Lona 640 - 13/09/2011

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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 640 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, terça-feira, 13 de setembro de 2011 jornallona Marcos Monteiro Ensino público está abaixo da média, apontam resultados do Enem O Instituto Na- cional de Estudos e Pesquisas Edu- cacionais divulgou ontem as notas ob- tidas pelas escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os dados apontam que mais de 90% das escolas públicas do Bra- sil estão abaixo da média. No Paraná, apenas um colégio público figurou en- tre as dez maiores notas. O ministro da Educação, Fer- nando Haddad, disse que o Enem é um instrumento fundamental para subsidiar mudan- ças estruturais no ensino brasileiro. Pág. 3 Fotografia As cores da metrópole, por Eduardo Macarios Pág. 8 Perfil Dance Boy: personagem curitibano Pág. 7 Cultura Centro Tomodachi: uma marca japonesa na cidade Pág. 5

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Jornal laboratório diário do curso de jornalismo da Universidade Positivo

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Curitiba, terça-feira, 18 de setembro de 2011

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O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 640Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

Curitiba, terça-feira, 13 de setembro de 2011 jornallona

Marcos Monteiro

Ensino público está abaixo da média, apontam resultados do Enem

O Instituto Na-cional de Estudos e Pesquisas Edu-cacionais divulgou ontem as notas ob-tidas pelas escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os dados apontam que mais de 90% das escolas públicas do Bra-sil estão abaixo da média. No Paraná, apenas um colégio público fi gurou en-tre as dez maiores notas. O ministro da Educação, Fer-nando Haddad, disse que o Enem é um instrumento fundamental para subsidiar mudan-ças estruturais no ensino brasileiro.

Pág. 3

Fotografi a

As cores da metrópole, por Eduardo Macarios Pág. 8

Perfi l

Dance Boy: personagem curitibano Pág. 7

Cultura

Centro Tomodachi: uma marca japonesa na cidade Pág. 5

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Curitiba, terça-feira, 13 de setembro de 2011 2

Expediente

Editorial

Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora de Gra-duação: Marcia Sebastiani | Pró-Reitor de Pós-Gra-duação e Pesquisa: Bruno Fernandes | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientado-res: Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editores-chefes: Daniel Zanella, Laura Beal Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jorna-lismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30 Fone: (41) 3317-3044.

Opinião

Crise de crédito à vista?Juan Martinez

Num posto de gasolina de Curitiba, deparei-me com um folheto, no balcão do caixa. Nele estava escrito que se você quiser ter um cartão de crédi-to agora, neste instante, você consegue, e pronto.

Fiquei um tanto quanto im-pressionado. E acho que me senti um pouco velho. Afinal, ainda me lembro que era ex-tremamente complicado con-seguir crédito. Para ter um, pelo menos há alguns anos, te-ria de provar diversos núme-ros, além de não ter dívidas, apresentar documentação etc.

Mas, de acordo com a pro-paganda, hoje posso simples-mente entrar na página da internet indicada, requerer meu cartão e esperar alguns dias. Ou ainda mais fácil: pos-so usar a própria máquina do posto para isso. Mais simples que isso, só fazendo um para mim no próprio local.

À primeira vista, pensei que seria um cartão simples, daqueles que é mais vantajoso usar ali mesmo, para ganhar descontos na gasolina. Afinal, já tenho um desses para uma livraria, que eu simplesmente não desbloqueei; só uso para ganhar pontos e trocar por li-vros.

Mas eis minha surpresa: o cartão oferecido não só é como qualquer outro, mas pode ser usado em compras fora do país. E com mensalidade de R$ 10. Ou seja, você pode tirar um desses e usá-lo em outro país tranquilamente.

Eis aonde quero chegar: em que momento de nossa história econômica estamos que é simplesmente tão fácil conseguir crédito? Por mais que nosso país esteja num mo-mento econômico melhor que o resto do mundo, é sensato oferecer linhas de crédito num posto de gasolina?

Então comecei a me lem-brar da nova paisagem urbana da cidade. E reparo que, entre as já comuns lojas de departa-mentos, franquias de fast food e lojas de celulares, encontra-mos também as financeiras. Com promessas até um pouco parecidas com a do folheto: crédito rápido e fácil.

Ou seja, o cenário que aca-ba se montando é o de dinhei-

ro sendo jorrado no mercado, comércio aquecido, investi-mentos em todas as áreas, e as-sim por diante. Mas se alguém perguntar de onde vem todo esse crédito, e como ele vai ser pago, acho que poucos sabe-rão responder.

E ao mesmo tempo, todo mundo se esquece do que já aconteceu na Islândia no co-meço de 2008, nos EUA em setembro do mesmo ano, e na Europa neste exato instante. Crise após crise de crédito, e aparentemente, o Brasil quer seguir a mesma tendência.

Afinal, nosso país está no meio de diversos booms: o setor imobiliário não para de construir. Cada vez mais au-tomóveis novos circulam pela cidade, e com a entrada das marcas chinesas, a tendência é vermos ainda mais. Na região do Batel, que já conta com três shoppings com apenas algu-mas quadras entre eles, estão construindo mais um.

