Memórias de Madeira (Memories of Wood)

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a cultural project that worked with social history and appreciation of the architecture of a neighborhood of the city of Londrina, Paraná, Brazil.

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ApresentaçãoO projeto “Memórias de Madeira” resulta de uma

série de atividades relacionadas às casas de madeira e a seus moradores na Vila Brasil. Realizaram-se palestras e discussões em que ficaram constatadas duas questões recorrentes: o estigma atribuído às casas de madeira e as dificuldades de manutenção das mesmas.

Com o objetivo de contribuir para a superação desse estigma e dessas dificuldades, o presente trabalho buscou dialogar com os próprios moradores das construções de madeira, na tentativa de obter delas fatos de sua vida e seus cuidados com as casas. Isso foi feito através de onze entrevistas com moradores, com a finalidade de criar uma cartilha de suas histórias e seus cuidados com as casas de madeira.

As entrevistas foram feitas de setembro a dezembro de 2008, por uma equipe interdisciplinar, formada por um engenheiro civil, um cientista social, um comunicólogo, uma fotógrafa, um designer e um facilitador social. Ressalta-se a importância do Seu Zé, possuidor dos saberes práticos vinculados à construção de casas de madeira no bairro, que nos ajudou a encontrar pessoas dispostas a participar da criação desta cartilha.

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Projeto Memórias de MadeiraCoordenação

Danilo do AmaralAlan Caldas Luís Gustavo Galhardo

José Rodrigues (Seu Zé)

Isabela Figueiredo

Carol Bechelli

Chico Maciel

Aluysio Fávaro

Danilo do Amaral

Alan Caldas

Luís Gustavo Galhardo

Textos

Facilitador Social

Fotografia

Projeto Gráfico

Revisão dos textos

Ilustrações

Cientista Social

Engenheiro Civil

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O gosto popular pelas casas de madeira em Londrina

Dona MatildeLúcia e sua irmã Regina

Dona IrmaDona Eunice

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911141618

202224283133

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O problema da umidade e a manutenção das casas de madeira

José CarlosDona Idail

Cuidados com a pintura

Dona NairSeu Rezende

Cuidados com a parte superior da casa

Cuidados com a parte inferior e interna da casa

Dona JulinaE o tempo passou?

Rosemeire

Seu Joaquim

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O gosto popular pelas casas de madeira em Londrina

Na tentativa de entender este problema, fomos guiados ao passado da urbanização de Londrina, especialmente pelos escritos do professor e arquiteto Humberto Yamaki. (Labirinto da memória: paisagens de Londrina. Editora Midiograf. Londrina. 2006).

Segundo ele, até 1940 as habitações da cidade eram de dois tipos: de palmito e de madeira. As casas de palmito eram moradias rústicas e temporárias, enquanto as casas de madeira eram construções mais sofisticadas. Este tipo de construção era a preferida de todos os migrantes que aqui fixaram moradia. Os motivos dessa preferência eram: muita disponibilidade de madeira e custo inferior (cerca de um quarto) em relação às casas de tijolo e cimento.

O professor Humberto Yamaki nos chama a atenção para um ponto importante: “deve-se levar em conta também que boa parte dos imigrantes conhecia os rudimentos de carpintaria e trazia algumas ferramentas em sua bagagem, possibilitando a extensiva prática de construção em mutirão.” (p.28).

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Contrariando o gosto popular pelas casas de madeira, a Companhia de Terras Norte do Paraná e também a administração municipal realizavam uma verdadeira guerra contra as construções de madeira, por meio de leis e decretos que as restringiam desde 1939. Os poderosos da época argumentavam que tais construções eram precárias e contrariavam os princípios “estéticos e higienistas” do período.

Entretanto, o povo construía não atendendo a essas proibições. Yamaki relembra:“os anos 40-50 foram o auge da atuação dos mestres carpinteiros e construtores”. A maioria das casas de madeira encontradas na cidade são dessa época. Passados mais de 60 anos, o preconceito que associa as casas de madeira à precariedade também continua em pé, assim como as próprias casas.

Esta cartilha tem como objetivo combater esse preconceito histórico. Para isso, é importante valorizar as famílias que permitiram que as casas de madeira continuassem ocupando um lugar na paisagem urbana de Londrina, especialmente na Vila Brasil. Além disso, aprendemos alguns cuidados de manutenção das casas junto ao saber popular dessas famílias.

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Dona Matilde,

Desde pequenininha,

moradora de uma casa na Rua Uruguai, viveu uma vida de trabalho na terra, convivendo com bichos e plantas do mato. Ela nos conta dessa época: “Vivia buscando água na mina, e como a água era limpinha! Ouvia o canto dos pássaros, socava café na roça, arrancava feijão, trabalhava com o pilão”.

