Memórias Musicais no Palácio de Sintra fileR e nco t s - DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO -...
Transcript of Memórias Musicais no Palácio de Sintra fileR e nco t s - DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO -...
Re ncontrose- DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO -
Memórias Musicais no Palácio de Sintra
SALA DOS CISNES SWAN ROOM | 21:30
- FROM THE MIDDLE AGES TO THE RENAISSANCE -
/ Musical Memories in the Palace of SintraRe ncounterse
3ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA3rd PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON
PSM
L | D
iogo
Rod
rigue
s
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
reencontros_capaFOLHA.pdf 1 24/05/17 11:29
03/06 CARLOS MAGNO – MÚSICAS PARA UMA LENDA
CHARLEMAGNE – MUSIC FOR A LEGEND
Queremos saber a sua opinião
Carlos, dito Magno, restaurador do Império Romano do Ocidente,
monarca guerreiro, Defensor da Fé e, simultaneamente, um
pecador desmedido e muito sensual é, na realidade, muitos
homens. Cada homem é uma personagem, um modelo,
um arquétipo, uma grande fonte de histórias e de História.
A sua época temeu-o e respeitou-o, maravilhada tanto pelas suas
conquistas cruéis como pelas suas iluminadas reformas
– as que permitiram fazer renascer um grande passado que
se pensava morto, chamando para perto de si feros homens
de armas e pacíficos doutíssimos intelectuais.
Os historiadores e cronistas contribuíram, a par de menestréis
e contadores de histórias, para as muitas lendas ligadas à sua
fama, que foram crescendo ao longo da Idade Média: Carolus
Magnus, Charlemagne ou Karl der Große partilha com o rei Artur
a honra de ser o herói de um dos maiores ciclos narrativos
da Idade Média; mas cada século dá-lhe novas vestes
e dedica-lhe novos versos. No séc. XII houve uma tentativa
de o santificar. Continua, hoje, a ser reconhecido como “fundador”
da unidade europeia.
Não restam vestígios da música que se tocava no seu palácio
de Aquisgrana (hoje, Aachen): os manuscritos musicais
do séc. IX transmitem “apenas” o imenso património de canto
litúrgico difundido sob o respeitado rótulo de “gregoriano” mas
que foi, sobretudo, o extraordinário resultado sonoro da empresa
LAREVERDIE
Carlos Magno – Músicas para uma lenda
Charlemagne – Music for a legend
PSM
L | W
ilson
Per
eira
titânica de Carlos: unificar os territórios do seu Império, fazendo
de tantos povos uma única Cultura radicada numa única Fé.
Herdeiro exemplar dos ideais e da tradição germânica da nobreza
guerreira, abraçou a causa da Igreja com fidelidade absoluta
ao Bispo de Roma e, provavelmente, não apenas pela sua visão
política de futuro – a acreditar nos biógrafos, terá dedicado
os últimos anos da sua vida ao retiro e à oração.
Os mesmos biógrafos transmitem bastante informação sobre
as suas cinco mulheres e as muito mais numerosas concubinas,
falam do amor possessivo pelas 11 filhas, a quem negou
casamentos oficiais, da sua paixão pela boa mesa (que lhe trouxe
problemas de gota), das sessões quotidianas de natação nas
termas do palácio, para manter em forma o corpo de guerreiro,
mas… “Quando havia divergência entre os ensinamentos
cristãos e o ideal guerreiro, Carlos não perdia muito tempo
com problemas de consciência: o seu ascendente e a sua força
residiam na ingénua simplicidade da sua forma de agir
e na naturalidade com que se convencia de que qualquer
ação sua não podia ser senão justa. Em Carlos, os seus
contemporâneos reconheceram um homem como eles e, por
essa razão, nem os seus erros conseguiram fazer diminuir a sua
popularidade.” (Heinrich Fichtenau, O Império Carolíngio, 1958).
LaReverdie escolheu, do repertório musical que floresceu nos
séculos que se seguiram à criação do Sacro Império Romano-
Germânico (séc. X), alguns excertos que cantam as diversas faces
do herói Carlos, personificação do herói medieval: o Guerreiro,
o Amante, o Cristão.
