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UNIVERSIDADE FEDERAL E PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MARIA DE FÁTIMA DA SILVA OS USOS SOCIAIS DO DIPLOMA DE PEDAGOGIA DA UFPE: A SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS EGRESSOS DE 2012 Recife 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL E PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MARIA DE FÁTIMA DA SILVA

OS USOS SOCIAIS DO DIPLOMA DE PEDAGOGIA DA UFPE:

A SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS EGRESSOS DE 2012

Recife

2017

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MARIA DE FÁTIMA DA SILVA

OS USOS SOCIAIS DO DIPLOMA DE PEDAGOGIA DA UFPE:

A SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS EGRESSOS DE 2012

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito para

obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Flávio Henrique Albert Brayner

Recife

2017

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460

S586u Silva, Maria de Fátima da.

Os usos sociais do diploma de pedagogia da UFPE: a situação

ocupacional dos egressos de 2012 / Maria de Fátima da Silva. – 2017.

100 f. ; 30 cm.

Orientador: Flávio Henrique Albert Brayner.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CE.

Programa de Pós-graduação em Educação, 2017.

Inclui Referências e Anexos.

1. Professores - Formação. 2. Ensino superior. 3. Universidade

Federal de Pernambuco - Curso de Pedagogia. 4. UFPE - Pós-

Graduação. I. Brayner, Flávio Henrique Albert. II. Título.

370.71 CDD (22. ed.) UFPE (CE2017-109)

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MARIA DE FÁTIMA DA SILVA

OS USOS SOCIAIS DO DIPLOMA DE PEDAGOGIA DA UFPE:

A SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS EGRESSOS DE 2012

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito para

obtenção do título de Mestre em Educação.

Aprovada em 24/ 08 /2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Dr. Flávio Henrique Albert Brayner (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco

________________________________________

Profª. Drª. Maria Emília Lins e Silva (Examinadora externa)

Universidade Federal de Pernambuco

________________________________________

Profª. Drª. Anna Luiza Araújo Ramos Martins de Oliveira

(Examinadora interna)

Universidade Federal de Pernambuco

________________________________________

Pofª.Drª. Daniela Maria Ferreira (Examinadora externa)

Universidade Federal de Pernambuco

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por tudo que ele representa para mim. E pela oportunidade de realização de mais este

importante passo em minha vida.

À minha mãe Joana, in memoriam, pelo apoio incondicional aos meus estudos, pelo cuidado

atencioso e por sempre torcer para que eu pudesse chegar cada dia mais longe.

À minha irmã Severina, por torcer, acreditar e me incentivar a sempre ir além.

Ao meu orientador, professor Flávio Brayner, que ao longo dessa jornada sempre esteve

disponível para ajudar a construir este trabalho, bem como pelo apoio nos momentos difíceis

que enfrentei durante o percurso.

À queridíssima professora Daniela Maria Ferreira, pela força, incentivo, confiança e ajuda nos

momentos difíceis que passei ao longo do curso.

Aos professores Maria Emília Lins e Silva e Gustavo Gilson de Oliveira, pelas contribuições

fundamentais no Exame de Qualificação.

Às professoras Maria Emília Lins e Silva e Ana Luiza de Oliveira, pelas contribuições

fundamentais na banca de defesa da dissertação.

A Rafaela Celestino, que me incentivou e me apoiou em diversos momentos de dúvidas que

surgiram, compartilhando comigo sua alegria e ânimo na vida.

Ao PPGE e à FACEPE, pela possibilidade de realização do mestrado.

A Márcio Eustáquio, in memoriam, pelas inúmeras ajudas e pelo trabalho competente e

dedicado à secretaria do mestrado, assim como a Morgana e Karla, pela atenção a mim

dispensada durante o curso.

Aos amigos que compõem o GEPFEP, Márcio, Dayse, Luciene, Flávia, Isabela, Livânia,

Mércia, pelo apoio e força.

À turma 33 do mestrado e, em especial, à Luciene Silva, Rebeca Barreto, Maira, Rafael,

Wanessa, Eliane, Tulane, Gilberto e Rosângela, por compartilharmos conhecimentos, dúvidas,

realizações e momentos riquíssimos de discussões durante o cumprimento de créditos do

curso.

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Aos egressos de Pedagogia 2012.1 e 2012.2 que fizeram parte da pesquisa, pela

imprescindível colaboração e disponibilização com esta investigação e por partilharem

comigo um pouco de suas trajetórias pessoais e profissionais.

A todos, meus mais sinceros agradecimentos.

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“Faço e refaço, mas fica um fiapo. Fé, força, foco, fidedignidade e faz

de conta. No fio que se afia, estou por um fio, é que nunca foi fácil

afiar”.

Rafaela Celestino.

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RESUMO

O trabalho que ora apresentamos teve por objetivo compreender os usos sociais do diploma

do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), feito pelos egressos

que concluíram em 2012. A investigação tomou por base as experiências vividas ao longo

das trajetórias acadêmicas dos egressos, bem como aquelas que antecederam o ingresso na

Universidade. Para tanto, buscamos identificar os elementos mediadores que permitiram aos

egressos acumularem recursos sociais e culturais fundamentais para se inserirem no mercado

de trabalho. Assim, foi realizado um conjunto de 12 entrevistas que visou reconstituir os

espaços de socialização que se tornaram pertinentes ao acúmulo de propriedades sociais e

culturais na trajetória dos ex-alunos. A análise do material empírico se apoiou na teoria do

sociólogo Pierre Bourdieu e outros estudos que tiveram por base seu aporte teórico

metodológico. Os resultados encontrados, embora evidenciem experiências singulares,

mostram alguns elementos decisivos para compreendermos as atividades que realizam hoje,

como, por exemplo, o passado escolar, a rede de referenciais sociais e institucionais

construída ao longo da formação inicial, os aprendizados ali socializados e o prolongamento

dos estudos após a conclusão do curso. Assim, o estudo mostra que os usos sociais do

diploma não dependem exclusivamente dos investimentos escolares feitos no curso de

Pedagogia, mas das apostas escolares que antecedem o ingresso na Universidade, bem como

aquelas feitas concomitante ao curso e após a sua conclusão.

Palavras-Chave: Diploma de Pedagogia. Egressos de Pedagogia. Prolongamento de estudos.

Usos sociais do diploma.

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RESUMEN

El trabajo que presentamos tuvo por objetivo comprender los usos sociales del diploma de

curso de Pedagogía, de la Universidad Federal de Pernambuco (UFPE), realizado por los

egresados que concluyeron en 2012. La investigación se basó en las experiencias vividas a lo

largo de las trayectorias académicas Los egresados, así como las que precedieron al ingreso en

la Universidad. Para ello, buscamos identificar los elementos mediadores que permitieron a

los egresos acumular recursos sociales y culturales fundamentales para insertarse en el

mercado de trabajo. Así, se reazizó un conjunto de 12 entrevistas que pretendían reconstituir

los espacios de socialización que se tornaron pertinentes al acúmulo de propiedades sociales y

culturales en la trayectoria de los ex alumnos. El análisis del material empírico se apoyó en la

teoría del sociólogo Pierre Bourdieu y otros estudios que tuvieron como base su aporte teórico

metodológico. Los resultados encontrados, aunque evidencian experiencias singulares,

muestran algunos elementos decisivos para comprender las actividades que realizan hoy,

como, por ejemplo, el pasado escolar, la red de referenciales sociales e institucionales

construidos a lo largo de la formación inicial, los aprendizajes allí socializados, y La

prolongación de los estudios después de la conclusión del Curso. Así, el estudio muestra que

los usos sociales del diploma no dependen exclusivamente de las inversiones escolares hechas

en el Curso de Pedagogía, sino de las apuestas escolares que anteceden al ingreso en la

Universidad, así como aquellas hechas concomitante al Curso y después de la conclusión de

ese.

Palabras Clave: Diploma de Pedagogía. Egresados de Pedagogía. Prolongación de estudios.

Usos sociales del diploma.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição dos egressos em relação às suas perspectivas de futuro após a

conclusão do curso de Pedagogia..............................................................................................48

Gráfico 2 – Distribuição dos egressos em função do campo de

atuação......................................................................................................................................51

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Ocupações dos egressos e recursos sociais e culturais..........................................53

Quadro 2 – Profissões dos avós paternos e maternos dos egressos..........................................55

Quadro 3 – A profissão e o grau de instrução dos pais e mães dos egressos............................56

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição da escolaridade dos pais e mães dos estudantes de Pedagogia

(concluintes 2012).....................................................................................................................46

Tabela 2 – Distribuição da categoria Ocupação dos Pais e Mãe dos Estudantes de Pedagogia

da UFPE (concluintes 2012).

...................................................................................................................................................47

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADI – Auxiliar de Desenvolvimento Infantil

CAA – Centro Acadêmico do Agreste

CAV – Centro Acadêmico de Vitória

CEF – Conselho Federal de Educação

CNE – Conselho Nacional de Educação

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DA – Diretório Acadêmico

DCNs – Diretrizes Curriculares Nacionais

EAD – Educação a Distância

EJA – Educação de Jovens e Adultos

GEPFEP – Grupo de Estudo e Pesquisa Família, Escola e Profissão

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES – Instituição de Ensino Superior

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

ITA – Instituto de Tecnologia Aeronáutica

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

NEAB – Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros

NEPHEPE – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre História da Educação e Ensino de História

em Pernambuco

NUFOPE – Núcleo de Formação Continuada Didático-Pedagógica dos Docentes

ONG – Organização Não Governamental

PCR – Prefeitura da Cidade do Recife

PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

PNAES – Programa Nacional de Assistência Estudantil

PNE – Plano Nacional de Educação

PROAES – Pró-Reitoria para Assuntos Estudantis

PROUNI – Programa Universidade para Todos

PPGE – Programa de Pós-Graduação em Educação

PPP – Pesquisa e Prática Pedagógica

REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais

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TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UNIVASF – Universidade Federal do Vale de São Francisco

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 16

1.1 Levantamento bibliográfico: o que dizem os estudos sobre egressos

universitários?.........................................................................................................................18

2 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL, A UNIVERSIDADE

FEDERAL DE PERNAMBUCO E O CURSO DE PEDAGOGIA ................................... 23

2.1 A expansão do Ensino Superior .................................................................................. 23

2.2 A Universidade Federal de Pernambuco na expansão do ensino superior ............. 26

2.3 O curso de Pedagogia da UFPE .................................................................................. 29

3 DESENHO TEÓRICO-METODOLÓGICO: CAMINHOS TRILHADOS PELA

PESQUISA .............................................................................................................................. 33

3.1 O Conceito de Habitus ................................................................................................... 33

3.2 Os estudos sobre os estudantes das camadas populares e o conceito de habitus .....39

3.3 Metodologia ................................................................................................................... 43

3.3.1 A escolha dos entrevistados ............................................................................................ 43

3.3.2 Entrevistas ....................................................................................................................... 44

3.3.3 O perfil socioeconômico dos egressos de Pedagogia da UFPE/2012 ........................... 46

3.3.4 Os egressos e suas perspectivas de futuro profissional ................................................. 47

3.3.5 Consulta dos currículos dos egressos na Plataforma Lattes ......................................... 48

3.3.6 Consulta dos perfis dos egressos na rede social virtual facebook ................................ 49

4 OS EGRESSOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPE: ALGUMAS

SITUAÇÕES OCUPACIONAIS ........................................................................................... 52

4.1 O acesso ao ensino superior e os antecedentes escolares ........................................... 54

4.1.1 Origem social e ocupação profissional dos egressos ..................................................... 54

4.1.2 Antecedentes escolares: um passado escolar diferenciado ........................................... 57

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4.2 Ingresso na Universidade e escolha do curso de Pedagogia ..................................... 60

4.3 O curso de Pedagogia: consolidação de referenciais sociais e institucionais........... 64

4.4 Aprendizados: dos conteúdos das disciplinas aos embates políticos e recreativos

....................................................................................................................................68

4.5 Da conclusão do curso até a inserção no mercado de trabalho: prolongamento dos

estudos......................................................................................................................................72

4.6 Entre o provável e o possível: o que pensam os egressos sobre suas ocupações ..... 76

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 81

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 84

ANEXOS ......................................................................................................................... 89

ANEXO A – TABULAÇÃO DOS DADOS PARA ESCOLHA DOS

ENTREVISTADOS................................................................................................................90

ANEXO B – ROTEIRO DE ENTREVISTA ................................................................ 99

ANEXO C – EXEMPLAR DA CARTA ENVIADA PARA OS

ENTREVISTADOS..............................................................................................................100

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho sintetiza o esforço de compreender os usos sociais que os egressos de

Pedagogia têm feito, atualmente, de seu diploma. Trata-se de uma investigação qualitativa

apoiada no estudo de caso e que recorre às trajetórias sociais e culturais como principal

procedimento de coleta de dados.

O meu interesse pela temática em tela surgiu a partir do contato com o conjunto de

estudos sobre a inserção e permanência dos estudantes oriundos das camadas populares no

ensino superior. O primeiro contato ocorreu quando eu ainda estava na graduação, no 4º

período, momento em que cursei a disciplina Educação, Trabalho e Orientação Profissional.

Durante, praticamente, todo um semestre, discutimos a relação entre as escolhas profissionais

de estudantes de diferentes grupos sociais e dos fatores que pudessem ajudar a explicitar e

compreender essas escolhas, bem como a relação entre escola e mercado de trabalho.

Chamava-me atenção não apenas os estudos sobre a influência do mercado de trabalho nas

escolhas dos indivíduos e/ou grupos de indivíduos, mas, sobretudo, aqueles em que os

processos de socializações vivenciados pelos indivíduos eram considerados importantes na

construção de suas escolhas/apostas profissionais (VARGAS, 2011; BARBOSA, 2013;

MELLO, 2004; VIANA, 2007; LACERDA, 2006; PIOTTO, 2014; ALMEIDA, 2014).

Um segundo momento importante, e que se constituiu decisivo no meu interesse em

tornar os egressos do curso de Pedagogia objeto de investigação, foi minha inserção no Grupo

de Estudo e Pesquisa Família, Escola e Profissão (GEPFEP), em 2012. Os encontros

quinzenais me permitiram rever e aprofundar boa parte da literatura trabalhada em sala de

aula (em específico, das disciplinas de Orientação Profissional e Trabalho e Educação), como

também se constituíram numa oportunidade em trabalhar diretamente com pesquisa empírica:

de coleta de dados, passando pela elaboração de questionários e entrevistas até sistematização

e análise de dados estatísticos. Ao colaborar a desenvolver uma pesquisa sobre as trajetórias

universitárias dos estudantes de Pedagogia ingressantes em 2008 e ingressantes de 2012,

comecei a me questionar sobre a influência dos fatores sociais e culturais nos investimentos

acadêmicos dos alunos de Pedagogia: Quais fatores que pesam na trajetória universitária

desses estudantes? De que maneira os recursos sociais, acumulados antes e durante a

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realização do curso de graduação, influenciam mais ou menos nas apostas acadêmicas dos

estudantes? Tais eram algumas das questões que norteavam a pesquisa do referido grupo.

A produção dos indicadores sociais e culturais da pesquisa do GEPFEP, bem como as

discussões sobre a relação entre o aumento das qualificações e a reestruturação produtiva, o

acesso e a permanência dos estudantes das camadas populares no ensino superior, em

específico, sobre as escolhas e as trajetórias desses estudantes na Universidade, foram cruciais

para a escolha do tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a saber: “Processos

de socialização: religião e atividades remuneradas na trajetória universitária dos estudantes de

Pedagogia da UFPE”.

Após identificarmos estatisticamente correlações entre as apostas acadêmicas, a religião

autodeclarada pelos estudantes e o tipo de atividade remunerada durante a graduação,

decidimos aprofundar e conhecer melhor os processos de socializações que contribuíram no

acúmulo de propriedades sociais e culturais para a permanência dos estudantes no curso de

Pedagogia. Chamou atenção, precisamente, a relação positiva entre os estágios remunerados

em espaços educacionais e o forte investimento acadêmico por parte dos estudantes durante a

realização do curso de Pedagogia: de inserção em grupos de pesquisas até atividades de

extensão, passando pela atividade de ensino (bolsas de monitoria). Utilizando entrevistas

semiestruturadas, conseguimos coletar um conjunto de informações a respeito das várias

experiências e aprendizados que se constituíram cruciais para a permanência desses

estudantes no curso, como, por exemplo, o fato de organizar e planejar atividades para os

encontros dominicais, nas instituições religiosas que frequentam, ou a participação precoce

em grupos culturais que dialogam com diferentes matrizes.

No entanto, um fato específico foi decisivo para decidirmos sobre a temática da

pesquisa que ora apresentamos: o uso do capital escolar em capital simbólico no espaço de

atuação profissional de alguns dos estudantes entrevistados. Dito diferentemente, percebemos

como determinados estudantes passaram a adquirir posições de maior prestigio social em seu

local de trabalho graças ao conhecimento e ao fato de estar realizando um curso de ensino

superior, no caso, aqui, o de Pedagogia. Perceber isso nos levou a formular questões sobre os

possíveis usos do curso de Pedagogia.

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1.1 Levantamento bibliográfico: o que dizem os estudos sobre egressos universitários?

De diferentes perspectivas teórico-metodológicas, os estudos sobre egressos

universitários são, em sua grande maioria, direcionados a compreender a relação entre a

formação universitária e a inserção no mercado de trabalho. Essas investigações, conforme

podemos observar, tendem a abordar essa relação de duas formas: ora como sendo o resultado

direto de uma boa formação acadêmica, ora como sendo resultado de um esforço pessoal.

Entre as diferentes possibilidades de avaliar a formação recebida e sua relação com a

ocupação profissional dos ex-alunos, existe aquela a partir da percepção do egresso, quando já

exercendo atividades profissionais. O estudo de Câmara e Santos (2010), que analisou a

percepção dos egressos sobre o curso, bem como de seus percursos profissionais e as

possíveis relações entre ambos, mostra como os egressos enfrentam situações complexas,

levando-os a mobilizar parte das competências desenvolvidas durante o curso no exercício

profissional. Essa constatação leva os autores a concluírem que o curso de Fisioterapia da

UFMG não só alcançou seu objetivo inicial, que era formar profissionais para atuar na área de

reabilitação, como teve importante participação na construção da identidade da profissão no

Estado de Minas Gerais, uma vez que ajudou a delimitar as fronteiras do campo de atuação.

Os dados mostram, ainda, que o egresso de Fisioterapia está satisfeito com sua

atividade profissional. Praticamente todos os ex-alunos (882) que responderam ao

questionário autoaplicável estão em atividades relacionadas com a Fisioterapia e avaliam que

vale a pena ser fisioterapeuta.

A investigação de Martins e Lousada (2005), além de lançar um olhar a partir dos

egressos, levou em conta o ponto de vista dos dirigentes das Instituições de Ensino Superior

(IES), responsáveis pelos cursos de Ciências Contábeis do Estado de São Paulo. O objetivo,

conforme explicitam os autores no início da sua pesquisa, era levantar alguns indicadores da

qualidade dos profissionais formados, principalmente, no que diz respeito à qualificação para

o trabalho. Por meio de entrevistas, tanto com egressos quanto com os dirigentes, os

entrevistados apontam um descompasso entre aquilo que é dispensado como conteúdo e

disciplina e os problemas a serem enfrentados no dia a dia do trabalho.

Nesse sentido, esses autores sinalizam a importância do aumento da carga horária das

aulas práticas em detrimento das aulas teórico-expositivas. De maneira semelhante à Câmara

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e Santos (2010), os pesquisadores explicitam a importância da institucionalização da prática

do acompanhamento dos egressos nas IES como método eficiente para avaliar a formação

dispensada pela instituição.

A pesquisa de Braga (2008) sobre a situação ocupacional dos cientistas sociais no Brasil

faz considerações semelhantes. Embora esteja muito mais interessado em pensar a

distribuição das ocupações dos egressos em função de suas origens socioeconômicas e

institucionais, o autor mostra que, do conjunto de 380 egressos oriundos de quatro

universidades do Estado de São Paulo, o ensino é a principal área de atividade dos cientistas

sociais (68%), sendo que os professores universitários (43%) estão em proporção bem

superior aos de ensino fundamental e de ensino médio (25%). Os resultados desse estudo

ainda apontam que, tanto na área pública (excluído o ensino) como fora desta, existem

proporções significativas de cientistas sociais, compreendendo pelo menos 23% dos egressos

(sem contar os desempregados), fato que, segundo o autor, pode ser considerado como

estratégias de sobrevivência ou de independência financeira.

O desenho dessa distribuição permite ao pesquisador, nas considerações finais de sua

pesquisa, questionar os diferentes modelos curriculares trilhados pelos ex-alunos, sugerindo,

assim, que esses elementos seriam importantes para pensarmos tais destinos ocupacionais.

Salientamos que, dentre o levantamento que fizemos, as pesquisas sobre egressos de

Pedagogia realizadas junto às diferentes instituições de ensino no Brasil e, particularmente,

junto à UFPE, mostram resultados muito semelhantes aos dos autores acima.

As pesquisas de Carvalho e Brotherhood (2015), bem como a de Lauria, Macedo e

Aguiar (2012), mostram como se caracteriza a inserção no mercado de trabalho dos egressos e

sua relação com a formação inicial. Localizados por meio das instituições de ensino, a

primeira pesquisa mostra que 88% dos egressos (numa amostra composta por 239 ex-alunos)

trabalham na área de sua formação, educação, apontando a qualidade do curso e a preparação

dos professores como principais razões para tal resultado. Apesar disso, os autores ressaltam a

importância da pesquisa na formação do pedagogo, visto que os entrevistados pontuam em

suas falas a falta de conhecimento prático para ajudá-los a enfrentar problemas do dia a dia.

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O estudo de Lauria, Macedo e Aguiar (2012), por outro lado, enfatiza a necessidade de

se pensar melhor a formação inicial do pedagogo em função da ampla área de atuação que os

egressos podem trabalhar após a conclusão do curso. A análise das entrevistas

semiestruturadas com os ex-alunos de Pedagogia da UFPE, de diferentes gerações, mostra que

não é necessariamente a docência a área escolhida pelos pedagogos para exercer suas

profissões.

As pesquisadoras mostram também que parte dos egressos que atuam como docentes

gostariam de estar em outros espaços profissionais, como na área de recursos humanos, em

alguma empresa, ou mesmo em algum hospital. Chega-se à conclusão, com esse resultado,

que, “devido à grande amplitude da atuação do Pedagogo nos variados sistemas escolares e

extraescolares, o curso de Pedagogia não consegue uma formação mais específica para

todos esses campos de trabalho” (2012, p. 8). Assim, é proposta a introdução de disciplinas

de caráter mais prático e disciplinas que discutam a respeito da atuação desse profissional em

ambientes extraescolares, o que, segundo as autoras, daria uma melhor base para o exercício

do pedagogo no mercado de trabalho.

Conclusões semelhantes são constatadas por Sopelsa, Rios e Gazzóla (2010). Com a

finalidade de conhecer a percepção dos egressos de Pedagogia sobre a relação entre formação

recebida e a prática no mundo do trabalho, os pesquisadores aplicaram um questionário a um

conjunto de 150 egressos do curso de Pedagogia da Universidade do Oeste de Santa Catarina.

Os resultados evidenciam que na concepção de 61% dos egressos investigados, o curso não

contemplou as questões da prática docente. Tanto o questionário quanto as narrativas dos

professores revelam preocupações e inquietações quanto à diversidade existente em sala de

aula e o como lidar com “as dicotomias entre a teoria e a prática”.

Embora enfatizem que o lado positivo do curso de graduação foi a aquisição do

conhecimento científico, os egressos sentem muita dificuldade em integrar tal aprendizado

nas questões do cotidiano. Tais observações são interpretadas pelos pesquisadores como uma

deficiência da formação proporcionada pelo curso, o que remete, de acordo com os autores, à

necessidade de redefinir “novas visões acerca da formação inicial e continuada do pedagogo,

buscando assim uma melhor base para a definição de propostas pedagógicas adequadas”

(Sopelsa, Rios e Gazzóla, 2010, p. 14).

