Mar Morto
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Mar Morto
Nomes
A Bíblia apresenta alguns nomes distintos para o mar Morto: Yam Há-Arabah (“mar da Arabá”; Dt
3.17; Js 3.16), Yam Há-Kadmôni (“mar Oriental”; Dt 3.17), Yam Há-Melah (“mar Salgado”; Dt 3.17; Js
3.16) e “mar da Planície” (2Rs 14.25).
O nome “mar Morto”. A Enciclopedia de la Biblia26
diz que esse nome não aparece uma só vez na
Bíblia. Entretanto, está em Ezequiel 47.8.27
Fora da Bíblia, o mar Morto recebe várias designações. Josefo
o chama de “lago do Asfalto”. Os árabes medievais chamavam-no El-Bahr Muntinah, isto é, “mar
Pestilento”. Eis outros nomes dados pelos árabes: bahr Sadum wa Ganur (mar de Sodoma e Gomorra),
bahr Zugar (mar de Segor), bahr Lut (mar de Ló). O Talmude o nomeia Yamah Sel Sedom, isto é, “mar
de Sodoma”.
Localização
O vale do Jordão, que começou no extremo sul do mar da Galileia já a 225 m abaixo do nível do
Mediterrâneo, continuou sua trajetória descendente. Em linha reta, 117 km depois, chegou ao nível mais
baixo, 400 m negativos. Os dois vales — do Jordão e do mar Morto — se encontraram, formando o ponto
mais baixo da terra. A bacia do mar Morto, no lado leste, está protegida por uma parede de montanhas
cuja altura oscila entre 700 m e 1.000 m sobre o Mediterrâneo e correm de norte para o sul: são os montes
de Moabe que, ao norte, começam na altura de Jericó, e, ao sul, se perdem em Seir, monte de Edom. Na
banda ocidental do Grande Lago há uma planície, que forma um corredor de quase 1 km, entre o mar e os
montes do deserto da Judeia. A altura desses montes varia entre 600 e 1.000 m. Ao sul do mar Morto
existe uma parte plana, que termina nas montanhas do deserto do Sinai.
Tamanho e formato
O mar Morto assemelha-se a um longo triângulo, com os ângulos agudos, interrompido por um
promontório que se inclina para o sudoeste, formando uma península chamada El-Lisã, que quer dizer
“língua”. O mar Morto tem 78 km de comprimento por 18 km de largura, com uma área total de 1.020
km². A profundidade oscila entre 10 m e 401 m. O El-Lisã tem perto de 15 km de norte, para sul. No
norte, onde entra o Jordão, o mar tem 401 m de profundidade. Ao norte do El-Lisã, 330 m, e ao sul desta
península entre 11 e 10 m, terminando no sul a 5 ou 7 m num grande lamaçal. Mar Morto
Afluentes
Os principais afluentes são: pela banda oriental, o Jordão (o principal rio extremo setentrional), o uádi
el-Adeimah, o uádi Zerka-Main (uádis são filetes d’água que correm somente quando chove nas
montanhas.), o ribeiro de Arno, que possui os seguintes afluentes: Seil Heidan, Seil el Mogib, o uádi el-
Hesã. No extremo sul, nas terras do Arabá, desemboca no mar Morto o uádi el-Tafilah. Na margem
ocidental do lago, os seguintes afluentes levam água ao mar Morto: uádi Qumran, uádi el-Mar, uádi
Hareitun, uádi el Hasasah, uádi el-Qeini e o uádi Muhuwwat.
Natureza das águas
As águas do mar Morto são grossas, isto é, densas e pesadas. As águas dos oceanos possuem 4% de
sal, as do mar Morto, 26%. Além do cloreto de sódio, o grande lago conta com enormes quantidades de
cloreto de magnésio, cálcio, potássio e brometo de magnésio. Existem também outros metais em
quantidades menores, como ferro, nitrogênio, alumínio, manganês, amônio etc. As águas do mar Morto
são tão densas que nenhuma pessoa afunda nelas. O cloreto de cálcio as torna suaves e escorregadias.
