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JANEIRO 2019, EDIÇÃO 5 A medicina nunca mais foi a mesma depois de 1990. Foi exatamente nessa época que uma força-tarefa reunindo cientistas e laboratórios ao redor do mundo se formou para estabelecer o mapeamento e sequenciamento do genoma humano. As dificuldades e desafios eram enormes. Quando o projeto começou, pouco se sabia a esse respeito, afinal, sequer havia tecnologia suficiente para fazer toda a leitura e decodificação das informações genéticas do nosso organismo. Estamos falando de uma época em que a internet e os supercomputadores eram tão embrionários quanto a própria medicina. Não por menos, com custo de aproximadamente 1 bilhão de dólares, a missão de trazer à luz a transcrição do nosso manual de instruções foi concluída apenas 13 anos depois, em 2003. Sem dúvidas, um marco que já pode ser considerado um dos principais acontecimentos deste século, afinal, foi a partir dessa conquista que novas linhas de estudo e pesquisas tiveram início, trazendo perspectivas diferentes daquelas até então conhecidas. Desde então, todo o trabalho árduo realizado tem colaborado enormemente para dar outro rumo à medicina, auxiliando na elaboração de teorias capazes de explicar com maior propriedade não apenas como o nosso corpo funciona, mas principalmente as causas genéticas e predisposições para várias doenças que se manifestam ao longo da vida. agorafinancialbrasil.com Medicina Oriental Fazendo sua conexão com o maior mercado de ações do mundo the money connection POR DENTRO DO TEMA Projeto Genoma A evolução da medicina Curas e Doenças Biotecnologia China no centro das atenções Câncer, o desafio do século SUGESTÃO PORTIFÓLIO Compra de BeiGene (Nasdaq:BGNE) – Preço teto US$165 “Quando tivermos o domínio completo sobre o nosso genoma e a capacidade de manipular os genes para fins específicos, terá sido uma conquista equivalente a chegada à lua pela primeira vez.” AGOR A financial brasil Fonte: Macrogen

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JANEIRO 2019, EDIÇÃO 5

A medicina nunca mais foi a mesma depois de 1990.

Foi exatamente nessa época que uma força-tarefa reunindo cientistas e laboratórios ao redor do mundo se formou para estabelecer o mapeamento e sequenciamento do genoma humano.

As dificuldades e desafios eram enormes. Quando o projeto começou, pouco se sabia a esse respeito, afinal, sequer havia tecnologia suficiente para fazer toda a leitura e decodificação das informações genéticas do nosso organismo.

Estamos falando de uma época em que a internet e os supercomputadores eram tão embrionários quanto a própria medicina.

Não por menos, com custo de aproximadamente 1 bilhão de dólares, a missão de trazer à luz a transcrição do nosso manual de instruções foi concluída apenas 13 anos depois, em 2003.

Sem dúvidas, um marco que já pode ser considerado um dos principais acontecimentos deste século, afinal, foi a partir dessa conquista que novas linhas de estudo e pesquisas tiveram início, trazendo perspectivas diferentes daquelas até então conhecidas.

Desde então, todo o trabalho árduo realizado tem colaborado enormemente para dar outro rumo à medicina, auxiliando na elaboração de teorias capazes de explicar com maior propriedade não apenas como o nosso corpo funciona, mas principalmente as causas genéticas e predisposições para várias doenças que se manifestam ao longo da vida.

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POR DENTRO DO TEMA

Projeto Genoma

A evolução da medicina

Curas e Doenças

Biotecnologia

China no centro das atenções

Câncer, o desafio do século

SUGESTÃO PORTIFÓLIO

Compra de BeiGene (Nasdaq:BGNE) – Preço teto US$165

“Quando tivermos o domínio completo sobre o nosso genoma e a capacidade de manipular os genes para fins específicos, terá sido uma conquista equivalente a chegada à lua pela primeira vez.”

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Fonte: Macrogen

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De maneira bastante simplista, o genoma reúne todas as características físicas e biológicas de uma determinada espécie, sendo basicamente formado a partir da combi-nação de quatro compostos orgânicos diferentes: adenina, timina, citosina e guanina.

