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Márcio Bertocco Meirelles MORBI-MORTALIDADE EM CIRURGIA GERAL ANTES E APÓS A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ACERTO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Cuiabá – MT 2010

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Márcio Bertocco Meirelles

MORBI-MORTALIDADE EM CIRURGIA GERAL ANTES E APÓS A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ACERTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Cuiabá – MT

2010

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Márcio Bertocco Meirelles

MORBI-MORTALIDADE EM CIRURGIA GERAL ANTES E APÓS A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ACERTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Cuiabá – MT

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

MORBI-MORTALIDADE EM CIRURGIA GERAL ANTES E APÓS A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ACERTO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Área de Concentração Cirurgia, Nutrição e Metabolismo, da Universidade Federal de Mato Grosso, como pré-requisito para a obtenção do título de Mestre.

Orientando: Márcio Bertocco Meirelles

Orientador: José Eduardo de Aguilar Nascimento

Co-Orientador: Alberto Bicudo Salomão

Cuiabá – MT

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA B545m Bertocco-Meirelles, Marcio, 1960- . Morbi-mortalidade em cirurgia geral antes e após a

implantação do Projeto ACERTO / Marcio Bertocco Meirelles. - Cuiabá, 2010 XI+69f.: Il.

Orientador: Prof. Dr. José Eduardo de Aguilar Nascimento.

Co-orientador: Dr. Alberto Bicudo Salomão. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Ciências Médicas, Pós-graduação em Ciências da Saúde, Área de Concentração: Cirurgia, Nutrição e Metabolismo, 2010. Bibliografia: f. 61-69. Inclui anexos. 1. Cuidados pré-operatórios, 2. Terapia multimodal, 3. Convalescência, 4. Complicações pós-operatórias. I. Título.

616-089.16

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais pelo empenho, carinho e pelos ensinamentos transmitidos.

À Evelyse pela compreensão, paciência e pela motivação que me transmitiu.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Prof. Dr. José Eduardo de Aguilar Nascimento, por se dispor a

orientar-me sempre atendendo com solicitude e presteza.

Ao meu co-orientador Dr. Alberto Bicudo Salomão que não mediu esforços para a

realização desse trabalho.

Ao Prof. Dr. Cervantes Caporossi que permitiu a minha participação no Centro de

Estudos, pela sua participação na banca de qualificação e pelas sugestões

apresentadas para melhoria desse trabalho.

Ao Prof. Dr. Pedro Luis Reis Crott pela participação na Banca de Qualificação e

pelas propostas para aprimoramento da tese.

À Dra. Márcia Beatriz Catini de Melo que providenciou todos os documentos

necessários para o levantamento de dados da Agencia Transfusional.

Aos técnicos da Agência Transfusional do HUJM pela colaboração na coleta de

dados, em especial: Ana Dionisio Marins, Magna Pereira de Carvalho e Manoel

Messias Barros.

Ao enfermeiro Davi Lucio de Almeida por disponibilizar os arquivos do Centro

Cirurgico do HUJM.

Aos acadêmicos e residentes da Clínica Cirúrgica pelos esforços despendidos no

preenchimento e correção das informações que foram analisadas.

À Professora Marilandes Ribeiro Braga pelas sugestões e companhia em muitas

horas.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA – Anterior a implantação do protocolo ACERTO

ACERTO – Acelerando a Recuperação Total

ASA - American Society of Anestesiologists

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos

DA – Depois da implantação do protocolo ACERTO

ERAS - Enhanced Recovery After Surgery

EUA – Estados Unidos da América

FAO – Ficha de Alta ou Óbito

FCM - Faculdade de Ciências Médicas

HUJM – Hospital Universitário Julio Müller

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMC – Índice de massa corporal

INTERNUTI - Intervenção Nutricional Imediata

MBE – Medicina Baseada em Evidências

OMS – Organização Mundial de Saúde

PAM – Pressão arterial media

SES – Secretaria Estadual de Saúde

SNE – Sonda Naso-Enteral

SNG – Sonda nasogástrica

SUS – Sistema Único de Saúde

TGI – Trato gastrointestinal

TNE – Terapia Nutricional Enteral

TNP – Terapia Nutricional Parenteral

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Condutas aplicadas na enfermaria de cirurgia geral do HUJM

antes e depois da implementação do projeto ACERTO PÓS-

OPERATÓRIO............................................................................................... 6

FIGURA 2: Aderência parcial e total (completa) aos elementos do

protocolo ACERTO após sua implantação no HUJM, no ano de 2005.......... 7

FIGURA 3: Indicação de drenagem profilática conforme dados de

medicina baseada em evidência.................................................................... 10

FIGURA 4: Relação entre o número de pacientes submetidos a tratamento

operatório e clínico ao longo dos anos de estudo......................................... 44

FIGURA 5: Relação bolsa de hemoderivados por paciente durante os dois

períodos de estudo (p<0,001 vs. DA)............................................................ 45

FIGURA 6: Percentual de infecções do sítio cirúrgico (%ISC) ano a ano,

diagnosticadas durante o período total de estudo......................................... 46

FIGURA 7: Percentual de complicações operatórias (%CCIR) e de re-

operações (%REOP) ao longo dos anos estudados..................................... 47

FIGURA 8: Percentuais de infecção do sítio cirúrgico (%ISC),

complicações operatórias (%CCIR) e re-operações (%REOP)

diagnosticadas antes (AA) e após (DA) a implantação do protocolo

ACERTO (*p<0,05 vs. DA)............................................................................. 48

FIGURA 9: Percentual de óbitos ocorridos em pacientes internados na

Clínica Cirúrgica do HUJM entre 2002 a 2008.............................................. 49

FIGURA 10: Percentual de óbitos em pacientes internados na enfermaria

de Clínica Cirúrgica do HUJM nos períodos antes (AA) e após (DA) a

implantação do protocolo ACERTO (p=0,0075 vs. DA)................................. 49

VI

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Pacientes internados nas enfermarias de Clínica Cirúrgica do

Hospital Universitário Júlio Muller, antes (AA) e após (DA) a implantação

do protocolo ACERTO....................................................................................

40

TABELA 2: Operações por sub-especialidades cirúrgicas realizadas na

enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM antes (AA) e após (DA) a

implantação do protocolo ACERTO...............................................................

41

TABELA 3: Operações realizadas por período, anterior (AA) e posterior

(DA) a implantação do protocolo ACERTO.................................................... 42

TABELA 4: Distribuição das internações com base no tratamento

empregado (operatório ou clínico) ao longo dos anos de estudo.................. 43

TABELA 5: Mediana, moda e variação (máximo e mínimo) do tempo de

internação em dias dos pacientes internados no período anterior (AA) e

posterior (DA) a implantação do protocolo ACERTO.................................... 44

TABELA 6: Total de unidades de hemoderivados transfundidas e relação

bolsa/paciente no período de estudo............................................................. 45

VII

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RESUMO

Objetivo: Comparar os resultados clínicos, com especial interesse a morbi-

mortalidade, em pacientes internados no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital

Universitário Julio Muller (FCM-UFMT) antes e após a implantação do protocolo

multimodal ACERTO.

Método: Levantamento prospectivo de dados referentes à internação de 5.974

pacientes. A investigação desses casos foi dividida em duas fases: uma inicial, entre

janeiro de 2002 a dezembro de 2004, envolvendo casos internados antes da

implantação do protocolo ACERTO (período AA, n=1.987), e outra, com casos

internados entre janeiro de 2005 a dezembro de 2008, após a implantação do

mesmo (período DA, n=3.987).

Resultados: Observou-se uma tendência crescente em relação às internações com

tratamento operatório (A=+11,78) e decrescente (A= -17,08) em relação às

internações em que ocorreu apenas tratamento clínico. No período AA a média de

dias de internação foi de 7,97±9,06 dias contra 6,79±8,96 dias no período DA,

mediana de 4 vs. 3 dias e moda de 3 vs. 2 dias (p<0,001). No período AA foram

realizadas um total de transfusões de 1987 bolsas de hemoderivados (relação de

2,53 bolsas por paciente). No período DA, o número total de unidades transfundidas

foi de 3076 (0,77 bolsas/paciente; p<0,001). Notou-se tendência decrescente no

número de casos de infecção do sítio cirurgico (ISC) ao longo dos anos estudados

(A=-153,08) com 7, 51% no período AA vs. 3,36% no DA (p=0,000001; RR 2,23;

IC95%: 1,73-2,89). Houve ainda tendência decrescente em relação a complicações

operatórias (A=-51,41) 7, 9% (AA) vs. 6,14% (DA, p=0,029; RR 1,29; IC95%: 1,03-

1,60), re-operações 2,65% (AA) vs. 1,19% (DA, p=0,0004; RR 2,22; IC95%: 1,43-

3,44) e óbitos (A=-62,07). Dos óbitos ocorridos, 56 (2,81%) ocorreram no período AA

e 69 (1,73%) ocorreram no período DA (p=0,0075; RR 1,63; IC95%: 1,15-2,31).

Conclusão: Com base nos resultados aqui apresentados podemos concluir que na

enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM a aplicação do protocolo multimodal

ACERTO determinou de modo geral, uma melhora significativa dos desfechos

clínicos de interesse no pós-operatório.

Palavras-chave: cuidados pré-operatórios, terapia multimodal, convalescência

e complicações pós-operatórias.

VIII

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ABSTRACT

Objective: To compare clinical outcomes, with particular interest in morbid-mortality in

patients hospitalized at the general Surgery Service from the Hospital Universitário

Julio Muller (FCM-UFMT) before and after the implementation of the multimodal

protocol ACERTO.

Method: A prospective collection of data regarding the admission of 5824 patients.

The analysis of these cases were divided in two phases: an initial, between January

2002 and December 2004, involving cases admitted before the implementation of the

ACERTO protocol (AA period, n = 1987) and another with hospitalized cases

between January 2005 to December 2008, after its implantation (period AD, n =

3987).

Results: It was observed a growing trend in relation to admissions and surgical

treatment (A = +11.78) and a decreasing one (A = -17.08) compared to

hospitalizations that occurred only for clinical treatment. During the AA the average

days of hospitalization was 7.97 ± 9.06 days against 6.79 ± 8.96 days in the period

AD, median 4 vs. 3 days and mode 3 vs. 2 days (p <0.001). In the period AA occured

a total of 1987 transfusions (ratio of 2.53 bags per patient). During DA, the total

number of units transfused was 3897 (0.77 bags per patient, p<0.001). There was

trend for decreased number of the surgical site infeccion over the studied years (A =-

153.08) with 7.51% (AA) vs. 3.36% (AD) (p = 0.000001; RR 2.23, 95%IC 1.73 to

2.89). There was also a decreasing in surgical complications (A =- 51.41) (7.9% vs.

6.14%), p = 0.029, RR 1.29, 95%CI:1.03 to 1.60), re-operation (A =- 57.10) (2.65%

vs. 1.19%, p=0.0004, RR 2.22, 95%CI: 1.43 to 3.44) and deaths (A =- 62.07). From

the deaths, 56 (2.81%) occurred in the first period and 69 (1.73%) in the second

period (p=0.0075, RR 1.63, 95%CI: 1.15 to 2.31).

Conclusion: The introduction of a multimodal protocol in the General Surgery Service

provided shorter hospital stay and reduced use of the hemo-derivades. There was a

decreasing number of infection of the surgical site, post operative complications and

deaths.

Keywords: perioperative care, multimodal protocol, convalescence, postoperative

complications.

