MEDITATIO FERIAL

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MEDITATIO FERIAL (28.05.2012). 1Pd 1,3-9; Sl 110; Mc 10,17-27. Não deve ter sido um impulso instantâneo desse jovem ao perguntar a Jesus sobre algo fundamental (10,17b). Enquanto outros se aproximavam de Cristo para O por à prova ou para Lhe falar de suas enfermidades, das dos seus familiares etc., este jovem se aproxima para conversar acerca da vida eterna, sobre algo perene. Este está movido por uma reta intenção, como bom judeu, que observa os mandamentos, porém ainda não entrou em comunhão com Jesus. Ele era movido pelo desejo de vida, mas deteve-o uma paixão muito difícil de ser superar. O sinal distintivo da identidade do discípulo é seguir Jesus: assumir seu destino (“modus vivendi”), seu mode de amar e de ser fiel ao próximo até o testemunho supremo da cruz. “Quem quiser ser meu discípulo, tome sua cruz, renuncie a si mesmo (...)” (Lc 9,24). A observância dos Mandamentos não é mais o modo de garantir um prestígio espiritual ou uma dignidade moral, mas é expressão de amor e fidelidade ao próximo. No seguimento de Jesus, agora é possível exercê-lo, pois Nele, o rosto do Único bom se tornou um rosto humano. A reação dos discípulos (10,24-26) – característica da perspectiva humana – absurda, impossível, como o revela de modo eficaz a parábola do camelo e da agulha (10,25). À resposta “última do Senhor à perplexidade humana expressa pelos discípulos é um apelo à autêntica atitude do homem: ‘Tudo é possível a Deus’” (10,27b). Tornar-se verdadeiro discípulo de Jesus ou entrar no reino de Deus não é fruto da habilidade ou dos esforços humanos, mas é dom, graça, do poder salvífico de Deus. “Nunca o ser humano é tão rico e arrogante, e então tão distante do Reino, como quando pretende condicionar o amor e a graça, gratuitos, e a liberdade de Deus com os seus méritos e suas virtudes”. Na esperança e total confiança em Deus, para quem tudo é possível; Ele que pela “grandeza de sua misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo, nos regenerou para a vida”. Marchemos na confiança de alcançar a herança salvífica que Deus nos reservou (1Pd 1,4). (29.05.2012). 1Pd 1,10-16; Sl 97; Mc 10, 28-31. O apóstolo Pedro faz um louvor à salvação divina (1,3-12), dádiva de Deus, que em sua infinita misericórdia nos chamou à vida plena. A nós, que fomos regenerados em Cristo – somos chamados a participar do mistério de Deus, orientar nossa vida pela nova vocação que nos foi concedida: a santidade. Eis a meta, que pela graça de Deus, somos convocados: “Sede santos porque Deus é santo” (1,16b; Lv 11,44s; 19,2; Mt 6,9; Lc 11,2). No Evangelho, final da perícope (10,17-31), no seguimento de Jesus a renúncia às posses – riquezas – é possível. Ao ser questionado por Pedro, Jesus lhe responde e faz a promessa sobre a comunhão de bens na comunidade dos discípulos, irmãos e seguidores de Jesus Cristo. Ao jovem rico que interpela Jeus e lhe pergunta: “que devo fazer para merecer a vida eterna” (10,17c), Jesus lhe convida ao seguimento, mas ele tem medo de renunciar a segurança aparente das posses e de corresponder a um discipulado custoso, e va-se embora, triste. À pergunta de Pedro: como é possível ao discípulo fazer-se interiormente independente das riquezas, Jesus lhe diz tacitamente: “Deus dá a força!” “É

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Roberto de Almeida, Meditatio Feriale

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MEDITATIO FERIAL(28.05.2012).

1Pd 1,3-9; Sl 110; Mc 10,17-27.No deve ter sido um impulso instantneo desse jovem ao perguntar a Jesus sobre algo fundamental (10,17b). Enquanto outros se aproximavam de Cristo para O por prova ou para Lhe falar de suas enfermidades, das dos seus familiares etc., este jovem se aproxima para conversar acerca da vida eterna, sobre algo perene. Este est movido por uma reta inteno, como bom judeu, que observa os mandamentos, porm ainda no entrou em comunho com Jesus. Ele era movido pelo desejo de vida, mas deteve-o uma paixo muito difcil de ser superar. O sinal distintivo da identidade do discpulo seguir Jesus: assumir seu destino (modus vivendi), seu mode de amar e de ser fiel ao prximo at o testemunho supremo da cruz. Quem quiser ser meu discpulo, tome sua cruz, renuncie a si mesmo (...) (Lc 9,24). A observncia dos Mandamentos no mais o modo de garantir um prestgio espiritual ou uma dignidade moral, mas expresso de amor e fidelidade ao prximo. No seguimento de Jesus, agora possvel exerc-lo, pois Nele, o rosto do nico bom se tornou um rosto humano.

A reao dos discpulos (10,24-26) caracterstica da perspectiva humana absurda, impossvel, como o revela de modo eficaz a parbola do camelo e da agulha (10,25). resposta ltima do Senhor perplexidade humana expressa pelos discpulos um apelo autntica atitude do homem: Tudo possvel a Deus (10,27b).

Tornar-se verdadeiro discpulo de Jesus ou entrar no reino de Deus no fruto da habilidade ou dos esforos humanos, mas dom, graa, do poder salvfico de Deus. Nunca o ser humano to rico e arrogante, e ento to distante do Reino, como quando pretende condicionar o amor e a graa, gratuitos, e a liberdade de Deus com os seus mritos e suas virtudes. Na esperana e total confiana em Deus, para quem tudo possvel; Ele que pela grandeza de sua misericrdia, pela ressurreio de Jesus Cristo, nos regenerou para a vida.

Marchemos na confiana de alcanar a herana salvfica que Deus nos reservou (1Pd 1,4).

(29.05.2012).

1Pd 1,10-16; Sl 97; Mc 10, 28-31.

O apstolo Pedro faz um louvor salvao divina (1,3-12), ddiva de Deus, que em sua infinita misericrdia nos chamou vida plena. A ns, que fomos regenerados em Cristo somos chamados a participar do mistrio de Deus, orientar nossa vida pela nova vocao que nos foi concedida: a santidade. Eis a meta, que pela graa de Deus, somos convocados: Sede santos porque Deus santo (1,16b; Lv 11,44s; 19,2; Mt 6,9; Lc 11,2). No Evangelho, final da percope (10,17-31), no seguimento de Jesus a renncia s posses riquezas possvel. Ao ser questionado por Pedro, Jesus lhe responde e faz a promessa sobre a comunho de bens na comunidade dos discpulos, irmos e seguidores de Jesus Cristo. Ao jovem rico que interpela Jeus e lhe pergunta: que devo fazer para merecer a vida eterna (10,17c), Jesus lhe convida ao seguimento, mas ele tem medo de renunciar a segurana aparente das posses e de corresponder a um discipulado custoso, e va-se embora, triste.

pergunta de Pedro: como possvel ao discpulo fazer-se interiormente independente das riquezas, Jesus lhe diz tacitamente: Deus d a fora! Deus quem ajuda! E Pedro certifica isso com seu prprio exemplo: Ns que deixamos tudo e te seguimos (10,28) que possvel desprender-se dos bens e seguir Jesus.

Na comunidade dos novos irmos e irms, no discipulado de Jesus, na qual possvel construir atitude e postura novas em relao aos homens e s posses (10,29-31). No seguimento de Jesus, experimenta-se antecipadamente, apesar das perseguies, das vicissitudes cotidianas a plenitude do Reino de Deus.

mediante essa experincia que os discpulos e os membros da comunidade crist conseguiram realizar uma nova camunho de bens e de relaes humanas (Mc 3,35; 1Cor 3,22; 2Cor 6,10; At 2,44; 4,32-37) que antecipava a plenitude da vida e comunho que o Senhor tinha prometido para o futuro definitivo.

So Joo Batista (24.06.2012)

Missa da Vgilia (Jr 1,4-10; Sl 70; 1Pd 1,8-12; Lc 1,5-17).

Ele ser grande diante do Senhor; estar cheio do Esprito Santo desde o seio materno, e muitos se alegraro com seu nascimento (Lc 1,15.14).

Carssimos irmos...,

a Igreja celebra o nascimento de Joo Batista como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, somente trs personagens cujos nascimentos so celebrados solenemente. Celebramos o de Joo, celebramos tambm o de Cristo, celebramos igualmente, o nascimento de Maria: tal fato tem, sem dvida, uma explicao.A I leitura situa-nos sobre algo mui especfico: a vocao do profeta Jeremias (e tambm a de Joo) e leva-nos a compreender suas personalidades profticas, pois apresenta elementos tpicos de uma vocao bblica: a) a experincia do divino na vida de ambos (1,4.9; Lc 1,66c), cujo centro de suas atividades profticas a palavra divina, poderosa eficaz (5,14; 23,29; 15,16; 20,8), mas frgil diante da liberdade humana (26,12.15); b) o verdadeiro chamado de Deus no qual se exprimem a eleio (1,5), legitimada por um ato de iniciao e de consagrao (1,9) para a misso (1,7.10) e o convite confiana (1,8.17s); c) a reao e a resposta tmida daquele que chamado: eu no sei falar, porque sou muito jovem (1,6). No entanto, a fraqueza humana no constitui obstculo para Deus: qualquer instrumento dbil torna-se eficaz em suas mos: O todo-poderoso fez em mim grandes coisas: santo o seu nome (Lc 1,49b).

O Senhor pede ao profeta obedincia, disponibilidade e plena confiana, e lhe promete assistncia nas adversidades e violncias do seu ministrio (haja vista ele viver no perodo mais turbulento do Oriente Prximo: 627-587).

Deus mesmo forma o beb desde o ventre materno, pois Ele conhece o ser humano e se coloca como seu nico Senhor desde o primeiro momento de sua existncia (J 10,8-12; Sl 22,10-11; 71,6; 139,13s). De fato, desde o ventre materno Jeremias e Joo Batista so consagrados, santificados, separados para se dedicarem ao servio (misso) divino: Jeremias (yirmyh: Iahweh tem estabelecido) o arauto das mensagens de Deus; sua misso consiste em endireitar aquilo que foi entortado (o povo) e aprofundar a [verdadeira] herana religiosa do povo. Joo (Yehnn = Deus mostrou [seu] favor [sua misericrdia]; Deus misericrdia!) o profeta que de perto profetizou sobre a graa sublime que nos foi destinada (1Pd 1,10; Mc 1,7); o Profeta do Altssimo (Lc 1,76), aquele contemplou o cordeiro de Deus (Jo 1,29). Ele o ltimo profeta do AT, que prepara os caminhos da nova histria, que se inicia com o nascimento do Salvador.

Joo aparece como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o novo. O prprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas at Joo Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, declarado profeta ainda estando nas entranhas da me. Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou de alegria no ventre materno com a chegada de Maria. Antes de nascer, j designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele. Tudo isto so coisas divinas, que ultrapassam a limitao humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e solta-se a lngua do pai. Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes fatos.

Joo a voz do que clama no deserto (Jo 1,23); a voz no tempo, que anuncia Cristo, que desde o princpio a Palavra eterna. o precursor que anuncia o sol da justia.

Ele anunciar a converso ao povo (1,17b-d) que se concretizar mediante trs maneiras: a) reconciliar [converter os coraes dos pais aos filhos..., Ml 3,24; Sr 48,10] os pais com os filhos; b) ensinar aos rebeldes a sensatez dos justos (1,17c); c) apresentar ao Senhor um povo bem disposto [a servi-Lo] (1,17d).

Queridos irmos..., que o Senhor nos mostre [sempre] sua misericrdia e nos ajude a celebrar com f, esperana e caridade (1Cor 13,13) seus mistrios, abra nossas bocas ungindo-as com suas palavras para proclamarmos sua Boa Nova ao mundo, to carente da Luz que Cristo.

Joo Batista o profeta que de perto profetizou sobre a graa que nos foi destinada (1Pd 1,10; Mc 1,7). O texto bblico oferece-nos um panorama da histria da salvao. Os profetas a anunciaram, os apstolos foram testemunhas oculares desse sublime mistrio o mistrio pascal salvfico realizado em Cristo orientada para a comunidade crist (1,12).

