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CADERNO TEMÁTICO A BIODIVERSIDADE NUMA VISÃO SISTÊMICA DOS CONTEÚDOS ESCOLARES DO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO CURITIBA 2008

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CADERNO TEMÁTICO

A BIODIVERSIDADE NUMA VISÃO SISTÊMICA DOS CONTEÚDOS ESCOLARES

DO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO

CURITIBA

2008

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MAGALI SBARAINI FONTES

Graduação em Ciências Biológicas – UFPR

Especialização em Magistério de 1º e 2º grau - IBEPEX

Pnrofessora de Biologia da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná –

PDE 2008.

PROF. DRA. ARACI ASINELLI-LUZ

Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação

Setor de Educação

Universidade Federal do Paraná

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APRESENTAÇÃO

O presente caderno temático faz parte do Programa de Desenvolvimento

Educacional do Estado do Paraná – PDE, como cumprimento de atividade

obrigatória na produção do material didático pedagógico, o qual deverá ser aplicado

no ano de 2009 na escola de origem da professora PDE, bem como servir de

subsídio a ações em outras escolas e espaços de aprendizagem.

Tivemos por objetivo refletir sobre os conteúdos de biologia que compõem o

programa no 2º ano do Ensino Médio. O tema central da série é biodiversidade,

buscando-se uma abordagem sistêmica. Dessa maneira o primeiro capítulo define

amplamente a palavra biodiversidade, onde o fenômeno vida e os seres vivos são o

objeto das reflexões. O segundo capítulo traça uma trajetória entre as teorias

atualmente estudadas nas escolas sobre origem da vida, evolução e alguns

questionamentos. No terceiro capítulo o enfoque é dado à ecologia, onde

sustentabilidade é amplamente discutida. O quarto capítulo destaca a questão de

saúde numa visão de ocupação humana no planeta, nos aspectos relacionados ao

uso dos recursos ambientais para a melhoria da qualidade de vida e o

desenvolvimento biotecnológico, nas prioridades e avanços que ocorreram ao longo

da história. O quinto capítulo traz a produção de uma rede de conceitos, a partir dos

quais é possível tecer uma série de reflexões, apoiadas nas leituras e informações

propostas, pensando na complexidade de relações que se estabelecem numa visão

sistêmica da natureza e do planeta em que habitamos.

Curitiba, Fevereiro de 2009

Magali Sbaraini Fontes

Professora PDE 2008

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5

UNIDADE I

BIODIVERSIDADE .................................... ................................................................. 7

UNIDADE II

EVOLUÇÃO DOS SERES VIVOS NUMA ABORDAGEM SISTÊMICA . .................. 10

UNIDADE III

SUSTENTABILIDADE: A BIODIVERSIDADE E O FUTURO DO PL ANETA .......... 12

UNIDADE IV

SAÚDE E DESENVOLVIMENTO BIOTECNOLÓGICO............. ............................... 15

UNIDADE V

REDE DE CONCEITOS ............................................................................................ 20

UNIDADE VI

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ....................................................... 22

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 23

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INTRODUÇÃO

Ao estudarmos as Diretrizes Curriculares do Ensino de Biologia, pudemos

perceber que a estruturação dos conteúdos escolares e estruturantes

fundamentam-se em quatro paradigmas pelos quais a humanidade passou e que

são a base para a compreensão da vida.

O pensamento biológico descritivo de Aristóteles, onde o equilíbrio na

natureza e a harmonia entre matéria e energia eram fundamentais para explicar o

mundo e responder às indagações da época e que, para tanto, utilizou-se de

conceitos empíricos, filosóficos.

O pensamento biológico mecanicista surgiu com o Renascimento e marcou o

desenvolvimento da fisiologia, apesar de utilizar explicações pouco convincentes,

como energia e movimento para descrever os processos vivos, num enfoque

cartesiano e na fragmentação do conhecimento. Desejava-se, a partir desse

paradigma, descrever os fenômenos naturais seguindo um comportamento

previsível que, através do conhecimento racional e metódico das leis da física e da

química, poderiam ser explicados como verdade sendo, portanto, reconhecido pela

comunidade acadêmica e científica da época.

Este paradigma foi substituído no final do século XIX pelo pensamento

biológico evolutivo, o qual estava fundamentado na Teoria da Evolução elaborada

por Charles Darwin e Alfred Wallace e que colocou em questionamento o vitalismo.

Baseada em fatos, mudou toda visão sobre a origem da vida e a evolução das

espécies. Somou-se a esta teoria os conhecimentos de genética formulados por

Gregor Mendel, surgindo a Teoria Sintética da Evolução. Desse modo unem-se os

conhecimentos sobre evolução, mutação, recombinação gênica e seleção natural.

