Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

107
V V E E N N C C E E D D O O R R E E M M T T O O D D A A S S A A S S B B A A T T A A L L H H A A S S LUIZ WALDVOGEL Sétima edição- 80.° milheiro Copyright da CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Avenida Pereira Barreto, 42 Santo André, São Paulo - 1968

description

Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Transcript of Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Page 1: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 1

VVEENNCCEEDDOORR EEMM TTOODDAASS AASS BBAATTAALLHHAASS

LUIZ WALDVOGEL

Sétima edição- 80.° milheiro Copyright da CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Avenida Pereira Barreto, 42 Santo André, São Paulo - 1968

Page 2: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 2

As fogueiras criminosas em que a intolerância medieval sacrificou

edições inteiras da Escritura Sagrada, ergueram aos Céus o brado da chama rubra – e esta foi luz que alumiou as trevas em que se assentavam muitos povos.

Os rios cujas águas acolheram a cinza dessas fogueiras, levaram-na para os mais afastados recantos – e ela foi semente fecunda, que frutificou a cento por um.

E na guerra cruenta movida contra o Livro divino, pelos pretensos sábios de qualquer época, sempre saiu ele mais que Vencedor em todas as Batalhas. E sempre sairá.

Page 3: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 3

ÍNDICE Duas Palavras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1. A Magna Questão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2. O Meio de Comunicação Entre Deus e o Homem . . . 26

3. A Escritura Sagrada e a Ciência . . . . . . . . . . . . . . . . 40

4. A Arqueologia e a Escritura Sagrada . . . . . . . . . . . . . 60

5. Uma Luz em Lugar Escuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

6. O Poder Moral da Escritura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

7. A Mais Linda Verdade da Escritura . . . . . . . . . . . . . . 126

8. O Desejado de Todas as Nações . . . . . . . . . . . . . . . 144

Page 4: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 4

DUAS PALAVRAS DANDO a público este modesto volume, pretendemos acrescentar uma

pequenina achega aos estudos que se têm feito sobre a inspiração divina da Escritura. Fará esta jus à reivindicação de superioridade sobre os volumes sagrados das religiões pagãs? Será inteligente e racional a fé no Livro adotado pelo cristianismo, ou é preciso, para crer em seus ensinamentos, abdicar de parte da nossa personalidade pensante, do são raciocínio?

Acompanhe-nos o benévolo leitor através deste feixe de páginas em que tratamos do magno assunto com uma concisão quase lacônica, e ousamos acreditar tire algum proveito espiritual e encontre a resposta a essas e outras perguntas, que preocupam a muito espírito nobre e indagador.

Desistimos quase da tarefa que nos havíamos proposto, diante da vastidão do tema e do caudal de matéria como que a sufocar-nos, reclamando inclusão. O assunto, com efeito, não é para um livro destas dimensões: pediria alentada série de volumes.

Evitamos a fraseologia rebuscada, usando linguagem mais do nosso agrado, mesmo porque a presente obra se propõe a ser um trabalho de vulgarização. Aliás, se é verdade, como disse Bacon, que o estudo profundo da filosofia nos atrai a Deus, ao passo que o superficial dEle nos afasta, por outro lado também é certo que, para nos capacitarmos cabalmente da existência da Divindade e do cunho autêntico das Escrituras, bastam dois dedos de boa vontade e uma atitude humilde, despretensiosa. Dispensam-se os largos arremessos aos domínios da metafísica, muitas vezes nebulosos e estéreis.

Vem-se observando, nestes últimos anos, verdadeiro e auspicioso renascimento espiritual, em relação à Bíblia, à velha Bíblia, por tantos anos relegada ao mofo das prateleiras abandonadas. Esse renascimento deve-se em parte às muitas obras que sobre o assunto se têm escrito. O que é muito de lamentar é que muitas delas, bem intencionadas embora, semeiam sutis e perigosas heresias, como essa, muito comum, de desfazer nos milagres divinos, atribuindo-os a causas explicáveis por fenômenos da Natureza.

Levar o espírito do leitor a desviar-se desses e de outros ardis traiçoeiros, adotando um justo e edificante conceito do Livro dos livros, eis nosso intuito.

Que Se digne o Senhor de abençoar a humilde tentativa, e estimule o leitor a penetrar mais fundo na mina inexaurível, em busca de novos e mais abundantes filões do ouro precioso.

O Autor.

Page 5: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 5

A MAGNA QUESTÃO AFLITO e trabalhado por teorias as mais várias, desde as inteligentes e

verossímeis, até às absurdas e impenetráveis, agita-se o espírito humano ante a magna e dolorosa questão: Existe Deus? E desfalece quase perante a mudez das coisas infinitas, com ímpetos de revoltar-se contra a indevassabilidade dos domínios eternos.

E esquece que esse próprio anelo insatisfeito, essa verdadeira agonia espiritual, é evidência de que há de haver um Ente superior – fim último dessas cogitações. Sim, porque outra explicação não se pode dar da presença no coração humano dessa aspiração ao infinito, desse incontido anseio ao qual nenhuma coisa transitória é capaz de satisfazer.

Mas vamos, primeiro, às evidências mais concretas e fáceis. Conta-se que Galileu, ao expiar na masmorra o crime de haver descoberto o

movimento da Terra, foi certo dia visitado por um amigo que lhe perguntou se cria na Divindade. O sábio apontou para uma palhinha que se via no chão sombrio, e disse: – Esta hastezinha seca basta para me provar à saciedade a existência de Deus!

Isto está bem em harmonia com a observação de Linneu, ao terminar o estudo dos órgãos de uma folha: "Segui as pegadas do Eterno, contemplando Suas obras;" e com as palavras de Cuvier: "O que quiser encontrar a Deus não precisa fazer mais que dissecar uma pena." Tinha razão, pois, Luís de Agassiz quando, ao iniciar as aulas de biologia, se dirigiu à sua classe nestes termos:

– Antes de nos aprofundarmos nos segredos da Natureza, volvamos o coração ao Deus da Natureza.

A Mecânica Celeste

Foi essa mesma Natureza que, em seus revérberos universais, arrancou a

Voltaire, o príncipe dos ateus, a confissão para ele paradoxal, e que alguém teve a curiosidade de pôr em rima:

"Assombra-me o Universo E eu crer procuro, em vão, Que exista um tal relógio E relojoeiro não!" E este Universo, até onde estenderá as suas raias? Em que ponto se encontrarão

as orlas de sua colcha de estrelas? Quais as dimensões do espaço? Ou não será ele infinito? Onde o sábio que nos decifre esses mistérios? Se ao menos os homens reconhecessem, na limitação de seus conhecimentos, a necessária existência de um Ser ilimitado, Todo-Poderoso!

Eis o nosso planeta, a pequenina Terra. Um grãozinho de areia perdido na imensidade do espaço. Mas esse grãozinho de areia tem quarenta milhões de metros de circunferência.

Que é isto, porém, em contraste com o Sol, 1.300.000 vezes maior? Fosse ele oco, e caber-lhe-iam nas entranhas a Terra e a Lua, esta a girar livremente, dentro de

Page 6: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 6

sua órbita, em torno de seu planeta principal! Teve alguém a paciência de calcular concretamente a distância da Terra ao Sol: se neste se pusesse um artilheiro e assestasse um canhão contra um determinado habitante de nosso planeta, a vítima poderia, depois de despedida a bala, pôr-se a construir pachorrentamente uma casa, estabelecer-se nela e habitá-la, sossegado, durante vinte e cinco anos. Só no fim desse prazo é que o projétil o viria alcançar.

Ponhamo-nos à janela numa noite estrelada, e admiremos a grandiosidade do mundo sideral: aqui o nosso conhecido Cruzeiro do Sul; ali a faixa brilhante da Via Láctea, como a deitar uma ponte de luz através do abismo do firmamento; acolá a constelação do Órion, com seu misterioso "espaço aberto," em forma de funil, e tendo de diâmetro vinte e sete bilhões de quilômetros! E é tudo isto, uma partícula infinitesimal do Universo! Não concordaremos então com aquele sábio que exclamou: "O astrônomo que não acredita em Deus é louco!" e com Platão, que dizia: "Para crer em Deus basta erguer os olhos ao céu?" e com o próprio Kant, que achava ser o mais importante da astronomia o descobrir-nos ela "o abismo de nossa ignorância!"

Alfa Centauro, por exemplo, que é a estrela mais próxima da Terra, dista de nós 300.000 vezes mais que o Sol, ou seja, quatro anos-luz. (Ano luz é a distância que a luz percorre num ano. Sua velocidade é de 300.000 quilômetros por segundo.) E imagine-se que estrelas há que de nós se acham a 100, 200, 400, milhares, sim, milhões de anos!

E quantos outros sóis, iguais e superiores ao nosso, não há no universo, e quantos mundos a gravitar em torno deles! Pois que a fotografia, aplicada a um telescópio moderno, revela mais de um bilhão de estrelas! Nossa Via Láctea tem mais de 100 bilhões de estrelas e há bilhões de galáxias semelhantes!

"Haverá," pergunta Cícero, "quem possa imaginar que esta disposição das estrelas, e este céu tão exuberantemente adornado, pudesse jamais ter sido formado por um fortuito concurso de átomos?"

Conta-se que o imperador Trajano perguntou um dia ao rabino Josué: – Onde está o seu Deus?

– Ele está em toda parte, foi a resposta do doutor judeu. – Pode o senhor mostrar-mO? – Meu Deus não pode ser contemplado. Vista alguma resistiria ao fulgor de sua

glória. Posso, porém, mostrar a Vossa Majestade um de Seus embaixadores. Trajano concordou, e juntos saíram ao jardim, onde o Sol fulgia em todo o seu

resplendor meridiano. – Levantai os olhos e vede, disse o rabino, apontando para o Sol; eis ali um dos

embaixadores de meu Deus – Mas não o posso fitar! exclamou o imperador; sua luz é ofuscante demais! – Não podeis olhar face a face uma das criações de Deus, e pretendeis ver o

próprio Criador? 'Trajano emudeceu e pôs-se meditativo. Durante a Revolução Francesa procurou-se por todos os meios apagar do espírito

do povo a idéia de Deus e da religião, já queimando Bíblias, já fechando igrejas ou

Page 7: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 7

prendendo os crentes. Um dos heróis dessa cruzada ímpia afirmou a um piedoso camponês que a igreja da aldeia seria destruída, para não haver o que trouxesse ao povo a lembrança da Divindade. A isto replicou o campônio:

– Então o senhor terá que apagar as estrelas! Por isso Hume, que se dizia cético, exclamou certa vez, ao passear em companhia

de Adão Ferguson, numa noite estrelada: – Adão, existe Deus! Mas, desçamos dessas alturas, antes que delas nos despenhemos em vertigem.

Olhemos um pouco para dentro de nós mesmos. Que maravilha, o nosso corpo!

O Corpo Humano Admiremos a perfeição e complexidade dos aparelhos que regem os cinco

sentidos deste "caniço pensante" que na definição de Pascal é o homem – aparelhos que constituem verdadeira fábrica, tão vividamente descrita nesta bela página de Klug:

"Poucos homens há que façam idéia da fábrica grandiosa exata e engenhosamente ramificada, que representa o corpo humano.

"Aí temos o gabinete do diretor, o cérebro. Para as diferentes funções do estabelecimento acham-se, na direção geral, repartições inferiores, que trabalham continuamente na mais perfeita união de vistas com o diretório central. Um grosso cabo, a medula espinal, com um sem-número de ramificações, os nervos, transmitem, como uma rede telegráfica, as ordens da administração para as diferentes estações, isto é, os órgãos do corpo.

"Aí temos duas estações telefônicas, os ouvidos, que através da linha do nervo auditivo despacham as impressões sonoras para a grande central situada no cérebro. [Encerram os ouvidos, num espaço de menos de uma polegada cúbica, vinte e quatro mil filamentos nervosos, capazes de apreender doze oitavas. Nossos melhores pianos, com seu volume enorme, não comportam mais de seis e meia.]

"Aí temos o aparelho fotográfico da vista, que não precisa senão de uma única chapa sensível para receber um número ilimitado de retratos sempre novos, primando nas cores deslumbrantes do original. Além de que, cada chapa é remetida instantaneamente à central óptica do cérebro e conservada num escaninho especial, podendo ser reproduzida ad libitum.

"Aí temos dois laboratórios de análise química: o olfato e o gosto. "Aí temos uma dupla bomba aspirante e premente, o coração, que através das

artérias, sistema de canalização indizivelmente prático e engenhoso, faz circular o sangue por todas as partes do corpo. [Este trabalho mecânico eqüivale a erguer o seu próprio peso a mais de quatrocentos metros por hora.]

"Aí temos o sistema de filtração automática dos rins e da pele. "Aí temos a grande instalação calorífica, que é o aparelho digestivo, o qual, com

perda mínima de combustível, irradia calor constante por todo o organismo, expelindo, por meio dos pulmões, os gases nocivos.

"Aí temos uma serraria e uma máquina de trituração, que corta e esmiuça o material de que se nutre esse aparelho de combustão.

"Aí temos um autômato musical, a laringe – maravilhoso órgão em miniatura – onde os pulmões, traquéia e cordas vocais representam as peças correspondentes a foles, someiro e tubos – instrumento suscetível de infinitos timbres, tonalidades e nuances melódicas.

Page 8: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 8

"Aí temos, no esqueleto e sistema muscular, uma construção ideal de alavancas e transmissores. Especialmente na construção dos ossos vemos utilizadas magistralmente as últimas conquistas da mais moderna engenharia.

"Eis a obra-prima do corpo humano. Sois capazes de negar que por aqui andou mão de mestre? Que aqui deixou rastos luminosos uma inteligência criadora, uma onipotência sapientíssima?" 1

Não admira, pois, que houvesse Galeno, finda a dissecação de um cadáver,

exclamado: "Oh! que hino acabo de entoar à glória do Criador?" Descemos das estrelas para o homem. Grande foi a descida, mas não menores ou

menos altas as maravilhas que deparamos no mundo humano. Desçamos mais um degrau, tão-somente para escalar outro na escada maravilhosa.

O Instinto dos Animais

Contemplemos por dois minutos o prodígio do instinto dos irracionais. Vede na

migração das aves uma de suas grandes manifestações. Quem é que indica a essas criaturas o rumo a seguir, em seus percurso de milhares de quilômetros, através de terras e mares sem fim? E que princípio as leva a empreender essas viagens em bandos, como se se combinassem mutuamente?

Página bem digna de Maeterlinck – se de Maeterlinck possuíssemos o engenho – dar-nos-ia, com efeito, a vida das abelhas, cujo instinto se diria antes um profundo conhecimento de engenharia e cálculo.

"Cada favo," diz Melo Leitão, professor de zoologia do Museu Nacional, "é formado por duas camadas de células, opostas pelas bases, que são formadas por três losangos, de maneira que as células de um lado alternam regularmente com as do outro. Essa disposição permite a maior economia de material e vantagem indiscutível à solidez da construção. Os ângulos desses rombos (109° e 20'' para os maiores e 70° e 32' para os menores) correspondem rigorosamente aos cálculos de Koenig, Cramer e Lalanne." 2

A mesma sabedoria se não fora instinto – apresentam-nos as formigas, porém já em sentido diferente. Menos peritas na construção de suas vivendas, não o são na atividade, organização e previdência – esta última qualidade, proverbialmente consagrada na fábula da cigarra e da formiga. Quem as ensinou a manter verdadeiros "estábulos", onde alojam com todo o cuidado certos insetos, que lhes servem de vaquinhas leiteiras? Vede-as a chupar desses animálculos o líqüido adocicado que segregam. E falam-nos de formigas costureiras, guerreiras, de outras que têm cemitérios, e coisas quejandas, que se julgariam incríveis não confirmasse a boca do nosso próprio campônio os estudos dos naturalistas.

Herbert Noyes, na revista John ó London Weekly, discorrendo sobre as térmitas, faz a seguinte confissão:

A vida das térmitas não é acessível à compreensão humana. Nem a hereditariedade nem a evolução podem explicar suficientemente os milagres por elas realizados. Nenhum cientista conseguiu explicar razoavelmente a força que guia esses insetos." 3

Poderia haver uma confissão mais eloqüente e mais comprobatória da ignorância humana em face da onisciência divina?

Page 9: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 9

Dentre as vespas, todas exímias artistas, parece destacar-se a denominada amófila. Esta deposita seus ovos nas costas de uma lagarta. Sabe que sua prole tem de ter ao seu alcance alimento forte e nutritivo ao sair dos ovos, o que só se dará depois de sua morte. Ora, para que a lagarta não apodreça antes de servir de alimento ao filho que vai nascer, a amófila não a mata, mas apenas lhe paralisa todos os movimentos, dando-lhe habilmente nove picadas, pois que são nove os centros motores que devem ser paralisados. Vibra-lhe depois mais três ferroadas no tórax e com a mandíbula dá várias pancadas na cabeça da vítima, que sendo reduzida à imobilidade completa, sem estar morta, não fica, pais, sujeita à lei da decomposição. Ao partir n larva o seu ovo, depara abundância de alimento. E o mais curioso é que ela ataca primeiramente os órgãos que menos falta fazem à vítima, de maneira que a vida desta se prolongue o tempo necessário, e ela não apodreça.

A vida das aranhas seria outra página a acrescentar aqui. Delas diz Melo Leitão, que constróem lar permanente, empregam utensílios de caça, conheceram a aerostação antes do homem, havendo mesmo uma ordem de aracnídeos que se aproveitam de outros animais como meios de transporte.

O castor é um arquiteto que edifica verdadeiras casas em pleno rio, como se nossos antepassados lhe houvessem revelado o segredo das habitações lacustres. Com os afiados dentes derruba troncos, descasca-os, ergue diques sobre os quais constrói sua casa, cujas paredes argamassa com barro e areia.

"O que mais tem maravilhado os técnicos, é a linha sempre arqueada do dique, de curva mais ou menos acentuada, seguindo a força da corrente, de modo que um observador competente poderia, da curva desses diques, ter idéia aproximada do ímpeto da mesma.... No interior das cabanas, em plataformas dispostas contra o muro circular, fazem os habitantes os leitos, com fibras de madeira, nas regiões florestais, ou com ervas; continuamente renovam esses colchões, levando para fora as fibras ou ervas sujas, e trazendo outras limpas e frescas.

"Em alguns lugares do oeste americano o problema da irrigação apresenta graves dificuldades. O castor faz aí pequenos açudes que, reunidos em grande número, formam lagos muito úteis à irrigação e por isso o Governo Americano procura proteger por todos os modos esses pequenos roedores.

"Exemplo característico da obra útil do castor é dado pelo rio Santo Antônio, no Novo México. Esse rio corre por amplo e fértil vale: perto da nascente uma colônia de castores, escolhendo a localidade com a perspicácia de peritos engenheiros, construiu seus açudes e recolheu quantidade d'água suficiente para irrigar alguns mil acres de terreno.

"Quando as condições tal exigem, empreendem os castores trabalhos gigantescos. Se dois lagos são separados por terreno plano e nu, põem-nos em comunicação, cavando um canal de um metro de largura e meio metro de profundidade, havendo casos em que não recuam mesmo diante das dificuldades apresentadas por terrenos acidentados. Recorrem igualmente à construção de canais quando o bosque está muito longe da cidade, tendo por fim o mais fácil transporte sobre água." 3

Observa Chateaubriand que "Reamur nunca predisse as vicissitudes das estações com a certeza desse castor, cujos celeiros, mais ou menos abundosos, indicam, no mês de junho, a maior ou menor duração dos gelos de janeiro." 4

E já que falamos em todos esses animais que são verdadeiros arquitetos e engenheiros, não olvidemos o nosso joão-de-barro. Quem já não viu suas casitas

Page 10: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 10

resistentes, cuidadosamente coladas na travessa dos postes telegráficos ou nas altas forquilhas das árvores? Quem lhe ensinou a arte de pedreiro, e a ciência meteorológica de construir sua vivenda com a porta para o lado menos açoitado pelos ventos e chuvas?

Fato que está sem dúvida ao alcance da observação de todos, é a transformação que se verifica na galinha doméstica, quando lhe cabe a responsabilidade de defender a prole ameaçada. Arisca e medrosa antes de chocar, passa a revestir-se de uma coragem e agressividade que a torna respeitada até dos homens! Uma dessas aves tivemos, que correu atrás de uma menina e, saltando-lhe em cima, vibrou-lhe formidável bicada no lábio, arroxeando-o.

Que dizer da migração das aves ? Quem lhes dirige o trajeto certo, através de milhares de quilômetros, e isso todos os anos? Pois é sabido que aves existem que voam do Alasca ao Havaí, numa distância de 3.300 km. Certa galinha transpõe 5.000 km, do Japão para o oeste da Austrália; outra espécie deixa a Sibéria, rumo da Nova Zelândia, num percurso de 15.000 km. Há uma espécie de gaivotas que voam 17.000 km, das proximidades do pólo Norte para o sul.

"Nada melhor para excitar nossa admiração," observa John Fisher, "que o espetáculo da migração dos peixes. Fiel ao lugar de seu nascimento, o peixe para ali volta como a andorinha ao ninho que a viu nascer."

Passeando um dia junto à cachoeira do rio Piracicaba, tivemos ocasião de nos deleitar com essa cena: Cardumes de peixes tentavam escalar aos saltos a volumosa queda d'água, afrontando a sua violência. Alguns não o conseguiam da primeira vez. Dorsos luzentes de peixes de todos os tamanhos rebrilhavam ao sol, numa dança coreográfica e que se diria quase ritmada ao som das águas escachoantes! Essa migração, ou piracema, fazem-na tanto os peixes marinhos como os fluviais. As enguias, na época da desova deixam os mares da Europa e vão até ao golfo do México, atravessando o Atlântico, e voltando depois ao lugar da partida.

No inverno, os habitantes de nossos ribeirões vão descendo para águas menos frias e mais profundas, onde mais facilmente se abriguem contra os seus inimigos, pela maior opacidade das águas. E quantos outros interessantíssimos aspectos não nos apresenta o fundo dos mares e rios!

Depois de uma profundidade de cerca de mil metros, o oceano apresenta-se completamente escuro. O Prof. Piccard, conhecido por suas pesquisas submarinas, verificou a existência de peixes a mais de 11.000 metros de profundidade. Naquelas trevas palpáveis, como encontrarão alimento esses animais? A sabedoria divina proveu-os de órgãos irradiadores de luz, verdadeiros faróis. "Há os que se acham munidos de complicados órgãos luminosos, com lentes, refletores e dispositivos para acender e apagar a luz. A matéria luminosa na maioria dos casos é produzida por certas bactérias luminosas, como se encontram também nas células dos vaga-lumes." 5

Também as Plantas

Page 11: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 11

Conta-se que, encontrando-se certa vez nos Alpes um pastorzinho e um velho professor, este mostrou àquele, através de uma lente, mimosa pétala de uma ordinária flor alpina. Daí a instantes o pequeno se pôs a chorar desconsoladamente. Espantado, o professor instou com ele para que dissesse o que tinha.

– É que estou a pensar que tantas vezes pisei estas florinhas tão belas! – explicou afinal o pequeno.

Quantas vezes também nós, desprevenidos da lente poderosa do Espírito de Deus, passamos sem ver, e sem ver apisoamos impiedosamente as sublimes flores da Natureza e da Palavra divina!

Que mundo colorido e vasto apresenta ao nosso estudo e observação, o reino das flores e das plantas! Que sabedoria se revela, por exemplo, na providência divina para a fecundação das sementes e reprodução dos vegetais! E pensar em que existem plantas carnívoras, que prendem insetos em verdadeiros alçapões, digerindo-os, por meio de um líqüido venenoso que segregam, ao passo que outras, chamadas hospedeiras, os abrigam "com requintes de cuidados, como bons soldados que os defendem!"

Não há muito um professor da Universidade de São Paulo realizou uma conferência sobre o "movimento das plantas trepadeiras," o qual é visível em algumas plantas, e noutras invisível à vista desarmada.

"Assim," disse o professor, "as plantas trepadeiras, com gavinhas, destacam-se pela sensibilidade destas que, ao contato de um dedo ou de um lápis, fazem um movimento bem visível, enrolando-se com grande rapidez. Além disso, todo o ápice da planta está em movimento contínuo, fazendo giros que põem as gavinhas em contato com todos os suportes vizinhos.

"As plantas volúveis enroscam-se nos suportes com o próprio caule. Este não é sensível ao contato. Para atingir o suporte, faz os mesmos movimentos giratórios que a planta de gavinhas. Ao alcançar o suporte, deixa transparecer outra sensibilidade, desta vez uma sensibilidade geotrópica, o chamado geotropismo lateral, que faz que se dê um laço lateral que envolve o suporte.

"Mas, até aos últimos anos não foi possível esclarecer tudo. Hoje, dispomos de filmes com que podemos representar os movimentos em ritmo acelerado. Desse modo, foi possível esclarecer mais o mecanismo desses movimentos tão complexos."

Um olhar ao mundo animal e vegetal, enfim, faz-nos concordar com Liebig, que disse: "Sentimo-nos penetrados de admiração ao considerar a sabedoria infinita com que o Criador distribuiu entre os animais e as plantas, os meios necessários para realizar suas funções e todas as atividades vitais."

O Testemunho da Razão

Não nos permite o espaço nem o escopo desta obra, demorar-nos por mais tempo

neste capítulo de zoologia e botânica, malgrado a fascinação que sobre nós ele exerce. Se a Revelação, como veremos nos capítulos seguintes, descerra a cortina que

nos vela a Divindade, apresentando-nos ao coração um Deus amoroso e solícito pelo bem-estar de suas criaturas, a Natureza e a Razão confirmam plenamente aquela, mostrando-nos à inteligência o mesmo Deus. Se é verdade que não O podemos ver

Page 12: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 12

pelos olhos da Razão, mais verdade ainda é que esta confirma exuberantemente a Sua existência. Estamos, pois, com Volta, o grande físico do século passado, que, depois de muitas energias gastas no estudo do ateísmo, declarou: "Se a Razão não pode negar a Deus, a consciência mO revela."

Dizia já Anaxágoras, o filósofo grego do quinto século antes de Jesus Cristo, que só podia explicar a harmonia do Universo pela crença em uma "inteligência ordenadora," que é "independente, todo poderosa, única e infinita."

Argumentava Platão: Somos contingentes (isto é, poderíamos deixar de existir). O contingente implica a existência do necessário. Logo, existe o necessário, que é Deus. Mais tarde Descartes, defendendo o mesmo silogismo, acrescenta-lhe este formoso pensamento: "É preciso, pois, concluir que do simples fato de que eu existo, e que a idéia de um Ser soberanamente perfeito, isto é, de Deus se acha em mim, se demonstra evidentemente a existência de Deus." E, falando na idéia do infinito, diz: "Foi Deus que, criando-me, pôs em mim esta idéia, para que fosse como a marca do obreiro impressa sobre a sua obra."

É de Aristóteles o silogismo seguinte: "Existe o movimento; o movimento supõe um motor imóvel; Deus é este motor, que move e por nada é movido."

É de Sócrates este outro: "Toda ordem supõe uma causa inteligente. Ora, o mundo mostra em tudo uma ordem admirável. Logo, o mundo supõe uma causa inteligente."

Dizia ainda Sócrates: "Em tudo há leis (1ei natural, lei moral); estas leis supõem um legislador, pois não pode haver efeito sem causa; esse legislador é Deus." O próprio Kant aceitou esta prova, que é a do "imperativo categórico".

Muito linda é a chamada prova dos artistas: "Temos na alma uma sede de perfeição absoluta, manifestada por três amores: o amor do Bem, o amor do Belo e amor do Verdadeiro. Ora, essa sede natural, insaciável, requer a existência do objeto desses amores, como a razão suficiente dos mesmos. Logo, existe Deus, o Bem, o Belo, o Verdadeiro absolutos."

Dizia Liszt que este argumento era o que mais o "seduzia." Esse Bem, Belo e Verdadeiro, em nenhum sistema religioso se manifestam como no Cristianismo. "É certo" diz o conhecido naturalista Jorge Romanes, citado por A. Rowell, "que nem a filosofia, nem a ciência ou a poesia já produziram em pensamento, conduta ou beleza, resultados que se pudessem com ele comparar. É a maior exibição que já se viu na Terra, do belo, do sublime e de tudo o mais que fala a nossa natureza espiritual!" 6

Não menos convincente que a prova dos artistas, é a etnológica: A humanidade em geral crê na existência de Deus (segundo estatísticas, 96% dos habitantes do mundo são crentes). Mesmo os selvagens, se bem que feiticistas e rudes na exteriorização de sua crença, acreditam que existe a Divindade. Ora, se a humanidade inteira, com a multiplicidade de suas raças e através de todas as épocas, tem crido e crê em Deus, deve para isso haver razão.

"Existe Deus," conclui Kant, "porque entre a felicidade e a virtude deve haver uma união definitiva, e só um Ser superior, justo, santo e onipotente pode realizar esta união que fará eternamente feliz o homem virtuoso."

Page 13: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 13

Dizia o sensista Locke: "Os sinais visíveis de Sua extraordinária sabedoria e poder tão manifestamente reluzem em todas as abras do Criador que, refletindo seriamente, toda criatura racional deve concluir que existe Deus."

Atentem para a declaração de Locke os discípulos de Comte, cujas teorias agnósticas são bem semelhantes, se não iguais, às daquele, pois com ele ensinam que "só o sensível é objeto de conhecimento". Esta teoria, aliás, cai por terra ao primeiro sopro do raciocínio. Quanta coisa há, em torno de nós, que sabemos infalivelmente certa, sem a podermos provar! Efetivamente, do berço ao túmulo, a vida está cheia de pontos de fé, que não pomos em dúvida. A grande maioria dos conhecimentos que a criança adquire na escola, repousa tão-somente sobre a fé implícita. Quão poucas, as ciências demonstráveis por a mais b!

Ademais, como podemos certificar-nos de não nos estarem iludindo os nossos sentidos? Sobre o calor, a eletricidade, a gravidade e outras forças, diz Bettex, eles só nos mostram alguma coisa. "Para o cristão o cosmos visível é um reflexo e efeito do cosmos invisível."

Acrescenta D. G. Portig: "Um estudo mais profundo revela estar a ciência natural cheia de hipóteses.

Reconhecem-no os mestres verdadeiramente grandes; apenas os de segunda e terceira grandeza se iludem a si e aos outros, quando dão por verdade científica aquilo que não passa de suposição. Destas suposições, escreveu Dreher: 'Todas as hipóteses da ciência natural exata se baseiam em previsões que ao nosso pensamento se afiguram indignas de confiança.' Assim no caso do átomo; da atração, na qual um corpo atua onde ele não se encontra, o que já Newton achava inexplicável; na teoria das ondas de luz etc. 'O que é a eletricidade e por que a eletricidade positiva não é negativa, não sabemos,' respondeu-me, a uma pergunta, um professor de física. Toda a ciência é para o homem o que é para o navio o velame. Este o deve ajudar, e sem ele nada consegue o barco; mas, que lhe valem as velas, faltando o vento?" 7

Farias Brito, o conhecido filósofo nortista, e sem duvida o maior que o Brasil já produziu, teve esta formosa frase: "Há um princípio último que tudo explica, uma verdade suprema que tudo ilumina: esta verdade é o Deus vivo e real que mantém em equilíbrio o mecanismo do mundo. Negar a Deus é negar a razão do mundo."

E outro pensador patrício, Vicente Cândido Figueiredo de Saboia, considera a existência de Deus uma "verdade demonstrada pelo livro da Natureza, pelo livro da alma e pelo livro da História." 8

Será o mundo obra do acaso? Porventura as letras de um belo poema, atiradas do alto de um arranha-céu, se alinhariam em versos e estrofes ao chegar à terra? "Se o encontro dos átomos," diz Cícero, citado por Emílio Salim, "pôde formar um mundo, porque não forma hoje um pórtico, um templo, uma cidade? Isto seria menos complicado." 9

Passeando Voltaire um dia no parque de Ferney, povoação francesa onde residia, interpelou a um menino que ali se achava:

– Escute, meu pequeno, você vê essa árvore carregada de frutas? pois elas lhe pertencem todas, se me disser onde está Deus. O pequeno ficou embaraçado mas, depois de meditar um pouco, respondeu com vivacidade:

Page 14: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 14

– E o senhor, poderá me dizer onde é que Ele não está? Voltaire bateu em retirada. É bem verdade o que diz Bacon: "Só nega a Deus aquele a quem convém que Ele

não exista." Por isso nos importa tomar a peito o conselho de Roussea: "Conservai sempre vossa alma em condições de desejar que Deus exista e dEle não duvidareis jamais."

"Há quem negue o Infinito", diz Vítor Hugo; "alguns, também, negam o Sol: são os cegos."

"A negação absoluta, o ateísmo puro", diz Lecomte Du Noüy, evoca a reação da mosca que se atira contra a vidraça e, recusando-se a tirar uma conclusão lógica da contradição entre o sentido da vista e o sentido do tato, obstina-se durante horas, isto é, durante uma parte importante de sua existência, a procurar passar através dessa muralha na qual ela não crê, porque a não vê." 10

A Historicidade de Jesus

Por muito tempo houve quem pretendesse negar a própria existência histórica de

Jesus Cristo. Hoje, mesmo entre as hostes atéias, está atrás dos tempos quem descreia de Sua passagem por nosso planeta.

O filósofo inglês John Stuart Mill, ateu declarado, é por certo insuspeito no testemunho que deu:

"Inútil é dizer que o Cristo exibido nos evangelhos não é histórico, e que não podemos saber quanto daquilo que é admirável tenha sido acrescentado pela tradição de Seus seguidores. ... Quem dentre Seus discípulos, ou dentre os prosélitos deles, teria sido capaz de inventar as palavras registadas como de Jesus, ou de imaginar a vida e o caráter dos evangelhos? Certo, não o seriam os pescadores da Galiléia; nem tampouco Paulo, cujo caráter e idiossincrasia eram de espécie totalmente diversa; muito menos os escritores cristãos primitivos." 11

"Jesus de Nazaré – são palavras de outro conhecidíssimo incrédulo, Herberto Jorge Wells – é sem esforço a figura dominante na História. Refiro-me a Ele, naturalmente, como homem, pois concebo que como homem é que o historiador O tem de tratar, da mesma forma que o pintor O tem de pintar como homem. . . . Pretender que Ele jamais tenha vivido, que os registos de Sua vida sejam invenções, é mais difícil e suscita mais problemas na vereda do historiador, do que aceitar como fato os elementos essenciais das histórias evangélicas."12

É bem semelhante o testemunho de H. L. Mencken, moderno escritor e jornalista ateu:

"A historicidade de Jesus já não é mais posta seriamente em dúvida por ninguém, quer cristão, quer incrédulo.... Não é fácil justificar Seu singular e estupendo êxito. Como foi que uma pessoa que em Sua vida só teve a sorver a amarga taça da ignomínia, Se pôde erguer, na morte, a tão vasta estima, a tão incomparável poder e renome que abalasse o mundo?" 13

Aliás, não fosse o testemunho de autores modernos como os que acabamos de citar, ser-nos-ia mais que suficiente a palavra de escritores dos primeiros séculos, como Plínio o Moço, Suetônio, Tácito e Tertuliano, que todos corroboram a

Page 15: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 15

historicidade de Jesus, em suas obras Cartas de Plínio o Moço, Vida dos Doze Césares, Anais e Apologeticus, respectivamente.

Divindade de Jesus

Mas, não nos salva Jesus histórico. Temos de reconhecê-Lo como o Cristo, o

Ungido de Deus, sobre-humano e divino. Flávio Josefo, o conhecido historiador judeu que viveu de 37 a 95 A. D., diz em

suas Antigüidades Judaicas (trad. de José Roberto Monteiro de Campos, Lisboa, 1792):

"Neste mesmo tempo vivia Jesus, que era um Homem sábio, se todavia O devemos considerar simplesmente como um homem; tanto Suas obras são admiráveis! Ele ensinava todos aqueles, que faziam gesto de ouvir, e de serem instruídos da verdade; e foi ouvido, e acompanhado, não só de muitos Judeus, mas também de muitos gentios. Era CRISTO. Os principais da nossa Nação O acusaram na presença de Pilatos, e ele O mandou crucificar. Os que O amaram durante a Sua vida, não O abandonaram depois da sua morte. Ele lhes apareceu vivo, e ressuscitado ao terceiro dia, como os Santos Profetas o tinham profetizado, e predito que faria muitos milagres. DEle é que os cristãos tomaram o seu Nome." 14

São de um dos maiores, se não o maior dentre os cultores das letras portuguesas, as frases lapidares que se lêem a seguir:

"Jesus disse que era o Messias. "Messias, Filho de Deus, propriamente Deus. "Umas provas deu-as aos discípulos que Lhas pediam, e outras espontaneamente às

multidões, que as não pediam. "Urgia que as profecias se cumprissem em Jesus. Urgia que Sua vida terrena se

manifestasse por atos de impulso sobrenatural. Cumpria que as Suas predições se realizassem no correr dos tempos.

"Jesus, desde o presepe onde nasceu até ao sepulcro donde Se ergue triunfante, corresponde às máximas e mínimas condições de vida e morte preditas no Velho Testamento.

"O Novo Testamento abriu-me o seu tesouro de provas; a História, pregão eterno proferido por bocas insuspeitas sobre a ruína da nação amaldiçoada, confirma com superabundância de fatos humanos a obra divina singelamente referida nas tradições dos evangelistas. Pareceu-me que a vida e morte sobrenatural de Jesus de Nazaré é um dos sucessos mais cabalmente provados e irrecusáveis, no entendimento de quem estudar desprevenidamente aquela mais sublime e transformativa fase da humanidade. Desde que esta luz da divindade do Salvador se fez em meu espírito socorri-me do dogma cristão, sempre que rebeliões de raciocínio, dúvidas resultantes, febres de entrar com a inteligência, aos segredos do Criador, me levaram ao perigo de achar engenhosos os filósofos racionalistas." 15

(É-nos penoso deixar de transcrever longos trechos dessa obra enternecedora e convincente.)

Os Motivos do Ateu

Page 16: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 16

Não admira que o materialismo ateu tenha legiões de adeptos, pois é sempre mais fácil negar que afirmar, demolir que construir e, como dele disse Hoeffding, "esta doutrina se pode vulgarizar facilmente. É pueril, fala à imaginação, é de fácil acesso." Chama-lhe Farias Brito "filosofia do desespero."

O mesmo ateu, como disse alguém, que reconhece pela impressão de um pé de selvagem na areia a presença do homem, nega a Deus cuja mão se acha impressa sobre o universo inteiro.

O conjunto de ensinos e teorias negativistas não passa de um castelo de cartas que rui ao sopro da sã razão.

Com efeito, para o ateísmo não existe base razoável. O que em geral se dá é ocultarem-se no subconsciente do incrédulo determinados motivos que o conduzem às conclusões que procura.

Há, por exemplo, o interesse. Infelizmente, constitui este ainda a mola principal de quase todas as ações dos homens. A adesão à verdade implica renúncia de vícios e paixões pressupõe sacrifícios. Julgue embora o indivíduo ser profundamente sincero, quão fácil é abrigar nos refolhos do subconsciente o indigno empecilho do interesse!