O relato do nascimento extraordinrio de Joo prepara para o anncio de um outro nascimento no somente extraordinrio, mas divino: o de Jesus (1,26-38). Zacarias devido sua incredulidade ficar mudo, Maria, ao contrrio, diante do grande anncio, encontra a fora de oferecer-se a Deus, como humilde, mas livre serva, a servio de seu plano de salvao (1,38).

Joo vive, em plenitude, essa vocao de precursor. Ele a lua que recebe a luz do sol Jesus e a reflete para ns at o sol entrar totalmente em seu znite. Em sua vida Joo diz que necessrio que ele diminua e que o Senhor cresa (Jo 30); e isso se realiza.

Joo tem a vocao de anunciar o sol. Tambm ns, em nosso batismo, quando recebemos a vela acesa e a orientao de a guardarmos. Nesse momento temos o recebimento se sermos tambm Joo Batista, de levarmos ao mundo a Luz de Cristo, de a anunciarmos, de sermos seu reflexo e de sabermos sair de cena para que o Senhor possa ser o centro da vida das pessoas.

A primeira leitura extrada do Livro de Isaas diz: No basta que sejas meu servo... Vou fazer de ti a luz das naes, para que a minha salvao possa chegar at os confins da terra. (Is 49, 6)

Em Joo Batista encontra-se a nossa vocao pastoral, proftica e abnegada.

Ser devoto do Batista mais do que acender fogueiras ou queimar fogos de artifcios em sua noite!

Ser devoto do Batista brilhar e arder como uma grande fogueira, trazendo luz e calor a todos. Essa luz se chama Jesus Cristo e esse calor provm de seu corao rasgado pela lana. No dizer de Jos de Anchieta, quem rasgou o corao de Cristo no foi a lana do soldado, mas o amor do Senhor que no permite um corao fechado!

Tambm ser devoto de Joo Batista ser como os fogos de artifcio, que brilham no cu escuro, brilham com beleza, com a diversidade de cores e de arte dando ao mundo a grandeza do cristo que sabe brilhar em meio s dificuldades da vida. Seu segredo arder de amor pelo Senhor!Missa do Dia.

Is 49,1-6; Sl 138; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80.

Houve um homem enviado por Deus: o seu nome era Joo. Veio dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um povo bem disposto a receb-lo (Jo 1,6-7; Lc 1,17).

Carssimos irmos...,

a Igreja celebra o nascimento de Joo Batista como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, somente trs personagens cujos nascimentos so celebrados solenemente. Celebramos o de Joo, celebramos tambm o de Cristo, celebramos igualmente, o nascimento de Maria: tal fato tem, sem dvida, uma explicao.O pai (Zekaryh: o Senhor recordou) de Joo no acredita que ele possa nascer e fica mudo; Maria acredita, e Cristo concebido pela f. Eis o assunto que quisemos meditar e prometemos tratar. E se no formos capazes de perscrutar toda a profundeza de to grande mistrio, por falta de aptido ou de tempo, aquele que fala dentro de vs, mesmo em nossa ausncia, vos ensinar melhor. Nele pensais com amor filial, a ele recebestes no corao, dele vos tornastes templos.Joo aparece como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o novo. O prprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas at Joo Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, declarado profeta ainda estando nas entranhas da me. Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou de alegria no ventre materno, chegada de Maria. Antes de nascer, j designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele. Tudo isto so coisas divinas, que ultrapassam a limitao humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e solta-se a lngua do pai. Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes fatos.

Zacarias emudece e perde a voz at o nascimento de Joo, o precursor do Senhor; s ento recupera a voz. Que significa o silncio de Zacarias? No seria o sentido da profecia que, antes da pregao de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto, fechado? Mas com a vinda daquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se claro. O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de Joo tem o mesmo significado que o rasgar-se o vu do templo, quando Cristo morreu na cruz. Se Joo se anunciasse a si mesmo, Zacarias no abriria a boca. Solta-se a lngua, porque nasce aquele que a voz. Com efeito, quando Joo j anunciava o Senhor, perguntaram-lhe: Quem s tu? (Jo 1,19). E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23). Joo a voz; o Senhor, porm, no princpio era a Palavra (Jo 1,1). Joo a voz no tempo; Cristo , desde o princpio, a Palavra eterna.A primeira leitura extrada do Livro de Isaas diz: No basta que sejas meu servo... Vou fazer de ti a luz das naes, para que a minha salvao possa chegar at os confins da terra (Is 49, 6). Essa tambm nossa vocao crist.

Que o Senhor nos conceda sua graa de no discipulado de Jesus sermos como Joo: brilhar, refletir no mundo a luz de Cristo, verdadeiro Sol, que recebemos desde o nosso batismo, e como luzeiros no firmamento, manifestarmos a verdadeira Beleza, com a variedade de cores e de arte e assim, transmitir ao mundo a grandeza de sermos cristos que sabem brilhar em meio as vicissitudes e alegrias da vida!

Joo (Yehnn = Deus mostrou [seu] favor; em quem h graa ou a graa do Senhor).

Zacarias (Zekaryh: o Senhor recordou), Isabel (Elaba: meu Deus meu tesouro), so santos, pois so justos diante do Senhor. Observam a Lei de Deus.

Sua funo j anuncia de quem se trata: ser grande aos olhos do Senhor, consagrado pelo voto de nazireato, pleno do Esprito Santo, enviado para converter a Israel, com uma misso reformadora como a de Elias (1,15-17).

Ele anunciar a converso ao povo (1,17b-d) que se concretizar mediante trs maneiras: a) reconciliar [converter os coraes dos pais aos filhos..., Ml 3,24; Sr 48,10] os pais com os filhos; b) ensinando aos rebeldes a sensatez dos justos (1,17c); c) apresentar ao Senhor um povo bem disposto (1,17d).

O texto de At 13,24 (// Lc 3,1-20) se refere a Joo Batista. O batismo e o testemunho de Joo (1,5; 10,37; 19,3-5) pertencem ao tempo da promessa (Lc 16,16; 3,19-20). Joo procura com sinceridade e lealdade que as pessoas no se enganem acerca de sua pessoa e no busquem nele a salvao que s possvel em Jesus (13,25; Lc 3,15-17; Jo 1,19-20; 3,28): Eu no sou aquele por quem me tomais; mais eis que aps mim vem aquele quem no sou digno de desatar as sandlias (13,25b; Lc 3,b). Ter conscincia clara da prpria misso sinal de sabedoria.

Santo Agostinho (Sermo 293,1-3: PL 38,1327-1328).Voz do que clama no deserto.

A Igreja celebra o nascimento de Joo como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, no h nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente. Celebramos o de Joo, celebramos tambm o de Cristo: tal fato tem, sem dvida, uma explicao. E se no a soubermos dar to bem, como exige a importncia desta solenidade, pelo menos meditemos nela mais frutuosa e profundamente. Joo nasce de uma anci estril; Cristo nasce de uma jovem virgem.

O pai de Joo no acredita que ele possa nascer e fica mudo; Maria acredita, e Cristo concebido pela f. Eis o assunto que quisemos meditar e prometemos tratar. E se no formos capazes de perscrutar toda a profundeza de to grande mistrio, por falta de aptido ou de tempo, aquele que fala dentro de vs, mesmo em nossa ausncia, vos ensinar melhor. Nele pensais com amor filial, a ele recebestes no corao, dele vos tornastes templos.

Joo apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o novo. O prprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas at Joo Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, declarado profeta ainda estando nas entranhas da me. Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou de alegria no ventre materno, chegada de Maria. Antes de nascer, j designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele. Tudo isto so coisas divinas, que ultrapassam a limitao humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e solta-se a lngua do pai. Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes fatos.

Zacarias emudece e perde a voz at o nascimento de Joo, o precursor do Senhor; s ento recupera a voz. Que significa o silncio de Zacarias? No seria o sentido da profecia que, antes da pregao de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto, fechado? Mas com a vinda daquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se claro. O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de Joo tem o mesmo significado que o rasgar-se o vu do templo, quando Cristo morreu na cruz. Se Joo se anunciasse a si mesmo, Zacarias no abriria a boca. Solta-se a lngua, porque nasce aquele que a voz. Com efeito, quando Joo j anunciava o Senhor, perguntaram-lhe:

Quem s tu? (Jo 1,19). E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23). Joo a voz; o Senhor, porm, no princpio era a Palavra (Jo 1,1). Joo a voz no tempo; Cristo , desde o princpio, a Palavra eterna.Santo Irineu, Bispo e Mrtir (28 de junho).

Nasceu por volta do ano 130 e foi educado em Esmirna. Foi discpulo de So Policarpo, bispo desta cidade. No ano de 177, era presbtero em Lio (Frana) e, pouco tempo depois, foi nomeado bispo da mesma cidade. Escreveu diversas obras para defender a f catlica contra os erros dos gnsticos. Segundo a tradio, recebeu a coroa do martrio cerca do ano 200.As notcias biogrficas sobre ele provm do seu prprio testemunho, que nos foi transmitido por Eusbio no quinto livro da Histria Eclesistica. Irineu nasceu com toda a probabilidade em Esmirna (hoje Izmir, na Turquia) por volta do ano 135-140, onde ainda jovem frequentou a escola do Bispo Policarpo, por sua vez discpulo do apstolo Joo.Irineu antes de tudo um homem de f e Pastor. Do bom Pastor tem o sentido da medida, a riqueza da doutrina, o fervor missionrio. Como escritor, busca uma dupla finalidade: 1) defender a verdadeira doutrina contra os ataques herticos; b) e expor com clareza a verdade da f. Correspondem exatamente a estas finalidades as duas obras que dele permanecem: os cinco livros Contra as Heresias, e a Exposio da pregao apostlica (que se pode tambm chamar o mais antigo catecismo da doutrina crist). Em suma, Irineu o campeo da luta contra as heresias. A Igreja do sculo II estava ameaada pela chamada gnose, uma doutrina que afirmava que a f ensinada na Igreja seria apenas um simbolismo para os simples, que no so capazes de compreender coisas difceis; ao contrrio, os idosos, os intelectuais chamavam-se gnsticos teriam compreendido o que est por detrs destes smbolos, e assim teriam formado um cristianismo elitista, intelectualista. Obviamente este cristianismo intelectualista fragmentava-se cada vez mais em diversas correntes com pensamentos muitas vezes estranhos e extravagantes, mas para muitos era atraente. Um elemento comum destas diversas correntes era o dualismo, i.., negava-se a f no nico Deus Pai de todos, Criador e Salvador do homem e do mundo. Para explicar o mal no mundo, eles afirmavam a existncia, em paralelo com o Deus bom, de um princpio negativo. Este princpio negativo teria produzido as coisas materiais, a matria.Radicando-se firmemente na doutrina bblica da criao, Irineu contesta o dualismo e o pessimismo gnstico que diminuam as realidades corpreas. Ele reivindicava decididamente a santidade originria da matria, do corpo, da carne, no menos que a do esprito. Mas a sua obra vai muito mais alm da confutao da heresia: pode-se dizer de fato que ele se apresenta como o primeiro grande telogo da Igreja, que criou a teologia sistemtica; ele mesmo fala do sistema da teologia, i.., da coerncia interna de toda a f. No centro da sua doutrina situa-se a questo da regra da f e da sua transmisso. Para Irineu a regra da f coincide na prtica com o Credo dos Apstolos, e d-nos a chave para interpretar o Evangelho, para interpretar o Credo luz do Evangelho. O smbolo apostlico, que uma espcie de sntese do Evangelho, ajuda-nos a compreender o que significa, como devemos ler o prprio Evangelho.Em particular sempre polemizando com o carter secreto da tradio gnstica, e observando os seus numerosos xitos entre si contraditrios Irineu preocupa-se por ilustrar o conceito genuno de Tradio apostlica, que podemos resumir em trs pontos.

a) A Tradio apostlica pblica, no privada ou secreta. Irineu no duvida minimamente de que o contedo da f transmitida pela Igreja o que recebeu dos Apstolos e de Jesus, do Filho de Deus. No existe outro ensinamento alm deste. Portanto quem quiser conhecer a verdadeira doutrina suficiente que conhea a Tradio que vem dos Apstolos e a f anunciada aos homens: tradio e f que chegaram at ns atravs da sucesso dos Bispos (Adv. Haer., 3, 3,3-4).