E para sustentar tudo isso, dinheiro fácil. Segundo o BN-DES, o crédito representará 70% de nosso PIB em 2014. Ou seja, mais da metade do capital presente em nosso país será composto por uma “dívida a ser quitada”. Nin-guém vê nada de errado com isso? Afinal, foi por isso que a economia dos EUA caiu, com empréstimos sem controle, ao ponto que não havia mais como pagar?

A inadimplência no paga-mento de prestação de carro está aumentando. Em 2009, 100 mil automóveis foram re-tomados por bancos. E o índi-ce subiu 2,5% neste ano.

Até o mercado de imóveis está começando a se mostrar enfraquecido. As firmas de investimento já aconselham a não por dinheiro neles. A úni-ca coisa que segura a inadim-plência imobiliária é a alta taxa de juros, que recentemen-te teve baixa.

E nossa previsão de cresci-mento, que era de 4,5%, já bai-xou para 4,1%. E será de 3,6% em 2012 (se não houver outra previsão mais pessimista até lá).

Mas espero que esses nú-meros estejam errados, e afinal, que mal fará mais um cartão de crédito em nosso mercado?

O Lona retorna à sua periodicidade diária – um jornal-laboratório com o desafio de propor aos estudantes de Comunicação da Universidade Positivo a experiência direta de preparação, montagem e fechamento de um impresso.

Não é uma tarefa simples, sequer isenta de contratempos e dificuldades de percur-so, mas trabalharemos muito para evitar o erro e ampliar os limites da informação, oferecer novas possibilidades de consumo da informação.

Neste semestre circularemos com trinta edições, de segunda a sexta-feira, repercu-tindo os assuntos diretamente relacionados com a realidade estudantil – o que acredita-mos ser essa realidade –, procurando trazer uma proposta diferenciada de jornalismo impresso: menos notícias, mais análises e estudos sobre o que representa a informa-ção e o modo como ela é tratada.

Também a pesquisa do fazer jornalístico.Todas as segundas-feiras serão destina-

das para edições especiais, abordando te-mas como saúde, educação e cultura.

O ombudsman semanal passa a escrever nas sextas-feiras, imprimindo um olhar crí-tico sobre a nossa produção.

Afora nossos compromissos e metas, desejamos também que a nossa imprensa consiga retirar os estudantes de uma certa apatia crítica predominante: o Lona como um espaço do debate e do contraditório, tribuna para a discussão e para experimen-talismos.

Boa leitura a todos.

Semana de ComunicaçãoComeça hoje a Semana de Comunica-ção, evento que reúne alunos de Jorna-lismo e Publicidade e Propaganda da UP. Durante os quatro dias de evento, profissionais do mercado e pesquisa-dores irão participar de palestras, de-bates e oficinas. No dia 15, a Semana abrirá espaço para o Fórum de Educo-municação, promovido pela Ciranda (Central de Notícias dos Direitos da Infância e do Adolescente).

InícioA Semana abre às 10 da manhã com a banda mineira de pop rock Jota Quest e Bia Granja, organizadora do YOU-PIX, grupo de discussão de cultura digital. O evento será um bate-papo sobre redes sociais, com os alunos de Jornalismo e Publicidade e Propagan-da. A mesa, mediada pela jornalista e professora Ana Paula Mira, contará também os estudantes de Jornalis-mo Felipe Rocha e Fernando Mad, e acontece no Auditório do Bloco Azul.

QuartaNa quarta-feira, 14, o destaque é a psicóloga Rachel Morena, que mi-nistrará a palestra “Mulher, mídia e consumo”, no Bloco Azul, às 8h40. Às 19h40, o Gerente de Marketing do Coritiba, Oliver Seitz, fará palestra sobre marketing esportivo. O media-dor será o estudante de Publicidade André Schulze. A mesa será com-pleta pelo professor da UP Emerson Castro.

QuintaNa quinta-feira, 15, começa o Fórum de Educomunicação com a conferên-cia “Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação”, de Ismar De Oliveira Soares, no Auditório do Bloco Azul, às 8h40. À tarde começam as oficinas, com apresentação das ati-vidades desenvolvidas por volta das seis da tarde e encerramento oficial do fórum. Na Semana, o destaque fica por conta da mesa Tendências e perspectivas do mercado de trabalho em Jornalismo. Os convidados são Mira Graçano (apresentadora do PR TV 1ª Edição, mestre em Sociologia pela UFPR), Sérgio Wesley (diretor presidente da NQM Comunicação), Martha Feldens (editora executiva do Metro Jornal) e Denise Mello (coor-denadora do Portal Banda B e chefe de redação da Rádio Banda B). O pro-fessor da UP Luiz Witiuk completa a mesa, que será mediada por Lais Co-elho Arantes.

SextaNa sexta-feira, 16, o destaque é a pa-lestra de Guilherme Cunha Perei-ra, às 19h35, no auditório do Bloco Azul. Cunha é vice-presidente da GRPCom (empresa proprietária do jornal Gazeta do Povo, RPC TV e ou-tros veículos). A mesa será completa por Zaclis Veiga, coordenadora de Jornalismo da UP. O mediador será o estudante de Jornalismo Daniel Castro.A Semana será fechada com a apre-sentação do espetáculo Um duo para três palhaças, com as atrizes Luma Bendini, Mariana Ribeiro e Priscilla Marquis. A orientação dirigida é de Diego Baffi. Às nove da noite, no au-ditório do Bloco Azul.