IX

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1

1.1 A MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS APLICADA AO PERÍODO

PERI-OPERATÓRIO: O PROTOCOLO ERAS (Enhanced Recovery After

Surgery).......................................................................................................

2

1.2 ACELERANDO A RECUPERAÇÃO DO PACIENTE CIRURGICO NO

BRASIL: O PROJETO ACERTO.................................................................

4

1.3 RACIONAL DO PROTOCOLO ACERTO........... 7

1.3.1 INFORMAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA.................................................. 7

1.3.2 RESTRIÇÃO AO USO DE DRENOS COM FINALIDADE

PROFILÁTICA E SONDA NASO-GÁSTRICA.....................................

9

1.3.2.1 USO DE DRENOS……………………………………………… 9

1.3.2.2 USO DE SONDA NASOGÁSTRICA (SNG)........................... 10

1.3.3 CONTROLE DA DOR PÓS-OPERATÓRIA....................................... 11

1.3.4 HIDRATAÇÃO VENOSA PERI-OPERATÓRIA………………………. 12

1.3.5 PREPARO MECÂNICO DO CÓLON………………….........…………. 14

1.3.6.TERAPIA NUTRICIONAL PERI-OPERATÓRIA................................. 15

1.3.7. MOBILIZAÇÃO ULTRA-PRECOCE................................................. 17

1.3.8 JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO…………………………………………… 19

1.3.9 RE-ALIMENTAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO................................... 23

2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 25

3. OBJETIVOS.......................................................................................................... 29

4. CASUÍSTICA E MÉTODOS………………………………………………………… 31

4.1 MÉTODOS................................................................................................... 32

4.2.CASUÍSTICA.................................................................................................. 36

5. RESULTADOS...................................................................................................... 38

6. DISCUSSÃO.........................................................................................................50

X

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7. CONCLUSÃO………………………………………………………………………… 59

8. REFERÊNCIAS………………………………………………………………………. 61

9. ANEXOS............................................................................................................... 70

9.1 ANEXO 1 DECLARAÇÃO DE APROVAÇÃO DO PROTOCOLO DE

PESQUISA PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO JÚLIO MüLLER - CEP-HUJM-UFMT................................

71

9.1 ANEXO 2. ESTRUTURA FÍSICA E ASSISTÊNCIAL DO SERVIÇO DE

CLÍNICA CIRÚRGICA DO HUJM ENTRE OS ANOS DE 2002 A 2008........

72

9.2 ANEXO 3. FICHA DE ALTA OU ÓBITO (FAO).................................................. 74

XI

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1

1. INTRODUÇÃO

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2

1. INTRODUÇÃO.

1.1 A MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS APLICADA AO PERÍODO

PERI-OPERATÓRIO: O PROTOCOLO ERAS (Enhanced Recovery After Surgery).

No início deste século, tendo por base o novo paradigma da medicina

baseada em evidências, novos protocolos de cuidados ao paciente cirúrgico

começaram a surgir na literatura médica. Com o intuito central de acelerar a

recuperação pós-operatória usando-se para tanto do conhecimento científico atual,

tais protocolos buscavam o emprego de rotinas cientificamente comprovadas em

detrimento daquelas sem embasamento, consagradas apenas pelo empirismo1.

O tradicional cuidado pós-operatório passou a ser questionado e a evidência

demonstrou que muitas condutas e práticas peri-operatórias eram desprovidas de

respaldo científico. Estas se perpetuaram pura e simplesmente por terem sido

transmitidas a novos cirurgiões, de geração em geração, há décadas, sem o devido

questionamento. Estudos surgiram demonstrando que o jejum pré-operatório e pós-

operatório, impostos por períodos prolongados a pacientes desde meados do século

XX podem agravar a resposta metabólica e o estado nutricional, predispondo

pacientes a queda do estado imunitário e complicações. O uso indiscriminado de

antibióticos não tem fundamento e o uso criterioso não só elimina custos como é

seguro e previne a resistência bacteriana. Novos avanços na anestesia e analgesia

beneficiam o paciente e o auxiliam na sua mobilidade precoce e alta hospitalar

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3

abreviada. A avaliação do estado nutricional é vital e tem impacto direto na

recuperação de pacientes cirúrgicos, e, não obstante, muitas vezes é negligenciada.

O preparo de cólon, tido por muitos cirurgiões como uma premissa básica para a

realização de uma operação sobre o colón ou reto, pode ser desnecessário e mais

que isso, ao contrário do que se acreditava, seu uso pode vir a causar dano ao

paciente cirúrgico2.

Na vanguarda deste processo, surge no início desta década, o protocolo

ERAS (Enhanced Recovery After Surgery). Divulgado em 20051 e idealizado a partir

da criação de um grupo europeu multicêntrico em 2001, o protocolo ERAS tem como

objetivo estabelecer medidas realmente importantes na aceleração da recuperação

pós-operatória. Chegou-se a um consenso entre os representantes de cinco

universidades européias que os princípios do protocolo ERAS seriam: informações e

aconselhamento aos pacientes no pré-operatório; abolição do preparo de cólon no

pré-operatório; diminuição do jejum pré-operatório; melhora da analgesia no pré-

operatório; uso racional de profilaxia antitrombótica; uso racional de antibióticos;

evitar o uso de opióides de longa duração e estimular o uso de anestesia epidural;

incisões abdominais obliquas ou vídeo-laparoscopia; restrição ao uso de sondas

nasogástricas de rotina; manutenção de normotermia no intra-operatório; re-

alimentação precoce; desestimular o uso de drenos abdomimais; suspensão do uso

de sonda urinária assim que passar o efeito anestésico; uso seletivo de

antieméticos; mobilização precoce do paciente após a operação; hidratação venosa

restrita e um programa de auditoria eficaz para poder fazer correções no protocolo2.

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4

Os primeiros resultados publicados por esse grupo após a implantação deste

protocolo foram encorajadores1. Esses achados motivaram que protocolos

semelhantes, com o emprego de todas as rotinas preconizadas pelo ERAS, ou de

apenas parte delas, surgissem em outros centros de referência ao longo do mundo.

1.2 ACELERANDO A RECUPERAÇÃO TOTAL DO PACIENTE CIRURGICO

NO BRASIL: O PROJETO ACERTO.

Tendo como base protocolos de cuidados peri-operatórios baseados em

evidências, no ano de 2005 o Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de

Ciências Médicas da Universidade Federal do Mato Grosso (FCM – UFMT) iniciou

na enfermaria de Clínica Cirúrgica de seu Hospital Escola (Hospital Universitário

Júlio Muller – HUJM) o uso de um conjunto de rotinas com o intuito de acelerar a

recuperação de pacientes submetidos a operações abdominais. Tendo como base o

protocolo europeu ERAS, o projeto implantando essas rotinas, adequadas à

realidade daquele hospital, recebeu o nome de ACERTO. Tal denominação é um

acrônimo para o nome completo: “acelerando a recuperação total pós-operatória”. A

palavra “acerto” tem origem latina e significa o “ato de acertar”, com sentido de

descobrir o verdadeiro, harmonizar, atingir o alvo2.

Sob essa visão, o protocolo ACERTO foi implantado na enfermaria de Clínica

Cirúrgica do Hospital Universitário Julio Müller com os seguintes elementos:

informação pré-operatória, restrição ao uso de drenos e sondas, analgesia

preferencial com cateter peridural, abolição do uso rotineiro de sonda nasogástrica,

diminuição da infusão endovenosa de líquidos no intra-operatório, abolição do uso

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5

rotineiro do preparo mecânico de cólon, suporte nutricional no pré-operatório para

pacientes desnutridos, mobilização ultra-precoce, abreviação do jejum pré-

operatório, realimentação precoce no pós-operatório, uso de incisões minimamente

invasivas, videocirurgia e auditoria periódica2.

A FIGURA 1 mostra as rotinas empregadas na enfermaria de clínica cirúrgica

do Hospital Universitário Júlio Muller antes e após a implantação do protocolo

ACERTO, no ano de 2005.

A implantação do protocolo ACERTO se deu no mês de julho de 2005. O

método de implementação contou com a realização de um seminário organizado

pelos seus idealizadores, envolvendo toda a equipe de cuidados aos pacientes

cirúrgicos do serviço: médicos (docentes, médicos e residentes dos serviços de

cirurgia e anestesiologia), nutricionistas, enfermeiros e fisioterapeutas. Neste

seminário, foram discutidos os principais temas inerentes ao protocolo e como

deveriam ser as rotinas de atendimento a partir de então. A adesão ao protocolo foi

espontânea por parte dos membros do serviço. Da mesma forma, foi determinada a

realização de auditorias periódicas que avaliariam o envolvimento da equipe com o

protocolo (aceitação e cumprimento das rotinas preconizadas), assim como seus

resultados2.

Observou-se que ao longo dos anos após sua implantação, houve um

gradativo aumento da aderência dos membros do serviço ao protocolo, da ordem de

40% na implantação do protocolo, para 60% nos anos seguintes. A mesma

tendência foi observada em relação ao emprego do protocolo completo – ao longo

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6

dos anos a aderência parcial ao protocolo caiu, tendo havido em contraste aumento

da aderência ao protocolo completo, conforme evidenciado na FIGURA 2.

Condutas convencionais Condutas preconizadas pelo protocolo ACERTO

§ Jejum pré-operatório mínimo de 8h (desde

a noite anterior ao ato operatório).

§ Liberação da dieta pós -operatória após

eliminação de flatos ou evacuação (saída

de “íleo”).

§ Hidratação venosa no pós-operatório no

volume de 40 ml/kg.

§ Preparo mecânico sistemático do cólon

para operações colorretais com manitol ou

fosfo-soda, por lavagens retais seriadas.

§ Assinatura de termos de consentimento

informado da operação pelo paciente.

§ Uso de drenos, sondas e antibióticos

conforme preferência do cirurgião.

§ Mobilização pós-operatória precoce.

§ Bebida enriquecida com carboidrato até 2 horas antes da

operação. Exceção: obeso mórbido, refluxo gastresofágico

importante e obstrução do TGI.

§ Em cirurgias da via biliar, herniorrafias e afins dieta oral

liquida oferecida no mesmo dia da operação (6–12 horas

após). Em operações com anastomose digestiva re-

introdução de dieta no 1º PO (dieta liquida) ou no mesmo dia

da operação. Em cirurgias com anastomoses esofágicas, dieta

no 1º PO pela jejunostomia ou sonda naso-entérica

§ Hidratação endovenosa não deve ser prescrita em

herniorrafias no PO imediato. Hidratação endovenosa deve

ser retirada com 12 horas após colecistectomias salvo

exceções. Salvo exceções, nas demais, reposição volêmica

ate o 1º PO no máximo 30 ml/Kg/dia.

§ Não realizar o preparo de cólon de rotina para cirurgias colo-

retais no pré-operatório.

§ Termo de consentimento e informações pré-operatórias

detalhadas ao paciente sobre o seu procedimento

operatório. Informar ao paciente antes da operação detalhes

do procedimento a ser realizado, encorajando-o a deambular

e realimentar precocemente no PO.

§ Não usar drenos profiláticos e sonda nasogástrica de rotina.

§ Uso racional e padronizado de antibióticos.

§ Mobilização ultra-precoce: fazer o paciente deambular ou

sentar no mesmo dia da operação por pelo menos 2h. Nos

próximos dias o paciente deve ser estimulado a ficar 6h fora

do seu leito.

FIGURA 1: Condutas aplicadas na enfermaria de cirurgia geral do HUJM antes e

depois da implementação do projeto ACERTO PÓS-OPERATÓRIO2.

