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FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA FGF PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NA ÁREA DE LICENCIATURA EM LÍGUA PORTUGUESA E SUAS LITERATURAS A contribuição dos gêneros no processo de aquisição da leitura e escrita Maria Euveciana de Lacerda Fortaleza CE 2011

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FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA – FGF PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NA

ÁREA DE LICENCIATURA EM LÍGUA PORTUGUESA E SUAS LITERATURAS

A contribuição dos gêneros no processo de aquisição da leitura e escrita

Maria Euveciana de Lacerda

Fortaleza – CE

2011

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Maria Euveciana de Lacerda

A contribuição dos gêneros no processo de aquisição da leitura e escrita

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Língua Portuguesa e suas Literatura, do Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes na área de Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. Orientadora: Prof. Esp. Sidclei Gondim dos Santos

Fortaleza – CE 2011

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Monografia submetida ao Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes na Área de Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciado em Língua Portuguesa e suas Literaturas , outorgado pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF.

______________________________________________ Nome do aluno

Orientador

_______________________________________________________________ Examinador 1

_______________________________________________________________ Examinador 2

Nota obtida: ______ Monografia aprovada em: _____ / ____ / ____

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DIDICATÓRIA

A todos os professores de Língua portuguesa, para que percebam a importância

de estar em constante formação e continuarem acreditando que somos capazes

de transformar a realidade dos nossos educandos.

Aos meus alunos, por permitirem uma reflexão prática dos conteúdos estudados

durante o curso.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as graças que me tem concedido;

A meus pais, que sempre me incentivaram e apoiaram nos meus estudos e

realizações;

A comunidade escolar que forma a Escola Careolano Leite, que me acolhem como

professora e apóiam minhas atividades e projetos extracurriculares com

entusiasmo e satisfação;

A todos os meus colegas do curso, tutores e coordenadores pelo companheirismo e

apoio na realização das atividades.

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“... todo texto é uma máquina

preguiçosa pedindo ao leitor

que faça uma parte do seu

trabalho”.

(Humberto Eco)

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RESUMO

Esse estudo busca conhecer os limites e desafios para a inclusão dos gêneros textuais

nas aulas de língua portuguesa, visando o desenvolvimento das competências sócio-

comunicativas, tornando o aluno leitor e construtor de textos, aptos a utilizá-los tanto na

sala de aula, como na sua utilização prática da sociedade. Tem como objetivo identificar

a contribuição dos gêneros textuais no ensino da língua materna no 6° ano da Escola de

Ensino Fundamental Careolano Leite, município de Maurití – CE, através de uma

análise teórica e estudo de caso. Tomando como base as orientações dos PCNS de

Língua Portuguesa, o estudo parte inicialmente de um levantamento bibliográfico

ressaltando autores como Marcuschi, Koch, Bazerman, entre outros que conceituam

gêneros e os apresentam como textos significativos vinculados a vida do individuo.

Enfatiza ainda a importância de se trabalhar com os gêneros e as dificuldades

encontradas pelos professores e alunos diante da complexidade e flexibilidade que

envolve os gêneros textuais e as características, classificações, variações e tipologias. A

segunda parte prossegue com a análise das coletas de dados, feita através de entrevistas

com alunos e professores. Relata ainda à experiência de se trabalhar com os variados

gêneros através de oficinas envolvendo a leitura e produção com os alunos, permitindo

perceber a possibilidade de articular às atividades as diversas áreas do conhecimento,

contribuindo diretamente para o aprendizado significativo da prática de leitura,

produção e compreensão, habilidades estas, que vem deixando a desejar como mostra os

resultados das avaliações externas.

Palavras-chaves: Gêneros – Leitura – Produção

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------09

CAPITULO I – Gêneros Textuais: Conceituação e Caracterização -----------------------11

1.1– Linguagens usos e reflexões --------------------------------------------------------------11

1.2 – Conceituação de gênero -------------------------------------------------------------------12

CAPITULO II – As Dificuldades em lidar com os conceitos e características

dos gêneros ----------------------------------------------------------------------------------------17

2.1 – Classificação dos gêneros ----------------------------------------------------------------17

2.2 – Tipos textuais e gêneros textuais ----------------------------------- -------------------- 21

2.3 – Classificação e características das seqüências tipológicas----------------------------23

2.4 – Hibridismo e a transmutação de gênero ------------------------------------------------ 26

CAPITULO III – Contextualização prática dos gêneros ------------------------------------29

3.1 – O papel dos gêneros na sala de aula-----------------------------------------------------29

3.2 – Percepção a partir das entrevistas--------------------------------------------------------33

3.3 – Relato de experiências---------------------------------------------------------------------35

CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------------------------------39

REFERENCIAS-----------------------------------------------------------------------------------41

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INTRODUÇÃO

Sabemos que o domínio da leitura e escrita é essencial para a inclusão do

individuo na sociedade letrada, no entanto, são poucos os que concluem o ensino

fundamental com a capacidade de ler, compreender e produzir textos de maneira eficaz.

Tudo isto devido ao ensino de língua portuguesa descontextualizado, voltado para a

definição de regras e normas.

Partindo dessa realidade, esse estudo busca conhecer os limites e os desafios da

inclusão dos gêneros textuais nas aulas de língua portuguesa, visando o

desenvolvimento das competências linguisticas, tornando o aluno leitor e construtor de

textos, que possa utilizá-lo alem da sala de aula, ou seja, que tenha uma utilização

prática na sociedade. Visa também, a superação do ensino tradicional e

descontextualizado para um ensino voltado para práticas contextualizadas, dinâmicas e

dialógicas. Tem como objetivo identificar a contribuição dos gêneros textuais no ensino

da língua materna no 6º ano da Escola de Ensino Fundamental Careolano Leite, no

município de Maurití – CE, através de analises teóricas e um estudo de caso.

Com esse estudo podemos perceber os gêneros como mais um recurso

pedagógico que permite a articulação das atividades entre as áreas de conhecimento,

contribuindo diretamente para as aprendizagens significativas de prática de leitura,

produção e compreensão, habilidades estas que vem deixando a desejar como mostra os

resultados das avaliações externas.

Como trata de uma análise sobre aplicação dos gêneros textuais na sala de aula,

tomamos com referência as orientações dos PCNS de Língua Portuguesa e as

concepções de autores como Marcuschi, Koch, Bazerman entre outros, que conceitua

gêneros e os apresentam como textos significativos vinculados à vida do individuo. Está

dividido em três capítulos, o primeiro frisa a conceituação, evolução e caracterização

dos gêneros; o segundo enfatiza as dificuldades de compreensão a partir da concepção

dos autores. Prosseguindo, o terceiro capitulo trata através de análises comparativa a

coletas de dados feita através de entrevista, analises de produções envolvendo desde os

alunos como o corpo docente da escola, em especial os professores que compõem o

quadro docente do 6º ano, com a finalidade de atingir os objetivos dessa pesquisa.

Esse estudo visa também observar a variedade de gêneros textuais que nos

rodeia, colocando o texto não só como unidade básica do ensino de língua portuguesa

como orienta os PCNS, mas como um meio de proporcionar a utilização dos mesmos

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dentro e fora da escola. Salienta ainda que a inserção dos gêneros textuais nas aulas

deva ir alem dos ensinamentos de língua portuguesa em situações de análise

linguisticas, que possibilite ao aluno a sua utilização prática na sociedade.

Portanto, a presente pesquisa busca refletir sobre o papel dos gêneros no

desenvolvimento das competências linguisticas dos educandos, sua aplicabilidade na

sala de aula visando o desenvolvimento dessas competências, tornando o aluno leitor e

construtor de textos, que possam e saibam utiliza-los além da escola.

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CAPITULO I

GÊNEROS TEXTUAIS, CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO.

1.1 – Linguagem usos e reflexões

Nos últimos tempos a descrença na escola pública tem crescido a cada ano. Os

resultados das avaliações externas mostram que os alunos concluem o ensino médio

com habilidades referentes ao ensino fundamental. Isso porque durante muito tempo o

ensino da língua portuguesa ficou direcionado à prática de simples análises de formas

linguísticas e o texto era tratado como um produto pronto e acabado, levando os alunos

à memorização e à repetição.

Atualmente, a discussão volta-se para práticas contextualizadas, dinâmicas e

dialógicas permitindo aos alunos o desenvolvimento de competências linguisticas

essênciais para sua vivência na sociedade. Devido ao desenvolvimento dessa nova

prática, o foco das discussões parte para a inserção e aplicabilidade dos gêneros textuais

nas salas de aulas na busca da superação dos problemas inerentes ao domínio da leitura

e escrita.

No entanto, para o professor, não basta utilizar um determinado gênero para se

tornar um docente comprometido com práticas pedagógicas inovadoras, mas sim,

conhecer as estruturas e funcionalidade que cada gênero apresenta para poder explorar

significativamente sua contribuição no processo de aquisição de leitura e escrita.