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Assim, dedicada a uma análise sobre a construção da identidade profissional do

professor, a pesquisa de Alberto Gomes (2008), junto aos egressos de Pedagogia que

trabalham há pelos menos dois anos em escolas públicas do município de São Paulo, revela o

quão a formação inicial marcou profundamente a representação que os ex-alunos têm em

relação à maneira de lidar com a profissão escolhida. O autor mostra, por meio da análise dos

depoimentos dos egressos, como o repertório adquirido ao longo do curso de graduação,

como, por exemplo, a crença na “missão redentora” da educação, repercute profundamente na

prática docente dos ex-alunos. A ideia de sacrifício social e econômico presente nas falas dos

ex-alunos, quando indagados sobre suas opções e práticas profissionais, leva o autor da

pesquisa a elaborar uma avaliação negativa a respeito da formação profissional do pedagogo.

Dessa forma, conforme podemos observar, embora tragam dimensões importantes para

compreendermos a inserção no mercado de trabalho, os estudos sobre egressos tendem a

estabelecer discussões teóricas sobre a grade curricular dos cursos, a formação docente ou

mesmo sobre a infraestrutura física dos estabelecimentos de ensino. Toda a análise é,

praticamente, dedicada a apontar respostas para a melhoria das instituições de ensino. Até

mesmo a diversidade em termos de inserção profissional é analisada numa perspectiva em que

a formação institucional acaba por se sobrepor às demais dimensões sociais. Assim, dos

egressos que deram continuidade aos seus estudos, passando por aqueles que atuam em áreas

completamente diferentes para as quais foram formados até a inserção profissional em cargos

relacionados às suas formações, praticamente, todas as explicações são associadas ao tipo de

conhecimento transmitido pela instituição de ensino.

Portanto, apostar na continuação dos estudos (realização de uma pós-graduação) ou

trabalhar diretamente na área em que foi formado é sempre relacionado àquilo que foi

ensinado no curso. Mesmo aqueles que decidiram se afastar por completo da área de

formação, suas escolhas profissionais são atreladas ao fato de terem realizado determinadas

disciplinas, frequentado determinadas aulas, laboratório, etc. Além disso, o sucesso

profissional, medido pelo salário e pela atuação na área de formação (Câmara e Santos, 2010),

é tratado como produto do desempenho acadêmico durante o curso de graduação.

Embora reconheçamos a necessidade de empreender estudos que discutam a relação

entre a formação inicial e o desenvolvimento da identidade profissional, nosso interesse foi

compreender a inserção profissional dos egressos de Pedagogia para além da formação

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meramente escolar. Mesmo que os conteúdos disciplinares propostos nos currículos,

socializados em sala de aula e seminários, possam se constituir em fontes de conhecimentos

importantes para a escolha e prática profissional dos egressos, consideramos também os

saberes adquiridos em instâncias de socializações outras que não a escola. Por outro lado, não

podemos esquecer que o êxito das estratégias adotadas pelos ex-alunos de Pedagogia para

suas inserções profissionais depende também da conjuntura econômica na qual o mercado de

trabalho está atrelado.

Longe de pensar os possíveis destinos profissionais e/ou sociais dos egressos de

Pedagogia, tomando apenas como elementos centrais as vivências no âmbito da instituição, da

UFPE, nossa pesquisa propõe uma discussão em que fatores institucionais, mas também

econômicos, sociais e culturais sejam analisados de maneira sobreposta, evitando com isso

pensar a inserção profissional como produto de uma única dimensão da vida social.

Nesse sentido, algumas indagações nortearam nossa pesquisa: Como os egressos

escolheram o curso de Pedagogia? Por que escolheram cursar Pedagogia? Antes do curso de

Pedagogia, como se deu o processo de escolarização? Quem são os egressos de Pedagogia?

Que conhecimentos e experiências oportunizadas pela formação inicial são mobilizados pelo

egresso de Pedagogia em sua prática profissional? Como ocorreu a formação inicial desses

egressos? Como eles percebem as atividades que desenvolvem atualmente?

Com base nesses questionamentos, nosso estudo foi realizado com o objetivo de

compreender os usos sociais dos diplomas de Pedagogia, precisamente dos egressos do

Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco. Em decorrência dessa

intencionalidade central, seus objetivos específicos foram assim formulados:

a) identificar a origem social e o passado escolar dos egressos;

b) relacionar os recursos socioeconômicos e educacionais dos egressos com a escolha

pelo curso de Pedagogia;

c) identificar o conjunto de propriedades sociais constituído ao longo do curso de

graduação e mobilizados pelos egressos de Pedagogia em sua prática profissional;

d) discutir os sentidos e expectativas profissionais dos egressos de Pedagogia a partir do

conjunto de conhecimentos e aprendizados socializados durante a formação inicial.

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2 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL, A UNIVERSIDADE

FEDERAL DE PERNAMBUCO E O CURSO DE PEDAGOGIA

O ano de 2008, período em que os egressos de Pedagogia 2012 ingressaram na UFPE,

é marcado por um aumento significativo de ações políticas em termos de acesso e

permanência na universidade pública brasileira. Desde a década de 1990, é possível verificar

uma ampla discussão entre diferentes setores da sociedade com o objetivo de pensar e criar

novas formas para garantir o acesso dos grupos sociais menos favorecidos à universidade.

O resultado dessa discussão, na qual participaram representantes de diferentes

movimentos sociais, pesquisadores e gestores públicos, acabou por formatar um conjunto de

politicas afirmativas que se concretizaram por meio da forte ampliação do ensino superior,

através do aumento de matrículas, criação de novos cursos e universidades, criação de bolsas

de estudo, auxílios e novos modelos de seleção com remodelação do vestibular, cotas raciais e

sociais. (BARBOSA, M. L., 2014).

2.1 A expansão do Ensino Superior

Embora o número de matrículas no ensino superior, praticamente, tenha triplicado

durante os anos de 1960 – 1980, passando de 200 mil para 1, 4 milhão, é somente a partir de

meados dos anos 1990 que, de fato, a população cursando o ensino superior vai chegar

próximo dos 5 milhões (VARGAS, 2009). Esse crescimento, de acordo com alguns autores,

pode ser traduzido como um movimento de valorização da educação que, em função da

promulgação da Constituição de 1988, em particular, do seu artigo 208, inciso V, ficou

estabelecido como dever do Estado a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino,

da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um.

Além disso, foi incluída na Constituição a criação de um Plano Nacional de Educação

(PNE), com duração plurianual. No que diz respeito ao ensino superior, o documento explicita

uma “preocupação com a emergência de uma sociedade do conhecimento a demarcar o limite

do desenvolvimento e da independência política, bem como uma preocupação com a

desigualdade”. Em vigor desde 2001, o Plano previa, inicialmente: 1) a oferta de vagas para o

ensino superior para pelo menos 30% dos indivíduos com faixa etária entre 18 e 24 anos e 2)

a criação de uma série de políticas que facilitassem aos grupos sociais vítimas de

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discriminação o acesso à educação superior, através de programas de compensação em sua

formação escolar anterior, permitindo-lhes, dessa forma, competir em igualdade de condições

nos processos de seleção e admissão a esse nível de ensino.

No entanto, como observa Hustana Vargas (2011), a partir de 2003 houve uma

desaceleração na implementação dessas diretrizes do PNE. Em 2001, por exemplo, dos quase

23 milhões de jovens com idades entre 18 e 24 anos, apenas 13% (cerca de três milhões)

estavam matriculados no ensino superior (OLIVEIRA et al.,2006). A posição ocupada pelo

país, em relação à taxa de escolarização na educação superior, era inferior a quase todos os

países da América Latina, estando o Brasil abaixo da Argentina, cujo percentual de

atendimento nesse nível de ensino é de 48%; do Chile, com taxa de 38%; da Bolívia, com

33%; do Uruguai, com 34% dos jovens no ensino superior; e da Colômbia, com 22% (PINTO,

2004).

De acordo com Vargas (2011), o Brasil era considerado como possuidor de um

sistema de ensino de elite1, além de se destacar internacionalmente por sua elevada

desigualdade de renda e pela baixa escolaridade média da população ativa2.

Um outro fator importante que caracteriza a sociedade brasileira é a persistência

intergeracional, que acaba por reduzir a mobilidade educacional da população. Como observa

Hustana (2010), as chances de um filho de pai analfabeto também ser analfabeto chega a 34%,

enquanto que essa média cai para 0,7% se o pai tiver completado o ensino superior. Por outro

lado, alguém cujo pai seja analfabeto tem apenas 1,0% de chance de completar o ensino

superior, contra uma probabilidade de 60%, caso o pai tenha ensino superior.

Com um grau de persistência chegando a 0,683, mais elevado que no México e no Peru,

cujos fatores variam em torno de 0,50, no Brasil, o aumento de matrículas no ensino superior

passou a ser considerado uma política promotora de redução de desigualdade social e tornou-

se, por assim dizer, o grande desafio a ser enfrentado pelo governo desde 2003.

1

Possui um sistema de ensino de elite os países em que a taxa de escolarização líquida não ultrapassa 15% e um

país com sistema de massa é aquele que fica entre 15% e 33%, como é o caso da Argentina (22,4%), Espanha 2 Quando comparado a outros países com renda per capita semelhante, a média geral do Brasil é de 4,9 anos de

estudos, isto é, um ano a menos que a média. 3 O grau de persistência em países desenvolvidos fica entre 0,20 e 0,35.

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Com o intuito de aumentar o número de vagas no ensino superior no Brasil, tanto na

rede pública, quanto na rede privada, foram criados dois programas, o Programa Universidade

Para Todos (Prouni), em 2004, e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão

das Universidades Federais (REUNI), em 20034.

Com o Prouni, houve uma concessão de 1,2 milhão de bolsas entre 2004 e 2010

(Santos, 2011), e com o Reuni foram criadas 14 universidades federais entre 2003 e 2009,

além de novos cursos e também um aumento no número de vagas de cursos já existentes

(Heringer e Ferreira, 2009). Os dados do INEP de 2013 mostram que houve um crescimento

de 81% do quantitativo de matrículas entre 2003 e 2012. Se em 2003 havia 3.887.022

matrículas, em 2012, esse número passou para 7.037.688.

No que diz respeito ao número de professores formados em Pedagogia, no período que

vai de 2005 a 2011, os dados do INEP (2013) mostram que praticamente dobrou o

quantitativo de pedagogos no país. Enquanto que, em 2002, foram registrados 65 mil

formaturas em Pedagogia, em 2009, esse número subiu para 118 mil. No mesmo período, o

Censo mostra que aumentaram em mais de 60% as matrículas em Pedagogia: de 357 mil em

2002, para 555 mil em 2009 (MACHADO, 2013).

Em sua investigação centrada nas políticas públicas e, em especial, na expansão da

educação superior pública federal no Brasil, no período de 2003 a 2010, Ana Borba Arruda

(2011) chama atenção para o surgimento de novos campi – e, com isso, a interiorização da

universidade – oportunizando, assim, o acesso de muitos jovens ao ensino superior, visto que,

muitos deles não teriam condições de saírem de suas cidades para estudarem na capital,

principalmente por falta de recursos financeiros. No caso específico do Estado de

Pernambuco, além da Universidade Federal do Vale de São Francisco (UNIVASF), foram

criados os centros acadêmicos em Caruaru e em Vitória de Santo Antão, ligados à

Universidade Federal de Pernambuco; os de Garanhuns e Serra Talhada, ligados à

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); e os de Salgueiro e Caruaru, ligados à

Universidade de Pernambuco (UPE).

4 Segundo o Relatório de Acompanhamento do REUNI, elaborado e publicado pela Associação Nacional dos Dirigentes das

Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), das 55 universidades federais existentes apenas duas não aderiram ao

Programa, a Universidade Federal do ABC e a Universidade do Pampa, criadas em 2005 e 2007. (ANDIFES, 2010).

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Mesmo influenciada por politicas neoliberais, Ana Borba Arruda (2011) acredita que a

adesão ao Reuni pela UFPE, ocorrida em 2006/2007, tinha como função possibilitar a redução

da exclusão dos estudantes das camadas populares na Instituição de Ensino Superior Pública

Federal de Pernambuco. Isso porque, segundo a autora, da Região Nordeste, Pernambuco é o

segundo maior estado em número de instituições privadas (70), perdendo apenas para o

Estado da Bahia (118), com maior número de matrícula. O aumento expressivo de faculdades

particulares na capital e no interior de Pernambuco, com ofertas que vão da graduação até a

pós-graduação lato sensu, colocava, assim, a necessidade de se expandir o acesso ao ensino

público para a classe trabalhadora.

2.2 A Universidade Federal de Pernambuco na expansão do ensino superior

A adesão da UFPE ao conjunto das novas políticas do governo foi revertida logo em

subsídios para a construção de mais dois centros acadêmicos no interior de nosso Estado: o de

Caruaru, situado na Zona Agreste de Pernambuco, e o de Vitória de Santo Antão, situado na

Zona da Mata Sul 5.

O Centro Acadêmico do Agreste (CAA), em Caruaru, iniciou suas atividades com cinco

graduações nas áreas de Administração, Economia, Engenharia Civil, Pedagogia e Design,

que integram quatro núcleos de ensino (Gestão, Design, Formação Docente e Tecnologia).

Atualmente, funcionam também as licenciaturas em Química, Física e Matemática, o curso de

Engenharia de Produção e a Licenciatura Intercultural, direcionada à população indígena de

Pernambuco.

Já o Centro Acadêmico de Vitória (CAV), em Vitória de Santo Antão, tem um caráter

multidisciplinar e atualmente está estruturado em cinco núcleos de conhecimento:

Enfermagem, Nutrição, Licenciatura em Ciências Biológicas, Educação Física e Saúde

Coletiva.

Além disso, a Universidade passou a implementar o Programa Nacional de Assistência

Estudantil (PNAES) do Ministério da Educação (MEC) em 2010, que previa a criação de

políticas de assistência estudantil, evitando, com isso, a evasão estudantil decorrente da falta

de condições financeiras. Entre as modalidades de benefícios distribuídos aos estudantes da

5 Disponível em: https://www.ufpe.br/unidades-academicas. Acesso em 27 de junho de 2017.

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UFPE, temos o auxílio-transporte, auxílio-alimentação, o auxílio-moradia, o auxílio-creche e

a bolsa de permanência.

Um dos principais efeitos do Reuni na UFPE diz respeito ao aumento das matrículas de

estudantes oriundos de escolas públicas e, com isso, a mudança do perfil socioeconômico

daqueles que passaram a ingressar na instituição desde 2007. Além do aumento de 22,7% nas

matrículas nos três campi da instituição no período 2007 a 2009, o número de alunos de

escolas públicas e com renda mensal de um até dois salários mínimos aumentou 16,8% entre

os anos de 2006 (antes do Reuni) e 2010 (após o Reuni) na UFPE (ARRUDA, 2011). Isso não

impede, no entanto, como mostra a Ana Arruda (2011), que os cursos mais valorizados

socialmente estejam ainda, pela maior parte, reservados aos estudantes oriundos das escolas

privadas.

Ao contrário dos estudantes de escolas públicas que tendem a optar por cursos da área

de Filosofia e Ciências Humanas, a presença de estudantes egressos da escola particular é

significativamente maior nos cursos de Administração, Direito, Medicina, Engenharias,

Odontologia e Ciências Contábeis. Percebe-se, ainda, a partir dessa investigação, que as

ocupações de maior prestígio social estão vinculadas aos alunos de classe social mais

abastada; já os estudantes oriundos das camadas populares ainda estão restritos às profissões

de menor prestigio social e econômico e, com raras exceções, alguns desses estudantes

conseguem ultrapassar esse estigma social.

Outro dado importante diz respeito à faixa etária dos candidatos: os que são oriundos

da rede pública ingressam no ensino superior, em sua maioria (66,6%), após os 20 anos.

Enquanto que os estudantes da rede privada, apenas a minoria (26, 8%) ingressam após os 20

anos no ensino superior (ARRUDA, 2011). Ainda segundo a autora, no que se refere ao grau

de escolarização dos pais, “dos inscritos e aprovados no processo seletivo da UFPE, eles, no

mínimo, possuem ensino médio completo”. No entanto, os pais dos candidatos da rede

pública não chegam a ter nem o ensino fundamental completo. E as mães desses estudantes

“não concluíram nem o ensino fundamental I”. Quanto à ocupação dos pais dos inscritos e

aprovados, um número considerado se encontra em ocupações que vão de “servidor público,

comerciantes, funcionários do setor privado e outras atividades”.

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Já na relação do estudante de rede pública com a profissão de doméstica da mãe, foi

percebido que, após implantação do Reuni, houve um crescimento significativo: antes, o

percentual era de 6,2% e depois do Reuni esse número passou para 9,6%, revelando um

crescimento de 54, 8% entre candidatos da rede pública e mães domésticas.

No geral, os candidatos inscritos para os vestibulares entre 2006 a 2010, com renda

familiar de um a dois salários mínimos, somam um percentual total de 27,9%. Já os

estudantes da rede pública com a mesma renda familiar, antes do Reuni somavam 49% e os

desse mesmo grupo, após a implantação do Reuni, passaram para 65,8%.

No que se refere à complementação da renda familiar, a maior parte dos candidatos, ou

seja, 77,7%, dependem exclusivamente dos pais. Entretanto, quando se trata de estudantes de

baixa renda vindos de escola pública, esse item sobe para mais de 100%, pois esses estudantes

começam a desenvolver atividades de maneira muito precoce para ajudar na renda familiar.

Embora a autora não tenha analisado de perto o caso dos estudantes do curso de

Pedagogia, é possível perceber o lugar social que ocupam quando cruzamos os dados

disponibilizados por Arruda (2011) com informações de outras pesquisas. Assim, em pesquisa

recente sobre o impacto das políticas de manutenção acadêmica adotadas na UFPE, através da

sua Pró-Reitoria para Assuntos Estudantis (PROAES), um dos braços do programa de acesso

e permanência dos estudantes pobres dentro das instituições federais de ensino superior

(MAIA, 2015), é possível verificar que os estudantes de Pedagogia estão entre aqueles que

recebem com maior intensidade a bolsa de manutenção acadêmica6.

Assim, das 1.712 bolsas distribuídas para os 86 cursos oferecidos pela UFPE, em 2014,

a maior parte era destinada para três cursos, sendo Pedagogia um deles. Recebiam bolsas:

20,2% dos alunos do curso de Licenciatura em Geografia, 17,6% do curso de Pedagogia e

17,5% do curso de Serviço Social. De acordo com a mesma Pró-Reitoria, é, por exemplo, no

6Essa bolsa, no valor de R$ 365,00, concedida pela Pró-Reitoria para Assuntos Estudantis (Proaes) da UFPE, tem por

objetivo custear a permanência do estudante na Universidade. Ao recebê-la, o estudante se compromete a desenvolver 12

horas semanais de atividade em algum dos diferentes espaços da Universidade: da biblioteca até os setores administrativos,

passando pelos grupos de pesquisa. A bolsa é oferecida em função da situação socioeconômica dos estudantes. Requer-se

renda familiar de até um salário mínimo e meio per capita, com prioridade para os estudantes que tenham cursado a educação

básica em escola pública.

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curso de Pedagogia que encontramos mais de um terço dos estudantes oriundos de escolas

públicas que ingressam na UFPE.

As informações acima podem ser verificadas também quando comparamos a origem

escolar dos estudantes de Pedagogia ao longo do tempo. Se tomarmos, por exemplo, os dados

sobre a origem escolar dos estudantes apresentados na investigação elaborada por Monteiro

(2005), verificamos que quase 60% dos estudantes de Pedagogia, em 2005, eram oriundos de

escolas privadas. Já aqueles que ingressaram em 2012, em sua grande maioria, vieram de

escolas públicas, cerca de 64% (LUNA, 2014). Houve, praticamente, uma inversão da origem

escolar dos estudantes que frequentam o curso de Pedagogia.

Não se pode negar a expansão quantitativa no ensino superior e a ampliação de

ingresso de um público que tradicionalmente ficava excluído do ensino superior. No entanto,

para compreender os destinos ocupacionais dos egressos de Pedagogia, que vivenciaram parte

desse processo de expansão, é fundamental conhecer como se deu a permanência deles dentro

da Universidade e os possíveis recursos acumulados. Mas, antes de entrar nessa discussão, é

importante conhecer um pouco sobre a formação ofertada no curso de Pedagogia da UFPE.

2.3 O curso de Pedagogia da UFPE

Com o objetivo de formar seus alunos para a atuação no magistério em educação

infantil, nas séries iniciais do ensino fundamental, bem como em cursos de ensino médio, na

modalidade Normal e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos,

o curso de Pedagogia da UFPE funciona nos três turnos e possui uma carga horária de 3.210

horas/aula, com uma duração mínima de cinco anos, e seu projeto político-pedagógico,

reformulado em 2007, é o resultado de um grande debate sobre o papel do pedagogo e do

curso de Pedagogia na sociedade.

De fato, desde que foi instituído em 1939 as discussões em torno do campo de atuação

do pedagogo se constituiu em uma das principais razões para as inúmeras mudanças da grade

curricular do curso de Pedagogia. No início, ele foi criado com o objetivo de formar

bacharéis, que, na época, eram designados “técnicos em educação”. Somente nos 1960, por

meio do Parecer nº 251/1962, do Conselho Federal de Educação (CEF), é que o curso passou

a formar bacharéis e licenciados.

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Assim, a formação que antes funcionava no esquema de 3+1 (nos três primeiros anos

se obtinha um diploma de bacharel) passou a ser de quatro anos. A distinção entre bacharéis e

licenciatura foi abolida e o curso de Pedagogia se voltou para formar profissionais que

atuassem nas áreas da administração escolar, supervisão pedagógica e orientação educacional.

A docência se tornou a base de formação do pedagogo e as habilitações, uma espécie de

especialização em determinadas áreas educacionais. De acordo com Silva (ANO), a emissão

desse parecer do CFE teria sido até o momento o mais explícito quanto à definição do

mercado de trabalho para o pedagogo7.

Em vigor durante 27 anos, o parecer só foi modificado em 1996, com a reformulação

da Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB - Lei nº 9.394/1996), que foi fruto

de inúmeros embates em torno da finalidade e do perfil do profissional formado, acabando

por reafirmar a defesa da docência como base obrigatória de formação e identidade

profissional.

Em função das novas exigências colocadas pela LDB de 1996, o curso de Pedagogia

da UFPE realizou um reajuste na carga horária em 1997 e, em 2000, deu início a uma reforma

parcial do curso. A elaboração dessa reforma parcial contou ainda com os princípios e

definições sobre as condições de ensino e aprendizagem, estabelecidas pela Resolução nº

01/2006 (BRASIL, 2006), que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de

Pedagogia (DCN's de Pedagogia). De acordo com esse documento, pedagogo continua a ser o

profissional cuja formação é a Pedagogia, o que, no Brasil, é uma licenciatura.

Ainda de acordo com as DCN's, o curso de Pedagogia deve propiciar estudos teórico-

práticos, planejamento, execução e avaliação de atividades educativas e aplicação de

conhecimentos como o filosófico, histórico, antropológico, ambiental-ecológico, psicológico,

linguístico, sociológico, político, econômico e cultural. As diretrizes definem, ainda, o que é

central para a formação do licenciado em Pedagogia: “O conhecimento da escola como

organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania; a

pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigação de interesse da área

7 A homologação deste parecer ocorreu no contexto da Lei da Reforma Universitária de 1968, momento em que

a Faculdade de Filosofia foi desmembrada em vários setores, os departamentos, e, a educação, por não se inserir

em nenhuma das áreas básicas do conhecimento “foi elevada ao status de faculdade devido à sua

multifuncionalidade” (BRZEZINSKI, 1996).

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educacional; a participação na gestão de processos educativos e na organização e

funcionamento de sistemas e instituições de ensino” (MACHADO, 2014, p. 60).

As DCN's reforçam, ainda, a ampliação do campo de atuação docente, na medida em

que ressaltam a importância do exercício do pedagogo em áreas nas quais esteja presente todo

tipo de conhecimento pedagógico (MANDÙ e AGUIAR, 2013). Assim, empresas, hospitais,

ONGs, associações, eventos e emissoras de transmissão passam a fazer parte dos possíveis

cenários de atuação do pedagogo, permitindo que esse profissional passe a disputar junto com

outros profissionais serviços e locais outros que não apenas a sala de aula.

