Mapeamento Multitemporal da Bacia do Rio Bagagem MG · criada uma composição falsa cor RGB com as...

16
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo ISBN 978-85-68242-51-3 115 EIXO TEMÁTICO: ( ) Arquitetura Bioclimática, Conforto Térmico e Eficiência Energética ( ) Bacias Hidrográficas, Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos ( ) Biodiversidade e Unidades de Conservação ( ) Campo, Agronegócio e as Práticas Sustentáveis ( ) Clima, Ambiente e Saúde ( ) Desastres, Riscos Ambientais e a Resiliência Urbana ( ) Educação Ambiental e Práticas Ambientais ( ) Ética e o Direito Ambiental ( X) Geotecnologias Aplicadas à Análise Ambiental ( ) Novas Tecnologias e as Construções Sustentáveis ( ) Patrimônio Histórico, Turismo e o Desenvolvimento Local ( ) Saúde Pública e o Controle de Vetores ( ) Saúde, Saneamento e Ambiente ( ) Segurança e Saúde do Trabalhador ( ) Urbanismo Ecológico e Infraestrutura Verde Mapeamento Multitemporal da Bacia do Rio Bagagem-MG Mapping multitemporal of river basin’s Bagagem-MG Mapeo multitemporal de La cuenca Del rio Bagagem-MG Laís Naiara Gonçalves dos Reis Professora Doutora, UEG, Brasil [email protected] Marco Túlio Martins Professor Doutor, UEG, Brasil [email protected] Daniela Almeida Rosa Professora Especialista, UEG, Brasil [email protected]

Transcript of Mapeamento Multitemporal da Bacia do Rio Bagagem MG · criada uma composição falsa cor RGB com as...

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

115

EIXO TEMÁTICO:

( ) Arquitetura Bioclimática, Conforto Térmico e Eficiência Energética

( ) Bacias Hidrográficas, Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos

( ) Biodiversidade e Unidades de Conservação

( ) Campo, Agronegócio e as Práticas Sustentáveis

( ) Clima, Ambiente e Saúde

( ) Desastres, Riscos Ambientais e a Resiliência Urbana

( ) Educação Ambiental e Práticas Ambientais

( ) Ética e o Direito Ambiental

( X) Geotecnologias Aplicadas à Análise Ambiental

( ) Novas Tecnologias e as Construções Sustentáveis

( ) Patrimônio Histórico, Turismo e o Desenvolvimento Local

( ) Saúde Pública e o Controle de Vetores

( ) Saúde, Saneamento e Ambiente

( ) Segurança e Saúde do Trabalhador

( ) Urbanismo Ecológico e Infraestrutura Verde

Mapeamento Multitemporal da Bacia do Rio Bagagem-MG

Mapping multitemporal of river basin’s Bagagem-MG

Mapeo multitemporal de La cuenca Del rio Bagagem-MG

Laís Naiara Gonçalves dos Reis Professora Doutora, UEG, Brasil

[email protected]

Marco Túlio Martins Professor Doutor, UEG, Brasil

[email protected]

Daniela Almeida Rosa Professora Especialista, UEG, Brasil

[email protected]

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

116

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo principal utilizar o processo de classificação semiautomática para o mapeamento multitemporal da bacia do rio Bagagem-MG para os anos de 1985, 1995, 2005 e 2014. A classificação foi realizada utilizando o classificador máxima verossimilhança (maxVer), implementado no software SPRING. Para tal, foram utilizadas as imagens do sensor TM/Landsat 5 e OLI/Landsat 8. Foram aplicadas técnicas de contrastes simples e criada uma composição falsa cor RGB com as bandas 5, 6 e 3. O processo de classificação do algoritmo obedeceu a uma chave de interpretação para as categorias de mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal natural (agricultura, silvicultura, pastagens e vegetação nativa). Para verificar a acurácia do mapeamento foram aplicados diferentes coeficientes de concordância, tais como: Kappa, Tau e precisão do usuário e do produtor. Tendo por base a classificação recomendada para o índice kappa, o mapeamento foi obtido na classe/ qualidade “muito boa” . Sendo assim, os resultados da dinâmica do uso da Terra e cobertura vegetal natural, apresentados nessa pesquisa, podem servir para embasar os estudos da dinâmica regional, bem como compreender a lógica de reprodução dos espaços da bacia do rio Bagagem/MG e entorno, dado que é uma área intensamente explorada por atividades agropecuária e que carece até mesmo de estudos preliminares.