O avanço da genética e o conhecimento das mutações gênicas, permitindo a experimentação direta de modificações hereditárias, proporcionaram um grande avanço no sentido da confirmação da hipótese Darwinista, sugerindo que modificações genéticas podem ocorrer ao acaso, sendo depois selecionadas por ação do meio ambiente. Um processo adaptativo, de contínuo ajustamento às mudanças ambientais sofridas pela Terra, estaria na raiz das novas espécies e dos ecossistemas. (BRANCO, 2004, p. 53).

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No século XX surge um novo paradigma: o pensamento biológico de

manipulação gênica. Este abriu um enorme potencial para projetos num futuro ainda

desconhecido, dando a impressão de possuir uma fórmula mágica para a criação e

transformações da vida. A genética, seria o caminho para criar novos padrões

terapêuticos, plantas e animais transgênicos, híbridos e clonagem de espécies.

O reconhecimento dessas mudanças de pensamentos ao longo da história da

humanidade nos faz entender que as verdades são transitórias, dependendo do

momento, dos avanços tecnológicos e científicos de cada período. Podemos, a partir

desses conhecimentos, fazer uma análise de como a biologia, enquanto disciplina

escolar, passou a ter esse caráter cartesiano, fragmentado, reduzido a nomes e

conceitos descolados do cotidiano da sociedade. “A relação entre o desenvolvimento

científico e a estrutura de poder de uma sociedade aparece durante toda a História,

em todos os países do mundo” (TELAROLLI Jr., 2003, p. 44).

O ensino de biologia no 2º ano do Ensino Médio apresenta a biodiversidade

como conteúdo central, enfocando-se o ambiente, a saúde e a biotecnologia sempre

numa abordagem evolutiva, destacando os elementos básicos do universo: matéria

e energia, que não existem separados, isto é, eles coexistem, interagem, numa

dependência mútua. Assim também a espécie humana faz parte interagindo para

que ocorra o equilíbrio ou desequilíbrio dos ecossistemas. É através dessa relação

homem-natureza que as condições básicas de saúde também se relacionam. Assim

como o estudo da interdependência entre animais, vegetais e microorganismos,

destacando-se o conhecimento dos componentes abióticos e bióticos dos

ecossistemas, bem como as inter-relações entre estes componentes.

O melhor da ciência emerge de um modo mais primitivo de pensar através do qual a mente do caçador vai tecendo idéias a partir de fatos velhos, metáforas novas e imagens confusas e semi-ensandecidas de coisas vistas recentemente. Avançar na ciência é elaborar novos padrões de pensar, que definirão por sua vez os modelos e os experimentos. Fácil de dizer, difícil de fazer (WILSON, 1994, p.13).

Entender essa dinâmica em que o bem estar coletivo deve favorecer o

relacionamento harmonioso entre a própria humanidade e o meio no qual esta se

insere, compreendendo que as transformações, direcionadas e sofridas pela nossa

espécie sobre o meio, são condições para uma análise articulada através das

leituras sugeridas.

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UNIDADE I – BIODIVERSIDADE

O termo diversidade biológica surgiu na década de 80, substituído

posteriormente por biodiversidade em um momento em que as discussões mundiais

a respeito da preservação ambiental passaram a fazer parte do cotidiano da

sociedade. “A diversidade biológica – biodiversidade, como se diz hoje em dia – é a

chave da preservação do mundo como o conhecemos” (WILSON, 1994, p.22).

O Ministério do Meio Ambiente, através da Secretaria de Biodiversidade e

Florestas, no Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade, publicou em

2000 uma cópia do Decreto Legislativo nº 2, de 5 de junho de 1992, no artigo 2 da

Convenção sobre Diversidade Biológica, o qual define

diversidade biológica como a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas (Disponível http://www.mma.gov.br ). O Brasil, segundo dados do IBGE em 2004, é considerado um dos doze

países com megadiversidade , apresentando uma variedade de espécies que em

conjunto abrigam 70% das espécies do planeta e portanto com interesse ecológico,

econômico e social.

O termo biodiversidade tornou-se abrangente, indo além das formas vivas

existentes no planeta, estendendo-se às relações complexas que se estabelecem

nos e entre os ecossistemas, que permitem o fluxo de matéria e energia em toda a

biosfera.

As diferentes formas de vida se relacionam entre si e com o ambiente físico-

químico no qual habitam. Portanto, estabelecer essas relações torna-se necessário

para a compreensão dos sistemas vivos como auto-suficientes, capazes de

transformação, agindo como uma rede que produz seus componentes e é produzida

por eles.

Autonomia e diversidade, conservação de identidade e origem de variação no modo como se conserva tal identidade são os principais desafios apresentados pela fenomenologia dos sistemas viventes aos homens, que dirigiram durante séculos sua curiosidade a respeito da vida” (ROMESÍN; MATURANA e GARCIA, 1997, p.65).

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Qual o significado de vida? Ter um “sopro vital”, como os antigos gregos a

definiam ou ter “alma”, como os cristãos mais tarde a denominavam e que, a partir

da Revolução Industrial, com Descartes, passou a ser exclusivo da espécie humana.

