MARÇO 2012

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ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MARÇO/2012 - ANO XV - N o 182 O ESTAFETA Foto Arquivo Pró-Memória Passaram-se 15 anos desde a instalação da Fundação Christiano Rosa. O mundo mudou e os desafios socioculturais se tornaram mais evidentes. Nesse período, o Brasil tornou-se potência ambiental mundial. Cada vez mais o tema susten- tabilidade tem sido discutido e buscado pelas sociedades. Apesar dos investimentos dos governos em saúde, educação, cultura e meio ambiente, os avanços foram tímidos. Os recursos destinados a esses setores, além de insuficientes, continuam sendo mal aplicados. Escolas sucateadas e educadores mal remunerados, saúde com baixíssimos índices de avaliação, além de falta de incentivo à cultura e de políticas ambi- entais. Esse descaso vem de longe e a população anseia por mudanças. Foi nesse contexto desfavorável que a Fundação Christiano Rosa surgiu, em março de 1997, com um grupo de piquetenses preocupados com a cidade e seus habitantes. Propunham-se a trabalhar para e por Piquete, numa adição de forças em ações que visavam, principalmente, ao público estudantil, com o qual se propôs a envidar esforços para ampliar o conhecimento sobre Piquete, despertando em todos amor e respeito pela cidade. A Fundação Christiano Rosa tem como missão formular e implementar ações que visem à excelência na preservação dos patrimônios histórico, cultural e ambiental, estimular a produção artística e garantir acesso aos bens culturais para a população. Buscando influenciar a sociedade, a Fundação Christiano Rosa desde sua criação vem incentivando uma intervenção cívica dos cidadãos na busca de valores como civismo, justiça, igualdade, tolerância e solidariedade. Para a consecução de seus propósitos, desenvolveu diversas atividades ao longo desses 15 anos. E, para desen- volver essas atividades, foi essencial o rico acervo formado nas últimas décadas. Entre outros, compõem este acervo uma heme- roteca na qual se encontram coleções completas de quase todos os jornais que circularam em Piquete no século XX, além de diversos números avulsos de infor- mativos e revistas; uma coleção de cartazes e programas de todos os filmes exibidos nos cinemas de Piquete; uma coleção de mais de 10 mil fotos e negativos que retratam o cotidiano dos piquetenses, com imagens que contam a história do crescimento urbano e social da cidade. Parte desse material pode ser visto mensamente no O ESTAFETA. Este informativo, que conta com um corpo fixo de articulistas como Abigayl Lea da Silva, Antônio Carlos M. Chaves, Chico Máximo, Dóli de Castro Ferreira, Edival da Silva Castro, Pe. Fabrício Beckmann, Laurentino Gonçalves Dias Jr., Marcos Rogério Rodrigues Ramos, além de colabo- radores esporádicos, é a única fonte de pesquisas sobre a rica história de nossa cidade. Além disso, registra os eventos significativos que ocorrem na comunidade, visando à preservação da história contem- porânea para as futuras gerações. Carnavais, folia de reis, jongo, congadas, procissões... Nada escapa às lentes e aos textos de O ESTAFETA, os quais, ressalte-se, são escri- tos sempre visando a abarcar os objetivos da Fundação na busca dos valores citados. A Fundação Christiano Rosa orgulha-se de ter em seus pilares a confiança de que Piquete abriga talentos e que, uma vez descobertos, são eles que garantirão à cidade o progresso e o desenvolvimento que ela merece. Acredita-se que temos uma fonte imensa de recursos humanos capaz de proporcionar, com trabalho sério, a melhoria da qualidade de vida tão sonhada pelos piquetenses. Quando em sua primeira edição, O ESTAFETA trazia em seu texto da primeira página que era chegada a hora de traçarmos nosso destino e saírmos em busca de nossa identidade, de mergulharmos na História e resgatarmos nossas raízes culturais. Ao completar 15 anos, fica claro que a Funda- ção vem cumprido o proposto em 1997. Neste comemorativo mês de março, a Fundação Christiano Rosa agradece a todos os que colaboraram de alguma forma em sua trajetória de instituição séria, imparcial e eficiente. Já disse uma vez Noel Rosa: “Quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou...”; é assim que toda a diretoria da Fundação avalia esses 15 anos: por mais que tenha proporcionado co- nhecimento aos que desfrutaram de quais- quer de suas atividades, estará sempre aprendendo com seus leitores, amigos e colaboradores. E assim espera poder continuar sua caminhada rumo a uma Piquete à altura do que merecem os piquetenses. Fundação Christiano Rosa: 15 anos de trabalho pela cultura A Fundação Christiano Rosa orgulha-se de ter em seus pilares a confiança de que Piquete abriga talentos e que, uma vez descobertos, são eles que garantirão à cidade o progresso e o desenvolvimento que ela merece. Temos uma fonte imensa de recursos humanos capaz de proporcionar, com trabalho sério, a melhoria da qualidade de vida tão sonhada pelos piquetenses.

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ED 182 ANO XV

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ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MARÇO/2012 - ANO XV - No 182

O ESTAFETAFoto Arquivo Pró-Memória

Passaram-se 15 anos desde a instalaçãoda Fundação Christiano Rosa. O mundomudou e os desafios socioculturais setornaram mais evidentes. Nesse período, oBrasil tornou-se potência ambientalmundial. Cada vez mais o tema susten-tabilidade tem sido discutido e buscadopelas sociedades.

Apesar dos investimentos dos governosem saúde, educação, cultura e meioambiente, os avanços foram tímidos. Osrecursos destinados a esses setores, alémde insuficientes, continuam sendo malaplicados. Escolas sucateadas e educadoresmal remunerados, saúde com baixíssimosíndices de avaliação, além de falta deincentivo à cultura e de políticas ambi-entais. Esse descaso vem de longe e apopulação anseia por mudanças.

Foi nesse contexto desfavorável que aFundação Christiano Rosa surgiu, em marçode 1997, com um grupo de piquetensespreocupados com a cidade e seus habitantes.Propunham-se a trabalhar para e porPiquete, numa adição de forças em açõesque visavam, principalmente, ao públicoestudantil, com o qual se propôs a envidaresforços para ampliar o conhecimento sobrePiquete, despertando em todos amor erespeito pela cidade.

A Fundação Christiano Rosa tem comomissão formular e implementar ações quevisem à excelência na preservação dospatrimônios histórico, cultural e ambiental,estimular a produção artística e garantiracesso aos bens culturais para a população.

Buscando influenciar a sociedade, a

Fundação Christiano Rosa desde sua criaçãovem incentivando uma intervenção cívicados cidadãos na busca de valores comocivismo, justiça, igualdade, tolerância esolidariedade. Para a consecução de seuspropósitos, desenvolveu diversas atividadesao longo desses 15 anos. E, para desen-volver essas atividades, foi essencial o ricoacervo formado nas últimas décadas. Entreoutros, compõem este acervo uma heme-roteca na qual se encontram coleçõescompletas de quase todos os jornais quecircularam em Piquete no século XX, alémde diversos números avulsos de infor-mativos e revistas; uma coleção de cartazese programas de todos os filmes exibidos noscinemas de Piquete; uma coleção de maisde 10 mil fotos e negativos que retratam ocotidiano dos piquetenses, com imagens quecontam a história do crescimento urbano esocial da cidade. Parte desse material podeser visto mensamente no O ESTAFETA.Este informativo, que conta com um corpofixo de articulistas como Abigayl Lea daSilva, Antônio Carlos M. Chaves, ChicoMáximo, Dóli de Castro Ferreira, Edival daSilva Castro, Pe. Fabrício Beckmann,Laurentino Gonçalves Dias Jr., MarcosRogério Rodrigues Ramos, além de colabo-radores esporádicos, é a única fonte depesquisas sobre a rica história de nossacidade. Além disso, registra os eventossignificativos que ocorrem na comunidade,visando à preservação da história contem-porânea para as futuras gerações. Carnavais,folia de reis, jongo, congadas, procissões...Nada escapa às lentes e aos textos de O

ESTAFETA, os quais, ressalte-se, são escri-tos sempre visando a abarcar os objetivosda Fundação na busca dos valores citados.

