MARILENA KERSCHER PACHECO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO E DOUTORADO MARILENA KERSCHER PACHECO FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES FORMADORES CURITIBA 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO E DOUTORADO

MARILENA KERSCHER PACHECO

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ATU AÇÃO

NA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES

FORMADORES

CURITIBA

2011

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MARILENA KERSCHER PACHECO

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ATU AÇÃO

NA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES

FORMADORES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Joana Paulin Romanowski

CURITIBA

2011

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Dados da Catalogação na Publicação Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR Biblioteca Central

Pacheco, Marilena Kerscher

P116f Formação de professores de Educação Física para atuação na Educação 2011 Básica : o que dizem os professores formadores / Marilena Kerscher Pacheco ; orientadora, Joana Paulin Romanowski. – 2011. 171 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2011

Bibliografia: f. 157-163

1. Professores - Formação. 2. Professores de Educação Física. 3. EducaçãoFísica (Ensino fundamental). 4. Ensino superior - Currículos. I. Romanowski, Joana Paulin. II. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Programa de Pós- Graduação em Educação. III. Título. CDD 21. ed. – 370.71

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Dedico este trabalho aos meus dois amores: meu esposo Edson e meu

filho Alexsandro. Saibam que eu nada seria e tão pouco conseguiria

sem a presença de vocês em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Nem sempre há oportunidade de agradecermos a todas as pessoas participantes em nossas vidas as quais contribuíram para a nossa formação, seja de forma direta ou indireta. A escrita de uma dissertação apresenta esta oportunidade.

Gostaria primeiramente de agradecer em especial a minha orientadora Prof.ª Dr.ª Joana Paulin Romanowski: obrigado pela paciência, pelos ensinamentos e, acima de tudo, pela sua amizade. Sem seu apoio eu não teria alcançado este sonhado objetivo.

Obrigado a Prof.ª Dr.ª Marynelma Camargo Garanhani da UFPR que aceitou tão prontamente fazer parte da banca de avaliação e acima de tudo trouxe para minha pesquisa inestimáveis contribuições.

Também agradeço aos professores do Mestrado em Educação da PUCPR que participaram da minha formação, em especial a Prof.ª Dr.ª Pura Lúcia Oliver Martins por todo aprendizado e carinho.

Sinceros agradecimentos a direção do curso do Mestrado em Educação e a Solange, Franciele e Francineide, da secretaria, pelo carinho com que atenderam as solicitações que fiz no encaminhamento da pesquisa.

Aos amigos e colegas de Mestrado, obrigado pela parceria e pelas trocas de experiências e sabedorias em oportunos momentos. Em especial agradeço as duas colegas que se transformaram em duas queridas e admiráveis amigas: Obrigado Marília e Eliana por sua presença nesta jornada!

Agradeço aos professores do curso de Educação Física interlocutores desta pesquisa e em especial aos coordenadores do curso. Saibam que sem o seu auxílio e disposição esta pesquisa não seria viável. Obrigado pela confiança depositada em mim e pelas respostas tão ricas em informações preciosas sobre objeto de pesquisa investigado.

Complexas de serem mensuradas, porém mais fáceis de serem sentidas, assim são as relações familiares. Agradeço aos meus pais, Guilherme e Irene, que mesmo com formação formal incompleta, nunca deixaram de inspirar o desenvolvimento de seus filhos e em especial a minha mãe Irene que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis, me apoiando e orientando nas mais diversas situações. Saibam que esta vitória é especialmente de vocês.

Também agradeço aos meus sogros, José e Adenilde, por todo apoio e coragem nesta caminhada.

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Por fim, gostaria de deixar registrado meu infindável amor e apreço por meus maiores tesouros: meu valioso esposo Edson, obrigado pelo seu apoio infinito, seu amor, sua paciência e sua sabedoria e a minha maior relíquia, meu filho Alexsandro, que é a mais nova luz que ilumina meu caminho: saibam que amo vocês incondicionalmente. Obrigado por fazerem parte da minha vida!

Nestes anos de trabalho muitos foram os que estiveram ao meu lado, participando desta jornada, certamente estes poucos parágrafos não foram suficientes para citar e agradecer a todos. Portanto, peço desculpas aos que aqui não estão presente, saibam, no entanto, que vocês fazem parte do meu pensamento e da minha eterna gratidão.

Obrigado a todos os responsáveis!

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RESUMO

Esta pesquisa objetivou analisar um curso de Educação Física, em uma Instituição de Ensino Superior (IES) localizada na cidade de Curitiba (Paraná), verificando as particularidades destacadas na formação dos novos professores para atuação na Educação Básica considerando os relatos dos professores formadores deste curso, geradas a partir do Parecer CNE/CP nº 09/2001 e da Resolução CNE/CES nº 01/2002. Foram examinadas: as concepções dos formadores, a relação teoria e prática, a formação para a inclusão, enfim a formação do professor de Educação Física que irá atuar na Educação Básica. Diante destas determinações legais o curso foi reestruturado em duas modalidades: Licenciatura e Bacharelado. A metodologia da pesquisa é de abordagem qualitativa e para o levantamento dos dados foram realizadas entrevistas do tipo semiestruturada. As falas das entrevistas foram textualizadas. A pesquisa apoia-se nos referenciais de Diniz-Pereira (1999, 2000), Taffarel (2001, 2006), Dias-da-Silva (2008), Martins (2000, 2003, 2007), Martins e Romanowski (2010), Romanowski (2007), Romanowski e Wachowicz (2003, 2005), Romanowski e Martins (2009), Garanhani (2008), Roldão (2007), Fazenda (1993, 2002), Mantoan (2003), Pimenta (1997, 1999, 2008), Steinhilber (2006), Gamboa (2010), Candau (2000), Caparroz (2007), Figueiredo (2004, 2009), Gatti e Barreto (2009). Após análise dos relatos dos professores e das fontes estudadas verificou-se que as reformulações realizadas no curso de Licenciatura rearticularam o currículo e a carga horária do mesmo. A maioria dos professores formadores se mostrou favorável a separação do curso, seguindo uma concepção de formação mais centrada e específica aos conteúdos pedagógicos e seus aprofundamentos metodológicos para uma preparação dos futuros professores que exercerão a função docente na Educação Básica. A relação teoria e prática ocorre durante as aulas, mas com maior ênfase na Estágio de modo a auxiliar o aluno em seu processo formativo, fazendo com que ele tenha uma interação maior com a escola, em suas diferentes modalidades de ensino e acontece no decorrer do curso. Verificou-se que apesar de ter ocorrido a separação das áreas: Licenciatura e Bacharelado, no curso de Educação Física, a mesma é polêmica no meio acadêmico e estudantil existindo uma diferenciação de interesses entre o Conselho de Educação Física CONFEF/CREF e a Executiva Nacional dos Estudantes – EXNEEF, que luta pela reunificação do curso, a fim de criar a Licenciatura Ampliada em Educação Física.

Palavras-chave: Educação Física. Formação de Professores. Reformulação Curricular. Relação Teoria e Prática. Licenciatura Ampliada.

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ABSTRACT

This research analyzes a Physical Education course in a Higher Education Institution in the city of Curitiba (Parana), verifying the particulars outlined in the training of new teachers to work in the Basic Education teachers considering the reports of the trainers of this course based on CNE / CP nº 09/2001, and Resolution CNE / CES nº 01/2002. Were examined: teacher’s point of the view, relationship between theory and practice, formation for inclusion, and, finally, the formation of a teacher who will act in basic education. Faced with these legal requirements the course was restructured into two types: Degree and Bachelor. The research methodology is qualitative approach, and to data collection was used the technique of interviews (semistructured). The reports of the interviews were transcribed. The research is based on benchmarks of Diniz-Pereira (1999, 2000), Taffarel (2001, 2006), Dias-da-Silva (2008), Martins (2000, 2003, 2007), Martins and Romanowski (2010), Romanowski (2007), Romanowski and Wachowicz (2003, 2005), Romanowski and Martins (2009), Garanhani (2008), Roldão (2007), Fazenda (1993, 2002), Mantoan (2003), Pimenta (1997, 1999, 2008), Steinhilber (2006), Gamboa (2010), Candau (2000), Caparroz (2007), Figueiredo (2004, 2009), Gatti and Barreto (2009). After analyzing the reports of teachers and sources studied it was found that movement reorganizes the curriculum and course working hours. Most of the teachers approved the separation of the course, following design training more focused and specific to their educational content and methodological insights for preparing future teachers who hold the teaching function in Basic Education. The relationship between theory and practice occurs during class, but with greater emphasis on the stage in order to assist the student in his learning process, allowing a greater interaction with the school, in their different modes of teaching and it happens during the course. It was found that although there was the separation of areas, and Bachelor Degree in Physical Education course, it is controversial in the academic and student field, there is a differentiation of interests between the Board of Physical Education (CONFEF / CREF) and the National Executive students (EXNEEF), who advocate the reunification of the course in order to create the Extended Degree in Physical Education.

Key-words: Physical Education. Curriculum Reform. Relation between Theory and Practice. Extended Degree.

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LISTA DE TABELAS

Quadro 1 - Identidade dos Respondentes. .............................................................. 21�

Quadro 2 - Inscritos para o vestibular no curso de Educação Física .................. 39�

Quadro 3 - Estrutura curricular do curso de Educação Física 2010. ................ 169�

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LISTA DE GRÁFICOS

Figura 1 - Sujeitos da Pesquisa ........................................................................ 21

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNE Conselho Nacional de Educação

CFE Conselho Federal de Educação

CP Conselho Pleno

CES Câmara de Educação Superior

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

IES Instituição de Ensino Superior

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CONSUN Conselho Universitário

MEC Ministério da Educação

NDE Núcleo Docente Estruturante

PNE Portador de Necessidades Especiais

EJA Educação para Jovens e Adultos

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

IMC Índice de Massa Corporal

RCQ Relação Cintura-Quadril

SMEL Secretaria Municipal de Esporte e Lazer

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

GPAQ Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida

CONFEF Conselho Federal de Educação Física

CREF Conselho Regional de Educação Física

MEEF Movimento Estudantil da Educação Física

EXNEEF Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física

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SUMÁRIO

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1 INTRODUÇÃO

Na atualidade a formação de professores expressa uma das

preocupações das políticas educacionais, dos sistemas de ensino e das

Instituições de Ensino Superior. Desde a aprovação da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional em 1996, intensificou-se o debate em torno dos

cursos de licenciatura. Esta pesquisa focaliza as mudanças na reformulação

curricular, para formação de professores que irão atuar na Educação Básica no

curso de licenciatura e elege o curso de licenciatura em Educação Física como

foco de investigação, considerando as concepções dos professores

formadores.

No campo da licenciatura em Educação Física, várias investigações

examinam e avaliam este curso tomando como perspectiva de análise a

realização de uma formação comprometida com uma docência eficiente e

responsável na Educação Física escolar, como definido por Garanhani (2008):

Ser professor de Educação Física numa perspectiva de educação em que o sujeito se constrói ao mesmo tempo em que é construído significa organizar uma prática pedagógica voltada não somente para o desenvolvimento da autonomia e identidade corporal do aluno, mas também para a sua socialização e ampliação de conhecimento (GARANHANI, 2008, p.203).

Neste sentido, os estudos destacam a realização de uma Educação

Física que busca desenvolver nos alunos as suas potencialidades, como

sugere a Carta da Educação Física Escolar (2007, p.3): “A Educação Física

Escolar por sua característica e potencial possibilita a vivência e assimilação de

valores como: solidariedade, excelência, sustentabilidade, esportividade, paz,

entre outros, conforme recomenda as Nações Unidas”. Para tanto se faz

necessário que os futuros professores tenham sido bem preparados em sua

graduação, por meio de um currículo bem estruturado para trabalharem com as

necessidades educativas de seus alunos no cotidiano escolar.

Na história da Educação no Brasil podem-se constatar, ao longo dos

séculos, mudanças marcantes em todas as áreas educacionais e na Educação

Física não poderia ser diferente.

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Entre tantas mudanças podem-se citar alguns exemplos como: a

metodologia de ensino aplicada em cada época; os interesses de quem retêm

o poder educacional e o administra; o valor que era dado aos professores e a

sua formação profissional na área da docência; o incentivo para a qualificação

profissional dos professores; sua valorização perante a instituição de trabalho e

também perante a sociedade; o incentivo a pesquisa educacional que vêm

sendo de grande destaque nas Universidades; e, com especial relevância, o

currículo para formação de professores destinados a atuação na Educação

Básica por via dos cursos de licenciatura.

Outra mudança marcante nas licenciaturas e nos cursos de Educação

Física foi a separação do curso em duas áreas de formação e atuação

distintas, como Freitas (2003) expõe a respeito da formação de professores

que os cursos de licenciatura se destinarão à formação de professores, os

quais serão preparados para a atuação na área escolar e os cursos de

bacharelado estarão voltados à formação dos educadores/cientistas da

educação, pontuando assim a ruptura nos cursos de licenciatura plena.

Neste sentido, os cursos ganharam uma estrutura própria de formação

de professores, como é destacado no Parecer CNE1/CP2 nº 09/01, e na

Resolução CNE/CES3 nº 01/2002, exigindo que os cursos realizassem uma

reestruturação em seus currículos, tornando-os adequados a cada área de

formação.

Figueiredo (2009, p.5) alerta sobre a formação de professores

salientado: “É possível investir na formação qualificada de professores

comprometidos com a sua intervenção e com a formação humana das

centenas de alunos que passarão por suas vidas ao longo da carreira

profissional”. Essa formação qualificada em uma instituição de ensino superior

ao longo da graduação se efetivará junto ao currículo do curso, que deverá

pautar seu projeto pedagógico para a graduação em Educação Física.

Dias-da-Silva, et al. (2008) destaca que as relações sociais interferem

no processo de reestruturação curricular, que visa se adequar as

transformações da sociedade atual.

1 CNE – Conselho Nacional de Educação. 2 CP – Conselho Pleno. 3 CES – Câmara de Educação Superior.

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Os processos de reestruturação curricular em curso tentam responder às demandas da sociedade contemporânea que, sob o impacto das inserções aceleradas das tecnologias de informação e da automação, passa por transformações significativas nos seus modos de relacionamento com as instituições sociais (DIAS-DA-SILVA, ET AL., 2008, p.21).

Os cursos de formação de professores destinam-se a intervir em suas

estruturas educacionais, realizando modificações em todo o campo de

formação educacional, a fim de buscar uma maior adequação em seu currículo

para a realização de um curso que atenda as necessidades de seus alunos no

futuro campo de atuação profissional.

Freitas (2007) destaca que para formação do profissional da educação,

devem ser levados em conta alguns princípios, entre eles:

A revisão das estruturas das instituições formadoras do profissional da educação, experienciando novas maneiras de organizar a formação do educador e avançando para formas de organização por cursos e programas, para todos os níveis de ensino, contemplando a formação inicial e continuada (FREITAS, 2007, p.1220-1221).

Estas mudanças estariam sendo revistas com a finalidade de

incorporar a um novo processo de aprendizagem as necessidades

apresentadas durante o processo educativo do professor em formação.

Diniz-Pereira já destacava em 1999, que o currículo de formação de

professores não estava adaptado a uma formação completa do futuro

professor, pois se baseava no modelo da racionalidade técnica. O autor

apresenta as principais críticas atribuídas a este modelo:

A separação entre teoria e prática na preparação profissional; - a prioridade dada a formação teórica em detrimento da formação prática e - a concepção da prática como mero espaço de aplicação de conhecimentos teóricos. Um outro equívoco desse modelo consiste em acreditar que para ser um bom professor basta o domínio da área de conhecimento específico que se vai ensinar (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.112).

Para o autor a formação docente deve contemplar várias áreas de

conhecimentos para preparar o professor na sua profissão docente, dando-lhe

assim um suporte para atuar na Educação Básica.

Diniz-Pereira (2000) ressalta ainda que é preciso “romper com uma

visão simplista de formação de professores, negar a ideia do docente como

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mero transmissor de conhecimento e superar os modelos de Licenciatura que

simplesmente sobrepõem o “como ensinar” ao “o que ensinar”” (DINIZ-

PEREIRA, 2000, p.75).

Mendes (2005) realizou uma pesquisa sobre reforma curricular,

destacando o que vários artigos e periódicos traziam a esse respeito. Em uma

de suas argumentações ele destaca que é necessário repensar o currículo de

Educação Física para a formação de professores/profissionais orientadas por

questões sociais.

Os/as autores(as) colocam que ao repensarmos nossos currículos obrigatoriamente temos de repensar a formação profissional. Na Educação Física, essa formação, pautada primordialmente em disciplinas biomédicas e esportivas, evidencia os valores hegemônicos em tais currículos, ou seja, currículos essencialmente construídos com conteúdos do esporte ou a ele ligados, com um cunho competitivo acentuado e também com uma grande preocupação em fazer com que a área se tornasse um celeiro de talentos para o esporte nacional. Daí a necessidade de repensá-los, procurando discutir como seria possível uma formação mais orientada por questões sociais (MENDES, 2005, p.44).

Segundo Freitas (1999, p.21) “As diretrizes currriculares que orientarão

a elaboraçao dos currículos e os estudos tomarão por base as diretrizes para a

Educação Básica”, proporcionando desta maneira um rumo a seguir e também

abrindo possibilidades para que cada curso desenvolva seu curriculo

pedagógico voltado também aos interesses de formação de cada área,

tornando-se um currículo mais dinâmico e direcional.

Gatti e Barreto (2009) destacam, segundo as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Formação de Professores para a Educação Básica (2002),

que a formação profissional dos professores deve ser orientada pelo princípio

da ação-reflexão-ação, como uma estratégia didática para o futuro professor

que ingressará nas diferentes modalidades da Educação Básica:

Postulam essas diretrizes que a formação de professores que atuarão nos diferentes níveis e modalidades da educação básica observará alguns princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico, que considerem, de um lado, a formação de competências necessárias à atuação profissional, como foco do curso, a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, e, de outro, a pesquisa, com foco no ensino e na aprendizagem, para compreensão do processo de construção do conhecimento (GATTI E BARRETO, 2009, p.46).

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11

É necessário que o professor de Educação Física em formação receba

de seus formadores recursos e experiências ligadas às diversas realidades que

o ensino brasileiro apresenta, pois da mesma maneira que estes novos

professores poderão encontrar escolas bem estruturadas para exercer sua

função, também virão a encontrar escolas em situações precárias, com déficit

de materiais para aplicar suas aulas, com espaços inadequados para as

atividades, com turmas de número elevado de alunos, com alunos com

dificuldades de aprendizagem e comportamento, entre tantas outras razões. E

essa formação sólida está ligada também a estruturação do currículo do curso

que fornecerá aos alunos em formação, os futuros professores, conhecimentos

de docência para uma atuação satisfatória e prazerosa.

Diniz-Pereira (2000) expressa a importância da graduação na

licenciatura a respeito da formação do professor que irá atuar na escola básica

destacando:

(...) é necessário que o licenciado, futuro professor da escola básica, seja compreendido como sujeito em formação que traz consigo uma representação de educação construída durante sua própria escolarização, que vivencia uma formação superior fundamentada e que continuará se formando na prática pedagógica com questões advindas da realidade escolar. Sendo assim, a Licenciatura deve ser vista como uma etapa intermediária, porém imprescindível, no complexo processo de formação do professor (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.75).

O professor formador também deve considerar que os alunos que

chegam a Universidade não vêm desprovidos de informações e quaisquer

conhecimentos, eles chegam com uma bagagem cultural, com uma estrutura

de formação educacional anterior, com uma formação familiar e espiritual entre

outras, o que torna cada aluno um ser único e que deve ser respeitado em seu

processo de formação.

Assim, busca-se dentro de uma formação inicial fornecer meios e

subsídios para que os futuros professores consigam iniciar um trabalho

docente pautado em um processo educativo de qualidade, tendo em vista

experiências de formação acadêmicas ligadas a realidade aonde irão se

efetivar, buscando neste meio a atuação voltada ao desenvolvimento das

potencialidades dos alunos para assim realizar um trabalho significativo junto a

eles.

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Caparroz (2007) destaca que o currículo do curso não é tão somente o

único subsídio, mas um meio usado pelos professores para ensinar em um

amplo processo formativo.

(...) a própria prática leva-nos a reconhecer que o conhecimento engendrado em aula, pelos professores universitários, não é fruto exclusivamente daquilo prescrito pelo currículo, mas o resultado da tensão entre as crenças, valores, incorporações teóricas e formação acadêmica dos professores dos diferentes setores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem (CAPARROZ, 2007, p.7).

Neste contexto, entende-se que o processo de ensino-aprendizagem

está relacionado a toda uma metodologia didática, mas também as

experiências dos professores formadores que se utilizam de sua própria

vivência para ensinar e exemplificar, auxiliando o desenvolvimento teórico e

prático de suas aulas.

Assim, a pesquisadora, enquanto ex-aluna de um curso de Educação

Física formada em 2006 por um currículo anterior às atuais reformulações, o

qual não fazia a distinção entre licenciatura e bacharelado formando para a

Licenciatura Plena, suscitou várias indagações durante o tempo de graduação

e após a respeito da formação de professores na Licenciatura em Educação

Física. Dentre as quais é possível citar:

• Qual é a formação para professores realizada no curso de Educação Física

após a reformulação curricular ocorrida a partir do Parecer CNE/CP

nº 09/01 e da Resolução CNE/CES nº 01/2002?

• Quais são as prioridades indicadas na proposta curricular do curso de

Licenciatura em Educação Física destinada à formação de professores da

Educação Básica, segundo os professores formadores?

• O que estas mudanças significaram para a formação profissional e docente

na Educação Física?

• Quais foram as mudanças mais significativas na reformulação curricular do

curso e o impacto exercido sobre os alunos em sua prática pedagógica nos

estágios na concepção dos atuais professores atuantes na Universidade?

• O currículo do curso de Educação Física proporciona uma formação que

distingue a Licenciatura e o Bacharelado, direcionando a uma formação

específica?

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• Qual é a formação em conhecimentos de docência privilegiada no curso de

Licenciatura?

Estas foram algumas questões que fundamentaram a pesquisa, no

tocante à reformulação ocorrida no curso.

Como elemento norteador esta investigação focalizou a concepção dos

professores formadores no curso de Educação Física após a sua reformulação

curricular a partir do Parecer CNE/CP nº 09/01 e da Resolução CNE/CES

nº 01/2002. Este curso acatou as novas Diretrizes para a Licenciatura em

Educação Física e com ela possíveis alterações na proposta pedagógica

destinada à formação de professores para Escola Básica, considerando as

seguintes questões:

• Quais são as concepções de formação dos professores formadores

sobre a formação do licenciado em Educação Física?

• O curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade

pesquisada possibilita ao futuro professor uma formação de

conhecimentos para atuar nas diferentes situações e modalidades de

ensino da Educação Básica?

• Quais são as prioridades indicadas na proposta curricular do curso de

Licenciatura em Educação Física destinadas à formação de professores

da Educação Básica, segundo os professores formadores?

Para responder a estas questões a pesquisa tem como objetivos:

• Verificar as concepções de formação dos professores formadores sobre

a formação dos licenciados de Educação Física;

• Analisar quais as contribuições destacadas na formação dos novos

professores na área da Licenciatura em Educação Física para atuar na

Educação Básica após a reformulação do curso, considerando os

depoimentos dos professores formadores;

• Investigar o curso de Educação Física, analisando o currículo do curso

de Licenciatura e as alterações ocorridas nele para formação docente a

partir do Parecer CNE/CP nº 09/01 e da Resolução CNE/CES

nº 01/2002;

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• Analisar a relação Teoria e Prática na formação de professores da

Educação Básica e como ocorre a formação para a Educação Infantil,

Ensino Fundamental e Ensino Médio, segundo as falas dos docentes

formadores.

A metodologia utilizada para pesquisa foi de abordagem qualitativa do

tipo estudo de caso. Para o levantamento dos dados foram realizadas

entrevistas semiestruturadas com os professores e coordenadores do curso,

guiada por um roteiro de questões, mas que possibilitou aos entrevistados

respostas abertas conforme sua interpretação. A descrição da trajetória de

pesquisa compõe o capítulo 2. As falas das entrevistas foram textualizadas.

Este aspecto encontra-se descrito no capítulo 2 e 3.

O terceiro capítulo trata da análise dos dados focalizando a formação

de professores realizada no curso de Licenciatura em Educação Física

trazendo vários elementos de sua composição destinados a formação de

professores e profissionais da área a fim de compreender, sob a visão dos

professores, como ficou o curso após a reformulação curricular acontecida no

mesmo, e quais foram as principais mudanças no currículo de formação de

professores na Licenciatura destinada à formação do professor que irá atuar na

Educação Básica.

O capítulo quatro apresenta os impasses para o curso frente as

mudanças conduzidas, indicando que os cursos de Licenciatura ganharam

identidade própria nos cursos de formação, mas ainda apresentam uma

procura menor do que os cursos de Bacharelado. Foi destacado pela

coordenação que uma das dificuldades que o curso apresenta é em relação ao

tempo de graduação, pois o curso hoje é oferecido em quatro anos, enquanto

outras Universidades o curso é disposto em três anos e meio. Outra questão

abordada foi a adaptação do curso as tendências da sociedade e a dificuldade

de mudar a concepção dos professores atuantes quando necessário. Também

no capítulo 4 está descritas as inferências a partir da análise dos dados, assim

como a concepção da pesquisadora.

No capítulo cinco são apresentadas as considerações finais e os

trabalhos futuros.

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2 TRAJETÓRIA DA INVESTIGAÇÃO

O atual capítulo destina-se a relatar a trajetória da pesquisa realizada,

destacando os principais procedimentos utilizados bem como os sujeitos

envolvidos e o campo de pesquisa. Também esclarece o tipo da pesquisa e os

critérios pré-estabelecidos para a aplicação das entrevistas e seleção dos

professores a serem entrevistados.

O campo de investigação é um curso de Educação Física em uma

Instituição de Ensino Superior (IES4) localizada na cidade de Curitiba (Paraná),

que realizou a reestruturação distinguindo o curso em Bacharelado e

Licenciatura. Esta Pesquisa tem como foco principal a investigação do curso de

Licenciatura em Educação Física.

O principal critério de seleção do campo de investigação foi o

reconhecimento de que a universidade em questão é tradicional e de grande

porte fundada em 1959 e que oferta o curso de Educação Física desde 1985,

ou seja, o curso pesquisado apresenta 26 anos de atividade. Também por ter

vivenciado o processo de reformulação, culminando com a ruptura do mesmo,

passando a ser ofertado então em duas modalidades diferenciadas:

Licenciatura e Bacharelado, nos períodos da manhã e noite.

Foi analisado para pesquisa o currículo do curso de Licenciatura em

Educação Física, as mudanças ocorridas e suas implicações para a formação

docente após a Reformulação Curricular a partir do Parecer CNE/CP nº 09/01 e

da Resolução CNE/CES nº 01/2002; e a concepção que os professores

universitários atuantes hoje no curso de Educação Física tem sobre a formação

dos futuros professores de Educação Física que irão se inserir nas Instituições

de Ensino as quais irão atuar.

Assim, dadas as mudanças efetivadas neste curso, a opção por

estudá-lo remete a uma abordagem do tipo estudo de caso. Segundo Ludke e

André (2007, p.12), “o estudo de caso foca os aspectos mais relevantes a

serem estudados na pesquisa, buscando um maior direcionamento e

aprofundamento no assunto”. A abordagem da pesquisa é qualitativa,

considerando a compreensão, a descrição e o significado do objeto estudado. 4 IES – Instituição de Ensino Superior.

Page 23: MARILENA KERSCHER PACHECO

16

Severino (2007, p.121) complementa a respeito do estudo de caso,

destacando: “O caso escolhido para pesquisa deve ser significativo e bem

representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para

situações análogas, autorizando inferências”. Para tanto é necessário

determinar uma série de procedimentos anteriores a realização da pesquisa,

como a focalização do objeto de estudo visando seu potencial de pesquisa,

seus referenciais e sua relevância para o campo acadêmico que está sendo

pesquisado, tornando desta forma o trabalho de pesquisa pessoal, mas

também rigoroso e sistemático para que possa ser aceito e confirmado como

científico.

A pesquisa cientifica compreende a necessidade de manter

procedimentos que facilitem a obtenção de respostas que possam ser

sistematizadas em um conjunto de dados e analisadas com rigor e

cientificidade em busca da compreensão do que esta sendo pesquisado. Assim

esta pesquisa se caracterizou como qualitativa. Segundo Mazzotti e

Gewandsznajder (1998, p.163) “As pesquisas qualitativas são

caracteristicamente multimetodológicas, isto é, usam uma grande variedade de

procedimentos e instrumentos de coleta de dados”, com a finalidade de

obtenção das respostas”. Estes diversos procedimentos ajudam a facilitar e

qualificar a coleta de dados, facilitando ao pesquisador uma leitura apurada e

com visão crítica científica do objeto que está sendo pesquisado, a fim de

tornar a pesquisa relevante e válida na área que está sendo realizada.

Autores como Mazzotti e Gewandsznajder (1998) e Severino (2007),

ressaltam que se deve buscar uma cientificidade concreta dos fatos embasada

em outras produções científicas e na veridicidade dos fatos observados, tendo

uma percepção do contexto como um todo, buscando superações, quando

necessárias, para um maior aprofundamento e esclarecimentos do assunto que

esta sendo pesquisado em busca de um resultado que se apresentará em sua

veridicidade, sem interpretações pessoais do pesquisador.

Considerando estes pressupostos é que foi realizada esta pesquisa e

para isso foi necessário analisar o campo de investigação no levantamento de

dados apontando os fatos da reformulação do curso de Educação Física.

Foram também considerados os documentos que expressam as

mudanças curriculares realizadas, juntamente com a vivência da autora no

Page 24: MARILENA KERSCHER PACHECO

17

curso de graduação na época das modificações ocorridas. Além disso, foi

realizada uma análise fundamentada em estudos de pesquisas voltadas a área

consultando os referenciais sobre os assuntos. Almejou-se manter uma visão

voltada para a realidade atual do curso pesquisado, buscando a compreensão

do curso investigado, sobre a visão e a vivência dos professores formadores

participantes da pesquisa, os quais acrescentaram mais vida aos fatos.

Todo este trabalho de organização da pesquisa e interação do

conhecimento faz parte de uma técnica de pesquisa conhecida como

documentação, que segundo Severino (2007, p.124) é “toda forma de registro e

sistematização de dados, informações, colocando-os em condições de análise

por parte do pesquisador”. Desta maneira, o pesquisador realizará o

desenvolvimento do seu trabalho, mantendo um aspecto científico para sua

análise dos dados coletados.

Na elaboração do roteiro de entrevista foram utilizadas perguntas

relevantes ao objeto de pesquisa permitindo ao entrevistado uma resposta livre

sobre o tema. Isto oportunizou informações significativas e detalhamentos do

assunto em questão. “Uma grande vantagem da entrevista sobre outras

técnicas é que ela permite a captação imediata e recorrente da informação

desejada (LUDKE E ANDRÉ, 2007, p.14)”.

A escolha do método de entrevista se deu devido a necessidade de

compreender as concepções dos professores formadores sob sua real

perspectiva, considerando que segundo Severino (2007, p.124) a entrevista é

“uma interação entre pesquisador e pesquisado”, considerando que “O

pesquisador visa apreender os que os sujeitos pensam, sabem, fazem e

argumentam (SEVERINO, 2007, p.124)”. Desta forma foi possível uma

aproximação e uma interação entre o objeto de pesquisa, os professores

entrevistados e a pesquisadora.

Mazzotti e Gewandsznajder (1998, p.168) completam “a entrevista

permite tratar de temas complexos que dificilmente poderiam ser investigados

adequadamente através de questionários, explorando-os em profundidade”.

Estes foram alguns argumentos que levaram a pesquisadora a optar pelo

método de trabalho em pesquisa qualitativa.

As entrevistas para a coleta dos dados aconteceram com os

professores selecionados conforme critérios pré-estabelecidos que serão

Page 25: MARILENA KERSCHER PACHECO

18

comentados no item 2.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

e com a coordenação atuante no curso de Educação Física no ano de 2009 e

2010.

As entrevistas foram realizadas diretamente pela pesquisadora, após

contato e o consentimento livre e esclarecido dos entrevistados. As mesmas

foram pessoais e particulares, com cada professor e coordenador expondo

suas opiniões, conhecimentos e vivência da realidade do curso. A

pesquisadora procurou manter padrões de equivalência em todas as

abordagens para estabelecer um critério maior de verificabilidade e lealdade às

respostas obtidas.

Foram elaborados dois roteiros para as entrevistas. Um dirigido aos

professores formadores do curso de Educação Física e o outro aos professores

que também são os coordenadores do curso. Os roteiros continham algumas

perguntas iguais e mais algumas diferenciadas que se destinavam a cada

grupo. Por via deste fato, na análise dos dados apresentadas no próximo

capítulo, aparecerão algumas questões diferenciadas para os grupos, então

por vezes surgirá apenas dois professores respondendo, que são os

professores coordenadores do curso, outras vezes aparecerão as falas apenas

dos professores formadores respondendo as questões e por fim, em algumas

questões aparecerão as falas de todos os entrevistados, ou seja, professores e

coordenadores.

A transcrição das entrevistas foi realizada primeiramente considerando

as falas originais dos professores entrevistados.

Após uma longa análise das respostas de um rico conteúdo para as

questões levantadas na entrevista, originou-se um questionamento de como

tratar todas essas informações coletadas junto aos professores. A ideia inicial

era fazer recortes das respostas a fim de selecionar o que havia de mais

importante nas falas dos professores. No entanto, uma questão crucial

apresentou-se, o que considerar mais importante? E se o que parecer mais

importante para pesquisadora não for da mesma forma para o professor

entrevistado?

Uma consulta intensa na literatura sobre como trabalhar com

conteúdos de respostas obtidas em entrevistas foi realizada, e uma das formas

consideradas mais adequadas para se trabalhar com a interpretação dos dados

Page 26: MARILENA KERSCHER PACHECO

19

neste trabalho, foi o procedimento da textualização. Textualizar respostas

segundo o conceito de Guérios (2002, p. 33) é “a arte de composição textual

pelo pesquisador sobre o outro, na voz do outro”. Realizando, portanto, a

reorganização do discurso apresentado inicialmente nas entrevistas a fim de

complementá-los para que o texto se apresente mais claramente a quem

estiver lendo e mantenha com maior fidelidade possível as falas do

entrevistado.

Desta forma, será possível resguardar as respostas como um todo

preservando a visão e a experiência de vida dos professores em toda a sua

intereza. Isto contribui para expressar a concepção dos professores formadores

a respeito do curso e de todos os relatos de práticas realizadas no processo de

formação do curso examinado.

A intenção de preservar as entrevistas em todo o seu conteúdo é

apresentar aos pesquisadores a vivência dentro de um curso de Educação

Física para formação de professores pelo relato fiel dos professores

formadores.

Assim, na realização desta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes

passos: a) Estudo das Resoluções e Portarias referentes ao objeto de

pesquisa; b) Leitura e análise da proposta de reformulação do curso

investigado; c) Contato com a coordenação do curso; d) Contato com os

professores do curso; e) Realização das entrevistas com a coordenação e os

professores; f) Transcrição e Interpretação das respostas obtidas, realizando a

textualização das mesmas; g) Categorização dos dados mediante leitura

flutuante das respostas; h) Análise considerando os referenciais do campo de

estudo em que se situa esta investigação.

Buscando uma maior compreensão do objeto de pesquisa, realizou-se

um estudo para compreensão da grade de disciplinas voltadas para a formação

de professores no curso de Licenciatura em Educação Física, da Instituição

pesquisada.

Com isso, procurou-se alcançar uma percepção do contexto onde

acontece a formação dos futuros professores na licenciatura e quais as

concepções buscadas para uma formação docente.

Page 27: MARILENA KERSCHER PACHECO

20

2.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

A Pesquisa teve como sujeitos professores atuantes no curso de

Educação Física no ano 2010. O curso contava na época com um total de 43

docentes atuantes. Após contato com a coordenação do curso e a autorização

para realizar a Pesquisa, iniciou-se o contato com os professores para agendar

as entrevistas e a coleta dos dados sequenciais.

Junto à coordenação do curso foi realizada uma seleção prévia dos

professores a serem entrevistados, seguindo alguns critérios. Para pesquisa

foram convidados 15 professores, considerando os seguintes critérios: a) os

mesmos deveriam ser formados em Licenciatura em Educação Física; b) ter

como formação continuada no mínimo o mestrado; c) buscou-se os professores

com maior tempo de atuação docente no curso, pelo menos com dois anos de

atividade acadêmica; d) ter participado da Reformulação Curricular no curso; e)

e estar atuando em disciplinas da nova proposta curricular para formação de

professores.

Dos 15 professores convidados a participar da pesquisa, 09

professores aceitaram o convite e as participações foram de grande valor, pois

todos os respondentes se empenharam em sua participação, fazendo com que

cada entrevista durasse em média 40 minutos, trazendo em suas respostas um

rico conteúdo de contribuições para o melhor entendimento do objeto de

Pesquisa e suas implicações.

Para melhor exemplificação, os dados sobre os sujeitos da Pesquisa

estão representados na Figura 1.

Page 28: MARILENA KERSCHER PACHECO

21

Figura 1 - Sujeitos da Pesquisa.

Fonte: A autora, 2011.

As informações do Quadro 1 – Identidade dos respondentes são parte

integrante das entrevistas realizadas com os professores e coordenadores do

curso de Educação Física e serviram para auxiliar na caracterização dos

entrevistados objetivando uma melhor compreensão do quadro de docentes

entrevistados.

Quadro 1 - Identidade dos Respondentes.

IDENTIDADE DOS RESPONDENTES

IDENT. SEXO FORMAÇÃO INICIAL /

GRADUAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA

EXP. NO

CURSO DE EF

EXP. NA ED.

BÁSICA

ATUANTE NA LIC,

BACH OU AMBOS

A M Licenc. em EF Doutorado 25 anos 04 anos Ambos

B M Licenc. em EF Mestrado 02 anos Não Ambos

C F Licenc. em EF Mestrado 24 anos 02 anos Ambos

D M Licenc. em EF Mestrado 15 anos 01 ano Ambos

E M Licenc. em EF Mestrado 05 anos Não Bacharelado

F F Licenc. em EF Mestrado (Doutoranda)

25 anos 07 anos Ambos

G M Licenc. em EF Doutorado 15 anos 07 anos Bacharelado

H M Licenc. em EF e Adm. de

Empresas

Mestrado 06 anos 01 ano Ambos

I M Licenc. em EF Mestrado 22 anos 03 anos Ambos

Fonte: A autora, 2011.

Page 29: MARILENA KERSCHER PACHECO

22

Constatou-se pelas informações de caracterização dos entrevistados

que 100% dos professores entrevistados têm sua formação inicial na

Licenciatura Plena em Educação Física. Um professor também possui uma

segunda graduação em Administração de Empresas.

Dentro de uma formação continuada 02 professores tem doutorado e

07 professores são mestres, sendo que uma professora está atualmente em

processo de doutoramento.

O tempo de atuação como docente no curso variou de 02 anos a 25

anos, constatando-se que existem professores atuantes no curso recém-

ingressos, mas a grande maioria já possui uma trajetória bem fundamentada de

trabalho e história dentro do curso.

Dos 09 professores entrevistados, 02 não possuem experiência na

Educação Básica, sendo que os demais professores já atuaram em escolas por

algum período, adquirindo alguma experiência de vivência escolar, conhecendo

as particularidades de ser professor atuante em instituições de Ensino Infantil

ou Ensino Médio.

Quanto à atuação nas áreas de formação na Educação Física, ou seja,

Licenciatura e Bacharelado, com exceção de 02 professores que atuam apenas

no Bacharelado, mas já atuaram na Licenciatura anteriormente, os demais

atuam nas duas áreas de formação de professores dentro do curso,

ministrando a mesma disciplina para ambas as áreas, mas com enfoque

direcional para cada formação, sendo assim, as disciplinas por vezes,

apresentam o mesmo conteúdo para as duas áreas, mas em certos momentos,

conforme o desenvolvimento dos assuntos é realizado um direcionamento mais

específico para a formação que o professor está trabalhando.

Assim verificou-se que dos 09 professores participantes da Pesquisa,

quase todos possuem uma vasta experiência de prática profissional e são

ativos no curso há vários anos, atuando nas duas áreas de formação

profissional que o curso de Educação Física oferece atualmente.

Page 30: MARILENA KERSCHER PACHECO

23

3 REFORMULAÇÃO NAS LICENCIATURAS: IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DÕS PROFESSORES

Este capítulo apresenta conceitos sobre a reformulação nas

licenciaturas e em específico na Educação Física, dando ênfase a

reestruturação curricular do curso em estudo e as mudanças pedagógicas

ocorridas no atual currículo de formação de professores junto às necessidades

de reformulação do curso, segundo as Diretrizes Curriculares que estão

destinadas ao cumprimento do contido na Resolução CNE/CP nº 01/2002 para

o curso de licenciatura visando a formação geral e para formação específica, o

curso deverá tomar como parâmetros a matriz curricular, dos conteúdos

programáticos de cada área de conhecimento, definindo os conteúdos

específicos da área em acordo como o que está indicado na Resolução

CNE/CES nº 07/2004.

Este capítulo também expressa a análise dos dados junto as

entrevistas realizadas com a coordenação do curso de Educação Física e os

professores participantes da Pesquisa.

Para realização das análises das respostas, as mesmas foram

agrupadas em categorias, as quais foram definidas pela afinidade dos assuntos

pesquisados, considerando recorrências nos conteúdos das falas dos

entrevistados.

Na primeira categoria foram classificadas as perguntas relevantes a

formação de professores considerando a organização do curso de Educação

Física, destacando as particularidades de cada área de formação e os

propósitos das disciplinas.

Esta descrito sobre o processo de reformulação, destacando o que o

motivou e quais as principais mudanças ocorridas no currículo para formação

de professores para Educação Básica após a reformulação.

Foi comentado também o trabalho de formação considerando se o

curso desenvolve uma formação voltada ao conceito de inclusão e para a

diversidade nas disciplinas e se existe uma abordagem interdisciplinar entre as

disciplinas no curso de Educação Física.

Page 31: MARILENA KERSCHER PACHECO

24

Inclui-se nesta categoria como está sendo encaminhada a formação de

professores para atuação na Educação Básica dentro de uma fundamentação

científica, ética, prática e técnica dentro do curso e como é desenvolvida a

formação pedagógica. Outro aspecto pesquisado foi a formação docente

aplicada a pesquisa realizada pelo curso.

Também se buscou entender dentro das disciplinas como ocorre a

formação para o trabalho nas escolas com as diferentes etapas do Ensino, a

Educação Infantil, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e se há a

preocupação com outras práticas educativas.

A segunda categoria de análises foi agrupada observando a

importância da relação Teoria e Prática para formação de professores

desenvolvida no curso, apontando a maneira como são trabalhadas as

disciplinas, os conteúdos, as dinâmicas, as atividades e a avaliação.

Nesta categoria também se incluiu a prática de Estágios no curso e nas

disciplinas especificamente, destacando como é contemplada a prática de

Estágio para os alunos e como se estabelece a relação entre o curso e os

campos de Estágio que irão receber os alunos em formação. Outro tópico foi a

maneira que o professor encaminha sua prática docente no curso e sua prática

pedagógica dentro da disciplina que ministra.

A terceira e última categoria de análise ficou destinada a apresentar na

concepção dos professores formadores qual é a visão que eles têm atualmente

sobre a formação de professores para a Educação Básica no curso que atuam.

Outro tópico destacado foi a respeito do perfil dos alunos que

ingressam no curso de Educação Física, tanto para a Licenciatura quanto para

o Bacharelado e o que os professores formadores esperam que estes alunos

venham a se tornar em sua vida profissional. De que maneira eles desejam que

esses futuros professores venham a se inserir em seus campos de atuação e o

que eles esperam que esses alunos venham a se tornar em sua vida

profissional, tendo como base a formação inicial recebida no curso pesquisado.

Page 32: MARILENA KERSCHER PACHECO

25

3.1 DOS CURSOS UNITÁRIOS AOS CURSOS ESPECÍFICOS: REFORMULAÇÃO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Inicialmente os cursos de Educação Física em licenciatura plena

apresentavam como característica o enfoque ao esporte e ao movimento

humano, fazendo com que as propostas de formação de professores nesses

cursos fossem voltadas muito mais para a formação do graduado em Educação

Física, o qual seria habilitado para trabalhar em diversas áreas de atuação

(qualidade de vida, treinamento, condicionamento físico, lazer, administração

de centros esportivos, entre outros e também como professor na Educação

Básica), considerando que os currículos de formação para licenciatura plena, a

priori, estariam proporcionando uma formação qualificada para atuação do

profissional de Educação Física em qualquer área que ele se inserisse para

desenvolver suas aptidões.

Percebe-se que há muito tempo as diretrizes curriculares têm sido alvo

de contínua atenção perante os educadores, pesquisadores e os órgãos

governamentais, objetivando o desenvolvimento de documentos direcionadores

dos cursos voltados às necessidades de formação docente.

A proposta da reformulação curricular no curso de Educação Física,

criando duas áreas de formação de professores diferenciadas, observa o que

foi descrito legalmente nos pareceres, resoluções e diretrizes que servirão

como um eixo norteador para o desenvolvimento do novo currículo de

formação de professores e profissionais da Educação Física, se adequando as

novas exigências documentais, geradas a partir da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, Lei 9394/96.

