Lucas Flesch Cygainski. Lugares corriqueiros da cidade ... · “desenvolver o raciocínio...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE ESPECIALIZAÇÃO NO ENSINO DA GEOGRAFIA E DA HISTÓRIA
LUCAS FLESCH CYGAINSKI
LUGARES CORRIQUEIROS DA CIDADE: COMO PERCEBER CANOAS ATRAVÉS DA GEOGRAFIA?
PORTO ALEGRE, JULHO DE 2014.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE ESPECIALIZAÇÃO NO ENSINO DA GEOGRAFIA E DA HISTÓRIA
LUCAS FLESCH CYGAINSKI
LUGARES CORRIQUEIROS DA CIDADE: COMO PERCEBER CANOAS ATRAVÉS DA GEOGRAFIA?
Orientador: Prof. Dr. Nestor André Kaercher Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Especialização no Ensino da Geografia e da História como requisito parcial para a obtenção do título de Pós-Graduado.
PORTO ALEGRE, JULHO DE 2014.
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Uma formiguinha atravessa,
em diagonal, a página ainda em branco.
Mas o poeta, naquela noite, não escreveu nada.
Para quê? Se por ali já havia passado o frêmito e o
mistério da vida...
(Mário Quintana)
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AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho a quem sempre acreditou em mim.
A meus pais que nunca mediram esforços para nos proporcionar, ao meu irmão
e a mim, ótimas condições de estudo. Felizmente pude sempre corresponder a este
apoio incondicional, dando algumas alegrias, entre elas a de ser um filho exemplar.
Meus pais também são exemplares, raridades.
Tenho imenso carinho por duas pessoas que também fazem da minha vida um
grande aprendizado: Loreno e Vera. Agradeço muito pelo carinho e simplicidade de
sempre estarem ao nosso lado.
Este trabalho não teria o mínimo de interesse se por ele não tivesse passado
pessoas com quem convivi e muito aprendi no EGH. Professores e colegas da
Geografia e da História que fizeram eu compreender que a docência não é apenas
uma profissão e sim uma realização. É preciso ser doido para querer ser professor!
Sim, é preciso ser doido pelo aluno, pelo ensinar e pelo aprender. É preciso
saber errar, é preciso refazer, é necessário ter empenho e claro, muito trabalho. Em
meio a muitos problemas que se estabelecem em nossa sociedade somente um
professor para entender o ser humano na sua magnitude ao passo da sua
simplicidade e acreditar no seu potencial.
Professores Ivaine Tonini, Nestor Kaercher, Antonio Castrogiovanni, Fernando
Seffner e tantos outros grandes nomes que tive o prazer e a honra de compartilhar
momentos importantes para o meu ser professor, o meu muito obrigado.
Agradeço aos amigos e parceiros que formamos no curso EGH. Profissionais
fantásticos são vocês. Que este curso tenha as mais infinitas edições pela qualidade
e realidade que expressa em seus encontros.
Agradeço especialmente à mulher que faz dos meus dias um grande
aprendizado. Muito obrigado, Aline, pela incansável paciência de aturar os meus
vagares e doidices e pelas ausências sempre compreendidas. Tenho muita sorte de
ter você ao meu lado. Obrigado pela aposta... Saiba que ganhamos mais essa (ufa!)
Obrigado a Deus por todas estas pessoas maravilhosas em meu caminho.
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RESUMO
A cidade é um espaço onde a vida se materializa, nela existem dinâmicas que só
são possíveis por causa das relações que ali acontecem e são percebidas. Vivendo
e aprendendo com a cidade estão os jovens que diariamente vão às muitas escolas
de Canoas, mas neste caminho não percebem que percorrem um espaço muito
interessante e prazeroso da Geografia. Este trabalho propõe uma discussão sobre a
cidade de Canoas vista como um espaço de produção dos lugares pelos alunos.
Esta dissertação apresenta ainda um breve estudo sobre o conceito de lugar da
Geografia e a relação com a cidade de Canoas, percebida por alunos de sexto ano
do Ensino Fundamental. Este compreende também propostas para o
ensinar/aprender a Geografia sob a ótica da cidade, percebida pelos próprios alunos
através de suas experiências e vivências urbanas. Com as atividades foi possível
perceber os lugares mais corriqueiros da cidade de Canoas sob a ótica dos alunos,
construir um saber geográfico sobre o conceito de lugar e gerar, com isso, a reflexão
e o interesse sobre os seus espaços vividos.
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Lugar. Cidade. Espaço geográfico e realidade.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6
2 O INICIAR DA CAMINHADA: SER OU NÃO SER... PROFESSOR ...................... 7
3 CAMINHANDO PELA CIDADE VEJO A MINHA GEOGRAFIA: SERÁ POSSÍVEL
GEOGRAFAR COM A CIDADE DE CANOAS? ....................................................... 13
4 MOMENTOS DE PRAZER NA CIDADE FAZEM DO NOSSO ESPAÇO COMUM O
MEU LUGAR ............................................................................................................ 18
5 DIFERENTES OLHARES PARA UM SÓ LUGAR: COMO UM ÚNICO ESPAÇO
EM CANOAS PODE TER VÁRIOS SIGNIFICADOS? ............................................. 24
6 LUGARES QUE FAZEM DE CANOAS A MINHA CIDADE .................................. 26
7 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 30
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 31
APÊNDICE A – Descrevendo um lugar conhecido de todos ............................... 32
APÊNDICE B – Descrevendo um lugar preferido em Canoas ............................. 33
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1 INTRODUÇÃO
Muitas pessoas dizem que com a Geografia é possível viajar a muitos lugares,
mesmo sem sair da sala onde estamos. É possível imaginar pessoas e seus modos
de vida, costumes diferentes do nosso, paisagens exuberantes, vida que nunca
vimos. Lugares incríveis! A escola também nos faz viajar, afinal, ela é considerada
por muitos uma janela para o mundo.
O que acontece quando “levamos” nossos alunos até as praças públicas da
milenar Istambul? Ou ainda, o que eles fariam na tão dinâmica Xangai, com seus
milhões de habitantes? Será que eles se sentiriam seguros em sair na rua quando
fôssemos a Bogotá? O que veriam os alunos em Maputo?
Seria tão impressionante para nossos alunos se eles pudessem conhecer
todas estas cidades pelo mundo e descobrissem os movimentos, as formas, a vida e
as diversidades que elas podem comportar.
Não seria mais impressionante ainda se nossos alunos percebessem que em
sua cidade muita coisa acontece também?
Canoas é uma cidade muito dinâmica, há muitas pessoas, natureza, culturas,
formas e estilos diversos. Ela está mais presente na vida dos alunos do que
qualquer outra cidade do mundo.
Vivemos a cidade de uma maneira tão comum que não paramos para percebê-
la. Pegamos o nosso rumo e seguimos adiante. Chegar ao nosso destino é o que
importa. Esta vida “moderna” vem sendo tomada por normal á medida que tudo
passa despercebido: os espaços, as pessoas, as relações, os acontecimentos, as
mudanças na paisagem, os objetos...
