Memórias de Um Sargento de Milícias

27
Memórias de um Sargento de Milícias Manuel Antônio de Almeida

description

Slides com análise da obra Memórias de Um Sargento de Milícias.

Transcript of Memórias de Um Sargento de Milícias

Page 1: Memórias de Um Sargento de Milícias

Memórias de um Sargento de Milícias

Manuel Antônio de Almeida

Page 2: Memórias de Um Sargento de Milícias

“As Memórias reportam-se a uma fase em que se esboçava uma estrutura não mais puramente colonial,

mas ainda longe do quadro industrial-burguês. E, como o autor conviveu com o povo, o espelhamento foi

distorcido apenas pelo ângulo da comicidade, que é, de longa data, o viés pelo qual o artista vê o típico,

sobretudo o típico popular.”

Page 3: Memórias de Um Sargento de Milícias

• O sentimentalismo exacerbado cede lugar ao romance popular de caráter humorístico.

• O retrato de costumes do Rio de Janeiro.

• As personagens: tipos sociais identificados pela profissão ou condição social.

• O registro social antecipa o episódio.

• Sociedade marginalizada e dividida por grupos.

As Características

Page 4: Memórias de Um Sargento de Milícias

"Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor

mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar

sem uma paixãozinha."

“Apesar de tudo quanto havia já sofrido por amores, o Leonardo de modo algum queria emendar-se; enquanto se

lembrou da cadeia, dos granadeiros e do Vidigal, esqueceu-se da cigana, ou antes, só pensava nela para jurar esquecê-la; quando porém as caçoadas dos companheiros foram cessando, começou

a renovar-se a paixão.”

Page 5: Memórias de Um Sargento de Milícias

“O mestre de reza era tão acatado e venerado naquele tempo como o próprio mestre de escola. (...) O mestre de reza não tinha traje especial: vestia-se como

todos, e só o que o distinguia era ver-se-lhe constantemente fora de um dos bolsos o cabo de uma

tremenda palmatória, de que andava armado, compêndio único por onde ensinava seus discípulos.”

Page 6: Memórias de Um Sargento de Milícias

“Espiar a vida alheia, inquerir os escravos o que se passava no interior das casas, era naquele tempo coisa tão comum e enraizada nos costumes, que ainda hoje,

depois de passados tantos anos, restam grandes vestígios desse belo hábito.”

Obs: a figura do escravo surge como elemento decorativo.

Page 7: Memórias de Um Sargento de Milícias

• O resgate do passado social em caráter de fábula.

• A narrativa mais objetiva e o estilo jornalístico.

Obs: A 3ª pessoa tira o poder de conclusão do protagonista.

• Não há a idealização das personagens.

• Surge a figura do anti-herói, o malandro carioca, o vadio.

Page 8: Memórias de Um Sargento de Milícias

“Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o nascimento e batizado do nosso memorando, e vamos encontrá-lo já na idade de sete anos. Digamos que durante todo este tempo o garoto não desmentiu

aquilo que anunciara desde que nasceu.”

Obs: A malandragem em Leonardo é uma qualidade essencial e não circunstancial.

Page 9: Memórias de Um Sargento de Milícias
Page 10: Memórias de Um Sargento de Milícias

O universo da ORDEM X DESORDEM.

Page 11: Memórias de Um Sargento de Milícias

Romance Romântico X Romance Realista

o imaginoso a crítica social

Atenção: As reflexões morais do autor giram em torno do cinismo e do otimismo.

Page 12: Memórias de Um Sargento de Milícias

O personagem picaresco

• Narra a própria aventura > uma visão restrita da realidade.

• Origem ingênua X Choque áspero da realidade.

A condição servilmentira – dissimulação – roubo

Page 13: Memórias de Um Sargento de Milícias

O personagem picaresco

• A vida ao sabor da sorte.

• Aprende com a experiência > amadurecimento.

• Impassível – reage por reflexo de ataque e defesa.

Obs: em Leonardo não aparece o problema da subsistência.

Page 14: Memórias de Um Sargento de Milícias

• Agrada aos seus superiores.

• A misoginia acentuada.

• O vocabulário obsceno.

• O desfecho na resignada mediocridade ou na miséria.

Page 15: Memórias de Um Sargento de Milícias

Luisinha “Era a sobrinha de D. Maria já muito desenvolvida,

porém que, tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido a beleza de moça: era alta,

magra, pálida: andava com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas, e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo, cortado, dava-lhe apenas até o pescoço, e como

andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma grande porção lhe caía sobre a testa e olhos,

como uma viseira.