No que se refere à licenciatura, pode-se citar como marco de

mudanças significativas a Resolução nº 01/99 do Conselho Nacional de

Educação/Conselho Pleno (CNE/CP), que definiu a preparação para os

professores da Educação Básica, a ser realizada como um processo

autonômo, em curso de licenciatura plena. Com o parecer CNE/CP

nº 09/2001 e da Resolução CNE/CES nº 01/2002, o curso de licenciatura

adquiriu estrutura com identidade própria em relação ao bacharelado, com

objetivos e conteúdos específicos, gerando assim um perfil profissional próprio

Page 33: MARILENA KERSCHER PACHECO

26

para atuação no sistema de ensino com direcionamentos para a área da

docência.

Em maio de 2001, foi aprovado o Parecer CNE/CP nº 09/2001,

determinando que “A licenciatura ganhou, como determina a nova legislação,

terminalidade e integralidade própria em relação ao bacharelado, constituindo-

se um projeto específico”. Auxiliando os cursos de licenciatura a reverem o

processo de formação de professores para Educação Básica mais direcionada

aos trabalhos pedagógicos diretamente na escola.

Os cursos específicos de licenciatura dentro das Universidades,

considerando estas resoluções, abrem novas possibilidades para desenvolver

um projeto de trabalho pedagógico destinado à formação de professores para

atuação nas instituições de ensino, baseado em pilares de conhecimentos

científicos, técnicos e práticos, buscando formar professores qualificados a

exercer sua função docente com sabedoria e responsabilidade perante seus

alunos.

Com isso, segundo o Parecer CNE/CP nº 09/2001, os cursos de

licenciaturas nas instituições de ensino superior destinados para a formação de

professores para atuação na Educação Básica, entre eles o curso de Educação

Física, precisaram ser reformulados para ganharem uma estrutura própria de

formação de professores, exigindo dos cursos uma “definição de currículos

próprios da Licenciatura que não se confundam com o Bacharelado ou com a

antiga formação de professores que ficou caracterizada como modelo 3+15

(Parecer CNE/CP nº 09/2001, p.6)”.

No ano seguinte, em abril de 2002, foi aprovado o Parecer CNE/CES

nº 0138/2002 com novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de

Graduação em Educação Física, onde foi definido que “o Graduado de

Educação Física com Licenciatura em Educação Física deverá estar

capacitado a atuar na Educação Básica e na Educação Profissional (p.3)”,

levando o graduado em Educação Física, ainda segundo o Parecer CNE/CES

nº 0138/2002, receber uma “formação generalista, humanista, crítica e

reflexiva” (p.3), para assim estar apto a atuar nas áreas profissionais da

Educação Física, tendo uma qualificação científica, intelectual e ética.

5 Modelo 3+1 - três anos para o estudo das disciplinas específicas e um ano para a formação didática.

Page 34: MARILENA KERSCHER PACHECO

27

Assim sendo, a construção dos currículos destinados a formação de

professores em Educação Física tende a passar por reformulações a fim de

atender as novas competências de formação, onde deverá ser considerado

para o embasamento do currículo de formação do licenciado em Educação

Física a Resolução CNE/CP nº 01/2002 que descreve as orientações

necessárias para a construção deste currículo.

Esta Resolução estabelece que o curso de licenciatura em Educação

Física “constituem-se de um conjunto de princípios, fundamentos e

procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de

cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as etapas e modalidades

da Educação Básica (Resolução CNE/CP nº 01/2002, p.1)”.

Segundo a Resolução citada os cursos de licenciatura deverão assumir

uma nova postura de formação, tornando esta formação mais específica para a

área da docência como é descrito no Artigo 1º:

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, constituem-se de um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as estapas e modalidades da educação básica (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 01 de 2002, p.1).

Diferenciações aconteceram para formação do futuro professor para

Educação Básica e estas mudanças também atingiram a prática pedagógica do

professor e o estágio supervisionado, alterando a carga horária para estas

atividades e suas aplicações no campo escolar.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para Graduação em Educação

Física (2004) destacam no Artigo 10º:

A formação do graduado em Educação Física deve assegurar a indissociabilidade teoria-prática por meio da prática como componente curricular, estágio profissional curricular supervisionado e atividades complementares (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).

Visando pautar esta formação com experiências no cotidiano escolar e

suas modalidades de ensino, a Resolução CNE/CP nº 02 de 19 de Fevereiro

de 2002, traz mudanças significativas para carga horária dos cursos de

Page 35: MARILENA KERSCHER PACHECO

28

licenciatura, incluindo o de Educação Física, aumentando as horas de prática,

estágios supervisionados e aulas curriculares como ressaltado no Artigo 1º,

onde se define:

Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico cultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico culturais (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 02 de 2002).

O Art.10, das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de

graduação em Educação Física (Resolução nº 07, de 31 de março de 2004),

demarcam alguns itens em relação à prática e aos estágios na graduação para

licenciatura destacando:

Parágrafo 1º - A prática como componente curricular deverá ser contemplada no projeto pedagógico, sendo vivenciada em diferentes contextos de aplicação acadêmico-profissional, desde o inicio do curso. Paragrafo 2º - O estágio profissional curricular representa um momento da formação que o graduando deverá vivenciar e consolidar as competências exigidas para o exercício acadêmico-profissional em diferentes campos de intervenção, sob a supervisão de profissional habilitado e qualificado, a partir da segunda metade do curso. (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).

Estes são alguns tópicos destacados das diretrizes para uma formação

acadêmica do professor de Educação Física e que as Universidades estão

incumbidas de reestruturar no curso, revisando o currículo de formação.

Após a ordenação do parecer CNE/CP nº 09/2001 e da Resolução

CNE/CES nº 01/2002, o curso de Licenciatura Plena em Educação Física do

curso pesquisado foi reestruturado para atender a duas formações distintas, a

Licenciatura e o Bacharealdo. Com isso o curso de Licenciatura, buscou

oferecer aos alunos uma formação mais direcionada a prática pedagógica e a

atuação docente, que se distinguiu da formação do bacharel, criando uma área

específica para a formação de professores que atuarão na Educação Básica.

Page 36: MARILENA KERSCHER PACHECO

29

Em 18 de março de 2004, o CNE (Conselho Nacional da Educação)

aprova as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Graduação na

Educação Física, distinguindo que o curso de Educação Física passa a ter o

compromentimento de formar dois profissionais distintos com alterações em

seus curriculos de formação, direcionando estes profissionais para as áreas

específicas de formação, ou seja, licenciatura ou bacharelado, criando uma

distinção entre a formação de professores para atuação na Educação Básica e

profissionais técnicos para atuação nas áreas não formais da profissão, ou

seja, fora das escolas.

A partir desta Resolução, os cursos de Educação Física tiveram que

reestruturar seu currículo para formação de professores a fim de atender as

novas definições definidas por lei e se adaptar a elas, construindo um currículo

de formação para cada área; Licenciatura e Bacharelado.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para graduação em

Educação Física (2004) “As competências de natureza político-social, ético-

moral, técnico-profissional e científica deverão constituir a concepção nuclear

do projeto pedagógico de formação do graduado em Educação Física (Art.6º,

p.01)”.

As Diretrizes direcionam os campos de atuação profissional,

especificando as atribuições de cada área de formação, como consta no Art.4º,

parágrafo 1º, das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para Graduação na

Educação Física a formação acadêmica para o graduado6 em Educação Física

deverá qualificá-lo para:

Analisar criticamente a realidade social para nela intervir acadêmica e profissionalmente por meio das diferentes manifestações e expressões do movimento humano, visando a formação, a ampliação e o enriquecimento cultural das pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).

E segundo o Art.4º, parágrafo 2º, a formação acadêmica para o

licenciado7 em Educação Física deverá qualificá-lo para exercer:

6 Grifo da pesquisadora 7 Grifo da pesquisadora

Page 37: MARILENA KERSCHER PACHECO

30

A docência deste componente curricular na educação básica, tendo como referência a legislação própria do Conselho Nacional de Educação, bem como as orientações específicas para esta formação tratadas nesta Resolução (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).

Com base nas definições supracitadas fica exposto para o curso de

Educação Física a distinção do bacharel e do licenciado.

As Diretrizes Curriculares para o curso de Educação Física destacam

que a formação qualificada em uma instituição de ensino superior ao longo da

graduação se efetivará junto ao currículo do curso, que deverá, segundo o

Art.5º, das Diretrizes Curriculares para graduação em Educação Física, pautar

seu projeto pedagógico para a graduação em Educação Física nos seguintes

princípios:

a) autonomia institucional; b) articulação entre ensino, pesquisa e extensão; c) graduação como formação inicial; d) formação continuada; e) ética pessoal e profissional; f) ação crítica, investigativa e reconstrutiva do conhecimento; g) construção e gestão coletiva do projeto pedagógico; h) abordagem interdisciplinar do conhecimento; i) indissociabilidade teoria-prática; j) articulação entre conhecimentos de formação ampliada e específica (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).

A revisão dos currículos para formação de professores deverá ser

elaborado para cada área de formação oferecida, direcionando os conteúdos

de estudo. Neste currículo de formação de professores deverá conter

conteúdos de Formação Ampliada e também de Formação Específica.

Segundo o Artigo 7º, das Diretrizes Curriculares para Graduação em

Educação Física (2004), Parágrafo 1º, A Formação Ampliada deve abranger as

seguintes dimensões do conhecimento: a) Relação ser humano-sociedade; b)

Biológica do corpo humano; c) Produção do conhecimento científico e

tecnológico.

Ainda segundo o mesmo artigo, Parágrafo 2º, A Formação Específica,

que abrange os conhecimentos identificadores da Educação Física, deve

contemplar as seguintes dimensões: a) Culturais do movimento humano; b)

Técnico-instrumental; c) Didático-pedagógico.

A Resolução CNE/CP nº 07/2004 descreve também no Parágrafo 3º

uma complementação para a articulação dos currículos do curso:

Page 38: MARILENA KERSCHER PACHECO

31

A critério da Instituição de Ensino Superior, o projeto pedagógico do curso de graduação em Educação Física poderá propor um ou mais núcleos temáticos de aprofundamento, utilizando até 20% da carga horária total, articulando as unidades de conhecimento e de experiências que o caracterizarão (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 07 de 2004).

Relacionado à formação de professores no Ensino Superior para a

atuação no Ensino Básico, podemos observar que As Diretrizes Curriculares

para graduação em Educação Física (2004) trazem novas concepções sobre a

formação do professor e estas nos remetem a enfrentar novos desafios, que

muitas vezes estão enraizadas em nossa formação e que se tornam obstáculos

a serem superados na formação do professor para o exercício da docência.

Essas Diretrizes trazem para o curso um direcionamento a ser

cumprido junto aos docentes e alunos do curso, possibilitando aos mesmos,

vivências integradas ao sistema de ensino, considerando ainda que segundo

as Diretrizes as atividades práticas deverão contar com a supervisão de

profissional qualificado e habilitado que será responsável pela orientação das

práticas dos alunos e intervenção nesta, se necessário for.

Das reformulações curriculares na licenciatura ocorridas ao longo dos

tempos, uma que se fez destaque no curso de Educação Física foi a separação

do curso de Educação Física em duas áreas de formação, uma destinada a

Licenciatura e outra ao Bacharelado, onde ficou definido os objetivos da

formação de professores para atuação na Educação Básica, fazendo com que

o curso tivesse mudanças significativas em seu currículo a ser reformulado

para atender as necessidades de um novo Projeto Pedagógico que atendesse

as necessidades e as modificações desta formação docente.

Percebe-se, que após esta divisão dos cursos, tendo suas atribuições

profissionais definidas, o currículo de formação de professores do curso de

Educação Física pesquisado, expressa a compreensão das novas exigências

curriculares e profissionais em busca de atender as necessidades para cada

formação segundo o que consta na Resolução CNE/CP nº 01 de 18 de

fevereiro de 2002 e Resolução CNE/CP nº 02 de 19 de fevereiro de 2002 para

a formação de atuação na Educação Básica e sob a perspectiva do Conselho

Nacional de Educação na Resolução nº 07 de 31 de março de 2004 para a

formação específica do graduado de Educação Física.

Page 39: MARILENA KERSCHER PACHECO

32

Atualmente, em 2011, o curso apresenta modificações em seu

currículo, considerando a Resolução nº 47/2007 – CONSUN8, a qual aprova a

alteração na duração dos cursos de Educação Física - Bacharelados e

Licenciatura – de 3,5 anos para 04 anos e a uma nova reorganização

curricular, para ingressantes a partir do 2º semestre de 2007 e 1º semestre de

2008, respectivamente, fazendo que o curso passasse novamente por

alterações a fim de se adequar a esta resolução a qual altera o curso de um

regime semestral para anual, como era antes da reformulação a qual formava

os professores de Educação Física em Licenciatura Plena, tendo o curso a

duração de 04 anos.

Esta separação das áreas de formação no curso de Educação Física é

bastante polêmica e apresenta controvérsias a respeito. Destaco a seguir,

colocações diferenciadas de alguns autores a respeito da separação das áreas

de formação de professores para Educação Física, tentando expor que esta

nova reestruturação do curso não foi bem aceita por todas as entidades ligadas

a Educação Física e nem tão pouco por todos os estudiosos, que argumentam

sobre a ruptura do curso, salientando que a mesma enfraqueceu a Educação

Física a partir do momento que foi direcionada as áreas de atuação profissional

para formações distintas, deixando de serem considerados, a priori, os

conhecimentos da área.

Essas necessidades são definidas socialmente, vinculadas também a

grupos de especialistas que julgaram necessário a separação do curso e sua

reestruturação visando principalmente os campos de atuação profissional,

fazendo uma distinção dos profissionais de Educação Física que irão atuar nas

escolas (os licenciados) e os profissionais que irão atuar nos demais áreas da

Educação Física (os bacharéis). Desta forma, ficou definido que os cursos de

Educação Física deveriam separar as áreas de formação profissional

direcionando os cursos para se reestruturarem a fim de buscar uma formação

que possa proporcionar aos futuros professores estratégias e conhecimentos

na sua área de atuação específica.

Steinhilber (2006) distingue o campo de atuação para o graduando de

Educação Física esclarecendo:

8 CONSUN – Conselho Universitário.

Page 40: MARILENA KERSCHER PACHECO

33

(...) aqueles alunos que desejarem atuar como Professores de Educação Física Curricular na Educação Básica devem procurar frequentar o curso de LICENCIATURA, e aqueles outros que desejarem atuar em demais nichos do mercado de trabalho específico da Educação Física, devem procurar cursos superiores de GRADUAÇÃO (bacharelado conforme já esclarecido), estando claro que um formado em curso de licenciatura não poderá atuar na área do formado em curso de “bacharelado” e vice versa (STEINHILBER, 2006, p.20).

Neste contexto, se apresenta um ponto de questionamento referente a

essa nova estruturação curricular: A quem realmente beneficiou esta

separação do curso de Educação Física? Os alunos do curso são os quem

mais usufruirão positivamente desta reformulação?

Segundo Taffarel (2006a) a questão da separação “torna-se tão

somente pragmática: onde deve ser inserido o profissional? A autora também

destaca:

As ofensivas realizadas na última década sobre os cursos de formação de professores, notadamente os de Educação Física, a saber, privatizações, reformulações curriculares mercadológicas reforçam a lógica pós-moderna ao determinarem a fragmentação do conhecimento sob a égide do mercado (TAFFAREL, 2006a, p.05).

A formação de professores está sendo regida atualmente pelos

interesses e necessidades que vão surgindo na sociedade e para atender

essas demandas, os cursos responsáveis pela formação de professores, entre

eles, certamente se encontra o curso de Educação Física, são incumbidos de

realizar reestruturações em seu currículo a fim de propiciar uma formação

visando as evoluções educacionais e profissionais que acontecem diante de

novas exigências sociais e das novas regras que são ditadas.

A ruptura do curso de Educação Física investigado, separando o curso

em duas áreas distintas de formação e atuação profissional vem demonstrando

essa característica e traz ao curso novas possibilidades de integração as áreas

de atuação profissional, considerando que o mesmo destina-se a uma

formação mais centrada aos interesses das áreas de formação.

Diniz-Pereira (1999) já expressava uma visão apurada das

necessidades de reformulações curriculares existentes para a formação de

professores na educação, expondo que “essas alterações representam uma

superação do atual modelo de preparação dos profissionais da educação e um

Page 41: MARILENA KERSCHER PACHECO

34

salto qualitativo para a formação de professores (DINIZ-PEREIRA, 1999,

p.123)”.

A formação de professores está diretamente ligada ao currículo do

curso e suas atribuições fazendo com que o futuro professor seja preparado

para enfrentar com êxito as situações do cotidiano e suas implicações e para

isso se faz necessário manter um olhar atento e futurista em relação as

mudanças que surgem na sociedade e em toda estrutura educacional,

buscando manter um padrão satisfatório de formação de professores pautados

em qualidade de formação profissional, científica e humana, não só formando o

professor, mas sim transformando-o em um professor.

Taffarel (2001) explica:

O processo de reformulação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação foi intensificado no Brasil frente as pressões e demandas externas à Universidade (reestruturação positiva, ajustes estruturais, reforma do Estado) e tencionamentos internos dos cursos de graduação (insatisfação com o currículo extenso, fragmentado e ultrapassado) (TAFFAREL, 2001, p.1).

Nesse contexto é possível salientar a importância do professor

formador, destacando que o mesmo trabalha em processo inacabado. Santiago

(2007) expõe que “o professor é aquele que tem por profissão a função

específica e especializada, realiza parcela significativa da atividade educativa

que a sociedade considera relevante para sua conservação e transformação”,

buscando desenvolver uma identidade própria a fim de se inserir em uma

sociedade tão diversificada em culturas, conhecimentos e interpretações.

Ao professor em formação se faz necessário ter o olhar voltado sempre

à frente em busca de novos conhecimentos e aprimoramentos, pois o professor

atual necessita estar sempre complementando sua educação, revendo seus

conceitos e atualizando seus conhecimentos, a fim de se adequar a um

processo evolutivo na educação buscando em sua prática pedagógica a

relação professor-aluno-sociedade mantendo uma intercomunicação

harmoniosa entre todos os envolvidos neste processo de aprendizagem.

Garanhani (2008) nos remete a pensar no professor como um facilitador

na busca pelo conhecimento e expõe:

Page 42: MARILENA KERSCHER PACHECO

35

Ao entender o aprender como um processo de hominização, não se pode compreendê-lo como o resultado de um processo cumulativo de informação, mas sim de um processo de seleção, organização e interpretação da informação a que cada um está exposto. O professor é mais do que transmissor de informações, ou seja, o professor é um construtor de sentido (GARANHANI, 2008, p.200).

Este processo evolutivo que ocorre em todas as áreas e especialmente

na educação, nos faz buscar através de uma formação acadêmica bem

sedimentada os meios para alcançar os objetivos profissionais. Sendo assim,

podemos considerar que o currículo de formação de professores deve estar

sempre estruturado a fim de atender as necessidades educativas de formação

dos futuros professores tornando-os profissionais críticos e comprometidos

com a sua função docente, sua prática pedagógica e seu desenvolvimento

profissional.

Taffarel, et al. (2006b) comenta sobre as reformas educacionais, mais

especificamente a da reformulação dos currículos de formação de professores

nas instituições de ensino superior sob a perspectiva das Diretrizes para a

formação de professores na licenciatura que irão atuar na Educação Básica

sob a Resolução CNE/CP nº 01 de 18 de fevereiro de 2002 e Resolução

CNE/CP nº 02 de 19 de fevereiro de 2002 e na formação específica do

graduado de Educação Física sob a perspectiva do Conselho Nacional de

Educação na Resolução nº 07 de 31 de março de 2004, dizendo que as

reformas têm gerado muita polêmica no meio acadêmico. Expõe a autora:

Localizamos aí um paradoxo. Na medida em que existe a necessidade de mais professores, desqualifica-se a formação, separando-a artificialmente em “licenciatura”, voltada ao sistema formal de ensino e “bacharelado” aos demais setores (TAFFAREL, ET AL., 2006b, p.94).

Em um texto bem atual encontramos a narrativa de Frizzo (2010)

comentando que a divisão do curso de Educação Física para formação de

professores em áreas distintas, licenciatura e bacharelado foi “Um dos erros

históricos da Educação Física (p.163)” e que muitos protestos se fizeram para

que esta ruptura não acontecesse e que até hoje existe uma oposição a esta

ruptura do curso de Educação Física, coordenada principalmente por um grupo

conhecido como:

Page 43: MARILENA KERSCHER PACHECO

36

Movimento Estudantil da Educação Física (MEEF9), representado pela Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física (EXNEEF10) e por outros setores do campo da esquerda da Educação Física que afirmam a inconsistência teórica e prática de tal proposição (FRIZZO, 2010, p.164).

Este grupo luta junto aos órgãos responsáveis para que aconteça uma

nova reestruturação a fim de integrar novamente a formação de professores

nos cursos de Educação Física, não se utilizando totalmente do currículo

antigo, mas sim promovendo modificações para que o currículo possa

prestigiar de forma permanente tanto a formação pedagógica didática como

também a formação técnica da área.

A Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física - EXNEEF

(2003) em uma carta enviada ao CNE coloca-se contrária a construção das

Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Física, esclarecendo que a

proposta curricular para formação de professores de Educação Física também

deverá prestigiar questões de ordem político-sociais e complementa a respeito

da formação salientando:

Uma proposta curricular deve se questionar sobre os objetivos do curso de formação, buscando uma maior articulação entre teoria e prática, garantindo a interdisciplinaridade assim como reconhecer, identificar e respeitar as diferenças de seus alunos, sistematizar os saberes pedagógicos de modo a facilitar o processo ensino e aprendizagem, incentivar a pesquisa em prol da construção social, direcionando sempre para ações crítico transformadoras. (EXECUTIVA NACIONAL DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA – EXNEEF, 2003, p. 02).

Ainda Frizzo (2010) em sua argumentação complementa sobre a

divisão do curso de Educação Física em licenciatura e bacharelado destacando

que a mesma “Representa a fragmentação do conhecimento em duas áreas

distintas e pauta a formação dos professores em modismos e necessidades do

mercado (p.167)”. Assim constata-se segundo os estudos de Frizzo (2010) que

alguns cursos de Educação Física defendem a unificação da área novamente,

voltando a ser um único curso de formação de professores de caráter

ampliado.

Rodrigues (2011) nos traz sua contribuição de pesquisa sobre este

assunto salientando que “A Licenciatura Ampliada pressupõe a compreensão 9 MEEF – Movimento Estudantil da Educação Física 10 EXNEEF - Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física

Page 44: MARILENA KERSCHER PACHECO

37

da formação do professor de Educação Física apto a atuar em diferentes

espaços tendo como objeto de identidade a docência (p.8)”, ou seja, alguns

cursos de Educação Física estão reanalisando suas propostas de formação de

professores com a finalidade de reverter a ruptura das áreas e centrar uma

única formação de professores direcionada as suas condições de trabalho e

não especificamente a uma área de formação.

Também Taffarel e Lacks (2005), defendem a formação profissional do

curso de Educação Física numa perspectiva ampliada, considerando que a

formação deve se realizar no ensino superior, definindo no currículo de

formação de professores de Educação Física uma formação pautada nos

princípios científicos, pedagógicos, técnicos, ético, moral e político,

independentemente da área de atuação profissional que o aluno irá exercer

após a sua formação, considerando que desta maneira, o aluno estaria tendo

um aprendizado completo, estando apto a exercer a profissão que ele mais

tiver afinidade em sua plenitude de conhecimentos da área educacional e

profissional.

Percebe-se que a reestruturação curricular do curso de Educação

Física trouxe para área muitos questionamentos a respeito da separação de

formação de professores e profissionais e suas áreas de atuação e que

instituições estão tentando reverter este processo de separação para unificar

novamente o curso de Educação Física em uma só formação de professores

de Educação Física, mas com uma estruturação curricular complementada

para as duas áreas de formação.

Cabe, ainda, a reflexão das razões que motivaram tais reformulações

curriculares que vem acontecendo dentro das Instituições, a fim de auxiliar a

formação do professor que irá atuar no segmento do Ensino Educacional, pois

não basta ter um currículo muito bem organizado se o mesmo não contemplar

uma formação acadêmica que consiga dar um suporte básico para a atuação

do futuro professor, e esta base necessita estar muito bem fundamentada nas

Instituições de Ensino Superior, que são as responsáveis pela formação inicial

do professor.

Page 45: MARILENA KERSCHER PACHECO

38

3.1.1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO DE EDUCAÇÃ O FÍSICA

No atual contexto da Educação Brasileira foram instituídas novas

Diretrizes Curriculares para os cursos de formação de professores, as mesmas

tem por objetivo servir de referência para as instituições de ensino superior na

organização de seus currículos de formação profissional, assim como

estabelece orientações específicas para a licenciatura plena em Educação

Física, nos termos definidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para

formação de professores da Educação Básica, dando-lhes um rumo a seguir.

(RESOLUÇÃO CNE/CES nº. 07 de 31 de março de 2004).

Antes da reformulação curricular, o curso pesquisado tinha a duração

de 04 anos e o futuro professor após sua formação, estaria apto a atuar tanto

no campo da Licenciatura como também no Bacharelado, tornando-se um

profissional com duas credenciais.

O curso oferecia uma formação para um professor generalista, que é

compreendido como o profissional formado sob uma perspectiva humanística

com Licenciatura Plena em Educação Física, onde os professores estariam

habilitados a exercerem sua profissão na área escolar (formal), como

professores regulamentados para a profissão e também aptos a atuarem em

outras áreas (não formais) com a formação de bacharel (recreação, lazer,

academias, personal trainer, treinamento desportivo, entre outras), que seria

caracterizado como professor especialista que escolheu um ramo particular da

Educação Física para se especializar, dentro de um conceito de formação

técnica.

O curso de Educação Física foi revisado e de uma graduação com

duração de quatro anos, passou a serem oferecidos dois cursos com

direcionamento apropriado para cada formação em três anos e meio cada um.

Nesta modificação o curso de Licenciatura teve suas horas aulas

ampliadas, especialmente em relação aos Estágios Supervisionados que

acontecem a partir do 5º período do curso iniciando pela Educação Infantil, no

6º período o Estágio é direcionado ao Ensino Fundamental e no 7º período do

curso o Estágio acontece no Ensino Médio, proporcionado aos alunos um

conhecimento das modalidades de ensino. Após a separação das áreas de

formação no curso de Educação Física, os conteúdos das disciplinas foram

Page 46: MARILENA KERSCHER PACHECO

39

revistos e direcionados para a área de formação docente, auxiliando o aluno no

entendimento dos conteúdos da Educação Física voltados à prática

pedagógica nas escolas. (Dados de Pesquisa).

Analisando dados coletados para Pesquisa observou-se que existe no

curso de Educação Física uma procura menos acentuada pela Licenciatura

para atuação docente no Ensino Básico. Pode-se constatar tal observação no

Quadro 2, que demonstra nas inscrições para realização do

vestibular, a procura pelo curso de Educação Física pesquisado e suas áreas

de formação.

No quadro 2 estão representados os números de inscritos para cursar

o vestibular direcionado ao curso de Educação Física. Na primeira coluna está

representado o ano da realização dos vestibulares, considerando que

acontecem duas provas anualmente. Na segunda coluna, encontra-se o

número de inscritos para o curso de Licenciatura e na terceira coluna para o

curso de Bacharelado, sendo que até o ano de 2002 as representações estão

apenas na coluna da Licenciatura, porque o curso teve a separação das áreas

a partir do ano de 2003. E na quarta e última coluna, está representado o

número total de inscritos para realização do vestibular para os cursos de

Educação Física.

Quadro 2 - Inscritos para o vestibular no curso de Educação Física de 2000 a 2010.

Fonte: A autora, 2011.

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Page 47: MARILENA KERSCHER PACHECO

40

No quadro representativo verificou-se que no ano de 2003 quando

houve a separação das áreas no curso de Educação Física se manteve uma

média no número total de alunos inscritos. Do ano de 2004 a 2007 as

inscrições sofreram um aumento significativo, indicando que o curso de

Educação Física estava em alta naquela época, provavelmente por algum fator

externo da sociedade ligada ao esporte e a qualidade de vida. A partir de 2008

começa um declínio na procura pelo curso, voltando a estabelecer em 2010

uma paridade com os anos iniciais representados no quadro.

Percebe-se pelos dados do

Quadro 2, que a partir da reformulação do curso de Educação

Física em 2003, houve uma procura maior pelo curso de Bacharelado em

Educação Física, exaltando a opção de se formar um profissional da área para

atuar nos diversos eixos que a formação permita e não um professor de

Educação Física pelo curso de Licenciatura que virá a atuar nas instituições de

ensino, sendo um professor específico para as escolas, mesmo que sua

formação em Licenciatura também lhe habilite a trabalhar em outros ramos da

Educação Física, demonstrando o interesse maior pela formação no

Bacharelado que fornecerá aos futuros formandos um campo mais vasto de

atuação profissional.

Diniz-Pereira (2000) descreve os principais dilemas presentes nas

licenciaturas brasileiras que colaboram para a diminuição da procura pelo curso

de licenciatura e comenta que se constata nos cursos de formação de

professores um tratamento diferenciado para as áreas de formação, exaltando

a desvalorização da licenciatura perante o curso de bacharelado:

A separação entre as disciplinas de conteúdo e disciplinas pedagógicas, a dicotomia bacharelado & licenciatura (decorrente da desvalorização do ensino na universidade, inclusive pelos docentes na área de Educação) e a desarticulação entre formação acadêmica e a realidade prática de escolas e professores (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.57).

Entende-se que a desvalorização da licenciatura, pelo menos na visão

inicial do futuro acadêmico, pode ter relação com a visão sobre algumas

realidades, entre elas: a desvalorização do professor de escola, que precisa se

aplicar e dedicar muito à função docente e nem sempre é reconhecido por seu

Page 48: MARILENA KERSCHER PACHECO

41

esforço, sendo mais fácil talvez seguir a profissão de Educação Física nas

outras diversas áreas oferecidas para atuação profissional quando o graduando

se forma em Bacharelado.

A opção maior pelo curso de Bacharelado se faz presente hoje no

curso pesquisado, mas segundo os relatos de alguns professores esta

realidade está mudando um pouco, está acontecendo uma busca maior ao

passar dos anos pela Licenciatura, mas o curso de Bacharelado ainda é o mais

procurado. Ainda, segundo os professores, acontece muito dos alunos se

formarem em um curso e depois procurarem fazer o outro para obter as duas

formações profissionais e poderem atuar em qualquer área no ramo da

Educação Física.

Figueiredo (2004, p.91) nos traz o conceito “De que a experiência

social do aluno, construída durante sua trajetória, dentro e fora da escola,

interfere, influencia e/ou, de alguma forma, modela o perfil de formação inicial”.

Assim entende-se que a procura maior pela área de Bacharelado para

formação profissional vem já em um primeiro momento de uma observação

realizada ao longo de sua vivência escolar em suas relações sociais.

A fim de compreender a estruturação do curso de Educação Física

pesquisado buscaram-se informações junto à coordenação do curso a respeito

da procura pelo curso e se anualmente ingressava mais alunos para cursar a

Licenciatura ou o Bacharelado e também se a formação acontecia nas mesmas

proporções. Os professores/coordenadores teceram o seguinte comentário:

Segundo a professora F “O Bacharelado hoje tem um pouquinho mais que 3200

horas e a Licenciatura tem 3000 horas. E nós temos efetivamente uma procura muito maior

pelo Bacharelado do que pela Licenciatura, isso é evidente devido a restrição da atuação. Só

que nós estamos vivendo há dois anos uma experiência muito interessante, os nossos alunos

que estão terminando o Bacharelado, estão voltando para fazer a graduação na Licenciatura,

então esse semestre nós tivemos quase 50 alunos, que já estão formados em bacharel e que

vieram fazer a Licenciatura, esses 50, aproximadamente 40 permanecem fazendo as

disciplinas para buscar esta segunda formação. Quanto tempo a mais para a segunda

formação? Na verdade nós conseguimos colocar em dois anos para que pudesse dar conta

do trabalho. São 970 horas que eles tem que fazer nesta segunda formação e por conta da

organização dos Estágios, nós não temos como mudar para um ano só, porque ele não pode

fazer as disciplinas de Fundamentos da Educação, Fundamentos do Ensino, Metodologia e ao

Page 49: MARILENA KERSCHER PACHECO

42

mesmo tempo estar fazendo Estágio porque ele vai ter uma visão muito restrita da atuação do

profissional, então ele precisava fazer no primeiro ano essas disciplinas para que no segundo

ano ele possa além das disciplinas que faltam, poder fazer de forma mais adequada o Estágio

que ele tem que cumprir no curso (Profª.F)”.

E na opinião do professor G a respeito da procura pelos cursos e

formação dos professores, obteve-se a seguinte resposta: “Tem mais egresso no

Bacharelado do que na Licenciatura, e se forma mais bacharel do que licenciado. Esse ano,

apesar de não ter concluído ainda o processo seletivo, começamos a perceber pelo número de

inscritos um pouco mais de pareamento, um pouco mais..., mas ainda assim a procura, por

exemplo hoje, o último dia de inscrição no vestibular, a procura maior ainda é para o

Bacharelado (Prof.G)”.

Segundo os professores/coordenadores do curso de Educação Física, a

procura maior é pela área do Bacharelado, sendo que após a formação este

credencial fornece aos alunos um maior leque de opções de trabalho nas áreas

de atuação não formal, ou seja, nos nichos profissionais fora das escolas.

No entanto, a oferta em separado do curso de licenciatura com o do

bacharelado pode estar relacionado a múltiplos interesses políticos, quer de

órgãos governamentais, grupos sociais, ou mesmo de indivíduos. A esse

respeito Diniz-Pereira (1999) analisa as relações de poder no interior das

instituições de ensino quanto ao desprestígio das licenciaturas e destaca que

“os problemas centrais das licenciaturas apenas serão resolvidos, na verdade,

com a implantação de mudanças drásticas na atual condição do profissional da

educação (p.123)”. O autor também complementa que para que aconteça uma

valorização maior do professor é necessário que se conheça mais

profundamente a realidade que este profissional atende e suas necessidades

profissionais e que esse passo aconteceria através de uma intensificação das

pesquisas em ensino na licenciatura.

Segundo colocações de Marques e Diniz-Pereira (2002) a docência é

uma profissão que vem sendo desvalorizada devido alguns pontos que são

esclarecidos pelos autores no seguinte parágrafo:

Page 50: MARILENA KERSCHER PACHECO

43

Sabe-se que o desestímulo dos jovens à escolha do magistério na qualidade de profissão futura e a desmotivação dos professores em exercício para buscar aprimoramento profissional é consequência, sobretudo, das más condições de trabalho, dos salários pouco atraentes, da jornada de trabalho excessiva e da inexistência de planos de carreira. (MARQUES E DINIZ-PEREIRA, 2002, p. 182).

Nos diferentes autores tem sido atribuída a opção por cursos que não

sejam relacionados a docência devido a desvalorização do profissional do

ensino e de todo o seu esforço para construir uma carreira bem sedimentada

para sua profissionalização.

Tendo sido o curso de Educação Física separado e ofertado em duas

áreas de formação, o aluno interessado a ingressar no curso tende a fazer

agora a opção no momento da inscrição do vestibular para a Licenciatura ou

para o Bacharelado, sem mesmo saber profundamente o que cada curso

oferece e qual será o seu destino de formação. Em conversas informais com os

professores do curso foi comentado que muitos alunos ingressam no curso de

Educação Física em uma área (Licenciatura ou Bacharelado) e após algum

tempo, descobrem que não tem a aptidão necessária para atuar na mesma, o

que acaba destinando ou a uma desistência de uma área para acesso a outra,

ou o que é mais comum, segundo os professores, o aluno se forma em uma

área primeiro e depois volta ao curso, buscando uma complementação de

currículo para habilitação de atuação também na outra área a fim de obter uma

segunda formação profissional.

Segundo as autoras Gatti e Barreto (2009) faltam aos cursos de

licenciatura um currículo de formação de professores mais centrados as

questões reais das escolas. Destacam as autoras:

Constata-se nas instituições de ensino superior que oferecem licenciatura a ausência de um perfil profissional claro de professor. Os currículos não se voltam para as questões ligadas ao campo da prática profissional, seus fundamentos metodológicos e formas de trabalhar em sala de aula. Continuam a privilegiar preponderantemente os conhecimentos da área disciplinar em detrimento dos conhecimentos pedagógicos propriamente ditos (GATTI E BARRETO, 2009, p.258).

Embasados na colocação acima, pode-se apontar que a licenciatura

vem passando por uma contínua diminuição de procura, devido a várias razões

como a indefinição do perfil do profissional a ser formado, um currículo

Page 51: MARILENA KERSCHER PACHECO

44

dissociado da Educação Básica centrado nos conhecimentos específicos, bem

como, desvalorização da profissão docente, o que desmotiva o futuro

acadêmico a opção pela licenciatura e a busca de outras opções diversificadas

na área da Educação Física, visando uma formação mais abrangente que

forneça maiores possibilidades de atuação profissional.

Também ocorreram mudanças e reformulações curriculares no projeto

do curso, ocasionando uma revisão no currículo do mesmo, que foi organizado

para atender cada curso de formação especificamente (Licenciatura e

Bacharelado). Esta divisão foi motivada para proporcionar um estudo mais

aprofundado de certos assuntos. Cabe esclarecer que devido a carga horária

de determinadas disciplinas o tempo disponível não permite aprofundar todos

os itens componentes do campo disciplinar.

Perante estas reformulações o curso teve que desenvolver um

currículo de formação para cada área oferecida direcionando os conteúdos

para uma formação mais específica.

Dos 09 professores entrevistados, 08 professores participaram das

reformulações curriculares do curso. Segundo colocação dos professores havia

necessidade de reformular o curso, fazendo a ruptura do mesmo para atender

as exigências do MEC11 para um melhor atendimento às demandas dos

campos de atuação, da sociedade em geral e do curso especificamente (Prof.

H, Prof. D, Prof. A, Profª. F).

Como comentado no capítulo anterior deste trabalho, as entrevistas

foram organizadas por meio de textualização, permanecendo as falas dos

professores na íntegra. As textualizações das entrevistas aconteceram de

forma a complementar as falas dos professores a fim de tornar o texto mais

compreensível em uma linguagem que qualquer pessoa, de qualquer área de

formação, possa compreender o que foi exposto na fala original, mas sempre

tendo o cuidado de transmitir a mesma ideia exposta inicialmente, sem

alterações ou interpretações das falas.

Então buscou-se evidenciar junto aos professores, a participação dos

mesmos no processo de reformulação do curso, como aconteceu esse

processo, o que motivou esta reformulação e também quais foram as principais

11 MEC - Ministério da Educação.

Page 52: MARILENA KERSCHER PACHECO

45

mudanças que ocorreram no curso de Educação Física após esta

reformulação.

Para o professor A: “Sim, houve a minha participação. Eu fui convidado pela

direção na época para fazer parte do grupo que ia fazer a Reformulação Curricular no Projeto

Pedagógico do curso. Eu aceitei e me envolvi e também tinha interesse devido a minha

formação e por estar tanto tempo engajado no curso e tinha chegado o momento de acordo

com as novas Diretrizes, propondo a mudança no curso de Educação Física com duas

vertentes: Licenciatura e Bacharelado. Então eu fiz parte desse processo todo de

implementação do Projeto Pedagógico, tanto da Licenciatura quanto do Bacharelado na

Educação Física da Universidade12 (Prof.A)”

O professor B participante da pesquisa não fez parte da Reformulação,

por estar atuante no curso de Educação Física há dois anos. Então ele

respondeu apenas “Não (Prof.B)”.

A professora C expõe sua opinião dizendo: “Sim, eu participei da

Reformulação. Acredito que a principal mudança foi a questão da divisão entre o Bacharelado

e a Licenciatura, apesar de que a muito tempo já vinhamos percebendo que precisam haver

modificações em função desta mudança e de outras também, da evolução até da própria

disciplina. E a forma como ocorreu foi através de reuniões. Foram feitas primeiramente

reuniões específicas com o grupo de estudo e foi dividido em disciplinas médicas ou biológicas,

depois disciplinas desportivas, onde estavam todos os esportes e também depois disciplinas de

organização. Primeiro foram feitas as reuniões no grupo que organizava o curso e depois foi

trazido a frente do grupo todo, foi discutido carga horária, quais eram as principais locações

das disciplinas, o que precisava vir antes do quê. Antigamente era organizado o currículo por

programa de aprendizagem, onde tinham três ou quatro disciplinas reunidas em uma só, então

toda essa divisão das disciplinas, foi revisada e reorganizada no currículo de formação

(Profª.C)”

O professor D destaca: “Sim, eu participei da reformulação. A questão da ruptura

entre Bacharelado e Licenciatura foi por lei, isso é lei, veio de cima para baixo e tivemos que

cumprir, aí em função disto discutimos a questão de carga horária das disciplinas, se ela ia

continuar, como que ela ia continuar e houve uma intervenção, houve até uma certa discussão

em termos de poder, cada professor e sua área querendo aumentar sua carga horária, até para

ter mais possibilidade de atuação e não perder o seu poder econômico, porque a partir que a

sua disciplina baixa a carga horária, você perde horas de aula e naturalmente teu salário

12 A palavra Universidade foi substituída pelo nome do local pesquisado.

Page 53: MARILENA KERSCHER PACHECO

46

diminui. Então a discussão de colegiado foi muito em torno disso, de mencionar o número de

hora aula de cada disciplina e algumas discussões no sentido que algumas disciplinas

deveriam se fundir, por exemplo, a questão de esporte foi muito discutido, o porque de

continuar tendo esportes em separado, Voleibol, Basquetebol, Handebol, Futebol e não ter

uma disciplina única que falasse sobre esportes coletivos por exemplo, isso foi colocado.

Houve discussão sobre o assunto e o currículo apesar de algumas mudanças ele continua

mais ou menos na mesma, é claro que essa diferença de Licenciatura e Bacharelado foi

radical, mas as disciplinas continuam mais ou menos com a mesma carga horária, com temas

muito próximos do que era alguns anos atrás (Prof.D).”

O professor E descreve: “Sim, eu participei da reformulação. Nós temos uma

coordenação aqui que é muito ativa, uma excelente coordenação a meu ver, uma das melhores

do curso. O coordenador atual é muito ligado nesta área e toda necessidade por conta do

MEC, por exemplo, ou por conta de necessidade que foi identificada em termos pessoais,

então ele trouxe isso para um Colegiado e nesse Colegiado, na verdade todo ano é feito a

reestruturação de algumas coisas, mas agora houve aquela mudança mais recente, onde

passou de seis meses para anual as cadeiras agora das disciplinas, também agora tudo em

termos da lei e esta reestruturação passa sempre por um Colegiado, onde os professores das

disciplinas discutem em aberto com os outros pares para que cheguemos a um consenso,

quais são as necessidades do curso, qual o perfil do egresso hoje, para que busquemos essas

novas mudanças, essas novas necessidades (Prof.E)”.

A professora F apresenta, na entrevista, como foi sua participação no

processo de reformulação do curso de Educação Física, como aconteceu e o

que motivou todo esse processo de reformulação e as principais mudanças

ocorridas no curso após a reformulação: “Eu participei de todas as reformulações que

houveram aqui na Universidade2, então eu sempre estive envolvida. As mudanças foram feitas

para atender a legislação, os pedidos das exigências legais e principalmente quando houve o

desmembramento, a separação do Bacharelado e Licenciatura, foi o nosso maior desafio,

porque na verdade nós não tínhamos referencias, porque todo mundo estava construindo

esses dois novos cursos, então foi uma experiência até bastante difícil por conta de você

entender qual era o perfil, o que se caracterizava cada uma dessas duas profissões que se

abriram (Profª.F).”

O professor G descreve: “Sim. Eu participei por duas oportunidades do processo

de reformulação do curso. Foram dois momentos distintos, o primeiro processo, eu vou tentar

lembrar, mas acho que foi no ano de 97/98, esse processo foi feito em discussão colegiada,

Page 54: MARILENA KERSCHER PACHECO

47

com diversas reuniões, encontros, inclusive fora da Universidade13 e o segundo processo que

eu participei que foi em 2005, também foi feito em reuniões colegiadas com discussões dentro

da Universidade11. Assim de modo geral, a primeira reformulação que eu participei foi

basicamente uma atualização das disciplinas, conteúdos e da grade para um novo cenário,

porque estávamos com as primeiras grades do curso de Licenciatura. A 2ª discussão, foi um

ajuste, essa que eu participei em 2005, porque já tínhamos em andamento os cursos de

Bacharelado e Licenciatura e foi feito uma adaptação para semestralização do curso e também

para redução de número de horas aulas no curso que estavam demasiadamente altas, enfim,

foi tanto para atualizar a grade, quanto para colocar a grade dentro das normas institucionais,

que estava um pouco diferente daquilo que a Universidade11 exigia. Em termos gerais, acho

que as mudanças maiores foram as disciplinas que tinham uma carga horária demasiadamente

alta, tiveram a carga horária reduzida. Nós tínhamos disciplinas que ainda estavam dentro

daquele projeto pedagógico institucional, que tínhamos os programas de aprendizagem, onde

dois ou três professores trabalhavam juntos em uma disciplina, nesse momento essas

disciplinas foram novamente desmembradas e não mais com aquela visão de programa de

aprendizagem integrada, mas como disciplinas isoladas novamente, cada professor com

determinado conteúdo. Então pontualmente, não consigo recordar agora sem os documentos,

mas eu posso lhe afirmar que foram feitas estas alterações principais (Prof.G)”.