Quando falamos em processo de aquisição de leitura e escrita estamos indo para

além da decodificação de signos, ressaltamos a capacidade de compreender e produzir

textos escritos e orais, como também empregar adequadamente a língua nas diversas

situações de comunicação que a sociedade do conhecimento exige. Para isso, faz-se

necessário compreender o significado de língua e linguagem presente em todo o

discurso que segue este estudo.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, o

domínio dos conhecimentos lingüísticos é essencial para a participação social do

individuo, ou seja, a capacidade de ler, compreender e produzir textos de maneira eficaz

é indispensável para a inclusão do individuo na sociedade letrada. O mesmo documento

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ressalta considerações sobre os conceitos básicos de língua e linguagem. A linguagem

segundo os PCNS é:

...uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica,

um processo de interlocução que se realiza nas praticas sociais existente nos

diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos de sua história. Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar como, entre

amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou redigir uma carta.

(PCNS pág. 23 a 24 1997).

Já para conceituar língua, o documento a define como um sistema de signos

históricos e sociais que possibilitam ao homem entender e interpretar o mundo e a

realidade.

Entende-se, com essas definições, que a competência lingüística apresentada

pelos conceitos de língua e linguagem tem estreita relação com a produção e

democratização do conhecimento. Além de que é pela linguagem que agimos no mundo

e nos identificamos como seres humanos conforme afirma Coroa (2000) “é o domínio

da linguagem que nos diferencia dos habitantes animais do planeta”. (COROA, 2000, p.

13)

A linguagem também está relacionada com o contexto sócio cultural em que

estamos inseridos e justifica-se a utilização no gênero e na sua aquisição por ser

fenômenos históricos vinculados a vida do individuo.

1.2 – Conceituação de Gênero

Antes mesmo de conhecer e de conceituar os gêneros textuais faz-se necessário

compreender o que é texto e para isso recorremos a Guimarães (2000) que afirma: “a

palavra texto designa um enunciado qualquer, oral ou escrito, longo ou breve, antigo ou

moderno”. (GUIMARÃES, 2000, p. 14).

Este enunciado constituído de frases ou palavras expressa o desejo do falante e

do ouvinte. É com os mais variados textos no nosso cotidiano que aprendemos a

reconhecer a finalidade para qual um texto que circula no dia-a-dia foi escrito. E à essa

variação dar-se a denominação de gênero.

Teoricamente aprendemos com Marcushi (2002) que gêneros textuais são

fenômenos históricos, culturais e dialógicos, vinculados à vida cultural e social do

individuo. Para o autor trata-se de textos utilizados em determinadas situações de

comunicações e que se modifica de acordo com a evolução e a necessidade da língua de

um povo.

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Fazendo uma retrospectiva histórica Marcuschi (2000) revela nos seus estudos

três fases históricas que caracteriza o surgimento dos gêneros. A primeira se dá de

forma limitada, essencialmente na prática oral, visto que a escrita era ainda

desconhecida; a segunda fase caracteriza-se pela invenção da escrita por volta do século

VII; já a terceira surge a partir do século XV com o avanço da cultura impressa.

Bazerman (2009), em um artigo intitulado Cartas e a Base Social de Gênero

Diferenciado1 relata sobre o papel das cartas na evolução histórica dos gêneros. Para o

autor as cartas desempenharam um papel fundamental no surgimento dos gêneros.

Afirma ainda que:

Alguns dos primeiros gêneros escritos surgiram, de forma direta, dos

altamente visíveis e bem conhecidos gêneros de performance pública falada, tais como o épico, a historia coletiva recitada em ocasiões rituais, o mito, a

ode, o coral e o drama, o discurso, e gêneros menores como o conto popular,

a adivinha e a piada. ( Bazerman, 2009, pág. 85)

Os gêneros que conhecemos hoje, tiveram suas bases na “performance oral”, ou

seja suas raízes estão centradas na oralidade, nas transformações do gênero orla para o

escrito. Outro fato quer marcam o surgimento dos gêneros e a sua evolução esta as leis e

os comando de ordem e códigos geralmente feito através de cartas.

Os comandos orais dos que têm autoridade também forma transformados

muito cedo em gêneros escritos reconhecíveis, como ordens, leis, códigos e proclamações, estendendo seu controle sobre amplos domínios e períodos de

tempo, atribuindo maior responsabilidade a esses princípios abstratos. (idem

pág. 86)

Esses comandos na concepção do autor eram feitos através de cartas que

forneciam a identificação do autor e a audiência que eram entregues por mensageiro

pessoal que fazia a leitura em voz alta, podendo até ser complementada com uma

segunda mensagem não confiada à escrita. Esse exemplo de carta enviada e lida por

mensageiros é muito bem representada nos filmes referentes à Idade Média.

As cartas sempre tiveram como função mediar distancia entre os indivíduos.

Elas descrevem e comentam as relações que há, como também, as decisões a serem

tomadas.

1 Texto incluso no livro Gêneros textuais, tipificação e interação. Charles Bazerman, com a organização

de Dionísio e Hoffnagel, impresso pela Cortez/2009.

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Alem dos comandos militares e políticos que as cartas proporcionaram para o

entendimento da evolução histórica dos gêneros, o autor dá destaca também as cartas da

igreja e as cartas como requerimento de patentes.

Quase todos os livros do Novo Testamento, com exceção dos evangelhos,

encontram-se me forma de cartas, escritas originalmente entre pessoas

específicas ou entre pequenos grupos, e depois disponibilizadas para todos

que compartilhavam da comunidade. ( Bazerman, 2009, pág. 88)

O autor relata que, à medida que a hierarquia da Igreja se estabelecia as cartas

papais sobre assuntos tantos gerais como específicos se tornaram cada vez mais

importante, transformando-se nos tipos ainda hoje em uso como cartas apostólicas,

bulas, súmulas, encíclicas e resoluções.

A carta enquanto requerimento de patente foi registrado nos Estados Unidos em

1790, carta pessoal de William Pollard para os secretários Jefferson e Howe e o

Procurador-Geral Randolph, requerendo uma patente para a maquina de fiar. A primeira

concessão foi dado no ano seguinte, e a até meados do século XX os principais

documentos de patentes mantiveram o formato de cartas nos Estados Unidos.2

Nesse mesmo artigo Bazerman afirma que as cartas forma usadas para

disseminar atitudes e posturas de rebeldes para organizar atos de rebelião. Foram

também, instrumentos que desenvolveram o sistema financeiro.

As cartas não somente forneceram o meio para o desenvolvimento de genros

importantes do direito, do governo e da política, mas também dos vários

instrumentos de dinheiro e credito que medeiam os sistemas modernos

bancários e financeiros. ( Bazerman, 2009, pág.91)

Atualmente pode se observar as marcas que as cartas apresentam no sistema

financeiro, principalmente, relacionados aos cartões de créditos, por exemplo. Outro

aspecto a considerar e comparar a carta enquanto instrumento para a formação de

rebelião, hoje as manifestações são organizadas por meio “cartas”, através da internet,

sites você pode convocar adeptos de uma causa para manifestações. Duvidas

Sem dúvida, as cartas tiveram um papel fundamental no desenvolvimento

histórico do gênero escrito. Foram através das cartas que se desenvolveram e se

desenvolve as relações de sociabilidade entre os indivíduos. Contudo, a compreensão do

seu papel e variedade requer um estudo especifico.

2 Dados retirado do livro gêneros textuais, tipificação e interação de Charles Bazerman.

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Com esse relato verifica-se, de fato, que os gêneros textuais estão ligados

diretamente ao desenvolvimento da sociedade, o que reforça ainda mais a caracterização

do gênero como um produto histórico e cultural associado ao desenvolvimento da

sociedade.

Marcuschi (2002), acrescenta ainda que, com o desenvolvimento da tecnologia e

da cultura eletrônica, surgem novas formas de comunicação tanto na oralidade quanto

na escrita.

Hoje, em plena fase da denominada cultura eletrônica, com o telefone, o

gravador, o radio, a TV e particularmente o computador pessoal e sua

aplicação mais notável, a internet, presenciamos uma explosão de novos

gêneros e formas de comunicação, tanto na oralidade como na escrita.

(Marcuschi, 2002 pág. 45).

Observamos que as novas tecnologias propiciaram o surgimento de novos

gêneros. No ambiente de sala de aula, gêneros como carta e bilhete são tidos como

formas de comunicação ultrapassadas. Para recados usam-se telefones celulares, com

suas mensagens instantâneas; as cartas são substituídas por e-mails, com suas

mensagens próprias que requerem um estudo específico.

As formas como os gêneros se apresentam levam-nos a discussão constante,

tentando definir e classificar o gênero, algo que requer conhecimento e prática, pois

segundo Marcuschi (2002), “Os gêneros caracterizam-se muito mais por suas funções

comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas estruturas lingüísticas”.

