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MAURICIO MOREIRA DE CARVALHO EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA. O OUTRO LADO DA MOEDA: A OPINIÃO DOS FUNCIONÁRIOS. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total. Orientador: Prof. Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, D.Sc. Niterói, RJ 2006

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MAURICIO MOREIRA DE CARVALHO

EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA. O OUTRO LADO DA MOEDA: A OPINIÃO

DOS FUNCIONÁRIOS.

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total.

Orientador: Prof. Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, D.Sc.

Niterói, RJ 2006

MAURICIO MOREIRA DE CARVALHO

EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA. O OUTRO LADO DA MOEDA: A OPINIÃO

DOS FUNCIONÁRIOS.

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total.

Aprovada em: ____ / ____ / ____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Professor Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, D.Sc.

Universidade Federal Fluminense - UFF

_____________________________________________ Professor Annibal Parracho Sant’Anna, Ph.D.

Universidade Federal Fluminense - UFF

_____________________________________________ Professor Roberto Peixoto Nogueira, D.Sc.

Pontifícia Universidade Católica – PUC/Rio

Niterói, RJ 2006

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos, bens maiores de minha vida, como exemplo e incentivo à busca contínua do engrandecimento intelectual.

À Cecília, esposa dedicada, companheira, amiga e maior incentivadora para a

realização deste projeto tão importante em minha vida.

À minha amada mãe e à memória de meu pai.

AGRADECIMENTOS

Ao Ballerini, Carla, Carlos José, Erasmo, Luis Alberto, Márcio e Raul, pelos incentivos e contribuições.

Ao Joseph Brais, grande amigo que, como Diretor, me apoiou em todos os

momentos.

Ao Prof. Quelhas, pela atenção e paciência na orientação de minha dissertação.

Aos colegas de turma do MSG pelo agradável convívio durante o curso.

Aos colegas do Inmetro que contribuíram respondendo o questionário de pesquisa encaminhado.

Ao Inmetro, ao qual me orgulho de pertencer, pela oportunidade de

crescimento profissional.

AGRADECE

Irmão José / Francisco Cândido Xavier

“Atravessaste provas que não imaginavas ... Deixaste para trás tantas dificuldades ...

Venceste desafios que quase te arrasaram ... Sustentaste o equilíbrio ante a queda iminente ...

Lutaste a vida inteira, sempre fiel ao bem ... Agradece ao Senhor, que te amparou as forças.”

RESUMO No atual mundo globalizado, constata-se que as constantes mudanças de cenário do ambiente competitivo constituem séria ameaça à sobrevivência das organizações. A inexistência de programas estratégicos, voltados ao alcance de metas organizacionais que objetivem dar sustentabilidade a essas organizações, contribui para o comprometimento da sua eficácia e para a perda de sua competitividade. No caso de organização pública, o risco existente é o da perda de credibilidade e conseqüente extinção. Este estudo tem como foco a gestão de organizações públicas, e objetiva responder questões inerentes a processo de implantação da gestão por competências em uma dessas organizações. Nele, são avaliadas as etapas da gestão de mudanças e propostas ações. A opinião dos funcionários da organização é utilizada para identificar forças restritivas e impulsionadoras que influenciam a eficácia da implantação da gestão por competências. O método de estudo de caso e a revisão de literatura são os elementos estruturais da estratégia de pesquisa adotada. Foram aplicados questionários para o levantamento da opinião dos funcionários da organização estudada. Palavras-chave: Gestão de mudanças, Gestão por competências, Gestão de

organização pública.

ABSTRACT

In the present globalized world, constant changes on the competitive environment constitute a dire threat to organizations' survival. The lack of strategic programs, which comprise organizational goal achievements so as to give sustainability to the organizations, contributes to the jeopardy of their effectiveness and to their competitive loss. In the case of Public Organization Management, the potential risk is credibility gap and consequent disbandment. The focus of this study is the management of public organizations, and it aims at answering intrinsic issues from one of this organization's Competence Management implementation process. Within it, the Change Management stages are assessed and actions are presented. The organization employees' opinion is used to identify restrictive and encouraging forces which influence the effectiveness of the Competence Management. The case-study method and literature review are structural elements of the adopted strategy of research. Questionnaires were used to collect data among employees of the organization under survey. Key words: Change Management, Competence Management, Public Organization

Management.

LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Marcos da evolução do modelo de gestão pública ........................

Quadro 2 – Fundamentos que representam a excelência na gestão pública ..........................................................................................

Quadro 3 – Razões pelas quais as pessoas resistem às mudanças ................

Quadro 4 – Os oito erros mais comuns num processo de mudança .................

Quadro 5 – Fontes de complacência mantenedoras do status quo ..................

Quadro 6 – Considerações acerca do estabelecimento do senso de urgência ........................................................................................

Quadro 7 – Considerações acerca da criação de uma coalizão administrativa ................................................................................

Quadro 8 – Características-chave de uma visão eficaz ....................................

Quadro 9 – Considerações acerca do desenvolvimento de uma visão .............

Quadro 10 – Elementos-chave para a comunicação eficiente da visão ............

Quadro 11 – Considerações acerca da comunicação da visão da mudança ....

Quadro 12 – Propostas para a eliminação de barreiras ao empowerment .......

Quadro 13 – Atitudes das pessoas em relação a uma visão ............................

Quadro 14 – Considerações acerca de como investir de empowerment os funcionários ..................................................................................

Quadro 15 – Ações para conquistas a curto prazo e seus benefícios ..............

Quadro 16 – Considerações acerca da realização de conquistas a curto prazo ...........................................................................................

Quadro 17 – Considerações acerca da consolidação de ganhos e produção de mais mudanças ........................................................................

Quadro 18 – Fixação da mudança na cultura ....................................................

Quadro 19 – Considerações acerca do estabelecimento de novos métodos na cultura ......................................................................................

Quadro 20 – Fraquezas da gestão de pessoas identificadas no planejamento estratégico da DIRAF ...................................................................

Quadro 21 – Critérios e pontuação do PQGF ...................................................

Quadro 22 – Correlação das assertivas com as forças impulsionadoras ..........

Quadro 23 – Correlação das assertivas com as forças restritivas ....................

Quadro 24 – Presença de forças impulsionadoras no processo de mudança .......................................................................................

Quadro 25 – Presença de forças restritivas no processo de mudança .............

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – As três dimensões das competências ............................................

Figura 2 – Competências como agregação de valor ao indivíduo e à organização ....................................................................................

Figura 3 – Modelo de gestão organizacional baseada em competências .......

Figura 4 – Modulagem do processo de modernização do Inmetro ...................

Figura 5 – Estrutura organizacional da Diraf .....................................................

Figura 6 – Forças passíveis de presença no processo de mudança ................

Figura 7 – Opinião sobre as forças impulsionadoras – Percentuais de graus atribuídos ...........................................................................

Figura 8 – Opinião sobre as forças impulsionadoras – Médias dos graus atribuídos .........................................................................

Figura 9 – Opinião sobre as forças restritivas – Percentuais de graus atribuídos ..........................................................................................

Figura 10 – Opinião sobre as forças restritivas – Médias dos graus atribuídos ........................................................................................

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Pontuação das assertivas e das forças impulsionadoras ................

Tabela 2 – Pontuação das assertivas e das forças restritivas ...........................

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LISTA DE SIGLAS Conmetro – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

Diraf – Diretoria de Administração e Finanças

Direh – Divisão de Recursos Humanos

GPC – Gestão por Competências

Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

INPM – Instituto Nacional de Pesos e Medidas

INT – Instituto Nacional de Tecnologia

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MF – Ministério da Fazenda

MP – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

PNQ – Prêmio Nacional da Qualidade

PQGF – Prêmio Qualidade do Governo Federal

PQRio – Prêmio Qualidade Rio

RNML – Rede Nacional de Metrologia Legal

Seder – Serviço de Desenvolvimento de Recursos Humanos

Sinmetro – Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

T&D – Treinamento & Desenvolvimento

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................

1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA ...........................................................................

1.3 OBJETIVO, JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA ........................

1.4 QUESTÕES DE PESQUISA .....................................................................

1.5 METODOLOGIA DE PESQUISA ...............................................................

1.6 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA .................................................................

2 REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 2.1 GESTÃO DO SERVIÇO PÚBLICO ...........................................................

2.1.1 Breve histórico da evolução da administração pública .............

2.1.2 O movimento pela qualidade no Brasil .............................................. 2.1.3 O modelo de excelência em gestão pública ......................................

2.2 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS .............................................................

2.2.1 Competências organizacionais ...........................................................

2.2.2 Competências individuais ...................................................................

2.2.3 Uma proposta de modelo de gestão por competências ...................

2.3 GESTÃO DE MUDANÇAS ........................................................................

2.3.1 O processo de Kotter: a mudança em oito etapas ............................

2.3.1.1 Estabelecimento de um senso de urgência .........................................

2.3.1.2 Criação de uma coalizão administrativa ..............................................

2.3.1.3 Desenvolvimento de uma visão ...........................................................

2.3.1.4 Comunicação da visão da mudança ....................................................

2.3.1.5 Como investir de empowerment os funcionários para ações abrangentes .........................................................................................2.3.1.6 Realização de conquistas a curto prazo ..............................................

2.3.1.7 Consolidação de ganhos e produção de mais mudanças ...................

2.3.1.8 Estabelecimento de novos métodos na cultura ...................................

3 A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS NO INMETRO. O OUTRO LADO DA MOEDA: A OPINIÃO DOS FUNCIONÁRIOS .........................................................................

3.1 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO .................................................................

3.1.1 Evolução da metrologia e criação do Inmetro ...................................

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3.1.2 Missão, estrutura e desenvolvimento do Inmetro ............................. 3.2 FATORES QUE DEFINIRAM A DECISÃO PELA IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ....................................................... 3.2.1 O Plano de Modernização do Inmetro ................................................

3.2.2 O Contrato de Gestão com o governo federal ................................. 3.2.3 O planejamento estratégico ................................................................

3.2.4 O Prêmio Qualidade do governo federal .......................................... 3.3 A SITUAÇÃO PROBLEMA ........................................................................

3.4 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................................

3.4.1 Análise das forças impulsionadoras .................................................

3.4.2 Análise das forças restritivas ............................................................

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: APRENDIZADOS EFETUADOS NO ESTUDO DA EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ................................................................................ 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA NOVAS PESQUISAS ....... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... ANEXO ............................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Tem sido observado que, a exemplo do setor privado, as organizações

públicas vêm aplicando cada vez mais técnicas modernas de gestão voltadas ao

aprimoramento da qualidade e ao aumento da produtividade. Este fato resulta da

crescente conscientização sobre a importância da competitividade como estratégia

de desenvolvimento.

A implementação de novas práticas de gestão, por representar mudança do

status quo da organização, esbarra em variáveis que perpassam não só a cultura

como também o clima organizacional. Assim, tais variáveis influenciam de forma

significativa o sucesso dos programas de modernização propostos.

Novas metodologias, para serem bem-sucedidas, precisam lidar com os

possíveis impactos que causam na organização. A aplicação de novos modelos de

gestão promove transformação cultural para lidar com fatos e dados. Em certos

casos essa transformação significa mudança radical nas práticas de gestão. Por

essa razão, espera-se que surjam resistências. Novas metodologias estão

relacionadas com mudanças e, nas organizações, as pessoas encaram de diferentes

formas essa questão.

Segundo Silva (1999): [...] Diariamente encontramos pessoas insatisfeitas

com as condições a que estão submetidas no ambiente de trabalho e, por outro lado,

organizações numa febre incontrolável pela busca de produtividade, qualidade,

competitividade e lucratividade. Sendo assim, os agentes de mudança devem

adquirir maiores competências e habilidades para perceber que não lhes faltam

oportunidades de mudar esse cenário e sim estratégias melhores e inovadoras que

assegurem atingir grandes resultados.

1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA

A gestão estratégica de recursos humanos contribui para conferir vantagem

competitiva sustentável às organizações. A justificativa é a de que promove o

desenvolvimento de habilidades, produz complexo de relações sociais e gera

conhecimento tácito. A gestão por competências surge, então, como aplicação ou

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derivação dessa teoria, ou seja, como mecanismo para promover a gestão

estratégica de recursos humanos e, por conseguinte, gerar diferencial competitivo

para a organização.

Por gestão estratégica de recursos humanos entende-se a função de atrair,

desenvolver e manter o pessoal necessário à consecução de objetivos

organizacionais, através da utilização de sistemas de recursos humanos

consistentes entre si e coerentes com a estratégia da organização (TAYLOR et al,

1996).

Percebe-se, como regra geral nas organizações públicas brasileiras, a falta de

programas estruturados de gestão de recursos humanos alinhados a objetivos

estratégicos. As ações nessa área ficam muitas vezes sujeitas a iniciativas pessoais

por parte do corpo gerencial da organização. A inexistência de critérios claros para

investimento em capacitação propicia, em muitos casos, o favorecimento pessoal e a

conseqüente falta de compromisso com os resultados dos treinamentos. Observa-se

que a inadequada utilização dos recursos disponibilizados para T&D decorre de

fatores tais como a indefinição das competências organizacionais, a falta de

estabelecimento de planos de desenvolvimento individuais baseados nos “gaps” de

competências observados, assim como a falta de avaliação da eficácia dos

treinamentos realizados.

Ao longo da pesquisa bibliográfica não foram identificados outros trabalhos

que tenham se dedicado ao estudo da gestão da mudança em organizações

públicas, particularmente no que se relaciona a implantação da gestão por

competências.

Ouvir a voz de funcionários que participam de processos de implantação de

programas de gestão por competências é relevante, e o autor enfatiza tal

importância com a utilização desta estratégia na pesquisa.

1.3 OBJETIVO, JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

Este estudo objetiva responder questões inerentes a processo de mudança

organizacional, no caso a implementação do programa de gestão de pessoas por

competências no Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

Industrial – Inmetro. A opinião dos participantes desse processo de mudança é

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investigada a fim de estabelecer a intensidade com que forças impulsionadoras e

restritivas influenciam, na visão deles, o sucesso do programa.

A partir da última década, tem-se observado maior rigor na política econômica

adotada pelo governo federal. Tal fato tem provocado decisões mais criteriosas para

a liberação de recursos orçamentários e financeiros às organizações públicas para

cumprimento de suas missões. A utilização desses recursos, cada vez mais

escassos, exige, por parte das organizações públicas, maior rigor na priorização de

suas ações, valorizando aquelas alinhadas a objetivos estratégicos que garantam

sua sustentabilidade.

A gestão por competências vem sendo apontada como uma tecnologia de

gestão alternativa aos modelos tradicionalmente utilizados pelas organizações

(BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001; SANTOS, 2001).

Com base na premissa de que o domínio de certos recursos é determinante

do desempenho superior da organização, a gestão por competências propõe-se a

integrar e orientar esforços, sobretudo os relacionados a gestão de pessoas, visando

desenvolver e sustentar competências consideradas fundamentais à consecução

dos objetivos organizacionais (PRAHALAD; HAMEL, 1990; DURAND, 1998).

A relevância desta pesquisa localiza-se no estudo da gestão da organização

pública. Associado a este tema, encontra-se a gestão de mudanças e a implantação

da gestão por competências. Tais temas, integrados e organizados, contribuem para

a ciência da gestão de organizações públicas.

1.4 QUESTÕES DE PESQUISA

A presente pesquisa pretende, com base na revisão bibliográfica, bem como

na análise e no tratamento quantitativo e qualitativo de dados obtidos pela aplicação

de levantamento de opinião junto aos participantes do processo de mudança,

responder às seguintes questões:

- Quais os fatores de eficiência no Serviço Público?

- O que é qualidade no Serviço Público?

- O que é gestão por competências?

- O que é gestão de mudanças? Segundo os estudiosos no assunto, como

devem ser as etapas da mudança organizacional?

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- Qual a opinião dos envolvidos no processo de implantação da gestão por

competências?

- Quais as forças restritivas e impulsionadoras que, na opinião dos

funcionários, estarão presentes na implantação da gestão por

competências na organização estudada?

- A partir das opiniões dos funcionários, quais as ações e recursos

necessários para o sucesso da implantação da gestão por competências

na organização estudada?

1.5 METODOLOGIA DE PESQUISA

O autor optou pela elaboração de estudo de caso por considerar que os

problemas encontrados, decorrentes da implantação de um novo método de gestão

de pessoas, são próprios da organização. As variáveis causais obtidas com a

pesquisa dão uma visão global do problema e identificam possíveis fatores que o

influenciam ou são por ele influenciados. Servem portanto de base para futuras

propostas de mudança na gestão da organização.

A pesquisa, de cunho exploratório e descritivo, possibilitou ao autor investigar

a opinião e as crenças de população representativa da organização acerca da

influência de forças impulsionadoras e restritivas na implementação de ações

durante processo de mudança organizacional voltada a práticas de gestão de

pessoas por competências.

Foram selecionadas 137 pessoas para constituírem a amostra, sendo 118

servidores e 19 funcionários terceirizados. Encaminhou-se, via e-mail, questionário a

ser preenchido, onde tornou-se explícito no texto explicativo do questionário que o

destinatário poderia imprimí-lo e enviá-lo via correio. Não houve exigência de

identificação, a fim de garantir o sigilo e o anonimato das declarações.

O questionário, apresentado no Anexo, foi estruturado na forma de 40

assertivas, derivadas de um rol de 10 forças impulsionadoras e 10 forças restritivas,

passíveis de atuação no processo de mudança. As assertivas foram adaptadas de

Ribeiro, L.M. (2000), a partir de opiniões do próprio autor. Como resultado da

pesquisa, obteve-se o retorno de 54 dos 137 questionários enviados.

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Disponibilizou-se endereço eletrônico e ramal telefônico para dirimir possíveis

dúvidas a respeito não só da formulação das assertivas, como também sobre a

escala de graus a serem atribuídos a elas.

A pesquisa disponibilizou uma escala de avaliação tipo Likert, constituída por

graus de 1 a 4, sendo que: o grau 1 significava que, na opinião do respondente, a

assertiva analisada ocorreria de forma fraca no processo de mudança; o grau 2, de

forma um pouco fraca; o grau 3, de forma um pouco intensa e o grau 4, de forma

intensa.

A escala Likert, é aquela onde os respondentes são solicitados não só a

concordarem ou discordarem das afirmações, mas também a informarem qual o seu

grau de concordância/discordância. A cada célula de resposta é atribuído um

número que reflete a direção da atitude do respondente em relação a cada

afirmação (MATTAR, 1997).

O tratamento quantitativo dos dados obtidos, considerou as proporções de

respostas para cada grau previsto na escala disponibilizada. Foram aceitas como

representativas da população consultada, respostas que obtiveram média geral de

pontuação inferior a 2 ou superior a 3, ou ainda, que somaram percentuais de notas

1 e 2 ou de notas 3 e 4 iguais ou superiores a 70%, caracterizando,

respectivamente, fraca ou intensa influência da assertiva no processo de

implementação do novo modelo de gestão.