Queimam as partes mais delicadas do corpo humano e, se houver feridas, a dor causada por essas águas é
quase insuportável. Nenhuma espécie de vida foi até agora encontrada no mar Morto. Os peixes que
porventura chegam até suas águas morrem em poucos minutos. Também não há vegetais em suas
26 Enciclopedia de la Bíblia, vol. 5, p. 341.
27 Algumas traduções usam apenas a palavra “mar”, sem lhe dar o nome. Ora, esse “mar” não pode ser outro
senão o Morto, razão por que a Almeida Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil) e a Almeida Século 21
(Vida Nova) traduzem, com muita lógica, por “mar Morto”.
margens nem nas suas proximidades. Aves, entretanto, há em pequena quantidade e de raras espécies. Os
minerais depositados nesse mar,28
em estimativas aproximadas, calculam-se em:
• 22 trilhões de toneladas de cloreto de magnésio.
• 11 trilhões de toneladas de cloreto de sódio.
• 7 trilhões de toneladas de cloreto de cálcio.
• 2 trilhões de toneladas de cloreto de potássio.
• 1 trilhão de toneladas de brometo de magnésio.
O mar Morto, por sua posição geográfica, não tem saída para suas águas. Elas se evaporam, e numa
proporção gigantesca. Calcula-se entre 6 e 8 milhões de toneladas cada 24 horas. Daí sua densidade.
Quando os ventos sopram furiosos sobre elas ou então desabam tempestades, o quebrar das ondas nas
praias ou nas embarcações assemelha-se ao soar de metal contra metal. Israel, décadas atrás, construiu
uma estação para bombear a água do mar Morto para grandes piscinas de onde extraem potássio. O sol se
encarrega de evaporar as águas e o que resta, ou seja, uma crosta branca — é o potássio usado na
composição de fertilizantes. Em 1930 foi montada a primeira fábrica no mar Morto e, mais tarde, outra
em Sodoma.
Fortalezas
A leste do mar Morto, Alexandre Janeu, em 88 a.C., construiu a Fortaleza de Maquerus ou
Maqueronte, a mais ou menos 8 km a leste do mar Morto. Em 56 a.C. foi arrasada pelos romanos e
reedificada entre 25 e 13 a.C. por Herodes, o Grande, e foi o lugar de suplício de João Batista. Na
margem ocidental do mar Morto, Herodes, o Grande, construiu Massada, último reduto dos judeus contra
os romanos em 73 d.C. e de Bar-Khoba entre 132 e 135 d.C.29
A rocha de Massada está em frente a
Engedi, mais ou menos no centro do mar Morto. As ruínas da primitiva comunidade essênia estão bem ao
norte do lago, numa região denominada Qumram (os judeus pronunciam “Cumerám”), em cujas cercanias
foram achados os manuscritos de Isaías e posteriormente da Bíblia toda, com exceção do livro de Ester.
Esses manuscritos foram datados do século II a.C. pela prova do carbono 14.
Temperatura
Pela profundidade em que está colocada a bacia do mar Morto, a temperatura é bastante elevada. No
inverno baixa para 25º e até 20º e no verão sobe até 45º e 50º. Essa temperatura elevada se deve a vários
fatores, como a absoluta ausência de vegetação (não há sombra), a excessiva evaporação das águas do
mar (aos raios do sol ardente, o mar Morto se transforma num caldeirão imenso em ebulição) e a
profundidade do vale, que está a 400 m ou mais abaixo do Mediterrâneo.
Vida
Parece não existir vida no mar e também nas suas imediações, atingidas pelos efeitos da terrível
evaporação do lago. Porções de terra fértil, semelhantes a um delta, formaram-se por onde entram as
águas do Jordão. Na entrada dos outros tributários, do leste, verifica-se o mesmo fenômeno, isto é, a
presença de várias espécies de árvores e outros vegetais. Os peixes que chegam ao mar Morto morrem em
poucos minutos e flutuam na superfície. Corvos e cegonhas são atraídos por causa dos peixes mortos.
