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  • 7/29/2019 Melman - Matriarcado

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    O ressurgimento do matriarcado.1

    Autor: Charles Melman2

    Traduo: Telma Queirz3

    Transcrio: Edigleisson Alcntara4

    Parte I

    Luza Bradley Arajo5 Boa noite. Bom, queremos agradecer a presena de todos.

    Estamos aqui com Charles Melman: psicanalista francs, fundador da Associao Lacaniana

    Internacional, que dispensa apresentaes porque tem vrios livros escritos, que a maioria de

    vocs j conhece. Quem vai fazer a traduo Telma Queirz, que psicanalista tambm e

    agora est fazendo Ps-doutorado na Frana. Obrigada e boa noite.

    Charles Melman Boa noite. Eu estava tranqilamente de frias, em Tamandar, e a

    professora Luza Bradley me pediu para vir falar a vocs sobre um tema muito difcil e do

    qual se fala raramente, que o matriarcado. E como eu nunca, jamais, recuso algum pedido da

    professora Luza Bradley, interrompi minhas frias e estou com vocs aqui, hoje noite.O matriarcado um problema que todos vocs sabem e, no entanto, no conhecemos nada

    dele. E vocs vo ver que tudo que eu direi para vocs sobre o matriarcado vocs j sabem, e,

    no entanto, no conhecem nada sobre isso. preciso distinguir entre o que saber do

    inconsciente e o que podemos conhecer dele. E eu acho que hoje noite vocs vero a

    diferena entresabere conhecimento.

    Nossa religio e cultura esto inteiramente fundamentadas no amor aoPai. Acontece, no

    entanto, que h algumas dcadas, mais ou menos, nos pases ocidentais, no se ama mais oPai, no se respeita mais o Pai; o que, forosamente, introduz uma mudana importante em

    nossa cultura e, j que vocs esto estudando Psicologia, e que muitos de vocs cuidaro de

    pacientes doentes, preciso saber que, com essa mudana de cultura, surgiram sintomas

    1Conferncia proferida na noite do dia 14 08 2008 (quinta-feira), no auditrio Irm Maria Jos Torres, daFaculdade Frassinetti do Recife.2Psicanalista, psiquiatra, ex-aluno de Lacan e um dos principais dirigentes da cole freudienne de Pais, fundador

    da Association lacanienne internationale.3Psicanalista4Estudante no 6 perodo do curso de Psicologia da Faculdade Frassinetti do Recife.5Psicanalista, psicloga, professora da Faculdade Frassinetti do Recife, coordenadora do evento.

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    novos. E uma das questes das quais devemos tratar hoje noite como abordar corretamente

    esses sintomas novos.

    Por que razo ns assistimos a esse desinvestimento do Pai? Essas razes

    obrigatoriamente so numerosas: nossa religio diz que o nosso Pai eterno, mas sabemos

    que na cultura grega o Pai no ocupava, de jeito nenhum, a posio que lhe damos a partir de

    nossa religio.

    Se alguns de vocs certamente j se interessaram por Plato e eu o recomendo , sabem

    que seu ideal era destruir a famlia, a qual ele considerava uma instituio nociva para a

    formao correta das crianas. A particularidade, tambm, de nosso amor pelo Pai que esse

    amor comporta, para cada um de ns, a necessidade de um sacrifcio. Vocs sabem que Freud

    insistiu no fato de que, para cada criana, o corpo de seu sacrifcio seria desistir da me. Poramor ao Pai toda criana deveria renunciar a sua me. E isso, como vocs j sabem, que

    Freud chamou Complexo de dipo. O fato que, ao mesmo tempo, o amor pelo Pai poderia

    se desdobrar em dio contra ele por causa desse sacrifcio essencial, pois quando o menino se

    tornar adulto a mulher que ela poder amar ser apenas uma substituta daquela que perdeu, e

    ele mesmo se tornar um substituto por toda sua vida. Mesmo que ele tenha acesso a

    paternidade, continuar filho, quer dizer, submetido a vontade de um Pai. E se a mulher que

    ele desposar for um substituto, ela igualmente poder se queixar do fato de seu maridocontinuar sendo um filho, uma criana, em relao ao seu pai.

