Marx - O capital Livro I

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Valor O valor tem caráter fundamentalmente social, e começa sua trajetória na analise da mercadoria. A mercadoria, ponto inicial abordado por Marx, é a forma elementar da riqueza, ou seja, a primeira forma que o valor assume. Ela é composta por valor de uso, a utilidade que ela possui, e valor de troca, a quantidade de trabalho socialmente necessário para sua produção. Com a generalização das trocas, e o estabelecimento de formas monetárias – dinheiro como equivalente geral - o que passa a prevalecer é o valor de troca, representando uma troca de trabalho abstrato, indiferenciado, resultante de dispêndio de força de trabalho. Não há mais diferença entre quem planta, quem costura, quem coze, o trabalho concreto se submete ao abstrato, e este será visto não mais como uma relação social, mas como uma relação entre coisas. Daí parte o fetichismo da mercadoria, em que as coisas parecem se movimentar independente de quem as produzem já que o que se encontram no mercado são as mercadorias e não os produtores, e a relação entre elas aparece como uma relação social. Nesse momento a mercadoria, para ter valor e ser considerada como tal, deve realizar o “salto mortal” e se transformar em dinheiro, receber o crivo de mercado, ser vendida. As mercadorias entram e saem e o dinheiro permanece, passa a ser um fim em si mesmo. A passagem do dinheiro para a forma capital vai colocar o dinheiro como fim último do processo de valorização, e portanto, do processo de produção. O dinheiro não servirá só como um meio de troca entre as mercadorias e uma medida de valor em que todas elas podem se expressar, buscando somente distintos valores de uso, ele passa a ter também reserva de valor, ser o início e o fim do processo, criar um valor excedente, ampliar a si mesmo. Como capital, está em constante movimento e tem um caráter antediluviano, podendo se apropriar de tudo que é produzido e remover os obstáculos para sua expansão. Os limites para a valorização são rompidos através do progresso técnico, que desenvolve as forças produtivas e submete as estruturas à logica capitalista.

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Capítulos 1 ao 24 do livro

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Valor

O valor tem caráter fundamentalmente social, e começa sua trajetória na analise da mercadoria. A mercadoria, ponto inicial abordado por Marx, é a forma elementar da riqueza, ou seja, a primeira forma que o valor assume. Ela é composta por valor de uso, a utilidade que ela possui, e valor de troca, a quantidade de trabalho socialmente necessário para sua produção. Com a generalização das trocas, e o estabelecimento de formas monetárias – dinheiro como equivalente geral - o que passa a prevalecer é o valor de troca, representando uma troca de trabalho abstrato, indiferenciado, resultante de dispêndio de força de trabalho. Não há mais diferença entre quem planta, quem costura, quem coze, o trabalho concreto se submete ao abstrato, e este será visto não mais como uma relação social, mas como uma relação entre coisas. Daí parte o fetichismo da mercadoria, em que as coisas parecem se movimentar independente de quem as produzem já que o que se encontram no mercado são as mercadorias e não os produtores, e a relação entre elas aparece como uma relação social.

Nesse momento a mercadoria, para ter valor e ser considerada como tal, deve realizar o “salto mortal” e se transformar em dinheiro, receber o crivo de mercado, ser vendida. As mercadorias entram e saem e o dinheiro permanece, passa a ser um fim em si mesmo. A passagem do dinheiro para a forma capital vai colocar o dinheiro como fim último do processo de valorização, e portanto, do processo de produção. O dinheiro não servirá só como um meio de troca entre as mercadorias e uma medida de valor em que todas elas podem se expressar, buscando somente distintos valores de uso, ele passa a ter também reserva de valor, ser o início e o fim do processo, criar um valor excedente, ampliar a si mesmo. Como capital, está em constante movimento e tem um caráter antediluviano, podendo se apropriar de tudo que é produzido e remover os obstáculos para sua expansão. Os limites para a valorização são rompidos através do progresso técnico, que desenvolve as forças produtivas e submete as estruturas à logica capitalista.

Reprodução Simples e Ampliada

Todo processo de produção é ao mesmo tempo um processo de reprodução, em que uma parte dos produtos se transforma novamente em meios de produção. Através do consumo produtivo, o trabalhador consome meios de produção e produz valor que contém a quantidade de trabalho necessário a sua subsistência, e um excedente, a mais-valia, apropriado pelo capitalista. Marx parte sua análise da Reprodução Simples, em que toda a mais-valia gerada era gasta em consumo e era sempre reinvestida a mesma porção de capital. O ato repetitivo de produzir e reproduzir, portanto, servia para reproduzir a classe capitalista – como possuidora dos meios de produção - e a classe trabalhadora – como vendedora de força de trabalho. Isso vai proporcionando, porém, ao capitalista acumular capital, investir um capital adicional na nova produção, que irá gerar uma mais-valia maior, que será mais uma vez capitalizada, e somada ao capital original e reinvestidos. Isso se dá quando a mais-valia, parte constituinte da mercadoria, passa da forma de trabalho não pago para a forma dinheiro após receber a chancela do mercado. O capital investido também retorna a sua forma

