v.  19, 1988.  

BOSSO, S. T. Bioacessibilidade de chumbo de solos e rejeitos de beneficiamento de minério e  sua  imobilização  como  fosfatos.  2007.  139  f.  Tese  (Doutorado  em 

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Geociências)‐Instituto  de  Geociências,  Universidade  Estadual  de  Campinas, Campinas, SP, 2007. 

BOTTINO, F. Estudo experimental e matemático de qualidade da água com base na ecohidrologia fluvial de pequenas bacias: estudo de caso do rio Canha, Baixo Ribeira de Iguapé, SP. 2008. 188 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Hidráulica e Saneamento)‐ Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos,  2008.  Disponível  em:<  www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde‐16072008‐193746/>. Acesso em: 04 de abr. 2012. 

CHUMBO  contamina  solo  e  habitantes  da  região  do  alto  Vale  do  Ribeira.  Banco  de Dados  Recursos Minerais  e  Sociedade:  Impactos  Territoriais,  Sociais,  Ambientais  e Econômicos,  desenvolvido  no  Centro  de  TecnologiaMineral/Ministério  da  Ciência, Tecnologia e Inovação. Redigido por Pedro Schprejer. 

CUNHA, F. G.   et al. Contaminação humana e ambiental por chumbo em Adrianóplis, no  alto  Vale  do  Ribeira,  Paraná.  In:  WORKSHOP  INTERNACIONAL  GEOLOGIA MÉDICA, 2005, Rio de  Janeiro.  [Relação de painéis...] Rio de  Janeiro: CPRM, 2005. Disponivel  em:  <  http://www.cprm.gov.br/publique/media/Painel10.pdf>.  Acesso em: 29 out. 2012. 

COMITÊ  DA  BACIA  HIDROGRÁFICA  DO  RIBEIRA  DE  IGUAPE  E  LITORAL  SUL. Qualidade  das  águas  superficiais.  In.______.Relatório  de  situação  dos  recursos Hídricos da UGRHI 11:  bacia    hidrográfica  do  ribeira  de  Iguape  e  litoral  sul.  São Paulo: FUNDESPA, 2012. p. 515‐540 

CORSI, A. C.; LANDIM, P. M. B. Fluvial transport of  lead, zinc and copper contents in polluted mining regions. Environmental Geology, Berlin, v.41, n.7, 2002, p.833‐841. 

CORSI, A. C.; LANDIM, P. M. B. Chumbo, zinco e cobre em sedimentos de corrente nos ribeirões Grande, Perau e Canoas, e córrego Barrinha no município de Adrianópolis (Vale  do  Ribeira,  PR). Revista Geociências,  São  Paulo,  v.  22,  n.  especial,  p.  49‐61, 2003. 

COTTA,  J. A. O. Diagnóstico ambiental do solo e sedimento do Parque Estadual Turístico  do  Alto  Ribeira  (PETAR).  2003.  116  f.  Dissertação  (Mestrado  em Química)‐Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. 2003. 

COTTA,  J. A. O.; RESENDE, M. O. O.; PIOVANI, M. R. Avaliação do  teor de metais em sedimento  do  rio  Betari  no  Parque  Estadual  Turístico  Do  Alto  Ribeira  ‐  Petar,  São Paulo, Brasil. Revista Química Nova, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 40‐45,  jan./fev. 2006. Disponível  em:  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100‐40422006000100009>. Acesso em: 02 abr. 2012. 

CUNHA, D. G. F.; CALIJURI, M. C. Comparação entre os teores de matéria orgânica e as concentrações de nutrientes e metais pesados no sedimento de dois sistemas lóticos do Vale do Ribeira de Iguape, SP. Engenharia Ambiental, Espirito Santo do Pinhal, 

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CUNHA, D. G. F.; CALIJURI, M. C.; MIWA, A. C. P. A precipitação pluviométrica como agente  indutor  de  modificações  nas  características  químicas  do  sedimento  do  rio Jacupiranguinha, Vale do Ribeira de Iguape, SP. Revista Minerva, São Carlos, SP, v. 4, n. 1, p. 41‐49, jan./jun. 2007. 

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Page 240: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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LOPES  JUNIOR,  I. Chumbo nos sedimentos dos  leitos ativos das drenagens da bacia hidrográfica  do  rio  Ribeira  de  Iguape–SP:  mapeamento  geoquímico  de  baixa densidade.  In:  WORKSHOP  INTERNACIONAL  GEOLOGIA  MÉDICA,  2005,  Rio  de Janeiro.  [Relação  de  painéis...]  Rio  de  Janeiro:  CPRM,  2005.  Disponivel  em:  < http://www.cprm.gov.br/publique/media/Painel11.pdf>. Acesso em: 25 set. 2012. 

LOPES JUNIOR, I. et al. Chumbo e arsênio nos sedimentos do rio Ribeira de Iguape. In: SILVA,  C.  R.  da;  FIGUEIREDO,  B.  R.  de;  CAPITANI,  E. M.  de;  CUNHA,  F.  G.  da.  (Ed.). Geologia  Médica  no  Brasil.  Rio  de  Janeiro:  CPRM;  FAPERJ,  2006.  p.  88‐96. Disponível em:   <http://www.cprm.gov.br/publique/media/geo_med14.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2012.  

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RODRIGUES, V. G. S. et al. Uso do bivalve límnico Anodontites tenebricosus (Lea, 1834) no biomonitoramento de metais do rio Ribeira de Iguape. Química Nova,  São Paulo,  v. 35,  n. 3,  2012. 

Notícias 

FONTES, C. Contaminação por chumbo no vale do Ribeira é novo alerta contra Tijuco Alto.    SocioAmbiental,  01  nov.  2001.  Disponível  em:<http://www.socioambiental. org/nsa/detalhe?id=79>. Acesso em: 12 dez. 2011. 

JORGE, W. Chumbo contamina crianças no Ribeira. Jornal Unicamp, São Paulo, 10 a 16  mar.  2003.  Disponível  em:<http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje /ju/marco2003/ju205pg03.html>. Acesso em: 12 dez. 2011. 

Contaminados por reciclagem de baterias 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  artigos científicos(10), resumos de congresso(1) e teses(1) 

CARVALHO,  M.  C.  et  al.  Intoxicação  por  chumbo  e  cádmio  em  trabalhadores  de oficinas  para  reforma de  baterias  em  Salvador,  Brasil. Revista Saúde Pública,  São Paulo,  v.19  ,  n.05,  p.411‐420,  out.1985.  Disponível  em:<http://www.scielo.br /pdf/rsp/v19n5/04.pdf>. Acesso em: 26 set. 2012. 

FORTES,  J. D. N. A  intervenção  técnica em pequenas  indústrias de  fabricação e reforma de baterias chumbo­ácida: proposta para melhoria da qualidade do ar e preservação da saúde do  trabalhador. 2003. 111  f. Tese  (Doutorado em Saúde Pública)‐Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de  Janeiro, 2003. 

FREITAS, E. V. de S. et al. Indução da fitoextração de chumbo por ácido cítrico em solo contaminado  por  baterias  automotivas.  Revista  Brasileira  de  Ciência  do  Solo, Viçosa,  MG,  v.  33,  n.02,  p.  467‐473,  mar./abr.  2009.  Disponível  em:  <http://www. scielo.br/pdf/rbcs/v33n2/24.pdf>. Acesso em: 26 set. 2012. 

