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LOGÍSTICA REVERSA: UMA ANÁLISE EM UMA DISTRIBUIDORA DE BATERIAS AUTOMOTIVAS Michelle de Castro Carrijo (UFU) [email protected] Renata Silveira Rollemberg Aragao (UFU) [email protected] Luciana Oranges Cezarino (UFU) [email protected] Diante do crescente consumo da população e do excesso de resíduos descartados inadequadamente na natureza, passou-se a discutir temas como o de logística reversa, que busca reinserir esses resíduos no processo produtivo das indústrias. Sendo assim, o presente artigo objetiva compreender como funciona a logística reversa em uma distribuidora de baterias automotivas localizada na cidade de Uberlândia (MG), para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, e por meio de entrevista a um dos sócios proprietário buscou-se verificar como a empresa tem se inserido no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e como ocorreu a inserção e o desenvolvimento do processo de logística reversa.Concluiu-seque as informações em relação às leis que regem a PNRS ainda são muito incipientes, as empresas que realizam a logística reversa não sabem ao certo quais cuidados devem tomar para estocar e transportar os resíduos e, tampouco quais as punições existentes. A estes, soma-se o fato de que a população que utiliza as baterias não sabe do risco existente no incorreto descarte desse tipo de produto. Palavras-chave: Logística reversa; baterias automotivas; Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens avançadas de produção” Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

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LOGÍSTICA REVERSA: UMA ANÁLISE

EM UMA DISTRIBUIDORA DE

BATERIAS AUTOMOTIVAS

Michelle de Castro Carrijo (UFU)

[email protected]

Renata Silveira Rollemberg Aragao (UFU)

[email protected]

Luciana Oranges Cezarino (UFU)

[email protected]

Diante do crescente consumo da população e do excesso de resíduos descartados

inadequadamente na natureza, passou-se a discutir temas como o de logística

reversa, que busca reinserir esses resíduos no processo produtivo das indústrias.

Sendo assim, o presente artigo objetiva compreender como funciona a logística

reversa em uma distribuidora de baterias automotivas localizada na cidade de

Uberlândia (MG), para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa de caráter

exploratório, e por meio de entrevista a um dos sócios proprietário buscou-se

verificar como a empresa tem se inserido no âmbito da Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS) e como ocorreu a inserção e o desenvolvimento do processo de

logística reversa.Concluiu-seque as informações em relação às leis que regem a

PNRS ainda são muito incipientes, as empresas que realizam a logística reversa não

sabem ao certo quais cuidados devem tomar para estocar e transportar os resíduos e,

tampouco quais as punições existentes. A estes, soma-se o fato de que a população

que utiliza as baterias não sabe do risco existente no incorreto descarte desse tipo de

produto.

Palavras-chave: Logística reversa; baterias automotivas; Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS)

XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens

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1. Introdução

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento crescente da degradação do meio

ambiente. O consumo da população eleva-se de maneira desenfreada, com a redução do

ciclo de vida dos produtos, o progresso tecnológico, a elevação da renda média, entre outros

fatores que levam, igualmente, a uma elevação da produção. Em conjunto, população e

empresas geram maior quantidade de resíduos, bem como crescem as práticas como o

desmatamento, poluição do ar, do solo e da água, entre outros aspectos. As questões sobre a

preservação, sustentabilidade e reciclagem passam, então, a ser discutidas, de maneira cada

vez mais intensa, pela população, governo e empresas.

As empresas que antes acreditavam que essa questão ambiental deveria ser de total

responsabilidade do governo, passaram a enxergar o seu importante e imprescindível papel

para preservar e evitar maiores danos ao meio ambiente. Isso se deve à expansão da

consciência coletiva da população em relação aos assuntos ambientais e que é repassada

para as organizações, levando a um novo posicionamento dos empresários (TACHIZAWA,

2004). Além disso, o governo tem instituído leis que obrigam as empresas a cumprirem seu

papel na preservação do meio ambiente, como as leis da Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS) e as do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Com o tempo, as organizações perceberam que adotar medidas que preservem a

natureza também trazem benefícios econômicos e ainda melhoram a imagem da

empresa diante da sociedade. A otimização dos recursos, a reciclagem e a reutilização, por

exemplo, reduzem o custo de produção das indústrias, aumentando seus ganhos econômicos.

