Maddie a Verdade Da Mentira-Gonçalo Amaral [eBook]

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    MADDIEA Verdade da Mentira

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    europa90.4fm

    lisboa

    www.radioeuropa.fm

    com o apoio

    reviso: Fernanda Abreu

    capa e paginao:Ildio J.B. Vasco fotografia do autor: Sandra Sousa Santos

    Guerra e Paz, Editores S.A., 2008 Reservados todos os direitos

    Cofina media para fotografias e infogravuras Infogravuras elaboradas por Nuno Costa

    depsito legal:280825/08

    isbn: 978-989-8174-12-31. edio: Julho de 2008

    2. edio: Julho de 20083. edio: Julho de 2008

    4. edio: Julho de 2008 5. edio: Agosto de 2008 6. edio: Agosto de 2008 7. edio: Agosto de 2008 8. edio: Agosto de 2008 9. edio: Agosto de 2008 10. edio: Agosto de 2008

    tiragem: 10 000 exemplares

    Guerra e Paz, Editores S.A. R. Conde Redondo, 8, 5.oEsq. 1150-105 Lisboa Tel: 21 314 44 88 Fax: 21 314 44 89 E-mail: [email protected] www.guerraepaz.net

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    Gonalo Amaral

    VERD DEA VERDADED MENTIR

    DA MENTIRA

    MADDIE

    COLECO VERDADE E CONSEQUNCIA

    10. edio

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    ndice

    Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    Nota introdutria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    1. Precipitao? Certamente que no . . . . . . . . . . . 15

    2. As frias de Madeleine Beth McCann. . . . . . . . . . 29

    3. Notcia de um desaparecimento.

    As primeiras 72 horas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    4. A verdadeira vtima a criana desaparecida . . . . . . 795. Os dias seguintes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

    6. A chegada da polcia inglesa.Em Portugal ainda o co que abana o rabo . . . . 99

    7. Comportamento suspeito e contradies.O caso Murat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

    8. Um homem com uma criana ao coloa caminho da praia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

    9. Maiorca, Setembro de 2005 . . . . . . . . . . . . . . . 119

    10. Repensar os factos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122

    11. Analisando o local de um crime.

    O apartamento 5A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126

    12. A insustentvel leveza e inconsistnciado esquema de vigilncias das crianas . . . . . . . . . 136

    13. Meras contradies ou indcios nos testemunhosdos pais de Madeleine e seus amigos?. . . . . . . . . . 141

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    14. Os primeiros sinais de morte partem dos pais . . . . . 147

    15. Um crime na memria: o cadver de Mariana oua diferena entre investigar um crime com corpoou sem corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

    16. Segundos sinais de morte:a interveno dos investigadores . . . . . . . . . . . . 157

    17. Primeiras concluses a retirar dos examesefectuados pelos ces EVRD e CSI . . . . . . . . . . . 178

    18. O sagrado e o profano que os investigadoresencontraram no quarto do casal McCann . . . . . . . 180

    19. Resultados preliminares dos exames remetidosao laboratrio ingls. Preparao deinterrogatrios de arguidos . . . . . . . . . . . . . . . 183

    20. A caminho da constituio de arguidos. . . . . . . . . 194

    21. Uma famlia irlandesa em estado de choque . . . . . . 20122. O afastamento de um coordenadorde uma investigao. Conspirao ou servilismo? . . . 207

    23. Na ria de Alvor, um ano depois,

    olhando o passado com confiana no futuro . . . . . . 218

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    Agradecimentos

    s minhas filhas, Ins, Rita e Sofia, pelo pai ausente queposso ter sido pela forma como me dediquei minha profisso. minha mulher, Sofia, pela confiana, compreenso e cari-

    nho que sempre demonstrou, particularmente nestes ltimos tem-pos, difceis e rduos.

    Aos meus familiares e amigos, que sempre me compreende-ram e ajudaram em todos os momentos, nomeadamente o meu

    irmo Lus e sua mulher Cristina, a minha irm Lucinda, e ainda famlia do Leonel Santos, de Faro.

    Aos meus colegas da Polcia Judiciria, da Polcia Inglesa eaos milhares de cidados annimos de diversas nacionalidades,que desde a primeira hora e de muitas formas me manifestarama sua solidariedade. Ainda queles cibernautas e bloguistas quedefenderam a causa da verdade e da justia.

    Guarda Nacional Republicana, Polcia de SeguranaPblica, Autoridade Martima, aos Bombeiros Voluntrios deLagos, Proteco Civil do Algarve e, em especial, s CmarasMunicipais de Lagos e de Portimo, na pessoa dos seus presiden-tes, Dr. Jlio Barroso e Dr. Manuel da Luz.

    A um novo amigo, Dr. Lus Varela Marreiros, que muito

    contribuiu, com o seu trabalho e saber, para que este livro pudessever a luz do dia.Por fim, aos meus editores, que manifestaram toda a con-

    fiana neste projecto e nele acreditaram desde o incio.

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    Nota introdutria

    Este livro surge da necessidade que senti de repor o meu bomnome, que foi enxovalhado na praa pblica sem que a instituioa que pertencia h 26 anos, a Polcia Judiciria Portuguesa, tenhapermitido que me defendesse ou que o fizesse institucionalmente.Pedi autorizao para falar nesse sentido, pedido ao qual nuncarecebi resposta. Respeitando rigorosamente os regulamentos da

    Polcia Judiciria, mantive-me em silncio. Este, porm, era dila-cerante para a minha dignidade.

    Mais tarde fui afastado da investigao. Entendi ento queera a hora de fazer a minha defesa pblica. Para tal, pedi imediata-mente a passagem aposentao, de forma a readquirir a pleni-tude da minha liberdade de expresso.

    Este livro tem ainda um propsito maior. O de contribuir

    para a descoberta da verdade material e a realizao da justia, nainvestigao conhecida como Caso Maddie. Estes so valoresfundamentais aos quais me obriguei por imperativo de conscin-cia, por convico e por disciplina instituio a que tive o orgu-lho de pertencer. Estes mesmos valores no se extinguiram coma minha aposentao e continuaro a estar sempre presentes naminha vida.

    Em nenhuma circunstncia o livro pe em causa o trabalhodos meus colegas da Polcia Judiciria, nem compromete a inves-tigao em curso. meu entendimento profundo que a revelao

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    numa obra deste tipo de todos os factos poderia comprometerdiligncias futuras determinantes para a descoberta da verdade.Todavia, o leitor encontrar dados que desconhece, interpreta-es dos factos sempre luz do direito e, naturalmente, inter-rogaes pertinentes.

    Uma investigao criminal apenas se compromete com abusca da verdade material. No se deve preocupar com o politi-camente correcto.

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    Tudo isto existetudo isto tristetudo isto fado.

    Cano O Fado, Anbal Nazar

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    Captulo 1

    Precipitao? Certamente que no

    Fevereiro de 2008(9 meses depois do desaparecimento de Maddie)

    O domingo de Carnaval tinha comeado ao som de tiros doscaadores, os quais, por entre o mato rasteiro do barrocal algarvio,perseguiam, deslealmente, indefesos coelhos. Acordei a meio damanh e decidi ir ficando por casa. Nos ltimos tempos, tinha-me

    faltado vontade para passeios ou convvios, sentia necessidade depaz e silncio. Se, quando o dia comeou, o sol prometia um bomdia para os folies, pela tarde o tempo foi mudando, ameaandochuva, estragando a festa e os desfiles carnavalescos. Espreito pela

    janela e fico por momentos a admirar a paisagem dos camposalgarvios, onde j florescem as amendoeiras, num imenso rosa ebranco de neve, em contraste com o azul do mar que ao longe se

    avista confundindo-se com o ainda azul do cu. O toque do tele-fone desperta-me da letargia em que me encontro para a dura rea-lidade: algum est interessado em comunicar comigo, o que nosltimos tempos tem sido difcil.

    Do outro lado, uma voz amiga que, com raiva e mgoa,pergunta:

    Ests bem? J soubeste da entrevista do nosso directornacional?Respondi negativamente segunda pergunta, aguardando

    saber a razo de tanta preocupao.

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    Ele diz que fomos precipitados, que a constituio do casalcomo arguidos foi precipitada. Ele estar bem!? Mas se ele partici-pou na deciso Ser que pretende matar a investigao!?

    O meu interlocutor referia-se investigao do desapa-recimento de uma menina inglesa, de 4 anos de idade, ocorridona noite de 3 de Maio de 2007, no Ocean Club, um dos vriosaldeamentos tursticos da Vila da Luz, em Lagos Portugal. Cha-mava-se Madeleine Beth McCann, estaria a dormir na compa-

    nhia de dois irmos mais novos, enquanto os pais jantavam, a umacentena de metros, com um grupo de amigos e companheiros defrias. Este desaparecimento deu lugar a uma investigao crimi-nal nunca vista em Portugal e, provavelmente, em qualquer outraparte do mundo. A par da investigao criminal ocorreu um fen-meno meditico e global tambm nunca antes visto.

    Muita coisa foi dita at ao momento verdades e menti-

    ras, assistindo-se, a par do dever de informao, a campanhas dedesinformao que visaram descredibilizar a investigao criminaldesenvolvida e os responsveis pela mesma. Para mim a investi-gao estava morta desde 2 de Outubro de 2007, quando pareciater vingado um novo ultimatumingls no prprio dia em que sediscutia o Tratado de Lisboa, pelo que j nada me admirava. Nosltimos tempos tinha assistido a mais um espectculo meditico,

    um ltimo forcingpela tese do rapto, com a divulgao por parteda famlia McCann de um retrato-rob de um presumvel raptor.

    J nada me surpreende. No ligues. Carnaval.Prosseguimos com conversa de circunstncia, mas senti que,

    definitivamente, o meu mundo tinha como que colapsado.

    Depois de desligar, voltei a olhar para as amendoeiras, plan-tadas no cho duro algarvio, cho esse que pode ter tido influn-cia na estratgia de ocultao de um cadver e, pensei, no se teriaDeus precipitado ao faz-las florir no Inverno? Concluo pela

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    negativa. Foi certamente um acto de amor, recordando-me dalenda da princesa nrdica casada com um rei mouro, a qual, noCastelo de Silves, passava os dias tristes com saudades do seu paspor no ver neve. Conta a lenda que este rei temou ento a inicia-tiva de mandar plantar amendoeiras em toda a extenso de terrasque se avistava das ameias do castelo. Assim, quando o Invernochegou e a princesa assomou janela, viu o manto branco dasamendoeiras floridas que lhe pareciam a neve da sua terra natal e

    a sua tristeza acabou.