Vida seria apenas o contrário da morte, difícil chegar a uma definição. Ernst Mayr,

no livro “Isto é biologia: a ciência do mundo vivo”, assim descreve:

Na realidade, o substantivo “vida” é meramente uma reificação do processo de viver. Ela não existe como entidade independente. É possível lidar cientificamente com o processo de viver, algo impossível de fazer com a entidade abstrata “vida”. É possível descrever, e mesmo definir, o que é viver; é possível definir o que é um organismo vivo; e é possível tentar estabelecer uma fronteira entre o vivo e o não vivo. Mais ainda, é possível até tentar explicar como a vida, enquanto processo, pode ser o produto de moléculas que não são, elas próprias vivas (MAYR,2008, p.20).

Portanto, é um exercício de complexidade definir a vida. Podemos, no

entanto, caracterizar os seres vivos para diferenciá-los dos seres inanimados. Todo

ser vivo é formado por células e estas com componentes orgânicos e inorgânicos,

com capacidade metabólica (reações químicas intensas que mantém a vida),

alimentam-se, crescem e quando chegam à idade adulta, apresentam potencial de

perpetuação da espécie através da reprodução. Apresentam um material genético

que recombinado pode propiciar a individualidade de cada ser vivo, mesmo

pertencente a uma mesma espécie (com características próprias). Esses seres

estão adaptados ao meio em que vivem, em que as características adaptativas lhes

conferem a permanência a estes habitats. Como apresentam variabilidade dentro da

espécie, são selecionados pelo ambiente, sendo que aqueles que sobrevivem

deixam descendentes, portanto, evoluem.

Compreender a natureza da vida a partir de um ponto de vista sistêmico significa identificar um conjunto de critérios gerais por cujo intermédio podemos fazer uma clara distinção entre sistemas vivos e não-vivos. Ao longo de toda história da biologia, muitos critérios foram sugeridos, mas todos eles acabavam se revelando falhos de uma maneira e outra. No entanto, as recentes formulações de modelos de auto-organização e a matemática da complexidade indicam que hoje é possível identificar tais critérios. A idéia-chave da minha síntese consiste em expressar esses critérios em termos das três dimensões conceituais: padrão, estrutura e processo (CAPRA, 1996, p.135).

Essas três dimensões podem ser a explicação para um sistema ser

considerado vivo ou inanimado. O padrão é a célula com seus componentes

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fundamentais, mantendo em forma de rede o metabolismo e a reprodução, comum a

todos os seres vivos, num sistema fechado. A teoria celular proposta no final do

século XIX por Schleiden e Schwann, já fazia essa afirmação: “todos os seres vivos

são formados por células”.

A estrutura é definida como a abertura desse padrão fechado, mantendo um

fluxo de matéria e energia com o ambiente, a célula necessita de oxigênio, água e

alimento que estão presentes fora dela e são essenciais para a manutenção do

equilíbrio interno e externo.

O processo da vida está relacionado à capacidade que os seres vivos

apresentam de percepção do ambiente e suas mudanças (mesmo que a maioria dos

seres vivos não apresente o que se convencionou chamar de mente), que são

essenciais no fenômeno da vida. A interação entre o padrão, estrutura e processo é

que nos permite a compreensão da vida numa abordagem sistêmica.

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UNIDADE II – EVOLUÇÃO DOS SERES VIVOS NUMA ABORDAGE M

SISTÊMICA

No surgimento do planeta Terra há 4,5 bilhões de anos não existiam

condições físico-químicas para a ocorrência de vida. O calor era intenso, os gases

predominantes eram tóxicos, não havia oxigênio para a respiração, que atualmente

é a forma predominante de mecanismo de obtenção de energia, além da ausência

de água em forma líquida. Os compostos químicos (contendo os elementos carbono,

hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre) que estavam em constantes

transformações, propiciaram a formação das primeiras moléculas orgânicas,

segundo a Hipótese da Evolução Gradual dos Sistemas Químicos, formulada por

Oparin e Haldane, em 1936. Com o resfriamento do planeta e a condensação da

água surgem os primeiros oceanos e neles a vida poderia ser possível. Inicialmente

existiam moléculas orgânicas simples (monômeros como aminoácidos, bases

nitrogenadas), que se uniam, formando moléculas orgânicas mais complexas

(polímeros como proteínas e ácidos nucléicos), numa criatividade intensa. Porém

essas unidades isoladas só passaram a constituir vida no momento que interagiram

entre si e com o meio em que viviam e através de reações químicas metabólicas

passaram a garantir energia suficiente para sua sobrevivência. Nesse processo

garantiram a perpetuação rápida e eficiente da sua estrutura, permitindo a ocupação

de todo o planeta, deixando descendentes com a receita para novas formas de vida.

