Marketing interno: um estudo exploratório em hospitais ... · Aos meus irmãos, Beto, Aninha e...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS - CCJE INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO - COPPEAD Marketing interno: um estudo exploratório em hospitais Luciana Chiesa Mestrado em Administração Orientador : Professor Frederico A. Azevedo de Carvalho Rio de Janeiro 2001

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS - CCJE

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO - COPPEAD

Marketing interno:

um estudo exploratório em hospitais

Luciana Chiesa

Mestrado em Administração

Orientador : Professor Frederico A. Azevedo de Carvalho

Rio de Janeiro

2001

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MARKETING INTERNO: um estudo exploratório em hospitais

LUCIANA CHIESA

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em

Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

______________________________________________________ - Orientador

Frederico A. Azevedo de Carvalho, COPPEAD / UFRJ – Phd.

______________________________________________________

Agrícola de Souza Bethlem, COPPEAD / UFRJ – D.Sc.

______________________________________________________

Valdecy Faria Leite, FACC / UFRJ – D.Sc.

Rio de Janeiro

2001

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Chiesa, Luciana

Marketing Interno: um estudo exploratório em hospitais /Luciana Chiesa. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPEAD, 2001.

ix, 143 p. il.

Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro,COPPEAD.

1. Marketing Interno. 2. Marketing de Serviços. 3. Tese(Mestr. – UFRJ / COPPEAD). I. Título.

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“Deter o conhecimento não é suficiente; devemos aplicá-lo.

Não basta ter vontade; é preciso fazer”.

- Goethe

À minha família,

Com amor.

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AGRADECIMENTOS

Ao querido Professor Frederico de Carvalho, pela amizade, estímulo e paciência durante o

trabalho de orientação;

Aos professores Agrícola Bethlem e Valdecy Leite pelas contribuições ao trabalho;

A todos os funcionários do Coppead, pela atenção e valiosa ajuda durante o curso de

Mestrado, especialmente à SuperCida, ao Carlos, à Dilze, à Vera e à Bárbara;

Aos amigos da turma 97, pela inesquecível convivência, em especial à querida Ana

Christina pela amizade e apoio, ao Carlos Augusto pela indicação de contato para

entrevista e à Márcia Macedo pelos artigos enviados diretamente de Sheffield.

Às minhas fiéis escudeiras Maria e Solange, pela grande ajuda que sempre me deram;

Aos meus pais, Vera e Mário, pelo eterno incentivo à busca de aprimoramento e

realização pessoal e profissional;

Aos meus irmãos, Beto, Aninha e Cris, pelo apoio e força de sempre;

Ao meu marido Leo, cujo amor, incentivo e admiração me impulsionam a grandes

conquistas;

Ao meu filho Daniel, pela compreensão pelos minutos roubados de nossa convivência e

pelo seu doce sorriso que me faz esquecer qualquer dificuldade ou cansaço.

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RESUMO

CHIESA, Luciana. Marketing Interno: um estudo exploratório em hospitais. Orientador:

Frederico A. Azevedo de Carvalho. Rio de Janeiro : UFRJ/COPPEAD, 2001. 143 p.

Dissertação. (Mestrado em Administração).

Este estudo, de natureza exploratória, teve por objetivo investigar a aplicação de

programas de marketing interno em hospitais e clínicas. Para isso, buscou-se conhecer e

analisar as práticas e as políticas de recursos humanos e de gerenciamento da

comunicação interna e da cultura implementadas neste setor.

Como base para a análise foi utilizada a literatura que trata sobre o Marketing Interno e, a

partir dela, foi desenvolvida a estrutura do estudo. A partir de um roteiro contendo os

principais aspectos retratados na literatura, foram realizadas entrevistas em profundidade

com executivos de cinco hospitais e clínicas da cidade do Rio de Janeiro, cuja qualidade

dos serviços prestados é reconhecida como excelente por entidades médicas e pela

opinião pública.

A pesquisa concluiu que raras práticas organizacionais observadas nos hospitais

pesquisados podem ser caracterizadas como atividades de marketing interno, uma vez

que os focos destas atividades não incluem a satisfação do cliente externo.

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ABSTRACT

CHIESA, Luciana. Marketing Interno: um estudo exploratório em hospitais. Orientador:

Frederico A. Azevedo de Carvalho. Rio de Janeiro : UFRJ/COPPEAD, 2001. 143 p.

Dissertação. (Mestrado em Administração).

This exploratory study aimed to investigate the application of internal marketing programs

at hospitals and clinics. In order to achieve this goal, we tried to understand and analyze

the implemented practices and policies of human resources, internal communication and

culture management.

The study was based on the Internal Marketing literature, that gave us the directions to

develop an interview guide. This guide was used in in-depth interviews conducted with

executives of five hospitals in Rio de Janeiro. The hospitals were selected by their

recognized quality service.

The main conclusion of the research was that few organizational practices could be

characterized as Internal Marketing activities, since their focuses do not include customer

satisfaction.

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

1.1 - OBJETIVO DO ESTUDO ........................................................................................... 21.2 - RELEVÂNCIA DO ESTUDO ........................................................................................ 31.3 - DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ...................................................................................... 3

2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 4

2.1 - MUDANÇA NO PAPEL DE MARKETING .......................................................................... 42.2 - MARKETING EM EMPRESAS DE SERVIÇOS ..................................................................... 72.3 - INTEGRAÇÃO ENTRE AS FUNÇÕES MARKETING E RECURSOS HUMANOS ............................... 132.4 – MARKETING INTERNO.......................................................................................... 182.5 - MARKETING INTERNO EM HOSPITAIS....................................................................... 45

3 – METODOLOGIA ........................................................................................... 52

3.1 - TIPO DE PESQUISA.............................................................................................. 523.2 - UNIVERSO E AMOSTRA ......................................................................................... 523.3 - COLETA DE DADOS.............................................................................................. 533.4 - TRATAMENTO DOS DADOS..................................................................................... 553.5 - LIMITAÇÕES DO MÉTODO ..................................................................................... 56

4 - RESULTADOS............................................................................................... 57

4.1 – RELATO DAS ENTREVISTAS ................................................................................... 574.1.1 Hospital 1............................................................................................................574.2.2 Hospital 2............................................................................................................634.2.3 Hospital 3............................................................................................................754.2.4 Hospital 4............................................................................................................864.2.5 Hospital 5.......................................................................................................... 101

4.2 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................. 114

5- CONCLUSÕES ............................................................................................. 127

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 133

7- ANEXOS ..................................................................................................... 139

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LISTA DE QUADROS

QUADRO TÍTULO PÁGINA

2.1 Diferenças entre Bens e Serviços ………………………………………………… 9

4.1 Quadro resumo …………………………………………………………………………… 124

LISTA DE FIGURAS

FIGURA TÍTULO PÁGINA

2.1 Os 3 tipos de marketing na indústria de serviços ……………………………… 10

2.2 Promessas de serviço e atividades de marketing relacionadas …………… 11

2.3 Tipos de marketing interno …………………………………………………………… 20

2.4 Pontos essenciais do marketing interno ………………………………………… 31

2.5 O sistema de marketing em uma organização de saúde …………………… 48

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1 – Introdução

A busca de competitividade é uma preocupação constante das empresas nos mais

diversos setores, particularmente naqueles em que a concorrência é mais acirrada.

Estratégias inovadoras, técnicas avançadas de gestão, novas tecnologias de produção,

análises de custos mais precisas, todas as armas são válidas quando o objetivo é obter

maior sucesso que o concorrente.

Ao se constatar que as estratégias podem ser imitadas, os produtos copiados, a

tecnologia comprada e o dinheiro cada vez mais facilmente obtido, os recursos humanos

de uma empresa passaram a ser consideradas a principal fonte de vantagem competitiva.

Funcionários geram idéias, desenvolvem novos projetos e processos, e, principalmente,

criam relacionamentos com clientes, com fornecedores, com acionistas e com outros

funcionários.

Sendo a criação e a gestão de relacionamentos o atual foco de marketing, fica

evidenciado que esta função não mais se restringe aos especialistas: todos na empresa

devem assumir seus papéis na compreensão das expectativas do cliente, na entrega de

valor e na sua satisfação.

Em empresas de serviços, a função de marketing dos funcionários torna-se ainda mais

evidente em decorrência dos encontros de serviço. Não há entrega de serviço sem a

interação do cliente com pelo menos um funcionário. É reconhecido que o comportamento

e as atitudes do funcionário têm forte impacto na percepção do cliente sobre a qualidade

do serviço. E o comportamento e as atitudes refletem muito da maneira como o

funcionário percebe a empresa em que trabalha, como ele é tratado e o quão empenhada

está a empresa em obter a satisfação do cliente.

Desta forma, torna-se crítico gerenciar as experiências dos funcionários na empresa como

forma de gerenciar a experiência do cliente. Neste contexto, o marketing interno se

apresenta como estratégia adequada para o estabelecimento de uma consciência do

cliente e uma orientação para serviços.

Para conhecer o que as empresas vêm fazendo na tentativa de alinhar seus recursos

humanos com as suas estratégias e objetivos, foi escolhido um setor - hospitais e clínicas

- onde é elevado o número de encontros entre funcionários e clientes, e o padrão de

exigência com a qualidade dos serviços prestados tende a ser elevado.

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As organizações de saúde não estão imunes às transformações impostas pelos novos

tempos. As tendências para o setor apontam para uma maior profissionalização na gestão

dos hospitais e clínicas, e para um maior foco na satisfação do paciente. O aumento da

concorrência e a contínua necessidade de avaliar a qualidade dos serviços oferecidos

promovem o doente de paciente à cliente.

Ainda que a competência técnica seja requisito básico, não é o único aspecto considerado

pelo cliente em sua avaliação da qualidade do serviço de uma organização de saúde. O

cliente também apreende a qualidade do serviço prestado através da interação com o

corpo de funcionários, o ambiente físico, a estrutura da organização, seus processos e

procedimentos, e com os recursos materiais e tecnológicos disponíveis.

Em geral, ninguém quer ser cliente de um hospital. Salvo raras exceções, o cliente de um

hospital não está ali por vontade própria, mas por culpa de um infortúnio. Levando em

consideração esta prerrogativa, esta é uma situação de consumo altamente complexa: o

cliente sente-se inseguro, afetado em seu bem mais precioso, e com um grau de stress e

tensão elevados. Na maioria das vezes, ele está acompanhado de familiares ou amigos,

que compartilham dos mesmos sentimentos.

O respeito dos funcionários para com a condição de fragilidade do paciente-cliente,

condição esta muitas vezes reforçada pelas próprias regras do hospital, pode ser a chave

para o bom atendimento.

Em que medida os hospitais vêm se preocupando com o desenvolvimento de um clima

para serviços? Até que ponto o marketing interno é utilizado como forma de integrar as

funções de marketing e recursos humanos? Que atividades de marketing interno vêm

sendo utilizadas? Estas são questões que este estudo pretende abordar.

1.1 - Objetivo do Estudo

Verificar a aplicação do marketing interno como forma de integrar as funções marketing e

recursos humanos em empresas de serviços.

! Até que ponto os hospitais vêm adotando o marketing interno?

! Que atividades do marketing interno estão sendo utilizadas?

! Quais as possibilidades de implementação de um programa de marketing interno?

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1.2 - Relevância do Estudo

Em empresas de serviço, os funcionários de contato têm forte impacto na qualidade

percebida pelos clientes. Manter o foco na satisfação do cliente adquire grande relevância

para a obtenção de vantagem competitiva. Empatia, habilidade na comunicação

interpessoal, flexibilidade, iniciativa, comprometimento com os valores e os objetivos da

empresa e com a qualidade do serviço prestado são características que devem ser

identificadas, desenvolvidas e estimuladas permanentemente, seja através das práticas e

procedimentos usuais de Recursos Humanos – recrutamento, seleção, treinamento,

desenvolvimento, gestão de desempenho, remuneração – ou através da comunicação

interna e da difusão de uma cultura de serviços.

Ao estudarmos até que ponto estas atividades de marketing interno vêm sendo aplicadas,

acreditamos estar contribuindo para a identificação do nível de coordenação entre o

planejamento estratégico de marketing e de recursos humanos em hospitais.

O setor foi escolhido pela riqueza de encontros de serviço observada e pelo crescente

interesse de seus administradores em reavaliar padrões e promover mudanças nas formas

de gestão correntes. Este interesse pôde ser evidenciado em publicações específicas e na

demanda por cursos de capacitação gerencial destinados ao setor. Como exemplo,

podemos citar o sucesso obtido pelo MBA Saúde do COPPEAD junto a administradores e

outros profissionais do setor.

1.3 - Delimitação do Estudo

A intenção do presente estudo é coletar informações em empresas de serviço,

particularmente em hospitais e clínicas, buscando identificar se existem estratégias de

marketing interno e de que forma estão sendo implementadas.

Para isso, serão enfocadas tanto as políticas e práticas de recursos humanos, como a

gestão da cultura, o fluxo de comunicação interna e o suporte estrutural da empresa.

Cabe destacar que o estudo da cultura estará circunscrito aos aspectos relacionados a

uma orientação para serviços e os mecanismos que a empresa utiliza para sua difusão e

manutenção.

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2 – Revisão Bibliográfica

2.1 - Mudança no papel de marketing

A disciplina de marketing tem passado por um processo de profunda transformação. A

reestruturação substancial de mercados tradicionais e a própria insatisfação com a visão

restritiva de marketing podem ser considerados fortes vetores para esta mudança de

papel.

Originalmente, marketing era considerado como um conjunto de processos sociais e

econômicos. Nos EUA, a partir dos anos 50, a gerência de marketing passou a ser aceita

como uma função de negócios, expandindo-se para além de uma abordagem de gerência

de vendas. A atenção voltava-se para o planejamento e o desenvolvimento do produto, a

determinação do preço, a promoção e a distribuição.

Para os países desenvolvidos, os anos 601 podem ser considerados a época áurea do

marketing, quando uma orientação de marketing era tida como essencial para o aumento

dos lucros. Estruturas corporativas grandes, hierarquizadas e integradas eram

predominantes neste período, sendo os departamentos de marketing criados como

extensões do velho departamento de vendas. As decisões eram tomadas somente após

criteriosa análise de todos os dados e alternativas de ação, atitude coerente com um

mundo de negócios que modificava-se lentamente.

Durante os anos 70, a influência de marketing foi declinando, em contraste com a

ascensão do planejamento estratégico. O plano de marketing ficou restrito a um papel de

suporte tático, perdendo seu foco estratégico inicial. O conceito de marketing passou a

ser encarado com crescente ceticismo (Day e Wensley, 1983).

Os anos 80 trouxeram significativa evolução na prática de planejamento, apresentando

uma oportunidade para marketing reassumir sua tradicional influência. As pressões

competitivas se intensificaram e vários fatores - avanços tecnológicos,

desregulamentações, pressões por produtividade, foco em qualidade, envelhecimento da

1 O histórico aqui apresentado é baseado em bibliografia americana. Embora sem registros oficiais,para a realidade brasileira é aceita uma diferença de uma a duas décadas.

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população - passaram a representar novos desafios e novas fontes de vantagem

competitiva.

Webster (1992) acredita que houve uma tendência a formas organizacionais mais

flexíveis, mesmo antes das forças da competição global tornarem-se visíveis. Estas novas

formas de organização tinham o objetivo de responder com rapidez e flexibilidade aos

avanços tecnológicos, ao acirramento da concorrência e às mudanças nas preferências

dos consumidores.

Houve uma clara evolução de organizações hierarquizadas e burocráticas para tipos mais

flexíveis, onde as formas tradicionais de se estruturar a função de marketing e de definir

seu objetivo foram reexaminadas: o foco agora estava nos relacionamentos duradouros,

nas parcerias e alianças estratégicas.

Os anos 80 viram surgir um conceito ampliado do papel de marketing nas empresas, com

a necessidade de incorporar os relacionamentos da função marketing com os ambientes

interno e externo. Neste contexto, Day e Wensley (1983) reconhecem marketing como

sendo responsável por iniciar, negociar e gerenciar relacionamentos de troca entre grupos

de interesse, com o objetivo de obter vantagem competitiva sustentável dentro de

mercados selecionados, tendo por base clientes de longo prazo.

Webster (1992) acrescenta que marketing assumiu responsabilidades além de vendas,

sendo a função gerencial responsável por assegurar que cada aspecto do negócio tenha

seu foco na entrega de valor ao cliente. Como função gerencial, cabe a marketing

desenvolver o profundo conhecimento do mercado e manter o restante da organização

informada sobre as expectativas e as necessidades dos consumidores e clientes.

Com a mudança do foco de marketing de transações para relacionamentos, a habilidade

de gerenciar relacionamentos estratégicos de longo prazo com clientes e fornecedores

torna-se fundamental para as organizações. Como implicação, marketing não pode ser

delegado a um pequeno número de gerentes enquanto o restante da organização cuida

de suas atividades: o negócio todo deve ser visto sob o ponto de vista do cliente.

Compartilhando desta visão, Webster (1992) considera que marketing não pode mais ser

responsabilidade apenas de poucos especialistas: todos na empresa devem assumir seus

papéis no entendimento do cliente e no desenvolvimento e entrega de valor para ele.

Webster reforça que a responsabilidade pela satisfação do cliente deve estar presente em

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toda descrição de cargo e na própria cultura da empresa. A cultura organizacional com

foco no cliente passa a ser encarada como um recurso estratégico.

A tarefa de marketing agora ampliada é assegurar que todos na empresa trabalhem em

torno do objetivo prevalecente de criar clientes satisfeitos. Todas as pessoas,

especialmente aquelas de contato direto, são responsáveis pelo nível de serviço e pela

satisfação do cliente (Webster, 1988).

Gummesson (1991) cunhou o termo part-time marketer para os funcionários que, mesmo

sem fazer parte do departamento de marketing da empresa, desempenham atividades de

marketing ao influenciar os relacionamentos com os clientes, a qualidade percebida nos

contatos face-a-face e, consequentemente, o nível de satisfação com o serviço prestado.

Estes contatos diretos entre os clientes e os funcionários de uma empresa de serviço

foram denominados encontros de serviço ou momentos da verdade. E o funcionário

passou a ser encarado como crítico para o sucesso da empresa em seus relacionamentos

com os clientes.

Lovelock (1991) reforça que o contato entre o pessoal operacional e o cliente é mais uma

regra do que uma exceção em empresas de serviços. Em contraste com empresas de

manufatura, onde a produção, a entrega e o consumo dos bens são realizados em locais e

tempos diferentes, muitas operações em serviços são verdadeiras fábricas, onde o cliente

entra na hora em que precisa do serviço e este é consumido à medida em que é

produzido.

Como resultado, a função marketing em serviços está intimamente relacionada com os

processos, os funcionários e o ambiente onde ocorrem os momentos da verdade.

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2.2 - Marketing em empresas de serviços

O marketing tem natureza e papéis distintos em empresas de serviços, quando

comparado a empresas produtoras de bens físicos. Esta diferença é conseqüência direta

de quatro fatores que caracterizam os diversos tipos de serviços: a intangibilidade, a

simultaneidade de produção e consumo, a heterogeneidade e a perecibilidade.

Intangibilidade

Os serviços são considerados intangíveis porque são desempenhos e não objetos; não

podem ser tocados ou vistos da mesma maneira que os bens; são experiências (Bateson,

1995). Grande parte dos atributos de um bem de consumo são aparentes e percebidos

mesmo antes de seu uso. Isto torna mais fácil para os clientes entender a natureza do

produto, comparar com produtos concorrentes e prever seu desempenho, bem diferente

do que ocorre com os serviços (Lovelock, 1991).

Os clientes têm que experimentar o serviço para realmente conhecê-lo. Esta

intangibilidade torna mais difícil imaginar e desejar serviços do que mercadorias. Uma vez

que o serviço não pode ser tocado, cheirado, provado ou experimentado antes de sua

aquisição, a percepção do risco pelo consumidor tende a ser mais elevada em relação a

serviços (Berry e Parasuraman, 1995).

Para reduzir esta incerteza, os clientes procuram por sinais de qualidade do serviço. As

conclusões sobre a qualidade são feitas a partir do ambiente, das pessoas, do preço, dos

equipamentos, e da comunicação. Enfim, de tudo aquilo que possa tornar o serviço

tangível de alguma forma. Kotler e Armstrong (1998) ressaltam que, enquanto no

marketing de produto tenta-se adicionar intangíveis às ofertas tangíveis, no marketing de

serviços tenta-se adicionar tangíveis às ofertas intangíveis.

Simultaneidade

Enquanto os bens físicos são primeiro produzidos e depois comercializados e consumidos,

os serviços são vendidos previamente e depois produzidos e consumidos

simultaneamente. Um passageiro de avião primeiro compra seu bilhete e depois voa,

consumindo o serviço in-flight conforme este é produzido (Bateson, 1995).

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Os serviços não podem ser separados de seus fornecedores, sejam pessoas ou máquinas.

Se o serviço é fornecido por uma pessoa, este funcionário passa a ser parte integrante do

serviço, afetando o seu resultado. Da mesma forma, como o cliente também está

presente quando o serviço é produzido, ele acaba impactando no resultado final. Esta

interação fornecedor-cliente é uma característica especial do marketing em serviços.

Nos serviços que envolvem contatos face-a-face entre funcionários e clientes, a maneira

como os funcionários se comportam na presença dos clientes - o modo como agem, o que

dizem, o que deixam de dizer, toda a sua aparência – influencia a percepção de qualidade

pelo cliente e a possibilidade deste voltar a comprar da empresa.

O cliente jamais saberá se o trabalhador de uma fábrica de eletrodomésticos tem uma

atitude esnobe, se está mal vestido ou tem mau cheiro. Mas se um médico tem atitude

esnobe, um garçom uma aparência descuidada ou um motorista de táxi cheira mal, as

impressões que o cliente tem do serviço são profundamente afetadas (Berry e

Parasuraman, 1995).

Heterogeneidade

A heterogeneidade refere-se ao grau de variabilidade no desempenho e à falta de

consistência que dificilmente é eliminada em serviços (Bateson, 1995). As operações de

manufatura, além de toda a padronização possível, podem isolar e corrigir os erros a

tempo. Os encontros de serviço, no entanto, ocorrem em tempo real, quando os clientes

já estão envolvidos na produção. Se algum erro ocorre durante o processo, nem sempre é

possível evitar que este atinja o cliente.

Além dos aspectos relacionados à simultaneidade, como os funcionários de contato e os

clientes são parte do processo de serviço, seus sentimentos e emoções podem impactar

positiva ou negativamente na experiência do serviço.

Funcionários mal-humorados ou descontentes tanto podem afetar a percepção do cliente

sobre o serviço como também o trabalho de outros funcionários. Por outro lado, um

funcionário motivado pode criar uma experiência de serviço mais agradável.

Para Bateson (1995), a heterogeneidade dos serviços cria um dos maiores problemas no

gerenciamento de serviços: a questão é como manter uniforme a qualidade percebida dos

serviços, considerando todas as variáveis envolvidas.

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Perecibilidade

Quando o consumidor compra um serviço, está comprando uma experiência criada pela

entrega deste serviço. Para receber os benefícios desta experiência, o cliente tem que

fazer parte do sistema de serviço, razão pela qual os serviços não podem ser mantidos

em estoque. Um exemplo clássico é aquele vivenciado diariamente pelas companhias

aéreas: se um vôo parte com assentos vazios, não é possível remanejar estes assentos

vazios para outro dia em que o vôo esteja lotado (Bateson, 1995).

Uma vez que a existência de estoque pode facilitar o controle de qualidade, a

impossibilidade de estoque em serviços contribui para acentuar as dificuldades

decorrentes da heterogeneidade.

O quadro 2.1 resume as principais diferenças entre serviços e bens físicos.

Quadro 2.1 - Diferenças entre Bens e Serviços

BENS FÍSICOS SERVIÇOS

Tangíveis Intangíveis

Homogêneos Heterogêneos

Produção separada do consumo Produção e consumo simultâneos

Clientes em geral não participam da produção Clientes participam da produção

Podem ser mantidos em estoque Não podem ser mantidos em estoque

Valor principal produzido na fábrica Valor principal produzido nasinterações entre cliente e fornecedor

Fonte: GRÖNROOS, C. Marketing – Gerenciamento e Serviços: a competição por serviços na hora daverdade. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1995. cap. 2, p. 38

Ao considerar as diferenças entre bens físicos e serviços, Kotler e Armstrong (1998)

sustentam que o fornecedor de serviço precisa interagir eficazmente com seus clientes

durante os encontros de serviço para que seja criado valor superior para o cliente. A

efetiva interação cliente-fornecedor vai depender das habilidades dos funcionários de

contato, da produção do serviço e dos processos de suporte a esses funcionários.

Os pontos destacados sugerem que o marketing de serviços requer mais do que o

marketing externo tradicional: a motivação, as atitudes, a aparência e o desempenho dos

funcionários tornam-se elementos críticos do marketing mix, junto com o produto, o

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preço, a promoção, a distribuição, as evidências físicas e os processos de entrega do

serviço. Para Kotler e Armstrong, o marketing interno e o marketing interativo são

também componentes básicos do marketing em serviços (Fig. 2.1).

Figura 2.1 – Os 3 tipos de marketing na indústria de serviços

Empresa

Marketing MarketingInterno Externo

Funcionários Marketing Clientes Interativo

Fonte: KOTLER, P. ; ARMSTRONG, G. Principles of Marketing. New Jersey: Prentice Hall, 8ª Ed., 1998. pg.261

Esta mesma visão é compartilhada por vários autores. Bitner (1995) reforça que não é

suficiente fazer promessas atraentes através de um marketing externo eficaz. Manter as

promessas é o aspecto mais crítico para a construção e a manutenção dos

relacionamentos com os clientes: as promessas devem ser “entregues” pelos funcionários

e sistemas a cada encontro de serviço.

Berry e Parasuraman (1995) vão mais longe ao afirmar que uma empresa de serviços que

utilize pouco marketing pré-vendas mas que preste um serviço de excelente qualidade

gozará de uma maior eficiência em marketing do que outra empresa que enfatize o

marketing pré-vendas e falhe no momento da prestação do serviço.

A figura 2.2 ilustra como as atividades de fazer promessas, capacitar os funcionários e os

sistemas de serviços para entregar as promessas realizadas, e manter estas promessas

estão relacionadas com as atividades específicas de marketing.

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Figura 2.2 – Promessas de serviço e atividades de marketing relacionadas

Fazer Marketing externopromessas

Marketing interno Tornar possível Manter Marketing interativo realizar as promessas promessas

Fonte: BITNER, M.J. Building Service Relationships: it's all about promises. Journal of the Academy ofMarketing Science. v.23, n. 4, p. 246-251.

Para que seja possível cumprir as promessas comunicadas no marketing externo, os

funcionários devem possuir a motivação, as habilidades e as ferramentas necessárias. É

fácil fazer promessas mas a menos que os funcionários sejam recrutados e treinados

adequadamente, recebam suporte de sistemas internos apropriados, e sejam

recompensados pelo bom serviço prestado, estas promessas podem não ser mantidas.

Para Kotler e Armstrong (1998), o marketing interno significa que a empresa deve

treinar e motivar eficazmente seus funcionários de contato e todo o pessoal de apoio

como uma equipe que tem como objetivo a satisfação do cliente. Para que a firma

entregue consistentemente um serviço de alta qualidade, os profissionais de marketing

devem envolver todos os membros da organização na prática de uma orientação para o

cliente. De fato, o marketing interno deve preceder o marketing externo.

O marketing interativo reconhece que a qualidade do serviço depende fortemente da

qualidade e da consistência da interação cliente-fornecedor durante o encontro de

serviço. No marketing de produtos, a qualidade do produto depende muito pouco de

como o produto é obtido. Mas em serviços, a qualidade depende tanto de quem entrega o

serviço quanto da qualidade desta entrega. Um serviço considerado bom sob o aspecto

técnico pode ser insuficiente para garantir a satisfação do cliente.

Bitner (1995) relembra que, do ponto de vista do cliente, com freqüência é um

funcionário que quebra ou mantém as promessas da organização. Nos encontros de

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serviço, os clientes julgam os funcionários de acordo com suas habilidades de entregar o

serviço certo da primeira vez ou de recuperar o serviço se algo saiu errado, a forma como

lidam com os pedidos especiais e as reações e atitudes espontâneas.

Desta forma, gerenciar a interação cliente-funcionário é também tarefa de marketing. E

das mais desafiadoras. Lewis e Entwistle (1990) constatam que, apesar dos gerentes

sentirem-se perfeitamente competentes para lidar com operações, finanças e com os

aspectos tradicionais de marketing, há sempre um sentimento de impotência quanto a

controlar os encontros de serviço com o mesmo grau de profissionalismo.

Lewis e Entwistle sustentam que, além da gerência preocupar-se com os sistemas de

serviço, com os processos e com o ambiente, sua atenção precisa estar focada no mais

importante elemento do gerenciamento do encontro de serviço: as políticas e as práticas

relativas ao pessoal.

A importância da integração entre as funções marketing e recursos humanos têm sido

destacada por diversos autores.

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2.3 - Integração entre as funções marketing e recursos humanos

A pressão por competitividade e a ênfase no serviço ao cliente tornaram crucial a relação

entre marketing e recursos humanos. As empresa vêm descobrindo que a vantagem

competitiva pode ser obtida através da mobilização do know-how dos funcionários para a

criação de valor para os clientes. Neste contexto, a gestão dos recursos humanos torna-se

um recurso de marketing para assegurar o bom serviço.

Para Piercy (1997), as mudanças enfrentadas no mercado e no papel de marketing na

organização destacaram a necessidade de gerenciar as relações interfuncionais para a

obtenção de sucesso em empresas de serviço. Muitos estudos já exploraram as relações

entre marketing e outras funções técnicas, mas a interface marketing-recursos humanos,

questão de importância fundamental para marketing de serviços, tem sido pouco

destacada.

A inter-relação entre a gestão de recursos humanos e o serviço ao cliente é conceitual,

física e psicologicamente muito estreita: com freqüência a entrega do serviço é feita por

um funcionário. O que não significa que a área de Recursos Humanos isoladamente possa

responder pelo sucesso ou pelo fracasso da empresa de serviço, sendo necessário manter

uma visão sistêmica da organização (Schneider,1994).

A excelência em serviços é resultado de ações coordenadas entre as áreas de Recursos

Humanos, Marketing e Operações, que tenham foco em um determinado segmento de

clientes. Quando todas as funções da organização são coordenadas de forma concentrada

em um segmento específico do mercado, as probabilidades de sucesso da empresa são

maiores.

Lovelock (1991) argumenta que, em qualquer empresa de serviços, a área de Marketing

deve interagir com a área de Operações, onde o foco tradicionalmente é custo e

eficiência, e com Recursos Humanos, responsável pelo recrutamento e treinamento dos

funcionários, inclusive daqueles que tem contato direto com os clientes. O objetivo crucial

de se buscar a integração entre Marketing, Operações e Recursos Humanos é capacitar a

empresa para competir com maior eficiência.

Mas a integração destas funções não é tarefa fácil. Uma grande dificuldade reside na

diferença de foco destas funções. Enquanto Marketing tem seu foco no cliente externo,

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Recursos Humanos e Operações apresentam uma tendência a ser internamente focados,

orientados para a produção.

Tradicionalmente, a eficácia de Recursos Humanos é reconhecida quando suas práticas

contribuem para que padrões internos de eficiência sejam alcançados. Schneider (1994)

assume que tal fato é decorrente da área de Recursos Humanos ser um produto da

Revolução Industrial, onde a produção, e não a entrega, constituía-se na principal

preocupação.

Até os anos 70, o foco de Recursos Humanos era produtividade, não havendo uma

preocupação com facetas menos tangíveis, como o serviço ao cliente. Collins e Payne

(1991) atestam que, em geral, os departamentos de Recursos Humanos têm sido mais

orientados para o controle e para as atividades administrativas do que para o alinhamento

dos recursos humanos com os objetivos estratégicos da organização.

Só recentemente foram estudadas ligações entre os aspectos da gestão de recursos

humanos e as percepções dos clientes quanto ao serviço. A maneira como os empregados

sentem as empresas em que trabalham é refletida na qualidade do serviço percebida pelo

cliente (Schneider,1980; Schneider et al.,1980; Schneider e Bowen, 1985).

As empresas nas quais os funcionários relatam trabalhar em um clima positivo para

serviços têm clientes que consideram receber serviço de qualidade superior. Da mesma

forma, nas empresas em que os funcionários descrevem as práticas de Recursos

Humanos da empresa em termos mais positivos, a qualidade percebida pelos clientes é

superior.

Schneider (1980) conclui que, em organizações de serviços, os procedimentos de

Recursos Humanos estabelecidos para os funcionários têm conseqüências diretas na

qualidade do serviço prestado, já que não podem ser ocultados do cliente. Não há como

fazer “controle de qualidade” do comportamento do funcionário no momento da entrega

do serviço.

Schneider e Bowen (1993) afirmam ser inevitável que os clientes sejam expostos ao clima

organizacional em empresas de serviços, uma vez que existe apenas uma tênue e

permeável fronteira entre a organização e seus clientes. Como os serviços são

experiências, a forma pela qual um serviço é entregue, incluindo aqui as percepções sobre

a cultura ou clima organizacional, contribui para a impressão geral da qualidade do

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serviço. Para estes autores, ser servido é não só um ato de consumo mas também uma

experiência pessoal e psicológica.