Ao término da pesquisa foram formuladas perguntas voltadas à avaliação

geral da pesquisa. Foram abordados aspectos como a dificuldade para responder, a

clareza da escala de avaliação, o tamanho da pesquisa e a conveniência de se

excluir ou incluir algum item.

1.6 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

O pesquisador atua profissionalmente no ambiente pesquisado. Existe, desta

forma, duplicidade de posicionamento: como pesquisador e como agente na

organização estudada. Tal posicionamento duplo é um desafio para que se garanta

a não contaminação da interpretação dos dados e no posicionamento final da

pesquisa. Entretanto, aceitou-se tal desafio e declara-se aqui como delimitação dos

contornos da pesquisa.

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Reuniu-se na composição da população de entrevistados, servidores e

terceiros identificados como detentores de suficiente grau de conhecimento a

respeito do tema “gestão por competências”, por terem participado das ações de

implantação da gestão por competências até então empreendidas no Inmetro, por

terem integrado uma das duas turmas de mestrado profissional em sistemas de

gestão, ministrado pela Universidade Federal Fluminense - UFF para servidores do

Inmetro, onde o tema foi abordado na disciplina Gestão de Pessoas, ou ainda por

exercerem cargo de gerência na organização.

Todas as unidades finalísticas da instituição estiveram representadas no

universo pesquisado. Estiveram também representadas outras Diretorias, em

especial a de Administração e Finanças - Diraf, à qual a área de Recursos Humanos

da organização está vinculada.

Optou-se por não identificar os respondentes a fim de garantir o anonimato

nas declarações. Com isso, não houve preocupação com classificações do tipo

idade, sexo, grau de instrução, se ocupante de cargo etc.

Mesmo sabendo-se que a opinião do gerente normalmente é diferenciada da

do técnico operacional, decidiu-se não separá-los em classes diferentes, haja vista a

natureza da organização pública onde, com freqüência, a rotatividade em cargos de

gerência é grande, o que faz com que aquele que hoje ocupa um cargo técnico

operacional, amanhã venha a se tornar gerente e vice-versa.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 GESTÃO DO SERVIÇO PÚBLICO

2.1.1 Breve histórico da evolução da administração pública

Como resposta à expansão das funções econômicas e sociais do Estado, ao

desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, surge na

segunda metade do século XX o modelo de administração pública gerencial. O novo

modelo veio em substituição aos modelos anteriores de administração pública

patrimonialista, onde o aparelho do Estado funcionava como extensão do poder do

soberano com seus auxiliares e servidores possuindo status de nobreza real, e de

administração pública burocrática, sucessora da anterior e que primava pelo

combate à corrupção e ao nepotismo, com controles rígidos dos processos, como

por exemplo na administração de pessoal, nas compras e no atendimento às

demandas.

O novo modelo de administração, embora sucessor do modelo de

administração pública burocrática, não negou todos os princípios desta, pelo

contrário, apoiou-se em alguns de seus princípios fundamentais tais como a

admissão segundo critérios rígidos de mérito, a existência de sistema estruturado e

universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante de desempenho e o

treinamento sistemático.

Este novo modelo, estabeleceu como estratégia:

a) a definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir

em sua unidade;

b) a garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos

humanos, materiais e financeiros colocados à sua disposição para atingir

os objetivos contratados; e

c) o controle ou cobrança posterior dos resultados.

Hoje, pode-se afirmar que o modelo de administração gerencial tornou-se

realidade no mundo desenvolvido, por revelar-se mais capaz de promover o

aumento da qualidade e da eficiência dos serviços oferecidos pelo setor público,

através da definição clara de objetivos para cada unidade da administração, da

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descentralização, da mudança de estruturas organizacionais e da adoção de valores

e de comportamentos modernos no âmbito do Estado.

2.1.2 O Movimento pela Qualidade no Brasil

Os primeiros movimentos pela qualidade começaram a surgir no Brasil ao

final da década de 1950.

Sobre esse início de movimento Martins, R.C. (2003, p.22) relata:

Com o principal objetivo de garantir a continuidade operacional e a segurança dos equipamentos, dos funcionários e da sociedade, a questão da qualidade começou a ser abordada pelas empresas, principalmente estatais, com seus fornecedores, forçadas pela política de substituição das importações.

Martins, R.C. (2003) afirma ainda que o fenômeno da globalização, que se

caracteriza pela produção e venda de produtos em qualquer parte do mundo, custou

a ser percebido no Brasil, e somente na década de 1980 começaram a ser

implantados programas baseados em práticas voltadas para a qualidade e

produtividade.

Tais programas serviram para conscientizar as empresas brasileiras, fossem

elas públicas ou privadas, de que a competitividade deveria ser tomada como

estratégia de desenvolvimento, garantindo maior capacitação tecnológica e

propiciando a gestão inovadora.

Martins, R.C. (2003) relaciona os seguintes programas como sendo os

principais nessa década:

• ProQP – Programa da Qualidade e Produtividade - objetivou promover a

qualidade, aumentar a produtividade, reduzir custos e incrementar a

competitividade de serviços e produtos brasileiros.

• PADCT – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico

– objetivou o incremento de aportes financeiros para apoio à pesquisa, em

setores considerados prioritários, e teve como Programas, Subprograma e

Projeto:

- Programa de Capacitação para a Qualidade;

- Programa de Capacitação de Multiplicadores;

- Programa de Cooperação Externa;

- Programa Cooperativo para a Gestão Avançada da Qualidade;

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- TIB – Subprograma Tecnologia Industrial Básica;

- PEGQ – Projeto de Especialização em Gestão da Qualidade.

• RHAE – Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades

Estratégicas – objetivou aumentar a capacidade tecnológica de instituições

prestadoras de serviços técnico-científicos, fortalecer a economia brasileira e

buscar solução para problemas tecnológicos importantes.

• PICE – Política Industrial e de Comércio Exterior – objetivou incrementar a

eficiência da produção e da comercialização de bens e serviços, e contribuir

para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira, através de três

programas:

- Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria;

- Programa de Competitividade Industrial; e

- Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade – PBQP.

2.1.3 O Modelo de Excelência em Gestão Pública

Um novo modelo de gestão pública começa a surgir na década de 1990,

focado em resultados e orientado ao cidadão, fruto da compreensão de que o maior

desafio da administração pública brasileira era de natureza gerencial. Esse novo

modelo buscou orientar as organizações públicas no caminho da transformação

gerencial, permitindo avaliações comparativas não só entre elas, mas também com

organizações públicas estrangeiras e com empresas do setor privado.

A estratégia usada foi criar o novo modelo de gestão pública com padrões

internacionais de excelência, partindo-se da premissa de que é possível ser

excelente sem perder a natureza pública.

Através da adaptação de práticas de gestão utilizadas pelo setor privado,

baseadas em critérios de excelência representativos do estado da arte em gestão,

foi criado o modelo de excelência em gestão pública como forma de viabilizar o

processo de transformação rumo à excelência gerencial com base em padrões e

práticas internacionalmente aceitas, sem que no entanto se fizesse qualquer

concessão, e respeitando-se os fundamentos que caracterizam a natureza pública

das organizações pertencentes ao aparelho do Estado.

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O modelo de gestão pública tem passado por aperfeiçoamentos contínuos ao

longo dos últimos anos, sendo a sua evolução caracterizada por quatro marcos

fundamentais, apresentados no Quadro 1.

1990 1996 2000 2005

Criação, no âmbito do Programa Brasileiro da

Qualidade e Produtividade – PBQP, do Sub-Programa da

Qualidade e Produtividade da

Administração Pública.

Criação do Programa da Qualidade e Participação na

Administração Pública – QPAP.

Criação do Programa da Qualidade no Serviço Público –

PQSP.

Criação do Programa Nacional de Gestão

Pública e Desburocratização –

GESPÚBLICA.

Gestão de processos

Gestão e resultados

Qualidade no atendimento ao

cidadão

Gestão por resultados orientada para o

cidadão Quadro 1 – Marcos da evolução do modelo de gestão pública Fonte: Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – Documento de Referência(2005)

O atual Modelo de Excelência em Gestão Pública, concebido a partir da

premissa de que é preciso ser excelente sem deixar de ser público, foi alicerçado em

fundamentos próprios da natureza pública das organizações e em fundamentos

próprios da gestão de excelência contemporânea. Unidos, esses fundamentos

representam hoje o que se entende por excelência em gestão pública. Os referidos

fundamentos são descritos no Quadro 2 apresentado a seguir.

Embora os fundamentos apresentados sejam considerados, como um todo,

de elevada relevância, dois deles são destacados pelo autor como principais, por

representarem a base de sustentação de qualquer gestão pública honesta. São eles:

a legalidade e a moralidade. O fiel cumprimento da lei e a prática de ações baseada

em princípios éticos e morais dão o devido tom de seriedade e honestidade à gestão

pública. Os demais fundamentos têm a sua importância por direcionarem a

administração pública a práticas de natureza gerencial, com destaque para a

valorização das pessoas, e por voltarem a atenção à questão social.

24

Fundamentos Comentários Excelência dirigida ao cidadão

Dar especial atenção a cidadãos e sociedade por representarem os verdadeiros usuários dos serviços públicos.

Legalidade Zelar pelo cumprimento da lei, haja vista não haver resultados considerados bons nem gestão reconhecida como de excelência sem a observância das determinações legais.

Moralidade Pautar a gestão pública em princípios morais de aceitação pública. Impessoalidade Disponibilizar a todos os usuários, indistintamente, um serviço

público de qualidade pautado em valores tais como cortesia, rapidez no atendimento, confiabilidade e conforto.

Publicidade Permitir o controle social através da transparência nas ações e na publicidade de dados e fatos.

Eficiência Utilizar a menor quantidade possível de recursos para fazer, com o máximo de qualidade, o que é necessário ser feito.

Gestão participativa

Primar por atitudes gerenciais de liderança que obtenham o máximo de cooperação das pessoas levando em conta suas diferenças de capacidade e de potencial, que harmonizem interesses individuais e coletivos, e que propiciem a sinergia das equipes de trabalho.

Gestão baseada em processos e informações

Transformar fatos e dados oriundos da gestão dos processos, assim como aqueles obtidos externamente à organização, em informações que subsidiem a tomada de decisão e agreguem conhecimento à organização.

Valorização das pessoas

Propiciar autonomia às pessoas para atingirem metas, dar-lhes oportunidades de aprendizado, de desenvolvimento de suas potencialidades e estabelecer formas de reconhecimento pelo bom desempenho.

Visão de futuro Garantir a constância de propósitos, agindo persistentemente para que as ações do dia-a-dia contribuam para a construção do futuro visualizado para a organização.

Aprendizado organizacional

Fazer com que o aprendizado seja internalizado na cultura organizacional tornando-o parte de todas as rotinas de trabalho, como forma de buscar a eliminação da causa de problemas, a implementação de inovações, e motivar as pessoas através da satisfação em constatarem que suas tarefas estão sendo executadas da melhor forma possível.

Agilidade Disseminar a noção de resposta rápida às mudanças no ambiente em que a organização se insere, de forma a assumir uma postura pró-ativa frente às novas demandas de seus usuários e demais partes interessadas.

Foco em resultados Estabelecer um rol de indicadores que permitam medir os resultados esperados por todas as partes interessadas.

Inovação Fazer com que a inovação se torne parte integrante da cultura organizacional através de importantes mudanças que propiciem o aperfeiçoamento de processos, produtos e serviços.

Controle social Criar condições para que cidadãos e sociedade possam zelar por seus direitos, através de canais efetivos de participação nas decisões públicas e na avaliação dos serviços prestados pela organização.

Quadro 2 – Fundamentos que representam a excelência na gestão pública Fonte: Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – Documento de Referência(2005)

25

2.2 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS

Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais evidente que as pessoas

passaram a ser consideradas o fator de vantagem competitiva sustentável mais

valioso para as organizações, com os sistemas de gestão de recursos humanos

sofrendo importantes transformações.

Como conseqüência, as organizações têm se conscientizado da necessidade

de mudança em seus sistemas de trabalho, alinhando-os às estratégias e objetivos

do negócio e utilizando-se de profissionais com perfil empreendedor, cada vez mais

qualificados.

Esse novo modelo busca a gestão com as pessoas em lugar da antiga gestão

das pessoas, e objetiva valorizar cada vez mais o talento humano, baseado na

premissa de que o domínio de determinadas competências é o que faz com que

profissionais e organizações se diferenciem, se sustentem e tenham vantagem

competitiva no mercado.

Brandão e Guimarães (2001) afirmam:

As propostas para a obtenção de vantagem competitiva, apesar das diferenças de ordem semântica, parecem caminhar em uma mesma direção: gestão estratégica de recursos humanos (Taylor, Beechler e Napier, 1996); gestão de competências (Prahalad e Hamel, 1990; Heene e Sanchez, 1997); acumulação do saber (Arrègle, 1995; Wright, Van e Bouty, 1995) e gestão do capital intelectual (Stewart, 1998). Percebe-se, nessas proposições, a ênfase nas pessoas como recurso determinante do sucesso organizacional, uma vez que a busca pela competitividade impõe às empresas a necessidade de contar com profissionais altamente capacitados, aptos a fazer frente às ameaças e oportunidades do mercado.

As pessoas passaram a ser consideradas parceiros no trabalho, nas quais a

organização deve investir para conseguir melhores resultados, o que leva ao

surgimento de novo modelo de gestão. Para melhor compreender esse modelo

torna-se necessária a abordagem sobre o conceito em torno do qual ele se articula,

ou seja, o conceito de competência.

Bose, Monica (2004, p. 42), enfatiza que o conceito de competência vem

sendo utilizado desde a década de 1970, como o conjunto de características que

podem ser previstas e estruturadas, de modo a se estabelecer o conjunto ideal de

qualificações para que a pessoa desenvolva um desempenho superior em seu

trabalho.

26

Para Parry, 1996 (apud DUTRA, J.S.; HIPÓLITO, J.A.M.; SILVA, C.M., 2000)

o conceito de competência é resumido como:

Um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionados, que afetam a maior parte de alguma tarefa, papel ou responsabilidade que se reporta ao desempenho da função assumida, e que podem ser aferidos por parâmetros bem aceitos; tais predicados são suscetíveis de melhor capacitação pelo treinamento e desenvolvimento.

Zarifian (2001, p. 68-74) enfoca o conceito de competência como:

a) “a capacidade de tomar iniciativas e assumir responsabilidades diante de

situações profissionais com as quais o indivíduo se depara”;

b) “a capacidade de, através de um entendimento prático de situações

apoiado em conhecimentos adquiridos, transformá-los na medida em que

aumenta a diversidade das situações”;

c) “a faculdade de mobilizar redes de atores em torno das mesmas situações,

fazer com que esses atores compartilhem as implicações de suas ações e

assumam áreas de co-responsabilidade”.

O desenvolvimento de competências apresenta-se portanto como a solução

para os problemas comuns no trabalho, haja vista permitir a identificação dos

conhecimentos necessários às pessoas para que estas possam realizar bem seu

trabalho.

2.2.1 Competências organizacionais

Sob o ponto de vista do negócio da organização, as competências são

encaradas como sendo a capacidade que a organização precisa ter para torná-la

efetiva. Essas competências representam as habilidades e os conhecimentos

técnicos específicos que impactam a qualidade final de seus produtos ou serviços,

propiciando a obtenção da necessária vantagem competitiva.

Para Prahalad & Hamel (apud BRANDÃO, 1999), o conceito de competência,

visto sob o enfoque organizacional, é definido como o conjunto de conhecimentos,

habilidades, tecnologias, sistemas físicos, gerenciais e valores que geram diferencial

competitivo para a organização.

27

Green, 2000 (apud CURY, 2003, p.35) classifica as competências

organizacionais em básicas e essenciais e as descreve como:

a) competências básicas – são os pré-requisitos que a organização necessita

para administrar com eficácia seus negócios; mas são apenas condições

necessárias, mas não suficientes para que a organização atinja liderança

e, principalmente, vantagem competitiva no mercado;

b) competências essenciais – são conjuntos peculiares de “know hows”

técnicos que representam o cerne do propósito organizacional, estando

presentes nas múltiplas unidades da organização. Tais competências,

fornecem vantagem competitiva peculiar, resultando em valor percebido

pelos clientes e difíceis de serem imitados.

Para Prahalad; Hamel (1990) as competências organizacionais representam

atributos subjacentes às organizações que permitem a elas atingir seus objetivos

estratégicos. São constituídas pelo conjunto de conhecimentos, habilidades,

atitudes, valores, sistemas físicos e gerenciais da organização, e devem atender a

três requisitos:

a) gerar benefícios percebidos pelos clientes;

b) ser difícil de ser imitada pela concorrência; e

c) prover acesso a diferentes mercados.

2.2.2 Competências individuais

Sob o ponto de vista do desenvolvimento e da capacitação das pessoas, a

competência é vista como o conjunto de características dessas pessoas. A

competência individual é portanto considerada como a descrição dos hábitos de

trabalho mensuráveis e das habilidades pessoais requeridas para a consecução do

objetivo de trabalho.

Para Durand (1998), as competências individuais representam combinações

sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, que mantém relação causal

com o bom desempenho, no âmbito de determinado contexto organizacional,

entendendo-se por conhecimentos, atitudes e habilidades:

a) conhecimentos - “série de informações assimiladas e estruturadas pelo

indivíduo que lhe permitem entender o mundo, ou seja, o saber que a

pessoa acumulou ao longo da vida”;

28

b) habilidades - “capacidade de aplicar e fazer uso produtivo do

conhecimento adquirido, ou seja, de instaurar informações e utilizá-las em

ações, com vistas ao atingimento de propósito específico”; e

c) atitudes - “aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho que

influenciam a reação positiva ou negativa da pessoa à adoção de

determinada ação específica, determinando a escolha do curso de ação

pessoal”.

A Figura 1 ilustra o conceito de competência sugerido por Durand (1998).

Figura 1 – As três dimensões das competências Fonte: Durand (1998), com adaptações de Brandão (1999)

2.2.3 Uma proposta de modelo de gestão por competências

Segundo Brandão, Guimarães (2001) as competências contribuem para a

consecução dos objetivos estratégicos da organização.

Fleury e Fleury (2001) afirmam que as competências devem agregar não só

valor social para a pessoa que as detém, mas também valor econômico para a

organização, conforme ilustrado na Figura 2.

29

Figura 2 – Competências como agregação de valor ao indivíduo e à organização Fonte: Fleury e Fleury (2000) (apud HARB, 2001)

O estabelecimento das competências básicas inerentes a cada cargo da

estrutura organizacional, serve para que a organização tenha a clara visão daquilo

que é preciso ser aprendido, possibilitando a cada colaborador, com base nas

competências requeridas para o seu cargo, adquirir os conhecimentos necessários à

sua função.

Para Dutra (2002), a gestão por competências visa obter e manter o efetivo

comprometimento das pessoas com os objetivos organizacionais, de forma que elas

mobilizem seu potencial criador, sua intuição, sua capacidade de interpretar o

contexto e agir sobre ele, respondendo aos estímulos do ambiente e visualizando

novas oportunidades.