Fonte: ACERTO Acelerando a Recuperação Total Pós-operatória,

EdUFMT 2009 Cuiabá

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FIGURA 2:Aderência parcial e total (completa) aos elementos do protocolo ACERTO

após sua implantação no HUJM, no ano de 20052.

Fonte: ACERTO Acelerando a Recuperação Total Pós-operatória,

EdUFMT 2009 Cuiabá

1.3 RACIONAL DO PROTOCOLO ACERTO.

1.3.1 INFORMAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA.

O grau de informação do paciente antes e durante o seu período de

internação faz diferença na sua recuperação. A cicatrização das feridas pode ser

retardada naqueles que não conseguem controlar sua “labilidade emocional” por

apresentarem alterações tanto na secreção de cortisol quanto da função imune3. Do

mesmo modo, o estresse faz com que haja diferença na secreção, não só do cortisol

como também de citocinas4.

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O conhecimento pelo paciente das opções de tratamento que podem ser

instituídos faz com que haja redução de seu conflito quanto à decisão que lhe foi

oferecida e estimula o paciente a ocupar um papel mais ativo na decisão tomada,

entretanto, isso não diminui sua ansiedade5. Os pacientes superestimam o impacto e

a duração dos efeitos negativos ocasionados pelas perdas e prevêem pobremente

suas habilidades em lidar com as adversidades6. O medo pode prender a atenção

sobre os mais assustadores aspectos da situação ou convencer a pessoa que uma

possível ameaça é inevitável7.

Quando se está diante do paciente nem sempre o médico tem tempo e,

algumas vezes, nem mesmo recursos para obter dele informações relevantes que

poderão ajudá-lo tanto na escolha do tratamento quanto na sua recuperação. Em

geral, as decisões são tomadas pela equipe médica e comunicadas ao paciente. Os

médicos deveriam incorporar às suas decisões as preferências dos pacientes que

podem ser obtidas por meio de contato informal com eles8.

A informação pré-operatória é ponto chave na aceitação do paciente (e de

sua família) em relação a outras importantes rotinas de um protocolo multimodal

como o ACERTO. Dentre as informações importantes está a necessidade de terapia

nutricional pré-operatória (mesmo que isso postergue sua realização). Essa

informação diminui a ansiedade da realização imediata do procedimento,

especialmente em casos de câncer, dando-lhe entendimento dos benefícios da

terapia nutricional. Orienta-se, quanto ao jejum pré-operatório, a necessidade de

ingesta de carboidratos antes da operação explicando-se os horários em que serão

oferecidos e qual sua importância. O mesmo é realizado em relação a outras

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questões como re-alimentação no pós-operatório e mobilização precoce. Muitos

pacientes acham que se ficarem imóveis no pós-operatório isso contribuirá para a

cicatrização.

Dispensa-se especial atenção quanto à explicação do tipo de operação que

será realizada, esclarecendo como serão as incisões, se haverá ou não necessidade

de drenos, sondas, se haverá mudanças fisiológicas tais como derivações ou

estomas e quais deverão ser os cuidados com as feridas. Essas informações têm

por objetivo diminuir a ansiedade, melhorar os cuidados com as feridas e nutrição,

diminuir a expectativa quanto a curativos, drenos e sondas quando necessárias2.

1.3.2 RESTRIÇÃO AO USO DE DRENOS COM FINALIDADE PROFILÁTICA

E SONDA NASO-GASTRICA.

1.3.2.1 USO DE DRENOS.

A deiscência de anastomose é sem dúvida uma das complicações mais

temidas nos pós-operatório de operações abdominais e, na tentativa de diagnosticá-

la precocemente, muitos cirurgiões optam pela colocação de drenos

profilaticamente. Esse procedimento que teve início no século passado2 persiste até

a presente data, sem que haja evidência de beneficio para o paciente 9.

Entretanto, quando durante a operação ocorre alguma dificuldade técnica na

realização da anastomose, o uso do dreno pode ser recomendado10. Uma revisão da

literatura mostrou não haver redução das complicações com a drenagem profilática

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10

da cavidade abdominal após ressecção hepática, colônica ou retal com anastomose

primaria e para a maioria dos casos de apendicectomia. O uso de dreno pode até

piorar o quadro levando a infecção nas ressecções hepáticas de pacientes com

hepatopatias crônicas e nos submetidos à apendicectomia11. Em estudo realizado

que comparou cultura do líquido abdominal e proveniente de dreno observou-se um

aumento da freqüência de anaeróbios diretamente relacionado ao tempo da

drenagem12.

A FIGURA 3 sumariza o grau de evidencia sobre a indicação de drenagem

profilática em operações abdominais.

FIGURA 3: Indicação de drenagem profilática conforme dados de medicina baseada

em evidência2.

Fonte: ACERTO Acelerando a Recuperação Total Pós-operatória,

EdUFMT 2009 Cuiabá

1.3.2.2 USO DE SONDA NASOGÁSTRICA (SNG).

O uso rotineiro de SNG foi indicado para diminuir o risco de deiscência e

reduzir o tempo de internação hospitalar2. Entretanto, estudo randomizado realizado

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11

com pacientes submetidos a transplante simultâneo de pâncreas e rim demonstrou

que o não uso da sonda nasogástrica diminuiu a permanência hospitalar de 13.8 ±

8.99 dias para 9.1 ± 3.93 (p<0,0001), e não houve aumento na morbidade13.

Comprovou-se também que o uso da sonda nasogástrica poderia ocasionar

aumento nos custos de hospitalização sem, contudo, diminuir a morbidade e a

permanência hospitalar14. Em um estudo comparando pacientes com e sem o uso

de sonda nasogástrica no pós-operatório de crianças com apendicite perfurada

observou-se que naquelas onde se usava a SNG a alimentação iniciava-se em 3,8

dias após a operação enquanto nas que não usavam, esse intervalo era de 2,2 dias

(p<0,001). Do mesmo modo, a plenitude da dieta foi conseguida em 4,8 dias nos que

usaram SNG contra 3,4 naqueles que não a utilizaram (p<0,001) e a permanência

hospitalar diminuiu em um dia (p<0,001)15. Há de se considerar também que a

colocação de SNG não esta isenta de riscos sendo que o mais temido é a sua

colocação na árvore respiratória16.

1.3.3 CONTROLE DA DOR PÓS-OPERATÓRIA.

O controle da dor no pós-operatório vem demandando crescente atenção de

médicos em diversos países encorajando a implantação de medidas terapêuticas

para seu controle 17. A movimentação precoce do paciente é sempre um objetivo a

ser alcançado e um dos fatores que impede essa movimentação é a dor. Por esse

motivo, vários protocolos foram estabelecidos na tentativa de minimizar esse

sintoma.

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O uso de analgésicos opiáceos no pós-operatório esta relacionado com

fatores adversos tais como: vômitos, prurido, euforia, depressão respiratória,

retenção urinária e prolongamento do íleo pós-operatório. Esses efeitos impedem a

re-alimentação precoce dos pacientes, sua rápida saída do leito e ainda pode

ocasionar piora do estado clínico principalmente pela depressão respiratória18. A

analgesia epidural associada com anestesia local ou geral mostra-se como grande

opção para abreviar o íleo no pós-operatório de cirurgias abdominais 18,19. Outra

técnica cada vez mais utilizada é a cirurgia por vídeo-laparoscopia. Estudos

demonstram que sua utilização pode diminuir a dor e, em até dois dias, a

permanência hospitalar18,20,21.

Analgesia pós-operatória é um dos pilares do protocolo multimodal de

aceleração da recuperação pós-operatória. Com diminuição ou ausência da dor, o

paciente sente-se mais seguro para obter alta precoce. O uso de opiáceos deve ser

desestimulado, apesar da sua excelente ação analgésica.

1.3.4 HIDRATAÇÃO VENOSA PERI-OPERATÓRIA.

Dois terços da água corporal está localizada no espaço intracelular. O

restante, aproximadamente 15 litros em adultos, é composto por plasma

(aproximadamente 3 L.), líquido no espaço intersticial (aproximadamente 12 L) e

pequenas quantidades de líquido transcelular (secreção gastrointestinal 3,0 L.,

líquido cérebro-espinhal 500 ml. e líquido ocular 20 ml.)22,23. A infusão de líquidos no

peri-operatório deve repor basicamente dois tipos de perdas: 1) as que ocorrem todo

o tempo como a produção de urina e as perdas insensíveis da perspiração, e 2) as

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que ocorrem exclusivamente durante a operação (principalmente perda sanguínea).

A primeira afeta o espaço extracelular, ou seja, o intravascular e o espaço intersticial

e normalmente não acarreta perda da força coloidosmótica do intravascular. A

segunda induz a déficit intravascular primariamente e inclui perda dos componentes

do sangue. Na prática, tem-se acesso apenas ao espaço vascular apesar da

intenção de tratarmos todos os compartimentos, inclusive o extracelular24.

A restrição hídrica no perioperatório demonstrou reduzir a mortalidade em

estudo multicêntrico conduzido por Brandstrup e col.25 que randomizaram dois

grupos de pacientes para receberem uma media de infusão no dia da cirurgia de

2.740 mL. ou 5.388 mL. O grupo que recebeu maior volume apresentou 4 óbitos (2

por edema pulmonar, 1 por pneumonia e septicemia e 1 por embolia pulmonar)

enquanto naquele que teve restrição hídrica não houve nenhum óbito. Além disso,

as complicações também ocorreram em maior número no grupo sem restrição

hídrica: 55% versus 31% (p<0,032).

Em pacientes submetidos à colecistectomias por via aberta, e que não

apresentaram complicações infecciosas, a restrição hídrica determinou alta mais

precoce, naqueles que receberam até 20 ml/Kg/dia. A alta foi possível no primeiro

dia em 73,3% dos casos contra 41,2% daqueles que receberam volume maior do

que esse (p<0,001)26. O uso abusivo de fluidos intravenosos leva a outras

complicações pós-operatórias, tais como: ganho de peso, formação de edema,

dificuldade na cicatrização das anastomoses, deficiência de fatores de coagulação,

aumento na permanência hospitalar, diminuição da função intestinal, falência renal e

complicações cardio-pulmonares25,27,28. Apesar da evidencia nessa área, há ainda

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muita relutância por parte dos médicos no uso da norepinefrina para compensar a

hipovolemia relativa causada pela indução anestésica ou por anestesia do neuroeixo

que diminuem o tônus simpático e geralmente são tratados com a infusão

antecipada de líquidos29,30.

1.3.5 PREPARO MECÂNICO DO CÓLON.

O preparo mecânico do cólon antes de operações colorretais eletivas é

utilizado até os dias atuais em todas as partes do mundo e a justificativa para tal

procedimento é a remoção da carga fecal e seu potencial infectante.Com isso dentro

desse racional clássico, objetiva-se reduzir as chances de infecção no pós-

operatório. Essa conduta vem sendo bastante questionada24, e estudos

randomizados recentes não oferecem subsídios para que ainda seja adotada1,31,32.

