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MARCO ZERO Hermeto Pascoal, o bruxo do som Tudo por uma vaga Com a chegada do final de ano, aumenta o drama dos motoristas que utilizam estacionamentos no centro, frequentemente lotados e com os preços aumentados. (p. 5) Hermeto Pascoal, alagoano radicado em Curitiba, é mestre na arte de transformar meros barulhos em obras consideradas clássicas. (p.3) Um encontro surpreendente A professora de teatro do Grupo Uninter, Geisa Muller, fala sobre o poder do encantamento do curso. Para ela, o teatro tem o poder da resistência e da transformação. (p. 10) Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter Ano III Número15 Curitiba, outubro de 2011 À espera do futuro As dificuldades e os sonhos das profissionais do sexo na noite curitibana (p. 6 e 7) Hamilton Zambiancki Divulgação

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Curitiba, outubro de 2011 MARCO ZERO 1MARCO ZERO

Hermeto Pascoal,o bruxo do som

Tudo por uma vagaCom a chegada do final de ano, aumenta o drama dos motoristas que utilizam estacionamentos no centro, frequentemente lotados e comos preçosaumentados. (p. 5)

Hermeto Pascoal, alagoano radicado em Curitiba, é mestre na arte de transformar meros barulhos em obras consideradas clássicas. (p.3)

Um encontro surpreendente

A professora de teatro do Grupo Uninter, Geisa Muller, fala sobre o poder do encantamento do curso. Para ela, o teatro tem o poder da resistência e da transformação. (p. 10)

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número15 • Curitiba, outubro de 2011

À esperado futuro

As dificuldades e os sonhos das profissionais do sexo na noite curitibana (p. 6 e 7)

Hamilton Zambiancki

Divulgação

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MARCO ZERO Curitiba, outubro de 20112

EDITORIAL

Ao leitorNesta décima quinta edição do jornal

Marco Zero, nossos repórteres nos levam ao mundo não muito mágico da prostituição e mostram o outro lado dessa vida nada fácil. Revelam detalhes que fazem pensar duas vezes antes de recriminar essas pessoas que, por vários motivos, acabam escolhendo essa profissão. E descortinam um mundo cheio de sonhos e desejos de pessoas comuns, que ganham a vida ofertando prazer, muitas vezes sem segurança e sem a certeza de re-ceberem seu pagamento ao final do “aten-dimento”.

Falando em “mundo mágico”, matéria sobre Hermeto Pascoal conta como esse mago da música consegue transformar qualquer objeto que caia em suas mãos - panelas, ba-cias de água, chaleiras, máquinas de costura, frangos, cabras, gansos, perus e até porcos - em instrumentos afinadíssimos. E para aqueles que não conseguem desgrudar as nádegas do banco do carro, matéria mostra que é preciso pensar bem antes de se aventurar pelo centro de Curitiba atrás de vagas para estacionar, principalmente neste fim de ano.

Para os envergonhados e com difi-culdades em falar em público, a matéria sobre teatro é muito inspiradora, pois mostra o relato de uma aluna da comu-nicação que superou sua timidez no palco do Teatro Uninter com a professora Gei-sa Muller.

Boa leitura!

Expediente

ARTIGO

O jornal Marco Zero é umapublicação feita pelos alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador doCurso de Jornalismo:Tomás Barreiros

Professores responsáveis:Roberto NicolatoTomás Barreiros

* O jornal Marco Zero foi premiado como melhor jornal-laboratório do Paraná no 16º Prêmio Sangue Novo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná.

Diagramação:André Halmata (8º período)

Facinter: Rua do Rosário, 147CEP 80010-110 • Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

Boca no trombone!

Cláudia Bilobran

Luís Fernando Matoso

Sem cheiro, sem cor e sem gosto

Abrir a geladeira e não ter nada para comer é uma situação nada cômoda. Mas se em vez de comida você a encontrasse repleta de barras de ouro, certamente nem pensaria em comida. Até a fome passaria. E se todos tivessem barras de ouro espa-lhadas ou empilhadas por toda casa? Certamente esse ouro não teria tanta importância. Hoje temos acesso todos os dias a um bem tão precioso e, com certeza, bem mais valioso que o ouro: a água. Sem ouro, qualquer um sobre-vive naturalmente, mas sem água é impossível. Há projeções de estudos feitos pela ONU de que até 2050 teremos pouquíssima água po-tável no planeta. Isso poderá resultar numa Terceira Guerra Mun-dial, com países bri-gando por água. Isso já acontece em países do Oriente Médio, que se localizam próximo ao Rio Jordão, um dos poucos que ainda possuem água potável. Até quando os latino-ame-ricanos tratarão a água com tama-nho desdém? Há um ditado que diz: “enquanto a água não bater na bun-da...”. Mas o problema é que a água está acabando, e logo teremos que trocá-lo por: “enquanto a bunda não seca...”. Essa é a verdade. Falamos em preservar as águas, os manan-ciais, cuidar da natureza, não gerar esgotos que desemboquem nos rios, não jogar lixo nos mananciais... É tanto discurso emocionante que brota água até dos meus olhos.

No entanto, nós, brasileiros, não temos a noção de que um dia a água pode acabar. Para nós, isso é um mito. Por quê? Simples: vivemos rodeados por um volume imensamen-te grandioso de água. Praias belíssi-mas, com suas mulatas ou loiras des-filando de fio dental. São quilômetros e quilômetros, e benditos sejam esses milhões de litros de água! Contudo, enquanto lavamos nossos carros três vezes ao dia no verão e ao menos uma vez nos dias de chuva, enquanto lavamos a louça e deixamos o líquido escoar ralo abaixo e tomamos banhos demorados (sem falar nos banhos íntimos de casais), milhares de pessoas em países do continente africano andam quilômetros para matar a sede. Outras centenas

morrem a caminho da busca pela água, des-nutridas. Esses sim sabem o quão impor-tante é economizar esse líquido precioso. O foco do mo-mento ainda é o petró-

leo, o ouro preto! Mas muito em breve muitos olhos se voltarão para o Brasil, sim, isso mesmo, para o Brasil, que é considerado o pulmão do planeta Terra, com a Amazônia. Milhões de litros de água doce. Como exemplo, basta citar-mos as Cataratas do Iguaçu, que jor-ram aproximadamente 60 milhões de litros de água a cada quatro segundos. É bom começarmos a cuidar e a preservar essa futura riqueza, abun-dante no país, mas que ainda não sa-bemos o quanto vale realmente. Será preciso outras potências ditarem o que irão fazer com nossa água para que despertemos. Espero que ainda dê tempo de saboreá-la com gosto.

“É necessário que te-nha mais banheiros públicos pelo centro de Curitiba. Eu me lembro do banheiro que tem na Praça Osório, e não é das melhores lembran-ças, pois sempre tem

algumas pessoas mal encaradas ali por aquelas bandas. Nem que a gente pa-gue alguns centavos para poder usar.”Yolanda Maia, 63 anos, do lar.

“Precisa ter mais ba-nheiros sim. Aqui pelo Largo da Ordem, só tem mesmo no Me-morial. Nem que fos-se aqueles banheiros móveis, como os que há nas feiras livres. Com certeza, banhei-

ros públicos pelo centro de Curitiba se-riam muito bem vindos”.Jéssica Piasescki., 17anos, estudante

““Não tem banheiros públicos suficientes. Quando é preciso usar tem o do Mcdonalds que acabou virando um mic-tório publico e nojento de tão sujo. Com certeza a prefeitura precisa provi-denciar mais banheiros no centro.”