Bose (2004, p. 184) afirma:

A gestão de pessoas tem a função de facilitar um processo contínuo de troca de competências, estimulando e promovendo condições para que as pessoas possam se desenvolver, se sintam valorizadas e tenham a autonomia necessária para agregar valor à organização, contribuindo para que ela alcance os resultados esperados.

Deve-se destacar que a gestão por competências é parte integrante de um

sistema – a gestão organizacional - tomando como referência a estratégia da

organização, direcionado as ações de recrutamento e seleção, treinamento, gestão

de carreira e o fortalecimento de alianças estratégicas, captando e desenvolvendo

Saber agir Saber mobilizar Saber transferir Saber aprender

Saber engajar-se Ter visão estratégica

Assumir responsabilidade

Indivíduo Conhecimentos

Habilidades Atitudes

SOCIAL

Organização

ECONÔMICO

Agregar Valor

30

as competências necessárias para alcançar os objetivos, sejam eles, pessoais e/ou

organizacionais.

Sobre o tema Taylor, S. et al (1996) destacam:

Por gestão estratégica de recursos humanos entende-se a função de atrair, desenvolver e manter o pessoal necessário à consecução de objetivos organizacionais, através da utilização de sistemas de recursos humanos consistentes entre si e coerentes com a estratégia da organização.

Dentro dessa perspectiva, o modelo de gestão de pessoas baseado em

competências, construído de forma a agregar valor mútuo às pessoas e à

organização, concilia as expectativas de ambos e surge como nova proposta de

gestão em substituição aos tradicionais modelos onde as pessoas são vistas como

meros executores que devem ser mandados e controlados.

Como proposta de modelo de gestão por competências, Guimarães et al

(2000) sugerem as etapas apresentadas na Figura 3 para sua implantação. Tal

modelo representa um processo contínuo derivado da formulação da estratégia

organizacional e que permite orientar os esforços e as ações no sentido de prover as

competências necessárias à consecução dos objetivos organizacionais, através da

captação e/ou do desenvolvimento dessas competências.

Figura 3 – Modelo de Gestão Organizacional Baseada em Competências Fonte: Guimarães et al (2000), com adaptações.

Formulação da Estratégia Organizacional

Definição da Missão, da Visão de Futuro e dos Macro

Objetivos da Organização

Diagnóstico das Competências Essenciais à

Organização

Definição de Indicadores de Desempenho Organizacional

Diagnóstico das

Competên-cias

Existentes

Desenvol- vimento de Competên-

cias Internas

Captação e Integração

de Competên-

cias Externas

Formulação dos

Planos Operacionais de

Trabalho e de Gestão

Definição de Indicadores de

Desempenho e de Remuneração de

Equipes e Indivíduos

Acompanhamento e Avaliação

31

O modelo de gestão organizacional baseado em competências proposto por

Guimarães et al (2000), sugere como ponto de partida a formulação da estratégia da

organização, com a definição de sua missão, sua visão de futuro e de seus macro

objetivos.

Souza (2001) observa que a missão organizacional reflete o propósito

principal ou a razão pela qual a organização existe, a visão de futuro representa a

situação desejada a ser perseguida pela organização e os macro objetivos, ou

objetivos estratégicos, estabelecem as metas a serem alcançadas ou a condição a

ser atingida pela organização em determinado espaço de tempo.

Uma vez formulada a estratégia da organização, o modelo define como passo

seguinte a identificação das competências organizacionais necessárias à

consecução dos objetivos estratégicos, bem como a definição de indicadores de

desempenho organizacional que permitam medir a eficiência e a eficácia das ações

empreendidas para a concretização da visão de futuro.

A seguir, é sugerida a realização de diagnóstico sobre as competências

organizacionais e individuais, de forma a permitir a identificação das lacunas

existentes entre as competências necessárias à consecução dos objetivos

estratégicos e as competências internas disponíveis na organização. Esse

diagnóstico serve então como subsídio para as decisões de investimento no

desenvolvimento e/ou na captação de competências.

A captação de competências, entendida como seleção de competências

externas a serem integradas ao ambiente organizacional, é realizada tanto no nível

individual, por intermédio de ações de recrutamento e seleção de pessoas, como no

nível organizacional, advindo de joint-ventures ou alianças estratégicas. O

desenvolvimento de competências internas é feito, no nível individual, através de

programas de treinamento e, no nível organizacional, por intermédio de

investimentos em pesquisa.

O próximo passo do modelo sugere a formulação de planos operacionais e de

gestão e o estabelecimento de indicadores de desempenho e de remuneração de

equipes e indivíduos.

Como etapa final, o modelo propõe o acompanhamento e a avaliação dos

resultados alcançados, funcionando como mecanismo de retroalimentação, dentro

de uma visão sistêmica, à medida que os resultados obtidos são confrontados com

as metas estabelecidas pela organização.

32

As mudanças nos escalões superiores da administração pública, após um

novo ciclo de eleições, se desdobram num efeito cascata na maioria das

organizações públicas. Essas mudanças na direção das organizações, provocam,

com freqüência, o redirecionamento de ações a fim de alinhar as metas

organizacionais com os programas de governo. Nesses momentos, os projetos de

mudança em curso ficam dificultados, pois requerem para o sucesso da sua

continuidade a credibilidade do público interno dessas organizações.

Assim, a proposta de um modelo de gestão por competências como o

sugerido por Guimarães et al (2000), além de permitir a continuidade de grande

parte de programas de capacitação em andamento, garante que todas as ações que

objetivam prover as competências necessárias à organização para o eficaz

cumprimento de sua missão, estejam alinhadas a seus objetivos estratégicos.

2.3 GESTÃO DE MUDANÇAS

A luta pela sustentabilidade leva as organizações a buscarem continuamente

a implementação de práticas modernas de gestão com vistas à melhoria de sua

eficácia operacional e de seu aprendizado organizacional, significando para a

organização envolver-se com processos internos de mudança, onde, tão somente, a

alocação de recursos financeiros e tecnológicos adequados não garante o sucesso

da implementação dessas práticas.

Atualmente, mais do que nunca, as organizações devem estar preparadas

para absorver mudanças e reagirem rapidamente, transformando-se constantemente

em busca de adaptação.

Considerando que essas transformações são inevitáveis, cabe à organização

estar preparada para elas, ou seja, criar infra-estrutura técnica, organizacional e

principalmente cultural, para dessa forma fazer frente às mudanças constantes

(RENTES, 2000).

Segundo Rentes (2000), os líderes das organizações devem estar preparados

para antever barreiras comuns ao processo de transformação e conhecer alguma

sistemática de condução do processo de mudança, de forma a ter um modelo mental

bastante claro para a condução do processo.

Pode-se dizer, com base em Araújo (2000), que mudança organizacional é

uma alteração significativa dentro da organização, sendo articulada, planejada e

33

operacionalizada por pessoal interno ou externo, com apoio e supervisão da alta

administração. A mudança organizacional atinge os componentes comportamental,

estrutural, tecnológico e estratégico, sendo essencial para a implementação dos

programas que a compõem:

• o suporte da alta administração;

• a consciência sobre o impacto do processo de mudança;

• a preparação da mudança;

• o conhecimento do alcance dos vários programas de mudança;

• a não expectativa por resultados plenos e imediatos;

• a congruência entre os objetivos da mudança e os valores da empresa;

• o controle.

Francisco, R. P. (2003, p.1) ressalta:

A necessidade de prover e manter a melhoria contínua dos sistemas implementados exige da alta administração a capacidade de conduzir a mudança e fomentar uma estrutura de aprendizagem organizacional. Uma liderança eficaz pode suprir eventuais deficiências da organização quanto ao alcance da efetividade dos sistemas implementados.

Para Rentes (2000), antes de se iniciar o projeto, deve existir consenso entre

seus participantes sobre a situação da organização, ou seja, sobre como ela opera

hoje e o que está errado com a situação atual.

Segundo Oliveira (apud FRANCISCO, 2003, p. 27), a mudança pode assumir

três formas:

- Mudança linear. Progressiva, onde o sistema se afasta de seu estado

inicial paulatinamente, podendo ser comparado com o estágio atual,

medindo seu desempenho ou grau de eficácia;

- Mudança caótica. A partir do ponto inicial surgem novos acontecimentos

sobrepostos uns aos outros, tornando-se incontroláveis e dificultando o

discernimento quanto ao gerenciamento eficaz;

- Mudança abrupta. Inesperada, repentina, desconhecida a ponto de alterar

rumo, direção ou sentido da estratégia.

De acordo com Cunha e Rego (2002), duas formas de mudança devem ser

consideradas durante o processo de mudança: a planejada e a emergente. A

primeira caracteriza-se por poder ser implementada com base em processo

preestabelecido, enquanto que a segunda, decorrente de problemas e

34

especificidades locais, se delineia de forma não prevista. De um modo geral, as

mudanças planejadas envolvem três etapas principais: a preparação, a

implementação e o reforço da mudança.

Cunha e Rego (2002, p. 5-7) definem a etapa de preparação da mudança

como aquela onde é necessário identificar o ponto de chegada, o que se pretende

da mudança, a que situação ela deve conduzir a organização, sendo crucial a

definição dos objetivos da mudança, assim como o fomento entre o corpo funcional

da convicção de que ela é necessária. A definição dos objetivos deve ser

acompanhada de sistema de recompensas capaz de estimular a adesão dos

funcionários, assim como coligação poderosa deve ser constituída para que haja

capacidade de condução da mudança.

Na etapa de implementação da mudança deve-se colocar em prática as ações

necessárias ao alcance dos objetivos estabelecidos na fase de preparação, incluindo

a comunicação da visão, a alocação de recursos, a definição de responsabilidades,

o apoio sócio-afetivo aos colaboradores em momentos de descrença ou ceticismo, o

empowerment dos colaboradores e o monitoramento do processo.

Fechando o ciclo, a etapa de reforço da mudança passa, necessariamente,

pela criação e divulgação de ganhos rápidos, mesmo que pequenos, como forma de

gerar entusiasmo e transmitir a mensagem de que a mudança representa desafio

exeqüível e compensador.

Cunha e Rego (2002), alertam para o fato de que, na verdade, a mudança

planejada nem sempre é implementada. Apresentam como motivos deste resultado

negativo o fato de que:

[....] a informação pode ser distribuída assimetricamente entre sub-unidades, ou seja, diferentes partes da organização podem ter idéias e conhecimentos diferentes sobre o processo de mudança. Adicionalmente, todos aqueles que se sintam potencialmente prejudicados pela mudança tenderão a resistir-lhe (ver Quadro 3).

Superar as resistências às mudanças é um processo complexo cujo resultado

final depende do poder dos envolvidos e de suas ações no campo político. Sobre o

tema, Cunha e Rego (2002, p.8) afirmam que:

As lutas políticas podem conduzir aos adiamentos táticos, às negociações pelo domínio dos “territórios”, à reformatação das redes e alianças, a impasses, a conflitos agudos mas circunscritos a uma parte da organização, ou a lutas ligeiras embora de expansão generalizada. Todas estas movimentações conduzem possivelmente a atrasos na implementação da mudança, os quais podem neutralizar a sua utilidade.

35

Cunha e Rego (2002, p. 10-13), afirmam: “a mudança emergente consiste no

surgimento de novos padrões organizacionais como conseqüência da adaptação às

contingências locais e na ausência de programa preestabelecido”. Embora

importante, tende a ser relegada a segundo plano pela mudança planejada, ou seja,

enquanto que a mudança planejada, sendo gerida e controlada, corresponde aos

desígnios da alta administração, a mudança emergente é, por definição, resultante

das interações no sistema e não da vontade de quem gere.

Pessoas com poder de veto Pessoas sem poder de veto • Inércia causada pela tendência para fazer as coisas do modo habitual, a fim de manter o status quo. • Incerteza e medo do desconhecido. • Insegurança e medo de falhar. • Ignorância acerca do que se pretende alcançar com a mudança. • Receio de possuir competências obsoletas para a mudança proposta. • Conflitos de personalidade entre o proponente da mudança e o alvo que ele pretende “demover”. • A mudança proposta por consultores externos pode não ser bem aceita pelos membros da organização. • Medo de perda de poder e/ou status. • Ausência de participação na definição das propostas de mudança. • Ausência de tato por parte do proponente. • O proponente não oferece confiança. • Oportunidade (boas idéias são rejeitadas porque as pessoas que se pretende que aceitem a mudança estão assoberbadas com o trabalho, envolvidas na resolução de problemas difíceis, ou emocionalmente alteradas).

• Resistência das pessoas a mudanças inesperadas, repentinas, radicais. • Ausência de informação acerca do modo como a mudança afetará os postos de trabalho. • Formação deficitária (impedindo que as pessoas compreendam o novo método e aprendam maneiras diferentes de atuar). • Ignorância (pode ser provocada pela ausência de explicações por parte dos responsáveis). • Receio de perda de status (perda de importância do posto de trabalho). • Pressões dos pares (as reações das pessoas são influenciadas pelas opiniões – percebidas – dos colegas). • Medo de perder a segurança. • Alteração das relações sociais (as pessoas podem resistir devido à perda de interação social com colegas de longa data; ou porque não apreciam os relacionamentos sociais que presumem que a mudança trará). • Antagonismo relativamente ao proponente ou, mesmo, a toda a equipe de gestão. Ausência de confiança nas pessoas que propõem a mudança. • Consciência de que a mudança é perniciosa ou “não tem pernas para andar”. • Ausência de participação (as pessoas resistem quando sentem que “não foram ouvidas ou encontradas”). • Oportunidade (a mudança pode ser rejeitada porque a vida organizacional está marcada pela tensão, por eventos recentes desagradáveis etc.).

Quadro 3 – Razões pelas quais as pessoas resistem às mudanças Fonte: Cunha e Rego (2002, p. 22-23)

36

Como vantagens da mudança emergente são citados:

• a criação de disponibilidade para a mudança planejada;

• a facilitação da adesão aos bons resultados da mudança planejada;

• a sensibilidade às especificidades locais, contextuais;

• a criação de espaço para a improvisação;

• a satisfação às necessidades de autonomia, controle e expressão individual;

• a possibilidade de retorno imediato;

• a facilitação da aprendizagem organizacional.

Pode-se enfim afirmar que a visão da mudança como seqüência de passos

planejados e as contribuições da mudança emergente são complementares. “Esta

complementaridade poderá passar pelo planejamento da mudança emergente, não

com o propósito de a formalizar ou tornar previsível, mas para facilitar a sua

ocorrência e colher os seus benefícios de forma mais sistemática” (CUNHA; REGO,

2003, p.16).

Na literatura existente, renomados autores abordaram as mudanças

organizacionais sob os mais variados enfoques. Neste estudo, o autor optou pelo

processo de oito etapas de Kotter como base para fundamentação de suas

considerações finais apresentadas no Capítulo 3, e o descreve a seguir.

2.3.1 O Processo de Kotter: a Mudança em Oito Etapas

A falta de liderança nos níveis intermediários de gerência, o corporativismo

interno, o medo natural do homem pelo desconhecido, a dificuldade de realização de

trabalho em equipe, a burocracia predatória, assim como o baixo nível de confiança

mútua entre as pessoas, são fatores que podem levar a organização a não obter o

sucesso esperado em seus processos de mudança.

Segundo Kotter (1997, p. 4-14), os fracassos em processos de mudança

devem-se principalmente ao fato de serem cometidos muitos erros, sendo os mais

comuns os apresentados no Quadro 4.

37

Erro Comentários 1) Permitir complacência excessiva.

Diante de altos níveis de complacência as transformações não conseguirão atingir seus objetivos. A falta de um senso de urgência faz com que as pessoas abdiquem dos esforços extras e dos sacrifícios necessários, aderindo ao status quo e resistindo às iniciativas dos superiores.

2) Falhar na criação de uma coalizão administrativa forte.

Projetos sem o respaldo de uma forte coalizão administrativa, mesmo que apresentem algum tipo de progresso, este será aparente, temporário, e terá suas iniciativas prejudicadas por forças contrárias que surgirão inevitavelmente. A tentativa de superação da tradição e da inércia jamais será possível quando levada a cabo por indivíduos isolados, por mais competência ou carisma que possuam.

3) Subestimar o poder da visão.

A falta de uma visão correta pode fazer com que todo o esforço de transformação se perca em propostas de ações confusas, incoerentes ou demoradas, levando à obtenção de resultados inesperados ou até mesmo a lugar nenhum. A visão é de fundamental importância na consecução da mudança, por auxiliar um grande número de pessoas a focarem suas ações na direção desejada.

4) Comunicar a visão de forma ineficiente.

A adesão espontânea ao projeto de mudança por parte dos funcionários depende de uma comunicação confiável, realizada de forma massificada. Os sacrifícios esperados das pessoas, ainda que estas não compactuem com o atual status quo, só serão realizados caso estejam convencidas de que a transformação é possível e que os potenciais benefícios da mudança são satisfatórios.

5) Permitir que obstáculos bloqueiem a nova visão.

É comum o fracasso de novas iniciativas quando os participantes do processo de mudança, ainda que aderentes à nova visão, sentem-se incapazes de superar os enormes obstáculos que os esperam. Um obstáculo no lugar certo pode inviabilizar o sucesso da transformação.

6) Falhar na criação de vitórias a curto prazo.

Evidências, a curto prazo, de que as mudanças propostas estão produzindo os resultados esperados são uma exigência para a adesão das pessoas ao projeto de transformação. A falta de vitórias a curto prazo, gerará um sentimento de perda nos funcionários, fazendo com que desistam ou passem a resistir ativamente às mudanças propostas.

7) Declarar vitória prema-turamente.

Insinuar que o trabalho de transformação está praticamente concluído é quase sempre um grave erro, mesmo reconhecendo ser muito bom comemorar uma conquista. Novas práticas tornam-se frágeis e sujeitas à regressão caso as mudanças não tenham sido solidamente absorvidas e aceitas.

8) Negligenciar a incorpo- ração sólida de mudanças à cultura corporativa.

Sem a total consolidação das novas práticas, permanece o risco de que elas se deteriorem assim que desapareçam as pressões associados ao processo de mudança. Isto inclui uma demanda de tempo suficiente para assegurar que as futuras administrações adotarão o novo modelo.

Quadro 4 – Os oito erros mais comuns num processo de mudança Fonte: Kotter (1997, p. 4-14)

38

Para lidar com o risco do insucesso na implementação das mudanças

organizacionais devido à ocorrência dos erros acima apontados, Kotter (1997)

propõe modelo de gestão do processo de mudança baseado em oito etapas, a

seguir descritas.

2.3.1.1 Estabelecimento de um senso de urgência

O estabelecimento de senso de urgência durante os processos de mudança é

fator primordial para eliminar ou reduzir os efeitos do ambiente de complacência

excessiva e obter das pessoas a cooperação necessária ao sucesso do

empreendimento. Altos níveis de complacência impedem que as transformações

atinjam seus objetivos, haja vista que poucas pessoas estão realmente interessadas

em trabalhar na questão da mudança (KOTTER, 1997, p. 35).

