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LUIZ FERNANDO RIGACCI VAZZOLÉR TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS E POLÍTICA SETORIAL: DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO VEÍCULO FLEX FUEL NO BRASIL CAMPINAS 2014

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LUIZ FERNANDO RIGACCI VAZZOLÉR

TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS E POLÍTICA SETORIAL: DESAFIOS PARA O

DESENVOLVIMENTO DO VEÍCULO FLEX FUEL NO BRASIL

CAMPINAS

2014

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NÚMERO: 315/2014

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

LUIZ FERNANDO RIGACCI VAZZOLÉR

“TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS E POLÍTICA SETORIAL: DESAFIOS PARA

O DESENVOLVIMENTO DO VEÍCULO FLEX FUEL NO BRASIL”

ORIENTADORA: PROFA. DRA. MARIA BEATRIZ MACHADO BONACELLI

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE

GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE

EM POLÍTICA CIÊNTÍFICA E TECNOLÓGICA

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO LUIZ FERNANDO

RIGACCI VAZZOLÉR E ORIENTADO PELA PROFA. DRA.

MARIA BEATRIZ MACHADO BONACELLI

CAMPINAS

2014

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À família, a base.

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Agradecimentos

Um trabalho como esse pode parecer solitário ou independente, a escrita até pode

ser, mas o caminho para se chegar até o final guarda diferentes desafios, questões e

problemas que nos forçam a procurar aqueles que ou já trilharam um trajeto semelhante ou

que estão dispostos a ajudar esses aventureiros.

Assim, começo os agradecimentos pela Prof. Maria Beatriz Bonacelli, ou “Bia”,

orientadora desse trabalho em todos os momentos, com leituras sempre atentas e

comentários muito valiosos para o desenrolar desta dissertação.

Aos Profs. Francisco Nigro e Sérgio Queiroz pelas considerações e sugestões na

banca de qualificação. Também pelas informações e percepções passadas nas entrevistas

que embasaram nossa análise. Agradeço também aos Profs. Amilton Sinatora, Waldyr

Gallo e Rogério dos Santos pela disposição em nos receber para as demais entrevistas

realizadas durante o trabalho.

Agradeço aos professores dos DPCT, na figura do prof. André Furtado em cuja

disciplina de Energia, Inovação e Sustentabilidade saíram importantes contribuições sobre

para o presente estudo. Também as profas. Leda Gitahy e Cristina de Campos nas leituras

sempre atentas na disciplina de seminários e de História Social da Ciência e Tecnologia, ao

possibilitar trabalhos sobretudo na parte histórica. Ao prof. José Maria da Silveira do IE-

Unicamp pela a participação no projeto Bioen sob sua coordenação.

Também vale um muito obrigado especial ao Geopi, grupo que me acolhe desde

2008 (!), para a coordenação (Sergio, Adriana e Ana Maria), aos profs. Rui e Solange, além

daqueles que no dia-a-dia estão ou estiveram sempre dividindo as salas (Sonia, David,

Paula, Carol Rio, Luiza, Isabel, Cecilia, Camila, Fábio, Pedro, Taís, Jhonatan).

Aos colegas de turma do mestrado e do departamento (Jefferson, Jean, Mariane,

Camila; Monica, Joaquim Machado), além do IG em geral pela troca de ideias, conversas e

companhias sempre proveitosas. À secretaria de pós-graduação (Valdirene, Gorete e

Valdir) pelo pronto auxílio e ajuda nos mais diferentes temas da vida acadêmica, além da

Adriana secretária do departamento.

Do lado familiar aos pais, Luzia e Márcio, e aos irmãos, Ana Paula e Paulo (e agora

para a Priscila também), pelo apoio e força em todos os momentos.

Agradeço à Capes pelo auxílio financeiro para a realização deste trabalho.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS E POLÍTICA SETORIAL: DESAFIOS PARA O

DESENVOLVIMENTO DO VEÍCULO FLEX FUEL NO BRASIL

RESUMO

Dissertação de Mestrado

Luiz Fernando Rigacci Vazzolér

Os veículos flex fuel representam cerca de 90% da atual produção de carros de passeio no Brasil.

Historicamente a utilização de etanol como combustível automotivo remete ao início do século XX,

em grande escala à década de 1970 com a conformação do Proálcool e, após um período de

descrença, o etanol ressurgiu nos anos 2000 com a difusão da tecnologia flex. Este trabalho tem por

objetivo central analisar a constituição da tecnologia flex fuel no país e para isso se apoia nos

conceitos de paradigmas e trajetórias tecnológicas, os quais permitem compreender o processo

evolutivo dos automóveis, seus sistemas de alimentação de combustível e das diversas alternativas à

gasolina e ao motor de combustão interna. Ao lado disso, explora-se a história brasileira na

utilização de etanol, sobretudo no período recente a partir de entrevistas e, também, em análises de

dados sobre as atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação relacionadas à tecnologia flex

brasileira e seus desdobramentos, que estão representados em veículos de maior eficiência

energética e com menores índices de emissão de poluentes. Por fim, realiza-se uma análise crítica

do marco regulatório atual, o qual dá suporte às atividades do setor automobilístico brasileiro, e

indica-se possíveis ações de indução à melhoria da tecnologia flex fuel e do uso do etanol como

combustível no país. Uma das hipóteses que baseiam o trabalho de pesquisa aponta que a

instabilidade relativa do mercado de etanol e a falta de competição entre as montadoras (no que toca

o desenvolvimento de motores) limita a demanda tecnológica e provoca desestímulo à busca por

maior eficiência ou mesmo por mudanças mais substanciais da tecnologia flex fuel desenvolvida no

país. Conclui-se, dentre outros, que a atual legislação brasileira e o marco regulatório não se

apresentam como indutores para alterações substantivas à iniciativa do veículo flex fuel,

estimulando apenas melhorias incrementais sem tocar mais fortemente na concorrência da indústria,

não explorando as oportunidades abertas pela tecnologia flex fuel.

Palavras chaves: Etanol, Proálcool, Setor Automobilístico, Mudança Tecnológica, Motor à

Combustão

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UNIVERSITY OF CAMPINAS

INSTITUTE OF GEOSCIENCE

TECHNOLOGICAL TRAJECTORIES AND SECTORIAL POLICY:

CHALLENGES FOR THE DEVELOPMENT OF THE

BRAZILIAN FLEX FUEL VEHICLE

ABSTRACT

Masters Degree

Luiz Fernando Rigacci Vazzolér

Flex fuel vehicles represents nearly 90% of the current production of passenger cars in Brazil.

Historically the use of ethanol as an automotive fuel refers to the early twentieth century, in large-

scale at the 1970s with the beginning of Proálcool (Brazilian Ethanol Program), and after a

disrepute period, ethanol reemerged in the 2000s with the flex fuel technology. This work’s main

objective is to analyze the constitution of flex fuel technology in Brazil, for that is based on the

concepts of paradigms and technological trajectories, which allows one to understand the

evolutionary movement of developing vehicles, their fuel supply systems and the pursuit of gasoline

alternatives and of the internal combustion engine. Alongside this, it explores the brazilian history

in ethanol use, especially in the recent period, with interviews and also based on data analysis of

Research, Development and Innovation activities related to the flex fuel technology in Brazil, which

makes possible the development of more energy efficient vehicles and lower pollutants emissions.

Finally, it holds a critical analysis of the current brazilian legal framework, which supports the

activities of the brazilian automotive industry, and specifies different ways to induce broader

improvements to the use of ethanol as a fuel and the flex fuel technology in the country. One of the

hypotheses that based this research points out that the relative uncertainty of the ethanol market and

the lack of competition among automakers (concerning to the development of engines) constrains

the technological demand and discourages the pursuit of greater efficiency or even more substantial

changes on the brazilian flex fuel technology. In conclusion, among others, the current brazilian

legal framework is not presented as an inducer for substantive changes on the flex fuel vehicle,

encouraging only incremental improvements without leading to stronger competition in the

industry, not taking advantage from the opportunities offered by flex fuel technology.

Keyword: Ethanol, Proálcool, Automotive Industry, Technological Change, Internal Combustion

Engine

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Sumário

Introdução ............................................................................................................................... 1

1. Indústria Automobilística: histórico, desenvolvimento e trajetórias tecnológicas dos

motores à combustão interna .................................................................................................. 9

1.1. Paradigmas e Trajetórias Tecnológicas ................................................................... 9

1.2. O motor à combustão interna: a evolução do automóvel no século XX ................ 12

1.2.1. Dos pioneiros à produção em massa .............................................................. 13

1.2.2. O motor à combustão interna ......................................................................... 16

1.3. Antecedentes históricos da indústria automobilística no Brasil ............................ 21

1.3.1. 1920-1950: da indústria nascente ao álcool carburante ............................... 22

1.3.2. Anos 1950: a modernização da indústria e a pesquisa organizada em álcool

combustível .................................................................................................................... 26

1.3.3. Anos 1970: motores a álcool e seus desdobramentos .................................... 30

1.3.4. Século XXI: novas montadoras, novas tecnologias ........................................ 35

2. Ressurgimento do Etanol Automotivo no Brasil: desafios e estratégias recentes dos

veículos Flex Fuel ................................................................................................................ 39

2.1. O veículo flex fuel: evolução histórica e tecnológica............................................. 40

2.1.1. 2003: uma novidade no mercado automobilístico nacional .......................... 41

2.1.2. Tecnologia flex fuel: um autêntico processo de desenvolvimento tecnológico?

.........................................................................................................................44

2.2. Indústria Automobilística e Tecnologia Flex Fuel: avanços e desafios técnico-

econômicos da PD&I nacional.......................................................................................... 50

2.2.1. Desempenho Econômico das Atividades de Inovação - PINTEC/IBGE ........ 51

2.2.2. Grupos de Pesquisa ........................................................................................ 59

2.2.3. Proteção à Propriedade Intelectual no desenvolvimento da tecnologia flex

fuel 66

3. O Quadro Institucional: políticas públicas e seus efeitos sobre o veículo flex fuel

brasileiro ............................................................................................................................... 77

3.1. O motor à combustão interna sob pressão e as implicações sobre as trajetórias

tecnológicas da indústria automobilística ......................................................................... 78

3.1.1. Mudanças na matriz energética mundial ....................................................... 79

3.1.2. Diferentes cenários e alternativas para além da gasolina ............................. 83

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3.2. O Quadro institucional voltado à indústria automobilística nacional .................... 89

3.2.1. Políticas públicas e a redução de emissões.................................................... 90

3.2.2. Evolução recente dos automóveis no Brasil: resultados do Proconve, PBEV e

Inovar-Auto ................................................................................................................... 94

3.2.3. Etanol e automóveis no Brasil: perspectivas e desenvolvimentos futuros ... 107

Conclusões .......................................................................................................................... 111

Bibliografia ......................................................................................................................... 115

Anexo 1 - Lista de Montadoras e as respectivas plantas produtivas, Brasil, 2014 ............. 123

Anexo 2 - Limites atuais estabelecidos pelo Proconve ...................................................... 125

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Lista de Figuras

Figura 1.1 - Mecanismos de Propulsão para automóveis ..................................................... 16

Figura 1.2 - Esquema de funcionamento de um motor de ciclo Otto ................................... 19

Figura 1.3 - Evolução dos sistemas de alimentação de combustível e do uso de

combustíveis em larga escala, 1870-2014 ............................................................................ 20

Figura 1.4 - Municípios com unidades produtivas automobilísticas, Brasil, 2014 .............. 36

Figura 2.1 - Eventos sobre a indústria automobilística e a utilização de álcool combustível,

Brasil, 1900-2014 ................................................................................................................. 49

Figura 2.2 - Pedidos de Patente segundo o País do Depositante no INPI, Brasil, 2000-2011

.............................................................................................................................................. 69

Figura 2.3 - Relações entre Montadoras e Indústrias de Autopeças no desenvolvimento de

motores flex fuel ................................................................................................................... 75

Figura 3.1 - Fatores que compõem o sistema de transporte ................................................. 81

Figura 3.2 - Organização do Programa Japonês para Veículos Elétricos ............................. 86

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Lista de Gráficos

Gráfico 1.1 - Produção Mundial de Automóveis por continente, 1938-2010 ...................... 15

Gráfico 1.2 - Produção total de álcool combustível, Brasil, 1970-2012 .............................. 32

Gráfico 1.3 - Produção de automóveis por tipo de combustível, Brasil, 1970-1999............ 34

Gráfico 2.1 - Produção de automóveis por tipo de combustível, Brasil, 1970-2013............ 42

Gráfico 2.2 - Comparação das Taxas de Compressão por montadoras no Brasil ................ 47

Gráfico 2.3 - PINTEC - Investimento em Atividades Inovativas, Brasil, 1998-2011 .......... 52

Gráfico 2.4 - PINTEC - Investimento em Total Atividades Inovativas e em P&D Interna,

Brasil, 1998-2011 ................................................................................................................. 53

Gráfico 2.5 - Setor Automobilístico - Investimento em Atividades Inovativas e em P&D

Interna, Brasil, 1998-2011 .................................................................................................... 54

Gráfico 2.6 - Montadoras - Investimento em Atividades Inovativas e P&D Interna, Brasil,

2001-2011 ............................................................................................................................. 54

Gráfico 2.7 - PINTEC - Importância média das atividades inovativas, Brasil, 1998-2011 . 55

Gráfico 2.8 - Setor Automobilístico - Importância média das atividades inovativas, Brasil,

1998-2011 ............................................................................................................................. 56

Gráfico 2.9 - PINTEC - Abrangência da inovação de produtos e processos para as empresas

inovadoras, Brasil, 1998-2011 .............................................................................................. 57

Gráfico 2.10 - Setor Automobilístico - Abrangência da inovação de produtos e processos

para as empresas inovadoras do Brasil, 1998-2011 .............................................................. 57

Gráfico 2.11 - Número de Grupos de Pesquisa por Grande Área do Conhecimento,

DGP/CNPq, 2014 ................................................................................................................. 61

Gráfico 2.12 - Ano de Fundação dos Grupos de Pesquisa em Motores Automotivos,

DGP/CNPq, 2014 ................................................................................................................. 65

Gráfico 2.13 - Pedidos de Patente por Ano e Situação da Solicitação no INPI,

Brasil, 2000-2011 ................................................................................................................. 68

Gráfico 2.14 - Pedidos de Patente por Ano e Natureza Jurídica do Depositante no INPI,

Brasil, 2000-2011 ................................................................................................................. 71

Gráfico 3.1 - Fases do Proconve e Limite de Emissão de Poluentes, Brasil, 1988-2014 ..... 91

Gráfico 3.2 - Emissão de poluentes por queima de combustível no Brasil,

milhões de toneladas por ano, 1980-2014 ............................................................................ 94

Gráfico 3.3 - Emissão de CO2 por queima de combustível no Brasil,

milhões de toneladas por ano, 1980-2014 ............................................................................ 95

Gráfico 3.4 - Consumo médio dos veículos Subcompactos, Brasil, 2009-2014 .................. 97

Gráfico 3.5 - Total de modelos Subcompactos por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014

.............................................................................................................................................. 98

Gráfico 3.6 - Consumo médio dos veículos Compactos, Brasil, 2009-2014 ..................... 100

Gráfico 3.7 - Total de modelos Compactos por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014 .. 101

Gráfico 3.8 - Consumo médio dos veículos Médios, Brasil, 2009-2014............................ 103

Gráfico 3.9 - Total de modelos Médios por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014 ........ 104

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Gráfico 3.10 - Consumo médio dos veículos Grandes, Brasil, 2009-2014 ........................ 106

Gráfico 3.11 - Total de modelos Grandes por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014 ..... 106

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Lista de Tabelas

Tabela 1.1 - Projetos aprovados pelo GEIA, Brasil, 1956-57 .............................................. 28

Tabela 2.1 - PINTEC - Universo de Empresas e Taxa de Inovação, Brasil, 1998-2011...... 52

Tabela 2.2 - PINTEC e Setor Automobilístico - Pessoal Ocupado nas Atividades Internas

de P&D, Brasil, 2000-2011 .................................................................................................. 58

Tabela 2.3 - Palavras-Chave e Número de Grupos de Pesquisa cadastrados no DGP/CNPq,

por palavra-chave, maio/2014 .............................................................................................. 60

Tabela 2.4 - Número de Grupos de Pesquisa por Unidade da Federação, DGP/CNPq, 2014

.............................................................................................................................................. 62

Tabela 2.5 - Número de Grupos por Instituição, DGP/CNPq, 2014 .................................... 62

Tabela 2.6 - Número de Grupos de Pesquisa, Pesquisadores e Estudantes em Motores

Automotivos por Grande Área do Conhecimento, DGP/CNPq, 2014 ................................. 63

Tabela 2.7 - Grupos de Pesquisa em Motores Automotivos por Unidade da Federação e

Instituição, DGP/CNPq, 2014 .............................................................................................. 64

Tabela 2.8 - Seleção de Empresas, País de Origem e Total de Pedidos de Patente

relacionadas aos motores flex fuel no INPI, Brasil, 2000-2011............................................ 71

Tabela 2.9 - Seleção de Empresas e Termos Principais de seus Pedidos de Patente no INPI,

Brasil, 2000-2010 ................................................................................................................. 73

Tabela 3.1 - Emissão de CO2 por queima de combustível em países selecionados,

em toneladas, 2010 ............................................................................................................... 79

Tabela 3.2 - Total de Modelos e Versões no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular

por categoria, Brasil, 2009-2014 .......................................................................................... 92

Tabela 3.3 - Número de modelos e versões na categoria Subcompactos do PBEV,

Brasil, 2009-2014 ................................................................................................................. 97

Tabela 3.4 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Subcompactos do

PBEV, Brasil, 2013-2014 ..................................................................................................... 99

Tabela 3.5 - Número de modelos e versões na categoria Compactos do PBEV,

Brasil, 2009-2014 ............................................................................................................... 100

Tabela 3.6 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Compactos do

PBEV, Brasil, 2013-2014 ................................................................................................... 101

Tabela 3.7 - Número de modelos e versões na categoria Médios do PBEV, Brasil, 2009-

2014 .................................................................................................................................... 102

Tabela 3.8 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Médios do PBEV,

Brasil, 2013-2014 ............................................................................................................... 104

Tabela 3.9 - Número de modelos e versões na categoria Grandes do PBEV, Brasil, 2009-

2014 .................................................................................................................................... 105

Tabela 3.10 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Grandes do

PBEV, Brasil, 2013-2014 ................................................................................................... 107

Tabela 3.11 - Evolução do Consumo Médio de Combustível, PBEV 2009-2014, em % .. 109

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1

Introdução

A indústria brasileira de automóveis sempre foi centro de diferentes políticas dos

mais diversos governos do país. Desde que foi entendida como setor mobilizador e

transmissor de efeitos de transbordamento para a economia em geral, a indústria

automobilística assumiu papel de protagonista no que diz respeito a políticas de comércio

exterior, de indução do mercado interno, políticas fiscais e de estímulo à produção e ao

consumo de bens duráveis; mais recentemente também vem sendo chamada para contribuir

para a redução de efeitos deletérios ao meio-ambiente (por meio de pressões de ordem

regulatória e legal) e sendo também objeto de políticas voltadas ao aumento do conteúdo

nacional e do adensamento da cadeia produtiva nacional, especialmente nos últimos

tempos, com programas de incentivo à indústria.

É fato também que o país está no centro das estratégias das empresas

automobilísticas internacionais desde meados do século XX - o Brasil foi um dos primeiros

a receber filiais da Ford e da Chevrolet já nos anos 20 - com grande reforço para a

ocupação do mercado interno a partir da metade dos anos 50, contribuindo fortemente para

a política de industrialização do país por meio da substituição de importações. Mais

recentemente, o país passou a receber atenção especial de outras montadoras (e

consequentemente, de outras empresas de autopeças), com a entrada em território nacional

de fábricas japonesas, francesas, chinesas e coreanas, frente ao mercado anteriormente

fechado para 4 ou5 montadoras tradicionais - e se transformando em plataforma de

desenvolvimento e execução de projetos mundiais de carros, motores e peças.

Além disso, o setor é protagonista de eventos importantes relativos ao uso de

combustíveis alternativos à gasolina - mesmo não sendo ele próprio o ator central das

descobertas e dos avanços técnico-científicos, o que reforça a ideia da sua importância na

economia em geral, dado que absorve inovações de vários ambientes -, e isso desde os anos

30, em ensaios e testes na Estação Experimental de Combustíveis e Minérios e na Escola

Politécnica, chegando ao ápice nos anos 70, com o Proálcool, cujo ciclo de vida foi muito

curto para tão grande iniciativa - viabilizar a utilização de álcool combustível em larga

escala -, mas voltando a ter um papel central com os veículos flex fuel nos anos 2000.

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A introdução da tecnologia flex fuel é uma história rica a ser analisada, pois ao

mesmo tempo que remete aos tempos do Proálcool, aponta grandes diferenças,

especialmente quanto ao comportamento dos atores envolvidos - as empresas

automobilísticas (montadoras e autopeças), o governo e o consumidor, entre os mais

importantes. Isso porque, diferentemente do caso do carro a álcool, o veículo flex fuel foi

introduzido no mercado por meio da atuação das autopeças e montadoras; estratégia que em

um curto espaço de tempo foi absorvida pelas automobilísticas no geral e tornou-se

elemento de concorrência entre elas, com grandes desafios - superar os gargalos técnicos da

mistura álcool e gasolina (e tudo o que isso significa) e reduzir custos das descobertas e

inovações (o sensor capacitivo, capaz de permitir o reconhecimento do combustível ainda

no tanque - antes da queima - por exemplo, tinha um custo de cerca de US$ 100 nos anos

2000; mas esse sensor não é usado no Brasil, pois conseguiu-se uma solução mais

simplificada e barata, por conta da reprogramação da injeção eletrônica através dos dados

coletados pela sonda lambda). A partir daí, dá-se início a um processo que envolve

fortemente os consumidores, que aderem ao veículo flex, e o governo, que percebe uma

nova oportunidade de retomada de uma iniciativa que foi importante para o país, junto a um

setor de relevância para a economia nacional e que poderia alçar o país a um posto central

no que respeita a indústria automobilística - com uma nova tecnologia, baseada no uso de

um combustível substituto do petróleo.

Mas, como o carro flex fuel ganhou mercado novamente, depois dos sucessivos

desabastecimentos de álcool combustível no final da década de 1980? Uma possibilidade

está em entender que, segundo especialistas consultados, o flex fuel é um carro a álcool que

vem com um seguro - a possibilidade do uso de um combustível alternativo, no caso a

gasolina - caso não seja vantajoso economicamente o álcool. E a escolha do combustível é

feita na bomba, no momento do abastecimento no posto de serviço, à livre escolha do

usuário ou consumidor e sem nenhum requisito de mudanças manuais no motor por parte

do condutor. Com tal “seguro” ganhou a preferência dos automotores do país, fato visível

frente aos números apresentados, já que cerca de 90% dos veículos de passeio atualmente

produzidos. Junte-se a isso a existência da infraestrutura de distribuição e comercialização

do etanol já instalada no país.

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Entretanto, essa troca ou confiança tem um limite. É verdade que é possível que as

vendas de veículos flex fuel continuem crescendo; porém, o álcool como combustível tem

ainda muito que avançar - não apenas do ponto de vista da eficiência técnica, mas também

como resultado das políticas do governo. No mínimo, elas têm que garantir que em três ou

quatro momentos do ano o álcool seja mais vantajoso que a gasolina - é o que tem se

tentado realizar nos últimos anos. Mas isso só não basta. As ações e sinalizações

governamentais têm que ir muito além destas vantagens pontuais e serem efetivas na forma

de apresentarem continuidade e consistência para consolidar toda a cadeia do álcool como

combustível, chegando na tecnologia e no veículo flex fuel.

Na verdade, o contexto mudou fortemente nos últimos 5 anos, saindo de um quadro

em que o Brasil despontava como um centro inovador no que respeita alternativas aos

combustíveis fósseis, frente aos veículos tradicionais, surgindo como um possível

exportador não apenas de etanol combustível, mas da própria tecnologia flex, passando para

um cenário de retração da oferta de etanol - aliás, passou-se a importá-lo, dado que sua

produção não acompanhou o forte aumento da venda de automóveis nos últimos três anos -,

dada a redução da produtividade dos canaviais (devido à queda da renovação destes, dentre

outros), de revisão das prioridades por conta das promessas do Pré-Sal e de uma

concorrência com o PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel), da

redução dos alardes e mesmo da revisão dos estudos internacionais quanto aos desastres do

aquecimento global e das mudanças climáticas (postergando os investimentos e as

iniciativas de redução das emissões dos gases do efeito estufa), dentre outros.

Sai-se assim de um período de forte euforia em relação ao etanol combustível e à

tecnologia flex fuel, para um outro de cautela e mesmo desconfiança, num momento em que

uma das mais impactantes políticas do governo federal nos últimos tempos foi justamente o

estímulo à compra do automóvel - sonho de consumo dos brasileiros.

Pode-se salientar, assim, que vários foram e são os resultados alcançados pelas

intervenções e estratégias, públicas e privadas, positivas e negativas, como pode ser melhor

visto neste trabalho de pesquisa. Mas é perceptível, por sua vez, a dificuldade de se avançar

mais rapidamente para tecnologias de maior eficiência e menor consumo de combustíveis,

uma vez que o automóvel representa não apensas um bem de consumo, mas muitas vezes

status e objeto de desejo. Assim, questões estéticas ou tecnológicas (como GPS, painéis

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integrados etc.) tendem a ter um peso importante no momento da escolha do automóvel,

geralmente maior que o consumo de combustíveis em si (ou seja, uma possível maior

eficiência fica em segundo plano para a maioria dos usuários, que consideram outros

aspectos também na hora da aquisição de um veículo, enquanto que a busca por maior

eficiência custa muito para a P&D das empresas).

O Inovar-Auto, iniciado em 2012 é uma das mais recentes e importantes políticas

para o setor, é um exemplo disso, dado que força um índice mínimo de nacionalização de

partes e peças, fato que gera a implantação compulsória de montadoras no país. Isso não

implica diretamente na geração de tecnologias nacionais, e pode forçar apenas a manufatura

no país, além do fato de não beneficiar a tecnologia flex fuel, igualando as melhorias dos

motores dedicados (gasolina ou álcool).

Esse cenário remete também à reflexão sobre o processo de “tropicalização” -

melhorias e adaptações do projeto original às condições do mercado brasileiro. Neste caso,

não há, propriamente, “tropicalização”, dado que o desenvolvimento da tecnologia flex fuel

é local; mas, por sua vez, tal tecnologia não apresenta uma ruptura frente ao projeto

“tradicional” do motor à combustão; em outras palavras, a tecnologia flex fuel foi

introduzida aos projetos já existentes. De todo modo, tal processo exige um importante

trabalho de engenharia, um desenvolvimento mesmo que mínimo, que vai além da

engenharia rotineira. Entretanto, as filiais das empresas multinacionais do setor ainda têm

dificuldades de aprovar seus projetos quando da “concorrência interna” com projetos de

outras filiais pelo mundo. Ou seja, a tecnologia flex fuel não ganhou ainda o mercado

internacional, mesmo porque não há no momento uma pressão maior por alterações na

matriz de combustível automotivo no mundo.

Junte-se a isso, o fato da capacitação nacional em relação à tecnologia e ao

conhecimento científico envolvidos na concepção do processo apresentar lacunas de várias

ordens, desde o reduzido número de grupos de pesquisa e centros de pesquisa atuantes nos

temas relacionados e a débil relação das empresas com as universidades e institutos de

pesquisa nacionais. Pode-se afirmar que a academia não estava preparada para o “projeto

flex fuel”; ou a competência técnico-científica foi colocada à prova no momento da

incorporação dos conhecimentos em um veículo automotivo, o qual tem que apresentar

ganhos de eficiência frente ao projeto existente.

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Diante do exposto, o objetivo central desta pesquisa é o de levantar e analisar os

elementos que vêm contribuindo com o desenvolvimento da tecnologia flex fuel no país.

Acredita-se que a sua evolução pode ser discutida a partir da consideração de trade-offs que

delineiam a trajetória tecnológica do setor automotivo no país, como as atividades de

pesquisa e desenvolvimento, as estratégias das empresas, as políticas públicas voltadas à

promoção dos veículos flex fuel, as competências técnico-científicas existentes, o ambiente

legal e regulatório, com especial atenção ao período recente.

De forma a auxiliar, para traçar um perfil da indústria automobilística nacional e

resgatar as iniciativas, técnicas e políticas relacionadas ao uso de etanol no país, quatro

objetivos específicos foram traçados, a saber:

i. apresentar o histórico do desenvolvimento dos motores à combustão interna e da

indústria automobilística em geral;

ii. analisar a busca por tecnologias e combustíveis alternativos (notadamente à

gasolina), no Brasil e no mundo;

iii. analisar as políticas públicas de incentivo e regulatórias voltadas à indústria

automobilística e seu impacto sobre a eficiência energética e emissão de poluentes

por automóveis no país e em paralelos internacionais;

iv. levantar e analisar as competências técnico-científicas relacionadas ao motor flex

fuel no país, por meio dos grupos e dos programas de pesquisa e das atividades de

P&D, por meio da produção técnica (patentes), por meio das interações entre os

atores deste processo, relacionando com indicadores de inovação da indústria

automobilística nacional.

Além disso, duas perguntas se apresentam para auxiliar a investigação relativa às

condições de surgimento da tecnologia flex fuel no Brasil: qual a influência do

conhecimento gerado no período do Proálcool para a conformação da tecnologia flex

brasileira? E, qual a influência do marco regulatório atual para o avanço tecnológico dos

motores flex fuel?

As hipóteses que permeiam a pesquisa, e dizem respeito ao contexto nacional, são:

i. a tecnologia flex fuel reflete a concepção de avanço do conhecimento por meio do

desenrolar de trajetórias tecnológicas, que por sua vez encarnam a evolução de

trade-offs técnico-econômicos-institucionais - no caso, especialmente, entre

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eficiência dos motores, desempenho dos automóveis, emissão de poluentes, entre

outros;

ii. nem a concorrência interna do setor nem o vigente marco regulatório dos

automóveis têm servido para estimular uma mudança mais profunda na tecnologia

flex fuel desenvolvida e empregada pelas montadoras e sistemistas no país, mesmo

com a constituição do Inovar-Auto

A dissertação está estruturada em três capítulos além desta introdução. No final

encontram-se as considerações finais, a bibliografia consultada e os anexos do trabalho de

pesquisa.