PALAVRAS-CHAVE: rio Bagagem, SPRING, Máxima Verossimilhança, Landsat 8 - OLI.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

117

Introdução

O homem atua como um agente transformador direto da paisagem. Essas modificações variam

ao longo do tempo e espaço, em função do modo de produção do espaço por diferentes

sociedades. Verificar o potencial transformador do homem sobre a paisagem é um válido

esforço na compreensão do funcionamento da mesma. O mapeamento multitemporal do uso

da Terra e cobertura vegetal natural permite diagnosticar a mudança da paisagem de uma

área de estudo em função da dinâmica da região onde está localizada.

O mapeamento convencional de uso e ocupação da Terra é uma tarefa exaustiva e onerosa

dado que a coleta em campo demanda tempo e conhecimento técnico. O Sensoriamento

Remoto (SR) tem sido uma ferramenta útil na solução desse problema, especialmente por

representar áreas de grandes extensões e por apresentar custo relativamente baixo. De forma

sucinta, o SR pode ser entendido como o processo de coleta de informações espectrais de um

determinado alvo/objeto sem a necessidade de contato físico entre objeto e sensor. Cada alvo

possui uma assinatura espectral própria, tornando possível sua identificação em

produtos/imagens do sensoriamento remoto (NOVO, 2008).

A identificação e extração de alvos visando precisão e redução do tempo de processamento é

um desafio constante no processo de mapeamento. As técnicas comumente utilizadas nessa

tarefa, tais como classificação, segmentação e filtragem de imagens digitais estão em

constante avaliação e aprimoramento, dado a variabilidade espacial, espectral, temporal e

radiométrica das imagens de SR. A classificação de imagens é subdivida em supervisionada e

não-supervisionada. Na primeira, o analista (peopleware) deverá fornecer amostras de cada

alvo de interesse na imagem para calibração do algoritmo utilizado. É importante que as

amostras de treinamento sejam representativas da classe correspondente para que se tenha

um produto final de qualidade. Na segunda, o algoritmo, por si só, reunirá as informações de

pixels semelhantes (de acordo com um critério) em classes homogêneas (CROSTA, 1992).

O uso da classificação de imagens para a estimativa dos alvos de uma região é uma ferramenta

importante para o planejamento e gestão ambiental, pois permite obter informações

quantitativas e qualitativas de uma área extensa, de forma rápida e em diferentes períodos,

facilitando as atividades de monitoramento e servindo de fonte de dados para os estudos

ambientais.

Este trabalho possui como objetivo o mapeamento multitemporal do uso da Terra e cobertura

vegetal natural da bacia do rio Bagagem/MG, por meio do uso de técnicas de classificação de

imagens, para colaborar com os estudos socioambientais da região, disponibilizando a

estimativa de áreas de pastagens, agricultura, silvicultura e vegetação nativa para os anos de

1985, 1995, 2005 e 2014.

Caracterização da área de estudo

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

118

A bacia do rio Bagagem está localizada na porção oeste do estado de Minas Gerais, localizada

entre as coordenadas geográficas de 18°33’45’’S/47°56’15’’W e 18°56’15’’S/47°26’15’’W,

abrangendo oito municípios da mesorregião do Alto Paranaíba/Triângulo Mineiro: Cascalho

Rico, Estrela do Sul, Grupiara, Iraí de Minas, Monte Carmelo, Nova Ponte, Romaria e

Patrocínio. (Fig.1).

Figura 1. Localização da área de estudo: Bacia do rio Bagagem-MG.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

119

Esse rio pertence à sub-bacia do Rio Paranaíba, que se localiza na Bacia do Rio Paraná. A

nascente está no município de Patrocínio/MG e a sua foz está localizada no Reservatório da

Usina Hidrelétrica de Emborcação, sobre o Rio Paranaíba. A área ocupada pela Bacia é de

1.344 Km² e seu curso total é de 111 km, contado da nascente até o seu deságue, no

Reservatório da Usina Hidrelétrica de Emborcação. Possui grande quantidade de afluentes de

pequeno e médio porte.