Baixos níveis de urgência acabam por dificultar a formação de grupo com

poder e credibilidade necessários para levar a cabo todo o esforço de transformação

ou convencer indivíduos-chave a dedicar tempo suficiente para participar da criação

e comunicação da visão de mudança.

O excesso de complacência contribui para que pessoas reativas à mudança

do status quo vigente na organização dificultem ou até mesmo inviabilizem o

estabelecimento do senso de urgência necessário à consecução dos objetivos da

transformação. “As pessoas encontrarão milhares de modos engenhosos para

negar cooperação ao processo que elas realmente acham ser desnecessário ou

equivocado” (KOTTER, 1997, p. 36).

É primordial para o sucesso da mudança, o estabelecimento e a manutenção

de forte senso de urgência ao longo de todo o processo. Para isso, Kotter (1997)

apresenta um rol de nove fontes de complacência (Quadro 5) a serem observadas

pela liderança durante o estabelecimento do adequado senso de urgência. Tais

fontes não devem jamais ser subestimadas pois são capazes de potencializar a

complacência existente, ajudando a manutenção do status quo.

39

Fonte de complacência Considerações Ausência de uma crise maior e aparente.

O senso de urgência existente é mantido baixo pelo fato de os funcionários não perceberem nenhuma ameaça forte.

Excesso de recursos aparentes. Recursos materiais em excesso e grandiosos levam à perigosa conclusão de que a organização é rica, vencedora e que, portanto, está fazendo tudo certo.

Baixos padrões de desempenho geral.

Realização de análises inadequadas de desempenho, dentro de um cenário restrito.

Estruturas organizacionais que propiciam o foco dos funcionários em objetivos funcionais restritos.

Metas funcionais restritas em detrimento de uma visão maior de ampliação do desempenho dos negócios, propiciam o sentimento de isenção de responsabilidade por parte dos funcionários quando o desempenho da organização está em declínio.

Sistemas de avaliação internos com foco em índices de desempenho errados.

Manipulação de sistemas de planejamento e controle internos a fim de facilitar a todos o cumprimento de suas metas funcionais.

Falta de feedback oriundo de fontes externas sobre desempenho.

Isolamento das pessoas, impedindo a interação com clientes insatisfeitos, acionistas indignados ou fornecedores frustrados.

Cultura de pouca confrontação, pouca sinceridade e de desprezo pelo “portador de más notícias”.

Cultura de aversão às pessoas que porventura saiam da rotina de isolamento para coletar feedback externo de desempenho.

Natureza humana, com sua capacidade de recusa.

Sustentação da complacência pela tendência genuinamente humana em desconsiderar tudo aquilo que não nos é agradável, preferindo, diante de um grande problema, nos esquivar e ignorar o fato.

Otimismo exagerado da alta gerência.

Sucessos anteriores são fontes de recursos, reduzem o senso de urgência e encorajam as vaidades.

Quadro 5 – Fontes de complacência mantenedoras do status quo Fonte: Kotter (1997, p.38-42)

Ações ousadas e até mesmo arriscadas, normalmente associadas a boa

liderança, propiciam a criação de forte senso de urgência, porém não é comum se

ver esse tipo de ousadia em pessoas que convivem em ambientes gerenciais

conservadores, onde tais ações são consideradas insensatas por tenderem a

aumentar os conflitos e gerar ansiedade, mesmo que inicialmente. Portanto, uma

alta gerência composta por gerentes cautelosos impedirá a obtenção do nível

necessário de urgência e contribuirá para o insucesso da transformação.

40

Para estimular o senso de urgência, Kotter (1997, p. 44) apresenta nove

meios básicos de fazê-lo:

- Gerar crise, como forma a permitir que os erros venham à tona ;

- Eliminar os excessos óbvios;

- Estabelecer objetivos tão ambiciosos que, sem as transformações

necessárias, torna-se impossível atingí-los;

- Mudar o foco da avaliação de desempenho, responsabilizando um número

maior de pessoas por medidas mais amplas de desempenho;

- Informar sobre a fragilidade da organização diante da concorrência;

- Induzir o permanente contato com clientes e acionistas insatisfeitos;

- Usar consultores para obtenção de dados mais relevantes como forma de

propiciar debates seguros em reuniões de gerência;

- Difundir internamente os reais problemas da organização, refreando o

otimismo exagerado da alta gerência;

- Conscientizar as pessoas sobre as oportunidades e mostrar a

incapacidade atual da organização em perseguí-las.

Kotter (1997, p. 47) define entre as grandes dificuldades nos processos de

transformação:

Sem autonomia suficiente em uma empresa onde a complacência é predominante (uma situação comum hoje em dia), um esforço de mudança em uma unidade pequena pode estar condenado desde o início. Mais cedo ou mais tarde, as forças poderosas da inércia intervirão, não importando o que os agentes de mudança na escala inferior da hierarquia gerencial estejam fazendo. Nessas circunstâncias, ir adiante com um esforço de transformação poderá ser um erro terrível. Quando as pessoas percebem esse fato, geralmente pensam ter apenas uma alternativa: sentar-se e esperar que alguém do escalão superior passe a liderar. Assim, não fazem nada e, no processo, reforçam as mais poderosas forças da inércia que tanto as aborrecem.

Sobre os cuidados que devem ser observados durante o estabelecimento do

senso de urgência, Kotter; Cohen (2002), alertam para o que funciona e o que não

funciona nesta primeira etapa do processo de mudança. O Quadro 6 a seguir

apresenta essas considerações.

41

O que funciona O que não funciona - Demonstrar a premência da mudança,

por meio de objetos irresistíveis que as pessoas possam realmente ver, tocar e sentir;

- Apresentar evidências drásticas e consistentes, oriundas do ambiente externo, que comprovem a necessidade da mudança;

- Buscar continuamente maneiras baratas e fáceis de combater a complacência;

- Jamais subestimar a intensidade da complacência, da raiva e do medo, mesmo em organizações saudáveis.

- Concentrar-se exclusivamente no desenvolvimento de argumentos de negócios “racionais”, conseguir a aprovação da alta gerência e partir para a implementação às pressas, ignorando quase totalmente o amplo espectro de sentimentos que bloqueiam a mudança;

- Ignorar a falta de urgência e arrancar imediatamente para a criação da visão e da estratégia;

- Acreditar que, sem crises e plataformas em chamas, não se chega a lugar algum;

- Achar que pouco se pode fazer quando não se é o chefe.

Quadro 6 - Considerações acerca do estabelecimento do senso de urgência Fonte: Kotter; Cohen (2002, p. 51)

2.3.1.2 Criação de uma coalizão administrativa

A realização de grandes transformações é respaldada em forças poderosas

que possibilitam a sustentação do processo, o que exige a formação de forte

coalizão administrativa com pessoas, nível de confiança e objetivos comuns

adequados. Não há em toda a estrutura organizacional indivíduo capaz de, sozinho,

desenvolver a visão correta, difundi-la para expressivo número de pessoas, superar

todos os obstáculos, promover vitórias a curto prazo, liderar e gerenciar diversos

projetos de mudança e enraizar as novas práticas na cultura da organização

(KOTTER, 1997, p. 51-52).

A formação da coalizão administrativa com força capaz de dar suporte ao

processo de mudança se respalda, segundo Kotter (1997, p. 57), em quatro

características principais. São elas:

a) Poder de posição – é fundamental a existência, no grupo, de membros da

diretoria em número suficiente para inibir ações contrárias ao progresso da

mudança;

b) Especialização – o grupo deve ser formado por pessoas possuidoras das

competências adequadas, a fim de agilizar o processamento das

informações coletadas e auxiliar na tomada de decisões;

42

c) Credibilidade – é imprescindível que o grupo possua pessoas com alta

credibilidade para que suas declarações e atitudes sejam respeitadas;

d) Liderança – o grupo deve possuir número suficiente de pessoas com forte

perfil de liderança, a fim de conduzir o processo de mudança.

Das características citadas, Kotter (1997) destaca a liderança como a principal

por ser a força que conduz a transformação, enquanto a gerência garante a

execução e o controle do processo. Somente a liderança possui a competência

necessária para comunicar a importância e a direção das mudanças. A coalizão

administrativa com bons gerentes, mas líderes pouco qualificados, está fadada ao

insucesso.

Dois outros componentes de grande importância para a formação da coalizão

administrativa forte são: i) o estabelecimento e a manutenção de alto nível de

confiança como ferramenta indutora do trabalho em equipe; e ii) a criação de

objetivos comuns. “Somente quando todos os membros de uma coalizão

administrativa querem realmente atingir o mesmo objetivo, o verdadeiro trabalho em

equipe torna-se possível” (KOTTER, 1997, p.65).

Sobre os cuidados que devem ser observados durante a criação da coalizão

administrativa, Kotter; Cohen (2002), destacam o que funciona e o que não funciona

nesta etapa do processo de mudança. O Quadro 7 a seguir apresenta suas

observações.

O que funciona O que não funciona - Mostrar entusiasmo e

comprometimento em atrair as pessoas certas para o grupo (ou ajudar alguém nesse sentido);

- Servir como modelo da confiança e do trabalho em equipe imprescindíveis no grupo (ou ajudar alguém nesse sentido);

- Estruturar formatos de reuniões para a equipe de orientação, de modo a atenuar a frustração e acentuar a confiança;

- Concentrar as energias no passo 1 (aumentar a urgência), caso ainda não seja possível enfrentar o desafio do passo 2 e se outras pessoas também não se considerarem capazes.

- Orientar a mudança por meio de forças-tarefas fracas, indivíduos isolados, estruturas de governança complexas ou equipes gerenciais fragmentadas;

- Não enfrentar a situação quando o ímpeto e os centros de poder entrincheirados solapam a criação do grupo certo;

- Tentar excluir ou contornar o chefe da unidade a ser mudada, porque ele está “desesperançado”.

Quadro 7 – Considerações acerca da criação de uma coalizão administrativa Fonte: Kotter; Cohen (2002, p.75),

43

2.3.1.3 Desenvolvimento de uma visão

A visão adequada é definida por Kotter (1997, p.68) como: “[...] um quadro do

futuro com comentários implícitos ou explícitos sobre a razão pela qual as pessoas

devem lutar para criar esse futuro”.

Assim, durante o processo de mudança, o estabelecimento dessa adequada

visão é estratégico, pois ajuda a:

a) tornar clara a direção geral da transformação;

b) motivar as pessoas a agirem de forma correta; e

c) coordenar as ações de enorme número de pessoas.

Estratégias bem elaboradas ou planos aparentemente lógicos dificilmente

garantem as ações necessárias para produzir grandes transformações se não

houver a visão adequada.

O estabelecimento da visão adequada representa portanto fator de suma

importância por permitir que:

a) a direção bem definida propicie a eliminação de projetos inadequados

redirecionando os gastos com eles para ações voltadas ao processo de

transformação;

b) ações dissociadas dos interesses imediatos das pessoas sejam

fomentadas; e

c) gerentes e funcionários se sintam mais seguros em suas tomadas de

decisões, libertando-os da constante consulta a superiores e colegas.

Segundo Senge (1998), a visão deve ser compartilhada, ou seja, deve ser

fruto de comprometimento mútuo assumido pelas pessoas em garantirem sua

manutenção não só individualmente, mas em conjunto.

Quando realmente compartilham uma visão, as pessoas sentem-se conectadas, ligadas por uma aspiração comum. O poder das visões pessoais vem de um interesse individual profundo para com a visão. O poder das visões compartilhadas resulta de um interesse comum. (SENGE, 1998, p. 234)

Para que a visão se torne eficaz, Kotter (1997, p.72) destaca as seis

características-chave que ela deve possuir, apresentadas no Quadro 8.

44

Características-chave da visão Observações Imaginável Apresenta um quadro que espelha o futuro. Desejável Atende as expectativas dos funcionários, clientes

e acionistas. Viável Com objetivos realistas e alcançáveis. Concentrada Suficientemente clara para fornecer diretrizes. Flexível Viabiliza as iniciativas individuais. Comunicável Explicável de maneira fácil e rápida. Quadro 8 – Características-chave de uma visão eficaz Fonte: Adaptado de Kotter, “Características de uma visão eficaz”, (1997, p. 72)

Nesta etapa do processo de mudança, Kotter; Cohen (2002), alertam para os

cuidados que devem ser observados durante o desenvolvimento da visão,

relacionando aquilo que funciona e o que não funciona. O Quadro 9 a seguir

apresenta essas considerações.

O que funciona O que não funciona - Tentar ver – literalmente – futuros

possíveis; - Desenvolver visões tão claras que

seja possível expressá-las verbalmente em um minuto e por escrito em uma página;

- Criar visões comoventes – como o compromisso de servir às pessoas;

- Desenvolver estratégias bastante audazes para converter em realidade visões ousadas;

- Prestar muita atenção à questão estratégica de como promover a mudança com rapidez.

- Presumir que apenas planos e orçamentos lineares e lógicos são suficientes para orientar o comportamento na tentativa de dar o salto para o futuro;

- Criar visões por demais analíticas, baseadas apenas em dados financeiros;

- Cuidar apenas da perspectiva de cortar custos, emocionalmente deprimente e geradora de ansiedade;

- Elaborar uma gama imensa de razões lógicas para desenvolver estratégias mais ousadas do que qualquer outra do passado.

Quadro 9 – Considerações acerca do desenvolvimento de uma visão Fonte: Kotter; Cohen (2002, p.97)

2.3.1.4 Comunicação da visão da mudança

Pode-se afirmar que o poder da visão é tão maior quanto maior for a

facilidade com que seus objetivos e direção são entendidos pela maioria das

pessoas na organização. A comunicação da visão assume assim papel primordial no

processo de transformação organizacional, por ser o instrumento de disseminação

que permitirá o alinhamento das pessoas com esses objetivos e direção.

De acordo com Senge (1998), alinhamento é um fenômeno que se dá quando

determinado grupo de pessoas funciona como um todo. Em equipes desalinhadas,

45

há enorme desperdício de energia, pois por maior que seja o desempenho dos

indivíduos que a compõem, isto não se traduzirá em eficiente esforço da equipe.

Quando acontece o alinhamento, as pessoas passam a dividir um propósito comum,

desfrutam da visão compartilhada e compreendem as ações necessárias para

complementar os esforços dos outros. “Na verdade, o alinhamento é a condição

necessária para que o empowerment do indivíduo gere o empowerment de toda a

equipe” (SENGE, 1998, p. 262).

A adequada comunicação da visão é também função do sucesso das ações

nas três primeiras etapas do processo de transformação. As pessoas não prestarão

a atenção devida às informações sobre uma nova visão caso a taxa de urgência não

esteja suficientemente alta. Da mesma forma, se a coalizão administrativa não

dispuser do grupo certo, haverá imensas dificuldades de criação e disseminação da

mensagem apropriada. Por fim, caso a própria visão não seja clara o suficiente ou se

apresente como má idéia, vendê-la tornar-se-á tarefa bastante difícil.

Kotter (1997, p. 90) relaciona sete elementos-chave (ver Quadro 10) para a

comunicação eficiente da visão.

Elemento-chave Comentários Simplicidade. A clareza e a concisão devem substituir todo o jargão e

linguagem técnica. Metáforas, analogias e exemplos.

Uma imagem verbal propicia a comunicação de idéias complicadas com rapidez e eficiência.

Fóruns múltiplos. A utilização de reuniões, memorandos, informativos etc, é reconhecidamente eficiente na divulgação da teoria.

Repetição. A repetição exaustiva das idéias favorece a sua absorção. Liderança através de exemplos.

É fundamental que pessoas reconhecidamente importantes ajam em consonância com a visão proposta, a fim de não prejudicarem a comunicação.

Explicação de inconsistências aparentes.

Inconsistências não esclarecidas jogam por terra a credibilidade de toda a comunicação.

Mão dupla. A comunicação de mão dupla sempre supera a de mão única. Quadro 10 - Elementos-chave para a comunicação eficiente da visão Fonte: Adaptado de Kotter, 1998, p. 90.

Sobre os cuidados que devem ser observados durante a comunicação da

visão da mudança, Kotter; Cohen (2002), apontam o que funciona e o que não

funciona nesta etapa do processo de mudança. O Quadro 11 a seguir apresenta

essas considerações.

46

O que funciona O que não funciona - Manter o processo de comunicação

simples e franco, em vez de complexo e tecnocrático;

- Fazer o dever de casa antes de comunicar-se, sobretudo para compreender o sentimento das pessoas;

- Falar das ansiedades, confusão, raiva e desconfiança;

- Retirar o lixo dos canais de comunicação, para que as mensagens fluam com rapidez e sem distorções;

- Usar novas tecnologias para ajudar as pessoas a compreender a visão (intranet etc.).

- Comunicar-se pouco, o que ocorre o tempo todo;

- Falar como se apenas estivesse transferindo informações;

- Fomentar o cinismo, por não agir conforme o discurso.

Quadro 11 – Considerações acerca da comunicação da visão da mudança Fonte: Kotter; Cohen (2002, p.115)

2.3.1.5 Como investir de empowerment os funcionários para ações abrangentes

Friedman, Hatch e Walker, 2000 (apud FRANCISCO, 2003, p. 38) definem

empowerment como: “[...] a variedade de iniciativas com o objetivo de aumentar o

sentimento de propriedade e a responsabilidade dos funcionários com relação ao

trabalho”.

Investir de empowerment as pessoas que se sintam relativamente

incapacitadas, não só as auxilia a tomarem as decisões de forma mais segura

durante a execução das tarefas sob a sua responsabilidade, como também as ajuda

a superarem maior número de barreiras à implementação da visão.

Para Francisco (2003, p. 38), o empowerment oferece as condições para que

as habilidades técnicas, humanas e conceituais estejam incorporadas aos indivíduos

e, presentes o tempo todo na consecução das tarefas que atendem os objetivos

estratégicos da organização.

Trilhar o caminho do desenvolvimento pessoal é, segundo Senge (1998, p.

199) questão de opção de cada um. [...] “Ninguém pode ser forçado a desenvolver

seu crescimento pessoal. As organizações podem enfrentar dificuldades

consideráveis se tentarem promover muito agressivamente o domínio pessoal entre

seus membros”.

Portanto, a perfeita continuidade da transformação não está garantida pelo

simples fato de se ter obtido sucesso nas 4 primeiras etapas do processo de

mudança. Para se conseguir investir de empowerment os funcionários, deve-se

47

oferecer condições para o estabelecimento de clima de certeza quanto aos

benefícios obtidos com o desenvolvimento do domínio pessoal para todos, como

também para a organização. Sobre o assunto, Senge (1998, p. 200) afirma:

“Esse clima organizacional fortalecerá o domínio pessoal de duas formas. Primeiro, reforçará continuamente a idéia de que o crescimento pessoal é realmente valorizado na organização. Segundo, se os indivíduos responderem ao que se oferece, isto proporcionará um ‘treinamento no trabalho’ que é vital para o desenvolvimento do domínio pessoal”.