A Fundação Christiano Rosa orgulha-sede ter em seus pilares a confiança de quePiquete abriga talentos e que, uma vezdescobertos, são eles que garantirão à cidadeo progresso e o desenvolvimento que elamerece. Acredita-se que temos uma fonteimensa de recursos humanos capaz deproporcionar, com trabalho sério, a melhoriada qualidade de vida tão sonhada pelospiquetenses.

Quando em sua primeira edição, OESTAFETA trazia em seu texto da primeirapágina que era chegada a hora de traçarmosnosso destino e saírmos em busca de nossaidentidade, de mergulharmos na História eresgatarmos nossas raízes culturais. Aocompletar 15 anos, fica claro que a Funda-ção vem cumprido o proposto em 1997.

Neste comemorativo mês de março, aFundação Christiano Rosa agradece a todosos que colaboraram de alguma forma emsua trajetória de instituição séria, imparciale eficiente. Já disse uma vez Noel Rosa:“Quanto mais a gente ensina, mais aprendeo que ensinou...”; é assim que toda adiretoria da Fundação avalia esses 15 anos:por mais que tenha proporcionado co-nhecimento aos que desfrutaram de quais-quer de suas atividades, estará sempreaprendendo com seus leitores, amigos ecolaboradores. E assim espera podercontinuar sua caminhada rumo a umaPiquete à altura do que merecem ospiquetenses.

Fundação Christiano Rosa: 15 anos de trabalho pela cultura

A Fundação Christiano Rosa orgulha-se de ter em seus pilares a confiança de que Piquete abriga talentos e que, uma vez descobertos, são eles quegarantirão à cidade o progresso e o desenvolvimento que ela merece. Temos uma fonte imensa de recursos humanos capaz de proporcionar, com trabalhosério, a melhoria da qualidade de vida tão sonhada pelos piquetenses.

O ESTAFETAPágina 2 Piquete, março de 2012

Foto CPDOC FGVImagem - Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:

Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Datam da década de 1930, durante ogoverno Vargas, as primeiras iniciativas dogoverno federal voltadas à questão habi-tacional no Brasil visando a prover ostrabalhadores com habitações populares.Tais tentativas tinham propósito não apenasde solucionar um crescente problemaurbano gerado pelo crescimento demo-gráfico nas cidades brasileiras, devido àescassez de moradias, mas eram tambémuma tentativa política do governo de criarum pacto social capaz de possibilitar amanutenção e a sustentação de suas açõespolíticas junto ao povo. O ideário dahabitação popular encontra, assim, espaçode reprodução não apenas da moradia, mastambém, da condição perfeita de obtençãodo apoio dos trabalhadores para manu-tenção e sustentação do poder político.

Toda a significação da habitaçãopopular assume maior magnitude a partirda criação do ideário da casa própria noimaginário popular, ideologia reproduzidapelos setores públicos na massa socialbrasileira.

Foi nesse contexto histórico que, emPiquete, um amplo projeto social voltadopara o operariado foi desenvolvido pelaFábrica de Pólvoras e Explosivos. Esseprojeto visava não só à criação de vilasoperárias, mas também de outros instru-mentos voltados para a saúde, a educação,os esportes e o lazer. Deles se beneficiavamnão só os operários e familiares; foramestendidos a toda a cidade. Essas obrasforam feitas com recursos da própriaFábrica, provenientes dos lucros da SecçãoComercial, e tiveram início na adminis-tração do Cel. José Gomes Carneiro (1935-

1940). À frente desses vastos empreen-dimentos estava o então capitão JoséPompeu Monte, chefe da 3ª Divisão, secçãode construção.

Em 1937 foi inaugurado o Hospital daFábrica (atual Fórum) e, ao seu lado, em1939, a “Vila Proletária” General Carneiro.Em novembro de 1938, o Cap. Monte,representando o Ministério da Guerra,adquiriu um terreno para a construção daVila Operária Duque de Caxias, de DonaMariana Relvas, representada nessa tran-sação por seu sobrinho, Joaquim de Castro.Em junho de 1939, outra extensa área foiadquirida para ampliação dessa vila. Ointeressante é que esses terrenos foramcomprados com recursos da própria Fábrica.

A preocupação com a questão demoradias para o operariado da Fábricavinha desde sua inauguração em 15 demarço de 1909. Piquete não oferecianúmero suficiente de casas para abrigar acrescente leva de famílias que chegavam embusca de emprego. Muitos operáriosmoravam em condições insalubres ecomprometiam parte significativa de seussalários com pagamento de aluguel.

As vilas operárias construídas emPiquete estavam acopladas a um conjuntourbanístico importante do qual faziam partepraças, coretos, parques e jardins, cinema,escolas, igrejas... O estímulo à construçãode vilas operárias pelo governo Vargas faziaparte de uma estratégia muito mais ampla:a de impulsionar a formação e fortale-cimento de uma sociedade de cunhoindustrial-capitalista mediante forte inter-venção estatal. O surgimento das vilasoperárias no Brasil deu-se num período em

que trabalho e progresso eram palavras deordem. Em seus discursos, os governantesnão cessavam de pronunciá-las e pedir quetodos os esforços fossem investidos para segarantir prosperidade.

Com casas “confortáveis e higiê-nicas”, a disciplina e a ordem deveriamfuncionar como meio de gerir a vida dotrabalhador e inseri-lo em um novouniverso de normas e valores. As vilasoperárias mudaram a fisionomia dePiquete. Formadas por casas geminadas,essas vilas eram regidas por rígidasregras de comportamento impostas pelopróprio modelo de disciplina da épocaem que foram construídas. Época em quedesfiles cívicos, escolas, carnaval,futebol, igreja, família e infância foramtemas guardados na memória e que aindahoje são evocados por muitos pique-tenses que nasceram e residiram pormuitos anos nessas vilas.

As Vilas Operárias

As vilas operárias mudaram a fisionomia de Piquete. Formadas por casas geminadas, essas vilas eram regidas por rígidas regras de comportamentoimpostas pelo próprio modelo de disciplina da época em que foram construídas. Na foto, de 1941, a rua Mestre Targino Cunha, na Vila Duque de Caxias.

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, março de 2012

Teca Gouvêa

Linguagem ePensamento

É fascinante como a língua quefalamos pode interferir no modo comonos relacionamos com a realidade, como mundo. Para tentar indicar isso commais clareza gostaria de dar um exemplo.

Para nós, falantes da língua portuguesado Brasil, é natural que o tempo sejadividido rigidamente entre o passado, opresente e o futuro. Neste sentido, aparecepara nós a ideia de que o presente é oagora, e que este pode ser exprimido pelasnossas palavras, assim como podemosexprimir o passado e o futuro. Paracomprovar isto, basta observar como écomum a nossa utilização de verbos nopresente: “estou cansado”, “ela é inte-ligente”, “ele faz medicina” etc. Mas, e éaqui que gostaria de chegar: será que todasas línguas se relacionam do mesmo modocom o presente, como nós? Será que todosos povos acreditam que o presente podeser exprimido pela linguagem?