Os gêneros não são instrumentos estanques e enriquecedores da ação

criativa. Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis,

dinâmicos e plásticos. (Marcuschi, 2002 pág. 45).

Para enriquecer o conceito de gênero textual recorremos a Coroa (2000). que

afirma:

Gêneros textuais são as diferentes maneiras de organizar as informações

linguísticas de acordo com a finalidade do texto com o papel dos

interlocutores e com as características da situação (Coroa 2000 pág. 25).

A autora acrescenta ainda que a abordagem do texto na sua dimensão social e

cultural leva a classificá-lo quanto ao gênero e que na dimensão informacional leva a

classificação do tipo textual. Como os gêneros textuais são formas que o ser humano

usa para se expressar, a sua aquisição inicia instintivamente juntamente com a aquisição

da língua materna; à medida que o homem desenvolve sua capacidade, sua competência

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sócio-comunicativa, ele vai adquirindo e identificando diversos gêneros que circulam no

cotidiano.

Todos os falantes de uma língua aprendem, juntamente com a aquisição das

regras gramaticais dessa língua a se expressar por meio de diferentes

gêneros textuais antes mesmo de aprendê-los na escola. Á escola cabe

aproveitar esse conhecimento intuitivo, sistematizar e tornar esse

conhecimento consciente o uso dos diferentes gêneros textuais com os quais convivemos nos diversos níveis das nossas práticas sociais. (Coroa, 2000

p.14).

Mais uma vez, observa-se que a linguagem e a utilização de um gênero têm

muito haver com o contexto sócio cultural que o individuo está inserido. Percebe-se

também que o conhecimento sobre o gênero pode se dar de forma intuitiva e

sistematizada.

A intuição se caracteriza no fato de identificar os diferentes meios de

organização de um texto, ou seja, o individuo pode não ter o conhecimento lingüístico

sistematizado, mas ao comparar uma receita de bolo e uma bula de remédio saberá

identificá-los pela sua competência sócio-comunicativa que depende também do

conhecimento de mundo do individuo. Já o conhecimento sistematizado se define pela

organização, pela finalidade que cada texto tem, cabendo à escola, à sala de aula instruir

quanto à utilização e produção desses textos.

Neste contexto, os gêneros textuais se definem como ações sócio-

comunicativas que o individuo utiliza para atingir seus objetivos, sejam eles escritos ou

orais. Entre outros exemplos de gêneros podemos destacar telefonemas, bilhetes, cartas,

receitas, romances, conferências, etc..

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CAPITULO II

AS DIFICULDADES EM LIDAR COM OS CONCEITOS E

CARACTERISITICAS DOS GÊNEROS

2.1 – Classificações dos gêneros

Quando falamos de linguagem percebemos a complexidade que a envolve, pois

não trata somente de aspectos lingüísticos, mas também aspectos cognitivos e sociais,

ligado a usos e objetivos que está direcionado e como os gêneros esta ligado

diretamente a linguagem não foge também a essa complexidade, que vai desde seus

conceitos e classificações.

Isso porque tanto a linguagem como os gêneros em si não são constituídos

apenas dos elementos sintaxe, fonológicos e morfológicos, mas sim de fatores sócio-

culturais da realidade em que o individuo está inserido. Em especial as características do

ato da fala que dependem dos locutores, interlocutores, local, objetivos entre outros. O

que Bazerman (2009), chama de fatos sociais.

Os fatos sociais consistem em ações sociais significativas realizadas pela

linguagem ou atos da fala. Esses atos são realizados através de formas

textuais padronizadas, típicas e, portanto, inteligíveis, ou gêneros que estão

relacionados a outros textos e gêneros que ocorrem em circunstância

relacionadas. (Bazerman, 2009, Pág. 22)

Os gêneros por não serem estáticos assumem nos atos da fala características

próprias do falante e do ouvinte. Uma receita de bolo pode ser um texto descritivo que

orienta a produção do bolo, como pode ser também dissertativo em que o autor exprime

de forma humorística como exemplo abaixo:

Lasanha à recessão gratinada

Ingredientes

1 membro presidenciável da academia de letras

1 pitada de violência

1 ano de salário congelado

2 salários de fome (vulgo salário mínimo)

5 cidadãos desnutridos crus

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5 baldes de promessas tipo ”prometo zelar pelos interesses do povo brasileiro sem

jamais pensar em interesses pessoais”

3 tabletes de clichês famosos como “O Brasil é um gigante adormecido”

Modo de preparar

Deixe de molho por algumas horas, no balde de promessas, os ingredientes

presidenciáveis, os salários de fome e os cidadãos desnutridos crus. Agora refogue os

salários congelados com a pitada de violência. Misture os ingredientes e leve ao forno

quente para gratinar por duas horas. Polvilhe com os clichês famosos e sirva em poções

mínimas.3

Dessa forma entendemos que os gêneros não possuem estruturas rígidas, mas

elementos que identificam e se misturam na composição na composição dos textos. A

carta pode ser também um exemplo de gênero que mesmo sem a sua estrutura básica

pode ser reconhecida como carta. E como buscamos compreender os recursos da

linguagem através do estudo dos gêneros faz-se necessário ampliar conceitos como

gêneros e tipos textuais de modo que possamos propor aos educandos diferentes

atividades promovendo o desenvolvimento das habilidades linguisticas essenciais para o

domínio da linguagem, tanto escrita como oral.

Dentro da diferenciação e complexidade inerentes aos gêneros esta os atos da

fala que opera em segundo Bazerman (2009) em três níveis, o ato locucionário,

ilocucionário e o efeito perlocucionário. Os três níveis se definem pelo que é dito, o que

se pretendia dizer e o efeito que causa as palavras.

O primeiro ato locucionário, que por sua vez, inclui ato proporcional é

literalmente o que é dito... O ato que pretendo que o meu ouvinte reconheça

é o ato ilocucionário... o modo como as pessoas recebem os atos e

determinam as conseqüências deste ato para as futuras interações é chamado de efeito perlocucionário. (Bazerman,, 2009, pág. 26/27)

Entendemos o ato locucionário pelo que o locutor quis afirmar, o ato

ilocucionário é o que se pretende que seja entendido, enquanto, o efeito perlocucionário

é o efeito que as palavras causam no interlocutor. Para melhor compreender esses níveis

de ato da fala podemos citar como exemplo um colóquio na qual o locutor a ser

questionado pelo interlocutor afirma que não era isso que gostaria de ter dito ou dizer.

3 Retirado do manual do Gestar – gêneros e tipos textuais. Caderno de teoria e prática TP 3.

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Ou seja, ele usa o ato locucionário e o ouvinte utiliza o efeito perlocucionário, o que ele

entendeu da mensagem em si.

Na verdade, quando falamos ou escrevemos algo desejamos que nossas palavras

sejam dotadas da força ilocucionário, de modo que o efeito perlocutário seja coincidente

com o locucionário.

Ao conhecer os três níveis de ato da fala entendemos muitas vezes como nossas

ações, ou seja, quando falamos ou escrevemos somos mal-compreendidos. Bazerman

(2009) acredita que quando falamos os mal-entendidos podem ser reparados de

imediatos, enquanto que, “na modalidade escrita as oportunidades de reparos são

sempre extremamente limitadas”. E para evitar os mal-entendidos o autor orienta:

Uma maneira de coordenar melhor os atos da fala uns com os outros é agir

de modo típico, modos facilmente reconhecidos como realizadores de

determinados atos em determinadas circunstancias. (Bazerman, 2009, pág.

29)

Dessa forma a compreensão dos gêneros é concebida a partir do uso, do papel

que o individuo utiliza para atingir seus objetivos. A forma, a estrutura depende de

como o individuo utiliza nas suas atividades sociais.

Gêneros são tão-somente os tipos que as pessoas reconhecem como sendo

usados por elas próprias e pelos outros. Gêneros são o que nós acreditamos

que eles sejam. Isto é, são fatos sociais sobre os tipos de atos da fala que as pessoas podem realizar e sobre os modos como elas os realizam. (Bazerman,

2009, pág. 31)

O grande desafio para nos professores é fazer com que os alunos reconheçam as

características que cada gênero possui e suas finalidades. Por isso torna-se importante

para este estudo o aprofundamento sobre os gêneros na sala de aula e sua aplicabilidade

no dia-a-dia

Muitas vezes nos deparamos com certos tipos de textos, diferentes do nosso

cotidiano não sabemos ao certo de que se trata se é um conto, uma reportagem de jornal,

uma crônica entre outros. Por isso é preciso familiariza-se com os diversos gêneros que

circula na sociedade para melhor compreende-los. Embora a maioria dos gêneros possua

características de fácil reconhecimento como afirma Bazerman (2009):

A maioria dois gêneros tem características de fácil reconhecimento que

sinalizam a espécie de texto que são. E, frequentimente, essas características

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estão relacionadas com as funções principais ou atividades realizadas pelo

gênero. (Bazerman, 2009, pág. 38)

O autor acrescenta ainda que somos tentados a ver os gêneros a partir dos

elementos característicos que parecem dizer sobre suas funções, contudo, salienta que

há limitações e problemas em identificar e analisar os gêneros a partir desses elementos

de fácil compreensão por alguns motivos. Primeiro porque nos limita a compreender os

aspectos dos gêneros que já temos conhecimento, segundo pro ignorar as diferentes

posições e atitudes que as pessoas têm em relação a determinados gêneros ou diferentes

atividades do momento. Outro motivo dar-se pelos elementos flexíveis e pela

compreensão geral de que o gênero pode mudar com o passar do tempo.