    Portanto, vocs vem, a partir dessa situao elementar, como se introduz uma

    insatisfao constitutiva na vida dos casais, j que a mulher apenas uma substituta da que foi

    amada, ou seja, a Me. E que, aos olhos da mulher, seu marido continua sendo um menino,

    quando, na verdade, o que ela queria era algum como o Pai.

    Outro motivo para alimentar esse dio contra o Pai que os membros do casal devem

    renunciar, cada um, ao seu desejo singular, para pr esse desejo, que sexual, a servio daprocriao. Nosso culto ao Pai significa que ns subordinamos nosso desejo sexual a

    realizao da vontade, do desejo, dele e o desejo de cada um no poderia mais, desde ento,

    ser outra coisa seno recalcado. O sujeito no se sente autorizado a viver seu desejo singular

    se no se sente autorizado pelo Pai.

    E no haveria outro meio de tratar o seu desejo sexual, singular, seno por esse grande

    mecanismo que Freud descobriu, que o recalque. O recalque que est na origem das

    neuroses. E o que que vocs vem na origem de todas as neuroses? um dio pelo Pai e

    tambm pela sexualidade, pois seria da vontade desse Pai, que ns amamos, que

    participssemos da sexualidade para validar a sua linhagem. Mas h ainda um outro

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    argumento: que esse Pai que ns amamos, e odiamos da mesma maneira, serve,

    obrigatoriamente, de referncia para todos os poderes polticos. sempre se apoiando num

    Nome-do-Pai, quer seja o Pai da Religio, ou da Nao, que os poderes polticos se apiam e

    se fundam.

    Vocs sabem que na Histria houve conflitos importantes entre o poder temporal e o

    poder espiritual, pois o poder espiritual se prevalece diretamente da referncia ao Pai, o Pai da

    Religio. Afirmando sua prevalncia no poder poltico de tal maneira que todas as

    manifestaes de injustia social so facilmente remetidas ao Pai, seja censurando-o por no

    fazer nada para resolver a tal injustia ou por ser a causa dessa injustia. Por exemplo, a

    injustia que representa a diferena dos sexos. E vocs sabem como atualmente isso um

    argumento importante na vida social, essa desigualdade dos sexos, mesmo funcionando aservio da sexualidade.

    Mas todas as crianas, a partir do momento que so educadas por uma Me, sabem que

    em casa h um outro poder que no o do Pai, um poder cujas regras e leis so totalmente

    diferentes. E todas as crianas so sensveis diferena no exerccio do poder: segundo venha

    da Me ou segundo venha do Pai. E, como vocs sabem, muito freqente na educao das

    crianas que esses dois poderes se oponham, que eles no estejam de acordo sobre a maneira

    de agir. E a criana pode ser levada a escolher espontaneamente uma forma de poder queprivilegiar. Ou seja, de que lado, ser do lado do Pai ou da Me que esperar que lhe venham

    as insgnias que faro dela um homem ou uma mulher? De qual lado, de qual poder, ela

    receber essas insgnias, que so essenciais para toda criana, ou seja, essas que lhe

    constituiro como um homem ou como uma mulher? De que lado isso se transmite?

    O que notava que a autoridade da Me no faz mais apelo a noo de dever, o apelo que

    ela faz a uma dimenso essencial para o exerccio de poder, que o amor. O amor, como

    vocs sabem, uma dimenso importante e conflituosa em nossas vidas. Vocs podem sequestionar: o que em mim provocaria o amor pelo outro? Seria a fora dele? No. A fora s

    pode me provocar temor ou cimes, como o Pai pode provoc-los. O que provoca,

    inevitavelmente, o amor a fraqueza de outrem, porque algum fraco que eu o amo. A

    criana percebe perfeitamente que se amada por sua fraqueza. De tal maneira que, se ama

    sua me em retorno, tambm pela fraqueza dela, sua fraqueza em relao ao Pai. Desde

    ento a criana e a me se encontraro numa relao enodada, o que far com que a criana,

    tornando-se adulta, venha a se queixar por sua Me olh-la ainda como se fosse uma criatura

    frgil, como se esta dificilmente pudesse aceitar que sua criana tivesse se tornado uma adulta

    e que no precisasse mais do seu amor.

