Mark W. Chavalas - Vida Nova

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Essa é uma leitura obrigatória para quem deseja estudar o Antigo Testamento. John Walton empregou toda sua experiência nesse excelente estudo sobre a interface entre o antigo Oriente Próximo e Israel e estabeleceu — especialmente em sua seção introdutó-ria sobre estudos comparados — o paradigma para a compreensão do mundo conceitual da Bíblia hebraica. Destaco também os quadros de análises comparativas, que permitem aos leitores localizarem rapidamente o tema sobra o qual desejam se aprofundar. Esse é um livro acessível, mas também acadêmico. Assim, tanto seminaristas quanto o público em geral aproveitarão esse material valioso.

Mark W. Chavalas, University of Wisconsin-La Crosse, coautor do Comentário histórico-cultural da Bíblia: Antigo Testamento (Vida Nova)

John Walton escreveu um livro que deve ser lido por aqueles que desejam entender como a Bíblia hebraica chegou à sua concepção da divindade e forjou uma linguagem que ainda fala a muitos. O autor apresenta as principais características da literatura produzida no antigo Oriente Próximo e esclarece como Israel moldou seus ensinamentos a partir dessa produção cultural ou em oposição a ela.

Jack M. Sasson, Vanderbilt University

Walton guia o leitor em uma viagem pelo mundo da Bíblia hebraica e faz com que os textos antigos ganhem vida. Tudo o que realmente importa sobre o assunto está nessa clássica e inigualável introdução à cultura do antigo Oriente Próximo.

Karel van der Toorn, University of Amsterdam

Pensamento do antigo Oriente Próximo é uma ferramenta muito bem-vinda para quem estuda a Bíblia e sua relação com o seu contexto cultural. Walton compara como Israel e seus povos vizinhos pensavam sobre religião, literatura, antropologia e outros assuntos, e assim descreve os aspectos mais importantes da vida intelectual do mundo antigo, no qual o povo de Deus estava inserido.

Ada Taggar-Cohen, Doshisha University

Esse livro é uma dádiva de Deus. Seu capítulo sobre metodologia é leitura obrigatória para quem está começando a estudar o Antigo Testamento.

JoAnn Scurlock, presidente da Chicago Society for Biblical Research

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O PENSAMENTO DOANTIGO ORIENTE PRÓXIMO

E O

ANTIGO TESTAMENTO

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Índices para catálogo sistemático

1. Bíblia A.T. - Crítica e interpretação

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Walton, John H. O pensamento do antigo Oriente próximo e o Antigo Testamento : introdução ao mundo conceitual da Bíblia hebraica / John H. Walton; tradução de Marcio Loureiro Redondo. - São Paulo : Vida Nova, 2021. 416 p.

ISBN 978-65-86136-39-5Título original: Ancient near eastern thought and the Old Testament

1. Bíblia A.T. - Crítica e interpretaçãoI. Título II. Redondo, Marcio Loureiro

20-2373 CDD 221.67

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John H. Walton

O PENSAMENTO DOANTIGO ORIENTE PRÓXIMO

E O

ANTIGO TESTAMENTO

Introdução ao mundo conceitual da Bíblia hebraica

Tradução Marcio Loureiro Redondo

John H. Walton

O PENSAMENTO DOANTIGO ORIENTE PRÓXIMO

E O

ANTIGO TESTAMENTO

Introdução ao mundo conceitual da Bíblia hebraica

Tradução Marcio Loureiro Redondo

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©2006, 2018, de John H. WaltonTítulo do original: Ancient Near Eastern thought and the Old Testament: introducing the conceptual world of the Hebrew Bible,segunda edição publicada por Baker Academic, uma divisão do Baker Publishing Group (Grand Rapids, Michigan, EUA).

Todos os direitos em língua portuguesa reservados porSociedade Religiosa Edições Vida NovaRua Antônio Carlos Tacconi, 63, São Paulo, SP, 04810-020vidanova.com.br | [email protected]

1.a edição: 2021

Proibida a reprodução por quaisquer meios,salvo em citações breves, com indicação da fonte.

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Todas as citações bíblicas foram traduzidas diretamente da New International Version (NIV).