Embora a reforma parcial, instituída em 2007 pelo colegiado do curso de Pedagogia da

UFPE, tenha tentado dar conta dessas novas exigências (o estágio, que acontecia apenas no

final do curso, passou a ser realizado ao longo de toda a graduação)8, os embates em torno do

campo de atuação do Pedagogo permanecem ainda vigentes, tanto no cenário nacional

(LIBANEO, 2006; PIMENTA, 2002; SAVIANI, 2008), quanto local (MANDÚ, 2012).

Precisamente no nível local, chama-nos a atenção os dados observados por diferentes

pesquisas junto aos discentes de Pedagogia nos últimos anos (NASCIMENTO, 2016; SILVA,

2016; ANDRADE E ARAUJO, 2013). Esses estudos mostram que, como a tônica da

formação do pedagogo continua ser a docência, o quantitativo de disciplinas dedicadas à

educação não escolar ainda ocupa um lugar menor na grade curricular do curso. Tal fato é, de

acordo com os pesquisadores, o que impossibilita os estudantes trilharem caminhos

formativos e profissionais que não sejam a docência ligada à sala de aula. Além disso, essas

investigações constatam a fragilidade que os estudantes têm em articular os conteúdos

teóricos apreendidos em sala de aula dentro dos campos de estágio, normalmente, em salas de

aula das escolas públicas da Região Metropolitana do Recife.

Tais investigações, assim como as avaliações institucionais que têm sido elaboradas

pelo próprio colegiado do curso, têm sido mobilizadas nas discussões sobre a nova reforma

curricular no Centro de Educação da UFPE, reforma essa exigida pela Resolução nº2 do

Conselho Nacional de Educação (CNE), em julho de 2015.

8 Com uma carga horária maior, o estágio passou a ser chamado de Pesquisa e Prática Pedagógica (PPP) e foi redistribuído ao

longo do curso (PPP1, PPP2, PPP3, PPP4 e PPP5 e ministradas entre o 3º e 7° período). Essa alteração visou dar centralidade

à pesquisa e à prática pedagógica, articulando a teoria vista em sala de aula, a prática de ensino e a pesquisa educacional

(PROJETO PEDAGÓGICO, UFPE, 2007).

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Apesar de trazer novas diretrizes para a base curricular do curso de Pedagogia, como a

inserção de disciplinas relacionadas à educação escolar indígena, educação do campo,

educação escolar quilombola, por exemplo, a discussão sobre a identidade do pedagogo, o

campo de atuação e o tipo de formação a ser ofertada está longe de ser solucionada.

É nesse cenário de imprecisões e ambiguidades que vivem e atuam os pedagogos

formados na UFPE, o que fortaleceu o nosso interesse em considerá-los como “caso” para

pensar os usos sociais dos diplomas de Pedagogia.

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3 DESENHO TEÓRICO-METODOLÓGICO: CAMINHOS TRILHADOS PELA

PESQUISA

Para compreender os destinos sociais e profissionais dos egressos do curso de

Pedagogia da UFPE, nossa pesquisa adotou o quadro analítico desenvolvido pelo sociólogo

Pierre Bourdieu e os estudos que tomam por base seu aporte teórico-metodológico. Nesse

sentido, nos interessam as investigações sociológicas que mobilizam a noção de habitus

formulada pelo sociólogo francês e que apresentam como os estudantes participam,

estruturam e sofrem os efeitos da vida universitária, que, por sua vez, estão relacionados com

as disposições incorporadas pelos indivíduos ao longo da vida (BOURDIEU, 1983;

BOURDIEU e CHAMPAGNE, 1990; NOGUEIRA, ROMANELLI E ZAGO, 2003;

ALMEIDA, 2004).

Iniciaremos a descrição do nosso referencial teórico fazendo, de maneira sucinta, um

apanhado sobre a noção de habitus e sua importância para o desenvolvimento de nossa

pesquisa. Na sequência, pontuaremos algumas pesquisas que, seguindo a trilha proposta por

Bourdieu, se constituíram fundamentais para pensarmos os usos sociais dos diplomas de

Pedagogia pelos egressos.

3.1 O Conceito de Habitus

O conceito de habitus é um conceito-chave da teoria sociológica de Pierre Bourdieu,

na medida em que ele funda sua concepção de ação e de percepção do mundo. Através da

formulação do conceito de habitus, Bourdieu procurou resolver a questão da mediação entre o

ator social e a estrutura social (Ortiz, 1983, p. 9). De acordo com o sociólogo, um dos grandes

problemas presente nas ciências humanas e, em particular, na Sociologia, diz respeito às

distorções e os reducionismos associados às perspectivas subjetivista e objetivista de

conhecimento do mundo. Enquanto a perspectiva subjetivista parte da experiência primeira do

indivíduo, das percepções, intenções e ações dos membros da sociedade, a segunda

perspectiva acaba, praticamente, a se ater ao plano das estruturas objetivas, reduzindo a ação a

uma execução mecânica de determinismos estruturais reificados (NOGUEIRA; NOGUEIRA,

2016, p. 21).

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O problema da primeira abordagem, chamada de subjetivista, estaria no fato de ela

conferir aos indivíduos uma excessiva autonomia e consciência na condução de suas ações e

interações (NOGUEIRA, 2004). Tudo se passa como se os indivíduos organizassem suas

práticas de maneira autônoma, livre, consciente e de forma deliberada.

Em oposição à experiência subjetiva imediata, o conhecimento objetivista percebe

essa experiência como estruturada por relações objetivas que ultrapassam o plano da

consciência e intencionalidade individuais. Essa perspectiva, por outro lado, acaba por reduzir

as ações sociais à execução das normas e estruturas. O ator social se apresenta, assim, como

mero executor da estrutura, como quem obedece a algo programado e exterior a si

(NOGUEIRA, 2004).

Se, por um lado, Bourdieu reconhece a importância do conhecimento objetivista, uma

vez que tal abordagem permite conceber as ações sociais de forma não aleatória e articulada

às estruturas sociais, por outro, percebe-se que o objetivismo impõe dificuldade para se

construir uma teoria da prática, tal qual pretende formular Bourdieu. Essa dificuldade estaria

associada ao fato de que o objetivismo tenderia a perceber “a prática apenas como execução

de regras estruturais dadas, sem investigar o processo concreto por meio do qual essas

regras são produzidas e reproduzidas historicamente”. (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2004, p.

23)

Dito diferentemente, o conhecimento objetivista não forneceria instrumentos

conceituais adequados para se compreender a mediação entre estrutura e prática e, buscando

compreender a dimensão estruturada das práticas sem cair na concepção subjetivista, espécie

de filosofia do sujeito, nem tampouco no objetivismo, filosofia da ação que toma o sujeito

apenas como suporte da estrutura, Bourdieu formula a noção de habitus como a ponte, a

mediação entre as dimensões subjetivas e objetivas do mundo social. (NOGUEIRA;

NOGUEIRA, 2004, p. 24 e 25)

O argumento do sociólogo é a de que as práticas sociais não são estruturadas de fora

para dentro de maneira mecânica, de acordo com as condições objetivas presentes em um

determinado espaço ou situação social (NOGUEIRA, 2013), nem tampouco é um processo

conduzido de maneira autônoma pelos indivíduos. Ao contrário, as práticas sociais são

estruturadas, quer dizer, elas apresentam propriedades típicas da posição social de quem as

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produzem, porque a subjetividade dos indivíduos e/ou grupos de indivíduos é previamente

estruturada em relação ao momento da ação, e essas ações dos indivíduos são concebidas

como resultado de um acúmulo histórico, sedimentado a partir das diferentes experiências

sociais passadas. Ou seja, produto de socializações específicas, essa subjetividade socializada

Bourdieu (1989) funciona como um guia prático que dá sentindo e forma às percepções, às

apreciações, aos esquemas de pensamento e às ações dos indivíduos.

Bourdieu afirma também que a noção de habitus possui três dimensões que operam

em conjunto - ethos, eidos e hexis, sendo o ethos a dimensão ética do habitus (BOURDIEU,

1983). É o que faz os agentes respeitarem princípios, normas, valores, possibilitando, assim,

uma convivência harmoniosa entre os pares. Funciona como um conjunto sistemático de

princípios práticos que o grupo compartilha, ética prática, não, necessariamente, consciente, e

difere da ética da qual comumente se fala com seus princípios explicativos. Esse ethos é a

dimensão responsável pelas atitudes frente à escola, por exemplo, pela maior ou menor

valorização dos estudos, “por estas e não por aquelas atitudes e escolhas” (BOURDIEU,

2001, p. 47 e 48). Dimensão responsável por impulsionar o sujeito a agir conforme o esperado

dele, mas não necessariamente declarado.

O eidos é o sistema lógico e cognitivo de classificação dos objetos do mundo social.

Essa dimensão traduz-se em distinções de gosto, estilos de vida, diferentes maneiras de ser e

de estar no mundo, principalmente de pensar o mundo. Traduz-se em sinais distintivos,

classificadores e classificáveis. Já o habitus, tomado como hexis, indica uma postura, uma

disposição incorporada, uma maneira de ser, de agir, de estar e de se posicionar no mundo,

que se confunde tanto com o sujeito a ponto de ser naturalizada. O fato dos agentes estarem

tão ajustados às disposições parece-lhes naturais, como uma espécie de herança genética

(BOURDIEU, 1983). A hexis é exatamente essa disposição corporal do habitus; é a

incorporação do social, o corpo socializado (BOURDIEU, 1989).

Embora fruto da incorporação da estrutura e da posição social de origem do indivíduo,

o habitus não corresponderia, conforme enfatiza o próprio Bourdieu, a um conjunto imutável

de regras de comportamento a serem seguidas indefinidamente. Pelo contrário, constituiria um

“princípio gerador duravelmente armado de improvisações regradas” (ORTIZ, 1983, p.65).

Logo, ao mesmo tempo em que o indivíduo incorpora os condicionamentos históricos e

sociais de uma época ou sociedade e tende, assim, a responder a essa demanda social,

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reproduzindo tais condicionamentos, ele também é capaz, a partir desse conjunto limitado de

princípios, de estruturar um conjunto ilimitado de práticas e representações.

Conforme explicita Nogueira (2004), as estruturas externas incorporadas (disposições)

pelo indivíduo ajudam a forjar seu modo de ver e de se locomover no mundo, ao mesmo

tempo em que esse modo de ver e de se locomover no mundo também o ajuda a modificar a

estrutura social na qual ele está inserido. Assim, apesar de duradouras, as disposições sociais

incorporadas não são estáticas. De fato, elas atuam numa relação dialética de interiorização da

exterioridade e de exteriorização da interioridade:

“(...) sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando toda

experiência passada, funciona a cada momento como uma matriz de

percepções, de apreciações e ações - e torna possível a realização de tarefas

infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas,

que permitem resolver os problemas da mesma forma, e às vezes correções

incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente produzidas nesse

resultado.” (BOURDIEU, 1983, p. 57-58)

Ao apontar a dimensão flexível do habitus, o autor busca romper com uma perspectiva

determinista e unidimensional fortemente atribuída à sua obra, em particular, à noção de

habitus. Recorrendo, muitas vezes, à noção de inconsciente, Bourdieu afirma que as ações

humanas detêm um espaço de autonomia relativa que as orientam, sem que, portanto, os

indivíduos se deem conta disso. De acordo com o sociólogo, essas ações possuem uma

“independência relativa em relação às determinações exteriores do presente imediato”.

(BOURDIEU, 1982, p. 94).

Ao conferir à noção de habitus uma dimensão ativa, esse autor afirma a necessidade

que os indivíduos têm em utilizar diferentes estratégias para adaptar ou inventar meios diante

às novas exigências sociais e/ou novas situações. Produtos do senso prático como sentido do

jogo, as estratégias mobilizadas pelos indivíduos não são nem o resultado de uma atividade

consciente, apesar de serem orientadas por um fim, nem resultado de determinismo mecânico.

Inscritos no imediato e na urgência da ação, os indivíduos agem dentro de um contexto fluido

e multiforme, seguindo, assim, uma lógica prática, de fácil uso e eficaz em função da leitura

também rápida que são forçados a fazer de uma determinada situação (SETTON, 2002). Ao

contrário do que parece, isso supõe uma invenção permanente por parte dos indivíduos,

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indispensável para se adaptar às situações as mais variadas possíveis e nunca perfeitamente

idênticas (BOURDIEU, 2004, p.81).

Aplicado ao estudo dos egressos, a noção de habitus sugere pensarmos as apostas

profissionais e ocupacionais como resultado do conjunto de propriedades sociais e culturais

incorporadas pelos estudantes, as quais, transformadas em percepções subjetivas, acabam por

orientar suas ações ao longo de suas trajetórias escolares, passando pelos investimentos e

apostas acadêmicas durante o curso de Pedagogia, até a entrada no mercado de trabalho.

A análise de Bourdieu ressalta, portanto, a importância de se debruçar sobre os

processos de estruturação do habitus por meio do estudo das instituições de socialização dos

agentes. Esse processo de estruturação das ações e percepções dos indivíduos ocorre de

maneira progressiva desde nosso nascimento até a idade adulta. Se as diferentes instâncias de

socialização (família, igreja, escola, grupos de pares, movimentos culturais, políticos) se

tornam fundamentais no caminho de sedimentação dessa matriz socializadora, o autor enfatiza

a importância da socialização primária como momento em que as estruturas sociais são

retraduzidas na família e inscritas, pela vida cotidiana, nas cabeças e nos corpos das crianças.

Podemos pensar, dessa forma, a socialização como uma espécie de “somatização”, por

meio da qual o corpo é tratado como uma espécie de “lembrete/fila” no qual estão inscritas as

maneiras de se portar diante de diferentes situações de existência. As condições materiais de

existência de cada família, as representações de mundo que as famílias possuem - elas

mesmas incorporadas - assim como as primeiras experiências se inscrevem, de alguma

maneira, sobre e no corpo da criança, sem passar necessariamente pelo “consciente”

(SETTON, 2011).

Por exemplo, todo o aprendizado sobre a masculinidade e feminilidade é estabelecido

precocemente através dos corpos: maneira de se vestir, de se portar, de andar, de falar, de

olhar, de se sentar, etc. Esse aprendizado molda cada corpo (e, portanto, cada indivíduo)

segundo as estruturas do meio social no qual ele cresce. É através de todo esse trabalho

pedagógico, exercido desde a mais tenra idade, que os indivíduos elaboram toda uma relação

com o mundo social. A expressão “fica direito!” não é apenas corporal. Ela traz o “germe” de

uma relação precisa com o mundo, como, por exemplo, a importância e o cuidado com a

apresentação de si. A expressão remete ao mesmo tempo a uma oposição moral, carregada de

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conotações sociais, entre deixar o corpo ereto/reto e o corpo relaxado. Assim, por meio dos

processos de socialização, os indivíduos não fabricam apenas o corporal, mas também as

categorias de entendimento, as estruturas cognitivas, os esquemas de percepção, os princípios

de divisão, isto é, tudo que constitui as lentes por meio das quais nós enxergamos o mundo

social (SETTON, 2010).

É nesse sentido que Bourdieu afirma que podemos falar da incorporação de um capital

imaterial, o capital cultural, isto é, a transmissão de uma herança cultural dos pais para os

filhos. Conforme sublinham diferentes autores (NOGUEIRA, 2008; ALMEIDA, 2014;

SETTON, 2012), a incitação cultural familiar não precisa necessariamente ser deliberada e

metódica para ser eficaz. Ela age, normalmente, sem precisar ser sentida, na medida em que

ela provém de uma frequentação precoce e inserida no ritmo familiar.

É sabido, conforme demonstrou inúmeras vezes Bourdieu em sua obra, que a leitura de

história em voz alta para crianças as ajuda a desenvolver uma prática de leitura mais eficaz,

bem como a ida frequente desde cedo a museus possibilita o acúmulo cultural que faz toda a

diferença no desempenho escolar de determinados grupos sociais. Por outro lado, é

importante lembrar que se a transmissão de herança cultural consciente e voluntária é

primordial para compreendermos os investimentos e destinos sociais dos indivíduos, e parte

dessa transmissão se faz de maneira “mais discreta e mais indireta e mesmo com a ausência

de todo esforço metódico e de toda ação manifesta” ( BOURDIEU, 2001, p. 48) .

Compreender que a influência socializadora não se limita aos momentos de educação

explícita é de fundamental importância para pensarmos o caso dos egressos do curso de

Pedagogia, uma vez que permite conceber suas escolhas e apostas profissionais como produto

dos conteúdos acumulados durante o curso, em sala de aula, mas também adquiridos em

espaços outros que a sala. Nessa perspectiva, a pesquisa procurou investigar informações não

apenas a respeito da formação dos egressos durante os cinco anos no curso de Pedagogia, mas

também sobre suas trajetórias escolares e culturais antes de ingressar na UFPE, durante a

realização do curso, bem como após o seu término.

Embora o sociólogo francês tenha se constituído na referência que nos forneceu as bases

conceitual-metodológicas para compreendermos as condutas educacionais e profissionais dos

egressos do curso de Pedagogia, fundamentamo-nos também num conjunto de autores que se

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debruçaram mais especificamente sobre a questão da longevidade escolar nas camadas

populares no Brasil, explicitada na sequência.

3.2 Os estudos sobre os estudantes das camadas populares e o conceito de habitus

É a partir, sobretudo, do final dos anos 1990, que o desenvolvimento de uma literatura

preocupada em compreender o acesso e a permanência dos estudantes de camadas populares

no ensino superior ganhou terreno no campo da sociologia internacional e nacional

(BROCCO e ZAGO, 2014).

Fazendo uso recorrente do arcabouço teórico de Pierre Bourdieu, mas também dos

apontamentos elaborados por Bernard Lahire (1997), que prefere utilizar a expressão

patrimônio de disposições incorporado para se referir ao resultado das múltiplas experiências

de socialização vividas pelos indivíduos, ao invés de habitus, esses estudos se interessam,

sobretudo, em compreender as modalidades de socialização que contribuem para a

longevidade escolar entre estudantes cujo volume de capital, de capital social e de capital

econômico é baixo.

No caso do Brasil, tais investigações foram realizadas com o intuito de conhecer os

jovens oriundos das camadas populares que, aos poucos, vêm tendo acesso à universidade

(sobretudo às públicas e, em alguns casos, a seus cursos mais seletivos) e os processos através

dos quais eles o fazem (PIOTTO, 2011). Chama atenção, como as trajetórias dos estudantes

abordadas nesses estudos podem ser interpretadas como resultado de uma construção coletiva

baseada na participação das famílias e em uma rede de apoio que, variando em dimensão e

intensidade, estiveram presentes nas biografias analisadas.

As pesquisas de Portes (1993, 2001 e 2003) e de Viana (1998), consideradas pioneiras

sobre a temática, mostram de que maneira as famílias dos estudantes de baixo capital cultural

e econômico realizam, em seu cotidiano, um “sobre-esforço para incutir, no filho, um valor –

a escola – com tudo de bom que ela simboliza socialmente e pode possibilitar” (PORTES,

2003, p.65). Os pesquisadores enfatizam as estratégias mobilizadas pelas mães, como, por

exemplo, a atenção direcionada para a vigilância da vida escolar, que vai desde contatos com

a escola e mudanças de estabelecimento de ensino em busca de outro considerado mais

favorável, até o auxílio na aprendizagem dos conteúdos escolares (PORTES, 2001). Além

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disso, os estudos pontuam a importância da dimensão moral que também é colocada em jogo

pelos grupos familiares na construção de uma visão positiva diante do mundo e da escola

(VIANA, 1998).

Além da vigilância moral, atitudes diante do universo escolar presentes nas classes

médias, como, “assiduidade, tenacidade e perseverança”, são também transmitidas e

socializadas no cotidiano familiar (VIANA, 1998). Esses valores comuns às classes médias

também estão presentes nas famílias das camadas populares, na medida em que mães, mas

também outros familiares passam a frequentar espaços e indivíduos de outros meios sociais

que se constituem em referências importantes no seu dia a dia (PORTES, 2003). Em suma, é

a força do ethos, encarnado nas atitudes das mães, constituindo-se no investimento familiar

com maior possibilidade de ultrapassar a condição social dos pais.

Diferentemente de Portes (1993, 2001 e 2003) e Viana (1998), que se dedicaram a

compreender os estudantes que ingressaram em cursos de prestígio na UFMG, Lacerda

(2006), ao se debruçar sobre as trajetórias escolares de engenheiros egressos do Instituto

Tecnológico da Aeronáutica (ITA), destaca os sentidos intergeracionais atribuídos à

escolarização. Tais sentidos são retroalimentados pela escola, que julga como positiva toda

adesão aos comportamentos valorizados por ela. Nesse sentido, mesmo que desprovidas de

um forte volume de capital cultural, as famílias que centram suas práticas no aprendizado

escolar tendem a obter melhores resultados para sua prole.

De maneira semelhante, a investigação de Almeida (2006) aponta a valorização da

educação como ferramenta para a mobilidade social. O hábito de leitura em casa, passado

escolar exitoso (fundamental) e pré-vestibular são elementos que contribuíram para que os

estudantes investigados tivessem acesso a uma instituição pública de ensino superior e

altamente seletiva como a USP.

Almeida (2006), apoiado em Viana (1998), mostra quanto tais fatores se fazem

necessário na construção de um sentimento de autodeterminação, crucial na construção de

percursos escolares longevos. Esses pequenos êxitos funcionam como estimuladores de novos

investimentos e mobilizações para o prosseguimento dos estudos.

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O trabalho de Almeida (2006) mostra ainda como a aproximação dos pares e dos

professores na vida dos estudantes, bem como a existência e importância de um duradouro

grupo de apoio constituído no interior do estabelecimento escolar, são fatores decisivos nas

apostas educacionais dos jovens de camadas populares. Nesse processo de construção de

novas estratégias escolares, as condições objetivas da socialização secundária (rede social

escolar, igreja, grupos comunitários) assumem um papel significativo (SILVA e TEIXEIRA,

2007).

Assim, se por um lado a socialização primária até a vivência na universidade se faz

crucial, pois ajuda a enfrentar os duros obstáculos, simbólicos e sociais, que a vida impõe a

esses estudantes, por outro, as vivências na universidade, onde convivem com duras

dificuldades para levar o curso adiante, se tonam tão importantes quanto para

compreendermos seus percursos.

É nesse sentido que Viana (2001) aponta que as relações estabelecidas com pessoas

fora do ambiente doméstico podem figurar como referência e se constituir em modelos

impulsionadores das trajetórias escolares dos estudantes com baixo capital cultural e

econômico. São disposições como “determinação, independência, responsabilidade e postura

pró-ativa” que são apreendidas e mobilizadas por parte dos estudantes, em função dessa

socialização secundária (Viana, 2001, p.50). Além de tais comportamentos, a rede de relações

sociais estabelecidas durante o trajeto universitário contribuiu para a aquisição de um

conjunto de informações sobre o funcionamento do sistema escolar, conforme aponta

Almeida (2013) em seu estudo sobre “O Prouni e a “democratização” do ensino superior:

explorações empíricas e conceituais”.

Baseada em uma análise sociológica de natureza predominantemente qualitativa, Zago

(2008), sem desconsiderar os problemas estruturais que produzem as desigualdades escolares

- estudantes com menor capital cultural e social optam por profissões de menor prestígio

social -, chega a resultados muito semelhantes ao conjunto dos trabalhos acima. Ao objetivar

o conjunto de elementos mediadores que perpassam a relação entre a posição social de origem

e a performance escolar dos estudantes, a socióloga aponta as redes sociais formadas em

função do local de residência, da participação/militância em movimentos religiosos, em

associação de moradores, ou de um terceiro tipo, considerado o mais fluido, constituído a

partir de relações estabelecidas na própria comunidade ou em outros espaços externos, como

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fundamentais para pensarmos as disposições favoráveis a uma escolarização prolongada entre

estudantes pobres.

Na mesma direção, podemos ainda apontar as pesquisas de Piotto (2007) e de Souza e

Silva (1999) que reforçam a necessidade de se pensar as diferentes agências socializadoras na

constituição do conjunto de disposições e orientações do indivíduo e/ou do grupo social.

Nesse sentido, as relações construídas em diferentes redes de socialização podem ser

fundamentais na construção de modos de viver e no surgimento de novas expectativas e

projetos de vida (SOUZA E SILVA, 1999).