São esses tempos antigos que ecoam nas fortes paredes de peroba da casa. Ela tem em sua casa um jardim com orquídeas, manacás da serra e também uma pequena horta. O som do quintal é acirrado por diversos cantos de passarinhos. “Eu tenho onze passarinhos. Tem pássaro preto, tem sábia de duas qualidades, tem azulão, canarinho, colerinha, gaturama... sempre gostei de bichos e flores.”.

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Dona Matilde é uma dessas pessoas que pode, sem dúvida nenhuma, ostentar o titulo de pioneira: Eu vim ao Paraná aos oito anos. Vim para a fazenda do meu avô. Quando meu avô comprou um terreno aqui no Paraná tava tudo fechado de mato. Era tudo mato. Tudo fechado... Tivemos que abrir espaço para gente morar. Meus tios vieram com as garruchas, os revolveres. Eu fico até arrepiada de falar.”

Foi na Vila Brasil que Dona Matilde fez a travessia de seu modo de vida da roça para o da cidade. Lá no sítio tive meu primeiro filho, o Irineu. Depois vendemos esse sítio e compramos essa casa aqui na Vila Brasil. No começo minha sogra e meu sogro que moraram aqui. Essa casa é de 1948. Foi na época de 1959 que cheguei por aqui. Eram só as ruas de terra batida e as casinhas de madeira”.

Para Dona Matilde parece besteira comparar as construções de madeira com as construções de alvenaria, pois tanto no sítio quanto na Vila Brasil ela sempre morou em casa de madeira. Reunir as pessoas em meio às tabuas das casas sempre foi o mais importante em sua vida. Não é de se duvidar que em sua casa ainda se escute o barulho estridente do carro-de-boi movido a carvão.

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Lúcia e sua irmã Reginamoram juntas em uma casa de madeira alugada, há oito anos. Porém, as duas nos contam que sempre moraram em casa de madeira: “Eu só morei em casa de madeira. Desde os quatro anos que a gente mora em casas de madeira. A minha referência maior é morar em casa de madeira. Eu não sei o que é morar em casa de tijolos”.

Na Rua Paes Leme,

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No entanto, desde sua mudança, elas se veem diante de um mistério relacionado à história da casa: “O dono da casa diz que essa casa é bem antiga, parece que tem uns quarenta anos. Na verdade essa casa não era nem construída aqui. Pelo que ele conta, ela era construída mais à frente no quintal, mas ela não estava de acordo com os padrões da Prefeitura. Daí, parece uma coisa meio encantada: tirou uma casa de um lugar e colocou em outro. Mas como faz eu não sei”. Seu Zé, que participou de diversos mutirões de construção de casas de madeira, explica o modo ‘de fazer a casa andar’: “Pega duas catracas de puxar tora no caminhão. Pega, ergue com o macaco hidráulico todinha a casa. Depois calça com canos de aço galvanizado. A parte de cimento e piso, isso aí perde. Tira as telhas para não cair e é só. Daí a casa vai com assoalho vai com tudo, vai inteirinha. Centímetro por centímetro, vai puxando bem devagar, ela vai em cima de uns roletinhos de cano, igual se fosse um trem sobre os trilhos: devagazinho, devagazinho, puxando, puxando”.

As duas irmãs colecionam muitos discos. Seu Zé e Regina se identificam pelo gosto das músicas sertanejas de Pedro Bento e Zé da Estrada.

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Já Lúcia prefere Raul Seixas e Clara Nunes.

Para elas, o bom de viver em uma casa de madeira é que elas são “casas gostosas, frescas e sempre antigas”. Por isso se defendem do estigma que associa casa de madeira ao desconforto e à pobreza: “Meu negócio sempre foi morar em casa de madeira, por isso eu não tenho nenhum preconceito”.

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Dona Irma, dona de casa e artista plástica, está morando há 48 anos em uma casa da Rua Jorge Velho: “Eu morava no quarteirão de baixo. Depois mudamos para cá. Nós tivemos dois filhos naquela casa. Só que eles morreram. Ai eu e meu marido resolvemos mudar. Ai nós nos sentíamos mal na casa. Mas nessa nova casa tudo melhorou. Tive dois filhos homens.”

Seu falecido marido, João Lorenzo, foi quem construiu a casa. Segundo dona Irmã, ele demorou dois meses para terminar a casa. “A madeira peroba dessa casa é do Mato Grosso, meu marido foi buscar lá.”. João aprendeu a ser pedreiro, e , assim como seus cinco irmãos, ajudou a erguer diversas casas na cidade.

