MANEJO DA VACA LEITEIRA NO PERÍODO TRANSIÇÃO

download MANEJO DA VACA LEITEIRA NO PERÍODO TRANSIÇÃO

of 24

Transcript of MANEJO DA VACA LEITEIRA NO PERÍODO TRANSIÇÃO

MANEJO DA VACA LEITEIRA NO PERODO TRANSIO E INCIO DA LACTAO1

Professor Doutor do DZO-UEM, bolsista do CNPq E-mail: [email protected] , 2Zootecnista, M.Sc., Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Zootecnia - UEM - Maring - PR

Geraldo Tadeu dos Santos1, Fbio Luiz Bim Cavalieri2, Jlio Csar Damasceno1

1. INTRODUO As vacas que entram no perodo de transio trs semanas antes at trs semanas depois do parto, esto numa fase crtica. As mudanas que ocorrem durante este perodo as impem enormes demandas fisiolgicas. As prticas de alimentao e manejo usadas nas ltimas semanas de gestao afetam profundamente a incidncia de doenas no incio do perodo de lactao (Olson, 2002). Desta forma, neste artigo iremos discorrer alguns dos pontos importantes da alimentao e manejo da vaca em transio e incio da lactao.

2. MANEJO NUTRICIONAL NO PERODO SECO Uma das melhores maneiras para revertermos o quadro da produo leiteira atual a adoo correta das tcnicas alimentares especficas para cada fase do processo produtivo, dentre estas podemos destacar as vacas secas, que na maioria das vezes so esquecidas pelos produtores, pois, por elas no estarem lactantes, no contribuem para o aumento direto do lucro lquido da propriedade. O programa das vacas secas inicia o prximo ciclo de lactao, exercendo uma grande influncia na ocorrncia de desordens metablicas (cetose, deslocamento de abomaso, sndrome da vaca gorda e febre do leite), na mudana da condio corporal, no fornecimento de nutrientes necessrios ao rpido crescimento do feto e na otimizao da reproduo na prxima lactao. Desta forma um correto programa de vacas secas resultaria em um adicional de 200 a 1400 litros de leite na lactao posterior.

O perodo seco deve durar 60 dias a fim de permitir uma boa regenerao das clulas epiteliais desgastadas, um bom acmulo de colostro e assegurar um bom desenvolvimento do feto, bem como completar as reservas corporais, caso estas ainda no tenham ocorrido. Assim sendo, as vacas no perodo seco devem ser agrupadas em dois grupos bem distintos: o primeiro grupo abrange todos os animais que iniciam o perodo de repouso, que vai da primeira a quinta ou sexta semana, enquanto que o segundo grupo abrange os animais nas duas ou trs ltimas semanas que antecedem o parto. Uma das maiores razes que explica a necessidade e a vantagem de se ter dois grupos diferentes para as vacas secas, a de que se deve levar em conta a diminuio do consumo entre os dois grupos. Deste modo, no incio do perodo seco os animais podem ser alimentados com uma pastagem de boa qualidade, feno, silagem e ou a combinao destes, no entanto, no final do perodo seco onde ocorre um grande aumento no crescimento fetal, existe uma elevao da presso interna nos rgos digestivos, diminuindo desta forma o espao ocupado pelos alimentos, este fato, associado com a grande variao hormonal no perodo pr-parto, ou seja, um aumento nas concentraes sangneas de estrgeno e corticodes e uma queda nas concentraes de progesterona (Chew et al., 1979), reduz o consumo de matria seca em at 30%, predispondo o animal a um balano energtico negativo (Figura 1), com isso aumenta o catabolismo de gordura elevando as concentraes de cidos graxos no esterificados em 2 ou 3 vezes na circulao (Grum et al., 1996; Van Saum, 2000), estes por sua vez, sero posteriormente acumulados no fgado podendo causar problemas metablicos e diminuindo a posterior produo leiteira.

2

Parto

FIGURA 1. Ingesto de matria seca (DMI) predita para vacas (Cow) e novilha (Heifer) durante as 3 semanas antes do parto (Day Relative to Calving)Fonte: Grum et al. (1996).

Uma das medidas bsicas a ser tomada a elevao da densidade energtica da dieta no final do perodo seco (aproximadamente 21 dias antes do parto), aumentando conseqentemente a relao concentrado : volumoso, compensando desta forma a reduo no consumo dos alimentos (Figura 2). Aumentando a densidade energtica da dieta de 1,30 para 1,61 Mcal ELL / kg de MS e a protena bruta de 12,2 para 16,2% durante os 26 dias pr-parto resultou em maior ingesto de energia durante os 14 ltimos dias pr-parto (21 vs 15 Mcal ELL/dia) e reduziu a gordura no fgado (9,0 vs 15,0 mg/ g de tecido seco) (Dyk et al., 1995 e Vandehaar et al., 1995).