O desamor da verdade é outro motivo. A verdade única e insubstituível não tolera uma aceitação incompleta. Diante dela seria isto idolatria.

"Amar a verdade, como ela merece ser amada," diz Leonel Franca, "é pô-la acima de tudo, dos nossos interesses e das nossas ambições, dos nossos sentidos e das nossas paixões desregradas; é querer sinceramente que ela seja a única luz da nossa vida.... No dia em que amarmos a verdade a ponto de estarmos dispostos a lhe sacrificarmos tudo, nesse dia começaremos a ser dignos dela, nesse dia a encontraremos." 16

Não sabendo explicar tudo o que diz respeito à Divindade, irrita-se o incrédulo por ver diante de si um mistério que à mente finita não é dado devassar em todos os seus escaninhos, e revolta-se contra a intuição inata da existência dessa Divindade. É isto fruto do orgulho intelectual da criatura, no desejo irrealizável de emancipar-se de seu Criador. "A fé é essencialmente humilde," disse alguém.

"Um dos mais acérrimos inimigos de Cristo, do século passado, foi Nietzsche. Que teria, porém, sentido no íntimo? Conta a Sra. Overbeck como, em uma entrevista com ela, disse:

– Por tudo, não abandone a Cristo! É grande e poderoso o pensamento nEle... (Ao isso dizer, percebia-se-lhe um nó na garganta. Tinha a fisionomia transtornada, mas logo assumiu um aspecto duro, e observou:)

– Eu, O abandonei. Quero criar coisas novas. Não quero e não devo retroceder. Mas vou perder-me em minhas paixões. Elas fazem de mim um joguete. Estou constantemente me confundindo. Mas pouco me importa isso." 17

Nunca nos deixemos, prezado leitor, embair pelas paixões, pela materialidade do mundo ambiente, sufocando o prazer da luta pela conquista da verdade, no interesse próprio, no orgulho ou qualquer outra qualidade menos digna.

Conclusão

Assim, pois, existe Deus. Este fato está plenamente de acordo com a Razão, com

a Ciência. Como disse Balfour, "a ciência não confuta a religião, antes a reforça com

Page 17: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 17

novo argumento." 18 E secunda a conhecida declaração de Bacon: "Um pouco de filosofia natural, e o primeiro contato com ela, predispõem a opinião para o ateísmo; mas, ao contrário, muita filosofia natural, e o aprofundar-se nela, levam a mente dos homens à religião."

Nenhum, absolutamente nenhum postulado humano conseguiu até hoje provar a inexistência de Deus. Tudo que tem dito a ciência, falsamente assim chamada, não passa de hesitantes conjecturas, hipóteses contraditórias.

E não há, como tantos julgam, nenhuma contradição ou incoerência entre a Fé e a Razão. O grande abismo que muitos vêem entre os dois, tem como origem a injustificável complexidade que tantos sistemas religiosos, antigos e modernos, emprestam a doutrinas em si claras e incontroversas. Torcem-nas por tal forma que se tornam contrárias à sã maneira de raciocinar e à razão lógica. Daí, também, a dificuldade que muitos encontram em exercer fé, a singela e infantil fé pregada por Cristo, tão ao alcance dos homens! Teorias humanas, ensinamentos provindos do mistificante coração do homem, de tal maneira quiseram complicar o conceito da fé, que esta se eleva a uma altura quase inatingível, vista através desse prisma falso.

Sursum corda, pois, amigo leitor que sofre os embates da dúvida ruinosa? Seja

sincero consigo mesmo. Acaso a convicção íntima que lhe vibra no cérebro, não é a mesma que lhe põe frêmitos no coração?

Não nos sentimos todos nós, habitantes deste planeta, como verdadeiros desterrados? Quem não sofre no âmago da alma esse travor do exílio? Quem não sente o coração torturado pela dor agonizante de uma grande separação que nosso íntimo diz ter havido, nalgum tempo, na vida da raça humana? Sim, é a separação dolorosa que, entre Divindade e humanidade, causou a entrada do pecado. Este sentimento, o próprio Criador no-lo pôs no coração.

E – glória das glórias! – chegará o dia em que há de haver um universal amplexo de paz, de união, de felicidade. Dia virá, e não longe, em que o Céu baixará à Terra e se alçará a Terra ao Céu, e se estreitarão num longo, num eterno abraço de reconciliação! E, olhos desanuviados das contingências terrenas, coração aberto de par em par aos influxos da nova vida e da nova criação, galgaremos nós mesmos as alturas do Ser necessário e a eternidade do Verbo divino!

Referências: 1. Crença e Descrença, J. Klug. 2. A Vida Maravilhosa dos Animais, C. de Meio Leitão. 3. O Estado de São Paulo, 30-10-1935. 4. O Gênio do Cristianismo, Chateaubriand. 5. Kraft und Licht, 4-6-1961. 6. Thoughts on Religion, J. Romanes. 7. Die Bibel Gottes Wort, F. Bettex. 8. Noções de História da Filosofia, Leonel Franca. 9. De Natura Deorum, Cícero.

Page 18: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 18

10. A Dignidade Humana, Lecomte Du Noüy. 11. Nature, the Utility of Religion and Theism, Stuart Mill. 12. A Voz da Profecia, A. Rowell. 13. Treatise on the Gods, H. L. Mencken. 14. Antigüidades Judaicas, Livro XVIII, Cap. IV, Flávio Josefo. 15. Divindade de Jesus, Camilo Castelo Branco. 16. Psicologia da Fé, L. Franca. 17. Er ist unser Leben. 18. A Dúvida, Sherwood Eddy.

Reflexões de J. Balmes EXISTE um ser autor de todas as coisas? A tristeza apodera-se do coração com a só

idéia de que a cegueira e maldade de alguns homens torne necessário um estudo sério e detido para provar uma verdade escrita na Terra e no céu com caracteres tão claros e resplandecentes, caracteres entendidos com suma facilidade por todos os povos, em todos os tempos e países, e que, ao tratar-se de Deus, a filosofia tenha de ser coisa diversa de um cântico de amor e louvores ao supremo Criador, semelhante ao que entoam de contínuo a Terra e o firmamento....

As conseqüências morais do ateísmo são a sua mais eloqüente refutação. Sem Deus não há vida futura, não há legislador supremo, não há nada que possa dominar na consciência do homem: a moral é uma ilusão; a virtude, uma bela mentira; o vício, um amável proscrito ao qual convém reabilitar. Em tal caso, as relações entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos, amigos, são simples fatos naturais que não têm nenhum valor na ordem moral. A obrigação é palavra sem sentido, quando não há quem possa obrigar; e faltando Deus, não há nada superior ao homem.

Assim desaparecem todos os deveres, rompem-se todos os vínculos domésticos e sociais; só deveremos atender aos impulsos da natureza sensível, evitando a dor e procurando os prazeres. Quem não retrocede ao ver destruída deste modo a harmonia do mundo moral? Quem não se sente consolado, refletindo que isto é unicamente uma hipótese insensata? Quem não sente renascer no espírito a luz e a esperança, ao pensar que Deus está na origem de todas as coisas, criando e ordenando as leis do universo moral, e escrevendo-as com caracteres indeléveis na consciência da criatura inteligente? – Psicologia e Teodicéia.

O MEIO DE COMUNICAÇÃO ENTRE DEUS E O HOMEM

OS albores da história humana, comunicava-Se Deus com o homem face a face. Interveio, porém, o pecado, velando à nossa raça o semblante divino e

cavando um abismo intransponível entre humanidade e Divindade. Expulsos nossos primeiros pais do paraíso, nem por isso os excluiu Jeová do

círculo de Sua clemente misericórdia. Anjos visitavam freqüentemente o triste casal exilado, confortando-o e revelando-lhe os pormenores de um vasto plano delineado nos concílios celestiais, e cujo fim era a reabilitação do gênero humano. Lábios angélicos, pois, distilavam amorosamente na chaga viva dos corações que curtiam a

N

Page 19: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 19

angústia da separação de Deus, o bálsamo de uma suavíssima história – a história da redenção.

Nasceu Caim, e com ele o primeiro homicida. Multiplicou-se o mal mais depressa que o bem. Prevaleceu. E triunfou, quase. Mas não faltaram nunca as almas puras, os homens retos. Poucos, por vezes, mas nunca inexistentes. Esses poucos, os Setes, Enoques, Noés, Abraões, Isaques, Jacós e outros, foram transplantando para as gerações sucessivas, a maravilhosa história do Salvador por vir, o Messias desejado. E, dada a grande longevidade dos patriarcas, especialmente os antediluvianos, não é de estranhar que a tradição se conservasse pura, porquanto era por assim dizer controlada por várias gerações a um tempo. Assim é que vivia ainda Sete quando nasceu Lameque, pai de Noé, e não era morto Noé quando apareceu Terá, pai de Abraão. Da morte deste até ao nascimento de Moisés mediaram dois séculos e meio apenas – período abrangido por vários patriarcas, isto é, Isaque, Jacó, Levi, Coate e Anrão.

Com Moisés, apareceu o primeiro escritor da Bíblia. Isolado nos desertos de Midiã, a pascer as ovelhas de seu sogro Jetro, inspirou-o o Senhor a registar a gênese do mundo. E surgiu assim o Gênesis, esse epítome de história e pré-história, admirável por sua concisão e clareza, seguido dos demais quatro livros do Pentateuco.

Mais mil e quinhentos anos, durante os quais outros homens santos escreveram, por inspiração divina, os outros livros que formam o cânon do Velho Testamento, e encarnava-Se, na humilde Belém, o Filho unigênito de Deus, o Verbo Divino, a Palavra feita vida. De então até ao ano 90 da era cristã, escreveram-se os volumes componentes do cânon do Novo Testamento.

Os manuscritos sagrados foram compilados aos poucos, através da antiga dispensação e dos dois primeiros séculos da nova, como veremos adiante.

"Não é a Escritura Sagrada produto de um homem ou de um concílio ou decreto de autoridade humana, Acrescentou-se um livro a outro, até chegarmos ao fim dos tempos do Velho Testamento. Depois do cativeiro babilônico, todos os livros sobre os quais não havia dúvida, e que eram geralmente aceitos, foram coligidos e dispostos por Esdras, Neemias e seus cooperadores. Esses livros constituíram as Sagradas Escrituras do tempo de nosso Senhor. São mencionados por Josefo e sempre aprovados por Jesus. O Novo Testamento foi-se acrescentando da mesma forma, livro a livro, epístola a epístola, por parte de homens cheios do Espírito de Deus." 1

Que Garantias Temos?

Mas, que garantia se nos oferece de ser a Bíblia a autêntica Escritura Sagrada, o

livro inspirado por Deus e destinado a ser nossa regra de fé e conduta? Como veio até nós? Merecerá a confiança que o mundo cristão nela deposita? É firme a base sobre a qual repousa a estrutura do cristianismo?

Vejamo-lo sucintamente, nas páginas a seguir. Partamos do fato da existência da Escritura, hoje, em nosso meio. Isso, ninguém

negará, pois é ela vista por toda parte. Fato é também existir ela desde longa data. Com efeito, já era antiga quando se inventou a impressão com tipos móveis. Foi ela o

Page 20: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 20

primeiro livro que Gutenberg imprimiu em rústico prelo de madeira, acionado a mão. A Escritura Sagrada, saiu do primeiro prelo de Gutenberg, no ano de 1455.

O Velho Testamento foi originalmente escrito em hebraico, exceto alguns capítulos de Daniel (2:4 até fim de 7) e poucos versículos do livro de Esdras, que o foram no dialeto aramaico. Posteriormente foi traduzido para o grego por um grupo de setenta sábios judeus, por ordem de Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito, que ocupou o trono de 285 a 247 antes de Cristo. Iniciaram os setenta esse trabalho cerca do ano 285.

O Novo Testamento foi originalmente escrito em grego, salvo o livro de S. Mateus, que o foi em hebraico, sendo depois vertido para aquela língua. Já cedo se fizeram traduções da Escritura completa, sendo a mais cuidada a de Jerônimo, feita de 383-405 depois de Cristo.

Como Foi Inspirada

Mas afinal, perguntará o leitor, de que maneira se deu a inspiração divina da

Bíblia? Ora, é claro que Deus não ditou a Escritura aos homens como o professor faz um ditado aos alunos, ou o comerciante ao datilógrafo.

"Quando Deus inspirava homens a escreverem, não desaparecia a personalidade do escritor, nem alterava ele o seu estilo. O Espírito de Deus infalivelmente dirigia a comunicação da verdade divina segundo o próprio vocabulário do escritor, e de acordo com o seu estilo particular. Inspiração implica que o Espírito, por um misterioso controle que está além de nossa compreensão, atuou de tal modo sobre os homens escolhidos, enquanto escreviam os livros da Escritura, que eram guiados sobrenaturalmente na comunicação da vontade de Deus. Sua personalidade individual, seus traços intelectuais particulares, e mesmo a forma de estilo de sua expressão literária tinham toda a liberdade. Deles se serviu o Espírito divino, dirigindo e controlando o produto de tal forma que resultou a palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre." 1

Suposições Falsas

Conjeturam alguns ter sido a Escritura obra do Concílio de Laodicéia, celebrado

em 364 de nossa era. Outros há que a atribuem ao Concilio de Nicéia, em 325. Vejamos se procedem essas suposições. Celso, filósofo que viveu em Roma no

segundo século e se tornou célebre pelos seus ataques ao Cristianismo, contra este escreveu uma obra denominada A Palavra da Verdade. Deste livro não existe hoje nenhum exemplar, mas Orígenes (185-254), em réplica ao mesmo, transcreveu-lhe longos trechos, nos quais se encontram mais de oitenta referências ao Novo Testamento.

Ora, Celso escrevera o livro para refutar a veracidade do Novo Testamento, e não a sua existência. De maneira que, querendo embora prejudicar a fé na autenticidade divina dessa parte da Escritura, prestou-nos o inestimável serviço de confirmar a existência da mesma, naquela época remota. Claro é que, se existia o Novo

Page 21: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 21

Testamento no segundo século de nossa era, não podia ele ser produto dos concílios acima mencionados, que só se celebraram mais de um século depois.

Aliás, mesmo antes de Celso, fizera coisa semelhante Marcion, no princípio do segundo século.

Genuinidade do Novo Testamento

De um trecho de Orígenes ressalta que já no ano 225 depois de Cristo existiam

todos os 27 livros do Novo Testamento. Referindo-se ao livro de Josué e às trombetas a cujo sonido ruíram os muros de Jericó, diz ele:

"Quando apareceu nosso Senhor Jesus Cristo, enviou os Seus apóstolos como sacerdotes, levando as trombetas da gloriosa e divina doutrina da pregação evangélica. Vai na frente Mateus, que é o primeiro a fazer soar a trombeta sacerdotal; em seguida Marcos, depois Lucas e João, cada qual tange a sua; depois deles faz-se ouvir Pedro, com ambas as trombetas de suas epístolas; posteriormente Tiago, assim como Judas. Em seguida João, apesar de haver anteriormente feito ressoar a trombeta, volta a fazê-lo, em suas epístolas e no Apocalipse; igualmente Lucas, referindo os atos dos apóstolos. Apresenta-se afinal aquele que disse: 'Tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos.' I Coríntios 4:9. E quando, como trovões fez ressoar a trombeta de Suas catorze epístolas, derribou pela base as muralhas de Jericó, assim como todos os instrumentos bélicos da idolatria e todas as teorias filosóficas." 2

E mesmo cem anos antes, nos primórdios do segundo século, existia já uma tradução do Novo Testamento, a mais antiga e afamada, para o arameano, denominada Peschito. Continha todos os livros menos quatro epístolas de S. João e S. Pedro, e o Apocalipse. Isto, sem dúvida, adverte Schuberth, por não haverem ainda essas cartas chegado às igrejas arameanas. Sabe-se ser tão remota essa tradução porque Eusébio diz que o historiador eclesiástico Hegesipo extraiu citações da mesma. Ora, viveu esse Hegesipo no tempo de Adriano (117-138).

Cerca do ano 200, disse Tertuliano, o grande doutor de Cartago, o qual viveu de 160 a 240, em sua obra Adversus Hereticos, que as autênticas cartas originais de S. Paulo se achavam ainda conservadas pelas igrejas de Corinto, Filipos, Tessalônica, Éfeso e Roma, onde podiam a esse tempo ser vistas.

Santo Irineu, mártir, que viveu de 120 a 200, foi discípulo de Policarpo, contemporâneo do apóstolo S. João, com quem se dava. Esse Irineu menciona por nome os quatro evangelhos.

Pápias, que viveu de 80 a 164, e a quem Irineu se refere como tendo sido "ouvinte de João", foi autor de uma Exposição dos Discursos do Senhor e atesta que S. Mateus e S. Marcos escreveram os "sagrados oráculos". Pais da igreja como Policarpo (80-166), Clemente, que morreu no ano 101, e Inácio de Antioquia, martirizado em 115, deixaram em seus escritos muitas referências ao Novo Testamento, bem como transcrições de quase todos os livros do mesmo. Com efeito, são tantas essas citações bíblicas dos pais da igreja, que com elas se poderia reconstruir todo o Novo Testamento, com exceção de catorze versículos apenas!

Page 22: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 22

Interessante é notarmos que já em vida dos próprios apóstolos havia uma coleção de livros do Novo Testamento, pois a eles se encontram referências em várias epístolas, como por exemplo em II S. Pedro 3:15 e 16, onde este apóstolo alude a uma carta paulina, enquanto S. Judas, nos versículos 17 e 18 de sua epístola, menciona as de Paulo e Pedro. Daí concluir-se que já nos tempos apostólicos existia uma coleção de escrituras do Novo Testamento.

Genuinidade do Velho Testamento

Quanto ao Velho Testamento, é digna de nota a seguinte observação do célebre

historiador judeu Flávio Josefo, que viveu de 37 a 95 de nossa era, sendo, pois, contemporâneo dos santos apóstolos:

"Coisa alguma melhor se pode comprovar que nossas Santas Escrituras; elas não podem jamais ser objeto de qualquer divergências de opiniões; porquanto entre nós só reconhecemos aquilo que os profetas escreveram há vários séculos, instruídos, como eram eles, pela inspiração do próprio Deus. Entre nós absolutamente não se encontra, como entre os gregos, grande cópia de livros que se distanciam e combatem mutuamente; temos deles apenas vinte e dois, que contêm tudo que entre nós sucedeu, e que merecem toda a fé. Cinco são de Moisés. Os profetas, que vieram depois de Moisés, registaram em treze outros livros (1, Josué; 2, Juizes com Rute; 3, Samuel; 4, Reis; 5, Crônicas; 6, Esdras com Neemias; 7, Ester; 8, Jó; 9, Isaías; 10, Jeremias com as Lamentações; 11, Ezequiel; 12, Daniel; 13, os doze profetas menores), o que sucedeu desde a morte daquele [Moisés] até ao governo de Artaxerxes, enquanto os quatro livros restantes (Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos) encerram hinos de louvor, compostos em honra de Deus, assim como direções sobre a conduta moral." 2

Aliás, já antes disso, no terceiro século antes de Cristo, Jesus, filho de Sirac, alude à "lei de Moisés," aos "profetas" e aos "outros livros", expressão que coincide com a divisão que se fazia do Velho Testamento, e a que Cristo Se refere em S. Lucas 24:44 – a "lei de Moisés", os "profetas" e os "salmos". "Vemos, pois, "afirma Schuberth, "que logo depois da conclusão das escrituras do Velho Testamento por Malaquias, já existia uma coleção completa dos livros, que Ptolomeu II, nos meados do terceiro século, mandou traduzir para o grego, tradução que se conhece como Septuaginta."

E por certo, já que vimos não poder ser refutada a genuinidade do Novo Testamento, não é de desprezar o testemunho que ele apresenta em favor do Velho, fazendo referências a todos os seus livros menos seis, e deles citando passagens.

Nem Erros nem Fraudes

Remontamos, assim, à própria origem das Escrituras Sagradas, o livro inspirado

por Deus e destinado a ser a divina carta de guia aos homens. Mas, intervirá ainda algum tardio Tomé, não terá havido erros ou fraudes por parte das pessoas que copiaram os livros?

O trabalho dos copistas era feito com castigado esmero. Havia entre os judeus uma classe de pessoas cuja ocupação era copiar o texto sagrado. Chamavam-se, por isso

Page 23: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 23

mesmo, escribas, ou massoretas. Antes de receberem permissão para iniciar o trabalho, exigia-se que contassem o número das palavras e mesmo das letras do manuscrito que iam copiar.

"Sabiam exatamente quantas palavras e quantas letras havia em Todo o Velho Testamento, e em cada um dos livros do mesmo. Sabiam qual era a palavra central em todo o volume, e qual a mesma em cada um dos livros. Estavam cientes de quantas mil vezes cada letra ocorria nos manuscritos originais Não lhes era permitido fazer rasuras. Se, depois de feito o trabalho, descobriam um erro, eram obrigados a destruir aquela cópia e fazê-la de novo. Não podiam mudar uma letra depois de ter sido copiada. Seus enganos não podiam ser corrigidos mas tinham de ser destruídos." Assim, compreende-se facilmente que "o texto original foi maravilhosamente preservado através dos séculos. A Providência sobre ele velava; a poderosa mão divina interveio em favor dele, e assim é que possuímos hoje o que Deus deu aos homens santos da antigüidade." 1

Ora, milhares de massoretas, através de trinta séculos, estiveram a copiar o texto sagrado. Homens eruditos de inúmeras nações se entregavam à sua tradução. E embora esta não se deva em si considerar divinamente inspirada, mas apenas o texto original, seria bem fácil descobrir incoerências e fraudes, se as houvesse. Pessoas de índoles e inclinações diversas, em diferentes épocas e ambientes, e sob as mais variadas circunstâncias, empenharam-se nessa tarefa. No entanto, as divergências encontradas nos vários textos são tão insignificantes que não influem absolutamente no todo.

E que atividade têm desenvolvido os críticos, em trabalhos de confronto e à procura de incoerências! Uns, de má fé, para depois cantar vitória contra o Livro Sagrado; outros, para mais aprofundarem sua confiança no mesmo. Estes conseguiram plenamente o seu desiderato; aqueles, porém, viram mais que perdido o esforço enorme.

Diz Gaussen, conhecido teólogo de Genebra, em sua magnífica obra Theopneustia, enumerando alguns desses esforços expendidos pelos críticos, que John Henry Michaelis, por exemplo, a esse trabalho dedicou trinta anos de sua vida; Kennicott passou nesses estudos dez anos e consultou 581 manuscritos hebraicos; o professor Rossi examinou 680 – todos estes relativos ao Velho Testamento. E quanto ao Novo, destacam-se as investigações de Mill, Bengel, Wetstein e Griesbach, havendo este último consultado 333 manuscritos, dos evangelhos tão-somente; mais tarde fizeram estudos críticos Nolan, Mathaei, Lawrence e Hug e, especialmente, Scholz, que examinou 674 manuscritos dos evangelhos, 200 dos Atos dos Apóstolos, 256 das epístolas de S. Paulo, 93 do Apocalipse.

"Ora," conclui o eminente teólogo genebrino, "posto que se tenha recorrido a todas as bibliotecas em que se encontram cópias dos livros sagrados, a fim de que dessem seu testemunho; conquanto se tenham estudado as elucidações dadas pelos pais da igreja de todos os séculos; embora se tivessem confrontado todas as versões arábicas, arameanas, latinas, armênias e etíopes; se bem que todos os manuscritos, de todos os países e épocas, desde o terceiro até ao décimo sexto séculos, tenham sido coligidos e examinados mil e uma vezes, por inúmeros críticos, os quais ansiosamente buscavam algum texto novo que lhes fosse a recompensa e a glória das exaustivas vigílias; ainda que sábios, não satisfeitos com as bibliotecas do Ocidente, tivessem visitado as da Rússia, levando as suas pesquisas até aos mosteiros do Monte Athos, da Turquia Asiática e do Egito, para ali

Page 24: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 24

buscar novos instrumentos do texto sagrado – coisa alguma se descobriu que pudesse lançar dúvida sobre qualquer das passagens dantes consideradas certas. Todas as variantes, quase sem exceção, deixam intatas as idéias essenciais de cada frase, dizendo respeito apenas a pontos de importância secundária, tais como a inserção ou omissão de um artigo ou conjunção, a colocação de um adjetivo antes ou depois de seu substantivo, ou a maior ou menor exatidão de uma construção gramatical." 3

Poderia haver motivo para dúvida se todos esses investigadores tivessem sido crentes fervorosos na autenticidade escriturística. Neste caso, poder-se-ia considerar suspeito o seu testemunho. Tal, porém, não se deu.

Acresce que a maneira em que se faziam os manuscritos até 1800 anos atrás, faculta o reconhecimento da genuinidade do texto sagrado. Expliquemos melhor: Naqueles tempos escrevia-se sobre pergaminho ou papiro, os quais se enrolavam depois. As letras eram todas maiúsculas, chamadas também unciais, e as palavras uniam-se entre si. Não havia pontuação nem divisão alguma entre as palavras. (De passagem advertiremos aqui que a divisão da Escritura em versículos e capítulos, assim como a pontuação, foi obra posterior, nada tendo que ver com a direta inspiração divina. Daí se compreende a existência de pequeníssimas divergências com o original, aliás fáceis de descobrir.)

Qualquer manuscrito nas condições acima descritas tem de ser, forçosamente, antigo. Assim é que em cidades soterradas há muitos séculos, e hoje postas à luz pela pá dos exploradores, se têm descoberto bibliotecas cujos livros, ou antes, rolos de pergaminho, são escritos justamente desse modo.

Mas, aventurará talvez ainda o leitor, não podem esses manuscritos bíblicos ter sido assim escritos simplesmente para iludir a boa fé? Não há nisso possibilidade de fraude? Só objetará isto quem não tenha lido a Escritura Sagrada. Sim, porquanto não é ela um livro que agrade ao coração humano, desculpando-lhe as mazelas. Ao contrário, condena o mal, expondo o culpado.

Tivesse havido por parte dos escritores ou copistas a malévola intenção de iludir, por certo que se teriam servido de outra forma e outra idéia. Esta defesa, entretanto, escusado é acrescentar, em vista do que até aqui já se disse, sobre os outros vários meios de identificação da autenticidade do cânon escriturístico.

Apesar de todo o cuidado dos copistas, compreende-se que, embora os manuscritos originais, inspirados por Deus, fossem isentos de qualquer erro, no processo de copiá-los se insinuassem pequeninos erros que "de modo nenhum nos afetam a salvação nem nos impedem de aprender o sentido do grande drama bíblico que começa no jardim do Éden e termina com a descida da Nova Jerusalém." 4

Deus nosso Senhor velou sobre a Sua mensagem aos homens – a Escritura Sagrada. "Sua Palavra, como um todo, forma uma cadeia perfeita, ligando-se uma porção a outra e explanando-se mutuamente. Os verdadeiros indagadores da Verdade não precisam errar, pois não só é a Palavra de Deus clara e singela ao mostrar o caminho da vida, como também o Espírito Santo nos é concedido como guia para podermos identificar esse caminho." 5

Page 25: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 25

João Wesley fulminava com o seguinte argumento os descrentes na inspiração da Escritura: "A Bíblia foi concebida por uma das seguintes entidades: 1. – Por homens bons ou anjos; 2. – Por homens maus ou demônios; 3. – Ou então por Deus.

"1. – Não pode ter sido concebida por homens bons nem por anjos, porque nem uns nem outros poderiam escrever um livro em que estivessem mentindo em cada página escrita, quando lá punham as seguintes frases: 'Assim diz o Senhor', sabendo perfeitamente que o Senhor nada dissera e tudo fora inventado por eles.

"2. – Não pode ter sido concebida por homens maus ou pelos anjos maus, porque seriam incapazes de escrever um livro que ordena a prática de todos os grandes deveres, proíbe os pecados e condena ao castigo eterno.

"3. – Portanto, concluo que a Bíblia foi concebida por Deus e inspirada aos homens."

Humberto de Campos e a Fé Os céticos, em geral, sorriem publicamente daqueles que repousam o espírito em

alguma esperança sobrenatural, mas intimamente, sentem inveja dos que ainda têm, na Terra, as bênçãos da fé. Mesmo... esse mestre da incredulidade elegante, que foi Anatole France, encanto e veneno de duas gerações literárias, arrependia-se, na velhice, de não haver conservado a primitiva simplicidade de coração. "É preciso não demolir – dizia ele – nós seriamos os primeiros a nos arrependermos.... Renan confessava não ter podido, jamais, eliminar do seu coração, integralmente, a idéia de Deus. 'No fundo,' confessa, 'eu sou sempre governado por uma fé, que não tenho mais'." Não há nenhuma civilização fundada sobre o ateísmo. – Crítica, 3.ª Série.

Os Apócrifos

As Sagradas Escrituras, também chamadas Bíblia – do grego biblos, que quer

dizer livros – compõem-se de sessenta e seis livros, dos quais trinta e nove no Velho Testamento e vinte e sete no Novo. Bíblias há que trazem, além destes, catorze outros. São os chamados apócrifos.

Estes "existiam já no tempo de Cristo, mas não foram admitidos pelos judeus no cânon do Antigo Testamento, porque não tinham nenhum original hebraico, e não eram considerados como inspirados por Deus. Seu estilo prova que eram parte da literatura grego-judaica da Alexandria, dos três últimos séculos anteriores a Cristo; e como a Septuaginta, versão grega da Bíblia hebraica, reconheceu a mesma origem, ia amiúde acompanhada destes escritos gregos que não eram inspirados, adquirindo eles assim uma circulação generalizada. Josefo e Philo, do primeiro século, excluíram-nos do cânon; no Talmude não se acha deles vestígio; e das várias listas do Antigo Testamento feitas nos primeiros séculos, infere-se claramente que não fizeram nem fazem parte do cânon hebreu.

"Nem Cristo nem os apóstolos os citam nem lhes deram sua sanção; não têm nenhum elemento profético; não foram reconhecidos pelos pais cristãos; e seu próprio conteúdo os condena pela abundância de erros e absurdos. Alguns deles, todavia, são de valor pelos informes históricos que apresentam, por tratar de assuntos sucedidos em um

Page 26: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 26

período de meio século antes de Cristo; e por suas máximas morais e de prudência e pelas ilustrações que dão, da vida na antigüidade." 6

Pelo seu valor histórico e moral, "as igrejas primitivas permitiam a sua leitura como elemento de edificação e os recomendavam aos catecúmenos, porém os excluíam do cânon." 7

Vê-se, pois, que a Bíblia que não tenha os apócrifos, não pode ser tida como "falsa", servindo aos mesmos fins que aquela, de aquisição mais difícil. Em quase todos os países há sociedades bíblicas ou agências encarregadas da disseminação da Palavra divina. Esta é hoje publicada em mais de mil línguas! Qual a obra literária cujas traduções atinjam esse número?

Em 130 anos as Sociedades Bíblicas publicaram 823.429.764 exemplares desse volume. Num só ano foram vendidos trinta milhões. Só no Brasil já se distribuíram mais de 40 milhões. Nos anos de 1963, 1964 e 1965 ocupou o Brasil o segundo lugar, na aquisição de Bíblias. E a procura cresce constantemente. Sendo embora um livro que não fala ao coração natural, pois que lhe condena as tendências perversas, aumenta sempre e sempre o círculo de seus leitores e o número de línguas em que se encontra.

Não Há Desculpa

O volume sagrado, onde Deus nos revela a Sua vontade, está hoje ao alcance de

todos. As sociedades são subsidiadas por grandes filantropos, de maneira que se adquire um exemplar do Livro divino por preço abaixo do próprio custo de sua produção. Há também nas livrarias religiosas a Bíblia com os apócrifos, ilustrações, e comentários. Quem a quiser adquirir, bem fará. Qualquer exemplar, porém, seja da tradução de Figueiredo, de Almeida ou outra, mesmo sem gravuras e comentários, lido com sinceridade e ânimo desprevenido, será mais que suficiente para nos prover a salvação.

Um lar sem a Escritura Sagrada é um farol apagado. O homem que não seja feliz possuidor de um exemplar do Livro santo, erra pelo mar da vida como um navegante sem bússola, em nau que perdeu o leme. Desprovidos da Bíblia, achamo-nos sem um guia seguro através do labirinto das hipóteses e crenças puramente humanas. E a conseqüência só poderá ser nossa confusão espiritual. A meditada e devota leitura dos Santos Evangelhos, unicamente, nos dá firmeza aos passos e estabilidade à fé, em meio do caráter volúvel e titubeante do humano pensamento.

Leia-a, estude-a assiduamente, caro leitor, e depois diga se ela é de origem divina ou meramente humana. "Se alguém quiser fazer a vontade de Deus," disse Cristo, "reconhecerá se a Minha doutrina vem dEle ou se Eu falo de Mim mesmo." Igualmente, se alguém quiser pôr em prática os ensinamentos do Evangelho, pela sua própria leitura se convencerá de sua origem divina.

Referências: 1. The Bible – Is it a True Book? Carlyle B. Haynes. 2. Sammlung der biblischen Buecher, H. F. Schuberth.

Page 27: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 27

3. Theopneustia, L. Gaussen. 4. Seventh-day Adventist Bible Commentary, Vol. I, pág. 15. 5. Primeiros Escritos, Ellen G. White. 6. Diccionario de la Santa Biblia, W. W. Rand. 7. Dicionário da Bíblia, John D. Davis.

Machado de Assis e a Bíblia OS leitores nos dispensem de dizer por que a Bíblia é o livro por excelência. Melhor

que ninguém já o disse Lamartine; o grande poeta pergunta o que não haverá nessa obra universal, desde a história, a poesia épica, a tragédia e a filosofia, até o idílio, a poesia lírica, a elegia – desde o Deuteronômio, Isaías e Eclesiastes, até Rute, Jeremias e o Cântico dos Cânticos. Reuni todas essas formas do espírito humano em uma encadernação de luxo e dizei-me se há livro mais precioso e mais digno de figurar no gabinete, entre Milton e Homero. – Crônicas.

O Primeiro Cardeal do Brasil e a Leitura dos Santos Evangelhos

OH, se todos os homens conhecessem, amassem e meditassem os Santos

Evangelhos! Que regra mais pura e santa, que caminho mais seguro para o homem público, para

o homem privado e para o político, do que a verdade vinda do Céu, pregada e ensinada pela boca de um Deus e registada no livro dos Evangelhos?

E contudo, quem o diria? Esse inestimável tesouro tem estado nestes últimos tempos universalmente esquecido: Mil vezes, pois, abençoados os que fomentam esse movimento e propagam a leitura dos Santos Evangelhos!

Leia-se, pois, medite-se o livro santo dos Evangelhos. Nessa leitura, nessa meditação fortalecem-se os espíritos, afervora-se a fé, reanima-se a esperança e a caridade expande-se sublime em transportes inefáveis de amor.

É o Evangelho o melhor livro de piedade; leiam-no as almas pias com devoto recolhimento.

É um livro, divinamente inspirado, rico de ensinamentos morais; nele, e não nas loucas máximas do século, é que havemos de procurar o tipo e a norma de nossa vida moral....

Todas as famílias católicas tenham em seu lar o livro dos Santos Evangelhos, leiam-no em comum, e o meditem.

Todas as almas piedosas tomem a seu cargo essa missão santa e regeneradora: – propagar em todas as classes da sociedade a leitura dos Santos Evangelhos.

– Cardeal Joaquim de Arcoverde.

Page 28: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 28

A ESCRITURA SAGRADA E A CIÊNCIA

BIBLIOTECA DO LOUVRE, em Paris, tem cinco quilômetros de prateleiras abarrotadas de compêndios científicos que já brilharam nas

cátedras, mas se tornaram antiquados dentro de cinqüenta anos! Em ponto reduzido, dá-se o mesmo em todas as bibliotecas, mesmo as modestas, de nossos colégios. Tão vária é a ciência humana!

A Escritura Sagrada não se propõe a ser um compêndio para o estudo de ciências. Tampouco faz do conhecimento científico a pedra de toque de sua origem divina. Com efeito, não se empenha em elaborar argumentos para demonstrar ou provar sua autenticidade. Está, felizmente, muito além da necessidade de o fazer, e é outro o seu papel. Entretanto, faz incidentalmente muitas alusões a pontos de ciência, as quais os estudiosos do assunto tiveram de reconhecer como rigorosamente exatas.

Fatos que foram por muito tempo discutidos e controvertidos pela suposta ciência humana, até que a pouco e pouco sobre eles se fizesse a luz, já lá estão na Bíblia, esclarecidos na linguagem simples e despretensiosa que lhe é peculiar. Adaptada a todos os povos e todas as épocas, jamais se torna ela um livro antiquado.

Luz Antes do Sol

O problema da luz antes de existir o Sol, por exemplo, constitui para muitos a

primeira pedra de tropeço. Como disse Deus: "Haja luz", no primeiro dia, se só no quarto criou o Sol? E vêem, ou pretendem ver aí a primeira grande discrepância da Escritura com rudimentos de ciência. Entretanto, esquecem-se de que no próprio fundo do mar, onde a luz solar não penetra, existem peixes luminosos; banham eles mesmos, todas as noites, o seu lar na suavidade de uma luz que não procede do Sol; e passam também por alto, ou ignoram, que a mesma verdade tem sido demonstrada pelas recentes experiências no campo da radioatividade.

Essa aparente incoerência, aliás, desaparece ao considerar-se, como adverte Conradi, que o original designa com termos diferentes a luz de que trata o versículo 2 do primeiro capítulo de Gênesis e a de que fala o versículo 14. A primeira, que Deus criou ao dizer "haja luz", e a que se poderia talvez chamar luz cósmica, é designada pela palavra hebraica or, isto é, luz propriamente dita; a segunda, produzida pelo Sol, designa-se por maor ou seja portador de luz. Essa questão tão debatida torna-se, assim, de uma simplicidade extrema.

Josué e o Sol

O caso de Josué, ordenando ao Sol que parasse, é outra dificuldade apresentada

pelos leitores superficiais da Escritura. Não se advertem, porém, de que esta nos fala em linguagem popular, e não

científica. E as mesmas pessoas que julgam aí dever enxergar um cochilo bíblico, pois

A

Page 29: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 29

é a Terra que gira em torno do Sol, e não vice-versa, essas mesmas pessoas não hesitam em dizer, por exemplo: "O Sol está nascendo", ou "está-se pondo", ou "está a pino" etc. Ou porventura já os ouviram dizer: "A Terra deu outra volta", ou "meia volta"? . . . Assim como dizem, quando se vêem engordar: "O paletó está ficando apertado" ou "esta calça está estreita", em vez de: "Estou engordando".

Ora, semelhantes expressões são figuras de pensamento que constam dos rudimentos da gramática, e como tais se empregam a todo momento.