    Um pouco de histria do Algarve e dos algarvios

    O Algarve sempre constituiu um grande amplexo aberto aomundo. A sua posio geoestratgica, o cu, o clima e a hospitali-

    dade das suas gentes foram factores que, desde tempos remotos,levaram ao encontro com pessoas de outros lugares. Por aqui pas-saram fencios, cartagineses e gregos. Aqui se instalaram os roma-nos, construindo vias de comunicao e deixando vestgios da suaarquitectura, em Esti, Vilamoura, Abicada, Vila da Luz, e emtantos outros lugares onde ainda hoje possvel admirar os vest-gios da sua presena. Os muulmanos tambm por aqui andaram,

    alargando o Al-Andaluz para ocidente do emirato de Crdoba, oAl-Gharb, e a sua herana ainda bem visvel nos algarvios e nasua cultura.

    Foi num Algarve turstico, de lendas e de mouras encanta-das, que aquela criana um dia desapareceu. Um Algarve viradopara o turismo (maioritariamente ingls), desde os anos 60 do

    sculo XX.A relao do Algarve com Inglaterra teve, ao longo da hist-ria, momentos altos e baixos. Durante o perodo da perda de inde-pendncia (1580 a 1640), quando Portugal fez parte do imprio

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    espanhol, deu-se a devastao e saque de Faro pelas tropas doconde de Essex. Entre muitos outros haveres, o conde Essex apos-sou-se da biblioteca de D. Jernimo Osrio, bispo do Algarve, daqual fazia parte o Pentateuco, editado em hebraico e impresso emFaro, por Samuel Gacon, editor judeu, corria o ano de 1487, con-siderado o primeiro livro levado estampa em Portugal. O esplioda biblioteca do senhor bispo, e com ela o Pentateuco (os primei-ros cinco livros da Bblia sagrada, referentes ao Gnesis do Antigo

    Testamento), permanece no Reino Unido, na seco bodhliana daBiblioteca Britnica. Mais tarde, os algarvios, ajudaram a Ingla-terra no apoio a Gibraltar, fundamental para a sobrevivncia desseponto de apoio da Home Fleet e, 350 anos depois, continuarama apoiar e a acarinhar os sbditos de Sua Majestade aquando daafluncia de turistas provenientes de terras britnicas, sendo hojeessa simpatia fcil de constatar nestas terras algarvias.

    A populao do Algarve nunca se conformou com o dom-nio estrangeiro, aderindo activamente causa da independncianacional partilhada com o resto das gentes do Reino de Portugal.No sculo XIX, aquando das invases francesas, foi no Algarveque as tropas de Napoleo comearam a ser derrotadas. A popu-lao de Olho revoltou-se e, junto ribeira de Quelfes, local queavisto da minha janela, lutaram com glria contra esses invasores.

    Na altura, um pequeno e frgil caque com o nome de Bom Sucesso,manobrado por moos de Olho, levou, ao rei D. Joo VI, entoexilado no Rio de Janeiro com a sua corte, a notcia da libertaoda Ptria.

    Portugal um pas de gente brava. Um povo hospitaleiro quesabe receber quem nos visita, no se vergando perante a arrogn-

    cia, nem permitindo enxovalhos, orgulhoso da sua identidade eindependncia, mesmo em tempos de Unio Europeia. tambmum pas moderno, acolhedor de muitos investimentos e de mui-tos turistas, protagonista diplomtico com reconhecido mrito

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    e brio no estabelecimento de pontes com outras naes. Comoutros Estados. Com melhores ou piores resultados, Portugal foifazendo alianas, pactos, tratados, reforou as suas relaes bila-terais com inmeros pases. A aliana luso-britnica , tambm,disso exemplo um sinal de vitalidade das relaes entre os doispases e, sobretudo, regra geral, de grande entendimento.

    Um inqurito destinado ao arquivo

    Tenho o pressentimento de que com aquela declarao odirector nacional pretende preparar a opinio pblica para o ine-vitvel, ou seja, o fim da investigao e o arquivamento do inqu-rito. Essa parecia ser a estratgia adoptada em 2 de Outubro de2007, a qual veio consolidar-se com a realizao de diligncias

    para cumprir calendrio, um pouco para ingls ver. Temi logo quefosse colocada em causa a investigao realizada at ali, de forma afacilitar um eventual arquivamento. Esta investigao tinha vindoa desgastar a imagem da Polcia Judiciria, dos seus investigadorese de Portugal, e talvez por isso teria de terminar.

    A constituio de Kate Healy e Gerald McCann, pais deMadeleine, como arguidos deveria ter sido o ponto de viragem na

    relao entre as polcias envolvidas e o casal. Se, quanto polciaportuguesa, essa ruptura aconteceu, o mesmo parece no se poderdizer relativamente polcia inglesa. Havia um entendimentoentre ambas as polcias para avanar num rumo de investigaoque encarava seriamente a possibilidade de a morte da crianater ocorrido no apartamento mas, subitamente, a polcia inglesa

    inflectiu o rumo sem explicao tcnica coerente como adianteveremos. Causou-nos sempre estranheza a forma como o casal eratratado, mesmo aps a sua constituio como arguido, e a infor-mao policial a que eventualmente tiveram acesso.

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    Mentalmente, vou revendo a investigao, as recordaesbrotam em catadupa. Penso principalmente naquela criana que,pouco antes de fazer 4 anos viu, de forma repentina, negado o seudireito existncia, a fazer-se mulher, a uma potencial vida defelicidade e sucesso na companhia dos seus familiares e amigos,que abruptamente se perdeu. Nada faz sentido. Parece estar aser preparado um abafamento dos factos, diminuindo-se a forade todo e qualquer tipo de indcio, esquecendo-se os direitos

    daquela e de outras crianas. Mas quem que deseja este resul-tado? Quem exigiu a minha sada da coordenao operacional dainvestigao? Quem deseja o fim do estatuto dos McCann e deMurat como arguidos? Aqueles que insistem numa tese de rapto?Os que afirmaram, e adiante direi quem so, que por muito menos

    j tinham prendido pessoas em Inglaterra? Ou os que insistemna mentira esquecendo a busca da verdade material? A algum

    h-de servir o eventual arquivamento do inqurito e o fim dasinvestigaes.

    Depois da minha sada de Portimo em 2 de Outubro de2007, tinha decidido esquecer o caso. Talvez fosse melhor, faceaos poderes que parecem estar envolvidos. Se as autoridades dopas natal da criana pouco querem saber do que lhe aconteceu,alimentando a tese do rapto, porque terei eu de me preocupar?

    No ser uma declarao despropositada (ou induzida pela entre-vistadora) de um director de polcia que vai conseguir apagar osindcios existentes (tambm no ter sido dita com essa inteno),o nosso trabalho est plasmado nos autos. S destruindo-os quese pode apagar o registo do que foi feito e, mesmo assim, resta--nos a nossa memria e a daqueles que connosco levaram a cargo

    a rdua tarefa de tentar descobrir a verdade material.Outro telefonema. Agora Sofia, minha mulher. Est preo-cupada comigo, alis, no tem feito outra coisa desde o dia 3 deMaio do ano passado, j l vo 9 meses. Se o nosso casamento

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    tinha problemas, pioraram depois daquela data. Desde aquelaaltura que me tornei num marido e pai quase ausente. Se, de incio,me afastei da famlia para a proteger da presso meditica e porfora da dinmica da investigao, agora que vivo sozinho, porum gosto amargo pela vida e com um sentimento de traio porparte da instituio a que dediquei mais de um quarto de sculoda minha existncia, nada me parece justificado nem faz sentido.A minha famlia no merecia a ausncia, mas, por vezes, os equil-

    brios encontram-se fora. preciso isolarmo-nos do mundo, pen-sar e voltar a definir os nossos projectos de vida. Sofia est cho-cada com as declaraes do director nacional:

    Vem jantar comigo a Portimo, as meninas ficaram emcasa dos avs, falamos um pouco sobre o que est acontecer.

    Meto-me a caminho, preciso das palavras reconfortantes deSofia. A partir dali, fico atento s notcias, tomando conscincia da

    gravidade da declarao do director nacional, feita por quem sem-pre afirmou que todas as linhas de investigao se encontravamem aberto. Uma coisa manterem-se vlidas determinadas linhasde investigao, outra investig-las ao mesmo tempo. Tero sidoesquecidos todos os factos apurados at deciso de constituir ocasal como arguidos por suspeita da prtica dos crimes de oculta-o de cadver e simulao de crime?

    Mais tarde, o meu ilustre professor de Cincia Poltica eDireito Constitucional, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, comen-taria na televiso a declarao do director nacional. Recordo-meainda da sua lio sobre a separao de poderes. Mas, o seu comen-trio cingir-se-ia s palavras do director, afirmando que as mesmasmataram a investigao. Outra vez a morte da investigao, ser

    que no morreu uma criana? Sim, morreu uma criana! E digo--o no por juzos de valor, mas por deduo fundamentada pelarecolha de informaes, indcios e provas de factos que esto plas-mados nos autos. Perguntas e mais perguntas! E as respostas?

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    Ao tentar responder fui concluindo que talvez tivesse influn-cia positiva dar a conhecer a histria da investigao quando estase encontrava viva, desde o momento em que a menina desapa-receu. Muito se tem falado, chegada a hora de dar a conhecer ahistria da investigao contada por quem a coordenou opera-cionalmente e a viveu intensamente, na companhia de homens emulheres que representam o que de melhor a Polcia Judiciriapossui.

    A prudncia de uma deciso

    J em Portimo, encontro o inspector-chefe Tavares deAlmeida, que integrava a equipa que coordenei. Conhecemo--nos desde os tempos em que ingressmos na Polcia Judici-

    ria. Est apreensivo com as palavras do director nacional, fala deum inqurito que j ter solicitado Direco Nacional da Pol-cia Judiciria. Para ele, o inqurito ao nosso trabalho vir repor averdade.

    Durante os cinco meses em que nos mantivemos na inves-tigao, ouvimos de tudo um pouco, mas fomos realizando o nossotrabalho.

    Relembramos o que fizemos, com muito esforo e, honesta-mente, temos dvidas que outros pudessem ter feito melhor. No presuno, confiana no rigor do trabalho de todos os profis-sionais de polcia envolvidos:

    Ouve! Esta malta no sabe fazer contas? Como se podefalar de precipitao quando o casal foi constitudo arguido qua-

    tro meses depois dos factos. Eles no conhecem o princpio da noauto-incriminao?Referia-se impossibilidade legal de continuar a recolher

    declaraes de algum, como testemunha, de forma a que esta d

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    a conhecer factos que a venham a incriminar. Ou seja, quandoalgum est a prestar declaraes sobre um determinado caso e,a dado momento, se verifica que esse cidado ter um eventualenvolvimento ou responsabilidade na prtica de qualquer actoilcito, constitudo arguido. Com isso o cidado tem direitos edeveres. Curiosamente, e ao contrrio do que se v tantas vezesescrito na imprensa, sobretudo na inglesa, o arguido ganha pro-teco com a possibilidade de se remeter ao silncio sem que com

    isso cometa um crime de falsas declaraes como seria o caso seainda se mantivesse como testemunha. Concordo contigo. Se existem erros na investigao esse

    um deles. O atraso em proceder constituio do casal comoarguido. Houve poltica a mais e polcia a menos.