Por fim, sem tomar a origem social como fator determinante na construção do

desempenho escolar, mas como condicionante limitador quanto às possiblidades de se

construir uma dada condição escolar, é importante ainda salientar as contribuições de Setton

(1999). Conforme aponta a autora, as pessoas não são estudantes de uma mesma forma e nem

mesmo os estudos ocupam o mesmo lugar e relevância em suas vidas. Ao adotar uma

perspectiva relacional, são analisadas não apenas as diferentes condições em que os

estudantes acessaram a universidade (as lógicas adotadas para escolher o curso, como, por

exemplo, a relação vaga/candidato), mas também as condições de permanência na

universidade (transporte, alimentação, aquisição de material, etc.) e as estratégias na

construção de seus percursos universitários (a escolha dos temas do Trabalho de Conclusão de

Curso, as áreas de estágio, de monitoria e dos projetos de extensão).

Os resultados do estudo de Setton (1999) indicam os efeitos cumulativos das

diferentes experiências sociais vivenciadas antes e durante a trajetória universitária, a saber: a

escolarização anterior ao ingresso no sistema de ensino superior. De fato, a categoria social

“estudante” está longe de se constituir em uma categoria homogênea, em razão mesmo da

multiplicidade de situações que esses estudantes se formam.

Articulando com o objetivo específico da presente pesquisa, podemos afirmar que tais

estudos remetem à necessidade de se pensar os egressos de Pedagogia e suas escolhas

profissionais como produtos possíveis de determinadas configurações sociais. Considerar

somente o resultado final, isto é, a profissão ou o tipo de ocupação que desenvolvem hoje os

egressos, implicaria desconhecer os caminhos e percalços vivenciados por esses ex-alunos e,

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nesse sentido, os constrangimentos sociais que atuaram antes, durante e depois de todo o

período de escolarização, incluindo aí, a formação inicial (BOURDIEU, 2008).

Nosso estudo se interessa pela reconstituição dos processos de socialização anteriores

e durante a realização do curso de Pedagogia, e também pelos recursos mobilizados pelos

estudantes para ingressarem tanto no curso de Pedagogia da UFPE quanto no mercado de

trabalho.

3.3 Metodologia

Para alcançar os objetivos propostos, tornou-se necessária a utilização de procedimentos

de natureza quantitativa e qualitativa operacionalizados em duas etapas.

A primeira etapa consistiu de um tratamento estatístico da base de dados dos ex-alunos de

Pedagogia da UFPE, concluintes em 2012, disponibilizada pelo Grupo de Estudo e Pesquisa

Família, Escola e Profissão. Além da base de dados, foram consultados tanto os currículos

Lattes dos egressos, quanto os perfis dos egressos na rede social virtual facebook. Tais

consultas permitiram conhecer um pouco melhor o objeto de estudo de nossa pesquisa e

pontuar alguns critérios para a escolha dos entrevistados de nosso estudo.

A segunda etapa, um conjunto de entrevistas, foi fundamental para aprofundar o

conhecimento dos processos de socialização que se constituíram promotores das práticas e

visões escolares e profissionais dos egressos.

3.3.1 A escolha dos entrevistados

Além da classificação sobre as diferentes áreas de atuação profissional dos egressos,

identificadas com base na consulta às redes virtuais, o nível de escolarização dos pais dos ex-

estudantes foi um dos critérios de definição para a escolha dos entrevistados. A ideia que

norteou o uso desse critério esteve relacionada à preocupação em saber se a passagem pelo

ensino superior provocou algum tipo de mudança em relação à situação ocupacional de seus

pais. Essa discussão ganha sentido ainda mais se levarmos em conta os efeitos sociais,

simbólicos e econômicos associados à passagem pelo ensino superior.

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Como mostra a pesquisa do IBGE (2010), as famílias com mais de uma pessoa com

nível superior têm rendimento médio 1,83 vezes maior que o rendimento dos núcleos com

apenas um integrante com nível superior e 5,75 vezes acima dos ganhos de lares sem pessoas

com nível superior. Superpondo as vantagens, a taxa de ocupação cresce de 52% para 87%

entre analfabetos e indivíduos que concluíram o ensino superior (Néri, 2007). Relações entre

anos de escolarização e longevidade também são estabelecidas, mesmo isolando o fator renda.

Tal é o resultado apontado pelo último Atlas de Desenvolvimento Humano publicado em

20159.

Assim, tentando compreender de que modo a passagem pelo ensino superior contribui,

também, para anular o efeito de status adscritos, separamos os egressos em quatro grupos, de

acordo com o grau de instrução de seus pais: dos 114, 45 são filhos de pais com ensino

fundamental incompleto; 15 são filhos de pais com o ensino fundamental completo; 33 são

filhos de pais com o ensino médio; e apenas 19 são filhos de pais com diploma de ensino

superior10

.

3.3.2 Entrevistas

O segundo procedimento adotado para a realização da pesquisa foi a realização das

entrevistas, que tiveram por objetivos específicos compreender e aprofundar o conhecimento

acerca:

a) dos processos de socializações através dos quais os investigados acumularam, ao

longo da vida, recursos sociais e culturais;

b) da forma como utilizaram esses recursos para se inserirem no mercado de trabalho;

c) dos valores e representações atribuídas às suas escolhas profissionais.

O roteiro, composto com perguntas principais e complementado por outras questões

inerentes às circunstâncias da entrevista, serviu de referência para organizar e impulsionar o

processo de interação entre o pesquisado e a pesquisadora11

.

9 http://atlasbrasil.org.br/2013/

10 Ver, em anexo, a tabulação dos dados. Apenas dois ex-estudantes não informaram o nível de escolarização de

seus pais. 11

Ver exemplar do roteiro em anexo.

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Além de conter questões relativas aos processos de socialização vivenciados antes,

durante e depois do término do curso de graduação, reintroduzimos a questão sobre a

perspectiva de futuro respondida na ocasião do questionário aplicado aos investigados quando

esses ainda eram estudantes de Pedagogia12

. Tal questão foi inserida com o intuito de

confrontar com as informações atuais sobre suas inserções profissionais, mas também como

forma de aguçar a dimensão reflexiva dos entrevistados sobre a construção de suas trajetórias.

O contato com os entrevistados ocorreu via facebook , potencializando, assim, a rede

de relações sociais construída na época em que esta pesquisadora era estudante do curso de

Pedagogia da UFPE13

. Por meio da descrição densa dos perfis dos egressos, identificamos a

intensidade com que os ex-estudantes se envolvem com suas atividades profissionais atuais,

se ainda mantêm relação com o mundo universitário ou que tipos de ocupação exercem.

As entrevistas duraram em torno de uma hora e meia e em locais previamente

combinados com os investigados, variando de local de trabalho, a Universidade (UFPE) ou

residências. De uma maneira geral, os relatos foram tranquilos e não houve interrupções. Em

muitos momentos, os profissionais se emocionaram, choraram, silenciaram, analisaram suas

falas, tornando-se importante nessas ocasiões a confiança depositada na pesquisadora.

As entrevistas foram transcritas integralmente com apoio de mídia eletrônica,

sistematização vital para o processo analítico interpretativo que vimos desenvolvendo. Foram

realizadas doze entrevistas, todas registradas em áudio.

A partir do conteúdo das narrativas e de sua articulação com o referencial teórico

adotado, tecemos considerações sobre: a relação entre os recursos sociais e culturais e as

escolhas profissionais dos egressos e os sentidos atribuídos por ele a esse processo. No

entanto, para compreendermos as trajetórias ocupacionais dos egressos de Pedagogia 2012, é

preciso, antes de tudo, situar o momento histórico e social no qual esses ex-estudantes

chegaram à instituição de ensino superior, ou seja, a UFPE.

12

Conforme já apontamos no início do texto, parte dos dados empíricos da atual pesquisa foi coletada em 2012,

momento em que os egressos estavam finalizando seus estudos em Pedagogia na UFPE. 13Ver, em anexo, exemplar da carta enviada para os egressos através do facebook.

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46

3.3.3 O perfil socioeconômico dos egressos de Pedagogia da UFPE/2012

Majoritariamente do sexo feminino, 106 mulheres e apenas oito homens, esses ex-

estudantes ingressaram no curso por volta dos 22 anos de idade. Constituem-se em sua grande

maioria na primeira geração a entrar no ensino superior. Como podemos observar na Tabela

1, quase um terço dos estudantes provêm de famílias cujos pais (pai e mãe) não finalizaram o

ensino fundamental. Nove entre eles são analfabetos. Os demais se distribuem entre famílias

cujos pais chegaram ao ensino médio. Apenas uma minoria concluiu o ensino superior (21

pais e 21 mães).

Tabela 1 - Distribuição da escolaridade dos pais e mães dos estudantes de Pedagogia (concluintes

2012).

Escolaridade

Pais Mães

Número % Número %

Analfabeto 3 2,6% 6 5,2%

Fundamental Incompleto 37 32,4% 34 29,8%

Fundamental Completo 10 8,7% 9 7,8%

Médio Incompleto 9 7,8% 8 7%

Médio Completo 25 21,9% 28 24,5%

Superior Incompleto 8 7% 8 7%

Superior Completo 21 18,4% 21 18,4%

Total 114 100% 114 100%

Fonte: Questionário sociocultural aplicado aos estudantes de Pedagogia da UFPE (concluintes 2012).

No que tange à distribuição das ocupações dos pais e mães dos estudantes (ver Tabela

2), chama-nos a atenção o alto índice de pais que desenvolvem atividades manuais que não

exigem necessariamente uma qualificação (51,7 % dos pais e 69,2% das mães). São essas

atividades: pedreiro, gari, segurança, pintor, costureira, empregada doméstica.

Apenas nove pais e três mães desempenham atividades ligadas a profissões liberais

(advogados e dentista, por exemplo). O restante está dividido entre as categorias ocupacionais

não manuais de rotina, como, por exemplo, auxiliar da educação e vendedor, (14% dos pais e

12,2% das mães) e as ocupações técnicas e prestação de serviço que exigem uma qualificação

(26,3% dos pais e 15,7% das mães).

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47

Esses resultados não diferem dos encontrados por pesquisas desenvolvidas a respeito

do perfil sociocultural dos estudantes dos cursos de Licenciaturas e Pedagogia em outras

universidades no Brasil. (VARGAS, 2011; NOGUEIRA, 2011; SETTON, 2002).

Tabela 2 – Distribuição da categoria ocupação dos pais e mães dos estudantes de Pedagogia da UFPE

(concluintes 2012).

Categorias Ocupacionais

Pais Mães

Número % Número %

Profissionais (I +II) 9 7,8% 3 2,6%

Não – Manual de Rotina 16 14% 14 12,2%

Técnicos, Supervisores e

Trabalhadores no Manual

Qualificado

30 26,3% 18 15,7%

Manual não qualificado 59 51,7% 79 69,2%

Total 114 100% 114 100%

Fonte: Dados obtidos por meio do questionário sociocultural aplicado aos estudantes de Pedagogia da UFPE (concluintes

2012).

Legenda: Profissionais I e II (Ocupações ligadas a profissionais liberais (médicos, advogados, dentistas, etc.),

administradores e oficiais, gerentes, grandes proprietários, supervisores de trabalhadores não manuais); Não – Manual de

Rotina (ocupações ligadas, principalmente, a escritório, trabalhadores religiosos, vendedores, oficiais de justiça,

trabalhadores da educação); técnicos, supervisores e trabalhadores no manual qualificado (artesãos e trabalhadores técnicos,

serviços prestados); Manual não qualificado (trabalhadores domésticos, braçais e mal definidos), conforme GPE.

3.3.4 Os egressos e suas perspectivas de futuro profissional

Além da consulta aos dados sobre a origem sociocultural e econômica dos ex-

estudantes, outra informação coletada e analisada diz respeito às perspectivas de futuro

profissional que esses egressos tinham no último ano de graduação. Esse dado, abordado no

questionário sociocultural dos estudantes de Pedagogia do GEPFEP, por meio da pergunta “O

que você pensa em fazer depois do curso de Pedagogia?”, nos pareceu um indicador

interessante para pensarmos as aspirações profissionais e as possíveis estratégias de inserção

profissional adotadas por eles, e, em função das respostas dadas pelos ex-alunos à pergunta do

questionário, nós o organizamos em três tipos:

a) aqueles que gostariam de prolongar seus estudos (especialização, mestrado e

doutorado) e somente depois partir para o mercado de trabalho;

b) aqueles que não gostariam de prolongar seus estudos e sim fazer concurso

público imediatamente após o término do curso;

c) aqueles que não sabiam o que gostariam de fazer.

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Gráfico 1 - Distribuição dos egressos em relação às suas perspectivas de futuro após a

conclusão do curso de Pedagogia.

Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora com base em dados coletados para a pesquisa.

Assim, dos 114 ex-estudantes da amostra, 66% declararam querer prolongar seus

estudos, seja realizando um curso de especialização (lato sensu), seja realizando um curso de

mestrado e doutorado (stricto sensu). Os outros 20% declararam que queriam fazer concurso

público e 14% não sabiam o que de fato gostariam de realizar uma vez concluídos os estudos.

Essas respostas, quando comparadas à origem social dos ex-estudantes, não permitem

estabelecer correlações fortes entre as aspirações dos ex-estudantes e o acúmulo do capital

cultural familiar (medido aqui apenas pelo grau de instrução dos pais).

3.3.5 Consulta dos currículos dos egressos na Plataforma Lattes

Um outro mecanismo de pesquisa utilizado para identificar os egressos e os possíveis

investimentos educacionais e profissionais feitos por eles - quem estava atuando no universo

da docência e/ou da pesquisa - foi a consulta dos currículos na Plataforma Lattes.

Criado em 1999/2000 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) como um mecanismo para integrar informações a respeito da produção

dos pesquisadores das diversas áreas de conhecimento e tecnologia ligados aos grupos de

pesquisa e instituições de ensino do país, o currículo Lattes se constitui na principal fonte de

66% gostariam deprolongar osestudos

20 % gostariam defazer concursopúblico

14 % não sabiam oque fazer após aconclusão do Curso

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conhecimento e reconhecimento para todos aqueles que estejam exercendo algum tipo de

atividade acadêmica e/ ou universitária no país.

Considerando que 65% dos egressos declararam querer prolongar seus estudos após o

curso de graduação, achamos pertinente confrontar as informações coletadas no último ano de

curso (por meio do questionário aplicado aos estudantes na época) com aquelas encontradas

no currículo Lattes.

O primeiro dado que nos chamou atenção, após nossa consulta, foi o fato de que dos

75 egressos que desejam prolongar seus estudos, 25 jamais fizeram currículo Lattes, seja ao

longo da graduação ou depois14

. Dos 50 que fizeram o currículo, apenas 34 o mantêm

atualizado na Plataforma Lattes do CNPq.

Já os 23 ex-estudantes que desejavam na época se inserir no mercado de trabalho

diretamente através de um concurso público, apenas nove têm currículo Lattes. Aqueles que

não sabiam ou não opinaram de forma mais contundente o que pretendiam fazer no futuro,

praticamente, não criaram currículo na Plataforma.

A consulta à Plataforma Lattes permitiu ainda verificar que, dos 50 que fizeram o

currículo durante ou mesmo depois do curso, 32 estudantes de fato deram continuidade aos

seus estudos após a graduação, isto é, apenas 28% do total dos egressos de nossa amostra.

Embora o currículo Lattes tenha se constituído em uma fonte fundamental para

coletarmos informações a respeito dos egressos, sobretudo, daqueles que prolongaram seus

estudos, outra base consultada para obtermos dados sobre a atuação profissional desses

egressos e daqueles que não prolongaram seus estudos foi o facebook.

3.3.6 Consulta dos perfis dos egressos na rede social virtual facebook

Criada em 2004 pelo americano Mark Zuckerberg , o fabebook é uma rede social

virtual que permite encontros e compartilhamentos de gostos ou informações de interesse

comum entre amigos ou mesmo desconhecidos. Ao acessar pela primeira vez essa rede de

14 A primeira consulta à Plataforma Lattes foi feita em janeiro de 2016. A segunda consulta, em agosto de 2016.

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relacionamentos, o indivíduo é direcionado para a página de cadastro em que deve preencher

seus dados pessoais e definir o seu perfil. Nessa “identidade virtual”, que inclui informações

“verdadeiras” ou “fictícias” sobre si mesmo, é possível conhecer o local de moradia das

pessoas, informações sobre a formação escolar e profissional, bem como dados sobre o estado

civil. Considerada uma das maiores redes sociais da atualidade e uma das maiores do mundo,

o facebook constitui-se num elemento de autorrepresentação do indivíduo, demonstrando,

assim, de que maneira este deseja ser visto e percebido.

A consulta dos perfis dos egressos no facebook forneceu dados complementares

àqueles retirados da Plataforma Lattes. Por meio dele, podemos identificar boa parte das

ocupações atuais dos egressos. A primeira observação a ser feita é que os 32 egressos que

prolongaram seus estudos após o curso de graduação trabalham, hoje, na área de formação,

particularmente, com educação escolar. São eles coordenadores e/ou professores de escolas

privadas ou públicas, instrutores de EAD em faculdades particulares, dentre outras ocupações.

Os outros 82 que não prolongaram seus estudos, seja por meio de uma especialização,

seja por meio de um mestrado, tendem a atuar em áreas que não estão, necessariamente,

relacionadas à educação escolar. É possível identificar algumas das atividades desempenhadas

por eles: supervisor/a de Call Center, atendente no Expresso Cidadão e/ou gerente de vendas,

e há ainda aqueles que mesmo após a realização do curso de Pedagogia continuam sem

exercer qualquer atividade profissional: é o caso de ex-estudantes que permanecem sendo

donas de casa.

As consultas realizadas tanto na Plataforma Lattes quanto na rede social facebook nos

mostram que a grande maioria dos egressos do curso de Pedagogia não está atuando em áreas

relacionadas à docência. Atuando dentro de ONGs, grupos culturais, instituições religiosas,

comércio, escolas, coordenações de faculdades ou empresas de prestação de serviço ou de

recursos humanos, o que percebemos é uma grande diversidade entre as atividades

profissionais desempenhas pelos egressos. Os poucos que ingressaram na docência, e que

prolongaram seus estudos, o fizeram por meio de concurso público e/ou por meio do capital

informacional acumulado ao longo dos estágios e/ou experiências passadas relacionadas ao

universo educacional. Apenas uma ex-estudante não prolongou os estudos e encontra-se na

docência. É nesse grupo de ex-estudantes que encontramos um grande número de pais com

baixo capital econômico e cultural.

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Os que não se dedicaram à docência (sala de aula), mas que desempenham funções

relacionadas à educação (ONGs, grupos culturais ou mesmo em coordenações de faculdade

e/ou escolas privadas), vivenciaram experiências, ao longo de toda a graduação, nas atuais

áreas de atuação profissional. Ao contrário desses, o conjunto de egressos que ocupam

funções/cargos que não têm relação com a educação tiveram pouco convívio em sala de aula

e/ou atividades educacionais durante o curso.

Com base nessas observações, classificamos os ex-alunos em três grandes conjuntos:

a) aqueles que atuam como professores do ensino básico (sala de aula);

b) aqueles que atuam no universo educacional (e que não estão em sala de aula);

c) aqueles que atuam fora do universo educacional.

Gráfico 2- Distribuição dos egressos em função do campo de atuação.

Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora com base em dados coletados para a pesquisa.

51 % Atuam no ensinobásico em sala de aula

34% Atuam no universoeducacional (fora dasala de aula)

15 % Atuam fora douniverso educacional

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4 OS EGRESSOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPE: ALGUMAS SITUAÇÕES

OCUPACIONAIS

No texto da Introdução, bem como no do Desenho Teórico-Metodológico, anunciamos

alguns conceitos e perspectivas assumidas nesta pesquisa para pensar a inserção profissional

dos egressos de Pedagogia. Neste capítulo, com a ajuda das narrativas coletadas por meio das

entrevistas com 12 egressos de Pedagogia, procuramos operacionalizar o quadro teórico no

qual está fundamentada a presente pesquisa, com o objetivo de explicitar e compreender as

trajetórias sociais, escolares e profissionais desses pedagogos.

A análise das trajetórias dos 12 egressos entrevistados, embora evidenciem

experiências singulares, mostram alguns elementos decisivos para compreendermos as

atividades que realizam hoje. São eles: a) a presença da família na escolarização dos filhos; b)

os referenciais sociais e institucionais construídos ao longo do curso de graduação; c) os

aprendizados durante o período da formação inicial e d) o prolongamento dos estudos

posterior à graduação.

Para facilitar a análise dos dados, elaboramos um quadro sintético com as principais

ocupações dos egressos, bem como as dimensões sociais que ajudam a compreender suas

trajetórias universitárias e profissionais.

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Quadro 1 – Ocupações dos egressos e recursos sociais, culturais e educacionais.

Nome15 Ocupação Escolarizaç

ão

do Pai

Escola

Ensino

Médio

Conciliou

Ensino

Médio e

Trabalho

Pós-

Graduação

Referenciais

Sociais e

Institucionais

Idade de

Entrada no

Vestibular

Escolha do

Curso

Anny Professor de

Jaboatão dos

Guararapes/PE

Ensino

Superior

Escola

Privada

Não Doutorado em

Educação

PIBIC, Grupo

de

Estudo/Pesquisa

e Monitoria

22 anos Família de

professores

Roberto Bancário Ensino

Médio

Escola

Privada

Não Mestrado em

Educação

Grupo de

Estudo/

Pesquisa e

Monitoria

23 anos Insegurança

em passar no

curso de

Psicologia na

UFPE

Paulo Coordenador

Educacional na

ONG Etapas

Ensino

Superior

Escola

Privada

Não Especializaçã

o em

Gestão

D.A e

Monitoria

20 anos Pelo

quantitativo de

vagas

Suzana Professora

Jaboatão dos

Guararapes/

Recife/PE

Ensino

Fundamental

Incompleto

Escola

Pública

Não Especializaçã

o em

Educação

Infantil

D.A, PIBIC,

Grupo de

Estudo/Pesquisa

22 anos Magistério

Rosália Dona de casa Ensino

Médio

Escola

Privada

Não Não fez Monitoria 43 anos Porque queria

um curso

superior

Lúcia Secretária de

Escola

Ipojuca/PE

Ensino

Fundamental

Completo

Escola

Pública

Não Mestrado em

Educação

D. A, Grupo de

Estudo/Pesquisa

Monitoria e

Extensão

22 anos ONG

Kátia Desempregada Ensino

Fundamental

Incompleto

Escola

Pública

Não Não fez D.A, Monitoria

e NUFOPE

36 anos Já atuava na

área

Márcia ADI Ensino

Fundamental

Incompleto

Escola

Pública

Estágio

Normal

Médio

Especializaçã

o em Gestão e

Coordenação

PIBIC e Grupo

de

Estudo/Pesquisa

NEPHEPE

21 Magistério

Rebeca Professora de

Escola Privada

Ensino

Superior

Escola

Privada

Não Especializaçã

o em

Educação

Nada 19 anos Família de

professores

Carla Instrutora de

Call Center

Ensino

Médio

Escola

Privada

Não Especializaçã

o em Gestão

D. A, PIBIC,

Grupo de

Estudo/Pesquisa

e Monitoria

19 anos Pelo

quantitativo de

vagas

Patrícia Professora

Jaboatão dos

Guararapes/

Recife/PE

Ensino

Fundamental

Completo

Escola

Privada

Não Mestrado em

Educação

Monitoria e

Extensão

26 anos Influência de

colegas de

trabalho

Giovana Dona de casa Ensino

Médio

Escola

Pública

Não Não fez Monitoria e

Grupo de

Estudo/Pesquisa

NEAB

27 anos Magistério

15

Os nomes dados aos egressos são fictícios.

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Conforme podemos observar no quadro acima, dos 12 egressos entrevistados, cinco

estão trabalhando em escola, sendo quatro, Anny, Patrícia, Suzana e Rebeca, diretamente, em

sala de aula. Lúcia, por outro lado, trabalha como secretária de uma escola municipal. Os

outros dois ex-estudantes estão trabalhando com educação, porém, em espaços não escolares:

Paulo é coordenador educacional em uma ONG e Márcia é Auxiliar de Desenvolvimento

Infantil (ADI) em uma creche. Dos 12 entrevistados, apenas dois não estão trabalhando com

educação. É o caso de Carla, que atua como instrutora de treinamento em um Call Center e

Roberto, que é bancário. A ex-estudante Kátia é a única que se encontra desempregada,

embora tenha trabalhado como coordenadora educacional em uma ONG antes mesmo de

concluir o curso. Dos entrevistados, duas nunca desenvolveram uma atividade formal após a

conclusão do curso. São elas: as egressas Rosália e Giovana que, ao serem indagadas sobre

suas ocupações, não hesitaram em afirmar que são donas de casa.