Virginia Silva, 18 anos , estudante

“Acho que a situa-ção dos banheiros públicos do centro é crítica. Além de ter poucos, os que têm não são bem limpos. Precisa aumentar o número de banhei-ros, e precisam ser

bem higienizados.”Regiane Paula de Lima Soares, 33 anos, porteira

Qual a sua opinião sobre os banheiros públicos do centro de Curitiba?

Hamilton Zambiancki

Há projeções de estudos feitos pela ONU de

que até 2050 teremos pouquíssima água potável no planeta

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Curitiba, outubro de 2011 MARCO ZERO 3

PERFIL

Hermeto Pascoal, o bruxo do som

Ele é um mestre da música es-pontânea, capaz de transfor-mar meros barulhos em obras

clássicas. O alagoano representa a variedade da música no Brasil e pode ser considerado uma pessoa que revo-lucionou a música brasileira de ponta, influenciando gente no mundo inteiro. É criador da chamada “Música Univer-sal”. Compositor de mais de 4.000 mú-sicas e improvisador, construiu uma carreira internacional com obras que envolvem simplicidade e complexida-de, sempre com sotaque brasileiro. Hermeto Pascoal tem o poder de surpreender seu público com apre-sentações sempre cheias de novidade. Privilegiado com o dom de transfor-mar qualquer objeto que caia em suas mãos - panelas, bacias de água, cha-leiras, máquinas de costurar, frangos, cabras, gansos, perus e até porcos - em instrumentos afinadíssimos, esse bruxo do som hipnotiza a platéia com seu carisma e talento, agressividade musical e ousadia. Criado numa família de sanfo-neiros, o menino que se destacava da multidão pelos traços claríssimos logo deu sinais de que tinha jeito para a mú-sica. Começou tocando flauta e aos oito anos já dominava a sanfona. Com 11, já tocava em bailes da região. Aos 14 anos, mudou-se para Recife com a família, onde passou a participar de programas de rádio. Nunca mais pa-rou, mas foi na década de 60 que sua carreira finalmente se consolidou, com o ingresso no grupo conhecido como Quarteto Novo, formado por Heraldo do Monte, Airto Moreira e Theo de Barros, além de Geraldo Vandré. É dono de ouvido absoluto e de uma boa visão peculiar. Apesar da dificuldade de fixar o olhar, consequ-ência de um comprometimento de seu nervo ótico, e da baixa tolerância à luz devido ao albinismo, o músico diz que não fica atrás de ninguém quando se trata de enxergar, muito por causa de seus óculos. Seu primeiro disco, Música Li-vre de Hermeto Pascoal, foi lançado em 1973. O título era quase profético: livre é o adjetivo mais exato para defi-nir o som do artista. Para ele, quanto mais ingredientes, melhor. Hermeto pode misturar choro, baião, frevo, jazz

Radicado em Curitiba, o músico alagoano alia técnica e experimentações com todo tipo de objeto

e maxixe na mesma obra sem nenhum acanhamento. Seu segundo disco, Slave Mass, foi gravado em 1977 nos Estados Unidos. Essas aparentes excentricidades musicais, entretanto, não significam que Hermeto não domine o lado teórico da arte. Foi, na verdade, essa capacidade de inovar aliando técnica a experimentação e, consequentemente, aproximando o popular do erudito que fez com que ele ganhasse o público internacional. Nesta entrevista ao jornal Mar-co Zero, o mago do som conta histórias de seus 73 anos de vida, fala sobre sua carreira e de sua paixão pela música.

Como surgiu o Hermeto multi-ins-trumentista? É de pequeno. Pegava tudo da cozinha da minha mãe para tocar, tudo que sobrava eu guardava para mim. Meu avô era ferreiro, então ficava tor-cendo para ele dizer que os penicos e panelas que os clientes deixavam lá não prestavam mais. Hoje, pego uma bomba de encher bolinha de aniversário e toco clássico e popular. Faço suspense com o público, e é lindo quando começo. Quando vejo alguma coisa que tem um som, por exemplo, uma lata no chão, eu disfarço, volto e pego. Pode ser ca-lota de carro, mola de carro, tudo isso já vem com um som da natureza. As coisas da cidade grande também me

fascinam muito. Tudo tem som. Às ve-zes, pego a camisa e faço um som, o povo fica maluco. A ideia vem do céu, mas os sons vêm do corpo.

Como é ser um músico do seu gê-nero no Brasil? Tem espaço para tudo no mer-cado nacional. Quem toca bem sempre tem mercado. Só que nunca vai ganhar como o que eu chamo música de con-sumo, que é produto. Esses artistas de consumo lotam ginásios, mas não têm muita qualidade. Esse tipo de música dá mais dinheiro, mas meu lance não é dinheiro. Sempre fiz o que eu gosto. Quando eu tocava em boate, digamos que eu ganhasse mil reais por mês e es-tava num lugar que não gostava muito. Aí vinha um cara dizendo “...Tem uma boate, não é pra dançar, mas tem um piano lá”. Eu falava: “Diz quanto é” e ele respondia “R$ 500”. Aí eu só pedia para ele pagar minha passagem de ôni-bus, ida e volta todo dia, e ia trabalhar por R$ 500. A Ilza (sua primeira mu-lher, já falecida) não queria nem saber, reclamava. Mas depois ela mesma di-zia: “Vai tocar como você gosta”. Meu coração não tem preço.

Como é ser um cidadão do mundo e ter reconhecimento internacional do seu trabalho? É importante ter esse reconhecimento

de músico também, porque para mim foi uma luta muito grande. Eu vim aprender teoria com 42 para 43 anos de idade. Sou autodidata e fui aprenden-do com as minhas deduções, intuições. Aprendi assim, tocando com um, to-cando com outro, escutando as pessoas conversando nos corredores. Eu, com ouvido de mercador, ficava ouvindo o cara falar e tocar; eu já escutava e queria saber a tessitura do instrumento. Então, até hoje sou um curioso e me conside-ro um músico intuitivo, tenho até hoje muita facilidade para descobrir e para sentir as coisas bem rápido.

Você acha que falta liberdade para os músicos? Falta liberdade, coragem, cria-tividade. Isso tem que partir também das escolas, dos professores. Sei que eles não têm culpa porque também não tiveram essa formação, mas os músicos têm que exigir, no bom sentido. A minha religião é a música. Já pensou a energia que ela tem, prin-cipalmente na hora em que você está compondo? Esses compositores que estão no outro plano estão mais vi-vos do que nunca. Acho que sou um dos porta-vozes deles, pedindo, quase como quem pede socorro, que as pes-soas peguem essas músicas e façam outros arranjos, modifiquem. [Continua na página seguinte]

Hermeto Pascoal é capaz de aproximar o popular do erudido, encantando plateias em todo o mundo

Guilherme BarchikDivulgação

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MARCO ZERO Curitiba, outubro de 20114

Uma atitude polêmicaO cartunista Solda fala sobre o perigo do politicamente correto no humor

Luiz Antonio Solda é curitibano por adesão. Nascido em Itararé, interior de São Paulo, o chargis-

ta vive na cidade há mais de 40 anos, onde já na adolescência começou a de-senvolver seu estilo bem característico e onde trabalhou com jornalismo, pu-blicidade, literatura, ilustração e direção de arte para vários tipos de publicações, sendo hoje reconhecido como um dos maiores cartunistas do país. No começo deste ano, Solda foi alvo de uma polêmica nacional depois de uma charge sobre a vinda de Barack Obama ao Brasil, publicada na versão online do jornal O Estado do Paraná. Na imagem, havia um macaco fazen-do um gesto de “banana” para alguém. Depois que um blog nacional publicou o desenho e os leitores enfurecidos co-mentaram, o cartunista foi demitido do jornal onde trabalhava. Solda se defen-deu dizendo que a imagem é uma metá-fora e que de maneira alguma é racista. No dia 26 de outubro, Solda esteve na Semana de Comunicação da Facinter junto de seus colegas chargis-tas Bennet e Paixão (ambos do jornal Gazeta do Povo) para um bate papo com alunos e professores, quando fo-ram discutidas suas influências, as po-lêmicas atuais sobre os limites para o politicamente correto e para a criação humorística, suas carreiras e o futuro da charge no Brasil. A seguir, confira a entrevista com o cartunista Solda.