O Capítulo 1 diz respeito ao surgimento da indústria dos automóveis na virada do

século XIX para o século XX, também resgata as diferentes tentativas realizadas para se

chegar ao automóvel como se conhece hoje; ao lado disso se explora a implantação da

indústria automobilística no Brasil e as diversas experiências com álcool combustível desde

a chegada dos primeiros automóveis no país. Ele está divido em três itens. O primeiro

apresenta os conceitos de paradigmas e trajetórias tecnológicas, com base em G. Dosi, dado

que eles trazem consigo a concepção de trade-offs, a qual é central para o entendimento da

evolução da indústria automobilística, em geral, e da tecnologia flex fuel, em especial,

considerando as diversas variáveis (técnico-científicas, econômicas, institucionais,

estratégicas, sociais) que influenciam a tomada de decisão e as mudanças em questão. O

segundo item analisa o surgimento da indústria automobilística e dos motores à combustão

interna, com o intuito de mostrar a evolução dos sistemas de alimentação de combustível

dos automóveis. Por fim, o terceiro e último tópico resgata a história da indústria

automotiva no Brasil, sua implantação e organização e as experiências para além da

gasolina no país, com a mistura álcool - gasolina já nos anos 30 e utilização de álcool em

grande escala com o Proálcool, descrevendo seu ápice e seu abandono até a introdução da

tecnologia flex fuel.

O Capítulo 2 tem como objetivo perfazer uma análise relativa à conformação da

tecnologia flex fuel no Brasil, além de montar um panorama sobre o desempenho

econômico do setor automobilístico e dos resultados nas atividades de pesquisa,

desenvolvimento e inovação tanto nas empresas quanto nas universidades e institutos de

pesquisa. Para isso está estruturado em dois itens: o primeiro discute a atuação das

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montadoras e autopeças, além dos conteúdos tecnológicos produzidos no país, com base em

levantamento e análise de dados e em entrevistas realizadas junto a especialistas. Procurou-

se compreender, entre outros, o porquê da introdução do flex fuel no país. O segundo item,

cujo intuito de mapear as atividades de inovação no setor automobilístico brasileiro com

base em dados, procedeu a um importante levantamento de informações e dedica-se a uma

análise das atividades de PD&I do setor, a partir dos dados da Pesquisa de Inovação

(PINTEC/IBGE), da proteção da propriedade intelectual de ativos, resultantes dos trabalhos

em PD&I, a partir da análise das bases do Instituto Nacional da Propriedade Industrial

(INPI) e da organização da pesquisa acadêmica em etanol e motores automotivos a partir de

um amplo levantamento junto ao Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (DGP/CNPq).

Percebem-se discretos avanços nas atividades de PD&I no país, que poderiam ser

reforçadas com um marco regulatório de maior envergadura e que estimulasse diretamente

a utilização de etanol (tema do capítulo seguinte).

O Capítulo 3 está também divido em dois itens e tem como finalidade analisar o

lado institucional as políticas e programas voltados ao setor. Discute as mudanças recentes

na matriz energética mundial, bem como as pressões sobre os automóveis no intuito de

torná-los menos agressivos ao ambiente em geral. Assim, o primeiro item é dedicado à

análise das mudanças recentes na matriz energética mundial e aos avanços em tecnologia

para automóveis proporcionados por força de marcos regulatórios, como o catalisador de

três vias no EUA e o carro elétrico no Japão; nota-se avanços consideráveis na emissão de

poluentes pelo primeiro, e quanto ao segundo pode ser atribuída a introdução do carro

híbrido no mercado. O segundo item tem por fim analisar a legislação brasileira vigente,

além de apresentar os resultados decorrentes do atual marco legal, a partir das políticas

públicas impostas pelo Proconve (programa voltado para a redução de poluentes), Inovar-

Auto (decreto presidencial que visa o desenvolvimento de veículos com maior eficiência

energética) e PBEV (programa de etiquetagem veicular, o qual disponibiliza dados sobre

consumo, eficiência e emissão de poluentes por veículos automotores). Foram analisados os

resultados do Proconve e os dados do PBEV e nota-se uma evolução nos automóveis

brasileiros, através de menores índices de emissão de poluentes e relações de consumo mais

eficientes.

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No surgimento da tecnologia flex, então, estão embutidos conhecimentos sobre os

pontos críticos para o desenvolvimento dos motores e dos sistemas de alimentação de

combustível que funcionem com etanol. De modo a responder a pergunta de pesquisa

proposta, é viável entender que o Brasil possui uma massa crítica mínima que sustente o

atual patamar da tecnologia; entretanto para ganhar densidade além da instalação dos

centros de P&D em biocombustíveis de montadoras e autopeças no país (que aos poucos

vem ocorrendo), necessita-se de um estímulo maior ao uso de etanol, tanto pelo lado da

produção sucroalcooleira quanto na parte automotiva com claros benefícios aos automóveis

que tenham por finalidade utilizar a tecnologia flex. Pode-se concluir, portanto, que a atual

legislação brasileira no caso, o Inovar-Auto, não tem proporcionado os estímulos

necessários ao setor no que respeita a possibilidade de alçá-lo à categoria de ator central nas

cadeias globais de produção, uma vez que melhorias recentes nos automóveis estão mais

relacionadas ao marco regulatório sobre a emissão de poluentes e CO2 do que à

concorrência de mercado e ao aproveitamento de oportunidades pelas empresas do setor,

também no que toca a tecnologia flex fuel.

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1. Indústria Automobilística: histórico, desenvolvimento e

trajetórias tecnológicas dos motores à combustão interna

Para compreender o surgimento da indústria dos automóveis na virada do século

XIX para o século XX é válido realizar uma exposição do ambiente desta época e assim

compreender o elo entre a produção de veículos automotores a partir da IIa Revolução

Industrial. Também resgata-se diferentes tentativas realizadas para se chegar ao automóvel

como se conhece hoje; ao lado disso, explora-se a implantação da indústria automobilística

no Brasil e as diferentes experiências com álcool combustível desde a chegada dos

primeiros automóveis no país.

Este capítulo estrutura-se em três partes, o primeiro item apresenta os conceitos de

paradigmas e trajetórias tecnológicas, com base em G. Dosi, dado que eles trazem consigo

a concepção de trade-offs, os quais têm importante papel na interpretação dos eventos

históricos tanto da conformação da indústria automobilística quanto da tecnologia flex fuel.

O segundo item analisa o surgimento da indústria de automóveis em geral e dos motores à

combustão interna, com o intuito de mostrar a evolução dos sistemas de alimentação de

combustível dos automóveis. Por fim, o terceiro e último tópico resgata a história da

indústria automotiva no Brasil, sua implantação e organização e as experiências para além

da gasolina no país, desde o começo do século XX, passando pelo Proálcool até a difusão

da tecnologia flex.

1.1. Paradigmas e Trajetórias Tecnológicas

Estabelece-se como norte interpretativo desta dissertação o ferramental teórico de

Giovanni Dosi (1982) acerca de paradigmas e trajetórias tecnológicas. O autor procura

estabelecer um entendimento mais abrangente sobre os caminhos das mudanças técnicas e

dos determinantes da direção e da dinâmica das atividades inovativas; para isso propõe uma

interpretação que vai além dos arcabouços demand-pull e techonology-push1. Nesse

sentido, emerge a discussão sobre paradigmas tecnológicos e trajetórias tecnológicas, quais

1 Esses dois conceitos procuram estabelecer qual a “força motriz” dos movimentos e da direção das atividades

voltadas para inovação - o demand-pull credita primordialmente às forças de mercado, enquanto o

technology-push ao avanço tecnológico.

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sejam, os padrões estabelecidos - geralmente por trade-offs e considerando trajetórias

naturais e a experiência de caminhos já percorridos - para a resolução de gargalos técnico-

produtivos e seus possíveis desdobramentos.

A resolução de problemas e gargalos nos processos de produção, além da

necessidade de novos produtos e de novos materiais são fonte, também, para estimular o

desenvolvimento de técnicas e tecnologias originais. Nesse sentido, tem-se as relações entre

ciência e tecnologia como uma via de duas mãos e não apenas a tecnologia como aplicação

do conhecimento científico anterior. Mas, o que se entende por tecnologia, então? E como

compreendê-la? Uma forma para interpretá-la está nas linhas abaixo.

“Uma das consequências mais enganosas de se pensar a tecnologia como

mera aplicação do conhecimento científico preexistente é que uma tal

perspectiva obscurece um ponto extremamente elementar: a tecnologia é, ela

própria, um corpo de conhecimentos a respeito de certas classes de eventos e

atividades. Não constitui meramente uma aplicação de conhecimentos trazidos

de uma outra esfera. Trata-se de um conhecimento de técnicas, métodos e

projetos que funcionam, e que funcionam de maneiras determinadas e com

consequências determinadas, mesmo quando não se possa explicar exatamente

por quê. Ela é, portanto, se preferirmos colocar dessa forma, não um tipo

fundamental de conhecimento, mas sim uma forma de conhecimento que gerou

durante milhares de anos uma certa taxa de progresso econômico”

(ROSENBERG, 1982, p.218).

A partir deste entendimento, Dosi (1982) deixa claro que o estado das tecnologias

inspira o seu desenvolvimento futuro e dá indícios dos caminhos a serem percorridos pelas

melhorias nos processos e produtos. Assim, inspirado em Thomas Kuhn2 e no conceito dos

paradigmas científicos, o autor propõe a construção teórica acerca dos paradigmas

tecnológicos. Basicamente define-se um paradigma tecnológico como um modelo e como

padrões para a solução de determinados problemas correlatos a uma dada tecnologia, com

base nas ciências e em outros desenvolvimentos materiais/tecnológicos. Um paradigma

2 Ver KUHN, T. (1962).

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tecnológico, portanto, já contém uma série de escolhas capazes de revelar a direção e as

características a se perseguir ou evitar dentro deste universo de possibilidades.

Cada paradigma tecnológico suscita as direções da mudança técnica, isto é, dá

indícios dos caminhos a seguir para o desenvolvimento do objeto, do artefato, da

tecnologia. E com a mesma inspiração em T. Kuhn, mas neste momento amparando-se nos

períodos de “ciência normal”, G. Dosi sugere que cada paradigma tecnológico revela

possíveis trajetórias tecnológicas a serem buscadas. Assim, uma tecnologia dominante é

capaz de indicar os caminhos e as melhorias necessárias para o seu desenvolvimento.

Nesse sentido, um dado paradigma tecnológico carrega consigo uma série de

definições de métodos e de atividades de desenvolvimento tecnológico necessários dado o

estado da tecnologia. É interessante notar que as melhorias procuradas não devem excluir

desenvolvimentos passados; por exemplo, não se espera que um avanço que eleve o

rendimento de um motor cause maior desgaste de peças ou propensão a quebras.

Uma trajetória pode, então, em seu avanço, superar um gargalo produtivo ou

tecnológico e despontar no mercado, apresentando-se como um aproveitamento das

oportunidades tecnológicas junto com a atuação das pressões de seleção atuantes no

mercado (como um mecanismo seletor). Assim novos produtos podem influenciar

diretamente a criação de mercados, novas trajetórias dentro de um mesmo paradigma que

ganhem espaço e tornem-se dominantes. Uma constatação decorrente desta construção

teórica se faz como uma analogia em uma linha do tempo quanto à emergência de

tecnologias, sua fase de difusão e aceitação no mercado e, por fim, o período de

maturidade. Soma-se a esta discussão a influência do mercado e da regulação

governamental como direcionadores dos desenvolvimentos posteriores - acessórios ou

mesmo fundamentais - e os trade-offs relacionados (ou seja, escolhas por certas variáveis

em detrimento a outras na consideração de vários elementos e situações).

Este é um ponto de interesse do estudo para o caso da indústria automobilística,

devido à relação dos avanços em segurança e em eficiência, algumas vezes abrindo-se mão

do design ou do peso do veículo, e na redução das emissões de poluentes com o avanço do

marco regulatório ou mesmo com oportunidades de mercado, como os motores flex fuel.

Uma mostra que mesmo dentro de um paradigma tecnológico, como os automóveis (ao

lembrar do conjunto chassis de aço com motor de combustão interna), há espaço para

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alterações, inclusive disruptivas. De toda forma, Queiroz (2006) salienta a importância das

inovações menores no sentido de se estabelecer trajetórias evolutivas para as inovações de

maior monta, além de dar suporte a resultados econômicos mais robustos de acordo com o

aperfeiçoamento dessas inovações maiores. Essas pequenas mudanças, se olhadas

isoladamente, podem não representar grandes ganhos ou melhorias; entretanto, os efeitos

secundários (o conjunto das mudanças) corroboram para o sucesso e ganhos de magnitude

e, por isso, elas não devem ser vistas como menos importantes.

A consideração da coevolução tecnológica e institucional é fundamental nesse caso,

dado que pressões de diferentes ordens e diversas fontes de conhecimento para as

atividades de PD&I ajudam a entender muito da dinâmica do processo e da própria história

da evolução tecnológica e dos mercados. Resumidamente, em conjunção às trajetórias

tecnológicas há a ocorrência de trajetórias institucionais, e entende-se que esses paralelos

compartilham do avanço simultâneo e constante dos diferentes aspectos que permeiam o

conhecimento, as tecnologias, os mercados (inclusive os institucionais) e as instituições

(FUCK e BONACELLI, 2009).

Os diferentes conceitos aqui brevemente apresentados, assentados na abordagem

evolucionista ou neo-schumpeteriana do progresso técnico, permitem compreender os

diversos caminhos percorridos para o desenvolvimento científico e tecnológico - não sem

concorrência, com acertos e erros de estratégias e percepções - o que afasta este arcabouço

conceitual da visão determinística tanto por conta da tecnologia, como das demandas do

mercado. Contando com o amparo conceitual deste arcabouço, prossegue-se com um olhar

mais atento às experiências internacionais que orientaram a evolução da indústria

automobilística, notadamente a busca para alternativas ao uso de gasolina.

1.2. O motor à combustão interna: a evolução do automóvel no século XX

A indústria automobilística em seu início organizou-se ao redor de diferentes

iniciativas que buscavam estabelecer um veículo paradigmático. Este subitem analisa o

avanço da produção de automóveis ao redor do globo e, na sequência, descreve as

características dos motores automotivos propriamente ditos.

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1.2.1. Dos pioneiros à produção em massa

A indústria automobilística pode ser considerada um dos principais exemplos do

desenvolvimento de tecnologias de ponta e da alocação de insumos produtivos pelo

empresariado. Outros elementos empíricos que a torna interessante para estudo, e que vão

além da linha de montagem e suas esteiras, são a difusão dos motores de combustão

interna, a utilização de peças intercambiáveis e a facilidade de ocorrência dessa atividade,

ou seja, a estandardização das partes e dos processos, além de uma maior precisão na

transformação das matérias-primas em peças (sobretudo do aço - cujo custo diminuiu

consideravelmente no início do século XX), seja pelo aprendizado inerente ao processo ou

à aplicação de maquinários aperfeiçoados (SZMRECSÁNYI, 2000).

Na literatura neo-schumpeteriana, a mudança técnica e o processo de inovação

recebem atenção especial. Nelson (1990) preocupa-se com o entendimento das atividades

de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e como estas se coordenam. O laboratório de P&D,

seu modo de organização e sua forma de atuação, passam a ter um papel central para o

desenrolar do sistema produtivo capitalista, um movimento histórico iniciado em meio a IIa

Revolução Industrial, com a aplicação de conhecimentos científicos na resolução de

problemas da produção industrial.

É nessa linha que Szmrecsányi (2000) aponta que:

“Se as relações entre ciência, tecnologia e economia tornaram-se

finalmente visíveis no decorrer do século XIX, isto decorreu, em parte, da

transformação das ciências e das técnicas em atividades sociais autônomas e

diferenciadas, exercidas de maneira cada vez mais integrada e contínua por

agentes devidamente especializados - os cientistas e os engenheiros - cujas

funções passam a ser socialmente reconhecidas e remuneradas”

(SZMRECSÁNYI, 2000, p.171).

E não apenas por isso, a indústria automobilística pode ser considerada um dos

principais exemplos da aplicação de tecnologias de ponta e da alocação mais racional dos

insumos produtivos pelo empresariado - sejam eles tangíveis ou intangíveis - a partir dos

modelos taylorista e fordista da organização do trabalho e da produção capitalista.

Eckermann (2001) realiza uma periodização da indústria automobilística em 4

tempos, de acordo com a produção total de veículos, o tipo de tecnologia empregado na

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produção, a especialização da mão-de-obra e a entrada e saída de atores no conjunto dos

fabricantes. A divisão proposta é i. 1885-1918 - a era pioneira e o amadurecimento; ii.

1919-1945 - o automóvel como um produto industrial; iii. 1946-1979 - o automóvel

produzido em massa; e iv. 1980-2000 - o automóvel como um bem de consumo. Essa

divisão temporal ajuda a compreender os condicionantes das trajetórias tecnológicas da

indústria automobilística, apontando a evolução dos automóveis e mesmo as questões da

organização da produção.

Realmente, a produção de automóveis possuía, até a década 1920, números ainda

discretos e por se configurar como um mercado nascente, com um número expressivo de

pequenas oficinas ou mesmo pequenas fábricas, conforma-se um período de grande

experimentação e de tentativas que vieram a dar base aos automóveis como eles se mantêm

até os dias de hoje. O período entre-guerras conforma, principalmente nos EUA, o

automóvel como um objeto industrial no sentido da produção deixar de ser artesanal para

ganhar escala; ainda assim muito se criou nesse intervalo - o número de fabricantes de

automóveis, por exemplo, passou da casa de 1500 empresas (MOWERY e ROSENBERG,

1998). Com isso, os mais diferentes casos de sucesso ou fracasso ocorreram, assim como

falências, fusões e aquisições, criação de conglomerados, estabelecimento de firmas

dedicadas a nichos de mercado etc. Até que nas décadas de 1950 e 1960 já se nota um

número de fabricantes automotivos mais restrito, capitaneado basicamente por grandes

grupos, cuja atuação passa a ter traços mais globalizados.

“In the immediate postwar years, the automotive industry of the Western

nations experienced phases of rebuilding and of satisfying pent-up demand. The

two decades between 1960 and 1980 are characterized by the weeding out of

competing firms, the rise of the Japanese auto industry, and the aftereffects of

two so-called energy crises of 1973-1974 and 1978-1979 on the automotive

industry and technology” (ECKERMANN, 2001, p.153).

Os anos 1970 guardam mudanças no que toca os combustíveis, com as crises do

petróleo, além da entrada das montadoras japonesas ao mercado norte-americano, que

levou às mudanças tanto na forma de se organizar a produção como no conjunto final

produzido. Tem-se a reestruturação das linhas de montagem da produção em massa com o

sistema de produção enxuta (ou flexível), que além de elevar o padrão de qualidade dos

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veículos permitiu maior flexibilidade no que se produzir. Assim, um mesmo modelo de

automóvel pôde ganhar diferentes versões e acessórios na customização, de acordo com as

variações do mercado/cliente.

Mais recentemente, Kohler et al. (2009) apontam para a atuação das montadoras em

linhas alternativas, ou na abertura de novos horizontes, frente ao automóvel paradigmático

de Henry Ford, basicamente um motor de combustão interna de quatro tempos, movido à

gasolina sobre um chassis de aço. Neste contraponto, protótipos “verdes” são amplamente

testados e propagados pela mídia especializada e modelos “modernos”, híbridos ou mesmo

elétricos, por exemplo, chegam ao mercado gerando um maior apelo em vendas por serem

ambientalmente mais amigáveis.

O Gráfico 1.1, que segue, mostra a produção mundial de veículos em um recorte

geográfico-espacial, sendo assim possível notar a dinâmica da fabricação de automóveis,

que no pós-guerra se intensifica na Europa e a partir dos anos 1970 cresce de modo

consistente no continente asiático com as montadoras japonesas e passa por uma grande

expansão (ou por uma nova onda de produção em massa) a partir dos anos 2000 com a

entrada da China no mercado automobilístico mundial. O Bloco soviético, por sua vez,

perde ainda mais sua diminuta importância e a América Latina, mesmo com uma população

de importância no mundo (especialmente por conta do Brasil), figura de forma bastante

inexpressiva no que se refere à produção mundial de automóveis.

Gráfico 1.1 - Produção Mundial de Automóveis por continente, 1938-2010

Fontes: Eckerman (2001) e OICA (2000 e 2010)

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1938 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

Mil

es

América do Norte Europa Ásia Bloco Soviético América Latina

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16

A partir deste panorama global, passa-se à discussão sobre os motores à combustão

interna, mostrando sua consolidação e a busca por iniciativas de se compor paradigmas

alternativos.

1.2.2. O motor à combustão interna

O início da indústria automobilística revela uma série de tentativas para se

estabelecer modelos funcionais de automóveis e, por isso, muito dos protótipos construídos

nos dias de hoje podem estabelecer paralelo com experiências do passado. Estes

movimentos acabaram por estabelecer um design dominante3 para os motores de

automóveis. A Figura 1.1, abaixo, ilustra possíveis mecanismos de propulsão para

automóveis, cujas iniciativas destacadas, exceto para a célula a combustível, possuem

experimentos que datam do primeiro quarto do século XX (em vermelho estão os

paradigmas tecnológicos e em verde as trajetórias tecnológicas).

Figura 1.1 - Mecanismos de Propulsão para automóveis

* Transição de paradigmas

Fonte: elaboração própria a partir de Mowery e Rosenberg(1998), MacLean e Lave (2003)

3

A emergência de um design dominante está diretamente relacionada com a mudança técnica, os direitos de

propriedade da tecnologia, além da preferência dos consumidores. Entretanto é um instrumental teórico

restrito para produções em série, ou melhor, para produtos que podem ser estandardizados. Mais detalhes

consultar Utterback e Suárez (1993).

Mecanismos de Propulsão

Vapor Combustão

Interna

Rotativo

Wankel

Turbina

Alternativo

Ciclo Otto

Ciclo Diesel

Elétrico Célula a

Combustível Híbrido*

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17

Esse contexto mostra que a adoção dos motores de combustão interna em

automóveis não é um dado sem concorrência ou uma escolha ao acaso. No início, diferentes

tentativas buscaram se consolidar como dominantes. Este ambiente com diversas

possibilidades e soluções para o powertrain dos automóveis é ilustrado por Mowery e

Rosenberg (1998) na sequência.

“Na verdade, o importante papel dos Estados Unidos como primeiro grande

mercado de automóveis pode ter também contribuído para o triunfo do motor de

combustão interna sobre o vapor e a eletricidade, as fontes competidoras de

propulsão automotiva nos primórdios do século XX. O surgimento da

combustão interna como tecnologia de propulsão dominante não era, de modo

algum, um efeito previsível em 1900, quando 1681 automóveis movidos a vapor,

1575 carros elétricos e 936 automóveis utilizando gasolina como combustível

foram fabricados nos Estados Unidos (FLINK, 1970, p.234). Os automóveis

movidos à gasolina eram então ultrapassados em número por carros elétricos e a

vapor nos dados registrados em Nova York e Los Angeles no início de 1902. Já

em 1905, entretanto, o motor de combustão interna havia se tornado a tecnologia

de propulsão dominante na indústria automobilística dos EUA” (MOWERY e

ROSENBERG, 1998).

Mas, por que o motor a combustão interna foi o selecionado? Mais de um século

depois da difusão do Ford T, o paradigma tecnológico se mantém, mas poderia ser diferente

ao se elencar alternativas ao modelo dominante. Reforça-se a afirmação de que este não foi

um movimento sem concorrência e para entender o sucesso dos motores de ciclo Otto deve

ser realizada uma análise mais aprofundada sobre seu funcionamento, bem como quais são

as alternativas ao uso de gasolina como carburante principal da frota mundial de

automóveis.

Especificamente, o ano de 1885 marca a invenção do automóvel por Benz e

Daimler, este movido pelo motor de combustão interna implementado pelo engenheiro

alemão Nikolaus Otto em 1876. A fabricação em série foi iniciada no ano de 1908, nos

EUA, com o Ford modelo T. Vale destacar que tanto para Ford como para Otto era claro

que o combustível de melhor rendimento era o etanol. Porém, o uso em larga escala do

álcool carburante ainda não era competitivo, pois sua produção era limitada e o custo se

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mostrava pouco atraente frente à gasolina4, derivada do petróleo. Mas, já estava lançada a

semente do que viria a se tornar uma real alternativa à gasolina no Brasil.

Ao olhar apenas o recorte do paradigma tecnológico dos motores à combustão

interna, dois ciclos termodinâmicos podem ser descritos: Otto e Diesel. Todos eles tratam

de motores endotérmicos, cuja finalidade é transformar a energia química dos combustíveis

em energia mecânica útil.

Resumidamente, os motores de ciclo Otto trabalham em ciclos de 4 tempos e a

ignição se dá por centelha; os motores de ciclo Diesel são caracterizados pela ignição por

compressão. Cada uma dessas trajetórias tecnológicas possui vantagens e fragilidades, e ao

focalizar questões como eficiência, durabilidade, custo e facilidade de manutenção os

motores de ciclo Otto tradicionais (quatro tempos) saíram em vantagem e tornaram-se o

paradigma do powertrain automotivo5 (GALLO, 2012; PENIDO FILHO 1980;

HEYWOOD, 1988).

O ciclo Otto é composto pelas fases de admissão, compressão, expansão/explosão e

escape. A Figura 1.2 ilustra cada uma dessas etapas. Na fase de admissão, o pistão inicia

um movimento de descida com a válvula de admissão aberta para permitir a entrada da

mistura de combustível e ar; terminada esta etapa inicia-se a compressão desta mistura, o

cilindro realiza um movimento de subida com ambas as válvulas fechadas e o terceiro

momento inicia-se com a centelha da vela que detona a mistura e faz com o cilindro se

movimente em direção ao ponto morto inferior; por fim, a fase de escape ocorre com a

subida do cilindro e a válvula de escape/descarga aberta para possibilitar a saída dos gases

resultantes da explosão.

4 Para mais detalhes sobre a escolha da gasolina frente ao álcool como combustível em automóveis conferir

Dimitri e Effland (2007). 5 Motores a diesel são tipicamente voltados à frota pesada no Brasil (em países europeus utiliza-se motores

diesel em carros de passeio, já em território nacional não se pode comercializar automóveis movidos a diesel

para uso no país - esta produção é voltada apenas para exportação); já os motores de ciclo Wankel têm uso

muito restrito, em pequenas produções e modelos com vendas restritas, e os casos mais conhecidos são

produzidos fora das fronteiras brasileiras; automóveis equipados com turbinas chegaram a ser introduzidos no

mercado nas décadas de 1960 e 1970 porém sem sucesso comercial.

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Figura 1.2 - Esquema de funcionamento de um motor de ciclo Otto

Fonte: http://www.larousse.fr/encyclopedie/images/Cycle_dun_moteur_%C3%A0_quatre_temps/1003658

Independente do combustível utilizado, o funcionamento dos motores se dá pela

descrição acima; entretanto cada carburante possui características físico-químicas

específicas que podem ser melhor aproveitadas por meio de adaptações nas estruturas

mecânicas dos motores, basicamente em relação à taxa de compressão (relação entre o

ponto morto superior e o ponto morto inferior) e ao ponto de ignição (centelha da vela). Por

exemplo, motores dedicados ao uso de etanol utilizam uma maior taxa de compressão que

os dedicados à gasolina, e um dos desafios do motor flex fuel é com uma taxa de

compressão intermediária funcionar de modo eficiente com as mais diversas misturas de

etanol e gasolina. Esse aspecto será melhor discutido para o caso do Brasil e da tecnologia

flex. Um resumo histórico das tecnologias relacionadas ao sistema de alimentação de

combustível introduzidos no mercado em geral e seu respectivo período de adoção, além

dos carburantes utilizados no Brasil, está na Figura 1.3, na sequência.

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Figura 1.3 - Evolução dos sistemas de alimentação de combustível e do uso de combustíveis em

larga escala, 1870-2014

Fonte: elaboração própria a partir de consultas às bases OMPI.

Por mais que diferentes possibilidades, desde trajetórias até paradigmas, para os

veículos e seus mecanismos de propulsão tenham sido testadas e que alguns nichos de

mercado tenham sido conformados, os motores à combustão interna representam um

paradigma robusto e capaz de incorporar melhorias que aumentam ainda mais o tempo de

vida útil da sua trajetória. É válido ressaltar que estes cinco sistemas de alimentação

mostrados acima foram ou estão embarcados nos motores de ciclo Otto, fato que reforça a

robustez desse paradigma tecnológico.

Um desafio colocado, portanto, é construir um motor cuja eficiência energética seja

relativamente alta para as diversas misturas entre etanol e gasolina. E, nesse sentido, o

motor flex fuel pode ser um fim em si mesmo, na direção em que a indefinição do

combustível a ser utilizado pelo carro a priori dificulta o desenvolvimento de um

powertrain de rendimento elevado. Isto não quer dizer que o carro flex não seja uma

solução satisfatória para os proprietários de automóveis. De toda forma, há um trade-off

entre desempenho e possibilidade de escolha entre dois combustíveis - ou seja, o

proprietário do carro não está preso a uma única alternativa de combustível e sujeito a

crises de desabastecimento como ocorridas nos anos 1980 com o álcool; entretanto, ao ter

1870

1874

1878

1882

1886

1890

1894

1898

1902

1906

1910

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1978

1982

1986

1990

1994

1998

2002

2006

2010

2014

Carburador Injeção Mecânica Injeção Eletrônica Single-Point

Injeção Eletrônica Multi-Point Injeção Direta na Câmara Gasolina

Gasolina + Álcool Álcool Puro Flex Fuel

Co

mb

us

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S

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Ali

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tação

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essa possibilidade de escolha no ato do abastecimento, se abriu mão (até o momento) de

motores mais eficientes.

Na sequência, explora-se a história da indústria brasileira de automóveis, seu

surgimento e consolidação, bem como a experiência nacional no uso de álcool combustível.