Dessa forma para lidar com as características individuais que cada gênero possui

é preciso familiariza-se não só com as estruturas, mas com o seu conteúdo seja oral ou

escrito. Examinar as diversidades de gêneros requer conhecimentos e habilidades

necessárias. Ou seja, e através do desenvolvimento das competências sócio-

comunicativa que aprendemos a organizar e identificar os diferentes gêneros textuais.

Nos trabalhos diários de sala de aula nos coloca frente a frente com variados

gêneros textuais que nos parecem estáveis por podermos compará-los uns com os

outros, identificando as marcas da organização textual que nos levar a decidir se um

texto é uma carta, uma biografia, uma piada ou uma receita. No entanto, não é tarefa

fácil para os alunos que estão em processo de aprendizagem e desconhecem as

características que cada gênero possui. Uma biografia pode ser retratada através de um

texto em prosa, na primeira ou terceira pessoa, como também ser retrata através de

versos. A carta também tem suas variações e finalidades com outros gêneros que circula

na sociedade.

Sobre a complexidade, Coroa (2000) afirma:

Assim como os gêneros estão ligados a toda a diversidade das situações de

comunicação, é até natural uma certa inquietação quando nos defrontamos

com a complexidade que os gêneros textuais nos colocam. (Coroa, 2000, pág.

55)

A autora acrescenta ainda que a preocupação e identificação com os gêneros

textuais surgiram inicialmente no campo da literatura. Isso porque para a literatura a

idéia do texto é sempre vista como um todo, as partes se integram dando sentido ao

texto. E distingue para melhor compreensão o significado de gênero literário e não

literário.

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Os textos considerados literários põem, em geral, em relevo o plano da

expressão, da sonoridade, do jogo de imagens, mas a definição do que seja

texto literário ou poético, podem variar, segundo as escolas literárias... os

textos não literários ( funcionais ou utilitários) têm como finalidade maior a

informação e, por isso, aspectos estéticos da linguagem ou exploração do

plano sonoro ou da linguagem figurada são considerados em segundo plano.

(Coroa, 2000, pág. 67)

Entende-se, portanto, que o texto literário é aquele que tem como função a

estética, enquanto que, o não literário tem a função de informar, orientar, explicar entre

outras finalidades. O texto literário vai alem da transmissão de informação, ele explora

os aspectos estético e lúdico da linguagem. O floreamento com as palavras, as figuras de

linguagem, a ênfase que se dão as palavras proporciona prazer aos leitores e ouvintes.

Portanto, o professor deve propor aos educandos diferentes atividades que visam

estabelecer uma interação comunicativa entre os diferentes gêneros, sejam literários ou

não, ampliando o repertorio dos alunos com textos enriquecedores de modo que passem

a usar de forma eficiente os recursos de linguagem que os gêneros proporcionam.

2.2 – Tipos textuais e gêneros textuais

Depois de observamos a complexidade que envolve os gêneros textuais, vamos

colocar nosso foco para a distinção entre gênero e tipo textual e a forma com se inter-

relacionam na composição dos textos. Vamos entender como as estruturas se organizam

para dar forma e sentido aos gêneros.

Na sala de aula temos o hábito de trabalhar a produção de texto com os alunos

levando em consideração muitas vezes apenas a sua estrutura. Não nos preocupamos

com a tomada de consciência quanto a utilização dessas produções para a vida do

educado. A atividade esta direcionada única e exclusivamente para as estruturas internas

do texto.

Guimarães (2000), diz que se atenção se volta fundamentalmente para as

estruturas internas do texto estabelece-se uma tipologia de acordo com a forma de

estruturação e está coincidindo com a diversidade resultante de uma matriz de três

gêneros o descritivo, narrativo e dissertativo.

E por alguns professores trabalhar a produção textual com base nesses três

gêneros descritivo, narrativo e dissertativo faz-se necessário refletir sobre a

diferenciação entre gêneros e tipos textuais. Embora já se tenha definido gêneros

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textuais anteriormente, acredito ser imprescindível mais uma definição para que

possamos comparar e diferenciar gênero de tipo.

Para Coroa, (2000), gêneros textuais são as diferentes maneiras de organizar

linguisticamente as informações num texto, para que lhe sejam adequada a situação

sociocomunicativa em que é construído. Já, os tipos textuais se definem pela forma em

que as informações são organizadas, as mais freqüentes são a descrição, a narração, e a

dissertação e injunção.

Ainda sobre a definição de tipos textuais recorremos a Marcuschi (2002) que

afirma:

Uma espécie de seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de

sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de

categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição,

injunção.( Marcuschi, 2002 pág. 22),

Em síntese compreendemos que os tipos textuais caracterizam-se pela

propriedade e seqüências linguisticas, determinado pelos aspectos lexicais e sintáticos,

com designações teóricas próprias como narração, argumentação, descrição, injunção e

exposição. Os gêneros textuais por sua vez apresentam características sócio-

comunicativas definidas por conteúdos, finalidade, estilo e composição. Enquanto os

tipos textuais se classificam em seis os gêneros são em inúmeros como telefonema,

carta comercial e pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva,

reunião, conferencias, notícia, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de

compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha,

edital de concurso, piada, conversação espontânea e assim por diante. Isso sem falar dos

gêneros emergentes ligado as novas tecnologias como carta eletrônica, bate-papo, e-

mail, chats , aulas virtuais entre outros.

Com isso entendemos que a idéia de gênero esta relacionada à sua

funcionalidade e utilização, enquanto que o tipo incorpora as estruturas linguisticas que

o compõem. A importância de se reconhecer os tipos textuais em que os gêneros então

inseridos permitem entender a organização, funcionamento e finalidade do mesmo.

A autora acrescenta que os tipos textuais são mais conhecidos que os gêneros no

ambiente escolar “especialmente em aulas de redação, quando trabalhamos com a

descrição, a narração e dissertação” (Coroa, 2000, pág. 98). Orienta ainda, a utilizar o

termo sequência tipológica em vez de tipos textuais.

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Alem da descrição, narração e dissertação encontram-se outras tipologias como a

exposição e argumentação que faz parte da dissertação e a instrução e o dialogo, com

afirma:

As seqüências tipológicas mais freqüentes são: a descrição, a narração e a

dissertação, mas este último termo, na verdade, engloba dois: a exposição e

a argumentação. Alguns autores acrescentam ainda a instrução (ou injunção)

e o diálogo, também chamado de conversação. (Coroa, pág. 99)

Como o texto argumentativo e expositivo faz parte da dissertação, há também a

descrição dentro da narração. O que mostra como o gênero muitas vezes não se define,

eles se misturam pela própria natureza que a compõem. Na narração as idéias e fatos

que conduzem o clímax da narrativa são reforçados pelos trechos da descrição. Na

descrição percebemos as características, as qualidades das coisas e pessoas e do espaço

em que se desenvolve a narrativa.

Da mesma forma que os tipos se inter-relacionam entre si, um gênero pode

conter dois ou mais tipos textuais. Alguns textos são variados de seqüências tipológicas,

como por exemplo, uma carta que pode ao mesmo tempo conter uma sequência

narrativa ao narrar um fato, como pode conter argumentação desses fatos, como a

descrição da situação e assim por diante.

2.3 – Classificação e características das seqüências tipológicas

Entendemos que os tipos textuais ou seqüências tipológicas é a forma como os

textos são organizados para facilitar a compreensão do leitor. E devido a predominância

da estrutura lingüística que compõe o texto se define como descritivo, narrativo,

dissertativo, injutivo e preditivo.

Recorrendo mais uma vez a Coroa (2000), ela define o texto narrativo quando

apresenta informações sobre o tempo, o espaço e que há uma sequência dos fatos,

enquanto que a descrição enumera os aspectos as características de um determinado ser,

objeto, lugar sem levar em consideração a sequência dos fatos enumerados.

