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  • Ministrio doDesenvolvimento, Indstria

    e Comrcio Exterior

  • O Movimento da Qualidade no Brasil

    Copyright 2011 Inmetro Todos os direitos reservados.

    ISBN: 978-85-64543-00-3

    Presidente da Repblica: Dilma Rousseff

    Ministro do Desenv. Indstria e Comrcio Exterior: Fernando Pimentel

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    Coordenao Tcnica: Luiz Carlos Monteiro

    Superviso Tcnica: Luciane Peres Lobo | Marcia Andreia da Silva Almeida

    Edio e coordenao editorial: Sonia Fonseca

    Reviso: Simone Zaccarias

    Projeto Grfico e Desktop: Srgio Alencar

    Diagramao: Neide Pereira Pinto

    Pr-impresso, impresso e acabamento: Edelbra

  • Waldir Algarte Fernandes

  • Prefcio

    Qualidade, Normalizao e Metrologia

    A qualidade depende diretamente da normalizao e da metrologia. No h qualidade se no houver especificao dos insumos, do produto final, das metodo-logias de produo e de medio dos atributos-chave.

    A elevao do nvel global de competitividade da produo est entre as prio-ridades das lideranas mundiais emergentes o que implica no fortalecimento da tecnologia industrial bsica desses pases, sendo, portanto, inquestionvel o papel central das atividades relacionadas metrologia, normalizao e qualidade.

    Considerando o escopo deste livro, relevante destacar que a preocupao com a qualidade de bens e servios no recente. Os consumidores, mesmo na fase da produo artes, sempre tiveram o cuidado de inspecionar os objetos das relaes de troca.

    Essa preocupao caracterizou a primeira fase da gesto da qualidade. Da inspe-o do produto acabado gesto de processos - que tem como finalidade identificar

  • e atender os requisitos do cliente decorrem alguns sculos de histria. Seu conhe-cimento de fundamental importncia para a compreenso do estado da arte em qualidade, no Brasil e no mundo.

    O Movimento da Qualidade no Brasil nos convida a refletir sobre o quanto o Bra-sil tem avanado na implementao de polticas pblicas orientadas para a insero do produto nacional no mercado global.

    O diferencial de competitividade que nosso Pas tem alcanado em vrios pro-dutos industrializados, guarda relao direta como o grande esforo empreendido internamente para melhoria da infraestrutura de apoio qualidade, incluindo ai a tecnologia de gesto.

    Outra reflexo relevante quanto ao nvel de maturidade do setor produtivo brasileiro para avanar nas questes relacionadas gesto da qualidade, conside-rando os desafios de uma sociedade ps-industrial ambientada no desenvolvimen-to tecnolgico, na escassez dos recursos naturais, nas incertezas cientficas e nos princpios universais que regem as prticas de gesto empresarial com responsabi-lidade social.

    Esta publicao compreende um resgate histrico do movimento da qualidade no Brasil, com especial enfoque no esforo do governo brasileiro e da comunidade produtiva no sentido disponibilizar produtos e servios com adequados nveis de qualidade e elevar a competitividade da produo industrial brasileira.

    Joo JornadaPresidente do Inmetro

  • 7Apresentao

    A proposta deste livro registrar os fatos que marcaram um movimento da maior importncia para o pas: o de melhoria da qualidade de produtos e servios aqui produzidos. Beneficiou os cidados na medida em que estes passaram a ter acesso a produtos mais seguros, com melhor desempenho e maior durabilidade, e teve contribuio decisiva para o aumento da competitividade das empresas brasi-leiras, beneficiando toda a sociedade brasileira, se entendermos que a maior com-petitividade do setor produtivo implica em maior gerao de empregos e renda no pas.

    At para que se possa traar um paralelo com o movimento ocorrido em todo o planeta, feita uma descrio pormenorizada da evoluo dos conceitos e da abordagem dada qualidade pelo mundo afora, desde as primeiras civilizaes. Constata-se que a evoluo do movimento da qualidade no Brasil seguiu passos semelhantes aos observados nas diferentes partes do mundo. No que diz respeito histria do movimento da qualidade no Brasil, so descritos todos os programas estabelecidos ao longo dos anos, com destaque para o Programa Brasileiro da Qua-lidade e Produtividade - PBQP, o mais importante deles, estabelecido no incio dos anos 90, em forma de poltica pblica, para fazer face a abertura econmica que ocorreu no Brasil a partir daqueles anos.

  • 8Fazendo uma anlise crtica das diversas etapas observadas pelo movimento da qualidade no Brasil e no mundo e abordando profundamente nos fundamentos e ferramentas atualmente praticadas na gesto da qualidade, o livro apresenta im-portantes conceitos para os estudantes e profissionais que desejam enveredar no campo da qualidade.

    O Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial Inme-tro, considerado no Brasil a Casa da Qualidade, ao tomar a iniciativa de patrocinar este livro presta uma importante contribuio a sociedade brasileira.

    A escolha do Engenheiro Waldir Algarte para escrever este livro foi muito fe-liz, j que ele hoje um dos maiores especialistas no tema. Alm de ter trabalhado durante muito tempo na implantao de Sistemas de Gesto da Qualidade hoje um renomado professor e consultor no tema. Sua capacidade de anlise crtica da maior importncia para analisar e interpretar os fatos que marcaram a histria do movimento da qualidade no Brasil e no mundo.

    Por tudo isso, permito-me recomendar este livro para utilizao em programas de desenvolvimento de profissionais, bem como para uso de profissionais que de-sejam desenvolver uma viso geral do tema ou atualizar-se nos conceitos de gesto da qualidade.

    Alfredo Carlos Orpho LoboDiretor da Qualidade do Inmetro

  • Sumrio

    1. A EVOLUO DA QUALIDADE NO MUNDO 131.1 Qualidade desde a Origem do Homem 15

    1.2 A Qualidade na China Antiga 24

    1.3 O Controle de Processo na Antiguidade: Egito, Grcia e Prsia 29

    1.4 O Imprio Romano e o Controle de Processo Diferenciado 32

    1.5 Fim do Regime Feudal: Qualidade Controlada pelo Arteso 32

    1.6 A Indstria Naval Veneziana no Sculo XVI 33

    1.7 Revoluo Industrial: A Qualidade Controlada pelos Mestres e Supervisores 34

    1.8 Primeira Guerra Mundial: Qualidade Controlada pelos Inspetores nfase

    na Deteco de Defeitos 35

    1.9 A Indstria Automobilstica e a Produo em Massa 36

    1.10 Controle Estatstico da Qualidade nfase no Processo 37

    1.11 Controle da Qualidade A Preveno de Defeitos 38

    1.12 Confiabilidade Qualidade de Projeto 39

    1.13 Programas Motivacionais 39

    1.14 Garantia da Qualidade 40

    1.15 Controle Total da Qualidade 41

    1.16 Controle da Qualidade no Japo 43

    1.17 Sistemas da Qualidade: Globalizao e Normas ISO 9000 45

    1.18 Prmios Nacionais da Qualidade 51

    1.19 Avaliao da Conformidade 52

    2. A EVOLUO DA QUALIDADE NO BRASIL 532.1 A Produo Industrial no Brasil 53

    2.2 A Qualidade na Indstria Automobilstica do Brasil 54

    2.3 A Qualidade na Indstria de Base e de Bens de Capital 56

    2.4 A Qualidade na Indstria de Bens de Consumo 58

    2.5 Evoluo da Metrologia, Normalizao e Qualidade no Processo Brasileiro

    de Industrializao 59

    3. A GLOBALIZAO E O MOVIMENTO PELA QUALIDADE NO BRASIL 673.1 O Programa da Qualidade e Produtividade ProQP (1986-1990) 68

    3.2 Programa de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    PADCT (1984-2001) 69

  • 3.3 Programa de Capacitao de Recursos Humanos para Atividades

    Estratgicas RHAE (desde 1984) 74

    3.4 Contexto Macroeconmico da Dcada de 1980 75

    3.5 Introduo das Normas NBR ISO 9000 no Brasil 76

    3.6 Sistema Brasileiro de Avaliao da Conformidade (SBAC) 77

    3.7 Avaliao da Conformidade 78

    3.8 Prmio Nacional de Qualidade - PNQ 81

    3.9 Gespblica Programa Nacional de Gesto Pblica e Desburocratizao

    (desde 2005) 86

    3.10 As duas Correntes de Gesto da Qualidade no Brasil 89

    4. PBQP PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE 93 4.1 Primeira Fase: Formulao e Implementao (1990-1995) 95

    4.2 Segunda Fase: Reorientao Estratgica do PBQP (1996-1997) 101

    4.3 Terceira Fase: Realinhamento Estratgico do PBQP (1998-2000) 104

    4.4 Realinhamento de fevereiro de 2000 (2000-2001) 108

    5. MBC MOVIMENTO BRASIL COMPETITIVO 1135.1 Misso, Viso e Diretrizes 113

    5.2 Foco de Atuao, Posicionamento Estratgico e Macro Objetivos 115

    5.3 Programas do MBC 116

    5.4 Projetos do PROGRAMA INDICADORES, AVALIAO e BENCHMARKING 116

    5.5 Projetos do PROGRAMA ESTRATGIA E GESTO 118

    5.6 Projetos do PROGRAMA INOVAO e MARKETING 120

    BIBLIOGRAFIA 123

    STIOS CONSULTADOS 127

    ANEXOS 129Anexo 1 PBQP Subprogramas Gerais (1990-1992) 131

    Anexo 2 PBQP Subprogramas Setoriais (1990-1992) 134

    Anexo 3 PBQP Orientaes Estratgicas (1992) 135

    Anexo 4 PBQP Orientaes Estratgicas (1993) 137

    Anexo 5 PBQP Vencendo Desafios para a Melhoria da Qualidade no Brasil 139

    Anexo 6 PBQP Principais Resultados 140

    GLOSSRIO 145

  • A Evoluo da Qualidade no Brasil

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    Na conceituao moderna do termo, qualidade significa adequao ao uso. o atendimento aos desejos e s aspiraes dos consumidores, incluindo os aspectos econmicos, de segurana e desempenho. O conceito refere-se ao mais apropriado e no ao melhor ou ao mais caro.

    A preocupao com a qualidade existe desde os primrdios das civilizaes. Historicamente associado realizao de inspees e testes nos servios ou pro-dutos acabados, o conceito de controle da qualidade (v. Glossrio) sofreu mudan-as significativas com a Revoluo Industrial, quando ganhou mais importncia. A aplicao de teorias estatsticas aos planos de inspeo (v. Glossrio) e testes repre-senta uma nova etapa do conceito, denominada Controle Estatstico da Qualida-de (v. Glossrio). Na segunda metade do sculo XX, a complexidade tecnolgica, o aumento do volume de investimentos e a necessidade de segurana concorreram para a ampliao do controle da qualidade. Tornou-se absolutamente fundamental assegurar, previamente, a qualidade dos produtos, servios, instalaes e equipa-mentos, o que deu origem ao Controle Total da Qualidade.