1.3. Antecedentes históricos da indústria automobilística no Brasil

Os primeiros automóveis chegaram em território brasileiro na virada do século XIX

para o XX, em um tempo que remete esses pioneiros aos anseios de modernidade da elite

nacional. Wolfe (2010) disserta sobre a expansão dos veículos automotores no país e

mostra que em São Paulo no ano de 1901 havia 5 carros, em 1903 eram 16 veículos e no

ano seguinte 84; também em 1904 é inaugurada a primeira concessionária automotiva. Em

paralelo, o Rio de Janeiro, então capital federal, em 1903 possuía 6 carros, no ano de 1905

chegava a 12 automóveis e em 1907 totalizava 99 veículos. Nesta época, observam-se

grandes reformas urbanas de modo a tornar as vias adaptadas ao uso de veículos

automotores.

E mesmo com a frota automotiva plenamente importada, os primeiros testes

envolvendo o álcool combustível tiveram seu início na primeira década do século XX, em

experiências pontuais que datam desde o ano de 1903, quando o então presidente da

República, Rodrigues Alves, lançou a Exposição Internacional de Aparelhos a Álcool no

Rio de Janeiro.

Nesse período ainda não é possível se referir a uma pesquisa institucionalizada ao

redor do uso de etanol combustível, mas notam-se iniciativas que viriam a se tornar

importantes nos anos posteriores no sentido de se utilizar uma matéria-prima nacional em

substituição aos importados derivados do petróleo, bem como atualmente na produção de

combustíveis verdes.

Na sequência, três subitens buscam explorar a história do setor no país: em um

primeiro plano elencam-se as atividades do começo do século XX até a década de 1950;

segue-se com a implantação da indústria automobilística brasileira e da pesquisa organizada

em álcool combustível entre os anos 1950 e 1970 e, por fim, o Proálcool e os motores

específicos para etanol nas décadas de 1970 e seguintes.

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1.3.1. 1920-1950: da indústria nascente ao álcool carburante

As primeiras montadoras a se instalarem em território brasileiro o fizeram na década

de 1920, a saber Ford e Chevrolet. A primeira começou a importar o conhecido modelo “T”

em 1919 e passou a montá-lo na cidade de São Paulo no ano de 1921; já a Chevrolet

desembarcou no país em 1925 também em São Paulo e, posteriormente, em 1930 a fábrica

de São Caetano do Sul foi inaugurada. É necessário distinguir que neste momento os

veículos chegavam desmontados, mas as peças chegavam prontas em kits para serem

encaixados e colocados em pleno funcionamento. Esse sistema de trabalho ficou conhecido

como CKD (Completely Knock-Down).

Em termos de produção, o sistema CKD permitiu ganhos de escala, no âmbito de

um sistema fordista de produção, uma vez que esses kits, exportados pelas matrizes,

possibilitavam a instalação de plantas produtivas mais simples e que necessitassem de

menores investimentos, de modo a tornar o nascente mercado brasileiro atraente. Ainda

nesse sentido, é interessante notar que a Ford em 1924 produziu 24.250 unidades no Brasil,

marca que ficaria como recorde de produção da montadora até a década de 1960 com o

lançamento do modelo Corcel6.

É válido também ressaltar que o presidente Washington Luís corrobora com a

escolha do automóvel como meio de transporte principal para o país ao enfatizar a

necessidade de se abrir rodovias, e com a criação da Polícia Rodoviária Federal em 1928.

Tais fatos ajudam a montar o panorama da evolução dos transportes no Brasil, juntamente

com as montadoras recém chegadas (NASCIMENTO, 1976).

Ao lado disso, outra experiência ligada ao fordismo com controle das diferentes

etapas de produção e matérias-primas é a iniciativa de Henry Ford na floresta amazônica

com a produção de borracha natural para a fabricação de pneus e demais peças provenientes

do látex. Com o mito que a floresta seria capaz de altas produções se plantadas seringueiras

em condições de exploração comercial, Ford montou uma cidade floresta adentro;

entretanto não se sabia que a produção extensiva aumentaria o risco da disseminação de

pragas, fato que inviabilizou o projeto (GRANDIN, 2009).

6 Há uma importante quebra na montagem de veículos no pós-crise de 1929, também com a II

a Guerra

Mundial. Para mais detalhes consultar http://www.ford.com.br/sobre-a-ford/historia

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De modo mais aprofundado no que toca o desenvolvimento da pesquisa,

desenvolvimento e inovação em atividades agrícolas, notam-se crescentes pesquisas ao

redor da cana-de-açúcar desde a virada do século XIX, com a atuação do então Imperial

Estação Agronômica de Campinas iniciada em 1887, com a instalação do Estação

Experimental de Combustíveis e Minérios (1921) e do Instituto do Açúcar e do Álcool em

1933, entre outras iniciativas e instituições7, bem como no surgimento de indústrias

dedicadas ao processamento industrial da cana, como a Dedini, fundada em 1920 em

Piracicaba. Apesar dessas instituições terem por finalidade principal a produção e

comercialização de açúcar, esse momento também se configura como suporte da fabricação

de álcool combustível e por isso são listadas algumas dessas iniciativas a seguir.

Mais especificamente sobre o Instituto Agronômico de Campinas, fundado sob a

forma da Imperial Estação Agronômica de Campinas, detinha como principal função

realizar pesquisas voltadas as doenças e pragas que atingiam a cultura do café, principal

produto agrícola da região na época. Entretanto outras culturas recebiam menor atenção

como algodão, e por fim, cana-de-açúcar cujas pesquisas se iniciaram em 1892 com as

atividades diretamente ligadas as pesquisas do diretor Dr. Franz Dafert (ALBUQUERQUE

et al., 1986a e 1986b).

Na Estação Experimental de Combustíveis e Minérios (EECM), sediada no Rio de

Janeiro e que deu origem ao Instituto Nacional de Tecnologia8, as investigações visavam a

utilização de álcool etílico como combustível automotivo. E já no ano de 1925 testes de

campo indicavam a viabilidade do uso de etanol em substituição da gasolina, nesta época a

preocupação para a substituição desta era a certeza que o petróleo esgotaria antes mesmo do

término do século XX, o que alardeou buscas por carburantes alternativos. Importantes

nomes desta época, com pesquisas sobre o então chamado álcool-motor9, são Eduardo

Sabino de Oliveira e Heraldo de Souza Mattos, tanto em testes de bancada quanto em

automóveis de passeio nos anos 20 e 30; bem como aos testes e ensaios realizados tanto na

Escola Politécnica da USP e no atual Instituto de Pesquisas Tecnológicas (MAGALHÃES,

1994).

7 Para mais detalhes sobre a história da pesquisa agrícola paulista e brasileira consultar Mendes (2009),

Salles-Filho et al. (2011). 8 Para mais detalhes consultar http://www.int.gov.br/int90anos/historia.html

9 Mistura entre gasolina e álcool anidro em qualquer proporção.

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Nesse contexto, com o conhecimento de que era viável utilizar uma mistura entre

gasolina e álcool para fins carburantes, em 1931 o presidente Getúlio Vargas passou a

obrigar a adição de 5% de álcool anidro à gasolina, em consonância com algumas outras

iniciativas nordestinas, e mais antigas, que tornavam o álcool etílico o combustível

automotivo nacional como um decreto pernambucano de 1919. Nessa época, a produção de

álcool etílico estava ligada à uma nova utilização para o melaço, então um subproduto do

processo de produção do açúcar; esta iniciativa contribuiu para agregar valor à produção

canavieira (como hoje acontece com a palha e outros resíduos e a produção, dentre outros,

de bioenergia). Também, vale lembrar que a produção de cana-de-açúcar estava

concentrada no nordeste brasileiro e o açúcar, ao lado do café e do algodão, eram os três

principais produtos exportados pelo país (SZMRECSÁNYI, 1998).

O Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) foi criado em 1933 por Getúlio Vargas por

meio do decreto 22.879/193310

como uma continuidade das medidas já realizadas desde o

começo da década de 30 visando a defesa da produção de açúcar, e tinha por objetivo

equilibrar por meio de estímulos ou medidas de controle a produção de açúcar para os

mercados interno e voltados à exportação, a produção de álcool anidro para mistura na

gasolina, bem como garantir a produção, distribuição e comercialização de álcool-motor, ou

álcool carburante (hidratado). É interessante ressaltar que o decreto visava garantir o

funcionamento adequado dos automóveis, o rendimento e a conservação dos motores,

reforçando a necessidade e legitimando as pesquisas e ensaios anteriormente colocados.

Na outra ponta encontra-se a produção agroindustrial com o processamento da cana-

de-açúcar, e a década de 1920 emerge com uma maior participação de empresários sediados

no Brasil para a produção de bens de capital, nomeadamente a Dedini. Antes desta, os

engenhos modernos utilizavam em grande parte tecnologia francesa para a produção de

açúcar e álcool. Uma massa crítica voltada para produção e solução de gargalos na

agroindústria canavieira estava, portanto, montada no estado de São Paulo. Esta é uma

questão de grande importância, que viria nos anos posteriores a transformar o terreno

paulista no maior produtor de cana-de-açúcar e seus derivados no período pós-guerra, ao

10

O decreto completo pode ser conferido em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-

1949/D22789impressao.htm

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desbancar a região nordeste brasileira até então a principal área de plantio e produção de

cana desde os tempos da colonização (SZMRECSÁNYI, 1988; SILVA, 2013).

Nos tempos da IIª Guerra Mundial, uma alternativa ao desabastecimento de

derivados do petróleo foi a adição de maiores quantidades de álcool à gasolina11

, cuja

mistura passou a 20% frente aos 5% anteriores, esta uma forma de atuação direta do IAA.

Com isso, maiores demandas por processamento industrial da cana-de-açúcar emergiram no

sudeste brasileiro, uma vez que o transporte marítimo foi em grande parte enfraquecido

pelo Estado de Guerra. Como o mercado consumidor situava-se amplamente no centro-sul

brasileiro, a Dedini foi capaz de ampliar a dominância da instalação de usinas em São

Paulo, cujo reflexo pode ser entendido com a criação da Codistil (acrônimo de Construtora

de Destilarias Dedini) no início da década de 1940, também em Piracicaba. Nessa mesma

linha do avanço da cana em território paulista, em 1950 na cidade de Sertãozinho, foi

fundada a Oficina Zanini, também uma fábrica de equipamentos pesados voltados

inicialmente para o processamento da cana (FISCHETTI e SILVA, 2008).

Nota-se a mudança no perfil da cultura canavieira, sobretudo com a alteração na

dinâmica de distribuição espacial e também em uma crescente atuação de instituições

públicas ao redor do álcool combustível, sejam de pesquisa ou regulação de mercado.

Assim, na virada da década de 1940 para 1950 começa a se conformar uma massa crítica

sobre alternativas ao petróleo, claramente dirigidas por políticas governamentais estaduais

ou federais, as quais suportaram diretamente a crescente frota automotiva brasileira.

Esse universo de iniciativas, seja em pesquisa, desenvolvimento ou inovações é o

início da organização que Furtado el al. (2011) vão chamar de sistema nacional de inovação

em cana-de-açúcar. Adiante está a organização da pesquisa em motores a álcool, com a

atuação do professor Urbano Ernesto Stumpf, ora na Escola de Engenharia de São Carlos

(1959-1964), ora na Universidade de Brasília (1965-1972) e, por fim, no Instituto de

Tecnologia Aeronáutica a partir de 72 até a década de 1990.

11

Outra alternativa encontrada foi o uso de gasogênio como combustível automotivo. Mais detalhes em

http://bestcars.uol.com.br/ct/gasogenio.htm

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1.3.2. Anos 1950: a modernização da indústria e a pesquisa organizada em álcool

combustível

O período do governo Vargas, conhecido como Estado Novo, traz consigo uma

série de modificações na estrutura produtiva brasileira, com a criação de diversas

instituições cuja finalidade estava em dar subsídios e apoiar a modernização industrial

como o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) criado em 1938, a Companhia Siderúrgica

Nacional fundada em 1941, a Fábrica Nacional de Motores em 1942, a Companhia Vale do

Rio Doce de 1943, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco em 1945, e por fim, a

Petrobrás em 1953, como um desdobramento do CNP.

No que toca à produção canavieira, tem-se o deslocamento da cultura para a região

sudeste, e assim, o estado de São Paulo se consolida entre os anos 1950 e 1960 com as

maiores lavouras. Quanto às instituições de suporte, tem-se a criação da Cooperativa dos

Produtores de Açúcar e Álcool de São Paulo (Copersucar) no ano de 1959, cuja atuação

voltou-se para a modernização do setor sucroalcooleiro (MENDES, 2009). E mais à frente

com o Centro Tecnológico da Copersucar (atualmente Centro de Tecnologia Canavieira,

CTC) fundado em 1969 por um conjunto de usinas com objetivo de desenvolver variedades

de cana-de-açúcar mais produtivas e de melhor qualidade tanto para produção de açúcar

quanto para álcool12

.

Este período também marca a consolidação do mercado interno brasileiro e de uma

crescente independência internacional sob a ótica do sistema produtivo, no sentido de criar

um tecido industrial no país e não no de um isolamento do mercado global. Nesse sentido,

o plano de desenvolvimento nacional proposto por Juscelino Kubitschek, presidente

brasileiro entre 1956 e 1961, conhecido por Plano de Metas, buscou estabelecer prioridades

para a indústria e para a integração nacional; exemplos dessa época são a instalação da

indústria automobilística (com a produção de partes e peças e não apenas na montagem do

tipo CKD) e na construção da nova capital: Brasília. Portanto, a chave para os

desdobramentos que são apontados na sequência foi o planejamento por meio de políticas

para diferentes escalas de atuação.

Especificamente sobre o suporte dado à indústria automobilística no governo JK,

tem-se em 1956 a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), cuja

12

Mais informações disponíveis em http://www.ctcanavieira.com.br/nossahistoria.html

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finalidade era estabelecer as bases do funcionamento do setor e auxiliar na criação do

mercado nacional de veículos de passeio e pesados, ao forçar a nacionalização de grande

parcela dos componentes automotivos (SHAPIRO, 1994; SANTOS e BURITY, 2002).

Não era possível fechar o mercado às empresas estrangeiras uma vez que não havia

montadoras brasileiras efetivamente e, ao mesmo tempo, um anseio estava em produzir

bens de consumo em território brasileiro, dada a política de industrialização baseada na

substituição de importações. Na prática, coube às mudanças institucionais de estímulos

fiscais o papel de forçar crescentes percentuais de nacionalização das peças e componentes

dos automóveis para o estabelecimento de um conjunto de empresas do ramo no país.

E para que essa política de substituição de importações ocorresse de modo

satisfatório diferentes frentes de atuação sobre o setor automobilístico foram abertas, desde

a formação de mão-de-obra através de escolas técnicas, o estabelecimento de infraestruturas

tanto fabris quanto urbanas e o estímulo para a criação de mercados consumidores. Nesse

sentido, o carro de passeio se tornou um dos principais símbolos de modernidade do

governo JK e do ponto de vista produtivo a capacidade da indústria automobilística no

Brasil deu um importante salto em termos de robustez (SANTOS e BURITY, 2002).

O Brasil deixou de ser apenas um montador e ajustador de kits peças. Inicialmente

os carros aqui produzidos eram modelos já fora de linha no exterior, cujos ferramentais e

estampos usados13

foram remetidos ao país para colocar em funcionamento as plantas

produtivas locais, de modo a cumprir com o marco legal induzido por Plano de Metas. O

mercado automobilístico brasileiro sempre foi chamativo às montadoras e autopeças

estrangeiras, pelo tamanho e pelas oportunidades de ganho, inclusive por essa característica

de aceitação de modelos descontinuados cujo investimento para as montadoras se tornava

diminuto pelo fato do desenvolvimento do automóvel apresentar-se pronto de antemão. E,

assim, em um intervalo relativamente curto, entre 1956 e 1957, um total de 18 diferentes

projetos para produção de automóveis e veículos pesados foram aprovados pelo GEIA14

e

11 deles foram implementados nos anos subsequentes (SHAPIRO, 1994).

13

Alguns exemplos são o Aero Willys lançado em 1960 em território brasileiro que corresponde ao

fracassado Aero Wing americano de 1958; posteriormente o Ford Galaxie lançado em 1967 no Brasil, cuja

carroceria é a mesma do modelo americano fabricado até 1966. 14

A Romi-Isetta lançada em setembro de 1956 poderia ser considerada o primeiro automóvel fabricado no

Brasil, entretanto para o GEIA um automóvel tinha por características básicas ao menos duas portas, quatro

lugares e espaço para bagagem, assim o primeiro carro lançado no Brasil é o DKW Universal ou Vemaguet.

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Assim, a década de 1950 marca a chegada de outras montadoras ao país, entre elas a

Willys-Overland em 1952, Volkswagen no ano de 1953, a Vemag15

com a produção do

DKW em 1956 e, nesse mesmo ano, a chegada da alemã Mercedes-Benz; em 1958 se

instalaram no Brasil a Simca, a Toyota e a Scania; já a International Harvest instalou-se em

1959. A Tabela 1.1, abaixo, revela os projetos aprovados pelo GEIA segundo a montadora

e a origem do capital. Nota-se que o capital brasileiro esteve presente ao menos na

instalação de cinco montadoras a partir de financiamentos públicos, por exemplo via

BNDE(S) (SANTOS e BURITY, 2002).

Tabela 1.1 - Projetos aprovados pelo GEIA, Brasil, 1956-57

Montadora Origem do Capital Projetos

Fábrica Nacional de Motores (FNM)

Brasil FNM (caminhão pesado) Alfa Romeo JK (carro de passeio)

Ford EUA F-600 (caminhão) F-350 (caminhão) F-100 (caminhonete)

General Motors (GM) EUA Chevrolet 6500 (caminhão) Chevrolet 3100 "Brasil" (caminhonete)

International Harvester EUA S-184 (caminhão pesado)

Mercedes-Benz 50% Brasil 50% Alemanha

L315 (caminhão pesado) L312/LP312 (caminhão) O312 (ônibus) 180B/180D (carros de passeio - não entraram em produção)

Simca 50% Brasil 50% França

Vedette (carro de passeio)

Scania Suécia Scania Vabis (caminhão pesado)

Toyota Japão Jeep

Vemag Brasil Vemaguet (utilitário) Candango (jeep) Belcar (carro de passeio)

Volkswagen Alemanha Fusca (carro de passeio) Kombi (utilitário)

Willys-Overland Brasil

Jeep Rural (utilitário) Dauphine (carro de passeio) Aero Willys (carro de passeio)

Fonte: elaboração própria a partir de Shapiro (1994) e Santos e Burity (2002).

Quanto à indústria de autopeças, observa-se uma implantação bastante semelhante

às montadoras (devido a reconhecida interdependência dessas empresas): em 1942 a atual

15

A fundação da VEMAG ocorreu em 1945, quando era uma autorizada da Studebaker e trabalhava de acordo

com o regime CKD (SANTOS e BURITY, 2002).

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29

Delphi se instala em São Paulo e em 1954 chega ao país, inicialmente em Campinas, a

alemã Bosch16

.

Com a crescente frota automotiva brasileira, aumenta-se a demanda por

combustíveis e aquece-se a discussão sobre alternativas reais à importação de petróleo, cujo

principal receio estava em uma diminuição drástica da oferta, causada por um possível

esgotamento das reservas, além do efeito inflacionário que a importação de gasolina e

diesel provocavam na balança comercial (FURTADO, 1959). E nesse contexto mais uma

vez vislumbrou-se a utilização de etanol como o combustível nacional.

A plantação de cana-de-açúcar se deslocara para o estado de São Paulo,

majoritariamente, e esta proximidade com a maior parte da frota automotiva nacional ao

lado da inquietação de pesquisadores e acadêmicos sobre a utilização de álcool sem

misturas nos motores foram condicionantes para uma nova rodada de pesquisas em

alternativas aos carburantes derivados do petróleo.

Como uma forma de analisar essas atividades inovadoras ao redor do álcool

combustível no espaço paulista, recorre-se a Mansfield e Lee (1996), os quais realizaram

um estudo sobre distâncias geográficas e mudanças tecnológicas. Do ponto de vista teórico,

esses autores foram capazes de calcular que em uma distância de até 160 quilômetros (100

milhas, no original) de universidades e institutos de pesquisa consagrados ou de influência

no setor produtivo a ocorrência de interações para solucionar problemas de grande

especificidade ou em temas de ponta é consideravelmente maior.

Desse modo, se torna mais clara a compreensão sobre a localização de institutos de

pesquisa, universidades e empresas no estado de São Paulo, voltadas tanto para a produção

de álcool quanto para a construção e montagem de automóveis, ao focar em cidades como

Piracicaba, Campinas e São José dos Campos, esta última mais recente que as demais nesta

análise, porém com destaque para o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), fundado

no início dos anos 1950.

O ITA recebe atenção por desde seu início trabalhar de modo dedicado a questões

de motores, primeiramente aeronáuticos e com espaço crescente os automotivos. E o

destaque em pesquisas sobre combustíveis automotivos alternativos é dado ao engenheiro e

16

Posteriormente, chegam a italiana Magneti Marelli em 1978 (juntamente com a Fiat) e a japonesa Denso no

ano de 1980.

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30

professor Urbano Ernesto Stump17

, que realizou pesquisas acerca de um motor inteiramente

desenvolvido para o uso de etanol e já neste período, sem pressões maiores como

aconteceriam nos anos 1970, orientou alunos em trabalhos e projetos que ajudassem no

desenvolvimento deste. Nascia nesta época, então, a metodologia científica e a pesquisa

sistematizada que levaria a um novo motor automotivo (FISCHETTI e SILVA, 2008).

As pesquisas e estudos supervisionados por Stumpf, mostravam que para um melhor

funcionamento dos motores abastecidos com álcool, estes deveriam trabalhar em

temperatura um pouco mais elevada, teria de haver mudança no diâmetro e na superfície

dos pistões, em regimes com maiores taxas de compressão, as peças que entram em contato

com etanol teriam de receber um banho diferenciado para não sofrerem corrosão, entre

outros fatores. Ou seja, era necessário produzir um novo motor, fabricado com materiais

diferentes e calibrado de modo distinto dos carros movidos à gasolina para o sucesso do

álcool combustível (JOSEPH JR., 2010; STUMPF, 1978). Assim chega-se a década de

1970, que representa uma inflexão no Brasil com a venda e utilização de etanol puro nos

motores da frota nacional.

Resumidamente, em um intervalo de 20 anos, o Brasil estabelece uma base

industrial, com destaque para o setor automobilístico e as políticas agressivas do governo

JK, a pesquisa em combustíveis e motores alternativos ao petróleo se intensifica e ganha

massa, embora ainda ficasse restrita ao contexto dos institutos de pesquisa e universidades,

e, na outra ponta a produção de cana-de-açúcar ganha em volume e se desloca em direção

aos centros consumidores maiores. A economia brasileira, nesse sentido, ganha em

robustez, mas em um curto espaço de tempo uma crise energética de escala mundial

acenderia uma importante discussão e movimentaria as atividades de pesquisa, e mesmo

produtivas, no sentido de ir além ao petróleo.

1.3.3. Anos 1970: motores a álcool e seus desdobramentos

Até o primeiro quarto da década de 1970, no Brasil, as questões que permeavam os

estímulos acerca do uso de etanol combustível estavam relacionadas à dependência externa

de petróleo e, por vezes, ao preço proibitivo da gasolina. Nesse contexto, o Programa

17

O engenheiro Stumpf após formado, foi professor na Escola de Engenharia de São Carlos, na Universidade

de Brasília e por fim, retorna ao ITA nos anos 1970. Maiores detalhes sobre os trabalhos realizados nesse

período estão em Fischetti e Silva (2008).

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Nacional do Álcool (Proálcool ou PNA) surge em 1975, como resposta à crise do petróleo

ocorrida dois anos antes, em 1973. A gasolina, até então o combustível dominante da frota

de veículos leves no país, tornou-se um grande problema na matriz energética brasileira

pelo escalada nos custos de importação e de comercialização, desse modo o governo

brasileiro procurou diminuir a dependência externa de carburantes, o que em parte

materializou-se com o aprofundamento das pesquisas e com o desenvolvimento de um

mercado interno para o álcool combustível.

E, nesse sentido, vale uma reflexão a partir da experiência anterior brasileira em

alternativas à gasolina, como o caminho traçado pelo álcool combustível, que não deixava

de ser uma solução real ao problema colocado com a alta do petróleo. O acúmulo de

experiências e conhecimentos adquiridos desde os anos 1920, e sobretudo com o trabalho

de Stumpf e seus colaboradores desde nas décadas 1950 e 60, mostraram capazes de

transformar a frota veicular nacional em um curto espaço de tempo. O Brasil, nesse sentido,

é um pioneiro na utilização de carburantes alternativos à gasolina e o primeiro país a usar

etanol combustível em larga escala.

É interessante notar que nos quatro anos do intervalo entre 1975 e 1979, a produção

de etanol passou por um período de crescimento estimulado em parte por carros

transformados para transitar com álcool combustível e, em grande parte, por interferências

diretas do governo brasileiro como parte do PNA na substituição da gasolina. A produção

de álcool combustível se quadruplicou, inclusive ao ir além das metas traçadas. O decreto

76.593, que instituiu o Proálcool, previa:

“A produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de

qualquer outro insumo será incentivada através da expansão da oferta de

matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produtividade agrícola, da

modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas”

(BRASIL, 1975).

Portanto, tem-se um grande avanço da produção sucroalcooleira, em cuja base está

um conjunto de maiores produções oriundas de usinas mais modernas com processos que

resultaram em maior produtividade, na expansão das áreas plantadas e também a partir de

melhorias na própria cana-de-açúcar. O Gráfico 1.2, abaixo, ilustra a rápida resposta na

produção de álcool. O tracejado em verde no ano de 1975 representa a publicação do

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Proálcool. Nota-se que em um período de 4 anos, até 1979, a produção de etanol cresceu

mais de quatro vezes desde a promulgação do PNA. Entretanto, a quebra de produção em

1985 colocou em xeque toda a trajetória anterior, que ganharia novo fôlego com a

introdução dos veículos flex fuel em 2003, indicado pelo traço laranja, ponto que é

analisado mais à frente.

Gráfico 1.2 - Produção total de álcool combustível, Brasil, 1970-2012

Fonte: elaboração própria a partir de IpeaDATA e da UnicaDATA

Uma constatação é que a produção de etanol sempre esteve diretamente vinculada à

indústria automobilística, no sentido que, em dois momentos de crescimento da fabricação

de veículos capazes de utilizar álcool como carburante, a produção sucroalcooleira

respondeu de modo rápido. Entretanto, nos momentos de preços favoráveis ao açúcar, a

queda na produção se dá de modo rápido e essa incerteza é um ponto fundamental até os

dias atuais para a utilização veicular dedicada e em larga escala - questões diretamente

ligadas ao rendimento econômico das unidades produtoras, dos limites para se reverter a

produção de álcool em açúcar (ou de açúcar em álcool) e, sobretudo, na minimização dos

riscos para os atores do setor. Questões que podem ser compreendidas tanto como um

paralelo da adição de 5% de álcool nos anos 1930, quanto nas tecnologias de segunda

geração mais recentes.

Do ponto de vista da infraestrutura de distribuição de álcool combustível, ela foi

colocada em prática por uma regulação governamental via CNP18

em 1979. Basicamente, a

distribuição de etanol pegou carona na logística já existente para gasolina; assim, o etanol

18

Resolução nº9/1979 do CNP. Disponível em

http://nxt.anp.gov.br/nxt/gateway.dll/leg/folder_resolucoes/resolucoes_cnp/1979/rcnp%209%20-

%201979.xml

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chegou aos postos de abastecimento por decisão do Estado brasileiro. Esta questão está

descrita na própria resolução nº9/1979 do CNP, em que compete dizer, “considerando o

sistema de abastecimento já implantado no País para a distribuição e revenda dos

combustíveis automotivos e a conveniência do seu aproveitado para operar com álcool

hidratado como combustível automotivo”.

A partir de 1975, uma prática que se tornou corrente era da transformação de

motores a gasolina para álcool, que buscava tornar o motor mais eficiente e econômico para

o novo combustível, uma vez que a mecânica desses automóveis não possuía comando

eletrônico e, portanto, necessitava de ajustes mais específicos que envolviam o desmonte do

motor e a calibração de diferentes partes para o trabalho com etanol puro. Exatamente nesse

ponto se ocorreu um processo fundamental para a consolidação do motor a álcool, segundo

um dos entrevistados para a presente pesquisa, devido à atuação de profissionais oriundos

de diferentes institutos de pesquisa estaduais e universidades, que se dedicaram a treinar e

orientar tecnicamente oficinas mecânicas e retíficas, as quais eram responsáveis pela

conversão dos motores à gasolina para álcool, até que os veículos saíssem de fábrica

dedicados para o combustível alternativo.

Os primeiros veículos comercializados com motores a álcool propriamente ditos

chegaram às concessionárias da Fiat no segundo semestre de 1979. Assim, o Fiat 147 é o

primeiro carro a álcool em linha do Brasil. E, já no começo da década de 80, as principais

montadoras presentes no mercado nacional, a saber Volkswagen, Chevrolet e Ford, além da

supracitada Fiat, tinham seus modelos equipados com motores desenhados primordialmente

para utilizar álcool combustível.

Com o mercado favorável, não só pelo preço dos combustíveis, mas também pela

menor carga tributária aplicada aos veículos a álcool, a difusão destes se deu de modo

rápido, até que em 1985/86 praticamente 80% dos veículos novos vendidos estavam

equipados com motores a álcool, movimento histórico que pode ser conferido no Gráfico 1.3

que segue.

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Gráfico 1.3 - Produção de automóveis por tipo de combustível, Brasil, 1970-1999

Fonte: Anuário Estatístico Anfavea 2014

Uma expansão rápida, baseada em estímulos governamentais, e que passava uma

noção de autonomia do petróleo, teve uma vida curta. Num momento seguinte, no mercado

internacional, o preço do barril passa a recuar a níveis competitivos e, assim, arrefecesse a

trajetória do álcool combustível (BNDES e CGEE, 2008). No final da década de 1980,

acreditava-se na viabilidade do Proálcool com preços do barril do petróleo acima da casa

dos U$30,00 (SEROA DA MOTA e ROCHA FERREIRA, 1988).

