Língua e Cognição: Antes e depois da revolução...

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CORREA, L.M.S. Língua e Cognição: Antes e depois da revolução cognitiva In: GUIMARÃES, E (ed.). Introdução às ciências da linguagem: linguagem historia e conhecimento. Campinas: Editoras pontes, no prelo. Língua e Cognição: Antes e depois da revolução cognitiva Letícia Maria Sicuro Corrêa PUC-Rio/LAPAL 1. Introdução Língua e cognição são dois conceitos intimamente relacionados. Cognição 1 diz respeito a tudo que possa estar relacionado à aquisição, manutenção, recuperação e uso de conhecimento. Conhecimento pode ser entendido como produto mental da interação do indivíduo com o que lhe é exterior, no meio físico e social. A língua é o principal meio de interação entre os seres humanos e varia a cada grupo social. A língua é, pois, um tipo de conhecimento a ser adquirido pela criança em sua interação com o mundo. O conhecimento de uma língua pode, por sua vez, ser visto como instrumento da cognição. A língua permite que se produza e que se compreenda um número infinito de enunciados que veiculam informação nova, alterando, desse modo, o estado de conhecimento dos participantes de uma interação verbal. Mais do que isso, uma vez adquirida, ou em aquisição, a língua faz parte do aparato com o qual o indivíduo interage com o mundo exterior a ele, podendo, desse modo, influenciar na forma como sua experiência no mundo é organizada. A aquisição de uma língua fornece também um meio para o exercício do pensamento, o que dá suporte ao planejamento de ações e pode contribuir para o desempenho de tarefas cognitivas complexas. Note-se que o próprio pensamento torna-se objeto da cognição, dando origem a categorias semânticas que se referem ao exercício do pensamento e a estados de Este trabalho foi desenvolvido durante a vigência da Bolsa de Produtividade em Pesquisa, CNPq 551491/02, 2003- 2006. Laboratório de Psicolingüística e Aquisição da Linguagem. 1 A palavra cognição tem origem em cognitio, nome derivado do verbo cognoscere (conhecer) em Latim. O estudo da cognição engloba percepção, atenção, memória, conceitos, crenças, estruturas de conhecimento, categorização, raciocínio, resolução de problemas, tomada de decisões, conhecimento e habilidades lingüísticas, dentre outros.

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CORREA, L.M.S. Língua e Cognição: Antes e depois da revolução cognitiva In: GUIMARÃES, E (ed.). Introdução às ciências da linguagem: linguagem historia e conhecimento. Campinas: Editoras pontes, no prelo.

Língua e Cognição: Antes e depois da revolução cognitiva∗

Letícia Maria Sicuro Corrêa

PUC-Rio/LAPAL

1. Introdução

Língua e cognição são dois conceitos intimamente relacionados. Cognição1 diz respeito a

tudo que possa estar relacionado à aquisição, manutenção, recuperação e uso de conhecimento.

Conhecimento pode ser entendido como produto mental da interação do indivíduo com o que lhe

é exterior, no meio físico e social. A língua é o principal meio de interação entre os seres

humanos e varia a cada grupo social. A língua é, pois, um tipo de conhecimento a ser adquirido

pela criança em sua interação com o mundo.

O conhecimento de uma língua pode, por sua vez, ser visto como instrumento da

cognição. A língua permite que se produza e que se compreenda um número infinito de

enunciados que veiculam informação nova, alterando, desse modo, o estado de conhecimento dos

participantes de uma interação verbal. Mais do que isso, uma vez adquirida, ou em aquisição, a

língua faz parte do aparato com o qual o indivíduo interage com o mundo exterior a ele, podendo,

desse modo, influenciar na forma como sua experiência no mundo é organizada.

A aquisição de uma língua fornece também um meio para o exercício do pensamento, o

que dá suporte ao planejamento de ações e pode contribuir para o desempenho de tarefas

cognitivas complexas. Note-se que o próprio pensamento torna-se objeto da cognição, dando

origem a categorias semânticas que se referem ao exercício do pensamento e a estados de

∗ Este trabalho foi desenvolvido durante a vigência da Bolsa de Produtividade em Pesquisa, CNPq 551491/02, 2003-2006.

Laboratório de Psicolingüística e Aquisição da Linguagem. 1 A palavra cognição tem origem em cognitio, nome derivado do verbo cognoscere (conhecer) em Latim. O estudo da cognição engloba percepção, atenção, memória, conceitos, crenças, estruturas de conhecimento, categorização, raciocínio, resolução de problemas, tomada de decisões, conhecimento e habilidades lingüísticas, dentre outros.

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conhecimento, como os verbos pensar, achar, acreditar, considerar. Esse tipo de verbos tem

como complementos sentenças que nem sempre correspondem à verdade dos fatos (como em

João acha que a capital da Argentina é Montevidéu), explicitando que o estado de conhecimento

pode ser diferente entre os indivíduos. As possíveis relações entre língua, o exercício do

pensamento, a consciência de estados mentais, incluindo os estados de conhecimento podem,

pois, ser um fator determinante naquilo que distingue a cognição humana da de outras espécies.

Ainda no que há de especificamente humano na cognição, constatamos que a língua

admite uma modalidade escrita, fruto do desenvolvimento cultural, cuja aquisição e uso impõem

demandas cognitivas específicas. A posse da língua escrita, como conhecimento, pode, portanto,

influenciar de forma distintiva as conquistas cognitivas do indivíduo e da sociedade, visto

facilitar a preservação e a difusão do conhecimento.

Língua e cognição são, portanto, conceitos, em grande parte, indissociáveis. Casos de déficits

específicos da língua, por um lado, e a preservação de habilidades lingüísticas por portadores de

déficits cognitivos, por outro, sugerem, não obstante, que, apesar da interdependência entre

língua-cognição, o domínio da língua tem uma identidade própria2.

Podemos então sintetizar os diferentes modos como língua e cognição se relacionam aqui

mencionados, e identificar as principais tarefas e metas do estudo das relações pertinentes a

língua e cognição.

1. A língua é parte da cognição, visto que é conhecimento a ser adquirido. Caracterizar a

língua como conhecimento e explicar como sua aquisição se faz viável são, portanto,

tarefas cruciais no estudo da cognição humana.

2. A produtividade da língua, ou seja, a possibilidade de um número infinitamente grande de

enunciados lingüísticos serem estruturados a partir de palavras (elementos do léxico) é

condição necessária para a produção e a compreensão de enunciados novos. Caracterizar

em que reside a produtividade lingüística e explicar de que modo a produção e a

compreensão da linguagem se realizam são, portanto, metas fundamentais do estudo da

língua como parte da cognição.

2 Para uma caracterização do Déficit Especificamente Lingüístico, acessível em português, ver Silveira (2002); Hausen (2005) e Jakubovicz (2006). Para a preservação a língua na presença de Déficits cognitivos profundos, ver Rondall (1995), Smith & Tsimpli (1995); Yamada (1990).

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3. A língua como parte constitutiva do aparato com o qual o indivíduo interage com o

mundo pode influenciar no modo como sua experiência no mundo é apreendida como

conhecimento. Distinguir aquilo que, na cognição humana, é comum aos indivíduos da

espécie, do que decorre do fato da experiência lingüística é, portanto, um objetivo central

do estudo da cognição humana.

4. O conhecimento lingüístico (da língua na modalidade oral, natural ao ser humano, assim

como na escrita, produto do desenvolvimento cultural) pode contribuir para o

desenvolvimento de processos cognitivos avançados, cruciais na distinção entre a

cognição humana e a de outras espécies. Identificar e explicar o papel da língua no

desenvolvimento cognitivo, particularmente no que há de distintivo na cognição humana,

é, portanto, parte integrante do estudo da cognição como fenômeno de base biológica e

social.

5. Dissociações entre habilidades lingüísticas e cognitivas são indicativas da existência de

processos específicos do domínio da língua. Identificar o que é específico do domínio da

língua é crucial para qualquer tipo de intervenção nos casos de déficits específicos desse

domínio assim como de problemas no desempenho de tarefas cognitivas dependentes da

língua.

Partindo do pressuposto de que a caracterização de entidades e processos mentais

envolvidos em tarefas dependentes de conhecimento é o primeiro passo para o entendimento

da atividade do cérebro no desempenho dessas tarefas, o estudo da língua como fenômeno

cognitivo abre caminho para que se chegue a um entendimento do modo como os processos

dela dependentes são implementados no cérebro, criando, dessa forma, um novo espaço de

investigação.

Língua e cognição, tomadas em conjunto, oferecem, pois, uma longa agenda de pesquisa. A

Lingüística e a Psicologia vêm, desde a sua constituição, em fins do século XIX / início do XX,

defrontando-se com algumas das questões que se apresentam a partir da relação entre esses

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conceitos. É, contudo, apenas em função dos desenvolvimentos que tomaram forma em meados

do século XX, usualmente identificados como a revolução cognitiva3 dos anos 50, que as

relações entre língua-cognição puderam ser especificamente investigadas. Esses

desenvolvimentos vieram a aproximar campos até então não relacionados como Matemática,

Teoria da Informação e Ciência da Computação, Lingüística e Psicologia, dando origem à

Psicologia Cognitiva, e à Psicolingüística como uma subárea dessa última, então em estreito

contacto com a Lingüística Gerativista, recém constituída no mesmo contexto. Essa aproximação

convergiu para o que pode ser denominado de ciência cognitiva ou ciências cognitivas4. Nesse

contexto, a incorporação de conceitos tais como computação simbólica, processamento de

informação e representação como unidade de manipulação simbólica, por parte da Psicologia e

da Lingüística, foi fundamental para o tratamento de processos cognitivos pertinentes à língua. A

construção de teorias acerca de objetos e processos mentais em forma de modelos de natureza ou

inspiração algorítmica foi também crucial para o teste de hipóteses acerca das propriedades e do

modo de funcionamento dos objetos e processos mentais a que se referem.

A chamada revolução cognitiva causou enorme impacto no cenário das ciências na segunda

metade do século passado e na definição dos direcionamentos da pesquisa a partir de então.

Apresentou a língua como um objeto da cognição e não apenas como seu instrumento. Pôs em

questão a natureza do conhecimento lingüístico (ou outras formas de conhecimento) Possibilitou

a distinção entre o domínio cognitivo da língua e outros domínios, facilitando a caracterização de

como diferentes domínios da cognição se relacionam. Facilitou uma integração entre Lingüística

e Biologia, introduzindo a língua no campo das ciências naturais, de modo que seu estudo passa a

contribuir e a ser informado por teorias da evolução das espécies (Chomsky, 2001; Hauser,

Chomsky & Fitch, 2002; Chomsky, 2005) e permitiu a formulação de hipóteses acerca do modo

de implementação neurofisiológica do processamento lingüístico, o que abre um novo espaço

para o teste de hipóteses acerca da natureza dos processos mentais (Friederici, 1995; Friederici et

al., 2001). Mesmo entre correntes da Psicologia e da Lingüística não diretamente vinculadas ao

que se entende por ciência cognitiva, isto é, vertentes da Lingüística mais ligadas a uma

concepção funcionalista de língua, e vertentes da Psicologia mais resistentes à proposta de haver

3 Ver Gardner (1985) para um histórico. 4 Ciência cognitiva não se constitui como um campo coeso. Pode ser considerada um programa de pesquisa com ou sem comprometimento à implementação computacional. Daí alguns preferirem se referir a ciências cognitivas para as disciplinas que compartilham alguns dos ideais vinculados a uma ciência unificada da mente (cf. Bogdan, 1993; Miller, 2003; Pylyshyn, 1986).

