Mágica e Truques que iludem o Cérebro.docx

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Mágica e Truques que iludem o Cérebro Mágicos há séculos exploram os limites da cognição e da atenção. Agora, neurocientistas começam uma corrida em busca de um tempo perdido. O refletor se acende sobre a assistente. A mulher de vestido branco curtíssimo é uma fonte luminosa que irradia beleza do palco para o público. O grande Tomsoni anuncia que irá transformar a cor do vestido dela em vermelho. Tensos, sentados nas poltronas, os espectadores se concentram na mulher, gravando a imagem dela nas retinas. Tomsoni bate palmas e os holofotes se apagam rapidamente, antes de criarem uma atmosfera vermelha. A mulher agora está inundada pela vermelhidão dos projetores. Mas esperem! Mudar a cor com um holofote não era exatamente o que o público tinha em mente. O mágico para na lateral do palco, olhando alegremente para sua brincadeirinha. Sim, ele admite ter sido um truque barato; o que ele prefere, explica diabolicamente. Mas temos de concordar, o vestido dela ficou vermelho – junto com todo o resto. Então, o perdoe, e preste atenção mais uma vez em sua bela assistente enquanto ele acende a luz para o próximo truque. Ele bate palmas e as luzes baixam de novo; depois, o palco é coberto por uma imensidão de branco. Espere! O vestido dela realmente ficou vermelho. O Grande Tomsoni conseguiu mais uma vez! O truque e a explicação dada por John Thompson (conhecido como o Grande Tomsoni) revelam um profundo conhecimento intuitivo dos processos neurais que acontecem no cérebro dos espectadores – um tipo de entendimento que

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Mgica e Truques que iludem o Crebro

Mgicos h sculos exploram os limites da cognio e da ateno. Agora, neurocientistas comeam uma corrida em busca de um tempo perdido.

O refletor se acende sobre a assistente. A mulher de vestido branco curtssimo uma fonte luminosa que irradia beleza do palco para o pblico. O grande Tomsoni anuncia que ir transformar a cor do vestido dela em vermelho. Tensos, sentados nas poltronas, os espectadores se concentram na mulher, gravando a imagem dela nas retinas. Tomsoni bate palmas e os holofotes se apagam rapidamente, antes de criarem uma atmosfera vermelha. A mulher agora est inundada pela vermelhido dos projetores.Mas esperem! Mudar a cor com um holofote no era exatamente o que o pblico tinha em mente. O mgico para na lateral do palco, olhando alegremente para sua brincadeirinha. Sim, ele admite ter sido um truque barato; o que ele prefere, explica diabolicamente. Mas temos de concordar, o vestido dela ficou vermelho junto com todo o resto. Ento, o perdoe, e preste ateno mais uma vez em sua bela assistente enquanto ele acende a luz para o prximo truque. Ele bate palmas e as luzes baixam de novo; depois, o palco coberto por uma imensido de branco. Espere! O vestido dela realmente ficou vermelho. O Grande Tomsoni conseguiu mais uma vez!O truque e a explicao dada por John Thompson (conhecido como o Grande Tomsoni) revelam um profundo conhecimento intuitivo dos processos neurais que acontecem no crebro dos espectadores um tipo de entendimento que ns, neurocientistas, podemos usar para nosso benefcio cientfico. Veja como o truque funciona. Quando Thompson apresenta sua assistente, o vestido branco e justo dela, silenciosamente, leva os espectadores a acreditar que nada outro vestido certamente no poderia estar escondido sob o vestido branco. Essa suposio razovel, claro, est errada. A mulher atraente em seu vestido apertado tambm ajuda a atrair a ateno das pessoas para onde Thompson quer o corpo da mulher. Quanto mais olham para ela, menos percebem os dispositivos dissimulados no cho, e mais adaptados se tornam seus neurnios retinais brancura da luz e cor que percebem.Durante a rpida fala de Thompson depois da pequena piada, o sistema visual de cada espectador passa por um processo cerebral chamado de adaptao neural. A reao de um sistema neural a um estmulo constante (como medida pela taxa de disparo dos neurnios importantes) diminui com o tempo. como se os neurnios ignorassem efetivamente um estmulo constate para guardar energia e sinalizar que um estmulo est mudando. Quando cessa o estmulo constante, os neurnios adaptados disparam uma resposta de ricochete, conhecida como ps-descarga.Nesse caso, o estmulo de adaptao o vestido iluminado de vermelho, e Thompson sabe que os neurnios retinais dos espectadores iro ricochetear por uma frao de segundo antes de as luzes se apagarem. O pblico continuar vendo uma imagem residual vermelha na forma da mulher. Em menos de um segundo, um alapo se abre no palco, rapidamente, e o vestido branco, preso levemente ao corpo com velcro e amarrado a cabos invisveis sob o palco, retirado do corpo dela. Depois, as luzes se acendem.Dois outros fatores fazem o truque funcionar. Primeiro, a luz to intensa antes de o vestido ser retirado que, quando apagada, o espectador no consegue perceber os rpidos movimentos dos cabos e o vestido branco desaparecendo sob o palco. A mesma cegueira temporria pode nos dominar quando samos de uma rua ensolarada e entramos em uma loja mal iluminada. Segundo, Thompson faz o truque verdadeiro s depois de o pblico pensar que j acabou. Com isso ele ganha uma vantagem cognitiva importante os espectadores no esto procurando um truque naquele momento crtico, e por isso relaxam brevemente seus olhares atentos.A NOVA CINCIA DA NEUROMGICA