A área de estudo está inserida no Bioma Cerrado, caracterizado por uma dinâmica climática

específica (duas estações bem definidas), com verão chuvoso e inverno seco. Possui média

anual de precipitação de 1.500 mm por ano, com média térmica de 18°C no inverno e 22 ° C no

verão. Apresenta contraste na hipsometria de 300 m a 1.600 m. A maior parte desse bioma

está localizada no Planalto Central Brasileiro sendo o segundo do país em extensão. O Cerrado

apresenta diferentes fitofisionomias ao longo do seu espaço, tais como: mata ciliar, mata de

galeria, mata seca, cerradão, cerrado sentido restrito, parque de cerrado, palmeiral, vereda,

campo sujo, campo limpoe campo rupestre (RIBEIRO; WALTER, 2008).

O arcabouço geológico da área de estudo é composto por rochas magmáticas e sedimentares

do Grupo São Bento, sendo que a Formação Serra Geral está recoberta pelos arenitos da

Formação Adamantina e os conglomerados de calcário da Formação Marília do Grupo Bauru.

Ainda na foz da bacia é possível encontrar rochas do Pré-Cambriano Inferior do Grupo Araxá

(NISHIYAMA, 1989).

Essa litologia em conjunto com os processos exógenos, isto é, de denudação do relevo,

possibilitaram a divisão da bacia em dois compartimentos geomorfológicos: áreas dissecadas

com vertentes curtas e longas, que são aquelas entalhadas pelo rio Bagagem e seus afluentes,

sobretudo onde há maior densidade de canais de primeira ordem e topos planos que

caracterizam as Chapadas, áreas de recarga da bacia (BACARO, 1991).

Os solos da região são resultantes da interação do clima, geologia e geomorfologia. De forma

generalizada, os solos da bacia do rio Bagagem inserem-se no grupo dos Latossolos. Podem ser

encontrados outros solos na bacia, tais como Neossolos Quartizarrênicos, Neossolos litólicos e

os Gleissolos (EMBRAPA, 2009).

Material e Método Para identificação dos alvos da bacia do Rio Bagagem foram utilizadas imagens de

ponto/órbita 220/73 dos sensores TM/Landsat 5 para os anos de 1985, 1995 e 2005 e

OLI/Landsat 8 para o ano de 2014. O quadro 1 apresenta a data das imagens utilizadas.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

120

Quadro 1- Imagens utilizadas no mapeamento multitemporal da bacia do Rio Bagagem/MG.

Sensor Ponto/ór

bita Data Bandas Espectrais (m)

Resolução

Espacial (m)

OLI/Landsat 8 220/73 12/06/2014

B3(0.53 – 0.59), B5(0.85 – 0.88) e

B6(1.57 – 1.65) 30

TM/Landsat 5 220/73 01/08/2005 B3(0.63-0.69), B4(0.76-0.90) e B5(1.55-1.75) 30

TM/Landsat 5 220/73 18/05/1995 B3(0.63-0.69), B4(0.76-0.90) e B5(1.55-1.75) 30

TM/Landsat 5 220/73 10/08/1985 B3(0.63-0.69), B4(0.76-0.90) e B5(1.55-1.75) 30 Org. REIS (2014)

Estas imagens do Landsat 5 foram disponibilizadas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais) e as referentes ao Landsat 8 foram disponibilizadas pela USGS (United States

Geological Survey). Para o processamento digital das imagens utilizou-se o software SPRING

5.3. A delimitação da bacia do rio Bagagem/MG e elaboração dos layouts dos mapas foram

feitas no ArcGis 10 com lincença disponível no Laboratório de Sensoriamento Remoto e

Fotogrametria do curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica-IGUFU.

Método

As imagens foram georreferenciadas usando como carta base as cartas topográficas do IBGE

na escala de 1:50.000. Para elaboração do shape da bacia do Rio Bagagem utilizou-se o modelo

digital de elevação do SRTM (EMBRAPA). A extração foi feita de forma automática no software

ArcGis 10.0, usando a ferramenta Watersheed. Um segundo shape da bacia foi elaborado

manualmente, para fins de comparação, utilizando as curvas das cartas topográficas do IBGE.