Uma vez que os funcionários e os clientes freqüentemente trabalham em conjunto,

observam-se mutuamente e interagem, o que os funcionários experimentam em seus

trabalhos é transmitido para os clientes. Esta é a razão pela qual o ambiente total de

trabalho precisa fomentar a qualidade do serviço.

Uma ênfase total na qualidade deve envolver não só o foco no cliente mas também o foco

na gestão de Recursos Humanos orientada para a qualidade de serviço. Schneider e

Bowen (1993) concluem que gerenciar as experiências dos funcionários dentro da

empresa é essencial para o gerenciamento da experiência do cliente.

Vários estudos deram suporte à idéia de que a satisfação do funcionário com seu trabalho

é correlacionada com a satisfação do cliente. Estes estudos introduziram a qualidade do

serviço ao cliente como um critério externo de avaliação da eficácia das práticas e das

políticas de Recursos Humanos, além de reconhecerem as percepções e os sentimentos

do funcionário no diagnóstico da qualidade do serviço ao cliente.

Os resultados destes estudos reforçaram a necessidade dos objetivos de Marketing e de

Recursos Humanos estarem alinhados. Glassman e McAfee (1992) destacam que a falta

de coordenação entre as funções marketing e recursos humanos pode resultar em

diversas dificuldades, ainda que as estratégias de cada departamento, quando vistas

isoladamente, sejam consideradas adequadas.

Na visão destes autores, integrar as funções marketing e recursos humanos de forma

efetiva requer o exame das principais funções e questões de cada departamento. As

principais questões de recursos humanos envolvem decisões sobre quem a empresa deve

contratar, o tipo de treinamento necessário e a forma de avaliar e de recompensar os

funcionários. A solução destas questões determina parte da estratégia de Recursos

Humanos de uma empresa. No desenvolvimento de sua estratégia, Recursos Humanos

recebe inputs de outros departamentos, inclusive de marketing.

Já marketing considera preço, produto, promoção e praça quando desenvolve suas

estratégias de marketing. Entretanto, uma estratégia de marketing não é desenvolvida em

um vácuo: requer pessoas para desenhar, implementar e avaliar a estratégia. Sem

pessoas adequadas, a melhor estratégia torna-se ineficaz.

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De acordo com Glassman e McAfee, as estratégias de marketing devem ser desenvolvidas

à luz das capacitações e das limitações de Recursos Humanos. É irreal Marketing esperar

que funcionários sobrecarregados de trabalho, com baixa remuneração, em um ambiente

impessoal e turbulento, sejam treinados para dizer “muito obrigado” e “volte sempre” de

forma sincera.

Schneider (1994) afirma que as escolhas estratégicas sobre quais segmentos do mercado

serão atendidos pela empresa têm importantes implicações para as políticas, as práticas e

os procedimentos de Recursos Humanos adotados. Ao focar em segmentos específicos do

mercado, Recursos Humanos pode fornecer direção aos funcionários, comunicando o

negócio da empresa, seu mercado, as expectativas deste mercado e o que deve ser feito

para atendê-las e obter sucesso. A gestão de Recursos Humanos com foco no cliente

evita as contratações inadequadas, o treinamento ineficiente e as recompensas

inconsistentes.

De acordo com Lovelock (1991), as funções marketing e operações tornam-se

substancialmente mais fáceis de serem gerenciadas à medida que os funcionários

compreendem e apoiam os objetivos da organização, possuem as habilidades requeridas,

recebem o treinamento necessário e reconhecem a importância de se buscar a satisfação

dos clientes.

Apesar dos argumentos favoráveis, há pouca evidência prática da interface marketing-

recursos humanos (Piercy, 1997). A integração necessária entre as funções para que se

obtenha singularidade na entrega ao cliente final não tem caracterizado as empresas de

serviços (Schneider, 1994). Uma exceção que se destaca é o caso da Avis Europe (Piercy,

1997), onde a implementação de sua estratégia de marketing baseou-se em uma estreita

parceria entre as funções de recursos humanos e marketing. Este exemplo demonstra que

a efetiva implementação das estratégias depende do realinhamento dos processos e

estruturas organizacionais com o foco no cliente.

A tendência atual é que Marketing e Recursos Humanos convirjam para fornecer uma

visão compartilhada das necessidades do cliente e do funcionário. Para Glassman e

McAfee (1992), a grande questão no mundo dos negócios atualmente é como integrar

Marketing e Recursos Humanos, uma vez que tais funções não podem mais ser eficazes

isoladamente.

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Historicamente, Recursos Humanos e Marketing buscaram a integração através de

consultas informais e do compartilhamento de informações. Mas a partir dos anos 90,

quando marketing torna-se intrinsecamente ligado a serviço, diferentes estratégias se

fazem necessárias. As empresas precisam se reestruturar de forma a promover contínuos

e múltiplos pontos de contato entre os dois departamentos. De acordo com Glassman e

McAfee (1992), os mecanismos de integração podem variar de comissões

interdepartamentais até o completo merge dos departamentos de Recursos Humanos e

de Marketing.

O fato é que, para atender aos novos e crescentes desafios, as empresas precisam

desenvolver métodos mais eficazes para integrar a estratégia de recursos humanos com a

filosofia de marketing. Torna-se necessário redesenhar os sistemas de recrutamento,

seleção, treinamento e recompensa, de forma a promover os objetivos de marketing com

maior eficácia, bem como adequar a filosofia de marketing à realidade de seus recursos

humanos.

Neste contexto, o marketing interno é apontado por Grönroos (1981) como um meio de

integrar marketing com as demais funções em uma empresa de serviço.

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2.4 – Marketing Interno

2.4.1 – Idéias básicas

Embora a necessidade de marketing interno seja bem compreendida, poucas

organizações efetivamente aplicam o conceito. Rafiq e Ahmed (1993) acreditam que a

principal razão para isso é o fato de não existir uma noção unificada do que seja o

marketing interno.

Dentro dos vários conceitos de marketing interno presentes na literatura de marketing de

serviços, algumas idéias básicas se destacam. A primeira idéia é a do cliente interno :

todos os funcionários na organização devem se ver como cliente e como fornecedor de

outros funcionários, recebendo e fornecendo produtos, decisões, documentos ou

informações.

A idéia do cliente interno é central na gestão da qualidade total. O foco desta abordagem

não está no relacionamento entre a empresa e os funcionários mas sim nos

relacionamentos entre os funcionários. Os trabalhos internos da organização passam a ser

encarados como uma série de transações entre clientes e fornecedores e o aumento da

eficiência interna é obtido através da melhoria destes relacionamentos internos.

O marketing interno reconhece a importância do conceito de cliente interno ao considerar

a qualidade do serviço interno como pré-requisito para uma qualidade superior no serviço

ao cliente externo.

A segunda idéia básica é a do funcionário como cliente : os funcionários precisam

estar felizes com seus trabalhos antes que possam servir bem aos seus clientes. Aqui, o

foco está no relacionamento entre a empresa e seus funcionários.

Berry (1981) definiu inicialmente o objetivo de marketing interno como “ver os

funcionários como clientes internos e ver os trabalhos como produtos internos, que tanto

satisfazem os desejos e as necessidades dos funcionários como também contribuem para

os objetivos da organização”.

Dentro da perspectiva de Berry, para a empresa ter clientes satisfeitos, ela precisa ter

também funcionários satisfeitos. Alguns autores chegam até a sugerir que o funcionário é

o primeiro mercado de uma empresa de serviço.

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Rafiq e Ahmed (1993) questionam a idéia do funcionário como cliente. Para eles, o fato

do funcionário não ter escolha e ser obrigado a aceitar os ‘produtos’ oferecidos pela

empresa contraria o próprio conceito de marketing, limitado a ações não coercitivas.

Na argumentação de Rafiq e Ahmed, a sugestão implícita de que o mercado dos

funcionários tem primazia estaria em choque com o axioma fundamental de marketing,

onde o cliente externo é a razão de ser de qualquer empresa.

A terceira idéia básica presente na literatura de marketing interno é a utilização dos

conceitos de marketing internamente: a empresa ou seus departamentos e funções

aplicariam o marketing mix voltado para o mercado interno com o objetivo de vender

idéias e projetos internamente.

Rafiq e Ahmed (1993) alertam que a simples aplicação das técnicas de marketing

internamente tem um escopo limitado, não sendo suficiente para compensar problemas

de qualidade relativos aos funcionários, como a falta de treinamento e a inadequada

contratação.

2.4.2 - Tipologia

Outro aspecto que contribui para gerar confusão na conceituação de marketing interno é

o fato deste poder ser praticado tanto pela empresa como por suas áreas internas. Da

mesma forma, o alvo dos esforços de marketing interno pode ser a população total da

empresa ou determinados grupos de funcionários.

Diante disto, Foreman e Money (1995) propõem uma tipologia para o marketing interno

com base em duas questões: (1) quem aplica o marketing interno: a organização inteira

ou um departamento? e (2) quem é o foco dos esforços de marketing interno: todos os

funcionários ou um grupo específico? (Fig. 2.3)

De acordo com Foreman e Money, quatro tipos diferentes de marketing interno podem

ser identificados. O tipo I vê um departamento, grupo ou função, como o ‘vendedor’ e

outro como o cliente. Por exemplo, o departamento de sistemas de informação gerencial

pode focar seus esforços no departamento de vendas.

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Figura 2.3 – Tipos de marketing interno

Organização II IV

Quem aplica omarketing interno?

I III Grupo

Grupo Organização

Quem é o foco do marketing interno?

Fonte: FOREMAN, S.K.; MONEY, A.H. Internal marketing: concepts, measurement and application. Journal ofMarketing Management. v.11, p. 755-768, 1995.

No tipo II, a organização como um todo ‘vende’ para grupos específicos. A intenção é que

o grupo alvo adote comportamentos que apoiem a iniciativa organizacional. Por exemplo,

funcionárias com filhos pequenos podem ser o alvo de organizações que oferecem

serviços de creche.

Grupos, departamentos ou funções ‘vendendo’ para toda a empresa são característicos do

marketing interno do tipo III. Este tipo de marketing interno é típico de funções de apoio

em uma organização, como, por exemplo, o departamento de recursos humanos.

O tipo IV, no qual a organização ‘vende’ e é o cliente, é necessário para assegurar que a

organização atraia, selecione e retenha os melhores funcionários, assim como para que

estes valorizem seus papéis na entrega do serviço de excelente qualidade.

O marketing interno do tipo IV recebeu maior atenção na literatura de serviços, sendo

também aquele onde esta pesquisa estará concentrada. Desta forma, quando

mencionarmos marketing interno é ao tipo IV que estaremos nos referindo.

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2.4.3 - Conceito

Varey (1995a) relata que o marketing interno foi originalmente proposto como a aplicação

do conceito de marketing tradicional e do marketing mix para o mercado interno: os

funcionários seriam considerados clientes da empresa, com o objetivo de aumentar a

eficiência interna através da melhoria dos relacionamentos internos.

O conceito original foi ampliado e o marketing interno passou a ser encarado como uma

abordagem gerencial que capacita e motiva todos os membros da organização a examinar

seus próprios papéis e adotar uma consciência do cliente e uma orientação para o serviço.

Berry e Parasuraman (1991) estenderam os limites do marketing interno para incluir

atividades tradicionalmente desenvolvidas por recursos humanos:

“Marketing interno é atrair, desenvolver, motivar e reter funcionários

qualificados através de produtos-trabalhos que satisfaçam suas

necessidades. É a filosofia de tratar os funcionários como clientes... e a

estratégia de moldar produtos-trabalhos às necessidades humanas”.

Segundo Kotler (1991), “marketing interno é a tarefa de contratar, treinar e motivar com

sucesso funcionários capazes de servir bem ao cliente”.

George (1990) e Grönroos (1995) descrevem o marketing interno como uma filosofia para

a gestão dos recursos humanos da empresa baseada em uma perspectiva de marketing.

Para estes autores, o marketing interno opera como um processo de gerenciamento

holístico que integra as múltiplas funções da organização, assegurando que todos os

funcionários compreendem e vivenciam os negócios e estão motivados e preparados para

atuar de maneira orientada para o serviço, dentro de um ambiente que fomenta a

consciência do cliente.

A premissa desta filosofia é que os gerentes devem estar preparados para realizar bons

trabalhos para seus funcionários se desejam que seus funcionários realizem bons

trabalhos para os clientes. Ou seja, as trocas internas entre a organização e seus

funcionários devem operar de forma efetiva para que a organização possa atingir com

sucesso seus objetivos estratégicos.

Concordando com esta definição mais abrangente, Joseph (1996) define marketing

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interno como a aplicação de marketing e de recursos humanos para motivar, mobilizar,

cooptar e gerenciar os funcionários de todos os níveis da organização para melhorar

continuamente o serviço aos clientes externos e internos. Joseph conclui que o marketing

interno bem sucedido atende às necessidades dos funcionários e à missão e objetivos da

organização.

Foreman e Money (1995) alertam que um exame mais cínico destas perspectivas pode

sugerir que o marketing interno seja meramente um sinônimo de uma boa gestão de

recursos humanos. Para Bateson (1995), em um primeiro momento, parece mesmo ser

uma invasão de marketing na área de recursos humanos.

Grönroos (1981) esclarece esta questão ao afirmar que um melhor desempenho no

processo produtivo é a razão final para a motivação dos funcionários no contexto de

administração de pessoal, enquanto no marketing interno os objetivos finais são a

consciência do cliente e a orientação para o serviço.

E não poderia ser diferente. Barnes (1989) lembra que o cliente é central em qualquer

programa de marketing e define como objetivo do marketing interno garantir que os

funcionários compartilhem da visão da gerência de que os relacionamentos com os

clientes são de fundamental importância.

Varey (1995a) até considera o termo marketing interno um pouco restritivo porque pode

sugerir o domínio único dos profissionais de marketing, além de um conceito de

marketing baseado puramente na troca econômica, como se os funcionários buscassem

apenas os benefícios econômicos de seus trabalhos. O autor propõe como substitutos os

termos marketing de relacionamento interno e gerenciamento do processo social interno.

Em suma, o marketing interno não pode ser visto como a simples aplicação dos conceitos

de marketing dentro da organização nem como a utilização dos princípios de gestão de

recursos humanos de forma modificada. Na verdade, em um programa de marketing

interno eficaz, o gerenciamento de todas as atividades e funções da organização é

conduzido de forma a ressaltar a cultura de serviço ao cliente e motivar os funcionários a

assumirem comportamentos de part-time marketers.

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2.4.4 - Relação com outros conceitos

De acordo com Varey (1995b), não faz sentido tratar o marketing interno como uma

abordagem de uma só função, já que na realidade representa a convergência de várias

técnicas de gestão, como Desenvolvimento de Recursos Humanos, Relação com os

Funcionários, Comportamento e Desenvolvimento Organizacional, Gestão Estratégica,

entre outras.

George (1990) destaca a forte interdependência entre o marketing interno e a gestão de

recursos humanos: é o marketing interno que possibilita a Recursos Humanos atrair e

reter o tipo de pessoa que a empresa quer, aumentando a capacitação da empresa para

satisfazer as necessidades e os desejos dos clientes externos.

Grönroos (1995) acredita que um desempenho orientado para o cliente e um bom

marketing interativo não podem ocorrer sem que a empresa tenha algo a oferecer a seus

empregados em retorno, um produto interno atraente. Este produto interno consiste de

uma função e um ambiente de trabalho que motivem os funcionários, de forma que

respondam favoravelmente às demandas dos gerentes com relação a uma orientação

para o cliente, o que envolve métodos gerenciais, políticas de recursos humanos e um

planejamento criterioso. Para Papasolomou e Proctor (1997), as políticas e práticas de

Recursos Humanos devem ser utilizadas de forma a demonstrar a preocupação da

empresa com seus funcionários.

Na visão de George (1990), as políticas e as práticas de Recursos Humanos atuam como

base para o sucesso do programa de marketing interno, sendo importante que a empresa

recrute e selecione as pessoas certas, ofereça um pacote adequado de recompensas,

treine os funcionários para desenvolver habilidades específicas e uma orientação ao

cliente, supervisione e avalie o desempenho de seus funcionários de forma consistente e

sistemática.

De acordo com Grönroos (1995), é essencial obter e manter o tipo adequado de

funcionários na empresa, o que requer uma descrição adequada dos cargos, não deixando

de incluir também as tarefas de part-time marketer dos funcionários. George (1990)

reforça que o contato e as responsabilidades de relacionamentos com os clientes devem

fazer parte de todas as descrições de cargos.

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George (1990) recomenda que o recrutamento seja pensado sob uma perspectiva de

segmentação de mercado, a fim de casar de forma mais efetiva o perfil da posição com

todas as habilidades necessárias para o desempenho das tarefas principais e da função de

part-time marketer. Além dos procedimentos de recrutamento, o autor também indica que

o planejamento e o desenvolvimento de carreira, o pacote de recompensas e demais

ferramentas de administração de pessoal sejam utilizadas de forma a perseguir as metas

de marketing interno.

Segundo Papasolomou e Proctor (1997), o marketing interno busca alinhar os interesses e

as necessidades da empresa com os interesses e as necessidades de seus funcionários, ao

considerar o que o funcionário espera de sua experiência de trabalho e quais são os

objetivos da organização. Para estes autores, a essência do marketing interno é a

negociação através dos esforços de marketing para que os funcionários se sintam parte

da organização e para assegurar que a empresa é consistente com o que as pessoas

podem e querem fazer.

O fato do marketing interno se concentrar nos funcionários, especialmente no modo como

agem ao fazerem parte de um grupo ou organização, sugere que Comportamento

Organizacional é estreitamente relacionado com este conceito. De acordo com Robbins

(1991), o Comportamento Organizacional investiga o impacto dos indivíduos, dos grupos

e da estrutura no comportamento dentro da organização, visando um melhor

desempenho desta.

Papasolomou e Proctor (1997) apontam que o marketing interno relaciona-se com

Comportamento Organizacional porque sua aplicação promove melhorias na empresa -

como Desenvolvimento Organizacional - e altera o clima de serviços, tornando os

funcionários mais satisfeitos e entusiasmados com seus trabalhos, o que resulta em um

impacto positivo direto nos clientes finais.

2.4.5 - Dois focos: interno e externo

A percepção do serviço fornecido e a forma como são tratados são críticos para a decisão

dos clientes de continuarem comprando de certa empresa. A criação da satisfação do

cliente depende da cooperação e do comprometimento dos funcionários, sendo

fundamental uma interação positiva entre o funcionário e o cliente.

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Se uma empresa pretende ter elevado nível de serviço ao cliente deve garantir o apoio de

seus funcionários. Certos funcionários que claramente não abraçam o conceito de serviço

ao cliente dão a impressão que os clientes são um impedimento ou uma perturbação.

Tornar os funcionários comprometidos com o serviço ao cliente é uma das tarefas mais

difíceis enfrentadas pelos gerentes de empresas de serviços. Segundo Barnes (1989), o

marketing interno bem aplicado assegura que o staff está comprometido com o objetivo

de proporcionar o melhor tratamento possível aos clientes.

No marketing interno, o conceito de serviço ao cliente é vendido aos funcionários de

forma que eles possam internalizar um conjunto de valores apropriados, o que leva a

mudanças de atitudes e comportamentos.

Schneider e Bowen (1993) sugerem que as empresas devem criar experiências de

serviços com qualidade para seus funcionários se desejam criar uma experiência de

serviço com qualidade para seus clientes, já que são os funcionários que transmitem o

clima e a cultura organizacional, através de seus comportamentos e de suas atitudes.

Segundo Schneider e Bowen, dois climas devem ser criados para que a empresa possa

atingir qualidade em serviços: um clima de serviços e um clima de bem-estar dos

funcionários. O clima de bem-estar dos funcionários deve focar no atendimento das

necessidades destes através de práticas de Recursos Humanos, servindo como

fundamento para o clima de serviços.

Os funcionários precisam sentir que suas necessidades foram atendidas previamente pela

empresa para que tenham motivação para atender as necessidades dos clientes. Embora

os dois climas sejam relacionados, um conjunto de práticas organizacionais não irá

satisfazer completamente funcionários e clientes. Schneider e Bowen (1993) acreditam

que o marketing interno pode possibilitar à organização estabelecer e manter estes dois

climas.

Para Grönroos (1995), o foco interno do marketing interno deve ser reconhecido e aceito

pelos gerentes. A melhoria do ambiente de trabalho e das tarefas dos funcionários

constitui importante objetivo, porém, o principal foco do marketing interno recai sobre o

impacto de cada funcionário no marketing externo. O objetivo primordial é desenvolver a

consciência para serviços e clientes, melhorando as habilidades do marketing interativo e

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o desempenho do marketing externo pelos funcionários. Conseqüentemente, os focos

interno e externo do marketing interno caminham paralelamente.

2.4.6 - Público-alvo

Os funcionários de contato formam um mercado-alvo natural para o marketing interno,

uma vez que detêm os contatos diretos com os clientes e desempenham as tarefas de

marketing interativo. Mas George (1990) e Grönroos (1995) destacam que a habilidade

dos funcionários de contato para agir como part-time marketer depende em grande parte

do suporte que eles recebem de outros funcionários e funções dentro da empresa. Por

isso, recomendam que todos os funcionários sejam incluídos nos programas de marketing

interno.

Rafiq e Ahmed (1993) relembram que o impulso inicial para o desenvolvimento do

conceito de marketing interno foi a preocupação com a agilidade das respostas dos

funcionários de contato às necessidades dos clientes, dado o envolvimento destes

funcionários no marketing interativo. Logo, porém, chegou-se à conclusão que não seria

suficiente ter funcionários de contato conscientes do cliente para a entrega eficaz de um

serviço: seria também preciso uma coordenação efetiva entre os funcionários de contato e

os funcionários de suporte.

Grönroos (1995) reforça que o programa de marketing interno não terá êxito se ficar

restrito ao nível de contato com o cliente, envolvendo apenas os funcionários de contato.

Este nível sozinho não é capaz de criar uma cultura para serviços na organização nem

atingir os funcionários de suporte.

2.4.7 - Aplicação

O marketing interno envolve o gerenciamento de atitudes e o gerenciamento da

comunicação. Com freqüência, somente o aspecto do gerenciamento da comunicação é

reconhecido e apenas de forma unilateral, ficando o marketing interno restrito a

campanhas de comunicação interna e outras atividades pontuais.

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Quando isso ocorre, os funcionários recebem grande volume de informações da empresa

mas pouco ou nenhum encorajamento mental, não sendo possível promover a necessária

mudança de atitudes, a orientação para serviços ou a consciência do cliente.

George (1990) e Grönroos (1995) dividem a aplicação do marketing interno em três

níveis: (1) criação de uma cultura para serviços; (2) manutenção de uma orientação para

serviços; e (3) apresentação de novos produtos e campanhas de marketing aos

funcionários.

No desenvolvimento de uma cultura para serviços, o marketing interno tem papel

fundamental ao assegurar que todos os funcionários compreendam e aceitem a missão,

as estratégias e as táticas do negócio, bem como os produtos, os serviços e as

campanhas de marketing da empresa.

Uma cultura para serviços existe quando uma orientação para o serviço e o interesse

pelos clientes são as normas mais importantes da organização. Papasolomou e Proctor

(1997) enfatizam que o comprometimento com o serviço deve estar refletido em todos os

objetivos e prioridades da empresa.

Os programas de marketing interno quando situados em um vácuo não conseguem

estabelecer uma cultura de serviços. Grönroos (1995) destaca que a estrutura

organizacional, a estratégia da empresa, os métodos de gestão e o estilo de liderança

devem apoiar o estabelecimento de uma cultura de serviços. Para que seja bem sucedido,

é fundamental que o marketing interno seja considerado parte integrante da gestão

estratégica, receba apoio ativo por parte da alta gerência e implique no envolvimento de

todos os funcionários.

Uma vez que a cultura para serviços tenha sido criada, deve ser mantida de forma ativa, a

fim de que as atitudes dos funcionários e as normas da empresa não revertam para uma

cultura onde a eficiência técnica seja o principal orientador. O marketing interno pode

garantir que os métodos de gestão sejam encorajadores e que contribuam para ressaltar

a consciência para serviços e clientes e assegurar que os funcionários obtenham

informações e feedback contínuos.

O marketing interno tem seu papel também na conscientização dos funcionários sobre

novos produtos, serviços ou campanhas, facilitando a aceitação das idéias e dos conceitos

apresentados e assegurando um desempenho eficaz no marketing interativo e no

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marketing de relacionamento. É inadmissível que novos produtos e campanhas de

marketing não sejam ‘vendidas’ aos funcionários antes de serem apresentadas ao

mercado externo. Segundo Heskett (1987), “um serviço eficaz requer pessoas que

compreendam sua idéia”.

Varey (1995b) complementa que a coordenação das comunicações internas e externas é

um aspecto da qualidade de serviço, relacionado com o gerenciamento das expectativas

dos clientes e demais stakeholders – em linha com a capacitação organizacional e

pessoal. O autor reconhece que a promoção a clientes externos influencia fortemente os

funcionários.

2.4.8 – Importância

De acordo com Varey (1995b), o marketing interno auxilia na redefinição do papel dos

gerentes e nos relacionamentos entre os membros da organização, além de representar

uma via para a difusão da filosofia de marketing pela organização. Com isso, a orientação

para o cliente é enfatizada e garante-se que o conceito e as práticas de marketing não

sejam vistas como propriedades exclusivas do departamento de marketing.

Joseph (1996) argumenta que nenhum plano de marketing pode ser considerado

completo sem que inclua estratégias para alcançar e persuadir seus clientes internos.

Barnes (1989) destaca a importância de um programa de marketing interno para o

sucesso da estratégia de marketing da organização, principalmente ao se considerar o

limitado controle dos gerentes sobre a qualidade do serviço no nível de relacionamento

interpessoal funcionário-cliente.

Bowen e Schneider (1988) acrescentam que os gerentes devem desenvolver algum tipo

de controle indireto, diante da impossibilidade de controlar diretamente a entrega do

serviço e os aspectos interpessoais envolvidos. Esse controle indireto pode ser

estabelecido através da criação de uma forte cultura de serviços.

Atkinson (1990) e Ballantyne (1991) reconhecem que o marketing interno tem importante

papel na gestão da qualidade total, ao promover a adoção de uma cultura de qualidade,

uma melhor comunicação interna e a orientação para o cliente. Eles ressaltam que o

marketing interno encoraja os funcionários a utilizarem técnicas de gestão da qualidade

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com foco no cliente em todos os processos da organização, ao difundir os conceitos de

cliente-fornecedor e de satisfação do cliente.

Segundo Varey (1995b), o marketing interno desenvolve o paradigma do cliente e

assegura que a gestão da qualidade não será deixado para uma função gerencial

específica. O uso de informação compartilhada e de responsabilidades conjuntas reduz o

isolamento dos departamentos e os conflitos interfuncionais e harmoniza as diferentes

perspectivas de qualidade, o que implica em um foco explícito de marketing em funções

não-marketing e o compartilhamento dos objetivos de satisfação do cliente.

Varey enfatiza a contribuição do marketing interno para uma maior inter-relação entre os

membros da organização, facilitando o fluxo de idéias e a difusão de inovação. Para ele,

quando os funcionários estão envolvidos e comprometidos com o sucesso da organização,

as incertezas sobre seus respectivos papéis são reduzidas, o que representa uma queda

na barreira à adoção de mudanças e novas idéias.

Rafiq e Ahmed (1993) sustentam que o marketing interno tem um escopo maior que a

motivação dos funcionários para uma consciência do cliente, podendo ser aplicado como

meio para superar a resistência da organização a mudanças e para alinhar, motivar e

integrar os funcionários em torno de efetiva implementação das estratégias corporativa e

funcional.

Concordando com esta visão, Piercy e Morgan (1989) também indicam o marketing

interno como mecanismo para superar barreiras à mudança organizacional que está

implícita na implementação de estratégias de marketing, barreiras estas como o poder, a

cultura e o comportamento político.

2.4.9 - Atividades

Sendo o marketing interno acima de tudo uma filosofia de gestão de recursos humanos e

uma forma sistemática de desenvolver e ressaltar uma cultura para serviços, qualquer

atividade ou função que tenha impacto sobre a consciência para serviços e para os

clientes pode ser incluída em programas de marketing interno.

No entanto, Grönroos (1995) identifica algumas atividades típicas de marketing interno,

como: treinamento e desenvolvimento, suporte gerencial, comunicação interna interativa,

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gerenciamento da comunicação externa, e a utilização de ferramentas de administração

de pessoal para a obtenção dos objetivos da empresa.

Varey (1995a) sugere como atividades de marketing interno:

! entrevistas, focus group e pesquisas regulares com os funcionários para se

determinar o clima interno de serviço e a cultura;

! mensuração do desempenho de cada função na obtenção dos objetivos da

organização;

! comunicações internas específicas para reforçar a qualidade do serviço;

! recompensas para todos os funcionários, com base nos objetivos de qualidade do

serviço interno;

! reconhecimento de modelos de qualidade de serviço via canais internos de

comunicação e mídia externa;

! liberação do funcionário de tarefas rotineiras e conseqüente encorajamento para

franco diálogo com o cliente.

Berry e Parasuraman (1995) destacam sete pontos essenciais na prática do marketing

interno: (1) concorrer pelo talento; (2) oferecer uma idéia; (3) preparar as pessoas para

suas incumbências; (4) dar ênfase ao trabalho em equipe; (5) influenciar o fator liberdade;

(6) avaliar e recompensar e (7) conhecer seu cliente (Figura 2.4).

Joseph (1996) resume um programa de marketing interno bem sucedido em um conjunto

de tarefas aparentemente simples, porém desafiadoras: recrutar, motivar, comunicar, e

cooptar. Para ele, recrutar é análogo à segmentação e à seleção do mercado-alvo no

marketing ao consumidor. Treinar, motivar e comunicar seriam análogos às decisões de

marketing mix, facilitando a troca entre a organização e o funcionário e maximizando o

valor percebido. Já cooptar seria análogo à conversão ou aculturação: os funcionários

aderem à filosofia e à cultura da empresa e seus valores passam a coincidir com os da

organização.

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Figura 2.4 - Pontos essenciais do marketing interno

Conhecer o Concorrer pelo seu cliente talento

Avaliar e Atrair, Oferecer

recompensar desenvolver, uma motivar e reter idéia

funcionários qualificados

Influenciar Preparar as o fator pessoas

liberdade Dar ênfase ao

trabalho em equipe

Fonte: BERRY, L.L., PARASURAMAN, A. Serviços de marketing: competindo através da qualidade. São Paulo :Maltese, 3ª Ed.,1995, p.180

Recrutamento e Seleção: concorrendo pelo talento

Um fator muito importante em marketing de serviços é a contratação do melhor pessoal

possível para realizar o serviço planejado. Schneider e Bowen (1995) ressaltam que a

empresa não precisa contratar as melhores pessoas mas sim aquelas que melhor atendem

às expectativas e às necessidades de seu público-alvo.

Berry e Parasuraman (1995) sustentam que as empresas devem concorrer pelos seus

funcionários da mesma forma que competem pelos clientes. Para minimizar o risco de uma

contratação inadequada, eles recomendam: (1) a utilização de perfil de candidato ideal

com base nas expectativas dos clientes; (2) o envolvimento de muitos funcionários no

processo de seleção; (3) o uso de métodos diversificados e criativos para atrair

funcionários potenciais; e (4) a segmentação do mercado interno, com produtos-trabalhos

ajustados aos diferentes segmentos.

Schneider e Bowen (1995) comentam que uma empresa com uma boa imagem na

comunidade, seja como um bom lugar para se trabalhar, seja pela qualidade de seus

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produtos e serviços, consegue atrair uma maior variedade de candidatos para seus

processos de seleção.

Funcionários motivados e satisfeitos recomendam a empresa para seus amigos. Joseph

(1996) sugere que as indicações bem sucedidas de candidatos pelos funcionários sejam

recompensadas, e que, para determinadas posições, sejam consideradas populações

alternativas, como universitários, idosos, deficientes físicos, entre outras.

Taylor e Cosenza (1997) argumentam que diferentes tipos de personalidades procuram

diferentes tipos de empregos, atraídos pela cultura e pela estrutura da empresa, sendo

portanto fundamental que as empresas mostrem a seus futuros funcionários uma idéia

real da organização.

Um maior senso de identidade com a empresa está ligado a uma maior satisfação no

trabalho, um melhor desempenho e um menor turnover. Durante o processo de seleção, é

importante que as empresas esclareçam seus propósitos para facilitar uma perfeita

adequação entre os objetivos e valores dos funcionários e os da organização.

Considerando que a interação pessoal é parte integrante do dia-a-dia, Taylor e Cosenza

(1997) registram que as empresas devem atrair, selecionar e reter pessoas orientadas

para relações interpessoais. Ao incluir habilidades de marketing nas descrições de cargo e

nas avaliações de desempenho, a empresa enfatiza a importância de se recrutar

candidatos confortáveis com seus papéis de part-time marketer.

Lewis e Entwistle (1990) sugerem que certas características e habilidades são necessárias

para que os funcionários tenham um bom desempenho no encontro de serviço. Além das

habilidades técnicas, as habilidades interpessoais, a flexibilidade e a adaptabilidade de

comportamento e a empatia devem ser consideradas durante o processo de seleção.

Schneider e Bowen (1995) observam que a entrevista pura e simples é pouco confiável

para que se faça um julgamento sobre as habilidades e competências dos candidatos.

Lewis e Entwistle (1990) apontam a utilização da entrevista situacional e de medidas de

personalidade como relevantes para a seleção dos funcionários responsáveis pelos

momentos da verdade.

