Luzia Sigoli Fernandes Costa Uma contribuição da Teoria Literária ...

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Luzia Sigoli Fernandes Costa Uma contribuição da Teoria Literária para a análise de conteúdo de imagens publicitárias do fim do século XIX e primeira metade do século XX, contemplando aspectos da natureza brasileira Marília 2008

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  • Luzia Sigoli Fernandes Costa

    Uma contribuio da Teoria Literria para a anlise de contedo de imagens publicitrias do fim do sculo XIX e primeira metade

    do sculo XX, contemplando aspectos da natureza brasileira

    Marlia 2008

  • Luzia Sigoli Fernandes Costa

    Uma contribuio da Teoria Literria para a anlise de contedo de imagens publicitrias do fim do sculo XIX e primeira metade do sculo XX, contemplando aspectos da

    natureza brasileira

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, da Faculdade de Filosofia e Cincias da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho

    UNESP, campus de Marlia, como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de doutor em Cincia da Informao.

    Orientador: Prof. Dr. Sidney Barbosa Linha de pesquisa: Organizao da Informao

    Marlia 2008

  • Costa, Luzia Sigoli Fernandes. Uma contribuio da teoria literria para a anlise de contedo de imagens publicitrias do fim do sculo XIX e primeira metade do sculo XX, contemplando aspectos da natureza brasileira / Luzia Sigoli Fernandes Costa. -- 2008. 261 f.: il. Tese (Doutorado em Cincia da Informao) - Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista

    UNESP, Marlia, 2008. Orientador: Prof. Dr. Sidney Barbosa 1. Organizao da informao 2. Anlise de contedo 3. Narrativa visual 4. Imagem publicitria 5. Cartaz 6. Representao da natureza I Ttulo.

  • Luzia Sigoli Fernandes Costa

    UMA CONTRIBUIO DA TEORIA LITERRIA PARA A ANLISE DE CONTEDO DE IMAGENS PUBLICITRIAS DO FIM DO SCULO XIX E PRIMEIRA METADE DO SCULO XX, CONTEMPLANDO ASPECTOS DA NATUREZA BRASILEIRA

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, da Faculdade de Filosofia e Cincias da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho

    UNESP, campus de Marlia, como requisito parcial para a obteno do ttulo de doutor em Cincia da Informao.

    Orientador: Prof. Dr. Sidney Barbosa Linha de pesquisa: Organizao da Informao

    Marlia, 15 de agosto de 2008

    BANCA EXAMINADORA

    _________________________________________ Prof. Dr. Sidney Barbosa (UNESP)

    __________________________________________ Profa. Dra.Vera Lcia Louzada de Mattos Dodebei (UNIRIO)

    __________________________________________ Profa. Dra. Eliane Serro Alves Mey (UFSCar)

    ___________________________________________ Profa. Dra. Maringela Spotti Lopes Fujita (UNESP)

    __________________________________________ Prof. Dr. Joo Batista Ernesto de Moraes (UNESP)

  • Dedico este trabalho investigativo a todos aqueles designers grficos que com criatividade e habilidade conseguiram e conseguem produzir imagens capazes de encher os olhos e aguar a mente daqueles que se detiverem diante da sua criao.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao meu estimado orientador, e sempre professor, Sidney Barbosa, cuja cumplicidade, na alegria e na tristeza, faz da relao orientador e orientando uma maravilhosa aventura do ato de conhecer, fazendo-nos transformar o olhar ao lugar comum em um olhar crtico e, sobretudo, pela sua capacidade de transformar nossas vidas em pesquisadores comprometidos com um mundo mais humano.

    Cibelly Bizarro Wanderlei, uma grande e fiel amiga a quem devo a motivao para o ingresso no Curso de Biblioteconomia e Documentao, nos idos anos setenta do sculo XX.

    minha queridssima Miriam Zambel, pela oportunidade de ter sido sua aluna e agora poder compartilhar do seu exemplo de vida.

    Ariadne Chlo Furnival que, ao logo do tempo de convvio, mesclaram-se as relaes afetivas e profissionais permeadas por questionamentos em torno das relaes que se estabelecem entre as prticas socioculturais e a comunicao de informaes, em especial as informaes voltadas para o meio ambiente e a sustentabilidade.

    s professoras e grandes amigas, Anja Pratschke e Maria Angela P. C. S. Bortolucci, pelas inquietaes provocadas durante a realizao do Projeto Pinhal Digital, que me fizeram enveredar pelos estudos da imagem.

    Ao professor Jos Carlos Maldonado e toda a equipe do Projeto Memria Virtual de So Carlos, cuja riqueza das discusses travadas durante os trabalhos em grupo fez surgir um estoque de questes. Muitas delas serviram de ponto de partida para esta pesquisa de doutorado.

    Professora Maria del Carmen Agustn LaCruz, por ter me encorajado a adentrar nos meandros dos estudos da anlise documental de contedos imagticos e, sobretudo, por ter aberto caminhos tericos e metodolgicos por onde ainda no havia trilhado antes.

    Beatriz Tosetto, a Bia , minha ex-aluna e amiga muito querida.

    Universidade Federal de So Carlos, em particular aos meus colegas do departamento de Cincia da Informao pela concesso do meu afastamento para cursar o doutorado, ainda que tivessem que assumir uma sobrecarga de atividade. No posso deixar de fazer uma meno especial s colegas Wanda Aparecida Machado Hoffmann e Eliane Serro Alves Mey, por saberem pronunciar a palavra certa nas horas mais difceis.

    Vnia e Rosngela pela ateno e carinho com que sempre nos acolhem.

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior, pela concesso de bolsa do Programa Institucional de Capacitao Docente e Tcnica

    PICDT,

  • que me proporcionou as condies prximas s ideais

    para o desenvolvimento da pesquisa

    que resultou na presente tese. Sem elas, certamente, o trabalho de pesquisa se tornaria mais rduo, para alm do que j o pela sua prpria natureza.

    Lcia Maria de Assuno Barbosa, cuja amizade s fez aumentar a minha admirao pela maneira tica e competente com que exerce as suas atividades acadmicas.

    banca examinadora do Relatrio Geral do Exame de Qualificao, em especial s professoras Ndea Regina Gaspar e Maringela Spotti Lopes Fujita, por suas preciosas contribuies.

    Aos professores Vera Dodebei, Eliane Mey, Maringela Fujita e Joo Batista de Moraes por terem aceitado fazer parte da banca para defesa e os professores Marcos Miranda e Jos Augusto Guimares por terem aceitado a suplncia da mesma.

    equipe da Seo de Iconografia do Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, em especial ao Jos Dirson, ao qual no faltaram empenho e clareza como facilitador no uso de fontes que, muitas vezes, ficam esquecidas, como o caso dos cartazes.

    Aos membros da equipe da Cinemateca Brasileira

    pela presteza com que me atenderam, em especial

    Laila Foster, pela conscincia de que os documentos de nada servem sem serem explorados pelo pesquisador.

    Ao Mrcio Roberto do Prado, pela maneira paciente e dedicada com que ensinou no s a lngua francesa, mas, sobretudo, a determinao e confiana necessrias para vencer o exame de proficincia em lngua estrangeira.

    Terezinha de Mattos, autntica e encantadora cuiabana, com quem, por fora das circunstncias, partilhei muita coisa os filhos do corao, o orientador, o interesse pelos estudos da imagem.

    dona Bete que muitas vezes me acolheu com as suas sbias palavras, fazendo chegar ao professor Sidney, pacotes de livros, textos, recados, os meus mais sinceros agradecimentos.

    bibliotecria Maria Aparecida Vieira Pacheco, pela presteza com que me atendeu em todo o tempo em que fiz uso do acervo da Biblioteca Dr. Joo Antonio da Fonseca, localizada no edifcio do Arquivo do Estado de So Paulo.

    Biblioteca Comunitria, em especial ao Ronildo, Lucia e Vera pelo sempre pronto atendimento.

    s bibliotecrias Glucia Maria Saia Cristianini e Juliana de Sousa Moraes, do Instituto de Cincias Matemtica e da Computao da USP So Carlos, pela presteza com que me atenderam quando do uso dos servios de emprstimo entre bibliotecas, sem os quais no poderia ter em mos as obras completas de Shiyali Ramamrita Ranganathan.

    equipe da Biblioteca da UNESP, campus de Marlia, em especial bibliotecria Maria Luzinete Euclides que, alm de me fazer sentir entre amigos sempre que fiz uso da biblioteca proporcionasse tambm, um espao de estudo generoso e acolhedor,

  • naquele momento em que a infra-estrutura de apoio ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao ainda estava por vir.

    equipe da secretaria da Ps Graduao em Cincia da Informao da UNESP,

    campus de Marlia, pela presteza de sempre.

    minha famlia, por compreender tantos momentos de ausncia e, em especial, minha irm Ana Sigoli Fernandes Matheus por ter me poupado, nesse tempo do doutorado e assumido, para com a nossa me, as dela e as minhas obrigaes de filha.

    Por fim, quero agradecer aos colegas Aldinar, Brgida, Lourdes, Lcia, Miguel, Slvia, Milena e Ricardo, que por razes afetivas e histricas

    primeira turma do doutorado em Cincia da Informao da UNESP, campus de Marlia - no posso deixar de mencionar nominalmente.

    Agradeo a compreenso dos meus filhos Bruno, Thais e Welinton e de meu esposo Jesus pela minha presena ausente nesses ltimos anos de nossas vidas.

    Enfim, agradeo a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, me proporcionaram as condies necessrias para a realizao do presente trabalho de pesquisa.

  • [...] procura-se menos formar um estico do que conduzir uma alma de qualidade sabedoria, isto , a discernir os verdadeiros valores, a viver segundo a Razo, que deve guiar a nossa alma para a contemplao da Natureza, portanto, do Divino [...] o verdadeiro conhecimento aquele que nos permitir descobrir a Natureza e viver em harmonia com ela1.

    Sneca

    1 Trechos encontrados nas cartas que Lucius Annaeus Sneca enviou a Luclio, seu grande amigo, no perodo de junho de 62 a abril de 65 d.C. (apud SNECA, 2002, p. 20).