O Proálcool se expandiu até meados da década de 1980; entretanto com o preço da

gasolina em queda somado à maior rentabilidade do açúcar, e com os sucessivos episódios

de desabastecimento de álcool combustível, a descrença da população com o projeto

aumentou. Na virada para os 1990 já havia se reestabelecido a gasolina como o principal

combustível automotivo do país. Até os anos 2000 praticamente se extinguiram os carros

novos a álcool no Brasil.

Essa quebra de produção do álcool em meados dos anos 80 ocorre em um período

no qual já se havia vencido diferentes gargalos tecnológicos, por exemplo, em questões que

permeiam a durabilidade e manutenção dos automóveis, com o emprego de novos materiais

em partes críticas, como válvulas, sede de válvulas, até nos tanques de combustíveis (ou

seja, sempre nas peças que entram em contato direto com os combustíveis). Uma

importante massa de aprendizado ocorreu neste período dentro das montadoras e autopeças.

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Ou seja, o revés que atingiu o carro a álcool não foi devido à inviabilidade dos motores e o

uso de combustível alternativo.

O início da década de 1990 também, marca o início da desregulamentação do setor

sucroalcooleiro, sobretudo com o fechamento do IAA. Assim, os produtos da cana-de-

açúcar passam a responder a diferentes órgãos do governo, o controle sobre o etanol passa a

ser feito pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, já o açúcar

fica sob as orientações do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ao álcool combustível incide também uma

modificação na estrutura de preços, dado que em 1998 libera-se o preço do álcool anidro e

no ano de 1999 o preço do álcool hidratado, até então regulados pelo Estado.

1.3.4. Século XXI: novas montadoras, novas tecnologias

Atualmente, estão sediadas em território brasileiro 11 montadoras de automóveis19

,

e todas elas possuem em seus portfólios modelos que contam com a tecnologia flex fuel

funcionando nos motores. A distribuição espacial das plantas produtivas pode ser conferida

na Figura 1.4 que segue (no Anexo 1 estão desmembradas as montadoras e suas respectivas

plantas produtivas). Historicamente, as plantas produtivas estavam instaladas no estado de

São Paulo e, da virada para os anos 2000 em diante, houve certa descentralização com a

inauguração de fábricas na Bahia, no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Goiás.

19

Algumas outras montadoras de automóveis, sobretudo do segmento de luxo, não possuem fábricas no Brasil

e também não comercializam veículos flex fuel. Por outro lado, este número é maior se somado às montadoras

de veículos comerciais leves, caminhões e ônibus (ANFAVEA, 2014).

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Figura 1.4 - Municípios com unidades produtivas automobilísticas, Brasil, 2014

Fonte: elaboração própria a partir de Anfavea (2014)

Quanto ao volume monetário movimentado pela fabricação de automóveis, segundo

a Pesquisa Industrial Anual20

do IBGE, em 2011, o montante chegou a casa dos R$ 102

bilhões em vendas (e R$ 107 bilhões na produção), e este volume representou cerca de

5,5% do total dos produtos industriais vendidos no país. Se olhado o setor automobilístico,

esse volume monetário das vendas ultrapassa os R$ 225 bilhões (e R$243 bilhões na

produção), representando 12,9% das vendas do total industrial produzido.

Nessa linha, os investimentos do setor em atividades inovativas foram de R$ 6,7

bilhões, segundo os dados da Pesquisa de Inovação de 2011 (PINTEC, 2013). Este valor

desembolsado responde por 10,7% do total investido em ações para inovação.

Especificamente sobre P&D, o total gasto pelas empresas do ramo automotivo foi de R$3,3

bilhões (dos quais dois terços foram desembolsados por montadoras), equivalentes a 17%

20

Dados disponíveis em

ftp://ftp.ibge.gov.br/Industrias_Extrativas_e_de_Transformacao/Pesquisa_Industrial_Anual/Produto2011/Tab

ela1.pdf

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do investido nessas atividades no Brasil. Deste modo, o setor automotivo é que mais

investe em atividades cuja finalidade é pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Do ponto de vista do comportamento das montadoras e autopeças, há nítidas

diferenças em termos de estratégia ligadas ao desenvolvimento de novos modelos ou

mesmo de novas tecnologias embarcadas, ao montante investido e à conformação de

centros especializados em atividades de P&D.

De acordo com os especialistas consultados, é possível realizar uma divisão

analítica das montadoras com plantas produtivas instaladas no país e seus respectivos

centros de P&D dividindo-as entre tradicionais e newcomers. As tradicionais seriam as

mais antigas em território brasileiro, a saber: Ford, Chevrolet, Volkswagen e Fiat; já as

newcomers dividem-se em dois grupos, francesas e asiáticas: as francesas são Citroën,

Peugeot e Renault, e as asiáticas Toyota e Honda, Hyundai e Kia. Nesse sentido, as

tradicionais possuem atividades de P&D há tempos, seguidos das newcomers francesas e,

por fim, das asiáticas Honda e Toyota que têm seus centros em fase de instalação. Hyundai

e Kia ainda têm atividades de pesquisa e desenvolvimento bastante discretas no Brasil.

Mesmo que as montadoras automotivas possuam atuação de nível mundial e

plataformas comuns ao redor do globo, algumas nuances alteram o comportamento de

determinados mercados, como o uso de etanol no Brasil. A característica tradicional do

mercado brasileiro é a adição de álcool à gasolina, que gera a necessidade de ajustes

mecânicos dos motores pelo álcool apresentar características físico-químicas que aceleram

o desgaste de peças desenhadas para o uso de gasolina apenas, como foi visto acima. Essas

soluções são razoavelmente bem conhecidas, devido à história brasileira no uso de álcool

combustível.

Por isso, o Brasil passou a sediar alguns centros de P&D automotivos voltados ao

uso de biocombustíveis (nomeadamente etanol e biodiesel) - por exemplo, Peugeot e

Renault - fato que também é válido para sistemistas - como os casos da Bosch, Magneti

Marelli e Mahle - e, também por ser um mercado atraente e garantido no que toca a esses

carburantes e ao tamanho do mercado interno. Além disso, o país já contava com uma

importante infraestrutura de distribuição e comercialização de álcool; portanto, o passo

adiante, com o flex fuel, não foi uma quebra, e sim uma continuidade. É interessante notar

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que esses veículos passaram a receber vantagens tributárias, aos moldes que ocorriam com

os modelos anteriores ao álcool.

É válido reforçar o papel da indústria de autopeças e das sistemistas, pois a

tecnologia flex fuel está muito mais ligada à atuação delas em P&D, que dá origem a novos

produtos ou tecnologias que são aplicadas pelas montadoras. Nesse caso os fornecedores

têm papel fundamental no processo de inovação.

Este primeiro capítulo buscou realizar um panorama histórico do surgimento e

desenvolvimento dos automóveis, no mundo e sua entrada e consolidação no país, assim

como a utilização de álcool como combustível no Brasil, desde a chegada dos primeiros

automóveis, passando pelas experiências e tentativas de abastecer os veículos com o

derivado da cana-de-açúcar ainda de modo pontual, até chegar ao Proálcool e o ganho de

escala do combustível alternativo, experiência brasileira cujo episódio mais recente é a

introdução dos veículos flex fuel no mercado. De forma a continuar as análises e discussões,

prossegue-se com um resgate da história da tecnologia flex em si, além de um

posicionamento sobre a situação atual do setor automobilístico nacional, em termos de

desempenho econômico e com foco nas atividades de P&D privadas e públicas com vistas à

realização de melhorias na tecnologia flex fuel.

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2. Ressurgimento do Etanol Automotivo no Brasil: desafios e

estratégias recentes dos veículos Flex Fuel

O presente capítulo tem por objetivo realizar uma análise sobre a conformação da

tecnologia flex fuel no Brasil, além de analisar o panorama do desempenho econômico do

setor automobilístico e dos resultados das atividades de pesquisa, desenvolvimento e

inovação (PD&I) tanto nas empresas quanto nas universidades e institutos de pesquisa no

país. Apresenta-se os movimentos iniciais em torno da iniciativa e da disseminação do

conceito flex fuel, que ao mesmo tempo que remete aos tempos do Proálcool, aponta

grandes diferenças, especialmente quanto ao comportamento dos atores envolvidos - as

empresas automobilísticas (montadoras e autopeças), o governo e o consumidor. Isso

porque, diferentemente do caso do carro a álcool, o veículo flex fuel foi introduzido no

mercado por meio da atuação das autopeças e montadoras, mas com grandes desafios -

superar os gargalos técnicos da mistura álcool e gasolina (e tudo o que isso significa) e

reduzir custos das descobertas e inovações (o sensor capacitivo, capaz de permitir o

reconhecimento do combustível antes da combustão tinha nos anos 2000 um custo de cerca

de US$ 100, que tornava seu uso restrito; no Brasil, ele continua a não ser utilizado uma

vez que encontrou-se uma solução mais simplificada e barata, por conta da reprogramação

da injeção eletrônica pelos dados captados através da sonda lambda). Por sua vez, o setor

público de pesquisa e desenvolvimento não estava preparado para enfrentar os desafios que

são exigidos quando o uso do conhecimento em estruturas já existentes, em que o novo tem

que se adequar ao antigo, com eficiência e garantindo retornos econômicos e ganhos de

posição nos mercados concorrenciais.

Para o desenvolvimento desta análise, esta parte da pesquisa está assentada em

levantamentos primários e secundários de dados. O levantamento primário diz respeito às

entrevistas realizadas com especialistas do setor automobilístico, cujo conhecimento e

trabalhos de pesquisa se estendem pelas distintas fases do processo de desenvolvimento dos

automóveis e motores. Já os dados secundários foram levantados junto à PINTEC entre os

anos 1998 e 2011, pesquisa de referência ou um survey sobre a inovação realizado pelo

IBGE. O foco maior da análise considera a indústria automobilística, também junto ao INPI

(Instituto Nacional da Propriedade Industrial), órgão brasileiro competente para análise e

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concessão de direitos de propriedade intelectual (como patentes, marcas, desenhos

industriais e indicações geográficas), cujo foco esteve em um levantamento e análise de

patentes. Também foi realizado levantamento junto ao Diretório de Grupos de Pesquisa do

CNPq, o qual reúne grupos de pesquisa acadêmicos brasileiros, reportando-se ao tema

veículos flex fuel.

Esses levantamentos de dados de diferentes ordens e assuntos visam cobrir um

maior espectro das atividades de PD&I no setor automobilístico, desde o investimento em

inovação, passando pela proteção da propriedade intelectual, alcançando o conjunto de

pesquisadores e grupos sediados em solo brasileiro e especializados na temática trabalhada

nesta dissertação. De modo mais pormenorizado, cada fonte de dado teve uma estratégia

para aquisição e análise das informações, as quais estão delimitadas na sequência deste

item.

O capítulo está estruturado em dois itens: o primeiro desenvolve uma análise sobre a

atuação das montadoras e autopeças, além dos conteúdos produzidos a partir da pesquisa

pública no país, com base nos dados e em entrevistas realizadas junto a especialistas; o

segundo item dedica-se aos dados secundários (é apresentada a metodologia adotada para a

realização de cada busca) e a respectiva análise dos dados coletados. Trabalha-se, assim,

com os resultados econômicos do setor e o investimento em PD&I a partir da Pesquisa de

Inovação (PINTEC/IBGE), bem como na proteção da propriedade intelectual de ativos com

consultas às bases do INPI e na organização da pesquisa acadêmica em etanol e motores

automotivos com os grupos de pesquisa cadastrados no DGP/CNPq.

2.1. O veículo flex fuel: evolução histórica e tecnológica

O início dos anos 2000 retratam um novo fôlego ao uso de álcool combustível no

Brasil, com a introdução no mercado automobilístico do primeiro modelo flex fuel. Este

item dedica-se a traçar um histórico desta tecnologia e as melhorias implantadas ao longo

do tempo; para isso utiliza-se os resultados de entrevistas realizadas além da análise do

funcionamento da tecnologia flex brasileira.

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas junto a especialistas no tema, para a

captação das percepções e experiências dos entrevistados, buscando uma compreensão mais

completa e abrangente do objeto em estudo. No total, realizou-se cinco entrevistas com

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41

professores e pesquisadores de universidades públicas paulistas, parte deles com

experiências junto a montadoras e autopeças em projetos de desenvolvimento de produtos e

peças, parte com experiência no desenho de programas e projetos de pesquisa específicos

para etanol ou combustíveis alternativos, seja em órgãos de fomento à ciência e tecnologia

estaduais ou agências nacionais de regulação. Os entrevistados foram o Prof. Dr. Sérgio

Queiroz (DPCT/IG/Unicamp), o Prof. Dr. Amilton Sinatora (POLI/USP), Prof. Dr. Waldyr

Gallo (FEM/Unicamp), o Prof. Dr. Rogério G. dos Santos (FEM/Unicamp) e o Prof.

Francisco Nigro (POLI/USP). Essas entrevistas ocorreram nos primeiros meses de 2014.

As entrevistas versaram sobre quatro questões, a saber: gargalos técnico-científicos

para o aumento da eficiência dos motores flex fuel, experiências e competências brasileiras

para o desenvolvimento dessas tecnologias, interações das universidades com empresas, sua

efetividade e fragilidades, e por fim, mudanças recentes do marco regulatório com o

Inovar-Auto.

O item se divide em dois: o primeiro subitem tem por finalidade apresentar o

mercado criado com o lançamento da tecnologia flex no mercado nacional, além de uma

breve comparação com os Flex Fuel Vehicles norte-americanos; já o segundo trata das

nuances do funcionamento dos motores com os diferentes combustíveis ou misturas

possíveis à luz do marco conceitual levantado no início do trabalho.

2.1.1. 2003: uma novidade no mercado automobilístico nacional

Em março de 2003, uma nova etapa tem início, com a Volkswagen comercializando

o primeiro carro flex fuel no Brasil, com o Gol 1.6, dando novo fôlego à utilização de etanol

combustível. Ao olhar um dos problemas que causaram a desaceleração do Proálcool -

quais sejam, o aumento do preço do açúcar no mercado internacional, o recuo do barril do

petróleo e as decorrentes crises de desabastecimento de álcool combustível - a tecnologia

embarcada nos motores flex fuel soluciona o gargalo dos motores dedicados de modo

assertivo, ao possibilitar um funcionamento estável dos automóveis independentemente do

combustível, ou mistura, presente no tanque. Esse é um dos motivos da rápida difusão dos

modelos flex, como mostrado no Gráfico 2.1 abaixo. Guardada as devidas proporções da

escala de produção, a difusão dos carros a álcool e dos flex fuel tem uma curva inicial

bastante semelhante.

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Gráfico 2.1 - Produção de automóveis por tipo de combustível, Brasil, 1970-2013

Fonte: Anuário Estatístico Anfavea 2014

Um paralelo com a tecnologia flex fuel brasileira são os flex fuel vehicles (FFV)

norte-americanos, surgidos entre a década de 1980 e 1990 e abastecidos prioritariamente

com uma mistura de 85% de álcool (primeiro metanol e posteriormente etanol) e 15% de

gasolina, conhecido atualmente por E85. Apesar de ser uma tecnologia mais antiga que a

nacional, a frota de FFVs é restrita (cerca de 10 milhões de veículos em uma frota superior

a 190 milhões de automóveis)21

e passa por importantes questões de distribuição do

combustível, dado que a infraestrutura de postos de abastecimento, por exemplo, não está

preparada para uma difusão maior desses automóveis.

Uma diferença básica da tecnologia flex fuel brasileira para os motores a álcool dos

anos 1980 está no sistema de alimentação de combustível. Os motores do Proálcool

contavam com carburadores, cujo controle de entrada de combustível é realizado de modo

mecânico (e em alguns casos uma combinação de mecânico e elétrico), enquanto que os

atuais motores flex contam com injeção eletrônica, cujo funcionamento básico está atrelado

a uma unidade eletrônica de controle (ECU) e aos softwares específicos de monitoramento

e ajustes do motor.

21

Dados do Departamento de Transportes dos Estados Unidos, disponíveis em

http://www.rita.dot.gov/bts/sites/rita.dot.gov.bts/files/publications/national_transportation_statistics/html/tabl

e_01_11.html

-

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Gasolina Álcool Flex Fuel

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43

A tecnologia flex fuel brasileira está baseada na sonda que mede os gases

provenientes da queima dos combustíveis, conhecida por sonda lambda, cuja função é

medir a quantidade de oxigênio nos gases que passam pelos dutos de escape. Isso permite

que os ajustes eletrônicos ocorram de modo rápido e eficaz, proporcionando ao motor

funcionar mais próximo da curva ideal de consumo e rendimento, de acordo com a mistura

de combustível presente no tanque (GATTI, 2011; NASCIMENTO et al., 2009b). Tal

tecnologia é diferente dos FFVs americanos, que utilizam o sensor capacitivo, o qual

reconhece o combustível, ou a mistura, realizada na linha de alimentação antes da

combustão além da própria sonda lambda, esta tecnologia é mais avançada que a nacional e

aumenta a eficiência dos motores, mas com custos de introdução do sensor capacitivo ainda

elevados, tornando-se uma barreira ao mercado brasileiro.

A injeção eletrônica, desse modo, é capaz de adequar o regime de funcionamento do

motor em razão do acompanhamento de diferentes parâmetros e a partir de ajustes finos

(por exemplo, de temperatura, na mistura de combustível-ar, no ponto de ignição, etc.) que

resultam em melhores de desempenhos momentâneos e na redução das emissões de gases e

partículas poluentes. Este é um avanço que se difundiu no Brasil a partir da década de

1990, e junção desse novo aparato técnico nos motores com a experiência anterior com

álcool combustível se mostrou como um balão de ensaio perfeito para o desenrolar dos

veículos flex fuel nacionais (GATTI, 2011).

Como contexto e estopim para esse casamento acima sugerido, Nascimento et al.

(2009a) sugerem três condicionantes, descritos pelos próprios autores na sequência.

“A partir de então três fatos particularmente marcantes influenciaram a

intensificação do interesse no desenvolvimento da solução flex fuel. Em 1998, o

governo federal aprovou a Lei ‘Frota Verde’ que exigia a troca de toda a frota de

veículos oficiais para veículos a etanol em um prazo de cinco anos. Diversos

governos estaduais seguiram a mesma atuação com leis similares. Em 2000 foi

realizado pelo IPT (Instituto de Pesquisas tecnológicas - órgão estadual de

pesquisa e desenvolvimento) um seminário técnico voltado à tecnologia flex fuel

que reuniu todas as principais empresas do setor automotivo nacional e os

principais engenheiros dessas empresas para debates técnicos sobre a viabilidade

da solução flex fuel. Esse evento se tornou um marco na história da corrida

tecnológica do sistema flex fuel, pois houve muito compartilhamento de

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conhecimento entre todos os presentes, inclusive com a demonstração de um

veículo GM-Omega 2.0 equipado com sistema flex fuel com sensor capacitivo

desenvolvido pela Bosch. Também por volta de 2000 o preço do etanol cai a

patamares mais viáveis para uso em grande escala como combustível nacional.

Esses três fatos deram o impulso definitivo para que as empresas do setor

automotivo intensificassem seus esforços de desenvolvimento da solução flex

fuel” (NASCIMENTO et al., 2009a, p.3).

Este momento, portanto, se mostrou bastante propício para a introdução e difusão

desta nova tecnologia em território brasileiro. De um lado, a iniciativa privada

(prioritariamente a indústria de autopeças e sistemistas) detinha a solução

técnica/tecnológica que tornava os veículos funcionais com os dois combustíveis (ou

mistura deles), com uma imagem positiva ao focar o flex fuel pela ótica ambiental. Do outro

lado, a academia tinha anseios de não se deixar esmorecer toda a dedicação em pesquisa e

no conhecimento acumulado, majoritariamente, desde década de 1970.

Nesse sentido, tem-se que a volta do etanol combustível com os automóveis flex fuel

em grande parte ocorreu por iniciativa privada, sem o estabelecimento de pressões de um

marco regulatório específico que forçassem um desenvolvimento tecnológico mais

aprofundado. Pode-se dizer, ainda, que a rápida difusão dos veículos flex está diretamente

relacionada à já citada infraestrutura disponível no que toca à distribuição e

comercialização de álcool, mas também no fato de corroborar com a ideia de que o não

aprisionamento ao combustível alternativo torna o veículo flex uma espécie de carro a

álcool com seguro e, assim, não há margem para desconfiança ou descrédito tanto do

automóvel quanto do combustível.

2.1.2. Tecnologia flex fuel: um autêntico processo de desenvolvimento tecnológico?

O desenvolvimento do veículo flex fuel pode ser considerado uma estratégia de

aproveitamento de oportunidades técnico-produtivas (à la Dosi), bem como da experiência

em álcool combustível anterior. Isso, mesmo com o fato da indústria automobilística no

Brasil apresentar largos traços de tradicionalismo, dado que os avanços tendem a ocorrer

em intervalos temporais de médio a longo prazos e em grande parte chegam ao mercado

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45

como inovações incrementais22

, via pequenas melhorias que auxiliam no funcionamento da

máquina como um todo.

Historicamente, o Brasil não criou um motor a álcool nem mesmo durante o

Proálcool; este chegou ao mercado por uma série de adaptações dos motores à gasolina, em

mais um caso que se pode denominar de tropicalização - prática corrente no mercado

nacional, na qual as tecnologias desenvolvidas nas matrizes são adaptadas pelas filiais

brasileiras. Pode-se, na verdade, argumentar que no caso do veículo flex fuel não se trata

exatamente de um processo de tropicalização, dado que não se está importando a tecnologia

do exterior ou das matrizes das empresas do setor automobilístico, mas sim de um avanço

da engenharia automotiva nacional, a partir de um processo de desenvolvimento

tecnológico, no qual as atividades de PD&I são importantes. Não se trata de ruptura e a

base está mais assentada em atividades de Desenvolvimento e menos em atividades de

Pesquisa, mas de toda forma, é algo que vai além do trabalho rotineiro. Nesse caso, as

perguntas, os questionamentos, as barreiras e as oportunidades imprimem o avanço técnico-

científico das questões que envolvem a tecnologia flex.

Do ponto de vista dos projetos de motores, os produzidos para trabalhar com álcool

requerem uma construção mais robusta e reforçada; assim, são necessários materiais mais

resistentes, além de ajustes mecânicos que já são conhecidos, com o intuito de melhor

aproveitar o rendimento proporcionado pela utilização de etanol combustível. Nessa linha,

diferentes soluções podem ser empregadas para uma maior durabilidade do motor, sem

serem excludentes e por apresentarem viabilidade técnica, mas com restrições do ponto de

vista econômico pelo custo de adoção. Duas frentes de pesquisa estão ligadas aos

lubrificantes: óleos com menor viscosidade e novos materiais para a produção de válvulas e

sede de válvulas, bem como o redesenho desses componentes. São avanços e novas

posições que em última análise visam a aumentar a vida útil e o desempenho global dos

motores.

Igualmente, desgaste e dissipação de energia são pontos de interesse na pesquisa

sobre o consumo de energia, e os desafios que são colocados estão ligados a dificuldades do

trânsito em grandes cidades, quando o motor não é usado em plena carga, dadas as

22

Apesar da reversão deste quadro em alguns processos nos últimos anos, como demonstrado por Consoni

(2004) e Quintão (2008).

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condições de mobilidade e de distâncias não grandes (o problema não está em casos de uso

de carros constantemente em estradas, mas sim no dia-a-dia de capitais - cujo tamanho da

frota é consideravelmente grande23

). Junta-se o fato de que os carros estão muito mais

robustos e pesados, o que influi fatalmente nos trade-offs quando se busca eficiência e

desempenho de uma nova tecnologia sem grandes alterações do design padrão da

manufatura. Assim temáticas de pesquisa que surgem vão na direção de diminuição do

atrito, cujo produto pode auxiliar na resolução dos dois problemas apontados. O espaço

para melhoria no rendimento global dos motores, e por tabela dos veículos, é

razoavelmente grande e tem-se uma noção bastante exata de onde focar atividades para este

fim.

Um desafio central no motor flex fuel é lidar com combustíveis que apresentam

diferentes características físico-químicas e, assim, necessitarem de ajustes distintos para o

pleno funcionamento, com um consumo de combustível aceitável e sem gerar acelerados

desgastes e defeitos na parte mecânica dos automóveis. Como mostrado anteriormente, um

motor de combustão interna possui duas características marcantes do ponto da energia: o

momento de geração e o posterior consumo de energia. Quanto ao consumo, afere-se o

trabalho útil e a perda da energia gerada sob forma de calor, ruído, vibrações etc. A redução

de perdas é central para melhorias na eficiência geral dos motores.

Do ponto de vista teórico, em motores de ciclo Otto uma maior eficiência energética

no ciclo termodinâmico está atrelada a maiores pressões de combustão e, portanto, à maior

resistência à detonação do combustível (octanagem), o que possibilita ao etanol maiores

eficiências energéticas. Já o consumo de combustível em km/litro depende, além da

eficiência energética, do poder calorífico do combustível e, nesse aspecto, o etanol, por

conter oxigênio em sua molécula, tem uma densidade energética menor (aproximadamente

1,42 litros de etanol hidratado para a mesma energia de 1 litro de gasolina C).

Em motores flex, o principal gargalo é como alterar a taxa de compressão efetiva

com os diferentes combustíveis para se obter um melhor desempenho específico quando se

23

Dois problemas emergem por esse tipo de utilização dos automóveis, o primeiro é conhecido por “ciclo

frio”, veículos que percorrem pequenas distâncias e assim não atingem a temperatura ideal de funcionamento

do motor, o que pode levar a formação de borra, espuma no óleo lubrificante, o que acelera o processo de

corrosão dos componentes mecânicos, o segundo é o “ciclo de marcha lenta”, veículos que passam a maior

parte do tempo em engarrafamentos e congestionamentos, assim mesmo com o motor na temperatura ideal

tem-se um maior desgaste por constantes trocas de marchas e a geração de problemas de lubrificação.

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utiliza apenas um tipo de combustível. Assim, soluções sofisticadas, como cabeçotes com

ajuste variável ou o deslocamento de virabrequim, voltadas para um ajuste mais fino das

taxas de compressão, além do uso de turbocompressores, já foram testadas e são possíveis

de ingressarem no mercado como novos pacotes tecnológicos. Entretanto, a viabilidade

técnica esbarra no alto custo de adoção dessas novidades, cujo gasto se mostra proibitivo e,

portanto, economicamente inviável.

De modo resumido e para mostrar como esses detalhes são importantes ao

funcionamento mais adequado da tecnologia flex fuel brasileira quanto às taxas de

compressão e ao uso de gasolina e etanol, Nascimento et al. (2010) apresentam diferentes

tendências entre as montadoras, como no Gráfico 2.2, abaixo. Vale esclarecer que motores

com cilindradas unitárias maiores suportam menores taxas de compressão para

combustíveis de mesma octanagem.

Gráfico 2.2 - Comparação das Taxas de Compressão por montadoras no Brasil

Fonte: Nascimento et al. (2010).

Ao lado dessa discussão, e de modo não excludente, estão as possibilidades de se

redesenhar o sistema de admissão no intuito de aplicar a injeção de combustível

diretamente na câmara de combustão, técnica já utilizada em motores de alto desempenho

que diminui perdas e aumenta o rendimento, também, na aplicação de sistemas tipo

turbocharger, tecnologia que proporciona ganhos de eficiência e rendimento nos motores.

Segundo os especialistas consultados nesta última, para que se obtenha sucesso com sua

9

10

11

12

13

14

1.0 L 1.3-1.6 L 1.8-2.0L

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Otimizada para

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Interme-diária

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aplicação, necessita de motores mecanicamente mais robustos, caso dos projetos de motor

com 3 cilindros recém introduzidos no mercado nacional.

De todo modo, o ponto central está em que o desenvolvimento dos motores e de

diferentes mecanismos pode indicar os possíveis caminhos ou mesmo acelerar o processo

de mudança técnica. Uma questão de importância passa a ser, portanto, como realizar

atividades de PD&I mais focadas na tecnologia flex fuel, de modo a gerar melhorias

substanciais aos veículos produzidos e comercializados no país? Nota-se que o país passou

a sediar centros de P&D em biocombustíveis de grandes empresas, o que é um importante

indicador que há atenção nas atividades e no mercado automobilístico nacional. Os

diferentes levantamentos de dados realizados a seguir neste capítulo revelam que há

capacidade técnico-científica instalada no Brasil. Não há como negar um possível

descolamento das atividades industriais e da pesquisa acadêmica, mas mesmo assim se faz

necessário, novamente, enxergar o uso do etanol combustível como uma virtude e não

apenas uma maneira de se desvencilhar da utilização de gasolina na frota leve nacional.

Na sequência, a Figura 2.1, busca resumir a história tanto da indústria

automobilística, quanto da produção e utilização de álcool combustível no Brasil

delimitadas até este ponto do trabalho.

