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  • Ribeiro, Elton Vitoriano. MacIntyre para telogos

    85 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    MacINTYRE PARA TELOGOS

    MacIntyre to Theologians

    Elton Vitoriano Ribeiro

    FAJE Resumo: O pensamento filosfico de Alasdair MacIntyre tem influenciado um grande nmero de intelectuais das mais variadas reas do conhecimento humano. Sociologia, economia, histria, medicina e teologia, so alguns exemplos. Neste artigo, abordarei a questo narrativa no pensamento de MacIntyre e sua relevncia para questes teolgicas contemporneas. Primeiro, perguntando pelas relaes entre filosofia e teologia. Depois, aprofundando a questo da narrativa na teologia e no pensamento de MacIntyre. Finalmente, apontando caminhos, a partir do pensamento de MacIntyre, para o pensar teolgico face aos desafios contemporneos. Palavras-chave: Narrativa, filosofia, teologia, MacIntyre. Abstract: The philosophical thought of Alasdair MacIntyre has influenced a larger number of intellectuals from the most varied fields of human knowledge. Sociology, economics, medicine and theology, are some examples. In this article, I will address the question of narrative in the thought of MacIntyre and its relevance for contemporary theological questions. Firstly, considering the relations between philosophy and theology. Then, deepening the question of narrative in theology and in the thought of MacIntyre. Finally, parting from the thought of MacIntyre, pointing to ways of theological thinking to face contemporary challenges. Keywords: Narrative, philosophy, theology, MacIntyre

    O pensamento filosfico de Alasdair MacIntyre tem influenciado um grande

    nmero de intelectuais das mais variadas reas do conhecimento humano. Sociologia,

    administrao, poltica, economia, histria, medicina e teologia, so alguns exemplos.

    Neste artigo, pretendo abordar a questo da compreenso narrativa da vida humana

    presente no pensamento de MacIntyre e sua relevncia para algumas questes

    importantes, que se apresentam como tarefas, para a reflexo teolgica crist. Farei

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    86 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    isso primeiro, perguntando pelas relaes entre filosofia e teologia. Depois,

    apresentando a questo da narrativa na teologia crist, e aprofundando a mesma

    questo no pensamento de MacIntyre. Finalmente, apontando caminhos, a partir do

    pensamento de MacIntyre, para a reflexo teolgica frente aos desafios

    contemporneos.

    1. A Filosofia, amiga tambm da teologia?

    A discusso acerca das relaes entre filosofia e teologia crist tem

    encontrado pontos importantes para a reflexo a partir do pensamento de Alasdair

    MacIntyre. Por um lado, vrios telogos, especialmente moralistas e telogos

    preocupados com os caminhos da sociedade secularizada, encontram nos textos de

    MacIntyre pertinentes provocaes ao pensar teolgico. O prprio MacIntyre tambm

    vem ao longo dos anos se preocupando com questes que so relevantes aos telogos

    como, por exemplo, Deus e a tradio catlica de reflexo presente em documentos

    do magistrio eclesial da igreja catlica (MACINTYRE, 2009). Por outro lado, a teologia

    crist sempre defendeu e valorizou o pensar filosfico como uma necessidade

    intrnseca do pensar teolgico (RIBEIRO, 2001, p.273-276). A parte algumas correntes

    teolgicas que desejaram substituir a filosfica pela sociologia, a antropologia, ou a

    psicologia, entre outras cincias; o magistrio da igreja catlica, por exemplo, possui

    entre seus documentos um texto altamente elogioso filosofia intitulado "Fides et

    Ratio: sobre as relaes entre f e razo" (JOO PAULO II, 1998). Importante dizer,

    texto comentado vrias vezes por MacIntyre (MACINTYRE, 2009, p.165-172).

    Uma das preocupaes da teologia, que a conduz valorizao da filosofia,

    a de sempre manter-se atenta contra os extremos do fidesmo e do fundamentalismo.