    Bem, no diria tanto. O erro foi termos tratado o casalcom pinas. Bem sabes que desde muito cedo vimos que muita

    coisa no batia certo e eles foram tratados com privilgios. Isso que no normal!

    Talvez o director nacional pense que o casal s abandonouo Algarve por terem sido constitudos arguidos.

    O casal foi ficando pelo Algarve, enquanto se falava datese de rapto quando tal tese foi colocada em causa, comearamlogo a falar em regressar a Inglaterra.

    Donde se conclui que a sua constituio como arguidos foium falso pretexto para abandonarem o nosso pas.

    Sabes!? Houve jornalistas ingleses que consideraram Por-tugal um pas do Terceiro Mundo discordei e continuo a discor-dar, no entanto, s num pas de Terceiro Mundo que se afastao responsvel por uma investigao criminal em curso, sem que o

    mesmo tivesse sido posto em causa pela investigao que conduzia. Fala-se muito na governamentalizao da justiaesquece-se a forma como se pode influenciar uma qualquer inves-tigao criminal

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    fcil distribui-se a investigao a pessoas da nossa con-fiana ou ento, se as coisas no correm bem, mudam-se os res-ponsveis pelas mesmas

    No me parece que tenha sido essa a razo de fundo, mas Existem sempre argumentos vlidos e legais Enfim.

    O nico obstculo a essa gesto da investigao, quase polticaso os dirigentes mximos das polcias. preciso que se oponhama situaes dbias e contrrias ao interesse da investigao. No

    podem concordar com tudo s para ficarem agarrados ao poder Companheiro As pessoas no dirigem as polcias por inte-resses pessoais dirigem-nas na prossecuo do interesse pblico.S assim se pode entender o papel das polcias num Estado demo-crtico e de direito.

    Mas, olha!... Podemos chegar ao ponto em que determina-das investigaes s sero realizadas por quem os arguidos quise-

    rem. talvez fosse uma questo de modernidade. De modernidade ou de interesses isto tudo uma

    merda! Por falar nisso j viste a forma como joga o nosso Ben-

    fica no esto a jogar nada. Nada pouco parecem no saber jogar futebol. Tens

    visto o Gaivota?

    Gaivota a alcunha de um antigo defesa central do Benficaque vivia em Portimo durante o tempo em que nos mantivemos frente da investigao. Foi um companheiro nos momentos bonse maus. Agora recordava-me da sua amizade e pacincia para meaturar.

    Olha, esse que ainda fazia uma perninha na defesa do

    nosso Benfica. Agora s como treinador como adjunto ou at treinadorprincipal.

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    Nos bastidores da investigao: a sala de crise

    Sofia tem estado a ouvir a conversa. Ela sabe do trabalhodesenvolvido pelo Tavares de Almeida, foi ele quem conseguiumanter operacional a sala de crise que funcionou at partida doltimo polcia ingls para o Reino Unido, o que aconteceu aquandodo regresso do casal a Inglaterra, como se no houvesse interesseem continuar a investigao no local do desaparecimento. Nor-

    malmente ele abria a sala de crise por volta das seis da manh es a abandonava na madrugada seguinte. Toda a informao eraencaminhada para esta sala: chegava por e-mail, carta postal, tele-fone, das pessoas comuns, de outras polcias e outros organismos.Era aqui que tudo acontecia. No fundo, esta sala era o corao dainvestigao. A informao era objecto de uma triagem para fazera separao entre o que era objectivo e aquilo que era meramente

    especulativo, tais como avistamentos (que se multiplicaram expo-nencialmente medida que o caso foi tendo visibilidade medi-tica). Em paralelo, existia tambm uma outra sala, contgua salade crise, onde estavam os nossos colegas ingleses, e que funcionavana lgica de vasos comunicantes e de partilha de informao. Nasreunies de equipa os polcias britnicos tomavam tambm partee registavam as suas notas nos Major Incident Enquiry OfficersRough Book*. Noutra sala, um outro grupo fazia a anlise de outrotipo de informao mais tcnica. Por exemplo, levantamento dospedfilos que estavam no Algarve ou ainda a criao dos diagra-mas de conexes. Um trabalho duro e minucioso, de grande valor,para depois ser analisado pelo grupo anteriormente descrito.

    Uma das funes de Tavares de Almeida consistia em prepa-

    rar todos os documentos, muitos a precisar de traduo, de formaa distribuir tarefas pelas diversas equipas que no terreno executa-

    * Cadernos de apontamentos da polcia inglesa.

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    vam as ordens operacionais, testando variadas informaes. natural a sua revolta. Existe um sentimento de injustia, a Pol-cia Judiciria parece ser madrasta para com os seus servidores,nunca os soube defender e agora estar a colocar em causa o seutrabalho. uma tristeza. Nos dias seguintes comea a falar-se dademisso do director nacional e mais uma vez a PJ fica beira deuma crise. No entendemos esse raciocnio fcil que parece levara ciclos de demisses na hierarquia desta organizao. A histria

    da Polcia Judiciria, a sua cultura de investigao e o servio quepresta comunidade aconselha estabilidade e no a demissescclicas.

    Como possvel que uma investigao criminal, no casoo desaparecimento ou morte de uma criana inglesa, ponha emcausa a justia portuguesa, a Polcia Judiciria e a cooperao poli-cial entre dois pases com uma das mais velhas alianas do mundo?

    Que poderes dificultaram e prejudicam a investigao? Talvezao contar a histria desta consiga dar resposta a essa e a outrasinterrogaes, contribuindo para o esclarecimento dos factos.Alis, lano desde j um repto aos investigadores universitriosdas Cincias da Comunicao para se debruarem sobre este casoe observarem, analisarem e investigarem como um caso simplesse converteu no maior caso meditico dos tempos modernos. H

    algo de desproporcionado em todo este caso e seguramente que ocontributo dos acadmicos poder ser interessante.

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    ALGARVE

    Voltado todo para o mar e para o sul, ou seja, para a fricaMuulmana, e apontando o imperioso Cabo de So Vicente paraa Amrica, limitado por um biombo de serranias que no lhe dograndeza mas intimidade, o Algarve tem o ar duma pequena ante--sala e mostrurio de mundos peregrinos. Pequena, repetimos, eno s nas dimenses da terra, na escassez de grandes monumen-tos, mas no prprio revestimento vegetal, pois sobreiros, alfarro-

    beiras, laranjeiras e amendoeiras, de anzinhas, pouco se erguemda terra, ou ento as figueiras dobram os ramos at ao cho, raste-

    jam e erguem-se de novo, como braos mltiplos de candelabrosapagados

    Jaime Corteso,

    Portugal A Terra e o Homem

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    Captulo 2

    As frias de Madeleine Beth McCann

    Sbado, 28 de Abril

    No final de Abril de 2007, a Primavera algarvia estava noauge, apesar de o estado do tempo no ajudar. Chovia ocasional-mente. Nos momentos em que o Sol brilhava, a temperatura tor-nava-se agradvel, mas as noites eram ventosas e frias. Na manh

    de sbado, 28 de Abril, Madeleine, de 3 anos de idade, na compa-nhia dos pais, Gerald McCann e Kate Healy, de 39 anos de idade,mdicos, com residncia em Rothley, Inglaterra, e os dois irmosgmeos, Amelie e Sean, de 2 anos, dirigem-se para o aeroporto deLeicestershire, a fim de embarcar num voo com destino a Faro. tempo de um curto perodo de frias, cujo fim est previsto parao sbado seguinte, dia 5 de Maio. Madeleine parece feliz e ansiosa.

    De Faro, onde chega pelas 14 h, desloca-se, num mini-buscedidopelo operador turstico, para o resortOcean Club, na Vila da Luz,

    junto cidade de Lagos, a cerca de 70 km do aeroporto.Com os McCann viaja a famlia Payne, composta por David

    Payne, de 41 anos de idade, mdico, sua mulher Fiona Payne, de35 anos, igualmente mdica, as suas filhas Lilly e Scarlett, res-pectivamente de 2 anos e 1 ano, e Dianne Webster, de 63 anos,controladora de crdito, me de Fiona e av das crianas. Pelas13 h, voando a partir de Londres, haviam chegado os restan-

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    tes elementos do grupo de frias: o casal Matthew Oldfield, de38 anos, mdico, e Rachael Maplly, de 37 anos, consultora derecursos humanos, com a filha Grace, de 19 meses, bem como ocasal Russell OBrien, de 37 anos, mdico, e Jane Tanner, de 36anos, gestora de marketing, com as filhas Ella e Evie, respectiva-mente de 3 e 1 ano de idade.

    David Payne o organizador da viagem e h j alguns anosque estes casais passam frias juntos. Em Janeiro de 2003, encon-

    trando-se Kate Healy grvida de Madeleine, passaram uma semanade frias na ilha de Lanzarote, no arquiplago espanhol das Can-rias. Em Setembro de 2003, o casal McCann, com os amigos Mat-thew Oldfield, Rachael Maplly, Russel OBrien e Jane Tanner, des-locou-se regio italiana de Umbria, onde passaram uma semanade frias e assistiram ao casamento de David Payne e Fiona. Cor-ria o ano de 2005 quando, em Setembro, o casal McCann com a

    sua filha Madeleine, na altura com 2 dois anos e 4 meses, se deslo-cou a Maiorca, Espanha, para umas frias partilhadas com o casalPayne e outros casais amigos.

    No Ocean Club procedem ao check-in, calhando, em sorte,ao casal McCann ficar alojado no apartamento 5A, no rs-do--cho de um dos blocos de apartamentos, cujas traseiras do paraa zona de piscinas, campo de tnis e para o restaurante Tapas.

    Este apartamento fica na esquina do bloco, sendo ladeado poruma via pblica. Os outros casais alojam-se nos apartamentos5H (famlia Payne), 5D (famlia OBrien), e 5B (famlia Oldfield).O apartamento 5B paredes-meias com o 5A, e junto ao 5D,todos se situam no rs-do-cho. S o apartamento 5H se situa noprimeiro andar. O principal acesso ao apartamento 5A pelo par-

    que de estacionamento sito na parte frontal do bloco. Este parquede estacionamento murado com uma abertura central. O murotem cerca de 1 metro de altura. Separando o parque de estaciona-

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    mento do bloco, existe outro muro, igualmente com 1 metro dealtura, o qual aberto na zona central de tal bloco*. necess-rio percorrer o caminho ladeado por este muro para alcanar aporta principal do apartamento 5A, que simples, em madeira esem grande segurana, apenas com uma fechadura, precisando-sede uma chave para a abrir. Quem caminha para esta porta passa,obrigatoriamente, em frente janela do quarto onde Madeleine eos irmos dormiam. Nas traseiras dos apartamentos sitos no rs-

    -do-cho existem pequenos jardins, com pequenas cancelas quedo directamente para um passeio que separa o bloco da zona delazer do Ocean Club. A cancela do jardim do apartamento 5A ddirectamente para a via pblica. A partir do interior destes aparta-mentos, chega-se aos jardins atravs de uma janela de sacada, compouca segurana, protegida do exterior por uma persiana.