Na técnica de entrevista situacional, descrições de comportamento são associadas a

incidentes críticos, fornecendo âncoras comportamentais. Os candidatos são solicitados a

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indicar como reagiriam em determinadas situações, sendo a resposta avaliada por pelo

menos dois entrevistadores.

Joseph (1996) lembra que nem todas as pessoas são talhadas para tarefas de serviço,

também indicando a utilização de instrumentos para a identificação de habilidades sociais e

interpessoais, como o Índice de Orientação para o Serviço, de Hogan, Hogan e Busch.

Hogan, Hogan e Busch (1984) desenvolveram um modelo de mensuração da

personalidade desenhado de forma a relacionar os traços da personalidade com o

desempenho no dia-a-dia. O Índice de Orientação para o Serviço considera aspectos

como o bom ajustamento, a capacidade de ser agradável, as habilidades sociais e a

inclinação para seguir regras. Os autores acreditam que esta medida de orientação para o

serviço pode determinar aspectos do desempenho no trabalho que não estão relacionados

à competência técnica mas são cruciais para manter as boas relações entre a organização

e seus clientes.

Schneider e Bowen (1995) aconselham cautela na utilização de outros testes de

personalidade como ferramentas para decisões de contratação. Ao comentarem o uso da

grafologia, reforçam que não existe evidência de sua validade, sendo inclusive proibido seu

uso na França como base para decisões de seleção de pessoal.

Oferecendo uma idéia

Na visão de Grönroos (1995), a empresa deve desenvolver nos funcionários uma visão

holística da estratégia de serviços e do papel de cada um nesta estratégia, além de

habilidades de comunicação e atitudes favoráveis em relação a estratégia de serviços.

Berry e Parasuraman (1995) concordam que o funcionário precisa saber como o seu

trabalho se insere no plano mais amplo de operações da empresa e de que forma este

contribui para a empresa. O funcionário também precisa compreender e acreditar na meta

para a qual contribui, ter uma causa. Para estes autores, “a atração, o desenvolvimento, a

manutenção e a retenção de funcionários de qualidade exige uma idéia muito clara pela

qual valha a pena lutar”.

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Berry (1999) destaca que o objetivo exclusivo de ganhar dinheiro não fala ao coração das

pessoas. Para ele, não é o trabalho duro que derrota as pessoas mas o trabalho sem

crescimento pessoal, sem colegas de equipe, sem consideração e sem sentido.

O marketing interno eficaz se utiliza de todas as oportunidades para transmitir aos

funcionários a idéia que a empresa oferece. Estas idéias devem ser simples e a alta

gerência deve estar envolvida pessoalmente na comunicação destas. Berry e Parasuraman

(1995) citam como exemplo que a idéia da ServiceMaster é ‘acrescentar dignidade ao

trabalho’. Já na Southwest Airlines, a idéia é ‘produtividade, diversão e trabalho em

conjunto, como em uma família’.

Treinamento: preparando as pessoas

O treinamento é componente básico de um programa de marketing interno. Lewis e

Entwistle (1990) reconhecem que as questões de treinamento são críticas para a gestão

de pessoal em um contexto de serviço. Para o sucesso do programa de treinamento, os

autores julgam fundamental que haja o comprometimento da alta gerência e que todos os

funcionários estejam envolvidos. Além disso, eles recomendam que seja utilizado o

conceito de cliente interno e que a percepção do funcionário esteja presente em todo o

processo, desde a fase inicial.

Taylor e Cosenza (1997) entendem que um processo de socialização deve acontecer para

que a perspectiva de serviço da organização possa ser implantada na cabeça dos novos

funcionários. Recorrendo a Grönroos (1995), “um programa de socialização eficaz deve

compreender uma visão holística da empresa e de sua estratégia de serviços, missão e

objetivos, ressaltando o papel de cada um para o sucesso da empresa”.

Na visão de Taylor e Cosenza, o processo de socialização envolve uma parte formal e

outra informal. A socialização informal acontece naturalmente, a partir do momento em

que o emprego é aceito e o novo funcionário passa a observar o ambiente, chegando a

conclusões sobre a empresa e seus valores.

Schneider e Bowen (1995) também chamam o treinamento informal de ‘apreendendo a

cultura’. É quando o novo funcionário aprende junto aos colegas de trabalho como as

coisas são normalmente feitas, que tipos de comportamentos são considerados normais e

esperados e quais são considerados tabus.

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Já a socialização formal envolve programas de treinamento para os novos membros, em

três importantes áreas: (a) ajustamento de atitudes, de forma que os funcionários

entendam e aceitem o fato de que o marketing em serviços requer o envolvimento de

todos; (b) compreensão do papel de cada um nas relações com os clientes; e (c)

aumento das habilidades relacionadas ao cargo. Estes treinamentos tanto podem

acontecer em salas de aula quanto on the job.

Lewis e Entwistle (1990) ressaltam que o treinamento para o encontro de serviço é o

elemento-chave dos programas de atendimento ao cliente desenvolvidos em empresas de

serviços. Estes programas geralmente começam com uma clara exposição sobre os

objetivos da organização em termos do serviço que ela quer fornecer, sua missão ou

estratégia de serviço. Segue-se a apresentação e o treinamento nos níveis gerenciais mais

altos, de forma que o processo inicia-se no topo e é dirigido à linha.

Segundo Lewis e Entwistle, existem duas abordagens quanto a implementação de

treinamentos em serviços: o estilo evangélico e o estilo exploratório. O estilo evangélico

geralmente envolve grande número de funcionários reunidos para uma performance

sofisticada e refinada, estruturada para gerar um alto grau de entusiasmo e produzir um

sentimento de unidade espiritual entre o pessoal de serviço.

A vantagem desta abordagem é sua relativa rapidez: muitos funcionários podem

participar do processo em um curto período de tempo, geralmente um evento de um dia.

Suas principais desvantagens são: (1) não há a certeza do envolvimento de todos, e (2)

o entusiasmo e o fervor gerados no evento são rapidamente esquecidos, tão logo os

funcionários retomem suas atividades.

O estilo exploratório também busca elevar o entusiasmo e o comprometimento, mas de

uma forma mais sutil e durante um período de tempo mais extenso, levando em

consideração que nem todos os funcionários querem aprender. A resistência dos

funcionários pode ser causada pela própria crítica a comportamentos passados e pelo

reconhecimento da necessidade de mudança que estão implícitos no treinamento.

Lewis e Entwistle (1990) preconizam que o levantamento das necessidades de

treinamento seja realizado através de entrevistas com os funcionários, de forma a

investigar as atitudes com relação a seus trabalhos e aos clientes, e o nível de confiança

que eles possuem na organização e em seus produtos.

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Após a análise das necessidades, os autores observam que os programas de treinamento

podem incluir o conhecimento do negócio da empresa e de seus produtos, a compreensão

do cliente e o desenvolvimento de habilidades interpessoais necessárias para lidar com os

clientes.

O desenvolvimento de habilidades e conhecimentos pelos funcionários deve ser encarado

como um processo contínuo. Berry e Parasuraman (1995) consideram como objetivo do

treinamento a preparação do funcionário para ‘fazer o serviço que o cliente espera’. Eles

indicam o uso de métodos diversos e criativos para o treinamento, como: aulas

expositivas, treinamentos on the job, dramatizações, programas de auto-instrução,

distribuição de artigos e vídeos selecionados, visita a outras empresas, dentre outros.

O papel do gerente

Albrecht e Zemke (1985) ressaltam que um serviço de qualidade na linha de frente

começa na cabeça da alta gerência, sendo o conceito de serviço disseminado pela

estrutura e operação da organização através da cultura organizacional. Para estes

autores, o principal executivo é quem deve ser o responsável pela manutenção de uma

cultura de orientação para o cliente e pelo desenvolvimento de um programa de

treinamento integrado com a estratégia de marketing da organização.

Grönroos (1995) enfatiza que os gerentes têm papel fundamental na continuidade dos

programas de treinamento, seja através do encorajamento ativo dos subordinados nas

tarefas cotidianas, no envolvimento dos funcionários no planejamento e na tomada de

decisões, no estabelecimento de um clima interno aberto e transparente, ou através do

fornecimento contínuo de feedback.

Para Grönroos, a maneira de gerenciar é uma questão de marketing interno, já que o

estilo gerencial demonstrado nas tarefas cotidianas dos gerentes e supervisores tem

impacto imediato sobre o clima interno e o ambiente de trabalho.

Os gerentes precisam reconhecer seus papéis de suporte aos funcionários para que estes

possam desempenhar melhor suas tarefas. Albrecht e Zemke (1985) sintetizam o papel do

gerente em uma organização orientada para o serviço como:

! promover a cultura;

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! determinar as expectativas de qualidade;

! criar um clima de motivação para os funcionários;

! prover os recursos necessários;

! auxiliar na solução dos problemas;

! remover obstáculos ao serviço; e

! assegurar a recompensa de desempenhos superiores.

Schneider e Bowen (1985) observam que, devido à proximidade psicológica entre as

pessoas de contato e os clientes, os empregados da linha de frente possuem informações

valiosas sobre as necessidades e os desejos dos clientes. Logo, o envolvimento destes

funcionários no processo de planejamento promove a tomada de melhores decisões, além

de representar um caminho para a obtenção de maior comprometimento. Mas para que

isso ocorra, o gerente deve manter um clima aberto e transparente com seus

funcionários.

Para que o foco no cliente não seja relegado, Joseph (1996) sugere que gerentes e

diretores busquem contatos freqüentes com os clientes, seja através de visitas regulares

ou desempenhando tarefas em encontros de serviço. Pope (1979) descreve o caso da

Disney, onde todos os executivos participam de um programa anual de cross-utilization,

trabalhando por uma semana no parque temático, desempenhando tarefas em encontros

de serviço, como venda de tickets ou o acompanhamento do embarque e desembarque

das atrações.

Joseph (1996) reforça que desempenhar tarefas nas operações de linha de frente ou de

suporte também mantém o gerente próximo dos clientes internos, propiciando o

conhecimento de suas perspectivas e dificuldades.

Enfatizando o trabalho em equipe

Berry e Parasuraman (1995) consideram o trabalho em equipe essencial para a prestação

de um serviço excelente. Para eles, quando os funcionários colaboram uns com os outros,

têm boas relações entre si e realizam tarefas em conjunto, torna-se mais fácil sustentar a

motivação no atendimento ao cliente e combater o esgotamento característico do trabalho

em serviços.

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Mas a formação de uma equipe de serviço não pode ser deixada ao acaso. Além de uma

inclinação natural, identificada durante o processo de seleção, as pessoas precisam ser

estimuladas para o trabalho em equipe. Berry e Parasuraman apontam os contatos

regulares para troca de informações, a determinação de metas comuns, e um sistema de

avaliação e recompensa para o grupo como atividades necessárias para fomentar o espírito

de equipe.

Muitas vezes a própria estrutura da organização impede o desenvolvimento das

características do trabalho em equipe, ao reforçar distinções entre funcionários. Como

medida para estimular o espírito de equipe e as tendências participativas, Joseph (1996)

sugere a remoção dos símbolos de status presentes na organização, como por exemplo os

restaurantes para executivos ou as vagas de estacionamento preferenciais para diretores e

gerentes.

O empowerment dos funcionários

O empowerment dos funcionários de empresas de serviços contribui para que estes

tornem-se mais focados no cliente, respondam mais rapidamente às suas solicitações,

sejam mais responsáveis e mantenham o moral elevado e melhor auto-estima (Bateson,

1995).

Schneider e Bowen (1995) entendem que o empowerment não é simplesmente o ato de

tornar a linha de frente ‘livre’ ou jogar fora o manual de regras, sendo necessária a

redistribuição sistemática pela organização de quatro ingredientes: poder, informação,

recompensa e conhecimento.

Estes quatro ingredientes em conjunto dão ao funcionário uma razão para que ele se

preocupe com o sucesso da organização. O funcionário passa a sentir maior controle sobre

seu trabalho, a possuir maior conhecimento sobre os negócios da empresa e a assumir

maior responsabilidade pelos resultados, visto que sua remuneração varia com o seu

desempenho.

Berry e Parasuraman (1995) argumentam que a adoção de um manual de regras destrói a

confiança do funcionário e reprime seu desenvolvimento pessoal e sua criatividade. Um

funcionário sem autoridade, preso às regras, presta um serviço regido pelo manual, sem

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ajustar o serviço a cada cliente. Os autores defendem a redução do manual de regras a um

mínimo essencial.

Da mesma forma, Taylor e Cosenza (1997) alertam que os funcionários não gostam de agir

de acordo com regras e procedimentos estabelecidos. Empresas com muitas regras podem

gerar funcionários insatisfeitos e frustrados, inclinados a deixar a empresa. Esta situação é

aliviada ao se conferir empowerment aos funcionários.

Bowen e Lawler (1992) também recomendam o empowerment para funcionários de

empresas de serviços mas com algumas ressalvas. Eles acreditam que a adoção do

empowerment é uma decisão estratégica que deve ser tomada com base nos objetivos da

organização. Os autores destacam casos de empresas de serviços que obtiveram sucesso

implementando uma abordagem de linha de produção para a entrega do serviço, como o

McDonald’s e a UPS, onde destaca-se a padronização dos processos e o rígido

cumprimento às normas estabelecidas.

Berry e Parasuraman (1995) reconhecem que a delegação de poder ao funcionário não é

tarefa simples. Muitos funcionários podem não aceitar o risco de cometer erros e a maior

pressão para encontrar soluções criativas, e os gerentes podem se ressentir da perda de

autoridade e de um menor controle.

Como etapas para o desenvolvimento do empowerment, os autores propõem: (1) a revisão

das políticas e procedimentos existentes, de forma a alterar ou descartar aqueles que

restringem a liberdade no serviço de forma desnecessária; (2) a adoção de treinamentos

que ensinem valores e não apenas regras ao pessoal da linha de frente; e (3) a

implantação de sistemas de avaliação de desempenho e de recompensas que estimulem a

criatividade e a iniciativa em prol da satisfação do cliente.

Avaliando e recompensando

Os objetivos do marketing interno não serão alcançados se os desempenhos dos

funcionários não forem avaliados e recompensados. Berry e Parasuraman (1995) registram

que os funcionários precisam saber que são avaliados pela boa qualidade de seus serviços

e que vale a pena servir bem ao cliente.

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Para Schneider e Bowen (1995), um sistema de avaliação de desempenho não deve

concentrar-se apenas em aspectos tangíveis ou facilmente contáveis, como o número de

atendimentos durante um plantão, mas também deve incluir aspectos intangíveis críticos,

como a construção de relacionamentos com os clientes.

Berry e Parasuraman (1995) lembram que as avaliações regulares mantém os funcionários

conscientes de seus desempenhos e contribuem para melhores atitudes durante o

encontro de serviço. Sem feedback freqüente, não há o reforço necessário para a melhoria

contínua.

Schneider e Bowen (1995) constatam que as organizações tendem a obter os tipos de

comportamentos que são passíveis de recompensas. Por isso, um sistema de recompensas

eficaz seria aquele que indica claramente para os funcionários que o fornecimento de um

serviço de qualidade é a chave para que eles sejam recompensados.

Segundo estes autores, os investimentos em seleção e treinamento serão perdidos se a

remuneração oferecida pela empresa direcionar os funcionários para comportamentos

opostos à excelência em serviço.

Alguns autores sustentam que o sistema de recompensas não deve estar restrito a

incentivos financeiros, considerando também eficazes outras formas de reconhecimento.

Schneider e Bowen (1995) observam que existe uma tendência das empresas

considerarem as recompensas somente em termos monetários. Para eles, o pagamento é

útil para satisfazer as necessidades de segurança dos funcionários, sendo de pouca

utilidade para a satisfação das necessidades de estima e de justiça.

Joseph (1996) destaca que a motivação e as fontes de satisfação variam entre os

funcionários e que a identificação dos drivers motivacionais de cada segmento de

funcionários pode auxiliar no desenvolvimento de programas de recompensas mais

adequados.

Berry e Parasuraman (1995) apresentam algumas orientações sobre sistemas de

recompensas, com base em pesquisas realizadas em organizações de serviços:

! as recompensas devem estar alinhadas com a idéia e com a estratégia da empresa;

! usar métodos diversificados para recompensar, como recompensas financeiras,

reconhecimento não-financeiro, promoção na carreira, distribuição de ações;

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! os sistemas de recompensas devem ser permanentes e envolver todos os

funcionários;

! recompensar equipes e não somente pessoas;

! os funcionários devem conhecer com clareza os métodos e critérios de avaliação

utilizados;

! distinguir entre remuneração por competência e remuneração por desempenho.

Pesquisa com o funcionário: conhecendo seu cliente interno

Berry e Parasuraman (1995) consideram essencial que a organização conheça as

aspirações, as atitudes e as preocupações de seus clientes internos de forma que os

‘produtos-trabalhos’ sejam capazes de atrair, desenvolver, motivar e reter os funcionários.

A prática da pesquisa de marketing é tão importante no marketing interno quanto no

marketing externo.

Para Lovelock (1991), a aplicação de pesquisas e sessões de focus group com os

funcionários fornece feedback sobre seus trabalhos, opiniões sobre a empresa e idéias

para a melhoria do serviço. No entanto, a empresa deve estar preparada para tomar

providências relativas a descobertas significativas.

Também Joseph (1996) recomenda a utilização de focus group e pesquisas com os

funcionários periodicamente de forma a medir o moral, a satisfação e as atitudes gerais

com relação ao trabalho e à organização. O autor sugere ainda que as pesquisas de

satisfação com os clientes sejam validadas com as pesquisas com os funcionários para a

obtenção de uma avaliação mais completa.

Lewis e Entwistle (1990) compartilham desta visão, afirmando ser vital que o sucesso da

empresa seja monitorado tanto em relação às percepções do cliente sobre a qualidade do

serviço quanto ao desempenho e à satisfação do funcionário.

Collins e Payne (1991) acreditam que a utilização de pesquisa de clima fornece benefícios

diretos para a reestruturação e a melhoria dos processos, além de ter efeito positivo no

moral dos funcionários, decorrente do interesse em seus pontos-de-vista. Segundo estes

autores, a pesquisa de clima deve considerar as percepções dos funcionários sobre o

pacote de remuneração, as condições de emprego e a avaliação de desempenho, e suas

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opiniões sobre os programas de qualidade implantados.

Retomando um aspecto levantado por Lovelock (1991), Collins e Payne apontam como

importante requisito, prévio à coleta de dados, o comprometimento de se encarar as

questões descobertas, não importando quão difíceis sejam. Levantar as expectativas dos

clientes internos sem uma entrega posterior pode gerar fortes efeitos negativos.

Rafiq e Ahmed (1993) concordam com esta visão ao reconhecer que a participação dos

funcionários tende a ser baixa quando não é dado nenhum feedback quanto aos

resultados da pesquisa. Os gerentes precisam mostrar que ações estão sendo tomadas

com respeito às questões descobertas pelas pesquisas.

Rafiq e Ahmed também alertam que as pesquisas com os funcionários precisam ser

conduzidas com cuidado, garantindo a absoluta confidencialidade, e que as respostas

devem ser interpretadas com precaução, uma vez que os respondentes estão mais

inclinados a responder o que eles acham que a organização quer ouvir.

Taylor e Cosenza (1997) recomendam que o marketing interno também seja aplicado

durante a entrevista de desligamento, outra fonte de pesquisa. É importante determinar

porque as melhores pessoas estão deixando a empresa, permitindo valioso feedback

sobre as políticas da empresa. A informação coletada pode ser usada para alterar políticas

e procedimentos com o objetivo de evitar que outros funcionários experimentem os

mesmos sentimentos negativos.

Gerenciando a comunicação

De acordo com Grönroos (1981), para que o ambiente interno apoie a orientação para o

cliente, a comunicação interna deve ser eficaz. Os funcionários precisam receber a

informação sobre novos serviços, novas campanhas e qualquer outra atividade que tenha

impacto no encontro de serviço antes dos clientes.

Grönroos sustenta que tomar conhecimento de campanhas ou outras atividades da

empresa através do cliente ou da mídia pode tornar o funcionário insatisfeito com seu

trabalho. Os clientes percebem esta insatisfação e ficam com a impressão de que o

funcionário não sabe o que está fazendo na empresa.

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43

Gummesson (1991) sugere que os métodos utilizados para levar a informação aos

funcionários envolvem a aplicação do know-how de marketing ao mercado interno. Jornal

interno, comunicação via e-mail, intranet, memorandos internos, murais, revistas,

encontros de departamentos, reuniões periódicas, anúncios orais, cursos, treinamentos e

vídeos corporativos continuam sendo veículos usuais e eficazes para atingir os clientes

internos. Mas Williams (1997) alerta que a abundância de mídia não deve ser confundida

com mensagem eficaz.

Grönroos (1981) recomenda que não seja usada apenas a informação escrita, julgando a

venda pessoal um meio mais eficaz de fazer as pessoas se entusiasmarem sobre um novo

serviço ou campanha. Rafiq e Ahmed (1993) acreditam que as apresentações face-a-face

no marketing interno podem ser até mais eficientes do que no marketing externo, porque

o apresentador, gerente ou supervisor, tem uma autoridade implícita por trás do que está

falando.

Para Barnes (1989), abordagens menos formais de comunicação da mensagem de serviço

ao cliente envolvem a participação dos gerentes em almoços com os funcionários, o envio

de notas encorajadoras aos funcionários que tratam bem os clientes e o reforço da

mensagem em todas as oportunidades.

Taylor e Cosenza (1997) acrescentam que as comunicações internas podem ser usadas

para desenvolver um senso de envolvimento e para inspirar confiança ao reportar

desenvolvimentos significativos. Joseph (1996) propõe que, além dos casos de sucesso da

empresa, sejam relatados nos veículos de comunicação da empresa alguns percalços para

que a credibilidade seja mantida.

Collins e Payne (1991) destacam que, apesar do objetivo final de determinadas

propagandas institucionais ser influenciar a percepção do público externo, os gerentes

não podem esquecer o impacto destas campanhas em seus funcionários. Uma campanha

que não tenha credibilidade junto aos funcionários não é consistente com o

desenvolvimento de uma cultura organizacional positiva.

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44

2.4.10 - A prática de marketing interno

Varey (1995b) conclui que a literatura que descreve marketing interno é largamente

prescritiva e há poucos dados que demonstram o papel e a eficácia de sua aplicação. Os

dados empíricos são escassos. É largamente enfatizado que o marketing interno tem

especial significado para empresas de serviços mas uma maior aplicação é desejável para

a obtenção de vantagem competitiva.

Apesar da necessidade de marketing interno ser amplamente reconhecida, somente um

pequeno número de empresas aplicam este conceito. A implementação de programas de

marketing interno pelas empresas só recentemente ganhou importância e o marketing

interno passou a ser encarado como arma estratégica para a obtenção da satisfação dos

clientes (George,1990; Grönroos,1995).

A coordenação dos planos de marketing interno e externo torna-se urgente, de forma que

a efetiva aplicação do marketing interno forneça uma ponte entre o planejamento e a

implementação do marketing externo, ao criar conhecimento, compreensão, consenso e

envolvimento sobre a estratégia de marketing.

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2.5 - Marketing interno em hospitais

Pressionada por grandes mudanças ambientais, a indústria de serviços de saúde vem

passando por profundas transformações. Margens declinantes, menores taxas de

internação, maior competição e mudanças nas expectativas dos clientes forçam as

organizações de saúde a melhorar seus níveis de qualidade e produtividade.

Nos anos 80, a resposta dos hospitais a essas questões limitou-se a estratégias de

redução de custos de curto prazo, sem maiores preocupações com a busca de eficácia. Na

verdade, acreditava-se na existência de um trade off entre eficiência e eficácia.

À medida que o controle de custos tornou-se imprescindível para a sobrevivência dos

hospitais, aumentou a pressão para se administrar os escassos recursos sem prejudicar a

qualidade do cuidado ao paciente. A questão passou a ser: um certo procedimento

médico traz benefício ao paciente, levando em consideração seu custo, ou pode ser

eliminado sem comprometer o resultado clínico ?

Goldsmith (1989) reconhece que as organizações de saúde são muito mais complexas do

que as empresas, e estão sendo pressionadas a adotarem uma gestão típica do meio

empresarial. Técnicas e estratégias que podem funcionar em outras indústrias provaram

ser inadequadas no setor, como economias de escala e a diversificação de atividades.

Este movimento de consolidação da indústria de saúde levou a um aumento na

insatisfação dos funcionários, com efeito negativo direto na lealdade do paciente e na

rentabilidade dos hospitais. Moore (1995) reforça que o baixo moral é de longe o pior

problema de recursos humanos na indústria de hospitais, de acordo com pesquisa

conduzida em 681 hospitais nos EUA. Este problema não é recente, mas tem se agravado

com os downsizings, reestruturações e demissões promovidos no setor.

Para Atkins, Marshall e Javalgi (1996), reduzir o número de funcionários, especialmente

da equipe de enfermagem, pode se mostrar efetivo na redução de custos a curto prazo,

mas a longo prazo pode representar dificuldades na linha de frente, tornando os

funcionários incapazes de atender às necessidades dos pacientes.

Eisenberg (1997) acredita que as organizações de saúde tendem a tornar-se mais

orientadas para serviço e focadas na satisfação do cliente com a remoção de fatores que

tornavam a indústria substancialmente imune à concorrência. O autor destaca como

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barreiras tradicionais das organizações de saúde a uma orientação para o serviço o fato

de:

! os ambientes hospitalares serem profundamente regidos por regulamentos;

! a indústria hospitalar possuir uma resistência histórica à visão empresarial;

! o papel de subordinação do paciente ser estabelecido e reforçado continuamente,

com a perspectiva do paciente sendo ignorada com freqüência;

! o modelo médico tradicional servir como pretexto para a despersonalização das

relações entre funcionários e pacientes.

O acirramento da concorrência tem obrigado as organizações de saúde a buscar uma

orientação de marketing como forma de manterem-se viáveis. As respostas têm sido as

mais variadas: campanhas de marketing para a promoção da imagem da instituição,

criação de pacote de serviços para atrair público-alvo específico, identificação de novos

mercados, adoção de novos sistemas de entrega de serviços, entre outras.

Para Goldsmith (1989), os hospitais estão sofrendo de um caso clássico de miopia de

marketing, direcionando investimentos para um mercado maduro - cuidado agudo - e

ignorando uma mudança crucial na demanda: a necessidade de internação vem

declinando, devido a avanços tecnológicos e a novas práticas terapêuticas.

No entanto, muitos hospitais continuam a medir seu desempenho pela taxa de ocupação,

direcionando seus esforços de marketing para ocupar os leitos vazios. Vender leitos vazios

com desconto para planos de saúde ou anunciar amenidades e supérfluos para o paciente

são tentativas de nivelar a capacidade existente mas não de atender às novas

necessidades.

Thomas, Farmer e Wallace (1991) observam que muitas organizações de saúde adotaram

estratégias de marketing impulsivamente, sem terem a compreensão adequada do

processo de marketing ou mesmo do mercado, sendo comum observar o início de

programas de marketing centrados em propaganda. Como resultado, muitos hospitais e

clínicas encontraram-se na situação de promover serviços que sequer poderiam ser

produzidos ou entregues.

Estes autores relatam o caso de um grande hospital americano que se preparava para

promover seus serviços geriátricos através de uma hotline que responderia a qualquer

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pergunta sobre geriatria e que descobriu que esta iniciativa de marketing seria um grande

erro. Ao conduzir pesquisas internas para apoiar a promoção, ficou evidente a

necessidade do um esforço prévio de marketing interno, sob risco da campanha trazer

mais prejuízos do que benefícios ao hospital, ao expor suas deficiências internas e a

incapacidade de fornecer o serviço prometido.

À medida que a indústria de atendimento à saúde caminhou para uma orientação para

serviços, o marketing interno tornou-se imprescindível. Joseph (1996) ressalta que o

plano de marketing de um hospital não pode ser considerado completo se não incluir

estratégias para alcançar e persuadir seus clientes internos, uma vez que são serviços

intensivos em mão-de-obra e que envolvem contato pessoal intenso entre o funcionário, o

paciente e sua família.

Para Joseph, não há delimitação entre as funções marketing, recursos humanos e

operações na entrega de serviços médicos. Por exemplo, um médico da emergência é

responsável pela produção, pela entrega e pelo marketing do serviço para o paciente

durante a consulta. Se o paciente tiver que esperar muito para ser atendido porque na

emergência há poucos médicos, a insatisfação resultante é um problema das três funções.

Se o médico ao atender o paciente não se desculpar pelo atraso, ou seu comportamento

for percebido como rude, a qualidade do serviço estará comprometida ainda que o

diagnóstico e o tratamento prescrito estejam corretos.

Energizar e motivar o elenco de funcionários, tanto da linha de frente quanto do apoio, é

uma importante parte da missão do marketing interno. Em hospitais, o papel central do

funcionário de linha de frente na entrega de um serviço consistente e de alta qualidade

pode ser o maior ativo competitivo da organização. No entanto, o fator humano também

pode ser a característica competitiva mais tênue e vulnerável.

Um staff bem treinado e dedicado pode valorizar a experiência de serviço do paciente e

contribuir de forma significativa para a reputação de qualidade da organização. Um alto

turnover de funcionários, a inexperiência de novos funcionários, e o baixo moral entre os

membros do staff pode destruir o desempenho da empresa a cada encontro de serviço.

Joseph (1996) ilustra como as atividades de marketing - marketing interno, externo e

interativo - se relacionam nas organizações de atendimento à saúde (Figura 2.5).

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Eisenberg (1997) destaca que existem muitos clientes em um ambiente hospitalar. Os

mais óbvios são os pacientes, seus familiares e visitantes, mas estes são apenas um

segmento da base de clientes. Uma mentalidade de serviço vê cliente como um termo

fluido, aplicado a todos que recebem um produto ou serviço, incluindo os colegas de

trabalho e os médicos que trazem negócios para o hospital e são os usuários primários

dos serviços deste.

Figura 2.5 - O sistema de marketing em uma organização de saúde

Marketing Marketing Marketinginterno interativo externo

funcionários funcionários encontro clientes pacientesbackstage de contato de serviço externos familiares

médicos produção consumo outros hospitais

seguros saúdedoadores

staff clínico governostaff administrativostaff técnico/suporte

Fonte: Joseph, W.B. Internal marketing builds service quality. Journal of Health Care Marketing. v.16, n.1,Spring 1996, p. 54-59.

Decker e Strader (1998) levantam interessante questão ao considerar que o serviço de

saúde tem muitos grupos de clientes, cada grupo com suas próprias expectativas, que

podem até ser conflitantes. Com tantos grupos de clientes, definir quem tem prioridade

torna-se tarefa complicada. Tradicionalmente, o poder esteve com os médicos e os

administradores, sendo agora extremamente difícil mudar o foco para o paciente e os

planos de saúde, os novos detentores de poder no ambiente hospitalar.

Peltier, Boyt e Westfall (1997) indicam a adoção de estratégias de marketing de

relacionamento para fortalecer a lealdade do staff clínico. Como premissa, deve haver

uma mudança na forma como estes funcionários são percebidos pelas organizações de

saúde: ao invés de serem vistos apenas como um componente do pacote de serviços, eles

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devem ser tratados como um importante grupo de clientes. Os autores acreditam que

esforços de marketing interno objetivando o desenvolvimento de fortes laços financeiros,

sociais e estruturais podem ter impacto positivo na lealdade do staff clínico.

Lee, Gombeski e Doremus (1991) sustentam que as organizações com maior chance de

sucesso são aquelas onde os funcionários compreendem seu valor e papel no marketing

dos serviços e recebem contínua informação sobre o mercado. No entanto, um estudo

conduzido pelos autores sugere que as organizações de atendimento à saúde não têm

sido muito eficientes neste sentido.

Os resultados do estudo indicaram que os funcionários de serviços de saúde não

possuíam maior conhecimento de questões referentes à indústria da saúde do que os

não-funcionários. Também não havia diferença de opinião entre as pessoas que tiveram

um caso de internação na família nos últimos meses e aquelas que não entraram em

contato com o cotidiano dos hospitais recentemente, sugerindo que as organizações de

saúde não estariam obtendo vantagens de importantes relações públicas e do marketing

interno para educar seu público através de seus funcionários.

As recomendações pessoais ainda carregam considerável peso na escolha do fornecedor,

particularmente em uma população de pacientes, caracterizada pelo alto nível de

insegurança. Estas indicações pessoais, ou propaganda boca-a-boca, são em grande parte

uma função da eficácia do marketing interno da organização.

Se os hospitais desejam criar uma imagem única que incentive a lealdade do cliente, as

compras repetidas dos serviços e o boca-a-boca, devem focar na relação entre a

satisfação do paciente e a satisfação do funcionário. A insatisfação dos funcionários pode

afetar negativamente as percepções dos pacientes quanto à qualidade do serviço,

acabando por afetar a intenção de retornar ou de recomendar o serviço, consideradas

medidas críticas de satisfação.

Atkins, Marshall e Javalgi (1996) destacam que poucos estudos de marketing em serviços

de saúde enfatizaram a relação entre a satisfação do funcionário e a satisfação do

paciente, embora em outras indústrias de serviços exista extensa literatura neste assunto

e seja reconhecida a importância de se conhecer e atender às expectativas dos públicos

interno e externo.

