Medicina Religiao Saude Trecho

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    H G. K

    Traduo deIURIABREU

    a

    Medicina,religio

    esade

    o encontro da cinciae da espiritualidade

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    Para Martha Haley

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    Sumrio

    Introduo ........................................................................................... 3

    Captulo 1: Termos do debate ............................................................ 9

    Captulo 2: Medicina no sculo XXI ................................................ 21

    Captulo 3: Da mente para o corpo.................................................. 37

    Captulo 4: Religio e sade ............................................................. 54

    Captulo 5: Sade mental ................................................................. 68

    Captulo 6: Os sistemas imunolgico e endcrino ......................... 82

    Captulo 7: O sistema cardiovascular............................................... 96

    Captulo 8: Doenas relacionadas ao estresse e ao comportamento ................................................... 113

    Captulo 9: Longevidade ................................................................. 129

    Captulo 10: Deficincia fsica ........................................................ 146

    Captulo 11: Aplicaes clnicas ..................................................... 156

    Captulo 12: Consideraes finais .................................................. 172

    Apndice: Recursos adicionais ....................................................... 175

    Notas ................................................................................................ 195

    ndice remissivo .............................................................................. 227

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    Introduo

    A SENHORAHARRISMORREUontem aos 101 anos de idade. Ela estava vi-vendo em uma casa de repouso, mas a famlia disse que ela permane-ceu alerta at o fim. Em seus ltimos dias, como fizera durante todaa vida, tentou consolar e incentivar parentes e amigos mesmo es-tando doente. Ela destacava as boas qualidades deles. Expressava que

    alegria era ver algum e que futuro especial aguardava cada um deles.A famlia disse que ela estava cantando um cntico religioso quandosua voz ficou mais fraca, a respirao mais lenta at, finalmente, pa-rar. A senhora Harris deixou um leve sorriso no rosto, um sorriso aoqual a famlia tinha se acostumado sempre que ela estava muito feliz.

    Quando a senhora Harris fez cem anos, perguntaram a ela qualera o segredo de uma vida to longa. Sem pestanejar, respondeu que

    era sua f, sua famlia e o fato de no beber nem fumar, nessa ordem.E a ordem era importante, ela enfatizava.

    Muitos mdicos, assim como eu, j conheceram uma senhoraHarris e, embora possamos imaginar encontr-la em qualquer es-tado ou cidade, em um hospital ou casa de repouso, ela representaum benchmarkde sade da vida real, tanto fsica quanto mental. Seutipo de histria, ao qual as pessoas ligam crenas e comportamen-

    tos sade, o tpico central deste livro. A senhora Harris ba-seada em minhas duas dcadas e meia de experincia com pacientese com participantes de pesquisas, e usarei a histria dela ao longodo livro para demonstrar os tipos de encontros que tive. As respostasda senhora Harris ilustram as prprias experincias da vida real que

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    muitssimas pessoas relatam experincias que so, muitas vezes, ig-noradas pelos profissionais da sade.

    As pginas seguintes abordam um terreno amplo, e nem todoele plano e nivelado. Nossas informaes sobre os efeitos da religioe da espiritualidade sobre a sade fsica e mental ainda so incom-pletas. A discusso desse tpico tambm nova na medicina mo-derna. Por consequncia, h muitas opinies sobre o que realmentesabemos nesse campo, o que deve ser feito sobre isso e como faz--lo. Indicarei onde h controvrsia sobre determinada descoberta ou

    aplicao, mas tambm argumentarei a favor de uma conexo entrereligio e sade quando a predominncia das evidncias, junto como bom-senso e o raciocnio lgico, sustentar tal ligao. Este livro,portanto, no ser escasso em polmicas, e espero que o leitor fiqueintrigado.

    Organizei o material em quatro etapas, sendo que uma se desen-volve sobre a outra. Comecei definindo os termos religioe espiritua-lidade, demonstrando como a pesquisa sobre o relacionamento comsade e medicina cresceu drasticamente e se tornar essencial a umapossvel crise futura da sade pblica. A seguir, apresento o argumentode que religio e espiritualidade podem, de fato, afetar a sade de umaforma detectvel pela cincia. Em outras palavras, possvel demons-trar que os aspectos psicolgicos, sociais e religiosos da vida humanapodem afetar o corpo fsico.

    Aps ter apresentado o argumento de que tais caminhos so

    plausveis, investigarei mais a fundo seis reas especficas da sadehumana que possivelmente so afetadas pelo envolvimento religioso.Essas so as reas em que algum como a senhora Harris era bastanteafortunado, graas a uma boa perspectiva da vida, hbitos saudveise um corpo forte. As seis reas so: sade mental, funes imunol-gicas e endcrinas, funo cardiovascular, estresse e doenas relacio-nadas a comportamento, mortalidade e deficincia fsica. Depois de

    esclarecer como a religio pode afetar a sade e explorar as evidnciascientficas que do suporte a tais alegaes, examinarei a aplicaodesse conhecimento ao tratamento de pacientes em contextos clni-cos. Este livro finalizado com um apndice que lista recursos para oestudo posterior de religio, espiritualidade e sade.