  • RESUMO

    Os fatores que colaboram com o processo de construo do conceito de Natureza tm nas obras literrias e imagticas informaes que refletem o pensamento da sociedade, num tempo e espao determinados. A partir do entendimento da gnese e do percurso histrico da Cincia da Informao, pode-se identificar a diversidade documental que essa Cincia busca abarcar e explorar como objeto de estudo e de interveno. Dentro dessa diversidade, percebe-se a complexidade apresentada tanto pela literatura como pela informao imagtica, mais especificamente, cartazstica, para a rea disciplinar de Organizao e Representao da Informao e do Conhecimento. Considerando essa complexidade, esta pesquisa tem como objetivo contribuir para a formulao de procedimentos metodolgicos, no mbito da anlise de contedo de cartazes, tendo em vista a gerao de produtos documentais. Tomando-se como base a Teoria de Shiyali Ramamrita Ranganathan, um dos primeiros tericos da Cincia da Informao no sculo XX, explora-se uma aproximao terico-conceitual entre as Categorias Essenciais e os elementos que compem a estrutura do discurso retrico e as categorias da narrativa literria. Essa opo foi feita, diante da potencialidade que os enunciados literrios suscitam em contribuir para um processo de ampliao conceitual das categorias ranganathianas. Nessa aproximao, estabeleceu-se um alinhamento terico-conceitual capaz de verificar a possibilidade de uma efetiva contribuio de aspectos da Teoria Literria para a realizao de anlise de contedo cartazstico e de sua representao por meio da elaborao de snteses ou resumos, no mbito da Cincia da Informao. Faz-se uso dessas categorias ampliadas , para anlise do contedo apresentado em cada cartaz, pautando-se em procedimentos de leitura do discurso retrico e identificao de conceitos. Nesse processo, pressupe-se a possibilidade de se contemplar tanto os aspectos denotativos, quanto os conotativos presentes nas imagens publicitrias. A contemplao desses aspectos tem por intuito gerar um produto documental eficaz que apresente substncia para se realizar os processos tcnicos biblioteconmicos de representao documental

    descritiva e temtica

    em linguagem natural e especializada. Ao mesmo tempo, pretende-se constituir um produto acabado, visando atender s necessidades de informao do usurio final. Para testar os procedimentos propostos para a Anlise de Contedo, visando Organizao da Informao, foram estabelecidos os critrios para a seleo do material do corpus de anlise. Esse corpus foi composto por romances e cartazes do final do sculo XIX e primeira metade do sculo XX, que tratassem do tema natureza. Com base nesses critrios, foram selecionados dois romances de Jos de Alencar O gacho e O Sertanejo e oito imagens propagandsticas de cunho institucional e cultural em forma de cartazes ou similares. Dentre os resultados obtidos esto a conscientizao dos desafios tericos frente diversidade documental e a natureza da informao, a pertinncia da contribuio da Teoria Literria aos procedimentos metodolgicos para a anlise de contedo de imagens, bem como os efeitos sobre os domnios da imagem propagandstica e da gerao de produtos documentais. O estudo apontou, ainda, possibilidades de novas pesquisas, considerando que as imagens de cartazes e similares so de grande importncia como documento, no s artstico, mas tambm como testemunho da memria histrico-sociocultural e do entendimento das relaes sociedade-natureza.

    Palavras-chave: Organizao da Informao. Anlise de contedo. Narrativa visual. Imagem publicitria. Cartaz. Representao da natureza.

  • ABSTRACT

    The factors that contribute to the construction process of the concept of Nature have, in literary and visual works, information that reflects the thinking of society in a given time and space. From the understanding of the genesis and historical trajectory of Information Science, the diversity of documents that this Science seeks to embrace and explore as an object of study can be identified. Within this diversity, the complexity presented by literature as well as by image information and more specifically, posters, for the area of Information and Knowledge Organization and Representation, is perceived. Considering such complexity, this research aims to contribute to the formulation of methodological procedures, in the ambit of content analysis of posters, with an end to the elaboration of document products. Taking as the basis Shiyali Ramamrita Ranganathans theory, one of the first theorists in Information Science of the 20th century, a theoretical-conceptual approximation between Essential Categories and the elements that make up the structure of rhetorical discourse and literary narrative categories is explored. This choice was made in the light of the potentiality that literary enunciations engender to contribute to the process of conceptual enlargement of Ranganathan categories. In this approximation, a theoretical-conceptual alignment was established, capable of verifying the possibility of an effective contribution of aspects of Literary Theory to content analysis of posters and of their representation by means of the elaboration of summaries or abstracts, in the ambit of Information Science. Use is made of these enlarged categories for analysis of the content presented in each poster, based on procedures from rhetorical discourse reading and concept identification. In this process, the possibility of considering the denotative, as well as the connotative aspects present in the poster images, is assumed. The consideration of these aspects aims to generate an efficient document product of substance for carrying out the technical librarianship procedures of document representation

    descriptive and thematic

    in natural and specialized language. At the same time, the constitution of a finished product is intended, aiming to attend to the information needs of the end user. To test the proposed procedures for Content Analysis with an end to Information Organization, criteria were established for the selection of material from the analysis corpus. This corpus was made up of novels and posters from the second half of the 19th century and the first half of the 20th which dealt with the theme of nature. Based on these criteria, two novels by Jos de Alencar, O gacho and O Sertanejo , along with nine propaganda images of an institutional and cultural vein in the form of posters or of a similar kind, were selected for analysis. Among the results obtained were: the awareness of the theoretical challenges in the light of the document diversity and nature of the information, the pertinence of the contribution of Literary Theory to the methodological procedures for image content analysis, as well as the effects of propaganda image domains on the generation of document products. The study also points to the possibilities for new research, considering that posters and similar images are of great importance as documents, not only in an artistic sense, but also as witnesses to historical socio-cultural memory and for the understanding of society-nature relations.

    Keywords: Information organization. Content analysis. Visual narrative. Publicity image. Poster. Representation of nature.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 -

    Cartaz da Exposio Nacional de 1875................................................ 172

    Figura 2 -

    ndio representando o imprio brasileiro

    1887................................. 180

    Figura 3 -

    Cartaz comemorativo da abolio da escravido no Brasil

    1888...... 185

    Figura 4 -

    Estampa usada na publicidade da Companhia Petropolitana

    1888... 194

    Figura 5 -

    Baile da Ilha Fiscal: o encerramento da monarquia

    1889................. 200

    Figura 6 -

    Cartaz da Exposio Nacional de 1922................................................ 205

    Figura 7 -

    Cartaz do filme Thesouro perdido

    1927........................................ 210

    Figura 8 -

    Cartaz de incentivo produo de borracha

    1943............................ 219

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Biblioteconomia versus Cincia da Informao............................ 47

    Quadro 2 - Esquema de classificao de tipos de informao......................... 54

    Quadro 3 - Grau de poeticidade segundo a linguagem empregada................. 95

    Quadro 4 - Comparao entre categorias terico-analticas............................ 100

    Quadro 5 - Sntese das categorias de anlise e respectivas significaes........ 110

    Quadro 6 - Descritores de personagens

    nos romances O gacho e O sertanejo ......................................................................

    132

    Quadro 7 - Descritores de matria e suas propriedades

    nos romances O gacho e O sertanejo ...............................................

    136

    Quadro 8 - Descritores da energia

    nos romances O gacho e O sertanejo ......................................................................

    141

    Quadro 9 - Descritores de espao

    nos romances O gacho e O sertanejo ......................................................................

    147

    Quadro 10 - Descritores de tempo

    nos romances O gacho e O sertanejo ......................................................................

    154

    Quadro 11 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 1............ 179

    Quadro 12 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 2............ 184

    Quadro 13 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 3............ 192

    Quadro 14 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 4............ 199

    Quadro 15 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 5............ 204

    Quadro 16 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 6............ 209

    Quadro 17 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 7............ 218

    Quadro 18 - Categorias de anlise e gerao de descritores da figura 8............ 225

  • SUMRIO

    1 INTRODUO............................................................................................ 16

    1.1 Delimitao e problematizao do tema de pesquisa....................................... 18 1.2 As premissas da pesquisa ................................................................................. 20 1.3 Objetivos...........................................................................................................

    21 1.4 Justificativa e contextualizao acadmica e social da pesquisa...................... 22 1.5 O percurso da pesquisa.....................................................................................

    23 1.5.1 A construo do referencial terico metodolgico........................................... 24 1.5.2 A construo do corpus e a gerao de dados................................................... 27 1.5.2.1

    Caracterizao do Corpus literrio para anlise................................................ 31 1.5.2.2

    Caracterizao do Corpus imagtico para anlise............................................ 32 1.5.3 O enfoque analtico dos romances e cartazes................................................... 34 1.5.4 Interesses do conhecimento ............................................................................. 36 1.6 Estrutura geral da tese....................................................................................... 37

    2 A CINCIA DA INFORMAO: OS DESAFIOS DA PLURALIDADE DOCUMENTAL E DA ORGANIZAO DA INFORMAO DE DIFERENTE NATUREZA.............................................................................................................................

    40

    2.1 Cincia da Informao: breve incurso histrica ............................................. 41

    2.1.1 Dos primrdios Segunda Guerra Mundial..................................................... 42

    2.1.2 O perodo Ps-Guerra ...................................................................................... 44

    2.1.3 A passagem do sculo XX para o XXI............................................................. 50

    2.2 A natureza e o valor da informao refletindo a pluralidade documental........ 54

    2.3 Informao e linguagem: uma associao necessria para a gerao de contedos...........................................................................................................

    57

    2.4 Organizao da informao: os desafios do contedo documental.................. 64

    3 UM CINGIR TERICO ENTRE A ORGANIZAO DA INFORMAO, A RETRICA DISCURSIVA E A NARRATIVA LITERRIA....................................................................................................

    72

    3.1 A anlise de contedo na Organizao da Informao..................................... 74

    3.1.1 Explorando as categorias de Ranganathan ....................................................... 76

    3.2 A anlise do discurso retrico como possibilidade para a anlise de contedo imagtico...........................................................................................................