Quais suas influências no traço, na forma de desenhar? Quando eu tinha 16 anos, des-cobri o Pasquim, e lá tinha os mestres do humor nacional. Todos eles estão hoje com 70, 80 anos, e eu gostava mui-to dos desenhos do Jaguar. Eu não co-piava, mas me inspirava nele.

Após a polêmica charge sobre a vin-da de Obama ao Brasil e sua demis-são de um jornal local, você pensou em se mudar de Curitiba? Na década de 90, a internet es-tava caminhando ainda, o Angeli tinha saído da Folha de S. Paulo, e a direto-ra de redação me ligou e me convidou para trabalhar lá. Na época, eu trabalha-va em uma agência de propaganda aqui em Curitiba e ganhava uma fortuna, um salário bem agradável. Eu ia para casa almoçar, via o Jornal Hoje, dormia e voltava a trabalhar. Então, fui obriga-

do a retornar o telefonema dela e dizer: “Olha, infelizmente, eu recuso o convi-te”. Eu não gosto de grandes cidades, prefiro a tranquilidade de Curitiba, em-bora não esteja mais tranquilo. Mas da-qui eu publiquei muita coisa para fora, publiquei muito tempo na Folha, publi-quei no Jornal do Brasil. Só que o Jornal do Brasil não chegava aqui em Curitiba na época. Então, é como ser estudante, ter 15 anos e namorar a menina mais bonita da cidade e ninguém ficar saben-do. Eu publiquei três anos nesse jornal e só fui ver meu desenho nele quando viajei para Paraty.

Como está o mercado para cartunis-tas e para os chargistas? A internet trouxe mais espaço? É inevitável que os jornais im-pressos acabem. Eu sabia que o meu jornal ia deixar de ser impresso, mas sei lá, a nossa cabeça não funciona desse jeito. E no dia em que acabou, eu não fui mais na frente de casa pegar o jor-nal, e foi: “Meu Deus! E agora?” Ago-ra o cara só vai para a internet e aperta um botão e tá lá. Eu tenho um blog que tem 2 milhões e 200 mil visitas por mês, então os caras lá de Belém do Pará, de Santarém, copiam os meus desenhos, tiram a legenda e botam outra coisa. É bom e é ruim, quer dizer que o cara gosta de mim, mas... A internet é uma coisa nova, nós não sabemos onde esta-mos ainda.

Você continua achando os chargis-tas mal humorados? Não, não é isso. Nós, chargistas paranaenses, nós nos divertimos, porque não somos teóricos, nós somos práti-cos. É a diferença entre os chargistas cariocas e os paulistas. Quando eles se encontram, ficam discutindo sobre hu-mor, “o humor tem que ser assim e tal”. Nós não fazemos isso. É até um pouco trágico, porque eles ficam assim: “Quais os caminhos do humor?” (e imita o sota-que carioca), “porque o humor nacional,

porque o humor, humor, humor” (risos). Pô, chega! Eu digo: “vamos tomar uma Coca-Cola ali, cara.”

E sua relação com o Paulo Leminski? Eu trabalhei oito anos com o Leminski. Em certo período, já não havia mais em mim aquela consciên-cia de que eu trabalhava com o Paulo Leminski. Era o meu amigo que estava ali. Meu grande amigo. Então, nunca me passou pela cabeça tirar foto com ele, nada. Mas foi uma coisa que acon-teceu na minha vida e foi muito enri-quecedor. Porque eu deixei de estudar, mas eu trabalhei com pessoas que com-partilharam comigo tudo o que eu sei. Todas as pessoas com quem eu traba-lhei compartilhavam o conhecimento. Com o Leminski, isso foi fantástico. Eu deixei a poesia dele mais engraçada, e ele deixou meu desenho mais poético. Além do que, ele morreu em virtude do alcoolismo, e eu sou alcoólatra também, mas eu não bebo há 24 anos. Tem que sobrar alguém pra contar a história.

Quem é o melhor ou os melhores chargistas hoje do Brasil? O Bennet, o Paixão, o Angeli, o Chico Caruso. Tem um pessoal lá na Paraíba também que eu não lembro os nomes agora. O pessoal aqui de Curiti-ba é muito bom. Onde eu vou, as pes-soas dizem que Curitiba tem um celeiro de gente da melhor qualidade em todos os setores artísticos.

Como você trabalha seus direciona-mentos políticos nas suas charges? Você já se pegou sendo muito parti-dário alguma vez? O chargista tem que ser apolíti-co. Eu e o Bennet somos da escola de Groucho Marx. Nós somos groucho-marxistas politicamente. Porque você não pode ter orientação política. A par-tir do momento em que você tem um envolvimento político, isso passa a ser partidário, e daí é encrenca na certa.

Simone Lima

Solda e a charge polêmica que motivou sua demissão do jornal O Estado do Paraná

Todo mundo quer que as pes-soas dêem uma vestimenta nova. Essa é a minha maneira de pensar e sentir.

Você é tão a favor da liberdade que em seu site existe uma carta autori-zando qualquer pessoa a fazer uso de suas músicas e partituras... Exatamente. Todas as músi-cas que eu gravei. Foi uma luta com as gravadoras, que ficaram chateadas, mas nunca me pagaram. Você acha que eu vou deixar as músicas paradas, com a turma a fim de tocar? Então, é me-lhor não ter dinheiro, mas que toquem a música. Não receber e não tocar é pior.

Que mensagem você quer deixar para os jovens músicos brasileiros? O que os jovens precisam é conversar com seus professores, não podem ficar na mesmice sempre, não podem estabelecer padrões. Cada alu-no tem que saber que uma alma é se-melhante a outra, porém não igual. As coisas têm que ser somadas, e eles de-vem dar carinho ao professor, mas, na hora de pegar no pé, com respeito, têm que pegar. Porque às vezes eles deixam a música pagar o pato. Outra coisa importante é lem-brar sempre que pra tocar Bossa Nova tem que se tocar diferente. A turma da Bossa Nova hoje poderia ser chamada de Bossa Velha. Você imagina agora... A Bossa Nova é uma música linda, não é mais algo novo, é uma música que já está assentada. São vários edifícios velhos e antigos, porém, sem restau-ração, e a Bossa Nova precisa de res-tauração. Com muito carinho, porque as melodias são muito lindas, muito bonitas e maravilhosas. Claro que não é para fazer igual, mas para usar de ins-piração. Mas não, os velhos da Bossa Nova vão falar: “Assim não, isso não é Bossa Nova”. Porque a maioria deles é de tradicionalistas, e nós temos que acabar com isso. A música, você tem que vesti-la toda hora com algo novo e tocar diferente. Às vezes, você toca o mesmo acorde, mas se faz uma divi-são diferente com o mesmo acorde irá soar como duas coisas diferentes, duas coisas maravilhosas.