Contudo, dado que o alfabeto do DNA humano é con-stituído por aproximadamente 6 bilhões dessas bases hidrogenadas (3 bilhões vindas da mãe e 3 bilhões vindas do pai) existe uma variedade quase infinita de combi-nações possíveis que nos torna absolutamente únicos.

Ainda assim, por incrível que possa parecer, 99,5% do nosso DNA é absolutamente idêntico, sendo os 0,5% restante responsável pelas diferenças e peculiaridades de cada um. Aliás, essa variabilidade é o que, de acordo com Charles Darwin, nos permite ser adaptáveis, promovendo a evolução da espécie.

Seja como for, por conta da unicidade do código genéti-co que cada indivíduo possui, muitas empresas e labo-ratórios têm se dedicado a catalogar todos os genomas possíveis e, assim, poderem identificar não apenas as variações normais, mas especialmente aquelas que podem resultar ou oferecer algum risco futuro.

Há pouco tempo atrás, além de tempo, todo esse trabalho exigia um arsenal computacional que limitava o acesso e a rapidez com que os resultados eram obtidos, tornando todo o processo ineficiente sob vários aspectos.

Atualmente, no entanto, o sequenciamento genético é realizado por um chip que cabe na palma da mão, leva aproximadamente entre um e três dias para ser concluído e o custo envolvido caiu drasticamente, sendo necessário pouco mais de US$ 1 mil para ser realizado em clínicas especializadas.

Trata-se de um grande passo na democratização e massificação de métodos que são essenciais para que os estudos e pesquisas possam continuar avançando, afinal, quanto maior o número de agentes envolvidos em interpretar o nosso DNA, mais rapidamente a medicina se tornará especializada e individualizada.

Por ora, apesar do sequenciamento estar completo há quase 15 anos, existem muitas outras etapas que ainda precisam ser superadas para que a prevenção, o tratamento e a cura de algumas doenças se tornem factíveis. Em outras palavras, uma coisa é alguém ditar um texto para você escrever, outra bastante diferente é você saber interpretá-lo.

Basicamente, apesar de o genoma estar transcrito, ainda não há conhecimento pleno para determinar o que fazer com essa informação, os genes que são afetados no caso de algumas síndromes ou a razão pela qual tais modificações ocorrem. Em outras palavras, além de compreender a estrutura e biologia do genoma, é preciso entender a relação de afinidade que mantém com algumas doenças, sejam elas raras, sejam comuns.

Por essa razão, inclusive, é fundamental que os laboratórios possam mapear, cruzar e processar os dados extraídos do DNA de cada indivíduo, saudável ou não, para identificar tais padrões.

No caso do câncer, por exemplo, trata-se de observar e analisar as células cancerígenas para determinar a razão pela qual células boas se tornaram suscetíveis a tais transformações.

Com todo o respaldo tecnológico existente nos dias atuais, incluindo desde hardware até algoritmos de inteligência artificial, é questão de tempo para que a comunidade científica consiga se aprofundar ainda mais no tema para obter as respostas que procura.

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Brasil

Cost per Genome

Moore’s Law

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12.5

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Source: National Human Genome Research Institute AGORAFINANCIALBRASIL.COM

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Invariavelmente, mais uma vez caímos em um lugar que está se tornando cada vez mais comum: a tecnologia. Basta recordarmos dos grandes momentos da história para percebermos que raros foram aqueles que não estavam, direta ou indiretamente, associados a ela. Sem dúvidas, ciência e tecnologia andam de mãos dadas, com a segunda determinando o compasso da primeira.

A Astronomia mudou de patamar depois que o primeiro telescópio foi inventado. A Biologia e o estudo celular ganhou outra dimensão depois que o primeiro microscópio foi criado. A radiologia foi praticamente concebida depois que os primeiros escâneres puderam “fotografar” nosso corpo por dentro. Em suma, o objetivo dessa comunhão é poder transformar novas descobertas em pontes para o futuro.

Não por menos, nunca houve tanto otimismo e confiança na possibilidade de cura de algumas das doenças que possuem o maior índice de mortalidade no mundo.

Apesar de raras, algumas são simples, pois ocorrem por conta da mutação de um único gene. Há uma década, apenas uma dezena de genes que poderiam causar algumas dessas condições raras eram conhecidas. Atualmente esse número saltou para aproximadamente cinco mil.