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restrições de ordem biológica às formas de conhecimento, um interesse sobre a língua como

fenômeno cognitivo foi instaurado. Esse interesse tende a convergir no âmbito da Lingüística

para um conjunto de tendências identificadas como Lingüística Cognitiva e na Psicologia e

Psicolingüística para um paradigma alternativo, no qual o estudo de processos cognitivos é

conduzido a partir de modelos de simulação computacional de natureza estatística inspirados em

modelos da atividade do cérebro concebidos em termos de redes neurais.5

O saldo da revolução cognitiva é, a meu ver, positivo. Desenvolvimentos convergentes nos

campos da Lingüística e da Psicolingüística nos colocam diante da possibilidade de se conceber o

objeto cognitivo língua, em interação com os demais sistemas cognitivos que atuam no

desempenho lingüístico. Resultados de estudos controlados em diferentes línguas nos permitem

re-avaliar a tese do determinismo lingüístico, que ficou em voga na primeira metade do século

XX, e formular, de forma mais precisa, hipóteses acerca daquilo que, na cognição humana, pode

advir da experiência lingüística e cultural (Bowerman, 2003; Gertner & Goldin-Meadow, 2003;

Slobin, 2003). Em função de hipóteses acerca de disposições inatas em domínios específicos,

contrariando uma concepção generalista da mente humana, também em voga na primeira metade

do século passado, assim como do desenvolvimento de técnicas que permitem avaliar habilidades

cognitivas de crianças de idade inferior a um ano, hipóteses sobre o modo como a língua pode

contribuir para o que é específico da cognição humana podem ser precisamente formuladas

(Spelke, 2003). Ainda nessa linha de investigação, a concepção de língua como um sistema

cognitivo de natureza computacional, representacional e funcional, à medida em que é posto em

uso na interação lingüística, facilita a formulação de hipóteses acerca do papel do conhecimento

lingüístico no desenvolvimento de habilidades que levem em conta o estado de conhecimento do

outro (de Villiers & de Villiers, 2003). A teoria lingüística gerativista, em sua concepção

minimalista (Chomsky, 1995), e a Psicolingüística, vistas de forma integrada, nos permitem

formular hipóteses acerca da natureza das manifestações de um déficit específico do domínio da

língua e reavaliar o quão específico este déficit pode ser (Corrêa, 2006a; Corrêa & Augusto,

2005a; Jakubovicz, 2003; 2006). Assim sendo, a agenda que acima se apresenta se vê diante de

um futuro promissor.

5 O paradigma alternativo ao simbólico denomina-se conexionista. Para um contraste entre estes, ver Pinker & Mehler (1988), Marcus (2002) e Townsend & Bever (2002), no que se refere à compreensão de sentenças.

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Este capítulo tem por objetivos: (i) trazer um pouco da história do tratamento de questões

pertinentes à língua – cognição a partir da constituição da Lingüística e da Psicologia, apontando

para os aspectos dessa relação que ficaram em evidência na primeira metade do século XX e

apresentando resultados de pesquisas recentes que permitam re-avaliar especulações e hipóteses

aventadas naquela época; (ii) caracterizar o tipo de abordagem que define um programa em

ciência cognitiva ou o que agrega as chamadas ciências cognitivas sob este rótulo; (iii) apresentar

o modo como Teoria Lingüística e Psicolingüística vêm lidando com a questão da aquisição do

conhecimento lingüístico e de que maneira a idéia de inatismo, que levou a reações e

preconceitos, dado o modo como foi inicialmente apresentada, pode ser hoje formulada,

possibilitando um diálogo produtivo entre diferentes abordagens para a mente humana.

Pretendo, dessa forma, convidar o leitor a participar do empreendimento que a agenda acima

nos apresenta. O quadro que aqui se expõe, relativo aos desdobramentos da revolução cognitiva

de meados do século passado, está, obviamente, longe de ser exaustivo, visto que privilegia um

tipo de abordagem mais identificada com o chamado paradigma clássico das ciências cognitivas.

As limitações dessa abordagem são hoje objeto de discussão, o que abre caminho para a busca de

novas soluções para o tratamento de processos cognitivos que vão além do domínio da língua,

como por exemplo, na integração do resultado da análise de um enunciado lingüístico com toda a

base de conhecimento do indivíduo, processos associativos, raciocínio abdutivo, dentre outros

(Marraffa, 1999; Fodor, 2000). Acredito, não obstante, que o panorama aqui criado possa motivar

o leitor tanto a aprofundar o conhecimento do tipo de abordagem aqui privilegiada, quanto a

entrar em contato com abordagens alternativas ou complementares para o entendimento da

relação língua – cognição.

Este capítulo se organiza em seções que correspondem aos objetivos acima especificados.

2. Língua e cognição: apresentando questões

Podemos traçar o início da Lingüística e da Psicologia em meados do século XIX / início

do século XX. Ainda na primeira metade do século XIX, contudo, quando a distinção entre

Filosofia, Filologia e Lingüística não se faziam claras, Humboldt6 (1836/1888) chama atenção

para dois aspectos pertinentes à dimensão cognitiva da língua que seriam recuperados no 6 Wilhelm von Humboldt (1767-1835): filósofo e filólogo que teve grande influência no desenvolvimento de estudos lingüísticos no século XIX por instituir a cátedra de Lingüística em universidades, quando Ministro de Educação da Prússia.

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contexto da Psicologia e da Lingüística emergentes: a produtividade dos sistemas lingüísticos,

que fazem “uso infinito de meios finitos”, e o papel mediador da língua na interação do indivíduo

com o mundo, introduzindo a tese do determinismo lingüístico, de certa forma assumida pela

Lingüística da primeira metade do século XX. Cada um desses pontos será comentado a seguir.

2.1. Uso infinito de meios finitos

Uma característica essencial dos sistemas lingüísticos é a produtividade ou, em termos

mais atuais, seu caráter computacional. Palavras são combinadas de forma a compor enunciados

estruturados hierarquicamente que se apresentam numa seqüência linear. O ouvinte extrai dessa

seqüência (e da prosódia a ela associada) informação que lhe permite recuperar as relações

hierárquicas nas quais palavras se inserem e com isso chegar ao significado daquele enunciado.

Os enunciados produzidos podem ter extensão ilimitada (é sempre possível adicionar uma oração

relativa (ou adjetiva) a um sintagma de base nominal em qualquer posição na sentença!) e

considerando-se a grande quantidade de palavras do léxico, mais a possibilidade de este ser

ampliado, o número de enunciados novos a serem produzidos e compreendidos é infinito.

Esse fato havia sido constatado há muito tempo, no contexto do Renascimento, com

gramáticos como Sanctius, na Espanha, e daria origem à concepção dos fundamentos da arte de

falar, pelos gramáticos da abadia de Port-Royal, na França, no início do século XVII (cf. Arnauld

& Lancelot, 1620/1969; Chomsky, 1968). A gramática geral e racional, como foram esses

fundamentos apresentados, foi (que se saiba) a primeira expressão de um sistema de operações ou

regras a atuar recursivamente de modo a formar sentenças. A preocupação principal dos

gramáticos de Port-Royal era apresentar uma caracterização do vernáculo, do Francês falado, e

não uma prescrição da arte do bem falar, fundada no Latim, como era a prática de então, pois, “a

existência de uma fala efetiva é a medida de sua correção”7. As regras que constituem

espontaneamente a arte de falar teriam de ser justificadas, por não serem estabelecidas de forma

prescritiva nem usadas de forma consciente. Arnauld & Lancelot fazem uso, assim, do termo

gramática com dois sentidos, o de arte de falar (uma capacidade cognitiva) e disciplina que

apresenta os fundamentos dessa arte.8 Transcendiam, desse modo, em muito, a proposta de uma

7 Cf. Introdução de Michel Foucault à edição de 1969, p.xiii. 8 Id. Ibid. p. xv.

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gramática nos moldes tradicionais, apresentando uma teoria de língua, concebida em função do

desempenho lingüístico dos falantes, em que um sistema de natureza computacional que, segundo

eles, seria regido pela Lógica, garantiria a arte de falar, ou seja, combinar palavras de forma

estruturada.

Essa concepção de gramática, que viria a ser retomada em meados do século XX, no

contexto da revolução cognitiva, desaparece, segundo Foucault, no início do século XIX9. Mas se

faz presente, ainda neste século, nas considerações de Humboldt. Além de Humboldt conceber

um sistema gerativo10 universal que daria conta da produtividade das línguas, viria apresentar um

tipo de solução para a questão da aquisição do conhecimento lingüístico ante a variabilidade das

línguas. Humboldt assume uma disposição natural para a língua no ser humano, assim como lhe

atribui uma capacidade para aquisição de qualquer língua. A variabilidade das línguas estaria nos

“meios” (o que pode ser entendido como sua expressão fonológica e morfológica) e assume

“limites” ou restrições para sua realização. O trecho abaixo é particularmente ilustrativo11:

“Dado que a disposição natural para a língua é universal no homem, e visto que cada um tem de possuir a chave para o entendimento de todas as línguas na mente, têm-se como corolário que a forma de todas as línguas tem de ser essencialmente a mesma, e sempre alcançar um objetivo comum. A variedade entre as línguas só pode residir nos meios, nos limites permitidos para que o objetivo seja atingido.” (1836).

A idéia de “limites” ou “restrições” ao conhecimento remonta ao chamado problema de

Platão (cerca de 428-347 AC), tal como apresentado por Bertrand Russell12, que traz a seguinte

questão:

“como é possível que seres humanos, cuja experiência no mundo é tão breve, pessoal e limitada sejam, assim mesmo, capazes de saber tanto quanto sabem.”13

Para entender o sentido de restrições, no contexto do estudo da cognição, é necessário que se

imagine que os dados do que chamamos de realidade, quando captados pelos sentidos,

apresentam-se como um conjunto desordenado de elementos a serem categorizados e estruturados

de alguma forma. Dado esse conjunto, qualquer categorização ou estruturação seria, a princípio, 9 Id. Ibid. p.xxvii. 10 Gerar (to generate, em inglês) é, segundo Chomsky, a tradução mais apropriada para o verbo alemão erzeugenl usado por Humboldt para caracterizar o sistema produtivo da língua. (Chomsky, 1965, p.9). 11 Essa tradução para o português foi baseada na tradução para o inglês do original alemão por P. Heath (na edição de 1988) e por K. Jonhson, (2003), em citação. 12 Bertand Russel (1872 – 1970) filósofo inglês, lógico, considerado um dos fundadores da Filosofia Analítica. 13 Tradução nossa da citação em Bodgan (1993).