No texto Linguagem e Liberdade: o

contradiscurso de Baruch de Espinosa, aautora Marilena Chauí dá ao menos umexemplo que responde negativamente aessas duas perguntas, o exemplo da línguahebraica antiga (linguagem extinta e emque foram escritas originalmente asEscrituras). “No hebraico”, a autoracitando um trecho de Espinosa, “as açõesse referem apenas ao passado e ao futuro,como consequência do fato de que admi-tiam apenas essas duas partes do tempo econsideravam o presente como um ponto,isto é, como fim do passado e começo dofuturo. Parece que comparavam o tempocom uma linha cujos pontos são consi-derados como fim de uma parte e começode outra”.

Para dizer tudo isto de um outro modo,talvez possamos dizer da seguinte ma-neira: o presente não era usado na línguahebraica porque, para ela, as palavras nãoalcançam a imediatez do presente. Ou seja,o que é dito agora, no fundo, já passou: “opresente não se conjuga, não é algo de quese possa falar porque ele simplesmente é”.

Por um lado, isto pode significar queaprender uma língua não é uma simplestroca entre palavras (livro = book etc.),mas uma aprendizagem de um outro modode pensar. Por outro lado, pode surgir estaquestão: que potencialidades estão ocultasna nossa língua brasileira?

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Fábio IijimaAna Maria de Gouvêa, carinhosamenteconhecida por Teca Gouvêa, nascida emPiquete a 22 de julho de 1948, filha deCarlos Pereira de Gouvêa e Anna Leitede Gouvêa, é exemplo de garra e deter-minação. Em 1971, ao terminar os cursosde Estudos Sociais e História, na Fac.Salesiana de Ciências e Letras de Lorena,decidiu que para crescer profissional epessoalmente deveria deixar a tranqui-lidade da casa dos pais para exercer oMagistério. E assim o fez... Com o apoioe incentivo dos pais, enfrentou asdificuldades de uma cidade grande edesconhecida: Guarulhos. Após concur-so público efetivou-se como professorade História da rede estadual. Lecionavaem dois períodos e em pouco tempohabituou-se à agitação... Falaram maisforte as características de organizaçãoe método que viriam pautar suatrajetória pessoal-profissional. Em1976, formou-se em Pedagogia, sem-pre visando ao aprimoramento comoprofessora, ofício do qual se aposen-tou na década de 1990. “Mas aquilonão me era suficiente... Eu desejavadesafios maiores... Decidi, incenti-vada por uma grande amiga, cursarArquitetura e Urbanismo”. Foi a 1ª colocadano vestibular da Universidade de Guarulhos.Assim foi, então, que, durante cinco anos,iniciava seu dia por volta das 6h e terminavaàs 23h. “Foi um período de sacrifícios, masque faria novamente sem pestanejar... Foiuma época de crescimento... Época em quetracei os principais planos de minha vida...”,diz, emocionada. Em 1979, já arquiteta,ingressou na Empresa Metropolitana dePlanejamento (EMPLASA), principalempresa de planejamento do Brasil naépoca. Lá desenvolveu trabalhos nas áreasde planejamento urbano, planos diretoresmunicipais e comunicação social, além decoordenação de projetos. Depois daEMPLASA, Teca atuou na Secretaria deEstado da Cultura, onde foi membro doConselho de Defesa do Patrimônio Histó-rico, Arqueológico, Artístico e Turístico(CONDEPHAAT) e diretora do departa-mento de atividades regionais da cultura.“Época de trabalhos fantásticos, quandoadquiri muito conhecimento e angarieiamigos até hoje mantidos”, ressalta. Em1989 ingressou na Companhia Energéticade São Paulo (CESP), onde se aposentoucomo Gerente de Departamento de Plane-jamento e Logística, em 1998. Permaneceuno mesmo cargo na empresa privatizada, aElektro, até 1999.

Paralelamente às suas atividades profis-sionais em São Paulo, Teca esteve sempremuito ligada à sua família. Foi e ainda égrande incentivadora das irmãs e dossobrinhos no tocante à educação. “Sempredigo a eles pra estudar, cada vez mais... Paraquem não nasceu rico, a única maneira decrescer é por meio da Educação...”. Quemvê a executiva Ana Maria em ação quasenão a reconhece na figura sensível, amantede poesia, música e viagens... na torcedoraque se emociona ao ver seu time jogar: “Ficonervosa...”

Apesar das atividades profissionais,sempre se manteve presente em Piquete. Foiassim uma das idealizadoras da FundaçãoChristiano Rosa, juntamente com os amigos

Antônio Carlos Monteiro Chaves eCélia Aparecida Rosa. Espírito cidadão,jamais propagou as atividades de assistênciasocial que manteve e mantém. Colaboroucom diversas administrações municipais,trazendo para Piquete atividades culturais,como o Balé Cisne Negro, que lotou aquadra de esportes do “Leonor Guimarães”.

No ano de 2000, Teca retornou aPiquete. “Queria devolver a Piquete partedo que recebi aqui quando jovem. Pudeaproveitar das excelentes escolas, da saúde,do lazer e do esporte, das amizades edesfrutar da qualidade de vida da cidade...Hoje não é possível para a FPV propor-cionar aquela qualidade de vida à cidade,mas há outras maneiras de se conseguir tudode volta...”, afirma.

Apaixonada pela paisagem da cidade,Teca, preocupada com a degradação am-biental, colocou a Fundação em diversasentidades públicas que atuam nessa área.Assim, a FCR faz parte, hoje, do Comitê deBacias Hidrográficas do Paraíba do Sul(CBH-PS), do Comitê para Integração dasBacias Hidrográficas do Paraíba do Sul(CEIVAP) e do Conselho Estadual de MeioAmbiente (CONSEMA). Por meio de suaatuação nesses colegiados, Teca já imple-mentou diversos projetos de recuperação dematas ciliares e educação ambiental emPiquete. Além desse trabalho, é significativoseu empenho nas atividades culturais domunicípio: organizou, por exemplo, juntocom o “Mestre Gil”, o livro “Jongo dePiquete, um novo olhar”. Em 2010, junta-mente com outros sócios do Clube da 3ªIdade, viabilizou a recuperação do “Carnei-rinho”, transformando-o na sede do Clube.

Teca Gouvêa é presidente do ConselhoCurador da Fundação Christiano Rosa desdesua instituição. A FCR lhe é grata peloempenho. Sua seriedade, sua capacidade degestão e articulação, seu conhecimentotécnico e comprometimento com a quali-dade de vida de Piquete ratificam a escolhafeita há 15 anos...

O ESTAFETA Piquete, março de 2012Página 4

Fundação Christiano Rosa comemora 15 anosCriada por um grupo de piquetenses

preocupados com o vazio cultural dacidade e com a falta de políticas públicasvoltadas para a educação, meio ambientee proteção do patrimônio artístico, his-tórico e cultural, a Fundação ChristianoRosa é uma entidade jurídica de direitoprivado, de fins não lucrativos, comautonomia administrativa e financeira, esem comprometimento político.