MATTOS, R. C. O. C. et al. Avaliação dos fatores de risco relacionados à exposição ao chumbo em crianças do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14,  n.06,  p.  2039‐2048,  dez.  2009.  Disponível  em:<http://www.scielo.br/pdf/ csc/v14n6/11.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2012. 

MATTOS, U. A. de O. et al. Avaliação e diagnóstico das condições de trabalho em duas indústrias de baterias chumbo‐ácidas no Estado do Rio de Janeiro. Ciência e saúde coletiva, São Paulo, v. 8, n. 4, p. 1047‐ 1056, 2003. 

MEDINA,  H.  V.  Clean  technologies  for  recycling:  a  case  study  on  automotive batteries  in  Brazil.  Disponível  em:<http://www.cetem.gov.br/publicacao/CTs/ CT2005‐023‐00.pdf>.  Acesso  em:  16  jul.  2012.  Comunicação  técnica  para  o  12° Seminar on Life Cycle Engineering Innovation In Life Cycle, Grenoble, France, 2005. 

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MILANES,  B.;  BÜHRS  T.  Capacidade  ambiental  e  emulação  de  políticas  públicas:  o caso da responsabilidade pós‐consumo para resíduos de pilhas e baterias no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas, Brasília, DF, n. 33. p. [257]‐289, jul./dez. 2009. 

OKADA,  I.  A.  et  al.  O.  Avaliação  dos  níveis  de  chumbo  e  cádmio  em  leite  em decorrência  de  contaminação  ambiental  na  região  do  Vale  do  Paraíba  sudeste  do Brasil.  Revista  de  Saúde  Pública,  São  Paulo,  v.  31,  n.  2,  p.  140‐143,  abr.  1997. Disponível  em:  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034‐89101997000200006>. Acesso em 16 jul. 2012. 

QUITERIO,  S.  L.  et  al.  Uso  da  poeira  e  do  ar  como  indicadores  de  contaminação ambiental em áreas circunvizinhas a uma fonte de emissão estacionária de chumbo. Cadernos Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.17, n. 3, p. 501‐508, mai./jun, 2001. 

QUITERIO,  S.  L.  et  al.  Controle  das  emissões  de  chumbo particulado no  entorno de uma reformadora de baterias da cidade do Rio de Janeiro usando ar como indicador. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 475‐480, mar./abr. 2003. 

QUITERIO,  S.  L.  et  al.  Avaliação  da  poluição  ambiental  causada  por  particulado  de chumbo emitido por uma reformadora de baterias na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Caderno  de  Saúde  Pública,  Rio  de  Janeiro,  v.  22,  n.  9,  p.1817‐1823,  set.  2006.  Disponível  em:  <  http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n9/05.pdf>.  Acesso  em  16  jul. 2012. 

WOWK,  G.  I.  T.  H.;  MELO,  V.  de  F.  Avaliação  do  nível  de  chumbo,  em  solo  de várzea,proveniente  da  reciclagem  de  baterias.  Revista  Brasileira  de  Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 9, n. 4, out./dez. 2005. 

Outros Países 

America Latina e Caribe 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigo científico (1) 

ROMIEU, I.; LACASANA, M.; MCCONNELL, R. Lead Exposure in Latin America and the Caribbean. Environmental Health Perspectives, Research Triangle Park,  v. 105, n.  4,  abr.  1997.  Co‐autores  Lead  Research  Group  of  the  Pan‐American  Health Organization. 

Austrália 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigos científicos (6) e documentos eletrônicos(3). 

BORELAND,  F.;  LESJAK,  M.;  LYLE,  D.  Evaluation  of  home  lead  remediation  in  an australian mining community. Science of the Total Environment, Amsterdã, v. 408, n. 2, p. 202–208, dez. 2009. 

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AUSTRALIA‐OCEANIA.  Disponível  em:<https://www.cia.gov/library/publications /the‐world‐factbook/geos/as.html>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

HEIDRICK  &  STRUGGLES.  Company,  Position  &  Person  Profile.  Disponível  em: <http://www.sihr.si.edu/vac/11‐01‐SEEC.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2012 

MARTLEY, E.; GULSON, B.L.; PFEIFER, H.R. Metal concentrations  in soils around the copper smelter and surrounding industrial complex of Port Kembla, NSW, Australia. Science of the Total Environment , Amsterdã,  v.325, n. 1‐3, p. 113–127, jun. 2004. 

MAYNARD,  E.  ET AL.  An  evaluation  of  recent  blood  lead  levels  in  Port  Pirie,  south Australia. Science of the Total Environment, Amsterdã, v. 303, n. 1‐2,  p. 25‐33, fev. 2003. 

NYRSTAR:  potential  transformation  of  the  port  pirie  smelter: media  speculation  in Australia.  Disponível  em:  <http://www.nyrstar.com/investors/en/news/Pages/ 1626434.aspx>. Acesso em: 15 set. 2009 

TAYLOR, M. Lead poisoning of Port Pirie children: a long history of looking the other way.  Disponível  em:  <http://theconversation.edu.au/lead‐poisoning‐of‐port‐pirie‐children‐a‐long‐history‐of‐looking‐the‐other‐way‐8296>. Acesso em: 15 set. 2012. 

LEAD poisoning of Port Pirie children: a  long history of  looking  the other way. The conversation,  19  jul.  2012.  Disponivel  em:  <http://theconversation.edu.au/lead‐poisoning‐of‐port‐pirie‐children‐a‐long‐history‐of‐looking‐the‐other‐way‐8296>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

PORT  PIRIE.  In:  WIKIPÉDIA.  Disponível  em:  <  http://en.wikipedia.org/wiki/Port_ Pirie>. Acesso em: 03 nov.2012. 

China 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: notícias (17)  e sites (2) 

AREDDY,  J.  T.  Shanghai  Halts  Johnson  controls  lead  processing.  The  Wall  Street Journal,  28  fev.  2012.  Disponível  em:  <http://online.wsj.com/article/SB100014240 52970204653604577248640436283030.html>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

Crianças são contaminadas por metalúrgica na China.  In: Estadão.com.br, São Paulo, 20  ago.  2009a.  Disponível  em:<http://www.estadao.com.br/noticias/internacional, 1300‐criancas‐saocontaminadas‐por‐metalurgica‐na‐china,421771,0.htm.  Acesso em: 02 nov. 2012. 

CHINA vai retirar 15 mil pessoas de área contaminada. In: Estadão.com.br, São Paulo, 19  out.  2009b.  Disponível  em:<http://www.estadao.com.br/noticias/internacional, china‐vai‐retirar‐15‐mil‐pessoas‐de‐area‐contaminada‐,452801,0.htm>.  Acesso  em: 01 nov. 2012. 

Page 244: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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Lead  mine  wastewater  in  China.  Disponível  em:    <http://www.greenpeace.org/ eastasia/multimedia/photos/toxics/Lead‐Mine‐Wastewater‐in‐China/>.  Acesso  em: 01 nov. 2012. 

HRW, Human Rights Watch.  World Report 2012: China. 18, jul. 2011. Disponível em:  <http://www.hrw.org/world‐report‐2012/world‐report‐2012‐china>.  Acesso  em: 01 nov. 2012. 