    1 | A Evoluo da Qualidade no Mundo

  • Movimento da Qualidade no Brasil

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    Mestre

    NFASE NO PRODUTO NFASE NO PROCESSO

    CONCEITO MODERNODE CONTROLE DAQUALIDADE

    REVOLUO INDUSTRIALSISTEMA FEUDAL

    GUERRA FRIA GLOBALIZAO

    Supervisor

    Ncleo deInspetores

    ControleEstatstico

    ControleTotal daQualidade

    Garantia daQualidade

    Gesto daQualidade

    Avaliao da Conformidade

    GESTO DA QUALIDADE

    Os Sistemas de Garantia da Qualidade (v. Glossrio) resultam da aplica-o da abordagem sistmica ao Controle Total da Qualidade (v. Glossrio). So mtodos gerenciais que preconizam o esforo globalizado e sistmico da empresa na busca da qualidade e se baseiam, resumidamente, nas seguintes premissas:

    a qualidade o resultado do trabalho de cada um e, portanto, todos so res-ponsveis por ela, inclusive a alta administrao da empresa;

    a qualidade est baseada na tecnologia, que se fundamenta no desenvolvi-mento de recursos humanos, e

    a qualidade deve ser explicitada para que possa ser controlada e desen-volvida.

    Um Sistema de Garantia da Qualidade um conjunto de medidas que permite implementar na empresa essas premissas. fundamental, em virtude da mudana de hbitos que representa, que a introduo dos Sistemas de Garantia da Qualidade se faa de modo planejado e gradual.

    A globalizao da economia tornou necessria a padronizao dos requisitos de Sistemas de Garantia da Qualidade. Em 1987, foram editadas as normas interna-cionais, mundialmente conhecidas como Normas da Srie ISO 9000, que possibili-taram a padronizao desses requisitos em todo o mundo. As Normas da Srie ISO 9000:1987 foram revisadas pela primeira vez em 1994 e deram origem s Normas da Srie ISO 9000:1994.

  • A Evoluo da Qualidade no Mundo

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    Como a ISO 9000:1994 dava mais nfase garantia da qualidade do produto/servio (v. Glossrio) do que aos resultados da empresa, comeam a surgir os pr-mios de excelncia em qualidade, que abordam, simultaneamente, a satisfao do cliente, a garantia da qualidade do produto/servio, os resultados da empresa, a ges-to empresarial e a melhoria contnua da qualidade. Nos Estados Unidos, em 14 de novembro de 1988, foi entregue o Prmio Malcolm Baldrige, lanado em 1987; na Europa, em 1988, instituiu-se o Prmio Europeu da Qualidade; e no Brasil, em 1991, foi criado o Prmio Nacional da Qualidade (PNQ). Para acompanhar a tendncia mun-dial, em dezembro de 2000, as Normas ISO 9000:1994 foram tambm revisadas, dan-do origem s Normas ISO 9000:2000, com a incorporao dos aspectos valorizados pelos prmios de excelncia em qualidade, isto , a satisfao do cliente, os resulta-dos da empresa, a gesto empresarial e a melhoria contnua. Em dezembro de 2005, foi lanada a ISO 9000:2005 (Fundamentos e Vocabulrio) e, em outubro de 2008, a ISO 9001:2008 (Requisitos) com pequenas alteraes da ISO 9001:2000.

    1.1 Qualidade desde a Origem do Homem

    A qualidade sempre esteve presente na vida do homem. No incio, para sobre-viver, este j se preocupava com a qualidade dos alimentos que extraa da natureza. Com a utilizao da agricultura, passou a cuidar da qualidade daquilo que plan-tava e colhia. Por questo de segurana e sobrevivncia, preocupava-se tambm com a qualidade das pedras selecionadas para a fabricao de armas e ferramen-tas. Arquelogos franceses descobriram, no Qunia, uma fbrica de ferramentas de pedra, datando de 2,3 milhes de anos atrs, anterior, portanto, ao grupo Homo. Lascas afiadas eram retiradas de pedras e serviam para cortar carne e retirar polpa de plantas. O trabalho mais complexo do que qualquer outra coisa da mesma era, escreveu Helene Roche, da Universidade de Paris, na revista Nature, em artigo publicado pelo Jornal do Brasil, em 7 de maio de 1999, sobre as escavaes feitas no Vale Rift, onde fsseis de ancestrais dos humanos foram achados. Dois fatos in-dicam a habilidade de nossos ancestrais na fabricao de ferramentas de pedra:

    seleo rigorosa das pedras mais macias (originrias de lava vulcnica) e, corte com absoluto rigor e perfeio, no precisando de qualquer polimento

    adicional.

    A Evoluo do Homem desde a Pr-Histria

    O termo qualidade pode no ter existido na Pr-Histria, mas o conceito com certeza j existia, pelo menos nas melhorias que ocorreram com o homem, que leva-ram milnios, mas o homem inquestionavelmente evoluiu. O homem das cavernas

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    pode no ter pensado em qualidade, mas descobriu que, se as suas ferramentas e armas no fossem corretamente fabricadas, ele teria problemas ou at mesmo po-deria perder a sua vida.

    Na luta pela sobrevivncia, o homem das cavernas caava animais selvagens para se alimentar. Quando descobria que as ferramentas de caa tais como lana, cajado e faca de pedra estavam com qualquer tipo de problema, com certeza ten-tava melhor-las.

    Com o passar dos tempos, novas ferramentas foram inventadas e aperfeioadas, tais como arco, flecha, armadilhas e redes. Inicialmente, o homem s podia caar animais lentos, mas, medida que aperfeioava suas ferramentas e armas, sua habi-lidade de caar animais rpidos tambm melhorou.

    Segundo Herbert Spencer, o progresso no um acidente mas uma necessida-de. um fato da natureza.

    Christian Jrgensen Thomsen, um homem de negcios dinamarqus, descobriu que a evoluo do homem comeou bem antes dos tempos bblicos, conforme de-fendia o arcebispo Ussher, que fixara 4004 a.C. como sendo a data da criao do homem. Para Thomsen, a evoluo do homem comeou em uma era bem anterior a 4004 a.C.: na Pr-Histria. Thomsen dividiu a Pr-Histria em trs pocas: Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro.

    Idade da Pedra

    A Idade da Pedra se estendeu de 600.000 a.C. a 100.000 a.C., dependendo da regio em que o homem primitivo viveu. Para se manter vivo, juntamente com a sua famlia, o homem primitivo confiava em suas ferramentas e armas feitas de pedra. Aprendeu com o tempo que podia afiar e polir suas armas e ferramentas para torn-las mais eficazes e eficientes.

    O homem pr-histrico reconheceu o fogo pela primeira vez quando um raio atingiu uma rvore, causando um incndio. Apesar do medo, descobriu que o fogo poderia ser usado para cozinhar alimentos e para aquecer sua caverna. Des-cobriu, mais tarde, que poderia obter o fogo esfregando dois pedaos de madeira seca ou produzindo uma fasca batendo um pedao de pedra em determinados tipos de rochas. A obteno do fogo foi, provavelmente, a primeira grande inven-o do homem.

    Mais tarde, ainda na Idade da Pedra, o homem aprendeu a plantar sementes e isso incentivou o desenvolvimento de pequenas plantaes. Com a agricultura, o homem no precisava mais mudar de um local de caa para outro na procura de alimentos. Poderia obter seus alimentos diretamente da terra e no mesmo local. Deixou de ser nmade e passou a cuidar da terra para o cultivo dos seus alimen-

  • A Evoluo da Qualidade no Mundo

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    tos. Com a agricultura, o homem tambm precisou aprender como preservar seus alimentos, principalmente aquele que vivia em climas mais severos.

    Idade do Bronze

    Em torno de 5000 a.C. o homem, lenta e firmemente, foi aprendendo que al-gumas rochas fundiam quando em contato com o extremo calor produzido pelo fogo. Desta maneira, o homem, a partir da descoberta do cobre, passou a fabricar utenslios, ferramentas e armas de cobre bruto. Por ser um metal malevel, o cobre permitia sua conformao por laminao, estamparia e forjamento, para dar a forma aos objetos, usando-se um simples martelo de pedra. O homem passou a dominar a tcnica de fundio, usando fornos e pequenos cadinhos (vasos de materiais resis-tentes ao fogo usados para fundir ou calcinar minrios e minerais). Logo descobriu o processo de fundio que usava a tcnica da cera perdida, utilizada at hoje, em que um modelo do objeto feito com cera de abelha. Cobre-se com argila e espera-se secar, obtendo-se o molde, onde feito um canal que servir para a retirada da cera, feita por aquecimento, e para o preenchimento com metal lquido.

    Mais tarde, cerca de 3000 a.C., com a descoberta do cobre e o total domnio do seu uso, o homem aprendeu que as ferramentas, antes feitas com este metal, fica-vam mais duras e resistentes se fosse adicionado o estanho. Acabara de ser desco-berta a primeira liga metlica o bronze, uma liga de cobre e estanho.

    Foi descoberto um complexo metalrgico na Armnia, que existiu em torno de 4000 a.C., onde o minrio era fundido nas partes mais altas da montanha e, por gravidade, refinado em diferentes estaes, medida que o metal liquefeito escoava pelo declive. Na mesma regio, foram descobertas plataformas astronmicas que mostravam alinhamentos, indicando a ascenso de algumas estrelas e planetas. Na regio da Montanha Vardenis, inscries na rocha mostram crateras, vales e reas altas da Lua. Isto indica que os homens primitivos tinham alguma espcie rudimentar de telescpio que permitia a observao detalhada da Lua.

    Idade do Ferro

    medida que os avanos em metalurgia prosseguiam, o homem aprendeu que, usando o fogo como fonte de calor e misturando diferentes minrios e carvo, poderia produzir metais mais duros. A fuso da mistura de diferentes minrios deu origem Idade do Ferro, que ocorreu em torno de 1000 a.C. no nordeste da Regio Mediterr-nea. Muitos estudiosos acreditam que o uso de armas de ferro pelos Hititas foi a princi-pal razo pela qual derrotaram os Egpcios que, no incio, s tinham armas de bronze.

    O desenvolvimento do ferro no foi o nico avano que ocorreu neste perodo. Foram inventados a roda, o barco a vela, o moinho de vento, a roldana e o arado.

  • Movimento da Qualidade no Brasil

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    Aparecimento de Cidades de Culturas desde a Pr-Histria

    A partir do perodo de 9000 a.C. a 8000 a.C., comearam a se formar as primeiras cidades nas margens de rios e lagos. Um exemplo marcante foi o rio Nilo, que teve influncia decisiva na ascenso e queda dos imprios do antigo Egito (4500 a.C. 395 d.C.). O mesmo aconteceu com os povos que viveram nas margens do Rio Indo, na ndia.

    Variaes incomuns no nvel do Nilo coincidiram com as grandes crises polticas que ocorreram no Antigo Egito. O Rio com nveis excepcionalmente baixos deixava os campos cultivados secos e improdutivos e, quando muito cheio, destrua os sis-temas de irrigao e as plantaes. Os dois extremos trouxeram fome e caos, provo-cando grandes crises e alteraes polticas. Nessas ocasies, os faras aproveitavam a mo de obra ociosa da agricultura para construir Mausolus, como as famosas pi-rmides do Egito.