O professor H comenta sobre esta questão relatando: “Pequena, mas sim,

houve a minha participação. No momento que estava sendo reestruturado, foi aberto a todo

Colegiado as sugestões, mas eu não acrescentei nada a proposta inicial do curso. Inicialmente

o que motivou a reformulação foi o direcionamento do MEC num primeiro momento para fazer

a diferenciação entre o Bacharelado e a Licenciatura, aí teve que haver uma adequação do

Projeto Pedagógico do curso em relação a essa necessidade. Posteriormente teve que haver

um outro ajuste, um exemplo, quando eu entrei na Universidade, Lutas14 eram 72h, aí num

segundo momento Lutas passou a ser só 36h e agora atualmente Lutas voltou a ser de 72h,

então nesse efeito elástico eu tive que acomodar o conteúdo de acordo com essas propostas

pedagógicas do curso. Um outro fator que me afetou bastante foi que inicialmente Lutas, que

sempre foi o “carro chefe” que eu trabalhei, era ministrado no sétimo período e depois passou

para o terceiro período, então a diferença é que os alunos estão muito mais “frescos”, então

além de mudar o conteúdo na questão da carga horária, a forma e disposição do conteúdo teve

que ser bastante modificada também em função da maturidade que eu recebo os alunos com

menos conteúdos estudados e eles estão com uns conceitos iniciais muito frágeis. Quando

você recebe o aluno lá no sétimo período, ele já teve bastante Fisiologia, principalmente o

pessoal do Bacharelado, está tendo treinamento desportivo, então o enfoque é bastante

diferente, talvez isso é o que eu tenha sentido mais de diferença nessas alterações (Prof.H)”.

13 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada. 14 Quando o professor se refere a Lutas, ele está se referindo a sua disciplina ministrada no curso.

Page 55: MARILENA KERSCHER PACHECO

48

O professor I expõe: “Em um período sim, alguns anos atrás eu participei. Na

época, quando começou a comentar do Bacharelado e da Licenciatura, foi criada uma

comissão para discutir isto, alguns professores convidados, outros se voluntariaram para

participar destas discussões. Na época a comissão formada discutiu por um ano e meio quase

dois anos a redefinição do currículo, a reformulação do currículo, dado que já se fazia

necessário. Apesar de que nosso currículo sempre foi dinâmico, ele sempre foi mudando ao

longo dos tempos, eu desconheço a época que o currículo não foi revisto e revisado. Na época

houve esta reestruturação até mesmo em resposta a movimentação do Conselho e a

estruturação para o Bacharelado (Prof.I)”.

Nos relatos dos professores formadores, constata-se que com exceção

de um professor que está no curso há menos tempo, os demais participaram

da reformulação curricular no curso de Educação Física e fizeram parte deste

processo junto à coordenação do curso, a maioria através do Colegiado. Assim

denota-se que o processo de mudança envolveu o corpo docente nas

discussões e decisões sobre os encaminhamentos realizados.

Taffarel, et al. (2006b) apresenta um parecer a respeito do conteúdo

das Diretrizes para formação de professores de Educação Física colocando

que “A reforma, pode-se dizer, está centralizada em dois aspectos: na natureza

do curso e na concepção de professor que deve ser formado (p.102)”. Assim

entende-se que as Diretrizes se remodelaram a fim de atender necessidades

educacionais dos cursos, induzindo os futuros professores a uma formação

mais centrada aos propósitos da educação, no caso da licenciatura.

Os professores indicam que a ruptura aconteceu no curso por

necessidades impostas, mas que também os próprios docentes viam e sentiam

essas necessidades no dia a dia em seu cotidiano acadêmico, apesar de nem

todos os professores se mostrarem favoráveis ao desmembramento do curso.

Também foi destacada a necessidade de evoluir com as disciplinas,

pois no outro curso, eram ministradas as mesmas disciplinas para Licenciatura

e para o Bacharelado. Os conteúdos das disciplinas eram limitados e tinha uma

abordagem generalista a formação dos dois profissionais, deixando por vezes,

alguns tópicos de conteúdos sem um maior aprofundamento.

As disciplinas passaram por transições a fim de se adequar às novas

propostas para formação de professores com reformulações em seu currículo e

Page 56: MARILENA KERSCHER PACHECO

49

nas práticas, pois além da alteração de carga horária, ocorreu a mudança de

período dentro do curso.

Os cursos de licenciatura vêm passando por mudanças no processo de

formação de professores e segundo Martins (2000) “existe uma necessidade

de articular os conteúdos escolares com a realidade e os interesses práticos

dos alunos (...) (MARTINS, 2000, p.78)”.

Martins (2000) ainda destaca que “em decorrência das novas relações

sociais, impõe-se a necessidade de um novo sistema de estudos e de

educação (p.81)”, com a finalidade de atender as necessidades educacionais

dos alunos objetivando fundamentar sua formação profissional, levando o

futuro professor a ampliação dos conhecimentos e saberes educacionais.

Segundo os estudos de Brito Neto (2009) “as reformas curriculares dos

cursos superiores são diretamente afetadas pelos novos perfis profissionais e

modelos de formação exigidos pela lógica da empregabilidade”, induzindo os

cursos de formação profissional a se adequarem as necessidades do mercado

e retrabalharem seus currículos de formação afim de adaptá-los de modo que

possa atender uma formação sustentável para o início da carreira profissional.

Esta característica fez com que os cursos se remodelassem se

adaptando as novas necessidades que a sociedade apresenta mediante as

exigências de um profissional mais qualificado em sua área de atuação,

podendo assim desenvolver um trabalho mais específico e centrado em busca

de uma maior produtividade e eficiência no desempenho de sua função, seja

ela ligada a área formal na docência ou não.

Com a realização das entrevistas procurou-se entender algumas

especificidades que a reformulação curricular trouxe para cada campo de

atuação. Do conjunto das falas dos professores destacam-se as contribuições

específicas para a formação do professor e para atuação profissional do

bacharel em Educação Física.

O prof. A indica: “A contribuição específica foi que agora você pode focar a

Licenciatura para formar o professor, então a própria Diretriz e o próprio Projeto Pedagógico

tem que analisar a Licenciatura para a formação do professor. Ele tem que ser uma pessoa

que adquira e domine as competências para a formação, para ele poder trabalhar com a

Educação Física escolar, ele tem que ter esse envolvimento com a escola, o plano é bem na

Page 57: MARILENA KERSCHER PACHECO

50

área da Educação, é focado nesse sentido. O Bacharel, pelo seu lado, é para formar o

treinador, aquela pessoa ou o profissional de Educação Física que vai trabalhar com o

treinamento, então as disciplinas e a própria formação tem que ter essa distinção bem clara.

Um lado vai formar o professor que vai atuar na Educação Física escolar e o Bacharel para

formar o profissional que vai trabalhar com a área de treinamento (Prof.A)”.

Na opinião do prof.B, a separação das áreas oportunizou trabalhar de

forma mais específica os conteúdos, separando e aprofundando melhor os

conhecimentos destinados a cada uma das formações. Em suas palavras: “Nós

conseguimos identificar o perfil do aluno no curso. Existem alguns alunos com perfil de escola

e outros de treinamento, academia, bem Bacharelado mesmo. Com a separação ficou melhor

de você trabalhar de forma específica, às vezes, a parte de escola tem uma visão diferente, se

você tem mais tempo para trabalhar a parte pedagógica, você tentar passar esta visão da

escola separando do Bacharelado. Já o Bacharelado é uma coisa mais dinâmica, é atuar ali,

coisas práticas que eu vou poder usar na academia, que eu vou poder usar lá no meu

treinamento, então você consegue, às vezes, separar estas duas (Prof.B)”.

A Professora C comenta sobre a reformulação dizendo: “Muita gente

condena a separação dos cursos. Eu acredito que foi uma coisa benéfica para a Educação

Física, porque há muito tempo tentávamos fazer aquele dois em um, ensinar dois tipos de

profissionais que eu acredito que são completamente diferentes. O profissional que atua na

escola ele tem uma conotação completamente diferente do profissional que vai atuar no

bacharel, seja numa academia, num clube, onde ele vai trabalhar com pessoas que vão desde

crianças, bebês, às vezes, até pessoas idosas, com problemas, cardiopatias ou coisas assim,

então eu acho que é muita matéria para ser ensinada num curso só, então acredito que por um

lado beneficiou bastante a formação específica de cada professor. É claro que existem

problemas como, por exemplo, o aluno já tem que escolher lá no vestibular o curso que ele

quer fazer, e ás vezes o professor percebe que ele entra na Licenciatura, mas daí não era bem

aquilo que ele queria, daí ele tem que reformular todo o seu curso ou depois quem sabe fazer

um Bacharelado ou o vice-versa também acontece. Então eu acredito que por um lado foi

muito bom, mas por outro tem esta questão que o aluno não sabe bem o que ele quer, ele às

vezes entra num curso e daí diz não, não era bem isso que eu queria, então isso é uma

desvantagem. Mas eu acho que as coisas ficaram mais fáceis, você pode direcionar melhor,

por exemplo, a disciplina de Natação e Esportes Aquáticos ela tem uma base, uma estrutura

comum, mas chega num momento em que você tem que dar mais ênfase numa coisa para

Licenciatura e trabalhar com outro tipo de ênfase para o Bacharelado, então a separação dos

cursos ajuda o professor a desenvolver melhor o trabalho das disciplinas também, centralizar

melhor os conteúdos (Profª.C)”.

Page 58: MARILENA KERSCHER PACHECO

51

O professor D diz ser a favor da separação e comenta: “É uma questão

muito polêmica, mas eu sou a favor da separação, porque tínhamos na Licenciatura Plena uma

formação muito generalista onde o aluno tinha um pouquinho de cada coisa e não se

aprofundava em quase nada e depois ele teria que ir atrás. No momento da ruptura, é claro,

que gerou alguns problemas em relação a campo de trabalho. Hoje o licenciado só pode atuar

em escolas e o bacharel só pode atuar em campos não formais, academias, clubes, etc. Agora

a qualidade de formação hoje do licenciado é muito maior, ele sai muito mais preparado para

trabalhar na escola do que com a antiga formação plena. Ele tem mais tempo para discutir as

questões pedagógicas, o Estágio, ele é seriado, então ele vai ficar 6 meses na Educação Pré

Escolar, 6 meses nas séries iniciais, que seriam 1ª a 4ª série, agora é 1ª a 5ª, dos 6 aos 10

anos, 6 meses na 5ª a 8ª série, que agora é 6ª a 9ª, que pega dos 11 aos 14 e 6 meses no

Ensino Médio, que é dos 15 aos 17. Então ele fica dois anos tendo experiências diretas com

realidades e com os indivíduos no seu processo de crescimento e desenvolvimento, então o

aluno que se envolve realmente, saí bem preparado para ser um bom professor de escola, ele

sai com uma condição muito boa. E já o bacharel, ele pode aprofundar mais na parte teórica e

científica da Educação Física, a Fisiologia do Esforço, a preparação de atletas, a Biomecânica,

os gestos mecânicos, a Fisiologia, a Nutrição Esportiva, a Psicologia Esportiva. Então ele

consegue aprofundar mais, ele tem mais carga horária relacionada a este conhecimento, mais

a performance humana, ao rendimento, a saúde. Eu particularmente sou a favor da ruptura, eu

acho que o profissional sai com uma condição, uma competência muito maior que saía na

antiga formação (Prof.D)”.

Para o prof. E existem duas dimensões a serem consideradas,

segundo ele “Acho que tem sempre o lado positivo e o negativo na questão da reformulação.

O positivo é que o professor que era formado antes tinha uma visão mais holística de tudo,

mas não saia daqui um especialista, então entendo que é um benefício esta divisão para que

saiam cada vez mais especialistas. Eu acho que a tendência de qualquer mercado é a

especialização do profissional em sua área de atuação. A Educação Física ainda está fazendo

isso com a Licenciatura e o Bacharelado, mas poderia fazer muito mais em muitas outras áreas

que não acontece, por exemplo, eu pego hoje um médico, eu tenho clínico geral e tenho depois

quantas especializações a escolher, e isto está acontecendo cada vez mais cedo. Em São

Paulo já tem Universidade que até na área de Recreação já especializa, no Bacharelado é

Recreação e Lazer. Então eu acho que é uma tendência cada vez mais eu ter dois ou três anos

mais de generalista, isso tem tendência a acontecer mais para frente. Isso acontecendo na

graduação eu acho que a chance de sucesso na área que você procura é maior (Prof.E)”.

Os professores formadores colocam seu parecer sobre as

contribuições específicas para a formação do professor e para atuação

profissional do bacharel em Educação Física após a reformulação do curso

Page 59: MARILENA KERSCHER PACHECO

52

segundo as Diretrizes Curriculares que estão destinadas ao cumprimento do

contido na Resolução CNE/CP nº 01/2002 para a Licenciatura e a Resolução

CNE/CES nº 07/2004 para formação específica do bacharel.

A Professora F expõe: “A maior vantagem de ter separado é que vamos ter:

primeiro, o aluno que ser professor de escola efetivamente, embora eles entrem no primeiro

ano sem muita clareza do que é o Bacharelado e do que é a Licenciatura, tanto que temos um

trânsito de alunos que entram na Licenciatura e vão para o Bacharelado, exatamente por esta

falta de entendimento, mas aqueles que permanecem no curso, efetivamente querem ser

professores de escola, esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é que nós podemos

aprofundar os conteúdos, efetivamente podemos estudar os aspectos teóricos da atuação do

professor na escola, porque quando o curso era junto o tempo disponível para formação não

dava conta, então nós tínhamos que ser mais superficiais, indicar o caminho para aluno, mas

ser mais superficiais por conta que nós tínhamos que dar conta de outros aspectos da

formação e agora com a separação não, pode aprofundar. São 3000 mil horas de curso

direcionadas efetivamente para atuação do professor dentro da escola (Profª.F)”.

Para o prof. G este assunto permanecerá por um longo tempo em

pauta de discussões, em suas palavras “Esse é um debate que ainda está em

andamento, apesar de ter acontecido a anos, a Universidade15 pesquisada foi um foi primeiros

cursos no Estado do Paraná, para não dizer o primeiro, se eu não me engano, a fazer essa

cisão, obedecendo as Diretrizes Curriculares. Apesar disso, ainda a uma discussão em

andamento, então é difícil dizer quais são os verdadeiros ganhos. Hoje, eu percebo que há

uma boa e clara definição do papel de cada área de atuação, isso permitiu que cada professor,

de cada núcleo de curso, da Licenciatura e do Bacharelado pudessem desenvolver conteúdos,

ferramentas próprias para cada curso, então acho que este foi um avanço. Mas enfim, se

mensurar o verdadeiro avanço, porque agora depois de 5, 6 quase 7 anos dessa nova

formação, é que começamos a ver os primeiros resultados efetivos no campo de trabalho,

então eu te diria que eu vejo aqui dentro um avanço, mas eu não consigo mensurar bem este

avanço em termos de atuação profissional, porque leva alguns anos, demora algum tempo

para ver quanto que isso está refletindo na formação do aluno lá no mercado. Então eu tenho

pensamentos conflitantes quanto a isso, eu percebo aqui por dentro um avanço, mas lá fora

ainda estou inseguro de te dizer o quanto isso proporcionou um avanço (Prof.G)”.

O professor H discorre: “Pelo que eu percebo na divisão da Licenciatura e do

Bacharelado, o bacharel foi muito aquela coisa do tecnicismo, daquela reformulação onde o

Brasil cresceu em potência esportiva também, como era uma potência que almejava outras

15 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada.

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53

áreas de conhecimento e aí o que aconteceu é que os professores de Educação Física

começaram a dar atenção aqueles que tinham mais talento, aí até que teve um momento que

dividiu, vamos formar o técnico para rendimento, mas e o resto dos alunos que não tem tanta

habilidade também, vão ser deixados de lado? Então vamos formar melhor o licenciado para

que ele de atenção para aqueles que não vão para o rendimento. Então num primeiro momento

eu achei isso interessante até, só que para Educação Física Escolar, onde é base de tudo, a

gente vê os países onde tem sucesso no alto rendimento, a base de tudo começa lá na escola,

isso não se aplica concretamente porque na escola temos os mais distintos tipos de alunos.

Só que é uma pena que hoje a Educação Física escolar, nas escolas que tem, é uma vez por

semana só, uma aula de Educação Física, então eu sinto que, eu por exemplo, vim do Colégio

Militar, estudei o Ensino Médio e o Fundamental no Colégio Militar e lá nós fazíamos Educação

Física 3 vezes por semana naquela época, era muita Educação Física, então como que eu

percebo isso. Eu gostaria que as Políticas Públicas começassem a arrumar no sentido do

retorno da carga horária da Educação Física Escolar que é a base de tudo, da modalidade

esportiva para depois sim termos um terreno bem arado para se semear alguma coisa e se

colher frutos até do alto rendimento ou não, mas enfim, ter uma população pelo menos, no

mínimo mais saudável (Prof.H)”.

No relato do prof.I: “Eu sou licenciado, nem por isto minha formação na área de

treinamento, atuação em academia ficou a desejar. Não sei como vai ficar agora com 04 anos

novamente para a formação, talvez mude um pouco. O que eu percebo é que não há tanta

necessidade para o profissional licenciado ter tantas horas na escola, eu não preciso pagar

oitocentas e tantas horas fazendo Estágio de não sei o que, … é tempo demais para repetir

coisas que não são construtivas. É interessante se o aluno pudesse montar seu currículo,

neste caso, creio que Bacharelado e Licenciatura poderiam trabalhar separadamente. Entendo

que temos condições de formar profissionais em qualquer uma das áreas tendo uma única

linha só. Será que não existem crianças com diabetes? Porque então remover a disciplina de

patologias da Licenciatura? Será que a preparação de uma aula é tão diferente de um

treinamento? Não pode ser, né. Claro que a aula tem outras dimensões, como a pedagógica,

mas é preciso pensar na parte motora e para pensar na parte motora é preciso pensar em

repetição, na elaboração de um bom planejamento, de uma boa estrutura. Eu acho que, depois

de tanto tempo, haveria a possibilidade de ter uma única linha de formação, depois o aluno, se

desejar, buscaria uma especialização (Prof.I).”

Este professor denota que é contra a separação das áreas de

formação e se diz a favor de uma única linha de formação para a Licenciatura e

para o Bacharelado. Em sua concepção a separação do curso não apresenta

justificativa plausível e de certa forma, enfraquece o curso por ficar o foco

expandido em práticas, como é o caso do Estágio, que segundo o professor

Page 61: MARILENA KERSCHER PACHECO

54

são muitas horas de campo, horas estas que poderiam ser aproveitadas de

outra maneira dentro do curso. Este professor valoriza a formação que observe

a relação com a saúde, e não apenas as práticas desportivas.

Em relação a atuação do professor e do profissional de Educação

Física, foi considerado que existem especificidades na formação dos

professores e do técnico/personal da área. Os espaços que estes profissionais

irão atuar desenvolvem práticas diferenciadas. A escola focaliza o

desenvolvimento da criança e do jovem visando uma formação desportiva, nas

várias modalidades do esporte, garantindo o acesso aos alunos às práticas da

cultura corporal e seus conteúdos para um conhecimento crítico. Enquanto a

academia e demais áreas que tenham relação com a Educação Física,

realizam atividades de outra natureza, como por exemplo, a qualidade de vida

e o treinamento desportivo de atletas. Assim, o foco das disciplinas, segundo

os depoimentos, é motivado para atender as especificidades de formação.

No entanto, segundo a opinião da profª.F a separação das áreas

propiciou uma distinção muito clara de perfis de formação nos alunos,

melhorando a qualidade de formação dos futuros professores destinados a

escola, pois os mesmos realmente optam pela área da Licenciatura, buscando

se aprimorar nos conteúdos didáticos e práticos de formação

Segundo o entender dos professores, agora com a separação das

áreas, o professor ou o profissional de Educação Física consegue alcançar

uma formação com conhecimentos mais amplos em sua área de estudos,

surgindo assim, um acadêmico com maior interesse e dedicação a sua área de

atuação.

Estes depoimentos expressam que o curso de Educação Física ao

distinguir o Bacharelado como um curso próprio e a Licenciatura como outro

curso direciona a formação para uma identidade profissional específica: o

Bacharel em Educação Física e o Licenciado em Educação Física, cada um

desenvolvendo seus trabalhos em áreas diferenciadas.

Brzezinski (2005) apresenta reflexões no tocante a formação

universitária, ressaltando que esta deverá também formar o lado humano e não

apenas as técnicas de ensino:

Page 62: MARILENA KERSCHER PACHECO

55

A formação universitária, em qualquer área da graduação, não pode ser confundida com transmissão de informações e técnicas, por mais novas e avançadas que sejam, tampouco com instrução ou uma simples busca do domínio dos requisitos de uma profissão. Essa formação deve levar os acadêmicos a serem capazes de pensar, de compreender e de recriar a natureza, a sociedade e o próprio homem (BRZEZINSKI, 2005, p.5).

Esta formação completa se torna um diferencial nas Universidades que

realizam revisão pedagógica revendo seus currículos, a fim de suprir as

necessidades apresentadas na formação de professores em busca de uma

orientação que possa suprir da melhor maneira às demandas exigidas pela

sociedade e pelo sistema educacional.

Pode-se destacar que a participação integrada dos professores junto a

coordenação contribui para melhorias no curso em um todo. O curso de

Educação Física investigado possui entre seus colegiados a composição do

Núcleo Docente Estruturante (NDE16), oportunizando os debates para a

permanente avaliação do curso e integração dos professores com a

coordenação quando se refere a assuntos relacionados a administração do

curso como um todo e em especial a estruturação do currículo.

Neste sentido, o NDE, proposto pelo Ministério da Educação (2010),

tem por finalidade “constituir-se de um grupo de docentes, com atribuições

acadêmicas de acompanhamento, atuante no processo de concepção,

consolidação e contínua atualização do projeto pedagógico do curso”. O

Ministério da Educação (2010) ainda reforça que o corpo docente participante

do NDE deverá estar apto para que:

Exerçam liderança acadêmica no âmbito do mesmo, percebida na produção de conhecimentos na área, no desenvolvimento do ensino, e em outras dimensões entendidas como importantes pela instituição, e que atuem sobre o desenvolvimento do curso (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010, p.1).

Também são atribuições do Núcleo Docente Estruturante, entre outras,

segundo o Ministério da Educação (2010):

16 NDE – Núcleo Docente Estruturante

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56

Contribuir para consolidação do perfil profissional do egresso do curso; zelar pela integração curricular interdisciplinar entre as diferentes atividades de ensino constantes no currículo; indicar formas de incentivo ao desenvolvimento de linhas de pesquisa e extensão, oriundas de necessidades de graduação, de exigências do mercado de trabalho e afinadas com as politicas publicas relativas à área de conhecimento do curso; zelar pelo cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010, p.1-2).

Na pesquisa em questão foi perguntado aos professores participantes,

se os mesmos conheciam o NDE, se integravam o Núcleo e qual os objetivos

deste Núcleo. Dos 09 professores entrevistados, 08 conhecem o NDE e sabem

que o curso tem este Núcleo; 04 professores compõem o NDE, mas todos que

conhecem o NDE expressaram suas opiniões a respeito do Núcleo e seus

objetivos no curso de Educação Física.

Primeiramente foram destacados os relatos dos professores

participantes do NDE e suas concepções a respeito do Núcleo.

A profª.F confirma a existência do NDE no curso e diz que faz parte

dele, também comenta que o NDE “tem o objetivo de acompanhar todo o andamento do

trabalho dos professores, então ele é responsável por uma proposta de acompanhamento

pedagógico do trabalho que é feito durante o curso. Os nossos professores, eles nos ajudam

na direção a acompanhar o trabalho que é feito pelos professores, os problemas que surgem,

buscar soluções, sugerir, fazer dinâmica com os professores, para que possam ajudar nessa

perspectiva de andamento do curso (Profª.F)”.

Segundo o prof.G ele conhece e faz parte do Núcleo e o NDE “é

responsável para discutir questões didático pedagógicas e de formação, vou dizer bem geral

isso. Porque discutimos tanto questões do currículo do curso, quanto questões do dia a dia da

formação dos alunos e quanto que isso pode influenciar o nosso currículo ou não, então o NDE

tem um papel importante em termos de fomentar essa discussão e manter energizado o

currículo e não deixar ele virar uma coisa muito estanque. Agora, embora esta discussão

ocorra, essas mudanças não são tão rápidas. Mas este é o papel do NDE (Prof.G)”.

Segundo o prof. A, que é participante do Núcleo, o NDE “é um Núcleo que

serve de apoio ao curso de Educação Física, a direção do curso. Na revisão, por exemplo, do

projeto pedagógico, na sugestão de mudanças do projeto, acompanhar o projeto, acompanhar

os alunos. Toda dinâmica do curso, ela passa por esse Núcleo Estruturante. O Núcleo seria um

apoio pedagógico de um grupo de professores para a direção do curso e para o próprio curso,

essa é a função do Núcleo, trabalhar com isso (Prof.A)”.

Page 64: MARILENA KERSCHER PACHECO

57

Para o prof D: “Conheço e paço parte do Núcleo. O NDE prioriza professores mais

experientes, prioriza a titulação. O NDE funciona, claro que existem determinações que vem de

cima para baixo, e o NDE, por exemplo, no caso do exame interdisciplinar, o NDE é

responsável pela elaboração das questões. Há situações que o NDE toma decisões sobre o

futuro do curso. Temos que ter uma certa intuição para definir o caminho do curso, até mesmo

questões curriculares. O NDE são as lideranças do curso, que tomarão decisões para definir o

futuro do mesmo (Prof.D)”.

O NDE se faz presente no contexto do curso de Educação Física e

desenvolve um papel importante em sua estrutura de apoio aos coordenadores

do curso. Verifica-se que os professores participantes conhecem a finalidade

deste Núcleo e que a participação vai além de apreciação sobre o curso. O

Núcleo assume as atividades de elaborar as questões da avaliação

interdisciplinar realizada na instituição. No entanto, verifica-se que as decisões

nem sempre estão fundamentadas em dados sistematizados a respeito do

curso, como expressa o professor D, de que às vezes, as decisões são

tomadas com base na intuição.

A seguir destaco as falas dos professores que não são participantes do

NDE, mas conhecem e entendem seus objetivos.

A professora C destaca: Sim, eu conheço o NDE e o curso tem o Núcleo. Eu não

faço parte do Núcleo, mas temos sempre noticias nas reuniões de Colegiado. A ideia do

Núcleo é de fazer com que tenha sempre essas conversas entre professores para que haja os

comentários para ver como está o encaminhamento do curso, o que é que precisa organizar,

quais são as mudanças necessárias para as próximas discussões, o que será mudado no

currículo. Porque sempre tem umas ideias surgindo. E também começar a perceber a questão

da didática que os professores tem em relação aos alunos. Eu acredito que seja isso, pelo

menos é a ideia que foi passada, geralmente precisa de mudanças, o currículo não é uma

coisa estática, então constantemente tem que estar atualizando, tem que estar mudando, tem

que estar trazendo novas ideias. Eu acho interessante, por exemplo, eu mesma tive uma ideia

para o Treinamento Desportivo, de como eu achava que deveria funcionar a disciplina de

Treinamento Desportivo e a vantagem é essa que temos toda a liberdade de procurar as

pessoas e entregar a ideia e essas ideias vão ser discutidas depois dentro do Núcleo

(Profª.C)”.

Expõe o professor E: “Eu já ouvi falar, mas não faço parte. Ele tem haver junto

com a nossa parte estrutural de reestruturação. Quando fazem essa reestruturação do curso,

Page 65: MARILENA KERSCHER PACHECO

58

todos os professores são convidados, mas quando são pontos mais específicos aí é só esse

grupo que se reuni, é um grupo fechado que é responsável por isso,. Eles tentam sanar as

dificuldades do curso, porque como é muito desgastante você reunir todos os professores

sempre, então para tomar as decisões, eles respondem pelo grupo, não são votados, eles

estariam respondendo por decisões que talvez não fossem decididos pelo Colegiado, coisas

mais práticas, mais rápidas, necessidades mais urgentes, são tratadas ali, seria uma reunião

de Cúpula (Prof.E)”

E segundo o prof. I: Sim, eu conheço. Mas não faço parte. Entendo que eles

observam o currículo, verificam as mudanças pedagógicas no curso, discutem alguns

problemas de ordem disciplinar, no sentido de condução do curso considerando todos os

problemas de disciplina dos jovens (Prof.I)”.

O professor B destaca: “Eu sei que tem pessoas aqui no departamento, mas não

sei quem participa. Também desconheço os objetivos, mas com certeza reestruturar o

currículo. Não tenho contato com eles (Prof.B)”.

E o prof.H responde: “Não conheço. Não sei se o curso tem este Núcleo

(Prof.H)”.

Nestas falas evidencia-se que os professores esperam do NDE não só

a avaliação do desenvolvimento do curso, mas o controle da disciplina dos

alunos. Assim a função do NDE seria também regulatória. Há expectativa que o

NDE possa contribuir com a prática dos formadores sugerindo situações

didáticas.

Constata-se que há a existência do NDE no curso de Educação Física

investigado e o mesmo se faz presente nas discussões e decisões de assuntos

pertinentes ao projeto pedagógico, currículo e práticas desenvolvidas no curso.

O Núcleo existe com o objetivo de apoiar a coordenação nas decisões a serem

tomadas em busca de melhoramentos e do aprimoramento do curso, prestando

suporte aos professores e ao curso em geral quando necessário for.

O NDE também constitui-se em mais uma instância de avaliação dos

cursos superiores.

Procurou-se verificar junto a coordenação do curso de Educação Física

o que eles veem como destaque no curso o qual eles administram no momento

Page 66: MARILENA KERSCHER PACHECO

59

e salientam como ponto forte no curso de Educação Física visando à formação

do futuro professor.

A profª F destaca: “Temos na Licenciatura uma formação, uma preocupação da

formação pessoal de ser professor, do conceito de ser professor, o que é ser professor, qual é

a realidade que ele enfrenta e a importância que ele tem dentro da formação, então o que é ser

professor e quem é o professor hoje para escola, então acho que este é um ponto bastante

importante. Uma das coisas que eu acho que na Licenciatura é muito forte é esta perspectiva

do aluno fazer uma relação constante entre a prática e a teoria, ele perceber que os problemas

lá do seu cotidiano, enquanto professores podem ser resolvidos via uma reflexão constante

que precisa de um conhecimento para ser feita, isso na Licenciatura é bastante nítido. E no

Bacharelado acho que um ponto forte é também essa relação da prática, porque nossos alunos

tem uma aceitação muito boa no mercado, tanto enquanto estagiários como enquanto

profissionais, exatamente porque eles têm esta visão do que é ser professor lá dentro do seu

mercado de trabalho ou do campo especifico. Um aspecto fundamental é que durante todo o

processo de formação o aluno possa estudar e discutir sobre o seu papel na sociedade. É

fundamental que o futuro professor entenda a importância da profissão, que seja capaz de

discutir os direitos e deveres profissionais e esteja habilitado para atuar assumindo o seu papel

político dentro da escola e da sociedade (Profª.F).”

E segundo o prof. G: “Acho que a contribuição do curso é a experiência que o

curso acumulou nestes 32 anos praticamente de formação e atuação em Licenciatura,

permitindo que os professores do curso tenham muita segurança ao transmitir os conteúdos na

área de Educação Física da Licenciatura, então eu vejo isto como um grande diferencial. A

experiência dos professores e a experiência do curso como um todo, que não é só do

professor, nós não temos todos os professores aqui há 30 anos, mas o curso se consolidou

nestas áreas e nessas parcerias, então acho que esta experiência é um diferencial, um ponto

forte no curso de Educação Física (Prof.G).”

Segundo os professores/coordenadores do curso de Educação Física,

o curso oferece aos alunos não apenas uma formação técnica, mas também

uma formação de cunho pessoal, formando o indivíduo como um todo não só

para uma profissão, mas também para a vida. A prática de Estágios também foi

salientada como ponto forte no curso tendo em vista uma boa aceitação no

mercado de trabalho dos profissionais e professores formados pela Instituição

pesquisada. O tempo que o curso está ativo na Universidade também foi

Page 67: MARILENA KERSCHER PACHECO

60

colocado como um diferencial, pois o curso como um todo traz consigo uma

carga experiencial bem solidificada junto a Instituição.

Cabe ressaltar que entre os professores educadores atuantes no curso

de Educação Física pesquisado, há muita experiência acumulada, pois o curso

está há mais de três décadas atuando na formação de professores e conta com

um corpo docente bem integrado a ele.

O currículo de formação de professores deve ser dinâmico com o

propósito de atender as necessidades pedagógicas e profissionais da

Educação Física. Segundo Figueiredo (2004, p.90) “a Educação Física, hoje,

extrapola a questão da saúde, relacionando-se com as produções culturais que

envolvem aspectos lúdicos e estéticos (...). Formar-se em Educação Física é

ter a consciência de que se irá trabalhar com o ser humano e todas as

complexidades, voltadas as diversas áreas de atuação profissional e suas

particularidades.

Romanowski, et al. (2005, p.2) salienta que “o trabalho do professor,

sua prática profissional, configura-se como prática educativa intencional

exercida nas instituições de ensino públicas, privadas e organizações

sociais(...). Esta prática também pode se estender ao bacharelado

considerando que o currículo de formação desta área também formará um

professor, mas este estará centrado a desenvolver seu trabalho profissional

nas áreas não formais da Educação Física.

A grade curricular do curso de Educação Física pesquisado foi

desenvolvida tendo em vista as necessidades de formação que apresentem

cada área específica. Existem disciplinas comuns para as duas grades de

formação de professores e disciplinas específicas para cada curso voltadas a

seus interesses centrados para a Licenciatura ou para o Bacharelado,

conforme demonstrado no Quadro 3 em anexo.

Procurou-se verificar na grade curricular do curso de Educação Física,

que se encontra em anexo, as disciplinas comuns que contemplam as duas

formações, ou seja, elas estão inseridas no currículo de formação de

professores do curso tanto na área da Licenciatura quanto na área do

Bacharelado. Aos professores/coordenadores do curso foi questionado a

respeito das disciplinas aplicadas para as duas formações e os seus propósitos

educacionais. A seguir, os relatos dos professores.

Page 68: MARILENA KERSCHER PACHECO

61

Conforme a profª F. “Sim, nós temos algumas disciplinas que são comuns aos

dois cursos, por exemplo, Anatomia e Biologia, entre outras. Também temos os Esportes, eles

existem nas duas formações, só que uma parte dessa disciplina ela é diferente, porque a base

técnica da disciplina é a mesma, só que o professor direciona para o trabalho, por exemplo,

nós temos a disciplina de Atletismo, então conhecer a técnica, conhecer o que é o movimento,

quais são os movimentos, é igual nos dois cursos, só que na Licenciatura o professor tem que

aprender a ensinar o Atletismo para as crianças e no Bacharelado ele tem que aprender a

como usar este movimento ou para ensinar alguém correr, porque ele vai treinar ou de uma

forma de buscar, por exemplo, a qualidade de vida, a utilização do movimento de uma outra

forma, então temos várias disciplinas que são comuns, mas o direcionamento pedagógico do

professor, na sua utilização pedagógica ao dar aula ele acaba tendo essa visão, ou ele está

formando o bacharel ou ele está formando o licenciado, então se você pegar a grade curricular

você vai ver que tem até os mesmos nomes, então 50% das disciplinas tem o mesmo nome, só

o que muda é a forma do professor trabalhar em sala de aula (profª.F).”

Explica o prof. G “Sim, existem diversas disciplinas que são comuns a

Licenciatura e ao Bacharelado. Eu não sei se eu vou conseguir relacionar todas para você,

mas existem disciplinas, vamos dizer, de formação, digamos assim, mais geral, como a

Anatomia, Fisiologia Humana, Biologia, Fisiologia do Exercício, são disciplinas comuns. Por

outro lado, as disciplinas que são mais técnicas e instrumentais; Voleibol, Basquetebol,

Handebol, os Esportes de modo geral, são disciplinas comuns, Ginástica Artística, Ginástica

Rítmica, Dança são disciplinas comuns, então todas essas disciplinas são comuns, além das

Institucionais; Processos do Conhecer, Cultura Religiosa e assim por diante (Prof. G)”.

Pela argumentação dos professores percebe-se que algumas

disciplinas são comumente ministradas para as duas áreas de formação, mas

cada uma recebe um foco de direcionamento diferente na disciplina, buscando

os interesses da área.

Destaca-se, que embora alguns campos disciplinares assumam a

diferenciação entre si em cada um dos cursos, outros campos continuam com

uma abordagem sem distinção para a Licenciatura ou o para o Bacharelado,

proporcionado uma formação centrada no conteúdo e não tanto na utilização

do mesmo nas áreas específicas.

A formação pedagógica nos cursos de licenciatura a fim de preparar o

futuro professor que irá atuar nas escolas é um desafio aos professores

formadores e também ao curso em geral que deverá se estruturar para buscar

da melhor maneira métodos para aplicação dos ensinamentos pedagógicos

Page 69: MARILENA KERSCHER PACHECO

62

junto aos alunos que estão em fase de preparação e veem no curso um meio

para qualificá-los para atuação docente.

Uma pesquisa realizada por Romanowski e Martins (2009) em cursos

de licenciatura direcionados a formação de professores, as autoras demostram

que grande parte dos cursos deixa de oferecer a disciplina de Didática Geral e

direciona as disciplinas do curso para a Formação Específica da área

buscando trabalhar mais estas disciplinas em prol do objeto de estudo

almejado.

Em outra pesquisa, as autoras Martins e Romanowski (2010) nos

apresentam em seus estudos que as Instituições de Ensino Superior se

encontram ainda em processo de alteração em suas propostas visando à

formação de professores. Destacam as autoras:

Há um movimento que busca atender à nova proposta para os cursos de formação de professores não atrelado ao bacharelado com iniciativas dos seus agentes, que vão desde a criação de uma coordenação geral para os cursos de Licenciaturas, fóruns de Licenciaturas até simples ajustes a redistribuição de carga horária das disciplinas (MARTINS E ROMANOWSKI, 2010, p.208).

Assim, o currículo de formação de professores nas instituições

responsáveis pela formação do futuro professor não deve ser um processo

pontual e descontínuo, mas sim um processo contínuo sempre em pauta para

reestruturação com base na avaliação permanente e sistemática.

A formação pedagógica do futuro professor acontece inicialmente

dentro do curso de graduação aonde o aluno irá se inserir nos seus campos de

estágio para ali observar o cotidiano escolar e posteriormente poder atuar no

mesmo. Estas experiências são dispostas aos alunos através de disciplinas

pedagógicas estabelecidas no currículo de formação de professores e estas

disciplinas buscam proporcionar ao aluno a aproximação com o cotidiano

escolar e as suas particularidades, desde o funcionamento da escola como um

todo e também da área pedagógica que é aonde o aluno irá se inserir para

colocar em prática os aprendizados e conhecimentos obtidos nas disciplinas

teóricas, realizando uma aproximação com a realidade escolar.

Martins e Romanowski (2010) compartilham desse pensamento

certificando em seus escritos a seguinte argumentação:

Page 70: MARILENA KERSCHER PACHECO

63

(...) o espaço da escola de Educação Básica são tidos como forma de ilustração, exemplos práticos que reafirmam os conteúdos trabalhados nas disciplinas; ou ainda, como espaço de aplicação dos preceitos teóricos trabalhados na universidade (MARTINS E ROMANOWSKI, 2010, p.211).

Nesse contexto compreende-se que a formação de professores não

está limitada apenas a uma sala de aula com disciplinas teóricas para a

aprendizagem, mas ela se estende à prática como uma nova forma de

aprendizagem através de experiências vivenciadas em diferentes espaços

escolares para alcançar, segundo Martins e Romanowski (2010), uma

valorização da prática como espaço de demonstração de habilidades técnicas

no exercício profissional.

Sobre a formação pedagógica do futuro professor de Educação Física

procurou-se entender na concepção dos professores/coordenadores do curso

pesquisado como é desenvolvida a formação pedagógica nos curso de

Licenciatura e também no curso de Bacharelado e se há distinção nas

disciplinas desenvolvidas nos dois cursos e quais são elas para que aconteça

esta formação pedagógica nos distintos cursos.

A argumentação da profª F foi a seguinte: “Nós temos dois cursos separados.

No Bacharelado nós não temos nenhuma disciplina específica pedagógica dentro da grade

curricular e na Licenciatura nós atendemos a exigência que a legislação coloca. Nós temos as

didáticas, hoje até podemos questionar um pouquinho a questão das disciplinas pedagógicas

mesmo. Quando nós fizemos a segunda mudança no processo do Bacharelado e Licenciatura

nós diminuímos um pouco a carga horária dessas disciplinas e acrescentamos nas disciplinas

pedagógicas especificas do curso, mas nós atendemos aquilo que a legislação coloca, o que

deve estar presente no currículo do curso (Profª.F)”.

E o prof.G descreve da seguinte maneira: “Há uma distinção clara da

Licenciatura para o Bacharelado, particularmente nas grades dos cursos a partir do segundo

ano. Na Licenciatura com a inclusão das disciplinas que são de formação pedagógica

eminentemente, aquelas que são voltadas para conhecimento sobre o funcionamentos do

Sistema de Ensino e das Escolas, Técnicas de Ensino e também as discussões pertinentes da

Educação Brasileira, então essa é caracterização da Licenciatura eu diria, enquanto no

Bacharelado nada disso é incluído. Da mesma forma, os professores mesmo que ministrem

uma disciplina que é comum aos dois cursos, vamos dar um exemplo, a disciplina de Voleibol,

ela é ministrada no Bacharelado e na Licenciatura, os conteúdos dessa disciplina eles são

direcionados para cada formação, então na Licenciatura a disciplina de Voleibol, os conteúdos

Page 71: MARILENA KERSCHER PACHECO

64

são aplicados para os ciclos de ensino e para aprendizagem no contexto escolar, enquanto no

Bacharelado a formação dos alunos é direcionada para iniciação esportiva, para um

treinamento da modalidade (Prof.G).”

Segundo os professores/coordenadores do curso de Educação Física

pesquisado, o curso passou por reformulações objetivando atender o que

prescreve a Legislação para a formação de professores, adequando às

disciplinas pedagógicas e sua nova carga horária a grade curricular do curso

de Licenciatura, diminuindo a carga horária de disciplinas pedagógicas gerais e

aumentando a carga horária das disciplinas pedagógicas específicas do curso.

Deste modo, a organização do curso busca cumprir as determinações legais.

Também foi comentada a questão das disciplinas serem ministradas

para cada campo de formação, buscando direcionar nas aulas os conteúdos

que são trabalhos em sala a fim de alcançar uma formação centrada no campo

profissional a que se destinam.

Assim entende-se que as disciplinas pedagógicas estão inseridas no

currículo do curso a fim de complementar a formação profissional do

graduando de Educação Física para uma atuação futura mais centrada em

cada área de formação capacitando o aluno para atuar no meio que estiver

inserido, analisando e transformando seus conhecimentos em atitudes

relevantes a sua atuação profissional. Roldão (2007) argumenta a favor desta

formação:

Não basta ao professor conhecer, por exemplo, as teorias pedagógicas ou didácticas e aplicá-las a um dado conteúdo da aprendizagem, para que daí decorra a articulação desses dois elementos na situação concreta de ensino. Há que ser capaz de transformar conteúdo científico e conteúdos pedagógico-didáctico numa acção transformativa, informada por saber agregador, ante uma situação de ensino por apropriação mútua dos tipos de conhecimento envolvidos, e não apenas por adição ou mera aplicação. Ou seja, um elemento central do conhecimento profissional docente é a capacidade de mútua incorporação, coerente, e transformador, de um conjunto de componentes de conhecimento (...) que vai além dessa apropriação prévia, num processo de conhecimento transformativo (ROLDÃO, 2007, p. 98).

As disciplinas pedagógicas estão inseridas especificamente no

currículo de formação de professores para a Educação Básica, ou seja, no

Page 72: MARILENA KERSCHER PACHECO

65

curso de Licenciatura e elas se destinam a auxiliar a formação deste futuro

professor em relação a sua atuação na docência.

Pressupõe-se que o bacharel não realize uma ação pedagógica

formativa nas academias e demais nichos de atuação, mas que atuem no

desenvolvimento da performance, na perspectiva de preparo físico e treino e

também na manutenção da qualidade de vida, entre outros aspectos.

A grade curricular do curso de Educação Física dependerá de qual

área de formação o aluno irá optar. Algumas disciplinas são diferentes nas

duas grades curriculares e outras até possuem o mesmo nome, mas em algum

momento o professor responsável pela disciplina irá direcionar os conteúdos

para cada área de formação, tornando-a mais específica para a área que está

sendo estudada, como explica o prof. G.

Prof. G: “Existem disciplinas comuns, elas estão nas duas grades, mas o conteúdo

em algum momento ele é diferenciado, tanto é que não temos convergência total de conteúdo

de uma disciplina para outra, ela tem uma convergência parcial, a tal ponto que nem todas as

disciplinas podem ser completamente validadas quando se faz transferência de um currículo

para outro (Prof.G).”

No Quadro 3, que se encontra em anexo no trabalho, foram

destacadas em negrito as disciplinas que são comuns aos dois cursos de

formação, como indica o prof. G em seu relato apresentado anteriormente.

Como é possível observar no Quadro 3, o curso de Licenciatura

oferece em sua grade, disciplinas que se voltam a formação docente e sua

integração as escolas, auxiliando o aluno em formação, ao entendimento dos

conteúdos escolares aplicados, da gestão escolar e sua organização e

especialmente a prática pedagógica desenvolvida nas escolas.

A separação do curso de Educação Física trouxe consigo também o

desafio de uma nova reestruturação curricular para cada curso oferecido, tendo

este que ser revisado e reorganizado para atender as exigências de formação

estabelecidas, revisando e alterando as disciplinas oferecidas para que se

encaixassem nas normas recomendadas pelo Conselho Nacional de Educação

e pelas Diretrizes Curriculares estabelecidas para o curso de Educação Física.