Pensando no que a Geografia tem no mais humano de seus conceitos, o lugar,
expressamente subjetivo e com uma íntima ligação entre o espaço e quem o
vivencia, este trabalho vem colaborar com a forma que os alunos experienciam a
cidade em que vivem. Lugares corriqueiros são aqueles vividos, mas muitas vezes
não percebidos pelos alunos. E aí surge o grande desafio: como pensar/perceber
Canoas através da Geografia partindo do conceito de lugar?
Como um lugar capaz de moldar nossa identidade não pode ser visto pela
Geografia ou entendido dentro da sala de aula por quem mais entende do assunto:
os jovens urbanos?
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Procuramos abordar de forma muito simples a relação entre os espaços de
Canoas e a maneira como os alunos os percebem, dando a eles o significado de
lugar. É possível obter tantos olhares por espaços tão comuns da cidade? É possível
imaginarmos que a cidade, na sua magnitude, possui pequenos espaços que fazem
a diferença aos alunos? Podemos refletir sobre as nossas práticas cotidianas dentro
da sala de aula?
Podemos pensar as diferentes realidades e entender a importância das
relações locais da cidade na formação de um todo. Um todo global. Levemos,
potanto, muito mais do que um mundo para a sala de aula. Levemos o próprio
mundo do aluno, para possibilitarmos um pensar sobre aquilo que é próximo e real
Será só o começo para ele.
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2 O INICIAR DA CAMINHADA: SER OU NÃO SER... PROFESSOR
Uma grande questão quando se pensa o que queremos do momento em que
terminamos o ciclo do ensino básico para adiante: que profissão eu desejo exercer?
E ainda: o que seria bom para mim, vai dar dinheiro? Vou ter emprego?
Tai uma boa pergunta para um jovem de dezessete anos responder: que
profissional eu quero ser daqui para frente?
E assim os estudos devem continuar...
Este foi um dilema enfrentado por este professor que vos escreve, nesta
mesma etapa relatada de minha vida. O que me confortava no momento é que eu
não era o primeiro a passar por isso e sabia que também não seria o último.
Jornalismo, telecomunicações, engenharia ambiental, cursos técnicos,
universidade, chegou a hora... o momento é de inscrição no vestibular... na verdade
o momento é de decisão, de acertar, ou não.
Embora já estivesse a ponto de me inscrever em algumas das tais “opções”,
me deparo “aos 45 minutos do segundo tempo” com algo que nunca havia parado
para pensar: e por que não ser...Professor?
Sim, professor!
De Matemática? Língua Portuguesa? Não, não sou o mais adequado para lidar
com cálculos ou regras de linguagem. Biologia? História? Penso que não tenho tanta
afinidade com certos animais, nem uma memória muito boa. Educação Física? Não
sou do tipo mais atlético. Física, Química? Também não me daria bem com certas
teorias.
O que sempre gostei desde criança era olhar em livros, fotos e na televisão, os
lugares. Cada “viagem” me mostrava uma coisa diferente: as paisagens, as
pessoas, as comidas, os costumes... queria sempre conhecer lugares novos. E isso
sempre ficou na minha lembrança, até o momento de optar pelo meu futuro. Vou
cursar então G E O G R A F I A!
Foi uma escolha muito interessante da minha vida, pois no momento em que
recebia incentivos, recebia certos “alertas”, tais do tipo “você é louco? Vai ser
professor?”.
Sim, vou fazer o que gosto!
Gosto muito de pessoas, de lugares, de experiências, de aprender e de poder
ensinar.
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Minha primeira experiência como professor iniciou-se no ano de 2013, quando
da minha entrada no magistério estadual. Anteriormente, minha oportunidade de
atuar como professor e ter o contato com a sala de aula e com alunos se deu
mesmo na prática de estágio supervisionado do curso de licenciatura em Geografia,
onde em três semestres desenvolvi, além das aulas preparadas exclusivamente
para aquelas turmas de estágio, meu trabalho de conclusão de curso em 2012, cujo
título é “Geografia e jornal na sala de aula: estudo e proposta”, apresentado ao
Centro Universitário La Salle, em Canoas.
Em 2013 meu exercício como professor na rede estadual tinha carga horária de
40 horas semanais, lecionando a Geografia para o Ensino Fundamental nas séries
finais, além das disciplinas de História, Sociologia e Filosofia para o Ensino Médio.
Mesmo sendo formado apenas em Geografia e não nas três outras ciências, esta
prática é um tanto comum para as escolas públicas por entender-se que estas
quatro disciplinas fazem parte do grupo das Ciências Humanas. Outro fator que me
levou a aceitar este desafio foi a possibilidade/comodidade de lecionar em uma
única escola e não precisar me deslocar para outras três na cidade.
Outro fato que vale destacar é que a escola onde lecionava História para o
Ensino Médio possuía uma professora graduada em História, mas que lecionava a
disciplina de Geografia. No decorrer do segundo ano estas correções foram feitas e
pude assim trabalhar a Geografia com meus alunos.
Considero-me um professor que gosta muito da Geografia. E mais ainda, eu
adoro “promover” a Geografia. Vejo nas expressões tão ouvidas “leitura do mundo”,
“desenvolver o raciocínio lógico”, “capacidade de refletir” uma possibilidade de
sempre acrescentar “com a Geografia”. Devem-se abolir as exclusividades de certas
disciplinas, como “raciocínio lógico se desenvolve com a Matemática” ou “refletir
somente com Português” e outros tantos egoísmos pedagógicos que infelizmente se
presencia na escola e fora dela. Acabo muitas vezes por me perguntar: e a
Geografia fica com o quê? Com os países e capitais, como já me foi dito. Culpados
quem me fala? Não. Ouvir isso me soa como uma péssima conquista por parte da
Geografia dentro da escola, um dos motivos pelos quais temos apenas uma ou duas
horas semanais para levarmos o mundo aos nossos alunos.
A partir da experiência que tive lecionando as outras disciplinas das Ciências
Humanas, ainda que limitado pelo pouco conhecimento do objeto de estudo dessas
ciências, foi muito importante e proveitoso explorar e desenvolver novas formas de
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ver a História, a Sociologia e a Filosofia. Pude compreender o quanto elas são
necessariamente conectadas com a Geografia. Consegui desenvolver com isso
algumas oficinas que interligassem as disciplinas. Um bom exemplo disso foi
desenvolvido com alunos da segunda série do Ensino Médio. Conseguimos associar
o conteúdo da História, da Geografia, da Sociologia e Filosofia quando
trabalhávamos a questão da religiosidade no tempo e no espaço contemporâneo. Na
História pudemos remeter ao passado para observar as várias fases de
reorganização da Igreja Católica e seus rumos e transformações provocadas pelo
Protestantismo, enquanto que na Filosofia podíamos desenvolver o raciocínio acerca
do transcendente, o que seria então esta religação com o divino, associando isto às
representações e ao pensamento social a partir da Sociologia, finalizando com a
transformação espacial que os templos produzem no meio em que estão inseridos,
que relação têm as pessoas com aquele lugar, as relações com outros templos da
mesma ou de outras religiões, entre outros tantos assuntos que podem ser
desenvolvidos. Como resultado final e comparação entre o estudado e o real os
alunos visitaram um templo da religião que desejasse realmente conhecer (grifo
pois, no que se refere à religiosidade, há uma construção de pensamentos
preconceituosos quanto ao local, às pessoas que o frequentam e às práticas que
são desenvolvidas que em nada se parece com a verdadeira ideologia da religião).