4.1 O acesso ao ensino superior e os antecedentes escolares

4.1.1 Origem social e ocupação profissional dos egressos

Embora os egressos desconheçam o grau de escolaridade de seus avós, verificamos por

meio das profissões exercidas por eles que, de uma maneira geral, as avós e os avôs (paternos

e maternos) trabalhavam em atividades manuais que não demandavam necessariamente uma

qualificação. Assim, por exemplo, das 24 avós (paternas e maternas) da amostra, 14 avós

eram apenas donas de casa e as demais exerciam atividades remuneradas de baixo prestígio

social e econômico (agricultoras, domésticas, dona de restaurante e costureira).

Dentre os avôs, dos 24, apenas seis desempenhavam atividades profissionais que

demandavam um grau de instrução mais alto. Os demais desenvolviam atividades manuais e

que não exigiam necessariamente algum tipo de escolarização.

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Quadro 2 – Profissões dos avós paternos e maternos dos egressos.

Egressos Avó Paterna Avô Paterno Avó Materna Avô Materno

Anny Agricultora

Manual não qualificado

Agricultor

Manual não qualificado

Doméstica

Manual não

qualificado

Não respondeu

Roberto Dona de casa

Sem profissão

Fazendeiro

Profissionais I e II

Dona de casa

Sem profissão

Publicitário

Profissional I e II

Paulo Dona de casa

Sem profissão

Soldado do Exército

Profissão I e II

Agricultora

Manual não

qualificado

Agricultor

Manual não qualificado

Suzana Costureira

Manual não qualificado

Auxiliar

administrativo Não

manual de rotina

Dona de casa

Sem profissão

Agricultor

Manual não qualificado

Rosália Dona de casa

Sem profissão

Comerciante

Não manual de rotina

Dona de casa

Sem profissão

Agricultor

Manual não qualificado

Lúcia Não respondeu Não respondeu Não respondeu Não respondeu

Kátia Dona de casa

Sem profissão

Não respondeu Dona de casa

Sem profissão

Pescador

Manual não qualificado

Márcia Dona de casa

Sem profissão

Pescador

Manual não qualificado

Doméstica

Manual não

qualificado

Pescador

Manual não qualificado

Rebeca Dona de casa

Sem profissão

Médico do Exército

Profissional I e II

Dona de

restaurante Manual

não qualificado

Dono de restaurante

Manual não qualificado

Carla Dona de casa

Sem profissão

Caminhoneiro

Manual não qualificado

Dona de casa

Sem profissão

Soldado

Profissão I e II

Patrícia Dona de casa

Sem profissão

Agricultor

Manual não qualificado

Dona de casa

Sem profissão

Agricultor

Manual não qualificado

Giovana Agricultura

Manual não qualificado

Professor

Não manual de rotina

Doméstica

Manual não

qualificado

Chefe de Batalhão da

Polícia Militar

Profissão I e II

Quando comparamos o grau de escolarização dos avós ao dos pais dos egressos,

observamos que, diferentemente dos avós, os pais apresentam um grau de escolarização mais

elevado, exercendo, assim, ocupações um pouco melhor remuneradas. Dos 12 pais, três têm

ensino superior completo: um é gestor financeiro da escola de línguas em que é proprietário;

outro é economista e professor aposentado da UPE; e o terceiro, formado em Ciências

Contábeis, faz consultoria para empresas. Os demais, nove pais que não possuem uma

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formação de nível superior, desenvolvem atividades manuais e de rotina. São estas:

motoristas, vigilantes, metalúrgicos, entre outras. Já as mães, quando comparadas com a

geração passada, possuem um elevado grau de escolarização. Essas mulheres, diferentemente

das suas mães, exercem atividades remuneradas e, das 12, apenas quatro são donas de casa.

Quadro 3 – A profissão e o grau de instrução dos pais (pais e mães) dos egressos.

Egressos Escolarização - Mãe Profissão - Mãe Escolarização - Pai Profissão – Pai

Anny Ensino Superior Dona de casa Ensino Superior Professor do Ensino

Superior

Roberto Ensino Médio Secretária Ensino Médio Funcionário Público -

Auxiliar Administrativo

Paulo Ensino Superior Advogada Ensino Superior Contador

Suzana Analfabeta Doméstica Ensino Fundamental

Incompleto

Motorista

Rosália Ensino Fundamental

Incompleto

Dona de casa Ensino Fundamental Funcionário Público -

Assistente Jurídico

Lúcia Ensino Fundamental

Incompleto

Costureira Ensino Fundamental

Incompleto

Vigilante

Kátia Ensino Fundamental

Incompleto

Dona de casa Ensino Fundamental

Incompleto

Desenhista Publicitário

Márcia Ensino Médio Auxiliar de Serviços

Gerais

Ensino Fundamental

Incompleto

Auxiliar Administrativo -

Empresa Privada

Rebeca Ensino Superior Coordenadora

Pedagógica

Ensino Superior Gestor Financeiro

Carla Ensino Médio Doméstica Ensino Médio Não informou

Patrícia Ensino Médio Cabeleireira Ensino Fundamental Metalúrgico

Giovana Ensino Fundamental

Incompleto

Doméstica Ensino Médio Lanterneiro

Como podemos perceber, é possível verificar uma relação positiva entre o grau da

escolaridade e as ocupações exercidas pelas avós e pais (mães e pais) dos egressos

entrevistados. Quanto mais tempo na escola, maior a probabilidade de ocupar uma função

melhor remunerada. Essa relação positiva parece ter guiado boa parte das estratégias

familiares na construção de uma escolarização diferenciada para seus filhos.

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4.1.2 Antecedentes escolares: um passado escolar diferenciado

Ao discorrer sobre as transformações na conjuntura econômica, derivada boa parte do

processo de reestruturação produtiva, Baudelot (2004) mostra como as titulações e

capacitações tornaram-se elementos essenciais para aferir as competências dos indivíduos no

momento de conquistar seu espaço na sociedade. De acordo com o autor, se a escola até

pouco tempo era considerada uma instituição que possibilitava ascender socialmente, pois, a

cada pessoa é atribuído um valor a partir de suas credenciais escolares, com o aumento do

desemprego a ideia de que somente as pessoas “bem capacitadas e/ou bem treinadas” teriam

mais chance de alcançar uma vaga de trabalho em detrimento daquelas que não estão

“qualificadas” ganhou uma intensidade nunca antes vista, pois, como uma garantia de

ingresso no mercado de trabalho e, portanto, a oportunidade de vislumbrar uma posição social

mais elevada, o investimento na escolarização dos filhos é percebido pelas famílias como uma

via de assegurar à nova geração uma melhor condição de vida.

A pesquisa de Nogueira (2006) sobre a relação família e escola corrobora com os

apontamentos de Baudelot (2004). A autora ressalta que o desejo de investir no processo de

escolarização independe de classe social, pois, em sua grande maioria, a sociedade

compartilha dos mesmos valores morais quanto à profissionalização dos filhos. Assim, tanto a

mobilidade educacional quanto o destino ocupacional dos filhos são preocupações presentes

nos diversos grupos familiares.

Nessa perspectiva, os projetos de escolarização tornaram-se projetos familiares. Se tal

comportamento até pouco tempo era privilégio das camadas médias e altas, com a atual

conjuntura econômica, parte das camadas populares passou também a adotar postura similar.

Esse parece ser o caso dos egressos de Pedagogia: dos 12 entrevistados, apenas quatro

conciliaram estudo e trabalho ao longo do ensino médio. Além disso, sete são oriundos de

escolas privadas, o que demonstra o investimento educacional por parte das famílias dos

egressos, mesmo entre aquelas cujos pais não possuem ensino superior e exercem profissões

manuais e de baixo prestígio econômico e social.

Assim, as dificuldades e prejuízos apontados por Vargas e Paula (2013) para o

conjunto de estudantes que precisam conciliar estudo e trabalho parecem não fazer parte da

realidade desses egressos. Ao contrário do que as autoras mostram em suas pesquisas, como,

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por exemplo, a relação entre a evasão escolar precoce, trabalho e estudo, esses estudantes

nunca foram prejudicados em suas trajetórias escolares por precisar trabalhar e estudar ao

mesmo tempo.

Paulo, coordenador educacional na ONG Etapas, filho de pais com ensino superior,

nunca precisou conciliar trabalho e estudo ao longo do ensino médio. De acordo com o

egresso, sua mãe nunca hesitou em pagar os melhores colégios, sobretudo, quando passou a

apresentar um desempenho escolar abaixo da média. Paulo concluiu seu ensino básico no

tradicional colégio católico Nóbrega, localizado no bairro da Boa Vista, no centro do Recife:

“Eu sempre estudei em escola particular, minha mãe pagando. Eu era o

único que a minha mãe pagava, pois meus outros irmãos faziam a seleção e

ficavam entre os melhores na seleção e ela não precisava pagar [...] Eu nunca

fui um bom aluno. Sempre foi muito tortuoso estudar. Nunca foi muito legal,

eu nunca me adaptava. (Entrevista realizada com Paulo em maio de 2017,

conforme pesquisa de campo.)

Já Roberto, bancário e estudante de mestrado em Educação, mostra o quão importante

foi o investimento escolar realizado por sua família. Filho de pais com ensino médio, o

egresso contou com o incentivo e a ajuda financeira de sua tia materna, formada no curso de

Direito, para finalizar seu ensino básico no renomado e caro colégio dos irmãos Salesianos,

no cento da cidade do Recife:

“O ensino médio foi numa escola privada em um colégio caríssimo,

Salesiano. [...] Minha tia era quem pagava, a irmã da minha mãe que é

delegada federal. [...] Então, eu sei ( ...) que estudava em um colégio com

uma realidade muito diferente”. (Entrevista realizada com Roberto em maio

de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Rosália, ao contrário de Paulo e Roberto, vem de uma família com baixo volume de

capital cultural e econômico. Nem seus pais, nem seus parentes mais próximos frequentaram

uma universidade. Graças à rede de sociabilidade que sua família mobilizou junto às

instituições católicas, a egressa pôde estudar em escolas particulares. Natural de Garanhuns,

Rosália relata que, ao chegar a Recife, sua mãe a matriculou no Colégio Imaculada

Conceição, colégio de freiras, localizado no bairro do Barro. Seu ensino médio foi realizado

no antigo e extinto Colégio e Curso União, fato que contrariava suas tias maternas, todas

evangélicas, que haviam sugerido o colégio Agnes:

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“Eu sou de Garanhuns. Quando eu vim para cá, para Recife, eu tinha 12

anos. [...] Aí eu fui estudar no Colégio Imaculada Conceição, que é um

colégio de freira aqui no Barro. Eu estudei lá dois anos [...] Lá só tinha até a

oitava série, então, foi quando eu saí de lá para fazer ensino médio no

Colégio e Curso União, que não existe mais. Lá era também um colégio

particular. As minhas tias, que também eram as tias da minha mãe, queriam

que eu fosse estudar no Colégio Agnes, porque é um Colégio Evangélico,

mas eu disse logo a minha mãe: 'eu não quero estudar lá', porque eu já tinha

tido uma experiência no colégio de freira e eu não queria mais ir para o

colégio evangélico ou para outro colégio religioso, não”. (Entrevista

realizada com Rosália em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Assim como Rosália, filhas de pais com baixa escolarização, Suzana, professora

concursada da rede municipal de Recife, também nunca conciliou estudo e trabalho. Sua mãe,

embora analfabeta, sempre a incentivou nos estudos, chegando a proibi-la de trabalhar durante

e após o ensino médio:

“Sempre estudei, minha vida toda, em escola pública. [...] Eu pensei em

trabalhar, mas aí mainha disse: 'não! vá trabalhar, não! vá fazer o

Magistério (quando acabasse o ensino médio), porque aí tu tens uma

profissão melhor'”. (Entrevista realizada com Suzana em março de 2017,

conforme pesquisa de campo.)

Quando passamos para a análise dos egressos que precisaram, em algum momento de

suas trajetórias escolares, trabalhar, observamos que as atividades remuneradas por eles

realizadas sempre giraram em torno do universo educacional. Ao contrário de boa parte dos

jovens estudantes brasileiros, que necessitam estudar e trabalhar (VARGAS e PAULA, 2013),

os egressos entrevistados que não puderam dispensar a necessidade de trabalhar davam aula

particular de reforço.

Anny, uma das poucas a conciliar trabalho e estudo, é hoje professora na Prefeitura de

Jaboatão dos Guararapes e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da

UFPE. A egressa sempre estudou em escolas da rede privada. Entretanto, após problemas

financeiros na família, a ex-estudante precisou trabalhar quando cursava o terceiro ano do

ensino médio para ajudar nas despesas familiares. Anny, além de dar aulas de reforço para

crianças do ensino fundamental, também ministrou aulas particulares para estudantes do

ensino médio que se preparavam para o vestibular:

"Eu dava aula particular de reforço à criança, veja só a graça. Eu fazia isso

quando eu estava no terceiro ano, porque a situação lá em casa já estava

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ficando apertada. E também [...] dava aula particular. Na metade do terceiro

ano, eu dava aula de reforço para duas crianças, todos os dias [...]”.

(Entrevista realizada com Anny em maio de 2017, conforme pesquisa de

campo.)

4.2 Ingresso na Universidade e escolha do curso de Pedagogia

De uma maneira geral, observamos que as famílias dos egressos analisados na presente

pesquisa não hesitaram em apostar na escolarização de seus filhos. No entanto, conforme

constata Nogueira (2003), a decisão pelo ensino superior entre os estudantes provenientes das

camadas médias intelectualizadas e aqueles oriundos de camadas menos privilegiadas é

vivenciada de maneira bastante diferente. Enquanto que, para os primeiros, o ingresso na

universidade tem uma conotação de quase “uma evidência”, um acontecimento inevitável,

para os demais, a passagem do ensino médio para o superior nada tem de “natural”. Isso

porque boa parte desses estudantes não tem, praticamente, nenhum tipo de informação sobre

vestibular e formação universitária.

Os depoimentos que seguem na sequência revelam o quão o volume do capital

informacional (diretamente relacionado com o capital cultural familiar) fez diferença na

maneira pela qual esses estudantes ingressaram num curso superior e também por que

optaram pela Pedagogia.

O caso de Rebeca é bastante ilustrativo do conjunto de estudantes que desde crianças

conviveram com familiares (pais, tias e tios) professores e donos de estabelecimentos

escolares. Filha de proprietários de uma escola de idiomas, a egressa sempre estudou em

escolas particulares, chegando a realizar um intercâmbio nos Estados Unidos ainda

adolescente. Sua escolha pelo curso de Pedagogia foi fortemente influenciada pelas

informações de seu tio, professor, sobre a vivência em universidades. De acordo com seu tio,

o curso de Pedagogia seria mais interessante que Letras, uma vez que oferecia uma formação

mais “completa”:

“Eu sempre estudei em uma escola cristã. Sempre estudei no Colégio Agnes.

A minha mãe tinha um sonho de me mandar para morar fora, nos Estados

Unidos. Então, quando eu completei o ensino fundamental II, 8ª série, eu fui.

Fiz o primeiro ano do ensino médio lá nos Estados Unidos e voltei para a

mesma escola. [...] Eu tenho um tio, irmão da minha mãe, que ele é

professor. Ele disse: 'Rebeca, você quer ser professora, certo? Você já tem

iniciação no inglês. Por que não faz Letras?', 'Letras, tio? Eu sou péssima

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em português'. Ele disse: 'Então, faz Pedagogia, que é um curso mais

completo'. E nesse meio tempo eu já estava auxiliando meu pai na escola

que ele tinha. [...] Eu estava sempre trabalhando envolvida em escola,

sempre estive nessa vivência, eu sempre gostei. Então, fui unindo o útil ao

agradável." (Entrevista realizada com Rebeca em fevereiro de 2017,

conforme pesquisa de campo.)

No caso dos egressos cujos pais apresentam um baixo volume de capital escolar e

econômico, chama atenção a relação entre o fato de terem feito o curso de Magistério e a

escolha pelo curso de Pedagogia. Incentivados por seus pais a obter uma profissão logo após o

término do ensino médio, esses estudantes escolheram o curso de Pedagogia por visualizar

uma espécie de ampliação daquilo que foi vivenciado durante o curso de Magistério e as

experiências nos estágios.

Esse dado também foi observado por Cláudio Nogueira (2010) em sua pesquisa sobre

as razões pela escolha do curso superior e da carreira docente. O autor mostra que, além dos

atributos sociais (escolarização das mães e raça/cor) e a trajetória escolar na educação básica,

a passagem pelo Magistério (nível médio) se constitui determinante na escolha do curso

superior cujo campo de atuação fosse a docência.

Das quatro entrevistadas que fizeram o Magistério, apenas uma está desempregada e

as demais estão trabalhando com educação infantil. Por outro lado, é importante ressaltar que

a reformulação da LDB em 1996 colocou como obrigatoriedade a passagem pelo curso de

Pedagogia para todos aqueles que pretendessem trabalhar com a educação infantil e o ensino

fundamental I. Os depoimentos tanto de Lúcia quanto o de Suzana são esclarecedores nesse

sentido.

Ao concluir o ensino fundamental, Lúcia foi fortemente incentivada por sua mãe a

fazer o curso Normal Médio como forma de garantir sua independência financeira e seu

destino profissional. Conforme relata a egressa, sua escolha pelo curso de Pedagogia da UFPE

ocorreu em função das experiências vivenciadas em uma ONG, no bairro popular de

Peixinhos, local em que mora até hoje:

“Eu sempre fui incentivada pela minha família para estudar. Meus pais,

apesar de não terem estudado muito... minha mãe sempre prezou por isso...

minha mãe sempre incentivava. E também pela questão de ser mulher, então,

ela dizia assim: 'se você quer ser independente, estude, para você ter um

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emprego, para você poder trabalhar e conseguir sobreviver sem estar

dependendo de ninguém, inclusive de nós, que somos seus pais, para que

você tenha a sua independência'. Eu cresci ouvindo isso, ouvindo esse

discurso de que eu tinha que estudar. [...] Quando terminei o Magistério, eu

entrei no processo de formação para Educador Social e comecei a ver a

educação de outra forma, ali na ONG. Eu me reapaixonei pela educação e

por aquilo que eu achava que poderia ser... Quando eu conheci pedagogos e

outros espaços, isso me motivou e eu decidi fazer Pedagogia". (Entrevista

realizada com Lúcia em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Suzana, por outro lado, concluiu o ensino médio antes de fazer o Magistério. A

decisão de ingressar no curso de Pedagogia adveio, conforme relata, de seu contato direto

com professores que atuavam no campo de estágio que era obrigada a fazer:

“No finalzinho do 2º ano, a gente começou as práticas de ensino. Aí, foi

quando eu fui gostando do curso. Eu conheci uma professora quando eu fui

estagiar na sala dela e ela ficava falando do curso de Pedagogia. Ela tinha

estudado na Federal. Ela foi me falando do curso e eu fui vendo a prática

dela. E foi quando eu decidi fazer Pedagogia". (Conforme entrevista

realizada com Suzana em março de 2017.)

Além do curso de Magistério se constituir num elemento importante para a escolha do

curso de Pedagogia, normalmente motivado pela necessidade de uma profissão que garanta a

sobrevivência em um cenário social de escassez de outras oportunidades, a relação candidato

/vaga também é uma variável pertinente quando analisamos os depoimentos de ex-alunos16

.

No caso do curso de Pedagogia da UFPE, são oferecidas 250 vagas por ano: 100 vagas

no primeiro semestre e 150 no segundo. O curso de Pedagogia é o maior no que tange à oferta

de vagas em toda a Universidade. Essa é uma das razões principais elencadas por alguns (três)

dos egressos entrevistados, quando questionados sobre a escolha do curso.

Muito expressiva é a síntese feita por Carla. A egressa, que contou com a ajuda

financeira de sua avó e tio para concluir o ensino médio e o cursinho pré-vestibular, somente

ingressou no curso de Pedagogia após sua tentativa frustrada em cursar História. Ao ser

indagada sobre sua escolha, Carla é enfática ao afirmar que sua decisão pelo curso de

Pedagogia esteve diretamente vinculada à grande quantidade de vagas ofertadas e à nota de

corte do curso.

16 Fato observado também nas pesquisas de Machado (2013) e de Torini (2012) sobre as escolhas do curso pelos egressos de

Pedagogia e de Ciências Sociais, respectivamente.

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"O meu primeiro vestibular, eu fiz para História. Sendo que eu fiz, mas

fiquei no remanejamento, e não consegui a nota para poder entrar na

faculdade e aí minha avó foi e pagou de novo o segundo ano do cursinho. E

aí eu optei por escolher um curso que tivesse mais vagas e quando eu vi que

Pedagogia tinha mais vagas, porque Pedagogia ofertava 250 vagas na época,

achei mais viável para entrar na faculdade". (Conforme entrevista realizada

com Carla em março de 2017.)

Roberto, hoje atendente no Banco do Brasil, sempre sonhou em fazer Psicologia. Seu

desejo foi realizado logo após o término do ensino médio, momento em que ingressou numa

faculdade particular graças à ajuda financeira de seu pai, que trabalhava praticamente três

expedientes para garantir o sustento da família (durante o dia trabalhava como auxiliar

administrativo e à noite vendia cartelas de sorteio). Após a conclusão do primeiro semestre do

curso de Psicologia, Roberto se viu obrigado a deixar o curso em função do preço das

mensalidades. Trabalhando como frentista em um posto de gasolina, mas incentivado por seus

familiares a continuar seus estudos em paralelo, o egresso acabou escolhendo Pedagogia, pois

não se via cursando Psicologia numa universidade pública federal. Embora tenha realizado

todo seu ensino médio em escolas tradicionais e privadas no Recife, sem dúvida, a dificuldade

socioeconômica que enfrentava sua família, no momento de fazer um curso superior,

contribuiu fortemente para que o estudante não se “visse cursando Psicologia numa

universidade pública”:

“Eu tava no curso de Psicologia, numa faculdade que tem na

Suassuna. [...] Porque lá eu tava pagando e aqui não, aqui eu não

tinha chance de entrar... Minha autoestima era muito baixa... eu

achava que eu nunca ia entrar em Psicologia aqui". (Entrevista

realizada com Roberto, em março de 2017, conforme caderno de

campo.)

Essa interiorização do improvável não constitui um traço de um grupo singular,

conforme observa Zago (2006). Embora muito presente nas trajetórias escolares de estudantes

oriundos das camadas populares (cuja escolarização básica foi realizada em escolas públicas),

esse processo de autoexclusão é também recorrente entre grupos sociais que, em função de

algum processo de desclassificação social, perdem sua capacidade de reprodução social.

Se os antecedentes escolares e socioeconômicos nos dão pistas para compreendermos

a escolha do curso universitário e, particularmente, das ocupações que hoje exercem os

egressos de Pedagogia, outros certamente foram os referenciais sociais e institucionais

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consolidados ao longo da graduação. Esses, como veremos, se constituiriam decisivos para a

permanência dos egressos na instituição (e, portanto, para garantir a conclusão do curso),

como também para a sua inserção no mundo do trabalho.

4.3 O curso de Pedagogia: consolidação de referenciais sociais e institucionais

Dentre os diferentes recursos acumulados durante a graduação e mobilizados pelos

egressos ao longo de suas trajetórias universitárias e profissionais, chamam atenção os

referenciais sociais e institucionais que construíram. Formado por indivíduos ou grupos de

indivíduos que de alguma forma acabaram por figurar como modelos impulsionadores de suas

trajetórias, esses referenciais foram construídos nas diferentes instâncias de socialização que

circularam os estudantes na Universidade: da sala de aula até os grupos de estudos, passando

pelos campos de estágios e monitorias.

No caso dos egressos analisados nesta pesquisa, um dado importante para

compreender o papel desses referenciais e, precisamente, das instâncias de socialização nos

quais os construíram, é o fato de que, praticamente, todos eles precisaram conciliar trabalho e

Universidade. Ao contrário do que acontecerá durante o ensino médio, em que a

concomitância estudo-trabalho não se fez necessária, uma vez ingressando na Universidade,

os egressos precisaram trabalhar: dos 12 entrevistados, nove trabalharam durante toda a

graduação e três receberam algum tipo de bolsa para sobreviver.

