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Fenômenos Sintáticos TROL Fenômenos Sintáticos Maria Alice das Neves Belleza Maria Luzia Paiva de Andrade 2ª edição

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Fenômenos Sintáticos

TROL

Fenômenos Sintáticos

Maria Alice das Neves Belleza

Maria Luzia Paiva de Andrade

2ª e

diçã

o

Fenômenos Sintáticos

DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira

Reitora Marlene Salgado de Oliveira

Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira

Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira

Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira

Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira

Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira

Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves

DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Assessora Andrea Jardim

FICHA TÉCNICA Texto: Maria Alice Neves Belleza e Maria Luiza Paiva de Andrade

Revisão Ortográfica: Walter P. Valverde Júnior

Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni , Fabrício Ramos, Marcos

Antonio Lima da Silva e Ruan Carlos Vieira Fausto

Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus

Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos

Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos

COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância

Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br

B442f Belleza, Maria Alice das Neves.

Fenômenos sintáticos / Maria Alice das Neves Belleza e Maria Luzia Paiva de Andrade ; revisão de Walter P. Valverde Júnior . 2. ed. – Niterói, RJ: EAD/UNIVERSO, 2011.

276 p. : il

1. Língua portuguesa - Sintagma nominal. 2. Língua portuguesa - Verbos. 3. Língua portuguesa - Voz. 4. Língua portuguesa - Orações. 5. Língua portuguesa - Aposto. 6. Língua portuguesa – Sujeito e predicado. I. Andrade, Maria Luiza Paiva de. II. Valverde Júnior, Walter P. III. Título.

CDD 469.5 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói

Bibliotecária: ELIZABETH FRANCO MARTINS – CRB 7/4990

© Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma

ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora

da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).

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Pa l av ra da Rei tora

Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente.

São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem.

O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma.

Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos.

A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem-sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação.

Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona.

Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual!

Professora Marlene Salgado de Oliveira

Reitora

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Fenômenos Sintáticos

Sumário

1. Apresentação da disciplina.................................................................................... 07

2. Plano da disciplina.................................................................................................... 08

3. Unidade 1 – Sintagma Nominal e Sujeito ........................................................ 13

4. Unidade 2 – Predicação Verbal............................................................................. 43

5. Unidade 3 – O Nome: Seu Complemento, seu Adjunto e seu Aposto. ... 85

6. Unidade 4 – O Verbo: Suas Vozes e seu Adjunto............................................ 109

7. Unidade 5 – Período Composto: Definição. Período Composto

por Coordenação............................................................................................................... 131

8. Unidade 6 – Período Composto por Subordinação:

Oração Subordinada Adjetiva ......................................................................................... 155

9. Unidade 7 – Período Composto por Subordinação:

Oração Subordinada Substantiva ................................................................................... 185

10. Unidade 8 – Período Composto por Subordinação:

Oração Subordinada Adverbial....................................................................................... 221

11. Unidade 9 – Outros tipos de Oração................................................................... 253

12. Considerações finais ............................................................................................... 265

13. Conhecendo as autoras.......................................................................................... 267

14. Referências................................................................................................................ 269

15. Anexos........................................................................................................................ 271

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A pr esentação da Di sciplina

Caro aluno,

Seja bem-vindo à disciplina Fenômenos Sintático.

Antes de iniciarmos nossos estudos, é necessário sabermos a importância dessa disciplina para formação do profissional da área de Letras.

Sintaxe indica relação entre termos, relação esta presente em nossa vida, já

que passamos diariamente nos comunicando com os outros. Se os outros nos

entendem, nós empregamos em nossos textos, mesmo orais, os sujeitos, os verbos,

os complementos, os adjuntos. Então, na verdade, adquirimos na escola um

conhecimento que, em parte, já possuímos, ainda que não tenhamos consciência

dele. A escola nos transmite um conhecimento formal, ampliando as possibilidades desses empregos em outros contextos.

Assim sendo, a sintaxe vem norteando o ensino de língua portuguesa desde as

séries iniciais. Deve então o futuro professor preparar-se adequadamente para a realidade que enfrentará em sala de aula depois de formado.

Contrariamente à ideia de que normalmente temos no ensino fundamental e

médio, nenhuma gramática contém a verdade absoluta. Existem doutrinas,

posicionamentos distintos, e o professor não pode ignorá-los. Têm de conhecê-los,

compará-los, para perceber qual é o mais coerente, qual está mais de acordo com

os fatos linguísticos, a fim de formar academicamente o seu aluno com segurança.

Alguns autores, embora seus livros estejam esgotados, não puderam deixar de ser

citados, dada a grande contribuição que deram aos estudos de língua portuguesa.

Dentre eles destacamos os mestres Said Ali, Sousa da Silveira e José Oiticica, entre outros.

Prepare-se então, prezado aluno, para esse importante desafio. Nessa

disciplina você estudará todo o período simples e o todo o período composto,

conteúdo essencial nas escolas de ensino fundamental e médio. Estaremos sempre dispostos em auxiliá-los em suas atividades.

Bons estudos!

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Pl a n o da Di sciplina

A disciplina Fenômenos Sintáticos tem por objetivo principal possibilitar ao aluno o conhecimento das relações entre os termos da oração.

A disciplina está dividida em nove unidades, que estão subdivididas em

tópicos a fim de facilitar a compreensão do aluno, já que a disciplina se caracteriza

pela densidade do conteúdo e, consequentemente, pela grande quantidade de informação.

Segue um resumo das unidades, enfatizando seus objetivos para que você tenha um panorama daquilo que irá estudar.

Unidade 1:Sintagma Nominal e Sujeito

Essa unidade trata da relação entre os nomes que constituem o sujeito.

Objetivo: Compreender as relações entre os termos do sintagma nominal.

Unidade 2: Predicação Verbal

Essa unidade trata da relação entre verbos e os nomes.

Objetivo: Compreender a predicação verbal e as relações entre os termos e o sintagma verbal.

Unidade 3: O Nome: Seu Complemento, seu Adjunto e seu Aposto.

Essa unidade trata de outros termos que compõem o predicado.

Objetivo: Compreender as relações entre outros termos da oração.

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Unidade 4: O Verbo: Suas Vozes e seu Adjunto

Essa unidade trata do adjunto adverbial, das vozes verbais e do aposto.

Objetivo: Compreender o emprego do adjunto adverbial, do aposto e das vozes verbais.

Unidade 5: Período Composto:Definição. PeríodoComposto por Coordenação

Essa unidade trata da relação entre as orações coordenadas assindéticas e sindéticas.

Objetivo: Compreender a relação entre as orações coordenadas.

Unidade 6: Período Composto por Subordinação: Oração Subordinada Adjetiva

Essa unidade trata da relação entre a oração principal e a oração subordinada adjetiva.

Objetivo: Compreender a relação entre a oração principal e a oração subordinada adjetiva.

Unidade 7: Período Composto por Subordinação: Oração Subordinada Substantiva

Essa unidade trata da relação entre a oração principal e a oração subordinada substantiva.

Objetivo: Compreender a relação entre a oração principal e a oração subordinada substantiva.

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Unidade 8: Período Composto por Subordinação:Oração Subordinada Adverbial

Essa unidade trata da relação entre a oração principal e a oração subordinada adverbial.

Objetivo: Compreender a relação entre a oração principal e a oração subordinada adverbial.

Unidade 9: Outros tipos de Oração

Essa unidade trata das orações eqüipolentes, orações intercaladas e orações complexas.

Objetivo: Entender as orações equipolentes, orações intercaladas e orações complexas.

Bons Estudos

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Sintagma Nominal e Sujeito

Sintagma

Sintagma Nominal Sujeito

Definição: confronto entre as gramáticas.

Tipos de sujeito.

Simples.

Composto.

Oculto.

Indeterminado.

Inexistente ou oração sem sujeito.

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Caro aluno, nesta unidade, você estudará o sujeito, a sua definição,

classificação e as controvérsias existentes. Como já foi salientado, em sintaxe

dificilmente há unanimidade sobre o que vem a ser um determinado fato

linguístico. Por isso, é importante uma leitura atenta das principais gramáticas, para

que se perceba a linha de raciocínio mais coerente e se possa então tomar uma posição definida. Bom estudo!

Objetivos da unidade:

Compreender as relações morfossintáticas do português.

Identificar o sintagma nominal.

Analisar criticamente a NGB - A definição tradicional de sujeito e os padrões frasais do português.

Identificar o sujeito.

Depreender o núcleo do sujeito.

Classificar o sujeito – Tipos de Sujeito

Conhecer o posicionamento dos gramáticos a respeito do sujeito e da partícula se.

Plano da unidade:

Sintagma

Sintagma Nominal Sujeito

Definição: confronto entre as gramáticas.

Tipos de sujeito.

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Simples.

Composto.

Oculto.

Indeterminado.

Inexistente ou oração sem sujeito.

Bons estudos!

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Sintagma

Sintagma é qualquer constituinte imediato da oração, exercendo função de

sujeito, complemento, predicativo, adjunto adverbial. Tanto pode ser uma palavra

só como mais de uma palavra. A função básica da sintaxe das línguas naturais

consiste em combinar elementos léxicos para formar orações. Essas possuem uma

estrutura interna hierarquizada, que contém não só elementos léxicos, mas também elementos sintagmáticos ou sintagmas.

O nome é o tópico, tema ou assunto. O nome por excelência é o substantivo,

devido à sua capacidade de aglutinar outras classes gramaticais, segundo o

princípio sintagmático centro / margem. Na frase o menino educado, a palavra menino aglutina as outras duas:

Sintagma Nominal

Artigo (margem sintagmática)

O

Substantivo (centro sintagmático)

menino

Adjetivo (margem sintagmática)

educado Outro exemplo:

O aluno está lendo o material com muita atenção Ele lê isto atentamente

SS SV SS SP/SAdv.

Siglas: SS: sintagma substantivo SV: sintagma verbal SP: sintagma preposicional (preposição + SS) SADV. Sintagma adverbial

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Para compreender melhor os padrões oracionais, tenha-se em conta a

existência de quatro posições ou casas sintáticas:

(1) (2) (3) (4) Sujeito Verbo Complemento Verbal Adjunto Adverbial

SS SV SS SADV

Sintagma Nominal

Quando vocábulos, que não sejam verbos, precedidos ou não de preposição, constituem um grupo de palavras, formam um sintagma nominal.

No sintagma nominal, há um conjugado binário, isto é, duas formas

combinadas, em que uma delas é o determinante (dependente, subordinado) e a

outra é o determinado (núcleo, central, subordinante). Há no sintagma nominal uma relação de dependência, de subordinação.

Veja:

. a bola – o artigo a é o determinante e o substantivo bola é o determinado.

. colégio de meninos – de meninos é o determinante e o substantivo colégio é

o determinado. Veja que o substantivo meninos é o determinante, em decorrência da preposição de.

O Sintagma nominal pode chamar-se também preposicional quando é precedido de uma preposição:

Exemplificando :

É uma mulher de muitos recursos.

Rafael come com os olhos.

Fala pelos cotovelos.

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O núcleo do sintagma nominal

O sintagma nominal compõe-se sempre de um núcleo. As margens são optativas. Podem ocupar o centro de um sintagma nominal:

a) um substantivo: Uma pessoa bondosa sempre é simpática.

b) um pronome: Ela, ele, aquele, este (...) sabe o que é bom.

c) uma palavra substantivada:

• Um adjetivo: Os atrevidos sempre têm sorte.

• Um infinitivo: O saber sempre é útil.

• Um advérbio: O sim do noivo foi ouvido por todos.

• Um particípio: O acusado recusou-se a ir embora.

• Uma preposição: Aquele até traiu o acusado.

• Uma conjunção: Nesssa história há um porém.

• Uma interjeição: Seus ais não me comovem.

As margens do sintagma nominal

Consideram-se determinantes os elementos sintagmáticos periféricos que caracterizam o núcleo sem alterar o seu significado:

• Os artigos: O rapaz quer estudar. • Os pronomes adjetivos:

Possessivos: Minha bolsa está pesada. Demonstrativo: Aquela bolsa não é minha. Indefinido: Nenhum aluno apareceu hoje. Relativo: O rapaz, cujo pai é meu amigo, viajou. Interrogativo: Que bobagem você acaba de dizer!

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Sujeito

Observe agora as definições de sujeito encontradas nas principais gramáticas.

Definição: Confronto Entre as Gramáticas

Quando iniciamos o estudo de sintaxe da língua portuguesa, percebemos que

os gramáticos trabalham com definições: seja de oração, seja de sujeito, seja de predicado, etc.

Verificamos, contudo, o quanto é difícil encontrar uma definição de sujeito que abranja todos os contextos em que ele surge.

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Você deve lembrar-se de que, desde as séries iniciais, os professores ensinam

que, para a identificação do sujeito, basta a formulação de uma pergunta, de modo

que o pronome que – em referência a coisas – e o pronome quem – em referência a pessoas – ocorram antes do verbo. A resposta é o sujeito.

Repare

Exemplificando :

Alguém entrou nesta casa. Quem entrou nesta casa? Resposta: Alguém. Luís encontrou a casa vazia. Quem encontrou a casa vazia? Resposta: Luís Flores ornamentam a casa. O que ornamentam a casa? Resposta: Flores

Este recurso nos remete à interessante observação que faz MACAMBIRA: “A

prova da pergunta é só o artifício da gramática tradicional que tem certo valor

didático, e o que há sido amplamente aplicado na identificação do sujeito”.(1990: 171 - 172)

E chama a atenção para o fato de se formular a pergunta:

“omitindo exatamente o termo que funciona como sujeito, e por conseguinte demonstrando que já o conhecia. Neste caso seria inútil fazer a pergunta, porque na realidade já previamente se sabia o resultado.” (1990: 171 - 172)

Na verdade, prezado aluno, se você reparar, perceberá que nas perguntas

feitas anteriormente, foi omitido exatamente o termo que deveria ser a resposta, ou seja, o sujeito.

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Além disso, quando o professor ensina que o pronome interrogativo que se

emprega para coisas e quem para pessoas, já se sabe de antemão se o sujeito é

coisa ou pessoa (1990: 171 - 172), o que também causa estranheza, pois se estou

ensinando a identificação do sujeito a quem ainda não sabe, como posso empregar adequadamente as construções a seguir:

Exemplificando :

1 - O rapaz nada.

Pergunta: Quem nada?

Resp.: O rapaz.

Empreguei quem para encontrar o sujeito porque rapaz é pessoa.

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2 - A mesa quebrou.

Pergunta: O que quebrou?

Resp.: A mesa.

Usei que para encontrar o sujeito porque mesa é coisa.

Percebeu a incoerência? E quando o sujeito é o pronome quem? Como utilizar a pergunta se o termo que a inicia é também a reposta, constituindo-se no sujeito? OBSERVE: Quem esteve aqui? Resposta: Quem. Mas por que quem é o sujeito? Você verá que esta função é própria de um substantivo e lembre-se de que quem é um pronome – substantivo, conforme você aprendeu em Morfologia, por ocupar o lugar de um substantivo, exercendo, como tal, no exemplo anterior, a função de sujeito. Bem, até agora analisamos um recurso para a identificação do sujeito da oração. Mas que é sujeito? Que significa sujeito da oração? Importantes gramáticos vêm considerando o sujeito como: a) “O ser a propósito do qual se declara alguma cousa. É expresso por um nome ou pronome.”(ALI, 178) b) “Um nome a respeito do qual se faz uma declaração”. (OITICICA, 1940: 199) c) “O ser de quem se diz algo.” “O sujeito é expresso por substantivo, ou equivalente de um substantivo.” (ROCHA LIMA, 1992: 234 - 235) d) “O termo que exprime o ser de quem se diz alguma coisa”. (KURY: 2006: 21) e) “O termo do qual se diz alguma coisa”. (MACEDO, 1991: 11) f) “O ser de quem se diz alguma coisa (...) tem por núcleo um substantivo (nome ou pronome) ou palavra substantivada.” (LUFT, 2005: 94)

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Então, vejamos outros exemplos: Em: Quem esteve aqui? Macacos me mordam!

O sujeito da primeira é quem, e o da segunda é macacos. Também em “Olha!” há um sujeito, tu, subentendido na forma verbal no modo imperativo. É o tradicionalmente denominado sujeito oculto, que você estudará mais adiante. Mas a primeira oração não é interrogativa, a segunda exclamativa e a terceira imperativa? Exatamente! Logo, elas não contêm nenhuma declaração. E a definição exposta nas gramáticas? Pois é! Já começamos a perceber que ela é insuficiente, pois não abrange todos os tipos de oração. Aplica-se apenas às afirmativas, e não às interrogativas, às exclamativas e às imperativas. Talvez, por isso, no século XIX, Epifânio Dias, gramático português e grande estudioso da língua portuguesa, tenha evitado apresentar uma definição de sujeito. Ao tratar deste assunto, mostra apenas, como também fazem os já citados, a classe gramatical que pode exercer a função de sujeito: “substantivo” ou “um equivalente do substantivo”. (1970, 1) Posteriormente, outro grande estudioso, Sousa da Silveira, brasileiro, também não definiu o sujeito. Apenas, ao tratar do substantivo, afirmou que, dentre outras funções que não devem ser citadas agora por uma questão didática, “o substantivo figura na frase como sujeito” e os pronomes pessoais eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas, “são formas que se empregam como sujeitos(...)”. (SILVEIRA, 1964: 136) Também Said Ali não se preocupa propriamente com a definição, mas estabelece uma relação entre a ação e o sujeito:

“(...) os fatos que chegam à nossa percepção representam-se-nos ou como fatos propriamente ditos sem referência a quaisquer seres, ou como ações que se passam com alguém ou alguma cousa. Estão no primeiro caso os fenômenos da natureza

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que se traduzem pelas expressões verbais chove, troveja, etc. (...)O caso mais frequente é todavia aquele em que em nosso cérebro existem dois conceitos, o de um ser e o da ação com que ele se passa (...).Temos as proposições de dois termos, os quais se chamam sujeito e predicado.” (1966: 268)

Para ilustrar podemos citar o exemplo: “Alguém entrou nesta casa”. Há um ser – “alguém” – e uma ação – “entrar” – que se passa com “alguém”. Ao dar ênfase à ação que se passa com o sujeito, desconsidera construções como “A máquina permanece intocável”. Nenhuma ação é expressa pelo verbo “permanecer”, mas “a máquina” não deixa de ser o sujeito. CUNHA também define o sujeito como “o ser sobre o qual se faz uma declaração”. (2005: 137) Mas também salienta que: “Quando o verbo exprime uma ação, a atitude do sujeito com referência ao processo verbal pode ser de atividade, de passividade, ou de atividade e passividade ao mesmo tempo.” (2005: 137) Assim, em: “Alguém entrou nesta casa”, há uma atividade do sujeito, pois “alguém” exerce a ação de entrar. “Ela se esvaziou sozinha”, há uma atividade e passividade do sujeito ao mesmo tempo, pois “ela” exerce a ação de esvaziar a si mesma. “Alguns cristais foram levados”, há uma passividade do sujeito, pois alguém leva “alguns cristais”. E mais adiante chama a atenção para os verbos que NÃO indicam ação:

“Quando o verbo evoca um estado, a atitude da pessoa ou da coisa que dele participa é de neutralidade. O sujeito, no caso, não é o agente nem o paciente, mas a sede do processo verbal, o lugar onde ele se desenvolve.” (2005: 143 )

Assim, há neutralidade em: “A máquina permanece intocável”. Porém, cabe aqui um comentário. Parece estranho entender o sujeito, em relação aos verbos que “evocam estado”, como “a sede do processo verbal”, “o lugar onde ele se desenvolve”. Que processo existe em “A máquina permanece intocável”?

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A ideia da declaração também é considerada por BECHARA, mas não explicitamente: “Sujeito é o termo da oração que indica o tópico da comunicação representado por pessoa ou coisa de que afirmamos ou negamos uma ação ou uma qualidade.” (2006: 26) Ora, se afirmamos ou negamos, estamos declarando algo. É interessante salientar ainda que a definição não contém a ideia de verbo de estado, tal como apresenta CUNHA (2005: 143), mas a de qualidade do sujeito, afirmada ou negada pelo emprego do verbo. Além disso, é preciso entender o que seja tópico. Será que pode ser confundido com o sujeito?

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Repare: “─Eu fazia barquinhos naquela época.” “─Barquinhos eu fazia naquela época”. A primeira oração inicia-se com o sujeito “eu”. A segunda, porém, começa com o termo, que não é o sujeito, pois complementa o sentido do verbo. Complemento verbal será estudado nas próximas unidades, mas você deve lembrar-se de que quem faz, faz alguma coisa. “Fazia o quê?” Barquinhos. Este complemento “barquinhos”, que inicia a oração, passa a ser, o foco da informação, o tópico, embora o sujeito “eu” esteja presente nas duas orações. Assim, “o nome é o tópico, tema ou assunto estático ao qual se referem as ações ou processos centrais – os verbos - , quando necessitam de um elemento complementar, o que nem sempre acontece. O nome por excelência é o substantivo, devido à sua capacidade de aglutinar outras classes gramaticais, segundo o princípio sintagmático centro / margem”. (Masip, Vicente 2001)

Sintagma – Mínima Unidade Sintática Nome verbo Nome

(margem sintagmática) (centro sintagmático) (margem sintagmática) Ricardo chupa laranjas

Veja ainda: Sintagma Nominal

Artigo Substantivo Adjetivo (margem sintagmática) (centro sintagmático) (margem sintagmática)

A menina educada

Na frase: A menina educada, a palavra menina aglutina as outras duas. Então podemos chegar à conclusão de que a definição dada pelos gramáticos em geral ─ “o ser de que se diz ou afirma algo” ─ não se aplica ao sujeito de todas as orações afirmativas, como vimos no início da unidade.

Ela também serve para o tópico como acontece com barquinhos. Na verdade, estou afirmando algo sobre barquinhos, no momento em que inverto a ordem dos termos da oração, iniciando esta não com o sujeito, mas com um termo que exerce outra função sintática. (PONTES, 1986:179)

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Uma definição deve abarcar todas as construções que expressam aquilo que está sendo definido. No entanto, como você já pôde perceber, caro aluno, não é o que vem ocorrendo, dada a riqueza de nossa língua e as diversas possibilidades de construção linguística. Na tentativa de encontrar uma solução para o problema existente, PERINI prioriza os aspectos formais, afirmando: “Suje i t o é o t erm o c om o qual o v erbo c onc orda.” (1989: 17) E que vêm a ser aspectos formais? São os relacionados aos morfemas categóricos que você já estudou em Morfologia: a) morfema de gênero e de número em relação aos nomes; b) morfemas modo - temporais e número – pessoais em relação aos verbos. Assim sendo, se o sujeito está no singular, o verbo é empregado no singular; se está no plural, o verbo ocorre no plural. Veja:

- Bandeiras tremulam ao vento! Existem, contudo, situações em que o verbo não concorda com o sujeito. Observe:

“─ Tudo são flores”. O pronome “tudo” é o sujeito, mas o verbo concorda com o substantivo “flores”, cuja função você irá estudar mais adiante. Isso pode acontecer quando o sujeito é um dos pronomes: isto, isso, aquilo. É bom salientar que os gramáticos também admitem a concordância com o pronome:

“─Tudo é flores.”

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Lá na frente, você estudará algumas regras de concordância. Não se preocupe! Apesar disso, a definição, que leva em conta a concordância, é mais abrangente que as anteriores. De qualquer forma, caro aluno, já deu para perceber que as discussões são inúmeras. O importante é perceber as coerências e incoerências existentes e tentar encontrar um caminho.

Tipos de sujeito

Há vários tipos de sujeito. O sujeito pode ser:

• Simples Observe: Nos verdes campos lá vai o cavaleiro. Ao perguntarmos: Quem lá vai nos verdes campos? Obtemos como resposta: O cavaleiro. Esta resposta é o sujeito. Mas qual é o centro da informação, ou melhor, com que termo o verbo estabelece uma relação obrigatória de concordância? Cavaleiro, que é o substantivo. O artigo o apenas acompanha o substantivo. Logo, o substantivo cavaleiro é o núcleo do sujeito.

UM NÚCLEO APENAS = SUJEITO SIMPLES

É importante, contudo, que você observe as seguintes construções: - A paz, a calma, a tranquilidade revela a beleza deste lugar.

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Não é a paz que revela algo? Não é a calma que revela algo? Não é a tranquilidade que revela algo? Por que então o verbo está no singular? Porque paz, calma, tranquilidade, no contexto em discussão, mostram-se como sinônimos. Neste caso, representam um todo, algo único, tanto que os gramáticos já citados recomendam o verbo no singular quando tratam das regras de concordância. MELO (1954, 39) e LUFT (2005, 94) entendem expressamente que o sujeito é simples. Há o mesmo entendimento quando os substantivos revelam uma gradação. Percebemos isto no exemplo a seguir: Observe: - A atração, a ternura, o amor brotava daquele encontro.

• Composto Observe: - Um potro e um cavalo selvagem vivem em liberdade! Ao perguntarmos: Quem vive em liberdade? Obtemos como resposta: Um potro e um cavaleiro. Esta resposta é o sujeito. Agora, não existe apenas um centro da informação, mas existem dois: potro e cavaleiro, que são os substantivos. O artigo um apenas acompanha os substantivos. Logo, os substantivos são os núcleos do sujeito.

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• Oculto

Observe: - Vivo num carrossel! - Escreves uma carta. - Canta bem! - Voaremos um dia! - Marchais bem! Repare que as desinências número - pessoais – o, s, mos, is – tornam desnecessária a presença do sujeito na oração. Sabemos que eu é o sujeito de vivo; tu é o sujeito de escreves; nós é o sujeito de voaremos; vós é o sujeito de marchais. E em canta bem? Qual é o sujeito? Como você aprendeu, o morfema número – pessoal da terceira pessoa do singular é Ø. Então sabemos que o sujeito é ele. Poderia ser ela, mas, de acordo com o contexto, o falante refere-se a um cantor. A esse sujeito que não está expresso na oração, mas subentendido no verbo, os gramáticos chamam de oculto ou sujeito desinencial, já que são as desinências número – pessoais os indicadores do sujeito. O sujeito está implícito na desinência verbal. Há também um tipo de construção em que o sujeito está oculto. Leia atentamente o quadro abaixo:

- O mascote comanda o desfile. Desperta a atenção de todos

Repare que o mascote é o sujeito da primeira e da segunda oração, sendo que nesta última está oculto. Por ter aparecido anteriormente, sua presença explícita torna-se desnecessária (MELO, 1954: 39) e (CUNHA, 2005: 127). De qualquer forma, faz-se presente implicitamente na forma verbal.

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• Indeterminado Observe:

- Pegaram meu violão! O verbo não está empregado na terceira pessoa do plural porque se refere a eles propriamente e sim pelo fato de o falante não saber quem exerceu o ato de pegar o violão. Portanto, há sujeito indeterminado. Também pode ocorrer a seguinte situação:

- Falam que seu namorado tem saído com sua melhor amiga. Repare em que o verbo falam está empregado sem sujeito expresso. O falante sabe quem é o sujeito, no entanto quis indeterminá-lo, por se tratar da amiga de quem ouve. A indeterminação do sujeito é intencional. Outro tipo de sujeito indeterminado é aquele que ocorre com o verbo na terceira pessoa do singular seguido do pronome se, denominado índice de indeterminação do sujeito. Observe:

- Vivia-se melhor aqui.

- Precisa-se de mais paz agora.

Na primeira oração, não há nenhum substantivo nem termo equivalente. Logo, o sujeito não está expresso. Sabemos, todavia, que pessoas, sem sabermos quais, viviam melhor. Então, estamos diante de um sujeito indeterminado. Na segunda oração, ocorre um verbo que se constrói com a preposição de – precisar de – e a regra é: sujeito não vem precedido de preposição . Mas entendemos que pessoas, sem sabermos quais, precisam de mais paz. Então, estamos diante de um sujeito indeterminado. Há construções, no entanto, que se fazem a partir de um verbo na terceira pessoa do singular sem preposição, seguido da partícula se e substantivo.

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Observe:

- Libertou-se um pássaro. Os gramáticos, em sua maioria, entendem que a construção anterior equivale a um pássaro foi libertado. Assim, um pássaro é sujeito simples. Se pensarmos, porém, nas tabuletas de rua veremos que os autores dos anúncios não fazem a concordância do verbo com o substantivo. Observe:

- Compra-se bicicletas velhas.

Os tais gramáticos condenam a construção apresentada, já que consideram “bicicletas” o sujeito do verbo consertar, pois haveria equivalência com a oração bicicletas velhas são compradas. SAID ALI (1966: 98), no entanto, fez um estudo bastante detalhado do pronome se em suas Dificuldades da Língua Portuguesa. O seu entendimento é contrário ao da maioria. Salienta que o falante de língua portuguesa entende que “alguém compra bicicletas”, o que gera o emprego do verbo no singular. Desta forma, afirma que o sujeito é indeterminado. Não deixa de enfatizar que, de acordo com o padrão culto da língua portuguesa, o verbo deve ser empregado no plural, deixando claro, no entanto, que a concordância se dá com o objeto direto – bicicletas –, tendo em vista o exemplo citado. Chama de “falsa concordância”. (1966: 96-97) Objeto direto é outra função sintática a ser estudada nas próximas unidades. O importante agora é saber que para o estudioso citado o substantivo não exerce a função de sujeito. Além disso, a construção bicicletas velhas são compradas , numa tabuleta, pode exprimir não um hábito do dono da oficina, mas apenas aquelas que se encontram lá são compradas, podendo indicar, inclusive, que o dono não é o mesmo da oficina e sim outra pessoa.

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Em relação a isto, comenta SAID ALI:

“Aluga-se esta casa e esta casa é alugada exprimem dois pensamentos, diferentes na forma e no sentido. Há um meio muito simples de verificar isto. Coloque-se na frente de um prédio um escrito com a primeira das frases, na frente de outro ponha-se o escrito contendo os dizeres esta casa é alugada. Os pretendentes sem dúvida encaminham-se unicamente para uma das casas, convencidos de que a outra já está tomada. O anúncio desta parecerá supérfluo, interessando apenas aos supostos moradores, que talvez queiram significar não serem eles os proprietários. Se o dono do prédio completar, no sentido hipergramatical, a sua tabuleta deste modo: esta casa é alugada por alguém, não se perceberá a necessidade da declaração e os transeuntes desconfiarão da sanidade mental de quem tal escrito expõe ao público.” (1966: 98.)

É bom ainda apontar uma discussão em torno dos pronomes indefinidos. No início da unidade, foi apresentado o seguinte exemplo:

Alguém entrou nesta casa.

Segundo MACEDO, há duas questões a serem discutidas: uma questão semântica e uma questão sintática. (1991: 265) Semanticamente, há sujeito indeterminado, pois não sabemos determinar quem entrou. Sintaticamente, pois, ocorre sujeito simples, visto existir uma relação entre o pronome e o verbo. Em relação a isto observa BECHARA: “não há propriamente sujeito indeterminado, pois que não existe referência à massa humana indiferenciada, traço fundamental à noção de indeterminação do sujeito.” (2006: 35)

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Inexistente ou Oração sem Sujeito

Observe: - Nunca chove aqui! - Entardece! - Faz muito frio! Os verbos anteriores exprimem fenômeno da natureza, são impessoais, portanto constituem oração sem sujeito . Podemos acrescentar:

nevar, trovejar, relampejar, anoitecer, amanhecer, fazer calor, etc. Acrescentemos ainda que estes verbos podem constituir uma locução verbal com os chamados auxiliares, como, por exemplo, haver, dever, poder, conseguir. Neste caso, os auxiliares são conjugados normalmente, e os principais ocorrem numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio e particípio. Por vezes, estes verbos podem ter outra conotação. Observe:

Choveram aplausos após o término de tua apresentação. Você naturalmente já percebeu que o verbo chover, neste caso, não denota fenômeno da natureza, mas significa que muitas pessoas aplaudiram a cantora. Há também oração sem sujeito quando o verbo haver ocorre no sentido de existir. Observe:

- Não havia pessoas aqui.

Por isso o verbo é empregado na terceira pessoa do singular, impessoalmente. O substantivo pessoas não é o sujeito, pois é o complemento do verbo. Normalmente, uma pessoa falaria não tinha pessoas aqui. Esta construção, entretanto, é condenada pelos gramáticos, pois o verbo ter deve indicar um possuidor e algo possuído, o que não existe neste exemplo.

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O verbo haver pode constituir uma locução verbal com os chamados

auxiliares, como, por exemplo, estar, dever, poder, conseguir. Neste caso, os auxiliares são conjugados normalmente, e o principal – haver – ocorre numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio e particípio. Caso interessante é o emprego do verbo ser com a indicação de hora. Observe:

- São oito horas.

Entende a maioria dos gramáticos que, neste exemplo, não há sujeito. Voltaremos a este assunto, quando tratarmos do predicativo do sujeito, porque estes estudiosos consideram oito horas o predicativo do sujeito. Mas cabe a pergunta: Pode haver predicativo de um sujeito que não existe? Por isso, MACEDO (1991: 15), contrariando o entendimento majoritário, afirma que a oração tem sujeito oito horas.

Leitura Complementar :

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006. KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006 LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006. CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.

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É hora de se avaliar!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo

a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-

aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nesta Unidade você estudou sujeito, sua definição, classificação e as controvérsias existentes. Na próxima, estudaremos o predicado e sua classificação. Até lá!

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Unidade 1 – Exercícios

1- Leia atentamente o poema de Cesário Verde e responda às questões seguintes. O Sentimento dum Ocidental Ave-Maria Cesário Verde 1. Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia, Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. 2. O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba; E os edifícios, com as chaminés, e a turba Toldam-se duma cor monótona e londrina. 3. Semelham-se a gaiolas, com viveiros, As edificações somente emadeiradas: Como morcegos, ao cair das badaladas, Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros. 4. Voltam os calafates, aos magotes, De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos; Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos, Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

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5. E evoco, então, as crônicas navais: Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! Singram soberbas naus que eu não verei jamais! 6. E o fim da tarde inspira-me; e incomoda! De um couraçado inglês vogam os escaleres; E em terra num tinir de louças e talheres Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda. 7. Num trem de praça arengam dois dentistas; Um trôpego arlequim braceja numas andas; Os querubins do lar flutuam nas varandas; Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas! 8. Vazam-se os arsenais e as oficinas; Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras; E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas. 9. Vêm sacudindo as ancas opulentas! Seus troncos varonis recordam-me pilastras; E algumas, à cabeça, embalam nas canastras Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

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10. Descalças! Nas descargas de carvão, Desde manhã à noite, a bordo das fragatas; E apinham-se num bairro aonde miam gatas, E o peixe podre gera os focos de infecção! 1- Na primeira estrofe, os versos “Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia” apresentam: a) sujeito simples. b) sujeito composto. c) sujeito indeterminado. d) sujeito inexistente. e) sujeito expresso. 2- Na quinta estrofe, a oração, formada pelo verso “E evoco, então, as crônicas navais”, apresenta sujeito: a) desinencial. b) explícito. c) indefinido. d) expresso. e) composto. 3- Na quarta estrofe, a oração, constituída pelos versos “Voltam os calafates, aos magotes, / De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos”, tem por sujeito o termo: a) aos magotes. b) ao ombro. c) enfarruscados. d) calafates. e) os calafates. 4- Na oitava estrofe, o sujeito expresso nos versos “E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,/ Correndo com firmeza, assomam as varinas” é classificado como: a) composto. b) simples. c) indeterminado. d) inexistente. e) oculto.

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5- Na sexta estrofe, a oração, formada a partir dos versos “E em terra num tinir de louças e talheres / Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda”, tem por sujeito: a) alguns hotéis da moda. b) em terra. c) tinir de louças. d) talheres. e) ao jantar. 6- Na quarta estrofe, o verso “Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos” apresenta um sujeito nomeado quanto à classificação: a) composto. b) expresso. c) implícito. d) indeterminado. e) inexistente. 7- Na nona estrofe, o verso “Vêm sacudindo as ancas opulentas” constitui uma oração com sujeito: a) opulentas. b) as ancas. c) ancas opulentas. d) as ancas opulentas. e) as varinas. 8- Na nona estrofe, a oração, constituída pelo verso “E algumas, à cabeça, embalam nas canastras”, tem por sujeito: a) cabeça. b) canastras. c) algumas. d) nas canastras. e) à cabeça.

