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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA - PPGHIS O Livro Siríaco de Daniel: Texto, Tradução e Comentário MARCUS VINICIUS RAMOS Brasília 2014

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA - PPGHIS

O Livro Siríaco de Daniel: Texto, Tradução e Comentário

MARCUS VINICIUS RAMOS

Brasília

2014

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MARCUS VINICIUS RAMOS

O Livro Siríaco de Daniel:

Texto, Tradução e Comentário

Tese apresentada ao Departamento

de História da Universidade de

Brasília para a obtenção do título

de Doutor em História.

Orientador: Prof. Dr. Vicente

Dobroruka

Brasília

2014

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À Clarinha.

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Livre-se da complacência simples da mente, que procura colocar as coisas em ordem e espera subjugar fenômenos. Livre-se do terror do coração, que procura e espera encontrar a essência das coisas. Conquiste a última, a maior tentação de todas: a esperança.

Nikos Kazantzakis

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Vicente Dobroruka, mestre e amigo, pela orientação, confiança e

prestígio. Ao PPGHIS e ao PEJ, pelo que representam para a pós-graduação

brasileira. Minha gratidão também se estende a três outros excepcionais professores,

todos pertencentes aos quadros da Universidade de Oxford. Professor Martin

Goodman, meu orientador no Oriental Institute, o qual dividiu comigo muito do seu

precioso tempo; Professora Alison Salvesen, por sua amizade e paciência infinita. Sua

dedicação em acompanhar e corrigir minha tradução jamais será esquecida; Professor

David Taylor, cujo entusiasmo e bom humor foram capazes de transformar as aulas

do idioma siríaco em um fascinante exercício. Sou também grato à Dra. Emmanouela

Grypeou por suas sugestões e contribuições à minha pesquisa bibliográfica, bem

como à Dra. Nicoletta Demetriou, que leu esta tese com inteligência e cuidado. Mas

jamais terei como agradecer à Clarinha, Paola, Gui, Ronald e Dora as palavras de

gentileza e estímulo com que responderam às minhas constantes ausências, dúvidas e

incertezas nesses últimos quatro anos. A eles pertence este trabalho.

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RESUMO

Tradicionalmente associados a uma “literatura de resistência”, os apocalipses vêm

sendo tratados nas últimas décadas como um gênero exclusivamente literário e sob

essa óptica têm sido predominantemente colocadas as questões textuais e exegéticas,

isolados os modos de pensamento e identificados os contextos sociais desses textos.

Tal enquadramento nem sempre se ajusta, no entanto, aos apocalipses escritos nos

primeiros séculos da era comum, especialmente no caso daqueles atribuídos a Daniel.

Compostos em diversas línguas e em sua maioria, sem sinais de dependência mútua,

muitos desses textos recorrem a tradições diferentes, como a vinda do Anticristo e a

revolta dos “povos do norte” ao final dos tempos, liderada por Gog e Magog. O

Apocalipse Siríaco de Daniel, virtualmente desconhecido até o início deste século,

corresponde a um desses exemplos: seu texto é utilizada nesta tese como uma

ferramenta de pesquisa para um melhor entendimento da história da cristandade

siríaca do século VII. Os seguintes aspectos são aqui considerados: (1) – A recepção

do texto canônico de Daniel na cristandade dos primeiros séculos; (2) – As origens e

associações de Gog, Magog e o Anticristo; (3) – O texto original do Apocalipse

Siríaco de Daniel e sua tradução para o português; e (4) – Considerações críticas

sobre o Apocalipse Siríaco de Daniel. Os achados indicam que o Apocalipse Siríaco

de Daniel, focado no fim iminente da História, não oferecia a esperança necessária,

definida em termos políticos, para a sobrevivência do Império Bizantino.

Palavras-chave: Apocalipse. Siríaco. Daniel. Bizâncio.

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ABSTRACT

Traditionally considered a “literature of resistance”, the apocalypses have been treated

over the past decades as a purely literary genre. Under this understanding, those

studying these texts foregrounded textual and exegetical issues, isolated the modes of

thought, and identified their social contexts. This framework does not always suit,

however, many apocalypses written in the early centuries of the Common Era,

especially those assigned to Daniel. Composed in various languages and mostly

without signs of mutual dependence, many of these texts are supported by different

traditions, such as the coming of Antichrist or the “revolt of the peoples of the north”

at the end of times, led by Gog and Magog. The Syriac Apocalypse of Daniel,

virtually unknown until early this century, seems to be one of them: its text is used in

this thesis as a research tool for better understanding the history of the Syriac

Christianity in the seventh century. The following issues are considered here: (1) The

reception of the Book of Daniel in the early church; (2) The origins and associations

of Gog, Magog and Antichrist; (3) The original text of the Syriac Apocalypse of

Daniel and its translation into Portuguese; and (4) A critical commentary on the

Syriac Apocalypse of Daniel. The findings indicate that the Syriac Apocalypse of

Daniel, focused on the imminent end of history, did not provide the necessary hope,

defined in political terms, for the survival of the Byzantine Empire.

Keywords: Syriac. Apocalypse. Daniel. Byzantium.

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ABREVIATURAS 1 1. Geral

AEC – antes da era comum AT – Antigo Testamento ca. – por volta de, aproximadamente EC – era comum cf. – compare cap(s). – capítulo(s) col(s). – coluna(s) ed(s). – edição(ões) ep(s). – epístola (s) fol(s). – fólio(s) frg(s). – fragmento(s) l(l). – linha(s) lit. – literalmente ms(s) – manuscrito(s) n(n). – nota(s) NT – Novo Testamento p(p). – página(s) v(v). – verso(s)

2. Línguas, Versões e Edições de Textos Bíblicos

BH – Bíblia Hebraica LXX – Septuaginta P – Peshitta Syr – Siríaco T – Targum TJ – Targum Jonathan TM – texto massorético TN – Targum Neofiti TO – Targum Onkelos TN – Targum Neofiti TPsJ – Targum Pseudo-Jônatas V – Vulgata

3. Livros Bíblicos (incluindo apócrifos e deuterocanônicos)

Gen – Gênesis Ex – Êxodo Lev – Levítico Num – Números Deut – Deuteronômio

1 As abreviaturas seguem as recomendações da SBL (Sociedade de Literatura Bíblica).

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Josh – Josué Judg – Juízes Ruth – Rute 1-2Sam – Samuel 1-2Kgs – Reis 1-2Chr – Crônicas Ezra – Esdras Neh – Neemias Esth – Ester Job – Jó Ps(s) – Salmos Prov – Provérbios Eccl/Qoh – Eclesiastes/Coélet Cant – Cântico dos Cânticos Isa – Isaías Jer – Jeremias Lam – Lamentações Ezek – Ezequiel Dan – Daniel Hos – Oseias Joel – Joel Amos – Amós Obad – Abdias Jonah – Jonas Mic – Miqueias Nah – Naum Hab – Habacuc Zeph – Sofonias Hag – Ageu Zech – Zacarias Mal – Malaquias Tob – Tobias Jdt – Judite Sir/Eclo – Sirácida (Eclesiástico) Bar – Baruch 1-4Mac - Macabeus Mt - Mateus Mk – Marcos Lk – Lucas Jn – João Acts – Atos dos Apóstolos Rom – Romanos 1-2Cor – Coríntios Gal – Gálatas Eph – Efésios Phil – Filipenses Col – Colossenses 1-2Thes – Tessalonicenses 1-2Tim – Timóteo Tit – Tito

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Phlm – Filêmon Heb – Hebreus Jas – Tiago 1-2Pet – Pedro 1-3Jn – João Jude – Judas Rev. – Apocalipse

4. Pseudoepígrafos do Antigo Testamento

1En – Apocalipse etiópico de Enoch 2Br – Apocalipse Siríaco de Baruch 4Ez – Apocalipse de Esdras 2En – Apocalipse eslavônico de Enoch 3En – Apocalipse Hebraico de Enoch 4Ez – Apocalipse de Esdras CavTr – Caverna dos Tesouros ApEl – Apocalipse de Elias ApMos – Apocalipse de Moisés ApStTJn – Apocalipse do Santo Teólogo João AscenIs – Ascensão de Isaías Jub – Jubileus L.A.B. – Liber Antiquitatum Biblicarum SibOr – Oráculos Sibilinos SibOrTib – Sibila Tiburtina T12P – Testamentos dos doze Patriarcas TDan – Testamento de Dan THez – Testamento de Ezequias TIsaac – Testamento de Isaac TJos – Testamento de José TJud – Testamento de Judá TLevi – Testamento de Levi TMos – Testamento de Moisés TReu – Testamento de Ruben TSim – Testamento de Simão

5. Padres Apostólicos e apócrifos do Novo Testamento

1-2Clem – 1-2 Clemente ActsPaul – Atos de Paulo ApPaul – Apocalipse de Paulo ApPet – Apocalipse de Pedro Barn – Epístola de Barnabas Did – Didaché Herm – Pastor de Hermas Jovem – Apocalipse do Jovem Daniel Jovem – Apocalipse do Jovem Daniel SyrDan – Apocalipse Siríaco de Daniel PolPhil – Epístola de Policarpo aos Filipenses

6. Outros testemunhos e trabalhos judaicos e cristãos da antiguidade

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Aph – Afrahat Dem – Demonstrações Ath – Atánasio de Alexandria

EF – Epístola Festiva Bardesanes

BLC – O livro das Leis dos Países Cl – Clemente de Alexandria

Strom – Miscelâneas Cyp – Cipriano de Cartago

AdvJud – Contra os judeus Cyr – Cirilo de Alexandria CyrJ – Cirilo de Jerusalem Com – Comodiano

Carmen – Carmen de Duobus Populis Ephr – Efrem, o Sírio CntJul – Hinos contra Juliano Eus – Eusébio da Cesareia

DmEvg – Demonstração do Evangelho HE – História Eclesiástica

Hipp – Hipólito de Roma Anti – Anticristo CommDan – Comentários sobre Daniel

Ir – Irineu AH – Contra as Heresias

Jer – Jerônimo CommDan(Pr) – Comentários sobre Daniel(Prólogo) CommEzek – Comentários sobre Ezequiel

Jos – Josefo Ant. – Antiguidades judaicas BJ – Guerra dos Judeus

Jus – Justino, o Mártir DialTrypho – Diálogo com Trifo.

Lact – Lactâncio DivInst – Instituições Divinas

Mcion – Marcião Or – Orígenes de Alexandria

CtCel – Contra Celso Phil – Filo Ps-Phil – Pseudo-Filo Šub – Šubhalmaran BkGft – Livro dos Presentes Tert – Tertuliano de Cartago

AM – Contra Marcião ResCar – Ressurreição da Carne

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SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................................. 2 2. Capítulo 1: A Recepção do Livro de Daniel nos Primeiros Séculos da Cristandade ................... 11

2.1 O Livro de Daniel .............................................................................................. 14

2.2 O Livro de Daniel na Tradição Judaica ............................................................. 18 2.3 O Livro de Daniel na Tradição Cristã ................................................................ 22

3. Capítulo 2: Os Adversários Escatológicos .................................................................................... 50

3.1 Gog e Magog ..................................................................................................... 51 3.2 O Anticristo ........................................................................................................ 69

4. Capítulo 3: O Apocalipse Siríaco de Daniel ................................................................................. 89

4.1 Tradução ............................................................................................................ 90

5. Considerações Finais ............................................................................................ 121 6. Referências Bibliográficas ................................................................................... 131 7. Anexos .................................................................................................................. 144

7.1 Facsimile do Manuscrito ................................................................................. 145

7.2 Transcrição do Manuscrito ............................................................................. 157

7.3 Texto em siríaco ............................................................................................... 172 7.4 O Alfabeto Siríaco ........................................................................................... 212

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INTRODUÇÃO

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Após a morte de Alexandre, em 323, a Judeia passou a integrar o reino Lágida

e assim permaneceu até o final do séc. III AEC. Durante esse período de mais de um

século, enquanto seus gestores procuraram consolidar o modelo de administração

ptolomaica na região, parte da população resistira à mudança, invocando a peculiar

relação existente entre “o povo escolhido” e seu Deus. Ecos desse ressentimento já

podiam ser encontrados em Isaías, que informava estar “a terra profanada, as leis

transgredidas e a aliança eterna rompida” (Isa 24: 5-6).1 Queixas semelhantes foram

também relatadas na segunda parte de Zacarias, cujo texto foi provavelmente escrito

após as conquistas de Alexandre, nas últimas décadas do séc. IV AEC. Embora

guardando pouca homogeneidade entre si, vários de seus capítulos revelavam a

indisfarçável animosidade dos judeus em relação à crescente helenização da região e

tal como em Isaías, condenavam a submissão do povo judaico ao opressor

estrangeiro, incitando-o a “destruir todas as nações que avançam contra Jerusalém”

(Zech 12:9). A força dessas palavras deixava claro que as mudanças na atividade

econômica e nos hábitos religiosos efetivados por administradores helenizados,

fossem eles nativos ou estrangeiros, incomodavam, se não o todo, boa parte da

sociedade judaica, pouco acostumada àquelas práticas (EDDY, 1961: 187).

Os sinais que chegavam da Diáspora, uma população obviamente mais

exposta ao mundo gentio, interferiam cada vez mais na cultura e na religião dos

residentes na Judeia. Essa presença já era evidente, por exemplo, em Tobias2 onde a

influência de costumes persas era clara, tanto nos personagens quanto na ambientação

da história que narrava (Tob 3:8; 6:10). Como Isaías e Zacarias o haviam feito

anteriormente, Tobias também manifestava inconformismo com as duras condições

enfrentadas pelos judeus e as associava à dominação estrangeira. Não é difícil

imaginar que a má vontade desses autores fosse utilizada pela população menos

favorecida contra o comportamento da população privilegiada, cada vez mais

identificada com a língua, o modo de administrar e a religião dos seus senhores.

Assim, quando as tropas selêucidas sob o comando de Antíoco III invadiram a Judéia,

em 201 AEC, receberam franco apoio popular, o qual foi recompensado após a

vitória, com isenções de taxas e outros privilégios, conforme relata Josefo:

“Uma vez que os judeus após a nossa primeira entrada em seu país

1 Isaías teria vivido na segunda metade do séc. VIII AEC. 2 Eclesiástico e Tobias não fazem parte da Bíblia Hebraica, mas são reconhecidos como canônicos pela

Igreja Católica. Ambos teriam sido escritos por volta do ano 200 AEC, na Judeia.

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demonstraram a sua amizade para conosco e quando chegamos à sua cidade [Jerusalém], nos receberam de forma esplêndida, vindo ao nosso encontro com o senado e nos deram provisões e elefantes em abundância para os nossos soldados, juntando-se a nós em ejetar a guarnição dos egípcios que estavam na fortaleza, temos pensado ser adequado recompensá-los; e para recuperar a condição de sua cidade, hoje muito despovoada por tais acidentes [...] determinamos por conta de sua piedade para com Deus, conceder a eles como compensação pelo sacrifício de seus animais que estavam aptos para o sacrifício, pelo vinho, o azeite e o incenso, o valor de vinte mil peças de prata [...] E esses pagamentos eu pagarei integralmente a eles, como enviei ordens a você. Também gostaria de ter o trabalho sobre o templo terminado [...] também dispensá-los no futuro de uma terceira parte de seus impostos, de modo a reparar que as perdas que sofreram. E todos aqueles cidadãos que foram levados e se tornaram escravos, nós concederemos a eles e aos seus filhos a liberdade”. (Ant. 12.3.3)

Essa maior leniência com o povo judeu, observada ao longo do primeiro

quartel do séc. II AEC refletiu-se na literatura da época, principalmente nos escritos

de Jesus ben-Sirach. Sem utilizar o tom inflamado dos textos atribuídos a Isaías,

Zacarias e Tobias, ben-Sirach enfatizava no Eclesiástico a lealdade que o povo

judaico se obrigava a prestar a seu Deus e a seu Templo (Sir 7: 29-35), a qual devia

continuar a ser intermediada pelo Sumo Sacerdote. A estrita observância à Lei,

pregava, seria a única maneira de se preservar a integridade da religião e da

sociedade.

O governo selêucida não deixaria de ser, no entanto, muito diferente daquele

que o antecedeu e a derrota sofrida diante dos romanos em Magnésia (190 AEC) não

demorou a se fazer sentida. A necessidade de enfrentar a ameaça crescente de

romanos e partas, o esgotamento econômico provocado pelo constante aumento de

taxas, as permanentes campanhas militares contra os vizinhos e a reforma religiosa

levada a efeito por Antíoco IV Epífanes, reverteram, em pouquíssimo tempo, as

condições dos judeus à mesma situação da geração anterior. É preciso notar, no

entanto, que tais medidas não caracterizavam necessariamente uma perseguição de

natureza religiosa e sim política, pois tinham como objetivo primário a destruição do

corpus legal observado pelos judeus e não a intenção de abolir ou eliminar um deus

ou um povo especificamente (EDDY, 1961: 211-212).

O reinado de Antíoco IV Epífanes e a perseguição do povo judeu pelo

imperador selêucida estão descritos no Livro de Daniel, cujo texto trata da crescente

helenização da região, personificada em Nabucodonosor e sua corte. Muitas das ideias

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expressas nesse apocalipse 3 provavelmente chegaram a Jerusalém por meio das

comunidades judaicas residentes na Pérsia ou na própria Babilônia. Denunciavam os

males da idolatria e os perigos que tal prática trazia à “verdadeira religião”,

antecipando a intervenção divina na materialização de “um reino que jamais será

destruído, um reino que jamais passará a outro povo, mas que duraria para sempre”

(Dan 2: 44).

Apocalipses envolviam experiências religiosas que revelavam ideias e

conceitos inteiramente novos, percebidos sob uma perspectiva histórica regulada

unicamente por Deus (GRUENWALD, 1980: 14). Tal percepção seria ainda mais

evidente no material associado à vida e ao tempo de Daniel, que misturava eventos

políticos e figuras do passado com o presente e o futuro dos impérios mundiais,

conforme entendidos por seus autores. Intimamente relacionadas a uma crise

histórica, suas visões não representavam, no entanto, uma mera reflexão dessa crise.

Constituíam construções que permitiram a edificação das bases para a resistência ao

helenismo, revelando ao povo judeu a dimensão do momento pelo qual passavam e

assegurando, ao mesmo tempo, “que as forças do mal seriam inevitavelmente

superadas por um poder mais alto” (COLLINS, 1998: 114). Fenômeno de interação

entre tradição e inovação encontrado em quase todas as religiões (especialmente

naquelas com forte compromisso histórico, como a judaica e a cristã), os apocalipses

não devem ser considerados, contudo, como uma coleção de previsões e histórias a

respeito do final dos tempos, mas como textos altamente complexos, utilizados ao

longo da história para agregar interesses e propósitos diversos (McGINN, 1979: 3).

Narrativas de fundo religioso são de um modo geral indiferentes à

verossimilhança histórica, mas seria lícito questionar-se o porquê desses textos não

serem utilizados com mais frequência como fontes históricas legítimas. Tal

questionamento torna-se ainda mais necessário se for levado em consideração o

período compreendido entre os últimos séculos da Antiguidade e os primeiros do

Medievo, onde “cada fragmento de informação precisa ser usado para a reconstrução

de eventos”. Pela própria natureza do gênero, fato e profecia estão geralmente

entrelaçados nos apocalipses, mas ainda assim é possível ao historiador levar a bom

termo a tarefa de separá-los, desde que tome alguns cuidados preliminares. Datações,

origens e ambientes sociais, os propósitos de quem os escreveu e o público para o

qual foram escritos seriam, por exemplo, algumas das questões que poderiam ser 3 Do grego αποκάλυφη (“revelação”).

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respondidas por aqueles textos, de modo a se “chegar a uma conclusão histórica para

a qual a evidência de outras fontes narrativas fosse insuficiente” (ALEXANDER,

1968: 997-998).

Mesmo pertencendo a diferentes épocas e exibindo origens diversas, os

apocalipses possuíam importantes pontos em comum, entre eles a concepção que a

história era pré-determinada pela vontade de Deus, o pessimismo a respeito do

presente e esperança de que a vitória do bem sobre o mal estaria definitivamente

assegurada no futuro. Essa tradição, iniciada com os apocalipses judaicos do período

do Segundo Templo, seria preservada nas três religiões abraâmicas e em quase todas

as línguas4 em que essas tradições se enraizaram. O número desses textos aumentaria

substancialmente a partir do séc. V, provavelmente sob o estímulo das profundas

alterações surgidas no cenário político da fronteira romana oriental desde então

(DITOMMASO, 2005: 10-11). Essa recorrente utilização do Livro de Daniel ao longo

do tempo recomenda que uma avaliação crítica do Apocalipse Siríaco de Daniel

inclua não só a análise do texto canônico,5 mas também a literatura cristã correlata, de

modo a colocar na devida perspectiva tanto a sociedade da qual emergiu como

também as circunstâncias que influenciaram sua redação. Uma vez que os primeiros

cristãos foram judeus e foi essa tradição que os inspirou, o passo inicial para se

alcançar esse objetivo seria tentar identificar a partir de que momento (e de que

maneira) pessoas de diferentes origens e culturas passaram a assumir a literatura

judaica como a sua própria.

O movimento que congregava aqueles que posteriormente viriam a ser

conhecidos como cristãos, concentrado inicialmente em Jerusalém (Acts 2: 44-47),

em breve se difundiu por todo o Império Romano, dando origem a um processo que

iria proporcionar aos seus seguidores “uma sensação relativamente estável,

amplamente compartilhada e socialmente incorporada, de quem eram e o que

representavam” pelos dois séculos seguintes. A formação de tal identidade seria

estimulada pela tendência dessas comunidades de se sentirem parte de um único povo,

uma vez que as discordâncias e discrepâncias entre elas não seriam suficientes para

superar o sentimento comum de envolvimento e dependência mútua. Essa coesão

4 Este tipo de literatura pode ser encontrado em hebraico, aramaico, grego, latim, siríaco, copta, árabe,

farsi, turco, armênio, eslavônio antigo, inglês antigo, inglês médio, islandês antigo, irlandês antigo e em versões antigas do francês, italiano e alemão.

5 Do grego κανόν (régua), padrão contra o qual é medida a qualidade de alguma coisa.

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seria também fortalecida pela convicção de estarem alienadas da ordem mundial, pois

“se o mundo exterior as entendia como potencialmente perigosas”, também elas

consideravam estar a ordem estabelecida “sob o domínio de poderes hostis a Deus e a

Cristo” (NORRIS, 2004c: 71).

No entanto, não seria correto considerar nesses primeiros tempos que essas

comunidades já professassem uma nova religião, uma vez que o cristianismo não se

desenvolveu de modo paralelo à fé judaica, mas sim como uma corrente dentro do

judaísmo do Segundo Templo. Não seria, portanto, possível atribuir uma data precisa

para essa separação, embora pareça provável que cristãos e judeus já estivessem

afastados à época da revolta de Bar Kochba (132–135 CE). A expulsão dos judeus de

Jerusalém e a mudança do nome de Judeia para Palestina, medidas levadas a efeito

como consequência dessa derrota colocaram, porém, a cristandade como um culto

independente aos olhos de Roma, hostil aos seus deuses e contrária à ordem vigente.

Aqueles que professavam a nova fé não deixariam, porém, de se reconhecer como

herdeiros da mesma história cultuada pelos judeus, da qual se consideravam legítimos

sucessores (NORRIS, 2004c: 79).

A maioria dos estudos sobre a origem da cristandade e suas relações com

outros grupos religiosos esteve confinada por séculos aos limites ocidentais do

Império Romano. Eusébio dá pouca ou nenhuma atenção às comunidades cristãs nas

províncias romanas orientais em sua História Eclesiástica (a primeira narrativa cristã

com pretensões historiográficas, escrita em torno de 325), praticamente ignorando

aquelas situadas junto aos limites do Império Sassânida. O peso desse “modelo

ocidental” e a grande influência que essa obra teve sobre a história da Igreja deixaram

“a impressão que a cristandade constituiu um fenômeno restrito ao mundo cultural

greco-latino, uma vez cortados os laços que o conectavam às suas raízes judaicas”,

praticamente marginalizando uma terceira tradição, a cristandade siríaca (BROCK,

1992: 212).

Variante do aramaico, o idioma siríaco6 foi a língua franca do Oriente Médio

durante quase todo o milênio que antecedeu as invasões árabes. Originário da região

que tinha como centro cultural e comercial a cidade de Edessa,7 no noroeste da

Mesopotâmia (onde as primeiras comunidades cristãs já estavam estabelecidas desde 6 O idioma siríaco pertence ao grupo do ramo aramaico das línguas semíticas e era falado no Oriente

Médio do Mediterrâneo à Mesopotâmia e Assíria (a leste) e às fronteiras do Egito e Arábia (ao sul). 7 Edessa, atual Urfa, situa-se na região sudeste da Turquia moderna, 80 quilômetros a leste do rio

Eufrates.

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os sécs. II e III), foi por meio do siríaco que a maior parte da produção literária da

cristandade oriental passou a ser transmitida a partir do séc. IV (MURRAY, 2006: 4).

Embora parte do mundo romano, muitos dos cristãos que tinham no siríaco

sua língua nativa recusavam a concepção “bizantina” da religião, considerada como

mais alinhada aos interesses do Estado que aos da Igreja. Descontente com os

resultados do Concílio de Calcedônia,8 especialmente em relação à definição da

natureza de Cristo, uma parte importante dessa população sentia-se perseguida e

discriminada em função de suas convicções religiosas (PRICE, 2005: 1). A situação

agravou-se à época em que Jacó Baradaeus9 foi bispo de Edessa (543–578), o que

levou uma grande parte da comunidade que liderava a se afastar das diretrizes de

Constantinopla, provocando uma ruptura no seio da Igreja. A conquista do Oriente

Médio pelos árabes no século VII – que viria mudar para sempre a tradicional

oposição entre os impérios Romano e Persa na região oriental do Mediterrâneo – “em

nada ajudaria a abafar a controvérsia, pois estava claro para todos os envolvidos que

era graças aos erros do lado oposto que a comunidade cristã estava sendo afligida

daquela maneira” (PALMER, 1993: xxi).

O início do século VII foi de fato um marco de mudança para o império

Bizantino e sinais que outros tempos haviam chegado podiam ser vistos e sentidos em

todos os lugares. O latim fora substituído pelo grego como língua oficial do Império

(WICKHAM, 2009: 90),10 a burocracia estava mais centralizada, os laços entre os

negócios do Estado e da Igreja mais apertados e os surtos de praga (que fizera sua

primeira aparição em 542 EC) haviam se tornado recorrentes. O “fim dos tempos”

parecia estar próximo, e os conflitos religiosos se intensificavam à medida que

Heráclio impunha medidas de concordância e uniformidade de crença a um império

devastado pela guerra. Além disso, os árabes em breve conquistariam as províncias

bizantinas orientais, as quais haviam sido recuperadas aos persas em 628. Uma após

outra cairiam a Mesopotâmia, Síria, Palestina, Egito e a própria Constantinopla logo

se veria ameaçada pelo que parecia uma irresistível onda muçulmana. A decisiva

8 O Concílio de Calcedônia, realizado em 451, definiu a dupla natureza de Jesus Cristo (divina e

humana) como coexistindo em uma única pessoa e colocou Constantinopla em igualdade a Roma como autoridade em matéria de questões religiosas.

9 Jacó Baradaeus foi o principal responsável pela reorganização do miafisismo (divindade e humanidade estariam unidas na pessoa de Jesus Cristo em uma única natureza (sem separação, confusão ou alteração) no período pós-Calcedônia. Seus seguidores foram eventualmente chamados de jacobitas.

10 Justiniano, o Grande (527–565), foi o último imperador romano a ter o latim como sua primeira língua.

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vitória dos bizantinos sobre os árabes na batalha naval travada nas vizinhanças de sua

capital em 678 interromperia, porém, a invasão, e permitiu ao Império iniciar a uma

renovação militar e administrativa que visava garantir sua sobrevivência (HALDON,

2007: 63-66).

Conquanto ainda enfrentasse problemas nos Balcãs, no norte da África e nos

extremo oeste de seus domínios, Bizâncio conseguiu permanecer em firme controle

da Ásia Menor e de praticamente toda a orla do mar Negro, preservando grande parte

de sua enorme influência política e cultural sobre o mundo ao redor. Encravado entre

o Oeste romano-germânico e o Leste muçulmano, transformou-se a partir do final do

séc. VII num Estado grego de fato – não no sentido étnico ou em sua ideologia

política, pois continuou a ser um Império multicultural herdeiro das tradições

romanas, mas no que dizia respeito à cultura e à língua, não mais resistente ao

progressivo processo de helenização, iniciado séculos antes.

A redução territorial e a reforma na máquina do Império trouxeram com elas a

força política e unidade espiritual que não fora desfrutada anteriormente, mas nas

antigas províncias orientais perdidas para os muçulmanos, a constante confrontação

entre árabes e cristãos forçou a população nativa a reavaliar e proteger a infraestrutura

da Igreja Ortodoxa Síria, incluindo “seu estatuto jurídico e base financeira, a

necessidade de uma solidariedade social e um aumento da autoestima da comunidade

e da disposição dos leigos em contribuir, tanto em termos humanos quanto financeiros

para o clero” (PALMER, 1993: xiv). A mentalidade resultante dessas mudanças daria

àquelas províncias uma perspectiva do mundo árabe completamente diferente daquela

abraçada por Constantinopla, embora as duas comunidades provavelmente tivessem

continuado a acreditar que a presença muçulmana na região seria temporária, como

tantas outras de diferentes povos e credos, haviam sido anteriormente.

A produção literária siríaca, como um todo, também declinou nesse período e

os escritos historiográficos somente sobreviveram em alguns poucos monastérios. As

calamidades que caíram sobre praticamente todas as comunidades cristãs trouxeram

com elas expectativas perturbadoras e o gênero apocalíptico voltou a florescer. Assim,

não foi difícil para os autores daquela época retomar o uso da estrutura delineada no

Livro de Daniel – baseado na sequência de impérios mundiais e da divisão da história

em eras e milênios – para “colocar ordem no passado”, elaborar uma concepção de

história que pudesse explicar a difícil situação do presente e manter vivas as

esperanças da população cristã da região no futuro. Na tradição apocalíptica siríaca,

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essa retomada apresentava características distintas, que podem ser assim sumarizadas:

1 – Não há apocalipses siríacos cujo tema seja as viagens ao além; 2 – O interesse na

história, passada ou presente é importante; 3 – A relação com o helenismo, incluindo

Bizâncio e Alexandre, é próxima; 4 – A maioria está relacionada às crises históricas

do séc. VII (MARTINEZ, 1987: 339-340). No entanto, nenhum desses pontos pode

ser identificado com segurança no texto do Apocalipse Siríaco de Daniel, nem mesmo

as catástrofes do séc. VII (época presumível de sua composição), apesar da região ter

servido como campo de batalha para as invasões sassânidas e árabes em sua primeira

metade.

Provocando mais dúvidas que conclusões, a publicação no início da década

passada de duas edições do Apocalipse Siríaco de Daniel por Slabczyk e Henze não

despertou maior atenção do mundo acadêmico e não recebeu mais do que algumas

poucas críticas e comentários. Contudo, esse apocalipse representa um testemunho da

importância que os cristãos atribuíam aos seus laços de origem, comprovando que a

teologia cristã, mesmo num período em que já se encontrava inteiramente separada de

suas raízes judaicas, “jamais deixou de periodicamente restabelecer conexões

importantes com essa tradição” (SALVESEN, 2003: 233).

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CAPÍTULO 1

A Recepção do Livro de Daniel nos Primeiros Séculos da Cristandade

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A literatura apócrifa referente a Daniel somente começaria a ser estudada de

modo sistemático a partir do séc. XVIII, quando Johan A. Fabricius (1688–1736)

incluiu alguns manuscritos que faziam referência a Daniel em seu Codex

pseudoepigraphus Veteris Testamenti,11 publicado em 1713. Procurando dar alguma

sistematização ao seu Codex, Fabricius dispôs o texto da Vita Danielis et Prophetia

Apocrypha (§223)12 em duas colunas, com a versão em grego na primeira e a tradução

em latim na segunda. Fabricius não deixou claro se essa lista representava uma

escolha pessoal ou a totalidade dos escritos referentes a Daniel conhecidos até então,

mas ainda que não incluísse uma análise crítica dos textos em seu Codex, este “viria a

determinar o paradigma a partir do qual se desenvolveram praticamente todas as

pesquisas subsequentes sobre este tipo de literatura” (DITOMMASO, 2005: 20).

Manuscritos, lendas e textos apócrifos dedicados a Daniel foram também

agrupados e publicados pelo abade Jacques-Paul Migne (1800–1875) em seu

Dictionnaire des Apocryphes 13 quase 150 anos depois do trabalho pioneiro de

Fabricius, do qual pouco difere. Assim, podem ser encontrados nas páginas de seu

dicionário desde um manuscrito grego conservado na Biblioteca Bodleian, em

Oxford, intitulado As Visões de Daniel, que abre o verbete dedicado ao profeta, como

uma versão sem data da história de Susana encontrada em Troyes, cidade do interior

da França, que o fecha (MIGNE, 1858: cols. 185-190). A primeira tentativa real de

avaliar esses textos do ponto de vista verdadeiramente acadêmico partiu de Frédéric

Macler (1869–1938), em sua tese intitulada Les Apocalypses Apocryphes de Daniel,

apresentada em 1895. Nessa publicação, Macler reafirmava a importância do Livro de

Daniel, ressaltando que “a inspiração apocalíptica proporcionada por ele não se

esgotara na idade Média, mas continuava até os dias de hoje” (MACLER, 1895: 16).

A publicação de Les Apocalypses Apocryphes coincidiu com o lançamento, na

Alemanha, da monografia de Wilhelm Bousset (1865–1920) sobre as origens e

desenvolvimento da figura do Anticristo, logo traduzida para o inglês sob o título The

Antichrist Legend: A Chapter in Jewish and Christian Folklore.14 Incorporando os

poucos apócrifos de Daniel conhecidos à época, The Antichrist Legend tornou-se um

divisor de águas no entendimento da especulação escatológica da literatura apócrifa

dos primeiros séculos de nossa era. Conquanto não tenha se alongado em fazer uma

11 Coleção de pseudoepígrafos do Antigo Testamento. 12 A Vida de Daniel e Apócrifos Proféticos. 13 Dicionário de Apócrifos. 14 A Lenda do Anticristo: um capítulo no folclore judaico e cristão.

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análise crítica desses apocalipses, Bousset procurou desenvolver uma metodologia

que comprovasse algum tipo de relação entre eles. A importância desse trabalho não o

livrou, contudo, de ser responsabilizado pela formação do consenso equivocado que

os textos referentes a Daniel escritos em outras línguas não passariam de “versões

diferentes do mesmo original grego” (DITOMMASO, 2005: 22- 23).

Não menos importante que The Antichrist Legend foi a coleção publicada por

Louis Ginzberg (1873–1953) entre 1909 e 1938, The Legends of the Jews,15 cuja

postura metodológica, especialmente na organização do material referente a Daniel,

foi completamente diferente daquela adotada por Bousset. Na tentativa de “construir

uma síntese de várias interpretações”, Ginzberg teria “coletado material de todas as

fontes possíveis, utilizando-as sem maiores preocupações cronológicas”, muito

embora talvez resida nessa grande latitude “a maior virtude de seu trabalho”

(VERMES, 1973: 1). Estruturadas em torno dos mesmos personagens e desenvolvidas

na exata sequência em que aparecem na Bíblia, The Legends contêm uma notável

relação de notas explicativas as quais, se não suficientes para torná-la uma obra

acadêmica, não deixam de representar uma rica fonte de pesquisa para os textos

relacionados a Daniel.

Mais recentemente, Klaus Berger (1940–) publicou Die Griechische Daniel-

Diegese, Eine Altkirchliche Apokalypse, 16 o qual inclui alguns textos apócrifos

judaicos e cristãos, além de comentários sobre a figura do Anticristo e Gog e Magog,

temas recorrentes nos apocalipses do período bizantino. Paul J. Alexander, por sua

vez, utilizou uma combinação de achados históricos e filológicos para procurar

determinar épocas, lugares e circunstâncias da composição de cada um dos textos

incluídos em The Byzantine Apocalypic Tradition,17 publicada em 1985. Ao avaliar

Pseudo-Metódio e diferentes versões de outros apocalipses, esse autor também se

deteve na análise dos personagens escatológicos já estudados anteriormente por

Bousset, como Gog e Magog, além do Anticristo. Para Alexander, a contribuição

mais importante da tradição apocalíptica estaria na “utilização e reutilização desses

textos como expressão do pensamento político e religioso dos contemporâneos

daqueles períodos” (ALEXANDER, 1985: 8).

Nessa mesma época James H. Charlesworth (1940 –) deu início à publicação

15 As Lendas dos Judeus. 16 A história grega de Daniel: um apocalipse da Igreja Primitiva. 17 A tradição apocalíptica Bizantina.

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de The Old Testament Pseudepigrapha: Apocalyptic Literature & Testaments,18 uma

extensa compilação de textos atribuídos a figuras do Antigo Testamento. Editada

inicialmente em dois volumes, entre 1983 e 1986, continha traduções para o inglês de

quase meia centena de textos associados à apocalíptica, entre eles um conhecido como

o Apocalipse de Daniel, de origem bizantina tardia (séc. IX).

A literatura apócrifa relacionada a Daniel despertou novos interesse a partir do

final do último quartel do século XX, quando Hans Schmoldt submeteu sua tese de

doutorado Die Schrift ‘Vom jungen Daniel’ und ‘Daniels letzte Vision’. Herausgabe

und Interpretation zweier apokalyptischer Texte 19 à Faculdade Teológica de

Hamburgo (SCHMOLDT, 1972). Conquanto tenha tido o inegável mérito de

apresentar, analisar e traduzir textos apocalípticos do siríaco para o alemão, essa tese

não foi, contudo, publicada até os dias de hoje. Um segundo apocalipse de origem

siríaca – O Apocalipse Siríaco de Daniel – viria a ser traduzido em esperanto por

Miron Slabczyk e em inglês por Matthias Henze e publicado em 2000 e 2001,

respectivamente.

Uma análise sistemática da totalidade do corpus da literatura daniélica

incluindo comentários sobre aqueles produzidos na Antiguidade tardia e alta Idade

Média (muitos deles praticamente desconhecidos até então) só viria a ser publicada,

porém, em 2005, por Lorenzo DiTommaso. The Book of Daniel and the Apocryphal

Daniel Literature não inclui os textos propriamente ditos, mas é o primeiro trabalho

acadêmico a comentar – ainda que de forma genérica –, a relação entre o Livro de

Daniel e as formas, conteúdo e significado de cada um dos demais textos a ele

relacionados (DITOMMASO, 2005: 15).

1. O Livro de Daniel

Considerado o único exemplo verdadeiro de um apocalipse na Bíblia

Hebraica,20 o Livro de Daniel apresenta uma série de dificuldades que há muito

desafiam e estimulam a perspicácia de seus pesquisadores, entre elas os embaraços às

referências históricas e a falta de coincidência da divisão linguística com sua forma e

datação. Embora considerado como a mais importante contribuição da literatura

18 A Pseudoepígrafa do Velho Testamento: Literatura Apocalíptica e Testamentos. 19 Os escritos do ‘Jovem Daniel’ e ‘A última visão de Daniel’. Apresentação e interpretação de dois

textos apocalípticos. 20 A “Bíblia hebraica” refere-se à coleção impressa do texto massorético do cânone judaico (Tanakah).

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religiosa do período intertestamental ao cânone judaico,21 tal adição provavelmente

não ocorreu por alguém chamado Daniel ter sido mencionado em Ezequiel como um

herói de um passado remoto,22 mas porque “círculos anônimos, tanto na diáspora

quanto em Judá [...] encontraram neste livro uma mensagem especial a qual parecia

essencial para seu auto-entendimento religioso” (KOCH, 2001: 421-422).