Pode ser observado como principais destaques no desenvolver desta tarefa,
uma quebra de paradigmas quanto às religiões e suas estruturações no espaço da
cidade.
Por parte dos alunos notava-se grande engajamento para descobrir o novo,
que não eram lugares, nem práticas que eles costumavam frequentar,
desmistificando a questão da diversidade religiosa nos espaços da cidade, o que
resultou num aproveitamento satisfatório da grande maioria do grupo de alunos
desta série no que diz respeito a este conteúdo “nunca antes trabalhado desta
maneira”, como citado nas conclusões por alguns alunos.
A Geografia sempre me despertou muito interesse pelo fato de se tratar de
realidade, de cotidiano, do perto e do longe, de identidades, de lugares, de global e
esse gosto sendo despertado cada vez mais na universidade, quando percebia na
prática e na teoria os temas da Geografia.
Considero-me um professor atualizado no que se refere à ciência geográfica, a
partir de livros, revistas e periódicos da área, mas também sob o ponto de vista do
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cotidiano, com jornais e a internet. Comparo os diferentes pontos de vista escritos e
falados, e estruturo o meu próprio pensamento a partir da bagagem que formo no
dia-a-dia como professor. Aliás a atualização professoral também deve ser
construída com muita responsabilidade, pois o professor acaba por muitas vezes se
tornando um formador de opiniões, pelo fato de ser considerado também um adulto
de referência pelos alunos.
Para o presente ano de 2014 conto com 20 horas semanais na mesma escola
estadual que iniciei meus trabalhos, agora apenas lecionando a disciplina de
Geografia. Fui convidado também por duas escolas tradicionais da rede privada em
Canoas, município onde resido, para lecionar um total de 25 horas a disciplina de
Geografia.
Para mim a compreensão, a reflexão e a discussão dos fenômenos humanos
devem ser dirigidas para o aluno. O professor deve possibilitar ao aluno ler o seu
próprio mundo e conscientizá-lo do seu papel como um ator desta sociedade, que
muitas vezes se apresenta tão distante dos alunos e da escola.
Com base nisso, minha proposta de estudo é desenvolver junto aos alunos das
séries finais do Ensino Fundamental, mais precisamente alunos de sexto ano,
percepções geográficas dos lugares mais comuns ou corriqueiros da cidade de
Canoas, conhecidos ou não por parte deles, como por exemplo, o shopping ou o
centro de Canoas ou ainda praças e ruas e dirigi-los ao questionamento: será que a
cidade de Canoas pode contribuir para o entendimento da minha própria Geografia?
Meu interesse é levar os alunos à percepção do seu município, discutindo
questões teóricas associadas a algumas práticas conceituais da Geografia, como
lugar, paisagem, cotidiano, identidade, população, rede entre outras muitas
possibilidades que a Geografia oferece no estudo da cidade.
Este trabalho terá como apoio materiais autorais ou produzidos através de
pesquisas em livros sobre o município de Canoas ou em meio eletrônico, realizadas
pelos próprios alunos, a fim de que eles possam demonstrar diferentes pontos de
vista sobre vários espaços da cidade, registrados através de fotografias e descritos
sob a sua percepção geográfica, apoiada pelo conceito de lugar.
Estudo como grandes referências para este tema Lana de Souza Cavalcanti,
Ana Fani Carlos e Neiva Otero Schäffer, assim como Antônio Carlos Castrogiovanni
e Nestor André Kaercher.
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As autoras acima mencionadas acompanho desde o curso de graduação,
estimulado pelos professores que em muito me auxiliaram na construção do
pensamento geográfico e pela sempre necessária investigação na busca de
aprimoramento e atualização desta ciência tão dinâmica.
A contribuição que estas autoras têm na minha formação docente é muito
grande. Em seus trabalhos pode-se destacar a relação feita entre a realidade
escolar e os principais conceitos da Geografia, aplicados de forma simples,
demonstrando ao mesmo tempo uma grande e interessante valorização pelo trato da
geografização do mundo na escola.
Antônio e Nestor também conheci pelo mesmo caminho da universidade e
sempre espelhei nas obras produzidas por eles as minhas práticas escolares.
Estes dois grandes professores me despertaram pensamentos novos para a
Geografia que desenvolvia em sala de aula e hoje sempre me desafiam cada vez
mais a desejar pensar, agir e, junto aos meus alunos, ser diferente.
O curso para o qual apresento esta pesquisa e que possibilita minha
especialização no ensino da Geografia, através dos saberes e dos fazeres
contemporâneos, traz experiências únicas para o meu “ser professor”. A começar
pela grande possibilidade de trocas de práticas e vivências entre professores das
disciplinas de Geografia e História, duas ciências interligadas pelo propósito de
estabelecer relações sobre o estudo, o desenvolvimento e o pensamento humano.
Permite-nos também desenvolver novas percepções do ensino e da aprendizagem
destas duas ciências em diferentes espaços, sejam eles públicos, privados, pobres,
ricos, no interior ou em grandes cidades, a partir do encontro entre professores de
várias localidades do nosso Estado.
Este importante curso possibilita também grandes discussões sobre modos de
ensinar Geografia e História e a importância da pesquisa e da sua difusão sobre
formação e práticas docentes.
Cabe ainda destacar a importância do relacionamento entre os professores
sempre em formação com suas inspirações e cito com grande satisfação a presença
e a diferença marcante que Antônio Carlos Castrogiovanni e Nestor André Kaercher
dispuseram em suas aulas e em suas publicações.
As práticas geográficas de quem experiencia com estes dois respeitáveis
professores certamente se modificam, quase sempre se transformam, e em muito se
enriquecem a cada construção de aprendizados. Isto possibilita que o professor se
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perceba e possa sentir que há mais possibilidades além daquelas definidas, fazendo
com que a mudança ocorra e o seu aperfeiçoamento comece.
Para estes dois grandes professores a Geografia pode sim ser algo muito
próximo de todos, sem perder a credibilidade nem parecer puro invencionismo.
Trata-se de despertar o interesse particular de cada aluno, colocando-os à sua
frente a sua própria realidade. Aprendi que a Geografia pode ser um espelho para o
aluno, à medida que ele se depara com muitos de seus problemas cotidianos
quando estamos explorando assuntos do mundo.
Não estamos falando aqui de uma (re)descoberta nos modos de ensinar e
aprender Geografia. Isto representa apenas a possibilidade de dinamizar a aula,
direcionando-a para o principal agente escolar: o aluno. Na medida em que
podemos realizar intervenções no local de vivência do aluno, cada qual com as suas
particularidades, desafios, práticas, soluções, poderemos então nos projetar para as
dinâmicas que ocorrem globalmente. Conforme nos descreve Santos (2006, p. 339)
“cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local
convivendo dialeticamente”. Esta é uma prática de identificação dos lugares do
próprio aluno e por ele mesmo, refletido também nas percepções dos modos globais
e isso é o que realmente faz a Geografia ser uma ciência humana: ser vista pelos
seres humanos que a vivenciam, através de seu próprio sentir.