    O Ocean Club no ocupa uma zona reservada, espalha-se

    por diversas artrias da Vila da Luz. As ruas que o servem sopblicas. Tem reas de servios afastadas entre si cerca de 2 km,como o caso do restaurante Millenium. No existem sistemasde videovigilncia, nem segurana privada. Os acessos s zonasde lazer tambm no so controlados. Foi um dos aldeamentostursticos construdos na zona, aps a descoberta, nas dcadas de60 e 70, do Algarve como destino turstico pelos sbditos de Sua

    Majestade, que construram, por todo o lado, pequenas viven-das brancas, interpretando o estilo arquitectnico algarvio, des-frutando do clima e da sociabilidade dos algarvios, integrando-senuma sociedade e cultura diferentes, dando-se ao respeito e res-peitando os locais.

    * Ver fotografia no extra texto.

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    Breve digresso pela histria da Vila da Luz

    Vila da Luz, os antigos chamavam-lhe a Praia de NossaSenhora da Luz, tendo sido uma pequena aldeia de pescadores,usufruindo das condies naturais da sua baa, ladeada por arri-bas de origem vulcnica a nascente, onde se situa a Rocha Negra,e uma extensa plataforma rochosa a poente, junto praia, ondeainda hoje visvel a antiga fortaleza construda para proteger as

    populaes locais de ataques vindos do mar.A frente de mar acompanhada por uma marginal calce-tada e ladeada por palmeiras. Quem desce da Igreja da Luz paraa praia, tem sua esquerda vestgios da poca romana. As runasde balnerios romanos, atravessados no subsolo por canais que,h cerca de 50 anos, serviam para as crianas acederem praia.Grande parte da Luz est hoje construda sobre vestgios daquela

    poca. No reinado de D. Afonso III, rei de Portugal, dava-se alicaa baleia e, num passado mais recente, existiram duas arma-es de atum. Com o passar dos sculos e o advento das viagenspor via area, a par de melhores meios e vias de transportes terres-tres, a principal actividade econmica daquela zona passou a sera indstria turstica, que emprega actualmente cerca de 80% dapopulao. A Luz sede de uma das actuais freguesias de Lagos.Diz a lenda que, em dia de Maio, um cavaleiro astuto ter roubadoo ouro das senhoras de Lagos, fugindo de seguida. Face a tal ver-gonha, as gentes de Lagos baniram do seu vocabulrio o nome doms de Maio. Este passou a ser, depois de Abril, o ms que h--de vir. nesta pacata e cosmopolita estncia balnear que Made-leine inicia o seu curto perodo de frias.

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    De volta ao Ocean Club

    Entre as 17 h e as 18 h 30 do dia da chegada ao Ocean Club, organizado no restaurante Tapas um comit de boas-vindas.Todos participam nesse evento, incluindo as crianas, que pas-sam o tempo a brincar no parque infantil. Aps a recepo diri-gem-se a p para o restaurante Millenium, sito a cerca de 2 kmde distncia do seu apartamento, numa das entradas da Luz.

    O caminho longo e Gerald e Kate tm de levar os gmeos aocolo, enquanto Madeleine far o percurso pelo seu prprio p.Entre as 19 h e as 20 h, jantam naquele restaurante, com os res-tantes membros do grupo. O regresso para o apartamento igual-mente feito a p. Antes das 21 h j as crianas esto na cama.O primeiro dia de frias passa a correr, com muito cansao mis-tura. Os pais apercebem-se que cansativo ir jantar ao restaurante

    Millenium e comeam a pensar numa alternativa.

    Uma nova rotina de frias

    Domingo, 29 de Abril

    Na manh de domingo, dia 29 de Abril, pelas 8 h 40, o casalMcCann e os filhos voltam a fazer o percurso a p at ao restau-rante Millenium a fim de tomarem o pequeno-almoo. Logo deseguida, Madeleine e os seus irmos gmeos comeam a conheceruma nova rotina das frias. So entregues a educadoras de infncia Madeleine fica numa creche no edifcio da recepo principal do

    resort, enquanto Amelie e Sean permanecem na creche para crian-as mais novas, junto ao restaurante Tapas. Pelas 12 h 30 os paisvo busc-los para o almoo, por vezes brincam no parque infan-til ou na piscina, e por volta das 14 h 30 esto todos de regresso s

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    creches, de onde s saem por volta das 17 h 30. As crianas jan-tam, por vezes, com as educadoras, junto ao Tapas.

    Nessa noite, entre as 19 h 30 e as 20 h 30, inicia-se um ritualde relaxe prprio. Depois de deitarem as crianas, o casal McCanntoma banho e durante uma hora bebem vinho neozelands. Deseguida dirigem-se para o restaurante Tapas, onde se encontramcom os restantes adultos do grupo de frias, para jantar, deixandotodos os filhos a dormir sozinhos nos respectivos apartamentos.

    O jantar iniciar-se- pelas 20 h 30 e terminar pelas 23 h, dizendo--se que, de 30 em 30 minutos, Gerald alterna com Kate a vigilnciados seus filhos, com deslocaes ao interior do apartamento.

    Madeleine no volta a tomar o pequeno-almoo no Mille-nium. Tal refeio passa a ser efectuada no apartamento, com pro-dutos adquiridos no supermercado Baptista, localizado a poucosmetros do resort. Mas a rotina mantm-se, pelas 9 h Madeleine e

    os irmos so entregues aos cuidados das creches, enquanto ospais jogam tnis ou fazem corrida na praia.

    Madeleine chora na ausncia dos pais

    Tera-feira, 1 de Maio

    O dia 1 de Maio, no Algarve, comemorado com piqueni-ques no campo, comem-se os primeiros caracis e exibem-se osmaios, nas bermas das estradas, porta ou janela das habita-es. Os maios so bonecos de trapos, cheios de palha, represen-tando cenas do quotidiano ou stiras sociais. uma arte popu-

    lar centenria, que enche os caminhos e lugares algarvios numamultiplicidade de cores, confundindo-se com a beleza natural daPrimavera.

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    Desconhecemos se Madeleine viu os maios. No perodocompreendido entre as 10 h e as 11 h, Madeleine joga mini tniscom as outras crianas da creche. Na tarde desse dia os pais levam--na praia, depois das 13 h 30, na companhia dos irmos, mas ape-nas ali estiveram cerca de 20 minutos, porque o tempo se alterou,ficando o cu encoberto e baixando a temperatura. Numa espla-nada de praia ter comido um gelado, enquanto um guitarrista,com aspecto desleixado, tocava msica latina, pedindo esmola.

    Da praia, as crianas regressaram s creches. O campo de tnisn. 1 encontra-se reservado em nome de McCann, para o perododas 14 h 30 s 15 h 30. Pelas 15h30 as responsveis pelas crecheslevam as crianas praia, fazendo um percurso de 100 metros. Voem fila, agarradas a um objecto comprido em forma de cobra, osummy snake. Permanecem ali at s 16 h 30, brincando e fazendoactividades na areia.

    Chegada a hora do jantar dos adultos, as crianas ficamde novo sozinhas em casa. No livro da recepo do restauranteTapas, uma funcionria mais diligente escreve a marcao do jan-tar e anota que alguns dos elementos daquele grupo de turistas selevanta de vez em quando, para ir ver os filhos que se encontramnos apartamentos. Durante uma hora e quinze minutos, entre as22 h 30 e as 23 h 45, Madeleine chora dentro do apartamento em que

    se encontra com os seus dois irmos, ao mesmo tempo que chamapelo pai. S pra de chorar quando os pais regressam a casa.

    Quarta-feira, 2 de Maio

    Ao pequeno-almoo do dia 2 de Maio, Madeleine questionaos pais por os mesmos no terem vindo em seu auxlio enquantochorava. Segue-se a rotina diria. Pelas 9 h, as crianas do entrada

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    nas creches. No perodo compreendido entre as 15 h 30 e as 16 h 30,Madeleine volta praia com as responsveis pelas creches, fazendosempre o mesmo trajecto. Quando os pais saem para jantar, porvolta das 20 h/20 h 30, j ela dorme com os irmos.

    Quinta-feira, 3 de Maio

    s 9 h 10 Madeleine entra na creche, entregue pelo pai. Vai denovo praia com as outras crianas e educadoras, entre as 10 h 30e as 11 h, navega num veleiro do tipo catamaran, de cor amarela,que no se afasta muito da linha de rebentao. s 12 h 25 a me vaibusc-la para o almoo, regressando creche pelas 14 h 50. Pelas17 h 30 a me regressa de mais uma corrida na praia, recolhe-a,bem como aos irmos, e dirige-se para o apartamento.

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    Captulo 3

    Notcia de um desaparecimento.As primeiras 72 horas

    Naquela noite, 3 de Maio de 2007, decidi jantar na cerveja-ria Carvi, bem no centro de Portimo, antes de iniciar a viagemde regresso a casa. H um ano que me encontrava naquela cidade,dirigindo o departamento de investigao criminal da Polcia

    Judiciria. Em 1982, com vinte e trs anos de idade, no incio da

    minha carreira de investigador, tinha-me deslocado a Portimoe ali travado conhecimento com uma figura carismtica daquelaterra, ex-dirigente camarrio e desportivo, pessoa simples e din-mica, o meu amigo Manuel Joo. Muito ajudou os elementos daPJ que para ali se deslocavam em servio. Enquanto autarca foio impulsionador da instalao, na cidade, de um departamentoda Polcia Judiciria. Era com esta pessoa fascinante e bom con-

    tador de histrias que mais uma vez decidi partilhar o momentosagrado da refeio. Por entre os percebes da costa vicentina e ocamaro da rocha, amos falando de vrios problemas da socie-dade portuguesa.

    Pelas vinte e quatro horas, j de sada a caminho de casa,recebo a notcia que a Guarda Nacional Republicana tinha comu-nicado ao servio de piquete o desaparecimento de uma meninainglesa, de 4 anos de idade, do interior de um apartamento,enquanto os pais jantavam a uma centena de metros. A crianaencontrava-se de frias com a famlia na Vila da Luz, em Lagos.