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Figura 2.1 - Eventos sobre a indústria automobilística e a utilização de álcool combustível, Brasil, 1900-2014

Fonte: elaboração própria a partir de Bastin (2010), Fischetti e Silva (2008), Furtado et al. (2011), Shapiro (1994) e Rico et al. (2010)

• 1903 - Exposição Internacional de Aparelhos a Álcool

1900

• 1919 - Governo pernambucano declara o etanol com “Combustível Nacional”

• 1919 - Instalação da Ford

1910

• 1921 - Criação da Estação Experimental de Combustíveis e Minérios

• 1922 - Fundação da Dedini

• 1925 - Instalação da Chevrolet

1920

• 1931 - Criação da Comissão de Estudos do Álcool Motor

• 1931 - Adição obrigatória de 5% de álcool na gasolina

• 1933 - Criação do Instituto do Açúcar e Álcool (IAA)

• 1938 - Criação do Conselho Nacional do Petróleo

1930

• 1941 - Adição de 20% de álcool anidro à gasolina (Estado de Guerra)

• 1942 - Criação da Fábrica Nacional de Motores

• 1942 - Instalação da Delphi

• 1943 - Fundação da Codistil

• 1945 - Instalação da Vemag

1940

• 1951 - Prof. Urbano E. Stumpf inicia estudos sobre álcool combustível na Escola de Engenharia de São Carlos

• 1952 - Instalação da Willys-Overland

• 1953 - Instalação da Volkswagen

• 1954 - Instalação da Bosch

• 1956 - Criação do GEIA - Grupo Executivo da Indústria Automobilística

• 1956 - Venda do primeiro carro fabricado no Brasil pela DKW-Vemag

• 1956 - Instalação da Mercedes-Benz

• 1958 - Instalação da Simca, Toyota e Scania

• 1959 - Criação da Copersucar

• 1959 - Instalação da International Harvest

1950

• 1967 - Instalação da Chrysler

• 1969 - Criação do CTC

• Leis de Incentivo a Produção e Expansão da cultura canavieira

1960

• 1973 - Instalação da FIAT

• 1973 - Criação da EMBRAPA

• 1975 - Criação do Proálcool

• 1978 - Instalação da Magneti Marelli

• 1979 - Comercialização do primeiro veículo com motor a álcool pela FIAT

1970

• 1980 - Instalação da Denso

• 1986 - Mais de 90% dos automóveis produzidos foram com motor a álcool

• 1986 - Criação do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve)

1980

• 1993 - Bosch lança a tecnologia Flex Fuel

• 1997 - Instalação da divisão de automóveis da Honda

• 1998 - Instalação da Mitsubishi e Renault

• 1999 - Magneti Marelli desenvolve a tecnologia SFS (Software Flexfuel Sensor)

1990

• 2000 - Instalação da Citroen

• 2001 - Instalação da Nissan e Peugeot

• 2003 - Comercializado o primeiro automóvel Flex Fuel no Brasil pela Volkswagen

• 2007 - Instalação da Hyundai

• 2008 - Criação do Programa Brasileira de Etiquetagem Veicular (PBVE) pelo Inmetro

2000

• 2012 - Entra em vigor o Inovar-Auto, decreto presidencial que visa aumentar a eficiência energética dos automóveis até 2016

2010

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Nota-se que tratar de álcool etílico como combustível não é novidade nenhuma no

país, uma vez no início do século XX já se buscava trabalhá-lo como carburante nos poucos

veículos que existiam no território nacional. Nesse sentido, então, muito já foi pesquisado e

aprendido para uma utilização mais eficiente e racional do derivado da cana-de-açúcar, mas

mesmo assim há melhoras latentes a serem realizadas, sobretudo na parte mecânica dos

automóveis.

Este primeiro item buscou realizar um panorama da tecnologia flex fuel, que traz

consigo mais de seis décadas de trabalho sistemático ao redor da utilização de álcool

combustível no Brasil. De forma a continuar o estudo prossegue-se com a situação atual do

setor automobilístico nacional, em termos de desempenho econômico e com foco nas

atividades de PD&I privadas e públicas que proporcionam melhorias na tecnologia ora

estudada.

2.2. Indústria Automobilística e Tecnologia Flex Fuel: avanços e desafios

técnico-econômicos da PD&I nacional

Este item tem por finalidade mapear os investimentos privados nas atividades de

PD&I, bem como as competências e os recursos humanos ligados às atividades acadêmicas

brasileiras, além da proteção de produções tecnológicas. Para isso, foram levantados dados

em diversas bases. Primeiramente junto à PINTEC entre os anos 1998 e 2011, que se

coloca como uma pesquisa de referência ou um survey sobre a inovação na indústria

brasileira, o foco maior da análise considera a indústria automobilística; também no

Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, que reúne grupos de pesquisa acadêmicos

brasileiros, também considerando o tema sobre veículos flex fuel; por fim e com destaque

maior na análise dos resultados e nas estratégias de proteção e atuação no mercado

nacional, um levantamento de pedidos de patentes depositados junto ao INPI, órgão

brasileiro competente para análise e concessão de direitos de propriedade intelectual.

Esses levantamentos de dados de diferentes ordens e assuntos visam cobrir um

maior espectro das atividades de PD&I no setor automobilístico, desde o investimento em

inovação, passando pela proteção da propriedade intelectual, alcançando o conjunto de

pesquisadores e grupos sediados em solo brasileiro e especializados na temática trabalhada

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nesta dissertação. De modo mais pormenorizado cada fonte de dado teve uma estratégia

para aquisição de informações, as quais estão delimitadas na sequência deste item.

Para isso o item está estruturado em três subitens: inicia-se com um panorama dos

dispêndios e organização geral da PD&I a partir da PINTEC, passa-se para a composição

da pesquisa acadêmica em álcool combustível e motores automotivos no país e, ao final,

analisa-se a proteção de tecnologias com um levantamento de pedidos de patente no Brasil.

2.2.1. Desempenho Econômico das Atividades de Inovação - PINTEC/IBGE

Como forma de acompanhar o processo de inovação no setor automobilístico

recorreu-se à Pesquisa de Inovação24

, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(PINTEC/IBGE). Os dados estão disponíveis em 5 diferentes edições da pesquisa que

analisam o período entre os anos de 1998 a 2011.

Esta pesquisa é um survey da inovação no Brasil e tem por objetivo construir

indicadores setoriais específicos para as atividades de inovação das empresas sediadas no

país, além de focar fatores influentes no comportamento das tais atividades e nas estratégias

adotadas para este fim; também busca mostrar os incentivos e os obstáculos porque passam

esses atores no desenrolar do processo da inovação25

.

Para o contexto analisado, o foco está em quatro indicadores, a saber, i. dispêndio

total e do setor automobilístico em atividades de PD&I, ii. tipos de atividade e grau de

importância para o processo de inovação, iii. grau de novidade dos produtos e processos

inovadores e iv. nível de escolaridade e pessoal ocupado nas atividades com finalidade de

inovação. Essa seleção foi realizada com base nos trabalhos presentes em Negri & Salerno

(2005) e Consoni (2004) e tem por finalidade realizar um panorama geral da inovação no

setor automobilístico e não exatamente análises pormenorizadas com os mais diferentes os

dados disponíveis para o setor no survey supracitado.

De modo inicial à análise das atividades inovadoras nas empresas, a Tabela 2.1

abaixo mostra a evolução geral da PINTEC com o universo de empresas, o total de firmas

inovadoras e a taxa geral de inovação para os triênios referidos em cada edição da pesquisa.

24

As duas primeiras edições (2000 e 2003) recebiam o nome de Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica,

as edições de 2005 e 2008 passaram a ser Pesquisa de Inovação Tecnológica e a partir da última edição (2011)

o título se tornou Pesquisa de Inovação. 25

Mais informações disponíveis em http://www.pintec.ibge.gov.br/

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Tabela 2.1 - PINTEC - Universo de Empresas e Taxa de Inovação, Brasil, 1998-2011

Triênio Universo de empresas

investigadas

Total de empresas

inovadoras

Taxa de

Inovação

1998-2000 72005 22698 31,5

2001-2003 84262 28036 33,3

2003-2005 91054 30378 33,4

2006-2008 100496 38299 38,1

2009-2011 128699 45950 35,7

Fonte: PINTEC/IBGE

Na PINTEC o setor automobilístico está agregado sob a classificação de “fabricação

de veículos automotores, reboques e carrocerias”, na pesquisa mais recente (2011) o setor

está subdivido em três atividades, a saber “fabricação de automóveis, caminhonetas e

utilitários, caminhões e ônibus”, “fabricação de cabines, carrocerias, reboques e

recondicionamento de motores” e, por fim, “fabricação de peças e acessórios para

veículos”. Assim, para as análises abaixo o foco maior está no agregado do setor, uma vez

que as demais subdivisões nem sempre estão presentes nos dados do survey para todo o

período estudado.

O investimento total em atividades inovativas alcançou, em 2011, a casa de R$ 64,9

bilhões e o setor automobilístico respondeu por mais de 10% do total. Parte fundamental

desse desembolso, praticamente três quartos, tem origem nas empresas montadoras. É

interessante notar no Gráfico 2.3, abaixo, que o montante correspondente ao setor

permaneceu estável nas últimas três pesquisas, enquanto o valor total praticamente dobrou.

Gráfico 2.3 - PINTEC - Investimento em Atividades Inovativas, Brasil, 1998-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

0

10

20

30

40

50

60

70

1998-2000 2001-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011

R$ B

ilh

õe

s

Total

Setor Automobilístico

Fabricação de automóveis, caminhonetas, utilitários, caminhões e ônibus

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Especificamente sobre as atividades internas de P&D, houve um ganho de

importância no período analisado. No ano 2000, a participação relativa estava na casa dos

17% do total investido em inovação, enquanto que em 2011 essa relação subiu para a casa

dos 30%. Um salto de R$3,7 bi em 2000 para R$20 bi em 2011, como mostrado no Gráfico

2.4 abaixo. Vale lembrar que este critério (atividades internas de P&D) está longe de ser o

mais importante quando se trata das atividades voltadas à inovação no conjunto das

empresas analisadas pelas diferentes PINTECs.

Gráfico 2.4 - PINTEC - Investimento em Total Atividades Inovativas e em P&D Interna,

Brasil, 1998-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

De modo geral, a taxa de inovação do setor automobilístico para a última edição da

PINTEC foi de 29,1. Se isoladas as montadoras automotivas, esse valor cresce e atinge a

casa dos 75,0. A discrepância entre os valores se dá pelo fato do universo de empresas

montadoras ser bastante restrito (total de 36 empresas), enquanto o universo das autopeças

é amplo (2.836 empresas), o que gera um forte viés no contexto de análise.

Um olhar mais atento sobre o setor automotivo revela um ritmo de crescimento mais

lento, inclusive com decréscimo na última edição da Pintec no desembolso em atividade

inovativas. Entretanto, houve uma realocação dos gastos e uma importância ainda maior

nas atividades de P&D interna é notada, com uma participação relativa crescente de 12,5%

em 2000 para 50% no ano de 2011, transformado em valores, o salto é de R$472 milhões

em 2000 para R$3,3 bi em 2011, ilustrado no Gráfico 2.5.

0

10

20

30

40

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60

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1998-2000 2001-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011

R$

Bil

es

Atividades Inovativas P&D Interna

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Gráfico 2.5 - Setor Automobilístico - Investimento em Atividades Inovativas e em P&D

Interna, Brasil, 1998-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

Quanto ao investimento das montadoras, o gasto em atividade de inovação e a

participação das atividades internas de P&D podem ser conferidos no Gráfico 2.6, que

segue. O comportamento anteriormente sugerido, de maior importância da P&D interna

para o setor, está diretamente ligado a tais atividades, uma vez que a participação das

montadoras em relação ao total do setor automobilístico é bastante próxima dos três

quartos.

Gráfico 2.6 - Montadoras - Investimento em Atividades Inovativas e P&D Interna, Brasil,

2001-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

Um outro aspecto analisado é a importância das diferentes atividades que compõem

o processo de PD&I. Os dados permitem a divisão em 8 categorias, desde as atividades de

0

1

2

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5

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1998-2000 2001-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011

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Atividades Inovativas P&D Interna

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R$ B

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Atividades Inovativas P&D Interna

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P&D tanto internas quanto externas, a aquisição de conhecimento, o treinamento de

pessoal, a compra de novas máquinas e equipamentos, uso de novos softwares, a realização

de projetos industriais, além da introdução no mercado de novos produtos ou tecnologias. A

importância de cada uma delas pode ser conferida nos Gráfico 2.7 e Gráfico 2.8 que

seguem.

Gráfico 2.7 - PINTEC - Importância média das atividades inovativas, Brasil, 1998-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

Nota-se que para o universo das empresas inovadoras, a ênfase em atividades

inovativas está principalmente na aquisição de máquinas e equipamentos, seguida do

treinamento de pessoal e aquisição de softwares. É interessante notar que mesmo com um

desembolso relativo à quase um terço do total, a P&D interna é apenas a sexta colocada

dentro das atividades elencadas, como chamou-se atenção acima.

Esse quadro é ligeiramente diferente para o setor automobilístico (Gráfico 2.8), uma

vez que, mesmo mantendo a aquisição de máquinas e equipamentos e o treinamento de

pessoal como as atividades inovativas mais importantes, a P&D interna ganha destaque e é

a terceira atividade mais importante como fundo inovador para as empresas automotivas.

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Software

Projeto Industrial

Introdução no Mercado

Treinamento

Máquinas e Equipamentos

Aquisição de Conhecimento

P&D Externa

P&D Interna

1998-2000 2001-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011

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Além delas, a P&D externa e os projetos industrias têm importância acima da média entre

as empresas pesquisadas.

Gráfico 2.8 - Setor Automobilístico - Importância média das atividades inovativas, Brasil,

1998-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

Em geral, o que é preocupante nesta constatação é que o processo de inovação está

apoiado em sua maior parte em atividades que não às dedicadas à P&D, o que sugere que a

universidade e os institutos de pesquisa precisam situar-se de modo mais presente junto aos

atores privados. Entretanto, o inverso é mais verdadeiro ainda, ou seja, a empresa buscar

nas universidades e nos institutos de pesquisa base de apoio para a realização de atividades

“mais nobres” quanto à inovação. Porém, isso só será realidade se a inovação interessar às

empresas - não apenas às automobilísticas, mas ao conjunto de empresas no país

Quanto ao grau de abrangência da inovação (a partir da análise de uma pergunta:

“seu produto e/ou processo é novo para quem?”), o quadro em geral no país é muito

desolador, como pode ser visto no Gráfico 2.9 e pois nota-se que majoritariamente eles são

“novos para a empresa”. Isso demonstra que as empresas no país trabalham num nível

mediano de complexidade tecnológica e que muitas vezes a inovação já está disseminada

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Software

Projeto Industrial

Introdução no Mercado

Treinamento

Máquinas e Equipamentos

Aquisição de Conhecimento

P&D Externa

P&D Interna

1998-2000 2001-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011

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no mercado (local ou mundial) e a empresa é a última a introduzir a inovação - entretanto,

isso é considerado “inovação” pelo Manual de Oslo.

Gráfico 2.9 - PINTEC - Abrangência da inovação de produtos e processos para as empresas

inovadoras, Brasil, 1998-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

Guardada as devidas proporções de escala o Gráfico 2.10 mostra o grau de

novidades para as empresas do setor automobilístico, que apresentam comportamento

muito parecido com o universo das empresas inovadoras brasileiras levantadas pela

PINTEC, cuja ênfase está na introdução de processos novos para as empresas, seguidos de

produtos novos para as mesmas, para apenas depois chegarem em produtos novos para o

mercado nacional e, por fim, em novos processos para o mercado brasileiro.

Gráfico 2.10 - Setor Automobilístico - Abrangência da inovação de produtos e processos para

as empresas inovadoras do Brasil, 1998-2011

Fonte: PINTEC/IBGE

- 10 000 20 000 30 000 40 000

Novo para Empresa

Novo para o mercado nacional

Novo para Empresa

Novo para o mercado nacional

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Novo para Empresa

Novo para o mercado nacional

Novo para Empresa

Novo para o mercado nacional

Pro

du

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1998-2000 2001-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011

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Como forma de fechar esta radiografia das atividades inovativas no setor

automobilístico, observa-se o pessoal dedicado aos processos de P&D internos e as

respectivas qualificações. A Tabela 2.2 revela os valores e a evolução no período entre

2000 e 2011.

Tabela 2.2 - PINTEC e Setor Automobilístico - Pessoal Ocupado nas Atividades Internas de

P&D, Brasil, 2000-2011

Ano Empresas Nível superior Nível

médio Outros

Total Pós-graduados Graduados

2000 Total 20 114 2 953 17 161 14 893 6 460

Setor Automobilístico 2 013 221 1 793 1 308 399

2003

Total 21 795 3 121 18 674 12 306 4 422

Setor Automobilístico 3 206 273 2 934 1 232 615

Montadoras 2 357 191 2 166 443 424

2005

Total 49 354 11 283 38 071 24 082 10 508

Setor Automobilístico 4 258 387 3 871 1 552 720

Montadoras 3 158 264 2 894 777 531

2008

Total 45 278 10 318 34 960 19 279 8 479

Setor Automobilístico 5 223 366 4 857 1 816 1 178

Montadoras 3 521 220 3 301 784 594

2011

Total 71 474 11 046 60 428 23 172 8 643

Setor Automobilístico 9 332 568 8 764 1 980 1 643

Montadoras 6 281 443 5 838 918 1 050

Fonte: PINTEC/IBGE

O setor automobilístico respondeu por cerca de 12,5% do total de empregados

dedicados à P&D do universo da PINTEC 2011, relação que se mantém próxima aos 10%

nas demais edições da PINTEC. As montadoras representam cerca de dois terços do pessoal

ocupado nas atividades inovadoras para o setor.

Com esta exposição geral sobre o setor automobilístico a partir dos dados de

investimento em atividades inovativas, nota-se uma evolução lenta (com um crescimento

mais orgânico que estimulado, ponto que é melhor explorado no capítulo 3 com as políticas

públicas para o setor) tanto no valor total investido, como no tipo de atividade realizada e

nos recursos humanos envolvidos nessas iniciativas.

Sugere-se, com isso, que a tecnologia flex fuel não impactou em grande escala as

atividades de PD&I na indústria de automóveis, através destes dados não aparenta haver

ocorrido mudanças na dinâmica setorial de inovação, até mesmo pelas características

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técnicas da tecnologia desenvolvida em território brasileiro de aproveitar partes e peças que

já eram aplicadas nos modelos comercializados.

Frente a esta discussão sobre as atividades de PD&I realizadas no setor

automobilístico brasileiro, desenvolve-se a análise sobre os grupos de pesquisa brasileiros

no assunto ora abordado.

2.2.2. Grupos de Pesquisa

Os grupos de pesquisa foram buscados a partir de uma estratégia baseada em

palavras-chave em consultas realizadas no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq

(DGP/CNPq). O Diretório é um inventário dos grupos de pesquisa brasileiros e

disponibiliza diversas informações, como os recursos humanos envolvidos nas atividades

técnico-científicas, as linhas de pesquisa e especializações contidas no universo acadêmico

nacional26

, dentre outras. Portanto, é uma forma de mapear a massa crítica presente nas

universidades e institutos de pesquisa nacionais27

.

Abaixo estão os termos utilizados na busca pelos grupos. Como forma de

estabelecer um panorama sobre a pesquisa brasileira foi realizada uma busca abrangente,

indo além daqueles que trabalham especificamente com motores de combustão interna e

pesquisa voltada ao setor automobilístico, como mostrado na Tabela 2.3. Entretanto, a

análise mais aprofundada está centrada nas palavras-chave destacadas, quais sejam:

indústria automobilística, automóveis, engenharia automotiva e motores de combustão

interna.

26

Mais informações disponíveis em http://lattes.cnpq.br/web/dgp/o-que-e 27

É necessária uma ponderação no sentido das limitações do universo contido no DGP/CNPq, uma vez que

não há obrigatoriedade do pesquisador participar de um grupo cadastrado na base, assim incorre-se em uma

questão de que a massa crítica pode ser maior que a por ora analisada.

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Tabela 2.3 - Palavras-Chave e Número de Grupos de Pesquisa cadastrados no DGP/CNPq,

por palavra-chave, maio/2014

Palavra-Chave Número de Grupos

Biocombustíveis 247

Bioetanol 43

Cana-de-Açúcar 88

Etanol 152

Agroenergia 34

Indústria Automobilística 6

Automóveis 2

Engenharia Automotiva 2

Motores de Combustão Interna 19

Total Geral 458

Fonte: elaboração própria a parir de buscas ao DGP/CNPq

Ou seja, o universo de grupos que é analisado de forma mais pormenorizada está em

25 grupos descontada a sobreposição das buscas. Os termos voltados mais as questões

agrícolas e agroindustriais foram utilizados como forma de montar um panorama sobre a

produção e utilização de etanol combustível, estas não refletem diretamente a pesquisa em

motores e tecnologias do sistema flex fuel, por isso não entraram no estudo final.

Na busca mais ampla, cuja motivação esteve em dar um panorama sobre a pesquisa

ao redor da produção e utilização de etanol, as principais áreas do conhecimento

encontradas foram engenharias, ciências agrárias, ciências exatas e terra, além das ciências

biológicas, quadro que pode ser conferido no Gráfico 2.11 que segue.

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Gráfico 2.11 - Número de Grupos de Pesquisa por Grande Área do Conhecimento,

DGP/CNPq, 2014

Fonte: elaboração própria a parir de buscas ao DGP/CNPq

A ênfase maior neste recorte está nas atividades de pesquisa que tocam às etapas

agrícola, ou de modo mais completo agroindustriais, cujos avanços tendem a ser mais

contundentes àqueles realizados especificamente na utilização de álcool como combustível,

notadamente nos motores flex fuel. Isso não quer dizer que as mudanças ocorridas nos

automóveis na última década sejam menos importantes, e sim que a quantidade de recursos

humanos dedicados ao desenvolvimento de melhorias é menor.

Nesse universo de análise estão presentes 24 das 27 unidades da federação

brasileiras, e os estados que apresentam as maiores concentrações de grupos de pesquisa

são em ordem decrescente, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande

do Sul. A distribuição dos grupos no território brasileiro pode ser conferida na Tabela 2.4

que segue.

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e G

rup

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Tabela 2.4 - Número de Grupos de Pesquisa por Unidade da Federação, DGP/CNPq, 2014

Unidade da Federação

Número de Grupos

Unidade da Federação

Número de Grupos

São Paulo 104 Mato Grosso do Sul 9

Minas Gerais 56 Rio Grande do Norte 9

Rio de Janeiro 49 Goiás 8

Paraná 46 Mato Grosso 7

Rio Grande do Sul 26 Alagoas 7

Bahia 21 Ceará 6

Santa Catarina 20 Amazonas 4

Pernambuco 19 Sergipe 4

Paraíba 16 Pará 4

Distrito Federal 13 Piauí 3

Tocantins 12 Espírito Santo 3

Maranhão 10 Amapá 2

Total Geral 458

Fonte: elaboração própria a parir de buscas ao DGP/CNPq

Do ponto de vista institucional, a USP é a instituição que abriga o maior número de

grupos totalizando 27, seguida da UNESP com 25 e UFRJ com 20. A Unicamp sedia 7

grupos e é a décima ao se montar um ranking geral. A Tabela 2.5 revela as instituições e o

número de grupos presentes na pesquisa realizada.

Tabela 2.5 - Número de Grupos por Instituição, DGP/CNPq, 2014

Instituição Total de Grupos

Número de

Grupos Total de

Instituições

USP 27 9 Grupos 2

UNESP 25 8 Grupos 4

UFRJ 20 7 Grupos 2

UFV 15 6 Grupos 5

UFRGS 13 5 Grupos 6

EMBRAPA 11 4 Grupos 11

UFPR 11 3 Grupos 17

UFSCAR 10 2 Grupos 24

UTFPR 10 1 Grupos 45

Total Geral 458

Fonte: elaboração própria a parir de buscas ao DGP/CNPq

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2.2.2.1. Grupos de Pesquisa em Automóveis e Motores

Especificamente sobre o recorte dos 28 grupos de pesquisa que trabalham

diretamente com as temáticas de automóveis, motores de combustão interna e o uso de

etanol como combustível tem-se um claro predomínio da área das engenharias ao olhar

esses dados com a lente das grandes áreas do conhecimento, como mostrado na Tabela 2.6

abaixo.

Tabela 2.6 - Número de Grupos de Pesquisa, Pesquisadores e Estudantes em Motores

Automotivos por Grande Área do Conhecimento, DGP/CNPq, 2014

Grande Área Grupos Pesquisadores Estudantes

Engenharias 23 171 197

Ciências Agrárias 1 23 6

Ciências Exatas e da Terra 1 9 4

Ciências Humanas 1 7 0

Ciências da Saúde 1 5 1

Ciências Sociais Aplicadas 1 4 1

Total Geral 28 219 209

Fonte: elaboração própria a parir de buscas ao DGP/CNPq

Em termos de recursos humanos dedicados aos assuntos de utilização de álcool

como combustível a Tabela 2.6 também revela um total de 428 indivíduos, dos quais são

219 pesquisadores e 209 estudantes. Como seria de esperar a concentração está na área das

engenharias seguido das ciências agrárias, cujo foco do grupo está nos temas de energia e

agricultura.

Assim como no universo trabalhado a concentração territorial dos grupos dedicados

aos motores e álcool combustível está primordialmente nos estados de São Paulo, Minas

Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. A íntegra das unidades da federação e

das instituições que sediam conjuntos de pesquisadores pode ser conferida na Tabela 2.7

que segue.

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Tabela 2.7 - Grupos de Pesquisa em Motores Automotivos por Unidade da Federação e

Instituição, DGP/CNPq, 2014

Estado e Instituição

Grupos Estado e

Instituição Grupos

SP 6 PR (continuação) 4

FEI 1 UNIOESTE 1

UFSCar 1 UTFPR 1

UNESP 1 UTP 1

UNICSUL 1 RS 2

USP 2 UCS 1

MG 5 UFSM 1

CEFET/MG 2 SC 2

UFSJ 1 IF/SC 1

UFU 1 UFSC 1

UNIFEI 1 CE 1

RJ 5 UFC 1

PUC-Rio 1 DF 1

UFF 1 UNB 1

UFRJ 2 PA 1

UFRRJ 1 UFPA 1

PR 4 PB 1

UFPR 1 UFCG 1

Total Geral 28

Fonte: elaboração própria a parir de buscas ao DGP/CNPq

Por fim, o tempo médio de fundação dos grupos de pesquisa em motores

automotivos é de 11 anos, sendo o mais antigo criado no ano de 1987 e os dois mais

recentes em 2012. O pico está em 2002, ano anterior ao lançamento dos veículos flex fuel

no mercado, entretanto pelas entrevistas realizadas não é possível estabelecer uma relação

causal direta entre esse acúmulo de pesquisadores com a introdução daqueles no mercado

automobilístico nacional, uma vez que P&D das autopeças e montadoras teve maior

importância no período demarcado.

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Gráfico 2.12 - Ano de Fundação dos Grupos de Pesquisa em Motores Automotivos,

DGP/CNPq, 2014

Fonte: elaboração própria a parir de buscas ao DGP/CNPq

As temáticas pesquisadas pelos grupos de engenharia passam pelos seguintes

conteúdos, novos materiais, tribologia (ciência do atrito), termodinâmica e eficiência

energética. Nas demais áreas focam em assuntos como desenvolvimento e política

industrial, energia, agricultura e impactos ambientais, e também na organização das

relações de trabalho.

Mais uma vez salienta-se que esta análise está subordinada aos grupos e

pesquisadores cadastrados no DGP/CNPq e que fazer parte desta base não é obrigação dos

professores, pesquisadores e estudantes das universidades e institutos de pesquisa. Isto de

modo algum exclui o que foi explorado no capítulo anterior, que analisou a história da

pesquisa brasileira em álcool combustível datada do início do século XX. Importantes

grupos de pesquisa de institutos de pesquisa, como IPT e INT, não apareceram nos

resultados e possuem pessoal dedicado ao estudo de álcool combustível anterior ao

Proálcool. Também nota-se a ausência ou números discretos para universidades como USP,

Unicamp, FEI e Instituto Mauá de Tecnologia. Ou seja, há mais capacitação e competência

no país no caso em questão e que não estão explicitadas em bases de dados como a do

CNPq.

Com esta situação dos grupos dedicados à pesquisa em motores automotivos, e dos

possíveis atores a serem encontrados na busca por produções tecnológicas, prossegue-se ao

item dedicado às patentes.

0

1

2

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4

5

6

7

Gru

po

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e P

es

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2.2.3. Proteção à Propriedade Intelectual no desenvolvimento da tecnologia flex fuel

Para compreender a dimensão e a experiência brasileira no uso de etanol

combustível, realizou-se um exercício de monitoramento tecnológico, o qual é um meio de

se revelar os processos de desenvolvimento e de mudanças tecnológicas sem perder de vista

os arranjos institucionais formados no desenrolar de tais atividades. É uma metodologia que

permite conhecer, sistematizar e acompanhar o avanço técnico-científico em qualquer que

seja a temática estudada.

A análise das trajetórias tecnológicas dos veículos flex fuel está apoiada em um

exercício de monitoramento tecnológico cuja base foi desenvolvida por Silva, Zackiewick

& Bonacelli (2005). Este método possibilita a interpretação de uma série de dados a partir

de indicadores de estrutura (ano de depósito, localização geográfica do depositante), de

conteúdo (classificação internacional de patentes - IPC, palavras-chave) e de competências

(número de inventores por patente, publicações técnicas, entre outros), procurando

desvendar o papel dos atores, mas, especialmente, a trajetória de invenções e as possíveis

inovações correspondentes. Neste trabalho foram utilizados indicadores de estrutura e

conteúdo nas análises realizadas adiante.

Do ponto de vista prático, o exercício se divide em quatro etapas, a saber: i.

definição de palavras-chave a partir de uma revisão bibliográfica, ii. análise crítica dos

dados de modo a conferir se os resultados obtidos estão alinhados com o escopo do trabalho

(buscas genéricas ou demasiadamente específicas geram resultados enviesados), iii.

construção de indicadores e iv. estabelecimento das formas de comunicação mais

adequadas dos resultados obtidos (com gráficos, tabelas, mapas, etc.).

Como forma de mapear as produções tecnológicas protegidas no país acerca de

motores flex, realizou-se um exercício de monitoramento tecnológico a partir de busca de

pedidos de patente no Brasil. Patentes são fontes muito ricas de informação e bastante

confiáveis quanto ao delineamento de trajetórias tecnológicas, contribuindo para o

entendimento do processo de difusão das tecnologias; além disso podem ser consideradas

como proxy de atividades de inovação. Silveira et al. (2011) apontam ainda a importância

das patentes como indicadores de inovações incrementais junto a uma tecnologia

dominante, ou seja, o desenvolvimento de trajetórias dentro de um paradigma tecnológico.

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É válido colocar que as patentes têm abrangência apenas dentro das fronteiras

nacionais; portanto, o caso trata de um exercício de busca por tecnologias protegidas no

país. Resumidamente, para que uma carta patente seja expedida, três requisitos básicos

devem ser respeitados, quais sejam: i. novidade - é necessário que o artefato seja

substancialmente diferente de objetos já patenteados, disponíveis no mercado ou fruto de

conhecimentos tradicionais ou publicados; ii. atividade inventiva - que não seja algo óbvio

para um técnico no assunto; e iii. aplicação industrial - que possa ser utilizado ou produzido

em diferentes ramos industriais (BRASIL, 1996).