Redigido em duas línguas distintas – cuja relação é, no entanto, bastante

próxima, hebraico e aramaico,23 característica pouco usual e não encontrada noutros

livros bíblicos à exceção de Esdras – o Livro de Daniel parece ser o resultado de um

processo de adição e edição de textos que incorporaram épocas e tempos diversos.24

Sua forma final foi provavelmente alcançada durante a perseguição religiosa

promovida por Antíoco IV Epifânio,25 mas seus seis primeiros capítulos parecem

anteceder esse período e muito provavelmente foram acrescentado aos demais durante

a crise dos Macabeus pelo autor ou compilador dos demais (caps. 7-12). A leitura

desses últimos revela que o responsável final pelo livro demonstra, além de um bom

conhecimento dos períodos persa e neobabilônico, algum conhecimento histórico,

especialmente no cap. 11, onde são tratadas as chamadas “guerras sírias” (GRABBE,

2001: 230).

A versão eventualmente adotada pelas Escrituras hebraicas 26 faria parte,

portanto, de “um ciclo muito mais amplo de textos relacionados a Daniel em hebraico,

aramaico e grego na era helenística, alguns dos quais provavelmente circularam em

mais de uma versão ou foram preservados em formas reelaboradas e ou em línguas

que podem não corresponder às originais” (DITOMMASO, 2005: 4). A existência de

tais variantes explicaria a existência do material adicional encontrado nas traduções

(prece de Azarias; cântico dos três jovens) e adições gregas (Susana; Bel e o dragão),

mas ausentes do texto canônico hebraico. Independentemente de sua forma de

composição, o Livro de Daniel constitui um texto político, em que a continuidade da

história do mundo flui, sob a supervisão de Deus, em uma sucessão contínua de 21 O Livro de Daniel foi incorporado ao cânone entre os sécs. I e II EC. 22 “Mesmo que estes três homens, Noé, Daniel e Jó estivessem no meio deles, se salvariam em virtude

de sua própria justiça, diz o Senhor Deus”. (Ezek 14:14) “Veja, você é mais sábio que Daniel! Não há segredo que possa ser ocultado de você”! (Ezek 28:3) 23 Hebraico: capítulos 1:1 a 2:4a; 8 a 12. Aramaico: capítulos 2:4b a 7:28. 24 A data e origem do texto começaram a ser objeto de contestação já a partir do séc. III EC, por

Porfírio (ca.234–ca.305), que o identificou como obra de um autor que teria vivido à época de Antíoco Epífanes e não na do exílio babilônico. Apenas fragmentos de seus questionamentos sobrevivem, refutados por Jerônimo.

25 Entre 168 e 165 AEC. 26 Usualmente chamado de “massorético”, devido à padronização da vocalização e acentuação

(masorah) ocorrida entre os sécs. VII e X EC.

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impérios estrangeiros por um período de quatro séculos, do Babilônico, passando pelo

Persa e Macedônico, ao Selêucida e Lágida. Aceito por judeus e cristãos, o livro não

deixa também de ser também um divisor de águas entre essas duas religiões,

especialmente em relação à controversa recepção do tema relacionado ao “Filho do

Homem” (MILLAR, 1997: 103).27

O livro conta a história de um jovem judeu (Daniel) exilado após a queda de

Jerusalém no começo do séc. VI AEC, sua habilidade em interpretar sonhos e resolver

mistérios e sua ascensão à posição de principal conselheiro de Nabucodonosor, o todo

poderoso rei da Babilônia. A primeira parte do livro é formada por uma narrativa em

seis capítulos sobre os acontecimentos em que Daniel e seus três amigos são

envolvidos nas intrigas da corte do rei e de seus sucessores. Escrita na terceira pessoa

do presente, a narrativa tem início quando “no terceiro ano do reinado de Joaquim, rei

de Judá, Nabucodonosor, rei de Babilônia, veio a Jerusalém e a cercou”.28 Vencedor,

Nabucodonosor retorna à sua capital levando consigo, além do tesouro e utensílios do

Templo, alguns “jovens de famílias nobres” (Dan 1:3), entre eles Daniel, Ananias,

Misael e Azarias. No segundo capítulo Daniel adivinha e explica um sonho que

perturbara o rei, interpretando a gigantesca estátua construída com diferentes

materiais29 e destruída por uma pedra como uma sequência de impérios que terminaria

com o advento do reino de Deus (Dan 2:31-45). O foco da narrativa passa para

Ananias, Misael e Azarias no capítulo três. Por recusarem-se a adorar uma estátua de

ouro, são lançados por Nabucodonosor a uma fornalha, mas não se queimam graças à

ajuda de um quarto personagem, cuja “aparência é como a do Filho de Deus” (Dan

3:25).

No capítulo seguinte o rei pede que Daniel interprete um novo sonho, no qual

um anjo lhe ordena que corte uma bela árvore que crescia “no centro da terra”, tire

sua folhagem e espalhe seus frutos, mas que mantenha sua raiz. O anjo também

anunciara que essa árvore deveria ser acorrentada na relva do campo, molhada pelo

orvalho do céu e passar a conviver com os demais animais daquele campo por sete

anos, com “o coração de uma fera” (Dan 4:7-14). Daniel explica que a árvore

representava o próprio rei, o qual estava destinado a se afastar do convívio dos

homens e a viver como um animal por sete anos devido à sua soberba em não 27 “Eu vi, nas visões noturnas, [alguém] como o Filho de Homem vindo com as nuvens do céu”. (Dan

7:13) 28 Dan 1:1. 29 A estátua tinha cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de bronze, pernas de ferro e

pés parte de ferro e parte de barro.

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reconhecer Deus como o único responsável pelo sucesso de seu reinado.

Nabucodonosor somente recuperaria o domínio sobre seu reino depois de sete anos se

passarem. A interpretação dada por Daniel mais uma vez se confirma, Nabucodonosor

recupera o domínio sobre seu reino no tempo estabelecido e reconhece o poder do

deus de Daniel.

O tema do quinto capítulo é o banquete oferecido por Baltazar, sucessor de

Nabucodonosor, à nobreza do reino, utilizando para tal os utensílios tomados por seu

antecessor do Templo, em Jerusalém (Dan 5:2-4). Depois de beberem o vinho dessas

taças percebem a presença de uma mão que escreve palavras ininteligíveis na parede

do palácio real, deixando todos aterrorizados. Aconselhado pela rainha, Baltazar

convoca Daniel, que justifica o acontecido pelo fato do rei, ao contrário de seu pai,

haver se mostrado arrogante diante de Deus e bebido, juntamente com seus nobres e

concubinas, das taças do Templo (Dan 5:18-23). Esta foi a razão da mão ter escrito na

parede as palavras mene, mene, tekel, upharsin,30 interpretadas por Daniel como

“Deus numerou seu reino e o trouxe ao fim, foste pesado na balança e achado em

falta, seu reino foi dividido e entregue aos medas e persas” (Dan 5:24-28). Baltazar

morre naquela noite e Dario, o Medo, assume o trono.

Daniel é colocado por Dario à frente dos negócios do reino e mais uma vez é

vítima de intrigas. Pressionado pelos babilônios, que alegam haver Daniel

desobedecido a um decreto que proibia a adoração de homens ou deuses por trinta

dias (Dan 6:7-10) à exceção do próprio rei, Dario o atira à cova dos leões (Dan 6:17).

No dia seguinte, o rei se dirige ao local e chama por Daniel, que ileso informa que seu

deus o salvara das feras por meio de um anjo, que lhes fechara as bocas (Dan 6:23). O

capítulo seis termina com Dario exortando “todos os povos, nações e línguas a tremer

e temer diante do deus de Daniel” (Dan 6:26-27).

A segunda metade do texto corresponde ao apocalipse propriamente dito:

contém revelações sobre o futuro intermediadas por um anjo e nela não há menção à

situação de Daniel junto à corte ou de seus amigos. Relatada na primeira pessoa, foi

com quase toda certeza composta posteriormente à primeira e data das perseguições

de Antíoco IV Epifânio, entre 167–164 AEC. (COLLINS, 2001: 2)

30 As raízes dessas palavras significam “contar”, “pesar” e “dividir”, respectivamente. Unidades usadas

como moedas ou pesos também são derivadas dessas mesmas raízes: um mina equivalia a 60 shekels (siclos) e um pheres à metade de uma mina: “[…] vinte siclos mais vinte e cinco siclos mais quinze siclos farão uma mina” (cf. Ezek 45:12).

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O sétimo capítulo constitui uma transição entre as duas partes, ligando-se à

primeira pela língua e semelhança com o segundo capítulo e à segunda, pelo assunto e

associação com o oitavo. Nele, Daniel sonha com quatro bestas diferentes, a mais

terrível delas com dez chifres. Elas representam “quatro reis que se levantarão da

terra”.31 Neste capítulo está descrita também a visão do “Antigo dos Dias” e a “do

Filho do Homem” (Dan 7:9;13). O capítulo seguinte retorna à visão descrita no que o

antecedeu de modo mais explícito. Descreve Alexandre de modo alegórico, seus

feitos e sua morte, a partilha de seu império, a ascensão de Antíoco IV Epifânio e as

iniquidades cometidas por este contra o “povo de Deus”, as quais são interpretadas

pelo anjo Gabriel (Dan 8:16).

O nono capítulo se passa no primeiro ano do reinado de Dario, “da raça dos

medos”.32 Após confessar as transgressões cometidas por Israel contra Deus, Daniel

mais uma vez recebe uma visão do anjo Gabriel, informando que a pena para seu

povo e sua cidade expiar seus pecados havia sido fixada em setenta semanas, ao final

da qual seria instalada a justiça eterna. No décimo capítulo Daniel é informado que o

“tempo da cólera” se aproxima, descrito em detalhes no capítulo seguinte.33 No

décimo segundo e último, Daniel é admoestado a “guardar em segredo essas palavras”

(Dan 12:4) e manter “lacrado o livro até o tempo do fim”, quando receberá “a sua

parte” (Dan 12:13).

2. O Livro de Daniel na Tradição Judaica

Provavelmente a mais antiga literatura relacionada ao Livro de Daniel

corresponda às chamadas Adições Gregas (ausentes do texto massorético, mas

presentes na LXX) e aos quatro textos encontrados entre os manuscritos do mar

Morto,34 identificados como 4Q242 (A prece de Nabonido), 4QPseudo-Daniela-b

(4Q243/244), 4QPseudoDanielc (4Q245) e 4QApócrifo de Daniel (4Q246). Todos

esses textos datam do período do Segundo Templo e foram compostos originalmente

em hebraico ou aramaico.

31 Dan 7:17. 32 “No primeiro ano de Dario, filho de Artaxerxes, da raça dos medos, o qual foi feito rei do reino dos

caldeus”. (Dan 9:1) 33 Este último narra as campanhas empreendidas pelos reino Selêucida e Lágida durante as chamadas

“guerras sírias” (sécs. III e II AEC). 34 Entre os manuscritos do mar Morto foram encontrados oito fragmentos do livro de Daniel

equivalentes ao texto massorérico.

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As Adições Gregas são contos textualmente independentes do texto

massorético e tanto a história de Susana quanto a de Bel e o Dragão – caps. 13 e 14

nas bíblias grega e latina – têm um personagem chamado Daniel como ator principal.

Fazem também parte dessas adições o Salmo de Azarias e o Cântico dos Três Jovens,

correspondendo à interpolação dos versos 24-90 no corpo do cap. 3 do texto daniélico

dessas mesmas bíblias.

A Prece de Nabonido conta, de forma semelhante à descrita pelo Livro de

Daniel,35 como o rei Nabucodonosor foi curado por um exorcista judeu, “após ouvir a

verdade e arrepender-se de seus pecados”, de uma doença que o afligia há sete anos.

Já no texto do fragmento 4QApócrifo de Daniel (4Q246)36 alguém (Daniel?) explica a

um rei sua visão a respeito da guerra entre Egito e Assíria e a vinda de um novo

conquistador, obedecido por todos e autointitulado “Filho de Deus”. Mas a guerra

continuaria durante seu mando e a paz só seria alcançada quando chegasse o

verdadeiro Deus,37 cujo domínio sobre a humanidade seria eterno (VERMES, 1997:

573):

As palavras da prece proferidas por Nabunai, rei da t[erra da Ba]bilônia, [o grande] rei, [quando foi afligido] com uma úlcera maligna em Teiman por ordem do [Deus Altíssimo]. Eu fui afligido [com uma úlcera maligna] por sete anos e um exorcista perdoou meus pecados. Ele era um judeu dentre [os filhos dos exilados de Judá e ele disse] “Ponha isso por escrito para [glorificar e exaltar] o nome do [Deus Altíssimo”. E eu escrevi isso]: Eu fui afligido por uma úlcera [maligna] em Teiman [por ordem do Deus Altíssimo]. Por sete anos rezei aos deuses de prata e ouro, [bronze e ferro], madeira, pedra e argila, pois [acreditava] que eram deuses... (4Q242) [o espírito de Deus] habitou nele e ele prostrou-se diante do trono. Ó rei [...] uma grande opressão cairá sobre a terra ... um grande massacre nas províncias ... o rei da Assíria e do Egito ... ele será grande sobre a terra ... fará com que todos o sirvam. Ele se proclamará filho de Deus e como filho do Altíssimo será chamado. O reino deles será como as fagulhas da sua visão. Reinarão por anos sobre a Terra e todos serão pisoteados. Pessoas irão pisotear pessoas (cf. Dan 7: 23) e uma província a outra, até o povo de Deus se levantar e todos depuserem as espadas. O reino destes será um reino eterno (cf. Dan 7:27) e todos os seus caminhos serão na verdade [...] (4Q246)

35 Cf. Dan 4. 36 Também conhecido como o manuscrito do “Filho de Deus”. 37 Cf. Dan 7.

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Daniel foi considerado um profeta por Josefo (37–ca.100), em suas

Antiguidades Judaicas. Seu comentário sobre o sonho de Nabucodonosor38 no livro

10 daquela coletânea deixava claro que Roma, feita de ferro, seria substituta do

império de Alexandre, feito de bronze (GRABBE, 2001: 238-239):

[...] mas outro rei que virá do oeste, armado com bronze, destruirá aquele governo; e outro governo, que deverá ser semelhante ao ferro, colocará um fim ao poder do anterior e terá domínio sobre toda a Terra, em razão da natureza do ferro, o qual é mais forte que o ouro, a prata e o bronze. Daniel também esclareceu o significado da pedra para o rei, mas não considero adequado discorrer sobre isso, uma vez que assumi apenas o compromisso de descrever as coisas passadas ou presentes, mas não o futuro; mesmo assim, se alguém estiver tão desejoso em conhecer a verdade, a ponto de não afastar tais pontos de curiosidade e não poder conter sua inclinação para a compreensão das incertezas do futuro, e se vão acontecer ou não, que seja diligente na leitura do livro de Daniel, que ele encontrará entre os escritos sagrados. (Ant. 10.10.4)

Josefo, sem explicitá-la, considerava certa a queda de Roma no futuro, pois

esse seria o desejo de Deus, de acordo com Daniel. Tais expectativas escatológicas

estariam também evidentes em 4 Ezra e 2 Baruch, dois outros textos escritos após a

queda do Segundo Templo (70 EC) e que guardam uma forte relação de dependência

entre si.

4 Ezra, composto originalmente em hebraico (ou talvez em aramaico) na

Judeia à época de Domiciano (81–96 EC), foi preservado fora da tradição judaica,

como atesta seu modo de transmissão. O texto original teria sido traduzido para o

grego e a partir daí transmitido por diversas igrejas cristãs para o latim, siríaco,

etiópico, georgiano, árabe, armênio e cóptico. As versões em latim, por sua vez,

teriam dado origem a traduções secundárias para a maioria dessas mesmas línguas,

além de outras, como eslavônio, grego moderno e novamente hebraico. Neste aspecto,

4 Ezra não seria uma exceção, uma vez que a maioria da literatura judaica do período

do Segundo Templo só teria conseguido sobreviver fora de sua tradição (STONE,

1990: 1-9).

Nem por isso 4 Ezra deixa de pertencer à mesma tradição apocalíptica da qual

Daniel faz parte. A descrição da visão da águia, por exemplo, associa a quarta besta

de Dan 8 a Roma, do mesmo modo que “o homem que saiu do coração do mar” 38 Cf. Dan 2.

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baseia-se, aparentemente, na figura do “Filho do Homem”, descrita em Dan 7

(GRABBE, 2001: 238):

Esta é a interpretação da visão que você viu: a águia que você viu saindo do mar é o quarto reino que apareceu numa visão para seu irmão Daniel. Mas ela não foi explicada para ele como eu vou te explicar agora a você. Veja, os dias [finais] estarão vindo quando um reino, mais terrível que todos os outros antes dele, surgir na Terra. (4Ez 12:10-14) E assim ele disse: A quarta besta será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos. Ele devorará a terra inteira, a pisoteará e a quebrará em pedaços. (Dan 7:23) E após sete noites eu sonhei um sonho à noite: veja, o vento levantou-se do mar e agitou todas as suas ondas. E eu olhei e veja, o vento fez com que alguma coisa como a figura de um homem saísse do coração do mar. E eu olhei e veja, aquele homem voou com as nuvens do céu [...] Quanto a você ter visto um homem sair do coração do mar, esse é aquele a quem o Altíssimo vem mantendo por muitas épocas, quem irá libertar sua criação e comandar aqueles que forem deixados. (4Ez 13:1-3; 26-27) E continuava contemplando, nas visões noturnas, e eis que [um] como o Filho do Homem veio com as nuvens do céu, chegou-se ao Antigo dos dias, e o fizeram chegar até ele. E foi-lhe dado o domínio, a glória e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem: seu domínio [é] um domínio eterno, que não passará, e o seu reino não será destruído. (Dan 7:13-14)

Tal como 4 Ezra, o texto original de 2 Baruch, hoje desaparecido, teria sido

composto em hebraico e traduzido para o grego, mas diferentemente daquele,

sobreviveu apenas em sua versão siríaca. Diversas evidências sugerem que data das

décadas seguintes à destruição do Segundo Templo, o que talvez explique as muitas

similaridades com 4 Ezra, embora estas não sejam suficientes para determinar a

direção da dependência entre ambos (STONE, 1990: 39). Ainda que o número de

referências ao Antigo Testamento nesta obra seja pequeno, são até certo ponto

surpreendentes os muitos paralelos com o Novo, especialmente com as epístolas

Paulinas (KLIJN, 1983: 619).

2 Baruch não mostra dependência especial com Dan, mas a “visão da água

com diferentes tonalidades” antecipa a revelação de um Messias e “ilustra a contínua

perspectiva escatológica” de seu autor (GRABBE, 2001: 238):

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Portanto, ouçam a exposição das últimas águas escuras as quais virão após elas. Esta é a palavra. Veja, os dias estão chegando e acontecerá quando o tempo do mundo estiver maduro e a colheita das sementes dos maus e dos bons tiver chegado [...] E acontecerá que todo aquele que quiser salvar a si mesmo e escapar de todas as coisas que foram ditas antes – tanto aqueles que venceram quanto os que foram vencidos – que tudo será entregue nas mãos de meu Servo, o Messias. Pois toda a Terra devorará seus habitantes. (2Br 70:1-2; 9-10)

O fracasso das campanhas judaicas contra Roma em 67–73 e 132–136 EC,

com suas drásticas consequências, viria a trazer na prática o fim às expectativas

escatológicas do povo de Israel. Não há, por exemplo, referências literárias a Daniel

na Mishnah, 39 embora a possibilidade da vinda de um messias tenha sido

posteriormente reintroduzida na literatura rabínica.40

3. O Livro de Daniel na Tradição Cristã

A rápida expansão e as acomodações necessárias à própria sobrevivência

dentro do império romano viriam a modificar significativamente o pensamento

apocalíptico das primeiras comunidades cristãs. Confrontada pela demora da chegada

da Parúsia,41 e ainda que formada “no mesmo cadinho das tradições apocalípticas

judaicas”, a apocalíptica cristã daria início no séc. II à “criação de novos cenários para

o drama que se desenrolaria ao final dos tempos”, perdendo as preocupações

históricas características dos textos judaicos produzidos no período intertestamental.

Entre os principais componentes desse processo encontravam-se o

desenvolvimento da figura do Anticristo, a revitalização do tema das idades do mundo

e a valorização do milenarismo (McGINN, 1979: 16-18). A modificação do estilo dos

apocalipses intensificaria o foco no presente e no futuro imediato, uma vez que o(s)

autor(es) de um apocalipse cristão escrevia(m) sob uma perspectiva cronológica

diferente da judaica. Afinal, a vinda do messias já havia acontecido e o exemplo de

Cristo, especialmente seu sofrimento e morte, estava disponível como fonte de

inspiração para o visionário. Contudo, os valores éticos presentes nesses apocalipses

não foram muito diferentes dos que os antecederam. Tanto quanto aqueles que

39 A Mishnah é considerada a primeira obra da literatura rabínica e corresponde à transcrição das

tradições orais judaicas. Foi redigida no início do séc. III EC. 40 Essa possibilidade será discutida brevemente nas considerações finais desta tese. 41 Do grego παρουσία (“presença”).

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professavam a fé judaica, “os cristãos também procuraram expressar naqueles textos

os medos e esperanças que os atormentavam” (COLLINS, 1998: 278).

O Livro de Daniel não deixou de continuar a influenciar a consciência coletiva

de judeus e cristãos, embora apenas uma pequena proporção da literatura referente

àquele livro tenha sido composta nos quatro primeiros séculos da cristandade. Datam

dessa época os primeiros comentários de estudiosos como Hipólito de Roma, Porfírio

e Jerônimo, que procuraram garantir em seus escritos que as eventuais novas

interpretações da “mensagem original” não deixariam também de exibir a “marca

apostólica de autenticidade” (BATEMAN, 2011: 10-13).

3.1 O Novo Testamento

Os primeiros líderes cristãos provavelmente escreveram suas obras não como

uma alternativa às escrituras judaicas, mas como uma maneira de preservar o

pensamento de Deus revelado por meio das palavras de Cristo. Com o passar do

tempo, os textos dos Evangelhos e epístolas escritos pelos apóstolos assumiram um

lugar de primazia em relação aos demais escritos e se tornaram a parte central do

cânon cristão. Este cânon passou a ser levado ao conhecimento de todos os povos

possíveis, procurando manter, porém, seu formato original à medida que se difundia.

Era por meio de cartas que o mundo helenístico romano se comunicava, à

época do surgimento da Cristandade. Geralmente escritas por escribas, tratavam dos

mais variados assuntos pessoais ou comerciais e representavam pelo menos para os

mais cultos, o modo predominante de transmissão de exortações e conselhos, algumas

vezes “acompanhados pela exposição de alguma doutrina filosófica de fundo moral,

psicológico ou cosmológico”. Esses escritos podiam ser publicados e eventualmente

“funcionar como pequenos tratados” (NORRIS, 2010: 12).

Foi nesse formato que a maioria dos livros do NT foi escrita e seus textos mais

antigos, atribuídos a Paulo,42 datam dos anos 50 e 60 EC. Tratavam de assuntos

práticos e doutrinários, geralmente relacionados às igrejas recém-criadas e

diferenciavam-se do estilo das cartas helenísticas convencionais basicamente na

maneira que refletiam a origem judaica e a fé cristã de seu autor. Eram dirigidos a

públicos diversos em diferentes situações, mas ensinamentos apocalípticos

42 Das 14 cartas do Novo Testamento atribuídas a Paulo, apenas 1Thes, 1-2Cor, Phil, Phlm, Gal e Rom

são consideradas inquestionavelmente genuínas.

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importantes já estavam presentes na Primeira Epístola aos Tessalonicenses,

provavelmente escrita em 51 EC:

Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus, Deus há de leva-los em sua companhia. [...] Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida nós, os vivos que estivermos lá seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o senhor. Consolai-vos uns aos outros com essas palavras. (1Thes 4: 14-18)

Da mesma forma, ecos do Livro de Daniel também podiam ser encontrados na

tradição paulina, como nos seguintes versos da Segunda Epístola aos

Tessalonicenses:

Ele que é um adversário, e exalta-o mesmo acima de tudo que é chamado Deus e Venerável, de modo a também se sentar no Templo de Deus como um Deus, e mostrando a si mesmo como se fosse Deus. Não vos lembrais de que quando estava convosco eu disse essas coisas? (2Thes 2:4-5) E o rei agirá de acordo com sua vontade e exaltará a si mesmo e se colocará acima de todos os deuses [...] e falará coisas inauditas contra o Deus dos deuses e no entanto prosperará [...] pois é a si mesmo que ele exaltará acima de tudo. (Dan 11:36)

Também fazendo parte do Novo Testamento e escritas algumas décadas

depois, mas no mesmo estilo das anteriores, encontram-se as Epístolas aos Hebreus e

a Primeira de São Pedro, ambas de autoria anônima e focadas em temas já presentes

na literatura paulina. São também dessa época as três epístolas atribuídas a João, em

quem a tradição identifica o autor do quarto e último dos evangelhos canônicos. O

mais provável, porém, é que essas obras representem o produto de uma “escola” e não

de um indivíduo, o que explicaria melhor suas diferenças e afinidades de estilo e

vocabulário. Algumas das divergências internas que agitavam a Igreja no início do

séc. II, possivelmente provocadas pelas diversas correntes nela abrigadas podem ser

encontradas em duas outras cartas que fazem parte dos textos canônicos: em Judas,43

que denuncia aqueles que “transformam a graça de Deus em lascívia” e na Segunda

43 Cf. Jude 1:4.

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Epístola de São Pedro,44 que repreende aqueles que “seguem fábulas habilmente

engendradas” (NORRIS, 2010: 15).

Além de cartas, outro gênero literário, o evangelho,45 foi bastante utilizado no

período inicial da Igreja. O termo, originalmente aplicado exclusivamente às

narrativas da vida e do destino de Jesus, eventualmente passou também a identificar

diversos tipos de textos da nova fé. Os quatro evangelhos canônicos foram

considerados por Irineu de Lyon como sendo da autoria de Mateus, Marcos, Lucas e

João, e por esses nomes são desde então, conhecidos:

Pois, após nosso Senhor ressuscitar dos mortos, (os apóstolos) foram investidos do poder das alturas quando o Espírito Santo desceu (sobre eles); estavam cheios de todos (os Seus dons) e tinha conhecimento perfeito: eles partiram para os confins da terra, pregando as boas novas das boas coisas (enviadas) por Deus para nós, e proclamaram a paz celestial para os homens, os quais, na verdade, fazendo tudo igual e individualmente, possuem o evangelho de Deus. Mateus também emitiu um Evangelho entre os Hebreus, escrito em sua própria língua, enquanto Pedro e Paulo estavam pregando em Roma, lançando as bases da Igreja. Depois de sua partida, Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, também nos entregou, por escrito, o que havia sido pregado por Pedro. Lucas, também companheiro de Paulo, registrou em um livro o Evangelho pregado por ele. Depois, João, o discípulo do Senhor, que também havia se inclinado sobre Seu peito, publicou ele mesmo um Evangelho durante sua permanência em Éfeso, na Ásia. (AH 3.1.1)

O Evangelho segundo São Marcos, possivelmente o mais antigo deles, teria

sido escrito ainda à época de Pedro e forma, juntamente com os atribuídos a Mateus e

Lucas, os chamados “Evangelhos Sinóticos”, devido à relação literária entre eles ser

bastante próxima. Já o Evangelho segundo São João, escrito um pouco mais

tardiamente, difere dos demais tanto na cronologia quanto nos detalhes da vida de

Jesus. Os quatro evangelhos abrem os livros do Novo Testamento e neles as citações a

Daniel resumem-se ao “Filho do Homem” (Dan 7:13), concentradas nos textos dos

três primeiros:46

44 Cf. 2Pt 1:16. 45 Do grego εύαγγέλιον (“boa nova”). 46 O texto apocalíptico atribuído a Jesus pelos sinóticos é chamado de Pequeno Apocalipse ou Discurso

Apocalíptico e contém trechos de Mk 13, Mt 24-25 e Lk 21.

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E então verão o “Filho do Homem” vindo entre nuvens com grande poder e glória. (Mk 13: 26) E ele, Jesus, disse para ele: “Eu sou”. E vereis o “Filho do Homem” sentado à direita do Poderoso e vindo com as nuvens do céu. (Mk 14:62) E então será visto o sinal do “Filho do Homem” no céu: e todas as tribos da Terra irão se lamentar quando virem o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória. (Mt 24:30) E então verão o “Filho do Homem” vindo do numa nuvem com poder e grande glória. (Lk 21: 27) “Eu vi, nas visões noturnas, e veja, [um] como o “Filho do Homem” veio com as nuvens do céu”. (Dan 7:13)

Embora possa ser tecnicamente considerado uma carta “endereçada às sete

igrejas da Ásia”,47 o Apocalipse de João é o principal representante desse gênero no

Novo Testamento. Aparentemente escrito à época das perseguições religiosas

promovidas por Domiciano (81–96 EC), corresponde basicamente a uma serie de

visões descritas por um autor que se identifica como João. Embora considerado “o

apocalipse por excelência”, o texto constituiu-se num “centro de controvérsias dos

primeiros tempos da cristandade” e só veio a ser aceito pelas igrejas orientais a partir

do séc. VI (McGINN, 1979: 12-13).

Os frequentes paralelismos com o Livro de Daniel encontrados no Apocalipse

de João atestam, no entanto, a persistência e a importância daquela matriz nos livros

do Novo Testamento (EVANS, 2001: 526):

E eu vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta [...] E eu vi os mortos, grandes e pequenos, de pé, diante do trono; e os livros foram abertos. (Rev 20: 11-12) Eu olhei até que os tronos fossem colocados e o Antigo dos Dias se assentasse [...] Milhares de milhares o serviam e dez mil vezes dez mil estavam diante dele: o julgamento estava pronto e os livros foram abertos (Dan 7: 9-10) E eu vi tronos e eles [os santos] neles se sentaram e poder de julgar foi entregue a eles. (Rev. 20:4)

47 Cf. Rev. 1:4.

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Até que o Antigo dos dias veio, e o julgamento foi entregue aos santos do Altíssimo. E chegou o tempo que os santos possuíram o reino. (Dan 7: 22) E o sétimo anjo tocou e houve vozes e trovões, que disseram: O reino do mundo tornou-se [o reino] do Nosso Senhor e do seu Messias; e ele reinará para sempre (Rev. 11:15) E foi entregue a ele o domínio, a glória e o reino e todos os povos nações e línguas servirão a ele [...] e seu reino jamais será destruído. (Dan 7:14)

3.2 Os Padres da Igreja

3.2.1 Justino, o Mártir

Justino (ca.100–165), citado tanto por Irineu quanto por Eusébio, é

considerado o autor de numerosos livros, tratados, discursos, apologias e diálogos,

dos quais apenas duas apologias e um diálogo (Diálogo com Trypho) têm sua

autenticidade confirmada. No Diálogo, Justino exalta as virtudes do cristianismo

sobre a religião judaica e utiliza Dan 7:9-28 para convencer Trypho, um personagem

judeu provavelmente ficcional, que Jesus é o Messias prometido pelas Escrituras

(SETZER, 1994: 135):

“Se tão grande poder se seguiu e ainda está se seguindo à dispensação de Seu sofrimento, quão maior será aquele [poder] que se seguirá ao seu glorioso advento! Pois ele virá sobre as nuvens como o Filho do Homem, conforme predisse Daniel, e seus anjos virão com Ele” [...] E quando terminei, Trypho disse: “Estas e escrituras como tais, senhor, obrigam-nos a esperar por ele, que como o Filho do Homem, recebe o reino eterno do Antigo dos dias”. (DialTrypho 31-32)

3.2.2 Irineu de Lyon

Irineu de Lyon (ca.130–ca.200) foi um aplicado estudioso dos escritores

cristãos que o precederam e personagem principal nos debates da Igreja a respeito do

Gnosticismo, movimento considerado por ele como uma ameaça real à sobrevivência

da Igreja. Irineu foi o primeiro autor da Igreja a manifestar um interesse maior em

Daniel, registradas naquela que é considerada sua obra mais importante, Adversus

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Haereses.48 Escrita em cinco volumes por volta do ano 190, dela sobrevivem alguns

fragmentos no original grego e uma tradução em latim, preservada em sua totalidade.

A ressurreição da carne é o tema central do quinto volume dessa coleção,

especialmente em relação à escatologia e ao destino final da humanidade. O Livro de

Daniel é citado ipsis verbis por Irineu (OEGEMA, 2006: 3-4):

A quarta fera será o quarto reino sobre a terra, o qual suplantará todos os demais e devorará toda a terra, e pisará sobre ela e a quebrará em pedaços. E seus dez chifres são dez reis que virão; e depois deles virá outro, que superará em malefícios tudo que foi feito antes dele. (AH 5. 25.3)

Afirmando que o poder mundano não pode ser considerado simplesmente uma

ferramenta nas mãos de Satanás, mas sim como a maneira criada por Deus para

“limitar o mal”, Irineu segue a mesma linha para falar do Anticristo:49

E não só por conta das indicações já mencionadas, mas também por meio dos eventos que irão ocorrer ao tempo do Anticristo, está demonstrado que sendo ele um apóstata e ladrão, está ansioso para ser adorado com um Deus; e que, embora um mero escravo, deseja ser proclamado rei. Pois ele [Anticristo] estando revestido com todo o poder de Satanás, virá não como um rei justo, nem como rei legítimo, obediente a Deus, mas como um [rei] impiedoso, injusto e sem lei. (AH 5, 25,1)

3.2.3 Clemente de Alexandria

Pouco se sabe da vida de Clemente (ca.150–ca.215), o qual teria nascido em

Atenas, mas passado a maior parte de sua vida em Alexandria. Aparentemente bom

conhecedor da filosofia helenística, deve-se a Eusébio a maior parte das informações

conhecidas a respeito de sua obra. Stromata50 é seu trabalho mais longo e importante a

sobreviver. Como o próprio título indica, o texto corresponde “a uma longa série de

divagações intencionais, de modo a forçar o leitor a usar sua imaginação para

entendê-lo” (HEINE, 2010: 118). No livro 1 dessa coleção Clemente usa Daniel ao

comparar as leis e instituições judaicas com as gregas: 48 Contra as Heresias. 49 Conquanto o termo “Anticristo” seja cristão, a imagem de um governante “antidivino”, por assim

dizer, já se encontrava presente tanto na Bíblia Hebraica (Dan 2: 7-9) quanto nos textos apócrifos da época do Segundo Templo, como 4Ez 11;12 e 2Br 39.

50 Do grego στρώµατα (“retalhos”, “miscelâneas”).

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Do cativeiro na Babilônia, que teve lugar no tempo de Jeremias, o profeta, se cumpriu o que foi dito pelo profeta Daniel como se segue: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua cidade santa, para cessar a transgressão, selar os pecados, acabar com a iniquidade e trazer a justiça eterna”. (Strom 1.21.329)

Clemente menciona também a Epístola de Barnabas, obra aparentemente

composta nas décadas situadas entre a destruição do Segundo Templo e a revolta de

Bar Kochba. Endereçada aos “filhos e filhas”, seu autor procurava “dissociar a

cristandade do judaísmo, mostrando que a Torah,51 se entendida como uma alegoria,

teria um sentido cristão” (NORRIS, 2010: 15).

O texto da Epístola de Barnabas apoia-se claramente em Dan quando trata do

“final dos tempos” :52

[...] Para a este efeito, o Senhor abreviou os tempos e os dias, de modo que seu amado pudesse e se apressar e se apossar de sua herança. O profeta também falou desta maneira: “Dez reinos reinarão sobre a Terra, e se levantará depois deles um pequeno rei que humilhará três reis sob um”. E do mesmo modo, Daniel falou sobre esse: E vi a quarta besta, má e mais forte do que todos os animais da terra; e eu vi como cresceram dela dez chifres, e dentre eles um chifre pequeno, crescendo ao lado, e como ele humilhou sob um, três dos grandes chifres. (Barn 4:3-5)

3.2.4 Orígenes

Orígenes (ca.185–ca.253), considerado um dos mais controversos “Padres da

Igreja”, nasceu em Alexandria, onde teria sido aluno de Clemente (OEGEMA, 2006:

6). Embora escritor prolífico, Orígenes não chegou a comentar o Livro de Daniel

diretamente, mas tratou de temas como “o fim dos tempos” e o “Anticristo” em seu

último tratado, Contra Celsum, preservado em grego em sua totalidade. Celso havia

criticado, décadas antes,53 o baixo status social dos cristãos e a falta de participação de

suas comunidades nos assuntos políticos e militares de Roma. Orígenes apoiou-se

“tanto na Bíblia quanto nos filósofos e poetas gregos” para contestar Celso (HEINE,

2010: 127): 51 O termo Torah (lit. “ensino”, “doutrina” ou “instrução”) é usualmente utilizado para designar os

primeiros cinco livros das escrituras hebraicas (Pentateuco). 52 Dan 7:7-24. 53 A crítica teria sido feita na obra intitulada A Verdadeira Doutrina, escrita entre 170–180 AEC, a qual

sobreviveu apenas nas citações feitas por Orígenes.

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Também a profecia relacionada ao Anticristo é demonstrada no livro de Daniel, e está colocada de maneira a fazer um leitor inteligente e sincero admirar as palavras como verdadeiramente divinas e proféticas, pois nelas está relatado o reino vindouro, começando com os tempos de Daniel e continuando até a destruição do mundo. E quem quiser pode lê-las. (CtCel 6:46)

3.2.5 Tertuliano

Tertuliano de Cartago (ca.160–ca.225) foi o primeiro autor cristão a escrever

em latim e sua vida pode ser traçada com relativa precisão por meio de sua obra.

Convertido ao cristianismo por volta de 193, cerca de três dezenas de seus tratados

sobrevivem, entre eles escritos apologéticos e anti-heréticos. Adversus Marcionem é o

mais longo e talvez o mais importante, uma vez que Tertuliano considerava o

marcionismo54 “a mais perigosa das heresia contra a fé” (HEINE, 2010b: 133). Neste

texto Tertuliano utiliza passagens do Livro de Daniel para defender seu ponto de

vista:

E agora, se Cristo for descrito em Daniel por este mesmo título de Filho do Homem? Isso não é suficiente para provar que Ele é o Cristo da profecia? [...] Foi ele que foi visto com seus mártires pelo rei da Babilônia na fornalha: “o quarto, que era como o Filho do Homem”.55 Ele também foi expressamente revelado ao próprio Daniel “como o Filho do Homem, vindo das nuvens do céu”56 como um juiz, como também mostram as Escrituras. (AM 4,10,359)

3.2.6 Hipólito de Roma

Hipólito foi um dos mais enigmáticos autores dos primórdios da Igreja e as

dúvidas em relação à sua identidade são tão numerosas quanto as desconfianças

atribuídas à autoria de sua obra. A tradição o situa, todavia, como nascido em Roma

ao final do século II e morrido martirizado em 235, na Sardenha.

Commentarium in Danielem, um dos mais antigos textos cristãos a chegar

integralmente à atualidade, foi escrito durante as perseguições de Sétimo Severo no

início do séc. III, momento em que houve um aumento das expectativas sobre a 54O marcionismo tinha afinidades com o gnosticismo, entre elas a crença que Jesus era essencialmente

um espírito divino que tinha aparecido aos homens na forma, mas não num corpo físico verdadeiro de um ser humano.