O truque de Thompson ilustra muito bem a essncia da mgica de palco. Os mgicos so, acima de tudo, artistas da ateno e da conscincia. Eles manipulam o foco e a intensidade da nossa conscincia. Isso feito em parte pelo uso de combinaes desconcertantes de iluses visuais (como as imagens residuais), iluses pticas (fumaa e espelhos), efeitos especiais (exploses, tiros falsos, controles de iluminao regulados com preciso), prestidigitao, recursos secretos e artefatos mecnicos (apetrechos).Mas o instrumento mais verstil na bagagem dos truques a capacidade de criar iluses cognitivas. Assim como iluses visuais, as iluses cognitivas mascaram a percepo da realidade fsica. E, de modo diferente, sua natureza no sensorial. Elas requerem funes de alto nvel como ateno, memria e inferncia causal. Com todas essas ferramentas disposio, mgicos experientes tornam praticamente impossvel a percepo dos processos que realmente esto acontecendo dando a impresso de que a nica explicao para os acontecimentos a mgica.Os neurocientistas esto apenas comeando a se inteirar das habilidades dos mgicos em manipular a ateno e a cognio. Obviamente os objetivos da neurocincia so diferentes das intenes dos mgicos; os neurocientistas querem entender o crebro e as bases neurais das funes cognitivas, enquanto os mgicos tm como objetivo principalmente explorar as fraquezas cognitivas. Contudo, as tcnicas desenvolvidas pelos mgicos ao longo de sculos de ilusionismo tambm podem ser instrumentos preciosos nas mos dos neurocientistas, acrescentando e talvez sofisticando os instrumentos j em uso experimental.Os neurocientistas esto se familiarizando com os mtodos da mgica ao submeter a prpria mgica ao estudo cientfico em alguns casos demonstrando pela primeira vez como alguns de seus mtodos atuam no crebro. Estudos feitos at agora sobre a mgica confirmam o que se conhece sobre a cognio e a ateno a partir de trabalhos anteriores na psicologia experimental. Um cnico discutiria essas iniciativas com argumentos como para que mais um estudo que simplesmente confirma o que j conhecido?. Mas crticas desse tipo no consideram a importncia e o propsito dos estudos.Ao investigar as tcnicas de mgica, neurocientistas se familiarizam com mtodos que podem adotar para seus prprios objetivos. Na verdade, acreditamos que a neurocincia cognitiva poderia ter avanado mais rapidamente se os investigadores tivessem explorado mais cedo as instituies dos mgicos. Ainda hoje os mgicos devem ter vrios truques guardados na manga que os neurocientistas no conhecem.Ao usar as ferramentas da mgica, os neurocientistas esperam aprender como desenvolver experimentos mais vigorosos e criar iluses visuais e cognitivas mais eficazes para explorar as bases neurais da ateno e da conscincia. Essas tcnicas no s tornariam possveis os estudos experimentais da cognio com sujeito mais espertos e altamente atentos, mas tambm levariam a diagnsticos e mtodos de tratamento para pacientes que sofrem de dficits cognitivos especficos como dficits de ateno resultantes de traumatismo cerebral, TDAH (transtorno de dficit de ateno com hiperatividade) e mal de Alzheimer, entre outros. Os mtodos da mgica tambm podem ser colocados em prtica para induzir pacientes a se concentrarem nas partes mais