Vêm a propósito as observações de Kepler, o astrônomo do século dezesseis, autor das célebres leis que receberam seu nome:

"A astronomia ensina a conhecer as causas que atuam sobre a natureza, e retifica ex professo as ilusões de ótica. A Sagrada Escritura, que ensina as verdades mais sublimes, serve-se das locuções usuais a fim de ser compreendida; não é senão por incidente que ela fala dos fenômenos da natureza, e então emprega os termos de que se serve o comum dos homens. E a Escritura não se teria expresso de outro modo, ainda quando todos os homens conhecessem perfeitamente a causa das ilusões de ótica; porque nós, os astrônomos, não aperfeiçoamos a ciência astronômica com intenção de modificar o uso da língua, mas queremos abrir as portas à verdade, conservando a mesma terminologia. Nós dizemos, com o povo: Os planetas param, voltam.... O Sol nasce e se põe, sobe para o meio do céu, etc. Falamos com o povo, exprimimos o que parece passar-se diante de nossos olhos, posto que nada de tudo isto seja verdadeiro, entretanto todos os astrônomos estão de acordo. Devemos tanto menos exigir da Escritura sobre este ponto, quanto é certo que ela, se abandonasse a linguagem ordinária para tomar a da ciência e falar em termos obscuros, que não seriam compreendidos por aqueles que ela quer instruir, confundiria os fiéis simples, e não conseguiria o fim sublime a que se propõe.

"Suponhamos que um fundador de religião, como Moisés, estivesse já de posse de todos os conhecimentos mais recentes em astronomia e geologia: não lhe teria sido muito mais prejudicial do que útil o falar a língua de Copérnico, de Newton, de Laplace, de Werner, de Buch ou de Lyell? De certo durante dois mil anos ninguém o compreenderia e seria mal apreciado; e tudo isto só para dar uma satisfação particular ao século décimo nono (o século dos Newtons, Laplaces etc.), satisfação que já não contentaria o século vigésimo."

Quanto à historicidade desse dia mais longo, está ela confirmada pela astronomia.

Um grande astrônomo inglês, Sir Edwin Ball, "descobriu que se haviam perdido vinte e quatro horas de tempo solar." 1

Já nos anais do Egito e da China há referências a esse dia. Confirma-o Heródoto, da Grécia. No México descobriu-se um documento antigo, referente ao próprio ano em que Josué conquistou a Palestina, o qual alude ao mesmo fato. 2

Notemos que a Escritura diz haver-se o Sol detido "quase um dia inteiro" (Josué 10:13). Entretanto, o prazo em excesso averiguado pelos astrônomos, consta de um dia de vinte e quatro horas exatas. Onde a incoerência? – É que houve outra ocasião em que o Sol se deteve por um pouco. Foi no tempo do rei Ezequias, quando o relógio voltou dez graus (Isaías 38:8), o que corresponde a quarenta minutos

Jonas e o Peixe

Page 30: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 30

Uma das narrativas bíblicas mais ridicularizadas pela suposta ciência dos

homens, é a do livro de Jonas. Como poderia um ser humano passar vivo três dias no ventre de um peixe?

Acresce que algumas versões dão baleia, em vez de peixe, na passagem do Novo Testamento (S. João 12:40) em que Jesus Se refere ao caso de Jonas. Isto tem aumentado o clamor dos críticos, pois aquele cetáceo, dizem, não pode engolir um homem, por ter muito estreita a garganta.

A designação original, entretanto, é tou ketous, que quer dizer "monstro marinho, peixe enorme". Assim, pode ser e pode não ser baleia. Não será, prevalecendo a última definição. Nada impede que seja, no caso de prevalecer a primeira.

Sabe-se que há no fundo do mar muito monstro marinho desconhecido ainda. Mas, admitamos que no incidente de Jonas se tratasse de fato de uma baleia. Seria impossível? – Absolutamente não. Conhecem-se hoje casos semelhantes. O Dr. Harry Rimmer refere-se a um espécime de vinte e nove metros de comprimento e 147 toneladas de peso, que teve de ser despedaçado por bombas lançadas de um aeroplano, pois o guindaste da entrada do Canal do Panamá não o podia erguer. Têm as baleias uma grande cavidade na cabeça, onde armazenam o ar para seus mergulhos, e que atinge até cinco metros de comprimento, por dois de altura e outros tantos de largura. Das fauces, qualquer objeto passa facilmente para esse depósito de ar. Se acontece o animal abocanhar uma presa demasiado grande para ser engolida, lança-a para essa cavidade, nadando então para a praia onde a expele. Foi o que se deu com um cão caído ao mar de uma baleeira, sendo seis dias depois retirado vivo da cabeça de uma baleia.

Existe, também, um peixe, o Rhinodon Typicus, informa-nos mais o Dr. Rimmer, que seria bem capaz de hospedar um homem por alguns dias. Cita então vários casos dos quais faremos ligeira referência a um apenas: Um marinheiro inglês foi engolido por um Rhinodon, no canal de Calais, tendo caído de um barco, ao lançar o arpão. O peixe escapou, e só quarenta e oito horas depois foi apanhado. Aberto, encontraram o homem inconsciente, mas vivo ainda. Dentro de poucas horas estava perfeitamente reanimado. Exibia-se depois em Londres, denominando-se "o Jonas do século XX". O próprio Dr. Rimmer teve ocasião de vê-lo. Perdera todo o cabelo e tinha o corpo coberto de manchas amarelo-pardacentas, mas nada mais sofrera.

Ora, se esse homem escapou com vida, quanto mais tal se poderia ter dado com Jonas, que se achava sob a proteção especial de Deus, incumbido como estava de uma missão divina? Note-se, ainda, que a passagem diz que o Senhor "deparou" um grande peixe. Não poderia Ele ter providenciado um monstro marinho adaptado especialmente a servir de passageira morada ao desobediente profeta?

A Arca de Noé

Page 31: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 31

A pretensa impossibilidade de caberem na arca de Noé exemplares de todas as espécies de animais, é outro cavalo de batalha dos descrentes. Mas vejamos se essa impossibilidade existia de fato.

Notemos antes de tudo que grande porcentagem desses animais vivia na água, escusando levá-los na arca, pois o dilúvio era justamente o seu elemento. Outra grande proporção compunha-se de insetos, que bem pouco lugar ocupariam.

Devo ao amigo Alonzo Lafayette Baker interessantes observações a respeito, por ele colhidas de um número de Ciência e Invenção. Eis seu resumo:

"As verdadeiras dimensões da arca acham-se matematicamente declaradas em Gênesis 6:15 e 16, sendo as seguintes: Comprimento, 300 côvados; largura, 50; altura 30. Em termos modernos, teríamos: comprimento, 135 metros ; largura, 22,5; altura, 13,5. Mencionam-se três andares, ou cobertas, tendo cada andar (deduzidos 30 centímetros para o soalho), 4,20 metros de altura. Multiplicando-se 135 por 22,5, teremos 3.037 metros quadrados de superfície para cada andar; total, 9.111 metros quadrados de área para toda a arca. Segundo a base em que se calcula hoje a capacidade de um navio, isto é, cerca de 500 quilos por metro quadrado, a arca teria a capacidade de pelo menos 32.000 toneladas, podendo atingir mesmo 42.000.

"O Dr. Alfredo Russel Wallace, em sua Distribuição Geográfica dos Animais, diz-nos que existem cerca de 1.700 espécies de mamíferos, 10.087 de aves, 987 de reptis, e aproximadamente 100.000 de insetos. A Bíblia diz que entraram na arca pelo menos dois exemplares de cada espécie, e de algumas mesmo sete pares. Ora, a questão é a seguinte: Como pôde Noé abrigar na arca todos esses animais?

"Os mamíferos variam muito de tamanho. O Dr. Wallace dá como termo médio o gato doméstico, de modo que faremos o cálculo sobre esta base. Cada andar tinha 3.037 metros quadrados de área, de maneira que, num só pavimento, digamos o primeiro, 3.400 animais teriam quase um metro quadrado de espaço cada um; e, considerando o tamanho médio que propomos, esse espaço seria mais que bastante. Naturalmente precisamos de lugar para depósito de mantimentos; mas lembremo-nos de que resta bastante espaço acima dos animais, e esse resto dos 4,20 metros de altura pode ser usado para pôr forragem.

"O segundo andar deixaremos para os insetos e os reptis, bem como seu alimento. Nesse espaço de 3.037 metros quadrados temos de abrigar 200.000 insetos e 1.974 reptis. Os insetos, naturalmente, são muito pequeninos, e os reptis, na média, não são muito maiores. O cálculo mostra-nos que temos cerca de 150 centímetros quadrados para cada um. Isto sem dúvida provê espaço mais que suficiente.

"Resta-nos ainda todo o andar superior, o terceiro, para Noé e sua família, de sete membros, juntamente com 20.174 aves para lhes fazerem música. As aves são, na média, pequenas, pois predominam as espécies menores, mas poderemos conceder 1.350 centímetros quadrados a cada uma, e assim mesmo as maiores terão bastante lugar."

Já que tratamos da arca de Noé, convém notar ainda uma curiosidade: O armador holandês Pedro Jansen construiu, em 1609, um navio nas mesmas proporções da arca de Noé, apenas menor. Esse navio comportava trinta por cento mais de carga do que os outros, e era também mais veloz. Construíram os holandeses várias embarcações desse tipo, e teriam por certo continuado, não fosse a guerra de 1621 obrigá-los a voltar ao sistema antigo, pois que as pacíficas "arcas de Noé", como eram chamadas, não podiam conduzir canhões!

Page 32: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 32

Ingenuidade dos Críticos Os críticos sempre foram apressados em encontrar supostas contradições na

Escritura, no que só tornavam manifesto quão perfunctórios, e por vezes mesmo ingênuos, eram seus conhecimentos do assunto. Voltaire, por exemplo, julgou descobrir grave incoerência em Provérbios 23:31, onde Salomão nos adverte a não olharmos para o vinho, "quando resplandece no copo". Como poderia Salomão falar em "copo", se não fora ainda inventado o vidro? Não se deu conta Voltaire, de que o original diz "taça", e não "copo".

Estranham alguns, entre eles Strauss, em sua Vida de Jesus, que S. Lucas (3:1) citasse Lisânias como tetrarca da Abilínia, quando por esse tempo já ele morrera havia sessenta anos. Strauss confunde Lisânias, tetrarca da Abilínia, com Lisânias, filho de Ptolomeu.

Um bom zombador das Escrituras, certo da vitória sobre um crente convicto, perguntou-lhe:

– Então, a tal da arca de Noé deve ter sido um caixão regular, para conter tanta bicharia, não é?

– É, não há dúvida... – Havia de ter pesado bem algumas centenas de quilos, não? – Muitas centenas de toneladas, pelo menos... E o outro, triunfante: – E como é que puderam duas pessoas carregá-la? O espírito do ingênuo só concebia uma arca: aquela que fazia parte do mobiliário

do tabernáculo dos hebreus, e que era por eles transportada aos ombros!

Pode o Homem Compreender a Divindade? Não pretendemos aqui deslindar todas as dificuldades da Escritura Sagrada. Nem

de tal seríamos capazes. "Se nos fosse possível atingir uma completa compreensão de Deus e Sua Palavra,

não mais haveria para nós descobertas de verdades, conhecimentos maiores ou maiores desenvolvimentos. Deus deixaria de ser supremo, e o homem deixaria de adiantar-se."

"Na Palavra de Deus são formuladas muitas perguntas que os eruditos mais profundos não podem responder. É chamada a atenção para esses assuntos a fim de mostrar-nos quantas coisas há, mesmo entre os acontecimentos comuns da vida diária, que as mentes finitas, com toda a sua alardeada sabedoria, jamais poderão compreender plenamente." 3

Não nos podemos furtar ao desejo de transcrever aqui, a propósito, as acertadas considerações de Lord Lyttleton, a cuja admirável conversão fazemos referência no sexto capítulo deste livro:

"Nosso tão imperfeito conhecimento ou juízo não pode ser a medida da sabedoria divina, ou a norma universal da verdade. Ocorrem na revelação algumas dificuldades que a razão humana dificilmente poderá esclarecer. Visto, porém, que a verdade da mesma repousa sobre evidências tão fortes e convincentes que não pode ser negada sem dificuldades ainda muito maiores do que as que acompanham a sua aceitação, nem por

Page 33: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 33

motivo de tais objeções a devemos rejeitar, por mortificantes que possam elas ser ao nosso orgulho. Tudo o que respeita ao nosso dever, é claro. E, quanto a outros pontos, se neles Deus deixou algumas obscuridades, é porventura isso causa razoável de queixa? Deixar de regozijar-se com os benefícios do que Ele tão misericordiosamente nos deu a saber, devido a um presunçoso desgosto por nossa incapacidade de saber mais, é tão absurdo como recusar-nos a andar por não podermos voar.

"Da arrogante ignorância da argumentação e metafísica, visando assuntos acima de nosso saber, provieram toda a impiedade especulativa e muitas das piores superstições do antigo mundo pagão, antes que o evangelho fosse pregado para restituir aos homens a fé primitiva.

"Se a gloriosa luz do evangelho é às vezes obscurecida por nuvens de dúvida, o mesmo sucede com a luz de nossa razão. Deveremos, entretanto, privar-nos das vantagens de uma ou de outra, por isso que essas nuvens não possam, talvez, ser removidas enquanto nos achamos nesta vida mortal? Devemos, obstinada e insolitamente, fechar os olhos à Alvorada divina que entre nós raiou, por não nos acharmos ainda habilitados a suportar o pleno esplendor de Sua luz? A verdadeira filosofia, assim como o Cristianismo verdadeiro, ensina-nos uma ação mais sábia e mais modesta. Leva-nos a contentarmo-nos dentro dos limites que Deus nos determinou, 'destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo.' S. Paulo, segunda Epístola aos Coríntios, 10:5." 4

Conta-se que certa vez um dos paroquianos de Moody foi ter com ele, lamentando-se de não poder compreender certos passos da Escritura.

– O senhor gosta de peixe? perguntou-lhe o grande orador sacro. – Gosto, como não! – E que faz com as espinhas? – Ora, separo-as, com cuidado, deixando-as a um lado do prato. – Pois laça o mesmo com a Palavra de Deus. Alimente-se de suas verdades

claras, compreensíveis, e deixe de lado aquilo que o homem não pode compreender. E encontrará nela alimento em abundância, amigo!

A Redondeza e Movimento da Terra

A verdade de ser a Terra redonda, e esta outra do movimento terrestre, que

preocupou o cérebro pujante de Galileu, acham-se já exaradas nas próprias Escrituras Sagradas! Senão, vejamos: Diz o profeta Isaías (40:22): "Ele é o que está assentado sobre a redondeza da Terra"; e Provérbios 8:27 sugere a mesma idéia: "Quando ele preparava os céus, aí estava eu; quando compassava ao redor a face do abismo", etc. Que seria este compassar ao redor, ou traçar um círculo sobre a face do abismo, como diz outra versão, que seria isto senão uma alusão à redondeza da Terra?

Diz mais Isaías (40:26): "Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas" Lendo o contexto veremos tratar-se aqui dos corpos celestes. E se Deus os faz sair, que significa isto senão o seu movimento, inclusive a translação do nosso globo? Não há dúvida: E pur, si muove!

Imaginava-se outrora que a Terra fosse sustentada por monstruosos animais, ou repousasse sobre os ombros do fabuloso Atlas. Segundo os antigos hindus, era ela mantida no dorso de um elefante, o qual, por sua vez, gingava sobre colossal tartaruga

Page 34: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 34

que nadava no mar cósmico! Jó, no entanto, já em seu tempo sabia que ela está suspensa sobre o nada: "Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a terra sobre o nada." (Jó 26:7).

Criam mais – como é vaidoso o homem! – ser a Terra o centro do universo. Este planeta, julgavam, é uma planície sem fim, sustida por grandes pilares, e em torno do qual giram todos os outros corpos cósmicos. Canta-o Homero como um disco, ao centro do qual estaria a Grécia (!). E outras idéias, mais ou menos absurdas que essa, eram ainda sustentadas, as quais foram causa do grande atraso da astronomia antiga. Tivessem compulsado o livro de Jó, aí teriam aprendido ser o nosso sistema planetário "apenas as orlas" dos caminhos de Deus (Jó 26:14) apenas pequenina parte de Suas obras.

O Peso do Ar

Até a Renascença, era questão debatida o ter ou não peso o ar. Estudou-se

laboriosamente o assunto, mas custou muito encontrar-se a verdade. Os próprios Copérnico e Galileu morreram sem a descobrir.

Entre as experiências que se faziam figurava a de inflar uma bexiga e pesá-la. Esvaziavam-na depois e punham-na de novo na balança: o peso era o mesmo! Então, concluíam os ingênuos experimentadores, que ar não tem peso! Está provado! Mas não se lembravam de que queriam pesar o ar dentro do próprio ar, em vez de fazê-lo no vácuo.

Só no século dezessete é que Evangelista Torricelli concluía as longas experiências de Galileu, seu mestre, descobrindo a pressão atmosférica – base de tantos inventos.

No entanto, a Escritura havia muito já afirmava, pela boca de Jó: "Quando regulou o peso do vento e fixou a medida das águas." Jó 28:25.

"Os hebreus," diz Moreux, "conheciam perfeitamente o mecanismo da circulação aero-telúrica das águas; os vapores elevam-se do mar para formar as nuvens que, por sua vez, se resolvem em chuva."

Com efeito, já dizia Jó (26:8): "Prende as águas em densas nuvens, e as nuvens não se rasgam debaixo delas."

E ajunta Amós (5 :8), que o Senhor "chama as águas do mar e as derrama sobre a terra" – verdade também conhecida pelo escritor do Eclesiastes (1:7): "Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr."

Conhecia também o patriarca Jó a ordem do desenvolvimento do feto humano (Jó 10:10 a 12). Aliás, em todos os capítulos finais desse livro admirável, a começar já com o 27, acham-se exaradas singelamente inúmeras outras verdades científicas, que foram por muitos séculos problemas insolúveis para o homo sapiens.

Moisés já conhecia a alta importância do sangue puro e são, dizendo: "A vida da carne está no sangue." (Levítico 17:11.) A lepra e demais doenças contagiosas são para os nossos governos fonte de graves preocupações. E sabemos hoje que a única

Page 35: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 35

segurança dos sãos está no isolamento dos doentes. Pois isto já se praticava nos tempos de Israel. Os leprosos eram rigorosamente isolados e tomavam-se severas medidas de profilaxia. Entre estas havia, por exemplo, a de ser o doente obrigado a atar um pano sobre o lábio superior tal qual fazem hoje os médicos quando procedem a uma operação para evitar a contaminação do ar pelos germes. (Levítico 13:45-52)

Ainda por orientação divina, Moisés proibiu que os israelitas se servissem da carne de certos animais para alimento, como por exemplo do porco, de coelhos e mariscos.

"Só em 1847 é que José Leidy descobriu o parasita Trichinella spiralis no porco. A maior parte das pessoas ignoram hoje esta proibição contra a carne de porco. Mas num estudo feito em 1936 por dois médicos de S. Francisco chegou-se à conclusão de que aproximadamente 25 por cento das pessoas que comem carne de porco devem ter a triquinose. Sabe-se que os coelhos podem estar infetados com turalemia mortal. Os mariscos podem ter o tifo oriundo dos esgotos." 5

Em Levítico 11 e Deuteronômio 14 há, ainda, a proibição de comer peixes que não tenham escamas e barbatanas. Recentemente o Dr. Davi Macht, em interessantes experiências, injetando extratos desses peixes em ratos, constatou a presença de propriedades tóxicas. "Isto," conclui a eminente autoridade citada, "parece fornecer base científica para a antiga classificação de peixes comestíveis e não comestíveis, segundo tenham escamas ou não."

"Pela Palavra de Seu Poder"

Afirmamos hoje que a força de atração, ou gravitação, é o grande poder que

mantém em equilíbrio todos os corpos celestes. E definimo-la: "Força pela qual todos os corpos se atraem reciprocamente na razão direta das suas massas e na inversa do quadrado das suas distâncias."

Esta definição, entretanto, como qualquer outra que se possa dar, não explica o que seja essa força. O próprio Isaque Newton, se bem que demonstrasse a sua existência, confessou ser para ele um mistério. Pois, "como pode alguma coisa estar onde não está?" "Como pode um mundo atrair a outro que está a milhões de quilômetros de distância? A ciência de per si não tem nenhuma resposta."

Conta Rimmer que em um banquete um crente perguntou a um afamado cientista ateu, o que é que mantém a Terra nos espaços.

– É a força da gravitação, respondeu. – Mas que é gravitação, doutor? – Gravitação, seu moço, é aquilo que mantém a Terra nos espaços! Ora, a Escritura Sagrada nos revela esse grande poder de atração, que mantém em

suas órbitas todos os mundos. Assim é que diz S. Paulo, em sua epístola aos Hebreus (1:1-3): "Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-Se à direita da Majestade, nas

Page 36: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 36

alturas." E acrescenta o apóstolo, na carta aos Colossenses (1:17, RC): "E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele."

Isso a que chamamos gravitação ou atração universal não é, pois, outra coisa que a manifestação do poder divino, designando a cada astro sua órbita e mantendo a ordem admirável de seu movimento e equilíbrio.

O Mistério da Vida

Diz o Gênesis, na concisão comovedora de seu estilo, que Deus criou o homem:

"Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente." Gênesis 2:7. E a outra vida animal, e a vegetal, realizou-a o Criador dos céus e da Terra pela simples enunciação de Seu fiat todo-poderoso, como o regista ainda o primeiro capítulo do Gênesis. E secunda o salmista: "Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles." "Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir." Salmo 33:6 e 9.

O homem é ca az de fabricar um grão de trigo ou um ovo por exemplo. Compõem-se exatamente dos mesmos elementos que os grãos de trigo e os ovos naturais. Podem ter a mesma conformação, igual sabor e idênticas propriedades nutritivas. Ponhamos, porém, na terra um desses grãos de trigo, e deitemos sob galinha ou numa incubadora um ovo desses. germinará a semente? Sairá o pintinho? – Ah! falta a tais produtos artificiais o misterioso germe vital – esse princípio poderosíssimo que só Deus possui e só Ele pode conceder.

Sábios químicos e alquimistas, no silêncio dos laboratórios, têm esgotado os recursos de seu vasto saber, em estudos e experiências para a fabricação da vida. Mas não descobriram ainda a fórmula ansiada..

Medeiros e Albuquerque, em uma de suas derradeiras colaborações para a Gazeta, de S. Paulo, exultava com os resultados de experiências feitas pelo Dr. Criley, nos Estados Unidos, pois conseguira quase criar vida. Não fora o quase!

Posteriormente, os soviéticos entretiveram grandes esperanças de resolver o problema da vida mediante experiências em que se serviriam dos satélites para conduzir

"uma remessa de amostras de matéria orgânica sintética ao espaço sideral, com o objetivo de verificar sobre ela o efeito dos raios cósmicos. À mesma ordem de idéias pertence certamente o projeto americano de uma bala carregada de fermentos. Embora diversos sejam os esclarecimentos desejados, é visível que a curiosidade maior se concentra na possibilidade de reações capazes de conferir vida à matéria bruta ou, melhor, à matéria orgânica, inerte, porém já preparada na forma mais adequada ao desenvolvimento vital." – Prestes Maia, na imprensa.

Oparim, Haldane, Calvin, Urey, Miller, Wald, Fox, da União Soviética, Inglaterra, Estados Unidos... e outros têm-se dedicado a experiências muito interessantes. Interessantes e várias, sim, mas todas falhas. A criação da matéria viva não pertence ainda ao domínio humano. E nunca pertencerá. Onde o homem possuidor

Page 37: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 37

do "fôlego da vida" e dessa palavra onipotente, para criar a força misteriosa e divina a que chamamos vida?

No século dezoito empolgou vastos círculos científicos a teoria da geração espontânea. Querendo banir a Deus do universo, pregavam que a matéria é eterna, e a vida surgira por acaso. Um sacerdote inglês, Needham, deu mesmo curso à ingênua declaração de que conseguira criar vida. A prova que para isso apresentava era uma garrafa com molho de carne, em que pululavam milhares de animálculos microscópicos.

O grande e piedoso cientista Louis Pasteur, porém, esse mesmo que disse que quanto mais estudava a Natureza tanto mais se assombrava ante as obras do Criador, pôs à mostra a calva da doutrina da geração espontânea, demonstrando que vida só pode vir de vida.

Eis resumidamente o simples processo por ele em pregado: Havendo descoberto que os microorganismos que provêm do ar produzem a fermentação, raciocinou que, se separasse o ar completamente do pó que nele flutua, poderia saber com certeza qual dos dois era o causador da fermentação nos líquidos sujeitos a ela. Se era o simples ar que produzia as células vivas encontradas nas matérias em decomposição, não podia deixar de ser verdadeira a doutrina da geração espontânea. Mas se essa vida era produzida pela penetração de pó no líqüido, não haveria dúvida de que ela ali se gerara pelos germes levados por esse pó, o que daria por terra com a teoria da geração espontânea.

Tomou, pois, um frasco no qual pôs um líquido de fácil fermentação. Aqueceu o gargalo a tal ponto que ficou brando e estirou-o então, tornando-o muito comprido e fino, com um orifício pequeníssimo. A fim de estar seguro de que o líqüido não contivesse nenhum germe vivo, ferveu-o. Em seguida guardou o frasco mais de três anos, sem que no líqüido se produzisse fermentação alguma. É que o ar, penetrando pelo estreito orifício, ia depositando o pó no extenso gargalo, e quando chegava ao líqüido já estava livre de germes. Pasteur fez a mesma experiência com muitos frascos, e pequenas variações. Mas logo que os sacudia, de maneira que o pó depositado no interior do gargalo caía no líqüido, este fermentava.

Estava, pois, provado que a vida que se gerara no interior da garrafa proviera dos germes contidos no pó. E provada sobejamente estava também a falácia da teoria da geração espontânea.

O Boneco de Aço

Entre as últimas maravilhas do engenho humano, conta-se a construção de um

grande boneco automático, de aço, a que os ingleses chamam robot. Ainda há pouco o fabricante de um desses móveis admiráveis instalou um exemplar num salão e convidou amigos para presenciarem vários números executados pelo mesmo. Extraordinário! O robô obedecia à risca uma série de ordens de seu dono (dizemos dono porque, para grande felicidade de nós todos, o homem de aço não era emancipado).

Page 38: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 38

Entre essas figurava uma em que o inglês mandaria seu belicoso subordinado detonar o revólver empunhado pela férrea mão. Mas, ai! havia ele executado já, a contento geral, várias ordens quando, antes de esperar pela próxima, dá um passo à frente e deflagra a pistola! Um frêmito de pavor sacode todos os corações, há crises nervosas, gritos e protestos. Felizmente, porém, o projétil a ninguém ferira.

Acertada imagem, caro leitor, da ciência ateísta. Quando assesta contra o Volume Sagrado as suas armas, por grosso que se lhes afigure o seu calibre e fulminante o seu poder demolidor, o tiro parte sempre fora de tempo. Ou antes: sai-lhe pela culatra!

Testemunhos de Sábios

A ciência e a Escritura Sagrada não se contradizem. Se tal se desse, como diz B.

Valloton: "Forçosamente resultaria dai que um sábio não poderia crer nos ensinos da Escritura.

Pois não se dá isso. Newton e Copérnico, dois fundadores das ciências modernas, foram cristãos fervorosos e convictos, e eis o testemunho dado por David Brewster, célebre físico escocês, sócio do Instituto de França e membro de multidão de outras academias, acerca do grande físico inglês Faraday: 'Como Newton, o mais ilustre dos seus predecessores, Faraday era humilde cristão, com a simplicidade dos tempos apostólicos. Entre as grandes verdades que ele estudou e descobriu não encontrou uma só que não estivesse em harmonia com a sua fé'." 6

Diz Bettex: "A luta entre a ciência e a fé procede da obscuridade do pensamento, a qual a tantos

incapacita para distinguir entre o absoluto e o relativo, entre o imutável e o mutável, entre a causa e o efeito." 7

Lancemos um olhar retrospectivo aos maiores vultos dentre os filósofos, astrônomos, matemáticos, químicos, geólogos, naturalistas e, enfim, a todos os cientistas verdadeiramente humildes e despreocupados da defesa de sua própria vaidade, e constataremos terem sido grandes crentes em Deus. Aliás, dir-se-ia que os mesmos que se gloriavam de ser ateus, nos "intervalos lúcidos" em que baixavam ao vale da humildade, elevavam-se aos píncaros da fé. Assim é que mesmo o "patriarca da incredulidade", Voltaire, disse um dia: "O ateísmo é o vício dos tolos; é um erro que foi inventado nas últimas sucursais do inferno.... O ateísmo especulativo é a mais néscia das loucuras, e o prático, o maior dos crimes." 8

Guilherme Marconi, talvez o maior cientista do nosso século, concedeu certa vez uma entrevista ao Dr. Pettinatti. "Foi com sua usual clareza e simplicidade," diz o entrevistador, "que Marconi me concedeu um vislumbre de suas crenças íntimas, e respondeu a perguntas que tantas vezes me haviam estado nos lábios: Pode um grande cientista ter completa fé em Deus? Pode um homem como Marconi, que conseguiu solver de modo prático os problemas que as gerações passadas julgavam ninguém sobre a Terra conseguir solver, pode esse homem ainda crer no poder sobrenatural que se ergue acima da ciência humana? Pode o sábio que logrou criar uma maravilha tão vasta que revolucionou a maneira de viver de metade do mundo, inclinar não obstante

Page 39: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 39

a cabeça perante o Divino e aceitar mistérios inescrutáveis, com a mesma fé implícita que o homem inteiramente leigo em ciência? Pode a ciência prosperar de mãos dadas com a fé?"

"A ciência humana," disse Marconi ao entrevistador, que publicou estas declarações no Argus, de Melbourne, "é incapaz de explicar muitas coisas, dentre as quais ocupa o primeiro lugar o maior segredo de todos – o segredo de nossa existência.... Pode ser grande o que os homens de ciência têm realizado. Quão pequenino é, porém, comparado com o que há ainda a descobrir! Todo cientista sabe que existem mistérios que a ciência jamais será capaz de solver.

"A fé tão-somente, a fé no Ser supremo a cuja autoridade temos de obedecer, pode ajudar-nos a enfrentar com coragem e força o grande mistério da vida. Há hoje muito ateísmo; muitas pessoas existem que flutuam pela vida sem nenhum alvo, ideal ou crença. A essas pessoas eu desejaria dar um conselho: Não há felicidade onde não há fé; não existe paz onde não prevalece sentimento religioso de alguma espécie. É erro crer que fé e ciência não possam coexistir. A ciência não pode matar a fé. Ambas podem ficar lado a lado, pois há limites para além dos quais a fé, sozinha, nos pode suster e confortar. Orgulho-me em dizer que sou cristão e crente....

"Permita-me repetir-lhe: creio que seria grande tragédia perderem os homens a fé na oração, que é o maior conforto de todos. Sem fé, sem o grande auxílio da oração e crença, eu teria talvez perdido muitas das batalhas que venci. Tenho pensado muitas vezes que Deus – permitindo-me alcançar o que alcancei – fez de mim um mero instrumento de Sua vontade, simples veículo da revelação de Seu poder divino."

Essas declarações lembram as palavras de outro grande cientista, Lord Kelvin: "Cada descoberta que fiz e que tenha contribuído para benefício do homem, foi-me dada em resposta à oração."

E observou Herschel, o notável astrônomo: "Todas as descobertas humanas parecem ser feitas unicamente para confirmar mais e mais as verdades contidas nas Escrituras Sagradas."

J. Restat (La Existencia de Dios) menciona sem-número de nomes, dos mais sábios dentre os sábios, os "iniciadores dos grandes ramos do saber," e sua atitude para com a idéia de Deus e da Revelação. Eis, desses muitos, alguns poucos:

Cícero, o maior filósofo romano e mais eloqüente orador, dizia: "Quando vemos uma esfera, um mecanismo que se move para marcar as horas, não

duvidamos de que seja obra de um artista racional; e tratando-se dos movimentos do céu, tão constantes, tão bem ordenados, poderíamos duvidar de que fossem regulados por uma razão excelente e ao mesmo tempo divina?"

Pascal, o matemático e filósofo francês que dispensa apresentação, era espírito profundamente religioso. Quem não lhe conhece os Pensamentos, a formosa obra em que tão bem harmoniza entre si a ciência e a fé?

"Se o homem não foi feito por Deus, por que só é feliz com Deus?" indaga ele. E noutra parte: "O estilo do Evangelho é admirável de tantas maneiras e, entre outras, não pondo nunca nenhuma invectiva contra os carrascos e inimigos de Jesus Cristo. Com efeito, não há nenhum dos historiadores contra Judas, Pilatos, nem nenhum dos judeus." 9

"Felizes, canta o astrônomo Kepler, aqueles a quem foi permitido elevar-se até aos céus. Grande é o Senhor nosso; céu, Sol, Lua, planetas, proclamai Sua glória, qualquer que seja a língua em que possais exprimir vossas impressões. E tu, minha alma, canta a glória do Eterno, durante toda a tua existência!"

Page 40: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 40

São de J. B. Dumas, o cientista, as palavras seguintes: "O Deus da revelação é o mesmo da Natureza." "A ciência não mata a fé, e menos

ainda a fé mata a ciência." Liebig, o professor da universidade de Giessen aos vinte e um anos, "interrogado por Kelvin se a seu juízo as ervas do campo, que tinham aos pés,

poderiam ser obra do influxo de forças puramente físicas, responde: 'Oh, não! como não poderia admitir-se que o livro de botânica que as descreve, fosse obra de forças puramente químicas."'

Fuchs, o mineralogista, dizia, depois de uma vida de fecunda atividade: "Tudo o que tenho sofrido, ofereço-o ao Criador de todo o bem. Que Se digne de

abençoá-lo." Perguntando alguém a Fabre o célebre naturalista, se cria em Deus, volveu: "Não posso dizer que creio em Deus; eu O vejo. Sem Ele nada compreendo; sem Ele

tudo são trevas. Considero o ateísmo uma loucura do tempo. Seria mais fácil arrancar-me a pele do que a crença em Deus."

Em sentido semelhante, escrevia o histólogo Renaut a um amigo: "Jamais encontrei um biólogo de valor que negasse a existência de Deus. Eu não

creio que haja um Deus, eu sei que há. Deus não Se demonstra: impõe-Se." Crentes fervorosos foram, Ampère, o gigante da ciência da eletricidade; Morse,

inventor de um aparelho telegráfico; Graham Bell, do telefone; Lavoisier, chamado "o pai da química moderna;" Gay-Lussac, descobridor da lei da dilatação dos gases, chamada por seu nome; Agassiz, o conhecido geólogo que o Brasil teve a honra de hospedar; Cuvier, um dos criadores da anatomia comparada; St. Hilaire, o naturalista que dizia ser Deus "a causa das causas". Crentes sinceros foram e são, enfim, os maiores vultos da ciência genuína.

Referências: 1. The Harmony of Science and Scripture, Harry Rimmer. 2. Retorno a la Razón, J. Wibbens. 3. Educação, pág. 172, Ellen G. White; Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 310. 4. Famous Infidels who Found Christ, Lee S. Wheeler, Charles D. Willis. 5. Moisés e a Medicina, Charles D. Willis. 6. La Bible, Valloton. 7. Die Bibel Gottes Wort, Bettex. 8. La Existencia de Dios, Júlio Restat. 9. Pensamentos, Blaise Pascal.

Page 41: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 41

A ARQUEOLOGIA E A ESCRITURA SAGRADA

M dos capítulos mais interessantes, em se tratando de autenticar a Bíblia como a carta magna que Deus confiou ao homem, é sem dúvida o que nos

oferecem as explorações arqueológicas. A pá e o alvião têm-nos trazido os mais inconcussos testemunhos da veracidade das Escrituras. Fizeram ressurgir cidades inteiras, soterradas há séculos e milênios em cinzas e lavas ou areias, e nelas escavaram ladrilhos em que se lêem as mais curiosas inscrições de reis e potentados; as mais interessantes crônicas sobre acontecimentos cuja memória ao contrário se teria apagado na noite dos tempos; e os mais importantes registos em apoio da verdade histórica da Bíblia.

Entremos sem mais preâmbulo nesse fascinante assunto, que infelizmente aqui só nos é dado abordar ao de leve.

A Pedra de Roseta

Corria o ano de 1798. O gênio humano não conhecia limites aos anseios de

maiores conhecimentos, às sensações de descobertas novas. Não estaria aí o dedo do próprio Deus, a tocar o coração e o cérebro dos homens, promovendo como que um frêmito universal, que desde o despontar da Renascença vinha num palpitante crescendo! Corria o ano de 1798, dizíamos, quando Napoleão Bonaparte mandou para a África uma expedição militar, acompanha(a de um grupo de cientistas, devendo estes entregar-se a estudos geográficos e arqueológicos.

Um dos participantes dessa expedição (segundo uns, o oficial Pierre François Xavier Bouchard, encarregado da reconstrução de um forte perto de Roseta, segundo outros um soldado desconhecido) encontrou na desembocadura do Nilo uma pedra de basalto de pouco mais de um metro de comprimento, três quartos de largura e menos de meio metro de espessura. Uma das faces da pedra era lisa e trazia uma inscrição em três línguas, isto é: grego, demótico (a língua popular dos egípcios) e outra desconhecida.

Passaram-se vinte anos, durante os quais eruditos de toda a Europa se empenharam ardorosamente em descobrir o sentido da inscrição desconhecida. Um desses estudiosos perseverantes foi o orientalista francês João Francisco Champollion que, concluindo deverem as três inscrições dizer a mesma coisa, conseguiu, pelas conhecidas decifrar a incógnita, que se compunha de hieróglifos (hieros - sagrado, e gluphein - gravar.) Achara-se, pois, a chave para a decifração dos hieróglifos, de que

U

Page 42: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 42

vinham cheios os monumentos antigos no Egito. Hoje se pode ver a pedra de Roseta no Museu Britânico, em Londres.

A Inscrição de Behistum

Outro mistério, entretanto, desafiava ainda a argúcia dos sábios: eram os

caracteres cuneiformes, que abundavam nas inscrições assírias, medas e persas. Mas dir-se-ia que a Providência divina velasse pela reivindicação da Palavra. Em 1835 um oficial de marinha inglês, Henry Rawlinson, descobriu em Behistum, aldeia persa ao pé de uma íngreme montanha rochosa, uma curiosa inscrição. A escarpada rocha tinha a altura de mais de quinhentos metros, e a inscrição achava-se a 150 metros da base.

Afrontando os maiores perigos, tanto mais quanto ao pé do monte se abria um precipício de mais de cem metros de profundidade, Rawlinson conseguiu, com auxílio de cordas e escadas e fazendo prodígios de malabarismo, escalar à altura da inscrição e transcrevê-la. Depois de empregar nessa tarefa o tempo vago durante quatro anos, eis copiada toda a inscrição. Achava-se esta, semelhantemente à da pedra de Roseta, em três línguas. Conhecendo uma delas, a persa, pôde Rawlinson, depois de dezoito anos de perseverantes esforços, decifrar as duas outras, que eram nas línguas meda e babilônica.