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3 CAMINHANDO PELA CIDADE VEJO A MINHA GEOGRAFIA: SERÁ POSSÍVEL
GEOGRAFAR COM A CIDADE DE CANOAS?
Ao momento de dar um passeio pelas ruas de Canoas, ir a qualquer lugar,
mesmo sem a iniciativa deste caminho se tornar um passeio, algo prazeroso, como
quando se tem pressa e não se olha nem para cima, nem para baixo, apenas para
frente e se anda. Podemos ter chegado ao nosso destino final às vezes muito antes
do esperado ou às vezes com certo atraso. O seu trajeto foi completado, mas
perceba que neste momento para você o tempo pode ter se tornado curto demais e
o espaço um tanto invisível.
No espaço em que a vida acontece e muitas dinâmicas ao nosso redor ocorrem
podemos notar certa ligação entre as pessoas e cada canto da nossa cidade. Para
perceber isso não há um ritmo a seguir, nem um momento exato a parar, muito
menos um ângulo ou um acontecimento que se possa servir de regra. Apenas um
estímulo já serve de inspiração, seja íntimo, que parta da nossa mente a vontade de
perceber lugares sempre vividos, mas nunca observados, ou através de um
mediador, nos fazendo parar, pensar e refletir de quais maneiras aquele espaço faz
parte da minha vida.
Para muitos dos meus alunos a cidade é um lugar “onde se vive”, “onde se
estuda”, “onde se passeia” e “onde se trabalha”. Para outros ainda, a cidade “não se
explica”, pois “onde vemos prédios, muitas pessoas e automóveis circulando aí
podemos chamar de cidade”.
A partir de colocações como estas sobre o espaço da cidade feitas por alguns
alunos é possível ir um pouco mais além, conforme descreve Cavalcanti (2008, p.
10) para quem a cidade “é mais do que simples formas, é a materialização de
modos de vida”, um espaço simbólico para cada ser humano. Cada pessoa percebe
o espaço da cidade de uma maneira muito particular e de certa forma cada uma dá
significados e importâncias diferentes para determinados espaços formadores da
cidade.
Venho observando que o (des)trato com o estudo da cidade pela Geografia
escolar tem nos levado ano após ano a perceber apenas a forma mais genérica
deste pensamento. Nós alunos viemos nos apropriando da cidade apenas como
algo parecido com “a sede de um município” ou algo assim, termos facilmente
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encontrados em dicionários, enciclopédias ou a internet que prometem responder a
todas as nossas dúvidas.
Para Carlos (2003, p. 37) a Geografia escolar pode ser compreendida em parte
pelo movimento de (re)produção espacial da cidade, de modo a perceber a natureza
da cidade, a vida cotidiana com suas múltiplas atividades, identidades e gerações,
que dia após dia incorpora, modifica, transforma, pela sua ação, porções cada vez
mais significativas do espaço geográfico.
Outras possibilidades para o estudo da cidade podem ser observadas em
Cavalcanti (2008, p. 57) quando refere a cidade como espaços de contato e de
exclusão, sendo estes públicos ou privados. Podemos observar também a
construção de diversidades advindas do contato entre diversos grupos culturais
presentes nestes espaços urbanos.
Cabe ressaltar que são muitos os geógrafos contemporâneos que vêm
contribuindo para o estudo da cidade pela Geografia em sala de aula, visto que em
todos a proposta parte de uma possibilidade de perceber a construção do espaço
geográfico a partir da produção social vista sob a ótica do cotidiano do aluno.
Projeto as minhas dúvidas quanto professor à possibilidade de assumir nova
perspectiva neste assunto relacionado à cidade vivida por todos e abordada sob a
forma desta pesquisa, questionando-me:
Qual a visão de meus alunos sobre o município de Canoas?
Que tipo de experiências os alunos possuem com os diferentes espaços da
cidade?
Quais são os pontos do município de Canoas com apropriação por parte dos
alunos que sofreram a transformação do significado inicial de espaço comum
para um lugar?
Uma vez que fazemos parte deste ambiente cidade, podemos nos considerar
pessoas de ampla experiência urbana e com isso partir para analisarmos, junto com
os alunos, que também possuem tal experiência, que relações se pode observar no
espaço da cidade? Seja de pertencimento ou não, construção ou apenas
observação, ação ou passividade dos diferentes grupos sociais, entre eles o que o
aluno se aproxima, nos diferentes espaços de Canoas.
Não pretendo com isso responder aos questionamentos condizentes ao ensino
e à aprendizagem das cidades. Na verdade, o presente estudo não tem a intenção
de responder nada e não possui vínculo algum com fórmulas do tipo “passo a
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passo”. Cada prática está relacionada com a característica do professor e do aluno
em sintonia fina e por isso é característica daquele grupo, naquela escola, daquele
município, em determinado estado, país...
Costumo dizer que as práticas devem ser compartilhadas, mas que devam
também seguir o modelo do “faça você mesmo” seguindo o seu estilo professoral,
pesquisador, inventor, encantador, assim como as necessidades e anseios do seu
ambiente e principalmente dos seus alunos.
Meu interesse é desenvolver o pensamento singular dos alunos quanto às
dinâmicas mais comuns da sua vivência na cidade, proporcionando-lhes uma
relação entre seus momentos de lazer e a possibilidade de lugarizar estes espaços
pelos seus próprios ensaios práticos na cidade.
Dias (2013, p. 129) expressa que “a cidade em si é educadora. Basta levar os
alunos para uma atividade na cidade, que ela se revelaria”. Os meios de se
descobrir a cidade são infinitos, a multiplicidade de possibilidades faz com que o
espaço cidade seja uma sala de aula interativa, viva, inquietante e real.
A partir do estudo das dinâmicas urbanas vistas localmente, que são
formadoras de peculiaridades e identidades que estão muito próximas dos alunos e
que inclusive os forma como cidadãos é possível observar também certo movimento
descrito por Braudel (apud SANTOS, 2006, p. 270) onde “todas as particularidades
do espaço se tornam um único movimento global, dotado de contemporaneidade e
sincronia, capaz de ser percebido sozinho ou conjuntamente”. Pode-se acrescentar
a este pensamento a ideia de que cada aluno dentro de uma sala de aula possui
peculiaridades que o difere dos demais. Assim se faz também com a percepção do
espaço geográfico por ele. Teremos aqui uma grande influência da experiência do
sujeito na determinação dos lugares da cidade de Canoas.