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Butcher (1994) relata pesquisa em um centro médico cujos resultados apoiaram a

existência de uma relação entre o comportamento da supervisão, o conhecimento da

missão e a orientação para o serviço ao cliente. As percepções dos funcionários quanto a

colegas de trabalho, ao apoio da organização e às expectativas de desempenho também

estavam relacionadas positivamente à orientação para o serviço ao cliente.

Para Butcher, os supervisores devem ser vistos como foco de disseminação na criação de

um clima organizacional centrado na missão, considerando-se seu contato regular com a

alta administração e a interação diária com os subordinados, com ampla oportunidade de

comunicar a missão e os valores da organização e de reforçar comportamentos

adequados.

Woodside, Frey e Daly (1989) apresentam um modelo para descrever as relações entre as

variáveis qualidade de serviço, satisfação do cliente e intenção de recompra do serviço,

testado em pesquisa com pacientes de um hospital.

O modelo considera que cada encontro de serviço inclui diversos atos e que cada ato

contém diversos eventos específicos. Os clientes julgam a qualidade do serviço de cada

ato com base nos eventos experimentados. A qualidade geral do serviço percebida pelo

cliente é função da satisfação e qualidade percebida nestes atos. E a satisfação geral do

cliente com o encontro de serviço é função da qualidade geral do serviço, sendo a

intenção de recompra do serviço afetada pela satisfação do cliente.

Os resultados da pesquisa de Woodside, Frey e Daly apoiaram o modelo geral, indicando

que as avaliações dos pacientes sobre eventos específicos (ex.: tempo de espera) dentro

de atos de serviço (ex.: admissão) influenciam sua satisfação geral com os atos. Esta, por

sua vez, influencia a satisfação geral do cliente com o encontro de serviço.

Em pesquisa conduzida em um hospital, Atkins, Marshall e Javalgi (1996) comprovaram a

forte relação entre a satisfação do pessoal de enfermagem e a intenção dos pacientes de

retornar no futuro ou recomendar o hospital para outras pessoas. Este resultado

confirmou estudos anteriores, que indicavam que a satisfação com a enfermagem é o

principal determinante da qualidade de um hospital.

Com base nesta pesquisa, Atkins, Marshall e Javalgi recomendam que os profissionais de

marketing em hospitais desenvolvam melhor compreensão da ligação existente entre a

satisfação do funcionário e a satisfação do paciente e o impacto destas na confiabilidade

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do plano de marketing. Para isso, torna-se necessário que marketing trabalhe próximo a

recursos humanos, de forma a entender e influenciar o ambiente de trabalho e monitorar

o nível de satisfação dos funcionários.

Decker e Strader (1998) sustentam que o futuro da indústria de saúde inclui mais

mudanças e reestruturações, maior integração entre as funções, foco no cliente,

competição e dependência de informação. As organizações precisarão responder a estas

mudanças com agilidade e melhorias contínuas na qualidade e produtividade, utilizando-

se do marketing para gerenciar e motivar diversos tipos de pessoas. Para estes autores,

as organizações de sucesso serão achatadas e enxutas, com a responsabilidade e a

tomada de decisão deslocadas para os funcionários mais próximos dos clientes.

Lee, Gombeski e Doremus (1991) apontam o marketing interno como uma das principais

questões para as organizações neste século. Mas o marketing interno ainda é pouco visto

como uma arma estratégica pelos hospitais. Muitas organizações até utilizam veículos de

comunicação interna, como jornais internos, encontros de chefias de departamentos,

orientação para novos funcionários, ou seminários de crescimento profissional. No

entanto, o foco não tem sido em marketing interno mas em recursos humanos.

Algumas exceções se destacam. Lee, Gombeski e Doremus (1991) citam os exemplos a

seguir como iniciativas adotadas no setor:

! O Christ Hospital, em Cincinnati, tem usado o programa de orientação de novos

funcionários para motivar os funcionários a discutir os esforços de marketing. Seis

perguntas guiam esta discussão: (1) O que é marketing? (2) Por que um hospital

deve “vender-se” (3) Quem é a concorrência? (4) Quem é o cliente? (5) Quais são

as necessidades do cliente? (6) Quem é o responsável por marketing?

! O Nemours Children’s Clinic, em Jacksonville, iniciou uma campanha de marketing

interno ao detectar que os funcionários estavam simplesmente cumprindo suas

tarefas, sem um senso de comprometimento.

! A New Jersey Hospital Association iniciou programa para educar os funcionários

sobre importantes questões da indústria da saúde.

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3 – Metodologia

3.1 - Tipo de Pesquisa

Na classificação do tipo de pesquisa utilizada neste estudo, foi tomada como base a

taxionomia proposta por Vergara (1997), que define dois critérios básicos: quanto aos fins

e quanto aos meios de investigação.

Quanto aos fins, a pesquisa tem caráter exploratório e descritivo. O caráter exploratório

se justifica pelo fato de não ter sido verificada a existência de estudos que tivessem como

foco a identificação de práticas de marketing interno em empresas de serviço, apesar da

reconhecida importância do marketing interno. Conforme já ressaltado por Varey (1995),

a literatura de marketing interno é largamente prescritiva mas os dados empíricos são

escassos.

Segundo Sekaran (1992), um estudo exploratório é realizado quando não dispomos de

informações sobre como problemas ou questões de pesquisa similares foram resolvidos

anteriormente, quando há pouco estudo acumulado ou sistematizado sobre o fenômeno

que necessita ser compreendido. Desta forma, quando o conhecimento é escasso e uma

compreensão mais profunda é o objetivo, o estudo configura-se exploratório.

O caráter descritivo se justifica na exposição dos aspectos relevantes observados, de

forma a auxiliar no pensamento sistemático sobre marketing interno, sem o compromisso

de explicar os fenômenos descritos, embora possa servir de base para tal explicação. O

estudo em questão tem como objetivo identificar as políticas e práticas de recursos

humanos, gerenciamento da comunicação e da cultura, implementadas em hospitais e

clínicas, que possam ser caracterizadas dentro da perspectiva de marketing interno.

Quanto aos meios de investigação, a pesquisa é bibliográfica e de campo. A investigação

bibliográfica compreendeu o uso de material acessível ao público, como livros, revistas e

Internet. Já a pesquisa de campo compreendeu a coleta de dados primários em hospitais

e clínicas.

3.2 - Universo e amostra

Consideradas as particularidades da administração e das relações trabalhistas presentes

no setor público, o universo da pesquisa foi constituído de hospitais e clínicas particulares

da cidade do Rio de Janeiro.

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Foi utilizada amostragem não probabilística por julgamento, de forma que a amostra

concentrasse os hospitais e clínicas cuja qualidade do serviço fosse reconhecida por

entidades médicas e pela opinião pública.

Segundo Mattar (1997), a suposição básica da amostra por julgamento é que podem ser

escolhidos os casos a serem incluídos, chegando a amostras mais satisfatórias para as

necessidades da pesquisa.

Esta conduta é justificada frente ao objetivo exploratório deste estudo: restringindo a

amostra a hospitais e clínicas de alto padrão, seria possível encontrar com maior

freqüência políticas de qualidade mais abrangentes, com reflexos na gestão de recursos

humanos e em marketing.

Considerando o caráter exploratório do estudo, a amostra inicial foi constituída por seis

hospitais. Uma vez observadas as características gerais da amostra, principalmente porte

do hospital e serviços oferecidos, optou-se por excluir um hospital da amostra de forma a

torná-la mais homogênea.

3.3 - Coleta de Dados

A pesquisa bibliográfica buscou ressaltar inicialmente a importância dos funcionários como

agentes de marketing interativo, especialmente aqueles responsáveis pelos contatos com

os clientes. A seguir, foi apontada a atual tendência a um gerenciamento holístico, com a

conseqüente necessidade de integração das áreas, com destaque para marketing e

recursos humanos, e o marketing interno foi apresentado como um meio de obter esta

integração. Dentro deste contexto, ressaltou-se as atividades reconhecidas como

integrantes de uma estratégia de marketing interno. O objetivo geral da pesquisa

bibliográfica foi oferecer uma maior compreensão do marketing interno e subsídios para o

levantamento de campo.

A segunda parte da coleta de dados envolveu a pesquisa de campo, realizada por meio de

entrevistas em profundidade, semi-estruturadas e diretas com executivos dos hospitais

selecionados.

O uso de entrevista face-a-face é considerado o mais indicado para estudos de caráter

exploratório. Muitas idéias que são difíceis de serem articuladas e compreendidas podem

ser discutidas durante estas entrevistas, gerando interessantes insights. Também é

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importante destacar o grau de flexibilidade que as entrevistas semi-estruturadas

fornecem, permitindo que se refaça a pergunta quando esta não é bem compreendida ou

é respondida de forma insatisfatória ou que sejam formuladas novas questões a partir de

respostas anteriores.

Segundo Goode & Hatt (1979), a entrevista qualitativa tem-se mostrado eficiente para a

obtenção de informações. O único ponto de divergência refere-se à falta de padronização,

o que poderia prejudicar a análise comparativa entre as unidades entrevistadas. Como

forma de equilibrar a padronização necessária com a profundidade exigida, os autores

sugerem o uso de um roteiro de entrevista, o qual auxilia no levantamento de itens de

informação comuns a cada entrevista mas permite ao entrevistador reformular a questão

para adequá-la a compreensão do momento.

Para que o foco do estudo não fosse desviado e de forma a obter alguma padronização,

sem o sacrifício do grau de profundidade necessário, foi utilizado um instrumento de

coleta de dados, conforme a sugestão de Goode & Hatt. Este instrumento consta de um

roteiro de entrevista (Anexo II), apresentado ao entrevistado, e de um guia de entrevista

(Anexo III), mantido com o entrevistador, que relaciona os aspectos que o entrevistador

espera que sejam abordados nas questões apresentadas no roteiro.

Tanto o roteiro quanto o guia de entrevista foram elaborados com base na revisão

bibliográfica realizada. Neste instrumento de coleta foram incluídos os principais tópicos

para a abordagem das questões concernentes à aplicação de programas de marketing

interno e suas atividades correlatas.

Foram realizadas entrevistas com sete hospitais, tendo os respondentes variado entre o

principal executivo, o administrador do hospital, o gerente de garantia da Qualidade e o

gerente de marketing. Nos hospitais onde a entrevista foi conduzida com os gerentes de

marketing, houve a necessidade de se conversar também com os gerentes de recursos

humanos para que fossem obtidas informações mais específicas quanto às práticas e

políticas da área.

Dentre os sete hospitais pesquisados, dois não foram considerados para a análise: um

deles porque não estava situado na cidade do Rio de Janeiro e por isso não configurava-

se como pertencente à amostra, sendo a entrevista considerada mais como um pré-teste

do processo de coleta de dados. O outro hospital foi excluído da análise porque seu perfil

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era destoante do restante da amostra, principalmente quanto ao porte e aos serviços

oferecidos, sendo o único que não se caracterizava como um hospital geral.

O processo de agendamento das entrevistas envolveu um grande esforço: inicialmente

foram realizados contatos com profissionais da área de saúde para a identificação das

pessoas responsáveis pela gerência dos hospitais a serem pesquisados. Obtidos estes

contatos, o passo seguinte era identificar o gerente mais indicado para responder a

pesquisa. Como os hospitais tem estruturas organizacionais bem diversas entre si, a

função que estas pessoas ocupavam também era bem variável.

Após estabelecido um vínculo com as pessoas de contato dentro dos hospitais, e como

forma de aumentar a disponibilidade para receber o pesquisador e facilitar a identificação

da pessoa a ser entrevistada, foram encaminhadas cartas de apresentação da pesquisa

em nome do COPPEAD (Anexo I) e cópias do roteiro de entrevista. O envio antecipado do

roteiro objetivava a familiarização do respondente com os aspectos a serem abordados,

permitindo que ele se preparasse para a entrevista. Entretanto, é possível que o envio

antecipado possa ter resultado em acréscimo de viés nas respostas e perda da

autenticidade no discurso do interlocutor.

As entrevistas foram realizadas entre dezembro de 1998 e maio de 1999. Todos os

contatos e entrevistas, bem como suas transcrições e análises, foram realizadas pela

própria autora o que permitiu uma perspectiva holística, ao se ter acesso ao longo do

estudo ao todo e às partes do fenômeno pesquisado. A importância desta visão de

conjunto é destacada por Fournier (1998).

De forma a obter maior profundidade nas informações levantadas, todas as entrevistas

foram gravadas em aparelho portátil para facilitar a transcrição e a análise. Durante as

entrevistas, a gravação era interrompida sempre que o respondente necessitava atender a

telefonemas ou chamados internos ou em qualquer outro momento em que fosse por ele

solicitada.

3.4 - Tratamento dos dados

O relato das entrevistas foi realizado de forma a garantir a confidencialidade das

informações obtidas. Os hospitais e clínicas foram identificados aleatoriamente por

números, a saber, 1, 2, 3, 4 e 5, sem que tal identificação obedeça a qualquer critério

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específico.

De acordo com os objetivos estabelecidos para este estudo, os dados obtidos foram

tratados de forma qualitativa, sendo os resultados das entrevistas classificados e

ordenados de forma a serem comparáveis entre si e com exemplos extraídos da pesquisa

bibliográfica.

Com isso, foi possível verificar se os pontos relevantes da literatura se encaixam na

realidade pesquisada. Foi dada ênfase à busca de procedimentos comuns às empresas,

bem como a identificação de práticas excepcionais, as quais representem exemplos de

impacto na aplicação do marketing interno.

3.5 - Limitações do Método

Considerando o caráter exploratório e qualitativo deste estudo, não existe a pretensão de

propor qualquer generalização ou mesmo um modelo ideal, mas sim trazer informações

sobre a aplicação de marketing interno em empresas de serviço.

Apesar do setor escolhido proporcionar uma riqueza de encontros de serviço, tendo o

comprometimento do funcionário com os objetivos e valores da empresa e com a

satisfação do cliente papel crítico na qualidade do serviço percebida, os resultados não

podem ser estendidos para outros setores de forma irrestrita, sem considerarmos as

particularidades da área hospitalar, como a estrutura de pessoal, o tipo de tarefa, a

organização do trabalho, entre outros.

Outra limitação do estudo diz respeito aos depoimentos colhidos. O resultado da

entrevista fica extremamente dependente do clima de empatia estabelecido, da

disponibilidade e acessibilidade do interlocutor e da autenticidade de suas respostas, o

que pode levar a existência de distorções entre o discurso e a prática administrativa.

Ao se limitar as entrevistas ao lado institucional, a percepção do funcionário sobre a

eficácia das atividades de marketing interno implementadas não é registrada assim como

o impacto destas atividades na percepção dos clientes sobre a qualidade dos serviços

oferecidos.

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4 - Resultados

4.1 – Relato das entrevistas

4.1.1 Hospital 1

Fundado por um grupo de médicos, em 1971, o Hospital 1 começou como uma pequena

casa de saúde. O objetivo do grupo era construir um local de trabalho, com toda a

estrutura necessária para a prestação de um bom atendimento ao paciente e para a

prática das melhores técnicas de medicina disponíveis.

Em 1973, houve uma modificação na estrutura acionária da empresa e optou-se pela

contratação de um profissional para administração do hospital, profissional este que até

hoje está a frente do hospital. Nesta época, o hospital tinha 29 leitos, 2 salas de cirurgia e

1 pequeno berçário. Em 1985 foi inaugurado o CTI, alavancando o atendimento a

pacientes graves.

O hospital conta no momento com: 5 centros cirúrgicos; CTI com 10 leitos; Unidade

Intermediária com 12 leitos; 2 salas de cirurgia cardiológica e vascular; laboratórios de

hemodinâmica e de medicina nuclear; CTI cardiológico com 2 leitos; pós-operatório

cardiológico com 6 leitos; unidade coronariana com 8 leitos; e emergência com 4 leitos.

Ser um lugar especial para se trabalhar

O Hospital 1 é considerado um lugar especial para se trabalhar pelo enorme respeito que

tem por seus funcionários e clientes e pelo espírito de equipe presente, unida em torno do

sucesso do hospital.

‘De uma maneira geral, os funcionários gostam muito do hospital, gostam

mesmo. Porque eles se sentem respeitados’.

‘Formamos uma equipe com uma mentalidade de realmente tentar fazer

o hospital crescer, sabendo que isso aqui é um prestador de serviço e

sempre estivemos voltados para isso. O prestador de serviço vende o

serviço: se vender um bom serviço, o cliente vai gostar e vai recomendar.

Se vender um serviço ruim, ele não só não vai gostar para ele com

também vai falar mal para os outros. O que nós queremos é que as

pessoas se sintam muito bem aqui’.

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‘As pessoas estão satisfeitas, sabem que o hospital é voltado para

atender as classes AA e A, e eventualmente B, e sabem que as pessoas

que vem para cá são pessoas importantes de alguma forma – artistas,

políticos, jogadores de futebol, empresários – ou até pessoas comuns.

Mas todos são tratados da mesma maneira, muito bem tratados’.

Recrutamento e seleção

O processo de recrutamento e seleção é conduzido internamente, apesar de não existir

uma área de recrutamento e seleção estruturada. Em determinado período do mês, os

candidatos são recebidos pelo Departamento Pessoal para o preenchimento de ficha,

independente de existir vaga. É grande a oferta espontânea e a indicação de candidatos

pelos funcionários.

As etapas do processo de recrutamento e seleção são: preenchimento de ficha;

apresentação de documentação; teste de conhecimento técnico (prova teórica e prática);

entrevista para avaliação de personalidade; e pesquisa (criminal, junto ao SPC e junto a

empregos anteriores).

‘Sendo este um hospital de referência, a procura é muito maior que a oferta’.

‘Por vezes, o candidato está aprovado na entrevista mas é vetado nesta

pesquisa. Por exemplo, ao pesquisarmos em empregos anteriores porque o

funcionário foi demitido e a resposta for “ele falava demais” ou “ele era

agressivo”, este perfil não interessa para nós’.

Treinamento / Desenvolvimento

O hospital investe fortemente em treinamentos. Dentre os programas internos, está o

programa de educação continuada, voltado para as áreas de enfermagem, manutenção e

limpeza, cujo foco é basicamente a atualização de métodos e o correto uso dos

equipamentos.

Dentre os treinamentos externos, destacam-se curso de inglês para enfermeiras,

participação em congressos e cursos de MBA para os níveis gerenciais. Nota-se uma

preocupação em envolver todas as áreas nos programas de treinamento, inclusive os

serviços de apoio, como lavanderia, limpeza e manutenção.

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‘Não estamos voltados só para uma área, queremos expandir, abrir a

cabeça das pessoas para que elas achem que aqui não é só um meio de

ganhar dinheiro mas também de buscar satisfação, sabendo que quanto

melhor o hospital, melhor para eles’.

O administrador do hospital faz uma breve palestra na admissão dos funcionários,

detalhando o que é o hospital, de forma que os novos funcionários tenham uma idéia

mais completa do tipo de serviço no qual estão ingressando.

Os novos médicos recebem treinamento junto aos médicos mais antigos, por no mínimo

15 dias, antes de efetivamente assumirem suas funções. O mesmo acontece com a

enfermagem, manutenção, limpeza e lavanderia, variando o período de treinamento.

Avaliação e recompensa

Não é realizada uma avaliação de desempenho formal.

‘ A avaliação é no olho e no sentimento’.

A prática do feedback contínuo e informal é estimulada.

‘A Administração está sempre de olho na recepção. Quando ocorre um

problema, chamamos a chefia que reúne o pessoal todo, conversa com

todos, explica o que está errado’.

O funcionário mais citado em elogios de clientes é premiado com um diploma, ficando seu

nome como o destaque do mês. No final do ano, o funcionário com maior destaque em

elogios recebe uma premiação.

Remuneração

Os salários são considerados na média do mercado. Todos os funcionários têm direito

aos seguintes benefícios: alimentação subsidiada, seguro saúde e anuênio (1% do salário

para cada ano trabalhado).

O hospital paga participação nos lucros há mais de 15 anos, destinando uma parcela

importante de seu lucro bruto (cerca de 10%) para ser distribuído entre todos os

funcionários.

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Plano de carreira

Não há um planejamento de carreira formal mas nota-se a preocupação em reconhecer e

promover o bom funcionário.

‘Há recepcionista que entrou no hospital como copeira, há muitos

exemplos de serventes que hoje são auxiliares’.

‘Há problemas de isonomia na nossa legislação trabalhista. Temos

alguma diferenciação, criando faixas para tentar melhorar o salário de

um funcionário, sem precisar conceder aumento a 300. É uma forma da

pessoa sentir que está sendo observada’.

Participação em decisões

Os funcionários participam de uma forma limitada no processo decisório.

‘Procuramos ouvir os funcionários, mas não na fase decisória. Uma

sugestão de uma chefia para melhoria é sempre considerada, mas não

temos uma abertura como observada em algumas empresas, nas quais

os funcionários sentam à mesa para discutir e decidir alguma coisa’.

Não há incentivos formais para que o funcionário contribua com sugestões. Como grande

parte dos funcionários está no hospital há alguns anos, o clima é favorável para que eles

expressem suas opiniões e sugestões.

Comunicação interna e externa

Não há nenhum instrumento formal de comunicação entre a Administração e os

funcionários. Todo setor tem um mural para comunicação entre seus funcionários.

O hospital evita qualquer atividade de marketing externo dirigida aos pacientes, até

mesmo página na Internet.

Os esforços são concentrados no marketing para os médicos e para os convênios e planos

de saúde. Vídeo institucional e folders, além de eventos de inauguração de novos

serviços, são utilizados para a promoção do hospital junto aos convênios e médicos. Além

disso, no contato diário com os médicos o hospital busca uma diferenciação.

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‘O médico é excelentemente bem atendido, é tratado como rei. Ele come

de graça, a hora que quiser, o que quiser. Nada é cobrado. No

estacionamento, há manobreiros para os médicos, se não houver vagas

aqui, eles levam para outro estacionamento…’.

Atividades de integração

São promovidas festas de aniversários do CTI e UI, festas juninas e de fim de ano,

abertas a todos os funcionários. O Hospital conta também com um time de futebol dos

funcionários.

Difusão das regras e políticas da empresa

As regras e políticas da empresa são difundidas para os funcionários via chefia, de uma

maneira informal, não existindo manual ou qualquer outro instrumento específico para

este fim.

Supervisão /gerência

Para o Hospital 1, um bom gerente precisa ser competente tecnicamente e compartilhar

da filosofia da empresa.

‘ O principal aqui é o paciente, tudo é voltado para que o paciente saia

maravilhado com o hospital. Não adianta ser um desagregador, não se

dar bem com os outros, viver criando problemas, criando insatisfações

com a coletividade. Isso não interessa para nós’.

Autonomia/liberdade para agir

Os funcionários tem um grau de autonomia limitado pelas normas de qualidade

implantadas. Quando o funcionário tem dúvidas de como proceder, a orientação dada é

que ele tome a decisão buscando o melhor para o hospital.

‘ Por exemplo, uma recepcionista tem algumas normas sobre o que pode

e o que não pode fazer, tem tudo codificado, quem pode entrar, quem

não pode, qual seguro...De repente, há um problema que de acordo com

seu bom senso ela deve incluir. Ela inclui e depois fala com a gente. Ela

sabe que não vai ser punida por isso, ainda que tenha agido de forma

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incorreta. O que faremos é tentar em seguida corrigir, se for o caso,

transferir o paciente. Mas ela agiu dentro do bom senso dela, tentando o

melhor para o hospital’.

Pesquisa

É realizada uma pesquisa de satisfação com o cliente no momento da alta.

‘Ao invés de vir só o elogio formal a um funcionário específico, também

há elogios formais à organização e estrutura hospitalar, o que demonstra

que estamos no caminho certo. A qualidade é tão acintosamente boa que

o cliente sempre percebe.’

As críticas da pesquisa de satisfação são direcionadas às áreas de competência, para que

a chefia responsável providencie as medidas corretivas necessárias.

‘Quando os clientes se identificam, tentamos solucionar o problema e dar

um retorno. Se for algo realmente importante, a enfermeira-chefe

retorna. Se for com relação à cobrança, o tesoureiro liga, sempre há uma

forma de dar um retorno, até mesmo o CTI. Houve uma crítica com

relação a barulho no CTI e o próprio chefe ligou se desculpando’.

Não são realizadas pesquisas com os funcionários.

‘Eles se expressam através dos canais informais´.

Estrutura organizacional

Para a Administração, a estrutura da organização é tida como um grande facilitador no

atendimento ao cliente, seja em termos de recursos humanos, equipamentos, estrutura

física e também pela cultura de qualidade em serviços da empresa.

‘Nós até poderíamos funcionar com um menor número de funcionários,

mas não com esse nível de qualidade e de atendimento. Este

atendimento visa o paciente e principalmente o médico. Por exemplo, eu

poderia ter 3 funcionários por sala de cirurgia mas em determinada

circunstância o médico não poderia marcar só com 3 funcionários. Então

nós temos 4 ou 5. É evidente que isso tem um custo maior para a

empresa, mas somos conscientes que este custo é voltado para a

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qualidade do atendimento do médico e do paciente que são basicamente

os principais clientes’.

Como forma de garantir o controle da qualidade do serviço prestado, o Hospital 1 tem

como norma não terceirizar seus serviços.

‘Nosso custo, ainda que com um número maior de funcionários, é menor

do que o das empresas terceirizadas. Nós temos consciência que o

funcionário sendo nosso com certeza vai vestir muito mais a nossa

camisa. O nosso funcionário recebe em dia, o que não se pode garantir

na empresa terceirizada, mesmo com o cliente pagando em dia’.

‘É grande o reconhecimento pelos clientes. Teve uma paciente que ficou

cerca de 55 dias internada aqui. Quando ela saiu escreveu uma carta

elogiando muito o hospital. Ora, um paciente que fica 55 dias conhece

também nossas fraquezas. Mas ela fez só elogios. É lógico que temos um

monte de falhas mas em termos de estrutura e organização, acho que

estamos muito bem’.

4.2.2 Hospital 2

Criado a partir da iniciativa de dois médicos visionários, o Hospital 2 foi fundado em 1933

como uma casa de repouso, sendo um dos primeiros hospitais privados do país. Logo as

instalações tornaram-se insuficientes para atender a demanda e a entrada de um novo

sócio possibilitou a ampliação das instalações em uma nova área.

A partir de 1966, com a segunda geração dos acionistas, o Hospital 2 passou a posicionar-

se como um hospital geral de alta qualidade, sendo hoje reconhecido como um hospital

modelo, com uma estrutura de atendimento completa e avançada, prestando atendimento

integral de hotelaria, emergência, clínico, cirúrgico, obstétrico e laboratorial.

Como reação à maior concorrência do mercado e à necessidade urgente de reduzir

custos, desde 1996 o hospital tem buscado de forma mais ativa profissionalizar sua

gestão. Em 1999, um executivo do mercado industrial assumiu a direção do hospital e

uma consultoria foi contratada para auxiliar na reestruturação organizacional. O quadro

de funcionários foi reduzido em 20% , passando a contar com 580 colaboradores.

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Em 1997, o Hospital 2 tornou-se o primeiro hospital privado na América Latina a obter a

certificação ISO 9002.

O Hospital 2 conta com os seguintes serviços: emergência; CTI com 10 leitos; Unidade

Semi-intensiva; Unidade Cardiológica Intensiva; centro cirúrgico com 5 salas,

especializado em cirurgia cardíaca; serviço de hemodinâmica; laboratório de transplante

de medula e fígado; UTI Neonatal; berçário; e 85 leitos para internação.

Ser um lugar especial para se trabalhar

Para o gerente comercial, o Hospital 2 se constitui em um lugar especial para se trabalhar

porque tem um bom clima de trabalho, valoriza o ser humano, e está em constante

evolução.

‘Talvez a gente não seja em termos de estrutura de RH e etc. tão

organizados ou adiantados como o clima que as pessoas passam. Aqui não

há um sistema de bonificação, não temos um sistema de distribuição de

lucro, mas as pessoas gostam do que fazem. (...) Então, a remuneração aqui

é dinheiro, benefícios, clima e ambiente de trabalho. As pessoas se sentem

muito participativas, tem alguma coisa no ar, as pessoas gostam do

ambiente de trabalho’.

‘Acho que o grande responsável por isso é o Dr. X1, a maneira como ele

trata as pessoas. Ele é uma pessoa que sempre deu espaço para as pessoas

crescerem, entrega projetos nas mãos das pessoas. Ele acredita nas pessoas.

Está sempre olhando à frente, delega para as pessoas, que se sentem muito

motivadas. Conversa de igual para igual, coisas bem simples mas que para o

funcionário faz uma grande diferença’.

‘As pessoas sabem, mesmo as mais novas observam, que somos muito

dinâmicos. As coisas aqui estão sempre mudando. Às vezes acertamos,

outras erramos, mas estamos sempre mudando. Trabalhar em um local onde

as coisa estão sempre mudando é legal, sensação de novo, não se está

fazendo todo dia a mesma coisa’.

1 Filho de um dos sócios-fundadores e ex-presidente da empresa

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Recrutamento e seleção

O Hospital conta com uma área de recrutamento e seleção estruturada, dentro do

departamento de Recursos Humanos. A fonte de recrutamento é tanto interna

(funcionários e banco de currículos encaminhados espontaneamente), quanto externa

(agências, consultorias e anúncios em jornal).

As etapas do processo seletivo são: análise de currículo, entrevista com psicólogo, testes

práticos e psicológicos, testes grafológicos, dinâmicas, entrevista com a área solicitante, e

pesquisa sobre a vida pessoal e profissional.

‘Primeiro olhamos dentro de nosso cadastro interno se tem funcionários

que atendam às necessidades e perfil do cargo solicitado. Depois

fazemos uma bateria de testes para verificar se esse profissional se

enquadra dentro deste perfil, com testes práticos e psicológicos. Não

tendo candidato interno, nós buscamos através de agências ou de

currículos que temos’.

‘Além dos testes psicológicos, utilizamos também a grafologia. Esta é

capaz de medir a habilidade de comunicação interpessoal e a orientação

para o atendimento. A tendência da letra, sua inclinação, a maneira como

a pessoa escreve. A partir da grafologia é possível traçar um perfil da

pessoa, o qual será confirmado em dinâmicas. O candidato pode até

tentar mascarar alguma coisa na entrevista, mas com estes testes

conseguimos definir o perfil, o caráter dele. Temos uma série de

instrumentos para puxar o melhor possível’.

Treinamento

No ano de 1999, como conseqüência do processo de reestruturação, os treinamentos

foram reduzidos drasticamente. O histórico do hospital, porém, aponta para uma

preocupação com o desenvolvimento de seu pessoal, não restrito ao aspecto técnico.

‘Me lembro de quando teve aqui um movimento de desligamento de

funcionários fizemos um programa de sensibilização, com palestras

explicando como estava a situação do país, que o que estava

acontecendo aqui era uma adequação ao momento do país (Ex.:

Emprego e empregador: qual será a relação no futuro?). O objetivo era

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passar para as pessoas que não tem acesso à informação o que está

acontecendo aí fora’.

‘Teve uma época que fizemos um trabalho em que cada um falava um

pouco sobre o seu setor para que os outros entendessem porque tinham

que preencher aquele papel que ele acha que não serve para nada,

passar um pouco mais de conhecimento sobre a empresa’.

Um plano anual de treinamento é aprovado no início do ano, com base no levantamento

de necessidades apontadas pelas áreas. As chefias indicam que treinamentos são

necessários em função das avaliações de desempenho. O planejamento contempla

treinamentos motivacionais, técnicos e de atendimento ao cliente, realizados interna e

externamente, envolvendo todos os funcionários, mas com maior ênfase na equipe de

enfermagem. O nível gerencial participa de MBAs e programas afins.

‘Há um planejamento anual, com enfoque geral: motivacional, técnico e

atendimento ao cliente. Principalmente atendimento ao cliente porque

toda a nossa prestação de serviço visa o cliente, tanto interno quanto

externo. Principalmente o interno. O cliente interno tem que estar bem

preparado para poder receber o externo. Estamos procurando tornar isso

bem claro para todos os funcionários’.

O programa de integração está sendo revisto pelo novo coordenador de recursos

humanos. Este programa estava restrito à equipe de enfermagem e enfocava temas como

o que é o hospital, seus objetivos, sua missão e a política da qualidade. A idéia é estender

este programa a todos os novos funcionários e incluir aspectos como direitos e deveres do

funcionário e focar na questão do atendimento ao cliente.

‘Um dos objetivos desta nossa integração seria enfocar esta parte: o

cliente tem sempre razão. Tentar que o nosso funcionário tenha um

tratamento personalizado para cada cliente. De uma certa forma isto já

vem sendo trabalhado mas daqui para frente enfocaremos mais esta

visão. O atendimento ao cliente é fundamental. Vamos primeiro trabalhar

o nosso funcionário. O objetivo é que ele tenha flexibilidade, tenha

empatia com a pessoa que está chegando, saber como está o momento

daquela pessoa’.

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Avaliação

Semestralmente são realizadas avaliações de desempenho, com todos os funcionários.

‘Ainda é uma avaliação de cima para baixo, o chefe direto avaliando seu

subordinado. É um começo, acho que estamos bem na frente de muitos

hospitais, mas ainda não é completa. Uma coisa que eu sempre achei

que devíamos fazer é a avaliação de um setor por outro setor cliente.

Uma tentativa de acabar com os feudos. Por exemplo, se o setor X não

se dá com o setor Y, vamos trazer isto à tona. Pode ser que um setor que

seja super bem visto pelo cliente externo seja pessimamente visto pelos

clientes internos’.