Charles the Great, restorer of the Western Roman Empire,
a monarch-warrior, Defender of the Faith and, simultaneously
a rampant and highly sensual sinner is, in reality, many men. Each
of these men represents a character, a model, an archetype, a great
source of both stories and History. In his time, he was both feared
and respected, marvelled at both for his cruel and bloody conquests
and his enlightened reforms – which enabled the rebirth of a great
past hitherto deemed dead, and calling to his side both fierce men
of arms and peaceful men of great intellectual learning.
The court historians and biographers, alongside minstrels and
storytellers, contributed to the many legends surrounding his
fame and that were to grow throughout the course of the Middle
Ages: Carolus Magnus, Charlemagne or Karl der Große shared with
King Arthur the honour of being the hero of one of the greatest
narrative cycles of the period and with each century both endowing
it with new embellishments and dedicating new verses. The 12th
century saw efforts to canonise him and he today continues to gain
recognition as a “founder” of the European Union.
There is no remaining evidence of the music played in his palace
in Aquisgrano (today, Aachen): the musical manuscripts of the
9th century convey “only” the immense heritage of liturgical singing
that was handed down under the respected label of “Gregorian” but
which was above all the extraordinary sonorous result of the titanic
undertakings of Charles: unifying the territories of his Empire and
rendering so many peoples into a single Culture resting upon
a single Faith.
An exemplary heir to the Germanic ideas and traditions of the noble
warrior, he embraced the cause of the Church with absolute loyalty
to the Bishop of Rome and probably not only out of his political
vision of the future – should we believe his biographers, he would
have spent his final years in prayer and withdrawn from public life.
The same biographers also detailed substantial information about
his five wives and far more numerous concubines, speaking of his
possessive love for his eleven daughters, who were denied official
marriages, his passion for good food (which brought him problems
with gout), the daily swimming sessions in the palace thermal spa
in order to maintain his warrior body in shape, but… “Whenever
there was any divergence between the Christian teachings and the
warrior ideal, Charles would not waste much time with problems
of conscience: his ascendance and very strength derived from the
naïve simplicity of his way of acting and the naturalness with which
he convinced himself that any of his actions could only ever be
just and fair. In Charles, his contemporaries recognised a man like
themselves and for this reason not even were his errors able
to undermine his popularity” (Heinrich Fichtenau, O Império
Carolíngio, 1958).
LaReverdie chose, from the musical repertoire that flourished in the
centuries following the founding of the Holy Roman Empire (10th
century), some of those excerpts that sing of the diverse faces
of our hero Charles, the personification of the medieval hero: the
Warrior, the Lover,
the Christian.
LAREVERDIE
PSM
L | A
ngel
o H
orna
k
03/06 | 21:30
LAREVERDIE
Carlos Magno – Músicas para uma lenda
Charlemagne – Music for a legend
Claudia Caffagni voz e alaúde | voice, lute
Livia Caffagnivoz, viela e flautas de bisel | voice, vielle, recorders
Elisabetta de Mircovich voz, viela e sanfona | voice, vielle, symphonia
PSM
L | D
iogo
Rod
rigue
s
PROGRAMA PROGRAMME
O GUERREIRO | THE WARRIOR
O rei, que superava todos os príncipes do seu tempo em
sabedoria e grandeza de alma, não teve dificuldades que o
detivessem ou perigos que o dissuadissem de fazer tudo o que
tinha de ser levado a cabo ou realizado, pois tinha treinado para
suportar e aguentar o que quer que surgisse, sem ceder na
adversidade nem confiar nos enganosos favores da fortuna na
prosperidade.
The King, who excelled all the princes of his time in wisdom and
greatness of soul, did not suffer difficulty to deter him or danger to
daunt him from anything that had to be taken up or carried through,
for he-had trained himself to bear and endure whatever came,
without yielding in adversity, or trusting to the deceitful favors of
fortune in prosperity.
