Gorduras e saúde Alfredo Halpern Grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do HCFMUSP.
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LOMBALGIA CRÔNICA
Marcelo Alves Mourão
FISIATRIA IMREA –HCFMUSP
ICESP-SP
IV Programa de Educação Continuada em Fisiopatologia e Terapêutica da dor – 2014 –
Equipe de Controle da Dor da Divisão de Anestesia do Instituto Central do Hospital das Clínicas – FMUSP
• É a queixa mais comum em atendimentos médicos de urgência , depois das infecções de vias aéreas;
• Estima-se a ocorrência em 75% da população durante o período de vida, em países desenvolvidos;
• Nos EUA: gasto em 2005 entre 100 e 200 bilhões de dólares.
Katz, J. Lumbar disc disorders and low back pain. J. Bone Joint Surg. Am. 2006, 88( 2), 21-24.
• Na Suécia: área enfermagem 6 x mais dias de afastamento que outras trabalhadoras.
ANATOMIA FUNCIONAL COLUNA LOMBAR
• Porção anterior (corpo vertebral /disco)/ suporte de carga;
• Porção posterior: regulação do movimento;
suspensão de um carro
• Articulações interapofisárias: Estrutura meniscal= função de tutoriar o movimento entre partes incongruentes dos processos articulares/ já suportam grande pressão.
ESTRUTURA DISCAL:
• Ânulo fibroso: 10 lâminas, em 2 porções, com constituição diferente:
externa : colágeno tipo I ( lâmina Sharpey); mais fibroso/ maior resistência mecânica / maior inervação;
interna: colágeno tipo II; mais frouxo , menor resistência e pouca inervação;
• Núcleo pulposo: proteoglicanos , com capacidade de embebição e efeito osmótico;
• Placas vertebrais superior e inferior: cartilagem hialina ligação com vértebra.
ANATOMIA FUNCIONAL COLUNA LOMBAR
Disco intervertebral:
• Ânulo fibroso: porções interna e externa;
• Núcleo pulposo : água e proteoglicanos;
• Sistema de pré-tensão ( “concreto armado”)
núcleo pulposo selado;
ligamentos longitudinais, inter-espinhosos
/ supra-espinhoso e amarelo.
• EFEITO POISSON
Força axial vertical Força lateral horizontal
magnitude x magnitude 5 x
INERVAÇÃO
• Nervos espinhais: ramos ventral e dorsal;
• Ramo ventral:
1) Nervo sinovertebral ( ramo recorrente ) ânulo fibroso, ligamento longitudinal posterior, dura-máter e vasos; formam um plexo com extensão para cima e para baixo;
2) Membros inferiores e músculos justa vertebrais ( mimetizam quando lombar);
• Ramo dorsal: divisões lateral, intermédia e medial ( esta inerva articulação inter-apofisária e ligamentos inter e supraespinhosos).
ARTICULAÇÃO INTERAPOFISÁRIA
• Função de regulação do movimento / recebe pouca carga;
• Articulação sinovial: coeficiente de atrito deve ser muito baixo:
- coef. atrito aço- aço 0,1
- coef. atrito aço- gelo 0,03
- coef. atrito superf. cartilagem + líquido sinovial. 0,005-0,02
ANATOMIA FUNCIONAL COLUNA LOMBAR
Ligamentos e tendões:
• Alta densidade de fibras de colágeno e terminações nervosas;
• Resiliência de até 6% do comprimento total;
• Estiramentos entre 6% e 8% , mesmo após retirada a força de tensão deformação residual permante;
• Estiramentos > 8% ruptura;
CONSEQUÊNCIA= FROUXIDÃO LIGAMENTAR, ACARRETANDO > MOBILIDADE VÉRTEBRO DISCAL.
ANATOMIA FUNCIONAL COLUNA LOMBAR
• IMPORTANTE: movimento mínimo de translação global de 2 mm entre a flexão e extensão máximas a estabilidade dinâmico-estrutural é seu ponto mais importante;
• Movimento flexão / extensão é realizado essencialmente na região lombar:
75 % em L5 –S1;
20 % em L4-L5;
5 % demais níveis.
ANATOMIA FUNCIONAL COLUNA LOMBAR
> pressão > ativação músculos
intrabdominal paravertebrais ????
> tração gerada pelos m. abdominais tenderá a provocar translação vertebral, e consequente
> ativação muscular paravertebral
compensatória > compressão discal
tal hipótese é corroborada pela queixa de piora da dor lombar durante momentos de tosse.
HÉRNIA DISCAL
• Estágio intermediário da evolução da degeneração vértebro discal;
• Sintomas se iniciam quando já houve destruição parcial da parte interna do ânulo fibroso;
• Sistema de pré-tensão: quando acentuado, acelera a destruição discal.
• Doença com alto estenose de canal
potencial de morbidade
HÉRNIA DISCAL
• Posturas estáticas e forçadas por períodos prolongados
compressão capilar microlesões por < nutrição muscular e oxigenação teciduais
Kumar, S. Theories of musculoskeletal injury causation. Ergonomics. 2001, 44(1), 17-47.