Parto FIGURA 2. Densidade de Energia Lquida lactao estimada (NEl) em dietas de vacas (Cows) em e novilhas (Heifers) durante as 3 semanas antes do parto.

3

O aumento do consumo de concentrado, alm de adaptar os microrganismos do rmen a uma dieta rica em amido, favorece o desenvolvimento das papilas ruminais (pequenas projees em forma de dedo na parede ruminal) de 0,5 cm a 1,2 cm aproximadamente. As papilas so responsveis pela absoro dos cidos graxos volteis e 50% da rea de absoro do rmen pode ser perdida durante as primeiras 7 semanas do perodo seco. A elongao das papilas aps a reintroduo do concentrado leva algumas semanas (NRC, 2001). O crescimento das papilas aumenta a superfcie de contato do rmen possibilitando uma maior absoro dos cidos graxos volteis, promove pequena variao no pH ruminal e diminuio do risco de acidose no incio da lactao, onde grandes quantidades de gros so introduzidas na dieta. Atualmente existe um substancial interesse em suplementar as vacas com gordura no perodo de transio. Diferente dos concentrados o aumento da densidade energtica da dieta com a adio de gordura no parece aumentar a ingesto de matria seca, diminuir desordens metablicas ou aumentar a performance da posterior lactao. De acordo com Grummer (1999) o fornecimento de gordura na dieta durante o perodo seco inteiro pode ter diferentes efeitos no metabolismo do que durante as ltimas 3 semanas antes do parto. Recentes pesquisas tm mostrado que o aumento no fornecimento de protena na dieta pode ter um efeito benfico, principalmente porque mantm as reservas proticas do animal, diminuindo a suscetibilidade s desordens metablicas, mas no devemos esquecer de atender as exigncias em protenas no degradveis no rmen (Tabela 1).

4

Tabela 1. Exigncias nutricionais sugeridos (em 100 % de MS) para vacas no perodo seco (PS).Vacas secas Grupo I(Primeiras cinco semanas do PS)

Grupo II(Trs ltimas semanas anteriores ao parto)

Consumo de MS (Kg/dia) ELL (Mcal/Kg)1 Gordura (%) Protena bruta (%) PNDR2(% da PB) FDA3(%) FDN4(%) FDN5- Forragem (%) CNF6 (%) Clcio (%) Magnsio (%) Fsforo (%) Potssio (%) Enxofre (%) Sdio (%) Cloro (%) BCA7 (meq/Kg) Vitamina A (UI/dia) Vitamina D (UI/dia) Vitamina E (UI/dia)

13,0 1,35-1,47 3 12-13 20-25 30 40 30 30 0,55 - 0,60 0,14 - 0,16 0,27 - 0,30 0,60 - 0,65 0,18 - 0,22 0,11 - 0,12 0,16 - 0,20 100.000 30.000 1.170 - 1.200

10-11 1,5-1,55 4 14-15 25-32 25 35 24,00 34 0,50 (1,20)* 0,22 (0,40)* 0,30 (0,40)* 0,68 (0,65)* 0,22 (0,40)* 0,15 (0,05)* 0,22 (0,80)* < 0 (-150) 100.000 - 120.000 24.200 - 30.000 1.000 - 1.100

Micronutrientes adicionado a todas as dietas: zinco = 1.000 mg; cobre = 250 mg; mangans = 1.000 mg; selnio = 3 a 6 mg; iodo = 12 mg; ferro = 500 mg e cobalto = 2 mg. 1 ELL = Energia Lquida Lactao 2 PDR = Protena no degradvel no rmen; 3 Fibra em detergente cido; 4 Fibra em detergente neutro; 5 Fibra em detergente neutro oriunda das forragens 6 Carboidrato no fibroso; 7 Balano ction-aninica; *Os valores entre parnteses referem-se as concentraes para quando for utilizado sais aninicos. Adaptado de Oetzel (1993), NRC (1989), NRC (2001).