Para Dona Irma, a casa mostra muito da alma das pessoas. Por isso as vigas e as mata-juntas são decoradas por quadros e peças de artesanato. Porém, Dona Irma é exigente: Eu adoro casa de madeira, só que bem conservada.

Dona Irma tem muito orgulho das suas origens caipiras: Eu nasci em Londrina, lá nos três Bocas, meu pai era usineiro. Meu pai veio de Tatuí e minha mãe de Itapetininga. Não sai daqui de Londrina,

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sou pé vermelho, bem jacuzona.

No entanto, a vida era bastante difícil e diferente da atual: “Quando eu mudei aqui nem asfalto tinha, não tinha luz, água, não tinha nada. Eu comecei a vida na dureza. Puxava água de poço, lavava roupa em tábua. Eu ganhei minha primeira filha na lamparina.”.

A manutenção de sua casa era feita pelo seu marido. Após sua morte, Dona Irma assumiu esse papel. E quando os filhos sugerem que a mãe deve deixar de reformar, cuidar da casa e até vendê-la, ela responde com firmeza: “Meus filhos falam que eu sou boba de lidar com a casa. Eu falo para eles que vendam a deles. A gente se apega muito à casa. Eu não vendo essa casa nunca. Eu quero morrer aqui. Só não melhoro mais minha casa, porque não tenho dinheiro.”

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moradora de uma casa na Rua Jorge Velho, comenta sobre as mudanças no espaço e a passagem do tempo no bairro: “De quando eu vim morar na Vila Brasil não mudou muito, não. As casas são as mesmas, os vizinhos são os mesmos.”.

Faz 35 anos que Dona Eunice mora nessa residência e com certeza muita coisa mudou na urbanização do bairro. Entretanto, o tempo parece que não passou, porque muitas relações parecem eternas. O melhor exemplo é sua amizade com Dona Irma. As duas vizinhas e amigas, há mais de trinta anos, dividem seu tempo em diversos cursos de artesanato, tais como: pintura em tecido, crochê, bordados, confecção de tapetes.

A amizade é tão forte que mesmo

Da varanda de sua casaDona Eunice,

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para as atividades do lar existe uma sincronia. Se de um lado da Jorge Velho Dona Eunice lava o quintal, Dona Irma certamente também estará lavando o seu.

Cuidando do lar teve dois filhos com seu marido José Dal Pozzo, e relembra da época em que se conheceram: “Eu morava lá na Colômbia, e meu marido ficou um ano e meio correndo atrás de mim. Eu dei uma de difícil, mas foi muito engraçado nosso encontro. Eu trabalhava na Catarinense. Ele tinha uma caminhonete e seguia meu ônibus. Naquele tempo o ônibus era ali na Uruguai com a Venezuela. E ele parava nesse ponto. E eu nem sonhava que ele tava atrás de mim.”.

Apesar dos encontros e desencontros da vida, há quase quarenta anos o casal tem uma família unida. E juntos decidem sobre o futuro da casa de madeira: “Quando meus filhos eram solteiros a gente pensava em vender a casa. Meu filho falava então: vocês vão e eu fico aqui. Só quando ele casou que saiu, mas ele vem almoçar todo dia aqui.”.

Os sentimentos de Dona Eunice com relação à casa e à família se confundem, mas ela sempre valoriza seus aspectos bons: “Eu adoro a casa de madeira. No calor ela é fresquinha. No frio ela é quentinha.”

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O problema da umidade e a manutenção das casas de madeira

As construções de madeira podem desafiar o tempo desde que sejam tomados alguns cuidados. A maior dificuldade encontrada na manutenção desse tipo de edificação é o controle da umidade.

A madeira das casas absorve a umidade do ambiente, atuando como uma controladora natural da temperatura do ambiente. Isso proporciona um aconchego em todas as estações do ano, conforme relatos dos moradores da Vila Brasil.

De outro lado, o excesso de umidade facilita a ação dos agentes decompositores da madeira. Para controlar o excesso de umidade alguns procedimentos simples de manutenção são vitais a quem pretende dar vida longa a sua casa.

Os cuidados que iremos descrever servem como prevenção. Caso o madeiramento esteja em avançado estado de deterioração é necessário realizar a substituição desse material.

A maioria das casas de madeira de Londrina é feita de varias espécies de peroba. Essa madeira nobre está em extinção devido ao seu demasiado uso na ocupação da cidade. Para a eventual

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substituição da madeira deteriorada uma boa opção é o reaproveitamento de material de antigas construções demolidas.