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9- Na oitava estrofe, o verso “Vazam-se os arsenais e as oficinas” apresenta o verbo vazar seguido da partícula se. Isto acarreta posicionamentos diversos em relação ao sujeito. Justifique esta afirmativa a partir da oração apresentada.

10- Com base na terceira estrofe, analise o sujeito considerando o verbo “saltam” em “Como morcegos, ao cair das badaladas, / Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.”

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Predicação Verbal

Sintagma verbal.

Predicado: definição e tipos.

Predicado nominal.

Predicado verbal.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo transitivo relativo.

Verbo intransitivo.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo transitivo circunstancial.

Verbo transitivo direto e indireto.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo bitransitivo.

Predicado verbo-nominal: verbo transitivo direto ou verbo intransitivo e predicativo do objeto ou predicativo do sujeito.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo transobjetivo

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Caro aluno, nesta unidade você estudará o predicado e seus tipos, incluindo o verbo e seus complementos. Bom estudo!

Objetivos da unidade:

Identificar o sintagma verbal.

Depreender o predicado.

Identificar os diversos tipos de predicado.

Perceber o verbo e seus complementos.

Identificar o verbo intransitivo e o verbo transitivo com predicativo.

Analisar as divergências entre os gramáticos.

Plano da unidade:

Sintagma verbal.

Predicado: definição e tipos.

Predicado nominal.

Predicado verbal.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo transitivo relativo.

Verbo intransitivo.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo transitivo circunstancial.

Verbo transitivo direto e indireto.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo bitransitivo.

Predicado verbo-nominal: verbo transitivo direto ou verbo intransitivo e predicativo do objeto ou predicativo do sujeito.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o verbo transobjetivo

Bons estudos!

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Sintagma Verbal

Quando um grupo de palavras se constitui também de um verbo, forma um sintagma verbal.

“O verbo é a representação dinâmica da língua, opondo-se distintivamente à representação estática, que é o nome. Por isso, os verbos são considerados plenos quando referem ações ou processos. Quando verbalizam apenas estados (ser, estar), são conhecidos como predicados nominais. O sintagma verbal pode possuir núcleo e margens, mas o núcleo do sintagma verbal pode prescindir de margens. Basta-se a si próprio. Por isso, há orações que se compõem apenas de um núcleo verbal, impessoal e intransitivo: chove, venta...” (Masip, 2001)

No sintagma verbal, há um conjugado binário, isto é, duas formas combinadas, em que uma delas é o determinante (dependente, subordinado) e a outra é o determinado (núcleo, central, subordinante). Há no sintagma verbal uma relação de dependência, de subordinação.

O determinado é o verbo e o determinante pode ser um substantivo, precedido ou não de preposição, um pronome e um advérbio.

Veja:

Comprei um livro ontem. Comprei = determinado um livro = determinante ontem = determinante

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Predicado: definição e tipos

Se, de acordo com a definição tradicional, sujeito é o ser sobre qual

dizemos alguma coisa, o predicado só pode ser tudo aquilo que falamos a respeito do sujeito. Caso não haja sujeito, “é o enunciado puro de um fato qualquer” (LUFT: 2006, 51), como podemos perceber nas orações sem sujeito apresentadas anteriormente. Se, no entanto, entendemos, juntamente com PERINI, que “sujeito é o termo com o qual o verbo concorda” (1989: 17) automaticamente temos a definição de predicado: é o termo, cujo núcleo, o verbo, mantém com o sujeito uma relação obrigatória de concordância. “O predicado basta-se a si próprio. Informação, vínculo, ação ou processo”. (Masip, 2001) Dependendo da informação que queiramos dar, o predicado pode ser: nominal, verbal ou verbo-nominal.

Predicado nominal

Como o próprio nome indica, o núcleo é o nome. Por quê? Veja a seguir. Verbo de ligação e predicativo do sujeito Observe:

- O homem é voador!

A característica dada ao sujeito, expressa pelo adjetivo voador, contém a informação principal, característica esta que se encontra no predicado. Se retirarmos o verbo ser (é), obteremos o homem voador, conteúdo principal da comunicação.

Como bem observara SAID ALI (1954: 158), cabe ao verbo exprimir o predicado, termo essencial a toda proposição, como aliás consta da NGB. Se o verbo perde esta prerrogativa, quando a caracterização do sujeito é a base da informação, a perda é compensada no termo “que assume funções próprias do verbo”.

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No exemplo citado, este termo é o adjetivo voador.

Expandiu-se, então, a ideia, inclusive nos compêndios escolares, de que cabe ao verbo apenas ligar, relacionar o sujeito à sua característica, ao seu estado.

Equivaleria, neste caso, às conjunções e às preposições, pois estabelecem uma conexão, uma relação entre termos ou orações, conforme você aprendeu em Morfologia na parte dedicada aos conectivos.

CUNHA entende expressamente o verbo de ligação como copulativo:

“Os verbos de ligação (ou copulativos) servem para estabelecer a união entre duas palavras ou expressões de caráter nominal. Não trazem propriamente ideia nova ao sujeito; funcionam apenas como elo entre este e o seu predicativo.” (2005: 130)

Veja:

- Minha filha está feliz!

Temos aqui o verbo estar (estar). Com base no exposto, o verbo liga o estado de felicidade ao sujeito menina. A informação concentra-se no adjetivo feliz. Obtemos como resultado a menina feliz.

Assim, a ausência do verbo não geraria maiores prejuízos para a informação.

O mestre Said Ali já considerava totalmente desprovidos de significado os verbos ser e estar, sendo o outro termo a própria expressão do predicado: “se este segundo termo figura (...) como o verdadeiro predicado, o verbo, por sua vez, degradado a servir de expressão subsidiária, é um vocábulo de significação extinta (ser, estar).” (1954: 158)

Não podemos esquecer, no entanto, de que o verbo de ligação difere das conjunções e das preposições porque possui aquelas quatro categorias verbais já estudadas em Morfologia: modo, tempo, número e pessoa, o que já põe em dúvida ser este verbo apenas um elo.

Então, os verbos de ligação tornam-se responsáveis pelas nuanças da característica ou estado do sujeito. Pode ser uma característica permanente ou transitória, que se dá no presente, no passado e no futuro.

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Por isso, muitos estudiosos vêm entendendo que o verbo de ligação não é destituído de significado.

Retirar o verbo da construção “minha filha está feliz”, por exemplo, implica a perda da noção de modo e tempo e do aspecto transitório contidos na informação. Assim, o que se pretende informar sofre alguma modificação.

Devemos lembrar que este tipo de verbo acarreta o chamado predicado nominal, pois o nome (adjetivo, substantivo ou termo equivalente a este) – é o núcleo. Este núcleo denomina-se predicativo do sujeito.

Logo, no exemplo citado, feliz é o predicativo do sujeito.

Veja a seguir com maiores detalhes o verbo de ligação e as variações que sofrem o predicativo, em decorrência do emprego verbal.

O verbo de ligação e as nuanças do predicativo do sujeito

Observe: a) Tornar-se - Tornou-se herói! b) Permanecer - A nuvem permanece estática! c) Continuar - Continuavam invencíveis! d) Andar - Vocês andam sorridentes. e) Ficar - Ficaram alegres.

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f) Parecer - Pareço professor? g) Virar - Virei médica! h) Acabar - Acabei piloto! i) Cair - Cairão doentes! Como bem nota LIMA (2005: 238): “Os verbos que aí figuram (ser, estar, andar, permanecer, continuar, ficar, parecer) são elementos indicativos dos diversos aspectos sob os quais se considera cada característica”. Interessante observação de MELO a respeito dos verbos de ligação:

“Verbo de ligação porque faz a ligação entre o predicado e o sujeito. Melhor, no entanto, dizer ‘liame verbal’. A nossa língua portuguesa é muito rica em liames verbais. Assim funcionam como tais os verbos ser, estar, parecer, ficar, permanecer, continuar, tornar-se, andar, etc. Na realidade, do segundo em diante todos são variantes, modalidades, aspectos do verbo ser. Estar é ‘ser por algum tempo’, é um ser transitório. Parecer é ‘ser no conceito, no juízo, na impressão de alguém’. Ficar e tornar-se significam ‘passar a ser’. Permanecer indica duração de um estado. Andar é estar, mas um estar de certo modo projetado no tempo, incluindo um passado recente e sugerindo um futuro próximo. Continuar é manter-se num segundo estado, é um ‘ficar’ prolongado.” (1954: 50)

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Se estabelecermos uma relação entre a exposição do gramático e as orações apresentadas, teremos:

a) transitoriedade em “minha filha está feliz”. b) impressão de alguém em “pareço professor?” c) passar a ser em “ficariam alegres”, “tornou-se herói”, “virei médica” “acabei piloto” e “cairão doentes”. d) duração de um estado em “a nuvem permanece estática”. e) projeção no tempo – passado recente e futuro próximo – em “vocês andam sorridentes”. Repare em que aqui o sujeito “vocês” não exerce a ação de andar. f) um ficar prolongado em “continuavam invencíveis”.

Além disso, “estas modalidades do verbo ser” sofrem influências das categorias verbais – modo, tempo, número e pessoa – influências estas que se refletem sobre a característica do sujeito, conforme já foi salientado.

Acrescentemos ainda que estes verbos podem constituir uma locução verbal com os chamados auxiliares, como, por exemplo, haver, dever, poder, conseguir. Neste caso, os auxiliares são conjugados normalmente, e os principais ocorrem numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio e particípio.

Analisemos agora os seguintes termos: voador, feliz, herói, estática, invencíveis, sorridentes, alegres, professor, médica, piloto.

Pois bem! Repare em que, nas construções apresentadas, estes vocábulos expressam característica ou estado do sujeito. Exercem, portanto, a função de predicativo do sujeito.

Ora, este nome pressupõe a existência do sujeito, concorda?

Acontece, porém, que muitos estudiosos defendem a existência do predicativo do sujeito em orações como “eram dez horas”.

Mas onde está o sujeito?

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Veja a seguir.

O verbo ser e a indicação das horas

Observe:

- Eram dez horas!

Em relação à construção apresentada, entendem os gramáticos que se trata de uma oração sem sujeito, constituída de um verbo de ligação – eram – e um predicativo do sujeito – dez horas.

Mas como pode existir predicativo de um sujeito que não existe?

É no mínimo incoerente. Mas, na nossa língua, vem se considerando o verbo ser como verbo de ligação por excelência.

Contudo, quando se quer informar a hora, MACEDO defende a ideia de que o verbo ser é empregado intransitivamente e dez horas é o sujeito.

Para fundamentar sua opinião, remete-se ao latim: “Sunt duae horae” em que o sujeito de sunt é duae horae e o verbo (sunt) está empregado, não como de ligação, mas como intransitivo.” (1991: 15)

BECHARA contra-argumenta: dez horas “não poderia funcionar como sujeito, pois não é vernácula a comutação com o pronome elas (que assinalaria o sujeito): Elas já são” (2006: 42).

Utiliza-se de um recurso para a identificação do sujeito: o emprego de ele(s) ou ela(s) em substituição ao substantivo, como podemos perceber em “As meninas saíram / Elas saíram”.

Também KURY (2006: 43) lembra que o verbo ser é intransitivo na seguinte passagem bíblica: “Deus disse: Sê; e tu foste.” Aqui, o verbo ser tem o sentido de existir.

Bem, caro aluno, são estes os posicionamentos, compete a você agora refletir sobre eles.

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Devemos lembrar, porém, as palavras de CUNHA: “Como há verbos que

se empregam ora como copulativos, ora como significativos, convém atentar sempre no valor que apresentam em determinado texto a fim de classificá-los com acerto.” (2005: 130)

Assim sendo, é necessário considerar o contexto em que surge um determinado verbo. Se em determinada situação comunicativa é de ligação, pode não o ser em outra, como você verá a seguir.

Predicado Verbal

Aqui a significação do verbo não se limita às categorias gramaticais nem às variações da característica ou estado do sujeito. Que quer dizer isto? Se falamos simplesmente

- Voltarei! O ouvinte sabe que o falante retornará. A ideia do retorno nos é dada apenas pelo verbo. Se dissermos:

- Veremos! - O quê? - O trem!

A ouvinte (a mãe), inicialmente, sabe que as crianças enxergarão algo,

mas não sabe o quê, pois apenas o verbo é utilizado na frase. E a mãe, curiosa, faz sua indagação e as crianças respondem. Foi necessário o emprego de um termo para satisfazer a curiosidade materna, somente o verbo foi insuficiente.

A predicação do verbo é incompleta. Predicação é o “resultado do nexo que se estabelece entre um predicado e seu sujeito. Quando para esse nexo é suficiente o verbo este se diz de predicação completa. Quando o verbo não prescinde de um complemento, diz-se de predicação incompleta.” (MATTOSO CÂMARA JR.,Joaquim. Dicionário de Linguística e Gramática. 13 ed. Petrópolis: Vozes, 1977: 197.)

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A ouvinte obtém então apenas parte da informação - ato de enxergar decorrente da forma veremos – por meio do verbo. Parte da informação por quê? Não se trata apenas de ver e sim ver algo. Pode também ocorrer:

- P r e... c i... s o. - De quê? - De ajuda.

A senhora percebe que o rapaz sente necessidade de algo, mas não sabe de quê. É uma situação parecida com a anterior. O verbo tem “predicação incompleta”, pois se complementa no termo posterior. Só que desta vez ocorre a preposição de.

Há verbos, portanto, que se complementam diretamente no termo seguinte - veremos o trem - e outros indiretamente - preciso de ajuda - porque a preposição se faz presente.

Estes verbos são considerados, atualmente, transitivos , e esta denominação se deve ao fato de o sentido transitar do verbo para um outro termo – seu complemento.

Estamos então diante de três tipos de verbo que constituem o predicado verbal: o de predicação incompleta empregado sem preposição e com preposição e o de predicação completa. Veja a seguir.

Verbo transitivo direto e objeto direto

Quando a predicação se completa num termo não precedido de preposição, o verbo é denominado transitivo direto, e o termo que complementa o seu sentido é objeto direto.

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Observe o diálogo abaixo: - Guardarei esses documentos - Você redigiu a petição - Elaborei. Consultei. Pesquisei.

- Elaborou o quê? Consultou o quê? Pesquisou o quê?

- Elaborei o texto. Consultei o dicionário. Pesquisei palavras raras. Logo, os termos – esses documentos, a petição, o texto, o dicionário, palavras raras – integram a predicação do verbo respectivo e não são precedidos de preposição. Por isso, são denominados objetos diretos.

Anteriormente, salientamos a importância do contexto porque, dependendo da situação em que ocorra, da informação que queiramos transmitir, o verbo poderá ser ou não de ligação.

Vejamos então alguns verbos que foram tratados como “copulativos” (que une, que liga) tais como: continuar, virar, acabar.

- Continuei meu caminho. - Virei algumas páginas da minha vida..

- Acabei meus trabalhos. Repare que agora, neste contexto, os verbos “continuar”, “virar” e

“acabar” são transitivos porque a natureza da informação é outra.

Estes verbos agora não relacionam o sujeito à sua característica, mas expressam uma ação exercida pelo sujeito.

Esta ação, contudo, não está encerrada em si mesma, pois recai respectivamente sobre “meu caminho”, “algumas páginas”, “meus trabalhos”.

Poderíamos dizer que o sentido transita do verbo para o complemento.

O personagem, nos exemplos anteriores, não pretende simplesmente

informar que:

a) continuou, mas continuou algo – “meu caminho”.

b) virou, porém virou algo – “algumas páginas”.

c) acabou, todavia acabou – “meus trabalhos”.

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Cabe lembrar que os objetos diretos anteriores – de terceira pessoa – podem ser substituídos pelos pronomes oblíquos o, a, os, as .

Então podemos ter as seguintes construções: a) Continuei meu caminho. Continuei - o. b) Virei algumas páginas. Virei - as. c) Acabei meus trabalhos. Acabei - os.

Também os pronomes oblíquos átonos – me, te, nos, vos, se – podem exercer a função sintática de objeto direto se o verbo é construído sem preposição: .Ver alguém – O rapaz viu-me ontem no cinema. O rapaz viu-te ontem no cinema. O rapaz viu-nos ontem no cinema. O rapaz viu-vos ontem no cinema. O rapaz viu-se ontem no cinema. O Objeto direto e as origens da transitividade verbal

É importante, porém, caro aluno, que você tenha conhecimento da origem da transitividade verbal. O que é verbo transitivo? É aquele que se constrói com complemento por não possuir sentido completo? O sentido então transita do verbo para outro termo?

As respostas, atualmente, são positivas, como já foi salientado. Você deve lembrar-se de que estas noções são transmitidas aos alunos desde as séries iniciais.

Em latim, no entanto, a transitividade existe porque o verbo pode passar, transitar (do latim transire) para a voz passiva.

Isto só é possível quando, na voz ativa, o vocábulo – complemento verbal – ocorre no caso acusativo. Quando a voz ativa cede lugar para a voz passiva, o acusativo deixa de ser utilizado, e o mesmo vocábulo surge no caso nominativo.

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Em português, o vocábulo, na voz ativa, que exerce a função sintática de

objeto direto, é o sujeito na voz passiva. Olhe a correspondência entre o latim e o português:

LATIM PORTUGUÊS

CASO FUNÇÃO SINTÁTICA

NOMINATIVO SUJEITO

ACUSATIVO OBJETO DIRETO

Nos exemplos apresentados, o objeto direto é o paciente da ação verbal,

porque a ação recai sobre ele. Logo, o sujeito, na voz passiva, será o paciente e não o agente da ação verbal. Veja:

voz ativa = objeto direto = paciente da ação verbal. voz passiva = sujeito = paciente da ação verbal.

Continuei meu caminho. (objeto direto) Meu caminho foi continuado. (sujeito)

Virei algumas páginas. (objeto direto)

Algumas páginas foram viradas. (sujeito)

Acabei meus trabalhos. (objeto direto) Meus trabalhos foram acabados. (sujeito)

Não podemos deixar de observar, contudo, que em algumas orações o objeto direto denota o produto da ação.

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Observe :

- A leoa gerou três filhotes. O termo três filhotes é o resultado de gerar – ação exercida pela leoa. Como salienta SAID ALI: “Num caso o acusativo significa um ser cuja existência é anterior à da ação verbal; no outro caso, o ser aparece ulteriormente como resultado do ato que se pratica”. (1958: 164) O ser anterior à ação verbal é o paciente desta; o ser posterior à ação verbal é o resultado, o produto desta. De qualquer forma, a construção verbal com acusativo – objeto direto – pode ir para a voz passiva. Há situações, todavia, em que este complemento vem precedido de preposição. Por uma questão didática preferimos abordar este assunto na próxima unidade, pois até lá você terá estudado todos os tipos de complemento, conhecimento necessário para o entendimento do emprego da preposição com o objeto direto. Veja agora os verbos que se empregam obrigatoriamente com preposição.

Verbo transitivo indireto e objeto indireto

Atualmente, considera-se verbo transitivo indireto aquele cuja predicação se completa num termo precedido de preposição. - Você insiste nessa atividade?

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- Os beija-flores conversam com as flores! - Aspiro a um mundo melhor Nota-se que os verbos gostar, insistir, conversar e aspirar (sentido de desejar) são construídos com complemento precedido de preposição – de, em, com, a : a) gostar de algo b) insistir em algo c) conversar com alguém d) aspirar a algo

Este complemento vem sendo considerado objeto indireto.

LIMA (2005: 248) e SAID ALI (1958: 164), contudo, não partilham da mesma opinião por entenderem que “o objeto indireto representa o ser animado a quem se dirige ou destina a ação”.

Este entendimento tem raízes no latim, visto provir o objeto indireto do caso dativo latino, cujo sentido se revela em “a alguém” ou “para alguém”, já que esta pessoa vem a ser aquela a quem se dá algo, se atribui algo, sendo então o destinatário da ação verbal.

Por esta razão, pode ser substituído pelo pronome pessoal oblíquo lhe. Veja: - Escrevi a meu amigo. - Escrevi-lhe Repare que “a meu amigo” é o destinatário do ato de escrever. Assim, um termo se constitui, numa oração, como objeto indireto, quando:

a) é o s er an im ado des t inat ár io da aç ão v erbal . b) pode s er s ubs t i t u í do pe lo pronom e lhe.

Podemos incluir os seres inanimados quando recebem tratamento igual ao de pessoas. (2005: 248)

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É a seguinte, pois, a construção do objeto indireto tendo em vista o dativo latino: preposição a ou para + pessoa.

De acordo com este ponto de vista, dentre os verbos arrolados, apenas escrever é transitivo indireto: escrever a alguém / escrever – lhe ou escrever a ele ou escrever para ele.

Os pronomes oblíquos átonos – me, te, nos, vos, se – podem exercer ainda a função sintática de objeto indireto se o verbo é construído com a preposição a ou para. Podem ser substituídos por mim, ti, nós, vós, si respectivamente, precedidos destas preposições. . Meu amigo escreveu-me. Meu amigo escreveu a mim. Meu amigo escreveu para

mim.

. Teu amigo escreveu-te. Teu amigo escreveu a ti. Teu amigo escreveu para ti.

. Nosso amigo escreveu-nos. Nosso amigo escreveu a nós. Nosso amigo escreveu

para nós.

. Nosso amigo escreveu-vos. Nosso amigo escreveu a vós. Nosso amigo escreveu

para vós.

. Nosso amigo escreveu-se. Nosso amigo escreveu a si mesmo. Nosso amigo

escreveu para si mesmo.

Estamos vendo o objeto indireto com o verbo transitivo indireto, ou seja,

aquele que ocorre com complemento de pessoa precedido da preposição a ou para.

Veremos agora que nem sempre o objeto indireto é empregado apenas com este tipo de verbo. Outros empregos do objeto indireto

São comuns as seguintes construções em português: – A prova pareceu-me difícil. – Foi-te penosa? – Foi-me. Foi-lhe horrível também? – Para completar o professor me saiu de casa aborrecido.

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Pode haver a substituição – “pareceu a mim”, “foi a ti”, “foi a mim”, “foi a ele”.

Você acabou de ver que a preposição a ou para + pessoa constitui o objeto indireto. Mas viu também que isto ocorre com os denominados verbos transitivos indiretos. Mas e a ocorrência deste complemento com verbo de ligação – “pareceu”, “foi” – e com verbo intransitivo – “saiu” – se, como você já conferiu, o verbo de ligação relaciona o sujeito à sua característica ou ao seu estado e o verbo intransitivo, como você estudará na próxima unidade, não é empregado com objeto?

Vale então lembrar as lições do mestre ROCHA LIMA (2005: 249) sobre este emprego do objeto indireto.

Segundo ele, o objeto indireto é mais um complemento de oração do que um complemento verbal, o que o torna dispensável na maioria dos casos, pois pode ocorrer:

a) com verbo de ligação, portanto no predicado nominal – “pareceu-lhe triste”. b) com verbo intransitivo, portanto no predicado verbal – “chegou-me a casa agora”. c) no predicado verbo-nominal a ser ainda estudado. Não raro as pessoas dizem: – Será que vai me chover justamente agora?

Na verdade, o objeto indireto além de indicar o ser a quem se atribui algo também expressa a participação de quem fala, seu estado de ânimo, sua opinião. Este transparece, em português, nos pronomes átonos: me, te, se, nos, vos, lhe. Trata-se, nos dois primeiros casos, do chamado dativo ético, e no terceiro – com verbo de ligação – do dativo de opinião. (BECHARA: 2006,53). Há também um objeto indireto que indica o possuidor de algo: – Beijava-lhe o rosto. (lhe = dele)

Como podemos perceber, a NGB desconsiderou a natureza diversa dos complementos verbais empregados com preposição.

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Por conta disso, o gramático sugere uma nova classificação para o verbo que tenha um complemento precedido de preposição com características diferentes das apresentadas.

Outros estudiosos, porém, tomando por base a língua latina, nem consideraram tal verbo como transitivo. Veja então os entendimentos a seguir.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o Verbo Transitivo Relativo

Aos verbos que se constroem sem a preposição a ou para + pessoa, LIMA (2005: 251-252) reconhece que são verbos transitivos, tomando naturalmente por base o sentido atual de transitividade, verbos que se constroem com complemento, por não apresentarem sentido completo.

Contudo, entre o verbo e seu complemento, há apenas uma relação estabelecida por meio da preposição, mas não há o sentido de atribuição como já comentamos em referência ao objeto indireto.

Podemos citar gostar de, insistir em, conversar com, aspirar a. As preposições apenas relacionam o verbo ao seu complemento. Não se encontra presente o destinatário da ação verbal, o que é corroborado pela impossibilidade de substituirmos o complemento por lhe: gostar-lhe, insistir-lhe, conversar-lhe, aspirar-lhe. São inaceitáveis estas construções.

Mas são aceitas: gostar dele, conversar com ele, etc. Assim, se a preposição apenas relaciona um ao outro, o verbo é transitivo relativo, e o termo que o complementa é denominado complemento relativo.

Assim LIMA o define:

Complemento relativo é o complemento que, ligado ao verbo por uma preposição determinada (a, com, de, em etc.), integra, com o valor de objeto direto, a predicação de um verbo de significação relativa. Distingue-se nitidamente do objeto indireto pelas seguintes circunstâncias:

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a) Não representa a pessoa ou coisa a que se

destina a ação, ou em cujo proveito ou prejuízo ela se realiza. Assim denota, como o objeto direto, o ser sobre o qual recai a ação.

b) Não corresponde, na 3ª pessoa, às formas pronominais átonas lhe, lhes, mas às formas tônicas ele, ela, eles, elas, precedidas de preposição. (2005: 251 - 252)

Ao salientar que o complemento relativo, tal como acontece com o objeto direto, “é o ser sobre o qual recai a ação”, estabelece a distinção com o objeto indireto que aponta como o destinatário da ação, resgatando o sentido latino deste.

Em relação à semelhança com o objeto

direto, CÂMARA partilha da mesma opinião chamando a atenção para o fato de que a preposição ocorre por “servidão gramatical” (2000: 180).

Verificamos então juntamente com MACEDO (1991: 78) que a preposição, neste tipo

de complemento verbal, “serve meramente de elo entre o objeto e o verbo”, “não tem valor significativo”, opostamente ao que acontece com a preposição nos adjuntos adverbiais, em que a preposição apresenta “nuança significativa, semântica” à oração, conforme veremos quando estudarmos os complementos circunstanciais e os adjuntos adverbiais.

Os elaboradores da NGB não introduziram a classificação “verbo transitivo relativo”.

Veja agora o entendimento baseado no latim em relação aos verbos transitivos.

Crítica à NGB: Said Ali e o verbo intransitivo relativo

Os verbos comentados anteriormente – gostar de, insistir em, conversar com, aspirar a – são por SAID ALI considerados intransitivos relativos (1958: 165). Também o são por CÂMARA (2000: 235).

Servidão gramatical: é o termo que se aplica a fatos gramaticais meramente

mórficos, sem correspondência com uma noção ou categoria gramatical. Na

servidão gramatical a forma particular não traz em si uma significação

gramatical específica. (MATTOSO CÂMARA: 2000: 217)

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Hoje pode parecer-nos estranho que um verbo reconhecidamente

construído com complemento seja considerado intransitivo.

A base de tal entendimento é sem dúvida latina, pois, nesta língua, verbo transitivo é aquele que passa para a voz passiva, o que só é possível quando o complemento é acusativo – em português, objeto direto –, como já enfatizamos.

Assim, caso o complemento não seja objeto direto (acusativo) não deixa de ser complemento, mas o verbo é intransitivo, porque não pode passar para a voz passiva.

SAID ALI, contudo, opostamente a LIMA, não apresenta uma nova classificação para o complemento verbal, pois afirma que “a este termo regido de preposição, com que se completa o sentido de verbos intransitivos, dá-se de ordinário o nome de objeto indireto”(1958: 165).

CÂMARA também fala em “intransitivos relativos com objeto indireto” (2000: 235).

Objeto direto com preposição

Vimos que o objeto direto é o complemento verbal não-precedido de preposição.

No entanto, é corrente em nossa língua o uso da preposição com o objeto direto.

Quando isto acontece?

Veja os casos a seguir.

A preposição como posvérbio

NASCENTES entende ser a preposição um posvérbio, quando ocorre com um complemento que deveria ocorrer sem preposição – objeto direto. (NASCENTES apud BECHARA, 2006:54).

Tal emprego serve para acrescentar ao verbo “um novo matiz de significação do que reger o complemento desses mesmos verbos”. (2006:54)

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Isto ocorre com alguns verbos, dentre eles: a) arrancar: Este verbo constrói-se normalmente com objeto direto, consequentemente sem preposição. – Arranco a espada! Algumas vezes, no entanto, falamos – Arranco da espada!

Repare em que a força semântica contida no ato da retirada da espada intensifica-se com a preposição, pois “o posvérbio acentua a ideia do uso do objeto, a retirada total da bainha ou cinta”. (2006:54) b) cumprir: Este verbo também se constrói normalmente com objeto direto, consequentemente sem preposição. – Cumpro meu dever!

Mas dizemos ocasionalmente – Cumpro com meu dever!

Repare em que a força semântica contida no cumprimento do dever aumente com a preposição, pois “o posvérbio acentua a ideia de zelo ou boa vontade para executar algo”. (2006:54)

c) fazer: Este verbo também se constrói normalmente com objeto direto, consequentemente sem preposição.

– Faço que ele estude!

Contudo, falamos ainda: – Faço com que ele estude!

Veja que a força semântica contida no ato de fazer algo cresce com a preposição, pois “o posvérbio acentua a ideia do esforço ou interesse no fato”. (2006:54)

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d) olhar: Este verbo também se constrói normalmente com objeto direto, consequentemente sem preposição. – Olho o menino!

Mas dizemos também

– Olho pelo menino!

Observe que em relação a este verbo a diferença semântica entre as duas construções é mais nítida, pois em “olho o menino” temos o sentido de “ver”; já em “olho pelo menino” temos o sentido de “cuidado”.

Repare em que “o posvérbio acentua a carga afetiva”. (2006:54)

Objeto direto preposicionado

O emprego da preposição com objeto direto torna-se obrigatório em algumas situações, conforme o padrão culto da língua portuguesa. Temos então uma diferença entre a preposição como posvérbio e o objeto direto preposicionado. Como já foi salientado, o posvérbio fornece um novo matiz de significação ao verbo. Quando isto não ocorre, estamos diante apenas de um objeto direto preposicionado. A obrigatoriedade do uso da preposição faz-se presente quando ocorre: a) a forma oblíqua tônica dos pronomes pessoais: – Quero a ti.

b) o pronome quem, de antecedente expresso: – É o poeta a quem muito admiro.

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c) o nome Deus: – Temos a Deus.

d) a coordenação entre pronome pessoal oblíquo átono e substantivo:

– A professora a elogia e a suas colegas e) um verbo transitivo direto usado impessoalmente, com a partícula se: – Ao aluno estudioso elogia-se frequentemente. Observe que, se a preposição não for empregada, teremos como resultado: – O aluno estudioso elogia-se frequentemente.

O sentido então sofre mudança, pois há um autoelogio.

Verbo Intransitivo

Atualmente, considera-se verbo intransitivo aquele de predicação completa; o sentido do verbo não transita para outro termo que o complementa.

Observe:

– D orm ire i ! • O predicado constituído apenas por ele contém toda a informação. Por

isso, é intransitivo.

Se considerarmos, porém, o sentido etimológico de transitividade verbal, como vimos até aqui, verificaremos que não há o objeto direto para que possa ser empregado na voz passiva.

Por isso afirma Said Ali: “Verbos que não admitem acusativo chamam-se intransitivos. Aqueles que, como viver, morrer, não necessitam de complemento algum são os intransitivos puros ou absolutos.” (1966: 165)

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O verbo dormir, na construção apresentada, é um destes.

Por isso também acrescenta CÂMARA: “(...) daí, a divisão dos intransitivos

em: a) relativos (com objeto indireto), b) absolutos (sem qualquer objeto) que são de predicação completa em geral(...)” (2000: 235).

Constatamos também que a classificação verbal pode variar em decorrência do contexto.

O verbo virar, por exemplo, pode ser, conforme já estudado:

a) verbo de ligação: Exemplo: O barco virou abrigo. Aqui, virar tem o sentido de passar a ser. b) verbo transitivo direto: – As pessoas viraram o barco.

Nesta oração, o sujeito – pessoas – exerce a ação de colocar o barco ao

contrário. O barco é complemento do verbo. É objeto direto. E também pode ser: c) verbo intransitivo: – O barco virou.

O sujeito é o barco. Temos então uma oração constituída de sujeito e

verbo apenas, sem complemento.

Você também viu, na segunda unidade, que o verbo cair pode ser verbo de ligação: – Cairão doentes! Agora, você verá que pode ser verbo intransitivo: – Cairão! (Inserir imagem de meninos correndo e alguém apontando e falando.)

Também são verbos de ligação os verbos estar, ficar, permanecer quando relacionam o sujeito a sua característica, ao seu estado.

No entanto, ensinam, geralmente, como intransitivos quando:

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a) ocorrem com a preposição em para indicar o lugar onde o sujeito se encontra – estar em algum lugar, ficar em algum lugar, permanecer em algum lugar. – Estou na mesa. – Permanecerei no escritório. – Ficava em casa de praia durante as férias escolares. b) com a preposição a, na indicação de proximidade: estar a, permanecer a, ficar a.

– Estou à mesa.

– Por que você permanece à janela?

– Ficarei na pia da cozinha?

– Não! Na pia não!

– Ficará à pia da cozinha!

– É Sua vez!

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Percebeu a diferença entre “na pia” e “à pia”? Intransitivo ainda é considerado o verbo morar. – Morarei em cidade pequena.

Nas orações apresentadas, os verbos estar, ficar, permanecer, morar são verbos de situação. Situam um ser num determinado espaço.

Logo, estar, ficar, permanecer, neste caso, não são verbos de ligação porque não relacionam nenhuma característica ao sujeito.

Também considerados intransitivos são os chamados verbos de movimento que normalmente se constroem da seguinte maneira: a) ir a algum lugar b) vir a algum lugar ou vir de algum lugar c) chegar a algum lugar ou chegar de algum lugar d) voltar a algum lugar ou voltar de algum lugar e) chegar a algum lugar ou chegar de algum lugar f) partir para algum lugar ou partir de algum lugar

É importante que percebamos a diferença entre aqueles verbos construídos obrigatoriamente com as preposições em, a, para, de, – transitivos relativos, segundo Rocha Lima – e estes verbos de situação e movimento, no que se refere ao emprego destas preposições.

Estas preposições, no caso dos verbos de situação e movimento, indicam dentro dos limites de, direção e proveniência, respectivamente, portanto dão “ao contexto uma significação secundária”, como salienta MACEDO. (1991: 78)

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Com os verbos transitivos relativos, não existe esta “nuança

significativa”, conforme já foi observado. O emprego da preposição é um mero caso de “servidão gramatical”, também já comentado na unidade.

Na terceira unidade, você perceberá os valores significativos que outras

preposições também assumem quando constituem os adjuntos adverbiais. Valores significativos estes que estão ausentes quando as preposições fazem parte dos complementos verbais.

Veja agora o entendimento de alguns autores em relação à indicação de lugar. Alguns entendem que complementa o sentido do verbo de movimento.

Na realidade, não é raro um estudante no Ensino Fundamental seguir a mesma linha de raciocínio utilizada para os verbos transitivos:

a) Quem compra compra algo.

b) Quem gosta gosta de.

c) Quem vai vai a algum lugar.

Em relação, todavia, ao último exemplo, o professor ensina ao aluno que a algum lugar não constitui complemento por se tratar de uma circunstância. Considerando-se, entretanto, a linha de raciocínio para a identificação de um verbo transitivo, há gramáticos que julgam a circunstância um complemento. Assim, apresentam uma nova classificação. Veja a seguir.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o Verbo Transitivo Circunstancial

Em relação aos verbos estudados, LIMA (2000: 252) verificou que, sem a circunstância de lugar, a informação acontece parcialmente.

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Se alguém, como já foi exemplificado, ao estabelecer um diálogo com o outro, disser estou, ficarei, permanecia, o ouvinte esperará que o emissor termine a frase, pois a informação ainda não terá sido dada integralmente.

O mesmo ocorre com o verbo morar: morarei em cidade pequena.

Temos a construção morar em algum lugar.

Logo, a circunstância de lugar equivale a um complemento verbal, pois com ela a informação se completa.

Observe:

– Amanhã irei.

– Aonde?

– À fazenda.