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    Ser que podemos no respeitar a autoridade, a autoridade de algum que age em relao

    a voc por amor, quer dizer, em nome de sua fraqueza? Porque se voc no responder

    favoravelmente ao que pedido, em nome desse amor, ir bruscamente desnudar essa

    fraqueza. E evidente que o que o pudor quer que evitemos esse tipo de desvio. O que que

    uma Me, atravs dessa autoridade, que se exerce a partir dessa fraqueza, que a sua, e,

    portanto, desse amor recproco que ela inspira, o que que ela demanda ao seu filho?

    Contrariamente ao que acontece com o Pai, ela no lhe pede um sacrifcio. Ela no lhe pede

    que renuncie a sua me, ela pede somente, quando se trata de um menino, que ele mostre que

    o verdadeiro homem, a quem ela ps no mundo, ou seja, de que maneira ela pode lhe

    transmitir essas insgnias da virilidade, embora ela mesma no as tenha. Mas se ela no lhe

    pede o mesmo sacrifcio pedido pelo Pai, ela pedir outros sacrifcios, e assim que, para queseu filho mostre que se tornou um homem graas a ela, ela pode esperar que ora ele se torne

    um Don Juan, ora e isso um paradoxo , que ele renuncie inteiramente a sua sexualidade e

    que ele se ponha a servio de um culto materno.

    Vocs observam que nesse quadro eu falei do menino e do privilgio que ele sempre ter

    aos olhos da Me, posto, como ns todos sabemos, que para uma menina muito mais

    complicado, primeiramente porque a menina no sabe o que a me espera dela, mas h,

    sobretudo, algo muito mais desagradvel: que se existem insgnias da virilidade, insgniasanatmicas, no h insgnias da feminilidade. E, como ns sabemos, para as meninas esse

    todo o problema porque de quem ela pode esperar essas insgnias da feminilidade? O Pai no

    pode lhe dar e quando isso acontece so nos complexos casos de incesto e a Me tambm

    no pode lhe transmitir, pois no h insgnias da feminilidade; o que faz que, no caso do

    matriarcado, a menina assuma, diante da me, uma posio de espelho, onde a me se tornaria

    um ideal para sempre inacessvel. Quer dizer, como se ela ficasse com um sentimento de

    inferioridade permanente em relao a sua me, como se ela mesma estivesse condenada aviver essa incerta de sua feminilidade, a no ser resolvendo-a, como ns sabemos, atravs da

    maternidade, mas isso no proceder obrigatoriamente na mesma ordem da feminilidade, uma

    vez que a maternidade tem outras exigncias e outros deveres.

    Eu abordo para vocs essa questo sob seus aspectos mais evidentes e mais vitais, mas

    que independente, tanto do Pai quanto da Me, por depender de uma questo de estrutura e,

    por exemplo, de uma questo de lgica, pois, como ns sabemos, a criana com as

    experincias tidas em relao a sua me, lgica de uma me, completamente diferente da

    do Pai. Por exemplo, na lgica materna no h referncia a nenhuma outra autoridade a no

    ser ela mesma; um Pai tem o hbito de se referir a autoridade dos ancestrais. A me no. Ela

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    no pode se referir seno a sua prpria autoridade. E, desde a, a criana perceber muito bem

    que, se essa autoridade no tem referentes, uma autoridade sem limites.

    Se for verdade que uma autoridade sem limites, torna-se tambm uma autoridade

    arbitrria, pois assim a me pode tomar decises em funo de seus caprichos e a criana

    pode, portanto, conservar o sentimento de que estar exposta a uma ordem tanto mais

    arbitrria quanto mais nessa lgica no houver um nome que seja estvel, fixo. Vocs sabem

    que todo sistema lgico construdo sobre o que ele exclui, sobre o que ele rejeita, sobre o

    que ele recusa, sobre o que ele considera impossvel. Mas na lgica materna no h nada que

    seja impossvel. Desde ento a criana pode guardar o sentimento que, a ela mesma, lhe

    pediro o impossvel. Vocs tambm observaro que se uma me no se apia num referente,

    ela tambm no se apoiar num texto. como se ela criasse incessantemente um texto que acriana deveria decifrar.