KHAN, N.  Johnson controls disputes  lead  link as China battles pollution. Bloomberg Businessweek, 28 fev. 2012. World Report 2012: China. 18, jul. 2011. Disponível em:  <http://www.businessweek.com/news/2012‐02‐28/johnson‐controls‐disputes‐lead‐link‐as‐china‐battles‐pollution>.  Acesso em: 01 nov. 2012. 

LA  FRANIERE,  S.  Contaminação  por  chumbo  revolta  chineses.    Estadão,  16  jun.  2011. World  Report  2012:  China.  18,  jul.  2011.  Disponível  em:    <http://www.estadao. com.br/noticias/impresso,contaminacao‐por‐chumbo‐revolta‐chineses,732930,0.htm>.  Acesso em: 01 nov. 2012. 

China  lida de  forma sigilosa com os casos de envenenamento por chumbo.  Público, Portugal, 16 jun. 2011.  Disponível em:  <http://www.publico.pt/Mundo/china‐lida‐de‐forma‐sigilosa‐com‐os‐casos‐de‐envenenamento‐por‐chumbo‐1498968?all=1>.  Acesso em: 01 nov. 2012. 

QING, K. G.  China lead pollution poisons 160 children: report.  Reuters, 03 mar. 2012.  Disponível  em:    <http://www.reuters.com/article/2012/03/04/us‐china‐lead‐posion‐idUSTRE82303F20120304>.  Acesso em: 01 nov. 2012. 

CONTAMINAÇÃO  por  chumbo  atinge  103  crianças  na  China.    G1,  12  jun.  2011. Disponível  em:  <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/06/contaminacao‐por‐chumbo‐atinge‐103‐criancas‐na‐china.html>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

ARROZ da China está contaminado com mercúrio,  cádmio e chumbo. China,16 mar. 2012.  Disponível  em:  <http://www.epochtimes.com.br/arroz‐da‐china‐esta‐contaminado‐com‐mercurio‐cadmio‐e‐chumbo‐2/ Acesso em: 01 nov. 2012. 

SILVERMAN,  J.  O  que  acontece  com  a  China  e  a  intoxicação  por  chumbo? HowStuffWorks  Brasil.    Disponível  em:  <http://saude.hsw.uol.com.br/chumbo‐toxico‐china.htm>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

ZHU, Y.G; CHEN, S.B; YANG, J.C. Effects of soil amendments on lead uptake e by two vegetable  crops  from  a  lead  contamined  soil  from  Anhui,  China.  Environment International, New York, US, v. 30, n.3, p. 351‐356, mai. 2004.  

Page 245: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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Notícias 

CENTENAS  podem  morrer  envenenados  por  chumbo  na  Nigéria,  diz  especialista.  BBC Brasil, 7 Jun. 2010. Disponível em:   <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/06/100607_chumbo_envenenamento_nigeria_mv.shtml>. Acesso em: 28 jun. 2010. 

A CHINA vai retirar 15 mil pessoas da área contaminada. Estadão, São Paulo, 19 out. 2009. Disponível em:   <http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,china‐vai‐retirar‐15‐mil‐pessoas‐de‐area‐contaminada‐,452801,0.htm>. Acesso em: 28 jun. 2010. 

MP  pede  retirada  de  750  famílias  de  bairro  de  Volta  Redonda  erguido  em áreaContaminada. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/rio/mp‐pede‐retirada‐de‐750‐familias‐de‐bairro‐de‐volta‐redonda‐erguido‐em‐area‐contaminada‐6090312#ixzz26RzpCNYz>.Acesso em: 14 set. 2009. 

VIÚVA de vítima de intoxicação por chumbo não pode sacar crédito sem demonstrar necessidade. Disponível em: <http://tst.jusbrasil.com.br/noticias/100118949/viuva‐de‐vitima‐de‐intoxicacao‐por‐chumbo‐nao‐pode‐sacar‐credito‐sem‐demonstrar‐necessidade>.Acesso em: 20 ago. 2007. 

Sites 

Código  de  Nuremberg.  In:  WIKIPÉDIA.  Disponível  em:  <http://pt.wikipedia.org /wiki/C%C3%B3digo_de_Nuremberg>. Acesso em: 30 out. 2011. 

Declaração de Helsinki  I.    Disponível  em:  <http://www.ufrgs.br/bioetica/helsin1. htm>. Acesso em: 30 out. 2011. 

Estados Unidos da América do Norte 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigos científicos (3) e documentos eletrônicos (8). 

BIANCO, Antônio. Os anos de  chumbo não  terminaram. Revista Fapesp,  out.  2012. Disponível  em:  <http://dev.drclas.harvard.edu/brazil/news/chumbo>.  Acesso  em: 03 nov. 2012. 

BROWN, M. J.; MARGOLIS, S. Lead in drinking water and human blood  lead levels in the  United  States,  Centers  for  Disease  Control  and  Prevention,  10  ago.  2012. Disponível  em:<http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/su6104a1.htm? s_cid=su6104a1_w>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

CHENEY,  M.  A.;  HACKER,  C.S.;  SCHRODER,  G.  D.  Bioaccumulation    of  lead  and cadmium in the louisiana heron (Hydranassa tricolor) and the cattle egret (Bulbucus ibis). Ecotoxicology and environmental Safety, New York, v. 5, n. 2, p.221‐224, jun. 1981. 

Page 246: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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EUA advertem para intoxicação por chumbo na medicina ayuvérdica, Correio Braziliense, 23  ago.  2012.  Disponível  em:  <http://www.correiobraziliense.com.br/app/ noticia/ciencia‐e_saude/2012/08/23/  interna_ciencia_saude,318792/eua‐advertem‐para‐intoxicacao‐por‐chumbo‐na‐medicina‐ayuverdica.shtml>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

FREUDENRICH  C.  Como  ficamos  expostos  ao  chumbo?  :  parte  1.  HowStuffWorks Brasil.    Disponível  em:  <http://ciencia.hsw.uol.com.br/chumbo2.htm>.    Acesso  em: 02 nov. 2012a. 

FREUDENRICH  C.  Introdução  a  como  funciona  o  chumbo.  HowStuffWorks  Brasil.  Disponível  em: <http://ciencia.hsw.uol.com.br/chumbo2.htm>.   Acesso  em: 02 nov. 2012b. 

LEVIN,  R.  et  al.  Lead  exposures  in U.S.  children,  2008:  implications  for  prevention. Environmental Health Perspectives. Research Triangle Park ,v. 116, n. 10, p. 1285‐1293, out. 2008. 

Contaminação por chumbo atinge 103 crianças na China. G1, 12 jun. 2011. Disponível em:  <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/06/contaminacao‐por‐chumbo‐atinge‐103‐criancas‐na‐china.html>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

SILVERMAN,  J.  O  que  acontece  com  a  China  e  a  intoxicação  por  chumbo? HowStuffWorks  Brasil.    Disponível  em:  <http://saude.hsw.uol.com.br/chumbo‐toxico‐china.htm>. Acesso em: 01 nov. 2012. 

BELAS  cerâmicas  escondem  perigo  de  contaminação.  Último  Segundo,  03  abr.  2011. Disponível  em:  <http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/belas+ceramicas+escondem+ perigo+de+ contaminacao/n1300021697960.html>. Acesso em: 03 nov. 2011. 