[Eginardus, Vita Caroli Magni, cap. VIII]
• Versus de Herico duce Paolino d’Aquileia (740-802)
MS 394, Biblioteca Municipal | Central Library (Berna | Bern)
• Belicha (dança | dance)
anónimo (Itália, séc. XIV) | anonymous (Italy, 14th century)
Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library
(Londres|London)
• Bonté de corps (ballade)
anónimo (França, séc. XIV) | anonymous (France,
14th century)
6771 - Codex Reina, Biblioteca Nacional de França
| National Library of France (Paris)
• Di nuovo è giunto un chavalier errante (madrigal)
Jacopo di Bologna (fl. 1335-1360)
Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library
(Londres | London)
• L’homme armé (chanson)
attr. Robert Morton (séc. XV | 15th century)
MS VI E 40, Biblioteca Nacional de Nápoles ‘Vittorio Emanuele III’
| “Vittorio Emanuele III” National Library (Nápoles | Naples)
O AMANTE | THE LOVER
Mais tarde, casou-se com uma filha de Desidério, rei dos
Lombardos, a instâncias da mãe. Mas repudiou-a ao fim de um
ano por alguma razão desconhecida, e casou-se com Hildegard,
uma mulher de alta linhagem, de origem suábia. Teve três filhos
dela - Carlos, Pepino e Luís - e outras tantas filhas - Hruodrud,
Bertha e Gisela. Teve mais três filhas além destas - Theoderada,
Hiltrud e Ruodhaid -, duas da sua terceira esposa, Fastrada, uma
mulher da França Oriental (isto é, alemã), e a terceira de uma
concubina, cujo nome me escapa. Com a morte de Fastrada
[794], casou-se com Liutgard, uma alemã que não lhe deu filhos.
Após a morte desta [4 de junho de 800], teve três concubinas.
Later he married a daughter of Desiderius, King of the Lombards,
at the instance of his mother; but he repudiated her at the end of
a year for some reason unknown, and married Hildegard, a woman
of high birth, of Suabian origin. He had three sons by her - Charles,
Pepin and Louis - and as many daughters - Hruodrud, Bertha, and
and Gisela. He had three other daughters besides these - Theodera-
da, Hiltrud, and Ruodhaid - two by his third wife, Fastrada, a woman
of East Frankish (that is to say, of German) origin, and the third by a
concubine, whose name for the moment escapes me. At the death
of Fastrada [794], he married Liutgard, an Alemannic woman, who
bore him no children. After her death [Jun4 4, 800] he had three
concubines.
[Eginardus, Vita Caroli Magni, cap. XV]
• Je m’estoie / docebit (moteto | motet)
anónimo (França, séc. XIII) | anonymous (France,
13th century)
MS. H196, Biblioteca da Faculdade de Medicina
| Medical School Library (Montpellier)
• Les l’ormel / Mayn se leva sire Gayrin anónimo (França, séc. XIV) | anonymous (France,
14th century)
Vari 42, Biblioteca Real | Royal Library (Torino)
• In su bei fiori (madrigal)
Jacopo da Bologna (fl. 1335-1360)
Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library
(Londres | London)
• Con bracchi assai (caccia)
Magister Piero (fl. 1340-1360)
Panciatichiano 26, Biblioteca Nacional Central | National Library
(Florença | Florence)
• Lamento di Tristano (dança | dance)
anónimo (Itália,séc. XIV) | anonymous (Italy, 14th century)
Additional 29987, Biblioteca Britânica | British Library,
(Londres | London)
O CRISTÃO | THE CHRISTIAN
Observava com o maior fervor e devoção os princípios da religião
cristã, que lhe tinham sido incutidos desde a infância. Daí ter
mandado construir a bela Basílica de Aquisgrana (hoje Aix-la-
Chapelle) [...] Foi um devoto assíduo nesta igreja enquanto
a saúde lho permitiu, visitando-a de manhã e ao fim da tarde,
ou mesmo após o anoitecer, e assistindo à missa. Cuidava sempre
que todos os serviços ali realizados fossemadministrados na
maior higiene, advertindo muitas vezes os sacristães para que
não deixassem coisas impróprias ou sujas entrar e permanecer
dentro do edifício. Ofereceu à basílica um grande número
de vasos sagrados de ouro e prata e uma tal quantidade
de vestes clericais que até mesmo os porteiros, cumprindo
o mais humilde dos serviços na igreja, eram obrigados a usar
diariamente as suas roupas durante o exercício das suas funções.
Pretendeu insistentemente melhorar as leituras e o canto dos
salmos na igreja, pois tinha qualificações para ambos, embora
não lesse nem cantasse em público, exceto num tom baixo
e sempre em grupo.