    H um ponto que eu acho interessante, que a distino feita pelos telogos entre duas

    formas de amor: de um lado, Eros e, do outro lado, o que eles chamaram gape. Qual seria a

    diferena, para eles, entre Eros e gape? Acontece que, como eu estava de frias, tive a

    possibilidade de ler livros que o emprego do meu tempo normalmente me impede. E eu tinha

    l, em Tamandar, em minhas mos, a obra de algum que se chama o Pseudo-Dionsio, o

    Areopagita. graas s frias que ns podemos ler coisas pelas quais podemos nos apaixonar.E Pesudo-Dionsio diz a algo de muito interessante: ele diz quiseram, na Igreja, abolir a

    noo do Eros porque isso podia ser obsceno. Mas, no, diz ele, preciso distinguir

    somente entre duas formas de amor: uma que se chama Eros, e que permite a reunio de

    indivduos to diversos, e h esse outro amor que se chama gape e que ele chamou de o

    amor caritativo. O amor que se deve ao outro, no porque ele desejvel, mas por causa da

    sua fraqueza. E vocs vem que, no sculo III depois de Cristo, os doutores da Igreja sabiam

    distinguir muito bem entre essas duas formas de amor: entre Eros, o desejo, e gape, esseamor que eu tenho pela fraqueza do outro. Isso, portanto, para mostrar a vocs que esse

    problema que eu evoco hoje, com vocs, um problema tradicional na histria do

    pensamento, inclusive, claro, no pensamento dos telogos.

    Ento, por que h, em nossa cultura, essa colocao em evidncia do que se deve

    legitimamente chamar como matriarcado, ou seja, o poder exercido pela Me no seio da

    famlia? E como as crianas podem esperar que as insgnias das suas vidas de adulto sejam

    transmitidas pelo amor de uma Me e no por esse tipo de sacrifcio gerado pela autoridade

    do Pai? Por que, em nossa cultura, uma tal censura foi colocada nisso que, no entanto, uma

    evidncia para todos ns?

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    por isso que eu disse a vocs, a pouco, que iria falar de uma coisa que todos ns

    sabemos em nosso inconsciente, mas, no entanto, no conhecemos, quer dizer, no fazemos

    nela uma anlise dialtica e lgica. formidvel: por que mesmo Freud evitara esse tipo de

    problema? E por que preciso evit-lo? A resposta que eu vou propor a vocs para explicar as

    razes da nossa censura poder lhes parecer bizarra, ela diz respeito ao seguinte ponto: se a

    criana espera da me a transmisso das insgnias, sobre as quais eu falava a pouco, e se essas

    insgnias puderem ter importncia aos olhos da me, ou seja, se elas puderem fazer a criana

    se tornar adulta.

    Sabemos que tambm existem muitas mes que querem que seus filhos permaneam

    crianas, considerando uma injustia ou privao o crescimento da criana, que correria o

    risco de escapar ao seu poder. Ento, quando uma Me quer que o seu filho permanea parasempre, para ela e para os outros, uma criana, se desinteressando dessas questes de

    insgnias, o que que ela quer transmitir nesse caso? Ela quer transmitir uma instncia que

    no negligencivel, que se chama a vida. Ela quer transmitir a vida. como se essa

    transmisso da vida estivesse desvinculada de qualquer relao com o sexo.

    H pouco eu lhes falava sobre os gregos. O deus dos gregos era, como vocs sabem, Zeus

    que jamais podemos confundir com um Pai , que tinha um nome que diz muito bem o que

    ele transmitia, porque esse nome quer dizer a vida, o Deus dos gregos, era um nome quetransmitia a vida. Pois bem, a hiptese que me permitirei fazer diante de vocs que, em

    nossa prpria censura sobre a questo, por que queremos deixar todos esses problemas no

    inconsciente e por que, at aqui, a anlise do matriarcado no freqente?

    Pois bem, porque ns tambm gostaramos que a vida pudesse ser transmitida

    independentemente do sexo. E eu acredito que esse ponto a que desejamos manter na

    obscuridade, a no ser celebrando, em nossos cultos religiosos, claro, e tambm no culto

    Maria. Eu acho que se h um motivo para dar conta da nossa recusa em analisar o problemado matriarcado porque guardamos a esperana de uma transmisso de vida que poderia

    acontecer fora do sexo e, como vocs sabem, um ponto que ns, hoje, verificamos ser

    capazes de tratar. Ns vamos conseguir provocar fecundaes e reprodues que estaro

    desligadas da sexualidade. Ento, por que hoje ns pudemos comear a refletir sobre esses

    problemas? Porque, como eu lhes dizia a pouco, pelo fato do declnio do patriarcado e pelo

    fato de que o Pai no mais uma instncia amada e respeitada e sua autoridade no mais

    reconhecida, o matriarcado se torna a maneira dominante de educar a criana e se encontra,

    portanto, causando sintomas novos, aos quais devemos responder.