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    Cada um dos captulos que se seguem analisar pesquisas passadase atuais, mas tambm conter uma questo central que desejo argu-

    mentar ou, ao menos, deixar aberta para discusso. No Captulo 1, porexemplo, mostrarei que h opinies extremamente divergentes sobre adefinio dos termos religioe espiritualidade. O termo espiritualidade amplo e permite que as pessoas deem suas prprias definies. Essaabrangncia til em ambientes clnicos em que os mdicos querem sersensveis ampla variedade de crenas das pessoas. Porm, no mbitoda pesquisa, esses termos devem ser definidos com maior preciso para

    o estudo objetivo de seu impacto na sade, e tal exatido o que sempredefenderei. Do contrrio, normalmente usarei religioe espiritualidadede forma intercambivel, referindo-me ao mesmo aspecto da experin-cia humana.

    No Captulo 2, apresento a hiptese de que essa rea de pesquisaem rpido crescimento ser mais importante no futuro, medida quemais limitaes so impostas sobre a assistncia mdica, sobretudo fa-tores demogrficos e financeiros. As populaes em envelhecimentonos pases desenvolvidos e os custos galopantes de cuidados sade emtodo o mundo so as duas foras que motivam esse aumento de tenso.Tambm prevejo uma maior funo de comunidades de f em oferecerservios de sade, no s em hospitais, mas tambm em termos deeducao de sade, suporte social e atendimento de longo prazo.

    Os Captulos 3 e 4 tentam demonstrar que fatores psicolgicos esociais influenciam a sade do corpo fsico. No muito tempo atrs,

    essa era uma ideia controversa. Em um editorial de 1985, por exem-plo, Marcia Angell, ex-editora do New England Journal of Medicine,afirmou que nossa crena na doena como um reflexo direto doestado mental , em grande parte, folclore1. Desde que esse editorialfoi publicado, muitos estudos em alguns dos melhores peridicos decincia do mundo provaram que ela estava errada. Hoje, existe umcampo que vem crescendo bastante, chamadopsiconeuroimunologia

    intimamente relacionado medicina psicossomtica que ana-lisa como as experincias mentais e sociais podem afetar aspectos dasade fsica.

    Minha tese bsica nos Captulos 5 a 10 a de que a religio tem opotencial de influenciar a sade mental e fsica. No Captulo 5, abordo

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    religio e sade mental cobrindo reas da experincia humana comodepresso, ansiedade e emoes positivas. O Captulo 6 examina as-

    sociaes entre religio, o sistema imunolgico e as funes end-crinas, com enfoque nas relaes em diferentes faixas etrias e em di-ferentes doenas, como fibromialgia, cncer de mama metasttico eHIV/AIDS. No Captulo 7, exploro os efeitos da religio sobre o cora-o e o sistema circulatrio (reatividade cardiovascular, presso arte-rial, ritmos autonmico e cardiovascular) e sobre comportamentos,como dieta, exerccios e tabagismo, que afetam as funes fisiolgi-

    cas. O Captulo 8 examina as consequncias clnicas do envolvimentoreligioso sobre os ndices de doena arterial coronariana e desfechosps-cirurgia cardaca, bem como sobre enfermidades comuns, comocncer, declnio da memria relacionado idade, doena de Alzhei-mer e diabetes.

    No Captulo 9, reviso diversos estudos de populaes grandesnos Estados Unidos, na Europa e na sia que examinam a relaoentre envolvimento religioso e longevidade. Essa uma rea bastantecontestada, e analisarei as complexidades de interpretar tais estudos,mas argumentarei que, embora tenham intensidade apenas modera-da, as evidncias a favor de religio e vida mais longa tm um enormeimpacto na sade pblica. O Captulo 10 aborda o que acredito sera questo mais importante: no quanto tempo vivemos, mas a qua-lidade de nossa vida e a capacidade de realizar atividades fsicas quefazem a vida valer a pena. Doenas de longa durao que persistem

    mais tarde na vida cobram um preo emocional e tm um impactona capacidade de trabalhar, na vida social e nas atividades recreativas.Tambm discutirei a relao entre religio e deficincia em jovenscom problemas de sade adquiridos devido a doena prematura, aci-dentes ou guerra.

    O livro termina com aplicaes dessas novas pesquisas. No Ca-ptulo 11, argumento que as descobertas de pesquisa tm implicaes

    para os profissionais da sade, sobretudo no reconhecimento dasmuitas formas em que crenas religiosas podem influenciar a assis-tncia mdica, a adeso do paciente e as decises mdicas2. So moti-vos importantes para que os profissionais da sade prestem atenos necessidades espirituais de pacientes e estejam cientes dos limites e

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    das limitaes nessa rea. Descrevo como e quando a espiritualidadepode ser integrada no atendimento ao paciente e quais so as prov-

    veis consequncias. Finalmente, o apndice oferece resumos (a) dosprincipais estudos de pesquisa originais sobre religio e sade; (b) deartigos de reviso sobre a pesquisa de religio e sade; (c) de livrossobre religio, espiritualidade e sade para pesquisadores, clnicos epblico em geral; (d) de sites e centros acadmicos de atividade emreligio, espiritualidade e sade nos quais podem ser encontrados re-cursos adicionais.