Page 73: MARILENA KERSCHER PACHECO

66

Diniz-Pereira (2000) comenta sobre a separação das disciplinas e do

curso e relata que os cursos de formação de professores se encontram mais

fragilizados com a atual situação e destaca que os cursos de licenciatura,

quando comparados aos de bacharelado, mostram um status menor e

acentuam sua desvalorização:

A separação entre disciplinas de conteúdo e pedagógicas constitui-se em um dilema que, somado a outros dois – a dicotomia existente entre Bacharelado e Licenciatura e a desarticulação entre formação acadêmica e realidade prática – contribuem para a fragmentação dos atuais cursos de formação de professores (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.59).

Esses desafios educacionais ajudam a tornar ainda mais complexo o

papel do professor atuante, o qual é induzido a buscar alternativas

pedagógicas variáveis dentro da escola para assim conseguir alcançar seus

objetivos educacionais sem que nenhum dos alunos seja prejudicado neste

processo educativo onde cada aluno deve ser considerado um ser único em

constante mutação, independente do ciclo evolutivo e a fase de

desenvolvimento o qual se encontra.

Assim, o papel do professor universitário deixa de ser meramente

transmissor de informações para então se transformar em uma peça chave

dentro da educação, instigando seus alunos, futuros professores, a buscarem o

conhecimento, a se interessarem por ele, utilizando-o da melhor forma não só

no meio acadêmico, mas também na vida social e profissional na sociedade.

Essas qualidades só são possíveis de serem alcançadas em um curso

de formação de professores, tendo este em pauta um currículo bem

estruturado, buscando harmonia entre o ser, o pensar e o agir, a fim de

alcançar no final de sua graduação, um suporte mínimo para o desempenho

eficaz de sua profissão como docente transformador na sociedade, que

trabalha com seres humanos em desenvolvimento sedentos por novas

descobertas e aprendizagens.

O que ajuda a proporcionar uma base segura ao futuro educador que

terá que enfrentar no seu cotidiano, na grande maioria, uma realidade bem

diferente do que se espera quando se inicia uma vida profissional ligada a

docência, é ter obtido durante o tempo acadêmico uma base bem solidificada

em sua formação através de um currículo bem estruturado, destinado a

Page 74: MARILENA KERSCHER PACHECO

67

desenvolver no futuro professor suas potencialidades a serem aplicadas em

sua carreira de educador.

Roldão (2007) ressalta que a formação de professores está ligada a

dois processos. Explica a autora:

Que para a profissionalização do professorado a dois processos sociais distintos, mas complementares: um, extrínseco, de natureza político-organizativa e outro, intrínseco17, associada à necessidade de legitimar esse grupo social dos docentes pela posse de determinado saber distinto: a formação de um conhecimento profissional específico, corporizado, e por sua vez, estimulado pelo reconhecimento da necessidade de uma formação própria para o desempenho da função, reconhecimento que constitui um dos grandes passos, no início do século XX em particular, para o reconhecimento social dos docentes enquanto grupo profissional (ROLDÃO, p.96, 2007).

Neste sentido, nas falas dos docentes identifica-se esta preocupação:

as disciplinas são trabalhadas não apenas na dimensão técnica, mas também

atendendo ao contexto em que se situa.

No currículo de formação de professores de Educação Física para

atuação na área da Licenciatura, buscou-se captar a compreensão dos

professores formadores a respeito de como acontece a formação do aluno

destinado a trabalhar na área da educação se inserindo nas diversas

modalidades de ensino, ou seja, de que maneira o curso como um todo ou

apenas as disciplinas específicas encaminham a formação do futuro professor

para a atuação nas diversas modalidades de ensino as quais eles poderão vir a

atuar, como a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. E se

há a preocupação com outras práticas educativas.

E mais, os depoimentos a seguir expressam a preocupação com o

trabalho para promover o desenvolvimento da criança e do jovem. As

disciplinas propõe que os licenciados possam compreender a necessidade da

prática docente diferenciada e direcionada a cada grupo de alunos observando

a faixa etária e suas particularidades.

Na concepção do prof. A: “Sim, existe esta preocupação. Porque principalmente

a Aprendizagem Motora ela é voltada para o ser humano como um todo, do nascimento a

morte, então é a Aprendizagem Motora, só que o foco principal, o carinho principal, tem que ser

17 grifos da pesquisadora.

Page 75: MARILENA KERSCHER PACHECO

68

na primeira e na segunda infância, porque é onde vai acontecer tudo, porque é onde a criança

vai aprender e adquirir os padrões básicos de movimento, depois ela vai para uma fase motora

especializada, onde ela vai combinar esses padrões básicos de movimento com os conceitos

de movimentos, com locomoção, manipulação e estabilização. É onde a criança vai passar por

uma fase toda de aquisição das Habilidades Motoras até a segunda infância. Então é uma

idade assim que a Educação Infantil tem que ser tratada com muito carinho e o professor de

Educação Física tem que dar esse enfoque, porque as outras fases, como por exemplo,

adolescência, na fase jovem adulto, na fase adulta, nas fases posteriores, nas idades

posteriores, se ele tiver tido esta base e esta base for bem trabalhada, as outras situações vão

em frente. Agora se há lacunas deixadas na Educação Infantil, ele vai sentir para o resto da

vida. Esse é o grande problema da Educação Física, ela tem que ter essa característica,

porque o motor não dá pra você voltar atrás, ou você trabalha no momento certo, no momento

adequado, relacionando idade, fase e estágios de desenvolvimento ou essas lacunas, elas vão

ficar, então a ênfase maior é relacionada a primeira e segunda infância e adolescência, depois

isso tudo vai ser uma consequência. Porque não dá para você atender tudo na disciplina

durante um ano, porque a disciplina é anual, 72h, então você tem que dar o foco principal

nessa área, que depois nessas situações, se ela foi bem trabalhada, ele teve a base, essa

situações ele vai vivenciar na própria Educação Física ou na prática do esporte (Prof.A).”

O prof. B salienta que a preocupação ocorre “Mais em Licenciatura dentro da

disciplina de Antropometria. Tento mostrar as diferenças ao longo da disciplina, nas equações

que você tem que trabalhar de acordo com as faixas etárias. No Atletismo também, conforme a

atividade, quando você vai fazer um gesto motor, é ilustrado que conforme a idade a criança

não está fisicamente desenvolvida para executar aquele gesto. Destaca-se os cuidados

necessários com as faixas etárias, não adianta você querer exigir uma coisa muito complexa

para uma criança. Quando ela estiver “maiorzinha” você consegue complicar. No entanto, se

você não passar alguma coisa básica, quando ela estiver maior ela terá dificuldades para

realizar alguns movimentos (Prof.B).”

A profª. C destaca: “Dentro da Natação tem várias etapas, então trabalha-se os

conteúdos visando principalmente Adaptação Aquática na Licenciatura, então dentro da

Licenciatura isso é o mais essencial, seria mesmo a Adaptação Aquática. O que nós

costumamos dizer é que ocorrem divisões de conteúdos, que não dá para você ficar

trabalhando, se uma escola por exemplo, tem piscina, não dá para ficar trabalhando até a 8 ª

série a Adaptação Aquática, porque depois de um certo tempo aquilo vai ter que evoluir e

chegar até lá no Ensino Médio dentro de um aperfeiçoamento, coisas mais específicas, então

desde a Natação Infantil, onde começa lá a Adaptação Aquática, a ideia é que evolua o

conteúdo também dentro da Natação até chegar a um Treinamento, um Condicionamento

Físico, quando estiver lá no Ensino Médio. A ideia é essa, que as metodologias elas mudam

também, tem metodologias na Natação para trabalhos na Natação Infantil e que você não vai

Page 76: MARILENA KERSCHER PACHECO

69

poder trabalhar no Ensino Médio, um exemplo são os brinquedos cantados, atividades de aulas

historiadas, essa metodologias são mais características da criança, que gosta mais deste tipo

de atividades. Então a metodologia ela também muda, além de mudar os conteúdos, também

tem que mudar a forma de ensinar esses conteúdos. Tem um capítulo que eu falo sobre uma

parte da matéria que eu chamo do “Ensino da Natação”, onde eu trabalho todas as

características, que tipo de trabalho você faz na Natação Infantil, no antigo Ensino

Fundamental, do 1º ao 9º ano agora, ali nos primeiros anos você também pode continuar

trabalhando com a metodologia, quando chega a partir da 5ª série você já pode trabalhar

através de Atividades Recreativas e Atividades Competitivas, Testes e atividades do gênero.

Você tem que ir de acordo com aquilo que a criança tem interesse. No Ensino Médio daí a aula

já fica mais formal, aula de academia, também com Recreações, mas você não vai brincar de

brinquedos cantados no Ensino Médio. Nós temos um capítulo todo tratando deste assunto na

disciplina (Profª.C).”

Já o prof D. esclarece: “A ideia da Licenciatura é que cada disciplina ofereça

essa ideia de sistematização, por exemplo, a professora de Dança, ela não tem que chegar lá

na Dança e falar só sobre Dança, ela tem que chegar e falar a Dança nas séries inicias seria

essa, os conteúdos e objetivos para as séries iniciais seriam esses, para as séries

intermediárias seriam esses, para o Ensino Médio, seriam esses. Então cada disciplina, na

Licenciatura, ela tem a obrigação de dar essa base para o aluno, se ela não der essa base, vai

gerar problemas na hora do Estágio ou depois quando eles forem profissionais, porque os

alunos não vão saber como sistematizar aquele conteúdo, seja na Dança, no Voleibol, no

Atletismo em função da necessidade, dos interesses, dos objetivos de cada idade, então

subentende-se que cada disciplina de essa base para o acadêmico de como sistematizar o

conteúdo ao longo do tempo escolar (Prof.D).”

Esta questão destina-se a identificar, junto aos professores formadores,

como ocorre a formação para a Educação Infantil, para o Ensino Fundamental

e para o Ensino Médio. E também verificar junto a eles se há a preocupação

com outras práticas educativas.

O prof. E explica: “Eu reservo uma parte da minha disciplina, duas aulas, para

falar o que seria a Ginástica para o público infantil e como deveria atuar para que essa criança

criasse gosto pela ginástica e na vida adulta continuasse a praticar. Então eu faço e falo de

algumas práticas, mas curricularmente não é obrigatório. Eu procuro buscar isso, porque

acredito que vou ter sucesso mais tarde no número de alunos se eu começar a plantar isso lá

embaixo. Mas aí eu falo mais do lúdico, da atividade encoberta, por exemplo, eu falo para

criança, você vai ter que subir esse morro 50 vezes e daí a criança não sobe, porque 50 vezes

num sol de 40 graus é uma coisa horrível, agora eu falo você vai subir esse morro 40 vezes e

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70

vai descer escorregando pela lona de água e sabão, ela vai subir 200 vezes. Então eu vou

fazer uma atividade que encubra o meu objetivo que era subir o morro. Agora como eu fiz isso

acontecer, se eu conseguir fazer de forma lúdica eu vou ter sucesso, então para o público

infantil, deveria se seguir uma lógica de fazer sempre encoberta a atividade principal. Eu

acredito que consigo passar isso de forma lúdica, contando historinhas, brincando, então eu

acho que consigo fazer os alunos entenderem como trabalhar com a ginástica em diversos

locais e públicos diferentes (Prof.E).”

A profª. F nos traz em seus argumentos: “Nós temos algumas disciplinas que

são direcionadas a prática profissional, a metodologia da Educação Física. No primeiro

semestre trabalhamos com a Educação Infantil de 1ª a 4ª, agora 1º ao 5º ano, e no segundo

semestre do 6º ao 9º ano e no último ano fazemos um trabalho direcionado para o Ensino

Médio e cada professor, nas suas disciplinas, ele tenta ao trabalhar o conteúdo mostrar o que é

colocado para cada um dos níveis de ensino, mas nós não temos disciplinas nominadas

Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, não aparece, ele está subentendido na

proposta de cada disciplina que o curso oferece. Até então temos trabalhado um pouquinho

com a questão dos PNE18, que nós temos uma disciplina especifica no curso que daí também

vai acontecer a mesma coisa, no Bacharelado é direcionado para o aluno que vai para

academia e que é portador de necessidades e na Licenciatura direcionado para o aluno

especial e eles fazem alguns trabalhos com os alunos especiais, principalmente das escolas

especiais que a professora direciona o trabalho, então é uma perspectiva de pensar em outras

formações. Como nós temos Educação Física no período da noite, nós temos Estágios no

EJA19, que é uma característica bastante especifica o aluno do EJA, e aí o nosso aluno, discute

esta proposta de como trabalhar com o aluno do EJA, mas ela está embutida especificamente

dentro das disciplinas (Profª.F).”

O prof. G nos traz seu parecer salientando: “Nós temos além das disciplinas

de Estágio, que o aluno vivencia a atuação nesses campos, a formação para esses níveis de

ensino, ela se dá nas disciplinas específicas do curso, com a contextualização daquele

conteúdo para aquela faixa etária, para aquela idade, dentro daquele contexto escolar. Quanto

a segunda parte, eu acredito que sim, porque temos trabalhado com a integração de outros

conteúdos na disciplina. Mas eu vou te dar a minha impressão, que embora isso tenha no

nosso projeto pedagógico, eu não vejo isso acontecer de maneira tão efetiva, percebemos

algumas ações isoladas com outras práticas, mas agora você me perguntando eu acho que é

muito incipiente, essa é uma opinião mesmo, eu acho que é pouco incipiente, acho que está

mais na formalização documental, do que na ação, propriamente dito (Prof.G).”

18 PNE – Portador de Necessidades Especiais 19 EJA – Educação para Jovens e Adultos.

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71

Nas palavras do prof. H, ele expõe: “O que eu acho que vem ao encontro

desta tua pergunta é a questão quando trabalhamos na teoria o conceito filosófico das Lutas18.

Hoje eu tenho tentado trazer para os alunos, para que eles possam estar associando alguns

ensinamentos filosóficos principalmente das lutas asiáticas, as lutas mais orientais, para que

tenha esta parte da formação do ser, não só do cognitivo e do motor, mas também do afetivo.

O respeito ao colega, a cooperação entre os colegas, estes conceitos são muito presentes na

parte filosófica das Lutas20 e eu insisto, bato muito nesta tecla para ver se eu consigo de

alguma forma passar isso para os acadêmicos da graduação e eles tentem levar isso para

dentro das escolas, no caso, este foco é mais para a Licenciatura. Confesso que para o

Bacharelado eu não insisto tanto nesta parte (Prof.H).”

E na concepção do prof. I: “No Bacharelado é tratado de forma superficial, até

porque o profissional poderá vir a trabalhar com crianças ao longo da sua vida profissional. Já

na Licenciatura eu procuro focar, falo muito da questão biológica do jovem, da despreocupação

que se tem em informar o jovem da questão biológica e motora. A formação do cidadão é

inerente a formação da Educação Física, História, Matemática ou qualquer disciplina da escola,

não é só uma responsabilidade da Educação Física. As crianças precisam conhecer os

elementos da Educação Física. E a nossa formação, profissionais de Educação Física, deve

ser muito aprofundada nesta área, porque se não, nós vamos dar “estafetinha”21 para o resto

da vida (Prof.I).”

A questão da prática vai além da proposta curricular. Verifica-se na

proposta duas tendências: abrangência de todas as modalidades de atividades

corporais e desportivas; e a abordagem das especificidades de cada nível de

ensino e faixa etária dos alunos. Neste sentido a formação é ao mesmo tempo

direcionada a diversidade das atividades e de contextualização aos diferentes

grupos.

Ainda que o futuro professor possa observar as condições existentes

para o desenvolvimento adequado das atividades de Educação Física na

escola e demais ramos da Educação Física, a metodologia procura considerar

a prática de cada modalidade de atividade corporal.

Verificou-se que não existem disciplinas diretamente direcionadas para

as modalidades de ensino exclusivas, mas existe todo um processo de

20 O professor está se referindo a designação da disciplina que ministra. 21 Quando o professor diz “estafetinhas”, ele se refere a uma corrida de estafetas realizada em equipes de quatro elementos, onde cada um deles percorre uma determinada distância, transportando na mão um tubo que deve ser entregue ao companheiro seguinte. O objetivo dos corredores é transportar o tubo até à meta, o mais depressa possível.

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72

sistematização de conteúdos a serem ministrados durante a evolução do curso

e que as disciplinas direcionam os conteúdos e apontam os caminhos para que

o aluno possa compreender estas diferenças de faixa etária e suas

particularidades dentro de cada nível de ensino.

Na fala da professora F fica destacado que a formação do professor

inclui os conhecimentos das práticas pedagógicas direcionadas à infância, e

que esta formação não ocorre no Bacharelado.

Em relação a outras práticas educativas foram destacados os trabalhos

diferenciados que acontecem no curso com os PNE em uma disciplina

específica e os Estágios noturnos que acontecem junto ao EJA e que

proporcionam aos alunos e também aos professores, novas descobertas e

aprendizagens junto a este público diferencial. Também foi destacado o

trabalhado entre os professores com a integração de outros conteúdos na

disciplina.

3.1.1.1 A relação entre as disciplinas e a formação do professor de Educação Física

Quando se coloca em evidência a dimensão da formação de

professores, um dos pontos essenciais é o conjunto de disciplinas oferecidas

pelo curso e seus objetivos em relação ao preparo profissional do futuro

docente. Pode-se destacar que o currículo de formação elaborado visa uma

formação objetiva e centrada nos interesses da área estudada e principalmente

levando em consideração as disciplinas que são de formação pedagógica.

A formação do futuro professor acontece com uma base equilibrada e

ajustada de modo a alcançar os objetivos propostos pelas disciplinas

oferecidas pelo curso. Este processo de ajuste do currículo acontece

envolvendo coordenação, professores e alunos em formação destacando as

suas necessidades de aprendizado e aplicação profissional na prática docente.

Neste sentido destaca-se o entendimento de Pinheiro e Romanowski (2009) a

respeito da formação básica de professores:

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73

Pensar a docência exige compreender o docente como um profissional em ação e interação com o outro o aluno, esse processo é produtor de saberes na e para realidade, em que a prática cotidiana se apresenta um local de construção de saberes (PINHEIRO E ROMANOWSKI, 2009, p. 2233).

As mesmas autoras complementam o conceito salientando:

Partindo deste pressuposto a análise dos saberes docentes, os conhecimentos necessários ao professor para poder ensinar constitui questão fundamental para os cursos de formação inicial deste profissional (PINHEIRO E ROMANOWSKI, 2009, p. 2233).

Esses conhecimentos são atribuídos tanto a prática profissional do

professor como também da sua preparação acadêmica e profissional ao longo

de sua profissão e ambas contribuem para que o professor formador trabalhe

com os conhecimentos referentes aos conteúdos selecionados para a

formação do futuro professor, qualificando-o para que o mesmo possa se tornar

apto a assumir sua profissão.

Junto aos professores entrevistados, visando a compreensão da

formação docente dos futuros professores, procurou-se entender quais eram as

disciplinas que cada professor estava responsável e o propósito dela para

formação do futuro professor ou profissional de Educação Física.

Seguindo este conceito, expõe o prof. A: “Eu trabalho Aprendizagem Motora,

dentro da Licenciatura e trabalho com Monografia, o TCC22 para os dois cursos. A proposta da

Aprendizagem Motora é toda a base de como trabalhar as habilidades motoras dentro da

Educação Física escolar, as fases, todo o processo de ensino aprendizagem, de como se

trabalhar uma habilidade respeitando as fases de aprendizagem, as fases de desenvolvimento

motor da criança, todas essas situações são abordadas dentro da atividade motora (Prof.A)”.

O prof. B trabalha com diversas disciplinas, sendo elas: o Atletismo, a

Antropometria, a Bioestatística e o Treinamento Desportivo no final do curso,

sendo esta disciplina destinada apenas a formação do bacharel. O professor

apresenta os propósitos das disciplinas, relatando: “O Atletismo é o esporte base

para todas as disciplinas, todas as outras modalidades. No Bacharelado vai mostrar a relação

entre o Atletismo, os objetivos, os movimentos com relação ao aprendizado. Tem um caráter

mais de treinamento, dando uma visão mais técnica, destacando a importância do Atletismo na

22 TCC – Trabalho de Conclusão de Curso.

Page 81: MARILENA KERSCHER PACHECO

74

grade do curso. Na Licenciatura, mostrando o Atletismo para a formação das crianças

complementando o desenvolvimento motor. Também preparando para outros esportes. Mas a

visão da Licenciatura é um caráter mais de ensino dos gestos, dos movimentos, não tanto o

treinamento, mas de forma lúdica, adaptado a escola. O professor ministra também as

disciplinas de Antropometria e Bioestatística que são disciplinas anuais, um semestre uma e

então outra. No Bacharelado também caracterizada mais a parte fisiológica, tendo isto como

objetivo no trabalho. Na Licenciatura para gente mostrar a importância principalmente no

desenvolvimento das crianças, como identificar riscos a saúde, isso também é válido para o

Bacharelado, IMC23, RCQ24 e outros parâmetros que são trabalhados para qualidade de vida. E

nas Licenciaturas o forte é mostrar a importância na escola de você fazer uma avaliação física

e não só peso e altura, mas ter o diferencial, pois na pedagogia você não tem esta parte

fisiológica do trabalho e uma criança que vai fazer uma atividade física você tem que saber,

dado que é um esforço físico, que trará mudanças fisiológicas, você precisa ter ferramentas

para avaliar se a criança está se desenvolvendo de forma normal, curvas de crescimento, e

mostrar a diferença principal do educador físico atuando na escola do que o pedagogo atuando

na escola. A Bioestatística que tem foco igual na Licenciatura e no Bacharelado, objetiva

mostrar como trabalhar com os dados, tendo as informações, saber separar, quantificar, obter

a média, verificar quais crianças estão acima da média, abaixo da média, saber como olhar

estes resultados e saber como apresenta-los, não adianta avaliar a turma inteira e então daí

agora eles estão assim, será que eles estão na média, quantos estão acima, quantos estão

abaixo...Também atuo em Treinamento, no Bacharelado, já no final do curso (prof. B).”

A profª C responsável pelas disciplinas aquáticas coloca: “A disciplina é

Natação e Esportes Aquáticos, ela tem uma conotação diferente no Bacharelado e na

Licenciatura. Primeiro, ela se propõe a trabalhar com esportes aquáticos de uma maneira geral,

na Licenciatura ela já tem uma conotação mais básica da Natação e da Adaptação Aquática,

tendo em vista que muitas escolas hoje tem a disciplina de Natação dentro do currículo, então

ela é mais básica, até a carga horária é menor e a ideia é formar um professor capacitado para

atuar nestas disciplinas (profª.C).”

O prof. D expõe: “Na Licenciatura, eu procuro no Handebol, que é um esporte

coletivo e que faz parte desta cultura corporal do movimento, encaixar este desporto como um

meio para que este acadêmico possa desenvolver as valências motoras e os valores de

convivência social a partir do handebol. No Bacharelado, o Handebol é trabalhado como um

esporte de competição mesmo, um esporte olímpico, competitivo, que tem suas categorias de

competição, ele começa lá com o mini, categoria mini, o pré-mirim e o mirim, daí tem o infantil,

o cadete, o Junior e o adulto. Então o esporte é esse, é praticado assim no mundo todo e como

23 IMC – Índice de Massa Corporal. 24 RCQ – Relação Cintura-Quadril.

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75

é que eu preparo um atleta para jogar um desporto desse, um desporto de competição. No

Bacharelado o enfoque é esse (prof.D).”

Nas entrevistas foram destacadas as disciplinas que cada professor é

responsável no semestre que esta pesquisa foi realizada e o propósito dela

para formação do futuro professor ou profissional de Educação Física.

As palavras do prof.E: “A minha disciplina é Ginástica de Academia. Inclusive na

reestruturação curso era uma disciplina que tinha uma carga horária de 28h e dobramos esta

carga horária quando teve a reformulação pela necessidade do perfil do egresso. Primeiro a

busca maior hoje no curso é pelo Bacharelado do que pela Licenciatura, ano passado estava

isso mais latente ainda, agora teve uma pequena diminuição para o Bacharelado, mais ainda

continua mais alto do que a Licenciatura e pelo perfil. Porque as pessoas se formam e querem

trabalhar com o quê? Ou academia ou personal trainer a grande maioria delas e escola menos.

A escola está sendo ainda algo procurado, uma busca pela Licenciatura procurada pela

segurança pessoal, eu posso fazer um concurso. Quando que pelo Bacharelado, o concurso só

seria pela SMEL25, não tem nenhum outro tipo de concurso que me de uma segurança,

digamos assim. Mas mesmo assim a procura pelo Bacharelado, para trabalhar em academia

ou trabalhar como personal trainer que está sendo cada vez mais remunerado, fez com que a

mudança, com essa nova reestruturação, dobra-se a carga horária da Ginástica de Academia

(Prof.E).”

O prof. H coloca: “Neste semestre especificamente, eu estou com Lutas e

Epistemologia da Educação Física. Lutas para o Bacharelado é mais voltado para as bases,

para a identificação das necessidades que os atletas vão ter, para depois os professores terem

uma oportunidade de mercado em relação ao treinamento especificamente, então o bacharel é

formado para o treinamento da Luta. Já o licenciado é aquela coisa da Luta para a Educação

Física Escolar. Agora na Educação Física Escolar, tanto para Licenciatura quanto para o

Bacharelado é uma formação superficial, porque eu procuro trabalhar todas as modalidades

olímpicas. As lutas olímpicas, que é o Judô, o Caratê, o Boxe, a Luta Olímpica e a Esgrima.

Então é um pouquinho de cada uma delas durante essas 72h, para que eles tenham ideia de

como trabalhar com qualquer tipo de luta, posteriormente daí eles podem se aprofundar no

conhecimento dessas lutas. No caso da Licenciatura, como que eles vão buscar o que

chamamos de estratégia, que são os jogos de oposição, as brincadeiras de oposição, para

poder camuflar o conteúdo de Lutas na Educação Física Escolar. Já o Bacharelado, chamando

a atenção deles para as capacidades físicas, para fisiologia do esforço daquela característica

de luta e preparando-os para ter a parte de treinamento desportivo mais a frente. Então essa

talvez seja a diferença básica entre os dois cursos (Prof.H).”

25 SMEL – Secretaria Municipal de Esporte e Lazer.

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76

E o prof. I destaca que ministra no momento Fisiologia do Exercício e

Atividades Físicas para populações especiais. Segundo ele, a Fisiologia do Exercício

fundamenta os conceitos para quem vai trabalhar com atividade física e o ser humano.

Abrange o conhecimento da base da fisiologia do exercício, atividade física. E para a

Licenciatura os conceitos são trabalhados com ênfase para jovens e adolescentes. A disciplina

é fundamental para a preparação e compreensão da atividade física. A disciplina de “Atividades

Físicas para populações especiais”, infelizmente não faz parte do currículo da Licenciatura,

apenas do Bacharelado. Antes nominada de Patologias Básicas, hoje “Atividades Físicas para

populações especiais”, teve seu leque ampliado para outras atividades físicas de populações

especiais (Prof.I).”

Visando a formação dos professores em formação compreende-se que

os professores formadores se utilizam de técnicas e táticas disciplinares para o

desenvolvimento dos conteúdos de sua disciplina e percebe-se nas falas dos

professores qual direcionamento é atribuído para a formação na disciplina que

ele ministra.

Pode-se destacar que alguns professores têm seu foco de atuação no

contexto formativo do desempenho profissional docente, outros direcionam os

conhecimentos as práticas desportivas e profissionais, salientando a área da

saúde e do bem estar.

Também destacou-se o ensino do esporte nos dois eixos de formação,

sendo trabalhado no Bacharelado o esporte como forma de competição e

rendimento profissional e na Licenciatura como meio de socialização e

incentivo a prática esportiva.

Alguns professores trabalham a ambivalência da disciplina, visando

tanto a formação para a docência, como também a prática em academias,

enquanto outros professores que trabalham apenas na área de formação do

bacharel de Educação Física, visam mais a formação profissional destinada as

práticas em academias e demais áreas de atuação informal.

3.1.1.2 A interdisciplinaridade no curso de Educaçã o Física

Uma questão relevante em pauta na formação de professores é a

questão da interdisciplinaridade que vem de encontro com toda realidade

vivenciada no dia a dia acadêmico. Ribeiro (2002) apresenta que hoje um

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77

profissional dominar várias áreas do saber se tornou complexo, o autor

complementa seu ponto de vista expondo:

É isso então o que leva muitos a entender que a interdisciplinaridade só pode ser um trabalho coletivo, no qual especialistas de áreas distintas se reúnem. Não haverá, portanto, um pesquisador interdisciplinar; haverá, sim, grupos de diálogo e discussão (RIBEIRO, 2002, p.135).

Fazenda (2002) coloca que o termo interdisciplinaridade, não possui

um sentido único, mas que o princípio é sempre o mesmo. Ressalta a autora

que “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os

especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um

mesmo projeto de pesquisa (FAZENDA, 2002, p.25)”.

Fazenda (1993) já ressaltava a ideia de interdisciplinaridade

comentando que o conhecimento não deve ser fragmentado, mas sim unitário.

Além disto, não se trata apenas do domínio do conhecimento, mas de uma

atitude de interação e cooperação.

Em termos de interdisciplinaridade ter-se-ia uma relação de reciprocidade, de mutualidade, ou, melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de interação, que irá possibilitar o diálogo entre os interessados. A interdisciplinaridade depende então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano (FAZENDA, 1993, p.31).

Alves (2004) apresenta sua concepção a respeito da

interdisciplinaridade comentando que a mesma deve ser um trabalho conjunto

entre várias disciplinas, direcionando para a mesma finalidade:

Deve-se entender a interdisciplinaridade como um trabalho conjunto de várias disciplinas em direção do mesmo objeto de pesquisa, com o propósito de aproximá-lo, cada vez mais, da realidade objetiva, à medida que constrói sua perspectiva dialética (ALVES, 2004, p.145).

A interdisciplinaridade busca superar a fragmentação dos conteúdos

nas diversas disciplinas com a construção de um conhecimento na área da

Educação Física, auxiliando o professor ou profissional em interação e em

rede, isto é, a finalidade é comum, os conhecimentos são diversos, mas

mantêm ponta de integração; por práticas e métodos, por proximidade de

Page 85: MARILENA KERSCHER PACHECO

78

conhecimentos, por atitudes de colaboração, sem desconsiderar a importância

de cada disciplina isoladamente.

Todos os professores entrevistados entendem que a

interdisciplinaridade entre as disciplinas do curso é essencial na busca de uma

formação articulada que possa atender as necessidades dos acadêmicos que

surgirão ao longo da graduação, mas também expõe as dificuldades de fazer

com que isto se torne algo viável, simples e prático dentro do curso.

A seguir estão os relatos dos professores formadores sobre a

abordagem interdisciplinar do conhecimento nas disciplinas as quais eles

lecionam. Também foi questionado a respeito da interação com as outras áreas

de aprendizagem e se a(s) disciplina(s) pelas quais são responsáveis privilegia

esta interação e se uma abordagem interdisciplinar contribui para o

aprofundamento de algum conteúdo estudado.

Na opinião do prof.A “Sim, é possível. Porque a Aprendizagem Motora ela está

em tudo. Não tem como você falar de qualquer outra disciplina sem a Aprendizagem Motora e

essa relação que o aluno tem aprender a fazer. Ele está numa disciplina prática ou em uma

outra disciplina teórica, tem que saber fazer essas relações com a Aprendizagem Motora,

porque ela é totalmente interdisciplinar. Tanto é que ela é uma área nova nos cursos de

Educação Física, porque antes ela era abordada as pinceladas numa disciplina ou outra, então

a área do comportamento humano, do comportamento motor que é formado pelo

desenvolvimento motor, aprendizagem motora e pelo controle motor, hoje ela é uma área

especifica dentro da Educação Física e ela justamente vai ser a base principalmente das

disciplinas práticas, tem que ter esse entendimento. Porque quando o professor de Basquete

está falando, o professor de Fisiologia está falando, o professor de Cinesiologia está falando de

um movimento, ele tem que estar entendendo a Aprendizagem Motora inserida ali dentro. Se

ele não fizer essa relação, ele não consegue depois trabalhar com a Aprendizagem Motora,

com o ato motor (Prof.A)”.

Expõe o prof. B que trabalhar com a interdisciplinaridade é

importantíssimo e complementa: “Fora da Universidade você não vai atuar só com uma

coisa, então tem que sempre estar ligando tudo, nós tentamos dentro do possível das outras

disciplinas estar sempre relembrando, procurando fazer o “link”. Depende sempre da relação

com outros professores, buscando uma avaliação interdisciplinar. No meu ponto de vista esta é

a maior dificuldade, dado o tempo que temos para preparar ou programar uma avaliação e

atividades interdisciplinares. As vezes você não consegue tempo para conversar com outro

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79

professor. É incompatibilidade de horário mesmo. No meu ponto de vista falta tempo para

pensar nesta interdisciplinaridade (Prof.B).”

A profª C destaca em sua fala: “Em outras áreas, principalmente desportivas, é

onde vemos muito intercâmbio na interdisciplinaridade, por exemplo em termos de Fisiologia,

trabalhamos bastante com isso, falamos sobre as atividades, são levantadas algumas

questões, quando você trabalha alguma coisa da biomecânica também, então com essas

disciplinas biológicas é fácil fazer a interdisciplinaridade, às vezes, quando eu trabalho o pólo

aquático eu faço muita integração com o Futebol que tem muitas regras parecidas, a estratégia

de jogo de natação é completamente diferente do pólo aquático, pólo aquático é um esporte

coletivo e a Natação é um esporte individual, então eu procuro trabalhar os dois dentro da

água, mas às vezes as técnicas e as táticas são trabalhadas diferenciadas, então nesse ponto

teve uma interdisciplinaridade das disciplinas. Também a Anatomia, você acaba usando

bastante para poder explicar as musculaturas envolvidas em certos movimentos da natação, aí

a gente faz alguns “links” com as outras disciplinas, mas de maneira geral, nessas situações só

(Profº.C)”.

Outro prof. expõe: “É possível, mas não acontece muito, infelizmente.

Historicamente trabalhamos de forma fragmentada. Mas isto é fruto da história, do positivismo,

lá de Descartes, entendeu que fragmentando seria a melhor forma de conhecer as coisas. Não

sou totalmente contra a fragmentação, mas devem existir momentos de integração, caso

contrário o processo de aprendizagem fica muito pobre (Prof.D).”

A respeito da abordagem interdisciplinar do conhecimento na(s)

disciplina(s) pelas quais são responsáveis e a busca pela interação com outras

áreas de aprendizagem, os professores embasaram os conceitos utilizados

relatando:

Expõe o prof. E: “Eu acho que sim. Deve ser inteiramente ligado, eu trabalhava já

a Musculação em 2005 com outro professor, nós trabalhávamos aos pares, ele na Biomecânica

e eu na Musculação, e realizávamos uma parceria e uma integração das disciplinas. Então

acho que consigo realizar uma interdisciplinaridade em minha disciplina e acho que é

importantíssimo agregar todas as disciplinas de uma forma só, tanto que eu costumo falar que

a minha disciplina não é Ginástica de Academia, é um mix de disciplinas, eu falo para os

alunos, vocês não vão ver aqui Ginástica de Academia, vão ver um misto de várias, vou pegar

lá a contagem musical da Dança, vou pegar a parte do Marketing, vou pegar a parte da

Fisiologia e vocês vão rever tudo, só que agora aplicado, então é um mix mesmo (Prof.E)”.

Page 87: MARILENA KERSCHER PACHECO

80

Nas palavras do prof. H: “Essa semana, especificamente eu tive um exemplo,

que foi claramente a resposta para esta pergunta (...) como agora eu recebo os alunos na

Lutas26 no terceiro período eles acabam vendo a cadeira de Ginástica no período anterior,

aonde eles aprendem os conceitos do que é a resistência aeróbica, a resistência anaeróbica, a

força isométrica, a força explosiva, a resistência de força, então eles tem que dominar bastante

esses conteúdos. Quando eles chegam na disciplina de Lutas, eu digo, nessa situação que

você está fazendo este movimento, este gesto motor, que capacidade física você precisa ter

neste momento? Até então eu via que o pessoal tinha dificuldade de dizer, ó professor isso daí

é força isométrica, isso aí é força explosiva, qual é a definição dessa capacidade física e

coincidentemente eu recebi uma turma de terceiro período do Bacharelado noturno deste

semestre especificamente e eu comecei a fazer estas perguntas e eles vêm respondendo com

muita propriedade estas perguntas que normalmente as outras turmas não respondiam e aí eu

fui ter com o professor que ministrou essa disciplina no semestre passado e não por acaso ele

respondeu, “não professor eu tentei fazer alguma coisa, eu usei uma estratégia diferente”, ou

seja, deu certo a estratégia que o professor usou, eles de fato estão muito mais preparados. E

durante a minha prática, como eu sei que Luta é uma coisa muito especifica e poucos são os

que vão trabalhar com Lutas mesmo, eu procuro estar associando, olha este gesto aqui pode

ser o mesmo gesto do lançamento do dardo, pode ser o mesmo gesto do saque do tênis ou da

cortada do voleibol, então eu sempre fico tentando conectar com as outras modalidades

esportivas para que eles possam se motivar até, há então eu vou me dedicar mais a este

momento aqui porque ele tem a ver com as outras práticas. Eu me esforço, eu não sei qual é o

feedback que os outros professores poderiam me dar, mas que eu me preocupo o tempo todo

com isso, sim eu me preocupo (Prof.H).”

E o prof. I considera que: “Sim, é importante, preciso ter uma grande interação

com a grade do curso com disciplinas de Anatomia, Fisiologia, com Treinamento Esportivo e

eu acho que deveria ter maior integração com Estágio Supervisionado (Prof.I)”.

No contexto descrito pelo professor, percebe-se a interação entre

algumas disciplinas com o foco da relação entre os conhecimentos ministrados.

A compreensão neste caso é dos conteúdos que são comuns entre as duas

disciplinas, mas a abordagem permanece disciplinar.

Pereira, et al. (2005) nos trazem sua concepção sobre a

interdisciplinaridade expondo:

26 Quando o professor se refere a Lutas, ele está falando da sua disciplina ministrada no curso.

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81

A interdisciplinaridade, como a construção de um conhecimento complexo, busca superar a fragmentação das disciplinas, sem desconsiderar a importância de cada uma delas e adequar-se a aproximação de uma realidade complexa (PEREIRA, ET AL., 2005, p.8).

Considerando o conceito exposto compreende-se que o conhecimento

não pode ser reduzido apenas a pequenas partes, mas ele deve ser transmitido

em sua totalidade e para que isso aconteça de forma mais efetiva se faz

necessário a integração entre as disciplinas através da interdisciplinaridade.

Diniz-Pereira (1999) destaca que “é importante, ainda, pensar a

formação de um professor que compreenda os fundamentos das ciências e

revele uma visão ampla dos saberes (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.117).” O autor

complementa seu raciocínio, expondo:

(...) é fundamental investir na formação de um professor que tenha vivenciado uma experiência de trabalho coletivo e não individual, que tenha se formado na perspectiva de ser reflexivo em sua prática, e que, finalmente, se oriente pelas demandas de sua escola e de seus alunos, e não pelas demandas de programas predeterminado e desconectados da realidade escolar. É fundamental criar, nos cursos de licenciatura, uma cultura de responsabilidade colaborativa quanto à qualidade da formação docente (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.117).

Assim sendo, entende-se que a interdisciplinaridade abrange muito

mais do que a interação das disciplinas, ela está ligada também a um trabalho

coletivo desenvolvido sob as mesmas perspectivas em busca de uma base de

sustentação para os novos aprendizados e descobertas científicas no campo

da Educação Física, pois as disciplinas estão interligadas entre si através de

conhecimentos similares de aplicação e aprendizado e isso faz brotar nos

ensinamentos novas descobertas na compreensão do teórico e do prático.

3.1.1.3 A Educação Inclusiva e a Educação para a Di versidade

No Brasil podem ser destacados dois fortes posicionamentos a respeito

da inclusão escolar. O primeiro, defendido pela autora Maria Teresa Eglér

Mantoan, entre outros autores e o segundo posicionamento é defendido pelas

APAEs.

Page 89: MARILENA KERSCHER PACHECO

82

Mantoan (2003) nos traz a ideia que “se o que pretendemos é que a

escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para uma

educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e que

reconhece e valoriza as diferenças (MANTOAN, 2003, p.13)”. A autora dispõe

também:

Em resumo, para os defensores da inclusão escolar é indispensável que os nossos estabelecimentos de ensino eliminem barreiras arquitetônicas e adotem métodos e práticas de ensino adequados às diferenças dos alunos em geral, oferecendo alternativas que contemplem a diversidade, além de recursos de ensino e equipamentos especializados, que atendam a todas as necessidades educacionais dos educandos, com e sem deficiências, mas sem discriminações (Mantoan, 1999, 2001; Forest, 1985). Todos os níveis dos cursos de formação de professores, devem sofrer modificações nos seus currículos, de modo que os futuros professores aprendam práticas de ensino adequadas às diferenças (MANTOAN, 2003, p.26).

Assim pelas palavras da autora percebe-se que a mesma defende a

ideia da inclusão escolar sem distinção dos alunos. Em suas palavras Mantoan

(2003) destaca: “O ponto de partida para ensinar a turma toda, sem diferenciar

o ensino para cada aluno ou grupo de alunos é entender que a diferenciação é

feita pelo aluno, ao aprender e não pelo professor, ao ensinar! (MANTOAN,

2003 p.43).” Seguindo o ponto de vista da autora percebe-se a defesa de uma

escola única para ensinar a todos sem distinção ou separação de alunos, onde

todos receberiam os ensinamentos da mesma forma e a captação destes

ensinamentos pelos alunos é que seria a diferença.

Já a APAE27 em seu documento APAE EDUCADORA: A ESCOLA

QUE BUSCAMOS. Proposta Orientadora das Ações Educacionais; vem

destacando um contexto para a inclusão escolar na perspectiva de atendimento

diferenciado:

Em cada uma de suas unidades, deve-se discutir a melhor forma de atender às necessidades educacionais de seus alunos em seu processo de aprender, definindo-se ou não pela implantação de serviços e apoio especializados, oferecidos no âmbito da própria escola ou em parceria com outras instituições. Caracteriza-se como serviço especializado aquele oferecido pelas escolas especiais, centros ou núcleos educacionais especializados, instituições públicas e privadas de atuação na área da educação especial, realizado em parceria com as áreas de saúde, da assistência social e do trabalho (APAE, 2001, p.27-28).

27 APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

Page 90: MARILENA KERSCHER PACHECO

83

O documento também sugere que o currículo das escolas que fazem a

inclusão escolar deve ser “dinâmico, flexível, envolvendo todas as ações e

relações desenvolvidas no interior da escola em seus diferentes contextos

(APAE, 2001, p.30)”, mantendo um padrão educacional elevado.

Outro documento da Federação Nacional das APAEs (2007), na

perspectiva da educação inclusiva destaca:

De uma maneira geral, um documento de política não deve afirmar que a inclusão se consolidará mediante o deslocamento de estudantes de escolas especiais para escolas comuns, o que – no nosso entendimento – se constitui redução e/ou simplificação do significado e das implicações de um efetivo processo de inclusão desejado (FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES, 2007, p.8).

Esta colocação denota uma política que não apoia a inclusão, pois

entende que o aluno incluído de qualquer forma em uma turma regular de

ensino, poderá ser prejudicado em suas aprendizagens e desenvolvimento por

não receberem uma atenção direcionada a eles e as suas necessidades. O

mesmo documento complementa ainda:

Ao deliberar que a inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais seja feita exclusivamente na classe comum do sistema de ensino irrestritamente, ignora-se a heterogeneidade dessa população específica, estabelecendo a hegemonia do lócus na Educação (FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES, 2007, p.8).

Desta forma, entende-se que a inclusão do aluno que apresente

alguma necessidade especial deverá receber um aprendizado diferenciado dos

demais alunos da turma, ou ainda, ele deverá frequentar uma turma que seja

destinada a alunos especiais com professores qualificados que realizem um

processo de ensino aprendizagem especializado para esta turma. Trata-se da

homogenização sem o reconhecimento da diferenciação.

Na atualidade as políticas educacionais buscam a formação para a

inclusão e para a diversidade. Portanto essas foram dimensões desenvolvidas

durante as entrevistas. Lima (2009) esclarece:

Page 91: MARILENA KERSCHER PACHECO

84

A educação inclusiva refere-se a um modelo de educação realizado na escola, cuja abrangência de atendimento não é limitada a um ou outro grupo, mas é aquela que acolhe todos os indivíduos independentemente de suas qualidades ou características físicas, sociais, culturais ou mentais, isto é, universaliza o acesso para todos (LIMA, 2009, p.29).

Quando se fala em educação inclusiva a primeira interpretação é fazer

a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais (PNE) a um meio

comum de atividades. Esquece-se que a inclusão abrange muito mais,

excluímos os mais fracos ou menos capacitados em uma atividade qualquer

realizada em nosso cotidiano escolar, fazendo com que este aluno se sinta

discriminado perante seu grupo de atividades. A diferenciação inclui o

reconhecimento das diferenças culturais, étnicas e econômicas.

A questão da formação para a inclusão e para diversidade traz desafios

para os professores e muitos não possuem formação para esta compreensão

para tratar do assunto com segurança e assertividade, ainda que este assunto

seja mais uma condição para a formação de professores para Educação

Básica, como consta no Parecer CNE/CP nº 09/2002, destacando:

A educação básica deve ser inclusiva, no sentido de atender a uma política de integração dos alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns dos sistemas de ensino. Isso exige que a formação dos professores das diferentes etapas da educação básica inclua conhecimentos relativos à educação desses alunos (PARECER CNE/CP nº 09/2002, p.26).