55 Dan 3:25. 56 Dan 7:13.

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aproximação do “final dos tempos”. Hipólito em seu comentário procurou demonstrar

que o final não estava ainda à vista, identificando na visão das quatro bestas descritas

em Dan 7, quatro reinos históricos:

E então, quando uma besta diferente foi mostrada ao abençoado profeta Daniel e foi mostrado que era diferente das demais, é necessário para nós considerar que ele não comenta qualquer das bestas como meros animais, mas como um modelo e uma imagem que retratam os impérios que surgiram no mundo, do mesmo modo que ele retrata as bestas destruindo a humanidade. (ComDan 4.2.1)

Hipólito descreve os primeiros três impérios como Babilônia (a leoa),57 Pérsia

(o urso) e Grécia (o leopardo) e descreve a quarta besta, “o atual Império Romano,

que reina atualmente”, da seguinte maneira:

Mas agora, a poderosa besta não é uma única nação, mas uma de muitas línguas, que congrega nela mesma, homens de muitas raças, os quais são preparados como um exército na linha de batalha e todos são chamados romanos, embora nem todos sejam de um único país. (ComDan 4,8,7)

Mas também deixa claro que o fim virá conforme previsto por Daniel, uma

vez que Roma representa as pernas de ferro da estátua compósita do sonho de

Nabucodonosor (Dan 2:31-33):

Depois deles os gregos dominaram, começando com Alexandre da Macedônia, por trezentos anos, sendo eles o bronze. Depois deles os romanos, que são as pernas de ferro da imagem, sendo fortes como o ferro. (CommDan 2.12.4-5)

Como Irineu antes dele, Hipólito também usou o livro de Daniel para

responder questões relativas à vinda do Anticristo e à segunda vinda de Cristo. Em

seu tratado De Anticristo, obra anterior ao Commentarium, Hipólito mistura

passagens apocalípticas do Antigo e Novo Testamentos:

Quanto à besta vindo da terra, ele quer dizer o reino do Anticristo; e os dois chifres representam ele próprio e o falso profeta depois dele. E

57 Tanto Hipólito quanto Jerônimo trataram erroneamente a primeira besta como sendo uma leoa.

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falando dos “chifres serem como o cordeiro, ele quer dizer que ele fará a si próprio como o Filho de Deus e se apresentará como rei”. E a expressão “ele falou como um dragão” significa que ele é traiçoeiro e não merece confiança. (Anti:49) […] e o mundo inteiro finalmente se aproximando da consumação final, o que resta, a não ser a vinda do céu do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, por quem temos aguardado com esperanças? Que trará a conflagração e o justo julgamento sobre aqueles que se recusaram a nele acreditar. (Anti:64)

3.2.7 Cipriano de Cartago

Cipriano (ca. 200–258) foi bispo de Cartago de 248 até sua morte, período em

que a Igreja foi vítima de seguidas perseguições por parte de sucessivos imperadores

romanos58 e a cidade assolada por surtos de praga. Mesmo vivendo em uma época

extremamente conturbada, deixou copiosa produção literária, em sua maioria

“endereçada a ocasiões específicas, o que permite datá-las com precisão” (HEINE,

2010b: 153).

Em Adversus Judaeos, Cipriano faz menção a vários profetas do AT,

comentando “que os judeus não iriam entender as Sagradas Escrituras, mas essas

seriam inteligíveis ao final dos tempos, depois da vinda de Cristo”:

Em Isaías: “E todas estas palavras serão para você como as palavras de um livro que está selado, o qual se você der a um homem que conhece letras para lê-lo, lhe dirá: Não posso ler, pois está selado. Mas naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e os que estão nas trevas e na névoa, seus olhos o verão”. Também em Jeremias: “No último dos dias sabereis essas coisas”. E em Daniel, além disso: “Protegei as palavras e selai o livro até o momento da consumação, até que muitos aprendem, e o conhecimento seja cumprido, pois quando houver a dispersão, saberão todas estas coisas”. (AdvJud 3,4)

3.2.8 Lactâncio

Lactâncio (ca.240–ca.320) foi conselheiro de Constantino, o Grande, o

primeiro imperador cristão romano (306–337) e tutor de seu filho, Crispo. Entre seus

trabalhos merece destaque De Mortibus Persecutorum,59 escrito pouco depois do fim

58 Décio (249–251), Galo (251–253) e Valeriano (253–259). 59 A Morte dos Perseguidores.

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do período da “grande perseguição” (303–313). Nele, Lactâncio descreve em detalhes

os diferentes modos encontrados por Deus para punir os diversos imperadores que

tentaram dizimar a cristandade. Esse texto, além da precisão histórica, “corresponde

ao primeiro registro feito por um conhecedor das noções cristãs a respeito do

envolvimento de Deus na história da humanidade e na realidade das práticas

políticas” (NICHOLSON, 2010: 261-262).

Datam dessa mesma época as Divinarum Institutionum,60 obra que tinha a

intenção de mostrar às pessoas o mundo sob a perspectiva cristã. Considerado seu

trabalho mais importante, foi escrito em sete volumes, dos quais o último explicava

como ao final dos seis mil anos da história da humanidade, os justos desfrutariam de

um milênio de felicidade. É interessante notar que Lactâncio considerava Diocleciano

(245–311) o imperador que anunciaria o “fim dos tempos”, os quais começariam pela

invasão do “inimigo vindo do norte”:

Então se levantará um poderoso inimigo dos limites extremos da região norte, que depois de ter destruído os três que deverão então estar na posse da Ásia, será admitido à aliança pelos outros, e será constituído príncipe de todos. Ele incomodará o mundo com sua intolerável tirania, misturará coisas divinas e humanas, inventará coisas ímpias e detestáveis para contar, e engendrará novos projetos em seu peito, de modo a estabelecer um governo para si mesmo. Mudará as leis e fará a sua própria; irá contaminar, pilhar, despojar e condenar à morte. E por fim, tendo o seu nome alterado e a sede do governo transferida, resultará a confusão e a perturbação da humanidade. Então, na verdade, um tempo detestável e abominável virá, em que a vida não será agradável para nenhum dos homens. (7 DivInst 16:3-9)

Essa passagem é claramente inspirada em Dan 7, com Diocleciano assumindo

o papel atribuído à quarta besta:

Então ele disse: “A quarta besta será o quarto reino sobre a terra, que será diferente de todos os reinos”. Ela devorará a terra inteira, a pisoteará e a quebrará em pedaços. E os dez chifres deste reino (são) dez reis que surgirão: e outro se levantará depois deles; e este será diferente do primeiro e subjugará três reis. E proferirá insultos contra o Altíssimo e porá à prova os santos do Altíssimo e tentará mudar costumes e leis: e eles serão entregues em suas mãos por um tempo, tempos e metade de um tempo. (Dan 7: 23-25)

60 As Instituições Divinas.

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Diocleciano, de fato, se qualificava para representar esse papel – vindo do

norte, tornou-se Imperador na Ásia, dividiu o poder, mas preservou sua hierarquia,

considerava-se favorito de Júpiter, fez de Nicomedia sua capital e mudou o próprio

nome (DIGESER, 2012: 149-150). 61

3.2.9 Eusébio de Cesareia

Dono de uma grande erudição, Eusébio (ca.265–339), bispo de Cesareia,

comentou praticamente todos os livros bíblicos, mas é mais conhecido por ter sido o

autor da Historia Eclesiástica (ca.324), a primeira narrativa historiográfica da Igreja:

[…] Sou o primeiro a me aventurar em um projeto como este e a seguir o que é de fato um caminho solitário e inexplorado, mas rezo para que possa ter Deus a me guiar […] Quanto aos homens, não consegui encontrar pegadas claras daqueles que passaram por essa trilha antes de mim; apenas traços, os quais, de diferentes maneiras, nos deixaram relatos particulares dos tempos em que viveram”. (HE 1.1.4)

Escreveu também apologias, crônicas e eulogias, notadamente Vita

Constantini,62 que deixou incompleta. Eusébio foi ordenado bispo logo depois da

vitória de Constantino sobre Maxicêncio, data que marca o início da tolerância

religiosa no Império Romano e uma mudança significativa na relação entre a Igreja e

as autoridade imperiais (LOUTH, 2010b: 267). Eusébio interpretou a seu modo a

periodização do tempo em semanas feita por Daniel (Dan 9:24-27) e considerou em

Demonstratio Evangelica63 que as profecias daquele livro já haviam há muito sido

cumpridas (GRABBE, 2001: 241):

Setenta vezes sete semanas foram determinadas sobre seu povo e sua cidade santa para terminar as transgressões e dar um fim aos pecados, para perdoar as iniquidades e trazer a justiça eterna, para cumprir a visão dos profetas e dar o santíssimo ao Messias. (Dan 9:24) Como este está diante de nossos olhos, mesmo agora, é extraordinário que os judeus sejam ousados o suficiente não só para se recusar a ver o que é claro, mas também cegos e obscurecidos em suas mentes para

61 Diocleciano nasceu na Dalmácia e chamava-se Diocles antes de tornar-se imperador. Nicomedia

(atual Izmit, na Turquia) é vizinha a Constantinopla. 62 Vida de Constantino. 63 Demonstração do Evangelho.

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não serem capazes de perceber o claro e evidente cumprimento das Sagradas Escrituras. (DmEvg 8.2.404)

3.2.10 Atanásio Atanásio (296–373), bispo de Alexandria e de quem pouco se sabe a respeito

de sua infância e juventude, é considerado o mais proeminente teólogo do século IV.

Conhecido por sua firme obediência às resoluções do concílio de Niceia (325), sua

produção literária encontra-se preservada predominantemente na forma de cartas. As

mais conhecidas são as chamadas Cartas Festivas, “escritas a cada ano para anunciar

a data da Páscoa e preparar o povo e o clero para sua comemoração” (LOUTH, 2010:

276). Foi numa dessas cartas, referente ao ano 367 e conhecida como Epístola Festiva

39: em relação às divinas Escrituras, que pela primeira vez foram mencionados os

textos que viriam a formar o cânon do Novo Testamento:

Há, então, do Antigo Testamento, vinte e dois livros em número [...], a sua respectiva ordem e nomes sendo da seguinte forma: o primeiro é o Gênesis, depois Êxodo, em seguida, Levítico, depois desse, Números e Deuteronômio. Na sequência desses há Josué, filho de Nun, em seguida, Juízes, então Ruth. [...] Depois desses, há o livro de Salmos, os Provérbios, em seguida Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos. Segue-se Jó, em seguida os Profetas, os doze profetas menores sendo contados como um só livro. Então Isaías, um livro, [...] depois Ezequiel e Daniel, cada um com um livro. Até agora, esses constituem o Antigo Testamento. Novamente, não é tedioso falar dos livros do Novo Testamento. São eles: os quatro Evangelhos, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Após estes, os Atos dos Apóstolos e as sete epístolas chamadas Católicas: de Tiago, uma; de Pedro, duas; de João, três; depois dessas, uma, de Judas. Além disso, há quatorze epístolas de Paulo, o apóstolo, escritas nesta ordem: a primeira, aos romanos; então, duas para os Coríntios; após esses, aos Gálatas; em seguida, aos Efésios; então, aos Filipenses; então, aos Colossenses; depois desses, duas aos Tessalonicenses e aquela aos hebreus; e novamente, duas a Timóteo, uma a Tito e, por último, a Filêmon. E, além disso, o Apocalipse de João. (EF 39: 4-5)

3.2.11 Jerônimo

Jerônimo (347–419), conhecido por ter sido o principal tradutor do Novo

Testamento para o latim, foi também o autor de um catálogo que lista em ordem

cronológica a partir de São Pedro, todos aqueles “que haviam deixado alguma coisa

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escrita a respeito das Escrituras sagradas”. Pouco modesto, Jerônimo dedica o último

capítulo de De Viris Illustribus64 à sua própria obra e nele consta sua autobiografia

(VESSEY, 2010: 318).

Jerônimo não considerava seus “comentários” propriamente um gênero

literário, mas sim um trabalho meticuloso, no qual os temas eram abordados na

mesma sequência e lógica dos originais. Esse tipo de abordagem pode ser melhor

avaliada quando comenta o Livro de Daniel e interpreta suas previsões apocalípticas

“do fim da história” como se referindo primariamente à confrontação do indivíduo

com a própria morte (DALEY, 1991: 101-102).

Jerônimo não só tomava as palavras da Bíblia de forma bastante literal como

também acreditava que o mundo aproximava-se inexoravelmente do fim. Para ele, “a

chegada do Anticristo estaria próxima”, conforme atesta sua resposta às dúvidas

colocadas por Porfírio sobre a historicidade das profecias de Daniel:

Porfírio escreveu seu décimo segundo livro contra as profecias de Daniel, negando que foi composto pela pessoa a quem é atribuído no título, mas sim por algum indivíduo vivendo na Judeia à época de Antíoco, por sobrenome Epifânio. Alegou, além disso, que “Daniel” não previu o futuro do modo como descreveu o passado e o que ele falou até o tempo de Antíoco era verdadeiro, enquanto qualquer coisa que porventura tivesse dito depois daquele ponto era falso, na medida em que ele não poderia conhecer de antemão o futuro [...] Mas na medida em que não é nosso propósito responder às falsas acusações de um adversário [...] gostaria de sublinhar em meu prefácio este fato, que nenhum dos profetas falou tão claramente a respeito de Cristo como este profeta Daniel. Pois ele não só afirmou que Ele viria, uma previsão comum aos outros profetas, como também esclareceu o tempo em que Ele viria. Além disso, ele passou, na ordem, por vários reis no fim, declarou o número real dos anos envolvidos e anunciou, de antemão, os mais claros sinais dos eventos vindouros. E porque Porfírio viu que tudo aquilo tinha sido cumprido e não podia negar que tivesse ocorrido, superou essa prova de precisão histórica refugiando-se nesta desculpa, alegando que o que estava predito sobre o Anticristo ao final do mundo havia sido, na verdade, cumprido no reinado de Antíoco Epifânio, por conta de certas semelhanças com as coisas que tinham acontecido em sua época. Mas mesmo este ataque somente atesta sua precisão: pois foi tão marcante a confiabilidade do que o profeta predisse, que ele não poderia aparecer para os incrédulos como um previsor do futuro, mas sim um narrador de coisas já passadas. (Com.Dan.Pr: 491: 617-619)

64 Sobre Homens Ilustres.

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3.3 A Literatura Siríaca

Pouco se sabe a respeito da disseminação da cristandade entre as populações

dos limites orientais do Império Romano65 que falavam aramaico ou uma de suas

variantes. A literatura mais antiga desses grupos é constituída, em sua quase

totalidade, por textos anônimos cuja data e origem não podem ser estabelecidas com

precisão, fundamentalmente em razão da ausência de fontes históricas confiáveis

anteriores ao séc. IV EC. Assim, a maioria das obras que podem ser identificadas –

com a notável exceção das atribuídas a Bardesanes – têm registro daquela data em

diante, quando os cristãos já se encontravam firmemente estabelecidos na região

(BROCK, 1992: 212-13).

Pertencem a esse século “os escritos que melhor caracterizam a cultura

literária siríaca num período em que ainda estava relativamente não helenizada”: as

obras de Aphrahat e Efrem, autores quase contemporâneos que viveram em lados

opostos à linha divisória entre os limites dos impérios Romano e Sassânida:66 o

primeiro a leste, o segundo a oeste (BROCK, 2010b: 362).

Mas foi somente a partir do séc. V que a literatura da região passou a refletir,

ao lado de uma maior influência do mundo grego, as controvérsias produzidas no

interior da sociedade siríaca pelo Concílio de Calcedônia. Datam do final desse

período as homilias de Jacó de Serugh (451–521) e os trabalhos em prosa de Filoxeno

de Mabbug (ca. 440–523), conhecido pela elaboração de uma versão da Bíblia siríaca

que leva seu nome.

3.3.1 Bardesanes

Educado em Edessa, na corte de Abgar VIII e com bom conhecimento sobre a

cultura grega, Bardesanes (154–222), foi o primeiro autor cristão conhecido a

escrever em siríaco. Bardesanes foi, contudo, considerado um autor herético, uma vez

que sua “visão a respeito de certos tópicos, tais como a criação, não se alinhava com o

que posteriormente emergiu como sendo a ortodoxia cristã” (BROCK, 2010: 162).

Embora escrevesse em versos a maior parte de seus trabalhos, seria por meio

65 Região que corresponde aproximadamente ao sudeste da Turquia moderna e à totalidade dos

territórios dos atuais Estados da Síria, Líbano, Jordânia e Israel. 66 O império Sassânida sucedeu o Parta em 224 EC.

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da prosa de um pequeno texto, o Livro das Leis dos Países,67 que Bardesanes viria a se

tornar um dos responsáveis pela divulgação das ideias filosóficas e teológicas do

mundo grego contemporâneo na cultura siríaca. Nessa obra, uma discussão focada no

conceito do livre arbítrio escrita no estilo dos diálogos platônicos, Bardesanes

responde a diversas questões e objeções colocadas por seus estudantes.

Provavelmente escrito por um de seus discípulos, mas tendo nele próprio seu

personagem principal, o Livro das Leis atribui um conceito completamente diferente

daquele atribuído em Daniel (Dan 7:13-14) à expressão “Filho do Homem”,

considerada por Bardesanes como relativa a um ser humano normal:

Que você possa entender, no entanto, o que é natural e o que é liberdade. Vou explicar melhor isto para você; é da natureza do filho do homem que ele nasça e cresça e se torne adulto e gere filhos e envelheça, enquanto comendo, bebendo e dormindo e acordando; e que ele morra. (BLC: 726)

A leitura das Leis dos Países dá indícios que o processo de helenização da

região possivelmente se fez de duas maneiras: pelo aproveitamento de um gênero

literário grego por excelência (diálogo), dirigido a um pequeno, mas educado grupo

de leitores e de outro de origem local, madrāšê (hino),68 mais adequado às grandes

audiências. Sugere também que a fé cristã já se encontrava estabelecida na área sob a

influência de Edessa à altura do início do séc. III, o que vale dizer que traduções da

maioria dos livros do Antigo e do Novo Testamento para o idioma local69 estariam

disponíveis para a população naquela época (BROCK, 2010: 163).

3.3.2 Afrahat

Conhecido como o “sábio persa”, Afrahat (ca.270–ca.345) escreveu tanto em

poesia quanto em prosa e suas vinte e três Demonstrações encontram-se entre os

textos mais conhecidos de sua produção literária. Escrita em prosa entre 337 e 343, a

primeira metade desse trabalho trata majoritariamente dos diversos aspectos da vida

cotidiana dos cristãos (entre eles o hábito de jejuar e orar), enquanto a segunda 67 Conhecido na versão grega sob o título Diálogo sobre o Destino. 68 A madrāšê corresponde a uma mistura de elementos poéticos derivados da tradição folclórica e das

Escrituras, dispostos em estrofes compostas por versos de diferentes métricas. 69 O conjunto dessas traduções é conhecido como Peshitta, equivalente a “simples”, no idioma siríaco.

Na Peshitta, o AT teria sido traduzido diretamente do hebraico, enquanto o NT teria vindo do grego. Algumas das epístolas católicas (2Pt; 2, 3 Jn, Jude) bem como Rev não constavam do NT até meados do séc. V.

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preocupa-se com as relações destes com o judaísmo, com as práticas nem sempre

éticas de algumas autoridades eclesiásticas (Dem. 14) e com o início de perseguições

religiosas em terras pertencentes ao Império Sassânida (BROCK, 2010b: 362-363).

Algumas de suas reflexões teológicas sobre os acontecimentos políticos da

época estão descritas na Quinta Demonstração: Sobre as Guerras. Neste texto

Afrahat utiliza o Livro de Daniel com o objetivo de transmitir uma mensagem

tranquilizadora para a comunidade cristã que vivia na Pérsia, submetida às crescentes

pressões aplicadas pelo imperador sassânida Shapur II (309–379), aparentemente em

resposta à alegação de Constantino (272–337) de “haver sido enviado por Deus para

salvar o mundo inteiro da opressão e miséria” (BARNES, 1985: 131).

O texto foi provavelmente adaptado por Afrahat para deixar claro, tanto aos

governantes persas quanto à sua audiência cristã, que a interpretação da história,

conforme manifestada em Daniel, poderia ser concretizada ainda em seus próprios

dias (MORRISON, 2007: 56).

Mais uma vez o carneiro levantou-se e foi exaltado, e avançou com seus chifres para o oeste, e para o norte, e para o sul, e humilhou muitas feras. E elas não podiam fazer frente a ele, até que o bode veio do oeste e feriu o carneiro, e lhe quebrou os chifres e humilhou o carneiro completamente. Mas o carneiro era o rei da Média e da Pérsia, isto é, Dario, e o bode era Alexandre, o filho de Filipe, o Macedônio. (Dem V: 5). Mas vós, que são exaltados, não deixais que o orgulho do seus corações os engane, nem diga: vou contra a rica terra e contra a poderosa besta. Pois aquela besta não vai ser morta pelo carneiro, já que seus chifres estão quebrados, pois o bode quebrou os chifres do carneiro.70 Agora, o bode tornou-se a poderosa besta. Pois, quando os filhos de Jafé tinham o reino, eles mataram Dario, rei da Pérsia. Agora, a quarta besta engoliu a terceira. E a terceira era composta pelos filhos de Jafé e a quarta composta pelos filhos de Shem, pois eles são os filhos de Esaú. Porque, quando Daniel teve a visão das quatro bestas, ele viu primeiro os filhos de Ham, os descendentes de Nimrod, que são os babilônios, em segundo lugar, os persas e medos, que são os filhos de Jafé, e em terceiro lugar, os gregos, os irmãos dos medos, e em quarto lugar, os filhos de Shem, que são os filhos de Esaú. Pois uma união foi formada entre os filhos de Jafé e os filhos de Shem. Então, o governo foi tirado os filhos de Jafé, o mais jovem, e foi dada a Shem, o mais velho, e até hoje ele continua e continuará para sempre. Mas quando o tempo da consumação do domínio dos filhos de Shem vier, o

70 Cf. Dan 7:7.

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Senhor, que veio dos filhos de Judá, receberá o reino, quando vier pela segunda vez. (Dem V: 10) E ele mostrou que nos dias daqueles reis, que se levantarão nos reinos, o Deus do céu estabelecerá um reino que jamais será destruído e durará para sempre.71 Este é o Reino do Rei Messias, o qual é aquele que fará com que o quarto reino passe. (Dem V: 14)

3.3.3 Efrem, o Sírio

Efrem (ca.306–ca.373), vivia em Nisibis, nas vizinhanças da fronteira oriental

do império Romano, a qual sofria constante mutação em sua época 72. Autor de

copiosa produção literária, sua fama devia-se, em grande parte, ao uso da poesia em

sua obras, principalmente na forma de madrāšê, estilo poético já utilizada por

Bardesanes no passado e com igual sucesso, para popularizar seus ensinamentos

(BROCK, 2010b: 364).

Efrem também possui uma extensa obra em prosa, principalmente tratados

direcionados a refutar os ensinamentos de pensadores gnósticos – Marcião, Mani e até

mesmo Bardesanes – e comentários sobre livros bíblicos, tanto do Antigo (Genesis e

Êxodo) como do Novo Testamento (Atos e Epístolas Paulinas), esses últimos

preservados apenas em uma tradução para o armênio (BROCK, 2010b: 364-365).

Efrem combina o Livro de Daniel com a sua própria visão da Bíblia e faz

inúmeras referências a Daniel em seus Hinos contra Juliano, uma pequena coleção de

discursos poéticos descrevendo as ações e eventos que levaram à morte o imperador

Juliano na Pérsia, em 363. Neles, Efrem considerava o imperador o “modelo de um

homem orgulhoso” e sua morte, perto da Babilônia, nada mais seria que a

confirmação do paralelo existente entre ele e Nabucodonosor (MCVEY, 2002: 258).

A maneira como relata a visão em Dan 8 e seus comentários sobre a vontade

de Juliano em se tornar um novo Alexandre ao dar início à sua campanha contra a

Pérsia, são encontrados nas estrofes finais do Hino 1 (GRIFFITH, 1987: 251):

O rei, o rei de Babilônia, voltou para o campo. Ele o deixou louco, para lembrar a si mesmo; Ele o enlouqueceu, para voltar aos seus sentidos.

71 Cf. Dan 2:44. 72 O Império Sassânida, sob Shapour II, esteve em guerra contra o Romano entre 337–350 e 358–363

EC. Efrem foi morador de Nisibis (cercada pelos persas em 338, 346 e 350), mudando-se para Edessa em 363, quando aquela foi entregue definitivamente aos persas por Joviniano.

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Ele regozijou Deus, e alegrou Daniel. O rei, o rei da Grécia, foi considerado culpado. Ele havia enfurecido Deus, e desacreditado Daniel. E, portanto, em Babilônia foi julgado e condenado. (CntJul 1:18-20)

3.3.4 Jacó de Serugh

A partir do final do final do séc. V a agenda teológica e literária da cristandade

de língua grega passou a influenciar de forma crescente a siríaca, a ponto de alterar a

tradição exegética baseada na segunda (BROCK, 2010b: 269). Essa influência está

presente na obra de Jacó de Serugh, composta em grande parte por homilias em forma

de versos,73 uma “adaptação tipicamente siríaca da narrativa poética” (BROCK,

2010b: 369). Conhecidas como memrê, uma sequência de versos do mesmo

comprimento que rimam aos pares, frequentemente descreviam temas e passagens

bíblicas, embora também se prestassem à liturgia e à hagiografia.

Jacó, que viveu cerca de 150 anos depois de Efrem, fez uso do Livro de Daniel

de uma forma mais teológica do que este e enfatizando mais os valores da oração e da

simplicidade da vida sobre a preparação para a guerra, concentrou-se mais no

ascetismo do que na fidelidade à fé judaica do profeta (SALVESEN, 2009: 7-8).

Um grande número de suas homilias foi preservado, muitas das quais (cerca

de 250) foram editadas e publicadas. O trecho abaixo se refere a Dan 4:9:

Daniel postou-se diante do rei para ser questionado E o rei começou a falar com ele com grande amor: “Tu, ó Daniel, és o chefe dos videntes e sábios, tu tens comando sobre os mistérios, tu quem és capaz de comandar as coisas escondidas. Eu te conheço, não há segredo que se esconda de ti, e nenhum pedido escapa às suas interpretações.74 O Espírito de Deus está verdadeiramente dentro de ti, homem poderoso, e todas as coisas escondidas e ocultas são reveladas a ti. Venha, interprete para mim o sonho que eu claramente vi!” (cf. HENZE, 1999: 253)

3.4 Os apocalipses siríacos de Daniel

Apenas dois apocalipses diretamente relacionados a Daniel, compostos 73 A homilia pode ser definida como um discurso religioso com intenção mais edificante que

doutrinária. 74 “Ó Belteshazzar, mestre dos magos, porque eu sei que o espírito dos deuses santos [está] em ti, e

nenhum mistério é escondido de ti, esta é a visão do meu sonho que tive: diz-me sua interpretação”. (Dan 4:9)

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originalmente em siríaco, são conhecidos e ambos foram editados recentemente.

O Jovem Daniel, depositado na Biblioteca Britânica (WRIGHT, 1870: 239-

241),75 foi traduzido para o alemão por Hans Schmoldt e incluído em sua tese de

doutoramento (SCHMOLDT, 1972: 64-118), mas nunca foi publicado. Já o

manuscrito do Apocalipse Siríaco de Daniel, pertencente ao arquivo da Biblioteca

Houghton (Universidade de Harvard), foi traduzido, editado e publicado em esperanto

(SLABCZYK, 2000) e em inglês (HENZE, 2001).

3.4.1 O Jovem Daniel

De acordo com Schmoldt, o Jovem Daniel é uma obra compósita, contendo

uma seção apocalíptica judaica mais antiga (caps. 3-5 e 7-8) e uma segunda,

majoritariamente cristã (caps. 1-2 e parte do cap. 6). A seção judaica parece ter sido

escrita originalmente em aramaico e sua datação é imprecisa, mas Schmoldt a situa

entre a destruição do Segundo Templo (70 CE) e o final do séc. II. A parte cristã teria

sido acrescentada não muito depois (SCHMOLDT, 1972: 95).

Baseados nas expectativas escatológicas encontradas no texto, a maioria dos

pesquisadores (com a notável exceção de Henze), concorda com o ponto de vista de

Schmoldt e endossa a ideia que sua seção mais antiga data, de fato, “do mundo antigo,

e não do medieval”:

Schmoldt identifica a referência ao bode em 5.7 (cf. Dan 8:5, 8 e 21) com a era dos “bons imperadores” de Roma, durante o período de Vespasiano [...] a Cômodo, ao final do séc. II. Garcia Martinez não tem dificuldades em afirmar que ‘as obras judaicas nas quais [o Jovem Daniel] é baseado coincidem perfeitamente com os escritos apocalípticos dos primeiros séculos’, enquanto em uma breve nota, oferecida sem suporte, K. Berger data o texto [como sendo] do quarto século. Sebastian Brock é mais cauteloso e considera o Jovem Daniel de data completamente desconhecida. (DITOMMASO, 2005: 112)

O Jovem Daniel foi composto quase que integralmente em versos. Os caps. 1 e

2 são precedidos por uma curta introdução em prosa, focadas nas ações do “Filho do

Homem”. A seção escatológica, também começa em prosa, com a revelação de uma

visão feita a Daniel pelo Espírito Santo (cap. 3), revelando a Daniel quais serão os

75 Esse manuscrito data aparentemente do séc. XII e contém o único texto conhecido do Jovem Daniel.

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acontecimentos dos “últimos dias”.76 Depois de uma série de guerras e calamidades,

surgirá um “rei vindo do oriente” que se aliará aos exércitos dos demais pontos

cardeais para enfrentar os exércitos celestiais (cap. 4). O cap. 5 revela um futuro rei e

expectativa que o “bode e o touro”77 serão destruídos, após o que têm início diversas

catástrofes e calamidades, seguido por um período de calma (cap. 6). A descrição dos

sinais de que “o fim está próximo” (cap. 7) continuam até o aparecimento do

“Pseudo-Messias”, o Anticristo que virá da casa de Levi, cuja fisionomia é descrita

em detalhes (cap. 8). O manuscrito termina neste ponto, de forma abrupta (OEGEMA,

2011: 168).

3.4.2 O Apocalipse Siríaco de Daniel

O texto do Apocalipse Siríaco de Daniel também pode ser dividido em duas

seções distintas: uma “narrativa histórica” (caps. 1-12), seguida por uma sequência de

visões apocalípticas (caps. 14-40), que segue de perto a estrutura do livro canônico. A

conexão entre as duas partes, representada pelo cap. 13, se faz por meio da pessoa do

profeta Daniel.

A narrativa tem início com Daniel na corte de Nabucodonosor, descrevendo os

tesouros tomados do Templo em Jerusalém e levados para a Babilônia e sua fuga para

a Pérsia após a vitória de Senaqueribe sobre Belteshazzar, filho de Nabucodonosor

(caps. 1-5). Uma vez na Pérsia, Daniel relata a existência desses tesouros a Ciro,

conclamando-o a marchar contra a Babilônia. Ciro aceita a sugestão e após derrotar

Senaqueribe, é instruído por Deus a depositar os tesouros no monte Zilai.78 Ciro

obedece, mas mantém o trono de Salomão (caps. 6-8). Gaumata, o mago, assassina

Ciro e usurpa o trono, forçando Daniel a fugir para as montanhas de Elam. Gaumata,

por sua vez, é assassinado após ficar seis meses no poder e Dario torna-se o novo rei

(cap. 9). Daniel é convocado por Dario, que pretende forçá-lo a revelar o local onde

estariam escondidos os tesouros do Templo, mas antes que Daniel o faça o rei é

cegado por um anjo, sob as ordens de Deus. Daniel o leva à fonte de Siloé, em

Jerusalém, onde o rei tem sua cegueira curada. Após orarem ao Deus dos judeus,

76 “Como eu, Daniel, estava na Pérsia e Elam nos anos do rei Dario, o Espírito Santo revelou-me o que

acontecerá nos tempos futuros”. (Cf. Jovem 3:1) 77 Possíveis referências a Alexandre e ao Império Romano. 78 O nome é uma clara alusão ao monte Sinai e provavelmente representa um artifício para aproximar

DanSyr do texto bíblico (Ex 19-34), uma vez que os autores apocalípticos se consideravam em pé de igualdades em relação às autoridades religiosas.

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ambos retornam à Pérsia (caps. 10-13).

De volta à corte, grandes visões e profecias prodigiosas são reveladas a Daniel

e estes mistérios constituem a segunda parte do apocalipse propriamente dito (caps.

14-40).79 Essa parte tem início com “os povos do norte” se revoltando e um ciclo de

desastres naturais se abatendo sobre a Terra. Segue-se um curto período de paz,

seguido por outra sequência de calamidades (caps. 14-20). O advento do Anticristo é

acompanhado pela abertura dos portões do norte e a liberação da multidão dos filhos

de Gog e Magog (caps. 21-22). O Anticristo, descrito com riqueza de detalhes, é

morto no mar pelo “anjo da Reconciliação” (caps. 23-24) e instala-se na terra um

período de medo que é sucedido por outro de placidez, após o que virá o final dos

tempos (cap. 25). Os céus se abrem e Deus aparece (caps. 26-28), dando início aos

preparativos para a segunda vinda de Cristo (caps. 29-31), a construção da Nova

Jerusalém (caps. 32-33), a ressurreição dos mortos (caps. 34-36) e o encontro de todas

as nações em Sião (cap. 37). Então, após o julgamento conduzido pelo Messias (cap.

38), os impuros são excluídos, os justos admitidos e tem lugar, por fim, o banquete da

paz (caps. 39-40).

Evidências internas, como as menções aos “portões do norte” e ao Anticristo80

fizeram Henze considerar como provável terminus a quo para SyrDan o final da

terceira década do séc. VII, época de composição da Lenda Siríaca de Alexandre.81 As

ponderações de Henze são reforçadas pela opinião de Sebastian Brock, que considera

SyrDan um dos raros textos, senão o único além do Livro dos Presentes,82 a utilizar a

expressão “despojado de coração” (siríaco šmyṭ’ lb’) para descrever o Anticristo

(BROCK, 2013:1). Esta qualificação é encontrada na segunda parte desse livro,

intitulada Enigmas do Nosso Senhor e de Paulo, e sobre o seu significado a respeito

dos últimos tempos. E o homem do pecado, o filho da perdição (LANE, 2004: 160):

E não há necessidade de ninguém para dizer “onde está o Messias”? Porque eu estou revelado em minha glória e no esplendor dos anjos, para guiá-lo. Portanto, assim também sugeriu o abençoado Paulo ao final, sobre a vinda do “despojado de coração”. O mistério da maldade

79 Não há referências à pessoa de Daniel nesta parte do texto. 80A abertura dos “portões do Norte”, dando início ao final dos tempos e liberando Gog, Magog, o

Anticristo e seus seguidores para possuírem a terra, é um tema comum nos apocalipses siríacos bizantinos.

81A importância da Lenda é discutida no cap. 2. 82 Também conhecido como o Livro dos Fragmentos ou o Livro dos Séculos, foi escrito por Šubhalmaran, bispo de Serlok (atual Kirkuk, na região noroeste do Iraque moderno) no início do séc. VII EC.

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começará a ter efeito somente se o que agora o retém [...] for retirado de seu meio. (BkGft 2: 2)

Já a falta de influência significativa do apocalipse de Pseudo-Metódio sobre o

texto de SyrDan foi o fator preponderante para que Henze colocasse a data de

composição do primeiro (690–691) como o terminus ante quem do segundo (HENZE,

2001: 14-15). Slabczyk, por sua vez, não data o texto, mas argumenta que seu autor

“parece ser grego, pois seu conhecimento de Jerusalém é puramente teórico e não

parece basear-se em qualquer conhecimento direto”. As múltiplas referências a “ilhas

e seus habitantes”, associadas à presença de “vulcões, altas montanhas e fortificações

militares” levaram Slabczyk a sugerir que o texto teria sido escrito por um grego

bizantino, morador de uma das inúmeras ilhas da bacia do Mediterrâneo oriental

(SLABCZYK, 2000: 10-12).

Henze, em relação à proveniência, acredita que os últimos capítulos de

SyrDan (a partir da descrição da Jerusalém celeste, no cap. 33) acompanham de perto

a visão escatológica do livro do Apocalipse e dele sejam dependentes. A introdução

tardia no cânone siríaco 83 e a grande influência desse texto sobre os relatos

apocalípticos bizantinos fizeram com que Henze afastasse a possibilidade de SyrDan

ter surgido no leste da Síria, onde predominava a visão nestoriana 84 da natureza de

Cristo e propusesse, como possibilidade mais provável, sua origem calcedônia ou

melquita.85

Essa justificativa, aceita sem maiores questionamentos por Lorenzo

DiTommaso (DITOMMASO, 2005: 116), é criticada por Sebastian Brock, que

embora concorde ser improvável uma procedência siríaca oriental para DanSyr,

considera “estar longe de ser uma certeza seu autor ter conhecido ou feito uso do

Apocalipse” naquele texto. Brock discorda da afirmativa de Henze quanto ao uso

desse livro como fonte das citações bíblicas no Apocalipse Siríaco de Daniel, uma

vez que “em todas as passagens onde aquele é citado, a probabilidade da inspiração

ter sido encontrada em outra passagem bíblica é igual ou maior”. Uma dessas 83 A Peshitta contém todos os livros do Novo Testamento, à exceção das Epístolas Católicas menores

(2 Pedro; 2 e 3 João; Judas) e o Apocalipse. Este último somente foi traduzido e tornou-se disponível no início do séc. VI e mesmo nos dias de hoje esses textos não são lidos nas igrejas Siríacas.

84 Nestório, patriarca de Constantinopla (428–431), sustentava a separação entre a natureza divina e humana de Cristo. O movimento foi considerado herético pelos concílios de Éfeso (431) e Calcedônia (451), e Nestório e seus seguidores eventualmente forçados a se transferir para a Pérsia.

85 Calcedônia era uma cidade portuária localizada na entrada do estreito de Bósforo, na Bitínia, e está hoje incorporada a Istanbul. O temo “melquita”, do siríaco mlk’ (“rei”) referia-se originalmente àqueles que apoiavam as posições tomadas pelos imperadores de Bizâncio em relação aos concílios.

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passagens pode ser encontrada, por exemplo, no cap. 39 de SyrDan, onde a referência

a Rev. indicada por Henze é muito menos precisa que a encontrada em Isaías

(BROCK, 2005: 17):

E os não circuncidados e impuros nela [Nova Jerusalém] não entrarão e seus moradores nela viverão com alegria. (SyrDan 39: 18) Mas nada imundo nela entrará, nem alguém que pratique impureza ou falsidade; mas aqueles que estão registrados no livro da vida do cordeiro. (Rev 21:27) Coloque tuas roupas de gala, ó Jerusalém, porque a partir de agora não mais entrarão em ti o não circuncisado e o impuro. (Isa 52:1)

Alexander Golitzin também discorda da sugestão de Henze para uma possível

origem melquita de SyrDan, por considerar ser altamente improvável um “apocalipse

histórico demonstrar pouco ou nenhum interesse em relação aos eventos que estavam

se desenvolvendo do lado de fora da residência de seu autor”, acrescentando que essa

falta de interesse seria ainda mais surpreendente “se fosse considerado como

verdadeiro o terminus ante quem sugerido por Henze para aquele apocalipse”, com o

qual, aliás, Golitzin concorda. Golitzin é o único a sugerir um autor e um público

específico para o Apocalipse Siríaco de Daniel: “um monge parafraseando o livro

canônico de Daniel, de modo a lembrar a seus colegas de claustro o significado de

seus votos, o apego à vocação e a natureza e perigos da experiência espiritual”

(GOLITZIN, 2011: 67-68). Essa hipótese poderia explicar a falta de referência a

eventos históricos em SyrDan, mas não explicaria os temas e vocabulário do texto,

que indicam um expressivo substrato judaico (SALVESEN, 2013: 1).

Henze encontra menos oposição quando pondera que semelhanças entre o

Apocalipse Siríaco de Daniel, como as observadas no capítulo 40 (a segunda vinda de

Cristo, a Jerusalém celestial e a reunião das tribos de Judá) e os apocalipses judaicos

do período do Segundo Templo, como 4 Ezra e 2 Baruch (a vinda do Messias, a Sião

celestial e a redenção escatológica de Israel) sugerem “que seu autor estava

familiarizado com a apocalíptica judaica e incorporou uma quantidade de material

importante daquela época em seu próprio trabalho” (HENZE, 2001: 17-22).