DrOps

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Curitiba, terça-feira, 18 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO

As notas do Exame Na-cional do Ensino Médio (Enem) foram divulgadas nesta segunda-feira (12) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-cacionais Anísio Teixeira, o Inep, órgão vinculado ao Ministério da Educação. Ao todo, 24 mil escolas no país tiveram estudantes partici-pando do processo de ava-liação. Os resultados foram divulgados por escola, di-ferentemente dos outros anos, e subdivididos em quatro faixas de avaliação, de acordo com a frequência de cada escola. A mudan-ça foi feita para reduzir a distorção dos resultados em escolas cuja participa-ção no exame é pequena.

Os resultados apresen-tados mostram que a média nacional ficou em 511,21 pontos, de um total de mil pontos. Das escolas que fi-caram abaixo dessa média, 96% são públicas. Hoje, a educação pública é respon-sável por 88% das matrícu-las no ensino médio. Para o Ministro da Educação, Fernando Haddad, a edu-cação brasileira já evoluiu muito, principalmente na educação básica, mas fal-ta incentivo por parte dos governos estaduais no en-sino médio. “O ensino mé-dio ainda deve melhorar. O foco dos governadores tem que se voltar para o ensino médio porque esse é o momento decisivo na vida do jovem, em que ele faz as suas opções e esco-lhe seus caminhos. Essas oportunidades precisam ser ampliadas”, disse o

96% das escolas abaixo da médiano Enem são públicasOs resultados foram divulgados nesta segunda-feira pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais

ministro em entrevista à imprensa. Haddad ainda acredita no Enem como um instrumento de mudança no ensino médio brasilei-ro. “Todos os depoimentos que eu colho de professo-res mostram que o Enem começa a reestruturar o en-sino médio para melhor”.

Na educação particular, a maior média no Para-ná foi do Colégio Marista Santa Maria, com 691,85 pontos, 33% maior que a média da escola pública brasileira. Para a professo-ra da rede pública Luzilete Falavinha Ramos, a princi-pal diferença entre a escola pública e participar é a co-brança de metas por parte da instituição. “Não existe cobrança efetiva aos pro-fessores da escola pública, como acontece na parti-cular. A escola particular funciona como empresa e precisa cumprir metas, seja pelo vestibular ou por mais alunos”, comenta a profes-sora, que já trabalhou na rede particular de ensino. Para a professora, não há uma grande diferença de investimento entre as duas escolas. “Não acredito que exista tanta diferença de investimento, de material. Os livros didáticos seguem a mesma linha”. Luzilete ainda acredita que o go-verno não incentiva, nem cobra dos professores mais dedicação. “Na escola pú-blica não há um incentivo da parte do governo, nem uma cobrança para que os professores se dediquem mais. Há uma estagnação”.

A Secretaria de Educa-ção do Paraná foi contata-da e não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Laura Beal BordinPriscila Schip

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Hoje, a educação pública é responsável por 88% das matrículas no ensino médio

Marcos Monteiro

Análise

A presença de apenas uma escola pública parana-ense entre as dez melhores notas no Exame Nacional do Ensino Médio no Paraná (Colégio Militar de Curiti-ba) não representa nenhum ineditismo, sequer pode ser apontado como uma surpresa: o ensino público brasileiro segue deficitário, carente e desprovido de es-trutura suficiente para con-correr com o ensino privado. Colocar os filhos para estu-dar em escolas financiadas com dinheiro público é reco-nhecer que eles terão nítida

desvantagem de formação e de competitividade no mer-cado de trabalho.

Não é mera questão de investimento, de melhores salários e de condições de estudo. Também é. O ensi-no brasileiro precisa ser re-pensado como estratégia de formação de cidadãos, repo-sicionado diante dos avan-ços tecnológicos e das novas demandas contemporâneas, enxergado como plataforma efetiva de reinserção social. Apontar suas fraquezas e não trata-las é exercício conscien-te de incompetência.

Outro fator para ser es-tudado é a divisão do Mi-nistério da Educação em quatro faixas de divulgação

dos resultados, obedecendo a critérios de frequência de alunos presentes nas provas. A iniciativa pretende evitar que instituições particula-res façam propaganda de seus resultados mesmo que tenham tido baixa adesão de estudantes nas provas, evitando, assim, a distor-ção dos dados – o que, de certa forma, exemplifica o pensamento notoriamente capitalista de muitos em-presários do setor, não exa-tamente compromissados com a ética. O ensino brasi-leiro, de modo geral, não vai bem, abaixo da média, inca-paz de passar em testes de qualificação. (Exceto, caso você tenha dinheiro).

Crônica de um ensino inviávelDaniel Zanella

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CULTURA

A peregrinação inicia cedo: vários meses antes começa a venda dos ingressos, que cos-tumam ser caros. Talvez haja a necessidade de ser rápido, porque dependendo da ocasião os bilhetes podem esgotar ra-pidamente. Depois, na véspera ou até na madrugada do dia do próprio evento, é preciso pegar um ônibus e passar várias horas na estrada. Chegando ao desti-no, espera-se mais um tanto até que tudo comece. Isso quando não há gente demais, empurra-empurra e impossibilidade de ir ao banheiro por horas, sob risco de perder o seu lugar na multidão.