Assim, as transformações energéticas que caracterizam a extraordinária dinâmica do nosso globo manifestam-se não somente através dos grandes impactos meteorológicos e convulsões tectônicas, mas também por meio de reações químicas diversas. Estas nada mais são do que conversões energéticas. As elevadas quantidades de energia disponíveis, nos primórdios da formação do planeta, permitiram a formação de compostos químicos de alta complexidade, que viriam a constituir as primeiras moléculas orgânicas (BRANCO, 2004, p.70).

Segundo a teoria da Evolução dos Seres Vivos proposta por Charles Darwin

em 1859, a variabilidade de indivíduos de uma espécie (mutações ocasionais) e a

adaptação dos organismos no ambiente em que vivem seriam fatores

determinantes, influenciando na seleção dos organismos mais aptos, que ele

denominou como seleção natural, ou seja, a natureza gradualmente seleciona

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aqueles indivíduos melhor adaptados ao seu meio. Os conceitos de hereditariedade,

estudados por Gregor Mendel e publicados no início do século XX, ajudaram a

reafirmar a teoria proposta por Darwin, que passou a ser denominada como

neodarwinismo, onde o genoma (conjunto de genes de uma espécie) está

linearmente disposto e cada gene representa uma característica hereditária que é

passada de geração em geração, mantendo a identidade da espécie, onde as

mutações são ao acaso e selecionadas pelo ambiente em caso de serem positivas

para a sobrevivência da espécie.

Atualmente existe uma nova frente de pesquisas relacionadas à

microbiologia, bioquímica, biologia celular e ecologia que se voltam aos estudos

químicos que explicariam a criatividade da evolução.

No entanto, pesquisas têm mostrado que um único gene pode afetar um amplo espectro de características, e que, inversamente, muitos genes separados combinam-se com freqüência para produzir uma única característica. Portanto, é muito misterioso o processo pelo qual estruturas complexas, como um olho ou uma flor, poderiam ter evoluído por meio de mutações sucessivas de genes individuais. Evidentemente, o estudo das atividades coordenadoras e integradoras de todo o genoma é de importância suprema, mas esta tem sido seriamente dificultada pela perspectiva mecanicista da biologia convencional. Apenas muito recentemente alguns biólogos começaram a entender o genoma de um organismo como uma rede intensamente entrelaçada e a estudar suas atividades a partir de uma perspectiva sistêmica (CAPRA, 1996, p. 181).

Os questionamentos a respeito da teoria da Evolução de Darwin foram feitos

também anteriormente por James Lovelock ao formular a Teoria de Gaia, onde se

afirma que o ambiente e os seres vivos têm uma relação de interdependência, logo

co-evoluem. “A evolução dos organismos vivos está estreitamente acoplada com a

evolução do seu meio ambiente que, juntas, constituem um único processo

evolutivo” (CAPRA, 1996, p.182).

Segundo Capra, que se fundamenta nos estudos de Lynn Margulis, três

principais aspectos relacionados à evolução devem ser levados em consideração: as

mutações, as recombinações gênicas que ocorrem intensamente nas bactérias e a

relação de simbiose que ocorre freqüentemente entre os seres vivos e que podem

ser explicados através da microbiologia.

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UNIDADE III – SUSTENTABILIDADE: A BIODIVERSIDADE

E O FUTURO DO PLANETA

Se observarmos a história evolutiva da nossa espécie ou em nosso cotidiano,

iremos perceber que somos dependentes e fazemos parte da natureza. Desde a

pré- história o ser humano buscou no ambiente respostas às suas necessidades

diárias, como alimento, moradia e proteção. Com isso aumentou gradativamente a

interferência na natureza, passando pela organização em pequenos grupos,

formando pequenos povoados e com isso aperfeiçoando as técnicas de agricultura

e pecuária. Aumentou com isso a necessidade de exploração para o fornecimento

de matéria prima utilizada para suprir necessidades da população, que cresceu de

maneira desordenada. Com o crescimento das cidades, que ficaram super-

povoadas, e com a distribuição de renda desigual na população, os problemas

ambientais não demoraram a aparecer:

Essa visão antropocêntrica dos recursos naturais, como o pensador francês

René Descartes, no século XVI já definia “a natureza é um recurso, um bem a ser

apropriado pelos homens”, foi perpetuada nas sociedades atuais provocando

diferentes impactos ambientais. Entre muitas ações da humanidade, podemos citar:

Desmatamento e ocupação das florestas para construção das cidades.

O lixo e o esgoto que se acumulavam contaminando os mananciais e o solo.

Desequilíbrio das cadeias alimentares ocasionando a extinção de espécies ou

aumento exagerado de outras.

Poluição das águas, do solo e do ar.

Aumento das doenças entre os habitantes do planeta.

Secas ou enchentes em diferentes pontos da Terra.

Desertificação de grandes áreas do globo terrestre.

Chegamos a um momento caótico em que passamos a nos perguntar: do que

realmente precisamos para sobreviver? Podemos interferir sem limite na biosfera?