    O objetivo principal de Medicina, religio e sade integrarparte das pesquisas recentes sobre religio, espiritualidade e sade,fazendo isso de maneira relativamente concisa e em formato legvel.Em razo desse enfoque, no se tentou apresentar uma discussomais completa das questes teolgicas. Lembre-se, no entanto, deque essa pesquisa levantou uma srie de questes teolgicas sriasque tambm precisam ser abordadas. Uma reviso cientfica abran-gente e uma discusso teolgica da conexo entre religio e sadesero apresentadas em um volume muito maior, que est atualmentesendo preparado3. Contudo, por enquanto, vamos explorar as maisrecentes evidncias cientficas ligando religio, espiritualidade e sa-de e investigar o que isso significa para mdicos, pacientes e aquelesque esto saudveis e desejam permanecer assim.

    Quando disse que os motivos de sua longa vida eram f, famliae ausncia de lcool e de cigarros nessa ordem , a senhora Harris

    estava tentando comunicar algo sobre o essencial sade e ao bem--estar que aprendera durante sua longa e satisfatria vida. Ela fala-r conosco mais algumas vezes nas pginas seguintes, conforme nosaprofundamos nesse tpico.

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    Captulo 1

    Termos do debate

    SEMPREQUEMINISTROuma palestra sobre questes de religio e sade,tento evitar um tpico problemtico em especial: definir a diferenaentre as palavras religioe espiritualidade. Isso pode facilmente afas-tar uma proporo significativa do pblico, porque cada um de nstem suas prprias definies para esses termos, s quais nos apega-mos com bastante convico. Porm, neste livro, dou-me ao luxo dedispensar algum tempo para explorar esses termos em profundidade.

    O estabelecimento de definies agora para como usarei esses termosajudar o leitor a entender o que significa a pesquisa e auxiliar osprofissionais mdicos na aplicao das descobertas de suas prticasclnicas.

    Sem definies clarssimas, a pesquisa sobre religio, espiritua-lidade e sade no possvel. Por exemplo, se descoberta uma rela-o entre espiritualidade e longevidade, o que isso significa? A pa-lavra longevidade compreendida, de modo geral, como se referindo

    a anos de vida, o que pode ser calculado com exatido sabendo-se asdatas de nascimento e de bito. Por outro lado, no existe um acordouniversal sobre o termo mais nebuloso da espiritualidade. Contudo,se encontrada uma relao entre espiritualidade e longevidade, pre-cisamos saber o que espiritualidade para entender o que exata-mente est relacionado a uma expectativa de vida longa.

    Tambm precisamos saber como a espiritualidade difere

    de outros conceitos psicossociais, como bem-estar psicolgico,altrusmo, perdo, humanismo, conexo social e qualidade devida. A espiritualidade deve ser nica e diferente de tudo o mais,um fenmeno inteiramente separado, que pode, ento, ser exa-minado na sua relao com a sade. Nossa tarefa, ao conduzir

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    pesquisas, quantificar o grau de espiritualidade de uma pessoa(determinar at que ponto ou grau essa pessoa espiritual) e

    descrever de que formas ela espiritual. Isso absolutamente ne-cessrio para determinar como a espiritualidade est relacionadacom a sade.

    Para manter o foco nessas distines, este captulo comparaquatro conceitos religio, espiritualidade, humanismo e psicolo-gia positiva dando ateno especial espiritualidade, pois se tra-ta de um termo usado com frequncia hoje em dia. O significado

    do termo espiritualidade foi ampliado recentemente para incluirconceitos psicolgicos positivos, como significado e propsito, co-nexo, paz de esprito, bem-estar pessoal e felicidade. Segundo ospesquisadores Christian Smith e Melinda Denton, a prpria ideia elinguagem da espiritualidade, originalmente baseada nas prticasautodisciplinadoras da f de crentes religiosos, inclusive ascetas emonges, separa-se de suas amarras em tradies religiosas hist-ricas e redefinida em termos de autorrealizao subjetiva1. Essanova verso de espiritualidade evoluiu para incluir aspectos da vidaque no tm nada a ver com religio, alm de, muitas vezes, excluira religio por completo, como na afirmativa sou espiritual, noreligioso. Isso pode tornar a espiritualidade indistinguvel de con-ceitos seculares.

    H consequncias positivas e negativas da ampliao do termoespiritual. Neste livro, que est centrado em pesquisas, argumenta-

    rei que precisamos restabelecer uma definio mais precisa de espi-ritualidadeque retenha sua base histrica na religio. Apesar disso,admitirei que a ampliao do termo representa uma aplicao cl-nica valiosa. Como veremos, a espiritualidade pode ser usada pro-veitosamente de duas maneiras distintas: mais restrita na pesquisae mais ampla no atendimento ao paciente. Porm, antes de apre-sentar uma definio de espiritualidade, primeiro definirei religio

    e, a seguir, revisarei tentativas feitas por outras pessoas de definirespiritualidade como algo nico e diferente de religio.