Para Kotter (1997, p. 104), o caminho básico para investir de empowerment

os funcionários é o de remover as barreiras que os impedem de realizar a mudança

com eficácia, mesmo que alinhados com uma visão compartilhada. Tais barreiras,

capazes de dificultar as ações de implementação das mudanças, são descritas

como:

a) as estruturas formais;

b) a deficiência de habilidades necessárias;

c) a administração de pessoal e os sistemas de informações; e

d) as chefias que desencorajam a ações.

O Quadro 12 a seguir apresenta propostas para a eliminação dessas

potenciais barreiras.

Barreiras Comentários Como eliminar

Estruturas formais. Estruturas desalinhadas bloqueiam as ações necessárias.

Criar estruturas compatíveis com a visão.

Deficiência nas habilidades necessárias.

Sem as técnicas e atitudes corretas, as pessoas sentem-se desencorajadas.

Oferecer treinamento adequado.

Sistema de administração de pessoal e sistemas de informações ineficientes.

Sistemas desalinhados bloqueiam as ações necessárias.

Alinhar os sistemas de informações e de pessoal com a visão.

Chefias que desencorajam as ações.

Nada desestimula mais as pessoas do que um chefe ruim.

Enfrentar os supervisores que atrapalham a mudança necessária.

Quadro 12 – Propostas para a eliminação de barreiras ao empowerment Fonte: Adaptado de Kotter (1997, p.117)

Investir na capacitação de todos, dentro da organização, é certamente o

melhor caminho para se tornar eficaz a condução das estratégias. No entanto, deve-

se avaliar de forma sistemática as atitudes das pessoas quanto à criação de

48

barreiras ao processo de mudança. Existe diferença significativa entre a participação

e o comprometimento com as propostas de mudança e a aceitação dessas

propostas. Segundo Kiefer (apud SENGE, 1998, p. 246) participar e se

comprometer é se tornar parte de alguma coisa por opção, assumindo sentimento de

total responsabilidade na transformação da visão em realidade, enquanto que

aceitar, é apenas seguir a visão, fazendo simplesmente o que se espera da pessoa.

Sobre essa diferença entre participação e comprometimento e aceitação,

Senge (1998, p. 246) descreve:

Na maioria das organizações contemporâneas, o número de pessoas que participam efetivamente é relativamente pequeno – e o número de pessoas comprometidas é ainda menor. A grande maioria assume um estado de “aceitação”. Essas pessoas apenas seguem a visão. Fazem o que se espera delas. Apóiam a visão, até certo ponto, mas não participam ou se comprometem verdadeiramente com ela.

O Quadro 13 a seguir, apresenta as possíveis atitudes assumidas pelas pessoas em relação às propostas de mudança.

Atitude Descrição Comprometimento. A pessoa quer. Transformará a visão em realidade. Criará

todas as “leis” necessárias. Participação. A pessoa quer. Fará todo o possível dentro do "espírito da

lei". Aceitação genuína. A pessoas vê os benefícios da visão. Faz tudo que dela se

espera e cumpre a “lei”. Aceitação formal. A pessoa vê os benefícios da visão. Faz o que dela se

espera e nada mais. Aceitação hostil. A pessoa não vê os benefícios da visão, mas também não

quer perder o emprego. Faz o esperado por obrigação, mas deixa claro que não está realmente “no mesmo barco”.

Não-aceitação. A pessoa não vê os benefícios da visão e não faz o que se espera dela.

Apatia. A pessoa não é contra nem a favor da visão. Não demonstra interesse. Sem energia.

Quadro 13 – Atitudes das pessoas em relação a uma visão Fonte: Adaptado de Senge, “Possíveis atitudes em relação a uma visão” (1998, p. 247).

Como forma de superar essa etapa do processo de mudança, o Quadro 14

abaixo relaciona o que, segundo Kotter; Cohen (2002), funciona e não funciona na

tentativa de investir de empowerment os funcionários.

49

O que funciona O que não funciona - Recorrer a pessoas com experiência em

processos de mudança, capazes de impulsionar a autoconfiança por meio de casos do tipo “conseguimos e vocês também conseguem”;

- Desenvolver sistemas de reconhecimento e recompensa que inspirem a criatividade, promovam o otimismo e construam a autoconfiança;

- Fomentar o feedback capaz de ajudar as pessoas a tomar melhores decisões relacionadas com a visão;

- “Reequipar” gerentes incapacitantes, atribuindo-lhes novas tarefas que demonstrem com nitidez a necessidade de mudança.

- Ignorar chefes que provocam sérios danos incapacitantes a seu pessoal;

- Resolver o problema dos chefes, tirando-lhes o poder (e deixando-os zangados e assustados) e delegando autoridade a seus subordinados;

- Tentar afastar todas as barreiras de uma vez;

- Render-se a seus próprios sentimentos de pessimismo e medo.

Quadro 14 – Considerações acerca de como investir de empowerment os funcionários Fonte: Kotter; Cohen (2002, p.137)

2.3.1.6 Realização de conquistas a curto prazo

É de extrema importância para a organização obter resultados significativos

em curto prazo como forma de apresentar provas de que todo o sacrifício e

empenho realizado pelas pessoas está sendo válido. Tentar por em prática os

esforços de transformação sem dar o devido valor às conquistas a curto prazo é

risco muito alto.

No processo de mudança, enquanto os crédulos, normalmente, seguem

sintonizados com a visão não importa o que aconteça, os incrédulos necessitam de

provas bastante convincentes. Eles querem se sentir seguros de que as

transformações estão surtindo o efeito esperado e que os recursos alocados no

processo de mudança não estão sendo absorvidos rapidamente, colocando dessa

forma a organização em risco.

A verdadeira conquista a curto prazo, afirma Kotter (1997, p. 123-124), deve

ter pelo menos as seguintes características:

a) ser visível – um número significativo de pessoas percebe por elas mesmas

se o resultado alcançado é real ou não;

b) ser não ambígua – seu apelo é praticamente indiscutível; e

c) estar claramente inserida no contexto da proposta de mudança.

E para que essas conquistas a curto prazo aconteçam, é fundamental que se

faça um bom planejamento. A liderança não deve insistir em levar adiante o esforço

50

de transformação sem que tenham sido apresentados resultados significativos de

desempenho durante espaço considerável de tempo. Os resultados visíveis devem

fazer com que todo o esforço de transformação adquira a necessária credibilidade.

Assim, para que se viabilize e demonstre o surgimento de conquistas a curto

prazo, algumas ações como as apresentadas no Quadro 15 devem ser

empreendidas.

Ações Benefícios 1. Fornecer provas de que os sacrifícios valem a pena.

As conquistas ajudam bastante a justificar os custos envolvidos no curto prazo.

2. Reconhecer os agentes da mudança.

Após o trabalho árduo, um feedback positivo eleva o moral, motivando as pessoas.

3. Ajudar a sintonizar a visão e as estratégias.

Conquistas a curto prazo oferecem à coalizão administrativa dados concretos sobre a viabilidade das idéias disseminadas.

4. Desencorajar os cínicos e os resistentes que atuam em causa própria.

Melhorias claras no desempenho dificultam o bloqueio das mudanças necessárias.

5. Manter os chefes nos seus lugares.

Fornece aos que ocupam cargos mais altos na hierarquia evidências de que a mudança está no caminho certo.

6. Criar motivação. Transforma pessoas neutras em aliados e os aliados relutantes em parceiros ativos.

Quadro 15 – Ações para conquistas a curto prazo e seus benefícios Fonte: Adaptado de Kotter (1997, p. 125).

Nesta etapa do processo de mudança, Kotter; Cohen (2002) destacam o que

funciona e o que não funciona na realização de conquistas a curto prazo. O Quadro

16 apresenta essas considerações.

O que funciona O que não funciona - Vitórias prematuras e rápidas; - Vitórias tão visíveis quanto possível,

para tantas pessoas quanto possível; - Vitórias que transponham as defesas

emocionais, por serem inequívocas; - Vitórias prematuras que sensibilizem

atores poderosos, cujo apoio é necessário, mas com o qual ainda não se conta;

- Vitórias pouco dispendiosas e muito fáceis, ainda que pareçam pequenas em comparação com a grande visão.

- Lançar vários projetos ao mesmo tempo;

- Demorar demais para gerar a primeira vitória;

- Flexibilizar a verdade.

Quadro 16 – Considerações acerca da realização de conquistas a curto prazo Fonte: Kotter; Cohen (2002, p.155)

51

2.3.1.7 Consolidação de ganhos e produção de mais mudanças

As mudanças normalmente se processam durante bom tempo. Forças tais

como a rotatividade dos agentes da transformação, a exaustão dos líderes e a falta

de sorte podem contribuir para a paralização do processo bem próximo ao seu final.

Nessas circunstâncias, a comemoração das conquistas a curto prazo pode ser fatal

se o senso de urgência for perdido. Com a volta da complacência, as forças da

tradição podem ressurgir com força e velocidade intensas.

A displicência com a consolidação dos ganhos até então obtidos pode

significar a derrota. “Sempre que você pára antes de o trabalho estar concluído, o

impulso decisivo pode ser perdido e o retrocesso pode surgir a seguir” (KOTTER,

1997, p. 135). O progresso obtido pode desaparecer por conta não só da cultura da

organização, como também pela interdependência entre funções ou processos

aflorada no ambiente em transformação, onde interconexões dificultam a mudança

de qualquer prática sem a mudança total. Eliminar portanto as interconexões

desnecessárias torna a transformação muito mais fácil. “Num mundo onde a

mudança é cada vez mais a regra e não a exceção, limpar a casa também pode

tornar todos os esforços de reorganização futuros ou mudanças estratégicas menos

difíceis” (KOTTER, 1997, p. 145).

Francisco (2003, p. 42) ressalta:

Saber consolidar ganhos oriundos de vitórias e conquistas e criar uma estrutura que garanta a produção de mais mudanças é uma habilidade impressionante e rara que exige uma boa dose de paciência e motivação. [...] a consolidação de ganhos exige gerenciamento e a produção de mais mudanças exige liderança continuada. O processo é longo e qualquer mudança emergente exige um realinhamento da visão, contudo a prática absorvida pelos indivíduos da organização, ou seja, o aprendizado, auxilia na condução da organização para novas direções.

Em esforços de mudança bem-sucedidos, afirma Kotter (1997, p. 146), esta

etapa do processo deve ser caracterizada por:

a) uso pela coalizão administrativa da credibilidade proporcionada pelas

conquistas a curto prazo para empreender mais e maiores projetos de

mudança;

b) aumento da contratação, promoção e desenvolvimento de mais pessoas

para ajudar nas mudanças;

c) concentração do pessoal sênior em manter a clareza de finalidades

compartilhadas para o esforço geral e os níveis de urgência altos;

52

d) escalões inferiores da hierarquia fornecendo liderança para projetos

específicos, bem como gerenciando esses projetos; e

e) identificação e eliminação por parte dos gerentes das interdependências

desnecessárias, como forma de facilitar a mudança a curto e longo prazo.

Em complemento, Kotter; Cohen (2002), destacam o que funciona e o que

não funciona nesta penúltima etapa do processo de mudança. O Quadro 17 a seguir

apresenta essas considerações.

O que funciona O que não funciona - Descartar-se agressivamente do trabalho

desgastante – tarefas que foram relevantes no passado mas que já não são importantes ou tarefas que podem ser delegadas;

- Buscar de forma contínua soluções criativas para manter a mudança em ritmo acelerado;

- Explorar as novas situações com senso de oportunidade para lançar a nova onda de mudança;

- Como sempre, dar exemplos, dar exemplos, dar exemplos.

- Engessar a empresa com um rigoroso plano de quatro anos;

- Convencer-se de que a tarefa está concluída, quando não está;

- Convencer-se de que é possível realizar o trabalho sem desafiar alguns dos comportamentos burocráticos e políticos mais arraigados;

- Trabalhar em demasia, a ponto de esgotar-se física e emocionalmente (ou sacrificar sua vida fora do trabalho).

Quadro 17 – Considerações acerca da consolidação de ganhos e produção de mais mudanças Fonte: Kotter; Cohen (2002, p.173)

2.3.1.8 Estabelecimento de novos métodos na cultura

Nas organizações, a cultura existente reflete as crenças e os valores, os

costumes e as tradições, os conhecimentos e as práticas de convívio social,

moldando inclusive o comportamento das pessoas. Ela se mostra como o principal

fator de influência no sucesso de projetos transformadores, por estar arraigada no

comportamento das pessoas e contribuir para a persistência do compartilhamento de

valores e das regras grupais, especialmente os antigos.

Kotter (1997, p. 150) afirma que a cultura se refere a normas de

comportamento e valores compartilhados entre determinado grupo de pessoas.

As normas de comportamento são formas de ação comuns ou difundidas que são encontradas em um grupo e que persistem porque os membros do grupo tendem a se comportar de maneira que ensinam essas práticas aos novos membros [...] Os valores compartilhados são preocupações importantes e metas compartilhadas pela maioria das pessoas em um grupo, que tendem a estabelecer um comportamento grupal e que com freqüência persistem através do tempo mesmo quando os membros do grupo mudam.

53

Quando novas práticas estabelecidas por conta de esforço de mudança se

mostram incompatíveis com a cultura existente, a transformação conseguida estará

sujeita à regressão. Sobre o fato Kotter (1997, p. 151) alerta:

As mudanças em um grupo de trabalho, em uma divisão ou empresa inteira podem ser anuladas, mesmo depois de anos de esforço, porque os novos métodos ainda não foram estabelecidos firmemente nas normas e valores de grupo.

Alterar as regras e os valores da organização não garante a mudança da

cultura, ela só muda depois que as ações das pessoas tenham sido alteradas com

sucesso, depois que o novo comportamento tenha produzido alguma vantagem

grupal por algum tempo e depois que as pessoas consigam perceber a conexão

entre as novas ações e a melhoria de desempenho.

Esta última etapa do modelo de Kotter (1997) pretende solidificar a

implantação das novas práticas decorrentes do processo de mudança, incorporando-

as à cultura da organização. O Quadro 18 resume os recursos-chave para o

estabelecimento das mudanças culturais.

O Quadro 9 apresenta as considerações de Kotter; Cohen (2002, p.191),

sobre o que funciona e o que não funciona nesta última etapa do processo de

mudança.

Considerações Ações Vem por último, não primeiro. As alterações nas regras e valores

compartilhados devem ocorrer, em sua maioria, ao final do processo de transformação.

Depende dos resultados. Os novos métodos só se inserem na cultura se estiver bastante claro que eles funcionam e são superiores aos antigos métodos.

Exige um bocado de conversa. A comunicação verbal e o apoio são fatores primordiais para a aceitação das novas práticas em toda a organização.

Pode envolver a rotatividade. Deve-se considerar a possibilidade de mudar as pessoas-chave caso este seja o único caminho para mudar a cultura.

Torna-se crucial as decisões sobre a sucessão.

Se os processos de promoção não forem alterados para se tornarem compatíveis com as novas práticas, a antiga cultura irá se reafirmar.

Quadro 18 – Fixação da mudança na cultura Fonte: Adaptado de Kotter, “Fixação da mudança na cultura” (1997, p. 160).

54

O que funciona O que não funciona - Não parar no passo 7, o processo não

acaba enquanto a mudança não criar raízes;

- Usar a orientação aos empregados para mostrar aos recrutas, de maneira cativante, o que realmente é importante para a organização;

- Explorar o processo de promoção de pessoal, a fim de transferir pessoas que agem de acordo com as novas normas para posições influentes e visíveis;

- Contar histórias tocantes, repetidas vezes, sobre a nova organização, o que faz e por que é bem-sucedida;

- Estar absolutamente certo de que se conta com a continuidade de comportamento e de resultados que contribui para o crescimento da nova cultura.

- Confiar no chefe, em sistemas de remuneração, ou em qualquer outra coisa que não a cultura, para sustentar a mudança em grande escala;

- Tentar mudar a cultura como primeiro passo do processo de transformação.

Quadro 19 – Considerações acerca do estabelecimento de novos métodos na cultura Fonte: Kotter; Cohen (2002, p.191)

55

3 A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS NO INMETRO. O OUTRO LADO DA MOEDA: A OPINIÃO DOS FUNCIONÁRIOS 3.1 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

3.1.1 Evolução da metrologia e criação do Inmetro

Em meados do século XIX, o comércio brasileiro dava os primeiros sinais de

sérias dificuldades por conta da falta de padronização dos pesos e medidas. A partir

do reconhecimento da imperfeição do sistema métrico herdado de Portugal e diante

de diversas tentativas frustradas de uniformização das unidades de medir, coube ao

imperador Pedro II introduzir no país, através da Lei no 1.157, de 26 de junho de

1862, o “Systema Metrico Francez” (sistema métrico decimal francês), dando então

início a grandes transformações socio-econômicas em nosso país (DIAS, 1998). Em

1875, o Brasil fazia parte do grupo dos primeiros 17 países que assinaram a

Convenção do Metro em Paris.

No século seguinte, o governo cria em 24 de maio de 1933, como parte de

sua reforma administrativa e respondendo às exigências dos consumidores e dos

próprios produtores de uma estrutura institucionalizada de padronização e

fiscalização, o Instituto de Tecnologia, subordinado à Diretoria Geral de Pesquisas

Científicas do Ministério da Agricultura. Logo depois, ao ser incorporado pelo

Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) o Instituto recém criado teve seu

nome alterado para Instituto Nacional de Tecnologia – INT.

A estrutura regimental estabelecida para o INT aproximava-o do modelo

organizacional e funcional do organismo congênere norte-americano, ou seja, não só

um instituto de metrologia, mas também de tecnologia, delegando-se a ele também

atribuições gerenciais (coordenação das ações dos órgãos delegados por todo o

país), fiscais (definição e arrecadação por serviços, calibrações e multas) e

fiscalizatórias (MARTINS, 2003).

A tentativa de conjugar as tarefas de cunho legal com uma estrutura científica

dependia de investimentos em infra-estrutura e pessoal que não foram levados a

cabo pelos governos que se seguiram. Anos mais tarde, diante das dificuldades em

lidar com tais problemas, surgia como fórmula salvadora a desvinculação das

atividades metrológicas do INT através da criação de órgão específico.

56

Dessa forma, como parte da reestruturação do Ministério da Indústria e

Comércio, foi criado em 1961, pela Lei no 4.048, o Instituto Nacional de Pesos e

Medidas - INPM, transferindo-se para este novo órgão as atividades de cunho

metrológico do INT.

Em 1967, com a formulação pela primeira vez de uma Política Nacional de

Metrologia, foi criado o Sistema Nacional de Metrologia. Nele, o INPM assumia o

papel de controle das ações de metrologia legal, estendendo-as, em nível estadual,

a todo o país, dando então origem à Rede Nacional de Metrologia Legal - RNML.

Diante do avanço tecnológico empreendido ao longo da segunda metade do

século, já não eram suficientes as ações metrológicas até então executadas, e a

Qualidade surgia como exigência natural para o atendimento das necessidades dos

consumidores.