Nessa parede enorme, Dario I, da Pérsia, descrevia seus feitos guerreiros. Como no caso dos hieróglifos, não havia relação direta entre essas crônicas e a Escritura Sagrada. O valor de ambas avulta, porém, porquanto foram a chave da decifração dos hieróglifos, a primeira, e dos caracteres cuneiformes, a segunda. Daí por diante floresceu o estudo da arqueologia. Conhecimentos os mais interessantes tem ele trazido à luz, quanto aos usos, costumes e grau de adiantamento de civilizações há muito soterradas nas areias dos desertos.

Volumes incontáveis foram publicados pelas expedições arqueológicas, e mais e mais cresce o seu número. De maneira que se nos torna difícil escolher, dentre as inúmeras descobertas, um punhado bastante pequenino para se adaptar aos moldes deste livro.

Dúvidas Dissipadas

Disse bem Luthardt: "A pesquisa histórica vem confirmar as declarações da Escritura. Tempo houve em

que se tinham por fábulas os relatos sobre a estada de Israel no Egito. Hoje disso nos falam os rolos de papiro egípcio e os desenhos murais. E no Salão das Colunas, do Museu de Berlim, encontra-se uma velha estátua do rei Ramsés II, sentado, a qual sem dúvida já fora vista por Moisés. Punham-se em dúvida as narrativas do livro de Jonas, sobre Nínive, assim como as de Daniel, acerca da corte de Babilônia. As pesquisas de nossos dias, porém, as confirmam. E se viermos ao Novo Testamento, terão de reconhecer todos os peritos que suas narrações correspondem plenamente às circunstâncias históricas de seu tempo, tais como nos são conhecidas por outras fontes." 1

Page 43: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 43

O dilúvio era posto em dúvida. Entretanto, por toda parte se vêem provas do mesmo. Ainda recentemente uma expedição americana fez interessantes descobertas em suas explorações no Iraque. Fazendo declarações à revista austríaca Atmos, diz o diretor da expedição, Prof. Wooley, que nas escavações procedidas em Ur, a cidade de Abraão, se encontraram "traços indeléveis que dão testemunho formal em favor do dilúvio bíblico, do qual todos os povos orientais conservam a tradição.

"A cidade de Ur achava-se situada no delta formado pelo Tigre e o Eufrates. Ora, atravessando o cemitério que escavamos, chegamos a uma camada de terra semelhante às que cobrem o fundo dos lagos. Este fato nos permitiu tirar a conclusão de que as terras do nível inferior foram cobertas de lodo em seguida a uma catástrofe que devastou muito extensas regiões.

"Este banco de lodo cobre as ruínas muito antigas, enquanto por cima delas se encontram traços de uma civilização mais recente. O cataclismo que subverteu a primitiva cidade não pode ter sido senão o dilúvio; pois era preciso uma quantidade considerável de água, como foi o caso no dilúvio, para depositar a camada de lodo de cerca de três metros de espessura, debaixo da qual se sepultou a antiga cidade da Mesopotâmia."

Aliás, nem precisaríamos ir tão longe. Já o nosso Euclides da Cunha, em sua magistral obra Os Sertões, dá um testemunho inequívoco em favor do dilúvio, descrevendo certos lugares do sertão baiano, onde se encontram "enormes ossuários de mastodontes, cheios de vértebras desconjuntadas e partidas, como se ali a vida fosse, de chofre, salteada e extinta pelas energias revoltas de um cataclismo." 2

Em 1902 o explorador francês encontrou entre as ruínas de Susã, a cidade bíblica de Ester, uma laje contendo inscrições que consistiam nas leis codificadas por Hamurabi. (No Museu do Louvre, em Paris, pode-se ver essa laje.) Foi ele contemporâneo de Abraão, e é sensível a influência de código na vida daquele patriarca, pois que uma de suas leis permite "a senhora dar ao marido uma serva como segunda esposa, e a demissão fresta quando agir com desdém ou rancor para com a esposa principal." O descobrimento dessa inscrição serviu para identificar o grau de civilização daquele tempo, corroborando as revelações da Escritura a esse respeito. Destrói, assim, a alegação dos críticos dessa parte da Bíblia, de não se harmonizarem as declarações desta com o estado de civilização daquela época.

Aos mesmos críticos têm causado muito prurido os caítulos´25 e 28 do Êxodo, os quais, falando da construção do tabernáculo por parte dos hebreus, dão idéia de uma quase incrível abundância de ouro e prata. Estes metais argúem eles, não podem ter abundado de tal maneira no Egito. A recente descoberta do túmulo de Tut-Ank-Amen, por Lord Carnarvon e sua comitiva, derriba tal alegação. Esse achado revelou as fabulosas riquezas dos egípcios, nos referidos metais.

"Ali estavam", diz Fannie D. Chase, "carros, cetros, diademas, relicários, tronos, máscaras, amuletos, espadas e bainhas, leques, fivelas, colares, anéis, presilhas, contas, alfinetes, pregos, adagas, corseletes, sandálias, luvas, vasos, estátuas, caixinhas de perfume, pendentes, brincos, tamboretes, placas, braceletes e muitos outros objetos similares, todos eles de ouro maciço, ou cobertos de grossas chapas de ouro ou prata. O sarcófago no qual jazia o corpo do rei, era de ouro maciço. Calcula-se em cerca de seiscentos milhões de cruzeiros o valor do ouro nesse túmulo. Esse faraó era um dos mais jovens e menos ilustres dos monarcas egípcios, e é natural concluir que os túmulos de seus famosos antepassados fossem mobilados mais custosamente ainda. Mas

Page 44: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 44

infelizmente o sepulcro de Tut-Ank-Amen é, dos que se descobriram, o único que não estava completamente despojado por saqueadores. Encontrou-se ali um ladrilho em que um correspondente de Faraó fala no Egito como uma terra 'em que o ouro é abundante como o pó', tendo o mesmo vindo das terras do sul." 2

Os Filhos de Jacó no Egito

A estada dos hebreus no Egito, à qual já se refere Luthardt em trecho que

transcrevemos noutra parte, foi confirmada por descobertas de uma expedição da Universidade de Pensilvânia, em Bethshean, na Palestina. Acharam os exploradores uma pedra com inscrições de Ramsés II, em que se regista que esse rei identificado como o faraó que oprimiu os hebreus, "escolheu certos semitas e os fez construir em sua honra a cidade de Ramessés, no delta oriental do Nilo." Vem isso confirmar Êxodo 1:11: "E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés."

Em Paris, na Praça da Concórdia, encontra-se um obelisco de Luxor que traz inscrições de Ramsés II em três faces, e de Ramsés IV na quarta. É que o preparo e as inscrições de um obelisco representavam trabalho tão prolongado que acontecia por vezes não ficar pronto em vida do monarca que o começara, completando-o o seu sucessor. Esse obelisco foi sem dúvida visto por Moisés.

O transporte, do Egito para Paris, constituiu um trabalho colossal. Teve de ser construído um navio especial para buscá-lo em Luxor, à margem do Nilo. O engenheiro Lebas, que dirigiu os trabalhos, depois de longos meses conseguiu, em 1833, erigir na praça o monólito. Conta-se que tal era a confiança que tinha em seus cálculos, e tal sua identificação com a obra que, ao ser erguido o colosso por possantes cabos, Lebas se colocou debaixo dele, para ser por ele esmagado caso falhassem os cálculos, pois não queria sobreviver ao fracasso.

A existência da terra de Gósen, ou Gessen, onde se estabeleceram os hebreus até à sua libertação, era igualmente posta em dúvida. Até que. em 1885, Edouard Naville descobriu uma estátua do mesmo faraó com uma inscrição "que revelava ser o nome antigo dessa região Kesem, pronunciado pelos hebreus Gósen."

Notemos um pormenor interessante relativo à descoberta das ruínas da cidade de Pitom, em Tell el Maskhuta, pelo mesmo Naville, sob os auspícios do Egyptian Exploration Found. É que ele conseguiu retirar de sob a terra

"as espessas muralhas de uma construção longa e retangular cujos tijolos tinham inscrito o nome Ramsés II. As câmaras do edifício eram de várias dimensões e de curiosa construção, pois nenhuma delas se comunicava com as outras, e sua única saída devia ter sido pelo telhado. Eram celeiros destinados a armazenar o grão para a fome. Os tijolos das paredes eram crus, e ao serem examinados, surpreendeu-se o explorador de verificar que unicamente os ladrilhos das primeiras filas do alicerce eram feitos com palha; os das filas superiores eram-no com restolho, e os ainda superiores só tinham argila, sem palha nem restolho. Assim, os próprios tijolos dos celeiros repetem a história da opressão dos israelitas. A cidade de Pitom, da terra de Gósen, ou Ptum, da cidade de Kessem, como teriam dito os egípcios antigos, já não é um mito, mas sim um lugar que todo viajante do Egito pode visitar.' 3

Page 45: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 45

Pelas ruínas do Egito pode-se hoje acompanhar a peregrinação dos hebreus até ao Sinai. Diz Henri Brugsh-Bey:

"Os monumentos egípcios contêm todo o material necessário para encontrar esse caminho, e para opor aos nomes hebreus das estações de parada, seus correspondentes nomes egípcios." 4

Jericó

As últimas pesquisas e escavações arqueológicas identificaram mais de cinqüenta

cidades mencionadas nas Escrituras. Entre estas Jericó, nomeada pela Bíblia muitas vezes, desde Números 22:1 até Hebreus 11:30.

Sob a direção do professor Sellim, de Viena, a Deutsche Orient-Gesellschaft procedeu em 1907 a escavações no sítio dessa cidade, conseguindo trazer à luz vestígios de sua muralha em três lados da mesma, faltando apenas o oriental. É interessante que, acima dos restos da cidade primitiva, encontraram-se ruínas daquela posteriormente edificada pelos hebreus. Esta descoberta vem também anular a alegação dos que achavam impossível o registo bíblico segundo o qual os hebreus teriam rodeado a cidade sete vezes num só dia. As escavações demonstram ter sido pequena a Jericó original, como aliás todas as cidades primitivas da Palestina. Assim é que se verificou que, para rodear sete vezes a dita cidade, não seria preciso caminhar mais de quatro quilômetros e poucos metros! Com efeito, segundo o relatório da sociedade acima mencionada, toda a cidade caberia no Coliseu romano!

Diz o versículo 24 de Josué 6, que os hebreus, ao tomarem a cidade, a queimaram a fogo. E eis o testemunho do Prof. John Garstang, afamado arqueólogo que ali dirigiu escavações recentes: "Depois de examinar a estrutura interior da cidade de Jericó", diz ele, "estou em condições de poder afirmar que ela mostra sinais de haver sofrido um incêndio geral, simultâneo com a queda dos muros."

A Pedra Moabita A pouco mais de vinte quilômetros do Mar Morto, na cidade moabita de Dibon,

sobre cujas ruínas se acha hoje Dhiban, o missionário F. Klein recebeu a 19 de agosto de 1868, o aviso de que bem perto se achava uma pedra que continha inscrições em caracteres fenícios. Klein, depois de muitos entendimentos com os indígenas, fechou negócio e pretendia transportar imediatamente o precioso achado para um museu em Berlim. O mesmo desejo, porém, teve também o cônsul francês, que a pretendia levar para Paris, e dispunha-se a pagar por ela quatro vezes a soma oferecida pelo missionário, a qual era de cerca de cinco mil cruzeiros. Os supersticiosos árabes, diante de tanto empenho em torno da rústica pedra, concluíram residir nela algum poder mágico, e para não perdê-la, puseram-lhe fogo por baixo. Quando bem quente, despejaram-lhe água fria em cima, quebrando-a assim aos pedaços, que depois distribuíram entre si, como preciosos talismãs.

Page 46: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 46

Felizmente, porém, conseguiu-se reunir a maior parte dos fragmentos, identificando 669 dos 1.100 caracteres que o documento continha.

Citemos um trecho dessa inscrição, em que Mesha, rei de Moabe, conta as suas façanhas, já que o espaço não nos permite citá-la toda. Dizem, por exemplo, os períodos registados sob números 5 a 7:

"Omri era rei de Israel, e afligiu Moabe por muitos dias porque Chemosh estava irritado contra a sua terra. E seu filho ficou em seu lugar, e também disse: 'Vou afligir a Moabe! Foi nos meus dias que ele falou assim. Mas vi o meu prazer sobre ele e sobre sua casa, e Israel pereceu com eterna destruição." E diz o trecho sob número 17: "E trouxe dali as fornalhas do altar de Jeová e as arrastei para diante de Chemosh." 5

Vê-se, enfiar, que essa "Pedra de Mesha," ou "Pedra Moabita" como é chamada, constitui um monumento da vitória e independência de Moabe.

Nesse documento "Israel é mencionado quatro vezes; Omri, o rei hebreu, é também nomeado; é reconhecido Jeová, o Deus de Israel; e há duas referências ao domínio de Omri sobre Moabe. Eis um dos muitos exemplos em que os escritos antigos confirmam a historicidade da Bíblia. Há mais de dois mil e quinhentos anos o rei de Moabe mandou que se escrevesse uma crônica, na qual se faz referência a outro rei que governava Israel nesse tempo, e que oprimia Moabe. Dos registos da Escritura sabemos que Omri era rei de Israel no tempo de Mesha, rei de Moabe, e que ele exigiu tributo do rei de Moabe." 6

Os Ladrilhos de Tel-el-Amarna

Fala-nos a Escritura várias vezes nos heteus, como seja em Gênesis 23:8-16;

26:34 e II Samuel 11. A crítica por muito tempo alvejou com as flechas de suas zombarias esses

registros, porquanto em nenhum documento profano se encontravam traços da veracidade histórica desse povo antigo. Eis, porém, que em 1887 se descobre em Tel-el-Amarna sem-número de ladrilhos com inscrições em que a eles se fazem mais de trinta referências.

Nesse ano uma pobre camponesa, ao cavar a terra, topou com alguns desses tijolos, os quais vendeu para conseguir alguns níqueis a fim de aliviar sua miséria. Outros ali desenterraram então cerca de quatrocentos ladrilhos semelhantes, que eram disputados por ofertas fabulosas e se acham hoje divididos entre os museus de Berlim, Londres, Cairo, etc. Desse achado diz Huffman:

"Os ladrilhos de Tel-el-Amarna são de valor inapreciável, por motivo da luz que fazem incidir sobre as condições políticas do Egito e da Ásia naquele tempo. Os estudiosos da Bíblia, porém, têm neles um interesse peculiar, por isso que fazem referências a não menos de vinte cidades mencionadas no Velho Testamento, e a Jerusalém e seu rei, que era vassalo do Egito." 7

Dizia a crítica que Edom e Moabe, povos de que fala o Pentateuco, só existiram depois de Moisés. Entretanto, o papiro "Anastásia", encontrado no Egito, regista o pedido dos edomitas para apascentarem seus rebanhos em Gósen. E quanto a Moabe,

Page 47: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 47

uma inscrição do templo de Luxor consigna acontecimentos anteriores ao Êxodo, nos quais menciona também aquele povo.

O Túmulo de Absalão

Viajava certa vez pela Palestina o sábio francês Pierrotti. Pertencia então à

"Sociedade sem Deus", e percorria aquelas históricas paragens para coligir matéria a fim de escrever um livro de combate ao cristianismo.

Chegando um dia ao túmulo de Absalão, subiu ao montão de pedras que assinala o seu local, sentou-se e pôs-se a meditar. Logo passou por ali uma mulher árabe, acompanhada do filho. A mulher tomou uma pedra e atirou-a contra o monumento. O mesmo fez seu filho. Pierrotti, surpreendido, perguntou-lhe o motivo desse gesto. "Porque este é o túmulo de Absalão, que se rebelou contra seu pai" respondeu a mulher.

O sábio procurou na Bíblia a história de Absalão, e admirou-se não pouco de que, 3.000 anos após o acontecimento, ainda houvesse quem assim demonstrasse seu menosprezo pelo mau filho, continuando justamente a prática instituída pelos israelitas (II Samuel 18:17).

Em 1905 um sábio inglês Flinders Petri descobriu no Sinai um templo que data da época de Moisés (1500 anos antes de Cristo), e oito tábuas de argila com inscrições que só em 1916 puderam ser lidas. Nesse ano o egiptólogo Allen Gardiner averiguou tratar-se de inscrições hebraicas. "Ao decifrá-las, Gardiner chegou a três linhas diante das quais seu coração quase que ficou paralisado. Um dos superiores do templo agradece ali ao faraó Hjtschepsut o havê-lo retirado do Nilo e lhe haver aberto o caminho de altas dignidades, e assina o seu nome: 'Moisés''!"

Sinal de Ignorância

O Sr. J. Campbell Robinson, Melbourne, teve a curiosidade de escrever um dia

ao professor Arquibaldo H. Sayce, o conhecido lente de assiriologia em Oxford, solicitando-lhe uma "sucinta declaração de sua crença particular na autenticidade da Bíblia, confirmada por sua vasta bagagem de conhecimentos." Eis a resposta do ilustre professor:

"Acabo de receber sua carta de julho, a qual se havia extraviado. Escusado é dizer quão grato me é saber que alguma coisa do que escrevi foi de utilidade na Austrália. No Velho Testamento, as fantasias e cepticismo da chamada 'alta crítica' estão mortos, pelo menos para o arqueólogo e o historiador modernos que tenham cultura científica. As explorações científicas têm sido feitas muito ativamente nestes últimos trinta anos, em especial no Próximo Oriente.... Os patriarcas hebreus, como os heróis homéricos, de novo se tornaram homens vivos. Os livros do Gênesis e Êxodo em seus aspectos gerais retornam à idade do êxodo, a qual, como se sabe hoje, foi no Próximo Oriente uma época de atividade e intercâmbio literários. Com efeito, a educação achava-se lá tão vastamente difundida como neste país [Inglaterra] há um século atrás, e numerosas eram as bibliotecas públicas. O cepticismo da moda no século dezenove é hoje simplesmente um sinal de ignorância.

Page 48: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 48

"Seu etc., etc. A. H. Sayce." O próprio Sayce participara. das idéias de Colenso, Welhousen, Graf e outros que

descriam da autenticidade o Pentateuco, mas a descoberta dos ladrilhos de Tel-el-Amarna fê-lo ingressar no rol dos mais ardorosos crentes. "Depois de 1888," diz ele em suas Reminiscências, "já não era possível, a não ser para os ignorantes, sustentar que obras literárias como as que encontramos no Velho Testamento não pudessem ter existido na era mosaica." Concluía que as pesquisas arqueológicas tinham de uma vez para sempre liqüidado a. questão da historicidade e autenticidade dos livros de Moisés.

Um paciente investigador (William Henri Guiton, Le Crie des Pierres) enumera, entre muitos outros fatos registados nas Escrituras e gravados também em ladrilhos escavados na Síria, os seguintes: O caos antes da criação, a criação das estrelas, dos animais e do primeiro homem, a felicidade deste no jardim do Éden, a árvore da Vida, o fruto proibido, a serpente, a queda do homem, Caim e Abel, as dez gerações que vão de Adão a Noé, a torre de Babel, a confusão das línguas, Quedorlaomer (citado em Gênesis, e contemporâneo de Abraão), os faraós egípcios coevos de José e de Moisés, muitos reis assírios mencionados na Bíblia, como Pul, Tiglate-Pileser, Salmanasar, Sargão, Senaqueribe, os sete anos de fome e sete de fartura. Refere-se também a um ladrilho-calendário, registrando sete dias na semana e no qual o sétimo é chamado 'dia impróprio para o trabalho'. Denominavam-no os babilônios, já muito antes dos hebreus, sabattu, e era nos tijolos de inscrições cuneiformes descrito como "dia de repouso para a alma." 8

Manuscritos do Mar Morto

Uma das mais importantes e sensacionais descobertas arqueológicas já feitas são,

sem dúvida, os chamados manuscritos do Mar Morto. Na primavera de 1947, um pastor beduíno, Mohamed Adh-Dhib, apascentava seu

rebanho próximo do Mar Morto, quando lhe fugiu uma de suas cabras, galgando as íngremes rochas. Eis como relata o incidente John Marco Allegro, em seu interessantíssimo livro Os Manuscritos do filar Morto:

"Mohamed subiu penosamente a encosta, chamando pelo animal, o qual continuava a trepar, em busca de alimento. O Sol aquecia cada vez mais e o pastor resolveu estender-se um pouco à sombra da saliência de uma rocha. Seus olhos vaguearam distraidamente pela superfície lisa da pedra. Detiveram-se, porém, numa cavidade do tamanho da cabeça de um homem, estranhamente situada precisamente a meia altura de uma laje vertical. Parecia conduzir a uma concavidade e, sem dúvida, estava demasiado alta para ser a entrada normal de uma gruta idêntica às que por ali existiam às centenas.

"Mohamed agarrou numa pedra e atirou-a para a cavidade, apurando o ouvido para escutar a queda, a fim de determinar a profundidade. O que ouviu deixou-o assombrado. Em vez do esperado ruído da pedra contra a rocha sólida, o seu aguçado ouvido apercebeu um típico som de louça. Fez outra experiência e verificou novamente que a pedra embatia num montão de cacos. Um pouco admirado, o jovem beduíno içou-se até à abertura e olhou para dentro. Logo que os olhos se habituaram à obscuridade, teve de deixar-se cair para o chão. Mas o que tinha visto em escassos segundos deixou-o pasmado. No chão da gruta, que era irregular, seguindo uma falha natural da rocha, havia

Page 49: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 49

vários objetos cilíndricos, de grande tamanho, postos em pé. O rapaz trepou novamente até à abertura e, agarrando-se a ela, até que os braços e os dedos adormeceram, viu, desta vez, que se tratava de grandes vasilhas de boca estreita, com bocados espalhados à volta. Não esperou muito mais; antes, pelo contrário, desceu e fugiu rapidamente do sítio, esquecendo-se da cabra e do rebanho, com um desejo frenético de se pôr o mais longe possível daquela gruta. Quem poderia viver em semelhante sítio, com uma entrada excessivamente pequena para um homem, senão um espírito do deserto?

"À noite, Mohamed comentou a sua descoberta a um amigo que, por ser mais velho, se riu das superstições do jovem. Pediu a Mohamed que o levasse ao local, e no dia seguinte os dois dirigiram-se à gruta, penetrando nela. Era precisamente como o pastor tinha descrito." 9

Ali estavam rios vasos de barro cozido, uns já partidos e outros intatos. Examinando-lhes o conteúdo, depararam com rolos de pergaminho envoltos em panos de linho. Venderam alguns desses rolos a um mosteiro de Jerusalém e outros a um professor de uma universidade judaica.. A princípio ninguém dava importância ao achado. Logo, porém, que se tornou conhecida a autenticidade dos manuscritos, puseram-se em campo grupos de arqueólogos, e o que descobriram foi de molde a empolgar o mundo da arqueologia bíblica. As pesquisas estenderam-se a outras e outras cavernas, e é possível que ainda surjam novas surpresas.

"Certo é que o material depositado nas cavernas constituiu uma biblioteca completa de documentos do Velho Testamento e da seita essênia.... Os fragmentos provam que a biblioteca tinha pelo menos 10 cópias de Gênesis, 10 de Êxodo, 8 de Levítico, 7 de Números, 17 de Deuteronômio, 2 de Josué, 3 de Juízes, 4 de Rute, 4 de Samuel, 3 de Reis, 1 de Crônicas, 2 de Esdras-Neemias, 2 de Jó, 15 de Salmos, 2 de Provérbios, 1 de Eclesiastes, 1 de Cânticos dos Cânticos, 10 de Isaías, 4 de Jeremias, 3 de Lamentações, 2 de Ezequiel, 6 de Daniel e 8 dos 12 profetas menores." 10

Acredita-se que os monges essênios tenham ali escondido esses manuscritos em tempo de guerra, para salvá-los do ataque da Décima Legião Romana.

Essa descoberta reveste-se de um valor extraordinário, pois se trata dos mais antigos manuscritos do Velho Testamento existentes. "Qumran oferece-nos quase toda a Bíblia hebraica em manuscritos anteriores de um milênio aos até hoje possuídos." 11 É considerada "a maior descoberta de manuscritos dos tempos modernos."12 Há livros completos, ou trechos, de Isaías, Habacuque, Daniel, Gênesis, Deuteronômio, Levítico, Juízes, Salmos e Samuel.

O livro de Isaías apresenta-se "na forma de dois rolos. O primeiro, desenrolado, mede sete metros e trinta e quatro, com a largura média de vinte e seis centímetros. É formado por dezessete pedaços de pele cosidos um ao outro, e dos quais vários foram costurados de novo antigamente, o que atesta uso freqüente. Quarenta e quatro colunas de escrita, de vinte e nove a trinta e duas linhas cada uma, são distribuídas ao longo do rolo. O rolo A contém os sessenta e seis capítulos do livro canônico." 12

Além dos rolos de pergaminho, há-os também de papiro e de cobre. A assombrosa harmonia desses textos com a Bíblia de nosso uso, deve aumentar nossa confiança nela como o Livro de Deus, preservado maravilhosamente pela providência divina através dos séculos. E não seria também providencial que, especialmente do livro de Isaías, conhecido como o "profeta evangélico", se conservassem todos os capítulos?

Page 50: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 50

A Arqueologia e o Novo Testamento

Como disse Arquibaldo Sayce, o grande arqueólogo, "cada padejada tem

fornecido prova corroborativa da rigorosa fidedignidade da história sagrada." Um incrédulo que viajava na Palestina teve sua atenção chamada para as muitas

fendas, nas pedras que rodeiam o Calvário. Examinou-as de perto, e disse aos companheiros: "Faz muito tempo que estudo a Natureza e concluo que estas fendas não foram produzidas por causas naturais. Tampouco o foram por terremoto, pois seguiriam então as veias e os pontos mais débeis. Aqui, porém, as pedras se partiram transversalmente às suas veias e nos lugares mais fortes. Há nisto algo de anormal." E o ateu ali mesmo se fez crente.

É de duvidar-se que haja um sábio verdadeiramente sincero que, com conhecimento de causa, combata a veracidade histórica do registo sagrado. De um sabemos que o fazia, antes de inteirado dos conhecimentos arqueológicos sobre o assunto. Foi Sir William Ramsay. Este quis tirar, in loco, a prova quanto a ser ou não historicamente verdadeiro um bom trecho do Novo Testamento, isto é, o livro dos Atos dos Apóstolos. Propôs-se a "refazer as viagens de S. Paulo, tomar os Atos como guia de seu itinerário, controlar, durante sua estada na Ásia Menor, os dados desse livro relativamente à geografia, aos costumes, à vida política e social daquela parte e daquele período do Império Romano que os Atos nos fazem conhecer; e chegou à conclusão de que tal registo é de exatidão rigorosa." O cético Ramsay, logo que começou as pesquisas na Ásia Menor, tornou-se um entusiasta do livro de Atos em particular e do Novo Testamento em geral. Eis duas de suas declarações:

"Eu me afasto da tendência que prevalece atualmente, porque parte de premissas errôneas e de insustentáveis preconceitos."

"Quanto mais estudo o registo dos Atos, mais me familiarizo, ano a ano, com a sociedade greco-romana, com a vida intelectual, moral e administrativa dessas províncias, e tanto mais admiro e compreendo o texto sagrado. Eu quis conhecer a verdade acerca dessa região onde se encontravam a Grécia e a Ásia, e deparei-a neste livro." 13

E, dando esse testemunho insuspeito, Ramsay não está sozinho. Ao contrário, tem a companhia dos demais arqueólogos que se entregaram ao estudo do primeiro século.

"Um dos traços mais notáveis do livro dos Atos," diz Guitton, "do ponto de vista histórico, é a harmonia absoluta das revelações que faz da civilização romana, com todos os dados proporcionados pela arqueologia. Tudo que sabemos desta civilização e de suas relações com a grega e a hebraica está em pleno acordo com as descrições do livro dos Atos. Esta rigorosa exatidão é tanto mais notável quanto as relações recíprocas entre essas três civilizações eram complexissimas, variando freqüentemente de uma província para outra, e por vezes de um para outro ano. Teria sido impossível para um falsário, estar a par de todas essas particularidades que unicamente testemunhas oculares e perfeitamente verdadeiras poderiam relatar fielmente." 14

E passa então o mesmo autor a citar sem-número de minudências comprobatórias

de outras tantas citadas por S. Lucas nos Atos. Eis umas poucas apenas: Encontrou-se

Page 51: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 51

em Antioquia da Pisídia uma inscrição em que aparece o nome de Lucius Sergius Paulus, cônsul de Chipre, de que fala S. Lucas. Sabe-se que, na época de S. Paulo, houve na Palestina um governador por nome Félix, sendo seu sucessor efetivo Pórcio Festo. Josefo, o célebre historiador judeu, fala em ambos. Suetônio, escritor profano do primeiro século, referindo-se ao imperador romano Cláudio (A Vida dos Doses Césares, V), menciona a perseguição por ele movida contra os judeus, e da qual trata S. Lucas em Atos 18:2. Encontram-se também restos do teatro do qual a turba furiosa de Éfeso arrebatou a Gaio e Aristarco (Atos19:28).

Ainda Tut-Ank-Amen

A arqueologia deu-nos, pois, em suas escavações como que uma segunda edição

das Escrituras Sagradas, a confirmar admiravelmente a autenticidade da primeira. Vá aos museus das grandes capitais do Velho Mundo e dos Estados Unidos, e você se certificará por si mesmo dos fecundos resultados dessas explorações.

Assim é que você verá, por exemplo, num museu de Londres, uma múmia

pardacenta, encarquilhada e feia: é Tut-Ank-Amen. Conta-se que, ao chegar à capital inglesa, despachada do Egito, os funcionários da alfândega se viram em apuros por não saber como classificá-la. E resolveram, depois de muito coçar a cabeça, rubricá-la como a mercadoria com a qual maior semelhança apresentava: bacalhau!

Credo

CLEOMENES CAMPOS

Senhor, eu creio em Vós! Não vos vejo, de certo, porém vos sinto em tudo, até dentro de mim! E quem sou eu, Senhor, para vos ver de perto? Os meus olhos não têm tanta pureza assim. Não poderei fazer nem uma idéia ao menos do que sois, porque sois muito grande demais, e eu não passo do mais pequeno dos pequenos, eu quase não sou nada aqui entre os mortais. Apenas creio em Vós. Ah ! Vós sois o Perfeito! E se vos amo com uma espécie de temor, não é porque vos tema, é porque vos respeito, é porque sei quem sois e creio em Vós, Senhor!

No tempo dos faraós do Egito, um dos quais foi Tut-Ank-Amen, gozava os

privilégios da corte um jovem fadado a ascender ao trono de seu protetor, o faraó

Page 52: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 52

Ramsés II. Era Moisés, o moço hebreu criado pela filha do rei, em meio das pompas faraônicas.

Entretanto, "pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito." Hebreus11:24 a 26.

E graças a esse gesto sublime de desprendimento, Moisés desfruta hoje as glórias de uma corte bem mais fulgurante e gloriosa que a do Egito antigo, pois que o próprio Cristo o fez ressurgir de seu solitário jazigo nas eminências do monte Nebo (S. Judas 9), para levá-lo aos paços celestiais do Rei do universo.

Enquanto isso, a ressequida múmia – verdadeiro bacalhau – do outrora glorioso monarca Tut-Ank-Amen, mofa em uma caixa de vidro do museu de Londres.

Leitor amigo: a sua escolha, qual será? Referências: 1. Apologetische Vortraege, Luthardt. 2. Os Sertões, Euclides da Cunha. 3. The Bible-Book Divine, Fannie D. Chase. 4. L'Exodo et les Monuments Égyptiens, Henry B. Bey. 5. Dicionário da Bíblia, John D. Davis. 6. The Spade and the Bible, W. W. Prescott. 7. Voices from Rocks and Dust Heaps, Huffman. 8. The Higher Criticism and the Verdict of the Monuments, A. Sayce. 9. Os Manuscritos do Mar Morto, John Marco Allegro.

10. Christian Century, apud Expositor Cristão, 27-9-56. 11. A Bíblia e as Últimas Descobertas, Armando Rolla. 12. A Bíblia Disse a Verdade, Sir Charles Marston. 13. The Bearing of Recent Discoveries on the Trustworthiness of the New

Testament, William Ramsay. 14. Le Nouveau Testament et la Critique, William H. Guitton.

UMA LUZ EM LUGAR ESCURO

OITE de procela. Na escuridão opaca erra uma embarcação, batida rudemente pelos vagalhões. Mastros partidos, leme em pedaços, largou-se

ao sabor das ondas. Mas – mistérios da Providência! – o barco erradio, impelido de N

Page 53: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 53

vaga em vaga, aproxima-se a pouco e pouco da costa. Num promontório que avança ousado pela fúria marinha a dentro, a luz robusta de um farol perscruta o negror impenetrável.

– Navio em perigo! brada o faroleiro. E num instante, homens afeitos aos perigos do mar aprestam um barco e enviam-no em socorro dos que se acham prestes a perecer.

E ei-los todos salvos. Essa fragílima nau desarvorada simboliza a humanidade, batida pela borrasca

inexorável de seis mil anos de pecado. O farol bendito, que lhe depara o providencial salvamento, é a Santa Escritura, e notadamente sua parte profética. Por isso é que disse São Pedro (II Ped. 1:19-21):

"Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo."

Lendo os versículos anteriores, veremos que o apóstolo descreve a transfiguração

de Cristo. Fora ele, juntamente com Tiago e João, testemunha ocular do significativo acontecimento. Ouvira a voz do Pai celestial, declarando ser Jesus o Seu Filho dileto; e vira com os próprios olhos a glória ofuscante que irradiava de Cristo, pois, na linguagem de S. Mateus (17:2), "o Seu rosto resplandeceu como o Sol, e os Seus vestidos se tornaram brancos como a luz."

E a vista dessa como que miniatura da segunda vinda do Senhor à Terra, constituía por certo um episódio bem de molde a confirmar inabalavelmente a fé dos presentes. Ouvir a voz de Jeová e ver-Lhe a glória! Como, então, duvidariam eles de Deus, da origem divina de Jesus e Sua missão na Terra?!

Mas, até nisto há possibilidade de engano. A vista e o ouvido podem, às vezes, iludir-nos. E o apóstolo, prevendo quiçá uma sisuda objeção de algum representante da humana ciência, quer excluir em absoluto toda e qualquer possibilidade de dúvida. Por isso acentua: "Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética"!

A Pedra de Toque

O elemento profético é, com efeito, a principal pedra de toque da autenticidade

das Escrituras Santas. É o elemento que prima pela ausência nos volumes sagrados das religiões não cristãs, e pelo qual, pois, o Livro do cristão patenteia irrefutavelmente a sua incomparável superioridade sobre eles todos.

O próprio Jeová lança aos deuses falsos o seguinte repto: "Apresentai a vossa demanda, diz o Senhor; alegai as vossas razões, diz o Rei de

Jacó. Trazei e anunciai-nos as coisas que hão de acontecer; relatai-nos as profecias anteriores, para que atentemos para elas e saibamos se se cumpriram; ou fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que

Page 54: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 54

sois deuses; fazei bem ou fazei mal, para que nos assombremos, e juntamente o veremos." Isaías 41:21-23.

O mesmo Deus declara, assim, residir em Sua presciência, isto é, na capacidade

de prever, profetizar, a Sua prerrogativa divina. "Anunciar o fim desde o princípio" (Isaías 46:9 e 10) constitui, por assim dizer, as credenciais da Divindade. De onde se conclui que essa mesma qualidade é o que mais sublimemente, e sobrenaturalmente, ergue acima de todas as cartilhas religiosas a Bíblia Sagrada.

Frederico o Grande e Seu Marechal Pediu certa vez Frederico o Grande da Prússia, que era incrédulo, a um seu

marechal muito crente, que lhe desse uma prova da existência divina. Sem titubear, volveu o interpelado:

– Majestade, os judeus! Este povo envolve, efetivamente, uma história longa e triste, que a todo momento

vem de novo lembrar-nos a infalibilidade das profecias escriturísticas. No capítulo 28 de Deuteronômio, Moisés, da parte do Senhor, apresenta aos

hebreus, reunidos em multidão ao redor do monte Gerizim, dois caminhos: o da obediência aos mandamentos de Deus, e as grandes bênçãos advindas de segui-lo; e a estrada larga da impiedade, com o cortejo sem fim de males que lhes acarretaria.

Vejamos apenas alguns versículos referentes a este último aspecto (Deut. 28:48-53 e 64 e 65):

"Assim, com fome, com sede, com nudez e com falta de tudo, servirás aos inimigos que o Senhor enviará contra ti; sobre o teu pescoço porá um jugo de ferro, até que te haja destruído. O Senhor levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás; nação feroz de rosto, que não respeitará ao velho, nem se apiedará do moço. Ela comerá o fruto dos teus animais e o fruto da tua terra, até que sejas destruído; e não te deixará cereal, mosto, nem azeite, nem as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas, até que te haja consumido. Sitiar-te-á em todas as tuas cidades, até que venham a cair, em toda a tua terra, os altos e fortes muros em que confiavas; e te sitiará em todas as tuas cidades, em toda a terra que o Senhor, teu Deus, te deu. Comerás o fruto do teu ventre, a carne de teus filhos e de tuas filhas, que te der o Senhor, teu Deus, na angústia e no aperto com que os teus inimigos te apertarão."

"O Senhor vos espalhará entre todos os povos, de uma até à outra extremidade da terra. Servirás ali a outros deuses que não conheceste, nem tu, nem teus pais; servirás à madeira e à pedra. Nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso, porquanto o SENHOR ali te dará coração tremente, olhos mortiços e desmaio de alma."

Quão flagrantemente se cumpriu esta sentença, que os próprios judeus pronunciaram sobre si, desviando-se do caminho verdadeiro já desde os tempos de seus reis e posteriormente rejeitando a salvação que Cristo lhes viera trazer! Seu orgulho nacional os cegou por tal forma que não reconheceram, na vinda do Cordeiro divino, o cumprimento das mesmas profecias que liam todos os sábados nas

Page 55: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 55

sinagogas. E encheram a transbordar a taça de sua iniqüidade, quando, preferindo o celerado Barrabás ao manso Nazareno, bradaram: "Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos!" E o sangue caiu, pesado, sobre eles e sua descendência infeliz.

Daí por diante a história do povo judeu passou a ser um longo e doloroso drama, com cenas a renovar-se sempre ante os nossos olhos, até aos dias de hoje.

Mas, vejamos dois dedos da agitada história daquela nação. No ano 70 de nossa era deixava ela definitivamente de existir, quando Jerusalém foi tomada pelo general Titio. Se bem que já antes tivessem sido um povo avassalado pelos romanos, a "nação feroz de rosto" que "voa como a águia", nesse ano é que se dispersaram pelo mundo e deixaram de ter pátria, justificando a lenda do judeu errante. Desde então só se reconhecem, como diz Meyer, pela "pressão que sobre eles tem pesado, ora mais, ora menos, e que nos primeiros séculos se mostrava isoladamente, mas mais tarde, isto é, na última metade da Idade Média, passou a sistemática tirania."