Vigilância  sanitária  dos  EUA  diz  ter  encontrado  chumbo  em  400  batons.    Estadão. Disponível em:   <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,vigilancia‐sanitaria‐dos‐eua‐diz‐ter‐encontrado‐chumbo‐em‐400‐batons,836300,0.htm>.  Acesso  em:  02 nov. 2012. 

França (METALEUROP) 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: documentos eletrônicos (8). 

ISTAS, J. La situation à Métaleurop réaction de nord­nature. Nord‐nature, França. Disponível  em:  <  http://www.nord‐nature.org/environnement/pollutions/sols/ metaleurop_5.htm>. Acesso em 21 jun. 2011. 

NORD NATURE. Pollution de Metaleurop: pás  de  satisfecit  de  nord‐nature. Nord‐Nature,  França.  Disponível  em:<http://www.nordnature.org/environnement/ pollutions/sols/metaleurop_2.htm>. Acesso em: 21 jun. 2011. 

Page 247: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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RIEUX, N. L´affaire Metaleurop pénalise  l’úsine Penarroya. Le Parisien, Paris, 23 jan.  2003.  Disponível  em:  <http://www.leparisien.fr/oise/l‐affaire‐metaleurop‐penalise‐l‐usine‐p. php>. Acesso em: 21 jun. 2011. 

ROCHE,  Y.  Recylex,  un  spécialiste  européen  du  recyclage.  Disponível  em:< http://www.recylex.fr/>. Acesso em: 10 jul. 2012. 

VIVIER, E. A propos de Métaleurop. Nord‐Nature, France. 20 janv. 2003. Disponível em:  <http://www.nord‐nature.org/environnement/pollutions/sols/metaleurop_ 4.htm>. Acesso em: 16 jul. 2012. 

VIVIER, E. Le scandale caché du plomb: des dizaines d'enfants contaminés autour de  l'usine Métaleurop. Disponível em: <http://www.nordnature.org/environnement /pollutions/sols/metaleurop_1.htm>. Acesso em 21 jun. 2011. 

VIVIER,  E. Métaleurop  et  les  problémes  environnementaux  et  sanitaires.  Nord‐Nature, France. Disponível em:<http://www.nordnature.org/environnement/pollutions /sols/metaleurop_3.htm>. Acesso em: 10 jul. 2012. 

Sites 

Métaleurop  nord.  In:  WIKIPÉDIA.  Disponível  em:  <http://fr.wikipedia.org/wiki/ Metaleurop_Nord>. Acesso em: 21 jun. 2011. 

Recylex.  In:  WIKIPÉDIA.  Disponível  em:  <http://fr.wikipedia.org/wiki/Recylex>. Acesso em: 10 jul. 2012. 

França – Outros 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigos científicos (4) 

DOUAY, F. et al. Contamination of woody habitat soils around a former lead smelter in the North of France. Science of the Total Environment, Amsterdã, v. 407, n. 21, p.5564‐5577, out. 2009. 

FRANGI,  J.  P.;  RICHARD,  D.  Heavy  metal  soil  pollution  cartography  in  northern France.  Science  of  the  Total  Environment.  Amsterdã,  v.  205,  n.  1,  p.71‐79,  out. 1997. 

LUCAS,  J.P  et  al.  Lead  contamination  in  French  children's  homes  and  environment.  Environmental Research, v. 116,  p. 58–65, jul. 2012 

PICHERY, C. et al. Childhood lead exposure in France: benefit estimation and partial cost‐benefit analysis of lead hazard control.  Environmental Health, Londres, v. 10, n. 1, p. 1‐12, dez. 2011. 

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   SSiillvviiaa  GG..  EEgglleerr  ee  NNaattaalliiaa  ddee  SSoouuzzaa  ee  SSoouuzzaa   245  

 

Italia 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigo científico (1). 

MORISI,  G.  ET  AL.  Lead  exposure:  assessment  of  the  risk  for  the  general  italian population. Annali dell Istituto Superiore di Sanita, Roma, v. 25, n. 3, p. 423‐435, 1989. 

Kosovo 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  relatório (1) e documentos eletrônicos(9). 

BROWN, Mary  Jean; MARGOLIS,  Stephen. Lead  in drinking water  and human blood  lead levels  in the United States, Centers for Disease Control and Prevention, 10 ago. 2012. Disponível em: < http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/su6104a1. htm?s_cid=su6104a1_w>. Acesso em: 02 nov. 2012. 

ALEMANHA  prepara  deportação  de  14  mil  refugiados  para  o  Kosovo,  2009. Disponível  em:  <  http://refunitebrasil.wordpress.com/2009/10/19/alemanha‐prepara‐deportacao‐de‐14‐mil‐refugiados‐para‐o‐kosovo/>.  Acesso  em:  03  nov. 2012. 

KOSOVO  conquista  'soberania  plena'.  In:  G1,  10  set.  2012.  Disponível  em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/09/kosovo‐conquista‐soberania‐plena. html>. Acesso em: 04 nov. 2012. 

HUMAN RIGHTS WATCH. Kosovo: Poisoned by lead A health and human rights crisis in Mitrovica’s Roma camps, jun. 2009. Disponível em: <http://www.observatori.org/ paises/pais_55/documentos/kosovo0609web.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

KOSOVO.  In  INFOPÉDIA.  Porto:  Porto  Editora,  2003‐2012.  Disponível  em: <http://www.infopedia.pt/$guerra‐no‐kosovo>. Acesso em: 03 nov. 2012.  

AVISO  contra  envio  de  ciganos  para  Kosovo.  Disponível  em:<http://www.dn.pt/ inicio/globo/interior.aspx?content_id=1643930&seccao=Europa>.  Acesso  em:  03 nov. 2012. 

ORGANIZATION  FOR  SECURITY  AND  CO‐OPERATION  IN  EUROPE.  Lead contamination  in Mitrovicë: mitrovicaaffectingthe Roma community. Kosovo: OSCE, fev.  2009.  Disponível  em:  <http://www.osce.org/kosovo/36234>.  Acesso  em:  03 nov. 2012. 

VIEGAS, P. Kosovo  independente  tem uma geração a morrer envenenada. Diário de Notícias,  jan.  2009.  Disponível  em:<http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx? content_id=1139225>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

Page 249: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

QQuuaarreennttaa  aannooss  ddee  eessttuuddooss  ssoobbrree  cchhuummbboo  nnoo  BBrraassiill::  bbiibblliiooggrraaffiiaa  rreeffeerreenncciiaaddaa 246 

SANTANNA,  L.  Sérvia  e  Kosovo  ‐  Ficha  técnica.  Disponível  em: <http://www.lourivalsantanna.com/paises/f_iugosla.html>.  Acesso  em:  03  nov. 2012. 

STUART,  Paul.  O  complexo  de mineração Trepca:  Como despojos  do Kosovo  foram distribuídos.  Word  Socialist  Web  Site,  28  jun.  2002.  Disponível  em:  < http://www.wsws.org/articles/2002/jun2002/trep‐j28.shtml>.  Acesso  em:  04  nov. 2012. 

Japão 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigos científicos (1). 

ALBALAK  ,  R.  et  al.  Blood  lead  levels  and  risk  factors  for  lead  poisoning  among children in Jakarta, Indonesia.  Science of the Total Environment, Amsterdã, v.301, n. 1‐3, p. 75–85, jan. 2003. 

México 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigos científicos (2). 