Assim, foi criado em 11 de dezembro de 1973, através da Lei 5.966, o

Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Sinmetro,

com a finalidade de formular e executar a política nacional de metrologia,

normalização e certificação da qualidade de produtos industriais.

A referida Lei, ao criar o novo Sistema, definiu como seu órgão normativo o

Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Conmetro,

colegiado interministerial, e como órgão executor das políticas emanadas desse

Conselho, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial –

Inmetro.

3.1.2 Missão, estrutura e desenvolvimento do Inmetro

O Inmetro é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC, que atua como Secretaria

Executiva do Conmetro, órgão normativo do Sinmetro. Tem como principal objetivo

fortalecer as empresas nacionais, aumentando sua produtividade por meio da

adoção de mecanismos destinados à melhoria da qualidade de produtos e serviços,

sendo sua missão promover a qualidade de vida do cidadão e a competitividade da

economia através da metrologia e da qualidade.

Suas principais competências, de acordo com Inmetro (2006), são:

• Executar as políticas nacionais de metrologia e da qualidade;

57

• Verificar a observância das normas técnicas e legais, no que se refere

às unidades de medida, métodos de medição, medidas materializadas, instrumentos

de medição e produtos pré-medidos;

• Manter e conservar os padrões das unidades de medida, assim como

implantar e manter a cadeia de rastreabilidade dos padrões das unidades de medida

no País, de forma a torná-las harmônicas internamente e compatíveis no plano

internacional, visando, em nível primário, à sua aceitação universal e, em nível

secundário, à sua utilização como suporte ao setor produtivo, com vistas à qualidade

de bens e serviços;

• Fortalecer a participação do País nas atividades internacionais

relacionadas com metrologia e qualidade, além de promover o intercâmbio com

entidades e organismos estrangeiros e internacionais;

• Prestar suporte técnico e administrativo ao Conselho Nacional de

Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Conmetro, bem assim aos seus

comitês de assessoramento, atuando como sua Secretaria-Executiva;

• Fomentar a utilização da técnica de gestão da qualidade nas empresas

brasileiras;

• Planejar e executar as atividades de acreditação (credenciamento) de

laboratórios de calibração e de ensaios, de provedores de ensaios de proficiência,

de organismos de certificação, de inspeção, de treinamento e de outros, necessários

ao desenvolvimento da infra-estrutura de serviços tecnológicos no País; e

• Coordenar, no âmbito do Sinmetro, a certificação compulsória e

voluntária de produtos, de processos, de serviços e a certificação voluntária de

pessoal.

3.2 FATORES QUE DEFINIRAM A DECISÃO PELA IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS

Foram considerados como fatores predominantes para fomentar a

implementação da gestão de pessoas com base em competências no Inmetro, 4

acontecimentos, a seguir descritos, que se sucederam ao longo dos últimos anos e

que se constituíram parte do histórico da Instituição:

- O Plano de Modernização do Inmetro;

- O Contrato de Gestão com o Governo Federal;

58

- O Planejamento Estratégico; e

- O Prêmio Qualidade do Governo Federal.

Vale destacar também, como fator de indução à implementação da gestão por

competências na Instituição, as fraquezas identificadas no processo de

Planejamento Estratégico da Diretoria de Administração e Finanças – Diraf,

relacionadas à gestão de pessoas, apresentadas no Quadro 20.

Fraqueza Caracterização Causas Limitação imposta à gestão de recursos humanos.

A gestão de recursos humanos encontra restrições e limites determinados pela Direção do Inmetro para o desenvolvimento adequado de suas atividades. O foco concentra-se no controle em detrimento da gestão de recursos humanos (competências, desenvolvimento etc.).

Falta de percepção da importância dos recursos humanos, por parte da Diretoria do Inmetro.

Posição secundária da área de recursos humanos.

Incompatibilidade entre a importância estratégica da função recursos humanos e a posição da área na estrutura do Inmetro. Ausência de um plano integrado de recursos humanos.

Falta de percepção da importância dos recursos humanos, por parte da Diretoria do Inmetro.

Quadro 20 – Fraquezas da gestão de pessoas identificadas no planejamento estratégico da Diraf Fonte: Planejamento Estratégico da Diraf / Caderno de Realizações - 2003

Na visão dos participantes do processo de planejamento estratégico, a

limitação imposta pela Direção do Inmetro à gestão de recursos humanos, assim

como a posição secundária da área de recursos humanos na estrutura da

organização, revela certa falta de percepção da alta administração sobre a

importância estratégica da função recursos humanos.

3.2.1 O Plano de Modernização do Inmetro

“O processo de modernização do Inmetro não pode ser plenamente

compreendido sem a visão dos fatores externos que o impulsionaram e lhe

forneceram os fundamentos e as configurações básicas. Na sua origem, a

modernização do Inmetro foi deflagrada e modulada pela confluência de três

transformações em curso na sociedade brasileira, que se intensificaram a partir de

meados da década de 80, conforme destacado na Figura 4” .(OLIVEIRA, 2002).

59

Em 1996 foi aprovado o “Plano de Modernização do Inmetro” cuja etapa de

implantação foi caracterizada pelo desencadeamento de projetos estratégicos e pelo

processo de mudança da imagem institucional.

Figura 4 – Modulagem do processo de modernização do Inmetro

Objetivando assegurar a conclusão desses projetos, tomou-se duas grandes

iniciativas. A primeira foi o desenvolvimento de nova metodologia de

acompanhamento de projetos, implementada a partir de maio de 1997. A segunda, a

discussão dos macro processos do Inmetro como resultado da integração e

harmonização das diversas áreas do Instituto, tendo como foco os clientes externos.

O referido plano já sinalizava, à época, para a necessidade de reformulação

da área de recursos humanos do Inmetro. Estabelecia como um dos dezoito projetos

que o compunham o de “Modernização da Gestão”. Este projeto objetivava

aprimorar a capacitação administrativa-operacional da organização, de forma a

possibilitar o melhor cumprimento da sua missão institucional. Sugeria ações, dentre

as quais vale ressaltar aquelas relacionadas à gestão de recursos humanos, a

saber:

a) reestruturação e capacitação da área de recursos humanos;

b) capacitação de recursos humanos; e

c) treinamento e capacitação gerencial.

3.2.2 O Contrato de Gestão com o Governo Federal

O Inmetro se apresenta hoje como a única autarquia do Governo Federal a

possuir Contrato de Gestão assinado com o Ministério ao qual se vincula, no caso o

60

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Atuam como

intervenientes neste contrato o Ministério da Fazenda - MF e o Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão - MP.

O Contrato de Gestão, instrumento integrante do Plano Diretor da Reforma do

Aparelho do Estado, define as relações e compromissos entre os signatários,

constituindo-se em instrumento de acompanhamento e avaliação do desempenho

institucional. Seu objetivo é dotar as entidades que o assinam de maior autonomia

administrativa e gerencial em troca de metas de desempenho e instrumentos de

controle estabelecidos no próprio contrato. Desde a sua assinatura, o Inmetro vem

renovando o Contrato de Gestão a cada três anos.

Na versão atual, o Contrato de Gestão estabeleceu em sua Cláusula Segunda

– Das Obrigações do Inmetro, entre as dez obrigações assumidas, a de “Modernizar

a Gestão de Pessoas até 2005 com o apoio da Secretaria de Gestão do Ministério

de Planejamento.

3.2.3 O Planejamento Estratégico

Em seu processo de modernização administrativa e de desenvolvimento

estratégico, o Inmetro vem realizando ao longo dos últimos anos, ciclos de

planejamento estratégico com desdobramento em suas unidades organizacionais.

Tais ciclos de planejamento, garantem a sinergia das ações corporativas a fim de

atender às demandas em Metrologia e Qualidade, consolidando o papel da

instituição de promotora da qualidade para o cidadão e da competitividade da

economia brasileira.

Como conseqüência, sua Diretoria de Administração e Finanças – Diraf, cuja

estrutura é apresentada na Figura 5, e à qual a área de Recursos Humanos está

vinculada, estabeleceu seu Plano Estratégico para o período de 2003-2007. O

referido plano contempla vários projetos a serem desenvolvidos pela Divisão de

Recursos Humanos - Direh, cabendo destacar o de implementação de novo modelo

de gestão de pessoas baseado em competências.

61

Diretoria deAdministração e

Finanças

Auxiliar

Serviço de CustoEquipe de ApoioAdministrativo

Divisão de Finanças Divisão de RecursosHumanos Divisão de Engenharia

Equipe de Manutençãoe Operação

Serviço deAdministração de

Pessoal

Serviço deContabilidade

Setor de Material eCompras

Divisão deAdministração

Setor de ExecuçãoOrçamentária e

Financeira

Equipe de AnáliseAdministrativa e

Financeira

Serviço deDesenvolvimento de RH

Equipe deObras e Projetos

Setor de Patrimônio

Serviço de SaúdeOperacional

Setor de ServiçosGerais

Equipe de Importação

Equipe deControle eSuprimento

Equipe deAlmoxarifado

Equipe deCadastro ePagamento

Equipe deDiárias e

Passagens

Equipe deSegurançaPatrimonial

Equipe deTransportes

Oficiais

Equipe deArtes Gráficas

Diretoria deAdministração e

Finanças

Auxiliar

Serviço de CustoEquipe de ApoioAdministrativo

Divisão de Finanças Divisão de RecursosHumanos Divisão de Engenharia

Equipe de Manutençãoe Operação

Serviço deAdministração de

Pessoal

Serviço deContabilidade

Setor de Material eCompras

Divisão deAdministração

Setor de ExecuçãoOrçamentária e

Financeira

Equipe de AnáliseAdministrativa e

Financeira

Serviço deDesenvolvimento de RH

Equipe deObras e Projetos

Setor de Patrimônio

Serviço de SaúdeOcupacional

Setor de ServiçosGerais

Equipe de Importação

Equipe deControle eSuprimento

Equipe deAlmoxarifado

Equipe deCadastro ePagamento

Equipe deDiárias e

Passagens

Equipe deSegurançaPatrimonial

Equipe deTransportes

Oficiais

Equipe deArtes Gráficas

Figura 5 – Estrutura organizacional da Diraf

62

3.2.4 O Prêmio Qualidade do Governo Federal

O Inmetro tem participado de prêmios de gestão desde 1997 quando obteve a

Medalha Prata por sua participação no PQRio – Prêmio Qualidade Rio, tendo

também, naquele ano, tomado parte do PNQ – Prêmio Nacional da Qualidade.

O Prêmio Qualidade do Governo Federal – PQGF, instituído em março de

1998, objetiva reconhecer e premiar as organizações públicas que tenham alto

desempenho institucional, e se destaquem por práticas de excelência em gestão.

Por sua participação no PQGF, o Inmetro obteve em 1998 o Reconhecimento

Prata, em 2000 o Reconhecimento Ouro, voltando a obter o Reconhecimento Prata

nos ciclos de 2004 e 2005.

O Instrumento de Avaliação utilizado pelo PQGF compõe-se de 7 critérios, os

quais são apresentados no Quadro 21 com suas respectivas pontuações

(Instrumento para Avaliação da Gestão Pública - Ciclo 2005). Dentre esses critérios,

o Critério 5 – Pessoas, revelou-se como um dos principais fatores determinantes da

implementação do modelo de gestão de pessoas por competências no Inmetro, por

abordar:

a) como a organização prepara e estimula as pessoas para desenvolver e

utilizar seu pleno potencial em alinhamento com as estratégias da

organização;

b) os esforços para criar e manter ambiente que conduza à excelência no

desempenho, à plena participação e ao crescimento individual e

institucional; e

c) como as práticas relativas ao sistema de trabalho, educação, capacitação

e qualidade de vida são avaliadas e melhoradas.

63

Critérios e Itens Pontos 1 Liderança

1.1 Sistema de liderança 1.2 Cultura da Excelência 1.3 Análise crítica do desempenho global

90 30 30 30

2 Estratégias e Planos 2.1 Formulação das estratégias 2.2 Desdobramento e operacionalização das estratégias 2.3 Formulação do sistema da medição do desempenho

90 30 30 30

3 Cidadãos e Sociedade 3.1 Imagem e conhecimento mútuo 3.2 Relacionamento com os cidadãos-usuários 3.3 Interação com a sociedade

90 30 30 30

4 Informação e Conhecimento 4.1 Gestão das informações da organização 4.2 Gestão das informações comparativas 4.3 Gestão do conhecimento

90 30 30 30

5 Pessoas 5.1 Sistemas de trabalho 5.2 Educação e capacitação 5.3 Qualidade de vida

90 30 30 30

6 Processos 6.1 Gestão de processos finalísticos 6.2 Gestão de processos de apoio 6.3 Gestão de processos de suprimento 6.4 Gestão orçamentária e financeira

90 30 20 20 20

7 Resultados 7.1 Resultados relativos aos cidadãos-usuários 7.2 Resultados relativos à interação com a sociedade 7.3 Resultados orçamentários e financeiros 7.4 Resultados relativos às pessoas 7.5 Resultados relativos a suprimento 7.6 Resultados relativos aos serviços e produtos 7.7 Resultados dos processos de apoio e organizacionais

460 100 50 60 60 40 90 60

Total de Pontos 1000 Quadro 21 – Critérios e pontuação do PQGF Fonte: Instrumento para Avaliação da Gestão Pública - Ciclo 2005

64

3.3 A SITUAÇÃO PROBLEMA

Ouvir a opinião dos funcionários permite à gestão da organização entender o

“outro lado da moeda”, ou seja, o comprometimento dos funcionários com os

objetivos da organização.

A aplicação de questionário para tal fim, é estratégia que este trabalho se

impõe para contribuir metodologicamente com a intenção de continuidade e

melhoria.

Enquanto que para a organização são óbvias as vantagens de implantação da

gestão por competências, para os funcionários a opinião de tal implantação é uma

incógnita.

Objetiva-se investigar a opinião dos funcionários (servidores e terceiros, no

nível operacional, e média gerência) no processo de mudança na gestão de

pessoas. O caso analisado é o do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial - Inmetro, particularmente a Divisão de Recursos Humanos -

Direh, vinculada à Diretoria de Administração e Finanças - Diraf.

O autor considera importante e contributiva para a formação de entendimento

sobre a implantação de mudanças em organizações públicas a análise das forças

impulsionadoras e das forças restritivas presentes no processo de transformação.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

A análise conclusiva avaliou as forças impulsionadoras e restritivas,

apresentadas na Figura 6, com base nas pontuações atribuídas às assertivas com

as quais elas se correlacionam. Essa correlação é apresentada nos Quadros 22 e

23.

65

FORÇAS IMPULSIONADORAS FORÇAS RESTRITIVAS

Figura 6 – Forças passíveis de presença no processo de mudança

1 - A GPC como mecanismo para promoção de maior capacitação dos servidores.

2 - A implantação da GPC em todas as áreas da organização, proporcionando tratamento

igualitário a toda força de trabalho.

3 - A GPC como promotora do crescimento profissional dos servidores, pelos seus

próprios méritos.

1 - A baixa sensibilização da força de trabalho sobre a importância da GPC.

2 - O amplo desconhecimento do que vem a ser GPC.

3 - A baixa autonomia da organização para premiar o empenho e o desempenho do

servidor.

4 - A resistência às mudanças decorrentes da implantação da GPC.

5 - A dificuldade de implantar a GPC devido à “cultura de serviço público”.

6 - A GPC como fator de desmotivação para os servidores mais antigos.

7 - A dificuldade dos servidores em assimilarem a GPC.

8 - O possível descompasso entre as competências definidas para o

desenvolvimento das pessoas e aquelas necessárias ao alcance das metas

prioritárias da organização.

9 - A possibilidade de indução do servidor a focar-se mais na realização de treinamentos

e menos nos resultados do trabalho.

10 - A possibilidade da GPC vir a dificultar o relacionamento entre os servidores.

7 - Programas de desenvolvimento individual baseados em competências relacionadas aos

resultados organizacionais.

6 - A GPC como instrumento de premiação, nas suas mais variadas formas, do empenho

e do desempenho do servidor.

5 - A GPC como instrumento de reconhecimento, nas suas mais variadas

formas, do trabalho de cada servidor.

4 - A GPC como indutora de auto-avaliação de conhecimentos, habilidades e experiência,

levando à busca de aperfeiçoamento constante.

8 - A GPC como instrumento de ajuda à organização para obtenção de melhores

resultados.

9 - A gestão administrativa focada nos critérios de excelência do PQGF, dentre eles

o “Critério 5 – Gestão de Pessoas”.

10 - A revisão anual do planejamento estratégico com definição/aprovação de

projetos modernizadores, dentre eles o de gestão por competências.

66

FORÇA IMPULSIONADORA ASSERTIVA CORRELACIONADA

1 - A GPC será um mecanismo para promover maior capacitação dos servidores.

1 - A GPC como mecanismo para promoção de maior capacitação dos servidores. 2 - A GPC promoverá uma atualização constante do servidor,

preparando-o para a organização e para o mercado. 3 - A GPC será implantada em todas as áreas do Inmetro, incluindo as que não possuem resultados tangíveis. 6 - O Inmetro proporcionará a participação de todos os servidores no processo de implantação da GPC.

2 - A implantação da GPC em todas as áreas da organização, proporcionando tratamento igualitário a toda força de trabalho. 7 - A GPC produzirá um sentimento de justiça e coerência em

relação a gestão das pessoas, pois homogeinizará os critérios utilizados por cada gestor. 8 - A GPC proporcionará a possibilidade de crescimento profissional dos servidores, pelos seus próprios méritos.

3 - A GPC como promotora do crescimento profissional dos servidores, pelos seus próprios méritos.

9 - A GPC proporcionará ao servidor o planejamento de sua vida funcional. 10 - A GPC conduzirá a uma auto-avaliação de conhecimentos, fazendo com que o servidor busque o aperfeiçoamento constante.

4 - A GPC como indutora de auto-avaliação de conhecimentos, habilidades e experiência, levando à busca de aperfeiçoamento constante.

11 - Com um plano de desenvolvimento individual vinculado às competências, o servidor terá que buscar seu auto-desenvolvimento, necessitando dedicar tempo para esta tarefa. 12 - A GPC proporcionará o reconhecimento do trabalho de cada servidor. 14 - A GPC será uma das formas de avaliar a capacidade de cada um.

5 - A GPC como instrumento de reconhecimento, nas suas mais variadas formas, do trabalho de cada servidor.

33 - A GPC constituir-se-á em um dos fatores para aumentar o nível de motivação dos servidores do Inmetro. 13 - A GPC possibilitará premiar o empenho e o desempenho do servidor.

6 - A GPC como instrumento de premiação, nas suas mais variadas formas, do empenho e do desempenho do servidor. 26 - A GPC deverá corrigir as distorções da remuneração paga aos

servidores do Inmetro em relação ao mercado.

7 - Programas de desenvolvimento individual baseados em competências relacionadas aos resultados organizacionais.