Na tomada de Jerusalém, dois milhões de judeus foram mortos ou vendidos como escravos. No longo cerco, mulheres chegaram a comer seus filhos. Sessenta anos depois massacraram, os mesmos romanos, mais de meio milhão. Perseguidos por todos, e de toda parte escorraçados, culpavam-nos os supersticiosos de quanta calamidade desabasse sobre a Terra. Na destruição de Jerusalém pereceram todos os sacerdotes.

Da Inglaterra foram os judeus expulsos em 1290; da França, três vezes; em 1492, da Espanha e em 1496 de Portugal. Em1880 começou a perseguição na Alemanha. Na Ucrânia e Galícia Oriental calculam-se em mais de cento e cinqüenta mil os que pereceram de 1918 a 1920. E que diríamos dos massacres recentes, que têm manchado a história de nações ditas civilizadas?

No cativeiro, diz Deuteronômio 28:36, serviriam eles "a outros deuses, feitos de madeira e de pedra." No mesmo dia em que foi destruído o templo de Jerusalém, era-o também o de Júpiter Capitulino, em Roma. O imposto que os hebreus tinham de pagar ao seu templo (meio siclo por ano), foram então obrigados a pagar àquele. Milhares tiveram de, sob pena de morte, prestar culto aos deuses romanos.

É claro que disto não se deve depreender que todos os judeus estejam condenados a inexorável rejeição por parte de Deus. Foram, sim, rejeitados como nação. Bem sabemos, porém, que muito judeu existe hoje que, volvendo-se individualmente a Deus e ao Cristianismo, ali encontrou aceitação do Pai que não repele a nenhum pecador que se Lhe aproxime, arrependido. E dir-se-ia mesmo que ainda repousa sobre aquele povo inextinguível, algo da bênção original.

Nínive

Foi Nínive outrora uma cidade próspera e populosa. Disse-o Jonas: "Ora, Nínive

era cidade mui importante diante de Deus e de três dias para percorrê-la" (3:3). Essa cidade arrependeu-se e voltou-se ao Senhor, quando da pregação de Jonas.

Decaiu, porém, no antigo estado, merecendo a predição de Sofonias 2:13-15, onde Deus ameaça torná-la uma "desolação e terra seca como o deserto", "pousada de

Page 56: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 56

animais". A "cidade alegre e confiante", como lhe chama ainda o profeta, não deu ouvidos à advertência, e hoje que existe dela? Arrasaram-na os babilônios e os medos, e acabou completamente sepultada por milhões de toneladas de terra.

Pormenor interessante. "O palácio é destruído", declarou o profeta Naum (2:6), descrevendo o cerco e tomada de Nínive. E conta a história que o rei se atirou no meio das chamas em que ardia o seu palácio.

O Preço da Idolatria

Era Tiro, nas costas da Fenícia, uma cidade afamada pela idolatria e corrupção

imoral, com que soube contaminar o próprio povo hebreu. Por isso lhe coube, por intermédio de Ezequiel (26:3-5), o seguinte vaticínio:

"Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu estou contra ti, ó Tiro, e farei subir contra ti muitas nações, como faz o mar subir as suas ondas. Elas destruirão os muros de Tiro e deitarão abaixo as suas torres; e eu varrerei o seu pó, e farei dela penha descalvada. No meio do mar, virá a ser um enxugadouro de redes, porque eu o anunciei, diz o Senhor Deus; e ela servirá de despojo para as nações."

Nabucodonosor começou a destruição da cidade, fazendo "que o seu exército ... prestasse grande serviço contra Tiro", na linguagem sugestiva de Ezequiel (29:18). Alexandre terminou a obra. Cumprindo ainda a profecia de Joel 3:8, esse monarca vendeu em cativeiro 30.000 cidadãos de Tiro. Esta cidade seria, ainda, segundo outra predição (Zacarias 9:3 e 4), "consumida pelo fogo". Alexandre incendiou-a.

Havia uma Tiro continental, e outra na ilha próxima. Alexandre, diante da tenaz resistência dos ilhéus, arrasou a cidade do continente e com os escombros construiu um dique até à ilha. Que circunstanciado cumprimento da profecia acima!

Bruce, percorrendo há cerca de um século as paragens da antiga Tiro, lá encontrou, segundo refere, uma "pedra onde os pescadores enxugam suas redes". E diz Meyer que "o sítio da outrora brilhante capital se acha agora como 'uma penha descalvada', lugar onde os poucos pescadores que ainda freqüentam aquela região estendem as redes ao Sol." "Toda a vila de Tiro só tem cinqüenta ou sessenta famílias pobres, que vivem obscuramente do produto de suas poucas terras e insignificantes pescas" – diz Volney. 1

O Árabe e a Cidade Maldita

O Dr. Ciro Hamlin, missionário na Turquia, foi certa vez abordado por um oficial

do exército turco, o qual lhe pedia provas da inspiração divina da Escritura. O interpelado ladeou a questão, começando a falar em suas muitas viagens, e demorando-se especialmente no que respeitava a Babilônia. Chegando a essa altura o oficial interrompeu o doutor, dizendo:

– Este nome sugere-me um incidente interessante que lá se deu comigo. Sou muito amigo de caçadas, e ouvindo dizer que nas ruínas daquela cidade abundavam os leões e outras feras, resolvi para lá ir. Ajustei um sheik e alguns auxiliares para me acompanharem. Chegamos a Babilônia e armamos nossas tendas. Pouco antes de se

Page 57: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 57

pôr o Sol, tomei a espingarda e percorri os arredores. As cavernas que existem pelas ruínas estão infestadas de caça, a qual, porém, raro se vê antes do anoitecer. Avistei um ou dois animais a distância, e voltei então ao acampamento, com a intenção de dar início ao meu esporte logo que o Sol entrasse. Qual não foi, porém, minha surpresa ao achar os homens desarmando as tendas! Dirigi-me ao sheik e protestei veementemente. Ajustara-o por uma semana e ia pagar-lhe bem, e eis que se dispunha a partir, agora que nosso contrato apenas começara. Coisa alguma que lhe dissesse, porém, o podia persuadir a ficar.

"– Não é seguro, dizia ele; mortal algum se atreve a ficar aqui depois de posto o Sol. Nas trevas, saem espíritos, duendes e toda sorte de fantasmas, das cavernas e covas, e todo o que aqui for por eles achado, é levado e se torna um deles.

"Vendo que não o podia persuadir, disse eu: "– Bem, eu já lhe estou pagando mais do que devia; mas, se você ficar, pagar-lhe-

ei o dobro! "– Não! volveu ele; não ficarei nem por todo o dinheiro do mundo. Nenhum

árabe já viu o Sol pôr-se em Babilônia. Mias quero fazer o que for justo. Iremos a um lugar a uma hora de distância, e para aqui voltaremos ao raiar do dia.

"E foram-se. Tive de desistir de minha diversão." Tomando então da Escritura Sagrada, abriu-a o Dr. Hamlin em Isaías 13 e pôs-se

a ler ao oficial os versículos 19 a 22: "Babilônia, a jóia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus, será como Sodoma e

Gomorra, quando Deus as transtornou. Nunca jamais será habitada, ninguém morará nela de geração em geração; o arábio não armará ali a sua tenda, nem tampouco os pastores farão ali deitar os seus rebanhos. Porém, nela, as feras do deserto repousarão, e as suas casas se encherão de corujas; ali habitarão os avestruzes, e os sátiros pularão ali. As hienas uivarão nos seus castelos; os chacais, nos seus palácios de prazer; está prestes a chegar o seu tempo, e os seus dias não se prolongarão."

– É isto exatamente! exclamou o coronel, terminada a leitura. Mas o que o senhor leu é da história universal!

O missionário replicou que não era história universal, mas sim profecia, ao que o oficial se mostrou muito surpreendido, prometendo meditar sobre o caso.

Ora, a profecia contra Babilônia fora dada ao tempo em que essa cidade se achava no apogeu da sua glória. Eis alguns dados sobre o que constituiu essa glória:

"Nabucodonosor tornou Babel uma das sete maravilhas do mundo, digna de figurar como a sede do reino áureo de uma idade de ouro. Reconstruindo a pirâmide de terraços do antigo templo de Belo, de 188 metros de altura, fundou a leste do Eufrates um novo bairro com o burgo real. A ponte aí lançada sobre o Eufrates media 900 metros de comprimento sobre 30 de largo. Por cima do burgo real elevava-se uma construção de granito em forma de terraços, de cerca de 125 metros em quadrado. Sobre vastas arcadas, mantidas por possantes colunas, estavam dispostas enormes lajes ligadas entre si por gesso e asfalto, e cobertas de espessa camada de terra em que vicejavam os mais ricos espécimes da flora oriental. Tais eram os célebres jardins suspensos de que nos fala a história. Afora as grandiosas obras de defesa, adornavam a cidade esplêndidos jardins, ricos pomares e virentes prados. Dentro de um perímetro de 484 quilômetros agitava-se uma população de meio milhão de habitantes. Poderosas cidadelas e uma muralha tripla de dimensões colossais, flanqueavam a cidade. A muralha principal, que era ladeada de

Page 58: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 58

um largo fosso, media 62 metros de altura sobre 13 de largo. Duzentas e cinqüenta e cinco torres se projetavam no ar, sobrelevadas pelo templo de Marduc, de 200 metros de altura. Cem portais de bronze davam acesso à cidade." 2

Já Heródoto, em sua História, Livro I, dá uma viva descrição de Babel, dizendo que "em magnificência ela ultrapassou todas as cidades de que temos conhecimento".

Vejamos, como aliás já nos foi em parte revelado pelo oficial turco, a que ficou reduzida essa beleza toda, segundo o testemunho do arqueólogo Layard, que por lá andou em 1845:

"Montões informe de detritos entulham várias geiras de terreno. De todos os lados, fragmentos de vidro, mármore, louças de barro, tijolos com inscrições, acham-se de mistura com aquele solo peculiar, nitroso e branqueado, que, resultando dos destroços das antigas habitações, impede ou destrói a vegetação e torna o lugar de Babilônia um deserto despido e medonho. As corujas em bandos que chegam às vezes a quase uma centena, saem de matos ralos, e os chacais bravos acoitam-se pelas concavidades." 3

E outros viajantes ainda, como por exemplo Porter e Keppel, referem que os esconderijos das ruínas babilônicas servem de morada a leões e chacais, e corujas ali fazem os seus ninhos. Jeremias, em seu capítulo 51, versículos 24 a 26, secunda a profecia de Isaías, predizendo a "assolação perpétua" da grande cidade.

Os mesmos profetas (Isaías 10; Jeremias 51), vaticinam a queda e devastação dos grandes reinos da Assíria e Caldéia, aquelas regiões fertilíssimas das quais disse Heródoto que o trigo produzia a 200 e 300 por um, havendo espigas da largura de quatro dedos. No entanto, "tornaram-se as suas cidades em desolação, terra seca e deserta" (Jeremias 51:43).

Diz Fraser: "Toda a planície está cheia de vestígios de antigas habitações; hoje, porém, nada mais oferece à vista senão um enorme deserto seco, uma triste solidão." E atesta Porter: "Cada pedacinho de solo, até onde alcança a vista, é completamente estéril."

A Terra dos Faraós

"Tornar-se-á o mais humilde dos reinos e nunca mais se exaltará sobre as nações;

porque os diminuirei, para que não dominem sobre as nações" – tais são as palavras com que o profeta Ezequiel (29:15) prediz a sorte do Egito, o velho berço de uma grande civilização. Vemos que o país não seria destruído, mas decairia a pouco e pouco, nunca deixando de ser nação sujeita.

Sobre ele deixou Volney, o já citado ateu francês, este testemunho: "Privado já há dois mil anos de seus legítimos donos, tem visto seus férteis campos

cair sucessivamente, presa dos persas, macedônios, romanos, gregos, árabes, georgianos e, finalmente, dos tártaros, encobertos sob o nome de turco-otomanos. Os mamelucos, comprados como escravos, e introduzidos no exército, usurparam prontamente o poder, e elegeram um chefe. Se seu primeiro estabelecimento foi um sucesso extraordinário, sua continuação não o é menos. São substituídos por escravos comprados em seu país de origem. Tudo que o viajante contempla ou ouve, recorda-lhe que se encontra no país da escravidão e da tirania." 4

Page 59: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 59

Notemos ainda o versículo 12 do capítulo 30 de Ezequiel, no qual o Senhor diz: "Venderei a terra, entregando-a nas mãos dos maus; por meio de estrangeiros, farei desolada a terra." O Egito destacou-se pela crueldade de seus regentes. Fala Malte Brun no "arbitrário domínio dos desumanos governantes do Egito" – governantes que, há 2.500 anos, têm sido sempre estrangeiros.

Os edomitas, povo próspero e afamado nos dias de Moisés, foram objeto de predições de Jeremias (49), Ezequiel (35) e Obadias (18), que profetizaram sua destruição. Hoje os restos de Petra, com seus palácios talhados na rocha, atestam as glórias passadas do poderoso "monte de Seir". Refere um viajante que, percorrendo aquela região, dentro de oito dias encontrou trinta cidades em ruínas.

Além de outras profecias pormenorizadas, sobre as quais se têm escrito volumes e volumes, há ainda as referentes ao primeiro advento de Cristo, as quais corroboram igualmente a autenticidade da Escritura.

Eis delas um resumo, da pena fecunda e insuspeita de Camilo Castelo Branco: "Anunciaram os profetas o Messias; e tão dentro da alma da nação hebréia se entranhara a

esperança de Sua vinda que, nos derradeiros tempos, o aparecimento de S. João Batista suscita nos judeus a certeza de que é chegado o Cristo, e os samaritanos por igual se entram do mesmo convencimento. 'Eu sei', diz a samaritana a Jesus, 'que o Messias está próximo, e tudo nos será enviado por Ele quando chegar.'

"Não se restringiram, porém, os profetas a predizer a vinda do Salvador. O retrato que eles predefinem do Messias é tão minucioso, que impossível seria confundi-lo com os seus contemporâneos.

"Disseram que nasceria duma virgem. Isa. 7:14. "Que nasceria em Belém, aldeia obscura e incógnita. Miq. 5:2. "Que seria da tribo de Judá e raça de Davi. Gên. 10; Isa. 10:11; Sal. 39; Jer. 23. "Que seria pobre, e anunciaria a boa nova aos pobres. Zac. 9:9 e 10; Isa. 40:3. "Que seria obscuro e sem magnificência ; mas que um dia se Lhe prostrariam os reis. Isa. 53:4. "Que a voz deste precursor soaria no deserto. Isa. 41:3. "Que semearia milagres e benefícios em Seu caminho. Isa. 11; 40; 42; 53; Zac. 9. "Que o espírito do Eterno, espírito de sabedoria, de inteligência, de conselho, de força, e de temor

seria com Ele, e O faria brilhar em pleno resplendor de justiça; porém, ao mesmo tempo, a Sua onipotência seria sublime de doçura e humildade. Dan. 9:26; Isa. 6:10; 55:2.

"Que seria ludíbrio de desprezos e contradições, repelido e perseguido por Seu povo. Mal. 10:11. "Que seria traído por um dos Seus discípulos. Zac. 11:12 e 13. "Vendido por trinta moedas. Zac. 13:7. "Desamparado dos Seus. Salmos. "Caluniado por testemunho. Isa. 53:1. "Que, espontaneamente, Se deixaria levar à morte, como cordeiro sem defesa, e mudo entre as

mãos daquele que o afoga. Isa. 53:2. "Que seria esbofeteado, cuspido, afrontado, cravado de pés e mãos. Isa. 53:3. "Que os transeuntes insultariam Suas agonias trejeitando. Sal. 21; Isa., Jer. e Zac. "Que seria contado entre os celerados e supliciado com eles. Sal. 21:7 e 8. "Que Lhe jogariam aos dados a túnica. Sal. 21:8 e 19. "Que Lhe dariam fel e vinagre. Sal. 21:22. "Que seria gloriosa Sua sepultura; ressuscitaria ao terceiro dia; alumiaria toda a carne com o

reflexo do Seu espírito. Sal. 15:9 e10; Isa. 11; Joel 11:28. "As profecias realizaram-se em Jesus Cristo." 5

O Segundo Advento de Cristo

Page 60: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 60

O capítulo 2 do livro de Daniel esboça-nos um longo trecho de história universal. Tome a Bíblia e leia-o. O monarca Nabucodonosor teve um sonho, divinamente inspirado, em que se lhe revelou o conhecido fato histórico dos quatro impérios universais: Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma. Foram-lhe estes representados sob o símbolo de uma grande estátua, cuja cabeça de ouro representava Babilônia; o peito e os braços de prata, o segundo império; o ventre e as coxas de cobre, o seguinte; e as pernas de ferro, o quarto – Roma – que, pela invasão dos bárbaros, acabou por ser dividido em dez reinos, representados na estátua pelos dez dedos dos pés. Compulse qualquer compêndio de História Universal. Confronte com ele os detalhes desse capítulo de Daniel: você se surpreenderá com a harmonia entre ambos.

O mesmo trecho da história do mundo repete-se no capítulo 7 desse profeta, com algumas ampliações. Note, entretanto, que aí já a imagem não é a mesma: as nações da Terra, que ao espírito envaidecido de um monarca assumem o glorioso aspecto de uma estátua a faiscar reverberações em seu brilho metálico, aos olhos de um servo de Deus, alheio às seduções das glórias humanas, não passam de – feras! E são porventura outra coisa as grandes potências que se espreitam umas às outras, num afã de ser cada qual a primeira a lançar-se sobre vítimas indefesas?

Daniel não admite um quinto reino universal fundado por homens. Carlos V, Napoleão e outros tentaram contrariar este pormenor da profecia. Fracassaram. Daniel 2, versículos 44 e 45 dão o epílogo da História Universal:

"Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel, a sua interpretação."

Virá, sim, um quinto reino universal, mas não humano. Será ele o eterno reino de nosso Senhor Jesus Cristo, que "há de vir a julgar os vivos e os mortos," como afirma o Credo – e tudo indica que isso será em breve.

Não Pode Haver Fraude

Mas, alegará alguém, não foram porventura as profecias produzidas depois de

ocorridos os acontecimentos de que tratam? Absolutamente não! Senão vejamos: Já há 1.800 anos, Tácito, o historiador grego

do primeiro e segundo séculos, chamou às Escrituras "os antigos escritos dos sacerdotes".

Sabe-se, ainda, que a Versão dos Setenta, ou Septuaginta, foi trabalho feito cerca de 300 anos antes de Cristo. Logo, o Velho Testamento tem de ter pelo menos 2.200 anos de idade.

Além das muitas profecias já cumpridas há também, a aumentar nossa fé na divina autoridade da Escritura, as inúmeras que hoje se estão a realizar flagrantemente ante nossos olhos. Tal, por exemplo, essa cujo cumprimento se vem estendendo

Page 61: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 61

através de perto de dois milênios, na história do povo semita. A ela já nos referimos páginas atrás.

Veja, ainda, os sinais preditos pelo próprio Salvador e pelos apóstolos, relativos a Sua volta ao mundo e ao estabelecimento de Seu reino eterno, tais como os que alinhamos no último capítulo.

Sim, prezado leitor, as profecias da Escritura Sagrada interessam a história passada, presente e futura. E que abundância delas existe! Cerca de mil, das quais oitocentas no Velho Testamento e duzentas em o Novo.

Tomemos, pois, a peito a advertência do apóstolo em I Tessalonicenses 5:20: "Não desprezeis as profecias."

Referências: 1. Famous Infidels, who Found Christ, Lee S. Wheeler. 2. Sucessos Preditos da História Universal, Casa Publicadora Brasileira. 3. Ruins of Niniveh and Babylon, Layard. 4. Viagens, Vol. I, Constantino Volney. 5. Divindade de Jesus, Camilo Castelo Branco.

Page 62: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 62

O PODER MORAL DA ESCRITURA ACABAVA o Dr. João Paton de traduzir e publicar o Novo Testamento numa

das muitas e pitorescas línguas da Oceania – o aniwan – quando o aborda um velho chefe indígena, que o vinha observando, e lhe pergunta:

– O livro fala? – Sim, volve o missionário; ele agora fala na sua língua. – Oh! deixe então que ele me fale! Quero ouvi-lo! Paton pôs-se a ler um trecho, sendo, porém, logo interrompido pelo ouvinte, que

lhe brada: – Ele fala! Dê-me esse livro! E arrebatando-lho das mãos, põe-se a mirá-lo curiosamente de todos os lados, e

aperta-o, comovido, ao coração, repetindo: – Oh! faça que ele fale de novo! Bendito o que, com a fé infantil desse velho indígena, como ele abre os ouvidos e

a alma para que a Palavra divina lhe falei. Bendito, sim, pois ela lhe penetrará no íntimo e lhe transformará todo o ser, porquanto a Escritura é, como tão bem o disse o maior dentre os apóstolos, "viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração!" Hebreus 4:12.

A Bíblia é a palavra escrita de Deus. Como Sua palavra falada, que pela simples enunciação trouxe à vida os mundos, participa ela do poder ilimitado dAquele a quem se poderia chamar a Palavra encarnada – Jesus Cristo, o Verbo criador, por quem "todas as coisas foram feitas" (S. João 1:1-3).

E, não está justamente no fato de ser a Escritura traduzida em tantas línguas selvagens, muitas vezes com risco de vida – o que não se dá com nenhuma obra profana – não está exatamente aí outro elemento que acorre em sua defesa? E mais ainda se nos lembrarmos de que o Evangelho vai entre esses bárbaros criar uma civilização – a civilização máxima, que é a cristã!

Fale da superioridade de nosso Livro sobre os escritos sagrados de todas as outras religiões, o contraste absoluto que se nota entre a civilização cristã e as pagãs.

A Escritura e os Povos

Aportou certa vez à ilha de Fidji um ateu, inflado de ciência evolucionista.

Encontrando-se com alguns fidjianos cristãos, começou a desmerecer a Escritura Sagrada e sua fé na mesma, jactando-se de ser ele incrédulo. Volveu-lhe um humilde nativo:

– Vê o senhor aquele velho forno? Ali costumávamos assar carne humana; e não fosse este evangelho, e crêssemos nós ainda nisso que o senhor prega, seria muito

Page 63: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 63

provável que o senhor mesmo fosse ali parar. Bem vê que o Cristianismo em que desfaz, serve para alguma coisa.

Como disse alguém, Confúcio, olhando para dentro de um poço em que caiu um chinês, grita-lhe: "Se você tivesse feito o que eu lhe disse, não teria caído aí." E diz Buda: " Se você estivesse cá fora, eu lhe diria o que fazer." Jesus, porém, desce ao poço e de lá tira o pobre chinês.

Ainda hoje admiramos Sócrates, Platão, e outros grandes vultos do paganismo antigo. Entretanto, devem eles aos princípios pagãos graves e repugnantes erros: Sócrates permite vingarmo-nos de nossos inimigos; Platão defende o infanticídio e a prostituição; Maomé advoga a poligamia e a escravatura e prega a salvação pelas obras; os Vedas permitem o roubo. Segundo a teoria dos estóicos, seria melhor nunca havermos nascido; mas, já que nascemos, o ideal é morrer. Os espartanos achavam louvável furtar; o condenável, julgavam eles, é ser apanhado no ato do furto.

Na antigüidade pagã, médicos dissecavam escravos vivos, para ver como trabalhavam os órgãos. O mesmo faziam pintores, para poderem pintar vividamente as ânsias do moribundo. Na Grécia, a prostituição empunhava o cetro. Casa-se Péricles com Aspásia e Leóntides com Laís, ambas hetairas, que não obstante exerceram grande influência na política grega e internacional.

Nada como o Cristianismo – o puro, inalterado Cristianismo bíblico – para enobrecer e desenvolver um povo. É que a religião de Cristo implanta em todos os corações uma santificada ambição, um desejo incontido de ampliar os horizontes e dilatar a esfera de utilidade. Um confronto entre nações pagãs e cristãs, faz-nos saltar aos olhos a diferença que existe na cultura e progresso de umas e outras.

"Há questões de economia política," diz Blanqui, citado por D. Costa, "que permanecerão insolúveis enquanto o Cristianismo não entrar nelas. A instrução popular, a proporção eqüitativa dos proveitos do trabalho, os progressos da agricultura, e outros muitos problemas não poderão receber solução completa senão por intervenção sua." 1

Verdade é que há países que, embora pagãos, possuem acentuado grau de civilização e revelam caráter assaz progressista. Se examinarmos bem o caso veremos, todavia, que tal se dá com países que mantêm ativo intercâmbio com nações cristãs, e lhes adotam ideais e métodos de trabalho.

Já o filósofo ateniense Aristides, converso ao Cristianismo no segundo século, em carta dirigida ao imperador Adriano no ano 125, pinta um formosíssimo quadro da Igreja Cristã daquela época. Ei-lo:

"São esses os que, mais que todas as nações da Terra, encontraram a verdade.... Fazem o bem a seus inimigos; suas esposas, ó Rei, são puras como virgens, e suas filhas modestas; os homens mantêm-se afastados de qualquer união ilícita e de toda impureza, na esperança de uma recompensa no outro mundo. Ademais, se um deles tem escravos, ou escravas ou filhos, pelo amor para com eles os persuadem a tornar-se cristãos, e depois de o haverem feito, chamam-lhes irmãos, sem distinção. Não adoram deuses estranhos, e seguem seu caminho em toda modéstia e alegria. Não se encontra entre eles a falsidade; amam-se uns aos outros, não privando de sua estima as viúvas; e livram o órfão daquele que o maltrate. O que tem, dá ao que não tem, sem se jactar.

Page 64: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 64

"Quando vêem um estranho, tomam-no para seu lar e com ele se regozijam como se fosse um verdadeiro irmão.... Se ouvem que um de seu número se acha preso ou aflito por causa do nome de seu Messias, todos eles provêem solicitamente às suas necessidades, libertando-o, sendo possível. Se há entre eles algum pobre e necessitado, e se eles mesmos não têm alimento de sobra, jejuam dois ou três dias a fim de lhe suprir alimento.

"Tal, ó Rei, é o mandamento da lei dos cristãos, e tal é seu modo de vida." 2 "Observam com muito cuidado os preceitos de seu Mestre, vivendo justa e

sobriamente, como lhes ordenou o Senhor seu Deus. Cada manhã e a toda hora dão graças e louvores a Deus por Sua bondade para com eles, por seu alimento e bebida.

"Que mulheres têm os cristãos!" – exclamou o pagão Libânio. "A Grécia," diz o Dr. McClure, "teve o seu Sócrates, teve Platão, Aristóteles, e sua

arte; Roma teve Júlio César, Marco Aurélio, e seus exércitos; tiveram o Egito e Babilônia as suas dinastias através de milhares de anos. Mas a Grécia, Roma, o Egito e Babilônia tornaram-se ruínas. Não possuíam a Bíblia, – a Bíblia com o seu Deus e Pai do Senhor Jesus Cristo e com os seus convites à santidade de coração e procedimento; e seus povos, altamente exaltados como se achavam material, artística e intelectualmente, mas faltando-lhes a Bíblia com seu poder de vida intérmina, pereceram." 3

Por isso é que lutam em vão os que procuram destruir a Escritura Sagrada e sua influência. Com acerto comparou-a alguém a uma bigorna indestrutível, sobre a qual se despedaçam um a um os malhos dos críticos.

Dizia Voltaire: "Estou cansado de ouvir dizer que doze homens estabeleceram a religião cristã. Eu provarei que um homem só será bastante para derribá-la." "Dentro de cinqüenta anos," vangloriava-se ainda, "o povo nada mais ouvirá deste livro." Hoje, a casa onde morava esse príncipe dos ateus, é um centro de irradiação da Escritura – ocupa-a uma sociedade bíblica. E o Sagrado Volume, que em seus dias se achava traduzido em umas cinqüenta línguas, encontra-se agora em mais de mil!

A Escritura e a Escravidão A libertação dos escravos é fruto da leitura dos Evangelhos. Nos tempos

mosaicos admitia-se ainda a escravidão. Os próprios hebreus a praticavam, é verdade. Mas havia toda uma vasta legislação sobre o assunto, dando aos escravos certas garantias que lhes tornavam suave o jugo. Tanto que José Bonifácio, em sua "Representação à Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravatura," de que fez acompanhar o seu projeto de lei sobre a escravidão, diz que para este se aproveitou "da legislação dos dinamarqueses e espanhóis, e mui principalmente da legislação de Moisés, que foi o único, entre os antigos, que se condoeu da sorte miserável dos escravos." 4

Comparemos essa escravatura com a praticada pelos pagãos. Na antiga Ática, por exemplo, havia uma multidão de 400.000 escravos para 21.000 pessoas livres. Em Esparta a proporção era maior ainda. Em Roma calcula-se que metade dos habitantes eram escravos. E, segundo uma autoridade, estes "se achavam numa condição muito pior que os animais." Fala Geikie (A Vida de Cristo) da existência de antiga lei romana que "impunha pena de morte ao que matasse um boi junto ao arado; mas o assassino

Page 65: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 65

de um escravo nem era chamado a contas. Crasso, depois da revolta de Espártaco, crucificou de uma vez 10.000 escravos. Trajano, o melhor das romanos de seus dias, fez 10.000 escravos combaterem no anfiteatro, para diversão do povo, prolongando-se o massacre por 123 dias." Veio Cristo pregando o amor e a fraternidade universal. E a essas doutrinas excelsas não poderia resistir a escravatura humana.

Guilherme Wilberforce pode ser chamado, sem favor, o pai da libertação dos escravos. Membro do Parlamento inglês, onde lhe estava reservado futuro brilhante, leu na Bíblia que todos os homens são irmãos. Renunciou a uma carreira de futuro para pôr todo o peso de sua influência no combate à escravidão. Depois de quarenta e cinco anos de luta indefessa, conseguiu ver alcançado o seu desejo quanto à Inglaterra, que em 1833 aboliu a escravatura.

Davi Livingstone, o heróico missionário que abriu a África à civilização e ao cristianismo, amparava na Bíblia a sua obra ciclópica. Em suas explorações naquele continente, libertou muitas dezenas de milhares de escravos que ia encontrando por onde passava e que ele arrebatava aos traficantes, que os traziam acorrentados atrás de suas caravanas. Isto lhe custou a perseguição desses desalmados, que lhe impediram a comunicação com o exterior. Depois de trinta e três anos de trabalho insano em favor dos africanos, foi um dia encontrado morto, ajoelhado junto ao leito, o rosto entre as mãos, e tendo ao lado a Bíblia. Vitimara-o um violento ataque de pneumonia.

Um grupo de devotados e reconhecidos africanos, depois de lhe tirarem o coração, que enterraram sob uma árvore, deixaram secar o corpo ao sol abrasador da região, carregando-o depois, envolto em folhas de árvore, até ao litoral, numa distância de 2.500 quilômetros. O percurso lhes tomou nove meses. As autoridades de Zanzíbar fizeram chegar o corpo a Londres, onde foi sepultado na Abadia de Westminster, ao lado do rei da Inglaterra. Livingstone passara os últimos quatro anos sem uma notícia da esposa, dos filhos e dos amigos, aos quais escrevera nesse período, quarenta e cinco cartas, todas interceptadas pelos adversários.

"De onde tirou ele a coragem moral para continuar na luta?" pergunta Charles Gross. E responde: "Na Bíblia, que ele leu toda, quatro vezes, durante esse período. Livingstone morreu mártir de seu heroísmo... Três meses após sua morte, a Inglaterra obteve do sultão de Zanzíbar um tratado que abolia o tráfico de escravos." 5

Na Rússia, ao Alexandre libertar os escravos, disse: "Aprendi das Escrituras que todos os homens são irmãos; portanto, homem algum pode pertencer a outro."

S. Vicente de Paulo, mercê da leitura dos Evangelhos, dedicou a vida, por assim dizer, a aliviar os sofrimentos dos escravos que trabalhavam nas galeras do rei da França.

Sempre que algum personagem de influência na direção dos povos sentiu por sua vez o influxo benfazejo das Sagradas Escrituras, empenhou esforços em melhorar as condições de vida dos semelhantes desafortunados e promover em seu país uma relativa igualdade humana.

De passagem, não deixemos de mencionar ainda a ação do Cristianismo relativamente à situação social da mulher. Cristo, o que eqüivale a dizer as Escrituras Sagradas, elevou a mulher, indicando-lhe o lugar que lhe competia na sociedade. Não

Page 66: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 66

pregou o feminismo extremado e revolucionário, que por abandonarem os preceitos evangélicos, preconizam algumas correntes modernas; mas muito menos sancionou o despotismo dos homens, que apontava à mulher um lugar de servilismo abjeto.

Em Roma, a filosofia considerava a mulher "fera indomesticável", que o marido tinha o direito de matar ou vender. "A romana é um delírio de sangue e de vício", diz Antônio da Costa em sua obra O Cristianismo e o Progresso; "ela reclama das galerias a morte dos lutadores na arena."

A mulher tornou-se "gozo comum, posse material, ignorância, escravidão, objeto de venda, prazer bruto dos sentidos, o vício, a depravação, sempre uma coisa em todos os povos, pessoa em nenhum deles."

Veio o Cristianismo e "enquanto a pagã reclama o sangue de mártires do alto do coliseu, a virgem cristã ajoelha na arena e oferece a cabeça aos carrascos, em testemunho da lei nova. Em vez de escrava de algozes ou patrícia incestuosa, faz-se a mulher a sacerdotisa do lar, espalhando as bênçãos castas do amor e carinho." 6

Josefina Butler é nome que merece ser mencionado em relação com a elevação social e moral da mulher. Foi a primeira que teve a coragem de atacar de frente a prostituição organizada, esse câncer nauseabundo que ainda hoje corrói as entranhas da sociedade. Foi na Bíblia que ela hauriu forças para empreender essa tarefa sobre-humana. Eis suas palavras:

"É preciso colocarmo-nos em presença de Cristo para encontrar resposta a todas as nossas perguntas e ouvir o que o Mestre aí diz. Remeto-vos ao Livro, que é preciso abrir, estudar com singeleza de coração, sem idéias preconcebidas, e ver-se-á que o Cristo, todas as vezes que Se coloca em presença de uma mulher, torna-Se seu Libertador." 5

A Escritura e as Belas Artes

Existe no espírito de muitos a preconcebida idéia de haver certa

incompatibilidade entre a religião cristã e as belas artes. Ora, vejamos em rápidos traços a relação entre ambas.

"Este livro só," diz muito bem Carlyle Haynes, referindo-se à Bíblia, "atraiu e concentrou sobre si mesmo muito mais pensamento, e tem provocado a produção de mais obras – explanatórias, ilustrativas, apologéticas – sobre o seu texto, seu significado, exegese, doutrinas, história, geografia, etnologia, cronologia, evidências, inspiração e origem, do que toda a demais literatura do mundo reunida." E noutra parte: "Ele tem moldado o pensamento e sentimento, proporcionado graça e força à expressão, formado o estilo dos maiores mestres na eloqüência e poética, e suprido matéria para acertadas ilustrações, imagens vívidas e enérgica linguagem, aos maiores oradores do mundo." 7

O próprio Voltaire admitiu o valor literário da Escritura Sagrada, pois que, falando da história de José, disse:

"Considerada apenas como um objeto de curiosidade e literatura, é um dos mais valiosos monumentos da antigüidade, e parece haver sido a maravilha de todos os escritores orientais. É mais patética que a Odisséia de Homero; em todas as suas partes, é de uma beleza admirável, e sua conclusão arranca lágrimas de enternecimento."

E Ricardo G. Moulton, doutor em filosofia e lente da universidade de Chicago, amplia esse pensamento:

Page 67: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 67

"As orações de Deuteronômio são modelos tão nobres como as de Cícero. Lidos ao lado da poesia dos Salmos, os poemas líricos de Píndaro parecem quase aldeões. A poesia imaginativa dos gregos é perfeita em sua esfera: os profetas hebreus, porém, levam sua tão ousada imaginação até aos mistérios do mundo espiritual. Conquanto a filosofia de Platão e seus sucessores tenha um interesse especial como ponto de partida para a progressão do pensamento que ainda continua na ciência moderna, o campo da sabedoria bíblica oferece atração de outra espécie, numa progressão de pensamento que percorreu todo o seu ciclo, e chegou a um estágio de repouso.

"É muito interessante seguir a perspicácia dos historiadores clássicos em sua análise de um passado morto; mas os escritos históricos do Novo Testamento nos mantêm em contato com a vinda à existência de pensamentos e instruções que ainda se acham em nosso meio, em todo o seu vigor. E no círculo íntimo das obras-primas do mundo, entre as quais se encontram todas as classes de influências literárias, a Bíblia colocou a Jó, a rapsódia de Isaías, o Apocalipse – obras que não foram nem podem ser sobrepujadas. Nos vários gêneros de literatura a hebraica é, portanto, tão rica como a helênica; e acrescenta o interesse único da unidade que liga todas as suas formas num conjunto completo. A cultura bíblica exige, pois, que a reconheçam da mesma maneira que a cultura clássica. Dentro da capa desse Volume, se devidamente manejado, há matéria para uma educação liberal."

Que incomparável riqueza literária, por exemplo, na filosofia dos Provérbios e do Eclesiastes; na inigualável poesia dos Salmos (cujo original foi escrito em verso), e nas parábolas e ensinamentos de Cristo, como seja o Sermão da Montanha; na concisão maravilhosa do Pai Nosso; na suavidade do estilo epistolar de S. João! Às parábolas de Cristo chamou alguém "a poesia do Novo Testamento". Quem não se comove ao ler, por exemplo, a sublime parábola do filho pródigo!

Um escritor reconhecidamente ateu, o Sr. H. L. Mencken, assim se exprime sobre a beleza literária da Santa Escritura:

"É a Bíblia, inquestionavelmente, o mais lindo livro do mundo. Não há literatura, quer antiga quer moderna, que se lhe compare. ... O Salmo 23 é o maior dos hinos. ... A história de Jesus é incomparavelmente comovedora. É, na verdade, a narração mais encantadora já escrita. Ao seu lado, o melhor que encontrardes na literatura sagrada dos muçulmanos e brâmanes, dos parses e budistas, parece insípido, cediço e inútil." 8

Tomás Carlyle achava que "coisa alguma já se escrevera, na Bíblia ou fora dela, de mérito literário igual ao livro de Jó." "Homero," diz Addison, "tem inúmeros arremessos que Virgílio não foi capaz de alcançar; e no Velho Testamento encontramos passagens mais elevadas e sublimes do que qualquer trecho de Homero." Charles Dickens pôs um Novo Testamento entre os livros de seu filho mais novo, quando este deixou o lar, "porque," disse ele, "é o melhor livro que já se conheceu ou será conhecido no mundo; e porque ele ensina as melhores lições pelas quais se possa guiar toda criatura humana que procure ser verdadeira e fiel ao dever." 9

Ainda sobre o livro de Jó, o nosso José Bonifácio tem expressões bem parecidas às de Carlyle. Diz ele: "O prólogo do Fausto de Goethe é de Jó, que é o primeiro drama do mundo e talvez o poema mais antigo. Não há poesia que se possa comparar ao livro de Jó." 4

Diniz Diderot, o conhecido filósofo francês do século XVIII, fazia praça de sua incredulidade. Um dia encontrou-o um amigo íntimo explicando, com todo o fervor,

Page 68: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 68

uma passagem dos Evangelhos a sua filha. O amigo mostrou-se não pouco surpreendido com o que via, e Diderot foi-se logo justificando: "Compreendo seu espanto; diga-me, porém, que coisa melhor poderia eu dar a minha filha?! 10

Lord Byron (Jorge Gordon), um dos maiores gênios poéticos do mundo, assim se expressa:

"Neste livro augusto está o mistério dos mistérios. Ah! felizes entre todos os mortais aqueles a quem Deus dá a graça de ouvir, de dizer, de pronunciar em oração e de respeitar as palavras deste livro! Mas seria melhor que não tivessem jamais nascido, do que lerem para duvidar ou desprezar." 5

Outros poetas ingleses, com efeito, os quatro maiores (Shakespeare, Milton, Tennyson e Browning), tinham em alta conta as Escrituras, o que transparece em suas obras.