O tipo narrativo apóia-se em fatos, personagens, tempo e espaço. Relata

mudanças de estado entre os fatos ou episódios... há uma relação de

anterioridade e posterioridade entre os fatos narrados e,frequentimente, esses

fatos mantêm entre si uma relação de causa e efeito. O tipo descritivo enumera

aspectos físicos ou psicológicos, em simultaneidade. Nenhum dos fatos, ou

informação, é necessariamente anterior a outro. Por isso, a inversão na ordem

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dos enunciados não altera a “imagem” que a descrição constrói. ( Coroa, 2000,

pág. 105)

Observamos que, a narração está presente quando o texto fornece informações

sobre o tempo e espaço do fato narrado, os personagens, o enredo que é o assunto sobre

o qual se trata a historia com começo meio e fim. Estes são aspectos fundamentais para

a composição da história. Dentre os textos caracterizados como narrativos, destacam-se

os contos, novelas, romances, algumas crônicas, poemas narrativos, histórias em

quadrinhos, piadas, letras musicais, entre outros.

Já a descrição entende-se pelo tipo de texto que se relatam as características de

uma pessoa, objeto ou lugar. O autor ao produzir um texto descritivo ela leva em

consideração o momento especifico em que os adjetivos, as locuções adjetivas sobressai

dentro do texto. As formas verbais predominante são os verbos de estado no tempo

presente ou pretérito imperfeito. A autora acrescenta ainda que na composição de um

texto descritivo devam-se levar em consideração os cinco sentidos: visão, olfato,

paladar, audição e tato, com vistas a apreender o objeto captado e transformá-lo em

imagens e palavras.

Quando falamos de inter-relação entre textos a narração e a descrição são os que

mais se destacam. A descrição sempre esta presente nos textos narrativos ao caracterizar

os personagens, o espaço. No entanto, o que vai definir o texto como narrativa é a

ordenação dos fatos e a sequência que se desenrola a historia.

O texto dissertativo pode se dizer que é o mais conhecido no ambiente da sala de

aula quando propomos uma produção textual em que os alunos são instigados a dar a

opinião sobre determinados fatos ou acontecimentos. É o texto que denominamos de

“redação” e muitos alunos detestam.

Caracterizando-o Coroa (2000) afirma:

Caracteriza-se o tipo dissertativo por analisar e interpretar fatos ou dados de

uma realidade, usando para isso conceitos abstratos. As idéias e as relações

entre elas tornam-se mais importante de que propriamente os dados, ou as informações, que servem de motivo para se chegar a esses conceitos. (

Coroa, 2000, pág.116)

Na dissertação, o autor tem por objetivo convencer o interlocutor do seu ponto

de vista, por meio de argumentos. É chamada também de texto argumentativo quando

tem o objetivo de convencer o interlocutor e expositivo quando expõem as idéias. A

autora acrescenta que é comum para o fortalecimento das idéias utiliza-se de citações de

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outras pessoas e, que se organiza em torno de uma idéia central e secundaria, com

verbos no presente, pretérito perfeito e futuro do presente, usando com predominância

os verbos na terceira pessoa, tornando a construção passiva e impessoal. O texto

dissertativo requer objetividade no que se refere à linguagem, deve ser clara, coerente e

precisa, isentando-se de qualquer envolvimento por parte de quem o redige.

Tanto na narração quanto na dissertação a sequência, a cronologias das idéias e

fatos são importantes para a compreensão do leitor, na dissertação dá “o encadeamento

lógico” das idéias. Vale ressaltar que no texto dissertativo que prevalece a mesma

intenção anteriormente discutida que é a de convencer o interlocutor sobre algo. Outro

ponto que vale ressaltar é quanto à predominância de termos concretos presentes na

descrição e narração, ou seja, o autor relata fatos, interpreta dados do mundo real,

enquanto que a dissertação há predominância de conceitos abstratos de tempo e espaço.

Coroa (2000), apresenta ainda, os tipos injuntivo e preditivo pouco conhecido na

sala de aula, mas muito utilizado no cotidiano das pessoas.

O tipo injuntivo ou instrucional caracteriza-se pelo pedido, convocação ao

interlocutor para que faça alguma coisa. Ele este diretamente associado a verbos

imperativos ou interrogativos que indicam procedimentos a serem realizados, exemplos

desse tipo de texto são as receitas e os manuais de instrução. O tipo preditivo por sua

vez, caracteriza-se segundo a autora por predizer alguma coisa, ou levar o interlocutor a

crer em alguma coisa que ainda estar por ocorrer. Um exemplo claro de texto preditivo

são os textos dos horóscopos que funcionam como descrições de situações futuras.

Seqüências tipológicas injuntivas ou instrucionais têm por objetivo instruir o leitor/ouvinte sobre alguma coisa. Por isso as formas verbais mais

frequentimente empregadas estão no modo imperativo, caracteriza-se por fazer

o interlocutor executar alguma ação. Seqüências preditivas têm por objetivo

fazer o leitor/ouvinte acreditar em um estado de coisa que ainda esta para

acontecer. Por isso, predomina os verbos nos tempos futuros... pode-se

perceber, formalmente, uma semelhança com a descrição de uma situação

futura: uso de verbos de estado e de frases nominais. (Coroa, 2000, pág.116)

Constata-se nesta conceituação que enquanto o tipo injuntivo os verbos

predominantemente são imperativos, os preditivos são empregados no futuro

geralmente ambos com frases nominais. Orienta ainda que mesmo sendo pouco

conhecido é conveniente que o professor comece a mostrar aos alunos essas seqüências

que aparecem muito nos textos lidos em sala de aula.

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Outra característica que esta associada os tipos injuntivos e preditivos é a

oralidade, que deve também ser trabalhada na sala de aula. As predições que fazemos

em nossas conversas, quando expressamos uma opinião sobre um fato direcionando a

um resultado possível são exemplos de textos preditivos. Supor algo que vai acontecer a

partir de um acontecimento presente.

A partir das colocações podemos perceber que tipo textual pode aparecer em

qualquer gênero textual, ou seja, os gêneros se apresentam linguisticamente dentro de

um tipo textual, como também, único gênero pode conter mais de um tipo textual, como

já foi citado o exemplo da carta que pode ter passagens narrativas, descritivas,

injuntivas e assim por diante.

O aspecto relevante que nutre esse estudo é compreender as variedades de

gêneros que circula na sociedade e forma como os mesmo se apresentam e o que cada

um propõe. O locutor/ouvinte, autor/escritor deve ter consciência das informações ou do

conteúdo veiculado no gênero lido e escrito, identificar o nível de linguagem formal,

informal, culta; como também o tipo de situação em que o gênero se situa e as relações

entre os participantes. Uma piada, por exemplo, tem lugar e hora para ser contada,

evitando assim constrangimento entre os participantes da conversa. A produção e uso

adequado de um gênero mostram a habilidade do locutor/interlocutor com a língua

portuguesa.

2.4 – Hibridismo e a transmutação de gênero

Entendemos que os gêneros têm muito haver com o contexto sócio-cultural que

usamos e as mais variadas formas de comunicação passa por uma evolução que obedece

ao avanço da sociedade. E quando tratamos dessa evolução deparamo-nos com mais um

problema enigmático como definir os novos gêneros e compreender a composição de

um texto quando é constituído de mais de um gênero.

Marcuschi (2000), nas suas reflexões analisa os novos gêneros colocando-os nas

velhas bases, assegurando que nos últimos dois séculos foram as novas tecnologias na

comunicação que propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais, só que esses

novos gêneros estão ”ancorados” em gêneros já pré-existente. Fato este observado por

Bakhtin na década de 50, quando se constatou que novos gêneros não eram inovações

absolutas, mas sim, que se assimilava a um gênero já existente.

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Esses novos gêneros instauram novas investigações sobre o uso da linguagem

escrita e oral, no tocante a sua complexidade.

Esses gêneros que emergiram no último século no contexto das mais

diversas mídias criam formas comunicativas próprias com um certo

hibridismo que desafia as relações entre a oralidade e a escrita e inviabiliza

de forma definitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos

manuais de ensino de língua.( Marcuschi, 2000, pág. 46)

Koch e Elias (2006 apud MATOZZI, 2011) afirmam que a hibridização ou a

intertextualidade é o fenômeno segundo o qual um gênero pode assumir a forma de um

outro gênero, tendo em vista o propósito de comunicação. No entanto, Matozzi

diferencia a intertextualidade da hibridização afirmando que a intertextualidade é a

relação que um texto estabelece com outro texto, esta relação se dá a partir das

retomadas internas dos textos, enquanto que o hibridismo é a transformação de um

gênero em outro.

Mais uma vez, constamos à complexidade que envolve a compreensão do

sentido de gênero. E essa complexidade torna-se um problema urgente para educação

como afirma Bazerman (2004, pág.15) “Entender as variedades da escrita é muito mais

que o problema enigmático da lingüística; é um problema urgente para a educação”.