Contudo, como o próprio nome diz, não são exatamente as doenças raras que estrangulam os sistemas de saúde mundo afora ou que lotam os leitos dos hospitais. Ao contrário do que se pensa, são as doenças comuns e complexas, ou seja, aquelas que afetam vários genes que se tornaram o foco das atenções. Estamos falando da hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, autismo e Alzheimer.

Em todos esses casos, ainda não há um avanço estatístico significativo que possa ser comemorado. Por outro lado, conforme comentei, dado que pouco tempo atrás sequer tínhamos conhecimento mais aprofundado sobre as doenças simples, não é difícil imaginar que nos próximos dez anos, com o respaldo da tecnologia, também teremos uma compreensão muito mais refinada sobre aquelas mais comuns e complexas.

No mundo perfeito, quando tivermos amplo domínio sobre o nosso genoma, haverá uma transformação ímpar da medicina por meio de uma abordagem proativa e preventiva com a triagem antecipada das nossas predisposições.

Nesse contexto, a indústria farmacêutica terá nas mãos a impressão digital biológica de cada cidadão, podendo, com base nas informações genéticas, tornar os

medicamentos e tratamentos mais precisos, efetivos e sem tantos efeitos colaterais.

Afinal, se temos aquele 0,5% de DNA que nos torna únicos, ao contrário do que ocorre atualmente, com os mesmos medicamentos sendo ministrados a organismos diferentes, todo diagnóstico e tratamento também deveria ser individualizado e personalizado. Ou seja, dentre as opções disponíveis, o ideal seria poder escolher com maior precisão aquela que melhor se adéqua a cada paciente, produzindo uma resposta mais eficiente.

É claro que muitas dessas doenças podem ter relação com hábitos ou fatores externos ao organismo. No caso do câncer em particular, muito se fala sobre o cigarro, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, sedentarismo, etc. Contudo, há inúmeros casos de pessoas que não fumam, bebem apenas socialmente e que fazem exercícios com regularidade, mas que desenvolveram a doença. Ou seja, apesar de haver alguma relação, não é, necessariamente, a causa primária da mutação genética de células boas e do crescimento descontrolado de células afetadas.

Essa parte da equação ainda é uma incógnita, mas há quem afirme que até 2025, além da certidão de nascimento, todos bebês já terão seus respectivos genomas devidamente decodificados. Dada a velocidade com que as pesquisas estão evoluindo, não seria nenhuma surpresa se isso realmente se materializasse em um curto espaço de tempo.

Não precisamos ir muito longe. Quem não se lembra do tomate Flavr Savr que, em 1994, tornou-se o primeiro alimento modificado e que apresentava maior durabilidade em relação ao tomate comum. Um ano depois, a primeira soja geneticamente modificada também foi lançada no mercado. Atualmente, com o objetivo de obter características diferentes que melhoram o seu cultivo, produtividade ou aspecto, boa parte dos alimentos disponíveis nas prateleiras também foi, de alguma maneira, alvo de uma engenharia genética.

Fonte: National Human Genome Research Institute

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Portanto, quando tivermos o domínio completo sobre o nosso genoma e a capacidade de manipular os genes para fins específicos, terá sido uma conquista equivalente à chegada à lua pela primeira vez.

Obviamente que avanço e tecnologia também sempre veêm acompanhados por dilemas éticos e religiosos.

Quando pesquisadores chineses editaram os genes de um embrião humano em um laboratório pela primeira vez em 2015, provocaram protestos globais e pedidos de cientistas para que não utilizassem, pelo menos por enquanto, essa tecnologia para gerar um bebê.

Agora, de acordo com documentos médicos publicados no mês passado, uma equipe da Universidade de Ciência e Tecnologia em Shenzhen, na China, vem recrutando casais para criar os primeiros bebês geneticamente modificados. O objetivo do projeto é o de eliminar um determinado gene na esperança de tornar os seus organismos resistentes ao HIV, varíola e cólera.

O nascimento dos primeiros seres humanos geneticamente adaptados seria uma conquista médica impressionante, mas extremamente controversa dado que muitos consideram que essa seria uma nova forma de eugenia.