    Extremos matam o pensar teolgico. A filosofia, por sua postura crtica e

    questionadora, ajuda a teologia a manter-se sempre alerta diante do pensamento

    rpido e fcil que inunda nossos meios de comunicao. A filosofia adentra-se nas

    perguntas e questes fundamentais que marcam a existncia humana. destas

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    questes que, sua maneira, a teologia tambm ir enfrentar: Quem sou eu? O que

    devo fazer? Como viver e construir uma sociedade justa? O que posso esperar? O que

    o mal? Deus existe? Qual o sentido da vida humana no mundo histrico? Estas e

    outras perguntas tocam o cerne da existncia humana no mundo, do sentido desta

    mesma existncia e de suas consequncias para nossas vidas histricas.

    Vrios telogos, inspirados pela filosofia de MacIntyre, enriqueceram seu

    pensar teolgico. Os dois mais conhecidos, e que explicitamente falam desta dvida so

    Stanley Hauverwas (HAUVERWAS, 2014) e John Milbank (MILBANK, 1995). Outros

    telogos moralistas como James F. Keenan (KEENAN, 2000), Otto Hermann Pesch

    (PESCH, 1987), Martin McKeever (MCKEEVER, 2005) e Terence Kennedy (KENNEDY,

    1991) so influenciados por MacIntyre em temas especficos como a importncia das

    virtudes para a vida humana, o lugar das tradies na autocompreenso das religies e

    a crtica a uma postura iluminista e emotivista da sociedade contempornea. Os casos

    de Hauverwas e Milbank so os mais interessantes para meu propsito aqui.

    Hauverwas , como MacIntyre, um crtico dos postulados iluministas e emotivista da

    cultura moderna. Ele prope, para a revalorizao da experincia crist, um

    compromisso com a no violncia, com a justia, com o cuidado aos pobres. Isto ser

    possvel com a recuperao das virtudes desde uma perspectiva pacifista. Milbank

    um caso curioso. Ele diz na introduo de um de seus principais livros, "Teologia e

    Teoria Social", que existe em seu pensar uma "voz macintyriana", e que a real

    perspectiva do livro vem a ser a da virtude. Por um lado, esta perspectiva despertada

    pelo dilogo fecundo com MacIntyre. Por outro lado, ele diz estar tambm em

    constante disputa com MacIntyre porque para ele a virtude crist, diferentemente do

    que pensa MacIntyre, segundo Milbank, uma posio superior e contrria tanto

    antiguidade como modernidade. Importante lembrar ainda da importncia, tanto

    para Milbank quanto para MacIntyre, da fecundidade da reflexo sociolgica para a

    filosofia e a teologia.

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    88 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    Dentro desta discusso entre filosofia e teologia, quero ressaltar que um tema

    importante para MacIntyre e que ainda no teve recepo por parte dos telogos o

    tema da narratividade da vida humana. Curioso notar que a maioria dos telogos

    preocupados com a teologia narrativa citam frequentemente Ricoeur (RICOEUR, 2014,

    p.167-176) e Taylor (TAYLOR, 1997, p.71); ambos, importante dizer, em constante

    dilogo com MacIntyre nesta questo. Ora, como a teologia nos ltimos anos tem se

    preocupado com a dimenso narrativa dos relatos bblicos e da prpria experincia de

    f, a reflexo de MacIntyre pode despertar uma maior ateno a dimenso narrativa

    da vida humana e seu lugar na busca humana, dentro de uma tradio, por uma vida

    com sentido.