Em meta-analise realizada por Pineda et col.31 em 2008 foram analisados 13

trabalhos com um total de 4.601 pacientes. Desses, 2.304 receberam preparo

mecânico de cólon (grupo 1) enquanto 2.297 não o receberam (grupo 2). Observou-

se fístula anastomótica em 97 (4,2%) dos pacientes do grupo 1 e em 81 (3,5%) do

grupo 2 (OR= 1,21, IC 95%:0,89–1,64, p=0,206). Infecção da ferida operatória

ocorreu em 227 (9,9%) pacientes do grupo 1 e 201 (8,8%) no grupo 2 (OR=1,15,

IC95%:0,94–1,41, p=0.155). Os autores concluíram que o preparo mecânico de

cólon não traz beneficio ao paciente a ser submetido à cirurgia colorretal eletiva e

por esse motivo não deve ser considerado como “tratamento de rotina”. Um outro

estudo randomizado e multicêntrico analisando 1431 pacientes submetidos à cirurgia

colorretal eletiva em 13 diferentes hospitais também concluiu que o preparo

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mecânico de cólon para operações eletivas pode ser abandonado com segurança

uma vez que não houve diferença para ocorrência de: fístula anastomótica,

complicações sépticas e mortalidade32.

Foi realizado no HUJM trabalho com pacientes submetidos a cirurgia colo-

retal com e sem preparo de cólon e a comparação dos resultados mostrou não haver

significância estatística quanto a ocorrência de fístulas anastomóticas (p=1,00) e

quanto a morbidade pós-operatória (p=0,56). Em relação ao tempo de internação

houve diminuição para aqueles que, entre outros cuidados, não foi realizado o

preparo de cólon (12 vs. 7,5 dias; p=0,04) e também houve menor número de

complicações por pacientes (p=0,01)33.

1.3.6 TERAPIA NUTRICIONAL PERI-OPERATÓRIA.

A desnutrição continua sendo um grande problema nos hospitais e sua

prevalência varia entre 20% e 50% dependendo dos critérios utilizados para sua

avaliação, e pode ser maior ainda nos casos de idosos e neoplasias34. Apesar dessa

prevalência uma pequena porcentagem dos pacientes desnutridos recebem terapia

nutricional, provavelmente pela pouca sensibilização e pela falta de educação da

equipe de assistência para o problema35.

A desnutrição pode ser definida como sendo o estado de nutrição no qual a

deficiência ou o excesso (ou desequilíbrio) de energia, proteína e outros nutrientes

causam efeitos adversos mensuráveis nos tecidos/forma do corpo (contorno do

corpo, tamanho e composição), funções e resultados clínicos 36. Pacientes mal

nutridos no pré-operatório têm maior risco de apresentarem complicações pós-

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operatórias e de óbito do que os que estavam bem nutridos anteriormente à cirurgia.

O estado nutricional diminuído pode comprometer a função de muitos sistemas

orgânicos incluindo coração, pulmão, rim e trato gastrointestinal37. A função imune e

a força muscular também estão diminuídas deixando esses pacientes mais

vulneráveis a complicações infecciosas e necessidade de ventilação mecânica

aumentando a morbidade38. A desnutrição também é uma importante causa do

aumento da permanência hospitalar fazendo com que os gastos sejam

maximizados39,40. Em 1996 estimou-se que a intervenção nutricional daria uma

economia de US$ 8.600 por leito por ano nos Estados Unidos41.

Para podermos prevenir esses acontecimentos deve-se realizar triagem ou

rastreamento nutricional nas primeiras 24 a 48 horas após a internação2. O objetivo

dessa triagem é detectar a probabilidade da melhora ou piora da condição

nutricional do paciente. Pode ser realizada por médicos, nutricionistas e ou pela

equipe de enfermagem e irá detectar aqueles pacientes em risco nutricional,

selecionando os que precisam de uma avaliação mais detalhada e permitindo traçar

uma conduta nutricional mais rápida.

A terapia nutricional pode ser administrado de varias formas: suplementação

oral, terapia enteral e parenteral42. A suplementação oral pode diminuir a

mortalidade, abreviar o tempo de internação e diminuir as complicações pós-

operatorias39,43,44. Outra consideração importante a esse respeito é que a

suplementação oral não diminui o apetite dos pacientes que estão se alimentando

normalmente além de ser um tratamento efetivo para aqueles com diminuição do

apetite45. A nutrição enteral é considerada mais barata, segura e mais fisiológica do

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que a alimentação parenteral, pois preserva a função do trato intestinal e mantém a

barreira da mucosa, prevenindo a translocação bacteriana. Quando se compara a

sua introdução precoce em pacientes graves e em pós-operatório com aqueles que

não receberam nenhuma suplementação, observa-se diminuição nas taxas de

infecção e diminuição do tempo de internação, embora não haja significância

estatística quanto à taxa de mortalidade46,47. Uma meta-analise com 27 estudos

randomizados mostrou que em pacientes desnutridos que irão submeter-se a

operações de grande porte, a nutrição parenteral pré-operatória promove queda do

índice de complicações pós-operatórias quando comparada com alimentação oral

complementada com solução glicosada endovenosa48.

A oferta de alguns nutrientes em doses superiores as normais, pode

determinar modificações favoráveis antiinflamatórias e moduladoras do sistema

imunológico. Esses nutrientes são conhecidos como imunomoduladores2. Dentre os

imunonutrientes pode-se citar a glutamina, a arginina, nucleotídeos e ácidos graxos

poliinsaturados do tipo ômega-3, além de vitaminas (A, C e E) e minerais (Zn e Se)

que têm características antioxidantes. Podem ser usados tanto por via enteral

quanto parenteral, isolados ou em associações e os resultados para pacientes

cirúrgicos podem ser benéficos49,50.

1.3.7 MOBILIZAÇÃO ULTRA-PRECOCE.

Imobilização devido a operações e outras situações levam a diminuição e

deficiência da função muscular51,52. Iniciar exercícios desde a internação até a alta

hospitalar e encorajar o paciente a mante-los na residência faz com que a perda de

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massa muscular seja menor53. Um programa multidisciplinar que incorporou

exercícios diminuiu em US$ 300 o custo de internação de pacientes com 65 anos ou

mais e abreviou essa estada em um dia54. Quando pacientes idosos ficam

internados, já no segundo dia de hospitalização, ocorre deterioração,

estatisticamente significante, em sua mobilidade, alimentação, aparência e cuidados

pessoais55. O declínio funcional leva a um aumento do risco da doença e de morte,

diminuição na qualidade de vida (freqüentemente irreversível) resultando em menor

autonomia e maior dependência, além disso, prolonga a internação e esta

relacionada com maior chance de reinternação56.

Creditor56 descreve como “cascata da dependência” o processo que ocorre

quando o paciente tem suas atividades diminuídas pela internação e pela restrição

ao leito. Essas alterações incluem: diminuição da força muscular e capacidade

aeróbica, instabilidade vasomotora, redução da água total do organismo, redução da

densidade óssea, redução da ventilação, alterações da sede, do paladar, do olfato e

da dentição e fragilidade da pele. Nesses casos a diminuição da força muscular

pode chegar a velocidade de 5% de perda por dia.

Com restrição ao leito por 24 a 48 horas o volume plasmático diminui em

aproximadamente 7% ou 500 ml.. Essa redução faz com que haja diluição do

volume sanguíneo levando a uma diminuição da secreção de hormônio antidiurético

havendo perda de água e de sódio57. Com a falta de atividade muscular o sistema

cardiovascular sofre alterações: diminuição do volume de sangue e fluido intersticial,

diminuição da pressão arterial diastólica, diminuição do volume sistólico do

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ventrículo esquerdo, diminuição da massa muscular do ventrículo esquerdo e uma

redefinição dos barorreceptores da carótida58.

As principais complicações advindas da não deambulação precoce são as

seguintes: pneumonia, atelectasia, trombose venosa, embolia pulmonar, íleo

prolongado, perda de massa magra, catabolismo, atrofia muscular e resistência

insulínica com conseqüente hiperglicemia2. Pacientes hospitalizados deambulam

muito pouco e os idosos, menos ainda. Um estudo realizado em 2004 mostrou que

apesar de 72,9% dos pacientes se sentirem aptos a andar não o faziam por períodos

de até 3 horas e caminhavam por apenas 5,5 min.59. Desses, 9,4% só o faziam com

os membros da enfermagem e 18,8% só com familiares. A movimentação é

reconhecida como sendo o componente primário, secundário e terciário na

prevenção de todas as morbidades e mortalidade causada por doenças60.

1.3.8 JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO.

O jejum pré-operatório é considerado essencial para a segurança do paciente

na indução anestésica para reduzir o risco de regurgitação do conteúdo gástrico.

Como ocorre uma diminuição do reflexo que tem como função proteger os pulmões

durante a indução anestésica, se ocorrer o refluxo gastro-esofágico este pode

provocar serias complicações pulmonares61.

Em 1946, Mendelson relacionou alimentação em fase pré-operatória com

aspiração pulmonar do conteúdo gástrico e a partir destas constatações, duas

síndromes foram descritas2. A primeira refere-se à aspiração de sólidos

determinando obstrução das vias respiratórias e até a morte. A outra é provocada

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pela aspiração de conteúdo gástrico líquido com lesão química (Síndrome de

Mendelson). Até hoje , há grande controvérsia sobre a quantidade e o pH do

conteúdo gástrico capaz de aumentar o risco de aspiração e o conseqüente

desenvolvimento de complicações pulmonares62,63,64.

Por outro lado, o organismo humano necessita de energia para manter suas

funções. Essa energia é obtida através da alimentação e é armazenada no

organismo na forma de carboidratos (0,4 Kg.) que duram menos de um dia se o

individuo ficar em jejum; de proteínas (10 a 12 Kg) e de gorduras (10 a 15 Kg)65.

Aproximadamente 10 a 15% do peso corpóreo pode ser perdido, porém isso

acarreta conseqüências para as funções do organismo, especialmente se exigido,

como é o caso de operações. Entretanto, perdas entre de 35% a 40% colocam a

vida em risco66.

Após algum tempo de jejum, como o que ocorre entre o período noturno e o

café da manhã, a glicose entra na circulação através do fígado, pela quebra do

glicogênio e pela neoglicogênese. O estimulo para produção de glicose é a

diminuição de sua concentração sanguínea fazendo com que diminua o índice

insulina/glucagon. O substrato usado na neoglicogênese é o lactato, a alanina

(músculo) e o glicerol (tecido gorduroso)66. Em aproximadamente 24 horas de jejum

as reservas de glicogênio hepático são esgotadas e a partir daí a neoglicogênese é

a única fonte de suprimento de glicose, sendo realizada a custa de proteína

muscular. Isto é fundamental para os tecidos que dependem de seu suprimento para

a sobrevivência (cérebro, medula renal e eritrócitos). Para evitar a depleção dos

estoques de proteína ocorre a adaptação metabólica nas primeiras 2 a 3 semanas

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de jejum. Essa adaptação metabólica caracteriza-se pela diminuição do nível de T3

que reduz o índice metabólico e a proteólise muscular65. A ativação do sistema

adrenérgico juntamente com a diminuição da insulina faz com que haja aumento da

lipólise e aumento de ácidos graxos livres que podem ser usados como

“combustível” pelos músculos. O aumento da oxidação dos ácidos graxos livres faz

com que também haja aumento de corpos cetônicos que posteriormente também

pode ser usado como combustível por diversos tecidos, como, por exemplo, o tecido

nervoso.

Quando a alimentação é restabelecida e inicia-se a absorção, o nível de

insulina e o índice insulina/glucagon crescem rapidamente, resultando em inversão

da quebra do glicogênio para sua síntese e a captação periférica de glicose,

principalmente pelos músculos, está aumentada65. Tanto um breve jejum quanto

alimentação hipocalórica por 1 a 3 dias, o que ocorre com freqüência nos serviços

de cirurgia, resultam em significante diminuição da sensibilidade à insulina mesmo

em indivíduos sadios67. Essa diminuição da sensibilidade à insulina esta relacionada

com maior índice de infecção pós-operatória68, maior risco de morbi-mortalidade69 e

maior tempo de internação70.