Antes da classificação digital das imagens foi aplicado um contraste simples pelo método de

equalização do histograma e, posteriormente, foi gerada uma composição falsa cor (RGB) com

as bandas (4, 5, 3) do Landsat 5 e (5, 6, 3) do Landsat 8.As composições foram previamente

segmentadas utilizando os parâmetros de similaridade 30 e de área igual a 15. Devido ao bons

resultados, comprovados em diversas pesquisas, optou-se pelo uso do classificador Máxima

Verossimilhança . As amostras para treinamento do algoritmo obedeceram a chave de

interpretação do quadro 2.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

121

Quadro 2- Chave de interpretação para os alvos utilizados no mapeamento da bacia do rio Bagagem/MG.

Uso da Terra em 2000 e2005

Descrição do Uso Padrões característicos de

interpretação Exemplo

Agricultura Áreas utilizadas com culturas anuais

ou perenes;

Textura Lisa, Padrão Geométrico, Tonalidade Azul,

Verde, Laranja e Vermelha.

Pastagem Áreas utilizadas com pastagens

plantadas ou naturais;

Textura média, Padrão Geométrico, Tonalidade

Amarelo, Verde e Vermelha.

Silvicultura Áreas de reflorestamento de Pinus ou

Eucalipto;

Textura rugosa, Padrão Geométrico, Tonalidade

Vermelho escuro.

Cobertura Vegetal Natural

Nesta categoria estão incluídas as áreas de cerrado ou mata;

Textura rugosa, Padrão irregular, Tonalidade Vermelho médio e escuro. Verde médio

(campos úmidos)

Org.REIS (2014)

As classes ou categorias do mapeamento foram agrupadas da seguinte forma:

a) Vegetação nativa: Todas as fitofisionomias do Cerrado presentes na bacia (campos úmidos, campos rupestres, cerrado sentido restrito, cerradão e matas); Campos úmidos: Caracterizado pela presença de área úmida, no qual a maior parte

é ocupada por diversos tipos de vegetação, desde rasteira até arbustiva.

Cerrado e cerradão: O cerrado é uma vegetação arbórea e arbustiva, que ocorre

especialmente nos interflúvios. O cerradão apresenta porte mais alto que o

cerrado sentido restrito.

Mata: constitui a categoria de cobertura arbórea mesofítica, de galeria ou ciliar

que ocupam os vales dos canais de drenagem bem marcados e/ou cabeceiras de

nascentes.

b) Silvicultura: estágio pequeno, médio e clímax de desenvolvimento; c) Agricultura: diferentes estágios fenológicos e tipos de culturas perenes e anuais;

Cultura Anual: áreas que possuem terras preparadas para plantio e que

apresentam rotatividade trienal e/ou semestral.

Cultura Perene: aquelas de ciclo longo.

Cultura Irrigada: áreas de pivôs.

d) Pastagens: áreas de pastagens limpas e pastagens sujas; e) Áreas não classificadas: demais usos, como estradas, reservatórios, manchas

urbanas, etc.

Após a classificação da imagem, utilizou-se as estatísticas Kappa e Tau para testar a

concordância do resultado e a tabela de contingência, isto é, a matriz de erros ou confusão.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

122

Landis e Koch (1977) associam valores de Kappa à qualidade da classificação da seguinte

forma: 0 (Péssimo), 0,001à 2 (Ruim), 0,21 à 0,40 (Razoável), 0,41 à 0,60 (Bom), 0,61 à 0,80

(Muito Bom), 0,81 à 1,00 ( Excelente). Essa estatística é calculada pela equação 1.

Equação 1

( 1 )

Segundo Cohen (1960), o Kappa considera todos os elementos da matriz de erros, medindo o

grau de concordância em escalas nominais, assumindo que: as unidades são independentes, as

classes ou categorias da escala nominal são independentes e mutuamente exclusivas e o

classificador e os pontos de referência operam de forma independente.

O coeficiente de concordância Tau estima a probabilidade a priori, isto é, o que se espera de

um possível erro global, que pode ser estimado antes mesmo de elaborar a matriz de erros.