Ainda que tal afirmativa não levante maiores objeções, é com o Jovem Daniel

que SyrDan parece estar explicitamente associado desde as suas primeiras linhas

(HENZE, 2001: 9). Slabczyk, por exemplo, mesmo sem demonstrar evidências que a

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suportem, concorda com essa opinião, uma vez que afirma explicitamente não passar

SyrDan de “uma recensão mais completa” do Jovem Daniel:

Esta versão siríaca do apocalipse de Daniel, a qual representa uma recensão mais completa de um texto na Biblioteca Britânica, Add. 18715, editada numa dissertação não publicada por H. Schmoldt, é uma obra que tem sido até aqui desconhecida dos estudiosos ocidentais e constitui um novo testemunho, importante e interessante, da literatura apocalíptica associada ao profeta Daniel. (SLABCZYK, 2000: 12)

Henze, contudo, sugere que os paralelos entre os dois indicam apenas que

“ambos derivam de um mesmo milieu e foram, portanto, compostos aproximadamente

na mesma época” (HENZE, 2001: 16). Já DiTommaso considera esses paralelos

difíceis de serem justificados e conclui ser a opinião de Henze por demais ousada:

Minha impressão é que estes dois apócrifos siríacos de Daniel são fundamentalmente independentes e que todos os pontos de contato são resultado de tradições compartilhadas [...] Uma data relacionada ao Segundo Templo para partes ou mesmo para a totalidade de ambos parece um exagero, embora admito ser necessário se pesquisar mais sobre o tema da transmissão de temas escatológicos [da época] do Segundo Templo desde o final de Antiguidade ao período medieval. Se Henze estiver correto [em relação à] data da redação final do texto, talvez as primeiras seções do Apocalipse Siríaco de Daniel, o Profeta, datem do quinto ou do sexto séculos. Mas isso é especulativo. (DITOMASO, 2005: 122-123)

Independentemente da opinião de Slabczyk e DiTommaso, os comentários de

Henze em relação a ambos os apocalipses siríacos parecem ter amplo apoio no mundo

acadêmico. Pablo Ubierna, por exemplo, comentando sobre o lugar do Império

Romano na apocalíptica siríaca e bizantina do séc. VII, praticamente não os

questiona. Seu texto reproduz sem modificações o raciocínio utilizado por Henze para

a datação de DanSyr. Nesta mesma linha segue Muriel Debié, em sua revisão dos

apocalipses apócrifos siríacos, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento:

O texto tem alguns paralelos com o único outro apocalipse siríaco de Daniel conhecido sob o nome que lhe deu seu primeiro editor, Hans Schmoldt, O Jovem Daniel sobre o nosso Senhor e o Fim. No entanto, a parte escatológica do Apocalipse Siríaco de Daniel é mais desenvolvida, o que também nos permite datar o texto. Devido à ausência de referências externas, referências internas são usadas para determinar a data do texto. Uma dessas referências é derivada da

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menção, no capítulo 22, da abertura dos “portões do Norte”, o que vai permitir a invasão dos "povos do Norte", cuja revolta já havia sido anunciada no capítulo 14. Na verdade, esses “portões do Norte” correspondem a uma imagem literária que está na Lenda Siríaca de Alexandre [...] escrita por volta de 629-630, no norte da Mesopotâmia e isso marca o terminus a quo para a redação do Apocalipse Siríaco de Daniel. (UBIERNA, 2008: 25-27) O texto d’O jovem Daniel e o Apocalipse Siríaco de Daniel apresentam paralelos literários para a descrição do Anticristo e o fazem, tanto um quanto o outro, descender da casa de Levi.86 É possível que o segundo tenha utilizado o primeiro, mas é mais provável que ambos tenham se baseado numa descrição que já haviam utilizado independentemente, pois as semelhanças textuais acabam aí. A ausência de alusões históricas claras torna difícil datar o texto. A referência interna à abertura dos “portões do Norte” e à invasão dos povos de Gog e Magog [até então] trancada atrás [deles] pode oferecer uma datação posterior à elaboração desse tema na lenda de Alexandre, composta em 629-30. (DEBIÉ, 2005: 132-133)

Brock, com uma abordagem mais cuidadosa e fundamentada em bases mais

sólidas, concorda que não só existem claros paralelos entre O jovem Daniel e o

Apocalipse Siríaco de Daniel, como muitos deles foram “infelizmente

desconsiderados”. Brock preocupa-se particularmente com a omissão de Henze em

informar que “do capítulo 4:19-24, e do capítulo 7 até o final abrupto do Jovem

Daniel”, existe uma “correspondência muito próxima com SyrDan 14:6 e 20-22”:

E os povos do norte se revoltarão: haverá muita comoção e um grande terremoto sobre a face da terra. E serão estes os sinais: como a voz dos anjos e como o tumulto dos exércitos celestiais eles serão ouvidos. Haverá um grande tumulto no céu até que as altas montanhas se quebrem e se nivelem às planícies. (SyrDan 14) Nesse momento os povos do norte se revoltarão e haverá um grande terremoto sobre a face da terra. E haverá um som como as vozes dos anjos e como o tumulto dos exércitos celestiais eles serão ouvidos. Então haverá um grande tumulto no céu até que as altas montanhas sejam rebaixadas no meio dos campos. (Jovem 4:19-22)

Atribuindo “à perda de pelo menos um fólio neste ponto no manuscrito”, Brock considera também que “uma vez que cada um desses textos tem material adicional que não está presente no outro [...], ambos devem estar fazendo uso de um 86 Na tradição judaica, os descendentes da tribo de Levi foram os únicos israelitas a não receber terras

em Canaã, pois “não terão herança no meio de seus irmãos: o Senhor [é] a sua herança, como ele disse a eles”. (Deut 18:2)

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mesmo documento anterior, tornando assim a última parte do Jovem Daniel uma testemunha indireta importante para o texto do Apocalipse Siríaco de Daniel” (BROCK, 2006: 9-10).

Suas conclusões são, portanto, basicamente as mesmas alcançadas por Henze

e reforçam a possibilidade de uma origem comum para os dois documentos.

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CAPÍTULO 2

OS ADVERSÁRIOS ESCATOLÓGICOS

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A associação de Gog e Magog com o tema dos “portões” na Lenda Siríaca de

Alexandre foi, como visto, o principal argumento utilizado por Henze para colocar o

terminus a quo para o Apocalipse Siríaco de Daniel entre os anos de 629 e 630,

provável data de composição daquele texto (HENZE, 2001:14). Seus nomes aparecem

na seção escatológica do apocalipse comandando a revolta dos povos enclausurados

por Alexandre atrás dos “portões do norte” (cap. 14), acontecimento que dá início ao

advento do Anticristo (cap. 21) e à liberação do “exército de Mebagbel e à multidão

de agogitas e magogitas”.

As origens dos nomes Gog e Magog não são conhecidas, e as várias

interpretações históricas e etimológicas oferecidas até agora “não têm sido capazes de

resistir a uma crítica mais severa” (LUST, 1995: 373). Tanto nos escritos judaicos

quanto nos cristãos, esses nomes representam os poderes do mal e neles são

mencionados diversas vezes, geralmente associados à tradição de Ezequiel e João. No

entanto, a literatura ligada a esses nomes é muito mais ampla e inclui uma série de

textos que datam de tempos e círculos bastante diferenciados (BØE, 2001: 45).

A figura do Anticristo, por sua vez, é um conceito baseado na crença da

aparição de um ser capaz de concentrar a totalidade do mal que antecederia o retorno

de Cristo à Terra. Suas origens, contudo, estariam nas crenças apocalípticas e

messiânicas do judaísmo do período do Segundo Templo, repletas de alusões ao

sofrimento do povo de Israel no passado e às perseguições que ainda estariam por

acontecer, no futuro. Essas especulações, que atribuíam um novo significado à

história, estavam também presentes na matriz da Cristandade primitiva e não foi

difícil para a nova fé considerar o Messias das esperanças apocalípticas judaicas como

tendo se materializado em Cristo, transformando de modo análogo os adversários

messiânicos nas bases da lenda do Anticristo (McGINN, 1996: 10).

1. Gog e Magog

1.1 Gog e Magog no Antigo Testamento

Os termos bíblicos de Gog e Magog, nas tradições judaica e cristã primitiva,

são nomes que podem se referir a indivíduos, povos e até mesmo a uma região

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geográfica, como descrito na Geografia (11.14.4) por Estrabo.87 Magog aparece pela

primeira vez na “tábua das nações” do Gênesis, apontado como um dos netos de Noé

e listado como o segundo dos descendentes de seu filho mais novo, Jafé. Como tal,

Magog é também citado em Crônicas:

Estas são, agora, as gerações dos filhos de Noé, Sem, Cam e Jafé, aos quais nasceram filhos após o dilúvio. Os filhos de Jafé: Gomer, e Magog, e Madai, e Javã e Tubal, e Mosoc, e Tiras [...] E foi destes que as pessoas foram divididas pelas ilhas e terras firmes dos gentios, cada uma segundo sua língua, sua tribo e sua nação. (Gen 10: 1-2) Os filhos de Jafé: Gomer, Magog, Madai, Javã, Tubal, Mosoc e Tiras. E os filhos de Gomer: Asquenaz, Rifat, Togarmah. E os filhos de Javã: Elisa, Társis, Cetim e Rodanim. (1Chr 1: 1-7)

Embora não haja menção a Gog no Gen, seu nome também aparece na árvore

genealógica de 1Chr. Esta lista é mais longa do que a encontrada na “tábua das

nações” e Gog é mencionado entre os descendentes de Rúben:

Os filhos de Rúben, o primogênito de Israel, foram: Hanoch, Pallu, Hezron e Carmi. Os filhos de Joel88: Shemaiah, seu filho; Gog, seu filho; Shimei, seu filho; Micah, seu filho; Uriah, seu filho; Balah, seu filho [...] (1Chr 5: 1-4).

No texto bíblico, esses nomes representam mais a distribuição geográfica das

tribos de Israel do que referências apocalípticas. Contudo, os israelitas já haviam sido

alertados no livro de Jeremias sobre o perigo que um inimigo vindo do norte traria à

“terra prometida”. Eventos semelhantes haviam também sido descritos por outros

profetas, maiores ou menores, que viveram, em sua maioria, o exílio na Babilônia

(587-538 AEC), “provável pano de fundo para as visões apocalípticas e escatológicas

relatadas por eles”. (VAN DONZEL, 2010: 5)

Então o Senhor me disse: do norte virá o mal sobre todos os habitantes da terra. (Jer 1:14) Eis que um povo virá do norte e uma grande nação se levantará dos confins da terra. (Jer 6:22)

87 Estrabo coloca esse local na Armênia, perto da área atribuída, pelos relatos bíblicos, a Jafé e seus

descendentes: 88 O cronista não explica a relação entre Rúben e Joel.

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Mas afastarei para longe de vós o exército do norte, e o levarei para uma terra seca e deserta, com sua vanguarda na direção do último mar e sua retaguarda voltada para o mais distante [...]. (Joel 2:20) Eis que o dia do Senhor está chegando [...] Porque eu agruparei todas as nações contra Jerusalém para a batalha; e a cidade será tomada, e as casas saqueadas e as mulheres forçadas [...]. (Zech 14:1-2)

Foram, no entanto, as visões de Ezequiel que serviram como base para todas

as descrições judaicas e cristãs posteriores de Gog e Magog como agentes

escatológicos. Esse texto foi o primeiro a associar Gog a Magog e descreve a invasão

e destruição final de Israel pelos exércitos do norte, comandados por Gog, mas sob as

ordens de Deus. É também nessa visão que a ligação entre Gog e Magog e os “povos

do norte” é estabelecida, mas aqui Magog é representado como um lugar e não como

um indivíduo:

E a palavra do Senhor veio até mim, dizendo, Filho do homem, volte sua face contra Gog, da terra de Magog, príncipe e senhor de Mosoc e Tubal89 e profetize contra ele, e diga: Assim disse o Senhor Deus: Eis que estou contra ti, ó Gog, príncipe e senhor de Mosoc e Tubal. Eu o farei voltar, colocarei rédeas em suas mandíbulas, e o trarei, com todo o seu exército, cavalos e cavaleiros, todos eles vestidos com todos os tipos de armadura, até mesmo uma grande companhia, com escudos e proteções, todos os deles manejando espadas: Pérsia, Etiópia, Líbia com eles, todos com escudo e capacete. Gomer e todas as suas tropas, a tribo de Togarmah, no extremo norte, com todas as suas tropas e muitos outros povos contigo. Esteja preparado, e prepare-se, tu e toda a tua companhia que se reuniu a ti, para guardá-los [...]. Portanto, Filho do homem, profetize e diga a Gog: Assim disse o Senhor Deus, naquele dia, quando o meu povo de Israel vivia em segurança, não o saberás tu? E tu virás do teu lugar, no extremo norte, tu e muitos povos contigo, todos eles montados a cavalo, uma grande companhia e um exército poderoso; e virás contra o meu povo de Israel, como uma nuvem para cobrir a terra; isto será nos últimos dias [...]. (Ezek 38:1:15)

1.2 Gog e Magog na Septuaginta

89 Mosoc e Tubal são também tratados como lugares em Ezek 27:13; 39:6 e em Isa 66:19, embora tanto

quanto Magog, estejam relacionados como filhos de Jafé em Gen10:1-2. Mosoc e Tubal corresponderiam ao território da Frígia e Cilícia, respectivamente.

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A LXX90 é geralmente aceita como a forma em que a maioria das igrejas

cristãs parece ter vindo a conhecer e usar o Antigo Testamento91 e apresenta algumas

referências adicionais a Gog e Magog quando comparada ao texto da bíblia hebraica.

Embora não haja incongruências de vulto entre eles em relação ao livro do Genesis ou

a 1Crônicas, algumas pequenas diferenças podem ser observadas. Em Números 24:7,

por exemplo, Agag é substituído por Gog; na versão do Codex Vaticanus da LXX,

Gog substitui Og em Deuteronômio 3:1-13; 4:47. Em Amos 7:1, Gog é mencionado

na LXX, mas omitido na BH, na passagem equivalente (BØE, 2001: 50-61):

LXX: Um homem virá de seus filhos e terá autoridade sobre muitas nações. E o seu reino será mais exaltado que o de Gog e será aumentado. (Num 24:7) BH: Água fluirá de seus baldes, e sua semente [estará] em muitas águas, e seu rei será maior que Agag, e seu reino será exaltado. (Num 24:7) LXX: Então voltamos e fomos pelo caminho que leva a Basan; e Og, o rei de Basan veio ao nosso encontro, ele e todo o seu povo, para lutar em Edrai. (Deut 3:1) cod.Vat.: Então voltamos e fomos pelo caminho que leva a Basan; e Gog, o rei de Basan veio ao nosso encontro, ele e todo o seu povo, para lutar em Edrai. (Deut 3:1) LXX: E eles herdaram sua terra e a terra de Og, rei de Basan, dois reis dos amoritas, que estavam além do Jordão, na direção leste. (Deut 4:47) cod.Vat.: E eles herdaram sua terra e a terra de Gog, rei de Basan, dois reis dos amoritas, que estavam além do Jordão, na direção leste. (Deut 4:47) LXX: Assim o Senhor Deus me mostrou: E, veja! Uma nuvem de gafanhotos vindo do leste, e veja! Uma lagarta é Gog, o rei. (Amos 7:1) BH: Assim o Senhor Deus me mostrou: E, veja! Uma praga de gafanhotos aparecendo no momento em que a colheita tardia começava, e veja! Era a colheita tardia, após a colheita do rei. (Amos 7:1)

90 A Septuaginta representa a tradução, feita em torno do final do séc.II AEC, da Bíblia hebraica para o

grego. O título refere-se ao número de tradutores envolvidos nessa tarefa. 91 A tradição siríaca talvez represente uma notável exceção a essa regra, uma vez que há fortes indícios

que indicam a Peshitta como uma tradução direta dos textos bíblicos hebraicos (Cf. nota 68).

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1.3 Gog e Magog nos Oráculos Sibilinos

Os Oráculos Sibilinos representam uma coleção bastante heterogênea de

textos encontrados em diversas tradições religiosas do mundo antigo, as quais

incluíram a judaica e posteriormente, a cristã. Esses oráculos têm como principal

característica a predição de aflições e desastres que afligiriam a humanidade92 e à

exceção de Ezequiel, representam os mais antigos textos a associar Gog e Magog.

Ambos são mencionados no terceiro livro desse corpus, um trabalho compósito,

provavelmente escrito no Egito e cuja parte principal aparentemente data de meados

do séc. II AEC. (COLLINS, 1983: 354-355).

Embora compartilhem algumas características com os apocalipses, foram

provavelmente escritos como peças de propaganda política (e religiosa) dirigidas

principalmente ao público externo, predominante pagão (STONE, 1984: 422):

Ai de ti, terra de Gog e Magog, no meio dos rios da Etiópia! Quão grande será o derramamento de sangue que irás receber! Serás chamada de tribunal pelos homens e sua terra encharcada de orvalho beberá sangue negro. (OrSib3: 319-322)

Esta associação entre Gog e Magog em OrSib3 chama a atenção por duas

discordâncias importantes, quando comparada a alguns textos bíblicos. A primeira

refere-se tanto ao texto de Ezequiel quanto ao Livro do Apocalipse. Neste, Gog e

Magog são caracterizados como pessoas e a terra pertence a ambos, enquanto em

Ezek 38-39, a terra de Magog é propriedade de Gog. A segunda os coloca na África,

contrariando não só o texto de Ezequiel, que localiza Magog em algum lugar ao norte

da “terra prometida”, como também Gen 10 e 1Chr. Essa contradição pode, contudo,

ser atribuída ao “pobre conhecimento das fontes dos rios africanos entre os escritores

antigos”, pois “em vários livros dos oráculos Sibilinos o termo ‘Etiópia’ ocorre lado a

lado com localizações situadas no extremo leste” e até mesmo Xerxes foi neles

chamado como “um etíope bastardo” (BØE, 2001: 144):

Mas quando essas coisas das quais eu falei tiverem se realizado, os gregos novamente lutarão uns contra os outros. Assírios e árabes, e mais, medos carregadores de aljavas, persas e sicilianos e lídios se levantarão. Trácios e bitínios e aqueles que habitam a terra de belas

92 Esses oráculos são geralmente dirigidos contra povos e cidades e no caso específico dos textos de

origem judaica ou cristã, por violações éticas.

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plantas nos riachos do Nilo [...] Mas um homem assírio, um etíope bastardo, virá subitamente, com o espírito de uma besta selvagem e cortará através de todo o istmo. (OrSib11:172-180)

Os OrSib também associam Gog e Magog a outros povos guerreiros, a maioria

deles de fato ocupantes de terras muito ao norte de Israel:

Ai de ti, Gog e Magog, e de todos os “mardianos” e “dácios”,93 uns após os outros. Quantos males o destino colocará sobre vós! Muitos [males] também [colocará] sobre os filhos dos lícios, mísios e frígios. Muitas pessoas dos pânfilos e lídios, mauritanos e etíopes e povos de língua estranha, capadócios e árabes, cairão.94 (OrSib3: 512-517)

Existem, contudo, diversas semelhanças do livro 3 dos oráculos com o texto

de Ezequiel, especialmente na sua última parte, na qual são tratados temas como a

destruição do Templo, a salvação dos eleitos, o dia do Juízo e o estabelecimento do

reino de Deus. Tais alusões sugerem uma transmissão direta entre ambos, mas seria

somente na versão latina da Sibila Tiburtina, já no século XI EC, que Gog e Magog95

seriam associados, na literatura sibilina correlata, aos “povos do norte” aprisionados

por Alexandre no Cáucaso:

Os anos serão curtos como os meses, os meses como as semanas, as semanas como os dias, os dias como as horas e a hora como um momento. As nações impuras que Alexandre, o rei da Índia, prendeu (i.e., Gog e Magog) se levantarão no norte. Estes são os vinte e dois reinos cujo número compara-se ao da areia do mar. (SACKUR, 1898: 185)

1.4 Gog e Magog em Jubileus

Também conhecido como o “pequeno Gênesis”, o Livro dos Jubileus é uma

versão, na forma de narrativa, da história bíblica que estende-se do Gênese ao Êxodo

e pode ser datado, com razoável segurança, entre 170–100 AEC (COLLINS, 1995: 93 “Mardianos” eram tribos guerreiras que habitavam a Hircânia, uma província do Império Persa

situada na costa sul do mar Cáspio, enquanto os “dácios” ocupavam o território que tinha como limites aproximados as terras situadas ao norte do rio Danúbio, tendo como fronteira leste o mar Negro e a oeste e sul, os Balcãs.

94 Lícia, Lídia, Mísia, Frígia, Panfília e Capadócia são regiões situadas no noroeste da Ásia Menor (Anatólia) e fazem parte da Turquia moderna.

95 Gog e Magog não são citados na versão original grega, conhecida como “Oráculo de Baalbek” e que data do final do século IV ou do início do V da era cristã.

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84). O texto não tem características escatológicas, mas nele são encontradas tanto a

genealogia quanto a maneira como Noé dividiu a terra entre seus filhos após o

Dilúvio, além da descrição geográfica da parte que coube a cada um deles. Em

Jubileus, Gog é mencionado uma vez e Magog duas:

Os filhos de Jafé são: Gomer, Magog, Madai e Javã, Tubal, Mosoc e Tiras. Estes são os filhos de Noé. (Jub 7: 19) E para Jafé foi atribuída a terceira parcela, além do Rio Tina96 em direção ao norte da foz de suas águas. E ela se estende em direção ao nordeste de toda a região de Gog e (inclui) tudo a leste dela. (Jub 8:25) E Jafé também dividiu a terra de sua herança entre seus filhos. E coube a Gomer a primeira porção, na direção leste, a partir do norte, até o rio Tina. E ao norte, foi atribuído a Magog tudo das partes interiores (do norte) até a vizinhança próxima ao mar de Meótis.97 (Jub 9: 7-8)

A partir destas referências, várias interpretações para os nomes Gog e Magog

devem ser consideradas. Gog em Jub 8:25 poderia ser o mesmo que Magog em Jub

7:19 e Jub 9:7-8 e como tal, poderiam ser usados indistintamente. Alternativamente,

Gog e Magog seriam regiões distintas, localizadas ao norte, mas ainda assim

adjacentes à área anteriormente pertencente a Jafé. Por fim, a grafia da palavra Gog

representaria “um erro do escriba ao grafar Magog, ocorrido em algum momento do

processo de transmissão ou tradução do texto”. (BØE, 2001: 155-156)

1.5 Gog e Magog em Qumran

Gog aparece nesse corpus de forma indireta como um dos filhos de Jafé, mas é

também citado nominalmente como uma das nações alinhadas entre os inimigos

escatológicos de Israel no chamado Rolo da Guerra. Aparentemente escrito entre as

últimas décadas do séc. I AEC e as primeiras do séc. I EC o Rolo, “mais que um

manual de operações bélicas, representa um trabalho teológico e a guerra da qual ele

trata simboliza o eterno conflito entre os espíritos da Luz e das Trevas” (VERMES,

1997: 163). Embora a identificação dos inimigos nesse texto pertença ainda ao terreno

96 O rio Tina corresponde ao Don moderno. 97 Corresponde ao mar de Azov, situado ao norte do mar Negro.

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das especulações (1QM 1:5),98 um cenário de guerra escatológica com a participação

de Gog e seus aliados parece estar claramente indicado, especialmente em 1QM

11:15-17 (BØE, 2001: 178).

[O rei] de Cetim entrará no Egito, e nesse tempo ele partirá em grande ira para lutar contra os reis do norte [...] Este será um tempo de salvação para o povo de Deus, uma época de domínio para todos os membros de Sua assembleia e de destruição eterna para todos os aliados de Beliar. A confusão entre os filhos Jafé será [grande] e a Assíria cairá sem ser socorrida. O domínio de Cetim terá fim e a iniquidade será vencida, não deixando vestígios. (1QM 1:5) Desde os tempos antigos tendes [anunciado a hora] quando a força de Vossa mão será levantada contra Cetim [...] para fazer para vós mesmo um nome eterno entre os povos que haveis redimido [...] de modo a mostrar-se grande e santo aos olhos dos demais povos, para que eles possam saber [...] quando executarás a sentença sobre Gog e toda a sua multidão [...] pois lutarás contra eles desde os céus. (1QM 11: 15-17)

Magog também é mencionado no material coletado em Qumran, quer seja

individualmente, como no “Genesis Apócrifo” (1QapGen12; 17) e no “Comentário

sobre Isaías” (4Q161: 8-10) ou associado a Gog, como em 4Q523.

Do meu filho mais velho [Shem] nasceu, para começar, um filho, Arpachshad, dois anos depois do Dilúvio [...] E os filhos de Jafé: Gomer e Magog e Madai e Javan [eTu]bal e Mashok e Tiras e quatro filhas. (1QapGen 12:12) E Shem, meu filho, dividiu [sua herança] entre seus filhos [...] E após isso, para Aram, a tyerra entre os dois rios até o alto da montanha de ashur [...] para [...] coube este Monte do Touro e a parte que estende para o oeste até Magog. (1QapGen 17:10) Jafé dividiu [...] sua herança entre seus filhos. Deu a primeira parte para Gomer, no norte até o rio Tina, e depois para Magog a Media e depois para Javan [os gregos] todas as ilhas que há na Lídia (1QapGen 17:16) Deus irá mantê-lo [com o espírito forte e lhe dará] um trono de glória e uma auréola [de santidade] e vestes multicoloridas. [Ele colocará um

98 O termo comumente empregado para descrever os inimigos de Israel, “Cetim”, originalmente

utilizado para descrever os habitantes de Kition, em Chipre, foi atribuído, entre outros, aos habitantes das demais ilhas do Mediterrâneo oriental por Josefo (AJ 1:128), aos povos das regiões marítimas ocidentais (Gen 10:4, Num 24:24, Jer 2:10, Esd 27:6), aos gregos (1Mc 1:1; 8:5) e aos romanos (Dan 11:30).

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cetro] em sua mão e ele terá domínio sobre todas as [nações]. E Magog [...] e sua espada julgará [todos] os povos. (4Q161: 8-10)

Embora não exista nesse material uma relação evidente de Gog ou Magog

com poderes políticos ou cósmicos, encontra-se em Qumran a mais antiga referência

conhecida, mesmo que bastante fragmentada, à associação “Gog e Magog”,

substituindo a expressão “Gog da terra de Magog” (BUITENWERF, 2007: 172):

[...] eles haviam removido Jônatas [...] os exércitos haviam roubado [...] os garfos e [...] Gog e Magog [...] Netinim [...] você deve esconder [nos] armazéns os tesouros [...] eles [irão] capturar Gallikah [...] eles [irão] trazer. (4Q523)

1.6 Gog e Magog em Josefo

Flávio Josefo foi o primeiro a associar a tradição de Gog e Magog com a lenda

relacionada ao bloqueio de um desfiladeiro ao sul do Cáucaso com portões de ferro

feito por Alexandre, que impediria o avanço dos povos bárbaros sobre o chamado

“mundo civilizado”:

Agora, a nação dos alanos, os quais havíamos mencionado previamente em algum lugar como sendo citas e habitando o lago Meótis. Esta nação, naquele tempo, planejou atacar a Média, e as regiões além dela, de modo a saqueá-las; com essa intenção negociaram com o rei da Hircânia, pois ele era o senhor daquela passagem que o rei Alexandre [o Grande] havia fechado com portões de ferro. Este rei lhes deu permissão para passar por eles; assim, eles vieram em grande multidão e caíram sobre os Medos inesperadamente; e saquearam o país deles, o qual eles encontram cheio de pessoas e abastecido em abundância de gado, enquanto ninguém ousou fazer qualquer resistência contra eles. (BJ 7. 8.4)

Josefo também chamou esses povos de citas (denominação comum atribuída

às tribos que viviam além das fronteiras norte do Império Romano) em Antiguidades

Judaicas, explicando que era por esse nome que os gregos conheciam os magogitas:

Os filhos de Noé tiveram filhos, em honra dos quais foram impostos os nomes às nações por aqueles que primeiro as tomaram. Jafé, filho de Noé, teve sete filhos: eles as habitaram, de modo que a partir dos montes Taurus e Amanus, prosseguiram ao longo da Ásia, até o rio Tanais, e ao longo da Europa até Cádiz; e estabelecendo-se em terras

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[...] que não haviam sido anteriormente habitadas, as chamaram pelos seus próprios nomes. Assim, Gomer fundou aquelas que os gregos chamam agora gálatas, mas eram então chamadas gomeritas. Magog fundou aquelas que a partir dele foram chamadas magogitas, mas que pelos gregos são chamadas de citas. (Ant. 1. 6.1)

Josefo não faz referências a Gog e também não dá a seus leitores uma

informação mais precisa da localização da passagem fechada por Alexandre.

1.7 Gog e Magog em Pseudo-Filo (Liber Antiquitatum Biblicarum)

Provavelmente composto no séc. I EC, logo após a destruição do Segundo

Templo, Pseudo-Filo reconta o Gênesis, de Adão a 1Samuel, de maneira bastante

similar àquela já observada em Jubileus. Pseudo-Filo aparentemente representa a

versão latina de uma obra grega mais antiga, essa por sua vez quase certamente

traduzida de um original hebraico (JAMES, 1917: 28-32).

Em L.A.B., Magog é apenas um homem que recebeu de Jafé, seu pai, a terra

chamada de Degal. Além de mencionado como filho de Jafé, Magog é lembrado

como neto de Noé e pai de vários filhos, cujos nomes são também revelados:

E os filhos de Noé, que saíram da arca, foram Sem, Cam e Jafé. Os filhos de Jafé: Gomer, Magog, Madai, Javã, Tubal, Meshech, Tiras, Ashkenaz, Riftah e Togarmah, Elisa, Dessin, Cetim, Dodanim. E os filhos de Gomer: Thelez, Lud, Deberlet. E os filhos de Magog: Cesse, Thifa, Faruta, Amiel, Fimei, Goloza, Samanac [...] E estes são aqueles que foram dispersados para longe e habitaram na terra com persas e medas, e nas ilhas que há no mar. […] e então a terceira parte da terra foi dividida. Domeret e seus filhos tomaram Ladec e Magog e seus filhos tomaram Degal (L.A.B. 4:1; 2:1-4).

A “terra de Degal” é desconhecida, mas o texto do L.A.B. é bastante claro em

identificar Magog como pessoa e não como nome de um território e como em Josefo,

não faz referências a Gog.

1.8 Gog e Magog nos targumim99 e em outros escritos rabínicos

99 Targumim, plural de targum, significa “traduções”.

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Os targumim, originalmente apresentados sob forma oral, correspondem às

traduções das escrituras judaicas do hebraico para a linguagem de quem as ouvia –

usualmente o aramaico – e serviam como uma maneira popular de divulgação dos

textos sagrados. Gog e Magog são temas recorrentes neste tipo de literatura,

traduzidas ao longo dos séculos100 com diferentes propósitos e interpretações, mas

sempre submetidas ao controle das autoridades rabínicas (LEWEY, 1987:2).

Considerados inimigos escatológicos de Israel, os nomes de Gog e Magog são

encontrados nesses textos em diversas adições e interpolações ao texto canônico.101 Na

versão do Gênesis, por exemplo, Magog é mencionado da mesma maneira que no

texto bíblico (como um dos descendentes de Jafé), mas Gog é encontrado associado

ao Messias no Êxodo e a Roma em Ezequiel, e ambos estão relacionados ao Messias

tanto em Êxodo quanto em Números:

Estas são as gerações dos filhos de Noé, Sem, Cam e Jafé, aos quais filhos nasceram depois do dilúvio. Os filhos de Jafé: Gomer, Magog, Madai, Javã, Tubal, Mosoc e Tiras. E os nomes de suas províncias: Frígia, Germânia, Média, Macedônia, Bitínia, Ásia e Trácia. (TPs.J Gn 10:2) Ungirás a bacia e sua base e a consagrarás. [...] por cuja mão a terra de Israel será repartida; e do messias filho de Efraim, que virá dele, por cuja mão a casa de Israel está para vencer Gog e seus confederados ao fim dos dias. (TO Ex 40:11) Ao percorrer a terra, se um deles vir um osso humano, marcará o lugar junto a ele até que os coveiros o enterrem no vale de Hamon-Gog. Lá, deverão também ser jogados os mortos de Roma, a cidade das multidões barulhentas. E mesmo o nome da cidade será Hamonah e assim eles purificarão a terra. (TJ Ez 39:15-16) Mas dois homens permaneceram no acampamento: o nome de um era Eldad e o nome do outro, Medad e o Espírito repousou sobre eles [...] E eles profetizaram no acampamento, dizendo: Ao final dos dias Gog e Magog sobem a Jerusalém e caem nas mãos do rei Messias, e por sete anos os filhos de Israel farão fogueiras de suas armas e não precisarão ir às florestas. (TN Num 11:26)

Referências a Gog e Magog são também encontradas, entre outras, nos

targumim referentes aos livros de Isaías (Is 10:3) , Zacarias (Zc 12:10), Ester (Est

5:1) e Cântico dos Cânticos (Ct 8:4). 100 A transcrição dos targumin começou muito provavelmente a partir do final do séc. I EC, mas a

cristalização desse corpus só viria a ocorrer no início do séc. XI. 101 Em itálico nas citações em destaque.

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1.9 Gog e Magog em 3 Enoch

Embora a literatura merkabah102 mostre pouco interesse em temas associados à

escatologia – usualmente relacionados à apocalíptica – estes elementos não deixam de

estar presentes naquele corpus, devendo-se creditar essa diferença a uma “questão de

ênfase” (ALEXANDER, 1983: 235). 3Enoch, uma compilação de muitas tradições

separadas e posteriormente agrupadas, de modo a formar um único texto, resume (até

certo ponto) essas duas tradições. 3En é um relato do que o rabino Ismael teria visto e

aprendido quando viajou ao além (RAMOS, 2007: 66) e há neste texto pelo menos

uma referência a Gog e Magog, cuja orientação escatológica é explícita:

E cada batalha nas guerras que os gentios lutaram contra Israel nos dias de seu domínio. E eu vi: o Messias, o filho de José e sua geração, e tudo que eles farão aos gentios. E eu vi: o Messias, o filho de Davi, e sua geração, e todas as batalhas e guerras, e tudo que eles farão a Israel, seja bom ou ruim. E eu vi: todas as batalhas e guerras nas quais Gog e Magog lutarão contra Israel nos dias do Messias e tudo aquilo que o Santo, abençoado seja ele, fará a eles no tempo que virá. (3En 45:5)

1.10 Gog e Magog no Novo Testamento: o Apocalipse

O Apocalipse é o único livro do Novo Testamento a mencionar os nomes de

Gog e Magog juntos e provavelmente representa o testemunho mais importante da

cristandade primitiva a respeito desses personagens. No texto, escrito entre o final do

séc. I e o começo do séc. II EC, Gog e Magog associam-se às forças de Satã – as

quais haviam sido liberadas por Deus após a idade messiânica – para trazer morte e

destruição a Israel, em preparação para a chegada dos últimos dias:

E quando estes mil anos se completarem, Satã será liberado de sua prisão e sairá para seduzir as nações dos quatro cantos da terra, Gog e Magog, e as reunirá para o combate, cujo número é como a areia do mar. E elas subiram à superfície da terra e cercaram o acampamento dos santos e a cidade amada: e fogo veio do Deus celestial e os devorou. (Rev. 20: 7-9)

102 3 Enoch se insere no corpus literário que trata do misticismo do trono-carruagem (merkabah) de

Deus e incorpora elementos de diversas épocas e autores, o que impede uma datação precisa de seu texto, colocada pela maioria dos pesquisadores entre os sécs. I e VI EC.

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1.11 Gog e Magog e os Padres da Igreja

Embora existam várias referências a Gog e Magog na literatura judaica dos

séculos seguintes à destruição do Segundo Templo, pouca atenção foi dada pelos

cristãos a essas figuras escatológicas naquele período. 103 O mais importante

transmissor da tradição de Gog e Magog no cristianismo primitivo foi Jerônimo, que

combinou a tradição judaica, tal como encontrada em Ezequiel, com a mensagem

messiânica de João. Em seu comentário sobre Ezequiel, coloca os descendentes de

Gog além do Cáucaso, mas por “citas” provavelmente referia-se aos hunos, por conta

“de cujos avanços na Europa ele próprio teria sido forçado a mudar-se para a

Palestina” (VAN DONZEL, 2010: 13).

Judeus e nossos judaizantes vêem Gog como sendo os citas, terríveis e incontáveis, que se estendem para além do Cáucaso e do Mar de Meótis, perto do Mar Cáspio, até a Índia. (CommEzek: 38)

Assim como Flávio Josefo, Jerônimo também associou Gog e Magog aos

portões de Alexandre, o Grande, como mostra a carta endereçada a Oceanus:

Mensageiros vieram subitamente até aqui [e informaram] que todo o Leste estava aterrorizado. Pois chegaram novas que hordas de hunos partiram do Meótis [eles tinham suas habitações entre o gélido Tanais e os rudes massagetas,104 onde os portões de Alexandre bloqueiam os povos bárbaros atrás do Cáucaso] e que aqui e ali, em seus velozes cavalos de ágeis patas, estavam assombrando o mundo com pânico e derramamento de sangue. (Carta 77: 8)

1.12 Gog e Magog em Isidoro de Sevilha

Além de Alanos e Hunos, os godos também foram identificados na

Antiguidade tardia como o inimigo que veio do norte para destruir o Império

Romano, como explicado por Isidoro de Sevilha (ca.560–ca.636) no incipit de sua

Historia de Regibus Gothorum, Wandalorum et Suevorum:

103 Justino e Irineu, por exemplo, não os mencionam, ainda que ambos tenham escrito sobre Ezequiel e

também sobreo o Apocalipse. 104 Massagetas eram os povos descritos por Heródoto que habitavam as planícies a leste do mar Cáspio.

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É certo que os godos são uma nação muito antiga. Alguns conjecturam, a partir da semelhança da última sílaba, que a origem de seus nomes vem de Magog, filho de Jafé, e eles deduzem isto principalmente a partir da obra do profeta Ezequiel. Anteriormente, porém, os estudiosos estavam acostumados a chamá-los Getae, ao invés de Gog e Magog. A interpretação de seu nome em nossa língua é tecti [protegidos], o que denota força; e com justiça, pois não houve outra nação no mundo que tenha tanto ameaçado o poder de Roma. Pois estes são os povos que até mesmo Alexandre declarou que deveriam ser evitados.

1.13 Gog e Magog na Literatura Siríaca

1.13.1 O Romance de Alexandre

A primeira versão do Romance de Alexandre (Pseudo-Calístenes), em grego,

foi aparentemente escrita em Alexandria no séc. III CE. O texto foi adaptado para

línguas, gostos e costumes dos diferentes países e culturas que tinham feito parte de

seu império e tornou-se extremamente popular ao longo de toda a Antiguidade tardia

e primeiros séculos da Idade Média. As traduções do “romance” para o latim (séc.

IV), armênio (séc. V) e siríaco (séc. VII) não mencionam, no entanto, os “portões de

ferro”. A fusão do tema da “muralha” de Alexandre com a tradição bíblica de Gog e

Magog apareceria, na verdade, somente em outra obra épica, a Lenda Siríaca de

Alexandre, escrita muito mais tarde, provavelmente por volta de 630 (VAN

DONZEL, 2010: 16).105

1.13.2 A Lenda Siríaca de Alexandre

A Lenda Siríaca de Alexandre pode ser considerada como um anexo à versão

siríaca do “romance” e celebra a vitória de Heráclio sobre os persas em 628. A Lenda

explicava como Alexandre deixou o Egito comandando uma expedição ao “fim do

mundo” e como chegou às encostas da cordilheira do Cáucaso. Uma vez lá, pediu que

trouxessem à sua presença “trezentos homens idosos capazes de o informar sobre as

pessoas e os costumes daquela terra”:

105 O tema faria parte, contudo, de versões mais tardias do Romance de Alexandre, em outras línguas

como copta e etíope, ambas compostas depois das conquistas árabes.