A resistência insulínica desenvolve-se não só em cirurgias de grande porte

mas também nas de menor porte como a herniorrafia e a colecistectomia por via

laparoscópica66. A resistência a insulina determina alteração metabólica semelhante

ao Diabetes do tipo II quando ocorre uma diminuição da sensibilidade à insulina. A

maior causa da hiperglicemia e da resistência à insulina é a diminuição na captação

da glicose estimulada pela insulina nos tecidos sensíveis, principalmente os

músculos esqueléticos. Esse processo está associado a uma modificação na

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resposta de proteínas transportadoras de glicose, especialmente GLUT-4, ao

estimulo insulínico. Em indivíduos sadios, quando há o estimulo insulínico, essas

proteínas são translocadas para o interior da membrana celular onde facilitam a

captação da glicose para dentro da célula. No interior da célula a oxidação da

glicose é mantida mesmo com o paciente apresentando resistência à insulina 71.

Ainda não está claro qual ou quais os principais mediadores para o desenvolvimento

da resistência insulínica após cirurgias72.

Sabe-se que o esvaziamento gástrico para líquidos não calóricos é

extremamente rápido e, em aproximadamente 10 minutos, metade da quantidade

ingerida já passou para o duodeno. Quando o líquido é enriquecido com glicose, o

esvaziamento é mais lento inicialmente . Porém, decorridos 90 minutos, geralmente

ele é completo. Para os sólidos, o esvaziamento inicia-se em 1 hora e em torno de 2

horas aproximadamente 50% do material ingerido já atingiu o duodeno

independendo da quantidade ingerida73,74.

Em consonância com muitos trabalhos e diretrizes de sociedades de

anestesia75,76, a ingesta de líquidos claros esta liberada até 2 horas antes do

procedimento anestésico. Já alimentos sólidos, leite ou outra fonte de gordura

precisam de 6 horas2. Vários estudos foram feitos estudando a possibilidade de

pacientes ingerirem líquidos até 3 horas antes da operação. Demonstrou-se que

esse procedimento tanto em adultos quanto em crianças diminuí a sede e a

ansiedade quando comparados com o jejum tradicional77. Esse mesmo estudo

demonstrou que o uso de soluções com 285 mOsm/Kg e 12% de carboidratos era

segura quando ingerida até 2 horas antes da operação. Nos últimos anos tem-se

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utilizado líquidos enriquecidos com carboidratos no pré-operatorio2,59,66,70,71,78,79 e

demonstrou-se que além de ser seguro, ainda diminui a resistência à insulina.

Devido à relativa baixa osmolaridade essa solução promove um esvaziamento

gástrico rápido, semelhante ao da água. Também reduz a sede, a fome, a

ansiedade80 e os vômitos81.

1.3.9 RE-ALIMENTAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO.

Como rotina em quase todos os serviços de cirurgia adota-se o jejum pós-

operatório em cirurgias gastrointestinais durante a fase do íleo pós-

operatório,objetivando diminuição de distensão, náusea, vômitos e também de

proteção de uma eventual anastomose realizada. Adota-se então hidratação venosa

diaria que pode trazer sérios distúrbios para o paciente além de prolongar sua

internação. Nesse contexto tradicional, a reintrodução de alimentação por via oral

somente será prescrita quando houver resolução completa do íleo pós-operatório,

com restabelecimento de ruídos peristálticos, de flatus e evacuações82.

A desmotilidade pós-operatória é diferente em cada região do tubo digestivo.

O estomago demora cerca de 24 horas para recuperar completamente sua

motilidade, o intestino delgado de 5 a 7 horas, o cólon direito de 24 a 48 horas e o

colón esquerdo de 36 a 60 horas2. Por esse motivo a re-introdução de alimentos

após 24 horas de laparotomia pode ser feita e estudos comprovam que a dieta é

bem tolerada e absorvida83.

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Em meta-análise realizada por Lewis et col84 onde foram analisados 11

estudos randomizados e controlados demonstrou-se que não houve significância

estatística quanto à deiscência da anastomose entre os grupos que receberam

alimentação nas primeiras 24 horas quando comparados com os que permaneceram

em jejum por maior período de tempo. Quanto ao risco de infecção, comprovou-se

que no grupo que recebeu alimentação precoce ele foi menor e resultado similar foi

encontrado para o risco de infecção do sitio cirúrgico e pneumonia. Não houve

significância estatística para mortalidade. Finalmente observaram redução no tempo

de permanência hospitalar com a re-alimentação precoce. Desse modo não há

nenhuma evidência para se deixar o paciente em jejum no pós-operatório por 2 ou

mais dias2.

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2. JUSTIFICATIVA.

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2. JUSTIFICATIVA.

A introdução, em serviços de cirurgia geral, de protocolos multimodais como o

ACERTO, tem por base uma ampla gama de estudos que demonstraram que a

utilização de rotinas baseadas em evidências podem prover um retorno precoce da

função intestinal e melhoria das funções fisiológicas dos pacientes, resultando em

uma diminuição da permanência hospitalar e morbidade operatória85,86,87,88,89,90.

Os primeiros levantamentos de dados realizados, fruto de auditorias do

protocolo ACERTO, seis meses após sua implantação, já mostravam diminuição das

complicações pós-operatórias e de infecção do sítio cirúrgico91. Uma nova avaliação,

publicada em 2008 com a inclusão de mais casos manteve os bons resultados

observados no primeiro estudo92.

A evolução dos meios diagnósticos e de tratamento trouxe consigo elevação

considerável de custos e em nosso país, onde a maioria da população depende do

sistema público de saúde, isso implica em gastos consideráveis e crescentes do

governo como mostram os números do DATASUS93. Houve no ano de 2000 um total

de 11.937.323 internações no Brasil, sendo que o Estado de Mato Grosso

respondeu por 196.378 (1,65 %) desse total. No ano de 2008 foram 10.748.089 de

internações e em Mato Grosso foram internados 172.861 (1,61 %) pacientes. Por

outro lado, os gastos com essas internações evoluíram de R$ 4.886.848.236,08 em

2000, dos quais Mato Grosso respondeu por R$ 68.594.764,63 (1,40 %) para

R$8.288.052.199, com Mato Grosso sendo responsável por R$ 104.306.357,95

(1,26 %) em 2008. Com base nesses números chegamos à conclusão que o valor

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médio das internações evoluiu de R$ 409,38 para R$ 771,12 no Brasil e de R$

349,30 para R$ 603,41 em Mato Grosso. Nesse sentido, um programa que traga

como beneficio um melhor atendimento ao paciente com diminuição de morbidade e

tempo de internação, terá implicação direta na diminuição de custos hospitalares.

Desde a criação e implantação do protocolo ACERTO no Hospital

Universitário Júlio Muller, no ano de 2005, nenhuma investigação que envolvesse

uma comparação de elevado número de pacientes antes e após a introdução das

novas rotinas foi realizada. Conforme já citado, os estudos publicados focados nos

resultados pós ACERTO envolveram apenas casos selecionados tratados na

enfermaria de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário Júlio Muller no período de

doze meses antes da sua implantação até, no máximo, dois anos após91,92.

Dessa forma, é de extrema importância a realização de um estudo que

englobe um grande número ou todos os pacientes tratados antes e após a

implantação do protocolo ACERTO no HUJM. Deve-se ressaltar que, nos últimos

sete anos, o Serviço de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário Júlio Muller não

sofreu qualquer tipo de modificação substancial tanto em sua estrutura física

(número de leitos disponíveis, número de salas cirúrgicas, ampliações em geral etc.)

quanto em seu corpo clínico (aumento do número de médicos, implantação de novas

especialidades cirúrgicas no serviço, etc.). Desde o ano de 2002 até a presente

data, a estrutura física e assistencial do serviço se mantém conforme pode ser

observado no Anexo 1. A única modificação de impacto em todo esse período de

tempo foram as mudanças de condutas e rotinas em cuidados peri-operatórios

propostas pelo protocolo ACERTO, a partir de 2005. Assim, um estudo que

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englobasse os resultados terapêuticos, com especial interesse na morbi-

mortalidade, de todos os pacientes internados no Serviço de Clínica Cirúrgica do

HUJM desde 2002 seria capaz de mostrar o real impacto do protocolo ACERTO na

recuperação de pacientes tratados neste serviço. Tais dados, tendo em vista o

elevado número de casos estudados, terão interesse, não só para retratar uma

realidade regional mostrando o impacto do ACERTO na população de pacientes

tratados pelo Departamento de Clínica Cirúrgica do HUJM, mas também para servir

de base sólida para a real validação das rotinas preconizadas pelo protocolo

ACERTO e sua posterior implantação conforme a adequação dessas a realidade de

outros importantes hospitais do Brasil.

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3. OBJETIVOS.

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3. OBJETIVOS.

Objetivo Geral

Comparar os resultados clínicos, com especial interesse a morbi-mortalidade,

em pacientes internados na enfermaria de clínica cirúrgica do Hospital Universitário

Julio Muller (HUJM-FCM-UFMT) antes da implantação do projeto ACERTO (entre os

anos de 2002 a 2004) com após a implantação do projeto ACERTO (entr os anos de

2005 a 2008).

Objetivos Específicos

Avaliar comparativamente em pacientes internados na Clínica Cirúrgica do

Hospital Universitário Julio Müller, entre os anos de 2002 a 2008, comparando ano a

ano e depois nos períodos de 2002 a 2004 e, posteriormente, nos períodos de 2005

a 2008, observando as seguintes variáveis:

§ número total de internações.

§ número total de operações.

§ tempo de internação.

§ número de bolsas de hemoderivados transfundidos.

§ índices de infecção do sítio cirúrgico.

§ índices de complicações pós-operatórias e re-operações.

§ número de óbitos.

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4. CASUÍSTICA E MÉTODOS.

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4. CASUÍSTICA E MÉTODOS.

4.1 MÉTODOS.

O presente estudo foi submetido a avaliação e aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisa (CEP) do HUJM (Anexo 2).

Foram avaliados de modo retrospectivo dados coletados prospectivamente

referentes a internação de 5.974 pacientes no Serviço de Cirurgia Geral

(Departamento de Clínica Cirúrgica) do Hospital Universitário Júlio Müller (UFMT)

entre janeiro de 2002 a dezembro de 2008. A investigação desses casos foi dividida

em duas fases. Uma inicial, entre janeiro de 2002 a dezembro de 2004, envolvendo

casos internados antes da implantação do protocolo ACERTO neste serviço (período

PRÉ-ACERTO), e outra, com casos internados entre janeiro de 2005 a dezembro de

2008. Apesar do protocolo ACERTO ter sido introduzido em julho de 2005 adotou-se

o ano completo de 2005 como período PÓS-ACERTO.

Os dados levantados foram colhidos de modo prospectivo entre os anos de

2002 a 2008. Ao longo destes anos, estes dados foram rotineiramente coletados,

através do mesmo método, como parte da auditoria estatística do Departamento de

Clínica Cirúrgica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal do

Mato Grosso.

Tal coleta de dados foi realizada sistematicamente pelos internos

(acadêmicos do curso de Medicina – Bacharelado da FCM-UFMT do quinto e sexto

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ano) em atividades na enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM. Como parte deste

método de coleta de dados foi preenchido um instrumento denominado “ficha de alta

ou óbito (FAO)”, conforme pode ser visto no Anexo 3. Para cada paciente internado

na enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM no momento de sua alta hospitalar ou

óbito (relacionado a fatores relacionados com a internação), independentemente da

ocorrência ter sido na própria enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM ou outro

setor do HUJM (por exemplo, Centro Cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva, etc.)

era preenchida uma FAO. Em caso de transferência do paciente para outro

nosocômio, a FAO foi preenchida com os dados do paciente no momento em que se

deu a transferência inter-hospitalar.