Algumas perdizes e não poucos pardais habitam principalmente nos deltas dos rios que entram no Mar.
Nesses mesmos sítios existem raposas, coelhos, porco-espinho e hienas. Talvez, hoje, pela caça dos
homens, aves e animais tenham desaparecido.30
Asfalto
Com frequência, um observador pode ver enormes blocos de asfalto flutuar nas águas do mar Morto,
principalmente após um tremor de terra. É possível que esse fenômeno tenha impressionado Flávio
Josefo, que chamou o mar Morto de “Lago do Asfalto”.
28 Estimativas feitas pelo Estado de Israel apresentadas em VILNAY, Zev. Guia de Israel. Jerusalém: La Semana,
1977, p. 307.
29 A Fortaleza de Massada, uma atração turística hoje, foi inteiramente reconstruída por Yigael Yadin Filho.
30 No propósito de preservar espécies animais em desaparecimento, o Estado de Israel, pela iniciativa do General
A. Yoffe, formou o Hai-Bar, uma espécie de safári, nas proximidades de Eilate.
Sal Pergunta-se repetidamente de onde vem o sal para as águas do mar Morto. Antonio Mesquita lembra
que ao sul do vale do mar Morto existem grandes montanhas de sal.31
José Pistonesi precisa a informação
de Mesquita dizendo que a sudoeste do mar existe uma montanha de 11 km de comprimento com 200 m
de altura, chamada Jebel Usdum, isto é, monte de Sodoma, de puro sal.32
James Adams diz:
A excessiva quantidade de sal do mar Morto é devida a duas causas especialmente: A primeira, os
rochedos salinos de Jebel Usdum que correm ao longo das praias ocidentais, e que constantemente
adicionam ao Mar grande parte de sal fóssil; a segunda resulta dos rios tributários do Jordão que
atravessam regiões impregnadas de sais, fontes sulfurosas, matéria betuminosa e depósitos petrolíferos.
Tudo isto é trazido de arrastão por esses rios e depositado no mar Morto.33
Acrescente-se a isso a tremenda evaporação das águas e o resultado são resíduos que se acumulam
através do tempo.
Constituição do terreno
As rochas que rodeiam o mar são, na maioria, de constituição calcária de origem vulcânica. O sal e o
betume recobrem a superfície, dando um aspecto de morte e desolação. No El-Lisã, por exemplo, que se
eleva 15 m sobre as águas do lago, além de mármore branco, há também gesso, cal, enxofre, nitrogênio e
argila. Alguém opinou ter existido em épocas imemoriais no lugar do mar Morto um grande mar, mas
nenhuma prova há.
Sodoma e Gomorra
A Bíblia se refere a essas duas cidades do tempo de Abraão (Gn 19.27-29). Onde Sodoma e Gomorra
estariam situadas? Tendo por base Gênesis 14.3, sabemos que Quedorlaomer e seus três aliados da
Mesopotâmia se ajuntaram num vale chamado Sidim (que é o mar Salgado) para lutar contra cinco reis, a
saber: de Sodoma, de Gomorra, de Admá, de Zeboim e de Bela (esta é Zoar). No vale de Sidim, portanto,
no vale do mar Morto, havia poços de betume onde os cinco reis vieram a cair (Gn 14.10). Resta agora
saber se Sodoma e Gomorra ficavam ao norte ou ao sul do mar Morto. Existem duas teorias sobre isto:
uma sustenta ao norte; a outra, ao sul.
Teoria nortista
Advoga o norte parte de Gênesis 13.10, pois, quando Abraão se separou de Ló, eles estavam diante das
verdejantes campinas do Jordão, e isso deveria ser no norte. Acontece, porém, que Ló não se fixou nesse
lugar. Gênesis 13.12 diz que ele foi armando suas tendas até chegar a Sodoma (por que Sodoma não
poderia ficar no sul?). Outro argumento dos nortistas é que Ló pediu ao anjo para ir para Zoar, que é a
primitiva Bela de Gênesis 14.2. Ali habitou, gerou filhos e duas nações se instalaram nas imediações:
Moabe e Amom, e esses países ficavam ao norte. Basta olhar para um mapa do Israel antigo para ver que
Moabe ficava ao sul e Amom ao norte do mar Morto. O argumento perdeu a força.