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possível. E o surpreendente para Platão é a convergência que há nessa categorização e

estruturação por parte dos seres humanos, dado que a experiência é individual, variável e

limitada. Desde a famosa Doutrina das Idéias por ele formulada para lidar com esse problema14,

que uma série de embates têm sido travados no âmbito da Filosofia, da Psicologia e da

Lingüística, com relação à necessidade de se supor alguma restrição à maneira como tais dados

devam ser categorizados ou estruturados. Num extremo, tem-se a postura empirista de que a

informação proveniente dos dados captados pelos sentidos garante o acesso ao real (com origem

em Aristóteles (384-322 AC), e característica do Empirismo Britânico, com Locke (1632-1704) e

Hume (1711-1776). Num outro extremo, tem-se a concepção de que o conhecimento advém de

idéias inatas, da própria razão, exclusiva do ser humano (posição racionalista, característica do

pensamento de Descartes (1596-1650)). Mais na linha da concepção hoje vigente, tem-se a

postura de Kant (1724-1804), tido como precursor da ciência cognitiva (Brooks, mimeo), ao

considerar que a experiência tal como a percebemos decorre da capacidade da mente de estruturar

os dados da percepção. Desse modo, podemos entender que há restrições inerentes à interação do

indivíduo com o mundo -- aquilo que é dado a conhecer ao homem é, nos termos de hoje, função

de seu aparato cognitivo.

A concepção de Kant influencia o pensamento de Humboldt e de toda uma geração

identificada como “apercepcionista15” no século XIX, num contexto intelectualmente intenso em

que questões relativas à língua e à cognição são centrais (Blumenthal, 1970).

A idéia de Humboldt relativa a uma dissociação entre uma forma essencial e a variabilidade

restrita à expressão morfológica da língua seria retomada por Chomsky nos anos 60 do século

seguinte (Chomsky, 1965), mas só viria a ser claramente expressa na concepção de língua

apresentada trinta anos mais tarde, no Programa Minimalista (Chomsky, 1995), como será visto

adiante. As idéias de Humboldt relativas a uma disposição para a língua e à solução para o

problema da aquisição do conhecimento lingüístico irão influenciar a pesquisa na Lingüística

gerativista contemporânea, que toma como meta encontrar “a chave” para a aquisição do

conhecimento lingüístico. 14 Cf. o diálogo Mênon, a República (VII, 508-518) e, para questões pertinentes ao sentido, Martins (2004). 15 Apercepcionista remete ao conceito de apercepção, termo originalmente criado por Leibniz (1646-1716) para designar a consciência ou conhecimento do eu, tomado por Kant, que distinguiria a apercepção empírica da transcendental. (Japiasssu & Marcondes, 1989). Essa última apresenta um conceito complexo utilizado na argumentação em torno da necessidade de haver “uma condição que preceda toda a experiência e torne a experiência em si possível” (Crítica da Razão Pura, A106-7, do inglês, tradução da autora)

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No âmbito da Psicologia, Wundt (1832-1920) é influenciado pelo pensamento de Humboldt e

pode ser considerado precursor da Psicolingüística contemporânea, ainda que não tenha havido

uma influência direta daquela nos desenvolvimentos que tomaram forma em meados do século,

como comenta Blumenthal (1970, p. vii16). Wundt considera o estudo da língua como parte de

uma teoria da cognição e concebe uma Sprachpsicologie para o estudo dos processos de

produção e compreensão da fala. Fazia uma distinção entre percepção, para o que é detectado de

fora, pelos sentidos, e apercepção (inspirado em Kant), como seleção e estruturação de

experiência direcionada internamente, e via nesta o início do processo de formulação da sentença

– tomada como a forma básica da língua e concebida como um processo cognitivo. A relação

entre a apercepção e os sons da fala não seria direta ou isomórfica. O estudo da língua seria

voltado para a relação entre esses dois estados. Em sua obra Die Sprache (1900)17, considera que

a sentença, do ponto de vista psicológico é ao mesmo tempo uma estrutura simultânea e

seqüencial, contrariando a idéia associacionista de cadeia de palavras ou conceitos que seria cara,

pouco tempo depois, aos Behavioristas. Define então sentença como:

“a representação lingüística da ordenação seqüencial voluntária de uma impressão mental simultânea em segmentos logicamente relacionados.” (Wundt, 1900, cap.4 in Blumenthal, 1970,p.22).

Wundt antecipa um sistema de regras que dê conta da estruturação hierárquica entre os

elementos da sentença e sua ordenação, tal como viria ser a proposta de um modelo de língua na

concepção do gerativismo. Wundt também enfatiza o estudo da aquisição da linguagem como um

meio de se conhecer a natureza da língua. William & Clara Stern18, sob sua orientação, conduzem

um estudo longitudinal da aquisição do Alemão, em forma de diário, que é um marco no estudo

da aquisição da linguagem. As observações dos Stern na discussão em torno da natureza das

restrições necessárias à aquisição do conhecimento lingüístico são até hoje pertinentes

(Blumenthal, 1970; Clark, 2002).

Diferentes fatores não dariam continuidade à Sprachpsicologie de Wundt, tais como a crítica

feita ao uso do método introspectivo de observação de processos mentais, utilizado por Wundt,

uma tendência comportamentalista crescente na Psicologia e uma orientação mais funcionalista

16 Ver também Murray (1988). 17 Tradução da autora do extrato da edição de 1912, traduzida para o inglês em Blumenthal, 1970. 18 Para extratos da edição original em alemão de Die Kindersprache, 1907, ver Blumenthal (1970, pp.86-100).

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no tratamento da linguagem entre os psicolingüistas da época, como Karl Bühler, conhecido por

caracterizar as funções da linguagem como expressão, evocação e representação19.

2.2. A língua como mediadora da relação do indivíduo com o mundo

A experiência de Humboldt com outras culturas e a idéia de que a experiência do real

requer o trabalho da mente, que absorveria do pensamento de Kant, o levaria à tese radical de que

a cognição é determinada pela língua (1836/1888). Como indica o título de sua obra, “A

diversidade da construção das línguas humanas e sua influência no desenvolvimento mental da

humanidade”, Humboldt vincula o tipo de categorias semânticas ou distinções gramaticais

expressas na morfologia da língua a toda uma concepção de mundo que, a seu ver, criava uma

identidade cognitiva para falantes de uma mesma língua, no espírito do Romantismo alemão. De

acordo com Robbins (1997, p.166), Humboldt adaptou a teoria da percepção de Kant de que as

sensações seriam ordenadas por categorias ou intuições impostas pela mente, particularmente

relativas a espaço, tempo e causalidade, relativizando-a e dando-lhe uma versão lingüística – a

innere Sprachform de cada língua seria responsável pela categorização dos dados da experiência,

de modo que falantes de diferentes línguas teriam diferentes sistemas de pensamento. Esse tipo

de visão teria sérias implicações políticas, como foi visto na história e não tem, nessa visão

radical, qualquer sustentação empírica como será visto adiante.

A idéia de que a língua é fator determinante da cognição humana mostra-se também

compatível com uma perspectiva relativista20 que viria a se tornar presente no Curso de

Saussure21. O Curso veicula a idéia de que o pensamento22, sem a língua, é uma massa amorfa.

Cada língua daria forma à massa do pensamento, impondo nesta recortes de dimensões

arbitrariamente definidas, dando origem a diferentes modos de se representar a experiência

19 Para extratos do original alemão Kritiche Musterung der neuern Theorien des Satzes, traduzidos para o inglês, ver Blumenthal, 1970, pp.58-63. 20 O Relativismo, concepção segundo a qual não há medida absoluta da verdade, remonta aos filósofos pré-socráticos, como Protágoras e Górgias, e vai se fazer presente em diferentes correntes do pragmatismo (ver Martins, 2004). 21 Ferdinand de Saussure (1857-1913), inicialmente vinculado à tendência da filologia que identificava os Junggraammatiker (jovens gramáticos, traduzido como neo-gramáticos, tradicionalmente) no contexto alemão do fim do século XIX, romperia com estes e seria considerado o fundador da Lingüística contemporânea, a partir das idéias veiculadas nos cursos de lingüística geral ministrados na Universidade de Genebra em 1907, 1909 e 1910/1. Dividiu a cátedra de Filosofia com W. Wundt na Universidade de Leipzig em 1875. (Blumenthal, 1970). Ver Curso de Lingüística Geral, São Paulo, Cultrix, 1974. 22 O termo pensamento não necessariamente se refere a pensamento consciente. Nesse sentido, pode ser entendido no sentido genérico de cognição.

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vivenciada. Não havendo qualquer tipo de restrição para essa delimitação, o número de categorias

semânticas passíveis de serem delimitadas em função da experiência seria infinito.

Numa interpretação radical de uma visão determinista ou relativista, a ausência de uma língua

inviabilizaria a organização cognitiva da experiência, visto que, sem a categorização imposta pela

língua, aquilo que fosse perceptível não traria informação suficiente para qualquer tipo de análise.

Metáfora semelhante seria utilizada por Whorf, no contexto norte-americano, anos mais tarde

(Whorf, 1956). Segundo ele, “o mundo nos é apresentado num fluxo de impressões

caleidoscópico, que tem de ser organizado pela nossa mente – e isso quer dizer, em grande parte,

pelos sistemas lingüísticos da nossa mente.”(p.213).23 Whorf dá continuidade ao tema que vinha

sendo elaborado por Sapir24, em função de sua experiência em pesquisa lingüística e

antropológica, de que a língua funciona como um filtro através do qual o mundo é construído

para propósitos comunicativos (Beeman,1997) e a posição de ambos, com relação ao papel

mediador da língua, ficaria conhecida como a hipótese Sapir-Whorf. Sapir traria, não obstante,

uma nova dimensão para a concepção da influência da língua na cognição, quando sugere que o

fonema, unidade de descrição lingüística, teria realidade psicológica (Sapir, 1949).

Sapir observa que seu informante, falante nativo de Nootka, língua indígena norte-americana,

ao transcrever essa língua tende a omitir distinções fonéticas dentro de um mesmo fonema, o que

é interpretado como evidência de que o fonema, tomado como unidade de representação mental,

serve de filtro à percepção do estímulo físico. A idéia de que uma unidade de descrição

lingüística pode corresponder a uma unidade de representação mental viria aproximar a

Psicologia cognitiva da Lingüística na segunda metade do século XX.

A hipótese Sapir-Whorf alcança enorme popularidade em meados do século XX e seria

imediatamente testada no contexto da Psicologia Cognitiva que se estabeleceria por volta dos

anos 70. A década de 70 presencia um crescente interesse no que há de universal na cognição e

na possibilidade de dissociação entre domínios da cognição a partir da proposta da Lingüística

Gerativista de que a língua constitui um domínio cognitivo com identidade própria, como

veremos adiante.

23 Tradução da autora. 24 Edward Sapir (1872 - 1970), formado em Antropologia com Franz Boas, com treinamento em Lingüística, participou do estudo de línguas indígenas que caracterizou os trabalhos da lingüística descritiva no contexto norte-americano da primeira metade do século XX. Juntamente com Bloomfield (1887-1949), é considerado principal figura do estruturalismo norte-americano.