São esses alguns dos trans-tornos enfrentados por pessoas que resolvem viajar a outras cidades para assistir a shows musicais. Quando uma ban-da internacional vem ao Brasil para se apresentar, os pontos de parada costumam ser as cida-des maiores, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizon-te. Os fãs de outros municípios que não querem perder a opor-tunidade de assistir ao vivo os grupos musicais dos quais gos-tam precisam dar algum jeito de chegar até o local do show. E precisam esperar também que seus bolsos fiquem bem mais leves depois desses eventos.

Mas o esforço parece ser compensador. É o que conta a estudante Vanessa Brito, de 23 anos. Em novembro de 2010, ela viajou até São Paulo para assistir ao show do ex-beatle Paul McCartney. Antes disso, em outubro, ela esperou até a meia-noite do dia em que co-meçaram as vendas de ingres-sos para comprar uma entrada para a pista VIP (logo à frente do palco) pela internet. Segun-do ela, os bilhetes para esse se-tor esgotaram em minutos.

Ela foi até São Paulo com uma excursão promovida por uma empresa de turismo que deixou Vanessa e outros fãs curitibanos na porta do Estádio do Morumbi (onde foi o show), e os trouxe de volta a Curitiba no mesmo dia. O cansaço das várias horas de estrada parece ter valido a pena: “Foi um dos

maiores presentes que eu tive na vida inteira”, con-ta. “O homem que mu-dou a história da música e compôs algumas das canções que cantei e to-quei a vida inteira estava ali, na minha frente, tão perto que nem parecia verdade”, explica, emo-cionada, dizendo não se arrepender da pequena fortuna gasta no ingres-so, que custava R$ 700 a entrada inteira.

Já no dia 8 de janeiro de 2011 a estudante In-grid Soares de Lacerda, de 18 anos, foi até Floria-nópolis para assistir ao show da cantora britâni-ca Amy Winehouse, fale-cida em julho deste ano. Além de Amy, os can-tores Mayer Hawthor-ne e Janelle Monae se apresentaram no mesmo evento. Também para Ingrid, a viagem valeu a pena: “Foi ótimo. Valeu cada centavo e segundo de viagem, de fila e de vontade de ir ao banhei-ro.”

SacrifíciosO assistente administrati-

vo Enio de Matos Vermelho Junior, 26 anos, viaja regular-mente para assistir a shows em outras cidades. Ele esteve pre-sente, por exemplo, em três das quatro edições do festival Pla-neta Terra (que acontece anu-almente em São Paulo) e irá à próxima edição, em novembro deste ano.

Com tantos shows na baga-gem, é de se esperar que Enio tenha enfrentado problemas – que até certo ponto são comuns em eventos de grande porte, como apresentações de bandas internacionais.

Ele conta o caso do festival SWU, realizado em outubro de 2010 na zona rural de Itu, in-terior de São Paulo. Ele estava hospedado em Jundiaí, a pou-cos quilômetros da região, e, quando o festival acabou, por volta da meia-noite, Enio en-frentou um pequeno martírio pessoal.

Sem créditos no celular, não conseguiu encontrar nenhum conhecido para pegar carona de volta; nenhum ônibus ia ou

voltava do festival (ao contrário do que tinha prometido a orga-nização do evento – os poucos ônibus no local estavam super-lotados e não davam conta da demanda); e, para completar, ele só vestia uma bermuda e uma jaqueta no frio de menos de dez graus que fazia naque-la noite. “Só consegui chegar a Jundiaí às oito da manhã”, re-lembra Enio.

Quem também viveu uma aventura semelhante foi o ge-rente de projetos Elson Barbo-sa, 36 anos. Em 2007 ele foi ao Connect Music Festival, que aconteceu na Escócia, a meia hora de caminhada de uma pe-quena vila chamada Inveraray. Depois de ter dormido apenas duas horas na noite anterior, Elson teve de passar quatro ho-ras caminhando entre o local do show e a vila até achar o guichê onde deveria retirar os ingres-sos. “Ninguém sabia dizer onde era”, explica.

Mais tarde, após ter retira-do as entradas e assistido aos shows, Elson, exausto, resolveu ir embora. “Abri mão de ver a última banda para pegar o pri-

meiro ônibus de volta a Glas-gow [cidade onde estava hos-pedado] e poder dormir.” Foi informado de que a condução saía da vila e teve de caminhar até lá. Depois de uma hora de espera, disseram que o ponto do ônibus era ao lado do local do show. Mais outra hora de ca-minhada.

Quando finalmente chegou ao hotel, prometeu a si mesmo nunca mais enfrentar um even-to daqueles. “Mas no final do terceiro dia de festival já estava prometendo voltar no ano se-guinte”, relembra, aos risos.

Opção internacionalViagens internacionais po-

dem ser uma alternativa para quem está disposto a se plane-jar. É o caso do músico Heitor Humberto, que em novembro deste ano vai a Buenos Aires, na Argentina, para ver o gru-po americano Black Rebel Mo-torcycle Club.