Foi instituída por iniciativa das arquite-tas Célia Aparecida Rosa e Ana Maria deGouvêa e o médico Antônio Carlos Mon-teiro Chaves. Como patrono da Fundaçãofoi escolhido Christiano Alves da Rosa, paida instituidora, prefeito de Piquete por duasvezes e, reconhecidamente, um homem quecolaborou para o desenvolvimento dacidade, mesmo quando fora de cargoseletivos, e que demonstrava claramente seuamor à cidade. Os instituidores já vinhampromovendo ações voltadas para a culturae meio ambiente no município por meio dapublicação de livros e trabalhos de pesquisa,entre outras atividades. Definiram, então,assim, os objetivos da FCR, os quais sãoestabelecidos em estatuto: promover, apoiar,incentivar e patrocinar atividades noscampos da educação, cultura, lazer, es-portes, artes, assistência social, ciência etecnologia e meio ambiente. Para atingi-los,a Fundação utiliza-se do trabalho dos quenela confiam, e que, acreditando no volun-tariado, participam de diferentes ações. Suaestrutura é formada por dois Conselhos:Curador (7 membros) e Fiscal (3 membros),além de Presidência, Diretoria e Secretariaexecutivas, e as comissões: Meio Ambiente,

Artes, Assistência Social, História, Jor-nalismo e Publicidade, Literatura e Folclore,cada uma com três componentes. Todos oscargos contam com titulares voluntários –pessoas de reconhecida competência eidoneidade na comunidade piquetense. Aseleção é por indicação, a qual é submetidaà aprovação dos Conselheiros.

A FCR elegeu o meio ambiente e acultura como principais pontos de atuação,e, visando ao primeiro ponto, vem ela-borando e implementando projetos derevegetação de matas ciliares de cursosd’água do município. Na área cultural, man-tém o informativo mensal “O ESTAFETA”,que, além de divulgar as atividades da FCR,publica artigos e textos sobre a história ecultura de Piquete. Vários livros forameditados pela FCR, inclusive “O Jongo dePiquete: um novo olhar”, resultado dotrabalho que contribuiu para o tombamentocomo patrimônio imaterial dessa mani-festação negra resgatada no município como apoio da FCR. Outros trabalhos da FCRconhecidos são “Coisas Findas”, comimagens de Piquete das cinco primeirasdécadas do século XX, “Estação FerroviáriaRodrigues Alves – 90 Anos” sobre os 90anos da Estação Ferroviária RodriguesAlves, “Rememorando”, de Carlos VieiraSoares, e “Crônicas de Cidadezinha”, deChico Máximo.

A FCR, Piquete e o Meio Ambiente

Grande parte de Piquete está localizadana Área de Preservação Ambiental (APA)da Mantiqueira, local onde nascem impor-tantes tributários do Paraíba do Sul. Oprocesso histórico de ocupação e expansão

urbana desordenadas, a exemplo do queocorreu em muitas outras cidades, fez comque diversos agravos ambientais se sucedes-sem, colaborando para a degradação dessaárea e propiciando a ocorrência de desastres.Nesse sentido, desde sua instituição a FCRvem trabalhando para criar uma consciênciapreservacionista junto à população dePiquete, pois acredita ter-se tornadonecessidade conscientizar a comunidade daimportância de se recuperar encostas emargens de rios e preservar os fragmentosflorestais existentes no município e naregião.

Depositária da história da FPV, emparceria com a IMBEL/FPV, a FCR,participou ativamente da elaboração ecriação do “Memorial da Usina HidrelétricaRodrigues Alves”, em que é contada ahistória das primeiras obras da FábricaPresidente Vargas. Foi a responsável pelapesquisa e organização dos dados e imagensutilizados nos painéis do Memorial.

Seriedade, competência e

reconhecimento

Nesses 15 anos a Fundação ChristianoRosa angariou reconhecimento em todo oestado de São Paulo e também fora dele,em função da seriedade com que trata seusparceiros, buscando atingir suas metas eobjetivos, além da competência com queexecuta seus projetos. Num de seus maisrecentes trabalhos, a FCR foi responsávelpela elaboração do Plano de Bacias do RioParaíba do Sul e o Plano Estadual deRecursos Hídricos, ambos finalizados coma aprovação dos Conselhos Estaduaiscompetentes.

O ESTAFETA Página 5Piquete, março de 2012

Já em 1999, a Fundação, numa parceriacom a IMBEL, celebrou um comodato emque passou a ser a responsável pelo prédioda antiga capela do hospital. O local foireformado e transformado no EspaçoCultural “Célia Ap. Rosa”. Lá têm lugartodos os eventos da Fundação ChristianoRosa, sempre abertos à população e visi-tantes. Além dessa função, o Espaço temsido gratuitamente disponibilizado paradiversas entidades piquetenses.

Atividades

São inúmeras as atividades desen-volvidas pela Fundação Christiano Rosa aolongo desses quinze anos. Não é exageroalgum afirmar que não dá para imaginar acultura de Piquete sem a FCR. Exposiçõesde fotografias, de artistas plásticos, depresépios, livros, apresentações teatrais,musicais etc... Isso sem falar nos cursos decapacitação de viveiristas, de educaçãoambiental para professores, de capacitaçãoem elaboração de projetos para ONGs doVale do Paraíba. Importante ressaltar quetodas as atividades da FCR visam àcomunidade local e a interação é excelente.

Para garantir a concretização de seusprojetos, a FCR estabeleceu parcerias cominstituições públicas e privadas quecomungam de seus objetivos e ideais.Como não tem fins lucrativos, tocaprojetos em que a contrapartida é ga-rantida por meio do trabalho de seusvoluntários e administra os repasses deverbas provenientes dos projetos paraterceiros que realizam os trabalhosprevistos. Paralelamente, planeja aelaboração e coordenação de projetos,

além de participar ativamente nas ativi-dades que visem ao desenvolvimento docidadão piquetense.

Certa vez disseram ser a FundaçãoChristiano Rosa uma “fundação virtual”, emfunção dos parcos recursos – físicos,financeiros e humanos – de que dispõe... Éuma verdade ainda atual. A FundaçãoChristiano Rosa conta com poucos valentescolaboradores, que se desdobram para darconta das tarefas exigidas atualmente. Dosque colaboram constantemente, a maioriadispõe apenas do período da noite ou dosfinais de semana para atuar. Assim, asatividades são realizadas nesses horários...Problema? Não! Tudo que dá prazer nãoprovoca cansaço... As reuniões tornam-seencontros de amigos reunidos em torno deum ideal. A edição de “O ESTAFETA” éuma aula de história... Além disso, discutem-se questões locais e nacionais, e sãomomentos em que se tem de escolher entreas mais de 10 mil fotos do acervo, queretratam – literalmente – todo o final doséculo 19, e todo os séculos 20 e 21.

O informativo mensal “O ESTAFETA”é ansiosamente esperado pela comunidade,que coleciona suas edições e o utiliza paratrabalhos escolares; eventos como apre-sentação de corais, teatro, dança são sempreprestigiados e concorridos; a exposição depresépios já se tornou tradicional no mêsde dezembro e recebe centenas de visitantes;lançamentos de livros organizados pela FCRsão sucesso de público sempre. Atualmente,os projetos de revegetação tocados pelaFCR contam com a participação dascomunidades abrangidas, que recebem

Educação Ambiental, além de treinamentose cursos que proporcionam o aumento darenda familiar, como cultivo de cogumelosshitake e formação de viveiristas. Preo-cupada com os resultados, ao término decada projeto é feita uma avaliação junto àcomunidade envolvida, cujos resultados sãoanalisados, se previsto no contrato, porauditores externos e independentes. Tam-bém são elaborados questionários ao finaldas atividades desenvolvidas, especialmentetreinamentos e cursos. Nas atividades derevegetação, os projetos preveem, até porexigências contratuais, a participação dascomunidades envolvidas e a manutenção eo acompanhamento das áreas plantadas porum período de dezoito meses.