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Resultados de pesquisa em diferentes línguas indicam, de fato, que as relações semânticas

expressas na fala inicial de crianças são semelhantes entre línguas e que dificuldades no

tratamento da morfologia da língua é o que pode acarretar diferenças no curso do

desenvolvimento (Clark, 1973; Bowerman, 1973; Slobin, 1970; 1973). Evidências relativas à

percepção e à permanência de objetos, que os dados de Piaget sugeriam ocorrer por volta dos 9

meses e resultados mais recentes identificam em crianças de 5 meses (cf. Spelke, 2003), seriam

suficientes para confrontar uma concepção radical de massa amorfa. A concepção de Saussure e

de Whorf25 também faria prever dificuldades cognitivas em crianças portadoras de deficiência

auditiva sem contacto com qualquer língua e resultados indicam que estas não diferem de

crianças com audição normal em tarefas que envolvem categorização de objetos em função de

propriedades como cor e forma, por exemplo, nem na formação de categorias em um nível de

abstração básico, como a categoria dos gatos, mesas, carros, etc. Têm, contudo, dificuldade em

grupar duas categorias em um nível hierarquicamente mais alto, como, por exemplo, numa

categoria que pudesse conter mobiliário e veículos e com a solução de problemas que envolvem

raciocínio abstrato (Friedman, 1985; Hillyeist and Epstein, 1991). Esses resultados indicam que

há capacidades cognitivas básicas, independentes da língua embora a posse desta possa contribuir

para o desenvolvimento de habilidades cognitivas mais avançadas, como sugere Vygotsky (seção

2.3). Pesquisas de natureza antropológica trariam, não obstante, os resultados mais decisivos para

a rejeição da hipótese de um determinismo lingüístico. Um estudo com os Dani, grupo étnico da

Nova Guiné, cuja língua inclui apenas duas palavras para designar cores, correspondentes a claro

e escuro, revela que estes são capazes de fazer todas as distinções de cores correspondentes aos

nomes de cores em inglês. Seu desempenho em tarefas cognitivas não evidenciou qualquer efeito

do vocabulário para cores de sua língua. Além disso, branco, preto, vermelho, verde, amarelo e

azul atuam como cores focais, ou seja, cores em torno das quais diferentes nuances são grupadas,

para os falantes de Dani, tal como atuam para falantes de Inglês (Heider & Olivier, 1972;

Gertner & Goldin-Meadow, 2003). Ainda na década de 70, os resultados de pesquisas com

crianças de 18 meses demonstram que estas tendem a fazer uso de categorias já estabelecidas

como, por exemplo, distinções relativas a objetos com e sem individualidade (como colheres, e o

cachorro da casa, por exemplo) e a utilizar esse tipo de categorização prioritariamente a uma pista

25 Benjamin Whorf (1897 – 1941) originalmente engenheiro químico, teve interesse em antropologia e foi supervisionado por Sapir no estudo da língua indígena Hopi, na Universidade de Yale, na década de 30.

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lingüística relativa a nomes próprios e comuns (como o artigo, em inglês), ainda que o melhor

desempenho seja alcançado quando a pista lingüística coincide com a categorização inicial

(Macnamara, 1977). Esse tipo de evidências influenciaria a formulação da Hipótese da Cognição

em confronto com a Hipótese Sapir-Whorf (Cromer, 1974/1991), que prevê anterioridade para o

desenvolvimento conceptual em relação à sua expressão lingüística, assim como a proposta de

que capacidades de natureza conceptual alavancam (bootstrap) o desenvolvimento da sintaxe

(Pinker, 1995). A relação entre categorização semântica e desenvolvimento conceptual viria, no

entanto, mostrar-se mais complexa do que a Hipótese da Cognição levaria a crer26 e,

recentemente, as idéias de Whorf têm sido reavalidas.

Bowerman & Choi (2003) apresentam, por exemplo, uma série de estudos que focalizam de

que modo crianças em aquisição do inglês e do coreano lidam com diferentes formas de

categorização de relações espaciais que as línguas apresentam. Enquanto o inglês faz o contraste

entre as preposições in e on (o que é transparente no português, em que a preposição espacial em

tanto serve para indicar algo sobre uma superfície quanto dentro de um recipiente), o coreano

apresenta seis distinções. Os resultados sugerem que por volta dos 18 meses a criança já é

sensível a estas distinções, o que demonstra que os aspectos semânticos selecionados pela língua

do conjunto de possibilidades que a cognição humana oferece as torna atentas a distinções

semânticas específicas. A questão crucial, contudo, quando se considera a hipótese Sapir-Whorf é

em que medida as categorias semânticas que a língua apresenta influenciam a conceptualização

do mundo. Duas tendências podem ser delineadas com relação a esta questão: a de que esta

hipótese é sustentável (Lucy e Gaskins, 2003) e a de que a língua influencia a conceptualização

pertinente a tarefas lingüísticas apenas (Clark, 2003; Slobin, 2003 Munnich & Landau, 2003).

Em relação à primeira possibilidade, resultado curioso é apresentado por Boroditsky,

Schimidt & Phillips (2003), que identificam a atribuição de propriedades culturalmente

relacionadas a sexo a nomes inanimados diferentemente marcados em gênero no Espanhol e no

Alemão. Falantes de espanhol tenderam a qualificar, em inglês, um objeto como chave de gênero

feminino na língua com adjetivos como dourada, pequena, brilhante, intricada, enquanto que

falantes de alemão, em que a palavra equivalente tem gênero masculino, preferiram o uso de

adjetivos como duro, pesado, metálico, sugerindo uma super imposição da semântica vinculada

ao gênero gramatical de nomes animados a inanimados. Mas o que esse efeito indicaria? Um

26 Ver Cromer, R. (1988). The cognition hypothesis revisited. Em R. Cromer (1991).

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modo de conceber o mundo ou um efeito de analogias com um valor simbólico a partir do

conhecimento da língua? A super-imposição de gênero com informação semântica a nomes

inanimados é observada no curso da aquisição da linguagem como revelam dados anedóticos da

fala espontânea (Figueira, 2001), quando a criança começa a refletir sobre a língua e procura

organizá-la em termos de um sistema conceptual não lingüístico. Um resultado mais sugestivo a

respeito do modo como categorias semânticas podem afetar a categorização de objetos vem de

nosso laboratório27. Quando solicitadas a identificar uma figura masculina ou feminina a partir do

gênero do sintagma, em um conjunto de quatro figuras contendo um par (masculino/feminino)

correspondente ao nome em questão (como macaco/a), crianças de dois anos de idade tendem a

escolher, para um sintagma masculino, como o macaco, tanto figuras com o elemento masculino

quanto com elemento feminino do par, enquanto que, para o sintagma feminino, como a macaca,

o número de acertos se aproxima a 100%. A criança parece ser sensível à marcação morfológica e

toma o masculino morfologicamente não marcado como genérico, categorizando as figuras dessa

forma. Deve-se notar, contudo, que trata-se de uma tarefa lingüística. A hipótese de que o tipo de

categorização privilegiada por uma língua afeta a conceptualização vinculada a tarefas

lingüísticas é defendida por Clark (2003) e Slobin (2003). Slobin, com base em estudo de

produção de narrativas com contraste entre línguas, observou o que lhe sugeriu uma inter-relação

dinâmica entre a cognição não lingüística e a conceptualização da fala, hipótese compatível com

o modelo de produção de sentenças concebido por Levelt (1989; 2001). Munnich & Landau

(2003) demonstram, a partir de dados obtidos em grande número de estudos, que a experiência

numa determinada língua afeta a cognição nos limites em que a língua é um sistema

representacional, ou seja, um sistema de conhecimento. No âmbito do domínio cognitivo da

língua amplas habilidades discriminatórias seriam “re-descritas” em idade bem tenra em função

da experiência lingüística, sendo dificilmente alteradas em idade mais avançada. No que

concerne à fonologia, por exemplo, Dupoux & Peperkamp (2000) apresentam efeitos da

fossilização de discriminações feitas em tenra idade acarretando “surdez fonológica”, como no

caso da discriminação de palavras do espanhol que diferem em acento tônico por falantes de

francês, tal como o fenômeno observado por Sapir. Nossa dificuldade de distinguir jamón

(presunto) de Ramón (nome próprio), em espanhol, traz o mesmo tipo de evidência. Isso não

significa, contudo, que a percepção esteja afetada fora de um domínio lingüístico. Perdas

27 Resultados apresentados em Corrêa e al. (2004) e em Corrêa & Augusto (a sair).

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discriminatórias seja na relação fonética/fonologia, seja em relação a cor, tempo, espaço não

implicam perdas discriminatórias fora do domínio da língua, o que indica que, contrariando a tese

do determinismo lingüístico, a espécie humana tem habilidades perceptuais semelhantes não

afetadas pela língua fora do seu domínio.

2.3. A língua como instrumento ou como reflexo da cognição

Um outro aspecto da relação língua – cognição explorado na primeira metade do século

XX foi o papel da língua como instrumento para o desenvolvimento de funções cognitivas

complexas. A investigação dessa possibilidade ficou, no entanto, restrita ao contexto da

Psicologia russa, então isolada, e só chegou ao ocidente após a tradução da obra de Vygotsky

para o inglês nas décadas de 60 e 70 (Vygotsky, 1934/1962; 1932/1978), quando passou a ter

grande repercussão. A linha de pesquisa instaurada por Leontiev e Vygotsky28, na década de 20,

estava voltada para o papel da inserção social do indivíduo no desenvolvimento cognitivo.

Vygotsky procurou demonstrar experimentalmente o papel da posse da língua e da interação

verbal no desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas. Apresenta, desse modo, uma

alternativa à concepção de desenvolvimento avançada por Piaget à mesma época, a qual iria

predominar no contexto europeu ao longo de grande parte do século XX. Na concepção de

Piaget29, o desenvolvimento lingüístico estaria submetido ao desenvolvimento cognitivo,

caracterizado em termos da construção de uma estrutura lógico-matemática subjacente a todo o

domínio da cognição. O papel da língua, no curso do desenvolvimento cognitivo não se

distinguiria do efeito promovido pela emergência do símbolo, segundo ele, decorrente dos

desenvolvimentos promovidos pela ação da criança sobre o mundo físico no chamado período

sensório-motor. Essa concepção de desenvolvimento permite prever que crianças com

dificuldades motoras teriam dificuldades na aquisição da língua, como de fato é previsto por

Bärbel Inhelder, pesquisadora da escola de Genebra, no célebre encontro da abadia de

Royaumont, que reuniria Piaget, Chomsky e uma série de intelectuais preocupados com questões

pertinentes à cognição e/ou à língua, em 197830.

28 Alexander. Leontiev (1904 – 1979) e Lev Seminovich Vygotsky (1896-1934). 29 Cf. Piaget, em Inhelder & Chipman, (Ed) (1976). 30 Ver debate em Piatelli-Palmerini (1980).

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Vygotsky, por sua vez, se preocupa com a relação entre o desenvolvimento lingüístico e o

desenvolvimento cognitivo tanto de um ponto de vista filogenético quanto ontogenético.