A adio de 0,45 0,70 kg de gordura na dieta pode aumenta a ingesto de energia pelo animal (Hutjens et al., 1996), isto pode ser feito fornecendo aos animais de 2 ao no mximo 3 kg/vaca/dia de caroo de algodo ou soja em gro. Quantidades maiores destes alimentos podem provocar uma diminuio na ingesto de matria e teor de gordura no leite (Palmquist, 1993). Vitaminas, minerais e outros aditivos so bastante teis na alimentao das vacas secas. A niacina que um termo genrico do cido nicotnico faz parte do sistema de coenzimas que atua no metabolismo de carboidratos, lipdeos, protena, formao de ATP e regulao enzimtica, desta forma a utilizao de niacina na dieta pode prevenir a cetose, diminuindo a formao de cidos graxos no esterificados, mantendo o nvel de glicose no sangue e o 5

consumo de matria seca (Hutjens, 1992). A recomendao atual fornecer de 6 a 12 gramas de niacina por dia, iniciando 21 dias antes da data provvel do parto at o 30 dia de lactao, principalmente para vacas de alta produo (> 32 Kg leite/dia) e vacas de primeira cria produzindo acima de 25 Kg/dia, bem como as vacas obesas. Assim como a niacina, o propilenoglicol pode ser fornecido na base de 150 a 200 g/dia, pois o mesmo convertido em glicose no fgado, diminuindo a cetose e a formao do fgado gordo (Remond et al., 1984). Devemos ainda considerar que a imunidade das vacas menor no perodo pr-parto e no incio da lactao, onde o aparelho reprodutivo ainda se encontra aberto e as taxas de infeco de mastite so altas, com isso o fornecimento de vitamina E, zinco, cobre e selnio pode ser benfico evitando problemas como mastite e reteno de placenta. Feno ou outro volumoso com bolor, no deve ser fornecido as vacas, pois pode afetar o sistema imunolgico e a resistncia doenas das mesmas. No incio da lactao, principalmente em vacas de alta produo, existe um elevado fluxo de clcio para a glndula mamria, reduzindo o teor de clcio sangneo e como conseqncia predispe a vaca uma hipocalcemia, o que afeta at 75% das vacas de alta produo, segundo estudos realizados na Flrida e no Colorado (EUA). Nveis reduzidos de clcio no sangue pode levar a reteno de placenta, involuo uterina ineficiente, diminuio na contrao do msculo liso e um aumento na incidncia de deslocamento do abomaso. Desta forma, a utilizao de sais aninicos no pr-parto pode evitar a hipocalcemia aumentando a mobilizao de clcio nos ossos (Tabela 2). No entanto, devemos ter cuidado pois os sais aninicos no so pode ser necessria. palatveis podendo reduzir o consumo de alimento, logo a utilizao de palatabilizantes

6

TABELA 2. Efeito da diferena ctionnion da dieta durante o pr-parto na incidncia de febre do leite.Autor Dishington (1975) Block (1984) Oetzel (1988) Gaynor (1989) Beede (1992) DCAD* (meq/ 100gr de MS)1 -11,90 -2,20 +34,60 -12,90 +33,10 -7,50 +18,90 +22,0 +60,0 +126,0 -25,0 +5,0 Nmero de animais 6 6 14 19 19 24 24 5 6 6 260 250 Febre do leite (%) 17 0 86 0 48 4 17 0 33 17 4 9

*DCAD = Diferena Ction-Aninica da Dieta dada em milequivalente / 100 gramas de matria seca. Fonte: Beede (1992).

A Tabela acima mostra que houve reduo significativa no aparecimento da febre do leite, toda vez que se administrou dieta aninica no pr-parto as vacas leiteiras. Um outro ponto importante que deve ser levado em considerao a condio corporal das vacas prximo ao parto. Na Fazenda Experimental de Iguatemi da UEM, adotado o mtodo de avaliao da condio corporal de 1 (muito magra) e 5 (muito gorda). Sendo que para o parto o ideal que a vaca se apresente com escore de 3,5 a 3,75. Desta forma, as vacas bem condicionadas consomem mais alimentos, logo aps o parto, no necessitando assim mobilizar grandes reservas corporais (Mattos, 1995). Inmeras pesquisas tm mostrado que vacas supercondicionadas consomem menos alimentos no pr-parto e no ps-parto, apresentando uma alta incidncia de problemas metablicos, existindo uma alta correlao entre condio corporal no pr-parto e consumo de matria seca no dia 1 e 21 psparto. Grummer (1995) verificou que o supercondicionamento no momento do parto foi correlacionado negativamente com a ingesto de matria seca 21 dias ps-parto. Esta constatao vai alm de afetar a ingesto de matria seca, pois os dados de Domecq et al. (1997), apontam para uma queda de produo de leite nos primeiros 120 dias de lactao para as vacas supercondicionadas. Na 7

Figura 3 podemos verificar que vacas magras (escore 3) e moderado (escore entre 3 e 4) mantiveram a ingesto de alimentos at os dias prximos ao parto quando comparado s vacas obesas (escore > 4) (Grummer, 1999). Logo, a obesidade pode ter efeito to nefasto quanto falta de condio corporal no momento do parto.