Dento dessa questão de reutilização e/ou reciclagem de produtos na tentativa de

diminuir o impacto que esses dejetos mal descartados causam ao meio ambiente, a logística

reversa surge como uma atividade essencial em que é responsável pelo seu retorno para

as indústrias que os produziram, ou seja, ela é responsável por reintroduzir esses

produtos ao ciclo produtivo.

O estudo de caso abordado neste trabalho mostra a logística reversa realizada por

uma empresa atacadista que distribui baterias automotivas para auto elétricas, autopeças,

lojas de baterias, entre outros. Ela é responsável por coletar as baterias que já tiveram sua

vida útil esgotada e enviá-las para as indústrias, para que o plástico seja reciclado e o

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chumbo que compõe as baterias seja reaproveitado. Em linhas gerais, o presente trabalho

tem como objetivo descrever as ações de logística reversa em uma distribuidora de

baterias automotivas em Uberlândia, Minas Gerais.

Esse trabalho se justifica, em especial, por se tratar de um tema relativamente recente

que é o de logística reversa. O estudo buscará elucidar melhor o conceito para que seja

melhor compreendido. Além disso, o setor analisado está intimamente relacionado com o da

indústria automotiva que, no início dos anos 2000 apresentou um crescimento substancial no

Brasil e, portanto, irá gerar para o país uma grande quantidade de baterias automotivas a

serem descartadas. Conhecer o processo de destinação correta desse resíduo poderá

contribuir para o desenvolvimento sustentável do país.

2. Referencial Teórico

A logística reversa é a área da logística responsável por controlar e planejar o

retorno de produtos já utilizados, tornando, assim, os próprios fabricantes, os responsáveis

pelo seu produto, mesmo depois de seu descarte, com o objetivo de recolocar valor ao

produto ou eliminá-lo adequadamente, como citam Rogers e Tibben-Lembke (1999).

Ou seja, ela é considerada um sistema que liga a empresa com as devoluções de

produtos (BOWERSOX,1986).

De acordo com o Council of Logistics Management (CLM), a logística reversa pode

ser definida como um processo de planejamento, implementação e controle do fluxo direto e

reverso de produtos e informações importantes, desde o ponto de origem ao ponto

de consumo, atendendo às necessidades e exigências dos consumidores.

Segundo Leite (2003), a logística reversa é dividida em dois tipos, a de pós-venda

e a de pós-consumo, e dentro de cada tipo de logística existem os canais de

distribuições nos quais acontecem os processos de retorno dos produtos.

A logística reversa de pós-venda se dá por meio de produtos que foram rejeitados

pelo consumidor por algum motivo, mas que não tiveram sua vida útil esgotada, como é o

caso de produtos com defeito, que estão no período de garantia e serão consertados ou

substituídos, ou então, aqueles que estão parados no estoque. Alguns exemplos de canais

que realizam essa distribuição reversa são o e-commerce e as lojas de varejo em geral.

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Já a logística reversa de pós-consumo acontece com aqueles produtos que tiveram

sua vida útil esgotada após o seu consumo, produtos que não podem ser descartados de

qualquer maneira e ainda aqueles que apresentam condições de uso e reutilização. O

objetivo desse tipo de logística é agregar valor ao produto que, anteriormente, seria

descartado. Alguns exemplos desse tipo de distribuição reversa são os leilões que algumas

empresas realizam para comercializar esses produtos já consumidos, e embalagens

descartáveis que serão reutilizadas ou recicladas após o seu uso.

Pode-se perceber que, o ciclo da logística reversa torna todo o processo de

logística em um ciclo infinito, mostrando, assim, que o ciclo logístico não termina quando o

produto chega ao consumidor final, já que, a logística reversa retorna os produtos com vida

útil esgotada, para a indústria e ao utilizar esses produtos como novos insumos o processo

recomeça (LEITE, 2003).

Os produtos que já foram consumidos e, posteriormente, descartados dão início ao

processo de logística reversa e, como, atualmente, a quantidade desses produtos vem

aumentando, devido ao crescimento do consumo e à redução da vida útil dos produtos,

a logística reversa vem ganhando cada vez mais importância, seja econômica, legal

ou socialmente.