Atualmente somos bilhões de indivíduos, com necessidades diferentes, mas

que devemos, racionalmente, de maneira sustentável, interagir com o meio

ambiente. Assumirmos o papel de cidadãos socialmente responsável pelas nossas

atitudes e valores individuais e coletivos, reconhecendo nossos direitos e deveres

frente às questões ambientais é uma necessidade emergente. Lutar pela igualdade

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de condições e o respeito às diferenças individuais e coletivas devem estar entre as

metas para a construção de uma sociedade sustentável.

Nesse sentido, precisamos repensar a educação socioambiental, envolvendo

entre muitas ações, aquelas que estejam relacionadas a:

Mudança dos procedimentos agrícolas para minimizar o impacto ambiental

com uso de produtos químicos.

Preservação dos recursos naturais, do solo, do ar, da biodiversidade e dos

ecossistemas.

Oportunidade de educação, alimentação, saúde, moradia, emprego, lazer

etc., para todos os segmentos da sociedade.

Promoção da erradicação da miséria, das formas de preconceitos e opressão

das populações menos favorecidas.

A sustentabilidade, em seu sentido mais amplo, consiste em criar um modelo

capaz de produzir riqueza e bem-estar sem deixar de se preocupar com as questões

sociais e ambientais, além do comprometimento que devemos ter com as gerações

futuras, mantendo o equilíbrio ambiental.

As idéias precursoras do desenvolvimento sustentável (ou sustentado) são creditadas a um engenheiro florestal norte-americano, Gifford Pinchot. Primeiro chefe do serviço de florestas do país, no século XIX, ele defendia como destaca A. Diegues, a conservação dos recursos, apoiada em três princípios básicos: ”o uso dos recursos naturais pela geração presente, a prevenção do desperdício e o desenvolvimento dos recursos naturais para muitos e não para poucos cidadãos” (GIANSANTI, 1998,p.9).

Os avanços tecnológicos e científicos que ocorreram desde a Revolução

Industrial no século XVIII permitiram a produção em grande escala de bens de

consumo, entre eles embalagens para garantir o transporte, a durabilidade e a

rapidez para o consumo dos alimentos. Esse aumento de produção também gerou

um aumento de resíduos sólidos produzidos nas cidades, que nem sempre

receberam um tratamento adequado. Portanto, utilizar soluções ecologicamente

corretas como aterros sanitários, incinerações e usinas de reciclagem, tornou-se

necessário. Outras vezes, por diferentes motivos, esses materiais são descartados

no ambiente provocando a contaminação do solo, dos recursos hídricos e a

proliferação de vetores de doenças.

Alternativas de solução devem se basear nas atitudes desejáveis nos 5 Rs (Disponível em: www.wwf.org.br):

Repensar hábitos: evitando o consumo exagerado e o desperdício.

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Reduzir a produção de gêneros e a geração de lixo: reduzindo o consumo

diminui a produção e a quantidade de lixo.

Reutilizar materiais: usar um mesmo material.

Respeitar a natureza: protegendo o ambiente em que se vive.

Reciclar: usar produtos de descarte como matéria prima de novos materiais.

O maior desafio desse século é transformar idéias individuais em ações

coletivas que, partilhadas por todos os cidadãos, sejam uma esperança de uma

relação de respeito para a sustentabilidade do planeta. Sensibilizar a nossa espécie

que somos parte integrante da natureza, desta maneira utilizando seus recursos

com responsabilidade.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. (Trecho do texto do índio Seattle ao presidente dos Estados Unidos (GIANSANTI, 1998,p.21).

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UNIDADE IV – SAÚDE E DESENVOLVIMENTO BIOTECNOLÓGICO

A relação da espécie humana com o ambiente sempre foi antropocêntrica,

retirando-se da natureza aquilo que fosse necessário a sua sobrevivência. Nas

comunidades primitivas, inicialmente nômades, posteriormente sedentárias, surge o

fogo, a criação de ferramentas, a domesticação de animais e o desenvolvimento da

agricultura. O misticismo marcava as ações referentes à saúde, onde rituais de

sacrifícios e oferendas aos Deuses, confundiam as ações entre o feiticeiro e médico.

Os curadores de doenças detinham o saber de muitas ações. Embora o seu pensar não tenha deixado marcas palpáveis na história, é possível que ele seja revelado na criação dos ritos, da estipulação de normas técnicas primitivas e, sobretudo, na tentativa de relacionar as causas aos efeitos das doenças. (REZENDE, 1989, p. 24).

A divisão em classes sociais, durante a barbárie, separou a função do pensar

e do fazer, iniciando o desenvolvimento de tecnologias. A terra, os utensílios, objetos

pessoais passaram a ser propriedade privada, onde as famílias patriarcais,

passavam de geração em geração seu patrimônio. A divisão em classes também era

visível no trato com as doenças, onde os curadores eram os pensantes, deixando

para seus ajudantes as tarefas práticas.