    79

    3.2.1 Sentido e significado e suas relaes entre conotao e denotao.................. 82

    3.2.2 O enunciado como uma unidade discursiva de sentido e significado............... 88

    3.3 A narrativa literria como aliada da anlise e da representao de contedos imagticos.........................................................................................................

    91

    3.4 Um possvel alinhamento entre matrizes tericas............................................. 99

    4 LITERATURA: UMA POSSVEL CONTRIBUIO ANLISE E REPRESENTAO DE IMAGENS ...........................................................

    104

    4.1 O romance como uma forma de narrativa......................................................... 104

    4.1.1 Paisagem natural, Romantismo e brasilidade em Jos de Alencar................... 105

    4.2 O romance e a vida Jos de Alencar: um narrador de paisagens...................... 109

    4.2.1 Primeira fase: romance, teatro e esperana....................................................... 113

    4.2.2 Segunda fase: breve e de afirmao poltica..................................................... 116

  • 4.2.3 Terceira fase: maturidade intelectual plena e criadora......................................

    116

    4.3 A tematicidade no romance de Jos de Alencar e o corpus de anlise............. 118

    5 JOS DE ALENCAR: DOS PAMPAS AOS SERTES

    RETRATANDO A PAISAGEM BRASILEIRA.......................................... 124

    5.1 O gacho: na identificao homem-cavalo a representao homem-natureza.

    124

    5.2 O sertanejo e o serto: a simbiose homem e natureza ......................................

    125

    5.3 Anlise dos enunciados extrados dos romances O gacho e O sertanejo .

    126

    5.3.1 A revelao dos personagens e da personificao da natureza..................... 126

    5.3.2 A matria (te)matizada................................................................................. 132

    5.3.3 A energia da natureza sobre a matria e o imaterial...................................... 137

    5.3.4 O espao : palco de representao.................................................................. 142

    5.3.5 O tempo do ser, do estar e do devir............................................................... 148

    6 IMAGEM PUBLICITRIA E INFORMAO......................................... 157

    6.1 A imagem como documento............................................................................. 158

    6.2 A imagem publicitria....................................................................................... 163

    6.3 O contedo da imagem publicitria.................................................................. 167

    7 ANLISE DE CONTEDO E PRESENTAO DOCUMENTAL DE IMAGENS PUBLICITRIAS.......................................................................

    171

    7.1 O ruralismo representando a (agri)cultura brasileira

    1875 ........................... 172

    7.1.1 O contexto das exposies nacionais e universais na segunda metade do sculo XIX........................................................................................................

    173

    7.1.2 Anlise de contedo e resumo do Cartaz da Exposio Nacional de 1875...... 178

    7.1.3 Descritores a partir da anlise do Cartaz da Exposio Nacional de 1875....... 179

    7.1.4 Bibliografia de apoio anlise do Cartaz da Exposio Nacional de 1875...... 179

    7.2 O indgena: uma representao do fim do imprio brasileiro

    1887............... 180

    7.2.1 O contexto do fim do imprio brasileiro........................................................... 181

    7.2.2 Anlise de contedo e resumo da imagem do ndio representando o imprio brasileiro ...........................................................................................................

    183

    7.2.3 Descritores a partir da anlise da imagem do ndio representando o imprio brasileiro............................................................................................................

    184

    7.2.4 Bibliografia de apoio anlise da imagem do ndio representando o imprio brasileiro............................................................................................................

    184

    7.3 Do culto ao mundo do trabalho ao oculto mundo do trabalhador

    1888......... 185

    7.3.1 O contexto brasileiro na passagem da escravido para o trabalho livre........... 186

    7.3.2 Anlise de contedo e resumo do cartaz comemorativo da abolio da escravido no Brasil..........................................................................................

    191

    7.3.3 Descritores a partir da anlise do cartaz comemorativo da abolio da escravido no Brasil..........................................................................................

    192

    7.3.4 Bibliografia de apoio anlise do cartaz comemorativo da abolio da escravido no Brasil..........................................................................................

    192

    7.4 Modernidade: a deusa que faz a virada do sculo XIX para o XX

    1888....... 194

    7.4.1 O contexto da virada do sculo XIX para o sculo XX.................................... 195

    7.4.2 Anlise e resumo de Estampa da Companhia Petropolitana............................. 198

    7.4.3 Descritores a partir da anlise da Estampa da Companhia Petropolitana......... 199

    7.4.4 Bibliografia de apoio anlise da Estampa da Companhia Petropolitana........ 199

    7.5 O Baile da ilha fiscal: agoniza o imprio e sopram os ventos republicanos

    1889................................................................................................................... 200

  • 7.5.1 O contexto do Baile da Ilha Fiscal.................................................................... 201

    7.5.2 Anlise de contedo e resumo do cartaz do Baile da Ilha Fiscal...................... 203

    7.5.3 Descritores a partir da anlise do cartaz do Baile da Ilha Fiscal.......................

    204

    7.5.4 Bibliografia de apoio anlise do cartaz do Baile da Ilha Fiscal..................... 204

    7.6 Arte e Modernidade: Exposio Nacional de 1922...........................................

    205

    7.6.1 O contexto da Exposio Nacional de 1922..................................................... 206

    7.6.2 Anlise e resumo do Cartaz da Exposio Nacional de 1922........................... 208

    7.6.3 Descritores a partir da anlise do cartaz da Exposio Nacional de 1922........ 209

    7.6.4 Bibliografia de apoio anlise do Cartaz da Exposio Nacional de 1922 ..... 209

    7.7 Um Thesouro perdido no tempo e na memria cinematogrfica

    1927...... 210

    7.7.1 O contexto do filme Thesouro perdido de Humberto Mauro........................ 211

    7.7.2 Anlise e resumo do Cartaz do filme Thesouro perdido ............................... 217

    7.7.3 Descritores a partir da anlise do Cartaz do filme Thesouro perdido ........... 218

    7.7.4 Bibliografia de apoio anlise do Cartaz do filme Thesouro perdido .......... 218

    7.8 Vitria: produo da borracha

    1943...............................................................

    219

    7.8.1 O contexto da produo da borracha no Brasil................................................. 220

    7.8.2 Anlise e resumo do cartaz de incentivo produo de borracha no Brasil..... 224

    7.8.3 Descritores a partir da anlise do cartaz de incentivo produo de borracha no Brasil............................................................................................................

    225

    7.8.4 Bibliografia de apoio anlise do cartaz de incentivo produo de borracha no Brasil.............................................................................................

    225

    8 CONCLUSES............................................................................................... 226

    8.1 Concluses acerca dos desafios tericos frente diversidade documental e natureza da informao.....................................................................................

    226

    8.2 Concluses sobre os procedimentos metodolgicos para a anlise de contedo de imagens.........................................................................................

    229

    8.3 Concluses sobre o domnio da imagem propagandstica e sobre a gerao de produtos documentais...................................................................................

    236

    8.4 Concluses sobre as possibilidades de futuras pesquisas................................. 238

    REFERNCIAS............................................................................................................. 242

    APNDICES.................................................................................................................. 253

    ANEXO.......................................................................................................................... 261

  • Um entrelaamento entre a vida do autor emprico e o 2percurso acadmico revela-se no texto. Como diria Bakhtin: uma relao intrnseca entre o que o autor aprende na vida e o que ele insere no texto, recorrendo para isso s vrias vozes que tambm o fizeram enquanto autor3

    2 Comentrio feito pela Profa. Dra. Ndea Regina Gaspar, durante a avaliao do Relatrio Geral do Exame de Qualificao, ocorrido em 11 de maio de 2007.

  • 16

    1 INTRODUO

    As atividades destinadas a registrar, reunir, organizar e preservar as informaes e

    os saberes fazem parte da histria da humanidade. Para esse fim, os povos se utilizaram de

    diferentes meios, tais como: a oralidade, a pictografia, a escrita, a imagem, dentre outras

    formas de manifestaes. Sem a acessibilidade aos registros dessas manifestaes e sem o

    entendimento das mensagens guardadas em seus contedos, no se poderia conhecer,

    compreender ou sequer imaginar a trajetria humana, dos primrdios a seus dias atuais. Em

    decorrncia desse cenrio, intensificam-se as necessidades relativas institucionalizao,

    organizao e gesto das informaes que compem os saberes oriundos tanto das culturas

    autctones como das artes e das cincias.

    As mensagens imagticas da natureza e de outras finalidades distintas permeiam,

    intensivamente, o cotidiano das pessoas e indicam a importncia contida nos discursos

    icnicos, como meio de transmisso de informao e cultura, e se inserem fortemente no

    contexto da sociedade da informao.

    Esta pesquisa, por meio da reunio entre procedimentos da cincia da informao,

    da narrativa literria e da retrica, expe um potencial modelo para anlise e representao de

    imagens publicitrias, de carter histrico, do final do sculo XIX primeira metade do

    sculo XX.

    A seo introdutria apresenta, de forma breve, as vertentes de pensamento

    norteadoras da reconstruo do objeto de conhecimento e que permitem demonstrar a

    delimitao do tema e o objeto de estudo, assim como situar o contexto histrico e social da

    problemtica estudada. As opes tericas, por sua vez, se refletem nos procedimentos

    metodolgicos. Delineiam-se, tambm, os pressupostos ou premissas iniciais da pesquisa e os

    objetivos traados para esta investigao. Apresenta-se, ainda, a contextualizao acadmica e

    social que justifica e atribui relevncia pesquisa. Explicita-se, tambm, a pertinncia da

    pesquisa em relao rea de concentrao: Informao, Tecnologia e Conhecimento, bem

    como, linha de pesquisa de Organizao da Informao, ambas pertencentes ao Programa de

    Ps-Graduao em Cincia da Informao, da Faculdade de Filosofia e Cincias, da

    Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Marlia, onde este trabalho se insere.

  • 17

    As instituies como bibliotecas, arquivos, museus, centros especializados de

    informao e centros de memria so, ou deveriam ser, as guardis naturais dos saberes

    originrios da histria, cultura e sociedade humanas.

    Ao longo do tempo, aquelas instituies estabeleceram suas prticas, inicialmente

    calcadas em conceitos de colecionar e preservar, com acesso controlado e restrito.