Para Coscarelli (2011), o hibridismo nem sempre espelha a proficiência do autor,

mas pode, em alguns casos, revelar a falta de domínio na produção de algum gênero. E

a falta de domínio pode ser comprovada nas atividades de produção dos alunos. Já para

um autor experiente utiliza o hibridismo para criar textos criativos que chama a atenção

do leitor. Podemos encontrar exemplos de textos híbridos em convites, cartazes,

propagandas.

O hibridismo e a transmutação de gênero são aspectos pertinentes na discussão

sobre gênero, pois segundo Bakhtin (2003), quanto melhor conhecer os gêneros, melhor

nos sairá nosso discurso.

Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os

empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa

individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo mais

flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma, realizamos de

modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso. (Bakhtin, 2003, p.

285)

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As dificuldades encontradas pelos professores e alunos em lidar com os gêneros

textuais são justificáveis, primeiro porque nem todo texto é um exemplo prototípico de

um determinado gênero, que o hibridismo pode ser resultado tanto da capacidade

incapacidade de escrever. Outro problema relacionado às dificuldades está o surgimento

e a utilização dos novos gêneros, como e-mail, chat, hipertexto, blog que o próprio

Marcuschi, pois não há definições para essas novas formas de comunicação tão

presente no dia-a-dia dos alunos.

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CAPITULO III

CONTEXTUALIZAÇÃO PRÁTICA DOS GENÊROS

3.1 – O papel dos gêneros na sala de aula

Entendemos que as dificuldades que os alunos têm com relação à leitura e escrita

interfere diretamente no aprendizado não só da língua materna, mas como também, das

demais disciplinas que compõem a grade curricular. Embora para esses alunos, na sua

maioria, acreditam que sua capacidade esta restrita a disciplina de Língua Portuguesa, e

por isso manifestam aversão às aulas e até mesmo a pessoa do professor.

Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos pelas escolas com o objetivo de superar

essas dificuldades, principalmente, no rompimento do ensino tradicional baseados em

regras e conceitos descontextualizados da realidade do aluno. Essa reflexão tornou-se

pertinente na escola a partir da divulgação dos PCNS, que analisados por Antunes

(2003), estabelecem o ensino de língua portuguesa articulada em dois grandes eixos o

uso da língua orla e escrita e a reflexão acerca desses usos. Para a autora nenhuma

atenção é concedida aos conteúdos gramaticais “na forma e na sequência tradicional das

classes de palavras, tal como aparecia nos programas de ensino antes” ( Antunes, 2003,

pág. 22)

Essa mudança também é exigência das avaliações externas4 que as instituições

aplicam seguindo um modelo próprio. As formas como estas avaliações se apresentam,

rompem com as definições e classificações gramaticais e partem para a compreensão e

utilização dos conceitos apreendidos. Sobre os testes das avaliações externas Antunes

(2003) relata:

... a elaboração das questões das provas contemplam explicitamente apenas um conjunto de habilidades e competências em compreensão, e nada de

definições ou classificações gramaticais. Todas essas competências são

avaliadas em textos, de diferentes tipos, gêneros e funções. Não há um

descritor se quer que se pareça com os itens tradicionais dos programas de

ensino do português. ( Antunes, 2003, pág. 22)

4 As avaliações externas visam verificar através de aplicação de provas a capacidade básica dos alunos

relacionados ao seu ano de estudo. Com base nestes testes, são elaborados quadros demonstrativos que

indicam o Índice de Desenvolvi.mento da Educação Básica (IDEB), ENEM, SAEB, PROVA BRASIL,

ESPAECE...

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Alem das orientações dos PCNS e das avaliações externas esta a elaboração dos

livros didáticos. Ao comparamos um livro didático editado hoje com os de antigamente

percebemos que as formas como os assuntos são abordados hoje estão voltados para o

desenvolvimento das competências sócio-comunicativas, enquanto, os de antigamente

ressalta puramente os elementos metalingüísticos. Certamente se o livro muda, que é

um dos principais recurso utilizados na sala de aula, o professor deve mudar também.

Novas práticas emergem a partir da exigência do livro didático e da competência do

professor. Claro, se ele não tem competência para fazer novas interpretações deixam os

livros de lado, alegando que esta fora da realidade do aluno e continua a repetir o que

aprendeu na sua formação tradicional.

Todas essas colocações respaldam a utilização dos gêneros na sala de aula. Pois,

tanto PCNS, como avaliações externas e livro didático possibilitam programas de

capacitações que visam uma reflexão sobre novas práticas de ensino. Um dos programas

que vale destaque quanto a utilização dos gêneros na sala de aula é o Projeto

Escrevendo o Futuro5, realizada pelo Ministério da Educação e pela Fundação Itaú

Social, que tem como objetivo colaborar com a melhoria do ensino da leitura e da

escrita, é um trabalho através de oficinas que orientam os alunos a produzirem textos

com base na realidade local. Os textos são selecionados e premiados nas categorias

poemas, memórias literárias, crônicas e artigos de opinião elaborados por alunos

de escolas públicas de todo o país.

Outro programa que vem trabalhando como rompimento do ensino tradicional e

buscando a construção de práticas pedagógicas produtivas e relevantes, levando em

consideração o ensino de língua portuguesa quanto uso e reflexão, respeitando em

especial e variedade lingüística é o Gestar. Um programa de formação continuada, na

modalidade semi-presencial destinada aos professores de Língua Portuguesa e

Matemática do 6° ao 9° ano, que permite ao professor o aprimoramento de sua prática e

o desenvolvimento de um trabalho baseados em habilidades e competências. O curso

inclui alem dos encontros presenciais a troca de experiências e reflexão e análise critica

da prática de sala de aula e das atividades dos alunos. A teoria e a pratica são articuladas

durante todo o estudo.

Foi através desses dois programas, o Gestar e o Escrevendo o futuro, que me

despertou a curiosidade em aprofundar o estudo sobre gêneros textuais na sala de aula,

5 Ver informações no site https://ww2.itau.com.br/itausocial/olimpiadas2010/web/site/index.htm

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como também, a possibilidade que o mesmo poderia proporcionar no processo de

aquisição da leitura e escrita na sala de aula.

Com estudo feito podemos afirmar que a necessidade de inserirmos os gêneros

textuais na sala de aula é justificada por que coloca o aluno em contato com os

diferentes textos que são produzidos pela sociedade e pode envolver as diversas áreas

do conhecimento. Com a utilização desses textos, os mais variados possíveis, podemos

preparar o aluno para usá-los adequadamente quando saírem da escola. Saber utilizar

adequadamente um texto o indivíduo estar fortalecendo sua inserção no meio social.

Um exemplo para este fato é marcado pelo texto que contem elementos da

argumentatividade.

A interação social por intermédio da língua caracteriza-se,

fundamentalmente, pela argumentatividade. Como ser dotado de razão e vontade, o homem constantemente, avalia, julga, critica, isto é forma juízo

de valor. ( Koch, 2000, pág.19)

Além de preparar o aluno para desempenhar suas atividades sociais, a utilização

dos gêneros contribui significamente para o processo de aquisição de leitura,

compreensão e produção textual. Outro aspecto que justifica essa utilização dá-se pela

oportunidade de contextualização dos conhecimentos.

Coscarelli (2011), em um artigo sobre gêneros textuais na escola afirma que a

idéia de trabalhar com os gêneros na escola surgiu da necessidade de trazermos o

contexto, a produção e recepção. Para ele, quem escreve precisa saber para quem está

escrevendo, o que quer dizer e com que objetivo esta escrevendo. Nessa colocação

percebemos que a produção e leitura descontextualizada não contribuem significamente

para apreensão dos conhecimentos por parte dos alunos.

O autor acrescenta ainda que da mesma forma que a utilização dos gêneros pode

tornar os alunos leitores fluentes, podem também contribuir para que eles continuem

não gostando das aulas de português. Isso pode acontecer quando o professor restringe a

atividade com gêneros a ensinar formulas e estruturas de textos para que eles sejam

reproduzidos, e a falta de capacidade em produzi-los aflige muito os alunos. Ensinar

assim é não entender o real sentido dos gêneros, é não compreender que os gêneros não

são para ser reproduzidos, visto que não é estático, fixo, como orienta os teóricos do

assunto, mas mutável e sujeito as várias interpretações.

Nos seu artigo, Coscarelli deixa claro que há gêneros para ler e gêneros para

escrever, ouvir e falar. Cita por exemplo, uma bula de remédio, pois as pessoas não

precisam saber escreve-la, mas precisam saber ler, entender as informações contidas.

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Quanto aos gêneros que precisamos dominar tanto na escrita, quanto na leitura são os

que convivemos no dia a dia, são textos úteis e usados frequentemente em nossas

atividades diárias.