Os recursos financeiros continuamescassos, mas ainda assim são con-tabilizados fielmente e as prestações deconta levam em consideração os centavos.Nos 15 anos da FCR, todas as prestaçõesde contas ao Ministério Público recebe-ram aprovação sem ressalvas. A fim degarantir sua existência por muitos anos,está nos planos da FCR arregimentarnovos colaboradores e a manutenção doinformativo “O ESTAFETA” e das ativi-dades de artes plásticas, cultura e história.Portanto, sintam-se convidados a cola-borar. Na festa dos 15 anos da FCR, nossopresente é a satisfação da comunidadepiquetense com nossos trabalhos e avitória da cidadania.

Paulo Noia de Miranda

Presidente da FCR

Fundação Christiano Rosa comemora 15 anos

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O ESTAFETA

Como faço todos os anos, reli osSermões da Quarta-feira de Cinzas doPadre Antônio Vieira. São três.

Para me lembrar de que ainda sou umredemoinho de pó movimentando-se daquipara lá, de lá para acolá.

E que, daqui a algum tempo, vai-seaquietar, vai virar um monte inerte de pó.

Quem nasce tem apenas uma certeza –a de que vai morrer.

Nas meditações quaresmais o que vemà tona com mais frequência é a vaidade dohomem. O “pó em pé” se esquece de quelogo estará deitado para sempre. E se exibe,menospreza os outros pós e quer estarsempre em posição de destaque.

Não é isto que se depreende dasociedade atual. Percebe-se um desejoindisfarçável de vingança.

O rico já não se exibe, porque o pobreo mata. O pobre não suporta o indigente:joga gasolina e ateia fogo. A mãe atira ofilho ao lixo. A mulher entrega o maridoà Justiça porque não paga pensão. Omarido espanca a mulher até a morte, amesma que jurou amar na pobreza e nariqueza, na saúde ou na doença. Osadolescentes e jovens matam os paisporque nunca estão satisfeitos com o quetêm. E as inocentes crianças zombam dos

colegas, ferem-nos, matam-nos e se matam.Os adultos desrespeitam as criançaslevando-as à prostituição. Os velhos sãoabandonados pelos filhos. Os empregadosagridem velhos doentes e bebês. Os presoscomandam o crime de dentro da cadeia. Osgovernantes metralham o povo.

Os Estatutos dormem nas prateleiras.Emendados e remendados nunca sãocapazes de conduzir à ordem ou à paz. Mata-se em plena luz do dia nas casas, nas escolas,nas praças e no trânsito.

Dizem alguns que a coisa não é bemassim. Que é sensacionalismo da mídia.

Mas, quando seu filho sai do carro paraabrir o portão da garagem e leva um tiro nopeito, você muda imediatamente de opinião.

Se o grande Vieira subisse ao púlpitohoje, não repetiria o “Lembra-te de que éspó”.

Com certeza insistiria desesperado:lembra-te de que não és um irracional,lembra-te de que és gente, lembra-te de quefoste criado à imagem e semelhança deDeus! Vieira insistiria mais no viver bemdo que no morrer bem.

Morrer é fácil nestes dias. O difícil émanter-se vivo.

A vida de nossa sociedade é regida peloprincípio democrático: todos são iguais

perante a Lei. É esta Lei que norteia ocomportamento dos cidadãos para que aspessoas possam conviver sem atritos.

As religiões aprofundam o princípiodemocrático: dizem que somos todosiguais, que somos irmãos, filhos da mesmadivindade.

O cristianismo do Padre Vieira, nestesdias, exorta os fieis a rememorar osofrimento de Jesus Cristo, sua morte eressurreição. Os Evangelhos guardam osensinamentos do Filho de Deus, que ensinaa amar e a perdoar.

Se temos ordenamentos, por que nãoos aplicamos?

Por que os cidadãos da quinta economiado mundo não têm casa, não têm comida,não têm escola, não têm assistênciamédica?

Qual é a face que o homem brasileiropode mostrar ao mundo? A face doSeverino Retirante: “a vida de cada dia,cada dia hei de comprá-la”?

Padre Vieira, não deixarei de ler os seussermões. Mas, por enquanto, não possodar-me ao luxo de lembrar-me de que soupó. Tenho de lembrar-me de que sou gente,de que faço parte da brava gente brasileira.

Abigayl Lea da Silva

Tempo de reflexão

Página 6 Piquete, março de 2012

Observando uma antiga tradição, a cadaano, em preparação à celebração da Páscoa,os cristãos vivem um tempo especial que,ao longo da história, se convencionouchamar de Quaresma. Nos primeiros anosdo cristianismo, esse tempo era carac-terizado pela instrução dos catecúmenos –pagãos que, tendo ouvido a pregação doEvangelho e se encantado com o testemunhode vida dos cristãos, haviam decididotambém pertencer à Igreja – eram prepara-dos em um longo retiro no qual aprendiama doutrina cristã, praticavam jejuns ecultivavam a oração. Havia neles um sincerodesejo de conversão, dos costumes pagãosà vida nova de cristãos. Antes de seradmitidos à Igreja pelo batismo, os catecú-menos eram escrutinados, minuciosamenteexaminados. Quando considerados dignos,no quarto domingo da Quaresma faziam umjuramento solene diante de toda a comuni-dade, e, em sinal de acolhida, recebiam umarosa. Esse domingo era conhecido como odomingo das rosas, pois os cristãos costu-mavam se presentear com as primeiras rosasda primavera. Daí vem o costume de seutilizar paramentos litúrgicos róseos noquarto domingo da quaresma.

Para os já batizados, a Quaresma foisempre um forte apelo à conversão e àrenovação espiritual. O jejum, a oração e aesmola desde muito cedo formam o itine-rário proposto aos cristãos como meios desantificação. O jejum deve ser oculto e

Que a saúde se difunda sobre a Terra!acompanhado da prática da justiça. Aoração, sincera, perseverante, silenciosa ediscreta. A esmola, generosa, escondida echeia de autênticos sentimentos de frater-nidade para com os pobres. Conformeensina a Igreja, esses exercícios, que são in-tensificados na Quaresma, elevam o espíritohumano e fortalecem a vivência cristã.

No Brasil, desde 1964, a Quaresma étematizada pela CNBB. A cada ano nossascomunidades refletem um determinadoassunto que seja relevante à vida do povobrasileiro. Essa abordagem tem sido muitopreciosa no processo de conscientização dapopulação, do comprometimento doscristãos e pessoas de boa vontade, e dapaulatina transformação das realidadescontempladas.

Em 2012 o tema é: “Fraternidade eSaúde Pública”, e o lema um trecho do Livrodo Eclesiástico: “Que a saúde se difundasobre a terra!” (Eclo 38,8). A Igreja se uneàs vozes da sociedade, que tem clamado porum sistema de saúde pública mais humanoe capaz de atender, em todas as regiões dopaís, à grande demanda de cidadãos queprocuram os serviços de assistência à saúdeoferecidos pelo Estado. Embora constate-mos algumas melhoras nos últimos anos,ainda existe muita precariedade no atendi-mento à população. A espera por aten-dimentos clínicos especializados e porexames é demasiadamente longa, atrasandoe muitas vezes inviabilizando os trata-

mentos. Não existe número suficiente demédicos e o acesso aos medicamentos e àsterapias nem sempre é fácil. Os recursosdestinados à saúde estão aquém do neces-sário, mas a situação é agravada pela mágestão do dinheiro público e pela corrupçãoque torna ainda mais escassos os inves-timentos nesta área. A eleição de gestoreshonestos e competentes, a fiscalizaçãopopular e a organização de um ConselhoMunicipal de Saúde que funcione de fatosão elementos fundamentais para uma boaaplicação dos recursos destinados à assistên-cia da Saúde da população.