15 - As competências definidas para compor os planos de desenvolvimento individuais estarão relacionadas aos resultados organizacionais.

17 - A utilização da GPC ajudará a organização a obter melhores resultados.

8 - A GPC como instrumento de ajuda à organização para obtenção de melhores resultados.

18 - Para implantar a GPC o Inmetro facilitará e incentivará seus servidores a adquirirem as competências necessárias.

9 - A gestão administrativa focada nos critérios de excelência do PQGF, dentre eles o “Critério 5 – Gestão de Pessoas”.

19 - A participação do Inmetro em diversos ciclos do PQGF, favorecerá a implantação da GPC.

20 - O Inmetro, ao gerir seus empregados com base nas competências transformar-se-á em uma organização moderna.

10 - A revisão anual do planejamento estratégico com definição / aprovação de projetos modernizadores, dentre eles o de gestão por competências.

22 - Ao implantar a GPC, o Inmetro o fará de forma planejada.

Quadro 22 – Correlação das assertivas com as forças impulsionadoras

67

FORÇA RESTRITIVA ASSERTIVA CORRELACIONADA

23 - A GPC será de difícil implantação no Inmetro, pela falta de participação dos servidores.

1 - A baixa sensibilização da força de trabalho sobre a importância da GPC. 24 - Para que a GPC tenha sucesso, o Inmetro promoverá uma forte

sensibilização da força de trabalho sobre sua importância. 2 - O amplo desconhecimento do que vem a ser GPC.

25 - A GPC gerará uma predominância do indivíduo sobre a equipe.

16 - A GPC gerará frustração pela não premiação ou reconhecimento de competência que o servidor possua e que não seja essencial ao Inmetro.

3 - A baixa autonomia da organização para premiar o empenho e o desempenho do servidor. 27 - Por ser uma autarquia federal, o Inmetro terá dificuldades legais

que poderão impedir a implantação da GPC. 28 - A aplicação da GPC implicará em sobrecarga de trabalhos administrativos, com avaliações e controles.

4 - A resistência às mudanças decorrentes da implantação da GPC.

29 - A estrutura do Inmetro, com diversos níveis hierárquicos e de decisão, dificultará a implementação da GPC. 30 - O Inmetro terá dificuldade de implantar a GPC devido à sua “cultura de serviço público”. 31 - A identificação das competências necessárias aos servidores será um processo difícil e demorado.

5 - A dificuldade de implantar a GPC devido à “cultura de serviço público”.

5 - O Inmetro terá dificuldade em medir o desempenho nas competências nas áreas não finalísticas.

6 - A GPC como fator de desmotivação para os servidores mais antigos.

32 - A GPC constituir-se-á em um fator de desmotivação para os servidores mais antigos.

7 - A dificuldade dos servidores em assimilarem a GPC.

34 - Os servidores do Inmetro terão dificuldade para assimilar a GPC.

35 - Haverá um descompasso entre as competências definidas para o desenvolvimento das pessoas e aquelas necessárias ao alcance das metas prioritárias do Inmetro. 36 - A GPC resultará em “competências exclusivas” de alguns servidores.

8 - O possível descompasso entre competências definidas para o desenvolvimento das pessoas e aquelas necessárias ao alcance das metas prioritárias da organização.

21 - A GPC fracassará, pela ausência de uma cultura de planejamento no Inmetro.

9 - A possibilidade de indução do servidor a focar-se mais na realização de treinamentos e menos nos resultados do trabalho.

37 - A GPC induzirá o servidor a focar-se mais na realização de treinamentos e menos nos resultados do trabalho.

38 - A GPC gerará uma competição predatória entre as pessoas. 39 - A aplicação da GPC gerará um clima de tensão no ambiente de trabalho. 40 - A GPC dificultará o relacionamento entre os servidores.

10 - A possibilidade da GPC vir a dificultar o relacionamento entre os servidores.

4 - Os servidores das áreas de apoio dificultarão a implantação da GPC, caso a mesma seja aplicável apenas aos servidores das áreas finalísticas.

Quadro 23 – Correlação das assertivas com as forças restritivas

68

3.4.1 Análise das forças impulsionadoras

As pontuações atribuídas às 20 assertivas correlacionadas com as forças

impulsionadoras, revelaram que 13 delas, ou seja, 65%, apresentaram-se como

influenciadoras de forte presença dessas forças no processo de mudança. Outras 6

obtiveram pontuações que não permitem ao autor concluir sobre seu nível de

influência e apenas uma se apresentou como influenciadora de fraca presença da

força impulsionadora no processo de mudança. A Tabela 1 apresenta os percentuais

de incidência de notas e as médias obtidas pelas assertivas e por suas forças

impulsionadoras correspondentes.

FORÇA

IMPULSIO-NADORA

ASSERTIVA % 1 e 2 ASSERTIVA

% 3 e 4 ASSERTIVA

Média ASSERTIVA

% 1 e 2 FORÇA

% 3 e 4 FORÇA

Média FORÇA

1 0,20 0,80 3,30 1 2 0,19 0,81 3,20 0,19 0,81 3,25

3 0,52 0,48 2,43 6 0,56 0,44 2,54 2 7 0,28 0,72 2,93

0,45 0,55 2,63

8 0,22 0,78 3,07 3 9 0,30 0,70 3,00 0,26 0,74 3,04

10 0,30 0,70 2,98 4 11 0,28 0,72 2,91 0,29 0,71 2,94

12 0,30 0,70 2,91 14 0,22 0,78 3,17 5 33 0,24 0,76 3,02

0,23 0,77 3,03

13 0,43 0,57 2,81 6 26 0,85 0,15 1,57 0,64 0,36 2,19

7 15 0,26 0,74 3,00 0,26 0,74 3,00 17 0,07 0,93 3,44 8 18 0,34 0,66 2,89 0,21 0,79 3,17

9 19 0,40 0,60 2,73 0,40 0,60 2,73 20 0,30 0,70 3,13 10 22 0,44 0,56 2,57 0,37 0,63 2,85

Tabela 1 – Pontuação das assertivas e das forças impulsionadoras

A assertiva 17 “a utilização da gestão por competências ajudará a

organização a obter melhores resultados”, correlacionada à força impulsionadora 8

“a gestão por competências como instrumento de ajuda à organização para a

obtenção de melhores resultados”, obteve o maior índice de concordância, tendo

sido admitida por 93% do universo de respondentes, com 54% de graus 4 e 39% de

graus 3, e média de pontuação igual a 3,44.

Por outro lado, a assertiva 26 de que “a gestão por competências deverá

corrigir as distorções da remuneração paga aos servidores do Inmetro em relação ao

69

mercado”, correlacionada à força impulsionadora 6 “a gestão por competências

como instrumento de premiação, nas suas mais variadas formas, do empenho e do

desempenho do servidor”, obteve o menor índice de concordância, tendo sido

admitida por apenas 15% do universo de respondentes, com 6% de graus 4 e 9% de

graus 3, e média de pontuação igual a 1,57.

As 13 assertivas com tendência a forte contribuição para a presença de forças

impulsionadoras no processo de implementação da gestão por competências foram:

• 1 – A gestão por competências será um mecanismo para promover maior

capacitação dos servidores;

• 2 – A gestão por competências promoverá uma atualização constante do

servidor, preparando-o para a organização e para o mercado;

• 7 – A gestão por competências produzirá um sentimento de justiça e

coerência em relação a gestão das pessoas, pois homogeinizará os

critérios utilizados por cada gestor;

• 8 – A gestão por competências proporcionará a possibilidade de

crescimento profissional dos servidores, pelos seus próprios méritos;

• 9 – A gestão por competências proporcionará ao servidor o planejamento

de sua vida funcional;

• 10 – A gestão por competências conduzirá a uma auto-avaliação de

conhecimentos, fazendo com que o servidor busque seu

aperfeiçoamento constante;

• 11 – Com um plano de desenvolvimento individual vinculado às

competências, o servidor terá que buscar seu auto-desenvolvimento,

necessitando dedicar tempo para esta tarefa;

• 12 – A gestão por competências proporcionará o reconhecimento do

trabalho de cada servidor;

• 14 – A gestão por competências será uma das formas de avaliar a

capacidade de cada um;

• 15 – As competências definidas para compor os planos de desenvolvimento

individuais estarão relacionadas aos resultados organizacionais;

• 17 – A utilização da gestão por competências ajudará a organização a obter

melhores resultados;

70

• 20 – O Inmetro, ao gerir seus empregados com base nas competências

transformar-se-á em uma organização moderna;

• 33 – A gestão por competências constituir-se-á em um dos fatores para

aumentar o nível de motivação dos servidores do Inmetro.

A assertiva com tendência a uma fraca contribuição para a presença de forças

impulsionadoras no processo de implementação da gestão por competências foi:

• 26 – A gestão por competências deverá corrigir as distorções da

remuneração paga aos servidores do Inmetro em relação ao mercado.

As 6 assertivas cuja pontuação não permitiu ao autor concluir sobre seu nível

de contribuição para a presença de forças impulsionadoras no processo de

implementação da gestão por competências foram:

• 3 – A gestão por competências será implantada em todas as áreas do

Inmetro, incluindo as que não possuem resultados tangíveis;

• 6 – O Inmetro proporcionará a participação de todos os servidores no

processo de implantação da gestão por competências;

• 13 – A gestão por competências possibilitará premiar o empenho e o

desempenho do servidor;

• 18 – Para implantar a gestão por competências o Inmetro facilitará e

incentivará seus servidores a adquirirem as competências necessárias;

• 19 – A participação do Inmetro em diversos ciclos do PQGF, favorecerá a

implantação da gestão por competências;

• 22 – Ao implantar a gestão por competências, o Inmetro o fará de forma

planejada.

A avaliação de cada força impulsionadora levou em conta o conjunto das

assertivas correlacionadas a ela. Na Figura 7 são apresentados os percentuais de

notas 1 e 2 e de notas 3 e 4 atribuídas a cada força impulsionadora e na Figura 8 a

média geral obtida por cada força.

O Quadro 24 apresenta as conclusões sobre a presença dessas forças no

processo de mudança.

71

Forças Impulsionadoras - Percentual de Graus Atribuídos

00,10,20,30,40,50,60,70,80,9

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Força Impulsionadora

Perc

entu

al

Notas 1 e 2Notas 3 e 4

Figura 7 – Opinião sobre as forças impulsionadoras – Percentuais de graus atribuídos

Forças Impulsionadoras - Médias dos Graus Atribuídos

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Força Impulsionadora

Méd

ia

Figura 8 – Opinião sobre as forças impulsionadoras – Médias dos graus atribuídos

72

Força Impulsionadora Presença no processo de mudança1 - A gestão por competências como mecanismo para promoção de maior capacitação dos servidores.

Tendência a forte presença.

2 - A implantação da gestão por competências em todas as áreas da organização, proporcionando tratamento igualitário a toda força de trabalho.

Grau de presença indefinido.

3 - A gestão por competências como promotora do crescimento profissional dos servidores, pelos seus próprios méritos.

Tendência a forte presença.

4 - A gestão por competências como indutora de auto-avaliação de conhecimentos, habilidades e experiência, levando à busca de aperfeiçoamento constante.

Tendência a forte presença.

5 - A gestão por competências comoinstrumento de reconhecimento, nas suas mais variadas formas, do trabalho de cada servidor.

Tendência a forte presença.

6 - A gestão por competências como instrumento de premiação, nas suas mais variadas formas, do empenho e do desempenho do servidor.

Tendência a fraca presença.

7 - Programas de desenvolvimento individual baseados em competências relacionadas aos resultados organizacionais.

Tendência a forte presença.

8 - A gestão por competências como instrumento de ajuda à organização para obtenção de melhores resultados.

Tendência a forte presença.

9 - A gestão administrativa focada nos critérios de excelência do PQGF, dentre eles o “Critério 5 – Gestão de Pessoas”.

Tendência a forte presença.

10 - A revisão anual do planejamento estratégico com definição/aprovação de projetos modernizadores, dentre eles o de gestão por competências.

Tendência a forte presença.

Quadro 24 – Presença de forças impulsionadoras no processo de mudança

A fraca presença da força impulsionadora 6 no processo de implantação da

gestão por competências na organização estudada, fruto da opinião dos funcionários

consultados, decorre, na avaliação do autor, da falta de liberdade administrativa que

a organização possui para o estabelecimento de instrumentos de reconhecimento e

premiação.

De um modo geral, os servidores esperam que dentre os instrumentos de

premiação esteja a melhoria salarial. No caso da organização estudada, a maioria

dos funcionários pesquisados já percebe o nível máximo de salário estabelecido em

73

seu plano de cargos e carreiras. Os funcionários também já fazem jus a adicional de

titulação e a gratificação por atividade exercida, definida em seu plano de carreiras.

Assim, não lhe resta esperança de ter como premiação pelo seu empenho e

desempenho, o que para ele é primordial, a justa e merecida melhoria salarial.

3.4.2 Análise das forças restritivas

As pontuações atribuídas às 20 assertivas correlacionadas com as forças

restritivas, revelaram que apenas 3 delas, ou seja, 15%, apresentaram-se como

influenciadoras de forte presença de forças restritivas no processo de mudança.

Outras 7 se apresentaram como influenciadoras de fraca presença de forças

restritivas no processo de mudança e, finalmente, as 10 assertivas restantes

obtiveram pontuações que não permitem ao autor concluir sobre seu nível de

influência. A Tabela 2 apresenta os percentuais de incidência de notas e as médias

obtidas pelas assertivas e por suas forças restritivas correspondentes.

FORÇA RESTRITIVA ASSERTIVA % 1 e 2

ASSERTIVA% 3 e 4

ASSERTIVAMédia

ASSERTIVA% 1 e 2 FORÇA

% 3 e 4 FORÇA

Média FORÇA

23 0,39 0,61 2,69 1 24 0,31 0,69 3,04 0,35 0,65 2,86

2 25 0,72 0,28 2,02 0,72 0,28 2,02 16 0,47 0,53 2,68 3 27 0,46 0,54 2,61 0,47 0,53 2,65

28 0,69 0,31 2,17 4 29 0,46 0,54 2,48 0,57 0,43 2,32

30 0,52 0,48 2,46 31 0,24 0,76 3,11

5 5 0,48 0,52 2,43

0,40 0,60 2,44

6 32 0,65 0,35 2,15 0,65 0,35 2,15 7 34 0,45 0,55 2,43 0,45 0,55 2,43

35 0,56 0,44 2,41 36 0,56 0,44 2,33

8 21 0,55 0,45 2,36

0,55 0,45 2,38

9 37 0,67 0,33 2,02 0,67 0,33 2,02 38 0,78 0,22 1,76 39 0,78 0,22 1,76 40 0,91 0,09 1,57 10

4 0,54 0,46 2,48

0,75 0,25 2,12

Tabela 2 – Pontuação das assertivas e das forças restritivas

A assertiva 31 de que “a identificação das competências necessárias aos

servidores será um processo difícil e demorado”, correlacionada à força restritiva 5

“a dificuldade de implantar a gestão por competências devido à cultura de serviço

74

público”, obteve o maior índice de concordância, 76% do universo de respondentes,

com 33% de graus 3 e 43% de graus 4, e média de pontuação igual a 3,11.

A assertiva 40 de que “a gestão por competências dificultará o relacionamento

entre os servidores”, correlacionada à força restritiva 10 “a possibilidade da gestão

por competências vir a dificultar o relacionamento entre os servidores”, obteve o

maior índice de discordância, 91% do universo de respondentes, com 56% de graus

1 e 35% de graus 2, e média de pontuação igual a 1,57.

As 3 assertivas com tendência a forte contribuição para a presença de forças

restritivas no processo de implementação da gestão por competências foram:

• 23 – A gestão por competências será de difícil implantação no Inmetro, pela

falta de participação dos servidores;

• 24 – Para que a gestão por competências tenha sucesso, o Inmetro

promoverá uma forte sensibilização da força de trabalho sobre sua

importância;

• 31 – A identificação das competências necessárias aos servidores será um

processo difícil e demorado.

As 7 assertivas com tendência a fraca contribuição para a presença de forças

restritivas no processo de implementação da gestão por competências foram:

• 25 – A gestão por competências gerará uma predominância do indivíduo

sobre a equipe;

• 28 – A aplicação da gestão por competências implicará em sobrecarga de

trabalhos administrativos, com avaliações e controles;

• 32 – A gestão por competências constituir-se-á em um fator de

desmotivação para os servidores mais antigos;

• 37 – A gestão por competências induzirá o servidor a focar-se mais na

realização de treinamentos e menos nos resultados do trabalho;

• 38 – A gestão por competências gerará uma competição predatória entre as

pessoas;

• 39 – A aplicação da gestão por competências gerará um clima de tensão no

ambiente de trabalho;

• 40 – A gestão por competências dificultará o relacionamento entre os

servidores.

75

Finalizando, as 10 assertivas cuja pontuação não permitiu ao autor concluir

sobre seu nível de contribuição para a presença de forças restritivas no processo de

implementação da gestão por competências foram:

• 4 – Os servidores das áreas de apoio dificultarão a implantação da gestão

por competências, caso a mesma seja aplicável apenas aos servidores

das áreas finalísticas;

• 5 – O Inmetro terá dificuldade em medir o desempenho nas competências

nas áreas não finalísticas;

• 16 – A gestão por competências gerará frustração pela não premiação ou

reconhecimento de competência que o servidor possua e que não seja

essencial ao Inmetro;

• 21 – A gestão por competências fracassará, pela ausência de uma cultura

de planejamento no Inmetro;

• 27 – Por ser uma autarquia federal, o Inmetro terá dificuldades legais que

poderão impedir a implantação da gestão por competências;

• 29 – A estrutura do Inmetro, com diversos níveis hierárquicos e de decisão,

dificultará a implementação da gestão por competências;

• 30 – O Inmetro terá dificuldade de implantar a gestão por competências

devido à sua “cultura de serviço público”;

• 34 – Os servidores do Inmetro terão dificuldade para assimilar a gestão por

competências;

• 35 – Haverá um descompasso entre as competências definidas para o

desenvolvimento das pessoas e aquelas necessárias ao alcance das

metas prioritárias do Inmetro;

• 36 – A gestão por competências resultará em “competências exclusivas” de

alguns servidores.

Da mesma forma que com as forças impulsionadoras, a avaliação de cada

força restritiva levou em conta o conjunto das assertivas correlacionadas a ela. Na

Figura 9 são apresentados os percentuais de notas 1 e 2 e de notas 3 e 4 atribuídas

a cada força restritiva e na Figura 10 a média geral obtida por cada força.

O Quadro 25 apresenta as conclusões sobre a presença dessas forças no

processo de mudança.

76

Forças Restritivas - Percentuais de Graus Atribuídos

00,10,20,30,40,50,60,70,8

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Força Restritiva

Perc

entu

al

Notas 1 e 2Notas 3 e 4

Figura 9 – Opinião sobre as forças restritivas – Percentuais de graus atribuídos

Forças Restritivas - Médias dos Graus Atribuídos

00,5

11,5

22,5

33,5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Força Restritiva

Méd

ia

Figura 10 – Opinião sobre as forças restritivas – Médias dos graus atribuídos

77

Força Restritiva Presença no processo de mudança1 - A baixa sensibilização da força de trabalho sobre a importância da gestão por competências.