Primeiro disco de Hermeto, lançado em 1973

Claudia Bilobran

Divulgação

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Curitiba, outubro de 2011 MARCO ZERO 5

Tudo por uma vagaEstacionar no centro de Curitiba virou um drama que deve se agravar com a chegada do final do ano

Encontrar uma vaga para es-tacionar nas ruas do centro de Curitiba é uma missão

difícil, e com a chegada do final de ano isso deve piorar. Muitas vezes, o motorista não consegue um lugar na primeira tentativa e precisa dar várias voltas na quadra ou ir atrás de um local mais distante do cen-tro. Os condutores, em geral, não estão satisfeitos com a quantidade de vagas na região central e gosta-riam que o espaço para estacionamento fosse ampliado. O motorista Diego Rodrigues, que enfrenta o trânsito do centro da capital todos os dias, diz que sempre tem dificul-dades para encontrar um lugar para estacionar. Quando não tem outra opção e se cansa de procurar, opta por deixar o carro em um lugar mais afastado. “Prefiro deixar em locais mais distantes do centro a perder tempo procurando uma vaga em vão. Eu sei que vou achar, mas isso só vai acontecer se eu der mais de dez voltas na quadra”, diz ele. O representante comercial Celso de Carvalho diz que conse-

gue vaga somente depois de dar várias voltas na “caça” por um lu-gar. Quando não encontra, não tem outra escolha: tem que colocar o carro em um estacionamento. “Não há outra saída, porque preciso vir para o centro. Ontem tive muita sorte, encontrei um lugar na pri-meira tentativa”, comenta. Para ele, o ideal seria aumentar o espaço para estacionar nas ruas da região cen-tral. “Muita gente reclama de pagar

o EstaR, mas sem ele seria muito pior. Muitos carros fica-riam o dia inteiro na vaga”, ressalta. Apesar de pa-recer mais fácil, para

os motociclistas, a situação é ainda pior. Em determinados horários do dial eles precisam estacionar as mo-tos em uma área específica destina-da somente a eles, o que, segundo o motoboy Rafael Alves Machado, não facilita a sua vida. Ele conta que muitas ve-zes falta espaço para tantas motos. “Chega uma hora em que não tem lugar para todo mundo. Se os mo-toqueiros colocarem na faixa regu-lar, tomam multa. Um pouco mais

Para estacionar no centro de Curitiba, o motorista de carro pequeno pode pagar entre R$ 1,50 a R$ 8,00 a hora. Por isso, a atenção aos preços cobrados pelos estabelecimentos que oferecem esse tipo de serviço deve ser redobrada. A maior diferença está no custo da diária para o carro, com o menor preço em R$ 5,00 e o maior em R$ 21,00. Para os carros pequenos e médios, a diferença é de R$ 5,00 a R$ 20,00. Para o pernoite, o valor fica en-tre R$ 5,00 e R$ 18,00, dependendo do estabelecimento, independentemente do tamanho do veículo. Quanto ao pa-gamento mensal, os preços começam a partir de R$ 70,00 até R$ 180,00.

Preços para estacionar no centro de Curitiba

13.986é o número de vagas do Estar na região centralde Curitiba e nos bairros de maior movimento

Uma atitude polêmicaO cartunista Solda fala sobre o perigo do politicamente correto no humor

Juliana Rodrigues

Diego Rodrigues: “Preciso dar várias voltas para encontrar uma vaga no centro da cidade”

MOBILIDADE

Juliana Rodrigues

Juliana Rodrigues

de espaço seria suficiente”, avalia. Machado comenta ainda os espa-ços reservados a motos com pla-cas de fundo vermelho, no tempo máximo de uma hora. “Até agora, não consegui tirar meu alvará para estacionar nos motofretes. Isso me

Apesar de parecer mais fácil, para os

motociclistas a situação é ainda pior com a falta de vagas

prejudica bastante”, reclama. As motos que não têm as placas dessa cor ou as que ultrapassarem o prazo podem ser penalizadas. A infração é considerada leve, mas rende três pontos na carteira de habilitação e pagamento de multa.

O sistema do Estar ajuda a promover a rotatividade das vagas de estacionamento no centro da cidade

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MARCO ZERO Curitiba, outubro de 20116ESPECIAL

Elas têm a prostituição como forma de sustento. Subjugadas, as profissionais do sexo expõem a realidade de uma sociedade hedonistae hipócrita, que busca nas ruas uma maneira de satisfazer seus desejos, mas relega as “garotas de programa” à marginalidade

Nayane* é uma travesti que, aos 18 anos, decidiu largar a faculdade de Psicologia na

Unip, em São Paulo, para morar em Curitiba. Ao chegar à capital parana-ense, trabalhou em diversas empresas e lojas, até que decidiu começar a fazer programas na noite. Há um ano traba-lhando nas ruas do centro de Curitiba, ela tenta manter aluguel, luz e telefo-ne em dia cobrando a partir de R$ 80 por cliente. Além dessa renda, Nayane conta ainda com o seguro desemprego da última empresa em que trabalhou como auxiliar administrativo, o Hos-pital Pequeno Príncipe. “Eu não gos-to, não quero essa vida pra mim, não. Depois que conseguir juntar algum dinheiro, quero sair dessa vida, quero ter uma família”, conta ela, uma mo-rena alta, robusta, cuja blusa com um

Rodrigo Custodio grande decote em V evidencia ainda mais um corpo masculino, com cos-tas e ombros largos. Um carro pára, e Nayane vai ao encontro de mais um dos oito clientes que atende por noi-te. O carro tem uma cadeirinha e um cobertor de bebê no banco de trás. “A maioria dos homens que saem comigo são casados, e a maioria quer realizar fantasias”, diz, rindo. A prostituição é uma pro-fissão sem carteira assinada em uma organização sem CNPJ. Os locais de trabalho são as ruas, hotéis e casas das próprias garotas de programa, localizadas no centro de Curitiba. Os clientes, homens de estratos sociais diferentes. O uniforme, roupas ousa-das, justas e decotadas. Os ganhos va-riam de acordo com as exigências e o tempo de programa. As operárias são mulheres de todas as idades, de todos os tipos, para todos os gostos. Mulhe-res que, assim como todas as pessoas,

têm desejos e objetivos, se divertem e fazem planos para o futuro. É o caso da curitibana Gabi*, de 22 anos, mãe de três filhas, uma de seis anos, outra de dois e a mais nova de seis meses. Ela permanece num ponto próximo a uma estação tubo e cobra R$ 120 por um programa de meia hora. “Eu guar-do meu dinheiro, já comprei meu carro, estou montando mi-nha casa e, com o que ganho aqui, pretendo crescer na vida e não afundar”, conta. Três meses após co-meçar a fazer programas, o marido de Gabi descobriu e ela se separou. Hoje, ela consegue sustentar as filhas e a mãe com o que ganha nas ruas, algo em torno dos R$ 4 mil a R$ 6 mil por mês. Sobre como começou na profissão, Gabi diz que as contas começaram a apertar, e então ela co-

meçou a fazer programa. “Aí eu come-cei a experimentar, ganhei bem e agora estou aí”, explica. A maior dificuldade, segundo ela, é fazer programa com os homens mais velhos. “Eles precisam que a gente cuide mais deles”, brinca. Segundo a fundadora da ONG

Grupo Liberdade – Direitos Humanos da Mulher Prostituída, Carmem Costa, exis-tem em Curitiba apro-ximadamente 30 mil garotas de programa, trabalhando em 3.972

pontos. A profissão não é considerada ilegal no Brasil e está regulamentada na Classificação Brasileira de Ocupa-ções (CBO), na categoria de Traba-lhadores do Serviço, Vendedores do Comércio em Lojas e Mercados, mes-ma em que se encontram as profissões de catadores de materiais recicláveis e motociclistas de entregas rápidas.