A participação dos cristãos e das pessoasde boa vontade é de extrema importânciapara que haja melhoramentos reais na saúdepública. Nesta Quaresma somos convocadosa nos converter, adotando hábitos de vidamais saudáveis que nos garantam maissaúde, sendo mais solidários com osenfermos, contribuindo, por meio de nossovoto em pessoas de bem nas próximaseleições, para que o sistema público desaúde seja mais eficaz.

Que a Quaresma seja um tempo frutuosopara nossas comunidades e para a sociedadena qual os cristãos estão inseridos. Que aCampanha da Fraternidade suscite o espíritofraterno e comunitário na atenção aosenfermos e leve a sociedade a garantir a maispessoas o direito de ter acesso aos meiosnecessários para uma vida saudável.

Pe. Fabrício Beckmann

O ESTAFETAPiquete, março de 2012 Página 9

Dado em Piquete, entre os séculos

XX e XXI, por seu protagonista em

depoimento pessoal.

Pessoas existem que, vivendo plena-mente, constróem, a partir de um sentidofamiliar sólido, um motivo para nosexemplificar o quanto o carinho, a educaçãoe o caráter são importantes. Suas históriasde vida modelares em toda a trama dasalegrias, dores, conquistas e perdas tecemos fios no arranjo, destinam a obra epreparam o terreno para novos laços.

Estou, por essas palavras, fazendocomentários sobre uma obra cujo exemplarrecebi gentilmente do autor – “MemorialFamiliar”, do Cel. Alfredo M. de Araujo.

Trata-se da narrativa de uma trajetóriapessoal, familiar, profissional e social, que,pontuada pelos eventos históricos e osacontecimentos do cotidiano, dá-nos,através dos fragmentos, a imagem da“caminhada” do autor e dos familiares,ascendentes, descendentes, associados peloslaços matrimoniais, e, sem deixar de ladoos amigos, mostra os lugares e os movi-mentos balizadores.

Substancialmente as fotos, os textosanexos, ou seja, os relatos cheios de vidashumanas em suas trajetórias e de diferentesanimais: cães, aves, cágados e a advertênciade não serem usados, as aves, por exemplo,para consumo próprio.

Pareceu-me um espaço edênico de vida,onde cada um, designado por suas especi-ficidades, demonstra a aventura da criaçãodivina para ser compartilhada.

Cidadão piquetense honorário, o Cel.Alfredo, junto à Dona Anacyr, forma umcasal cuja família é muito admirada e bemrecebida por nós habitantes da cidade, a qualeles também habitam prazerosamente desde1995, o que é transparecido pelo empenhodo Coronel em realizar diversas obras derestauração. Entre essas, a da Casa 1,reinaugurada em 1996, as recuperações daEstação Ferroviária “Estrella do Norte”(designação do registro frontal), da pracinhacom jardim fronteiro, lago e fonte luminosae, muito louvável, da composição ferroviária– o nosso cultuado “trenzinho” com aimponente locomotiva. Pelo menos, lá estãoo vagão de passageiros, o vagão de abas-tecimento e a locomotiva Baldwin, linda-mente conservados. Obrigados nós pelainiciativa do Cel. Alfredo.

Militar na reserva, engenheiro emeletricidade e formação em material bélico,o Coronel vem para Piquete designadodiretor da IMBEL, para a DiretoriaAdministrativo-Financeira da empresa.Fato registrado a 3 de abril de 1995. Desdeentão aqui permanece, mantém suasatividades, é nosso amigo, colaborador nasiniciativas da Fundação Christiano Rosa e,com a esposa, nossos amigos. Somosincluídos nas importantes reuniões fami-liares, o que nos desvanece.

Para mim, o militar é um homem deformação rígida, acostumado aos rigores dacaserna, portador de conhecimento funda-mentalmente técnico e da dimensionalidadeterritorial, com as defesas prontas para a

Um “Memorial Familiar” como fonte históricaDóli de Castro Ferreira

manutenção da ordem e da obediência aospostos de comandos – a hierarquização quedefine as funções e os coloca nos postosavançados da defesa nacional, suas fron-teiras e na busca, pela pesquisa de ponta,dos recursos disponíveis para fazer asengrenagens funcionar. A formação acadê-mica militar sólida garante essas expec-tativas.

Entretanto, noto admirada como estemilitar a que me refiro excede-se como serhumano, supera as barreiras por humani-dade, espírito cultivado, força para enfrentaras lutas e as vicissitudes, e revela-se porinteiro no álbum que se nos apresenta semvaidades. Apenas para dar testemunho, ecomo elo de corrente, ceder a continuaçãoaos netos e aos descendentes.

Como uma anotação que acrescento, portratar-se de uma história pessoal e de família,o destaque de que o autor teve um comporta-mento de historiador e memorialista, ouseja, o de registrar os eventos contextualiza-dos às ocorrências do momento e da época.

Por tal cuidado, como fonte, a obra ficareforçada e a leitura flui.

E eu escrevo para registrar que além detudo, seu “Memorial Familiar”, datado desetembro de 2011, é uma fonte para osmemorialistas explorarem o cotidiano deuma família e sua inserção nas faixas detempo a que se remete como história dopresente e de vida. Para ser uma Históriaviva, documental e referencial. E, comopesquisadora de História, não pude meisentar de elaborar este comentário.

Celina de Barros, uma extraordináriapessoa do nosso convívio, portadora dedestacável personalidade, levou consigo,para a durabilidade do tempo que jamais seesgota, importante fração de nosso cotidianoem Piquete.

Dotada dos mais primorosos bens,enriqueceu com sua presença e ações nossasexperiências de vida. Ajudou a formar váriasgerações com a prática do ensino religioso,moral, ético e artístico trabalhando comcrianças, jovens, pais; enfim, iluminou asrelações sociais para marcar o tempohistórico de que foi parte atuante. Não deveser esquecida.

Laboriosa por excelência nos trabalhosdomésticos, nas costuras e belos bordados,e outras tantas que nos proporcionamlembrar para acréscimo da memória. Umexemplo para ser imorredouro. Principal-mente exemplar, espelho de referência paradar sentido, direções e escolhas na vida.Sempre atenta conselheira.

Possuidora de grande calma e sereni-dade, refletia a sabedoria, que, apanágio dosmais velhos, nela era cultivo diário dos 98anos em que nos brindou com a presença.

Foi ativa participante do Coral SantaCecília, e, anteriormente, do Coro da Matriz

Celina

tradicional. Era uma das moças vestidas debranco com a fita azul das Filhas de Mariae depois, de outras associações. Mostrousempre seu amor por Piquete.

Linda, física e espiritualmente, a figurade Celina, alta, magra, lépida, elegante,andava com desenvoltura, e, às vezes,parecia executar passos musicados que lheconcediam maior elegância natural. Estivepresente em alguns bailes da chamada 3ª

idade. Presenciei Celina dançando com seupar. Deslizava pelo salão como um cisnerompe, soberano, o espelho de águas de umlago. Retida em minha memória pela belezaemanada do quadro, ela impregnou meusolhos e minha mente como fonte de riqueza.