Neste processo de reestruturação, o hospital vem buscando criar instrumentos de

avaliação mais objetivos. Cursos, palestras, e até dinâmicas estão sendo utilizados para

aferir se o funcionário tem efetivamente condições de ser promovido.

‘Havia muita promoção sem sentido, para dentro de dois meses

começarem as críticas ao funcionário promovido. Identificamos que havia

favorecimento’.

Quando o funcionário é elogiado por um cliente, o chefe deste funcionário pode indicar

seu nome para funcionário do mês. Um comitê avalia os indicados e escolhe um nome. O

funcionário do mês recebe uma placa durante um almoço ou lanche especial, com direito

a discurso do chefe e citação no jornal interno.

‘Optamos por dar a placa e não dinheiro porque acreditamos que seja

algo que se perpetue. O funcionário coloca a placa em casa, alguém

pergunta, ele é estimulado a relembrar’.

Remuneração

Os salários do Hospital 2 estão na média de mercado, sendo os benefícios considerados

acima da média. São concedidos: plano de saúde, cesta básica, adiantamento de

quinzena, seguro de vida, microônibus para facilitar o acesso ao Hospital, estacionamento

para os funcionários, alimentação subsidiada, auxílio-creche além do previsto pela lei,

auxílio-farmácia, empréstimo especial para situações emergenciais. Muitos destes

benefícios nasceram de solicitações dos funcionários.

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‘Uma coisa que a gente sempre repete para as pessoas que vêm para cá

é como é a remuneração: o salário que se coloca no bolso no final do

mês, os benefícios, o clima de trabalho e a abertura que as pessoas tem

para crescer aqui dentro. Quem vem para cá pensando só em salário e

benefícios, não está no melhor lugar. Principalmente, salário. Não temos

o melhor salário do mercado de hospitais. O melhor salário é o do

Hospital 3. Lá tem um excelente salário mas um péssimo ambiente de

trabalho’.

‘Até o presidente, recém-contratado, vindo de indústria, comentou que

damos muitos benefícios, mais até que empresas com faturamentos bem

maiores’.

‘ No final de 98, com o objetivo de atingir também o núcleo familiar, os

funcionários com filhos de 0-14 anos ganharam presentes para os filhos,

divididos por faixa etária. Ganharam também uma cesta de natal com

produto típicos da época, mais uma cesta básica e 1 kg de bacalhau. Esta

é a nossa política: quem está aqui tem que se sentir orgulhoso de

trabalhar aqui’.

Plano de carreira

Os cargos têm três níveis: inicial, médio e final. Em função da avaliação de desempenho,

o funcionário pode ser promovido para um nível acima. Toda a política de cargos e

salários está sendo revista neste processo de reestruturação.

‘O RH procura hoje trabalhar da maneira mais justa possível. Trilhar um

caminho certo. Ser igual para o jardineiro, para o encarregado, para todo

mundo’.

Participação em decisões

O incentivo à participação dos funcionários é parte da cultura do Hospital, mas não existe

nenhum programa sistematizado que incentive o funcionário a dar idéias e sugestões ou

que oriente o gerente a permitir um maior envolvimento dos funcionários nas decisões.

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Logo, o grau de participação do funcionário no processo decisório varia de acordo com o

perfil de cada gerente.

‘ (…) nós tínhamos um funcionário que trabalhou por 25 anos em um

laboratório. Ele era entusiasmado pelo Hospital, ele dizia que aqui ele

podia pensar, podia falar o que quisesse, podia dar idéias. Lá, ele se

sentia mecanizado. Acredito que faz parte da cultura, isso do funcionário

dar idéias, opinar, falar’.

Pesquisas

Quando o paciente é internado recebe o formulário da pesquisa de satisfação que deve

ser devolvido no momento da alta. O índice de retorno de preenchimento é em torno de

30-40% e os resultados apontam para um índice de satisfação considerado muito bom.

Complementar à pesquisa de satisfação, existe a ouvidora, que realiza um trabalho diário

de visitação e contato com os pacientes internados e uma pesquisa pós-alta, ligando para

cerca de 50% dos pacientes que responderam a pesquisa. Também há uma pesquisa

com os clientes na Internet, mas pouco utilizada.

‘Percebemos que as pesquisas passaram a vir mais light, porque se tem

uma pessoa tentando resolver o problema na hora, que vai ao quarto

todo dia’.

A pesquisa é processada mensalmente pelo Comitê de Qualidade e divulgada on line para

determinados níveis hierárquicos. As áreas que tiveram reclamações devem enviar à área

de marketing um relatório com as justificativas para os problemas apontados, as

providências que estão sendo tomadas, as não conformidades que foram identificadas e

os registros de reclamações de clientes que foram abertos.

As reclamações, cartas ou telefonemas de clientes são respondidas pela ouvidora ou pelo

responsável pela área. Quando há reclamações sobre determinado funcionário, este é

chamado para que possa se explicar e relatar o que aconteceu. As providências são

tomadas, de acordo com a avaliação da chefia da área. A ação pode inexistir, porque

conclui-se que o paciente é o complicador da história, ou pode-se chegar até a uma

advertência, suspensão ou desligamento do funcionário.

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São realizadas pesquisas anuais com os principais convênios, através de entrevistas

pessoais conduzidas pela ouvidora. Os médicos e os fornecedores também participam de

pesquisas de avaliação do Hospital 2.

A pesquisa de clima organizacional com os funcionários é conduzida anualmente por

Recursos Humanos. Os resultados são divulgados somente para as gerências envolvidas

nos problemas levantados. Devido ao processo de reestruturação, excepcionalmente

neste ano não foi realizada.

‘Não adiantava fazer uma pesquisa porque já sabíamos o que iríamos

escutar’.

‘ RH tem acesso ao resultado da pesquisa com o cliente externo mas nós

não disponibilizamos a pesquisa de clima para marketing’.

Além da pesquisa de clima, a psicóloga ligada ao departamento de recursos humanos

desenvolve um trabalho de ouvidoria com os funcionários: o funcionário liga ou escreve

relatando seus problemas e dificuldades, mantendo-se anônimo.

Supervisão/gerência

Para o Hospital 2, as seguintes qualidades caracterizam um bom gerente: liderança

democrática, não imposta; estímulo aos funcionários; incentivo ao trabalho em equipe;

cuidado com o ser humano e o cumprimento de prazos e metas.

‘Quando há respeito mútuo, uma relação bem democrática, informal, é

provado estatisticamente que o funcionário tende a superar a meta. Ele

não se preocupa com a meta, ele quer provar que é capaz de mais.

Então, uma perfeita sintonia entre chefe e subordinado caracterizaria um

bom gerente’.

Comunicação externa

O Hospital 2 reconhece que possui três públicos distintos, que precisam ser trabalhados

em sua comunicação externa: os pacientes, os médicos e os convênios. Na avaliação do

gerente comercial, o público melhor trabalhado é o formado pelos pacientes e o pior

trabalhado é o dos médicos.

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‘ Hoje vamos oferecer um jantar para 150 médicos, no dia do médico

enviamos uma cesta de café da manhã, eles adoram, mas o dia-a-dia

precisa melhorar. Não temos ouvidor de médicos... Nós não trabalhamos

o médico como o Hospital 1 trabalha. Mudamos o lanche do centro

cirúrgico, aumentamos as salas dos médicos, eles gostam disso, gostam

de ser paparicados, são carentes por natureza’.

Uma nova versão do vídeo institucional, novos impressos, a atualização mensal da relação

dos convênios, e um incremento nas atividades do centro de estudos e pesquisas surgem

como exemplos de ações voltadas para os médicos que precisam ser implementadas.

Há cinco anos o Hospital organiza um congresso, com simpósios de cardiologia, terapia

intensiva, emergência, enfermagem, medicina preventiva e gestão em saúde.

‘Este ano foi fantástico, 1200 pessoas.(…) Consideramos o congresso

uma forma fantástica de divulgar a instituição. Agora, temos que fazer

isso e em seguida tem que haver sustentação, manutenção, trabalhar o

dia-a-dia’.

O Hospital 2 possui uma publicação trimestral com temas variados sobre medicina e

saúde, que é distribuída para os usuários do Hospital e para todas as pessoas que

solicitarem através da página na Internet. Sendo considerado referência para o

tratamento cardiológico, o Hospital 2 dispõe também de uma publicação voltada para o

público de cardiologistas.

‘Agora temos uma nova pessoa em marketing e estamos procurando

fazer uma campanha mais estruturada, não em espasmos como

fazíamos. Temos uma verba, um orçamento para a área de marketing

divulgar os serviços, estamos freqüentemente na mídia, passando uma

mensagem (centro de diagnóstico, emergência, etc.), de uma forma

estruturada que agregue valor’.

Com relação aos convênios, o gerente comercial avalia muito positivamente o trabalho de

marketing externo desenvolvido.

‘Sem nenhuma modéstia, consegui construir a melhor relação dos

hospitais do Rio de Janeiro com os convênios. Isto eu escuto deles. Eu

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prego uma coisa: relacionamento. Eu preciso deles e eles precisam de

mim’.

O Hospital 2 vem trabalhando com uma assessoria de imprensa, o que tem contribuído

para uma mudança positiva em sua imagem.

‘Hoje estamos abertos à imprensa, recebemos, somos consultores para

determinados aspectos’.

A divulgação de indicadores de qualidade é uma idéia a ser implementada como reação

ao aumento da concorrência.

‘Estamos com a idéia de divulgar indicadores. Hoje a preocupação é só

custo, custo. Vamos ao convênio dizer que nossa cirurgia cardíaca custa

tanto e tem um índice de sucesso de 98%. É preciso trazer a variável

qualidade para a discussão’.

Comunicação interna

A comunicação interna se processa através de jornal interno, reuniões, murais, e correio

eletrônico, este último bastante explorado pelo alto grau de informatização do hospital. O

departamento de recursos humanos é responsável pelo jornal interno. Mensalmente este

é endereçado a cada funcionário e contém informações gerais, do mercado, aspectos

motivacionais e operacionais.

As reunião com gerentes e chefias é o veículo utilizado para a comunicação de mudanças

no Hospital e no setor de saúde, novas estratégias e projetos. Nos murais e correio

eletrônico são veiculados todo tipo de informação.

Atividades de integração

Eventos como olimpíada, festa de final de ano, concurso de desenho para os filhos de

funcionários são promovidos periodicamente. Há a preocupação de também envolver os

serviços terceirizados nas atividades de integração.

‘A partir de certo momento tivemos a idéia de aproximá-los, porque eles

também são a cara da clínica. O cliente não sabe se ele é ou não

funcionário da clínica, nem tem que saber’.

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Difusão das regras e políticas da empresa

A missão da empresa e a política de qualidade do Hospital são divulgados em diversos

canais: crachá, computadores, jornal interno, Internet, quadros e murais. Não existe um

manual operacional ou um regulamento interno do Hospital mas na admissão o novo

funcionário recebe uma breve orientação por escrito.

‘Na época da certificação da ISO, teve uma campanha, a McISO.

Compramos cupons do McDonald’s de uma campanha beneficente. Os

primeiros 100 funcionários que declamassem a missão ganhavam o

cupom. E vamos inventando maneiras criativas de isso não se perder de

vista. Acredito que todos os funcionários tem o conceito da missão bem

claro’.

Autonomia/liberdade para agir

Os funcionários tem um grau de autonomia limitado pelo seu nível hierárquico e pelas

normas de qualidade implantadas.

Estrutura organizacional

A cultura do Hospital de valorização das relações humanas é apontada como um grande

trunfo para a qualidade do atendimento ao cliente, aliada ao intenso treinamento para a

enfermagem.

‘A cultura de que o atendimento ao paciente é prioritário ajuda muito’.

Há questionamentos sobre até que ponto a cultura e a orientação para o cliente estejam

sendo afetadas pelo processo de reestruturação pelo qual o Hospital está passando.

‘Ocorreram mudanças necessárias, outras sabemos que tiveram impacto

no atendimento ao cliente. Mas isso não pode ser nossa filosofia, tratar o

cliente pior do que ele vinha sendo tratado. Nossa sobrevivência depende

deles’.

As políticas e procedimentos adotados, principalmente em função das normas ISO 9002,

tem contribuído fortemente para melhorar o atendimento ao cliente.

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‘Hoje uma reclamação feita é tratada através de uma sistemática, são

apontadas as não-conformidades, tem o registro de reclamação do

cliente, as coisas não ficam soltas’.

Um aspecto considerado como um dificultador no atendimento ao cliente é a logística.

Como grande parte dos hospitais do Rio de Janeiro, o Hospital 2 era uma pequena clínica

que foi aos poucos tendo sua estrutura aumentada.

‘Não temos como ter um sistema de fornecimento de materiais e

medicamentos através de monta-carga. Temos 4 recepções. Acabamos

pagando um custo alto, temos funcionários que são pagos só para subir e

descer levando medicamentos’.

Outro aspecto que precisa ser melhorado para não comprometer a qualidade do

atendimento é a comunicação entre os departamentos.

‘Talvez com uma avaliação 360º, um trabalho entre os departamentos,

fosse benéfico para as pessoas entenderem que fazem parte do

processo(...) As pessoas precisam entender que não basta fazer só a sua

parte, à sua maneira, tem que ver o todo’.

Os recursos humanos e tecnológicos (equipamentos e informática) auxiliam na oferta de

um serviço diferenciado.

A preocupação de ter o melhor ambiente possível para o funcionário sempre fez parte da

política da empresa, o que se reflete na diretriz básica de Recursos Humanos: fazer com

que o funcionário sinta-se bem no seu local de trabalho. O projeto Qualidade de Vida foi

implementado com este objetivo.

‘ O nosso objetivo é que o funcionário pense duas vezes antes de sair da

Clínica, dando uma série de benefícios, enfim fazer o local agradável para

se trabalhar. Também estamos investindo no lado familiar do funcionário.

Não adianta nada estar bem na Clínica e estar cheio de problemas em

casa. Estamos fazendo um acompanhamento do funcionário,

identificando problemas existentes junto à família e tentando solucioná-

los, por vezes até fazendo uma visita in loco com a nossa psicóloga’.

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4.2.3 Hospital 3

O Hospital 3 surgiu em 1923, fundado por uma congregação religiosa, que sempre esteve

voltada para o atendimento a doentes domiciliares e à educação dos jovens.

O Hospital conta com cerca de 1.000 funcionários próprios e mais 700 prestadores de

serviço. Os serviços disponíveis são: CTI adulto, com 19 leitos; UTI coronariana, com 9

leitos; emergência cardíaca; serviço de diagnóstico por imagem; centro cirúrgico; UTI

neonatal com 17 leitos; berçário; e 186 apartamentos para internação.

Ser um lugar especial para se trabalhar

O principal aspecto que torna o Hospital 3 um lugar especial para se trabalhar é o seu

caráter humanista e assistencial, decorrente do fato de pertencer a uma entidade

religiosa, e não possuir fins lucrativos.

‘O Hospital tem uma mescla de uma organização com uma estrutura

firme, pesada, com suas normas rígidas, e por outro lado tem aquela

coisa assistencial, assistencialista, humanitária, que vem do próprio

caráter da instituição religiosa’.

Recrutamento e seleção

Todo recrutamento é conduzido pelo psicólogo do departamento de Recursos Humanos.

Noventa por cento dos candidatos surgem através da indicação de funcionários e da

oferta espontânea, sendo raras as vezes em que se faz necessária a publicação de

anúncios em jornal para recrutamento. O recrutamento interno é freqüente mas não é um

processo sistemático.

‘Pelo tipo do hospital, nossa média salarial é boa com relação ao mercado

de saúde, temos uma procura muito maior do que conseguimos

absorver’.

A seleção começa com a análise do currículo. A etapa seguinte envolve a avaliação do

perfil do candidato através de entrevistas e testes psicotécnicos. Após a avaliação do

psicólogo, o candidato passa por uma série de entrevistas com a área solicitante (chefe

direto, supervisor) e com a direção (gerente administrativo, gerente financeiro, ou diretor

médico) para avaliação da capacitacão técnica e da personalidade.

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‘ Nós (Direção) temos o hábito de entrevistar candidatos para conhecer

quem está entrando. Isso para quase todos os cargos’.

Treinamento

Antes de serem alocados em suas áreas, os novos funcionários são apresentados aos

diversos departamentos percorrendo todo o Hospital. Ao final do primeiro mês ocorre uma

manhã dedicada à integração dos novos funcionários, onde eles recebem uma série de

informações sobre o Hospital, seus objetivos, sua missão e estrutura organizacional. Estas

palestras são feitas pela diretora geral, pelo administrador, pelo gerente de Recursos

Humanos e pela chefe da enfermagem.

Após a manhã de integração, uma equipe de educação continuada faz um

acompanhamento do funcionário visando a assimilação da cultura da instituição. O

psicólogo faz reuniões semanais com os grupos, abordando questões comportamentais, e

buscando um feedback do funcionário.

O Hospital 3 reconhece que muitas vezes o comportamento do funcionário pode ser

conseqüência de determinadas normas da instituição. Quando o funcionário apresenta um

problema pessoal com interferência no trabalho, o psicólogo presta atendimento

individualizado, mediante solicitação da chefia.

‘ Sempre que temos um problema, tentamos primeiro ver se conseguimos

dar uma solução. Nos casos em que isso não é possível, acaba evoluindo

para uma demissão. Mas já tivemos casos que conseguimos contornar

com a atuação do psicólogo’.

Com base no levantamento das necessidades de treinamento das áreas, uma

programação anual de educação continuada é elaborada por uma comissão

multidisciplinar, composta por cinco membros, a saber: o administrador, a diretora de

enfermagem, uma supervisora de enfermagem, um médico do trabalho e uma

nutricionista.

‘Isso é uma experiência nova, tem um ano que está funcionando e

notamos que os resultados são muito melhores do que aquele sistema de

educação continuada tradicional, onde tínhamos uma funcionária que era

responsável pela área e que acabava treinando só a enfermagem, porque

ela era uma enfermeira e não existia essa integração’.

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A comissão define a programação com base também nos comentários e sugestões dos

funcionários e no foco estratégico da empresa. Há a preocupação de envolver todos os

funcionários, da manutenção à administração. Mensalmente são realizadas várias

atividades, dirigidas a cada grupo específico.

‘ Todos os serviços de apoio têm uma relação muito grande com o cliente

e nós temos uma preocupação muito grande com isso’.

‘ Pode ser que em um mês se trabalhe mais com a manutenção, no outro

com a lavanderia, mas a enfermagem todo mês tem. Isto porque a

enfermagem é um grupo que representa 55% do nosso pessoal. É um

grupo muito grande e é um grupo técnico, aquele pessoal que lida com o

doente. Então, o aprimoramento na enfermagem é contínuo’.

Como existe esta grande preocupação com a qualificação da equipe de enfermagem, além

dos treinamentos internos, são promovidas parcerias com escolas para cursos in

company.

‘Nós já formamos três turmas em técnicos de enfermagem. Terminou

agora uma turma de 2º grau com 34 alunos de todas as atividades,

principalmente da enfermagem. Agora, começa o último curso de

técnicos de enfermagem, através de uma parceria entre a empresa e a

escola. Ao invés do aluno sair daqui, ter que pegar um ônibus, ir para a

cidade, nós cedemos a área, os professores vêm para cá e eles fazem o

curso aqui dentro’.

‘Temos um projeto muito interessante para esse ano que é o curso de pós-

graduação para os enfermeiros em gestão em enfermagem. Devemos

estar fazendo o primeiro aqui, com a participação de uns 30 enfermeiros,

quase o volume total dos enfermeiros do hospital’.

‘Nós hoje quase não temos auxiliar de enfermagem, trabalhamos

praticamente só com técnicos. É um comportamento do mercado.

Quando que um hospital antigamente se preocuparia em ter só técnicos

e não auxiliares?’.

Os funcionários interessados em cursar faculdade contam com o apoio do hospital,

através de flexibilidade de horário.

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‘Temos, por exemplo, técnicos de enfermagem formados aqui e que já

estão fazendo faculdade, com todo apoio da casa. Não fornecemos

bolsas, damos o apoio logístico’.

Fazendo parte de uma entidade religiosa que conta com mais seis hospitais no Brasil,

além das atividades de treinamento próprias, o hospital participa de eventos de

integração e treinamento promovidos pela instituição.

‘Tem o congresso da associação de administração que vai acontecer em

setembro, onde toda a entidade pára e discute questões administrativas, e

uma porção de outros eventos que acontecem pela instituição’.

Um projeto a ser desenvolvido no futuro é o centro de estudos na área médica, que

congregará parte da educação continuada e da pesquisa médica.

Avaliação

Não há uma avaliação de desempenho formal, com critérios definidos ou qualquer tipo de

registro.

‘A avaliação é contínua. Por exemplo, a supervisão e chefia estão sempre

analisando o desempenho. Quando há um problema, envolve

profissionais de outras áreas, na tentativa de solucioná-lo. Mas ela é

contínua e não tem uma metodologia, acho que nisso nós não

evoluímos’.

Quando ocorre alguma reclamação do cliente sobre o atendimento, o funcionário é

chamado para explicar o motivo de sua conduta. Por vezes a própria Direção, junto com o

psicólogo, é quem trata diretamente com o funcionário. São desenvolvidos trabalhos com

o funcionário para que as dificuldades, até mesmo as de caráter pessoal, sejam resolvidas

e não incorra novamente em comprometimento da qualidade do serviço.

‘Às vezes são reações que ele teve provenientes de algum outro

problema, determinada resposta atravessada ao cliente que não tinha

porque dar. Nós conversamos muito, chamamos as pessoas envolvidas, e

forçamos para consertar. Isso não pode acontecer. O doente está

extremamente fragilizado, a família também. O mínimo que temos que

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ter – todos nós, desde a enfermeira, a administração, a limpeza – é

respeito pela dor e pela dificuldade do outro’.

‘Nós temos um grande número de funcionários que nós sabemos que não

vive bem. Mesmo com um salário razoável com relação ao mercado, é

aquém das necessidades. Então, eles acabam trazendo e tentamos

trabalhar isso, no sentido de resolver e evitar ao máximo acabar

perdendo o funcionário sem tratar qual é o problema’.

Pesquisas

Uma profissional formada em hotelaria é responsável pela condução de entrevistas

pessoais com os pacientes internados, para avaliação da qualidade dos serviços. Além das

entrevistas pessoais, questionários para avaliação da satisfação são entregues a todos os

clientes, sendo o índice de resposta de 30%.

No formulário que o paciente recebe no momento da internação, ele avalia todos os

serviços, desde a hotelaria, o atendimento na internação, até o estacionamento. No final

do questionário, há espaço para que o paciente faça seus comentários.

Os resultados das pesquisas e os elogios e as críticas recebidos através de cartas e

telefonemas são discutidos mensalmente em reuniões com todas as 30 chefias, que ficam

responsáveis por repassar os resultados para seus funcionários.

‘Isso é feito sistematicamente, mensalmente nós sentamos com a

direção até o encarregado mais simples. Estes depois vão se reunir com

seus funcionários. Discutimos e avaliamos o que pode ser melhorado, a

própria hoteleira já traz alguns projetos. Muitas coisas nós mudamos aqui

de acordo com as sugestões dos próprios pacientes e acompanhantes’.

Não são realizadas pesquisas com os funcionários. Para os médicos, há uma pesquisa

específica para a avaliação do centro cirúrgico.

Remuneração / Recompensas

O Hospital 3 tem um dos melhores salários do Rio, comprovado periodicamente em

pesquisas salariais. A política salarial vigente privilegia os funcionários de menor nível.

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‘Nós pagamos mais para quem ganha menos. Então, você pega uma

chefia e vê que não tem um salário tão maior do que o mercado, que

acompanha o mercado. Mas, por exemplo, os auxiliares de cozinha, os

auxiliares de limpeza, estes ganham muito bem. Nosso menor salário

aqui deve estar entre R$ 400,00 e R$ 500,00’.

Os benefícios concedidos são os obrigatórios, mais plano de saúde, alimentação

subsidiada, e o projeto habitacional. O Hospital está estudando a oferta também de um

plano odontológico.

O projeto habitacional nasceu da constatação in loco das condições de moradia dos

funcionários. Uma parceria com a Caixa Econômica Federal possibilitou a construção de

um conjunto habitacional com 120 apartamentos de dois quartos em Del Castilho. O

Hospital comprou o terreno, contratou a construtura, revendendo depois para os

funcionários os apartamentos em cotas a preço de custo. O critério de seleção dos

candidatos foi senioridade na empresa e as condições de risco da atual moradia, sendo

requisito básico não ser proprietário de imóvel.

‘No Rio, onde os problemas sociais são os maiores de toda a rede, foi

feito esse projeto habitacional, que tem um alcance bem interessante.

Hoje temos 100 famílias de funcionários que já são proprietárias, que vão

se mudar para lá’.

Para a Direção, outro grande benefício é a questão da educação, através dos convênios

com as escolas.

‘Ele talvez não seja medido como um benefício, porque não é uma coisa

dada como a alimentação, mas eu acho que mais do que qualquer coisa

tem que preparar. Quem não tiver o segundo grau, não se especializar

daqui há 5 anos, não vai ter o que fazer. Quem não correr atrás, não vai

ter mercado’.

Face ao grande transtorno que o problema do absenteísmo dos funcionários acarretava

para o Hospital, que precisa funcionar 24 horas, foi instituída uma premiação por

assiduidade.

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‘Então, a premiação é por assiduidade. Mas quanto a questão de

atendimento não, porque é uma das premissas que a casa quer como

universal: o atendimento tem que ser de excelência’.

Plano de carreira

Não existe um plano de carreira ou de salários. Cada cargo tem apenas um nível.

‘Por exemplo, técnicos de enfermagem. Temos 200 funcionários, mas o

salário em torno dos técnicos é igual. O que muda é com prêmio, com

anuênio. Só no período de admissão os salários são diferentes’.

Participação em decisões

As chefias são orientadas no sentido de permitir abertura suficiente para que os

funcionários participem.

‘Por exemplo, acontece um problema grande na manutenção. A primeira

coisa que você faz é perguntar ao encarregado da manutenção qual é a

melhor solução. São eles que sabem, o melhor olho está ali, em quem

está no operacional. Então, a gente orienta muito nesse sentido. É lógico

que tem chefias que cumprem mais, vai depender do perfil da pessoa,

mas é algo que está na cultura da organização’.

Supervisor/gerente

Para o Hospital 3, um bom gerente é aquele que é muito competente tecnicamente, tem

a completa noção de sua responsabilidade, consegue tocar o serviço com tranqüilidade,

orienta seus funcionários, tem um bom relacionamento interpessoal e discernimento para

escalar os problemas que estejam acima de suas responsabilidades.

‘Eu costumo dizer que o melhor gerente é aquele que sai de férias, vai e

volta, e você vê aquele setor perfeito. Nós identificamos muito bem isso

aqui na organização. Tem pessoas que tem um perfil mais centralizador,

que você vê que quando saem as coisas tendem a não dar muito certo’.

‘Se tem entrosamento, se tem uma chegada boa no paciente, na família

e a interação entre as outras unidades. Porque uma coisa muito

importante nos hospitais é a comunicação entre as unidades. Então, um

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problema pessoal acaba criando uma série de problemas, que são

absolutamente evitáveis’.

Comunicação interna

A comunicação interna é considerada ‘um pouco informal’. Parte da comunicação é feita

via documento, memorando, instruções técnicas, correio eletrônico, ou mural mas grande

parte também acontece em conversas informais.

‘Você vai chamando, conversa com a internação, resolve o problema da

internação’.

Não há jornal interno. Os memorandos abordam basicamente questões técnicas,

alterações nos convênios, comunicação de novos serviços ou rotinas de enfermagem. A

comunicação no mural também restringe-se a questões técnicas.

A comunicação entre os departamentos é considerada um desafio: precisa ser trabalhada

e estimulada continuamente.

‘Sempre acaba tendo alguma coisa com algum departamento. A coisa é

mais pessoal do que qualquer outra coisa. Este é um trabalho que tem

que ser contínuo, você vai ter que fazer isso a vida inteira no sentido de

que eles passem a interagir com a maior tranqüilidade possível. São

visões diferentes, são pessoas com preparos diferentes que tem que

interagir. É um trabalho de bastidores que tem ser feito continuamente’.

Comunicação externa

O marketing externo do hospital é restrito à comunicação de novos serviços. A única

exceção é a página na Internet. A ausência de atividades de marketing externo, até

mesmo de uma assessoria de imprensa, em parte pode ser explicada pelo fato do Hospital

estar vinculado a uma instituição religiosa.

‘Este ano até vamos fazer alguma coisa em função da abertura dos novos

serviços de cardiologia. Vamos divulgar um dia no jornal O Globo,

quando inaugurarmos todo o serviço. Estamos também fazendo um

volume bom de folders para divulgação dos novos serviços. Os folders

serão distribuídos para os médicos, para os moradores da região que a

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gente abrange, para as empresas e convênios. Devemos também estar

fazendo um informe em um guia de turismo, até porque recebemos

muitos estrangeiros’.

Em função das mudanças do mercado, um processo de reestruturação do hospital foi

iniciado de forma a manter a competitividade, resultando na reforma de toda a estrutura

de hotelaria, e na aquisição de novos equipamentos e aparelhos. O objetivo do hospital é

claramente o marketing boca-a-boca.

‘A gente quer o marketing do cliente, que é aquele cliente que diz; "olha,

lá no Hospital 3 eu fui bem atendido, pela enfermagem, a pessoa da

internação...". Este é o que nos preocupa mais e onde a gente olha mais

até do que fazer alguma coisa de divulgação na imprensa’.

‘Nosso marketing é todo direcionado na qualidade do atendimento. Nós

temos uma cobrança muito grande. Acho que o nome do hospital vem

por causa disso. Tem gente nasceu aqui há 40 anos, o filho nasceu há 20

anos, e trazem sempre a mesma idéia: que o hospital é muito limpo, são

bem atendidos pela enfermagem, que o corpo médico é bom. Então é

isso que faz o marketing mais duradouro que tem, é o que tentamos a

cada dia melhorar’.

Toda a comunicação com os médicos cadastrados é feita via diretoria médica. Não há

nenhum tratamento diferenciado para os médicos, somente um lanche no centro cirúrgico

e o estacionamento gratuito, como em todos os hospitais.

O Hospital 3 conta com um departamento para o relacionamento com os convênios. A

negociação com os convênios é considerada uma das atividades mais difíceis do hospital.

‘Nós tentamos manter uma relação mais próxima possível. Nós temos

quase 60 convênios aqui no hospital, fazemos 1.400 internações por mês.

Pelo volume do hospital, é tranqüilo. Há um pouco mais de dificuldade

quando você negocia alguma coisa nova’.

Eventos de integração

Como eventos de integração são organizados uma confraternização de final de ano e uma

festa junina. Os aniversariantes do mês são comemorados com uma missa e depois um

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bolo no refeitório. Também são comemorados os dias da enfermagem, dos médicos e do

padroeiro do Hospital com algum tipo de festividade.

Difusão das regras e políticas

Os novos funcionários recebem o regulamento interno, onde estão todos os direitos,

deveres e normas da instituição, que são atualizados anualmente. Além do regulamento

interno, existe o manual de normas e rotinas de cada unidade.

O Hospital tem sentido a necessidade de reforçar suas políticas através de treinamentos.

‘O reforço dos aspectos quanto à missão, objetivos e estratégia é uma

coisa que não está muito oficial. Acredito até que precisamos dar uma

reforçada. Nós nos preocupamos mais com quem está entrando e

deixamos os outros meio de lado’.

Autonomia / liberdade para agir

Embora no discurso o Hospital procure dar o máximo de autonomia, o próprio tamanho

da empresa acaba impedindo que isso ocorra na prática.

‘Quando a empresa é muito grande, ela acaba tomando mais cuidados e

acaba coibindo muito isso. Nós sabemos disso e isso é até uma

preocupação nossa: têm pessoas que tem muito talento que acabam não

usando tanto em função do própria peso da instituição’.

Em uma situação de dificuldade com o cliente, se o funcionário não sabe como proceder,

ou está em dúvida, ele deve procurar seu superior imediato ou a hoteleira.

‘Por exemplo, um funcionário da internação, tudo que é atribuição dele

ele vai fazer, toda liberação, papelada. Aquilo que é sua atribuição ele

tem a perfeita noção, mas de repente aconteceu um problema maior,

uma coisa que foge da rotina, que ele não está preparado. Então, ele

imediatamente aciona a pessoa da hotelaria e essa pessoa vai até o

apartamento, ajudar a resolver, vai providenciar uma mudança, uma

transferência. É a pessoa que centraliza isso’.

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Estrutura da organização

A Direção do Hospital acredita que a estrutura organizacional contribui para a qualidade

do atendimento ao cliente, seja em termos de instalações físicas ou de recursos humanos,

materiais e tecnológicos.

‘Nós trabalhamos com um quadro de 7 funcionários por leito. Essa é uma

média muito alta’.

‘Os recursos materiais e tecnológicos são uma preocupação fundamental

nossa. Tudo que a casa usa é material de primeira linha, tanto o material

de consumo quanto a aparelhagem. Temos toda a aparelhagem

necessária para que o médico possa fazer um bom diagnóstico’.

‘Só nesta parte nova de imagem e cardiologia nós temos investido aí

quatro milhões de dólares em aparelhos. É muita coisa’.

Quanto ao ambiente físico, o hospital tem áreas bem distribuídas, com uma estrutura

interna muito boa, permitindo um perfeito fluxo de trabalho.