“Nunca fizemos nada que altere os genes da raça humana e nunca fizemos nada que tenha efeitos desconhecidos que possam ser transmitidos ao longo das gerações”, disse David Baltimore, biólogo e ex-presidente do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

Seja como for, apesar da polêmica em relação ao método adotado e das questões legais envolvidas, o que realmente chama atenção é saber que, cada vez mais, a realidade se aproxima do que antes era simplesmente classificado como ficção.

Estamos falando de terapia genética, células sintéticas, transplantes de órgãos produzidos por impressoras 3D, tratamentos com células tronco e outras técnicas que continuam estimulando uma corrida médica pelos quatro cantos do planeta. Não é de se espantar, portanto, que o ramo da biotecnologia seja um dos que mais atrai novos investimentos, culminando na criação de centenas de startups.

Nesse sentido, quando se trata da busca incessante pelo pioneirismo que garantirá uma vantagem competitiva e comercial perante os demais, sempre surge o nome de duas potências com alta capacidade de investimento e que estão constantemente disputando o topo da cadeia: Estados Unidos e China.

Depois de um longo período de restrições e regulamentações excessivas que sufocavam o crescimento, a China em particular instituiu uma série de reformas econômicas que contribuíram para a abertura parcial de uma economia que antes era totalmente fechada, estimulando o empreendedorismo e reduzindo o protecionismo exacerbado.

Como resultado dessa mudança de postura e da estratégia recente de promover a modernização industrial necessária para deslocar sua matriz econômica para os setores de alta especialização como robótica, aeroespacial, inteligência artificial e veículos autônomos, o país inteiro se beneficiou e, como não poderia ser diferente, uma parcela cada vez maior da população tem mudado o seu patamar social, aumentando as exigências do mercado interno.

Embora o ritmo de crescimento tenha desacelerado um pouco, estima-se que até 2022, a classe média chinesa passará dos atuais 430 milhões de pessoas para 780 milhões. Se alguém ainda considera pouco, estamos falando de praticamente três vezes a população inteira dos Estados Unidos.

É claro que, comparativamente, o país asiático ainda tem um longo caminho a percorrer. No ano passado, por exemplo, o PIB per capita chinês ficou em US$ 8.800, apenas 14% do PIB per capita norte-americano.

Seja como for, à medida que centenas de milhões de pessoas sobem na escala social, é natural que suas prioridades comecem a mudar.

Infelizmente, boa parte da população ainda luta pela sobrevivência, mas a partir dos dados apresentados, uma parcela significativa deseja melhorar sua qualidade de vida. Melhores alimentos, automóveis, artigos de luxo, serviços, etc.

Sem dúvida, todo e qualquer setor que de alguma forma tenha acesso aos anseios dessa classe média crescente tende a se beneficiar enormemente, aspecto que deixa os investidores ouriçados por conta da possibilidade de crescimento e expansão das empresas e negócios que estão emergindo naquele país.

Por conta das novas demandas e necessidades, oportunidades relacionadas especialmente ao setor de saúde estão em evidência, com os chineses exigindo acesso a serviços e produtos farmacêuticos pelos quais, até então, não podiam pagar.

Não por menos, de maneira geral, os gastos com saúde na China aumentaram substancialmente entre 2006 e 2016,

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subindo de US$ 126 bilhões para quase US$700 bilhões. Embora os números sejam expressivos, representam apenas 6% do PIB chinês.

Como referência, nos Estados Unidos, por exemplo, essa parcela representa 17% do PIB. Na Europa e no Japão, aproximadamente 10%. Ou seja, ainda há muito espaço para evoluir.

Mesmo assim, graças à sua população superlativa, a China já é o segundo maior mercado farmacêutico do mundo, com um valor que pode chegar a US$ 315 bilhões até 2020.

Esses números são fáceis de explicar, afinal, os problemas de saúde na China são proporcionais ao tamanho da sua população.

Para se ter uma ideia, existem mais crianças diabéticas na China do que em qualquer outro país do mundo e, no geral, o país conta com aproximadamente 100 milhões de diabéticos. Fora isso, 20% dos novos casos de câncer no mundo são diagnosticados por lá.