Imediatamente após seu preenchimento, a FAO foi verificada e

eventualmente corrigida pelo Residente de Cirurgia Geral de plantão na Enfermaria

do Serviço. Após as assinaturas dos responsáveis por seu preenchimento (interno e

médico residente) o instrumento foi encaminhado à secretaria do Departamento de

Clínica Cirúrgica. Neste setor, a secretária do serviço realizou uma segunda

checagem (desta vez com objetivo de verificar o correto preenchimento de todos os

campos e eventuais erros gramaticais). A mesma procedeu então a inclusão dos

dados contidos na FAO em um banco de dados digital, pertencente ao pacote

programa Epidata (versão 2.1 e 2.1b).

Anualmente, entre os médicos residentes de Cirurgia Geral do segundo ano

(R2) do Departamento de Clínica Cirúrgica, um foi escolhido pelo Chefe do

Departamento para desempenhar a função de médico residente responsável pela

auditoria do serviço. Com a finalidade de realizar coordenação e orientação deste,

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foi escolhido um representante docente. Entre 2002 a 2008, sete médicos residentes

e dois docentes do serviço realizaram tais funções. Esses dois membros reuniram-

se semanalmente com objetivo de checar os dados e proceder a confrontação do

número de FAOs emitidos em relação ao número de altas hospitalares, óbitos de

pacientes do serviço ou transferência registradas pelo setor de prontuário do

Hospital Universitário Júlio Muller. Impediu-se assim que qualquer registro fosse

negligenciado.

A cada 10-12 semanas os dados obtidos no período foram apresentados, em

sessão clínica, ao Colegiado do Departamento Clínica Cirúrgica da Faculdade de

Ciências Médicas da Universidade Federal do Mato Grosso. No final de cada ano,

a consolidação foi apresentada na forma de auditoria final referente ao período de

cada ano.

A FAO (Anexo 3) continha dados para identificação do paciente tais como:

nome, idade, etnia, sexo, profissão, naturalidade, procedência e telefone para

contato. Também possuía os dados referentes a internação atual: se foi a primeira

internação na clínica cirúrgica, a data em que ocorreram tanto a internação quanto a

alta, altura e o peso do paciente na internação, o diagnóstico (codificado pelo código

internacional de doenças, 10ª revisão – CID10) e as especialidades. Quanto ao

tratamento, registrou-se a realização de operação ou não durante a internação. Em

ocorrendo tratamento operatório, o nome da operação realizada, cirurgiões e

médicos residentes que participaram do ato e a sua data. Registraram-se ainda

dados relacionados à ocorrência de complicações referentes à operação

(complicações cirúrgicas ou complicação clínicas), se houve infecção do sítio

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operatório e, caso tenha havido, qual o germe isolado em cultura. A última parte da

FAO referia-se a informações quanto ao anatomopatológico, ocorrência de doença

neoplásica maligna e, caso tivesse ocorrido óbito, sua causa conforme a realização

de necropsia ou não.

A quantidade e a qualidade dos hemoderivados utilizados durante a

internação foram obtidos por levantamento nos arquivos da Unidade Transfusional

do HUJM

A FIGURA 1 mostra o conjunto de medidas estabelecidas pelo protocolo

ACERTO e as condutas convencionais que vinham sendo aplicadas antes da

implantação do mesmo.

As variáveis comparadas em relação aos períodos PRÉ-ACERTO e PÓS-

ACERTO foram: número total de internações, número total de operações, tempo de

internação hospitalar, infecção do sítio cirúrgico, complicações gerais pós-

operatórias e óbitos. As complicações gerais pós-operatórias levaram em

considerações as intercorrências relacionadas à operação realizada no serviço,

ocorridas em pós-operatório, e diagnosticadas durante o mesmo período de

internação hospitalar, interessando: deiscência de parede, evisceração, abscesso ou

coleção de parede, sangramento ativo por ferida cirúrgica, deiscência e fístula de

sutura ou anastomose, abscesso ou coleção cavitária, lesão inadvertida de

estrutura(s), sangramento dentro de víscera oca, íleo paralítico prolongado,

sangramento cavitário (livre na cavidade). Infecção do sítio cirúrgico foi definida

segundo os critérios propostos por Mangram e cols, 199994. Só foram avaliadas as

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infecções de sítio cirúrgico que foram diagnosticadas durante o período de

internação hospitalar.

Método Estatístico

Para a análise dos dados obtidos foi utilizado o pacote de programas

estatísticos Epi-info, versão 2004. A variável tempo de internação foi avaliada quanto

à distribuição normal com o teste de Kolmogorov-Smirnov e homogeneidade de

variâncias pelo teste de Levene. Para dados paramétricos foi utilizado o teste t de

Student (dados expressos em média e desvio padrão) e para comparação entre

dados não-paramétricos o teste de Mann-Whitney (dados expressos em mediana e

variação). As variáveis qualitativas (infecção do sítio cirúrgico, complicações clínicas,

complicações cirúrgicas e óbitos) foram analisadas entre os diferentes grupos

utilizando-se o teste qui-quadrado. Foi adotado como índice de significância

estatística o valor de p<0,05. Como medida da força de associação, foi realizado o

cálculo do risco relativo (RR), com intervalo de confiança de 95% (IC95%). Na

comparação de dados ano a ano foram realizadas curvas, analisadas pelo teste qui-

quadrado de tendências, verificando-se com base na sua inclinação (valor de A) a

ocorrência de uma tendência crescente ou decrescente relacionada aos dados.

4.2 CASUÍSTICA.

Entre os anos de 2002 a 2008, 5974 pacientes foram internados na

enfermaria de clínica cirúrgica do Hospital Universitário Júlio Müller. Destes, 1987

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(33,3%) foram internados entre 2002 a 2004, período anterior a implantação do

protocolo ACERTO nesse serviço (AA). Por sua vez, 3987 pacientes (66,7%) foram

internados entre os anos de 2005 a 2008, portanto, posterior a implantação do

protocolo ACERTO (DA).

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5. RESULTADOS.

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5. RESULTADOS.

Comparando-se os dois períodos de estudo (AA vs. DA), não houve

diferenças estatisticamente significantes em relação ao sexo, idade média, etnia e

procedência dos pacientes. No período AA foram operados 1544 pacientes e no

período DA, 3090 (p=0,88). Não houve diferenças estatísticas significantes

relacionadas a prioridade operatória (operação eletiva versus operação de urgência)

e no percentual de casos com neoplasias malignas operados (16,6% versus 15,8%,

p= 0,51).

Os pacientes operados nos dois períodos de estudos foram similares em

relação ao índice de massa corporal (IMC), com média de 24.6±5.8 Kg/m2 no

período AA, e 24.0±6.1 Kg/m2 no período DA (p=1.0) e quanto ao seu escore de

risco operatório segundo a classificação da American Society of Anestesiology

(ASA). Da mesma forma, observando-se as operações realizadas nos dois períodos,

não houve diferença estatisticamente significante em relação à classe da operação

em relação ao risco de infecção do sítio cirúrgico (limpa, limpa-contaminada,

contaminada e infectada). No período posterior a implantação do protocolo

ACERTO, o percentual de operações vídeo-laparoscópicas foi significantemente

maior que no período antes da implantação do protocolo ACERTO (18.1% versus

12%, p<0.001).

A TABELA 1 mostra as características clínicas e epidemiológicas do

pacientes internados durante os dois períodos de observação (antes e após a

implantação do protocolo ACERTO).

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TABELA 1: Pacientes internados nas enfermarias de Clínica Cirúrgica do Hospital

Universitário Júlio Muller, antes (AA) e após (DA) a implantação do

protocolo ACERTO.

Período anterior ao protocolo ACERTO (AA) Período após o protocolo ACERTO (DA) p

Total de Casos 1987 3987

Sexo Masc Fem Masc Fem

969 1018 1621 1517 NS

Idade média 46 anos ± 17.3 anos 46 anos ± 22.3 anos NS

Etnia Branco Negro Pardo Outros Branco Negro Pardo Outros

867 336 757 27 1746 721 1490 26 NS

43.6% 16.9% 38.1% 1.4% 43.8% 18.1% 37.4% 0.7%

Procedência Cuiabá Interior MT Outros estados Cuiabá Interior MT Outros estados

1169 672 146 2080 982 76 NS

58.8% 33.8% 7.3% 52.2% 24.6% 1.9% Casos operados 1544 3090 NS

77.7% 77.5% Prioridade operatória Eletiva Urgência Eletiva Urgência

1411 133 2852 238 NS

91.4% 8.6% 92.3% 7.7%

Via operatória Aberta Videolaparoscopia Aberta Videolaparoscopia

1359 185 2531 559 P<0.05

88% 12% 81.9% 18.1% Neoplasias Malignas

256 488 NS

16.6% 15.8%

IMC* (e±DP) 24±5.8 24 ±6.1 NS Classificação da ASA* I II III IV I II III IV

757 547 250 0 1526 1069 494 0 NS

48.7% 35.2% 16.1% 0 49.4% 34.6% 16% 0 Classe da operação

Limpa Limpa-contaminada

Contaminada Infectada Limpa Limpa-contaminada

Contaminada Infectada NS

314 1044 174 22 658 2098 300 34

20.2% 67.2% 11.2% 1.4% 21.3% 67.9% 9.7% 1.1%

* Índice de massa corporal (Kg/m2); ** American Society of Anestesiology.

Tendo em vista as características da enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM

(serviço de Cirurgia Geral), as operações mais realizadas nos dois períodos de

estudos foram efetuadas por docentes da área de Cirurgia do Aparelho Digestivo e

Coloproctologia correspondendo, em ambos os períodos, a mais de 50% das

operações efetuadas. As TABELAS 2 e 3 nos mostram respectivamente o

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percentual de operações por especialidades cirúrgicas efetuadas nos dois períodos

de estudo, e os procedimentos operatórios por ordem de freqüência.

TABELA 2: Operações por especialidades cirúrgicas realizadas na enfermaria de

Clínica Cirúrgica do HUJM antes (AA) e após (DA) a implantação do

protocolo ACERTO.

AA DA

ESPECIALIDADES CIRURGICAS n % N %

Aparelho Digestivo / Coloproctologia 960 62,2 1720 55,7

Cirurgia Plástica 108 5,4 136 4,4

Cirurgia de Tórax 147 7,4 451 14,6

Urologia 183 9,2 547 17,7

Cirurgia de Cabeça Pescoço 65 3,3 147 4,8

Cirurgia Vascular 46 2,3 11 0,4

Cirurgia Buco-Maxilo-Facial / Otorrino 35 1,8 78 2,5

TOTAL 1544 3090

Excetuando as cirurgias classificadas como miscelânea, não houve diferença

entre o primeiro e o segundo período em relação ao porte das operações: no

primeiro período houve 684 (66,4%) operações de menor porte enquanto que no

segundo período houve 1369 (63,5%, p=0,12).

Dos 5974 pacientes internados durante o período de estudo, 4634 (77,56%)

foram submetidos a tratamento operatório e 1340 (22,44%) a tratamento clínico. A

TABELA 4 mostra a evolução desses números ao longo dos anos de estudo.

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42

TABELA 3: Operações realizadas por período, anterior (AA) e posterior (DA) a

implantação do protocolo ACERTO.