‘Acho que aqui é um dos poucos hospitais que não foi uma casa que

cresceu e que aí tem imensas dificuldades. No nosso caso, não. O prédio

é antigo, mas já foi construído para ser um hospital’.

A preocupação com a atenção total ao ser humano se reflete na existência de dois

serviços: a pastoral da saúde, que é um grupo de pessoas preparadas para dar apoio

espiritual aos pacientes, independente de credo ou religião, e a gerência da hotelaria,

responsável por ouvir o paciente e aferir a qualidade do serviço prestado.

‘Em um hospital uma das coisas que acontecem é ter muita gente

atendendo e ninguém dando atenção. O doente fica lá sozinho, ninguém

pára para falar com ele. A enfermagem está preocupada com os

procedimentos, o médico entra, faz a visita e vai embora, o fisioterapeuta

entra, faz os procedimentos e vai embora, o pessoal do laboratório

também. Assim, passa um monte de gente e ninguém conversa’.

Embora considerada necessária para não comprometer os processos internos, a

burocracia acaba por vezes prejudicando a qualidade do atendimento ao cliente.

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‘Conseguiremos melhorar muito quando criarmos menos problemas

possíveis. Quer dizer, não ficarmos tumultuando, criando probleminhas

que podem ser resolvidos por nós. Às vezes o paciente chega estressado

porque o convênio não deu a guia. Nós é que temos que solicitar ao

convênio, tentar resolver isso para ele, tentar aliviar ao máximo as coisas

para que ele possa ter mais tranqüilidade’.

Há serviços terceirizados, principalmente na área médica, como os serviços de CTI adulto

e neonatal, hematologia, laboratório, fisioterapia, suporte nutricional, além dos serviço de

segurança e do estacionamento. O Hospital busca não terceirizar as áreas que entram em

contato mais direto com os pacientes, incluindo o restaurante e a limpeza, de forma a

manter o controle da qualidade do serviço.

‘Não queremos perder a identidade deste grupo com a instituição. Você

tem um grupo de limpeza que entra no quarto do doente e que amanhã

começa a ter uma conduta ... Em princípio não pensamos em mexer

nisso. Existe um custo para manter estes serviços mas achamos que é

mais viável porque temos um controle de qualidade muito mais

profundo’.

4.2.4 Hospital 4

Fundado em 1998, por um grupo de médicos com idéias de vanguarda, o Hospital 4 é o

primeiro de uma rede de hospitais concebida para atuar como centro de excelência nas

áreas de cirurgia cardíaca, neurocirurgia e emergência. A proposta do grupo é que a rede

conte com mais três ou quatro hospitais, dentre eles um hospital-escola, que será

formador de mão-de-obra para suprir as outras unidades.

Sua estrutura física foi toda projetada dentro das mais avançadas soluções de arquitetura

hospitalar. Por ser um hospital novo e voltado para a excelência do atendimento, também

investiu-se fortemente em equipamentos de última geração.

O Hospital conta com 750 funcionários e possui os seguintes serviços: 102 suítes para

internação, CTI com 36 leitos, UTI Neonatal com 15 leitos, Unidade Semi-intensiva,

emergência com 13 leitos, unidades de day hospital, oncologia, hematologia e serviços de

diagnóstico.

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Ser um lugar especial para se trabalhar

Em função do pouco tempo de existência do Hospital, as razões que tornam a

organização um lugar especial para se trabalhar ainda não estão bem definidas. Apesar da

diretriz e filosofia de trabalho implícitas na estratégia geral do Hospital, a cultura da

empresa ainda está em formação e há a necessidade de muitos ajustes em suas políticas.

‘Temos a percepção de que as pessoas gostam de trabalhar aqui, mas eu

entendo esta questão de um lugar especial para se trabalhar na medida

em que você tem vários programas que realmente atendem a questão da

motivação dos funcionários, da valorização dos funcionários. A percepção

é pura e simples. As pessoas falam que gostam de trabalhar aqui, nós

ouvimos pelos corredores: gosto daqui, as pessoas são legais, são

simpáticas, o ambiente é agradável’.

‘Eu entendo que uma empresa se torna um lugar agradável para se

trabalhar na medida em que a cultura da empresa favorece isso. Esta

cultura também é formada muito em função das políticas da organização,

dos programas que são feitos para que isso aconteça. Hoje, com uma

empresa que tem menos de 1 ano de funcionamento e um RH que tem

cerca de 6 meses de existência, nós não temos a mínima condição de

dizer que já existem programas que possam atender a esta política’.

Recrutamento e Seleção

O processo inicial de Recrutamento e Seleção foi conduzido pela gerente de Recursos

Humanos de outra empresa do grupo. O primeiro veículo para recrutamento utilizado foi

uma reportagem no caderno Boa Chance, do Jornal O Globo, em outubro de 1997, onde

se falava do projeto do hospital. A resposta superou as expectativas: foram recebidos

cerca de 20.000 currículos, principalmente de nível técnico, atraídos pela estrutura e

recursos do hospital.

Cabia à área de recursos humanos fazer uma triagem dos currículos e uma avaliação do

perfil e o especialista da área era responsável pela avaliação técnica. Cada função tinha

um perfil definido junto à Direção da empresa.

‘Buscávamos profissionais vindos de boas instituições de ensino, com

vivência em bons hospitais’.

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Passada a fase de implantação, o Hospital agora conta com uma gerência de Recursos

Humanos própria e um processo seletivo melhor estruturado. Como o Hospital teve um

crescimento surpreendente, a grande prioridade continuou sendo contratar pessoas.

‘Ainda é grande o nosso movimento de seleção. A diferença é que hoje

temos mais claramente na nossa cabeça que tipo de perfil desejamos,

que tipo melhor se adapta à filosofia do hospital, e temos um processo

seletivo mais apurado para reconhecer este perfil’.

É intensa a participação das chefias diretas no processo de seleção de seus funcionários,

ficando recursos humanos com uma função de consultoria interna. O processo começa

com a análise de currículo. A etapa seguinte envolve uma dinâmica de grupo, para uma

triagem. Os candidatos que se encaixam no perfil desejado são encaminhados para uma

entrevista individual.

‘O mais importante é que realizamos todo o processo em conjunto com

as chefias. Até mesmo a entrevista individual as chefias estão do nosso

lado, ouvindo e participando ativamente da entrevista com o candidato,

sem que este sinta-se acuado. A coisa é bem organizada neste sentido.

Acho que este é um grande aprendizado para as chefias, especialmente

as chefias da área de saúde que não tinham muita experiência em

participar de processos de seleção, não sabiam como conduzir uma

entrevista com um candidato’.

A avaliação técnica fica por conta da chefia da área. A área de recursos humanos atua

dando um suporte para que as chefias reconheçam no candidato o perfil desejado. São

realizadas entrevistas bem estruturadas e, em alguns casos, aplicação de provas técnicas.

Em decorrência da recente estruturação da gerência de Recursos Humanos e da enorme

demanda de vagas a serem preenchidas, o perfil para cada cargo ainda não está

documentado. O departamento de seleção tem buscado traçar os perfis através da

observação in loco sobre o que determinado funcionário faz, como ele faz e que

características seriam necessárias para o desempenho de suas atividades. Outro caminho

utilizado para a definição do perfil é a entrevista com as chefias mais experientes.

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As fontes de recrutamento utilizadas são diversas: anúncios fechados em jornais,

indicação de funcionários e oferta espontânea. Um programa de recrutamento interno

está sendo implementado.

As características comuns desejadas em todos os funcionários são apontadas como

‘similares a de qualquer empresa do mercado, que tenha a pretensão de ser uma

empresa realmente competitiva no mercado: funcionários com motivação própria, que

estejam investindo em suas carreiras, buscando aperfeiçoamento, que saibam trabalhar

em grupo, que tenham um bom relacionamento e que sejam bons tecnicamente’.

Treinamento

Antes do hospital ser inaugurado, houve um treinamento inicial de aculturação dos

funcionários, onde apresentava-se a filosofia e o estilo de trabalho do Hospital. Também

foram realizados treinamentos de ambientação, mostrando desde o básico - por onde os

funcionários deveriam entrar, onde trocariam de roupa, onde guardariam seus pertences -

até as rotinas operacionais de cada setor.

Após a inauguração, não foi desenvolvido um planejamento de treinamento, já que as

prioridades de recursos humanos estão concentradas em recrutamento e seleção e na

estruturação do departamento de pessoal. Algumas ações de treinamento isoladas e

limitadas, como reuniões com os funcionários, acabaram acontecendo a partir de

necessidades identificadas.

‘É claro que há necessidade de treinamento. A idéia é a partir do próximo

mês planejar e tomar algumas ações com relação a treinamento’.

O trabalho de integração dos novos funcionários é bastante informal. A área de Recursos

Humanos conduz o funcionário até à chefia, que fica responsável pela apresentação do

setor, da área, e do hospital como um todo.

O Hospital 4 está iniciando a adoção de programas de trainees. Para este programa,

foram definidos os objetivos, o perfil desejado e o treinamento que ele deveria receber

(prático, teórico e o rodízio entre as áreas). Foram selecionados vinte profissionais com

pouca experiência, distribuídos entre as áreas de enfermagem, fisioterapia, e nutrição,

para serem formados de acordo com a realidade do hospital.

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Avaliação

Está sendo implantada a avaliação do período de experiência. Ao final deste período, o

funcionário será avaliado tanto em aspectos técnicos como comportamentais.

‘Nada adianta ter uma enfermeira que seja tecnicamente brilhante mas o

relacionamento dela com o paciente, com o acompanhante, seja

péssimo. Ela pode ser fantástica tecnicamente mas acreditamos que a

coisa tem que se combinar. Ela tem que ser muito boa tecnicamente mas

também tem que ser muito boa a nível de atendimento, relacionamento,

com paciente e acompanhante. Não só com o cliente, mas também no

relacionamento, trabalho em grupo, cooperação, trabalho em equipe’.

Há planos futuros para a implantação de uma avaliação de desempenho propriamente

dita.

Pesquisa

A pesquisa de qualidade foi outro projeto lançado como prioridade para a área de

Recursos Humanos, responsável pela sua condução e processamento.

‘Estávamos com um volume grande de pacientes no hospital, em todos

os setores, e precisávamos ter um feedback. Esta também é uma forma

de identificar as necessidades de treinamento’.

São realizadas pesquisas diferenciadas nos setores de emergência, internação e exames

complementares, onde são avaliadas todas as etapas de atendimento.

‘Procuramos observar o fluxo do paciente. Na internação, ele avalia a

recepção de internação, o atendimento da enfermagem no quarto, o

médico e toda a infra-estrutura do hospital, que é a hotelaria (quarto,

acomodação, limpeza, refeição, etc.). Perguntamos sobre o tempo gasto

entre sua chegada na recepção de internação e sua chegada ao quarto’.

Os questionários das pesquisas são depositados em urnas espalhadas pelo Hospital 4 e

recolhidos pela área de Recursos Humanos para serem tabulados e analisados. Os

comentários são literalmente transcritos, inclusive com os dados do paciente, caso ele

tenha se identificado.

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O relatório mensal com os resultados da pesquisa de qualidade é entregue à diretoria

geral do hospital e às áreas envolvidas, que se reúnem para discutir os resultados. Cada

área recebe apenas os respectivos resultados, sendo que o gerente de marketing recebe

um resumo com os principais resultados. Quando existe alguma crítica ou reclamação, ele

é responsável por monitorar a resposta dada, e por redigir todas a correspondência de

contato com os pacientes.

Nos casos de elogio individual, são distribuídas cópias dos comentários para a diretoria,

para a chefia e para o funcionário. Por vezes, os diretores escrevem cartas de próprio

punho, agradecendo ao funcionário.

‘Acho que poderíamos ter uma coisa mais efetiva com relação a isso,

alguma forma de premiar, nem que fosse com um elogio. Enfim, alguma

forma do funcionário perceber que aquilo está sendo valorizado pela

empresa. Isso precisa ser melhor estruturado. São os programas de RH

que precisam ser desenhados, é uma questão de tempo’.

Em caso de críticas e reclamações, a situação é avaliada pela chefia da área, que irá

apurar o ocorrido. O funcionário é chamado para conversar, tem direito de defesa.

Dependendo da avaliação do caso, a chefia pode tomar atitudes variáveis.

‘Tentamos esclarecer o fato. Na maior parte das vezes é mal-entendido

mesmo, é falha de comunicação’.

‘O motivo da crítica pode ter sido realmente a coisa do momento, ele (o

paciente) vai por a culpa na primeira pessoa que estiver na frente dele ou

pode ser alguma coisa a nível do funcionário não ter tido habilidade com

a situação’.

O feedback é passado ao cliente pelo responsável da área que recebeu a crítica. Se for

uma questão técnica na emergência, por exemplo, é o médico responsável pela

emergência quem vai responder. Se for uma questão de infra-estrutura, uma pessoa da

administração é quem vai dar uma resposta a este cliente.

Também são realizadas pesquisas com os cirurgiões e suas equipes para a avaliação das

instalações, equipamentos e serviços prestados, através de questionários, disponíveis no

centro cirúrgico e nas salas dos médicos, e de entrevistas conduzidas pela enfermagem

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em no máximo quatro dias após a realização da cirurgia, com base em questionário

estruturado pela direção médica.

‘A pesquisa realizada pela enfermagem envolve questões como: demorou

a marcar a cirurgia?, demorou a conseguir falar com o hospital?, como a

enfermagem atendeu seu paciente?’.

O Hospital 4 acredita que ainda não é o momento para se fazer uma pesquisa de clima

com os funcionários. Outro projeto futuro é a pesquisa de satisfação do cliente interno

para se avaliar as relações e o fluxo de atividade entre as áreas.

‘Temos de definir prioridades e para a próxima etapa de RH a prioridade

será dada a treinamento’.

Os funcionários demitidos ou que pediram demissão participam de entrevistas de

desligamento, conduzidas por uma pessoa da área de recrutamento e seleção. O objetivo

desta entrevista é obter subsídios para reavaliar processos internos.

Remuneração

O Hospital 4 tinha como proposta inicial ter os salários acima dos melhores hospitais da

cidade. Com base em pesquisa salarial prévia a inauguração, certas funções tiveram seus

salários fixados em até 15% acima do mercado.

Após quase um ano de funcionamento, observa-se que os salários estão na média do

mercado, algumas funções até acima da média. Nova pesquisa salarial está sendo

programada para breve, em função de estar sendo estruturado um plano para cargos e

salários.

Quanto aos benefícios, o Hospital não oferece nenhum benefício que seja diferenciado do

mercado.

‘Oferecemos alimentação, assistência médica... Vale transporte e

uniforme são obrigações, não benefícios. Não oferecemos cesta básica.

Estamos agora tentando ver alguma coisa em termos de convênios com

farmácias’.

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Participação em decisões gerenciais

A Diretoria tem o hábito de se reunir periodicamente com as áreas, por vezes com o

objetivo específico de envolver as chefias na tomada de decisões. Da mesma forma,

freqüentemente as chefias se reúnem com seus funcionários. Nota-se um envolvimento e

uma abertura muito grande da Diretoria com os funcionários.

‘Por exemplo, há um problema na recepção. Então, está lá o Diretor

Geral, com a supervisora da recepção e os funcionários conversando. Ele

ouve, ele discute. Outro dia é com a enfermagem, depende da situação,

depende da necessidade. Inclusive eu acho que há uma liberdade

interessante dos funcionários para chegarem até a Diretoria e falarem

com os diretores’.

Gerente/supervisão

O perfil ideal do bom gerente é apontado como ‘o básico do mercado’.

‘É a questão dele estar sabendo gerenciar a equipe com resultados, ser

um formador de uma gerência participativa, que envolva um bom

relacionamento, que seja democrático, que motive...’.

Comunicação interna

A integração entre os setores é considerada muito boa, sendo a comunicação muito

estimulada através de reuniões intra e interdepartamentais. Não raramente a diretoria se

reúne diretamente com os funcionários.

‘Busca-se estreitar a distância entre a diretoria e os funcionários’.

O Hospital 4 possui um jornal interno bimestral, que é responsabilidade da área de

marketing. Inicialmente restrito aos médicos, hoje está disponível para todos os

funcionários. É considerado uma grande circular da diretoria administrativa, onde são

divulgados as normas do Hospital, os processos operacionais, os convênios com lojas e

serviços, os aniversariantes do mês, mas também conta com a participação dos

funcionários, anunciando a venda de produtos ou serviços.

‘O jornal acaba penetrando muito bem entre os funcionários por ter este

aspecto interativo, o funcionário reconhece como sendo um instrumento

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deles, e não uma instrução normativa da diretoria. É dele, ele participa,

ele pode colocar anúncio, sem deixar de ter as instruções normativas, de

forma mais divertida, interativa’.

O Hospital 4 conta também com um quadro de avisos desenvolvido pela área de Recursos

Humanos. Neste quadro de avisos, estrategicamente localizado na entrada do restaurante

dos funcionários, são veiculadas informações da área de Recursos Humanos, mensagens

motivacionais e divulgação de eventos, como seminários e congressos.

‘Por enquanto ainda não temos mensagens de orientação para o

atendimento ao cliente. Nossa idéia é desenvolver um periódico para que

possamos passar alguma coisa neste sentido’.

Comunicação externa

O Hospital 4 se destaca no mercado por apresentar uma postura bem mais agressiva na

área de comunicação. Em contraste com a prática do setor, onde o marketing encontra

um ambiente mais conservador, mais preso a conceitos de ética, com menor flexibilidade,

o Hospital 4 tem objetivos extremamente avançados e modernos. São identificados

claramente os distintos grupos de clientes.

‘Marketing está no centro de quatro pontas. Em uma ponta tem

obviamente o paciente, onde marketing deve fazer com que o hospital

trabalhe aquele paciente, faça com que o paciente escolha o hospital,

ocupe um share of mind dele sempre que precisar, etc. O médico está

em outra ponta, porque é quem leva o paciente para o hospital. Estou aí

trabalhando o médico dando instrumentos de trabalho, estrutura, um

apoio técnico-operacional de altíssimo nível, uma segurança técnico-

operacional. Na terceira ponta estariam as seguradoras e planos de

saúde, todo este relacionamento comercial no qual marketing está

envolvido, oferecendo vantagens e puxando por outros lados, alguma

coisa para o hospital ter de benefício. Por quarto, que é o objeto da tua

pesquisa, é a estrutura interna. Então, marketing está entre o paciente, o

médico, as seguradoras, os sistemas de saúde – que são os grandes

pagadores neste processo todo – e a estrutura interna que faz isso tudo

funcionar. Qualquer destas pontas que for mais curta, a cadeira cai’.

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O lançamento do hospital recebeu um tratamento comparável a um lançamento

imobiliário ou um lançamento de uma grande empresa que chega no Brasil, segundo o

gerente de marketing. Foram contratadas uma agência de publicidade e uma assessoria

de imprensa e os veículos utilizados foram jornal e mala direta para os médicos.

A mala direta endereçada aos médicos convidava-os a conhecer o hospital,

acompanhados pela diretoria médica do hospital, o que representava um apelo

extremamente interessante.

‘Cerca de 300 médicos, de todas as especialidades, conheceram o

hospital e este foi um caminho de disseminação de informação também:

um médico que foi comenta com outro colega e assim por diante’.

Uma vez que o pré-lançamento havia sido muito intenso, positivo e eficaz, criou-se uma

expectativa muito grande em torno da inauguração do hospital. Por isso, à época da

inauguração, optou-se por uma comunicação restrita à mídia impressa e o envio de

convites para o evento de inauguração. O evento contou com a presença de mais de

3.000 pessoas, sendo até objeto de coluna social.

‘Fizemos uma página no Jornal O Globo, uma página colorida, muito

bonita, com uma foto muito bonita do hospital, dizendo que o Rio estava

ganhando um hospital de primeiríssimo mundo. Alguns de nossos

fornecedores participaram, se cotizaram e bancaram isso para a gente.

Bancamos 1/3 do anúncio e os 2/3 restantes foram rateados entre estes

fornecedores’.

Após a inauguração, foi elaborado um impresso para os médicos, com informações sobre

o hospital e a relação de equipamentos disponíveis.

‘Fizemos 15.000 folders, enviados por mala direta. Junto com este folder,

foi uma carta, convidando o médico a se cadastrar no hospital, para se

habilitar a trabalhar no hospital. Com isso pegamos todos os dados dos

médicos: nome, endereço, formação, cursos, pós, especialização, área de

interesse, e-mail, etc. Acabamos formando um banco de dados

fantástico’.

Dentro de um espírito de parceria, o hospital permitiu que determinado plano de saúde

utilizasse sua imagem em um comercial para a televisão, o que acabou causando um

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efeito contrário ao esperado, até mesmo uma certa estigmatização. Houve um impacto,

ainda que mínimo, na relação com os outros planos. Como resposta, o Hospital 4 passou

a divulgar os convênios que possuía, através de um encarte em jornal.

‘Aproveitamos para vender os nossos recursos de diagnóstico, a área de

exames complementares, dizendo para as pessoas do bairro e

proximidades que elas poderiam ir ao hospital não para se internar mas

para fazer um exame de sangue, por exemplo’.

No momento, o hospital desacelerou o investimento em comunicação externa e está

focando na parte de assessoria de imprensa, obtendo interessante exposição em

programas mais educacionais (Canal Futura, TV Senac), onde são abordados os aspectos

distintivos do hospital com relação a sua estrutura física, recursos tecnológicos, e

administração de recursos humanos.

Há um forte trabalho voltado para os convênios, cujo objetivo é o desenvolvimento de

parceria, contemplando não só aspectos financeiros mas visando o comprometimento com

o Hospital e a sua recomendação para cirurgias e emergências cardíacas. Um diretor de

desenvolvimento é responsável pelo relacionamento com os convênios. Toda a

correspondência de cliente recebida pelo Hospital 4, seja e-mail ou carta, é repassada

para as seguradoras, e vice-versa.

‘É um relacionamento bem transparente. Acabou esta cultura de encobrir

aqui para mostrar ali’.

A Internet também é utilizada como veículo para a comunicação. O Hospital 4 foi o

primeiro do Rio a disponibilizar as fotos dos recém-nascidos em sua página. Como plano

futuro, está a divisão do site em duas partes: uma com informações voltadas para o

profissional da área médica e outra para o público em geral.

‘Tirando as fotos dos nenéns, decidimos colocar uns dados, tipo peso,

altura, hora do nascimento, etc., e colocar uma senha. A idéia é mais

ampla. Também quero colocar uma parte de orientação pré-parto para as

mães, cuidados com o bebê, amamentação, dieta. Isso seria uma bela

ação de integração com a comunidade’.

Nesta linha de integração com a comunidade, o Hospital 4 está criando um índice médico

a ser distribuído no bairro onde está localizado. A idéia consiste em mapear todos os

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médicos do bairro que já trabalham com o hospital, que tenham consultório próximo ou

que tenham algum tipo de relacionamento de importância na comunidade médica do

bairro e organizar um livro, onde vai constar o nome, a especialidade, o endereço, os

telefones e todos os convênios atendidos.

O Hospital 4 também está promovendo uma campanha nos condomínios adjacentes para

cadastrar os moradores e seus históricos médicos. Dados como o número da identidade, o

tipo sangüíneo, o plano de saúde, a quem avisar em caso de urgência médica e um

pequeno relato médico serão armazenados em um banco de dados. O objetivo é otimizar

o atendimento em situações de emergência. A pessoa cadastrada ganhará uma

identificação e remoção gratuita para o hospital nos casos de urgência médica.

Foram desenvolvidas pequenas ações de fidelização para o público de médicos que

utilizam o Hospital: descontos em lojas e serviços próximos ao Hospital – academia de

ginástica, casa de shows, manutenção de veículos - e a disponibilização de serviços como

secretária virtual, reboque e floricultura.

‘A maior parte dos médicos é distraída. Ele pode fazer a agenda anual

com as datas de aniversários em uma floricultura conveniada. Um dia

antes daquelas datas, o gerente da floricultura liga para o médico e

confirma a entrega. A fatura é enviada para o hospital e pode ser paga

em até 10 dias’.

Todos os médicos cadastrados tem direito a utilizar as facilidades e serviços oferecidos.

Os mais fiéis estão sendo agregados ao Centro de Estudos do Hospital, participando de

sessões clínicas e da distribuição de passagens para congressos.

Difusão de regras e políticas

As políticas e regras da empresa são passadas aos funcionários através das chefias. Não

existe nenhum material, formal ou informal, utilizado para este fim.

Autonomia / Liberdade para agir

Na cultura da empresa há a valorização da iniciativa: os funcionários devem tomar a

iniciativa e resolver os impasses e problemas da melhor forma, levando em consideração

os objetivos do hospital.

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Como cada gerente tem seu estilo, alguns são mais democráticos que outros mas a maior

parte está alinhada com a cultura da empresa.

‘A filosofia do hospital é a seguinte: a área não tem que funcionar

somente quando a chefia está ali. Muito pelo contrário, se a área só

funciona quando a chefia está próxima, é porque a chefia é péssima. A

função principal da chefia é estar preparando e treinando as pessoas

para que elas façam o que tem que ser feito da melhor forma possível’.

É esperado que o funcionário de contato com o cliente tome uma atitude na hora.

‘Se ele não fez da melhor forma porque não sabia, ele é orientado. Se ele

sabia e fez de outro jeito, ele é repreendido’.

Estrutura da organização

Desde a formação do hospital, a prioridade absoluta sempre foi o atendimento de

excelência ao cliente, em todos os aspectos. O Hospital 4 quer ter como diferencial o calor

humano no tratamento com os clientes, sejam pacientes ou acompanhantes.

A arquitetura foi pensada de forma a dar conforto e segurança. Os ambientes foram

planejados de forma a amenizar o stress natural que existe entre as pessoas que vão a

um hospital. O Hospital 4 aposta em uma atmosfera mais tranqüila e agradável para

acalmar o paciente, fazer com que ele se sinta melhor, favorecendo a relação entre este

e o funcionário de contato.

‘Você ir para um hospital não é uma coisa normal. Mesmo para fazer um

exame, a pessoa já sai de casa com aquele stress de ter que cuidar da

saúde, não vou cumprir a minha rotina normal, a pessoa se sente

exposta. Pega um trânsito horroroso, se preocupa se terá

estacionamento. Ao chegar, ele se surpreende que exista

estacionamento. Vai imaginando que terá uma recepcionista chata, lendo

revista. Aí tem uma pessoa em pé na porta que o recebe e conduz para

uma triagem. Ele vai para uma área de atendimento confortável,

refrigerada. Vamos amenizando este stress, quebrando estas barreiras,

de forma que na hora do exame ele está estressado apenas com o que

ele realmente tem que se estressar, que é a saúde dele’.

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‘Aqui no hospital a gente conseguiu fazer isso, você não se sente em um

ambiente hospitalar’.

O Hospital 4 tem como proposta tornar sua parte de hotelaria o mais próximo possível de

um hotel, o que acaba facilitando o atendimento ao cliente.

‘Temos um belo restaurante para os médicos e acompanhantes, onde

temos uma força de trabalho que não é facilmente encontrada em outros

hospitais no Brasil, que é o maitre. Temos mais de 10 garçons. Essa é

uma ponta que aparece bastante para os acompanhantes e visitantes.

Houve intenso treinamento em cima deste pessoal para adaptá-los ao

ambiente hospitalar’.

‘Para as pessoas que querem conhecer o hospital, tem uma pessoa

treinada, de terno e gravata, que leva as pessoas a um tour pelo

hospital, mostrando as áreas de interesse para cada caso e áreas comuns

como o restaurante e o solarium. Foi um roteiro criado por marketing e o

funcionário desenvolve aquele script muito bem. Ele é como se fosse um

concierge do hospital: providencia radiotáxi, marca vôo, hotel aqui perto’.

O próprio ambiente de trabalho, por ser diferenciado, é considerado como forma de

comunicar ao funcionário o nível de qualidade exigido.

‘O ambiente é diferente e a gente procura sempre puxar o máximo dos

funcionários em todos os sentidos, fazer com que ele se comporte de

forma comprometida com a nossa missão’.

‘Obviamente, as pessoas preferem trabalhar em um ambiente bonito,

bem organizado, que foi cuidadosamente projetado, com todos os

recursos necessários do que trabalhar em uma ambiente com recursos

mínimos, em ambiente feio, sem estrutura’.

Foram feitos grandes investimentos em tecnologia, procurando oferecer os equipamentos

mais modernos para que o médico tenha todos os recursos necessários para um

diagnóstico rápido e eficaz.

‘Uma tomografia helicoidal é capaz de resolver em 20 segundos o que um

aparelho tradicional levaria 40 minutos. Isso traz rapidez no diagnóstico,

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rapidez no atendimento, menos tempo de utilização do equipamento,

mais exames por hora. Ganhamos em escala, tecnologicamente nos

propomos a resolver desta maneira’.

Quanto aos recursos humanos, o Hospital 4 busca ter pessoas suficientes, bem

qualificadas e dentro do perfil exigido para o atendimento ao paciente. A área de

Recursos Humanos reconhece a grande responsabilidade que possui na qualidade do

atendimento que está sendo dado ao paciente e assume seu papel estratégico.

‘Quando uma ala vai ser aberta, a diretoria discute com RH quantas

pessoas serão necessárias e o tempo que RH terá para trabalhar estas

vagas. De alguma forma, o diretor geral está direto com RH nesta

comunicação, o que é fundamental. O RH não está alienado do que está

acontecendo no hospital, e nem pode’.

‘O meu grande objetivo, sendo responsável pela área de RH, é estar sempre

dando suporte absoluto às estratégias da empresa, estar sempre atuando

para que a filosofia aconteça na prática’.

O Hospital 4 tem como premissa que se o funcionário não for bem tratado, ele jamais vai

tratar bem o paciente. O respeito pelo funcionário é considerado fundamental e é a

diretriz de todas as ações e projetos de recursos humanos.

‘Por exemplo, estamos implantando o recrutamento interno. É a

possibilidade de crescimento interno para o funcionário. Se eu tenho uma

vaga abrindo em um setor que eu posso aproveitar internamente, por

que não?’.

‘Vários projetos (de RH) ainda serão implantados e o conjunto deles é

que vai influenciar bastante para que este funcionário se sinta valorizado

o suficiente para valorizar o cliente também’.

‘O DP fica de portas abertas aos funcionários, inclusive com um balcão de

atendimento, que está sempre cheio. Nosso contato com o funcionário é

diário, constante e intenso’.

O Hospital não possui nenhum serviço terceirizado por julgar ser uma prática

inconsistente com sua cultura.

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‘Estudamos terceirizar o estacionamento, mas achamos que ficaria

extremamente hostil cobrar o estacionamento. Temos quatro

manobristas, extremamente atenciosos, funciona muito bem. Este é um

grande diferencial com relação aos outros hospitais: nós temos

estacionamento. Ele foi planejado: é pavimentado, plano, iluminado,

limpo, com segurança’.

Eventos de integração

Uma confraternização de final de ano foi realizada, com duas festas para que todos os

funcionários pudessem comparecer. Houve distribuição de prêmios, sorteios, amigo

oculto, partidas de vôlei e futebol, música e dança. O diretor passou uma mensagem para

os funcionários, agradecendo e creditando o sucesso do hospital ao trabalho e afinco de

todos.

4.2.5 Hospital 5

O Hospital 5 foi fundado em 1930 como um hospital-escola de uma congregação

religiosa, voltado ao treinamento das irmãs do noviciado e à assistência à saúde das

religiosas.

Em 1967, o hospital passou por uma reestruturação, sendo totalmente modernizado,

passando a contar com corpo clínico próprio e agora aberto ao público. Em menos de 10

anos, as instalações já mostravam-se insuficientes para atender à crescente demanda.

Em 1980, foi inaugurado um novo prédio com 9 andares, cuja construção foi coordenada

pelas próprias irmãs. O Hospital 5 foi um dos primeiros hospitais particulares do Rio de

Janeiro a contar com um serviço próprio de hemodinâmica.

Em 1994, a convite do INMETRO, o Hospital decidiu pela implantação do projeto de

Garantia da Qualidade, obtendo a certificação ISO 9002 em abril de 1998.

O Hospital conta com 700 funcionários e 300 médicos que pertencem ao corpo clínico do

hospital, mas não são funcionários. Os serviços oferecidos são: emergência, CTI adulto

com 7 leitos gerais e 3 para unidade coronariana, centro cirúrgico, UTI pediátrica e

neonatal, consultórios para atendimento de diversas especialidades, e serviços auxiliares

de diagnóstico e tratamento

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Ser um lugar especial para se trabalhar

Para a gerente de garantia da qualidade, o que torna o Hospital 5 um lugar especial para

se trabalhar é a forte valorização do ser humano, reconhecida como fator de retenção dos

funcionários na pesquisa de clima organizacional.

‘Isto é cultural aqui no hospital, essa valorização do ser humano no todo,

não importa o seu grau de instrução, a tarefa que você executa na

empresa, todos têm o mesmo respeito’.

‘A empresa tem o funcionário como o número um. Em qualquer

momento, a empresa vai pensar primeiro no funcionário, porque

dependemos deles para prestar uma boa assistência, tudo o que vamos

conseguir é através deles, do funcionário, do ser humano. Em nenhum

momento uma máquina ou qualquer outro processo tem mais valor do

que o ser humano’.