“Eu guardo meu dinheiro, já comprei meu carro, estou montando

minha casa e com o que ganho aqui”

A transexual Caroline, na esquina da Alfredo Brufren com a Rua Riachuelo, no centro de Curitiba: “Fui vítima de preconceito desde quando era criança”

A dura realidade de quem vive da noite curitibanaHamilton Zambiancki

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Curitiba, outubro de 2011 MARCO ZERO 7ESPECIAL

Elas têm a prostituição como forma de sustento. Subjugadas, as profissionais do sexo expõem a realidade de uma sociedade hedonistae hipócrita, que busca nas ruas uma maneira de satisfazer seus desejos, mas relega as “garotas de programa” à marginalidade

Muitas vezes, elas são apre-sentadas ao mundo das drogas por insistência de clientes, que chegam até a pagar mais para que elas os acom-panhem no uso de certas substâncias, quase sempre a cocaína. O perigo tam-bém anda ao lado das profissionais do sexo, que estão expostas ao risco de serem assaltadas ou sofrerem algum tipo de abuso. No entanto, as traves-tis e transexuais são as que se sentem mais seguras em relação a isso. “Não tenho medo de agressão pelo meu porte físico. Às vezes, tem um ou ou-tro que é mais louco. Já aconteceu de [um cliente] me pegar aqui, não que-rer me pagar e me deixar lá no Hauer. Daí eu dei um tapa na cara dele, desci do carro, ele me pediu para entrar, me pagou e hoje em dia faz programa co-migo só para eu dar tapa na cara dele, sabe?”, revela Nayane. Já Gabi diz que nunca enfrentou problemas porque procura receber o dinheiro antes, para depois fazer o programa, geralmente em hotéis do centro. Suprir as necessidades sexuais dos clientes também é outro fator que pode aumentar o preço do programa. A transexual Caroline*, de 30 anos, acredita que todos os seus clientes, na maioria empresários e até políticos, são homossexuais enrustidos, que sen-tem vergonha de concretizar fantasias com outras pessoas. “Os homens têm mil e uma fantasias, e o que eles não podem fazer com a esposa procuram fora, e é fora onde ele sai do armá-rio, pois seria talvez um enrustido. Ele procura uma transexual, ele sabe que a trans vai entender ele, a opção dele, e é com quem ele fantasia e vai achar algo que ele quer”, diz Caroline, que faz programas há 15 anos. Vítima de preconceito desde criança, quando ia para a escola vestida de menina, ela já conseguiu tirar sua mãe do aluguel graças ao dinheiro que consegue tra-

balhando nas ruas. Já fez vários cursos na área de estética e, futuramente, pre-tende abrir um salão de beleza, talvez fora do Brasil. “Porque no Brasil você só consegue morar, ter um carrinho, o dia a dia, essa é a sua vida. No Brasil, você não passa disso. Você pode ter uma formação acadêmica de altíssi-ma qualidade, mas no Brasil você só ganha para sobreviver”, justifica ela, refletindo sobre uma possível ida à Europa, onde já trabalhou por sete anos, também como garota de pro-grama, em Milão. Ela enfatiza que a diferença entre os clientes de lá e do Brasil está na maneira como eles se di-rigem a uma profissional do sexo. “Se você é uma trans que quer se casar, lá é um ótimo lugar. Se o cliente gostou de você, ele te assume e te apresenta para a família, para os amigos. É uma relação sem preconceitos. Não é igual o cliente daqui, que já está num quarto te esperando, fecha as portas e dali não passa. Lá você não sofre preconceitos, não é vista como um objeto sexual”

Cada cabeça é uma sentença “A sociedade é podre. Felizes somos nós que vemos a realidade da sociedade. Eu tenho pena da esposa que está em casa esperando pelo es-poso que está trabalhando, e ele ainda nem pensa no preservativo, quem pen-sa é o trans. Agora, se é uma prostituta com problema e que não pensa nisso, a esposa que está lá cuidando dos filhos, da vida social dele, você já imaginou o presente que ele vai levar para ela?” desabafa a transexual Caroline. em tom de sabedoria. Para a diretora da ONG Grupo Liberdade, Carmem Costa, ser profissio-nal do sexo é um trabalho digno como qualquer outro. “A profissional do sexo não está cometendo nenhum crime. O crime, quem comete é quem fomenta a prostituição: motéis, casas de shows, o homem que busca o prazer fora de casa”, explica. Carmem fundou a ONG em 1994, com o intuito de oferecer assis-tência psicológica, jurídica e hospitalar às garotas de programa. “Vejo as garotas de programa como prestadoras de servi-ço. Prostituta é aquela que vai, trabalha e leva sustento para casa. O sexo tinha

Os direitosdas garotasde programa É numa viela próxima ao Largo da Ordem, no centro de Curitiba, que está localizada a ONG Grupo Liberdade – Di-reitos Humanos da Mulher Prostituída, responsável por dar assistência às pro-fissionais do sexo. A fundadora, Carmem Costa, de 53 anos, explica que o objetivo principal é atender às mulheres, travestis e transexuais de alto e baixo meretrício com o apoio de psicólogos e advogados e encaminhamento hospitalar. “A pessoa que bater aqui na porta, pedindo ajuda, nós procuramos atender, distribuindo ca-misinhas, conversando e também traba-lhando com a família dela”, diz. Concebida a partir de uma ideia do presidente da organização LGBT Grupo Dignidade, Toni Reis, o Grupo Li-berdade foi fundado em 18 de maio de 1994 e atende hoje aproximadamente cinco mil mulheres, direta e indiretamen-te. Com o apoio da Secretaria de Saú-de, que fornece as camisinhas distribu-ídas pela organização, e da Comunhão Cristã Abba, o objetivo inicial da ONG era combater a mortalidade de mulhe-res portadoras de doenças sexualmen-te transmissíveis. São ainda oferecidos cursos de artesanato, oficinas sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e cidadania e conscientização diretamente nas casas de famílias e casas noturnas. Em 2006, foram colhidos de-poimentos de profissionais do sexo atendidas pelo Grupo Liberdade para a produção do filme “Mulheres do Brasil”, da diretora Malu de Martino. Carmem viu no filme uma oportunidade de di-vulgar o trabalho realizado pela ONG. “É bom para mostrar como é o trabalho feito pela ONG e que prostituição não é crime, mas um trabalho digno, desde que a garota de programa seja maior de idade”, enfatiza. O filme conta a his-tória de várias mulheres de diferentes regiões do Brasil e tem a participação de atrizes consagradas, como Débora Evelyn. A história, ambientada em Curi-tiba, foi inspirada no conto da escritora gaúcha Maria Helena Weber, em que uma das personagens acaba se tor-nando garota de programa após uma desilusão amorosa.

SERVIÇOGrupo Liberdade – Direitos Humanos da Mulher Prostituída.Fone: (41) 3324-8023.Horário de funcionamento: das 14h às 19h.E-mail: [email protected]

conclui. O local de trabalho é outro imbróglio enfrentado por muitas ga-rotas de programa. Na região central, onde travestis, transexuais e mulhe-res dividem alguns espaços, quem tem mais vantagens é a travesti e a transexual. Gabi conta que, na rua em que ela trabalha, uma garota só pode permanecer se possuir autori-zação do travesti: “As travestis man-dam mais. Elas que podem, elas são a maioria. Você obedece a elas”, relata. A afirmação de Gabi é corroborada por Caroline: “Todas têm um ponto, tudo tem um dono. É como qualquer empresa, ninguém vai invadir o espa-ço da sua loja e dizer ‘aqui é minha loja’. Tudo o que envolve dinheiro, envolve brigas”, destaca Caroline, que também cede pontos para outras meninas. “Eu só fico brava se não vier falar comigo e se estabilizar ali, mas tento conversar ainda”, diz. [*Nomes fictícios para preservação da identidade dos entrevistados].

que ser realmente comercializado, sexo é prazer”, argumenta. Para o sociólogo Doacir Qua-dros, a prostituição se coloca como qualquer outra prática social. “Ela passa a ser vista como qualquer outro crime moral, ou não, em virtude dos valores sociais que determinada sociedade ou grupo social, preserva”, ressalta. Se-gundo ele, a prostituição envolve fatores como o costume, a miséria, crise fami-liar, preconceito, exploração sexual, dro-gas, entre outros. Além disso, ele diz que existe a flexibilidade no cumprimento do horário, a não rigidez em ter que seguir regras e o dinheiro ganho. “Inclusive o retorno financeiro, que pode ser superior a muitas profissões”, esclarece. Caroline diz que pretende aban-donar a carreira, mas só daqui a dez anos. Já Gabi quer ter sua própria empresa. Nayane quer ter o corpo mais feminino possível e constituir uma família. Os so-nhos são para o futuro, mas por enquan-to, elas buscam recursos para concretizar o desejo de ter uma vida como qualquer outra pessoa, arriscando a própria pele na satisfação dos desejos alheios.