    Em 1925, arquelogos descobriram, no noroeste da ndia, uma imponente me-trpole que existiu h mais de 4000 anos. A cidade, agora chamada Dholarvira, era bem avanada quando comparada com outras comunidades do mundo. Os coleto-res de impostos usavam peso padro para avaliar bens produzidos, e selos especiais identificavam os bens comercializados. As cidades da regio tinham poos de gua revestidos com tijolos, fundies para cobre e bronze, e instalaes para fabricao de joias. Os habitantes da cidade tinham uma obsesso com higiene e limpeza. Exis-tia uma rede sanitria com banheiros e fornecimento de gua nas casas residenciais e nos lugares pblicos. Essa civilizao do vale do Indo, que existiu entre 2600 a.C. e 1900 a.C., mostrava evidncia de prticas da qualidade j naquela poca.

    Stonehenge Um Observatrio Astronmico

    Pedras enormes a prumo, sozinhas, em fileiras ou em crculos so testemunhos do esforo do homem para perpetuar a sua vida e fazer alguma coisa que dure para sempre. Dos muitos meglitos enormes obras em pedra encontrados no noro-este da Europa, na Ilha de Pscoa e em outras partes do mundo, o mais intrigante e famoso Stonehenge.

    Numa plancie ondulada perto da cidade-catedral de Salisbury, Amesbury, no sul da Inglaterra, encontra-se o que restou dos dois crculos concntricos de enormes pedras, rodeando fileiras de pedras menores. Esse conjunto de meglitos recebeu o nome de Stonehenge, que no ingls antigo significa pedras pendentes. Das trinta pedras originais erguidas por uma antiga civilizao, apenas 16 permanecem no lo-cal. Algumas foram talhadas para ficarem em p. Outras tm uma parte saliente no topo para se encaixar na cavidade de outra pedra colocada sobre elas na horizontal.

  • A Evoluo da Qualidade no Mundo

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    Os arquelogos no compreendem como foi possvel movimentar meglitos de mais de vinte toneladas originrios de regies remotas. As pedras azuis usadas para marcar o crculo de Stonehenge II (construdo cerca de 2000 a.C) foram trazidas das pedreiras de Jales, situadas a 300 km.

    Acredita-se que Stonehenge I tenha sido construdo em 4000 a.C. com o objeti-vo de servir de local para cerimnias religiosas, para ritos de sacrifcio e adorao do Sol. O alinhamento das pedras com as ocorrncias anuais solares e celestes perma-nece em evidncia at hoje.

    Pesquisas mostram que o eixo de Stonehenge aponta para o nordeste, direo do nascer do Sol, no dia mais longo do ano (solstcio de vero). As pedras tambm esto orientadas para os ciclos da Lua. A trajetria da Lua pelo cu, que muda em perodos de dezoito anos e meio, muito mais complicada que a do Sol. As Quatro Pedras da Esta-o parecem alinhadas com os dois extremos do nascer da Lua nos solstcios de vero.

    Hoje, os arquelogos reconhecem que Stonehenge foi um observatrio habil-mente orientado para os movimentos do Sol e da Lua.

    A Civilizao Pr-Colombiana

    Quando pretendemos estudar a evoluo do homem na Pr-Histria, sempre temos dificuldades de achar referncias bibliogrficas sobre a Amrica, frica e Oce-ania. Autores e estudiosos, quando se referem evoluo do homem nesse perodo, focalizam os egpcios, judeus, sumrios, fencios, gregos, assrios, babilnios, persas e chineses.

    Ficamos com uma impresso errnea de que as demais regies no tiveram ne-nhuma participao na evoluo do homem na Pr-Histria. Somente publicaes dos prprios pases ou da regio abordam o assunto.

    Thomas Henry Huxley, na introduo de Origin of Species, afirma: o conhecido finito, o desconhecido infinito; intelectualmente, encontramo-nos numa ilhota no meio de um oceano ilimitado de inexplicabilidades. A nossa misso em cada gera-o reivindicar um pouco mais de terra, acrescentar qualquer coisa extenso e solidez dos nossos domnios.

    Cristvo Colombo, na chegada Amrica, relatou, para sua surpresa e de certo modo para sua decepo: nestas ilhas no encontrei at agora nenhuma mons-truosidade humana, como muitos esperavam, pelo contrrio, entre todos estes po-vos a boa aparncia estimada [...] Assim no encontrei nem monstros nem qual-quer notcia de nenhum.

    As mais importantes cidades e culturas pr-colombianas do Mxico sero apre-sentadas a seguir. Alm destas, existiram outras culturas importantes tambm na Guatemala, Colmbia, Peru, Equador, Chile e Ilha de Pscoa.

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    Teotihuacan Cidade dos Deuses (200 a.C. 650 d.C.)

    Em um vale semirido do Planalto Central do Mxico, cercado de morros, a 200 m sobre o nvel do mar e a 50 km da atual Cidade do Mxico, foi construda Teotihuacan, a maior cidade de todas as culturas pr-colombianas. Segundo con-tam as lendas, ali se originaram todas as artes, a sabedoria, os conhecimentos, os deuses e suas crenas.

    Teotihuacan no surgiu repentinamente. Houve um desenvolvimento lento e gradual que pode ser dividido em trs fases. A primeira fase de desenvolvimento ocorreu cerca de 200 a.C. com a construo, pelos Toltecas, de uma pequena pirmi-de que atualmente se encontra debaixo da Pirmide do Sol. Os habitantes se ocupa-vam com artesanatos feitos com a obsidiana, pedra de origem vulcnica.

    Os habitantes de Teotihuacan acreditavam que l era o lugar de nascimento do Sol e da Lua, o local sagrado onde o tempo comeou. Certamente, era o mais impor-tante centro de peregrinao de toda a Mesoamrica. Foram identificados centenas de templos dentro do limite da cidade e altares em todas as reas residenciais. Ali, em murais de cores brilhantes que enfeitam os templos e palcios, esto repre-sentados deuses de civilizaes mexicanas: Tlaloc, o Deus da Chuva; sua mulher Chalchihuitlicue, a Deusa da gua, e Quetzalcatl, a Serpente Emplumada.

    A segunda fase de desenvolvimento ocorreu no perodo de 1 d.C. a 150 d.C., com um impressionante programa de urbanizao da cidade. O programa tinha como objetivo destacar a imensa transcendncia ritual do local, e inclua mais de vinte quilmetros quadrados de templos, palcios e residncias distribudos em um plano quadriculado retangular. Calcula-se que nesta poca existiam entre 25.000 e 30.000 habitantes e uns 23 complexos arquitetnicos habitados.

    O centro cerimonial corao da cidade tinha como eixo principal norte-sul a Avenida dos Mortos, com 40 m de largura e cerca de 5 km de comprimento. Como a parte norte est em um nvel mais elevado do que a parte sul, foram construdos grandes terraos e escadarias para compensar o desnvel existente. No extremo nor-te dessa avenida encontra-se a Pirmide da Lua, construda com menor altura para que ficasse no mesmo nvel da Pirmide do Sol.

    A Pirmide da Lua foi edificada sobre uma plataforma de 120 m por 150 m e tem uma altura de 43 m. Por se encontrar na parte mais elevada do terreno, parece ter a mesma altura que a Pirmide do Sol.

    Ao longo da Avenida dos Mortos existiam mais de 75 templos. Esses templos foram construdos em pirmides, de teto plano, feitas de adobe, terra e pedregulho e recobertas com pedras. Eram pintados de vermelho e branco e alguns eram deco-rados com murais coloridos de cenas mitolgicas.

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    Sob as plataformas dos templos jazem tmulos dos guerreiros-comerciantes de Teotihuacan, que assumiram o controle dessa regio, possivelmente atravs de ma-trimnio com membros das castas governantes locais.

    Na Avenida dos Mortos encontra-se localizada a maior e mais antiga estrutura de Teotihuacan a Pirmide do Sol. Essa enorme pirmide composta de cinco cor-pos notadamente inclinados. A base mede 222 m por 225 m e a altura de 63 m. uma das mais altas pirmides da poca pr-colombiana e deu orientao a toda a cidade. Sua posio foi escolhida de acordo com o Sol e, em determinada poca do ano, ao meio-dia, a luz solar cai perpendicularmente sobre o centro da construo, iluminando as suas quatro faces. At hoje, neste dia, existem grandes comemora-es sobre o evento. A Pirmide do Sol foi construda sobre uma antiga pirmide que j existia desde 200 a.C.

    Na interseo da Avenida dos Mortos com o eixo principal leste-oeste encon-trava-se o grande ptio exterior e a cidadela, um vasto complexo que constitua o centro poltico, religioso, administrativo e militar da cidade.

    Os governantes de Teotihuacan viviam em palcios localizados dentro da cida-dela e provvel que o grande ptio exterior tenha sido utilizado como mercado central.

    No nvel mais baixo da hierarquia estava a classe baixa, que vivia em choas, de um ou dois cmodos, espalhadas por toda a cidade.

    A classe mdia, composta de artesos, comerciantes e agricultores, morava em complexos de casas de um andar, reunidas em grupos relacionados com as suas res-pectivas atividades.

    importante ressaltar que foi necessrio inovar as tcnicas de construo para se realizar esse magnfico empreendimento arquitetnico, e foram utilizados tron-cos de rvores como formas e como suportes na construo de muros interiores e para conter o material de enchimento. perfeio da sua tcnica construtiva, a arquitetura Teotihuacana agregou um estilo original, em que se combinam corpos inclinados com corpos verticais, para formar a base escalonada que suportava os templos.

    Na terceira etapa, que ocorreu de 150 d.C. a 650 d.C., Teotihuacan viveu o seu apogeu. A sua influncia arquitetnica e artstica chegou at a Guatemala. Outras culturas mesoamericanas imitaram as suas pirmides e seu estilo de cermica e ren-deram culto aos seus deuses: Tlaloc Deus da Chuva e a Serpente Emplumada, rela-cionada com a fertilidade.

    Em 500 d.C., Teotihuacan era uma das seis maiores cidades do mundo, com uma populao de 200 mil habitantes e era o centro de um imprio que controlou de maneira direta mais de 25 mil quilmetros quadrados do Mxico Central.

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    Uma cidade como Teotihuacan o resultado de uma sociedade evoluda, tanto na sua organizao social como poltica e religiosa, desfrutando de uma economia suficientemente forte para sustentar sacerdotes, construtores, pintores, escultores, ceramistas, etc.

    Na sua direo encontrava-se a classe governante, provavelmente sacerdotes reis que incentivavam as grandes construes e a arte em geral, controlavam a ma-nufatura e a comercializao do produto, os conhecimentos sobre os astros, a escri-ta, o uso do calendrio e as cerimnias dedicadas aos deuses.

    A organizao da mo de obra para implantar um esquema to rgido e o fato de a cidade manter esse esquema durante meio milnio constituem uma prova de grande poder e competncia tcnica e gerencial dos governantes de Teotihuacan.

    Palenque Cultura Maia Perodo Clssico (325 d.C. 799 d. C.)

    Ao contrrio dos outros povos da Mesoamrica, os maias no desenvolveram um imprio extenso e unificado: eles constituram cidades-estados independentes. Isto no impediu que adquirissem complexos conhecimentos astronmicos e desenvol-vessem uma escrita sofisticada, uma matemtica avanada e um calendrio preciso.

    Devido, especialmente, ao uso de material dctil o estuque que revestia to-dos os seus edifcios e muros, Palenque o mais lindo dos stios maias. Encontra-se situado no sop de uma cadeia de colinas cobertas por uma rica vegetao tropical, que serve de fundo aos edifcios brancos, erguidos de frente para uma plancie de um verde menos intenso, que se estende at o horizonte.