O menino pergunta aonde o amigo irá, porque o verbo não traz consigo

todo o conteúdo da informação. É necessário um termo que integre o seu sentido.

Ao reconhecer que a circunstância de lugar, nestes casos, é complemento verbal de “natureza adverbial”, LIMA (2000: 252) nomeia estes verbos como transitivos circunstanciais e o termo que complementa seu sentido como complemento circunstancial.

BECHARA também entende estes verbos como transitivos e os denomina “transitivos adverbiais”, pois têm “como complemento uma expressão adverbial” (2006: 52).

LIMA (2005: 253) chama a atenção ainda para alguns verbos, que vêm a ser transitivos circunstanciais, quando ocorrem:

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. Com um nome não precedido de preposição, que indique peso; preço; distância no espaço e no tempo. Veja: a)custar (preço)

– Custa...! – Quanto? – Trinta reais.

A omissão do valor preço compromete a comunicação. Ao comprador interessa o preço para decidir pela compra ou não do livro. b) valer (preço) – Este cachorrinho vale duzentos reais! Também nesta situação o valor do animal interessa ao pai. Ele tem de saber o preço para comprá-lo. c) pesar (peso) – Parabéns! Pesa... – Quanto? – Quatro quilos!

Também a omissão do peso afeta a situação comunicativa, por ser seu conteúdo fundamental, tanto que os ouvintes olham a enfermeira e aguardam o término da informação. d) recuar (distância no espaço) – Recuem dois metros! –Recuem dois metros! e) envelhecer (distância no tempo) – Envelheci cinquenta anos! A distância no tempo cinquenta anos permite se imaginar como estará a pessoa depois de passado este tempo.

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f) rejuvenescer (distância no tempo) – Rejuvenesceu trinta anos!

O verbo rejuvenescer não é citado por Rocha Lima, mas, por indicar também distância no tempo, pode ser analisado como o verbo envelhecer. . Com um nome precedido ou não de preposição, que expresse tempo, ocasião. a) viver – Viverá muitos anos!

A indicação dos anos enfatiza que a saúde está totalmente recuperada. Se dissesse apenas “viverá”, poderia ser que vivesse apenas um dia. Logo, a informação ficaria prejudicada. b) trabalhar – Trabalhei minha vida inteira! c) durar – Os exercícios durarão. – Durarão seis meses.

O fato de o médico ter acrescentado o tempo de duração dos exercícios físicos – seis meses – gerou no rapaz um certo pavor.

Bem, os verbos arrolados serviram apenas para exemplificação, mas não devemos esquecer que há outros casos. Importa considerar sempre o contexto em que surge o verbo.

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Verbo Transitivo Direto e Indireto ao Mesmo Tempo

Em algumas construções, não obtemos a totalidade da informação se o objeto direto não é seguido do objeto indireto.

Como já vimos, este, para alguns autores, que tomam por base a língua latina, é o complemento de pessoa precedido da preposição a e pode ser substituído por lhe. Equivale ao caso dativo por apresentar o sentido de atribuição, o ser a quem se destina a ação, a quem a ação satisfaz ou não.

Obs erv e: – Ent regare i o c onv i t e às m eninas .

Temos neste exemplo uma satisfação por parte do objeto indireto, pois o convite se destina a elas. Podemos citar, dentre outros, os seguintes: a) comprar algo para alguém b) vender algo para alguém c) oferecer algo para alguém d) dar algo para alguém

De acordo com a NGB, no entanto, objeto indireto é qualquer complemento com preposição.

Então podemos ter, dentre outros, os seguintes verbos transitivos diretos e indiretos:

a) falar algo com alguém b) informar alguém de alguma coisa

LIMA (2000: 251-252), no entanto, como já foi visto, classifica tais complementos como complementos relativos. Com base nisto, propõe uma nova análise para os verbos com dois complementos de naturezas distintas. Veja a seguir.

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Crítica À NGB: Rocha Lima e o Verbo Bitransitivo

LIMA (2000: 340) entende que, se um verbo tem dois complementos – um sem preposição e outro com preposição –, é BITRANSITIVO. Num sentido literal, trata-se de um verbo transitivo duas vezes.

Segundo o gramático, em que situação isto acontece? a) quando empregamos objeto direto seguido de objeto indireto: entregar algo a alguém. b) quando empregamos objeto direto seguido de complemento relativo: falar algo com alguém; informar alguém de alguma coisa. c) quando empregamos objeto direto seguido de complemento circunstancial: pôr algo em algum lugar. Imagine um homem procurando um livro na estante e perguntando à empregada: – Você pôs o livro na estante? A empregada responde: – Pus o livro na primeira prateleira. (A primeira prateleira é bem no alto, quase no teto e o homem olha a prateleira desanimado). Se a resposta tivesse sido apenas “pus”, o homem continuaria a procurar no mesmo lugar, sem encontrá-lo. O termo “na primeira prateleira” esclarece o lugar onde está o livro.

Predicado Verbo-Nominal: Verbo Transitivo Direto ou Verbo Intransitivo com Predicativo do Objeto ou Predicativo do Sujeito

Pode num predicado verbal ocorrer um predicativo. Neste caso, o predicativo pode estar relacionado ao sujeito ou ao objeto direto. Assim, o predicado deixa de ser verbal somente e passa a ser também nominal. Por isso, é compreendido como predicado verbo-nominal.

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Observe: – O avião chegou atrasado. – Vemos nosso filho feliz.

Na primeira oração, atrasado caracteriza o sujeito – o avião. Ocorre, portanto, um predicativo do sujeito com verbo intransitivo.

Na segunda, feliz caracteriza o objeto direto – nosso filho. Há, pois, um predicativo do objeto direto com verbo transitivo direto.

Logo, o predicado é verbo-nominal. Há no predicado um verbo que não é de ligação seguido de uma característica, seja do sujeito, seja do objeto direto.

Na segunda oração, feliz poderia estar caracterizando os pais: Vemos nosso filho felizes. Logo, pode ocorrer predicativo do sujeito com verbo transitivo direto.

Já vimos que sincronicamente verbo transitivo é aquele cujo sentido transita para seu complemento. Há verbos transitivos diretos, no entanto, que têm “anexo predicativo”. (2005: 341)

Assim, o predicativo também influi no sentido do verbo. O sentido do verbo transita para o complemento, mas não para nele; continua até o predicativo. O sentido vai além do objeto direto.

Por isso, Rocha Lima propõe uma nova classificação em relação a tal fato, embora não haja na NGB nenhuma referência a este tipo de construção.

Crítica à NGB: Rocha Lima e o Verbo Transobjetivo

Anteriormente percebemos que é possível a ocorrência do predicativo com verbo transitivo direto e verbo intransitivo. Há possibilidade, mas não obrigatoriedade. A caracterização do sujeito ou do objeto decorre da vontade do falante.

Ao dizermos “vemos nosso filho feliz”, ou “vemos nosso filho”, o sentido do verbo não se altera. Apenas a intenção do falante difere nas duas orações, pois na primeira não quer informar somente que ele e a mãe veem o filho, mas também o estado em que o filho – o objeto direto da oração – se encontra.

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Existem verbos transitivos diretos, porém, que se constroem com

predicativo do objeto direto porque o sentido deles assim o exigem. A ocorrência do predicativo, portanto, independe da vontade do falante. Se ele faltar, o sentido do verbo estará incompleto.

Observe os exemplos a seguir: – As dificuldades tornaram o menino maduro.

Se o predicativo maduro for retirado, a comunicação não se completará. O ouvinte ficará esperando o término da frase, o que só será possível com o acréscimo do predicativo do objeto direto. Segundo LIMA,

“conquanto também funcione como definidor do objeto direto, não deixa de ser exigido pelo sentido da expressão semântica formada pelo verbo + objeto direto(...). Neste caso, o verbo se chama particularmente transobjetivo, porque a compreensão do fato verbal vai além do objeto direto.” (2005: 342)

Há também os seguintes verbos que, se empregados em determinada acepção, o predicativo do objeto direto tem de acontecer. São eles: a) achar, julgar, saber, considerar, imaginar, reputar – no sentido de emissão de opinião. – Acho este rapaz um intruso. Caso o predicativo – um intruso – seja omitido, o sentido do verbo sofre mudança. – Acho este rapaz! Com a omissão do predicativo, o verbo achar é empregado no sentido de encontrar. Veja ainda outros exemplos:

JULGAR . O tribunal julgou o rapaz inocente. (julgar = emissão de opinião) . O tribunal julgou o rapaz. ( julgar = tomar uma decisão)

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SABER

. Eu o sei maravilhoso. (saber = emissão de opinião) . Sei a matéria ( saber = ter conhecimento)

CONSIDERAR . Considerava-o inteligente . (considerar = emissão de opinião) . Considerava-o muito. (considerar = querer bem)

IMAGINAR . Imaginei-o lindo! (imaginar = emissão de opinião) . Imaginei-o. (imaginar = construir na imaginação)

REPUTAR . Reputava-o azul. (reputar = emissão de opinião) . Reputava o céu. (reputar = construir na imaginação) b) chamar, apelidar, cognominar, alcunhar, denominar, nomear, etc. – sentido de pôr um nome específico.

CHAMAR

– Chamam Castro Alves o poeta dos escravos. Se o predicativo – o poeta dos escravos – não for empregado, o verbo chamar terá o sentido de atrair para si. Se os verbos apelidar, cognominar, alcunhar, nomear substituírem o verbo chamar em “chamam Castro Alves o poeta dos escravos”, o sentido – pôr um nome específico – permanecerá. Há, no entanto, de salientar-se que, se os verbos apelidar, cognominar, alcunhar, nomear forem empregados sem o predicativo, terão o sentido de “pôr um apelido”, “um cognome”, “uma alcunha”, “um nome”, sem especificá-los. a) Apelidava-o. b) Cognominou-o. c) Alcunhava-o. d) Nomeia-o.

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O verbo denominar, contudo, sem o predicativo, passa a ter um sentido muito vago, como percebemos em “denominaram a menina.” Sentimos falta de um termo – o predicativo. c) fazer, tornar, constituir, instituir, eleger, criar, nomear, proclamar, anunciar, declarar, etc. – no sentido de efetivação em alguém, ou alguma coisa, de uma certa situação . – Eu o fiz poeta. Se o predicativo poeta não for empregado, o verbo fazer terá o sentido de produzir apenas, sem a afetivação de uma certa situação. Repare nos demais verbos: a) Constituíram o Código uma arma poderosa. Estas leis constituem o Código. (=compor apenas) b) O presidente institui a amiga sua secretária. O rapaz presidente institui as regras. (=estabelecer apenas) c) O povo elegeu o candidato deputado. O povo elegeu o candidato. (=escolher apenas) d) Criava-os inocentes. Criava-os. (=educar apenas) e) Nomeou o rapaz diretor. Nomeou o rapaz. Veja que o verbo nomear pode ter o sentido de “pôr um nome”, “escolher”, ou de “efetivação em alguém de uma certa situação”. f) Todos proclamaram o rapaz culpado. Todos proclamaram a prisão. (=dizer apenas) g) O diretor anunciou a vitória impossível. O diretor anunciou a vitória. (=dizer apenas) h) O governador declara a manifestação ilegal. O governador declara a ilegalidade. (=dizer apenas)

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Na próxima unidade, serão discutidos o complemento nominal, o adjunto adnominal e o aposto. Continue estudando! Sempre...

LEITURA COMPLEMENTAR

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de janeiro, Zahar, 2007.

É HORA DE SE AVALIAR!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo

a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-

aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nesta Unidade você estudou o predicado e sua classificação com as possíveis

abordagens, além das críticas à NGB. Na próxima, estudaremos os outros termos da oração; o complemento nominal, o adjunto, o Aposto... Até lá!

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Exercícios - Unidade 2

Leia atentamente o poema de Álvares de Azevedo e responda às questões que se seguem (1 a 9). Solidão

1. Nas nuvens cor de cinza do horizonte A lua amarelada a face embuça; Parece que tem frio, e no seu leito Deitou, para dormir, a carapuça.

2. Ergueu-se, vem da noite a vagabunda Sem xale, sem camisa e sem mantilha, Vem nua e bela procurar amantes; É doida por amor da noite a filha.

3. As nuvens são uns frades de joelhos,

Rezam adormecendo no oratório; Todos têm o capuz e bons narizes E parecem sonhar o refeitório.

4. As árvores prateiam-se na praia,

Qual de uma fada os mágicos retiros... Ó lua, as doces brisas que sussurram Coam dos teus lábios como suspiros!

5. Falando ao coração que nota aérea Deste céu, destas se desata? Canta assim algum gênio adormecido De ondas mortas no lençol de prata?

6. Minh'alma tenebrosa se entristece. É muda como sala mortuária... Deito-me só e triste, sem ter fome Vendo na mesa a ceia solitária.

7. Ó lua, ó lua bela dos amores, Se tu és moça e tens um peito amigo, Não me deixes assim dormir solteiro À meia-noite vem cear comigo!

Fenômenos Sintáticos

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1- Na primeira estrofe, a oração, formada a partir dos versos “Nas nuvens cor de cinza do horizonte / A lua amarelada a face embuça”, apresenta: a) um objeto direto – “a lua amarelada”. b) um verbo intransitivo – “embuça”. c) um verbo transitivo indireto. d) um verbo transitivo direto. e) um núcleo do objeto indireto – “face”. 2- Na terceira estrofe, a oração “As nuvens são uns frades de joelhos” apresenta: a) um verbo intransitivo – “são”. b) um núcleo do predicativo do sujeito – “de joelhos”. c) um núcleo do predicativo do sujeito – “nuvens”. d) um verbo transitivo direto – “são”. e) um predicativo do sujeito – “uns frades de joelhos”. 3- Na terceira estrofe, a oração – “Todos têm o capuz e bons narizes” – constitui-se também de: a) dois objetos diretos – “o capuz e bons narizes”. b) dois núcleos do objeto direto – “capuz”, “bons”. c) um objeto direto – “todos”. d) verbo transitivo indireto. e) um verbo intransitivo. 4- Na quinta estrofe, a oração “falando ao coração” apresenta um termo em função de: a) objeto direto. b) objeto indireto. c) complemento relativo, segundo Rocha Lima. d) objeto direto preposicionado. e) objeto direto com posvérbio. 5- Na sexta estrofe, o vocábulo “muda” em “É muda como sala mortuária...” exerce a função sintática de: a) sujeito. b) objeto direto. c) objeto indireto. d) complemento relativo. e) predicativo do sujeito.

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6- Na sexta estrofe, o verbo “vendo” tem por objeto direto o termo: a) fome. b) a ceia solitária. c) na mesa. d) sala. e) alma. 7- Na sétima estrofe, há um vocábulo em função de sujeito que vem a ser: a) lua. b) moça. c) tu. d) um peito amigo. e) comigo. 8- O verbo grifado em “Se tu és moça e tens um peito amigo” (sétima estrofe) classifica-se como: a) transitivo direto. b) transitivo indireto. c) intransitivo. d) transitivo relativo. e) de ligação. 9- Na sétima estrofe, suponha que o verso “À meia-noite vem cear comigo!” seja alterado para “é meia-noite”. Neste caso, a função sintática do termo “meia-noite” variará de acordo com o posicionamento do gramático. Discuta esta afirmativa sob os pontos de vista existentes.

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10- Leia atentamente a estrofe abaixo: “Perdoa-me, visão dos meus amores, Se a ti ergui meus olhos suspirando! ... Se eu pensava num beijo desmaiando Gozar contigo uma estação de flores!” (Álvares de Azevedo) A construção “pensava num beijo” pode ser analisada sob dois pontos de vista, considerando a predicação verbal. Explique-os.

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O Nome: seu complemento, seu adjunto e seu aposto

Outros termos da oração

Complemento nominal

Adjunto adnominal

Aposto. Conceito e classificação do aposto

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Fenômenos Sintáticos

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Caro aluno, nesta unidade você verá outros termos da oração: o complemento

nominal, o adjunto adnominal e o aposto, com base nas diferentes abordagens. Bom estudo!

Objetivos da Unidade:

Analisar o complemento nominal e o adjunto adnominal.

Estabelecer as diferenças entre complemento nominal e adjunto adnominal.

Identificar o aposto.

Classificar os diversos apostos.

Plano da Unidade:

Outros termos da oração

• Complemento nominal

• Adjunto adnominal

• Aposto. Conceito e classificação do aposto

Bons estudos

Fenômenos Sintáticos

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Outros Termos da Oração

• Complemento Nominal

Como o próprio nome indica, complemento nominal é o termo que

complementa, integra o sentido do nome, do mesmo modo que o faz o complemento do verbo.

Quando se dá sua ocorrência? Observe: (Imagine um parque de diversões. O pai fala com a mãe o seguinte): – Este cenário é agradável para as crianças! (A mãe responde): – E é perto de nossa casa! (O pai diz olhando as crianças nos brinquedos, sorrindo): – A lembrança da infância será bonita!

Na primeira fala, o termo “para as crianças” complementa o sentido do adjetivo agradável, pois sem ele o conteúdo da informação é outro, ou seja, se o pai tivesse dito apenas “o cenário é agradável”, poderíamos obter o seguinte sentido: agradável para todos, indistintamente. Mas não é esta a informação que o pai quer transmitir.

Na segunda fala, o termo “de nossa casa” complementa o sentido do advérbio perto. Se apenas ocorresse “e é perto” caberia uma pergunta: perto de onde? O sentido seria genérico demais. Também é desejo da mãe informar que o parque é perto da casa em que moram. A informação, portanto, estaria incompleta.

Na terceira fala, o termo “da infância” complementa o sentido do substantivo lembrança. Aqui, o pai quer dizer que os filhos terão uma lembrança bonita da infância, ou seja, os filhos se lembrarão da infância.

Repare em que lembrarão é verbo e se constrói com complemento: lembrar-se de algo ou de alguém.

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No momento em que formamos um substantivo dele derivado – lembrar /

lembrança –, em relação às situações apresentadas, continuamos a ter um complemento, só que desta vez um complemento do nome. Por ser complemento, tem valor objetivo, é o termo paciente, do mesmo modo que o é o complemento verbal, como vimos anteriormente.

E você deve ter observado que ocorre preposição nos três complementos: para e de. Então a que conclusão chegamos? O complemento nominal pode completar o sentido de substantivo, adjetivo ou advérbio e sempre vem precedido de preposição. Pode ocorrer tanto no sujeito

quanto no predicado.

Como afirma MELO (1954: 78) “o complemento do nome é termo integrante, essencial, penetra no âmago do significado do termo subordinante, com o qual forma um todo semântico indecomponível.”

Veja outros exemplos:

Imagine alguns alunos aflitos, chegando atrasados e encontrando o portão fechado. Um deles fala olhando pelo buraco da fechadura.

Exemplo 1: – Temos de tentar falar com o inspetor. Ele está logo ali – É... A saída do inspetor é boa! (Diz o outro aluno.) O sentido desta fala é: os alunos têm uma saída – procurar o inspetor. Logo, “do inspetor” é complemento nominal de “saída”. Tem valor objetivo. É o termo paciente. Exemplo 2: – A venda deste sítio atrairá muita gente! Diz um homem falando com outro que acaba de escrever numa tabuleta – vende-se este sítio. O sentido desta fala é: alguém vende o sítio. Portanto, deste sítio é complemento nominal de “venda”. Tem valor objetivo. É o termo paciente.

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Exemplo 3: Imagine uma mulher observando um menino tocando os sinos de uma igrejinha. O menino se balançando para lá e para cá com os sinos. – O movimento dos sinos cansa seus braços. O sentido desta fala é: o menino movimenta os sinos. Portanto, dos sinos é complemento nominal de “movimento”. Tem valor objetivo. É o termo paciente. Exemplo 4: Imagine uma moça entrando na casa da amiga e vendo a estátua que representa o irmão em cima do piano. – Que linda estátua de seu irmão! Sinto como se visse seu irmão novamente! Repare em que o sentido é este: a estátua representa o irmão. Logo, de seu irmão é complemento nominal de “estátua”. Tem valor objetivo. É o termo paciente. Exemplo 5: Imagine um menino, chegando de viagem com os pais, e dando o desenho da cidade (Dedo de Deus) que ele mesmo fez à tia. – Pra você, um desenho de Teresópolis! O sentido é este: o desenho representa Teresópolis. Portanto, de Teresópolis é complemento nominal de “desenho”. Tem valor objetivo. É o termo paciente. Exemplo 6: Imagine um jovem retirando a foto do envelope e entregando à irmã. A foto é do pampa gaúcho. – Enviaram-lhe uma fotografia do pampa gaúcho. O sentido é este: a fotografia representa o pampa gaúcho. Portanto, do pampa gaúcho é complemento nominal de “fotografia”. Tem valor objetivo. É o termo paciente.

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Exemplo 7: Imagine um jovem retirando a foto do envelope e entregando à irmã. A irmã corre em sua direção pensando no namorado que está lá.

– Enviaram-lhe uma fotografia de Ouro Preto. O sentido é este: a fotografia representa Ouro Preto. Logo, de Ouro Preto é complemento nominal de “fotografia”. Tem valor objetivo. É o termo paciente. Atenção!

Não se emprega a vírgula entre o termo e seu complemento. Repare na correlação que pode ser feita entre o complemento verbal e o complemento nominal, a partir do verbo e do substantivo dele derivado. Recomendamos, porém, uma constante consulta ao dicionário de regência nominal, de Celso Pedro Luft – Dicionário Prático de Regência Nominal, Ática, 2005, para que você saiba com exatidão a preposição que deve ser empregada com um determinado nome. Em muitos casos, podemos empregar mais de uma preposição. Preste atenção na CORRELAÇÃO a seguir:

VERBO COMPLEMENTO VERBAL

NOME COMPLEMENTO NOMINAL

insistir em ajuda insistência em ajuda

desejar a vitória desejo de vitória

necessitar de auxílio necessidade de auxílio

assistir ao educando assistência ao educando

precisar de roupas precisão de roupas

viver esta situação vivência desta situação

apelar ao público apelo ao público

amar a pátria amor da pátria

construir a casa construção da casa

referir-se ao assunto referência ao assunto

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apreender a maleta apreensão da maleta

aprofundar uma discussão aprofundamento

de uma discussão

arguir a incompetência arguição da incompetência

conhecer o assunto conhecimento do assunto

considerar o ocorrido consideração do ocorrido

crer no amigo crença no amigo

lançar as redes lançamento das redes

perder os documentos perda dos documentos

superar as dificuldades superação das dificuldades

complementar a carga horária complementação

da carga horária

desejar a vitória desejo da vitória

reservar os convites a reserva dos convites

interrogar o acusado o interrogatório

do acusado

simular o acidente simulação do acidente

representar a firma representação da firma

transformar o estudante transformação do estudante

mudar o menino mudança do menino

apresentar o trabalho apresentação do trabalho

suspeitar do crime suspeita do crime

BECHARA faz a seguinte observação: “Os substantivos e adjetivos que denotam sentimento constroem-se com variadas preposições: de, a, por (per), contra, para com, atendendo-se à clareza e à eufonia da expressão.” (2006: 51) Em amor da pátria, por exemplo, podemos optar por à pátria, pela pátria, se o sentido consiste em: amar a pátria. O resultado é o objeto de um sentimento. Contudo, o sentido também pode expressar que a pátria ama alguém. Neste caso só é possível da pátria, ou seja, a preposição de é obrigatória.

Por isso, para a expressão da primeira ideia existe “a preferência moderna por amor à pátria, amor pela pátria”, salienta o gramático (2006: 51), naturalmente para que se evite a ambiguidade.

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Estes dois sentidos que provêm do emprego da preposição de geram

duas funções sintáticas distintas. Uma é o complemento nominal que estamos analisando, é o objeto, o paciente. A outra é o adjunto adnominal que equivale ao agente – a pátria ama. Tem valor subjetivo, porque equivale à oração em que pátria é o sujeito. Mas como saber com exatidão a função sintática?

Basta depreender do contexto o sentido adequado e, automaticamente, você saberá se ocorre complemento nominal ou adjunto adnominal. Observe a seguir.

• Adjunto Adnominal

Como o próprio nome indica, “adjunto” significa “perto de”, “junto de”, ou seja, “perto do nome”, “junto do nome”. Não complementa o sentido do nome; mas sim modifica o nome, pois pode especificá-lo, determiná-lo, restringir seu sentido. Observe: Exemplo 1: Uma adolescente fala com um rapaz: ↨ – O amigo fiel estava lá. Repare que: a) o artigo definido “o” indica que não se trata de qualquer amigo; b) da mesma forma, o adjetivo “fiel” especifica “amigo”.

Também podem ocorrer adjetivos, numerais, artigos indefinidos, outros pronomes como modificadores do nome. Em Morfologia você aprendeu que os numerais e os pronomes podem ser substantivos ou adjetivos. Quando substituem o substantivo, são substantivos. Quando acompanham o substantivo, são adjetivos. Nesta qualidade de acompanhantes, são adjuntos adnominais.

Não se esqueça de que, ao falarmos que o adjunto adnominal modifica o “nome”, este nome é apenas o substantivo, visto não existir adjunto adnominal de adjetivo e advérbio. Estes podem ter apenas complemento nominal. Observe: Exemplo 2: Imagem alguém olhando três alpinistas escalando uma montanha. – A montanha majestosa recebe três garotos audaciosos.

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Repare em que, no sujeito, o artigo a e o adjetivo majestosa restringem,

especificam o sentido de montanha, pois não se trata de qualquer montanha e sim de “a montanha majestosa”. Por isso, são modificadores do nome.

Se analisarmos o sujeito, identificaremos “montanha” como o núcleo do sujeito e a, majestosa como adjuntos adnominais.

Você se lembra do que leu quando estudou o sujeito na primeira unidade? Para relembrar, o núcleo é sempre um substantivo ou equivalente a um substantivo. E o termo que não complementa o sentido deste substantivo, mas apenas o especifica, é o adjunto adnominal. Então no sujeito nós podemos ter um núcleo ou mais de um e um adjunto adnominal ou mais.

Agora, analisemos o predicado. Ocorre o verbo “recebe” e o complemento deste – objeto direto –, “três garotos audaciosos”.

Neste objeto, há um núcleo – o substantivo “garotos” – e seus adjuntos adnominais – “três, audaciosos”. Logo, o adjunto adnominal pode ocorrer tanto no sujeito quanto no predicado. Veja outros exemplos: Exemplo 3: Imagine uma velhinha olhando seus objetos de infância, caixinha de música, guardados num baú e a filha adulta falando com a outra. ↨ – Gosta da recordação da tenra idade.

Veja que “da recordação” complementa o sentido do verbo gostar. É o objeto indireto, segundo alguns gramáticos, e complemento relativo, de acordo com LIMA (2000: 251-252).

Mas o que nos interessa agora é o fato de no complemento “da recordação” ocorrer o artigo “a”. Logo, é o adjunto adnominal do núcleo do complemento verbal “recordação”. A preposição não exerce função sintática, por isso separamos o artigo a da preposição de.

O termo “da tenra idade” é o complemento nominal de recordação, pois “alguém tem a recordação de algo”, ou seja, “da tenra idade”. Há um valor objetivo neste termo. Podemos pensar em: “recordar-se de”, conforme já foi estudado.

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Mas este complemento nominal é constituído de um artigo “a”, um

adjetivo “tenra” e um substantivo “recordação”. Este é o núcleo do complemento nominal e “a”, “tenra” são seus adjuntos adnominais. O adjunto adnominal, portanto, pode fazer-se presente em qualquer grupo nominal.

Não se emprega a vírgula entre o termo e seu adjunto.

Importa salientarmos, como já o fizemos anteriormente, o cuidado que devemos ter com o substantivo precedido da preposição de, pois esta é uma das formas assumidas tanto pelo adjunto adnominal quanto pelo complemento nominal. Por isso, pode gerar equívocos.

Se nos depararmos com a oração “a lembrança do pai comove a todos”, poderemos depreender dois sentidos: a) O pai se lembra. Neste caso, temos em “do pai” um valor subjetivo, porque corresponde à oração em que pai é o sujeito. É o agente. Então, “do pai” é adjunto adnominal. Repare que a lembrança pertence ao pai. Há, portanto, uma relação de posse. b) Alguém se lembra do pai. Neste caso, temos em “do pai” um valor objetivo, pois corresponde à oração em que pai é o complemento, o objeto, o paciente, conforme já estudado. Então, “do pai” em “lembrança do pai” é complemento nominal. Aqui, não há relação de posse, porque a lembrança não pertence ao pai, não é o pai que se lembra. Veja ainda. Exemplo 4: Imagine alguém falando com uma pessoa sobre um menino que comanda a ajuda aos desabrigados por causa de um temporal. ↨ – A insistência do menino em socorro às pessoas do pequeno bairro estimulou a ajuda da população da grande cidade. Observe a seguinte análise: a) a insistência do menino – O menino insiste. Logo, do menino é adjunto adnominal. Este adjunto adnominal tem seu núcleo – menino – e este núcleo possui um adjunto adnominal – o artigo o.

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b) insistência em socorro – O menino insiste em socorro. Não é a insistência que tem o socorro. Se assim fosse, em socorro seria o adjunto adnominal. Portanto, em socorro é o complemento nominal de insistência. c) socorro às pessoas – O menino socorre as pessoas. Não são as pessoas que têm socorro. Se assim fosse, às pessoas seria adjunto adnominal. Logo, às pessoas é o complemento nominal de socorro. Este complemento tem seu núcleo – pessoas – e este núcleo possui um adjunto adnominal – o artigo as. Separamos a preposição a do artigo as. Repare que o acento grave indica a crase – a fusão da preposição a com o artigo a. d) às pessoas do pequeno bairro – O pequeno bairro tem as pessoas. Há relação de posse, logo do pequeno bairro é adjunto adnominal de às pessoas. Este adjunto adnominal possui um núcleo – bairro – e este núcleo tem seus adjuntos adnominais – o, pequeno.

• Aposto. Conceito e Classificação do Aposto

Que vem a ser aposto? Observe: Imagine um menino falando com um adulto, colocando o capacete na cabeça e saindo com a moto. ↨ – Veja meus brinquedos: uma moto e um capacete! – Este carro, um transporte veloz, também é teu! ↨ Grita o homem para o menino apontando para o carro num canto. O menino volta correndo. – Uau! ↨

Exclama o menino olhando o carro ao voltar. – A moto, o capacete, o carro, tudo te pertence. ↨ Diz o homem apontando para todos os brinquedos. – Preciso dos dois transportes: um no asfalto, outro na estrada de chão! Exclama o menino.

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– Entrego a você, um menino estudioso, os dois veículos! Responde o homem. – Eu os levarei para a cidade de Niterói, no mês de dezembro, durante as férias! Continua o menino, imaginando-se na cidade dirigindo os dois transportes. – O oferecedor dos presentes é teu pai, seu Tício. Fala o homem. – É... O oferecedor dos presentes é meu pai, seu Tício, dono da loja de brinquedos. Continua o menino. – A confiança em mim, um garoto sério, gera os presentes de meu pai! Fala o menino de um modo convencido, salta da moto, pula no carro e sai em disparada, buzinando. Observe que os termos em destaque em cada fala são substantivos ou equivalentes a substantivos e esclarecem o termo anterior, identificam-no de algum modo. Esta função de esclarecer, de identificar um ser denomina-se aposto. O aposto é uma função substantiva. No entanto, se fizermos uma leitura atenta de cada fala, perceberemos que não há um único tipo de aposto.

• Analisemos agora cada construção. 1 - A primeira apresenta um objeto direto – meus brinquedos – e dois termos que o enumeram – uma moto e um capacete. Em virtude deste caráter enumerativo, temos o chamado aposto enumerativo. 2 - A segunda apresenta um sujeito – este carro – e um termo que o explica – um transporte veloz. Em virtude deste caráter explicativo, temos o chamado aposto explicativo. 3 - A quarta apresenta um sujeito composto – a moto, o capacete, o carro – que é resumido, ou sintetizado, ou recapitulado no pronome indefinido substantivo tudo. Repare que, neste caso, o verbo concorda com o aposto, denominado aposto resumitivo ou sintético ou recapitulativo. A função deste tipo de aposto pode ser exercida pelos demais pronomes nada, algo, alguém, ninguém, outrem, quem ou, ainda, por o mais, o restante, etc. 4 - A quinta apresenta um objeto indireto ou complemento relativo, segundo Rocha Lima ,– dos dois transportes –, que é explicado em distribuição por dois elementos: o artigo indefinido um e o pronome indefinido outro. Por isso, e denominado aposto distributivo.

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5 - A sexta apresenta um objeto indireto – a você – e um termo que o explica – um menino estudioso. Em decorrência deste caráter explicativo, temos o já visto chamado aposto explicativo. Só que aqui em referência ao objeto indireto. 6 - A sétima apresenta um adjunto adverbial de lugar ou complemento circunstancial – para a cidade – e um termo precedido da preposição de que o especifica – de Niterói. Também apresenta um adjunto adverbial de tempo – no mês – e um termo que o especifica – de dezembro. Em virtude deste caráter especificativo, temos o nomeado aposto especificativo ou aposto de especificação.

Em relação a este tipo de aposto, salienta LIMA (2000: 255) que é “um tipo em que não se usa vírgula: aquele com o qual se dá a denominação do ser, individualizando-o dentro do seu gênero”.

E para que não se confunda este tipo de aposto com o adjunto adnominal precedido da preposição de, faz ainda uma interessante observação:

“Repare-se em que, na construção ‘A cidade de Londres’, os dois termos (cidade e Londres) se identificam, pois que ambos designam o mesmo ser. Não se confunda, portanto, com estruturas do tipo de ‘A neblina de Londres’, ‘A população de Londres’, etc., em que de Londres tem valor adjetivo, funcionando como adjunto adnominal.” (2000: 256)

Há de salientar-se então que o valor semântico em de Londres sofre variação em a cidade de Londres e em a neblina de Londres. Podemos entender assim: Londres é o nome da cidade, mas não é o nome da neblina. Por isso, Londres e cidade identificam-se e Londres e neblina, não.

Também CUNHA (2000: 163) chama a atenção para o fato de que há

aposto de especificação em: “a cidade de São Paulo, o poeta Camões, o mês de junho, o rei D. Manuel”. E acrescenta:

“O aposto de especificação não deve ser confundido com certas construções formalmente semelhantes, como: a garoa de São Paulo, as festas de junho, o soneto de Camões, a época de D. Manuel. Aí as expressões de São Paulo, de junho, de Camões e de D. Manuel equivalem a adjetivos (=paulistana, junina, camoniano e manuelino) e funcionam, portanto, como adjuntos adnominais”.(2000: 163)

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Assim: 1 - São Paulo é o nome da cidade, mas não é o nome da garoa. Por isso, de São Paulo é o aposto especificativo de cidade e adjunto adnominal em garoa de São Paulo. 2 - De junho é o nome do mês, mas não é o nome da festa. Por isso, de junho é o aposto especificativo em mês de junho e adjunto adnominal em festa de junho. 3 - Camões é o nome do poeta, mas não é o nome do soneto. Por isso, Camões é o aposto especificativo em o poeta e adjunto adnominal em o soneto de junho. 4 - Cabe acrescentar ainda que o aposto especificativo ou aposto de especificação nem sempre vem precedido de preposição, como podemos verificar em: . O escritor Jorge Amado . O cantor Plácido Domingo . A obra Os Lusíadas . O poeta Homero . A Alameda São Boa Ventura . O Rio São Francisco 5 - A oitava fala apresenta um predicativo do sujeito – teu pai – e um termo que o explica – seu Tício. Em decorrência deste caráter explicativo, temos o já estudado aposto explicativo, só que aqui em referência ao predicativo do sujeito. 6 - A nona fala apresenta um aposto – seu Tício – e um termo que o explica –dono da loja de brinquedos. Em decorrência deste caráter explicativo, temos o já estudado aposto explicativo. Só que aqui em referência a um aposto anterior. 7 - A décima fala apresenta um complemento nominal – em mim – e um termo que o explica – um garoto sério. Em decorrência deste caráter explicativo, temos o já analisado aposto explicativo. Só que aqui em referência a um complemento nominal. Importa enfatizar agora juntamente com CUNHA (2000: 164) que o aposto tem o mesmo valor sintático do termo a que se refere. Você acabou de ver aposto no sujeito, aposto no objeto direto, aposto no objeto indireto, aposto no predicativo, aposto no objeto indireto, aposto no adjunto adverbial e aposto no complemento nominal. Discutível, porém, é o aposto circunstancial, como ensinam alguns autores.