Identifica-os como processos com origens distintas tanto na evolução das espécies quanto no

desenvolvimento humano. Considera, contudo, que há momentos em que a posse da língua irá

atuar de forma fundamental no desenvolvimento de habilidades cognitivas. Um desses momentos

é o da explosão do léxico, por volta dos dois anos de idade, quando a língua ficaria a serviço do

intelecto, com a descoberta de que cada coisa tem um nome. Saber o nome, como equivalente a

conhecer, despertaria a curiosidade da criança tendo como resultado um rápido aumento no

vocabulário31. Outro momento seria o que Vygotsky denomina de internalização da fala, vista

como uma das atividades enraizadas socialmente que contribuem para o “salto qualitativo da

psicologia animal para a humana”32. A internalização da fala seria precedida de um estágio

intermediário no qual a criança faz uso da língua no acompanhamento de suas ações, sem

propósito comunicativo, o que Piaget havia interpretado como fala egocêntrica33. O pensamento

verbal é o que identificamos como pensamento consciente, que parece servir de suporte para o

planejamento de ações complexas34 e será distinguido da fala em função das diferentes demandas

impostas pela exteriorização da língua, as quais se tornam maiores na produção da escrita. A

relevância da interação verbal em contexto instrucional, na promoção do desenvolvimento

cognitivo, enfatizada por Vygotsky a partir de experimentação, será posteriormente amplamente

explorada no campo da Educação.

Recentemente, a proposta de Vygotsky de investigar o papel instrumental da língua no

desenvolvimento de capacidades cognitivas específicas da espécie humana foi re-introduzida na

agenda da Psicologia Cognitiva. O papel da relação da língua no desenvolvimento de habilidades

cognitivas complexas tem sido explorado à luz dos desenvolvimentos da pesquisa acerca da

aquisição da língua e do desenvolvimento cognitivo, conduzida a partir dos anos 60/70. A

influência da língua, no que caracteriza a cognição humana, é considerada de forma ainda mais

fundamental do que Vygotsky anteciparia. Spelke (2003a) apresenta uma série de resultados de 31 O depoimento de Helen Keller, que adquiriu a língua por meio da experiência táctil, visto ser cega, surda e muda desde os dezenove meses, em A História de Minha Vida (traduzido para o português, Ed. Antroposófica, 2001), reproduzido em Waxman (2004/2006), é ilustrativo dessa observação: “Cada coisa tinha um nome e de cada nome surgia um novo pensamento”. 32 Vygotsky, L. S. (1930/1978), p.57 (Tradução da autora). 33 Para comentários de Piaget ao texto de Vygostky, tardiamente conhecido por aquele em 1962, ver http://www.marxists.org/archive/vygotsky/works/comment/piaget.htm 34 Para uma apreciação crítica da teoria de desenvolvimento cognitivo de Piaget à luz de dados experimentais ver Spelke (1991). Para uma tendência neo-piagetiana ver Karmiloff-Smith (1992).

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experimentos que contrastam as habilidades cognitivas de bebês de 4/5 meses com de outras

espécies, os quais demonstram desempenho semelhante no que concerne ao que a autora

denomina sistemas nucleares35, como mecânica de objetos, senso de número e de numerosidade,

senso de direção, fundado em uma geometria intuitiva (esta até superada pelas formigas do

deserto!). Considera, então, que os seres humanos e outros animais são dotados de sistemas

nucleares que se desenvolvem muito cedo e que são limitados, no sentido de que são específicos

por domínio, por tarefa, relativamente encapsulados (i.e. sua atuação não é afetada por

informação de outras fontes) e isolados uns dos outros, e explora a tese de que a língua irá

permitir que se estabeleçam relações entre estes que resultariam nas habilidades cognitivas

distintivas para a espécie.

Um tipo de habilidade especificamente humana, que se saiba, é conduzir raciocínio dedutivo

a partir do que se toma como sendo do conhecimento do outro. Por exemplo, se eu sei que João

não sabe que seu carro foi roubado no estacionamento, posso deduzir que João espera encontrá-lo

no estacionamento. de Villiers e de Villiers (2003) relatam estudos com crianças com deficiência

auditiva sem contato com língua de sinais, que revelam um considerável atraso com relação a

habilidades dependentes de uma teoria da mente, como atribuir ao outro um estado de

conhecimento diferente do seu. Argumentam que a existência de verbos epistêmicos e o fato de

estes admitirem como complemento uma oração que expressa uma crença falsa (como João acha

que seu carro está no estacionamento) contribuem para o desenvolvimento de uma teoria da

mente.

3. O hiato behaviorista e a orientação funcionalista da Lingüística

A primeira metade do século XX viria a ser um período conturbado, marcado pelos

efeitos da entrada dos fenômenos entendidos como humanos e sociais (tradicionalmente tratados

no âmbito da Filosofia) na esfera da ciência, cuja metodologia e critérios de validação empírica36

35 Cf. Spelke, 2003b. 36 Uma preocupação central na prática e na filosofia da ciência consiste em determinar de que modo podemos ter confiança de que uma afirmativa feita a respeito de um fato possa ser tomada como verdadeira (ou altamente plausível), visto que o objetivo da atividade científica é prover conhecimento, ou seja, explicações de base racional para os diferentes fenômenos, as quais possam servir de ponto de partida para investigações futuras e de subsídio para as diferentes práticas. A definição de critérios que permitam distinguir o conhecimento científico (idealmente) correspondente à verdade dos fatos, de observações que não procede, tem pois, como objetivo, evitar que

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vinham sendo formulados em função do tratamento de fenômenos naturais. A Psicologia,

afirmando-se como ciência, viria a adotar, particularmente no contexto norte-americano, critérios

de validação empírica definidos à luz de ideais positivistas.37

Como conseqüência do manifesto behaviorista de Watson (1913)38, dá-se início a uma prática

de investigação na Psicologia, que exclui desta a mente e os processos mentais, considerados

objeto exclusivo da Metafísica. A Psicologia, como ciência, deveria se voltar para aquilo que

pode ser observado, ou seja, o comportamento manifesto, e prover para este, explicações em

termos da associação entre um dado estímulo e uma resposta comportamental. O paradigma

Behaviorista viria dominar a Psicologia norte-americana na primeira metade do século.

Nesse contexto, o estudo da cognição fica extremamente limitado e distorcido. Nas palavras

de G. A. Miller39 (2003), “percepção passou a ser discriminação, memória passou a ser

aprendizagem, linguagem, comportamento verbal e inteligência, aquilo que os testes de

inteligência podem testar”.

O objetivo da pesquisa relativa à cognição no contexto behaviorista passa a ser caracterizar os

procedimentos de aprendizagem que possibilitam a formação de hábitos (o problema deixa de ser

colocado em termos de aquisição de conhecimento), a partir do pressuposto empirista radical de

que não há quaisquer restrições a priori por parte do organismo para o tratamento dos dados da

experiência. Assim sendo, é necessário caracterizar os fatores externos que direcionariam o curso

de uma aprendizagem a princípio baseada em tentativa e erro. Nesse contexto, os conceitos de

condicionamento, reforço e punição passam a constituir a base de uma teoria geral de

investigações futuras partam de premissas falsas e que a intervenção humana em determinado fenômeno seja desastrosa (assumindo-se que a ação humana norteada pela racionalidade é a melhor opção). 37 Positivismo: o termo designa, particularmente, a vertente do Empirismo expressa no pensamento de Auguste Comte (1798–1857) e tem como traços característicos, a hierarquização da sociedade/cultura, em teológica, metafísica e positiva ou científica; a validação do conhecimento com base em evidências positivas dos dados; recusa a qualquer especulação acerca da natureza do conhecimento; recusa à metafísica, como pertencente a um estágio anterior ao da ciência. Essa corrente do pensamento teve seguimento no início do século XX com o Lógico-Positivismo, no Círculo de Viena (1924-38), o qual convergiria para a Filosofia Analítica e Filosofia da Linguagem (Japiassú & Marcondes, 1989; Herbert Feigl, Encyclopaedia Brittanica). 38 Behaviorism é um termo cunhado por John B. Watson (1878-1958), psicólogo norte-americano que, ao proferir uma conferência na Universidade de Columbia em 1913, apresentou o que ficou conhecido como manifesto behaviorista (Watson, 1913), no qual se insurge contra a Psicologia que via como ciência da consciência fundada no método introspectivo. Considera que a Psicologia, de um ponto de vista behaviorista, é um ramo puramente experimental e objetivo das ciências naturais e seu objetivo teórico é a previsão e o controle do comportamento. 39 G. A. Miller, psicólogo, conhecido pelo famoso artigo “The magical number seven plus and minor two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information” (1956) em que propõe que a organização do estímulo em unidades, como no processamento lingüístico, possibilita a otimização dos recursos limitados da memória de curto-prazo. Participou ativamente da chamada revolução cognitiva que, na sua opinião, foi uma contra-revolução, pois recuperou a mente para a Psicologia experimental, antes eliminada pela proposta behaviorista (Miller, 2003).

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aprendizagem. Skinner40 viria propor uma teoria geral da aprendizagem a partir da idéia de

condicionamento operante seguido de reforço41. Tardiamente, já em 1957, Skinner publicaria

Verbal Behavior, onde esses conceitos são aplicados à aprendizagem da língua. A revisão crítica

de Chomsky (1959) a essa proposta pode ser considerada como um dos instrumentos para o

desmoronamento42 do paradigma teórico behaviorista, já substancialmente abalado pelos

trabalhos de Lashley (1948/1963), que expõe as limitações de um modelo associativo para o

tratamento da produção da fala (tema antes explorado por Wundt), levando em conta as

alternâncias observadas em lapsos da linguagem, tomadas como evidência de um planejamento

hierarquizado -- tópico que viria a ser retomado mais de uma década depois, no âmbito da

Psicolingüística com Garrett (1975) --, pelos trabalhos de Bruner e colaboradores, explorando

estratégias da criança na solução de problemas, (Bruner, J., Goodnow, J., & Austin, A., 1956) e

no trabalho seminal em aquisição da morfologia de número em inglês, que demonstrava a

capacidade de a criança lidar com regras de forma produtiva (Berko, 1958).

A Lingüística norte-americana também parte de uma orientação positivista. Bloomfield

(1933) condiciona a formulação de hipóteses relativas a uma teoria de línguas à obtenção de uma

diversidade de dados, como indica do texto abaixo:

As únicas generalizações sobre a língua são generalizações indutivas. Propriedades que achamos que devam ser universais podem estar ausentes de uma língua para outra que faça acessível. (...) O fato de algumas propriedades serem amplamente difundidas é digno de nota e requer explicação; quando tivermos dados suficientes sobre muitas línguas, deveremos retornar ao problema de uma gramática geral e explicar essas similaridades e divergências, mas este estudo, quando ocorrer, não será especulativo e sim indutivo.” (Bloomfield, 1933, p.20)

Ainda que o trabalho lingüístico de Bloomfield tenha sido importante no que diz respeito a

uma lingüística descritiva, suas considerações sobre o uso e a aquisição da língua, sob influência

do Behaviorismo, não contribuem para que a relação língua e cognição seja explorada.