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    Mas, antes de tratar disso, eu queria observar para vocs que h omisses histricas,

    particularmente nas sociedades ps-coloniais, onde a referncia figura paterna

    obrigatoriamente sempre fora dedicada. E, em relao a isso, vocs observaro que em

    condies histricas muito difceis, como as da escravido, s efetivamente as mes que

    transmitiam a vida, mas sem outras referncias: a lngua de origem, a cultura de origem, a

    religio de origem, ao lugar que cada criana iria ocupar na linhagem dos ancestrais. Mas,

    como ns vemos, foi uma transmisso que, no entanto, se verificou muito eficaz, pois

    conseguiu transmitir a vida.

    H um segundo ponto que explica o desenvolvimento contemporneo do matriarcado.

    um ponto que eu desenvolvo num livro o qual eu recomendo a leitura porque um livro

    muito interessante que eu escrevi , que se chama O homem sem gravidade claro que euestou brincando , onde eu conto como o desenvolvimento econmico favorece a relao do

    indivduo com a nova lgica, onde no haveria mais nenhum limite, onde no haveria mais

    nenhum interdito, onde no haveria mais ningum para impedir todas as satisfaes . O

    desenvolvimento econmico instiga um mote cultural, que o de uma satisfao sem limites,

    onde no se recusa nada, onde no h interdio. E muito evidente que este tipo de incitao

    est mais prximo do matriarcado do que do patriarcado. Eu acho que podemos ver, na fora

    desse desenvolvimento econmico, uma das causas que modificam a vida familiar, que sempre fundada em restries, um encorajamento ao que se chama a monoparentalidade e,

    portanto, favorecendo o matriarcado.

    Sou muito sensvel ao fato de que os nossos jovens, vocs, mudaram muito. De uma

    gerao a outra se produziu uma mutao e importante tentarmos conhec-la tambm. Quais

    so os elementos dessa mutao? A primeira que os jovens hoje no encontram mais

    modelos, para seu comportamento, no comportamento dos pais e no comportamento das

    geraes precedentes, criando-lhes o sentimento que eles devem inventar, cada um, a suavida, justamente uma vida que seria mais rica e diversificada, alm de menos marcada pelas

    interdies, como foi a dos seus pais.

    Mas inventar uma vida nova extremamente difcil, tanto que, a tambm, os jovens no

    encontram texto de referncia. Eles no podem encontrar nos autores os elementos que lhes

    autorizaria proceder para encontrar uma vida nova, o que, no meu entender, igualmente

    exemplar dessa mutao, pelo menos no Ocidente, pois no conheo perfeitamente a situao

    de vocs. Contudo, no Ocidente freqente que aquilo que eram valores de geraes

    precedentes seja abandonado pelas geraes jovens. Quais so esses valores das geraes

    anteriores? H dois. H somente dois. Um deles consiste na procura de honrarias e o outro, na

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    procura do dinheiro. E todos os jovens sabem que foram educados num mundo onde lhe

    pedem para participar da corrida e da competio para adquirir esses dois valores. Aquele que

    tem as honrarias e, alm disso, o dinheiro, agrada e d prazer aos seus pais.

    Estou com medo de cans-los porque vocs no estavam de frias como eu. Ento, falarei

    mais trs minutos e vou parar. Faremos uma pausa de dez minutos para respirar um

    pouquinho e recomearemos depois, com as questes de vocs.

    S para terminar esse ponto: numerosos jovens hoje tm um olhar crtico em relao a

    esses dois valores que so prprios da sociedade patriarcal e continuo sempre muito

    interessado quando os vejo procura de uma vida nova e diferente.

    Nesse ponto paramos dez minutos e retomaremos com as questes de vocs. At daqui a

    pouco.

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