CARRILLO,  L.  L.  et  al.  Prevalence  and  determinants  of  lead  intoxication  in mexican children of low socioeconomic status. Environmental Health Perspectives, v.104, n. 11, nov. 1996.  

CUBILLAS‐TEJEDA,  A.  C.  C.  ET  AL.  Diseño  y  aplicación  de  un  programa  de comunicación de riesgos para la salud ambiental infantil en un sitio contaminado con plomo y arsénico. Ciência saúde coletiva,  Rio de Janeiro,  v. 16,  n. 10, p. 4115‐4126, out.  2011. 

Nigéria 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: notícias (14) 

OS  6  poluentes  tóxicos  que  mais  ameaçam  o  planeta.  Disponível  em: <http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=4346>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

NA NIGÉRIA, crianças contaminadas por chumbo estão sem tratamento médico. In: Jornal do  Commercio,  Recife,  11  maio  2012.  Disponível  em:<http://jconline. ne10.uol.com.br/canal/mundo/internacional/noticia/2012/05/11/na‐nigeria‐criancas‐contaminadas‐por‐chumbo‐estao‐sem‐tratamento‐medico‐41780.php>.  Acesso  em:  03 nov. 2012. 

Desastres ambientais com chumbo assolam Hungria e Nigéria, 06 OUT. 2010. Disponível em:  <http://www.ecodesenvolvimento.org/noticias/desastres‐ambientais‐com‐chumbo‐assolam‐hungria‐e>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

Page 250: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

   SSiillvviiaa  GG..  EEgglleerr  ee  NNaattaalliiaa  ddee  SSoouuzzaa  ee  SSoouuzzaa   247  

 

MCLAUGHLIN,  N.    Nigeria:  Education  crucial  to  prevent  more  lead  poisoning.  The Epoch  Times,  21  jun.  2010.  Disponível  em:  <http://www.theepochtimes. com/n2/world/nigeria‐education‐crucial‐to‐prevent‐more‐lead‐poisoning‐37714.html>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

NIGÉRIA:  intoxicação por  chumbo coloca  crianças  em risco de vida. Disponível  em: <http://www.msf.org.br/noticias.aspx?n=1171>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

CONTAMINAÇÃO por chumbo na Nigéria: é hora de agir, 11 maio 2012b. Disponível em:<http://www.msf.org.br/noticias/1467/contaminacao‐por‐chumbo‐na‐nigeria‐e‐hora‐de‐agir/>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

CORRIDA  por  ouro  provoca  intoxicação  por  chumbo  na Nigéria.  Rio  de  Janeiro,  30 nov.  2010.    Disponível  em:<http://oglobo.globo.com/mundo/corrida‐por‐ouro‐provoca‐intoxicacao‐por‐chumbo‐na‐nigeria‐2917619>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

ORISAKWE,O.  E.  Environmental  pollution  and  blood  lead  levels  in  Nigeria:  who  is unexposed?    Int  J  Occup  Environ  Health.  v.  15,  n.  3,  p.315‐317,  jul‐set.  2009;. Disponível  em:<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19650587>.  Acesso  em:  03 nov. 2012. 

OCHERI,  M.;  OGWUCHE,  J.  Lead  in  rural  groundwater  of  Benue  state,  Nigeria. Department of Geography, Benue State University, Makurdi, Nigeria, 07 maio 2012. Disponível  em:  <  http://www.wudpeckerresearchjournals.org/JESWR/Pdf/  2012/ June/Ocheri%20and%20Ogwuche.pdf > Acesso em: 03 nov. 2012. 

MINERAÇÃO  tóxica,  01  jun.  2012.  Disponível  em:  <http://pandora.jor.br/ 2012/06/01/mineracao‐toxica/>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

PELO  menos  400  crianças  morrem  de  envenenamento  por  chumbo  na  Nigéria.  In: Estadao.com.br,  05  out.  2010.  Disponível  em:  <http://www.estadao.com.br/noticias /vidae,pelo‐menos‐400‐criancas‐morrem‐de‐envenenamento‐por‐chumbo‐na‐nigeria‐,620635,0.htm>. Acesso em: 03 nov. 2012. 

SAMPAIO,  M.  Nigéria:  mortes  sobre  o  ouro.DW,  07  fev.  2012.  Disponível  em: <http://www.dw.de/nig%C3%A9ria‐mortes‐sobre‐o‐ouro/a‐15723499‐1>.  Acesso em: 03 nov. 2012. 

HOEN,  M.  Nigeria  Lead  pollution  higher  than  expected.  The  Epoch  Times,  06  out. 2010.  Disponível  em:  <http://www.theepochtimes.com/n2/world/nigeria‐lead‐pollution‐united‐nations‐lead‐contaminated‐soils‐43805.html>.  Acesso  em:  03  nov. 2012. 

YAHAYA, S.  Envenenamento por chumbo mata 163 pessoas na Nigéria.   Estadão,  04 jun.  2010.  Disponível  em:<http://www.estadao.com.br/noticias/internacional, envenenamento‐por‐chumbo‐mata‐163‐pessoas‐na‐nigeria,561672,0.htm>.  Acesso em: 03 nov. 2012. 

Page 251: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

QQuuaarreennttaa  aannooss  ddee  eessttuuddooss  ssoobbrree  cchhuummbboo  nnoo  BBrraassiill::  bbiibblliiooggrraaffiiaa  rreeffeerreenncciiaaddaa 248 

Portugal 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: notícias  (9) e tese(1). 

ABREU,  I.  Ambiente  e  Saúde.  Naturlink.  2012.  Disponível  em:  http://naturlink. sapo.pt/Natureza‐e‐ambiente/Interessante/content/Ambiente‐e‐Saude?viewall=true&print=true 

O  CHUMBO  em  Portugal.  Universidade  Nova  de  Lisboa.  Disponível  em: http://campus.fct.unl.pt/afr/ipa_9899/grupo0003_ordenamento/chumboportugal.htm,  1999.  http://www.planetazul.pt/edicoes1/planetazul/desenvArtigo.  aspx?a= 19527&c=4008&r=37 

JUCAS, I. A. G. M. Consequência do uso de chumbo na pesca. Câmara dos Deputados. Biblioteca Digital. 2006 

Cartuchos  de  chumbo  serão  proibidos  a  partir  da  próxima  época  Venatória 2010/2011.  2012.  Disponível  em:  <http://pescaecaca.com/cartuchos‐de‐chumbo‐serao‐proibidos‐a‐partir‐da‐proxima‐epoca‐venatoria‐20102011>.    Acesso  em:  06 nov. 2012. 

MINAS  abandonadas:  um  problema  sério.  2011.  Disponível  em:  http://quimica paratodosuevora.blogspot.com.br/2011/01/minas‐abandonadas‐um‐problema‐serio.html 

Planetazul, O Portal de ambiente e sustentabilidade. Intoxicação por metais pesados.  Saúde  e  ambiente,  Beleza,  saúde  e  bem‐estar,  Vida  &  Lazer.  Planetazul.  2011. Disponível em:  

Televisores  livres  de  chumbo.  2012.  Disponível  em:  http://www.panasonic.pt/ html/pt_PT/Tecnologia/Meio+Ambiente/Televisores+livres+de+chumbo/5209759/index.html 

REIS, A. T. L. P. S. Impacto do mercúrio na saúde humana: Aveiro como caso de estudo.  2008. 112  f. Dissertação  (Mestrado em Química Analítica)‐Universidade de Aveiro, Aveiro, 2008. 