Por fim, tampouco podemos nos esquecer que, devido à política de controle de natalidade, o país sofre com o envelhecimento da sua população, um fator que irá potencializar a demanda pelos mais variados produtos farmacêuticos. Atualmente, 17% da população chinesa tem mais de 60 anos, número que subirá para 20% em 2025 e 25% em 2033, um aumento de 160 milhões de pessoas na faixa etária que se tornará foco desse mercado.

Historicamente, contudo, por conta do excesso de barreiras criadas pelo órgão regulador, o povo chinês sempre teve muita dificuldade para ter acesso aos produtos e medicamentos de última geração. Não por menos, das 433 novas drogas que a FDA (órgão regulador americano) aprovou entre 2001 e 2006, apenas 133 são comercializados na China. Isso significa que 70% dos medicamentos sequer estão disponíveis. A boa notícia é que o governo está implementando mudanças para flexibilizar o processo de aprovação pelo qual os medicamentos precisam passar para serem liberados.

Essa nova filosofia tem promovido um crescimento explosivo no mercado chinês de biotecnologia. Aliás, não é de hoje que a China tem investido pesado em R&D (Research and Development), perdendo apenas para os Estados Unidos nesse quesito. Com o objetivo de aumentar sua competitividade no setor, o país oriental planeja investir 2,5% do PIB em estudos e pesquisas, um acréscimo de 70% em relação a 2015.

Estou falando tudo isso, pois entendemos que a empresa de biotecnologia chinesa BeiGene (Nsdaq: BGNE) encontra-se estrategicamente posicionada e apta para se beneficiar de condições regulatórias mais favoráveis, tornando-se uma representante de peso dessa nova política e de todo o esforço que a China tem feito para se tornar referência de excelência em biotecnologia, seja ela agrícola, industrial, seja farmacêutica.

A BeiGene foi fundada em Pequim em 2010 com o propósito de desenvolver e comercializar drogas

YEAR MARKET SIZE (Billion RMB) GROWTH RATE

2010

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2013

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2016

2017 E

1,930.8 24%

2,592.3

2,991.5

3,736.3

4,498.8

4,998.5

5,607.3

6,216.1

34%15%

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11%AGORAFINANCIALBRASIL.COM

Mercado Farmacêutico no Mundo

China Brasil Índia RússiaU.S Japão

050

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Source: QuintilesIMS Institute & Bloomberg AGORAFINANCIALBRASIL.COM

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inovadoras no combate e tratamento contra o câncer. Seu IPO ocorreu na Nasdaq pouco tempo depois, tendo se tornado a primeira startup de biotecnologia a ser negociada em Bolsa.

A empresa, que conta com mais de 200 pesquisadores e um corpo clínico com mais de 300 pessoas ao redor do mundo, divulgou recentemente que possui 2300 pacientes envolvidos em mais de 50 testes clínicos em curso, consolidando sua posição como líder mundial no setor.

Fora isso, além de parcerias com outros laboratórios, a empresa também possui relações estreitas com diversos centros de oncologia na China, facilitando acesso à matéria prima de que necessitam para catalogar todos os tipos de câncer e, assim, poder avaliar melhor e estabelecer agentes que, isoladamente ou combinados, têm potencial significativo no combate de cada um.

Ademais, o modelo de pesquisa desenvolvido pela empresa leva em consideração elementos e condições do sistema imunológico humano, permitindo uma avaliação mais precisa dos medicamentos que, potencialmente, seriam mais adequados dependendo do estágio da doença. Esse aspecto é particularmente significativo quando busca-se desenvolver fármacos que além de combater mutações específicas, também procuram imobilizar as células cancerígenas contra o nosso sistema de defesa.

Nesse sentido, a BeiGene concentra seus esforços em três frentes diferentes:

• Terapias de imuno-oncologia

• Agentes moleculares

• Soluções combinadas

Os avanços no sequenciamento de genes e outros métodos de caracterização de tumores, têm permitido identificar doenças específicas através de mutações em determinados genes e proteínas. Esse aspecto tem se mostrado ainda mais crítico em oncologia, tornando os novos tratamentos mais eficazes do que nunca. Essa abordagem, na qual os alvos são selecionados com base na influência que exercem no crescimento e sobrevivência das células cancerígenas, tem sido uma das prioridades da empresa desde o início, razão pela qual já existem três medicamentos com essa finalidade em estágio de testes clínicos.