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E quando vieram à sua presença [...], Alexandre disse: “Esta montanha é mais alta e mais terrível que todas as montanhas que tenho visto”. Os anciãos, os nativos da região, disseram ao rei: “ Sim, sua majestade, meu senhor e Rei, nem nós nem nossos pais fomos capazes de marchar um passo sobre ela, e os homens não a escalam naquele ou neste lado, pois ela é o limite que Deus colocou entre nós e as nações dela”. Alexandre disse: “Quais são as nações desta montanha, sobre a qual estamos lançando nossos olhares?” Os nativo das terras disseram: “Eles são os hunos”. Ele lhes disse: “Quem são seus reis”? Os anciãos disseram: “Gog e Magog e Nawal, os reis dos filhos de Jafé, e [...] estes são os reis dos hunos”. Alexandre disse: “Qual é a aparência, roupagem e língua deles?” Os anciãos responderam e disseram ao rei: “Alguns deles têm olhos azuis e suas mulheres têm apenas uma mama cada uma [...] e eles bebem o sangue dos homens e dos animais” [...] “Os hunos não saem para destruir, exceto até onde a ira de Deus alcança, de modo que podem matar pais e filhos, e tudo aquilo que a ira do Senhor pode destruir na terra, pois são mais ferozes do que todos os reis em suas guerras”. (BUDGE, 1889: 149-52)

Satisfeito com o que tinha ouvido, Alexandre decide, depois de consultar suas

tropas, “fazer algo maravilhoso nesta terra”:

Eles disseram a ele: “Faremos como sua majestade ordenar”. O rei disse: “Vamos fazer um portão de bronze e fechar essa passagem” [...] E Alexander mandou buscar três mil ferreiros, trabalhadores em ferro e três mil homens, trabalhadores em bronze. E colocaram juntos bronze e ferro e trabalharam como um homem trabalha quando mistura a argila. Então o trouxeram e fizeram um portão de doze cúbitos de comprimento e de oito cúbitos de largura. (BUDGE, 1889: 153)

Quando o trabalho terminou, Alexandre gravou duas profecias no portão:

“Ao final de oitocentos e vinte e seis anos os hunos sairão e irão conquistar os países dos romanos e dos persas [...] e irão retornar e entrar na terra deles. E escrevi também, fiz conhecido e profetizei que ao final de novecentos e quarenta anos [virá] um outro rei, quando o mundo deverá chegar ao fim pelo comando de Deus, o Senhor da criação.” (BUDGE, 1889: 153-154) “E a tropa passará por esse portão que eu fiz […] e seus cavaleiros sairão para destruir a terra […] e quando os hunos sairem, como Deus ordenou, os reinos dos hunos, persas e árabes, os vinte e quatro reinos escritos neste livro virão das extremidades dos céus e atacarão um depois do outro, e a terra se derreterá no sangue e excremento dos homens.” (BUDGE, 1889: 154-155)

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1.13.3 O Poema Siríaco de Alexandre A tradição atribui “quase unanimemente a Jacó de Serugh a autoria do Poema

Siríaco de Alexandre”,106 mas as evidências sugerem que esse texto, tal como a Lenda,

foi provavelmente composto entre 628 e 640, período que se seguiu à vitória de

Heráclito sobre os sassânidas e antecedeu a conquista árabe da Síria e a Mesopotâmia

(REININK, 2005: VI-165).

O Poema muito provavelmente utilizou a Lenda como uma de suas fontes,

mas distingue-se dela em pontos fundamentais. Nele, os hunos deixam de ser

mencionados e são os povos de Gog e Magog que encontram-se encerrados detrás dos

“portões”. Alexandre é apresentado como um rei piedoso, mas diferentemente da

Lenda, sabe de que o “Império Cristão”, juntamente como os demais, desaparecerá

sob um exército liderado pelas “forças do mal,” abrindo o caminho para a vinda do

“Reino dos Céus”. Além disso, o Poema acrescenta a figura do Anticristo à

associação dos “portões” com Gog e Magog, mas apesar de seu fundo apocalíptico,

não associa esses nomes a nações específicas, nem contém alusões a uma nova ordem

política (VAN DONZEL, 2005: 22):

O rei perguntou: “Quem são estes reis e os povos terríveis, os quais estão além dessas montanhas? Os anciãos responderam: “Ouça, ó Senhor, e rei; e nós te contaremos. Veja, a família de Agog e a família de Magog estão além de nós, de aspecto terrível, de forma odiosa, de todas as alturas, a estatura de cada um deles é de seis a sete cúbitos. (BUDGE, 1889: 177) Este grande portão que você fez nesta terra permanecerá fechado até a chegada do fim dos tempos. Jeremias também profetizou a esse respeito e a terra o ouviu; “O portão do norte será aberto no dia do fim do mundo”. (BUDGE, 1889: 186) E a nação que está atrás desse portão se levantará e também os exércitos de Agog e os povos de Magog serão reunidos. Estes povos, os mais ferozes de todas as criaturas, [eles são] da poderosa casa de Jafé, dos quais o Senhor falou: “Eles avançarão sobre a terra e cobrirão toda a criação como gafanhotos”. (BUDGE, 1889: 188) E depois destas coisas a terra estará desprovida da humanidade, povoados estarão destruídos e [também] todas as vilas e cidades. Os dispersos só restam na terra como remanescentes. Então o Anticristo se

106 Também conhecido como Uma homilia composta por Mar Jacob sobre o rei Alexandre e sobre o

portão que fez contra Gog e Magog.

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levantará sobre toda a terra, através daquele portão sairá e virá aquele rebelde. (BUDGE, 1889: 198)

1.13.4 Pseudo-Efrem

O poema apocalíptico siríaco erroneamente atribuído a Efrem, também

conhecido como Sobre o Fim do Mundo, foi provavelmente escrito entre os anos de

640 – 680 e faz uso de várias tradições mais antigas, entre elas a Lenda. Um segundo

texto, “um sermão latino” Sobre os Últimos Tempos, o Anticristo e o Fim do Mundo,

também atribuído a Efrem, tem datação, língua e local de origem ainda mais

controversos. Seu texto foi provavelmente composto “não antes do final do séc. VII”

e “mostra um caráter literário compósito, relacionado à confluência de tradições

derivadas de fontes diversas (REININK, 2005: 154-155). Ambos mostram

familiaridade com a barreira construída por Alexandre, a qual seria rompida no

momento certo e liberaria Gog e Magog:

Em seguida, uma vez que a maldade será galopante sobre a terra, a ira do Senhor irá então instigar reis e exércitos poderosos. Pois quando Ele procura expurgá-los da terra, ele manda homens contra homens para aniquilar-se mutuamente. Em verdade, naquele tempo Ele convocará os reis e os poderosos exércitos que estão por trás daqueles portões que Alexandre construiu. Muitos governantes e povos permanecem atrás dos portões. Eles olham na direção do céu e invocam o nome de Deus, que o Senhor mande seu sinal de dentro de seu firmamento de glória e que a divina voz convoque aqueles que estão naqueles portões; de modo que eles subitamente se partam e colapsem ao comando da Divindade. Numerosos exércitos avançam, tantos quanto as estrelas, que não podem ser contadas, multidões como a areia do mar, e [em números] que excedem as estrelas no céu [...] Reis e grandes exércitos e cada grupo de povos e línguas emergindo [por detrás] daqueles portões: Gog e Magog e Nul e Agag, reis e exércitos poderosos!107 (BECK, 1972: 79-94) E aqueles que estão a leste fugirão para o oeste e além disso, aqueles que estão no oeste fugirão para o leste e não haverá um lugar seguro em lugar algum, porque o mundo será dominado por nações sem valor, cujo aspecto parece ser mais de animais selvagens do que de homens. Porque essas nações horríveis, bastante profanas e contaminadas, que não poupam vidas e destruirão os vivos a partir dos mortos, consumirão os mortos, […] comem carne morta, bebem o sangue dos

107 Sobre o Fim do Mundo.

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animais, poluem o mundo, contaminam todas as coisas, e aquele que é capaz de resistir a eles não está lá.108 (CASPARI, 1890: 208-220)

1.13.5 O Apocalipse Siríaco de Daniel e o Jovem Daniel A passagem de Gog e Magog através dos “portões do norte”, marcando o

início do final dos tempos, constitui um dos pontos fundamentais do Apocalipse

Siríaco de Daniel e do Jovem Daniel e é descrita em ambos os textos de modo

paralelo:

E os povos do norte se revoltarão: haverá muita comoção e um grande terremoto sobre a face da terra. E serão estes os sinais: como a voz dos anjos e como o tumulto dos exércitos celestiais eles serão ouvidos. Haverá um grande tumulto no céu até que as altas montanhas se quebrem e se nivelem às planícies [...] Então os portões do norte serão abertos diante dele e o exército de Mebagbel e a multidão dos filhos de Gog e Magog se lançarão à frente, enormes em suas estaturas, poderosos em suas forças e numerosos em suas tropas. (SyrDan 14: 22) Naquele tempo os povos do norte se revoltarão e haverá um grande terremoto sobre a face da terra. E haverá um som como o som dos anjos e ele será ouvido como o tumulto dos exércitos celestiais. Haverá um grande tumulto no céu até que as grandes montanhas sejam diminuídas no meio dos campos. Ao final destas coisas os poderes do céu tremerão e os reis na terra lutarão entre eles. (Jovem 4:19-23)

1.13.6 Pseudo-Metódio

O mesmo tema, com pouquíssimas diferenças, surge também no Apocalipse

de Pseudo-Metódio, 109 uma interpretação escatológica das conquistas árabes na

Mesopotâmia. Pseudo- Metódio usa a tradição daniélica de uma sucessão de impérios

mundiais para demonstrar que o domínio árabe também chegará ao fim, derrotado por

um novo Alexandre, personificado no “último Imperador Romano”.

No texto, a história do mundo é dividida em sete períodos de mil anos,

começando por Adão e Eva e estendendo-se até ao Império Romano cristão, momento

em que a narrativa histórica cede espaço à profética. A abertura e a consequente

passagem dos exércitos de Gog e Magog (identificados como estando entre os “filhos

de Ismael”) através dos portões do Cáucaso, suas vitórias iniciais e a derrota final de

108 Sobre os Últimos Tempos, o Anticristo e o Fim do Mundo. 109 Também chamado de Discurso em relação à sucessão dos reis e o final dos tempos, foi composto

em siríaco na última década do século VII EC. Há também versões do texto em grego, latim e eslavônio.

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suas forças nas planícies de Jaffa por anjos comandados por Deus, estariam previstas

para o último desses períodos (ANDERSON, 1932: 45):

Ele veio para o leste, até o mar que é chamado “o fogo do Sol”, onde viu povos imundos, de aparência repulsiva, os filhos de Jafé. E quando ele viu o tipo de imundície que eles praticavam [...] Alexandre chamou Deus em seu auxílio. Ele os reuniu e os expulsou, eles, suas esposas e seus filhos, removendo todos os seus acampamentos para fora do Oriente. Então os trouxe e os confinou nas fronteiras do norte, dentro da passagem que é o portão do mundo do norte. Não há outra entrada ou saída nas fronteiras do mundo do leste para o oeste. E o rei Alexandre rezou a Deus e Deus o atendeu. E Deus ordenou que as montanhas chamadas “Seios do Norte” se aproximassem uma da outra até [a distância de] doze cúbitos. Ele [Alexandre] construiu um portão de bronze e o untou com “taseqtis”.110 [...] por meio destas duas coisas poderosas, ele [Alexandre] trouxe ao fim todo o poder dos demônios [...] Mas o fim dos tempos será de acordo com a palavra de Ezequiel, o profeta, que profetizou a respeito deles. Ele disse: Ao final dos tempos, dos confins do mundo, os seguidores de Gog e Magog virão sobre a terra de Israel.111 (MARTINEZ, 1985: 132-134)

Pseudo-Metódio é considerado por muitos como o mais influente texto

apocalíptico composto no idioma siríaco e foi por meio dele que a história do

aprisionamento de Gog e Magog por Alexandre seria posteriormente transmitida à

literatura grega e latina (ALEXANDER, 1985: 14).

2. O Anticristo

A figura do Anticristo é encontrada apenas na cristandade, obviamente,

embora haja diversas menções a agentes antidivinos na literatura judaica à época do

Segundo Templo.112 Wilhelm Bousset (1865–1920), por exemplo, postula em Der

Antichrist in der Überlieferung des judentums, des neuen Testament und der alten

Kirche: Ein Beitrag zur Auslegung der Apocalypse,113 uma ampla coleção publicada

em 1895 sobre quase tudo que havia sido escrito a respeito durante os últimos séculos

110 Este material ainda hoje continua sendo desconhecido. 111 “E você virá contra meu povo Israel como uma nuvem para cobrir a terra. E será nos últimos dias

que trarei você contra minha terra, de modo que as nações possam me conhecer quando eu for santificado diante dos olhos delas, por seu intermédio, ó Gog!” (Ez 38:16).

112 Conquanto “Anticristo” seja um termo cristão, a imagem de um governante “antidivino”, por assim dizer, já se encontrava presente tanto na Bíblia Hebraica (Dan 2: 7-9) quanto nos textos apócrifos da época do Segundo Templo, como em 4Ez 11;12 e 2Br 39.

113 O Anti-Cristo na tradição do judaísmo, do Novo Testamento e na Igreja primitiva: Uma contribuição para a interpretação do Apocalipse.

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do primeiro milênio e os primeiros do segundo, ser o Anticristo uma figura bastante

próxima a Gog e Magog, e não o distingue de Beliar. 114 Nos Studies in the

Apocalypse115 publicado em 1913 seu contemporâneo R. H. Charles (1855–1931), por

sua vez, atribui a origem do Anticristo a Antíoco IV Epífanes, conforme a descrição

encontrada no Livro de Daniel. Charles ressaltava, porém, que à imagem desse “ser

humano inimigo de Deus” deveriam também ser incorporados tanto o espírito

demoníaco de Beliar quanto a lenda do retorno do imperador romano Nero

(CHARLES, 1900: li-lxxiii).116 Como Charles, Béda Rigaux (1899–1982) em seu

tratado L’Antéchrist et l’opposition au Royaume Messianique dans l’Ancien et le

Nouveau Testament (1932)117 tratou o tema como um conceito coletivo. Segundo esse

autor, a ideia de um poder antidivino no Antigo Testamento poderia, como de fato foi,

ter sido aplicada a personagens concretos como Gog e Antíoco IV Epífanes, mas sua

“representação ideal” seria a somatória de todos os inimigos de Israel (RIGAUX,

1932: 173;382).

No contexto do cristianismo, onde Jesus se tornou o modelo a ser seguido por

todos os homens, o Anticristo representava seu oponente, a figura que concentrava em

si todo o mal da humanidade, o comandante em chefe do exército dos inimigos de

Deus capitaneado por Satanás (LOREIN, 2003: 5).

2.1 A visão judaica dos inimigos de Deus

São muitas as alusões aos antecedentes bíblicos do Anticristo no Antigo

Testamento, mas a tipologia mais desenvolvida aparece no Livro de Daniel, na

descrição de Antíoco IV Epífanes, o monarca blasfemo associado à imagem de um

“pequeno chifre”, capaz de ir “contra os santos”, “erguer-se contra o exército dos

céus”, “exaltar-se contra o Príncipe do exército”118 e “arrasar o seu santuário”:

Eu considerei os chifres, e veja, apareceu entre eles um chifre menor, diante do qual foram arrancados os três primeiros, pelas raízes: e veja, neste chifre havia olhos como olhos humanos e uma boca falando coisas arrogantes. (Dan 7:8)

114 A palavra Beliar, de origem hebraica, tem o significado de “sem valor”. 115 Estudos no Apocalipse. 116 Segundo essa lenda, Nero não teria morrido e retornaria do Leste à frente de suas tropas para se

vingar de Roma. 117 O Anticristo e a oposição ao Reino Messiânico no Antigo e no Novo Testamentos. 118 O próprio Deus.

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Eu vi, e o mesmo chifre movia guerra contra os santos e prevalecia sobre eles. (Dan 7:21)

E ele engrandeceu-se, [mesmo] contra o exército dos céus; e deitou por terra [alguns] do exército e das estrelas119 e as pisoteou. Sim, ele exaltou-se [até mesmo] contra o Príncipe dos exércitos, e por ele o [sacrifício] diário foi retirado e o lugar de seu santuário deitado abaixo. (Dan 8:10-11)

Mas Antíoco IV Epífanes, conquanto poderoso, não passava de mais um

mortal que se opuzera aos desígnios de Deus na longa história de Israel, como

Senaqueribe e Nabucodonosor também haviam feito num passado ainda mais remoto.

A escatologia apocalíptica judaica dos dois últimos séculos AEC ampliou a visão

desse mundo e incluíu, além de reis e comandantes militares, personalidades angélicas

malevolentes entre aqueles inimigos, as quais aparecem em diversos textos apócrifos

do período intertestamental tardio.120 O mais importante representante dessa classe, o

“anjo do mal” conhecido como Beliar, aparece pela primeira vez no Livro dos

Jubileus, texto que já expressava um quadro bem desenvolvido da oposição angelical

a Deus (McGINN, 1996: 28):

E Moisés prostrou-se sobre seu rosto e orou e disse: “Ó Senhor meu Deus, não abandone seu povo e sua herança, de modo que eles devam vagar pelo erro de seus corações, e não os entregue nas mãos de seus inimigos, os gentios, de modo a não serem governados por eles e levados a pecar contra Ti. Deixe a tua misericórdia ser levantada sobre o Teu povo e crie neles um espírito reto, e não deixe o espírito de Beliar governar sobre eles para acusá-los diante de Ti, e iludi-los de todos os caminhos da justiça, de modo que possam perecer diante de tua face”. (Jub 1: 18-19) E agora eu vos anuncio que os filhos de Israel não se manterão fieis a esta ordem, e que eles não irão circuncidar suas crianças de acordo com esta lei; pois na carne de suas circuncisões eles omitirão esta circuncisão de seus filhos, e todos eles, filhos de Beliar, deixarão de circuncidar seus filhos ao nascer. (Jub 15:33)

O nome de Beliar é encontrado com maior frequência no Testamento dos Doze

Patriarcas, coletânea das últimas palavras proferidas pelos filhos de Jacó, da qual

119 O povo de Deus. 120 As origens de um “anjo do mal” antecede o periodo do Segundo Templo, mas a tendência da

imaginação apocalíptica em conceber a realidade em termos de oposição escatológica entre o Bem e o Mal daria àquele mito uma estatura que não havia desfrutado até então.

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sobrevivem diversas cópias em diferentes línguas, algumas delas contendo

interpolações cristãs.121 As peculiaridades desses textos sugerem, contudo, que o

Testamento original foi provavelmente escrito em grego, embora inspirado por fontes

hebraicas que datam do séc. II AEC (KEE, 1993: 777-778):

“E agora, meus filhos, façam seus corações virtuosos na visão de Deus, façam seus caminhos retos diante dos homens, e encontrarão graça continuamente com o Senhor e com os homens. Guardem-se da promiscuidade sexual porque a fornicação é a mãe de todas as ações perversas; ela afasta de Deus e aproxima os homens de Beliar”. (TSim 5: 2-3) “E agora, meus filhos, tudo foi ouvido por vocês. Escolham por vocês mesmos luz ou escuridão, a lei do Senhor ou as ações de Beliar”. E seus filhos responderam: “Diante do Senhor viveremos de acordo com sua lei”. (TLevi 19: 1-3) “Pois eu sei que após minha morte os egípcios os oprimirão, mas Deus operará a vingança por vocês e os levará até ao que foi prometido a seus pais. Vocês levarão meus ossos, pois quando estiverem lá estarão na luz com o Senhor, enquanto Beliar estará com os egípcios na escuridão”. (TJos 20: 1-3)

Os fragmentos dos “manuscritos do mar Morto” também revelam o status de

Beliar como o opositor aos desígnios de Deus pela comunidade de Qumran. De

acordo com o Rolo da Guerra, inspirado no Livro de Daniel, Beliar é o “Príncipe do

Mal” e o chefe das “forças das trevas” que lutariam contra o “exército da luz”,

comandado pelo arcanjo Miguel, nas batalhas apocalípticas que antecederiam a idade

messiânica. Auxiliando as “forças do bem” estariam dois Messias, um deles

pertencente à classe sacerdotal (Aarão) e o outro à descendência de casa real de Davi.

Ambos teriam papel importante na luta contra os “exércitos do mal”, mas a sorte da

guerra somente decidida em uma sétima e última batalha, graças à intervenção direta

de Deus (McGINN, 1996: 28-29):

Para o M[estre. A regra da] guerra sobre a liberação do ataque dos filhos da luz contra as falanges dos filhos das trevas, o exército de Beliar: contra o povo de Edom, Moab e os filhos de Amon 122, e [contra

121 Estes documentos representam um tipo de literatura “rascunhada” do AT (cf. Gen 49), que só

alcançaria sua maturidade à época do Segundo Templo. No texto do “testamento” o personagem que está prestes a morrer orienta os familiares em torno de seu leito a seguir o caminho da retidão, evitando as tentações.

122 Nomes dos antigos reinos situados ao sul, leste e noroeste da Judeia, respectivamente.

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o exército dos filhos do leste] os filisteus, e contra o bando de Kitim da Assíria e seus aliados, os ímpios da Aliança. (1QM 1:1-5) [...] mas estes devem escapar de suas mãos [mesmo] Edom, Moab e o chefe dos filhos de Amon [...] E naquele tempo se levantará Miguel, o grande Príncipe, que se levanta a favor dos filhos de seu povo; e haverá um tempo de angústia como nunca houve [...] E naquele tempo teu povo será libertado, todo aquele que estiver inscrito no livro. (Dan 11: 41; 12: 1)

Pelo menos dois outros textos da época do Segundo Templo mostram que o

demônio Beliar podia também assumir características humanas. A Ascensão de

Isaías,123 um trabalho compósito com um núcleo de origem judaica acrescido por

diversas interpolações cristãs, sugere que Beliar foi parcialmente incorporado a dois

agentes humanos que servem de contraponto ao “par de Messias” descrito

anteriormente – o injusto rei Manassés e o falso profeta Belchira (McGINN, 1996:

30):

E sucedeu que depois de Ezequias morrer Manassés tornou-se rei e não mais se lembrava das ordens de Ezequias, seu pai, mas esqueceu-se delas e Beliar apossou-se de Manassés e se agarrou a ele. E Manassés abandonou o serviço do Deus de seu pai e serviu a Satanás e seus anjos e seus poderes [...] E Manassés desviou seu coração para servir Beliar, pois o anjo do pecado, que é o senhor deste mundo, é Beliar. (AscenIsa 2: 1-4) E havia certo homem em Samaria chamado Belchira, da família de Ezequias, o filho de Chenaã, um falso profeta, o qual morava em Belém [...] E ele trouxe muitas acusações contra Isaías e os profetas ante Manassés. Mas Beliar morava no coração de Manassés e no coração dos príncipes de Judá e Benjamim e dos eunucos e dos conselheiros do rei. E as palavras de Belchira o agradaram bastante e ele mandou prender Isaías. (AscenIsa 2: 12; 3:10-12)

Já no Testamento de Moisés,124 cujo texto original guarda forte semelhança

com o Deuteronômio (PRIEST, 1985: 921-923), os agentes apocalípticos são

definitivamente humanos:

123 A primeira parte é conhecida como O Martírio de Isaías e a segunda como as Visões de Isaías. O

Martírio, por sua vez, é também uma obra compósita e inclui uma seção independente (3:13; 4:22), algumas vezes chamadas de Testamento de Ezequias.

124 O Testamento de Moisés provavelmente data do séc. I EC.

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E um rei arbitrário, que não será de uma família sacerdotal, os sucederá. Ele será um homem imprudente e perverso, e os julgará como merecem [...] Ele matará tanto jovens quanto idosos, sem mostrar misericórdia. Então o medo dele estará sobre eles em suas terras e por trinta e quatro anos ele imporá seu jugo sobre eles, como o fizeram os egípcios. E ele gerará herdeiros que o sucederão e reinarão depois dele por períodos mais curtos (TMos 6: 2-6) Após sua morte virá à sua terra um poderoso rei do oeste, que os subjugará; e ele levará cativos e queimará parte de seu templo com fogo. Ele crucificará alguns deles nos arredores da cidade. (TMos 6: 8) Quando isto tiver lugar, os tempos chegarão rapidamente ao fim. (TMos 7:1)

A referência aos trinta e quatro anos de governo claramente associa o “rei

arbitrário” a Herodes, o Grande (37 AEC–4 EC), enquanto a queima parcial do

templo e a crucificação dos rebeldes confirma a ação empreendida pelo cônsul

romano Publius Quinctilius Varus, conforme também relata Josefo (CHAPMAN,

2008: 72):

[Herodes] morreu no quinto dia após ter provocado a morte de Antipater, tendo reinado, desde que havia conseguido que Antígono fosse morto, trinta e quatro anos; mas desde que havia sido declarado rei pelos romanos, trinta e sete. Foi igualmente um homem de grande barbaridade para todos os outros homens, e um escravo de sua paixão; mas acima da consideração do que era certo, foi favorecido pela fortuna mais do que qualquer outro jamais foi, pois sendo um homem comum, tornou-se rei. (Ant. 17.8.1) Até que por fim os romanos, que estavam bastante preocupados pelo que havia sido feito, incendiaram as arcadas [...] Este fogo, sendo alimentado por uma grande quantidade de combustível tomou conta imediatamente do telhado das arcadas [do templo], de modo que a madeira, que estava cheia de piche e cera e cujo ouro havia sido colocado sobre ela com cera, se rendeu às chamas. (Ant. 17.10.2) Diante disso, Varus mandou parte de seu exército para o interior, para procurar aqueles que haviam sido os autores da revolta; e quando eles foram descobertos, ele puniu alguns daqueles que foram os mais culpados, e liberou outros. E o número daqueles que foram crucificados por conta disso foi de dois mil. (Ant. 17.10.10)

A análise desses textos não parece deixar dúvidas: para seus autores, os

personagens identificados com o mal não passavam de lideranças ilegítimas do povo

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judeu temporariamente capazes de blasfemar contra o seu Deus, perseguir Seus

seguidores, profanar Seu templo e perverter Suas leis.

2.2 O Anticristo no séc. I CE

Não há uma alusão direta ao Anticristo nos evangelhos, mas no “pequeno

apocalipse” dos evangelhos sinóticos125 podem ser encontradas algumas situações que

fariam parte do cenário dos “últimos tempos”, especialmente em Marcos:

Quando virdes o sinal profano da desolação, o qual foi mencionado por Daniel,126 o profeta, instalado onde não deveria estar (que o leitor entenda), então deixe aqueles que estão na Judeia escapar para a montanha.127 [...] Pois naqueles dias haverá aflição tal como não houve desde o princípio da criação que Deus fez até agora e não haverá jamais.128 (Mk 13: 14;19) Então se alguém vos disser, “veja, aqui está o Messias” ou “veja lá”, não lhe dê crédito, pois falsos Messias e profetas mentirosos surgirão 129 e darão sinais e prodígios; e enganarão, se possível, até mesmo os eleitos. Mas vocês tenham cautela: veja, eu lhes contei tudo antecipadamente. (Mk 13: 21-23) E naqueles dias, depois daquela atribulação, o sol escurecerá;130 e a lua não dará sua claridade. E as estrelas cairão do céu; e os poderes do céu serão abalados. E então verão o Filho do Homem vindo das nuvens com grande poder e glória.131 E então ele enviará os anjos e reunirá seus eleitos, dos quatro ventos, da extremidade da terra à extremidade do céu. (Mk 13: 24-27)

Próximas ao “pequeno apocalipse”, as Epístolas aos Tessalonicenses diferem

bastante em relação ao modo pelo qual tratam o tema. 1Thes tem seu foco na iminente

volta de Jesus à Terra e não antecipa qualquer tipo de oposição efetiva ao seu retorno.

125 Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como sinóticos por incluírem histórias

semelhantes, na maioria das vezes na mesma sequência e com as mesmas palavras. O “pequeno apocalipse” refere-se ao trecho em que Jesus descreve o “final dos tempos”.

126 “Tropas enviadas por ele virão profanar o santuário [...] introduzindo a abominação da desolação”. (Dan 11:31)

127 “Foge para a montanha, para não pereceres”. (Gen 19:17) 128 “Nesse tempo se levantará Miguel [...] Será um tempo de tal angústia qual jamais terá havido até

aquele tempo”. (Dan 12:1) 129 “Quando surgir em teu meio um profeta [...] e te apresentar um sinal ou prodígio [...] e ele te diz:

vamos seguir outros deuses e servi-los”. (Deut 13:2) 130 “Diante dele a terra se comove, os seus tremem, o sol e a lua escurecem e as estrelas perdem o seu

brilho”! (Joel 2:10) 131 “Quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho do Homem”. (Dan 7:13)

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Não há, nesse texto, referências diretas ao Anticristo, situação bem diferente da

encontrada em 2Thes. Embora não mencione esse nome de forma explícita, 2Thes faz

um relato detalhado do “inimigo final” da humanidade e apoiada em diversos

paralelos bíblicos, descreve a série de acontecimentos que antecederão a chegada dos

“últimos tempos”:

Mas rogamos a vocês, meus irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus, o Messias, e no que diz respeito à nossa reunião com ele, que não agitem desde já seus pensamentos nem se sintam perturbados132 por palavras, oráculos ou cartas como se vindas de nós, dizendo que o dia do Senhor estar próximo. Não vos deixeis enganar de modo algum133 [pois este dia não virá] a menos que venha primeiro uma apostasia e o Homem do Pecado, o Filho da Perdição, seja revelado; o qual é um adversário, que se coloca acima de tudo que se chama Deus e objeto de veneração, de modo que também toma assento no templo de Deus,134 como um deus e se mostra como se Deus fosse. Não vos lembrais que quando estava com vocês eu lhes dizia essas coisas? E agora sabeis o que impediu de se manifestar neste tempo, pois o mistério da impiedade já começou a se efetivar, e somente se aquilo que está agora escondido em seu interior for retirado, só então aquele homem ímpio será finalmente revelado, aquele que o Senhor destruirá com o sopro de sua boca135 e aniquilará pela revelação de sua vinda. Pois a vinda desse homem ímpio é obra de Satanás, com todos os poderes, sinais e prodígios da mentira.136 E com todas as seduções da injustiça, as quais são feitas para aqueles que se perdem porque não aceitaram o amor da verdade, pelo qual poderiam ser salvos. Portanto Deus lhes mandará o poder da sedução para acreditarem na mentira; e serem todos condenados, os que não acreditam na verdade, mas encontram prazer na iniquidade. (2Thes 2: 1-12)

Na segunda metade do séc. I a figura do Anticristo passou a ser identificada

com Nero (37–68 EC), o primeiro imperador romano a perseguir os cristãos. A

popularidade obtida pelos termos favoráveis dos tratados de paz com os partos, alguns

aspectos bizarros de sua vida pessoal e as circunstâncias misteriosas de sua morte

iriam também contribuir para a construção de uma imagem que se consolidaria como

inimiga de Cristo e seus seguidores, conforme informa Tácito (ca.56–ca.117), nos

Anais:

132 “Cuidado para nao vos alarmastes. É preciso que essas coisas aconteçam, mas ainda não é o fim”.

(Mt 24:6) 133 “Atenção para que ninguém vos engane”. (Mk 13:5) 134 “E sobre a nave do Templo estará a abominação da desolação até o fim, até o termo fixado para o

desolador”. (Dan 9.27) 135 “Ele ferirá a terra com o bastão da sua boca e com o sopro de seus lábios matará o ímpio”. (Isa 11:4) 136 “Hão de surgir falsos Messiase falsos profetas, os quais apresentarão sinais e prodígios”. (Mk13:22)

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Consequentemente, para se livrar das suspeitas,137 Nero colocou a culpa e infligiu as mais requintadas tortura a uma classe odiada por suas abominações, chamada de cristãos pelo populacho. Cristo, de quem o nome se originou, sofreu a pena capital durante o reinado de Tibério nas mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos; e essa superstição bastante perturbadora, até então sob controle, alastrou-se novamente, não só na Judeia, a primeira fonte do mal, como também em Roma, onde todas as coisas horríveis e vergonhosas de todas as partes do mundo encontram o seu centro e tornam-se populares. (Anais 15:44)

É ainda Tácito que acrescenta, desta vez nas Historias, que muitos

acreditavam que o Imperador não morrera, mas escapara para as províncias do leste,

de onde retornaria para recuperar seu trono:

Neste tempo a Aqueia138 e a Ásia Menor estavam aterrorizados por um falso relatório de que Nero estaria próximo. Vários rumores corriam a respeito de sua morte, e por isso havia muitos que fingiam ou acreditavam que ele ainda estivesse vivo. As aventuras e os empreendimentos dos outros pretendentes eu irei relatar no momento devido do meu trabalho. O pretendente neste caso era um escravo de Pontus ou, de acordo com alguns relatos, um liberto da Itália, um hábil harpista e cantor, cujas realizações, somadas à semelhança do rosto, davam uma plausibilidade muito enganosa às suas pretensões. (Historias 2:8).

A crença na volta de Nero logo seria incorporada às ideias apocalípticas

judaicas, especialmente nos Oráculos Sibilinos, textos que procuravam uma tentativa

de encontrar um modo de expressão comum a gentios e judeus (e eventualmente,

cristãos) com conteúdo predominantemente escatológico. Incorporando muitas vezes

temas e lendas populares tinham, contudo, natureza predominantemente política e

mantiveram seu foco principalmente nas transformações dos costumes e na eventual

“chegada de um reino glorioso” (COLLINS, 1983: 322-323).

Nos Oráculos Sibilinos Nero é caracterizado como o oponente escatológico do

messias (Livro 5), mencionado como um vingador (Livro 4) e identificado com o

demônio Beliar (Livro 3):

137 As suspeitas, segundo Tácito, estariam relacionadas à possibilidade de ter partido de Nero a ordem

para incendiar Roma. 138 Província romana que correspondia, em sua maior parte, à região do Peloponeso, na Grécia

moderna.

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Então um grande rei escapará da Itália como um escravo fugido, sem ser visto ou ouvido sobre o canal do Eufrates, quando se atrever a incorrer em uma maldição materna por repulsivo assassinato e muitas outras coisas, confiantemente, com a mão perversa. Quando ele fugir, além das terras da Pártia, muitos irão ensanguentar o solo pelo trono de Roma [...] Então o conflito da guerra, tendo surgido, virá para o oeste, e o fugitivo de Roma também virá, brandindo uma grande lança, tendo cruzado o Eufrates com muitos milhares. (SibOr 4: 120;135) Um homem que é um matricida virá dos confins da terra [...] Ele destruirá toda a terra e conquistará tudo e considerará todas as coisas mais sabiamente que qualquer homem. Ele irá imediatamente capturar aquele por causa de quem foi ele mesmo destruído. Ele destruirá muitos homens e grandes soberanos e lançará ao fogo mais homens do que alguém jamais possa ter [lançado]. Pois sobre os homens choverá fogo do assoalho do firmamento, fogo e sangue, água, raios de luz, trevas, noite celestial e destruição na guerra, e uma névoa sobre os mortos destruirá de uma vez todos os reis e nobres. Então a lamentável destruição da guerra cessará e ninguém mais lutará com espadas ou ferro ou qualquer tipo de arma , as quais não serão mais permitidas. O sábio povo que sobreviveu terá paz tendo experimentado o mal, de modo a mais tarde poder se alegrar. (SibOr 5: 363-385) Então Beliar virá de Sebastenoi,139 e elevará a altura de das montanhas e o nível do mar, o grande e ardente sol e a brilhante lua e ressuscitará os mortos e fará muitos sinais para os homens [...] Mas ele também desviará os homens e desviará muitos dos que têm fé, os escolhidos hebreus e também outros homens pecadores, que ainda não ouviram as palavras de Deus. Mas quando as ameaças do grande Deus se aproximarem, e um poder incandescente vier através do mar para a terra, Beliar e todos os homens arrogantes também serão queimados, tantos quanto os que nele põem fé. (SibOr 3: 63-74)

A identificação de Nero com Beliar em SibOr 3 se aproxima bastante do texto

de uma interpolação cristã (3:13 / 4:22) feita ao núcleo judaico da Ascensão de Isaías,

o qual descreve uma visão do profeta que lhe empresta o nome:

[...] Beliar o grande soberano, o rei deste mundo, sobre o qual sempre exerceu domínio desde que existe, descerá; sim, ele descerá do seu firmamento na forma de um homem, um rei pecador, o assassino de sua mãe, ele mesmo, este rei. E irá perseguir a planta que os doze apóstolos do Bem-amado plantarão e um dos doze será entregue em suas mãos. Este soberano na forma de um rei virá muitas vezes e com ele virão todos os poderes deste mundo e lhe darão ouvidos em tudo que desejar. E ao seu comando o sol se levantará à noite e ele fará a lua

139 Provavelmente com o significado “vindo da linhagem de Augusto” e não como “vindo de Sebaste”,

nome atribuído à Samaria por Herodes, em honra a Augusto.

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aparecer na sexta hora. E tudo que ele desejar ele fará neste mundo: ele vai agir e falar como o Bem-Amado e dirá: “Eu sou Deus e diante de mim não há ninguém”. E todos os povos do mundo acreditarão nele e oferecerão sacrifícios a ele e o servirão, dizendo: Este é o Deus e além dele não há nenhum outro. (AscenIsa 4:1-7)

O uso da lenda do retorno de Nero encontraria, todavia, sua maior expressão

no Apocalipse de João. Nesse texto, em vez de incarnado em um demônio, a

associação simbólica do imperador e seu Império com o Anticristo se faz por meio de

uma “besta que sobe do abismo” e outra, de sete cabeças e dez chifres, que “sobe do

mar” (McGINN, 1996: 51):

E quando acabarem o seu testemunho, a besta selvagem que sobe do abismo, fará guerra contra eles e deve superá-los. (Rev. 11: 7) E eu vi um animal selvagem subindo do mar, tinha dez chifres e sete cabeças, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes blasfemos. E a fera que vi era semelhante ao leopardo e os seus pés eram como os pés de um urso e a sua boca como a de um leão: e o Dragão deu-lhe o seu poder e o seu trono, e grande autoridade. E uma de suas cabeças estava como que ferida de morte, mas a sua ferida mortal foi curada: e todo o mundo se perguntou sobre a fera. E adoraram o Dragão, porque ele tinha dado autoridade para esta fera selvagem e quem pode fazer a guerra contra ela? (Ap. 13: 1- 4)

A dependência da visão em Rev. 13 com Dan 7 é evidente, mas a identidade

da “fera selvagem” que recuperou-se de uma ferida que parecia mortal só é

definitivamente identificada como sendo Nero no cap. 17, o rei que “havia sido e já

não era, mas retornaria”:

A fera que vistes, foi e já não é, e está pronta para subir do abismo e caminha para ser destruída; e os que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no livro da vida desde a fundação do mundo, devem pensar quando virem a besta que era e já não é, cujo fim chegou agora. Aqui está o entendimento para aquele que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está sentada. E são também sete reis, dos quais cinco já caíram, um é e o outro ainda não veio, e quando ele vier, deverá ser por apenas um curto período de tempo. E o fera que era, e já não é, ela mesmo é o oitavo, e é um dos sete destinados a serem destruídos. (Rev. 17: 8-11)

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A denominação “Anticristo”140 não é, no entanto, mencionada no Livro do

Apocalipse. Sua utilização inicial é encontrada nas Epístolas de São João, os

primeiros textos a fazerem referência explícita ao termo:

Meus filhos, é a última vez, e como vocês já ouviram falar que um falso Cristo virá, mesmo agora há muitos falsos Cristos e a partir disso, sabemos que é a última vez. Eles saíram de entre nós, mas não eram de nós, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco, mas eles nos deixaram, de modo que pode ser manifestado que não pertenciam a nós. Mas vocês foram ungidos pelo Santo, e vocês estão habilitados a distinguir entre os homens. Eu vos escrevi, não porque vocês não sabem a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da verdade. Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Ele é um falso Cristo, e quem nega o Pai nega o Filho, também. (1Jn 2: 18-22) Por isso, o Espírito de Deus é conhecido, todo o espírito que confessa que Jesus, o Messias veio em carne é de Deus. Todo espírito que não confessa que Jesus, o Messias veio em carne, não é de Deus, mas é do falso Messias, de quem tendes ouvido que virá e que já está no mundo agora. (1Jn 4: 2-3) Porque muitos sedutores têm saído pelo mundo, os quais não confessam que Jesus, o Messias, já veio em carne. Este é o sedutor e o Anticristo. (2Jn 1:7)

2.3 O desenvolvimento do Anticristo nos sécs. II e III EC

São esparsos os testemunhos sobre o Anticristo no início do séc. II e o mais

antigo deles parece ser o encontrado na Didache,141 um documento anônimo que

ensinava como adaptar “o caminho de Jesus” às exigências da vida cotidiana das

primeiras comunidades cristãs (MILAVEC, 2003: ix). Alusões ao Anticristo

aparecem em seu capítulo final, cujo texto guarda semelhanças com o “pequeno

apocalipse” do Evangelho de Mateus:

Pois nos últimos dias falsos profetas e corruptos se multiplicarão e ovelhas se transformarão em lobos e o amor se converterá em ódio; pois quando a ilegalidade aumentar, eles se odiarão, se perseguirão e se trairão uns aos outros. E então aparecerá o impostor do mundo como o

140 O termo “Anticristo”, tanto no singular como no plural, foi muitas vezes substituido por “falso

Cristo” ou “falso Messias” e também por “Grande Sedutor” ou “Impostor do mundo”. 141 O texto é também conhecido como Ensinamentos do Senhor aos Gentios pelos Doze Apóstolos.

