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ABEn - jul.ago.set. 2005 20 M e m ó r i a A B E n ABEn - jul.ago.set. 2005 20 Stella Barros Presidenta da ABEn – Gestão 1989-1992 Maria Auxiliadora Córdova Christófaro Presidenta da ABEn – Gestão 1992-1995 Mais recentemente, a ABEn liderou e investiu no estabelecimento de relações internacionais buscando não apenas o intercambio, mas acordos de cooperação e parceria. O esforço da ABEn fez nascer uma articulação com organizações de enfermagem de paises de língua portuguesatanto daÁfricacomo de Portugal, ocorrendo o I Encontro Internacional de Enfermagem de Paises de Língua Oficial Portuguesa em 1995, realizado pela ABEn em Salvador (BA). Atualmente os encontros dessas organizações sob a liderança da associação portuguesa fragilizou o principio da cooperação entre os paises por privilegiar a representação das organizações de enfermagem dos paises de língua portuguesa que são filiadas ao CIE. Resgatar a estratégia de acordos de cooperação com as organizações de enfermagem para além da formalidade das filiações é uma necessidade para estabelecer a equidade das parcerias, evitando transformar as relações entre as organizações como uma mera repetição das políticas de Estado como vem acontecendo recentemente no Brasil. Haja vista os encaminhamentos ortodoxos, reducionistas que as organizações de enfermagem têm imprimido às discussões sobre o trabalho no Mercosul. Toda estaexperiência de buscar e estabelecer relações internacionais deve ser tomada nesse momento "de repensar a ABEn". Não cabe discutir, simplesmente, filiar-se ou não a qualquer que seja associação. Cabe sim, proceder a uma análise política da enfermagem brasileira no contexto da enfermagem mundial. Em um mundo globalizado as relações ultrapassam o sentido de simples filiação, impõem estratégias articuladoras e de negociação de acordos pautados em princípios éticos frente ao mundo fortemente desigual permeado de iniqüidade de gênero, raça/etnia, geração, etc. e incluem neste processo as questões da saúde de um modo geral e daenfermagem em particular. Um exemplo a destacar se refere à tendência de formação de enfermeiros em massa em paises pobres, estimulados pelos paises centrais, tendo como objetivo a migração desses profissionais sem se perceber quaisquer posições de parte das organizações de enfermagem dos paises, inclusive da FEPPEn e do CIE. Hoje, mais do que antes, o mundo virtual instrui e alimenta as relações e a simultaneidade dos fatos agenda os processos de mudanças para ontem. Os riscos do pensar e viver centrados no aqui e agora é perder o sentido da história e, por conseqüência à projeção da vida. Nesse cenário o indicativo para uma organização civil como a ABEn é, na qualidade representante da enfermagem brasileira, posicionar-se e colocar-se como parceira de outras organizações cujos projetos políticos e estratégias de intervenção sejam guiados por acordos baseados em princípios da solidariedade entre os diferentes grupos humanos, de forma a superarmos as iniqüidades em relação ao acesso a bens incluindo o direito a atenção à saúde, onde o cuidado de enfermagem é indissociável. Não é possível pensar em relações internacionais desarticuladas de um projeto amplo de cuidar da sobrevivência do e no planeta. Tomando, inicialmente, uma perspectiva mais simplista das relações internacionais na história da ABEn vale a pena reportar a algumas informações, ao mesmo tempo pontuais e relevantes. A ABEn é uma organização que desde a sua fundação teve como ponto estratégico o seu ingresso como membro no Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) o que foi concretizado em 1929. Em breve análise da motivação da prioridade que a ABEn dava, a época, à filiação internacional, era buscar ser aceita nesta organização como forma de ampliar sua credibilidade e visibilidade no Brasil. A ausência de estudos e pesquisas sobre este pressuposto que movimentou a ABEn em direção á filiação, por 68 anos ao CIE, não permite avaliar o impacto desse fato na credibilidade e visibilidade da Entidade, como era desejo das suas primeiras diretoras e fundadoras. Contudo, quando da sua expulsão como organização membro do CIE em 1997, motivada por interesses vinculados ao aumento de ingressos financeiro, percebeu-se um sentimento de perplexidade por parte de alguns sócios quanto a esta decisão do CIE. Além dessa filiação ao CIE, a partir de 1957 aABEn filiou-se à Associação Católica de Enfermeiras e Assistentes Medico-Sociais – CICAMS, por solicitação e proposta da União das Religiosas Enfermeiras do Brasil. Apesar da circunstancialidade de tal filiação somente na década de 80, por decisão da Assembléia Nacional de Delegados a ABEn desfilia-se do CICIAMS. Um outro marco das relações internacionais na história da ABEn se refere às organizações no continente americano. Desde 1947, a ABEn, na época ABED (Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas), no Congresso do CIE já se posiciona pela criação de uma associação que reúna as organizações de enfermagem dos paises americanos como um ramo do CIE para as Américas, visando a criação de organizações de enfermagem com o padrão CIE. Um espaço que foi utilizado para discussão desta proposta foi o dos diversos Congressos Interamericanos de Enfermeiras organizados pelas enfermeiras que respondiam por projetos da OPAS. Na metade da década de 60, a idéia de se criar uma organização americana que incluísse os Estados Unidos e que fosse um braço do CIE, havia sido descartada. No entanto, permanecia o interesse de se criar uma Federação que reunisse as Associações da América Latina o que acontece em 1970 durante o 9º Congresso Americano de Enfermeiras em Caracas/ Venezuela e que também ficou identificado como o I Congresso da FEPPEn. (Federación Panamericana de Profesionales de Enfermería) A ABEn participou do processo de criação dessa Federação sendo membro fundador da FEPPEn, tendo sido inclusive sede do Comitê Ejecutivo em duas gestões 1996/ 2000 e 2000/2004. A e as relações internacionais X Congresso Quadrienal do Conselho Internacional de Enfermeiras, Rio de Janeiro, 1953 Nunca dês um nome a um rio; Sempre é outro rio a passar. Mário Quintana Foto: Reprodução do livro Associação Brasileira de Enfermagem, 1926 - 1976 – Documentário