O primeiro, zanubrutinib, está sendo estudado em combinação com o obinutuzumabe da Roche para novos casos de leucemia linfocítica (LLC) e linfoma linfocítico de pequenas células (SLL).

Ambos são cânceres no sangue que afetam as células do sistema imunológico. Geralmente, não se trata de um câncer agressivo ou de crescimento rápido, mas, dado que não existe tratamento, acabam culminando na morte do paciente. Aliás, o fato de terem crescimento lento os tornam mais difíceis de serem curados, mas pelo mesmo motivo, às vezes podem ser controlados com drogas apropriadas.

O zanubrutinib inibe a tirosina quinase de Bruton (BTK), um molécula necessária para que os linfócitos B do sistema imunológico possam crescer, amadurecer e ativar, auxiliando na defesa do organismo. A primeira indicação acerca da existência do BTK foi descoberta pelo dr. Ogden Bruton na década de 1950, quando percebeu que um menino com infeção pulmonar não tinha anticorpos para protegê-lo.

Entretanto, algumas vezes, as mutações podem fazer com que o BTK se torne hiperativo, que provoca o crescimento incontrolável de linfócitos B, causando linfomas ou leucemias.

Em combinação com o obinutuzumab, o zanubrutinib apresentou resultados clínicos extraordinários, demonstrando ser um inibidor efetivo de BTK.

Globalmente, drogas desse gênero geraram US$ 3,2 bilhões em receita no ano passado, portanto, se o zanubrutinib realmente se mostrar efetivo, poderia conquistar a maior parte desse mercado. Os reguladores chineses, aliás, já aceitaram um requerimento de nova droga para o zanubrutinib, indicando que poderia alcançar o mercado em breve.

Outro medicamento que também já está sendo testado clinicamente contra cânceres gástricos é o pamiparib, um inibidor farmacológico da enzima Poli Adenosina Difosfato Ribose Polimerase (PARP) que bloqueia o mecanismo de reparação do DNA nas células.

Apenas para compreender um pouco o seu funcionamento, quando uma fita de DNA é danificada, as células têm a capacidade de repará-la. Contudo, dado que o DNA de células cancerígenas são muito instáveis, é

Fonte: Beigene

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natural que se utilizem desse mecanismo mais frequentemente do que células saudáveis.

Para piorar, a alta atividade da PARP ajuda as células cancerígenas a sobreviverem às sessões de quimioterapia que, em última instância, são realizadas exatamente para danificar o DNA dessas células. Isso faz com que as terapias que visam interferir nesse mecanismo sejam efetivas especialmente quando combinadas com outros medicamentos.

Não por menos, a gigante da indústria farmacêutica americana Merck & Co (NYSE:MRK) se interessou pelo medicamento, tendo inclusive assinado um contrato que poderia render aproximadamente U$232 milhões, além de valores não revelados pelo direito de comercializar o produto no resto do mundo.

Acordos dessa magnitude apenas comprovam o potencial do pipeline de medicamentos com os quais a BeiGene tem trabalhado para disponibilizar no mercado.

Entretanto, a companhia não pode ser vista apenas como uma incrível e promissora empresa de biotecnologia que poderá firmar acordos multimilionários com indústrias

farmacêuticas mundo afora. Trata-se também de uma importante porta de entrada para a China, podendo estabelecer acordos comerciais e licenciar produtos farmacêuticos bem sucedidos nos EUA, no Japão e na União Européia, mas que até então, por questões regulatórias, não estão disponíveis no país oriental.

Por fim, apenas para citar mais um dos medicamentos que se encontram em estágio avançado de testes, está o tislelizumab, desenvolvido para se ligar à proteína PD-1. Resumidamente, quando está funcionando normalmente, essa proteína regula o sistema imunológico, prevenindo doenças auto-imunes. Mas nas células cancerígenas, é usado como um escudo que impede os agentes do sistema imunológico de chegarem até elas, minando a defesa do corpo.

Portanto, em vez de atacar o câncer diretamente, medicamentos como o tislelizumab agem bloqueando os métodos que as células cancerígenas usam para se proteger do sistema imunológico que, em condições normais, entraria em ação para eliminar qualquer corpo estranho.