b) A Tradio apostlica nica. De fato, enquanto o gnosticismo se subdivide em numerosas seitas, a Tradio da Igreja nica nos seus contedos fundamentais, a que como vimos Irineu chama precisamente regula fidei ou veritatis: e isto porque nica, gera unidade atravs dos povos, atravs das culturas diversas, atravs dos povos diversos; um contedo comum como a verdade, apesar da diversidade das lnguas e das culturas. H uma frase muito preciosa de S. Ireneu no livro Contra as heresias: A Igreja, apesar de estar espalhada por todo o mundo, conserva com solicitude [a f dos Apstolos], como se habitasse numa s casa; ao mesmo tempo cr nestas verdades, como se tivesse uma s alma e um s corao; em plena sintonia com estas verdades proclama, ensina e transmite, como se tivesse uma s boca. As lnguas do mundo so diversas, mas o poder da tradio nico e o mesmo: as Igrejas fundadas nas Alemanhas no receberam nem transmitiram uma f diversa, nem as que foram fundadas nas Espanhas ou entre os Celtas ou nas regies orientais ou no Egito ou na Lbia ou no centro do mundo (1,10,1-2). J se v neste momento, estamos no ano 200, a universalidade da Igreja, a sua catolicidade e a fora unificadora da verdade, que une estas realidades to diversas, da Alemanha Espanha, Itlia, ao Egito, Lbia, na comum verdade que nos foi revelada por Cristo.

c) Por fim, a Tradio apostlica como ele diz na lngua grega na qual escreveu o seu livro, pneumtica, i.., espiritual, guiada pelo Esprito Santo: em grego esprito diz-se pneuma. De fato, no se trata de uma transmisso confiada habilidade de homens mais ou menos doutos, mas ao Esprito de Deus, que garante a fidelidade da transmisso da f. Esta a vida da Igreja, o que torna a Igreja sempre vigorosa e jovem, i.., fecunda de numerosos carismas. Igreja e Esprito para Irineu so inseparveis: Esta f, lemos ainda no terceiro livro Contra as heresias, recebemo-la da Igreja e conservamo-la: a f, por obra do Esprito de Deus, como um depsito precioso guardado num vaso de valor rejuvenesce sempre e faz rejuvenescer tambm o vaso que a contm. Onde estiver a Igreja, ali est o Esprito de Deus; e onde estiver o Esprito de Deus, ali est a Igreja com todas as graas (3, 24,1).

Como se v, Irineu no se limita a definir o conceito de Tradio. A sua tradio, a Tradio ininterrupta, no tradicionalismo, porque esta Tradio sempre internamente vivificada pelo Esprito Santo, que a faz de novo viver, a faz ser interpretada e compreendida na vitalidade da Igreja. Segundo o seu ensinamento, a f da Igreja deve ser transmitida de modo que aparea como deve ser, isto , pblica, nica, pneumtica, espiritual. A partir de cada uma destas caractersticas podemos realizar um frutuoso discernimento sobre a autntica transmisso da f no hoje da Igreja. Mais em geral, na doutrina de Irineu a dignidade do homem, corpo e alma, est firmemente ancorada na criao divina, na imagem de Cristo e na obra permanente de santificao do Esprito. Esta doutrina como uma via-mestra para esclarecer juntamente com todas as pessoas de boa vontade o objeto e os confins do dilogo sobre os valores, e para dar impulso sempre renovado ao missionria da Igreja, fora da verdade que a fonte de todos os valores verdadeiros do mundo.(Do Tratado contra as heresias (Lib. 4,20,5-7: Sch 100, 640-642.644-648).

A glria de Deus o homem vivo; e a vida do homem a viso de Deus.

O esplendor de Deus d a vida. Conseqentemente, os que vem a Deus recebem a vida. Por isso, aquele que inacessvel, incompreensvel e invisvel, torna-se compreensvel e acessvel para os homens, a fim de dar a vida aos que o alcanam e vem. Assim como viver sem a vida impossvel, sem a participao de Deus no h vida. Participar de Deus consiste em v-lo e gozar da sua bondade. Por conseguinte, os homens ho de ver a Deus para poderem viver. Por esta viso tornam-se imortais e se elevam at ele. Como j disse, estas coisas foram anunciadas pelos profetas de modo figurado: que Deus seria visto pelos homens que possuem seu Esprito e aguardam sem cessar sua vinda. Assim tambm diz Moiss no Deuteronmio: Nesse dia veremos que Deus pode falar ao homem, sem que este deixe de viver (cf. Dt 5,24).

Deus, que realiza tudo em todos, inacessvel e inefvel, quanto ao seu poder e sua grandeza, para os seres por ele criados. Mas no de modo algum desconhecido, pois todos sabemos, por meio do seu Verbo, que h um s Deus Pai que contm todas as coisas e d existncia a todas elas, como est escrito no Evangelho: A Deus, ningum jamais viu. Mas o Unignito de Deus, que est na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer (Jo 1,18).

Portanto, quem desde o princpio nos d a conhecer o Pai o Filho, que desde o princpio est com o Pai. As vises profticas, a diversidade de carismas, os ministrios, a glorificao do Pai, tudo isto, como uma sinfonia bem composta e harmoniosa, ele manifestou aos homens, no tempo prprio, para seu proveito. Porque onde h

composio, h harmonia; onde h harmonia, tudo acontece no tempo prprio; e quando tudo acontece no tempo prprio, h proveito.

Por esta razo, o Verbo se tornou o administrador da graa do Pai para proveito dos homens. Em favor deles, ps em prtica o seu plano: mostrar Deus ao homem e apresentar o homem a Deus. No entanto, conservou a invisibilidade do Pai: desta forma o homem no desprezaria a Deus e seria sempre estimulado a progredir. Ao mesmo tempo, mostrou tambm, por diversos modos, que Deus visvel aos homens, para no acontecer que, privado totalmente de Deus, o homem chegasse a perder a prpria existncia. Pois a glria de Deus o homem vivo, e a vida do homem a viso de Deus. Com efeito, se a manifestao de Deus, atravs da criao d a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestao do Pai, por meio do Verbo, d a vida a todos os que vem a Deus.So Tom, Apstolo (03 de julho).Festa.

Tom tornou-se conhecido entre os apstolos principalmente por sua incredulidade que desapareceu diante do Cristo ressuscitado; e com isso proclamou a f pascal da Igreja: Meu Senhor e meu Deus! Nada de certo se sabe sobre sua vida, alm dos indcios fornecidos pelo Evangelho. de tradio ter ele evangelizado os povos da ndia. Desde o sculo VI comemora-se a 3 de julho a trasladao de seu corpo para Edessa.Ef 2,19-22; Sl 116; Jo 20,24-29.

A liturgia celebra hoje a Festa de S. Tom. Sempre presente nas quatro listas contempladas pelo Novo Testamento, ele, nos primeiros trs Evangelhos, colocado ao lado de Mateus (cf. Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15), enquanto nos Atos est prximo de Filipe (cf. At 1,13). O seu nome deriva de uma raiz hebraica, taam, que significa junto, gmeo. De fato, o Evangelho chama-o vrias vezes com o sobrenome de Ddimo (cf. Jo 11,16; 20,24; 21,2), que em grego significa precisamente gmeo.

No Quarto Evangelho encontramos informaes que reproduzem alguns traos significativos da sua personalidade. O primeiro refere-se exortao, que ele fez aos outros Apstolos, quando Jesus, num momento crtico da sua vida, decidiu ir a Betnia para ressuscitar Lzaro, aproximando-se assim perigosamente de Jerusalm (Mc 10,32). Naquela ocasio Tom disse aos seus condiscpulos: Vamos ns tambm, para morrermos com Ele (Jo 11,16).

Esta sua determinao em seguir o Mestre deveras exemplar e oferece-nos um precioso ensinamento: revela a disponibilidade total a aderir a Jesus, at identificar o prprio destino com o dEle e querer partilhar com Ele a prova suprema da morte. De fato, o mais importante nunca separar-se de Jesus. Por outro lado, quando os Evangelhos usam o verbo seguir para significar que para onde Ele se dirige, para l deve ir tambm o seu discpulo. Deste modo, a vida crist define-se como uma vida com Jesus Cristo, uma vida a ser transcorrida juntamente com Ele. O que se verifica entre o discpulo e o Mestre , antes de tudo, a relao entre os cristos e o prprio Jesus: morrer juntos, viver juntos, estar no seu corao como Ele est no nosso.

Uma segunda interveno de Tom est registrada na ltima Ceia. Naquela ocasio Jesus, predizendo a sua partida iminente, anuncia que vai preparar um lugar para os discpulos para que tambm eles estejam onde Ele estiver; e esclarece: E, para onde Eu vou, vs sabeis o caminho (Jo 14,4). ento que Tom intervm e diz: Senhor, no sabemos para onde vais, como podemos ns saber o caminho? (Jo 14,5). Na realidade, com esta expresso ele coloca-se a um nvel de compreenso bastante baixo; mas estas suas palavras fornecem a Jesus a ocasio para pronunciar a clebre definio: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Portanto, Tom o primeiro a quem feita esta revelao, mas ela vlida tambm para todos ns e para sempre. Todas as vezes que ouvimos ou lemos estas palavras, podemos colocar-nos com o pensamento ao lado de Tom e imaginar que o Senhor fala tambm conosco como falou com ele.

Ao mesmo tempo, a sua pergunta confere tambm a ns o direito, por assim dizer, de pedir explicaes a Jesus. Com frequncia ns no o compreendemos. Temos a coragem para dizer: no te compreendo, Senhor, ouve-me, ajuda-me a compreender. Desta forma, com esta franqueza que o verdadeiro modo de rezar, de falar com Jesus, exprimimos a insuficincia da nossa capacidade de compreender, ao mesmo tempo colocamo-nos na atitude confiante de quem espera luz e fora de quem capaz de as doar.

Depois, muito conhecida e at proverbial a cena de Tom incrdulo, que aconteceu oito dias depois da Pscoa. Num primeiro momento, ele no tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausncia, e dissera: Se eu no vir o sinal dos pregos nas suas mos e no meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mo no seu peito, no acredito (Jo 20,25). No fundo, destas palavras sobressai a convico de que Jesus j reconhecvel no tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tom considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus so agora, sobretudo as chagas, nas quais se revela at que ponto Ele nos amou. Nisto o Apstolo no se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no meio dos seus discpulos, e desta vez Tom est presente. E Jesus interpela-o: Pe teu dedo aqui e v minhas mos! Estende tua mo e pe-na no meu lado e no sejas incrdulo, mas cr! (Jo 20,27). Tom reage com a profisso de f mais maravilhosa de todo o Novo Testamento: Meu Senhor e meu Deus! (Jo 20,28). A este propsito, Santo Agostinho comenta: Tom via e tocava o homem, mas confessava a sua f em Deus, que no via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que at quele momento tinha duvidado (In Iohann. 121, 5). O evangelista prossegue com uma ltima palavra de Jesus a Tom: Porque me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crero (cf. Jo 20,29). Esta frase tambm se pode conjugar no presente; Bem-aventurados os que creem sem terem visto.

Contudo, aqui Jesus enuncia um princpio fundamental para os cristos que viro depois de Tom, portanto para todos ns. interessante observar como o grande telogo medieval Toms de Aquino, compara com esta frmula de bem-aventurana aquela aparentemente oposta citada por Lucas: Felizes os olhos que veem o que estais a ver (Lc 10,23). Mas o Aquinate comenta: Merece muito mais quem cr sem ver do que quem cr porque v (In Johann. XX lectio VI 2566). De fato, a Carta aos Hebreus, recordando toda a srie dos antigos Patriarcas bblicos, que acreditaram em Deus sem ver o cumprimento das suas promessas, define a f como fundamento das coisas que se esperam e comprovao das que no se veem (11,1). O caso do Apstolo Tom importante para ns pelo menos por trs motivos: primeiro, porque nos conforta nas nossas inseguranas; segundo porque nos demonstra que qualquer dvida pode levar a um xito luminoso alm de qualquer incerteza; e por fim, porque as palavras dirigidas a ele por Jesus nos recordam o verdadeiro sentido da f madura e nos encorajam a prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adeso a Ele.