Semanas antes do parto

FIGURA 3. Ingesto de matria seca (DMI) predita para vacas variando a condio corporal nas ltimas 3 semanas antes do parto (Thin = magra; Moderate = moderada e Obese = gorda).

Podemos concluir que uma boa alimentao das vacas secas otimizar a rentabilidade e a sade do rebanho.

3. MANEJO NUTRICIONAL NO INCIO DA LACTAO As vacas recm-paridas tm que proporcionar rendimentos elevados. Depois do parto, se espera que as fmeas bovinas leiteiras atinjam o pico da produo rapidamente e que concebam uma nova cria nos primeiros 85 dias de lactao. Isto se constitui num formidvel desafio. Alm do que, a capacidade de uma vaca para alcanar esta meta aumenta com um adequado manejo nutricional durante o perodo de transio de seis semanas (Olson, 2002). Uma srie de adaptaes fisiolgicas ocorre nas vacas leiteiras no incio da lactao, objetivando sempre a produo de leite em detrimento a outras atividades metablicas, tais como: a mantena, o crescimento e a atividade 8

reprodutiva. Essas caractersticas esto relacionadas com as mudanas nas concentraes sricas hormonais favorecendo o suprimento de nutrientes para a glndula mamria em detrimento a outros tecidos (Matos, 1995) comumente chamado de homeorrese (Bauman & Currie, 1980). Dentre as adaptaes poderamos mencionar um aumento na ingesto de matria seca, produo de leite, atividade enzimtica do tecido heptico (Aiello et al., 1984) e no suprimento de precursores gluconeognicos (Baiard et al., 1980). Segundo Beede (1998) as dietas para vacas de alta produo e no incio de lactao deveriam conter de 1,72 a 1,74 Mcal ELL/kg de matria seca. O NRC (2001) preconiza 17 a 21% de FDA e 28% de FDN. Logo aps o parto a ingesto de matria seca aumenta dia aps dia at chegar ao ponto mximo por volta da 10a. a 12a. semana de lactao, enquanto o pico de produo de leite ocorre por volta de 4 a 6 semanas ps-parto (NRC, 1989). Esta diferena na curva de produo de leite e ingesto de matria seca faz com que o animal experimente, durante um perodo de 60 dias, um desequilibro nutricional negativo (Santos et al., 1993), devido mobilizao de reserva corporal acumulada no final da lactao ou perodo seco, alguma protena muscular e ou clcio dos ossos (Matos, 1995) (Figura 4).

FIGURA 4. Balano energtico da vaca leiteira durante um ciclo produtivo.

9

Portanto, uma vaca ao parto dever ter reserva, em torno de 10% de seu peso a fim de fazer face ao dficit nutricional comum no incio da lactao. A fase mais crtica na vida da vaca leiteira se situa nos primeiros 21 dias de lactao, onde ocorre a maior intensidade de mobilizao de gordura e em menor proporo protena corprea, principalmente tratando-se de vacas de alta produo (Chilliard et al., 1983). Uma vaca de 600 kg de PV dever ter um adicional de 60 kg de reservas corporais. Cada kg de PV corresponde em torno de 5 mcal de energia lquida lactao e 320 gramas de protena. Levando-se em conta que as necessidades de produo de um quilo de leite se situam a 0,74 mcal de energia lquida lactao e 90 gramas de protenas brutas (PB), esta vaca tem em reserva o equivalente a 405 kg de leite (base energia), ou seja (60 x 5/0,74) e em torno de 213 kg de leite com base na protena (60 x 320/90) (NRC, 1989). Com isso, a vaca de alta produo possui quase 2 vezes mais reservas energticas do que reservas proticas (Santos et al., 1993). A perda de peso vivo da vaca no incio da lactao est intimamente ligada com a capacidade individual de produo, uma vez que o animal mobiliza a sua reserva corporal para alcanar o seu potencial de produo, resultando em perdas de peso considerveis (Tabela 3). TABELA 3. Variao de peso vivo da vaca leiteira no incio da lactao em funo de sua produo mximaProduo de leite no pico (kg/dia) 20 25 30 35 40Fonte: INRA (1978).

Perda de peso vivo (kg) 15 15-25 35 50 70

Assim sendo, a avaliao regular da condio corporal dos animais uma das melhores formas de controlar o desempenho dos animais em lactao e com isso fazer os ajustes nutricionais necessrios (nvel de energia, protena, minerais e vitaminas) para cada fase da lactao.