Direção executivaKenneth Lee Davis

Coordenação editorialJonas Madureira

Edição de texto Daniel de OliveiraTiago Abdalla T. Neto

Preparação de textoVirginia NeumannMarcia B. Medeiros

Revisão de provasFernando Mauro S. Pires

Coordenação de produçãoSérgio Siqueira Moura

DiagramaçãoSandra Reis Oliveira

CapaPaulo Jardim (adaptação)

Imagem da capaReprodução das gravuras encontradas na tumba da rainha Nefertari, na cidade de Tebas (atualmente denominada Luxor), no Egito.

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Sumário

Material especial ........................................................................................7 Agradecimentos ........................................................................................11 Reduções gráficas ......................................................................................13

primeira parte

Estudos comparados .......................................................................................19 1. História e métodos .........................................................................21 2. Estudos comparados, ambiente acadêmico e teologia .....................39

segunda parte

Literatura do antigo Oriente Próximo............................................................53 3. Resumo da literatura do antigo Oriente Próximo ..........................55

terceira parte

Religião ..................................................................................................67 4. Os deuses .......................................................................................69 5. Templos e rituais ............................................................................98 6. Religião do estado e religião da família ........................................124

quarta parte

Cosmo .................................................................................................159 7. Geografia cósmica ........................................................................161 8. Cosmologia e cosmogonia ............................................................178

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6 O pensamento do antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento

quinta parte

Pessoas ...........................................................................................................205 9. Entendendo o passado: origens e papel dos seres humanos ..........207 10. Entendendo o passado: historiografia ...........................................224 11. Enfrentando o presente: orientação para a vida — adivinhação e vaticínios ...........................................................249 12. Enfrentando o presente: contexto de vida — cidades e realeza.....291 13. Enfrentando o presente: diretrizes para a vida — lei e sabedoria ....308 14. Meditando sobre o futuro na terra e depois da morte ..................333

Comentários finais ..........................................................................................355

Apêndice: deuses individuais ..........................................................................361

Bibliografia .....................................................................................371 Índice de passagens bíblicas ...............................................................387 Índice de palavras estrangeiras .........................................................393 Índice de textos antigos .....................................................................395 Índice remissivo ...............................................................................399

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Material especial

Fotos

4.1. Estatueta de El ............................................................................... 77 4.2. Estela de Baal ................................................................................. 88 4.3. Cabeça de Shamash........................................................................ 91 5.1. Santuário de Arade ....................................................................... 104 5.2. Fachada do templo de Inanna em Uruk ....................................... 108 5.3. Jardim e santuário de Sargão ........................................................ 113 5.4. Gudea com a planta do templo no colo ........................................ 113 5.5. Oferenda egípcia .......................................................................... 122 6.1. Tábua com inscrições de orelhas ................................................... 133 6.2. Estatueta de ancestral ................................................................... 134 6.3. Amuleto de Lamashtu .................................................................. 135 6.4. Estela de Tukulti-Ninurta I .......................................................... 138 6.5. Bezerro de Ascalom ..................................................................... 151 6.6. Pedra de Shabaka ......................................................................... 153 6.7. Plataforma cultual de Taanaque ................................................... 155 7.1. Shamash: o deus-Sol .................................................................... 165 7.2. Tábua dos céus em forma de disco ............................................... 167 7.3. Mapa-múndi babilônico ............................................................... 168 7.4. Selo cilíndrico de Etana ............................................................... 171 8.1. Desenho de Nut, Geb e Shu ........................................................ 181 8.2. Ninurta lutando contra uma criatura do caos ............................... 186 8.3. Enuma elish .................................................................................... 187 8.4. Cilindro de Gudea ....................................................................... 199

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8 O pensamento do antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento

9.1. Khnum moldando o faraó na roda de oleiro ................................. 209 9.2. Tábua de Atrahasis ....................................................................... 216 9.3. Representação do ba como um pássaro ......................................... 21710.1. Inscrição de Tel Dan .................................................................... 22810.2. Sisaque e lista de reis derrotados .................................................. 23110.3. Relevo do cerco de Laquis ............................................................ 23610.4. Obelisco Negro de Salmaneser III ............................................... 23810.5. Prisma de Senaqueribe ................................................................. 23911.1. Carta de Laquis ............................................................................ 25111.2. Modelo de fígado ......................................................................... 26912.1. Estela de Naram-Sin .................................................................... 29613.1. Estela de Hamurábi ...................................................................... 31014.1. Textos dos sarcófagos ........................................................................ 33514.2. Livro dos mortos .............................................................................. 33614.3. Ketef Hinnom .............................................................................. 33814.4. Tábua de Gilgamesh..................................................................... 352