Para esse estudo foram pesquisadas patentes relacionadas à tecnologia flex fuel a

partir do ano 2000, recorrendo-se ao levantamento de informações de montadoras e

empresas do ramo das autopeças junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial

(INPI), órgão responsável pela análise das solicitações e a expedição de cartas patente no

Brasil. A estratégia de busca englobou pedidos de patentes que possuam em seu título uma

combinação das palavras-chave: [motor ou combustão] e [identificação ou combustível ou

gerenciamento ou injeção] e NOT [diesel] - nos títulos dos depositados.

No total foram encontrados 489 processos, dos quais 276 estão em período de

análise (depósitos), 160 pedidos de patente arquivados (ou seja, não cumpriram os três

requisitos básicos) e 53 cartas patente expedidas. O número de pedidos de patente ao longo

desses anos está ilustrado no Gráfico 2.13, que segue. A queda que ocorre entre os anos de

2010 e 2011 pode ser inicialmente explicada pelo período de sigilo, que faz parte dos

tramites da concessão de patentes e que pode se estender por até dois anos após a data de

deposito do pedido.

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Gráfico 2.13 - Pedidos de Patente por Ano e Situação da Solicitação no INPI,

Brasil, 2000-2011 Fonte: elaboração própria a partir de consultas ao INPI

Por se tratar de uma tecnologia que ganhou espaço no mercado, seria de se esperar

que o número se apresentasse com uma curva ascendente a partir de 2003, entretanto a

mesma morosidade vista tanto no investimento em PD&I com a PINTEC e no pessoal

dedicado à pesquisa é notado neste levantamento.

Os processos analisados provêm de 29 diferentes países e cerca de 90% do total dos

pedidos são de não-residentes no Brasil. A título de comparação, no montante global de

depósitos feitos no INPI, os pedidos de não-residentes estão ao redor de 70% no período

estudado28

. Esse aspecto será mais bem discutido abaixo.

Os países que mais solicitações realizaram foram os Estados Unidos (116 pedidos),

seguido de Alemanha (99 pedidos) e Japão (66 pedidos). O Brasil aparece em quarto lugar,

com 44 depósitos entre 2000 e 2010. A Figura 2.2, abaixo, destaca os países e o número de

pedidos de patente no INPI.

28

Dados disponíveis em http://www.inpi.gov.br/images/docs/patentesdepositadas_1998_2011.pdf, acessado

em 12 de junho de 2013.

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Arquivado Depósito Patente

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Figura 2.2 - Pedidos de Patente segundo o País do Depositante no INPI, Brasil, 2000-2011

Fonte: elaboração própria a partir de consultas ao INPI

O primeiro aspecto que chama fortemente a atenção em relação à radiografia dos

pedidos de patentes na tecnologia flex fuel é quanto ao maior número de não-residentes

como detentores de pedidos de proteção de invenção no país frente a residentes.

É verdade que esse quadro segue o panorama geral de pedidos e concessões de

patentes de invenção no país e é verdade também que um panorama como esse é atípico em

países mais desenvolvidos, nos quais os residentes, geralmente, apresentam maior número

de solicitações e obtêm mais patentes que os não-residentes nos escritórios ou institutos

nacionais.

Isso se agrava em se tratando de segmento tão caro ao país, o uso de etanol

combustível, no qual, como visto acima, o país detém conhecimento deste o início do

século passado; tanto no que respeita a produção agrícola - baseada na cana-de-açúcar -

como no que respeita o desenvolvimento de motores flex.

Assim, a radiografia dos pedidos de patente no Brasil apontando para uma maior

atuação de não-residentes, sugere que o país, ao invés de estar à frente do desenvolvimento

tecnológico relacionado aos veículos flex fuel, funciona como um grande laboratório para

experimentos em etanol para companhias não nacionais. Talvez a vantagem que o país

pudesse ter quanto ao uso de álcool combustível em motores automotivos tenha sido diluída

nos anos mais recentes, com a difusão dos conhecimentos anteriormente gerados.

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70

Ao categorizar os depositantes, há três grupos a partir da ótica da natureza das

instituições: empresas, pessoas físicas e universidades/institutos públicos de pesquisa.

Cerca de 90% dos pedidos de patente são provenientes de empresas privadas e de suas

atividades de P&D, outros quase 10% são majoritariamente de pessoas físicas (e

brasileiras) e a menor parte cabe a universidades e institutos públicos de pesquisa. Sobre

estes últimos, pedidos de patente que sejam provenientes de universidades e institutos

públicos de pesquisa totalizam apenas 5 processos: um de instituições brasileiras

(Unicamp), três de instituições americanas (North Carolina State University; University of

Texas; Pennsylvania's Commonwealth System of Higher Education) e um de instituições

francesas (Centre National de la Recherche Scientifique; Universite Claude Bernard Lyon

1). Ou seja, quando há participação de atores pertencentes a academia na atividade de

patenteamento estes são prioritariamente estrangeiros.

Especificamente sobre os 44 pedidos de patente de brasileiros, 13 processos foram

depositados por empresas, principalmente multinacionais de autopeças com filiais no

Brasil; 30 processos, a maior parte dos depósitos nacionais, são provenientes de pessoas

físicas e apenas 1 processo está diretamente ligado a atividades realizadas em universidades

públicas brasileiras. Esse quadro aponta para o fato dos depósitos de patentes serem

realizados por pessoas que não devem estar ligadas institucionalmente aos principais atores

envolvidos com o desenvolvimento de motores flex fuel no país (empresas, universidades e

institutos de pesquisas), baixando ainda mais as expectativas quanto à pertinência destes

conhecimentos virem a ser internalizados nos processos de produção da indústria e,

portanto, virarem inovação. O Gráfico 2.14, abaixo, apresenta esse contexto.

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Gráfico 2.14 - Pedidos de Patente por Ano e Natureza Jurídica do Depositante no INPI,

Brasil, 2000-2011

Fonte: elaboração própria a partir de consultas ao INPI

Para uma análise mais detalhada, uma amostra de empresas foi selecionada por sua

relevância no setor automobilístico nacional e pelo número de pedidos de patente. A Tabela

2.8, abaixo, revela quais são.

Tabela 2.8 - Seleção de Empresas, País de Origem e Total de Pedidos de Patente

relacionadas aos motores flex fuel no INPI, Brasil, 2000-2011 Montadoras País de Origem N Autopeças País de Origem N

Honda Japão 27 Robert Bosch Alemanha 64

Toyota Japão 14 Magneti Marelli Itália 30

Renault França 6 Denso Japão 8

Scania Suécia 5 Delphi EUA 5

Volvo Suécia 4 MAHLE Alemanha 4

General Motors EUA 4 Mann+Hummel Alemanha 2

Volkswagen Alemanha 2 Honeywell EUA 1

Peugeot-Citroën França 1

Fonte: elaboração própria a partir de consultas às bases do INPI

Diferentes atores e diversas estratégias compõem as condições de contorno do

desenvolvimento dos motores flex fuel no Brasil. As montadoras mais antigas instaladas no

país (Volkswagen, Fiat, General Motors e Ford), quando possuem pedidos de patente em

motores flex, apresentam números menores frente às empresas automotivas japonesas, de

inserção mais recente no mercado nacional. Pode-se supor que estas possuem estratégias

mais agressivas no que toca às atividades de P&D de seus motores. Entretanto, este fato

pode indicar, pelo contrário, uma estratégia de defesa para uma tecnologia por eles

desconhecida e pouco explorada fora das fronteiras brasileiras, o que resulta num número

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Empresa Pessoa Física Universidade / IPP

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mais alto de patentes frente a empresas instaladas há mais tempo no país e que, muitas

vezes, trabalham mais com avanços incrementais.

As empresas de autopeças, por sua vez, possuem dinâmicas distintas, de acordo com

seus principais produtos. Bosch, Magneti Marelli, Delphi e Denso desenvolvem tecnologias

de controle, reconhecimento e injeção de combustíveis nos motores, que podem ser

consideradas o coração do funcionamento dos flex fuel, enquanto Mahle, Mann+Hummel e

Honeywell desenvolvem peças específicas, filtros de combustíveis e dispositivos para

controle de emissões, ou seja, são produtos e estratégias diferentes. Considera-se, portanto,

que a tecnologia flex fuel se apresenta como um desenvolvimento mais induzido pelos

fornecedores (autopeças e sistemistas) que pelas montadoras.

Outro aspecto bastante interessante de ser apontado é que há duas estratégias de

desenvolvimento dos veículos flex fuel: uma capitaneada por montadoras automotivas e

suas próprias equipes de pesquisa e desenvolvimento, e outra que revela relações entre as

empresas de autopeças e montadoras. Tal contexto foi analisado por Gatti (2010) e

Nascimento et al. (2012), que realizaram estudos mais amplos sobre as interações entre

montadoras e autopeças29

e, a partir das entrevistas e da pesquisa de campo, construíram as

trajetórias dos motores flex fuel, possibilitando maiores elementos para o levantamento de

patentes pelo presente trabalho.

Com o intuito de melhor compreender essas relações, de interdependência ou de

independência, entre as montadoras e as empresas de autopeças no que toca ao

desenvolvimento da tecnologia flex fuel, foi realizada uma contagem de palavras nos títulos

dos pedidos de patentes nas empresas acima citadas. Tal método permite comparar as

temáticas das produções tecnológicas de acordo com a proximidade dos termos

encontrados. Termos semelhantes ou mesmo idênticos sugerem uma mesma trajetória no

desenvolvimento tecnológico, enquanto que termos díspares revelam diferentes abordagens

para o processo. Também esse levantamento permite afirmar as diferentes estratégias e

interesses dos diversos atores envolvidos com os veículos flex instalados no país. A Tabela

2.9, abaixo, compara a atuação das diferentes empresas por meio dos termos mais comuns

em seus pedidos de patente.

29

Entre as empresas entrevistadas estão Bosch, Magneti Marelli e Delphi; Volkswagen e General Motors;

Anfavea e Unica.

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Tabela 2.9 - Seleção de Empresas e Termos Principais de seus Pedidos de Patente no INPI,

Brasil, 2000-2010

Empresa Ramo Termos Principais

Bosch AP Controle, válvula, aquecimento, determinação, alimentação

Magneti Marelli AP Controle, mistura, adaptativo, estimar, alimentação

Denso AP Controle, alimentação, controlador, verificação

Delphi AP Aquecimento, injetor, eficiência

Mahle AP Filtro, alimentação

Mann+Hummel AP Filtragem, suprimento, separação

Honeywell AP Remoção, regeneração, emissões, prolongar

Honda M Controle, relação, múltiplos combustíveis

Toyota M Controle, determinação, ignição, razão, identificação

Renault M Ignição, adaptação, diagnóstico, etanol

Scania M Injeção, transferência, alimentação

Volvo M Relação, combinado

GM M Partida, preaquecer

Volkswagen M Qualidade, combustíveis distintos

Peugeot-Citroën M Etanol, partida, alimentação

Nota: AP - autopeças; M - montadoras

Fonte: elaboração própria a partir de consultas às bases do INPI

A partir dessa análise, nota-se que as tecnologias patenteadas pelas montadoras

japonesas se aproximam bastante daquelas protegidas pelas empresas autopeças. Assim,

enquanto as montadoras mais antigas no país subcontratam as empresas de autopeças para a

realização da P&D voltadas às tecnologias dos motores flex fuel (software e sensor), as

montadoras japonesas se preocupam em realizar o desenvolvimento tecnológico

internamente. Comportamento o qual pode ser considerado mais fechado devido a sua

inserção mais tardia no mercado brasileiro, além disso existem diferentes atores das

indústrias autopeças tradicionalmente ligadas à Toyota e Honda que se estabeleceram

apenas mais recentemente no país, como o caso da Denso.

Assim, nota-se que as montadoras mais tradicionais (Volkswagen, Ford, Fiat e GM)

preocupam-se com problemas mais específicos, como a partida a frio e o preaquecimento

do combustível, este último uma forma de tornar os motores mais eficientes do ponto de

vista energético. Entretanto, como mostrado anteriormente, parte dessas questões já haviam

sido levantadas nos anos 70 durante o Proálcool. Nesse sentido o desenvolvimento

tecnológico automotivo ainda não sanou problemas apontados pelo prof. Urbano E. Stumpf

nas pesquisas realizadas no ITA e diretamente ligadas aos primeiros motores

especificamente desenhados para a utilização de etanol como carburante (STUMPF, 1978).

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Os dados levantados não permitem o desenho de uma rede de cooperação clássica30

entre institutos de pesquisa, universidades e empresas, nem mesmo cooperação entre

empresas na investigação por patentes depositadas em conjunto. Esse fato pode apontar que

as parcerias formadas respondem majoritariamente por movimentos de desenvolvimento

em demandas específicas.

Essa constatação é preocupante, dado que nota-se baixos números e resultados em

atividades de desenvolvimento técnico-científico relacionado à tecnologia flex fuel, em um

país que se coloca como líder na difusão de carros flex. Portanto, reforça-se a necessidade

de um marco regulatório que dê valor ao uso de etanol frente à gasolina, no intuito de

desenvolver pesquisas de ponta e recursos humanos em temáticas claramente de interesse

nacional.

Uma possibilidade para explicar o baixo número de patentes relacionadas com

pesquisas públicas é que essas iniciativas ainda são recentes e seus resultados, se já

depositados como patentes, estejam dentro do período de sigilo. Entretanto depositar

grande esperança apenas em pesquisa, sem estimular uma maior ligação entre atores

públicos e privados, pode incorrer na permanência do quadro mostrado neste momento.

Como sugerido pelos termos mais comuns no título das patentes (Tabela 2.9) e

apoiado no trabalho de Gatti (2010), é possível esquematizar as estratégias de

desenvolvimento dos veículos flex fuel a partir da Figura 2.3, abaixo.

30

Para um exemplo de redes de cooperação em motores a álcool, ver Vazzoler, Bonacelli & Carneiro (2012).

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Figura 2.3 - Relações entre Montadoras e Indústrias de Autopeças no desenvolvimento de

motores flex fuel

Fonte: elaboração própria a partir de Gatti (2010) e consultas ao INPI

A Figura 2.3 acima destaca, por um lado a interação entre as empresas de autopeças

com as montadoras mais antigas no Brasil, estas possuem relacionamentos mais antigos que

a tecnologia flex fuel, aparentando um alto grau de confiança entre as partes e que as

montadoras apostam que as empresas contratadas vão responder adequadamente as

demandas por novas tecnologias em motores flex - dado que se trata de empresas de

autopeças que já possuíam experiências anteriores com etanol.

Enquanto, as montadoras japonesas se colocam mais reticentes em contratar

terceiros já estabelecidos no país - mesmo empresas de autopeças desse calibre - não

abrindo mão de realizar as atividades de P&D para motores flex fuel com seus parceiros

tradicionais e mais novos para o mercado nacional. A não ser em casos específicos como o

Honda Fit (em uma aplicação experimental da tecnologia flex fuel desenvolvida pela Bosch,

segundo GATTI, 2010).

O mesmo autor, em seu levantamento sobre o desenvolvimento tecnológico dos

motores flex fuel em três autopeças (Bosch, Magnetti Marelli e Delphi), mostra o

movimento entre essas empresas no que toca ao pessoal qualificado e na troca de

informações. Resumidamente tem-se um grupo pequeno de profissionais capacitados no

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tema, os quais podem ser mapeados ao longo do tempo através das diferentes empresas

porque passam. Os dados da PINTEC sugerem uma quantidade razoável de pessoal

ocupado em atividades de PD&I no setor, entretanto é válido ponderar que a tecnologia flex

fuel é um subsistema dentro de um objeto muito mais complexo que são os automóveis.

De modo crítico, o mapeamento dos investimentos em PD&I, a busca de patentes e

a interpretação realizada desses dados pouco se aproximam do desenvolvimento

tecnológico futuro esperado pelos especialistas entrevistados, no sentido da implantação de

sistemas de injeção direta e de turbocompressor. Tem-se que as proteções da propriedade

industrial levantadas referem-se aos produtos ou tecnologias já introduzidas no mercado e

não possibilitam uma análise prospectiva que esteja em consonância com as novidades

vislumbradas a partir dos levantamentos primários. Pode-se, portanto, considerar que está-

se aquém da fronteira tecnológica, um risco quando se olha o país como precursor na

utilização de álcool combustível em larga escala, qualidade e eficiência.

A análise do surgimento e da evolução da tecnologia flex fuel no país, baseada em

entrevistas e inúmeras informações e dados, procurou integrar diversos aspectos relativos

ao tema central desta pesquisa: o engajamento dos diferentes atores no processo, os

inúmeros gargalos técnicos e as formas encontradas para a superação deles - baseadas em

trade-offs e, portanto, constituindo as trajetórias tecnológicas do setor, as estratégias das

empresas e o posicionamento dos centros de pesquisa de universidades e institutos de

pesquisa, assim como as oportunidades técnico-econômicas estabelecidas pelas montadores

e autopeças do setor, o papel da proteção do conhecimento e dos avanços tecnológicos,

dentre outros. Entretanto, faltam elementos importantes para que a análise seja mais

completa: o contexto institucional, ou seja, aquele voltado ao posicionamento do Estado

brasileiro e do governo frente a todo o processo, notadamente a partir da constituição de um

marco regulatório nacional e de programas e políticas, que, acredita-se, poderiam ser mais

eficientes na consolidação da tecnologia flex fuel no país. Este é o assunto central do

próximo capítulo.

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3. O Quadro Institucional: políticas públicas e seus efeitos

sobre o veículo flex fuel brasileiro

Pressões de diversas ordens atingem as atividades do setor automobilístico e as

formas de se direcionar o desenvolvimento tecnológico vão além da concorrência entre as

empresas montadoras e autopeças e suas respectivas atividades voltadas à inovação. A

abordagem neo-schumpeteriana do progresso técnico desenvolve uma concepção sobre o

tema, a partir da consideração de diferentes elementos que influenciam o processo de

evolução e, especialmente, de inovação técnico-científica. A partir da importância relativa

de diferentes elementos, procura-se entender a dinâmica do progresso técnico-científico e

econômico de um setor ou uma atividade econômica, considerando, entre outros, o peso da

inovação, o potencial e a importância da apropriação dos resultados das pesquisas e dos

investimentos, o comportamento do consumidor por determinados produtos e métodos, o

arcabouço do quadro legal e regulatório, entre outros elementos. Procura-se, assim entender

a dinâmica e os caminhos do progresso técnico e da inovação por meio dos trade-offs entre

esses elementos e a conformação das trajetórias técnico-econômicas que vão se desenhando

por caminhos mais ou menos perceptíveis, imbricados em um paradigma tecnológico.

Assim, ora se revelam avanços relacionados às estratégias privadas e ao

aproveitamento de oportunidades técnico-econômicas, ora pelo arcabouço legal e

programas governamentais de estímulo ou proibição de determinadas ações ou iniciativa,

ora ainda pela aprovação ou rejeição do mercado a novidades. De toda forma, as

movimentações institucionais só surtirão efeito caso sejam capazes de alterar a dinâmica

das empresas, rompendo inércias, abrindo oportunidades e/ou limitando estratégias e

projetos.

Kohler et al. (2009), por exemplo, colocam que as “empresas somente irão investir

em tecnologias de menor impacto ambiental e de maior custo caso haja um mercado que

lhes paguem um prêmio por esses produtos mais limpos (p.232)”, por outro lado elas

investirão em tecnologias desse porte por obrigação, via marco regulatório, por exemplo.

Uma ponderação necessária para relacionar esta literatura com o caso dos veículos flex fuel

brasileiros é que estes não são um nicho de mercado como os carros elétricos puros ou

mesmo os híbridos; portanto, o ganho extraordinário acaba por ser achatado, porém,

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necessário (a tecnologia flex fuel não seria aplicada no Brasil caso houvesse um aumento

expressivo no valor dos automóveis - por exemplo, com a adoção do sensor capacitivo).

Além disso, questões que preocupam os autores tocam na criação de mercado e escala de

produção, as quais não se aplicam nessa análise pelo fato dos veículos brasileiros

comercializados serem mais de 90% flex fuel.

Mas mesmo assim, a tecnologia flex fuel no Brasil se coloca atualmente como

central para o mercado interno, mesmo que na prática o combustível mais utilizado no

momento seja majoritariamente gasolina, no sentido que até montadoras de veículos de

luxo31

têm desenvolvido e lançado modelos equipados com essa característica.

Após este preâmbulo, o Capítulo 3 está dimensionado em dois itens. O primeiro é

dedicado ao estudo das mudanças recentes na matriz energética mundial e nos avanços em

tecnologia proporcionados por esforços através de marcos regulatórios de casos

selecionados - dos EUA e o catalisador de três vias e do Japão e o carro elétrico. Tais

exemplos são emblemáticos da importância da pressão de quadros institucionais para a

evolução dos diferentes projetos. O segundo item tem por finalidade analisar a legislação

brasileira vigente e os resultados que são possíveis de se mensurar por meio de dados até o

momento; trata-se do Proconve (programa voltado para a redução de poluentes), do Inovar-

Auto (decreto presidencial que visa o desenvolvimento de veículos com maior eficiência

energética) e do PBEV (programa de etiquetagem veicular, o qual disponibiliza dados sobre

consumo, eficiência e emissão de poluentes por veículos automotores). Foi realizada uma

extensa análise de dados com base no PBEV, cujos resultados revelam melhorias nas

relações de consumo e na redução das emissões de poluentes.

3.1. O motor à combustão interna sob pressão e as implicações sobre as

trajetórias tecnológicas da indústria automobilística

Esse item procura destacar as preocupações com poluição, o consumo de

combustíveis, bem como fontes de energia que não o petróleo em relação às iniciativas

relacionadas com os automóveis. Inicia-se com uma discussão sobre matriz energética,

31

No início de 2014, a BMW lançou o primeiro veículo flex fuel turbo no Brasil. Espera-se que em 2015, a

Audi e a Mercedes-Benz desembarquem aqui com modelos também equipados com essas tecnologias. Mais

informações disponíveis em: http://quatrorodas.abril.com.br/carros/testes/bmw-320i-activeflex-774586.shtml

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passa pela busca de novas fontes de energia sobretudo nos EUA e discute-se a queima de

combustíveis para transporte. A segunda parte dedica-se a discutir um panorama sobre

paradigmas alternativos aos motores de combustão interna e ao final faz-se uma análise das

experiências japonesa e norte-americana com os veículos elétricos e de baixa emissão de

poluentes.

3.1.1. Mudanças na matriz energética mundial

Como visto anteriormente, junto ao consumo de combustíveis, decorre a emissão de

poluentes e de CO2. Abaixo, na Tabela 3.1, encontra-se um recorte dos dados da Agência

Internacional de Energia para o ano de 2010 (IEA, 2012). Sob o ponto de vista do total de

emissões, o Brasil situa-se como o 15° país mais poluidor e nota-se que a maior parcela da

queima brasileira de combustíveis está ligada aos transportes, um quadro diferente dos

outros países por possuir fontes de energia elétrica “limpas”.

Tabela 3.1 - Emissão de CO2 por queima de combustível em países selecionados,

em toneladas, 2010

País Prod. Energia

Elétrica e Aquecimento

Ind. Transforma-

ção e Construção

Outros usos

industriais

Trans- porte

Modal Rodovi

ário

Outros Setores

Uso Resi-

dencial

Total de Emissões

de CO2

Alemanha 326,9 116,0 26,3 145,5 141,0 146,9 101,0 761,6

China 3 576,9 2 333,4 275,5 513,6 400,9 559,2 303,1 7 258,5

Estados Unidos

2 309,7 587,1 262,0 1 621,7 1400,5 588,2 321,7 5 368,6

Japão 463,5 249,8 44,0 222,7 201,1 163,1 60,8 1 143,1

Brasil 44,7 114,0 25,1 166,0 148,2 37,7 17,0 387,7

Total 12480,6 6186,4 1570,8 6755,8 4972,1 3282,6 1880,4 30276,1

Fonte: IEA - CO₂ Emissions from Fuel Combustion (2012)

Ao focar apenas a queima de combustíveis ligada aos transportes, o país sobe para a

6ª posição e esta situação corrobora com a ênfase dada ao transporte por rodovias (seja de

cargas ou individual).

Esse quadro seria mais defasado caso não houvesse conhecimento brasileiro em

etanol combustível, que se inicia por razões diversas à pressão ambiental, no início do

século XX com experiências por um combustível “nacional” e, na década de 1970 com o

Proálcool quando o álcool foi visto como uma saída viável à dependência externa de

combustíveis (STUMPF, 1978).

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Por outro lado, esse quadro mostra um desafio a ser repensado quanto ao consumo

de combustível e a utilização de automóveis como principal meio de transporte. O tamanho

e peso dos veículos, os trajetos realizados, são questões de importância quando se coloca no

horizonte a durabilidade e confiabilidade dos motores. O tráfego das grandes cidades é um

complicador, pelo fato do regime do motor trabalhar fora da curva ideal;

congestionamentos podem levar à lubrificação deficitária e assim facilitar a formação de

borra e espuma no óleo lubrificante; outro problema é a temperatura do motor, que em

trajetos curtos fica abaixo do ideal e em trânsito pesado vai além do necessário. Questões já

conhecidas e com soluções técnicas razoavelmente simples disponíveis há tempo pela via

do mercado.

Em uma visão macro desta questão de urbanização, de veículos para transporte

individual e de uso de combustíveis, o desafio transpassa a otimização dos motores flex

fuel, no sentido de repensar o modal de transporte escolhido ao longo dos séculos XX e

XXI 32

. Na linha em que Newman e Kenworthy (1999) sugerem para o estudo dos fatores

que compõem o sistema de transporte de modo geral, conforme colocado na Figura 3.1,

abaixo.

32

Para uma discussão mais abrangente sobre a difusão do automóvel e mudanças no espaço urbano norte-

americano, sugere-se Weiner (2008); para críticas ao sistema de transporte individual, sugere-se Newman

(1999) e Vasconcellos (2012).

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81

Figura 3.1 - Fatores que compõem o sistema de transporte

Fonte: elaboração própria a partir de Newman e Kenworthy (1999)

Assim, é válido repensar esse quadro geral sobre transportes, que possui os

automóveis como um dos pilares do sistema. Uma via está ligada às leis e normas que

regulam a produção industrial e, nesse sentido, nos dias atuais a indústria automotiva

brasileira é alvo de um marco legal de maior envergadura, que procura estimular o

desenvolvimento tecnológico em termos de segurança e de maior eficiência energética, com

o chamado Inovar-Auto. Entretanto, para analisar o uso de álcool combustível é necessário

compreender o contexto energético mais geral, tanto brasileiro como mundial.

Sobre a matriz energética global, mesmo com o arrefecimento da temática sobre

mudanças climáticas globais e sobre fontes alternativas de energia, nos últimos 5 anos

houve mudanças consideráveis. A principal delas toca à massificação do uso de gás de

xisto33

(shale gas) nos Estados Unidos em um prazo razoavelmente curto, dado que no

início dos anos 2000 menos de 1% do uso de gás natural nos EUA tinha como fonte o xisto

e que em 2010 essa relação passou dos 20%; projeções da US Energy Information 33

O gás de xisto não é um combustível automotivo significativo, mas por ser um substituto dos derivados do

petróleo que são usados para geração de energia elétrica, permite uma maior produção e a manutenção dos

preços da gasolina sem o aumento do consumo do óleo bruto.

Modal

e

Combustíveis

Tecnológicos

Eficiência dos veículos

Tipo de combustível

Econômicos

Custos

Margem de Lucro

Infraestrutura

Meio de Transporte (individual ou coletivo)

Disponibilidade e Qualidade dos

Serviços

Meio Urbano

Malha viária

Densidade populacional

Relação Centro-Periferia

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Administration mostram uma tendência de se chegar a casa dos 50% até o ano de 2040

(EIA, 2013; STEVENS, 2012).

Ao lado disso, ocorreram importantes avanços quanto ao etanol de segunda geração,

com a intensificação das ações em PD&I e o sucesso de plantas pilotos, que levaram a

instalação de usinas com essa tecnologia, sobretudo nos EUA; em linhas gerais, com elas

são possíveis aumentos na produção de combustíveis sem o crescimento das áreas de

plantio (PODKAMINER et al. 2012, HERTEL et al., 2013). E as pesquisas norte-

americanas podem vir a ter reflexo direto sobre a experiência nacional na produção de

etanol da cana-de-açúcar, dado que, uma vez concretizados, esses novos processos poderão

ser capazes de reduzir as vantagens competitivas brasileiras construídas desde os anos 70

mais profundamente.

O panorama brasileiro ao redor do etanol até 2008 se mostrava bastante positivo; o

mercado do combustível fora retomado com o veículo flex fuel após um longo período de

declínio desde o final dos anos 1980, havia uma expectativa de que o etanol se tornaria uma

commodity, além do país se apresentar como o maior produtor e um expoente no avanço

tecnológico da produção de etanol de primeira geração. Contudo, o cenário de crise

econômica mundial, a crescente exportação de açúcar e avanços na exploração do Pré-Sal

levaram a um desinteresse pelo combustível da cana. Em um curto espaço de tempo nota-se

uma mudança, negativa, do setor sucroalcooleiro nacional, caracterizado por baixos

investimentos em novas tecnologias de produção agrícola e agroindustrial, não renovação

dos canaviais (e portanto, queda da produtividade agrícola), desestimuladas também por

políticas governamentais de manutenção do baixo preço da gasolina, apesar de sucessivas

altas do petróleo no mercado internacional.

Mas, mesmo com esse contexto desfavorável, algumas incertezas deixam

transpassar perspectivas para retomada do etanol: primeiro com a recuperação da economia

global e uma maior atenção às atividades do IPCC (Painel Intergovernamental sobre

Mudanças Climáticas34), já que os cenários sobre mudanças no clima colocam uma

possibilidade crescente para a retomada de P&D relacionada aos combustíveis alternativos;

segundo pelo espaço ganho com o estabelecimento das tecnologias em escala produtiva

relacionadas à segunda geração de etanol; e por fim, por dúvidas quanto à sustentabilidade

34

Para mais detalhes consultar http://www.ipcc.ch/

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do gás de xisto no sentido da instabilidade dos preços, do conhecimento deficitário sobre o

comportamento das jazidas (e o decorrente rápido esgotamento de poços), bem como pelo

desconhecimento de riscos ao meio ambiente no longo prazo (inclusive sobre a quantidade

de CO2 oriunda dos processos de exploração e utilização do gás).