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Filho de Deus e ele fará sinais e prodígios e a terra será entregue em suas mãos; e ele fará coisas iníquas as quais nunca tinham antes acontecido, desde o começo [do mundo]. (Did 16: 3-5)

Policarpo (ca.70–ca.156), em sua Epístola aos Filipenses, e Justino o Mártir,

no Diálogo com Trypho, são mais explícitos em seus comentários a respeito do

Anticristo, cujo nome é mencionado no primeiro e associado ao Livro de Daniel no

segundo, mais uma vez sugerindo que essa “tradição tenha tido origem judaica”

(LIETARD PEERBOLTE, 1996: 92):

Pois quem não confessa que Jesus Cristo veio encarnado, este é o Anticristo e quem não confessa seu sofrimento na cruz, este é do diabo. (PolPhil 7: 1). [...] e aquele que Daniel previu que teria domínio por um tempo, tempos e metade de um tempo, já se encontra à porta, prestes a falar coisas blasfemas e ousadas contra o Altíssimo. (DialTry 32: 3-4) Ó homens irracionais! Não compreendem que foi provado, por todas essas passagens, que dois adventos de Cristo foram anunciados: o primeiro, no qual Ele é apresentado como sofredor, inglório, desonrado e crucificado; mas no outro, em que Ele virá do céu em glória, quando o homem da apostasia, que fala coisas estranhas contra o Altíssimo deve se aventurar a fazer atos ilícitos na Terra contra nós, os cristãos. (DialTry 110: 2)

Outra importante referência ao Anticristo neste período encontra-se no

Apocalipse de Pedro, o primeiro documento cristão a descrever o céu e o inferno.

Escrito ainda na primeira metade do séc. II, seu texto identificaria o Anticristo com

Bar Kochba, o líder da revolta judaica contra Roma, entre 132 – 135 E.C. (ELLIOTT,

2012: 1):

Você ainda não entendeu que a figueira é a casa de Israel? Em verdade vos digo, quando seus brotos surgirem nos últimos dias, então virão falsos Cristos que despertarão expectativas, dizendo: “Eu sou o Cristo, que agora veio ao mundo”. E quando eles perceberem a maldade das suas ações, irão se desviar e negar que era ele que nossos pais louvaram, o primeiro Cristo, a quem crucificaram e portanto cometeram um grande pecado. Mas este impostor não é o Cristo. E quando eles o rejeitarem, ele os matará com a espada e haverá muitos mártires. (ApPtr 2)

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Ao final do séc. II a lenda do Anticristo já estava, aparentemente, bem

estabelecida, conforme Irineu de Lyon, discípulo de Policarpo, escreve em Adversus

Haereses. Nessa obra, é possível perceber que Irineu faz uso de diversas passagens do

Antigo e do Novo Testamentos para compor a figura do “grande sedutor” em uma

única pessoa, ainda por vir (McGINN, 1996: 59):

E não só por conta das indicações já mencionadas, mas também por meio dos eventos que irão ocorrer ao tempo do Anticristo, está demonstrado que sendo ele um apóstata e ladrão, está ansioso para ser adorado com um Deus; e que, embora um mero escravo, deseja ser proclamado rei. Pois ele [Anticristo], estando revestido com todo o poder de Satanás, virá não como um rei justo, nem como rei legítimo, obediente a Deus, mas como um [rei] impiedoso, injusto e sem lei. (AH 5, 25:1) Esses homens, portanto devem [...] esperar, em primeiro lugar, a divisão do reino em dez;142 então, em seguida, quando estes reis estiverem reinando e começando a colocar seus negócios em ordem e promovendo seus reinos [deixe-os aprender] a reconhecer aquele que virá reclamar o reino para si mesmo e aterrorizar aqueles homens de quem temos falado [...] Isto, também, o apóstolo afirma: “Quando eles disserem paz e segurança!, então virá sobre eles repentina destruição”.143 E Jeremias não se limita a apontar sua vinda repentina, mas ele mesmo indica a tribo de onde ele virá, onde ele diz: “Ouviremos a voz dos velozes cavalos de Dan; toda a terra tremerá ao som do relinchar de seus cavalos a galope: ele também virá e devorará a terra e sua plenitude; também a cidade e aqueles que nela habitam”. 144 Esta, também, é a razão pela qual essa tribo não é considerada, no Apocalipse, juntamente com aquelas que serão salvas.145 (AH 5, 30:2)

Hipólito consolida o ponto de vista de Irineu, acrescentando que a vinda do

Anticristo ocorrerá num futuro relativamente distante, após a divisão do Império

Romano em dez reinos:

E os dez chifres que viste são dez reis que ainda não receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora com a besta. Estes têm um mesmo intento e entregarão o seu poder e autoridade à besta. Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis, e os que estão com ele serão os

142 Cf. Dan 7:24. 143 Cf. 1Thes 5:3. 144 Cf. Jer 8:16. 145 Cf. Rev 7:3-8.

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chamados e escolhidos [...] Pois Deus pôs em seus corações que cumpram a sua vontade e concordem em dar seus reinos à besta, até que as palavras de Deus sejam cumpridas. (Anti 38-39)

Tertuliano, contemporâneo de ambos, acrescenta mais um importante

componente à construção da lenda ao identificar no Império Romano, tanto na

Apologia quanto na Ressurreição da Carne, “aquilo que ainda retém” 146 o

aparecimento do “filho da perdição”:

Há também outra e maior necessidade para nossa oferta de oração em nome dos imperadores para completa uma melhor estabilidade do império, e para os interesses de Roma, em geral. Pois sabemos que um poderoso choque pende sobre toda a Terra – na verdade, o fim de todas as coisas, ameaçando desgraças terríveis – que só é retardado pela existência do império Romano. Não temos nenhum desejo, portanto, em sermos ultrapassados por estes eventos extremos. (Apologia 32) Pois esse dia não virá, a não ser que realmente primeiro venha a apostasia e que o homem do pecado será revelado, ou seja, o Anticristo, o filho da perdição. Vocês não se lembram que, quando eu estava com vocês, eu costumava dizer-vos estas coisas? E agora você sabe o que detém, de modo que possa ser revelado em seu tempo [...] Qual obstáculo está lá, a não ser o Estado romano, a queda do qual, espalhada em dez reinos, deverá introduzir o Anticristo [sobre suas próprias ruínas]? (ResCar 24)

Orígenes, que viveu pouco depois de Tertuliano, também considerava o

Anticristo “um filho de Satanás”, mas justificou a necessidade de sua existência por

meio de uma leitura mais espiritualizada da Bíblia, conforme revelou em Contra

Celsus:

Mas desde que Celso rejeita as afirmações sobre o Anticristo, como é chamado, não tendo lido sobre ele nem no Livro de Daniel nem nos escritos de Paulo [...] devemos fazer algumas observações sobre esse assunto também, pois como “rostos não se parecem com rostos”,147 também os corações dos homens não se parecem uns com os outros [...] Onde está o absurdo então em manter que existem entre os homens, por assim dizer, dois extremos – um da virtude e o outro seu oposto –, de modo que a perfeição da virtude habita no homem que compreende o ideal dado em Jesus, de quem fluiu para a raça humana tão grande conversão, cura e melhora, enquanto no extremo oposto está o homem que incorpora a noção daquele que é chamado de

146 Cf. 2Thes 2:6-8. 147 Cf. Pr 27:19.

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Anticristo? [...] Foi apropriado [portanto] que um desses dois extremos, o melhor dos dois, fosse chamado de “Filho de Deus”, por conta de sua preeminência; e o outro, que é diametralmente oposto, de “filho de um demônio perverso”, de “Satã” e do “diabo”. E desde que o mal é especialmente caracterizado por sua difusão, e alcança sua maior altura quando simula a aparência do bem, sinais, prodígios e milagres são encontrados acompanhando o mal, graças à cooperação de seu pai, o diabo. (CntCel 6. 45)

As Escrituras e a obra dos “Padres da Igreja” sugerem, portanto, que a imagem

do Anticristo era entendida, pelo menos no início do séc. III EC, como a de um “falso

messias” (humano ou demoníaco, judeu ou gentio), que surgiria na Palestina após a

dissolução do Império Romano e cujo reino, de curta duração, antecederia a segunda

vinda do Cristo à Terra. Essa imagem, todavia, começaria a ser retrabalhada a partir

do surgimento da tradição de um duplo Anticristo e das tentativas em descrevê-lo(s).

2.4 O duplo Anticristo e a descrição de sua aparência física

A crença na existência de dois Anticristos parece ter sido um fenômeno

particular da cristandade latina, descrito em versos por Comodiano148 em meados do

séc. III e em prosa por Lactâncio, naquela que é considerada sua principal obra,

Divinarum Institutionum,149 escrita na primeira década do séc. IV.

Comodiano relata em seu poema Carmen de Duobus Populis150 que Nero, o

primeiro Anticristo, será morto por “por um rei que virá do Oriente”, o qual, após

realizar muitas façanhas, será por sua vez derrotado por Deus no final dos tempos.

Lactâncio, por sua vez, mistura fontes pagãs com as escrituras para convencer seus

leitores que o fim está próximo. Em seu texto, o final dos tempos seria precedido por

um “poderoso inimigo vindo do norte”, que após “afligir o mundo com uma tirania

insuportável”, seria substituído por um “rei nascido de um espírito maléfico, vindo da

Síria”, o verdadeiro Anticristo (MCGINN, 1996: 66-68):

Um rei vindo do leste com quatro nações, levanta-se mais uma vez para derrotar Nero [...] Vindo da Pérsia, esse homem disse que era imortal [...] Estes dois são os profetas dos fins dos tempos. Nero é o destruidor da cidade [Roma], neste caso, a totalidade da terra: conto apenas algumas das coisas que tenho lido sobre ele. (Carmen 932-936)

148 Comodiano (séc. III EC) é considerado o mais antigo poeta cristão a escrever em latim. 149 Instituição Divina. 150 Canção de Duas Pessoas.

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Em primeiro lugar, o reino será ampliado, e o poder, disperso entre muitos e dividido, será diminuído. Então discórdias civis serão perpetuamente semeadas [...] dez reis surgirão ao mesmo tempo, que irão dividir o mundo, não para governar, mas para o consumir [...] Em seguida, um inimigo mais poderoso surgirá contra eles a partir dos limites extremos da região Norte [...] que deve ser admitido à aliança com os outros, e será constituído príncipe de todos. Ele deve incomodar o mundo com uma tirania intolerável [...] (InstDiv 16) Quando o fim dos tempos se aproximar, um grande profeta será enviado para levar aos homens o conhecimento de Deus, e ele deve receber o poder de fazer coisas maravilhosas [...] Por estes prodígios e poderes ele converterá muitos à adoração de Deus. E quando as suas obras estiverem cumpridas, outro rei se levantará na Síria, nascido de um espírito maligno, o conquistador e destruidor da raça humana, que destruirá o que foi deixado pelo mal que o precedeu [...] Ele lutará contra o profeta de Deus, o vencerá, o matará e o deixará insepulto; mas ao terceiro dia ele voltará à vida. E enquanto todos olham maravilhados, ele será apanhado e levado aos céus. Mas esse rei não será somente desgraçado em si mesmo, mas também será um profeta de mentiras; ele irá se constituir e se chamar o próprio Deus, e vai ordenar ser adorado como o Filho de Deus. (InstDiv 17) Então, ele vai tentar destruir o templo de Deus, e perseguir os justos e haverá angústia e tribulação tais como nunca houve desde o início do mundo [...] Quando estas coisas acontecerem, então os justos e os seguidores da verdade vão se separar dos maus e fugir. E quando souber disso o rei ímpio, inflamado pela raiva, virá com um grande exército e cercará a montanha em que o justo se escondeu. Mas quando eles se virem [...] sitiados invocarão a Deus em alta voz, e implorarão o auxílio do céu, e Deus os ouvirá e irá enviar do céu um grande rei para os resgatar e libertar e destruirá todos os ímpios com fogo e espada. (InstDiv 17)

Lactâncio, embora claramente inspirado por João em Institutionum, não

considera Nero como sendo o “inimigo que virá do norte” e nem chama o “rei que se

levantará na Síria” de Anticristo. Além disso, e também diferentemente do

Apocalipse,151 seu texto utiliza apenas um profeta em vez de dois.

À duplicidade do Anticristo, aparentemente restrita à tradição latina,

adicionou-se a partir do séc. III a preocupação com a descrição de sua aparência

física. Embora uma das mais importantes e difundidas contribuições para o

desenvolvimento da lenda, essa novidade ficou praticamente limitada à cristandade

oriental. Testamentum Dominum,152 um texto anônimo de origem grega daquela

151 Cf. Rev 11: 3-12. 152 Testamento do Nosso Senhor.

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época, mas conhecido por uma tradução siríaca do séc. VII, descreve as feições do

Anticristo da seguinte maneira (COOPER & MACLEAN, 1902: 5):

E esses são os sinais dele: sua cabeça [é] como uma chama de fogo, seu olho direito manchado de sangue, seu [olho] esquerdo preto-azulado e ele tem duas pupilas. Suas sobrancelhas são brancas e seu lábio inferior é grande, mas sua coxa direita fina e seus pés largos. Seu polegar é chato e [tem uma] ferida. (TestDom: 1:11)

Além da aparência, o texto do Apocalipse de Elias revela “que ele [Anticristo]

multiplicará seus sinais e seus prodígios na presença de muitos, fazendo as mesmas

ações que o Cristo fez, exceto por ressuscitar os mortos”, enquanto no Apocalipse do

Santo Teólogo João (séc. V), um diálogo pós-ressurreição entre Jesus e seus

discípulos, o Anticristo , além de descrito, é identificado por uma inscrição em sua

testa:

Pois veja, eu lhe contarei seus sinais, de modo que você possa reconhecê-lo: ele é um jovem de pernas finas, com um tufo de cabelos grisalhos na frente de sua cabeça calva. Suas sobrancelhas alcançam seus ouvidos e existe uma marca de lepra na palma de suas mãos. Ele se transformará na presença daqueles que o veem [...] mas os sinais na sua cabeça ele não conseguirá mudar. (ApEl 3:14-17) “Senhor, revela-me como ele é. E ouvi uma voz que me dizia: A aparência do rosto é sombria, seus cabelos como pontas de flechas, as sobrancelhas ásperas; seu olho direito é como a estrela da manhã e o esquerdo como o de um leão; sua boca tem um cúbito de largura, os dentes um palmo de comprimento, os dedos são como foices. Suas pegadas têm dois cúbitos de comprimento, e na testa está escrito Anticristo”. (ApStTJn 6-8)

2. 5 O Anticristo entre os sécs. IV e VI EC

O texto da Leitura Catequética de número 15, dedicada à exegese de Dan 7,

em Cirilo (ca.315–386), bispo de Jerusalém, e o do discurso Sobre o fim do Mundo,

em Pseudo-Hipólito, revelam que a incorporação da imagem do Anticristo à época da

cristianização do Império Romano153 já havia sido definitivamente assimilada, embora

de forma assimétrica. Assim, enquanto Cirilo, por exemplo, orientava sua audiência a

153 O acordo entre Constantino e Licínio em Milão permitindo que os cristãos fossem tratados de

“forma benevolente” data de 313 EC.

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identificar o Anticristo dissociando suas ações daquelas do verdadeiro Cristo, Pseudo-

Hipólito as igualava:

Agora que o verdadeiro Cristo está para vir uma segunda vez, o adversário [...] traz certo homem que é um mágico experiente em bruxarias e encantos de astúcia sedutora, que tomará para si o poder do império romano e falsamente se considerar o próprio Cristo; enganando os judeus, que estão procurando o Ungido e seduzindo os gentios por suas ilusões mágicas. Mas este citado Anticristo virá quando os tempos do Império Romano tiverem sido cumpridos, e o fim do mundo estiver prestes a chegar. Dez reis dos romanos deverão se levantar juntos, reinando em diferentes partes talvez, mas todos ao mesmo tempo; e depois destes, um décimo primeiro, o Anticristo, que, por seu ofício mágico, vai apoderar-se do poder romano. (Cat.Lect 15: 11-12) Pois em todos os aspectos esse simulador procura se fazer parecer com o Filho de Deus. Cristo é um leão, e Anticristo é um leão. Cristo é o Rei das coisas celestes e terrenas, e o Anticristo será rei sobre a terra. O Salvador se manifestou como um cordeiro, e ele também vai aparecer como um cordeiro, enquanto ele é um lobo por dentro [...] Cristo reuniu as ovelhas dispersas e ele, do mesmo modo, reunirá os povos dispersos dos hebreus. Cristo deu aos que nele creem a honrada e vivificante cruz, e ele, do mesmo modo, dará seu próprio sinal. Cristo apareceu em forma de homem, e ele do mesmo modo, virá na forma de homem. Cristo surgiu entre os hebreus, e ele irá aparecer entre os judeus. Cristo exibiu sua carne como um templo, e a ressuscitou no terceiro dia, e ele também irá levantar novamente o templo de pedra em Jerusalém. (Ps.Hipp 20)

2.6 O Anticristo nos Apocalipses Siríacos

A rápida mudança da situação política na fronteira leste do Império Romano a

partir do último quartel do séc. VI, inicialmente em consequência das guerras contra o

Império Sassânida (572–591 e 602–628) e posteriormente em razão da invasão

muçulmana (a partir de 634), foi descrita nos textos apocalípticos siríacos do séc. VII

como evidência inequívoca de que o fim estava próximo e consequentemente, da

chegada do Anticristo. Inspirados na interpretação dos caps. 7 e 11 do Livro de Daniel

ajudaram a estabelecer de modo definitivo a tradição do Anticristo nos apocalipses

bizantinos (ALEXANDER, 1985: 193):

Será depois daqueles dias [que] uma mulher irá gerar um filho da casa de Levi, e serão vistos neles estes sinais: eles serão desenhados em sua

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pele como se fossem armas de guerra [...] Sua aparência será a de uma fornalha em chamas e seus olhos como carvão em brasa [...] Quando essas coisas tiverem acontecido, saibam que a chegada do Desalmado está próxima [...] E estes são seus sinais: a aparência de sua estatura e de sua cabeça é grande, seu cabelo [como] a crista de um galo, seus olhos brilhantes, suas sobrancelhas elevadas [...] Seu pescoço é forte, seu peito largo, seus braços longos e seus dedos curtos. (Jovem 8: 1-13) Será naqueles dias que uma mulher irá gerar um filho da casa de Levi e nele aparecerão estes sinais e eles serão desenhados em sua pele, como se fossem armas de guerra [...] Sua aparência será como a de uma fornalha em chamas e seus olhos como carvão em brasa [...] Quando esses sinais começarem a acontecer, então o advento do Desalmado [...] começará a aparecer. E estes são seus sinais e a amedrontadora aparência de sua estatura: sua cabeça é grande e seu cabelo brilhante, seus olhos azuis e seu pescoço, forte; suas sobrancelhas são altas, seu peito largo, seus braços longos e seus dedos, curtos. (DanSyr 21-2) E quando a iniquidade se tornar abundante na terra e tiver poluído toda a criação, então haverá um julgamento o qual destruirá totalmente o povo. O filho da perdição, o Maligno, irá surgir e vir sobre a terra. Um enganador da humanidade, um instigador de problemas por toda a terra. No dia em que ele chegar a ela, (quando) o filho da perdição chegar à Terra, a ordem estabelecida será lançada em comoção e terror vai engolir a Terra. (Ps.Efrem: 119-122) Quando o Império Romano começar a ser consumido pela espada, a vinda do Maligno estará próxima. É necessário que o mundo acabe com o fim do Império Romano. Naqueles dias, dois irmãos governarão o Império Romano com uma só mente 154, mas porque um irá superar o outro, haverá um cisma entre eles. E assim, o Inimigo será solto e irá estimular o ódio entre os Impérios Persa e Romano. (Lt.Ps.Efrem: 1) Após uma semana de aflição, todos eles serão destruídos na planície de Joppa; para lá irão todas aquelas pessoas com suas esposas e seus filhos e suas filhas, e por ordem de Deus, hostes de anjos irão descer e destruí-los em um momento. Uma semana e meia após a destruição desses desgraçados deve o “Filho da Perdição” aparecer. (PsMeth, 54;55)

154 Os dois irmãos seriam Valentiniano e Valente, que governaram juntos o Império Romano entre

364–375.

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CAPÍTULO 3

O Apocalipse Siríaco de Daniel: Texto e Tradução com Notas 155

155 O apocalipse foi traduzido para o português a partir do facsimile do único manuscrito conhecido, o

qual encontra-se depositado na Biblioteca Houghton da Universidade de Harvard. A divisão em capítulos adotada obedece àquela proposta pelo Prof. Matthias Henze (2001). As citações referentes aos livros bíblicos correspondem à Peshitta e os colchetes representam inserções editoriais.

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2.2 Tradução

Pelo poder de Deus escrevemos a revelação que foi revelada / a Daniel, o Profeta, na

terra da Pérsia e Elam.

1 - No reinado de Dario, o Medo, que governou a Pérsia e o reino / de Alpahtan,156 Rei

da Babilônia, eu tinha visto estas visões, eu, Daniel, o profeta. / E estas profecias

foram reveladas a mim após aquelas visões que eu tinha visto e a profecia / que me foi

revelada pelo Espírito Santo nos anos de Nabucodonosor, rei / da Babilônia, o qual

havia ido à terra de Judá e à cidade santa de Jerusalém, / como havia sido mandado

por Deus, para sitiá-la e sobre ela trazer grande atribulação.

2 - O rei Nabucodonosor tinha vindo à terra de Judá e a sitiou,157 / e Deus a deu em

suas mãos. E ele a saqueou, a destruiu, a subjugou e a conduziu ao cativeiro. / E

tomou o tesouro que estava no templo de Deus e todos os objetos de culto / do

santuário: o ouro e a prata, taças e vasos, os belos aspersórios,158 / garfos e jarras, a

mesa do altar e o candelabro de sete braços, / os pilares de ouro de dentro do

tabernáculo e o grande éfode / que o sumo sacerdote usava, no qual havia doze pedras

/ nos ombros com os nomes dos filhos de Jacó escritos nelas.159 E as vestes, / as pedras

preciosas, safiras e berilos que estavam no santuário desde / o tempo do rei Davi, e de

seu filho Salomão, depois dele, e todo o tesouro do rei Salomão / e de todos os que

foram reis depois dele em Jerusalém. E até mesmo o grande trono / de ouro sobre o

qual o rei Salomão usava se sentar. E o rei / Nabucodonosor tomou o butim160 e o

espólio de Jerusalém: as mulheres e os jovens, o gado / e os animais, as vestimentas

ornadas, além de ouro e prata. / E tomou os magníficos objetos de culto com ele e os

trouxe com ele para a terra da Babilônia.

156 O nome deste rei não é conhecido de nehuma outra fonte siríaca. 157 Siríaco nqš (acampar, ocupar, sitiar). 158 Siríaco zqr’ tem o significado de “borrifar” e a traduçao segue a sugestão de Henze. 159 Segundo o Êxodo, o éfode (vestimenta de linho usada pelo sumo sacerdote, tecida com fios

coloridos e bordados de ouro) continha apenas duas pedras: “Tomarás duas pedras de ônix e gravarás nelas os nomes dos israelitas. Seis nomes em uma e os outros seis na outra, por ordem de nascimento”. (Ex 28:9-10)

160 Em 2Br o tesouro é levado por um anjo antes de a cidade ser tomada por Nabucodonosor: “E eu vi que ele [...] levou de lá a cortina, o éfode, o propiciatório, as duas mesas, as vestes sagradas dos sacerdotes, o altar de incenso, as quarenta e oito pedras preciosas com as quais os sacerdotes eram vestidos e os objetos sagrados do tabernáculo”. (2Br 6:7)

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3 – E nós estávamos no cativeiro e no exílio. Eu, Daniel, e todos / os jovens de minha

idade,161 filhos de homens judeus, fomos escolhidos para trabalhar no palácio / do rei e

servir no palácio do rei conforme nossa posição. O grande Deus / dos meus pais deu-

me o espírito da sabedoria, o espírito do conhecimento e o espírito do

entendimento.162 / E eu fui distinguido em todos os tipos de saber, entre todos aqueles

da minha idade que estavam comigo na terra da Babilônia / e dos caldeus, porque

guardei os mandamentos do meu Deus e também / não ofendi suas leis ou seus

julgamentos. E eu revelei e assinalei o que iria acontecer na terra / da Babilônia e em

relação a tudo que havia acontecido aos reis anteriores que estiveram na terra da

Babilônia / naqueles dias.

4 – Eu estava na corte163 do rei da Babilônia, na casa real / dos caldeus, e nenhum

astrólogo, caldeu, ou “ocultador de leis”164 conseguiu triunfar sobre mim / na terra da

Babilônia. E, no entanto, eu revelei e mostrei, a respeito da estátua cuja cabeça era de

ouro / e cujos eram pés de ferro e sobre a pedra que a quebrou.165 E sobre a árvore que

foi desenraizada / e sobre suas raízes que foram cortadas.166 E sobre a palma da mão

que tinha escrito na parede / do palácio do rei.167 E eu tinha todas as profecias e visões

reveladas para mim, enquanto meus acusadores, / homens caldeus, me atiravam à

cova dos leões. / E o Deus dos meus pais mandou um anjo e fechou a boca dos leões e

eles não / me destruíram, mas ceifaram meus inimigos e suas crianças.168 E quando o

rei Nabucodonosor enlouqueceu, / Belteshazzar, seu filho,169 assumiu o reino dos

caldeus e [governou] depois dele. E ele fez um banquete170 / para seus nobres e seus

príncipes, suas esposas e concubinas e trouxe os objetos / de culto de ouro e prata, as

161 Lit. “filhos dos meus dentes” (siríaco bny šny). 162 “Quanto a estes quatro jovens, Deus deu-lhes conhecimento e entendimento sobre cada livro e

sabedoria”. (Dan 1:17) 163 A expressão siríaca bterh pode ser também traduzida como “no portão”. 164 A tradução “ocultador de leis” (siríaco ks’ ddyn’) é literal e segue a sugestão de Henze. O termo

“caldeu” (kldy’) pode ser aplicado à etnia ou designar um adivinho. 165 “E tu a viste até que uma pedra [atirada] sem mãos [humanas] acertou seus pés de ferro e argila e os

quebrou em pedaços”. (Dan 2:34) 166 “Ele falou alto e então disse: ‘derrube a árvore, corte seus ramos, remova sua folhagem e espalhe

seus frutos’. (Dan 4:11) 167 “Na mesma hora surgiram dedos de uma mão humana e escreveram, por trás do castiçal, sobre o

gesso da parede do palácio do rei; e o rei viu a palma da mão que escreveu”. (Dan 5:5) 168 “Meu deus enviou-me seu anjo e fechou a boca dos leões, de modo que não me feriram”. (Dan 6:23) 169 DanSyr confunde (como também o faz a Peshitta) Belteshazzar, nome dado a Daniel por Asfenez

chefe dos eunucos (Cf. Dan 1:7), com Belshazzar, filho de Nabonido, o qual é identificado erroneamente em Dan 5:11 como filho e sucessor de Nabucodonosor.

170 Literalmente “e os fez se reclinarem” (siríaco w’smk).

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taças e os pratos do templo do Senhor / em Jerusalém, os quais Nabucodonosor, rei da

Babilônia, tinha trazido do templo do Senhor. / O rei da Babilônia bebeu vinho neles,

ele e suas esposas / e concubinas e blasfemaram a respeito do Deus vivo.171 Então

surgiu a palma da mão / da ira e escreveu na parede o que iria acontecer ao rei. / E o

Deus vivo estava ressentido com ele.

5 – O rei Senaqueribe172 veio da Assíria, da cidade de Nínive e tomou / toda a terra

que pertencia ao rei Belteshazzar e ele governou sobre ela. Então / Asarhaddon,173 seu

filho, [tornou-se] rei da região da Assíria e de Nínive, / depois dele. E naquela época

babilônios e caldeus aproximaram-se e / acusaram-me diante de Senaqueribe, rei da

Assíria. Ele procurou prender-me e matar-me. Então / me foi revelado por Deus, o

Altíssimo, que Satã o havia incitado contra mim. E eu mudei para o país / dos persas,

para a casa real do rei Ciro. E enquanto eu estava lá, entre os persas, / Deus deu-me

honra e amizade com o rei Ciro.174 E eu fui trazido / para perto dele e contei ao rei

Ciro tudo o que / Nabucodonosor, rei da Babilônia, havia feito na terra de Judá e aos

cidadãos / de Jerusalém e a respeito do espólio e do butim que ele havia trazido com

ele de lá e sobre / as taças de ouro e os belos vasos do templo do Senhor Eterno, os

quais / Nabucodonosor, rei da Babilônia, havia trazido da terra de Judá. E sobre o

trono de ouro / em que o rei Salomão havia se sentado e a respeito das pedras

preciosas, as safiras / e sobre as belas contas que estavam depositadas no tesouro do

Rei Salomão. Ele as havia tomado / e as levara para Babilônia. E eu insisti com Ciro,

rei / da Pérsia.175 para que fosse à terra da Babilônia lutar contra ela e capturá-la e que

deveria apossar-se / desses tesouros e daqueles objetos do santuário, os quais o rei

Nabucodonosor / havia trazido para Babilônia e permaneceram lá.176

6 – O grande rei Ciro levantou um exército de muitos cavaleiros e carruagens / entre

os filhos da Pérsia e de Elam. Eles foram e acamparam contra Babilônia e romperam / 171 “Eles beberam vinho e louvaram os deuses de ouro, e de prata, de bronze, de ferro, de madeira, e de

pedra”. (Dan 5:4) 172 Existe um anacronismo evidente nesta passagem, uma vez que Senaqueribe, rei da Assíria (705 –

681 AEC) invadiu Judá um século antes do reinado de Nabucodonosor, mas não teria conquistado Jerusalém (cf. 2Chr 32:1-22). Senaqueribe não é mencionado no livro de Daniel.

173 SyrDan e a Peshitta grafam este nome da mesma maneira, o que confirma para Henze a origem siríaca e não grega daquele apocalipse.

174 “E assim Daniel prosperou no reinado de Dario e no reinado de Ciro, o persa”. (Dan 6:29). 175 “E Daniel continuou [assim] até o primeiro ano do rei Ciro” (Dan 1:21). No texto bíblico, Ciro (559

– 530 AEC) é mencionado mais uma vez, de passagem, em Dan 10:1. 176 A expressão siríaca wytb tmn, (literalmente “e ficou lá”) não permite determinar quem

(Nabucodonosor?) ou o que (o tesouros?).

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suas muralhas e demoliram suas torres. E a tomaram, entraram e a destruíram, / mas o

rei Senaqueribe escapou dela e foi para a sua antiga terra, para a Assíria / e Nínive.177

E o grande rei Ciro entrou na Babilônia, caminhou em seu interior e por todo / o

tesouro do rei da Babilônia. Ele saqueou Babilônia e a levou ao cativeiro e tomou

todos os objetos de ouro / e prata e todos os objetos de culto que o rei Nabucodonosor

/ havia trazido dos reis de Judá e todo o tesouro e os despojos dos reis da Babilônia /

que foram encontrados entre os caldeus e babilônios. E o rei Ciro os tomou.

7 – E eu, Daniel, tinha conhecimento de todos esses objetos [que estavam] / entre os

caldeus e babilônios e mostrei a Ciro, o rei persa, todos / os objetos que haviam vindo

de Jerusalém para a terra da Babilônia. O rei Ciro entregou / estes objetos ao seu

próprio chefe de eunucos;178 os objetos de culto, as taças, / baixelas, aspersórios,

garfos, jarras, a mesa / do altar, o candelabro de sete braços, as contas de berilo que

estavam fixadas nele / e as pedras preciosas, e também as pérolas, pilares, as baixelas

/ de ouro do Tabernáculo, o grande éfode que o sumo sacerdote vestia, / que tinha

doze pedras em seus ombros e nos quais estavam escritos / os nomes dos filhos de

Jacó. E as vestimentas do tempo do rei Davi e o trono / de ouro sobre o qual o rei

Salomão havia se sentado. E tudo que era precioso / em Babilônia e que o rei

Nabucodonosor tinha trazido, o rei Ciro / levou da Babilônia e trouxe para Elam e

para a Pérsia e sujeitou Babilônia à Pérsia / e a Elam, como eu havia mostrado a

Belteshazzar, a respeito da palma da mão que havia escrito / para ele algumas das

palavras de Deus na parede do palácio, que seu reino seria entregue / aos Medos e

Persas,179 porque beberam nos vasos da casa do Senhor.

8 – E quando [eles estavam] indo da Babilônia para a Pérsia e para Elam, o rei Ciro

[separou] / esses objetos com grande reverência. E foi mostrado a ele, por Deus, que

ele deveria ir e / depositá-los na montanha de Elam, na montanha que é chamada

Silai, por causa do nome do Monte / Sinai, e mantê-los lá até os últimos tempos.180 E

ele escreveu na superfície de uma pedra e / a colocou junto a eles.181 Apenas o trono

177 “Então Senaqueribe, rei da Assíria, se retirou e voltou, e habitou em Nínive”. (2Kgs 19:36) 178 No relato bíblico, o tesouro é passado por Mitrídates, o tesoureiro de Ciro a Sasabassar, príncipe de

Judá, quando os judeus deixaram a Babilonia e retornaram a Jerusalém. (cf. Ezra 1:8). 179 “Parsin, teu reino é dividido e dado aos medos e persas”. (Dan 5: 28). 180 “Terra, terra, terra, ouça a palavra do poderoso Deus e receba as coisas que confio a ti, e guarde-as

até o final dos tempos, de modo que possa devolvê-las quando for a ti ordenado”. (2Br 6:8).

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de ouro, sobre o qual / o rei Salomão usava se sentar, foi poupado pelo rei e ele o

deixou no tesouro.

9 – E Gaumata, o mago, levantou-se no meio da noite, matou o rei Ciro182 / e

apoderou-se do reino da Pérsia. E eu fiquei amedrontado e fugi para as cidades da

Pérsia / e de Elam, não fosse ele também me matar, pois eu era próximo ao rei Ciro e

para não ter que ir / mostrar a ele a montanha na qual foram colocados aqueles vasos

que o / rei Ciro tinha trazido da Babilônia, pois ele tinha entrado no tesouro do rei

Ciro / e encontrado o trono de ouro do rei Salomão. / Gaumata o tirou de lá e sentou-

se nele e tornou-se arrogante e blasfemo. / E me foi mostrado, por Deus, que o tempo

para aquele reino durar era curto. / E o reino de Gaumata, o mago [que reinou] depois

de Ciro, o persa [durou] / seis meses: e seus nobres conspiraram contra ele e o

mataram; e Dario / bar Bagdath bar Artaban apoderou-se do reino 183 e assumiu a

autoridade [que era] de Ciro, rei da Pérsia / e permaneceu na corte dos Reis.

10 – Dario, o rei, escreveu uma carta a meu respeito / a todas as províncias da Pérsia e

encontrou-me na grande cidade de Elam. Eu a recebi / e vim à corte do rei Dario.

Então ele começou a me forçar a ir / e lhe mostrar aqueles objetos do santuário que

Ciro, o persa, tinha guardado, / pois ele tinha visto o trono do rei Salomão que / o rei

Nabucodonosor tinha trazido de Jerusalém para Babilônia e o rei Ciro / para a Pérsia,

porque ele tinha visto seu esplendor e beleza, cuja aparência / não era possível de ser

feita por mãos humanas. E ele me forçou a ir e a lhe mostrar / onde o tesouro estava

escondido.

11 – E naquele momento Deus enviou um anjo do céu que feriu / o rei Dario e tirou-

lhe a luz de seus olhos. E ele muito temeu e ficou abalado. / E foi mostrado a ele em

uma visão à noite, que por conta dos maus pensamentos que ele tinha tido, deveria ir /

e levar os objetos do tesouro de Deus. E foi mostrado a ele, na visão, que deveria ir / a

Jerusalém, à Casa do Senhor e adorá-lo lá. E lá seria devolvida a ele / a luz de seus

olhos. O grande rei Dario mandou me chamar, pois eu deveria ir com ele / a

Jerusalém. Nós fomos então para Jerusalém e com um exército poderoso e muitas

181 O destino final desses objetos é desconhecido e não há outras menções a eles no texto. 182 De acordo com Heródoto, Ciro teria morrido em batalha, “embora muitas histórias sejam contadas

em relação ao fim de sua vida” - τὰ µὲν δὴ κατὰ τὴν Κύρου τελευτὴν τοῦ βίου, πολλῶν λόγων λεγοµένων. (cf. Histórias1:214)

183 Dario I, o Grande (522–486 AEC).

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carruagens, / cavaleiros e soldados, viemos a Jerusalém, para o lugar da casa / dos

meus pais. Mas encontramos Jerusalém destruída e abandonada por seus habitantes / e

deixada à própria sorte por seus cidadãos. E encontramos lá pessoas de meu

parentesco, mas não encontrei / pessoas da minha idade que tivessem estado lá em

meu tempo, naqueles dias antes de [Jerusalém] ter sido levada em cativeiro. / Mas o

rei Dario prosseguiu e entrou no santuário. Eu também / o lavei na [fonte de] Siloé184 e

ele acreditou no Deus dos meus pais. E ele o adorou no santuário / e seus olhos foram

abertos e ele viu a luz. E ele honrou o Deus vivo e caminhou / em todos os espaços

abertos de Jerusalém.