importantes de sua terapia, evitando distraes que provocam confuso e desorientao.Os mgicos usam o termo geral despiste (misdirection) para se referir prtica de afastar a ateno do espectador de uma ao secreta. Na linguagem dos mgicos, o despiste leva a ateno do pblico para o efeito, afastando-o do mtodo, do segredo por trs do efeito. Tomando alguns termos da psicologia cognitiva, classificamos o despiste como patente e encoberto. O despiste patente se o mgico direciona o olhar do espectador para longe do mtodo talvez pedindo apenas que o pblico olhe para determinado objeto. Quando o Grande Tomsoni apresenta sua adorvel assistente, por exemplo, ele garante que todos os olhares sobre ela.Mas o despiste encoberto uma tcnica mais sutil; aqui, o mgico tambm afasta o foco de ateno do espectador ou foco de suspeita do mtodo, mas sem necessariamente redirecionar o seu olhar. Sob a influncia do despiste encoberto, os espectadores podem olhar diretamente para o mtodo pro trs do truque sem nenhuma conscincia dele.A neurocincia cognitiva j reconhece pelo menos dois tipos de despiste encoberto. No que chamado de cegueira para a mudana, as pessoas no conseguem perceber que alguma coisa em relao cena diferente de como era antes. A mudana pode ser esperada ou no, mas o trao principal que os observadores no a percebem olhando para a cena a qualquer momento no tempo. Em vez disso, o observador deve comparar o estado ps-mudana com o estado pr-mudana.Muitos estudos mostraram que as mudanas no precisam ser sutis para produzir a cegueira para a mudana. At mesmo alteraes extremas em uma cena visual passam despercebidas se ocorrem durante uma interrupo passageira como uma piscada, um movimento rpido dos olhos (em que o olho ligeiramente salta de um ponto para outro) ou uma cintilao da cena.O vdeo truque das cartas que mudam de cor (color-changing card trick), feito pelo psicolgico e mgico Richard Wiseman da University of Hertfordshire, na Inglaterra, um excelente exemplo do fenmeno (disponvel online em www.youtube.com/watch?v=voAntzB7ExE). Na demonstrao de Wiseman preciso ver para entender os espectadores no percebem mudanas de cor que acontecem fora da rea delimitada pela cmara. Vale notar que, apesar do nome, o vdeo do truque das cartas no usa mgica para provar o que quer.A cegueira por desateno difere da cegueira para a mudana visto que h necessidade de comparar a cena presente com uma cena lembrada. Em vez disso, as pessoas no percebem um objeto inesperado que est completamente visvel bem na frente delas. O psiclogo Daniel J. Simons inventou um exemplo clssico do gnero. Simons e o psiclogo Christopher F. Chabris, ambos da Harvard University, pediram que os observadores contassem quantas vezes um tima de jogadores de basquete passava a bola um para o outro, enquanto ignoravam os passes feitos pro trs outros jogadores. Quando se concentraram na contagem, metade dos observadores no conseguiu perceber que uma pessoa vestindo uma fantasia de gorila passou pela cena (o gorila at pra um pouco no centro da cena e bate no peito). Para criar o efeito, no foi necessrio nenhuma interrupo abrupta ou distrao; a tarefa de contagem era to absorvente que muitos observadores que olhavam diretamente para o gorila nem sequer o perceberam.