Economicamente, as empresas optam por realizar a logística reversa pelo fato de

gerar economia no fluxo industrial, já que reutilizam e/ou reciclam produtos que irão

compor a matéria prima de um novo produto. Legalmente, as empresas se beneficiam por

estarem cumprindo as leis que regulamentam o gerenciamento de resíduos sólidos, como é o

caso do Programa Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Já no âmbito social, a logística

reversa é extremamente importante, já que cumpre seu papel ecológico evitando que

produtos sejam descartados de maneira incorreta e preservando o meio ambiente,

melhorando ainda a imagem da empresa diante de seus clientes.

Esses fatores comprovam o que os autores Rogers e Tibben-Lembke (1999) e Muller

(2005) apontam como os principais fatores que levam as organizações a atuarem ainda

mais na logística reversa. Esses fatores são:

- Legislação ambiental que acaba forçando as empresas a se preocuparem com

o retorno e o tratamento dos produtos;

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- Benefícios econômicos que a reutilização ou reciclagem geram;

- A crescente conscientização ambiental dos consumidores;

- Fatores competitivos, como a diferenciação por preço já que se consegue um custo

menor com a reutilização/reciclagem;

- Limpeza do canal de distribuição;

- Proteção da margem de lucro;

- Recaptura de valor e recuperação de ativos.

Para que a logística reversa se torne eficiente, Lacerda (2009) acredita que é preciso

levar em conta alguns fatores que são considerados críticos para a aplicação do

conceito. Esses fatores são: bons controles de entrada; processos padronizados e

mapeados; tempo de ciclo reduzido; sistemas de informação; rede logística planejada;

relações colaborativas entre clientes e fornecedores.

3. A logística reversa no Brasil

Diante da situação de crescimento do consumo e descarte de produtos, o governo

brasileiro criou a Lei nº 12.305/10 referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS) que,além de outros aspectos, regulamenta a logística reversa como um

instrumento de controle de resíduos sólidos, com o objetivo de diminuir os impactos

sociais, legais e ambientais que os resíduos sólidos causam no país (MINISTÉRIO DO

MEIO AMBIENTE, [2010]).

A PNRS começou a ser elaborada em 2004, quando o Ministério do Meio Ambiente

criou um grupo para discussão sobre o tema de resíduos sólidos e, a partir daí, surgiu a

proposta de anteprojeto de lei da Política. Desde então, o anteprojeto foi sendo debatido

entre sociedade e governo até que, em 02/08/2010, o projeto foi aprovado e sancionado.

Essa política estimula a prática de reciclagem e reutilização dos produtos, quando

possível, e quando não é possível, ela determina os locais corretos para o descarte dos

dejetos. Para que os objetivos sejam alcançados, o projeto apresenta metas e medidas que

controlam todo o processo de descarte ou reciclagem/reutilização das organizações que são

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responsáveis por esses resíduos, como as indústrias, os comerciantes e os distribuidores

(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, [2010]).

O artigo 33 da lei 12.305/10 determina quais indústrias, comerciantes e

distribuidores devem se adequar a essas exigências, ou seja, devem estruturar a logística

reversa para que os produtos retornem obrigatoriamente independentemente do serviço de

limpeza pública. Entre elas estão as empresas que produzem, comercializam ou distribuem:

agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após

o uso constitua resíduo perigoso; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e

embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos

eletroeletrônicos e seus componentes.

Também são obrigados a seguirem a norma aqueles que comercializam produtos em

embalagens de plástico, vidro ou metal e outros produtos, levando em conta o grau e

extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente.

As medidas adotadas com o intuito de conscientizar toda a cadeia que produz

e consome esses produtos acabam impactando a sociedade de modo geral e trazendo

inúmeros benefícios para o ambiente, a sociedade e a economia. É possível citar

como alguns benefícios: a redução de dejetos jogados em aterros sanitários, a redução da

poluição causada, a redução dos custos das organizações gerada pela reciclagem ou

reutilização de materiais, os empregos que são gerados e a inclusão de catadores de lixo e de

cooperativas no ciclo, que podem ser contratadas pelas prefeituras para fazerem parte do

programa de gerenciamento (SOARES; RODRIGUES; GOLÇALVES, 2012).

Mesmo com esses benefícios apresentados, a grande maioria dos profissionais

da área, acredita que a logística reversa ainda é pouco utilizada pelas organizações no Brasil

(BARBOSA, et al, 2006). Um dos principais motivos, talvez seja a falta de incentivos do

governo e conhecimento, por parte das organizações, pois como cita o mesmo autor, as

empresas não sabem da importância da logística reversa e acabam interpretando-a como

um aumento em seus custos operacionais. Esse mesmo estudo, também mostra que, nas

empresas em que a logística reversa é aplicada, a maioria delas, é de grande porte, e que, o

principal motivo para sua implementação são as exigências legais e as devoluções de

produtos com problemas de qualidade.