12 – E o rei Dario convocou todos os anciãos185 / que pudessem ser encontrados, os

sacerdotes que haviam sido poupados pela espada do rei Nabucodonosor / e os

homens que ao longo de seus anos haviam se tornado idosos. E lhes perguntou e eles

lhe contaram / a respeito do tesouro que o rei Nabucodonosor havia tirado dali, sobre

sua beleza e sobre / os objetos do Templo. E tudo que o Rei Dario perguntava a esses

anciãos / eles lhe diziam a verdade. E eles, por sua vez, perguntaram também a

respeito de muitas outras coisas / e ele lhes deu presentes magníficos. E todas as

coisas que eu havia contado / na Pérsia e em Elam a respeito de Jerusalém ele

confirmou ser verdadeiro. / E Dario levou com ele alguns dos sacerdotes e escribas e

foi para a Pérsia e para Elam. / E quando estava indo, o rei Dario tomou muitas

povoações e subjugou / magníficas cidades e sua autoridade estava em muitos lugares.

/ E ele recebeu a terra das águas.186

13 – Eu fui com ele para a Pérsia e Elam e lá grandes profecias me foram reveladas. /

E eu revelei visões especiais, sem fim e sem número, mistérios / e estações, sinais e

visões maravilhosas. E eu mostrei, a respeito dos tempos em que os dias do mundo

[estariam] chegando a um fim, / e sobre a consumação desta era, o que o Espírito

Santo mostrou / a Daniel na Pérsia e em Elam, nos dias do Rei Dario, o que está por

vir / e é mantido em segredo, a ser revelado no fim dos dias e das estações / e na

destruição de [tudo?] em sete semanas,187 na estação das estações. E estando os

184 “Vai, lava-te na piscina de Siloé. E ele foi, lavou-se e voltou vendo”. (Jn 9:7). 185 Lit. “os idosos que haviam envelhecido” (sb’ detyqyn). 186 Henze argumenta que a expressão “terras das águas” (‘re’ dmÿ’) pode representar uma grafia

equivocada de “terra dos Medos” (‘re’ dmdÿ’). 187 “Saiba pois e entenda [que] que desde a emissão da ordem para restaurar e reconstruir Jerusalém até

a unção do príncipe [serão] sete semanas”. (Dan 9:25)

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tempos completados, / o dia e o mistério estão destinados a aparecer. Surpreendente é

a visão que será revelada / ao final dos tempos e ao fim dos dias e ao fim das estações

e também ao final dos governantes / de Sião e ao término de Jerusalém.188 E os sábios

e aqueles que mantiveram a aliança entenderão / este livro189 e ao fim dos fins

tremerão com ele. /

14 – E os povos do norte se revoltarão /

e haverá muita comoção e um grande terremoto sobre a face da terra. /

E serão estes os sinais: /

como a voz dos anjos /

e como o tumulto dos exércitos celestiais eles serão ouvidos. /

E haverá um grande tumulto no céu /

até que as altas montanhas [se quebrem e] se nivelem às planícies.190 /

Então, os quatro ventos dos céus191 se juntarão /

uns aos outros /

e haverá uma grande e violenta batalha. /

Também, os cadáveres dos mortos serão agrupados e empilhados. /

E o chifre do oeste192 surgirá, quebrará os ventos dos céus /

e se manterá até o final dos tempos. /

Sinais aparecerão sobre a terra /

e tremores nas ilhas /

e nelas um incêndio queimará dia e noite. /

E haverá estes sinais nesses tempos: /

o sol estará coberto como se [estivesse] de luto /

e a lua como se coberta de sangue.193 /

188 “E ele confirmou as palavras que falou contra nós e contra os nossos juízes que nos julgavam,

trazendo sobre nós um grande mal; porquanto debaixo de todo o céu nunca se fez como se tem feito a Jerusalém”. (Dan 9:12).

189 “Mas tu, Daniel, guarde estas palavras e sele este livro até o tempo do fim: muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará”. (Dan 12:4)

190 “Certamente naquele dia haverá um grande tremor na terra de Israel: de modo que os peixes do mar, e as aves do céu, e os animais dos campos, e todos os animais que rastejam sobre a terra, e todos os homens que [estão] sobre a face da terra tremerão em minha presença, e as montanhas serão deitadas abaixo, e os precipícios serão desfeitos e todos os muros cairão por terra”. (Ezek 38:19-20).

191 “Daniel falou e disse: eu estava olhando na minha visão noturna e eis que os quatro ventos do céu agitavam o grande mar”. (Dan 7:2).

192 O bode com um chifre entre os olhos é uma clara alusão a Alexandre, o Grande: “E quando eu estava considerando, eis que um bode vinha do ocidente sobre a face de toda a terra sem sequer tocar o chão: e o bode [tinha] um chifre proeminente entre seus olhos. (Dan 8:5).

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A terra e o mar irão tremer /

e muitas pessoas cairão. /

Haverá também erro sobre a terra naqueles tempos: /

o filho rejeitará o pai, o irmão seu irmão /

e mesmo um amigo trairá seu amigo.194 /

E Deus castigará 195 a terra. /

Naqueles dias haverá grande fome e pestilência,196 /

muito granizo,197 calor e decomposição; /

e a espada, o gafanhoto e sua larva /

irão devorar a vegetação da terra.198 /

E haverá naqueles dias uma grande escuridão e ela cobrirá a terra, /

e tristeza, por gerações. /

E a terra conceberá a fraude /

e irá gerar e parir a iniquidade. /

O orvalho deixará de cair dos céus /

e a chuva das nuvens. /

E o fogo do céu /

consumirá as pedras da terra e queimará as fronteiras do norte.199 /

Ele queimará dia e noite /

e consumirá terra, raízes, /

pedras e árvores./

Naqueles dias terra e mar estarão em conflito; /

povos se insurgirão contra povos, reinos contra reinos /

e cidades contra cidades. 200 /

E os poderosos da terra /

Irão se revoltar um contra o outro. / 193 “Pois as estrelas dos céus e as suas constelações não darão a sua luz: o sol se escurecerá ao nascer, e

a lua não fará a sua luz brilhar”. (Isa 13:10) 194 “Mas o irmão entregará seu irmão à morte, e o pai, seu filho; e os filhos se levantarão contra seus

pais, e os matarão”. (Mt 10:21) 195 Henze grafa siríaco nšdyh (“rejeitará”) em vez de nrdyh (“castigará”). 196 “Pois nação se levantará contra nação e reino contra reino. E haverá fome, pragas e terremotos em

todos os lugares”. (Mt 24:7). 197 Henze grafa siríaco wmrd’ (“rebelião”), em vez de wbrd’ (“granizo”). 198 “O que a lagarta deixou, o gafanhoto devorou e o que o gafanhoto deixou a larva devorou!” (Joel

1:4) 199 Nos relatos bíblicos os inimigos de Israel viriam do norte e a paz somente seria alcançada após a

destruição de seus exércitos. (Jer 1:14; Ezek 38:15; Joel 2:20) 200 A discórdia entre povos assinala o início do “final dos tempos”, tanto nos textos canônicos (Isa

19:2; 2Chr 15:6; Mc 13:8) quanto na literatura apocalíptica (1En 56:7; Jub 23:19).

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Naqueles dias os anjos sairão para os quatro ventos dos céus /

para retribuir a ira a partir do interior da terra. /

E começarão a atacar e a destruir com a espada, com a pestilência /

e também com todo tipo de julgamentos. /

15 – Depois [disso] haverá calma sobre a terra /

e a paz se multiplicará.201 /

Aqueles que vivem no mundo se estabelecerão. /

A terra será pressionada por seus habitantes /

e os mares e as ilhas serão povoados. /

Monastérios e conventos se transformarão em cidades, /

e pequenas vilas crescerão. /

Terra e mar serão enfeitados com cidades e pequenas vilas, /

e também com palácios e edifícios. /

Cidades serão edificadas no alto das montanhas /

e muralhas e torres nas planícies. /

Então, subitamente, os ventos dos céus serão agitados /

e os anjos celestiais caminharão sobre a Terra. /

A Terra será pressionada por seus habitantes /

e o mar e as ilhas por seus ocupantes. /

Será dado a eles um sinal de malícia e um espírito enganoso; /

e em cada lugar e cidade serão numerosos os palácios e edifícios de corrupção. /

Naquele tempo haverá mudança nos ventos do mar /

e pó cairá do céu sobre a Terra; /

e das montanhas irá chover cinza por muitos dias. /

Os dias dos meses serão curtos, /

os dias dos anos passarão depressa, /

os trajetos do sol e da lua mudarão202 /

e aqueles tempos serão traiçoeiros. /

Os ventos dos céus serão aprisionados e não soprarão203 /

201 O advento do Anticristo é geralmente antecedido, na literatura apocalítica, por um período de paz:

“Quando ouvires que há segurança em Jerusalém rasguem suas roupas, ó sacerdotes da terra, pois em breve virá o filho da perdição”. (ApEl 2:40)

202 “E subitamente o sol brilhará à noite e a lua durante o dia”. (4Ez 5:4). 203 “E depois destes, vi quatro anjos postados nos quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da

terra, para que não soprassem sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre as árvores”. (Rev 7:1).

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e as nuvens do firmamento serão imobilizadas e não se deslocarão. /

E a chuva não cairá do céu, /

a luz do sol empalidecerá /

e sua luz será como a luz de Sin,204 ou seja, a lua. /

A luz da lua não será vista, /

as estrelas não irão brilhar205 /

e a escuridão e a melancolia terão controle sobre a face da terra.206 /

O mal se espalhará na terra entre os habitantes do mundo /

e a terra irá reter seus frutos, e as montanhas sua vegetação. /

16 – Um som será ouvido do céu: /

e haverá horrores e fendas nas montanhas, /

medo e tremores em vários lugares /

com luz de relâmpagos e som de trovões. /

E as nuvens do céu se movimentarão em círculos /

e anjos celestiais aparecerão sobre a terra como seres humanos. /

Naquele tempo será vista uma coluna de fogo no céu /

que chegará à Terra. /

E a escuridão estará sobre a Terra por muitos dias. /

O sol não se levantará, a lua não se movimentará /

e as estrelas não serão vistas. /

Nestes tempos os povoados do mar estarão cobertos: /

cidades também serão inundadas pelos mares /

e muitos lugares serão assolados por serpentes. /

Muitas pessoas também morrerão pela espada207 /

e muitas cidades serão subjugadas pelo tributo.208 /

Vilas e povoados serão queimados pelo fogo. /

Nestes tempos o ódio crescerá sobre a Terra /

204 O deus da lua, na mitologia dos povos mesopotâmicos. 205 “Pois as estrelas do céu e suas constelações não darão suas luzes: o sol se escurecerá ao nascer e a

lua não fará sua luz brilhar”. (Isa 13:10) 206 “Pois eis que as trevas cobrirão a terra, e a escuridão os povos; mas o Senhor se levantará sobre ti, e

a sua glória será vista sobre ti”. (Isa 60:2) 207 Henze utilizou a tradução metafórica (“destruição”) para o termo siríaco ḥrb’ (“espada”), mas a

tradução literal encontra-se mais próxima da citação bíblica: “[...] devolva a espada ao seu lugar, pois todos aqueles que tomam as espadas, pelas espadas morrerão”. (Mt 26:52)

208 Esta é a única referência a tributos em todo o texto do Apocalipse Siríaco de Daniel.

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e a fraude aumentará no mundo, /

o pecado se multiplicará sobre a Terra /

e o mal mostrará sua cabeça. /

Alguns poucos e esparsos serão deixados no meio da terra. /

Ventos e aflições aumentarão /

e irão à frente para causar problemas sobre a Terra e corrupção em seu meio. /

Naqueles tempos, a “sabedoria” se multiplicará sobre a Terra: /

falsos profetas e professores traiçoeiros /

ensinarão todos os tipos de heresias.209 /

E o quem estará lá naqueles dias, [entre] sábios e escribas, / que se lembrará do reino

dos céus? Este reino não / será visível para eles: será tomado deles e a verdade será

vista por aqueles que a procuram. /

17 – Naqueles dias haverá tumulto dia e noite.210 /

Altos palácios cairão /

e muitos seres humanos irão perecer. /

Altos edifícios serão demolidos /

e se tornarão tumbas para seus moradores. /

Muitas cidades serão tomadas pelo mar /

e seus habitantes serão arrastados pela enchente. /

Naqueles tempos haverá escassez sobre a terra /

e muita opressão.

E as pessoas irão roubar e pilhar o que não lhes pertence /

e haverá aumento dos malfeitos no seio da terra. /

O que é verdadeiro será considerado falso, /

mentiras serão confiáveis /

e a verdade abandonará a Terra. /

E os reis da terra mentirão e seus juízes serão corrompidos, /

De modo a trocar211 um julgamento justo por uma riqueza espúria. /

E o mundo será pressionado por seus pecados /

e haverá tumulto em todas suas casas e cidades. / 209 “Pois surgirão falsos Messias e profetas mentirosos e eles apresentarão sinais e prodígios e

enganarão, se possível, até mesmo os eleitos”. (Mc 13:22) 210 “Pois nação se levantará contra nação e reino contra reino; e haverá terremotos em vários lugares e

haverá fome e insurreições. Isto é o princípio das dores”. (Mc 13:8) 211 Henze grafa lmšynw (“reconciliar”) e Slabczyk lmšnyw (“trocar”), mais adequado.

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E a vilania será vista nas paredes de suas torres. /

E [as pessoas] estarão cheias de falsidades /

e prontas para discutir fornicação e injustiça. /

E pela preguiça se apressarão /

a recompensar a iniquidade em troca da correção /

e o mal em troca do bem. /

Também seus reis serão julgados,212 /

a verdade deles mostrará ser falsa, /

seu dinheiro será recusado213 e seu orgulho diminuído. /

18 – Naqueles dias as nascentes no interior da Terra se tornarão insuficientes,214 /

as fontes minguarão na Terra /

e os rios perenes secarão. /

Os dias de verão serão no inverno, /

os dias de inverno no verão /

e os dias do ano serão trocados. /

Divisão cairá sobre a Terra, /

inveja e rebelião sobre os habitantes do mundo. /

O filho silenciará seu pai no tribunal /

e a nora estranhará sua sogra e a expulsará [de sua casa]. /

Naqueles dias a terra será medida por palmos215 /

e um cúbito216 de terra será comprado por uma mina.217 /

A vingança da ira virá à Terra. /

Um khor218 [de sementes] produzirá um seah219 /

e mil videiras da vinha tanto quanto uma medida de vinho. /

E eles semearão muito, mas não irão colher, /

muitos irão gerar [filhos], mas não os criarão /

e um homem trabalhará dia e noite, /

212 Henze traduz nštqlwn dyn como “se tornarão arrogantes”. 213 “Prata rejeitada são chamados, porque o Senhor os rejeitou”. (Jer 6:30) 214 “E naquele tempo [...] as nascentes das fontes ficarão paradas de modo que por três horas elas não

fluirão”. (4Ez 6:24) 215 “Quem mediu as águas na palma da sua mão?” (Isa 40:12) 216 Unidade de comprimento, equivalente à distância entre o cotovelo e o punho. 217 Unidade de peso e valor, como a libra. 218 Unidade de volume, equivalente a cerca de 400 litros. 219 Unidade de volume, equivalente a cerca de 13 litros.

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mas não terá o suficiente para o pão.220 /

Pais sepultarão [seus] filhos e também os filhos [seus] pais, /

como nos anos das gerações passadas. /

Naqueles dias as ilhas serão empurradas para dentro do mar /

e aqueles que viajam pelo mar e os habitantes das ilhas estarão isolados. /

19 – E então os tempos estarão completos /

e os últimos dias estarão próximos. /

E haverá estes sinais: /

a luz do sol se enfraquecerá, /

a lua será contida em seu curso /

e o firmamento também cobrirá sua face.221 /

Quando os últimos dias começarem a se aproximar, /

grandes sinais começarão a surgir subitamente.222 /

Haverá um grande terremoto na Terra, /

um clamor predominante e forte no firmamento dos céus /

e um grande terror no mundo. /

E será ouvido de mar a mar /

e dos confins dos céus aos confins da Terra. /

E as nuvens do firmamento serão esvaziadas /

e entre elas uma imensa fogueira se instalará nos quatro ventos da Terra, /

e ela queimará o topo das montanhas quatro vezes em um dia. /

E anjos aparecerão em Sião /

e santos [anjos] em Jerusalém. /

Exércitos de anjos também aparecerão sobre as ondas do mar. /

Então o medo habitará o mar /

e tremores cairão sobre as ilhas /

e um grande terremoto nas casas do mundo. /

E então anjos celestiais irão surgir como fogo223 /

220 “Naquele tempo, homens esperarão mas não terão, trabalharão e não irão prosperar”. (4Ez 5:12) 221 “E logo após a aflição daqueles dias, o sol escurecerá e a lua não mostrará sua claridade, as estrelas

cairão do céu e os poderes celestiais serão agitados”. (Mt 24:29). 222 A expressão siríaca mn šly’ tem diversos significados e é traduzida por Henze como “sob o silêncio”

nesse verso. 223 “[...] que governa com indignação os inumeráveis seres celestiais, que são fogo e fogo, os quais Tu

criaste desde o começo”. (2Br 21:6-7)

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e destruirão muitas pessoas em seu caminho. /

A terra e o mar serão então misturados /

e ventos fortes e poderosos soprarão. /

20 – Naqueles dias o sol estará coberto como se (estivesse) de luto224 /

e a lua como se coberta de sangue: /

as estrelas cairão como as folhas das árvores225 /

e como guardiões do fogo, /

setas e lanças serão atiradas sobre a face da Terra. /

E então, todos os povos e línguas ficarão alarmados e tremerão. /

Subitamente, grandes terrores /

e fendas estarão no meio da Terra. /

E a Terra será rasgada em pedaços /

como uma vestimenta, até o fundo do abismo; /

e muitas pessoas, ainda vivas, serão também engolidas no interior da terra. /

E então montanhas serão deslocadas de seus lugares /

e também colinas serão mudadas de suas posições.226 /

Então, colunas de fogo serão vistas no céu /

e uma fornalha de chamas no interior das nuvens. /

E serão vistos no firmamento celestial como se fossem corcéis de fogo /

e carruagens de guerra, /

segurando uma espada de ferro e uma lança de guerra. /

21 – Será naqueles dias que uma mulher irá gerar um filho / da casa de Levi.227 E nele

aparecerão estes sinais e eles serão desenhados em sua pele, / como se fossem armas

de guerra: detalhes de um peitoral e um arco, uma espada e uma lança / e uma adaga

de ferro e carruagens de fogo. Sua aparência será como a de uma fornalha / em

224 A utilização do verbo eṭp (“cobrir”, “vestir”, “embrulhar”) em relação ao sol e à lua, provavelmente

descreve um eclipse. 225 “[...] e a lua inteira, como sangue; as estrela do céu caíram sobre a terra como uma figueira que

deixa cair seus frutos. (Rev 6:12-13) 226 “E os céus separados, como um livro é enrolado, e todas as montanhas e ilhas foram removidos dos

seus lugares”. (Rev 6:14) 227 O Anticristo, na tradição apocalíptica, surge na tribo de Dan e não na de Levi.

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chamas e seus olhos como carvão em brasa. E ele tem um chifre entre / seus olhos,

cuja ponta está quebrada228 e como se saísse dele, a forma de uma serpente. /

22 – Quando esses sinais começarem a acontecer, então o advento / do sem coração,229

da serpente fraudulenta, do falso Messias começará a aparecer. Ele / virá das

extremidades das terras do leste para iludir os habitantes do mundo. / E dirá a respeito

de si mesmo: “Eu sou o Messias”. E ele sairá do ventre de uma serpente e dos /

intestinos de uma cobra e com ele virão muitos guardas e anjos poderosos. /

E estes são seus sinais e a amedrontadora aparência de sua estatura: /

sua cabeça é grande e seu cabelo brilhante,230 /

seus olhos azuis e seu pescoço, forte; /

suas sobrancelhas231 são altas, seu peito largo, /

seus braços longos e seus dedos, curtos. /

Ele tem dois chifres em seus ouvidos /

e excesso de carne em suas orelhas /

e também pouca carne.232 /

Sua aparência é raivosa, surpreendente e furiosa /

e a aparência de sua estatura é também surpreendente. /

Ele será visto como um relâmpago no céu /

e como uma tocha no acampamento. /

Com ele, carruagens de fogo e acampamentos de guerra. /

Mais rápidos que um leopardo são seus corcéis /

e mais atrevidos que lobos noturnos são seus mensageiros. /

Sua estatura é grande e alta /

e flutua sobre as montanhas, /

igual às nuvens do céu. /

Com ele [virão] um exército de serpentes e acampamentos de indianos.233 /

Então os portões do norte serão abertos diante dele /

e o exército de Mebagbel234 /

228 O chifre quebrado refere-se a Alexandre: “[...] quando ele era forte, o chifre foi quebrado, e no seu

lugar subiram outros quatro também insignes, para os quatro ventos do céu”. (Dan 8:8) 229 Lit. “despido de coração” (siríaco dšmyṭ lb’). 230 A palavra zrgn pode ser também traduzida como “vermelho”. 231 Henze traduz gbwhy como “seus lados”, com o sentido de “suas espáduas”. 232 O significado da frase é obscuro. 233 Alexandre conquistou parte da Índia em 326 AEC. 234 Única referência a este nome, o qual é desconhecido fora de SyrDan.

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e a multidão dos filhos de Gog e Magog se lançarão à frente, /

enormes em suas estaturas, /

poderosos em suas forças /

e numerosos em suas tropas. /

E irão controlar o mundo e a imensidão da Terra, /

e marchar de mar a mar /

e de uma extremidade do céu à outra. /

23 – E estes são os sinais e ações que ele fará: /

ele se movimentará com rapidez em frente às suas tropas e ao seu acampamento, /

e montanhas e colinas estarão correndo rapidamente. /

Ele sairá com o nascer do sol /

e voltará antes que ele se ponha /

e o imobilizará, de modo que ele [o Sol] não se moverá para frente. /

E ele dirá para a lua se levantar, e ela se levantará, mas não se moverá para diante. /

E estenderá suas mãos para o firmamento das nuvens /

e impedirá a chuva e o orvalho [de caírem]. /

E irá imobilizar as nuvens do firmamento de modo a não se movimentarem. /

E ele ordenará os ventos a não soprarem /

e aos rios profundos a correr para trás. /

E ficará [imerso] no mar até os joelhos /

e os animais marinhos viverão com medo. /

E as serpentes que estão no mar ficarão muito alarmadas. /

E ele correrá, em um dia, três vezes /

de mar a mar e de uma extremidade do céu à outra. /

E ele estenderá seus longos braços /

e pegará os pássaros do céu, os animais selvagens e as aves de rapina /

e mesmo assim seus exércitos e acampamentos não estarão completos. /

24 – Ele armará sua tenda oposta a Sião /

e sua tenda ficará oposta a Jerusalém. /

As pessoas o verão e ficarão amedrontadas /

e as tribos ficarão alarmadas. /

E as ilhas do mar viverão com medo, /

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acreditando [que] ele é o Messias /

e muitos se perderão ao seguí-lo. /

E ele fará muitos sinais e prodígios, /

mas os mortos ele é incapaz de levantar.235 /

Seu próprio reino e seu domínio durarão por um tempo, tempos e meio tempo, /

que são três anos e seis meses.236 /

Ele começará a estabelecer ídolos em Sião /

e cultos estrangeiros em Jerusalém /

e será acusado e amaldiçoado pelo céu. /

E praticará malefícios contra aqueles desafortunados que estão próximos a ele. /

Então, o anjo da reconciliação237 se apresentará vindo da presença de Deus, com

poderosa / força e heroico poder. E com ele, os anjos guerreiros / o irão capturar nas

terras do sul, nos caminhos do grande mar. / E eles o atingirão com uma espada de

fogo inextinguível, de sua cabeça até / seus joelhos e o dividirão em dois. E o

colocarão na beira / do mar como uma grande montanha, a qual caiu e como um

rochedo íngreme, o qual foi cortado. E seu fim / e destruição terão lugar no mar. E

todos os seus exércitos e servos serão engolidos pelo mar / e irão perecer.

25 – Então o medo habitará na terra /

e um grande terremoto se apoderará de todos os viajantes e residentes das ilhas /

e muitas pessoas, trêmulas e amedrontadas, irão morrer. /

E muitos dos povoados serão destruídos e seus edifícios cairão /

e muitas cidades serão demolidas sobre seus moradores. /

A terra será deixada deserta, sem habitantes /

e também os mares e as ilhas, por seus residentes. /

Povoados e cidades serão arruinados e ficarão desertos. /

E dez vilarejos se unirão ao mesmo tempo para se estabelecerem nas escarpas de uma

montanha; /

e o caminho para o mar será cortado, /

235 “Ele multiplicará seus sinais e seus prodígios diante de todos [...] exceto por ressuscitar os mortos”.

(ApEl 3:11-13) 236 “E proferirá [grandes] palavras contra o Altíssimo e porá à prova os santos do Altíssimo; e cuidará

em mudar os tempos e as leis e eles serão entregues em sua mão por um tempo, tempos e metade de um tempo”. (Dan 7:25)

237 Este anjo não é identificado pelo nome em SyrDan. Uma das versões na literatura correlata atribui a São Miguel a responsabilidade pela morte do Anticristo: “[...] e o Anticristo será morto pelo poder de Deus por meio do Arcanjo Miguel, no Monte das Oliveiras”. (STLt: 50)

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e as trilhas e passagens dos vilarejos interrompidos. /

Animais selvagens serão abundantes nas montanhas e mais numerosos que seres

humanos, /

e como lobos noturnos irão ameaçar /

pessoas para atacá-las e destruí-las.238 /

E muitas vilas e cidades servirão (como) residência para animais selvagens: /

chacais se aninharão em palácios reais e em altos edifícios, /

falcões e pássaros menores irão planar e neles entrar; /

e poucas e esparsas pessoas serão deixadas. /

E eles estarão morando no topo das montanhas /

com muito medo e em grande pavor. /

E então haverá calma sobre a terra por meia semana.239 /

E o número de anos eles irão entender a partir dela, /

e a consumação dos tempos e sinais eles perceberão durante o tempo que ela durar. /

E o fim estará próximo ao fim dos tempos /

quando o tempo dos últimos dias estiver próximo. /

Será na consumação do último tempo do fim da era: /

a terra será dilacerada e se abrirá, /

os pilares abaixo da terra se desmancharão /

e os depósitos de fogo serão abertos. /

As montanhas e colinas dentro dela entrarão em colapso /

e serão lançadas em fendas profundas. /

E quem estará [lá] neste dia /

para comandar e quem será encontrado naquele momento, /

quando a grande e admirável cruz240 /

do Deus dos deuses e Senhor dos senhores começar a aparecer? /

26 – E será neste dia, /

o Senhor comandará aos quatro ventos do céu a soprar com grande agitação /

238 Os “lobos noturnos” representam, na literatura apocalíptica, as autoridades públicas: “Os seus

príncipes, no meio dela [a terra] são como lobos que arrebatam a presa, derramando sangue, [e] destruindo vidas, para adquirirem lucro desonesto”. (4Ez 22:27)

239 “Ele confirmará a aliança com muitos por uma semana. E pelo tempo de meia semana fará cessar o sacrifício e a oblação”. (Dan 9:27)

240 “Quando Cristo vier, [...] virá cercado por uma coroa de pombas; ele caminhará nas abóbadas celestiais levado pelo sinal da cruz”. (ApEl 3:2)

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e com movimentadas e fortes rajadas.241 /

Então nuvens fortes e amedrontadoras serão agrupadas de todos os confins dos céus, /

e os anjos celestiais [estarão] sobre elas. /

E em uma frenética corrida irão se apossar dos quatro ventos do mundo /

e lançar muitos relâmpagos e fortes e ameaçadores trovões /

que aterrorizarão o mundo inteiro. /

Também as nuvens do firmamento se esvaziarão /

e faíscas de fogo e carvões em brasa serão lançados de dentro das nuvens /

sobre a face da Terra e a queimarão sem cessar. /

Todos os confins da terra estarão aterrorizados e alarmados /

e um grande medo cairá sobre todos os povos, nações e línguas /

que habitam os mares ou que vivem em áreas afastadas. /

E tremores se apoderarão deles. /

Então, do oeste eles fugirão para o leste /

e do leste para o oeste. /

E do norte para o sul /

e do sul para o norte.242 /

E de todos os lugares e de cada região /

o fogo da ira os encontrará e se apoderará deles. /

E ventos vigorosos os incomodarão novamente; /

relâmpagos poderosos os aterrorizarão /

e fortes trovões os alarmarão. /

E quem estará [lá] neste dia /

e quem será encontrado naquele momento, /

quando o Deus dos deuses aparecer, /

o poderoso Senhor, o guerreiro do reino? /

27 – [A Terra] tremerá em seus polos diante dele naquele dia. /

E também os céus tremerão em seus pilares naquele dia. /

Mas as montanhas mudarão de posição243 /

241 O autor emprega o termo siríaco zwe’ (“agitação, movimentação”) duas vezes, em sequência. É

possível que essa repetição indique uma corrupção do termo zwe’e’, que tem o significado de “furacão, tornado”.

242 “Mas com um furacão eu os dispersei por todas as nações que eles não conheciam; assim a terra foi devastada atrás deles de modo que ninguém passa ou retorna, pois deixaram desolada uma terra agradável”. (Zech 7:14).

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e as colinas se derreterão como cera diante do fogo244 /

e todas as ilhas do mar serão isoladas; /

também, serão procuradas e não serão encontradas. /

Então as fontes de água secarão245 /

e os rios profundos fluirão para trás; /

e correrão amedrontados diante do grande rei do céu e da Terra, /

o Senhor de todos os servos. /

E será naquele dia: /

a escuridão cobrirá a Terra, /

uma espessa neblina as nações246 /

e a Terra tremerá diante dele, /

tão rápida quanto chumbo na água.247 /

Poderosos trovões se multiplicarão /

e ferozes e estupendos relâmpagos não serão silenciados. /

Nuvens terríveis e sombrias se moverão sobre a Terra /

e carruagens de anjos estarão correndo sobre as montanhas. /

E anjos celestiais estarão aparecendo como fogo em rápidas carruagens. /

A Terra não será capaz de prevalecer e ficar diante dele, /

e também o sol não o suportará. /

E com o som de poderosos trovões, temíveis terremotos, muita contestação, /

com o esplendor de muitos relâmpagos e o melodioso canto dos frequentes trovões, /

o coração de todas as pessoas se derreterá 248 /

em medo e tremores. /

E elas não irão suportar ficar diante da força de seu poder naquele dia. /

E toda a carne dormirá naquele dia /

e nada que se arrasta sobre a face da Terra /

permanecerá naquele momento, /

naquele grande e poderoso dia. /

A Terra com certeza irá balançar, o mar seguramente irá secar / 243 Siríaco nthpkwn (lit. “serão viradas”). 244 “E altas colinas serão aplainadas e derreterão como favos de mel diante da chama”. (1En 1:6) 245 “E as águas se esvairão do mar e o rio se esgotará e secará”. (Isa 19:5) 246 “Pois veja, a escuridão cobrirá a terra e uma espessa neblina as nações, mas o Senhor levanta-se

sobre ti e sobre ti será vista Sua glória”. (Isa 60:2) 247 A imagem, embora pouco usual, corresponde a uma citação bíblica: “Sopraste com o teu vento, o

mar os cobriu: afundaram-se como chumbo em águas impetuosas”. (Ex 15:10) 248 “Eis porque todas as mãos se desfalecem, todos os corações humanos se derretem”. (Isa 13:7)

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e a terra estará muito instável. /

E eles correrão e estarão agitados /

e grandes e terríveis atrocidades terão lugar nas profundezas da Terra. /

E [haverá] uma grande e poderosa visão no firmamento do céu. /

28 – Então, o céu e o céu dos céus serão rasgados em pedaços /

e também todos os firmamentos darão espaço. /

Então Adonai Seba’oth, /

Deus dos deuses, Senhor dos Senhores e Rei dos reis,249 /

o grande e temível /

[virá] do céu com grande poder e força, /

em beleza majestática, sobre nuvens de luz /

e numa carruagem de água benta,250 /

com maravilhoso poder /

e com uma chama ardente e um carvão em brasa, /

e com os anjos, seres poderosos. /

Sua voz será ouvida de muitas alturas /

e ele falará com um poderoso fogo e uma flamejante chama251 /

e carruagens de fogo /

e grupamentos de anjos sagrados o cercarão. /

Ele irá sobre asas e colocará sua carruagem sobre as nuvens 252 /

Ele inclinará o céu e descerá e [haverá] uma neblina escura sob seus pés.253 /

A terra o verá e tremerá diante dele, /

as montanhas se derreterão como cera /

e também as profundezas e toda a Terra. /

[Algo] como um manto, será espalhado sobre elas /

e as águas o verão e se agitarão254 /

e as ondas do grande mar se elevarão acima do topo das montanhas / 249 Em hebraico, o deus de Israel é chamado “Deus dos deuses” e “Senhor dos senhores” (Dt 10:17). A

expressão “Rei dos reis” é encontrada apenas uma vez na Bíblia Hebraica (Ez 26:7) e refere-se a Nabucodonosor. A Peshita utiliza “Senhor Deus”.

250 Não há referências à expressão “carruagens de água benta” nos relatos bíblicos. 251 “Eis que o nome do Senhor vem de longe, ardendo [com] sua ira, e [portanto] pesada é sua carga:

seus lábios estão cheios de indignação e sua língua é como um fogo devorador”. (Is 30:27) 252 “Quem faz das nuvens a tua carruagem, quem anda sobre as asas do vento”. (Ps 104:3) 253 “Ele também inclinou os céus e desceu; e a escuridão [estava] sob seus pés”. (2Sam 22:10) 254 “As águas te viram, ó Deus, as águas te viram e ficaram com medo: as profundezas também se

preocuparam”. (Ps 77:17)

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que nela existem. /

E muitas nuvens estarão chovendo fogo. /

Os depósitos de fogo e de vento,255 /

que jazem escondidos no firmamento, serão abertos /

e será revelado diante dele, naquele grande dia, o que estava escondido dentro das

profundezas. /

Então, naquele dia, a Terra gotejará fogo como chumbo [derretido] /

e [os céus] serão enrolados como pergaminho,256 /

E ele tirará também a luz das estrelas /

e elas cairão como as folhas das árvores. /

E o sol e a lua não darão luz. /

E o firmamento, que continha a chuva e o orvalho, /

naquele dia será aberto e transbordará /

e os anjos das profundezas, embaixo, se darão as mãos /

e os pilares do firmamento se tornarão instáveis. /

29 – E então o Deus dos deuses, Senhor dos senhores e Rei dos reis, /

Adonai Seba’oth, o poderoso Senhor, /

aparecerá por completo em Sião /

e colocará o querubim do santuário257 em Sião /

e o trono dos justos nas montanhas de Jerusalém. /

E também a (?)258 do Rei Messias do céu irá aparecer na Terra. /

E o brilhante serafim259 estará de pé diante dele /

e magníficos anjos estarão servindo diante dele. /

E ele fará sua Divina Presença se acomodar nas montanhas de Jerusalém /

e morará nela e a santificará. /

E a sombra de suas asas a recobrirá, /

e o brilho de sua face resplandecerá sobre ela /

255 “Abra para mim as salas fechadas e traga-me os ventos trancados nelas”. (4Ez 5:37) 256 “E todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus serão enrolados juntos como um pergaminho”.

(Is 34: 4) 257 O querubim está relacionado à presença de Deus e servia como local de encontro dos sacerdotes

com Deus no tabernáculo: “Assim, as pessoas enviadas a Silo de lá trouxeram a Arca da aliança do Senhor dos Exércitos, que habita [entre] os querubins”. (1Sam 4:4)

258 O sujeito da frase está no feminino, mas não pode ser identificado no parágrafo. 259 Serafins são seres celestiais dotados de três pares de asas de fogo que revolvem ao redor do trono de

Deus cantando “santo, santo, santo” (cf. Isa 6:1-3).

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e sua própria mão direita, uma força poderosa, lhe dará sombra. /

30 – Então haverá a vinda260 do Rei Messias em grande glória. /

Seu nome precede o sol,261 /

e seu reino e seu domínio precedem a lua. /

Com ele virão os justos e os virtuosos /

e eles aparecerão em nuvens sagradas no começo da revelação de sua vinda, /

como um homem forte e como um guerreiro, poderoso na batalha. /

Fogo irá consumir diante dele e uma chama arderá ao seu redor. /

E à frente dele estará correndo e queimando seus inimigos. /

E consumirá, na Terra, pedras e árvores /

e queimará a água, o ferro e o bronze. /

Ele terá domínio sobre as montanhas e as nascentes dos rios /

e não haverá nenhum que será deixado. /

E diante dele, que é o Senhor dos senhores, dois portões de ferro serão abertos, /

e as barras de bronze serão quebradas /

e as montanhas serão esmigalhadas como poeira. /

A escuridão fugirá diante dele /

e a noite será engolida por sua luz. /

E os portões serão abertos e os pilares da terra serão vistos. /

E ele cortará a autoridade da morte /

e o pecado será procurado, mas não encontrado. /

31 – Então, será revelado o esplendor de Jesus em grande glória /

e sua majestade; e a maravilha de sua vinda se tornará visível.262 /

As montanhas o verão e se alegrarão, /

as colinas estarão radiantes, /

os rios baterão palmas263 /

e o mar exultará em sua plenitude.264 /

260 É provável que a palavra “vinda” corresponda ao sujeito não identificado na 4ª l. do cap. anterior. 261 O expressão “seu nome precede o sol” (mn qdm šmš’ ’ytwhy šmh) sugere a crença em SyrDan, da

preexistência de Cristo: “Naquela hora, ao filho do Homem foi dado um nome na presença do Senhor dos espíritos, antes do começo dos dias; antes mesmo da criação do sol e da lua, antes da criação das estrelas”. (1En 48:2-3)

262 “Sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor”. (Hab 3:3) 263 “Celebrai com júbilo o Senhor, todas as terras: dai gritos, regozijai e cantai louvores [...] batam

palmas os rios todos e as montanhas gritem de alegria”. (Ps 98:4-8)

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As nuvens e a espessa neblina estarão vestidas de luz /

e gotejarão orvalho. /

A Terra verá sua face e se alegrará. /

As ilhas verão sua glória e serão envolvidas pela alegria. /

As montanhas o verão no mundo, levantarão suas escarpas /

e irão correndo e dançando alegremente, encontrá-lo.265 /

O mar o verá e se alegrará /

e suas ondas se elevarão mais alto que as montanhas, /

para lhe dar glória e honra. /

E os ventos serão envolvidos pela calmaria /

e sairão para encontrá-lo com alegria. /

32 – Então a Terra ficará firme e não tremerá,266 /

os ventos estarão quietos e não soprarão, /

o mar estará calmo e não se agitará /

e a glória267 do Messias aparecerá. /

Então a paz se elevará das montanhas /

e as colinas serão cobertas pela justiça.268 /

E os que vivem no deserto se alegrarão /

e os vales, e tudo que neles existe, se alegrarão /

diante do Messias Jesus, Nosso Senhor. /

E a paz florescerá no mundo /

e haverá justiça em abundância sobre a Terra. /

Leite fluirá das montanhas /

e o mel transbordará das colinas.269 /

Fontes de leite fluirão do topo das montanhas /

e óleo fluirá das nascentes em suas escarpas. /

Então torrentes d’água correrão no deserto /

264 “Que os céus se alegrem, e que a terra exulte; brame o mar e a sua plenitude”. (Ps 96:11) 265 “Naqueles dias montanhas dançarão como carneiros; e as colinas saltarão como crianças saciadas

com leite”. (1En 51:4) 266 “Assentaste as fundações da terra de modo que não fossem jamais removidas”. (Ps 104:5) 267 “E abençoado [seja] seu glorioso nome para sempre: e deixe a terra inteira se encher com sua glória.