Tendência a forte presença.

2 - O amplo desconhecimento do que vem a ser gestão por competências.

Tendência a fraca presença.

3 - A baixa autonomia da organização para premiar o empenho e o desempenho do servidor.

Grau de presença indefinido.

4 - A resistência às mudanças decorrentes da implantação da gestão por competências.

Grau de presença indefinido.

5 - A dificuldade de implantar a gestão por competências devido à “cultura de serviço público”.

Tendência a forte presença.

6 - A gestão por competências como fator de desmotivação para os servidores mais antigos.

Tendência a fraca presença.

7 - A dificuldade dos servidores em assimilarem a gestão por competências.

Grau de presença indefinido.

8 - O possível descompasso entre competências definidas para o desenvolvimento das pessoas e aquelas necessárias ao alcance das metas prioritárias da organização.

Grau de presença indefinido.

9 - A possibilidade de indução do servidor a focar-se mais na realização de treinamentos e menos nos resultados do trabalho.

Tendência a fraca presença.

10 - A possibilidade da gestão por competências vir a dificultar o relacionamento entre os servidores.

Tendência a fraca presença.

Quadro 25 – Presença de forças restritivas no processo de mudança

A opinião dos funcionários pesquisados de que a força restritiva 1 terá forte

presença no processo de implantação da gestão por competências na organização

estudada, segundo a avaliação do autor, decorre da falta de reconhecimento na

organização do papel estratégico da função recursos humanos, aliada à falta de

envolvimento e comprometimento de todos os níveis de gerência da organização. A

comunicação deficiente da proposta de mudança foi também fator relevante.

Sobre a forte presença da força restritiva 5, o autor avalia que a cultura de

“serviço público” existe, porém é praticada por pequena parte de um grupo formado

por servidores do quadro da organização, não representando ameaça significativa

ao sucesso das ações de implantação da gestão por competências.

78

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: APRENDIZADOS EFETUADOS NO ESTUDO DA EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS

Como contribuição à implantação da gestão por competências em

organizações públicas, foram utilizadas as etapas estabelecidas por Kotter para a

mudança organizacional como base para proposta de ações visando a melhoria e a

continuidade do processo de mudança.

A organização pesquisada encontra-se em fase de implantação da gestão por

competências há quase dois anos, tendo passado por experiência de

desenvolvimento de projeto piloto em uma de suas áreas finalísticas. Os resultados

obtidos estiveram aquém do esperado, o que motivou o autor a elaborar este estudo

de caso. Vale ainda ressaltar que embora os resultados reflitam a opinião de

amostra significativa da força de trabalho da organização, a participação de parte

dessa amostra no projeto piloto, provavelmente contaminou os resultados pelos

reflexos da experiência mal-sucedida.

No estudo de caso o autor se restringiu, para fins de análise conclusiva, a

abordar as forças cuja presença no processo de mudança se revelou capaz de

influenciar negativamente a implantação da gestão por competências. Foram

levadas em conta as médias e as incidências de graus atribuídos a essas forças,

sendo estabelecido como linha de corte o percentual de 60%, considerado pelo

autor como satisfatório para o estudo por tratar-se de organização onde a prática de

gerenciamento de processos de mudança ainda não está sistematizada.

Pode-se dizer que, de um modo geral, as forças presentes no processo de

implantação da gestão por competências na organização, não comprometem o

sucesso da mudança.

Das vinte forças estudadas, apenas três merecem especial atenção, pela

média de graus obtida ou pelo percentual de incidência dos graus a elas atribuídos.

São elas:

a) a força impulsionadora 6 – “A gestão por competências como instrumento

de premiação, nas suas mais variadas formas, do empenho e do

desempenho do servidor”;

b) a força restritiva 1 – “A baixa sensibilização da força de trabalho sobre a

importância da gestão por competências”; e

79

c) a força restritiva 5 – “A dificuldade de implantar a gestão por competências

devido à cultura de serviço público”.

Cada uma das três forças selecionadas foi examinada sob a ótica do modelo

proposto por Kotter para o gerenciamento do processo de mudança, identificando-se

quais das oito etapas desse modelo devem ser melhor observadas. O resultado é a

proposta de um conjunto de ações a serem empreendidas no escopo dessas etapas.

onde deve-se atuar de forma mais incisiva para fortalecer a força impulsionadora e

reduzir ou eliminar as forças restritivas, de forma a minimizar o risco de insucesso.

As ações propostas, descritas a seguir, não invalidam aquelas preconizadas

em cada etapa do modelo de Kotter, sendo somente objeto de destaque por estarem

ligadas aos principais problemas observados durante os trabalhos de implantação da

gestão por competências na organização pesquisada.

Força impulsionadora 6 – A gestão por competências como instrumento de

premiação, nas suas mais variadas formas, do empenho e do desempenho do

servidor.

Etapa 2 do modelo de Kotter: Criação de uma coalizão administrativa.

Ações propostas:

• Mesclar a equipe de orientação com pessoas que tragam em seu rol de

competências, além daquelas inerentes ao conhecimento, perfil de liderança,

reconhecida capacidade de comunicação e alta credibilidade junto aos

demais indivíduos.

Etapa 3 do modelo de Kotter: Desenvolvimento de uma visão.

Ações propostas:

• No desenvolvimento da visão e da estratégia adequadas ao esforço de

mudança, a equipe de orientação deve buscar foco na falta de programas

estruturados de gestão de recursos humanos alinhados aos objetivos

estratégicos da organização. Tais programas, que garantem a padronização

de critérios para a aplicação de recursos financeiros em T&D, cada vez mais

escassos em organizações públicas, devem respaldar-se em planos de

desenvolvimento individuais que levem em conta os “gaps” de competências

individuais identificados.

80

Etapa 4 do modelo de Kotter: Comunicação da visão da mudança.

Ações propostas:

• Comunicar-se de forma eficaz a fim de tornar transparente as formas

possíveis de premiação, eliminando, por exemplo, qualquer esperança de que

o novo modelo de gestão possa se refletir em melhoria salarial, haja vista

tratar-se de organização pública onde a progressão na carreira é

regulamentada por lei, não havendo portanto autonomia administrativa para

tal concessão.

Força restritiva 1 – A baixa sensibilização da força de trabalho sobre a

importância da gestão por competências.

Etapa 1 do modelo de Kotter: Estabelecimento de um senso de urgência.

Ações propostas:

• Fazer com que o senso de urgência tenha origem na alta administração,

com desdobramento em todos os outros níveis de gerência.

Etapa 2 do modelo de Kotter: Criação de uma coalizão administrativa.

Ações propostas:

• Obter o total envolvimento e comprometimento da gerência da unidade

responsável pelas ações de capacitação e desenvolvimento de pessoas, no

caso, o Serviço de Desenvolvimento de Recursos Humanos - Seder.

Etapa 3 do modelo de Kotter: Desenvolvimento de uma visão.

Ações propostas:

• Na elaboração da visão e da estratégia a serem utilizadas no processo de

mudança, buscar enfocar de forma clara a importância de visão estratégica a

ser consolidada na organização sobre a função recursos humanos.

Etapa 4 do modelo de Kotter: Comunicação da visão da mudança.

Ações propostas:

• Utilizar-se de todos os meios de comunicação disponíveis na organização

(intranet, boletins informativos etc), e promovendo a realização de workshops

81

para a divulgação da proposta de modelo de gestão de pessoas por

competências a ser implementado.

Força restritiva 5 – A dificuldade de implantar a gestão por competências

devido à “cultura de serviço público”.

Etapa 3 do modelo de Kotter: Desenvolvimento de uma visão.

Ações propostas:

• Explicitar na visão construída a realidade da organização, que prima pela

administração moderna, focada na gestão por resultados e voltada para o

atendimento a seus clientes, no caso, a sociedade brasileira.

Etapa 4 do modelo de Kotter: Comunicação da visão da mudança.

Ações propostas:

• Explorar no processo de comunicação, as conquistas obtidas através da

participação do Inmetro em sucessivos ciclos do PQGF, além da imagem

altamente positiva de credibilidade que o Instituto detém perante não só a

sociedade brasileira como também os organismos internacionais congêneres,

o que o torna referencial de excelência a ser seguido por outras organizações

públicas, o que contradiz qualquer referência a existência de cultura de

serviço público na organização.

82

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA NOVAS PESQUISAS

O presente trabalho teve como proposta responder questões inerentes ao

processo de mudança na gestão de uma organização pública, no caso a

implantação da gestão por competências.

As conclusões e recomendações aqui apresentadas, decorrem da opinião dos

funcionários sobre a proposta de mudança, e se apresentam como diretrizes de

projetos de mudança em organizações públicas, devendo ser estudadas e

adaptadas para cada caso em particular.

As questões de pesquisa formuladas, foram tratadas no transcorrer do

trabalho, sendo consideradas pelo autor como respondidas.

No item 2.1 tratou-se da eficiência e da qualidade no Serviço Público. Foi

apresentado histórico de evolução da gestão pública, culminando com o atual

modelo de administração pública gerencial. Relatou-se também o movimento pela

qualidade no Brasil, com seus programas baseados em práticas voltadas para a

qualidade e a produtividade. Por fim, apresentou-se o Modelo de Excelência em

Gestão Pública, com seus principais fundamentos, e que serve como balizador para

as organizações públicas em suas práticas de gestão.

A gestão por competências foi tratada no item 2.2, onde alguns conceitos

consagrados sobre competências foram descritos. Foi também apresentado o

modelo de implantação da gestão por competências, sugerido por Guimarães et al

(2000), como exemplo de estruturação das ações de implantação.

O item 2.3 tratou da gestão das mudanças, descrevendo a visão de alguns

autores sobre o tema. Foi apresentado como proposta para a gestão da mudança na

organização estudada, o processo de mudança em oito etapas sugerido por Kotter

(1997).

A opinião dos funcionários envolvidos no processo de implantação da gestão

por competências, tratada no item 3.4, foi revelada por pesquisa aplicada através de

questionário. O resultado da pesquisa possibilitou a identificação das forças

restritivas e impulsionadoras que, segundo esses funcionários, poderão influenciar

de forma negativa o sucesso da implantação da gestão por competências na

organização.

83

Essas forças serviram de base para a proposta de ações apresentada no

Capítulo 4 que objetiva eliminar ou minimizar a presença delas na implantação da

gestão por competências.

Com base na revisão de literatura utilizada e nas observações levantadas ao

longo do trabalho, pode-se inferir que:

- A implantação da gestão por competências em organizações públicas se

apresenta como solução eficaz para a utilização dos parcos recursos

financeiros com que, normalmente, essas organizações contam para o

desenvolvimento e a capacitação de seus recursos humanos. Programas de

T&D baseados em competências, alinhados aos objetivos estratégicos

institucionais, além de agregarem valor aos indivíduos, o fazem também à

organização, pois auxiliam no cumprimento de sua missão e contribuem

para a sua sustentabilidade;

- Os problemas representados pelas forças impulsionadoras e restritivas

identificadas como de influência negativa na implantação da gestão por

competências, são, de certa forma, comuns às organizações públicas. A

insatisfação causada pela falta de instrumentos de premiação que permitam

o reconhecimento do desempenho dos servidores, a falta de conhecimento

de práticas modernas de gestão, bem como a cultura de “serviço público”,

lamentavelmente ainda estão presentes na maioria das organizações

públicas;

- É fundamental que as organizações públicas sistematizem seus processos

de transformação lançando mão de modelos estruturados para a gestão de

suas mudanças. Regra geral, essas organizações encontram maiores

dificuldades em seus projetos de mudança por terem que lidar com

especificidades próprias da sua natureza pública que contribuem para o

fortalecimento das resistências às mudanças propostas;

- O modelo de Kotter para a gestão das mudanças se apresenta como

perfeitamente viável para utilização em qualquer organização pública pela

clareza com que suas etapas são descritas, representando metodologia

lógica e simples para o tratamento das ações de mudança;

Para a continuidade das ações de implantação da gestão por competências

na organização, o autor recomenda que seja adotado o modelo de Kotter para o

84

gerenciamento da mudança, observando-se os passos nele descritos, em especial

os quatro primeiros, por ajudarem a “descongelar um status quo inflexível" que, em

sua opinião, foi um dos principais fatores que contribuíram para o insucesso das

ações até então empreendidas.

Finalizando, sugere-se que outras variáveis, como por exemplo, aquelas

relacionadas com o clima e o comprometimento organizacionais, sejam incluídas no

questionário utilizado na pesquisa por ocasião de estudo semelhante em outras

organizações, o que poderá ampliar o entendimento das implicações de proposta de

mudança na gestão da organização.

85

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ANEXO - PESQUISA

QUESTIONÁRIO: A OPINIÃO DOS PARTICIPANTES DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS NO INMETRO

Esclarecimentos sobre o grau a ser atribuído a cada afirmativa

Grau

Significa que na implantação da gestão por competências no Inmetro você considera

que a afirmativa ocorrerá de forma ....

Observação

1 .... fraca

2 .... um pouco fraca

3 .... um pouco intensa

4 .... intensa

Os graus 2 e 3 abrangem as respostas que poderiam ser expressas pelo clássico “mais ou menos”, diante de uma pergunta do tipo “Você considera que a afirmativa X ocorrerá de forma fraca ou intensa na implantação da gestão por competências no Inmetro?”. Como não há a opção “mais ou menos” entre as respostas, será necessário decidir entre o grau 2 e o 3, sendo que: o grau 2 significa que a afirmativa X ocorrerá de uma forma mais para fraca do que para intensa ; o grau 3, mais para intensa do que para fraca.

AFIRMATIVA VISÃO PESSOAL 1 – A gestão por competências será um mecanismo para promover maior capacitação dos servidores.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

2 – A gestão por competências promoverá uma atualização constante do servidor, preparando-o para a organização e para o mercado.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

3 – A gestão por competências será implantada em todas as áreas do Inmetro, incluindo as que não possuem resultados tangíveis.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

4 – Os servidores das áreas de apoio dificultarão a implantação da gestão por competências, caso a mesma seja aplicável apenas aos servidores das áreas finalísticas.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

5 – O Inmetro terá dificuldade em medir o desempenho nas competências nas áreas não finalísticas.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

6 – O Inmetro proporcionará a participação de todos os servidores no processo de implantação da gestão por competências.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

7 – A gestão por competências produzirá um sentimento de justiça e coerência em relação a gestão das pessoas, pois homogeneizará os critérios utilizados por cada gestor.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

8 – A gestão por competências proporcionará a possibilidade de crescimento profissional dos servidores, pelos seus próprios méritos.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

9 – A gestão por competências proporcionará ao servidor o planejamento de sua vida funcional.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

10 – A gestão por competências conduzirá a uma auto-avaliação de conhecimentos, fazendo com que o servidor busque seu aperfeiçoamento constante.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

11 – Com um plano de desenvolvimento individual vinculado às competências, o servidor terá que buscar seu auto-desenvolvimento, necessitando dedicar tempo para esta tarefa.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

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12 – A gestão por competências proporcionará o reconhecimento do trabalho de cada servidor.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

13 – A gestão por competências possibilitará premiar o empenho e o desempenho do servidor.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

14 – A gestão por competências será uma das formas de avaliar a capacidade de cada um.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

15 – As competências definidas para compor os planos de desenvolvimento individuais estarão relacionadas aos resultados organizacionais.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

16 – A gestão por competências gerará frustração pelo não pagamento ou reconhecimento de competência que o servidor possua e que não seja essencial ao Inmetro.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

17 – A utilização da gestão por competências ajudará a organização a obter melhores resultados.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

18 – Para implantar a gestão por competências o Inmetro facilitar e incentivará seus servidores a adquirirem as competências necessárias.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

19 – A participação do Inmetro em diversos ciclos do PQGF, propiciará melhores condições para a implantação da gestão por competências.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

20 – O Inmetro, ao gerir seus empregados com base nas competências transformar-se-á em uma organização moderna.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

21 – A gestão por competências fracassará, pela ausência de uma cultura de planejamento no Inmetro.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

22 – Ao implantar a gestão por competências, o Inmetro o fará de forma planejada.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

23 – A gestão por competências será de difícil implantação no Inmetro, pela falta de participação dos servidores.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

24 – Para que a gestão por competências tenha sucesso, o Inmetro promoverá uma forte sensibilização da força de trabalho sobre sua importância.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

25 – A gestão por competências gerará uma predominância do indivíduo sobre a equipe.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

26 – A gestão por competências deverá corrigir as distorções da remuneração paga aos servidores do Inmetro em relação ao mercado.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

27 – Por ser uma autarquia federal, o Inmetro terá dificuldades legais que poderão impedir a implantação da gestão por competências.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

28 – A aplicação da gestão por competências acarretará sobrecarga de trabalhos administrativos, com avaliações e controles.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

29 – A estrutura do Inmetro, com diversos níveis hierárquicos e de decisão, dificultará a implementação da gestão por competências.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

30 – O Inmetro terá dificuldade de implantar a gestão por competências devido à sua “cultura de serviço público”.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

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31 – A identificação das competências necessárias aos servidores será um processo difícil e demorado.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

32 – A gestão por competências constituir-se-á em um fator de desmotivação para os servidores mais antigos.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

33 – A gestão por competências constituir-se-á em um dos fatores para aumentar o nível de motivação dos servidores do Inmetro.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

34 – Os servidores do Inmetro terão dificuldade para assimilar a gestão por competências.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

35 – Haverá um descompasso entre as competências definidas para o desenvolvimento das pessoas e aquelas necessárias ao alcance das metas prioritárias do Inmetro.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

36 – A gestão por competências resultará em “competências exclusivas” de alguns servidores.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

37 – A gestão por competências induzirá o servidor a focar-se mais na realização de treinamentos e menos nos resultados do trabalho.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

38 – A gestão por competências promoverá uma competição predatória entre as pessoas.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

39 – A aplicação da gestão por competências gerará um clima de tensão no ambiente de trabalho.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

40 – A gestão por competências dificultará o relacionamento entre os servidores.

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( )

Considerações finais: a) Quais foram as dificuldades que você encontrou para responder a esta pesquisa ? _________________________________________________________________________________ b) Os itens e a escala de avaliação estão claros ? _________________________________________________________________________________ c) O tamanho da pesquisa está adequado ? Foi cansativo o preenchimento ? _________________________________________________________________________________ d) Existe algum item que poderia ser retirado da pesquisa ? _________________________________________________________________________________

e) A pesquisa deveria contemplar outros itens ? Quais ? _________________________________________________________________________________ f) Você se sentiu constrangido em ter que responder a alguma questão desta pesquisa ? Por que ? _________________________________________________________________________________ g) Que sugestões você poderia oferecer para aperfeiçoar a pesquisa ? _________________________________________________________________________________