Dados recentes mostram diferenças significativas em relação à concomitância estudo-

trabalho segundo os cursos universitários: dos 56% dos estudantes brasileiros que trabalham e

estudam, em torno de 70% frequentam cursos de licenciatura. No curso de Pedagogia, 79%

dos estudantes trabalham; em História, são 73% e em Biblioteconomia, 69%, enquanto estão

na mesma condição 8% dos estudantes de Medicina e 15% de Odontologia.

Evidentemente, a relação que os egressos estabeleceram com o trabalho variou em

função da capacidade que suas famílias tinham em ajudá-los. Nesse sentido, a classificação

feita por Foracchi (1977) nos anos de 1970 e utilizada nos diferentes estudos sobre a condição

estudantil (NOGUEIRA, 2006 ; VIANA, 2005 ; ZAGO 2007 e 2013, PIOTTO, 2010 ) ainda

parece bem atual: estudante-trabalhador e trabalhador-estudante. Enquanto no primeiro caso,

o estudante tem a possibilidade de conjugar o trabalho em tempo parcial, no segundo caso o

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estudo aparece como contingência, pois a necessidade de trabalhar coloca o curso em plano

secundário.

O relato de Patrícia, que atualmente mantém quatro vínculos empregatícios, sintetiza

bem a situação do trabalhador-estudante. Filha de uma cabeleireira e um metalúrgico, a

egressa fala da dificuldade que teve em cursar Pedagogia, uma vez que trabalhava à tarde na

Prefeitura do Recife, e à noite em uma operadora de telefonia. O cansaço era tanto que Patrícia,

muitas vezes, chegava a dormir em sala de aula:

“Eu trabalhava muito. Eu trabalhava na TIM de madrugada, então eu

chegava na sala de aula de manhã e ia dormir, e a professora me via com

aquelas olheiras e me olhava de cara feia e dizia: 'se não pode fazer

faculdade de manhã, tranque; vá fazer à tarde, vá fazer à noite, vá fazer

qualquer outra coisa". [...] À noite, eu trabalhava na TIM e à tarde eu

trabalhava com contrato na Prefeitura do Recife, na área de saúde. Eu

entrava e saía correndo, parecia que eu estava fugindo de alguém. Às

vezes, eu trocava de roupa no ônibus, porque não dava tempo... Eu ia

lá para atrás do ônibus e trocava a blusa. (Entrevista realizada com Patrícia

em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Ao contrário de Patrícia, os contratos de trabalho de Rosália e Suzana permitiram que

as egressas negociassem de maneira menos corrida e cansativa o tempo dedicado aos estudos

e às suas atividades remuneradas. Rosália fala que, apesar de trabalhar no Expresso Cidadão,

nunca “se sentiu prejudicada por conta de seu trabalho”. Já Suzana, assim que ingressou no

curso, foi aprovada numa seleção para trabalhar com formação de professores. A egressa

também conta que tinha facilidade em negociar seu tempo entre as atividades de seu trabalho

e as inúmeras atividades oferecidas na Universidade:

"Eu fui trabalhar com pesquisa na Universidade, com um projeto de

formação de professores. [...] Então, quando tinha uma palestra interessante,

eu já tinha mais tempo. E eu não estava num trabalho que me prendia

durante 4 horas e que não podia sair. Então, já era uma coisa mais flexível,

trabalhar na Universidade. [...] Isso me possibilitou ter mais contato com o

pessoal da Universidade, com os meus amigos de lá”. (Entrevista realizada

com Suzana em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Lúcia, por exemplo, relata que pôde viver a Universidade de forma ampla, pois seus

pais lhe ajudaram financeiramente a se manter e, assim, pôde experienciar os demais espaços

e vivências acadêmicas ao longo de sua trajetória:

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"Ao contrário de muitas pessoas que só vêm para a Universidade assistir às

aulas e voltam para casa porque trabalham, eu tive a oportunidade na

graduação inteira de poder estar aqui trabalhando com monitoria, com

pesquisa, com o Diretório Acadêmico, com reuniões do Colegiado, com

viagens que a gente fazia, com encontros que a gente fazia, entendeu? Então,

foi uma vivência muito rica". (Entrevista realizada com Lúcia em março de

2017, conforme pesquisa de campo.)

Assim, o uso mais ou menos intenso dos referenciais constituídos durante o curso de

Pedagogia pelos estudantes depende também, como visto acima, das condições básicas de

sobrevivência no ensino superior.

Entre os diferentes referenciais construídos, chama a nossa atenção o papel que

determinados professores assumem na trajetória escolar dos egressos. Quando questionados

sobre o que mais marcou sua formação no curso de Pedagogia, os egressos não hesitam em

apontar a relação de solidariedade que estabeleceram com os professores. A fala da egressa

Rosália é reveladora para entendermos como a convivência com os professores a auxiliou na

sua integração com o mundo acadêmico. O contato que estabeleceu, em sala de aula, com a

professora foi, posteriormente, revertido em oportunidades de realizar diferentes atividades

acadêmicas. De fato, esses referenciais acabam por se transformarem em uma rede de

cooperação institucional que facilita a vida dos professores, mas, sobretudo, a dos estudantes:

"Eu não podia deixar de falar da professora Rosilda. Eu paguei a disciplina

de matemática com ela e depois ela me chamou para ser monitora dela. Aí,

eu fui ser monitora dela. Eu fui monitora dela duas vezes. Aí, tudo que tinha

lá, ela me chamava para participar. Por exemplo, na Expo da Federal, ela me

chamou para apresentar um trabalho. Aí, depois ela me chamou para

trabalhar com ela num programa de formação para professores, que era uma

parceria com a rede municipal de Recife. Eu fiquei um ano e meio na

formação com ela". (Entrevista realizada com Rosália em maio de 2017,

conforme pesquisa de campo.)

O depoimento de Lúcia, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da

UFPE e secretária em uma escola na Prefeitura de Ipojuca/PE, também aponta o quão os

professores com quem estabeleceu contato ajudaram em sua permanência no curso de

Pedagogia e em seus investimentos profissionais após a conclusão do curso. Além de obter

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informações sobre o universo acadêmico e participar de diferentes atividades extracurriculares

(como a realização de monitoria e participação em grupo de estudos), a convivência diária

com os professores foi decisiva para que ela prolongasse seus estudos após o término do curso

de Pedagogia:

"A professora Daiana me perguntou se eu queria ajudá-la na disciplina. Eu

gostei muito de conhecer a disciplina de Educação de Jovens e Adultos, de

ter acesso à monitoria da disciplina e de ter feito o PPP na EJA. [...] Eu fiz

parte do NEAB. Eu participei do grupo de pesquisa e estudo. Eu fiz amizade

com a professora Daiana. Ela levava a gente para comer com ela. Também

gostei muito da disciplina de Fundamentos da Arte com o professor Mário.

A vivência com esses dois professores, Daiana e Mário foi o que fez eu me

projetar para fazer o mestrado”. (Entrevista realizada com Lúcia em maio de

2017, Conforme pesquisa de campo).

Anny, doutoranda em Educação no PPGE da UFPE, afirma que, graças ao vínculo que

estabeleceu com a professora Taís, enfrentou sua insegurança diante das exigências do curso.

A professora praticamente acompanhou toda a trajetória da egressa, incentivando-a a fazer,

inclusive, a seleção para o doutorado:

“Eu sempre fui muito insegura. A professora Taís, que me orientou no TCC,

me orientou durante toda minha vida acadêmica. Foi com ela que eu trilhei

todos os meus caminhos. [...] A professora Taís virou uma amiga mesmo, de

sair, de fazer coisas juntas e tudo o mais. Para além da Universidade. [...] A

seleção do doutorado, que fiz recentemente, eu devo muito a ela. Porque eu

estava decidida a não fazer, devido a algumas coisas que aconteceram no ano

passado, e eu achava que não tinha condições de fazer de forma alguma. E aí

em junho, a gente tava aqui participando de uma banca e aí ela disse: 'Anny

tu vai fazer a seleção, não é?' E eu disse: 'vou não'. Eu disse: 'não tem

possibilidade nenhuma, eu não vou, não'. E ela disse: 'Anny, você tem que

tentar, eu não acredito! Esse é o último ano de Fernando, pois ele vai se

aposentar.” (Entrevista realizada com Anny em maio de 2017, conforme

pesquisa de campo.)

Observações semelhantes são feitas por Néri (2009). A pesquisadora constata a

importância desses referenciais (professores, pares, funcionários) para enfrentar os diversos

desafios que são colocados para os estudantes na vida universitária: tanto no que se refere aos

aspectos econômicos, quanto aos culturais (descompasso entre seu mundo e o mundo

intelectualizado, por exemplo).

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Há ainda egressos que construíram relações de troca e apoio com parte dos técnicos

administrativos da Universidade. O relato de Paulo mostra como as relações que estabeleceu

com “as pessoas que estavam na Universidade trabalhando para que ela funcionasse” foi

importante para dar sentido à sua vida universitária. O egresso, na época militante do D.A. e

do Coletivo Arco-íris, mostra como suas conversas diárias com a funcionária da sala de

informática foi fundamental para entender como “fazer as coisas” dentro da Universidade:

"As relações que eu construí fora da sala de aula, com as pessoas que

estavam na Universidade trabalhando para que ela funcionasse, as pessoas da

limpeza, o pessoal que trabalhava na biblioteca, como Oliveira, que morreu

no final do meu curso [...] foram o que mais contribuíram para a minha

formação universitária. Eu entrava naquele laboratório (de informática) e

conversava com ela (Oliveira) todos os dias sobre política, sobre tudo, e ela

era uma pessoa muito foda. Essas pessoas, que aquela Universidade não

valorizava, foram quem mais me ensinaram sobre vida, sobre políticas, sobre

como fazer as coisas dentro daquele lugar (Entrevista realizada com Paulo

em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

4.4 Aprendizados: dos conteúdos das disciplinas aos embates políticos e

recreativos

Se os referenciais sociais e intencionais se consolidaram como decisivos para a

formação e integração dos egressos, não há dúvida de que os conteúdos disciplinares

ofertados nos dez semestres letivos do curso, revisitados nos estágios obrigatórios, venham

sendo mobilizados pelos estudantes egressos em suas ocupações atuais. Os depoimentos

referentes à questão de como “colocam em prática, no seu dia a dia de trabalho, os

aprendizados obtidos durante o curso de Pedagogia” apontam a importância de determinadas

disciplinas para o tipo de atividade que realizam hoje.

Rebeca, atualmente professora na renomada Escola Americana, mostra em seu

depoimento o quanto foram importantes, por exemplo, os aprendizados proporcionados pelas

disciplinas de Fundamentos da Língua Portuguesa. Além do livro didático utilizado em sala

de aula, a egressa utiliza os diferentes jogos educativos que aprendeu a desenvolver nas

disciplinas para trabalhar os conhecimentos prévios das crianças com quem trabalha:

"Na disciplina de português, Fundamentos da Língua Portuguesa, a gente

criava jogos para ensinar aos alunos. E isso eu uso muito hoje. Eu estou

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sempre criando e isso me influenciou muito porque estou sempre criando

para sair do livro. E trabalho o conteúdo do livro fora dele. As crianças não

acham aquela coisa chata [...] A gente como professor tem o papel de usar o

que a criança tem para ajudá-la a crescer e aprender. (Entrevista realizada

com Rebeca em fevereiro de 2017, conforme pesquisa de campo.)

De maneira semelhante à egressa Rebeca, Kátia também faz menção que aplicou parte

do conhecimento adquirido na disciplina de Educação Literária nos projetos de leitura que

desenvolvia com crianças na ONG:

"Eu gostei muito de uma disciplina eletiva que eu fiz com a professora

Érica. Chamava-se Educação Literária. No começo eu fiz porque eu

precisava de uma disciplina eletiva para fechar a carga horária. Mas depois

foi muito boa, muito prática. Foi muito bom, eu gostei demais! Eu apliquei

várias vezes tudo o que aprendi nos projetos, no meu trabalho. Foi

realmente bom". (Entrevista realizada com Kátia em março de 2017,

conforme pesquisa de campo.)

No entanto, se os conteúdos disciplinares socializados em sala de aula se mostraram

significativos para a formação inicial dos egressos e as atividades que hoje desempenham, não

menos importantes são os aprendizados e os saberes adquiridos fora da sala de aula. Dos

corredores, passando pelos coletivos políticos até as calouradas, os egressos, das diferentes

origens sociais investigadas nesta pesquisa, mostram como esses espaços foram decisivos

para prepará-los para a vida no mundo do trabalho.

Entre os aprendizados que consideram de suma importância para sua prática

profissional, estão aqueles incorporados por meio de suas participações dos embates políticos

que participaram tanto dentro do D. A de Pedagogia, como também nos corredores do Centro

de Educação. A fala da estudante Lúcia sintetiza bem os “saberes práticos” incorporados e

aplicados hoje em seu cotidiano profissional, graças aos movimentos políticos que participou

durante o curso:

"A pedagogia do corredor ensina muito e às vezes até mais que a própria sala

de aula. [...] Eu penso que o Diretório tem um papel social e político na

universidade. Então, eu levo isso, a forma como dá voz ao outro, como tratar

o outro, de compreender mais o outro. Eu tento fazer isso no meu trabalho

como, por exemplo, compartilhar as coisas, e eu acredito que isso faz uma

diferença na forma de olhar o outro. Toda formação política e social que eu

tive na Universidade, eu levo para o meu trabalho. Claro que lá tem uma

característica específica, lá tem um caráter burocrático, mas a forma como

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tratar o outro, a forma como educar as pessoas, eu tento conduzir da forma

como eu aprendi nesses movimentos". (Conforme entrevista realizada com

Lúcia em maio de 2017.)

Os encontros políticos proporcionados por meio da militância via Diretório

Acadêmico, mas também nos “corredores”, no pátio e jardins da UFPE, eram também a

possibilidade dos estudantes realizarem leituras outras que aquelas oferecidas nos

cronogramas distribuídos pelos professores em sala de aula. Essas instâncias de socialização,

como observa Pinheiro (2007), acabam por proporcionar um trabalho educativo que contribui

tanto para a formação política quanto cultural dos estudantes. A fala da egressa Suzana,

professora da educação infantil, mostra como a sua vivência nas atividades fora da sala de

aula permitiu “ampliar” sua visão de mundo, em particular, de sua concepção do que é “aula”:

"Eu pensava que a minha aprendizagem na Universidade estava dentro da

sala de aula, entende? Mas não estava só lá. Estava com meus amigos nos

corredores, estava nos congressos, estava nos movimentos, nas aulas que não

eram só na sala de aula. Era conversa no pátio, numa palestra que tinha lá no

auditório, e que às vezes tinha professor que não ia e aí a gente tinha que

ficar na sala de aula. Então, assim, eu fui conhecendo outras pessoas e essas

outras pessoas foram abrindo meu horizonte, né? E aí eu ia interagindo, e fui

percebendo que a sala de aula não era só o meu lugar de aprendizado ali na

Universidade. [...] Nos encontros que a gente organizava, a gente sempre

levava uma leitura, a gente discutia [...] (Entrevista realizada com Suzana em

maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Uma outra instância de socialização promotora de práticas educativas foram as

calouradas promovidas pelos Diretórios Acadêmicos. De acordo com os entrevistados, as

calouradas funcionavam tanto como lugar recreativo, espaço nos quais podiam reencontrar e

festejar com os amigos, quanto lugar de discutir política e, portanto, trocar informações a

respeito do funcionamento da Universidade, dos programas de assistência estudantil, do

cenário econômico local e nacional, além de possibilitar a integração entre os estudantes de

diferentes centros. Anny, que atualmente cursa o doutorado em Educação ao mesmo tempo

em que espera ser chamada para atuar como professora do ensino infantil na Prefeitura de

Jaboatão dos Guararapes/PE, lembra das calouradas que frequentou com um sorriso saudoso.

Para a egressa, a calourada era um momento de descontração e possibilidade de conversar e

trocar muitas experiências:

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“E por que não as calouradas? Nos primeiros períodos, tinham as calouradas.

Eu curtia muito as calouradas no segundo e terceiro períodos… era um

momento de você desopilar também. Esses momentos eram bem legais [...]

Desde conversa até troca de experiências e tudo o mais”. (Entrevista

realizada com Anny, em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

No que tange aos aprendizados constituídos nessa instância e mobilizados pelos

egressos em seu cotidiano profissional, chama-nos a atenção o relato de Paulo, hoje,

coordenador educacional na ONG Etapas. O egresso, que desenvolve junto à Organização um

projeto voltado para a politização de crianças e adolescentes, afirma que, dentre os

aprendizados que mais contribuíram para a sua prática profissional, estão as discussões

políticas vivenciadas tanto nos corredores e no D. A, mas também nas calouradas que

frequentava. O egresso credita a sua facilidade em enfrentar situações de conflitos em seu

cotidiano profissional graças aos diferentes conflitos (brigas e discussões politicas) que

precisou “resolver” durante as calouradas que frequentou:

"Eu consigo botar muita coisa em prática do que eu aprendi na UFPE no

meu trabalho hoje. Mas não foi dentro daquelas salas na UFPE. Foi o que

aprendi lá naqueles corredores, fazendo política, indo para discussões

políticas, conversando com estudantes, conversando com as pessoas [...] Eu

aprendi muito nas calouradas. E aprendi a discutir mesmo. Não é falando de

uma forma bem abstrata! Porque fica bonito dizer que aprendi na festa, não

é?! Eu digo isso porque nas calouradas a gente tinha discussões políticas. É o

fato de estar no mesmo espaço com outros corpos habitando, conhecendo e

se permitindo conhecer outros corpos e dialogando com pessoas. E

resolvendo problemas. Porque na UFPE, a gente aprende, aprende, aprende...

depois a gente reproduz, reproduz, reproduz. Mas quando o menino começa

a chorar na sala, a gente não sabe o que fazer, porque a gente não aprendeu a

resolver problema! Então, foi na calourada, quando as pessoas brigam, que a

gente tem que aprender a resolver problema. Então, é como se a

gente aprendesse na sala de aula uma fórmula ideal de resolver problema,

mas que não é real! Porque a gente tá tratando com sujeitos, com gente

diferente que reage a tudo de forma diferente. Então, eu aprendi muito mais

fora, quer dizer dentro da Universidade, mas fora da sala de aula".

(Entrevista realizada com Paulo em maio de 2017, conforme pesquisa de

campo.)

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4.5 Da conclusão do curso até a inserção no mercado de trabalho: prolongamento

dos estudos

Embora a inserção dos egressos no mercado de trabalho se constitua, por vezes, um

caminho longo e dinâmico, um fato é certo: sem o prolongamento dos estudos após a

conclusão da formação inicial, dificilmente os egressos conseguem emprego.

Assim, independente da origem escolar de seus pais e do lugar em que estão

exercendo suas atividades ocupacionais, praticamente, todos os egressos estão fazendo ou já

fizeram uma especialização e/ou mestrado após o término do curso de graduação (nove dos 12

entrevistados). O prolongamento dos estudos tende a se converter não apenas em um recurso

de desempate, utilizado num momento de disputa por uma vaga ou posto de trabalho, mas

também em um recurso de proteção contra situações de emprego extremamente precarizado.

Tudo se passa como se fosse preciso “continuar, sempre e sempre (...), para evitar o

desemprego e obter melhores salários. Estudos cada vez mais prolongados a qualquer custo”

(BAUDELOT, 2004, p.6).

Por outro lado, é possível verificar uma variação do momento em que os egressos

prolongam seus estudos após a conclusão da graduação, bem como o tipo de prolongamento.

Assim, dos nove que continuaram a estudar, quatro "optaram" por uma pós-graduação stricto

sensu (mestrado e doutorado), enquanto que os demais (cinco) "optaram" pela pós-graduação

lato sensu (especialização). Os que optaram em fazer (ou estão fazendo) um curso lato sensu

são aqueles que estavam disputando uma vaga de emprego no setor privado. A especialização

é vista por esses egressos como uma qualificação mínima para estar no mercado.

Já os quatro que optaram em fazer mestrado, isto é, um curso stricto sensu, o fizeram

sem necessariamente vincular a aquisição do diploma à disputa no mercado de trabalho, nem

tampouco para sua permanência em algum cargo. Isso ocorre porque, para esses últimos, a

entrada no mundo no trabalho não era uma preocupação, uma vez que eles já estavam

inseridos em um emprego público (antes mesmo de terminar a graduação) ou apenas estavam

aguardando a convocação para assumir um cargo público.

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Tal é o caso de Suzana, professora do ensino fundamental, em uma escola no bairro da

Várzea. A egressa decidiu investir numa especialização a distância em Educação Infantil,

após ser reprovada na seleção do mestrado em Educação Matemática, como maneira de se

tornar mais apta para disputar uma vaga no mercado de trabalho. Embora tenha realizado

concursos públicos, a entrevistada fala da dificuldade em garantir uma boa classificação em

função do peso da nota atribuída aos títulos:

“Eu tentei o mestrado na área de Educação Matemática, só que eu não

consegui entrar. Talvez eu possa fazer depois, mas agora a minha prioridade

não é mais o mestrado. [...] Eu estou fazendo especialização na área de

Educação Infantil. É um curso a distância, mas eu estou fazendo por causa

do título mesmo para conseguir uma melhor pontuação na hora de fazer um

concurso”. (Entrevista realizada com Suzana em março de 2017, conforme

pesquisa de campo.)

Estratégia semelhante foi adotada por Carla, atualmente exercendo a função de

instrutora de treinamento em um Call Center no município de Jaboatão dos Guararapes/PE.

De origem social um pouco mais elevada que Suzana, visto que seus pais concluíram o nível

médio, Carla não esconde sua frustração quando questionada a respeito da função que exerce

e os investimentos que decidiu fazer para “fugir” do tipo de trabalho que vem exercendo.

Além do curso de especialização em Gestão da Educação que iniciou no início de 2017, Carla

pretende realizar um mestrado em Gestão Escolar, área em que pensa atuar futuramente:

“Eu tive que optar pelo Call Center. Quando entrei no Call Center, eu fiquei

um pouquinho atendendo, mas quando teve um processo seletivo pra ser

Instrutora de Treinamento eu fiz porque era o jeito de eu minimizar minha

frustração, que era o jeito de eu estar ensinando os operadores lá, os

procedimentos. Então, ficava mais próximo da minha profissão.[...] Ano que

vem, vou tentar o mestrado para Educação”. [...] Quanto à especialização,

minha mãe e meu pai já vinham me cobrando muito [...]. E aí, no ano

passado, eu já tinha pago a matrícula da faculdade e me inscrevi, fui

aprovada no processo, paguei a matricula e aguardei fechar a turma. No

último ano da especialização, eu vou focar no mestrado. (Entrevista

realizada com Carla em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Já Márcia pontua, de maneira semelhante, a dificuldade encontrada na procura de um

emprego, em particular, na área para a qual foi formada, por não obter uma titulação mais

elevada que o diploma de ensino superior. Ainda finalizando o curso, a egressa tentou

concurso público para professora na rede de Recife. Após enviar inúmeros currículos para

diferentes escolas privadas sem sucesso, decide, com o apoio da mãe que trabalha como

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auxiliar de serviços gerais, fazer uma especialização em Gestão e Coordenação Pedagógica na

UFPE. De acordo com a egressa, sua decisão em fazer a especialização tem relação com o

fato de tornar seu currículo mais competitivo:

“Primeiramente, eu fiquei tentando concursos, né? Mas não passei na área e

ia colocando currículos em várias escolas. Sempre colocando currículo e

nada, e nada. Aí, o primeiro concurso que apareceu, que foi Auxiliar de

Desenvolvimento Infantil, ADI, na Prefeitura, eu fiz... Passei e estou na área

e na esperança de ter um emprego na minha área, né? De licenciatura, como

pedagoga, ensinar. [...] Eu fiz a especialização para ver se aumentava o

currículo. [...] Só se eu tivesse algum conhecimento. Alguém que quisesse

me colocar em escola [...]” (Entrevista realizada com Márcia em março de

2017, conforme pesquisa de campo.)