Pensemos, portanto, que uma turma com trinta alunos pode ser tão igual a
outra turma de trinta alunos como um pote de tinta azul e outro amarelo. Sabemos
que são únicas as duas cores, pois azul e amarelo são primárias, mas não possuem
nada em comum, a não ser o fato de serem tintas. Somente quando misturamos as
suas características podemos encontrar o que todas juntas resultam. De forma bem
simples, procuro exercitar o pensamento sobre as capacidades de perceber o
espaço geográfico que cada aluno possui. Isto se concretiza no espaço geográfico
de âmbito local do próprio aluno, que é único e quando relacionado com vários
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outros locais, resulta numa forma mais ampla de perceber este espaço, porém com
características únicas da experiência daquele grupo de alunos.
A junção de todas as experiências e capacidades que os alunos trazem para
dentro da sala de aula, resultam numa nova sincronia (a tinta verde), que fazem a
escola parecer uma grande palheta de tintas prontas para reproduzir a realidade
sobre tela com as mais variadas cores identitárias dos alunos.
A categoria de lugar compõe o que os geógrafos, como Cavalcanti (1998, p.
88), definem de elementares, sob o ponto de vista do resgate crítico que o raciocínio
geográfico deve possuir.
Não podemos contentar o pensamento geográfico apenas através das
descrições cotidianas do aluno. Como nos descreve Cavalcanti (1998, p. 91), sob a
perspectiva da Geografia Humanística: “ a compreensão de que isto só pode ser
entendido como expressão da totalidade inacabada, aberta e em movimento, leva à
necessidade de ampliar o entendimento do vivido para o concebido”. Aquilo que o
aluno percebe no seu espaço vivido pode ser geografizado a fim de ampliar o seu
saber, proporcionar novas experiências e dar o verdadeiro significado para seu
lugar.
Para os alunos observados na forma desta pesquisa, o conceito de lugar foi
construído conjuntamente representando uma afetividade com espaços da cidade de
Canoas, vistos em maior ou menor grau, de acordo com a ligação que possuem com
estes espaços.
Cygainski (2012, p. 27) registra que a partir do estudo das categorias como o
Lugar, “a Geografia prática com a científica se associa naturalmente dentro da sala
de aula, enriquecendo e dando um caráter único e estimulante no momento que o
aluno se depara como parte das dinâmicas da sua própria cidade”. O aluno,
portanto, atribui significados geográficos aos elementos da cidade trabalhados por
ele em aula.
Para efeito da pesquisa foi realizada uma oficina geográfica objetivando a
percepção e a associação que alunos de sexto ano do Ensino Fundamental fazem
do município de Canoas com o conceito geográfico de Lugar, visando captar o
significado que estes jovens escolares atribuem aos diversos espaços da cidade.
Esta oficina de Geografia, intitulada Lugares corriqueiros da cidade, foi
organizada de acordo com a indicação de Libâneo (1994, p. 232) para o
planejamento de aulas.
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Com o tempo estimado para o desenvolvimento desta oficina de cinco aulas,
foram listados os principais objetivos gerais e específicos a atingir, o conteúdo a ser
trabalhado pelos alunos, o desenvolvimento metodológico da oficina e a verificação
do rendimento obtido na atividade sob a forma da avaliação.
O planejamento deve configurar um hábito do professor, pois proporciona a ele
poder discutir a importância ou o modo que determinado conteúdo foi abordado,
possibilitando o seu aprimoramento. No ambiente escolar é necessário que o
professor tenha por pensamento estratégias que possibilitem o melhor
desenvolvimento das suas aulas e conforme nos incita Sun Tzu (2009, p. 64) “quem
planeja dispõe de tudo”.
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4 MOMENTOS DE PRAZER NA CIDADE FAZEM DO NOSSO ESPAÇO COMUM O
MEU LUGAR
Quando se discute a ideia de lugar com os alunos, imediatamente se percebe
uma contraposição de dúvida e certeza quanto a esta definição: “Ora, professor, um
lugar é qualquer lugar... não tem explicação do que é!”
Nova Iorque, Paris, Londres, Havaí são lugares mais comentados pelos alunos
em um primeiro momento ao se depararem com a necessidade de listar algum lugar
para si. Mas ao serem indagados sobre que tipo de referências trazem destes
lugares percebem aí que o que sabem ou demonstram são apenas realidades
construídas a partir de experiências de outras pessoas ou ainda de apenas dados e
informações prestados pelos meios de comunicação.
Além da percepção do lugar como posição geográfica, é importante levarmos
aos alunos a ideia do lugar como uma representação subjetiva que abrange,
inclusive, o envolvimento, a percepção individual, o vínculo afetivo ou familiar e a
construção da identidade destes alunos.
Conforme descreve Cavalcanti (2008, p. 50) “quando falamos em relações de
construção de identidade nos deparamos com um fenômeno relacional”, isto
significa que cada indivíduo possui suas peculiaridades formadas de acordo com o
seu relacionamento com outros indivíduos ou objetos ou espaços de forma única. Na
formação da identidade do sujeito o lugar se faz muito presente, à medida que ele é
formado por várias dinâmicas e o indivíduo percebe algumas destas dinâmicas,
associando-as a seu modo de vida.
Assim ao sermos influenciados por algum lugar, a relação com os diversos
modos de percebê-lo leva o indivíduo a criar certo vínculo, com significados diversos
para cada parcela daquele espaço, imprimindo no ser um modo de ação e de
reflexão, que tem por finalidade a atribuição de valor àquele espaço. Portanto, a
dinâmica do nosso local se reproduz de infinitos modos e possibilidades relevantes
para o ensino da Geografia. Por que não contemplar as expectativas que fazem os
alunos do espaço geográfico de sua própria cidade?
Esta ideia de unir o local como uma forma de cumprir a totalidade se apresenta
em Goldman (apud SANTOS, 2006, p. 115) ao descrever que a totalidade é o
“conjunto absoluto das partes em relação mútua”, ou seja, vários locais se
relacionando, criando um espaço mais amplo, formador de uma totalidade.
20
Neste aspecto o lugar é concebido como um momento individualizado e
subjetivo do espaço, onde cada pessoa tira suas próprias conclusões acerca da
utilidade ou do sentimento que compõe a construção daquele espaço vivido.
Partimos da ideia de Cavalcanti (2008, p. 58) de que o ensino que busca a
formação de conceitos vinculados à cidade “deve propiciar um encontro/confronto da
experiência cotidiana dos alunos com a sua realidade e desta com os conceitos
científicos da geografia”. Apropriando-se desta ideia, o estudo do município de
Canoas será visto sob a percepção do espaço e dos lugares da Geografia. Isto
significa que o aluno pode, ao vivenciar estes espaços da cidade e percebê-los, se
apropriar de tudo o que o espaço lhe atinge e transforma e conectar com os
conceitos geográficos. Esta ligação entre aluno, espaço vivido e conteúdo torna
possível uma compreensão mais real do estudo da cidade – e da Geografia através
da cidade.
Parto do desafio e afirmo que é possível mediar discussões do espaço real dos
alunos e gerar neles o interesse de analisar a sociedade e seus movimentos, caso o
professor não consiga fazer isso, estará simplesmente repassando a eles
informações. Para muitos isto pode gerar certa animosidade, mas para muitos, este
método é o que lhe traz certa segurança, o que certamente é um grande perigo em
nossa sociedade contemporânea, conectada pela internet e experimentando as
facilidades da instantaneidade das informações.