Page 16: Memórias de Um Sargento de Milícias

Vidinha"Era uma mulatinha de dezoito anos a vinte anos, de altura regular, ombros largos, peito alteado, cintura

fina e pés pequeninos; tinha os olhos muitos pretos e muito vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes

claríssimos, a fala era um pouco descansada, doce e afinada. “

Page 17: Memórias de Um Sargento de Milícias

Luisinha e Vidinha (um par simétrico)

Luisinha, no plano da ordem, é a mocinha burguesa com quem não há relação viável fora do casamento, pois ela traz herança,

parentela, posição e deveres.

Vidinha, no plano da desordem, é a mulher que se pode apenas amar, sem casamento

nem deveres, porque ela não tem nada além de sua graça e de sua curiosa família.

Page 18: Memórias de Um Sargento de Milícias

O sentimentalismo romântico

“(...)chegamos por nossas investigações à conclusão de que o verdadeiro amor, ou são todos ou é um só, e neste caso não

é o primeiro, é o último. O último é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda. As leitoras que não concordarem com esta doutrina convençam-me do

contrário, se são disso capazes.”

Page 19: Memórias de Um Sargento de Milícias

“ (...) as‘Memórias de um sargento de milícias’ criam um universo que parece liberto do erro e do pecado. Um universo sem culpabilidade e mesmo sem repressão, a não ser a repressão que pesa o tempo todo por meio do Vidigal e cujo desfecho já vimos. O sentimento do homem aparece nele como uma espécie de curiosidade superficial, que põe em movimento o interesse dos personagens uns pelos outros e do autor pelos personagens, formando a trama de relações vividas e descritas.

Page 20: Memórias de Um Sargento de Milícias

A esta curiosidade corresponde uma visão muito tolerante, quase amena. As pessoas fazem coisas que poderiam ser qualificadas como reprováveis, mas também fazem outras dignas de louvor, que as compensam. E como todos têm defeitos, ninguém merece censura.”

(Antônio Cândido – Dialética da Malandragem)

Page 21: Memórias de Um Sargento de Milícias

“(...) a malandragem é uma variante do ‘jeitinho’ (...), constituindo-se como uma outra forma de navegação social. O malandro, portanto, seria um agente profissional do ‘jeitinho’ e da arte de sobreviver nas situações mais difíceis: aquelas nas quais ele está claramente fora ou longe da lei. Na malandragem também temos esse relacionamento complexo e criativo entre o talento pessoal e as leis que engendram o uso de ‘expedientes’, de ‘histórias’ e de ‘contos-do-vigário’, artifícios com um alto apelo pessoal que nada mais são que modos engenhosos de tirar partido de certas situações (...)”

O que é o Brasil?, Roberto DaMatta

Page 22: Memórias de Um Sargento de Milícias

O Malandro – Chico Buarque

O malandro na durezaSenta à mesa do café

Bebe um gole de cachaçaAcha graça e dá no pé

O garçom no prejuízoSem sorriso sem freguêsDe passagem pela caixa

Dá uma baixa no português

O galego acha estranhoQue o seu ganho tá um horror

Pega o lápis soma os canosPassa os danos pro distribuidor

Page 23: Memórias de Um Sargento de Milícias

Mas o frete vê que ao todoHá engodo nos papéis

E pra cima do alambiqueDá um trambique de cem mil réis

O usineiro nessa lutaGrita ponte que partiu

Não é idiota trunca a notaLesa o Banco do Brasil

Nosso banco tá cotadoNo mercado exteriorEntão taxa a cachaça

A um preço assustador

Page 24: Memórias de Um Sargento de Milícias

Mas os ianques com seus tanquesTêm bem mais o que fazer

E proíbem os soldadosAliados de beber

A cachaça tá paradaRejeitada no barril

O alambique tem chiliqueContra o Banco do Brasil

O usineiro faz barulhoCom orgulho de produtor

Mas a sua raiva cegaDescarrega no carregador

Page 25: Memórias de Um Sargento de Milícias

Este chega pro galegoNega arrego cobra maisA cachaça tá de graça

Mas o frete como é que faz?

O galego tá apertadoPro seu lado não tá bomEntão deixa congeladaA mesada do garçom

O garçom vê um malandroSai gritando pega ladrão!

E o malandro autuadoÉ julgado e condenado culpado

Pela situação

Page 26: Memórias de Um Sargento de Milícias

Homenagem ao Malandro(Chico Buarque)

Eu fui fazerUm samba em homenagem

À nata da malandragemQue conheço de outros carnavais

Eu fui à Lapa e perdi a viagemQue aquela tal malandragem

Não existe maisAgora já não é normalO que dá de malandroRegular, profissional

Malandro com aparatoDe malandro oficialMalandro candidatoA malandro federal

Page 27: Memórias de Um Sargento de Milícias

Malandro com retratoNa coluna social

Malandro com contratoCom gravata e capitalQue nunca se dá mal

Mas o malandro pra valerNão espalha

Aposentou a navalhaTem mulher e filho

E tralha e talDizem as más línguasQue ele até trabalha

Mora lá longe e chacoalhaNum trem da Central