Uma ltima anotao sobre Tom -nos conservada no Quarto Evangelho, que o apresenta como testemunha do Ressuscitado no momento seguinte pesca milagrosa no Lago de Tiberades (cf. Jo 21,2). Naquela ocasio ele mencionado inclusivamente logo depois de Simo Pedro: sinal evidente da grande importncia de que gozava no mbito das primeiras comunidades crists. Com efeito, em seu nome foram escritos depois os Atos e o Evangelho de Tom, ambos apcrifos, mas contudo importantes para o estudo das origens crists. Por fim recordamos que segundo uma antiga tradio, Tom evangelizou primeiro a Sria e a Prsia (assim refere j Orgenes, citado por Eusbio de Cesareia, Hist. eccl. 3, 1) e depois foi at ndia ocidental (cf. Atos de Tom 1-2 e 17s.), de onde mais tarde o cristianismo alcanou tambm a ndia meridional. Nesta perspectiva missionria terminamos a nossa reflexo, expressando votos de que o exemplo de Tom corrobore cada vez mais a nossa f em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus.Das Homilias sobre os Evangelhos, de So Gregrio Magno (Hom. 25,7-9: PL 76,1201-1202).

Meu Senhor e meu Deus!Tom, chamado Ddimo, que era um dos doze, no estava com eles quando Jesus veio (Jo 20,24). Era o nico discpulo que estava ausente. Ao voltar, ouviu o que acontecera, mas negou-se a acreditar. Veio de novo o Senhor, e mostrou seu lado ao discpulo incrdulo para que o pudesse apalpar; mostrou-lhe as mos e, mostrando-lhe tambm a cicatriz de suas chagas, curou a chaga daquela falta de f. Que pensais, irmos carssimos, de tudo isto? Pensais ter acontecido por acaso que aquele discpulo estivesse ausente naquela ocasio, que, ao voltar, ouvisse contar, que, ao ouvir, duvidasse, que, ao duvidar, apalpasse, e que, ao apalpar, acreditasse?

Nada disso aconteceu por acaso, mas por disposio da providncia divina. A clemncia do alto agiu de modo admirvel a fim de que, ao apalpar as chagas do corpo de seu mestre, aquele discpulo que duvidara curasse as chagas da nossa falta de f. A incredulidade de Tom foi mais proveitosa para a nossa f do que a f dos discpulos que acreditaram logo. Pois, enquanto ele reconduzido f porque pde apalpar, o nosso esprito, pondo de lado toda dvida, confirma-se na f. Deste modo, o discpulo que duvidou e apalpou tornou-se testemunha da verdade da ressurreio.Tom apalpou e exclamou: Meu Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Acreditaste, porque me viste? (Jo 20,28-29). Ora, como diz o apstolo Paulo: A f um modo de j possuir o que ainda se espera, a convico acerca de realidades que no se vem (Hb 11,1). Logo, est claro que a f a prova daquelas realidades que no podem ser vistas.

De fato, as coisas que podemos ver no so objeto de f, e sim de conhecimento direto. Ento, se Tom viu e apalpou, por qual razo o Senhor lhe disse: Acreditaste, porque me viste? que ele viu uma coisa e acreditou noutra. A divindade no podia ser vista por um mortal. Ele viu a humanidade de Jesus e proclamou a f na sua divindade, exclamando: Meu Senhor e meu Deus! Por conseguinte, tendo visto, acreditou. Vendo um verdadeiro homem, proclamou que ele era Deus, a quem no podia ver.

Alegra-nos imensamente o que vem a seguir: Bem-aventurados os que creram sem ter visto (Jo 20,29). No resta dvida de que esta frase se refere especialmente a ns. Pois no vimos o Senhor em sua humanidade, mas o possumos em nosso esprito. a ns que ela se refere, desde que as obras acompanhem nossa f. Com efeito, quem cr verdadeiramente, realiza por suas aes a f que professa. Mas, pelo contrrio, a respeito daqueles que tm f apenas de boca, eis o que diz So Paulo: Fazem profisso de conhecer a Deus, mas negam-no com a sua prtica (Tt 1,16). o que leva tambm So Tiago a afirmar: A f, sem obras, morta (Tg 2,26).S. Isabel de Portugal (04.07.2012).

Am 5,14-15.21-24; Sl 49; Mt 8,28-34.

O profeta Ams nos recorda que a eleio no garantia perene e os ritos religiosos no possuem efeito mgico. A promessa de vida (Dt 30,15s) condicionada retido da vida, e antes de tudo, prtica da justia. O Conc. Vat. II introduziu na Igreja um alegre fermento de renovao e possibilitou pela Palavra de Deus aos fieis participarem ativamente da ao litrgica, i.., tomar conscincia de fazer parte do Povo de Deus, colocar-se em comunho, viver sua vida, quer na celebrao, quer nas obras de justia e caridade, convencidos de que celebrar a Eucaristia renovar a ao salvfica de Jesus na diakonia do mundo.

No Evangelho de S. Mateus, a primeira vez, aps a tentao do deserto (4,1-11), que se defrontam o Filho de Deus (8,29) e seu grande adversrio. Ocorre margem oriental do lago de Genesar, em territrio pago. Dos lbios do esprito maligno ressoa a confisso: Jesus , verdadeiramente, o Filho de Deus. Como tal tem o poder de derrotar o demnio. Para isto est entre ns. O Reino de Deus realidade presente e atuante no mundo, embora nem sempre os homens reconheam sua fora salvadora; s vezes pedem-no que se retire de seu territrio (8,34b).

Jesus desdemoniza o mundo, liberta-o do medo paralisante das foras terrveis do mal e da destruio que operam na histria. O demnio significa uma existncia humana ligada ao passado e sem futuro, voltada ao mal e morte. Jesus, o Cristo, o venceu, rompendo as cadeias humanas, libertando o ser humano do peso opressor do seu mal, e abrindo-o para possibilidades novas de vida.

Com efeito, no h lugar para os demnios no mundo em que reina o poder salvfico de Deus em Jesus, o Cristo.

Esse tempo kairtico, no qual o testemunho evanglico sinal de esperana para os seres humanos fez-se realidade, foi tambm na vida de S. Isabel de Portugal, cujo testemunho de vida valeu-lhe o ttulo de anjo da paz, pois ela viveu concretamente o que professava: assistia com seus bens, os pobres, estabelecendo assim, o direito e a justia e realizando a vontade do Criador, que concedeu os bens a todos os seres humanos.

Que seu exemplo nos impulsione a sermos cones do amor de Deus e a consagrar nossas vidas a fazer o bem aos outros.Santa Brgida da Sucia (1302/3-1373) (23.07.2012).

Mq 6,1-4.6-8; Sl 49; Mt 12,38-42 (// Mc 8,11-12; Lc 11,16.29-32).

Carssimos irmos e irms,

A liturgia de hoje celebra S. Brgida da Sucia (1302/3-1373). Copadroeira de toda a Europa, essa santa mulher tem muito a ensinar, ainda hoje Igreja e ao mundo. Nasceu em 1302-03, em Finster, na Sucia. De seus pais recebeu e acolheu a f crist. Foi casada com Ulf governador de um importante distrito no reino da Sucia. O matrimnio durou 28 anos at a morte de seu esposo e nasceram oito filhos, dos quais a segunda, Karin (Catarina) venerada como santa. Sinal do eloquente compromisso educativo de Brgida para com sua prole.

Espiritualmente conduzida por um douto religioso que a iniciou no estudo das Escrituras, Brgida exerceu uma influncia positiva sobre sua famlia, graas sua presena, tornou-se uma verdadeira igreja domstica. Juntos, ela e seu marido adotaram a Regra dos Tercirios franciscanos. Praticava com generosidade a caridade em favor dos indigentes; fundou at um hospital.

Com seu esposo viveu uma autntica espiritualidade conjugal: unidos, os esposos cristos conseguem percorrer um caminho de santidade, sustentados pela graa do sacramento do Matrimnio. No raro, exatamente como aconteceu com Brgida, a mulher que, com sua sensibilidade religiosa, com a sua ternura e sencillez pode fazer o esposo percorrer um caminho de f. Muitas mulheres, hoje, iluminam suas famlias com seu testemunho de vida social e f crist.

Quando se tornou viva, Brgida, renunciou a outras npcias para aprofundar a unio com o Senhor, mediante a orao, penitncia e obras de caridade. Distribuiu seus bens aos pobres e estabeleceu-se no mosteiro cisterciense de Alvastra. Ali iniciaram as revelaes divinas, que a acompanharam durante os dias de sua vida. Ela as ditava a seus secretrios-confessores. Essas revelaes foram acolhidas pela Igreja como autenticidade do conjunto da sua experincia interior (Joo Paulo II. Carta Spes Aedificandi, n. 5).

Em 1349, ela foi em peregrinao a Roma para participar do Jubileu de 1350 e obter do Papa a aprovao da Regra uma Ordem Religiosa que pretendia fundar, em honra ao Santo Salvador e composta de monge e monjas, sob a autoridade da abadessa.

Ao celebrar a memria de S. Brgida peamos ao Esprito do Senhor que suscite a santidade dos esposos cristos, para mostrar ao mundo a beleza do matrimnio vivido segundo os valores do Evangelho: o amor, a ternura, o auxlio recproco, a fecundidade na gerao e na educao dos filhos, a abertura e a solidariedade com relao ao mundo, a participao na vida da Igreja.Ainda hoje muitos pedem que Jesus apresente as credenciais de sua misso, continuada pela a Igreja e que os santos a testemunham. Aos escribas e fariseus incrdulos e aos que exigem garantias de milagres, Jesus exorta aceitao de sua pessoa e de sua ao. Os milagres postulam f; so sinais de relao ntima entre Deus e ns. So tambm apelo a uma converso profunda em quem j est disposto a crer, ao menos inconscientemente. O prprio milagre possibilita a converso de alguns, endurece outros a continuar fechados em si mesmos. O milagre que Deus nos pede nosso amor ativo para com Ele no prximo, como o maior milagre operado por Jesus foi assumir a cruz por amor a ns.

So Cirilo de Alexandria (27 de junho).

Santo Agostinho (354-430), Explicao do Sermo da Montanha, c. 24, 80-81.

Pelos seus frutos os conhecereis.Perguntamo-nos quais os frutos para os quais o Senhor quer chamar a nossa ateno para reconhecermos a rvore. Alguns consideram como frutos a roupagem das ovelhas e assim os lobos podem engan-los. Quero referir-me a jejuns, oraes, esmolas e todas as obras que podem ser feitas por hipcritas. Caso contrrio, Jesus no teria dito: Guardai-vos de fazer as vossas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles (Mt 6,1). [...] Muitos do aos pobres por ostentao e no por generosidade; muitos que rezam, ou melhor, que parecem rezar, no procuram Deus, mas sim a estima dos homens; muitos jejuam e exibem austeridade notvel para atrair a admirao dos que veem a sua conduta. Todas essas obras so enganos. [...] O Senhor conclui que esses frutos no so suficientes para julgar a rvore. As mesmas aes feitas com uma inteno reta e verdadeira so a roupagem das autnticas ovelhas [...].O apstolo Paulo diz-nos quais os frutos pelos quais reconheceremos a rvore ruim: fcil reconhecer as obras da carne: fornicao, impureza, libertinagem, idolatria, feitiaria, inimizades, contendas, cimes, iras, discrdias, sectarismos, rivalidades, embriaguez, orgias e coisas semelhantes (Gl 5,19-20). O mesmo apstolo nos diz a seguir quais os frutos para reconhecer uma boa rvore: Mas os frutos do Esprito so: amor, alegria, paz, pacincia, benignidade, bondade, fidelidade, mansido e autocontrole (v. 22-23).

preciso saber que a palavra alegria usada aqui no seu sentido literal; os homens maus em sentido literal ignoram a alegria, mas conhecem o prazer. [...] Este o sentido prprio desta palavra que s os bons conhecem; no h alegria para os mpios, diz o Senhor (Is 48,22). Acontece o mesmo com a f verdadeira. As virtudes enumeradas podem ser fingidas por maus e impostores, mas no enganam o olho puro e simples capaz de discernimento.So Tiago, Maior.2Cor 4,7-15; Sl 125; Mt 20,20-28.Andando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu Tiago, filho de Zebedeu e Joo, seu irmo, que consertavam suas redes. E ele os chamou (Mt 4,18-21).