SIMÕES. S. A caveira que envenena o ecossistema. DN Portugal. 19 fev. 2012. Disponível em: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2313721 

Uruguai 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: tese (1). 

DI GIULIO, G. M. Comunicação e governança do risco: exemplos de comunidades expostas  à  contaminação  por  chumbo  no  Brasil  e  Uruguai.  2010.  327f.    Tese (Doutorado  em  Ambiente  e  Sociedade)‐Universidade  Estadual  de  Campinas,  São Paulo, 2010.* 

Page 252: livrocompleto - Diagnístico Santo Amaro

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O elemento e seus usos 

Características do chumbo 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: relatórios (2) e documentos eletrônicos (7)  

CHUMBO:  glossário.  Banco  de  dados  recursos  minerais  e  comunidade:  impactos humanos, sócio ambientais e econômicos. Redigido por Renata Alamino. 

PERACCINNI, A.  T; AMARAL,  P. H. M; DUPRAT,  P.  L. Chumbo  (Pb).  Disponível  em: <http://www.ufjf.br/analiseambiental/files/2011/11/NAGEA‐2011‐QUIM‐AMB‐JM‐CHUMBO.pdf>. Acesso em: 01 out. 2012. 

SANTOS,  J.    F. Relatório  técnico 26: perfil do minério de chumbo: produto 17: minério  de  chumbo.  Brasília,  DF:  Ministério  de  Minas  e  Energia,  Secretaria  de Geologia, Mineração  e  Transformação Mineral,  2009. Disponível  em:  <http://www. mme.gov.br/sgm/galerias/arquivos/plano_duo_decenal/a_mineracao_brasileira/P17_RT26_Perfil_do_Minxrio_de_Chumbo.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2012. 

SANTOS,  J.    F. Relatório  técnico 66: perfil do minério de  chumbo.  Brasília,  DF: Ministério  de Minas  e  Energia,  Secretaria  de  Geologia, Mineração  e  Transformação Mineral,  2009.  Disponível  em:<http://www.mme.gov.br/sgm/galerias/arquivos/ plano_duo_decenal/a_transformacao_mineral_no_brasil/P40_RT66_Perfil_do_Chumbo.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2012. 

SILVA, B.  C. E.;  TEIXEIRA,  J. A.  de A. B. Chumbo. Disponível  em: <https://sistemas. dnpm.gov.br/publicacao/mostra_imagem.asp?IDBancoArquivoArquivo=3981>.Aces‐so em: 02 nov. 2012. 

TEIXEIRA,  J.  A.  de  A.  B.  Chumbo.  In:  RODRIGUES,  A.  F.  da  S.  (Coord.).  Economia Mineral do Brasil 2011. Brasília, DF: DNPM, 2009. 

MEDLINEPLUS.    Lead  levels  –  blood.  Disponível  em:  <http://www.nlm.nih.gov/ medlineplus/ency/article/003360.htm> . Acesso em: 01 nov. 2012. 

Métodos de análises 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: artigo científico (3), resumo de congresso(1) e tese(1). 

CAMPOS, M. L. et al. Determinação de cádmio, cobre, cromo, níquel, chumbo e zinco em fosfatos de rocha. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.40, n.4, p.361‐367, abr. 2005. 

COSTA,  C.  das  N.;  MEURER,  E.  J.;  BISSANI,  C.  A.;  TEDESCO,  M.  J.  Fracionamento sequencial de cádmio e chumbo em solos. Ciência rural, Santa Maria. v. 37, n. 5, p. 1323‐1328, set./out. 2007 

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SCHECKEL,  K.  G.  et  al.  Determining  speciation  of  Pb  in  phosphate‐amended  soils: method limitations. Science of the Total Environment, Amsterdan, v. 350, n. 1‐3 p. 261–272, nov. 2005. 

VEIGA, M. A. M. S. da. Coleta de amostras e métodos analíticos para determinação de chumbo.  In:  SIMPÓSIO  SOBRE  O  CHUMBO  E  A  SAÚDE  HUMANA,  2009.,  Ribeirão Preto. Anais ... Ribeirão Preto: USP, 2009. p. 330‐336. 

TAVARES,  A.  D.  Determinação  de  cádmio  e  chumbo  em  alimentos  e  bebidas industrializados  por  espectrometria  de  absorção  atômica  com  atomização eletrotérmica.  2010.  84  f.  Tese(Doutorado  em  Química)‐Universidade  Federal  da Paraíba, João Pessoa, 2010. 

Legislação e governança 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido: leis (4)  e artigo científico (3) 

BAHIA. Lei ambiental do Estado da Bahia n° 10.431, de 20 dezembro de 2006. Diário Oficial do Estado, Salvador, 21 dez. 2006. 

BAHIA.  Decreto  nº  11.235,  de  10  de  outubro  de  2008. Diário Oficial  do  Estado, Salvador, 12 dez. 2008. 

BAHIA.  Decreto  nº  9.295  de  03  de  janeiro  de  2005.  Diário  Oficial  do  Estado, Salvador, 03 jan. 2005. 

BAHIA.Portaria  nº  3.487,  de  07  de  dezembro  de  2007. Diário Oficial  do  Estado, Salvador, 09 dez. 2007. 

DI  GIULIO,  G.  M.  et  al.  Experiências  brasileiras  e  o  debate  sobre  comunicação  e governança do risco em áreas contaminadas por chumbo. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 337‐349, fev. 2012. 

FREITAS, C. M. et al. Chemical safety and governance in Brazil. Journal of Hazardous Materials, Amsterdã, v.  86, n.1‐3, p. 135‐151, set. 2001. 

MORCK,  R.;  WOLFENZON,  D.;  YEUNG,  B.  Corporate  governance,  economic entrenchment, and growth, Journal of Economic Literature, Nashville, v. 43, n. 3, p. 655‐720, set. 2003. 

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Processamento, contenção e reciclagem  

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  artigo científico (2), documento eletrônico (1) e dissertações (2) 

ETTLER,  V.;  MIHALJEVIČ,  M.;  TOURAY  ,  J.  C.;  PIANTONE,  P.  Leaching  of  polished sections  :  an  integrated  approach  for  studying  the  liberation  of  heavy metals  from lead‐zinc metallurgical slags. Bulletin Société Géologique de France, Paris, v. 173, p. 161‐169, 2002. 

KORF, E. P. Comportamento hidráulico e reativo de uma mistura solo­cimento para aplicação em barreira de cotenção de resíduos ácidos contendo chumbo e cádmio.  2011.  143  f.  Dissertação  (Mestrado  em  Engenharia)‐Universidade  Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. 

MACHADO,  I.  P.  Avaliação  ambiental  do  processo  de  reciclagem  de  chumbo. 2002. 144 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica)‐Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.  

MOBILIZAÇÃO comunitária impede a instalação de recicladora de chumbo em Mauá da  Serra.  Banco  de  Dados  Recursos  Minerais  e  Sociedade:  Impactos Territoriais,Sociais, Ambientais e Econômicos, desenvolvido no Centro de Tecnologia Mineral/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Redigido por Keila Souza. 