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ABEn - jul.ago.set. 200520

M e m ó r i a A B E n

ABEn - jul.ago.set. 200520

Stella BarrosPresidenta da ABEn – Gestão 1989-1992

Maria Auxiliadora Córdova ChristófaroPresidenta da ABEn – Gestão 1992-1995

Mais recentemente, a ABEn liderou e investiu noestabelecimento de relações internacionais buscando nãoapenas o intercambio, mas acordos de cooperação eparceria. O esforço daABEn fez nascer uma articulaçãocom organizações de enfermagem de paises de línguaportuguesatantodaÁfricacomodePortugal, ocorrendooI Encontro Internacional de Enfermagem de Paises de LínguaOficial Portuguesa em 1995, realizado pela ABEn emSalvador (BA). Atualmente os encontros dessas organizaçõessob a liderança da associação portuguesa fragilizou oprincipio da cooperação entre os paises por privilegiar arepresentação das organizações de enfermagem dos paisesde língua portuguesa que são filiadas ao CIE.

Resgatar a estratégia de acordos de cooperação com asorganizações de enfermagem para além da formalidade dasfiliações é uma necessidade para estabelecer a equidade dasparcerias, evitando transformar as relações entre asorganizações como uma mera repetição das políticas deEstado como vem acontecendo recentemente no Brasil.Haja vista os encaminhamentos ortodoxos, reducionistasque as organizações de enfermagem têm imprimido àsdiscussões sobre o trabalho no Mercosul.

Todaestaexperiênciadebuscar eestabelecer relaçõesinternacionais deve ser tomada nesse momento "de repensara ABEn". Não cabe discutir, simplesmente, filiar-se ou nãoa qualquer que seja associação. Cabe sim, proceder a umaanálise política da enfermagem brasileira no contexto daenfermagem mundial. Em um mundo globalizado as relaçõesultrapassam o sentido de simples filiação, impõem estratégiasarticuladoras e de negociação de acordos pautados emprincípios éticos frente ao mundo fortemente desigual

permeado de iniqüidade de gênero, raça/etnia, geração,etc. e incluem neste processo as questões da saúde de ummodogeraledaenfermagememparticular.Umexemploadestacar se refere à tendência de formação de enfermeirosem massa em paises pobres, estimulados pelos paises centrais,tendo como objetivo a migração desses profissionais sem seperceber quaisquer posições de parte das organizações deenfermagem dos paises, inclusive da FEPPEn e do CIE.