    Posteriormente, com a adoo de princpios de livre acesso a tais saberes e de tecnologias, as

    instituies sofisticaram suas prticas, auxiliadas pela consolidao de um corpus terico, que

    ampliou as possibilidades de acesso e uso das colees de diferentes tipos documentais. Esses

    constructos tericos e conceituais permitiram a configurao de um campo epistemolgico de

    sustentao, tanto para as pesquisas como para o aprimoramento das prticas profissionais,

    tendo em vista contribuir com a cincia, a erudio, a educao, a cultura e a cidadania.

    A intensificao do capitalismo, a expanso da indstria e a busca incessante do

    estado por mais soberania fizeram com que o campo de atividades da cincia da informao

    adquirisse outras dimenses, e se atribussem novos significados prpria informao e ao

    conhecimento. Essas mudanas acabaram por influenciar a priorizao de alguns tipos de

    conhecimentos, como o cientfico e o tecnolgico, em detrimento de outros, advindos da arte

    e da humanidade. A sociedade e as organizaes fragmentaram-se, movidas ao mesmo tempo

    pela necessidade de expanso e de especializao dos conhecimentos. A informao passa a

    ser uma espcie de amlgama estruturante, que rene e d sentido ao mosaico das

    especialidades. As taxionomias, criadas para atender a campos cientficos especficos,

    contriburam, tambm, para efetivos avanos da prpria Cincia da Informao; porm, pode-

    se dizer que o mesmo no ocorreu nos campos das artes e das humanidades.

    Tal fato se deve complexidade da informao. Para seu melhor esclarecimento,

    se torna importante considerar a informao como algo no meramente linear, individual e

    isolado, mas combinado com um espectro de outras informaes e conhecimentos, gerados

    pelas experincias arraigadas nas prticas cotidianas do locus cultural. A socializao da

    informao e do conhecimento, entre pessoas e grupos, alm de se dar por diferentes meios de

    comunicao, pressupe a existncia de uma conjugao dos novos conhecimentos com

    aqueles preexistentes, parte do pensamento coletivo e identificador de uma determinada

    sociedade. Nessa perspectiva, se podem conceber as colees formadoras dos acervos,

    institucionalizados ou no, como uma espcie de memria social , fruto do processo

    histrico.

    A memria tem a propriedade de conservar certas informaes, referentes a um

    conjunto de funes scio-culturais ou psquicas, com o poder de atualizar as impresses ou

  • 18

    fatos passados. Essas informaes podem significar, apenas, representaes do passado,

    formando a memria relativa vida social; dos acontecimentos surgem e se acumulam

    documentos, monumentos, objetos e alegorias. No entanto, a apreenso da memria depende

    da apropriao do tempo e do ambiente ou espao social e poltico. Depende, tambm, do

    domnio de regras retricas, que possibilitam o acesso s mensagens. Estas se encontram nos

    textos, imagens, objetos e tantas outras formas de expresso que falam do passado (LE GOFF,

    1992) e tornam o campo da memria social cada vez mais complexo.

    A complexidade em torno do conhecimento, da memria, da informao e, em

    particular, da informao com base na obra artstica apresenta desafios que exigem dos

    pesquisadores, inclusive da rea de Cincia da Informao, investimento em novas formas de

    observaes, reflexo e crtica. Sob tal prisma se constitui o foco desta investigao.

    1.1 Delimitao e problemtica do tema de pesquisa

    Um dos aspectos do problema de pesquisa se situa, em primeiro lugar, no fato da

    incipiente prioridade atribuda aos conhecimentos advindos das manifestaes artsticas. Em

    segundo lugar, talvez por decorrncia, no mbito da Cincia da Informao, no se

    solidificaram um corpus terico-metodolgico e uma prxis voltados aos documentos de

    cunho artstico, com a mesma intensidade e a desenvoltura direcionadas ao documento

    cientfico. Em face dessa problemtica, cabe perguntar sobre os procedimentos metodolgicos

    capazes de realizar o tratamento de informaes de outra natureza, como aquelas expressas

    pelas obras de artes. Existe, conseqentemente, um potencial campo de conhecimento a

    explorar pela Cincia da Informao, situado no contedo da produo artstica em geral. Em

    particular, esse potencial reside na anlise e gerao de produto documentrio a partir das

    artes grficas, especialmente da arte cartazstica. Para Agustn Lacruz (2006), dentre a variada

    tipologia icnica, as imagens artsticas constituem um paradigma de estudo

    extraordinariamente pertinente ao documentalista. Uma riqueza de mensagens comunicativas

    delas emerge, ofertando a possibilidade de reconstruo e representao verbais de seus

    discursos.

    Cabe tambm indagar se os elementos componentes da estrutura narrativa literria

    no caso, romances

    podem contribuir para a anlise e a representao dos contedos de

    imagens presentes em cartazes, por meio de resumo ou sntese, particularmente aquelas

    relativas s temticas em torno da natureza. Mais do que isso, se deve considerar a literatura

  • 19

    como fonte inspiradora de concepes sobre paisagens e outros elementos naturais. Tais

    concepes influenciam e refletem as relaes entre a sociedade e a natureza. As atitudes das

    pessoas se associam diretamente ao modo pelo qual percebem o ambiente onde vivem. A

    sociedade cria, inventa e institui uma determinada idia de natureza, que perpassa o sentir, o

    pensar e o modo de agir de seus integrantes. Nesse sentido, as feies atribudas ao espao ou

    o valor esttico atribudo paisagem natural dependem da percepo e concepo do

    mundo natural. De tais percepes derivam os valores e esteretipos freqentemente

    transformados em verdades , que compem as referncias informativas e as noes

    consumidas por uma sociedade, independentemente de seu meio de veiculao.

    A importncia da modalidade documental cartazstica publicitria j se mostra

    amplamente reconhecida, por suas especificidades de expresso e capacidade como fonte de

    informao e de conhecimentos registrados. No Brasil, so ainda incipientes as iniciativas de

    organizao e disseminao das valiosas colees de cartazes, abrigadas em muitas

    instituies. Na maioria das vezes, se encontram em entidades como arquivos, bibliotecas

    pblicas e museus, ou naquelas promotoras de cultura como teatros, cinematecas, dentre

    outros centros de memria.

    Assim, a Cincia da Informao, na qualidade de mediadora de informaes e

    conhecimentos, por meio da representao, no se pode furtar em reconhecer os saberes

    advindos das expresses artsticas, muito menos em envidar esforos para trat-los

    adequadamente. Um dos principais pontos de argumentao apia-se em considerar o produto

    da cincia e o produto da arte como possuidores de contedos passveis de leituras, anlises,

    exegeses, representaes e recuperao; enfim, de se submeterem a um processo sistemtico

    de organizao da informao. Os discursos icnicos, por sua vez, mais enfatizados

    contemporaneamente, requerem conhecimento dos cdigos e processos pelos quais se criam

    as imagens, de modo a depreender seus significados e construir seu sentido. Nessa

    perspectiva, evidencia-se a necessidade de aprimoramento das metodologias e dos processos

    de anlise e gerao de produtos, que facilitem o acesso e a recuperao de seus contedos

    documentais; pois, aqueles desenvolvidos para conhecimentos tcnico-cientficos nem sempre

    se ajustam aos saberes humansticos. Presume-se, portanto, que tais produtos resultantes da

    obra de arte assumam uma feio diferenciada.

    Isso implica em uma interferncia da forma sobre a recepo informativa, embora

    se trate de uma relao complexa e de difcil observao, anlise e demonstrao de

    resultados. Torna-se mais complexa, ainda, por dois aspectos. O primeiro relaciona-se

    percepo do que seja informao e de sua utilidade, freqentemente determinada pelas

  • 20

    diferentes culturas, nas quais a informao se gera e dissemina. Davies (1994) e Cronin

    (1995) estimulam o debate sobre a real interferncia da informao no processo de

    desenvolvimento social. Reconhecem, ainda, que a capacidade informativa depende de

    fatores relacionados cultura expressa pelos estilos de vida, s crenas e aos valores sociais

    preexistentes, poltica e ideologia dominante, bem como percepo dos elementos

    estticos. O segundo aspecto, como salientam Douglas, (1992) e Macnaghten et al. (1995

    apud FURNIVAL; OKI; COSTA 2005), refere-se s percepes dos receptores da informao

    quanto confiana naqueles que as geram e as disseminam.

    Diante da problemtica e das indagaes suscitadas, estabeleceram-se pressupostos

    ou premissas que indicam o ponto de partida da presente investigao.

    1.2 Premissas da pesquisa

    A Cincia da Informao, como dito anteriormente, requer reflexes, contribuies

    terico-metodolgicas e procedimentos especficos para leitura, anlise e representao, ou

    seja, organizao da informao dos contedos imagticos artsticos. Os procedimentos

    devem garantir a transformao das representaes plsticas e alegricas em discursos

    lingsticos, que as representem e possam fazer a mediao entre o documento icnico e o

    usurio.

    Parte-se, tambm, da premissa de existncia de uma articulao entre as teorias: de

    anlise e representao de contedos, no mbito da Cincia da Informao; da Teoria da

    Narrativa e da Retrica, na grande rea de Letras; e, ainda, de alguns aspectos das Cincias da

    Comunicao. Essas teorias contribuem para a construo dos procedimentos metodolgicos

    de leitura, anlise e representao das informaes presentes em documentos cartazsticos

    publicitrios.

    Pressupe-se, ainda, que as informaes e conhecimentos imagticos se possam

    extrair por meio das indagaes retricas; desvelar pelos elementos da narrativa literria;

    perceber pelos processos comunicativos; e representar pelo alinhamento de tais mtodos aos

    de organizao do conhecimento, em especial pelo emprego das categorias ranganathianas.

    O estudo de textos literrios pode trazer pistas e contribuies importantes, ao

    fornecer elementos para o desenvolvimento de metodologias de anlise de imagens e de

    gerao de contedos que resultem em resumos e descritores. A forma de descrever as

    paisagens, as espcies e a prpria dinmica da natureza, na literatura, pode sugerir

  • 21

    construes narrativas, que contribuam para a gerao de contedos documentais originrios

    de imagens.