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Observe: – A moto, nova e bonita, encantou o menino! Veja que os adjetivos ocorrem separados do substantivo – menino – a que se referem por uma pausa, marcada pelas vírgulas. Por isso, não podem ser adjuntos adnominais. Pelo seu emprego na oração e pela possibilidade de variar de posição: Nova e bonita, a moto encantou o menino. ou A moto encantou o menino nova e bonita Comenta KURY (2006: 59) que se trata aparentemente de aposição, o que levaria alguns estudiosos a incluí-lo entre os casos de aposto. E acrescenta: “Como a função de aposto é exercida somente por substantivo, cumpre excluir dessa função os adjetivos que ocorrem nessa situação: são simplesmente PREDICATIVOS, pela sua natureza atributiva”. (2006: 59) Exercem então a função de predicativos atributivos. Podem ainda os adjetivos ser empregados da seguinte maneira: – Esperto, o menino cai da moto! –Não vê, desatento, o poste! –Assustado, vai parar no chão. –Alimentado, não tem pressa de ir para a casa. Ao analisarmos o emprego de cada adjetivo, podemos depreender de cada um deles um valor circunstancial. Que significa valor circunstancial? É a expressão de uma circunstância de concessão, causa, modo, tempo, etc., que você estudará a seguir. Nas situações apresentadas, são estas as circunstâncias presentes.

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Veja: 1 - Em “esperto, o menino cai da moto”, o adjetivo expressa o sentido de concessão, ou seja, estabelece com a ideia seguinte – “cai” – uma relação de oposição. Na concessão, duas ideias se opõem – apesar de ser esperto, o menino cai da moto. 2 - Em “não vê, desatento, o poste”, o adjetivo expressa o sentido de causa, pois cai da moto porque é desatento. 3 - Em “assustado, vai parar no chão”, o adjetivo expressa o sentido de modo, porque o menino vai parar no chão de um modo assustado. 4 - Em “alimentado, não tem pressa de ir para a casa”, o adjetivo expressa o sentido de tempo, pois quando o menino está alimentado, não tem pressa. Assim sendo, KURY (2006: 60) entende que a função sintática exercida por estes adjetivos é a de predicativo circunstancial. MELO (1954:86) prefere a denominação atributo circunstancial. Para encerrar este assunto e estudar os adjuntos adverbiais, as vozes verbais, o agente da passiva e o vocativo na próxima unidade, é bom que leia as palavras de CUNHA sobre a impossibilidade de ser o adjetivo um aposto: “O adjetivo, enquanto adjetivo, não pode em nenhum caso exercer a função apositiva, porque ele não designa o próprio ser, e sim uma característica do ser”.(2000: 167) Leitura complementar

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.

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É hora de se avaliar!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no

caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar

sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as

respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nesta Unidade você estudou o complemento nominal, o adjunto adnominal e

o aposto. Na próxima estudaremos o adjunto adverbial, as vozes verbais e o vocativo. Até lá!

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Exercícios-Unidade 3

Leia atentamente o soneto abaixo e responda às questões 1 e 2:

1. Brandas ribeiras, quanto estou contente De ver-vos outra vez, se isto é verdade! Quanto me alegra ouvir a suavidade, Com que Fílis entoa a voz cadente!

2. Os rebanhos, o gado, o campo, a gente, Tudo me está causando novidade: Oh! Como é certo que a cruel saudade Faz tudo, do que foi, mui diferente!

3. Recebi (eu vos peço) um desgraçado,

Que andou até agora por incerto giro, Correndo sempre atrás do seu cuidado:

4. Este pranto, estes ais com que respiro, Podendo comover o vosso agrado, Façam digno de vós o meu suspiro.

Cláudio Manuel da Costa 1- A segunda estrofe apresenta os dois primeiros versos constituídos de uma única oração. Dentre os termos que a compõem se destacam:

a) “rebanhos”, “gado”, “campo”, “gente” – núcleos do sujeito; “tudo” – complemento nominal destes termos.

b) “rebanhos”, “gado”, “campo”, “gente” – núcleos do objeto direto; “tudo” – aposto no objeto direto.

c) “rebanhos”, “gado”, “campo”, “gente” – apostos no sujeito; “tudo” – sujeito simples.

d) “rebanhos”, “gado”, “campo”, “gente” – núcleos do sujeito; “tudo” – aposto no sujeito.

e) “os rebanhos”, “o gado”, “o campo”, “a gente” – núcleos do sujeito; “tudo” – complemento nominal destes termos.

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2- Na quarta estrofe, o termo “de vós” exerce a função sintática de: a) adjunto adnominal. b) aposto. c) complemento nominal. d) sujeito. e) predicativo do objeto direto. Leia atentamente o soneto de Teixeira de Pascoaes e responda às questões 3, 4 e 5. Poeta

1. Quando a primeira lágrima aflorou Nos meus olhos, divina claridade A minha pátria aldeia alumiou Duma luz triste, que era já saudade.

2. Humildes, pobres cousas, como eu sou Dor acesa na vossa escuridade... Sou, em futuro, o tempo que passou Em num, o antigo tempo é nova idade.

3. Sou fraga da montanha, névoa astral, Quimérica figura matinal, Imagem de alma em terra modelada.

4. Sou o homem de si mesmo fugitivo; Fantasma a delirar, mistério vivo, A loucura de Deus, o sonho e o nada. Teixeira de Pascoaes 3- No terceiro verso da primeira estrofe, há um vocábulo – “aldeia” – em função de: a) núcleo do sujeito. b) aposto no objeto direto. c) aposto no sujeito. d) aposto no adjunto adnominal. e) aposto no complemento nominal. 4- Na terceira estrofe, o termo “da montanha” exerce a função sintática de: a) adjunto adnominal. b) complemento nominal. c) aposto no predicativo do sujeito. d) aposto no sujeito. e) aposto no objeto direto.

Fenômenos Sintáticos

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5- O primeiro verso da quarta estrofe constitui-se de uma oração formada, dentre outros, dos seguintes termos:

a) “fugitivo” – complemento nominal de “homem”; “de si mesmo” – aposto de “fugitivo”, logo aposto no complemento nominal.

b) “fugitivo” – predicativo do sujeito; “de si mesmo” – aposto de “fugitivo”, logo aposto no predicativo do sujeito.

c) “o homem fugitivo” – predicativo do sujeito; “de si mesmo” – aposto de “fugitivo”, logo aposto no adjunto adnominal.

d) “fugitivo” – adjunto adnominal; “de si mesmo” – adjunto adnominal.

e) “fugitivo” – adjunto adnominal de “homem”; “de si mesmo” – complemento nominal de “fugitivo”.

Leia atentamente o poema de Castro Alves e responda às questões 6, 7 e 8. América

1. À Tépida sombra das matas gigantes, Da América ardente nos pampas do Sul, Ao canto dos ventos nas palmas brilhantes, À luz transparente de um céu todo azul,

2. A filha das matas — cabocla morena — Se inclina indolente sonhando talvez! A fronte nos Andes reclina serena. E o Atlântico humilde se estende a seus pés.

3. As brisas dos cerros ainda lhe ondulam Nas plumas vermelhas do arco de avós, Lembrando o passado seus seios pululam, Se a onça ligeira boliu nos cipós.

4. São vagas lembranças de um tempo que teve!... Palpita-lhe o seio por sob uma cruz. E em cisma doirada — qual garça de neve — Sua alma revolve-se em ondas de luz.

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5. Embalam-lhe os sonhos, na tarde saudosa,

Os cheiros agrestes do vasto sertão, E a triste araponga que geme chorosa E a voz dos tropeiros em terna canção.

6. Se o gênio da noite no espaço flutua Que negros mistérios a selva contém! Se a ilha de prata, se a pálida lua Clareia o levante, que amores não tem!

7. Parece que os astros são anjos pendidos

Das frouxas neblinas da abóbada azul, Que miram, que adoram ardentes, perdidos, A filha morena dos pampas do Sul.

8. Se aponta a alvorada por entre as cascatas, Que estrelas no orvalho que a noite verteu! As flores são aves que pousam nas matas, As aves são flores que voam no céu!

6- No primeiro verso da primeira estrofe, o termo “das matas gigantes” exerce a função sintática de: a) atributo circunstancial. b) aposto no sujeito. c) adjunto adnominal. d) aposto no adjunto adnominal. e) complemento nominal. 7- Na oração constituída pelos dois primeiros versos da segunda estrofe – “A filha das matas – cabocla morena – / Se inclina indolente sonhando talvez!” –, os termos que precedem o verbo podem ser analisados do seguinte modo:

a) “filha” – núcleo do sujeito; “a” – adjunto adnominal; “das matas” –

complemento nominal; “cabocla morena” – aposto no sujeito; “morena” – adjunto adnominal de “cabocla”.

b) “filha” – núcleo do sujeito; “a” – adjunto adnominal; “das matas” – adjunto

adnominal; “cabocla morena” – aposto no sujeito; “morena” – adjunto adnominal de “cabocla”.

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c) “filha” – núcleo do sujeito; “a” – adjunto adnominal; “das matas” –

complemento nominal; “cabocla morena” – aposto no sujeito; “morena” – aposto de “cabocla”.

d) “filha” – núcleo do sujeito; “a” – adjunto adnominal; “das matas” – aposto

no sujeito; “cabocla morena” – complemento nominal; “morena” – adjunto adnominal de “cabocla”.

e) “filha” – núcleo do sujeito; “a” – adjunto adnominal; “das matas” – adjunto

adnominal; “cabocla morena” – aposto no sujeito; “morena” – atributo circunstancial.

8- No primeiro verso da quarta estrofe, o termo “de um tempo” constitui-se em: a) agente. b) atributo. c) circunstância. d) paciente. e) estado. Leia atentamente o poema de Fernando Pessoa (Ricardo Reis) para responder a questão 9. AQUI Aqui, neste misérrimo desterro Onde nem desterrado estou, habito, Fiel, sem que queira, àquele antigo erro Pelo qual sou proscrito. O erro de querer ser igual a alguém Feliz em suma — quanto a sorte deu A cada coração o único bem De ele poder ser seu.

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9- A função sintática do adjetivo “fiel” varia conforme o entendimento do gramático. Explique esses entendimentos, nomeando os gramáticos.

10- A estrofe abaixo pertence ao poema Luar de verão, de Álvares de Azevedo. Leia atentamente.

“O que vês, trovador? - Eu vejo a lua Que sem lavar a face ali passeia; No azul do firmamento inda é mais pálida Que em cinzas do fogão uma candeia.” Suponha que a construção “no azul do firmamento” seja substituída por “minha visão do firmamento”. A função sintática de “do firmamento” sofre modificação? Justifique sua resposta.

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O Verbo: Suas Vozes e seu Adjunto

Adjunto Adverbial

Vozes Verbais

• Voz Ativa.

• Voz Passiva.

• Voz Passiva Analítica.

• Voz Passiva Pronominal ou Sintética.

• Voz Reflexiva.

Vocativo

4

Fenômenos Sintáticos

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Caro aluno, estamos finalizando o assunto termos da oração. Esperamos que

você tenha entendido bem o conteúdo estudado até aqui, pois ele é fundamental

para quem pretende exercer o magistério. Nesta unidade, você estudará o adjunto

adverbial (termo acessório da oração), as vozes verbais, o agente da passiva (termo integrante da oração) e o vocativo (termo independente).

Objetivos da Unidade:

Identificar o adjunto adverbial.

Estabelecer as diferenças entre as vozes verbais.

Analisar o agente da passiva.

Identificar o vocativo.

Plano da Unidade:

Adjunto Adverbial

Vozes Verbais

• Voz Ativa.

• Voz Passiva.

• Voz Passiva Analítica.

• Voz Passiva Pronominal ou Sintética.

• Voz Reflexiva.

Vocativo

Bons estudos!

Fenômenos Sintáticos

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Adjunto Adverbial

Você se lembra de quando estudou advérbios em Morfologia? Aquelas palavras que exprimem circunstâncias? Pois, é! A função sintática do advérbio é adjunto adverbial. Morfologicamente, o adjunto adverbial é representado por advérbio ou locução adverbial. Essa função também pode ser exercida por locuções prepositivas. O adjunto adverbial é o termo que denota a circunstância do fato expresso pelo verbo ou intensifica o sentido de um verbo, adjetivo ou advérbio.

Entendemos por locução prepositiva um grupo de palavras que termina com preposição. Já a locução adverbial é o resultado da união de uma preposição inicial com um substantivo, com um adjetivo ou com um advérbio. Deste modo, adjunto adverbial é a função sintática exercida por uma única palavra ou grupos de palavras que expressam a circunstância em que se dá o fato indicado pelo verbo. Podem também exprimir “as particularidades que cercam ou precisam o fato por este indicado”. (CUNHA: 2005, 257) De acordo com a NGB, os advérbios classificam-se como: de lugar, de tempo, de modo, de negação, de dúvida, de intensidade e de afirmação. Os advérbios com estas classificações constam do conteúdo de Morfologia. Por isso, não os citaremos novamente, mas eles poderão ocorrer nos exercícios, nos testes e nas avaliações. Apenas a título de exemplificação, mostraremos um de cada, mais adiante. Se você, caro aluno, ainda não os assimilou, é necessária uma revisão, para que você não encontre dificuldade na realização das atividades. É bom lembrar que a NGB acrescenta ainda os advérbios interrogativos, classificados como: de causa (por quê?), de lugar (onde?), de modo (como?) e de tempo (quando?), intensidade (quão, quanto?). Estes advérbios também exercem a função de adjunto adverbial. Os gramáticos, porém, entendem que não é possível fazer uma relação de todos os adjuntos adverbiais com suas respectivas classificações. Muitas vezes, torna-se difícil a sua denominação. É preciso que consideremos o contexto a fim de que possamos depreender adequadamente o sentido para então chegarmos a uma classificação precisa.

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Se juntarmos, no entanto, as classificações contidas na NGB com as já arroladas em algumas gramáticas, identificaremos os adjuntos adverbiais de: a) afirmação - função exercida por um advérbio ou por um grupo de palavras que expressam o sentido de afirmação. Veja os exemplos a seguir:

Certamente viajará. Virá com certeza.

Por certo eles se casarão. Sem dúvida concordarão com a ideia.

Certamente conseguiremos aprovação nesta maéria.

b) assunto - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de assunto.

Discorreu sobre um tema difícil. Discutiram acerca do ocorrido.

Falou de muitas coisas quando chegou. O professor falará sobre o movimento modernista.

c) causa - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de causa. (por quê?, em virtude de quê?, em razão de quê?)

Aborrecia-se de tédio. A causa do aborrecimento é o tédio.

Guarda dinheiro por prevenção. O ato de guardar o dinheiro tem como causa a prevenção.

Chegou atrasado por causa do trânsito congestionado. Chegou cedo graças ao feriado.

O jovem poeta morreu de tuberculose. d) companhia - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de companhia.

Cavalgarei com você. O sentido é: Cavalgarei em sua companhia.

Meus filhos viajarão comigo. (em minha companhia) . Valor significativo da preposição com- companhia, associação.

e) concessão - função exercida por uma palavra ou grupo de palavras que expressam o sentido de concessão, oposição entre ideias.

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Apesar do barulho, estuda!

Observe a oposição estabelecida entre as ideias: estudo x barulho. A despeito dos avisos, não mudou seu comportamento.

Observe a oposição estabelecida entre as ideias: aviso x sem mudança de comportamento.

Malgrado a doença, estava tranquilo. Observe a oposição estabelecida entre as ideias: doença x tranquilidade.

Apesar de pobre, ele não é miserável. f) condição - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de condição. É necessário um acontecimento para que algo se realize.

Sem sua compreensão, seu filho não progredirá. Sem estudo, você não progredirá.

g) conformidade - função exercida por uma palavra ou grupo de palavras que expressam o sentido de conformidade, combinação, acordo, adequação. Agimos, conforme os padrões morais da sociedade. Apresentamos o trabalho de acordo com as normas. Expõem a opinião, segundo as regras. h) dúvida - função exercida pelos advérbios que expressam dúvida.

Talvez, volte amanhã. Talvez você a encontre na Universidade.

i) fim, finalidade - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de finalidade. A realização de algo consiste em atingir-se um fim. Estuda muito, para aprimoramento intelectual. Eles não estavam preparados para a prova final.

. Valor significativo da preposição para - fim, finalidade.

j) instrumento - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de instrumento. O instrumento utilizado para a realização de algo.

- Fiz a prova a lápis! - Não acredito!

Abriram a porta do carro com uma chave de fenda.

l) intensidade - função exercida por um advérbio ou por um grupo de palavras que expressam o sentido de intensidade.

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Parece bem feliz. Aqui o advérbio bem intensifica o estado de felicidade do sujeito.

Dormiu à farta. Aquele professor fala muito.

m) lugar: (aonde) - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de direção.

Irei ao cinema. . Valor significativo da preposição a- direção.

n) lugar: (donde) - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de origem, proveniência.

Vem da cidade grande. . Valor significativo da preposição de- origem, proveniência.

o) lugar: (onde) - (situação)- função exercida por um advérbio ou grupo de palavras que expressam o sentido de permanência, situação.

Mora longe. Estuda num bom colégio.

O parque situa-se acerca de dez quilômetros. O acordo será assinado no sindicato.

. Valor significativo da preposição de- permanência, situação. p) lugar para onde- função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de direção para.

Partirei para a França. . Valor significativo da preposição de- direção.

q) lugar por onde - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de passagem.

Retornou pelo caminho seguro. r) matéria - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de matéria.

O piso é feito de madeira. s) meio - função exercida por um grupo de palavras que expressa o sentido de meio. O meio utilizado para a realização de algo.

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Vou a pé.

Seguirei de trem. Viajaremos de avião

t) modo - função exercida pelos advérbios ou por um grupo de palavras que expressam o sentido de modo.

Falou com calma. Saiu calmamente.

Cantou bem. u) negação - função exercida por um advérbio ou por um grupo de palavras que expressam o sentido de negação.

Não farão o acordo. Não sabemos se poderemos participar do jogo.

v) tempo - função exercida por um advérbio ou por um grupo de palavras que expressam o sentido de tempo.

Chegou ontem. Depois da entrega do trabalho, ficou feliz.

Antes da cobrança, estavam tranquilos. Vieram à noite. (=de noite)

Chegaram à tarde. (=de tarde) Viajaram de manhã.

A relação das locuções prepositivas com valor semântico de lugar são mais extensas. Destacamos apenas algumas.

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LOCUÇÕES PREPOSITIVAS COM VALOR DE LUGAR

abaixo de em frente a

acima de em frente de

além de em redor de

adiante de junto a

ao lado de junto de

ao redor de para baixo de

atrás de para cima de

defronte de por detrás de

dentro de por diante de

embaixo de por entre

em cima de por trás de

Veja a seguir algumas locuções adverbiais.

LOCUÇÕES ADVERBIAIS DE LUGAR

à direita para dentro à esquerda para onde à distância por ali ao lado por aqui de dentro por dentro de cima por fora de longe por onde de perto por perto em cima por lá

LOCUÇÕES ADVERBIAIS DE MODO

à toa de cor à vontade de má vontade ao contrário de regra ao léu em geral às avessas em silêncio

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às claras em vão às direitas frente a frente às pressas gota a gota com gosto ombro a ombro com amor passo a passo de bom grado por acaso

As locuções apresentadas são apenas exemplos (CUNHA: 2005, 501 e 502).

Existem outras. Como identificá-las na oração? Por meio do sentido, conforme já foi salientado.

Quanto ao emprego da vírgula, a recomendação é a seguinte: a) Caso a oração finalize com o adjunto adverbial, após o verbo ou seu complemento, não se emprega a vírgula.

b) Caso a oração inicie com o adjunto adverbial, ou este ocorra no meio da oração, se for de pequena extensão, não se emprega a vírgula, a menos que se lhe queira dar ênfase.

Vozes Verbais

Assinala CÂMARA (2000: 244) que “morficamente, voz designa a forma em que se apresenta o verbo para indicar a relação entre ele e seu sujeito”.

Geralmente, as vozes verbais são identificadas com as formas que um verbo assume a fim de expressar o sujeito como agente ou paciente da ação verbal.

De acordo com a NGB, são três as formas verbais: ativa, passiva e reflexiva.

Segundo também a NGB, voz verbal é um caso de flexão. Você viu em Morfologia que flexão implica a permanência do radical a que se acrescentam os morfemas.

Isto acontece apenas na voz ativa, pois nela o verbo é conjugado normalmente. O radical permanece e a ele são acrescidos os morfemas modo-temporais e número-pessoais.

Fenômenos Sintáticos

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Nas outras vozes, há uma estruturação sintática ou mecanismo sintático,

visto existir relação entre vocábulos para o emprego da voz passiva e reflexiva. Morfemas não são adicionados ao radical para o emprego destas vozes.

• Voz Ativa

Denomina-se voz ativa aquela que, normalmente, indica o sujeito como agente da ação verbal. Temos então: a) Os meninos recolheram os jornais. b) Os rapazes cantaram belas músicas. c) As meninas sorriram. d) Os garotos correm. e) Os alunos faziam bons trabalhos.

Em alguns momentos a partícula se é empregada, mas com um caráter expletivo, ou seja, ela não se faz necessária e, consequentemente, o verbo não deixa de estar na voz ativa.

Observe: a) Vai-se o menino alegremente. b) A menina riu-se toda para o pai. Em relação a este fato, acrescenta HAUY:

“Como palavra denotativa de espontaneidade o se serve para exprimir a espontaneidade de uma atitude ou de um movimento do sujeito. Emprega-se com verbos que indicam movimento ou atitudes do agente em relação ao seu próprio corpo: ir-se, partir-se, sentar-se, sorrir-se. Sintaticamente expletivo, este se tem grande valor estilístico. No caso, por exemplo, de não haver espontaneidade, mas constrangimento, omite-se obrigatoriamente o se. ”(1992: 9)

Fenômenos Sintáticos

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Há verbos, contudo, que são ativos apenas quanto à forma, mas, quanto

ao seu conteúdo semântico, são passivos. Observe: Imagine uma secretária recebendo os documentos de alguém e falando: – Não se preocupe! Recebo com cuidado estes documentos, porque sofro críticas sempre por ser descuidada.

Você deve ter percebido que o sujeito – a secretária – sofre a ação praticada por outrem – outro entrega e outro faz críticas.

Logo, semanticamente o sujeito não é o agente da ação verbal, mas, sob aspectos formais, o verbo se encontra na voz ativa.

• Voz Passiva

Voz passiva é a forma que o verbo passa a ter quando o sujeito sofre a ação verbal, é o paciente da ação verbal.

Quando você estudou o sujeito na primeira unidade, inteirou-se da discussão em torno da existência ou não da voz passiva pronominal.

Este assunto já foi amplamente abordado na primeira unidade, mas, já que agora trataremos também das vozes verbais, temos de retomar a voz passiva pronominal, sem entrarmos nos questionamentos apresentados anteriormente.

Recomendamos então uma revisão deste assunto e uma releitura da primeira unidade. Atualmente, a maioria dos gramáticos, seguindo a NGB, aceita dois tipos de voz passiva. Vejamos a seguir.

• Voz Passiva Analítica

A voz passiva analítica é aquela que se constrói com um verbo auxiliar conjugado em qualquer tempo, dependendo somente do contexto – ser, estar, ficar –, seguido do particípio de um verbo principal e do agente da passiva, precedido geralmente da preposição por, pelo(a).

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O agente da passiva não precisa necessariamente estar expresso na oração, pode estar implícito, como acontece algumas vezes com o sujeito, conforme você já estudou. Depende do contexto e da informação que queiramos transmitir. De acordo com Celso Cunha:

“Além do verbo ser há outros auxiliares, que, combinados com um particípio, podem formar a voz passiva. Estão nesse caso certos verbos que exprimem estado ( estar, andar, viver, etc.), mudança de estado ( ficar ) e movimento ( ir, vir ):

Os inimigos já estavam vencidos pelos nossos.

O Presidente vinha acompanhado de seus ministros.”(2000: 370)

Podemos substituir “de seus ministros” por pelos seus ministros. Logo, o agente da passiva também pode vir precedido da preposição de. Podemos também passar para a voz ativa: Os nossos venciam os inimigos. Os ministros acompanhavam o Presidente. Veja: – O cavalo é treinado pelo filho do administrador da fazenda

No exemplo apresentado, ocorre o verbo ser no presente do indicativo – é –, seguido do verbo principal no particípio – treinado – e pelo agente da passiva – pelo filho do administrador da fazenda.

Falamos verbo principal porque a informação se concentra nele. Podemos provar pela inversão:

• O filho do administrador da fazenda treina o cavalo. O sujeito na voz ativa é o agente da passiva na voz passiva. Repare no mecanismo sintático ou estruturação sintática:

verbo ser + particípio.

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• Voz Passiva Pronominal ou Sintética

A voz passiva pronominal ou sintética, para quem aceita a sua existência,

conforme já foi discutido na primeira unidade, é aquela que se constitui de um

verbo transitivo direto conjugado na terceira pessoa e o pronome se,

denominado pronome apassivador ou partícula apassivadora, como observamos em:

Aluga-se este imóvel. Alugam-se estes imóveis.

A concordância é obrigatória porque o substantivo é o sujeito na voz

passiva pronominal, já que é uma construção equivalente a:

Este imóvel é alugado. Estes imóveis são alugados.

Mais uma vez recomendamos que é necessário que você, caro aluno,

releia a primeira unidade referente a este assunto, já que existem controvérsias a respeito da voz passiva pronominal.

De qualquer modo, repare no mecanismo sintático ou estruturação sintática: verbo + partícula se.

Voz Reflexiva

A voz reflexiva é aquela que se constitui de verbo na voz ativa conjugado com pronome pessoal oblíquo átono da mesma pessoa do sujeito, porque o sujeito pratica e sofre a ação por ele exercida. Veja: Eu me penteio. Tu te penteias. Ele se penteia. Nós nos penteamos. Vós vos penteais. Eles se penteiam.

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No entanto, alguns gramáticos preferem chamar voz passiva medial,

porque o emprego do pronome pode indicar ainda uma reciprocidade, ou seja, um sujeito pratica em outro uma ação e esta se volta contra o primeiro. Assim, a voz medial compreende dois sentidos: o reflexivo e o recíproco. Observe: Imagine um casal de namorados e a namorada falando: – Nós nos abraçamos com muito amor. Um exerce a ação de abraçar o outro. Às vezes pode ocorrer uma ambiguidade, isto é, um duplo sentido, conforme verificamos em:

Eles se estimam. . Um sentido – um estima o outro. (sentido recíproco) . Outro sentido – cada um estima a si próprio. (sentido reflexivo) Também pode haver ambiguidade quando depreendemos um sentido recíproco e outro diferente do reflexivo. Veja:

Eles se casaram. . Um sentido – um casou com o outro. (sentido recíproco) . Outro sentido – cada um se casou com uma pessoa diferente. O contexto esclarece o sentido.

Devemos apenas acrescentar que, na voz reflexiva ou voz medial, o pronome exerce função sintática. Nos exemplos apresentados, a função é objeto direto.

Fenômenos Sintáticos

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Chamamos aqui a atenção para o fato de ser apenas parte integrante de

alguns verbos a partícula se. Como bem nota Rocha Lima: “Verbos como arrepender-se, abster-se, ater-se, atrever-se, dignar-se, esforçar-se, queixar-se, ufanar-se, etc. trazem preso a si um pronome reflexivo fossilizado. Tais verbos, ainda que pronominais, não têm objeto direto, nem indireto. Aliás, ninguém pode arrepender outrem, nem a si –, devendo, então, ter surgido o pronome por ANALOGIA com outros verbos, tais como: aborrecer-se, magoar-se, ferir-se, nos quais o pronome é realmente o objeto direto.”(2005: 342)

Veja: O rapaz se magoa. (=ele mesmo) Logo, o se é o objeto direto.

Vejamos agora um termo que se encontra à parte da oração: o vocativo.

Vocativo

Muitas vezes, ao construirmos uma frase, dirigimo-nos a alguém. Neste

caso, estamos invocando, chamando. O termo que indica esta invocação, este chamamento é o vocativo. Veja: Imagine um pai numa canoa chamando os filhos. Os filhos correm em direção a ele pulando no barco. – Meninos, venham!

Quando queremos dar uma ênfase maior, o vocativo vem precedido de algumas interjeições, principalmente por Ó!, ou Oh! – Oh, meus lindos pássaros, venham a mim! O vocativo vem isolado na oração por vírgula ou por ponto de exclamação.

Fenômenos Sintáticos

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Bem, prezado aluno, aqui encerramos mais uma unidade de estudo.

Esperamos que você tenha assimilado bem as informações e questionamentos pontuados até aqui e esteja com o espírito crítico aguçado para receber as novas informações referentes ao período composto por coordenação.

Leitura complementar:

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.

É hora de se avaliar!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo.Elas irão ajudá-lo

a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-

aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Assim, caro aluno, na próxima unidade, você vai estudar e compreender a estrutura sintático-semântica do período composto por coordenação. Até breve!

Fenômenos Sintáticos

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Exercícios-Unidade 4

1- Leia atentamente o poema abaixo de Álvares de Azevedo e responda às questões que se seguem.

Soneto III

1. Passei ontem a noite junto dela. Do camarote a divisão se erguia Apenas entre nós - e eu vivia No doce alento dessa virgem bela...

2. Tanto amor, tanto fogo se revela Naqueles olhos negros! Só a via! Música mais do céu, mais harmonia Aspirando nessa alma de donzela!

3. Como era doce aquele seio arfando! Nos lábios que sorriso feiticeiro! Daquelas horas lembro-me chorando!

4. Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro É sentir todo o seio palpitando... Cheio de amores! E dormir solteiro!

1- Podemos depreender da primeira estrofe: a) um adjunto adverbial de tempo. b) um adjunto adverbial de modo. c) um adjunto adverbial de concessão. d) um adjunto adverbial de finalidade. e) um adjunto adverbial de dúvida.

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2- No segundo verso da primeira estrofe – “Do camarote a divisão se erguia” – , podemos entender, com alguns gramáticos, que o verbo se encontra:

a) na voz passiva analítica, porque a construção se assemelha a “a divisão do camarote era erguida”.

b) na voz reflexiva, pois um personagem vê o outro.

c) na voz passiva pronominal, pois podemos fazer a seguinte transformação – “a divisão do camarote era erguida”.

d) na voz reflexiva por haver reciprocidade de ação entre dois personagens.

e) na voz passiva analítica sintética por haver semelhança com a construção “ a divisão do camarote era erguida”.

3- A oração formada a partir dos dois primeiros versos da segunda estrofe – “Tanto amor, tanto fogo se revela / Naqueles olhos negros!” – pode ser analisada do seguinte modo:

a) a voz do verbo encontra-se na passiva pronominal, pois a construção

equivale, segundo alguns gramáticos, a – “tanto fogo é revelado” – e “naqueles olhos negros!” exerce a função de adjunto adverbial de lugar.

b) a voz do verbo é reflexiva, pois a construção equivale, segundo alguns

gramáticos, a voz analítica, pois a ação de revelar é recíproca, e “olhos” é o núcleo do adjunto adverbial de lugar.

c) a partícula “se” expressa a voz passiva analítica pela semelhança existente

com a oração “tanto fogo é revelado” e “naqueles olhos negros” expressa o modo pelo qual a ação de revelar é realizada.

d) a voz do verbo encontra-se na passiva recíproca, pois a construção

equivale, segundo alguns gramáticos, a – “tanto fogo é revelado” – e “naqueles olhos negrosI” exerce a função de adjunto adverbial de tempo.

e) a voz do verbo é reflexiva, pois reflete uma ação conjunta entre dois seres.

O “amor” exerce a ação de revelar em “fogo” e “fogo” exerce a ação de

revelar em “amor”. O termo “naqueles olhos negros” exprime a condição através da qual a ação de revelar ocorre.

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4- No último verso da segunda estrofe – “Aspirando nessa alma de donzela”- o termo “nessa alma de donzela” pode ser analisado como: a) vocativo. b) adjunto adverbial de lugar. c) adjunto adverbial de modo. d) sujeito. e) a expressão da voz passiva analítica. Leia atentamente as duas estrofes de Gonçalves Dias e responda às questões 5, 6 e 7. A noite

1. Eu amo a noite solitária e muda, Quando no vasto céu fitando os olhos, Além do escuro, que lhe tinge a face, Alcanço deslumbrado Milhões de sóis a divagar no espaço, Como em salas de esplêndido banquete Mil tochas aromáticas ardendo Entre nuvens d`incenso!

2. Eu amo a noite taciturna e queda! Amo a doce mudez que ela derrama, E a fresca aragem pelas densas folhas Do bosque murmurando: Então, malgrado o véu que envolve a terra, A vista, do que vela enxerga mundos, E apesar do silêncio, o ouvido escuta Notas de etéreas harpas.

5- No primeiro verso da primeira estrofe – “Eu amo a noite solitária e muda” – o verbo está na voz: a) reflexiva. b) recíproca. c) analítica. d) ativa. e) medial.

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6- Da segunda estrofe, podemos depreender o seguinte termo “pelas densas folhas do bosque” em função de: a) vocativo. b) adjunto adverbial de lugar por onde. c) agente da passiva. d) adjunto adverbial de modo. e) adjunto adverbial de causa. 7- No penúltimo verso da segunda estrofe, o termo “apesar do silêncio” é identificado como:

a) adjunto adverbial de causa por estabelecer uma relação de causa e consequência com o termo seguinte “notas de etéreas harpas”.

b) adjunto adverbial de modo por exprimir a maneira como o ouvido escuta.

c) adjunto adverbial de dúvida por não se saber quem escuta.

d) adjunto adverbial de assunto.

e) adjunto adverbial de concessão por exprimir um sentido de oposição com a ideia contida em “o ouvido escuta / Notas de etéreas harpas”.

Leia atentamente o poema de Cláudio Manuel da Costa e responda às questões 8 e 9. XXVII Apressa-se a tocar o caminhante O pouso, que lhe marca a luz do dia; E da sua esperança se confia, Que chegue a entrar no porto o navegante: Nem aquele sem termo passa avante Na longa, duvidosa e incerta via, Nem este atravessando a região fria Vai levando sem rumo o curso errante. Depois que um breve tempo houver passado, Um se verá sobre a segura areia, Chegará o outro ao sítio desejado:

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Eu só, tendo de penas a alma cheia, Não tenho que esperar, que o meu cuidado Faz, que gire sem norte a minha ideia. 8- O segundo verso da terceira estrofe apresenta o termo “sobre a segura areia” em função de adjunto adverbial de: a) assunto. b) modo. c) lugar. d) meio. e) instrumento. 9- A oração construída a partir dos dois primeiros versos da primeira estrofe – “Apressa-se a tocar o caminhante o pouso” expressa uma voz verbal. Nomeie-a e explique-a.

10- Leia atentamente o poema de Castro Alves, e responda: A um coração Ai! Pobre coração! Assim vazio E frio Sem guardar a lembrança de um amor! Nada em teus seios os dias hão deixado!... É fado? Nem relíquias de um sonho encantador? Não, frio coração! É que na terra Ninguém te abriu... Nada teu seio encerra! O vácuo apenas queres tu conter! Não te faltam suspiros delirantes, nem lágrimas de afeto verdadeiro... É que nem mesmo — o oceano inteiro — Poderia te encher!... Analise os termos “pobre coração” – primeira estrofe – e “frio coração” – segunda estrofe.

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Período Composto: Definição. Período Composto por Coordenação

Definição de período composto e tipos

Período composto por coordenação: classificação das orações.

Orações coordenadas assindéticas

Orações coordenadas sindéticas

Orações coordenadas sindéticas aditivas

Orações coordenadas sindéticas adversativas

Orações coordenadas sindéticas conclusivas

Orações coordenadas sindéticas explicativas

Orações coordenadas sindéticas alternativas

Paralelismo sintático e subordinação semântica

Coordenação e/ou correlação

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Fenômenos Sintáticos

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Caro aluno, nesta unidade, você estudará o período composto: sua definição,

classificação e a composição por meio da coordenação. Como já foi salientado

anteriormente, dificilmente há unanimidade sobre o que vem a ser um

determinado fato linguístico. As controvérsias são muitas. Por isso, o estudo da

Sintaxe da Língua Portuguesa requer atenção e reflexão, para que se perceba a

linha de raciocínio mais coerente e se possa então tomar uma posição definida. Bom estudo!

Objetivos da Unidade:

• Definir período composto.