Existem hoje em Londrina depósitos e madeireiras especializados nesse tipo de material. É possível encontrar esquadrias, assoalhos, tábuas, mata-juntas, vigas, que seriam descartadas, mas são reutilizáveis e, muitas vezes, são reutilizadas, diminuindo a demanda por madeiras novas. Vale lembrar que o preço é bastante acessível.

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A manutenção das casas de madeira é algo relativamente simples. Durante a pesquisa pudemos visitar casas em excelente estado, e nas quais é evidente a preocupação com a pintura.

A pintura protege a madeira da ação do ambiente (umidade) e do ataque de insetos, fungos e outras pragas, prolongando sua vida útil e mantendo-a conservada e bonita por mais tempo.

No entanto, a pintura deve ser feita de maneira adequada. É importante começar pela limpeza de toda superfície a ser pintada, utilizando para isso lixas e removedores adequados ao estado em que a casa se encontra. A aplicação de tinta de fundos também é útil para tornar a madeira menos permeável.

Outro cuidado válido na hora

Cuidados com a Pintura

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de pintar é a escolha da tinta adequada. Existem diversos produtos especialmente desenvolvidos para a pintura em madeira, por exemplo: tintas a óleo, esmalte sintético e verniz.

Na hora de pintar não ‘tem’ erro, o barato pode sair caro. Com tintas inadequadas em menos de um ano é possível notar o desgaste da pintura. Já, se a pintura for feita de maneira adequada e com tinta adequada, a durabilidade é superior a cinco anos.

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Quem olha por fora a casa de

José Carlosnão imagina a reforma pela qual ela acabou

de passar. Segundo o morador: “A casa estava abandonada, sem condições de habitação.”.

A antiga casa é uma herança da família de José Carlos, que viveu uma fase da sua vida nela. Dessa relação íntima com a casa surgiu, após seu casamento, a vontade de realizar uma reforma que a salvasse da demolição.

José tentou, então, obter financiamento pela Caixa Econômica Federal. Todavia, justamente pelo fato da casa ser de madeira, não conseguiu recursos. Com muita dificuldade investiu todas suas economias na obra. As condições de financiamento da Caixa, segundo ele, são de que 70% da casa seja feita de alvenaria.

Durante a reforma, a casa foi bastante modificada. Toda a distribuição dos cômodos foi alterada, os dois quartos, a sala de estar e a cozinha. A reforma utilizou madeiras reaproveitadas de outras casas que foram desmanchadas. A relação entre custo e benefício levou a uma mistura de técnicas e materiais usados na reforma da casa

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para se adequar às condições de financiamento do banco.

Ao final, mesmo com essa adequação, não reparando suas dificuldades da reforma, o tão sonhado financiamento da Caixa Econômica Federal não vingou. Apesar disso, ao olharmos para o cuidado com a decoração dos quartos das crianças, vemos o carinho da família pela casa.

As mesmas perobas que estavam desgastadas pela falta de cuidado, hoje respiram mais reluzentes pelas tintas a óleo e pela alegria da família de José Carlos.

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Já faz 42 anos queDona Idail

e seu marido moram em uma casa na Rua Uruguai. As recordações do dia da mudança para essa casa foram tão marcantes que continuam vivas na memória do casal: “Quando eu construí, queria ter minha casinha para morar. Quando eu consegui entrar debaixo do telhado, foi um dia muito feliz. Eu não pintei ela assim que eu terminei, ela ficou sem pintar. Foi um, dois anos depois que eu terminei de pintar. E vou conservando, porque eu gosto de conservar, qualquer coisinha que eu vejo, eu já vou lá e arrumo. Se Deus quiser ainda vai muitos anos”.

É Dona Idail quem justifica a escolha pela construção da casa de madeira: “Naquele tempo não usava muito casa de alvenaria. Naquele tempo era um luxo que ninguém ligava para ter. Faziam, mas era mais a base de tábua mesmo. Acho que era por causa do acesso mais fácil à madeira”.

Com o tempo a casa foi-se modificando, como que se as tábuas fossem se adaptando as transformações da vida da família: “Quando minha mãe ficou viúva, ela veio morar com a gente. Por isso, fizemos esse quarto e o banheiro dentro da casa.

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Depois a cozinha, a área, que é bem grande. Fizemos essa cobertura para o tanque, a máquina de lavar, para estender roupa. Aí depois fizemos um barracão pra fazer o churrasquinho de domingo”.