Os gêneros devem ser utilizados não como objetivo de classificá-los ou listar as

características, mas que o aluno perceba a funcionalidade do texto em si, e os recursos

usados para atingir sua finalidade. O importante é que o aluno perceba quem está

falando, para quem esta falando e objetivo desta leitura. Dessa forma estamos

trabalhando a linguagem e seus recursos de forma prática e eficiente, tendo como

objetivo a compreensão do que é lido e escrito.

Não estou retirando a importância para o reconhecimento das estruturas dos

gêneros textuais, mas alertando para que os trabalhos em sala não se limitem a isso.

Trabalhar com os gêneros textuais em sala é ter em mente a função social que eles

exercem independente de sua estrutura, o importante é que eles apresentam situações

concretas e reais da atividade humana, por isso é preciso que o aluno seja capaz de saber

o porquê, como e onde utilizar os gêneros textuais.

Esse aprendizado depende do trabalho que o professor desenvolve na sala de

aula. Ele precisa alem do conhecimento teórico e pratico sobre gêneros é de

fundamental importância que saiba selecionar os gêneros a serem abordados na aula,

conscientizando o aluno que cada gênero depende das características dos autores e

leitores. Um determinado gênero é construído a partir da necessidade comunicativa que

a situação.

Por isso, é importante no ato das produções textuais desenvolverem atividades

que tenham finalidades próprias. O aluno ao ser instigado a produzir um texto deve

saber a sua finalidade. Uma pequena produção, por mais simples que seja deve ser

escrita com objetivo de ser lida por alguém, não simplesmente não pelo professor com

o objetivo de avaliar as estruturas metalingüísticas contidas no texto. É importante esse

acompanhamento e avaliação, pois, permitirá com o tempo o aprimoramento do ato de

escrever, mas não deve restringir-se a isso.

3.2 – Percepção a partir das entrevistas

Com o intuito de perceber a concepção dos professores a cerca da utilização dos

gêneros na sala de aula realizei uma entrevista com doze professores da escola de ensino

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fundamental Careolano Leite no Distrito de São Miguel, sendo sete professores que

lecionam no ensino fundamental I e cinco no ensino fundamental II, todos com nível

superior.

Uma escola que funciona nos turnos manhã, tarde e noite com alunos no ensino

fundamental um e dois. Foi realizado também nesta escola entrevista com os alunos do

sexto ano em que desenvolvi as oficinas que fundamentam na prática o estudo teórico.

As entrevistas foram realizadas através de questionário aberto para os professores e de

múltipla escolha para os alunos. Vejamos, pois, os resultados.

Para os professores do ensino fundamental I a grande dificuldade em realizar as

atividades de sala consiste na falta de interesse de alguns alunos e de acompanhamento

dos pais. Eles não apresentam como dificuldade as deficiências no processo de leitura e

escrita, como foi apresentado por unanimidade pelos professores do fundamental II.

Acredito que não colocam a leitura e escrita como deficiência por considera um

processo em desenvolvimento.

A utilização dos textos para estes professores é tida como tarefa diária, todos os

dias trabalham com a leitura e a interpretação, não só na disciplina de língua portuguesa,

mas também, nas aulas de ciências, história, geografia. O foco principal para três dos

entrevistados é a leitura e a interpretação. Ao tratar da questão da utilização dos

gêneros, percebi que muitos já vem trabalhando, nos relatos percebi o entusiasmo com

que tratam o assunto, isso porque, os professores do 1° e 2° ano que já lecionaram ou

lecionam participam de cursos de aperfeiçoamento durante todo o ano pelo Paic –

Programa de Aprendizagem na Idade Certa, que é desenvolvido através das parcerias

entre governo estadual e municipal. Esse projeto tem finalidade básica alfabetizar os

alunos e para isto utilizam as mais diversas estratégias de trabalho, entre elas

encontram-se os gêneros textuais. Gêneros como receitas, recados, adivinhas são

atividades constantes, que segunda uma professora “desperta o interesse dos alunos”.

Um professor também citou o projeto Escrevendo o Futuro, que o fez trabalhar o gênero

poesia.

Diferentemente dos professores do fundamental I, que nas suas entrevistas

deixaram transparecer o entusiasmo e a possibilidade de mudança, no fundamental II

todos os professores entrevistados colocaram a deficiência da leitura como obstáculo

para o desenvolvimento das aulas, além é claro, da falta de compromisso e disciplina

por parte de alguns alunos.

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Ao questionar sobre a utilização de textos na aula, um professor respondeu que

era importante trabalhar “pois ajuda o professor de português”. Interessante lembrar

que os professores entrevistados não ensinam português. Percebi nas suas palavras que

o trabalho do texto esta voltado apenas para o professor de português, não senti que ela

também tinha responsabilidade com a leitura e escrita. Para os demais professores o

texto também não é tarefa constante, trabalham apenas com textos inclusos nos livros

didáticos. O professor de matemática acredita que o texto deve ser sim trabalhado na

sala, não nas aulas de português, mas principalmente, história e geografia que requer

muita interpretação. Relata ainda a dificuldade que tem em trabalhar com o texto, mas

explora a interpretação em situações problemas.

Dos cinco professores entrevistados nenhum trabalha com gênero, conhecem e

sabem da importância, mas não atua. O professor de inglês que também leciona no

fundamental I, vem dando uma atenção especial ao trabalho com o texto e inclui

algumas ações dos recursos do PAIC, ou seja, utiliza alguns gêneros em suas atividades.

O que me surpreendeu nas entrevistas foi a falta de interesse ou conhecimento

por parte de alguns professores, especialmente os que lecionam geografia e historia, que

poderiam trabalhar diretamente com diversos gêneros, possibilitando a abordagem de

diversos temas e a construção de textos temáticos e críticos.

Percebi ainda, nas entre linhas, que a produção de texto é responsabilidade do

professor de língua portuguesa, e que o trabalho com os gêneros textuais esta muito bem

fundamentado no ensino fundamental I e acreditam que logo as deficiências encontradas

nos anos terminais serão superadas com o trabalho que vem realizando.

Já para os professores, as entrevistas realizadas constatam-se a necessidade de

um trabalho de conscientização e formação para os professores, para que entendam que

aquisição da leitura e escrita não é responsabilidade única dos professores de língua

portuguesa. Compreender que, com os gêneros podemos abordar vários assuntos e

temas que podem ser articulados nas diversas áreas do conhecimento, contribuindo

diretamente para o processo de leitura e escrita.

Os alunos entrevistados são alunos que cursam o 6° ano, duas turmas compostas

de 26 alunos cada. Como sou professora destas turmas e desenvolvi as oficinas, preferi

que um colega realizasse as entrevistas para que a minha pessoa não influenciasse as

respostas dos alunos. Como os questionários não apresentavam identificação os alunos

tiveram a liberdade de falar com sinceridade, sobre a importância da leitura, seus gostos

e hábitos, como também as produções.

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Na análise dos questionários foi constatado que 21 alunos mostraram interesse

tanto na leitura como na escrita, e que os mesmos freqüentavam a biblioteca com

freqüência, e gostavam de ler livros de historias e revistas em quadrinhos, citaram

inclusive algumas historias inesquecíveis. Para esses alunos a leitura era prazerosa e

liam tudo que os professores indicavam. Já 19 alunos apresentam pouco interesse, só

liam e freqüentava a biblioteca quando era sugerido pelos professores, ou seja, só liam o

que o professor pedia, nas leituras preferidas citou historias em quadrinhos e poesias.

Para os demais alunos, no caso, 16 afirmaram que não gostavam de ler e nem escrever,

só realizavam as tarefas quando eram obrigados e mais ao selecionar a opções que

tratavam de tipo de leitura preferida optaram por noticias de futebol. Enquanto os outros

marcaram todas as alternativas, ou sejam gostavam de tudo.

Como sou professora desses alunos o percentual de resposta não foi nenhuma

surpresa, embora os questionário não apresentassem identificação podia identificar cada

resposta. Os alunos que gostam de ler e escrever são os que não apresentam dificuldade

na leitura e nem nas demais disciplinas, alunos considerados excelentes. Os 16 alunos

que afirmaram não gostar de leitura pode ser muito bem identificado pelos professores,

são alunos que devido uma formação básica inadequada vem ao longo dos anos

tentando superar as deficiências, mas não se ajudam. A falta de interesse e disciplina são

marcas que destacam esses alunos. Talvez esteja ligada diretamente a falta de

compreensão dos conteúdos abordados em sala.

São alunos que apresentam histórico escolar irregular, com anos seguidos de

repetições e idade avançada, a falta de perspectiva permeia em aprender permeia o

universo desses alunos. Por isso o hábito da leitura deve ser incentivado logo nos anos

iniciais, para que desperte nos alunos o interesse em descobrir o mundo através dos

livros.

3.3 – Relato de experiência

Desde o inicio do ano venho trabalhando os gêneros textuais na sala de aula.