Tabelas

10.1. Perspectivas parecidas sobre criação e história no mundo antigo .. 23310.2. Perspectivas moderna, antiga e israelita sobre história e historiografia ................................................................................ 24511.1. Oráculos proféticos do antigo Oriente Próximo ........................... 25711.2. Oráculos proféticos israelitas ........................................................ 26411.3. Tipos de oráculos proféticos em Israel e no antigo Oriente Próximo ........................................................................................ 26712.1. Retórica da realeza na Bíblia e no antigo Oriente Próximo .......... 30113.1. Medidas corretivas judiciais .......................................................... 31113.2. Contexto literário da lei no Pentateuco e no antigo

Oriente Próximo .......................................................................... 31514.1. Aspectos da crença na vida após a morte ...................................... 354

Análises comparativas

4.1. Ontologia e teogonia em Israel ...................................................... 73 4.2. O nome Yahweh ............................................................................. 74

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Material especial 9

4.3. O concílio de Yahweh..................................................................... 78 4.4. O lugar de Yahweh no cosmo ......................................................... 82 4.5. Como Yahweh é diferente dos deuses do antigo Oriente Próximo? .. 95 5.1. Ídolos inúteis ................................................................................ 101 5.2. A Torre de Babel .......................................................................... 105 5.3. O jardim do Éden ........................................................................ 110 5.4. Cosmo e templo em Israel ............................................................ 114 5.5. Funções do templo em Israel ........................................................ 115 5.6. O papel do ritual .......................................................................... 119 6.1. Religião estatal em Israel .............................................................. 129 6.2. A religião de Abraão .................................................................... 140 6.3. Mandamentos 1-4 ........................................................................ 149 7.1. Terminologia bíblica relacionada à geografia cósmica .................. 172 8.1. Ênfase na ordem funcional do primeiro dia ................................. 179 8.2. O verbo hebraico bara’ ................................................................... 184 8.3. Condição e ordem pré-cósmicas................................................... 188 8.4. Funções criadas — nomeação, separação, designação de papéis .... 190 8.5. Atributos de controle e destinos ................................................... 197 8.6. Gênesis 1 e a construção de templos ............................................ 201 9.1. Poligênese e monogênese ............................................................. 208 9.2. Humanidade arquetípica em Israel e no antigo Oriente Próximo ... 213 9.3. Imagem de Deus .......................................................................... 22010.1. Historiografia israelita .................................................................. 24111.1. Sonhos e intérpretes de sonhos em Israel ..................................... 25211.2. Terminologia relacionada a pronunciamentos sobre o futuro ....... 25511.3. Profecia em Israel e no antigo Oriente Próximo .......................... 26411.4. Jeremias 31.33 .............................................................................. 27211.5. Josué 10.12-15.............................................................................. 27611.6. Por que Israel foi proibido de praticar a adivinhação dedutiva? .... 28612.1. Jerusalém, a Cidade Santa ............................................................ 29412.2. Exemplos de reis que reivindicam filiação divina ......................... 29812.3. Messias ......................................................................................... 30513.1. O contexto literário da lei no Pentateuco ..................................... 31413.2. Quais são as implicações de o Pentateuco apresentar a torá como transmitida por Yahweh? .................................................... 320

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10 O pensamento do antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento

13.3. Força compulsória em Israel: O que significa guardar a torá? ....... 32213.4. Provérbios israelitas: Qual é sua dívida com o antigo Oriente Próximo? ......................................................................... 32614.1. Sheol ............................................................................................... 34314.2. 1Samuel 28 ................................................................................... 349

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Agradecimentos

Gostaria de reconhecer a importante contribuição de minhas alunas-assistentes ao longo dos anos em que este livro foi produzido: Caryn Reeder, Liz Klassen, Melissa Moore e Alyssa Walker. Este livro deixaria a desejar sem a ajuda delas em várias etapas editoriais. Também desejo agradecer a JoAnn Scurlock a leitura cuidadosa do texto e seus valiosos comentários e sugestões. Esses comentários e sugestões me ajudaram a evitar possíveis erros e proporcionaram insights valiosos. No entanto, as opiniões e conclusões aqui expressas são de minha responsabilidade.