A discussão vai além desse contexto macroenergético, uma vez que os veículos

automotores são um complexo à parte. Assim, na sequência analisa-se especificamente a

utilização de combustíveis em automóveis e algumas alternativas ao uso de gasolina já

realizadas em veículos.

3.1.2. Diferentes cenários e alternativas para além da gasolina

Diferentes powertrains e diversas misturas já foram testadas como possíveis

carburantes ou mecanismos de propulsão; exemplos passam por veículos híbridos, elétricos,

movidos à célula de combustível/hidrogênio (como mostrado na Figura 1.1 anteriormente),

os quais se colocam como alternativas ao uso de gasolina. Estas se enquadram como formas

de focar novidades, a busca por atividades tecnológicas extraordinárias com a capacidade

de gerar resultados e levar a mudanças no paradigma atual dos motores automotivos.

Assim, procede-se a um olhar mais detalhado sobre as vantagens e desvantagens de cada

uma dessas alternativas levantadas, a partir do estudo de MacLean e Lave (2003) e Schafer

et al. (2006).

Veículos híbridos caracterizam-se por unirem uma unidade de geração de energia a

um sistema de armazenamento de energia. Tipicamente agregam um motor de combustão

interna a grandes baterias que alimentam propulsores elétricos. Recupera-se parte da

energia gerada pelo motor em freadas para utilizar em momentos em que o consumo de

energia do carro está menor, parado em um semáforo, por exemplo. E por esta

característica de agregar partes de diferentes paradigmas tecnológicos, coloca-se como um

modelo de transição entre os motores de combustão interna e os carros elétricos puros.

Os carros elétricos puros, por sua vez, são construídos com base em motores

elétricos que utilizam a energia armazenada em baterias para gerar tração mecânica capaz

de movimentar os automóveis. Em termos de eficiência energética, esse paradigma

apresenta-se como uma solução muito à frente dos motores de combustão interna, uma vez

que a perda em calor chega a apenas 10% (enquanto nos motores de combustão interna

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passa dos 50%). Entretanto, há dois importantes entraves para a difusão dos veículos

elétricos: as fontes geradoras de energia e as baterias de armazenamento de eletricidade.

Quanto às fontes primárias de energia, o que pode ocorrer é a transferência da emissão de

GEE para a geração ao invés da liberação via queima de combustíveis por automóveis;

quanto às baterias, diferentes trajetórias já foram exploradas (como íon-lítio e níquel metal-

hidreto), mas questões como o peso, custo, durabilidade e descarte ainda são gargalos

técnico-produtivos que carecem de soluções duradouras, segundo Schafer et al. (2006).

Na prática, os carros elétricos representam apenas um nicho de mercado, tal qual os

carros esportivos. As estimativas da frota elétrica mundial saltaram de 180 mil carros em

2012 para quase 400 mil veículos em 2013, entretanto esses valores ainda ficam abaixo da

casa 0,1% do total de automóveis ao redor do globo. Os estudos prospectivos de longo

prazo falam em uma frota de 20 milhões de veículos até o ano de 2020, que representaria

2% da frota global (IEA, 2013). É uma solução técnica e funcional, ainda longe de ser uma

rival aos motores à combustão interna no curto prazo, sem contar ainda com os veículos

híbridos que fariam essa transição entre os paradigmas.

Por fim, a célula a combustível pode ser considerada uma tecnologia promissora

para a substituição dos motores de combustão interna, pelo seu potencial de emissão zero

de poluentes. Sua estrutura básica de funcionamento é de um conjunto de células

eletroquímicas (cada uma composta por ânodo, cátodo e o um eletrólito). Diferentemente

das baterias dos veículos elétricos, que são fechadas, a alimentação das células a

combustível é aberta. Desse modo, diferentes combustíveis podem dar origem à geração de

energia e nesse ponto é que se explora o potencial de emissão zero de poluentes,

dependendo do combustível utilizado, pois mesmo a gasolina pode ser utilizada como fonte

energética. Mas se os veículos elétricos ainda estão longe como uma solução em larga

escala, a célula a combustível por si só necessita de mais tempo e dedicação em P&D para

se mostrarem reais alternativas, a não ser que esta tecnologia seja absorvida como um

sistema acoplado aos motores e veículos tradicionais.

Sobre a robustez do paradigma dos veículos com motores de combustão interna e

sua capacidade de absorver melhorias em diferentes sistemas, explora-se o trabalho de

Kohler et al. (2009), que apesar de uma crescente preocupação ambiental já nos anos 1970,

as montadoras norte-americanas procuravam introduzir no mercado modelos mais seguros,

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confortáveis e com maior performance. Vale ressaltar que houve ganho de eficiência nos

automóveis e que esta foi uma resposta à regulação do governo estadunidense, mas que foi

camuflada pela escala de produção dos automóveis. O efeito colateral ocorrido foi que

menores consumos de combustível por um único automóvel levaram a um crescimento não

antes esperado da frota.

Em 1963, o governo norte-americano estabeleceu o Clean Air Act35

(revisada em

1967, 1970, 1977 e 1990) que trata diretamente do uso de automóveis e do limite de

emissões de carbono por motores de combustão interna. Nesse contexto se insere a

iniciativa dos Zero-Emissions Vehicles (ZEV), estabelecido em 1990, como forma de

controlar a emissão de carbono; assim a utilização de automóveis nos grandes centros

tornou-se um problema delicado. Essas medidas adotadas no estado da Califórnia,

sobretudo a partir da demanda pelos ZEVs, se mostram influentes nas decisões tomadas em

outros lugares ao redor do globo acerca de automóveis e emissão de poluentes.

Quanto à questão entre marco legal e mudança técnica, Lee et al. (2010) realizaram

um estudo sobre a influência do marco regulatório norte-americano e o avanço tecnológico

no controle de emissões de poluentes por automóveis via patentes e publicações técnicas.

Após um exame detalhado do material levantado, os autores concluem que o marco

regulatório mais específico foi capaz de viabilizar não só a introdução de tecnologias

voltadas para menores emissões de gases poluentes, mas no desenvolvimento de sistemas

em controle de emissões mais eficientes. E, assim, torna-se claro que os avanços mais

contundentes da indústria automobilística norte-americana a partir de meados dos anos

1960 foram estimulados por políticas públicas.

Outro exemplo, que data dos anos 1970 e pode ser compreendido como um paralelo

ao Proálcool é o dos carros elétricos no Japão o qual se inicia como um programa de

desenvolvimento liderado pelo governo local. E, por isso, desmembra-se esta experiência

de modo mais pormenorizado.

Ahman (2006) realiza um estudo abrangente sobre a experiência japonesa, iniciado

em 1971 o programa sobre veículos elétricos no Japão constituiu-se como um programa de

longo prazo, e suas metas foram revisadas com o passar do tempo e adequadas aos

problemas enfrentados durante o desenvolvimento. A coordenação cabia ao Ministério da

35

O conteúdo desta lei pode ser consultado em http://www.epa.gov/air/caa/index.html

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Indústria e Comércio Internacional (MITI), além deste o Ministério dos Transportes e a

Agência para o Meio Ambiente detinham papéis importantes nessa construção institucional,

a Figura 3.2 ilustra a organização desses atores.

Figura 3.2 - Organização do Programa Japonês para Veículos Elétricos

Fonte: elaboração própria a partir de Ahman (2006)

Nesse contexto, o MITI trabalhou como um regente, uma espécie de conselheiro

que buscava estabelecer parcerias informais e não contratos ou obrigações, aparentemente

por se tratar de uma alternativa e não dos veículos dominantes no mercado automotivo.

Entretanto com a estabilidade do preço do petróleo o programa perdeu seu dinamismo

inicial até meados dos anos 70.

Como forma de reverter este quadro, o MITI intensificou sua atuação por meio de

três frentes de apoio: às atividades de P&D, à criação da infraestrutura para utilização e

recarga dos carros, e via subsídios e encomendas públicas de veículos elétricos ao visar a

criação de um nicho de mercado para estes.

É interessante notar que a política japonesa nesse período não focava estritamente o

apoio à P&D, mas estendia o financiamento na sequência das diferentes fases do processo

de desenvolvimento, da P&D aos testes de campo e projetos pilotos, até a introdução no

mercado e a tentativa de se difundir o carro elétrico.

Mesmo assim, até os anos 1990, a difusão desses veículos mostrou-se baixa e

despertou pouco interesse às empresas do ramo automotivo japonês. Um ponto de inflexão

foi a medida californiana do ZEV que, ao aumentar o mercado dos carros elétricos

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estimulou as montadoras a acelerarem o desenvolvimento de seus modelos de baixa

emissão.

Especificamente sobre as três frentes de apoio acima citadas (P&D e demonstração,

infraestrutura e criação de mercado), segue um olhar mais aprofundado dos instrumentos de

política utilizados pelo governo japonês.

No que toca à P&D e demonstração, inicialmente foi criado um programa entre o

governo e as indústrias com a finalidade de se desenvolver um carro elétrico a bateria. O

intuito dessa aproximação era criar um consórcio voltado à P&D e um ambiente com

diferentes atores - indústrias de diferentes setores, universidades e institutos públicos de

pesquisa, além do próprio governo - norteados pelo MITI. Nesse sentido, as atividades

eram definidas pelo governo através de financiamentos específicos que induziam as

atividades de P&D e a interação entre os atores.

Dessas interfaces entre firmas ocorreu a criação de externalidades positivas, como

uma sólida base de conhecimento e spillovers de tecnologias, bem como a criação de novas

empresas de base tecnológica.

Após 1995 foram criados programas específicos para o desenvolvimento de carros

elétricos com célula de combustível e carros híbridos, ambos estavam fora do objetivo

inicial traçado pelo MITI. O carro híbrido, por sua vez, se mostrava como uma alternativa

de introdução imediata no mercado, já a célula de combustível era vista como uma

tecnologia portadora de futuro, nascente.

Quanto aos projetos voltados à infraestrutura, o montante de recursos destinado foi

o menor das três frentes, uma vez que os veículos elétricos deixaram de ser carros de

demonstração ou projetos pilotos para se difundirem em meados dos anos 1990. Nesta

época projetos de maior envergadura como o ECO-Station Project de 1993, que visava

construir 2.000 postos de recarga até a entrada dos anos 2000, passaram a ser realizados.

Por fim, ao focalizar a atuação do governo japonês nos mecanismos de difusão e

criação de mercados, no período inicial foram utilizadas ferramentas de redução de

impostos, leasing voltado a empresas que se dedicavam à coleta de dados, estudos de

viabilidade e para o estabelecimento de subsídios aos governos locais. Na década de 1990,

o governo japonês instituiu que 10% da frota pública deveria ser composta por veículos

elétricos (independente da tecnologia de propulsão) e houve uma mudança quanto à

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realização dos leasings com o Programa de Incentivo à Compra de Veículos Elétricos à

Bateria (BPEV Purchasing Incentive Program de 1996): o governo passou a subsidiar 50%

o valor que ultrapassasse o preço de um veículo elétrico em relação ao seu similar com

motores à combustão interna tradicionais.

A experiência japonesa difere do Proálcool, pois não se tratava de um combustível

líquido alternativo aos derivados do petróleo (álcool x gasolina), mas também se mostrava

idealmente como uma quebra de paradigma em relação aos combustíveis fósseis. Essas

histórias descritas revelam diferentes situações que forçaram o desenvolvimento de novas

tecnologias, bem como o uso de fontes alternativas ao uso de gasolina.

Nesse sentido, ambos são programas baseados em estímulos governamentais para o

desenvolvimento de alternativas ao combustível e aos veículos tradicionais. Os dois

apresentaram resultados satisfatórios, mas uma ponderação é que o uso de álcool em larga

escala se tornaria viável por ser mais próximo da realidade da gasolina e não prescindia de

grandes investimentos para sua difusão. Assim, pode-se dizer que o Proálcool tem

resultados mais concretos que o veículo elétrico japonês quando se olha a frota decorrente

de cada um dos programas. Por outro lado, pode-se dizer que os veículos híbridos são

frutos dessa investida japonesa em carros elétricos puros, aliada as inciativas

governamentais da Califórnia.

O estímulo governamental, portanto, via programas especiais ou mesmo por marcos

regulatórios mais restritivos é um importante fator para o desenvolvimento de tecnologias

para os automóveis (Proálcool) ou mesmo veículos com sistemas inteiramente novos (carro

elétrico japonês).

Com o ferramental teórico das trajetórias tecnológicas em mente, além dos paralelos

internacionais em termos de políticas em tecnologias, veículos e combustíveis alternativos,

prossegue-se para um estudo mais pormenorizado de como os avanços políticos e

tecnológicos em termos de redução de poluentes, eficiência energética e consumo

ocorreram no Brasil.

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3.2. O Quadro institucional voltado à indústria automobilística nacional

É válida uma ponderação, com base em Gallo (2012) e Nigro e Szwarc (2010), que

nos anos do Proálcool a menor liberação de gases poluentes pelo uso de etanol se fazia

evidente pela relação entre combustível e emissão de poluentes; mas com a introdução dos

catalisadores de três vias, a emissão, a partir dos anos 1990 de gases poluentes, é muito

semelhante independentemente do combustível (gasolina, etanol ou gás natural); a grande

vantagem ambiental do etanol de cana-de-açúcar está na menor emissão de gás de efeito

estufa (GEE) de origem fóssil (com uma redução estimada entre 60% e 90% quando

comparado à gasolina).

Desse modo, construir uma alternativa forte frente ao petróleo é uma tarefa

complexa e que demanda esforço. E o Brasil apontou que é possível substituir a gasolina

em larga escala a partir da década de 1970, com as produções tanto de etanol como de

motores a álcool. Entretanto, os veículos flex fuel brasileiros não são uma decorrência direta

dos modelos a álcool, dado que as tecnologias empregadas são distintas. Dos carburadores

para a injeção eletrônica à introdução de comandos eletrônicos, entre outras inovações,

pode-se dizer que as novas tecnologias empregadas revelam avanços.

Desta forma, do ponto de vista de emissão de poluentes, um motor utilizando etanol,

por mais ineficiente que este seja, libera uma carga muito menor de GEE do que um motor

abastecido com gasolina bem calibrado e de alta eficiência energética. Isso leva à reflexão

sobre quais caminhos a se percorrer no intuito de se estimular o avanço tecnológico, não

apenas tendo em mente a eficiência energética e a emissão de GEE, mas considerando-se o

limite da técnica (ou mecânica) dentro de cada projeto de motor e, certamente, o contexto

da indústria automobilística nacional, com tudo o que ela representa, como tratado até aqui.

Esse item está dividido em três partes: o primeiro trata da legislação relativa ao setor

automobilístico sobre a emissão de poluentes e o estímulo por veículos mais eficientes do

ponto de vista do consumo de energia; na sequência são analisados os dados relativos ao

esforço decorrente das restrições colocadas pelo marco legal, e ao final, tem-se

considerações sobre o futuro próximo da tecnologia flex fuel nacional com base nos dados

levantados e nas entrevistas realizadas ao longo do trabalho.

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3.2.1. Políticas públicas e a redução de emissões

Com o intuito de reduzir a quantidade de poluentes emitidos pela utilização de

veículos automotores, foi estabelecido, em 1986, pelo Conselho Nacional do Meio

Ambiente (Conama), o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores

(Proconve). O Programa passou a regular a quantidade máxima de poluentes gerada pelos

automóveis e foram limitados os seguintes gases: monóxido de carbono (CO), óxidos de

nitrogênio (NOX), hidrocarbonetos não queimados (NMHC), aldeídos, além de material

particulado. Nota-se que o CO2 não está nesta seleção pelo seguinte fato: o CO2 gerado

representa a oxidação completa do carbono; quando isso não ocorre haveria formação dos

demais gases anteriormente descritos, os quais são poluentes e tóxicos. Uma vez que o gás

carbônico está diretamente ligado à queima do combustível, as soluções encontradas para

menores emissões de CO2 são ou uma maior eficiência energética ou com o chamado

downsizing dos motores e dos carros, ou seja, veículos menores (em tamanho e potência) e

com melhor rendimento energético, mais adaptados ao uso urbano e de curta distâncias, por

exemplo (GALLO, 2012).

Mais especificamente, o Proconve foi ajustado ao longo do tempo, 6 diferentes

versões já foram realizadas e estima-se que a redução de poluentes com relação ao início do

programa tenha ultrapassado a casa dos 95%36

, como uma forma constante de estimular o

desenvolvimento de tecnologias que diminuam o impacto ao ambiente, mesmo que isso

tenha forçado a internalização de tecnologia desenvolvidas e utilizadas em outros países

primeiramente. Por exemplo, o uso de catalisadores se inicia nos EUA quase 10 anos antes

que no Brasil, e este só ocorreu por uma legislação restritiva, como o caso da Califórnia. E

nesse sentido, nota-se a adoção dos catalisadores de três vias no Brasil e um esforço maior

no sentido de reduzir a emissão de poluentes locais. As fases do Proconve e o limite de

emissões em cada uma delas para cada um dos poluentes já citados estão no Gráfico 3.1

que segue.

36

Mais informações e detalhes disponíveis em:

http://www.mma.gov.br/estruturas/163/_arquivos/ibama_cap_163.pdf

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Gráfico 3.1 - Fases do Proconve e Limite de Emissão de Poluentes, Brasil, 1988-2014

Fonte: MMA (2011)

Nota-se, assim, que em termos de emissão de poluentes o avanço nos automóveis

pode ser considerado bastante efetivo. Outra forma de colocar em evidência essa questão é

que a partir de 2008 o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro)

passou a mensurar a eficiência energética dos automóveis populares a partir do Programa

Brasileira de Etiquetagem Veicular (PBVE), um “selo Procel” para veículos, por meio da

aplicação de questionários com as maiores montadoras no Brasil e de testes práticos com os

modelos selecionados pelas montadoras. Considera-se este um instrumento de política

efetivo, capaz de induzir melhoras na eficiência energética dos automóveis e de introduzir

tecnologias melhoradas nos veículos comercializados no país (BASTIN et al., 2010). Além

disso, serviu como trampolim para o estabelecimento de um novo marco regulatório,

específico para os veículos automotores.

O PBEV não é uma obrigação imposta às montadoras, seu funcionamento se dá por

adesão das empresas. Entretanto nota-se que o escopo do programa teve um crescimento

rápido mesmo em um curto espaço de tempo, cujo estímulo mais marcante ocorreu em

2012, pois uma forma para a montadora fazer parte do Inovar-Auto é ter os modelos e suas

respectivas versões avaliadas nessa sistemática. Assim, quando se analisa o número de

modelos e versões incluídos nas diferentes versões do PBEV tem-se o início com 54

0

5

10

15

20

25

30

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

L1 L2 L3 L4 L5 L6

g/K

m

CO NOx NMHC

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modelos e versões em 2009 até chegar em um universo de 540 em 2014. A Tabela 3.2

abaixo procura mostrar essa evolução.

Tabela 3.2 - Total de Modelos e Versões no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular por

categoria, Brasil, 2009-2014

Categorias 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Subcompacto 18 12 20 31 38 40

Compacto 25 17 17 62 84 108

Médio 7 13 11 34 63 94

Grande 3 12 17 29 111 75

Outras 1 13 18 49 152 223

Total 54 67 83 205 448 540

Fonte: PBEV - Inmetro

Em 2012, o governo federal, por meio do decreto presidencial 7.819/2012, instituiu

o Programa Inovar-Auto37

, nomeadamente Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica

e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores, que busca desenvolver

tecnologias em território nacional para a obtenção de veículos com maior qualidade e

segurança, bem como motores que apresentem melhores eficiência do ponto de vista

energético.

Especificamente no que toca os motores, respeita-se as características de cada

montadora e de seus respectivos modelos, dado que a melhora é relativa ao modelo

comercializado no ano de promulgação do decreto. É um estímulo que atinge todos os

veículos por igual e não dá vantagens, em princípio, para nenhuma empresa e se aplica aos

modelos à gasolina ou flex fuel; o salto qualitativo necessário para atingir a meta e seu

respectivo bônus de menor carga tributária é uma melhora em 10% da eficiência dos

automóveis em relação aos modelos comercializados em 2011, ano que serve como linha de

base para a comparação e o traçado das metas para melhorias.

Para que uma montadora participe do Inovar-Auto e obtenha as vantagens fiscais é

necessário que esta cumpra diferentes requisitos, dentre os quais ter fábrica e atividades

produtivas no país (ou ao menos um projeto de instalação fabril em andamento), além da

necessidade de cumprir ao menos duas das três ações enunciadas na sequência, i. pesquisa e

37

Decreto 7.819 de 3 de outubro de 2012, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2012/Decreto/D7819.htm

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desenvolvimento, ii. engenharia, tecnologia industrial básica e capacitação de fornecedores,

e iii. adesão ao Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular.

Considera-se como atividades de P&D i. pesquisa básica dirigida; ii. pesquisa

aplicada; iii. desenvolvimento experimental; e iv. serviços de apoio técnico. Como

engenharia, tecnologia industrial básica e capacitação de fornecedores: i.

desenvolvimento de engenharia; ii. tecnologia industrial básica; iii. treinamento de pessoal

de PD&I; iv. desenvolvimento de produtos; v. construção de laboratórios; vi.

desenvolvimento de ferramental e moldes, e vii. capacitação de fornecedores. Essas

atividades podem ser realizadas internamente ou por contratação de fornecedores ou via

contratação de universidades, institutos de pesquisa, empresa especializada ou mesmo com

inventores independentes; essas ações também podem ser em parte cobertas com recursos

do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Especialistas críticos ao Programa apontam que, conceitualmente, não é complexo

diferenciar as atividades de PD&I frente às de engenharia rotineira; entretanto a prática

pode enviesar os resultados no sentido de dar um maior peso a atividades cuja efetividade

não seja tão grande; assim, o marco regulatório poderia ter focado, e ao longo do tempo ter

fortalecido, ações cuja finalidade estivessem ligadas ao uso de combustíveis alternativos,

especialmente a tecnologia flex fuel. Um risco neste ponto está em se conferir os avanços da

PD&I frente ao que foi declarado para o programa e para o fisco.

Entretanto, uma questão controversa está em estimular, ao mesmo tempo, o

desenvolvimento de motores tanto à gasolina quanto flex fuel; essa preocupação ocorre pelo

fato dos motores dedicados a um único combustível terem uma maior facilidade para

ganhos de funcionamento e eficiência. Se não houvesse pressões, inicialmente pela

academia e também pelos consumidores, prioritariamente os motores dedicados

(basicamente a gasolina) receberiam maior atenção para o desenvolvimento tecnológico -

um risco presente sempre que se trata do avanço do uso de álcool combustível (ou de

qualquer alternativa ao petróleo). As estratégias de atuação das montadoras respeitam uma

lógica global e tendem a padronizar seus modelos e tecnologias embarcadas.

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3.2.2. Evolução recente dos automóveis no Brasil: resultados do Proconve, PBEV e

Inovar-Auto

Tomando em consideração os programas discutidos acima, foi realizada uma análise

das informações que transpasse o resultado dessas alterações e desenvolvimentos tanto na

política quanto nos subsistemas, partes e peças para os veículos comercializados no Brasil.

Inicialmente são descritos os dados sobre emissão total de poluentes no Brasil, como forma

de revelar os avanços decorrentes do Proconve, e na sequência são tratadas as informações

sobre o PBEV tanto em consumo de combustíveis, eficiência energética e emissão de

poluentes de acordo com as categorias de veículos explicadas a seguir.

Os resultados do Proconve, com suas metas cada vez mais restritivas, estão

demonstrados no Gráfico 3.2 na sequência. Nota-se que são dados que versam sobre a

emissão total de cada poluente (CO, NOx e NMHC), além de CO2, para os anos contidos no

intervalo de 1980 a 2014.

Gráfico 3.2 - Emissão de poluentes por queima de combustível no Brasil,

milhões de toneladas por ano, 1980-2014

Nota: até o ano de 2009 os valores são reais, a partir de 2010 são dados estimados.

Fonte: MMA (2011)

No caso dos poluentes, a queda é considerável e marcante mesmo com um aumento

expressivo da frota automotiva nacional no período. Fruto do par formado pelos avanços do

marco regulatório e das mudanças tecnológicas, este pode ser um indicador de evolução das

0

1

2

3

4

5

Mil

es

de

To

ne

lad

as

CO NOx NMHC

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95

tecnologias embarcadas nos veículos e dos caminhos traçados pelas trajetórias tecnológicas

cuja finalidade está em reduzir a emissão de gases poluentes.

Já para CO2 a questão é distinta e duas ponderações são necessárias para entender o

Gráfico 3.3 abaixo, que apresenta curvas ascendentes. Primeiro, há uma diferença básica

nas emissões cuja origem está na queima da gasolina e no etanol: o gás carbônico

proveniente do derivado do petróleo é chamado de CO2 fóssil, pois antes da queima ele não

era parte do ciclo curto de carbono, diferente do caso do CO2 do etanol que é

constantemente reabsorvido pela fotossíntese da cana-de-açúcar. Portanto, apesar de haver

emissão do gás no escapamento, seu efeito é diminuto para o sistema em geral. O segundo

ponto toca à utilização dos catalisadores de três vias cuja função passa por transformar os 3

gases poluentes supracitados em gás carbônico, que apesar de poder gerar efeitos como o

aquecimento global não é tóxico como os anteriores. Assim, o aumento das emissões de

CO2, representado fundamentalmente pelo uso de etanol combustível, não representa uma

piora da qualidade do ar nos grandes centros ou de efeitos negativos para o meio-ambiente.

Gráfico 3.3 - Emissão de CO2 por queima de combustível no Brasil,

milhões de toneladas por ano, 1980-2014

Nota: até o ano de 2009 os valores foram coletados, a partir de 2010 são dados estimados.

Fonte: MMA (2011)

De modo mais específico, foram tratadas as informações sobre o consumo de

combustível, emissão de poluentes e eficiência energética dos veículos flex fuel e dedicados

a partir dos dados provenientes do PBEV, disponíveis para os anos entre 2009 e 2014.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Mil

es

de

To

ne

lad

as

Gasolina A (CO2 fóssil) Etanol Hidratado (CO2 não-fóssil) Total

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96

Basicamente, foram selecionadas quatro categorias de veículos de passeio, quais sejam: i.

subcompactos, ii. compactos, iii. médios e, iv. grandes. Essas categorias são estabelecidas a

partir do tamanho (área total da carroceria do veículo) e pela possível utilização dos

automóveis38

, de modo muito semelhante ao que ocorre nas avaliações veiculares realizadas

nos EUA e na Europa. Como informação adicional, a edição de 2014 do PBEV trabalha

com um total de 12 categorias além das quatro anteriores (as únicas a estarem presentes em

todas as demais edições), a saber: extra grande, carga derivado, comercial, fora de estrada,

minivan, utilitário esportivo compacto, utilitário esportivo grande e esportivo.

As variáveis selecionadas para comparação tocam ao consumo de combustível, a

eficiência energética e, por fim, a emissão de poluentes. A análise a seguir leva em

consideração a média de cada categoria quanto ao consumo de combustível (além do

comportamento dos veículos nos diferentes usos - cidade ou estrada), também, a eficiência

global dos modelos pode ser conferida por meio do consolidado das notas do PBEV, as

quais variam entre de A até E, onde A são os modelos mais eficientes e E os menos

eficientes. Por fim, a emissão de poluentes e gases de efeito estufa, medida em g/Km, dados

restritos aos anos de 2013 e 2014 uma vez que anteriormente a coleta destes não fazia parte

do PBEV39.

3.2.2.1. Veículos Subcompactos

Os veículos subcompactos, também conhecidos como a categoria de carros de

entrada, caracterizam-se por seu tamanho reduzido (área total do veículo de até 6,5 m²) e

carroceria do tipo hatch enquadram-se nessa categoria modelos como o Fiat Uno, Ford Ka,

Volkswagen up! e Nissan March. A ênfase desses veículos está nos motores de 1.0 litros

(1000 cc) flex fuel. A Tabela 3.3 abaixo revela quantos modelos e versões participaram nas

diferentes edições do PBEV.

38

Para mais informações e detalhes, consultar a portaria nº 377 de 29 de setembro de 2011 do Inmetro,

disponível em: http://www.inmetro.gov.br/legislacao/rtac/pdf/RTAC001739.pdf 39

Entende-se que para uma análise pormenorizada das classes, mais variáveis deveriam ser analisadas, como

peso, potência, formato da carroceria, procedência dos modelos, tecnologias embarcadas etc.. Entretanto essas

informações, quando disponíveis, são individualizadas. Assim, essa é uma aproximação do contexto geral

sobre consumo e eficiência dos veículos comercializados no país.

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97

Tabela 3.3 - Número de modelos e versões na categoria Subcompactos do PBEV,

Brasil, 2009-2014

Ano 1.0 1.3 - 1.6

Total geral Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

2009 7 4 7

18

2010 8 2 1 1 12

2011 13 2 4 1 20

2012 25

6

31

2013 25 4 8 1 38

2014 30 4 5 1 40

Total geral 108 16 31 4 159

Fonte: PBEV - Inmetro

Ao olhar o comportamento pelo consumo dos veículos nas duas classes de motores,

nota-se, através do Gráfico 3.4 abaixo, que para os anos entre 2009 e 2012 a tendência é de

um melhor rendimento para os veículos dedicados; entretanto nos anos mais recentes essa

tendência é igualada pelos automóveis equipados com tecnologia flex fuel, o que dá indícios

de que esta tecnologia recebeu atenção especial em seu desenvolvimento por parte das

montadoras e autopeças.

Gráfico 3.4 - Consumo médio dos veículos Subcompactos, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

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e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Etanol Gasolina Etanol Gasolina

Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

1.0 1.3 - 1.6

Km

/L

2009 2010 2011 2012 2013 2014

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98

De forma análoga, a partir do Gráfico 3.5 nota-se um crescimento no número dos

veículos flex fuel com melhores notas finais no PBEV frente aos dedicados ao uso de

gasolina nas edições mais recentes do programa. Evolução que fica patente com o fato de

que 70% dos modelos subcompactos equipados com motores de 1.0 litros na edição de

2014 receberem nota A no selo.

Gráfico 3.5 - Total de modelos Subcompactos por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

Em termos das emissões de poluentes e gases de efeito estufa os veículos

subcompactos apresentam, em geral, melhorias entre os anos 2013 e 2014 tanto para os

equipados com motores flex fuel quanto para os dedicados à gasolina, como mostrado na

Tabela 3.4 abaixo.