Estive presente à cerimônia final parahomenageá-la, em nossa antiga Matriz.Serena, ela descansava no leito de flores.

Lembremo-nos de que para definir ocontemporâneo é necessário ter presente opassado que se conjuga às nossas relaçõessociais, para nos autoafirmarmos comohumanos vivendo no seu tempo. Se per-dermos e desconsiderarmos o passado,seremos seres imitativos e manipuladospelas forças mais negativas do mercado edos costumes indesejáveis.

Mas, para sabermos escolher, o conheci-mento das forças espirituais, não apenasreligiosas, deve permear nossas condutas.Ser manipulado é o pior que existe para oser humano, dotado de força e talento, somasdo físico e do espírito.

Celina de Barros nos ajudou muito aatingir essas metas. Tornou-se estrelafulgurante implantada em nossos corações.

Dóli de Castro Ferreira,24-fev-2012

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O ESTAFETA Piquete, março de 2012Página 10

Fundação Christiano Rosa em 15 anos de imagens...Idealizada pela mente criativa da

arquiteta Célia Ap. Rosa, uma apaixonada

por Piquete, que, junto a um grupo de

amigos institucionalizou o trabalho que já

realizavam em prol da cidadania na

comunidade piquetense, a Fundação

Christiano Rosa é, reconhecida local e

regionalmente como exemplo de excelência

na realização de seus trabalhos.

Centrada em conceitos como ética,

profissionalismo e competência, a

Fundação, com uma estrutura baseada nos

sólidos valores de seus instituidores,

manteve e ampliou a abrangência dos ideais

de sua principal mentora. Criado para

divulgar seus trabalhos, “O ESTAFETA”

vem cumprindo sua função, tendo sido

premiado pela sua qualidade, e se tornou

referência para alunos, professores e

pesquisadores de Piquete e da região. Na

área ambiental, um de seus principais focos

de atuação, a Fundação vem desenvolvendo

diversos projetos que lhe proporcionaram

“know-how” e respeitabilidade inigualáveis

no Vale do Paraíba.

Ciente de sua importância para o

município, a Fundação renova, a cada ano,

a cada novo desafio, a intenção de promover

a cidadania e inculcar, principalmente na

população jovem de Piquete, o amor por

nossa cidade e o respeito pelo meio

ambiente. Dessa forma, acredita estar

contribuindo para que as gerações futuras

recebam preservado o legado de história e

cultura piquetenses.

As imagens abaixo retratam uma parcela

das diversas atividades desenvolvidas pela

Fundação Christiano Rosa ao longo de sua

trajetória de 15 anos...

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroEm defesa do leão...

Bar do “Zóio”

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.net

ou

A Praça da Bandeira sempre foi redutode bom presságio. Muitos são os comer-ciantes que tiveram êxito em seus negóciosse instalando ao redor dela. “Comércio paraser bem sucedido tem que ser na praça”,diziam os antepassados. Por lá as pessoaspassam, se concentram e o vai-e-vem delasalarga qualquer sorriso.

O ponto mais estratégico da Praça daBandeira sempre foi o Real Bar, que teve,no final da década de setenta, um novo dono:o “Zóio”. Moço dinâmico, trabalhador,cabeça aberta, olhos arregalados voltadospara o futuro. Sabedor do gosto de cada um,agilizou de tal maneira o estabelecimento,que tomou a freguesia dos concorrentes.Colocou no cardápio petiscos variados eprocurava manter a cerveja em temperaturaabaixo de -5ºC. Além disso, sua presença àtesta do negócio era o maior atrativo.

A frequência constante dos amigosdeixava o “Zóio” animado. Por isso, teveque aumentar seu corpo de auxiliares paramelhor cumprir o dever de servir bem, paraservir sempre.

Na época, a disputa das sextas-feiras esábados ficava por conta da Choperia 35,estabelecimento também instalado na Praça,que trazia nesses dias os saudosos Dito BomCabelo e Toninho Galo para fazer músicaao vivo. Nesses dias, a moçada se dividia...

O Peru’s Bar e o Bar do Brucututentavam fazer frente ao Bar do “Zóio” e àChoperia 35, mas perdiam por seremafastados da famosa Praça da Bandeira. Arapaziada gosta de sentir a Praça. Omagnetismo com relação à Praça que vai nocoração de cada piquetense é uma incógnitaindecifrável. Todos nós a amamos.

O “Zóio”, para triplicar seu movimentoe fazer inveja aos demais concorrentespoderia ter uma solução mais simples: umoutdoor piscando à noite – BAR DO“ZÓIO”.

O ancião estava sendo velado na capelado cemitério e achei, pela amizade com oneto, que deveria ir até lá passar umas horasao lado do falecido. Cheguei por volta dasonze da noite e, após uma olhada no insignepartinte, distribuí pêsames aos parentesapresentados pelo neto meu conhecido, esentei-me a um canto, em silêncio. Haviabastante gente. Mais de meia-noite, saí dacapela para fumar um cigarro. Recostei-meà parede externa, fumegando entre doisvelorentos que ali fora também estragavama saúde, assim como eu.

Vou contar o que auscultei e tenhocerteza de que muitos não vão botar fé...Mas aconteceu. Foi um papo que pegueino meio do caminho e que não condescendiser um lugar adequado, apropriado...Enfim, leiam o que escutei, já que não possomandá-los ouvir:

– Comigo toda profissão declarariaImposto de Renda!

– Todo mundo é obrigado a declarar...– Aí é que você se engana...– Já sei... Vai dizer que tem nego que

faz trambique, tramoia... Mas declara...Cabe ao “leão” farejar a marmelada, se éque esse tipo de leão tem faro...

– Não, não... Não é da malandragemque estou falando. Diga-me: qual é a maisantiga das profissões?

– Sei lá... Agricultura?– Nunca ouviu dizer que a prostituição

é a mais velha das profissões?– Não, nunca ouvi...– Pois dizem que é... E, ao que me

consta, as prostitutas não declaram renda.– Recolhem pro INSS?– Desconheço... Creio que o rol das

profissões institucionais não esteja a demeretriz e, se não recolhem pro Instituto,não se aposentam.

– Também... Levam a vida numa boa,né...?

– Ponto de vista... Não concordo que avida delas seja fácil... Podem ganhar bomdinheiro enquanto jovens e bonitas, mas,na dobrada do cabo da boa esperança, comoé que ficam?

– Verdade... Cara vai procurar mulherbonita e boa... Bagulho fica no encosto.

– Veja, então, que a vida delas não éassim tão fácil...

– E se fizessem uma lei oficializando aprofissão?

– Como é que o “leão” iria conferir adeclaração?

– É mesmo, seu... Como comprovar osrendimentos?

– A não ser que elas fizessem nota fiscalem duas vias... A primeira de comprovantepara o IR e a segunda pro marmanjoapresentar para dedução...

– Prazer entra como dedução noformulário?

– Tô por fora, mas quem vai queresapresentar esse tipo de recibo? Se o bichoestá a fim de uma extra, vai lá querer seunome no livro-caixa de uma casa demulheres? Deixar a prova do crime? Nemburro...

– E as que viram bolsinha livremente eque vão para motéis... Como controlar?

– Com essas é impossível... Agora, asdonas de tais casas deveriam instalarrelógios de ponto. A gata vai pro quartoacompanhada, bate cartão de entrada;terminando o serviço, bate a saída... Assim,no cartão de horas acamadas não ficaria onome do cara e seria estabelecida umaquantia média por hora. Teria, entretanto,que haver vigilantes da receita ao lado dorelógio, nas portas e janelas dos quartos, projeitinho tão nosso não funcionar...