    Com base nesses pressupostos gerais, e se considerando existir na obra de arte

    uma inseparabilidade entre forma e contedo, tende-se idia de que a mensagem contida na

    obra de arte se viabiliza simultaneamente por meio de elementos estticos ou poticos. A

    representao, portanto, ao fazer a mediao do contedo da obra de arte, gera um produto

    no isento, totalmente, da expresso daqueles elementos. Por fim, a recepo ou a percepo

    de um contedo informativo, advindo da obra de arte, se pode dar com maior ou menor grau

    de aceitao, na medida em que a leitura do produto documental se torna mais ou menos

    atraente para seus usurios.

    Assim, uma vez apresentadas as premissas, apontam-se os objetivos almejados por

    meio do desenvolvimento da presente pesquisa.

    1.3 Objetivos

    O objetivo geral desta pesquisa consiste em identificar, reunir e articular os

    fundamentos epistemolgicos que acolhem e sustentam a obra de arte em geral, e em

    particular a arte grfica cartazstica, como documento de natureza comunicativa e informativa,

    alm de objeto de estudo e interveno da Cincia da Informao. Propem-se procedimentos

    metodolgicos de leitura, anlise e representao, visando gerao de produto documental, a

    partir da anlise de contedo do discurso retrico cartazstico, com base em conceitos e

    termos correspondentes s categorias essenciais de Ranganathan, alargadas pelo

    abarcamento de cada uma das categorias da narrativa literria.

    A partir do objetivo geral, tendo em vista a operacionalizao da pesquisa, traam-

    se os seguintes objetivos especficos:

    a) levantar os marcos tericos e conceituais para se estabelecer um alinhamento entre os elementos constitutivos da narrativa literria, as categorias essenciais ranganathianas e as indagaes (cnones) da retrica;

    b) identificar um conjunto de obras literrias

    romances - e cartazsticas brasileiras, que apresentem enunciados textuais representativos do ponto de vista da explorao de temticas relativas natureza e caracterizar o contexto histrico e sociocultural do perodo em que elas foram criadas;

  • 22

    c) estabelecer um alinhamento terico e conceitual entre os elementos

    constitutivos da narrativa literria, as categorias essenciais ranganathianas e as indagaes (cnones) da retrica, visando construir as categorias de apoio s anlises dos romances e dos cartazes;

    d) analisar os enunciados textuais dos romances para reconhecer os elementos constitutivos da narrativa literria, visando identificar como esses elementos se expressam para formar um escopo conceitual e terminolgico a ser empregado como categorias de apoio anlise e representao, em forma de resumo, dos contedos das imagens propagandsticas;

    e) propor e demonstrar uma modalidade de anlise que possibilite criar resumos que representem o contedo imagtico cartazstico, usando linguagem natural como um campo indexado e que permita sua posterior recuperao por buscas temticas.

    Diante desses objetivos, recorre-se a um

    escopo terico e metodolgico com

    amplitude e profundidade suficientes para compreender, ainda que em parte, o objeto de

    pesquisa. Por meio da proposio de procedimentos para anlise de imagem e sntese textual,

    buscou-se produzir uma contribuio efetiva para a rea de Cincia da Informao e para a

    subrea de Organizao da Informao, no que se refere aos aspectos de anlise e

    representao documentais.

    1.4 Justificativa e contextualizao acadmica e social da pesquisa

    A relevncia social da pesquisa pauta-se na idia de que os resultados possam

    contribuir para o desenvolvimento de atividades de anlise e representao, em forma de

    resumo e descritores do documento cartazstico. Espera-se, desse modo, facilitar e prover

    instrumentos para o trabalho de organizao de acervos imagticos, presentes em inmeros

    ambientes informacionais.

    O surgimento da rea de Iconografia, principalmente de carter histrico, dentro

    dos acervos documentais, vem atribuir ao cartaz o status de meio informativo essencial aos

    conhecimentos, especialmente os culturais ou institucionais, porque registra a memria dos

    fatos e dos acontecimentos e permite a recuperao da histria de movimentos sociais,

    artsticos, polticos, tnicos e religiosos, dentre tantos outros. Explica-se, assim, o fato de

    existir um significativo volume desse tipo documental espera de tratamento tcnico

    especfico. Atestam-se, sobretudo, sua importncia patrimonial e a maior tomada de

    conscincia quanto necessidade de sua preservao, ao mesmo tempo em que conquista

  • 23

    espao nas galerias de artes e nas exposies temticas. Em muitos pases da Europa, o cartaz

    um tipo de documento para o qual se exige o Depsito Legal. No caso do Brasil, o material

    isento dessa obrigatoriedade. No lhe foi conferida, ainda, a devida ateno, se comparado

    aos demais documentos integrantes de colees institucionais, principalmente das bibliotecas

    e arquivos iconogrficos. Entretanto, identifica-se uma crescente preocupao em preservar a

    cultura e a identidade nacionais, a memria e as tradies histricas.

    A formulao de procedimentos metodolgicos, assim, visa organizao

    daquelas fontes documentais, ainda muito pouco exploradas, para permitir maior acesso ao

    conhecimento nelas contido. Esses conhecimentos contribuem para ampliar as possibilidades

    de reflexo e, conseqentemente, conforme a proposta de Habermas (1987), favorecer os

    processos de emancipao dos indivduos e da sociedade.

    1.5 O percurso da pesquisa

    A construo de um arcabouo terico-metodolgico de apoio para ancorar,

    principalmente, o processo de anlise, surgiu de uma aproximao entre reas de

    conhecimento. Tais reas compreendem, prioritariamente, a da Teoria Literria e a da Cincia

    da Informao. Fazem-se, tambm, algumas incurses pela Lingstica, em especial no

    tocante Retrica, e pela Teoria da Comunicao, em particular no que tange s Artes

    Grficas. Essas incurses nortearam-se pela perspectiva de contribuies tericas efetivas ao

    avano da Cincia da Informao, mais especificamente rea de Organizao da

    Informao.

    O percurso investigativo se pautou em um enfoque de pesquisa social qualitativa.

    Esse enfoque, conforme esclarecem Berger e Luckmann (1979), se apia,

    predominantemente, em dados sobre o mundo social, ou o mundo representado e construdo

    nos processos de comunicao. Segundo Bauer, Gaskell e Allun (2004), a investigao social

    se d pela combinao de elementos pertencentes a quatro dimenses distintas: o

    delineamento da pesquisa, que se configura a partir da seleo do corpus documental para

    anlise; a formulao das estratgias de levantamento e os procedimentos de coleta; o

    tratamento analtico dos dados levantados; e a apresentao dos resultados e dos interesses

    sociais do conhecimento resultante da pesquisa. Esta ltima dimenso toma como base a

    proposta por Habermas (1987), que institui os fins justificveis para a gerao de novos

  • 24

    conhecimentos como sendo aqueles voltados para a construo de consenso e a emancipao

    dos sujeitos.

    1.5.1 A construo do referencial terico-metodolgico

    O percurso do pensamento explicitado pela abordagem metodolgica escolhida,

    principalmente, para a realizao das anlises. Nesse momento, demonstram-se, tambm, as

    principais filiaes epistemolgicas. A construo do arcabouo terico e metodolgico deu-

    se a partir de buscas bibliogrficas e das leituras de reviso da literatura selecionada. Esse

    processo ocorreu ao longo de toda a pesquisa, porm podem ser identificados dois momentos

    distintos.

    Num primeiro momento, fez-se uma ampla busca exploratria de temas mais

    gerais e tratados por autores muito diversos, inclusive de diferentes posies terico-

    epistemolgicas. Nesse momento, o trabalho de leitura foi exaustivo, porm tangencial, com o

    objetivo de se fazer um reconhecimento dos pontos de interseo das reas de domnio

    abrangidas e das principais teorias a elas pertinentes. Esse movimento de imerso permitiu

    identificar um trip terico formado por trs grandes reas de conhecimento. A rea da

    Cincia da Informao, no que tange Organizao da Informao e do Conhecimento e a

    gerao de produtos documentrios; a rea de Letras, mais especificamente da Teoria

    Literria e da Retrica, voltada para o estudo do romance, da narrativa e do discurso; e a rea

    de Comunicaes, no que se refere s artes grficas e, em particular, mdia cartazstica.

    Nesse momento, a identificao dos aspectos tericos e conceituais centrais de cada uma das

    reas e, principalmente, das possveis relaes existentes entre elas, demandou muito

    investimento em leituras e no processo de construo de snteses.

    Num segundo momento, ao se delimitar melhor o objeto de pesquisa, fez-se um

    grande esforo no sentido de aparar as arestas temticas e de verticalizar o conhecimento para

    dar o aprofundamento necessrio pesquisa. Houve, ento, um refinamento do processo de

    buscas bibliogrficas, tanto em relao aos temas como aos autores, de modo a situar, em

    cada rea de conhecimento, os domnios que melhor possibilitassem a compreenso do objeto

    de estudo. Melhor se visualizou tal objeto como sendo: a proposio de um procedimento

    metodolgico para a anlise de contedo cartazstico, valendo-se de contribuies da

    literatura para uma possvel aplicao no campo da Cincia da Informao. Os domnios,

    dessa forma, se tornaram mais perceptveis dentro de cada rea de conhecimento, com maior

  • 25

    aderncia ou pertinncia em relao s contribuies tericas e metodolgicas requeridas.

    Sendo assim, boa parte do respaldo necessrio ao prosseguimento da pesquisa foi encontrada

    nos domnios da Anlise e Representao da Informao, atributos da rea disciplinar de

    Organizao da Informao, dentro da grande rea de Cincia da Informao. Da mesma

    forma se buscou, tambm, a contribuio terica no mbito de domnio do Discurso Narrativo

    do Romance, principalmente naquilo que este herdou da estrutura retrica e na sua interface

    com a Lingstica e a Teoria Literria. Esta ltima, por sua vez, situa-se na grande rea de

    conhecimento pertencente s Letras. A outra parte do trip formada pelos domnios

    atinentes ao estudo dos cartazes, que em geral se expressam por meio de imagens e textos.

