20/10/2015 Lulu, capital social e a importância dos laços fracos | dialogum

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Lulu, capital social e a importância dos laçosfracosO assunto da semana é o aplicativo Lulu, destinado somente às mulheres, no qual elas podem dar

notas anonimamente para os homens de sua lista de amigos do Facebook, recomendando ou

detonando os rapazes para outras garotas. Independente da polêmica gerada em torno da invasão

de privacidade, da objeti�cação dos homens e até da vingança feminista – já que mulheres tem sido

historicamente objeti�cadas em nossa sociedade -, notei um aspecto interessante no que diz

respeito ao comportamento das pessoas nas redes sociais.

O Lulu não é o primeiro app voltado às relações amorosas a fazer sucesso. Ouvi outro dia de um

amigo solteiro que é muito mais fácil conhecer gente interessante no Tinder do que pelos meios

tradicionais (em um bar, numa festa ou na academia). Com mais de 1 milhão de usuários só no

Brasil, o Tinder permite escolher pretendentes entre as pessoas virtualmente próximas, geralmente

amigos de amigos no Facebook, tendo como base algumas características (idade, gostos em comum)

E, se não der certo, é bem fácil partir para outra, já que o casal começou o relacionamento pelo

aplicativo, sem envolver o amigo em comum.

Olhando as relações amorosas pela perspectiva da pós-modernidade, o sociólogo Bauman a�rma

que as relações hoje são construídas sobre “a misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o

sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos con�itantes (estimulados por tal

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sentimento) de fortalecer os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos” (BAUMAN, 2006, p. 8).

Uma característica em comum entre o Tinder e o Lulu é o fato de os usuários con�arem nos dados

colocados nesses aplicativos por outros usuários. No Tinder, a pessoa começa a se comunicar com

outra por meio da plataforma, em vez de pedir para o conhecido em comum apresentá-los. Isso

evita constrangimentos ao amigo, que pode ser um laço forte do usuário, caso o relacionamento

cause problema, mas faz com que um usuário tenha que acreditar no que está na rede sobre o

outro, ao invés de pedir informações ao “elo” entre os dois.

No Lulu, as garotas acreditam na informação fornecida por garotas que já tiveram um

relacionamento com o pretendente. Isso, para mim, é um pouco difícil de entender, pois a garota

con�a mais na ex, do que no que observa no convívio com ele.Ao con�ar na informação colocada

nos aplicativos por pessoas que sequer conhecem, �ca clara a importância dos laços fracos

(GRANOVETTER, 1973) para a construção das redes sociais virtuais.

Ao analisar as interações nos aplicativos de relacionamentos, reconheço todas as dimensões que

constroem o capital social, quais sejam, dimensão cognitiva, voluntarismo, benevolência e

oportunidade. No Lulu, para exempli�car, há a presença da dimensão cognitiva do capital social

concernente a códigos, linguagem e narrativas compartilhados na rede (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998),

já que os garotos, além de receberem notas, são avaliados por hashtags como #amigodaex,

#semmedodeserfofo #nemdegraça, entre outras. Voluntarismo e benevolência também estão

presentes na rede, já que as usuárias auxiliam umas às outras com informação sobre os garotos

(voluntarismo – MATHWICK et al., 2008), o que gera obrigações de reciprocidade da usuária que

recebeu e fez uso da informação (benevolência, NAHAPIET; GHOSHAL, 1998). Por �m, a

oportunidade (ADLER; KWON, 2002) está presente na própria �nalidade da rede, que é obter

informação con�ável sobre o homem com quem a ususária está se relacionando ou pretende se

relacionar.

Assim, este tipo de rede sendo construída e mantida por pessoas que possuem, em sua maioria,

laços fracos entre si. A despeito disso, tais redes geram capital social para o usuário que con�a nas

informações disponibilizadas por outros usuários. Ainda que os usuários não se conheçam e não

possuam laços fortes, desenvolvem linguagens, narrativas e sentidos próprios dentro do aplicativo,

trocam informações entre si com voluntarismo e benevolência, criando oportunidade de uso dessas

informações para de�nir a direção do seu relacionamento amoroso.

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Retomando Bauman (2006), parece que neste tipo de aquisição as pessoas tem preferido lidar com

laços fracos, pois, por serem mais líquidos e frágeis, são mais fáceis de se desfazer e esquecer, se

necessário. Por um lado, é estranho os laços fracos serem usados para avaliar relacionamentos

amorosos, mas por outro, trazem um grande poder para a “consumidora”, reforçando a ideia da

importância do capital social para criar um buzz positivo.

Diferentemente da situação em foco, as empresas que sabem aproveitar o capital social de seus

clientes e consumidores criam buzz positivo e, potencialmente, geram engajamento e con�ança do

consumidor.

Referências

ADLER, PS; KWON, SW. Social capital: prospects for a new concept. Academy of management review, v.

27, n. 1, p. 17–40, 2002.

BAUMAN, Z. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Zahar, Rio de Janeiro: 2006.

GRANOVETTER, Mark. The strength of weak ties. American journal of sociology, v. 778, n. 6, p. 1360–

1380, 1973.

MATHWICK, Charla; WIERTZ, Caroline; DE RUYTER, Ko. Social capital production in a virtual P3

community. Journal of Consumer Research, v. 34, n. 6, p. 832–849, abr. 2008.

NAHAPIET, Janine; GHOSHAL, Sumantra. Social Capital, Intellectual Capital, and the Organizational

Advantage. The Academy of Management Review, v. 23, n. 2, p. 242, abr. 1998.

Para saber mais sobre o Tinder e o Lulu:

http://idgnow.uol.com.br/mobilidade/2013/11/27/aplicativo-de-paquera-tinder-supera-1-milhao-de-usuarios-no-brasil/

http://juliapetit.com.br/home/clube-da-luluzinha/

http://www.casalsemvergonha.com.br/2013/11/25/lulu-o-app-que-veio-para-provar-que-objeti�cacao-nao-e-legal-nao-importa-o-genero/

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fracos, Lulu, Tinder em 29 de novembro de 2013 [http://www.dialogum.com.br/2013/11/lulu-capital-

social-e-a-importancia-dos-lacos-fracos/] por Carla Abdalla.

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