• Identificar o período composto por coordenação.

• Classificar as orações coordenadas.

• Depreender as críticas relacionadas à classificação das orações coordenadas.

• Identificar os valores semânticos da conjunção coordenativa

• Empregar adequadamente a pontuação no período composto por coordenação.

Plano da Unidade:

Definição de período composto e tipos

Período composto por coordenação: classificação das orações.

Orações coordenadas assindéticas

Orações coordenadas sindéticas

Orações coordenadas sindéticas aditivas

Orações coordenadas sindéticas adversativas

Orações coordenadas sindéticas conclusivas

Orações coordenadas sindéticas explicativas

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Orações coordenadas sindéticas alternativas

Paralelismo sintático e subordinação semântica

Coordenação e/ou correlação

Bom estudo!

Fenômenos Sintáticos

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Definição de Período Composto e Tipos

Período composto é aquele constituído de mais de uma oração. O elemento

identificador da oração é o verbo. Assim, se ocorrer mais de um verbo num período, este será composto.

Observe: – Os pássaros anunciam o fim da noite e amanhece! – A vida segue seu rumo, os dias vêm, os dias vão, continuo meu caminho. Quando chega o dia, aparece a esperança.

Como você pode verificar, a primeira fala apresenta um período formado por duas orações, pois apresenta dois verbos – anunciam e amanhece.

Tradicionalmente, entende-se por período composto aquele em que as orações se encontram interligadas por meio de dois processos sintáticos: a coordenação e a subordinação.

Alguns autores, entretanto, vêm questionando a existência de apenas esses dois processos de estruturação sintática do período composto.

As críticas serão mostradas mais adiante quando tratarmos da “coordenação e/ou correlação” (item 5.9, conforme plano da unidade).

Salientemos apenas que na própria Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) encontramos: “Composição do período: coordenação e subordinação”. Mas que vêm a ser coordenação e subordinação?

É comum encontrarmos nos compêndios escolares e nas gramáticas em geral que o período composto por coordenação forma-se de orações independentes. Aproveitemos o exemplo anterior: – A vida segue seu rumo, os dias vêm, os dias vão, continuo meu caminho.

Fenômenos Sintáticos

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Poderíamos simplesmente dizer: – A vida segue seu rumo. – Os dias vêm. – Os dias vão. – Continuo meu caminho.

Isso é possível, porque as orações possuem a mesma natureza sintática, ou seja, cada uma possui os seus próprios termos. Assim, “– A vida segue seu rumo, os dias vêm, os dias vão, continuo meu caminho.”

É um período composto por coordenação.

Veja que a primeira oração apresenta sujeito – a vida – verbo transitivo direto – segue – e objeto direto – seu rumo.

A segunda oração contém sujeito – os dias – e verbo intransitivo – vêm. A terceira oração também contém sujeito – os dias – e verbo intransitivo – vão.

A quarta oração tem sujeito implícito na forma verbal – (eu) continuo – e objeto direto – meu caminho.

Portanto, uma oração não exerce função sintática de outra à qual está ligada. São independentes entre si. Há entre elas independência sintática. Já em:

“Quando chega o dia, aparece a esperança.”

A primeira oração introduzida pela conjunção quando indica o momento em que aparece a esperança.

Repare em que esse momento não está na oração “aparece a esperança”; está em outra – “quando chega o dia”.

Logo, “quando chega o dia” é adjunto adverbial de tempo da segunda oração, como você estudará na parte dedicada à subordinação.

Há, pois, uma relação de dependência entre elas – dependência sintática.

Não podemos deixar de ressaltar que entre as orações também pode haver uma relação de independência e dependência semântica.

Fenômenos Sintáticos

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Voltando à oração a que pertence a conjunção quando – “quando chega

o dia” – percebemos, além da dependência sintática, conforme já foi observado, a dependência semântica, pois o tempo se relaciona ao surgimento da esperança. Já em: “– A vida segue seu rumo, os dias vêm, vão, continuo meu caminho”

O sentido de cada oração não decorre do sentido de outra.

As ações – seguir, vir, ir, continuar – independem umas das outras.

Assim, se o sentido de uma oração independe do sentido de outra, há independência semântica.

Se o sentido de uma decorre do sentido de outra, existe dependência semântica. IMPORTANTE

• Independência sintática – cada oração possui seus próprios termos. • Dependência sintática – uma oração exerce função sintática de outra. • Independência semântica – o sentido de uma oração não se relaciona ao

de outra. • Dependência semântica – o sentido de uma oração decorre do sentido

de outra. Então, você já deve estar se perguntando: – As orações coordenadas são sempre independentes sintática e semanticamente? Ao longo desse estudo, você perceberá que, embora sintaticamente independentes, nem sempre as orações coordenadas são semanticamente independentes. É o que também estudaremos a seguir. Preste atenção!

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Período Composto por Coordenação: Classificação das Orações

Primeiramente vale ressaltar que a coordenação pode ocorrer por meio de síndeto – CONJUNÇÃO – ou de assíndeto – AUSÊNCIA DE CONJUNÇÃO.

Assim, o período composto por coordenação pode ser constituído de orações coordenadas assindéticas e orações coordenadas sindéticas.

Analisemos, agora, cada uma em separado. Orações Coordenadas Assindéticas

Como o próprio nome indica, trata-se de orações separadas sem síndeto, que quer dizer conjunção.

O termo “assindética” apresenta o prefixo de negação -a, que significa ausência de síndeto, de conjunção. Veja: Imagine uma moça comemorando a aprovação no vestibular no colégio em que estudou desde criança. – Cheguei, criança, a este colégio, estudei muito, formei grupo de estudo, fui aprovada no vestibular! O período constitui-se de quatro orações coordenadas assindéticas, pois não são introduzidas por conjunção. Diz-se então que elas estão justapostas. Não há nenhum elemento de conexão entre as orações, apenas vírgulas entre elas. Podemos chamar também de assindetismo. As orações coordenadas podem também separar-se por dois-pontos e por ponto-e-vírgula. Observe: Imagine um senhor andando numa rua com os netos e falando com eles: – Gosto desta rua: suas árvores me encantam; trazem-me recordação. Esse período constitui-se de três orações relacionadas por duas pausas expressas por dois-pontos e ponto-e-vírgula, sem conjunção.

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Logo, são orações coordenadas assindéticas. Observe que uma não exerce nenhuma função sintática em relação a outra, ou seja, não é sujeito, não é complemento nem adjunto de outra. SINTATICAMENTE, portanto, são independentes. Se perguntássemos, porém, são elas independentes semanticamente? Que diria, caro aluno?

REFLITA: O gostar da rua não vem a ser uma consequência de as árvores encantarem, trazerem recordação? Certamente. As três orações estabelecem entre si uma relação de causa e consequência. Portanto, SEMANTICAMENTE, são dependentes. Veja:

CAUSA CONSEQUÊNCIA

encantamento gostar da rua

recordação

Repare, agora, nas orações introduzidas por conjunção.

Orações Coordenadas Sindéticas

As orações coordenadas sindéticas são introduzidas pelas denominadas conjunções coordenativas que você já estudou em Morfologia.

Aqui, você aprenderá seu emprego e o sentido que elas expressam.

Fenômenos Sintáticos

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Seguindo a classificação tradicional das conjunções coordenativas, as

orações coordenadas sindéticas dividem-se em cinco tipos, conforme as conjunções que as introduzem.

Estudaremos agora cada uma delas:

Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas

Observe: Imagine duas meninas na sala de uma casa que está sendo reformada. Estão conversando. – Os rapazes pintaram a parede e puseram os lustres. – Não descansam nem comem.

Há, em cada período, uma constatação de fatos, ideias que se adicionam: Veja: a) pintar a parede e pôr os lustres. b) não descansar e não comer.

Poderíamos reescrever o último período da seguinte maneira: “– Não descansam e não comem.” Logo, a conjunção nem equivale a e não. Em: “Os rapazes pintaram a parede e puseram os lustres” há união de duas afirmações. Em “Não descansam nem comem” há união de duas negações.

Como você já deve ter reparado, tornou-se comum o emprego do e com o nem. Assim, ouve-se com frequência: – Não estuda e nem trabalha.

O professor Bechara (2006:120) não considera um erro tal emprego, por entender que, nesse caso, o e exerce o papel de intensificador. Discorda assim de alguns estudiosos.

Fenômenos Sintáticos

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José Oiticica (1942), por exemplo, só aceitava o emprego de e nem quando nem pertence às expressões (claras ou não) como nem sequer, nem por isso, nem assim, nem ao menos, nem sempre, nem todos ou se ocorrer a série aditiva negativa nem...nem Assim sendo, há duas conjunções coordenativas: e, nem.

Enquanto a primeira - e - une duas afirmações, a segunda adiciona duas negações - nem. Os períodos então são analisados da seguinte maneira: a) primeiro período – composto por coordenação

“– Os rapazes pintaram a parede e puseram os lustres”. A oração “os rapazes pintaram a parede” classifica-se como oração coordenada assindética.

A oração “e puseram os lustres” classifica-se como oração coordenada sindética aditiva. b) segundo período – composto por coordenação

“– Não descansam nem comem.”

A oração “não descansam” classifica-se como oração coordenada assindética. A oração “nem comem” classifica-se como oração coordenada sindética aditiva.

Tradicionalmente, considera-se mas também, precedido de não só (este elemento ocorre na oração anterior) como conjunção coordenativa aditiva. Assim:

Imagine a seguinte cena: uma mulher falando com outra num escritório, referindo-se a um faxineiro. – Como trabalha! – Não só trabalha, mas também estuda! (responde a outra)

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a oração “mas também estuda” classifica-se como oração coordenada sindética aditiva. A questão a ser pensada é a seguinte:

A segunda oração é desencadeada pela primeira oração. Logo, há dependência semântica.

Há, na verdade, um par correlativo não...só mas também, a ser melhor estudado mais adiante, no item “coordenação e/ou correlação”.

Você acabou de estudar as orações que se adicionam. Você estudará agora aquelas que estabelecem entre si uma relação de adversidade. Por isso são denominadas orações coordenadas sindéticas adversativas. Bom estudo!

Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas

Observe: – Comprei a passagem, mas não viajarei.

A oração introduzida pela conjunção mas expressa o sentido de adversidade, oposição, ou seja, a ideia de não viajar se opõe ao fato de ter comprado a passagem, uma vez que não se compra uma passagem, sem a intenção de viajar.

Logo, a oração “mas não viajarei” classifica-se como oração coordenada sindética adversativa, e a oração “comprei a passagem”, como oração coordenada assindética.

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Embora o sentido de oposição seja frequentemente transmitido na escola e nos livros didáticos, alguns gramáticos chamam a atenção para outros sentidos, como o de contraste ou compensação (MELO: 1975, 75), (KURY: 2006, 67) e (LUFT: 2006,189 ); contraste (CUNHA & CINTRA: 2006, 566) e (ROCHA LIMA: 2005, 185). Os professores Bechara (2006:323) e Garcia (2007:135) reafirmam o sentido de oposição, embora este último saliente que a oposição possa conter, às vezes, um matiz semântico de restrição ou ressalva.

Podemos perceber o sentido de compensação em: – Não obtive boa nota em Português, mas consegui um excelente resultado em Matemática.

Verificamos o sentido de restrição em: – Sua nota não está ruim, mas você tem de estudar mais.

No lugar do mas podemos empregar porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto. Essas são tradicionalmente ensinadas como conjunções coordenativas adversativas. É importante salientar que a conjunção mas é a única dessas conjunções que ocorre no início da oração a que pertence. As outras são móveis, ou seja, podem introduzir a oração, ocorrer no meio ou no final. – Chove bastante, contudo a rua está movimentada. – Há muitas pessoas; não vejo, porém, crianças. (Responde a outra). – As crianças não trabalham; os pais labutam, entretanto.

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DICA

1 - Caso a conjunção inicie a oração, poderemos empregar a vírgula e o ponto-e-vírgula antes dela. 2 - Caso a conjunção ocorra no meio da oração, será empregada entre vírgulas. 3 - Caso a conjunção apareça no final da oração, será empregada a vírgula antes dela. Observação: É comum o emprego da conjunção e com essas conjunções, como observamos em: – Estudei e, todavia, não fui aprovado. Poderíamos também dizer: – Estudei e, contudo, não fui aprovado. – Estudei e, no entanto, não fui aprovado. – Estudei e, entretanto, não fui aprovado. Uma vez ocorrendo as construções e, todavia, / e, contudo, / e, no entanto, / e, entretanto, /, como classificar a oração em que elas se inserem? Coordenada sindética aditiva ou adversativa? Ou constituem um erro tais construções? Vamos por partes:

Tais construções estão corretas, pois as conjunções entendidas, atualmente, como coordenativas adversativas são, etimologicamente, advérbios.

Esse traço de advérbio já não se encontra presente em mas e porém.

É marcante ainda em todavia, contudo, no entanto, entretanto, por isso é frequente o emprego com e.

Nesse caso, classifica-se a oração como coordenada sindética aditiva.

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Aqueles vocábulos ocorrem como advérbios, significando “nesse meio tempo”, “entrementes” (KURY: 2006, 167), como observamos em: – “Estudei e, contudo, não fui aprovado” (e, entrementes, não fui aprovado).

Por isso, entende Rocha Lima (2005: 185) que, à exceção da conjunção mas, “adversativa por excelência”, as demais têm “força adversativa”.

Já o professor Bechara (2006: 323) afirma que as “adversativas por excelência são mas, porém e senão”. E acrescenta que “mas e porém acentuam a oposição; senão marca a incompatibilidade”.

Observe:

– O menino não almejou os ratos com a comida, senão os gatos O verbo “almejou” está subtendido na segunda oração. A conjunção senão pode ser substituída por mas sim. Ocorre após uma negação.

IMPORTANTE

De qualquer modo, essas palavras, sejam conjunções ou advérbios acarretam dependência semântica, pois só existe adversidade, contraste ou incompatibilidade em relação a algo anteriormente expresso.

Observação: É bom chamar a atenção para o fato de que a conjunção e, muitas vezes,

une orações cujos sentidos se opõem. Alguns livros didáticos, nesse caso, classificam o e como conjunção coordenativa adversativa. Em geral, os gramáticos divergem de tal posicionamento porque o papel do e consiste primordialmente em unir, adicionar sentidos opostos ou não, como verificamos em:

– Fui ao shopping e não comprei nada!

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Da mesma forma que há orações, cujo sentido é o oposto da anteriormente expressa, existem ainda aquelas que concluem algo expresso na oração precedente. São as chamadas orações coordenadas sindéticas conclusivas. Veja a seguir!

Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas

Observe: – Está doente, portanto não poderá ir à praia.

A oração introduzida por portanto é uma conclusão ou consequência lógica de algo anteriormente dito, ou seja, se alguém está doente é natural, conclui-se que não poderá ir à praia; consequentemente, não irá à praia. No lugar de portanto, podemos empregar logo, por isso, por conseguinte. Não devemos confundir, no entanto, a conjunção coordenativa conclusiva logo com o advérbio de tempo logo.

Como perceber a diferença?

Pelo sentido expresso no contexto. Em “logo não poderá ir à praia” só cabe o sentido de conclusão e não de tempo, tanto que pode substituir “portanto”, no exemplo citado. Cabe também o emprego de pois, sendo que, com o sentido de conclusão, é empregado, apenas, no meio ou no fim da oração: “– Está doente; não poderá, pois, ir à praia.” “– Está doente; não poderá ir à praia, pois.”

Repare na pontuação. É a mesma regra das conjunções coordenativas adversativas. As gramáticas, em geral, arrolam como conjunções coordenativas conclusivas: portanto, logo, por isso, por conseguinte, pois.

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Podemos ainda acrescentar: então, assim, de modo que, em vista disso (KurY: 2006).

Na realidade, são também etimologicamente advérbios. Como bem salienta

Evanildo Bechara “não incluir tais palavras entre as conjunções coordenativas já era

lição antiga na gramaticografia de língua portuguesa; vemo-la em Epifânio Dias e,

entre brasileiros, em Maximino Maciel, nas últimas versões de sua Gramática”.(2006:323)

Dada essa etimologia, é também possível o emprego da conjunção e com tais palavras.

Veja:

– Chove muito e, portanto, ninguém irá à praia. Nesse caso, classificamos a oração “e, portanto, ninguém irá à praia” como oração coordenada sindética aditiva. Em relação à posição, notemos o seguinte: a) logo, de modo que- início da oração, ou seja, antes do verbo. b) pois- no meio ou no final da oração, ou seja, depois do verbo. c) as outras- no início, no meio ou no final da oração, ou seja, antes ou depois do verbo. Não podemos deixar de notar ainda a independência sintática.

IMPORTANTE

Mas entre as orações há dependência semântica, pois só existe conclusão ou consequência de algo anteriormente expresso.

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Observação:

É bom chamar a atenção para o fato de que a conjunção e, muitas vezes, pode introduzir uma oração cujo sentido conclua o expresso anteriormente, ou seja, uma consequência do anteriormente expresso. Alguns livros didáticos classificam o e, nesse caso, como conjunção coordenativa conclusiva. Em geral, os gramáticos citados divergem de tal posicionamento porque o papel do e consiste primordialmente em unir, adicionar, mesmo que uma ideia conclua a outra, como constatamos em:

– Treinei bastante e venci!

Você acabou de estudar as orações que concluem algo anteriormente dito. Você estudará agora aquelas que explicam algo já apresentado antes. São as chamadas orações coordenadas sindéticas explicativas. Preste atenção!

Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas

Obs erv e: Imagine um menino soltando pipa. De repente a pipa começa a cair e o menino grita para outro. Vários meninos correm atrás da pipa.

– Corre, que está caindo! A oração “que está caindo” encerra o motivo contido na primeira. O emissor esclarece o motivo de sua ordem.

DICA

Verbos no modo imperativo são seguidos de oração coordenada sindética explicativa.

Como a ordem expressa uma ação que ainda está para acontecer, não há causa, pois esta só se dá em relação a uma realidade já existente.

Fenômenos Sintáticos

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No exemplo citado, a conjunção que pode ser substituída por pois, porquanto, porque. São conjunções coordenativas explicativas: que, pois, porquanto, porque.

IMPORTANTE

Etimologicamente também são advérbios. A conjunção coordenativa explicativa pois inicia sempre a oração a que pertence.

Veja: – O jardineiro trabalhou hoje, pois a grama está cortada. A oração “pois a grama está cortada” contém o motivo, a explicação da ideia expressa pela oração anterior. Classifica-se como oração coordenada sindética explicativa. DICA

Conjunção pois conclusiva – meio ou final da oração. Conjunção pois explicativa – início da oração.

Bem, você acabou de estudar as orações que se adicionam às anteriores,

que se opõem às anteriormente expressas, que explicam e concluem as precedentes. Você estudará agora aquelas que estabelecem entre si o sentido de alternância. São as orações coordenadas sindéticas alternativas. Bom estudo!

Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas

Observe: Imagine uma menina, com ar de reprovação, dirigindo-se ao irmão que está ouvindo rádio, gritando, cantando.

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– Grita ou canta. – Ou peço ou mando: desliga isso! (Fala a mãe desesperada.) A conjunção ou contém o sentido de opção, escolha, alternância, exclusão. Assim é denominada conjunção coordenativa alternativa, podendo vir repetida ou não. Podemos também entender que “as alternativas ligam dois termos ou orações de sentido distinto, indicando que, ao cumprir-se um fato, o outro não se cumpre” (CUNHA & CINTRA: 200, 566). Assim, a oração “ou canta” é classificada como oração coordenada sindética alternativa. A oração constituída apenas pelo verbo grita vem a ser oração coordenada assindética. Em “– Ou peço ou mando”, as duas orações são coordenadas sindéticas alternativas e “desliga isso!” é oração coordenada assindética. Como ou...ou, são também ensinadas, nas escolas, as seguintes conjunções coordenativas alternativas: ora...ora, já...já, quer...quer..., seja...seja. Trata-se de palavras de outras classes gramaticais, que estão totalmente gramaticalizadas, ou seja, apenas ligam termos ou orações, à exceção do par seja...seja, que se flexiona em alguns casos, mantendo o seu valor verbal, como observamos em: – Seja estudioso, seja malandro, é meu filho! – Fosse estudioso, fosse malandro, era meu filho!

As orações introduzidas com seja e fosse são coordenadas sindéticas alternativas e as orações “é meu filho” e “era meu filho” são orações coordenadas assindéticas.

Devemos também salientar a subordinação semântica presente nos exemplos citados, pois só existe opção, escolha, alternância, exclusão em relação a duas ideias no mínimo.

Veja agora o que vem a ser paralelismo sintático. Você também verá a sua relação com a subordinação semântica. Preste atenção!

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Paralelismo Sintático e Subordinação Semântica

O paralelismo sintático, na verdade, nada mais é do que a simetria exigida

entre as orações coordenadas, já que estão no mesmo nível, ou seja, são independentes sintaticamente.

Nos pares correlativos não só... mas também, ou...ou, ora... ora, quer...quer, seja...seja, a expectativa da simetria é ainda maior, pois o primeiro elemento desencadeia o segundo, daí o nome par correlativo.

Então é natural que a segunda construção mantenha a estrutura semelhante à da primeira, como podemos observar em: Fala a mãe com uma outra pessoa olhando a filha, que escreve e desenha. – Não só escreve mas também desenha. Já em: – Não só escreve, mas também é desenhista.

Não há paralelismo sintático, pois o segundo elemento – mas também – do mesmo par desencadeia uma estrutura diferente da primeira, o que deve ser evitado.

Há, porém, em todos os pares correlativos subordinação semântica, pois a segunda oração é consequência da primeira.

Veja o quadro abaixo com alguns exemplos:

PARLELISMO SINTÁTICO E

SUBORDINAÇÃO SEMÂNTICA

AUSÊNCIA DE PARALELISMO

Ou canta ou declama. Ou canta ou é declamadora.

Ora dança ora pula. Ou dança ora é saltadora.

A seguir veja o entendimento sobre a coordenação e a correlação.

Fenômenos Sintáticos

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Coordenação e/ou Correlação

Como já foi salientado, a correlação é uma construção sintática constituída de

dois elementos que formam um par. O primeiro elemento anuncia o segundo, fazendo com que a dependência semântica esteja muito clara. Isso faz com que alguns autores, como José Oiticica, considere a correlação como um processo sintático autônomo, como o são a coordenação e a subordinação.

Não concorda com tal posicionamento o professor Bechara por salientar que coordenação e subordinação relacionam-se à independência ou dependência sintática entre as orações, e a correlação se refere ao modo de ligação dessas mesmas orações. (2006:116)

Assim chegamos ao final da primeira unidade. Daqui para frente, você estudará o processo sintático da subordinação. Estudaremos, na próxima unidade, a oração subordinada adjetiva. Até lá!

Leitura complementar

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de janeiro, Zahar, 2007.

Fenômenos Sintáticos

152

É hora de se avaliar!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo

a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-

aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Fenômenos Sintáticos

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Exercícios-Unidade 5

Leia atentamente o texto de Machado de Assis e responda às questões que se seguem.

um Apólogo 1. Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: 2. — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que

vale alguma cousa neste mundo? 3. — Deixe-me, senhora. 4. — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar

insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça. 5. — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem

cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

6. — Mas você é orgulhosa. 7. — Decerto que sou. 8. — Mas por quê? 9. — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os

cose, senão eu? 10. — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose

sou eu e muito eu? 11. — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou

feição aos babados... 12. — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você,

que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando... 13. — Também os batedores vão adiante do imperador. 14. — Você é imperador? 15. — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante;

vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

16. Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

17. — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

Fenômenos Sintáticos

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18. A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo

enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

19. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

20. — Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

21. Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

22. — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

23. Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

24. — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

(http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp) 1- O período “a senhora não é alfinete, é agulha” (p.5) é constituído de: a) oração coordenada assindética e oração coordenada sindética

adversativa. b) duas orações coordenadas assindéticas. c) oração coordenada assindética e oração coordenada sindética aditiva. d) oração coordenada assindética e oração coordenada sindética conclusiva. e) oração coordenada assindética e oração coordenada sindética alternativa. 2- A oração grifada em “importe-se com a sua vida e deixe a dos outros” (p.5) classifica-se como: a) oração coordenada sindética adversativa. b) oração coordenada assindética. c) oração coordenada sindética conclusiva. d) oração coordenada sindética aditiva. e) oração dependente semanticamente.

Fenômenos Sintáticos

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3- O período “chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser” (p.16) é constituído respectivamente de: a) seis orações independentes sintática e semanticamente. b) seis orações dependentes sintática e semanticamente. c) seis orações independentes sintaticamente, mas dependentes

semanticamente. d) cinco orações independentes sintática e semanticamente e uma oração

independente sintaticamente, mas dependente semanticamente. e) três orações independentes e três dependentes sintaticamente. 4- O período “a linha não respondia; ia andando” (p.18) é constituído respectivamente de: a) oração coordenada assindética e oração coordenada sindética aditiva. b) oração coordenada assindética e oração coordenada sindética

adversativa. c) oração coordenada assindética e oração coordenada assindética. d) oração coordenada sindética conclusiva e oração coordenada assindética. e) oração dependente sintaticamente e oração dependente

semanticamente. 5- A oração grifada em “veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se” (p.19) vem a ser: a) independente sintaticamente. b) dependente sintaticamente. c) dependente semanticamente. d) caracterizada pelo assindetismo. e) justaposta. 6- A oração grifada em “vamos, diga lá” (p.20) é classificada como: a) oração coordenada sindética conclusiva. b) oração coordenada sindética explicativa. c) oração coordenada assindética. d) oração coordenada sindética aditiva. e) oração coordenada sindética adversativa.

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7- O período “anda, aprende, tola” (p.22) é constituído de: a) três orações dependentes sintática e semanticamente. b) três orações independentes sintaticamente e três orações dependentes

semanticamente. c) duas orações independentes sintaticamente e uma oração dependente

semanticamente. d) duas orações dependentes sintaticamente e uma oração dependente

semanticamente. e) três orações independentes sintática e semanticamente. 8- Semanticamente, a oração grifada em “a senhora não é alfinete, é agulha” (p.5) vem a ser: a) independente sintaticamente, mas dependente semanticamente. b) dependente sintática e semanticamente. a) independente sintática e semanticamente. d) porque expressa o sentido de conclusão. e) porque expressa o sentido de alternância. 9- Por que algumas conjunções coordenativas alternativas formam pares correlativos?

10- As orações coordenadas sindéticas explicativas são dependentes semanticamente? Por quê?

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Período Composto por Subordinação: Oração Subordinada Adjetiva

Definição

O pronome relativo e a oração subordinada adjetiva

Oração subordinada adjetiva explicativa

Oração subordinada adjetiva restritiva

Função sintática do pronome relativo

Oração subordinada adjetiva reduzida

Oração subordinada adjetiva reduzida de infinitivo

Oração subordinada adjetiva reduzida de gerúndio

Oração subordinada adjetiva reduzida de particípio

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Fenômenos Sintáticos

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Caro aluno, a p artir desta unidade você estudará o período composto por

subordinação. Começaremos pelas orações subordinadas adjetivas, que você

naturalmente estudou no Ensino Fundamental e Médio. Se você está preocupado

por ter esquecido esse assunto, não se atormente. Você perceberá que o conteúdo dessa unidade é de fácil entendimento.

Bom estudo!

Objetivos da Unidade:

• Definir oração subordinada adjetiva.

• Identificar o pronome relativo.

• Distinguir as diferenças entre a oração subordinada adjetiva restritiva e a explicativa.

• Enumerar as funções do pronome relativo.

• Identificar as orações subordinadas adjetivas reduzidas.

Plano da Unidade:

Definição

O pronome relativo e a oração subordinada adjetiva

Oração subordinada adjetiva explicativa

Oração subordinada adjetiva restritiva

Função sintática do pronome relativo

Oração subordinada adjetiva reduzida

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Oração subordinada adjetiva reduzida de infinitivo

Oração subordinada adjetiva reduzida de gerúndio

Oração subordinada adjetiva reduzida de particípio

Bons Estudos!

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Definição

Você já aprendeu, na unidade anterior, que no período composto por subordinação há dependência semântica e sintática; semântica porque o sentido de uma oração decorre do de outra; sintática porque uma oração exerce, na outra, uma função. Você também já estudou até aqui todas as funções sintáticas, só que no período simples, ou seja, a função de um único termo de uma oração. A partir desta unidade, você observará todas aquelas funções em forma de oração. Lembra-se delas? Vamos recordar: Sujeito, predicativo, objeto direto, objeto indireto, complemento relativo (Rocha Lima), complemento nominal, adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto e agente da passiva. Assim, no período composto por subordinação, uma oração – a subordinada – exerce função sintática em outra, denominada oração principal. Comecemos pelo adjunto adnominal – função exercida pela oração subordinada adjetiva. Oração subordinada adjetiva é aquela que vem introduzida ou não por um pronome relativo e exerce a função de adjunto adnominal do termo antecedente – substantivo ou palavra substantivada, pronome, advérbio – pertencente à outra oração, ou seja, à principal.

Passamos a ter então um período composto de duas orações: . Primeira oração – “o rapaz progride” – oração principal. . Segunda oração – “que trabalha” – oração subordinada adjetiva. A quantidade de orações depende da quantidade de verbos. No exemplo apresentado: dois verbos duas orações. A primeira oração é chamada de oração principal, porque é nela que a outra oração exerce função sintática.

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E qual é a função sintática? Adjunto adnominal, por ser um desdobramento do adjetivo que ocorre no período simples. Quando não vem introduzida por um pronome relativo, o verbo ocorre numa forma nominal – infinitivo, gerúndio ou particípio. É chamada então de oração subordinada adjetiva reduzida de infinitivo, de gerúndio ou de particípio, conforme você aprenderá no final desta unidade. Estudemos agora as chamadas orações desenvolvidas, construídas com pronome relativo e, consequentemente, com verbo conjugado normalmente.

O Pronome Relativo e a Oração Subordinada Adjetiva

Como o próprio nome indica, o pronome relativo é aquele que se relaciona a um termo anterior, ou seja, a seu antecedente. Substitui na oração a que pertence esse termo que pode ser um substantivo ou palavra substantivada, um pronome e um advérbio. Como você já estudou em Morfologia, os pronomes relativos são:

Variáveis Invariáveis

Masculino Feminino que

o qual os quais a qual as quais quem cujo cujos cuja cujas onde

quanto quantos _____ quantas como

Vejamos o uso de cada um numa oração! Iniciemos pelos invariáveis. . QUE

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Observe: Imagine a seguinte cena: em uma alameda, duas meninas andando. Cigarras voam ao redor. (Uma menina se dirige à outra). – Você que estava triste alegrou-se com as cigarras. (A outra responde). – As cigarras que trouxeram a música para a bela alameda são muitas. As duas falas constituem dois períodos formados de duas orações, pois cada um tem dois verbos. Lembre-se: dois verbos duas orações. Enquanto no primeiro período o pronome que liga-se a você (pronome de tratamento), no segundo, relaciona-se a cigarras (substantivo). Veja a análise dos dois períodos. Primeiro período: . Primeira oração – “você alegrou-se com as cigarras” – oração principal. . Segunda oração – “que estava triste” – oração subordinada adjetiva. Segundo período: . Primeira oração – “as cigarras são muitas” – oração principal. . Segunda oração – “que trouxeram a música para a bela alameda” – oração subordinada adjetiva. Também podemos ter a seguinte construção: – É esta a alameda a que todos se referem com admiração. Repare em que neste período o pronome que ocorre precedido da preposição a. Isso ocorre por causa da regência do verbo referir-se: referir-se a algo. OUTROS EXEMPLOS PRIMEIRO: (gostar de) – O livro de que gosto é este.

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. primeira oração – “o livro é este” – oração principal. . segunda oração – “de que gosto” – oração subordinada adjetiva. SEGUNDO: (sair com) – A bolsa com que sempre saio sumiu.

. Primeira oração – “a bolsa sumiu” – oração principal. . Segunda oração – “com que sempre saio” – oração subordinada adjetiva. TERCEIRO: (passar por) – Não conhecíamos a estrada por que passamos. . Primeira oração – “Não conhecíamos a estrada” – oração principal. . Segunda oração – “por que passamos” – oração subordinada adjetiva. QUARTO (estar em) – Na sala em que todos estavam havia apenas silêncio. . Primeira oração – “Na sala havia apenas silêncio.” – oração principal. . Segunda oração – “em que todos estavam” – oração subordinada adjetiva.

DICA

Sempre que o verbo da oração a que pertence o pronome relativo for construído com preposição, esta será empregada antepostamente ao pronome relativo. Atenção! O pronome que NÃO ocorre com preposição em referência a pessoas. Nesse caso, emprega-se quem, que você estudará em seguida. Até aqui vimos apenas um período constituído de duas orações: uma oração principal e uma oração subordinada. Pode haver também mais de duas orações. A oração subordinada pode ser ainda principal de outra.

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Se construirmos o seguinte período, –Você que estava triste alegrou-se com as cigarras que trouxeram a música para a bela alameda a que todos se referem com admiração.

Teremos a seguinte a análise: . Você alegrou-se com as cigarras – oração principal de duas orações subordinadas adjetivas: que estava triste / que trouxeram a música para a bela alameda . que trouxeram a música para a bela alameda – oração principal da posterior também subordinada adjetiva: a que todos se referem com admiração.

IMPORTANTE

Os pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo, o, a podem ser os antecedentes do pronome relativo que: Veja: - Desconheço o que acontece. (o = aquilo) - Vi a que você guardou. (a = aquela) - Trouxe aquele que você admira. - Vejo aquela que você conhece. - Repetiu aquilo que já falou. Vejamos agora o pronome quem.

. QUEM Observe: Imagine a seguinte cena: Uma menina olha o retrato de um poeta numa livraria e fala com quem está com ela.

– É o poeta a quem me dirigi ontem. Temos um período formado de duas orações: . Primeira oração – “É o poeta” – oração principal. . Segunda oração – “a quem me dirigi ontem” – oração subordinada adjetiva. O termo antecedente de quem é o substantivo poeta.

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O pronome ocorre precedido da preposição a, por causa da regência do verbo dirigir-se a. DICA

Em referência a pessoas emprega-se o pronome quem. Estudemos agora o emprego de onde.

. ONDE Observe:

– É a cidade onde nasci. (O senhor fala com o neto.) Temos um período formado de duas orações: . Primeira oração – “É a cidade” – oração principal. . Segunda oração – “onde nasci ” – oração subordinada adjetiva. O termo antecedente de onde é o substantivo cidade, que indica lugar. Vejamos agora o uso de como.

. COMO Observe: – É bem diferente a maneira como as pessoas vivem. (Alguém, um pouco distante, fala com o amigo.) Temos um período formado de duas orações: . Primeira oração – “É bem diferente a maneira” – oração principal. . Segunda oração – “como as pessoas vivem” – oração subordinada adjetiva. Também podemos dizer: A maneira como as pessoas vivem é bem diferente. O termo antecedente de como é o substantivo maneira.

Fenômenos Sintáticos

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Assim, temos: . Primeira oração – “A maneira é bem diferente” – oração principal. . Segunda oração – “como as pessoas vivem ” – oração subordinada adjetiva. Observação

Alguns gramáticos incluem quando entre os pronomes relativos caso possa ser substituído por em que, significando tempo. – O momento quando todos se reúnem é tranquilo. Temos um período formado de duas orações: . Primeira oração – “O momento é tranquilo” – oração principal. . Segunda oração – “quando todos se reúnem” – oração subordinada adjetiva. O termo antecedente de quando é o substantivo momento, que indica tempo. O termo antecedente de quando – pronome relativo – pode ser ainda hora,dia.

Estudemos agora os pronomes variáveis. . O QUAL, A QUAL, OS QUAIS, AS QUAIS. Veja: – A situação sobre a qual conversamos não está nada boa. – O diretor perante o qual assumimos o compromisso nada diz. – Traga as pautas das reuniões durante as quais tomamos algumas decisões. (Um fala com o outro no meio da conversa.)