Partimos então da ideia de iniciar os alunos de sexto ano do Ensino
Fundamental nos estudos da cidade e levá-los a compreendê-la através da
Geografia escolar. Desenvolveu-se uma atividade denominada oficina de Geografia,
onde o conceito-chave para o entendimento de nossa disciplina e da cidade de
Canoas fosse o Lugar.
Delimitou-se o tempo de duas aulas para o desenvolvimento teórico dos
conceitos geográficos a serem aplicados na prática, que por sua vez, requereu um
tempo de três aulas.
A prática foi realizada com cinco turmas e aproximadamente 150 alunos, da
faixa etária entre 10 e 12 anos, matriculados em duas escolas da rede privada de
ensino, localizadas nos bairros Centro e Niterói, no município de Canoas.
Como prática inicial desta oficina, levamos os alunos à discussão sobre o
município de Canoas, onde muitos moram e todos estudam: o que sabem ou
21
conhecem de Canoas, o que pensam sobre nosso município e o que sentem em
relação aos lugares frequentados do município.
Procuramos neste primeiro momento de discussões fazer com que o aluno
compreenda o seu lugar de vivência, neste caso o espaço urbano de Canoas. Este
lugar deveria compreender e relacionar diferentes modos de vida observados pelos
alunos, inclusive os seus, para então seguirmos adiante e refletirmos sobre os
arranjos espaciais possíveis para os seus próprios lugares.
Diante disso, foi considerado para estas abordagens de lugar pela Geografia
das séries iniciais do Ensino Fundamental um breve roteiro, indicado por Callai
(2011, p. 37) onde podemos reafirmar junto aos alunos que:
O lugar em que se vive permite a cada um conhecer a sua história e
entender as coisas que acontecem;
Compreender que no espaço em que se vive existem condições naturais e
humanas que facilitam a vida, e que às vezes apresentam condições
adversas;
Os lugares são espaços construídos que resultam da história das pessoas e
dos grupos que ali vivem;
Conhecer o lugar permite se reconhecer como sujeito, percebendo a sua
identidade e pertencimento;
Cada um tem vínculos afetivos que os ligam com o lugar, com as paisagens;
Cada lugar é uma reprodução do mundo, que as marcas do tempo estão
cristalizadas nos lugares;
As coisas que ali existem têm motivos para serem da forma que aparecem e
que, por isso, é preciso compreender para além do que pode ser visto;
As explicações sobre o que acontece no lugar em que vivem não dependem
apenas do lugar e das pessoas que ali estão, mas que têm interferências
vindas de outros lugares, podendo ser compreendidos como a região, a
nação ou o mundo.
O primeiro momento de discussões acerca do conhecimento que os alunos
tinham do município de Canoas fora marcado por certo desinteresse associado com
um pensar sobre o desconhecido (ou pensar que se desconhece). Este seria um
assunto que não atraía os olhares dos alunos: a cidade onde eu moro. Da mesma
22
forma que o município de Canoas era tão desprezado ao passo que não poderia, em
via de regra, se tornar um conteúdo da Geografia.
Foi destacado pelos alunos que Canoas é um município de 75 anos de história,
que é igual às outras cidades grandes, às vezes perigosa (principalmente à noite),
com muita gente, muitos carros e carroças, porém com alguns lugares mais calmos,
sendo, portanto, uma cidade boa de se morar. Foi acrescentado pelos alunos
também a situação que estão as ruas da cidade, todas mal cuidadas, esburacadas
e com muito lixo, entretanto, há muitos lugares bons para destacar (principalmente
quando estes lugares são utilizados para o lazer por eles mesmos), como o mini
zoológico que se encontra no parque Getúlio Vargas ou ainda a praça do avião com
seus monumentos, localizada no centro da cidade, e principalmente o shopping
center de Canoas, situado no bairro Matias Velho.
Utilizando-se de um mapa do município de Canoas, os alunos foram instigados
a descobrir características sobre o território de Canoas. Grande parte dos alunos
dizia-se conhecer apenas sete ou oito bairros do município, não imaginando o
porquê de existir dezoito bairros, nem o significado ou as diferenças que se pode
notar de um bairro para outro do município. Outra discussão levantada a partir do
mapa de Canoas é a visão que os alunos têm do município. Mesmo sem o elemento
título do mapa ou qualquer outra informação que pudesse revelá-lo, grande parte
dos alunos compreendeu que o mapa apresentado era o de Canoas, apenas pelo
traçado da linha ferroviária do Trensurb e da rodovia BR-116, que “cortam” o
território do município ao meio, sendo dois objetos marcantes na geografia de
Canoas.
Quanto à divisão dos bairros de Canoas aparente no mapa, pode ser percebido
que muitos alunos iam descrevendo características para cada bairro observado,
como se criassem uma regionalização própria. Fica evidente que as características
utilizadas pelos alunos na atividade foram construídas a partir do que ouviam em
casa ou nos meios de comunicação. A partir daí, seguindo um critério de utilizar
dados definidos pela maioria dos alunos, foi elaborado um mapa para demonstrar
que visão os alunos de sexto ano do Ensino Fundamental têm dos bairros que
formam o município de Canoas. De acordo com os alunos, Canoas pode ser dividida
em bairros “violentos”, bairros “desconhecidos”, “ricos” e “pobres” e o “centro da
cidade”, considerado por muitos como “o lugar do comércio” (FIGURA 1).
23
Figura 1: Regionalização de Canoas definida pelos alunos
Fonte: Adaptado de Prefeitura de Canoas, RS, 2014.
Utilizando-se do mapa elaborado com o auxílio das informações prestadas
pelos alunos sobre os bairros de Canoas e os locais onde os mesmos costumam
frequentar, percebemos que na grande maioria os lugares considerados “melhores”
pelos alunos estão situados nos bairros mais “bem vistos” de Canoas. Com isto
partilhamos da ideia de que qualquer ponto da cidade de Canoas só pode ser
tomado como uma referência boa e interessante quando os alunos a percorrem,
experimentam ou são desafiados a refletir e construir um conhecimento acerca do
seu espaço urbano e suas dinâmicas.
Pensando nisto, confeccionamos com os alunos um mapa-mural em folha de
papel pardo com fotografias retiradas de jornais de circulação local de Canoas e da
ferramenta Street View da empresa Google, que dispõe de trajetos fotografados de
todos os bairros do município de Canoas. Com estas ferramentas e em grupos, os
Bairros desconhecidos
Bairro desconhecido
Bairros violentos Bairro violento
Bairros ricos
Lugar do comércio Bairro
desconhecido
Bairros pobres
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alunos puderam perceber as diferentes características ilustradas que cada bairro de
Canoas. Como destaque na construção geográfica a partir deste trabalho, podemos
responder àquelas dúvidas que os alunos possuíam sobre a questão da divisão
territorial do município em bairros, bem como destacar os diferentes usos e
apresentações do espaço urbano e a questão das territorialidades vistas na cidade.