Esse índice é medido pela equação 2.

Equação 2

( 2 )

Os índices que medem a acurácia do ponto de vista do produtor e do usuário, bem como a

acurácia global são determinados a partir das Equações 3, 4 e 5, respectivamente.

Equação 3

3 )

Equação 4

( 4 )

Equação 5 ∑

( 5 )

Resultados e Discussões

Área da Bacia

A delimitação da área do rio Bagagem/MG foi feita por meio de vetorização das cartas

topográficas do IBGE na escala de 1:50.000 e também de forma automática utilizando o

modelo digital de elevação do SRTM (EMBRAPA). Como

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

123

4.2 Dinâmica do uso da Terra e cobertura vegetal natural da bacia do rio Bagagem/MG

O processo de uso e ocupação da Terra na bacia do rio Bagagem reflete a lógica do processo

agroprodutivo da mesorregião do Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba-MG, que é fruto de um

planejamento político nacional para modernização e industrialização do país. O Cerrado foi

colocado pelo Estado como fronteira para expansão agrícola desde a década de 60. SILVA

(2000) destaca alguns programas do Governo:

Podemos destacar o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba- PADAP; o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados- POLOCENTRO; e o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados- PRODECER, como os principais programas que apresentam o desenvolvimento de novas tecnologias para os Cerrados (SILVA, 2000).

O mapeamento multitemporal do uso da Terra e cobertura vegetal natural (fig. 3) permite

diagnosticar a mudança da paisagem na bacia do rio bagagem em função da dinâmica da

região. As áreas de agricultura estão em expansão substituindo as áreas de pastagens, já as de

vegetação natural aumentaram desde o ano de 2005 (Graf. 1); isso é explicado pela efetiva

política de conservação das áreas de proteção ambiental e o aparato Legal, como o Código

Florestal.

As áreas ocupadas com agricultura aumentaram cerca de 4% em vinte anos, passando de 403

em 2000 para 463 km² em 2014 (tabela 1). Por outro lado, houve uma queda de 11% na área

de pastagens, passando de 553 para 401 km² entre 2000 e 2014. Segundo Genaro e Chelotti

(2010) esse fenômeno está de acordo com a dinâmica da mesorregiãocomo apontado pelo

Censo Agropecuário de 2006, que indica que as áreas de pastagens do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba sofreram uma redução de cerca de 9%. Esses autores afirmam que há um processo

de transição econômica da produção na região, da pecuária para a monocultura (soja, milho,

cana-de-açúcar, entre outras culturas).

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

124

Gráfico 1 – Resultado do mapeamento multitemporal da bacia do rio Bagagem/MG.

Org.REIS (2014)

Tabela 1. Uso da terra e cobertura vegetal nativa da bacia do rio Bagagem/MG.

Categorias 1985 1995 2005 2014

Agricultura 403,8066 446,2407 473,0985 463,5242

Silvicultura 96,8853 81,3551 233,8551 177,9929

Vegetação Natural 221,8023 391,2047 132,2676 250,063

Pastagem 553,5589 297,879 429,42 401,12

Não classificado 68,19 127,5636 75,6019 51,543

Org.REIS (2014)

A partir da década de 90 houve uma expansão da atividade de silvicultura na região que

passou de 81 para 233 km², no período de 1995 à 2005, ou seja, um aumento de 10% em

relação a área plantada em 1985. Essa mudança do uso da Terra reflete a política implantada

na década de 70, cujo Governo estimulou por meio de incentivos fiscais a produção de

florestas para suprir a demanda industrial de carvão, madeira, papel e celulose (CHAGAS,

2002).

0

200

400

600

Agricultura Silvicultura Vegetação Natural Pastagem

Uso da terra e cobertura vegetal nativa da bacia do rio Bagagem-MG (1985, 1995, 2005 e 2014)

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

125

Figura 2. Mapeamento multitemporal da bacia do rio Bagagem/MG.