Tiago, dito o maior, era filho de Zebedeu e Salom (Mc 15,40; Mt 27,56) e irmo mais velho de Joo, o evangelista, com que foi chamado entre os primeiros discpulos por Jesus e foi solcito em segui-Lo (Mc 1,19s; 4,21s; Lc 5,10).

O nome Tiago a traduo de , forma helenizada do nome do clebre patriarca Tiago. O apstolo assim chamado irmo de Joo, e nos elencos acima mencionados ocupa o segundo lugar logo depois de Pedro, como em Marcos (3,17), ou o terceiro lugar depois de Pedro e Andr no Evangelho de Mateus (10,2) e de Lucas (6,14), enquanto que nos Atos vem depois de Pedro e de Joo (1,13). Este Tiago pertence, juntamente com Pedro e Joo, ao grupo dos trs discpulos privilegiados que foram admitidos por Jesus em momentos importantes da sua vida.Dado que faz muito calor, gostaria de abreviar e mencionar aqui s duas destas ocasies. Ele pde participar, juntamente com Pedro e Tiago, no momento da agonia de Jesus no horto do Getsmani e no acontecimento da Transfigurao de Jesus. Trata-se, portanto de situaes muito diversas uma da outra: num caso, Tiago com os outros dois Apstolos experimenta a glria do Senhor, v-o no dilogo com Moiss e Elias, v transparecer o esplendor divino de Jesus; no outro encontra-se diante do sofrimento e da humilhao, v com os prprios olhos como o Filho de Deus se humilha tornando-se obediente at morte. Certamente a segunda experincia constitui para ele a ocasio de uma maturao na f, para corrigir a interpretao unilateral, triunfalista da primeira: ele teve que entrever que o Messias, esperado pelo povo judaico como um triunfador, na realidade no era s circundado de honra e de glria, mas tambm de sofrimentos e fraqueza. A glria de Cristo realiza-se precisamente na Cruz, na participao dos nossos sofrimentos.

Esta maturao da f foi realizada pelo Esprito Santo no Pentecostes, de forma que Tiago, quando chegou o momento do testemunho supremo, no se retirou. No incio dos anos 40 do sculo I o rei Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande, como nos informa Lucas, maltratou alguns membros da Igreja. Mandou matar espada Tiago, irmo de Joo (At 12,1-2).

A notcia to limitada, privada de qualquer pormenor narrativo, revela, por um lado, quanto era normal para os cristos testemunhar o Senhor com a prpria vida e, por outro, como Tiago ocupava uma posio de relevo na Igreja de Jerusalm, tambm devido ao papel desempenhado durante a existncia terrena de Jesus. Uma tradio sucessiva, que remonta pelo menos a Isidoro de Sevilha, narra de uma sua permanncia na Espanha para evangelizar aquela importante regio do Imprio Romano.

Segundo outra tradio, ao contrrio, o seu corpo teria sido transportado para a Espanha, para a cidade de Santiago de Compostela. Como todos sabemos, aquele lugar tornou-se objeto de grande venerao e ainda hoje meta de numerosas peregrinaes, no s da Europa mas de todo o mundo. assim que se explica a representao iconogrfica de So Tiago que tem na mo o cajado do peregrino e o rolo do Evangelho, tpicos do apstolo itinerante e dedicado ao anncio da boa nova, caractersticas da peregrinao da vida crist.

Portanto, de So Tiago podemos aprender muitas coisas: a abertura para aceitar a chamada do Senhor tambm quando nos pede que deixemos a barca das nossas seguranas humanas, o entusiasmo em segui-lo pelos caminhos que Ele nos indica alm de qualquer presuno ilusria, a disponibilidade a testemunh-lo com coragem, se for necessrio, at ao sacrifcio supremo da vida. Assim, Tiago o Maior, apresenta-se diante de ns como exemplo eloquente de adeso generosa a Cristo. Ele, que inicialmente tinha pedido, atravs de sua me, para se sentar com o irmo ao lado do Mestre no seu Reino, foi precisamente o primeiro a beber o clice da paixo, a partilhar com os Apstolos o martrio.

E no final, resumindo tudo, podemos dizer que o caminho no s exterior, mas sobretudo, interior, do monte da Transfigurao ao monte da agonia, simboliza toda a peregrinao da vida crist, entre as perseguies do mundo e os confortos de Deus, como diz o Conclio Vaticano II. Seguindo Jesus como So Tiago, sabemos, tambm nas dificuldades, que seguimos o caminho justo.Transfigurao do Senhor (06.08.2012).

Dn 7,9-10.13-14; Sl 96; 2Pd 1,16-19; Mc 9,2-10.

O texto do evangelho segundo S. Marcos, um texto de experincia mstica, de revelao divina, num dia difcil da vida. Os trs discpulos, escolhidos, porm inseguros e sem saber do que se trata recebem a graa de ver, como num sonho, a realidade profunda que se manifesta em Jesus: sua ntima unio com Deus, seu ser, visto na perspectiva divina.

A presena na solido deixa entender que se trata de uma experincia que ilumina o drama da morte violenta de Jesus. Os trs discpulos fazem uma experincia antecipada da glorificao de Jesus, que os encaminha rumo maturidade da f crist.

Moiss e Elias, personagens do AT, que dialogam com Jesus, tem com finalidade indicar que Jesus o enviado definitivo, esperado para os ltimos tempos. A proposta de Pedro expressa bem a reao humana diante da experincia do mistrio divino.

A palavra celeste de revelao retoma o texto do Sl 2,7, luz do qual a comunidade crist expressa a sua f em Jesus ressuscitado (Rm 1,3-4). Aqui emerge a mensagem central de toda a narrao. A caminhada de Jesus rumo morte no resignada submisso a uma fatalidade histrica, no fracasso de um projeto, de uma vida, mas revelao plena de sua verdadeira identidade. Ele o Filho fiel, que est sempre num relacionamento nico com Deus. Ser a expresso de seu amor e de sua plena liberdade. Este amor e liberdade se relacionam com um mundo que j transparece em seus gestos e suas palavras cotidianas, e que os discpulos, na intimidade com Jesus, puderam pressentir de maneira privilegiada.

A transfigurao de Jesus sinal de sua ressurreio. Ele vence a morte. Jesus se manifesta aos seus discpulos em todo o seu esplendor da vida divina.

Essa revelao celeste indica qual a tarefa dos discpulos: no a contemplao exttica do maravilhoso, do numinoso, nem o medo paralisador em face do divino, mas a adeso plena e comprometida ao ensinamento de Jesus: Escutai-O. (9,7b). Trata-se de acolher as palavras de Jesus no caminho da cruz, no seguimento, do discipulado. A se descobre o verdadeiro discpulo de Cristo. Jesus ressuscitado est presente na comunidade dos discpulos mediante o anncio e o ensinamento que fundamentam o empenho e engajamento dos fieis.

Nossa vida crist , desde sempre, um processo de lenta e constante transformao em Cristo at a transfigurao na imagem de Jesus glorioso.

O que significa celebrar essa festa? No testemunho de 2Pd 1,16-19, seu autor nos ajuda a compreend-lo. De fato, ele anuncia o que significou para ele a experincia de Cristo transfigurado no meio dos profetas. Esse acontecimento foi para ele uma confirmao do que os profetas haviam dito (1,19a). Aceitar o testemunho dos profetas, i.., das Escrituras, para conhecer o Cristo, no fundamentar a prpria f sobre fbulas, mas sobre a palavra mesma de Deus, lmpada que brilha num lugar obscuro (1,16-19).

Em cada celebrao eucarstica, vemos a luz sinal de perfeita comunho comungando o Ressuscitado: como Moiss na sara ardente ou no Sinai; como o povo sob a nuvem luminosa no deserto, como Pedro, Tiago e Joo no Tabor; como os Apstolos com Maria no cenculo de Jerusalm; Paulo na estrada de Damasco... espera de sermos revelados como filhos da luz na eucaristia celeste, quando Deus ser tudo em todos.

Transfigurao do Senhor (06.08.2012).

Dn 7,9-10.13-14; Sl 96; 2Pd 1,16-19; Mc 9,2-10.

O texto do evangelho segundo S. Marcos, um texto de experincia mstica, de revelao divina, num dia difcil da vida. Os trs discpulos, escolhidos, porm inseguros e sem saber do que se trata recebem a graa de ver, como num sonho, a realidade profunda que se manifesta em Jesus: sua ntima unio com Deus, seu ser, visto na perspectiva divina.

A presena na solido deixa entender que se trata de uma experincia que ilumina o drama da morte violenta de Jesus. Os trs discpulos fazem uma experincia antecipada da glorificao de Jesus, que os encaminha rumo maturidade da f crist.

Moiss e Elias, personagens do AT, que dialogam com Jesus, tem com finalidade indicar que Jesus o enviado definitivo, esperado para os ltimos tempos. A proposta de Pedro expressa bem a reao humana diante da experincia do mistrio divino.

A palavra celeste de revelao retoma o texto do Sl 2,7, luz do qual a comunidade crist expressa a sua f em Jesus ressuscitado (Rm 1,3-4). Aqui emerge a mensagem central de toda a narrao. A caminhada de Jesus rumo morte no resignada submisso a uma fatalidade histrica, no fracasso de um projeto, de uma vida, mas revelao plena de sua verdadeira identidade. Ele o Filho fiel, que est sempre num relacionamento nico com Deus. Ser a expresso de seu amor e de sua plena liberdade. Este amor e liberdade se relacionam com um mundo que j transparece em seus gestos e suas palavras cotidianas, e que os discpulos, na intimidade com Jesus, puderam pressentir de maneira privilegiada.

A transfigurao de Jesus sinal de sua ressurreio. Ele vence a morte. Jesus se manifesta aos seus discpulos em todo o seu esplendor da vida divina.

Essa revelao celeste indica qual a tarefa dos discpulos: no a contemplao exttica do maravilhoso, do numinoso, nem o medo paralisador em face do divino, mas a adeso plena e comprometida ao ensinamento de Jesus: Escutai-O. (9,7b). Trata-se de acolher as palavras de Jesus no caminho da cruz, no seguimento, do discipulado. A se descobre o verdadeiro discpulo de Cristo. Jesus ressuscitado est presente na comunidade dos discpulos mediante o anncio e o ensinamento que fundamentam o empenho e engajamento dos fieis.

Nossa vida crist , desde sempre, um processo de lenta e constante transformao em Cristo at a transfigurao na imagem de Jesus glorioso.

O que significa celebrar essa festa? No testemunho de 2Pd 1,16-19, seu autor nos ajuda a compreend-lo. De fato, ele anuncia o que significou para ele a experincia de Cristo transfigurado no meio dos profetas. Esse acontecimento foi para ele uma confirmao do que os profetas haviam dito (1,19a). Aceitar o testemunho dos profetas, i.., das Escrituras, para conhecer o Cristo, no fundamentar a prpria f sobre fbulas, mas sobre a palavra mesma de Deus, lmpada que brilha num lugar obscuro (1,16-19).

Em cada celebrao eucarstica, vemos a luz sinal de perfeita comunho comungando o Ressuscitado: como Moiss na sara ardente ou no Sinai; como o povo sob a nuvem luminosa no deserto, como Pedro, Tiago e Joo no Tabor; como os Apstolos com Maria no cenculo de Jerusalm; Paulo na estrada de Damasco... espera de sermos revelados como filhos da luz na eucaristia celeste, quando Deus ser tudo em todos.

So Domingos de Gusmo Solenidade de nosso pai (08.08.2012).

Como so belos os ps do mensageiro da paz (Is 52,7).

Is 52,7-10; Sl 95,1-2a.2b-3.7.8a. 10; 2Tm 4,1-8; Mt 5,13-19.Quo graciosos, sobre os montes, so os ps do mensageiro, do que anuncia a paz, do que proclama boas novas e anuncia a salvao! (Is 52,7).