A banda também irá se apresentar no Brasil, na próxi-ma edição do festival SWU, que desta vez acontece em Paulínia (interior de São Paulo), mas

Heitor preferiu ir até o país vi-zinho: “No SWU, eles vão se apresentar para 50 mil pessoas, muitas delas querendo ver ape-nas as outras bandas maiores, que vão se apresentar no mes-mo dia. Já na Argentina, eles vão tocar só para 700 pessoas. Tem bem mais a ver com o cli-ma da banda”, conta.

Heitor ainda explica que, com o real valorizado, não irá pesar muito em seu orçamen-to viajar para a Argentina: “Vai sair só um pouco mais caro do que se eu comprasse o ingresso do festival e fosse de excursão até Paulínia.”

Entre dinheiro gasto, pro-blemas de todos os tipos e muito cansaço, o sentimento parece ser de que vale a pena viajar para ver apresenta-ções em outras cidades. “O que faz as pessoas irem nes-ses eventos é a experiência”, explica Elson Barbosa. Enio Vermelho Junior concorda: “Vale a pena pelas histórias que ficam, pelo pessoal que você acaba conhecendo nes-ses shows e pelos próprios shows.”

Odisseias musicaisAs aventuras dos fãs que viajam para ver shows em outras cidadesFelipe Gollnick

Felipe Gollnick

O músico Heitor Humberto afirma que dificuldades fortalecem a relação com as bandas

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Curitiba, terça-feira, 18 de setembro de 2011

Ler um bom mangá, fazer compras ou até frequentar au-las de japonês no fim de sema-na são atividades corriqueiras no Centro Cultural Tomoda-chi de Curitiba. Fundado em 2008 com o objetivo de apro-ximar a comunidade curitiba-na de países como o Japão e a China, o Centro disponibiliza os mais diversos tipos de ser-viços.

Dentre as opções estão os cursos de idiomas (japonês, mandarim e coreano) e artes (desenho, gravura japonesa, instrumentos musicais e fo-tografia), oficinas, encomen-das, exposições, um acervo de livros, CDs e DVDs para consulta e uma loja com pro-dutos de cultura pop japone-sa voltada para fãs de anime, mangá e jogos.

Por ser relativamente novo, o Centro possui uma média de 15 colaborado-res (incluindo professores e funcionários). Seus cursos de idiomas são, geralmente, compostos por seis níveis bá-sicos e o intermediário, não dispondo ainda do avançado.

Embora graduada em Di-reito, sua fundadora, Lina Saheki, filha de japoneses, é professora desde 2004, quan-do dava aulas de japonês em Madrid, na Espanha. De volta ao Brasil, a ideia de abrir um centro cultural já estava bem nítida. Em 2007, Lina ainda ensinou japonês por meio do universo dos mangás, na Gi-biteca de Curitiba, e finalmen-te, em 2008, juntou economias e abriu o Tomodachi.

O ilustrador e professor de desenho em estilo mangá Guilherme Match conta um pouco mais: “Eu conheci a Lina num evento chamado AnimeXD, nesse evento ela disse que se sentiu motivada a dar aulas de japonês através do mangá. Quando ela come-çou a dar esse curso, ainda na Gibiteca, eu participei da pri-meira turma”. Desde então, a convivência se encarregou de ir aproximando ideias e inte-resses. “Fomos visitar alguns

lugares e encontramos a sala no Largo da Ordem, que foi a primeira sede do Tomodachi. Desde o começo eu participei. Tem sido ótimo!”.

Em agosto de 2010, fize-ram-se as malas e a sede pas-sou a ser no primeiro andar da casa número 2513, localizada na esquina da Avenida Iguaçu com a Dr. Alexandre Gutier-rez, pertinho de outro ponto de encontro dos amantes da cultura japonesa: a Praça do Japão. Agora, dispõem de um espaço maior em comparação com o antigo: seis salas e a re-cepção, enquanto o primeiro só possuía quatro cômodos.

E a tendência é de cresci-mento: neste ano, foi firmada uma parceria entre o Tomoda-chi e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), para que esta incluísse os cur-sos de japonês e coreano no Núcleo de Línguas. “Infeliz-mente, houve pouca divulga-ção e as inscrições terminaram no dia 9 de agosto”, comenta Milena Silva, jornalista e cola-

boradora do Centro.Além disso, o aluno de ja-

ponês André Augusto Chagas Paz, 19, está hospedando em sua casa o intercambista Ryo-suke Oshima, 21, que estuda Relações Internacionais na Universidade de Takushoku, na cidade de Saitama (ao norte de Tokyo). A vinda de Ryosuke foi resultado de uma parceria entre o Tomodachi e a professora Sônia Nakagawa, que leciona português na uni-versidade japonesa.

ServiçoPara os interessados, o

Centro funciona de segunda a sábado, das 14h às 18h. A programação de eventos e os horários dos cursos podem ser acessados em www.to-modachi.com.br, ou por meio do telefone (41) 3022-3477. Se ainda sim, faltar motivação, aos sábados, depois da aula, os alunos fazem uma festinha com doces e salgadinhos, mas cada um tem que trazer um prato diferente!