As doenças são explicadas pela força do sobrenatural e o sacerdote é o intermediário que, utilizando alguns recursos, como ervas, beberagens e medidas higiênicas, alcançava, pela intervenção da divindade, a prevenção, a cura ou a morte. (REZENDE, 1989, p. 40).

No feudalismo medieval, a Igreja passa a ter domínio sobre a sociedade da

época, mostrando organização, poder econômico e político, com habilidade

administrativa. Durante esse período, as práticas populares relacionadas á saúde

eram associadas a crendices e exorcismos. As atividades manuais, como a cirurgia,

eram proibidas para o clero, ficando a enfermagem por conta de religiosos, numa

visão filantrópica. Os leprosos, loucos e os portadores de doenças venéreas eram

excluídos da sociedade, para a busca da salvação.

A organização das universidades marca a diferença de status social entre o trabalho intelectual, oriundo do conhecimento abstrato, privilegiado, e do trabalho manual, desenvolvido pelo povo, nascido das necessidade de sobrevivência e socialmente desvalorizado. (REZENDE, 1989, p. 58).

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Durante a Colonização do Brasil, muitas doenças tradicionalmente existentes

na Europa, foram trazidas com os colonizadores. A organização de povoados nas

missões favoreceu o surgimento das epidemias. As tribos indígenas não tinham

imunidade para tais enfermidades, provocando a morte de milhares de índios, fato

que ficou conhecido como genocídio americano. “Em 1500 o país tinha uma

população de 5 milhões de indígenas, número que rapidamente foi reduzido, até

chegar a um número estimado entre 250 e 300 mil no ano de 2000, correspondente

a algo em torno de 5% a 6% do total inicial” (TELAROLLI JR, 2003, p. 34).

Não havia medicamentos ou práticas médicas eficientes para o tratamento

dessas doenças, nem pelos médicos europeus ou entre os pajés indígenas, que

desconheciam esses males. As sangrias, dietas alimentares, remédios a base de

plantas ou crendices populares eram utilizadas com pouco sucesso entre a

população. Surgem os primeiros hospitais, para atender os viajantes das longas

travessias marítimas. Esses locais eram filantrópicos, mantidos pelos ricos e pela

Igreja Católica, não havia conhecimentos suficientes para tratar dos doentes. “Por

isso grande parte dos que eram hospitalizados morriam em pouco tempo, o que

tornava os hospitais muito temidos. Chamados de ‘casa da morte’, eram evitados a

todo o custo pelos doentes e seus familiares” (TELAROLLI JR, 2003, p. 38).

Esse quadro epidêmico que marcou a colonização no Brasil, também ocorreu

em outras regiões do mundo e das Américas, doenças trazidas por seus

colonizadores, que tinham modos de vida diferentes dos povos das colônias. “Até

então, a evolução das doenças do Novo Mundo seguira caminhos divergentes o

Velho Mundo, não apenas devido à forte separação geográfica das populações, mas

também dado o peso menor da pecuária na vida dos nativos americanos” (PENA-

VEJA; NASCIMENTO, 1999, p. 145).

No final do século XIX, com as descobertas de Pasteur e Koch, ocorre a

revolução bacteriológica, microorganismos causadores de doenças como a

tuberculose, cólera e malária são identificados e tratamentos e medicamentos são

produzidos. “A descoberta dos micróbios causadores de várias doenças permitiu que

em pouco tempo se desenvolvessem técnicas de prevenção contra diversas

doenças transmissíveis. Outra conseqüência da era bacteriológica foi viabilizar a

produção de vacinas contra várias doenças”(TELAROLLI JR, 2003, p. 42).

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Com o desenvolvimento industrial e o consequente aumento da produção,

houve um aumento populacional nas cidades, diminuindo a qualidade de vida da

grande maioria das pessoas. A falta de higiene, saneamento básico e de moradias

adequadas, agravou as condições da saúde publica, em que as epidemias tornaram-

se freqüentes. As doenças passaram a ser analisadas a partir do agente causador

das mesmas e as possíveis formas de profilaxia (prevenção e tratamento),

ignorando-se aspectos físico-químicos, biológicos e sociais envolvidos. Consolidou-

se o conceito de unicausalidade (BARRETO, 1990; ROSEN, 1994). “A emergência

da bacteriologia esclareceu o problema da causação biológica da doença e permitiu

que, a partir de fins do século XIX, os programas de saúde pudessem ser efetivados,

ignorando a relação entre doença e condições socioambientais”.(PIGNATTI, 2004, p.

133-134).

Em oposição a essa teoria, surge a multicausalidade, que se baseia em um

conjunto de causas, nas quais é possível traçar medidas profiláticas, define-se a

partir daí os padrões de normalidade e anormalidade. “Esse novo modelo não

consegue, porém, explicar as várias causas do fenômeno saúde-doença, nem

propõe uma intervenção ameaçadora do sistema social” (REZENDE, 1989, p.88).