    De todos os centros do Perodo Clssico da cultura maia, Palenque apresenta um estilo arquitetnico com traos peculiares. Sua arquitetura concilia a funo e a esttica, dispondo os edifcios em diferentes nveis e terraos que delimitam pra-as e ptios em um jogo magistral de volumes e espaos vazios em harmonia com o ambiente. Suas construes caracterizam-se por mltiplos vos, pilares e altos e esbeltos telhados, dando a sensao de leveza que se experimenta tambm nos in-teriores abobadados.

    O palcio uma enorme plataforma de 300 m de comprimento por 240 m de largura que sustenta corredores e cmodos com altos telhados em abbadas. Os longos corredores so altos e mesmo sendo estreitos do uma grande sensao de espao, devido ao teto em forma de abbada.

    Os vrios ptios interiores do luz, ventilao e mobilidade aos quartos, alm de formar unidades com motivos decorativos relacionados entre si, que foram esculpi-dos em estuque e cobriam os pilares que sustentavam os tpicos tetos palenquea-nos. Em alguns locais, existem lpides feitas em pedra macia, que permitia ao artista executar, com toda maestria, todos os seus traos.

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    O teto, com grandes beirais, era projetado para proteger da chuva tanto as por-tas de madeira, como as esculturas em estuque e tambm as pessoas que caminha-vam pelos compridos corredores.

    Os corredores, quartos e salas, com tetos em forma de abbada, formavam um sistema de ventilao natural que permitia temperaturas amenas mesmo nos dias mais quentes das regies tropicais.

    A torre de quatro andares, no ptio interno do palcio, de um estilo nico na Mesoamrica e parece ter servido de observatrio astronmico ou um posto de vigilncia.

    As construes tinham um sistema de gua e esgoto com instalaes sanitrias que descarregavam na rede sanitria da cidade.

    Podemos dizer que os maias tinham uma grande preocupao com a qualidade de vida de seu povo, pois os edifcios eram de uma leveza e funcionalidade impres-sionantes e bem iluminados e ventilados.

    Chichn Itz Cultura Maia / Tolteca (700 d.C. 900 d.C)

    Chichn Itz um stio pr-colombiano da cultura maia/tolteca localizado na Pennsula de Yucatan, a 40 km a oeste de Valladolid e a 180 km a oeste de Cancun, no Mxico.

    O conhecimento astronmico dos maias era bastante avanado para a poca. Eles eram capazes de prever as fases da Lua, os equincios e os solstcios, bem como eclipses do Sol e da Lua. Eles sabiam que a Estrela dAlva e a Estrela da Manh eram o mesmo planeta Vnus. quase certo que tenham calculado a rbita de Marte. Para estudar as posies dos astros e seus movimentos, os maias construram o Caracol Observatrio de Chichn Itz, considerado um edifcio de transio entre os estilos maia e tolteca.

    O Caracol foi construdo sobre uma grande plataforma retangular e tem uma altura de treze metros. Tem esse nome devido escada interna, em forma de caracol, que d acesso sala de observao astronmica.

    A pirmide conhecida como O Castelo, erguida por volta de 800 d.C., a estru-tura mais impressionante de Chichn Itz. De base quadrada com 60 m de lado e 24 m de altura, a pirmide formada de nove corpos escalonados e um templo na parte superior.

    Os nove corpos escalonados so atravessados por quatro escadarias, dando ori-gem a 18 terraos de cada lado da pirmide, simbolizando os 18 meses do ano do calendrio maia.

    Distribudos nos 18 terraos, em cada lado da pirmide h 52 painis que repre-sentam o nmero de anos do calendrio sagrado maia.

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    Cada escadaria tem 91 degraus. Somadas todas as escadarias e a plataforma do templo no topo, chega-se a um total de 365 degraus, que representam os dias do ano.

    Esses diversos elementos so relacionados ao calendrio maia. A disposio as-tronmica da pirmide perfeita: as quatro escadarias so voltadas para os pontos cardeais. Esse posicionamento causa uma iluso de tica que ocorre na escadaria da face norte, duas vezes ao ano, no equincio (21 de maro e 21 de setembro). Nessas datas, a face norte fica sombreada e, por uma iluso de tica, tem-se a im-presso de que uma serpente desce as escadarias da pirmide bem atrs das duas cabeas de serpentes de pedra existentes na base.

    O Castelo tem duas estruturas sobrepostas que correspondem a duas pocas diferentes; a mais antiga est totalmente recoberta pela mais recente. Os motivos decorativos da fachada so serpentes e tigres, que correspondem influncia tolteca.

    No templo que se encontra na subestrutura da pirmide, descobriu-se a escul-tura de Chac-Mool Deus da Chuva. No santurio construdo na parte superior da pirmide, havia a escultura de um tigre pintado de vermelho com incrustaes de jade, que provavelmente serviu de trono.

    1.2 A Qualidade na China Antiga

    A China uma das mais antigas naes a ter desenvolvido uma civilizao. Um estado chins j havia sido criado no sculo 21 a.C. Apesar das constantes mudan-as de dinastias, sua civilizao se desenvolveu sem interrupo. Desde a primeira dinastia Dinastia Xia, que se estabeleceu no sculo 21 a.C. at a destruio da Dinastia Qing, em 1911, foi mantido um sistema poltico no qual a famlia imperial ti-nha o rgido controle do pas. A burocracia atuava no s nas esferas poltica, militar e cultural, mas tambm na esfera econmica. O controle direto da burocracia sobre a economia influenciou as atividades produtivas e o controle da qualidade.

    A Qualidade do Artesanato

    A indstria artesanal da China atingiu alto estgio de desenvolvimento. A praticidade, durabilidade e o bom gosto artstico dos produtos chineses sempre chamaram a ateno do mundo. As indstrias manufatureiras de porcelana, plvora, bssola, tecidos de seda natural, artigos de laca, ch, papel e de tipografia foram inventadas e monopolizadas pela China Antiga.

    O desenvolvimento da produo artesanal e a obteno de grandes volumes de pro-dutos com qualidade no poderiam ser conseguidos sem um rgido controle da qualidade.

    As indstrias de artesanato e seu controle da qualidade, que tiveram origem na Di-nastia Shang (sc. 16 a.C. at sc. 11 a.C.), eram divididas em trs classes: artesanato estatal,

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    civil e familiar. A maioria era estatal ou administrada pelo estado, sendo que as menores empregavam mais de cem artesos, e as maiores empregavam milhares. As fbricas esta-tais, organizadas e gerenciadas por oficiais do governo, responsveis pela produo, foram criadas especialmente para atender s necessidades da famlia imperial, da burocracia e dos militares.

    A organizao dessas oficinas era detalhada e continha minuciosa diviso de trabalho. Vrios oficiais eram designados para a administrao. Graas ao poder poltico, o material selecionado era da melhor qualidade, as tcnicas dos artesos eram excelentes, e a admi-nistrao, rigorosa. Os produtos resultantes atingiam os mais altos padres de qualidade do estado.

    Sistema de Controle da Qualidade

    O sistema de controle da qualidade estava intimamente ligado organizao social e poltica da China Antiga. Um estado autocrtico tinha que ter um sistema da qualidade que centralizasse todo o processo de produo artesanal. o caso, por exemplo, da Dinastia Ocidental de Zhou (sc. 11 a.C. sc. 8 a.C.), que estabeleceu um sistema composto de um nmero especfico de organizaes gerenciadas por oficiais. Essas organizaes podiam ser divididas em cinco grandes departamentos, de acordo com as funes por elas desempenhadas:

    COLETA, PROCESSAMENTO, ARMAZENAMENTO E DISTRIBUIO

    DE MATRIA-PRIMA EMATERIAIS SEMIACABADOS

    MANUFATURA DE PRODUTOS

    ELABORAO DE NORMAS PARAQUALIDADE E

    PRODUTIVIDADE

    INSPEO EENSAIOS

    ADMINISTRAODE NORMAS

    ARMAZENAMENTO E DISTRIBUIODE PRODUTOS

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    O mtuo relacionamento entre esses cinco departamentos mostrado na figura anterior. Trs departamentos formavam os elos bsicos do processo de produo artesanal. Os outros dois asseguravam a qualidade dos produtos. Os departamen-tos eram independentes, com as suas respectivas funes especiais, e coordenados para formar um sistema unificado de produo.

    Leis e Decretos para o Controle da Qualidade

    A promulgao de leis e decretos era um meio importante que o Estado usava para exercer seu poder poltico no controle da produo artesanal. Nos decretos da Dinastia Zhou, j era especificamente estipulado que: proibido colocar venda utenslios, carros, tecidos de algodo e de seda cujas dimenses ou requisitos da qualidade no atendam s exigncias das normas. Essas determinaes no somen-te mostram que j havia certo padro de qualidade para produtos, mas tambm que os decretos eram promulgados para banir do mercado produtos inferiores, bem como para consolidar o controle da qualidade sobre eles.

    Durante o perodo dos Estados Guerreiros (480 a.C. 221 a.C.), diversos ducados herdaram e desenvolveram os decretos de controle da qualidade institudos na Di-nastia Zhou. Em um tmulo da Dinastia Qin (221 a.C. 207 a.C.), escavado em 1975, na regio de Yunmeng, da Provncia de Hubei, foi desenterrado um lote de decretos editados antes da unificao da China pela Dinastia Qin (221 a.C.).

    Esses decretos continham um grande nmero de determinaes e requisitos da qualidade, refletindo as polticas e leis de controle do Estado Qin sobre o artesanato, comrcio e metrologia. Por exemplo, a lei estabelecia que, para a mesma categoria de utenslios, a forma, as dimenses e as tolerncias deveriam ser idnticas. Estabelecia tambm punies para os oficiais e artesos responsveis pelos ladrilhos de cermica e ferramentas de ao e madeira danificados durante a construo das muralhas, pelos cubos de rodas quebrados na fabricao de carros e pelos produtos inspecionados e encontrados fora de especificao. As construes das muralhas da cidade tinham garantia de um ano. Se apresentassem danos nesse perodo, os oficiais e artesos res-ponsveis pelo servio eram punidos, e o trabalho era refeito sem nus para o estado.

    Na Dinastia Tang (618 d.C. 907 d.C.), as leis determinavam que fosse permitida somente a venda de arcos, flechas, facas e lanas fabricados conforme os padres es-tipulados pelos oficiais feudais. Tais instrumentos deveriam conter o nome dos traba-lhadores na prpria pea. Os oficiais deveriam confiscar, no comrcio, todos os bens falsos ou no identificados. Todos os produtos que estivessem fora das especifica-es, quanto s dimenses, eram devolvidos ao fabricante e os artesos e os oficiais responsveis deveriam ser chicoteados ou punidos de outra maneira.

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    As leis da Dinastia Ming (1368 d.C. 1644 d.C.) estabeleciam punies para os fabricantes de artigos e utenslios que no durassem e para aqueles que tecessem algodo ou seda abaixo das especificaes.

    Mais Ateno com as Medies

    H mais de 5.000 anos, os chineses j se preocupavam com a medio de com-primento, volume e massa. A partir da Dinastia Shang e da Dinastia Zhou, foi mon-tado um sistema para criao de instrumentos-padro para tais medies. O sistema obrigava que a preciso desses instrumentos fosse verificada duas vezes por ano. Uma organizao especial foi criada e oficiais foram designados para conduzir esse controle que continuou at o perodo dos Estados Guerreiros.