    2. A importncia da reflexo filosfica sobre a narratividade para a teologia

    Nas ltimas dcadas a reflexo teolgica crist tem se voltado com interesse

    para a questo da narratividade. O interesse foi suscitado, especialmente, pelo

    aprofundamento da reflexo acerca do lugar da bblia no pensamento teolgico e pelo

    carcter histrico da f crist. Na medida mesma em que a teologia tomava mais

    conscincia da importncia fundamental da bblia para a reflexo teolgica, a

    preocupao pela forma como o texto bblico foi narrado, e pela incidncia destas

    narrativas na vida das pessoas que leem estes textos; foi-se tornando mais presente

    nos discursos teolgicos, doutrinais e catequticos o discurso narrativo. Por exemplo,

    ganhou grande destaque no universo teolgico contemporneo a reflexo de Gerard

    Von Rad (RAD, 1973) sobre a forma narrativa da confisso de f, a preocupao de

    Ernest Ksemann (KASEMANN, 1978) sobre o valor teolgico da formao narrativa da

    vida de Jesus e os estudos de Eberhard Jngel (JUNGEL, 1978) sobre a linguagem

    narrativa das parbolas de Jesus. Mais recentemente, telogos importantes como

    Claude Geffr (GEFFR, 1989) e Adolphe Gesch (GESCH, 1994) se preocuparam com

    o lugar da narrativa na experincia de f do crente. Assim, tanto a pesquisa teolgica

    sobre a compreenso da salvao crist como histria vivida e narrada, quanto

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    reflexo exegtica sobre a construo narrativa dos escritos bblicos, tornaram-se lugar

    comum na formao de todo telogo cristo. curioso notar como, por exemplo, a

    bblia nos apresenta esta realidade humana da narrativa. Na bblia temos uma

    quantidade enorme de gneros literrios: mitos, tradies populares, crnicas,

    biografias exemplares, biografias romanceadas, genealogias, narrativas histrias,

    narrativas sapienciais, etc. Para a teologia, o caso paradigmtico a prpria vida de

    Jesus Cristo narrada por quatro evangelhos adotados canonicamente pela comunidade

    crist (PALACIO, 1997).

    Filosoficamente, o problema fundamental que guia esta guinada narrativa na

    teologia o fato de que os seres humanos, para falar como MacIntyre, so animais

    que contam histrias. As narrativas fazem parte da vida dos seres humanos e,

    podemos dizer, organizam nossa forma de ser no mundo como seres que se

    compreendem por meio de narrativas. Nas palavras de MacIntyre: "Sonhamos em

    formas de narrativas, devaneamos em narrativas, recordamos, duvidamos,

    planejamos, reconsideramos, criticamos, inventamos, mexericamos, aprendemos,

    odiamos e amamos por meio de narrativas" (MACINTYRE, 2001, p.355). Narrar a vida

    , pra ns humanos, resgatar o tempo passado ultrapassando a mera crnica dos

    fatos, mas articulando-os segundo uma necessidade de sentido. humanizar o vivido,

    desdobrando uma identidade que nos ajuda a compreender o presente e projetar o

    futuro. A narrativa to importante que ela nos apresenta ao mesmo tempo a

    irreversibilidade do passado, nos dizendo que ele poderia ter sido de outro modo, e

    nos lana ao futuro na constante continuidade da existncia que devemos construir

    narrativamente. Narrar dar testemunho de que a identidade humana uma

    identidade aberta, por isso mesmo livre, que se apresenta, narrativamente, diante de

    ns como uma forma possvel de existncia.

    De tudo o que foi apresentado acima, a minha intuio neste texto a de a

    reflexo de MacIntyre acerca da importncia da narratividade na vida humana pode

    ser muito til para a teologia crist. Especialmente, quando a teologia se preocupa em

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    compreender a f como um encontro, que gera uma experincia, dentro de uma

    determinada tradio. Experincia esta que tem uma finalidade prtica, tica, de gerar

    um ethos na comunidade e uma disposio no indivduo que produza uma nova

    compreenso de si mesmo, mais aprofundada e mais abrangente. Produza, para falar

    como Ricoeur, uma converso e uma deciso na vida concreta (RICOEUR, 2006, p. 225-

    232). neste momento que a filosofia de MacIntyre pode iluminar o carter narrativo

    da existncia humana no mundo.