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4. Metodologia

Quanto à forma de abordagem, este trabalho tem caráter qualitativo, pelo fato de

que, de acordo com esse tipo de abordagem, demonstra uma relação entre o mundo real e

o sujeito e ainda existe uma interdependência entre o sujeito e o objeto (CHITOZZI,

1991). Ou seja, ela busca entender sobre determinado assunto, sem quantificar valores ou

acontecimentos como acontece na pesquisa quantitativa em que unidades são numeradas ou

medidas (GIL, 2008).

Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa tem caráter exploratório pelo fato de que

pretende explorar mais sobre determinado assunto que ainda é pouco difundido, sem

descrever características ou explicar fatores. Assim como Gil (2008) aborda, geralmente,

esse tipo de pesquisa assume a forma de um estudo de caso que depende de uma pesquisa

bibliográfica para ser realizada.

Quanto aos procedimentos, ela é considerada uma pesquisa bibliográfica, pois, foi

realizada com base em materiais já divulgados como livros, periódicos, entre outros. A

pesquisa também utilizou-se de um estudo de caso, que foi realizado por meio de um roteiro

de entrevista semiestruturado aplicado a uma empresa distribuidora de baterias automotivas,

que realiza atividades de logística reversa. O questionário foi respondido pelo proprietário

da empresa e foi composto por perguntas que buscavam a compreensão de como acontece a

logística reversa dentro da organização, quais são as dificuldades, os benefícios, incentivos,

regras e custos. Segundo Yin (2001), o estudo de caso é um estudo da vida real em que se

pretende responder questões do tipo “como” e “por quê”.

5. Estudo de caso: resultados

No Brasil, o tipo mais comum de bateria produzida e utilizada é a de chumbo-ácido

(PbA), e apesar de algumas indústrias utilizarem tecnologias mais avançadas, ainda não é

produzida no país, baterias de níquel-metal hidreto ou de íon-lítio (BARROS; CASTRO;

VEIGAS, 2003).

Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o chumbo-ácido é um dos

componentes mais perigosos presentes em uma bateria automotiva, o qual pode causar

sérios danos caso o seu descarte não seja realizado de maneira correta. No caso da bateria

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ser amassada ou estourada, o ácido presente em seu interior pode vazar e contaminar o solo,

além de causar ferimentos e doenças caso haja contato dessa substância com a pele humana.

A empresa, objeto de pesquisa desse trabalho, que será denominada de Empresa Alfa

para manter seu anonimato, foi inaugurada em 1999 em Uberlândia, Minas Gerais, para ser

uma empresa distribuidora exclusiva da marca de baterias Ajax, uma das marcas de

baterias mais conhecidas do Brasil naquela época. Porém, depois de um tempo, a

empresa passou a distribuir baterias de outras marcas como estratégia de ampliar mercado.

A bateria automotiva é o único produto distribuído pela empresa, e atualmente as

marcas distribuídas são produzidas por três fornecedores, sendo eles a Baterias Pioneiro, a

ACDelco Freedom, produzida pela Johnson Controls e a Baterias Cral. Cada marca possui

um posicionamento diferente e, consequentemente, faixas de preços diferentes. A escolha

desses três fornecedores ocorreu devido à busca de produtos que pudessem atingir a tipos

distintos de consumidores.

Os principais clientes da distribuidora são oficinas e auto elétricas, que realizam a

manutenção e a troca de baterias em veículos, além das lojas que apenas vendem a

bateria, mas não realizam serviços elétricos. São atendidas também empresas que

possuem uma grande frota de veículos e, consequentemente, compram baterias em grande

quantidade como as transportadoras e empresas de logística. A empresa Alfa é

autorizada a vender apenas em atacado e para clientes de pessoa jurídica dentro da

área do Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba. Em média, são vendidas por mês, 3000

baterias automotivas (carros, caminhões, ônibus e tratores) e 750 baterias de moto.

Os principais concorrentes da distribuidora são as empresas que distribuem outras

marcas de baterias concorrentes. Existem cerca de oito distribuidores concorrentes em

Uberlândia.