    As leis da Dinastia Tang (618 d.C. 907 d.C.) estipulavam que os instrumentos de medio deveriam ser verificados todos os anos no ms de agosto e s podiam ser usados aps a fixao do selo de calibrao. Foram institudas penalidades para o no cumprimento do prazo de verificao e para o uso de instrumentos de medio fabri-cados por particulares. A padronizao foi alm dos instrumentos de medio, atin-gindo tambm produtos industriais, especialmente os dos departamentos estatais.

    Autoinspeo e Rastreabilidade

    A verificao da qualidade era um procedimento muito importante na China Antiga. Foram formulados sistemas de verificao que abrangiam todo o processo (v. Glossrio), desde a coleta de matria-prima e de material semiacabado, passando pela produo, armazenamento e distribuio. Sem dvida, as atividades de pro-duo na Antiguidade eram executadas contando com as tcnicas dos artesos e maquinaria simples. A autoinspeo, nos vrios estgios do trabalho, feita pelos pr-prios produtores, tornou necessrio o estabelecimento de critrios para a apurao de responsabilidade pela qualidade.

    Foram fixadas regras que exigiam a gravao, na prpria pea, do nome do arte-so que a fabricara. Em alguns casos, essa exigncia era estendida aos oficiais respon-sveis e s organizaes dos oficiais. A rastreabilidade (v. Glossrio), resultante dessa medida, tornou-se um poderoso recurso para assegurar a qualidade dos produtos.

    Aplicao na Arquitetura

    A construo da Cidade de Shang-An, durante a Dinastia Sui (581 d.C. 618 d.C.), foi um milagre arquitetnico. Durante a construo dessa cidade, com uma rea de 84 quil-metros quadrados, foram mobilizados de um milho a dois milhes de trabalhadores civis.

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    A metrpole era dividida em trs partes: a cidade do palcio, a cidade imperial e a cidade propriamente dita. Cada cidade requeria muralhas altas de proteo. Na cidade do palcio estavam os palcios, as salas imperiais e os prdios onde o impe-rador vivia e governava. A cidade imperial abrigava os prdios dos escritrios do go-verno central. Existiam onze grandes avenidas na direo norte-sul e 14 na direo leste-oeste. Tais avenidas formavam quadras que eram divididas por 108 alamedas e aleias, onde se situavam as residncias oficiais, quarteires de residncias da po-pulao, o setor comercial e as reas de recreao. Existiam tambm rios e canais para prover a cidade com gua e sistemas de drenagem, vias de transporte de bens e suprimento de alimentao.

    A construo dessa imensa metrpole comeou em junho de 582 d.C. e termi-nou nove meses depois. Isso s foi possvel graas ao extraordinrio planejamento, ao detalhado projeto, ao cuidadoso controle da qualidade da construo, alm de uma gesto de alto nvel.

    Os arquitetos da Dinastia Sui j usavam a escala um para cem nos desenhos de projetos e nas maquetes de madeira. As medidas-chave, tais como rea e largura das casas, altura dos pilares e plataformas e comprimento do balano dos beirais, eram marcadas nos desenhos de maneira que fossem facilmente notadas. Isso mostra que a tecnologia de projeto tinha avanado para o estgio quantitativo.

    Exrcito em Terracota

    Em 246 a.C., um garoto de treze anos de idade, Zhao Zheng (259 a.C. 210 a.C.), tornou-se o governante do reino chins de Qin. Em 221 a.C., criou o imprio Qin, proclamando-se Qin Shih Huangdi (Primeiro Imperador Soberano de Qin).

    O Primeiro Imperador de Qin, usando trabalho escravo, determinou a criao, em terracota, de um exrcito de, aproximadamente, 7.000 esculturas de soldados e cavalos em tamanho natural, equipados com armas de bronze. O exrcito foi criado para proteger o imperador no outro mundo, aps a sua morte. Foi descoberto em 1974, a cerca de 1.200 m a leste da muralha do mausolu do Primeiro Imperador de Qin, em Litong, Condado de Shaanxi, a 64 km da cidade de Xian.

    A maravilha destas esculturas, de tamanho natural, de soldados, oficiais, carrua-gens, cavalos e seus equipamentos que cada uma das figuras singular. No h dois guerreiros ou dois cavalos iguais. No h dois rostos iguais e pormenores ana-tmicos, como os olhos e a boca, so surpreendentemente realistas. Toda aquela fora militar deve ter posado para que se lhes esculpissem os retratos em vez de ser enterrada viva. Todavia, apesar de todos os seus pormenores realistas, as esculturas representam mais tipos do que retratos. Vibram de energia e encarnam o esprito

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    do poderoso exrcito Qin, dando uma iluso de realidade. H um ditado chins que diz: Demasiado realismo no realismo.

    Junto com as esculturas, foram encontrados implementos agrcolas de ferro; freios de couro e bronze; objetos de seda, linho e jade; arcos, flechas, lanas e espa-das fundidas com elementos de liga e muitos outros artefatos distribudos em vrios arranjos. Esta obra de arte, que utilizou cerca de 700.000 homens, no foi concluda devido morte sbita do Primeiro Imperador e queda da Dinastia Qin.

    1.3 O Controle de Processo na Antiguidade: Egito, Grcia e

    Prsia

    Muitas pessoas acreditam que o Controle de Processo (v. Glossrio) seja uma tcnica recente, criada pelos americanos e aperfeioada pelos japoneses. O Controle de Processo usado como sinnimo de Controle Estatstico da Qualidade (v. Gloss-rio), criado por Shewhart nos anos 30 do sculo XX.

    O Controle de Processo muito mais antigo e mais abrangente que o Contro-le Estatstico da Qualidade. Os produtos finais do antigo controle de processo no eram menos surpreendentes que os da revoluo japonesa do sculo XX. As cons-trues das pirmides do Egito Antigo, a construo civil da Grcia Antiga, a organi-zao militar dos persas e a construo naval de Veneza no sculo XVI so exemplos da aplicao do antigo controle de processo.

    Os primeiros controles de processo quase no usavam os mtodos estatsticos, com exceo de alguns dados descritivos. A essncia do antigo controle de processo consistia em mtodos uniformes, normas de procedimentos e obedincia s nor-mas. Essa abordagem simples foi a precursora da Administrao Cientfica, cujos princpios foram apresentados por Frederick Winslow Taylor, em 1911, na obra Prin-cpios da Administrao Cientfica. Taylor defendia o estudo cientfico do trabalho, a seleo e colocao de pessoal segundo as aptides individuais e os requisitos das tarefas a serem executadas, a colaborao entre empresa e empregado, a eficincia e a racionalizao.

    Em 2650 a.C., Imhotep, arquiteto-chefe das obras do Fara Zoser, da Terceira Dinastia, foi o responsvel pela edificao, em Sakkara, perto de Memphis, da pri-meira pirmide egpcia, construda em forma de degraus. Imhotep projetou um sistema de normas para extrao, corte e polimento de pedras que, preparadas a centenas de quilmetros do local da montagem, eram cortadas com preciso, nu-meradas e identificadas de acordo com o local da montagem.

    A pirmide em degraus, a mais antiga criao em pedra talhada existente no mun-do, o bero da arquitetura. Trata-se de uma estrutura retangular de pedra, de seis

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    degraus, com 60,96 m de altura, cuja base mede 545,65 m de norte a sul e 277,85 m de leste a oeste. As pedras com o formato de cubo com arestas de 22 centmetros podiam ser manipuladas sem equipamentos mecnicos. A pirmide contm 850 mil toneladas de pedra e faz parte de um vasto complexo de muralhas e templos. Quan-do ainda era revestida com pedra branca de Tura, constitua um espetculo impres-sionante ao se destacar na paisagem de areia pardacenta.

    A pirmide em degraus foi o primeiro arranha-cu da histria. Mesmo no Egito Antigo, onde logo seria suplantada por construes maiores e mais altas, ela nunca deixou de causar espanto. A pirmide em degraus, provavelmente, destinava-se a ser o tmulo do fara Zoser (2667 a.C. 2648 a.C), da Terceira Dinastia, e talvez as construes que a rodeavam fossem rplicas do palcio real de Memphis, ali recons-titudo para servir s necessidades do fara em sua ps-vida.

    O Jornal do Brasil, de 27 de abril de 2004, e O Globo, de 3 de maro de 2005, pu-blicaram que arquelogos franceses, australianos e egpcios tinham achado mais de 50 mmias no stio arqueolgico de Sakkara, perto de Memphis, a 25 km ao sul do Cairo. As mmias, em excelente estado de conservao, datadas do primeiro milnio antes de Cristo, esto envolvidas em linho e guardadas em sarcfagos de madeira ou pedra. Segundo o chefe do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, Zahi Hawass, os egpcios usaram uma catacumba, a 15 m de profundidade, formada de uma rede de fossos e corredores, desde a 26 dinastia (664 a.C. 525 a.C.) at o pero-do ptolomaico (323 a.C. 30 a.C.). O perodo ptolomaico refere-se ao reino maced-nico que governou o Egito aps a morte de Alexandre, o Grande, at o pas tornar-se uma provncia romana. A ltima governante ptolomaica foi Clepatra VII, que reinou com o apoio de dois generais romanos, Jlio Csar e, depois, Marco Antnio.

    O tempo entre a construo da primeira grande estrutura conhecida e a gran-diosidade da Grande Pirmide de Queps foi de pouco mais de um sculo. No cos-tumamos pensar nos antigos egpcios como paradigmas de progresso, mas a tcni-ca humana no conheceu muitos outros avanos to espetaculares. As edificaes egpcias representaram, de fato, uma nova tecnologia de criao. Somente com o arranha-cu, de meados do sculo XX, 4.000 anos depois, houve outro salto compa-rvel na capacidade humana de erguer estruturas acima da terra.

    O pice dessa primeira grande era da arquitetura ainda se ergue em Giz, perto do Cairo, na margem ocidental do Nilo. A, trs grandes monumentos de pedra em forma piramidal perfeita revelam o legado que nos deixaram os faras Quops (Khufu), Qu-fren (Khaf-Re) e Miquerinos (Mankau-Re), todos da Quarta Dinastia (2589 a.C. 2533 a.C.). Desses monumentos, a Grande Pirmide de Quops a mais antiga, a maior e a mais bem construda. Com 147 metros de altura e edificada com blocos que se en-caixavam com uma preciso micromtrica, pesando cada um duas toneladas e meia,

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    ela cobre cinco hectares e meio de terreno. Para a construo dessa pirmide, o fara Khufu criou o primeiro padro de medida no Egito, um padro de granito preto, cha-mado de Cbito Real Egpcio, que tinha o comprimento equivalente ao do antebrao do fara. A utilizao deste padro de trabalho, disseminado em rguas de madeira, garantiu uma base quase perfeitamente quadrada para a pirmide (o comprimento de cada lado da base no desviou mais que 0,05% do seu valor mdio de 228,6 metros).

    A juno das faces dos blocos era to perfeita, que era impossvel a colocao de uma lmina de faca entre dois imensos blocos. Os historiadores atribuem essa pre-ciso aos dispositivos de medio e conhecimentos matemticos dos egpcios. Mas duvida-se que mesmo usando os atuais e sofisticados mtodos e instrumentos de medio que so muito superiores eles conseguissem obter melhores resultados de montagem.

