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Movimento da Escola Moderna 1 de Março de 2008 A comunicação que se apresenta pretende descrever e aprofundar, os componentes que integram o modelo curricular do Movimento da Escola Moderna tendo por base um referencial teórico prático. Estando cada vez mais convicta que a chave da qualidade em educação de infância é a (o) educadora (r) e os seus saberes praxiológicos reflectidos na acção situada, espero que a explicitação deste modelo, possa abrir uma “janela” na caminhada do desenvolvimento profissional de cada uma (m). Movimento da Escola Moderna O Movimento da Escola Moderna (MEM) é uma associação de profissionais de educação assente num Projecto Democrático de autoformação cooperada de docentes, que transfere, por analogia, essa estrutura de procedimentos para um modelo de cooperação educativa nas escolas. Propõe-se realizar um modelo sociocêntrico de educação, acelerador do desenvolvimento moral e social das crianças e dos jovens, através de uma acção democrática exemplificante, no decurso da educação formal. Daí decorre que os conteúdos programáticos se estruturem em planos e projectos negociados cooperativamente (pedagogia da cooperação educativa) para explicitação de ‘contratos’ entre professores e alunos, a partir dos saberes extra-escolares radicados na vida dos educandos e das suas comunidades. Valoriza o ensino mútuo e cooperativo como modos de organização das aprendizagens para reforçar o sentido da cooperação no desenvolvimento educativo e social. Origem e evolução A criação do Movimento da Escola Moderna (MEM) decorre da fusão de três práticas convergentes: Sérgio Niza que procura concretizar a proposta de Educação Cívica de António Sérgio na concepção de um município escolar numa escola primária de Évora; Rosalina Gomes de Almeida que introduz uma prática pedagógica baseada nos princípios e técnicas de cooperação e expressão livre de Freinet na educação de crianças normovisuais, inseridas em grupos de crianças cegas e amblíopes, no Centro Infantil Hellen Keller em Lisboa; Rui Grácio, que organiza os

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Movimento da Escola Moderna

1 de Março de 2008

A comunicação que se apresenta pretende descrever e aprofundar, os componentes

que integram o modelo curricular do Movimento da Escola Moderna tendo por base

um referencial teórico prático.

Estando cada vez mais convicta que a chave da qualidade em educação de infância

é a (o) educadora (r) e os seus saberes praxiológicos reflectidos na acção situada,

espero que a explicitação deste modelo, possa abrir uma “janela” na caminhada do

desenvolvimento profissional de cada uma (m).

Movimento da Escola Moderna

O Movimento da Escola Moderna (MEM) é uma associação de profissionais de

educação assente num Projecto Democrático de autoformação cooperada de

docentes, que transfere, por analogia, essa estrutura de procedimentos para um

modelo de cooperação educativa nas escolas.

Propõe-se realizar um modelo sociocêntrico de educação, acelerador do

desenvolvimento moral e social das crianças e dos jovens, através de uma acção

democrática exemplificante, no decurso da educação formal. Daí decorre que os

conteúdos programáticos se estruturem em planos e projectos negociados

cooperativamente (pedagogia da cooperação educativa) para explicitação de

‘contratos’ entre professores e alunos, a partir dos saberes extra-escolares

radicados na vida dos educandos e das suas comunidades. Valoriza o ensino mútuo

e cooperativo como modos de organização das aprendizagens para reforçar o

sentido da cooperação no desenvolvimento educativo e social.

Origem e evolução

A criação do Movimento da Escola Moderna (MEM) decorre da fusão de três práticas

convergentes: Sérgio Niza que procura concretizar a proposta de Educação Cívica

de António Sérgio na concepção de um município escolar numa escola primária de

Évora; Rosalina Gomes de Almeida que introduz uma prática pedagógica

baseada nos princípios e técnicas de cooperação e expressão livre de Freinet na

educação de crianças normovisuais, inseridas em grupos de crianças cegas e

amblíopes, no Centro Infantil Hellen Keller em Lisboa; Rui Grácio, que organiza os

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Cursos de Aperfeiçoamento Profissional do Sindicato Nacional de Professores, entre

1963 e 1966, onde colaboraram os dois professores citados.

A partir da sua constituição, o trabalho teórico e prático desenvolvido em Portugal

foi operando a evolução do modelo:

Do tacteamento experimental de Freinet foi evoluindo para uma perspectiva de

desenvolvimento das aprendizagens, através de uma interacção sociocentrada

radicada na herança sociocultural, a redescobrir com o apoio dos pares e dos

adultos, na linha de Vigotsky e de Bruner entre outros.

• Deslocação da ênfase da acção pedagógica das expressões para a

Comunicação baseada em sistemas de trocas sistemáticas entre alunos;

• Instrumentos de trabalho reformulados como instrumentos de regulação

formativa;

• Nos processos de tomada de decisão: da votação evolui para o consenso

negociado, passando a regulação a estar radicada no conselho;

• Na gestão do acto pedagógico: do enfoque centrado nas crianças para uma

visão sociocêntrica da educação escolar

Princípios Pedagógicos

No modelo curricular do MEM a instituição educativa é vista como um espaço de

iniciação às práticas de cooperação e de solidariedade da vivência democrática.

Para isso as crianças deverão criar com os seus educadores as condições materiais,

afectivas e sociais para que possam organizar em comum um ambiente capaz de

ajudar cada um a apropriar-se dos conhecimentos e dos valores morais e estéticos

gerados pela humanidade no seu percurso histórico-cultural. Assim se caminha

desde o planeamento à partilha das responsabilidades e da regulação/avaliação.

