Luciany Franco - Fecomércio PR | Federação do Comércio de … · N unca foi tão bom ir para o...

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N unca foi tão bom ir para o contra- turno escolar, garante Willians Heckmann de Oliveira. Com 14 anos, estu- dante do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Esta- dual Eron Domingues em Ma- rechal Cândido Rondon, ele é um ótimo aluno e só tem boas notas. Como aprender não é problema para ele, foi influen- ciado por um amigo que che- gou ao Programa Futuro Inte- gral, desenvolvido pelo Siste- ma Fecomércio, através da uni- dade do Sesc rondonense. Não precisou muito tempo para per- ceber que aprender vai muito além de conteúdos curricula- res. Willians conta que o ami- go saiu do projeto, mas ele não pensa nisso tão cedo, e os motivos são muitos. “Apren- der pode ser divertido e eu pos- so aplicar muita coisa da escola na minha vida”, argumenta. O Programa Futuro Inte- gral visa desenvolver o letra- mento e o raciocínio lógico. Mas não se engane, não se tra- ta de meras aulas de Matemáti- ca ou Língua Portuguesa. O projeto, desenvolvido em vári- os municípios do Paraná, tra- balha com atividades diversifi- cadas e interdisciplinaridade em várias áreas, inclusive com pro- moção de oficinas. Willians, por exemplo, hábil com cálculos, sonha em ser arquiteto ou en- genheiro civil, mas se não for, em uma das oficinas do Futuro Integral descobriu que tem outras habilidades: artesão e bom comerciante. Em uma oficina realizada no ano passado, aprendeu a fazer chaveiros, aproveitando retalhos. Fez as contas e perce- beu que poderia fazer uma boa renda para ajudar a família se confeccionasse e vendesse os objetos. “Apliquei o que aprendi sobre porcentagem, juros, mar- gem de lucro... e comecei a ven- der”, conta. As professoras do programa, Cristiane Ozório Schallenberger e Lurdes Stein, até planejaram uma exposição com as peças produzidas por Willians. Mas não deu tempo, “venderam como água”, con- tam. Isto porque, explicam as docentes, Williams aplicou no seu pequeno negócio outro ponto importante desenvolvi- do durante as aulas: relaciona- mento interpessoal. Hoje ele só faz os chaveiros por encomen- da, pois está com a atenção voltada aos estudos e na expec- tativa de novas oficinas du- rante o ano, ou seja, sua cadei- ra na sala de aula do programa continua cativa. APRENDIZADO Willians é apenas um de muitos alunos do Programa Futuro Integral que fazem as professoras Cristiane e Lur- des sorrirem de orelha a ore- lha. Elas contam que atual- mente o programa é aplicado em Marechal Rondon nos co- légios estaduais Eron Domin- gues e Marechal, nos ensinos Fundamental e Médio. Desde 2011, já foram abrangidas, por ano, em torno de 100 crian- ças, além de familiares, que participam das oficinas, e de- Luciany Franco mais estudantes, que também acabam se integrando nas ati- vidades. A meta, informam as professoras, é manter pelo menos 50 estudantes por co- légio. A iniciativa, que tem à frente o Sesc, visa atender pri- oritariamente crianças de fa- mílias com renda até três salá- rios-mínimos. Na dinâmica de aplicação, as docentes garantem que o processo de aprendizagem é uma relação de troca. Elas ci- tam que o relacionamento com os alunos é muito mais próxi- mo e intenso do que em uma sala de aula comum, e expli- cam: “Primeiro porque são atividades diferenciadas em que são envolvidas brinca- deiras, jogos, música e mui- tas outras ações. Também são menos alunos por aula, o que torna a interação muito pro- dutiva e acabamos participan- do mais da realidade deles (os alunos)”. PRONTA PARA A VIDA De acordo com Cris- tiane e Lurdes, além de colaborar para o apren- dizado do conteúdo es- colar, a partir do Pro- grama Futuro Integral são trabalhadas ativi- dades que promovam a socialização, o amadu- recimento, desenvolvi- mento da oralidade e também cidadania, que depois podem ser apli- cadas na vida familiar, social e profissional. Mas quem fala disso não são as professoras, já que os estudantes tor- nam-se verdadeiros “garotos-propagan- das” do que já chamam de uma “filosofia”. Pelo menos é o que afirma a estudante do 2º ano Normal, Rainy Machado, de 16 anos. Com lágrimas nos olhos, ela garante que no projeto apren- deu o verdadeiro sentido de ensinar e também aprender. “Aprender por obrigação não adianta, precisa um objetivo, e hoje eu tenho (objetivo)”, de- clara. Rainy já atua uma vez por semana como professora auxiliar em uma classe de Edu- cação Infantil, mas aguarda o resultado de um teste para ampliar sua atuação. Ela conta que está ansiosa para pôr em prática o que tem aprendido no Futuro Integral. “Não vejo a hora de aplicar tudo que ve- nho aprendendo. O programa complementa o que eu apren- do em sala de aula”, justifica. Mas nem sempre houve tanta disposição em estudar e aprender, reconhece Rainy. Ela revela que tem dificuldades no colégio com Matemática e Lín- gua Portuguesa. “Teve uma prova que já estava chorando antes porque não conseguia assimilar o conteúdo. Elas (as professoras do Futuro Inte- gral) buscaram outras manei- ras para me ensinar. Hoje eu já consigo me sair melhor”, comemora, ao tempo que ex- põe um dos diferenciais do programa: “O fato de poder- mos dedicar tempo e atenção até individual ao aluno, utili- zando didáticas diferenciadas, auxilia na assimilação do con- teúdo aprendido no colégio, que, devido às circunstânci- as, não tem essa possibilida- de”, explica Cristiane. Assim, é possível ao programa atin- gir um dos seus principais objetivos, que é “promover a mediação para que o educan- do perceba como o conheci- mento se insere na sua exis- tência cotidiana. Essa é a efe- tiva educação: aquela que ul- trapassa a sala de aula”.