    O verdadeiro sucesso dos antigos construtores, que seguiam sempre o mesmo conjunto de normas, deve-se ao uso de materiais, mtodos e procedimentos unifor-mes. O resultado final era a excelncia das estruturas montadas. A relao, estabele-cida por Imhotep, entre o atendimento s normas e a qualidade do produto final o tema central do antigo controle de processo, cuja importncia no foi percebida por muitos historiadores.

    O controle de processo permitiu a preciso das medies. Acredita-se que, com os dispositivos de medio utilizados no tempo de Imhotep, os egpcios conseguiam medir com a preciso de centsimos de milmetro. Contudo, isso no garantiria a mesma exatido em todos os cortes. Somente um sistema de controle de processo bem desenvolvido poderia fornecer produtos com tal preciso.

    Talvez a maior realizao de Imhotep tenha sido o conceito de controle de pro-cesso integrado. Ele acreditava que controle de processo era parte integrante do prprio processo, no o resultado de correes aps a inspeo final. O atendimento ao conjunto de normas conduzia o processo de maneira to eficiente, que a inspe-o final era desnecessria.

    A superioridade da arquitetura grega sobre a arquitetura egpcia era mais mri-to da medio e matemtica do que o resultado do controle de processo. Os gregos usavam controle de processo durante a construo, mas no to avanado quanto as normas de Imhotep.

    Os gregos formularam guias para projetos arquitetnicos baseados na experin-cia e nos seus conceitos de funcionalidade e beleza. Apesar disso ou por causa dis-so eles conseguiram produzir muitas construes maravilhosas que at hoje nos encantam.

    Por outro lado, os persas estavam bem adiantados em controle de proces-so, principalmente nas aplicaes militares, especialmente com o rei Ciro, que

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    acreditava que a chance do sucesso das operaes militares dependia do uso de mtodos uniformes. Ciro, para estar preparado para um ataque, exigia normas detalhadas at sobre o acampamento de suas tropas. Os mtodos de operao descreviam precisamente como os soldados deveriam arrumar seus equipamen-tos e roupas. Como parte do controle de processo, os oficiais de Ciro verificavam o atendimento a esses procedimentos (avaliao da conformidade).

    1.4 O Imprio Romano e o Controle de Processo Diferenciado

    Utilizando os conhecimentos arquitetnicos desenvolvidos pelos gregos, os roma-nos cobriram um grande campo da engenharia civil. Foi enorme a quantidade de pr-dios construdos durante o Imprio Romano. Os programas ambiciosos dos romanos de-mandavam um grande volume de mo de obra, o que os levou a desenvolver mtodos simplificados de construo. Empregavam toda a mo de obra disponvel, inclusive sem qualificao, para construir estrutura de tijolo com enchimento de concreto, que no exigia tanta preciso quanto as tcnicas de corte de pedra.

    Como a aparncia das estruturas de concreto no era to boa quanto a das pirmi-des de pedras cortadas, as paredes eram revestidas com placas de mrmore por pedrei-ros qualificados. Os romanos desenvolveram um sistema de controle de processo para os trabalhadores mais qualificados e uma verso menos exigente para a mo de obra no qualificada. Essa abordagem diferenciada, que representou uma mudana radical em relao abordagem integrada de Imhotep, significou um aumento marcante de supervisores e procedimentos de inspeo para acompanhar a fora de trabalho no qualificada, e provocou a criao de associaes de artesos e de sindicatos de trabalha-dores qualificados. A fora poltica das associaes e a tradio romana, provavelmente, impediram a introduo do controle de processo integrado no Imprio Romano.

    Alguns pesquisadores justificam a abordagem romana como uma necessidade econmica. Porm, estudos sobre o sistema romano demonstram que o enfoque do controle de processo em dois nveis, com sua inerente inspeo e superviso, poderia custar muito mais. A demanda por crescimento acelerado a causa mais provvel do surgimento do processo de controle diferenciado dos romanos.

    1.5 Fim do Regime Feudal: Qualidade Controlada pelo Arteso

    Desde que comeou a manufaturar produtos para o seu prprio uso e para o uso de seus familiares, o homem controlava todo o processo de artesanato: con-cepo, projeto, escolha da matria-prima, fabricao e controle da qualidade.

    Com o surgimento do mercado, o homem comeou a vender os seus produtos diretamente para o consumidor. O arteso incluiu mais uma etapa no seu ciclo de

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    trabalho a comercializao do produto. Como a produo era muito pequena, o arteso, nessa poca, tinha um controle integrado de todo o processo produtivo: desde o marketing at a entrega do produto ao consumidor. Ele praticava o que hoje se pretende implantar o autocontrole.

    A proximidade entre o produtor e o consumidor permitia um retorno imediato de informao sobre o desempenho do produto. O arteso sabia quais eram as ne-cessidades, expectativas e os desejos de seus clientes que, por sua vez, conhecendo as aptides e as limitaes do arteso, tambm sabiam o que dele podiam esperar, no havendo, portanto, nenhuma quebra de expectativa quanto ao produto forneci-do. Entre eles no havia intermedirios. Quando o cliente estava insatisfeito, imedia-tamente reclamava ao arteso, que incorporava as melhorias necessrias ao produto.

    Com o aumento do mercado, o arteso, sozinho, j no conseguia controlar e executar todo o processo produtivo. Alm dos aprendizes, que o acompanhavam por mais de cinco anos para adquirirem conhecimento e habilidade, surgiu a ne-cessidade de se empregar oficiais e diaristas para atender demanda cada vez mais crescente. Foi assim que surgiu a primeira relao capital/trabalho ainda de uma maneira muito incipiente. O arteso, que era o patro, alm do seu prprio trabalho, fornecia as mquinas, matria-prima e conhecimento.

    1.6 A Indstria Naval Veneziana no Sculo XVI

    Poucos avanos no controle de processo ocorreram entre a queda do Imprio Romano e a Revoluo Industrial. H uma importante exceo: a construo naval em Veneza.

    No sculo XV, Veneza era um centro de comrcio internacional. Com o cresci-mento do poder martimo da cidade, tornou-se necessria a criao de uma frota armada para proteger o comrcio. Essa necessidade envolveu o Arsenal de Veneza, onde se fabricavam galeras e equipamentos e se reformavam navios antigos. O Arse-nal, que no sculo XVI era a maior planta industrial do mundo, ocupando uma rea de 240.000 metros quadrados, chegou a empregar mais de dois mil trabalhadores. Sua disposio era similar das modernas linhas de montagem, com estaes ao longo do canal de construo naval.

    Naquela poca, o Arsenal impressionava os visitantes. Uma galera podia ser montada, totalmente armada e lanada ao mar em apenas nove horas. O Rei Hen-rique III da Frana, em uma visita ao Arsenal em 1574, ficou impressionado quando viu uma galera ser montada e lanada ao mar em uma hora. Os produtos dessa linha de montagem eram conhecidos como sendo superiores aos navios feitos artesanal-mente em outros estados.

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    O Arsenal adotou o controle de processo integrado por razes estratgicas. As galeras desmontadas ficavam estocadas ao longo do canal, dando a impresso, aos inimigos, da existncia de uma pequena frota de galeras. Na iminncia de um ata-que, dezenas de galeras eram montadas e armadas em questo de horas, surpreen-dendo o invasor.

    O segredo do Arsenal no era diferente daquele de Imhotep materiais unifor-mes, mtodos e procedimentos. Todos os arcos eram feitos de maneira que flechas se ajustassem em qualquer um deles; todas as popas seguiam o mesmo projeto, de modo que cada leme no tivesse de ser especialmente ajustado sua popa; e todo o cordame e convs fornecidos eram uniformes. Tal uniformidade deu aos venezianos uma importante vantagem sobre os seus rivais, pois os navios da frota eram todos manejados e manobrados da mesma forma.

    O Arsenal de Veneza demonstrou que, com a utilizao de um sistema de con-trole de processo integrado, produtos manufaturados poderiam competir com pro-dutos construdos por mestres artesos. Se o Arsenal tivesse sido meramente uma linha de montagem, em vez de uma srie de fbricas individuais, poderia ter condu-zido a uma revoluo nas prticas de trabalho.

    A partir da matria-prima como a madeira e o ferro fabricavam-se, no mes-mo local, todas as peas necessrias para a montagem de uma galera, seguindo os rgidos padres das normas. Em vez de artesos, supervisores acompanhavam e ve-rificavam a conformidade com as normas de produo. Como o controle do proces-so de manufatura era integrado, pouca ou nenhuma inspeo final era necessria. Eram exigidas apenas verificaes para garantir que normas apropriadas estivessem sendo aplicadas.

    Rigorosas normas escritas permitiam grande variabilidade na qualificao da fora de trabalho. Sem dvida, o treinamento nessas normas era um requisito, mas no eram necessrios longos programas de treinamento como exigiam as associa-es romanas de artesos.

    1.7 Revoluo Industrial: a Qualidade Controlada pelos Mes-

    tres e Supervisores

    Embora a mquina a vapor j existisse, foi James Watt, engenheiro escocs, quem a tornou economicamente vivel. Em 1763, em Glasgow, enquanto conser-tava uma mquina a vapor inventada, em 1712, por Thomas Newcomen , Watt descobriu que poderia melhorar o seu projeto com a incluso de um condensador de vapor independente, inovao que duplicou o rendimento da mquina. Essa des-coberta, que foi a grande impulsionadora da Revoluo Industrial, provocou uma

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    exploso de demanda de produtos manufaturados e, consequentemente, um au-mento incrvel na produo.

    Com a Revoluo Industrial, ocorreram mudanas radicais na administrao das empresas, que foram obrigadas a dividir o processo industrial em fases: marketing, concepo, projeto, aquisio, produo e comercializao. Comeou, dessa manei-ra, a aumentar o distanciamento entre o produtor e o consumidor, o que originou os primeiros problemas srios com a qualidade do produto.

    Apareceram os supervisores para controlar as atividades dos artesos, agora no mais donos de seus equipamentos e matria-prima, mas ainda possuidores da habi-lidade, experincia e conhecimento. Os artesos, que foram patres, transformaram-se em empregados e passaram a se preocupar apenas com a execuo dos seus ser-vios, conforme determinado pelo supervisor, utilizando a matria-prima que lhes era fornecida pelo departamento de suprimento. A qualidade da matria-prima e do produto passou a ser responsabilidade do supervisor.

    Consequentemente, com o enorme aumento da produo, os artesos deram lugar aos operrios no especializados, que realizavam as tarefas determinadas pelo supervisor e pela gerncia. O conhecimento passou a ser propriedade da empresa. Estava criado o estgio extremo da relao capital/trabalho: o proprietrio fornecia o capital (instalaes, mquinas, matria-prima e tecnologia) e o trabalhador forne-cia o seu trabalho.

    1.8 Primeira Guerra Mundial: Qualidade Controlada pelos

    Inspetores nfase na Deteco de Defeitos

    Com o grande aumento da demanda de material blico, os problemas com a fal-ta da qualidade dos produtos cresceram de maneira assustadora, fazendo-se neces-sria a criao da figura do inspetor, que assumiu o papel do supervisor no controle da qualidade.