Na empresa, também é feito testes em baterias que, por algum motivo, apresentaram

defeito. Quando a bateria apresenta defeito o seu cliente vai até o depósito para que ela seja

analisada e, caso o defeito já seja detectado na hora e a bateria ainda esteja dentro do

prazo de garantia, uma nova bateria é dada ao cliente e assim ela é repassada para o

consumidor final.

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Por meio de entrevista realizada com o proprietário e administrador da empresa, foi

possível entender que ele, apesar de realizar atividades de logística reversa, não sabe

exatamente no que consiste esse processo, quais são as leis envolvidas e porque é exigida

determinadas atividades. Ele mesmo diz que apenas passou a ter conhecimento da lei PNRS,

quando a prefeitura de Uberlândia enviou para a empresa uma notificação exigindo o

preenchimento de um relatório que constasse informações sobre o armazenamento das

baterias usadas e que esse relatório fosse entregue semestralmente na Secretaria de Serviços

Urbanos da Prefeitura.

O entrevistado não soube informar se a não entrega desse relatório gera algum tipo

de multa ou interrupção nas atividades da empresa, mas diz que já atrasou a entrega desse

relatório algumas vezes e que isso, até então, não gerou nenhuma penalidade.

O entrevistado informou que a reciclagem de baterias já esgotadas é realizada

há muito tempo, antes mesmo desse processo de retorno ser denominado logística reversa.

Há alguns anos atrás o envio da sucata era pago, ou seja, os fornecedores pagavam pelo

quilograma de sucata enviada e isso gerava um lucro para o distribuidor que vendia a sucata

e uma economia para as indústrias, que teriam que investir menos em matéria-prima. Porém,

depois de um tempo, o envio da sucata passou a ser condicionado à venda, ou seja, se o

distribuidor quiser comprar 10.000kg de baterias novas, seria necessário enviar de volta para

a fábrica 10.000kg de sucata.

Quando perguntado sobre quais foram as adaptações necessárias para a empresa se

adequar ao programa de logística reversa, ele cita que, primeiramente, foi necessário

realizar

parcerias com os clientes. Os varejistas recolhem as baterias já esgotadas dos consumidores

finais agrupando-as em uma quantidade mínima de 500 kg e posteriormente revendem para

a empresa Alfa, sendo que esta envia à indústria em um momento futuro. Deste modo, tem-

se que a logística reversa, neste caso, é de pós consumo.

O administrador nos informou que essas parcerias são realizadas com qualquer

cliente que tenha acumulado a quantidade de sucata, ou seja, não existem clientes

específicos que sempre disponibilizam as baterias esgotadas, e também não existe qualquer

tipo de contrato que formalize essa relação entre o cliente e a distribuidora.

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Quando perguntado se não seria interessante a formalização dessa parceria em que o

cliente se comprometa em comprar uma certa quantidade de baterias enquanto a empresa

Alfa se compromete em comprar a sucata, o administrador explica que não seria interessante

para os clientes que tem a sucata para vender. Ele explica que os clientes sempre cotam os

distribuidores que estão pagando um maior valor pelo quilograma da bateria antes de

realizar a venda, ou seja, se a Dismax se oferecer a pagar R$2,80 pelo quilo da sucata e

outro distribuidor oferecer R$2,90, o cliente irá optar pelo que ofereceu maior valor,

independente de qualquer acordo firmado.

Não foi necessário investir em veículos para o transporte da sucata, pois já existiam

veículos de grande porte que eram utilizados para a entrega de baterias novas e que já

suportavam o peso do produto, que são as pick-ups e os caminhões. Os entregadores também

são encarregados de buscar, organizar e embalar as sucatas e, para isso, foi realizado um

pequeno treinamento para que eles manuseiem corretamente os resíduos.

Contudo, foi necessário fazer algumas adaptações na infraestrutura do galpão de

estoque, pois o que antes era projetado para estocar apenas baterias novas, necessitou

abrigar as sucatas até que estas sejam enviadas para as indústrias. Foi necessário comprar

estantes resistentes para comportar as sucatas já paletizadas, material para embalar os pallets

e balança digital para pesar a sucata e manter um controle do estoque.