He cherished with the greatest fervor and devotion the principles
of the Christian religion, which had been instilled into him from
infancy. Hence it was that he built the beautiful basilica
at Aquisgrana […] He was a constant worshipper at this church
as long as his health permitted, going morning and evening, even
after nightfall, besides attending mass; and he took care that all the
services there conducted should be administered with the utmost
possible propriety, very often warning the sextons not to let any
improper or unclean thing be brought into the building or remain in
it. He provided it with a great number of sacred vessels of gold and
silver and with such a quantity of clerical robes that not even the
doorkeepers who fill the humblest office in the church were obliged
to wear their everyday clothes when in the exercise of their duties.
He was at great pains to improve the church reading and psalmody,
for he was well skilled in both although he neither read in public nor
sang, except in a low tone and with others.
[Eginardus, Vita Caroli Magni, cap. XXVI]
• Cum erubuerint (antífona | antiphon)
Hildegard von Bingen (1098-1179)
Cod. 9,St. Pieters & Paulusabdij (Dendermonde)
• Rosa fragrans (rondellus)
anónimo (Inglaterra, séc. XIII) | anonymous (England,
13th century)
MS B 489, Corpus Christi College (Oxford)
• Victime paschali laudes (sequentia)
Wipo von Burgund (séc. XI) | (11th century)
Graduale Romanum
• Ortorum verentium / Virga Yesse, flos virginum / Victime paschali (moteto | motet)
anónimo (séc. XIV) | anonymous (14th century)
MS BR18, Biblioteca Nacional Central | National Library
(Florença | Florence)
• Kyrie / O Sacra virgo anónimo (França, final séc. XIV) | anonymous (France,
late 14th century)
16bis, Catedral de Sainte-Anne, Biblioteca do Capítulo | Saint
Annes’s Cathedral, Chapter’s Library (Apt)
• Diana Stella Doron David Sherwin (n. 1962)
Mecum Timavi saxa novem
flumina / flete per novem
fontes redundantia / quae
salsa gluttit unda Ponti Ionici
Histris / Sausque Tissa Colpa
Marua / Natissa Corca
gurgites Isoncii:
Hericum mihi dulce nomen
plangite / Syrmium Pola tellus
Aquilegie / Iulii Forum
Cormonis ruralia/rupes Osopi
iuga Cetenensium / Attensis
humus plorat et Albenganus.
Nec tu cessare de cuius
confinio / est oriundus urbs
dives Argentea / lugere multo
gravique cum gemitu / civem
famosum perdidisti nobili /
germine natum claroque de
sanguine.
O GUERREIRO | THE WARRIOR
Chorai comigo nos vossos
leitos de seixos, / vós, novos
braços do (rio) Timavo, /
chorem copiosamente as
vossas novas fontes / que
nas salsas ondas do Adriático
desaguam! / E tu, Sava de
Ístria, vós, rios da Cárnia,
/ vós Natisone e Gurck, tu
vorticoso Isonzo: chorai
comigo o doce nome de
Erico: / chorem Cividale e
os campos de Cormons, / as
gargantas de Osoppo e os
montes de Cenesa, / chorem
as terras de Ádige e Albenga.
E não cesses tu, dentro de
cujos confins / ele nasceu,
próspera cidade da prata, /
de chorar amargamente com
longos suspiros: / perdeste
um filho ilustre, nobre /
de origem, sangue de alta
estirpe.
PSM
L | L
uís
Dua
rte
Ecclesiarum largus in donariis
/ Pauperum pater miseris
subsidium / hic viduarum
summa consolation / erat
quam mitis carus sacerdotibus
/ potens in armis subtilis
ingenio.
Barbaras gentes domuit
sevissimas / cingit quas
Drauva recludit Danubius /
celant quas iunco paludes
Meotides / Ponti coartat quas
unda salsiflui / Dalmatiarum
quibus obstat terminus.Ulmus
nec vitem gemmato cum
pampino / sustentet uva nec
in ramis pendeat / frondeat
ficus sicco semper stipite /
ferat nec rubus mala granis
punica / promat hirsutus nec
globus castanea / ubi cecidit
vir fortis in proelio, ubi cecidit
vir fortis in proelio / clipeo
fracto cruentata romphea /
lancee summo retunso nam
iaculo/ sagittis fossum fundis
saxa fortia.