40 B. F. Skinner (1904-1990), psicólogo norte-americano que personifica o chamado Behaviorismo radical. 41 O conceito de condicionamento operante parte da idéia de que o comportamento pode ser afetado por uma conseqüência. Assim, se um animal por acaso descobre que pressionar uma alavanca resulta em uma porção de ração, seu comportamento é positivamente reforçado pela conseqüência e cria-se uma associação entre o comportamento resposta e o estímulo (conseqüência) por meio de um operante, a alavanca. A relação comportamento estímulo pode ser reforçada, o que intensifica o comportamento. Segundo Skinner, “as práticas de reforço de uma dada cultura compõem o que é chamado língua”. (Em A Brief Survey of Operant Behavior, B.F. Skinner Foundation,http://www.bfskinner.org/index.asp). 42 O desmoronamento é relativo. A teoria de Skinner continua sendo difundida, embora em pequena escala, e o empirismo radical subjacente a ela encontra-se em tendências da ciência cognitiva contemporânea que visam a eliminar o nível representacional no tratamento de fenômenos cognitivos.

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21

Sapir (1921), mais voltado para a teorização, expressaria a visão de que a língua é

exclusivamente uma herança histórica, como podemos constatar no seguinte seguimento:

“A fala é uma atividade humana que varia sem limite à medida que passamos de grupo social

a grupo social, porque é pura herança histórica do grupo, produto de longo e continuado uso social”. (Sapir 1921, p.4).

Essa visão de língua chama atenção para o fato de línguas serem criadas socialmente, mas

apresenta um difícil problema de aquisição de conhecimento para a criança, caso o próprio uso

não seja sujeito a restrições de alguma ordem – sejam restrições biológicas específicas para a

língua, como viria a ser proposto pela Lingüística Gerativista, e/ou restrições de ordem cognitiva

uma vez que o contato social favorece a criação desse meio de interação, como a Psicolingüística

passaria a explorar a partir dessa proposta.

O Behaviorismo não se estabeleceu no contexto europeu. Do ponto de vista do

desenvolvimento cognitivo, a concepção de Epistemologia Genética de Piaget é predominante.

No âmbito da Lingüística, os trabalhos do Círculo de Praga mantém a proposta de uma

Lingüística Geral anunciada por Saussure e assumem uma orientação funcionalista (cf. Fontaine,

1974/ 1978; Toledo, 1978). A caracterização das unidades lingüísticas e do modo como se

relacionam entre si visa a explicitar as propriedades inerentes às línguas e a natureza dessas

propriedades seria, tal como na concepção de Sapir, atribuída à natureza social da língua e ao fato

de seu uso satisfazer a uma série de funções. Roman Jakobson43 irá, não obstante, trazer à

discussão uma possível relação entre aquisição e perda da língua, em seu estudo clássico sobre

afasia (Jakobson, 1971), além de introduzir, no âmbito da Fonologia, uma unidade de análise que

seria fundamental para o desenvolvimento da Lingüística contemporânea – o traço distintivo,

unidade mínima de descrição lingüística --, a qual sugere um inventário universal de elementos

fônicos com potencial valor fonológico e possibilita um tratamento componencial para o fonema

e demais unidades lingüísticas, que viria a ser relevante para uma caracterização da língua em

termos computacionais na teoria lingüística gerativista. A influência de Jakobson na Lingüística

norte-americana contribuiria para o re-direcionamento desta para a construção de uma teoria

cognitiva da língua (cf. Chomsky,1983).

43 Roman Jakobson (1896-1982).

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Em suma, ainda que a Lingüística e a Psicologia na primeira metade do século toquem em

aspectos da relação língua – cognição, os desenvolvimentos nesses dois campos nessa época não

dão continuidade à concepção de língua como sistema cognitivo intuída pelos gramáticos de Port-

Royal no século XVII ou por Wundt em fins do século XIX. Desenvolvimentos em outras áreas,

a princípio dissociadas da Lingüística e da Psicologia, viriam, contudo, alterar a concepção de

língua na segunda metade do século XX .

4. A idéia de uma ciência cognitiva e a língua como parte da cognição

Desenvolvimentos no campo da Matemática, levando ao conceito de computação, como

seqüência de operações sobre números ou símbolos, concebida de forma independente do

formalismo escolhido para implementá-la (Turing, 1936) e o advento do computador digital

teriam um efeito decisivo na dinâmica das ciências em meados do século. A idéia de ”uma

ciência unificada que permitisse descobrir as capacidades representacionais e computacionais da

mente humana e sua realização estrutural e funcional no cérebro” 44 passou a agregar psicólogos,

lingüistas, cientistas da computação dentre outros, em torno do que viria a ser posteriormente

denominado ciência cognitiva.

Computação simbólica diz respeito à execução de operações sobre objetos simbólicos a partir

de regras ou instruções suficientemente explícitas (procedimento algorítmico) que promovem

alterações sucessivas sobre dados de entrada (input). A cada mudança de estado, têm-se dados de

saída (output) que podem, por sua vez, servir de entrada a uma nova operação. O computador

funciona, assim, como um aparato físico capaz de receber, armazenar e enviar dados, e de

efetuar, sobre estes, seqüências de operações explicitadas num programa.

O computador trazia uma metáfora útil para o tratamento de processos mentais, uma vez que

as operações por este executadas podem ser descritas independentemente da descrição do modo

como são implementadas eletronicamente. O cérebro seria concebido como um aparato físico

capaz de receber, armazenar, enviar, enfim, processar dados, na interação do indivíduo com o

mundo. O conjunto de recursos necessários à computação simbólica pode ser concebido

funcionalmente como um aparato processador que recebe a informação (qualquer tipo de sinal)

e a representa internamente de modo que uma série de operações, ou processos mentais, seja

44 Em Miller (1983), p.144, tradução da autora.

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executada. O termo representação passa então a remeter a todo o tipo de produto de uma

operação computacional ou mental. A Psicologia Cognitiva se constitui, desse modo, fundada no

conceito de processamento de informação (Brodabent, 1958; Neisser, 1967).

No âmbito da Lingüística, o conceito de computação simbólica levaria à concepção de

gramática em termos de um procedimento explícito (algorítmico) que permitisse prever sentenças

da língua, a partir de generalizações provenientes da análise distribucional de enunciados

lingüísticos (Harris, 1947/1951 apud Nevin, 2002). Chomsky (1957) veria nessa concepção um

meio de apresentar uma teoria lingüística. A gramática da língua concebida em forma de um

algoritmo (conjunto de regras) a ser implementado seqüencialmente (como na derivação de um

teorema) captaria a produtividade inerente às língua humanas e apresentaria hipóteses sobre o

modo como unidades lingüísticas se relacionam numa língua em particular, passíveis de serem

testadas empiricamente.

Chomsky viria, ainda, atribuir um significado cognitivo a uma gramática assim concebida.

Esta representaria o conhecimento intuitivo da língua que possibilita a um falante produzir e

compreender um número infinitamente grande de enunciados lingüísticos em sua língua e

reconhecer uma sentença como pertencente ou não à sua língua. A Lingüística gerativa era então

concebida como ramo da Psicologia Cognitiva (Chomsky, 1965).

Nesse contexto, os limites entre Lingüística, Psicologia Cognitiva e Psicolingüística passam a

ser definidos em função das tarefas a serem desempenhadas diante da língua, tomada como

fenômeno cognitivo de interesse comum. A Lingüística teria como meta apresentar um modelo

(representação teórica), o mais abstrato possível, desse “conhecimento intuitivo”. A

Psicolingüística, que se constituía dessa convergência de interesses na época, teria como meta

prover modelos explícitos (i.e. de natureza algorítmica) dos processos pelos quais esse

conhecimento é posto em uso na produção e na compreensão de enunciados verbais.

As “instruções” no procedimento algorítmico caracterizado pela Lingüística seriam

formuladas em termos de operações sobre unidades lingüísticas, independentemente de quais

seriam as palavras ou morfemas que viessem a apresentá-las (na época categorias gramaticais

desde a mais abrangente até as mais específicas – nome, verbo, etc; hoje, traços sintáticos ou

formais de elementos do léxico, restritos a palavras/morfemas). O modelo de língua proposto pela

lingüística apresenta-se assim em alto grau de abstração, o que faz deste um modelo formal.

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As “instruções” do procedimento algorítmico da Psicolingüística seriam formuladas em

termos de ações de um analisador sintático (parser) – concepção abstrata de um conjunto de

recursos do cérebro voltados para a análise sintática de sentenças -- sobre um dado enunciado

lingüístico (ou sentença da língua) ou das ações de um formulador sintático -- concepção abstrata

de um conjunto de recursos do cérebro voltados para a formulação de enunciados lingüísticos a

partir de uma idéia do falante a ser convertida em sentença, passível de ser enunciada. Diz-se,

portanto, que modelos psicolingüísticos são modelos procedimentais, mas não formais.

Tanto o modelo proporcionado pela Lingüística quanto os modelos propostos pela

Psicolingüística seriam objeto de validação empírica. Esses últimos seriam testados por meio de

metodologia experimental, de modo a captar efeitos comportamentais de fatores relativos ao

modo de realização de processos mentais. Assim sendo, estudos com base no tempo para a

execução de uma tarefa (como reconhecimento de palavra, identificação de um determinado som

ao longo da compreensão de uma sentença, dentre outros), no número de respostas de

determinado tipo numa dada condição experimental (como sim/não; acerto/erro) possibilitariam o

teste de hipóteses em teorias psicolingüísticas. Note-se que, nesse contexto, não só a

Psicolingüística irá atender a critérios de validação empírica comuns a diferentes ciências como

esses mesmos critérios são flexibilizados de modo a incorporar um nível de teorização –

algorítmico / funcional, que pode ser concebido independentemente de uma caracterização da

fisiologia do cérebro, embora esteja em correspondência com esta. Desse modo, não só a mente é

recuperada no contexto da Psicologia experimental norte-americana, como os próprios critérios

positivistas em que o Behaviorismo se sustentava são revistos.

O teste empírico do modelo de gramática seria, numa primeira instância, proporcionado pelo

julgamento de gramaticalidade das sentenças geradas pelo modelo por parte de um falante nativo.

Tendo em vista que o modelo teria de gerar todas as sentenças da língua e somente elas, caso

gerasse apenas um subconjunto das sentenças da língua ou sentenças não reconhecíveis pelo

falante como pertencentes à sua língua, as hipóteses sobre o modo como relações estruturais se

estabelecem na língua incorporadas no modelo seriam rejeitadas45. O teste crucial apresenta,

contudo, à teoria lingüística uma questão fundamental: a natureza do conhecimento lingüístico –

45 O julgamento de gramaticalidade é, até então, o único meio de verificar empiricamente hipóteses encaminhadas numa análise lingüística. Existe, contudo, uma série de dificuldades nesse procedimento. Fatores como variações dialetais, subjetividade, estar o enunciado em questão isolado ou em contexto são alguns desses problemas. Muitos destes seriam minimizados se uma amostra representativa de falantes fosse utilizada na validação das análises propostas.

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em que medida o tipo de análise lingüística veiculada pelo modelo proposto pela teoria

lingüística pode legitimar tal modelo como representação teórica do conhecimento lingüístico do

falante?