    Criada para evitar que produtos sem qualidade sassem das fbricas e fossem utilizados pelos clientes, a inspeo, com nfase no sucateamento dos produtos no conformes, deu origem a um raciocnio errneo: qualidade implicaria custo e, como consequncia, aumentaria o preo do produto final.

    Com a Primeira Guerra Mundial, a preocupao com a qualidade dos arma-mentos representava um fator estratgico, tornando-se, por isso, prioridade das naes. Afinal, a falta de qualidade refletia-se na falta de segurana. Os departa-mentos de compras governamentais passaram, ento, a exigir que seus fornece-dores tivessem setores de inspeo desvinculados da produo, de modo que fos-se assegurada a liberdade organizacional do controle da qualidade.

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    Nessa poca, os inspetores examinavam 100% dos produtos liberados pela produ-o, implicando grandes custos para a empresa e tornando-se um gargalo da produo.

    1.9 A Indstria Automobilstica e a Produo em Massa

    No incio do sculo XX, surgiu a produo em massa, que revolucionou a organizao do trabalho e eliminou a produo artesanal. A indstria automobi-lstica, que at ento era totalmente artesanal, um timo exemplo dessa revo-luo que mudou o mundo.

    Em 1913, Henry Ford descobriu que, se as tarefas de fabricao fossem divi-didas em pequenas operaes especializadas, poderia recrutar mo de obra no qualificada da regio rural, dar-lhe um pequeno treinamento e, assim, conduzir de maneira eficaz todas as tarefas de fabricao e montagem de um autom-vel. At recentemente, havia um feriado na indstria automobilstica em Detroit, criado para permitir que os trabalhadores retornassem regio rural e ajudas-sem os seus familiares na colheita.

    Ford acreditava que, com a produo em massa, logo os preos dos carros seriam reduzidos de tal maneira que os trabalhadores tambm poderiam com-prar seus prprios carros.

    Fabricar produtos com qualidade, empregando-se um grande nmero de operaes especializadas, requer uma contnua superviso, alm de uma rigoro-sa inspeo dos produtos intermedirios e finais.

    Na produo artesanal de um automvel, o arteso recolhia todas as peas e ferramentas de que precisava, executava a complexa tarefa de ajuste e monta-gem de todo o veculo e, antes de entreg-lo pronto para a expedio, verificava seu trabalho. No havia necessidade de outra pessoa para inspecionar o produto final.

    Na produo em massa, o operrio da linha de produo tem apenas uma tarefa: apertar dois ou trs parafusos, ou colocar a roda esquerda dianteira em cada carro etc. No precisa se preocupar em solicitar peas, buscar ferramentas ou inspecionar o seu prprio servio.

    Para coordenar as tarefas dos operrios no qualificados, foram criadas no-vas funes executadas por especialistas. Surgiram assim batalhes de trabalha-dores indiretos: mecnicos, inspetores da qualidade, especialistas em reparos, alm dos supervisores e engenheiros de produo.

    Como o custo de inspecionar 100% das peas e componentes era proibitivo, adotaram-se tcnicas sofisticadas de controle da qualidade, como, por exemplo, as tcnicas de amostragem.

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    1.10 Controle Estatstico da Qualidade nfase no Processo

    Na dcada de 1930, comearam a ser dados os primeiros passos para a criao do Controle Estatstico da Qualidade (CEQ) (v. Glossrio). Walter Shewhart, trabalhan-do para a Bell System, nos Estados Unidos, desenvolveu vrias tcnicas de controle estatstico da qualidade, sendo a mais importante a carta de controle estatstico de processo (v. Glossrio). Suas tcnicas, juntamente com as tcnicas de amostragem de dois colegas dos Laboratrios da Bell System, Dodge e de Romig, permitiram a realizao da inspeo por amostragem, em vez da inspeo 100%. Alm disso, o uso de cartas de controle estatstico tornou possvel prever quando um processo de produo sairia de controle e diagnosticar a ocorrncia de defeitos aleatrios ou sis-temticos. A funo qualidade comeava a atingir o nvel de preveno de defeitos.

    Com as cartas de controle, as empresas passaram a cuidar tambm do processo e no somente do produto. Os estatsticos que cuidavam das cartas de controle da produo ganharam tanta importncia, que se criou um departamento indepen-dente, com o nome de controle da qualidade (v. Glossrio).

    O departamento de controle da qualidade, que acompanhava o processo atra-vs dos estatsticos, incorporou tambm as atividades de inspeo. Os problemas com a qualidade passaram a ser detectados preventivamente nas diversas fases do processo de fabricao, evitando-se que produtos no conformes fossem somente identificados quando submetidos inspeo aps o trmino do processo produtivo. Ainda como medida preventiva, adotou-se tambm o controle de qualidade sobre matrias-primas.

    Assim, problemas potenciais de produo podiam ser identificados com o uso das cartas de controle, o que permitia a tomada de aes preventivas de melhoria, evitando-se a fabricao de produtos fora das especificaes.

    A mudana de mentalidade dos consumidores dos anos 1940 tambm fez cres-cer a importncia do controle da qualidade dentro das empresas. Os consumidores, emergindo da Grande Depresso causada pelo colapso da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, davam preferncia a produtos durveis. A escassez de produtos, du-rante e imediatamente aps a Segunda Guerra Mundial, forou ainda mais o aumen-to da demanda de produtos durveis. A qualidade tornou-se um critrio essencial de vendas.

    A adoo das tcnicas de Controle Estatstico da Qualidade, criadas por Shewhart e seus colegas, foi muito lenta. Antes da Segunda Guerra Mundial, apenas doze em-presas nos Estados Unidos as estavam adotando. As Foras Armadas Americanas, necessitando de grande quantidade de itens com rgidos requisitos de qualidade, exerceram o poder de compra do Estado por meio das seguintes aes:

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    adoo de procedimentos cientficos de inspeo por amostragem; uso obrigatrio das tabelas oficiais de amostragem pelos fornecedores das

    Foras Armadas e, amplo programa de treinamento em estatstica para o pessoal da indstria

    blica e para o pessoal de compra das Foras Armadas.

    Muitos especialistas em estatstica participaram da concepo e execuo do programa de treinamento. Um dos nomes mais destacados era William Edwards Deming, especialista em amostragem e discpulo de Shewhart.

    A Segunda Guerra Mundial consagrou o controle estatstico da qualidade atra-vs dos rgos de controle da qualidade, criados por exigncia dos organismos de compra das foras armadas das grandes potncias mundiais.

    Os antigos livros e artigos chamam de Controle da Qualidade o departa-mento que, atualmente, conhecido como Controle do Processo (v. Gloss-rio). Durante os anos 1930 e 1940, muitas companhias implementaram mtodos de controle estatstico da qualidade e renomearam seus tradicionais departa-mentos de inspeo como departamentos de controle da qualidade. Como os mtodos estatsticos foram abandonados nos anos 1950 e 1960, esses de-partamentos voltaram tradicional atividade de inspeo, mas mantiveram os nomes de controle da qualidade. Quando o interesse pelos mtodos estatsti-cos renasceu nos anos 1970 e 1980, um novo nome, controle do processo, era necessrio, j que o termo original, controle da qualidade, estava associado inspeo (v. Glossrio).

    1.11 Controle da Qualidade A Preveno de Defeitos

    medida que as indstrias aumentavam em tamanho e sofisticao, a responsa-bilidade pela qualidade dilua-se nos diversos rgos especializados: o departamen-to de engenharia era responsvel pelas especificaes do produto e pelos critrios de aceitao, a produo se encarregava da fabricao e a inspeo era responsvel pelos testes e verificaes do produto final. Faltava uma coordenao entre os diver-sos rgos quanto responsabilidade pela qualidade. Dessa maneira, a qualidade, que era um trabalho de todos, acabava sendo um trabalho de ningum. O america-no Armand V. Feigenbaum, em seu livro Quality Control, publicado em 1951, mos-trava a necessidade da criao de um Departamento de Engenharia da Qualidade para cuidar exclusivamente da funo qualidade, com a atribuio de gerenciar o programa da qualidade da empresa.

    Segundo Feigenbaum, o Departamento de Engenharia da Qualidade deveria ter tambm a responsabilidade de assessorar os demais setores quanto ao tema

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    qualidade e incentivar o treinamento para o controle da qualidade, alm de realizar atividades de controle da qualidade propriamente dita.

    A questo mais importante levantada por Feigenbaum no seu primeiro livro era:

    As empresas precisam dar mais nfase preveno do que correo de defeitos.

    1.12 Confiabilidade Qualidade de Projeto

    Durante a dcada de 1950, diversas empresas defrontaram-se com problemas de projeto e construo de sistemas complexos e com nveis de confiabilidade (v. Glos-srio) bem superiores aos ento praticados. Com o advento da era espacial e nuclear, a importncia da qualidade de projeto aumentou muito. Os investimentos eram altos e o prestgio nacional estava em jogo.

    Algumas especialidades comearam a surgir visando preveno, deteco e correo de erros de projeto. As abordagens tradicionais de projeto e desenvolvi-mento de produtos logo provaram ser inadequadas: ndices de falhas dos equipa-mentos e sistemas eram inaceitveis. Surge assim a Engenharia da Confiabilidade.

    O conceito de confiabilidade teve sua origem na indstria aeronutica. Inicial-mente, as comparaes entre projetos alternativos tendiam a ser puramente quali-tativas. Porm, com o aumento do nmero de avies em operao, houve tambm um aumento gradual das informaes sobre o nmero de ocorrncias de falhas de sistemas em um dado nmero de avies, em um perodo de tempo determinado.

    No decorrer da dcada de 1960, a anlise da confiabilidade passou a ser usada de forma rotineira em, praticamente, todas as indstrias de ponta. Os motivos para a introduo da confiabilidade na anlise de projetos variaram de indstria para in-dstria. Algumas, como, por exemplo, as dos setores eltrico e eletrnico, buscavam fundamentalmente fornecer aos usurios produtos mais confiveis, visando aumen-tar suas vendas. Outras, como a indstria nuclear, de petrleo e petroqumica, pro-curavam diminuir o nmero de acidentes em suas instalaes por meio de anlises de confiabilidade, reduzindo perdas econmicas e riscos operacionais ou pblicos.

    Hoje, a confiabilidade representa um estgio avanado na rea da qualidade de projeto de equipamentos e sistemas.

    1.13 Programas Motivacionais

    Ainda nos anos 1960, surgiram os programas motivacionais chamados de zero defeito. Promovidos especialmente pelos fornecedores do governo americano, basea-vam-se na filosofia de que a adequada motivao dos trabalhadores eliminaria defeitos.

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    Na mesma poca (1962), surgiram, no Japo, os crculos de controle da qualida-de, originalmente voltados para o estudo de problemas relativos qualidade. Mais tarde, passaram a tratar de problemas ligados produtividade, custo, segurana etc.

    O crescimento dos crculos de Controle da Qualidade no Japo foi fantstico. Em meados de 1972, os japoneses estimavam em meio milho o nmero de crcu-los em funcionamento, envolvendo, aproximadamente, cinco milhes de pessoas. O nmero de projetos desenvolvidos na sua primeira dcada de existncia foi estima-do em cinco milhes, representando uma economia de recursos da ordem de cinco mil dlares por projeto.