O marido Djalma se preocupa muito com o conforto da casa. “Se é pequeno o reparo eu mesmo faço. Eu sou meio curioso, gosto de fazer alguma coisinha: tirar uma goteira, mexer com o

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encanamento”. Entre essas outras coisas, ele pensou até na pintura do forro com verniz de mogno, “Pra assistir televisão é até melhor, fica mais escurinho”.

Dona Idail também entende muito dos cuidados necessários para manutenção da casa, “A

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tinta tem que ser tinta óleo, porque se passar tinta à base de água é a mesma coisa que nada”. No entanto, chama a atenção para possíveis ‘gambiarras’: “Tudo que remenda fica, porque se fizer um quebra-galho fica pro resto da vida”.

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Dona Nairfomos surpreendidos tanto pelo bom estado da

casa, quanto pelo número de pessoas reunidas. Não é para menos: Dona Nair tem cinco filhos, quinze netos e cinco bisnetos. Como bem diz a cacique da `trupe´: “Minha família, graças a Deus, é uma família abençoada, todo mundo muito unido”.

As memórias de Dona Nair provavelmente ajudam a manter a família unida. Na sala sustentada pelas antigas perobas, lembranças da época dos cafezais mantêm olhos e ouvidos atentos até dos pequenos bisnetos: “A gente também plantava café. Meu pai, meus tios, todos foram criados no café. Nos nascemos quase debaixo do pé-de-café.”

Outro segredo sobre a união da família é confidenciado quando Dona Nair apresentada os cômodos da casa: “Este aqui é o meu quarto, meu cantinho de oração (...) Essa Nossa Senhora veio de Portugal. O meu neto que mora lá mandou pra mim (...) Tem que orar pra família, né?”.

Naturalmente, as histórias da mãe vão puxando as lembranças das filhas, que logo nos

Na esquina da Rua Argentina, na casa de

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revelam fatos não guardados pela história oficial: “A Rua Paes Lemes era uma pista de carrinho de rolemã”. As brincadeiras da infância são contadas com imensa alegria: “a gente brincava de bet’s, carrinho de rolemã, bola queimada, pé-na-lata (...) A gente brincava muito porque tinha liberdade e muita criança”.

Essas alegrias são as flores de uma vida de muito trabalho, recorda Dona Nair: “Eu ia buscar roupa, trouxa de roupa, lá perto da

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Pernambucanas, onde tem um banco. Eu ia buscar na cabeça, lavava aqui, passava e ia levar pra mulher do gerente daquele banco. Meu marido trabalhava de pedreiro, e juntamos um dinherinho para pagar as despesas e reformas da casa. Minhas filhas mais velhas trabalhavam também. Nove anos e já estavam trabalhando de babá para ajudar a família. Todas elas começaram a trabalhar com nove anos. E meu filho com dez anos, também, já trabalhava de leiteiro, no tempo da carrocinha de rua..”.

Por toda a casa, a lembrança do marido falecido se faz presente, assim como na carinhosa fala de uma das filhas: “Meu pai toda vida ele foi um homem muito caprichoso. Qualquer coisinha que estragava na casa, ele ia lá e já trocava. É por isso que hoje minha mãe mantém a casa conservada”.

Dona Nair cuida da casa quase tão bem quanto cuida da família: “Essa casa aqui tem mais de cinqüenta anos. Pode ver que ela é perfeita”.

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Seu RezendePara algumas pessoas morar

em uma casa de madeira é algo transitório, algo que deve ser esquecido, tão logo se consiga ascensão social. Outros, no entanto, sentem o estigma de morar em uma ‘casa de tábua’. Não é o caso de Seu Rezende, que reside na Rua Venezuela: “Eu não tenho vergonha de morar na casa de madeira. Claro que eu preferia morar em um sobrado com uns melhoramentos,

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mas eu gosto dessa casa.”.

Mas logo se percebe que Seu Rezende tem um carinho especial pelas construções de madeira, gosto singular que supera um mero status social: “Tinha umas casas de madeira bonita aqui. Meu pai fazia casas de madeira.”.

Com grande conhecimento acumulado sobre casas de madeira, Seu Rezende nos explica o motivo do bom estado de sua casa: “Essa casa aqui tem uma vantagem. Ela está com mais de cinqüenta anos. Ela não tem uma parede fora de forma. Eu sei porque eu arrumei toda ela. Tá tudo certinho. O assoalho eu troquei tudo, desmanchei e fiz de novo com outras tábuas. O negocio é o seguinte: essas casas ainda duram mais de cem anos, se você cuidar dura. Eu, por exemplo, botei calha em tudo para não espirar água em volta.”.