    Produtos das Artes Grficas, seu propsito primeiro a publicidade; encontram acolhimento

    terico-conceitual na grande rea do conhecimento das Comunicaes. Como parte do

    processo de aprofundamento, houve a necessidade de eleger alguns tericos, para servir de

    timoneiros dentro de determinadas perspectivas, com os quais outros vieram dialogar, somar e

    conferir alguma consistncia.

    Na rea de Cincia da Informao, houve a necessidade, primeiramente, de

    recuperar sua gnese e trajetria histrica com o intuito de melhor situar o objeto de estudo

    cartazes - como um produto advindo do campo das artes e no da cincia. Para balizar essa

    chave de conhecimento, alm da leitura de textos clssicos da rea, tomaram-se como base os

    tericos russos Mikhailov, Chernyi, Gilyarevskyi (1980). Esses autores foram revisitados,

    porque explicitam uma espcie de ciso ou redirecionamento dos propsitos da Cincia da

    Informao para a Cincia e Tecnologia, deixando margem os conhecimentos no

    cientficos . No que se refere teorizao voltada para a rea disciplinar de Organizao da

    Informao, tem-se como orientao basilar a teoria de Ranganathan (1931, 1951, 1967). Esse

    terico props a superao do princpio da hierarquizao do conhecimento, comumente

    empregado nos sistemas de classificaes lineares, para avanar em direo flexibilizao,

    no s da representao temtica como tambm da anlise de contedo de forma relacional.

    Ranganathan visava enfrentar a complexidade do conhecimento moderno e sua constante

    expanso. Outros tericos, em mbito nacional e internacional, corroboraram a consolidao

    de uma teoria da Cincia da Informao. No campo da anlise de imagens, autores como Smit

    (1996), Agustn Lacruz (2006), Boccato e Fujita (2006), em colaborao com tericos como

    Moles (1974) e Panofsky (1995), apontam as bases para a anlise dos contedos cartazsticos,

    estes ltimos numa perspectiva da Teoria da Comunicao e das artes grficas. No se pode

    negar o aporte terica de autores como Barthes (1992), que do ponto de vista semiolgico

    contribui para o trabalho de anlise da imagem em geral.

  • 26

    No mbito da Teoria Literria, em sua interseco com a lingstica, as

    contribuies de Jakobson (1971) e Guiraud (1980) foram complementadas por Barthes

    (1992), principalmente no que tange s distines entre os aspectos denotativos e conotativos

    presentes na linguagem. Cabe registrar que muitos tericos puderam contribuir com os

    estudos da narrativa, apresentando uma grande diversidade, tanto em termos de interesses

    como de aplicaes, e levando a constantes escolhas. Decidiu-se, portanto, estabelecer como

    principais ncoras os tericos que priorizavam os enfoques analticos, mais especificamente

    do discurso narrativo e retrico, e que enfatizavam a anlise dos elementos formais, com base

    nas caractersticas estruturais das narrativas, como Moiss (1974), D Onofrio (1995) e

    Todorov (2004). A esses, juntaram-se outros autores para sedimentar os aspectos conceituais

    e estabelecer correlao entre os elementos, narrativos e retricos, e as categorias essenciais

    propostas por Ranganathan (1951).

    O conceito mais conciso encontrado na literatura o de romance como gnero

    literrio de natureza narrativa. Entende-se a narrativa como discurso em que se conta ou relata

    um fato ou acontecimento, episdico ou incidental, comumente mesclando dados reais e

    fictcios. Apresentam-se, tambm, os elementos bsicos constitutivos de uma narrativa,

    associados ao conceito de romance; e identificam-se os personagens, autores ou atores

    envolvidos em um enredo. Para efeito da presente pesquisa, incluram-se numa mesma

    categoria tanto os personagens como os narradores. O tema o que deriva dos

    acontecimentos ou fatos responsveis pela ao e pela dinmica formadora do enredo. O

    lugar, espao ou territrio so demarcados pelos fatos e as situaes no ambiente ou cenrio

    onde

    ocorrem. O tempo identificado pelo momento em que ocorre uma ao

    (D ONOFRIO, 1995). Para Bauer (2004), o emprego da concepo de narrativa na anlise de

    contedo muito estimulador. Abordar um contedo, como se conta uma histria, significa

    reabilitar noes primrias, altamente operacionais, tais como: narrador (autor), ator

    (personagens), tema (objeto da narrao), acontecimento (ao) e o cenrio temporal (tempo)

    e espacial (espao) onde se passa a narrativa, sejam uma histria real, ficcional ou um misto

    de ambas.

    As noes primrias constituem uma espcie de codificao, a partir das quais se

    constroem mdulos, ou seja, enunciados, como estratgia para aumentar a eficincia e a

    coerncia internas do produto textual da anlise. Entende-se por mdulo um bloco de textos

    referenciais de codificao, que se repete. As variaes ou derivaes das noes primrias,

    referentes a cada um dos elementos da narrativa, compem o rol de cdigos secundrios, que

  • 27

    especificam a denotao, ou literalidade, e a conotao, arbitrria e dependente do sistema de

    convenes culturais.

    A partir dessa possibilidade de cdigos primrios e secundrios, se chega ao que

    Barthes (1992) chama de sistema de signos de primeira e de segunda ordem. O primeiro se

    torna o significante do segundo. No caso da anlise de imagens, essas noes se mostram

    importantes porque o signo de primeira ordem no necessita ser lingstico; ele se pode

    expressar por um desenho, uma fotografia, uma pintura, entre outros meios. O signo de

    segunda ordem decorre da associao entre o conceito e seu significado, que se apresenta no

    apenas lingstico, mas tambm cultural.

    O desenvolvimento desses aspectos conceituais revelou-se fundamental, dadas as

    caractersticas do documento cartazstico, pois este possui uma grande carga conotativa, como

    bem salienta Moles (1974). Para Barthes (1992), na imagem publicitria a mensagem

    denotativa ou literal serve para naturalizar

    a mensagem conotada. A compreenso da

    conotao da imagem, portanto, se mantm oculta como um dado bruto, cujo trabalho de

    anlise pode desmistificar o processo de naturalizao e desvelar os conhecimentos culturais

    implcitos na imagem, muitas vezes identificados pelos elementos contrastantes e

    contraditrios, dentro do seu conjunto paradigmtico (PENN, 2004).

    A partir dos elementos da narrativa e de seu alinhamento com as Categorias

    Essenciais de Ranganathan (1951), formam-se as categorias conceituais de anlise. Vale

    aclarar as categorias essenciais, compreendidas como: personalidade, matria, energia, espao

    e tempo. O principal foco, mantido permanentemente sob a mira desta pesquisa, foi o de

    compreender os elementos da Teoria da Narrativa, operacionalizados pelas indagaes

    retricas, e aproxim-los da Teoria ranganathiana, gerando procedimentos documentais. Para

    aplicao desses procedimentos, elegeu-se um corpus composto por enunciados extrados de

    textos literrios e um corpus composto por cartazes selecionados.

    1.5.2 A construo do corpus e a gerao de dados

    Ressalve-se, em primeiro lugar, que, diferentemente da investigao quantitativa,

    cujo delineamento exige uma amostragem representativa , na pesquisa qualitativa esse

    conceito no se aplica. Portanto, adotou-se a formao de um corpus textual e imagtico

    cartazstico.

  • 28

    Corpus (palavra latina, que significa corpo ), no campo da histria, pode referir-

    se a uma coleo de textos, tematicamente unificados, e que representa certa completude. No

    campo da lingstica, a noo de corpus apresenta orientaes adequadas seleo de

    informaes, pelo estabelecimento de princpios para a coleta de dados qualitativos

    (BAUER e GASKELL, 2004 p. 22). O corpus, nesse campo, pode ser representado por uma

    lista de frases. Porm, a idia apresenta limitaes, como a dificuldade em extrapolar certas

    particularidades para o todo, diante do fato de que a linguagem um sistema aberto. Uma

    definio de corpus, apresentada por Barthes (1992, p. 104), a de uma coleo finita de

    materiais, determinada de antemo pelo analista, com (inevitvel) arbitrariedade, em torno da

    qual ele ir trabalhar . Ainda segundo Barthes, possvel estender a noo de corpus textual

    para qualquer outro tipo de documento, uma vez que outros materiais tambm se mostram

    como algo significante da vida social. Bauer; Gaskell e Allum (2004 p. 22) concordam que a

    realidade social pode ser representada de maneiras informais ou formais de comunicar e que o

    meio de comunicao pode ser composto de textos, imagens ou materiais sonoros .

    A construo do corpus significa o processo de seleo e escolha sistemticas,

    com base em algum princpio racional , alternativo em relao amostragem estatstica

    aleatria. O corpus deve garantir que o conjunto de material selecionado permita caracterizar

    o todo. Desse modo, pode-se dizer que construo de corpus e amostragem representativa

    se equivalem quanto funcionalidade, embora com finalidades diferentes. Na primeira o foco

    de preocupao est em tipificar atributos pouco conhecidos; enquanto na segunda, com base

    na estatstica, descrevem-se os atributos, em geral bem conhecidos no espao social (BAUER;

    GASKELL; ALLUM, 2004 p. 22).

    Para se realizar a coleta de dados, foram considerados os romances, como um meio

    de comunicao ou registro textual, e os cartazes e demais imagens publicitrias, como meio

    ou registro imagtico, bases para a obteno de dados com vistas realizao das anlises. O

    sistema de comunicao considera esses tipos de registros como geradores de dados formais,

    que reconstroem ou expressam a realidade social, representada por um determinado grupo, em

    seu tempo e lugar. O que uma pessoa l, olha ou escuta a qualifica no momento presente e

    pode indicar uma tendncia de suas preferncias pessoais. Nessa perspectiva, tanto um

    romance como um cartaz podem conter indcios de uma determinada viso de mundo.

    Considera-se, entretanto, que um cartaz se expressa de acordo com um enquadramento de

    viso de mundo para persuadir. Nesse intento, busca expor elementos que se supem

    corresponderem a algo que as pessoas apreciem, motivando o espectro de interesses e desejos

    de um grupo social consumidor.