    3. Aprofundando a questo narrativa

    Para MacIntyre a vida humana no pode ser reduzida a simples momentos

    espordicos, fragmentados, isolados uns dos outros. A vida humana possui uma

    unidade narrativa com incio, meio e fim. Nascimento, vida e morte. neste percurso

    que minha vida construda narrativamente. Charles Taylor, inspirado em MacIntyre,

    elucida bem este percurso quando diz:

    Minha vida tem sempre esse grau de compreenso narrativa. Compreendo minha ao presente na forma de um e ento: havia A (o que sou), ento fao B (o que projeto me tornar). Porm, a narrativa precisa desempenhar um papel maior que a mera estruturao de meu presente. O que sou tem de ser entendido como aquilo que me tornei. (...) S podemos dar uma resposta a esse tipo de pergunta verificando como esses momentos se enquadram na vida circundante, isto , que papel desempenham numa narrativa dessa vida (TAYLOR, 1997, p.71).

    A afirmao de Taylor apresentada de forma condensada por MacIntyre

    quando afirma que: "O homem , em suas aes e prticas, bem como em suas

    fices, essencialmente um animal contador de histrias" (MACINTYRE, 2001, p.363).

    Nestas histrias revelado um eu inseparvel das relaes sociais, dos papeis sociais e

    das tradies que compem o pano de fundo, o horizonte de interpretao e

    compreenso da vida humana. Nas narrativas, as aes humanas, como na vida, so

    interpretadas entendendo cada evento particular dentro de um conjunto maior de

    narrativas, de histrias dos indivduos envolvidos, de contextos que do sentido. Por

    isso, para MacIntyre, a unidade da vida humana consiste na unidade de uma narrativa.

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    91 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    Como atores e como autores ns vivemos narrativamente nossas vidas. E estas

    narraes se entrelaam com as narraes das vidas das outras pessoas como as quais

    convivemos. Na verdade, cada pessoa o personagem principal de sua vida, sua

    narrativa, seu drama; mas personagem secundrio nos dramas, nas narrativas, nas

    vidas das outras pessoas. Alm disto, as nossas vidas, nossas narrativas, ns as vivemos

    em um determinando contexto social que no escolhemos. Afirma MacIntyre:

    "subimos em um palco que no criamos" (MACINTYRE, 2001, p.359). Este palco

    importante na medida mesma em que nos situa temporal e espacialmente. Eles

    encarnam nossas aes e nossas prticas. Como afirma MacIntyre: "No podemos

    caracterizar o comportamento independentemente das intenes, e no podemos

    caracterizar as intenes independente dos cenrios que tornam essas intenes

    inteligveis, tanto para os prprios agentes quanto para outras pessoas" (MACINTYRE,

    2001, p.347).

    Importante ressaltar que cada narrativa, de pessoas, comunidades,

    instituies e tradies, marcada pela imprevisibilidade. No conhecemos o futuro,

    mas sempre o projetamos em determinada direo. E neste projetar, aspiramos

    verdade. Para MacIntyre, somos contadores de histrias que aspiram verdade. Esta

    nossa aspirao, esse nosso desejo de, para falar como Ricoeur, "estar na verdade"

    (RICOEUR, 1968, p.58) marca profundamente nossas narrativas. Como sabemos, o

    estudo filosfico sobre a questo da verdade encontra atualmente uma diversidade

    muito grande de teorias da verdade (KIRKHAN, 2003). Um trabalho desta dimenso no

    pensamento de MacIntyre merece um aprofundamento. No entanto, para a inteno

    de minha argumentao aqui, entendo que a compreenso da verdade que marca

    nossas narrativas apresenta uma trplice dimenso (RIBEIRO, 2011a). Em nossas

    narrativas a verdade da ordem do testemunho, ela histrica e nasce do consenso.

    Por exemplo, para a teologia, ela nasce como a f crist do testemunho daqueles que

    viveram com Jesus de Nazar, est encarnada na histria de uma tradio crist, e

    fruto de um processo argumentativo intersubjetivo de consenso. Por isso, uma

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    92 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    aproximao compreenso da verdade na narrativa filosfica com a narrativa

    teolgica extremamente frutfera. Frutfera porque uma interpretao hermenutica

    e narrativa da verdade na religio tem sempre muito presente nossa existncia

    humana no mundo. Existncia de seres sempre em projeto, sempre em devir. Seres

    que buscam um sentido para suas vidas. Busca que no pode ser compreendida

    deslocada da linguagem, e acessvel num processo de interpretao hermenutico.