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    Foram dadas instrues precisas ao chefe de piquete, com a fina-lidade de que o inspector que se deslocasse ao local tivesse aten-o aos mais nfimos detalhes e registasse correctamente todos ospormenores que viessem a constatar, devendo fazer-se acompa-nhar de um elemento da percia tcnica, diligenciando pelo isola-mento e preservao do apartamento. Deveriam pensar em todasas possibilidades, desenvolvendo os actos cautelares necessrios,de forma a preservar indcios e elementos de prova. Exigi que me

    mantivessem informado. Antes de regressar a casa desloquei-meao piquete, servio permanente que funciona nas instalaes dosdiversos departamentos policiais, confirmando que estvamos aresponder ao alerta do desaparecimento e estavam a ser toma-das todas as medidas necessrias e urgentes. O chefe de piquete

    j tinha alertado as autoridades policiais no aeroporto de Faro e oposto misto instalado na ponte do Guadiana.

    As primeiras percias no cumprem o efeito desejado

    A deslocao ao local, logo aps a denncia do desapareci-mento, de um investigador e um perito da polcia tcnica pareceno ter produzido, totalmente, o efeito desejado. Relataram, de

    forma sucinta, o que viram e o que lhes foi dado a conhecer, pro-cedendo a uma reportagem fotogrfica do interior e exterior doapartamento, o rs-do-cho n. 5A do resortOcean Club. Parans esta reportagem fotogrfica no retrata tudo o que viram, isto, quando chegaram ao local encontravam-se diversas pessoas nointerior do apartamento e nas fotos efectuadas no se v ningum.

    Este ser um erro apenas justificvel pela falta de procedimentos eregras internas da Polcia Judiciria quanto ao tratamento de casosde crianas desaparecidas, nomeadamente a primeira deslocaoao local e a respectiva inspeco.

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    O local dos factos deveria ter sido retratado com fidelidade,as fotos, ou imagens de vdeo, tinham que fixar, para a histria,aquilo que efectivamente os investigadores viram aquando da suachegada ao local. Nomeadamente a forma como estavam vestidosos presentes. Dado que poderia ser da maior relevncia para a evo-luo da investigao. Descreve-se que os gmeos se encontravama dormir nos beros, mas no existem fotos desse momento, e oque fotografaram foi dois beros vazios, s com os colches, sem

    lenis e roupa de cama. Sobre esta afirmao no h nenhumaprova. Mais: qual a razo para que os lenis no estejam nascamas dos gmeos? Se l estivessem teriam certamente vestgiosnormais das crianas. A sua inexistncia deixa-nos sem certeza emrelao a esta afirmao.

    Quando cheguei a casa, Ins, a nossa benjamim, dormia com ame, ocupando o meu lugar. Em silncio, na penumbra do quarto,

    sentei-me na beira da cama. Algures l fora andava uma meninacomo ela, da sua idade, mas longe do aconchego da me. Sofiaacordou e pressentindo disse: O que foi?Contei-lhe e instinti-vamente colocou a mo no peito pequeno e quente de Ins, semno entanto a puxar para junto de si de forma a deixar o meu lugarlivre. A minha mulher conhece-me bem e sabe que no me iriadeitar.

    Aps diversos contactos telefnicos, enviei um SMS aodirector de Faro: menina inglesa, 4 anos de idade, desapareceu deum hotel da Praia da Luz. Bastava. Ao l-lo tomaria conscin-cia da gravidade da situao. Trs anos antes tivemos em mosa investigao do desaparecimento/morte de uma outra criana,a poucos quilmetros da Praia da Luz. Na altura desespermos

    por no nos ter sido dado conhecimento atempado do seu desa-parecimento. Havamos ficado com a convico de que, iniciandoinvestigaes logo aps o desaparecimento, poderamos ter reco-lhido outros elementos de prova. A rapidez da resposta policial

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    essencial neste tipo de casos. As primeiras setenta e duas horas soproblemticas e importantes.

    Sexta-feira, 4 de Maio

    As primeiras interrogaes

    e um pedido de informaes polcia inglesa

    Agora era mais um amanhecer preocupado, sentindo quealgo estava errado na descrio do sucedido, a menina teria desa-parecido pelas dez da noite, quando dormia com dois irmos,mais novos, todos sozinhos em casa, os pais estariam a jantar auma centena de metros, com amigos e companheiros de frias.Parecia existir um esquema de vigilncia das crianas, de 30 em 30

    minutos, ou de 15 em 15 minutos conforme as verses , em quealgum do grupo ia v-las.

    Teria sido a me de Madeleine a dar pela sua falta, levan-tando logo a hiptese de rapto. urgente saber quem este casale o grupo de amigos, o que fazem, que problemas tm em Ingla-terra, se alguma vez maltrataram os filhos; ser que algum vizi-nho, familiar, amigo, ou outro, notou qualquer comportamento

    incorrecto? Qual a sua profisso? Exercem-na? A tempo inteiro?Algum membro do casal ter sofrido de alguma depresso?O relacionamento entre o casal era saudvel? Esto envolvidosem algum litgio grave? Algum lhes quer mal? Porqu? Ligo paraGlen Power, oficial de ligao ingls em Portugal, dou-lhe conhe-cimento do que se est a passar pedindo que encaminhe aquele

    nosso pedido, o qual considervamos essencial para a investiga-o, e fica-se a aguardar uma resposta.Enquanto fazia aqueles contactos e as minhas filhas dormiam

    ainda alheias ao drama, Sofia preparou-me o pequeno-almoo em

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    silncio, olhou-me de forma interrogativa suspeitando que a partirdaquele momento poucas vezes me iria ver. J tnhamos passadopor uma experincia idntica e tinha conscincia do meu empenhonaquele tipo de investigao.

    A organizao da investigao na sua primeira fase

    Desde madrugada que o inspector-chefe Tavares de Almeidase encontra nas instalaes do Departamento de Investigao Cri-minal de Portimo a acompanhar as diligncias que se vo reali-zando. Era o seu primeiro dia de frias mas, apercebendo-se dagravidade da situao, decidiu goz-las mais tarde, de forma acolaborar na investigao. Tambm eu e o director de Faro noiramos ter tempo para gozo de frias. necessrio prosseguir

    com a difuso nacional e internacional do desaparecimento: todasas polcias portuguesas j tinham conhecimento, a Interpol tam-bm. Durante a noite tinham sido organizadas buscas na zona dodesaparecimento, por parte de populares e da Guarda NacionalRepublicana, que seriam retomadas e alargadas durante o dia.

    O apartamento tem de ser devidamente inspeccionado, apesardo arraial testemunhado pelos primeiros funcionrios da Polcia

    Judiciria que ali se deslocaram. Tudo e todos l tinham entrado:desde amigos do casal a empregados do resort, passando por ele-mentos da GNR e ces. Teme-se a contaminao do local do desa-parecimento de Maddie que poder ter resultado das inmeraspessoas que l estiveram. Temos que ponderar se tal contamina-o foi inconsciente ou consciente, casual ou com um propsito

    concreto. Vai ser difcil encontrar qualquer vestgio, o aparta-mento poder estar irremediavelmente contaminado. De Lisboaest j a caminho uma equipa de cena do crime, para examinar emprofundidade o apartamento entretanto vazio. Pelas 9 h, chego

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    ao Departamento de Investigao Criminal de Portimo. Comocoordenador, chamo o inspector-chefe Tavares de Almeida aomeu gabinete e conversamos sobre o caso.

    Procedemos ao balano do que j est feito e planeamosdiligncias a realizar de imediato. A par das buscas na zona, queincluem caixotes pblicos de lixo e esgotos, necessrio dar in-cio a centenas de inquiries; o casal e o grupo de amigos tm quecomear a ser ouvidos formalmente, precisamos das suas primei-

    ras declaraes. So essas primeiras declaraes que passam, quasesempre, a ser as mais importantes, por serem contemporneas aoacontecimento. As declaraes dos empregados do restaurante eda creche onde Madeleine e os seus dois irmos ficavam duranteo dia tambm so importantes; no fundo so as ltimas pessoas aver os pais e Madeleine, bem como os amigos. Temos de procu-rar testemunhas por entre os diversos turistas presentes no resort.

    necessrio obter a lista de tais turistas, a fim de junto dos pais edo grupo de amigos verificar se algum seu conhecido. Recorre--se s autoridades policiais inglesas com a finalidade de saber sealgum turista ali conhecido e por que crime ou suspeita.

    A partir do resort, precisamos de localizar e visionar todosos registos de vdeo, numa pesquisa que ir incluir hotis, ban-cos, farmcias, supermercados, todas as reas de abastecimento

    de combustveis das proximidades, alargando-se s instaladas naauto-estrada que liga Lagos a Espanha, bem como das cmaras devigilncia instaladas ao longo desta via, nos dois sentidos. Atra-vs da Vigilncia Aduaneira de Espanha, solicita-se s autoridadespoliciais daquele pas que estejam atentos aos pontos de embarquepara Marrocos, portos de Tarifa e Algeciras, nomeadamente atra-

    vs dos sistemas de vigilncia ali instalados. O Algarve tem condi-es ideais para os desportos nuticos, possuindo vrias marinas.Aqui aportam navios de recreio provenientes das mais diversasorigens e nacionalidades. A costa algarvia, situada a cerca de 120

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    milhas do continente africano e a sua posio geoestratgica, entreo Mediterrneo e o Atlntico, como a primeira costa do conti-nente europeu, proporcionando praias e baas aprazveis, commuito boas condies climatricas e de mar, constitui um cha-mariz, no s para turistas mas tambm para traficantes de toda aespcie.

    Manda contactar as marinas e a Polcia Martima, precisa-mos de recolher imagens e registos de entrada e sada de embarca-

    es dos ltimos dias. Vou contact-los para saber se j iniciaram buscas no mar,junto costa.

    Prevendo o volume de diligncias e informao que iriacomear a chegar, decidimos a criao de uma sala de crise:

    Temos necessidade de um espao para funcionar como salade crise d ordens para prepararem a sala de reunies.

    A informao que se procura nem sempre se encontra

    Precisamos de informao como de po para a boca. Combase na nossa experincia e intuio, tendo sempre presentes osmtodos de investigao a utilizar, vamos pensando nas diver-

    sas formas de obter informao com interesse. No nos pode-mos esquecer de fotos ou vdeos feitos durante as frias pelo casalMcCann e o grupo de amigos. Podem ser teis, na medida em que,atravs deles, se pode detectar e identificar algum suspeito ou quese tivesse tornado suspeito pela sua atitude relativamente s crian-as. Hoje em dia as fotografias so um meio de entretenimento

    extremamente banalizado, sobretudo pela vulgarizao da foto-grafia digital, pelo que se tornam numa fonte de informao pre-ciosa. Por outras palavras, a maioria das pessoas tira centenas defotografias numa semana de frias, permitindo recolher mltiplos

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    pormenores nas mais diversas situaes, pelo que a probabilidadede existirem fotografias das frias era elevada. Na verdade, o casalMcCann e os seus amigos que se encontravam de frias na Vila daLuz facultaram PJ as suas fotografias. Todavia, verificou-se quenem os McCann nem os demais elementos do grupo possuamfotografias tiradas noite. Ou melhor, no chegaram s nossasmos nenhumas fotografias nocturnas, nem do casal nem do seugrupo de amigos. O que teria sido importante para perceber o que

    se passou naquela noite de 3 de Maio.