10

Portanto, na primeira fase de lactao a perda de peso vivo deve ser inferior a 1 kg/dia; ou o equivalente a uma unidade no escore de condio corporal (escala de 1 a 5) aproximadamente 57 kg do peso corporal nos primeiros 60 dias ps-parto (Chase, 1992). Para se ter uma idia do total de leite que uma vaca deixa de produzir, em funo da m condio corporal ao parto (abaixo do escore 3), basta multiplicar o valor da produo de leite obtida no pico da lactao pelo ndice 230 para vacas e 250 para novilhas. Teremos assim, o potencial de produo do animal, que ao ser confrontado com a produo real obtida no final da lactao, nos d uma idia do quanto vaca deixou de produzir em funo da sua condio corporal (Soberanes, 1989). Imediatamente aps o parto, as necessidades nutricionais das vacas so bem mais elevadas: a composio qumica da rao total (volumoso + concentrado) da vaca de alta produo, em lactao deve estar por volta de 16 a 18% de protena bruta, 17 a 22% de FDA e abaixo de 30% de FDN (CPAQ, 1987; NRC, 1989; NRC, 2001). Todavia, necessrio ficar atento a degradabilidade de protena e a qualidade em aminocidos, pois nesta fase a exigncia de protena no degradvel no rmen (PNDR) da ordem de 35% e a de protena degradvel de 65%. Nos primeiros 21 dias de lactao, o NRC (1989) sugere que as dietas sejam ainda mais adensadas, da ordem de 18,5 a 19% de PB e 38-40% PNDR, objetivando compensar a baixa ingesto de matria seca. Desta forma, dietas com excesso de PB e/ou PDR, falta de carboidratos fermentveis, ou sincronia de degradao da protena e a disponibilidade de energia, promove grande concentrao de uria no sangue e excreo de uria no leite e urina (Fergunson & Chalupa, 1989; Garcia-Bojalil et al., 1998). Quando a dieta deficiente em protenas, ocorre uma diminuio de albumina que persiste por 2 a 3 semanas no ps-parto, sendo que alguns autores sustentam que no s a deficincia de protenas na dieta, mas a demanda de aminocidos para a sntese de protenas no leite, reduz a sntese de outras protenas e por isto as concentraes de albumina e hemoglobina diminuem na medida em que a lactao avana (Wittwer, 2000). Contreras (2000) afirma que a diminuio das concentraes de albumina produzida pela reduo da capacidade de sntese no fgado, devido ao acmulo de gordura que este rgo sofre no incio da lactao. 11

Baixas concentraes de albumina esto associadas com a baixa produo de leite no somente em quantidade, mas tambm em qualidade, com baixo teor de slidos no-gordurosos (Payne e Payne, 1987). Nos rebanhos em que as concentraes de albumina esto dentro do intervalo de referncia (29 a 41 g/L) por volta das 10 semanas ps-parto, observa-se uma maior produo de leite no perodo de lactao e melhor fertilidade que nos rebanhos em que estas concentraes se mantm diminudas (Contreras, 2000). Tradicionalmente, o leite tem sido pago com base no volume e porcentagem de gordura. O diferencial de preo para porcentagem de gordura tem passado por alguns questionamentos nos ltimos anos medida que tem declinado, de forma cclica, o consumo de leite fludo e de gordura nele contido. Porm, ironicamente, tem aumentado o consumo de produtos lcteos com valor agregado com nveis mais elevados de gordura, dando o equilbrio necessrio para o escoamento da gordura do leite. Todavia, medida que o leite mais apreciado por sua concentrao em protena, especialmente com o crescimento do consumo de leite in natura, cada vez mais, em muitas partes do mundo, se tem levado em conta a componente protena presente no leite (Kertz, 2002).

4. MONITORAMENTO DO PERFIL METABLICO Uma outra ferramenta que poderia ser utilizada para avaliar um animal individual ou rebanho associado com o status nutricional o perfil metablico dos animais. Por exemplo concentrao de cidos graxos no esterificados (AGNE) est diretamente correlacionada com a intensidade do balano energtico negativo (Van Saun, 2000). A concentrao de AGNE no soro o resultado da quebra da gordura corporal em resposta ao balano energtico negativo. Alta concentrao de AGNE na circulao devido ao intenso balano energtico negativo resulta em um acmulo de gordura, o qual est associado com alta incidncia de desordens metablicas (Cameron et al., 1998). Valores referncia esto demonstrados na Tabela 4.

12

TABELA 4. Valores referncia para a concentrao de colesteris totais e cidos graxos no esterificados no soro de vacas secas e no incio da lactao. Metablito no soro Colesterol total (mmol/L) AGNE (mEq/L)Fonte: Van Saun (2000).

Incio do perodo seco >2,07 1,94 2,58