A dura realidade de quem vive da noite curitibanaHamilton Zambiancki

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MARCO ZERO Curitiba, outubro de 20118

Uma doença muito complexa

Até pouco tempo, o trans-torno afetivo bipolar era conhecido como psicose

maníaco-depressiva. O termo passou a ser invalidado porque esse trans-torno não apresenta necessariamente sintomas psicóticos, pois, na realida-de, esses sintomas não aparecem na maioria das vezes. A classificação dos transtornos afetivos não está finaliza-da. O provável é que nos próximos anos novos subtipos desses transtor-nos surgirão, melhorando a precisão dos diagnósticos. Muito se fala hoje em dia sobre a bipolaridade, mas a maioria das pessoas não faz ideia do quan-to a doença é complexa. a psicólo-ga Annelise Scheffer, explica o que é esse mal: “É um transtorno que se caracteriza pela variação extrema de humor. O indivíduo oscila en-tre uma fase maníaca, ou eufórica, e uma fase depressiva. Na fase ma-níaca, ele apresenta sintomas como humor exaltado, alegria exagerada, inquietação física e mental, extrema irritabilidade, pensamentos acelera-dos, gastos excessivos, otimismo e confiança exagerados, agressividade física e verbal, entre outros. Na fase depressiva, a pessoa possui humor melancólico, depressi-vo, fadiga ou perda de energia, senti-mentos de culpa excessiva ou pessi-mistas, dificuldade de concentração, pensamentos suicidas, entre outros.” A psi-cóloga alerta sobre a importância de se ob-servar a permanência e a quantidade desses sintomas: “No caso da fase maníaca, deve ha-ver no mínimo três dos sintomas apresentados e com permanência de uma semana, e na fase depressiva os sintomas se manifestam na maior parte do tempo por pelo menos duas semanas.” A origem do transtorno bi-polar não é inteiramente conhecida. Sabe-se que os fatores biológicos, genéticos, sociais e psicológicos somam-se no desencadeamento da

O psiquiatra americano Hagop Akiskal, responsável pela descoberta do transtorno bipolar, enumerou seis tipos de distúrbios bipolares, mas apenas dois deles foram considera-dos pela comunidade psiquiátrica, chamados de tipo I e tipo II. O medicamente utilizado para o tratamento dos casos mais graves é o carbonato de lítio, mais estudado e empregado atualmente, mas que não é o melhor para todos os casos. Usam-se também anticonvulsivantes como o Tegretol, Trileptal, Depakene, Depakote e Topamax. O tratamento com lítio ou com algum anticonvul-sivante deve ser definitivo, ou seja, é recomendado o uso permanente dessas medicações mesmo quando o paciente está completamente sau-dável e mesmo depois de anos sem ter problemas. Essa indicação se ba-seia no fato de que tanto o lítio como os anticonvulsivantes podem pre-venir uma fase maníaca, poupando a pessoa de maiores problemas. O uso contínuo desses medicamentos não é garantia para não ter recaídas, eles apenas diminuem as chances de acontecer. Além dos remédios, Annelise Scheffer comenta que há outras for-mas de ajuda ao paciente: “O acompa-nhamento psiquiátrico mantido por um longo período e a psicoterapia também podem auxiliar no tratamento.”

Flávia de Souza

doença. Em geral, os fatores genéti-cos e biológicos podem determinar como o indivíduo reage aos estres-sores psicológicos e sociais, manten-do a normalidade ou desencadean-do a doença. O transtorno bipolar do humor tem uma importante ca-racterística genética, de modo que a tendência familiar à doença pode ser observada. A doença independe de faixa etária, podendo ter início na infân-cia, com sintomas de irritabilidade intensa, porém, um terço das pesso-as a manifestará na adolescência, e

quase dois terços até os 45 a 50 anos de idade. Ela raramente começa acima dos 50 anos. É o caso de G. J. Soares, que não quis se identi-ficar, que desenvolveu o transtorno bipolar quando tinha apenas 14 anos de idade: “A

minha infância inteira eu fui esqui-sito. Minha irmã e eu brigávamos bastante, e, quando discutíamos, eu perdia o controle facilmente. Eu também perdia a paciência com qualquer pessoa que discutisse co-migo. Além disso, tinha dias em que eu estava feliz e no outro eu ficava deprimido e nada fazia sentido.”

A mãe de G. J. começou a desconfiar do comportamento do filho cada vez que ele se irritava em excesso, além de sua pouca necessi-dade para dormir, mesmo tendo mui-ta energia. Percebendo que aquilo não era normal, ela foi procurar a opinião de um profissional pra tentar esclare-cer a situação: “Minha mãe me levou ao psicólogo, e ele deu o meu diag-nóstico para ela, com indícios do que seria, e depois disse para que procu-rasse um especialista”, conta G. J.. Ele foi ao especialista, que o diagnosticou com a doença de tipo II, caracterizada por apresentar epi-sódios de hipomania com depres-são. A hipomania é uma alteração no humor, com a qual a pessoa se sente bem, com uma energia inten-sa, tendo a diminuição do sono e o aumento da libido. Os outros sinto-mas são: fuga de ideias, resultando em pouca concentração, compulsão para falar demais, agitação psico-motora, excesso de atividades pra-zerosas com riscos aparentes, entre outros. É importante lembrar que o paciente não apresentará necessaria-mente todos esses sintomas ao ter um episódio de hipomania. “Como o meu caso não era tão grave, o es-

pecialista disse que não era neces-sário tomar nenhum medicamento, porque a hipomania não tem sinto-mas psicóticos. Ele me recomendou terapia e atividades relaxantes para ajudar a resolver o problema. Hoje, com 20 anos de idade, eu me sinto bem, minha raiva excessiva dimi-nuiu, não é como antes quando eu discutia com alguém. O que eu tinha melhorou com a idade, se tranqui-lizou. Sou uma pessoa normal, não me descontrolo facilmente.”