Foi destacado ainda pelos alunos que os bairros de Canoas têm aparências muito
diferentes de um para outro, não dando para associar de imediato que faziam parte
de um mesmo município. Outro ponto relevante nas observações dos alunos foi que
em alguns momentos eles sentiam-se com vontade de conhecer determinada parte
do município, por possuir um rio, vegetação ou casas “bonitas”. Entretanto, em
outros locais observados os alunos diziam que sequer teriam a vontade de passar
por perto, pois se tratavam de lugares “pobres e muito mal organizados”.
Carlos (2001, p. 81) destaca que “o primeiro aspecto que chama a atenção do
aluno, quando este observa a paisagem urbana é o choque dos contrastes, das
diferenças”, isto representa que o aluno, ao olhar a cidade, observa também o
contraditório, assim como os diferentes usos do solo e a divisão social do trabalho
no espaço cidade.
Pode-se perceber que muitas regiões do município de Canoas não eram
conhecidas pelos alunos e aquilo que constroem sobre Canoas é fruto de
percepções distorcidas de uma realidade que não é sua. São tomadas muitas vezes
por experiências de outras pessoas ou até mesmo pela força dos meios de
comunicação através de notícias, que por sua vez, “são interpretadas por quem as
documenta e presencia advindo, portanto, de vários pontos de vista, de acordo com
cada necessidade”. (CYGAINSKI, 2012, p. 18)
Com essa observação, Cavalcanti (2008, p. 82) nos sugere que é necessário
que entendamos “como se dão a imagem e a prática da cidade pelos alunos”. Com
isso poderemos compreender como as diferentes experiências e as diversificadas
formas possíveis de aprender o urbano poderão se cruzar ou se encontrar com a
geografia proposta pelo professor.
25
5 DIFERENTES OLHARES PARA UM SÓ LUGAR: COMO UM ÚNICO
ESPAÇO EM CANOAS PODE TER VÁRIOS SIGNIFICADOS?
Quando perguntados sobre o que sabem ou o que pensam de um determinado
ponto da cidade onde moram, criam-se divergências e pontos de vista únicos para
cada situação vivida pelos alunos. Neste sentido, muito bem coloca Cavalcanti
(2008, p. 56) que “na cidade as pessoas produzem a sua vida cotidiana mais
elementar”, cotidiano este vivido na escola, em casa, com amigos, nos momentos de
lazer, etc. São nestes mesmos lugares que podemos observar elementos e
sensações que nos direcionam a eles: momentos de alegria, de tristeza, de
construção da própria identidade ou de perceber as diversidades que cada lugar
pode comportar.
Um lugar comum estabelecido no município de Canoas para análise em sala
de aula de forma conjunta com os alunos (APÊNDICE A) foi a Rua Tiradentes,
denominada popularmente como Calçadão de Canoas. Atualmente um dos locais
mais conhecidos e também mais antigos de comércio da cidade e com grande fluxo
de pessoas diariamente, concentra grande número lojas, bancos, escolas e
prestadores de serviços, além da proximidade com o executivo e do legislativo
municipal.
Posto à discussão junto aos alunos, este espaço da cidade pode ser percebido
de várias maneiras: para alguns este seria “um lugar muito agradável, onde se
observa pessoas tocando instrumentos musicais, lojinhas de artesanato e muitas
árvores”. Para contrapor, outros colocam que “a única coisa ruim desse lugar são as
pessoas mal-educadas e desajeitadas que nos atropelam”.
Outra observação que partiu dos alunos levou-nos a discutir os diversos tipos
e aspectos da população que faz uso do Calçadão: “aqui neste lugar tem gente de
tudo o que é jeito, como ricos, pobres, índios, negros, brancos, mulheres, homens,
crianças... por isso que é no Calçadão onde todos se encontram”.
Houve ainda questionamentos acerca da utilidade deste espaço, que está
associada ao grande fluxo de pessoas neste ponto da cidade, quando descrevem
que “o comércio seria uma palavra específica para a definição desse lugar, mas é
um ambiente desagradável, pois há muita poluição e movimentação de pessoas”.
Podemos notar ainda a territorialidade descrita pelos alunos onde “cada parte do
Calçadão tem o seu tipo de loja: de um lado as de móveis, de outro as de roupas, a
26
parte das de calçados e ainda a parte que vemos os bancos, são muitos e todos
muito juntos, isto não facilita o assalto?” questionaram.
Muitos alunos discorrem sobre a funcionalidade deste lugar: “gostamos do
centro porque ele é perto de tudo, podemos ir ao médico, comer, comprar, passear,
inclusive ir ao colégio que fica aqui no centro”. Também sobre a funcionalidade
deste espaço podemos destacar que para alguns alunos “caminhar no calçadão de
Canoas pode ser divertido, mas tem pessoas que vão lá só para trabalhar”.
Alguns alunos citam ainda sobre as transformações que constantemente se
observa neste espaço, o que Santos (2006, p.140) define de rugosidades:
“percebemos que o centro está sempre mudando. Sempre tem lojas novas em
prédios velhos ou em reformas. Quando tem uma loja num dia outro dia já mudou”.
E ainda sobre a questão das mudanças temporais na cidade: “hoje preferimos o
Shopping Canoas pois lá tem lojas mais modernas, mas o centro faz parte da
história de Canoas, por isso gostamos também um pouco dele”.
Em todos os momentos da discussão em sala de aula sobre o Calçadão de
Canoas, pode-se perceber que os alunos se incluíam naquele espaço, naturalmente,
por experiências vividas recentemente ou em sua infância. Havia sempre uma soma
de histórias que os ligasse àquele lugar. Pessoas, sensações, sabores e fazeres
vieram a muitos que quiseram partilhar com os colegas a sua vivência naquele lugar.
Contrapontos foram observados nos pensamentos e nas percepções dos
alunos sobre o Calçadão de Canoas, o que se faz muito natural e entendível através
de Cavalcanti (1998, p.93) quando coloca que os lugares são “recortes afetivos”.
Leva-nos a entender que são as experiências afetivas que dão significado e
identifica os lugares ao aluno.
Cabe ao professor, portanto, interferir, desequilibrar o pronto, e promover
estas diversidades afetivas dos lugares pelo aluno e dirigi-las à construção do saber
geográfico em sala de aula.
27
6 LUGARES QUE FAZEM DE CANOAS A MINHA CIDADE
No segundo momento da oficina foi solicitado que os próprios alunos
descrevessem um lugar do município de Canoas que contivesse características e
marcas que pudessem estar relacionadas com a sua própria vivência na cidade.
Sabendo que a grande maioria dos alunos, naturalmente, escolheria sua
própria casa para elaborar o seu relato, pedi que desconsiderassem esta
possibilidade, pois sabemos que cada casa já é carregada de significados e
particularidades e que há, sem dúvida, vínculos afetivos com este espaço, que é
onde o aluno mais se reconhece. Meu interesse é perceber os lugares comuns à
população e os espaços públicos de Canoa, que possuíssem uma característica de
lugar geográfico para os alunos, representando-os na sua subjetividade e que, assim
como em sua casa, pudesse fazer com que se reconhecessem. Fora desenvolvido
pelos alunos um pequeno parecer pessoal sobre o que é este lugar e também um
relato para identificar a questão do lugar geográfico que os alunos percebem a partir
dos espaços vividos de seu cotidiano. A esta atividade foi dado o nome de “lugar
preferido de Canoas” (APÊNDICE B).