Alexandre Vinet, teólogo, filósofo e político suíço, considera a Bíblia "um vaso de perfume, cujas emanações universais sobem, de século em século, até ao trono do Cordeiro. Toda a Bíblia é um concerto sublime cujos acordes, ditados pelo próprio Deus, são qual prelúdio, alternadamente jubiloso e melancólico, humilde e triunfante, do concerto eterno dos Céus." 5

Henrique Heine, conhecido lírico alemão, representante da poesia irreverente e cética que no século passado abundou, no posfácio de sua obra Romanzero, escreveu:

"Os versos que encerravam ofensa a Deus, entreguei-os, com angustiado zelo, às chamas. É melhor que ardam os versos do que o versejador.

"Sim, retornei a Deus, qual filho pródigo, depois de haver por muito tempo apascentado os porcos, em companhia dos hegelianos [representantes da filosofia atéia de Hegel]. . .

"Devo meu esclarecimento pura e simplesmente à leitura de um livro. Sim, livro antigo e singelo, modesto como a Natureza, ... de aspecto comum e despretensioso; é como o Sol que nos aquece, como o pão que nos nutre. É livro que nos olha de modo tão confiado, tão abençoante e bondoso, como uma querida vovó. E esse livro se chama simplesmente O Livro. Chamam-lhe também Bíblia. Quem tiver perdido o seu Deus, pode reencontrá-Lo nesse Livro, e quem jamais O conheceu, deparará nele o alento da palavra divina, vindo ao seu encontro." 11

Em seu último testemunho há este trecho: "Há quatro anos abdiquei todo o orgulho filosófico, e me acheguei às idéias e aos sentimentos religiosos. Morro crente num Deus uno e eterno, criador do mundo, do qual eu imploro a misericórdia.... Lamento haver em meus escritos falado às vezes de coisas santas sem o respeito que lhes é devido."

Manuel Kant, aos 72 anos de idade, declarou: "A Bíblia é o livro cujo conteúdo, por si só, dá testemunho de sua origem divina. Ela

nos descobre a grandeza de nossa culpa e a profundidade de nossa queda, na imensidão do plano para o resgate do homem e na execução do mesmo plano."12

"Para mim os Evangelhos são verdadeiros, desde o princípio até ao fim, pois que se manifesta neles o refletido esplendor de uma sublimidade procedente da pessoa de Jesus Cristo, de uma sublimidade tão divina como nunca apareceu sobre a Terra." 13

E noutra parte: "Que o mundo progrida quanto quiser, que todos os ramos do conhecimento humano se desenvolvam ao mais alto grau, coisa alguma substituirá a Bíblia, base de toda a cultura e de toda a educação.

"É minha fé na Bíblia que me serviu de guia em minha vida moral e literária. ... Quanto mais a civilização avance, mais será empregada a Bíblia." 5

Page 69: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 69

Lacordaire, acadêmico francês, tido como o mais brilhante pregador do século XIX, assim se expressou: "Eis que há trinta anos leio este livro, e nele encontro cada dia nova luminosidade e profundezas novas." 5

Testemunhos valiosos deram Jorge V da Inglaterra, Roosevelt, Isaque Newton, Benjamim Franklin, Gladstone, Daniel Webster, o general Pershing, marechal Foch, Garibaldi, Tolstoi, Ruskin, Dostoiewski e tantos outros, de todas as camadas da sociedade e todos os ramos da ciência, das artes e da literatura.

Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras, na "Apresentação" que escreveu para a luxuosa edição da Bíblia, publicada pela Editora Abril, diz, entre outras coisas, o seguinte:

"É certo que a Bíblia vem em primeiro lugar entre os grandes livros religiosos do mundo civilizado. Há nela, no entanto, além da revelação dos profetas e da história do povo israelita, a presença de valores literários de sumo quilate que a tornam admirável e preciosa para a cultura universal e indispensável à formação do gosto, do estilo e da linguagem, em todos os idiomas nos quais tem sido traduzida....

"O manuseio da Bíblia estabelece contato permanente com as obras excelsas da beleza literária da mais remota antigüidade, exalta o espírito na deleitação de uma linguagem poética e de padrões morais como não há congêneres em outro livro sagrado ou profano. Educa e conduz, criando nas almas um lastro de doutrina e filosofia de incomparável teor, ao mesmo passo que infunde nelas a força mística que lhes comunica fé e esperança.

"Que todos devem ler a Bíblia, já o disse São João Crisóstomo, afirmando ser ela muito mais necessária aos leigos do que aos que de ofício praticam a religião ou vivem no recolhimento dos mosteiros e conventos....

"Manancial de consolo e conselho, refúgio para as horas de tormenta a atribulação, guia de exemplos e ensinamentos, mestre silencioso e permanente em disponibilidade, a Bíblia é o mais secreto confidente das penas e aflições, e ninguém sai de suas páginas sem receber apaziguadora resposta para as dúvidas, e bálsamo e estímulo nas ocasiões de angústia e desespero.

"E sobre os seus abismos e mistérios, no recôndito da palavra Divina, paira e realça o esplendor da Verdade, no Velho e no Novo Testamentos, ambos fluindo das mesmas origens cristalinas, ou seja, a inspiração do Santo Espírito. Nenhum outro livro confere maior dignidade ao homem, para quem foi escrito com o sopro de Deus.

"A sua substância é eterna; as suas dimensões incomensuráveis no tempo e no espaço. Na Bíblia encarnou-Se o Verbo e permanece."

Alfredo de Musset, que foi um torturado da dúvida, não pôde deixar de confessar que "malgré moi l'infini me tourmente", e em seus últimos dias recorreu ansiosamente à Palavra de Deus, depois de reconhecer, felizmente, que "à qui perd tout, Dieu rest encore". Foi muitas vezes por sua criada encontrado chorando sobre esse Livro, e morreu sobraçando-o.

Coelho Neto, dos maiores de nossos prosadores, robustecia na Escritura divina a sua vida interior.

"Homem de fé," diz ele, "o Livro de minh'alma, aqui o tenho: é a Bíblia. Não o encerro na biblioteca, entre os de estudo, conservo-o sempre à minha cabeceira, à mão. É dele que tiro a água para a minha sede de verdades: é dele que tiro o pão para minha fome de consolo; é dele que tiro a luz nas trevas das minhas dúvidas; é dele que tiro o bálsamo para as dores das minhas agonias. É o vaso em que, semeando a Caridade, vejo sempre

Page 70: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 70

verde a Esperança, abrindo-se na Flor celestial, que é a Fé. Eis o livro que é a maleta com que ando em peregrinação pelo mundo. Tenho nele tudo. . . . Os pontos cardeais, da manha Religião são os quatro Evangelhos. Lendo-os conforto-me e, quanto mais os medito, mais me sinto aproximar de Deus." 14

Não há brasileiro que não conhecesse, pelo menos por ouvir falar, aquela alma peregrina que foi Miguel Couto. Humberto de Campos, depois de traçar-lhe um formoso perfil, em que pinta ao vivo a entranhável bondade daquele coração de ouro, diz que às vezes o sábio, que depois de uma infância e mocidade cheia de privações e sacrifícios veio afinal a possuir um palacete dotado de todos os confortos, retraía-se inexplicavelmente, possuído de uma tristeza incompreensível. Sem dizer nada a ninguém, esperava a noite. "E quando anoitece, dizem, desce, pé ante pé, ao porão da casa, traz de lá um antigo lampião de querosene, acende-o, apaga as lâmpadas do gabinete, abre uma velha Bíblia que a mãe lhe dera quando menino, e lê, até adormecer, de cabeça nas mãos... " 15

Não estaria naquela velha Bíblia o segredo da beleza moral de Miguel Couto, de quem disse Humberto de Campos que "não se conhece caráter mais puro, espírito mais doce, nem alma que irradie maior candura, no esplendor de mais alta sabedoria", e a quem chama Fócion Serpa "a imagem viva e humana da perfeição e da bondade?"16

A música, longe de ser indiferente ao espírito que respiram as Sagradas Escrituras, encontra nas mesmas a maior fonte da mais elevada inspiração. Que no-lo digam Haydn, por meio de sua "Criação"; Beethoven, através de "O Cristão Sobre o Monte das Oliveiras"; Haendel, mediante seu "Messias"; Mendelssohn, por "Elias" e "S. Paulo"; assim também Bach, Mozart, Gounod e outros.

Acerca de "Criação", conta-se o seguinte: "Pouco antes da morte do compositor, apresentou-se esse maravilhoso oratório em

Viena, em uma série de concertos de inverno, e o velho músico, alquebrado pelo peso dos anos, dirigiu-se ao grande Odeon para ouvir sua obra. O enorme edifício estava repleto. Servos e senhoras, camponeses e proprietários, sentiam vibrar o coração de tal maneira, pelos majestosos coros e solos sublimes, que quase todos os ouvintes foram levados às lágrimas. No meio, sereno, pálido e mudo, estava sentado o compositor; mas não pôde ficar por muito tempo assim. Quando o coro chegou a esta passagem culminante: 'e houve luz!' – Haydn ergueu-se, levantou as mãos trêmulas, volvendo para o céu os olhos rasos de lágrimas, e exclamou: 'Não de mim; não de mim, mas de além veio tudo isto!' Ter-se-á rendido alguma vez um tributo mais acertado, ao caráter inspirador do Livro dos livros?"

E que diremos da pintura e da escultura? Eis Miguel Ângelo, com sua maravilhosa obra esculpida, "Moisés". Tão bela, tão

perfeita, tão viva., por assim dizer, que o próprio artista, ao contemplá-la, num arroubo de satisfação e entusiasmo lhe atira o cinzel, bradando: – Parla!

Eis a tela "Transfiguração", de Rafael; "Jacó abençoando os filhos de José", de Rembrandt; de Rubens, "A descida da cruz"; "A agonia no horto", de Guido; de Tintoretto, "A visão do juízo"; e quem desconhece "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci? Aliás, estamos divagando longe, olvidando a prata de casa: não temos nós mesmos, de nosso Pedro Américo, "Joquebede levando Moisés ao Nilo", "Cristo nas Bodas de Caná", "Pedro ressuscitando Tabita"? "O remorso de Judas" e "A fuga para o

Page 71: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 71

Egito", de Almeida Júnior? e de Rodolfo Amoedo, "A despedida de Jacó" além de outras?

A leitura das Sagradas Letras e sua influência, enfim, purificam o corpo, ensinando-o a levar vida isenta de vícios, pois que, diz o apóstolo, é ele o templo do Espírito Santo; enobrecem o cérebro, educando-lhe o gosto e avivando-lhe a faculdade perceptiva; e levantam a alma, infundindo-lhe nobreza nos propósitos e sinceridade na ação.

Não admira, pois, que, perguntando-se uma vez numa assembléia composta de católicos, protestantes, filósofos e materialistas, qual o livro que deveria levar consigo um homem sentenciado à prisão perpétua e ao qual se permitisse a posse de um só, a resposta unânime fosse: – A Bíblia!

A Escritura e o Caráter de seus Personagens

Há quem estranhe a presença, na Bíblia, de certas narrativas em que aparecem

traços menos dignos de seus protagonistas. Tais alguns episódios da vida de Noé, Ló, Abraão, Moisés e Davi, por exemplo.

Ora, é preciso termos presente que ela não o faz para justificar ou abonar tais atos. Narra-nos esses casos como simples fatos históricos, mostrando-nos as tristes conseqüências do pecado.

Até neste particular se destaca o Livro Sagrado dentre toda a literatura profana. Esta, em geral, exalta, ou pelo menos justifica os vícios e crimes de seus heróis. Sim, há mesmo uma espécie de literatura que compete com seu co-irmão na escola do crime – o cinema – apresentando como dignos de emulação os seus heróis criminosos. Não assim a Escritura. "Isso pareceu mal aos olhos do Senhor" – é frase ali muito repetida ao narrar o mau procedimento de algum personagem.

A propósito desses casos, observa Crane que "na lei, nos salmos e na profecia vemos a influência de Jeová operando como levedura entre o povo primitivo e bárbaro. Contemplando sob essa luz o Velho Testamento, torna-se ele luminoso de divindade." Cita então o exemplo de Davi, homem rude, semi-civilizado, cheio de erros crassos, mas humildemente submisso ao Espírito divino que o regenera, através de lágrimas e lutas sem fim, até alcançar "alguns dos mais elevados conceitos da Divindade que o espírito humano já concebeu." 17

Repara muito bem um escritor: "Se a Bíblia fosse um livro imoral, não seria então lido e estimado pelos homens

imorais? Os bêbados e debochados fá-la-iam sua companheira, o ladrão e o assassino tomá-la-iam por guia prático e os homens bons e mulheres honestas fugiriam dela como de uma praga. Entretanto, o contrário é o que se dá."

Na Vida e na Morte

A Escritura Sagrada ensina a viver, e fortalece para a morto. Como que toma pela

mão o crente, e o conduz são e salvo através do mal que o assedia sempre, e à hora do

Page 72: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 72

transe final não o desampara ainda: antes, dá-lhe a mão para o salto da eternidade que, tenebrosa para o descrente, é toda luz para o cristão.

Amigos dedicados e fiéis a toda a prova, todos nós os temos, felizmente. Na melhor das hipóteses, porém, acompanham-nos solícitos até ao leito de morte. Aí têm de deixar-nos. Mas o nosso Livro abre então diante de nós um novo mundo – novo e perfeito e segreda-nos no ouvido a confortadora verdade de um ressurgir, ao soar da trombeta angélica, por ocasião da vida. de Jesus (I Tessalonicenses 4:16 e 17).

Assim, só, é que se compreende o ânimo e coragem com que marcharam para a mais cruel das mortes as multidões de mártires que regaram com sangue a sementeira sagrada.

O espaço só nos permite ligeiras alusões a alguns fatos. Assaz conhecidas são as perseguições atrozes vividas sucessivamente por uma dezena de imperadores romanos, contra o Cristianismo nascente.

No tempo de Máximo, toda uma legião cristã, composta de 6.600 homens, deixou-se massacrar como ovelhas, de preferência a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. Diocleciano mandou sitiar uma cidade frígia de cristãos, incendiando-a com todos os seus habitantes. Nos sete anos que durou a perseguição sob esse imperador-monstro, diz Eusébio que "os carrascos se cansavam, as espadas e instrumentos de tortura se embotavam e partiam."

E como, então, essas carnificinas não entibiavam os perseguidos? Que poder esse, que tal ânimo lhes insuflava ao coração palpitante, entesando-lhes com força invicta o corpo muitas vezes macilento e alquebrado pelos tormentos anteriores?

As fileiras dos cristãos não se rarefaziam. Os claros eram preenchidos imediatamente. No anfiteatro Nero estadeava sua pompa e atendia ao clamor do povo, por "pão e circo!" Cristãos eram lançados às feras ou serviam de archotes vivos. E em meio de tudo isso, eis que se ergue um espectador aqui, outro ali, bradando a confissão irresistível: "Eu também sou cristão!"

"Os procônsules tinham ordem de destruir os cristãos: quanto mais os caçavam, mais cristãos apareciam, até que afinal, homens se acotovelavam para junto dos juízes, e pediam que se lhes permitisse morrer por Cristo. Inventaram-se tormentos; santos foram arrastados por cavalos selvagens; lançavam-nos sobre grelhas aquecidas ao rubro; arrancavam-lhes a pele, pedaço por pedaço; eram serrados; eram envolvidos em peles e lambuzados de piche, e amarrados a postes, nos jardins de Nero, ateando-se-lhes fogo à noite; eram deixados a apodrecer em masmorras; no anfiteatro serviam de espetáculo a todos os homens; os ursos os esmagavam entre as garras; despedaçavam-nos os leões; touros bravios sacudiam-nos nas pontas dos chifres: e no entanto o cristianismo se disseminou. Todas as espadas dos legionários que haviam infligido derrota aos exércitos de todas as nações, vencendo os invencíveis gauleses e os bretões selvagens, não puderam resistir ao débil cristianismo – pois a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." 18

E não foi menor em proporção nem menos forte em seu testemunho, o caudal de sangue derramado posteriormente por homens que, dizendo-se cristãos, pretendiam, a ferro e fogo, monopolizar as consciências.

Assim é que, segundo calcula Guiness, ascende a cinqüenta milhões o número dos mártires da inquisição. Setenta e cinco mil foram os albigenses sacrificados,

Page 73: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 73

cinqüenta mil os huguenotes. Na noite de S. Bartolomeu massacraram-se quarenta mil, segundo uns, e setenta mil, segundo outros. Baville, sozinho, mandou para a fogueira, a roda ou o cavalete, doze mil.

Na Irlanda foram mortos de vinte a trinta mil. Sob o reinado de Carlos V executaram-se, nos Países Baixos, cinqüenta mil. A tal ponto chegou ali a matança que Filipe II, seu sucessor, teve receios de que o país ficasse despovoado. Na Espanha, Torquemada "inventava para os hereges novas, imaginosas e horríveis maneiras de execução, gabando-se de haver, ele só, queimado vivos mais de oito mil deles."

No espaço de três meses na França foram trucidados não menos de cem mil; dos valdenses a soma de mártires alcançou um milhão. Multidões de pessoas foram proscritas, banidas, queimadas, mortas a fome, enterradas vivas, sufocadas, afogadas, assassinadas, aturadas...

" 'Victi sumus!' – somos vencidos! – exclamou um procônsul romano, ao ver que os tormentos não conseguiam arrancar um gemido a um jovem. 'Vitória! Vitória!' – bradou, do meio da fogueira, B. Bartoccio, em Roma (1569). E Antônio Oldevin, em Cremona: 'Ó doce fogo! Ó amável chama!' 'Eu conheço os huguenotes', disse o intendente Baville a um juiz; 'com nenhuma tortura conseguireis arrancar-lhes uma retratação ou uma palavra de queixa.' E com o semblante a irradiar celestial alegria, o Pastor Brousson, por ele condenado, subiu os degraus do patíbulo. O carrasco testificou depois: 'Já executei muitas pessoas; com ninguém, porém, tremi tanto como com o Sr. Brousson.' 'Tende ânimo, irmãos, tende ânimo!' foram as últimas palavras que se ouviram do meio das chamas em que Nartialis Alba, com quatro amigos, foi em 1533 queimado vivo, na Place des Terreaux." 19

Diz Teodoro Fliedner que humildes mulheres iam ao encontro das torturas cantando salmos em altas vozes, e confessando ser Cristo o Salvador; donzelas iam para a morte como se fossem ao casamento; os homens alegravam-se ao ver os terríveis preparativos e instrumentos de tortura e, do alto da fogueira contemplavam, meio assados, as feridas recebidas de tenazes em brasa. E morriam sorrindo nos ganchos dos algozes. O povo, diz ainda Fliedner, citado por Bettex, vendo depois os corpos carbonizados pendurados a altos postes, presos com cadeias horríveis, começou a convencer-se de que deveria estar com os mártires a justiça.

Que poder, senão o infundido pelos Sagrados Evangelhos, seria capaz de sustentar as legiões de mártires através de semelhantes torturas?

Novos Saulos

São inúmeros os intelectuais de todos os tempos que, lançando-se ao estudo das

Escrituras a fim de buscar argumentos contra ela, acabaram os mais sinceros e convictos crentes. Já nos primórdios do Cristianismo, no segundo século o filósofo ateniense Atenágoras pôs-se a estudar as doutrinas cristãs para refutá-las. O resultado foi a sua Apologia dos Cristãos, dirigida a Marco Aurélio e a seu filho Cômodo, em que fazia a defesa das doutrinas que pretendera demolir.

Mais ou menos pelo mesmo tempo, o filósofo assírio Taciano, convertendo-se ao Cristianismo, escrevia sua obra Oratio ed Graecos, na qual assim narra sua conversão:

Page 74: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 74

"Enquanto eu dedicava a mais séria atenção ao assunto [o encontro da verdade], aconteceu deparar certos escritos bárbaros [referia-se ao Velho Testamento], antigos demais para que fossem comparados às opiniões dos gregos, e por demais divinos para se compararem com os seus erros; e fui levado a neles depositar fé, pela sua linguagem despretensiosa, o caráter não artificial dos escritores, a ciência revelada quanto a acontecimentos futuros, a excelente qualidade dos preceitos, e a declaração de centralizar-se o governo do universo em um só Ser."

A Escritura Sagrada não perdeu ainda em nossos dias, pejados de impiedade e descrença, o maravilhoso poder de transformar corações.

Dois ingleses de alto coturno, o Barão Lyttleton e o Dr. Gilbert West, resolveram demolir o Cristianismo. Para tanto, concluíram, seria preciso exterminar a crença em dois de seus princípios básicos: a ressurreição de Cristo e a conversão de S. Paulo. E combinaram escrever, Lyttleton uma obra em que refutasse o registo bíblico da conversão do apóstolo, e West outra em que mostrasse a impossibilidade da ressurreição de Cristo.

Passado algum tempo, encontram-se os dois. – Então, escreveu o livro? pergunta. West a Lyttleton. – Escrevi, responde este; mas examinando as provas para refutar a conversão de

S. Palito, convenci-me de sua verdade, bem como da legitimidade do Cristianismo. E o senhor, escreveu o seu, contra a ressurreição de Cristo?

– Sim, mas estudando e pesando todas as evidências, segundo as reconhecidas regras do procedimento judicial, também me convenci de que Jesus Cristo realmente ressurgiu do túmulo.

E assim, cada um dos ex-ateus produziu uma obra em defesa das doutrinas básicas do Cristianismo respectivamente Observações sobre a Conversão de S. Paulo e Observações Sobre a Ressurreição de Cristo.

Do comboio em que viajavam dois céticos convictos, viram através da janelinha algumas igrejas a distância. O quadro levou um deles a observar ao companheiro que a vida de Jesus, fosse embora um mito, havia de dar assunto para belo romance.

Achou-lhe razão o outro, acrescentando que era ele exatamente quem o deveria escrever. Mas que pintasse a Jesus como simples personagem de ficção, expondo sem rodeios a falsidade do Cristianismo.

O primeiro, que não era senão o general Lew Wallace, seguiu o conselho do amigo, o famoso incrédulo Roberto Ingersoll. E o volume produzido com essas intenções atéias, qual seria? – Ben-Hur, livro puramente evangélico, suave hino a Jesus – o Filho de Deus! Ao terminar o quarto capítulo dessa obra sentiu-se Wallace, bem a contragosto, convencido não só da historicidade, mas mesmo da divindade de Jesus. E eis como relata o próprio escritor, comovedoramente, sua evolução espiritual:

"Eu estava perturbado. Havia começado a escrever um livro com o objetivo de provar ao mundo que jamais vivera na Terra uma pessoa como Jesus Cristo, mas encontrei-me em face da irrefutável evidência de que era personagem tão real como Júlio César, Marco Antônio, Virgílio, Dante e muitos outros que viveram e ensinaram no passado. Encarei de frente o assunto e me adverti de que, se era personagem real – e disto não havia dúvida – não seria Ele também o Filho de Deus e o Redentor do mundo? Começaram a angustiar-me uma inquietude e temor de que eu estivesse em erro.

Page 75: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 75

"Além disso ia ganhando terreno a crescente convicção de que, assim como fora provada a existência de Jesus, também poderia Ele ser tudo que declarava ser. Esta convicção se fez mais e mais forte, até que, uma noite em que me encontrava no gabinete de minha casa em Indianápolis, se converteu em certeza plena.

"Caindo de joelhos, pela primeira vez em minha vida, orei a Deus que Se me revelasse, perdoasse meus pecados e me ajudasse a ser um de Seus verdadeiros seguidores. Logo uma grande paz me encheu a alma – à uma hora da madrugada. Desci ao dormitório de minha esposa e, despertando-a, contei-lhe que havia aceito a Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador. Deveríeis ter-lhe visto a expressão do rosto enquanto eu lhe falava de minha nova fé.

"– Ó Lew! exclamou ela; tenho orado, para que isso se desse, desde que me comunicaste a intenção de escrever o livro; orei pedindo que encontrasses o Senhor ao fazer esse trabalho.

"Ajoelhamo-nos ao lado do leito nessa madrugada, e juntos rendemos graças a Deus por Sua misericórdia e solicitude, guiando-me para junto de Si. Não creio que exista no Céu gozo mais doce que esse que experimentamos nessa manhã em que, depois de anos de vida conjugal, nos unimos nos vínculos do companheirismo cristão. Perguntei a minha esposa:

"– Que devo fazer com a matéria que tenho coligido, a custa de tanto trabalho e despesas?

"– Oh! volveu ela, modifica o quarto capítulo, termina o livro e envia-o pelo mundo para provar com teu estudo e investigação que Jesus Cristo era tudo que declarava ser – o Filho de Deus e Redentor do mundo." 19

Noticiaram os jornais, faz algum tempo, o falecimento, na Alemanha, de um grande teólogo – Adolf Deissmann. O mundo crente deve-lhe belas obras de defesa da fé. Entretanto, era outrora ateu convicto e, à semelhança de Ramsay (ver pág. 73), foi às terras bíblicas em busca de provas arqueológicas contra a Escritura. O plano foi contraproducente: os ladrilhos milenares e os velhos monumentos, em ruínas embora, construíram-lhe o edifício inamovível de uma inabalável fé. E escreveu: Luz do Antigo Oriente, A Religião de Jesus e a Fé do Apóstolo S. Paulo, e outras obras de valor.

A Vitória Sobre o Coração

Maior ainda que sobre os caprichos do intelecto, é sem dúvida a vitória sobre as

propensões indignas de um coração transviado. Agostinho foi jovem libertino, inteiramente inclinado à vida de prazeres

profanos, até que ouviu o "tolle, lege!" ao mesmo tempo que via sobre uma mesinha um exemplar dos evangelhos. Abriu-o e deu com os olhos neste passo: "Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências." Romanos 13:13 e 14. Foi o bastante. Esse mesmo Agostinho, que confessou posteriormente ter sido "repugnante" a Deus em seu pecado, tornou-se o santo que distribuía pelos pobres todos os seus bens e cuja vida se impunha como exemplo de piedade e pureza. 20

Page 76: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 76

Faz anos, morreu na capital de S. Paulo distinto membro da Academia Brasileira de Letras, cuja vida houve quem a comparasse com a de Agostinho. Como este, abandonara-se a prazeres inconfessáveis. Mas, di-lo ele em seu livro póstumo,

"ao cabo de bem longa e de bem lancinante provação, eu me encontrei afinal com Cristo.... Na minha angústia, toquei-Lhe com as mãos trêmulas a ourela do vestido. E perguntei-Lhe ansioso: Quem sois vós? Ele me disse: 'Eu sou o caminho, a verdade, e a vida.' Que acento o acento daquela voz! Nunca homem nenhum falou como aquele Homem.

"Cheguei-me totalmente a Ele. Sentamo-nos um ao lado do outro. Conversamos. Eu vi, sem detença, que me havia encontrado com o amigo de que carecia. Com o amigo que é hoje o meu melhor amigo. O amigo supremo. O único amigo certo na hora incerta. Depois que O conheci, depois que O fitei de perto, depois que Lhe segurei as mãos, depois que Lhe falei confiadamente, tudo, absolutamente tudo, mudou na minha existência como por encanto.

"Ele, quando me sentiu assim mudado, homem novo, quis entrar na minha morada. Eu Lhe disse: Senhor, a minha morada está arruinada e velha. Eu não sou digno de que entreis na minha morada. Mas Ele não me ouviu. Veio. Entrou. Viu o desmantelo da casa, o encardido das paredes, o bafio das alcovas, a sordície do madeiramento. Mas com a Sua presença, só com a Sua presença, a lôbrega casa carcomida refez-se de pronto. E ficou linda, linda. A um gesto dEle, um gesto só, perpassou logo por ela o ar oxigenado e fresco da saúde, iluminou-se tudo de ouro vivo, luziu o sol esbanjadamente pelos cantos mais escuros..." 21

Por isso pôde Paulo Setúbal, que a ele nos referimos, fechar os olhos com as palavras: "Diga aos meus amigos que eu morro feliz, porque tenho fé." Era Jorge Mueller filho de abastado coletor de impostos, que o matriculou numa universidade. Aí não tardou a patentear-se o seu caráter leviano. De queda em queda, tornou-se perdulário, ébrio e ladrão. Defraudava o pai, freqüentava as tabernas e foi encontrado a jogar cartas na madrugada em que sua mãe jazia moribunda. Continuou subtraindo dinheiro ao pai, hospedando-se em finos hotéis e saindo sem pagar as contas. Dissoluto, chafurdou nos pecados mais baixos e foi parar na prisão.

Livre desta, depois de algum tempo, acompanhou certa noite um amigo a uma reunião religiosa, em casa de pessoa de suas relações. A exposição da Palavra divina revolucionou o coração de Mueller, dando-lhe à vida um rumo inteiramente diverso. Sem vintém, e sem pedir coisa alguma a quem quer que fosse, fundou escolas que hoje ainda florescem nas cinco partes do mundo. Até ao ano de sua morte (1897), haviam-se educado nessas escolas121.683 pessoas, tendo sido por elas distribuídos 281.652 exemplares das Escrituras Sagradas e 1.448.662 Novos Testamentos. Criou e educou em seu vasto orfanato, 9.844 crianças. Com que recursos? Simplesmente confiando em Deus e a Ele orando. Acontecia às vezes acabar-se a provisão de mantimentos. Não havia nada para a próxima refeição. Mueller e seus companheiros imploravam a intervenção de Deus, e chegava, sem ser solicitada, a contribuição de algum amigo da causa.

No tempo do massacre dos armênios pelos turcos, um soldado perseguiu um rapaz e sua irmã, apertando-os num canto de muro. À vista da menina matou aí o jovem. Aquela, porém, conseguiu escapar, pulando o muro. Mais tarde, diplomada enfermeira, foi obrigada a trabalhar num hospital turco. Aí lhe trouxeram um dia, por

Page 77: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 77

acaso, gravemente enfermo, o mesmo soldado que lhe matara o irmão. O menor descuido teria causado a morte do doente. A jovem, porém, excedeu-se em desvelos. Restabelecido o soldado, reconheceu sua bondosa enfermeira, e perguntou-lhe um dia porque não o abandonara à morte.

– Sou seguidora dAquele que disse: "Amai a vossos inimigos ... fazei bem aos que vos odeiam", foi a resposta da jovem.

Depois de um silêncio volveu o doente: – Não sabia que houvesse uma religião assim. Se essa é a sua religião, diga-me

alguma coisa mais a respeito, pois quero segui-la. Um afamado pugilista inglês foi um dia vencido pela Escritura, que se lhe

aninhou no coração e transformou a vida. Logo depois de convertido encontrou na rua um antigo rival que, sabendo do ocorrido, o desafiou zombeteiramente para uma luta, dando-lhe logo um murro no rosto, com violência tal que saltou o sangue. Limpando calmamente a face, volveu ao provocador:

– Se eu não conhecesse a Bíblia, matá-lo-ia. Mas perdôo-lhe, e não quero lutar. Numa linda capital de Estado brasileiro, conhecido político, farto das lutas e

ingratidões humanas, assim como das bolotas do pecado, resolve pôr termo à vida. É quando alguém o procura, levando-lhe um livro evangélico. Lê-o, interessa-se, torna-se crente convicto. Disputam-lhe hoje os serviços de advogado competente e integérrimo.

No extremo sul de nosso país, o evangelho vai bater à porta de resoluto anarquista. Aceita a fé cristã, e o lobo se torna cordeiro. Hoje prega a mansidão do evangelho de Cristo nas mais afastadas selvas do Brasil.

Vivia no sertão de Minas Gerais um homem que, de crime em crime, se tornou um bandido que toda a redondeza temia. Chamavam-lhe "o lobo da floresta". Passando um dia, na localidade em que morava, um fervoroso crente na Escritura Sagrada, este o convidou a visitá-lo, dando-lhe de presente um exemplar do Novo Testamento e outro do conhecido livro de Bunyan: O Peregrino. Cerca de um ano depois o mesmo bandido voltou a visitar o ministro do Evangelho, dizendo-lhe que se convertera e ia entregar-se à justiça. O criminoso, havia muito procurado pela polícia, por certo que nenhum castigo menor poderia receber do que a pena máxima. Deus, porém, interveio em favor do pecador penitente: respondeu a júri e saiu livrei Não precisava mais de recursos humanos para regenerar-se. Esta obra, já a operara o poder maravilhoso da Palavra divina.

Em Ribeirão Preto, Estado de S. Paulo, uma velha lavadeira constituía o objeto dos motejos e ridículo dos garotos. É que a pobre era escrava do álcool. Fizera tudo para livrar-se das garras do vício. Mas debalde. Dominava-a o desejo, bebia e andava a rolar pelas sarjetas. Um dia uma alma caridosa leu-lhe um trecho dos Evangelhos. A velha, que estava com a garrafa ao seio, para ir à taverna buscar a pinga, voltou sem ela. E no dia seguinte foi de novo ouvir a leitura. A garrafa nunca mais se encheu. Ela não mais caiu na sarjeta. Agora, em vez de escarnecida pela populaça, respeitavam-na todos, disputando-lhe os serviços de lavadeira perita.

Page 78: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 78

E de casos como este poder-se-iam encher volumes sem fim. São ocorrências cotidianas.

Viajava certa ocasião pelo oeste americano, um jovem incrédulo em companhia de um tio. Surpreendeu-os a noite antes de alcançar uma cidade, e viram-se obrigados a pedir pouso em uma choupana à beira da estrada. Como conduzissem consigo não poucos haveres, e desconfiassem muito do hospedeiro, que lhe indicara um dos dois únicos aposentos da habitação, combinaram que um deles vigiaria até à meia-noite, arma em punho, e o outro até ao amanhecer. Em dado momento os viajantes olharam por uma fenda da fechadura e viram o velho, aspecto rústico, tomar de uma prateleira uma Bíblia, lê-la por uns momentos e ajoelhar-se depois, a orar. O jovem descrente pôs-se então a tirar o paletó e fazer menção de ir para a cama, ao que o tio lhe observou:

– Pensei que você fosse ficar vigiando... O pretenso ateu, porém, sabia que não há necessidade de vigiar, empunhando

bacamarte e pistola, numa casa "santificada pela Palavra de Deus e consagrada pela voz da oração".

Em certo hospital há um doente que, a julgar pelas aparências, dir-se-ia o mais infeliz dentre os infelizes: paralítico, só mexe a cabeça e as mãos, sofrendo por vezes dores atrozes. Mas ele tem como companheira inseparável uma Bíblia. E eis o que diz:

– Não só os dias, mas também as noites me são demasiado curtas para louvar a Deus, com júbilo e lágrimas de alegria, por tudo que me proporcionou em Sua Palavra.

"Por que motivo tem a Bíblia esse surpreendente poder sobre os corações?" indaga Bettex; e responde ele mesmo: "Por isso que ela diz justamente o contrário daquilo que ensinam todos os livros sagrados, de todos os povos. Ela vence o homem, dizendo-lhe o que ele menos deseja ouvir, e o que mais amargamente lhe fere os ouvidos – o que é também uma característica de sua elevada origem."

A Última Hora do Ateu

A enfermeira que assistiu a Voltaire em seus últimos momentos, foi certa vez

chamada a velar junto ao leito de um enfermo. Quis então saber se este era crente ou incrédulo.

– É crente sincero, responderam-lhe; mas, por que faz questão disso? – É que assisti a Voltaire à hora da morte, volveu a enfermeira; e por todas as

riquezas da Europa, jamais quero ver outro ateu morrer! Anatole France, infelizmente também cético, ao perguntar-lhe seu médico, Dr.

Mignon, como passava, disse: – Doutor, veja aqui o homem mais infeliz do mundo! (E pedia-lhe

veementemente que o matasse, o envenenasse. ) Não admira, pois, que o aspecto que apresenta aos ateus a morte, seja tão

tenebroso que arranque a um Roberto Ingersoll, junto à sepultura aberta de seu irmão, as desoladoras frases:

"Sim, seja no mar, ou entre os cachopos de longínqua praia, um naufrágio assinalará afinal o termo de cada um de nós. E toda a vida, não importa se cada uma de suas horas

Page 79: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 79

haja sido enriquecida pelo amor ou cada um de seus momentos adornado com as jóias do prazer, converter-se-á enfim na tragédia mais triste, mais abismal e obscura que se possa entretecer na trama do mistério da morte. A vida é o vale estreito que medeia entre os frios e estéreis penhascos de duas eternidades. Em vão procuramos enxergar para além de suas alturas. Gritamos com todas as forças, e a única resposta que nos chega é o eco de nosso lamentoso clamor."

"Vou antes de tempo, e não sei o que me espera", foram as palavras de afamado reitor de universidade. E Darwin, o pobre, mistificado Darwin, lamentou, quando se lhe avizinhava a morte:

"Nos dias da minha mocidade eu era profundamente religioso; mas fiz minha mente uma espécie de máquina para fabricar leis gerais no mundo material, e a minha espiritualidade atrofiou-se." 22

Tomás Hobbes, que em seu livro Leviatã se confessa partidário, em filosofia, do materialismo; em moral, do egoísmo; e em política, do despotismo, ao avizinhar-se do instante supremo, disse: "Cheguei ao momento de dar um salto no escuro."

O cruel e libertino rei Henrique VIII, da Inglaterra, lamentou: "Vai-se-me tudo: Reino, corpo e alma!"

Do cético Voltaire foram as últimas palavras: "Vejo uma mão, que da Eternidade baixa até mim, para deter-me."

Fernando Augusto Bebel (1840-1913), o inflamado orador incrédulo da Alemanha, chora em seu leito de morte: "Oh, quanto tenho de sofrer! Por toda parte me vêem ao encontro, com ameaçadoras mãos erguidas e me amaldiçoam, bradando que eu bem cuidei de suas necessidades materiais, sim, mas lhes roubei o elemento espiritual, tornando-os assim infelizes. Uni-vos numa liga e proclamai através de todo o mundo: Deus vive! Deus vive!" 11

Manuel Maria Barbosa du Bocage foi poeta de extraordinários recursos de inteligência. Libertino, esbanjou seus talentos em produções de baixo nível moral. No fim de sua vida confessava:

"Meu ser evaporei na lida insana Do tropel das paixões que me arrastava. . . "

E pedia a Deus que, quando chegasse o momento da morte, soubesse "morrer o que viver não soube". Em outro soneto pede à posteridade: "Queima os meus versos, crê na Eternidade."