  • 29

    Barthes (1992) sugere alguns parmetros, tais como os de relevncia , os de

    homogeneidade e os de sincronicidade , como possveis balizadores para a seleo de

    assuntos componentes de amostras qualitativas. Os assuntos devem ser teoricamente

    relevantes e coletados, apenas, sob um ponto de vista. Os materiais em um corpus devem ter

    um s foco temtico, ou tema especfico. A substncia material de um corpus de dados deve

    ser to homognea quanto possvel. Dessa forma, imagens e textos podem fazer parte de uma

    mesma pesquisa, mas devem ser apresentados em corpora diferentes, ainda que se possam

    estabelecer relaes e comparaes entre ambos. E, ainda, a sincronicidade se apresenta com

    relao ao recorte temporal, considerando-se que um corpus uma interseo de pontos ou

    momentos da histria. Barthes sugere que a seleo de materiais ocorra com base em um ciclo

    de estabilidade e mudana; os momentos de mudana indicam o intervalo de tempo em que o

    corpus selecionado se apresenta relevante e homogneo.

    Esta pesquisa compreende dois corpora. O primeiro se compe de enunciados

    textuais, extrados de romances do escritor brasileiros Jos de Alencar, da segunda metade do

    sculo XIX. Optou-se por tais romances por possurem uma linguagem literria narrativa

    altamente descritiva e bastante alusiva temtica da natureza. Os textos apresentam, tambm,

    variaes conotativas e metafricas. O segundo corpus rene uma seleo de cartazes

    publicitrios brasileiros, com a funo de informar e tambm persuadir, produzidos na

    segunda metade do sculo XIX e primeira metade do sculo XX, e que contemplem algum

    elemento da natureza. No perodo selecionado, ocorreram grandes transformaes sociais,

    culturais e polticas no Brasil.

    Dessa forma, a construo do referencial terico, dentre outros pontos, buscou

    verificar como a temtica natureza

    tratada e retratada, esttica e funcionalmente, na

    literatura brasileira. Dada a abrangncia do material disponvel, convencionou-se fazer um

    recorte estilstico e temporal, que privilegiou dois romances de Jos de Alencar, editados na

    segunda metade do sculo XIX (1870 e 1875), em cujas pginas a descrio da natureza est

    em evidncia. Com relao aos materiais imagticos, foram selecionadas oito imagens

    grficas, expressas em cartazes publicitrios. Dessa maneira, buscou-se criar possibilidades

    concretas para se demonstrar a pertinncia ou no dos pressupostos de pesquisa, previamente

    formulados, por meio dos corpora de estudo sinteticamente compreendidos por:

    a) enunciados que apresentem descries e representaes sobre a natureza, presentes em textos literrios de romances brasileiros, editados na segunda metade do sculo XIX;

  • 30

    b) imagens com a presena de elementos da natureza, com o intuito

    publicitrio, criadas e veiculadas no mesmo perodo ou no perodo subseqente publicao dos romances, ou seja, segunda metade do sculo XIX e primeira metade do sculo XX.

    O corpus textual visa identificar os elementos que possam contribuir para a anlise

    e representao, por meio de resumo e descritores, do corpus imagtico. projetado, tambm,

    para maximizar uma variedade de categorias extradas dos enunciados (frases), contendo

    termos e conceitos expressivos dos elementos da narrativa.

    Esses conceitos e termos podem ser correlacionados com as categorias

    ranganathianas, indicando a possibilidade de sua apropriao para anlise dos cartazes. Da

    mesma forma, podem ser empregados na elaborao dos resumos e atuar em correspondncia

    com os cnones do discurso retrico. Esses, por sua vez, correspondem aos elementos da

    narrativa e, semelhantemente, s categorias ranganathianas. Tais categorias so observveis

    dentro da dinmica do texto (romance) e empregadas na elaborao do texto (resumo) e de

    seus conseqentes descritores.

    Os aspectos formais do discurso retrico balizam as observaes categricas,

    formuladas em atendimento s indagaes: quem , o que , por que , quando

    e onde

    e

    que correspondem, nesse caso, leitura feita do discurso retrico da imagem cartazstica.

    Assim, a codificao ou a categorizao, com suas respectivas definies, serve de orientao

    para a anlise das imagens, conforme prev Bauer (2004).

    As unidades de anlise (os enunciados) tambm abarcam os aspectos contextuais,

    com o intuito de identificar, na imagem, no apenas os elementos presentes, mas tambm os

    ausentes, conforme recomenda Rose (2004).

    Por se tratar de pesquisa qualitativa, no h preocupao de analisar a repetio ou

    freqncia de expresses semelhantes, mas, sim, a de reunir, sob uma mesma noo, um

    elenco de diversidade terminolgica que corresponda a uma dada categoria. Os enunciados

    correspondentes s categorias preestabelecidas se constituem pelo processo de extrao, ou

    pinamento , de fragmentos textuais dos romances. Tais fragmentos se apresentam em

    seqncia diferente daquela do texto original, devido a seu reagrupamento, orientado pelas

    noes categricas. A seqncia formadora da unidade de sentido, no texto-resumo, resulta do

    enquadramento da retrica da imagem, de tal modo que as expresses textuais, advindas dos

    romances alencarianos, correspondam s noes de algumas das categorias ranganathianas. A

    definio de cada expresso se valida por correlaes estabelecidas por critrios extrnsecos,

    ou contextuais, e intrnsecos, que instruem as noes representativas das categorias. Logo,

  • 31

    valoriza-se a noo e sua relao com o contexto histrico, considerando que o momento em

    que se diz algo faz diferena em relao importncia atribuda ao que foi dito. Assim como

    os aspectos realados em uma imagem se associam aos aspectos culturais dominantes em uma

    determinada poca e sociedade.

    Com relao ao tamanho da amostra, Bauer e Gaskell (2004 p. 59) sugerem que se

    deve [...] considerar o esforo envolvido na coleta de dados e na anlise [...] . O exagero da

    amostra para a pesquisa qualitativa foi identificado por Miles (1979) como um incmodo

    atrativo , na medida em que comumente so coletados muito mais materiais interessantes do

    que a capacidade de lidar com ele dentro de um tempo permitido. Incorre-se, ainda, no perigo

    de a pesquisa terminar com uma vasta apresentao de dados sem uma anlise em

    profundidade. Dessa forma, o tamanho do corpus o menos importante para conferir

    credibilidade pesquisa, se comparado com o processo de anlise e a apropriao do aparato

    terico usados para a explicitao dos procedimentos metodolgicos propostos.

    A obteno do material para compor o primeiro corpus de pesquisa de deu por

    meio de buscas em acervos de bibliotecas, livrarias e sebos, para se conseguir exemplares da

    primeira edio, de cada um dos romances de Jos de Alencar: O gacho (1870) e O

    sertanejo (1875). Da mesma forma, a localizao de cartazes representativos, para a

    demonstrao das possibilidades de anlise, demandou contatos e visitas em diversos arquivos

    pblicos e bibliotecas. Captaram-se algumas imagens de pginas de livros, pela

    impossibilidade de acesso aos originais. Porm, o intuito da pesquisa se volta mais ao

    processo analtico e menos qualidade, raridade ou condies de guarda e tratamento

    documental. Esse fato no comprometeu o andamento da investigao, mas evidenciou, em

    relao aos cartazes, certa precariedade quanto ao tratamento desse tipo de acervo

    documental, pois tanto as primeiras edies dos romances quanto os cartazes antigos no

    foram to facilmente encontrados.

    1.5.2.1 Caracterizao do Corpus literrio para anlise

    No que concerne literatura, o critrio para eleio das obras foi a presena da

    temtica Natureza como elemento da narrativa, seja em primeiro plano seja como parte do

    contexto narrado. O autor escolhido, Jos Martiniano de Alencar (1820 - 1877), cujo valor

    para as letras brasileiras indiscutvel e incontestvel, representa o romantismo e as

    caractersticas de uma literatura genuinamente brasileira. Nas obras O gacho

    e O

  • 32

    sertanejo , editadas pela primeira vez em 1870 e 1875, respectivamente, o autor aborda temas

    e conceitos que se evidenciam nas descries do cotidiano mundo rural e, principalmente, das

    pessoas que nele vivem. Esse autor brasileiro representativo de movimentos artsticos mais

    amplos, como o romantismo e o regionalismo. Trata-se de obras que apresentam descries da

    natureza e que se inserem num conjunto importante de romances brasileiros, editados na

    dcada de setenta do sculo XIX. Para melhor caracterizar essas obras, faz-se aqui uma breve

    introduo, cujo contedo se retoma na seo destinada s anlises, de forma a abordar suas

    particularidades. A principal caracterstica de organicidade dessas obras e que influenciou sua

    escolha reside no fato de, independentemente de seus estilos e escolas, tratarem dos ambientes

    sertanistas, entrelaando o homem com o meio natural e com o sociocultural.

    1.5.2.2 Caracterizao do Corpus imagtico para anlise

    Inicialmente, cabe colocar que o campo de estudo da imagem se revela bastante

    amplo, tornando-se necessrio um recorte amostral redutor a uma nica tipologia de imagem,

    para melhor focar o trabalho. A escolha de imagens impressas em cartazes permitiu melhor

    delimitao tipolgica. Contudo, no se pode esquecer que os mesmos fazem parte do grande

    universo das artes grficas, que abarcam as estampas, os rtulos, as etiquetas, dentre muitos

    outros, usados para diferentes fins e, principalmente, como materiais de divulgao e de

    informao. Observa-se que tanto os cartazes como os rtulos e as etiquetas atendiam a

    finalidades muito semelhantes no sculo XIX e no incio no sculo XX. Inclusive, usavam-se

    as revistas ilustradas como canal de veiculao publicitria, onde se publicavam essas

    diferentes formas de anncios ou reclames , como eram denominadas. Dessa forma, optou-

    se por reunir, analisar e representar materiais impressos, usados para veicular e disseminar

    idia associada publicidade institucional ou cultural. Dada a dificuldade de acesso aos

    arquivos e baixa qualidade de conservao dos originais, convencionou-se alargar um pouco

    o perodo de pertencimento dos cartazes analisados

    segunda metade do sculo XIX e

    primeira metade do sculo XX

    que exploram o tema natureza, em relevo ou

    subliminarmente. Isto , que apresentem contedo com uma carga de elementos visuais, ou

    fio condutor metafrico, sobre o tema natureza e sua relao com a sociedade. A partir da

    temtica apresentada, deu-se a construo de narrativas por meio da observao da retrica

    visual, para sua representao numa narrativa textual, luz dos movimentos artsticos

  • 33

    vigentes na poca e de outros elementos histricos contextuais, de forma a evidenciar tanto os

    aspectos denotativos como os conotativos presentes em cada um dos cartazes.