A ideia do medicamento é impedir que essa camuflagem afete o funcionamento normal do sistema imunológico, portanto, ao se ligarem às proteínas PD-1, os inibidores removem as defesas das celulares cancerígenas, permitindo sua destruição e remoção do organismo

Reguladores chineses até já aceitaram um requerimento para o tislelizumab contra o linfoma de Hodgkin depois de terem reportado resultados impressionantes em testes realizados previamente. Nesse sentido, aAntecipando-se à chegada da droga, a BeiGene já contratou os serviços de uma grande fabricante chinesa de produtos biológicos para a produção do medicamento.

Ademais, interessante observar que terapias que utilizam métodos parecidos no tratamento de outras doenças geraram mais de US$10 bilhões em vendas e devem gerar cerca de US$60 bilhões em 2025, com a China sozinha podendo responder por mais de US$12 bilhões dessa fatia.

O potencial do tislelizumab é tamanho que também já chamou atenção de outra grande empresa de biotecnologia americana, a Celgene, tendo firmado um acordo de US$1,39 bilhão dos quais US$413 milhões já foram adiantados pelo direito de comercializar a droga fora do continente asiático.

Mas as receitas não param por aí, afinal, o tislelizumab não é o único grande negócio que a BeiGene firmou com a Celgene. A empresa avaliada em US$ 59 bilhões está confiando a Beigene os direitos de comercializar alguns

TERAPIAS DE IMUNO- ONCOLOGIA

Objetivo de identificar e direcionar os genes e proteínas responsáveis pelo desenvolvimento e

evolução do câncer.

AGENTES MOLECULARES

A proveitamento do sistema imunológico humano no microambiente tumoral.

SOLUÇÕES COMBINADAS

Combinação de agentes imuno-oncológicos com

tratamentos direcionados, explorando sinergias

importantes

Fonte: Beigene

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de seus mais bem-sucedidos medicamentos contra o câncer, dentre os quais fazem parte:

• Revlimid, que gerou mais de US$ 8 bilhões em vendas globais em 2017

• Abraxane, que gerou quase US$ 1 bilhão em vendas globais em 2017

• Vidaza, que gerou US$ 608 milhões em 2016.

Acordos como esses estão impulsionando as receitas da BeiGene que passaram de US$ 15,6 milhões no quarto trimestre de 2017 para mais de US$ 31 milhões no segundo trimestre deste ano.

Não por menos, a empresa está com o caixa reforçado, tendo reportado aproximadamente U$1,4 bilhão disponíveis para investimentos de curto prazo.

Neste momento, a BGNE tem um valor de mercado de apenas US$7,3 bilhões e negocia a US$ 150 por ação. A convergência de parcerias, licenciamento de produtos, acordos de comercialização de medicamentos e avanço acelerado dos testes clínicos fizeram com que as ações se valorizassem quase 200% desde o fim de 2016.

Dado que muito se espera da empresa – e os relatos recentes apenas consolidam esse racional –, devemos aproveitar o início da recuperação dos preços frente às quedas recentes para comprar as ações com algum desconto, ganhando alguma exposição à explosão do mercado farmacêutico e de biotecnologia chinês.

Sugerimos a COMPRA de BeiGene (Nasdaq: BGNE) até o preço-teto de US$165 por ação.

The Money Connection Posições Abertas

EMPRESA SÍMBOLO ENTRADA PREÇO ATUAL RESULTADOCypress Semiconductor CY (Nasdaq) 10/08/18 U$16,70 U$13,04 -21.92%

Innovative Properties IIPR (NYSE) 10/09/18 U$41,76 U$50,47 20.86%

KraneShares CSI Internet ETF KWEB(ARCA) 10/10/18 U$42,15 US42,38 0.55%

Skyworks Solutions SWKS() 10/08/18 US$93,00 U$65,52 -29.55%

Softbank SFTBF (OTC) 10/08/18 US$45,33 U$39,26 -13.39%

Xilinx XLNX (Nasdaq) 10/11/18 U$83,68 U$88,13 5.32%

Beigene BGNE(Nasdaq) 10/12/18 Novo Alerta! Novo Alerta! Novo Alerta!