ENGANANDO O OLHO OU O CREBRO?

Os mgicos consideram a forma oculta do despiste mais elegante que a forma patente. Mas os neurocientistas querem saber que tipo de mecanismos neurais e cerebrais permitem que um truque funcione. Se o talento artstico dos mgicos deve ser adaptado pela neurocincia, os neurocientistas querem entender que tipos de processo cognitivos so explorados por esse talento.Talvez o primeiro estudo a relacionar a percepo mgica com a medio fisiolgica tenha sido publicada em 2005 pelos psiclogos Gustav Kuhn, da Durham University, na Inglaterra, e Benjamin W. Tatler da University of Dundee, na Esccia. Os dois pesquisadores mediram os movimentos dos olhos de observadores, enquanto Kuhn, que tambm mgico, fazia um cigarro desaparecer jogando-o debaixo de uma mesa. Um de seus objetivos era determinar se os observadores no percebiam o truque porque no estavam olhando na direo certa, no tempo certo, ou porque no prestaram ateno, no importa a direo para onde olhassem. Os resultados foram claros; no fazia diferena para onde olhavam.Um estudo semelhante com outro truque mgica, a iluso da bola que desaparece, traz indcios de que o mgico est manipulando a ateno dos espectadores em um alto nvel cognitivo; a direo do olhar no crucial para o efeito. Na iluso da bola que desaparece, o mgico comea jogando uma bola para cima e pegando-a diversas vezes sem maiores problemas. Depois, na ltima jogada, ele s tem a inteno de arremessar a bola. A cabea e os olhos dele seguem a trajetria ascendente de uma bola imaginria, mas em vez de jogar a bola, ele a esconde na mo secretamente. O que a maioria dos espectadores percebe, no entanto, que a bola (no lanada) sobe e depois desaparece no ar.No ano posterior sua pesquisa com Tatler, Kuhn e o neurologista Michael F. Land, da University of Sussex, na Inglaterra, descobriram que o olhar dos espectadores no aponta para onde eles prprios afirmam ter visto a bola sumir. A descoberta sugere que a iluso no engana os sistemas cerebrais responsveis pelos movimentos dos olhos dos espectadores. Kuhn e Land concluram que, ao contrrio, os movimentos dos olhos e da cabea do mgico foram cruciais para a iluso, porque secretamente redirecionam o foco de ateno dos espectadores (em vez de olhar) para a posio prevista da bola. Os neurnios que responderam ao movimento implcito da bola sugerido pelos movimentos dos olhos e da cabea do mgico encontram-se nas mesmas reas visuais do crebro que os neurnios sensveis ao movimento real. Se o movimento implcito e o real ativam circuitos neurais semelhantes, talvez no seja surpresa que a iluso parea to real.Kuhn e Land criaram a hiptese de que a bola que desaparece deve ser um exemplo do momentum representacional. A posio final de um objeto em movimento que desaparece percebida mais distante ao longo de seu trajeto do que sua real posio final como se a posio prevista tivesse extrapolado a partir do movimento que acabou de acontecer.

MAIS FERRAMENTAS DE TRUQUES

Muitas vezes os espectadores tentam reconstruir truques de mgica para entender o que aconteceu durante o espetculo afinal, quanto mais o observador tenta (e no consegue) entender o truque, mais parece que foi mgica. Por sua vez, os mgicos costumam desafiar o pblico a descobrir seus mtodos, por exemplo, provando que um chapu est vazio ou que o vestido da assistente apertado demais para esconder outro vestido por baixo. Praticamente tudo o que ocorre feito para que a reconstruo seja o mais difcil possvel, por meio do despiste.Mas a cegueira para a mudana e a cegueira por desateno no so os dois nicos tipos de iluses cognitivas que os mgicos tiram do chapu. Suponha que um mgico precise levantar a mo para fazer o truque. Teller, integrante do grupo de ilusionismo conhecido com Penn & Teller, explica que se ele ergue a mo sem nenhum motivo aparente, mais provvel que levante suspeitas do que se fizesse gesto com a mo como arrumar os culos ou coar a cabea que parea natural ou espontneo. Para os mgicos, esses gestos so conhecidos como comunicando o movimento.Suposies no-ditas e informaes implcitas tambm so importantes tanto para a percepo de um truque quanto para sua reconstruo. Os mgicos James Randi (the Amazing Randi) observa que mais fcil convencer os espectadores a aceitar sugestes e informaes implcitas que asseres diretas. Por essa razo, o espectador deve lembrar, na reconstruo, das sugestes implcitas como se fossem provas diretas.Os psiclogos Petter Johansson e Lars Hall, ambos da Universidade de Lund, na Sucia, junto com seus colegas, aplicaram essa e outras tcnicas de mgica no desenvolvimento de uma forma completamente nova de abordar questes neurocientficas.Eles apresentaram pares de figuras de rostos femininos para pessoas novatas em experimentos e pediram que escolhessem o mais atraente. Em algumas tentativas, eles tinham de descrever as razes da escolha. Algumas vezes os pesquisadores usavam uma tcnica de prestidigitao, desconhecida para os sujeitos, aprendida com um mgico profissional chamado Peter Rosengren, para trocar um rosto pelo outro depois de os sujeitos terem feito sua escolha. Assim, para os pares que foram manipulados secretamente, o resultado da escolha do sujeito se tornava oposta inteno que ele tinha anteriormente.Estranhamente, os sujeitos perceberam a mudanas em apenas 26% de todos os pares manuseados. Mais surpreendentemente ainda, quando as pessoas tinham de dizer as razes de duas escolhas de um teste manipulado, confabulavam para justificar o resultado que era o oposto de sua escolha verdadeira. Johansson e seus colegas chamaram o fenmeno de cegueira para a escolha; Sugerindo taticamente, mas de maneira firme, que os sujeitos j tinham feito uma escolha, os investigadores foram capazes de justificar as escolhas at mesmo escolhas que no tinham feito.