Uma maneira de abordar essa questão é avaliar em que medida o modelo proposto fornece

informação posta em uso por um parser e por um formulador de sentenças. Outra maneira é

avaliar em que medida o modelo proposto representa conhecimento passível de ser adquirido por

qualquer criança, uma vez inserida num ambiente lingüístico. Ainda uma outra – a mais

interessante, a meu ver, seria buscar ambos os tipos de avaliação levando em conta o modo como

a criança processa o material lingüístico que lhe é apresentado.

Historicamente, as duas primeiras opções foram tomadas. A primeira foi imediatamente

tentada e, de certa forma, abandonada dado que o modelo de gramática então formulado não

satisfazia como um modelo passível de ser diretamente incorporado em um modelo de

processamento (Fodor, Bever & Garrett, 1974). A segunda, tomada como meta da teoria

lingüística, foi mantida, com o problema da aquisição do conhecimento lingüístico tratado

abstratamente, o que levou ao desenvolvimento paralelo, muitas vezes com pouco ou nenhum

diálogo, entre teoria lingüística, teoria psicolingüística e o estudo da aquisição da linguagem em

processo (cf. Corrêa, 2006).

O ideal de ciência cognitiva de que falava Miller não se realizou como tal. Lingüística,

Psicolingüística, Psicologia Cognitiva, Neurociências constituem ciências cognitivas que buscam

(ou não) um modo de dialogar entre si. Um certo modo de fazer ciência, no entanto, as une: a

teorização na forma de modelos que permitam testar hipóteses acerca da natureza de entidades e

processos mentais, o pressuposto de níveis de descrição distinta da atividade cognitiva– um nível

computacional, um nível algorítimico/representacional e ainda um nível de implementação física

(embora a necessidade de se postular o segundo desses níveis vá ser questionada em abordagens

conexionistas) (cf. Osherson, 1995) -- e uma questão fundamental: a natureza do conhecimento

lingüístico (cf. Bogdan, 1993).

5. Restrições cognitivas à forma e ao funcionamento das línguas humanas

A teoria lingüística, com o gerativismo, re-introduz à discussão cientifica e filosófica uma

questão central ao estudo da cognição. A possibilidade de acesso ao real e o que seria o que

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tomamos como real – questões centrais, como sabemos, desde Platão e que se apresentam de

forma recorrente ao longo do tempo.

Para lidar com esse problema, Chomsky, diante do fato de que todas as línguas têm uma

capacidade produtiva, e de que todas as língua têm seus enunciados estruturados

hierarquicamente e apresentados de forma linear, irá propor que há restrições ao tipo de

conhecimento lingüístico que a criança irá adquirir que a direcionam na análise do material

lingüístico que lhe é apresentado, de modo a convergir para a gramática da língua. Essas

restrições são atribuídas a uma Gramática Universal e Chomsky, ao identificar coincidências

entre a concepção de gramática gerativa e de ciência cognitiva com concepções veiculadas no

século XVII, inclusive a gramática de Port-Royal, encaminha suas considerações em torno da

natureza do conhecimento evocando o conceito de idéias inatas e apresenta a teoria lingüística

em termos de uma gramática cartesiana (Chomsky, 1968)46. Essa proposta provocou enorme

reação no contexto da Psicologia e da Filosofia e considerável preconceito, uma vez que soava

como um retrocesso47. Chomsky buscava, contudo, vincular a imagem de idéias inatas a uma

disposição biológica específica, codificada no genoma humano, como o progressivo

direcionamento da teoria lingüística para um diálogo com a Biologia pode demonstrar (Chomsky,

2005). Chomsky apostava, assim, numa predisposição para a língua que criasse restrições às

formas com que o conhecimento lingüístico se apresenta. A teoria lingüística se volta, então, para

a tarefa de identificar a natureza dessas restrições por meio da análise de uma e cada vez mais

línguas, de modo a formular em termos formais, o tipo de “conhecimento inato” ou disposição

para a língua que a criança teria de possuir de modo adquirir qualquer língua.

Três principais momentos podem ser caracterizados nesse processo, em função do modo

como o problema da aquisição de conhecimento lingüístico é concebido. No primeiro momento

(1965 até o fim dos anos 70), considera-se que a gramática de cada língua apresenta um conjunto

de regras específico que compartilha propriedades com as gramáticas do conjunto de línguas

humanas possíveis. A tarefa da criança consistiria, nesse caso, em identificar o conjunto de regras

específico de uma dada língua a partir dos dados de que dispõe, dadas as restrições relativas às

propriedades das gramáticas das línguas humanas em GU. A caracterização de um modelo

46 Chomsky (1997) afirma que não considera os desenvolvimentos de meados do século XX uma revolução e sim uma redescoberta independente ou uma segunda revolução cognitiva. A primeira, ele localiza no século XVII, com as idéias de Descartes acerca de sistemas computacionais (como na visão), assim como do uso de recursos internos da mente para a construção de padrões e modelos em termos dos quais a experiência é interpretada. (p.113, 115). 47 Cf. textos em Stich (1975) e Antony & Hornstein (2003).

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concebido em termos de regras específicas mostrou-se empiricamente inadequada em termos

descritivos além de apresentar uma tarefa extremamente árdua para a criança, dada a

variabilidade das línguas, visto que, nesta concepção, o modo como enunciados lingüísticos se

apresentam é opaco com relação às relações hierárquicas subjacentes à ordenação linear de

elementos do léxico na sentença. A teoria lingüística nesta época atribuía as restrições à tarefa da

criança inteiramente a uma base biológica especificamente lingüística (GU). A Psicolingüística,

por sua vez, via a possibilidade de essas propriedades serem em parte derivadas do aparato

cognitivo que atua no processamento da linguagem e do modo como esta é processada (cf. Bever,

1970a, b).

No segundo momento (Chomsly, 1981 até o início dos anos 90), as supostas regras da

gramática de cada língua passaram a ser vistas como um epifenômeno. GU consistiria de um

conjunto de princípios e de parâmetros de variação com seus possíveis valores pré-especificados.

As propriedades da gramática de cada língua seriam função da operação desses princípios e dos

valores dos parâmetros fixados mediante experiência lingüística. A tarefa da criança consistiria

em fixar o valor desses parâmetros e a informação disponível nos enunciados lingüísticos a que a

criança se vê exposta seria crucial para essa fixação. Nesse momento, as propriedades do material

lingüístico que se apresenta à criança começam a entrar em consideração. A teoria lingüística

buscava, por meio da análise de diferentes línguas em subsistemas da gramática com funções

específicas48, formular os princípios a serem atribuídos a GU e a identificar em que consistiriam

os parâmetros de variação, encaminhando-se para a idéia de que estes estão restritos às chamadas

categorias funcionais49 do léxico (Borer, 1984; Kato, 1982). Nesse momento, a pesquisa

psicolingüística em aquisição da linguagem explorava o tipo de informação que a criança é capaz

de extrair dos dados da fala desde os primeiros dias de vida e leva a crer que muito das

propriedades pertinentes a unidades prosódicas, sintagmáticas, unidades sub-lexicais (como

sílabas e grupos fonotáticos), assim como a itens funcionais e lexicais pode ser identificada pela

criança no processamento do sinal acústico da fala. A hipótese de que a informação resultante do

48 Para uma caracterização introdutória da teoria lingüística nesse momento ver Mioto, Silva e Lopes (2004). 49 Categorias funcionais do léxico se distinguem das categorias lexicais pelo fato de serem classes fechadas de elementos que têm relevância para a estruturação sintática das sentenças. Estas incluem, basicamente, D (determinante), que nucleia a estrutura nominal da sentença, T (tempo gramatical), que nucleia a estrutura verbal, e C (complementizador), que nucleia a estrutura sentencial.

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processamento do material fônico alavanca (bootstraps) a sintaxe é avançada (Morgan &

Demuth, 1996; Jusczyk, 1997)50.

Os desenvolvimentos da década de 80 apontavam para a necessidade de se apresentar um

novo modelo. O Programa Minimalista (a partir dos anos 90) irá redirecionar a pesquisa

lingüística, incorporando alguns dos direcionamentos a que a pesquisa dos anos 80 levara, como

a restrição dos parâmetros ao domínio do léxico. Recupera, desse modo, a concepção de

Humboldt ao dissociar completamente o mecanismo gerativo, computacional, ou seja, o modo de

operação das línguas humanas, do conhecimento a ser adquirido, restrito à sua expressão

morfológica. E recupera ainda a proposta de Port-Royal de que o sistema da língua se realiza na

fala, ao conceber que uma derivação lingüística é regida por um princípio que garante que seu

resultado poderá ser articulado e percebido, e semanticamente interpretado a partir da interação

do sistema cognitivo da língua com sistemas perceptual/articulatório, por um lado, e

conceptuais/intencionais, por outro. Com isso, o modo de operação da gramática será sensível a

restrições impostas pelos sistemas de desempenho – pelo fato de enunciados lingüísticos serem

semanticamente interpretáveis e pelo fato de serem emitidos por um sistema físico que impõe a

linearização de relações hierárquicas. Nesse sentido, a derivação gramatical parte de um

conjunto de elementos do léxico inicialmente disponíveis (em termos de traços) e tem como

resultado um seqüência fônica que contém toda a informação necessária para a análise sintática e

interpretação semântica do enunciado lingüístico – o que facilita o trabalho de um analisador

sintático (parser) na compreensão e de um formulador sintático, na produção.

Nesses desenvolvimentos, a proposta da teoria lingüística irá convergir para a visão de

processamento lingüístico que emerge de diferentes modelos de produção e de compreensão da

linguagem desenvolvidos de modo relativamente independente no contexto da Psicolingüística

(cf. Townsend & Bever, 2002; Levelt, 1989; 2001; Garrett, 1995; 1990 e para discussão Corrêa,

2002, 2005a , 2005b).

Tem-se hoje a seguinte concepção de língua como sistema cognitivo, ou língua interna: um

sistema computacional universal (disponível no estado inicial da aquisição e posto em operação a

partir do processamento do material lingüístico ou ele próprio sujeito a maturação) e um léxico,

constituído no curso da aquisição da língua. O sistema computacional contém um número

mínimo de operações sintáticas (Select – que seleciona elementos do léxico dispostos para

50 Para uma síntese dos desenvolvimentos da pesquisa sobre hipótese do bootstrapping fonológico, ver Corrêa, 2006.

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participar da derivação sintática e Merge, que combina esses elementos em estruturas

hierárquicas. As operações Agree e Move, propostas em versões anteriores (Chomsky, 1999)

foram recentemente reformuladas como derivativas da primeira – Merge externo / Merge interno

(Agree/Move), responsável pela linearização (Chomsky, 2001).