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DICA Esses pronomes são empregados com preposição não-monossilábica. Concordam com o antecedente em gênero e em número. Referem-se a coisas ou a pessoas. Veja a análise dos três períodos. Primeiro período - termo antecedente de a qual - situação . Primeira oração – “a situação não está boa” – oração principal. . Segunda oração – “sobre a qual conversamos” – oração subordinada adjetiva. Segundo período - termo antecedente de o qual - diretor . Primeira oração – “o diretor nada diz” – oração principal. . Segunda oração – “perante o qual assumimos o compromisso” – oração subordinada adjetiva. Terceiro período - termo antecedente de as quais - reuniões . Primeira oração – “Traga as pautas das reuniões” – oração principal. . Segunda oração – “durante as quais tomamos algumas decisões” – oração subordinada adjetiva. Vejamos agora o emprego de cujo, cuja, cujos, cujas. . CUJO, CUJA, CUJOS, CUJAS. Veja: – O poeta cujos livros estão à venda aqui é jovem. (Um fala com o outro). – Seus poemas sobre cuja temática discutem nas salas de aula são admiráveis. (Um outro responde). – Este rapaz perante cujos críticos reage equilibradamente tem boa formação acadêmica. (O outro fala).

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DICA

Esses pronomes são empregados sem ou com preposição: monossilábica ou não. Estabelecem relação de posse. Referem-se ao antecedente que pode ser coisa ou pessoa, mas concordam em gênero e em número com o posterior. Veja a análise dos três períodos. Primeiro período - termo antecedente de cujos - poeta - termo posterior com o qual concorda – livros . Primeira oração – “o poeta é jovem” – oração principal. . Segunda oração – “cujos livros estão à venda aqui” – oração subordinada adjetiva. Repare na relação de posse- livros do poeta. Segundo período - termo antecedente de cuja- poemas - termo posterior com o qual concorda - temática . Primeira oração – “seus poemas são admiráveis.” – oração principal. . Segunda oração – “sobre cuja temática discutem nas salas de aula” – oração subordinada adjetiva. Repare na relação de posse- temática de seus poemas. Terceiro período - termo antecedente de cujos- rapaz - termo posterior com o qual concorda – críticos . Primeira oração – “este rapaz tem boa formação acadêmica.” – oração principal. . Segunda oração – “perante cujos críticos reage equilibradamente” – oração subordinada adjetiva. Repare na relação de posse- críticos deste rapaz. Vejamos agora o emprego de quanto, quanta, quantos, quantas.

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. QUANTO, QUANTOS, QUANTAS. Observe: Considere a imagem de um homem abraçado a um menino, falando com ele. Veja: – Farei tudo quanto for possível por você. – Agradecerei a todos quantos me ajudarem. O menino responde olhando os outros. – Agradecerei também a todas quantas me prestarem auxílio. O menino continua a falar. DICA Esses relativos têm por termo antecedente os pronomes indefinidos tudo, todos, todas. Concordam com os indefinidos em gênero e em número. Veja a análise dos três períodos. Primeiro período - termo antecedente de quanto - tudo

. Primeira oração – “farei tudo por você” – oração principal.

. Segunda oração – “quanto for possível” – oração subordinada adjetiva.

Segundo período - termo antecedente de quantos - todos . Primeira oração – “agradecerei a todos” – oração principal. . Segunda oração – “quantos me ajudarem” – oração subordinada adjetiva.

Terceiro período - termo antecedente de quantas - todas . Primeira oração – “agradecerei também a todas” – oração principal. . Segunda oração – “quantas me prestarem auxílio” – oração subordinada adjetiva.

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Oração Subordinada Adjetiva Explicativa

Pense na seguinte situação: Uma mulher tem um filho apenas que está na Europa estudando. Encontra-se com uma amiga e deseja transmitir-lhe essa informação. Então diz: – Meu filho, que é lindo, está na Europa. Repare em que a oração “que é lindo” torna-se acessória, porque se trata de um filho apenas. Esse filho é referência máxima, porque só ele existe. Temos então uma oração subordinada adjetiva explicativa. Nesse caso, vem entre vírgulas, porque se trata de mera explicação.

DICA

Quando o relativo tem por termo antecedente um nome próprio, a oração

desse pronome, em geral, é subordinada adjetiva explicativa, porque o nome

próprio já é referência máxima, a menos que se trate de pessoa e exista mais de uma com o mesmo nome.

Oração Subordinada Adjetiva Restritiva

Como o próprio nome indica, restringe o significado do termo antecedente, que se faz abrangente. Nesse caso, ocorre sem vírgulas.

Pense na seguinte situação:

Uma professora tem em sua turma vinte alunas. Apenas uma é estudiosa e tem oito anos. Ela se encontra com uma amiga e diz: – Minha aluna que é estudiosa tem oito anos.

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Nesse caso, vem sem vírgulas, porque se trata de restrição. A professora

não se refere a qualquer aluna e sim àquela que é estudiosa.

Função Sintática do Pronome Relativo

O pronome relativo, por ser pronome, exerce na oração de que faz parte uma função sintática. Vejamos: a) O pronome cujo exerce sempre a função de adjunto adnominal. b) O pronome onde exerce sempre a função de adjunto adverbial de lugar. c) O pronome como exerce sempre a função de adjunto adverbial de modo. d) O pronome quando exerce sempre a função de adjunto adverbial de tempo. e) O pronome que pode exercer todas as funções sintáticas e quem, apenas algumas. Observe as funções sintáticas exercidas pelo pronome relativo que.

• SUJEITO – O rapaz que saiu é meu amigo. Que sujeito de saiu.

• OBJETO DIRETO – O rapaz que vejo é meu amigo. Que objeto direto de vejo.

• OBJETO INDIRETO – O livro de que gosto é este. Que objeto indireto de gosto, de acordo com a tradição gramatical. Para Rocha Lima vem a ser complemento relativo.

• PREDICATIVO – Ela espalha a paz que é. Que predicativo do sujeito ela.

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• COMPLEMENTO NOMINAL – A criança lhe dava a tranquilidade de que tinha necessidade naquele momento. Que complemento nominal de necessidade.

• ADJUNTO ADVERBIAL – Traz-me recordações a rua em que passo. Que adjunto adverbial de lugar passar em algum lugar.

• AGENTE DA PASSIVA – Aquele é o cavalo por que fui atacado. Que agente da passiva ser atacado por. Por que pelo qual

Observe a seguir as funções sintáticas exercidas pelo pronome relativo quem.

• OBJETO INDIRETO – Lá vai o menino a quem dei a bicicleta. Quem objeto indireto de dei.

• COMPLEMENTO RELATIVO – É o menino a quem você se referiu. Quem complemento relativo de referiu-se. Muito bem! Até aqui você estudou apenas as orações subordinadas adjetivas desenvolvidas. Você agora estudará as reduzidas, ou seja, aquelas construídas sem pronome relativo e com verbo em sua forma nominal – infinitivo, gerúndio ou particípio. Vamos lá?!

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Oração Subordinada Adjetiva Reduzida

Como já foi comentado anteriormente, a oração subordinada adjetiva

reduzida vem sem pronome relativo e com verbo no infinitivo, no gerúndio ou no particípio.

Comecemos pela oração subordinada adjetiva reduzida de infinitivo.

Oração Subordinada Adjetiva Reduzida de Infinitivo

Observe: – Este animalzinho a beijar as flores enfeita esta paisagem. O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “este animalzinho enfeita esta paisagem” – oração principal. . Segunda oração – “a beijar as flores” – oração subordinada adjetiva reduzida de infinitivo. Nós podemos transformar a oração reduzida em desenvolvida, ficando assim:

Este animalzinho que beija as flores...

Oração Subordinada Adjetiva Reduzida de Gerúndio

Observe: – Vejo as crianças correndo com os cachorrinhos. O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “vejo as crianças” – oração principal. . Segunda oração – “correndo com os cachorrinhos” – oração subordinada adjetiva reduzida de gerúndio. Nós podemos transformar a oração reduzida em desenvolvida: (...) que correm com os cachorrinhos.

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Oração Subordinada Adjetiva Reduzida de Particípio

Observe: – A professora, enviada para a fazenda, admirou o cenário. O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “A professora admirou o cenário” – oração principal. . Segunda oração – “enviada para a fazenda” – oração subordinada adjetiva reduzida de particípio. Nós podemos transformar a oração reduzida em desenvolvida: (...) que foi enviada para a fazenda. Observação Professor Adriano da Gama Kury não aceita a existência da oração subordinada adjetiva reduzida de particípio por entender que:

“A presença de oração, nesses casos, é inadmissível: o

particípio aí, pelo seu valor de adjetivo, deve analisar-se como

simples adjunto adnominal, uma vez que não tem sujeito

próprio. Mesmo quando é mais acentuado o valor

verbal do particípio, persiste a falta de sujeito próprio, o que

aconselha a sua análise como adjunto.” (2006:81)

Opostamente aos ilustres gramáticos Bechara, Luft e Cunha, o autor

argumenta ainda que reconhecer uma elipse, como no exemplo citado “que foi enviada para a fazenda” (na oração reduzida haveria elipse de que foi), é algo forçoso, porque, nesse caso, “já não seria oração reduzida, uma vez que, desfeita a suposta elipse, aparece um relativo e um verbo de ligação em forma finita”. (2006:82)

Causa-nos estranheza, no entanto, o mestre falar “verbo de ligação”, porque, na realidade, o verbo ser, nesse caso, é mero auxiliar, já que se trata da voz passiva “foi enviada”.

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Leitura complementar

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de janeiro, Zahar, 2007.

É hora de se avaliar!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo

a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-

aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Na próxima unidade estudaremos todas as orações subordinadas

substantivas, os pronomes indefinidos e advérbios com valor de conectivos, as

orações subordinadas substantivas reduzidas e os verbos causativos e sensitivos. Preparados? Vamos lá!

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Exercícios-Unidade 6

Leia o conto de Machado de Assis e responda às questões que se seguem. A Cartomante

1. Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.

2. — Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...

3. — Errou! Interrompeu Camilo, rindo. 4. — Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por

sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria... 5. Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe

queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...

6. — Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa. 7. — Onde é a casa? 8. — Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa

ocasião. Descansa; eu não sou maluca. 9. Camilo riu outra vez: 10. — Tu crês deveras nessas coisas? Perguntou-lhe. 11. Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe

que havia muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita.

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12. Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões.

Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.

13. Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.

14. Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.

15. — É o senhor? Exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.

16. Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.

17. Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.

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18. Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que

gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as coisas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam.

19. Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.

20. Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.

21. Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.

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22. Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter

com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.

23. — Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...

24. Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.

25. No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora”. Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas coisas com a notícia da véspera.

26. — Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.

27. Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a ideia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto (...)

http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp 1- O pronome relativo destacado em “era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras” (p.1) exerce a função sintática de: a) sujeito. b) complemento nominal. c) objeto direto. d) objeto indireto. e) adjunto adnominal.

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2- Os pronomes relativos destacados em “também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram” (p.12) exercem respectivamente a função sintática de: a) objeto direto e sujeito. b) sujeito e objeto direto. c) sujeito e adjunto adverbial. d) predicativo do sujeito e sujeito. e) adjunto adnominal e adjunto adverbial. 3- O pronome relativo destacado em “no dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total” (p.12) exerce a função sintática de: a) adjunto adnominal. b) objeto indireto. c) complemento nominal. d) aposto. e) adjunto adverbial. 4- Exerce a função sintática de sujeito o pronome relativo destacado em: a) “Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz”. (p.20) b) “Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma

intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato”. (p.20)

c) “temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio”. (p.22)

d) “Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos”. (p.20)

e) “A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular”. (p.24)

5- É classificada como oração subordinada adjetiva explicativa a grifada em: a) “Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante

adivinhara tudo”. (p.11) b) “De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita,

que lhe explicasse tudo”. (p.27) c) “Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a

estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado”. (p.13)

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d) “Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais

verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo”. (p.27)

e) “Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa?” (p.25)

6- É classificada como oração subordinada adjetiva restritiva a grifada em: a) “Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela.” (p.13) b) “Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as

cartas do marido.” (p.16) c) “Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam.” (p.18) d) “Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em

todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo.” (p.5)

e) “A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular”. (p.24)

7- Ocorre pronome relativo na oração grifada em: a) “No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma

dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado.” (p.14)

b) "Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca”. (p.18) c) “Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz”.

(p.20) d) “Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor”.

(p.15) e) “Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que

sonha a nossa filosofia.” (p.1) 8- O termo grifado em “vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez” (p.21) vem a ser: a) artigo indefinido. b) pronome pessoal oblíquo. c) pronome demonstrativo. d) artigo definido. e) pronome pessoal reto.

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9- Escreva a função sintática do pronome relativo destacado em “o livro cujo autor admiro foi comprado ontem.” Justifique.

10- Diga a função sintática do pronome relativo destacado em “a maneira como tudo aconteceu causou estranheza a todos.” Justifique.

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Período Composto por Subordinação: Orações Subordinadas Substantivas

Definição

Oração subordinada substantiva e conjunção integrante

Oração subordinada substantiva subjetiva

Oração subordinada substantiva objetiva direta

Oração subordinada substantiva objetiva indireta

Oração subordinada substantiva predicativa

Oração subordinada substantiva completiva nominal

Oração subordinada substantiva apositiva

O não-reconhecimento pela NGB do agente da passiva oracional

Pronomes indefinidos e advérbios com valor de conectivos: o posicionamento dos gramáticos

Orações subordinadas substantivas reduzidas

Verbos causativos e sensitivos.

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Fenômenos Sintáticos

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Caro aluno, nesta unidade você estudará as orações subordinadas

substantivas. Você perceberá que elas equivalem àquelas funções sintáticas

estudadas no período simples. São, no entanto, as exercidas por um substantivo. Preste atenção e bom estudo!

OBJETIVOS:

• Definir oração subordinada substantiva.

• Identificar a conjunção integrante.

• Classificar as orações subordinadas substantivas.

• Distinguir as orações subordinadas substantivas reduzidas.

PLANO DA UNIDADE

Definição

Oração subordinada substantiva e conjunção integrante

Oração subordinada substantiva subjetiva

Oração subordinada substantiva objetiva direta

Oração subordinada substantiva objetiva indireta

Oração subordinada substantiva predicativa

Oração subordinada substantiva completiva nominal

Oração subordinada substantiva apositiva

O não-reconhecimento pela NGB do agente da passiva oracional

Pronomes indefinidos e advérbios com valor de conectivos: o posicionamento dos gramáticos

Orações subordinadas substantivas reduzidas

Verbos causativos e sensitivos.

Bons Estudos

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Definição

Você já aprendeu nas unidades precedentes que no período composto

por subordinação há dependência semântica e sintática. Você estudou essa relação

de dependência entre a oração principal e a oração subordinada adjetiva, agora você estudará entre a oração principal e a oração subordinada substantiva.

Mas o que é oração subordinada substantiva? É aquela que exerce as funções próprias de um substantivo no período simples. Veja a seguir.

Oração Subordinada Substantiva e Conjunção Integrante

Devemos relembrar novamente as funções sintáticas visto que, nesta unidade, você estudará, em forma de oração, essas funções. São elas: Sujeito, predicativo, objeto direto, objeto indireto, complemento relativo (Rocha Lima), adjunto adnominal, complemento nominal, aposto e agente da passiva. As orações desenvolvidas, que exercem uma dessas funções, iniciam-se com um elemento denominado conjunção integrante: que ou se. Observe: – Não sei se iremos à praia amanhã. – Desejo que o sol apareça bem forte! A primeira fala constitui-se de duas orações: a) uma principal – “não sei” – b) uma subordinada – “se iremos à praia amanhã”.

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Essa oração subordinada é introduzida pelo se, que vem a ser uma conjunção integrante. O seu emprego deve-se à dúvida existente. Repare em que a oração subordinada complementa o sentido do verbo “sei” da oração principal:

Não sei o quê?

“Se iremos à praia amanhã”. Lembre-se de que complemento verbal sem preposição é objeto direto. Assim, classificamos a oração como oração subordinada substantiva objetiva direta. A segunda fala constitui-se também de duas orações: a) uma principal – “desejo” b) uma subordinada – “que o sol apareça bem forte”. Essa oração subordinada é introduzida pelo que, que vem a ser uma conjunção integrante. O seu emprego deve-se à certeza existente. Repare em que a oração subordinada complementa o sentido do verbo “desejo” da oração principal:

Desejo o quê?

“Que o sol apareça bem forte!” Assim, classificamos a oração como oração subordinada substantiva objetiva direta. O verbo da oração subordinada também pode ocorrer numa forma nominal – infinitivo, gerúndio ou particípio – sem conjunção integrante. É chamada então de oração subordinada substantiva reduzida de infinitivo, de gerúndio ou de particípio, conforme você aprenderá no final desta unidade. Estudemos agora as chamadas orações desenvolvidas, construídas com conjunção integrante e, consequentemente, com verbo conjugado normalmente.

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Oração Subordinada Substantiva Subjetiva

Como o próprio nome indica, a oração subordinada substantiva subjetiva é o sujeito da oração principal. Há três contextos distintos em que ocorre esse tipo de oração subordinada. PRIMEIRO CONTEXTO Observe: – Convém que você estude! Veja a análise do período: . Primeira oração – “convém” – oração principal. .Segunda oração – “que você estude” – oração subordinada substantiva subjetiva. OBSERVAÇÃO: Na análise de qualquer período, devemos primeiramente separar as orações. Isso acontece quando depreendemos os verbos. Em seguida, identificamos o sujeito. Caso não esteja na oração principal, estará na oração subordinada. Em relação ao período que está sendo analisado podemos pensar no seguinte: Algo convém. Que algo é esse? Que você estude. Assim, encontro o sujeito da oração principal. Temos aqui um caso de oração subordinada substantiva porque o verbo da oração principal – convém – é unipessoal, ou seja, pelo sentido que expressa só admite um sujeito da terceira pessoa do singular ou do plural. Na oração principal, ocorre sempre na terceira pessoa do singular. É verbo que indica necessidade, conveniência, sensação: convir, cumprir, importar, urgir, admirar, espantar, parecer, etc.

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Temos ainda ocorrer, acontecer, suceder, constar, etc. Veja outros exemplos:

– Cumpre neste momento que acabemos com isso Algo cumpre neste momento. Que algo é esse? [Que acabemos com isso!]

– Espanta-me que reajam assim. Algo me espanta. Que algo é esse? [Que reajam assim.]

– Parece que não são amigos. Algo parece. Que algo é esse? [que não são amigos.]

– Consta que nunca brigaram. Algo consta. Que algo é esse? [que nunca brigaram.] Verbos ainda que merecem destaque são lembrar e recordar no sentido de vir à memória, sentido esse pouco usado atualmente. Nesse caso, são unipessoais e ocorrem na terceira pessoa. Podem pertencer à oração principal num período composto por subordinação em que a oração subordinada é substantiva subjetiva. Veja:

– Lembra-me que havia grandes árvores aqui O raciocínio é o mesmo. Algo me lembra. Que algo é esse? [que havia grandes árvores aqui.] Equivale a “vem-me à memória [que havia grandes árvores aqui]”. Algo me vem à memória.

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Que algo é esse? [que havia grandes árvores aqui.] Podemos substituir o verbo lembrar por recordar, como podemos observar em “– Recorda-me [que havia grandes árvores aqui]”. SEGUNDO CONTEXTO Observe: – É necessário que você estude! Veja a análise do período. . Primeira oração – “é necessário” – oração principal. . Segunda oração – “que você estude” – oração subordinada substantiva subjetiva.

Podemos seguir a mesma linha de raciocínio. Algo é necessário. Que algo é esse? Que você estude. Assim, encontro o sujeito da oração principal. Temos aqui um caso de oração subordinada substantiva subjetiva porque o verbo da oração principal é de ligação, seguido de predicativo do sujeito, sujeito esse que se encontra em outra oração, conforme verificamos em: era necessário, é bom, foi conveniente, é claro, parece difícil, torna-se evidente, etc. É preciso deixar claro que o tempo do verbo da oração principal não importa. TERCEIRO CONTEXTO Observe: – Comenta-se que o estudo é importante. Veja a análise do período: . Primeira oração – “Comenta-se” – oração principal. .Segunda oração – “que o estudo é importante” – oração subordinada substantiva subjetiva.

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Também seguimos a mesma linha de raciocínio: Algo se comenta. Que algo é esse? Que o estudo é importante. Assim, encontro o sujeito da oração principal. Temos aqui um caso de oração subordinada substantiva porque o verbo da oração principal está na voz passiva, como constatamos em: comenta-se, comentou-se, sabe-se, provou-se, diz-se, dir-se-ia; foi comentado, é sabido, ficou provado; estava combinado. Você acabou de verificar então que existem três situações em que ocorre a oração subordinada substantiva subjetiva ou sujeito oracional, como também pode ser denominado esse tipo de oração. Veja a seguir a oração subordinada substantiva objetiva direta.

Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta

Como o próprio nome indica, a oração subordinada substantiva objetiva direta é o objeto direto da oração principal. Assim, o verbo da oração principal é transitivo direto. – Verifiquei que a porteira estava fechada. Veja a análise do período: . Primeira oração – “Verifiquei” – oração principal. . Segunda oração – “que a porteira estava fechada” – oração subordinada substantiva objetiva direta. Podemos substituir a conjunção integrante que pela conjunção integrante se, se houver sentido de dúvida, conforme foi visto no início da unidade: – Desconheço se a porteira estava fechada. O verbo da oração principal também pode ser bitransitivo.

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Observe: – Mostrarei a ela que há girassóis aqui. Veja a análise do período: . Primeira oração – “mostrarei a ela” – oração principal. . Segunda oração – “que há girassóis aqui” – oração subordinada substantiva objetiva direta. Na oração principal, encontra-se o objeto indireto – a ela. O verbo mostrar tem a seguinte regência: mostrar algo a alguém. Veja outro exemplo com verbo bitransitivo. – Falarei com os meninos que esta casa tem um belo campo de futebol. Veja a análise do período: . Primeira oração – “falarei com os meninos” – oração principal. . Segunda oração – “que esta casa tem um belo campo de futebol” – oração subordinada substantiva objetiva direta. Na oração principal, encontra-se o objeto indireto ou complemento relativo, segundo Rocha Lima – com os meninos. O verbo falar tem dentre outras regências a seguinte: falar algo com alguém. Você acabou de verificar a existência da oração subordinada substantiva objetiva direta ou objeto direto oracional, como também pode ser denominado esse tipo de oração. Veja a seguir a oração subordinada substantiva objetiva indireta.

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Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta

Como o próprio nome indica, a oração subordinada substantiva objetiva indireta é o objeto indireto da oração principal. Assim, o verbo da oração principal é transitivo indireto – aquele que, tradicionalmente, se constrói com qualquer preposição. Imagine a seguinte cena: Uma festa de aniversário, pessoas indo embora, despedindo-se do dono e este insistindo que fiquem. – Insisto em que todos fiquem. Veja a análise do período: . Primeira oração – “insisto” – oração principal. (insistir em) . Segunda oração – “em que todos fiquem” – oração subordinada substantiva objetiva indireta. Seguem abaixo outros exemplos. Primeiro: – Gosto muito de que venham aqui. Veja a análise do período: . Primeira oração – “gosto muito” – oração principal. (gostar de) . Segunda oração – “de que venham aqui ” – oração subordinada substantiva objetiva indireta.

DICA:

Ao fazermos a pergunta “gosto muito de quê?”, obtemos a resposta “de que venham aqui”. A resposta é a oração subordinada.

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Segundo: – Não precisava naquela época de que o ajudassem. Veja a análise do período: . Primeira oração – “não precisava naquela época” – oração principal. (precisar de) . Segunda oração – “de que o ajudassem” – oração subordinada substantiva objetiva indireta.

DICA:

Ao fazermos a pergunta “não precisava naquela época de quê?”, obtemos a resposta “de que o ajudassem aqui.” A resposta é a oração subordinada. Você deve lembrar, caro aluno, que Rocha Lima considera esses verbos transitivos relativos, por que verbo transitivo indireto para ele é aquele que tem por complemento um termo que designa pessoa, seguido da preposição a ou para. Esse complemento pode ser substituído por lhe. Assim, não há, segundo o autor, oração subordinada substantiva objetiva indireta, já que não se poderia transformar aquele complemento em oração. Como ficaria o termo grifado em “o político agrada ao povo” em forma de oração introduzida pela conjunção integrante que? Existe sim, segundo Rocha Lima, oração subordinada substantiva completiva relativa (2005:264). O professor Bechara também aceita a sua existência (2006:340). Também pode ser chamada de complemento relativo oracional. É o caso dos exemplos apresentados. Veja agora a denominada oração subordinada substantiva predicativa.

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Oração Subordinada Substantiva Predicativa

Como o próprio nome indica, a oração subordinada substantiva predicativa é o predicativo do sujeito da oração principal. Por isso, é também denominado predicativo oracional.

Assim, a oração principal é constituída basicamente de sujeito e verbo de ligação. A oração subordinada então é o predicativo desse sujeito. Observe: Imagine uma festa de aniversário de criança, um mágico fazendo mágicas e as crianças bastante felizes. – A verdade é que todas as crianças gostam de mágicas. Veja a análise do período: . Primeira oração – “A verdade é” – oração principal. (sujeito = verdade / é = verbo de ligação) .Segunda oração – “que todas as crianças gostam de mágicas” – oração subordinada substantiva predicativa. É predicativo oracional do termo “verdade”, da oração principal. Assim como existe o predicativo oracional há o complemento nominal oracional. Veja a seguir. Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal

Como o próprio nome indica, a oração subordinada substantiva completiva nominal é o complemento nominal da oração principal.

Complementa o sentido de um nome pertencente à oração principal. Por isso, é também denominado complemento nominal oracional. Veja: – Tenho necessidade de que me ajudem!

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Veja a análise do período: . Primeira oração – “tenho necessidade” – oração principal. . Segunda oração – “de que me ajudem” – oração subordinada substantiva completiva nominal.

DICA:

Ao fazermos a pergunta “tenho necessidade de quê?”, obtemos a resposta “de que me ajudem”. A resposta é a oração subordinada substantiva completiva nominal.

Às vezes, o aluno fica em dúvida e pensa tratar-se de dois complementos verbais: um não-oracional – “necessidade” – e outro oracional – “de que me ajudem.”

Basta o seguinte recurso prático para dissipar essa dúvida: riscar o vocábulo necessidade.

Se a segunda oração não for complemento verbal, a frase ficará sem sentido. Observe: – Tenho necessidade de que me ajudem. E agora? Uma vez riscado o vocábulo “necessidade”, faz sentido a oração “tenho de que me ajudem”? Não, logo a oração “de que me ajudem” complementa o sentido do nome “necessidade” e não do verbo “tenho”. Seguem abaixo outros exemplos.

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Primeiro: – Possuo a esperança de que retornem. Veja a análise do período: . Primeira oração – “possuo a esperança” – oração principal. .Segunda oração – “de que retornem” – oração subordinada substantiva completiva nominal.

DICA:

Ao fazermos a pergunta “possuo a esperança de quê?”, obtemos a resposta “de que retornem.”A resposta é a oração subordinada substantiva completiva nominal. Utilizemos o recurso prático. Risquemos o vocábulo esperança: – Possuo a esperança de que retornem. E agora? Uma vez riscado o vocábulo “esperança”, faz sentido a oração “possuo de que retornem”? Não, logo a oração “de que retornem” complementa o sentido do nome “esperança” e não do verbo “possuo”. Segundo: – Havia desejo de que a paz vingasse. Veja a análise do período: . Primeira oração – “havia desejo” – oração principal. .Segunda oração – “de que a paz vingasse” – oração subordinada substantiva completiva nominal.

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DICA:

Ao fazermos a pergunta “havia desejo de quê?”, obtemos a resposta “de que a paz vingasse.”A resposta é a oração subordinada substantiva completiva nominal. Utilizemos o recurso prático. Risquemos o vocábulo desejo: – Havia desejo de que a paz vingasse. E agora? Uma vez riscado o vocábulo “desejo”, faz sentido a oração “havia de que a paz vingasse”? Não, logo a oração “de que a paz vingasse” complementa o sentido do nome “desejo” e não do verbo “havia”. Você acabou de ver uma oração que complementa o sentido de um nome presente na oração principal. Agora você verá uma oração – a oração subordinada substantiva apositiva – que explica um termo (nome ou pronome) presente na oração principal. Preste atenção! Vamos seguir? Oração Subordinada Substantiva Apositiva

Como o próprio nome indica, a oração subordinada substantiva apositiva é o aposto da oração principal.

Assim, a oração subordinada explica um termo (nome ou pronome) da oração principal. Observe: – Dei um conselho ao jovem: que presenteasse a namorada.

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. Primeira oração – “Dei um conselho ao jovem” – oração principal. . Segunda oração – “que presenteasse a namorada” – oração subordinada substantiva apositiva. É aposto oracional do termo “conselho”, da oração principal. Pode ainda ocorrer a vírgula no lugar dos dois pontos e a conjunção integrante que ser omitida, como verificamos em: Imagine esta situação: Crianças alegres entrando em um avião e os pais comentando: Destino = Disney World.

– Uma coisa é certa, estão felizes! Sem conjunção, a oração é tida por justaposta. A oração “estão felizes” é aposto oracional, ou seja, oração subordinada substantiva apositiva em relação à anterior. Veja outro exemplo: – Ele não entende isto: o mar é perigoso! A oração “o mar é perigoso” é aposto oracional, ou seja, oração subordinada substantiva apositiva em relação à anterior. Muito bem! Você acabou de estudar as orações subordinadas substantivas arroladas na Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB). Mas existe um tipo de oração – agente da passiva oracional – não consignado pela NGB, mas reconhecido por alguns gramáticos, como Luft (2006:83), Kury (2006:77), Cunha (2006:558) Veja a seguir!

O Não-Reconhecimento pela NGB do Agente da Passiva Oracional

Você estudou no início desse conteúdo, na unidade quatro, o agente da passiva. Lembra? – Este trabalho foi feito por um aluno estudioso!

Temos em “por um aluno estudioso” o agente da passiva, ou seja, aquele que exerce ou exerceu uma ação.

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Podemos transformar “por um aluno estudioso” em oração. Observe:

– Este trabalho foi feito por quem estuda muito!

Assim, passamos a ter o agente da passiva oracional – “por quem estuda muito” – da oração principal – “este trabalho foi feito”.

Essa oração, no entanto, não é introduzida pela conjunção integrante que e sim, segundo Celso Cunha (2006:558) e Gama Kury (2006:77), por um pronome indefinido – quem, quantos – precedido de uma das preposições por ou de. Por isso, é justaposta.

Para o professor Celso Pedro Luft (2006:83), contudo, não se trata de pronome indefinido, mas de relativo sem antecedente. Para o autor, as orações subordinadas substantivas com função de agente da passiva “derivam de orações adjetivas restritivas: por omissão do antecedente substantivo, elas se tornam substantivas”.

Então, no exemplo citado, teríamos, inicialmente, “este trabalho foi feito por um aluno que estuda muito”. Com a omissão do antecedente substantivo “aluno”, é empregado quem no lugar de que – “este trabalho foi feito por quem estuda muito!” Pode ser citado ainda como exemplo o seguinte período:

– O professor é querido de todos quantos estudam com ele. Podemos analisá-lo da seguinte maneira: . Primeira oração – “o professor é querido de todos” – oração principal. .Segunda oração – “quantos estudam com ele” – oração subordinada adjetiva. Se omitirmos o pronome antecedente “todos”, teremos o seguinte resultado:

– O professor é querido de quantos estudam com ele.

Assim, teremos, segundo o autor, um relativo sem antecedente “quantos” e, consequentemente, o agente da passiva oracional “de quantos estudam com ele”.

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IMPORTANTE:

Por ser pronome, seja indefinido, seja relativo sem antecedente, sempre exerce função sintática na oração subordinada. Nos exemplos apresentados, os pronomes exercem a função de sujeito.

Obs erv aç ão:

A NGB também não arrola o adjunto adnominal oracional. Gramáticos, porém, como Luft (2006:83) consideram a sua existência em períodos como:

– O fato de que não haja discussão já é um grande avanço. Assim, esse período poderia ser analisado do seguinte modo: . Primeira oração – “O fato já é um grande avanço” – oração principal. . Segunda oração – “de que não haja discussão” – oração subordinada substantiva adjuntiva adnominal. Tem a função de adjunto adnominal do substantivo “fato” pertencente à oração principal. É introduzida pela conjunção integrante que, precedida da preposição de. Poderíamos pensar em complemento nominal oracional. Mas essa hipótese pode ser descartada pelo fato de o substantivo a que esse complemento se relaciona ter natureza transitiva, o que não acontece com “fato”, no exemplo apresentado. Mas que significa ter natureza transitiva? Observe:

– Necessito de ajuda. [de ajuda complemento verbal – Tenho necessidade de ajuda. [de ajuda complemento nominal do substantivo

necessidade, derivado do verbo necessitar]

–Tenho necessidade de que me ajudem. [de que me ajudem complemento nominal oracional do substantivo “necessidade”]

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Ter natureza transitiva então significa que o substantivo deriva de um

verbo transitivo, como ocorre com o substantivo “necessidade” que advém do verbo necessitar de algo. Se o verbo tem um complemento (complemento verbal), o substantivo derivado, em regra, possui um complemento (complemento nominal).

É esse o argumento utilizado por Gama Kury (2006:77), ao reconhecer que a oração subordinada do tipo “de que não haja discussão” possui uma “identidade formal com as substantivas” e, pelo motivo apresentado, não seria um complemento nominal oracional, e sim um adjunto adnominal oracional.

Mas, apesar de reconhecer essa identidade formal, entende que a classificação deve ser funcional, arrolando a oração subordinada entre as adjetivas, opondo-se então a Celso Pedro Luft. Há orações também introduzidas pelo chamado relativo sem antecedente por Celso Pedro Luft (2006:83) e arroladas como subordinadas substantivas adjuntivas adnominais. Vejamos os exemplos abaixo. Primeiro:

– Coração de quem tem filho não se engana. Análise do período: . primeira oração – “coração não se engana” – oração principal. . segunda oração – “de quem tem filho” – oração subordinada substantiva adjuntiva adnominal ou adjunto adnominal oracional do substantivo “coração” da oração principal. Repare em que esse substantivo não possui natureza transitiva. Por ser pronome, quem exerce função sintática na oração subordinada. No exemplo citado, é sujeito. Segundo:

– Incomodava o rapaz os olhares de quantos o observavam. Análise do período: . Primeira oração – “Incomodava o rapaz os olhares” – oração principal. .Segunda oração–“de quantos o observavam” – oração subordinada substantiva adjuntiva adnominal ou adjunto adnominal oracional do substantivo “olhares” da oração principal. Esse substantivo também não possui natureza transitiva.

Fenômenos Sintáticos

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Por ser pronome, quantos exerce função sintática na oração subordinada.

No exemplo citado, é sujeito. Gama Kury, no entanto, pela razão já exposta, e Evanildo Bechara

consideram essas orações como subordinadas adjetivas justapostas. Para o primeiro são introduzidas por um pronome indefinido sem antecedente e para o segundo, por um relativo sem antecedente. Há ainda outro tipo de oração substantiva que pode ser introduzida por conjunção integrante ou pronome ou advérbio: a objetiva direta.

Veja a seguir.

Pronomes Indefinidos e Advérbios Com Valor de Conectivos: O Posicionamento dos Gramáticos

Às vezes, a oração subordinada substantiva objetiva direta pode iniciar-se com pronome indefinido, para usar a terminologia de Gama Kury, e advérbio interrogativo. Entende esse tipo de oração como assindética, não conjuncional, sem conectivo. Nesse caso, temos uma oração subordinada substantiva justaposta, já que não é introduzida por conjunção. E acrescenta:

“Há quem considere os pronomes e advérbios introdutores de oração substantiva investidos do papel de conectivo. Como quer que seja, o importante é que a conjunção integrante, conectivo puro, não tem outra função na oração subordinada, enquanto aqueles sempre têm.” (2006:72)

Assim, opõe-se claramente a Celso Pedro Luft (2006:80) quando este

afirma que o tipo de oração em questão é conjuncional e pronominal, pois “o pronome acumula função (sincretismo)”, já que também se investe do papel da conjunção integrante.

Como pronome, segundo o autor, exerce função sintática, e, como conjunção integrante, estabelece, de acordo com o entendimento tradicional, uma conexão entre as orações, como qualquer conectivo.

Fenômenos Sintáticos

205

Observe: Imagine a seguinte cena: um adolescente entrando em seu quarto e vendo tudo mexido, revirado.