A vegetação nativa da bacia do rio Bagagem é composta pelas fitofisionomias do Bioma

Cerrado, dentre elas se destacam as áreas de campos úmidos para as Chapadas, e áreas

compostas com matas ciliares ao longo dos canais de drenagem e fragmentos de Cerrado

sentido restrito que estão espalhados pela bacia, sobretudo no compartimento

geomorfológico em que o relevo apresenta rampas com vertentes curtas e/ou longas, uma vez

que são áreas que apresentam menos potencialidade à mecanização.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

126

Avaliação do mapeamento

A Tabela 2 mostra a eficiência do classificador Maxver implementado no software SPRING. A

acurácia do ponto e vista do usuário mostra que as amostras menos sucedidas se enquadram

dentro da categoria da agricultura, onde além das áreas de solo expostos é preciso fornecer

uma quantidade de amostras para cada tipo e estágio fenológico das culturas anuais e

temporárias. Já o menor desempenho do classificador pode ser constado na identificação das

pastagens, em que para todos os anos a exatidão do usuário se deu acima de 90%, porém o

resultado final do classificador não foi tão efetivo. A matriz de erro indicou uma confusão das

áreas de pastagens de aproximadamente 3% dos pixels que foram classificados como

“agricultura”. E em relação às outras categorias (vegetação natural e silvicultura), o resultado

mostra que a amostragem fornecida foi satisfatória.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

127

Tabela 2 - Matrizes de confusão da classificação supervisionada multitemporal da bacia do rio

Bagagem/MG .

1985

Pastagem

Vegetação

Natural Silvicultura Agricultura Abstenção

Acurácia

Usuário

Pastagem 1886 32 0 94 1 93.74%

Vegetação Natural 31 2129 115 64 14 91.02%

Silvicultura 197 138 9383 712 24 89.96%

Agricultura 939 639 1587 5042 256 61.44%

Acurácia Prod. 61.78% 72.46% 84.65% 85.28%

1995

Pastagem

Vegetação

Natural Silvicultura Agricultura Abstenção

Acurácia

Usuário

Pastagem 179 1 0 11 0 93.72%

Vegetação Natural 15 1864 111 17 14 92.87%

Silvicultura 0 112 6968 0 19 98.42%

Agricultura 316 137 0 3869 81 89.52%

Acurácia Prod. 35.10% 88.17% 98.43% 99.28%

2005

Pastagem

Vegetação

Natural Silvicultura Agricultura Abstenção

Acurácia

Usuário

Pastagem 1512 0 89 30 0 92.70%

Vegetação Natural 2 1530 46 190 1 86.54%

Silvicultura 801 2049 472 10187 4 75.41%

Agricultura 421 1215 5358 1175 290 65.59%

Acurácia Prod. 55.26% 31.91% 87.96% 89.82%

2014

Pastagem

Vegetação

Natural Silvicultura Agricultura Abstenção

Acurácia

Usuário

Pastagem 233 3 3 15 0 91.73%

Vegetação Natural 2 2008 149 47 0 91.02%

Silvicultura 54 2037 9474 1633 12 71.78%

Agricultura 508 571 971 3943 8 65.79%

Acurácia Prod. 29.23% 43.47% 89.40% 69.94%

Org.REIS (2014)

Estas matrizes identificam os erros cometidos na classificação. Chama-se a atenção para a

confusão de “silvicultura” com “vegetação nativa”; e no que tange a fitofisionomia de

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

128

Cerradão, ressalta a confusão entre “silviculturas em desenvolvimento” com “áreas de

agricultura”, e “áreas de agricultura e pastagens” para com áreas de “campos úmidos”.

A Tabela 3 apresenta os índices Kappa e estatística TAU. De acordo com a classificação

proposta por Landis e Koch (1977) o resultado do mapeamento para os anos de 1885, 1995,

2005 apresentaram uma qualidade muito boa, atingindo o parâmetro de excelência no ano de

1995.

Tabela 3. Estatísticas de verificação do mapeamento multitemporal da bacia do rio Bagagem/MG.

1985 1995 2005 2014

Desempenho Kappa 0,79 0,92 0,73 0,72

Estatística TAU 0,72 0,90 0,64 0,63

Org.REIS (2014)

Os valores para os índices de Kappa e Tau foram mais baixos para o ano de 2014 em função de

ter sido um período mais seco em relação aos outros anos analisados, o que resultou na

confusão da fotointerpretação de alguns alvos. Conforme a matriz de erros indicou cerca de

9% dos pixels que deveriam ter sido classificados como “vegetação nativa” foram classificados

como “silvicultura” e cerca de 4% dos pixels que deveriam ter sido classificados como

“agricultura” foram classificados como sendo “silvicultura”. Isso também se explica por áreas

de silvicultura que foram colhidas para novo replantio, e que apresentam uma semelhança

com as amostras fornecidas para a categoria da “agricultura”, como indica a figura 3.