• Maior risco de ruptura ( extrusão ) pela manhã reidratação discal;
Adams et al: Diuturnal changes in spinal mechanics and their clinical significance. J Bone Joint Surg. Br. 1990 , 72(2), 266-270.
• CLASSIFICAÇÃO: Macnab
1) Avanço por deformação ( “bulging”);
2) Prolapso: > deformação com destruição interna do ânulo fibroso, parte externa preservada ( fibras de Sharpey )/ dor;
3) Extrusão: Ruptura da parte externa do disco / extravasamento do núcleo para o espaço raquidiano;
4) Extrusão sequestrada: Separação de fragmento do núcleo, com migração para cima ou para baixo .
INERVAÇÃO
• DOR DISCOGÊNICA (CONTROVERSA)
1) Protusão discal: ruptura da parte interna do ânulo > força de distensão parte externa
(inervada) DOR;
2) Proteoglicanos núcleo pulposo: inibem projeção fibras nervosas para as porções internas do disco ( células discais podem produzir fatores de crescimento neural ??); com a extrusão nuclear, há perda desta inibição, favorecendo a invasão de terminações nervosas livres.
Johnsn WE, Sivan S, Wright. Human intervertebral disc cells promote nerve grouth over
substrata of human intervertebral disc. Spine 2006; 31: 1187-93
INERVAÇÃO
• DOR DISCOGÊNICA
3) Terminações nervosas livres osso subcondral das placas vertebrais.
IMPORTANTE: Parte dos processos dolorosos não envolve contato anatômico do núcleo com a raiz nervosa, mas:
trombose da vasa nervorum;
resposta autoimune contra proteoglicanos, com inflamação;
raiz nervosa libera fator de necrose tumoral tipo alfa: resposta à proteoglicanos.
Yamashita M, Koshi T. Tumor necrosis factor in nucleos pulposus. Spine 2008; 33:1836-42.
• A lesão do ânulo fibroso provoca liberação de glicofosfolípides no espaço extradiscal, e resposta inflamatória associada.
LIGAMENTO ÍLEO-LOMBAR
• Bastante reforçado;
• Ancoramento entre o osso ilíaco e as 2 últimas vértebras lombares;
• Aumenta a capacidade de suportar as altas tensões biomecânicas na parte inferior da coluna lombar;
• Permite 8° de inclinação lateral entre L4 e S1, limitando também movimentos de flexo-rotação.
Sensibilização: Fenômeno “WIND UP”
• Despolarização repetida e prolongada de neurônios pós-sinápticos: remoção de magnésio ( bloqueia receptor NMDA)
permite influxo exagerado resposta excitatória
de cálcio intraneuronal amplificada
• “WDR”: neurônio polimodal lâmina V Rexed
resposta à vários tipos estímulos ( térmicos, mecânicos, nociceptivos C e A delta.
AVALIAÇÃO:
• DIAGNÓSTICO;
• História clínica bem feita: perguntas dentro do contexto;
• Fatores desencadeantes e perpetuantes;
• Tempo adequado de atendimento melhora a sensibilidade do diagnóstico e reduz sofrimento e custos de tratamento;
• Exame físico: se possível detalhado.
AVALIAÇÃO:
• Foco na história e exame físico;
• Lombociatalgia:
SINAL DE LASEGUE
• Métodos imagem: inespecífico, mesmo RNM e TC pouco influenciam na melhora da evolução
Mandatóriodéficit neurológico / forte suspeita de neoplasia/ paciente não melhora
Chou R, Qaseem A, Snow V. Diagnosis and treatment of low back pain: A joint clinical practice guideline from the American College of Physicians and American Pain Society. Ann Intern Med. 2007; 147: 478-491
AVALIAÇÃO: Espondilose
• Processo degenerativo com deformação discal e vertebral, não necessariamente patológica;
• Sinais radiológicos :50 anos 80 % homens / 60% mulheres; 80 anos 100 %;
• Pobre correlação objetiva ó quadro sindrômico doloroso e radiológico;
AVALIAÇÃO: Espondilolistese
• Deslocamento anterior da vértebra superior em relação à inferior:
• Grau I: 1%–25%
• Grau II: 26%–50%
• Grau III: 51%–75%
• Grau IV: 76%–100%
• Grau V: espondiloptose
Geralmente graus I e II são de tratamento conservador, e demais, assim como com alterações neurológicas, avaliação cirúrgica.
Spondylolysis with bilateral defects in the pars interarticularis (arrows). (B) Spondylolysis
of the L5 vertebra (arrow) resulting in isthmic spondylolisthesis at L5-S1
AVALIAÇÃO:
• Jamais se esquecer: NEOPLASIAS
• PONTOS IMPORTANTES:
DOR NOTURNA
DOR NO MOVIMENTO ATIVO;
• Idosos / história familiar;
• Maior parte tumores ósseos é metastático: mama, próstata, tireóide, pulmão, rim;
• MIELOMA MÚLTIPLO;
• Micrometástase: lesões até 2 mm / não visualizadas em exames de imagem;
PREVENÇÃO
• Evitar movimentos bruscos de flexão e rotação da coluna vertebral, principalmente de modo repetitivo e com sobrecarga;
• Minimizar ao máximo o momento flexor sobre a coluna vertebral
neutralizar o “vão livre”.