    Um apartamento sem sinais de arrombamento

    Estando, nesta fase, em aberto todas as hipteses, h que loca-lizar e identificar todos os pedfilos a residir ou a passar frias no

    Algarve, de forma a apurar se estiveram na localidade da Luz e seestaro, de alguma forma, relacionados com o desaparecimento.Normalmente ocorrem furtos em apartamentos de frias. Muitasdas vezes tais furtos no so comunicados s autoridades poli-ciais porque os operadores tursticos no querem m publicidade.Apesar de o apartamento de onde desapareceu Madeleine noter sinais de arrombamento ao contrrio do que afirmaram os

    pais e defendia a Sky News , preciso apurar a histria criminaldaquela zona turstica em geral e do resortem particular. Vamosento procura dos suspeitos de furto daquela zona, contactemosas autoridades locais, procuremos registos. Apelemos ao bomsenso dos responsveis pelo resort, nenhum furto ou tentativa quetenha ali ocorrido pode ficar esquecido. No crvel que algum

    que se tivesse deslocado ao apartamento para furtar tivesse levado,viva ou morta, a criana, mas no podemos descartar qual-quer hiptese, por mais ridcula que ela possa parecer primeiravista.

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    A primeira manh do inqurito: um rapto?? comtodas as hipteses em aberto

    Ainda 4 de Maio

    preciso registar o expediente elaborado durante a noite pelaequipa que se deslocou ao local, e dar conhecimento ao MinistrioPblico junto do Tribunal Judicial da Comarca de Lagos. Hesi-

    tamos na qualificao jurdica a dar aos factos relatados. Decidi-mos o registo como rapto, mas logo colocamos sua frente doispontos de interrogao: temos dvidas. No processo ainda hojese pode ver a folha com a descrio Rapto??. A deciso no tomada de nimo leve. Ponderaram-se todos os dados existen-tes, as diversas hipteses, chegando-se concluso que a hipteserapto acautelaria os interesses em jogo, dos pais e da menor, bem

    como da prpria investigao. Como na maior parte dos casos,a investigao havia-se iniciado com uma deslocao ao local deuma equipa de funcionrios do servio de piquete, aps comuni-cao da Guarda Nacional Republicana. A equipa que se deslocouao local elaborou um relatrio onde descreveu o que viu e o quelhe foi relatado, identificando intervenientes e eventuais testemu-nhas, procedendo a uma inspeco lofoscpica* e a reportagemfotogrfica. Foi esse relatrio que me foi presente, na manh dodia 4 de Maio. Da leitura do mesmo, concluiu-se pela inexistn-cia de indcios seguros que nos permitissem apontar numa deter-minada direco, deixando de lado as outras. Estavam em abertotodas as hipteses: desaparecimento voluntrio a menina ter-selevantado da cama, na ausncia dos pais, e ter sado de casa sua

    procura; acidente, sobrevindo a morte, com posterior ocultaode cadver; ofensas integridade fsica com resultado em morte;

    * Recolha e anlise de impresses digitais.

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    homicdio negligente ou intencional, sendo de ponderar um actode vingana; rapto para posterior pedido de resgate; rapto por umpredador para abuso sexual, acto de um pedfilo; rapto ou mortepor parte de algum que se tivesse introduzido no apartamentocom a finalidade de furtar e fosse surpreendido pela criana.A hiptese rapto permitia uma investigao mais alargada e com-plexa, lanando mo de meios e recursos que, de outro modo, seriadifcil de utilizar. Seria, assim, possvel a vinda para o Algarve de

    uma equipa alargada de investigadores, o que essencial face quantidade de diligncias a realizar, principalmente nas primeiras72 horas. Num clima de paz e de silncio, mas com muita deter-minao e vontade, podamos ter avanado com uma investigaoeficaz e eficiente, a qual, evitando o nus da suspeio que pudesserecair sobre os pais e amigos, conseguiria atravs da busca da ver-dade material apurar o que aconteceu criana desaparecida.

    A visita do senhor cnsul e do senhor embaixador e as

    informaes que tardam em chegar de Inglaterra

    Dez da manh, doze horas aps o desaparecimento, o cn-sul britnico em Portimo desloca-se ao Departamento de Inves-

    tigao Criminal (DIC). Recebemo-lo no nosso gabinete, infor-mamo-lo das diligncias que se encontram em curso. No terficado satisfeito. Algum o ouve dizer ao telefone que a Polcia

    Judiciria no estava a fazer nada. Coisa estranha! Ser que aqueladesinformao visa dar um relevo diferente ao caso? Talvez simou talvez no. Vamos com calma, no comecemos a pensar em

    conspiraes, concentremo-nos na investigao, temos que loca-lizar a menina e saber o que lhe aconteceu.E a informao solicitada aos ingleses que tarda em chegar, ao

    contrrio do que habitual. Continuamos sem saber nada sobre o

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    casal, nem sobre o grupo de amigos, nem sobre as crianas. O quecria limitaes sobre o enquadramento do caso. Uma das ques-tes pertinentes era saber se Madeleine era filha biolgica do casalMcCann poderamos estar perante um caso de rapto por partedos pais biolgicos. No chega a informao pedida, mas j a esta chegar o embaixador ingls. No normal esta preocupao dadiplomacia inglesa. Quem este casal? Quem so os amigos? No de diplomatas que precisamos. Neste momento, aquilo de que

    precisamos mesmo de uma resposta clere s perguntas dirigidass autoridades policiais inglesas por intermdio do seu contactono Algarve, Glen Power.

    As buscas prosseguem. A inusitada presenada imprensa

    No terreno as buscas prosseguem, chegando a ser utilizadoum helicptero da Proteco Civil, a par da recolha de testemu-nhos de empregados do resorte de turistas. Estamos preocupa-dos, sentimos estar numa corrida contra o tempo, o qual comeaa esgotar-se. Amanh, dia 5 de Maio, a maior parte dos turistasregressa ao seu pas, terminando o perodo de frias. Outra preo-

    cupao a inteno dos pais de Madeleine e dos seus amigosquanto data de regresso ao Reino Unido.

    Tal regresso est previsto para o final da tarde de 5 de Maio.Neste momento, no possumos mecanismos legais para obstar atal sada, mas precisamos destas pessoas em territrio nacional.

    A meio da manh, o director nacional-adjunto, de Faro,

    chega s instalaes de Portimo; desde esse dia, at ao final deSetembro, que a sua vida se repartir entre Faro e Portimo, ondese deslocar diariamente. Numa breve reunio, so-lhe relatadosos factos e d-se a conhecer as diligncias que se encontram a rea-

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    lizar. Toma a deciso de se deslocar ao local para conhecer o ter-reno e verificar in locoo curso das diligncias. Acompanho-o e, alichegados, damo-nos conta de outra realidade: os meios de comu-nicao social j l se encontram, portugueses e ingleses. A notciado desaparecimento de Madeleine ter sido avanada pelo grupode amigos para os rgos de comunicao social, de uma formamais clere do que foi feito com as autoridades policiais. Este umponto que deve ser levado em conta e devidamente esclarecido.

    Deficincias tcnicas na recolha de vestgios

    No interior do apartamento, elementos da polcia tcnicatentam recolher vestgios lofoscpicos (impresses digitais oupalmares), mais seguro fazer essa pesquisa com a luz solar do

    que durante a noite, mas tem de ser realizada uma inspeco maisabrangente com a finalidade de localizar outro tipo de vestgios,nomeadamente biolgicos, sangue, fibras e cabelos. Assistimoshorrorizados, ao trabalho de um desses tcnicos no exterior da

    janela do quarto usado pelos filhos do casal McCann. No usa fatoapropriado, sendo duvidoso que ali encontre quaisquer vestgios.Estas imagens, de quase desleixo, comeam a correr mundo; no

    este o procedimento habitual dos tcnicos da Polcia Judiciria.No h sinais de arrombamento, de entrada forada, nem ves-

    tgios de raptor, no so encontradas impresses digitais de pes-soas alheias aos utilizadores do apartamento, palmares ou outrasque confirmem a tese do rapto. Inclusivamente, no so encontra-das marcas de luvas, eventualmente usadas pelo raptor. Mas so

    encontrados vestgios: uma impresso palmar foi encontrada najanela de sacada das traseiras e impresses digitais no vidro dajanela do quarto de onde desapareceu a criana. A impresso pal-mar era excelente, no meio de um quase deserto de vestgios, o que

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    nos levou a desconfiar. Mais tarde confirmar-se-iam essas suspei-tas. Aquela impresso correspondia a um dos elementos policiaisque se deslocaram ao local na noite dos factos.

    No existe, em Portugal, um protocolo de procedimentos arespeitar pelas diversas foras policiais para estes casos de desa-parecimento de crianas, talvez por serem pouco comuns. Mas,desde h alguns anos, que lutamos pela criao e implementaode tal protocolo. Est tudo inventado, era s utilizar e adaptar

    os protocolos internacionais, por exemplo, os da polcia inglesa,mais habituada a este tipo de casos.

    Um suspeito que rapidamente deixa de o ser.

    As buscas continuam

    Enquanto se recolhiam testemunhos dos empregados doresort, chega-nos a informao da existncia de um suspeito deabusos sexuais de menores, de nacionalidade inglesa, com ligaesa um pubsito a 150 metros do local dos factos. No ano de 2005,aquele cidado ingls tinha sido alvo de uma investigao e, deforma a furtar-se aco da justia, fugiu para o estrangeiro, per-dendo-se desde a o seu rasto. Constata-se que o pubse encontraencerrado e que o suspeito no tem sido visto na zona. Chega-se fala com o seu padrasto e este informa que o enteado se encontrano Iraque. Torna-se necessrio que as autoridades inglesas confir-mem esta informao, o que, mais tarde, vem a acontecer.

    Na rua principal da Vila da Luz decorriam obras de sanea-mento bsico. Encontrando-se valas abertas e sendo visveis alguns

    colectores. Durante a noite, tinham ali sido efectuadas buscas como auxlio de ces pisteiros, da Guarda Nacional Republicana. Ape-sar disso, decidimos mandar inspeccionar outra vez o local. Chega--se fala com o responsvel da obra. O mesmo explica que o acesso

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    aos colectores fica tapado ao final do dia e no detectaram nada deanormal quando, pela manh, retomaram o trabalho.