Esta valorização do ser humano é traduzida nas atitudes da administração e na

transparência da comunicação. Não há discriminação dos funcionários em função do cargo

que ocupam. Todos recebem o mesmo tratamento e têm acesso à superintendente do

hospital da mesma forma. Existe a preocupação de não deixar o funcionário sem

assistência, seja social, médica ou jurídica.

‘Não vamos resolver o problema de todos, mas nas horas difíceis todos

os funcionários contam com a empresa. Nós temos um serviço social que

acompanha todos os funcionários. Temos também um advogado que dá

assistência para todos os funcionários, independente de nível. Qualquer

funcionário, quando precisa é tratado aqui mesmo no hospital, da mesma

forma que qualquer cliente nosso é tratado, particular ou conveniado,

que esteja aqui dentro, com a mesma acomodação, com o mesmo

tratamento’.

Recrutamento e Seleção

O Hospital 5 tem como política privilegiar o recrutamento interno. Somente após

considerar que não há possibilidade de aproveitar os recursos internos, é que parte-se

para um recrutamento externo.

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O processo de seleção se inicia com o preenchimento de um formulário de solicitação a

Recursos Humanos, onde é descrito o perfil do funcionário desejado. Com base neste

perfil, o setor de Seleção e Treinamento verifica se existe algum candidato no cadastro de

currículos. Como o Hospital recebe muitos currículos espontaneamente e há muitos casos

de pessoas que vem indicadas pelos funcionários, são raras as vezes em que é preciso

publicar anúncios.

O setor de Seleção faz uma triagem dos currículos, considerando o perfil técnico exigido,

e seleciona um mínimo de seis candidatos. A partir daí, o processo passa a ser conduzido

pela área solicitante, que irá realizar entrevistas, dinâmicas e/ou provas para avaliação da

capacidade técnica.

‘Cada área tem seu critério de escolha. Por exemplo, nas áreas de

recepção, telefonia e administrativa, temos por hábito fazer provas de

redação e de português e dinâmicas para ver como as pessoas se

comportam. Na área financeira terá alguma avaliação relacionada com

cálculo’.

A área deve escolher pelo menos três candidatos, que serão encaminhados para uma

entrevista com a superintendente do Hospital 5.

‘Todos as pessoas que entram no hospital passam por uma entrevista

com ela. Ela é quem efetivamente escolhe, dá a palavra final. Às vezes

pode acontecer dela não gostar de nenhum dos três e ter que começar

todo o processo novamente. Algumas vezes o profissional da área está

voltado mais para a parte técnica e a superintendente tem muito mais

uma visão do ser humano como um todo: como ele vive em sociedade,

como vive em família’.

Pesquisa com os funcionários

Em 1995 foi conduzida a primeira pesquisa de clima organizacional, nascida da

necessidade de identificar as razões de motivação do funcionário de forma a envolvê-los

no processo de qualidade a ser implementado.

‘Uma coisa que eu descobri nesta pesquisa, que foi muito bom para a

gente, é que, apesar de termos uma cultura de educação continuada na

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área de enfermagem, com treinamentos periódicos, aquilo no hospital

acontecia na área de enfermagem. Em todas as outras áreas existiam

treinamentos, alguns cursos, mas era uma coisa esporádica. Não existia

uma sistemática de treinamento para todas as áreas’ .

Como resposta, foram programados treinamentos em todas as áreas do hospital, de

acordo com as necessidades levantadas através de entrevistas com os funcionários e

chefias.

‘Se era atendimento ao público, relações interpessoais, isso foi levantado

e começamos a trabalhar. Trabalho em equipe, demos vários

treinamentos mostrando a importância de trabalho em equipe, porque a

comunicação na equipe é importante, isso envolvendo todos os

funcionários’.

Os resultados dos programas de treinamento foram percebidos pelos clientes e médicos.

‘Nesta primeira fase, ouvíamos muitas avaliações positivas. As pessoas

percebiam, os médicos que trabalham conosco falavam que os

funcionários estavam muito motivados, todos interagindo, os resultados

são mais rápidos’.

Até o momento, não foi realizada nova pesquisa com os funcionários.

Treinamento

O Hospital 5 reconhece que o treinamento cumpre importante papel tanto para a

manutenção da qualidade do serviço como para a motivação de seus funcionários.

‘Faz parte do ser humano sentir que está renovando, trocando idéias’.

O Hospital 5 adota como rotina treinamentos de relações interpessoais, de atendimento

ao paciente e dos 5 S’s, pelo menos três vezes ao ano, independente de serem apontados

pelas áreas como necessidades.

‘Nós achamos que é sempre bom rever estes conceitos, rever posturas,

porque a atividade hospitalar é muito estressante. Então, por mais que

você trabalhe o funcionário, chega um momento em que ele já está

esquecendo alguma coisa’.

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Além das palestras, freqüentemente são utilizados filmes para mostrar posturas esperadas

no atendimento ao cliente.

‘Porque às vezes eu falo com você de uma forma que para mim está

muito normal mas que quando eu falar com outra pessoa, será que eu fui

ríspida? Não sei, é meu jeito de ser mas eu tenho que tentar ser

diferente, de me moldar diante dos clientes‘.

É realizada uma reunião de admissão com os novos funcionários, onde várias áreas fazem

apresentações. Os funcionários passam um dia inteiro conhecendo o hospital, seus

direitos e deveres, as normas de segurança do trabalho, o organograma do hospital,

quem é quem, e onde cada um se insere no organograma. Também a área de Qualidade

aborda o que é o sistema da qualidade, como cada um deve participar e a importância de

cada um dentro do projeto.

Cada área possui suas atividades padronizadas em forma de instrução de trabalho, e cabe

à chefia preparar o novo funcionário para a atividade que ele vai exercer. Caso seja

identificada a necessidade de reforçar conceitos não relacionados à atividade técnica, a

chefia da área encaminha solicitação ao setor de Seleção e Treinamento para que o

treinamento seja agendado.

Anualmente todas as chefias fazem seu levantamento de necessidades de treinamento

por funcionário e enviam para o setor de Seleção e Treinamento. A diretoria da área vai

avaliar quanto custa o treinamento solicitado e se existem instrutores internos para

executar este treinamento.

Para os cursos externos é feita outra programação. A participação do funcionário nos

cursos externos é aprovada com base em sua avaliação de desempenho.

‘Nós temos hoje vários funcionários que estão fazendo faculdade e que o

hospital ajuda. Até porque isto é importante para o hospital’.

Além de vídeos e palestras, os treinamentos podem envolver cursos com maior carga

horária, dinâmicas de grupo, exercícios práticos e dramatizações.

Na pesquisa com os funcionários ficou explícito que eles sabiam muito bem quem eram

seus clientes externos e o que deveriam fazer para satisfazer este cliente. Mas o cliente

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interno era desconhecido, surgindo a necessidade de se trabalhar a questão do cliente

interno.

‘Muitas vezes em um hospital temos momentos muito complicados. A

equipe tem que entender até o comportamento que você teve comigo

hoje, que você não é assim. O que levou você a reagir desta forma? O

que você está passando lá no seu setor? Nós trabalhamos isso. Temos

uma clientela diferenciada, estressada. Ninguém vem ao hospital para

passear. E todos que vem aqui chegam com um problema e o problema

deles com certeza é maior que o de todo mundo, é o mais importante.

Tivemos a oportunidade de mostrar isso para todos os funcionários para

eles aprenderem a não só respeitar o momento do cliente, que é um

momento complicado, como também respeitar o momento de nosso

cliente interno. Quando há esse entendimento, com certeza o trabalho

flui infinitamente melhor, agiliza inclusive a resposta ao cliente’.

Periodicamente é realizado uma reunião de treinamento entre as áreas para discutir os

aspectos da política de qualidade: se aquela missão está sendo cumprida, se os objetivos

do hospital estão sendo atingidos.

Avaliação de desempenho

Todos os funcionários são avaliados anualmente, através de uma avaliação de

desempenho formal, feita pela chefia direta, onde são abordados aspectos técnicos e

aspectos comportamentais.

‘São cerca de 14 itens, desde a produtividade, a responsabilidade, a

criatividade, até a competência técnica mesmo. São abordados vários

pontos. Avaliamos a relação interpessoal no sentido geral, não somente o

relacionamento com o cliente. Como é a convivência deste funcionário

com as pessoas que ele interage?’.

A avaliação é encaminhada para o setor de Seleção e Treinamento e resulta em uma

nota, que será levada em consideração na hora de aprovar a participação do funcionário

em treinamentos externos. Além disso, torna-se possível identificar já a partir da avaliação

de desempenho as necessidades de treinamento para o funcionário.

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Pesquisas com os clientes

São realizadas pesquisas com os pacientes internados e com os pacientes que vem para

uma consulta, através de formulários específicos. Há também outro formulário, chamado

‘Ouvindo o cliente’, cujo objetivo não é avaliar aspectos do serviço mas permitir ao cliente

registrar alguma insatisfação ou incidente crítico.

A gerência de garantia da qualidade é responsável por administrar e compilar todas as

pesquisas e direcionar os resultados para as áreas de competência. As áreas devem

trabalhar os pontos de insatisfação, levantar suas causas, e dar um retorno para o cliente.

Os casos considerados mais críticos são acompanhados pela área de Qualidade,

recebendo um tratamento diferenciado. A própria área de Qualidade é que entra em

contato com o cliente, solicitando maiores detalhes ou esclarecendo pontos mal-

entendidos.

É realizada uma reunião mensal com as chefias, onde são discutidos os resultados das

pesquisas e destacados aspectos mais gerais. Para o Hospital 5, a qualidade percebida

pelo cliente é o aspecto mais importante na avaliação dos serviços.

‘Quem mede o que nós fazemos, se estamos no caminho certo ou

errado, para a gente é o cliente. Temos um canal muito aberto, ele

escreve, ele manda carta, ele participa. O que mais gratifica é perceber

que o cliente está percebendo que as coisas estão melhorando’.

Quando o funcionário é elogiado por um cliente, uma cópia do formulário é enviada ao

funcionário e outra é divulgada no Painel da Qualidade, o mural da área de Qualidade. Se

o elogio é para um setor ou unidade, a carta ou formulário é enviada a chefia da área

para ser fixada no quadro de avisos do setor.

‘Periodicamente, eu seleciono todos os formulários onde houve elogio,

principalmente aqueles citando funcionário, e coloco no Painel. Em

determinadas épocas, por exemplo, na Semana da Qualidade, eu pego

todos os elogios bonitos e coloco em vários painéis pelo auditório’.

‘Nós não temos nada de específico para os casos onde o funcionário é

elogiado. Enviamos bilhetinhos, damos os parabéns, a direção passa e

fala também, mas materialmente não temos nada’.

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Quando há reclamação sobre algum funcionário, a chefia direta é responsável por resolver

o problema com o funcionário. Por vezes, é identificada a necessidade de treinamento ou

de apoio do serviço social, no caso de problema pessoal do funcionário.

Remuneração / Recompensas

O salário do hospital está dentro da média do mercado. Os benefícios compreendem:

anuênio (3% a cada ano), plano de saúde extensivo aos familiares, assistência jurídica,

fornecimento de alimentação e empréstimo em casos de reforma ou compra de imóvel.

Os cargos de chefia têm gratificações, variáveis com o nível de responsabilidade do cargo.

A avaliação de desempenho ainda não está vinculada a um aumento salarial mas existe

um projeto em andamento com este objetivo.

Plano de carreira

Só recentemente foi aprovado pela superintendente a implantação de uma política de

cargos e salários, que está sendo desenvolvida.

Participação em decisões

O Hospital considera que a relação chefe-funcionário ganhou mais abertura e

transparência.

‘Até um tempo atrás não era, era muito fechado em termos de reuniões

de diretorias, não havia muita participação dos funcionários nas decisões.

Hoje isso está mais aberto, os funcionários expõem suas idéias’.

Há um incentivo à participação do funcionário nas reuniões. Pelo menos uma vez no ano

a superintendente faz reuniões com todos os funcionários, onde ela reforça que está

aberta a sugestões dos funcionários. Toda sugestão do funcionário encaminhada a área

de Qualidade é avaliada e é dado um retorno ao funcionário.

‘ É sempre dado muito valor às sugestões que vem dos funcionários.

Muitas vezes as melhores coisas vem de onde não estamos esperando’.

Supervisão / gerência

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Para o Hospital 5, o melhor gerente é aquele que sabe lidar com situações complicadas de

uma forma equilibrada. Este equilíbrio e a flexibilidade são ainda mais valorizados do que

a competência técnica.

‘Nós temos pessoas altamente preparadas tecnicamente, sendo

indiscutível suas capacidades técnicas, mas que às vezes falta um

pouquinho deste equilíbrio. Saber em que momento é preciso ceder, em

que momento você não pode ceder. Esta é uma questão que nós

trabalhamos ‘.

O corpo gerencial participa de treinamentos que abordam as características mais

importantes para o desempenho de suas atividades.

‘Chamamos a atenção para que as pessoas repensem suas atitudes

porque a característica da nossa instituição, da atividade que a gente

presta, você tem que ter flexibilidade, o famoso jogo de cintura. Se você

não tem, tem que mudar, tem que buscar uma forma de aliar sua técnica

com a flexibilidade’.

Comunicação interna

A comunicação interna se processa através de quadros de avisos, murais, correio

eletrônico e memorandos internos.

Todos os setores contam com pequenos quadros de avisos. Cada setor é responsável por

gerenciar o seu quadro de avisos, selecionando dentre as comunicações recebidas aquelas

que serão divulgadas.

No departamento de pessoal está o Painel da Qualidade, que agrega assuntos de vários

setores e é gerenciado pela garantia da qualidade.

‘Ontem, por exemplo, terminou a auditoria externa da certificação da

qualidade, com um bom resultado. Hoje fizemos um documento,

assinado pela superintendência, e colocamos no mural para todos os

funcionários, agradecendo a participação deles’.

A Divisão Médica tem um boletim mensal, que é encaminhado para todas as áreas onde

são feitas as comunicações da Divisão para a comunidade do hospital.

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A melhoria do relacionamento entre as áreas é creditada à introdução do conceito de

cliente interno e à formalização da comunicação entre os departamentos.

Eventos de integração

O Hospital 5 promove festa junina, confraternização de final de ano e comemoração dos

aniversariantes do mês. Também são realizados almoços, jantares, ou bingos para os

funcionários mas não de forma sistemática.

Comunicação externa

Nenhum esforço de marketing externo dirigido aos pacientes é realizado

Os médicos do corpo clínico que não são funcionários do hospital também recebem o

boletim mensal da Divisão Médica. São organizadas reuniões científicas e palestras, com a

apresentação de estudos de casos cujo público alvo é o médico.

Há estacionamento privativo e almoço para todos os médicos, e é servido lanche para os

que utilizam o centro cirúrgico. No dia dos médicos sempre é promovido algum evento

comemorativo.

A comunicação com os convênios é feita basicamente através de correspondência, restrita

a informar sobre a disponibilização de novos serviços ou alterações no processo de

atendimento.

‘Esta parte de comunicação com os conveniados é feita apenas para

aqueles com quem já temos contratos, nós não buscamos novos

convênios. Até porque nossa demanda é muito grande, não temos

capacidade para abrir, temos uma taxa de ocupação elevada’ .

Difusão de regras e políticas

O Hospital possui um regimento interno, onde estão as normas e as responsabilidades de

cada setor, e o manual da qualidade, que contém as políticas e diretrizes da empresa.

Cada divisão do Hospital tem também o seu próprio manual, com o objetivo da divisão,

responsabilidade, organograma, políticas, diretrizes e a parte operacional de como

executar as tarefas.

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A disciplina e a pontualidade são muito cobradas. Essa disciplina se traduz na forma de se

vestir, de se apresentar, de falar, em parte pelo fato da empresa ser administrada por

uma instituição religiosa.

‘Mesmo que você tenha um padrão estabelecido, você começa a ver que

a comunidade toda, as cerca de 1.000 pessoas agem de outra forma.

Você vai vivenciando e vai percebendo como você deve ser para ser bem

aceita neste grupo todo. São as atitudes das pessoas no dia-a-dia. O

próprio dia-a-dia vai mostrando para as pessoas e você acaba se

educando. É uma questão de convivência mesmo’.

Autonomia / liberdade para agir

Apesar da administração do Hospital 5 ser considerada centralizadora, cada chefia de área

é quem decide o grau de autonomia que irá existir dentro de sua equipe.

Os funcionários recebem treinamento para que tomem suas próprias decisões nos

momentos de impasse com o cliente.

‘Uma recepcionista, a partir do momento que esteja sozinha, sem

supervisão, ela é treinada para que use o bom senso. Normas existem

mas tem que ter autonomia e bom senso para saber em que momento

você deve sair um pouquinho’.

Para isso, existe na cultura do Hospital uma maior tolerância ao erro

‘Nós tentamos respeitar mesmo que alguém faça de uma forma errada.

Mostramos que naquele momento a pessoa agiu de forma indevida mas

não será proibida de agir novamente assim. Vou tentar orientar para que

da próxima vez faça da forma correta, mas a pessoa não será

repreendida’.

Estrutura da organização

O Hospital 5 conta com um quadro de funcionários enxuto, porém considerado

capacitado, bem treinado e altamente comprometido. Nenhum serviço é terceirizado.

A taxa de turnover do hospital é bem baixa, menor que 3%.

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‘A característica do hospital é de funcionários de muitos anos de casa.

Destes 700 funcionários, temos em torno de 15% com mais de 15 anos

na casa, uns 30% com mais de 10 anos. Com menos de 1 ano de

empresa eu não devo ter nem 20 funcionários hoje’.

O Hospital 5 dispõe de equipamentos com a mais avançada tecnologia e os melhores

recursos materiais do mercado.

‘Nós só não desenvolvemos um bom trabalho se não quisermos: temos

recursos, treinamento. Isso dá uma tranqüilidade. Para o profissional,

não basta ele ser bom. O profissional médico, se ele não tiver uma

equipe de enfermagem boa, se não tiver recursos, equipamentos,

materiais, ele não vai exercer a profissão dele com competência, porque

ele depende de uma série de fatores’.

A estrutura física contribui para a qualidade do atendimento ao cliente, contando com

áreas espaçosas, confortáveis mas sem qualquer luxo.

O ambiente de trabalho é outro item apontado como facilitador no atendimento ao

cliente.

‘Eu costumo receber pessoas de vários locais, de outros hospitais, e é

curioso que quando eles saem daqui elas falam: ‘Eu nunca entrei em uma

empresa e vi tantas pessoas felizes’. Eles conseguem captar isso, não é

nada forçado’.

Este clima é percebido pelos clientes. Nas cartas encaminhadas ao Hospital é freqüente o

paciente destacar tanto o lado humano do atendimento como o ambiente propício para a

recuperação.

‘Não é só um ambiente calmo mas acho que esta energia positiva nós

temos que passar. Nós estamos em um lugar em que as pessoas

precisam de levantar o astral, as pessoas estão para baixo’.

A cultura do hospital de valorização do ser humano, e de sempre se colocar no lugar do

outro, seja cliente ou colega de trabalho, contribui para o atendimento ao cliente.

‘Procuramos levar muitas experiências, muitos casos que acontecem aqui

para discutir. Como você reagiria se você estivesse na situação do

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paciente, da família? Levamos estes casos para que os funcionários

possam refletir’.

A própria política de qualidade adotada pelo Hospital 5 reforça o foco no cliente: o

paciente é o mais importante e tudo é feito para que a assistência ao paciente seja a

melhor possível.

‘Eu tenho que estar preocupada com isso o tempo todo. Que ele seja

atendido no menor tempo, da melhor forma. Todos nós temos que

trabalhar bastante para isso, porque ele é a razão de nossa existência. Se

eu trato mal o cliente, não tem cliente, não tem hospital, não tem

empresa’.

Para a gerente de qualidade, os funcionários já internalizaram essa orientação para o

paciente.

‘Nas reuniões com a superintendente, em que ela deixa o canal aberto

para os funcionários fazerem suas colocações, raramente uma área faz

uma colocação que gostaria de alguma coisa para a área, voltada mais

internamente, para o funcionário. É sempre assim, ‘olha, se a gente

pudesse colocar isso para o paciente...’, sempre voltado para o paciente’.

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4.2 – Análise dos resultados

A análise das entrevistas foi desenvolvida de forma a obter comparações entre os

hospitais pesquisados e resgatar aspectos identificados no referencial teórico utilizado,

destacando-se os pontos comuns entre as empresas e os exemplos de impacto na

aplicação do marketing interno.

O objetivo final desta análise é verificar como a orientação para o cliente, tão presente

nos discursos das empresas, está refletida em práticas e políticas que contribuam para a

motivação e a capacitação do funcionário para assumir seu papel no marketing interativo.

Oferta de idéia

O respeito pelos funcionários e clientes, a valorização do ser humano, e o ambiente de

trabalho agradável foram as características comuns apontadas pelos hospitais estudados

como as responsáveis por torná-los lugares especiais para se trabalhar.

Os hospitais 1, 2 e 5 afirmaram buscar o desenvolvimento nos funcionários de uma visão

holística da estratégia de serviços e do papel e importância de cada um para o sucesso

desta estratégia, o que contribui para a valorização do funcionário e para o espírito de

equipe.

Somente o Hospital 1 destacou efetivamente a oferta de uma idéia ao funcionário, como

preconizado por Berry e Parasuraman (1995), ao posicionar-se como instrumento para o

crescimento e a satisfação de seus funcionários.

Recrutamento e seleção

Todos os hospitais apontaram uma expressiva oferta espontânea de candidatos bem

como a freqüente indicação destes por seus funcionários, o que sugere o reconhecimento

destes hospitais como referência de qualidade para a opinião pública e/ou de um bom

local para se trabalhar (Schneider e Bowen, 1995).

Com exceção do Hospital 1, os demais citaram também como fonte de recrutamento

programas de recrutamento interno - no hospital 4 este programa ainda está em fase de

implementação - o que corrobora o discurso de valorização do funcionário.

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Como a oferta de candidatos em geral supera a demanda, observa-se que os hospitais

assumem uma postura mais passiva com relação ao recrutamento: em geral, nenhum

esforço para atrair funcionários potenciais é realizado.

Em contraste com a recomendação de Berry e Parasuraman (1995), nenhum dos

hospitais considera as expectativas dos clientes na definição de perfil de candidato ideal.

Todos os processos seletivos dos hospitais estudados são iniciados com a análise dos

currículos, seguidos de entrevista com o psicólogo, testes de conhecimentos técnicos e

entrevistas com as áreas solicitantes. O Hospital 1 e 2 realizam também pesquisas sobre a

vida pregressa do candidato, considerando aspectos pessoais e profissionais.

Apesar de todos os hospitais relatarem que outras habilidades além das técnicas são

consideradas no processo de seleção, nem todos utilizam ferramentas adequadas para

identificar as características comportamentais de seus candidatos. Como forma de avaliar

a personalidade dos candidatos, são aplicadas simples entrevistas, dinâmicas de grupo,

testes psicotécnicos e até exames grafológicos, o que seria pouco confiável segundo

Schneider e Bowen (1995).

Merece destaque o envolvimento da direção no processo de recrutamento e seleção dos

hospitais 3 e 5, o que vai de encontro à recomendação de Berry e Parasuraman (1995) de

envolver um maior número de pessoas na avaliação do candidato. A participação da

direção no processo destaca a importância conferida à escolha das pessoas que passarão

a fazer parte da comunidade organizacional e pode ser uma característica comum de

organizações ligadas a instituições religiosas.

Além de explicitar a importância dada ao processo de seleção, o envolvimento de um

maior número de pessoas contribui para minimizar a interferência de viés pessoal na

escolha do candidato. É curioso observar que quem decide a contratação no Hospital 5 é

a superintendente, independente da escolha da área solicitante.

Treinamento

Os hospitais 2, 3 e 5 contam com programas de integração bem estruturados para os

novos funcionários. Palestras com diversas áreas, apresentando o hospital, sua estrutura,

organograma, missão, objetivos e valores fazem parte destes programas de integração. O

Hospital 2 e o 5 tem a preocupação de incluir também aspectos relativos à política de

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qualidade e à cultura de atendimento ao cliente, o que está em concordância com a

sugestão de Grönroos (1995).

Apesar das informações sobre o hospital e sua estrutura serem passadas breve e

informalmente, o Hospital 1 é o único que possui um programa de treinamento inicial

para todas as áreas, inclusive limpeza e manutenção, onde os profissionais mais antigos

acompanham os novos funcionários, por no mínimo uma semana, até que estes estejam

aptos a assumirem suas funções.

Os hospitais 2, 3 e 5 fazem seus planejamentos anuais de treinamento com base em

levantamento de necessidades das áreas, sendo que os hospitais 3 e 5 também

consideram os inputs dos funcionários para o planejamento, seja através de comentários

e sugestões ou dos resultados das avaliações de desempenho e da pesquisa com os

funcionários.

Nenhum dos hospitais citou expectativas levantadas na pesquisa com os clientes como

fonte para o planejamento dos treinamentos, o que poderia representar um obstáculo ao

objetivo do treinamento preconizado por Berry e Parasuraman (1995) de preparar o

funcionário para fazer o serviço que o cliente espera.

Os planejamentos incluem treinamentos técnicos, comportamentais, motivacionais e

voltados para o atendimento ao cliente. Todos os hospitais, exceto o Hospital 4, apontam

como altos os investimentos em treinamento, encarados como processos contínuos. É

notória a preocupação de envolver todos os funcionários, ainda que a equipe de

enfermagem sempre receba maior atenção. O Hospital 3, por exemplo, investe na

formação de técnicos em enfermagem e na oferta de cursos de pós-graduação para os

enfermeiros. O foco na enfermagem é justificado pelo impacto que o relacionamento

enfermagem-paciente possui na percepção do paciente e de seus familiares sobre a

qualidade geral do serviço prestado, conforme destacado na pesquisa bibliográfica.

Lewis e Entwistle (1990) recomendam a utilização do conceito de cliente interno nos

programas de treinamento em serviços, de forma a contribuir para o gerenciamento de

atitudes. O Hospital 2 reconhece a importância de trabalhar o conceito de cliente interno

para obter um serviço de excelência ao cliente externo e o Hospital 5 credita a melhoria

da comunicação entre os departamentos e o desenvolvimento do espírito de equipe à

difusão do conceito de cliente interno entre seus funcionários.

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Considerando a fundamental importância do desenvolvimento de habilidades interpessoais

para o encontro de serviço (Schneider e Bowen, 1995; Lewis e Entwistle, 1990), o

Hospital 3 realiza reuniões periódicas com um psicólogo para trabalhar aspectos

comportamentais. O Hospital 5 adota como rotina treinamentos de relações interpessoais,

de atendimento ao cliente e de trabalho em equipe, independente de serem apontados

nos levantamentos de necessidades de treinamento.

Nos programas de treinamento do Hospital 5 também merecem destaque: (1) a utilização

de métodos diversos para o treinamento de seus funcionários - conforme indicado por

Berry e Schneider (1995); (2) treinamentos voltados para o desenvolvimento de

habilidades gerenciais que contribuam para o marketing interno; (3) treinamento para a

tomada de decisão durante o encontro de serviço.

Avaliação / Recompensas

Somente os hospitais 2 e 5 avaliam o desempenho de seus funcionários de maneira

formal e sistemática, considerando aspectos técnicos e comportamentais. Estes hospitais

também são os únicos com certificação ISO 9002, o que leva a crer que o sistema de

avaliação é mais um reflexo das normas de qualidade exigidas. Os demais hospitais

relataram o uso de feedback informal continuamente.

Considerando que o sistema de recompensa desempenha importante papel no

gerenciamento de atitudes e comportamentos dos funcionários, (Schneider e Bowen,

1995; Berry e Parasuraman, 1995), os hospitais perdem a oportunidade de sinalizar para

seus funcionários os comportamentos valorizados ao não vincular recompensas ao

sistema de avaliação de desempenho.

Por outro lado, os funcionários cujo tratamento dispensado é elogiado pelos clientes

recebem o reconhecimento dos hospitais 1, 2 e 5 através de recompensas não

financeiras, como diplomas, prêmios, notas de encorajamento da gerência, e/ou o

destaque no jornal interno, nos murais e em eventos comemorativos. Estas práticas vão

de encontro à sugestão de Varey (1995) de se reconhecer os modelos de qualidade de

serviço via canais internos de comunicação.

A postura do Hospital 3 de premiar a assiduidade em detrimento do desempenho do

funcionário no encontro de serviço é no mínimo inusitada: o hospital assume o

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atendimento de excelência como obrigação do funcionário e a assiduidade como um

comportamento que precisa ser estimulado, numa clara inversão de valores.

Papel do gerente

Para os hospitais estudados, o gerente ideal possui, além da competência técnica e da

capacidade de atingir as metas e resultados esperados, bom relacionamento interpessoal,

liderança democrática, afinidade com a cultura da empresa, equilíbrio, bom senso,

flexibilidade, capacidade para orientar e motivar seus funcionários, e incentivar o trabalho

em equipe.

De acordo com Grönroos (1995), as características citadas têm impacto direto sobre o

estabelecimento de um bom ambiente de trabalho, propiciando uma comunicação mais

aberta e transparente e maior participação dos funcionários no planejamento e no

processo decisório. Vale ressaltar que o gerente desempenha um papel crítico no

incentivo ao trabalho em equipe, considerado essencial para a prestação de um serviço

com qualidade (Berry e Parasuraman, 1995).

A participação dos funcionários é tida como parte da cultura dos hospitais, mas o grau de

participação é variável de acordo com o perfil de cada gerência. Nenhum dos hospitais

conta com programas estruturados de incentivo às idéias e sugestões dos funcionários. Os

hospitais 4 e 5 buscam incentivar o envolvimento dos funcionários na tomada de decisões

de forma mais ativa, através da promoção de reuniões periódicas entre os funcionários e

as diretorias.

Para que se obtenha resultados efetivos, a afinidade com a cultura da empresa deve ser

traduzida em exemplos práticos dos gerentes, seja através da clara definição de

expectativas de qualidade, do reconhecimento de atitudes compatíveis e da remoção de

processos internos que atuem como obstáculos ao serviço (Albrecht e Zemke, 1985).

Comunicação interna

Como veículo de comunicação interna, apenas os hospitais 2 e 4 possuem um jornal

dirigido ao seus públicos internos. A comunicação via mural ou quadro de avisos é comum

a todos os hospitais e o correio eletrônico é utilizado pelos hospitais 2, 3 e 5. Reuniões

periódicas são realizadas pelos hospitais 2, 3 e 4. Os hospitais 3 e 5 também fazem uso

de memorandos para a comunicação interna.

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A comunicação interna dos hospitais estudados envolve basicamente aspectos técnico-

operacionais, motivacionais, e aspectos ligados a administração de pessoal. O Hospital 3

destacou também o papel da comunicação interna na divulgação de novos serviços. Em

geral, a comunicação interna funciona também como uma forma de integração, com a

apresentação de novos funcionários, o anúncio de nascimentos de filhos de funcionários,

os aniversariantes do mês, a divulgação de eventos comemorativos, seminários e

congressos e por vezes, a oferta de produtos e serviços pelos funcionários.

Em geral, os hospitais não dirigem suas comunicações internas para a difusão de valores

ou para o reforço da orientação para o atendimento ao cliente, ficando estas restritas ao

desenvolvimento de um bom clima interno para o trabalho. O papel da comunicação

interna no desenvolvimento de um clima para serviços só é assumido plenamente no

Hospital 2, que busca veicular também informações gerais sobre o setor de saúde, novos

projetos, suas estratégias, missão e política da qualidade, além da divulgação de modelos

de qualidade de serviço.

Comunicação externa

A comunicação externa voltada para pacientes e prospects ainda é considerado tabu para

muitos dos hospitais, conforme evidenciado por Eisenberg (1997). Apenas os hospitais 2 e

4 praticam consistentemente o marketing externo voltado para este público, com

destaque para o Hospital 4.

Já o marketing voltado para médicos e seguradoras é melhor assumido pelos hospitais.

Com o médico, busca-se fidelizá-lo através de facilidades no dia-a-dia, e a organização de

eventos dedicados, como jantares comemorativos, palestras, e congressos. Com os planos

de saúde o objetivo é estreitar o relacionamento e criar parcerias, facilitando a resolução

de eventuais impasses ou conflitos e a venda de novos serviços.

A postura adotada pelo Hospital 3 de investir em capacitação para a excelência no

atendimento - através de reestruturação da área física, aquisição de novos equipamentos

e das políticas de treinamento e remuneração - em detrimento de investimentos em

marketing externo, visa claramente o marketing boca-a-boca e encontra respaldo em

Berry e Parasuraman (1995), que sustentam que um serviço de excelente qualidade é o

marketing mais eficiente.

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120

Pesquisas

Todos os cinco hospitais estudados realizam pesquisas de satisfação com seus pacientes,

através de formulário estruturado para este fim. Os hospitais 2 e 3 não se limitam a

esperar pela iniciativa do paciente de responder ao questionário, também utilizando

entrevistas pessoais com funcionários dedicados (hoteleira e ouvidora) para medir a

satisfação de seus pacientes com o serviço prestado. Pesquisas com o grupo de clientes

médicos são realizadas pelos Hospitais 2, 3 e 4, sendo o Hospital 2 o único que conduz

pesquisas também com as seguradoras.

É interessante notar que as pesquisas de satisfação com os clientes no Hospital 4 são

responsabilidade da área de Recursos Humanos, diferente do observado nos outros

hospitais estudados. Este fato pode servir para reforçar o papel estratégico da área ao

possibilitar o planejamento de políticas de Recursos Humanos alinhadas com as

expectativas dos clientes, o que ainda não se confirmou na prática, em função do pouco

tempo de funcionamento do Hospital e da área de Recursos Humanos ainda estar sendo

estruturada.