CULTURA

O Japão curitibanoCentro cultural trabalha para aproximar os curitibanos do JapãoPaula Nishizima

Sala de mangás do Tomodachi: uma ponte entre Brasil e Japão

Paula Nishizima

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VisibilidadeA jornalista e colaboradora do centro Tomadochi Milena

Silva conta que o cenário para a cultura japonesa em Curiti-ba, hoje, é outro: “Por volta da década de 1980, a comunida-de japonesa era muito fechada, hoje o círculo se expandiu”.

Segundo o Censo Demográfico de 2000 do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de des-cendentes de japoneses em Curitiba era de aproximadamen-te 8 mil. Até o ano de 2008, estimava-se que já eram cerca de 40 mil descendentes.

O público também mudou. “A maioria dos nossos alu-nos, aqui no Centro, não tem ascendência japonesa. Eu, por exemplo, comecei a me interessar pelo Japão assistindo os desenhos que passavam na TV. Mais tarde comecei a fre-quentar eventos e a conhecer pessoas do mesmo grupo de interesse que eu”.

A mudança é importante porque a maioria das escolas de idiomas é feita para o público de descendentes, procu-rando manter tradições. “Isso aproxima muita gente, mas ao mesmo tempo também afasta outras tantas”, afirma Mi-lena. “Além disso, abrindo o leque outras pessoas podem entrar em contato mais facilmente com aquela cultura que viram no desenho e se sentirem abraçados por ela”, con-clui.

Match também confirma a ideia: “Todo tipo de influên-cia cultural é válido. Como indivíduos essa troca de infor-mação cultural é essencial. A cultura japonesa é fantástica! Acredito que ela pode influenciar de maneira muito pro-veitosa nossa sociedade, com valores como honestidade, humildade, caráter, gentileza. Para o publico curitibano em especial, espero que gere gentileza”.

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Curitiba, terça-feira, 13 de setembro de 2011

Moda solidária: conheça e colabore

Tribos Urbanas Esporte

Camila Rehbein Danilo Georgete

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@camilarehbein

Cursa o 4° período da manhã e publica seus textos no endereço monapety.tumblr.com

@danilogeorgete

Cursa o 6° período da noite e publica seus textos no endereço danilogeorgete.blogspot.com

Divulgação

Que me desculpem os que acreditam que moda é só coi-sa cara e de grife, ela cada vez mais vem se democratizando. Hoje, existem muitos projetos e ONG’s que fazem moda com o propósito de doar a renda a co-munidades carentes.

Um destes é o “Projeto Ar-rastão”, uma organização sem fins lucrativos criada em 1968 em São Paulo, por um grupo de mulheres que tinham como obje-tivo ensinar às mães dos bairros vizinhos trabalhos manuais que dessem algum tipo de renda. Hoje, baseado em valores como coragem e ousadia, flexibilida-de, criatividade e alegria, tem como principal objetivo formar cidadãos capazes de transfor-mar a nossa realidade. Com o uso da frase “não dar o peixe, mas ensinar a pescar” e a confec-ção, principalmente de sacolas e bolsas, mais de 6500 pessoas são beneficiadas.

Na comunidade de Paraisó-polis, São Paulo, existe a “ONG Florescer”. A ONG possui a mar-ca Recicla Jeans e, através des-ses lucros, pretende ajudar em questões como educação, lazer e cultura, resgatando a dignidade e o respeito. A Recicla Jeans é o projeto de uma comunidade que não possui muitos recursos, mas muita criatividade. O forte da confecção são peças customiza-

das com tecidos jeans e resíduos têxteis.

Devido ao pouco reconheci-mento, algumas dessas comuni-dades criaram o Favelas Fashion Rio, com o intuito de atrair mais atenção e mostrar que fazem moda de qualidade. Segundo Iara Oliveira, mentora do proje-to, poucos grupos são convidados a participar de eventos de moda justamente por estarem no lugar onde estão. Além de desfiles, pro-dutos também são expostos em vitrines vivas.

Atualmente, o Favelas Fashion Rio é composto por nove gru-pos: Costurart, Costurando Ide-ais, Mulheres Eco-Artesãs, Corte e Arte, Bordadeiros da Coroa, Mulheres de Pedra, Retalhos Ca-riocas, Escola de Moda Lente dos Sonhos e Mães da Maré.

A ONG Retalhos Cariocas foi criada há três anos na comunida-de da Barreira do Vasco, Rio de Janeiro, e funciona confeccionan-do produtos com tecidos doados. As senhoras da comunidade que trabalham no grupo também uti-lizam produtos como sacos plás-ticos e garrafas pet.

Não é necessário ir tão longe para ajudar: procure no seu armá-rio uma peça de roupa que você não usa mais e vá ao posto de do-ação mais próximo! Afinal, estar na moda não é só vestir a próxima tendência.

Em 1913, o presidente argentino Julio Argentino Roca instituiu uma competição disputada entre os es-cretes nacionais de Brasil e Argenti-na, intitulada Copa Roca. O torneio foi interrompido em 1976. Volta esse ano com o nome de Superclás-sico das Américas. Até esta edição, nós ganhamos 8 títulos, enquanto nossos vizinhos levantaram só 4 vezes o caneco, sem contar que em 1971 o título foi dividido.