Em 1925 celebrou-se o centenário de Huxley. A Associação do Racionalismo, em Paris, fez grande banquete. À sobremesa ergueu-se um dos duzentos convivas, o Sr. Whale, para fazer o elogio daquele apóstolo do transformismo. Desabafou-se em cruéis e irônicas blasfêmias contra a fé, referiu-se desdenhosamente à visão de Paulo no caminho de Damasco e sentou-se. Imediatamente o viram tombar a cabeça para trás, revirar os olhos e escancarar a boca nos últimos estertores. Minutos depois era cadáver.

Guy de Maupassant foi outro caso doloroso: Resolveu escrever um livro blasfemo. E escreveu-o de fato. De que tamanho? – Trinta e cinco linhas. A essa altura não pôde prosseguir – abandonou-o a inteligência, morrendo ele alguns anos depois.

Page 80: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 80

Certo homem, espírito religioso, visitando um fazendeiro antigo seu, veio a falar no paraíso. O lavrador sorriu, apontando para suas luxuriantes plantações e dizendo:

– Aquilo é que é meu paraíso! Algum tempo depois recebeu a mesma visita. Tudo respirava ainda prosperidade:

as plantas verdejantes, o lago sereno. O fazendeiro, porém, achava-se estirado no sofá, profundamente acabrunhado: seu filho querido afogara-se no lago; uma filha fizera casamento infeliz; e ele mesmo estava atacado de moléstia incurável. Entra a filha menor e pergunta:

– Papai, vou à cidade agora ; quer que lhe traga alguma coisa? – Uma pistola! responde o miserável, cerrando os dentes. Um cético notável, W. O. Saunders, descreveu vividamente a idéia que, como

incrédulo, o acabrunhava, e que deve bem ser a penosa concepção da vida por parte da classe que representa:

"Surpreender-vos-eis, provavelmente, de saber que o agnóstico inveja a vossa fé em Deus, a positiva crença num Céu depois da morte, e a bendita certeza de que haveis de encontrar vossos queridos numa vida além, na qual não haverá tristeza nem dor. Ele daria tudo, para poder abraçar essa fé e ser por ela confortado....

"Poderá o agnóstico mostrar fisionomia animada e encarar a vida com heróicos sorrisos. Mas não é feliz.... Posto em respeito e reverência ante a vastidão e majestade do universo, não sabendo de onde veio nem porque, aterrado pela grandeza estupenda do espaço e a infinitude do tempo, humilhado pela minúscula pequenez própria, cônscio de sua fragilidade, sua fraqueza e transitoriedade, não julgais que também ele por vezes anseie por um bordão a que se apoiar? Também ele leva uma cruz....

"Para ele a Terra não é senão uma traiçoeira jangada a vagar nas insondáveis águas da eternidade, sem horizonte à vista....

"Tendes aqui um dos mais solitários e mais infelizes indivíduos da Terra." 23 Foi também esta, sem dúvida, a impressão que da vida tinha Buda, que ao morrer

exclamou: "Tudo é vão!" "Acta est fabula" (está representada a peça) disse, expirando, César Augusto.

Esta extrema vaidade da vida sem a diretriz da fé, deve também tê-la sentido pungentemente aquele escritor que, ao concluir um de seus livros de defesa do ateísmo, foi, de seu gabinete, chamado para junto do leito de morte de sua filhinha.

– Papai, balbucia-lhe ela, que devo crer? O senhor me ensina que Jesus Cristo não existe; mamãe diz que Ele é meu Salvador, e que posso morrer confiada em Seus méritos e na salvação que oferece. Que devo fazer, então?

O infeliz pai tentou debalde engolir o nó que lhe apertava a garganta, e respondeu: – Minha filha, crê no Cristo de tua mãe e entrega-te aos Seus cuidados!

A Última Hora do Crente

São Crisóstomo entregou-se ao martírio exclamando: "Louvado seja Deus por

tudo!" Jorge Frederico Haendel, compositor de tão apreciados oratórios, despediu-se da

vida com a exclamação de Jó: "Sei que vive meu Redentor!"

Page 81: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 81

Sentindo que seu fim se avizinhava, disse ao seu médico o Barão Henrique von Stein, a quem a Prússia do século passado deveu importantes reformas liberais: "Não temo a morte; bem sei o que valho aos olhos de Deus; sou um pobre pecador, e unicamente os méritos de meu Redentor me alcançarão a salvação eterna."

Ao visitar o rei Henrique III da França o escritor e sábio Bernardo Palissy que, como huguenote, se achava preso na Bastilha por causa de sua fé, disse-lhe aquele:

– Meu caro, se o senhor não ceder, nesta questão de religião, infelizmente terei de deixá-lo em mãos inimigas.

Respondeu Palissy: – Nem Vossa Majestade, nem aqueles sob cujo domínio estais, terão sobre mim qualquer poder, pois sei morrer 11

Nas selvas do Peru, jaz no leito de morte uma meninazinha cristã. Ei-la que pronuncia aos queridos que lhe cercam o leito, as derradeiras palavras: "Não chorem nem se aflijam por mim, porque não tenho medo. Vou dormir em Jesus e no dia da ressurreição os verei outra vez. Ha-ki-sin-ca-ma! (Até outra vista!)"

"Está muito bem" foram as últimas palavras do grande Washington. Compare-se esta tranqüila conformação de um crente, com a tortura mental do moribundo ateu.

Afonso Pena, um dos nossos presidentes, exprimiu, ao morrer, em quatro palavras significativas os seus resignados sentimentos: "Deus, Pátria, Família, Liberdade!" 24

"Tragam-me o Livro!" pediu Walter Scott, ao morrer. Perguntando-lhe o genro qual o livro desejado, volveu o moribundo: "Só existe um Livro!" E tinha razão, pois que o próprio termo bíblia é o plural do grego biblion, que quer dizer o Livro por excelência. A Escritura Sagrada não é um livro qualquer mas o Livro.

Ao serem em 1681 enforcadas duas mocinhas escocesas, por amor de sua fé, Marion Harvie, que era uma delas e tinha apenas vinte anos, animou a companheira, Isabel Alison: "Vamos, Isabel, cantemos o Salmo 23!"

Torturado pelos algozes, que lhe partiram o braço esquerdo e deslocaram o omoplata, Savonarola comprazia-se em escrever meditações sobre os Salmos 31 e 51, e confortava-se com repetir as palavras do capítulo 27: "O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?" "Ainda que um exército se acampe contra mim, não se atemorizará o meu coração; e, se estourar contra mim a guerra, ainda assim terei confiança." 25 E nesse espírito de serenidade e confiança foi ao encontro da execução, dormindo como uma criança na noite anterior à mesma, e sendo visto a sorrir em suave sonho.

O grande guia religioso John Wesley, e o conhecido estadista Oliver Cromwell, ambos morreram balbuciando as sublimes palavras do Salmo 46: "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia."

Guilherme Wilberforce, a quem já nos referimos noutra parte, disse antes de morrer: "Lede a Bíblia, lede a Bíblia. . . . " 26

Um missionário que passou trinta anos lançando a semente do bem no coração de antropófagos da Oceania, e que foi João Paton, ao sentir aumentar paulatinamente a fraqueza física e avizinhar-se-lhe a morte, dizia muitas vezes aos que o iam visitar: "Não tenho a mais pequenina sombra de dúvida, sinto uma paz perfeita." 27

Page 82: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 82

Guilherme Carey, o célebre orientalista inglês que tanto fez em favor da fé cristã e da civilização na pobre índia, autor de versões da Escritura para vinte e quatro línguas do Oriente, disse, ao terminar a correção da última folha de sua tradução do Novo Testamento em bengalim: "Minha obra está realizada; nada mais tenho a fazer, senão aguardar a vontade de Deus." 28 Ao ter em mão o primeiro volume impresso dessa edição do Novo Testamento, serviu-se dele para pregar um sermão baseado nas palavras de Simeão, quando tomou nos braços o menino Jesus: "Agora é, Senhor, que Tu despedes ao Teu servo em paz: ... porque já os meus olhos viram o Salvador."

O grande apóstolo S. Paulo olha de frente a morte próxima e faz esta profissão: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé." II Timóteo 4 :7.

E o próprio Cristo, erguido no madeiro infamante, remata uma vida toda consagrada a santa e benfazeja atividade, bradando: "Está consumado!"

Concluindo, desejaria dizer com S. Paulo (Hebreus 11:32): "E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário" para citar os inumeráveis casos que em torno de nós enxameiam, comprovantes do poder moral da Escritura Sagrada. E bem acertaria ainda, aplicando ao mesmo assunto as palavras de S. João (21:25), referentes às obras de Jesus: "Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos."

A Santa Bíblia faz de um Saulo perseguidor, um Paulo que é a maior glória

dentre os apóstolos; de um Pedro impulsivo e pusilânime, uma coluna inamovível; de um João violento e desconfiado, a mais mansa e pura alma dentre os doze. E tais milagres de regeneração, verdadeiros novos nascimentos, efetua-os ela ainda hoje, diariamente, aos nossos olhos. Sim, o Livro fala hoje ainda – ora com voz tonitruante, em clarinadas, ora em sons suaves como o ciciar da brisa e brandos qual murmúrio de regato na areia.

Não quererás você, leitor amigo, abrir alma e coração a essa influência bendita?

Conversão de um Ateu UM incrédulo de espírito muito agudo propôs-se a estudar a Bíblia, e começou a leitura no

Gênesis. Ao chegar aos Dez Mandamentos, disse a um amigo: "Vou dizer-lhe o que eu pensava. Eu supunha que Moisés tivesse sido o guia de uma horda de bandidos; que, por ter espírito forte, adquiriu grande influência sobre povos supersticiosos; e que no Monte Sinai ele exibiu algumas espécie de fogos de vista, para assombro de seus ignorantes seguidores que, no misto de temor e superstição que possuíam, imaginavam ser sobrenatural aquela exibição.

Agora, tenho estado a considerar a natureza da lei. Tenho procurado ver se poderia acrescentar-lhe qualquer coisa, ou dela tirar algo, de maneira a torná-la melhor. Senhor, não o consigo. Ela é perfeita. O primeiro mandamento nos leva a fazer do Criador o objeto de nosso supremo amor e reverência. Está certo: Se é Ele nosso Criador, Preservador, e Benfeitor Supremo, devemos como tal tratá-Lo, a Ele e a nenhum outro. O segundo proíbe a idolatria. Está muito certo. O terceiro proíbe a profanidade. O quarto determina um período para o culto religioso. Se existe Deus, por certo que deve ser adorado. É justo que haja uma homenagem exterior, expressiva de nosso respeito interior. Se Deus deve ser adorado, é apropriado que seja posto à parte certo período para esse propósito, quando todos O possam adorar

Page 83: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 83

unânimes, e sem interrupção. Um dia dentre sete na verdade não é demais, e também não me parece que seja demasiado pouco.

O quinto define os deveres peculiares procedentes das relações de família. As ofensas a nosso próximo são a seguir classificadas pela lei moral. Dividem-se em ofensas à vida, à castidade, à propriedade e ao caráter; e noto que em cada um deles é expressamente proibida a maior ofensa. Assim, a maior ofensa à vida é o assassínio; à castidade, o adultério; à propriedade, o furto; ao caráter, o perjúrio. Ora, a maior ofensa tem de incluir a menor, da mesma espécie. O assassínio tem de abranger todo o prejuízo à vida; o adultério, toda a ofensa à pureza; e assim por diante. E o código moral é rematado por uma ordem que proíbe todo desejo impróprio em relação a nosso próximo.

Tenho ficado a pensar: Onde terá Moisés buscado essa lei? Tenho lido a História. Os egípcios e as nações circunvizinhas eram idólatras. Assim o eram os gregos e os romanos; e o mais sábio ou melhor dos gregos ou dos romanos jamais produziu um código de moral como esse. De onde recebeu Moisés essa lei que ultrapassa a sabedoria e a filosofia dos séculos mais adiantados? Viveu ele numa época relativamente bárbara; deu, porém, uma lei na qual a erudição e sagacidade de todos os tempos subseqüentes não descobrem uma falha sequer. De onde a recebeu? Não pode ele ter sobrepujado tanto a sua época, que a produzisse ele mesmo. Estou persuadido quanto a sua origem. Ele a recebeu do Céu. Estou convencido da verdade da religião da Bíblia." O incrédulo (já não mais incrédulo) permaneceu até à morte firme crente na verdade do cristianismo. 29

Referências: 1. Histoire de l'Economie Politique, Blanqui. 2. Famous Infidels who Found Christ, Lee S. Wheeler. 3. The Bible – Book Divine, Fannie D. Chase. 4. José Bonifácio, Otávio Tarquínio de Sousa. 5. L'Influence Remarquable de la Bible, Ch. Gross. 6. O Cristianismo e o Progresso, Antônio da Costa. 7. The Bible – Is it a True Book? Carlyle B. Haynes. 8. Treatise on the Gods, H. L. Mencken. 9. The Literary Primacy of the Bible, George P. Reckman.

10. Os Melhores Guias para uma Vida de Êxito, S. M. Richards. 11. Kraft und Licht, 15-4-1956 e 24-57. 12. Psicologia e Teodicéia, J. Balmes. 13. Gespräche mit Goethe, Eckermann. 14. Grandes Homens e um Grande Livro, Soc. Bíblica Americana. 15. Crônicas, Humberto de Campos. 16. Miguel Couto – Uma Vida Exemplar, Fócion Serpa. 17. Systematic Theology, A. H. Strong. 18. 6.000 Sermon Illustrations, Spurgeon. 19. Die Bibel Gottes Wort, F. Bettex. 20. El Monitor de La Juventud, Guilherme Lougee. 21. Confiteor, Paulo Setúbal. 22. As Escrituras Sagradas – A Palavra de Deus, Casa Publicadora Brasileira. 23. A Voz da Profecia, A. Rowell. 24. Feitos, Frases e Ditos Célebres, S. de Figueiredo. 25. The Influence of the Bible on History, Literature and Oratory, Thomas

Tiplady.

Page 84: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 84

26. Deus, Ressurreição, Fé, Luís Quinto. 27. A Vida de John Paton, Casa Publicadora Batista. 28. O Evangelho a Todo o Mundo, Kibbin e Steams. 29. Elon Foster, 6.000 Sermon Illustrations, págs. 117 e 118.

A MAIS LINDA VERDADE DA ESCRITURA

OSSOS primeiros pais enlanguesciam de dor e saudade junto à entrada do Paraíso de que acabavam de ser expulsos. Sua agonia, mitigavam-na apenas,

a intervalos, as visitas de emissários angélicos do Pai misericordioso. – Apenas?! Dissemos mal. Havia outro ponto luminoso na borrasca de sua vida: a

promessa de Deus ao par desolado, quando transpunham os umbrais do Éden. Era a primeira esperança messiânica, a promessa primeira da vinda de um libertador. Mostrava aos aflitos exilados o único meio de escape de sua situação, esboçando-lhes os contornos de um plano maravilhoso – o plano divino para redenção dos homens. Eis os termos singelos da promessa: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar."

Surgiria, pois, entre a descendência de nossa primeira mãe, um Ente habilitado a ser o Libertador da humanidade, e que feriria a cabeça de Satanás, ali representado pela serpente. O maligno, por sua vez, ferir-Lhe-ia o calcanhar, o que se verificou na cruz do Calvário.

O Anseio dos Patriarcas

E Adão e Eva começaram a ansiar o aparecimento da Semente prometida, que os

viesse reintegrar na posse do domínio perdido. Nasceu Caim, o primogênito. E Adão cogitava, e Eva tremia num misto de

esperança e de dor: – Será o Messias? Nasceu logo Abel. Por ordem divina ambos, com os pais, demonstravam em

sacrifícios os anelos por um Salvador. E um dia, vendo rejeitada a sua oferta porque não tinha o coração reto para com Deus, Caim tomou de um pau e prostrou morto a seu irmão.

Os pais apertavam ao seio o corpo exânime do filho, desolados com a perda, inconsoláveis com a desilusão: – Não, já não podia ser o primogênito o almejado Libertador da raça caída! E redobraram os seus anseios pelo Messias.

Multiplicaram-se os homens e as suas maldades. Mas aqui e ali um justo salpicava de luz a treva humana.

Veio Abraão, o pai dos crentes. E um dia o Senhor lhe apareceu e disse: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te

mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra." Gênesis 12:1-3.

N

Page 85: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 85

Benditas de que modo? Ah, pelo aparecimento, na descendência do piedoso Abraão, dAquele que seria o Ungido do Senhor.

Um grupo de filhos cerca, pesaroso, um leito de morte. Neste, o moribundo distribui a cada um a sua bênção, envolta em determinadas profecias. Uma dessas bênçãos, entretanto, mais que todas as outras encheu de viva esperança o coração dos contristados. Foi a que dizia: "O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos." Gênesis 49:10.

Assim o velho Jacó morria, deixando mais acendrada que nunca, na alma dos futuros chefes das tribos de Israel, a suave esperança da ajuda do Restaurador de todas as coisas pendidas pela entrada do pecado – o Siló, isto é, repouso, tranqüilidade...

Posteriormente Moisés, desfazendo-se em desvelos pelos hebreus cometidos aos seus cuidados, reaviva-lhes a lembrança esquecidiça da promessa divina, repetindo-lhes a comunicação que recebera de Deus: "Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar." Deuteronômio 18:18.

E quem seria esse Profeta, senão o próprio Filho de Deus? Balaão, o vidente que se deixou empolgar pelo brilho do ouro e, ambicioso,

atendeu ao apelo de Balaque para amaldiçoar a Israel, não pôde contrariar a ordem superior, emanada de Deus, e entre outras significativas previsões, teve também a que ele exprimiu nos enternecedores termos: "Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro." Números 24:17. Era o vaticínio sublime do aparecimento, uns céus de Belém, da "resplandecente estrela da manhã." (Apocalipse 22:16)

Na vasta e elaborada liturgia mosaica, um ritual especialmente se destinava a manter sempre viva no espírito dos Hebreus a esperança da vinda do Redentor: era o serviço religioso do tabernáculo terrestre. Vasto demais para ser tratado em suas minúcias, a ele faremos tão-somente ligeiras referências.

Símbolo Expressivo

Ordenara o Senhor que Seus filhos Lhe construíssem um santuário para que

habitasse entre eles (Êxodo 25:8). Era esse santuário, ou tabernáculo, uma espécie de tenda que se podia facilmente desarmar e transportar, visto como se destinava ao culto religioso dos hebreus enquanto vagueavam no deserto. Entre vários outros móveis que nele havia, figurava um altar de sacrifícios, onde o sacerdote, de manhã e à tarde, oferecia um cordeiro em holocausto. Além deste serviço, que em dias de festa era ampliado, havia ainda o que se fazia em favor de cada indivíduo, e que era o seguinte: O homem que pecava conduzia para o tabernáculo o animal designado pela lei e, pondo-lhe a mão sobre a cabeça, confessava o seu pecado e em seguida degolava ele mesmo esse animal.

Tal cerimônia visava diversos fins, como por exemplo levar os israelitas a ter sempre presente que a consumação do pecado exigia sangue, isto é, morte; que o próprio pecador estava, pois, condenado, mas Cristo, o Cordeiro imaculado, Se

Page 86: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 86

oferecera para morrer em seu lugar; e para que o homem, entretanto, não considerasse levianamente a transgressão, era um meio excelente, de efeito muito salutar, a lembrança de que, pecando, devia realizar o ritual do sacrifício.

Seu objetivo mais lindo, porém, e principalmente visado por sua simbologia, era justamente o de lembrar a vinda do Messias, cujo sangue viria expiar a culpa dos pecadores penitentes. Sempre que procedia ao sacrifício, o pecador voltava os pensamentos para o anelado advento de Cristo. Por isso que as cerimônias no tabernáculo, e mais tarde no templo de Salomão, apontavam para o aparecimento de Cristo, o sacrifício dEste na cruz as aboliu. Tanto que, ao morrer o Salvador, o véu do templo se rasgou de alto a baixo, significando isto que não havia mais necessidade daquele serviço religioso. Como não deveria todo pecador, ao ter de imolar em sua própria substituição uma vítima inocente, anelar a vinda do Cordeiro divino, o sacrifício perfeito!

Anelo Universal

Os hebreus cativos, junto nos rios de Babilônia desabafavam a nostalgia em

sentidos cantos, e lembrando-se de sua querida Sião choravam, ansiando a libertação e o Libertador. (Salmo 137)

E o mesmo anelo que penetra e perfuma toda a época patriarcal e hebréia, predomina ainda nas mensagens dos profetas. Aqui alinharemos algumas apenas.

Isaías previu a satisfação de seus anseios, no Varão que nasceria a uma virgem. (Isaías 7:14.) Em Belém, profetiza Miquéias (5:2), dar-se-ia o auspicioso acontecimento. Em seu capítulo 53 Isaías, o chamado "profeta evangélico", traça um quadro que dificilmente alguém poderá contemplar sem se comover; esboça terna e dolorosamente a paixão dAquele que, para redimir os pecadores, "foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca." "ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades" (Isa. 53:7, 5) O mesmo profeta previu-Lhe os próprios milagres e obras (Isaías 29:18 ; 61:1; 42:7).

Em espírito, viu-O o salmista abandonado na cruz, e os Seus algozes a oferecerem-Lhe fel e vinagre. (Salmo 69:21; 22:1). Zacarias (9:9) concita a filha de Sião e de Jerusalém a exultar, na figura de seus desejos cumpridos; pois havia de vir seu Rei, "justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento" (na entrada em Jerusalém). Mas ai! o mesmo profeta (11:12 e 13) vê também que o Salvador seria vendido por trinta moedas. (Ver exposição de C. C. Branco, na pág. 87.) Não só no seio do povo escolhido de Deus, medrava esse anseio. Ele era, pode-se dizer, universal.

"Fora da nação judaica houve homens que predisseram o aparecimento de um instrutor. Esses homens andavam em busca da verdade, e foi-lhes comunicado o Espírito de inspiração. Um após outro, quais estrelas num céu enegrecido, haviam-se erguido esses mestres. Suas palavras de profecia despertaram a esperança no coração de milhares, no mundo gentio." 1

Page 87: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 87

Com efeito, o próprio Confúcio (cinco séculos antes de Cristo) falava no "verdadeiro Santo que viria do Ocidente." Tinha Ésquilo, na Grécia, a idéia de um "gigante indomável, o Deus que substituiria Prometeu nos seus sofrimentos e desceria por ele até ao fundo dos abismos." Aguardava-O Aristóteles como "o Libertador, o verdadeiro Salvador". Platão assegura que "um Deus gerado viria ensinar os mortais," e Lhe chama "Verbo, o Salvador". 2

Prevalecia, pois, quer pelo conhecimento dos vaticínios dos profetas, quer por uma como que intuição insuflada pelo próprio ambiente, ou antes, pelo Espírito de Deus no coração humano, esse desejo ardente de um Libertador – isto é, do desdobramento do plano divino para a redenção do homem.

O Conselho de Paz

Fala o profeta Zacarias (6:13) num conselho de paz havido entre Deus e Seu

Filho. Estabeleceram-se aí as bases do plano segundo o qual se reabririam à humanidade as portas do Éden, restaurando ao homem o domínio perdido.

O Cordeiro divino "foi morto desde a fundação do mundo," esclarece S. João, no Apocalipse.

"O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão. Foi a revelação "do mistério que desde tempos eternos esteve oculto". Rom. 16:25. Foi um desdobramento dos princípios que têm sido, desde os séculos da eternidade, o fundamento do trono de Deus. Desde o princípio, Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador do apóstata. Deus não ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível emergência. Tão grande era Seu amor pelo mundo, que concertou entregar Seu Filho unigênito "para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16." 2

Esse maravilhoso plano divino para a reabilitação do homem assumiu, pois, proporções de interesse universal, no mais amplo conceito desse termo. As hostes angélicas emudeceram, calaram as antífonas retumbantes e os melodiosos acordes das harpas, ao saberem da resolução de seu amado Senhor, de baixar ao mundo para oferecer-Se como expiação do pecado. Os habitantes dos mundos não caídos partilharam da mágoa dos anjos das paços celestiais. Atentando, porém, para o quadro da raça humana reintegrada plenamente na passe de todos os direitos que lhe usurpara o pecado, de novo se lhes iluminou o semblante.

Que dizer, porém, da dor que experimentaria o coração do Pai ? Era preciso, efetivamente, muito amor. Entretanto, "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito" – reza o sublime versículo de S. João 3:16, o qual alguém denominou, com muito acerto, "o evangelho em síntese". E como classificar a renúncia do Filho de Deus, que Se "aniquilou a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens ; e, achado na forma de homem, humilhou-Se n Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de Cruz?" Filipenses 2:7 e 8.

O Problema do Mal

Page 88: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 88

Deus tomara, pois, providências para enfrentar a contingência da entrada do

pecado no mundo. O mal aqui penetrou por Lúcifer que, possuidor de toda a liberdade individual –

porque Deus não criara os anjos máquinas – permitira que o orgulho lhe tomasse posse do coração (Ezequiel 28:17). A Terra não resistiu à prova a que foi sujeita, como o foram todos os outros mundos, não caídos.

O problema do mal tem aspectos que só devassaremos em todos os seus escaninhos quando estivermos lá em cinta. Descansemos, porém, na certeza de que nosso Pai Celestial agiu no sentido de nosso maior bem.

Conquanto não caiba no escopo desta obra tratar amplamente do assunto, não nos podemos furtar ao desejo de transcrever, sobre o mesmo, um diálogo travado entre um crente e um cavilador, o qual lemos numa revista australiana:

"Tenho um vizinho", começa dizendo o autor, "que procura embaraçar a todo o mundo com esta pergunta: 'Se Deus é bom e nos ama e nos quer felizes, como os crentes afirmam, por que fez Ele um diabo que nos tenta ao pecado?'

"Este homem veio ter comigo certa ocasião, e eu de pronto respondi à sua pergunta com outra:

"– O senhor estava no trem outro dia, quando explodiu a caldeira da locomotiva, não é verdade?

"– Sim. "– Bem, quando se pôs a examinar os destroços, a caldeira toda em pedaços, seus

fragmentos atirados para longe, porventura leu aquele letreiro da locomotiva, e que era sua marca de fábrica: Baldwin & Cia., Filadélfia ? Ali se encontravam essas palavras bem visíveis em meio das rodas e alavancas partidas.

"– Sim, eu me lembro de tê-las visto. "– E acaso disse, ao vê-las: 'Eu sei quem fez estes destroços; foi aquela fábrica de

locomotivas, de Filadélfia. Eles não deviam fabricar uma locomotiva que pudesse explodir. São eles os responsáveis pelo desastre! Disse o Senhor isto?

"– Então me julga um tolo? Baldwin & Cia. fabricam boas máquinas. Milhares das que saíram de suas oficinas estão correndo nas estradas de ferro, pelo mundo. São perfeitamente seguras, quando bem manejadas. Mas os Baldwins, ou qualquer pessoa, não podem fazer máquina que esteja além da possibilidade de ser mal manejada. No caso de que estamos falando, o maquinista deixou faltar água na caldeira. Foi culpa dele e não do fabricante. O próprio fato de ser uma locomotiva uma máquina de força tremenda, torna-a perigosa se não é manejada devidamente.

"– Então, não vê o senhor que a relação de Deus para com Satanás é semelhante à dos Baldwins, para com uma caldeira explodida? A única diferença é que, no caso do diabo, era ele tanto a locomotiva como o maquinista. Ele deu o vapor do orgulho, até que teve como resultado o descarrilamento. E agora está por ai, anjo caído, ser culpado e infeliz, embora ainda tão poderoso que é chamado 'o príncipe das potestades do ar'. E como a desgraça não gosta de ficar sozinha, seduziu ele outros anjos, e agora tenta os homens, a fim de que participem de seu pecado e miséria. Assim é que existe o diabo no universo, e que ele é o tentador da raça humana.

"– Mas não podia Deus ter criado homens e anjos em condições de não pecarem? "– Poderia, naturalmente. Assim criou Ele as estrelas. Estas, pela atração se mantêm

em sua órbita, e não se podem extraviar. Mas de que vale sua obediência? É como a de um relógio, ao qual a gente dá corda, e ele então trabalha e nos indica a hora. É uma

Page 89: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 89

máquina, e tem de fazer aquilo para o que foi fabricado. Deus tinha máquinas bastantes. Ele queria agentes livres: e quando os fez, eles podiam escolher o mal em lugar do bem; podiam desobedecer em vez de obedecer. Por inocentes e retos que fossem ao ser criados, era-lhes possível cair. Esta possibilidade era inseparável de sua liberdade.

"Admira-se o senhor de que Deus não quisesse homens e anjos iguais às estrelas? O senhor tem uma filhinha; quando ela se chega ao pai com um beijo, e lhe diz: – Papai, eu amo o senhor, – isto o alegra, verdade? Mas por quê? Por causa do beijo e das palavras? Suponhamos que se fabricasse uma máquina exatamente igual, no aspecto, à sua filha; que o senhor pudesse dar-lhe corda, de maneira que a máquina o beijasse e dissesse: – Eu amo o senhor – isso lhe seria satisfatório? Em alguns respeitos, a máquina seria até melhor que a filha. Havia de beijá-lo toda vez que o pedisse, ao passo que a criança é às vezes voluntariosa e má.

"Mas o senhor havia de preferir a filhinha à máquina, mesmo com suas possibilidades de desobediência, fosse embora a segunda mais fiel às suas ordens. O senhor quer o amor espontâneo, e não obrigado; e isso é também o que Deus deseja. Ele fez Lúcifer como fez Gabriel, mas aquele usou da liberdade para rebelar-se contra seu Criador. É ele o único responsável por essa rebelião, como o maquinista, e não o construtor da locomotiva, o foi por aquele desastre.

"Assim, pois, a resposta a sua pergunta é esta: Deus criou um anjo livre, santo, feliz, e esse anjo foi que se fez a si mesmo um diabo." 3

Eis ainda, sobre o mesmo assunto, uma bela página de L. Franca: "Os desígnios da Providência nem sempre, a um primeiro olhar, se nos manifestam

em toda a sua sabedoria; a iniqüidade não raro triunfa e tripudia sobre a justiça humilhada. "A razão tem suas respostas satisfatórias. Este mundo não representa o plano total

do governo divino; entre os bens terrenos e os bens espirituais há uma hierarquia de valores de que facilmente nos esquecemos, mas que Deus respeita e se, dada a nossa condição psicológica e histórica, a privação de um bem-estar efêmero e relativo condiciona um aperfeiçoamento moral e uma felicidade definitiva, a Sua sabedoria e a Sua bondade não hesitam na escolha.

"Mais. No julgarmos os homens e a justiça com que se lhe distribuem os bens e os males, sofremos de uma miopia incurável. A santidade e a malícia não se podem aquilatar, com apreciação completa, somente pelas aparências exteriores a que se reduzem as fontes de nossas informações; é um problema de responsabilidades morais insolúvel a quem não pode sondar o mistério das consciências.

"Achamo-nos, portanto, no grande enigma do mal, ante uma equação com quatro ou cinco incógnitas. Impossível resolvê-la antes de conhecermos todos os elementos que lhe podem determinar os valores, isto é, antes de vermos o plano divino realizado em toda a sua integridade. As dificuldades e as sombras que ainda subsistem não diminuem nem eclipsam a evidência inelutável das razões que demonstram a existência de Deus." 3

Cumprido o Anseio Como íamos dizendo, havia latente na humanidade a intuição do plano divino

para remi-la. Ora, diz o apóstolo S. Paulo (Gálatas 4:4, 5): "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos."

Page 90: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 90

Reinava profunda paz no mundo, então dominado por um único cetro. O velho templo de Jano, que só se fechava quando não havia guerra, cerrara as portas fazia já vinte e nove anos.

Uma só língua, talhada como nenhuma outra para as formas elevadas e perfeitas da literatura, servia, por assim dizer, de veículo ao pensamento de todos os povos. As filosofias pagãs já não satisfaziam o anelar dos homens. Não mais os consolava a moral estóica nem os contentavam os epicúrios vícios. O ambiente era de geral expectação. Estava a humanidade sazonada vara acolher a concretização de seus anseios.

Chegara, pois, a plenitude dos tempos, ou o seu cumprimento, como diz outra versão, e devia vir o Messias, sujeito a todas as contingências da lei humana.

Envoltas no manto agasalhante da treva silenciosa, as aldeias e cidades da

Galiléia dormiam o sono profundo das noites orientais. Apenas, no ermo dos campos, pastores solícitos vigiavam seus tranqüilos rebanhos. E abreviavam as longas horas caladas, mergulhando o pensamento na palavra dos profetas, que falava no aparecimento do Messias – palavra que tantas vezes haviam ouvido nas sinagogas, lida por sacerdotes que, orgulhosos demais, não lhe apreendiam o significado e a realização próxima. Compreendiam-na, porém, os zagais, humildes e devotos. E, no silêncio noturno, interrompido apenas pelo bucólico raque-raque das ovelhas pastando a relva, também eles pasciam a imaginação no campo fecundo da profecia.

Sim, não estaria já tardando a vinda do Salvador prometido? Não haveria ainda chegado o ansiado momento da libertação?

Ai, já ia longa a noite de prova que descera pesada sobre os filhos de Israel! Já o inclemente jugo de Roma lhes fatigava sobremaneira a cerviz inquieta! Porventura não haviam ainda sorvido até às fezes a taça da merecida punição?!

Um resplendor súbito, como relâmpago em desanuviado céu de estio, vem fender

com um jato de luz o azul-negro da noite: era um anjo, um fulgurante emissário dos paços celestiais.

Assustam-se os mansos pegureiros da planície de Belém: seria acaso um instrumento do fulminante juízo divino, que viria pôr ponto final às prevaricações da nação escolhida? "Não temais," ouvem logo do mensageiro de paz, "eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura" (S. Lucas 2:10-12).

Imediatamente o anjo se viu rodeado de multidão de companheiros reluzentes, que lhe rematavam a nova alvissareira com o hino mais ardente e longamente ansiado pelos povos, mais suave aos ouvidos humanos e confortador aos corações agoniados:

"Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem" (S. Lucas 2:14).

Inefável revelação! O que era e é Rei dos reis e Senhor dos senhores, preferiu baixar à Terra como Emanuel, "Deus conosco," na sublime expressão profética de

Page 91: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 91

Isaías. A Divindade feita homem! "a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo."

A manjedoura de Belém tornou-se o berço da redenção e, como dissera o profeta, "sobre os que habitavam na região da sombra da morte, resplandeceu a luz." A envilecida Terra nesse dia, mais que nunca, avultou no conceito e no amor dos seres celestiais – se é que esse conceito e amor admitem relatividade. E o infinito dos Céus foi acanhado demais para conter a alegria transbordante das multidões angélicas, cujas aleluias e antífonas transvazaram sobre a Terra. Este único planeta tresmalhado nos desertos do tempo e do espaço, teve iluminada a sua densa noite.

Nossa Atitude

O natal de Cristo – que encantador capítulo do fascinante livro do amor de Deus!

Quão antiga história, e quão nova sempre! Convém, entretanto, definirmos bem nossa atitude para com o grande acontecimento. O povo escolhido rejeitou-O. "Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam", diz S. João, na singeleza penetrante de seu estilo suave.

"Que farei então de Jesus, chamado o Cristo?" pergunta Pilatos à multidão sedenta de sangue. E o covarde romano manda-O crucificar.

"Por pouco me persuades a me fazer cristão" – volve Agripa ao maior dos apóstolos (Atos 26:28), ao desdobrar-lhe este um capítulo do plano da redenção. Mas não deu um passo para atender à voz da consciência despertada.

E você, leitor amigo, qual a sua atitude em relação ao sublime plano elaborado por Deus para o seu libertamento do pecado e sua eterna salvação?

"Vamos até Belém" – disseram uns aos outros os piedosos pastores,

transbordantes de alegria: "Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer. Foram apressadamente e acharam Maria e José e a Criança deitada na manjedoura. E, vendo-o, divulgaram o que lhes tinha sido dito a respeito deste Menino. Todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos pastores." S. Lucas 2:15-18.

Lições maravilhosas, essas que os humildes zagais da pequena Belém nos vêm ensinar! Sim, também nós, "vamos até Belém"! Quantos existem hoje que, reconhecendo embora a divindade do Cristo e a sublimidade de Seus ensinamentos, rejeitam o convite dos pastores: "Vamos!" Cegados por glórias mundanas ou pelo orgulho, abafam na indiferença a voz que os convida.

Porventura não lhes agrada a companhia humilde dos pastores. Iriam, talvez, se o convite viesse da parte dos Césares. Iriam se lhes fosse oferecida a oportunidade de fazê-lo em companhia de altos dignitários do mundo secular ou religioso. Mas, com a classe ignorada e servil dos pegureiros!. . .

Entretanto, é mister, não só, que atendamos ao convite divino, venha mesmo por intermédio dos mais humildes da Terra, como também o é que nós próprios façamos coro com esses humildes, nas palavras benditas: "Vamos até Belém!"

Page 92: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 92

Carecemos dessa iniciativa, dessa decisão. Dela precisamos, quer para acompanhar os filhos da culta Grécia ao se chegarem, despidos do orgulho de sua cultura, a Filipe e lhe rogarem: "Senhor, queríamos ver a Jesus" (S. Lucas 12:21); quer para seguir o gesto último e desesperado do pródigo: "Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti" (S. Lucas 15:18).

E em nossa caminhada, breve ou longa, temos de ir até Belém. Desprezemos, à beira da nossa estrada, a Atenas das filosofias humanas; a Roma do humano poder e prepotência; a própria Jerusalém de um culto orgulhoso e vazio de piedade.

Seja embora noite na alma do pecador, como nos campos em que os pastores guardavam os seus rebanhos, ao ouvir o "vamos!" da consciência, deve ele levantar-se e ir. Será preciso renunciar a todo o orgulho, exercer humildade, mas valerá a pena.

"Belém" quer dizer "casa de pão". Indo a Belém, para junto da manjedoura, caminhos de justiça e sedentos de verdade, voltaremos fartos e saciados, pois ali se nos oferecerá em abundância o "Pão da Vida".

"E vejamos". Chegados a Belém, não cessa aí nossa responsabilidade. "Vejamos" representa o objetivo culminante de nossa jornada à manjedoura. Cumpre vermos por nós mesmos. A responsabilidade é individual – inteiramente individual. O fato de existirem e proliferarem dezenas, centenas de credos e variantes, em nada nos diminui essa responsabilidade. Aumenta-a, antes.

Vamos, pois, e vejamos, por nossos próprios olhos, e não pelos alheios. Coisa alguma nos detenha nessa caminhada crente e fervorosa. Com os pastores de Belém – que melhor companhia não encontraríamos – vamos apressadamente. Leitor amigo, não há tempo a perder!