Teoria sulista
Para a teoria do sul, trazemos aqui o depoimento do dr. Edward Robinson, uma das maiores
autoridades no assunto do mar Morto: “O Vale fértil, pois, que Ló escolheu para si, e onde Sodoma estava
situada, e que era bem regada, como a terra do Egito, alcançava o Sul do Lago”.34
A catástrofe que Deus
enviou para destruir as quatro cidades da campina produziu transformações violentas na topografia. O que
antes era “o jardim regado do Senhor” hoje é um vale de morte e desolação. O certo é que até hoje
nenhum vestígio das cidades desaparecidas se achou, apesar dos esforços da arqueologia. A opinião mais
coerente, sem paixões nem partidos, é que o mar Morto, antes do castigo do céu, deveria ser mais curto, e
as cidades de Sodoma e Gomorra, principalmente, deveriam ocupar a parte entre o extremo sul do atual
31 MESQUITA, Antonio N. Panorama do mundo bíblico, p. 42.
32 PISTONESI, José A. Geografía Biblica de Palestina, p. 42.
33 ADAMS, James McKee. A Bíblia e as civilizações antigas, p. 161-162.
34 ROBINSON, Edward. Biblical Researches, p. 602. Citado por PISTONESI, José A. Geografía Biblica de Palestina, p. 45.
lago e o El-Lisã. Com a catástrofe, as barreiras ruíram, o mar cresceu, e Sodoma e Gomorra (as duas
cidades maiores), bem como Admá e Zeboim (as duas menores), estão sepultadas debaixo das pesadas
águas do lago Salgado. Bela ou Zoar ficava noutra direção e só não foi destruída porque Ló foi habitar
nela, por ordem do anjo (Gn 19.21,22).
Além do episódio do castigo divino sobre as quatro cidades corrompidas, a Bíblia se refere, como
exemplo para Israel, a duas dessas cidades destruídas: Sodoma e Gomorra (veja Dt 29.22,23; Is 1.10; Jr
23.14; Ez 16.46,49,53,56; Am 4.11; Mt 11.23,24; Rm 9.29; 2Pe 2.6; Jd 7).
Exploração
Somente em 1835 o irlandês Christopher Costigán saiu de bote do mar da Galileia, desceu o Jordão e
entrou no mar Morto. Tudo foi bem até que entrou no mar da morte. Respirou os gases da evaporação do
grande lago e desmaiou. Levado para Jerusalém, morreu.
Em 1847, Thomas Howard Molyneux, um oficial da Marinha inglesa, fez o mesmo trajeto que
Costigán e também morreu, mas em Beirute, naturalmente intoxicado.
Em 1848, o governo norte-americano solicitou ao tenente Lynch que explorasse o mar Morto. Ele
explorou o mar, as entradas dos rios, observou os contornos, estudou a natureza das águas, mediu o lago
de norte a sul, de leste a oeste, e também a profundidade. Lynch foi seguido pelos cientistas que
continuaram os estudos do lago, como De Saulcy, Vignes, E. Robinson, G. A. Smith e M. Blackenhorn.
De 1956 para cá, o governo de Israel vem convergindo ingentes esforços para revelar os grandes
segredos do mar Morto e aproveitar os seus quase infinitos recursos para transformá-los em fabulosas
riquezas. É verdade que Israel tem posse apenas da metade do famoso lago. Os estudos israelenses do
lago são muitos, e o aproveitamento começa a dar os primeiros frutos. Nas margens ocidentais do mar
Morto, Israel tem kibutz de grande rentabilidade. 1
1Tognini, Enéas: Geografia Da Terra Santa E Das Terras Bíblicas. Editora Hagnos; São Paulo, 2009; 2010, S. 100