    Processo hermenutico que exige uma compreenso da vida humana de forma

    narrativa. Processo que se desdobrar a partir de testemunhos, que acontecem

    historicamente, e que so expresso do consenso comunitrio.

    Tambm, nesta narrativa que estrutura minha vida, sou responsvel pelas

    minhas aes e pelas experincias que compem minha vida. Eu posso ser convocado

    a dar explicaes sobre o que fiz ou o que aconteceu em determinado momento de

    minha vida. A narrativa minha, construda com outros no mundo, mas minha. Para

    MacIntyre: "No sou apenas responsvel, sou algum que pode sempre pedir

    explicao aos outros, que pode questionar os outros" (MACINTYRE, 2001, p.366).

    Estas responsabilidades ticas de minhas aes, de minhas narrativas, compem e

    estruturam minha vida como um relato de busca. Como bem observou Taylor,

    inspirado por MacIntyre:

    Logo, encontrar sentido em minha ao presente, quando no estamos diante de questes triviais como onde estarei dentro de cinco minutos, mas com uma interrogao acerca de minha posio com respeito ao bem, requer uma compreenso narrativa de minha vida, um sentido sobre o que me tornei que s pode ser conferido pela histria. E, ao projetar minha vida para a frente e endossar o rumo atual ou dar-lhe um novo, projeto uma histria futura, no s um estado futuro momentneo, mas uma direo a ser seguida por toda a minha vida vindoura. Esse sentido de que minha vida est dirigida para aquilo que ainda no sou o que Alasdair MacIntyre capta em sua noo, (...), de que a vida vista como uma busca (TAYLOR, 1997, p.72).

    Como bem esclarece Taylor, para MacIntyre, o que possibilita a unidade da

    vida humana que ela consiste, basicamente, num relato de busca. A busca se

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    configura como um caminho a ser seguido. No um sistema j conhecido de incio.

    Claro, uma busca dentro de uma determinada tradio, de um determinado sistema

    social de prticas, crenas e valores. Mas, " no decorrer desta busca, e somente ao se

    deparar e superar os diversos males, perigos, tentaes e tenses que proporcionam

    jornada de busca seus episdios e incidentes, que finalmente se pode compreender a

    meta da busca. A busca sempre uma educao, quanto ao carter do que se procura

    e de autoconhecimento" (MACINTYRE, 2001, p.368).

    Ora, mas qual o tlos, se que existe um, desta busca? Para onde ela aponta?

    Para a vida humana, diz MacIntyre, este tlos ser a busca de uma vida boa para o ser

    humano. Cada tradio dar uma direo e virtudes prprias que apontam nesta

    direo. Assim, "a vida virtuosa para o homem a vida virtuosa passada na procura da

    vida boa para o homem, e as virtudes necessrias para a procura so as que nos

    capacitam a entender o que mais e mais a vida boa para o homem". Curioso notar a

    direo que a teologia crist apresenta para esta perspectiva. Para a teologia crist, o

    tlos da busca da vida boa do cristo pode ser compreendido como o Reinando de

    Deus (RIBEIRO, 2011, p.285-292). Esta expresso, Reinado de Deus, importante para a

    teologia pode ser compreendida aqui como o anncio do contedo essencial da boa

    notcia dos cristos narrada nos evangelhos. Com efeito, para os cristos com e na

    pessoa de Jesus Cristo que se torna presente o advento do Reinado de Deus. Depois,

    os discpulos de Jesus Cristo recebem dele a misso de continuar esse anuncio de

    Reinado e o fazem narrando a vida de Jesus Cristo que se torna paradigma, texto

    cannico, para a vida e as prticas de cada cristo. A narrao da vida de Jesus

    configura a vida de cada cristo e, nas prticas e na tradio crist, se encarna atravs

    das virtudes crists, especialmente da f, da esperana e da caridade.