Seu Rezende sabe que a casa de madeira, assim como as árvores plantadas por ele em seu quintal não são para sempre, mas tem muitas sementes para germinar: “Essa casa tem mais de 60 anos. Nada é eterno. Mas meus netos vão viver muito nessa casa ainda”.

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As goteiras e vazamentos em dias chuvosos são fatores, além de outros, que contribuem para o aumento da umidade em ação na madeira, e sua conseqüente deterioração. É necessário resolver os problemas, senão não há pinga que resolva.

As goteiras são causadas por telhas quebradas ou mau ajustamento do telhado no seu todo. Assim que percebidas devem ser reparadas, pois a água da chuva estraga rapidamente não só o forro, mas também o madeiramento todo da casa.

Cuidados com a parte superior da casa

‘Nesta Casa Tem Goteira Pinga Ni Mim... ’(Sérgio Reis)

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O prolongamento do beiral do telhado é uma maneira de diminuir o contato da parede externa da casa com a água proveniente das chuvas. Isso é feito emendando-se um pedaço de caibro ao caibro da estrutura do telhado já existente e adicionando-se algumas ripas para que sejam apoiadas as novas telhas.

Para evitar que as vigas e caibros que compõem a estrutura do telhado sofram ruptura por cisalhamento (rachaduras no sentido longitudinal),

Detalhe da casa do Seu Joaquim: prolongamento do beiral

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uma solução observada foi a colocação de chapas metálicas, fixadas com pregos, nas extremidades dessas peças.

Existem vários modelos de telhas e telhamentos (1, 2 ou 3 águas, água furtada, etc).Todos eles são eficientes para o escoamento das águas das chuvas, embora às vezes seja necessária a colocação de calhas.

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Mesmo com o ajuste do telhado e a troca de telhas pode ocorrer a continuidade os vazamentos e infiltrações. Isso se deve, em parte, à falta de profissionais especializados nos tipos de telhamento utilizados nas casas de madeira. Uma solução bastante eficiente e barata é a colocação de calhas, que podem ser de PVC, e facilitam o escoamento da água do telhado, além de permitir o lançamento da água distante da parede da casa.

Detalhe da casa do Seu Rezende: calha e prolongamento do beiral

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Como nos disse Seu Rezende, a colocação das calhas deve ser muito bem estudada, levando-se em conta: a planta da casa, o tipo de telhamento, os lugares de maior umidade, a distância dos beirais e o local ideal para o escoamento.

Outra forma de manter a água mais distante da estrutura da residência é a utilização de rufos, úteis para proteger a parte superior das tesouras localizadas nas extremidades do telhado.

O uso de rufos e calhas não estava em voga nas construções de madeira pioneiras da cidade. No entanto, as mudanças nos quintais e arredores das casas modificou a natureza do solo, causando maior impermeabilização, o que dificultou o escoamento de água.

A instalação de rufos e calhas pode ser feita por profissionais da área, mas é importante que estes atentem para as diferenças na tolerância da umidade entre casas de tijolos e casas de madeira.

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Para entender a afeição e o zelo deSeu Joaquim

pela sua casaé preciso começar dos alicerces; afinal, o próprio construiu-a sozinho: “Naquele tempo tinha madeira de peroba nova. Eu levei noventa dias para fazer a casa. Trabalhei direto, final de semana e tudo.”.

Para tanto, precisou apenas de ajuda para a finalização do telhado, para jogar as telhas. Em troca Seu Joaquim prometeu uma caixa de cerveja, que acabou economizando pela morte precipitada de seu amigo ajudante, em acidente de trânsito. Seu Joaquim conseguiu levantar uma casa sem custos de mão-de-obra.

Mas Seu Joaquim nos revela que o seu principal ofício nunca foi o de construir casas: “Minha profissão não era fazer casas de madeira. Só fiz a minha inteira mesmo. Mas naquele tempo ajudei muita gente a construir as casas de madeira em mutirões. Eu trabalhava mesmo com caminhão.”.

Filho de imigrantes espanhóis, Seu Joaquim está em Londrina desde 1939. Em terras vermelhas fez sua vida como caminhoneiro: “Meu primeiro caminhão eu paguei de meu trabalho com lenha, em 1957.”.

Sempre disposto, Seu Joaquim nos conta •38•

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sobre as experiências vividas dentro das paredes de madeira: “Nessa casa dos fundos moraram meus pais. Ela é mais velha que a da frente. Os dois morreram aqui. Meu pai faleceu nessa casa. Minha mãe veio a falecer no hospital, mas foi velada aqui. E hoje meu filho caçula mora aqui.”.