LADRO QUE ROBOU SEU CREBRO

Tcnicas para desviar a ateno tambm podem ser apreendidas a partir das habilidades dos batedores de carteira. Esses ladres, que geralmente agem em lugares pblicos abarrotados, confiam amplamente no desvio de ateno baseado em aspectos sociais contato pelo olhar, contato corporal e invaso do espao pessoal da vtima, ou alvo. Batedores de carteira tambm movem suas mos de forma distinta dependendo do propsito existente.Eles podem completar um caminho curvo com as mos se quiserem atrair a ateno do alvo para toda a trajetria do movimento, ou podem fazer um caminho rpido e linear se querem tirar a ateno do trajeto e rapidamente mudar a ateno do alvo para a posio final.As bases neurocientficas dessas manobras so desconhecidas, mas nosso colaborador Apollo Robbins, batedor de carteira profissional, ressaltou que dois tipos de movimentos so essenciais para desviar a ateno do alvo de modo eficaz. Assim foram propostas diversas explicaes possveis e passveis de teste.Uma proposta que os movimentos curvos e retos da mo ativam dois sistemas de controle distintos no crebro para mover os olhos. O sistema de busca controla os olhos quando eles seguem objetos que se movimentam suavemente, enquanto o sistema sacdico controla os olhos por meio do sistema de busca do alvo, e os movimentos rpidos e retilneos podem levar o sistema rpido dos olhos a assumir o controle.Assim, se o sistema de busca do alvo fixado na trajetria curva da mo do batedor de carteiras, o centro da viso do alvo pode ser desviado do lugar onde se esconde o ladro. E se os movimentos rpidos e retilneos ativam o sistema sacdico do alvo, o batedor tem a vantagem de a viso do alvo ser suprimida enquanto o olho salta de um ponto ao outro. (O fenmeno bem conhecido nas cincias da viso como supresso sacdica.)Outra explicao possvel para os deslocamentos distintos das mos que os movimentos curvos podem ser perceptivelmente mais visveis que os lineares, e por isso chamam mais ateno. Se for verdade, somente o sistema de ateno do crebro e no qualquer sistema de controle para os movimentos dos olhos afetado pelo desvio de ateno manual do batedor de carteiras.Nossos estudos anteriores mostram que as curvas e os cantos dos objetos so mais salientes e geram uma atividade cerebral mais intensa que extremidades retas. possvel que isso se deva ao fato de curvas e cantos acentuados serem menos previsveis e redundantes (e, portanto, mais curioso e informativos) que extremidades retas. Pelo mesmo padro, trajetrias curvas so menos redundantes, e por isso mais salientes que as retilneas. As possibilidades de usar a mgica como fonte de iluso cognitiva no isolamento de circuitos neurais responsveis por funes cognitivas especficas parecem interminveis.CONSCINCIA NO CREBRO CONDICIONADO

Neurocientistas recentemente se apropriaram de uma tcnica da mgica que faz com que voluntrios associem dois eventos como causa e efeito enquanto imagens de seu crebro eram gravadas. Quando o evento A precede o evento B, geralmente conclumos que, de um jeito certo ou errado, A causa B. o mgico habilidoso aproveita-se dessa predisposio ao certificar-se de que o evento A (digamos, derramar gua em uma bola) sempre precede o evento B (a bola desaparecer). Na verdade, A no causa B, mas sua aparncia anterior ajuda o mgico a fazer com que seja dessa forma. Psiclogos cognitivos chamam esse tipo de efeito de correlao ilusiria.Em um estudo feito em 2006 por Kuhn e pelos neurocientistas cognitivos Bem A. Parris e Tim L. Hodgson, ambos da University of Exeter, na Inglaterra, foram exibidos vdeos de truques de mgica que envolviam violaes aparentes de causa e efeito para sujeitos submetidos a ressonncia magntica. As imagens do crebro dessas pessoas foram comparadas com as de um grupo de controle: pessoas que assistiram a vdeos sem violao de causa aparente. Os pesquisadores descobriram uma ativao maior no crtex cingulado anterior entre os sujeitos que assistiram truques de mgica que entre os controles. A descoberta sugere que essa rea do crebro pode ser importante para interpretar as relaes causais.O trabalho de Kuhn e de seus colegas s d os primeiros indcios do poder das tcnicas de mgica para manipular a ateno e a conscincia durante o estudo da psicologia cerebral. Se os cientistas aprenderem a usar os mtodos da mgica com a mesma habilidade dos mgicos profissionais, tambm sero capazes de controlar a conscincia de modo preciso e em tempo real. Se relacionarem o contedo dessa conscincia com o funcionamento dos neurnios, tero os meios para explorar alguns mistrios da prpria conscincia.