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Nunca foi tão bomir para o contra-turno escolar,

garante Willians Heckmann deOliveira. Com 14 anos, estu-dante do 9º ano do EnsinoFundamental do Colégio Esta-dual Eron Domingues em Ma-rechal Cândido Rondon, ele éum ótimo aluno e só tem boasnotas. Como aprender não éproblema para ele, foi influen-ciado por um amigo que che-gou ao Programa Futuro Inte-gral, desenvolvido pelo Siste-ma Fecomércio, através da uni-dade do Sesc rondonense. Nãoprecisou muito tempo para per-ceber que aprender vai muitoalém de conteúdos curricula-res. Willians conta que o ami-go saiu do projeto, mas elenão pensa nisso tão cedo, e osmotivos são muitos. “Apren-der pode ser divertido e eu pos-so aplicar muita coisa da escola

na minha vida”, argumenta.O Programa Futuro Inte-

gral visa desenvolver o letra-mento e o raciocínio lógico.Mas não se engane, não se tra-ta de meras aulas de Matemáti-ca ou Língua Portuguesa. Oprojeto, desenvolvido em vári-os municípios do Paraná, tra-balha com atividades diversifi-cadas e interdisciplinaridade emvárias áreas, inclusive com pro-moção de oficinas. Willians, porexemplo, hábil com cálculos,sonha em ser arquiteto ou en-genheiro civil, mas se não for,em uma das oficinas do FuturoIntegral descobriu que temoutras habilidades: artesão ebom comerciante.

Em uma oficina realizadano ano passado, aprendeu afazer chaveiros, aproveitandoretalhos. Fez as contas e perce-beu que poderia fazer uma boarenda para ajudar a família seconfeccionasse e vendesse osobjetos. “Apliquei o que aprendi

sobre porcentagem, juros, mar-gem de lucro... e comecei a ven-der”, conta. As professoras doprograma, Cristiane OzórioSchallenberger e Lurdes Stein,até planejaram uma exposiçãocom as peças produzidas porWillians. Mas não deu tempo,“venderam como água”, con-tam. Isto porque, explicam asdocentes, Williams aplicou noseu pequeno negócio outroponto importante desenvolvi-

do durante as aulas: relaciona-mento interpessoal. Hoje ele sófaz os chaveiros por encomen-da, pois está com a atençãovoltada aos estudos e na expec-tativa de novas oficinas du-rante o ano, ou seja, sua cadei-ra na sala de aula do programacontinua cativa.