SAYER,  J.  A.;HOWELLS,  J.  D.  C.; WATSON,  C.,HILLIER,  S.;  GADD,  G. M.  Lead mineral transformation by fungi. Current Biology, v. 9, n. 13, p. 691‐694, jul.1999. 

O ambiente físico 

Solo 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  artigos científicos(4), relatório(1) e dissertações(1) 

ABREU, C. A. de; ABREU, M. F. de; ANDRADE, J. C. de. Distribuição de chumbo no perfil de solo avaliada pelas soluções de dtpa e mehlich‐3. Bragantia, Campinas, v. 57,  n. 1, 1998. 

BARRERO, F. M. C. Análise de áreas degradadas pós mineração em municípios da bacia do rio Paramirim. Salvador: INGÁ, 2008. 

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PIERANGELI, M. A. P. et al. Teor total e capacidade máxima de adsorção de chumbo em latossolos brasileiros. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 25, n. 2, p. 279‐288, 2001. 

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PONTES, E. de M. Monitoração de chumbo em amostras ambientais e estudos de retenção  de  cádmio,  chumbo,  cobre  e  zinco  nos  solos  luvissolo  crômico  e neossolo  regolítico.  2009.  85f.  Dissertação  (Mestrado  em  Química  Aplicada)‐Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2009.* 

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Influências no meio ambiente e saúde pública 

Biodisponibilidade 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:    artigos  científicos  (12),  resumos  de  congresso  (2),  relatório  (1), documento eletrônico (1) e dissertações (2). 

BARROS,  Y.  J.  et  al.  Indicadores  de  qualidade  de  solos  em  área  de  mineração  e metalurgia de chumbo: I – microrganismos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 34, n. 4, p.1397‐1411, jul./ago. 2010. 

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GONÇALVES  JUNIOR,  A.  C.;  PESSOA,  A.  C.  dos  S.  Fitodisponibilidade  de  cádmio, chumbo  e  crômio,  em  soja  cultivada  em  argissolo  vermelho  eutrófico  a  partir  de adubos comerciais. Scientia Agraria, Curitiba, v. 3, n. 1‐2, p.19‐23, 2002. 

GONÇALVES  JUNIOR,  A.  C.;  PESSOA,  A.  C.  dos  S.  Fitodisponibilidade  de  cádmio, chumbo  e  crômio,  em  soja  cultivada  em  argissolo  vermelho  eutrófico  a  partir  de adubos comerciais. Scientia Agraria, Curitiba, v. 3, n. 1‐2, p.19‐23, 2002. 

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NAVA, I. A. et al. Disponibilidade dos metais pesados tóxicos cádmio, chumbo e cromo no solo e tecido foliar da soja adubada com diferentes fontes de NPK+Zn. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, MG, v. 35, n. 5, p. 884‐892, set./out. 2011. 

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PRODUÇÃO de moluscos bivalves no baixo sul do recôncavo da Bahia: elaboração de uma  base  de  dados  sobre  a  qualidade  ambiental  da  região.  Disponível  em: <www.ufrb.edu.br/prouna/>. Acesso em: 18 set. 2012. 

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SANTIAGO, D. M.; TEIXEIRA, G. C. B.;  SOUZA, R. R. de. Teores de cádmio,  chumbo e zinco em plantas medicinais cultivadas em solos contaminados. Perquirere, Patos de Minas, MG, v. 1,  n. 8, p. 195‐202, jul. 2011.  

SANTOS,  C.  R.  dos. Ácido  delta  aminolevulínico  desidratase  (ALAD)  de  tilápia (Oreochromis niloticus) no monitoramento do  chumbo no ambiente aquático. 2008.  48  f.  Dissertação  (Mestrado  em  Saúde  Publica)‐Escola  Nacional  de  Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2008. 

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO; SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS. Diagnóstico do grau de contaminação da baía de Todos os Santos por metais pesados e hidrocarbonetos de petróleo a partir da análise das suas concentrações nos sedimentos de fundo e na biota associada. Salvador: SEDUR; SEMARH, 2004. 

SHARMA,  P.;  DUBEY,  R.  S.  Lead  Toxicity  in  plants.  Brazilian  Journal  of  Plant Physiology, Londrina, v. 17, n. 1, p. 35‐52, jan./mar. 2005.  

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Toxicologia  

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  artigos  científicos  (24),  resumos  de  congresso  (4),  relatório  (5), documento eletrônico (3), notícias (1), capitulo de livro (1), monografia (3), tese (2), apostila (1)  e dissertações (7). 

AGENCY  FOR  TOXIC  SUBSTANCES  AND  DISEASE  REGISTRY  (United  States  Of America). Toxicological profile for lead. Atlanta: ATSDR, 2007. 

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GUERRA,  C.  S.  Utilização  de  dentes  decíduos  de  regiões  com  diferentes históricos  de  contaminação  ambiental  para  detecção  de  grupos  de  crianças expostas ao chumbo no Brasil. 2010. 175 f.Tese (Doutorado em em Biologia Buco‐Dental )‐ Universidade Estadual de Campinas, São Paulo,  2010.* 

JACOB,  L.  C.  B.;  ALVARENGA,  K.  de  F.;  MORATA,  T.  C.    Os  efeitos  da  exposição ocupacional ao chumbo sobre o sistema auditivo: uma revisão da literatura. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, Rio de Janeiro, v.68, n. 4, p. 564‐569,  jul./ago. 2002. 

JURUENA,  M.  F.  P.  Exposição  ao  chumbo:  consequências  neuropsiquiátricase comportamentais.  In:  SIMPÓSIO  SOBRE  O  CHUMBO  E  A  SAÚDE  HUMANA,  2009., Ribeirão Preto. Anais ... Ribeirão Preto: USP, 2009. p. 296‐300. 

MAGNA, G. A. M.; MACHADO, S. L.; PORTELLA, R. B. Avaliação da exposição ao Pb e Cd em crianças de 0 a 17 anos por consumo de alimentos vegetais cultivados em solos contaminados por metais. No prelo. 

MAINENTI,  H.  R.  D.  Correlação  entre  a  exposição  ao  chumbo  e  a  atividade da enzima  ácido  �­aminolevulínico  desidratase  (ala­d),paratormônio  (pth)  e fatores  nutricionais  em  crianças.  2006.  65  f.  Dissertação  (Mestrado  em  Saúde Pública)‐Escola  Nacional  de  Saúde  Pública  Sérgio  Arouca,  Fundação Oswaldo  Cruz, Rio de Janeiro, 2006. 

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TAVARES,  T.  M.  et  al.  Lead  in  hair  of  children  exposed  to  gross  environmental pollution.  International  Journal  of  Environmental  Analytical  Chemistry,  v.  36, p.221‐30, 1989. 

TOMITA,  N.  E.;  PADULA,  N.    A.  de  M.  R.  Intoxicação  por  chumbo  em  crianças  e  o discurso da  imprensa. Ciência saúde coletiva, Rio de  Janeiro,  v. 10, suppl., p. 111‐119, set./dez. 2005. 

TONG,  S.  et  al.  Environmental  lead  exposure:  a  public  health  problem  of  global dimensions. Bulletin of the World Health Organization, Nova York, v. 78, n.9, 2000. 

XAVIER  JUNIOR,  E.  C.  Razão  cálcio/creatinina  em  urina  como  indicativo  de alterações  fisiológicas  em  crianças  ambientalmente  expostas  ao  chumbo: interações  entre  indicadores  biológicos,  fatores  nutricionais  e  parâmetros  clínicos. 