    Falam os pais e o grupo de amigos:

    o registo das primeiras incongruncias

    Ainda o dia 4 de Maio

    Os pais de Madeleine e amigos comeam a ser encaminha-dos para o DIC a fim de, formalmente, prestarem declaraes. preciso apurar as circunstncias em que ocorreram os factos.O ideal seria a sua audio ao mesmo tempo, em salas separadas,de forma a evitar a contaminao de testemunhos resultante daeventual partilha de declaraes, mas no podem vir todos, alguns

    tm de ficar no resorta tomar conta das restantes crianas. Este um procedimento habitual. O objectivo deste procedimento evi-tar que os depoimentos sejam influenciados, ainda que no inten-cionalmente, por conversas entre as testemunhas. Muitas vezesalguns pormenores esto ainda presentes, ou so valorizados,quando no h troca de informao. da maior pertinncia estaquesto metodolgica. Precisamos de saber as suas rotinas e as das

    crianas. O que fizeram durante as frias, por onde andaram. Estainformao importante para, em diligncias posteriores, reco-lher elementos que importem investigao: por exemplo, se iama determinado restaurante ou esplanada de praia. Os empregadosou outros clientes podem ter informaes de eventuais suspeitos,ou ento existirem sistemas de vigilncia em vdeo que tivessem

    gravado a sua presena e a de outros clientes e dessem uma ideiado ambiente que se vivia nesses dias. importante saber quem era a vtima, bem como se os pais

    foram alvo de alguma ameaa ou estaro envolvidos em algum lit-

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    gio. Na eventualidade de estarmos perante um rapto, temos de pon-derar a hiptese de ter ocorrido um engano. O alvo poderia no sera Madeleine, mas qualquer uma das outras crianas, filhos dos res-tantes elementos do grupo de frias. Pelo que estes devem tambmresponder a perguntas relativas a eventuais ameaas ou litgios.

    No possuam viatura, deslocavam-se a p, e Madeleineter ido algumas vezes praia, mas normalmente ficava, com osirmos, entregue ao servio de acompanhamento de crianas, em

    creches, de manh e de tarde, participando em actividades ldicascom outras crianas, vigiadas por educadoras. Conclumos que oconhecimento da zona envolvente ao resortpor parte dos pais daMadeleine e dos restantes elementos do grupo era limitado aospercursos entre a praia e as suas habitaes. Durante esta primeiramanh, s possvel proceder inquirio do pai da criana e dosamigos Matthew Oldfield e Jane Tanner.

    Poucas inquiries, mas comeam a sobressair algumas con-tradies e inconsistncias. Essencialmente na forma como ace-diam ao apartamento. Por exemplo, Jane cruza-se com Gerald,que conversava com Jeremiah. Gerald, por esta altura, j tinhaido ao apartamento e tinha visto os seus trs filhos. Jane, no seudepoimento, afirma que se apercebeu da presena de um pseudo--raptor quando acabou de passar por Gerald e Jeremiah. Donde:

    se Jane alegadamente viu algum com uma criana ao colo pre-sumivelmente Madeleine , ento Gerald e Jeremiah tambmo deveriam ter visto e tal no aconteceu. A me da desapare-cida, Kate Healy, e os restantes elementos do grupo de amigos,David Payne, a sua mulher Fiona Payne, Rachael Maplly, RussellOBrien e Dianne Webster, sero ouvidos tarde. Estes pode-

    ro j saber o que foi perguntado e respondido pelos anteriores.O efeito surpresa poder no funcionar.Confirma-se que todos tm filhos, e que os acompanharam

    nas frias. Quando se deslocavam para jantar, deixavam-nos sozi-

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    nhos, a dormir, nos respectivos apartamentos. A necessidade detraduo no facilita as inquiries, tm tempo para pensar entre apergunta e a traduo. Este facto ocorre em toda e qualquer inqui-rio em que haja necessidade de recorrer a tradutor, o que acon-tece sempre, por obrigao legal, quando estamos perante a inqui-rio de cidados desconhecedores da lngua portuguesa.

    As declaraes dos pais so no sentido da existncia de umrapto, foram essa ideia, viva fora querem que pensemos apenas

    dessa forma. Gerald insiste no facto de a casa estar em seguranacom a porta principal trancada. Kate, por seu turno, no entrapela porta principal mas sim pela janela de correr. Afirma que a

    janela estava completamente aberta e as persianas levantadas. Talteoria no tem grande fundamento, face aos dados que vo sendoapurados. S o testemunho de Jane Tanner d crdito a tal tese.Importa agora entender as incongruncias nestes depoimentos.

    Vejamos. Cronologicamente as visitas ocorreram, segundo os tes-temunhos, por esta ordem:

    21 h 05 Gerald McCann (est tudo bem com ascrianas)21 h 10/21 h 15 Jane Tanner (v o alegado raptorcom uma criana ao colo)

    21 h 30 Matthew Oldfield (entra no apartamento,mas no no quarto, e s v os gmeos)22 h 00 Kate Healy (entra no apartamento e dpela falta de Madeleine)

    Ora, se a janela estava aberta quando Kate chega, como que Matthew no deu por isso se Jane afirma que a essa hora ja criana tinha sido vista ao colo de algum? Matthew diz que aporta estava entreaberta, Kate depe que a porta estava completa-mente aberta. Pelo que se conclui que Madeleine j no estaria no

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    quarto. O que Matthew teria de constatar, se dermos como vli-dos todos os depoimentos.

    Aqui surge inesperadamente outra incongruncia: Kate,quando se refere ao indivduo que presumivelmente tinha levadouma criana ao colo, refere-se informao que foi prestada por

    Jane. Ao faz-lo descreve o indivduo de uma forma completa-mente diferente da que Jane descreveu PJ. Jane afirma que estetinha calas claras e cabelo at ao pescoo. Kate, por sua vez, diz

    que aquele teria cabelos longos e calas de ganga. A atitude deJane extremamente voluntariosa. Jane testemunha vrias vezes. polcia, Gerald diz que Jane lhe ter dito aps as 0 h 00 dodia 4, que viu um indivduo a passar no sentido ascendente davia pblica, e este teria 30 a 40 anos, com o cabelo escuro e tra-

    jando calas claras, no o reconhecendo. A GNR afirma que ospais levantaram a hiptese de rapto porque Jane viu um indivduo

    com uma criana ao colo. Nos autos da GNR surge uma descri-o sintetizada mas com nuances: agora o indivduo, para alm dacor das calas que se mantm a mesma teria 1,78 m, vestia umablusa escura e levava ao colo uma criana que lhe parecia estar ves-tida com um pijama. Contudo, no descreve o pijama, nem outrospormenores da criana ou do indivduo.

    Mais tarde, na manh de dia 4, o pai repete esta descrio

    simples, mas remete uma melhor descrio para Jane. s 11 h 30da manh deste dia, Jane depe na PJ de Portimo. A sua descri-o desta vez mais pormenorizada: diz tratar-se de um indivduomoreno, aparentando 35 a 40 anos, de compleio fsica magra,com cerca de 1,70 m, cabelo muito escuro e espesso, at ao pes-coo, usando umas calas de tipo linho entre a cor bege e dourado,

    com um casaco tipo Duffy, mas no to grosso, com os sapatospretos, do tipo clssico; ia com um andar apressado e levava umacriana deitada sobre os dois braos frente do peito; pela formacomo estava vestido deu-lhe a sensao de no ser turista por estar

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    to encasacado. Sobre a criana disse que parecia estar a dormir,que s viu as pernas, que ia com os ps descalos, com um pijamaparecido a algodo de cor clara, possivelmente branco ou rosa--claro, com um desenho, no tendo a certeza mas supostamenteflores. Sobre o homem acrescenta que o reconheceria de costas epela forma de andar. Mais adiante vamos perceber a importnciadesta afirmao!

    Este testemunho espanta todos. Diz que no sabia o que

    Madeleine vestia. No crvel que Jane no o soubesse. J tinhampassado, pelo menos, 14 horas sobre o desaparecimento da crianae a verso de Jane j tinha sido comunicada a muita gente. Alis, opai acabara de evocar o seu testemunho. Mas mais: sobre o indi-vduo Jane Tanner diz que apenas falou com Gerald McCannsem entrar em pormenores e que, s depois, ter falado com apolcia. Estamos novamente perante uma incongruncia. Repare-

    -se: logo na noite do desaparecimento, Kate divulga a forma comoMadeleine estaria vestida quando se foi deitar. muito estranhoque Jane Tanner, na manh do dia seguinte, quando presta decla-raes polcia, desconhecesse esta elementar descrio. Tantomais que durante a noite a notcia vai passando de boca em bocae desencadeia-se um movimento espontneo de busca da criana.Quem participava nesta busca, sabia que procurava uma menina

    de trs anos, quase quatro, descala, vestida com um pijama com-posto por blusa e calas claras, com um desenho de animal cor--de-rosa, descrio fornecida pelo pai ao fim da noite do dia 3,data do desaparecimento. Ora, no mnimo surpreendente queTanner, fazendo parte do grupo de amigos que tinham viajadopara a Vila da Luz justamente para passarem frias juntos, desco-

    nhecesse tal detalhe. Tanto mais que Jane Tanner se coloca, pelosseus depoimentos, como testemunha fulcral nesta fase.

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    O primeiro de muitos avistamentos.Uma reaco inesperada de Kate

    Os pais de Madeleine esto de regresso Vila da Luz quandose recebem fotogramas recolhidos numa das reas de servio daauto-estrada que liga Lagos fronteira com Espanha. Nesses foto-gramas possvel detectar a presena de uma menina parecida comMadeleine, acompanhada de um casal. Solicitamos o seu regresso

    a Portimo. A tarde chegara ao fim. nossa inteno proceder aum reconhecimento. Kate Healy mostra-se um pouco enfadadapor ter sido obrigada a regressar e incomodada com a velocidadeatingida pelo carro da polcia onde se deslocava. Estranhmos queno se mostrasse esperanada com a possibilidade de a menina serrecuperada. O reconhecimento resulta negativo.

    O reforo de meios policiais

    De Lisboa est a chegar uma equipa da Direco Cen-tral de Combate ao Banditismo (DCCB), chefiada pelo pr-prio director. Apesar da deciso quanto sua vinda para Porti-mo ter ocorrido sem me consultarem, concordamos com ela.So bem-vindos, a sua experincia na rea de sequestros e rap-tos uma mais-valia, conseguem aceder a meios que no estoao nosso alcance, os seus analistas so do melhor que a Polcia

    Judiciria possui, h muito planeamento a fazer e trabalho paraavanar.

    Eles que venham preparados para c ficarem muitos dias.

    No venham com a ideia que isto se resolve rapidamente. Que no comecem a sentir saudades de casa. No vo poder c estar ad eternum, tens que compreender

    a falta que iro fazer no seu local normal de trabalho. A DCCB

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    tem muitas investigaes complexas e importantes em curso queno podem ficar paradas.

    uma gesto a fazer por quem manda neles.A partir de agora as investigaes comeam a ser dirigidas

    por dois directores nacionais-adjuntos, acompanhados pelo coor-denador do DIC de Portimo. Meses depois, o inspector-chefe,Tavares de Almeida, com alguma mgoa, confidenciar-me- quese estivssemos sozinhos na investigao esta poderia ter tido um

    desfecho mais rpido, no se arrastando no tempo, e com menosalarido. uma opinio com a qual no concordo nem deixo deconcordar, nesta altura impossvel construir cenrios e efabu-lar com os ses. A Direco da Polcia Judiciria tomou aqueladeciso, que considermos acertada. O nosso dever foi acat-la etrabalhar com os meios que nos facultaram. As razes que, even-tualmente, possam estar por detrs de tal deciso, para alm do

    interesse da resoluo do caso, no interessam.