– Perguntarei quem entrou aqui. – Desconheço por que mexeram nas suas coisas. (Suas irmãs entram e uma fala.) – Não sei como fizeram isso. (Outra acrescenta.) – Ignoro quando aconteceu. (Outra ainda fala.) – Não responderei onde estão seus pertences. (Entra um irmão menor e fala olhando para cima, como se tivesse colocado algumas coisas em cima do armário.) As orações: “quem entrou aqui”, “por que mexeram nas suas coisas” como fizeram isso quando aconteceu onde estão seus pertences

Complementam o sentido dos respectivos verbos da oração principal. Trata-se de um complemento sem preposição, por conseguinte um objeto direto oracional ou oração subordinada substantiva objetiva direta.

Temos então os pronomes “quem” em função de sujeito e “que”, precedido da preposição por, em função de adjunto adverbial de causa, nas orações a que pertencem.

Em seguida, ocorrem os advérbios interrogativos – “como”, “quando”, “onde” – em função de adjunto adverbial de modo, tempo, lugar, respectivamente, na oração da qual fazem parte.

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Nenhum gramático nega essas funções sintáticas. No entanto, de acordo

com os entendimentos já apresentados: a) não são conectivos (KURY: 2006, 72) b) são também conectivos. (LUFT: 2006,80)

Para finalizar o estudo desses pronomes e advérbios em orações subordinadas,

cabe chamar a atenção para algumas construções. Observe atentamente as que seguem.

PRIMEIRA CONSTRUÇÃO – Quem aceita desafios recebe o prêmio da vitória! Esse período constitui-se de duas orações: . Primeira oração – “quem aceita desafios”. . Segunda oração – “recebe o prêmio da vitória”. Há dois entendimentos em relação à análise desse período. Observe-os a seguir: Primeiro entendimento:

Gama Kury (2006:74), Bechara (2006:127) e Luft (2006:81) consideram “quem aceita desafios” como oração subordinada substantiva subjetiva e “recebe o prêmio da vitória” como oração principal. Temos assim um período composto por subordinação substantiva. Em relação ao quem, no entanto, há divergências.

Para o professor Gama Kury, trata-se de um pronome indefinido.

Para os professores Bechara e Luft é um relativo sem antecedente. Sendo que para o professor Luft, como já foi visto, trata-se também de um conectivo por introduzir uma oração subordinada substantiva. Haveria assim o sincretismo: acúmulo de função, ou seja, pronome e conjunção integrante.

Bem, sendo um pronome indefinido ou relativo sem antecedente a oração é justaposta.

Se, além de pronome, tem o papel da conjunção integrante, a oração é conectiva e não justaposta (LUFT: 2006:80).

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Cabe ainda lembrar que Celso Cunha (2005:350) denomina esse quem

relativo indefinido. Segundo entendimento:

Já Rocha Lima (2005:271) chama o quem, na situação apresentada, de relativo condensado, por entender que “condensa em si duas funções: uma de um termo da oração principal, e outra de um termo da oração adjetiva”. Nesse caso, o período dado como exemplo:

– Quem aceita desafios recebe o prêmio da vitória! É analisado da seguinte maneira:

Aquele [que aceita desafios] recebe o prêmio da vitória! . Oração principal- “aquele recebe o prêmio da vitória!” . Oração subordinada adjetiva- “que aceita desafios” O que se desdobra em aquele que. Assim, não há oração subordinada substantiva e sim oração subordinada adjetiva. Em relação a essa análise, cabe lembrar as palavras do mestre Gama Kury:

“É processo artificial e aleatório: as orações subordinadas devem classificar-se pela sua função no período. E sempre na frase dada, não noutra referida por quem analisa. Assim o praticavam mestres como Said Ali, Sousa da Silveira, Mattoso Câmara Jr., e assim o indicava o Anteprojeto da NGB. (2006:73)

Muito bem! Você acabou de constatar a existência de orações subordinadas substantivas desenvolvidas introduzidas por pronomes e advérbios. Agora estudará as orações subordinadas substantivas reduzidas. Como tais, também não são introduzidas por conjunção integrante.

Bom estudo!

Fenômenos Sintáticos

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Orações Subordinadas Substantivas Reduzidas

Como já foi comentado no início da segunda unidade, as orações subordinadas

reduzidas são aquelas que se constroem com verbo em uma forma nominal: infinitivo, gerúndio e particípio.

IMPORTANTE

Somente em reduzidas de infinitivo podem transformar-se as orações subordinadas substantivas. Comecemos pela oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo. Oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo – com verbo unipessoal na oração principal Observe: – Convém arrumar o quarto! (Fala a mãe com a filha.) Veja a análise do período: . Primeira oração – “convém” – oração principal. . Segunda oração – “arrumar o quarto” – oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo. A linha de raciocínio é a mesma utilizada anteriormente: Algo convém. Que algo é esse? Arrumar o quarto. Assim, encontro o sujeito da oração principal.

Fenômenos Sintáticos

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IMPORTANTE

Os verbos “convém arrumar” não formam locução verbal, porque os sujeitos são distintos. O sujeito de “convém” é toda a oração “arrumar o quarto”. Já o sujeito de “arrumar” é alguém, ou melhor, segundo o contexto, a filha. Sujeitos distintos orações distintas período composto – Com verbo de ligação mais adjetivo (predicativo do sujeito) Observe: – Foi conveniente comprar o sítio! (A mãe fala com o pai) Veja a análise do período: . Primeira oração – “foi conveniente” – oração principal. . Segunda oração – “comprar o sítio” – oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo. A linha de raciocínio é a mesma utilizada anteriormente: Algo foi conveniente. Que algo foi esse? Comprar o sítio. Assim, encontro o sujeito da oração principal. Oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo Observe:

– Ponderou não ser a ocasião propícia para a discussão do assunto proposto. (Uma pessoa fala com a outra.)

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O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “ponderou” – oração principal. . Segunda oração – “não ser a ocasião propícia para a discussão do assunto proposto” – oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo. Repare em que o verbo da oração principal é transitivo direto. Oração subordinada substantiva objetiva indireta reduzida de infinitivo Observe: – O professor duvidou de os alunos terminarem os trabalhos rapidamente.

(Um inspetor falando com outro perto da porta e vendo os alunos saírem.) O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “O professor duvidou” – oração principal. . Segunda oração – “de os alunos terminarem os trabalhos rapidamente” – oração subordinada substantiva objetiva indireta reduzida de infinitivo. Repare em que o verbo da oração principal é transitivo indireto para a maioria dos gramáticos e transitivo relativo para Rocha Lima. Assim, esse gramático classifica a oração como subordinada substantiva completiva relativa reduzida de infinitivo. Oração subordinada substantiva predicativa reduzida de infinitivo Observe:

– Seu desejo era refazer a vida. O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “Seu desejo era” – oração principal. .Segunda oração – “refazer a vida” – oração subordinada substantiva predicativa reduzida de infinitivo. Repare em que a oração principal se constitui de sujeito – “seu desejo” – seguido de verbo de ligação – era . A oração reduzida é o predicativo do sujeito da oração principal.

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Oração subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo Observe:

– Está certo de o filho obter aprovação no exame. (Um inspetor fala com outro na entrada do colégio vendo os dois chegando). O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “está certo” – oração principal. . Segunda oração – “de o filho obter aprovação no exame” – oração subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo. Repare em que a oração principal apresenta um adjetivo – “certo”. Como você já aprendeu, adjetivo não tem adjunto adnominal, mas pode ter um complemento nominal. No exemplo citado, o adjetivo “certo” tem um complemento nominal oracional “de o filho obter aprovação no exame”.

Não se esqueça de que complemento nominal se constrói com preposição. Oração subordinada substantiva apositiva reduzida de infinitivo Observe: – Tenho um único desejo: conhecer o mundo. (A menina fala com uma amiga pensando nas cidades mais famosas do mundo). O período pode ser analisado da seguinte maneira: . Primeira oração – “tenho um único desejo” – oração principal. . Segunda oração – “conhecer o mundo” – oração subordinada substantiva apositiva reduzida de infinitivo. Repare em que a oração principal apresenta uma explicação do vocábulo “desejo” pertencente à oração principal, explicação essa em forma de oração – “conhecer o mundo”. Há, portanto, um complemento nominal oracional. Além dessas orações, há aquelas constituídas com os denominados verbos causativos e sensitivos. Veja a seguir.

Fenômenos Sintáticos

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Verbos causativos e sensitivos

Existem verbos conhecidos por causativos – mandar, deixar, fazer – e sensitivos – sentir, ver, ouvir – que jamais constituem locução verbal. Assim em períodos do tipo . Mandei [entregar o trabalho]. . Deixou [o filho sair]. . Fazia [as meninas trabalharem]. . O pai sentiu [estar triste o menino]. . Vejo [meus filhos chegarem alegremente]. . Os pais ouvem [as crianças cantarem]. Os verbos “mandei”, “deixou”, “fazia”, “sentiu”, “vejo”, “ouvem” pertencem à oração principal e as orações reduzidas formadas pelos verbos “entregar”, “sair”, “trabalharem”, “estar”, “chegarem”, “cantarem” são seus objetos diretos oracionais. As orações entre colchetes são subordinadas substantivas objetivas diretas reduzidas de infinitivo. Os termos grifados nas orações reduzidas exercem a função de sujeito nessas orações. Podem ser substituídos por um pronome pessoal oblíquo – o, a, os, as, me, te, se. É a única situação em que o pronome pessoal oblíquo exerce a função de sujeito. O termo “o trabalho” exerce a função de objeto direto na oração reduzida. É o complemento sem preposição do verbo entregar no período “mandei [entregar o trabalho”]. O sujeito de “entregar” está implícito – ele ou ela. Assim podemos ter as seguintes construções em substituição às anteriores: . Deixou -[o sair]. . Fazia-[as trabalhar]. . O pai sentiu-[o estar triste]. . Vejo -[os chegar alegremente]. . Os pais ouvem-[nas cantar]. Podemos também dizer: . Mandou -[me sair]. . Deixou -[te sair]. . viu -[se estar cansado].

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Os pronomes “me”, “te”, “se” são sujeitos dos verbos no infinitivo, ou seja, das orações reduzidas.

IMPORTANTE

Não se flexiona o infinitivo quando seu sujeito é um pronome pessoal oblíquo. Caro aluno, você acabou de estudar as orações subordinadas substantivas. Na próxima unidade veremos as orações subordinadas adverbiais. Vamos lá? Bom estudo!

Leitura complementar

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.715p.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006, 265p.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 700p.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.

É HORA DE SE AVALIAR!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão

ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de

ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

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Exercícios-Unidade 7

1- Leia atentamente a passagem de A cartomante, de Machado de Assis. “A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir”. A oração destacada vem a ser um: a) objeto indireto oracional. b) predicativo oracional. c) sujeito oracional. d) complemento nominal oracional. e) aposto oracional. 2- Leia atentamente a passagem de A cartomante, de Machado de Assis. “A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo”. Considerando a oração em destaque, podemos afirmar que se trata de uma oração subordinada substantiva: a) completiva nominal reduzida de infinitivo com um objeto direto de

infinitivo – lo. b) subjetiva reduzida de infinitivo com um sujeito de infinitivo – lo. c) objetiva direta reduzida de infinitivo com um pronome pessoal oblíquo

em função de sujeito. d) apositiva reduzida de infinitivo com um aposto de infinitivo – lo. e) predicativa reduzida de infinitivo com um pronome pessoal oblíquo em

função de sujeito. 3- Leia atentamente a passagem de O alienista, de Machado de Assis. “As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas.” Trata-se de um período constituído de uma oração principal e uma oração subordinada substantiva ligadas por: a) um pronome relativo que. b) uma preposição que.

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c) um substantivo que. d) um adjetivo que. e) uma conjunção integrante que. 4- Leia atentamente a passagem de O alienista, de Machado de Assis. “Essa pode ser, com efeito, a explicação divina do fenômeno, concordou o alienista, depois de refletir um instante, mas não é impossível que haja também alguma razão humana, e puramente científica, e disso trato...” Considerando a função sintática, a oração destacada equivale ao termo grifado em: a) “Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para

fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável”. (A cartomante)

b) “Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela”. (A cartomante)

c) “Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto?” (A cartomante)

d) “Tudo lhe parecia agora melhor, as outras coisas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais”. (A cartomante)

e) “Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou.” (A cartomante)

5- Leia atentamente a passagem de A cartomante, de Machado de Assis. “Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo”. Considerando que o período destacado é constituído de duas orações, podemos afirmar que: a) a oração principal apresenta um verbo com dois complementos

oracionais – objeto indireto e objeto direto. b) se trata de uma oração principal e uma oração subordinada substantiva

subjetiva. c) a primeira é subordinada substantiva e a segunda oração é principal. d) a primeira é a oração principal com um verbo construído com dois

complementos – objeto indireto não-oracional e objeto direto oracional. e) uma é principal e a outra é subordinada equivalente a um substantivo em

função de complemento nominal.

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6- Leia atentamente a passagem de O alienista, de Machado de Assis. “Note-se — e essa é uma das laudas mais puras desta sombria história — note-se que o Porfírio, desde que a Casa Verde começara a povoar-se tão extraordinariamente, viu crescerem-lhe os lucros pela aplicação assídua de sanguessugas que dali lhe pediam; mas o interesse particular, dizia ele, deve ceder ao interesse público.” Considerando a oração destacada, podemos afirmar que se trata de uma equivalência a um substantivo em função de: a) adjunto adnominal. b) sujeito. c) objeto direto. d) adjunto adverbial. e) objeto indireto. 7- Leia atentamente a passagem de A parasita azul, de Machado de Assis. “O comendador não perdera a ideia de meter o filho na política. Justamente nesse ano havia eleição; o comendador escreveu às principais influências da província para que o rapaz entrasse na respectiva assembleia.” A oração destacada equivale a um substantivo em função de: a) aposto. b) complemento nominal. c) complemento circunstancial. d) complemento adverbial. e) sujeito. 8- A oração que vem a ser um sujeito oracional é a grifada em:

a) “Quando voltou a si, quis ir outra vez tentar contra os seus dias; eu e

minha mulher impedimo-lo de fazer tal.” (A parasita azul, de Machado de Assis)

b) “A primeira impressão foi aparentemente nenhuma; o rosto não revelou a

tempestade que imediatamente rebentara no coração. Dez minutos depois

a tempestade subiu aos olhos e transbordou num verdadeiro mar de lágrimas.” (A parasita azul, de Machado de Assis)

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c) “O pai estava aterrado; a notícia do acontecimento correu por toda parte

em dez léguas ao redor. No fim de cinco dias de infrutíferas pesquisas

soube-se que um moço, com todos os sinais de Camilo, fora visto a meia

légua da cidade, a cavalo. Ia só e triste.” (A parasita azul, de Machado de Assis)

d) “Será necessário dizer a dor que sofreu a formosa Isabel quando lhe foram

dar notícia do desaparecimento de Camilo?” (A parasita azul, de Machado de Assis)

e) “ Não creio que a língua humana possua palavras assaz enérgicas para pintar

a indignação que se manifestou no rosto de Leandro Soares. O sangue

subia-lhe todo às faces, enquanto os olhos pareciam despedir chispas de fogo.” (A parasita azul, de Machado de Assis)

Leia atentamente o poema de Fernando Pessoa e responda às questões 9 e 10. O amor é uma companhia O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só. Um pensamento visível faz-me andar mais depressa E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. http://www.revista.agulha.nom.br/fp257.html

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9- Podemos afirmar que há locução verbal em “faz-me andar” na construção “um pensamento visível faz-me andar mais depressa”? Justifique sua resposta.

10- O termo destacado em “e eu gosto tanto dela que não sei como a desejar” é analisada de modos distintos por Adriano da Gama Kury e Celso Pedro Luft. Explique essa afirmativa.

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Fenômenos Sintáticos

221

Período Composto por Subordinação:Oração Subordinada Adverbial

Definição

Oração subordinada adverbial: Classificação

Oração subordinada adverbial causal: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial comparativa: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial conformativa: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial condicional: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial temporal: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial concessiva: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial consecutiva: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial final: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial proporcional: desenvolvida e reduzida

Subordinação e / ou correlação

Oração introduzida por onde, aonde, donde

Oração que exprime modo, maneira

8

Fenômenos Sintáticos

222

Caro aluno, nesta unidade você estudará as orações subordinadas

adverbiais. Você perceberá que elas equivalem aos adjuntos adverbiais estudados

na Unidade 4. São, portanto, adjuntos adverbiais oracionais. Preste atenção e bom estudo!

Objetivos da Unidade:

• Definir oração subordinada adverbial.

• Identificar as conjunções subordinativas adverbiais.

• Classificar as orações subordinadas adverbiais.

• Distinguir as orações subordinadas adverbiais reduzidas.

Plano da Unidade:

Definição

Oração subordinada adverbial: Classificação

Oração subordinada adverbial causal: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial comparativa: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial conformativa: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial condicional: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial temporal: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial concessiva: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial consecutiva: desenvolvida e reduzida

Oração subordinada adverbial final: desenvolvida e reduzida

Fenômenos Sintáticos

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Oração subordinada adverbial proporcional: desenvolvida e reduzida

Subordinação e / ou correlação

Oração introduzida por onde, aonde, donde

Oração que exprime modo, maneira

Bons Estudos!

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224

Definição

Você estudou, nas unidades precedentes, a relação de dependência entre a oração principal e a oração subordinada adjetiva e a oração subordinada substantiva. Nesta unidade, estudará a relação entre a oração principal e a oração subordinada adverbial.

Mas o que é oração subordinada adverbial?

É aquela que equivale a um adjunto adverbial. Exprime as diversas circunstâncias já estudadas a unidade 4.

Veja a seguir.

Oração Subordinada Adverbial: Classificação

Conforme a conjunção que introduz a oração subordinada adverbial, esta pode ser tradicionalmente classificada como: causal, comparativa, conformativa, condicional, temporal, concessiva, consecutiva, final, proporcional. Tradicionalmente, porque apenas alguns gramáticos reconhecem a existência de orações modais e locativas, não-arroladas na NGB. No final da unidade, discutiremos esse assunto. Dependendo do sentido que expressa, a oração subordinada pode ainda ser constituída com um verbo numa forma nominal – infinitivo, gerúndio ou particípio. Nesse caso, será reduzida. Comecemos pela oração subordinada adverbial causal.

Oração Subordinada Adverbial Causal: Desenvolvida e Reduzida

A oração subordinada adverbial causal equivale a um adjunto adverbial de causa. Expressa a causa do acontecimento presente na oração principal. Pode ser desenvolvida ou reduzida.

Fenômenos Sintáticos

225

A oração subordinada adverbial causal desenvolvida pode ser introduzida por uma das seguintes conjunções ou locuções conjuntivas subordinativas adverbiais causais: porque, como, uma vez que, visto que, visto como, já que. Observe:

– Como está machucado, cuidarei de você. Veja a análise do período: . Primeira oração – “como está machucado” – oração subordinada adverbial causal, introduzida pela conjunção subordinativa adverbial causal como. . Segunda oração – “cuidarei de você” – oração principal.

O período é iniciado por uma oração subordinada. Esta, no exemplo apresentado, expressa a causa do fato expresso na oração principal. Na verdade, há uma relação de causa e consequência.

O fato expresso na oração principal é a consequência do que a oração subordinada exprime.

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Veja:

CONSEQUÊNCIA CAUSA cuidado com o passarinho passarinho machucado

IMPORTANTE:

A conjunção como expressa a causa, quando a oração subordinada se antepõe à principal. Já a conjunção porque é empregada quando a oração subordinada se pospõe à principal, como verificamos em: “Cuidarei de você porque está machucado.” As demais conjunções podem ser empregadas quando a oração subordinada se antepõe ou se pospõe à principal, conforme constatamos em: “Cuidarei de você visto que está machucado.” “Uma vez que está machucado, cuidarei de você.”

Observação:

O professor Gama Kury (2006: 86) arrola entre as conjunções subordinativas adverbiais causais os conectivos pois e porquanto, tradicionalmente classificadas como coordenativas explicativas. Não é raro o seu emprego atualmente, em substituição àquelas conjunções causais.

Portanto, para serem classificadas como conjunções subordinativas adverbiais causais, é necessário que haja uma relação de causa e consequência entre as orações. É o que observamos em: – Meu filho nada bem, pois está na aula de natação. (Fala um dos pais).

Repare:

CONSEQUÊNCIA CAUSA bom nadador aula de natação

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Já em: – Vem, meu filho, pois está na hora da aula de natação. A primeira oração “vem, meu filho” tem o verbo “vir” no imperativo. Quando isso acontece, a oração posposta – “pois está na hora da aula de natação” – é coordenada sindética explicativa. A oração “vem, meu filho”, como você já aprendeu, é coordenada assindética. Muito bem! Você acabou de estudar as orações subordinadas adverbiais causais desenvolvidas. ♦ Veja a seguir as orações subordinadas reduzidas. ♠ A oração subordinada adverbial causal reduzida pode ser:

a) de infinitivo ⇒ Não saiu de casa [visto estar doente]. [Por chover], a rua está deserta. Repare:

CONSEQUÊNCIA CAUSA permanência em casa doença

rua deserta chuva Logo: A oração “visto estar doente” é subordinada adverbial causal reduzida de infinitivo e tem por principal “não saiu de casa”. A oração “por chover” é subordinada adverbial causal reduzida de infinitivo e tem por principal “a rua está deserta”. b) de gerúndio ⇒ [Sendo feriado], foi à praia. Repare:

CONSEQUÊNCIA CAUSA ida à praia feriado

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Logo: A oração “sendo feriado” é subordinada adverbial causal reduzida de gerúndio e tem por principal “foi à praia”.

DICA

Para uma classificação adequada, é imprescindível que se perceba o sentido presente na oração reduzida.

Bem, você acabou de estudar as orações que expressam o sentido de causa.

Estude agora aquelas que exprimem uma comparação. Oração Subordinada Adverbial Comparativa A oração subordinada adverbial comparativa equivale a um adjunto adverbial de comparação. É sempre desenvolvida. Estabelece com a oração principal uma comparação, que pode ser de dois tipos: a) assimilativa - mostra a semelhança em relação ao que se expressa na oração principal. É construída com a conjunção como. Veja: – Essa menina canta como um rouxinol. (Fala uma pessoa para a outra.) Esse período é formado pela: . Primeira oração – “essa menina canta” – oração principal. .Segunda oração – “como um rouxinol” – oração subordinada adverbial comparativa. O verbo está implícito por ser o mesmo da oração principal. Não há necessidade de repeti-lo. É apontada a semelhança entre a menina e o rouxinol.

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DICA

Às vezes aparece o verbo vicário (= substituto) fazer: “lê muito [como faz um estudioso], como se disséssemos “lê muito como um estudioso lê”. O verbo faz substitui o segundo “lê”. Rocha Lima (2005: 280) chama a atenção para o fato de que “abrindo o período, a partícula como pode vir simples, ou reforçada por expressões intensivas deste tipo: como... assim; assim como... assim (ou assim também)”. Assim e assim também ocorrem na oração principal. Nesse caso, podemos ter as seguintes construções: - [Assim como um pássaro descobre no voo sua liberdade], assim também o ser humano percebe a sua no exercício do pensamento. - [Como um pássaro descobre no voo sua liberdade], assim o ser humano percebe a sua no exercício do pensamento”. Observação:

Quando comparamos algo a outro que poderia existir, empregamos a conjunção como seguida de se, o que resulta em como se. Assim, a conotação de hipótese é adicionada à comparação. Gama Kury (2006:91) chama essa junção de locução. E comenta: “Alguns desdobram desnecessariamente essa construção em mais uma opção (condicional), subentendendo após o como o verbo da oração principal”. Assim, o período “acordou como se estivesse feliz” seria analisada do seguinte modo:

Acordou, como acordaria, se estivesse feliz. A oração “acordou” seria principal de “como acordaria”. Esta seria subordinada adverbial comparativa da anterior. No entanto, seria principal da posterior “se estivesse feliz”, classificada como oração subordinada adverbial condicional”. Esse tipo de oração será estudado mais adiante.

Fenômenos Sintáticos

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Importa agora perceber que a oração pode ser subordinada de uma e

principal de outra. Cabe depreender a relação estabelecida entre elas. No exemplo citado, o verbo “acordaria” está relacionado a um fato hipotético “estivesse feliz”. Como já foi ressaltado, Gama Kury rejeita tal desdobramento. Da mesma opinião partilha Rocha Lima (2005): “Para a comparação referida a fato inexistente emprega-se o conglomerado comparativo-hipotético como se, com o verbo no imperfeito do subjuntivo”. Repare em que o gramático denomina como se conglomerado comparativo-hipotético, já descartando a possibilidade do desdobramento. b) quantitativa ou intensiva - revela a igualdade, superioridade ou inferioridade em relação ao que se expressa na oração principal. É construída com as conjunções como, que, quanto, que formam pares correlativos. Assim, a igualdade é expressa em: - (tão)...como, (tanto)...como- Canta tão bem [como qualquer cantora profissional.] - (tão)...quanto, (tanto)...quanto- Tem tanto carisma [quanto qualquer adulto.] A superioridade encontra-se presente em: - (mais)...que, (melhor)...que, (maior)...que- – É mais talentosa [que a irmã]. É melhor [que a colega]. Pode ocorrer do antes do que. E a inferioridade ocorre em: - (menos)...que, (pior)...que, (menor)...que- Sem dúvida, a irmã é menos talentosa [que ela]. Pode ocorrer do antes do que. Bem, você acabou de estudar a relação de comparação entre as orações. Estude agora as orações que estabelecem uma relação de conformidade.

Oração Subordinada Adverbial Conformativa: Desenvolvida e Reduzida

A oração subordinada adverbial conformativa equivale a um adjunto adverbial de conformidade. É sempre desenvolvida.

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Exprime acordo ou conformidade de um fato com outro. A oração subordinada adverbial conformativa pode ser introduzida por uma das seguintes conjunções subordinativas adverbiais conformativas: como, conforme, consoante, segundo. Veja: – Cuidei do jardim conforme acertamos. (Fala a menina.) – Como disse, você é a pessoa ideal para esse trabalho. (Responde o rapaz.) Observe a análise dos dois períodos: ♠ Primeiro período: “Cuidei do jardim conforme acertamos.” . Primeira oração: “cuidei do jardim”- oração principal. .Segunda oração: “conforme acertamos”- oração subordinada adverbial conformativa. O verbo “acertamos” exprime o sentido de acordo. ♠ Segundo período: “Como disse, você é a pessoa ideal para esse trabalho.” . Primeira oração: “como disse”- oração subordinada adverbial conformativa. Expressa o sentido de conformidade. . Segunda oração: “você é a pessoa ideal para esse trabalho”- oração principal. Assim como existe um fato em conformidade com outro, existe também aquele cuja existência depende da realização de outro. Há uma condição para que algo se realize presente na denominada oração subordinada adverbial condicional. É o tipo de oração que você estudará a seguir. Vamos continuar?!

Oração Subordinada Adverbial Condicional: Desenvolvida e Reduzida

A oração subordinada adverbial condicional equivale a um adjunto adverbial de condição. Pode ser desenvolvida ou reduzida. A oração subordinada adverbial condicional desenvolvida pode ser introduzida por uma das seguintes conjunções ou locuções conjuntivas subordinativas adverbiais condicionais: se, caso, sem que (= se não), contanto que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que.

Fenômenos Sintáticos

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Veja: – Se caísse neve aqui, sempre lhe faria bonecos bem ali. (O rapaz fala com a menina apontando para o quintal.) – Contanto que me desenhe, firmarei o namoro com você. (A menina responde). – A menos que soubesse o seu desejo, já o teria realizado. (O rapaz fala). Observe a análise dos dois períodos: ♠ Primeiro período: “Se caísse neve aqui, sempre lhe faria bonecos bem ali.” . Primeira oração: “se caísse neve aqui”- oração subordinada adverbial condicional. . Segunda oração: “sempre lhe faria bonecos bem ali.”- oração principal. ♠ Segundo período: “contanto que me desenhe, firmarei o namoro com você.” . Primeira oração: “contanto que me desenhe” - oração subordinada adverbial condicional. . Segunda oração: “firmarei o namoro com você”. - oração principal. ♠ Terceiro período: “a menos que soubesse o seu desejo, já o teria realizado.” . Primeira oração: “a menos que soubesse o seu desejo” - oração subordinada adverbial condicional. . Segunda oração: “já o teria realizado.”- oração principal. Se fizermos uma leitura atenta dos três períodos, perceberemos que, em cada um, a oração subordinada denota uma condição diferente. Com base nessa diversidade semântica, Rocha Lima (2005:278) apontou que a oração subordinada adverbial condicional pode exprimir: a) “um fato de realização impossível (hipótese irrealizável)”- “[Se caísse neve aqui], sempre lhe faria bonecos bem ali.” b) “um fato cuja realização é possível, provável, ou desejável”: - “[Contanto que me desenhe], firmarei o namoro com você. c) “desejo, esperança, pesar”: - “[A menos que soubesse o seu desejo], já o teria realizado.”

Fenômenos Sintáticos

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Muito bem! Essas são as orações subordinadas desenvolvidas. Veja a seguir as orações subordinadas reduzidas. ♠ A oração subordinada adverbial condicional reduzida pode ser:

a) de infinitivo ⇒ [Sem fazer uma temperatura amena], não passearei amanhã. [A não haver nenhum sol forte], passearei amanhã.

Repare: REALIZAÇÃO POSSÍVEL DE UM FATO CONDIÇÃO

passeio no dia seguinte temperatura amena passeio no dia seguinte sem sol forte

Logo:

A oração “sem fazer uma temperatura amena” é subordinada adverbial condicional reduzida de infinitivo e tem por principal “não passearei amanhã”.

A oração “a não haver sol forte” é subordinada adverbial causal reduzida de

infinitivo e tem por principal “passearei amanhã”. O infinitivo vem regido pela

preposição a e equivale à desenvolvida com verbo no futuro do subjuntivo “se não houver sol forte”.

b) de gerúndio ⇒ [Sendo feriado amanhã], viajarei. Repare:

REALIZAÇÃO POSSÍVEL DE UM FATO CONDIÇÃO viagem feriado no dia seguinte

Logo:

Fenômenos Sintáticos

234

A oração “sendo feriado amanhã” é subordinada adverbial condicional reduzida

de gerúndio e tem por principal “viajarei”. A oração reduzida pode transformar-se em desenvolvida com o verbo no futuro do subjuntivo – “se for feriado amanhã”.

b) de particípio ⇒ [Reconhecido seu direito], teriam tido outro comportamento.

Repare:

HIPÓTESE IRREALIZÁVEL CONDIÇÃO outro comportamento reconhecimento de direito

Logo: A oração “reconhecido seu direito” é subordinada adverbial condicional reduzida de particípio e tem por principal “teriam tido outro comportamento”. A oração reduzida pode transformar-se em desenvolvida – “se fosse reconhecido seu direito”. No exemplo apresentado, a oração principal expressa uma hipótese irrealizável – “outro comportamento” – porque o sujeito já se comportou de um modo. Bem, você acabou de estudar que um fato pode ocorrer sob uma condição. Estudará, em seguida, que algo pode acontecer num determinado tempo, presente na oração subordinada adverbial temporal.

Oração Subordinada Adverbial Temporal: Desenvolvida e Reduzida A oração subordinada adverbial temporal equivale a um adjunto adverbial de tempo. Indica o tempo em que ocorre o fato apresentado na oração principal. Pode ser desenvolvida ou reduzida. A oração subordinada adverbial temporal pode ser introduzida por conjunções e locuções conjuntivas subordinativas adverbiais temporais que traduzem:

Fenômenos Sintáticos

235

a) a anterioridade do acontecimento expresso na oração principal - antes que, sem que (=antes que). – As rimas vinham antes que percebesse. (O poeta pensando) – Dediquei-me à poesia sem que chegasse à idade adulta. (O poeta pensando) Observe a análise dos dois períodos: ♠ Primeiro período: “As rimas vinham antes que percebesse.” . Primeira oração: “as rimas vinham”- oração principal. .Segunda oração: “antes que percebesse”- oração subordinada adverbial temporal. ♠ Segundo período: “Dediquei-me à poesia sem que chegasse à idade adulta.” . Primeira oração: “dediquei-me à poesia” - oração principal. . Segunda oração: “sem que chegasse à idade adulta” - oração subordinada adverbial temporal. (sem que = antes que)

b) a posterioridade do acontecimento expresso na oração principal - depois que, quando. – Depois que fui apresentado à literatura, minha imaginação voou. – Quando me ocupei com a leitura de grandes poetas, escrevi melhor. Observe a análise dos dois períodos: ♠ Primeiro período: “Depois que fui apresentado à literatura, minha imaginação voou.” . Primeira oração: “depois que fui apresentado à literatura” - oração subordinada adverbial temporal. . Segunda oração: “minha imaginação voou” - oração principal. ♠ Segundo período: “Quando me ocupei com a leitura de grandes poetas, escrevi melhor.”

Fenômenos Sintáticos

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. Primeira oração: “quando me ocupei com a leitura de grandes poetas” - oração subordinada adverbial temporal. . Segunda oração: “escrevi melhor” - oração principal. c) a posterioridade imediata do acontecimento expresso na oração principal - logo que, assim que, desde que, mal, apenas. – Mal pensava nela, escrevia poemas. (O poeta pensa numa moça) – Apenas vinha a saudade, as rimas me chegavam. Observe a análise dos dois períodos: ♠ Primeiro período: “Mal pensava nela, escrevia poemas.” . Primeira oração: “mal pensava nela”- oração subordinada adverbial temporal. . Segunda oração: “escrevia poemas”- oração principal. ♠ Segundo período: “Apenas vinha a saudade, as rimas me chegavam. . Primeira oração: “apenas vinha a saudade”- oração subordinada adverbial temporal. . Segunda oração: “as rimas me chegavam”- oração principal. d) a repetição ou a frequência (tempo frequentativo ou repetido) com que se dá o fato expresso na oração principal - sempre que, todas as vezes que, (de) cada vez que. – Sempre que sua ausência me doía, fazia versos. (O poeta pensa numa moça). Observe a análise do período: “Sempre que sua ausência me doía, fazia versos”. . Primeira oração: “sempre que sua ausência me doía ”- oração subordinada adverbial temporal. (A conjunção sempre que pode ser substituída por todas as vezes que, (de) cada vez que. . Segunda oração: “fazia versos”- oração principal. e) a concomitância do fato expresso na oração principal com algo presente na oração subordinada – enquanto.

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– Enquanto escrevia, distraía-me. (O poeta pensando.) Observe a análise do período: “Enquanto escrevia, distraía-me”. . Primeira oração: “enquanto escrevia” (oração subordinada adverbial temporal). . Segunda oração: “distraía-me” - oração principal. Veja:

CONCOMITANTES / SIMULTÃNEOS O ato de escrever O ato de distração

Muito bem! Essas são as orações subordinadas desenvolvidas. Veja a seguir as orações subordinadas reduzidas. ♠ A oração subordinada adverbial temporal reduzida pode ser: a) de infinitivo ⇒ [Antes de perceber], as rimas vinham. [Depois de ser apresentado à literatura], minha imaginação voou. [Ao me ocupar com a leitura de grandes poetas], escrevi melhor. b) de gerúndio ⇒ [Pensando nela], escrevia poemas. [Ocupando-me com a leitura de grandes poetas], escrevi melhor. [Sendo apresentado à literatura], minha imaginação voou. c) de particípio ⇒ [Apresentado à literatura], minha imaginação voou. [Ocupado com a leitura de grandes poetas], escrevi melhor. [Chegada a lua], fazia versos. OBSERVAÇÃO: Para encerrarmos o estudo sobre as orações subordinadas adverbiais temporais, é necessário um comentário sobre a construção há muito tempo (que)... ou faz muito tempo (que)... em períodos do tipo “há (faz) muito tempo que não venho aqui.” Há três posicionamentos em relação a essa construção.

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PRIMEIRO O que é expletivo – nesse caso consideramos apenas “há muito tempo” – e a oração seguinte é principal – no exemplo apresentado “não venho aqui” (LIMA: 2005). SEGUNDO A partícula que é uma conjunção temporal, sendo então a oração subordinada adverbial temporal a introduzida por ela – no exemplo apresentado “que não venho aqui” –. A oração seguinte, com o verbo haver e fazer – no exemplo apresentado “há muito tempo” – é a oração principal (ALI: 1951). TERCEIRO A partícula que é uma conjunção integrante e a oração introduzida por ela é subordinada substantiva subjetiva – no exemplo apresentado “que não venho aqui”. Assim, o verbo haver (e igualmente fazer) seria unipessoal com o sentido de ter, durar, completar. Logo, um período como “há muito tempo que não venho aqui” deve ser entendido como “A minha vinda aqui tem muito tempo.” Bem, você acabou de estudar as orações subordinadas adverbiais temporais. Estudará, em seguida, as orações subordinadas adverbiais concessivas.