Além disso, foi necessário deixar o ambiente mais arejado para que a ventilação

fosse suficiente para que o cheiro do ácido das baterias não prejudique as pessoas que

trabalham no local. Também foram feitos investimentos em equipamentos de proteção

individual (EPI) para os funcionários que manuseiam as sucatas, como luvas, óculos e

botas.

Em relação ao processo de logística reversa executado na empresa, foi possível

identificar que ele funciona como um ciclo infinito. O primeiro passo ocorre na venda da

bateria nova para os clientes (varejo), e assim, quando um consumidor final chega no

estabelecimento do cliente, a bateria velha é guardada e substituída pela nova que foi

entregue anteriormente. Quando o cliente acumula uma certa quantidade de baterias

esgotadas, ele comunica à empresa Alfa para que ela se direcione até o cliente e possa

coletar a sucata.

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A empresa Alfa, geralmente, paga um valor que varia de R$2,50 a R$3,00/kg,

dependendo da oferta e da procura pela sucata. Apesar da indústria não bancar a compra

dessa sucata, a empresa ainda assim não sai prejudicada pois esse custo é incluído no preço

de venda das baterias. Sendo assim ao invés da indústria arcar com a compra da sucata e

colocar esse custo no preço de venda das baterias que ela produz, a própria Empresa Alfa

arca primeiramente com a compra da sucata e depois repassa para o preço das baterias

vendidas.

Assim que a sucata chega ao depósito da empresa Alfa, ela é colocada em

pallets de madeira, pesada, embalada e estocada nas estantes porta-pallets até que,

um dos três fornecedores busque e leve até a indústria - dois dos fornecedores buscam

a sucata a cada vinte dias, já o outro, coleta semanalmente. Essa coleta é feita

totalmente por conta da indústria, o distribuidor não é responsável pelo pagamento de

nenhuma despesa relacionada a essa coleta, apenas pelas despesas que envolvem a gestão e

a estocagem dos resíduos. Na indústria, o plástico e o chumbo das baterias são reutilizados

na fabricação de novas baterias que serão enviadas para os distribuidores, inclusive à

empresa Alfa, e novamente serão vendidas aos clientes.

Em relação à existência de algum incentivo financeiro sobre a logística reversa e a

reciclagem de baterias, foi informado que, no período em que as indústrias pagavam pela

sucata enviada, existia incentivo, já que o distribuidor lucrava com a venda. Porém, agora

que a sucata não é comprada e sim enviada por exigência da indústria, o único incentivo

existente é o desconto de 3% concedido por um dos três fornecedores caso seja enviada a

quantidade de sucata exigida.

Mesmo possuindo alguns custos e dificuldades para a realização da logística reversa,

o administrador acredita que o programa traz vários benefícios ligados ao meio ambiente, já

que evita que as baterias, que contém produtos tóxicos, sejam descartadas em

locais inapropriados, podendo contaminar o solo e a água, além de poder causar ferimentos

em pessoas que entram em contato com o seu material. Além disso, o fato da reciclagem

reduzir o custo de produção e, consequentemente, o valor final da bateria, possibilitam

maiores margens de negociação para os vendedores.

Quanto à fiscalização referente ao cumprimento do Programa Nacional de Resíduos

Sólidos, o PNRS, o entrevistado informou que nunca houve nenhum tipo de

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fiscalização dentro da empresa. Na verdade, apenas é exigido pela Secretaria do Meio

Ambiente de Uberlândia, o preenchimento e a apresentação de uma planilha de

monitoramento dos resíduos sólidos, no qual deve constar dados como a descrição do

material, a sua origem, a quantidade, destino, como ela é armazenada, a destinação e qual

empresa irá transportar o produto até o destino final.

6. Considerações Finais

Diante do exposto, acredita-se que ainda faltam muitos incentivos e instruções

principalmente, por parte dos governos, federal, estadual e municipal, para que as empresas

e toda a população se conscientizem da importância de descartar corretamente determinados

produto, como as baterias. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) deveria ser

levada de forma mais séria pelo poder público que deveria realizar as fiscalizações

necessárias e determinar punições àqueles que descumprissem as normas.

Nota-se, portanto, que o processo de logística reversa, embora, muito importante,

ainda é um desafio a ser superado por empresas, governo e população para que ela

funcione efetivamente, uma vez que, ainda se identifica uma ausência muito forte de

informações a respeito, de padronização de processos e pessoal qualificado seja para colocar

em prática o processo seja para sua fiscalização.

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