Mas por que resgatar um tor-neio tão antigo? Interesses políticos e financeiros de Julio Grondona, presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino) e do queridíssi-mo Ricardo Teixeira, presidente da CBF? Óbvio que sim, um ex-cartola argentino Raúl Gamez disse certa vez que Grondona é mafioso e com-pra tudo e todos. Grondona foi elei-to presidente da AFA pela ditadura militar e controla com mãos de ferro o futebol argentino até hoje e Teixei-ra está desde 1989 no poder da CBF, mas nenhum dirigente brasileiro, além do presidente do São Paulo, tem coragem de bater de frente com o “dono” do futebol brasileiro. Po-lítica e dinheiro estão intimamente envolvidos com a nova Copa Roca.

Mas além desse interesse, exis-te o fato de querer divulgar mais os campeonatos nacionais dos dois países. Um torneio que serve ape-nas para divulgar e colocar em evi-dência jogadores dos campeonatos nacionais, uma vez que somente jogadores que atuam nos respecti-vos campeonatos poderão vestir as camisas da seleção argentina e bra-sileira nos jogos dos dias 14 e 28 de setembro.

Nos últimos anos, o equilíbrio e nível de disputa dos certames brasi-leiro e argentino foi tão grande que hoje, segundo a IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísti-ca do Futebol), coloca o campeonato

Rivais em campo, parceiros na politicagem

hermano e o canarinho em segundo e terceiro lugares respectivamente en-tre os mais disputados do mundo. O equilíbrio é tão grande que vimos nes-se ano o gigante River Plate cair para segundona e podemos acompanhar o melhor brasileirão de todos os tempos.

A Argentina vai para os dois jo-gos com a base do atual campeão ar-gentino Veléz Sarsfield, que chegou na semifinal da Libertadores deste ano, vencida pelo Santos de Danilo, Rafael e Neymar que integram o es-crete canarinho. A convocação feita pelo Brasil não agradou todo mundo, mas isso sempre é assim. Estamos indo com o que de melhor temos no futebol nacional, vejo esses dois jogos como divisor do trabalho de renova-ção que Mano Menezes vem fazen-do, jogadores como Dedé, Leandro Damião e Lucas podem cravar seus nomes como titulares da seleção, e outros podem ganhar vagas de “eu-ropeus” que não vêm fazendo jus as convocações de Mano Menezes.

Sem sombra de dúvida os olhos, câmeras e microfones estarão volta-dos para Neymar, melhor jogador do futebol sul-americano na atualidade, e quando olhamos o duelo que pode ocorrer nos anima um pouco para ver o jogo e esquecer os interesses envolvidos. Neymar x Verón, o que todos imaginavam ver na Taça Liber-tadores deste ano, vai ocorrer nessa quarta-feira. Será que Neymar vai sambar ou vai dançar um reggaeton? Será que o veterano Verón tem mo-lejo e pique para bater de frente com Neymar? Temos que esperar a bola rolar para descobrir isso.

Superclássico das Américas? Eu nomearia esse torneio de “SUPER-CLÁSSICO DO FUTEBOL MUN-DIAL”, é Brasil x Argentina: rivali-dade, catimba, provocações, torcidas inflamadas e apaixonadas, tudo o que de melhor que existe neste espe-táculo que chamamos de futebol.

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Curitiba, terça-feira, 18 de setembro de 2011 7

PERFIL

Adial Junior / Dance Boy – a es-sência

Moro desde pequeno em Curitiba, sou funcionário públi-co, mais conhecido como Dance Boy, uma personalização minha, tanto visual quanto filosófica. Busco uma companheira e ser conhecido nacionalmente. Posso ser garoto-propaganda ou ator, já que fiz curso de teatro.

Construção do personagemDepois de ter muito azar com

as mulheres e de tentar de tudo [de agências de namoro a classi-ficados da Gazeta do Povo],um chefe antigo me sugeriu de co-locar as minhas informações pessoais em uma camiseta se-melhante àquelas de bêbado de praia, sabe?, só que com dizeres divertidos. Acatei a ideia. Tam-bém vi outras personagens exóti-cas de Curitiba, como o Oil Man, a Borboleta 13 e o Jacaré da Bici-cleta, e que por serem diferentes e únicos, chamavam a atenção, tornaram-se conhecidos, lendas curitibanas mesmo. Comecei, então, a enveredar por esse ca-minho. Criei uma bicicleta, a Dance Bike, um carro estilizado em rosa e azul, o Dance Móvel e uma camiseta com luzes verme-lhas. É até um modo de criticar o preconceito. Não concordo em dizer que rosa é cor de mulher.

As luzes no pescoço e nas pernas são para lembrar meu tempo de danceteria.

Influências musicais e retornos críticos

A dance music dos anos 90 é a minha vida, o meu estilo. Sempre sonhei em conhecer uma mulher que gostasse de dance. Sobre as críticas, tem uns que gostam, ou-tros que não, como era de se espe-rar, ainda mais que o curitibano, em geral, é muito conservador. Já fui para Porto Alegre, Campinas, Florianópolis e percebi que o re-torno foi mais positivo. Meu obje-tivo é sair em rede nacional.

Padrão de mulherProcuro uma mulher que

chegue em mim – não concordo que esse seja um papel somente masculino, afinal, os direitos são iguais – que gostem de dance, e que tenham, de preferência, entre 16 e 30 anos, já que as mulheres mais velhas geralmente têm fi-lhos, são casadas, e não são muito de ir em danceteria no domingo, nas matinês.