O léxico é composto por elementos equivalentes a palavras/morfemas constituídos de traços

semânticos, fonológicos e formais. Os traços semânticos correspondem a propriedades

conceptuais que a língua elege na constituição de conceitos lexicais (categorias semânticas), no

mesmo espírito de Saussure e de Whorf, ao considerarem o fato de haver variabilidade no modo

como cada língua irá categorizar a experiência, e em consonância com os dados obtidos

experimentalmente (cf. seção 2.1.2). Diferentemente de concepções que vêem a língua apenas

enquanto produto da criação social, a construção do léxico se faz sob o pressuposto de que

restrições de ordem cognitiva especificamente humanas já delimitam um conjunto inicial de

possibilidades de seleção (na linha do pensamento de Kant). Os traços fonológicos são

concebidos de modo semelhante ao que foi proposto por Jakobson, no domínio da Fonologia --

como opções que a língua seleciona dadas as restrições impostas pelo aparato fonador (ou outro

sistema) adaptado para a fala. Os traços formais são concebidos como propriedades originalmente

semânticas ou pertinentes à ordem com que sintagmas se apresentam quando linearizados em

enunciados passíveis de serem articulados (ou expressos por um meio físico), que a língua tomou

como gramaticalmente relevantes. Aí reside a diversidade lingüística, ainda que a relevância dos

traços vinculados a determinadas categorias que pareçam essenciais (como, Nome, Verbo) possa

advir de restrições de ordem cognitiva mais básica à constituição do léxico em condições que

garantam a referência a entidades e eventos.

Note-se que a gramática está inscrita no léxico. A sintaxe universal combina elementos do

léxico de acordo com as “instruções” nele codificadas. Retomando o tipo de analogia da época da

revolução cognitiva, o léxico seria o programa segundo o qual o sistema computacional executa

suas ações. É a seleção de um particular conjunto de elementos do léxico – que atendem às

intenções de fala do falante, na produção, e correspondem ao que se apresenta linearizado numa

seqüência fônica para a compreensão – que irá determinar como esses elementos serão

combinados, ou seja, em função do modo como parâmetros foram fixados no curso da aquisição

da linguagem. Os princípios que regem o modo de operação da gramática apresentam-se como

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expressão de um princípio básico – o da Interpretabilidade Plena (Full Interpretation), e a

execução da derivação atende a condições de economia, no uso de recursos de memória51.

Desse modo, o modelo de sistema cognitivo da língua atualmente proposto possibilita que se

re-instaure um diálogo entre Lingüística e Psicolingüística, mantendo-se um ideal de ciência

cognitiva.

6. Conclusão

Este capítulo pretendeu apresentar em linhas gerais o percurso do pensamento em torno

da relação língua e cognição ao longo da história, focalizando, particularmente, a primeira e a

segunda metades do século XX. A trajetória que percorremos sugere o fechamento de um ciclo

que se inicia no século XVII e encontra nos desenvolvimentos da Lingüística e da Psicologia

Cognitiva e da Psicolingüística, em particular, na segunda metade do século XX, um modo de

tornar as relações entre língua e cognição passíveis de investigação específica.

Retomando a agenda definida no início desse capítulo, constatamos que muito trabalho

tem sido feito em função de seu primeiro item, qual seja, caracterizar a língua como

conhecimento e explicar de que modo sua aquisição se faz viável. Constatamos também que

estamos num ponto avançado quanto à caracterização do que consiste a produtividade lingüística

ao tê-la reduzida a uma operação universal que monta estruturas hierárquicas a partir da

informação codificada em traços formais do léxico. Esse tipo de operação computacional pode

contribuir para que as ações conduzidas pelo analisador (parser) e formulador sintáticos sejam

mais bem explicitadas (cf. Corrêa, 2005a). Além disso, a concepção de um sistema lingüístico

que satisfaça a exigências das interfaces com os sistemas que atuam no desenvolvimento

lingüístico permite que se delimitem melhor as questões a serem formuladas com relação à

língua e cognição. A caracterização do léxico em termos composicionais facilita a identificação

dos aspectos semânticos selecionados para lexicalização numa dada língua. O papel da língua no

desenvolvimento de processos cognitivos avançados começa a ser explorado em bases teóricas e

o papel da língua escrita nesse processo pode ser investigado em função das demandas cognitivas

que essa modalidade lingüística apresenta. Quanto ao que há de especificamente lingüístico,

sugerido pelas dissociações, é possível que estas digam respeito ao modo como a criança

51 Para uma caracterização inicial do sistema da língua no Programa Minimalista, ver Augusto (2005).

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identifica o que é tomado como traço formal na língua, registra e recupera essa informação do

léxico na produção e/ou na compreensão da linguagem (Corrêa & Augusto, 2005).

Muito falta para que essa agenda seja satisfeita, mas os esforços de diferentes frentes de

pesquisa tendem a convergir quando se esclarece a natureza das restrições que se impõem ao

conhecimento lingüístico, constituído em bases biológicas e sociais.

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Resumo:

- Dois tópicos da relação língua-cognição são explorados: a língua como parte da

cognição – enquanto capacidade produtiva e conhecimento adquirido; a língua como instrumento

da cognição.

- Língua como parte da cognição: concepção presente já no Renascimento, veiculada de

forma explícita pela gramática de Port-Royal, no século XVII, retomada no pensamento de

Humboldt, no século XIX, na Psicologia emergente em fins do século XIX e início do XX, e em

função dos desenvolvimentos de meados deste século, conhecidos como a revolução cognitiva

dos anos 50.

- Língua como instrumento da cognição: a língua age como mediadora do conhecimento.

Concepção veiculada por Humboldt, em função da idéia de que o acesso ao real é mediado pela

mente assim como vinculada a uma concepção relativista, no século XX, com Saussure, e

posteriormente, a uma concepção derivada da experiência antropológica de Sapir e Whorf.

Resultados de pesquisa, predominantemente de base experimental, a partir dos anos 70, sugerem

fortemente, entretanto, que não há bases para a crença de que a língua interfere numa cognição

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não lingüística. No domínio da língua, contudo, a experiência lingüística pode definir categorias

fonológicas e semânticas em idade bem tenra, sendo estas dificilmente alteradas.

- O conceito de computação simbólica, uma vez incorporado pela Lingüística e pela

Psicologia, mostra-se fundamental para o tratamento de entidades e processos mentais: capta a

dinâmica da produtividade lingüística assim como do uso do conhecimento da língua na

produção e na compreensão de enunciados verbais.

- A abordagem cognitiva da língua a apresenta como conhecimento adquirido e instaura o

problema de explicar o que viabiliza sua aquisição. Lingüística e Psicolingüística seguem

caminhos paralelos na tentativa de explicar a aquisição da língua materna.

- Os resultados da pesquisa Lingüística e Psicolingüística convergem nos anos 90. A

concepção de língua interna apresentada no Programa Minimalista dissocia um sistema recursivo

universal do léxico adquirido. A gramática da língua está inscrita no léxico, em função da fixação

de parâmetros no processamento da fala pela criança. Restrições de processamento, em função de

um princípio que garante a interpretabilidade semântica a partir de uma forma fônica – condição

necessária ao uso da língua na interação social – determinam a forma das línguas humanas.

- Considera-se que a concepção de língua intuída no século XVII é finalmente expressa no

conceito de língua interna atualmente vigente, o qual permite que se parta para um melhor

entendimento do modo como o sistema da língua se relaciona com outros sistemas cognitivos.

Sugestões de Leituras:

As referências para textos introdutórios ou clássicos que enfoquem a relação língua /

cognição em português são parcas. A maior parte dos trabalhos encontra-se em forma de teses e

artigos que pressupõem conhecimento básico ou avançado em Lingüística e/ou Psicolingüística.

As sugestões de leitura abaixo envolvem alguns textos introdutórios e outros um pouco mais

avançados. Como predomina no Brasil uma orientação funcionalista na Lingüística, nem todas as

abordagens para a cognição se associam ao paradigma teórico que o presente texto pressupõe.

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Observa-se ainda, diferentemente do que acontece em outras partes do mundo, uma ausência de

diálogo entre os campos da Lingüística e da Psicologia Cognitiva no Brasil52.

ALBANO, E. C. & FRANÇOZO, E. Virtudes e Vicissitudes do Cognitivismo, Revisitadas. In: F. Mussalim & A. C. Bentes. (Org.). Introdução à Lingüística 3 - Fundamentos Epistemológicos. 1 ed. São Paulo-SP, 2004, v. 3, p. 301-309.

BORGES NETO, J. O empreendimento gerativo. In: F. Mussalim & A. C. Bentes. (Org.). Introdução à Lingüística 3 - Fundamentos Epistemológicos. 1 ed. São Paulo-SP, 2004, v. 3, p.53-92.

CHOMSKY, N.A. Reflexões sobre a Linguagem. São Paulo: Cultrix, 1980.

CHOMSKY, N.A. O Programa Minimalista. Lisboa: Editorial Caminho, 1999. Prefácio de E. Raposo.

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52 Cf. Numa cobertura recente da produção em Psicologia Cognitiva no país, o sentido dado ao termo Psicolingüística remete mais a uma tradição piagetiana do que à Psicolingüística vinculada à chamada revolução cognitiva e/ou à produção em Psicolingüística, concebida como subárea da Lingüística. Rodrigues, C. M. L. & Lopes, E. J. (2002). A Psicologia Cognitiva no Brasil.: Um panorama dos anos 90. (http://www.propp.ufu.br/revistaeletronica/edicao2002/G/A%20Psicologia%20.PDF)

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MAIA, M. A. R. & FINGER, I. (Orgs.). Processamento da Linguagem. 1. ed. Pelotas, RS: EDUCAT, 2005. 535.

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MIRANDA, N. S. & NAME, M. C. L. (Orgs). Lingüística e Cognição. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2006.

PINKER, S. O Instinto da Linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

SCARPA, E. E. A Aquisição da Linguagem. In: F. Mussalin, & A. C. Bentes. (Org.). Introdução à Lingüística 2. Domínios e Fronteiras. São Paulo: Cortez Editora. p. 203-232.

SCLIAR-CABRAL, L. Introdução à psicolingüística. São Paulo: Ática, 1991.

STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre:Artes Médicas Sul, 2000.

Recomendam-se também os seguintes volumes temáticos de periódicos nacionais:

CORREA, L. M. S & FRANÇOZO, E. (Org.) Cadernos de Estudos Lingüísticos: Volume Temático: Psicolingüística. Campinas: UNICAMP, 2001.

CORREA, L. M. S. (Org.). Palavra, Revista do Programa de Pós-Graduação da PUC-Rio. Vol. 6: Aquisição e Processamento da Linguagem. Rio de Janeiro: Trapera, 2000.

CORREA, L. M. S. (Org.) Letras de Hoje, v. 34, n. 3. Volume Temático: Aquisição da Linguagem. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.

LAMPRECHT, R. (Org.) Letras de Hoje, v. 39, n. 3, Anais do 6º Encontro Nacional de Aquisição da Linguagem, Porto Alegre, : EDIPUCRS 2004.

LOPES, R. E. V. & RODRIGUES, C. (Org.). Fórum Lingüístico vol.3. Aquisição da Linguagem, Florianópolis: Programa de Pós-graduação em Lingüística/UFSC, 2003.

MENUZZI, S. M. & LAMPRERCHT, R. (Org). Letras de Hoje vol. 6:6. Anais do 5o. Encontro Nacional sobre Aquisição da Linguagem Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

SALOMÃO, M. (Org.) Veredas, Juiz de Fora, v. 6, Volume Especial: Língua e Cognição.