Desta concepção da escola como comunidade de partilha das experiências culturais

da vida real de cada um, decorrem as finalidades formativas:

• A iniciação às práticas democráticas;

• A reinstituição dos valores e das significações sociais;

• A reconstrução cooperada da cultura.

As crianças com a colaboração do educador reconstituem, através de trabalho de

projecto, os instrumentos de representação, de apropriação e de descoberta que

lhes proporcionam uma compreensão em profundidade. Este trabalho é partilhado e

reconstruído através dos circuitos de comunicação organizados e vividos pelo grupo

onde se faz circular os saberes científicos, culturais e sociais. Essa tomada de

consciência da apropriação dos conhecimentos, dá dimensão crítica e clarificadora

aos saberes.

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Pressupostos do processo educativo

Uma primeira condição em que se fundamenta a dinâmica social da actividade

educativa no Jardim-de-infância é a da constituição dos grupos de crianças, não por

níveis etários, mas de forma vertical, integrando as várias idades. Esta organização

pretende assegurar a heterogeneidade que melhor garanta o respeito pelas

diferenças individuais no exercício da inter ajuda e colaboração que pressupõe este

projecto de enriquecimento sócio cultural.

Uma outra condição diz respeito à necessidade de se manter um clima de livre

expressão das crianças reforçado pela valorização pública das suas opiniões e

ideias. Essa atitude tornar-se-á visível através da disponibilidade do educador para

registar as mensagens das crianças, estimular a sua fala, as produções técnicas e

artísticas e animar a circulação dessas realizações.

É indispensável permitir às crianças o tempo lúdico da actividade exploratória das

ideias, ou dos materiais para que possa ocorrer a interrogação que suscite

projectos de pesquisa, autopropostos ou provocados pelo educador, enquanto

promotores da organização participada, dinamizadores da cooperação e animadores

cívicos e morais mantendo e estimulando a autonomização, a iniciativa e a

responsabilização de cada criança no grupo de educação cooperada.

Para operacionalizar este pressuposto concebem-se Instrumentos de Regulação

Cooperativa: Calendário do Tempo; Calendário do Mês; Calendário dos

Aniversários; Plano de Actividades; Lista semanal de Projectos; Quadro de Tarefas

e o Diário. Cada um destes instrumentos proporciona ainda a realização de outros

objectivos educativos que integram diferentes domínios curriculares.

Organização do Espaço e dos Materiais

As salas de actividades estão organizadas para que as crianças todos os dias

possam escolher o que querem fazer (Rosalina Gomes de Almeida, 1987);

As áreas em que se organiza a sala são determinantes no tipo de actividades e

materiais que oferecem. O fundamental é que todos os materiais sejam autênticos,

os instrumentos que a humanidade usa a sério, fazendo estes cantinhos aproximar-

se o mais possível dos espaços sociais originais. Sobretudo, procura-se evitar o

estereótipo infantilizante das miniaturas ou dos instrumentos artificialmente

construídos para o público infantil (Niza, 1996:148). As áreas básicas desenvolvem-

se: num espaço para biblioteca e documentação; numa oficina de escrita e

reprodução; num espaço de laboratório de ciências e experiências; num espaço de

carpintaria e construções; num espaços de expressão e representação plástica; e

ainda num “espaço de faz de conta”.

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Organização do Tempo

É pensada para criar um ambiente seguro onde o envolvente cognitivo e o papel

relevante do grupo possa acontecer. A jornada é constituída por duas etapas. A

etapa da manhã, centra-se no trabalho de projecto e na actividade eleita pelas

crianças e por elas sustentada em diferentes áreas espaciais. A etapa da tarde,

reveste a forma de sessões de actividade cultural. Estão integrados na rotina diária

o tempo para se realizar a planificação com as crianças e a avaliação

(comunicações em plenário) o Balanço em Conselho é realizado à sexta-feira com o

apoio do Diário do grupo. A saída de um meio-dia por semana é programada, assim

como as animações e troca de saberes com os pais e outros elementos da

comunidade educativa.

A Avaliação e a Planificação em Cooperação

O modelo curricular considera o sistema de avaliação e planificação integradas no

próprio processo de desenvolvimento da educação. Destacam-se habitualmente

como estratégias, além da observação espontânea, os registos colectivos e

individuais de produção; as várias comunicações das crianças ao grupo; o

acompanhamento dos processos de produção; as ocorrências significativas

registadas no Diário do grupo e o debate e a reflexão em Conselho.

Os pais para além da colaboração regular onde são chamados a participar, são

convidados trimestralmente para fazerem com os educadores um balanço que

decorre da exposição das produções e explicitação dos processos, dos registos de

planeamento e avaliação do grupo de crianças.

A Interacção com as Famílias e a Comunidade

O modelo curricular requer uma forte articulação com as famílias, os vizinhos e as

organizações da comunidade para que vários dos seus elementos se assumam

conscientemente como fonte do conhecimento e da formação para as crianças do

jardim-de-infância. Por isso são convidados a participar nas sessões de animação

que lhe estão destinadas. A equipa do jardim-de-infância promove encontros

sistemáticos entre educadores e pais para garantir o desenvolvimento educativo

dos filhos de forma participada e dialogante. Conta-se com o envolvimento das

famílias e da comunidade, quer para resolver problemas quotidianos de

organização, quer para que o jardim-de-infância possa cumprir o seu papel de

mediador e de promotor das expressões culturais das populações que serve.

Maria Elisa Leandro