O tempo passou, mas Seu Joaquim suavizou seus efeitos com muito trabalho e criatividade. Inquieto, vive pensando em reformas para melhorar sua casa. Ele vê em todo material uma possibilidade de recriação: “Comprei essas mata junta de peroba e troquei tudo. Hoje mesmo troquei as madeiras da calha da casa do fundo. Eu cuido das minhas coisas. Vou trocar os vitros por que esse é melhor. Vou aproveitando tudo. Vou guardando materiais e depois faço o serviço. Temos obrigação de cuidar do que é da gente.”.

Talvez resida nesse comportamento sua fonte da juventude.

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Cuidados com a parte inferior e interna da casa

Mesmo com todos os cuidados apresentados até agora, não é possível eliminar por completo o contato excessivo de umidade com o madeiramento das casas. A parte inferior das tábuas e mata-juntas, que formam as paredes externas da casa, são ainda sujeitas ao apodrecimento. Isto porque a água se acumula com mais facilidade nestes locais.

A solução utilizada normalmente é a colocação de uma tábua na base inferior da casa. Porém, esta não é uma boa solução, uma vez que ela favorece o acúmulo de água e a deteriorização da madeira.

Uma forma eficaz de solucionar este problema é colocação de chapas galvanizadas no entorno da casa, utilizando-se de chapas novas ou provenientes de calhas e rufos já usados.

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A chapa é colocada entre a tábua e a mata-junta e fixada com pregos. Para evitar que a água penetre através do vão deixado entre a parede e a chapa galvanizada, o que favoreceria a continuação do processo de apodrecimento das tábuas, recomenda-se a vedação desta junta com silicone. Quanto às mata-juntas, estas podem ser substituídas por inteiro ou, realizar a retirada da parte danificada e reconstituí-la através da emenda de um novo pedaço.

Detalhe da casa de Dona Idail: chapa

galvanizada

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Na partes internas da casa, principalmente nas cozinhas e banheiros, é comum a utilização de piso frio ou chão de cimento, para facilitar a limpeza dos mesmos. Durante a limpeza desses cômodos, geralmente há um contato prolongado da água com as paredes de madeira. Também a falta de luz solar nesses ambientes contribui para o prolongamento da ação da umidade.

Uma solução encontrada para este problema foi à substituição do rodapé de madeira por um rodapé de concreto devidamente impermeabilizado.

Detalhes: rodapé de concreto e banheiro com duratex e azulejo

Tradicionalmente o banheiro era construído fora da casa. A adaptação do banheiro na parte interna da casa é algo requer um cuidado especial.

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Mesmo as casas construídas com os banheiros na parte interna, costumam apresentar problemas relacionados a umidade. A solução mais comum é a construção parcial ou total deste cômodo em tijolo, cimento e azulejo. Mas mesmo assim continuam a ocorrer infiltrações que podem comprometer seriamente os cômodos vizinhos. A solução mais eficaz é isolar completamente o banheiro do madeiramento da casa. Uma forma barata de fazer isso é utilizar placas de duratex(explicar material) devidamente impermeabilizadas com tinta a óleo. Este material deve ser substituído periodicamente caso apresente sinais de desgaste.

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Rosemeiregosta de escolher os rumos do seu futuro. Não é a toa que escolheu viver na Vila Brasil perto de seus pais: “Depois que eu casei, eu só morei em casa de madeira, porque eu gosto. Eu gosto muito de casa de madeira”.

Rosemeire morou em muitos lugares, morou também em outras casas de madeira e apartamentos. Para explicar o seu apreço pelas casas de madeira mais que pelos apartamentos, ela relata: “Casa é assim: você tem mais liberdade! Prédio é muito fechado, parece que você fica preso. É melhor uma casa, porque você se sente a vontade, pode deixar a porta aberta no calor, pode ir na área, pode fazer churrasco aqui fora e pronto, acabou”.

A liberdade de morar em uma casa de madeira é dividida com seu marido. Ele nasceu em Londrina, mas morou trinta anos em São Paulo capital. No entanto, guarda muitas memórias da vida de sua família na infância em terras vermelhas: “Morei muito tempo em uma casa de madeira que meu pai construiu. Inclusive, aquela casa, o dinheiro para construir eu ganhei na loteria. O bilhete 329. Comprei um bilhete inteiro e deu na cabeça. Aí meu pai comprou as madeiras e fez a casa. Eu era

é como sua mãe Julina,

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pequeno”.

Mas a sorte e o dinheiro da loteria não foram suficientes. Foi preciso muito trabalho para construir sua antiga casa: “Ele sempre trazia uma tábua nas costas. Ele vendia bilhete e todo dia ele trazia uma tábua nas costas. Foi juntando, foi juntando. Fez uma pilha de tábuas, foi comprando as coisas. Aí ele construiu uma casona, depois ele vendeu”.