Carssimos, irmos e irms,

sou agradecido a Deus pela graa de poder celebrar a Eucaristia com vocs na ocasio da festa de S. Domingos de Gusmo, fundador da Ordem dos Pregadores. Tendo seguido os passos de seu Senhor, mereceu participar da sua glria e sobre ele vemos, revelado e eloquente, o mistrio da vitria de Cristo sobre o pecado e a morte (saudao inicial da liturgia Romana). O santo , sempre, um amigo de Deus. Nele brilha, ininterruptamente, o rosto vitorioso de Nosso Senhor Jesus Cristo. sabido que desde tempos imemoriais, os profetas do AT prepararam a vinda de Cristo e a anunciavam mediante variegadas imagens. Uma delas, a do mensageiro posto a caminho para anunciar em todos os lugares, boas notcias, que o que todos esperamos.

Porm, o anncio proftico no se finda em Cristo. Por meio Dele se dirige e se adentra em sua Igreja para ilustr-la e confort-la na peregrinao terrena at o encontro definitivo com o Jesus. As palavras de Isaas ressoam com fora particular nessa festa e nos ajuda a descobrir um dos adventos intermedirios, que acontece antes que chegue definitivamente o esplendor de sua glria.

Domingos encarna uma dessas modalidades de advento, uma das vindas intermedirias de Cristo em sua poca. Por meio dele Deus quis renovar sua Igreja e centrar a histria mais plena em seu princpio e fim: Jesus Cristo.

Beato Jordo da Saxnia seu sucessor na orientao da Ordem oferece um retrato completo de S. Domingos no texto de uma orao famosa: Inflamado de zelo por Deus e de ardor sobrenatural, pela tua caridade sem confins e o fervor do esprito veemente, consagraste-te inteiramente com o voto da pobreza perptua observncia apostlica e pregao evanglica. ressaltada precisamente esta caracterstica fundamental do testemunho de Domingos: ele falava sempre com Deus e de Deus. Na vida dos santos, o amor pelo Senhor e pelo prximo, a busca da glria de Deus e da salvao das almas (do ser humano) caminham sempre juntos.Um episdio trivial permite-nos compreender como a sensibilidade apostlica de Domingos e sua ateno aos sinais dos tempos ajudaram-lhe realizar sua misso de ser sal e luz do mundo. O sal, imagem da sabedoria, e a lmpada, a luz, como sinais das boas aes, resplandece a Luz de Cristo, portador da salvao para os homens (Is 42,6; 49,6; cf. Jo 8,12; 9,5).

Domingos junto com Diogo, bispo de Osma, partiram para o Norte da Europa a fim de realizar misses diplomticas que lhes eram confiadas pelo rei de Castilha. Nessa viagem, Domingos descobriu dois desafios enormes para a Igreja do seu tempo: a) a existncia de povos ainda no evangelizados, nas extremidades setentrionais do continente europeu, e; b) a dilacerao religiosa que debilitava a vida crist no Sul da Frana, onde a ao de grupos herticos criava confuso e o afastamento da verdade da f.A ao missionria a favor daqueles que no conheciam a luz do Evangelho e a obra de reevangelizao das comunidades crists tornaram-se assim as metas apostlicas que Domingos se props alcanar. O Papa, que o Bispo Diogo e Domingos visitaram para pedir conselho, pediu a este ltimo que se dedicasse pregao aos Albigenses, um grupo hertico que defendia uma concepo dualista da realidade, ou seja, com dois princpios criadores igualmente poderosos, o Bem e o Mal. Por conseguinte, este grupo desprezava a matria como proveniente do princpio do mal, rejeitando at o matrimnio, chegando mesmo a negar a encarnao de Cristo, os sacramentos em que o Senhor nos toca atravs da matria, e a ressurreio dos corpos.Os Albigenses apreciavam a vida pobre e austera neste sentido, eram tambm exemplares e criticavam a riqueza do Clero daquela poca. Domingos aceitou com entusiasmo esta misso, que realizou precisamente com o exemplo da sua existncia pobre e austera, com a pregao do Evangelho e com debates pblicos.A esta misso de pregar a Boa Nova ele dedicou o resto da sua vida. Os seus filhos teriam realizado inclusive os outros sonhos de S. Domingos: a misso ad gentes, ou seja, queles que ainda no conheciam Jesus, e a misso queles que viviam nas cidades, sobretudo, nas cidades universitrias, onde as novas tendncias intelectuais eram um desafio para a f dos cultos.A S. Domingos uniu-se tantos outros irmos que, como pregadores da verdade de Deus, eram coerentes com a verdade anunciavam. A verdade estudada e compartilhada na caridade com os irmos constitui o fundamento mais profundo da alegria. O Beato Jordo da Saxnia diz de S. Domingos: Ele acolhia cada homem no grande seio da caridade e, dado que amava todos, todos o amavam. Fez para si uma lei pessoal de se alegrar com as pessoas felizes e de chorar com aqueles que choravam (Libellus de principiis Ordinis Praedicatorum autore Iordano de Saxonia, ed. H. C. Scheeben [Monumenta Historica Sancti Patris Nostri Dominici. Romae, 1935]).

Com um gesto intrpido, Domingos quis que os seus seguidores adquirissem uma formao teolgica slida e no hesitou em envi-los s Universidades de sua poca, embora no poucos eclesisticos vissem com desconfiana estas instituies culturais. As Constituies da Ordem dos Pregadores atribuem muita importncia ao estudo como preparao para o apostolado. Domingos queria que os seus Frades se dedicassem a isto sem poupar esforos, com diligncia e piedade; um estudo fundado na alma de todo o saber teolgico, ou seja, na Sagrada Escritura, e respeitador das interrogaes formuladas pela razo. O desenvolvimento da cultura impe queles que desempenham o ministrio da Palavra, a vrios nveis, que sejam bem preparados.Domingos, que quis fundar uma Ordem religiosa de pregadores-telogos, lembra-nos que a teologia tem uma dimenso espiritual e pastoral, que enriquece a alma e a vida. Os presbteros, os consagrados e tambm todos os fieis podem encontrar uma profunda alegria interior na contemplao da beleza da verdade que vem de Deus, verdade sempre atual e viva. O lema dos Padres Pregadores contemplata aliis tradere ajuda-nos a descobrir, alm disso, um anseio pastoral no estudo contemplativo de tal verdade, pela exigncia de comunicar aos outros o fruto da prpria contemplao.Estimados irmos e irms, no corao da fraternidade reunida pela e para a celebrao eucarstica, no s Cristo que vem, mas entra tambm o mundo. A celebrao , com efeito, o momento em que se cultiva na fraternidade o amor do mundo. De Domingos dizemos que ele falava de Deus ou a Deus, falando das pessoas a Deus e de Deus s pessoas. Diz-se dele que no cessava de interceder pelo mundo.

Nessa liturgia que tem como corao a Eucaristia, em que com os olhos da f, se contempla face a face o Senhor, que retorna Sio, porque sequer por um instante Ele abandona o ser humano. Ele nos plasmou sua imagem e semelhana e elevou-nos dignidade de filhos e amigos.

Que nessa festa de S. Domingos, sejamos agraciados pelo Senhor verdadeiro Prncipe da Paz, a iniciar com nimo o Ano da F, e guiados pelo Esprito, proclamarmos sem reservas: a f e paz, a ns concedidas por Cristo!S. Domingos, mensageiro de Deus, anunciador incansvel da paz, embaixador da boa nova: que as recebia do Senhor de mos abertas. Incentivava seus irmos: Ide pregar, sei muito bem o que trago. A graa da misso um tesouro para compartilhas e enriquec-lo sempre mais. A semente deve dispersar-se. O trigo no pode ocultar-se ao povo.

Os Dominicanos para Thomas Merton.

Dizem que no bonito falar de ns, que pode at ser pecado porque nos atrai ao orgulho. No sei se por essa razo, mas ns, os Dominicanos, no temos por hbito falar de ns, como se tivssemos um certo pudor em apresentar-nos, em dizer quem somos e o que fazemos. Podamos quase afirmar que somos pouco sociveis, que estamos distantes ou ausentes da galxia de comunicao em que hoje todos ns vivemos e onde comum e natural falar de si.

E depois, verdade seja dita, quando falamos de ns no sabemos muito bem o que dizer, raramente o fazemos bem, e algumas vezes no nos assenta nada bem o que dizemos. H como que qualquer coisa em ns de indizvel, de inclassificvel e certamente por isso se torna to difcil falar sobre ns.

Assim, quando encontramos algumas palavras que nos expressam ou apresentam no devemos desperdi-las, no as devemos deixar esquecidas na nossa memria pessoal ou nas notas das nossas leituras. As palavras que se seguem so de Thomas Merton, monge Trapista, e encontrei-as no seu livro O Sinal de Jonas, e transmitem alguma coisa do que somos.Penso no esprito de So Domingos. um esprito que tem pouco ou nada a ver com o nosso, mas importante e hoje significa muito mais para mim do que significava h quatro anos atrs. Queria ter iniciado os meus estudos de teologia mais imbudo do esprito de So Domingos. Precisamente o que mais me falta so as caractersticas dominicanas da conciso, definio e preciso em teologia.

Admito que a sua preciso s vezes o fruto de uma simplificao extremada, mas em qualquer caso resulta bem. O forte contraste das cores do hbito dominicano o branco e o negro constitui um bom smbolo da mentalidade dos dominicanos, aos quais agradam as divises e distines taxativas.

Admiro So Domingos, sobretudo pelo seu amor Escritura e pelo seu respeito pelo estudo da Escritura, de que fez o ncleo da sua contemplao e pregao. Eu meditei frequentemente com a Escritura, mas nunca a estudei a srio na minha vida, e esta uma falta que lamento. Agora que terminei as aulas de teologia e tenho quatro meses para me dedicar Escritura, para completar o tempo requerido pelo Direito Cannico, pedirei a So Domingos que me guie no estudo da Escritura durante estes meses e em toda a minha vida.

As primeiras comunidades de dominicanos procediam com brevidade e prontido recitao do Oficio, tudo o contrrio dos cistercienses do sculo XIII, para entregar-se aos livros; e aos frades exortava-se a que prolongassem as suas viglias no estudo. No que este constitusse precisamente a essncia da vocao dominicana, mas cada uma das suas casas estava dedicada ao estudo, o qual os conduzia contemplao, a qual por sua vez se desbordava na pregao.

Creio que o Papa Honrio III se refere de modo explcito vida dominicana considerando-a essencialmente contemplativa, mas sem que isso implique alguma contradio entre contemplao e atividade. Em qualquer caso o que estudavam era a Escritura, a Bblia era o seu livro de texto da teologia.

Desejaria que So Domingos me concedera finalmente uma compreenso deste problema da contemplao oposta ao, de tal modo que me resultasse to claro e definido como a silhueta das paisagens da Frana meridional.Thomas MERTON. El Signo de Jonas. Dirios (1946-1952). Bilbao: Descle de Brouwer, 2007, p. 243-244.S. Loureno, Dicono, Mrtir (+258).

Era dicono da Igreja Romana e morreu mrtir na perseguio de Valeriano, quatro dias depois do papa Sisto II e Seus companheiros, os quatro diconos romanos. O seu sepulcro encontra-se junto Via Tiburtina, no Campo Verano. Constantino Magno erigiu uma baslica naquele lugar. O seu culto j se tinha difundido na Igreja no sculo IV.

2Cor 9,6-10; Sl 111; Jo 12,24-26.

Dos Sermes de Santo Agostinho (Sermo 304,1-4: PL 38,1395-1397).Serviu o sagrado Sangue de Cristo.

A Igreja Romana apresenta-nos hoje o dia glorioso de So Loureno quando ele calcou o furor do mundo, desprezou sua seduo e num e noutro modo venceu o diabo perseguidor. Nesta mesma Igreja ouvistes muitas vezes Loureno exercia o ministrio de dicono. A servia o sagrado sangue de Cristo; a, pelo nome de Cristo, derramou seu sangue. O santo apstolo Joo exps claramente o mistrio da ceia ao dizer: Como Cristo entregou sua vida por ns, tambm ns devemos entregar as nossas pelos irmos (1Jo 3,16). So Loureno, irmos, entendeu isto; entendeu e fez; e da mesmssima forma como recebeu daquela mesa, assim a preparou. Amou a Cristo em sua vida, imitou-o em sua morte.