“É um transtorno que se caracteriza pela

variação extrema de humor. O indivíduo

oscila entre uma fase eufórica e uma fase

depressiva”

O transtorno afetivo bipolar independe de faixa etária, podendo ter início na infância

SAÚDE

Veja quais são os medicamentos mais usados

Claudia Bilobran

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Curitiba, outubro de 2011 MARCO ZERO 9

Cabe no BolsoCULTURA

Uma opção de lazer barata e interessante no centro da capital paranaense é assistir aos shows apresentados no Teatro Universitá-rio de Curitiba (TUC), que fica na da Galeria Júlio Moreira, no Largo da Ordem. O espaço existe desde 1979 e traz uma história que faz parte do crescimento cultural de Curitiba. Desde a década de 1980, foi mar-cado por ser ponto de encontros de artistas, fotógrafos, escritores e músicos. Revitalizado em 1984, passou a sediar a tradicional Canja de Viola, que acontece todas as tar-des de domingo. Durante a semana, o Teatro Universitário de Curitiba oferece uma programação diversificada en-tre teatro, música e literatura. Ge-ralmente, os ingressos são a preços populares ou gratuitos. O espaço é aberto para a divulgação de bandas locais, com shows de grupos como Garagem CWB, Pinéia Psychotria, Grade, Banda Banks - Teoria De Inverno, Maquinomem, Motorcrafters - Ga-laxie 69 e Ovos Presley. “Foi emo-cionante tocar no TUC por causa da qualidade de som do local. Podemos gravar para o CD da banda”, comen-ta o baixista da banda Ovos Presley, Wallace Barreto. O apoio a bandas de gara-gem faz parte de um edital da Fun-dação Cultural de Curitiba, que pro-porcionou a oportunidade de mos-trar o cenário musical das bandas curitibanas. A banda Ovos Presley, por exemplo, já completou 18 anos no cenário musical da cidade e tem uma música com letra escrita por Marcos Prado. Na galeria também estão lo-calizados o Clube de Xadrez Erbo Stenzel e o Espaço de Arte Urbana. Durante a semana, estão abertas ao público aulas gratuitas de xadrez, e aos domingos o Clube de Xadrez reúne profissionais e amadores para torneios. Já o Espaço de Arte Urbana

TEATRO INFANTIL 13 de novembroCAIPIRADOS PRA BURRODireção: Gerson de AndradeHorário: 11h (domingo)Local: Teatro do PiáPraça Garibaldi, 7, Largo da OrdemIngresso: gratuito

MÚSICACANJA DE VIOLA Horário: 15h (todo domingo) Ingresso: R$ 2Local: Teatro Universitário de Curitiba (TUC)Galeria Julio Moreira, CentroAté janeiro de 2012

EXPOSIÇÃO“A Magia do Infinito”Data: 29 de setembro de 2011 a 1º de janeiro de 2012Horário: de terça a sexta, das 9h às 12h e das 13h às 18h, e as sábados, domingos e feriados, das 9h às 14hLocal: Museu de Arte SacraRua do Rosário, 160Ingresso: gratuito

Uma amostra da culturalocal no Largo da OrdemMariana Lima

Veja a programaçãodo Largo da Ordem

SERVIÇO:

TUC - Espaço da Arte UrbanaGaleria Julio Moreira, CentroTel. (41) 3321-3312

Quando você pensa em ir a uma biblioteca, qual é a primeira coisa que vem a sua cabeça? Livros, pesquisa, estantes, poeira?

Para mudar essa imagem estática e para muitos “chata”, a Biblioteca Pública do Paraná (BBP) vem oferecendo projetos que promovem a interação com seus frequentadores. Dentre eles, estão: Um Escritor na Biblioteca, Oficina BPP de Criação Literária, Cineclube Jorge de Souza, Projeto Extremos e Oficina Permanente de Poesia.

Um Escritor na Biblioteca é uma releitura do projeto homônimo realizado pela biblioteca durante os anos 80, com convidados como Helena Kolody e Fernando Sabino. No mês de setembro o convidado foi o escritor paulista Marçal Aquino, que falou sobre suas obras e a importância que a biblioteca teve em sua formação como escritor.

A procura pelas oficinas vem crescendo muito. Um exemplo é a oficina de Narrativa e Ficção ministrada pelo escritor Michel Laub, que teve 70 inscritos para

A Biblioteca Pública do Paraná oferece projetos que promovem interação com seus frequentadores

Um espaço paraleitura, lazer emuita discussão

apenas 30 vagas.Outra atração fixa é o

Cineclube Jorge de Souza, que exibe filmes e documentários, todas as sextas-feiras a partir das17h30min, no Auditório Paul Garfunkel, no 2° andar da BPP, com entrada franca.

José Castello e Flávio Stein coordenam o projeto Extremos: Círculo de Leitura de Ficções Radicais, que realizou uma leitura na íntegra de “A hora da estrela”, de Clarice Lispector, propondo uma intensa participação do público.

O chefe de divisão da difusão cultural, Luiz Rebinski, comenta a intenção da BPP ao realizar esses projetos: “Transformar a biblioteca num lugar vivo, um lugar onde as pessoas participem das atividades voltadas para a leitura e a difusão da leitura.” Para ele, a maior prova de que esses projetos estão atraindo a atenção do público é a grande procura pelas oficinas.

Os projetos provam que a biblioteca não é apenas um lugar de estudos e pesquisa, mas também um local adequado a cultura, o entretenimento e a troca de experiências.

Afonso PadilhaDeyse Duarte

Deyse Duarte

oferece o espaço para a divulgação dos trabalhos dos artistas visuais lo-cais de Curitiba. Passar pela Galeria Júlio Moreira e aproveitar a progra-mação é sem dúvida uma oportu-nidade para o público participar da cultura de Curitiba.

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Um encontro surpreendente

Geisa: “É como se da larva que entrou no casulo eu visse sair uma borboleta”

“O propósito do teatro é fa-zer o gesto recuperar o seu sentido; a palavra, o seu tom insubstituível, permitir que o silêncio, como na boa música, seja também ouvido e que o cenário não se limite ao decorativo e nem mesmo à moldura apenas, mas que todos esses elementos, aproxi-mados de sua pureza teatral específi-ca, formem a estrutura indivisível de um drama”. As palavras de Clarice Lis-pector são um incentivo àqueles que pretendem entrar no mundo do te-atro, para os que esperam com ele entrar no exercício da autoria, da re-flexão e da autocrítica. Para a professora do Curso de Teatro Uninter, Geisa Muller, o teatro tem o poder de transformar, de encantar. Ela, como Tchekhov dizia, também diz ser casada com a literatura e amante do teatro: “Sou casada com a literatura porque se trata de uma relação estável, de um amor sem fissura, feito de deses-tabilidades seguras; sou amante do teatro pelo fato de ele me virar do avesso, de testar minha resistên-cia, minha paciência, meu tesão, aspectos pertencentes à esfera da paixão. Então, eu sou apaixona-da pelo teatro, pois ele representa a possibilidade de minha vida ser efetivamente viva”. Geisa começou no teatro em 1994, fazendo um curso livre. Segundo ela, esse primeiro contato foi muito importante, pois tatuou em sua epiderme o princípio da criação artística, o que fez com que ela não pa-rasse mais. O Curso de Teatro Uninter, mi-nistrado por ela, dá aos alunos a oportu-nidade de um contato com a criação artística que se faz por meio da ex-pressão corporal e vocal, da impro-visação e da literatura. Com aulas aos sábados pela manhã, o curso é gratuito e tem duração de aproxima-

“Quero voltar aos palcos ano que vem, pois

metade de mim ficou nele, e preciso dessa metade para viver”

(Larissa Glass,ex-aluna do curso)

damente um ano, período que nor-malmente conta com uma peça de conclusão das atividades, produzida e apresentada pelos alunos. A estudante de Jornalismo Larissa Glass, ex-aluna de Geisa, soube do curso pelos cartazes es-palhados pela faculdade e, segundo ela, ficou um ano “namorando” o

cartaz até fazer a inscrição, em 2009: “Procurei o curso inicialmente por ser muito tímida, para ajudar no desenvol-vimento pessoal, mas foi além disso, pois desenvolvi o

que queria no início e depois me apaixonei pelos palcos”. Ela conta que nunca havia feito teatro: “Por isso, fiz os dois anos no iniciante, em 2009 e 2010, mas só me apresentei no ano passa-

do”. Larissa fala sobre a sensação de subir no palco pela primeira vez: “A sensação é difícil de definir. É algo sensacional, a energia e a adrenalina vão a mil. O teatro estava lotado no dia da apresentação, o que deixava o nervosismo lá em cima, mas foi ma-ravilhoso. Sinto falta do pessoal do curso, das brincadeiras. Cresci e me diverti muito”. Ela confidencia que pretende retornar ao palco: “Que-ro fazer isso no ano que vem, pois metade de mim ficou nele e preciso dessa metade para viver”. Geisa conta que é muito bom orientar a turma dos chamados alunos-atores, pois uma das coisas boas que acontece nessa trajetória é a transformação de estruturas men-tais, principalmente no que diz res-peito ao olhar disponível para a arte. Segundo ela, nesse sentido, trata-se também de um trabalho que envolve formação de plateia.