PERÍODO AA PERÍODO DA

Porte Anos Cirurgias

2002 2003 2004 Total % 2005 2006 2007 2008 Total %

1 Colecistectomia aberta 72 60 69 201 13,0% 98 158 182 128 566 18,3%

1 Herniorrafia inguinal 40 28 37 105 6,8% 66 87 65 58 276 8,9%

1 Video-colecistectomia 0 13 17 30 1,9% 51 48 34 13 146 4,7%

1 Tireoidectomia 3 12 17 32 2,1% 24 29 28 13 94 3,0%

1 Cirurgia da uretra 0 8 4 12 0,8% 21 12 13 9 55 1,8%

1 Cirurgia ano-orificial 19 18 18 55 3,6% 11 19 18 0 48 1,6%

1 Mamoplastia 32 18 20 70 4,5% 5 3 21 15 44 1,4%

1 Apendicectomia 5 0 8 13 0,8% 9 12 11 8 40 1,3%

1 Plásticas de Face 11 3 6 20 1,3% 7 8 9 8 32 1,0%

1 Gastrostomia 3 2 10 15 1,0% 1 11 10 4 26 0,8%

1 Jejunostomia 0 4 3 7 0,5% 5 5 4 4 18 0,6%

1 Varicocele 33 2 12 47 3,0% 0 0 9 0 9 0,3%

1 Varizes do MMII 22 17 22 61 4,0% 2 2 4 0 8 0,3%

1 Abdominoplastia 9 5 2 16 1,0% 1 0 5 1 7 0,2%

Subtotal 11 249 190 245 684 66,4% 301 394 413 261 1369 63,5%

2 Laparotomia exploradora 0 17 16 33 2,1% 12 84 34 18 148 4,8%

2 Herniorrafia incisional 17 13 17 47 3,0% 11 36 29 25 101 3,3%

2 Cirurgia colo-retal 22 18 18 58 3,8% 20 16 27 34 97 3,1%

2 RTU de próstata 13 8 10 31 2,0% 15 23 21 17 76 2,5%

2 Prostatectomia 4 7 12 23 1,5% 9 20 26 17 72 2,3%

2 Toracotomia 6 4 4 14 0,9% 9 30 11 12 62 2,0%

2 Gastrectomias 7 6 8 21 1,4% 26 8 9 7 50 1,6%

2 Cirurgia bariátrica 0 4 9 13 0,8% 8 14 4 10 36 1,2%

2 Correção do refluxo GE 5 3 5 13 0,8% 6 8 12 7 33 1,1%

2 Nefrectomia 3 7 5 15 1,0% 5 6 7 9 27 0,9%

2 Anastomose bíleo-digestiva 7 9 13 29 1,9% 6 6 4 8 24 0,8%

2 Esofagectomia 4 2 2 8 0,5% 3 3 4 6 16 0,5%

2 Pneumectomia 2 5 5 12 0,8% 3 4 4 3 14 0,5%

2 Cirurgia do megaesôfago 4 1 3 8 0,5% 3 0 6 3 12 0,4%

2 Pancreatectomia 8 2 4 14 0,9% 6 2 1 2 11 0,4%

2 Hepatectomia 0 3 4 7 0,5% 2 0 3 2 7 0,2%

Subtotal 22

102 109 135 346 33,6% 144 260 202 180 786 36,5%

Subtotal 1+ 2 351 299 380 1030 445 654 615 441 2155

Miscelânia 164 196 154 514 33,3% 204 153 296 282 935 30,3%

Total 515 495 534 1544 100% 649 807 911 723 3090 100%

1-Totalidade das cirurgias ano a ano e porcentagem das cirurgias porte 1 sobre o total de cirurgias exceto miscelânia

2-Totalidade das cirurgias ano a ano e porcentagem das cirurgias porte 2 sobre o total de cirurgias exceto miscelânia

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43

TABELA 4: Distribuição das internações com base no tratamento empregado

(operatório ou clínico) ao longo dos anos de estudo.

ANO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Tratamento operatório 515 495 534 649 807 911 723

Tratamento clínico 145 148 150 200 234 269 194

Total 660 643 684 849 1041 1180 917

Observou-se uma tendência crescente em relação as internações com

tratamento operatório (A=+11,78) ao longo dos anos de estudo e uma tendência

decrescente (A= -17,08) em relação as internações em que ocorreu apenas

tratamento clínico. Comparando-se ano a ano a relação entre o número de pacientes

submetidos a tratamento operatório com o número de pacientes submetidos a

tratamento clínico (FIGURA 4), não se observou diferença significativa (p=0,73).

Avaliando-se, tratamento clínico e operatório em relação aos períodos anterior

a aplicação do protocolo acerto (AA) e após (DA), observou-se que 1544 pacientes

(77,71%) e 3090 (70,98%) foram submetidos a tratamento operatório

respectivamente nos períodos AA e DA, contra 443 (22,29%) e 897 (29,02%)

submetidos a tratamento clínico (p=0,88)

Durante todo o período de estudo, o tempo médio de internação desses

pacientes foi de 7,3 ± 9,0 dias, variando de 1 a 137 dias, com moda de 2 dias e

mediana de 4 dias. Ocorreu uma queda no tempo de internação entre os dois

períodos. No período AA a média de dias de internação foi de 8,0±9,1 dias contra

6,8±9,0 dias no período DA (p<0,001). A TABELA 5 mostra os valores de mediana,

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moda e variação do tempo de internação dos pacientes internados nos dois

períodos.

FIGURA 4: Relação entre o número de pacientes submetidos a tratamento

operatório e clínico ao longo dos anos de estudo.

TABELA 5: Mediana, moda e variação (máximo e mínimo) do tempo de internação

em dias dos pacientes internados no período anterior (AA) e posterior

(DA) a implantação do protocolo ACERTO.

MEDIANA MODA MÍNIMO MÁXIMO MÉDIA e

Desvio Padrão*

Período AA 4 3 0 137 8,0±9,1

Período DA 3 2 0 126 6,8±9,0

*p<0,001

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A TABELA 6 mostra o total de unidades de hemoderivados transfundidos

durante o período de estudo e sua relação (índice bolsa/paciente) com o total de

pacientes internados ano a ano. No período AA foram realizadas um total de 1987

transfusões com bolsas de hemoderivados na enfermaria de Clínica Cirúrgica do

HUJM, o que corresponde a uma relação de 2,53 bolsas por paciente. No período

DA, o número total de unidades transfundidas foi de 3987 constando-se, conforme

evidenciado no FIGURA 5, queda para 0,77 na relação bolsa por paciente (p<0,001).

TABELA 6: Total de unidades de hemoderivados transfundidas e relação

bolsa/paciente no período de estudo.

ANO TOTAL DE UNIDADES TRANSFUNDIDAS n nº BOLSAS / PACIENTES

2002 1929 660 2,92

2003 1427 643 2,22

2004 1680 684 2,46

2005 951 849 1,12

2006 591 1041 0,57

2007 756 1180 0,64

2008 778 917 0,85

TOTAL 8112 5974 1,36

FIGURA 5: Relação do número bolsa de hemoderivados por paciente durante os

dois períodos de estudo (*p<0,001 vs. DA).

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A FIGURA 6 apresenta o percentual de infecções do sítio cirúrgico (ISC)

durante o período de internação na enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM

durante todo o período de estudo.

FIGURA 6: Percentual de infecções do sítio cirúrgico (%ISC) ano a ano,

diagnosticadas durante o período total de estudo.

Notou-se uma tendência decrescente do número de casos de ISC ao longo

dos anos estudados (A= -153,08). Observou-se também uma tendência decrescente

(p<0,05) de número de casos de complicações operatórias (A= -51,41) e de re-

operações (A= -57,10). A distribuição percentual de complicações operatórias e re-

operações ao longo dos anos pode ser evidenciada na FIGURA 7.

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FIGURA 7: Percentual de complicações operatórias (%CCIR) e de re-operações

(%REOP) ao longo dos anos estudados.

No período anterior a implantação do protocolo ACERTO (AA) foram

diagnosticados 116 (7,51%) casos de infecção do sítio cirúrgico durante a internação

de pacientes na enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM. No período após a

implantação do protocolo ACERTO (DA) esse valor foi de 104 (3,36%) casos

(p=0,000001; RR 2,23; IC95% 1,73-2,89). Observou-se também em relação aos dois

períodos diminuição significativa do número de complicações operatórias (122

casos; 7,9% vs. 190 casos; 6,14%; p=0,029; RR 1,29; IC95% 1,03-1,60) e de re-

operações (41casos; 2,65% vs. 37casos;1,19%; p=0,0004; RR 2,22; IC95% 1,43-

3,44). Os percentuais de infecção do sítio cirúrgico, complicações operatórias e re-

operações nos períodos AA e DA pode ser visto na Figura 8.

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FIGURA 8: Percentuais de infecção do sítio cirúrgico (%ISC), complicações

operatórias (%CCIR) e re-operações (%REOP) diagnosticadas antes

(AA) e após (DA) a implantação do protocolo ACERTO (*p<0,05 vs. DA).

Analisando-se todo o período de estudo (2002 a 2008) observou-se uma

tendência decrescente em relação ao total de óbitos em pacientes internados na

enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM (A= -62,07), conforme se pode evidenciar

na Figura 9.

Em relação aos óbitos, 56 (2,81%) ocorreram no período AA e 69 (1,73%)

ocorreram no período DA (p=0,0075; RR: 1,63; IC95% 1,15-2,31). Essa distribuição

pode ser visualizada na Figura 10.

Eventos pós-operatórios

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FIGURA 9: Percentual de óbitos ocorridos em pacientes internados na Clínica

Cirúrgica do HUJM entre 2002 a 2008.

FIGURA 10: Percentual de óbitos em pacientes internados na enfermaria de Clínica

Cirúrgica do HUJM nos períodos antes (AA) e após (DA) a implantação

do protocolo ACERTO (*p=0,0075 vs. DA).

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50

6. DISCUSSÃO.

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6. DISCUSSÃO.

Varios trabalhos confirmam a melhora de resultados pós-operatórios com a

aplicação de protocolos multimodais (fast-track) de cuidados ao paciente

cirúrgico1,91. Tais protocolos trazem a tona, sobre os olhos da medicina baseada em

evidência, antigos paradigmas consagrados pelo empirismo relacionados ao

manuseio clínico destes pacientes, culminando em uma ampla revisão de condutas2.

A implantação do protocolo multimodal ACERTO no ano de 2005 no

Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Federal do Mato Grosso foi uma experiência pioneira em nosso país.

O protocolo foi inicialmente aplicado a pacientes submetidos a cirurgias abdominais

e rapidamente incorporado a outras especialidades (cirurgia de cabeça e pescoço,

urologia, cirurgia torácica, cirurgia plástica, cirurgia vascular periférica e cirurgia

buco-maxilo-facial) atuantes no contexto de uma enfermaria de Cirurgia Geral de um

Hospital Universitário. Seus primeiros resultados, publicados cerca de um ano após

sua implantação, já mostraram melhora em parâmetros de morbidade e diminuição

do tempo de internação dessa população91.

O presente estudo traz a tabulação e análise de resultados da maior

casuística analisada desde a implantação do protocolo ACERTO. Foram avaliados

um total de 5.974 casos, dos quais 4.634 foram submetidos a tratamento operatório.