Pródigo benfeitor da Igreja,
/ pai dos míseros, amparo
dos aflitos, / das viúvas
augusto protetor: / e como
era doce, caro a todo o clero,
/ em armas temível, sagaz de
engenho!
Foi ele quem domou as
feras gentes / que o Drava
e o Danúbio no seu curso
abraçam, / escondidas na
Meónia entre juncos e paúis,
/ que o salso Quarnaro
tenta conter / e de onde é
ameaçada a Dalmácia.
Nem no olmo se enrolem
os pesados sarmentos / de
cachos de uvas, de frondes
risonhas: / ofereça a figueira
ramos secos e estéreis, /
nem de mais doces frutos
abunde a romãzeiria /
ou espreitem hirsutos os
ouriços no castanheiro,
no local onde o herói foi
derrubado na batalha. /
Quebrado o escudo, a espada
ensanguentada, / em dois
pedaços a lança truncada, /
de muitas frechas
ferido: dizem que o mataram
/ os irosos arremessos das
fundas.
Bonté de corps en armes
esprouvée. / Et loyauté vous
cil que apertient; / rayson ainsi
de grant vigor parée. / Truys
en celli dont me souvient.
Riens conparer à li me
convient, / ains à bon droit
grec en ses las tient. / N’en
fait de guerre, n’a nul home
pareille, / que a l’aygl’en or à
la barre vermeille.
Di novo è giunto un chavalier
errante / s’un corrente
destrier ferrato a ghiazza
/ con balestrier assal in
ogni piazza / ferito altri nel
petto e nella fazza / e chi
non è fornito d’arme forte /
convien che stia serrato nelle
porte. Finché verrà la donna
di chalora / et ferito da lei
convien che mora
L’homme, l’homme, l’homme
armé, / L’homme armé /
L’homme armé doibt on
doubter, doibt on doubter. /
On a fait partout crier, / Que
chascun se viegne armer /
D’un haubregon de fer.
Graça temperada nas armas. /
Lealdada com quem a
merece / e sensatez coberta
de excelência vejo naquele
cuja recordação nunca me
abandona.
Ninguém o iguala, / e por
direito próprio conquistou
a glória: / nas empresas
guerreiras ninguém pode
fazer frente à Águia Negra da
barra púrpura.
Acaba de chegar um cavaleiro
andante / num cavalo de
ferraduras de gelo / com a
balestra ataca tudo em volta
/ ferindo este no peito, aquele
na face / e quem não está
armado com fortes armas
/ convém que não saia de
portas. Até chegar a dama de
fogo / e por ela ferido deverá
morrer.
O homem, o homem, o
homem armado, O homem
armado / o homem armado
deve ser temido, deve ser
temido. / Em toda a parte se
diz / Que todos devem armar-
se / Com um lorigão de malha
de ferro.
Je m’estoie mis en voie /
de querre secours / d’une
doucete dolor / qu’avoir
soloie. / Mes mais est qui
me guerroie / moustré m’a
/ ce qui me parquera / et
puisqu’au recheoir va; / de
voir sai / que resors ne serai ja
/ Ains sai bien qu’il m’ocirra /
li maus d’amours.
(Triplum) Les l’ormel à la
turelle / chevauchay l’autrier
/ Robin truis et Marotelle /
Gifroy et Gauter / chacun
ot sa pastorelle / Gifroy
ot Fressant la belle / la
fille Bertier / et Gauter ot
Peyronelle / qui desier avoyt
vestu sa cotelle / quant
elle sot la novelle / de huy
feste commenser / qui les
veyst rehaitier / Robin lor
chalemelle pour tres cher
/ tout se pust merveiller /
chacuns bayse la mayssele
/ s’amie à l’entrelacier s’en
disans moquier / Se lour vie
est toudis telle / veez me la
bercher.
O AMANTE | THE LOVER
Tinha partido em viagem /
em busca de bálsamo / para
uma doce dor / que há tempo
me atormentava. / Cruel
mensageiro é o que me faz a
guerra, / já me fez ver / o que
me matará, / e quais serão
as causas da ruína; / sei, sei
com toda a certeza / que
jamais me recomporei, / mas
morrerei / do mal de amor.