InternetTenho tido mais retorno via

YouTube. O blog não dá tanto retorno. Parece que o brasileiro não gosta muito de ler, não. Al-guns leem muito o capítulo sobre as músicas antigas do tempo da Moustache [famosa casa notur-na curitibana dos anos 80 e 90]. Mulher interessada? Infelizmente não recebi nenhuma proposta até agora.

CríticasUns admiram minha cora-

gem, a originalidade, a sincerida-de, pois não se preocupo com o que os outros pensam, que tenho um charme pessoal por natureza. Outros dizem que não tenho no-ção do ridículo, que sou um vovô que fica parando o Dance Móvel na saída de colégios.

O Dance MóvelTeve umas gurias amigas de

um amigo meu que entraram nele, mas faz tempo que não en-tram mais. É porque estou em Curitiba. Se fosse outra cidade, a repercussão seria diferente.

Para fazer o Dance Móvel, espelhei-me naqueles táxis com luminosos, na lataria tem a mi-nha foto, dizendo que quero conhecer gatinhas extrovertidas

que gostem de dance music e agitem no domingão. Também tem meu telefone, meu e-mail e o meu Orkut. Acendo o lumino-so à noite.

Planos Pretendo me mudar. Meu

sonho é sair de Curitiba, até por isso estou prestando concursos públicos fora, tentando agendar testes de figurante em outras ci-dades, estudando para dois con-cursos... Se passar, peço transfe-rência do meu trabalho atual.

Reação dos familiaresJá discuti com muitos por

questões ideológicas. Meus pais não ligam, dizem que eu sou adulto e que devo tocar o meu barco. Os que me criticam não dou importância, estou satisfeito com o que eu sou. Moro sozinho e cuido do meu destino.

Personagem x companheiraSe encontrar uma compa-

nheira, penso em continuar com o personagem, mas tirando os anúncios. Devo continuar com o visual, seguir treinando os pas-sos de dança... Por isso, procuro uma mulher que goste das mes-

mas músicas que eu.

Não sendo Dance BoyFaço academia, vejo fil-

mes de terror antigos... Até quero fazer uma filmagem em cemitério usando umas roupas pretas que tenho, gosto de carro antigo... Estou escrevendo um livro baseado numa história de terror, se passa em Curitiba. Coleciono DVDs de filmes clássicos, de clipes...

Sinto que desde criança eu tinha o desejo oculto de ser ator. A primeira vez que viajei de avião tive essa mes-ma sensação, de querer ser piloto. Quando era criança gostava de me fantasiar nas festas.

InfânciaNão tive, infelizmente,

contatos artísticos. A minha família era muito radical. Eram evangélicos fanáticos. Para eles, é pecado dançar, sair à noite, ser artista...

Saindo da adolescência, fiz um curso de manequim-modelo e de teatro. Descobri o que queria fazer e pensei:

Adial Junior é um personagem curitibano, assim como o Oil Man, a Borboleta 13 e o Jacaré da Bicicle-ta. É mais conhecido como Dance Boy, nome com o qual faz apelos em busca de uma companheira e do retorno dos áureos tempos da dance music. Tem um Dance Móvel e uma Dance Bike, além de camisetas caracterizadas e com in-formações complementares sobre seu gosto pelas mulheres.

Nascido em Curitiba, é fun-cionário público, mas não revela onde trabalha (obedecendo a pe-didos do chefe) e nem a sua idade (“apenas para os mais íntimos”). É admirador de armas de fogo, do filme “O Homem Abutre” e de mulheres entre 16 e 30 anos. Tem um blog [www. danceboyadialju-nior.blogspot.com], onde publica seus textos.

A seguir, entrevista da equipe do Lona com Adial Junior, o Dan-ce Boy.

“Agora as mulheres me en-xergarão mais”. A minha mãe até acha que tenho o dom para interpretar.Mulher: depoimento

Bem, sou um pouco exigen-te mesmo. Não procuro a mu-lher perfeita, isso não existe, mas que tenha o biótipo que procuro. Ela tem de gostar do que sou e eu tenho de gostar dela. Gosto de mulheres de cabelos lisos e longos. Tenho atração por loiras, mas po-dem ser mulheres de cabelos castanhos ou negros mesmo, branca-caucasiana. Gosto de mulher que faça musculação e tenha o corpo definido. Não ligo para classe social, altura... A mulher tem que ter iniciativa, ser alegre, ex-trovertida, paciente, com a cabeça no lugar, algo que reconheço não ser fácil de achar em balada. Embora pra mim não seja fácil achar fora também...

Mulher que gosta de dan-ce, que não seja muito caseira, goste de viajar, conhecer no-vos lugares...

Minha maior dificuldade não é financeira, é falta de companhia.

Marcos Monteiro

“A minha maior dificul-dade não é financeira, é falta de companhia.”

Dance Boy e as mulheresO cotidiano e as preferências de um personagem curitibano

Priscila SchipDaniel Zanella

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Curitiba, terça-feira, 13 de setembro de 2011

Cores da CidadeEDUARDO MACARIOS

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