    Assim, as virtudes prprias da experincia crist so disposies que

    configuram a pessoa interiormente neste caminho para a vida boa que a tradio crist

    apresenta. Este caminho, como repeti vrias vezes, acontece dentro de um contexto

    histrico determinado. Contexto que, configurando-se a partir dos contextos

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    94 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    anteriores e em dilogo com eles, forma a tradio crist. E nesta tradio que cada

    cristo vai viver concretamente sua f e as prticas decorrentes deste

    comprometimento. MacIntyre esclarece filosoficamente este processo afirmando:

    "Apelar para uma tradio significa insistir que s podemos identificar adequadamente

    nossos prprios compromissos e os dos outros nos conflitos argumentativos do

    presente se os situarmos dentro das histrias que os fizeram ser o que so"

    (MACINTYRE, 2008, p.24). Ou seja, so as narrativas construdas ao longo da histria

    que constituem as tradies, que constituem as prticas e as virtudes; e que nos

    constituem enquanto membros de uma determinada tradio.

    Sendo assim, fcil perceber porque MacIntyre insiste que cada pessoa vive

    sua identidade moral no interior de uma comunidade, ou das vrias comunidades das

    quais faz parte. no interior de comunidades que encarna tradies que vivemos e

    discutimos constantemente acerca das nossas prticas, dos bens internos e externos

    s prticas, das virtudes, das histrias e da vida boa. Estas discusses, que muitas

    vezes so fontes de conflitos, encarnam nossos desejos de fazer de nossas vidas,

    narrativamente, a histria de uma busca pela vida boa. Da a excelente definio de

    MacIntyre sobre como devemos compreender, filosoficamente, uma tradio:

    Uma tradio uma argumentao, desenvolvida ao longo do tempo, na qual certos acordos fundamentais so definidos e redefinidos em termos de dois tipos de conflitos: os conflitos com os crticos e inimigos externos tradio que rejeitam todos ou pelos menos partes essenciais dos acordos fundamentais, e os debates internos, interpretativos, atravs dos quais o significado e a razo dos acordos fundamentais so expressos e atravs de cujo progresso uma tradio constituda (MACINTYRE, 2008, p. 23).

    Por isso, para MacIntyre, uma tradio sempre uma conjuno de uma

    determinada forma de vida e de histrias de conflitos. Por um lado, enquanto forma

    de vida, ela gera constantemente um debate interno sobre as virtudes, os bens e a

    vida boa. Por outro lado, enquanto histria dos conflitos, ela argumenta que a forma

    atual herdeira de uma srie de narrativas conflitivas que ao longo do tempo geraram

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    95 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    debates que transformaram a prpria tradio. No podemos nunca esquecer que as

    tradies vivas geram sempre este processo contnuo de transformao e

    reconfigurao interna. Por exemplo, os telogos possuem na tradio da igreja

    catlica com seus conclios, snodos e debates, um excelente exemplo, como estudou

    Mckeever em suas anlises sobre a evoluo do ensinamento social da igreja catlica

    (MCKEEVER, 2005). Assim, cada tradio portadora de uma dinmica interna de

    desenvolvimento.

    Importante lembrar que para MacIntyre, cada tradio tem que enfrentar

    crises epistemolgicas para sobreviver. Por crise epistemolgica (MACINTYRE, 2006,

    p.3-23) entende-se um estado de dissoluo das crenas e dos argumentos que

    historicamente tiveram relevncia, fora, para a formao da tradio. um estado

    onde novas e diferentes interpretaes comeam a questionar o arcabouo

    argumentativo da tradio e faz com que os conflitos aumentem. um estado onde:

    Textos ou sentenas de autoridade podem ser revelados como suscetveis de interpretaes alternativas e incompatveis, que prescrevem, talvez, aes alternativas e compatveis (...). O enfrentamento de novas situaes, que geram novas questes, pode revelar, nas prticas e crenas estabelecidas, uma falta de recursos para oferecer respostas a essas novas questes ou para justifica-las (MACINTYRE, 2008, p. 381).