0

5

10

15

20

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A B C D E A B C D E A B C D E A B C D E

Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

1.0 1.3 - 1.6

To

tal d

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od

elo

s

2009 2010 2011 2012 2013 2014

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99

Tabela 3.4 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Subcompactos do

PBEV, Brasil, 2013-2014

Classe de

Motor Combustível Ano NMHC CO NOx

CO2fóssil - Etanol

CO2 fóssil - Gasolina

1.0

Flex Fuel 2013 0,0268 0,3864 0,0484 0,0000 99,4800

2014 0,0247 0,3258 0,0482 0,0000 98,2000

Gasolina 2013 0,0205 0,1795 0,0398 n/a 98,7500

2014 0,0243 0,2580 0,0288 n/a 98,7500

1.3 - 1.6

Flex Fuel 2013 0,0261 0,4029 0,0386 0,0000 109,1250

2014 0,0226 0,3980 0,0412 0,0000 112,8000

Gasolina 2013 0,0350 0,4780 0,0570 n/a 136,0000

2014 0,0260 0,1140 0,0540 n/a 109,0000

Fonte: PBEV - Inmetro

Lembrando que o PBEV não é uma obrigação, há montadoras que não são

participantes do programa; de todo modo qualquer veículo novo comercializado no Brasil

tem de seguir os padrões de emissão estipulados pelo Proconve. Essa evolução notada

acima reflete prioritariamente variações da quantidade de veículos avaliada de um ano para

outro (maior quantidade de veículos 1.0 flex fuel e decréscimo para os 1.3-1.6 dedicados à

gasolina) e não de modo direto uma adoção em escala de novas tecnologias para modelos já

comercializados e constantes nas demais edições do PBEV, uma vez que estes dados estão

disponíveis apenas para os dois anos do Programa.

3.2.2.2. Veículos Compactos

Os veículos compactos caracterizam-se pelo tamanho pequeno (ligeiramente maior

que os subcompactos, com área total da carroceria entre 6,5 e 7,0 m²) e em sua maioria

apresentam-se por modelos com carroceria do tipo hatch. Enquadram-se nessa divisão

modelos como o Volkswagen Gol, Ford Fiesta, Fiat Punto, Honda Fit, Renault Sandero,

Peugeot 208, entre outros.

A ênfase desses veículos está nos motores de entre 1.3 e 1.6 litros flex fuel, por mais

que alguns modelos apresentem versões equipadas com motor 1.0 com um preço mais

atrativo ao mercado. A Tabela 3.5 abaixo revela quantos modelos e versões participaram nas

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100

diferentes edições do PBEV. Nota-se que os modelos dedicados à gasolina são importados

e com mercado restrito, uma das possíveis causas da não utilização da tecnologia flex.

Tabela 3.5 - Número de modelos e versões na categoria Compactos do PBEV,

Brasil, 2009-2014

Ano 1.0 1.3 - 1.6

Total Geral Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

2009 6

18

24

2010 4

11

15

2011 6

11

17

2012 16

45 1 62

2013 18

63 3 84

2014 25

78 5 108

Total Geral 75 0 226 9 310

Fonte: PBEV - Inmetro

Em termos de consumo de combustível, o Gráfico 3.6 revela uma tendência geral na

melhora da relação de quilômetros por litro. Nota-se também que nesta categoria a questão

de consumo, por si mesma, não é uma condição primordial para o consumidor, dado que

aceita-se gastar ligeiramente mais combustível em troca de um rendimento maior do

veículo, melhores retomadas e aceleração, por exemplo. Uma questão que começa ganhar

força e se apresenta de maneira mais profunda nas demais categorias acima desta é o

conforto.

Gráfico 3.6 - Consumo médio dos veículos Compactos, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Cidade Estrada Cidade Estrada Cidade Estrada Cidade Estrada Cidade Estrada

Etanol Gasolina Etanol Gasolina

Flex Fuel Flex Fuel Gasolina

1.0 1.3 - 1.6

Km

/L

2009 2010 2011 2012 2013 2014

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101

Quanto à eficiência global, para essa classe de automóveis, os dados do PBEV

(Gráfico 3.7) revelam que os modelos variam primordialmente entre as notas A e B para os

anos mais recentes, as melhores notas dentre as cinco possíveis. Da mesma forma que nos

subcompactos, os modelos com motor 1.0 apresentam notas finais mais elevadas, cuja

maioria se estabelece no grupo A.

Gráfico 3.7 - Total de modelos Compactos por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

Quanto às emissões no escapamento, notam-se ligeiras mudanças tanto em termos

de discretas melhorias quanto levemente maiores emissões de poluentes. Na Tabela 3.6 na

sequência, nota-se que na faixa que contém mais modelos na categoria dos compactos,

referente aos veículos entre 1.3 e 1.6 cilindradas flex fuel, estão os maiores avanços na

diminuição da emissão gases poluentes no escapamento.

Tabela 3.6 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Compactos do PBEV,

Brasil, 2013-2014

Classe de Motor

Combustível Ano NMHC CO NOx CO2fóssil - Etanol

CO2 fóssil - Gasolina

1.0 Flex Fuel 2013 0,0223 0,3426 0,0307 0,0000 105,3333

2014 0,0256 0,3672 0,0308 0,0000 103,2800

1.3 - 1.6

Flex Fuel 2013 0,0252 0,3972 0,0336 0,0000 112,8095

2014 0,0212 0,3974 0,0334 0,0000 111,8718

Gasolina 2013 0,0213 0,4400 0,0423 n/a 121,6667

2014 0,0260 0,3128 0,0378 n/a 111,4000

Fonte: PBEV - Inmetro

0

5

10

15

20

25

30

35

A B C D E A B C D E A B C D E

Flex Fuel Flex Fuel Gasolina

1.0 1.3 - 1.6

To

tal d

e M

od

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s

2009 2010 2011 2012 2013 2014

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102

Uma observação necessária é que essas taxas estão por vezes abaixo do teto

estabelecido pela regulação brasileira; com os limites atuais do Proconve40

, ao menos 50%

abaixo do estabelecido pela norma nacional. Assim essas pequenas variações de um ano

para outro podem não refletir um avanço anterior já estabelecido.

3.2.2.3. Veículos Médios

A categoria dos carros médios é composta por modelos como o Volkswagen

Voyage, Honda City, Hyundai i30 e Renault Logan; o predomínio está em modelos cuja

carroceria é sedan (área total do veículo entre 7,0 e 8,0 m²). Novamente, nesta categoria os

motores são em sua maioria entre 1.3 e 1.6 litros; como forma de transformar alguns

modelos mais atrativos pela via do preço final utiliza-se motores 1.0; quando a questão se

desloca para o quesito desempenho, os motores crescem para 1.8 e 2.0 L cujo desempenho

em força e velocidade é superior aos demais. Esses veículos são em sua maioria

importados. A Tabela 3.7 mostra o número de veículos e seus respectivos tamanhos de

motor e combustível utilizado.

Tabela 3.7 - Número de modelos e versões na categoria Médios do PBEV, Brasil, 2009-2014

Ano 1.0 1.3 - 1.6 1.8 - 2.0

Total Geral Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

2009 1

3

3

7

2010 3

7 2 1

13

2011 2

7 2

11

2012 5

29

34

2013 10

32 8

13 63

2014 10

42 6

36 94

Total Geral 31 0 120 18 4 49 222

Fonte: PBEV - Inmetro

Sobre os avanços de tecnologia e melhoria dos motores com foco no consumo de

combustível, a categoria dos médios não apresenta grandes saltos ou mesmo melhorias no

período estudado; tal estabilidade pode ser notada no Gráfico 3.8 que segue. Os ganhos

apresentados basicamente estão relacionados ao uso desses veículos em trechos de cidade,

40

A tabela de referência está no Anexo 2 e também no link http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas-

qa/programa-proconve

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103

cuja ganho de autonomia está é cerca de 4,5%; entretanto para o uso em estradas o

rendimento dos motores cai entre 3% e 4% para os motores entre 1.3 e 1.6L.

Gráfico 3.8 - Consumo médio dos veículos Médios, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

Essa melhoria mais lenta também se reflete no fato da nota B no PBEV ser

prevalecente na categoria dos médios, sobretudo nos que saem de fábrica equipados com

motores entre 1.3 e 1.6L flex fuel, principais modelos na categoria (Gráfico 3.9, abaixo). Tal

fato pode revelar espaço para melhorias no que toca à eficiência energética dos veículos

que compõem essa classe, apesar deste fator não ser preponderante pela via específica do

consumidor que utiliza esta classe de automóveis.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Cidade Estrada Cidade Estrada Cidade Estrada Cidade Estrada Cidade Estrada

Etanol Gasolina Etanol Gasolina

Flex Fuel Flex Fuel Gasolina

1.0 1.3 - 1.6

Km

/L

2009 2010 2011 2012 2013 2014

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104

Gráfico 3.9 - Total de modelos Médios por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

A emissão de poluentes e gases do efeito estufa pelos veículos médios está na

Tabela 3.8 que segue. Em relação aos modelos subcompactos e compactos nota-se que há

uma maior concentração de poluentes, cenário que é fruto do tipo de veículo (maior e mais

pesado que os anteriores). Mesmo assim, há uma melhora geral dos modelos de 2013 para o

ano seguinte.

Tabela 3.8 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Médios do PBEV,

Brasil, 2013-2014

Classe de Motor

Combustível Ano NMHC CO NOx CO2fóssil - Etanol

CO2 fóssil - Gasolina

1.0 Flex Fuel 2013 0,0316 0,3764 0,0253 0,0000 104,8000

2014 0,0290 0,3950 0,0270 0,0000 105,4000

1.3-1.6

Flex Fuel 2013 0,0308 0,3438 0,0322 0,0000 112,3750

2014 0,0273 0,3750 0,0363 0,0000 113,4524

Gasolina 2013 0,0366 0,3541 0,0433 n/a 125,6250

2014 0,0208 0,2922 0,0530 n/a 111,6667

1.8-2.0 Gasolina 2013 0,0283 0,3568 0,0389 n/a 142,4615

2014 0,0211 0,1122 0,0263 n/a 162,1389

Fonte: PBEV - Inmetro

Destacam-se as menores emissões dos veículos com motores 1.8 até 2.0 litros por

um motivo: prioritariamente esses modelos são importados e se enquadram no mercado

voltado ao luxo; assim, por suas características modernas revelam que ganhos em termos de

0

5

10

15

20

25

A B C D E A B C D E A B C D E

Flex Fuel Flex Fuel Gasolina

1.0 1.3 - 1.6

To

tal d

e M

de

los

2009 2010 2011 2012 2013 2014

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105

controle de poluentes já estão presentes no horizonte da indústria automobilística e que sua

incorporação e difusão nos veículos mais básicos no país é uma questão de estímulos e

regulação.

3.2.2.4. Veículos Grandes

Os carros que compõem a categoria dos grandes veículos em sua maioria são sedans

(com tamanho total da carroceria entre 8,0 e 8,5 m²); exemplos de modelos enquadrados

nesta classe são Ford Fusion, Honda Civic, Toyota Corolla e Volkswagen Jetta. A maior

parte desses veículos está equipada com motores flex fuel entre 1.8 e 2.0 litros, embora a

quantidade dedicada ao uso de gasolina seja mais expressiva que nas categorias anteriores.

A Tabela 3.9 revela a quantidade de modelos por ano e tamanho dos motores. Mais uma

vez, os modelos dedicados à gasolina em sua maioria são modelos importados, cujo foco

está no desempenho e na tradição dessas marcas.

Tabela 3.9 - Número de modelos e versões na categoria Grandes do PBEV, Brasil, 2009-2014

Ano 1.4 - 1.6 1.8 - 2.0 > 2.0 Total

Geral Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

2009

1

2 3

2010 2 3 4 2

1 12

2011 3 2 8 2

2 17

2012 4 11 12

2 29

2013 14 18 35 21

23 111

2014 10 10 36 18

1 75

Total Geral 33 45 95 43 0 31 247

Fonte: PBEV - Inmetro

Em termos de consumo, esta categoria é a que representa as menores relações em

Km/L, notadamente pelas características físicas desses automóveis ao serem maiores em

tamanho e peso, além de contarem com motores de maior tamanho. Também, é uma

categoria que contém modelos importados, que possuem diferentes tecnologias

embarcadas. Mesmo assim, nota-se que o desempenho em consumo dos veículos flex fuel é

superior do ponto de vista da economia de combustível aos modelos dedicados ao uso de

gasolina, fato que pode ser visto com mais detalhes no Gráfico 3.10 na sequência.

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106

Gráfico 3.10 - Consumo médio dos veículos Grandes, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

Ao relativizar o consumo com outras variáveis para o cálculo da eficiência

energética dos veículos, nota-se que os modelos com motores maiores apresentam melhores

notas finais no PBEV. Vê-se no Gráfico 3.11 que dentro da classe dos grandes nas edições

mais recentes do programa de etiquetagem, o destaque para os veículos flex fuel está nas

médias A, além do fato de não haver nenhum modelo com etiqueta E; entretanto para os

dedicados à gasolina o resultado é inverso, com mais valores E no universo avaliado.

Gráfico 3.11 - Total de modelos Grandes por nota final no PBEV, Brasil, 2009-2014

Fonte: PBEV - Inmetro

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Cid

ad

e

Estr

ad

a

Etanol Gasolina

Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

1.4 - 1.6 1.8 - 2.0

Km

/L

2009 2010 2011 2012 2013 2014

0

5

10

15

20

25

A B C D E A B C D E A B C D E A B C D E

Flex Fuel Gasolina Flex Fuel Gasolina

1.4 - 1.6 1.8 - 2.0

To

tal d

e M

od

elo

s

2009 2010 2011 2012 2013 2014

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Sobre os gases gerados com a utilização dos automóveis da categoria grandes, tem-

se uma tendência geral de melhora nas emissões de gases estufa e poluentes, como

mostrado na Tabela 3.10 abaixo.

Tabela 3.10 - Média de emissões de poluentes e gases estufa na categoria Grandes do PBEV,

Brasil, 2013-2014

Classe de Motor

Combustível Ano NMHC CO NOx CO2fóssil - Etanol

CO2 fóssil - Gasolina

1.4-1.6

Flex Fuel 2013 0,0294 0,5043 0,0296 0,0000 122,0714

2014 0,0295 0,4706 0,0233 0,0000 121,3000

Gasolina 2013 0,0252 0,2359 0,0318 n/a 132,5000

2014 0,0201 0,1430 0,0319 n/a 137,3000

1.8-2.0

Flex Fuel 2013 0,0234 0,3486 0,0268 0,0000 125,1714

2014 0,0219 0,4101 0,0227 0,0000 122,8889

Gasolina 2013 0,0298 0,3500 0,0227 n/a 153,3333

2014 0,0314 0,3848 0,0305 n/a 148,8889

>2.0 Gasolina 2013 0,0108 0,2698 0,0239 n/a 188,0870

2014 0,0100 0,1180 0,0100 n/a 129,0000

Fonte: PBEV - Inmetro

Assim como na categoria dos médios, os veículos equipados com motores maiores

(neste caso além dos 2.0 litros) apresentam emissões mais baixas em decorrência da

utilização de tecnologias mais avançadas e eficientes para mitigar os gases poluentes

gerados com a utilização de combustíveis fósseis.

Em geral, o que os dados mostram para as quatro categorias de automóveis é que

ocorreram melhoras tanto no consumo, quanto na eficiência energética e na emissão de

gases estufa e poluentes. Mesmo tendo em mente que o fato de ser mais fácil desenvolver

um motor dedicado, os veículos flex fuel demonstram uma melhor relação de consumo

Km/L para os subcompactos e compactos. Essa comparação pode estar enviesada por causa

do baixo número de veículos à gasolina, mas de toda forma é um fato considerável e a ser

levado em consideração na formulação de políticas específicas ao setor

3.2.3. Etanol e automóveis no Brasil: perspectivas e desenvolvimentos futuros

Grandes avanços técnicos e econômicos do uso de etanol combustível foram obtidos

a partir do desenvolvimento de novas variedades de culturas agrícolas (especialmente de

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cana-de-açúcar), da introdução de inovações no processamento da matéria-prima (nas

usinas) e na produção de bens de capital deste setor (máquinas em geral), como visto e

discutido acima. Por sua vez, o desenvolvimento de motores automotivos foi um dos

campos em que pode-se apontar que houve mais inovações incrementais do que inovações

que dessem conta da importância do setor, fortemente realizadas por empresas

multinacionais - seja de autopeças, sejam montadoras.

As atividades de PD&I voltadas aos motores automotivos se mostram como o elo

mais frágil neste complexo de atividades, ou seja, as tecnologias voltadas à produção de

etanol, sejam agrícolas ou industriais, avançaram mais rapidamente que as primeiras.

Um exemplo disso encontra-se no Programa de Bioenergia da Fundação de Ampara

à Pesquisa do Estado de São Paulo (Bioen/Fapesp). O Bioen estrutura-se em 5 linhas de

pesquisa, a saber: i. biomassa para bioenergia, ii. processo de fabricação de

biocombustíveis, iii. biorefinarias e alcoolquímica, iv. aplicações do etanol para motores

automotivos, e v. pesquisa sobre impactos sócio-econômicos, ambientais, e uso da terra. A

pesquisa direcionada para motores trabalha em cinco sub-linhas: i. ajuste da taxa de

compressão dos motores, ii. partida a frio, iii. novas configurações para motores, iv.

controle de emissões, e v. desenvolvimento de etanol com propriedades físico-químicas

adequadas a motores de ciclo Diesel. Em termos do número de projetos esta é a linha com o

menor número de apoios à pesquisa com apenas dois até o momento, depois de seis anos de

Programa. Uma ponderação necessária é que o programa financia pesquisa,

prioritariamente; os motores especificamente estariam melhor descritos nas etapas de

desenvolvimento.

Apesar da relevância do tema e da preocupação com as tecnologias relacionadas ao

uso de etanol, o baixo estímulo a essas atividades pode influenciar negativamente todos os

processos à montante, no sentido que motores pouco eficientes apresentam consumo mais

elevado de combustível e assim os ganhos agroindustriais anteriores acabam por ser

subutilizados. Assim, é necessário um marco regulatório que respeite as diferentes

características dos combustíveis e ajustes necessários para o funcionamento adequado, e

que dê de forma explícita vantagens ao uso de etanol.

Uma questão crítica está na concorrência. O Inovar-Auto, em sua construção,

manteve o mercado nacional protegido de veículos similares ao redor do globo por questões

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de qualidade e restrições a modelos cujo apelo está exclusivamente no baixo custo de

aquisição. Entretanto, bloqueia o lado oposto também, o da introdução de tecnologias

inclusive mais avançadas. É válido lembrar da experiência norte-americana em automóveis

flex fuel e das diferentes nuances nas tecnologias adotadas para a identificação do

combustível presente no tanque (sensor capacitivo e sonda lambda) em relação aos veículos

produzidos no Brasil (sonda lambda).

Os avanços tecnológicos recentes podem ser vistos pela via do consumo de

combustíveis e estão na Erro! Autoreferência de indicador não válida., abaixo, a qual revela

uma melhora mais acentuada dos veículos flex fuel frente aos dedicados à gasolina quando

calculada a média anual para o período estudado a partir dos dados do PBEV. Esta

evolução tem de ser vista com algumas ressalvas para os modelos médios e grandes, uma

vez que modelos importados ou mesmo de alto valor estão presentes no cálculo. De toda

forma, são valores importantes em termos de comparação e servem como uma noção geral.

Tabela 3.11 - Evolução do Consumo Médio de Combustível, PBEV 2009-2014, em %

Classe de Motor

Combustível Subcompacto Compacto Médio Grande

1.0 Flex Fuel 1,74% 1,59% 0,60% -

Gasolina 0,05% - - -

1.3-1.6 Flex Fuel 1,16% 0,85% 0,08% 0,92%

Gasolina 1,39% -0,87% 0,17% 0,81%

Fonte: PBEV - Inmetro

Entretanto, o excesso de proteção do mercado automobilístico nacional

proporcionado pelo marco regulatório atual pode incorrer em um risco do país ficar a

reboque do exterior em uma tecnologia que ele se colocou como first mover. Um paralelo

disso não está muito longe e é a produção do etanol tanto na primeira quanto na segunda

geração, cujo principal ator hoje em termos de inovações em produtos e processos são os

EUA.

Com a introdução de novos motores, sobretudo dos três cilindros nos automóveis

comercializados, o Brasil tem uma importante chance de protagonizar o desenvolvimento

de tecnologias de alto desempenho para o etanol, inclusive com a introdução de turbo-

compressores e de injeção direta na câmara, cujas tecnologias são tidas como importantes

saltos em um futuro próximo pelos especialistas ouvidos no decorrer do trabalho.

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Salienta-se, com base na experiência internacional, a necessidade de um arcabouço

regulatório abrangente que estimule o desenvolvimento tecnológico, com metas ousadas e

de longo prazo, uma vez que diferentes oportunidades surgem ao longo do

desenvolvimento das trajetórias traçadas. Um exemplo disso está no carro elétrico japonês,

cuja meta inicial estava no desenvolvimento dos carros elétricos puros; entretanto o fruto

mais promissor está nos veículos híbridos, que em grande parte decorreram deste

desenvolvimento anterior.

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Conclusões

Retoma-se aqui as perguntas colocadas no início do trabalho e confere-se a

pertinência das hipóteses delimitadas. Também, espera-se colaborar com algumas reflexões

sobre o contexto tanto das atividades de PD&I quanto legal que influenciam as trajetórias

dos veículos flex fuel no país.

A partir do arcabouço conceitual evolucionista, sobre trajetórias tecnológicas, nota-

se ser possível compreender a experiência brasileira em álcool combustível como um

processo evolutivo, cujo início se dá no começo do século XX, após a instalação da

indústria nacional, passando pelo Proálcool nos anos 1970 e, por fim, alcançando os anos

2000 com a difusão da tecnologia flex.

A primeira pergunta a ser respondida com este trabalho é qual a influência do

conhecimento gerado no período do Proálcool para a conformação da tecnologia flex

brasileira? No início, resgatou-se que o investimento na tecnologia flex fuel não ocorreu ao

acaso no Brasil, no sentido dessa importante história em P&D em álcool combustível, que

se fez como uma evidente base frutífera para tentativas que dessem continuidade, ou

modernizassem competências já adquiridas. Nesse sentido, então, um conhecimento dos

pontos críticos para o desenvolvimento dos motores e dos sistemas de alimentação de

combustível que funcionassem com etanol já fazia parte da realidade da indústria

automobilística nacional. De modo mais recente, a instalação de centros de P&D em

biocombustíveis de montadoras e autopeças no país é uma mostra que o Brasil se

consolidou como uma referência mundial para a utilização de etanol. Portanto, é viável

compreender que o país possui uma base técnica mínima que sustenta o desenvolvimento

tecnológico voltado aos motores flex fuel. É válido, também, destacar que a tecnologia flex

fuel é um desenvolvimento mais próximo das autopeças e sistemistas que das montadoras;

portanto podemos considerá-la como induzida pelos fornecedores.

Quanto às duas hipóteses que permearam a pesquisa, as quais dizem respeito mais

especificamente ao contexto nacional, têm-se as considerações estão desmembradas de

modo particularizado.

A primeira hipótese foi trabalhada no sentido que a tecnologia flex fuel reflete a

concepção de avanço do conhecimento por meio do desenrolar de trajetórias tecnológicas,

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que por sua vez encarnam a evolução de trade-offs, especialmente, entre eficiência dos

motores, desempenho dos automóveis e emissão de poluentes. Para compreendê-la,

portanto, pode-se resgatar a difusão do automóvel, como ele é produzido até os dias atuais

(chassis de aço ligado a um motor de combustão interna) e as melhorias introduzidas ao

longo do tempo, como a injeção eletrônica, o catalisador de três vias, e inclusive a

tecnologia flex fuel.

Também é válido compreender os avanços institucionais e seus resultados, e assim

nomeia-se especificamente o Proconve e o PBEV, haja vista os resultados demonstrados na

parte final da presente pesquisa com base nos dados de ambos programas, que revelam

melhores indicadores de consumo e menores índices de emissão de poluentes por

automóvel. Confirma-se o avanço tanto da técnica ou das tecnologias adotadas quanto do

conhecimento de novos materiais ou design de componentes. Desse modo, esta primeira

proposição pode ser confirmada.

Especificamente sobre a segunda hipótese, que nem a concorrência interna do setor

nem o vigente marco regulatório aos automóveis tem servido para estimular uma mudança

mais profunda na tecnologia flex fuel desenvolvida e empregada pelas montadoras e

sistemistas no país, mesmo com a constituição do Inovar-Auto, nota-se uma aderência

considerável com os dados levantados e analisados, do mesmo modo com os resultados das

entrevistas realizadas.

Os dados da PINTEC revelam uma estagnação dos investimentos em PD&I no

setor, bem como as buscas ao DGP/CNPq mostraram um universo restrito de pesquisadores

e mesmo de grupos no tema. A produção tecnológica, medida via pedidos de patente no

INPI, sofreu muito pouca variação no período estudado, transparecendo que o fato da

tecnologia flex fuel ser funcional acaba por conter os avanços mais contundentes que já

poderiam ter ocorrido. O Inovar-Auto, nesse sentido, não representou uma ruptura com as

atividades que já eram descritas pelas montadoras e autopeças, ou seja, a tecnologia flex

não modificou a dinâmica da inovação no setor automobilístico brasileiro. Portanto, a

segunda hipótese também foi verificada como correta frente aos dados e percepções

coletadas e analisadas durante a pesquisa.

Por fim, responde-se a segunda e última pergunta colocada sobre qual a influência

do marco regulatório atual para o avanço tecnológico dos motores flex fuel, conclui-se que

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o Inovar-Auto vai ao encontro da prática das montadoras e autopeças, uma vez que

melhorias nas relações de consumo e na emissão de poluentes já faziam parte das agendas

das montadoras e autopeças através da pressão do marco regulatório e em menor grau pela

via do mercado e da concorrência (introdução de novos modelos, motores etc.). Houve

melhorias em consumo, eficiência e emissão de poluentes nos automóveis concomitantes à

introdução dos veículos flex fuel no mercado, não que estes avanços sejam breakthroughs,

mas não se pode negligenciá-los. Entretanto, poder-se-ia esperar resultados de maior

robustez em termos de consumo e eficiência, caso o Inovar-Auto ousasse criar metas com

foco no longo prazo ou que essas fossem ampliadas no decorrer do tempo, assim como tem

sucedido com a diminuição forçada na emissão de poluentes através do Proconve. Sem uma

agenda efetiva, que aponte que as empresas têm chances de transformar medidas

coercitivas em oportunidades de negócio, dificilmente o país venha a lograr êxito no avanço

e na modernização da indústria automotiva via tecnologias voltadas ao flex fuel e ao etanol

combustível.

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Anexo 1 - Lista de Montadoras e as respectivas plantas produtivas,

Brasil, 2014 Em itálico estão as unidades presentes na Figura 1.4.

Montadora Unidade Produto

Fiat

Betim - MG Automóveis, comerciais leves

Betim - MG Motores

Campo Largo - PR Motores

Ford

Camaçari - BA Automóveis, comerciais leves

Horizonte - CE Comerciais Leves (Troller)

São Bernardo do Campo - SP Automóveis, comerciais leves, caminhões

Taubaté - SP Componentes, motores, transmissões

Tatuí - SP Campo de provas

General Motors

São Caetano do Sul - SP Automóveis, comerciais leves

São José dos Campos - SP

Automóveis, comerciais leves, CKD para exportação, motores, transmissões, estamparia, injeção e pintura de peças plásticas

Mogi das Cruzes - SP Componentes estampados

Gravataí - RS Automóveis

Indaiatuba - SP Campo de provas (Cruz Alta)

Sorocaba - SP Centro Logístico Chevrolet

Porto de Suape - PE Centro Logístico de Distribuição de Veículos

Joinville - SC Motores, cabeçotes

Honda Sumaré - SP Automóveis

Hyundai Piracicaba - SP Automóveis

Mitsubishi Catalão - GO Automóveis e comerciais leves

Nissan

São José dos Pinhais - PR Automóveis, comerciais leves

Jundiaí - SP Centro de Treinamento

São Paulo - SP Regional de vendas

Resende - RJ Armazém de peças

Peugeot Citroën

Porto Real - RJ Automóveis, comerciais leves

Porto Real - RJ Motores

Renault

São José dos Pinhais - PR Automóveis

São José dos Pinhais - PR Motores

São José dos Pinhais - PR Comerciais leves

São Paulo - SP Renault Design América Latina

Toyota

São Bernardo do Campo - SP Autopeças

Indaiatuba - SP Automóveis

Guaíba - RS Centro de distribuição de veículos

Sorocaba - SP Automóveis

Vitória - ES Centro de distribuição de veículos

Votorantim - SP Centro de distribuição de peças

Volkswagen

São Bernardo do Campo - SP Automóveis, comerciais leves

Taubaté - SP Automóveis

São Carlos - SP Motores

São José dos Pinhais - PR Automóveis

Fonte: Anuário Estatístico Anfavea (2014)

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Anexo 2 - Limites atuais estabelecidos pelo Proconve

Poluentes Limites

Fase L-6(1)

Monóxido de Carbono (CO em g/km) 1,30

Hidrocarbonetos (HC em g/km) 0,30(2)

Hidrocarbonetos Não-Metano (NMHC em g/km) 0,05

Óxidos de Nitrogênio (NOx em g/km) 0,08

Material Particulado(4)

(MP em g/km) 0,025

Aldeídos(3)

(CHO g/km) 0,02

Emissão Evaporativa (g/ensaio) 1,5(6)

ou 2,0(5)(6)

Emissão de Gás no Cárter nula (1) Em 2014 -> para todos os novos lançamentos

A partir de 2015 -> para todos os veículos comercializados

(2) Aplicável somente a veículos movidos a GNV;

(3) Aplicável somente a veículos movidos a gasolina ou etanol;

(4) Aplicável somente a veículos movidos a óleo diesel;

(5) Aplicável aos ensaios realizados em câmera selada de volume variável

(6) Aplicado a todos os veículos a partir de 1º/1/2012

Fonte: http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas-qa/programa-proconve