Tambm ns, irmos, se de verdade amamos, imitemos. No poderamos produzir melhor fruto de amor do que o exemplo da imitao; Cristo sofreu por ns, deixando-nos o exemplo para seguirmos suas pegadas (1Pd 2,21). Nesta frase, parece que o apstolo Pedro quer dizer que Cristo sofreu apenas por aqueles que seguem suas pegadas e que a morte de Cristo no aproveita seno queles que caminham em seu seguimento. Seguiram-no os santos mrtires at efuso do sangue, at semelhana da paixo; seguiram-no os mrtires, porm no s eles.

Depois que estes passaram, a ponte no foi cortada; ou depois que beberam, a fonte no secou.

Tem, irmos, tem o jardim do Senhor no apenas rosas dos mrtires; tem tambm lrios das virgens, heras dos casados, violetas das vivas. Absolutamente ningum, irmos, seja quem for, desespere de sua vocao; por todos morreu Cristo. Com toda a verdade, dele se escreveu: Que quer salvos todos os homens, e que cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4).

Compreendamos, portanto, como pode o cristo seguir Cristo alm do derramamento de sangue, alm do perigo de morte. O Apstolo diz, referindo-se ao Cristo Senhor: Tendo a condio divina, no julgou rapina ser igual a Deus. Que majestade! Mas aniquilou-se, tomando a condio de escravo, feito semelhante aos homens e reconhecido como homem (Fl 2,7-8). Que humildade!

Cristo humilhou-se: a tens, cristo, a que te apegar. Cristo se humilhou: por que te enches de orgulho? Em seguida, terminada a careira desta humilhao, lanada por terra a morte, Cristo subiu ao cu; sigamo-lo. Ouamos o Apstolo: Se ressuscitastes com Cristo, descobri o sabor das realidades do alto, onde Cristo est assentado destra de Deus (Cl 3,1).SO GREGRIO MAGNO, Papa e Doutor da Igreja (540?-604) (03.09.2012).

2Cor 4,1-2.5-7; Sl 95; Jo 10,11-16.

Hoje celebramos a figura de um dos maiores Padres da histria da Igreja, um dos quatro Doutores do Ocidente, o Papa S. Gregrio, que foi Bispo de Roma entre 590 e 604, e que mereceu da tradio o ttulo de Magnus/Grande. Nasceu em Roma, por volta de 540, de uma rica famlia patrcia da gens Anicia, que se distinguia no s pela nobreza de sangue, mas tambm pela dedicao f crist e pelos servios prestados S Apostlica.Ingressou cedo na carreira administrativa, seguindo seu pai, e em 572 alcanou o seu pice, tornando-se prefeito da cidade. Contudo, no muito tempo depois, deixou os cargos civis, para se retirar na sua casa e iniciar a vida de monge, transformando a casa de famlia no mosteiro de Santo Andr al Celio. Deste perodo de vida monstica, vida de dilogo permanente com o Senhor na escuta da sua palavra, permanecer-lhe- uma profunda saudade que se v sempre de novo e cada vez mais nas suas homilias: entre as obsesses das preocupaes pastorais, record-lo- vrias vezes nos escritos como um tempo feliz de recolhimento em Deus, de dedicao orao, de serena imerso no estudo. Assim pde adquirir aquele conhecimento profundo da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja do qual se serviu depois nas suas obras.Ao lado da ao espiritual e pastoral, o Papa Gregrio tornou-se protagonista ativo tambm de uma multiforme atividade social. Com os rendimentos do patrimnio que a S romana possua na Itlia, especialmente na Siclia, comprou e distribuiu trigo, socorreu quem estava em necessidade, ajudou sacerdotes, monges e monjas que viviam na indigncia, pagou resgates de cidados que caram prisioneiros dos Longobardos, comprou armistcios e trguas.Foi admirado como exemplo de sabedoria, justia, mansido, fora de iniciativa, tolerncia (A. von Harnack), e considerado o modelo perfeito de como se governa a Igreja (Bossuet).Escreveu Cartas, (chegaram a ns 848 cartas), Homilias, Comentrios da Sagrada Escritura, promoveu o canto gregoriano, o direito cannico, a vida asctica monacal, a pastoral e o apostolado leigo.Em seus escritos, nunca se mostra preocupado em delinear uma sua doutrina, uma sua originalidade. Pelo contrrio, ele tenciona fazer-se eco do ensinamento tradicional da Igreja, quer ser simplesmente a boca de Cristo e da sua Igreja ao longo do caminho que se deve percorrer para chegar a Deus. A este propsito, os seus comentrios exegticos so exemplares. Ele foi um leitor apaixonado da Bblia, da qual se aproximou com compreenses no simplesmente especulativas: na sua opinio, da Sagrada Escritura o cristo deve tirar no tanto conhecimentos tericos, como sobretudo o alimento quotidiano para a sua alma, para a sua vida de homem neste mundo. Por exemplo, nas Homilias sobre Ezequiel ele insiste fortemente que leiamos o texto sagrado, pois, A Escritura cresce com os que a leem (Scriptura cum legentibus crescit, Hom. sur zchiel, I, VIII,8).

Gregrio era um homem imerso em Deus: o desejo de Deus estava sempre vivo no fundo da sua alma e, por isso ele vivia sempre muito prximo das pessoas, das necessidades do povo do seu tempo. Numa poca desastrosa e desesperada, soube criar paz e dar esperana. Este homem de Deus mostra-nos onde esto as verdadeiras nascentes da paz, de onde vem a verdadeira esperana e torna-se assim um guia tambm para ns hoje.Estimados, assaz favorveis para nossa meditao hoje foram as leituras que a liturgia escolheu. Da pgina evanglica, haurimos que Jesus o verdadeiro Pastor, o pastor por excelncia, exemplar, nobre etc. Quanto a ser pastor Ele o comunicou a outros; Pedro pastor, os outros apstolos foram pastores e todos os bons bispos tambm. Dar-vos-ei, diz a Escritura, pastores segundo meu corao (Jr 3,15). Os prelados da Igreja, que so filhos, so todos pastores; no entanto diz no singular: eu sou o bom Pastor, para seguir a virtude da caridade. O mnus do bom pastor a caridade, por isso diz: O bom pastor d a vida por suas ovelhas (Jo 10,11). Ningum bom pastor, se no se tornar pela caridade um s com Cristo e membro do verdadeiro pastor. Pois entre Jesus e seus pastores existe uma comunho (de vida) que deita suas razes na comunho de Jesus com seu Pai. Por causa dessa comunho ele pe sua vida em jogo por suas ovelhas (10,17-18).

Carssimos, rezemos por nossos pastores, para que revestidos da Graa de Cristo e revigorados da alegria e do seu amor possam se ocupar constantemente da glria de Deus em Cristo e colaborarem com afeto e predileo com o rebanho de seu Senhor que lhes foi confiado.

(2Cor 4,1-7).

Como o apstolo, o santo bispo tem conscincia firme que o servio do anncio evanglico, que Deus lhe confiou, com um gesto de condescendente misericrdia, lhe infunde coragem. Ele um servidor da comunidade, da qual o nico Senhor Cristo. Por amor a Ele se faz pastor. A misso apostlica esplndida e mui importante, mas o apstolo, no. Permanece ligado sua humanidade frgil e impotente. Nele coexistem antinomicamente a fora e a glria divinas, prprias do anncio evanglico, e a fraqueza e a impotncia pessoais do anunciador (cf. 4,7).

A humildade intelectual a regra primria para quem procura penetrar as realidades sobrenaturais, comeando pelo do Livro sagrado. Obviamente, a humildade no exclui o estudo srio; mas para fazer com que ele seja espiritualmente profcuo, permitindo entrar de modo real na profundidade do texto, a humildade permanece indispensvel. Somente com esta atitude interior possvel ouvir real e finalmente a voz de Deus. Por outro lado, quando se trata da Palavra de Deus, compreender nada significa, se a compreenso no levar ao. Nestas Homilias sobre Ezequiel encontra-se tambm a bonita expresso segundo a qual o pregador deve banhar a sua pena no sangue do seu corao; assim, poder chegar tambm ao ouvido do prximo. Lendo estas homilias, v-se que Gregrio realmente escreveu com o sangue do seu corao e, por isso, ainda hoje nos fala.

Gregrio desenvolve este discurso inclusive no Comentrio moral de Job. Seguindo a tradio patrstica, ele examina o texto sagrado nas trs dimenses do seu sentido: literal, alegrica e moral, que so dimenses do nico sentido da Sagrada Escritura. Todavia, Gregrio atribui uma clara prioridade ao sentido moral. Nesta perspectiva, ele prope o seu pensamento atravs de alguns binmios significativos saber-fazer, falar-viver, conhecer-agir em que evoca os dois aspectos da vida humana, que deveriam ser complementares, mas que muitas vezes terminam por ser antitticos. Ele comenta que o ideal moral consiste sempre em realizar uma harmoniosa integrao entre palavra e ao, pensamento e compromisso, orao e dedicao aos deveres do prprio estado: este o caminho para realizar aquela sntese, graas qual o divino desce ao homem e o homem se eleva at identificao com Deus. O grande Papa traa assim, para o verdadeiro fiel, um projeto de vida completo; por isso, este Comentrio moral de Job constituir, durante a idade mdia, uma espcie de Suma da moral crist.Todavia, o grande Pontfice insiste sobre o dever que o Pastor tem de reconhecer todos os dias a sua prpria misria de maneira que o orgulho no torne vo, diante dos olhos do Juiz supremo, o bem levado a cabo. Por isso, o captulo final da Regra dedicado humildade: Quando nos regozijamos por termos alcanado muitas virtudes, bom refletirmos sobre as nossas insuficincias e humilhar-nos: em vez de considerarmos o bem realizado, temos que pensar naquilo que deixamos de fazer. Todas estas preciosas indicaes demonstram o altssimo conceito que So Gregrio tem acerca do cuidado das almas, por ele definido como ars artium, a arte das artes. A Regra teve tanto xito que, algo bastante raro, foi depressa traduzida em grego e anglo-saxo.No seu corao Gregrio permaneceu um simples monge e por isso era decididamente contrrio aos grandes ttulos. Ele queria ser esta a sua expresso servus servorum Dei. Esta palavra por ele cunhada no era uma frmula piedosa, mas a verdadeira manifestao do seu modo de viver e de agir. Sensibilizava-o intimamente a humildade de Deus, que em Cristo se fez nosso servo, nos lavou e lava os ps sujos. Portanto, ele estava persuadido de que, sobretudo um Bispo, deveria imitar esta humildade de Deus e assim seguir Cristo. Verdadeiramente, o seu desejo era de viver como monge, em dilogo permanente com a Palavra de Deus, mas por amor de Deus soube fazer-se servo de todos numa poca repleta de tribulaes e de sofrimentos, soube fazer-se servo dos servos. Precisamente porque foi assim, ele grande e mostra-nos tambm a ns a medida da verdadeira grandeza.

Era um homem imerso em Deus: o desejo de Deus estava sempre vivo no fundo da sua alma e precisamente por isso ele vivia sempre muito prximo das pessoas, das necessidades do povo do seu tempo. Numa poca desastrosa, alis desesperada, soube criar paz e dar esperana. Este homem de Deus mostra-nos onde esto as verdadeiras nascentes da paz, de onde vem a verdadeira esperana e torna-se assim um guia tambm para ns hoje.Santo Toms de Aquino. Comentrio sobre o Evangelho de Joo, cap. 10, lect. 3.O resto de Israel encontrar pastagens e repouso.

Eu sou o bom Pastor (Jo 10,11). Que Cristo seja pastor, isto claramente lhe compete. Pois pelo pastor conduzido e alimentado o rebanho, e os fieis, por Cristo, so refeitos pelo alimento espiritual e ainda por seu corpo e sangue. reis outrora, diz o Apstolo, como ovelhas sem pastor; mas agora vos voltastes para o pastor e guarda de vossas vidas (1Pd 2,25). E o Profeta: Como pastor apascentar o seu rebanho (Is 40,11).