Na década de 40, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou um

conceito de saúde, que foi adotado por muitos, sendo que recentemente ainda é

encontrado em livros didáticos. “Saúde é um estado de completo bem estar físico,

mental e social e não apenas a ausência de afecção ou doença” (REZENDE, 1989,

p.86). Essa nova abordagem, amplia o conceito de saúde, , mas continua restrito, já

que afasta a interação homem-natureza.

Na década de 70, junto com as discussões sobre ecologia, uma nova teoria é

formulada, baseada na interação entre o homem, hospedeiro da doença, o agente

causador e o ambiente em que estão inseridos, identificando-se a história natural da

doença. Para Rezende (1989), esse novo modelo divide-se em duas fases: a pré-

patogênica: (hospedeiro, agente e meio) e a patogênica, em que ocorre a doença.

Nessa nova proposta é possível traçar medidas de controle da doença (prevenção e

tratamento). As críticas levantadas, segundo Pignatti (2004), estão relacionadas ao

fato de que todos os aspectos são levados em consideração da mesma maneira,

negligenciando-se as determinações sociais relacionadas à doença, amplia-se a

noção de medicina preventiva, em que todo indivíduo é um doente em potencial.

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Como esse modelo simplifica a questão da saúde a sua causa e efeito,

novamente buscamos uma alternativa de ampliar as discussões com a inserção dos

aspectos políticos e sociais associados.

A nova proposta de epidemiologia social da década de 70, defendida por Laurrel (1979), Breilh (1979) e Arouca (1976), entre outros, tenta apreender o fenômeno saúde-doença como processo social e biológico, com historicidade própria. Baseada no materialismo histórico,ultrapassa a visão de causalidade como uma relação de causa e efeito, ou seja, percebe o fenômeno como uma estrutura. (REZENDE, 1989, p.90).

Nas últimas décadas, a ocupação humana no planeta tem intensificado a

degradação ambiental, provocada principalmente pelo aumento populacional e

justificado pela necessidade de produção de alimentos (desenvolvimento da

agricultura e da pecuária), crescimento das cidades e consumo desenfreado

incentivado pelo desenvolvimento econômico e tecnológico de algumas nações. O

aumento de poluentes na biosfera e as conseqüências destes, efeito estufa,

destruição da camada de ozônio tem sido motivo de estudos, identificando a

interferência dessas situações na saúde das populações, numa visão sistêmica.

Hogan (2000) aponta que não se trata apenas de identificar os elementos ambientais na etiologia de determinada doença, mas colocar em questão todo o nosso modo de vida e questionar se o padrão de vida desenvolvido será somente atingido com o nosso auto-envenenamento. (PIGNATTI, 2004, p. 136).

As populações humanas permaneceram em desigualdade de condições, As

novas tecnologias ficaram restritas a uma minoria, não refletindo melhoria da

qualidade de vida para a maioria. O acesso a moradia de qualidade, alimentação

saudável, educação igualitária, o direito ao lazer, estão intimamente relacionadas a

qualidade de vida e de saúde individuais e coletivos

O desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas, graças às novas

tecnologias é sem dúvida um grande avanço que permitiu o aumento da longevidade

das pessoas e a melhoria da qualidade de vida das populações, porém é importante

que todos tenham acesso a utilização racional desses recursos, e a garantia de

condições de vida digna, justa e humana.

As intervenções na dinâmica de populações hospedeiras, tais como a domesticação e/ou a proximidade das populações animais, aliadas às condições de precariedade de existência de alguns grupos humanos e da própria iatrogênese médica, que através do uso indiscriminado de medicamentos, acabam por selecionar espécies cada vez mais resistentes (PIGNATTI, 2004, p. 143).

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A saúde não pode ser vista de maneira isolada, de maneira sistêmica ela

passa a assumir uma abordagem biológica e ecológica, em íntima relação com

aspectos econômicos, políticos e sociais que determinam a qualidade de vida das

populações.

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UNIDADE V – REDE DE CONCEITOS

Os conceitos que serão abordados a partir de uma visão sistêmica de

biodiversidade, organizando os conhecimentos através das relações que se

estabelecem nos aspectos biológicos, ecológicos, biotecnológicos, evolutivos e em

saúde das populações devem ramificar-se nos diferentes conteúdos escolares, de

maneira a construir uma teia de significados. Pensando dessa maneira, o mapa

conceitual tradicional não expressaria esse movimento desejado entre os conteúdos,

pela linearidade de sua apresentação.

Segundo Nuñez e Ramalho (2004), uma rede de conceitos apresenta

múltiplos nós, que são os conceitos, que se articulam por linhas que se entrelaçam e

estabelecem feixes de conexões, estes darão continuidade entre os nós. Os enlaces

são responsáveis pela composição de múltiplos significados. As conexões

expressam-se por meio de palavras-chave que indicam as relações, as ligações, as

construções, as transformações, as evoluções e o desenvolvimento.