Figura 3 - Semelhança de tonalidade das áreas de silvicultura com áreas de agricultura.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

129

Considerações Finais

A bacia do rio Bagagem é uma área que apresenta uma diversidade de paisagens, o que

justifica uma complexidade no uso da Terra e na cobertura vegetal natural. O uso de métodos

de classificação é uma importante ferramenta em função do curto tempo de extração de

dados para escalas regionais. A apresentação das matrizes de erros é fundamental para que o

usuário tenha condições de verificar as confusões ocorridas entre os alvos/amostras, para

verificar a acurácia do mapeamento, bem como servir de base de investigação para melhorar a

chave de interpretação da área de estudo.

Para continuidade dos estudos de classificação, recomenda-se um trabalho de campo

específico para cada alvo para capacitar o usuário no processo de aquisição das amostras. O

método utilizado de fornecimento de amostras foi o agrupamento de classes distintas para

uma mesma classe, surgiu a necessidade de um estudo mais detalhado para compreender

como o software SPRING se comporta se forem geradas amostras distintas para cada alvo e

depois agrupá-las em uma única classe, dessa forma poder comparar os dois métodos e decidir

as melhores formas de uso e aplicação.

Com base na classificação dos índices kappa proposta por Landis e Koch (1977), os resultados

mostram-se satisfatórios para o mapeamento de uso da Terra e cobertura vegetal natural em

pequenas escalas, com objetivo de análises regionais, como em uma bacia hidrográfica.

AGRADECIMENTO

Agradecemos à Universidade Estadual de Goiás pelo financiamento da Pesquisa por meio do edital Pró-

projetos/pesquisa n° 029/2016.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Calibre 11 – Negrito)

BACCARO, C. A. D. Unidade Geomorfológica do Triângulo Mineiro – Estudo Preliminar, Uberlândia. In:

Revista Sociedade & Natureza, ano 3- n.5 e 6, p. 37-42, jan./dez, 1991.

CHAGAS, L. A. C. Reflorestamento, políticas de incentivos fiscais no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

2002. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002.

COHEN, J. A Coeficient of Agreement for Nominal Scales. In: Educational and Measurment. Vol XX, No1,

p. 37-46, 1960.

CROSTA, A. P. Processamento Digital de Imagens de Sensoriamento Remoto. Campinas: IG/UNICAMP,

ISBN 85-853-690-27, 1992.

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo

ISBN 978-85-68242-51-3

130

GENARO. F; CHELOTTI, M.C. Inserção e desenvolvimento da pecuária moderna noTriângulo Mineiro: O

Município de Uberaba como “Vitrine”da Pecuária globalizada. Trabalho. In: ANAIS do ENG (2012).

Diponível em:<www.eng2012.org.br/trabalhos-completos?download=2354...> Acessado em setembro

de 2012.

LANDIS, J.R.; KOCH, G.G. The measurement of observer agreement for categorical data. In: Biometrics,

v.33, n.1, p. 159-174, 1977

NISHIYAMA, L. Geologia do município de Uberlândia e áreas adjacentes. In: Revista Sociedade &

Natureza, Uberlândia. n. 1, jun. 1989. P. 9-15.

NOVO, E. M. L. M. Sensoriamento Remoto: princípios e aplicações. 3. ed. São Paulo: Edgard Blucher,

2008. v. 01. 363p.

RIBEIRO, J. F; WLATER, B. M.T. As principais fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: SANO,, S. M;ALMEIDA,

S. P; RIBEIRO, J.In: Ecologia e flora. Brasília: EMBPRAPA, 2008. V. 1, P. 152-212

SILVA, L. L. O papel do Estado no processo de ocupação das áreas de cerrado entre as décadas de 60 e

80. In: Caminhos de Geografia. Uberlândia 1(2)24-36