Médicos vendem nome e reputação para estudos de laboratórios
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Médicos vendem nome e reputação para estudos de laboratórios farmacêuticos
Publicada em 19/08/2009
Globo
RIO - Surgem novas evidências de que integrantes de algumas das principais faculdades de
medicina dos Estados Unidos estão emprestando o nome e a reputação para trabalhos
científicos escritos por ghostwriters (escritores fantasmas) a serviço da indústria farmacêutica. Artigos que são cuidadosamente preparados para ajudar na aprovação e na venda de
remédios, como mostra reportagem do New York Times publicada no GLOBO.
Especialistas em ética da medicina condenam essa prática, classificada como um desrespeito
ao público. Mesmo assim, diversas universidades têm sido lentas na averiguação das
denúncias e na adoção de medidas para deter a prática. Mas ao que tudo indica, elas deverão
solucionar o problema o mais depressa possível caso não queiram problemas com o governo.
Semana passada, o senador republicano Charles E. Grassley, que faz parte da comi ssão que
analisa a concessão de fundos públicos para pesquisas médicas, prometeu iniciar uma
investigação de conflito de interesses na área médica, começando por pressionar o InstitutoNacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) para por um fim a essa prát ica.
A escolha é significativa porque o NIH, que é um órgão federal, avalia e aprova a maior parte
das pesquisas médicas nos EUA. E boa parte dos maiores especialistas do país depende de
verbas públicas para suas pesquisas. Adotar ali novas regras para esses procedimentos pode
ser uma boa forma de impor limites éticos para os centros de pesquisa.
Só que, como a maior parte das entidades de ensino, o NIH tem se mostrado relutante em
abraçar a ideia. Um porta-voz do órgão disse que a responsabilidade por impor limites éticos é
das universidades e demais instituições que empregam tais pesquisadores.
- Uma forma de deter essa prática seria punir os verdadeiros autores desses trabalhos - afirma
Carl Elliott, professor do Centro de Bioética da Universidade de M innesota. - Mas os
acadêmicos que são cúmplices desses procedimentos nunca são punidos. Até quando isso vai
continuar acontecendo?
Recentes descobertas indicam que a prática está disseminada. Dezenas de entidades de
ensino médico selecionam trabalhos científicos em acordo com laboratórios farmacêuticos. E a
publicação de tais estudos em revistas especializadas tem se mostrado uma importante
estratégia de marketing para a indústria dos remédios.
Alegações desse tipo de prática existem há pelo menos uma déc ada, desde o surgimento de
artigos científicos sobre a combinação de drogas para emagrecimento conhecida como fen -
phen, que foi tirada de circulação em 1997 depois que foi descoberto que ela poderia causar
problemas cardíacos. Mas maiores evidências da extensão desse problema começaram a vir à
tona só recentemente, graças à revelação de documentos em torno de remédios para aliviar os
sintomas da menopausa, feitos pelo laboratório Wyeth.
Fonte: http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2009/08/19/medicos -vendem-nome-reputacao-para-
estudos-de-laboratorios-farmaceuticos-757486283.asp