Desta maneira, fica subentendido que a formação de professores que

irão atuar na Educação Básica, deverá prestigiar conteúdos aplicados a

formação de um professor que tenha capacidades de interagir de maneira

produtiva e eficaz com todas as diferenças que possam ser apresentadas ao

longo de sua atuação profissional, dando-lhes assim, um suporte inicial para

que o professor consiga estabelecer uma relação harmoniosa e produtiva junto

a toda classe, sem distinção ou exclusão. Lima (2009) constata em seus

estudos que ainda existe uma problemática quando se trata da formação de

professores para atuarem nesta dimensão educacional e expõe:

Page 92: MARILENA KERSCHER PACHECO

85

A preocupação com a educação inclusiva assume novas dimensões e percebe-se uma maior produção cientifica voltada para o tema, com uma diversidade de oferta de eventos, publicações e pesquisas, abordando temáticas relacionadas, mesmo assim em relação a formação de professores que irá atuar com esses educandos, poucos avanços são constatados (LIMA, 2009, p.31).

Pela colocação de Lima (2009) se compreende que o currículo de

formação de professores para atuação na Educação Básica ainda se encontra

deficitário em relação à inclusão de grupos diferenciados nas escolas,

dificultando a atuação dos professores não apenas com a pessoa especial,

mas com todo o grupo, pois o professor sem preparo adequado acaba por

excluir, como comentado por um dos professores entrevistados e está descrito

no próximo relato, onde o professor se posiciona em relação a maneira que é

realizada a inclusão atualmente, ressaltando que desta maneira a inclusão é

inadequada em sua opinião. O entendimento é de homogenidade, de

padronização. A seguir o relato onde o professor descreve sua argumentação a

respeito da inclusão.

O prof. E descreve: “Eu não acredito na inclusão porque quando você faz a

inclusão como nós temos no Brasil, eu tenho 1 professor para 40 alunos e eu vou ter que incluir

ali uma pessoa que é míope, que é cega, uma pessoa que tenha uma paralisia. Eu não

acredito nesse tipo de inclusão e as vezes eu choco as pessoas quando eu falo isso, pois eu

não acredito. Porque primeiro; o professor que trabalha 40h, ele trabalha 80, 40h, mais uma

hora ou duas para programar suas aulas, fazer sua especialização, e quando eu coloco uma

aula para o aluno, cada vez que eu fizer uma aula, terei que fazer duas aulas e não uma aula

só. Se eu montar uma aula só e incluir, eu incluo você, por exemplo, pego uma pessoa que não

consegue saltar, eu incluo você, mas daí eu excluo 39, porque eles poderiam fazer muito mais,

mas eu estou fazendo uma aula que aquela pessoa pode fazer, então eu vou excluir 39. Se eu

faço uma atividade para uma pessoa que tem dificuldade visual, eu excluo 39 que poderiam ir

muito mais além. Então eu sou a favor da inclusão sim, se houverem dois professores na sala

de aula que trabalhem o mesmo conteúdo, dois professores juntos trabalhando. E uma turma

que esta preparada para receber isso e eu falo olhe, a atividade é correr e saltar, e essa

pessoa vai fazer assim e essa pessoa vai fazer assim, essa com a atenção desse e essa com

a atenção desse. Eu até poderia fazer isso, há você fala, mas você poderia colocar duas

opções, se eu estou colocando duas opções, eu estou excluindo. Para você isso, para você

isso, então já não está no mesmo grupo, está em grupos diferentes, e se eu coloco no mesmo

grupo, uns poderiam ir mais e não vão por motivo dele. E se eu fizer só para os que podem

mais, o que pode menos não vai, então uma opinião pessoal, eu acredito que quando eu

incluo, eu excluo os demais, que poderiam evoluir também. Ou eu tenho dois professores com

Page 93: MARILENA KERSCHER PACHECO

86

atividades diferentes, que não deixa de ser exclusão na mesma, ou teria que ter uma turma

especial para este público, então eu acho que a inclusão ela é utópica (Prof.E).”

Este professor destaca em seus argumentos discordância da maioria

das opiniões apresentadas na pesquisa pelos colegas professores. A seguir

estão descritas as demais falas dos professores formadores a respeito da

formação para a Inclusão e para Diversidade no curso de Educação Física da

Universidade pesquisada.

Segundo o prof. A: Como a minha disciplina trabalha com a questão da

aprendizagem motora, ela comtempla a questão de como se trabalhar com a inclusão, não um

enfoque mais profundo, mas ela trabalha um enfoque das habilidades motoras, que é o foco

principal da Aprendizagem Motora. Ela vai ver a pessoa, um deficiente físico, um deficiente

visual, um deficiente auditivo, essas situações e todos eles estão propensos a aprender como

qualquer pessoa e o aluno, esse futuro professor tem que aprender a estabelecer as relações,

com as disciplinas, por exemplo, de Educação Física Adaptada e as outras disciplinas que vão

fazer parte deste contexto. E com relação a diversidade, o aluno também vai ter que trabalhar

porque na Aprendizagem Motora não pode existir diferença, o ser humano, ele tem que

trabalhar no seu contexto geral, independente dessas situações da diversidade ou da inclusão

ou não, ele tem que trabalhar aquela situação, ele tem que viver aquilo, porque nós estamos

trabalhando com as competências motoras e as competências motoras elas não podem levar

em consideração nessas situações, idade, sexo, gosto ou religião, nada, ela tem que trabalhar

com esse ser humano, nesse sentido completo (Prof.A)”.

Segundo o prof. B: “Quando eu trabalhava com “Atividade Física Adaptada”, ai

trabalhávamos com inclusão. A diversidade não. A inclusão, como eles tem a “Atividade Física

Adaptada” eles trabalham. No Atletismo é comentado, tem as modalidades do para-atletismo,

dos esportes adaptados e no Treinamento Esportivo também é mostrado os esportes

adaptados, mas eu não dou ênfase dado a existência de uma disciplina exclusiva para isto, não

adianta ficar repetindo (Prof.B)”.

A profª C comenta: “Dentro da disciplina em termos de inclusão, eu trabalho muito

com pessoas que tem traumas, então quero dizer, não é bem a ideia de inclusão, porque

percebe-se que a natação é uma atividade que pode ser trabalhada com muita gente, inclusive

tem muitas pessoas com certas síndromes que indicam a natação como meio de tratamento.

Dentro da Licenciatura eu não abordo muito este tema, o que eu falo dentro de inclusão é a

questão das pessoas que tem trauma, mas não seria bem esta questão da inclusão, porque na

verdade tem uma disciplina no curso que fala só sobre a Educação Física Adaptada, assim de

Page 94: MARILENA KERSCHER PACHECO

87

modo geral eu não costumo abordar, a única abordagem é essa, das pessoas que tem trauma

e que geralmente você não consegue colocar dentro da mesma turma (Profª.C)”.

O Prof. D destaca em seu comentário que há hoje no curso um avanço

em relação a inclusão e a diversidade, em suas palavras: “Hoje existem disciplinas

voltadas para inclusão, tanto na Licenciatura como no Bacharelado, essa disciplina não existia

em currículos antigos, ela hoje existe e é um avanço. Isso tem que ser, porque hoje a inclusão

é uma realidade, hoje chegamos nas escolas e tem turmas inteiramente heterogêneas em

vários sentidos, inclusive no sentido de ter crianças portadoras de necessidades especiais,

crianças com síndrome de Dawn, crianças com deficiências físicas, deficiência auditiva,

deficiência visual e o profissional ele tem que ter estratégias de como lidar com isso (Prof.D)”.

Na sequência continuam as falas dos professores a respeito da

formação para a Inclusão e para Diversidade.

Segundo a profª F: “Nós temos na grade curricular uma disciplina especifica de

PNE, a profª X28 direciona, ela faz esta perspectiva do que é inclusão, como ela acontece ou

como ela deveria acontecer e ela trabalha isto de forma bastante clara. Nas disciplinas eu acho

que passamos superficialmente por isso, por conta de achar que a disciplina da Profª X possa

dar conta desta perspectiva e a questão da diversidade acaba aparecendo também como

conteúdo, não como uma forma especifica, então o professor trabalha isto dentro dos seus

contextos (Profª.F).”

O prof. G coloca o assunto da seguinte maneira: “Acho que há um avanço

grande a respeito destes assuntos no curso em geral. Hoje o curso dispõe de uma disciplina

específica de Educação Física Adaptada que trabalha para a inclusão de pessoas com

necessidades especiais, então os alunos não só discutem na disciplina de cunho pedagógico

este contexto, porque isso está inserido em várias disciplinas de cunho pedagógico. Mas nós

temos disciplinas específicas para isso também, no nosso caso a Educação Física Adaptada

onde a inclusão é discutida ao longo de toda disciplina (Prof.G)”.

Nas palavras do prof.H “Esta é uma parte que eu nunca me preocupei. (...) não

contemplo isso na disciplina, talvez seja até uma falha, nunca tinha parado para pensar e não

tenho nenhuma atividade que contemple a parte da inclusão (Prof.H).”

O Professor I, expressa uma compreensão radical do significado de

uma escola democrática, mais que inclusiva. O professor de forma “indignada”

28 X está substituindo o nome da professora citado.

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88

coloca: “Não utilizo este termo “inclusão”. Abomino! Discordo! Considero que a criança já faz

parte da sociedade, ou seja, não há como incluir algo que já faz parte. Não é porque ele é um

cadeirante que ele não faça parte da sociedade, ele apenas tem uma dificuldade, como tantas

outras crianças. Não é porque uma criança tem dificuldade de aprendizagem que ela não faça

parte da escola, a isto não chamamos de inclusão. A criança que usa óculos, não chamamos

isto de inclusão. Inclusão é quando eu vou incluir aquele material no meus estudo, incluir é

aquilo que não faz parte e eu vou incluir. O lugar dessas crianças sempre foi na escola… nós é

que os “excluímos”. Eles são cidadãos.(...) Hoje nós pegamos as crianças e jogamos na

escola. Aí identificamos as dificuldades no meio e tentamos adaptá-lo. O ambiente deveria

estar preparado antes. Hoje e sempre. A escola não foi preparada para eles, sejam cegos,

cadeirantes, com paralisia cerebral. Os professores não estão preparados, para os cegos, para

os surdos… a escola não está preparada para isto. Os professores não estão preparados para

isto.(...) A criança tem o direito de se desenvolver. A escola normal não tem condições para isto

(Prof.I).”

Com base em alguns depoimentos foi possível verificar que o curso

introduziu uma disciplina específica destinada a possibilitar que os futuros

professores elaborarem estratégias para o atendimento das diferenças entre os

alunos, visando uma formação que proporcione experiências, ao menos

básicas, para a compreensão da situação que se apresentar no contexto

escolar que o futuro professor de Educação Física estiver inserido.

A formação para a inclusão às necessidades especiais, com disciplina

específica, não por inclusão no conjunto do curso.

Considerando a existência desta disciplina específica a maioria dos

professores acaba por não focar o assunto da diversidade e principalmente da

inclusão à tona, sendo que, como foi citado por um professor, os assuntos se

tornariam muito repetitivos.

Também destaco a opinião do professor que considera a inclusão um

termo inadequado a ser usado pela sociedade em geral, pois segundo ele

todas as crianças fazem parte da mesma sociedade e não precisam ser

incluídas em algo que já é da natureza delas. O professor destaca também que

as escolas normais não estão preparadas para a inclusão e para trabalhar com

as diferenças em seu cotidiano, pois hoje ainda não temos professores

preparados a contento para assumir essas posições de trabalhos

diferenciados, realizando um processo educativo igualitário que privilegie a

todos de forma limiar.

Page 96: MARILENA KERSCHER PACHECO

89

Para que a inclusão aconteça em nossas escolas se faz necessário

uma formação universitária voltada para esta questão, uma formação além da

acadêmica, também uma formação humanitária que vise o aluno dentro de um

contexto de formação com consciência e sabedoria para desempenhar

legítimos papéis de educadores. Esta necessidade da inclusão acontece há

muito tempo em nosso cotidiano escolar, mas enquanto não forem oferecidas

condições para que ela aconteça, continuará sendo utópica e servirá apenas

de fachada para mascarar um descaso com a educação.

Mais uma vez, destaco a grande importância de um currículo

pedagógico estruturado para atender as necessidades da formação de

professores que se tornem aptos a refletir e agir adequadamente perante as

situações que o mesmo venha vivenciar em suas experiências docente.

A formação de professores está ligada a uma formação educativa

voltada para sustentar as demandas de uma educação progressiva que precisa

atender as mais variadas classes sociais, etnias e comunidades em geral, mas

ainda se mostra tímida no preparo dos futuros professores para o

desenvolvimento de uma educação democrática.

O processo de formação de professores nas licenciaturas se mostra

como um desafio ainda maior para os tempos atuais e são vários os

contratempos que surgem ao longo do percurso desta formação.

Diversas são as dificuldades apresentadas ao longo desta carreira

escolhida, onde Diniz-Pereira (1999, p.123) aponta principalmente “a não-

valorização do profissional da educação, os salários aviltantes e a precariedade

do trabalho escolar”. O autor também expõe outros fatores consequenciais

para a escolha da docência como futura profissão e a desmotivação dos

professores atuantes, as quais se destacam: “más condições de trabalho,

salários pouco atraentes, jornada de trabalho excessiva e inexistência de

planos de carreira” (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.123).

Considerando que sempre surgirão novos obstáculos a serem

transpostos pelo futuro professor, sejam estes no campo pedagógico,

disciplinar, metodológico, didático, administrativo, comportamental, entre

outros, torna-se de primordial relevância, manter um olhar atento ao currículo

de formação dos futuros professores que irão atuar nas instituições de ensino,

Page 97: MARILENA KERSCHER PACHECO

90

para que os mesmos possam estar aptos a corresponder a qualquer

necessidade no exercício de sua profissão docente.

Esta dimensão é relevante para que o futuro professor em formação

consiga fundamentar e aplicar o meio mais viável de aprendizagem para cada

atividade que for desenvolvida. Uma tomada de consciência ajuda a decidir a

metodologia aplicada para levar o aluno ao aprendizado num contexto

completo e integrado com a realidade apresentada.

Buscando a compreensão de como estes professores formadores

organizam seu cotidiano a fim de oferecerem uma formação aos alunos que

possa complementar este processo, investigou-se como é encaminhada a

formação do professor dentro de uma fundamentação científica, ética, prática e

técnica. Os professores então fizeram o seu posicionamento da seguinte

maneira.

O prof. A argumentou: “Estamos dentro de uma Universidade que provoca isso,

tem disciplinas como a própria Ética, Filosofia, Cultura Religiosa, Processos do Conhecer, tem

toda uma formação aqui dentro que dá a oportunidade desse encaminhamento. Ciência e

Religião, então elas acontecem aqui dentro, então nós temos que aproveitar isso e o Corpo

Docente da Universidade e também o Corpo Discente tem que perceber isso, que a formação

tem que se dar no campo do cientifico, mas ela tem que se dar no campo do humano, no

campo da ética, no campo da moral, tudo isso, por que se não o que vai ser lá fora, que

profissional eu vou ser? Então eu tenho que transitar nessas situações e felizmente esta

Universidade29 dá essas condições, só não busca quem não quer, tem para os alunos e tem

para o professor essa formação. Como o Administrador30 mesmo fala, o aluno tem que sair

aqui de dentro com duas formações: uma formação acadêmica e uma formação humana e

quando se fala em formação humana, se transita nestas situações ai, na ética, na moral, então

não é só sair um ótimo profissional, mas uma ótima pessoa também, a formação tem que ter

isso. Para prática, a Educação Física tem um viés de muita prática e trabalhar com as

habilidades motoras, que é a técnica, então tem que ter essa formação também, porque o

aluno vai chegar lá fora no mercado de trabalho e ele vai fazer muito uso, vamos dizer assim,

dessas ferramentas, tanto da prática como da técnica, às vezes, na Educação Física

principalmente, é a primeira situação que lhe é colocado, ele vai para quadra, para sala de

dança, então ali já sai o conhecimento técnico dele, o conhecimento de prático dele, isso é

muito importante, vai sair ali no primeiro momento e atrás desse conhecimento técnico e

prático há o conhecimento científico, um conhecimento humanístico, que está suportando isso,

29 A palavra Universidade está substituindo o nome do campo de investigação. 30 A palavra Administrador está substituindo uma referencia feita pelo professor.

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91

então ele tem que ter essa formação, porque é aonde ele vai, vamos dizer assim, ser testado,

ser colocado a prova, então são essas situações (Prof.A).”

Para o prof. B esse encaminhamento flui naturalmente: “Na dimensão

cientifica é tranquila, nós trabalhamos com artigos em Estatística. Agora no TCC que eles tem

que trabalhar: aí os objetivos, as variáveis que tem, então você já mostra todas as

preocupações com o dado que ele vai coletar, não simplesmente coletar o dado e agora, vou

fazer o quê? Se aquela coleta foi válida, se ele coletou de uma forma correta, seguindo um

protocolo, um parâmetro, para poder aplicar. Procuro incentivar que os meus alunos publiquem

pelo menos os resumos em algum congresso científico. Na formação ética entendo que os

exemplos que damos, as posturas que temos em situações entre você e seu aluno, mostrando

sua conduta e postura. Você é o exemplo para formar este aluno, no caráter ético. Na prática: a

experiência prática tua também, a importância da sua disciplina, aonde ele vai aplicar, quando

for trabalhar na escola, os exercícios que você passou no Atletismo, onde ele vai aplicar,

quando ele vai aplicar, porque ele vai aplicar, como vai ajudar a criança a se desenvolver lá na

frente, se ele não aplicar o impacto na formação da criança. Enfim, a relação entre a parte

prática e técnica (Prof.B).”

E a profª.C comenta: “Temos alguns artigos que estudamos, algum assunto

relacionada ao conteúdo, principalmente no Bacharelado se aprofunda mais, que é a questão

da técnica em si, então da parte cientifica seria mais ou menos isso. A formação ética, ela está

permeada, porque costumamos fazer comentários da postura que o professor tem que ter, não

só o professor com os alunos, mas o professor com seus pares, com os coordenadores, da

postura de se manter sempre com uma boa conduta, coisas assim, mas não são itens

específicos dentro da disciplina, são comentários que permeiam os conteúdos. Na prática,

primeiro com a prática exclusivamente deles dentro da água, porque acredito que a Natação

em si é uma parte importante você ter essa prática e também através das aulas que eles

ministram, das atividades que eles aplicam dentro das aulas práticas também. Na técnica, junto

eles tem a parte prática da técnica e também a parte teórica, onde é passado toda a questão

técnica de como funciona, quais são os movimentos, porque esses movimentos devem ser

realizados, porque você tem que fazer aquele S31 e não passar a mão em linha reta, então

tudo isso é determinado através das duas partes, experimentação prática e também da parte

teórica (Profª.C).”

Aos professores entrevistados, foi questionado como é encaminhada a

formação do futuro professor de Educação Física dentro de uma

31 Quando a professora se refere a fazer aquele S ela está comentando de um movimento técnico da natação incluído na braçada de um dos estilos do esporte.

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fundamentação científica, ética, prática e técnica. Em seguida continuam as

respostas obtidas para esta questão.

O prof.D explica: “A Universidade tem o papel de trabalhar com conhecimento

científico, não o de “senso comum”, o que hoje a ciência traz para nós: livros, artigos, revistas

especializadas é papel do professor e da Universidade trabalhar com o conhecimento cientifico.

O conhecimento científico já carrega em si o compromisso ético, a boa ciência visa o bem da

humanidade. Acredito que em uma instituição como a Universidade32 em pesquisa, que além

de uma instituição acadêmica, é também confessional33, existe este comprometimento. Nos

encontros dos professores a filosofia confessional30 é passada para nós, neste sentido somos

incitados a sempre estar lidando com a ética. É o conhecimento científico atrelado à ética. A

questão técnica foi por muito criticado, tivemos momentos históricos como um todo em que a

Educação no Brasil, as leis da década de 60, 70, a 5.962 a 5.064 são leis que enfocavam muito

a questão da técnica, a importância do profissional ter técnicas de ensino, aprendizagem e etc.

Com o passar do tempo observou-se que ter técnica não é tudo, claro que as técnicas e

tecnologias são importantes, no entanto, se ficarmos focados apenas nelas, o processo fica

falho. Deve-se saber utilizar da técnica no momento certo, adequado, mas não só ela (Prof.D).”

Na opinião do prof. E: “A formação ética nós temos uma disciplina que trata

disso, sou um leigo falando para você, eu acredito que deva ser boa. Tem um professor de

ética que vem lá do departamento de filosofia e ele trabalha com todas as disciplinas. No

encaminhamento cientifico foi um “bum” muito grande da minha formação para cá, quando eu

saí de Curitiba para fazer o mestrado fora, não existia um grupo de pesquisa por exemplo, um

encaminhamento cientifico da parte mais acadêmica e quando eu voltei de Portugal e eu vi

coisas lá absurdas acontecendo eu disse, lá no Brasil não tem isso, mas quando eu voltei já

existia. Hoje eu posso falar de algumas linhas que existem aqui, mas vou referenciar uma só

que é o GPAQ34, que convida os alunos a estarem presentes. Nós trabalhamos hoje com a

parte de monografia muito mais profissionalizado em termos científicos do que era 10 anos

atrás. Eu acho que é uma evolução normal, mas é muito mais mesmo, foi uma mudança da

água para o vinho, estou falando desta Instituição porque eu não tenho conhecimento das

outras, mais ainda é uma minoria que está ligada a isso, mesmo tendo evoluído muito ainda

está engatinhando, eu preciso de mais uns 5 ou 10 anos para que esteja talvez como devesse

estar já, então estamos atrasados aí uns 5 ou 10 anos, mais ainda em 10 anos a mudança foi

muito grande. Acho que a técnica está mais adiantada porque como os professores de cada

área são especialistas no que aplicam, tecnicamente falando as pessoas saem prontas para

32 A palavra Universidade está substituindo o nome do campo de investigação.33 A palavra confessional é sinônimo para outro termo usado pelo professor em suas falas e o mesmo foi substituído a fim de preservar a identidade da Universidade pesquisada. 34 GPAQ – O Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida investiga a relação entre a atividade física e os aspectos que afetam a qualidade de vida das pessoas (Dados de Pesquisa).

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atuar de uma forma generalista, mais com aquele lado romântico que eu falei, não sabem

vender. Tá eu me formei e daí como que eu faço, como que eu vou ter cliente como personal

trainer, vou esperar ele chegar para mim? Em Curitiba o mercado ainda para o personal trainer

ele espera chegar, há eu queria fazer personal trainer, você faz? Há é só assim, não existe

ainda uma coisa mais agressiva de eu chegar na pessoa, eu criar nela essa necessidade

(Prof.E).”

O prof.H nos mostra seu ponto de vista, esclarecendo: “Eu acho que a

parte técnica e prática no nosso curso é bem contemplada, haja visto agora que fomos

classificados com grau 4 no guia do estudante, sem dúvida nenhuma, a parte técnica e prática

do nosso curso é muito boa. A questão ética, eu acho que recai naquela coisa dos valores e

como que recebemos esses alunos. O professor pode até tentar dar alguns exemplos, mais vai

muito deles absorverem isso, é uma missão difícil também (Prof.H)”. Em referência a

opinião do professor a respeito da parte científica da pesquisa no curso de

Educação Física, sua fala foi transferida para o item a seguir que é relacionada

a formação docente para pesquisa.

O prof.I diz: “De um modo geral, a ética é o próprio comportamento do profissional,

as ações, a condução como seres humanos. A parte científica no curso é trabalhada desde o

começo, com a leitura e o redigir de artigos. A monografia é um baita trabalho bom. Na minha

disciplina, especialmente em patologias, sempre foi fazer um trabalho final. Neste semestre

estou fazendo diferente, tentando motivar os alunos. No prático tenho deixado a desejar, em

fisiologia deve ser 50/50%, mas não tenho seguido esta prática (Prof.I).”

A formação do professor/profissional de Educação Física expressa

abrangência, auxiliando na formação profissional e especialmente na formação

humana, como testemunhada pelos depoimentos dos formadores.

Ao passar dos anos os formadores veem se conscientizando cada vez

mais da necessidade de instruir o educando para a vida em plenitude,

disponibilizando em sua formação, ferramentas para um trabalho educacional

que possa ser sustentável e que consigam levar o professor em formação ao

desenvolvimento de um pensamento crítico e coerente frente às dificuldades e

desafios da prática escolar.

A respeito da formação educacional Freire (2007, p.22) ressalta:

“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

produção ou a sua construção”. Freire (2007, p.23) ainda complementa: “Quem

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ensina aprende ao ensinar e que aprende ensina ao aprender”, demonstrando

que o processo formativo é válido dos dois lados. Assim, segundo o autor, é

possível criar possibilidades aos educandos para a construção de sua

identidade e seu senso crítico no meio acadêmico, possibilitando com que os

alunos de cursos de licenciatura, professores em formação, desenvolvam

através de um currículo bem planejado e aplicado ao longo do curso, as

condições para que consigam atuar com competência e estejam preparados a

enfrentar as dificuldades profissionais que lhe surgirão após a formação.

3.1.1.4 Formação Docente para Pesquisa

Entende-se que os cursos de graduação apenas realizam um processo

de ensino inicial referente à questão da formação de pesquisadores, realizando

a introdução à formação em pesquisa. De modo geral a prática de pesquisa é

desenvolvida para os cursos de especialização e pós-graduação Strito Sensu,

como esclarece Pinto e Martins (2009): “A maior finalidade dos Programas de

Mestrado e Doutorado, no Brasil, é a formação de pesquisadores (p.104)”.

Ao professor formador caberá a missão da iniciação científica dos seus

alunos, apresentando a eles os métodos e os recursos metodológicos para a

realização de uma pesquisa dentro de um tema de maior interesse.

Segundo Garanhani (2008) a prática do bom professor se solidificará

se ele for capaz de intervir e modificá-la através de sua capacidade de análise,

que segundo a autora “Este perfil poderá ser possível se a formação docente

contemplar o desenvolvimento de uma atitude de investigador (p.204)”. Assim

compreende-se que o processo de pesquisa nos cursos de graduação assume

uma importância para que instiguem nos alunos qualidades como senso de

investigação, apreço pela pesquisa acadêmica, interesse em um

aprofundamento teórico do objeto pesquisado, melhoria do vocabulário

acadêmico, obtenção de conhecimentos teóricos e práticos da pesquisa, com a

finalidade de aflorar nos professores em formação uma compreensão do que é

a realização de uma pesquisa acadêmica, suas metodologias e suas

finalidades. A partir deste ponto, caberá ao aluno a opção de se tornar um

pesquisador em sua área de atuação.

Page 102: MARILENA KERSCHER PACHECO

95

O curso pesquisado oferece disciplinas específicas para a orientação

dos graduandos a respeito da iniciação a pesquisa através da realização do

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), onde os alunos terão a oportunidade

de conhecer os processos destinados a uma pesquisa científica e colocar em

prática seus aprendizados em busca de alcançar um entendimento destes

procedimentos e ter a oportunidade de realizar uma iniciação a pesquisa que é

desenvolvida sobre um tema escolhido pelos próprios alunos do curso.

O curso também dispõe de grupos de pesquisa coordenados por

alguns professores que acolhem os alunos interessados a se aprofundarem no

campo da pesquisa e orienta-os mais profundamente a respeito da pesquisa

colocando-os em práticas direcionadas. Há também o desenvolvimento de

programas específicos, como o PIBIC.

Em busca de verificar como o curso de Educação Física investigado

contempla essa formação para pesquisa e como ela é processada no curso,

questionou-se aos professores/coordenadores como o curso administra todo

este processo de formação para pesquisa. A seguir são apresentadas as falas

dos professores/coordenadores.

A profª F explica: “Nós temos o trabalho do TCC, que é o Trabalho de Conclusão

de Curso. Até o curso anterior nós tínhamos o TCC, onde os alunos desenvolviam o projeto

durante o período de um ano. Quando nós fizemos a segunda reformulação do Bacharelado,

nós optamos por fazer essa disciplina em dois anos, então ela tem um semestre de

metodologia de pesquisa, que é entender o que é pesquisa e como acontece esse processo, aí

um período para fazer o projeto, um período para fazer o processo de desenvolvimento da

monografia e depois a parte de defesa. E temos nas disciplinas uma perspectiva de motivar o

aluno a construção de trabalhos, a pesquisar, a tentar visualizar situações concretas no

cotidiano que possam ser transformadas em trabalhos que encaminhem para o inicio da

iniciação cientifica do aluno (Profª.F)”.

O prof. G destaca em sua opinião que na graduação se faz apenas

uma iniciação a pesquisa por ser realizada de maneira introdutória, em suas

palavras: “Eu acredito que a formação em pesquisa ela se dá realmente na pós graduação,

essa é a minha opinião, a verdadeira formação em pesquisa. Agora a iniciação a pesquisa ela

pode se dar na graduação, então acredito que o curso faz uma iniciação a pesquisa de duas

maneiras distintas: uma é oportunizando a formação, a iniciação cientifica de maneira

institucional através dos programas de iniciação cientifica, com seus laboratórios, grupos de

Page 103: MARILENA KERSCHER PACHECO

96

pesquisa que o curso oferece, mas isso claramente é uma voluntariedade e uma opção de

cada aluno procurar. De maneira mais formal, se bem que de outra maneira também é formal,

mas inserido na grade do curso, o próprio desenvolvimento da monografia dá uma noção inicial

do que seria o processo de pesquisa em Educação Física e para isso nós temos quatro

disciplinas consequentes que são integradas para a formação, são elas: Metodologia da

Pesquisa, Desenvolvimento de Projeto, Desenvolvimento de Monografia e Defesa de

Monografia. Então essa é a maneira que eu vejo a formação de pesquisa no curso (Prof.G).”

Mas afinal, porque a pesquisa em um curso de graduação tem

importância? Qual seria o verdadeiro significado de mais este atributo dos

cursos? Segundo Lemos (2009) “Pensar a pesquisa na formação profissional é

assumir, por parte do professor universitário compromisso no desenvolvimento

de uma consciência crítica da área, reflexão e busca da atualização do

conhecimento para a vida (p.19-20)”. Então entende-se que o curso

proporciona uma iniciação científica com objetivos de proporcionar aos seus

alunos conhecimentos introdutórios sobre o que é uma pesquisa científica

dentro de sua área de estudo dispondo de disciplinas esclarecedoras para a

metodologia, desenvolvimento de projeto, bem como a realização de uma

pesquisa introdutória.

Em destaque a crítica de um dos professores entrevistados que nos

traz em seu ponto de vista uma expectativa diferenciada dos demais colegas a

respeito de formação para pesquisa científica, restringindo a formação da

funcionalidade da investigação: “Eu tenho uma crítica muito forte em relação ao aspecto

da parte científica da pesquisa em relação ao nosso curso especificamente. Eu acho que os

alunos todos são obrigados a fazer o trabalho de conclusão de curso, eles tem uma ideia de

como que é um processo de pesquisa cientifica, mas de fato a qualidade dos trabalhos é muito

baixa. Eu acho que é muito baixa fazendo algumas analogias com a Fisioterapia ou com a

Odontologia, eu tenho visto lá que os TCC são feitos em quadras, duplas e, às vezes, até em

grupos maiores e aí sim consegue-se fazer um desenho de pesquisa mais consistente, com

uma coleta de dados mais realista e aí sim eles conseguem produzir um trabalho cientifico de

qualidade maior. Isso não acontece aqui na Educação Física no meu ponto de vista, até do

jeito que é feita a pesquisa científica aqui eu voto para acabar, eliminar o TCC, que do jeito que

ele está não resolve. Eu acho que a grande maioria dos alunos não vai ser pesquisador, não

vai produzir nada cientificamente, talvez assim só para apresentar como que funciona uma

pesquisa cientifica, ela começa aqui e termina aqui, esse é o processo cientifico, mas a

qualidade do TCC é muito fraca, eu acho que tinha que ser reformulado completamente

(prof.H)”.

Page 104: MARILENA KERSCHER PACHECO

97

Segundo este professor a qualidade dos trabalhos apresentados, após

as pesquisas realizadas no curso, não exibem um nível satisfatório de

envolvimento dos alunos e aprimoramento dos conteúdos pesquisados por

eles. O professor comenta que não há muito sentido de realizar todo um

processo de pesquisa com os alunos, considerando que a grande maioria se

tornará apenas um profissional da área da Educação Física e não um

pesquisador, bastando desta forma, apresentar aos alunos os passos de uma

pesquisa científica sem a necessidade de torná-la concreta.

Este processo do aprendizado de pesquisa poderá auxiliar o aluno a se

tornar um profissional mais consciente e sensato em sua prática, levando-o a

interagir de modo eficaz em sua realidade em busca de respostas as suas

dúvidas pessoais e profissionais.

Brzezinski (2005) contribui com a dimensão da formação acadêmica,

salientando que esta formação não se resume em um simples transmitir de

conteúdos e técnicas com a finalidade de formar um professor que não tenha a

desenvoltura para pensar e recriar sua prática profissional. Explica a autora:

“Essa formação deve levar os acadêmicos a serem capazes de pensar, de

compreender e de recriar a natureza, a sociedade e o próprio homem (p.6).” A

formação acadêmica deve prestigiar uma formação calcada na relação Teoria e

Prática voltada sempre as necessidades e as mudanças que a sociedade

apresenta, com possibilidades de compreender a realidade social e

educacional.

A formação do educador ao abranger um leque diferenciado de

conhecimentos e práticas nas mais diversas formas, favorece que o aluno de

Educação Física possa desenvolver em sua graduação senso crítico, atitudes

de investigação superando o senso comum e tornando-se assim não apenas

um profissional competente em sua área de formação, mas também um

questionador, superando o estigma de que o professor e/ou profissional de

Educação Física não passa apenas de um executor de movimentos que não se

interessa em estudar profundamente sua área de atuação.

Page 105: MARILENA KERSCHER PACHECO

98

3.2 A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A relação Teoria e Prática na educação não se expressa de maneira

unilateral, ela não acontece isoladamente, mas sim em um determinado

contexto social no conjunto das relações sociais que o determinam e que são

determinadas, portanto é decorrente desta relação.

Martins (2003) considera a relação Teoria e Prática, na perspectiva de

que a teoria expressa a ação. A teoria tem origem na prática, nas relações

sociais. (Grifos da pesquisadora).

Nas suas práticas de luta, as classes trabalhadoras mostram novas formas de organização e novas formas de relação com o conhecimento, invertendo- se a concepção de conhecimento no qual a teoria é guia da ação prática. Inverte-se a relação: a prática não é guiada pela teoria, pois a teoria vai expressar a ação prática dos sujeitos. Ou seja, são as formas de agir que vão determinar as formas de pensar dos homens, as teorias, os conteúdos. A base do conhecimento é a ação prática que os homens realizam pelas relações sociais, mediante instituições. A forma como os homens agem é que vai definir como será o conhecimento, como será a visão de mundo (MARTINS, 2003, p.10).

Para a autora esta relação de Teoria e Prática é determinada pelo agir

do homem que esta inserido em um contexto social que se modifica

constantemente por via dos pensamentos e atitudes do objeto de pesquisa, ou

seja, o próprio homem é responsável pelas constantes alterações nas relações

que ocorrem periodicamente.

E Gamboa (2010a) expõe que existe uma inter-relação entre a Teoria e

Prática e que elas se confrontam, pois ambas fazem parte da ação social

humana. Expõe o autor:

Teoria e prática são duas categorias que indicam sempre uma relação. Entretanto, não existe consenso na interpretação dessa relação. Algumas tendências defendem o primado da teoria perante a prática; outras, o primado da prática como forma de supremacia que confere validez à teoria. (...) Tanto a teoria como a prática, são partes da ação social humana, a qual não resulta de uma teoria posta em prática, nem de uma prática que se torna teoria, mas na inter-relação dinâmica e complexa em que uma confronta à outra35. O termo práxis foi criado para denominar essa dinâmica (GAMBOA, 2010a, p. 7).

35 Grifos da pesquisadora

Page 106: MARILENA KERSCHER PACHECO

99

Pode-se se destacar que a relação Teoria e Prática é um contexto

complexo e que leva a muitas reflexões na tentativa de desvelar esta trama que

nos conduz a muitas interrogações em sua aplicação.

Como expõe Martins (2003) “A prática não é guiada pela teoria” e

pode-se complementar que esta prática está em constante mutação, pois é

aplicada na vida social a qual se modifica constantemente entre as atitudes das

pessoas e das novas descobertas no campo da educação.

É indissociável esta relação entre a Teoria e a Prática, pois uma

complementa a outra sendo que, às vezes, destaca-se a prática como

fundamento para teoria e em outras vezes ocorre a relação no sentido

contrário, sendo a teoria a grande concepção da prática. Complementa

Gamboa (2010a, p.10): “A teoria e a prática não se opõem como dois campos

distintos ou separados: as duas são parte de uma mesma realidade: a ação

social humana”, realizando nesta integração a oportunidade da descoberta de

novos conhecimentos.

Sabe-se que a relação Teoria e Prática deve ser parte integrante nas

experiências acadêmicas dos alunos que buscam sua formação, para melhor

orientá-los e inseri-los em sua profissão. Romanowski e Wachowicz (2003)

expressam esta situação:

As experiências mais relevantes, realizadas nos programas de aprendizagem, direcionam-se para o processo ensino–aprendizagem pretendido que é a inovação das atividades de ensino, resultando em uma verdadeira práxis educativa articulada à realidade social. Isso cria oportunidades para que a relação teoria e prática aconteça nas experiências dos alunos (ROMANOWSKI E WACHOWICZ, 2003 p.5).

Estas experiências proporcionadas aos alunos em formação lhe darão

uma base para iniciar seu trabalho profissional, sendo ele formal ou informal na

área da Educação Física. Gamboa (2010a, p.9) nos revela que “A verdadeira

teoria é a que expressa os resultados da prática”, oportunizando no espaço da

graduação vivências concretas ligadas ao cotidiano escolar.

Gamboa (2010a) também destaca que sobre a relação Teoria e

Prática, existe entre elas um confronto em busca de ajustes, segundo o autor:

Page 107: MARILENA KERSCHER PACHECO

100

A teoria transforma-se na negação da prática porque a confronta: a prática coloca em xeque a teoria, porque em vez de se ajustar a ela, transforma-se em seu contrário. Desse modo, a relação teoria-prática é, em verdade, uma relação dialética. E como tal, não procura o equilíbrio, o ajuste, a acomodação de uma à outra, visa à sua contradição, isto é, à tensão permanente entre elas (GAMBOA, 2010a, p.11).

Esta relação entre Teoria e Prática faz com que aconteça uma relação

constante, pois a teoria analisa a prática, a qual está sempre em mudança. A

teoria precisa sempre ser revista para expressar a prática e como toda prática

é única e diferenciada, a mesma necessita estar em constante análise para se

explicar suas peculiaridades e confrontá-las com as teorias já existentes.

Gamboa (2010b) complementa este pensamento destacando: “A teoria

transforma-se na negação da prática porque a tenciona: a prática coloca em

xeque a teoria, porque em vez de se ajustar a ela, transforma-se em seu

contrário (p.1)”.

No entanto, para Roldão (2007) a fundamentação do processo de

ensinar se inicia na teoria visando a seguir a atuação prática. Nas palavras da

autora:

A formalização do conhecimento profissional ligado ao acto de ensinar implica a consideração de uma constelação de saberes de vários tipos, passiveis de diversas formalizações teóricas, cientificas, cientifico-didacticas, pedagógicas (o que ensinar, como ensinar, a quem ensinar e de acordo com que finalidade, condições e recursos), que contudo, se jogam num único saber integrador, situado e contextual como ensinar aqui e agora, que se configura como “prático” (ROLDÃO, 2007, p.98).

Para formação inicial do professor torna-se primordial que o mesmo

tenha obtido no início de graduação orientações teóricas que os orientem de

como agir na prática, conseguindo desta maneira exercer uma atuação

coerente com sua fundamentação e consciente junto a seus alunos, caso

contrário na Educação Física, a prática pela prática se torna meramente uma

aplicação de movimentos, os quais foram adquiridos ao longo da vivência e

experiência pessoal do aluno que está se tornando professor, ou seja, não

existiria nesta prática uma visão e aplicação pedagógica didática e sim apenas

a aplicação de conhecimentos. Pacheco e Romanowski (2009) argumentam

que esta relação pode ser geradora de conflitos, quando confrontam a

realidade, destacam as autoras:

Page 108: MARILENA KERSCHER PACHECO

101

As relações teoria e prática pedagógica, nem sempre condizem com o que é pré determinado pelas instituições o que acomete a conflitos sociais geradores de dificuldades e limitações no desenvolvimento dos trabalhos pedagógicos do dia a dia (PACHECO e ROMANOWSKI, 2009, p.3).

Segundo as autoras, essas relações quando não são bem trabalhadas,

podem dificultar a atuação profissional do futuro docente que não se sentirá

seguro a realizar uma atuação pedagógica fundamentada.

Buscando compreender as concepções que os professores formadores

do curso de Educação Física desenvolvem sobre a relação Teoria e Prática

nos seus conteúdos aplicados, perguntei como eles guiavam esta questão

dentro da sua disciplina. A seguir estão dispostas as respostas coletadas junto

aos professores.

Para o prof. A “Ela é importante, porque ele vai aprender os conceitos, toda teoria

e ele tem que saber ligar essa teoria com a prática. Quando você está ensinando, por exemplo,

uma criança a controlar a bola, você tem toda uma fundamentação teórica e agora na prática,

como que isso acontece? Como que você ensina então? Como que se dá esse processo?

Como é que essas fases teóricas que estão aqui, ela vai acontecer na prática? Então ela tem

essa abordagem, ela não pode ficar estanque num conhecimento. Esse conhecimento tem que

ser transmito para prática, porque é como se vão acontecer as coisas, esse ato motor vai

acontecer ali na prática, não é na teoria, é na prática e como transferir esse conhecimento

teórico para prática, isso que é fundamental para ele (Prof.A).”

Para o prof. B “Você precisa da parte teórica, você tem que saber porque você

está fazendo aquilo. Por exemplo, você está fazendo uma avaliação física em uma pessoa,

você tem que saber o porque você está fazendo isto e aonde você quer chegar. A mesma

coisa no Atletismo: você vai aplicar um treinamento – mas porque eu estou fazendo isto, será

que não existe uma forma melhor de fazer? (Prof.B).”

Na concepção da profª C. “Eu acho que ambas tem um peso igual, até em

provas eu procuro deixar o mesmo peso, porque dentro da Natação especialmente, não é que

nem um Voleibol, um Basquete, que, às vezes, o professor ele não precisa ser um excelente

executante para ser um excelente professor. Eis uma primeira pergunta que eu faço para os

alunos logo que eles iniciam a disciplina: quando você vai num clube, tem um guarda vidas,

quando você vai a praia tem um guarda vidas lá, porque quando você vai numa escola de

natação não tem guarda vidas? Aí eles já ficam pensando... e eu digo, porque você é o guarda

vidas! Ou seja, o mínimo que você tem que saber é entrar na água e tirar uma pessoa, então

Page 109: MARILENA KERSCHER PACHECO

102

por isso que eu acho que a prática, especificamente nas atividades de natação e esportes

aquáticos ela é essencial, porque o aluno, futuro professor que não sabe nem colocar a cabeça

dentro da água, ele está pondo em risco até a vida dos seus próprios alunos. Às vezes, os

alunos até sabem nadar, mas e de repente, passou mal, teve algum problema, acabou

desmaiando dentro da piscina, você tem que ter o mínimo de conhecimento e experiência

prática para você atender esse aluno, então eu acredito que a prática e a teoria na Natação ela

tem peso praticamente igual, nesse sentido principalmente, pela questão da segurança

(Profª.C).”

O prof. D expõe: “Procuro trabalhar bem dividido. Na minha disciplina, 36h são

teóricas e 36 são práticas. Procuro respeitar esta divisão, pois entendo que a teoria e prática se

complementam. Isto é fundamental no processo de aprendizagem (Prof.D).”

Em busca da compreensão de como é trabalhada a relação Teoria e

Prática no curso de Educação Física, perguntei aos professores como é

desenvolvida esta questão dentro da sua disciplina.

Para o prof.E: “Eu trabalho acredito, que 50 a 50%. Eu acredito que os dois são

importantes, porque você pega hoje também o lado negativo. Hoje muitos professores que

saem da graduação, fazem pós graduação, fazem mestrado, fazem doutorado e nunca tiveram

uma prática. Então acredito que a prática, ela é fundamental para você realmente aplicar e ver

de forma efetiva o que você estuda na teoria. Em minha visão um não vive sem o outro. Eu

trabalho até mais teoria do que prática, mesmo tendo duas aulas práticas para uma teórica.

Então acredito que esta relação é importante porque se eu não tiver um, o outro para mim não

funciona, é aquilo que se usa como chavão:, “há... na teoria é muito bonito, mas na prática não

funciona”. Então não adianta, se eu não aplicar os conteúdos e não experimentar com os

alunos, entendo que a aula seria muito vaga, porque um está ligado ao outro, 50% (Prof.E)”.

Para o prof. H “Os dois são muito importantes. Primeiro pelo perfil do aluno de

Educação Física, ingenuamente quando eles vêm para o curso, eles acham que só vão fazer a

parte prática, que só vão ter jogos. Mas é fundamental e do jeito que é dividida 50 a 50 é muito

bom. Talvez até se nós tivéssemos a oportunidade de aumentar um pouquinho a parte prática,

60% talvez, o treinamento fosse até um pouco melhor, mas do jeito que está é muito bom, 50%

é disciplina teórica e 50% é prática, é uma distribuição que dá para trabalhar muito bem os

conteúdos (Prof.H).”

E no parecer do prof. I “Eu acho que não estou conseguindo fazer isto, deveria

ser 50/50%. A minha ação tem que ser mais prática. Uso este conhecimento todo dia na borda

Page 110: MARILENA KERSCHER PACHECO

103

da piscina, na Fisiologia do Exercício, mas não tenho conseguido transportar este

conhecimento, esta prática, para a sala de aula (Prof.I).”