PREVENÇÃO
• Na rotina diária flexão máxima de 20% da amplitude lombar, e jamais exceder 50%;
Vieira, E. Kumar, S. Working Postures. A literature review. J. Occup. Rehabil. 2004 14(2), 143-159
• Modelos experimentais ( gatos): sinais de disfunção neuromuscular lombar após flexão forçada contínua de 30 minutos;
Sbricoli et al. Work to rest durations ratios exceeding unit are risk factor for low back disorder; a feline model. J. Electromyogr. Kinesiol. 2007. 17(2), 142-152.
• Utilizar dispositivos de transferência para pacientes “lifts”;
PREVENÇÃO
• Joelho: articulação “guarda-costas” da coluna vertebral, recebendo e aliviando grande parte da carga;
• Prevenção primária:
“Nem tudo que é lícito é conveniente”.
• Andar é melhor que do correr; caminhada similar à marcha atlética é um ótimo exercício
VO 2 marcha atlética : 70 ml/kg/min
Atividade aeróbica reduz metabolismo glicolítico < produção de lactato.
TRATAMENTO
• Prevenção secundária: Evitar agravamento e a recorrência da lesão dessensibilização; redução influxo nociceptivo;
• Conceito de trauma cumulativo.
• Esclarecer o paciente sobre todo o custo envolvido no tratamento, e que o não seguimento das orientações é desperdício de muito tempo e dinheiro;
TRATAMENTO
Correção de atitudes posturais e posturas:
• Fletir a articulação coxofemoral, procurando manter a lordose lombar: reduz as forças de cizalhamento ( translação), e consequente menor solicitação ligamentar e muscular;
• Reduzir o momento flexor do tronco, e com a menor sobrecarga externa possível;
• Evitar movimentos bruscos, principalmente torsionais distensão dos elementos ligamentares vertebrais.
TRATAMENTO
• Correção de atitudes posturais:
• Alongamento ( técnicas estática e facilitação neuromuscular): preferência na posição deitada melhor relaxamento;
o alongamento dos mm. flexores do joelho é muito importante para a posição sentada:
< tensão reduz inclinação posterior do quadril,
permitindo melhor manutenção da lordose;
• Meios físicos: Adjuvantes.
TRATAMENTO
• Fortalecimento muscular lombar é imprescindível: braço de alavanca é curto
( entre 5 a 7 cm); preferência por isométricos;
• Fortalecimento de grupos musculares glúteos: regulam o centro de gravidade do corpo
( promontório);
• Fortalecimento mm. quadríceps: alívio de carga no uso multiarticular.
TRATAMENTO
• Genética : é muito importante
“Não herdamos somente dinheiro”
É importante sabermos o histórico de problemas dos parentes;
• Evitar atividades de alto impacto dinâmico: correr, descer escadas, pular de estruturas;
• Evitar carregar sobrepeso.
DISCIPLINA
TRATAMENTO
• Educação do paciente é fundamental: diagnóstico, curso da doença, tratamentos e sua segurança, prognóstico;
• Recursos auxiliares: apoios, coxins;
• Evitar repouso absoluto na cama;
• Evitar traumas repetidos na área acometida;
Evitar traumas cumulativos
Chou R, Snow V. Diagnosis and treatment of low back pain: A joint clinical practice
guideline from the American College of Physicians and the American Pain Society: Ann Inter Med 2007;147: 478-491.
• ENCOSTO DA CADEIRA:
muito importante
• Usar apoio de braços: reduz até 15 % a carga na região isquiádica;
• Usar reclino e apoio lombar.
TRATAMENTO
• História ocupacional e atividades no lar devem ser incluídas.
• Bloqueios analgésicos paraespinhosos;
• Analgésicos: dipirona, relaxantes musculares
(evito AINH, PRINCIPALMENTE SEM DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO);
• Desconsiderar fatores e realizar procedimentos de modo isolado é aumentar a possibilidade de fracasso.
TRATAMENTO
• Trabalho de reabilitação com equipe multiprofissional = evidência de melhor resultado, em comparação com tratamentos isolados;
Avaliação de estudos randomizados , controlados, comparando diversos tratamentos ( laser, escola de postura, TENS, tração, terapia comportamental, reabilitação multidisciplinar, exercício terapêutico, massagem); EVA / McGill.
Middelkoop, M. et. al. A systematic review on the effectiveness of physical and rehabilitation interventions for chronic non-specific low back pain. Eur Spine J. 2011, January; 20(1): 19–39..
• As doenças tem composição multifatorial:
Devemos raciocinar e agir dentro de um contexto multifatorial, jamais de modo isolado:
genética / antecedentes familiares;
história clínica e ocupacional;
sensibilização: dor anormal à estímulo não intenso.