Para a construção de uma rede conceitual é necessário que se tenha definido

a organização, o enfoque e o tratamento que se pretende dar ao tema, que no 2º

ano do ensino Médio é biodiversidade.

Esse planejamento pressupõe que o que se deseja do estudante é a

aprendizagem dos conteúdos de forma significativa e contextualizada, sendo que o

professor está preparado para transitar entre esses diferentes aspectos,

determinando o ponto de saída e chegada de suas ações.

Inicialmente foi construído um mapa conceitual (fig. I), de acordo com as

informações contidas em Nuñez e Ramalho (2004), com os principais conceitos

tradicionalmente trabalhados no 2º ano do Ensino Médio, linearmente dispostos.

O modelo de rede conceitual (fig. II), de acordo com as informações contidas

em Nuñez e Ramalho (2004), foi organizado a seguir, está representado de maneira

sistêmica, devendo gradativamente e significativamente ser construído com os

estudantes durante o ano.

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ESPÉCIE

POPULAÇÃO

COMUNIDADE

ECOSSISTEMAS

ECOLOGIA

BIODIVERSIDADE

EVOLUÇÃO

BIOTECNOLOGIA

ANTIBIÓTICOS

VACINAS

CLONAGEM

SERES EUCARIONTES

HIV

REINO PROTOCTISTA

REINO FUNGI

REINO PLANTAE

REINO ANIMALIA

REPRODUÇÃO

METABOLISMOAUTOTROFIA

RELAÇÕES ECOLÓGICAS

MUTUALISMO

FERMENTAÇÃO

RESPIRAÇÃO

QUIMIOSSÍNTESE

FOTOSSÍNTESE

HETEROTROFIA

SOCIEDADE

PARASITISMO

PREDATISMO

DENGUE

TUBERCULOSE

GRIPE

CÓLERA

FEBRE AMARELA

LEISHMANIOSE

SARAMPO

COQUELUCHE

DOENÇA DE CHAGAS

MALÁRIA

EPIDEMIAS

ENDEMIAS

TRANSGÊNICOS

BIOLOGIA CÉLULA

ÉTICO

POLÍTICO

ECONÔMICO

SOCIAL

SAÚDEXDOENÇA

SUSTENTABILIDADE

SEXUADA

ASSEXUADA

SENSIBILIDADE

REINO MONERA

SERES PROCARIONTES

VÍRUS

Fig II Rede conceitual - biodiversidade e suas relações.

Reino Monera

Reino Protoctista

Reino Fungi

Reino Plantae

Reino Animalia

ecossistemas

comunidades

populações

espécies

fatores bióticos

fatores abióticos

ar

água Biosfera

solo

células procarionte

eucarionte evolução

metabolismo fotossíntese

fermentação

autótrofo quimiossíntese

respiração heterótrofo reprodução

sexuada assexuada

unicelular

multicelular

Vírus

moléculas

BIODIVERSIDADE

Fig.I Mapa conceitual – biodiversidade

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UNIDADE VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A biologia, enquanto ciência historicamente constituída, passou por vários

momentos, com interferências de outras ciências, mudando as verdades de acordo

com o momento histórico e a sociedade de cada época. Os fenômenos e

descobertas chegaram a uma complexidade de informações que diariamente são

publicadas e anunciadas rapidamente pelos meios de comunicação.

Os quatro pensamentos biológicos (descritivo, mecanicista, evolutivo e

manipulação gênica), que foram os grandes paradigmas pelos quais passou a

humanidade, devem fundamentar os conteúdos que estruturam a disciplina escolar

biologia, sendo amplos, requerem uma seleção criteriosa de conteúdos.

Há necessidade de uma reflexão, para a contextualização dos conteúdos

escolares e trazer a biologia para o século XXI, partindo de temas atuais,

relacionadas ao cotidiano dos estudantes, para significação e resgate dos conceitos

que servirão de suporte para a compreensão dos fenômenos da natureza.

É significativa uma situação do ponto de vista fenomenológico, quando o indivíduo decide de forma ativa, por meio de uma ampliação e aprofundamento da consciência, por sua própria elaboração e compreensão. É a consciência que atribui significado aos objetos e situações. (MOREIRA, 2001, p.12).

Estamos em um século do descartável, do prazer imediato, do volátil e do

consumo pelo consumo. É importante trazermos esses questionamentos para a sala

de aula, que historicamente estudados sensibilizem e mobilizem para ações de

inserção numa sociedade justa e igualitária.

[...] os êxitos futuros do processo de hominização não estão necessariamente inscritos na natureza humana. Dependem dos vínculos da história passada, mas também das atuais escolhas da nossa espécie. A humanidade não é um destino, a humanidade é uma reinvenção contínua. (PENA-VEJA; NASCIMENTO, 1999, p. 153).

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