Posso afirmar que depois do aprofundamento teórico percebi em alguns casos no

desenvolvimento das atividades, mas acertei também e acredito que os gêneros é um dos

meios mais práticos para trabalhar a leitura e escrita, tanto para os alunos que tem o

domínio da leitura com os que apresentam dificuldade.

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De inicio trabalhei com a diferenciação do texto em prosa e verso, mostrando

aos alunos as diferenças básicas dos mesmos, partindo em seguida para o estudo das

tipologias a narração, descrição e dissertação. Os tipos injuntivos e preditivos não foram

trabalhados visto o número grande de informação, até mesmo a dissertação deixou

muito a desejar. Acredito que o trabalho com as estruturas tipológicas requer tempo e

estudo especialmente para as turmas de 6° ano, que na sua maioria, apresentam

dificuldade na leitura e escrita.

O primeiro contato com os tipos textuais deu-se com textos que apresentavam

claramente as características de cada um, prosseguindo com a produção e reescrita dos

textos. Os melhores momentos destas atividades era a culminância, pois após o estudo

de cada tipologia os alunos eram levados a sala de leitura e com a utilização do

microfone socializavam as produções para seus colegas, havia também a exposição dos

textos em painéis.

Para trabalhar a produção final com a sequência tipológica descritiva cada aluno

era convidado a descrever seu colega, de forma que a turma o identificasse pelas

características apresentadas no texto. Os textos narrativos também tiveram destaques,

contudo, a dissertação não atendeu as minhas expectativas, principalmente por que os

alunos não conseguiram expor as idéias de forma coerente, deixando a

argumentatividade em segundo plano. Praticamente não se percebia a exposição das

idéias e argumentação dos fatos. Não os culpo, visto que escrever um texto dissertativo

requer informações necessárias a construção de um texto e mais o ato de escrever em si

não é tarefa fácil com afirma Antunes ( 2003):

Produzir um texto escrito não é uma tarefa que implica apenas no ato de

escrever. Não começa, portanto, quando tomamos nas mãos papel e lápis.

Supõe, ao contrário, que vão desde o planejamento, passando pela escrita

propriamente, até o momento posterior da revisão e da reescrita. ( Antunes,

2003, pág. 54)

Após o entendimento das tipologias passei a trabalhar diretamente com os

diversos gêneros textuais. No primeiro momento distribui os alunos em circulo e no

centro diversos gêneros para que cada aluno pudesse identificar cada gênero. No ato da

atividade não foi utilizado a palavra gênero, mas se o texto era uma piada, uma receita,

uma musica, uma reportagem e assim por diante. Alem dessa identificação os alunos

teriam que relatar as informações contidas no texto.

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Na aula seguinte inicie com o trabalho com os conceitos de gêneros, as

variedades que circulam na sociedade, deixando-os a vontade para produzir um

determinado gênero, observando as estruturas expostas na sala. Percebi que muitos

trouxeram receitas, acredito por ser um gênero de fácil compreensão.

Os outros trabalhos com os gêneros foram realizados através de oficinas. A

primeira com musicas, como estratégias foi utilizada a leitura áudio visual, na

oportunidade os alunos tiveram contato com textos de musicas conhecidas e

desconhecidas dos alunos. A utilização do karaoquê e parodias fecharam esta oficina. A

segunda, utilizando o jornal, os alunos eram divididos em grupos selecionaram

reportagem temática dos jornais como esporte, economia, moda. A terceira oficina foi a

leitura de contos populares, com o objetivo de mostrar que muitas histórias surgiram do

universo de pessoas analfabetas que contavam e recontavam as histórias para seus

familiares e que muitas não constam autoria, ou tem autoria desconhecida. A

culminância dessa oficina foi marcada pela presença de uma senhora analfabeta que

contava os contos com uma expressividade que os alunos não identificaram no

momento da leitura. Entenderam que os contos populares não são para ser lidos, mas

contados.

A oficina de cordel também foi um sucesso, principalmente porque tratam de

historias narrativas que apresentam lutas e conflitos entre o bem e mal, numa linguagem

simples que encanta o leitor. Após a leitura do cordel, os alunos apresentaram o enredo

das histórias, destacando as expressões populares comparando-os com a norma culta

contida nos livros e paradidáticos. A culminância foi marcada pela recitação de cordel

pelo um ex-aluno da escola, que dramatizava e usava a entonação de voz para fortalecer

o enredo. Os alunos produziram em equipe cordéis que foram lidos no festival de

quadrilha realizado pela escola. Os mesmos alunos produziram cartazes de propaganda

para este evento.

Com esse projeto percebi que cabe a escola, não só o professor de português

trabalhar o processo de leitura e escrita como orienta os PCNS:

Cabe a escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que

circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os

textos das diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defronta

sistematicamente no cotidiano escolar, e mesmo assim, não conseguem

manejar, pois não há um trabalho planejado com essa finalidade. ( PCNS,

1997, pág. 30)

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É preciso planejar atividades que envolva os mais variados textos, para que os

alunos consigam entender sua finalidade e saiba produzi-los adequadamente de acordo

com a necessidade. Entendi que o grupo gestor como articulador entre as ares de

conhecimento envolva todos os professores em projetos que utilizem nas práticas

didáticas diversos gêneros que circulam no cotidiano dos alunos, podendo interpretá-los

e recriá-los a sua maneira e estilo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao consideramos o trabalho com os gêneros textuais na sala de aula, visando o

rompimento do ensino tradicional e o fortalecimento de aprendizagens significativas,

estamos reconhecendo que as práticas educativas inovadoras requerem dinamismo e

reflexão, características estas, que permeiam o universo dos gêneros.

Com esse estudo entendemos que os gêneros são as diversas maneiras que os

textos se apresentam e se organiza, não possuindo estruturas rígidas, mas elementos

estruturais que identificam, como este ou aquele gênero. .

Do ponto de vista didático-pedagógico percebemos que, trabalhar com os

gêneros textuais, exige do professor uma formação constante, que ele domine aquilo que

ensina, e que a leitura faça parte de sua vida, não seja leitor apenas do livro didático,

mas de diferentes textos como jornal, revista, literatura entre outros. Sejam práticas de

leitura diversificadas, pois quando trabalhamos com a leitura, não se visamos apenas o

conhecimento das estruturas lingüísticas e sintaxe, mas especialmente, o gosto e o

prazer que a leitura proporciona.

O professor precisa trabalhar o texto como algo que provoque nos alunos alguma

forma de reflexão sobre os modos de organização, finalidades e uso, pois todo o

qualquer texto é utilitário e visa informar, divertir, instigar o leitor ou ouvinte sobre

determinados conhecimentos. Precisa estar ciente de que para o aluno produzir um

texto coerente e significa precisa ser instigado, ou seja. ter o desejo, uma intenção e

finalidade para esta produção. Pois a produção de um texto depende da intenção do

produtor, das escolhas tipológicas que pretende usar para atingir o seu leitor.

Todo texto que utilizamos no dia-a-dia são construído de palavras e expressões

que orientam a classificação e nomeação dos gêneros e por isso faz se necessário que o

professor utilize os mais variados textos nas atividades de sala de aula, permitindo o

aluno a aproximar-se mais das práticas sociais de leitura fora da sala de aula.

Entre os motivos que justificam a utilização dos gêneros na sala de aula é o

rompimento com a leitura mecânica, pois neste estudo vimos que os gêneros não se

apresentam como uma classificação pré-determinada, mas por uma flexibilidade

determinada pela situação que o gênero está sendo utilizado. A utilização de gêneros

“não comuns” no ambiente da sala de aula favorece o desenvolvimento de práticas

escolares menos artificiais. Trabalhar a leitura com um texto que tem vida, que faz parte

do conhecimento intuitivo do educando desperta o interesse e a reflexão sobre o assunto

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a ser abordado. Isso não quer dizer que devemos utilizar apenas texto do cotidiano do

aluno, mas que partam da sua realidade.

Outra questão importante a ser considerado sobre a utilização dos gêneros diz

respeito a articulação possível do trabalho com o texto nas demais áreas do

conhecimento, rompendo a estigma de que o processo de aquisição de leitura e escrita

seja exclusivamente responsabilidade do professor de língua materna.

Em suma, reconhecemos que os gêneros possibilitam a construção da

linguagem, tanto nos aspectos lingüístico e metalingüístico, possibilitando o aluno a

escolher seu próprio estilo de leitura e escrita. Com os gêneros, passamos acreditar que

todos os alunos podem aprender independente da origem social que o aluno estar

inserido, já que a linguagem como sabemos, tem muito haver com o contexto sócio-

cultural que usamos e estamos inseridos. E, utilizando-os adequadamente podemos

desenvolver as habilidades de pensar, de raciocinar e se expressar, pela riqueza que

compõem os gêneros.

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