    O primeiro comunicado de imprensa

    Durante a tarde solicitada ao Ministrio Pblico autori-zao para a emisso de um comunicado imprensa pedindo a

    divulgao do desaparecimento de Madeleine, numa tentativa deobteno de informaes que nos conduzam ao seu paradeiro.Tal apelo divulgado no dia seguinte (5 de Maio). Trata-se deum procedimento normal e visa a obteno de informaes teis.Com o comunicado divulgada uma foto da desaparecida junta-mente com nmeros de contacto. Aquela divulgao dar lugar

    a um caudal enorme de informaes que, na sua grande maioria,provm de pessoas que pensam possuir poderes psquicos, comvises, ou que sonharam com Madeleine. Mesmo assim, e apesarde termos de manter a objectividade, so devidamente analisadas

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    e ponderadas. Numa hiptese de rapto de ponderar uma altera-o do visual do raptado, por esse motivo foi criada uma imagemde Madeleine com diferentes cortes de cabelo e cor, que nos aju-daria a despistar determinados avistamentos. Fomos chegando concluso, atravs dos diversos avistamentos, que meninas com aidade de Madeleine e o seu visual original eram muito comuns.

    A investigao prossegue. Evidenciam-se as fragilidadesdo testemunho de Jane Tanner

    So 20 h 00, do dia 4 de Maio (sexta-feira), estamos na Praiada Luz, queremos saber qual o movimento, naquela zona, a partirda hora em que comeou o jantar no restaurante Tapas, na noiteanterior, bem como as condies de luminosidade. Por ali fic-

    mos, at depois das 22 h 00. certo que hoje esto presentes pessoas que normalmente

    ali no estariam: ns e os jornalistas. D para perceber que aquelelocal tem pouco movimento e ms condies de visibilidade nolocal onde a testemunha Jane Tanner diz ter visto o possvel rap-tor, que sem dvida tornariam difcil um reconhecimento to por-menorizado como a testemunha afirma. Esta constatao est de

    acordo com testemunhos que apontam para o facto de, no dia3 de Maio, pelas 21 h 58, aquela zona da Praia da Luz se encontrarpraticamente deserta, no se avistando vivalma.

    Enquanto a equipa de cena de crime, vinda do nosso Labo-ratrio de Polcia, procede inspeco do apartamento de ondedesapareceu a menina, vamos conhecendo o terreno e testando as

    declaraes da testemunha Jane Tanner. Estas no batem certo.Qual a necessidade de o eventual raptor ter caminhado para azona mais aberta, apesar de no existir luminosidade suficienteque permitisse a Jane Tanner aperceber-se de tantos pormenores?

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    Um rapto planeado teria de levar em linha de conta todos estesitens. O raptor teria que ter estudado a zona, para alm dos hbi-tos da famlia e dos amigos. Seria normal que, caso no fosse dali,tivesse uma viatura parada na zona com menos luminosidade, quese situa do lado contrrio ao sentido em que, segundo a teste-munha Jane Tanner, se encaminhava o raptor com a criana aocolo. Ser que ela viu de facto um homem com uma criana aocolo a caminhar para leste? No o ter visto a caminhar em sen-

    tido contrrio? Por outro lado, se o raptor se dirigisse para umaviatura, esta teria que circular para o centro da Vila da Luz, pas-sando junto ao acesso do restaurante onde jantavam os pais deMadeleine, ou ento para a estrada de principal acesso EN125,onde chegaria prximo do local com melhores condies para seocultar na escurido da noite. Percorremos quase todas as art-rias, constatamos que a praia o ponto de mais fcil acesso para

    quem no possua viatura e seja desconhecedor da zona envolvente Vila da Luz. Nos poucos bares, restaurantes, ou cafs abertosnesta altura do ano, nada de anormal se apurou que pudesse terocorrido na noite de quinta-feira, 3 de Maio de 2007, ningum setornou suspeito pelo seu comportamento. Tendo a maior partedestes estabelecimentos encerrado pelas 21 h.

    Discusso na sala de crise:

    as primeiras incongruncias nos testemunhos dos pais

    Desde h vrias horas que a sala de crise se encontra a fun-cionar, no ltimo andar do edifcio: com os elementos recolhidos

    durante aquele primeiro dia, tenta-se reconstituir o que aconte-ceu. Continuam em aberto as diversas hipteses: desaparecimentovoluntrio da menor; rapto com intuitos sexuais ou de resgate;morte. As opinies dividem-se, os prs e contras de cada uma das

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    diversas hipteses so discutidos de forma activa, quase emo-cional. No podemos perder a objectividade, concentremo-nos,analisemos toda a informao disponvel. No meio de um fumointenso temos de organizar o debate.

    preciso abrir janelas para arejar o ambiente saturado pelofumo intenso de cigarros que se queimam, num frenesim nervoso,algum atira uma pergunta que nos atinge a alma.

    Ouam l! Que histria essa de a janela do quarto onde

    dormia (ser que dormia?) a Madeleine estar com a persianalevantada?Temos presentes as primeiras declaraes de Gerald e Kate

    Healy.Quando Gerald viu pela ltima vez a filha, pelas 21 h 05, esta

    encontrava-se a dormir no quarto com os dois irmos gmeos.Acedeu ao interior da casa atravs da porta principal, utilizando

    chave. Todas as janelas estavam fechadas trancadas ou no,nenhum soube responder. A porta principal estava fechada. S a

    janela de sacada das traseiras se encontrava fechada, e sendo nestecaso unnimes os depoimentos, no trancada. Segundo ele, aquelaentrada era visvel do restaurante onde jantavam, pelo que, por alino entrou ningum.

    A me de Madeleine, pelas 22 h, ao chegar ao quarto, viu

    a janela aberta, a persiana levantada e os cortinados a esvoaar.O cenrio descrito pouco vivel, as persianas da janela no abrempor fora, e segundo a me a janela estava sempre fechada, desco-nhecendo se trancada ou no. Estas dvidas de algo estar trancadoou no, por vezes, tornam-se convenientes para as testemunhas,mas suspeitas para os investigadores. Cruzando os depoimentos

    dos pais de Madeleine com os dos amigos, conclui-se que a nicaporta que estaria aberta e no trancada seria a que d para as tra-seiras do apartamento, com vista para o restaurante Tapas e zonadas piscinas, onde, na noite dos factos, jantavam. Qual a razo

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    que leva Gerald a afirmar que acedeu ao apartamento pela portaprincipal, usando a chave, uma das vrias questes que carece deresposta, sobretudo quando essa volta muito mais longa do queo caminho pelas traseiras, mais prximo do restaurante.

    No querem admitir a entrada de um eventual intrusopelas traseiras, justificando tal atitude com o facto de a portaser visvel do restaurante, tornando impossvel algum entrarpor ali sem ser detectado. Ora, tal no corresponde verdade,

    como facilmente se comprova. De noite, com a vegetao exis-tente, num restaurante com uma cobertura lateral em plsticoopaco e com o grupo de amigos sentados de costas para o apar-tamento, nada viam e qualquer pessoa poderia facilmente acederao apartamento sem ser detectada, entrando e saindo calma esorrateiramente.

    Esta argumentao tinha como objectivo dar a entender

    que a criana estaria em segurana que tudo estaria fechado,que as crianas eram vigiadas regularmente e que tinham con-

    tacto visual com o apartamento. Qualquer que seja a avalia-

    o que se faa dos acontecimentos, indiscutvel que Made-

    leine no estava em segurana. Caso contrrio no tinha

    desaparecido. Coisa estranha um raptor que entra pela porta e sai pela

    janela com uma criana de 4 anos ao colo. Era mais fcil voltar asair pela porta.

    H aqui qualquer coisa que no encaixa. Esta malta est a esconder qualquer coisa Parece que existe um segredo conhecido e partilhado por

    todos.

    Ao fim de uma hora e talvez devido ao cansao, comea ainstalar-se alguma confuso na reunio, querem falar todos aomesmo tempo. Pede-se, de novo, calma, convidando-se cada umdos presentes a dar a sua opinio de forma ordenada. Queremos

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    que se discutam hipteses, com base nas informaes recolhidas,na esperana de se obterem concluses:

    No se compreende que um eventual predador tivesse aousadia de entrar dentro de um apartamento e dali retirado umacriana, tendo que supor que os pais podiam chegar a qualquermomento.

    Esse predador tinha que conhecer os hbitos dos pais e estarseguro do que iria fazer.

    Mais uma razo para isso no bater certo das duas uma:ou algum lhe deu a conhecer tais hbitos, e a temos que pensarnos funcionrios do restaurante Tapas, ou ento ele andou por alia rondar e a estudar o terreno

    Se estudou o terreno porque entrou pela porta principale saiu pela janela, ou mesmo ao contrrio, a nica porta que seencontrava aberta a que d para a zona das piscinas.

    Sim por a seria fcil entrar e sair e corria menos riscosde ser visto.

    Os pais da criana dizem que a janela do quarto se encon-trava aberta e a porta principal fechada, quando deram pelo desa-parecimento de Madeleine.

    E se eles no estiverem a falar verdade? Porque haveriam de mentir?... Coloca-te no seu lugar, vens de frias para um pas estran-

    geiro no conheces o pas deixas trs filhos menores de 4 anosa dormir sozinhos de repente vs-te a braos com o desapareci-mento de um deles, enquanto tu e a tua mulher jantavam calma-mente num restaurante nas proximidades. Ias assumir as culpas?No temias a reaco da polcia local?

    Olhem l! E se o pai ou a me tiverem, de alguma forma,responsabilidade no desaparecimento? A que tinham mesmo deinventar uma histria quando se inventam histrias, tem que sementir.

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    Ests parvo. Isto gente com muita cultura, so quasetodos mdicos o pai da criana cirurgio. Que raio de ideia

    Desculpa l, j percebi as desgraas domsticas s acon-tecem aos pobres de esprito e excludos da sociedade.

    No podemos excluir de nimo leve qualquer hiptese acrescenta um dos nossos colegas que ouvia atentamente osargumentos.

    Mas temos que ter cuidado para no levantar suspeies,

    por agora, infundadas. A soluo parece estar na janela. Como estamos deimpresses digitais?

    Esto a identific-las. Quantas chaves existem da porta do apartamento aquela

    por onde o pai diz que entrou utilizando a sua chave Deve havermais alguma?

    Claro. As cpias das chaves do