APRENDIZADO

Willians é apenas um demuitos alunos do ProgramaFuturo Integral que fazem asprofessoras Cristiane e Lur-des sorrirem de orelha a ore-lha. Elas contam que atual-mente o programa é aplicadoem Marechal Rondon nos co-légios estaduais Eron Domin-gues e Marechal, nos ensinosFundamental e Médio. Desde2011, já foram abrangidas, porano, em torno de 100 crian-ças, além de familiares, queparticipam das oficinas, e de-

Luciany Franco

mais estudantes, que tambémacabam se integrando nas ati-vidades. A meta, informam asprofessoras, é manter pelomenos 50 estudantes por co-légio. A iniciativa, que tem àfrente o Sesc, visa atender pri-oritariamente crianças de fa-mílias com renda até três salá-rios-mínimos.

Na dinâmica de aplicação,as docentes garantem que oprocesso de aprendizagem éuma relação de troca. Elas ci-tam que o relacionamento comos alunos é muito mais próxi-mo e intenso do que em umasala de aula comum, e expli-cam: “Primeiro porque sãoatividades diferenciadas emque são envolvidas brinca-deiras, jogos, música e mui-tas outras ações. Também sãomenos alunos por aula, o quetorna a interação muito pro-dutiva e acabamos participan-

do mais da realidadedeles (os alunos)”.

PRONTAPARA A VIDADe acordo com Cris-

tiane e Lurdes, além decolaborar para o apren-dizado do conteúdo es-colar, a partir do Pro-grama Futuro Integralsão trabalhadas ativi-dades que promovam asocialização, o amadu-recimento, desenvolvi-mento da oralidade etambém cidadania, quedepois podem ser apli-cadas na vida familiar,social e profissional.Mas quem fala disso nãosão as professoras, jáque os estudantes tor-nam-se verdadeiros“garotos-propagan-das” do que já chamam

de uma “filosofia”.Pelo menos é o que afirma a

estudante do 2º ano Normal,Rainy Machado, de 16 anos.Com lágrimas nos olhos, elagarante que no projeto apren-deu o verdadeiro sentido deensinar e também aprender.“Aprender por obrigação nãoadianta, precisa um objetivo, ehoje eu tenho (objetivo)”, de-clara. Rainy já atua uma vezpor semana como professoraauxiliar em uma classe de Edu-cação Infantil, mas aguarda oresultado de um teste paraampliar sua atuação. Ela contaque está ansiosa para pôr emprática o que tem aprendidono Futuro Integral. “Não vejoa hora de aplicar tudo que ve-nho aprendendo. O programacomplementa o que eu apren-do em sala de aula”, justifica.

Mas nem sempre houvetanta disposição em estudar eaprender, reconhece Rainy. Elarevela que tem dificuldades nocolégio com Matemática e Lín-gua Portuguesa. “Teve uma

prova que já estava chorandoantes porque não conseguiaassimilar o conteúdo. Elas (asprofessoras do Futuro Inte-gral) buscaram outras manei-ras para me ensinar. Hoje eujá consigo me sair melhor”,comemora, ao tempo que ex-põe um dos diferenciais doprograma: “O fato de poder-mos dedicar tempo e atençãoaté individual ao aluno, utili-zando didáticas diferenciadas,auxilia na assimilação do con-teúdo aprendido no colégio,que, devido às circunstânci-as, não tem essa possibilida-de”, explica Cristiane. Assim,é possível ao programa atin-gir um dos seus principaisobjetivos, que é “promover amediação para que o educan-do perceba como o conheci-mento se insere na sua exis-tência cotidiana. Essa é a efe-tiva educação: aquela que ul-trapassa a sala de aula”.