Segundo os professores formadores a relação Teoria e Prática são

campos distintos, mas indispensáveis na formação do professor. A maioria

busca trabalhar com o equilíbrio de atividades no campo da Educação Física.

Os professores também destacaram que esta relação é aplicada em

50% e 50% nos conteúdos das disciplinas para que os alunos possam aplicar

na prática o que aprendem na teoria e depois retornar para teoria a fim de

analisar a prática aplicada e seus encalces pedagógicos, com a intenção de se

necessário for, realizar modificações nas próximas aplicações práticas com o

intuito de alcançar seus objetivos propostos naquela atividade.

A relação Teoria e Prática é presente na formação profissional e

favorece solidificar o processo educacional a fim de direcionar o aluno a uma

formação profissional condizente com sua área de atuação. Gamboa (2010a)

sugere que os conflitos entre a Teoria e a Prática são essenciais para estimular

sempre a reflexão dos currículos visando a melhor formação de professores:

Hoje a formação profissional no campo da Educação Física não é alheia ao conflito entre a teoria (agenda idealista) e prática tecnicista (a volta do pragmatismo). Esse conflito se expressa nos currículos dos cursos formadores dos profissionais quando se discute quais saberes científicos são necessários para a profissionalização e para fundamentação das diversas práticas nos diversos campos de atuação vinculados à área (GAMBOA, 2010a, p. 13).

O currículo de formação de professores deve propiciar experiências

teóricas e práticas no decorrer do curso com a finalidade de complementar a

formação do futuro professor que virá a atuar na Educação Básica, preparando

o aluno para assumir o papel de professor engajado e consciente de suas

funções docentes, buscando sua identidade própria para assim conquistar seu

espaço e fazer a diferença no meio que estiver inserido. Pois como citam

Caparroz e Bracht (2007):

O professor não deve aplicar teoria na prática e, sim, (re) construir (reinventar) sua prática com referência em ações/experiências e em reflexões/teorias. É fundamental que essa apropriação de teorias se dê de forma autônoma e crítica, portanto, como ação de um sujeito, de um autor (CAPARROZ E BRACHT, 2007, p.27).

Page 111: MARILENA KERSCHER PACHECO

104

Esta é uma das finalidades e desafios do curso de Educação Física,

que busca formar não apenas um profissional competente, mas acima de tudo

um cidadão com princípios éticos e morais, que possa se inserir na sociedade

de modo atuante e buscar fazer a diferença na comunidade que estiver

atuando como professor e/ou profissional de Educação Física. Gamboa

(2010b, p.7) esclarece “Não podemos conceber a teoria separada da prática;

ou seja, o ser separado do pensamento”, pois ambas se complementam em

busca de novas compreensões.

Quando o professor formador se dispõe a auxiliar o aluno em sua

formação acadêmica ele deverá atribuir a esta formação não apenas o estado

técnico do processo, mas especialmente o estado pessoal, pois o professor

estará formando futuros professores que estarão trabalhando com um produto

final, caracterizado por ser humano. O aluno não deve ser considerado apenas

um número em sala de aula e cabe ao professor universitário, formador do

futuro professor, a missão de auxiliá-lo e conduzi-lo perante os desafios

encontrados ao longo da graduação, solidificando a base de sustentação desta

formação através da fundamentação teórica interligada com a experiência da

prática pedagógica.

A lapidação de uma boa conduta profissional, relacionada a maneira

de ver, pensar e agir perante as Instituições de Ensino as quais os futuros

professores virão a atuar, só se tornará concreta se o mesmo tiver vivenciado

em seu tempo de formação acadêmica, um currículo bem estruturado capaz de

formar um professor consciente e comprometido com a sua prática

educacional. Tendo o aluno presenciado em sua formação, diversas

experiências concretas e atuais de convivência em campos educacionais,

experiências estas proporcionadas por meio de práticas conscientes

desenvolvidas durante a graduação, buscando a compreensão dos conteúdos

e sua aplicabilidade, o mesmo se tornará apto a intervir futuramente em

situações do cotidiano com êxito e sabedoria.

O estágio curricular está presente na grade de formação de

professores do curso de Educação Física como um componente essencial a

ser realizado durante o tempo de graduação e também um requisito obrigatório

a ser cumprido com 100% de presença para a aprovação do aluno.

Page 112: MARILENA KERSCHER PACHECO

105

O estágio se caracteriza por algumas particularidades e diferenciações

das disciplinas teóricas e práticas do curso, entre elas podemos citar, segundo

Pimenta e Lima (2008) a reafirmação da escolha da profissão, pois este é o

momento de confronto com a realidade, onde o aluno que muitas vezes

desconhece os problemas internos da escola, passa a enfrentar um cotidiano

diferenciado do qual ele fazia parte durante seu processo de ensino e agora

começa a ver os confrontos vivenciados no dia a dia do professor em sua rotina

profissional.

Uma realidade que se apresenta nos estágios acadêmicos é que os

alunos vivenciam uma dicotomia entre o real e a teoria. Pimenta e Lima (2008)

descrevem que os alunos se surpreendem diante da realidade encontrada nas

escolas e vivem um confronto entre a teoria e o que vivenciado por eles. Esta

visão da realidade ajuda os alunos em formação a construírem um

embasamento didático pedagógico que possa auxiliar em suas ações na

prática pedagógica.

O estágio supervisionado, ou seja, acompanhado por um profissional

formado da área, proporciona aos alunos o contato com a realidade que irão

atuar profissionalmente, com o benefício de poder dispor de auxilio técnico

profissional de um professor experiente que possa orientá-los em sua atuação

docente.

Pimenta (1997, p.95) distingue o estágio como: “A essência da

atividade (prática) do professor é o ensino-aprendizagem. Ou seja, é o

conhecimento técnico prático de como garantir que a aprendizagem se realize

como consequência da atividade de ensinar”. Assim entende-se que o estágio

é um processo de transição profissional, ligando o acadêmico em formação a

realidade educacional a qual será inserido após sua formação, fazendo desta

prática docente uma construção de saberes, que os levam a observações do

cotidiano escolar e por consequência a questionamentos e reflexões a cerca do

contexto escolar, contribuindo então para que o professor em formação possa

entender mais a fundo as situações que se apresentam e após reflexão,

consigam compreender e intervir conscientemente na aplicação real de sua

docência.

Aos coordenadores do curso foi abordada a questão que se refere as

mudanças que foram introduzidas no curso de Educação Física afim de

Page 113: MARILENA KERSCHER PACHECO

106

atender as exigências da atual legislação de ensino que regulamenta 800 horas

de prática e de estágio. Os professores/coordenadores se posicionaram da

seguinte maneira.

Professora F: “Nós cumprimos rigorosamente aquilo que a Legislação determinou.

Nós cumprimos as 400h de Estágio. Como nós já tínhamos uma perspectiva de Estágio

bastante organizada, desde o curso anterior que eram 300h, quando passou a 400h nós só

redistribuímos a carga horária. Então a medida que fomos montando currículo, nós fomos

colocando essas 400h ao longo dos dois últimos anos do curso como prevê a Legislação, ele

tem que acontecer na metade do curso para frente. E a Prática Profissional acontece desde o

primeiro ano, ela foi distribuída, só que o que nós fizemos, que é uma coisa que nós

precisamos avaliar inclusive com mais cuidado, é que nós associamos as práticas profissionais

a algum conteúdo, então se pegar todas as nossas práticas profissionais tem alguma coisa: é

prática profissional ... alguma coisa, então no primeiro ano é Identidade Profissional, no

segundo é Projeto Pedagógico, no terceiro é Metodologia de Ensino e agora no quarto ano

estamos colocando uma parte do Ensino Médio, que é a Educação Física no Ensino Médio.

Embora a gente teria um conteúdo específico ligado a prática profissional, ela está diretamente

ligada a perspectiva de visualização lá fora da Universidade, então eles saem daqui para ir

conhecer a rotina das escolas e das instituições. Nós não temos conseguido fazer com muita

frequência, principalmente na turma da noite, porque é difícil de tirar da Universidade e levar

para escolas, por causa do período de aula, mas eles tem uma ligação direta com a prática que

está sendo desenvolvida (Profª.F).”

Na concepção do prof. G “As mudanças foram na oferta da disciplina dentro das

400h de Estágio e 400h de Prática Profissional que temos que ter. Então foram inseridas

disciplinas específicas para isso e no caso do Estágio, foi feito de maneira concomitante da

formação mais elementar para mais avançada, então de 1ª a 4ª, de 5ª a 8ª e assim por diante,

avançando junto com o curso, ou seja, primeiro ele tem a formação inicial, enfim, até o aluno

chegar no Ensino Médio e essas 400h foram inseridas dentro da grade do curso a partir do 5º

período do curso (Prof.G).”

Como consta na Resolução CNE/CP nº 02, de 19 de fevereiro de 2002

os cursos de licenciatura deverão cumprir 400h de prática como componente

curricular ao longo do curso e 400h de estágio curricular supervisionado a partir

do inicio da segunda metade do curso.

Os professores/coordenadores comentam que o curso cumpre as indicações

da Legislação e que as cargas horárias relacionadas ao Estágio e as Práticas

Pedagógicas sofreram algumas modificações a fim de se adequar as

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107

exigências quanto a carga horária estipulada pela Legislação a partir de 2003

quando o curso foi reformulado separando as duas áreas de formação. As

disciplinas foram reorganizadas a fim de dispor ao aluno experiências docentes

em todos os níveis de Ensino.

É através da prática que os alunos recebem a oportunidade de

transformar as teorias aprendidas em experiências práticas. Dias-da-Silva

(2008) ressalta que não existe prática sem a teoria e explica:

Com toda dificuldade implicada em sua conceituação, a prática é uma dimensão decisiva do saber dos homens, quase sempre pressuposta em nossos cursos universitários. Mas sobretudo, a prática pressupõe a formação que cada um recebeu, estando presente na interpretação de que um cidadão constrói do mundo em que vive. Nesse sentido, não há prática sem teoria! Refletir, pensar e interpretar são nossas práticas invisíveis, que dependem de nossa experiência de mundo... (DIAS-DA-SILVA, 2008, p.28).

A autora destaca que não é factível formar a nova geração de

professores em parâmetros almejados sem levar em consideração a “carga” de

conhecimentos que os mesmos trazem consigo quando entram na

Universidade. É papel do professor mostrar os meios e caminhos para se

alcançar a excelência na educação, mas cabe ao aluno refletir e decidir sobre o

que lhe é oferecido e disponibilizado em sua formação e aplicar em sua

atuação docente.

As Diretrizes Curriculares nacionais para os cursos de graduação em

Educação Física, como já foi referido, inclui a indissociabilidade Teórico Prática

no processo de formação de professores.

No dia a dia das escolas percebe-se que a realidade conhecida nas

teorias em sua grande maioria, torna-se dissociada da prática. Andrade (2005,

p.2) nos apresenta um papel de professor diferenciado, destacando que “com a

teoria como referência e a prática como ferramenta, o professor deve procurar

o real que se apresenta diferente a cada dia”, ou seja, a teoria deixou de ser o

único meio de formar um bom e capaz profissional.

Pimenta e Lima (2008) afirmam que “o estágio é teoria e prática (e não

teoria ou prática)”, as autoras ressaltam ainda:

Page 115: MARILENA KERSCHER PACHECO

108

De acordo com o conceito de ação docente, a profissão de educador é uma prática social. Como tantas outras, é uma forma de se intervir na realidade social, no caso por meio da educação que ocorre não só, mas essencialmente, nas instituições de ensino. Isso porque a atividade docente é ao mesmo tempo prática e ação (PIMENTA E LIMA, 2008, p.41).

A construção da identidade docente estará ligada diretamente à prática

durante a graduação, com a compreensão da teoria trabalhadas junto as

práticas educacionais. Pimenta e Lima (2008, p.43) destacam: “O estágio dos

cursos de formação de professores, compete possibilitar que os futuros

professores compreendam a complexidade das práticas profissionais como

alternativa no preparo para sua inserção profissional”, possibilitando ao aluno o

conhecimento do seu campo de atuação e suas particularidades.

Em relação a prática desenvolvida no curso de Educação Física

pesquisado foi questionado aos professores entrevistados se a(s) disciplina(s)

pelos quais eles eram responsáveis administrava Estágio para os alunos. Dos

09 professores participantes da pesquisa, a maioria respondeu que não atuam

em disciplinas de Estágio. Um professor comentou que mesmo a sua disciplina

não tendo ligação com Estágio, ele em particular proporciona aos alunos ao

menos o conhecimento da prática.

Dos 09 professores que participaram desta pesquisa, 01 professor é

ligado ao Estágio e a ele então foram formuladas mais questões sobre o

Estágio. Este professor também administra outra disciplina no curso e comenta

a respeito:

Prof. D: No Handebol, não tem Estágio. Toda carga horária é feita aqui dentro da

Universidade mesmo. A possibilidade de Estágio eles tem na Licenciatura, na escola, onde

eles vão colocar o Handebol como um conteúdo da Educação Física na escola. E no Estágio

do Bacharelado, que não sou eu o responsável, são outros professores, os alunos vão para

academias, para clubes, e eles vão aplicar isso em situações lá com os atletas em iniciação,

atletas em formação ou atletas até de rendimento, então o enfoque é este (Prof.D)”.

Ao prof. D, responsável pela disciplina de Estágio especificamente na

Licenciatura, foi complementada a questão a respeito do desenvolvimento do

processo de Estágio. Expõe o prof. D o seu parecer de como se estabelece a

relação entre a universidade e as escolas no campo de Estágio e como

acontece todo esse processo dentro do curso de Educação Física.

Page 116: MARILENA KERSCHER PACHECO

109

“Temos algumas escolas que são parceiras nossas de anos, então só reforçamos os

contatos todo ano ou todo semestre. Ligamos para diretora ou para pedagoga da escola,

avisando que estaremos indo para escola com alguns grupos de estagiários, chegamos lá e

apresentamos os novos estagiários para os diretores, para os pedagogos e para os

professores. Daí dividimos os grupos, geralmente as alunos trabalham em duplas, onde cada

dupla vai atuar junto com o professor. Damos prioridade para escolas grandes que tenham

bastante professores. Temos escolas públicas hoje que tem de manhã ou a tarde, 4 até 5

professores atuando, escolas com muitos alunos. Então nas escolas que tem, por exemplo, 5

professores atuando, colocamos 10 estagiários, uma dupla com cada professor, e aí este

estagiário vai junto com o professor atuante, dialogar com o profissional e ver qual é sua

proposta e vai tentar atrelar a proposta dele com a do profissional, ou se tiver uma autonomia,

ele vai criar uma nova proposta que será aplicada durante seu Estágio (Prof.D)”.

Outra questão levantada foi a respeito das dificuldades encontradas

pelo curso em relação a inserção dos alunos nas escolas para a realização dos

Estágios.

O prof. D explica: “Temos escolas que já são parceiras, mas tem momentos que o

curso tem turmas maiores, aí as parcerias não suprem as necessidades, então buscamos

novos contatos. Geralmente se tratando desta Universidade36 em questão, as escolas são

abertas, quando o professor faz contato e fala que é um Estágio daqui, que será

supervisionado por um professor e que ele vai acompanhar o Estágio também, as escolas

geralmente se mostram abertas. O que acontece, às vezes, é que a escola dá abertura e

quando chegamos lá com os estagiários o professor se mostra um pouco avesso ao estágio.

Muitos casos desses acontecem com professores que não dão aula, é o professor que solta a

bola para os alunos e a aula vira meramente recreativa, não é uma aula de Educação Física,

não existe um processo de aprendizagem, o professor simplesmente disponibiliza o material e

os alunos que se virem e façam o que eles querem e pronto. Então esse tipo de profissional ele

tem restrição ao Estágio, porque daí chegamos lá com o acadêmico e ele vai ter que dar aula

com o supervisor acompanhando. Então para o professor isso gera um problema, porque vai

confrontar o cotidiano dele que é de não dar aula com uma proposta, plano de aula, aula,

supervisão. E nesses casos temos alguns problemas nesses campos de Estágios, inclusive já

tivemos que abandonar alguns campos de Estágios em função disso. O professor começar a

gerar problemas com o estagiário e nós termos que abandonar e buscar no meio do processo

outro campo de Estágio porque não estava “dando liga” entre os estagiários e o profissional.

Porque o profissional, não era profissional neste caso, ele soltava material e não tinha uma

proposta, nem objetivos, nem avaliação, não tinha nada, era simplesmente um “boleiro”

(Prof.D)”.

36 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada.

Page 117: MARILENA KERSCHER PACHECO

110

Outro ponto de destaque a ser compreendido neste processo de

Estágio é a respeito dos objetivos do Estágio para a disciplina e para o aluno.

Na concepção do prof.D o Estágio serviria “Para a aproximação do

acadêmico com as realidades, claro que num país como o Brasil, nós temos inúmeras

realidades, desde escolas fantásticas com estruturas e alunos com condição de saúde para

fazer atividades físicas, e outras escolas em condições muito precárias, alunos muitas vezes

desnutridos, com sérios problemas e que interferem no processo de aprendizagem. Mas a

função do Estágio é aproximar o acadêmico das várias realidades e ele vai vindo das séries

iniciais digamos a Pré-escola até chegar ao Ensino Médio e vai percebendo todo esse

processo ao longo do tempo. Claro que o ideal seria que ele tivesse a oportunidade de

experimentar escolas públicas, escolas privadas, mas isso não dá muito tempo, então o que

acontece é que tem alunos que passam o Estágio todo só em escolas públicas e outros mais

em escolas particulares, mas em geral é uma forma de aproximar eles da realidade, esse é o

principal objetivo do estágio. No Estágio procuramos discutir um pouco a parte teórica de todo

este processo. Daí vamos para as escolas e eles vão enfrentar diferentes contextos. Têm

alunos fazendo Estágios em escolas partículas, com estruturas fantásticas, material de sobra,

quadras em perfeitas condições, cobertas; e alunos em escolas públicas, que é muito

desgastada, é sem material, sem espaço adequado para execução das atividades, então

procuramos fazer os alunos entenderam que a aplicação do conhecimento é muito contextual.

Eles vão ter que fazer muita adaptação na escola, vão ter que realmente adaptar esse

conhecimento que eles tem aqui na Universidade dentro da realidade do contexto deles, o

número de alunos, a estrutura que eles tem, até a questão socioeconômica dos alunos,

interfere bastante na aplicação disto (prof.D).”

Também procurou-se verificar junto ao professor como acontece a

avaliação pedagógica nos Estágios Supervisionados, segundo ele:

“No Estágio a avaliação é portifólio, com planos de aula relacionados ao cronograma

que eles fizeram e é avaliado desta forma. Na última avaliação, eles têm que fazer um relatório

final com alguns itens que tem que ser destacados e a avaliação é essa, não existe prova ou

outro tipo de avaliação, é o portifólio final mesmo que avaliamos (prof. D)”.

E para complementação do assunto em questão, procurou-se saber

quais as dificuldades para os alunos irem para os campos de Estágio e

cumprirem com os objetivos propostos pelo Programa da Disciplina.

Page 118: MARILENA KERSCHER PACHECO

111

Expõe o prof. D: “Procuramos, a medida do possível, colocar os estagiários em

regiões próximas onde eles moram, mas nem sempre isso acontece. Então existe uma certa

dificuldade de deslocamento, tem muitos alunos que dependem de ônibus. Só que na

contramão dessa dificuldade, existe a Lei do Estágio que exige do acadêmico a presença em

100%, então ele não pode faltar o Estágio, isso é lei. O Estágio é diferente das outras

disciplinas, por exemplo, a outra disciplina que eu sou responsável no curso, que é o Handebol,

o aluno pode ter até 25% de faltas ao longo do semestre, então isso é um direito deles, então

eles podem faltar, de 72 aulas 18 aulas, é um direito deles. No Estágio não, são em média

100,110 horas por semestre e eles tem que estar presente em todos os momentos, a não ser

que tenha um problema muito sério, algo que justifique mesmo a ausência deles como uma

doença infecto contagiosa, caso de óbito de familiares próximos, senão eles tem que

comparecer ao campo de Estágio impreterivelmente. Na verdade existe dificuldade, muitos

encontram dificuldades, mas a lei força com que eles estejam lá, caso contrário é problema

para eles, eles acabam reprovando, tem que fazer a disciplina de novo e por isso existe uma

participação quase total dos alunos no Estágio. Nós professores, procuramos facilitar para eles,

inclusive o aluno até tem uma certa liberdade, se eles conseguirem montar grupos de 4, 6

alunos que morem próximos e que tenham uma escola próxima a casa deles que eles possam

fazer o Estágio e se a escola aceitar os alunos assumindo o compromisso com a Universidade,

eles podem fazer o Estágio até no bairro deles. Nós damos essa liberdade (Prof.D).”

Segundo o professor que é um dos responsáveis pelo Estágio na

Licenciatura da Educação Física, a finalidade do mesmo é proporcionar aos

alunos no processo de formação, que eles tenham contato direto com as

realidades das escolas que são várias, e que eles possam retornar a sala de

aula munidos de um conteúdo único, as experiências vivenciadas por eles

próprios.

O professor também destacou que o Estágio assume um papel de

destaque na formação do futuro professor, pois através dele o aluno tem a

oportunidade de conhecer a escola, seu funcionamento e interagir junto aos

profissionais da área da Educação Física, conhecendo seu campo de atuação.

Quanto a relação entre a Universidade e os campos de Estágio, o

professor esclareceu que devido a Universidade e o curso de Educação Física

estar atuante no campo da formação de professores há muitos anos, o curso

não encontra muitas barreiras para inserir seus estagiários para atuação nas

escolas, mas alguns professores nas escolas, expressam descontentamento

em receber estagiários. Embora a localização de espaços para a realização do

Page 119: MARILENA KERSCHER PACHECO

112

estágio não expresse conflitos, a convivência entre os estagiários e professores

das escolas nem sempre é simples, podendo gerar transtornos neste processo.

Diniz-Pereira (2000) traz uma análise a respeito das dificuldades do

estágio.

A falta de integração entre a Licenciatura e a realidade prática onde os licenciados irão atuar constitui um outro “dilema” enfrentado pelos cursos de formação de professores. Em outras palavras, há pouca integração entre os sistemas que formam os docentes, as universidades, e os que os absorvem: as redes de ensino fundamental e médio. Essa desarticulação reflete, talvez, a separação entre teoria e prática existente nos cursos de formação de professores (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.61-62).

A interação entre o curso e os locais de estágio deve ser uma relação

harmoniosa que proporcione a todos os envolvidos algum ponto de

contribuição. Dispondo a todos um ambiente apropriado a realização da prática

pedagógica direcionada ao aprendizado do aluno.

A seguir os demais professores comentam a respeito do Estágio, mas

não atuam diretamente nesta área disciplinar.

Profª.C: “Na disciplina não, eles vão ter claro, as vivências no Estágio

supervisionado depois, o que eu costumo fazer é o que chamamos de micro ensino dentro da

disciplina, que é quando os alunos acabam dando aula para eles mesmos. Então eles fazem a

atividade e eu analiso a parte didática deles quando eles dão aula para o grupo mesmo

(Profª.C).”

O Prof. E reponde sobre o Estágio em sua disciplina: “Não tem Estágio na

minha disciplina porque existe uma disciplina de Estágio obrigatório, onde eles buscam a área

de interesse deles. Eu até os levo para conhecer algumas realidades, mas não na minha

disciplina. Eu proporciono para eles um Estágio em particular, não a minha disciplina, mas eu

mesmo (Prof.E).”

Os professores A, B, H e I responderam apenas que sua disciplina não

administra Estágio para os alunos.

Ainda em busca de uma compreensão mais aprofundada desta relação

de Estágio no curso de Educação Física, buscou-se maior detalhamento sobre

as práticas relativas ao Estágio curricular supervisionado. Eis os relatos:

Page 120: MARILENA KERSCHER PACHECO

113

Segundo a profª F: “Por conta de uma história que a Instituição tinha em relação

aos currículos dos Estágios desde o inicio do curso, onde nós tínhamos um processo de

acompanhamento do Estágio muito próximo, nós tínhamos os professores juntos com os

alunos nas escolas, nós acabamos construindo uma referência de qualidade nos nossos

Estágios. De uns três anos para cá, que tivemos um pouco mais de dificuldade porque agora

nós temos mais alunos e menos professores nos Estágios, mas de modo geral, os nossos

alunos são muito bem vindos por conta do trabalho que é desenvolvido lá, então os nossos

professores tem contato direto com as direções das escolas, com a Secretaria Municipal

principalmente, nós temos contato com o pessoal que direciona, que dirige as escolas e que

trabalham na secretaria. No Bacharelado a mesma coisa, então nós temos algumas

instituições, alguns clubes, algumas academias que já são nossos parceiros a muitos anos com

os quais trabalhamos de forma bastante direta, então nossos alunos já sabem que vão

trabalhar. E esse ano nós estamos no Bacharelado, tendo experiências de fazer com que

nossos alunos façam Estágio aqui dentro da própria Universidade, então nós estamos abrindo

outras possibilidades de Estágio, nós temos na própria academia da Universidade, que os

alunos fazem Estágio e esse ano nós estamos numa experiência que tem sido bastante

positiva, os alunos estão fazendo Estágio na Clinica de Nutrição, acompanhado pessoas que

estão num processo de acompanhamento nutricional, seja por obesidade ou qualquer outra

razão e a partir do ano que vem eles irão acompanhar pessoas que irão fazer ou já fizeram

cirurgia de redução de estomago, então um acompanhamento mais específico. Estamos

abrindo essas novas possibilidades, que é uma experiência que começamos a fazer esse ano

para buscar mais uma possibilidade de Estágio para o curso (Profª.F).”

E o profº G complementa: “No caso das escolas, esse é um relacionamento de

longa data, muitas escolas atuam com o curso já há muitos anos, portanto existe quase uma

expectativa, porque todo ano nós trabalhamos com as mesmas escolas, então elas estão nos

aguardando. Mas de maneira formal, o curso sempre faz o contato mediante carta de

apresentação, os professores de Estágio fazem contato com as escolas e verificam a

disponibilidade de ofertas de disciplinas e recebimento de alunos. Para as instituições que

atuam no Bacharelado, academias, clubes e particularmente a Secretaria Municipal de

Esportes e Lazer nós temos um relacionamento agora também de um certo tempo e fazemos o

contato formal também (Prof.G).”

Segundo a coordenação do curso, a relação com a escola exige

permanente contato, mas não apresenta dificuldades relacionadas ao Estágio

curricular supervisionado devido o curso manter contato de longa data com as

escolas e também agora com os demais campos para atuação do Estágio na

área informal. Sendo o Estágio uma atividade supervisionada e acompanhada

Page 121: MARILENA KERSCHER PACHECO

114

pelos professores da Instituição, o mesmo não encontra dificuldades na

inserção dos alunos nos campos de Estágio, pois o curso apresenta um

processo de contato com as Instituições antes e também durante o Estágio

para um acompanhamento regular dos alunos e suas atividades, sendo elas

apenas de observação ou atuação.

A maior razão desta proximidade advém do trabalho comprometido dos

estagiários na escola.

3.2.1 PRÁTICA DOCENTE NO CURSO

A organização do currículo de formação de professores é um ponto

base para que aconteça um processo de formação profissional, formando o

aluno para se inserir em seu campo de atuação, sendo ele formal ou informal,

atendendo as necessidades educacionais que sua profissão apresenta, através

de uma atuação consciente pautada em princípios teóricos, científicos, práticos

e metodológicos adquiridos ao longo do tempo de graduação.

É nas disciplinas estudadas que os alunos irão se basear para sua

futura atuação profissional. Os professores responsáveis pelas disciplinas são

também responsáveis pela transmissão dos conteúdos e atividades referentes

aos conteúdos que a disciplina propõe para estudos. Esses conteúdos são

transmitidos pelo professor de diversas formas e para isso o professor pode se

apropriar de vários recursos metodológicos e também tecnológicos a fim de

conseguir alcançar junto aos alunos o objetivo desejado para aquela atividade

prevista em aula.

Tardif (2000) nos diz que a condição de ser professor exige adaptação

e improvisação e comenta:

(...) os conhecimentos profissionais exigem sempre uma parcela de improvisação e de adaptação a situações novas e únicas que exigem do profissional reflexão e discernimento para que possa não só compreender o problema como também organizar e esclarecer os objetivos almejados e os meios a serem usados para atingi-los (TARDIF, 2000, p.7).

Junto aos professores entrevistados buscou-se conhecer como

acontece toda essa dinâmica de sala de aula e verificou-se como são

Page 122: MARILENA KERSCHER PACHECO

115

trabalhados os conteúdos em sua disciplina, desde a realização de atividades,

conteúdos e avaliação. Os professores teceram os seguintes comentários:

Segundo o professor A: “Eu trabalho esses conteúdos com aulas expositivas,

depois eu trabalho com tarefas; eu trago tarefas de situações dentro da Educação Física

escolar e os alunos trabalham e depois há uma discussão. Eu trabalho também em forma de

seminários onde eu estruturo um seminário com eles, divido em temas e daí o grupo apresenta

o tema e depois o grupo tem que provocar um debate com a turma em relação a este tema que

foi apresentado. E também trabalhos que eu faço ao longo do semestre com eles; eu trago um

artigo, um tema relacionado a aprendizagem motora e eles vão trabalhar encima disso;

também faço avaliação teórica, a prova, faço esse tipo de avaliação. Todas as atividades valem

nota (Prof.A).”

Comenta o professor B: “No Atletismo são aulas teóricas e expositivas, tenho

Datashow, PowerPoint, na aula passo informações básicas, e eu trabalho com os vídeos para

mostrar o gesto correto e as falhas nos gestos, porque acontecem os acidentes, que quando

chama a atenção, quando a turma dispersa, você coloca uma coisa engraçada, aí todo mundo

já olha. Na parte prática (1 teórica e 1 prática), aí é a parte da iniciação, como fazer o passo-a-

passo, de um passo-a-passo chegar no gesto final que eu gostaria, como o movimento total de

um lançamento, de um salto, aí com exercícios simples até chegar no complexo, de forma

também pedagógica, passo-a-passo. Na Antropometria, temos aulas teóricas, expositivas e

práticas, aonde os alunos fazem as medidas neles mesmos, eles se avaliam, assim vamos

mostrando os pequenos erros de posição para identificar os pontos anatômicos, para fazer as

medidas. É isto que faço nas aulas práticas, mostro como calcular, como mostrar as equações

no computador, facilitar a vida deles, que é o que vamos fazer na prática, não vai ficar

calculando percentual de gordura na mão. Então você mostra na mão para eles entenderem

como é o calculo, de onde vem a fórmula, aí depois, você mostra como faz no computador, se

não fica muito fácil também. Na Bioestatística entra a matemática que assusta eles, apesar de

não ser muita conta, é muita informação de interpretação. Aí também tem a aula teórica para

explicar tudo, eu trabalho bastante com exercícios, resolvemos exercícios juntos em sala de

aula, problemas juntos, cria-se situações e resolve para tentar ficar mais claro. Treinamento

também, aulas teóricas e as práticas, mostrando métodos de avaliação, de treino, para eles

visualizarem e sentirem as diferenças (Prof.B).”

Segundo a professora C: “Eu trabalho muito com a parte de didática, tanto na

Licenciatura como no Bacharelado, onde os alunos tem um trabalho que eles devem realizar.

Analisam erros deles mesmos, um nos outros alunos e aí eles fazem toda uma elaboração de

exercícios para correção dos erros, eles aplicam esses exercícios, fazem relatórios, para

vivenciar realmente a prática do ensino da Natação. Além disso, eles tem também outro

Page 123: MARILENA KERSCHER PACHECO

116

trabalho relacionado a teoria, a parte de Natação para bebes, que eles vão pesquisar nas

escolas e trazem em uma apresentação de seminário. Também trabalhamos com leituras de

alguns autores. Temos trabalhado também algumas atividades onde eles tem que raciocinar

como ocorre uma coordenação dentro dos quatro estilos e basicamente a parte de aplicação

das aulas que é feito dentro das próprias aulas (Profª.C).”

Esclarece o professor D: “Procuro variar muito a estratégia pedagógica das aulas

expositivas, em alguns momentos, acho que a aula expositiva ela é importante, tem momentos

que precisamos ir lá para frente, usar recursos e trabalhar a aula expositiva acho que isso tem

que ter, mas em muitas situações, é tirado o foco do professor e colocado o foco no aluno, ele

faz leituras e discussões em pequenos grupos, discussões em grandes grupos, seminários.

Basicamente eu vejo assim, ou o foco está no professor com a aula mais expositiva ou o foco

está no aluno, ele que vai ler e o professor vai ser um mediador, uma pessoa que vai aparar as

arestas na hora que surgir dúvidas. Mas é muito usado a variação de estratégias pedagógicas

didáticas, muito, tem que ser né, só aula expositiva o tempo todo não funciona e também você

só focar no aluno, trabalhar com seminário também funciona. Eu entendo que precisamos

variar bastante, foco no aluno as vezes, foco no professor e vamos trabalhando dessa forma. A

avaliação também, no Handebol eu vario bastante, eu trabalho com avaliação teórica, prova

mesmo. Hoje alinhamos muito as provas ao modelo que a Instituição sugere que façamos, que

é o modelo de gabarito, então usamos esse instrumento em alguns momentos, não sempre,

mas eu trabalho bastante com seminários em alguns momentos. Fundamentos, eu trabalho

com seminários, cada grupo de alunos escolhe um fundamento, drible, arremesso, e eles que

vão apresentar para turma e eu fico ali intermediando, dando minhas contribuições. Aí trabalho

também com a avalição prática, essa avaliação prática não tem um cunho muito de exigir do

aluno que ele tenha habilidade, como era antigamente na Educação Física que se exigia isso,

que o aluno mostrasse até um bom desempenho no processo, então isso não é exigido, o que

é exigido do aluno é que ele participe da aula, que ele se envolva, que ele pegue lá a bola e

execute o gesto para que ele possa ter essa experiência motora. Eu trabalho com avaliação

prática também. Basicamente isso, no Handebol avaliações teóricas, provas mesmo,

seminários e avaliações práticas e algumas discussões em grupos valendo nota, tem que ler o

texto, discutir em grupo e depois debater e essa participação valendo nota, são esses os tipos

de procedimentos que eu utilizo (Prof.D).”

Esta questão se refere a maneira como os professores formadores dos

futuros professores desenvolvem os conteúdos a serem ensinados em sua

disciplina e como eles se apropriam de dinâmicas, atividades e avaliação para

desenvolverem da melhor maneira um trabalho pedagógico com seus alunos.

Page 124: MARILENA KERSCHER PACHECO

117

Expõe o professor E: “Teórico prático mesmo. O primeiro semestre, eu costumo

dizer para os alunos que eu trabalho para eles e o segundo semestre eles trabalham para mim.

Então no primeiro semestre eu planto muita informação, coloco muito conteúdo junto com eles,

eles seriam mais receptores da informação. E num segundo momento, através dessa

informação, eles começam um trabalho de construção. Então em um primeiro momento eles

são receptores da informação para poder situar-se dentro daquela disciplina e num segundo

momento eles constroem a partir dali. Então eles constroem como? Através de trabalhos, eles

fazem um trabalho que tem o teor de um livro, com mais de 200 fotos todas com descrição,

então fica realmente um livro que fica para eles de consulta que é toda a parte estrutural da

aula de localizada, que é uma aula clássica, desde a origem, inserção, como eu faço exercício,

quais os tipos de exercício e qual é a aplicação deles. Então eles estão para concluir agora,

para daqui a 10,15 dias entregar e depois eles fazem uma aula, além de várias montagens de

pequenas aulas, até chegar nessa aula final. E a aula final, que coroa o segundo semestre, é

uma aula que eles têm tudo que aprenderam nestes dois semestres, mostrar em uma aula de

40 minutos, ou seja, desde a parte de vendas, a forma de ser e estar, a parte de Marketing,

como a parte de planejamento, de como montar uma aula de ginástica, ou seja, eles tem que

fazer isso, em uma equipe de 5 pessoas e cada participante tem que trazer um familiar que não

seja da área para que eles possam atuar não só com os seus pares iguais, mas com o público

verdadeiro naquele momento. Então o final do semestre é coroado com essa avaliação, que

vale 10 também, dividida em quatro notas no último semestre, onde eles aplicam de forma

otimizada naquele momento (Prof.E).”

Para o professor H: “Basicamente a disciplina é dividida em 50% da carga horária

prática e 50% teórica. Normalmente é um ciclo que se repete, começamos falando do histórico

da luta, aí fala um pouquinho dos conceitos filosóficos da luta, das regras e procura estudar e

avaliar as capacidades físicas envolvidas nas lutas e as demandas energéticas em relação à

fisiologia do esforço desta luta. Aí na parte prática fazemos os fundamentos da luta, ou seja, a

base da luta e as primeiras técnicas de cada uma dessas lutas, basicamente um tipo de técnica

de cada grande grupo de luta. A metodologia, bem na prática sempre usamos, mas no final do

módulo da luta, por exemplo, no final do judô, no final do taekendoo, sempre existe um

momento de luta mesmo entre os alunos, para que eles experimentem a disputa, o

enfrentamento, ou seja, o confronto direto. Aí sim eles conseguem se apropriar de todo o

conteúdo e colocar na prática e sentir o que um lutador de fato sente no momento da luta. No

caso da Licenciatura é um pouquinho diferente, pois usamos a estratégia dos jogos de

oposição, mas faz com que os alunos usem os jogos de oposição entre eles para também

sentir as dificuldades da atividade em si e poder estar preparado para aplicar essa atividade lá

no ambiente da escola especificamente. A avaliação é teórica e prática. Falando hoje em dia

como funciona, vendo o “Edgar Morran, aproximação excessiva”, agora a cada ano tento inovar

um pouquinho e melhorar um pouco o processo. Mas hoje é assim, existe uma prova escrita,

normalmente uma prova discursiva, alguns trabalhos de pesquisa e apresentação de

Page 125: MARILENA KERSCHER PACHECO

118

seminários que ajudam um pouquinho na nota e eles se apropriam mais dos conteúdos

pesquisando e demostrando. E uma prova prática que consiste trazer o colega e demostrar

aqueles fundamentos que foram estudados durante as aulas práticas, sempre a nota é

composta dessa forma (Prof.H).”

E segundo o professor I: “Na Fisiologia estou tentando transformar em prática, já

fizemos, graças a Deus, umas três práticas. A sala de aula para a parte teórica, e a tentativa de

praticar isto, além de estudos de caso, funcionando na forma: lanço uma proposta, eles vão

para o ginásio, praticam, e aí verificam a pressão arterial, a frequência cardíaca, fazem os

testes de 02, calculam as velocidades, calculam o consumo calórico, e assim por diante, aí

monta-se um estudo de caso, eles vão até a biblioteca pesquisam e me procuram, na própria

biblioteca, para a discussão do caso. São estudos rápidos, de no máximo 35 minutos. A ideia,

caso eu continue na disciplina, é transformá-la em mais prática ainda, para que o aluno possa

vivenciar a aplicabilidade da Fisiologia do Exercício (Prof.I).”

Os professores comentaram suas estratégias de ensino aprendizagem

aplicados em suas disciplinas e o que se percebe é que eles procuram variar

as estratégias de transmissão nas aulas de conteúdos e nas aulas práticas

desenvolvidas em ambientes adequados a prática aplicada. Usa-se em

conjunto recursos tecnológicos para auxiliar a aula como Datashow,

PowerPoint, Vídeos e programas de computador desenvolvidos para auxiliar

em cálculos mais complexos. Acontece também o desenvolvimento de micro

aulas, onde os próprios colegas colaboram entre si a aplicação do que foi

estudado. O estudo de artigos relacionados aos conteúdos é uma atividade

constante no curso.

Houve comentários sobre aplicação de estratégias de ensino

aprendizagem e avaliação, destacando o uso de métodos diferenciados como a

montagem de um projeto de trabalho abrangendo toda a disciplina a fim de

proporcionar ao aluno um referencial do que foi estudado, são empregados

também estudos de caso, com o aprofundamento teórico e prático e discussão

dos resultados com o professor. Usa-se a realização de seminários, em que o

professor passa a ser um mediador dos assuntos e cabe aos alunos o

aprofundamento do tema a ser discutido com os colegas e o professor intervêm

ao final com suas contribuições.

A avaliação é realizada através de provas teóricas descritivas e de

testes de múltipla escolha eventualmente. Também por meio de apresentação

Page 126: MARILENA KERSCHER PACHECO

119

de seminários, trabalhos de discussão de artigos em pequenos grupos, estudos

de casos e aplicabilidade dos conteúdos estudados na prática.

Verificou-se que os professores usam diversos métodos de aplicação de

conteúdos e também avaliação. Esses métodos além de auxiliar o professor no

alcance dos objetivos propostos para a disciplina em si, ajuda o futuro

professor a conhecer as diversificações do ensino aprendizagem e as

estratégias a serem empregadas em sala de aula, ou atividades em espaços

abertos.

A prática pedagógica do professor se caracteriza como sendo uma

prática intencional e que está sujeita a modificações, considerando as

concepções dos professores. Estas modificações podem ser geradoras de

conflitos o qual leva os professores a uma reflexão constante sobre sua

atuação docente. Romanowski, et al. (2005, p.2) destacam que “A profissão do

professor caracteriza-se como uma prática social contextualizada, conflituosa,

ideológica, complexa, organizada para além do desempenho técnico”.

Pimenta e Lima (2008) indicam sobre a prática pedagógica que ela é

marcada pela cultura.

A prática educativa (institucional) é um traço cultural compartilhado que tem relações com o que acontece em outros âmbitos da sociedade e das suas instituições. Portanto, no estágio dos cursos de formação de professores, compete possibilitar que os futuros professores compreendam a complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas para sua inserção profissional (PIMENTA E LIMA, 2008, p. 43).

Não seria possível falar em prática pedagógica isolada do contexto

social onde ela acontece e todos os seus determinantes. A prática está

intimamente ligada a realidade articulada às relações sociais de um

determinado grupo.

Esta prática pedagógica é campo de investigação na didática que

objetiva o estudo dos métodos e as técnicas de ensino aprendizagem, que

segundo Candau (2000, p.14) “O ensino-aprendizagem é um processo que

está sempre presente, de forma direta ou indireta, no relacionamento humano”

e poderá afetar de formas diversas conforme sua aplicação. A prática

pedagógica servirá para ofertar aos alunos uma formação pautada em

afinidades de aprendizagem. Martins (2007) esclarece que as contradições

Page 127: MARILENA KERSCHER PACHECO

120

emergem das experiências práticas vivenciadas pelos alunos e essas vivências

são as responsáveis pela reconstrução dos conhecimentos. Nas palavras da

autora:

A reconstrução do conhecimento da Didática não se faz por meio de reflexões teóricas, mas emerge das contradições presentes na prática de nossas escolas, expressando a prática de seus agentes ao vivenciarem essas contradições (MARTINS, 2007, p.4).

Ainda segundo Veiga (2000, p.17) “A prática pedagógica não deve

esquecer a realidade concreta da escola e os determinantes sociais que a

circundam” assim em concordância com Martins (2007) e Veiga (2000)

compreende-se que as relações sociais são as responsáveis pelas

transformações dos conhecimentos já adquiridos e que essas transformações

ocorrem inicialmente através das experiências práticas dos professores em seu

cotidiano escolar.

Com o intuito de buscar um maior esclarecimento junto aos professores

responsáveis pela formação dos futuros professores da Educação Básica, foi

levantada a questão de como é encaminhada a prática pedagógica na

disciplina a qual eles ministram. A seguir os textos das respostas:

O professor A responde: “Ela não tem uma prática pedagógica assim

diretamente na aula, porque a minha aula é uma aula mais teórica, então a prática como

componente curricular ela é trabalhada nessas dinâmicas em trabalhos em grupos que eu faço.

E esse semestre estamos um pouco prejudicados, porque nos semestres anteriores eu fazia

muitos trabalhos de práticas pedagógicas de um determinado tema e os alunos faziam esse

determinado tema na prática, eles fazendo intervenção e como nós estamos num processo

agora retenção de espaço devido as reformas que estão acontecendo nesse semestre, eu não

estou tendo esta oportunidade, então esta prática pedagógica ela tem ficado mais no cunho da

teoria e do debate em sala de aula (Prof.A).”

Segundo a professora C: “Basicamente temos aulas práticas teóricas e é

importante o que eu tento passar para os alunos das aulas práticas e a importância maior é a

questão da segurança dos alunos futuramente, muitos chegam ainda sem saber nadar e o

ideal é que eles saibam pelo menos uma noção de como se deslocar dentro da água até o final

do ano. Porque isto remete além da sua própria segurança, principalmente a segurança do

aluno, então é dada uma ênfase muito grande as aulas práticas (Profª.C).”

Page 128: MARILENA KERSCHER PACHECO

121

O professor D descreve: “Hoje aqui na Universidade, nós temos exigências na

primeira semana de aula, entregamos para o aluno o que chamamos de PA (Programa de

Aprendizagem), hoje não chamamos mais de PA, os professores entregam a proposta da

disciplina. Nessa proposta já vai estar todos os conteúdos que vão ser trabalhados, vai estar o

método de ensino aprendizagem que estaremos usando, vai estar toda a avaliação

determinada, quanto vale cada questão, o seminário vale tanto, o trabalho de discussão de

texto vale tanto, a avaliação prática vale tanto, a prova final vai valer tanto, então tudo isso já é

entregue ao aluno no início do semestre e ele fica ciente do que será desenvolvido ao longo da

disciplina. As referências que vão ser usadas, tudo isso é entregue para o aluno no primeiro dia

de aula e nós seguimos a risca isso. Por exemplo, são 18 semanas por semestre, esta

Instituição funciona desta forma, então para cada semana temos bem determinado o conteúdo

que vai ser trabalhado, então o aluno na primeira semana de aula ele já recebe a proposta de

trabalho, e salvo raras exceções, que, às vezes, uma turma tem um ritmo um pouco diferente

da outra, tentamos seguir aquela proposta na íntegra. Cada semana vai ser trabalhado aquele

conteúdo, e tem semana que tem avaliação, tem semanas que não tem avaliação, é só aula

mesmo e o aluno recebe isso de antemão, eu acho que isso foi um grande avanço da

Instituição, melhorou muita a qualidade dos cursos daqui a partir do momento que foi exigido

que cada disciplina de todos os cursos da Universidade tenham a sua proposta muito bem

descrita teoricamente, eu gosto muito disso, foi uma contribuição muito grande da área

pedagógica, foi o curso de Pedagogia da Instituição que alavancou esse processo e deu

suporte para que isso acontecesse, então foi muito importante para qualidade de todos os

cursos daqui, não só da Educação Física (Prof.D).”