E depois de ver, depois de raciocinar e conhecer por nós mesmos que estamos junto à manjedoura do Cristo verdadeiro, ao pé do altar da Verdade única e indivisível, imitemos ainda os fiéis pastores que, "vendo-o, divulgaram o que lhes tinha sido dito a respeito deste Menino."

Sim, porque a humanidade, esta grande humanidade intranqüila e volúvel, recorre às tontas aos altares espúrios de templos os mais variados e mais magnificentes, à medida que se vai distanciando da pequenina, da humilde Belém.

A Pedra Angular do Edifício Bíblico

Falamos na admirável harmonia da Sagrada Escritura com a ciência. Mas de que

nos serve tal harmonia, se não pusermos esse santo Livro acima de todas as pretensões da ciência humana? Se não desprezarmos, por amor da filosofia máxima e infalível, de que ele é escrínio, todas as escolas filosóficas meramente especulativas?

Citamos a prova arqueológica, em abono da autenticidade do cânon sagrado. E que lindo é o testemunho da arqueologia! Mas, porventura carece o Livro divino de qualquer prova? "O verdadeiro," diz Bettex, "prova-se a si mesmo, constantemente, pela sua mera existência: o fogo, ardendo; a água, fluindo; o Sol, iluminando e aquecendo. Assim também a Bíblia, esta luz divina, esta água da vida, este Sol espiritual, cujos raios trazem saúde. Através de todos os tempos tem-se ela

Page 93: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 93

demonstrado, a amigos e inimigos, como um poder de Deus, que salva e condena; como uma rocha, sobre que nos podemos refugiar do temporal, e a qual despedaça aquele sobre quem cai."

Mencionamos a beleza literária da Escritura, e a inspiração que em todas as épocas tem proporcionado aos cultores das belas artes. De que nos valeria essa beleza, entretanto, se lhe faltasse aquele poder que a torna um "livro que fala" ao coração do homem, embelezando-o e aperfeiçoando-o, por sua vez ? A letra morta a ninguém salva. O espírito, sim, é o que vivifica. E "as palavras que Eu vos disse," declarou Jesus, "são espírito e vida."

Não, a Bíblia não é um compêndio de história, se bem que o historiador nela possa ir buscar as mais fidedignas informações sobre fatos antigos. Não é manual de ciência, embora encerre grandes verdades científicas. Não é livro de literatura, ainda que o adornem gemas do mais subido valor e da mais pura beleza literária. Não é um mero guia para o peregrino terrestre, bússola infalível ao frágil navegador do mar da vida. Em tudo isso ele é perfeito, produto que é de um perfeito e onisciente Autor. Sua essência, porém, o supremo objetivo que o permeia, ligando, qual fio de ouro num colar de pérolas, as páginas portadoras de luz divina, é o sublime Plano da Salvação.

Sim, prezado leitor, o plano de redenção do homem é a grande, inamovível pedra angular do edifício bíblico, que os séculos e milênios não conseguiram abalar.

A excelência desse bendito plano avulta quando nos imaginamos, pecadores irremediavelmente perdidos, sem Salvador. Que seria de nós? Um vale de trevas impenetráveis, noite angustiosa, sem uma estrela na amplidão do futuro, nem um corisco de esperança a iluminar o céu da nossa existência – eis em que se resumiria o nosso viver, ou antes, o nosso vegetar.

Escada Para o Céu

Uma alma ansiosa e perturbada se dirigiu certa vez ao seu guia espiritual,

desejosa de livrar-se da angústia a que a sujeitava a impressão de pecador perdido. Uma pequena aranha passeava no chão. Tomou-a um clérigo e, amarrotando uma tira de papel fez com ela um círculo, no centro do qual colocou a aranha; e ateou fogo ao papel. A pobre aranha, aflita, volvia-se para um e outro lado, sem encontrar saída, pois que se achava presa numa roda de fogo. Foi quando o sacerdote baixou o dedo para o meio da mesma. A aranha mais que depressa lhe subiu pelo braço acima, salvando-se do incêndio.

– Isto, diz o ministro, foi o que fez Cristo por nós: baixou ao mundo a fim de nos deparar uma escada para o Céu. Subamos por ela.

Ora, essa escada de Jacó, que nos conduz do abismo do pecado para as luminosas

alturas celestiais, que outra coisa é senão o maravilhoso plano divino para a redenção humana?

Ver pelos olhos da fé o invisível, quando outros só enxergam a materialidade das coisas ambientes; divisar um horizonte limpo, quando os demais descortinam tão-

Page 94: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 94

somente nuvens negras a encastelar-se no céu; antever a alegria de uma idade áurea sem fim e sem termo de comparação, quando o mundo atravessa épocas trabalhosas e depressões econômicas; ter a Jesus como nosso Guia seguro e Conselheiro amigo, e a alegria eterna e a imaculada vida por vir como nossa mais ansiada. expectativa e constante estímulo para a santificação – caro leitor, isto é bem maior alegria do que a que se pudesse expressar nas exíguas páginas de um volume acanhado.

É, porém, justamente o que se concede aos que têm a Escritura Sagrada como seu guia no roteiro da vida.

Referências: 1. O Desejado de Todas as Nações, pág. 33, E. G. White. 2. Idem, pág. 22. 3. Signs of the Times, Obadias Oldschool. 4. Psicologia da Fé, Leonel Franca.

Rousseau e o Evangelho

"PODE um livro, ao mesmo tempo tão sublime e tão cheio de

sabedoria, ser obra do homem? Pode a pessoa, cuja história relata, ser criatura humana? Descortina-se nele a linguagem de um entusiasta, de um sectário ambicioso? Que doçura, que pureza se nota nos modos de Jesus! Que comovente bondade nas Suas instruções! Que sublimidade nas Suas máximas! Que profunda sabedoria nos Seus discursos! Que presença de espírito! Que agudeza, e que justiça, nas Suas respostas! De onde, entre os Seus conterrâneos, podia Ele ter extraído esta elevada e pura moralidade, que só Ele preceituou e de que só Ele deu o exemplo? Do íntimo de um homem tido como fanático saem palavras da mais alta sabedoria, e a simplicidade das mais heróicas virtudes honra a criatura mais vil.

"Sim, se a vida e morte de Sócrates são as de um filósofo, a vida e morte de Jesus Cristo são as de um Deus. Devemos supor que o Evangelho seja uma história, inventada para agradar? Não é desta forma que ideamos contos, pois que as ações de Sócrates, de que ninguém tem a mínima dúvida, são menos satisfatoriamente atestadas do que as de Jesus Cristo. O Seu Evangelho é, no concernente à moralidade, sempre certo, sempre verdadeiro, sempre uniforme, sempre coerente consigo mesmo." – Emile, Vol. 2.

Page 95: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 95

Napoleão I e Jesus Cristo

CONVERSANDO um dia, em Santa Helena, com alguns oficiais, acerca

dos grandes homens da antigüidade, e comparando-se com eles, Napoleão Bonaparte de súbito se dirigiu a um dos componentes de sua comitiva, perguntando-lhe:

– Pode dizer-me quem foi Jesus Cristo? O oficial confessou que não meditara ainda suficientemente nesta

questão. – Pois bem, disse Napoleão, eu lhe direi. Comparou então a Cristo consigo e com os heróis de outras eras,

mostrando como Jesus a todos ultrapassara em muito. – Julgo compreender algo da natureza humana, prosseguiu; e digo-lhe

que todos esses foram homens, e eu o sou também, mas ninguém é igual a Ele; Jesus Cristo foi mais do que homem. Alexandre, César, Carlos Magno e eu fundamos grandes impérios; mas de que dependeram as criações de nosso gênio? Da força. Jesus unicamente, fundou o Seu império sobre o amor, e hoje mesmo milhões de pessoas por Ele dariam a vida.... Não é o Evangelho mero livro, mas criatura viva, vigorosa; um poder que vence a todos os que se lhe opõem. Aqui está o Livro dos livros sobre a mesa [toma-o reverentemente]; não me causo de o ler, e faço-o diariamente com prazer igual. A alma, encantada com a beleza do Evangelho, já não pertence a si mesma: Deus a possui inteiramente. Dirige-lhe os pensamentos e faculdades; ela Lhe pertence. Que prova da divindade de Jesus Cristo! Entretanto, nesta soberania absoluta, Ele só tem um desígnio: a perfeição espiritual do indivíduo, a purificação de sua consciência, sua união com o que é verdadeiro, a salvação de sua alma. Admiram-se os homens com as conquistas de Alexandre, mas aqui está um conquistador que atrai a Si os homens para seu maior bem; que une a Si, incorporando-a consigo, não uma nação, mas a inteira raça humana. – Geikie, Life of Christ, págs. 2 e 3.

O DESEJADO DE TODAS AS NAÇÕES

O PRIMEIRO advento de Cristo foi, como vimos, objeto dos mais sentidos

anseios da humanidade, através dos séculos e milênios. Esses anseios benditos realizaram-se, felizmente. De que nos valeria, porém, a vinda do Messias; que adiantaria haver Ele baixado ao mundo; ter-Se sacrificado sobre a cruz; haver descido ao seio do abismo; ressurgido do império da morte; ascendido ao Céu, para ocupar Seu lugar à destra do Pai – que bênção colheríamos nós de tudo isto, se o mesmo Senhor nosso nunca mais volvesse à Terra?!

O segundo advento de Cristo é, pois, o complemento indispensável, o glorioso remate do divino plano da redenção.

Vejamos em rápidos traços como, simultaneamente com os anelos pela primeira vinda do Messias, prevaleceu, através de todos os tempos, o mesmo desejo ardente

Page 96: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 96

quanta à Sua volta – desde a época dos patriarcas e da história. hebréia, até à era apostólica e aos nossos dias.

Na Dispensação Antiga

Já Enoque, o sétimo depois de Adão, aquele homem tão santo que Deus o

arrebatou para Si, profetizou: "Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram." S. Judas 14 e 15. É evidente que aqui, como nas demais passagens apresentadas em seguida, não se trata do primeiro advento de Cristo, mas sim do segundo, em que Ele virá como juiz e não como impotente criancinha.

As mais cruéis agonias de moléstia repugnante, não conseguiram apagar no coração do patriarca Jó, o confortador anelo de redenção, ao voltar Cristo à Terra para salvar Seus filhos. "Porque eu sei que o meu Redentor vive", dizia aos amigos que o visitavam. E, enquanto raspava com um caco de telha as feridas, deformado pela doença a ponto de a custo ser reconhecido pelos visitantes que com ele ficaram sete dias, mudos, "porque viam que a dor era mui grande" enquanto isso o aflito patriarca exclamava triunfante: "Vê-Lo-ei por mim mesmo, os meus olhos O verão, e não outros" (Jó 19:25, 27).

Eis como se expressava o salmista: "Vem o nosso Deus e não guarda silêncio; perante ele arde um fogo devorador, ao seu redor esbraveja grande tormenta." "Porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante a sua fidelidade." Salmo 50:3; 96:13.

"Eis que o Senhor Deus virá com poder, e o seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa." anuncia o mais suave dos profetas (Isaías 40:10).

Consideramos, capítulos atrás, o esboço profético do cativo hebreu na corte de Babilônia., no qual se resumem dois mil e quinhentos anos de história universal, indo até ao estabelecimento do reino eterno de Cristo no mundo. O mesmo profeta via, pelos olhos da fé, o tempo em que "Se levantará Miguel, o grande Príncipe," para livrar o Seu povo, e em que ressurgirão os que dormem no pó da terra, "uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno." Daniel 12:1 e 2.

Mais de Trezentas Referências

O grande apóstolo dos gentios aguardava, como Abraão, uma cidade que "está

nos Céus, donde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Filipenses 3:20). E essa expectativa leva-o a exortar a seu filho espiritual, Tito: "Educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus." Tito 2:12 e13.

Page 97: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 97

S. Pedro, outra estrela de primeira grandeza no firmamento evangélico, fala repetidamente no glorioso acontecimento, em especial no terceiro capítulo de sua segunda epístola.

"Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor", exorta paternalmente S. Tiago (5:7). Enfim, só no Novo Testamento há mais de trezentas referências à segunda vinda de Cristo.

O testemunho do próprio Jesus por certo já serviu de conforto a muita alma acabrunhada: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também." S. João 14:1-3.

Quando, após a ascensão de seu amado Senhor, os discípulos alongavam o olhar, num derradeiro anseio por apanhar os últimos raios da glória que desaparecia na altura, postaram-se de súbito dois anjos ao seu lado, mitigando-lhes a saudade com estas palavras: "Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir." Atos 1:11. E os discípulos, reconfortados, "então voltaram para Jerusalém," confiantes na promessa angélica.

Intuição Geral

Jesus Cristo "há de vir a julgar os vivos e os mortos" – é o próprio Credo que o

diz. O padre Júlio Maria, em comentário, considera "dogma claríssimo a segunda vinda de Jesus Cristo." Referindo-se à proximidade desse advento, observa ainda: "Sim; eu o diviso!... Não, meus amigos, não é um vôo da fantasia, uma quimera da. Imaginação!... É a convicção profunda do dogma, a certeza iluminada da fé!"

"Nós sabemos que Ele tornará a vir, e com brevidade" – afirmava João Knox. Os irmãos Wesley, fundadores do metodismo, Alberto Barnes, Spurgeon, e tantos outros, não só partilhavam da mesma idéia como também a pregavam.

Longe iríamos se quiséssemos aqui registrar as inúmeras exteriorizações do anelo universal pela vinda de Cristo, através de todos os tempos. É da boca do povo o ditado: "De dois mil não passará." O glorioso segundo advento do Senhor Jesus é como que uma intuição geral da humanidade.

Não é escopo deste livro tratar pormenorizadamente do fato em apreço, porquanto várias outras obras publicadas pela mesma casa editora desta, já dele trataram exaustivamente. Por demais incompleto ficaria, entretanto, o nosso já tão conciso estudo, se lhe não acrescentássemos, em ligeiras linhas, um apanhado geral do glorioso evento que constitui a viga-mestra do edifício escriturístico.

Assim, vejamos resumidamente o que diz a Escritura sobre o modo da vinda do Senhor.

Como Voltará Jesus

Page 98: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 98

Ao contrário do que ensinam alguns, isto é, que essa vinda se dará por ocasião da morte do indivíduo, ou que será secreta, diz S. João, no Apocalipse, que "todo olho O verá, até quantos que O traspassaram." "Todos os povos da terra se lamentarão", declara o próprio Jesus, "e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória." S. Mateus 24:30. E compara Ele mesmo essa vinda com o relâmpago, que "sai do oriente e se mostra até ao ocidente," sendo, pois, visível a todos. (Versículo 27) Virá em companhia de "todos os anjos" (S. Mateus 25:31).

O Objetivo de Sua Vinda

E qual a significação e objetivo de Sua vinda f Para os justos que se acharem nos

sepulcros quando Jesus voltar, este acontecimento representará a ressurreição e arrebatamento para o Céu. "Assim como, em Adão, todos morrem," adverte S. Paulo em I Coríntios 15:22, "assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda." (ênfase suprida)

Os justos que se acharem vivos nessa ocasião, serão "transformados ... num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis." I Cor. 15:51-52.

Em I Tessalonicenses 4:16 e 17, esclarece o apóstolo mais que "o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro." Depois os justos vivos serão "arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares". E o ardoroso e incansável príncipe dos apóstolos conclui a advertência com esta chave de ouro: "E, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras."

Quanto aos ímpios vivos, esconder-se-ão, apavorados, nas cavernas das montanhas, suplicando aos montes e rochedos que caiam sobre eles, a fim de os esconder "da face dAquele que se assenta no trono" (Apocalipse 6:15 e16). Serão, porém, aniquilados "pelo esplendor da Sua vinda" (II Tessalonicenses 2:8), pois naquele dia, horrendo para os pecadores impenitentes, "os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas." II S. Pedro 3:10

Os ímpios que nessa ocasião estiverem repousando na morte, só ressurgirão mil anos depois, quando Cristo descerá de novo à Terra, desta vez acompanhado de todos os remidos, a fim de aqui estabelecer o Seu reino sempiterno. (Ver Apocalipse 20.) Ressurgidos, serão então comandados por Satanás num cerco à cidade santa. Uma chuva de fogo e enxofre porá termo, para sempre, ao pecado e aos pecadores.

Cumprir-se-á então, em toda a beleza de sua amplitude, o cântico de Miquéias (4:8): "A ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, virá o primeiro domínio, o reino da filha de Jerusalém."

Um dos objetivos da volta de Cristo ao mundo e o objetivo máximo, de todos o mais sublime e desejável – será, pois, restaurar o homem a seu original estado de graça

Page 99: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 99

e comunhão com Deus, restituindo-lhe o domínio perdido. Eis o remate indescritivelmente glorioso, do plano da redenção.

O Plano Original

Ao criar a Terra, e nela o homem, predestinara-a Deus para aprazível lugar de

habitação de seres santos. "Sede fecundos, multiplicai-vos", ordenou ao santo par, pois criara a Terra "para ser habitada". (Isaías 45:18). A população ir-se-ia multiplicando, até que enchesse razoavelmente a Terra, e nesta viveriam eternamente, sob a bênção de Deus e a luz de Seu olhar.

A rebelião de Satanás retardou o plano de Deus, mas de maneira alguma o frustrou. Cumprir-se-á ele plenamente, quando Cristo vier para pôr termo à angústia humana. E esta, afirma-o Naum (1:9), "não se levantará por duas vezes."

O inefável plano divino para com a Terra e seus habitantes sofre, desde o Paraíso, a fúria dos ataques do arquiinimigo do bem e da felicidade. Levou ele à desobediência nossos primeiros pais, lançando-os nas agonias do afastamento de Deus. Induziu Caim a assassinar o irmão. Mais tarde, levou a tal ponto a multiplicação do mal sobre a Terra, que o Senhor a mergulhou no dilúvio, salvando oito justos apenas.

A Luta Entre o Bem e o Mal

A mente acanhada do homem, que vê tudo com olhos míopes e tudo quer

explicar como se fosse o seu mundo o centro único e a maior razão de ser do universo, essa mente julga por vezes lobrigar nos atos da Divindade, motivos desumanos, cruéis. Mas tal conclusão só pode sobrevir aos que não discernem em cada ato de Deus um novo elo na cadeia mirífica do plano da redenção.

A cada irrupção do mal, provocada pelo arqui-rebelde, teve o amor de Deus – o amor, notemos bem – de contrapor o remédio heróico de Sua intervenção. Esse remédio único visava e visa sempre exclusivamente o bem – mediato, quando não imediato. Assim é que à multiplicação da iniqüidade antediluviana, opôs Ele o remédio da destruição, pela água.

– Por que destruição? perguntará algum leitor. Para grandes males, grandes remédios. Não percamos de vista que era o desígnio

supremo do Pai celestial – para nossa felicidade – velar sobre o cumprimento integral de Seu plano de redimir o homem e tornar a Terra repleta de seres santos. E notemos com que paternal solicitude interveio sempre em defesa desse desiderato. Não houvesse Ele extirpado a perversa geração antediluviana – aliás não sem lhes dar o prazo de cento e vinte anos, mais que suficiente para se arrependerem – os poucos justos que restavam no mundo seriam, como disse alguém, "absorvidos pelos ímpios". Esta calamidade, diz muito bem Reaser, "teria significado a dissolução do eterno propósito de Jeová. Ademais, como seria possível a semente da mulher,' o Deus-Homem, que deveria nascer na família humana a fim de cumprir o Seu eterno

Page 100: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 100

propósito, fazer Seu aparecimento na geração de Adão, a menos que fosse preservada a linhagem justa? 1

Antes de incriminar a Deus, conviria que o acusante precipitado considerasse um pouco o ponto a que chegara a perversidade dos homens da época de Noé, como toda vez que os juízos divinos têm caído sobre o mundo. Os antediluvianos, assim como os que foram por ordem divina destruídos pelos invasores hebreus nas terras por eles conquistadas, tinham a taça de sua iniqüidade a transbordar de tal forma, que o pejo nos inibe de aqui lhes expor as chagas imundas. Em vez de acusar a Deus de crueldade, bem mais razão há para Lhe admirar a longanimidade e misericórdia – causas únicas de ainda existir este mundo.

O amor infinito de Deus foi que O levou, pois, a intervir sempre que o Seu plano maravilhoso estivesse em jogo. Assim, por exemplo, na opressão exercida pelos faraós egípcios sobre os piedosos descendentes de Abraão, escolhidos por Deus para servir de agasalho à semente prometida. O rei que afinal perseguiu os israelitas, em sua saída para Canaã, foi, com todo o seu exército, tragado pelas águas do Mar Vermelho.

A mesma solicitude divina vemos através da história dos pecados e murmurações dos hebreus na jornada pelo deserto. Logo que Satanás conseguia parcialmente o seu fim, levando aquele povo ao pecado (com o que visava sua final destruição e, conseqüentemente, também a do plano divino), Deus intervinha, castigando os culpados e ressalvando os inocentes.

O mesmo se dava com os inimigos externos de Israel, quando Satanás por eles pretendia aniquilá-lo. Certa ocasião em que os assírios sitiavam Judá, tribo da qual fora predito que o cetro dela não se desviaria até que viesse Siló, o Cristo (Gênesis 49:10) interpôs-se o anjo do Senhor, ferindo a cento e oitenta e cinco mil soldados (II Reis 19:35).

Satanás procurou ainda contaminar o povo escolhido de Deus com a idolatria e extrema corrupção de Babilônia, Média-Pérsia e Grécia. E afinal, nascido o Varão prometido, a Semente da mulher, que de esforços envidou o inimigo por meio de Roma pagã, para destruí-Lo! Basta lembrar o morticínio das inocentes crianças, ordenado por Herodes, e que fora profetizado já por Jeremias (31:15).

E as lutas do príncipe das trevas contra o povo justo e a efetivação integral do plano divino, prosseguiram através dos séculos, ainda aquém do Calvário, como por exemplo nas perseguições aos Cristãos, às quais dezenas de milhões de mártires pagaram o tributo de sua vida. Mas, como no tempo de Elias, em que o grande profeta julgava ser o único que restasse fiel, Deus lhe revelou haverem ainda ficado em Israel sete mil cujos joelhos se não dobraram a Baal (I Reis 19:18), assim também em todas as outras crises espirituais por que passou o mundo, Jeová providenciou para que existissem santos na Terra.

Da mesma forma que Satanás não logrou evitar o cumprimento da primeira parte do plano divino para a redenção do homem, a qual levava até ao primeiro advento de Cristo, assim também não conseguirá jamais frustrar a parte final desse plano, que culminará na volta gloriosa do Redentor. E, tivessem nossos olhos mais da unção divina, e veríamos sem dúvida, ainda hoje, a mesma solicitude de Deus em Seu trato

Page 101: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 101

com indivíduos e nações, e o mesmo empenho em levar ao triunfo a integral consumação de Seu desígnio.

Quando?

Está, pois, à nossa frente ainda a gloriosa culminância do plano divino. E quando

se efetivará ele? Quando se cumprirá perfeita e cabalmente o desígnio de Deus para com a humanidade ? Quando virá, enfim, "esse Jesus" longamente ansiado?

Se bem que não se possa saber o dia nem a hora, como disse o próprio Cristo, é, entretanto, bem visível que tal acontecimento não pode demorar. Ao contrário, está iminente. Senão, vejamos ligeiramente alguns dos sinais indicadores de sua proximidade, dados nas Escrituras.

Predisse o próprio Cristo, para as vésperas de Seu retorno, guerras, fomes, terremotos (S. Mateus 24:6 e 7).

– Sempre os houve, dirá alguém. E é verdade. Nunca, porém, na escala em que se vêem observando. A progressão

dessas e outras calamidades, não se dá em proporção ao aumento da população ou outros quaisquer fatores alegados. No caso dos terremotos, por exemplo: No século XIV houve apenas 137; no seguinte, 174; e foram aumentando respectivamente a 253, 378, 640, e no século XIX, a 2.119!

Quanto às guerras – ai! – dói-nos o coração ao simples pensamento dos horrores inomináveis das lutas modernas e de suas avolumantes proporções e freqüência.

Os dias finais da história terrestre seriam, disse mais Cristo, como os dias de Noé e de Ló, em que a preocupação dos homens consistia unicamente nos prazeres terrenos (S. Lucas 17:26-30). E quando, mais do que hoje, avultou a lassidão moral e a procura dos prazeres dos sentidos, em manifestações ostensivas e repugnantes, mesmo em países que até ontem se prezavam de ser os mais puritanos?

A multiplicação da iniqüidade é outro traço distintivo de nossa época, segundo o disse ainda Jesus, em S. Mateus 24:12. Desenvolvendo o mesmo pensamento, pinta o apóstolo S. Paulo (II Timóteo 3:1-4), um quadro em que aparecem nitidamente as condições predominantes na sociedade nos últimos dias:

"Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder."

Veja se não temos aí um retrato fiel das condições modernas da sociedade humana! E qual a exortação do apóstolo a seu filho espiritual Timóteo, e que é aplicável a todos nós ? – "Foge também destes."

Sim, deve o crente leal manter-se afastado de tudo que o possa contaminar ou atrasar na carreira cristã. Como o lírio em meio do charco desabrocha a flor alvíssima, deve ele, sitiado embora pelo influxo das paixões terrenas, erguer ao Alto os olhos e abrir o coração à atmosfera pura e ao santificador poder que de lá irradiam. E, longe

Page 102: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 102

de participar de desordens e violências, cumpre-lhe seguir o sublime conselho do apóstolo S. Tiago (5:7 e 8):

"Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima."

O mundo religioso, infelizmente, corre parelhas com o social, em matéria de desintegração doutrinária.

"O Espírito afirma expressamente", adverte mais o inspirado apóstolo em sua outra epístola a Timóteo, "que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência" (I Timóteo 4:1, 2).

Não temos aí a indicação insofismável do crescimento do número de ensinadores religiosos que, vestindo o manto da piedade, praticariam enganos sutis, de modo a seduzir a muitos? E não é verdade que se multiplica assombrosamente o número dos "falsos profetas" que, na linguagem do próprio Cristo em S. Mateus 24:24, fariam "grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos."

Longe iríamos se quiséssemos declinar aqui todos os sinais indicadores da brevidade da volta de Cristo. E não sendo esse o escopo principal deste livro, abstemo-nos de continuar.

Nas Vésperas

Pelos inúmeros sinais que já se cumpriram e os muitos outros que se estão

cumprindo à nossa vista, reconhecemos inconfundivelmente achar-nos nas vésperas do evento glorioso que assinalará o remate do plano divino para a redenção do homem.

E a lembrança constante desse acontecimento soberano, que lindos frutos ela sazona em nossa vida espiritual! Além de nos segredar conforto nas horas escuras, induz-nos a uma constante vigilância, como o servo fiel, da parábola de Jesus. Leva-nos à purificação da vida, a essa santificação sem a qual ninguém verá a Deus. Anelantes para conhecer a vontade do Senhor a nosso respeito, seremos atentos leitores de Sua Palavra. E guiados pela diretriz desse pensamento dominante, a nossa vereda será bem aquela do justo, a qual é "como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Provérbios 4 :18).

O Glorioso Remate

A volta do Senhor é, pois, o remate glorioso do plano da redenção. Este não

somente permeia, satura e domina todo o conteúdo das Sagradas Letras. Ele é, em verdade, a alma, a própria razão de ser de sua existência. Sob a sua luz mirífica, tudo nelas se aclara, desvanecem-se todas as dúvidas.

Não poderíamos discorrer sobre a Escritura sem falar no plano da salvação. Nem a este nos poderíamos referir, sem mencionar o segundo advento de Jesus. Como o plano divino para a reabilitação do homem é o fio de ouro que reúne em precioso colar

Page 103: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 103

todas as pérolas das verdades escriturísticas, assim é o segundo advento de Cristo o áureo fecho que o remata.

Através de todo o drama secular da humanidade, de todo o milenar conflito entre o bem e o mal, percebe-se nitidamente esse desígnio maravilhoso, como que a servir de diretriz ao próprio Deus, em Seu trato com a humanidade.

A consumação integral do propósito divino está para bem breve, prezado leitor. Mais do que naquela época sombria para o povo escolhido, quando o profeta Ageu (2:9) lhes levantou o ânimo caído, reavivando neles a esperança do Messias, é Cristo hoje o "Desejado de todas as nações".

Glória inefável! – dentro em bem pouco Se manifestará Ele. Cumprir-se-á então o sonho dos sonhos de todas as eras, o angustioso anseio das multidões. Terá voltado a casa paterna o filho pródigo, depois de haver por seis milênios esbanjado os bens de que o cumulara a munificência do Pai Celestial. E será reintegrado plenamente em todos os direitos de filho. Sim, terá então tornado ao redil a única ovelha perdida, dentre os inumeráveis mundos que rolam na imensidão infinita dos espaços.

Gozo inexprimível, quando os anjos guiarem Adão através dos portais da cidade santa, revelando-lhe aos olhos extasiados, uma a uma, as glórias do paraíso perdido e restaurado, numa sucessão de que os séculos, os milênios, as eternidades não conhecerão termo!

Alegria bastante, por certo, para romper todas as fibras de nosso coração, não se achasse ele então já transformado e possuidor da imortalidade, será aquela que nos possuirá no momento em que os anjos nos tomarem pela mão para incorporar-nos no cortejo sem fim dos santos, em seguimento a nossos primeiros pais!

Possamos todos, ao raiar brilhante daquela manhã eterna, exclamar com o profeta

Isaías (25:9): "Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na sua salvação exultaremos e nos alegraremos."

Referência: 1. O Destino do Mundo, G. W. Reaser.

Muitos se lembram da sensacional odisséia do Cap. E. B. Rickenbacker e seus seis companheiros, na última guerra. Obrigados, por falta de combustível, a descer com seu avião em pleno oceano, ficaram por vinte e um dias flutuando a esmo, em balsas de borracha, "perdidos na imensidão do Oceano Pacífico, perseguidos pela fome, pela sede, pelos tubarões, imobilizados pelas calmarias e finalmente salvos pela fé."

Page 104: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 104

A leitura diária das admiráveis promessas dos Evangelhos, na Bíblia que um dos náufragos conseguira salvar, e as fervidas preces, miraculosamente atendidas, levaram o piloto, irreverente incrédulo, a render-se humildemente à fé. "Naqueles dias ofuscantes encontrei o meu Deus", conclui o Ten. Whittaker, narrando comovedoramente essa epopéia, em seu formoso livro Fui Piloto de Rickenbacker.

A Majestade das Escrituras AQUELE que fala neste livro (as Escrituras Sagradas), tem a Seu dispor as mais

recônditas cordas do coração humano, de modo que as sabe tanger à vontade, com mão leve ou vigorosa, na justa medida que o Espírito se propôs. Releia as cenas em que Rute e Boaz aparecem nas planícies de Belém, aquelas em que Abraão e Isaque se encontram no monte Moriá, as de Davi e Jonatã, de Elias e Eliseu, as de Naamã o sírio, da viúva de Sarepta, ou da Sunamita, e, sobretudo, as relativas à vida e morte do Filho do homem; e, depois, busque em todos os livros dos homens alguma coisa semelhante. Leia, se você quiser, os quatro Vedas, e a volumosa coleção de Pauthier, os livros sagrados do Oriente, Confúcio, Manon, Maomé; e veja se encontra ali oito linhas que rivalizem com essas incomparáveis narrativas da Escritura....

Essa Palavra dá testemunho de si mesma, não só por suas asserções, mas por seus feitos, como a luz, como o calor, como a vida, como a saúde; pois que em si mesma conduz centelhas de saúde, vida, calor e luz. Poderá alguém provar-me, mediante cálculos corretos, que neste instante o Sol deve estar acima do horizonte; terei, entretanto, qualquer necessidade desses cálculos, se meus olhos contemplam o próprio astro, se em seus raios me banho e por eles sou fortalecido?...

Uma das mais concludentes provas da divina autoridade das Escrituras, não há dúvida, é sua majestade, que nos enche de respeito e reverência; é a imponente unidade desse livro, cuja composição se estende por um período de quinze séculos, e que tantos autores teve, alguns dos quais escreveram nada menos de dois séculos antes dos fabulosos tempos de Hércules, de Jason e dos Argonautas; outros, nos heróicos dias de Príamo, Aquiles e Agamemnon; outros, nos dias de Tales e Pitágoras; outros na época de Sêneca, Tácito, Plutarco, Tibério e Domiciano; e todos, não obstante, seguem o mesmo plano, constantemente avançado, como se entre eles houvera perfeito entendimento mútuo, rumo de um único grandioso fim – a história da redenção do mundo pelo Filho de Deus. – L. Gaussen, Theopneuistia.

Sobre a Escritura Sagrada A BÍBLIA é uma corrente onde o elefante pode nadar e o cordeiro andar. –

Papa Gregório I, o Grande. Os fiéis devem ser incitados à leitura das Santas Escrituras, porque é a fonte

mais abundante da verdade e que deve permanecer aberta a todas as pessoas,

Page 105: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 105

para que dela tirem a pureza de moralidade e de doutrinas a fim de destruir inteiramente os erros que se espalham tão largamente, nestes tempos corruptos. – Papa Pio VI.

Não cessaremos de admoestar a todos os fiéis a que leiam, dia a dia,

sobretudo os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as Epístolas, e que se compenetrem intimamente do seu espírito. Em nenhuma família católica devem faltar estes livros, que por meio de cotidiana leitura e meditação devem ser assimilados. – Papa Bento XV, na Encíclica Spiritus Paraclitus.

Por muito tempo temos desejado dar impulso à nobre ciência das Escrituras

Sagradas e ao estudo delas uma direção adaptada às necessidades do dia.... É nosso propósito e desejo fervoroso ver um aumento no número dos trabalhadores aprovados e perseverantes na causa das Escrituras Sagradas: e mais especialmente, que aqueles que a Divina Graça tem chamado a Ordens Sagradas manifestem, dia a dia, como o seu estado ordena, diligência e cuidado em ler, meditar e explicar a Bíblia. – Papa Leão XIII, em sua Encíclica de 13 de dezembro de 1898.

Na Encíclica Spiritus Paraclitus, dada em Roma a 15 de setembro de 1920,

cita o Papa Bento XV as seguintes palavras de S. Jerônimo: "Não é o erro dos pais e dos antepassados que temos de seguir, mas sim a autoridade das Escrituras e a vontade do Senhor que é Deus." "Libertemos o nosso corpo do pecado, e nossa alma se abrirá à sabedoria; cultivemos nossa inteligência pela leitura dos livros santos, e nossa alma encontrará aí o seu alimento de cada dia."

Cita ainda o Papa Bento XV os conselhos do mesmo S. Jerônimo à matrona

Leta, sobre a educação de sua filha: "Procurai que ela estude todos os dias alguma passagem das Escrituras... Que em vez das jóias e sedas ela aprecie os Livros Divinos... Deverá em primeiro lugar aprender o Saltério, recrear-se com os seus cânticos, e haurir uma regra de vida nos provérbios de Salomão. O Eclesiastes lhe ensinará a pisar aos pés os bens do mundo; Jó lhe fornecerá um modelo de força e de paciência. Passará em seguida aos Evangelhos, que deverá ter sempre entre mãos. Assimilará avidamente os Atos dos Apóstolos e as Epístolas. Depois de ter recolhido estes tesouros no místico escrínio de sua alma, aprenderá os profetas, o Heptateuco, os livros dos Reis e dos Paralipômenos, para terminar sem perigo pelo Cântico dos Cânticos."

A ignorância das Sagradas Escrituras é origem de todos os erros, a porta da

perdição; faz perder a honra, a virtude e a salvação. Porque é na Palavra de Deus

Page 106: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 106

e nos ensinamentos de Cristo onde achamos a luz da vida, a salvação do mundo, a porta do Céu, o alimento da alma e verdadeiro gozo para o coração que ama a Deus. – Tomas Kempis.

A leitura das Sagradas Escrituras é para nós uma necessidade, porque nos

ensina o que devemos fazer ou não fazer, e aquilo ao que devemos aspirar. É o que se nos diz no Salmo 119: "Lâmpada para os meus pés é Tua palavra, e luz para o meu caminho." Perseverai, pois, na leitura e meditação das Escrituras Sagradas, andai segundo a lei de Deus, mostrai zelo na leitura da Escritura santa e não vos deixeis desviar dela jamais. – São Bernardo.

Sinto pena e verdadeira dor quando, pensando no gozo e nos estímulos que

me proporciona o estudo das epístolas de S. Paulo, vejo ao meu redor pessoas que não sabem sequer quantas cartas escreveu o apóstolo.

Credes que a leitura das Santas Escrituras não é senão para os sacerdotes, quando delas necessitais mais do que eles. Porque os que vivem sem disciplina no mundo estão expostos cada dia às feridas da vida e têm mais necessidade de cura.... Não quereis nem sequer tocar com o dedo o evangelho, quando vo-lo dão. Por que desprezais assim as Sagradas Escrituras? Estes sentimentos provêm do diabo. Ele vos quer impedir de contemplar esse tesouro, para que não possais dele obter todo o bem que encerra. – São Crisóstomo.

A Bíblia é um dos meios mais poderosos para fortalecer a fé e dar aos homens um caráter cristão. Tal era a convicção de todos os pais da igreja e de todos os santos....

É, pois, evidente que todo empenho por limitar a leitura das Santas Escrituras redunda numa inovação na igreja, e deve, por esta razão, ser desaprovado. Demais, a experiência tem demonstrado já as tristes conseqüências que tem para o povo a privação das Santas Escrituras. A leitura regular da Bíblia tem sido em certos países o fundamento sólido do cristianismo no círculo familiar e na sociedade, ao passo que a supressão dessa prática tem sido entre os católicos a causa de um debilitamento de sua fé. – Fragmento de uma certa do Monsenhor Hulst, Arcebispo de Paris.

Favoreçam, pois [o Papa dirige-se aos bispos] e prestem apoio às piedosas

associações que se propõem difundir entre os fiéis as edições da Bíblia, e em especial dos Evangelhos, e procurar com todo o empenho que sua leitura diária se faça nas famílias cristãs reta e santamente. – Papa Pio XII.

O monsenhor João Straubinger, professor de Sagradas Escrituras no

Seminário Arquidiocesano de La Plata, comentando a recente encíclica em que

Page 107: Luiz Waldvogel - Vencedor Em To

Vencedor em Todas as Batalhas 107

Pio XII faz essa assertiva, diz em A Nação, de Buenos Aires, de 25 de julho de1944, que o Papa deseja "que a Palavra de Deus, dirigida aos homens por meio das Sagradas Escrituras, seja cada dia mais total e perfeitamente conhecida e com mais veemência amada."

Como Jesus é homem e Deus, assim o Evangelho é simples e sublime.

Como Jesus Cristo é o Verbo de Deus, oculto sob a humildade da carne, assim o Evangelho é a sabedoria de Deus sob a simplicidade da linguagem. De cada uma de suas páginas, de cada um dos seus versículos quase, destaca-se o homem com as suas fraquezas, avulta a majestade de Deus com a Sua onipotência. Fosse o Evangelho leitura mais assídua, manual mais freqüentado e meditado e não veríamos tantos desvios da sólida piedade. – D. Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de S. Paulo, no livro No Calvário.