Roberto, ao contrário das três, prestou concurso para o Banco do Brasil antes mesmo

de concluir o curso de Pedagogia. Após quase três anos atuando como bancário, e alguns

estresses vividos no trabalho, Roberto decidiu pedir afastamento para cursar mestrado e se

qualificar para buscar um novo trabalho. O ex-estudante contou com o apoio de sua esposa

para investir em sua qualificação, na tentativa de mudar de ocupação profissional:

“Eu estava no Banco e, em 2015, eu cheguei a pedir demissão, mas eles não

deixaram, botaram mil dificuldades. Aí, a pedagoga do Banco disse, 'não

peça demissão agora, a lei de licença vai mudar. Fique aí um pouco'.

Graças a Deus, isso fez com que eu mantivesse o vínculo. Caso a situação

financeira piore, pelo menos, dinheiro eu vou ter, mesmo morrendo

existencialmente. Então em 2015, eu pedi afastamento, já pensando em fazer

mestrado na UFPE. A ideia era tentar me qualificar. Em 2015, eu saí de

licença do Banco, mas sem direito a ficar recebendo, era uma licença sem

vencimento. E aí, minha esposa disse: 'eu te garanto aí, financeiramente. Vai

tentar estudar e, se passar com bolsa, ótimo, mas também, se não passar, a

gente se vira'. No ano seguinte, deu para passar e deu para ter bolsa”.

(Entrevista realizada com Roberto em maio de 2017, conforme pesquisa de

campo.

Assim como Carla e Suzana, Paulo deu início ao seu curso de especialização em

Gestão de Programas de Projetos Sociais assim que iniciou suas atividades profissionais na

ONG Etapas. O egresso revela que a especialização proporcionou conhecimentos

indispensáveis para a prática de suas atividades como, por exemplo, a apropriação das leis que

regem os trabalhos das ONG's e dos movimentos sociais. Entretanto, afirma que se sente

cobrado no trabalho para a obtenção do título de mestre. Apesar do desencanto pela vida

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acadêmica, o egresso deixa entender que a garantia de seu futuro profissional está associado à

aquisição de outra titulação:

“Eu fiz especialização em Gestão de Programas de Projetos Sociais na

Unicap, porque é uma área que eu trabalho. [...] E o curso me ajudou muito,

me deu mais elementos para o que eu faço. Para entender os marcos legais,

as legislações que envolvem isso que eu estou fazendo. [...] Hoje eu sou

muito pressionado a fazer mestrado porque no meu trabalho as pessoas

valorizam isso. O mestrado vai fazer pouca diferença, se você for para a

educação infantil, mas, aqui, para a ONG, conta muito. [...] Eu não quero

fazer mestrado, porque eu não quero me submeter novamente àquelas regras,

àquelas coisas da Universidade que me fizeram tão mal e que me trazem

lembranças tão ruins. Só por isso que eu não quero”. (Entrevista realizada

com Paulo em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Dos 12 egressos, apenas três não prolongaram os estudos, foram elas: Giovana, Kátia e

Rosália. São justamente essas as egressas que não estão inseridas no mercado de trabalho.

Kátia, diferentemente de Rosália, que nunca cogitou em fazer uma pós-graduação, pensou na

possibilidade de realizar um mestrado logo após a conclusão do curso. No entanto, a ex-aluna

precisaria abrir mão da única fonte de renda, fato que levou a egressa a adiar seu ingresso em

um programa de pós-graduação:

“Eu tinha vontade de, após o curso, ingressar logo no mestrado. Mas, por

causa do trabalho que eu já desenvolvia, eu não queria abrir mão”.

(Entrevista realizada com Kátia em março de 2017, conforme pesquisa de

campo.)

A egressa Giovana, por sua vez, nunca trabalhou após a conclusão do curso. A

egressa, embora tenha distribuído currículos em escolas privadas, decidiu recentemente

estudar para prestar concurso público. Já Kátia, antes mesmo de concluir o curso de

Pedagogia, já trabalhava em uma ONG sustentada pela Igreja Batista que frequenta desde

criança. Atualmente, a egressa se encontra desempregada e procura um emprego na educação

formal. Rosália, após a conclusão do curso, optou por cuidar das filhas adolescentes e não

prolongar seus estudos. Seu depoimento quanto à escolha do curso é revelador do que

esperava fazer após o seu término:

[...] "Quando eu fiz o curso de Pedagogia, eu não pretendia ir para a

sala de aula. Aliás, eu não queria seguir essa profissão. Eu fiz o curso

para ocupar minha cabeça, porque minha mãe teve Alzheimer. Eu via

minhas colegas na sala dizendo assim: 'Ah! É meu sonho, é tudo que

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eu quero para minha vida. Eu quero ser professora'. E você via que os

olhos delas brilhavam. Eu tinha várias colegas lá que pensavam

assim, mas para mim não dava. Eu nunca tive (senti) isso, não! E aí,

eu dizia assim para elas: eu não posso, eu não vou ter tempo, eu não

vou fazer isso. Então, eu pensava: vou fazer o curso, vou terminar e

acabou”. (Entrevista realizada com Rosália em maio de 2017,

conforme pesquisa de campo).

4.6 Entre o provável e o possível: o que pensam os egressos sobre suas ocupações

Quando questionados sobre o grau de satisfação com as atividades que realizam hoje,

os egressos dividem-se em dois conjuntos: aqueles que se dizem plenamente realizados com o

que faz e aqueles que não veem sentido no que fazem, sobretudo, quando não conseguem

vincular o fato de terem realizado estudos superiores e estarem atuando fora da área de

formação. Assim, os egressos que atuam em áreas relacionadas ao universo da educação são

aqueles que se dizem realizados profissionalmente. Nesse caso, a realização passa pela

capacidade que parte desses egressos tem em vincular os saberes apreendidos nas diferentes

instâncias de socialização durante o curso e seu cotidiano profissional. Além disso, os

depoimentos dos egressos apontam como as instâncias em que desenvolvem suas atividades

também são balizadoras para compreender suas práticas profissionais e os sentidos que

atribuem.

O depoimento de Lúcia revela que, mesmo atuando como secretária em uma escola

pública em Ipojuca/PE, concurso que fez logo após a conclusão do curso e concomitante à

realização do mestrado em Educação, é possível realizar um trabalho não “tão burocrático”,

graças aos conhecimentos que mobiliza enquanto militante de movimentos sociais e a

experiência diária:

“O meu trabalho está dentro do esperado, porque é na minha área, na área de

Educação. [...] Quando a gente pensa em secretaria, a gente pensa logo que

não tem nenhum foco no curso de Pedagogia. Então, eu achava que seria

muito burocrático, e eu pensava: 'Será que eu vou me identificar com isso?'.

Mas nada como a experiência para trazer outra visão. A equipe com quem eu

trabalho é muito humana no trato com as pessoas, na forma como um ajuda o

outro. Então, eu percebi que a secretaria também é um lugar de educação.

Então, hoje, para mim, faz sentido a secretaria não ser só um lugar de

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burocracia, um lugar de assinar documentos. Lá, a gente também tem

contato com as famílias, a gente conversa, a gente orienta, a gente faz um

trabalho que eu não esperava que ia fazer. Então, eu me identifiquei com o

trabalho, lá não era só o que eu achava que poderia ser. Mas, é além do que

eu achava, e foi bom para mim. Tem sido bom para mim”. (Entrevista

realizada com Lúcia em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Chama a nossa atenção, no entanto, que o grau de satisfação dos entrevistados com

suas ocupações não está necessariamente associado ao fator renda, mesmo que essa apareça

como fundamental para egressos de outras áreas do saber de (BRAGA, 2008). Sentimentos de

admiração e de responsabilização pelos destinos do mundo, para além de um compromisso

social, são alguns aspectos apontados pelos egressos quando questionados sobre o que

pensam sobre suas ocupações. Paulo, fundador do D.A e do Coletivo Além do Arco-íris

durante a graduação de Pedagogia, fala com entusiasmo da atividade que desenvolve

atualmente enquanto coordenador de projetos educacionais na ONG Etapas:

"Por conta do meu pai, o marxismo sempre foi uma coisa discutida em casa.

Por mais que meu pai não tivesse se envolvido diretamente com a política,

fazendo panfletagem nem pedindo voto para ninguém, ele gostava dessa

discussão política, de pensar estrategicamente as coisas. [...] Então, trabalhar

com educação popular, trabalhar com articulação política dos mais variados

setores. Tá fazendo incidência política com poder público, discutir política e

tá fazendo essa ponte entre o Estado e a população da periferia... é esse o

trabalho que eu faço hoje. Hoje, olhando para o futuro, é isso que eu quero

fazer para o resto da minha vida. É o que me faz feliz. É cansativo, tem

zilhões de problemáticas, mas é o que eu quero fazer e é o que me faz feliz.

É o que eu quero continuar fazendo". (Entrevista realizada com Paulo em

maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Embora a noção de habitus permita compreender que as apostas e os investimentos

feitos pelos egressos ao longo de suas trajetórias não são aleatórios, os sentidos dados pelos

egressos, a ocupação que exercem, não obedecem a uma lógica linear. Pelo contrário, os

depoimentos dos entrevistados mostram que tanto a satisfação quanto à identificação

profissional dos egressos são forjadas em função daquilo que aparece como possível diante

das condições objetivas de suas vidas (Bourdieu, 2011). O relato da ex-aluna é esclarecedor

do peso das necessidades imediatas que determinaram sua escolha pelo Magistério, ainda no

nível médio, e como os diferentes espaços que circulou durante a sua formação inicial foram

modeladores de sua visão sobre a profissão que exerce atualmente:

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“Quando eu comecei o Magistério, eu não queria ser professora. Minha

mãe dizia que eu precisaria ter uma profissão logo eu fizesse o Magistério.

Mas depois que comecei o curso, eu fui começando a fazer os estágios, a

gente foi visitando as escolas, eu fui tendo experiência com outras

professoras. Então, assim, o que eu faço hoje está dentro do que

eu esperava. Eu sempre quis ser professora. Hoje eu estou trabalhando em

sala de aula [...] Eu gosto disso”. (Entrevista realizada com Suzana em

março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Já os relatos de Márcia e de Carla mostram uma outra faceta das condições reais de

inserção profissional dos egressos de Pedagogia e, por consequência, as visões que têm sobre

o que fazem. Apesar de exercerem atividades relacionadas ao universo educacional, as ex-

alunas não escondem a frustração diante da dificuldade que tiveram em obter um emprego

como professoras. Quando indagada sobre sua satisfação com o trabalho que realiza, a egressa

Marcia não esconde sua “revolta” em estar exercendo uma função em que raramente consegue

mobilizar os conhecimentos que obteve durante a formação inicial:

“Não... O primeiro concurso que apareceu eu fiz, que foi Auxiliar de

Desenvolvimento Infantil, ADI, na Prefeitura. Passei e estou na área e na

esperança de ter um emprego na minha área, né? De licenciatura, como

pedagoga, ensinar. [...] Eu faço atividade pedagógica e aplico um pouco o

que aprendi, mas, às vezes, dá um pouco de revolta, porque eu tô fazendo

uma coisa que não é do meu cargo. Era para ter realmente um professor para

eu auxiliar”. (Entrevista realizada com Márcia em março de 2017, conforme

pesquisa de campo.)

O descompasso entre a formação e a prática profissional avançado pelos egressos para

explicitar seu grau de insatisfação em relação as suas ocupações é constatado nas diferentes

pesquisas sobre os egressos universitários e o mercado de trabalho (Braga, 2008; Câmara e

Santos, 2010) De uma maneira geral, os estudos apontam que o crescimento do número de

portadores de diploma de Pedagogia aconteceu de forma mais rápida do que o crescimento do

número de posições às quais esses diplomas conduziam outrora, levando parte dos egressos

universitários a procurar empregos em áreas diferentes de suas formações ou em espaços de

menor prestígio social e econômico.

No caso da Região Metropolitana do Recife, nos últimos cinco anos, apenas três

editais foram publicados para exercer a função de professor das séries iniciais: o primeiro,

publicado pela Prefeitura do Recife, em 2012; o segundo, pela Prefeitura de Jaboatão dos

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Guararapes, em 2015; e último, pela Prefeitura de Paulista, em 2016. Soma-se a isso o fato de

que a inserção em instituições privadas no mercado escolar está fortemente condicionada ao

volume de capital social que cada egresso constituiu ao longo de sua trajetória universitária,

durante a realização dos estágios extracurriculares. Do contrário, o acesso à sala de aula vai

depender, praticamente, dos investimentos públicos na área de educação.

O relato de Carla, assim como o de Márcia, é revelador dessa situação. Apesar de ser

responsável pelo treinamento do pessoal de uma empresa de Call Center, situação que

permite à ex-aluna “ensinar”, a egressa relata os percalços enfrentados para obter tal emprego,

ao mesmo tempo em que é enfática ao afirmar que preferiria estar ensinando em uma escola:

“Eu gostaria que fosse diferente! Eu gostaria de estar mesmo na escola, que

acho que foi para isso que estudei tanto tempo, para estar dentro da escola,

focada ali. Independentemente de ser professora dos anos iniciais, que eu sei

que é trabalhoso, dos anos finais lá do ensino fundamental I, se fosse para

estar na secretaria, numa coordenação, numa gestão, eu queria estar dentro

da escola! Claro que, atualmente, no panorama que a gente está, a gente não

tem muita opção para escolher, porque a maioria das escolas de grande porte

é por indicação. Concurso público não está com tanta intensidade o quanto

tinha na outra gestão. [...] Então, eu fico um pouco satisfeita porque eu sei

que eu tô ensinando, mas não plenamente[...]. Eu queria estar dentro da

escola!”. (Entrevista realizada com Carla em março de 2017, conforme

pesquisa de campo).

Kátia, por sua vez, relata os sentimentos de choque, inadequação e solidão que

vivenciou durante sua atuação num projeto social na ONG em que trabalhou durante quatro

anos. As distâncias entre a realidade social, proporcionada pelo campo de atuação, e aquela

durante os anos de graduação, levaram a egressa a abandonar por completo seu trabalho.

Atualmente desempregada, a ex-aluna relata as dificuldades associadas às suas práticas

profissionais, sua intenção de trabalhar com educação formal, na área administrativa:

“O trabalho que eu exerci após a formatura, eu acredito que estava dentro do

esperado, mas eu acho que eu não tive um bom resultado, né? [...] Os

projetos sociais sempre me chamaram a atenção, porque eu acho que a gente

tem uma liberdade maior de trabalhar no desenvolvimento da criança, sem as

burocracias do sistema, sem aquilo de 'preenche aqui, faz plano de aula,

relatório.[...]'. Mas as experiências trazem algumas consequências para a

vida da gente, algumas marcas, como esse trabalho que eu desenvolvi lá no

sertão. Eu vi uma realidade bem difícil. O trabalho em si era difícil. Então,

eu me via meio sufocada com tudo, com a própria realidade de lá. Com o

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cuidado com a criança, com a educação, né? Eu acho que eu fiquei meio em

choque. Porque você termina contribuindo individualmente, mas não com o

todo, com o sistema, com a maneira como as coisas acontecem. [...]

Algumas crianças de maneira particular, eu podia ajudar, eu

podia influenciar, mas quando eu pensava no todo, no trabalho de turmas, as

coisas do projeto, de uma forma geral, não. [...] Eu terminei esse trabalho em

dezembro de 2016. Então, agora eu voltei e estou tentando de novo me

inserir dentro da área. Eu gostaria de estar mais na parte de

administração, na parte mais pedagógica, porque eu não gostaria de trabalhar

com fundamental I.”. (Entrevista realizada com Kátia em março de 2017,

conforme pesquisa de campo.)

Assim, conforme podemos perceber pelo relato acima, além dos enfrentamentos em

função das dificuldades de obter vagas e cargos relacionados à área de formação, o

deslocamento provocado pela mudança dos espaços sociais também se constitui em elementos

decisivos para os sentidos que os egressos atribuem às suas ocupações.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo se propôs a investigar os egressos do curso de Pedagogia da

UFPE/2012, no intuito de entender os usos sociais que ex-alunos vêm fazendo de seus

diplomas. Para tanto, buscamos compreender esses usos a partir da inserção profissional dos

egressos.

Para tentar entender os investimentos e as escolhas profissionais dos ex-alunos, foi

realizado um conjunto de entrevistas semiestruturadas com 12 egressos. Para analisar o

material empírico, recorremos ao conceito de habitus, desenvolvido pelo sociólogo francês

Pierre Bourdieu, conforme explicitado no segundo capítulo desta dissertação.

Assim, elencamos algumas dimensões importantes para compreender como os ex-

alunos de Pedagogia vêm realizando suas inserções profissionais: São elas: a) a origem social

dos egressos; b) os investimentos familiares na escolarização dos egressos; c) a escolha do

curso; d) a rede de referenciais sociais e institucionais; e) o prolongamento dos estudos após a

conclusão do curso e f) a inserção no mundo do trabalho.

No que se refere à origem social, percebemos que o grupo dos ex-alunos do curso de

Pedagogia é composto, majoritariamente, por indivíduos de baixo capital econômico e

cultural. No entanto, apesar de termos construído uma amostra com ex-alunos de diferentes

origens sociais para pensarmos o objetivo de nossa pesquisa, percebemos que, mesmo entre

os pais com baixo nível de escolarização, todos investiram na educação de sua prole. Assim,

por exemplo, percebemos que praticamente todos os pais (pai e mãe), até aqueles com baixa

escolarização, não permitiram que seus filhos conciliassem estudo e trabalho durante a

educação básica, como também os aconselhavam em relação ao tipo de formação escolar e ao

tipo de aposta profissional, como foi o caso da escolha do Magistério. Esses ex-alunos, ao

concluírem o curso de Magistério, optaram pelo curso de Pedagogia como forma de prolongar

seus estudos e garantir sua inserção no mercado de trabalho.

Já os egressos que fazem parte de famílias com maior volume de capital escolar, social

e cultural optaram pelo curso de Pedagogia por diferentes motivos, como, por exemplo, a

influência da família (família de professores), dos pares (amigos do trabalho) e até pelo

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quantitativo de vagas ofertadas no curso. Nesse caso, esses egressos, além do investimento

familiar, contaram também com ajudas vindas de outras instâncias de socialização.

Outro elemento que muito nos ajudou para identificarmos as apostas profissionais se

refere aos referenciais sociais e institucionais vivenciados pelos egressos em suas trajetórias

acadêmicas. Tais referenciais foram construídos não apenas na sala de aula, como também

nos grupos de estudos e/ou pesquisa, na monitoria e até nos estágios extracurriculares.

Chama-nos a atenção, em especial, a rede de relações de cooperação constituída com alguns

professores ao longo do curso. Alguns ex-alunos relataram com saudosismos a importância

desses professores em suas trajetórias acadêmicas, desde as monitorias até os incentivos para

o prolongamento dos estudos após a conclusão do curso.

Nesse mesma direção, alguns ex-alunos também citam os técnicos-administrativos

como aqueles que os instruíam e os apoiavam no que se referiam à vivência na Universidade,

como também aos trâmites e às burocracias institucionais na hora de solicitar uma ajuda

financeira ou até mesmo preencher um requerimento. Percebemos, assim, que todos esses

elementos se constituíram fundamentais para acumular recursos necessários que ajudaram os

egressos, tanto na permanência no curso quanto, posteriormente, em suas atividades

profissionais.

No que se refere às aprendizagens incorporadas durante a graduação, identificamos

elementos para além daqueles adquiridos em sala de aula. Os relatos dos egressos apontam

para outras formas de aprendizagem a partir de outros espaços e grupos pelos quais

circulavam e que também se constituíram crucias para concluir o curso e para o desempenho

de suas ocupações atuais. Alguns egressos utilizam-se dos conhecimentos adquiridos através

dos conteúdos disciplinares no dia a dia de suas atividades profissionais, enquanto outros se

utilizam não só dos conteúdos disciplinares como também de conhecimentos adquiridos nos

movimentos políticos, nos encontros estudantis de Pedagogia e nas trocas de experiências

com outros estudantes (de outros cursos e outros períodos) que ocorriam nos corredores e nos

espaços de caráter recreativo (calouradas e barzinhos).

Todos esses espaços de circulação dos egressos foram instâncias de socialização que

favoreceram novos conhecimentos e aprendizagem. A depender do local em que os egressos

desenvolvem suas ocupações, essas aprendizagens tendem a variar de intensidade na hora de

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mobilizar os conhecimentos adquiridos durantes os cinco anos de formação dentro e fora da

sala de aula.

Da conclusão do curso até o ingresso no mundo do trabalho, observamos que,

independente da origem social dos egressos, praticamente todos prolongaram ou estão

prolongando seus estudos. O prolongamento dos estudos após a conclusão do curso

(especialização e/ou mestrado ou até mesmo o doutorado) se apresenta como forte trunfo no

momento de disputar uma vaga de trabalho ou mesmo como forma de manutenção de suas

atividades profissionais. O aumento das qualificações é visto como elemento fundamental até

mesmo para aqueles egressos que já estavam inseridos no mercado de trabalho antes mesmo

de finalizar o curso ou para os que desejam ingressar no serviço público.

Os resultados da pesquisa também apontaram o grau de satisfação e insatisfação dos

egressos quanto às ocupações desenvolvidas. Essas (in)satisfações se apresentam de duas

formas: a) os que se declaram satisfeitos são aqueles que estão atuando na área de formação e

b) os que se declaram insatisfeitos são aqueles que estão atuando fora de sua área de

formação. Entretanto, percebemos que a satisfação não depende diretamente do salário

atribuído à profissão, mas sim do valor depositado, a partir de suas visões de mundo e

expectativas, na atuação do pedagogo nos diferentes espaços que estão atuando. Isso ganha

mais sentido entre aqueles que conseguem pôr em prática em suas ocupações atuais os

aprendizados que acumularam durante o curso e nas diferentes instâncias de socialização.

Assim, as escolhas e apostas profissionais apresentaram-se como resultados das

apostas possíveis diante das condições objetivas de vida dos ex-alunos. Além da formação

inicial, tanto o passado escolar e os investimentos educacionais feitos após a conclusão do

curso são aí elementos importantes para pensarmos os usos sociais do diploma do curso de

Pedagogia.

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ANEXOS

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ANEXO A – TABULAÇÃO DOS DADOS PARA ESCOLHA DOS ENTREVISTADOS

Tabulação dos dados para escolha dos entrevistados

Classificação dos egressos em função do nível de escolarização do pai

Tabela 1 – Nível de Escolaridade do Pai – Analfabeto

Escolaridade do Pai – Analfabeto

Nº Egressos Escolaridade da Mãe Atividade Profissional Prolongamento dos

Estudos

01 Josué Oliveira Gomes Analfabeta Gerente Regional de Vendas -

CBTU

Especialização

02 Rejane Maria da Silva Analfabeta Não há informação Não Prolongou

Comentário: O grupo de egressos composto por pais analfabetos é formado por dois ex-estudantes e

que, coincidentemente, suas mães também não são escolarizadas. Um deles atua como gerente regional de

vendas. Quanto à outra ex-estudante, não há informações sobre a atividade desenvolvida por ela.

Tabela 2 – Nível de Escolaridade do Pai – Ensino Fundamental I

Escolaridade do Pai – Ensino Fundamental I

Nº Egressos Escolaridade da

Mãe

Atividade Profissional Prolongamento dos

Estudos

01 Musa Antonino da Silva Ensino

Fundamental I

Possível atuação como

missionária em uma igreja

evangélica.

Mestre em Missiologia

pelo Seminário de

Educação Cristã. Obs:

antes da graduação.

02 Manuela Francisca de

Souza

Analfabeta Professora da Rede Pública de

Ensino de Recife (Contrato).

03 Fabiana Santos da Silva Ensino

Fundamental

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no facebook..

04 Fabiana Leandro de Souza Ensino

Fundamental I

Não tem lattes, nem facebook.

05 Elizabete Severina de Paula Ensino

Fundamental I

Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

06 Adja Motta de Oliveira Ensino

Fundamental I

Não tem lattes. Facebook não

encontrado.

07 Charlyton Alberto da Silva Ensino Médio

Completo

Professor da Rede Pública

(Recife e Jaboatão dos

Guararapes). Informação no

facebook.

08 Ritta de Cássia Tiago

Pantaleão

Ensino Médio

Completo

Prefeitura da Cidade do

Recife – PCR. (Secretaria de

Saúde)

Especialização

09 Maria Manuella Guilherme

de Lima

Ensino Médio

Completo

Não tem lattes. Facebook não

encontrado.