Esta questão diz respeito de como o professor encaminhada a prática

pedagógica em sua disciplina.

Para o professor E: “Em termos de prática pedagógica eu não tenho um

embasamento pedagógico, dizendo professor você vai ter que trabalhar dessa forma. Eu

acredito até que os professores sejam carentes no aspecto didático, porque o professor ele dá

aula com muita liberdade na Instituição e isso eu acho ruim, ele trabalha como quer. Se você

vai, por exemplo, para Europa, eu já tive a oportunidade de morar quatro anos fora e lá existe a

Escola de Formador de Formadores. Eu só posso trabalhar com formação, mesmo que eu

tenha uma graduação, mas se eu não me especializar no curso de formação de formadores,

não estarei apto para assumir esta responsabilidade. Então as pessoas não tem uma prática

pedagógica condizente talvez mesmo como se tivesse feito um curso de prática pedagógica.

Então eu não saberia dizer para você em termos mais científicos, eu trabalho desta forma!

Porque todo professor que você entrevistar, você deve localizar isso, tem uma liberdade muito

grande de trabalhar e essa liberdade ela pode ser muito positiva para quem tem uma

Page 129: MARILENA KERSCHER PACHECO

122

responsabilidade e pode ser muito negativa se eu pego um professor que quer trabalhar de

qualquer jeito (Prof.E).”�

Segundo o professor H: “Quando apresentado o plano de trabalho no início do

semestre eu procuro dividir a carga horária entre as modalidades de Lutas37 de forma que eu

consiga seguir mais ou menos aquela ordem que eu te disse, ou seja, falo primeiro da história

e depois falo das regras, da estrutura que é necessária na área, os recursos matérias que são

necessários para a prática daquela modalidade. Mas simultaneamente durante a semana nós

temos um encontro teórico e um encontro prático. Então tem primeiro o encontro teórico, eu

falei do histórico e daí no primeiro encontro prático é falado dos fundamentos. Segundo

encontro teórico eu falo da filosofia, segundo encontro prático começamos a aplicar as

primeiras técnicas mais básicas. Então conforme eu vou evoluindo na teoria, eu vou evoluindo

na prática em paralelo, ao ponto que quando eu chego à última aula do módulo da Luta, vamos

dizer, terminou o módulo de judô, quando chegamos lá na parte de competição, eles estarão

lutando, fazendo a disputa entre eles na parte prática. Teve uma experiência muito positiva,

este semestre que eu fiz isso, foi uma competição de judô por equipe entre todas as turmas,

eram sete turmas de lutas, entre Licenciatura e Bacharelado, manhã e noite, daí eles puderam

colocar em prática mesmo todos os conteúdos que foram trabalhados, então essa é a ordem

(Prof.H).”

Segundo o professor I: “Eu falo muito, você sabe disso, estou tentando falar

menos para cansar menos, procuro então fazer estudos de caso, discussão em sala, leitura de

artigos, estudos na biblioteca, aulas práticas. Também procuro utilizar partes de reportagens de

revistas para discutir em sala, aproveitando uma reportagem de momento para avaliar se

aquilo é verdade, se faz sentido. A questão da avaliação: a ida a biblioteca, com posterior

discussão, vale 0,5 ponto. Cabe ressaltar que eles odeiam pesquisar em livros, preferem ficar

na internet o tempo todo. Apesar da biblioteca ter um acervo gigantesco, eles preferem ir à web

para encontrar ‘imediatamente’ a resposta. Neste sentido, limito as pesquisas a livros, não

permitindo nestes momentos, o uso do computador. A parte prática também vale pontos: a

discussão, a participação, também vale 0,5 ponto e prova final (Prof.I).”

Segundo os professores a prática pedagógica faz parte do processo de

ensino aprendizagem dos alunos em formação e a mesma acontece

combinada com os estudos teóricos, para que os alunos tenham a dimensão

do conhecimento teórico e prático.

Uma questão foi levantada por um professor a qual destaca-se: o

professor comenta que para os professores em geral falta um pouco de

37 Quando o professor se refere a Lutas, é a disciplina que ele ministra.

Page 130: MARILENA KERSCHER PACHECO

123

preparação para a docência, ressalta que os professores tem todo o domínio

do conteúdo, mas lhes faltam uma didática pertinente para uma transmissão

efetiva dos mesmos, sendo que muitos professores lecionam da forma que

melhor lhe convêm e segundo o professor isso pode gerar resultados diversos

aos pretendidos.

Todo processo de ensino-aprendizagem acontece com a relação entre

pessoas diferentes em um mesmo contexto de aprendizagem e isso o situa

como sendo um processo social. Candau (2000) discute que o processo de

ensino-aprendizagem acontece também em uma dimensão técnica e expõe:

O domínio do conteúdo e a aquisição de habilidades básicas, assim como a busca de estratégias que viabilizem esta aprendizagem em cada situação concreta de ensino, constituem problemas fundamentais para toda proposta pedagógica (CANDAU, 2000, p.15).

Os cursos de formação de professores para as licenciaturas trazem

consigo uma preocupação constante de manter seu currículo de formação

atualizado e bem estruturado para atender as necessidades da formação

pedagógica dos seus alunos. Algumas dessas necessidades apresentadas por

Candau (2000) tornam-se questões de grande preocupação quando da

estruturação do currículo de formação de professores para atuação na

Educação Básica, pois é a partir desses pressupostos que o futuro professor

iniciará sua jornada no campo da prática pedagógica.

A prática pedagógica na formação docente em Educação Física carece

ser orientada por um profissional da área capaz de ter uma visão abrangente

de todo processo de ensino-aprendizagem específico da área trabalhada e

abrangente na visão pedagógica do ensino dos conteúdos desenvolvidos para

a formação do professor. Isso permite orientar o processo da prática

pedagógica dos alunos em formação para auxiliá-los em sua preparação como

um professor teórico prático reflexivo em sua atividade docente.

Aproveitando a oportunidade do tema sobre a prática pedagógica dos

professores foi perguntado aos professores/coordenadores como eles

concebiam a prática pedagógica no curso de Educação Física. Eles

responderam da seguinte maneira:

Page 131: MARILENA KERSCHER PACHECO

124

Professora F: “Acredito que temos um grupo bem experiente, embora tenhamos

alguns professores novos, mas a grande maioria é bastante experiente, então acaba tendo

essa percepção do que é formar o bacharel, o que é formar o licenciado, eles conseguem ter

isso claro e por conta dessa clareza que o professor tem ele consegue ter um encaminhamento

bem lógico do trabalho dele, o que é que ele vai ter que fazer em cada passo para que ele

possa atingir o trabalho. A prática ela é direcionada para visualização da realidade, então

sempre que possível, levamos os alunos para o cotidiano, para perceber situações reais, para

que se possa discutir a luz da teoria que embasam a formação ou a atuação profissional. Então

procuramos direcionar o máximo possível para esta questão mais concreta (Profª.F).”

Professor G: “A respeito da prática pedagógica no curso, no último ano, eu

comecei a perceber um pouco de avanço no Bacharelado daquilo que eu imaginava ser uma

verdadeira prática pedagógica do Bacharelado, porque por ser um curso mais longo, eu via o

curso de Bacharelado com a prática, uma prática pela prática, o aluno ia, por exemplo, fazer

suas práticas e disciplinas, ou talvez o próprio Estágio, se considerarmos o Estágio uma prática

pedagógica, de uma maneira pouca atrelada a sua formação. Eu acho que agora começa a ter

uma integração maior, porque agora os professores tem uma visão mais clara do que é um

Bacharelado, porque todos os professores do curso, sem exceção, se graduaram como

licenciados e a grande maioria ainda na antiga Licenciatura Plena, com aquela visão de um

curso integrado e que não existia o bacharel e o licenciado, então agora, está um pouco

melhor. Na Licenciatura, o que eu percebo é que estamos muito apegados ainda a tradições

muito arregradas a Licenciatura. De um modo geral, o pessoal da Educação Física não

consegue avançar para novas práticas pedagógicas, nem inclusive ver o movimento humano

numa perspectiva mais contemporânea, nós estamos muito presos a uma formação mais

tradicional ainda, essa é a impressão que eu tenho (Prof.G).”

A prática valoriza a experiência como balizadora do agir docente,

articula-se com a realidade escolar, com observações do cotidiano, e são

encaminhadas considerando os pressupostos teóricos.

Após alguns anos da reestruturação o curso e especialmente os

professores se encontram mais preparados para a inserção dos alunos nas

duas áreas de práticas, onde o aluno terá sua experiência profissional inicial

guiado por um professor da área a qual ele está cursando.

Nossa atenção é chamada por Caparroz e Bracht (2007) para uma

crítica aos cursos de formação de professores de Educação Física ressaltando

que os cursos apresentam um déficit “Por não estarem preparando os futuros

profissionais para operarem tarefas primordiais do trabalho docente, como é o

Page 132: MARILENA KERSCHER PACHECO

125

caso do planejamento (p.23)”. Os autores complementam sua linha de

pensamento salientando:

Vale ressaltar que essas críticas apontaram a suspeita de que, nos cursos de formação de professores de educação física, estivesse existindo uma falta de aprendizado de elementos/conhecimentos da didática que garantisse aos futuros professores um conhecimento técnico-pedagógico que subsidiasse a realização de determinadas tarefas, como a elaboração dos diferentes planos para a organização do ensino (CAPARROZ E BRACHT, 2007, p.23).

Assim entende-se que apesar dos professores formadores

desenvolverem com os alunos estratégias de ensino aprendizagem na

educação através das disciplinas didáticas que o curso oferece, ainda

encontram muitas barreiras a serem transpostas para que os alunos consigam

aplicar de forma efetiva estes conhecimentos na prática.

Ainda segundo Caparroz e Bracht (2007, p.23) existe “A dificuldade de

organizar/planejar/sistematizar o ensino da educação física na escola e,

consequentemente, a dificuldade de ensinar esse componente curricular”,

sendo que o curso de Educação Física se apresenta em sua totalidade muito

mais como um curso técnico e prático com valorização dos conhecimentos

específicos em cursos de formação de professores.

Veiga (2000) destaca que a didática na prática pedagógica no tempo

de formação dos alunos pode exercer uma forte influência sobre o seu

desenvolvimento docente, comenta a autora:

Ela pode funcionar como instrumento para efetivação de uma prática pedagógica acrítica e repetitiva ou, ao contrário, se constituir em veículo que contribua para a modificação da prática pedagógica. Nesse sentido ela produz o novo (VEIGA, 2000, p.15).

Os professores destacam a importância do trabalho com o cotidiano

escolar. Caparroz e Bracht (2007, p.31) destacam que “O exercício da

docência demanda do processo de formação (inicial e continuado) dos

professores que este garanta a apropriação e (re) construção dos

conhecimentos necessários para desenvolver a prática pedagógica com

qualidade”. Este aprendizado será desenvolvido inicialmente no tempo de

graduação do aluno em formação, e posteriormente no seu dia a dia, na

atividade profissional e em processo de formação continuada.

Page 133: MARILENA KERSCHER PACHECO

126

3.3 CONCEPÇÃO DOS PROFESSORES FORMADORES A RESPEITO DA FORMAÇÃO DOCENTE NO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A formação docente, mais do que nunca, hoje é alvo contínuo de

reflexões junto à comunidade acadêmica e demais órgãos ligados a Educação,

visando sempre o aperfeiçoamento dos futuros professores em formação e

também a formação continuada dos professores, buscando promover a

melhoria do ensino, através de um corpo docente que tenha recebido uma

formação pautada em um processo de ensino-aprendizagem que disponha de

elementos suficientes a lhe darem um suporte teórico, técnico e prático que

ajudem a desempenhar sua atuação pedagógica consciente para atuar na

Educação Básica na área da Educação Física.

Os cursos de licenciaturas ajudam a promover a formação inicial dos

professores e buscam auxiliar em sua qualificação profissional. Isso ajuda

explicar este complexo processo de reformas educacionais que ocorrem no

ensino constantemente e afetam o processo de formação de professores.

Marques e Diniz-Pereira (2002, p. 179) vêm esclarecendo uma das razões da

ocorrência das reformas, segundo os autores as mesmas “Introduzem novas

modalidades de cursos, determinando mudanças significativas tanto no

aspecto quantitativo como no qualitativo”, mas os autores ainda nos fazem um

alerta quanto às reformas educacionais, chamando a atenção para o grande

número de cursos de formação de professores que estão se proliferando no

campo educativo sem ter condições para dispor aos alunos uma formação que

sustente padrões de qualidade no desenvolvimento profissional do futuro

docente. Complementa Marques e Diniz-Pereira (2002, p.179) que “Tal política

favorece o lucro fácil das empresas de ensino e coloca em risco o futuro do

País”, pois ações especulatórias e com a finalidade de alcançar o lucro fácil

podem vir a afetar o processo de formação docente, resultando em uma

formação deficitária nas áreas de uma docência séria e aplicada aos reais

objetivos da educação.

Gatti (2009, p.259) salienta que com a obrigatoriedade da formação em

nível superior dos professores para atuação na Educação Básica, foi ampliada

a oferta de cursos superiores voltados a formação de professores, cita a

autora: “Se verifica um crescimento expressivo da oferta das licenciaturas

tradicionais, que formam os professores dos componentes curriculares

Page 134: MARILENA KERSCHER PACHECO

127

específicos do currículo do ensino fundamental”, o que exige acompanhamento

e avaliação de modo a garantir uma formação bem estruturada.

O processo de formação de professores para atuação nas áreas da

Educação Física passou por modificações significativas para se adequar as

novas Legislações e Resoluções aplicadas a própria área de formação,

definindo neste processo atribuições ao curso e ao seu currículo de formação,

destacando então que a formação se daria em dois campos diferenciados, a

licenciatura para atuação profissional na docência e o bacharelado para

atuação profissional nas demais áreas relacionadas a Educação Física.

Conforme as descrições de Steinhilber (2006) sobre as opções de

graduação na Educação Física para intervenção profissional, fica claro as

funções que são atribuídas a cada área de formação segundo o Sistema

CONFEF38/CREFs39 na distinção da licenciatura e do bacharelado no curso de

Educação Física no Ensino Superior.

Junto aos professores/coordenadores do curso, verificou-se em sua

concepção, qual o perfil geral do licenciado e do bacharel.

Segundo a profª. F “O bacharel, nós temos uma perspectiva de formá-lo para

atuar naquilo que se chama de Educação Física não formal, que é uma terminologia que se

usa, onde o aluno poderá atuar em academias, clubes, treinamento, personal, entre outras

áreas e ele acaba tendo um perfil mais prático porque ele tem que ser o prático. Então estamos

tentando reverter essa imagem de que ele só dá aula, porque o aluno, futuro professor ele tem

que estudar muito para poder dar aula, ele tem que ser um pesquisador da sua prática para

que ele possa sustentar seus conhecimentos e aplicá-los no dia a dia aonde ele estiver

atuando. E o licenciado é o profissional que é formado para atuar na Educação Básica e por

conta desta característica e pelo perfil que acabamos dando para curso, nós tentamos

direcionar para o aluno entender, que ele tem que estudar muito para entender os problemas

da escola, entender como que o aluno aprende, como ele tem que ensinar para atingir esse

aluno que tem diferentes perspectivas de aprendizado, então temos uma formação mais

teórica, eu diria, na Licenciatura, então este aluno vai atuar na Educação Básica (Profª.F).”

O prof. G coloca: “ Um pouco do comentário em geral é essa mudança que teve

do Bacharelado e da Licenciatura, foi uma mudança interessante para nós professores, porque

tivemos que refletir muito sobre essas mudanças, então hoje eu vejo que o perfil do licenciado

está bem distinto do perfil do bacharel. O perfil da Licenciatura ele está muito bem estabelecido 38 CONFEF - Conselho Federal de Educação Física 39 CREF - Conselho Regional de Educação Física

Page 135: MARILENA KERSCHER PACHECO

128

para a atuação na escola e o perfil do Bacharelado, ele está bem estabelecido para atuação

fora da escola. No caso desta Universidade40, o Bacharelado, ele tem uma característica bem

interessante de atuação na área de bem estar, em academias, clubes, na área de lazer e

recreação e na área de iniciação esportiva, esse é o perfil que temos colocado no Bacharelado

(Prof.G).”

Acentua-se nestas falas a distinção entre os cursos,

Licenciatura/Bacharelado, considerando o espaço e as especificidades dos

campos de atuação: educação formal e educação não formal. A primeira ocorre

na escola, a segunda nos demais ramos da Educação Física. Os professores

que nele atuam, acatam as determinações legais e articulam-se com o campo

de atuação profissional de cada área.

Steinhilber (2006, p.20) descreve as diferenças entre as formações,

destacando que o licenciado “Será formado exclusivamente para atuação na

Educação Básica em suas diferentes etapas e modalidades com atuação

específica no campo da Educação Física” e que o bacharel atuará nas

“Diferentes manifestações da atividade física e esportiva, tendo por finalidade

aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e

saudável, estando impedido de atuar na Educação Básica”.

Segundo Figueiredo (2009, p.2) “Os currículos dos cursos de formação

de professores ainda são utilitários e normativos”, o que dificulta mudanças no

processo de adequação dos currículos as novas concepções de formação de

professores visando “Possibilidades de se pensar e vivenciar a formação como

espaço de reconstrução das identidades pessoais e sociais dos professores

(FIGUEIREDO, 2009, p.2)”, o que ajudaria a preparar o futuro professor para o

exercício profissional a partir de sua identidade.

O currículo pedagógico dos cursos de licenciatura para formação de

professores que irão atuar na Educação Básica ressalta os trabalhos

desenvolvidos nos contextos escolares e auxilia o aluno na compreensão das

dimensões da profissão que estão por assumir. Pimenta (1999, p.16) descreve

que a formação docente apresenta novos caminhos, ressalta a autora “Um

deles refere-se a discussão sobre a identidade profissional do professor, tendo

como um dos aspectos a questão dos saberes que configuram a docência”,

40 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada.

Page 136: MARILENA KERSCHER PACHECO

129

auxiliando o aluno na compreensão dos saberes pertinentes a docência, suas

aplicações, suas responsabilidades e influências como um futuro formador que

irá atuar junto as escolas.

O tempo de graduação tem por característica desenvolver um perfil

profissional nos alunos em formação e este perfil desenvolvido ao passar do

tempo poderá contribuir para a atuação profissional do aluno em sua área de

atuação.

Em relação ao perfil profissional desejado do futuro professor de

Educação Física, os professores destacaram pontos do que consideram ser

primordial para que os alunos alcancem uma satisfatória conduta profissional

na área.

Destaca o prof.A: “Eu considero, por exemplo, a Ética, porque o profissional tem

que ser ético, o professor tem que ser ético, ele tem que transmitir valores, porque ele está

trabalhando com pessoas, ele tem que ser uma pessoa que tem compromisso, tem que ter

formação continuada, porque ele trabalha com conhecimentos e como ele trabalha com

pessoas, ele tem que estar constantemente renovando seus conhecimentos e buscando novos

conhecimentos, ele tem que estar sempre pronto a aprender a aprender, porque ele vai

transmitir esse conhecimentos. E na aula dele, quando ele está trabalhando a aula em si, os

diversos conteúdos, são situações que vão aparecer nas diferentes ordens, então isso são

pontos que o professor de Educação Física tem que ter essas questões dos valores, a questão

do compromisso, do conhecimento. Ele tem que ter a capacidade de organização e

planejamento, ele tem que ir lá dar sua aula, mas tem que transmitir o conhecimento, que isso

é o fundamental, porque nós, a Educação Física em si, não pode mais ser vista como jogar a

bola, quando eu digo jogar a bola, é jogar a bola entre aspas, jogar a bola não precisa de um

professor, o professor está lá para ensinar como jogar bola, vamos dizer assim, todas as

situações devem estar envolvidas. Surge uma situação lá em uma brincadeira, o professor

pode pegar aquela situação e trazer para uma discussão e por os prós e contras daquela

situação, a situação do perder e do ganhar, tudo isto você pode trabalhar na Educação Física,

então Educação Física não pode ser resumida como correr, pular, jogar e saltar, ela tem uma

dimensão muito maior (Prof.A)”.

Para o prof. B “A conduta profissional depende do professor, da responsabilidade

dele, dos objetivos dele, ser ético. Cada professor tem seu pensamento com relação a uma

situação ética ou não, ele é quem faz o julgamento de como ele vai interpretar uma situação

(de uma forma ou outra). Primordial é a consciência do profissional, quando do julgamento de

uma situação, de uma forma ou outra, mas isto vai variar de profissional para profissional

(Prof.B).”

Page 137: MARILENA KERSCHER PACHECO

130

A profª C ressalta sua opinião a respeito da sua disciplina comentando:

“Primeiro, dentro da minha área, que seja um profissional responsável, porque com piscina,

você sabe que a atividade é, às vezes, perigosa, principalmente com crianças que nunca

tiveram acesso a piscinas, elas estão entrando lá na escola, pela primeira vez vão ter aula de

Natação, então ele tem que ser extremamente responsável e extremamente cuidadoso. É

claro, ele tem que ter conhecimento básico da atividade, senão ele não vai conseguir aplicar as

aulas, ele tem que ser atencioso, tem que ter uma boa base de Natação também, porque

aquilo que eu falei, eventualmente se algum aluno der algum problema ele tem que prestar o

socorro e tem que auxiliar imediatamente. O aluno tem que ser disciplinado e montar um bom

planejamento de aula para poder exigir que os seus alunos façam também (Profª.C).”

Na opinião do prof.D, “A competência teórica cientifica tem que ser aliada a

valores, não adianta ser extremamente competente e não saber lidar com as pessoas. Eu vejo

que um docente tem que gostar do ele faz, tem que ter afetividade com seus alunos, tem ser

uma pessoa que tenha mais virtudes do que defeitos. Aliar competência técnica e profissional e

cientifica com valores e virtudes e essa competência cientifica, profissional, técnica ela é

processual e depende de uma formação continuada, então você tem que continuar estudando

o tempo todo, voltar para Universidade novamente, tentar seguir uma carreira acadêmica, fazer

uma Pós, um Mestrado, isso vai te dando muita competência para trabalhar (Prof.D)”.

Aos professores atuantes como formadores do futuro professor de

Educação Física, foi perguntado sobre as suas perspectivas em relação ao

perfil profissional desejado desses alunos. Esclarecem os professores:

O prof. E se expressa dizendo: “Eu uso uma palavra principal que é respeito.

Respeito ele é primordial para tudo, então se você pegar o respeito, você pode jogar fora até

os 10 mandamentos da Bíblia, porque respeito mata todos eles. Quando você fala do aluno, eu

estou falando de respeito ao aluno, respeito ao professor, respeito no mercado de trabalho.

Então eu acho que o principal, acima de tudo, acima de conteúdo, é respeito mesmo com as

pessoas, estar num ambiente de respeito (Prof.E).”

O prof. H nos traz o seguinte destaque em seu discurso: “Talvez pelo fato

de eu ter vindo da luta também, porque a vida toda eu fui atleta de judô e tive essa influência

forte da parte filosófica do judô, eu vejo assim, que é aquelas coisas dos valores cardiais, os

valores não são ensinados, mas se aprende os valores por exemplos. Então eu me preocupo

muito com a minha postura profissional com os alunos, ás vezes, até eu sou um pouco mais

exigente do que os outros professores, no momento que é para ser amigo eu sou amigo, mas

eu sempre me preocupo em estar dando um exemplo, demonstrando um exemplo em relação

a lisura, a valores. Eu tenho visto hoje, aqui quando a gente recebe os alunos na graduação, a

Page 138: MARILENA KERSCHER PACHECO

131

carência que existe desses valores, da postura de fato como adultos, como pessoas maduras,

como homens de bem e a Luta41, de uma forma geral, ela tem esse preceito muito forte. Então

eu procuro andar dessa forma pelo menos para dar um exemplo e espero de coração que eles

absorvam alguma coisa e levem isso para prática profissional deles, é o máximo que eu

consigo fazer (Prof.H).”

O prof. I relata a seguinte colocação: “Eu acho muito legal o que o Reitor da

nossa Universidade fala: que a Universidade deve dar um diploma de gente boa, também. O

que é formar gente boa? É os alunos verem o professor como “mestre” e não somente um

professor. Entendo que a aprendizagem é maior quando você tem um mestre e seus

discípulos. Você divide mais. E também tem as questões éticas, morais, que estão todas

envolvidas na conduta profissional. Entendo também, nas palavras de um colega de profissão

que diz: precisamos ter amor na acepção mais ampla pelo outro (Prof.I).”

Os professores destacaram o que consideram importante no perfil de

formação do professor e/ou profissional de Educação Física comentando sobre

a Ética profissional, o compromisso com a docência e com a profissão, a

transmissão de valores através de exemplos e condutas, a busca pela

continuidade e aprimoramento de sua formação, por consequência sua

qualificação profissional, a responsabilidade e a consciência profissional, a

disciplina e o respeito em todos os âmbitos, sejam eles, pessoais ou

profissionais.

Outro tópico comentado foi que o professor dever gostar do que faz,

gostar de lecionar e interagir com os alunos sempre com competência técnica e

profissional, exercendo sua autonomia para as decisões e adequações as

situações que lhe sejam apresentadas em sua área de trabalho, seja dentro ou

fora da escola. O professor deve desenvolver um vínculo pessoal com a sua

profissão, se dedicando a ela e ao seu aperfeiçoamento.

O professor formador trabalha com sua presença pessoal na totalidade

e se apresenta perante aos alunos, não apenas como um professor que

transmite conhecimentos teóricos e/ou práticos, mas que também atua por sua

conduta profissional, demonstrando aos alunos as melhoras formas de se

tornar um futuro formador que considere seus futuros alunos não apenas mais

41 O professor está se referindo a sua disciplina.

Page 139: MARILENA KERSCHER PACHECO

132

um número em sala de aula e sim uma pessoa única, com suas virtudes e

diferenciações.

Compreende-se que a formação de professores não pode ser pautada

apenas nas aprendizagens práticas e teóricas, esquecendo-se da formação

humana do aluno, pois este se encontra em uma busca de conhecimentos não

apenas de cunhos profissionais, mas também pessoais para o alcance de sua

realização pessoal.

Juliatto (2005) destaca a ideia que o desenvolvimento integral da

personalidade dos estudantes está ligado a organização e realização das

experiências de ensino e aprendizagem. Juliatto (2005) expõe também:

Os indicadores de processo incluem elementos como a organização do currículo, conteúdos de instrução, métodos de ensino, exigências acadêmicas e outras iniciativas da escola, destinadas a realçar o crescimento acadêmico e pessoal dos estudantes. Esses componentes visam a produzir efeitos desejáveis de diferentes tipos, incluindo o desenvolvimento psicomotor, a habilidade da memória e o pensamento sintético e analítico. Eles se destinam a desenvolver pessoas informadas, sensíveis e criativas, com visão aberta para o mundo (JULIATTO, 2005, p. 107).

Ao curso de formação de professores está destinado não apenas a

formação do profissional, mas também o auxilio na formação humana,

preparando o aluno para assumir seu papel docente junto às escolas e o tempo

de graduação produzirá no aluno transformações, através dos novos

conhecimentos adquiridos e do seu amadurecimento pessoal, que os

conduzirão em sua prática profissional.

Outra questão da pesquisa foi entender, na visão dos coordenadores

do curso, o que eles consideram ser preciso para uma completa formação

universitária hoje a fim de se alcançar o objetivo de uma formação de

professores comprometidos com a docência.

Segundo a professora F “Inicialmente, o grupo de professores entenderem o que

é formar um profissional. Acho que os professores são a chave da qualidade de um trabalho,

porque não adianta nós termos grandes equipamentos, espaço, se o professor não souber usar

disso para dar aula, é o primeiro ponto. Segundo ponto é uma proposta pedagógica

extremamente atual e que enxergue sempre o mercado, que veja a necessidade do que está

lá, então o currículo tem que ser atualizado constantemente, ele não pode ser uma coisa que

se faça e permaneça por muitos anos, tem que perceber o dinamismo do mercado de trabalho

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133

e das necessidades e ter uma responsabilidade sobre aquilo que estamos fazendo, sobre a

formação e a qualidade daquilo que estamos ofertando. E aí ter ensino, pesquisa e extensão,

senão não estamos cumprindo a base, os pilares que a Universidade tem que cumprir para

alcançar uma boa formação universitária. O curso oferece aos alunos o acesso a um programa

de iniciação cientifica onde nós temos os grupos de pesquisa aqui no curso que é bastante

forte, pena que ele acaba se restringindo a um número pequeno de alunos, porque eles não

dispõem de tempo, a maioria dos alunos tem que trabalhar para pagar a faculdade, então

poucos dispõem de tempo para se envolver com pesquisa, mas aqueles que vêm,

permanecem. E a segunda são os programas de extensão, que a própria Universidade oferece

várias possibilidades e o curso tem tentado fazer isso da melhor forma possível para atender a

necessidade que o aluno tem de buscar outras perspectivas além de sua formação inicial

(Profª.F).”

O prof. G comenta a respeito da formação dos professores

universitários, expondo suas preocupações a respeito e salientando que esta é

uma questão muito difícil de ser respondida, devido a sua complexidade. Expõe

o professor: “Essa é pergunta mais difícil que você me fez. Porque eu tenho pensado muito

sobre isso, é até uma coincidência você falar sobre isso, porque eu oriento também no

mestrado e no doutorado, também em outra Universidade que eu trabalho além daqui, então

eu também trabalho na formação superior e eu vejo também o perfil de alunos de mestrado e

doutorado, eu tenho colegas aqui e na outra Instituição que atuam há anos e começamos a ver

vantagens e desvantagens de cada experiência, então eu acho que a formação acadêmica

sólida é fundamental, ela é importante mesmo, e eu não digo necessariamente um excelente

pesquisador, mas uma formação acadêmica sólida. Eu acho que ele tem que ter experiência

acadêmica em diferentes Instituições, eu vejo, por exemplo, que fazer a graduação na

Universidade X42 especialização, mestrado e doutorado na mesma Instituição, não te dá uma

boa experiência acadêmica, porque você fica com uma visão muito restrita do mundo

acadêmico. Os colegas que eu tenho aqui na Instituição, por exemplo, que fizeram graduação,

especialização e mestrado aqui, eles tem muita dificuldade em inovar, em ousar e olhar além

do óbvio e eu não os culpo por isso, porque eles tiveram essa formação aqui, enfim, por

situações que os levaram a isso e isso dificulta a mudança, então eu acho que tem que ter uma

formação acadêmica em diferentes Instituições, acho que isso ajuda muito. E um outro aspecto

que ajuda muito na experiência de atuação profissional fora do mundo acadêmico, então é

difícil mesmo um professor que trabalha na Licenciatura, ainda que tenha uma sólida formação

acadêmica, mas que nunca tenha vivido os problemas do mundo real na escola, ter trabalhado

com crianças, com adolescentes, com problema com diretor, com falta de material, enfim, é

difícil ele transpor essa barreira para os seus alunos, então é quase um super homem, mas é

possível eu acho, essa que é a minha visão hoje, não estou bem certo disso ainda, porque eu

42 X está substituindo o nome da Universidade Pesquisada.

Page 141: MARILENA KERSCHER PACHECO

134

tenho refletido um pouco sobre essa pergunta que você tem feito, mas hoje, no dia 15 de

outubro é essa a minha opinião, mas ela está em movimento ainda, está em processo

(Prof.G).”

Os professores/coordenadores destacaram alguns tópicos para que a

formação de professores aconteça na Universidade auxiliando os alunos a se

tornarem professores comprometidos com a sua formação, destaca a

professora F que para uma completa formação universitária hoje seria

necessário uma junção dos requisitos básicos: um currículo atualizado, que

esteja em consonância com as necessidades da sociedade e que atenda a

legislação; um trabalho adequado dos professores formadores e uma variada

gama de projetos de extensão para que o aluno possa ampliar o seu acervo de

conhecimentos, dentro de uma proposta pedagógica atual e visionária para se

adequar as mudanças que ocorrem constantemente no ensino e também no

mercado de trabalho, ligados aos pilares da educação que são o ensino, a

pesquisa e a extensão em busca de uma boa formação universitária.

Na visão do professor G, o professor formador deve ter experiências

acadêmicas em diferentes instituições de ensino, porque isso ajudará ao

professor a ampliar seus conceitos, suas experiências e suas fundamentações

profissionais para vencer o desafio de compreender a real finalidade da

formação de professores e poder aplicá-la de forma eficaz em suas atividades

teóricas e/ou práticas, proporcionado ao aluno em formação bases que lhe

darão segurança em sua atividade profissional. A formação acadêmica sólida e

continuada é um ponto forte e fundamental do comprometimento profissional e

a mesma deveria acontecer em diferentes instituições para auxiliar o professor

a desenvolver visões diferenciadas sobre o ensino. Outro ponto destacado pelo

professor foi a questão da experiência profissional fora do mundo acadêmico,

pois segundo ele isto auxilia o professor a um aprofundamento realista do

contexto a qual o aluno irá se inserir e proporciona ao professor maior

propriedade e segurança para expor aos alunos as particularidades do

ambiente.

Devemos considerar que no processo de ensino o professor não se

encontra sozinho, ele é envolvido por situações diferenciadas a cada dia junto

Page 142: MARILENA KERSCHER PACHECO

135

aos alunos que constituem um papel fundamental neste processo e traz ao

professor novos desafios a serem transpostos.

Na pesquisa buscou-se a compreensão de diversificados aspectos deste

processo da formação de professores da área da Educação Física. Junto aos

professores responsáveis neste momento por fazer parte da constituição desta

formação na Universidade pesquisada, verifiquei em suas concepções, como

eles veem o comprometimento com a docência dos futuros professores, alunos

ainda em formação. Os entrevistados destacaram seus pontos de vista

expondo:

O prof. A ressalta: “O que precisa é, tanto os professores e a Universidade como

um todo, estar imbuído do mesmo objetivo: formar bons professores. Aí tem a parcela do

envolvimento dos alunos que vem buscar sua graduação, que vem buscar sua formação e eles

entenderem qual é o papel do professor na sociedade. Ele realmente ser professor. Porque o

professor ele é fundamental na sociedade, é ele que provoca transformações, é ele que traz o

conhecimento, então diversas situações ele vai ser o ator principal, eu digo isso, eu uso até

esse termo, o ator principal, todo o processo começa com o professor, então ele tem que estar

comprometido com a docência. O aluno tem que se envolver, esse acadêmico tem que se

envolver, ele tem que saber o que ele quer da formação dele, porque a sociedade, a escola,

está esperando ele lá fora e ele tem que ter uma boa formação, tem que assumir o papel de

professor, o papel de docente, então é um envolvimento e ele tem que entender que a

Universidade é apenas um momento, eu costumo dizer que a escolha por ser professor

envolve uma situação: o estudar sempre! Pois professor tem uma exigência: tem que estudar

sempre. Se você não estudar não há como você ser professor. Então essa docência ela vai se

formando e ela vai se dando ao longo dessa formação acadêmica na Universidade e a

formação continuada, seja numa pós-graduação e a todas as ações de formações que ele irá

buscar, então isso é necessário, ele tem que ter essa consciência e nós professores da

Universidade, nós temos que provocar isso neles, que eles tem que estudar continuamente

para serem bons professores, ótimos professores. Não tem como ter uma sociedade, não tem

como ter um país livre, não tem como ter um país que alcance progresso, se não tiver bons

professores na Educação e a Educação tem que ter bons professores (Prof.A).”

O prof. B expõe: “Acho que a formação que tentamos passar, a formação técnica,

é bem complementada para alcançar este comprometimento todo. Em minha opinião o maior

comprometimento vem do aluno mesmo, ele ter a iniciativa. Acho que devemos criar as

situações para que eles tenham iniciativas, onde eles possam aplicar os conhecimentos. Mas

eles precisam ter a iniciativa de querer algo mais, não só se conformar com que é passado em

sala de aula, pois o tempo é muito curto. Então, às vezes, você passa a informação do start

Page 143: MARILENA KERSCHER PACHECO

136

inicial, e eles precisam ir extracampo, correr, buscar uma formação maior, para que ele

realmente tenha este comprometimento com a docência. Se ele ficar apenas com a informação

que passamos, acaba sendo pouco. O Estágio é importante, nele o aluno tem a oportunidade

de ter uma situação problema lá na escola, e ele tem que buscar a informação para aquele

problema, e daí que ele vê realmente como funciona o processo (Prof.B)”.

A profª. C destaca: “Você precisa ter conhecimento e saber como passar esse

conhecimento para seu aluno, como que é a didática necessária, que pedagogia você tem que

utilizar para que o aluno se envolva com tudo aquilo que você pretende e é claro que não

adianta você conhecer só como funciona, tem que saber passar isso, você tem que saber

corrigir, saber explicar, saber demonstrar, então tudo isso é extremamente importante. E dentro

da Licenciatura, busca-se de uma maneira geral, dar a ideia para o aluno que a Natação é

apenas um meio, não é um fim e que é uma forma de você formar um cidadão também, ou

seja, desde a parte técnica, que pode um dia auxiliar ele numa situação difícil dentro da água,

até a questão da sociabilização que ele vai ter com os colegas, a auto satisfação, a própria

manutenção da saúde que futuramente ele pode ter através do esporte (Profª.C).”

Comenta o prof. D: É você ter num primeiro momento, uma Universidade com

estrutura e com profissionais competentes para habilitar novos profissionais. Hoje nós vemos a

Educação Física, se não me engano, hoje tem 10 cursos de Educação Física aqui na cidade de

Curitiba formando profissionais, eu acredito que a maioria desses cursos não tenham uma boa

estrutura e nem profissionais competentes para formar futuros profissionais, então eu acho que

aí deveria ser obrigação do Ministério da Educação de não deixar que isso aconteça da

maneira como vêm acontecendo, essa criação de cursos a todo momento e parece que existe

um interesse mercadológico nisso, as Universidades, às vezes, tem um interesse muito

econômico mesmo, ter nichos de mercados para elas, de ter mais alunos e em contrapartida

elas não tem estrutura, propostas e profissionais habilitados para dar aquela formação. Mas a

Universidade que tem boas estruturas e tem bons profissionais, com uma boa proposta para o

curso, seguindo as Diretrizes propostas para a formação de professores na Licenciatura e no

Bacharelado e bons professores para atuar nas diferentes disciplinas e isso talvez seja um

problema também, porque hoje ter titulação, ele é um mestre, é um doutor, e ele começa a

trabalhar com várias disciplinas pela titulação, mas ele não tem a competência necessária para

trabalhar com as várias disciplinas que ele esta ministrando aula, então além da titulação, o

profissional deve ter uma vivência naquela área no qual esta inserido. Na Educação Física tem

muito isto, não adianta eu ter titulação e dar aula de dança, por exemplo, sem estar envolvido

no meio da dança, não estou atualizado neste meio. O aluno então perceberá que o professor

tem titulação, mas não a experiência e estratégias para trabalhar aquela disciplina, então, além

da titulação é necessária a vivência prática (Prof.D).”

Page 144: MARILENA KERSCHER PACHECO

137

Buscando o entendimento sobre a questão do comprometimento dos

futuros professores, aluno ainda em formação com a docência, foi lançada esta

questão para a compreensão da percepção dos professores formadores a este

respeito.

Segundo o prof. E: “Não sei se é culpa do professor, se o sistema de ensino está

toda passando por uma revolução, agora com o ensino a distância, tem internet, os professores

ainda não sabem lidar com a internet, professor que não mexe com a internet, que já não

poderia estar no mercado de trabalho, pois é essencial hoje acompanhar a evolução. Eu digo

isso e, às vezes, as pessoas me dizem: há...você tá dizendo isso porque você é novo! Daqui a

pouco vai ter alguma coisa que eu não vou acompanhar e eu vou sair e vai entrar outro no meu

lugar. Então ou o professor se adapta ou se adapta. E outros professores que não sabem lidar,

é não saber lidar mesmo, porque hoje tem alunos com computador na mesa. Essa evolução

desfreada está acontecendo com médico, tem médico que fica preocupado porque o paciente

já chega para consultar sabendo mais que o médico porque ele já pesquisou no google e já se

informou a respeito do assunto, então eu não sei se esta mudança toda que está tão rápida e o

professor ainda continua com algumas práticas muito antigas e algumas eu acho que são

importante, mas talvez tivessem que ser vistas com outros olhos, eu estou falando de forma

geral, não estou dizendo pontualmente isto ou aquilo, e faz com que o aluno não goste mais de

assistir aquela aula tradicional, que queira mudar e eu acho que estamos ainda numa fase de

conflitos, o aluno não gosta daquilo, precisa da informação mais rápida e o professor ainda

passa a informação muito morosa e acaba tendo conflitos. Isso talvez tenha levado os

professores recém formados pensar: há...eu estou formado e daí? Por isso que eu falei que

dentro da minha disciplina eu tento trabalhar muito a parte de vendas para que ele chegue no

mercado e saiba vender e sabendo vender ele vai ter um comprometimento também, porque

ele vai ter um retorno, vão ter que vender com esta postura, desta forma, mas eu acho que não

estão prontos, porque eu vejo na pós graduação que eu dou aula que está muito aquém do que

eu gostaria que estivesse, talvez até eu esteja aquém também, não estou dizendo que estou

perfeito. Mas para as pessoas que eu estou ministrando pós e tenho contato eu tenho sentido

muito isso (Prof.E).”

Na opinião do prof. H: “Eu vejo o grande número de egressos que temos aqui na

Educação Física que acabam não permanecendo na profissão. Eu encontro vários alunos aí

fora e pergunto a eles: E aí o que você está fazendo? Há… professor, sou vendedor disso, sou

vendedor daquilo. Eu penso sinceramente que o máximo que podemos pode fazer aqui é

procurar fazer é o melhor possível no nosso trabalho, é dar a melhor aula possível, é dar o

melhor exemplo possível, me mostrar o mais motivado possível com a profissão, mas de fato,

eu percebo que muitos dos alunos acabam concluindo o curso e vão fazer outros cursos ou

Page 145: MARILENA KERSCHER PACHECO

138

vão trabalhar em outra área. Tem muita gente que não atua na profissão. Não sei te dizer, o

que responder nesta pergunta assim (Prof.H).”

E segundo o prof. I: “Entendo que estamos no caminho certo. Nosso currículo é

bom. Temos excelentes profissionais. Estamos no melhor momento da estrutura do curso, de

pessoas e profissionais que trabalham aqui. A Universidade está em um momento fantástico.

Sempre dá para fazer mais. Dá para mudar, sim, dá para mudar um monte. Entendo que o que

falta na Licenciatura é a ênfase nas questões biológicas do ser humano. Eu acho que não

precisa de tantas horas de Estágio para dizer que você é um bom professor. Acho que precisa

de outros subsídios, que te de capacidade de ser um bom profissional. Há pessoas que não

conseguem identificar as especificidades do jovem, da idade, mas tem condições de dar uma

boa aula. Mas entendo que há situações em que isto não é suficiente. Ele tem que saber o

porque ele está fazendo aquilo lá. E para saber ele precisa de Universidade, ele precisa de

conhecimento. Não basta ir para a escola e dar uma manhã de aula de Educação Física para

uma turma. Não vejo tanta necessidade em Estágio supervisionado. Penso que metade deste

tempo poderia ser utilizada para a parte biológica e outros pontos importantes. Talvez um

pouco mais de carga neste sentido. Mas estamos bem (Prof.I).”

Segundo os professores precisa haver um comprometimento geral na

formação de professores que deve acontecer em todas as áreas, sendo elas a

própria Universidade, o curso em si, o professor formador e especialmente do

aluno em formação, em que todos devem buscar um constate aprimoramento a

fim de alcançar os objetivos propostos, que é formar bons professores.

Também foi destacado que o comprometimento com a docência se dá

por meio do aperfeiçoamento constante do professor. O comprometimento

profissional do professor acontece também através do desenvolvimento

didático. O professor deve sempre buscar se atualizar não só dentro de sua

área de atuação como também na compreensão das relações sociais e do

contexto sócio-econômico.

Um dos entrevistados aponta que o comprometimento com a profissão

docente parte do professor formador durante todo o processo educativo, que

busca transmitir aos seus alunos da melhor forma todos os conteúdos da

disciplina e passar para os alunos, não apenas conteúdos teóricos e práticos,

mas também o apreço pela profissão que eles virão a assumir. Caso não haja

este compromisso e interesse, muitos alunos poderão optar por assumir outra

profissão, abandonado a docência.

Page 146: MARILENA KERSCHER PACHECO

139

Outro ponto de destaque é a opinião do professor I que se mostra

controverso a tantas horas de Estágio curricular, justificando que o aluno de

Educação Física necessita de mais conhecimentos na área biológica e no

desenvolvimento do ser humano para auxiliá-lo na compreensão do que está

fazendo e porque está fazendo, tornando-o um bom professor e/ou profissional

da área.

Este comprometimento docente poderá ser construído não só através

da formação inicial, mas também de todo processo educativo do professor, de

suas habilidades profissionais, atitudes e valores pessoais que como cita

Pimenta (1999) sobre a natureza do trabalho docente na formação dos

professores nos cursos de licenciaturas:

(...) espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que lhe possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano (PIMENTA, 1999, p.18).