Cristo disse que o pastor entra pela porta e que ele a porta. Aqui diz ser ele o pastor; preciso ento que ele entre por si mesmo. Entra, na verdade, por si mesmo porque se manifesta a si e por si mesmo conhece o Pai. Ns, porm, entramos por ele, porque por ele somos cumulados de beatitude.Contudo, atenta em que nenhum outro, exceto ele, porta, porque nenhum outro luz verdadeira, mas apenas por participao: No era a luz, isto , Joo Batista, mas veio para dar testemunho da luz (Jo 1,8). De Cristo, porm, diz: Era a luz verdadeira que ilumina a todo homem (Jo 1,9). Por este motivo ningum diz ser porta; propriedade exclusiva de Cristo. Quanto a ser pastor, comunicou-o a outros e deu a seus membros; Pedro pastor, os outros apstolos foram pastores e todos os bons bispos tambm. Dar-vos-ei, diz a Escritura, pastores segundo meu corao (Jr 3,15). Os prelados da Igreja, que so filhos, so todos pastores; no entanto diz no singular: eu sou o bom Pastor, para seguir a virtude da caridade. Ningum bom pastor, se no se tornar pela caridade um s com Cristo e membro do verdadeiro pastor.

O mnus do bom pastor a caridade, por isso diz: O bom pastor d a vida por suas ovelhas (Jo 10,11). de notar-se a diferena entre o bom pastor e o mau; o bom pastor preocupa-se com o bem do rebanho; o mau com o prprio.

Em relao aos pastores terrenos, no se exige do bom pastor que se exponha morte para defender o rebanho. Mas j que a salvao espiritual da grei tem mais importncia que a vida corporal do pastor, cada pastor espiritual deve aceitar a perda de sua vida pela salvao do rebanho. isto que o Senhor diz: O bom pastor d a vida, a vida corporal, por suas ovelhas, pela autoridade e pela caridade. Ambas so exigidas: que lhe pertenam e que as ame; porque a primeira sem a segunda no basta. Desta doutrina, Cristo nos deu o exemplo: Se Cristo entregou a vida por ns, tambm ns temos de entregar a vida pelos irmos (1Jo 3,16).So Gregrio Magno. Homilias sobre Ezequiel, Lib. 1,11,4-6: CCL142,170-172.Por amor de Cristo, me consagro totalmente sua palavra.

Filho do homem, eu te coloquei como sentinela da casa de Israel (Ez 3,16). de se notar que o Senhor chama de sentinela aquele a quem envia a pregar. A sentinela, de fato, est sempre no alto para enxergar de longe quem vem. E quem quer que seja sentinela do povo deve manter-se no alto por sua vida, para ser til por sua providncia.

Como duro para mim isto que digo! Ao falar, firo-me a mim mesmo, pois minha lngua no mantm, como seria justo, a pregao e, mesmo que consiga mant-la, a vida no concorda com a lngua.

Eu no nego ser culpado, conheo minha inrcia e negligncia. Talvez haja diante do juiz bondoso um pedido de perdo no reconhecimento da culpa. Na verdade, quando no mosteiro podia no s reter a lngua de palavras ociosas, mas quase continuamente manter o esprito atento orao. Mas depois que pus aos ombros do corao o cargo pastoral, meu esprito no consegue recolher-se sempre, porque est dividido entre muitas coisas.

Sou obrigado a decidir ora questes das Igrejas, ora dos mosteiros; com freqncia ponderar a vida e as aes de outrem; ora auxiliar em certos negcios dos cidados, ora gemer sob as espadas dos brbaros invasores e temer os lobos que rondam o rebanho sob minha guarda. Por vezes, devo encarregar-me da administrao, para que no venha a faltar o necessrio aos submetidos disciplina da regra. s vezes devo tolerar com igualdade de nimo certos ladres, ora opor-me a eles pelo desejo de conservar a caridade.

Estando assim dispersa e dilacerada a mente, quando voltar a recolher-se toda na pregao, e no se afastar do ministrio da proclamao da Palavra? Por obrigao do cargo, muitas vezes tenho de encontrar-me com seculares; por isso sempre relaxo a guarda da lngua. Pois se constantemente me mantenho sob o rigor de minha censura, sei que sou evitado pelos mais fracos e nunca os atraio para onde desejo. Por esta razo, muitas vezes tenho de ouvi-los pacientemente em questes ociosas. Mas, sendo eu mesmo fraco, arrastado aos poucos pelas palavras vs, comeo a dizer sem dificuldade aquilo que a princpio tinha ouvido com m vontade; e ali onde me aborrecia cair, agrada-me permanecer.

Que, pois, ou que espcie de sentinela sou eu, que no estou de p no monte da ao, mas ainda deitado no vale da fraqueza? Poderoso , porm, o criador e redentor do gnero humano para conceder-me, a mim, indigno, a elevao da vida e a eficcia da palavra. Por seu amor, me consagro totalmente sua palavra.S. JOO CRISSTOMO Bispo e Doutor da Igreja (350?-407).

1Cor 8,1b-7.11-13; Sl 138; Lc 6,27-38.

Farei surgir um sacerdote fiel, que agir segundo o meu corao e a minha vontade, diz o Senhor (1Sm 2,35).

Celebra-se hoje a Memria de Joo de Antioquia, chamado Crisstomo, isto Boca de ouro, que ainda hoje est vivo devido sua eloquncia e tambm s suas obras. Um copista annimo deixou escrito que elas atravessam toda a terra como relmpagos buliosos. Os seus escritos permitem tambm a ns, como aos fieis do seu tempo, que foram repetidamente privados dele por causa dos seus exlios, de viver com os seus livros, apesar da sua ausncia. Foi quanto ele prprio sugeriu do exlio numa sua carta (cf. A Olimpiade, Carta 8, 45).

Nascido por volta de 349 em Antioquia da Sria (hoje Antakaya, no sul da Turquia), ali desempenhou o ministrio presbiteral durante onze anos, at 397, quando, nomeado Bispo de Constantinopla, exerceu na capital do Imprio o ministrio episcopal antes dos dois exlios, que foram um a pouco tempo do outro, entre 403 e 407.Tendo ficado rfo de pai em tenra idade, viveu com a me, Antusa, que lhe transmitiu uma requintada sensibilidade humana e uma profunda f crist. Tendo frequentado os estudos primrios e superiores, coroados pelos cursos de filosofia e retrica, teve como mestre Libnio, pago, o mais clebre mestre de retrica da poca. Na sua escola, Joo tornou-se o maior orador da antiguidade grega tardia. Batizado em 368 e formado na vida eclesistica pelo Bispo Melzio, foi por ele institudo leitor em 371. Este acontecimento marcou a entrada oficial de Crisstomo no cursus eclesistico. Frequentou, de 367 a 372, o asceterio, uma espcie de seminrio de Antioquia, juntamente com um grupo de jovens, alguns dos quais se tornaram depois Bispos, sob a guia do famoso exegeta Diodoro de Tarso, que iniciou Joo na exegese histrico-literria, caracterstica da tradio antioquena.O cristo um ser que pensa radicalmente nos irmos. Isto porque o irmo, por quem Cristo morreu, em sua dignidade vale mais do que a absolutizao de minha prpria liberdade. Por amor a Cristo e ao outro (amor fraterno) o cristo renuncia a si prprio para no ferir a conscincia frgil dos irmos, no escandaliz-los. A razo pela qual ele age assim ele age segundo a sabedoria de Deus, sabedoria que cria harmonia e fraternidade entre todos. Outro motivo diz respeito sua f vivncia de amor que no apenas um relacionamento pessoal com Jesus, mas um relacionamento comunitrio, eclesial, pois se escandalizo o irmo, ofendo a Cristo.

De fato, o cristo , amide, convidado a imitar a Deus em sua bondade e atitude. O evangelho lembra-nos, isso, quando fala do perdo (amor pelos inimigos: 6,27-31). Um amor desinteressado e gratuito (6,32-35), que supera o crculo da solidariedade interesseira, pois o amor do discpulo manifesta a gratuidade a que tem sua fonte no amor fiel e criador de Deus. Isto porque, adverte o evangelista: vocs so filhos do Altssimo (6,35c).

O amor humano tem sua fonte e modelo no amor de Deus. Amor misericordioso, que acolhe e confia; um amor que recomea sempre de novo, que prope novamente a sua fidelidade tenaz, que acolhe e protege os fracos (Ez 33,19; 34,6).

Assim nos situamos bem no centro da memria que hoje celebramos. So Joo Crisstomo tinha uma preocupao da coerncia entre o pensamento expresso pela palavra lida, estudada, meditada e a vivncia existencial. Que sentido dou para a Palavra celebrada? Grande pregador como ele foi, ensina-nos que Deus entra na nossa existncia atravs do Esprito Santo e transforma o interior do nosso corao. Isso tem consequncias prticas na vida humana.

Ele defendia com Paulo (1Cor 8,11) a primazia de cada cristo, da pessoa como tal, qualquer que fosse sua condio, pressupondo assim, a viso de uma sociedade construda pela concincia crist com um rosto humano pois, nessa oikos, cidade, ptria, seramos iguais, irmos e irms e, isto, nos obriga solidariedade.

Prximo da morte escreveu que o valor do homem consiste no conhecimento exato da verdadeira doutrina e na retido da vida (Carta do exlio). As duas coisas, conhecimento da verdade e retido na vida, caminham juntas: o conhecimento deve traduzir-se em vida.

No final da sua vida, do exlio nos confins da Armnia, o lugar mais remoto do mundo, Joo, voltando sua primeira pregao de 386, retomou o tema que lhe era to querido do plano que Deus prossegue em relao humanidade: um plano indizvel e incompreensvel, mas certamente guiado por Ele com amor (Sobre a providncia 2,6). esta a nossa certeza.Exaltao da Santa Cruz (14.09.2012).

Nm 21,4-9; Sl 77; Fl 2,6-11; Jo 3,13-17.

A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glria: nele est nossa vida e ressurreio; foi ele que nos salvou e libertou.

Como admirvel possuir a Cruz! Quem a possui, possui um tesouro! (S. Andr de Creta, Homilia X na Exaltao da Cruz: PG 97, 1020). Neste dia em que a liturgia da Igreja celebra a festa da Exaltao da Santa Cruz, o Evangelho que acabamos de ouvir lembra-nos o significado deste grande mistrio: Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho nico, para que todo aquele que nele cr no perea, mas tenha a vida eterna (Jo 3,16). O Filho de Deus tornou-se vulnervel, ao assumir a condio de servo, obedecendo at morte e morte de cruz (Fl 2,8). pela sua Cruz que estamos salvos. O instrumento de suplcio que, na Sexta-Feira Santa, tinha manifestado o juzo de Deus sobre o mundo, tornou-se fonte de vida, de perdo, de misericrdia, sinal de reconciliao e de paz. Para ser curados do pecado, olhamos para Cristo crucificado! dizia S. Agostinho (Tract. in Johan., XII, 11). Levantando os olhos para o Crucificado, adoramos Aquele que veio para assumir sobre si o pecado do mundo e dar-nos a vida eterna. E a Igreja convida-nos a erguer com ousadia esta Cruz gloriosa, a fim de que o mundo possa ver at onde chegou o amor do Crucificado por todos os seres humanos. A mesma convida-nos a dar graas a Deus, porque de uma rvore que trouxera a morte surgiu novamente a vida. sobre este madeiro que Jesus nos revela a sua soberana majestade, nos revela que Ele exaltado na glria. Sim, Vinde, adoremo-Lo!. No meio de ns, encontra-se Aquele que nos amou at ao ponto de entregar a sua vida por ns, Aquele que convida todo o ser humano a aproximar-se dEle com confiana.O sinal da Cruz de alguma forma a sntese da nossa f, porque nos diz quanto Deus nos amou; diz-nos que, no mundo, h um amor mais forte do que a morte, mais forte do que as nossas fraquezas e os nossos pecados. A fora do amor maior do que o mal que nos ameaa. este mistrio da universalidade do amor de Deus pelos humanos que a Igreja nos recorda. Todos os homens de boa vontade, todos aqueles que sofrem no corao ou no corpo, so convidados a levantar os olhos para a Cruz de Jesus a fim de encontrar nela a fonte da vida, a fonte