Oração Subordinada Adverbial Concessiva: Desenvolvida e Reduzida A oração subordinada adverbial concessiva equivale a um adjunto adverbial de concessão. Indica que “um obstáculo – real ou suposto – não impedirá, de modo algum a declaração da oração principal” (BECHARA: 2006,142). Pode ser desenvolvida ou reduzida. A oração subordinada adverbial concessiva pode ser introduzida por conjunções e locuções conjuntivas subordinativas adverbiais concessivas: embora, ainda que, mesmo que, conquanto, se bem que (bem que), posto que (posto), sem que (=embora não), nem que, apesar de que. Dentre essas, estão arroladas aquelas que Said Ali (1951: 191) chama de “intensivas”, pois...

“se referem a uma qualidade ou modalidade qualquer, consideradas em grau intensivo e sem limites. Caracterizam-se pelas expressões por mais...que, por muito...que, ou simplesmente por...que, eliminando as palavras mais ou muito”.

Podemos também acrescentar por menos...que.

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Observe: – Embora haja sol forte, a praia está vazia. (Uma fala com a outra.) – Sem que percebam, o descuido das pessoas é o responsável por isso. (A outra fala referindo-se ao lixo trazido pelas ondas.) – Nem que se coloque um aviso para a preservação da limpeza, não adiantará. (A outra fala desanimada.) – Posto que seja bonita, a garotada procura outras praias. (A outra fala apontando para uns surfistas que estão num carro indo para outra praia.) – Por mais que a beleza seja um grande atrativo desta praia, a poluição espanta a maioria. (A outra fala apontando para uns surfistas que estão num carro indo para outra praia.) – Por conhecida que seja, muita gente prefere outras praias a esta. (A outra fala.) – Por menos que o lixo atraia, eu gosto desta praia. (A outra fala.) Observe a análise dos dois períodos: ♠ Primeiro período: “Embora haja sol forte, a praia está vazia.” . Primeira oração: “embora haja sol forte”- oração subordinada adverbial concessiva. . Segunda oração: “a praia está vazia”- oração principal. ♠ Segundo período: “– Sem que percebam, o descuido das pessoas é o responsável por isso.” . Primeira oração: “sem que percebam”- oração subordinada adverbial concessiva. . Segunda oração: “o descuido das pessoas é o responsável por isso.” - oração principal. ♠ Terceiro período: “Nem que se coloque um aviso para a preservação da limpeza, não adiantará.” . Primeira oração: “nem que se coloque um aviso para a preservação da limpeza”- oração subordinada adverbial concessiva. . Segunda oração: “não adiantará”- oração principal.

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♠ Quarto período: “Posto que seja bonita, a garotada procura outras praias.” . Primeira oração: “posto que seja bonita”- oração subordinada adverbial concessiva. . Segunda oração: “a garotada procura outras praias”- oração principal. ♠ Quinto período: “Por mais que a beleza seja um grande atrativo desta praia, a poluição espanta a maioria.” . Primeira oração: “por mais que a beleza seja um grande atrativo desta praia”- oração subordinada adverbial concessiva. . Segunda oração: “a poluição espanta a maioria”- oração principal. ♠ Sexto período: Por conhecida que seja, muita gente prefere outras praias a esta.” . Primeira oração: “por conhecida que seja - oração subordinada adverbial concessiva. Repare na omissão do mais, muito em por...que. . Segunda oração: “muita gente prefere outras praias a esta”- oração principal. ♠ Sétimo período: “Por menos que o lixo atraia, eu gosto desta praia.” . Primeira oração: “por menos que o lixo atraia”- oração subordinada adverbial concessiva. . Segunda oração: “eu gosto desta praia”- oração principal. Muito bem! Essas são as orações subordinadas desenvolvidas. Veja a seguir as orações subordinadas reduzidas. ♠ A oração subordinada adverbial concessiva reduzida pode ser: a) de infinitivo ⇒ [Apesar de haver sol forte], a praia está vazia. [Sem perceberem], o descuido das pessoas é o responsável por isso. b) de gerúndio ⇒ [Mesmo existindo muito lixo], gosto desta praia. [Sendo bonita], as pessoas preferem outras praias. c) de particípio ⇒ [Colocado um aviso para a preservação da limpeza], não adiantará.] Bem, você acabou de estudar as orações subordinadas adverbiais concessivas. Estudará, em seguida, as orações subordinadas adverbiais consecutivas.

Fenômenos Sintáticos

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Oração Subordinada Adverbial Consecutiva: Desenvolvida e Reduzida A oração subordinada adverbial consecutiva equivale a um adjunto adverbial de consequência. Denota a consequência do que se exprime na oração principal. Pode ser desenvolvida ou reduzida. A oração subordinada adverbial consecutiva desenvolvida é introduzida pela conjunção que, podendo se ligar à principal por um termo intensivo (tão, tanto, tamanho, tal), havendo assim os pares correlativos – tão...que, tanto...que, tamanho...que, tal...que. Observe: Não é difícil imaginar a seguinte situação: duas pessoas olhando a rua cheia d’água e o trânsito muito engarrafado por causa da chuva. – Choveu que encheu tudo. (Uma fala com a outra.) – Tal foi a tempestade que ocorreu um grande engarrafamento. (Uma fala com a outra.) Veja a análise dos dois períodos: ♠ Primeiro período: “Choveu que encheu tudo.” . Primeira oração: “choveu”- oração principal. . Segunda oração: “que encheu tudo.”- oração subordinada adverbial consecutiva. Repare em que também há relação de causa e consequência, sendo que a causa se encontra na oração principal.

CAUSA CONSEQUÊNCIA chuva tudo cheio

♠ Segundo período: “Tal foi a tempestade que ocorreu um grande engarrafamento.” . Primeira oração: “tal foi a tempestade”- oração principal. . Segunda oração: “que ocorreu um grande engarrafamento” - oração subordinada adverbial consecutiva.

CAUSA CONSEQUÊNCIA tempestade um grande engarrafamento

Fenômenos Sintáticos

242

Chama a atenção o professor Bechara (2006:145) para o fato de que

“a oração consecutiva não só exprime a consequência devida à ação ou ao estado indicado na principal, mas pode denotar que se deve a consequência ao modo pelo qual é praticada a ação da principal. Para este último caso servimo-nos, na oração principal, das expressões de tal maneira, de tal sorte, de tal forma, de tal modo.”

Observe: Imagine uma mulher falando com outra e se referindo ao filho. – Estuda de tal maneira que só obtém nota dez. (Uma fala com a outra.) Veja a análise do período: “Estuda de tal maneira que só obtém nota dez”. . Primeira oração: “Estuda de tal maneira”- oração principal. . Segunda oração: “que só obtém nota dez.”- oração subordinada adverbial consecutiva. Caso esteja completo o sentido da primeira oração, as expressões de tal maneira, de tal sorte, de tal forma, de tal modo ocorrem sem tal. Nesse caso, ocorrem na oração subordinada, como percebemos em “estuda [de maneira que só obtém nota dez].” Muito bem! Essas são as orações subordinadas desenvolvidas. Veja a seguir as orações subordinadas reduzidas. ♠ A oração subordinada adverbial consecutiva reduzida pode ser apenas reduzida: - de infinitivo ⇒ Choveu [de encher tudo]. Bem, você acabou de estudar as orações subordinadas adverbiais consecutivas. Estudará, em seguida, as orações subordinadas adverbiais finais.

Oração Subordinada Adverbial Final: Desenvolvida e Reduzida A oração subordinada adverbial final equivale a um adjunto adverbial de finalidade. Expressa a finalidade do acontecimento presente na oração principal. Pode ser desenvolvida ou reduzida.

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A oração subordinada adverbial final desenvolvida pode ser introduzida por uma das seguintes conjunções ou locuções conjuntivas subordinativas adverbiais finais: que, para que, porque (=para que), a fim de que. Observe: – Estudo para que obtenha um bom emprego. – Falta muito que isso aconteça Veja a análise dos períodos. ♠ Primeiro período: “Estudo para que obtenha um bom emprego.” . Primeira oração: “estudo”- oração principal. . Segunda oração: “para que obtenha um bom emprego”- oração subordinada adverbial final. ♠ Segundo período: “Falta muito que isso aconteça.” . Primeira oração: “falta”- oração principal. . Segunda oração: “que isso aconteça”- oração subordinada adverbial final. Muito bem! Essas são as orações subordinadas desenvolvidas. Veja a seguir as orações subordinadas reduzidas. ♠ A oração subordinada adverbial final reduzida pode ser apenas reduzida: - de infinitivo ⇒ [A fim de obter um bom emprego], estuda muito. Bem, você acabou de estudar as orações subordinadas adverbiais finais. Estudará, em seguida, as orações subordinadas adverbiais proporcionais. Oração Subordinada Adverbial Proporcional A oração subordinada adverbial proporcional equivale a um adjunto adverbial de proporcionalidade. É sempre desenvolvida. A oração proporcional “exprime um fato que aumenta ou diminui na mesma proporção do que se declara na principal” (BECHARA: 2006).

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A oração subordinada adverbial proporcional pode ser introduzida por uma das seguintes conjunções ou locuções conjuntivas subordinativas adverbiais proporcionais simples – à medida que, à proporção que, ao passo que – e correlatas – quanto mais, quanto menor, quanto melhor, quanto pior –, pois se acham em correlação com um termo que inicia a oração principal (mais, menos, tanto mais, tanto menos). Observe: – Quanto melhor se estuda, mais se aprende. Veja a análise do período “quanto melhor se estuda, mais se aprende”. . Primeira oração: “quanto melhor se estuda”- oração subordinada adverbial proporcional. . Segunda oração: “mais se aprende”- oração principal. Bem, você acabou de estudar as orações subordinadas adverbiais proporcionais. Estudará, em seguida, a subordinação e / ou correlação.

Subordinação e / ou Correlação

Em relação à subordinação e / ou correlação cabe apenas salientar que o

professor José Oiticica (1942) considerava os pares correlativos como um processo

sintático autônomo. Assim, além da coordenação e da subordinação, haveria

também a correlação. Salienta, no entanto, o professor Bechara (2006:116) que os

conceitos de coordenação e da subordinação “dizem respeito ao valor sintático de

independência ou dependência em que se acham as orações dentro do contexto”. Correlação se refere “ao modo de se ligarem entre si essas mesmas orações”.

Você acabou de estudar a subordinação e a correlação. Estudará agora as orações introduzidas por advérbio de lugar.

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Oração Introduzida Por Onde, Aonde, Donde

Existem orações que não são introduzidas por nenhuma conjunção e sim pelo advérbio de lugar onde (aonde, donde). Embora a NGB não reconheça essas orações, elas são consideradas por alguns gramáticos, como Gama Kury (2006) e Celso Luft (2006), orações locativas, arroladas entre as subordinadas adverbiais. Indicam o lugar onde se realiza o fato expresso na oração principal. Observe: – O pássaro ficou onde pousou aquela hora. Veja a análise do período “o pássaro ficou onde pousou aquela hora”. . Primeira oração: “o pássaro ficou”- oração principal. . Segunda oração: “onde pousou aquela hora”- oração locativa. Bem, você acabou de estudar as orações locativas. Estudará, em seguida, as orações que exprimem modo, maneira.

Oração Que Exprime Modo, Maneira

Também existe um tipo de oração, não considerado pela NGB, mas por alguns gramáticos, como Gama Kury (2006) e Celso Luft (2006), que exprime a maneira, o modo pelo qual se realiza o fato expresso na oração principal. Esses gramáticos denominam esse tipo de oração como: oração modo, e equivalente a um adjunto adverbial de modo.

É o que podemos perceber nas orações desenvolvidas e reduzidas destacadas nos períodos abaixo: a) Veio [como deveria]. b) Saiu [sem que o notassem]. c) Saiu sem o [notarem]. d) Recebeu a nota [rindo de felicidade].

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Muito bem, caro aluno, assim terminamos mais uma unidade. Na próxima

e última unidade, estudaremos as denominadas orações equipolentes e complexas. Bom estudo!

Leitura Complementar ,

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de janeiro, Zahar, 2007.

É hora de se avaliar!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo

a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-

aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

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Exercícios-Unidade 8

1- Leia atentamente o poema de Fernando Pessoa. A criança que ri na rua A CRIANÇA que ri na rua, A música que vem no acaso, A tela absurda, a estátua nua, A bondade que não tem prazo. Tudo isso excede este rigor Que o raciocínio dá a tudo, E tem qualquer cousa de amor, Ainda que o amor seja mudo. http://www.revista.agulha.nom.br/fpessoa14.html

Na oração “ainda que o amor seja mudo” (2ª estrofe), a conjunção grifada pode ser substituída, sem prejuízo do sentido, por:

a) por causa. b) quando. c) embora. d) de modo que. e) visto que. 2-Leia o poema de Fernando Pessoa e responda às questões 2 e 3. Ao entardecer, debruçado pela janela, E sabendo de soslaio que há campos em frente, Leio até me arderem os olhos O livro de Cesário Verde. Que pena que tenho dele! Ele era um camponês Que andava preso em liberdade pela cidade. Mas o modo como olhava para as casas, E o modo como reparava nas ruas, E a maneira como dava pelas cousas, É o de quem olha para árvores, E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

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Por isso ele tinha aquela grande tristeza Que ele nunca disse bem que tinha, Mas andava na cidade como quem anda no campo E triste como esmagar flores em livros E pôr plantas em jarros... http://www.revista.agulha.nom.br/fpessoa14.html A oração “ao entardecer” (1ª estrofe) expressa o sentido de: a) tempo. b) causa. c) condição. d) proporção. e) finalidade. 3- A oração “como esmagar flores em livros” (3ª estrofe) é classificada como oração subordinada adverbial: a) causal reduzida de infinitivo. b) temporal reduzida de infinitivo. c) concessiva reduzida de infinitivo. d) consecutiva reduzida de infinitivo. e) comparativa reduzida de infinitivo. 4-Leia o pensamento de Rabindranath Tagore. “Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza.” http://www.pensador.info/p/pensamentos_tagore/1/ A oração apresentada “quanto maiores somos em humildade” transmite a ideia de: a) comparação. b) explicação. c) alternância. d) proporção. e) oposição.

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Leia atentamente o poema de Fernando Pessoa e responda às questões 5, 6 e 7. Ó sino da minha aldeia Ó sino da minha aldeia dolente na tarde calma, cada tua badalada soa dentro da minha alma... E é tão lento o teu soar, tão como triste da vida, que já a primeira pancada tem o som de repetida. Por mais que me tanjas perto, quando passo, sempre errante, és para mim como um sonho, soas-me na alma distante. A cada pancada tua, vibrante no céu aberto, sinto o passado mais longe, sinto a saudade mais perto... http://www.revista.agulha.nom.br/1fpessoa041p.html 5- A oração “por mais que me tanjas perto” (3ª estrofe) é classificada como oração subordinada adverbial: a) consecutiva. b) concessiva. c) causal. d) final. e) proporcional. 6- A conjunção grifada em “quando passo, sempre errante” (3ª estrofe) recebe a mesma classificação tradicional da que ocorre em: a) mesmo que. b) posto que. c) assim que. d) para que. e) caso.

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7- A oração “és para mim” (3ª estrofe) vem a ser: a) a oração principal de “quando passo, sempre errante”. b) a oração principal de “soas-me na alma distante”. c) a oração coordenada assindética em relação à “quando passo, sempre

errante”. d) a oração principal de “por mais que me tanjas perto”. e) a oração subordinada adverbial temporal. 8- Leia o pensamento de Rabindranath Tagore. “Se fechar a porta a todos os erros, a verdade ficará lá fora”. http://www.pensador.info/p/pensamentos_tagore/1/ O período pode ser analisado da seguinte forma: a) oração principal “se fechar a porta a todos os erros” e oração subordinada

adverbial condicional “a verdade ficará lá fora”. b) oração subordinada adverbial causal “se fechar a porta a todos os erros” e

oração principal “a verdade ficará lá fora”. c) oração subordinada adverbial temporal “se fechar a porta a todos os

erros” e oração principal “a verdade ficará lá fora”. d) oração subordinada adverbial condicional “se fechar a porta a todos os

erros” e oração principal “a verdade ficará lá fora”. e) duas orações principais. Leia atentamente o poema de Fernando Pessoa e responda às questões 9 e 10. Às vezes Às vezes tenho ideias felizes, Ideias subitamente felizes, em ideias E nas palavras em que naturalmente se despegam... Depois de escrever, leio... Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto? De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu... Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?... http://www.revista.agulha.nom.br/facam55.html

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9- Analise o período “depois de escrever, leio...”.

10- Analise o período “Isto é melhor do que eu...” (2ª estrofe).

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Outros Tipos de Oração

Orações equipolentes

Orações intercaladas

Orações complexas

9

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Caro aluno,

Chegamos à última unidade. Aqui você estudará os períodos constituídos de

coordenação e subordinação ao mesmo tempo. São períodos mais complexos, pois

apresentam simultaneamente orações coordenadas e subordinadas. Você

perceberá também que as orações subordinadas podem estar coordenadas entre si.

Objetivos da Unidade:

• Definir oração equipolente.

• Identificar as orações intercaladas.

• Analisar as orações complexas.

Plano da Unidade:

Orações eqüipolentes

Orações intercaladas

Orações complexas

Bons Estudos!

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Orações Equipolentes

Você estudou, nas unidades precedentes, as orações coordenadas e

subordinadas em separado. Agora, aprenderá que as orações subordinadas podem estar coordenadas entre si. São as chamadas orações equipolentes.

Observe: – Quero que fique e passe uns dias conosco. (Diz a dona da casa para uma criança que está em seu colo.) O período “quero que fique e passe uns dias conosco” é constituído de três orações: . Primeira oração- “quero” . Segunda oração- “que fique” . Terceira oração- “passe uns dias conosco” Repare em que o verbo da primeira oração – oração principal – “quero” possui dois complementos oracionais, que são a segunda e a terceira orações. São as orações subordinadas substantivas objetivas diretas coordenadas entre si. Logo, são orações equipolentes. A conjunção e coordena as orações substantivas.

DICA

Não há necessidade de se empregar a conjunção na segunda oração. As orações equipolentes podem ser: a) subordinadas adjetivas- O livro [que comprei e já está na estante] é muito bom. - oração principal- o livro é muito bom. - orações subordinadas adjetivas coordenadas entre si- “que comprei e já está na estante”. São coordenadas por meio da conjunção e. b) subordinadas substantivas objetivas diretas- Desejo [que estude e trabalhe]. - oração principal- desejo. - orações subordinadas substantivas objetivas diretas coordenadas entre si- “que estude e trabalhe”. São coordenadas por meio da conjunção e.

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c) subordinadas substantivas objetivas indiretas- Preciso [de que me ajude e chegue cedo]. - oração principal- preciso. - orações subordinadas substantivas objetivas indiretas coordenadas entre si- “de que me ajude e chegue cedo”. São coordenadas por meio da conjunção e. d) subordinadas substantivas subjetivas- É necessário [que venha e me auxilie]. - oração principal- é necessário. - orações subordinadas substantivas subjetivas coordenadas entre si- “que venha e me auxilie”. São coordenadas por meio da conjunção e. e) subordinadas substantivas predicativas- A verdade é [que você não veio nem me ajudou]. - oração principal- a verdade é. - orações subordinadas substantivas predicativas coordenadas entre si- “que você não veio nem me ajudou”. São coordenadas por meio da conjunção nem. f) subordinadas substantivas apositivas- A verdade é esta: [que você não veio nem me ajudou]. - oração principal- a verdade é. - orações subordinadas substantivas predicativas coordenadas entre si- “que você não veio nem me ajudou”. São coordenadas por meio da conjunção nem. g) subordinadas adverbiais causais- Não veio à festa [porque chegou tarde e está cansado]. - oração principal- não veio à festa. - orações subordinadas adverbiais causais coordenadas entre si- “porque chegou tarde e está cansado”. São coordenadas por meio da conjunção e. h) subordinadas adverbiais conformativas- Tudo aconteceu [conforme combinaram e previram]. - oração principal- não veio à festa. -orações subordinadas adverbiais conformativas coordenadas entre si- “conforme combinaram e previram”. São coordenadas por meio da conjunção e. i) subordinadas adverbiais comparativas- Este menino é inteligente [como o irmão e como a irmã]. - oração principal- este menino é. -orações subordinadas adverbiais comparativas coordenadas entre si- “como o irmão e como a irmã”. São coordenadas por meio da conjunção e.

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j) subordinadas adverbiais condicionais- [Se ficar tarde e ele não tiver chegado], iremos atrás dele. - oração principal- iremos à festa. -orações subordinadas adverbiais condicionais coordenadas entre si- “se ficar tarde e ele não tiver chegado”. São coordenadas por meio da conjunção e. k) subordinadas adverbiais temporais- [Depois que partiu e tudo mudou], a casa pareceu triste. - oração principal- a casa pareceu triste. -orações subordinadas adverbiais temporais coordenadas entre si- “depois que partiu e tudo mudou”. São coordenadas por meio da conjunção e. l) subordinadas adverbiais concessivas- [Embora esteja cansado e não tenha disposição], irá à festa. - oração principal- irá à festa. -orações subordinadas adverbiais concessivas coordenadas entre si- “embora esteja cansado e não tenha disposição”. São coordenadas por meio da conjunção e. m) subordinadas adverbiais consecutivas- Ficou doente [de modo que não saiu nem recebeu ninguém em casa]. - oração principal- ficou doente. -orações subordinadas adverbiais consecutivas coordenadas entre si- “de modo que não saiu nem recebeu ninguém em casa”. São coordenadas por meio da conjunção nem. n) subordinadas adverbiais finais- Estudou muito [para que fosse aprovado e obtivesse bom emprego]. - oração principal- estudou muito. -orações subordinadas adverbiais finais coordenadas entre si- “para que fosse aprovado e obtivesse bom emprego”. São coordenadas por meio da conjunção nem. o) subordinadas adverbiais proporcionais- [À medida que o tempo passava e o menino crescia], a esperança da família aumentava]. - oração principal- a esperança da família aumentava. -orações subordinadas adverbiais proporcionais coordenadas entre si- “à medida que o tempo passava e o menino crescia”. São coordenadas por meio da conjunção nem.

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IMPORTANTE

As orações subordinadas reduzidas também podem ser equipolentes.

Você acabou de estudar as orações equipolentes. Estude agora as orações intercaladas.

Orações Intercaladas

A oração intercalada também denominada interferente interpõe-se no período sem exercer função sintática em outra oração. Por isso, é uma oração independente, sendo tratada por José Oiticica como “oração justaposta”. (1955) Não se encontra arrolada na NGB, mas ocorre com frequência, quando queremos fazer “um comentário subjetivo, uma ressalva, um desabafo do autor, de valor antes expressivo, estilístico, do que sintático, gramatical”. (KURY:2006) Observe: – A verdade, digo sempre, é que a persistência torna-se necessária. O exemplo pode ser analisado da seguinte maneira: - oração principal- “a verdade é”. -oração subordinada substantiva predicativa- “que a persistência torna-se necessária”. (que = conjunção integrante) - oração intercalada ou interferente- “digo sempre”. Perceba, caro aluno, que na oração “digo sempre” há um comentário do autor, colocado no meio do período, sem exercer função sintática em nenhuma outra oração.

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Outro exemplo: À noite, as estrelas – que lindo brilho possuem! – enfeitam a noite escura, que recai sobre a cidade. - “à noite, as estrelas enfeitam a noite escura”- oração principal. - “que recai sobre a cidade”- oração subordinada adjetiva explicativa. - “que lindo brilho possuem!”- oração intercalada ou interferente. Na oração “que lindo brilho possuem!” há um comentário do autor, colocado no meio do período, sem exercer função sintática em nenhuma outra oração. Você acabou de estudar as orações intercaladas. Estude agora as orações complexas.

Orações Complexas

Há orações como:

“Quem entende melhor o outro é quem viveu mais” Elas são denominadas por Sousa da Silveira (1964) e José Oiticica (1940) “orações complexas”, visto que a oração principal – “é” – “fica truncada e, em geral, totalmente desprovida de sentido, só perceptível quando se considera o conjunto”. (KURY:2006) Assim esses autores preferem a seguinte análise: - “quem entende melhor o outro”- sujeito - “é quem viveu mais” Orações complexas também:

“Os que estudam são os que vencem”

Visto que a oração principal se reduziria a “os são os”, “sem qualquer sentido nem estrutura sintática” (KURY:2006).

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Leitura Complementar

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo:Ática, 2006

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luis Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.

É HORA DE SE AVALIAR!

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo

a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-

aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Bem, prezado aluno, assim chegamos ao fim da disciplina Fenômenos Sintáticos. Boa sorte em sua caminhada!

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Exercícios-Unidade 9

1- Orações equipolentes são aquelas: a) subordinadas e coordenadas simultaneamente. b) subordinadas e coordenadas entre si. c) que se subordinam a uma principal. d) coordenadas entre si. e) que apresentam uma oração principal relacionada uma subordinada

substantiva. 2- Oração intercalada é sempre: a) oração principal. b) oração subordinada adverbial. c) oração subordinada adjetiva. d) aquela que se interpõe no período sem exercer função sintática em outra

oração. e) oração subordinada substantiva. 3- Oração complexa vem a ser aquela que: a) fica truncada e, em geral, totalmente desprovida de sentido, só

perceptível quando se considera o conjunto. b) é subordinada de uma oração, estando coordenada a uma outra. c) é principal e coordenada ao mesmo tempo. d) é também denominada oração intercalada. e) está sempre subordinada a uma oração coordenada. 4- É exemplo de oração intercalada a destacada em: a) O fato é que não virão amanhã, como todos já sabem. b) Sabia que ninguém concordaria com a idéia. c) O rapaz que nunca era visto com a namorada havia sido surpreendido

pelos amigos na praia. d) A escola onde estudava era elogiada. e) A vida, como digo sempre, é bonita.

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5- São orações subordinadas substantivas objetivas diretas equipolentes as destacadas em: a) Desejo que seja aprovado e consiga um bom emprego. b) Era um menino que estudava e trabalhava. c) O presente que recebeu e guardou alegrou-o muito. d) É provável que chegue e vá à festa. e) Embora fosse estudioso e agradasse à mãe, não foi aprovado. 6- São orações subordinadas adverbiais condicionais equipolentes as destacadas em: a) Não irei à praia porque chove e estou cansada. b) Se não chover e não estiver cansada, irei à praia. c) Quando chegar e descansar, conversaremos. d) Como conversaram e combinaram, não viajaram naquele dia. e) Depois que saiu e encontrou-se com a namorada, ficou triste. 7- São orações subordinadas adjetivas equipolentes as destacadas em: a) Era necessário que mudasse e amadurecesse. b) Precisava de que o ajudassem e o compreendessem. c) O que era necessário e o que se fazia urgente, providenciou

imediatamente. d) A verdade é que gostava de música e tocava piano. e) Disse exatamente isto: que não concordava com a idéia e não voltaria

lá. 8- São orações subordinadas substantivas objetivas diretas reduzidas de infinitivo equipolentes as destacadas em: a) Sentiu que se aproximava e estava feliz. b) Insistiu em que terminassem a briga e se entendessem. c) Quis chegar e resolver o problema. d) Hei de estudar e trabalhar. e) Mandou-o entrar e sentar-se.

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9- A oração destacada em “ouvia a canção – que voz linda a do cantor! – atentamente” denomina-se oração intercalada. Justifique.

10- Por que são complexas as orações “os que choravam sua morte eram os que se fizeram seus verdadeiros amigos”?

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Considerações Finais

Caro aluno, chegamos ao final dos estudos de Fenômenos Sintáticos.

Ao longo das unidades de estudo, você analisou todo o período simples, o

período composto e as diferentes abordagens. Mais uma vez, ressaltamos que, se

não existe verdade absoluta em nossa área de conhecimento, há, ao menos, aquela

visão mais coerente dos fatos linguísticos. O importante é entendê-la para um melhor desempenho em sala de aula como professor de Português.

A Universo Virtual o parabeniza por ter concluído seus estudos, aumentando

sua bagagem com conhecimentos e habilidades que irão beneficiá-lo por toda a vida.

Mas a aprendizagem não para por aqui. Mantenha o hábito de ler, atualize-se sempre e não se esqueça de praticar o que foi aprendido.

Sucesso!

Equipe Universo Virtual.

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Conhecendo as Autoras

Maria Alice das Neves Belleza

Licenciada e Mestra em Letras pela UFF e graduada em Direito pela Universo. Já ocupou o cargo de Coordenação do Curso de Letras e de Vice-Direção do Centro de Letras e Artes, nessa mesma Instituição.

Atua há dezesseis anos no Magistério Superior e há vinte anos no Ensino Fundamental e Médio.

Leciona nos cursos de Letras e de Direito na Universidade Salgado de Oliveira. No curso de Letras, atua de 1995.

Desde 2006, trabalha no Ensino a Distância como tutora e conteudista.

Maria Luzia Paiva de Andrade

Especialista em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense, especialista em Educação a Distância pelo Senac/RJ e professora da Universidade Salgado de Oliveira desde 2002, onde atua nos cursos de Letras e Pedagogia em disciplinas na área de Língua, Linguagem e Linguística. Compõe a equipe de Educação a Distância da Universo (Universo Virtual) desde 2005 como professora-tutora e plantonista de Língua Portuguesa I e II. É autora dos conteúdos das disciplinas do Curso de Letras 100% - Universo Virtual: Aspectos Fonológicos da Língua, Estudos da Linguagem II, Prática Social da Leitura e Produção Textual em Língua Portuguesa, Aspectos Fonéticos da Língua e Estilística. Leciona, ainda, nas redes Estadual e Municipal de Educação, tendo atuado também como Coordenadora Pedagógica dos Ensinos Médio e Fundamental.

Sua área de pesquisa relaciona-se à Variação e Mudança Linguística com foco na aquisição de conhecimentos que possam contribuir para a compreensão, a utilização e a sistematização do processo de aprendizagem da Língua Portuguesa. Possui trabalho publicado nesta área em I Caderno de Português no Brasil. Niterói: UFF, 1997.

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Referências

BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Lucerna: Rio de Janeiro, 2006.

KURY, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. São Paulo: Ática, 2006.

AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.

CÂMARA JUNIOR, J. Mattoso. Dicionário de Linguística e Gramática. 16ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

CARONE, Flávia de Barros. Subordinação e Coordenação: Confrontos e Contrastes. São Paulo: Ática, 1999.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luís Filipi Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

DIAS, Augusto Epifânio. Sintaxe Histórica Portuguesa. 5ª ed. 1970, Lisboa, Livraria Clássica.

GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro: Getúlio Vargas, 2005.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2006.

MACAMBIRA, José Rebouças. A Estrutura Morfossintática do Português. São Paulo: Livraria Pioneira, 1990.

MACEDO, Walmírio. Análise Sintática em Nova Dimensão. 5ª ed. Rio de Janeiro: Presença, 1991.

MELO, Gladstone Chaves de Melo. Novo Manual de Análise Sintática. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954.

OITICICA, José. Manual de Análise Sintática. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1940.

PERINI, A. Perini. Para Uma Nova Gramática do Português. São Paulo: Ática, 1989.

SILVEIRA. Álvaro Ferdinando de Sousa da. Lições de Português. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1964.

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nexos A

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Gabaritos

Unidade 1

1-d 2-a 3- e 4-b 5-a 6-c 7- e 8-c 9- A maioria dos gramáticos considera sujeito composto – “os arsenais e as oficinas”. A oração equivale à construção – os arsenais e as oficinas são vazados”. Já o mestre Said Ali afirma que não existe essa equivalência. O sujeito é indeterminado, e “os arsenais e as oficinas” constituem o objeto direto. 10- O sujeito é simples, porque tem como núcleo um único termo – o substantivo “mestres”, de “os mestres carpinteiros” – agente de “saltar”. Quem salta? “Os mestres carpinteiros”. Unidade 2 1-d 2- e 3- a 4-b 5-e 6-b 7- c 8-e 9- A maioria dos gramáticos considera a indicação da hora “meia-noite” um predicativo do sujeito, pois o verbo ser é de ligação. Walmírio Macedo discorda de tal posicionamento, porque não pode haver predicativo de um sujeito que não existe. Neste caso, o verbo ser é intransitivo.

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10- A maioria dos gramáticos considera o verbo pensava como transitivo indireto porque se constrói com a preposição em. Logo, “num beijo” é objeto indireto. Rocha Lima não concorda com tal posicionamento porque objeto indireto vem do caso dativo latino, que indica “atribuição de algo a alguém”. Assim sendo, o verbo ocorre com a preposição a seguida de um termo que signifique pessoa. Entre o verbo “pensava” e seu complemento “num beijo” existe apenas uma relação estabelecida por meio da preposição em, mas não há o sentido de atribuição. Por isso, Rocha Lima o denomina verbo transitivo relativo e o complemento é chamado complemento relativo. Unidade 3 1-d 2- c 3- b 4-a 5-e 6-c 7- b 8-d 9- Alguns gramáticos consideram, nesse caso, o adjetivo “fieI” um aposto circunstancial. Outros gramáticos, como Gladstone Chaves de Melo, não concordam com tal posicionamento, porque entre um substantivo e um adjetivo há uma relação de subordinação e o aposto está no mesmo nível do termo a que ele se refere. Ele então afirma que esse adjetivo é um atributo circunstancial. 10- Sim, porque entre “azul” e “firmamento” há relação de posse, logo “do firmamento” é adjunto adnominal de “azul”. Já em “minha visão do firmamento” equivale a ver o firmamento. No momento em que formamos um substantivo dele derivado – ver / visão –, em relação à situação apresentada, continuamos a ter um complemento, só que desta vez um complemento do nome. Por ser complemento, tem valor objetivo, é o termo paciente, do mesmo modo que o é o complemento verbal – ver o firmamento / “visão do firmamento”.

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Unidade 4 1-a 2- c 3- a 4-b 5-d 6-b 7- e 8-c 9- Trata-se da voz reflexiva, pois a ação de apressar recai sobre o próprio agente. “O caminhante” apressa a si mesmo. 10- São dois vocativos, pois há um chamamento, uma invocação. Unidade 5 1-b 2- d 3- a 4-c 5-a 6-c 7- e 8-a 9- Porque um elemento desencadeia o outro, como podemos observar em ora..ora. 10- Por que só pode haver explicação de algo anteriormente expresso. Unidade 6 1-c 2- a 3- e 4-d 5-b 6-c 7- a 8-c 9- O pronome relativo cujo exerce a função sintática de adjunto adnominal, porque indica uma relação de posse. Trata-se do autor do livro, ou seja, o livro tem um autor. 10- O pronome relativo como exerce a função sintática de adjunto adverbial de modo, porque indica o modo, a maneira como as coisas aconteceram.

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Exercícios-Unidade 7 1-b 2- c 3- e 4-a 5-d 6-c 7- b 8-d 9- Os verbos causativos, tais como mandar, deixar, fazer não formam locução verbal, pois o sujeito desses verbos não é o mesmo do outro verbo. Assim sendo, a construção constitui-se de oração principal- “um pensamento visível faz” e oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo- “me andar mais depressa”. O pronome pessoal oblíquo me exerce a função sintática de sujeito do infinitivo andar. 10- Adriano da Gama Kury considera como um advérbio interrogativo que introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta – complemento oracional do verbo sei –.Já Celso Pedro Luft considera como um pronome relativo sem antecedente com valor de conectivo, pois inicia uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Em oposição a Gama Kury, afirma tratar-se de uma oração conectiva, ou seja, não é justaposta. Ocorre um sincretismo, já que como é um pronome e conectivo ao mesmo tempo. Unidade 8 1-c 2- a 3- e 4-d 5-b 6-c 7- d 8-d 9- O período é constituído da oração subordinada adverbial reduzida de infinitivo “depois de escrever” e da oração principal “leio”. 10- O período é constituído da oração principal “isto é melhor” e da oração subordinada adverbial comparativa “do que eu”.

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Exercícios-Unidade 9 1-b 2- d 3- a 4-e 5-a 6-b 7- c 8-e 9- A oração intercalada também denominada interferente interpõe-se no período sem exercer função sintática em outra oração. Por isso, é uma oração independente, sendo tratada por José Oiticica como “oração justaposta”. (1955) 10- Porque a oração principal se reduziria a “os eram os”.