Se todos os hospitais buscam o feedback freqüente de seus pacientes, o mesmo não

acontece com relação a seus mercados internos. Somente os hospitais 2, 3 e 4 conduzem

algum tipo de pesquisa com seus funcionários de forma sistemática: o Hospital 2 realiza

anualmente pesquisa de clima organizacional e disponibiliza uma psicóloga como ouvidora

dos funcionários; o Hospital 3 realiza reuniões periódicas com o psicólogo e grupos de

funcionários, buscando obter avaliações sobre os processos internos e as dificuldades

vivenciadas por seus funcionários; e o Hospital 4 é o único a conduzir entrevistas de

desligamento com os funcionários, um tipo de pesquisa recomendado por Taylor e

Cosenza (1997).

Nenhum dos hospitais busca validar as pesquisas de satisfação com os clientes com as

pesquisas com os funcionários, como preconizado por Joseph (1996) e Lewis e Entwistle

(1990). O Hospital 2, por exemplo, trabalha os resultados da pesquisa de clima

organizacional de forma localizada e restrita, somente dentro de cada área, sem divulgar

os resultados para as áreas de Marketing e Qualidade, responsáveis pelo

acompanhamento da pesquisa de satisfação com os clientes.

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121

Também não foram relatadas pesquisas com o funcionário com o objetivo de se obter a

percepção dele sobre a qualidade do serviço prestado ou um maior entendimento sobre

os clientes e suas expectativas.

Autonomia dos funcionários

As regras e políticas dos hospitais 1, 2 e 4 são difundidas informalmente, através dos

veículos de comunicação interna ou via chefia direta. Os hospitais 3 e 5 possuem

regulamentos internos e manuais operacionais, indicando uma maior valorização da

disciplina e da observação às normas, que podem ser explicadas pelo vínculo a

instituições religiosas.

Por terem regras e políticas bem definidas e documentadas, era esperado que nos

hospitais 3 e 5 a autonomia do funcionário fosse bem limitada, fato que se confirma para

o Hospital 3. Porém, é surpreendente notar que o Hospital 5 é o único a relatar que seus

funcionários recebem treinamento para capacitá-los para a tomada de decisão no

momento de interação com o cliente, contribuindo para a internalização do valor de

orientação para o cliente.

O Hospital 4 acredita que possui uma cultura de valorização da iniciativa dos funcionários,

apesar de julgar que sua cultura ainda está em formação pelo pouco tempo de

funcionamento. No Hospital 1, os funcionários são orientados a agir de acordo com a

cultura de serviço ao cliente do hospital e há uma maior tolerância ao erro, fundamental

para incentivar o funcionário a tomar decisões sem o medo de ser repreendido

posteriormente.

Considerando as etapas propostas por Berry e Parasuraman (1995) para o

desenvolvimento de empowerment, a implantação de sistemas de avaliação e

recompensas que estimulem a criatividade e a iniciativa em prol da satisfação do cliente

não foi observada em nenhum dos hospitais.

Estrutura organizacional

Grönroos (1995) destaca que a estrutura organizacional deve apoiar o estabelecimento de

uma cultura de serviços. De um modo geral, todos os hospitais acreditam que suas

estruturas organizacionais contribuem para a qualidade do atendimento ao cliente, seja

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pela qualidade e quantidade de seus recursos humanos, materiais e tecnológicos, ou pela

adequação de suas instalações físicas.

O Hospital 2 expressou forte preocupação com a reestruturação pela qual está passando e

seus possíveis reflexos na cultura de orientação para o cliente. Por vezes, as medidas

tomadas visando a redução de custos chegaram a comprometer a qualidade do

atendimento, sendo estas posições revistas. O aspecto mais crítico é considerar o impacto

destas medidas no moral dos funcionários. Um agravante neste processo é o fato da

consultoria contratada para orientar a revisão da estrutura bem como o novo presidente

possuírem seus backgrounds em indústrias, e não em serviços.

Os Hospitais 1 e 5 fizeram questão de destacar o baixo turnover e a presença de

funcionários com muitos anos de serviço em seus quadros. Os funcionários antigos

desempenham papel importante tanto na orientação das tarefas técnico-operacionais

como na propagação da cultura da empresa, ainda que também representem fonte de

resistência à introdução de novas práticas.

Os hospitais 1, 4 e 5 guardam ressalvas quanto à terceirização dos serviços. A razão

alegada para a não terceirização dos serviços é a mesma: a possível perda do controle da

qualidade do serviço. Estes hospitais acreditam veementemente que a satisfação dos

pacientes e acompanhantes com o hospital é influenciada por cada encontro de serviço,

seja com o corpo clínico ou com funções de suporte, como manutenção, limpeza e

estacionamento.

O bom ambiente de trabalho e a cultura de orientação para o cliente também são citados

como facilitadores do atendimento ao cliente. Como obstáculos ou dificultadores, foram

citados a comunicação entre os departamentos nos hospitais 2 e 3, a logística interna do

Hospital 2 e o excesso de burocracia do Hospital 3.

Considerando que as políticas de recursos humanos desempenham importante papel no

estabelecimento do clima de bem estar para os funcionários, base para o sucesso de um

programa de marketing interno, também foram avaliados aspectos de remuneração, de

planejamento de carreira e de atividades de integração dos funcionários.

Os salários são considerados na média do mercado, exceto o salário do Hospital 3 que é

tido como o melhor do mercado. Estar na média do mercado não garante a satisfação da

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necessidade de segurança do funcionário, uma vez que o mercado de saúde, junto ao de

educação, é reconhecido como o de pior remuneração.

Talvez buscando compensar este fato, alguns hospitais se destacam em suas políticas de

benefícios - como os hospitais 2, 3 e 5 - oferecendo benefícios do tipo cesta básica,

auxílio-farmácia, empréstimos especiais aos funcionários, assistência jurídica e

financiamento de imóvel a preço de custo.

O Hospital 1 é o único a pagar participação nos lucros, o que reflete a preocupação de

obter o comprometimento do funcionário com os resultados da organização, ainda que

por vezes não fique claro a contribuição de cada funcionário no resultado final, visto que

não há um sistema de avaliação de desempenho implementado.

Dentre os hospitais estudados, apenas o Hospital 2 possui um plano de carreira para seus

funcionários, com as promoções ocorrendo de acordo com as avaliações de desempenho.

Todos os hospitais estudados promovem atividades de integração para seus funcionários,

como festas juninas, confraternização de final de ano, ou eventos esportivos, sendo que

no Hospital 2 existe a preocupação de envolver também os prestadores de serviços nestas

atividades.

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4.1 - Quadro resumo

Hospital 1 Hospital 2 Hospital 3 Hospital 4 Hospital 5

Oferecer umaidéia

Respeito pelosfuncionários;compreensão dopapel naestratégia daempresa

Bom clima detrabalho;valorização do serhumano;constanteevolução

Caráterhumanista eassistencial;vínculo comentidade religiosa

Ambiente detrabalhoagradável

Forte valorizaçãodo ser humano;compreensão dopapel naestratégia daempresa

Recrutamento Ofertaespontânea;indicação defuncionários

Ofertaespontânea;indicação defuncionários;recrutamentointerno; anúnciosem jornais;consultorias

Ofertaespontânea;indicação defuncionários;recrutamentointerno; anúnciosem jornais

Ofertaespontânea;indicação defuncionários;anúnciosfechados emjornais

Interno; ofertaespontânea;indicação defuncionários;anúncios emjornais

Seleção Análise currículo;teste deconhecimentotécnico;entrevista;pesquisa pessoale profissional

Análise currículo;entrevista compsicólogo; testespráticos epsicotécnicos;dinâmicas degrupo; examegrafológico;entrevista com aárea solicitante;pesquisa pessoale profissional

Análise currículo;entrevista compsicólogo; testespsicotécnicos,entrevistas com aárea solicitante ecom a direção

Análise currículo;dinâmica degrupo; entrevistacom psicólogo eárea solicitante;provas técnicas

Análise currículo;entrevista compsicólogo;entrevista comárea solicitante;dinâmicas eprovas técnicas;entrevista com asuperintendentedo hospital

Treinamento Programa deeducaçãocontinuada paratodas as áreas,com foco maistécnico;Novosfuncionários:apresentação dohospital e períodode treinamento

Planejamentoanual com baseem levantamentode necessidadese análise dedesempenho,contemplandoaspectosmotivacionais,técnicos e oatendimento aocliente; programade integraçãosendo ampliadopara todos osfuncionários

Planejamentoanual deeducaçãocontinuada combase emlevantamento denecessidades dasáreas; aspectostécnicos ecomportamentais.Novosfuncionários:apresentação àsáreas do hospitale manhã deintegração;

Programa deintegração denovosfuncionáriosrealizado porcada chefiaresponsável; nãoconta com umplanejamento detreinamentos:estes sãorealizados deforma isolada elimitada,principalmenteatravés dereuniões com osfuncionários;implantação deprograma detrainees

Planejamentoanual dostreinamentosinternos combase emlevantamento denecessidades dasáreas; comorotina,treinamentos derelações pessoais,de atendimentoao paciente e dos5S;Novosfuncionários:programa deintegraçãoestruturado

Avaliação Prática defeedbackcontínuo einformal

Avaliação dedesempenhosemestral

Não há avaliaçãode desempenhoformal

Somente para operíodo deexperiência,contemplandoaspectos técnicosecomportamentais

Avaliação dedesempenhoanual, abordandoaspectos técnicosecomportamentais.

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Hospital 1 Hospital 2 Hospital 3 Hospital 4 Hospital 5

Remuneração Salários na médiado mercado;benefícios domercado +anuênio;participação noslucros

Salários na médiado mercado;benefícios acimado mercado;

Salários ebenefícios acimada média domercado;

Salários na médiado mercado;benefícios domercado

Salários na médiado mercado;benefícios acimada média domercado

Recompensas Diploma epremiação paraos funcionáriosque recebemelogios declientes

Placa, eventocomemorativo edestaque nojornal interno dofuncionário domês

Não existem Não existem Notas dereconhecimentopela qualidade doserviço prestado;divulgação noPainel daQualidade

Plano carreira Não existe Existem 3 níveispara cada cargo;promoções emfunção daavaliação dedesempenho

Não existe Não existe Não existe

Participaçãodosfuncionários

Só a nível desugestões

Presente nacultura daempresa; variávelde acordo comcada gerente

Presente nacultura daempresa; variávelde acordo comcada gerente

Presente nacultura daempresa;reuniõesperiódicas dadiretoria efuncionários paraenvolvimento natomada dedecisões

Incentivo àparticipação dosfuncionários emreuniões e naapresentação desugestões

Supervisão /Gerência

Característicasdesejadas:competênciatécnica, bomrelacionamentointerpessoal eestar em linhacom a cultura deserviço daempresa

Característicasdesejadas:liderançademocrática;incentivo aotrabalho deequipe;motivação dosfuncionários;atenção ao serhumano ecumprimento dosprazos e metas.

Característicasdesejadas:competênciatécnica, bomrelacionamentointerpessoal,entendimento desuaresponsabilidade,orientação dosfuncionários

Característicasdesejadas:formador de umagerênciaparticipativa, bomrelacionamentointerpessoal,motivador daequipe; queobtenha osresultadosesperados

Característicasdesejadas: alémda competênciatécnica,equilíbrio, bomsenso eflexibilidade

Comunicaçãointerna

Somente mural Jornal interno;reuniõesperiódicas;murais e correioeletrônico

Memorandos,documentos,mural, correioeletrônico eprincipalmentereuniõesinformais

Jornal interno;reuniõesperiódicas;quadro de avisos

Quadro de avisos,murais, correioeletrônico,memorandos eboletim médico

Comunicaçãoexterna

Dirigida somenteaos médicos eseguradoras

Ampla, dirigidapara pacientes,prospects,médicos eseguradoras

Restrita àdivulgação denovos serviços

Agressiva,dirigida parapacientes,prospects,médicos eseguradoras

Dirigida somenteaos médicos eseguradoras, deforma bemlimitada

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Hospital 1 Hospital 2 Hospital 3 Hospital 4 Hospital 5Pesquisas comclientes

Com ospacientes,através deformulários

Com pacientes:através deformulários,entrevistas com aouvidora e online.Também commédicos,seguradoras efornecedores

Com pacientes:através deformulários,entrevistas com aresponsável pelahotelariaMédicos:avaliação docentro cirúrgico

Com pacientes,através deformuláriosdiferenciadospara cada setor;com os médicospara avaliação docentro cirúrgico eseus processos

Com pacientes,através deformuláriosdiferenciadospara cada setor

Pesquisas comfuncionários

Não Pesquisa de climaorganizacionalanualmente;também contacom ouvidoraligada a RH

Reuniõesperiódicas com opsicólogo paraavaliar processosinternos

Somenteentrevista dedesligamento

Pesquisa de climaorganizacionalconduzida umaúnica vez

Regras epolíticas

Difusão informal,via chefia

Divulgaçãoatravés dosveículos decomunicaçãointerna e materialentregue naadmissão

Regulamentointerno; manualde normas erotinas dasunidades;treinamentosperiódicos

Difusão informal,via chefia

Regulamentointerno, manualda qualidade emanuais setoriais

Autonomia parao funcionário

Orientação paraagir de acordocom a cultura deserviço aocliente;

Limitada pelonível hierárquicoe pelas normasde qualidadeimplantadas

Praticamenteinexistente; muitolimitada pelosprocessosinternos

Variável deacordo com cadachefia mas ainiciativa évalorizada nacultura daempresa

Variável deacordo com cadachefia mas osfuncionáriosrecebemtreinamento paraa tomada dedecisão nomomento deinteração com ocliente

Estruturaorganizacional

Recursoshumanos,equipamentos,estrutura física ecultura deserviçoscontribuem parao atendimento aocliente

Cultura,processosinternos, recursoshumanos etecnológicos,ambiente detrabalhocontribuem parao atendimento aocliente; logística,reestruturação ecomunicaçãoentre osdepartamentospodem serobstáculos

Instalaçõesfísicas, recursoshumanos,materiais etecnológicoscontribuem parao atendimento aocliente; aburocracia e acomunicaçãoentre osdepartamentospodem serconsideradosobstáculos

Instalaçõesfísicas, recursoshumanos,materiais etecnológicos,ambiente detrabalho e culturade serviçocontribuem parao atendimento aocliente

Instalaçõesfísicas, recursoshumanos,materiais etecnológicos,ambiente detrabalho, boacomunicaçãoentre osdepartamentos,espírito deequipe, políticada qualidade ecultura deorientação para oclientecontribuem parao atendimento aocliente

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5- Conclusões

O trabalho de campo realizado em hospitais e clínicas na cidade do Rio de Janeiro

possibilitou evidenciar, na prática, muitos dos aspectos apontados na literatura.

O primeiro aspecto a ser ressaltado diz respeito à clara compreensão, por parte dos

hospitais estudados, sobre seus diferentes públicos de clientes. Além do público mais

óbvio - pacientes, familiares e visitantes – foram citados os médicos e os seguros de

saúde como clientes externos e os funcionários como clientes internos.

A condição de fragilidade do paciente e de seus familiares é reconhecida por todos os

hospitais, que buscam formas de diminuir o stress e a tensão destes clientes, seja através

do cuidadoso planejamento do ambiente físico, da oferta de facilidades adicionais ou da

conscientização e treinamento de seus funcionários.

Em alguns dos hospitais estudados, nota-se o desenvolvimento de estratégias de

relacionamento voltadas para os públicos de médicos e dos seguros de saúde, de forma a

manter ou incrementar estes relacionamentos.

A necessidade de manter a competitividade e a própria migração do poder dos hospitais

para os convênios e seguradoras trazem como desafio a maior eficiência da gestão e do

controle de custos. Os investimentos em novos equipamentos e serviços e a revisão de

processos e da estrutura organizacional foram algumas das saídas apontadas pelos

hospitais estudados.

A visão empresarial de um hospital ou clínica ainda é pouco assumida. Salvo raras

exceções, o marketing externo ainda é considerado como impróprio para uma organização

que, historicamente, sempre teve um caráter considerado mais assistencialista.

O Hospital 3 fez questão de expressar que não investe em qualquer atividade de

marketing externo, mas que concentra seus investimentos na capacitação para o

atendimento de excelência, visando claramente o marketing boca-a-boca e reconhecendo

o peso das recomendações pessoais na indicação de um serviço de saúde.

Com relação aos objetivos específicos desta pesquisa, foi observado que todos os

executivos dos hospitais estudados destacaram, em seus discursos, o foco na satisfação

do cliente, a preocupação com o desenvolvimento de uma orientação para serviços e o

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reconhecimento da relação existente entre a satisfação do funcionário e a satisfação do

cliente. Mas as políticas e as práticas observadas nem sempre confirmam esses discursos.

Os primeiros passos na obtenção da satisfação dos clientes, sejam internos ou externos,

seriam: (1) conhecer suas expectativas e necessidades; e (2) mensurar a qualidade do

serviço percebida pelo cliente. Isto é bem claro para todos os hospitais quanto a seus

clientes externos: todos conduzem pesquisas com os pacientes e alguns também com os

médicos e as seguradoras. No entanto, as expectativas e as necessidades dos

funcionários, bem como as avaliações que eles fazem dos processos internos, das políticas

da empresa e do serviço prestado ao cliente, são pouco consideradas.

A preocupação em capacitar todos os funcionários, inclusive aqueles de funções de

suporte, se faz presente em todos os relatos, o que indica que os hospitais reconhecem

que os clientes julgam a qualidade do serviço com base em todos os encontros de serviço

experimentados.

Outro fato que vem reforçar esta indicação é a resistência expressa à terceirização de

serviços, o que funciona como forma de manter o controle da qualidade dos serviços

prestados aos clientes.

A maior atenção conferida ao treinamento e capacitação da equipe de enfermagem reflete

a consciência da importância do relacionamento com a enfermagem para a satisfação do

paciente. Relatos na literatura já comprovaram que a satisfação com a enfermagem é o

principal determinante da qualidade de um hospital (Atkins, Marshall e Javalgi, 1996;

Bitner, 1995).

Além dos investimentos em capacitação técnica contínua dos funcionários, nota-se que o

aspecto comportamental também é considerado pelos hospitais pesquisados. A

importância de uma percepção positiva do encontro de serviço para a satisfação do

cliente é bem compreendida, ainda que nem sempre se traduza em ações práticas. Um

exemplo que se destaca neste aspecto é o Hospital 5, que inclui treinamentos periódicos

de relações pessoais e de atendimento ao cliente em seu planejamento anual.

O treinamento de integração dos novos funcionários também é praticado por quase todos

os hospitais estudados. Neste treinamento é apresentada uma visão holística do hospital,

com descrição de sua estrutura, organograma, missão, valores e objetivos. Por

possuírem certificação ISO 9002, os hospitais 2 e 5 também incluem nestes treinamentos

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aspectos relativos às suas políticas de qualidade e à importância do funcionário na

obtenção dos objetivos de qualidade da organização.

A recomendação presente na literatura de que exista maior integração entre as funções

de marketing e de recursos humanos foi pouco observada. Os profissionais de recursos

humanos entrevistados até demonstraram ter a consciência do papel fundamental de suas

áreas na satisfação dos clientes externos, mas as práticas e políticas adotadas pelas

organizações nem sempre comprovam a perfeita compreensão do impacto dessas práticas

nas estratégias de marketing.

É preconizado que marketing trabalhe próximo a recursos humanos, de forma a entender

e influenciar o ambiente de trabalho e a monitorar o nível de satisfação dos funcionários.

Foi observado, contudo, que os resultados das poucas pesquisas conduzidas com os

funcionários são tratados de forma restrita ao escopo da área de recursos humanos, não

sendo possível validá-los com os resultados das pesquisas com os clientes.

A comunicação dirigida aos funcionários dos hospitais estudados tem um foco mais

interno, sendo encarada como ferramenta para o desenvolvimento de um bom clima para

o trabalho, envolvendo aspectos mais operacionais e de integração entre as diversas

áreas. Normalmente responsabilidade da área de recursos humanos, não há a

preocupação de utilizar os veículos de comunicação interna também para o

desenvolvimento de um clima para serviços, com mensagens de difusão de valores de

orientação para o cliente.

A exceção que se destaca é o Hospital 2, que busca repassar em sua comunicação interna

informações sobre o mercado de saúde em geral, novos projetos e estratégias, além de

reforçar sua missão e os valores de orientação para o cliente.

Conforme relatado na revisão bibliográfica, a tendência observada para o sucesso das

organizações de serviço é a transferência de responsabilidades e da tomada de decisão

para os funcionários mais próximos dos clientes. Para que isso ocorra de fato, o

funcionário precisa estar capacitado através de treinamentos e da internalização da

cultura da organização, receber o suporte da gerência direta e ser estimulado pelos

sistemas de avaliação e recompensas.

Na pesquisa de campo foi observado que a preocupação com o treinamento dos

funcionários é mais voltada para aspectos técnicos, sendo poucas as ações efetivas para

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possibilitar que o funcionário se sinta seguro para a tomar decisões. A difusão da cultura

é deixada praticamente ao acaso, com raros mecanismos ativos que possibilitem a

internalização dos valores de orientação para o cliente.

O papel do gerente na difusão da cultura e na busca do comprometimento do funcionário

com o serviço ao cliente - seja através da prática de avaliações contínuas e informais, do

estabelecimento de um clima aberto, transparente e participativo, de suas atitudes e do

exemplo concreto no contato com os clientes - foi pouco relatado nas entrevistas

conduzidas.

Somente o Hospital 2 citou o papel ativo do executivo principal na manutenção da cultura

organizacional, que vem sofrendo modificações desde que este executivo foi substituído

por um profissional do mercado industrial.

Também os sistemas de avaliação e de recompensas são bem pouco utilizados, não

contribuindo efetivamente para motivar ou direcionar os funcionários para

comportamentos que busquem a excelência nos serviços prestados. Os hospitais 2 e 5

são os únicos a praticar avaliações de desempenho formais. No entanto, os resultados

destas avaliações não são ligados a nenhum tipo de remuneração por desempenho.

Como é grande a oferta de candidatos espontâneos, os hospitais estudados não

empreendem esforços para atrair funcionários potenciais. Existe a clara preocupação de

não limitar os critérios de seleção a aspectos de competência técnica, mas a identificação

de habilidades sociais e interpessoais ainda é conduzida de forma bastante intuitiva, sem

a utilização de instrumentos mais objetivos e eficazes.

Em geral, os hospitais não trabalham com uma descrição precisa para o cargo a ser

preenchido. Desta forma, o funcionário potencial não tem a exata percepção de suas

tarefas de marketing ou da responsabilidade pelo relacionamento com o cliente, o que

pode vir a comprometer seu desempenho posterior.

Em suma, nota-se que poucas práticas organizacionais podem ser caracterizadas como

atividades de marketing interno, apesar da destacada importância do papel do funcionário

na obtenção da satisfação do cliente.

Os hospitais que apresentam um maior alinhamento entre as práticas de recursos

humanos e as estratégias de marketing e qualidade são aqueles que contam com políticas

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de qualidade certificadas. A própria implementação da gestão da qualidade total acaba

permitindo uma revisão dos processos internos e uma maior compreensão da relação

entre as funções.

É interessante destacar que o Hospital 4, que nasceu com uma proposta diferenciada

quanto ao atendimento ao cliente, refletida no cuidadoso planejamento de suas áreas

físicas, não conferiu a devida importância ao planejamento e à implementação de políticas

de recursos humanos que dessem respaldo àquela proposta e que contribuíssem para a

difusão de uma cultura de serviços.

As atividades estudadas – políticas e práticas de recursos humanos, gerenciamento da

comunicação e da cultura – ainda têm seu foco predominante no desenvolvimento de um

bom clima de trabalho e de uma maior integração entre os funcionários, como forma de

promover o comprometimento dos funcionários com a empresa e melhorar o processo

produtivo. As relações e implicações dessas práticas para o atendimento e relacionamento

com os clientes ainda são, em geral, tratadas de forma superficial e episódica.

Ainda que um clima de bem estar para os funcionários seja considerado como

fundamento para o clima de serviços, as atividades de marketing interno não podem estar

limitadas ao atendimento das necessidades dos funcionários, sem contemplar a missão e

os objetivos estratégicos da organização de satisfação do cliente externo.

Torna-se necessário um maior envolvimento de marketing nas políticas e práticas de

recursos humanos, bem como no gerenciamento da comunicação e da cultura. Se a maior

responsabilidade pelo cumprimento e manutenção das promessas realizadas pelas

organizações de serviços - seja através do marketing externo ou de outros sinais que

permitam de alguma forma tangibilizar a oferta - cabe a seus funcionários, a necessidade

de motivá-los e capacitá-los para o encontro de serviço deve ser compreendida como

tarefa de marketing.

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5.1 - Sugestão de Pesquisas Futuras

Considerando que os dados empíricos sobre a aplicação e a eficácia do marketing interno

são escassos, qualquer estudo que venha a investigar tais aspectos pode ser indicado

como sugestão de futuras pesquisas.

O presente estudo enfocou a aplicação do marketing interno, buscando identificar as

práticas e as políticas organizacionais que pudessem ser caracterizadas como

componentes de um programa de marketing interno. Uma vez que a coleta de dados

limitou-se a entrevistas com o lado institucional, uma primeira sugestão para ampliar esta

pesquisa seria levantar a percepção dos funcionários sobre as atividades de marketing

interno implementadas.

Neste contexto, outra recomendação que surge é a mensuração do impacto destas

atividades na avaliação dos clientes sobre os encontros de serviço vivenciados.

Pesquisas quantitativas poderiam ser conduzidas de forma a comprovar aspectos

levantados nesta etapa exploratória. Também questões como a compreensão do termo

marketing interno, ou se as práticas de recursos humanos tem seu foco no atendimento

dos objetivos estratégicos ou ainda se os recursos humanos – atuais e requeridos - são

considerados nas estratégias de marketing e qualidade traçadas, poderiam ser incluídas

em estudos quantitativos.

Por fim, cabem ainda duas sugestões quanto a estudos futuros. A primeira diz respeito à

identificação das principais dificuldades de implementação de um programa de marketing

interno. A segunda se refere à aplicação da presente pesquisa a outros setores da

economia de serviços.

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6- Referências Bibliográficas

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Anexo I – Carta

Rio de Janeiro, XX de novembro de 1998

Prezado Senhor,

O Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal doRio de Janeiro (COPPEAD / UFRJ) vem realizando pesquisas que se inserem na Linha deEstudos sobre Marketing no setor de serviços no Brasil.

Um dos estudos, ora em execução pela mestranda Luciana Chiesa, procura analisar asestratégias de Marketing Interno implementadas em hospitais selecionados. Este estudoprevê uma fase de entrevistas com os profissionais responsáveis pelas estratégias deMarketing e Recursos Humanos.

A atuação desta organização tem merecido destaque no cenário empresarial do Rio deJaneiro, o que nos fez inclui-la entre os estabelecimentos que tencionamos pesquisar.Assim, venho pela presente solicitar uma entrevista com V. Sa., em local e data de vossaconveniência. Os principais tópicos a serem tratados nessa reunião estão organizadossegundo um roteiro que pode ser disponibilizado previamente, caso seja do interesse deV. Sa. Para tanto basta contatar Luciana Chiesa no telefone (21) 556-2698, solicitando oenvio do roteiro.

Em conformidade com as normas internacionais, o COPPEAD/UFRJ assegura que todas asinformações prestadas serão consideradas estritamente confidenciais. O tratamento dosdados procede de forma a tornar impossível identificar respostas individuais.

A valiosa colaboração do Hospital X para a facilitação desta pesquisa honra e estimula osesforços dos pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro para ampliar,melhorar e divulgar conhecimentos sobre o setor hospitalar no Brasil. Desde já,colocamos à disposição de V. Sa. os resultados futuros da pesquisa.

Atenciosamente,

Frederico A. de CarvalhoProfessor AdjuntoCoordenador da Pesquisa

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Anexo II - Roteiro de entrevista

1. Na sua opinião, o que faz desta organização um lugar especial para se trabalhar?

2. Como é realizado o recrutamento e seleção ?• quem está envolvido no processo• quando é feito• de que forma• o que é avaliado e como• quem decide a contratação

3. Há programas de treinamento / desenvolvimento ?• que tipos, métodos, freqüência• como são identificadas as necessidades• quem participa, quem treina, quem decide• orientação para contato direto com o cliente

4. Como os funcionários são avaliados ? Há algum tipo de avaliação formal ?• quem participa, quem avalia• freqüência• o que é avaliado

5. O que acontece quando:• o funcionário é elogiado por um cliente ?• o cliente reclama de um funcionário ?

6. Como é o sistema de remuneração / recompensas ?• comparação com o mercado• benefícios oferecidos

7. Há planos de carreira para o funcionário ?• quais funcionários• quantos níveis

8. Em que medida os funcionários participam de decisões gerenciais ?

9. Para esta organização, o que caracteriza um bom supervisor / gerente ?

10. Como se processa a comunicação interna ? E a externa ?• formas / veículos• freqüência / periodicidade• conteúdo

11. São realizadas pesquisas com os funcionários? E com os clientes ?• tipo, freqüência• temas abordados• como os resultados obtidos são trabalhados

12. De que forma as regras e políticas da empresa são difundidas para os funcionários?

13. Até que ponto os funcionários têm autonomia/liberdade para agir?

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14. Em que medida a estrutura da organização facilita o atendimento ao cliente ?• staff• recursos materiais / tecnológicos• políticas / procedimentos• ambiente• cultura• serviços terceirizados

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Anexo III - Guia de entrevista

RECRUTAMENTO E SELEÇÃO

" Considera competências necessárias para atender as expectativas do cliente (atual efuturo)?

" Como atrai os candidatos ?

" Considera as habilidades na comunicação interpessoal, atitudes, iniciativa,identificação com serviços ?

TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO

" Os funcionários compreendem missão/objetivos gerais da empresa?

" Treinamento e desenvolvimento contribuem para atender as expectativas dos clientes?

" Até que ponto estes refletem os objetivos e estratégias da empresa ?

" Socialização e integração de novos funcionários

" Melhorias na comunicação interpessoal, gerenciamento de atitudes

" Supervisores e gerentes

" Orientação para serviços, cultura/filosofia

" Introdução de novos processos

AVALIAÇÃO

" A organização define claramente o que é um serviço excepcional?

" Os métodos de avaliação são claros para os funcionários?

" O sistema reflete o que os clientes esperam da empresa ?

" Resultados X orientação para serviços

" individual X equipe

" Existe avaliação de desempenho formal ? Quais os funcionários que são avaliados?

" É dado feedback ao funcionário ?

RECONHECIMENTO / RECOMPENSA

" Benefícios: quais, há segmentação

" Reflete expectativas do cliente

" Tipos ( financeiros, não-financeiros)

" Planos de carreira

" individual X equipe

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SUPERVISÃO / GERÊNCIA

" Grau de participação dos funcionários

" Papel na difusão da cultura/filosofia

" Incentivo ao trabalho em equipe

" Cooperação entre áreas

" Taxa de turnover entre os funcionários

" Comprometimento com a qualidade do serviço

COMUNICAÇÃO

" Formas, veículos, periodicidade

" Promove o conhecimento dos objetivos, estratégias, cultura, produtos e serviços ?

" Refletem as comunicações externas ?

" Fluxo de informações entre departamentos

" Pesquisas para conhecer o funcionário, grau de satisfação, moral, clima.

" Pesquisas com os funcionários para entender o cliente

" Eventos de integração

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

" Cultura de serviços

" Atende às expectativas do cliente ?

" Facilita a entrega do serviço (recursos materiais, ambiente físico)

" Staff suficiente

" Recursos tecnológicos (acompanha avanços, aberta a novos produtos/ equipamentos)

" Ambiente de trabalho nos bastidores

" Terceirização de serviços

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

1.1 - OBJETIVO DO ESTUDO ........................................................................................... 21.2 - RELEVÂNCIA DO ESTUDO ........................................................................................ 31.3 - DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ...................................................................................... 3

2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 4

2.1 - MUDANÇA NO PAPEL DE MARKETING .......................................................................... 42.2 - MARKETING EM EMPRESAS DE SERVIÇOS ..................................................................... 72.3 - INTEGRAÇÃO ENTRE AS FUNÇÕES MARKETING E RECURSOS HUMANOS ............................... 132.4 – MARKETING INTERNO.......................................................................................... 182.5 - MARKETING INTERNO EM HOSPITAIS....................................................................... 45

3 – METODOLOGIA ........................................................................................... 52

3.1 - TIPO DE PESQUISA.............................................................................................. 523.2 - UNIVERSO E AMOSTRA ......................................................................................... 523.3 - COLETA DE DADOS.............................................................................................. 533.4 - TRATAMENTO DOS DADOS..................................................................................... 553.5 - LIMITAÇÕES DO MÉTODO ..................................................................................... 56

4 - RESULTADOS............................................................................................... 57

4.1 – RELATO DAS ENTREVISTAS ................................................................................... 574.1.1 Hospital 1............................................................................................................574.2.2 Hospital 2............................................................................................................634.2.3 Hospital 3............................................................................................................754.2.4 Hospital 4............................................................................................................864.2.5 Hospital 5.......................................................................................................... 101

4.2 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................. 114

5- CONCLUSÕES ............................................................................................. 127

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 133