Hoje, mais do que antes, o mundo virtual instrui ealimenta as relações e a simultaneidade dos fatos agenda osprocessos de mudanças para ontem. Os riscos do pensar eviver centrados no aqui e agora é perder o sentido da históriae, por conseqüência à projeção da vida. Nesse cenário oindicativo para uma organização civil como a ABEn é, naqualidade representante da enfermagem brasileira,posicionar-se e colocar-se como parceira de outrasorganizações cujos projetos políticos e estratégias deintervenção sejam guiados por acordos baseados emprincípios da solidariedade entre os diferentes gruposhumanos, de forma a superarmos as iniqüidades em relaçãoao acesso a bens incluindo o direito a atenção à saúde, ondeo cuidado de enfermagem é indissociável.

Não é possível pensar em relações internacionaisdesarticuladas de um projeto amplo de cuidar dasobrevivência do e no planeta.

Tomando, inicialmente, uma perspectiva mais simplista dasrelações internacionais na história daABEn vale a penareportar a algumas informações, ao mesmo tempo pontuaise relevantes.

A ABEn é uma organização que desde a sua fundaçãoteve como ponto estratégico o seu ingresso como membrono Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) o que foiconcretizado em 1929. Em breve análise da motivação daprioridade que a ABEn dava, a época, à filiaçãointernacional, era buscar ser aceita nesta organizaçãocomo forma de ampliar sua credibilidade e visibilidade noBrasil.

A ausência de estudos e pesquisas sobre este pressupostoque movimentou a ABEn em direção á filiação, por 68 anosao CIE, não permite avaliar o impacto desse fato nacredibilidade e visibilidade da Entidade, como era desejodas suas primeiras diretoras e fundadoras. Contudo, quandoda sua expulsão como organização membro do CIE em1997, motivada por interesses vinculados ao aumento deingressos financeiro, percebeu-se um sentimento deperplexidade por parte de alguns sócios quanto a estadecisão do CIE.

Além dessa filiação ao CIE, a partir de 1957 aABEnfiliou-se à Associação Católica de Enfermeiras e AssistentesMedico-Sociais – CICAMS, por solicitação e proposta daUnião das Religiosas Enfermeiras do Brasil. Apesar dacircunstancialidade de tal filiação somente na década de80, por decisão daAssembléia Nacional de Delegados aABEn desfilia-se do CICIAMS.

Um outro marco das relações internacionais na históriada ABEn se refere às organizações no continente americano.Desde 1947, a ABEn, na época ABED (Associação Brasileirade Enfermeiras Diplomadas), no Congresso do CIE já seposiciona pela criação de uma associação que reúna asorganizações de enfermagem dos paises americanos comoum ramo do CIE para asAméricas, visando a criação deorganizações de enfermagem com o padrão CIE. Um espaçoque foi utilizado para discussão desta proposta foi o dosdiversos Congressos Interamericanos de Enfermeirasorganizados pelas enfermeiras que respondiam por projetosda OPAS.

Na metade da década de 60, a idéia de se criar umaorganização americana que incluísse os Estados Unidos eque fosse um braço do CIE, havia sido descartada. Noentanto, permanecia o interesse de se criar uma Federaçãoque reunisse as Associações da América Latina o queacontece em 1970 durante o 9º

Congresso Americano de Enfermeiras em Caracas/Venezuela e que também ficou identificado como o ICongresso da FEPPEn. (Federación Panamericana deProfesionales de Enfermería)

A ABEn participou do processo de criação dessaFederação sendo membro fundador da FEPPEn, tendo sidoinclusive sede do Comitê Ejecutivo em duas gestões 1996/2000 e 2000/2004.

A easrelações internacionais

X Congresso Quadrienal do Conselho Internacional de Enfermeiras, Rio de Janeiro, 1953

Nunca dês um nome a um rio;Sempre é outro rio a passar.

Mário Quintana

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