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Parte 1

Estudos comparados

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História e métodos

História

A redescoberta do Egito começou de forma intensa no século 18, e a da Mesopotâmia, em meados do século 19. Com o deciframento das línguas antigas, as dezenas de milhares de textos que estavam sendo descobertas começaram a ser traduzidas e ana-lisadas. Hoje o número de textos supera um milhão. Em muitos casos, a motivação dos aventureiros e estudiosos era uma estranha combinação de política, interesse em antiguidades (ou tesouros) e apologética bíblica. Estudos iniciais tendiam a defender a Bíblia, ainda que essa posição exigisse a rejeição ou a distorção dos textos cuneiformes. Na virada do século 20, o frenesi de atividades ligadas à identificação da relação desses textos com a Bíblia havia chegado, por assim dizer, a seu ápice; e, por consequência, um grande interesse foi gerado por uma série de palestras apre-sentadas em 1902 com o patrocínio da Sociedade Oriental Alemã e a presença do imperador Guilherme II. O que o julgamento do professor John Scopes represen-tou para o debate da evolução, essas palestras o foram para os estudos comparados. O conferencista foi o renomado assiriologista Friedrich Delitzsch, filho do famoso comentarista bíblico conservador Franz Delitzsch.

As palestras de Delitzsch, intituladas “Babel und Bibel” [Babel e a Bíblia], des-pertaram ainda mais o interesse no impacto da assiriologia na compreensão da Bíblia. Entretanto, mais controversa foi sua afirmação de que a literatura bíblica dependia da literatura da cultura dominante presente na região dos rios Tigre e Eufrates e de que até mesmo tomava emprestado elementos dessa cultura. Sua alegação era:

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22 O pensamento do antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento

“As evidências mesopotâmicas nos mostram não apenas paralelos com os costumes e ideias do Antigo Testamento, mas provas concretas da origem desses costumes e ideias”.1 Portanto, a conclusão lógica era a origem humana, e não divina, do Antigo Testamento, bem como a de que os fundamentos da fé cristã estavam, portanto, na mitologia pagã. Mais duas palestras que desenvolveram essa tese ocorreram nos dois anos seguintes. Na segunda palestra, mais contestável que a primeira, Delitzsch questionou a pertinência da terminologia teológica tradicional usada para descrever a Bíblia (e.g., revelação, inspiração) à luz da inegável dependência da Bíblia na visão dele. Como observado por H. Huffmon, “Delitzsch havia passado da Babilônia como intérprete e ilustradora do Antigo Testamento para um ataque geral contra o valor religioso do Antigo Testamento para o cidadão alemão de hoje”.2 Nessa época, muitos assiriólogos eram pessoas de fé, por isso Delitzsch foi criticado veementemente nas respostas escritas por eles às suas palestras. Mas nas décadas seguintes, conforme a assiriologia se tornou cada vez mais secular e seus estudiosos, quando tinham algum interesse na Bíblia, adotavam os princípios dos estudos críticos, as palestras de Delitzsch foram reconhecidas como um divisor de águas em estudos comparados.

O resultado foi uma crescente divisão ideológica entre aqueles que viam os estudos comparados da perspectiva de um enfoque confessional, procurando usar a assiriologia em sua apologética, e aqueles que a viam da perspectiva de um enfoque científico ou secular, considerando a Bíblia uma obra que havia sido produzida tarde na literatura mundial e estava repleta daquilo que era pouco mais que adaptações da mitologia do antigo Oriente Próximo. Para os estudiosos críticos, seus oponentes eram tradicionalistas ingênuos. Para os estudiosos confessionais, seus oponentes eram hereges ímpios.3 À medida que surgiam evidências que não se ajustavam facil-mente ao desejo de confirmar a Bíblia, os críticos foram se tornando mais ruidosos, e muitos chegaram a concordar com a alegação de Delitzsch de que “o Antigo Testamento não era um livro da religião cristã, portanto, deveria ser excluído da

1M. T. Larsen, “The ‘Babel/Bible’ controversy and its aftermath”, in: CANE, 1:95-106, citação da p. 99.

2H. B. Huffmon, “Babel und Bibel: the encounter between Babylon and the Bible”, in: M. P. O’Con-nor; D. N. Freedman, orgs., The Bible and its traditions (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1983), p. 309-20, citação da p. 315.

3Não há dúvida de que estudiosos confessionais podem usar metodologias críticas ou que estu-diosos críticos podem ter convicções confessionais. Utilizo essas expressões como generalizações para representar posições relacionadas em toda uma gama de possibilidades. As expressões se referem aos indivíduos com forte tendência crítica ou confessional.

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