    Como reao a uma situao de crise, surge novas interpretaes da prpria

    tradio que a faz transformar-se constantemente. Conflitos, reformulao de

    argumentos, novos acordos e novas prticas so geradas. a tradio viva se

    reconfigurando. Ao reconfigurar-se, ela encarna-se, como sempre, em estruturas

    institucionais que produzem documentos cannicos que do forma e estabilidade para

    as novas prticas e interpretaes. Da, por exemplo, ser fcil compreender porque, ao

    longo da histria foi surgindo uma diversidade enorme de teologias, ou melhor, de

    formas teolgicas de se aproximar racionalmente do mistrio da f por meio de

    doutrinas, ritos, normas, liturgias e catequeses. Ainda, esse conflito tem tambm sua

    vertente externa no conflito com outras tradies. O conflito externo segue a mesma

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    96 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    dinmica na qual, ao longo da argumentao, descobre-se que os prprios padres de

    argumentao podem no ter sido suficientes para resolver determinados problemas.

    Esta descoberta gera o reconhecimento da prpria fraqueza, da incapacidade de se

    resolver os problemas adequadamente e leva a perceber as incoerncias internas.

    4. Alguns caminhos para a reflexo teolgica

    A partir da apresentao do pensamento de MacIntyre sobre a questo da

    narrativa, gostaria de propor algumas pistas para a reflexo teolgica. Alm das

    abordagens dos telogos que apresentei anteriormente, e que apropriaram diversos

    elementos da filosofia de MacIntyre, a reflexo teolgica pode ser enriquecida com a

    filosofia narrativa de MacIntyre em trs direes: na compreenso do imaginrio

    narrativo da religio, na abordagem mistaggica da catequese narrativa e no carter

    narrativo da normatividade da teologia moral.

    Um tema muito importante para a teologia a influncia da f na constituio

    do imaginrio social das sociedades contemporneas (RIBEIRO, 2013). As mudanas

    sociais e culturais nos imaginrios destas sociedades faz com que os imaginrios sejam,

    cada vez mais, secularizados. A incidncia na forma de viver e compreender a religio,

    as prticas religiosas e as prprias tradies se transformam rapidamente. As

    sociedades ocidentais, por exemplo, cada vez menos possuem elementos de um antigo

    imaginrio social cristo que dominou por muito tempo a forma dos indivduos

    ocidentais se compreenderem e narrarem suas vidas. Por exemplo, as histrias dos

    santos quase no possuem mais nenhuma influncia na vida das pessoas, mesmo as

    que professam a f crist. Ora, como sabemos, o imaginrio social algo que vem

    muito antes que as teorias apaream, com suas explicaes, distines e anlises. O

    imaginrio o pano de fundo de nossas vidas, nosso horizonte de interpretao e

    compreenso do mundo. Este horizonte se constri narrativamente. Na verdade, as

    pessoas do sentido s prprias vidas e projetos existenciais por meio, no de

    conceitos racionalmente justificados, mas de narraes, de imagens, de prticas

  • Ribeiro, Elton Vitoriano. MacIntyre para telogos

    97 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

    partilhadas pelas comunidades que vivem e pelos outros significativos com os quais

    convivem. Por isso, as mudanas culturais que efetivamente atingem a vida espiritual

    das pessoas, a vida de f, e que so objetos de reflexo dos telogos, possuem um

    carter narrativo. As buscas de novas linguagens, as novas histrias que compem

    nosso imaginrio social, nossos desejos e projetos, so narrativamente constitudos.

    Uma boa histria, narrada ou vivida, pode mudar a vida de uma pessoa. Temos a uma

    bela questo para os telogos: o ser humano vive sua f narrativamente. A f

    influencia e influenciada pelo imaginrio social que tambm se estrutura

    narrativamente. Como, ento, compreender o ato de f neste cenrio?