    1.14 Garantia da Qualidade

    Com o trmino da Segunda Guerra Mundial, principalmente no final da dca-da de 1950, o recrudescimento da Guerra Fria entre Oriente e Ocidente fez com que a questo qualidade ganhasse uma importncia vital. Era iminente uma guerra nuclear entre os Estados Unidos da Amrica do Norte e a Unio Sovitica. Estudos mostravam que os problemas da falta da qualidade eram causados em 80% dos casos por falhas gerenciais e no por falhas tcnicas.

    As empresas sempre se preocuparam com a qualidade no cho de fbrica, esquecendo-se de que os grandes problemas surgiam das falhas de comunicao entre os diversos rgos da empresa e entre os diversos nveis hierrquicos. Assim, os rgos de compra do governo dos Estados Unidos e demais pases da Organiza-o do Tratado do Atlntico Norte (OTAN) passaram a exigir dos seus fornecedores a implementao de Programas de Garantia da Qualidade (v. Glossrio), atualmente chamados de Sistemas da Qualidade.

    Na verdade, a Garantia da Qualidade resultou da aplicao conjunta da teoria de sistemas e dos princpios do Controle Total da Qualidade (v. Glossrio).

    GQ = AQ + CQGQ Garantia da QualidadeAQ Administrao da QualidadeCQ Controle da Qualidade

    A Garantia da Qualidade assegura ao cliente que o fornecedor temcapacidade de atender a todos os requisitos tcnicos e organizacionais

    exigidos nas normas e nos contratos de fornecimento.

    Tambm prov ao fornecedor a confiana de que sua empresa poder atender a todos os requisitos do contrato e das normas aplicveis. A Garantia da Qualidade est ligada, portanto, a uma transao comercial entre duas partes. uma exign-

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    cia do cliente e, sendo uma medida imposta, sofre restries quanto ao grau de envolvimento do fornecedor e de seus funcionrios.

    A Garantia da Qualidade foi tambm aplicada pelos programas espaciais e pelo Programa Nuclear da Fora Naval Norte-Americana nos primeiros porta-avies e submarinos nucleares, visando confiabilidade (v. Glossrio) necessria para mis-ses bem-sucedidas.

    Um Programa de Garantia da Qualidade (v. Glossrio) detalhado foi aplicado de maneira pioneira na tecnologia de energia nuclear, quando, em dezembro de 1967, a American Society of Mechanical Engineer (ASME) publicou um adendo Seo III do Cdigo ASME, instituindo um programa de garantia da qualidade para fabricantes de componentes nucleares.

    Em abril de 1969, a U.S. Atomic Energy Commission (AEC) passou a exigir dos proprietrios de usinas nucleares a apresentao de Programas de Garantia da Qua-lidade. Esses programas devem fazer parte do relatrio da anlise preliminar de se-gurana, a ser submetido AEC para concesso de licena para construo de usinas nucleares. Oficialmente, essa exigncia tornou-se obrigatria em junho de 1970.

    Em 1973, a prpria ASME estendeu os requisitos de programas da qualidade s Sees I (Caldeiras de Fora), Seo IV (Caldeiras de Aquecimento) e Seo VIII e X (Vasos de Presso).

    Embora os requisitos do programa exigido pela ASME para a rea nuclear e con-vencional sejam idnticos, a rea no nuclear no requer documentao to extensa nem auditoria (v. Glossrio). A ASME denominou a verso mais simplificada como Sistema de Controle da Qualidade.

    Como se v, a adoo de programas formais de garantia da qualidade nos Es-tados Unidos decorreu mais por imposies legais do que por razes de mercado.

    1.15 Controle Total da Qualidade

    Os conceitos de Feigenbaum, que preconizavam a criao de um Departamento de Engenharia da Qualidade para cuidar, exclusivamente, da funo qualidade, conti-nuaram evoluindo e, em 1961, foi lanada uma verso atualizada do seu primeiro livro, publicado em 1951, com um novo ttulo: Total Quality Control Engineering and Mana-gement. Nesse segundo livro, Feigenbaum j defendia o conceito do Controle Total da Qualidade (v. Glossrio), que envolve de maneira sistmica todos os rgos da empre-sa, passando pelo marketing, projeto, desenvolvimento, aquisio, fabricao, inspeo e testes, expedio, instalao e assistncia tcnica. No Controle Total da Qualidade, a nfase no planejamento de todas as etapas de produo, incluindo os fornecedores, adotando-se medidas preventivas tanto na administrao como na produo.

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    O TQC de Feigenbaum tem como pedra fundamental uma definio de qualida-de em que o interesse do cliente o ponto de partida:

    Quem estabelece a qualidade o cliente e no os engenheirosnem o pessoal de marketing ou a alta administrao.

    A qualidade de um produto ou servio pode ser definida como oconjunto total das caractersticas de marketing, engenharia,

    fabricao e manuteno do produto ou servio quesatisfaam s expectativas do cliente.

    Portanto, para Feigenbaum, qualidade no simplesmente a conformidade com as especificaes, a ser verificada apenas por meio de inspeo. A qualidade tem de ser embutida no produto ou servio desde o comeo, a partir dos desejos e interesses do cliente. Segundo o princpio bsico do Controle Total da Qualidade, no cada fase isoladamente que contribuir para a qualidade e o custo final do produto, mas a contribuio parcial de cada uma delas.

    A qualidade do produto final depende, ento, de um esforo gerencial conjunto muito grande, em funo das complexidades multidisciplinares existentes em cada empresa. necessrio que seja desenvolvida uma mentalidade voltada para a quali-dade do produto ou servio em todos os nveis organizacionais e em todas as disci-plinas e especialidades, de um modo amplo e participativo.

    fundamental que essa nova mentalidade seja adotada de modo que cada membro da empresa, desde a gerncia de alto nvel at o funcionrio que trabalha na linha de produo, esteja pessoalmente envolvido com o controle da qualidade. Nada mais natural, ento, que o comeo de tudo seja emanado da alta administra-o que, em ltima anlise, decide os rumos que uma empresa deve tomar.

    Zelar pela qualidade de um produto ou servio funo de todos na empresa. Portanto, necessrio definir, de forma clara e objetiva, a participao de cada funcionrio no que diz respeito qualidade. Caso contrrio, corre-se o risco de haver diluio de responsabilidade como a qualidade funo de todos, ela pode rapidamente tornar-se uma funo de ningum.

    A preocupao com a qualidade passou a ser de toda aempresa e no somente do cho de fbrica.

    Feigenbaum, em 1983, publicou a terceira edio do seu livro Total Quality Con-trol, no qual j introduzia conceitos de teoria de sistemas aos princpios de Controle Total da Qualidade. O TQC de Feigenbaum serviu de base para o famoso controle da qualidade japons, tambm conhecido como Qualidade Total.

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    1.16 Controle da Qualidade no Japo

    Antes da Segunda Guerra Mundial, os produtos japoneses eram famosos por seus preos baixos e sua m qualidade. Logo aps o trmino da Segunda Guerra Mundial, em 1946, durante a ocupao do Japo, os Estados Unidos impuseram indstria japonesa de telecomunicaes a aplicao do controle estatstico da qua-lidade (v. Glossrio). Com a finalidade de resolver a situao catica em que se en-contravam os servios de comunicaes, enviaram para aquele pas tcnicos espe-cialistas em controle estatstico da qualidade. Entre esses tcnicos, estavam William Edwards Deming e Joseph M. Juran, que trabalharam na Western Electric, subsidiria da AT&T Bell Laboratories, e ex-alunos de estatstica de Walter A. Shewhart, criador das cartas de controle e do controle estatstico da qualidade.

    A Japanese Union of Scientists and Engineers (JUSE), que se tornou o cen-tro das atividades de controle da qualidade do Japo, designou Kaoru Ishikawa, um engenheiro recm-formado que lecionava na Faculdade de Engenharia, para acompanhar Deming e Juran.

    Deming, Juran e Ishikawa foram os responsveis pela grande transformao que o Japo sofreu depois da Segunda Guerra Mundial com a aplicao, em toda a inds-tria, dos conceitos do controle da qualidade japons.

    Em 1949, foi criado, pela JUSE, o Grupo de Pesquisa para Controle da Qualidade (QCRG) (v. Glossrio) com o objetivo de promover o controle da qualidade na inds-tria japonesa, visando modernizao do pas, bem como melhoria da qualidade de vida do povo japons. O resultado desse trabalho foi o aparecimento do chama-do estilo japons de controle da qualidade.

    O Grupo de Pesquisa estabeleceu duas consideraes bsicas: uma vez que a indstria faz suas avaliaes com base em dados, os mtodos

    estatsticos deveriam ser amplamente disseminados, e no tendo grandes reservas de recursos naturais, o Japo deveria recorrer

    importao de matria-prima; para obter as divisas necessrias para essa importao, deveria exportar bons produtos a preos baixos, o que s seria possvel com uma agressiva aplicao do Controle da Qualidade, incluindo-se as tcnicas de controle estatstico.

    Atravs de educao e treinamento intensivos, utilizando inclusive especialistas estrangeiros, como Deming e Juran, o Controle Estatstico da Qualidade foi ampla-mente aplicado no Japo. Porm, alguns problemas graves persistiam:

    a normalizao progrediu com o Controle da Qualidade, porm as normas no estavam sendo totalmente adotadas, eram documentos meramente for-mais, resultando em um controle da qualidade formal;

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    como os mtodos de controle estatstico foram ensinados em larga escala, mui-tos trabalhadores japoneses reclamaram da dificuldade de sua utilizao, e

    o Controle da Qualidade estava ainda confinado s fbricas. No havia envol-vimento da alta gerncia com a qualidade e nem mesmo do pessoal adminis-trativo, de vendas e de projeto.

    Para superar as dificuldades de envolvimento da gerncia com a qualidade, em 1954 foi promovida uma srie de palestras, proferidas por Joseph M. Juran, abordan-do o importante papel da alta e mdia gerncia no Controle da Qualidade. No fim da dcada de 1950, j comeava a surgir uma nova forma de Controle da Qualidade, denominada Garantia da Qualidade (v. Glossrio) durante o desenvolvimento de um novo produto. Uma grande campanha de rdio e televiso foi utilizada, desde 1956, para treinamento de lderes nas fbricas japonesas. Em 1962, foram lanados os Crculos de Controle da Qualidade.

    Na Conferncia Internacional de Controle da Qualidade em Tquio, em 1969, o mundo tomou conhecimento da nova abordagem japonesa sobre a questo da qualidade. O conceito japons de Garantia da Qualidade evoluiu, percorrendo trs estgios:

    1. Garantia da Qualidade orientada para a inspeo considerava apenas a ins-peo aps a fabricao.

    2. Garantia da Qualidade orientada para o controle do processo a qualidade do produto deveria ser assegurada atravs do controle da produo, em vez de inspeo aps a fabricao. Faa a qualidade no estgio de produo. Esse mtodo isolado tambm se revelou insuficiente para assegurar a qualidade. Se o projeto fosse ruim, seu simples controle do processo no resultaria em um produto de qualidade. Se o material fosse selecionado incorretamente, o pro-duto poderia falhar. Como os dois estgios isolados se mostraram insuficientes, no final da dcada de 1950 os japoneses adotaram o terceiro e atual estgio.

    3. Garantia da Qualidade durante o desenvolvimento do