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pretérita dinheiro, e assim a mais-valia pode ser capitalizada, proporcionando a acumulação. Esse novo valor acumulado será mais uma vez investido, transformado em dinheiro, para ser transformado em meios de produção e força de trabalho, assim gerando uma nova mais-valia, também transformada em dinheiro depois de passar pelo tribunal impessoal do mercado, dando continuidade ao processo, um processo de Reprodução Ampliada da produção. O volume dessa acumulação depende do grau de exploração do trabalho, das forças produtivas, da diferença crescente entre capital aplicado e capital consumido e a grandeza do capital adiantado.

A Reprodução Ampliada primeiro se dá com a ampliação quantitativa do capital constante e do capital variável, não alterando a relação entre eles. Isso porém, provoca um aumento crescente da demanda por mão-de-obra, o que fará aumentar os salários e no limite, esbarrar no estoque populacional. O aumento dos salários diminui portanto o ritmo da acumulação, que seguindo essa hipótese, faria com que os capitalistas demandassem menos trabalhadores, rebaixando os salários e aumentando novamente a acumulação. Para não passar por esse processo, o ideal seria diminuir a demanda relativa por força de trabalho, o que se dá com a alteração da composição orgânica do capital, em que é acrescentado mais capital constante – meios de produção, não criam valor - em relação ao variável – força de trabalho, fundos de subsistência para os trabalhadores, responsáveis pela criação de valor. Isso só é possível com o progresso técnico, que aumenta a produtividade do trabalho, fazendo com que se precise de menos trabalhadores para realizar a mesma função que antes era feita com muitos outros. Esse progresso técnico é impulsionado pela concorrência entre os capitalistas, que funciona como um mecanismo de eliminação do outro, e tem como fator importante o crédito – o poder de antecipar o futuro. Duas tendências fundamentais decorrem desse processo: a concentração de capitais nas mãos do capitalista, dos meios de produção e do comando sobre o trabalho; a centralização, a fusão ou absorção de capitais uns pelos outros. Uma, por sua vez, impulsiona a outra, à medida que a acumulação avança, potencializando também esse movimento, ou seja, é um processo retroalimentado.

Lei Geral

Marx desenvolve a Lei Geral da Acumulação Capitalista partindo da composição orgânica do capital constante, em que o capital variável aumenta conjuntamente ao capital constante. A demanda de força de trabalho tende a aumentar, o que é bom para os trabalhadores, pois seus salários aumentam e no limite esbarra no estoque populacional. Como o Capitalismo supera suas próprias barreiras, para que não haja decréscimo da acumulação com o aumento dos salários – mesmo que o mercado tenda a fazer com que a procura diminua, e o salario, e portanto a acumulação, voltem ao normal -, haverá alteração na composição orgânica do capital, em que o capital constante crescerá mais rapidamente que o variável, através da incorporação permanente de progresso técnico impulsionada pela concorrência. A medida que avança o progresso técnico, porém, desvaloriza tanto o trabalho – torna-o cada vez mais redundante, enfraquecendo as bases da valorização – quanto o capital fixo – tornando-o obsoleto. Assim, o crescimento da classe da trabalhadora é mais rápido que o dos

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meios de ocupação, e vai se produzindo um excedente de mão-de-obra, chamado por Marx de Superpopulação Relativa, necessário ao Capitalismo em pontos decisivos da produção em que grandes massas humanas devem estar disponíveis para que não haja quebra de escala em outras esferas. Essa população excedente, pano de fundo da “lei de oferta e demanda de trabalho”, é responsável pelos movimentos do salario, e por uma pressão sobre os trabalhadores ocupados, que com medo de serem demitidos, são obrigados à submissão ao capital. Essa superpopulação se expressa primeiramente de forma flutuante, em forma de um exército industrial de reserva, já treinado e pronto para ser inserido no processo produtivo; de forma latente, em que a população rural pode ser transformada em urbana manufatureira mas precisa de uma preparação; e por fim, a estagnada, que envolve o pauperismo, os degradados, os vagabundos, criminosos, prostitutas, órfãos, indigentes. A Lei Geral da Acumulação Capitalista é, portanto, que a medida que o capital cresce, aumenta essa superpopulação relativa, o trabalho torna-se mais redundante. Quanto mais se desenvolvem as forças produtivas, a acumulação de riqueza aumenta, e aumenta também a miséria, de forma progressiva e contínua.