Regiane Silva “Os alunos-atores sempre me surpreendem, para o bem e para o mal. Não consigo citar um nome próprio para efeito de exemplo, mas posso falar da turma de 2010, visto que ela reverbera pela afinidade co-letiva, pelo respeito ao ritual do tea-tro, pela vontade de enxergar e cons-truir o invisível”. Segundo Geisa, esta turma teve um gosto de algodão doce. Turma lúdica, alegre, engaja-da: “Posso desfiar maravilhas dessa moçada, posso dizer que se tratou de um encontro marcado”. Os alunos da turma de 2010 apresentaram no final do ano a peça “Sortidos”, que ia da comédia ao drama, ao gosto do “freguês”. Gei-sa Muller conta que ficou nervosa ao vê-los subir no palco: “Eu sem-pre fico muito ansiosa em estreias. Acho que com 80 anos ainda será deste jeito”. Mas, conforme ela, a imagem que tem a esse respeito é a de um grande peso saindo das costas: “Depois que uma turma de iniciantes encontra a plateia, todo o processo que se cumpre para che-garmos à apresentação da peça faz sentido, ou seja, as histerias, as pro-vocações, as infantilidades, as difi-culdades, os medos são metamor-foseados em criação. É como se da larva que entrou no casulo eu visse sair uma borboleta”.

Professora de Teatro do Grupo Uninter, Geisa Muller, fala sobre o poder do encantamento do curso

CULTURA

Preparação para a peça “Sortidos”

Arquivo pessoal

Divulgação

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TÁ NA WEBClaudia Bilobran

RESENHA

A fabulosa expressividadede “Planeta dos Macacos”

O filme “Planeta dos Macacos - A Origem” foi produzido pela Fox Film e apresenta um elenco pouco famoso para o público brasileiro, em que o único ator razoavelmente conhecido é James Fran-co, o Harry de “Homem-Aranha”. A pelí-cula narra os acontecimentos anteriores à película original, quando um experimento desencadeou a revolta símia contra as regras humanas. Em “Planeta dos Maca-cos”, a trama gira em torno de César, um chimpanzé dotado de grande inteligência por ter herdado da mãe as propriedades de uma droga inicialmente testada com o propósito de combater o mal de Alzhei-mer. Ocorre que a doença afeta o pai de um dos funcionários do laboratório que fabrica a droga, que é também o dono de César. Os anos passam e a capacidade de raciocínio do animal agiganta-se, origi-nando a nova ordem primata já retratada nos filmes anteriores. A narrativa do filme é agradá-vel, por ser dinâmica e concisa e não apresentar pequenas tramas paralelas. Significa dizer que não há momentos de monotonia, já que a trama “vai direto ao ponto” e ao mesmo tempo apresenta ao telespectador todas as nuances da cria-ção do chimpanzé César. E dessa vez os macacos realmente se parecem com animais reais, diferentemente dos bizar-ros humanoides dos filmes anteriores. Um ponto impressionante é a expressi-

vidade de César: os efeitos são convin-centes, fazendo com que o animal pa-reça claramente estar feliz, chateado ou indiferente. É uma expressividade que confere credibilidade à inteligência do personagem. Em pouco tempo de filme, o telespectador identifica-se com as per-cepções do animal e o seu propósito. “Planeta dos Macacos – A Ori-gem” é um filme excelente e mesmo su-perior aos anteriores. Evidentemente, é uma nova metáfora das consequências que os experimentos humanos podem causar à natureza. É importante lembrar também que, historica e cientificamente, o homem identifica no símio o animal mais próximo de sua imagem, o que é um artifício tão usado no cinema quanto o que mostra a intimidade entre humanos e cães. Neste filme, mesmo que César revolte-se contra a espécie que o con-cebeu, ele não se desfaz do vínculo de amizade com o homem que o criou, o que certamente confere ao chimpanzé uma ética humana. A receita do filme é esta: mostrar como a natureza não é submissa aos caprichos do homem, mas também atribuir a ela valores que nós considera-mos fundamentais à vida. “Planeta dos Macacos – A Ori-gem” não é somente um bom filme de ficção científica com efeitos especiais bonitos. É uma releitura sobre as ações humanas na natureza e de que forma elas podem acarretar consequências, às vezes irreversíveis.

I love Luiza Marilac

Era para ser apenas um vídeo para “cutucar” o ex-namorado, mas Marilac acabou ganhando fama instatânea e virou ícone do chavão “Uns bons drink”. Tem gente usando camiseta com “I LOVE UNS BONS DRINK”. A MTV Brasil também aproveitou os jargões usados por Marilac para fazer as chamadas do prêmio Video Music Brasil 2011, e todas ficaram geniais e super bem humoradas. Mas por que um video como esse faz tanto sucesso? Deve ser pelo fato de o público se identificar com o personagem real, que mostra para o mundo a sua intimidade, talvez sem se dar conta disso. Em entrevista a um programa da MTV, Luisa revelou que fez o vídeo sem intenção alguma de ganhar fama, apenas para mostrar ao ex-namorado como ela estava bem. O vídeo só tem 1 minuto de duração e vale a pena ver: http://www.youtube.com/watch?v=ikzC29rV75A

Vídeo da Semana de Comunicação

Já que o tema é criatividade, este vídeo mostra como a semana da Comunicação da Facinter foi super criativa, com palestras de vários profissionais da área da comunicação, cartunistas consagrados, professores polivalentes e alunos cheios de ideias. Foi uma semana de muita energia positiva, muita troca de informações e novos aprendizados. A segunda edição foi melhor do que a primeira, e a terceira com certeza será muito melhor do que a segunda. http://www.youtube.com/watch?v=ZUUvA1nBNVg

Cerveja, cerveja, cerveja...Criatividade aqui não faltou, nem um pouco. O que um homem não faz por uma cerveja... http://www.youtube.com/watch?v=SnCn9YAdoCc

Gabriel Eloi de Marchi

Divulgação

Evary Anghinoni

Divulgação

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Texto: Keity MarquesFotos: Assíria Almeida, Janile Ramos,Keity Marques e Maria Luiza Okoinski

ENSAIO FOTOGRÁFICO

São muitos os trabalhadores da capital paranaense que fazem das ruas o local de trabalho de onde tiram seu sustento.

A maioria vive do trabalho informal por ne-cessidade, em função da falta de oportunidade e das exigências do mercado de trabalho. Por outro lado, existem aqueles que optam pela informalidade alegando a falta de reconheci-mento no mercado formal. Seja por opção ou necessidade, o trabalhador informal permane-ce, muitas vezes, socialmente invisível na pai-sagem urbana.

Opção ou necessidade?Keity Marques

Janile Ramos

Assíria Almeida

Maria Luiza Okoinski

Janile Ramos

Assíria Almeida