– A não ser que elas pagassem emespécie, né... Mas pra quem? Para o gerentedo banco ou pra turma da Receita Federal?Ia dar pau...

Elas exigiriam recibo de, de, de... Issopoderia ser chamado de declaração, decomprovação, do quê?

– Bem... Os de direito dariam umagrana como restituição e uma declaraçãode que são isentas?

– Quem iria querer em espécie osbagulhos?

Estava demais... Achei por bem voltara ser sentinela de defunto...

Piquete, março de 2012Página 7

Salve 15 de Março!

A Fundação Christiano Rosa para-

beniza a direção da Fábrica Presidente

Vargas e seus funcionários pela comemo-

ração dos 103 anos.

A história de Piquete confunde-se com

a da FPV. Portanto, a FPV merece ser

sempre lembrada e respeitada pelos

piquetenses, os quais, todos, de uma

maneira ou de outra, se beneficiaram das

oportunidades por ela oferecidas.

O ESTAFETA Piquete, março de 2012Página 8

A exemplo de outras cidades, a CâmaraMunicipal de Piquete instituiu projeto emque concede medalhas e honrarias aosalunos que apresentarem os melhoresresultados de aprendizagem nas escolas domunicípio. O projeto, que se tornou lei hátrês anos, foi intitulado “Aluno nota dez” eobjetiva estimular os jovens a melhorar seudesempenho escolar.

É do conhecimento de todos que aeducação constitui o alicerce de todaeconomia desenvolvida; logo, investir naformação do educando significa retornopositivo para o desenvolvimento do paíscomo um todo, e dos municípios emparticular

Nesta perspectiva, a educação dequalidade é o melhor investimento que umgestor deve buscar para o município. Comdez escolas frequentadas por aproxima-damente dois mil estudantes matriculadosnos ensinos fundamental, médio e EJA(Educação de Jovens e Adultos), Piquetetem grande responsabilidade neste setor. Ameta, além de erradicar o analfabetismo, éa de preparar estes jovens para o plenoexercício da cidadania, promovendo odesenvolvimento de competências indispen-

“Naquela mesa está faltando ele e asaudade dele está doendo em mim”.

Não me lembro qual o autor quedefine este sentimento tão especial a quechamamos saudade

Ouvi dizer que o termo vem do latim“solitatis” e significa solidão.

Há quem afirme que é uma palavra emportuguês, sem tradução para outraslínguas. Será?

Eu apenas saliento que tal expressão,cantada pelos poetas em verso e prosa, émuito dolorida e nos transporta aopassado, para lugares e imagens numemaranhado de acontecimetos povoandonossa memória.

Gostaria de exprimir com palavrascorretas como é isso de sentir saudade;digo mais, de entender a minha saudade.Gostaria, mas não é fácil!

No dizer de Raquel de Queiroz – “Alembrança dói quando fresca. Depois decurtida é consolo”. Vem daí aqueleturbilhão de lembranças que a gente evocacom o velho amigo que faz parte delas eque, para outros, tais recordações não têmo mesmo valor.

A lembrança me transporta ao pas-sado, para lugares, encontros e fatosalegres ou tristes guardados na memória.Um retrato, um xale, uma carta... Sacra-mentos de quem partiu, deixando-nosórfãos. Apenas um objeto, e, no entanto,um mundo inexplicável encerrado nele.Só os olhos do coração enxergam umasaudade. Forte, fértil!

Como bem se expressa Pe. Juarez deCastro, “Só sentimos falta do que que-remos vivo dentro de nós”.

Desembarcamos em busca de umpassado que só resta na memória. Saudávele saudosa saudade.

É assim que sinto a minha saudade,colocando-me diante daqueles que seforam, de episódios que marcaram minhavida.

Às vezes, tento matar a saudaderelendo velhas cartas, ouvindo umamúsica, olhando antigas fotografias ou atémesmo chego a sentir o cheirinho do caféda manhã, tão gostoso, que a mamãecoava, e o sabor delicioso do manjar quevovó fazia...

E a teimosa da saudade não morre!Este sentimento dói muito, mas

fortalece o elo com aqueles que perdemosou de alguém muito longe de nós.

E daí a garganta arranhada, a dor nopeito, as lágrimas... E no dizer do poeta:

“Há quem diga que a distância,Mata o amor, mata a saudade,Mas, se não fosse a distância,Não haveria saudade”.

A minha saudade

Eunice Fernandes

sáveis ao enfrentamento dos desafiossociais, culturais e profissionais do mundocontemporâneo, formando jovens críticos,letrados, cumpridores de seus deveres ecientes de seus direitos. Esta é, portanto,relevante meta que todos os educadores,juntamente com a família e a comunidadedevem buscar.

As famílias devem investir na educaçãodos filhos, dando-lhes apoio, incentivo, ouseja, fazendo um trabalho de parceria coma escola para que o jovem alcance resultadoscada vez mais positivos na educação. Deixarsomente para a escola a função de educar éum grande erro que se tem cometido;educação é algo que vai além da escola. Aescola é apenas um dos lugares onde elaacontece.

A parceria entre os diversos setores dacomunidade é essencial para colhermosfrutos mais positivos na educação. Queoutros jovens sigam o exemplo dos alunos“nota dez”, e que a exemplo da CâmaraMunicipal, que outros setores da sociedadetambém criem ações de estímulos aos jovensem idade escolar.

Parabéns aos homenageados, aos seuspais e às escolas! Professora Evelize

Aluno nota dez

Desde sua instituição, em março de1997, a Fundação Christiano Rosa vemtrabalhando junto à comunidade para criaruma consciência preservacionista. Ao longodesses anos, inúmeros projetos voltadospara a questão ambiental foramdesenvolvidos. A preocupação com a Serrada Mantiqueira e suas encostas fez com quea Fundação elaborasse e desenvolvessetrabalhos que reforçam a importância dessemaciço montanhoso. Em todos os projetos,a educação ambiental foi priorizada, bemcomo cursos de viveirista, coleta desementes e plantio. Em 1997, quandocirculou pela primeira vez O Estafeta, nelejá vinha estampada a preocupação daFundação com a APA da Mantiqueira e coma necessidade de sua regulamentação.

Criado no domínio da Mata Atlântica,Piquete se desenvolveu num fundo de vale,junto à Serra. Cresceu ocupando encostas emargem de rios. Ações antrópicas ao longodos anos levaram à perda da biodiversidade,ao assoreamento dos ribeirões, à redução

do volume d’água de rios e nascentes, alémde gerar extensas áreas de erosão. Apesardesses agravos, a Fundação Christiano Rosaacredita que, com esforços somados,vontade política e mobilização da sociedademuito ainda poderá ser feito para sepreservar e se recuperar os remanescentesde nossas matas.

A conservação de florestas e de outrosecosistemas naturais interessa a toda asociedade. Afinal, são eles que garantem,para todos, serviços ambientais básicos quesustentam a vida e a economia de todo opaís – produção de água, regulamentaçãodos ciclos das chuvas e dos recursoshídricos, proteção da biodiversidade,polinização, controle de pragas, controle doassoreamento de rios e equilíbrio do clima.

Juntamente com a comemoração de seus15 anos, a FCR festeja orgulhosa mais de50 mil mudas de espécies nativas da MataAtlântica plantadas em Piquete. O sucessoobtido até hoje anima-nos a continuar estajornada.

FCR: mais de 50 mil mudas plantadasF

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