    Uma das preocupaes fundamentais da teologia a transmisso da tradio

    religiosa e a transmisso da f s novas geraes (GOPEGUI, 2010). Este processo

    conhecido como catequese. Por exemplo, no incio do cristianismo, a catequese era

    basicamente a narrativa do acontecido com Jesus de Nazar. A vida de Jesus era

    narrada para aqueles que desejavam seguir este novo caminho. Os primeiros relatos

    narrativos datam do ano 37 da era crist. Curioso notar que na tradio crist, a

    catequese nasce j com um carter narrativo, fixado depois, canonicamente em quatro

    evangelhos, ou seja, quatro boas notcias. Mas todos os evangelhos com um fundo

    comum: narrar as palavras, os atos e as prticas de uma mesma pessoa, Jesus de

    Nazar. Ao narrar, a catequese crist torna-se mistagogia, quer dizer, caminho de

    aprofundamento do mistrio da f crist numa determinada tradio. Ora, mergulhar

    na dimenso mistrica da f crist, f que acontece na dinamicidade da vida, sempre

    entrar num processo hermenutico de interpretao da narrao dos textos bblicos.

    F que vivida e celebrada em prticas, numa determinada tradio.

    Fundamentalmente, eis a tarefa da catequese e da teologia crists: interpretar a

    narrao da experincia da misteriosa gratuidade de Deus na vida dos seres humanos

    assim como ns encontramos nos relatos bblicos da tradio narrativa crist.

    A reflexo de MacIntyre sobre as virtudes foi a que mais influenciou a teologia

    moral, como narrei anteriormente. No entanto, outro aspecto importante o da

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    reflexo sobre o carter narrativo da normatividade moral (RIBEIRO JNIOR, 2003).

    Ora, para a teologia moral, a moral crist possui trs dimenses. Uma dimenso

    revelacional, que explicita a maneira como os cristos entendem a comunicao de

    Deus na pessoa de Jesus Cristo. Um carter pneumtico, que se preocupa com a

    inspirao, a intuio e o discernimento das prticas e virtudes morais em cada pessoa.

    E, finalmente, um carter narrativo. Ou seja, para cada cristo, para a comunidade

    crist, as normas morais aparecem sempre contextualizadas em narraes. Estas

    narraes, normalmente, sintetizam, sustentam e conservam uma experincia moral

    exemplar. Experincia que serve de caminho, paradigma, horizonte, para a reflexo

    moral. As normas no so extrnsecas ao contexto no qual surgiram. a partir deste

    contexto que elas encarnam um caminho de interpretao e soluo de um conflito,

    um desafio, uma tarefa. Isto, normalmente acontece a partir da ponderao e do

    discernimento de bens. Estas narrativas no so absolutas, mas, vinculadas a um

    determinado lugar, tempo e circunstncia, elas apontam uma busca de soluo que

    sintetizada depois numa norma. Ora, como possvel hoje para a teologia moral,

    preocupada com a ao do cristo no mundo, escapar da cadeia em que as normas

    podem ficar presas, e deixar que as narrativas fundantes ainda continuem a gerar

    discernimentos, decises e caminhos ticos de florescimento do humano em nosso

    tempo?

    Portanto, como tentei mostrar, a filosofia de MacIntyre pode fecundar a

    reflexo dos telogos em vrias direes. Aqui pensei especificamente na questo

    narrativa. Esta dimenso, to importante em nossas vidas, no pode ficar de fora da

    reflexo acerca do lugar da religio em nossas sociedades e da experincia de f em

    nossa existncia humana no mundo histrico.

  • Ribeiro, Elton Vitoriano. MacIntyre para telogos

    99 | Pensando Revista de Filosofia Vol. 6, N 11, 2015 ISSN 2178-843X

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    Doutor em Filosofia pela Pontifcia Universidade Gregoriana de Roma - Itlia Professor do Programa de Ps-Graduao em Filosofia (FAJE)

    E-mail: [email protected]