Atualmente o casal reside em uma casa de madeira alugada na Rua Venezuela e não quer deixar o bairro, onde nasceu a pequenina Mariana. Mário Raul, marido de Rosemeire, é provocado sobre o que faria se novamente ganhasse na loteria e responde prontamente: “Comprava a casa. Dava uma reformadinha. Bem feitinha, usando um pouco de cimento e tijolo. Pintava de outra cor, aumentava o quintal. Aqui é muito gostoso morar. Muito sossegado”.

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Dona Julinaestá em Londrina desde 1948;

já morou em diversos bairros da cidade. Na casa da Rua Venezuela, esquina com a Rua Chile, ela está há nove anos. É a terceira casa de madeira que habita. Anteriormente, morou numa casa na esquina da Rua Colômbia com a Rua Chile, onde o

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casal teve três filhos.

Na varanda de sua casa Dona Julina nos conta sobre as dificuldades de sua vida: “Sou natural de Macatuba, interior de São Paulo. Vim para Londrina com dez ano.Sou órfã de pai e mãe e fiquei com mais cinco irmãos para serem criados pelo meu tio. Ele já tinha nove filhos e tratava de forma igual todo mundo”. Quando era solteira trabalhou de empregada doméstica. Casou-se em 1960 com o caminhoneiro Jaime. Algumas das viagens feitas pelo marido eram acompanhadas por toda a família: do Rio de Janeiro ao Ceará, lá estava o casal e os três filhos juntos pelas estradas. Espalhadas pela casa não faltam recordações da vida na estrada. É como se o caminhão e a casa de madeira se

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completassem: de um lado trabalho e viagens, do outro lado descanso e aconchego.

No desenrolar da conversa descobrimos o motivo da varanda sempre aberta: o casal gosta de receber os raios de sol em sua casa e em sua vida. Não foram poucos os lugares por onde passaram no rodar do caminhão. Naqueles caminhos aprenderam a gostar da liberdade: “Morar em prédio é como se fossemos um passarinho na gaiola.”, afirma Dona Julina, com autoridade de quem morou na boleia do caminhão e em um apartamento.

E embalados nessa liberdade nos despedimos da casa de Dona Julina ao som de seu violão, que ecoa as antigas modas sertanejas. “Nos caminhos desta vida muitos espinhos eu encontrei, mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei.Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei. Vendo a porteira fechada o menino não avistei.”( música Menino da Porteira).

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E o tempo passou?Passou-se o tempo, desde 1939 com as

proibições estabelecidas às casas de madeira pela administração municipal em parceria com a, então, Companhia de Terras Norte do Paraná. Tempos de urbanização chegaram. A concretização da vida urbana se propagou e mudou o cenário da cidade, agora ocupada em sua maioria por prédios, condôminos e apartamentos.

As casas de palmito praticamente desapareceram, as de madeira, ainda em pequena escala, são vistas na paisagem da Londrina de hoje. E de forma nenhuma, por ocuparem menos lotes na planta da cidade, as casas de madeira podem ser menosprezadas.

Com muita história para contar e ensinando cuidados com a casa, os moradores das casas de madeira da Vila Brasil prolongam sua voz nesta cartilha. Quem mora ainda em uma casa de madeira pode falar de alguma possível reforma da casa ou atestar o que já pensava. Talvez quem não mora possa ler ou somente imaginar como é morar em uma casa de madeira.

Estamos vivendo o ano de 2009, podemos ver no cotidiano a tão falada mudança dos tempos.

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Os tempos são outros, e de outra forma as casas de madeira com seus moradores sofrem mais para permanecerem em pé. Eles sofrem já pela idade, sofrem com o avanço do desenvolvimento, sofrem pela dificuldade de financiamento do banco, sofrem pela desleal relação com as imobiliárias.

E podemos então perguntar: O tempo passou? – Passou sim – falam as Dona(s) e os Seu(s), habitantes das casas construídas em um antigo tempo da nossa cidade, que não pode ser demolido da história.

Aos moradores da Vila Brasil entrevistados, à Vanda de Moraes, à Vila Cultural Brasil e sua

equipe, aos professores Humberto Yamaki e Celso Vianna, ao fotógrafo Carlos Bozelli, e a todos que reconhecem o valor histórico das casas de

madeira em Londrina.

Agradecimentos

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Composto em papel offset (120 g/m2 para o miolo e 240 g/m2 para a capa)

e família tipográfica Minion Pro.

Londrina, fevereiro de 2009

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