    Cabe, ainda, introduzir que o cartaz apresenta-se em suporte de papel,

    visivelmente afixado em locais pblicos, ou em pginas de revistas, com a funo de informar

    e divulgar; j ocupou tambm os espaos internos dos bondes. Sua valorizao nas revistas,

    cada vez mais requintadamente ilustradas, fez surgir o conceito de capa-cartaz, pela funo

    que a capa de um peridico tem de anunciar seu contedo. A corriqueira publicao de

    cartazes em revistas levou s fontes e recolha do material imagtico. Assim, primeiramente,

    realizou-se o trabalho de pesquisa documental em bibliotecas, arquivos e museus, cujos

    acervos possuem peridicos, editados e circulados no perodo abrangido pela pesquisa. Dentre

    os locais visitados que possuem colees de cartazes mais significativas esto o Setor de

    Iconografia do Arquivo do Estado de So Paulo e o Arquivo da Cinemateca Brasileira. Nos

    setores de obras raras e colees especiais de bibliotecas como a Biblioteca Histrica Arruda

    Botelho, pertencente Fazenda Pinhal, e a Biblioteca Comunitria da UFSCar, ambas

    situadas no municpio de So Carlos, encontram-se colees de peridicos de grande

    importncia para esse tipo de estudo, posto que estampam cartazes e outros tipos de imagens

    brasileiras de determinada poca. Tais colees podem ser tambm encontradas na Biblioteca

    Nacional, no Rio de Janeiro, e na biblioteca do Museu Mariano Procpio, em Juiz de Fora,

    Minas Gerais. Dentre essas colees, destacam-se peridicos como O Besouro , O

    Mosquito , Semana Illustrada e Revista Moderna . Coletaram-se as imagens nos arquivos

    que apresentaram maior facilidade de acesso e melhores condies de conservao, visando

    aumentar sua qualidade de reproduo.

    O cartaz pode, tambm, ser apreciado como pea de valor artstico, uma vez que

    seus criadores buscam convencer por meio da exibio da imagem, empregando talento

    artstico no processo de criao. Atribuem-se ao cartaz e seus similares, alm de sua

    importncia como meio de publicidade e de veiculao de informao visual, valor histrico,

    como agente denunciativo dos mais importantes movimentos de carter poltico, social e

    artstico. Pois a arte, de modo geral, expressa sinteticamente o esprito de uma sociedade, em

    uma determinada poca (PESAVENTO, 2006).

    Assim como a literatura se identifica com estilo e escolas literrias predominantes,

    em cada perodo histrico os cartazes tambm se associam aos movimentos artsticos.

    Considerando que, na virada do sculo XIX para o sculo XX, o principal modelo esttico

    influente no mundo da publicidade ocidental era o Art Nouveau, os artistas brasileiros, na

  • 34

    poca, se dedicaram tambm a este estilo e criaram um referencial sofisticado para a

    propaganda da chamada Belle poque.

    No final da dcada de 1920, um outro movimento artstico

    o da Art Dco

    floresceu no Brasil, tal qual o Art Nouveau. O movimento Art Dco tem sido reconhecido

    como estilo ecltico, formado pela conjuno de vrios movimentos artsticos. A arte grfica

    Dco rica, como documento histrico, por sintetizar os costumes e interesses de uma

    sociedade ocidental, no primeiro quarto do sculo XX.

    No Brasil, o modernismo tem seu triunfo associado Semana de Arte Moderna de

    1922, cuja proposta sugere a destruio da estrutura hierarquizada e dos valores hegemnicos

    da sociedade. Nesse momento, os artistas de vanguarda se recusaram a seguir a tradio

    esttica do sculo XIX e submetem-se a um mundo transformado pela velocidade e pelos

    ritmos alucinantes do progresso tcnico. Esses vanguardistas rejeitam as curvas melodiosas

    exageradas e o exotismo da decorao dos movimentos Art Nouveau, bem como do Art Dco,

    embora este ltimo j proponha maior clareza, despojamento e geometrizao das formas e

    linhas. Assim, ao se elaborar a sntese textual, levaram-se em considerao traos da

    influncia de algum movimento artstico, na medida em que foi possvel identific-los,

    durante o processo de leitura iconogrfica .

    1.5.3 O enfoque analtico dos romances e cartazes

    O processo de anlise dos cartazes segue, em linhas gerais, aquele da anlise de

    contedo. A anlise de contedo, embora tenha surgido para a anlise de material textual, hoje

    se aplica, tambm, anlise de imagem e som. Adequa-se ao trabalho analtico de dados

    histricos, remanescentes de atividades passadas, enquanto as entrevistas e observao

    diretas, por exemplo, mais se condicionam ao momento presente. A anlise de contedo

    presta-se, de forma pertinente, a descrever e ressignificar registros da comunicao humana,

    em materiais estocados

    em arquivos, museus, bibliotecas e centros de documentao.

    Criam-se, assim, resultados, sem que para isso se recorra a respondentes diretos durante a

    coleta de dados primrios, como acontece nas entrevistas tradicionais.

    O tratamento analtico dos dados, integrantes dos corpora textuais e imagticos,

    foi explorado a partir do enfoque de anlise de contedo discursivo retrico. Pressupe-se que

    tanto os textos como as imagens, do mesmo modo que as falas de uma entrevista, se referem

    ao pensamento, ao sentimento, memria. Por conseguinte, podem falar e dizer

    muito,

  • 35

    [...] mais do que os seus autores imaginam (BAUER, 2004, p. 189). As imagens

    publicitrias, dessa forma, se constituem em importantes fontes documentais e propiciam

    anlises qualitativas, embora ainda pouco exploradas pelos pesquisadores da Cincia da

    Informao. Para Berger e Luckmann (1979), essas fontes, resultantes de processos

    comunicativos, so histricas na medida em que se podem referir a atores sociais e a aes

    que ocorreram num determinado tempo e espao.

    Anlise de contedo, aqui, se define como uma forma de processamento da

    informao em que o contedo da comunicao identificado e pode ser transformado pela

    aplicao objetiva e sistemtica de regras de categorizao (PAISLEY, 1969). Esse

    processamento de um determinado texto permite, ainda, produzir inferncias sobre a prpria

    mensagem, seus emissores e sua audincia, por meio da obteno de dados referentes a seu

    contexto histrico e social (WEBER, 1985).

    Entende-se, assim, que um corpus textual, como tambm o imagtico, se oferece a

    diferentes leituras. Portanto, uma abordagem de anlise de contedo deve encontrar um meio

    caminho entre uma leitura singular, focada no objeto de anlise em si, e uma leitura que

    considere as transformaes ocorridas em torno do objeto analisado. As categorizaes e a

    codificao apiam raciocnios que transformam as idias originais, presentes no texto ou na

    imagem, em uma nova informao com valor agregado. Nessa perspectiva, a anlise de

    contedo pode ser entendida no como uma leitura do texto ou da imagem, mas, em

    congruncia com a teoria adotada pelo pesquisador, a luz de seu objetivo de pesquisa

    (BAUER, 2004, p. 191).

    A anlise de contedo se revela uma das modalidades de investigao que, em

    geral, atende s expectativas de depreender aspectos, inclusive, da mediao simblica ante

    um processo de reconstruo de representaes, ou seja, de expresses simblicas. Essas

    representaes se reconstroem sintaticamente pela forma, de acordo com a gramtica e o

    estilo, e semanticamente , pelo entendimento do que quer dizer a audincia formada por

    interlocutores sociais, documentalistas e usurios. Do ponto de vista semntico,

    compreendidos os aspectos denotativos e conotativos, o foco de ateno se direciona para o o

    qu e o como dito o que se quer dizer em um texto ou imagem. No caso, o corpus do

    texto a expresso de um escritor, o romancista Jos de Alencar, que, por sua vez, expressa a

    forma de uma comunidade em determinado tempo

    na segunda metade do sculo XIX e

    lugar, no Brasil. A anlise de contedo, deste modo, permite construir indicadores de

    macroviso ou de viso contextual.

  • 36

    A anlise de cada imagem exige levantamento bibliogrfico especfico para se

    reconstruir o contexto e reunir um elenco de informaes com as quais se possa efetiv-la.

    Para definir a extenso das snteses relativas a cada imagem (aproximadamente quinhentas

    palavras), tomam-se como parmetro as recomendaes da norma NBR 6028, da Associao

    Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), concernentes a resumo informativo, embora, no caso

    desta pesquisa, a denominao mais adequada fosse talvez a de sntese analtica.

    1.5.4 Interesses do conhecimento

    Segundo Habermas (1987) [...] dois momentos centrais do pensamento grego, a

    postura terica e ontolgica fundamental de um universo estruturado em si mesmo, ressurgem

    numa relao no admitida por muitos: a conexo conhecimento e interesse . Esse autor

    identifica trs categorias no processo de pesquisa e seus respectivos interesses como guias do

    conhecimento, de tal forma que:

    No mbito da viso emprico-analtica da cincia, introduz a teoria crtica um interesse cognoscitivo terico; no mbito da cincia analtico-hermenutica, um interesse voltado prtica; no mbito da cincia orientada criticamente, um interesse cognoscitivo libertador [...] (HABERMAS, 1987, p. 305).

    Trata, ainda, da objetividade possvel, negando a suposta objetividade e

    imparcialidade da cincia, uma vez que todo conhecimento possui um interesse, e distingue:

    os pontos de vista especficos, mediante os quais se concebe a realidade de forma

    transcendentalmente necessria, em trs possveis categorias de saber: a informao, que

    amplia nosso poder de manipulao tcnica; a interpretao, que possibilita uma forma de

    orientao da ao; e a anlise, que liberta a conscincia da dependncia de poderes

    hipostasiados.

    O interess