Amém! Amém!” (Ps 72:19) 268 “As montanhas trarão paz ao povo, e as colinas, justiça”. (Ps 72:3) 269 “E eu serei vosso Deus para cumprir o juramento que fiz a vossos pais , de lhes dar uma terra onde

corre leite e mel”. (Jer 11:5)

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e rios gloriosos em lugares secos.270 /

Fontes de águas claras fluirão na terra devastada e desolada. /

O cedro e a oliveira vicejarão no Monte Sião /

e murta, cipreste e árvores floridas que exalam doce perfume, /

nas vizinhanças de Jerusalém. /

E cursos d’água [e] rios correrão sobre os topos das montanhas de Sião. /

33 – Então a nova Jerusalém será construída 271 /

e Sião estará completamente habitada. /

E o poderoso Senhor construirá Sião /

e seu santo Messias brilhará em Jerusalém. /

Homens fortes construirão suas paredes /

e anjos sagrados completarão suas torres. /

Ela será construída com as pedras da justiça /

e com as preciosas gemas da virtude será completada. /

E seu arquiteto será o Messias /

e seu construtor o anjo da paz.272 /

E será construída como um edifício para a eternidade. /

Sua luz será vista até os confins da Terra; /

sobre montanhas sagradas e sobre nuvens brilhantes ela será completada. /

E Jerusalém será pura e gloriosa, /

à medida que as nuvens sagradas a levantam /

e o mundo brilhará em seu esplendor. /

Ela terá sete muralhas /

e doze portões serão abertos em Jerusalém. /

E eles escreverão neles os nomes dos filhos de Jacó. /

Anjos sagrados ficarão em suas muralhas /

e guardiões da justiça em suas torres. /

E haverá paz sobre seus portões, /

que serão abertos e nunca se fecharão novamente. /

Eles estarão abertos para aqueles que entram em paz e saem em paz. / 270 [...] “pois água jorrará de lugares despovoados e riachos, no deserto”. (Isa 35:6) 271 A descrição da construção da Jerusalém celestial tem por base diversos relatos bíblicos,

especialmente Rev 21:1-22. 272 Tal como o “anjo da reconciliação”, o “anjo da paz” não é identificado por um nome próprio em

SyrDan.

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E ela se tornará a força da justiça: /

um clarim incandescente soará em seu interior /

e todos os hinos dos justos serão ouvidos de dentro dela. /

34 – Então a felicidade estará sobre a terra /

e a alegria no firmamento do céu. /

E o primeiro clarim chamará das alturas do céu /

e um grande trompete ressoará de Jerusalém. /

E seu som será ouvido dos confins da terra até as profundezas abaixo. /

Então a terra e seu poder serão abertos /

e suas fundações subterrâneas aparecerão. /

E o mar será aberto e suas nascentes profundas serão reveladas.273 /

E os pilares da terra serão revelados, /

e seus eixos subterrâneos serão vistos. /

E o firmamento inferior da escuridão, sobre o qual se apoia a terra, /

e o mar e as fontes de fogo serão reveladas /

e os armazéns do vento serão abertos. /

Nada será deixado naquela hora de ser revelado, /

e irá aparecer na Terra e no mar, na altura e na profundeza, /

no Sheol,274 no caos e nos limites do firmamento inferior. /

35 – Então o segundo clarim chamará do céu /

e um grande trompete ressoará de Jerusalém. /

Então a Terra irá parir275 e todos os tipos /

e forma de corpos que foram guardados dentro de si se levantarão. /

Ela guardou, como um depósito seguro, /

todos os membros que existiram desde o começo dos tempos /

até o dia em que os tempos foram completados; /

e cada corpo que foi corrompido /

e que foi transladado de lugar para lugar /

e de canto para canto, / 273 “Então foram vistos os leitos das águas, e as fundações do mundo se descobriram, à tua repreensão,

Senhor”. (Ps 18:16). 274 Na tradição judaica o Sheol corresponde ao lugar para o qual todos os mortos, independentemente

de terem sidos justos ou não em vida, são encaminhados. 275 Lit. “terá as dores de parto” (tḥbly).

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foi misturado com os elementos da Terra /

e foi corrompido pela força do fogo /

e pela força do vento, /

no mar ou em terra firme. /

A Terra é a mãe de todos; /

ela guardará tudo sem ser corrompida /

e tudo será retornado como num grande depósito, /

pois não existe nada que não será revelado naquele dia. /

A Terra será capaz de devolver cada corpo /

e forma de membros humanos, /

da água e do fogo, /

do alto e do fundo, /

da escuridão e das montanhas, /

das alturas, das colinas /

e das nascentes. /

Todo tipo e forma de membros humanos /

que foram corrompidos sobre a face da terra serão coletados naquele dia. /

36 – Então o terceiro clarim chamará do céu /

e um grande trompete ressoará de Jerusalém. /

Então todos aqueles que estiverem dormindo276 serão acordados, /

e aqueles que jazem no pó se levantarão,277 /

e aqueles que jazem na escuridão virão para a luz. /

Então serão abertas as [sepulturas] seladas e escondidas no interior da Terra /

e aqueles que jazem no pó sairão em uma hora. /

Os túmulos e pilhas [de pedras] serão abertos naquele dia /

e aqueles que jaziam neles se levantarão e caminharão sobre a face da Terra. /

E com uma única voz levantarão suas mãos e louvarão, /

todos os mortos que voltaram à vida, /

aqueles que estavam deitados e se levantaram, /

os que dormiam e foram acordados /

e os que jaziam prostrados e foram liberados. / 276 Siríaco dmk’ (lit. “que estão deitados”, ou seja, mortos). 277 “E muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, e outros para eterna

vergonha [e] desprezo”. (Dan 12:2)

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E suas vozes serão ouvidas do mar e das ilhas, /

dos topos das montanhas e das colinas, /

de muitas planícies /

e dos quatro ventos do mundo. /

E eles dirão com uma voz: /

“Santo, santo, santo, é o Deus dos exércitos, /

não há nenhum como o Senhor e nada como suas obras. /

Toda a terra está repleta de sua glória /

e suas grandes obras louvarão a ti e a seus maravilhosos e poderosos atos”.278 /

E aqueles que estavam mortos e voltaram à vida, /

estavam deitados e se levantaram, /

dormiam e foram acordados, /

exaltarão seu grande e temível nome.279 /

37 – Então todos os povos se reunirão em Sião, /

e as nações nos portões de Jerusalém. /

E todos os justos e virtuosos, /

todos que temem o nome do Senhor dos exércitos /

e fazem o bom prazer de sua vontade, /

e toda a descendência de Abraão /

e os filhos de Jacó, os escolhidos, /

e todos os exilados de Israel, /

e todos que foram espalhados entre todos os ventos do céu e praias do mar /

e entre os limites dos mares da terra. /

Eles se agruparão e virão, naquele dia, /

do leste e do oeste, /

do norte e do sul, /

dos confins da terra, /

e de todas as ilhas dos mares /

e de todas as montanhas e de todas as colinas e de todas as planícies. /

E estradas serão percorridas no mar /

e haverá caminhos nos mares profundos.280 / 278 “E um clamava ao outro e diziam: Santo, santo, santo [é] o Senhor dos exércitos: a sua glória enche

toda a terra”. (Isa 6:3) 279 “Eu te exaltarei, meu Deus, ó rei, e eu o abençoarei o teu nome para sempre e sempre”. (Ps 145:1)

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E todos os eleitos passarão por elas /

para se encontrarem em Jerusalém, /

como foi para eles quando [Deus] os trouxe da terra do Egito. /

Montanhas serão aplainadas e colinas serão fendidas diante deles, /

como foi o mar nos dias de Moisés, quando eles o estavam atravessando.281 /

E haverá uma estrada direta /

e eles não irão ao redor do Eufrates e do Tigre, /

os rios profundos; /

eles serão cortados por doze estradas /

e eles passarão por elas em sandálias.282 /

E suas águas estarão calmas e paradas /

e não se moverão para mudar os caminhos que estarão em seu seio. /

E passarão os justos e virtuosos, / todos os descendentes de Abraão, /

os exilados de Israel, /

todos aqueles que temem o nome do Senhor dos exércitos /

e que praticam o que fala sua boca. /

38 – Então de cada lugar e de cada montanha /

incontáveis pessoas, nações e tribos virão. /

Eles estarão segurando em suas mãos ramos de palmeiras, oliveiras /

e ciprestes, belas flores /

e agradáveis ervas e palhas de doce aroma.283 /

E eles estarão gritando e louvando o grande Rei da eternidade. /

E todos os povos e nações, os reis e os nobres o adorarão /

e toda a carne o irá adorar e louvar nos portões da filha Sião;284 /

eles também se agruparão pela luz de seu esplendor. /

E o querubim do santuário será restaurado ao Monte Sião /

e o trono da justiça à nova Jerusalém. /

E o grande Messias, o Filho do Homem, nele se sentará /

280 “Assim diz o Senhor, que faz um caminho no mar e uma trilha nas águas impetuosas”. (Isa 43:16) 281 “E Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor, por um forte vento oriental toda aquela noite,

fez o mar se retirar. E fez do mar [terra] seca e as águas foram divididas”. (Ex 14:21) 282 “E o dividirá em sete canais e os fará atravessar de pé enxuto”. (Isa 11:15) 283 “[...] tomou ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro. E clamaram e disseram: Hosana, bendito

o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel!” (Jn 12:13) 284 “Para que eu possa mostrar todos os teus louvores nas portas da filha de Sião e me alegre na tua

salvação”. (Ps 9:14)

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e julgará os povos com justiça e as nações com retidão. /

Ele manterá [domínio] e governará para sempre, de uma era à outra. /

E todos os confins da terra o adorarão /

e um grande fogo circundará Sião /

e fagulhas de fogo estarão ardendo ao redor de Jerusalém.285 /

E lá se agruparão todos os povos e nações /

e todos os justos e virtuosos /

e todos que temem o nome do Senhor dos exércitos. /

39 – E eles se agruparão e nela entrarão com a cabeça descoberta de alegria /

para receber aquilo que lhes havia sido prometido. /

E eles comemorarão na alegria de Sião /

e na exultação de Jerusalém. /

Eles entrarão em suas muralhas de fogo /

e seus pés pisarão sobre fagulhas; /

e o fogo se tornará orvalho sob seus pés /

e as fagulhas se tornarão água benta. /

E todos os justos e virtuosos irão entrar /

e todos os que temem o nome do Senhor dos exércitos e fazem a sua vontade. /

E cada um deles entrará no portão da casa de seu pai /

e irá para a parte de sua tribo. /

Mas quem não conseguir passar pelo portão de fogo /

rangerá seus dentes do lado de fora. /

E Jerusalém será gloriosa, virtuosa e livre. /

E será chamada lugar onde mora a paz e cidade da paz. /

E os não circuncidados e impuros nela não entrarão 286 /

e seus moradores nela viverão com alegria. /

Eles confiarão e herdarão sua terra como uma eterna aliança. /

E também a noite não cairá sobre ela /

e o sol e a lua não se porão nela.287 /

285 “Pois eu, disse o Senhor, serei para ela uma muralha de fogo ao seu redor, e serei a glória no meio

dela”. (Zech 2:5) 286 “Desperta, desperta, veste-te de tua fortaleza, ó Sião; coloque tuas roupas de gala, ó Jerusalém,

cidade santa, porque a partir de agora não mais entrarão em ti o não circuncisado e o impuro”. (Isa 52:1)

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A luz do sol não será necessária, /

nem mesmo aquela da lua, /

pois a luz do Senhor dos exércitos /

e o esplendor do Messias serão a luz sobre ela para todo o sempre. /

40 – Então o Senhor dos Exércitos reunirá todos os eleitos de Israel, /

todos os dispersos de Judá /

e toda a descendência de Abraão /

e preparará um banquete para Sião /

e uma festa para Jerusalém 288 /

e também divertimento, alegria e louvor, /

um banquete de paz /

nos dias do Messias, na redenção de Sião /

e também na reunião dos exilados de Israel /

e todos os justos e virtuosos. /

E pedimos ao Messias, nosso Senhor, que nos faça merecedores de ficar ao seu lado /

direito289 e nos misture na companhia dos santos e na companhia de seus amigos, /

aqueles que o amaram e mantiveram seus mandamentos,290 na sua graça e no seu

amor, / para todo o sempre. / Assim seja. /

Termina a estupenda revelação que foi revelada ao profeta Daniel na terra de Elam / e

Pérsia.

287 “Então a lua se confundirá e o sol se envergonhará, pois o Senhor dos exércitos reinará

gloriosamente no monte Sião e em Jerusalém, diante de seus anciãos”. (Isa 24:23) 288 “E neste monte o Senhor dos exércitos prepara para todos os povos um banquete de carnes

gordurosas, um banquete de vinhos puros”. (Isa 25:6) 289 “E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à

sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o reino que vos foi preparado desde a fundação do o mundo”. (Mt 25:33).

290 “Se me amais, guardareis meus mandamentos”. (Jo 14:15).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Uma modificação histórico-social radical nem sempre induz o

desenvolvimento de uma “imaginação apocalíptica” ou a composição de mensagens

desse tipo como reações específicas ao novo contexto social. Adela Collins comenta,

por exemplo, que enquanto 4 Esdras, 2 Baruch e o Apocalipse podem ser entendidos

como respostas a determinadas crises, “mesmo assim seria equivocado considerar

essas mesmas crises como explicação total ou parcial para aqueles textos”. Seu

argumento baseia-se na constatação que respostas à destruição de Jerusalém, como os

apocalipses de 4Ezdras e 2Baruch, “incluíram também a fundação de escolas

rabínicas”, enquanto em situações similares àquelas em que João escreveu o

Apocalipse, “outros cristãos escreveram cartas recomendando obediência às

autoridades”. Para Collins, “fatores como temperamento e escolha de perspectiva

teológica do autor são pelo menos tão importantes quanto a situação histórico-social

na produção de uma mentalidade apocalíptica” (COLLINS, 1984: 105). Essa opinião

é compartilhada por Lester Grabbe, para quem aspectos literários e sociais não devem

ser confundidos quando se procura determinar o ambiente social de um apocalipse,

pois “textos deste gênero frequentemente apenas expressam o que já se tornou uma

opinião generalizada na comunidade” (GRABBE, 1989: 36).

Submetida a pragas, fome, terremotos, perseguições religiosas e guerras sem

fim, a população cristã que habitava os limites orientais do Império Romano

dificilmente deixaria, contudo, de reconhecer que vivia em tempos de perigosa

instabilidade política e religiosa, fosse sob domínio bizantino ou sassânida. A grande

produção de apologética e obras destinadas a propagar a fé cristã que surgiram

naquele período, a maioria relacionada às profecias de Daniel a respeito dos quatro

impérios mundiais, teria servido para aumentar aquelas reflexões (AERTS, 2011: 23).

Da mesma forma, as vicissitudes da guerra teriam trazido com elas o medo

que uma eventual derrota anunciaria o início à invasão dos povos escatológicos de

Gog e Magog e em sua esteira, ao advento do Anticristo, conforme previsto por

Teodoro de Sykeon (ca. 550–613):

O tremor das cruzes prenuncia muitas coisas dolorosas e perigosas para nós – significa instabilidade em nossa fé e apostasia, incursões de muitos povos bárbaros, derramamento de muito sangue e destruição, cativeiro e desolação das igrejas, cessação do serviço divino, queda e perturbação do Império e perplexidade e momentos críticos para o Estado; e mais, prenuncia que a vinda do adversário está próxima (DAWES, 1948: 134)

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Nesse contexto seria bastante razoável considerar que a cristandade siríaca

procurasse expressar seu desejo por alívio e restauração da ordem através de uma

“esperança apocalíptica” e a conquista inicial de quase todo o Oriente Médio pelos

persas e em seguida pelos árabes, entendida como a primeira etapa do processo

escatológico que abriria caminho para a chegada do fim dos tempos.

Tanto aquela instabilidade quanto essa a esperança estão representadas no

Apocalipse Siríaco de Daniel:

Então o medo habitará na terra [...] e poucas e esparsas pessoas serão deixadas. E elas estarão morando no topo das montanhas com muito medo e em grande pavor [...]. E quem estará [lá] neste dia para comandar e quem será encontrado naquele momento, quando a grande e admirável cruz do Deus dos deuses e Senhor dos senhores começar a aparecer? (SyrDan: 25)

Visões pessimistas como essas, relacionadas ao futuro do império,

provavelmente circularam livremente nas comunidades eclesiásticas de Bizâncio

durante a guerra e demandaram uma “resposta vigorosa” de Constantinopla após a

penosa vitória de Heráclio sobre Cosroes II em 628.

Uma das maneiras para conter esse sentimento negativo e elevar a moral da

população foi estimular uma “ideologia imperial” que identificasse no império Greco-

Romano (Bizantino) o quarto e último dos sucessivos impérios no padrão proposto

pelo Livro de Daniel. Essa associação já havia sido feita – e aparentemente aceita pela

cristandade siríaca – por Aphrahat no séc. IV:

E a quarta besta ele disse que era excessivamente terrível, forte e poderosa, devorando e esmagando e pisoteando com seus pés tudo que permanecesse. É o reino dos filhos de Esaú. Porque depois que Alexandre, o macedônio tornou-se rei, o reino dos gregos passou a existir, uma vez que Alexandre era também um deles, igual aos gregos. Mas a visão da terceira besta foi cumprida nele, uma vez que a terceira e a quarta eram uma só. (Dem 5: 19) Ademais, em sua vinda [Cristo] entregou o reino aos romanos, os quais são chamados os filhos de Esaú e os filhos de Esaú mantiveram o reino para aquele que o deu a eles [...] Quando Ele, a quem o reino pertence, vier em sua segunda vinda, receberá de volta o que deu e será rei para todo o sempre. (Dem 5: 22-23)

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Não foi difícil, portanto, traduzir aquele estímulo por um “reforço” na

produção de uma política oficial que valorizasse o papel desenvolvido pelo imperador

naquele conflito e substituísse a antiga escatologia apocalíptica – que anunciava a

proximidade do fim do império Romano – por um novo imaginário, mais adequado ao

“grandioso futuro” a ser desfrutado pela cristandade a partir do final daquela guerra

(REININK, 2002: 83-84).

A Lenda siríaca de Alexandre procurou cumprir esse papel, aproveitando-se

tanto da enorme influência da personalidade e das ações do rei macedônio sobre os

cristãos siríacos que falavam persa, súditos do império Sassânida, quanto sobre os que

falavam grego ou siríaco, obedientes ao imperador bizantino, para dar tons heroicos

ao reinado de Heráclio (CIACAGLINI, 2001: 138). Nela, Heráclio, o “novo”

Alexandre, seria o instrumento da vontade de Deus e seu representante na terra, o

“Restaurador do Império Cristão” antes do fim dos tempos, que seria anunciado pela

abertura dos “portões” construídos por Alexandre (REININK, 2005: 164). Criava

assim uma tipologia Alexandre-Heráclio em cujo contexto a imagem do primeiro

determinava a ideologia do segundo, da mesma forma que Cosroes II se igualava a

Tubarlak, o rei persa vencido por Alexandre no passado. A Lenda profetizava que o

império de Alexandre dominaria o mundo, afirmando que “não seria encontrada entre

as nações e línguas que habitavam a Terra nenhuma capaz de resistir ao reino dos

romanos” e de maneira análoga às previsões feitas pelos astrólogos persas do passado,

antecipava o tratado de paz de 628:291

E Tubarlak, o rei da Pérsia, trouxe adivinhos e mágicos, e os signos do zodíaco, e fogo e água e todos os seus deuses e fizeram adivinhações; e lhe disseram que na consumação final do mundo o reino dos romanos avançaria e subjugaria todos os reis da terra; e que qualquer que fosse o rei encontrado na Pérsia seria morto e que a Babilonia e a Assíria seriam destruídas sob o comando de Deus [...] E colocou por escrito [...] que a Pérsia seria destruída pelos romanos e que todos os demais reinos seriam [também] destruídos, mas que [o reino dos romanos] duraria e governaria até o final dos tempos e que [o reino dos romanos] entregaria o reino da Terra ao Messias, que há de vir. (BUDGE, 1889: 158)

A associação de antigas tradições relacionadas a Alexandre com o novo papel

reservado a Heráclio na Lenda marcou o momento em que aquele deixou de ser um 291 O tratado de 628 restaurou as fronteiras dos impérios Romano e Sassânida aos limites que

prevaleciam antes do início da guerra, além de outras compensações a Constantinopla.

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rei pagão para transformar-se num instrumento de Deus (ANDERSON, 1932: 25).

Além de assegurar que a vitória sobre os persas garantia a Bizâncio o início de uma

nova era, a Lenda procurava também resolver a questão religiosa interna do Império,

“que desde o século VI tornava cada vez mais tensas e ambíguas as relações

desenvolvidas entre os Monofisitas de língua siríaca e seus senhores bizantinos”. Seu

texto assegurava que a paz conquistada por Alexandre (Heráclio) no campo de batalha

anunciava que no futuro a ser desfrutado pelos cristãos não haveria espaço para outro

poder mundano que não fosse o representado pelo seu Imperador. Dessa forma, a

Lenda tornou-se um veículo para a mensagem de reconciliação religiosa de Heráclio,

que tinha como alvo as comunidades cristãs que se recusavam a aceitar as decisões

tomadas em 451 pelo concílio de Calcedônia. Essa mensagem incluía, além da Lenda,

a visita de Heráclio a Jerusalém e o retorno da vera cruz à Terra Santa292 (SPAIN

ALEXANDER, 1977: 233). A necessidade de dar maior credibilidade ao futuro do

império fez, no entanto, que seu autor ignorasse temas tradicionais da escatologia

cristã, como o advento de Anticristo, e alterasse a sequência tradicional dos conflitos

que antecederia o final dos tempos.293

Composto pouco depois da Lenda, o Poema Siríaco de Alexandre também

representava Alexandre como um soberano com uma missão pré-determinada na

história da humanidade. Mas enquanto a Lenda pretendia passar uma “mensagem

histórica”, o Poema se caracterizava por um viés mais doutrinário. Os propósitos de

Alexandre nesse texto, mais do que “construir um império que durasse até o final dos

tempos”, seriam levantar “um portão que permanecesse fechado até a chegada do fim

desses tempos” e “conquistar a imortalidade”, banhando-se na fonte da vida situada

na “terra da escuridão”. O Poema deixava claro, todavia, que esses objetivos não

seriam jamais alcançados, pois aqueles portões só poderiam ser abertos pela vontade

de Deus. Assim, Bizâncio sofreria o mesmo destino reservado aos demais reinos e

seria destruída pelos exércitos de Gog e Magog. Rejeitando abertamente a escatologia

imperial bizantina da Lenda, o Poema mostrava que “os reinos mundanos eram

transitórios e que a humanidade só se tornaria imortal no reino de Deus” (REININK,

2005: 165-167):

292 Conhecida como monotelismo, a política de unificação eclesiástica pregada por Heráclio pregava a

dupla natureza de Cristo, mas uma única vontade. 293 A Lenda coloca a “nova era de ouro” de Bizâncio entre a invasão dos “povos do norte” e a chegada

do reino de Deus, em vez de anteceder esses acontecimentos.

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E o anjo disse a ele [Alexandre] para escrever essas coisas e [...] o espírito do Senhor desceu sobre o rei, como havia feito com Jeremias e ele escreveu as coisas [que haviam sido] escondidas, como Daniel e como Isaías [...] E ele escreveu e mostrou tudo que estava por vir, como Daniel. E o rei Alexandre, o filho de Felipe disse: “Os reis com suas hierarquias e domínios tremerão no dia em que eles [Gog e Magog] avançarem sobre a terra ao final dos tempos [...] e a ira [do Senhor] se levantará e aniquilará a terra com a desolação do mal e tirará a poderosa Roma de sua grandeza e a lançará às profundezas”. (BUDGE, 1889: 192-193)

Essa rejeição provavelmente representava também uma resposta das

comunidades cristãs não alinhadas à política de união religiosa pretendida pelo

Estado, uma vez que aqueles que discordavam de Calcedônia jamais deixaram de ser

perseguidos pelas autoridades eclesiásticas imperiais, conforme registraria mais tarde

Miguel, o Sírio, ao descrever a visita do Imperador a Edessa em 628:294

“Mas ao se aproximar para participar dos santos mistérios de acordo com as regras dos imperadores cristãos, Isaías, metropolitano da cidade, no fervor de seu zelo, impediu o Imperador de receber a comunhão, dizendo: “se não execrares por escrito o concílio de Calcedônia não te deixarei tocar os mistérios”. Enfurecido, o Imperador expulsou o bispo de sua catedral e a transferiu para o controle dos melquitas.” (cf. CHABOT, 1899: 2. 411-412)

As propostas conflitantes da Lenda e do Poema para aproveitar uma situação

histórica passada (a vitória na guerra contra os persas) para resolver outra ainda sem

solução no presente (a ferrenha oposição das comunidades siríacas às decisões do

Concílio de Calcedônia) precisaram ser retrabalhadas no cenário que se seguiu às

perdas territoriais para os invasores árabes, e tanto Pseudo-Efrem quanto Pseudo-

Metódio representaram tentativas de se adaptar a essa nova realidade.

Pseudo-Efrem atribuiu a derrota bizantina à política religiosa do império de

perseguir as comunidades monofisitas – os “filhos dos justos” – e considerou as

guerras contra os persas e as invasões árabes um castigo divino relacionado aos

acontecimentos escatológicos que antecedem o final dos tempos:

Quando o Nilo, o rio do Egito, encher e inundar parte da terra, algumas regiões irão preparar-se contra o país dos romanos. Nações lutarão

294 Em suas Crônicas, Miguel, o Sírio (1126–1199), faz um relato da história do mundo, desde a

criação até ao seu próprio tempo.

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contra nações e reino contra reino. Eles partirão, passando de um país para o outro e os romanos serão colocados em fuga. E os assírios ganharão autoridade sobre a região dos romanos [...] Mas assim como o Nilo, o rio do Egito, recua do que inundou, também a Assíria recuará ao seu próprio país e os romanos, uma vez mais se encontrarão em sua terra ancestral [...] Então, o mal aumentará na terra [...] O grito dos perseguidos e dos miseráveis subirá ao céu. Em seguida haverá um julgamento para expulsá-los da terra . A santa aliança irá reclamar; um grito subirá ao céu, um povo sairá do deserto. A descendência de Hagar, a serva de Sara, que se apega à aliança com Abraão , marido de Sara e Hagar. Colocado em movimento, ele [o povo de Ismael] vem em nome do carneiro, o arauto do filho da Destruição. (Ps.Efrem 13-23)

Também predisse que o castigo de Deus seria temporário. O domínio árabe

seria destruído pelas nações enclausuradas pelos portões construídos por Alexandre,

as quais dariam lugar, no devido tempo, a um império cristão Bizantino que duraria

até o advento do Anticristo e o juízo final:

Então, o Senhor vai trazer a Sua paz, que atesta sua glorificação entre os céus. E mais uma vez o império dos romanos vai brotar e florescer em seu [próprio] lugar. Ele dominará a terra e seus limites e não existirá ninguém que se oponha a ele. (Ps.Efrem 89-91)

O conceito de manutenção do controle do mundo nas mãos do império

Bizantino até o final dos tempos alcançaria sua expressão máxima em Pseudo-

Metódio. Esse texto reinterpretou a tradição da sequência de impérios exposta no

Livro de Daniel introduzindo o conceito de um imperador que “viria do mar” para

derrotar o opressor árabe e confirmar o status de Bizâncio como o “Último Império”

sobre a terra. Mas enquanto em Pseudo-Efrem os invasores muçulmanos seriam

derrotados pelos povos escatológicos de Gog e Magog, Pseudo-Metódio atribuía essa

tarefa ao “Último Imperador” dos cristãos:

Então, subitamente [...] o rei dos gregos virá contra eles [os filhos de Ismael] com grande ódio [...] Ele, que foi considerado como se estivesse morto, virá contra eles do mar dos Kushites e trará destruição e desolação [...] Os homens do rei dos gregos tomarão a região do deserto e matarão pela espada qualquer sobrevivente deixado entre eles na terra da promissão [...] Toda a ira do imperador dos romanos será sobre aqueles que negarem nosso Senhor Jesus Cristo. A Terra estará em paz e haverá calma sobre a Terra como nunca houve e não haverá novamente, já que é o fim. Haverá alegria na Terra e os homens viverão em paz e reconstruirão cidades, libertarão os sacerdotes de

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seus impostos e deixarão de ter aflições naquela época. (MARTINEZ, 1985: 149-150)

Mesmo ressalvando-se as dificuldades metodológicas de se alcançar

conclusões baseando-se apenas na presença (ou ausência) de similaridades entre

temas ou textos, parece adequado assumir à luz do que foi tratado por essa tese, que a

literatura apocalíptica cristã do séc. VII procurou adaptar-se às modificações

históricas e sociais da época “ajustando” o Livro de Daniel a situações adversas. Não

parece ter sido esse, contudo, o caso do Apocalipse Siríaco de Daniel, que se

distingue em pontos significativos, dos textos que presumivelmente o precederam,

como a Lenda e o Poema ou sucederam, como Pseudo-Efrem e Pseudo-Metódio.

Sua narrativa apocalíptica, por exemplo, parece estar frequentemente “imersa

na tradição literária judaica, onde o núcleo da argumentação está relacionado à figura

do Messias” e o foco, na periodização da história (UBIERNA, 2012: 156). De fato, é

comum a presença de expressões judaicas no pano de fundo do Apocalipse Siríaco de

Daniel, identificadas na tradução (cap. 3 dessa tese) pelo uso de expressões como

“Rei Messias” (siríaco mlk’ mšyḥ’), doze estradas (siríaco wltrt‛sr’ ‘wr ḥin) ou

“querubim do santuário” (siríaco krwb’ dqwdš’):

E então o Deus dos deuses, Senhor dos senhores e Rei dos reis, Adonai Seba’oth, o poderoso Senhor, aparecerá por completo em Sião e colocará o querubim do santuário em Sião e o trono dos justos nas montanhas de Jerusalém. E também a [visão?] do Rei Messias do céu irá aparecer na Terra. (SyrDan: 29) Então haverá a vinda do Rei Messias em grande glória. Seu nome precede o sol, e seu reino e seu domínio precedem a lua. (SyrDan: 30) E haverá uma estrada direta e eles não irão ao redor do Eufrates e do Tigre, os rios profundos; eles serão cortados por doze estradas e eles passarão por elas em sandálias. E suas águas estarão calmas e paradas e não se moverão para mudar os caminhos que estarão em seu seio. (SyrDan:37)

E o querubim do santuário será restaurado ao Monte Sião e o trono da justiça à nova Jerusalém. E o grande Messias, o Filho do Homem, nele se sentará e julgará os povos com justiça e as nações com retidão. (SyrDan: 38)

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O uso de tais expressões poderia, porém, estar também associada à

especulação messiânica judaica do séc. VII, especialmente à Doctrina Jacobi. Nesse

diálogo do séc. VII, judeus e um cristão convertido comparam a precária condição

contemporânea de Constantinopla à antiga grandeza de Roma, referindo-se a ambas

as cidades como a quarta besta “sobre a qual o profeta Daniel havia falado”. Embora

identificar o Império romano com a última besta do Livro de Daniel não tenha sido

incomum – como visto anteriormente – é notável essa tentativa precoce dos

bizantinos, se judeus ou cristãos, em adaptar um fenômeno recente como o Islam a

um esquema tão antigo quanto a profecia apocalíptica de Daniel (KAEGI, 1969: 141).

É também interessante notar que a seção “histórica” no texto do Apocalipse

Siríaco de Daniel apresenta referências raramente encontradas em quaisquer outros

textos apocalípticos, entre elas o envio do tesouro do Templo a Elam por Ciro, a

presença de Gautama, o Mago, a recuperação da visão de Dario em Jerusalém e a

colocação da ascendência do Anticristo na tribo de Levi (BROCK, 2005-2006: 7):

E tudo que era precioso em Babilônia e que o rei Nabucodonosor tinha trazido, o rei Ciro levou da Babilônia e trouxe para Elam e para a Pérsia e sujeitou Babilônia à Pérsia e a Elam, como eu havia mostrado a Belteshazzar, a respeito da palma da mão que havia escrito para ele algumas das palavras de Deus na parede do palácio, que seu reino seria entregue aos Medos e Persas, porque beberam nos vasos da casa do Senhor. (SyrDan: 8)

E Gaumata, o mago, levantou-se no meio da noite, matou o rei Ciro e apoderou-se do reino da Pérsia. E eu fiquei amedrontado e fugi para as cidades da Pérsia e de Elam, não fosse ele também me matar, pois eu era próximo ao rei Ciro e para não ter que ir mostrar a ele a montanha na qual foram colocados aqueles vasos que o rei Ciro tinha trazido da Babilônia, pois ele tinha entrado no tesouro do rei Ciro e encontrado o trono de ouro do rei Salomão. (SyrDan: 9)

E o rei Dario prosseguiu e entrou no santuário. Eu também o lavei na [fonte de] Siloé e ele acreditou no Deus dos meus pais. E ele o adorou no santuário e seus olhos foram abertos e ele viu a luz. E ele honrou o Deus vivo e caminhou em todos os espaços abertos de Jerusalém. (SyrDan: 11)

Será naqueles dias que uma mulher irá gerar um filho da casa de Levi. E nele aparecerão estes sinais e eles serão desenhados em sua pele, como se fossem armas de guerra: detalhes de um peitoral, e um arco, e uma espada, e uma lança, e uma adaga de ferro e carruagens de fogo. Sua aparência será como a de uma fornalha em chamas e seus olhos como carvão em brasa. (SyrDan: 21)

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Presumivelmente escrito após a vitória sobre os persas de acordo com a

tradição do texto canônico, o Apocalipse Siríaco de Daniel não desfrutou da força

política da Lenda e certamente não representou uma resposta à política religiosa

imposta por Heráclio, como o Poema. Sem explicar os acontecimentos do presente

nem trazer esperanças políticas para o futuro, seu autor talvez tenha sido uma

testemunha privilegiada da história que apenas almejava colocar-se – quando os

tempos fossem chegados – “à direita de Cristo, misturado à companhia dos santos e

de seus amigos para todo o sempre”.

Mas textos como o Apocalipse Siríaco de Daniel representam mais que meros

exemplos de “expectativas apocalípticas” ou fontes de “tradições interpretativas” de

interesse para o historiador. Indicam que modelos focados no fim iminente da História

“não ofereceriam a esperança necessária (definida em termos políticos, é claro), para

a sobrevivência do Império Bizantino” (UBIERNA, 2012: 164). Mais influentes

seriam Pseudo-Efrem e Pseudo-Metódio, que para tal reafirmaram o que havia sido

antecipado na Lenda: o quarto império, resultado da reinterpretação da profecia de

Daniel, seria o Império Bizantino, o qual prevaleceria sobre todos os demais e

sobreviveria até o último dia.

As complexidades do Apocalipse Siríaco de Daniel estão longe de se esgotar

com a tradução de seu texto para uma língua moderna e com o comentário

apresentado por esta tese. As dúvidas a respeito de sua autoria e proveniência, assim

como seu substrato literário – predominantemente judaico, mas disfarçado sob

espesso manto cristão –, continuam sem uma resposta adequada e merecem continuar

a ser pesquisadas pelos interessados nesse tipo de literatura. Espera-se que essa tese

venha a contribuir para tanto.

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ANEXOS

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159

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160

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162

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166

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167

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[121 verso 2]

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[122 recto 2]

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170

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1. Texto siríaco

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-1A/B,ـ ـ ـ ـG/ܕܐ.ـ74ـEGܫـ4ܕܕܪEܬܗـ ـ,HIـ ـ,A/Bܘ>ܣـ ـ ـ ـ)JIܕ/Eܬܗـ ـ ـLA/Gܢـ ـ ــ,9$ܕ.ـ MNـ%!ـ

$ܘNـ% ـ6 ـ8$ܗ*ـ ـ6$ܕܐO*ـ ـ96$!ـ54ـ ـ ـ0/ܘܐܬ/.ـ ـ96$1ـ18ـ ـ MNـ%ܕ*ــ8$ܗܘNOـ%Lܪـ,*ـG*ــ8$ܗEܬ&ـ

ــ96$ܘ ـ0/ܕܐܬܗܝ/Eܬ&ـ ـ96ܕEܗܝـS6ـ,.ـERܕـQܕ.ـ%ܕܘ*ـG]1ـ8[1ـ ـUA/Gܪـ76ـETـ ـ ــ,9$ܕ/.ـ ـV/ܕ!ـ Wـ

ـY8ܘ'ܘܕـ4ܕ.ـ"Xܪܗܘ& ــ4]/$ܐܘܪ.ـRܘܪܩEܪMـ ـ ـBTܐ/<ـ ـ=Yܕܐܬ.ـ ـB8'&ـ)*ـGܗܘ&7ـ >ــU$0ܗـ58ـ

܀ ܘEY\B8ܬܗ

2-/Vـ ـ96*ـ4ܕܗܘ&Wـ ـUA/Gܪـ76ـETـ ـ ــ"/$/>ـQܘܙ'ܘܕ[ـ4ܕ.ـ"Xܪ.ـ Nܗـ,ܘ>ܘܗܝـ4.ـ,'&ـ)'ـ,'ـ4ܘ'ـ

ـ9T]ܘ'ـ,>ـ%ܘ ـ ـ9Rܘ'ـ ـ6_ܘ/'ـ ـA4'ـ,ܗܘ&ܕܐNM&ـ0`ـ ـBR]ܬ1ـ56ـG'ܘܢـaܘ'&ـ)ܕ#ـ ـ /L&ـ

ـbYGـ,ܕ ـT_ܘ.ـ5GـVܘ.ـ,ܕܗ.ـ7Rـ ـIYVܘ&.ـ ـ ـIR/.ـQܪNـGܘ.ـ ـG]/ܘܪܬ&1ـ ـ ܗܘLܘܪ[ـ=ܘEܙ&ـTܘEܬ&ـ

ـ,JـG7ܕ ـG+ܘ.ـ ـ,\ܕܫ/>ܬ&ـ ـ,c$ܫ.ـ ـ ـA[Gܕ.ـ,ܕܕܗ.ـ4ܘܓOEـdܘܐܣ*ـ ـ +ܙ*ـ ـ, ܗܘ.ـ,ܪ/Eܕ[ـ=ܘܐ.ـ

ـ98ܕ ـ,Aܪܗܘ&Sـ ــ94$ܘ-Lܗـ=-!ـ"/ܪ[gـ"ܬܪܬ.ـ=ܐܟ'ـ,ܗܘ&ܕܐM>[ـEGـ ــ"/$ܗܘ&*ـ 'ܘܢـ

ـ1Y\4ــ,+ܕ'&ـGܫ ـ ــIV$ܘܕ#ــ%$1ـ=5ـTܘ/.ـERـ,ܘܠEܒـ ـJ8ܪܘܘܕܒ#ـ ـbYGـ,ܘܝܗܕܐM.ـ .ـ7Rـ

ـ7A/Gـ4ܕܘ1ـ6ܫ/*ـGܕ ـ ـB$/Rܘ.ـ ـ ـ ـA/GܕN&ـ0ـ'aܘLܪܗـ,>ܗـ,Eܢـ ـ ـB$/R.ـ ـ ـ ـA/Gܘܕ/Eܢـ ـ .ـ

Tܪܗـ,ܕܗܘܘ'ܘܢـL,ـ4]/5ܘܪـ ـ ـ"/ܗܘ&ܕMܒ.ـ,ܕܕܗ.ـ,ܪ/Eܣـ6ܬܪܘܐܦ<ـ ـEA/Gܗܝـ ـ ـB$/R.ـ ــ Eܢـ

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172

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O Alfabeto Siríaco

O alfabeto é consonantal e lido da direita para a esquerda. A fonte segue o padrão "Serto".

! ' Olaf

ܒ b Beth

ܓ g Gamal

ܕ h Hê

ܘ w Waw

ܙ z Zayn

ܚ ḥ Heth

ܛ ṭ Teth

ܝ y Yodh

ܟ k Kaf

ܠ l Lamadh

ܡ m Min

ܢ n Num

ܣ s Semkath

ܥ ' e

ܦ p Pe (Fe)

ܨ ṣ Sadh

ܩ q Qof

ܪ r Resh

ܫ š Shin

ܬ t Taw

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