Assim compreende-se que o curso de licenciatura deve proporcionar

aos alunos saberes e experiências da prática profissional docente

proporcionado ao futuro professor do Ensino Básico uma base de

conhecimentos e experiências acadêmicas que auxiliem em sua função

docente.

Page 147: MARILENA KERSCHER PACHECO

140

4 IMPASSES PARA O CURSO

Neste capítulo apresento, na percepção dos

professores/coordenadores do curso de Educação Física, o que eles relatam

sobre as dificuldades que o curso apresenta e os impasses vivenciados pelo

curso e pelos professores formadores.

Os cursos de licenciatura vêm passando por modificações ao longo dos

anos objetivando a melhora na qualificação dos docentes que irão atuar junto

aos alunos em formação nas escolas.

O processo de reestruturação dos cursos visando a separação das

áreas de formação aconteceram com o intuito de fornecer aos cursos um

direcionamento mais centrado das disciplinas aplicadas a cada área e por

consequência um aprofundamento didático e metodológico para atender aos

nichos do mercado de trabalho e do ensino educacional, pelo menos é esta a

ideia transmitida pelos órgãos educacionais responsáveis pela reestruturação

dos cursos, entre eles o de Educação Física.

Apesar de encontrarmos hoje uma desvalorização pelos cursos de

licenciatura, entre eles o de Educação Física (Ver

Quadro 2 - Inscritos para o vestibular no curso de Educação Física

de 2000 a 2010. não pode se deixar de destacar a grande importância da

profissão docente e sua influência no meio social, pois é através do professor

que se inicia o processo de aprendizagem sistematizada em um local

desenvolvido para a aplicação do ensino metodológico, ou seja, as escolas.

A formação de professores para atuação na Educação Básica, apesar

de ser alvo constante de reformulações visando o aprimoramento desta

formação ainda não consegue conquistar um público maior para o acesso aos

cursos de licenciaturas. Freitas (2007) esclarece que a escassez de

professores é um problema estrutural e segundo a autora “Produzido

historicamente pela retirada da responsabilidade do Estado pela manutenção

da educação pública de qualidade e da formação de seus educadores (p.1207),

o que ajuda a justificar o desinteresse dos futuros acadêmicos pelos cursos de

licenciaturas.

Page 148: MARILENA KERSCHER PACHECO

141

Gatti (2009) nos mostra que o professor é um profissional que trabalha

em várias dimensões influenciando a sociedade na área econômica, politica e

cultural e complementa salientando que “O ensino escolar há mais de dois

séculos constitui a forma dominante de socialização e de formação nas

sociedades modernas e continua se expandindo (p.15)”, então se compreende

um pouco mais a grande importância dos cursos de licenciaturas manterem

seus currículos de formação de professores para Educação Básica sempre

determinados a atender as necessidades de formação dos futuros professores

que estão sendo capacitados para acessar o sistema de ensino.

Freitas (2007) comenta sobre a formação de professores expondo que

há a necessidade de formar professores fundamentados nas Ciências da

Educação e na teoria pedagógica para fortalecer as bases da formação

educacional:

Uma formação de base cientifica e técnica em condições de igualdade para todos, é condição para forjar uma nova qualidade da formação dos educadores, que não se reduz a “treinamento”, para lidar com os complexos processos na formação da infância e da juventude (FREITAS, 2007, p.1221).

Assim compreende-se que o processo de formação de professores

para atuação na Educação Básica, não deve estar centrado apenas em um

eixo formativo, mas sim propiciar ao aluno em formação, experiências relativas

ao saber docente que os conduzam a reflexão da prática pedagógica e possa

tornar o professor um profissional consciente, que reflita sobre a sua prática

educativa e aplique aos seus alunos experiências condizentes ao que ele

aprendeu em seu tempo de formação, desenvolvendo uma docência pautada

em fundamentos teóricos e práticos para assim desenvolver um trabalho

formativo consciente e significativo.

A formação dos futuros professores que atuarão na Educação Básica

se encontra diretamente ligada ao curso de licenciatura que auxiliará o aluno a

buscar em sua formação subsídios que ajudem a exercer sua profissão.

Na busca de entender quais as dificuldades mais latentes no curso de

Licenciatura e de Bacharelado no curso pesquisado, perguntou-se aos

professores/coordenadores do curso de Educação Física, o que eles

Page 149: MARILENA KERSCHER PACHECO

142

destacariam no curso em geral e específico como dificuldades que o curso

apresenta. A este respeito, obtiveram-se os seguintes relatos:

Professora F: “Acho que estamos esbarrando como a maior parte dos cursos, com

a formação básica que os alunos trazem para Universidade, é uma dificuldade com

interpretação, com leituras, também isso é uma coisa que acaba resultando de uma concepção

errada, muita gente vem fazer Educação Física achando que a Educação Física é um curso

que só se fazem aulas práticas e que não há um processo de estudos e eles acabam

esbarrando nessa dificuldade de enfrentar disciplinas que são teóricas e que são fundamentais

para a sua formação, então esse é um dos problemas. O segundo, a questão da interpretação

que se dá para a Licenciatura e para o Bacharelado. O mercado ainda coloca algo imaginário,

que o Bacharelado é mais importante que a Licenciatura, porque pode se trabalhar em

academia, pode ser personal, pode ser uma série de coisas e o licenciado ele vêm com a

perspectiva que ele só vai trabalhar com a escola e ele acha que inicialmente esse trabalho

não é importante, então tem um trabalho de conscientização deles. E as dificuldades que são

inerentes ao dia a dia de dar aula, o aluno que não quer estudar, a falta de comprometimento

dos próprios alunos, então são as dificuldades do cotidiano (Profª.F).”

Professor G: “Os alunos que optam por Licenciatura tem um perfil muito

diferenciando em relação ao Bacharelado, eles já optam via de regra, sabendo que eles vão se

formar como professores de Educação Básica e para isso ele já vêm com esse perfil para o

curso e tem uma maior dedicação a sua formação, então eu acho que isso tem sido uma grata

surpresa, não é uma dificuldade. Talvez a maior dificuldade seja quando o aluno começa a sair

da Universidade para ir para aos campos de Estágios e começa a se deparar com diferenças

entre aquilo que imaginamos como mundo idealizado na Universidade e aquele mundo real

que você se depara na escola, então quando o aluno começa a ter essa transição e quando

eles voltam pra Universidade nas discussões de Estágio é que tem uma dificuldade maior

devido aos conflitos e percalços encontrados no caminho. E no Bacharelado, devido os alunos

terem um perfil diferente do licenciado, eles demoram a ter uma atitude mais crítica, mais

reflexiva sobre sua atuação profissional. Os licenciados são mais críticos um pouco, refletem

mais. Os alunos de Bacharelado, eles são menos críticos e mais imaturos, demoram um pouco

mais para se constituir enquanto profissionais, essa é a impressão que eu tenho, agora é claro,

é bem subjetivo, mas isso é o que eu tenho percebido mesmo (Prof.G).”

Segundo os professores/coordenadores da Educação Física algumas

dificuldades do curso se apresentam de forma genérica, como por exemplo, a

dificuldade dos alunos em amadurecerem na Universidade, tomando

consciência de que estão se preparando para assumir uma postura profissional

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143

após sua formação, levando o curso de forma a não se preocupar muito com

os contextos apresentados a eles e apresentando dificuldades pedagógicas

como a interpretação de textos e leituras, pois entraram no curso de Educação

Física com uma expectativa a respeito da constituição das disciplinas, tendo a

concepção de que o curso seria basicamente composto por disciplinas práticas

e com pouca teoria, o que acaba gerando desmotivação dos alunos.

Outra questão comentada foi a escolha mais acentuada pelo curso de

Bacharelado do que a Licenciatura, pois a mídia pode influenciar fortemente a

escolha dos alunos, que em sua grande maioria são adolescentes ainda em

processo de maturação e com muitas dúvidas a serem elucidadas e durante

este processo se torna mais fácil exercer influências sobre as escolhas dos

alunos. Segundo os professores os alunos já entram nos cursos com um perfil

pré-definidos e que no caso da Licenciatura os alunos já iniciam o curso

conscientes de sua formação para docência.

Outro ponto de destaque foi a questão da relação Teoria e Prática dos

alunos, pois como já foi destacado anteriormente, os alunos enfrentam um

confronto com a realidade que passam a conhecer e a frequentar durante os

Estágios e isso pode ser um gerador de conflitos.

Objetivando estabelecer os elementos de impasse que o curso de

Educação Física vivencia no cotidiano, a última dimensão pesquisada junto aos

professores/coordenadores objetivou destacar os principais problemas para e

no curso. Relatam os professores:

Professora F: “Internamente, nós temos um apoio imenso da Universidade, o curso

é bastante valorizado, nós temos uma infraestrutura muito boa para trabalhar, diferente de

outras instituições. Um problema que eu vejo, na Licenciatura de forma especifica, nós temos

um curso de quatro anos e outras Universidades estão oferecendo a Licenciatura em três anos,

porque é a carga horária mínima exigida pelo Ministério, que é 2880h. Então a cursos que

conseguem fazer isso em três anos e aí nós enfrentamos um dilema dos nossos alunos

perguntarem por que o nosso curso tem quatro anos se ele poderia pagar três em outra

instituição. Então nós vivemos o dilema de tentar explicar para o aluno que o curso oferece

mais horas de aulas e que ele está ficando um ano a mais porque ele está tendo outros

conhecimentos além do mínimo necessário exigido. Mas eu não vejo que tenhamos grandes

problemas, até porque o grupo é muito sério, os professores são muito responsáveis, é um

grupo que não falta, que cumprem horário, que realmente dá aula. Eu não vejo nenhum

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144

problema internamente, só acho que temos problemas quando fica esta comparação com o

que acontece lá fora (Profª.F).”

E para o profº G: “Os problemas para o curso são relacionados a capacidade do

curso se adaptar as mudanças que a sociedade passa, que essa adaptação é um problema de

todos os cursos, não é só da Educação Física, porque os currículos não se movem na

velocidade que a sociedade se move e por outro lado nós também não conseguimos antecipar

rapidamente esses movimentos, então acho que este é um problema para o curso. É realmente

poder trabalhar com a formação que seja correspondente com aquilo que a sociedade precisa

agora e particularmente, o prognóstico do que a sociedade precisa num médio prazo e longo

prazo, porque temos que dar recursos para os alunos se adaptarem a essas mudanças. Claro

que não vamos correr atrás de cada novidade, não é isso, mas precisamos preparar o aluno

para trabalhar com as mudanças que estão ocorrendo, então eu acho que estas são as

dificuldade para o curso. E no curso, a dificuldade no curso é você poder ter coesão suficiente

para entender que mudar é necessário, a dificuldade no curso é também a mudança, porque

nem todos os profissionais que estão aqui, e isso é da natureza humana, consegue receber a

mudança da maneira como algo desafiador e que pode ser motivante, muitas vezes recebem a

mudança como um desconforto, que isso paralisa ou provoca reações negativas, então na

minha opinião, a maior dificuldade no curso é isso (Prof.G).”

A busca pelo aprimoramento dos cursos de formação de professores

exige a preparação de um ambiente de ensino e aprendizagem que muitas

vezes contrasta com a simples construção de um produto que apresente

condições econômico-financeiras favoráveis. Segundo a Profª F, o curso objeto

de estudo, prima pela qualidade na preparação dos seus alunos, em detrimento

a simples oferta de um produto mais atraente ao mercado, oferecendo aos

alunos mais conhecimentos e experiências para sua formação profissional.

Entende-se que a oferta adequada de infraestrutura em um espaço temporal

que permita ao aluno desenvolver-se, em um processo acadêmico adequado,

como destacado por Schwartzman (2000), é a chave para a oferta de cursos

que primem pela qualidade na formação de seus alunos.

O Prof. G. destaca o perene desafio em que todos os cursos se

defrontam: a necessidade da constante atualização, para a adequação

curricular frente às novas tecnologias, novos paradigmas e arranjos sociais.

Nesta dimensão, há que se destacar a natural busca pelo novo, como

demonstrado por estudos antropológicos, destacados por Konder (2002) que

mostram que os homens têm uma tendência “espontânea” a “descobrir” o que

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145

é o mundo que os circunda, a conhecer, a buscar compreender o que é esse

mundo, buscando nos cursos de formação, subsídios que possam auxiliá-los

em sua inserção no campo profissional. Então a maior dificuldade para o curso,

apontada pelo professor G, é corresponder a uma formação de professores

e/ou profissionais de Educação Física que corresponda com as novidades de

mercado e as mudanças ocorridas nos campos de atuação, ou seja, na

Licenciatura e no Bacharelado, tendo que adaptar o currículo a atender estas

demandas. E as dificuldades no curso é a necessidade de mudanças, que nem

sempre são bem aceitas, porque podem gerar um desconforto da situação

primária onde os professores se encontram.

Cabendo, portanto, aos coordenadores e professores a busca pela

construção e identificação do conhecimento relevante para a área de atuação,

na difícil missão de formar o futuro professor e/ou profissional de Educação

Física que atuará na Educação Básica ou nos demais ramos profissionais da

área.

4.1 INFERÊNCIAS A PARTIR DA ANÁLISE DOS DADOS

Este tópico trata de pontos de inferências das falas dos professores

formadores na sua concepção sobre a formação do licenciado em Educação

Física, obtidas pela análise das entrevistas fundamentadas com o referencial

teórico estudado. Igualmente, a análise considerou leis e diretrizes que

embasam o curso de Licenciatura em Educação Física geral e específico do

curso o qual foi pesquisado. Soma-se a estes dados, a experiência acadêmica

da pesquisadora em seu tempo de graduação e pós-graduação. Após a

transcrição, textualização e interpretação dos relatos dos professores

entrevistados, foi possível alcançar um aprofundamento das informações

obtidas e realizar uma análise a fim de compreender através da visão dos

professores formadores, como acontece o processo da formação de

professores no curso de Licenciatura em Educação Física da Instituição

pesquisada.

Uma questão preocupante é a desvalorização da área da Licenciatura

em Educação Física, considerando que a procura pelo curso de Licenciatura é

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146

menor do que o curso de Bacharelado, pois os futuros acadêmicos, já optam

pelos seus cursos, tendo uma visão pré-estabelecida do que é ser professor de

escola e veem nesta carreira elementos que consideram desmotivantes, como

por exemplo: remunerações que não atendem as expectativas salariais dos

professores quanto a sua carga de trabalho tanto profissional como burocrática

dentro das escolas, fazendo com que os professores não trabalhem apenas na

carga horária de trabalho na escola, mas também além dela para preparar

aulas, corrigir provas e trabalhos, desenvolver projetos, entre outras atividades

extras curriculares.

Existe também, segundo relatos, a dificuldade dos alunos em formação,

superarem os conflitos com a realidade do cotidiano escolar, o que desmotiva

os alunos a permanecerem na profissão docente e nela se especializarem,

acontecendo uma procura também pelo curso de Bacharelado em Educação

Física, após sua formação em Licenciatura, para assim obter duas formações

na área e estar apto a atuar em qualquer campo destinado a profissão da

Educação Física.

A separação das áreas de atuação promoveu uma distinção do perfil

dos alunos e na forma de trabalhar os conteúdos e atividades para a área.

Facilitou ao professor formador a organização e aplicação de conteúdos mais

específicos visando a fundo a formação docente, pois houve um aumento na

carga horária das disciplinas pedagógicas específicas do curso, o que auxiliou

o professor a trabalhar de forma mais complexa os conteúdos relacionados a

formação do professor de Educação Física que atuará na Educação Básica,

dispondo aos alunos contribuições mais específicas e direcionadas a uma

formação centrada na constituição do professor de Educação Física Escolar e

seu desempenho docente e profissional em sua área de atuação.

O curso centrou os objetivos de uma formação pedagógica, tendo um

envolvimento maior e comprometido dos alunos da Licenciatura em suas

atividades práticas.

Esta separação das áreas de formação contribuiu para o

aprofundamento dos conteúdos desenvolvidos e facilitou a aplicação prática,

pois é possível centrar em um campo profissional distinto, no caso da

Licenciatura, a escola. A formação deixou de ser generalista e passou a ser

mais específica, formando o professor de Educação Física Escolar.

Page 154: MARILENA KERSCHER PACHECO

147

Houve um aumento na carga horária das disciplinas pedagógicas

específicas do curso, o que auxiliou o professor a trabalhar de forma mais

centrada os conteúdos relacionados a esta formação possibilitando um

conhecimento mais aprofundado da área escolar e suas peculiaridades.

Os conteúdos foram organizados sistematicamente para que os alunos,

futuros professores, consigam elaborar as informações necessárias a preparar

e aplicar uma aula, buscando desenvolver em seus alunos as potencialidades,

assim como uma convivência social e participativa através da prática de

esportes.

A Licenciatura ruma para uma formação que propicia ao aluno um

melhor entendimento da profissão docente e sua especialização como

professor. Isso aconteceu com a ampliação de horas aulas destinadas a

Prática Pedagógica e aos Estágios supervisionados que acontecem no

decorrer do curso. Na reformulação a finalidade foi direcionar a formação do

licenciado para um efetiva atuação do professor dentro das escolas nas

diversas modalidades de ensino.

A formação de professores para atuação nas diversas modalidades de

ensino acontece seriada e gradativa, iniciando-se na Educação Infantil, onde os

professores formadores tratam dos conteúdos pertinentes a esta modalidade,

enfatizando em suas aulas o desenvolvimento da criança na fase que se

encontra, relacionando a sua idade, estágios de adaptação e aprendizagem,

para seu amplo desenvolvimento físico e psicológico. Nas disciplinas são

desenvolvidos conteúdos sobre a prática da educação física considerando a

faixa etária das crianças, adolescentes e jovens e suas características físicas e

biológicas, a fim de que o futuro professor possa identificar em seu aluno o seu

desenvolvimento e aproveitamento das aulas para intervir junto a eles de

acordo com as características específicas. Além disto, este professor poderá

identificar alunos com diferentes manifestações de desenvolvimento e diante

disto adequar as atividades de modo a favorecer e estimular este

desenvolvimento.

Compreende-se que apesar de haver um esforço por parte dos

professores formadores para que ocorra um aprofundamento na formação

docente, no entanto ainda se encontra uma formação direcionada para a

Page 155: MARILENA KERSCHER PACHECO

148

prática desportiva, havendo assim uma formação com encaminhamento mais

ligado a perspectiva técnica/instrumental da Educação Física.

Verificou-se que a relação Teoria e Prática acontece de forma

associada no curso, sendo a prática, na maioria das vezes, aplicada após o

desenvolvimento de conceitos teóricos para o embasamento da mesma. A

concepção é da teoria como guia da prática. Desta forma, os alunos são

preparados para se inserirem no cotidiano escolar e aplicar as atividades para

seus alunos.

Neste contexto acontece também o inverso quando os professores se

utilizam de outra estratégia partindo da prática, inserindo os alunos em

processos de observação da prática e então a discussão se sobrepõem ao

aprimoramento teórico. Quer dizer, os alunos relatam o que observaram e

coletivamente encontram nos referenciais possíveis explicações sobre o

observado. Sendo assim, constata-se que a teoria e a prática acontecem nas

disciplinas de forma associada. No entendimento dos professores isto

possibilita equilíbrio nesta relação Teoria e Prática.

No entanto, há discordância entre os professores quanto a

necessidade de tantas horas práticas no curso de Licenciatura, pois segundo

relatos, o curso apresenta muitas horas destinadas a atividades repetitivas,

como o estágio, por exemplo, deixando de aprofundar outros conteúdos que

são essenciais a prática da Educação Física e seus elementos norteadores,

com isso a Licenciatura em Educação Física acaba por perder um pouco suas

características particulares e se aprofunda mais apenas na formação do

professor geral e suas funções docentes.

Em relação à pesquisa como processo de formação do professor,

constatou-se que no curso acontece apenas uma iniciação a pesquisa, ou seja,

basicamente um conhecimento do processo. As pesquisas que são realizadas

no curso, conforme relatos, não são feitas com abrangência e aprofundamento

metodológico, caracterizando uma pesquisa inicial focalizada no trabalho de

conclusão de curso. Deste modo, o curso introduz os alunos na pesquisa, mas

não aprofunda a formação do professor pesquisador. A pesquisa é mais

evidenciada no curso de Bacharelado do que na Licenciatura, assim percebe-

se que principalmente no curso de Licenciatura investigado, não ocorre uma

intensa motivação para que os futuros professores venham a ser também

Page 156: MARILENA KERSCHER PACHECO

149

pesquisadores da área da educação e possam se tornar professores mais

motivados a pesquisar e então compreender melhor o seu campo de atuação

profissional.

Outra questão a destacar seria a compreensão do que é a

interdisciplinaridade. Os professores comentam que sim, existe a

interdisciplinaridade no curso e que ela acontece entre as disciplinas, no

entanto, verificando a organização do curso este mantém uma proposta

disciplinar. Assim, a relação entre os diferentes conhecimentos ocorre na

prática quando acontecem situações que propiciam atividades correlatas.

Existe sim um contato entre os professores, os quais algumas vezes, trabalham

conteúdos similares, complementando conceitos e aprendizagens estudados

em algum momento por outro professor e então acontece um aprofundamento

do assunto, enquanto a interdisciplinaridade busca superar a fragmentação dos

conteúdos em busca do alcance de um objetivo comum, mesmo com

conhecimentos diversos.

4.2 CONCEPÇÃO DA PESQUISADORA

Muitas foram as descobertas durante a Pesquisa realizada e muitas

foram as mudanças de concepção a respeito da formação de professores após

um aprofundamento no tema de estudos. Este trabalho permitiu que a

pesquisadora em questão se apropriasse de dados únicos que conduziram a

uma reflexão e conhecimentos a respeito do curso pesquisado e de

particularidades da Educação Física.

Compreende-se que o curso de Formação de Professores, ou seja, as

licenciaturas passaram por mudanças nos últimos tempos com a finalidade de

aprimorar esta formação de modo que ela consiga atender as necessidades

educacionais que as instituições de ensino buscam e também a que os alunos

apresentam ao longo do seu período escolar.

O curso de Licenciatura em Educação Física pesquisado busca através

de aprimoramentos, sejam eles profissionais (corpo docente), curricular,

metodológico, entre outros, atender de forma efetiva uma formação docente

que habilite o futuro professor de escola e que este possa aplicar em sua

profissão seus aprendizados teóricos e práticos para alcançar um desempenho

Page 157: MARILENA KERSCHER PACHECO

150

comprometido com sua profissão que esta diretamente ligada ao

desenvolvimento de aptidões pessoais dos alunos.

A respeito da reformulação curricular e da separação das áreas de

formação e atuação profissional, compreende-se que o curso acatou a nova

Legislação e que quase unanimamente os professores entrevistados se

posicionaram a favor desta mudança ocorrida no curso de Educação Física e

destacaram algumas razões de porque aconteceu esta mudança.

Tendo esta pesquisadora vivenciado este tempo de reformulação

durante sua graduação, percebe-se hoje que a separação do curso propiciou

ao mesmo uma reorganização dos conteúdos ministrados para a Licenciatura e

para o Bacharelado e um aprofundamento teórico e prático dos temas

estudados. No entanto, esta ruptura no curso restringiu alguns aspectos na

formação do professor de Educação Física, pois ao curso de Bacharelado falta

um aprofundamento quanto à docência e suas particularidades, como por

exemplo, como trabalhar com o desenvolvimento físico de uma criança em

suas etapas escolares e no curso de Licenciatura fica falha a formação mais

técnica do professor de Educação Física, pois o curso deixou de aprofundar

estes conhecimentos, por exemplo, na Biomecânica, na Fisiologia do Exercício

e em técnicas desportivas, entre outros.

Neste momento, a pesquisadora defende a reorganização do curso de

Educação Física de forma a unificá-lo, seguido de um aprimoramento

curricular.

O curso poderia dispor de um único acesso ao curso e após um

período de estudos similares a todos, realizar um reagrupamento direcional a

Licenciatura ou ao Bacharelado, ocorrendo desta maneira, no início do curso

um estudo que abrangesse as particularidades da Educação Física, como o

conhecimento do corpo humano, suas modificações ao crescimento e as

alterações que ocorrem antes, durante e depois a prática de atividades físicas.

Após este período com conteúdos mais abrangentes, em 03 anos de formação,

o aluno optaria no último ano para se aprofundar em uma das áreas pela qual

despertou mais interesse, o Bacharelado ou a Licenciatura, e neste

encerramento de graduação aconteceria o direcionamento de conteúdos

exclusivos para cada formação.

Page 158: MARILENA KERSCHER PACHECO

151

Assim o aluno teria um conhecimento mais amplo da Educação Física

e também um conhecimento direcional de uma das áreas, e sairia do curso

com duas credenciais de formação, estando apto a atuar tanto na área formal,

como informal.

Page 159: MARILENA KERSCHER PACHECO

152

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, com o objetivo de verificar as concepções dos

professores formadores a partir do Parecer CNE/CP nº 09/2001 e da

Resolução CNE/CES nº 01/2002; verificar como ocorre a relação Teoria e

Prática e destacar as alterações ocorridas no curso de Licenciatura em

Educação Física para a formação do professor de Educação Física que irá

atuar na Educação Básica, foram obtidos os seguintes resultados, após a

análise do conjunto de dados.

O curso de Educação Física pesquisado passou por reformulações no

ano de 2002 e verificou-se que o currículo de formação de professores foi

alterado a partir do primeiro semestre de 2003, onde aconteceu a separação

das áreas de formação, distinguindo o curso em dois: um destinado à formação

de professores para atuação na Educação Básica, curso de Licenciatura, e

outro destinado à formação de profissionais para atuação nos demais ramos da

Educação Física, curso de Bacharelado.

O curso antes da reformulação era nomeado como Licenciatura Plena

em Educação Física e dispunha ao graduado a habilitação para trabalhar tanto

na área formal como na informal e o tempo de graduação era de quatro anos.

Após os ajustes no projeto pedagógico e no currículo, os cursos passaram a

serem ofertados com duração de três anos e meio para cada formação.

Destaca-se que a procura maior desde a separação até a data da pesquisa

realizada, é mais intensa pelo curso de Bacharelado, o que pode ser

considerado uma desvalorização do curso de Licenciatura.

O curso pesquisado realizou as modificações prescritas pela legislação

do curso, realizando algumas alterações no currículo do mesmo, alterando

disciplinas em seus conteúdos e cargas horárias com a finalidade de melhor

prestigiar a formação do licenciado. Também ocorreram alterações na carga

horária das atividades práticas e de Estágios supervisionados, buscando uma

melhor preparação do acadêmico que virá a se tornar um professor de

Educação Física escolar, aprimorando desta forma sua formação profissional e

também pessoal, pois o curso busca ainda auxiliar na preparação da pessoa

como cidadão responsável e produtivo na sociedade.

Page 160: MARILENA KERSCHER PACHECO

153

Os relatos dos professores e coordenadores entrevistados trousseram

ricas reflexões e discussões sobre a formação no curso para as duas áreas, no

entanto optou-se por aprofundar neste trabalho apenas a formação para a

Licenciatura, considerando os limites em que se situa esta pesquisa.

As reformulações realizadas no curso de Educação Física,

Licenciatura, abrangem especificamente o currículo e as abordagens da prática

dos formadores.

O currículo do curso foi alterado para a adequação as novas normas

estabelecidas, com ampliação das disciplinas destinadas à formação

pedagógica dos professores que atuarão na Educação Básica. O curso de

Licenciatura em Educação Física pesquisado dispõe aos seus alunos, segundo

a coordenação, 3.000 horas/aula que estão distribuídas no currículo ao longo

do período de formação acadêmica, portanto com carga superior ao mínimo

determinado na Legislação.

A partir desta alteração da carga horária foi realizada também uma

adequação da grade disciplinar, sendo oferecidas no curso de Licenciatura

mais horas de Práticas Pedagógicas e Estágio curricular, auxiliando a

preparação do futuro professor que atuará na Educação Básica.

As disciplinas pedagógicas ajudam a encaminhar o processo de

ensino-aprendizagem, pois os professores formadores, a partir da divisão das

áreas de formação, estabeleceram padrões específicos para cada formação

direcionando as teorias e as práticas educacionais de modo a atender as

necessidades que cada área apresente. Isto está evidenciado no modo descrito

de encaminhamento diferenciado das aulas. Algumas disciplinas se encontram

presentes nas grades dos dois cursos, mas os professores dão a cada área de

formação um foco e um direcionamento específico conforme os conteúdos

desenvolvidos.

A relação Teoria e Prática na Licenciatura no curso de Educação Física

ocorre de modo a auxiliar o aluno em seu processo formativo, fazendo com que

ele tenha uma interação maior com a escola, em suas diferentes modalidades

de ensino e ela acontece no curso gradualmente, fazendo com que os alunos

em formação tenham experiências com a docência, da Educação Infantil até o

Ensino Médio, ancorados por uma formação teórica.

Page 161: MARILENA KERSCHER PACHECO

154

Segundo a maioria dos professores, há muito tempo já se percebia a

necessidade de realizar uma formação que dispusesse aos alunos de

Licenciatura mais elementos ligados à escola e suas particularidades,

auxiliando em uma formação mais específica a docência, dispondo aos alunos

maior tempo de preparação para assumir esta profissão que impõem tantos

desafios ao futuro professor. Assim, quase todos os professores se mostraram

a favor da divisão do curso de Educação Física e das mudanças ocorridas para

a formação do professor de Educação Física que atuará na Educação Básica.

Os professores descreveram, em sua concepção, quais foram as

contribuições que a separação do curso trouxe para a formação de professores

da Educação básica, destacando que o Projeto Pedagógico do curso passou

por alterações visando a formação específica do professor de Educação Física

para atuação nas escolas e nas diversas etapas educacionais, desde o Ensino

Infantil até o Ensino Médio. A formação desses novos professores visa o

envolvimento do aluno com a escola, para o conhecimento estrutural e

pedagógico desta instituição. Também visa a preparação em cunho

pedagógico para que o aluno desenvolva competências para atuação

profissional docente e suas particularidades junto aos alunos.

A formação no curso de Licenciatura em Educação Física apresenta

em suas disciplinas conteúdos aprofundados e direcionados à formação

docente, auxiliando o aluno a obter uma visão mais aguçada da profissão e por

consequência melhorando a qualidade na formação dos professores que irão

atuar na Educação Básica. Esta formação também se dá nos Estágios, onde

acontece com maior intensidade a relação Teoria e Prática educacional na

formação dos professores através da soma de diversos elementos

educacionais, entre eles a compreensão prioritária dos elementos que

envolvem cada modalidade educacional e suas particularidades através de

estudos teóricos científicos direcionados e posteriormente aplicados na prática

pedagógica, onde o aluno se confrontará com a realidade escolar e

posteriormente retornará a discutir com o professor verificando a relação Teoria

e Prática aplicada.

Foi destacado pelos professores que os alunos que chegam ao curso

para a graduação na Licenciatura, apresentam um perfil diferenciado do

Bacharelado, pois os mesmos entram cientes que assumirão um compromisso

Page 162: MARILENA KERSCHER PACHECO

155

com a docência e apresentam durante sua formação uma conduta mais

centrada e envolvida com as disciplinas estudadas e um comprometimento

mais aprofundado com as práticas pedagógicas e o Estágio curricular

desenvolvido no curso.

Apesar desta separação das áreas de formação ter sido uma exigência

legal, esta questão da divisão do curso de Educação Física é muito polêmica e

traz à tona discussões que cercam este assunto. O Conselho de Educação

Física CONFEF43/CREF44 intervêm nesta questão considerando que a divisão

dos cursos além de necessária, foi um grande avanço para a Educação Física,

tornando o curso mais direcional as áreas de formação. No entanto, existem

controvérsias por parte dos alunos e comissões estudantis que afirmam que a

separação do curso de Educação Física foi direcionada mais por interesses

políticos e econômicos do que educacionais, como discute a Executiva

Nacional dos Estudantes de Educação Física – EXNEEF, a qual luta para que

o curso seja revisto e novamente unificada as áreas de formação, a fim de criar

Licenciatura Ampliada em Educação Física.

Como comentado no item anterior, a pesquisa teve respostas dos

professores formadores extremamente ricas para as duas áreas de formação,

mas para esta pesquisa foram destacados os aspectos para formação docente

no curso de Licenciatura em Educação Física, não sendo abordado mais

profundamente as questões relacionadas a formação do profissional de

Educação Física no curso de Bacharelado. Assim deixo a sugestão para um

próximo trabalho, direcionado a área de formação informal na Educação Física.

Também não foram abordados na pesquisa em questão, os

conhecimentos pedagógicos na formação de professores de Educação Física e

isto poderia ser mais um item a ser pesquisado e aprofundado em outra

pesquisa, assim como a relação de como está acontecendo a formação

pedagógica no curso e como se processa intimamente a relação entre a

Universidade e as escolas.

A pesquisa realizada se apresentou como um desafio a ser vencido,

pois vários foram os obstáculos que tiveram de ser superados ao longo do

43 CONFEF - Conselho Federal de Educação Física 44 CREF - Conselho Regional de Educação Física

Page 163: MARILENA KERSCHER PACHECO

156

período de Pesquisa. Entre eles gostaria de comentar sobre o desafio de firmar

um tema de Pesquisa e seus objetivos, fazendo com que a Pesquisa seja

aceita no meio acadêmico e tenha relevância para o mesmo.

No final deste trabalho exalto a grandeza da importância do

aprofundamento teórico como base para uma Pesquisa aprofundada, pois sem

os aportes necessários, qualquer resultado obtido não passaria de mero

conhecimento sem a fundamentação teórica e poderíamos fantasiar sobre o

que almejamos da realidade pesquisada.

Após muitos estudos relacionados à formação de professores, hoje

esta pesquisadora se sente mais segura a respeito de algumas questões que

permeavam sua formação inicial, especialmente a formação de professores

atual no curso de Educação Física, pois vindo de uma formação anterior as

reformulações ocorridas no curso, foi despertada uma curiosidade a respeito

das modificações ocorridas e suas particularidades para a formação de

professores e profissionais de Educação Física no curso atual.

Esta pesquisa foi certamente o início de um relacionamento com a

formação de professores nos cursos de Educação Física, pois quanto mais

eram analisadas as respostas dos professores formadores, mais suscitava

questões a respeito da formação docente e suas particularidades, indicando

novas questões de pesquisas e aprofundamentos teóricos que poderão servir

de pontos iniciais para a realização de outros estudos da área. Alegro-me em

disponibilizar o meu trabalho para que possa vir a contribuir com o

esclarecimento de questões relativas à formação de professores e profissionais

no curso de Educação Física, servindo para o desenvolvimento de novas

pesquisas e para estudos na área acadêmica.

O ambiente no qual se vive possui a característica de facilitar ou

dificultar o alcance de objetivos. O tempo do Mestrado em Educação

caracterizou-se como ambiente estimulante para a mente e alma, auxiliando no

molde de minha formação acadêmica, mais acima de tudo em minha formação

humana, pois encontrei pessoas com valores inestimáveis neste espaço.

Certamente esses valores serão guardados e transferidos para outro

processo de formação que fez parceria com este que foi realizado e o nome

deste maravilhoso projeto é ALEXSANDRO! Te amo filho!

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157

6 REFERÊNCIAS

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164

7 APÊNCIDES

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES AOS PROFESSORES FORMADORES /COORDENADORES DO CURSO DE EDUCAÇÃO

FÍSICA

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

COORDENAÇÃO

Caracterização do entrevistado

Nome:

Formação:

Local: Ano:

Experiência de atuação no curso:

Experiência de coordenação de curso:

Disciplinas ministradas ao longo da docência e hoje :

Experiência na educação básica:

REESTRURAÇÃO DO CURSO

1. Houve sua participação no processo de reformulaç ão do curso?

2. Como se deu este processo?

3. O que motivou esta reformulação?

4. Quais as principais mudanças?

5. Como o curso desenvolve a formação pedagógica? H á distinção

para a Licenciatura e para o Bacharelado? Comente.

6. O curso contempla a formação para a pesquisa? Co mo ela se

processa no curso?

7. Quais as maiores dificuldades existentes no curs o de licenciatura?

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165

8. Comentários sobre o curso em geral e o perfil do

licenciado/bacharel.

9. Comentários sobre a prática pedagógica do curso.

10. Comentários sobre a formação de professores nos cursos.

11. Em sua opinião, a partir da Reformulação Curric ular no Curso, onde

se separou a formação de professores para a Licenci atura e para o

Bacharelado, quais foram as maiores contribuições e specíficas

para formação do professor e/ou profissional de Edu cação Física?

Comente.

12. No projeto do curso existem disciplinas comuns que contemplam

as duas formações? Caso sim, quais?

13. A respeito da procura pelo curso, anualmente in gressa mais alunos

para cursar a Licenciatura ou o Bacharelado? E quan to a formação

é na mesma proporção?

14. Que mudanças foram introduzidas no curso para a tender as

exigências da atual legislação de ensino que regula menta 800

horas de prática e de estágio?

15. Como se estabelece a relação entre a universida de e as

escolas/instituições no campo de estágio? Como acon tece todo

esse processo?

16. Como ocorre a formação para a educação infantil ? Ensino

fundamental? Ensino médio? Há preocupação com outra s práticas

educativas?

17. A formação para a inclusão? A formação para a d iversidade?

18. O que poderia ser destacado como ponto forte no curso de

Educação Física visando à formação do futuro profes sor?

19. Quais são os problemas para o curso? E os probl emas no curso?

20. Em sua opinião, o que é preciso para uma comple ta formação

universitária hoje a fim de se alcançar o objetivo de uma formação

de professores comprometidos com a docência?

21. Você conhece o NDE – Núcleo Docente Estruturant e? O curso tem

este Núcleo? Você faz parte dele? Qual o objetivo d o Núcleo na EF?

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES FORMADORES DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

PROFESSSORES

Caracterização do entrevistado

Nome:

Formação:

Local: Ano:

Experiência de atuação no curso:

Disciplinas ministradas ao longo da docência e hoje :

Experiência na educação básica:

Atuante na Licenciatura e/ou Bacharelado

REESTRURAÇÃO DO CURSO

1. Houve sua participação no processo de reformulaç ão do curso?

Caso sim, como se deu este processo? O que motivou esta

reformulação? Quais as principais mudanças?

2. Qual disciplina você trabalha e quais são os pro pósitos dela para a

formação de professores?

3. Quais os conteúdos trabalhados na disciplina e q uais os autores

que você se baseia? Por que você escolheu estes con teúdos e

estes autores?

4. Como você trabalha estes conteúdos (dinâmicas at ividades e

avaliação).

5. Como é encaminhada a prática pedagógica de sua d isciplina.

6. Em sua opinião, a partir da Reformulação Curricu lar no Curso, onde

se separou a formação de professores para a Licenci atura e para o

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Bacharelado, quais foram as contribuições específic as para

formação do professor e/ou profissional de Educação Física?

Comente.

7. Sua disciplina administra estágio para os aluno s? Caso sim:

7a) Como se estabelece a relação entre a universida de e as

escolas/instituições no campo de estágio? Como acon tece todo

esse processo?

7b) Quais as dificuldades encontradas pelo curso em relação a

inserção dos alunos nas escolas/instituições para a realização dos

estágios?

7c) Qual o objetivo dos estágios para o curso/disci plina e para o

aluno?

7d) Existem relutância do aluno em ir para o campo de estágio e

cumprir com os objetivos propostos pelo PA? O que o s alunos

comentam a respeito?

8. Como ocorre a formação para a educação infantil? Ensino

fundamental? Ensino médio? Há preocupação com outra s práticas

educativas?

9. E A formação para a inclusão? E a formação para a diversidade?

10. O que você considera primordial para uma satisf atória conduta

profissional?

11. Em sua opinião, o que é preciso para uma comple ta formação

universitária hoje a fim de se alcançar o objetivo de uma formação

de professores comprometidos com a docência?

12. Como é encaminhada a formação do professor dent ro de uma

fundamentação científica? E na formação ética? E na prática? E na

técnica?

13. Como professor atuante, o que você exaltaria na s condutas dos

alunos como pontos positivos e pontos negativos par a a formação

de um futuro professor?

14. Você acha possível existir uma boa abordagem in terdisciplinar do

conhecimento, buscando interagir com outras áreas d e

aprendizagem. Sua disciplina privilegia algo assim? Comente.

15. Qual sua opinião sobre teoria e prática dentro da sua disciplina?

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16. Você conhece o NDE – Núcleo Docente Estruturan te? O curso tem

este Núcleo? Você faz parte dele? Qual o objetivo d o Núcleo na EF?

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169

8 ANEXO – QUADRO DE ESTRUTURA CURRICULAR DO CURSO D E EDUCAÇÃO FÍSICA 2010

Quadro 3 - Estrutura curricular do curso de Educação Física 2010. CURSO DE LICENCIATURA CURSO DE BACHARELADO

1º Período

• Prática Profissional I • Produção e Recepção de Textos • Anatomia I • Atletismo I • Fundamentos da Ginástica I • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas I • Biologia Aplicada à Educação Física I • Fundamentos do Ensino e da

Aprendizagem I • Cultura Religiosa

• História e Epistemologia da Educação Física

• Anatomia I • Atletismo I • Fundamentos da Ginástica I • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas I • Biologia Aplicada à Educação Física I • Pedagogia do Movimento I • Crescimento e Desenvolvimento

Humano I • Cultura Religiosa

2º Período

• Prática Profissional II • História e Epistemologia da Educação

Física • Atividades Acadêmico Científico Culturais • Anatomia II • Atletismo II • Fundamentos da Ginástica II • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas II • Biologia Aplicada à Educação Física II • Fundamentos do Ensino e da

Aprendizagem II • Processos do Conhecer

• Recepção e Produção de Textos • Anatomia II • Atletismo II • Fundamentos da Ginástica II • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas II • Biologia Aplicada à Educação Física II • Pedagogia do Movimento II • Crescimento e Desenvolvimento

Humano II • Atividades Complementares • Processos do Conhecer

3º Período

• Atividades Acadêmico Científico Culturais • Prática Profissional III • Crescimento e Desenvolvimento Humano I • Fisiologia Geral I • Basquetebol I • Lutas I • Fundamentos da Educação e Organização

e Gestão da Escola I • Ginástica Artística e Rítmica I • Dança e Corporeidade I • Filosofia • Ética

• Dança e Corporeidade I • Atividades Complementares • Fisiologia Geral I • Aprendizagem Motora I • Basquetebol I • Ginástica Artística I • Ginástica Rítmica I • Esportes Aquáticos I • Ginástica de Academia I • Lutas I • Filosofia

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170

4º Período

• Esportes Alternativos • Atendimento de Urgência • Prática Profissional IV • Crescimento e Desenvolvimento Humano II • Fisiologia Geral II • Basquetebol II • Lutas II • Fundamentos da Educação e Organização

e Gestão da Escola II • Ginástica Artística e Rítmica II • Dança e Corporeidade II

• Fisiologia Geral II • Aprendizagem Motora II • Basquetebol II • Dança e Corporeidade II • Ginástica Artística II • Ginástica Rítmica II • Esportes Aquáticos II • Ginástica de Academia II • Lutas II • Ética

5º Período

• Atividades Acadêmico Científico Culturais • Prática Profissional V • Aprendizagem Motora I • Fisiologia do Exercício I • Handebol I • Métodos de Pesquisa e Projeto de

Trabalho de Conclusão de Curso I • Cineantropometria e Bioestatística I • Natação I • Estágio Supervisionado I • Projeto Comunitário

• Voleibol I • Primeiro Atendimento em Educação

Física • Atividades Complementares • Cinesiologia e Biomecânica I • Cineantropometria e Bioestatística I • Fisiologia do Exercício I • Futebol e Futsal I • Handebol I • Métodos de Pesquisa e Projeto de

Trabalho de Conclusão de Curso I • Exercícios Resistidos I • Estágio Supervisionado I • Projeto Comunitário

6º Período

• Cinesiologia • Prática Profissional VI • Aprendizagem Motora II • Fisiologia do Exercício II • Handebol II • Métodos de Pesquisa e Projeto de

Trabalho de Conclusão de Curso II • Cineantropometria e Bioestatística II • Natação II • Estágio Supervisionado II

• Cinesiologia e Biomecânica II • Cineantropometria e Bioestatística II • Fisiologia do Exercício II • Futebol e Futsal II • Handebol II • Métodos de Pesquisa e Projeto de

Trabalho de Conclusão de Curso II • Voleibol II • Exercícios Resistidos II • Estágio Supervisionado II • Voleibol II

7º Período

• Prática Profissional - LIBRAS • Atividades Acadêmico Científico Culturais • Futebol e Futsal I • Voleibol I • Trabalho de Conclusão de Curso I • Estágio Supervisionado III • Educação Física Adaptada I • Gestão e Organização de Atividades

Recreativas na Educação Física I

• Estágio Supervisionado III • Trabalho de Conclusão de Curso I • Atividade Física Adaptada I • Gestão, Organização e Legislação em

Educação Física I • Recreação e Lazer Comunitário I • Treinamento Esportivo I • Atividade Física para Populações

Especiais I • Epidemiologia da Atividade Física I • Psicologia do Exercício • Atividades Complementares

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171

8º Período

• Prática Profissional - Educação Física no Ensino Fundamental e Médio

• Futebol e Futsal II • Voleibol II • Trabalho de Conclusão de Curso II • Natação II • Estágio Supervisionado IV • Educação Física Adaptada II

• Nutrição Esportiva • Estágio Supervisionado IV • Trabalho de Conclusão de Curso II • Atividade Física Adaptada II • Gestão, Organização e Legislação em

Educação Física II • Recreação e Lazer Comunitário II • Treinamento Esportivo II • Atividade Física para Populações

Especiais II • Epidemiologia da Atividade Física II

Fonte: A autora, 2011.