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2007. 114  f. Trabalho de Conclusão de Curso(Especialização)‐ Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2007. 

ZENTNER,  L.E;  RONDÓ,  P.H.  Lead  contamination  among  pregnant  brazilian women living near  a  lead  smelter.  International  Journal of Gynecology and Obstretrics, v.87, n.2, p.147‐48, 2004.* 

ZENTNER,  L.E  et  al.  Relationships  of  blood  lead  to  calcium,  iron,  and  vitamin  C intakes in Brazilian pregnant women. Clinical Nutrition, v.27, p.100‐04, 2008.* 

Notícias 

EXPOSIÇÃO  ambiental  ao  chumbo:  um  problema  global.    Disponível  em:<http:// www.boasaude.com.br/lib/showdoc.cfm?LibCatID=1&Search=Exposicao%20ao%20chumbo&LibDocID=3859>. Acesso em: 12 dez. 2011. 

Site 

SATURNISME. In: WIKIPEDIA. Disponível em: <http://fr.wikipedia.org/wiki/Saturnisme>. Acesso em: 10 jul. 2012. 

SATURNISMO. In: WIKIPEDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Saturnismo>. Acesso em: 10 jul 2012. 

SATURNISMO  ou  intoxicação  por  chumbo.  Disponível  em:  <http://www.brasilmedicina. com.br/noticias/pgnoticias_det.asp?Codigo=134>. Acesso em: 12 jul. 2012. 

Avaliação de risco e valores orientadores 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  artigos científicos(7), tese(1) e relatório(1) 

ASMUS, C.I.R.F et al. Estudos de avaliação de risco à saúde humana: uma contribuição para a vigilância em saúde. Cadernos Saúde Coletiva,  v. 13, n. 1, p. 97  ‐ 111, mar. 2005. 

CORDEIRO, R.; LIMA FILHO, E. C. The inadequacy of threshold values for preventing lead poisoning in Brazil. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 177‐186, abr./jun. 1995. 

FERREIRA,  J.  G.;  OLIVEIRA,  M.  J.  E.  de.   Valores  orientadores  para  avaliação  da 

contaminação em solo e água: estudo de caso. Visão Acadêmica, Curitiba, v. 7, n. 1, 2006. 

KUNO,  Rúbia.  Valores  de  referência  para  chumbo,  cádmio  e  mercúrio  em população  adulta  da  Região  Metropolitana  de  São  Paulo.  2009.  166  f.  Tese (Doutorado  em  Ciências)‐Faculdade  de  Medicina,  Universidade  de  São  Paulo,  São Paulo, 2009. 

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MATTOS, R. C. O. C. et al. Avaliação dos fatores de risco relacionados à exposição ao  chumbo  em  crianças  do  Rio  de  Janeiro.  Ciência  &  Saúde  Coletiva,  Rio  de Janeiro,  v.  14,  n.  6,  p.  2039‐2048,  dez.  2009.  Disponível  em:<  http://www. scielo.br/ pdf/csc/v14n6/11.pdf >. Acesso em: 16 jul. 2012. 

PAOLIELO,  M.  M.  B.  et  al.  Valores  de  referência  para  plumbemia  em  população urbana. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 144‐148, abr. 1997.  

SILVA,  A.P. Avaliação de  riscos à  saúde humana por  resíduos perigosos.  2012. Apresentação realizada no Seminário Santo Amaro. 

XIONG,  Z. T. Bioaccumulation  and physiological  effects  of  excess  lead  in  a  roadside pionner species Sonchus oleraceus L. Environmental Pollution, Barking, v. 97, n. 3, p. 275‐279, 1997. 

ZUINDEAU,  B.  Responding  to  environmental  risks:  what  can  Albert  Hirschman contribute? Ecological Economics, Amsterdã, v. 69, n. 1, p. 155–165, nov. 2009. 

Remediação 

Abaixo estão listados os diferentes materiais onde está disponível o conhecimento já adquirido:  artigos científicos(6), dissertações(4) e resumo de congresso(1) 

BIGELLI,  E. M. Utilização de escória de chumbo em massa cerâmica vermelha. 2005. 205 f. Dissertação(Mestrado em Engenharia)‐Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005 

CHEN, Z.S.; LEE, G.J.;  LIU,  J.C. The efects of  chemical  remediation  treatments on  the extractability  and  speciation  of  cadmium  and  lead  incontaminated  soils. Chemosphere, Oxford, v.  41, n. 1‐2, p. 235‐242, jul. 2000. 

ELIAS, R. W.; GULSON, B. Overview of lead remediation effectiveness. Science of the Total Environment, Amsterdã, v. 303, n. 1‐2, p. 1‐13,  fev. 2003. 

KEDE, M.  L.  F. M. Comportamento do chumbo em  latossolos após aplicação de rocha  fosfatada  brasileira:  subsídio  para  remediação  ambiental  de  áreas contaminadas. 2006. 68 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)‐Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2006. 

KEDE,  M.  L.  F.  M.  et  al.  Estudo  do  comportamento  do  chumbo  em  latossolos brasileiros  tratados  com  fosfatos:  contribuições  para  a  remediação  de  sítios contaminados. Química  Nova, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 579‐584, 2008. 

MOREIRA,  I.  T.  A. Avaliação da eficiência de modelos de remediação aplicados em sedimentos de manguezal impactados por atividades petrolíferas. 2001. 163 f.  Dissertação  (Mestrado  em  Geoquímica)‐Instituto  de  Geociências,  Universidade Federal da Bahia, Bahia, 2011. 

PEDRAZZOLI, C. D.; IRYODA, K. I.; PONTE H. A. Remediação eletrocinética de chumbo em  resíduos  industriais.  In:  ENCONTRO  E  EXPOSIÇÃO  BRASILEIRA  DE 

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TRATAMENTO DE SUPERFÍCIES, 11., 2003. São Paulo. [Trabalhos...] São Paulo: [s.l], 2003. Disponível em: < http://www.gea.ufpr.br/Trabalhos/Congressos/Ebrats2003‐PedrazzoliIryodaPonte.pdf>. Acesso em: 03 set. 2012. 

PEREIRA,  B.  F.  F.  Potencial  fitorremediador  das  culturas  de  feijão­de­porco, girassol e milho cultivadas em  latossolo vermelho contaminado com chumbo. 2005. 68  f. Dissertação  (Mestrado em Agricultura Tropical  e  Subtropical)‐  Instituto Agronômico de Campinas, Campinas, SP, 2005. 

ROMEIRO, S. et al. Absorção do chumbo e potencial de fitorremediação de Canavalia ensiformes l. Bragantia, Campinas, SP, v.66, n. 2, p. 327‐334, 2007. 

WUANA,  R.  A.;  OKIEIMEN,  F.  E.  Heavy  metals  in  contaminated  soils:  a  review  of sources,chemistry,  risks  and  best  available  estrategies  for  remediation.  ISRN Ecology, v. 2011, p. 1‐20, 2011. 

ZEITOUNI, C. F., BERTON, R. S., ABREU, C. A. Fitoextração de cádmio e zinco de um latossolo vermelho‐amarelo contaminado com metais pesados. Bragantia, Campinas, SP, v.66, n.4, p.649‐657, 2007.