10 Luiza Alexandre Borges Ensino Médio

Completo

Assistente Administrativo na

UFPE. Informação no

facebook.

Especialização e

Mestrado

11 Natália Jéssica Ferraz Lima Ensino Não há informação nem no

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Fundamental

Completo

lattes, nem no facebook.

12 Ilka Aricele Ferreira da

Silva

Ensino Médio

Completo

Trabalha na rede privada. Não

especifica a atividade

desempenhada. Informação no

facebook.

13 Andracy Ferreira de Lima Ensino

Fundamental I

Trabalha como Agente

Comunitária (PCR).

Informação no lattes.

Especialização

14 Synara Rennê Dias

Pimentel

Ensino

Fundamental I

Auxiliar de Desenvolvimento

Infantil -ADI (PCR).

Informação no lattes.

15 Alexsandra Cosme da Silva Ensino

Fundamental I

Professora da Rede Pública de

Recife. Informação no

facebook.

16 Evaldinésia Cavalcante

Ayres

Ensino

Fundamental

Completo

Não há informação nem no

lattes, nem no facebook.

17 Priscila Cibele Carneiro Ensino

Fundamental I

ADI - Auxiliar de

Desenvolvimento Infantil

(PCR) Lattes. E um possível

trabalho docente na Rede

Privada. Informação no

facebook.

18 Elizandra Ferreira da Silva Ensino

Fundamental I

Trabalha com venda de planos

de saúde, seguro de carro e

moto. Informação no facebook.

19 Karlane Ercília de Lima Ensino

Fundamental I

Não tem lattes. Docente na

Rede Privada. Informação no

facebook.

20 Elen Silva de Carvalho Ensino

Fundamental I

Lattes não encontrado. ADI -

Auxiliar de Desenvolvimento

Infantil (PCR). Informação no

facebook.

21 Genycleide Maciel da Silva Ensino Médio

Completo

Não tem lattes. Possível

trabalho docente na Rede

Pública de Jaboatão.

Informação no facebook.

22 Ilze Lopes da Silva Ensino

Fundamental I

Não há informação nem no

lattes, nem no facebook.

Mestrado em

andamento

23 Fabiana Maria Silva de

Lima

Ensino

Fundamental I

Não há informação nem no

lattes, nem no facebook.

24 Janeide Marinho Alves da

Silva

Ensino

Fundamental

Completo

Não há informação no lattes.

Facebook não encontrado.

Especialização

25 Rochelane Vieira de

Santana

Ensino

Fundamental I

Não há informação no lattes.

Facebook não encontrado.

26 Fabiana Belo dos Santos

Almeida

Ensino

Fundamental I

Professora da Rede Privada.

Informação no lattes e no

facebook.

Especialização

27 Silvana Maria da Silva Analfabeta Não há informação nem no

lattes, nem no facebook.

28 Gleice Alexandrina dos

Santos

Ensino

Fundamental

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

29 Vanessa Inês do

Nascimento

Ensino

Fundamental I

Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

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30 Alexsandra Silva Ensino

Fundamental 1

Nome incompleto. Lattes não

encontrado. Trabalha na UFPE

(não especifica a função).

Informação no facebook.

31 Adelyn Barbosa de Aquino Ensino Superior

Completo

Professora da Rede Pública de

Itapissuma. Informação no

lattes e no facebook.

Mestrado

32 Wanessa Maria da Silva Ensino

Fundamental

Completo

Não há informação nem no

lattes, nem no facebook.

Mestrado em

andamento

33 Audiléa Ferreira da Silva Ensino Médio

Completo

ADI - Auxiliar de

Desenvolvimento Infantil

(PCR). Informação no lattes.

Especialização

34 Natália Dias de Amorim Ensino

Fundamental

Completo

Não há informação nem no

lattes, nem no facebook.

Mestrado

35 Raquel da Costa Lima Ensino

Fundamental

Completo

Possível trabalho com

artesanato (autônoma).

Informação no facebook.

36 Aldenir Farias da Fonseca Ensino

Fundamental I

Possível trabalho docente na

Rede Pública de Recife.

Informação no facebook.

37 Hugo Leonardo Gomes de

Moraes

Ensino

Fundamental I

Não tem lattes. Facebook não

encontrado.

38 Itatiane Borges Lima Ensino Médio

Completo

Apoio Técnico do subprojeto

Jogos Matemáticos – PNAIC.

UFPE. Informação no lattes.

Mestrado

39 Delcilene Maria da Silva Ensino

Fundamental I

Trabalha na empresa Acessnet

provedor. Informação no

facebook.

40 Cristina Gabriel da Silva Ensino

Fundamental I

Possível trabalho docente na

rede privada. Informação no

facebook.

41 Márcia Azevedo Analfabeta Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

1. 42 2. Vanessa Roberta F. da

Silva Farias

Ensino

Fundamental I

Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

3. 43 4. Francine Freire de

Vasconcelos

Ensino

Fundamental I

Não há informação nem no

lattes, nem no facebook.

Comentário: O grupo de egressos composto por pais que têm como escolarização apenas o ensino fundamental

I é formado por 43 ex-estudantes. Ao analisarmos suas ocupações, percebemos que apenas 11 fazem uso de seus

diplomas de graduação, visto que atuam como docentes, sendo seis deles na rede pública e quatro na rede

privada de ensino. Os demais egressos, 32, necessariamente, não fazem uso diretamente de seus diplomas, pois

mesmo quando estão exercendo funções dentro de instituições escolares, suas ocupações parecem estar mais

relacionadas ao ensino médio e/ou fundamental que propriamente ao ensino superior. Três deles trabalham na

UFPE, cada um desenvolvendo um tipo de atividade diferente: 1) Apoio Pedagógico no Pacto Nacional pela

Educação na Idade Certa – PNAIC/UFPE; 2) Assistente Administrativo; 3) Não especifica a função. No entanto,

não podemos afirmar que o uso do diploma não esteja sendo feito, mas, de maneira indireta, subjetiva. Outros

dois egressos desempenham trabalhos para a Prefeitura do Recife (Secretaria de Saúde e Agente Comunitário).

Embora essas ocupações também não requeiram um diploma de curso superior, este pode ser utilizado como

capital simbólico no ambiente de trabalho. Quatro egressos atuam como Auxiliar de Desenvolvimento Infantil –

ADI, ocupação essa desenvolvida em creches e pré-escolas, mas que não necessita de formação superior para o

exercício da função. Outros três egressos trabalham com provedor de internet, vendas de plano de saúde e seguro

de carro e moto, e artesanato. 20 egressos não têm nenhuma informação sobre a atividade profissional que

exercem. Desse grupo de 43 egressos, apenas 11 prolongaram os estudos (especialização e/ou mestrado). Desses,

cinco egressos fizeram especialização e são os que trabalham na a) Secretaria de Saúde do Recife; b) agente

comunitária; c) professora da rede privada; d) ADI; e) outra que não declarou a atividade profissional

desempenhada por ela. Outro grupo formado por cinco egressos fizeram e/ou fazem mestrado e trabalham: a)

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PNAIC; b) professora da rede pública; c) três não declararam a atividade profissional que desempenham. E, por

fim, um egresso fez e/ou faz especialização e mestrado e trabalha como assistente administrativo na UFPE.

Outra ex-estudante já havia feito mestrado (em Missiologia) antes da graduação em Pedagogia. Podemos

perceber como característica forte desse grupo a falta de investimento acadêmico, tanto pela ausência do

currículo lattes, quanto pela falta de informação atualizada dos egressos no lattes e no facebook.

Tabela 3 – Nível de Escolaridade do Pai – Ensino Fundamental Completo

Escolaridade do Pai – Ensino Fundamental Completo

Nº Egressos Escolaridade da

Mãe

Atividade Profissional Prolongamento dos Estudos

01 Silvana Santos Ensino Fundamental

Completo

Não tem lattes.

Professora da Rede

Pública. Informação no

facebook.

02 Roberta Gleice do

Carmo Silva

Ensino Fundamental

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no

facebook.

03 Lívia Mayana Andrade

de Silva

Ensino Médio

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no

facebook.

04 Ivanice Maria de

Albuquerque

Ensino Fundamental I Não tem lattes. Não há

informação no

facebook.

Mestrado

05 Rosimeire de Souza

Viera

Ensino Fundamental I Não tem lattes.

Atendente Expresso

Cidadão.

06 Erika Naisa Diogo da

Silva

Analfabeta Não há informação nem

no lattes, nem no

facebook.

07 Felipe Artur Ferreira

Nascimento

Ensino Fundamental

Completo

Não tem lattes.

Trabalha no grupo

artístico (de Griôs).

Informação no

facebook.

08 Ely Maria da Conceição

Rodrigues do

Nascimento

Ensino Fundamental I Professora da Rede

Privada. Informação no

facebook.

Especialização

09 Jaqueline Calixto dos

Santos

Ensino Fundamental I Professora da Rede

Pública (Igarassu e

Recife). Informação no

lattes.

Especialização

10 Giselle Pereira da Silva Ensino Fundamental I Não tem lattes. Não há

informação no

facebook.

11 Fabiana Marilha Paulino

Sousa

Ensino Médio

Completo

Professora da Rede

Pública. Informação no

facebook.

Mestrado

12 Selma Santos Andrade Ensino Fundamental

Completo

Não há informação nem

no lattes, nem no

facebook.

13 Aline Ribeiro de França

Oliveira

Ensino Fundamental

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no

facebook.

14 Maria do Socorro

Ribeiro da Costa

Ensino Fundamental

Completo

Professora - Rede

Pública de Jaboatão dos

Guararapes. Informação

Especialização

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no lattes.

15 Rayanne Ângela

Albuquerque dos Santos

Ensino Fundamental I Trabalha na empresa

Colégio Núcleo e

Núcleo Curso. Não

especifica o tipo de

função. Informação no

facebook.

Mestrado

Comentário: O grupo de egressos composto por pais que têm como escolarização o ensino fundamental

completo é formado por 15 ex-estudantes. Cinco fazem uso de seus diplomas e atuam como docentes, sendo

quatro deles na rede pública e um na rede privada. Dos outros dez egressos, temos informação apenas de três.

Esses trabalham em colégio (não especifica a ocupação), Expresso Cidadão, grupo de griôs. Não podemos

afirmar a utilização do uso do diploma por esses ex-estudante o desempenho de suas ocupações, pois todas as

funções apresentadas podem ser executadas por quem têm apenas o ensino médio. Quanto aos outros sete

egressos, não encontramos nenhuma informação relacionada as suas atividades profissionais. Desse grupo,

apenas seis prolongaram os estudos (especialização e/ou mestrado). Desses, três egressos fizeram especialização

e são os que trabalham: a) colégio, mas não especificou a função; b) professora da rede pública e c) outra que

não declarou a atividade profissional desempenhada. Outro grupo formado por três egressos fizeram e/ou fazem

mestrado e trabalham: a) uma professora da rede privada; b) duas professoras da rede pública. Nesse grupo

também predomina um baixo investimento acadêmico por parte dos egressos, visto que dos 15 egressos, sete não

têm lattes e também não há informações sobre as ocupações desenvolvidas por eles.

Tabela 4 – Nível de Escolaridade do Pai – Ensino Médio Completo

Escolaridade do Pai – Ensino Médio Completo

Nº Egressos Escolaridade da Mãe Atividade Profissional Prolongamento dos

Estudos

01 Veridiana Maria Alves

dos Santos

Ensino Fundamental

Completo

Professora da Rede

Pública. Informação no

lattes e no facebook.

Especialização

02 Rodrigo Nicéas Carneiro

Leão

Ensino Médio Completo Não há informação nem

no lattes, nem no

facebook.

03 Milena Fernandes

Gomes Pinto

Ensino Médio Completo Não há informação nem

no lattes, nem no

facebook.

Mestrado

04 Cassiana Maria de Farias Ensino Fundamental I Professora da Rede

Pública. Mestranda em

educação. Informação no

lattes.

Mestrado

05 Amanda Kelly Ferreira

da Silva

Ensino Médio Completo Professora da Rede

Pública. Mestranda em

educação. Informação no

lattes.

Mestrado em

andamento

06 Anna Beatriz de Oliveira

Moura

Não respondeu Lattes e facebook não

encontrados.

07 Liliana Maria de Santana

Moraes

Ensino Fundamental I Não tem lattes. Professora

(não especifica se da rede

pública ou privada).

Informação no facebook.

08 Smirna Albuquerque dos

Santos

Ensino Médio Completo Professora da Rede

Pública de Recife

09 Alexsandra Maria Santos

de Lima

Ensino Fundamental

Completo

Não tem lattes. Trabalha

na secretaria de educação

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do Recife (docente da rede

pública). Informação no

facebook.

10 Jucélia Pinto Ferreira Ensino Fundamental I Professora da Rede

Pública. Informação no

lattes e no facebook.

Especialização

11 Watusy Barbosa de

Queiroz

Ensino Superior

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

12 Erika Ferraz de Araújo Ensino Médio Completo Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

13 Kerley Sofia Alves de

Lima

Ensino Superior

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

14 Camila Rocha Ensino Superior

Completo

Nome incompleto. Lattes

e facebook não

encontrados

15 Ana Cláudia Lins Borges Pós-

graduação/Especialização

Professora de Libras na

Rede Pública e Intérprete

de Libras em eventos

educacionais.

Especialização

16 Jean Vicente Ferreira de

Lima

Ensino Médio Completo Não há informação no

lattes. Facebook não

encontrado

17 Jádma Lúcia do

Nascimento

Ensino Fundamental

Completo

Não tem lattes. Facebook

não encontrado

18 Maria Adriana Mendes

Melo

Ensino Médio Completo Não tem lattes. Não

informação no facebook

19 Luciana Pinheiro R.

Gusmão

Ensino Médio Completo Nome incompleto. Lattes

não encontrado.

Professora da Rede

Privada. Informação no

facebook

20 Amanda da Paixão

Araújo Bonifacio

Ensino Médio Completo Instrutora EAD da

Faculdade Maurício de

Nassau. Informção no

lattes.

21 Márcia Gabriele Paes

Oliveira

Ensino Médio Completo Auxiliar de coordenação.

Informação no lattes.

Professora da Rede

Privada. Informação no

facebook.

22 Fylipe Alves Tenório de

Araújo

Ensino Médio Completo Não há informação no

lattes. Facebook não

encontrado.

23 Marcela Aquino de

Souza Cavalcanti Ramos

Ensino Superior

Completo

Coordenadora Pedagógica

do Colégio GGE.

Informação no lattes.

24 Alana Gambôa Novais Pós-

graduação/Especialização

Auxiliar de Coordenação -

Colégio GGE. Informação

no lattes.

25 Williany Fênix de Souza

Silva

Ensino Fundamental I Não há informação nem

no lattes, nem no

facebook.

Mestrado

26 Cintia Alves de Oliveira Ensino Fundamental I Professora da Rede

Pública do Recife

(Contrato)

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27 Miriam Cavalcante de

Albuquerque

Ensino Médio Completo Não há informação nem

no lattes, nem no

facebook.

28 Marcela Karla de

Oliveira Leite

Ensino Médio Completo Não há informação nem

no lattes nem no

facebook.. Supervisora de

Call Center. Informação

extra oficial

29 Geneci de Oliveira

Barros

Ensino Superior

Completo

Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

30 Emiliane Thaís Pereira

Reis

Ensino Médio Completo Não tem lattes. Facebook

não encontrado

31 Ingrid Luenne Silva

Rodrigues

Ensino Fundamental I Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

32 Danielle Lopes Paulino Ensino Médio Completo Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

33 Vânia Rocha da Silva

Lima

Ensino Fundamental I Não tem lattes. Não há

informação no facebook.

Comentário: O grupo de egressos composto por pais que têm como escolarização o ensino médio completo é

formado por 33 ex-estudantes. 11 fazem uso de seus diplomas em sua atuação como docentes, sendo sete deles

na rede pública, duas na rede privada e uma que não especifica a rede. Dos outros 22 egressos, temos informação

apenas de três e trabalham em colégios, sendo a) Coordenadora Pedagógica do Colégio GGE; b) Auxiliar de

Coordenação - Colégio GGE; c) Instrutora EAD da Faculdade Maurício de Nassau. Quanto aos outros 19

egressos, não encontramos nenhuma informação relacionada às suas atividades profissionais. Desse grupo,

apenas sete prolongaram os estudos (especialização e/ou mestrado). Desses, três egressos fizeram especialização

e são os que trabalham como professores da rede pública. Outro grupo formado por quatro egressos fizeram e/ou

fazem mestrado e trabalham: a) duas professoras da rede pública; b) duas que não há informação das atividades

que desenvolvem. Nesse grupo também predomina um baixo investimento acadêmico por parte dos egressos,

visto que, dos 33 egressos, 19 não têm lattes e também não há informações sobre as ocupações desenvolvidas

por eles.

Tabela 5 – Nível de Escolaridade do Pai – Ensino Superior Completo

Escolarização do Pai – Ensino Superior Completo

Nº Egressos Escolarização da

Mãe

Atividade Profissional Prolongamento

dos Estudos

01 Vanêssa Fernandes da Silva

Menezes

Ensino Médio

Completo

Não tem lattes. Não há informação

no facebook.

02 Ramses de A. M. R Laura Ensino Superior

Completo

Nome incompleto. Lattes e

Facebook não encontrado

03 Ana Gregória de Lira Ensino Superior

Completo

Professora da Rede Pública de

Recife. Informação no lattes e no

facebook.

Mestrado

04 Ana Cláudia de Melo

Amorim

Ensino Médio

Completo

Não há informação nem no lattes,

nem no facebook.

05 Evelly Lapa Falção de

Carvalho

Ensino Superior

Completo

Não tem lattes. Trabalha no IFPE

(não especifica a função).

Informação no facebook.

06 Erika Souza Vieira Ensino Médio

Completo

Possível trabalho docente na Rede

Pública de Recife. Informação no

facebook.

Mestrado

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07 Larissa Lobo da Costa Ensino Superior

Completo

Professora da Rede Pública de

Jaboatão. Informação no facebook.

08 Priscila Maria da Silva

Santos

Ensino Médio

Completo

Professora da Rede Pública de

Itapissuma. Informação no lattes e

no facebook.

Especialização

09 Mônica Cristina Campello

de Souza

Ensino Médio

Completo

Não há informação nem no lattes,

nem no facebook.

10 Gisela de Melo Andrade Ensino Fundamental

Completo

Trabalhou na empresa Grupo

JCPM. Informação no facebook.

11 Renata Luna Leite Ensino Superior

Completo

Coordenadora Pedagógica na

empresa Grau Técnico. Informação

no facebook.

12 Tharis Luane Franco Arruda Ensino Superior

Completo

Não tem lattes. Não há informação

no facebook.

13 Mariana Monteiro de

Macedo Gós

Ensino Superior

Completo

Não tem lattes. Não há informação

no facebook.

14 Ana Raquel de Melo Selva Ensino Superior

Completo

Não tem lattes. Não há informação

no facebook.

15 Selizete de Souza Pereira Ensino Médio

Completo

Não tem lattes. Facebook não

encontrado,

16 Priscila Ferreira de Lima Ensino Superior

Completo

Professora de Inglês Escola

Eminente informação no lindken.

Mestrado

17 Suelen Batista Freire Pós-graduação Professora da Rede Pública de

Recife. Informação no lattes e no

facebook.

Mestrado

18 Vera Lúcia Bezerra Peixoto Ensino Médio

Completo

Não há informação no lattes.

Facebook não encontrado

Comentário: O grupo de egresso em que o pai possui ensino superior é composto por 18 egressos. Desses, cinco

atuam como docentes na rede pública e uma na rede privada de ensino. De nove egressos, não temos nenhuma

informação sobre a atividade profissional que exercem. Uma é coordenadora da empresa Grau Técnico. Uma

trabalha no IFPE, mas não especifica a função desempenhada. Uma trabalha no grupo JCPM, e também não

especifica a função. Desse grupo, apenas cinco prolongaram os estudos (especialização e/ou mestrado). Desses,

uma egressa fez especialização e trabalha como professora da rede pública. Quatro egressos fizeram e/ou fazem

mestrado e trabalham: a) uma professora da rede privada; b) três professoras da rede pública.

Tabela 6 – Nível de Escolaridade do Pai – Pós- Graduação

Escolaridade do Pai – Pós-Graduação/Mestrado

Nº Egresso Escolaridade da Mãe Atividade Profissional Prolongamento dos

Estudos

01 Juliana Beltrão Lins Pós-graduação/Mestrado Professora Rede Privada

(GGE)

Mestrado

Comentário: O grupo de egresso em que o pai possui pós-graduação/mestrado é composto por apenas uma ex-

estudante, e sua mãe também possui pós-graduação/mestrado. Ela segue o mesmo percurso acadêmico de seus

pais e possui pós-graduação/mestrado. A ex-estudante atua como professora da rede privada de ensino, em um

colégio bem conceituado de Recife.

Tabela 7 – Nível de Escolaridade do Pai – Não respondido

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Escolaridade do Pai – Não Respondeu

Nº Egressos Escolaridade da Mãe Atividade

Profissional

Prolongamento dos Estudos

01 Manuela Martins de

Oliveira

Ensino Fundamental I Professora da Rede

Privada

Especialização

02 Edenice Cavalcanti

Soares

Ensino Médio

Completo

Não há informação.

Comentário: O grupo de egressos que não responderam sobre a escolaridade de seus pais é composto

por duas ex-estudantes. Uma atua como professora da rede privada e a da outra não temos informações sobre a

atividade que desenvolve. Apenas a primeira possui especialização.

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ANEXO B – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Iniciar com uma conversa.

Qual o seu nome? Quantos anos você tem?

Com quantos anos você iniciou a graduação? E com quantos anos concluiu a graduação?

Qual foi o ano que você ingressou no curso de Pedagogia? E qual foi o ano que você concluiu

o curso?

Qual era o seu Estado Civil ao ingressar no curso? Qual o seu Estado Civil atualmente?

Tem filhos? Se sim, quantos? E quantos anos têm?

Quando você iniciou o curso, onde você morava? E com quem você morava?

Atualmente, onde você mora? E com quem você mora?

Você tem alguma religião? Se sim, qual é a sua religião?

Qual a profissão do seu pai?

Qual a profissão de sua mãe?

Depois da formatura, como se deu a busca por um trabalho? Foi como você imaginava?

O tipo de ocupação que você desenvolve está dentro do esperado?

Você fez algum concurso? Qual? Como foi? Muito difícil ou dentro do esperado? Você

estudou muito?

Como é que você percebe o que você apreendeu na UFPE?

O que você mais curtiu do curso? E no seu trabalho, o que você aplica?

Você teve alguma dificuldade ao longo do curso?

Você tinha alguma bolsa? Se sim, qual o tipo de bolsa?

E antes da UFPE? Como foram os estudos?

Você conciliou trabalho e estudo no ensino médio? Se sim, como foi?

E as disciplinas, o que mais você gostou? Por quê?

Houve alguma disciplina que você não gostou? Quais? Por quê?

E os amigos? Você ainda tem contato?

Os professores, você ainda mantém contato com algum?

Fez Pibic? Pibid? Monitoria? Extensão? Participou de algum Grupo de Pesquisa? Como foi

sua vida acadêmica?

Você participou de algum grupo e/ou movimento político e/ou religioso na época do curso de

graduação? Se sim, qual foi?

Você aproveitou as coisas que faz?

E fora da sala de aula? O que você curtiu nesses anos de UFPE?

Depois que concluiu o curso, você fez alguma pós-graduação, Especialização, Mestrado?

Tinha bolsa? Alguém ajudou você financeiramente?

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100

ANEXO C – EXEMPLAR DA CARTA ENVIADA PARA OS ENTREVISTADOS

Prezado(a),

Sou Maria de Fátima e faço parte do Grupo de Estudo e Pesquisa Família, Escola e

Profissão – GEPFEP/CE/UFPE. Estou fazendo mestrado e meu objeto de estudo são os

egressos do curso de Pedagogia, que ingressaram em 2008 e concluíram em 2012/2013.

Neste momento, estou precisando realizar algumas entrevistas e gostaria de contar

com a sua participação. Trata-se de entender um pouco melhor os desafios profissionais que

vocês (os egressos) enfrentaram desde que se formaram até o momento atual.

A entrevista será realizada em dias e horários acordados anteriormente com cada um

de vocês. Desde já agradeço a sua colaboração e compreensão.

Atenciosamente,

Maria de Fátima da Silva