Para que este lugar pudesse ser dividido com os demais colegas, levando a
cidade à discussão e percepção por diferentes pontos de vista, foi solicitado que os
alunos colassem uma foto deste lugar, dando assim a possibilidade de ilustrar
perfeitamente o motivo de aquele espaço possuir tanto significado para o aluno.
Neste caso descartamos a possibilidade de o aluno desenhar o seu lugar, pois
este seria um tanto fantasiado, com talvez florzinhas, borboletas, sol, pessoas
sorrindo e tudo mais que nossos desenhos almejam, mas que não permitiria
representar uma realidade a ser posteriormente observada, analisada e
contemplada por outros colegas ou pelo próprio aluno.
Como principal lugar apontado pelos alunos no município (FIGURA 2) está o
shopping Canoas, um lugar visto como “o mais legal de todos” e “com mais coisas
para fazer”. Muitos alunos trazem a ideia de o shopping representar um lugar por
momentos de prazer em família e com os amigos e principalmente por ser um lugar
agradável, com infinitas possibilidades de divertimento, cabe destacar aqui o tipo de
divertimento citado pelos alunos: compras, jogos e cinema.
Carlos (2001, p. 82) destaca que dentre as relações vistas na cidade está a
“produção e a realização do processo de valorização do capital, assentadas nas
28
Figura 2: Lugares do município de Canoas preferidos pelos alunos
Fonte: autoria própria, 2014.
necessidades da reprodução das relações sociais”. O aluno se insere desde sempre,
quanto cidadão, nas relações de produção da cidade, que por sua vez é desigual. A
partir da percepção destes lugares contraditórios, mas ao mesmo tempo desejados,
podemos proporcionar uma influência do conhecimento e da observação geográfica,
sob o ponto de vista do uso produtivo da cidade, no cotidiano do aluno.
Quando observamos a lugarização pelos alunos de espaços como as praças,
parques, a própria escola, o condomínio, ou o playground do local onde moram,
percebemos que os espaços de reprodução da vida dos alunos também são
bastante valorizados e dotados de grande significado. O modo de utilização de
certos espaços da cidade, conforme descreve Carlos (2001, p. 82) “se articula no
acesso ao solo urbano e redefine constantemente a dinâmica da utilização desse
solo, fazendo-se criar, por muitas vezes desigualdades espaciais na cidade”. Deve
ser levado em consideração, portanto, que os lugares de vivência pelos alunos
também são dotados de contradições, organizações, concentrações, apropriações e
territorialidades que podem ser percebidas, analisadas e levadas para junto do
aluno.
Há ainda alguns espaços destacados pelos alunos que podemos considerá-los
de significados, tomados como lugares pelos alunos, como os templos religiosos,
grupos que difundem as tradições gaúchas (CTG) e os cemitérios da cidade. Todos
29
estes espaços representam o que Santos (2006, p.316) define como “providos pelo
movimento de cooperação, que prolongam as atividades e abarcam a totalidade da
tarefa comum”. Estes espaços considerados (também) simbólicos tornam
perceptíveis as relações culturais da população junto à cidade.
30
7 CONCLUSÃO
Quando a proposta foi estudar a cidade de Canoas dentro da sala de aula, isto
pareceu ser tão comum, sem graça e desnecessário aos alunos, pois iríamos falar
justamente da nossa cidade. Já se conhecem os problemas, os lugares perigosos,
as ruas cada dia mais movimentadas, ocupadas pela população que a cada dia
cresce mais, sem falar nos veículos que causam cada vez mais congestionamentos.
A cidade logo pareceu ser algo insuportável. Parece que a nossa cidade é o pior
lugar do mundo.
Trabalhar a cidade em sala de aula é algo fantástico, pois à medida que os
alunos vão percebendo as incontáveis possibilidades e as diferentes relações
visíveis neste espaço, ele vai se tornando cada vez mais prazeroso e desafiador.
Foram várias as discussões sobre a cidade de Canoas promovidas em muitos
momentos do projeto. Em todas elas os alunos relataram a sua experiência e
refletiram sobre as relações possíveis entre o viver na cidade e o viver a cidade.
Conhecer Canoas através dos conceitos da Geografia possibilitou aos alunos
um reconhecimento de si como cidadãos, capazes de interpretar a realidade do
espaço urbano e relacioná-lo às suas práticas diárias.
Identificou-se no aluno uma relação de pertencimento ao espaço cidade e de
apropriação de alguns locais que ele passa a entender como sendo o seu lugar,
constituído através de ligações de afetividade e significação de si. Lugares que são
capazes de demonstrar como e por que a vida acontece daquela maneira, ao passo
que a sua experiência conflitua e se completa quando vistas ligadas a outras
experiências muito próximas às suas.
A cidade de Canoas passou a ser um lugar compreendido pela Geografia da
sala de aula, de uma maneira prática e com significado para o aluno. Vemos aí
valiosas possibilidades de aprender a Geografia de maneira muito eficaz e
fascinante aos olhos dos alunos, que passam a compreendê-la em suas
multiplicidades e aplicá-la também nas suas relações cotidianas.
O olhar geográfico sobre a cidade privilegia a relação de cada aluno com o seu
lugar de vivência, pois possibilita a construção de um saber voltado para as relações
que valorizam o espaço real e próximo do aluno, dotado de importantes significados,
que são capazes de formar uma identidade própria a cada indivíduo.
31
REFERÊNCIAS
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; TONINI, Ivaine Maria; KAERCHER, Nestor André (orgs). Movimentos no ensinar geografia. Porto Alegre: Imprensa Livre: Compasso Lugar – Cultura, 2013. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos et al (orgs). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: Editora da UFRGS, Associação dos Geógrafos Brasileiros (Seção Porto Alegre), 2010. CAVALCANTI, Lana de Souza. A geografia escolar e a cidade: ensaios sobre o ensino de geografia para a vida urbana cotidiana. Campinas, SP. Papirus, 2008. ______. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas, SP: Papirus, 1998. CARLOS, Ana Fani A. (org.). A geografia na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2001. ______. A cidade. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2003. CANOAS. Prefeitura Municipal de Canoas, RS. Instituto Geo Canoas. Disponível em <http://www.geo.canoas.rs.gov.br/TOPO/>. Acesso em 01 jun 2014. CYGAINSKI, Lucas Flesch. Geografia e jornal na sala de aula: estudo e proposta. 2012. 55 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Centro Universitário La Salle, Canoas, RS, 2012. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. TONINI, Ivaine Maria et al (orgs). O ensino de geografia e suas composições curriculares. Porto Alegre: UFRGS, 2011. TZU, Sun. A arte da guerra. Porto Alegre: L&PM, 2009.
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APÊNDICE A – Descrevendo um lugar conhecido de todos
Um olhar geográfico sobre Canoas Professor Lucas Cygainski
Componente Curricular: Geografia
Lugares corriqueiros da cidade
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