Desses, 3.987 (3.090 operados) casos compõe o grupo de pacientes submetidos às

condutas do protocolo multimodal. Trata-se da maior casuística de pacientes

submetidos a um protocolo deste tipo, até então estudada em toda a América. Nota-

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se uma população de estudo homogênea, na medida em que em ambos os períodos

de avaliação as características de funcionamento e estruturação da enfermaria de

Clínica Cirúrgica do HUJM foram mantidas. Outrossim, há de se observar que nessa

amostra estão contidas não só operações inerentes a cirurgia do aparelho digestivo

e coloproctologia, onde o protocolo ACERTO é aplicado em praticamente todas as

suas rotinas, mas também áreas cirúrgicas outras onde o protocolo ainda é

praticado parcialmente, fator este, que de certa forma, pode ter influenciado os

resultados aqui apresentados.

Há que se destacar que em todas as variáveis de desfecho aqui estudadas,

os resultados foram favoráveis ao período DA, onde o protocolo ACERTO foi

aplicado. Tendo em vista o tamanho considerável da amostra analisada, esses

números assumem grande relevância.

Tendo sido mantido o número de leitos disponíveis para internação na

enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM nos anos de 2002 a 2008, observou-se

uma curva de tendência crescente em relação ao número total de internações,

especialmente aquelas que envolveram tratamento operatório. Esse resultado reflete

uma maior rotatividade de leitos no Serviço, com incremento no número e na

precocidade das altas hospitalares. Uma possível dúvida que surge neste ponto, diz

respeito ao aumento do número de internações ter sido impulsionado (ou de certa

forma influenciado) por um aumento no número de re-internações após a

implantação do protocolo ACERTO. Contrariamente a esse pressuposto, dados da

estatística do Departamento de Clínica Cirúrgica do HUJM, ora apresentados,

apontam que o percentual de pacientes que foram re-operados devido a

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complicações de operações realizadas no serviço nos últimos 12 meses se mantém

inalterado há 4 anos. Esse percentual chama atenção ainda por ser baixo, menos de

1,5% nos últimos 3 anos. A mesma estatística mostra que o número de pacientes

que internam no Serviço pela primeira vez se mantém desde 2007 na faixa de 75 a

80% em relação ao total de pacientes internados. Não obstante, pelo fato da variável

"re-internação" não ter sido computada no banco de dados não é provável que isso

tenha acontecido. Em concordância, uma recente metanalise do grupo ERAS mostra

que a adoção de programa semelhante não aumentou a taxa de reinternação95.

Da mesma forma do que já foi observado em outros estudos1,91,92, a variável

tempo de internação mostrou uma economia de diárias hospitalares a pacientes

submetidos ao protocolo multimodal. Devemos ressaltar que neste estudo foram

computados tanto pacientes submetidos a operações de pequeno e médio porte,

quanto aqueles submetidos a operações de grande porte. Assim sendo, o tempo

médio de internação no período DA foi da ordem de 6 a 7 dias contrariamente aos 8

a 9 dias observado anteriormente a implantação do protocolo. Considera-se uma

redução global de um a dois dias de internação, comprovados pelos valores da

mediana e especialmente da moda (valor que mais se repete na série) relativa aos

dados. Transportando esse achado para um número de centenas a milhares de

pacientes podemos imaginar a importante contribuição desse tipo de protocolo na

re-integração do paciente cirúrgico ao ambiente domiciliar. Além disso, deve-se citar

a potencial diminuição de gastos, no caso dessa população, aos cofres públicos,

permitindo a ampliação do cuidado de saúde a uma gama maior de enfe rmos.

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54

Avaliando a casuística aqui apresentada, observou-se que houve um aumento

de operações laparoscópicas no período após a introdução do protocolo ACERTO

(crescimento de 6% aproximadamente). Sabemos que um dos grandes ganhos da

cirurgia minimamente invasiva está justamente na mais rápida recuperação pós-

operatória pela menor manipulação cirúrgica, menor dor pós-operatória e

conseqüentemente, alta mais precoce20. Esses números, portanto, podem ter tido

influencia significativa em nossos dados de morbidade, em especial no tocante a

redução dos dias de internação. Todavia, deve-se ter em mente que o emprego de

operações minimamente invasivas, incisões obliquas e particularmente o uso da via

vídeolaparocópica é uma importante premissa dos protocolos multimodais1. No caso

do ACERTO não é diferente. Um dos pontos chaves colocados em sua implantação

foi empregar-se a via laparoscópica sempre que possível. Assim, os números aqui

evidenciados refletem nada mais nada menos que o emprego crescente de mais

uma das condutas inerentes ao protocolo multimodal e que, por conseqüência,

corrobora com a melhoria global de resultados.

De fato, foi notória a diminuição dos casos de infecção de sítio cirúrgico e de

complicações operatórias. Isso se refletiu tanto em uma curva de tendência

decrescente ano a ano para essas variáveis como para medidas de associação

(aqui se referindo ao risco relativo) favoráveis ao emprego do protocolo ACERTO.

Pacientes operados no período após a sua implantação tiveram duas vezes menos

chances de contrair uma infecção do sítio cirúrgico e aproximadamente 1,5 vezes

menos chances de apresentarem complicações pós-operatórias. Ressalta -se ainda

a importância elencada as complicações pós-operatórias mais graves. Aqui nos

interessam aquelas que levaram pacientes a necessidade de uma segunda

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intervenção cirúrgica com fins de tratá-la. Também nesse tocante, os números são

bastante claros. Notou-se uma queda extremamente significativa do percentual de

re-operações no Serviço (2,65% para 1,19%; p=0,0004), com um risco relativo que

nos permite inferir duas a três menos chances de o paciente ser re-operado por

complicação pós-operatória após a implantação do protocolo ACERTO (RR 2,22;

IC95%: 1,43-3,44).

Uma lacuna nessa investigação que permite discussão diz respeito ao fato

das complicações aqui relatadas terem sido apenas as que ocorreram durante a

internação (ou re-internação) do paciente na enfermaria de Clínica Cirúrgica do

HUJM. Assim, ficaram fora aquelas complicações que ocorreram e foram tratadas

em ambiente ambulatorial. Da mesma maneira, aquelas que por ventura tenham

sido tratadas em algum outro hospital que não o HUJM. De fato, olhando-se por

esse prisma, acreditamos que os percentuais, sobretudo de infecção do sítio

cirúrgico, estejam aqui subestimados. Isso vem a impactar sobretudo nas infecções

consideradas de grau 1 ou 2, sem envolvimento de órgão ou espaço. Essas, como

se sabe, são na maioria das vezes diagnosticadas e tratadas sem a necessidade de

uma nova internação94. A ampliação desse banco de dados aos ambulatórios de

pós-operatório ou a aplicação em outro estudo com um método diferente ao aqui

empregado se faz mister afim de que tenhamos uma expressão numérica ainda

mais consistente. Por fim, é importante destacar que devido as peculiaridades do

atendimento prestado no HUJM, grande parte das complicações pós-operatórias de

pacientes operados nesse serviço que porventura ocorram retornam ao hospital.

Esses pacientes, no contexto da rede pública de saúde de Cuiabá têm como

referência o hospital que lhe prestou o atendimento inicial. Uma vez triados em

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alguma outra unidade da rede são na maioria das vezes imediatamente

encaminhados ao serviço de origem. Basta lembrar que o HUJM, embora não

possua um pronto-socorro para atendimento de urgências e emergências, possui

uma unidade de pronto atendimento cujo objetivo central é dar retaguarda aos

pacientes ambulatoriais do serviço que necessitem de um atendimento imediato,

assim como de pacientes egressos de internação recente em alguma de suas

clínicas.

Ainda na avaliação de critérios de gravidade para os pacientes internados,

investigamos nesse estudo o número de hemotransfusões por unidades de

hemoderivados utilizados na Clínica Cirúrgica do HUJM antes e depois da

implantação do protocolo ACERTO. Nessa casuística o escore de risco prognóstico

segundo a ASA (Sociedade Americana de Anestesiologia) e a classificação dos

procedimentos realizados em relação ao risco de infecção do sítio cirúrgico nos dois

períodos estudados foram similares. Observando-se o porte dos procedimentos

operatórios realizados nos dois períodos (Tabela 3), também nota-se similaridade.

Assim sendo, o índice empregado (bolsa/paciente), uma vez que não houve

mudanças na política de indicação de transfusão de sangue e hemoderivados no

serviço durante os anos em que o estudo se desenvolveu, mostrou-se como mais

uma variável positiva relacionada a recuperação mais precoce do paciente operado

e menos complicações operatórias tanto em número quanto em complexidade. A

queda na relação bolsa de hemoderivado por pacientes foi da ordem de duas bolsas

no período pré-ACERTO (AA) para menos de uma no período pós-ACERTO (DA).

Mais uma vez temos uma variável que se traduz em economia de despesas aos

cofres públicos. Outro ponto que não podemos deixar de destacar é que em nossa

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casuística, cerca de 16% dos pacientes nos dois períodos eram portadores de

neoplasia maligna. É fato muito bem estabelecido pela literatura que a

hemotransfusão para esse grupo de pacientes está relacionada a um pior

prognóstico em relação a sua doença de base96. Aqui vemos, portanto um

interessante ponto onde os pacientes tiveram benefícios indiretos decorrentes da

implantação do protocolo multimodal.

Um ponto positivo neste trabalho foi o tamanho amostral. Ademais, os dados

foram colhidos prospectivamente e com sistematização aplicada desde 2002. Isso

permite segurança e confiabilidade dos dados. O tamanho da amostra estudada

permitiu determinar o impacto da aplicação do protocolo na mortalidade dos

pacientes internados. Mais uma vez aqui, o que se observou ao longo dos anos foi

uma curva de tendência decrescente em relação ao número de óbitos no Serviço.

De maneira ainda mais enfática, o percentual de óbitos no período que antecedeu a

implantação do protocolo foi de 2,81% com queda no período após a implantação do

protocolo para 1,73% (p=0,0075). Nossos resultados mostraram que a chance de

óbito com o emprego do protocolo ACERTO foi de 1,6 vezes menor (IC95%: 1,15-

2,31) nos pacientes do Serviço. Diminuição de uma importante variável de desfecho

como é a mortalidade é conseguido raramente em estudos clínicos. Aqui temos,

portanto, explícito de modo cartesiano, o impacto marcante dessa revisão de rotinas

na preservação da vida, resultando diretamente em uma redução de algumas

dezenas de mortes, justificando todo e qualquer esforço na sua aplicação.

Como anteriormente citado, na América Latina não há relatos de centros que

venham utilizando rotineiramente práticas baseadas em evidências para determinar

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as rotinas que regem a condução dos cuidados peri-operatórios. Reforçado pelos

resultados deste estudo, acreditamos que essa é uma tendência que marcará a

Cirurgia do início deste século e paulatinamente, fará parte do dia-a-dia das

enfermarias de instituições públicas e privadas em praticamente sua totalidade. Os

dados aqui apresentado são todavia parte de um estudo prospectivo de coorte e que

portanto, possuem todas as limitações em termos de tomada de decisões desse

método científico. Assim sendo, em nosso meio há clara necessidade da realização

de novos estudos, com este mesmo tema central, mas com uma metodologia mais

rigorosa do ponto de vista de evidência. Um novo estudo randomizado e controlado

no serviço, permitirá uma comprovação dos achados aqui observados de modo total

ou parcial.

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59

7. CONCLUSÃO.

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60

7. CONCLUSÃO.

Com base nos resultados aqui apresentados podemos concluir que na

enfermaria de Clínica Cirúrgica do HUJM a aplicação do protocolo multimodal

ACERTO determinou de modo geral, uma melhora significativa dos desfechos

clínicos de interesse no pós-operatório.

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61

8. REFERÊNCIAS.

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8. REFERÊNCIAS.

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