(Triplum) Para lá do olmo da
colina cavalgava outro dia,
quando topei com Robin e
Marotelle: estavam também
Gifroy e Gauter, cada um com
a sua amada pastora – Gifroy
com Fressant, a graciosa
filha de Bertier, e Gauter
com Peyronelle, que logo se
vestiu para sair, assim que lhe
chegaram novas da festa que
ia começar. Quem os tivesse
visto folgar, com Robin, que
tocava galhardamente a sua
charamela, bem poderia
maravilhar-se!
(Motetus) Mayn se leva sire
Gayrin / et clos s’a desclos
son jardin / vers le molin delès
le boys / si vit la rosée d’un
petit pié depassée / dist que
fame est la passée/si ensuit
los esclos / au molin va le ga-
los si l’a trovée / à bré mot l’a
si accordée / que par sembler
est seulée / chant par son los:
“Qui moldra m’avoyne? / li
molins est clos” / Lors li dist
Gayrin “Aubrée / seions d’un
acort / qu’ancor n’est la gent
levée / et li vilans dort”.
(Tenor) Je n’y saindrai plus
graile sainturete / mon amy
est marié / il a mis mon cuer
en si grant destresse.
In su’ be’ fiori e sulla verde
fronda / sotto nuovi arboretti
spessi e lunghi / pastorella
trovai che cogliea funghi.
In panni bigi alzati alla ritonda,
/ per un boschetto se ne giva
sola / chiamala a me per dirle
una parola.
Del grembo un fior ch’ella
avea le tolsi / sì fu çentil che
mai più bel non colsi.
(Moteto) Bem cedo se levanta
sire Gayrin, e passando pelo
jardim apressa-se em direção
ao bosque; aí, viu no orvalho a
marca de um pezinho e disse
para si próprio que devia ter
por ali passado uma donzela.
O nosso galante amigo vai até
ao moinho, onde a encontra;
num piscar de olhos tanto
a lisonjeou que a presa foi
fácil; e agora ela lamenta
a sua sorte : “Quem moerá
a minha aveia? O moinho
está fechado.” Diz-lhe então
Gayrin: “Aubrée, façamos as
pazes, por sorte as pessoas
não se levantaram ainda, e o
vilão dorme a bom dormir.”
(Tenor) Não mais ouvirei
aquela cara trombeta, casou-
se o meu amigo: em que
grande angústia deixou o meu
coração!
Junto às alegres flores e sob
os verdes ramos / das árvores
densas e longas / encontrei
uma pastora a colher
cogumelos. No seu avental
guardava os frutos, / e seguia
só pelo bosque. / Chamei-a
para lhe dizer umas palavras.
Roubei uma flor que tinha
colhido /tão gentil, nunca
colhi outra tão bela.
Con bracchi assai e con
molti sparveri / uccellavam
su per la riva d’Adda / e qual
diceva: «Dà dà!» e qual: «Va
cià, Varin, torna Picciolo. / E
qual prendea le quaglie a volo
a volo, / quando con gran
tempesta un’acqua venne.
Né corser mai per campagna
levrieri / come facea ciascun
per fuggir l’acqua / e qual
dicea: «Dà qua!» «Dammi ‘l
mantel» / e tal: «Dammi ‘l
chappello».
Quand’io ricoverai col mio
uccello / ov’una pasturella il
cor mi punse.
Perch’era sola in fra me dico
e rido: / «Eccho la pioggia, il
bosco, Enea e Dido».
Com bastos cães, bastos
falcões / passarinhávamos
na margem do rio Adda
/, um dizia: «Vai! Vai!» e
outro: «Apanha, Varin, volta,
Picciolo». / E outro caçava
as codornizes em pleno voo,
/ quando com grande fragor
caiu a chuva.
Nunca galgos correram tanto
/ como todos agora para fugir
das águas /, este dizia «Aqui!»
«Dá-me a capa» / e aquele:
«Dá-me o chapéu».
Quando me abriguei com o
meu falcão / vi uma pastora e
o meu coração saltou.
Porque estava só, para mim
rio e digo: / «Eis a chuva, o
bosque, Eneias e Dido».
Cum erubuerint infelices in
progenie sua procedentes
in peregrinatione casus tunc
tu clamas clara voce. Hoc
modo homines elevans de isto
malicioso casu.
Rosa fragrans primula vernalis
/ servos tuos libera a malis
/ tu glorie speculum solis
umbraculum / da famulis
gaudium post hoc exilium.
Victimæ paschali laudes
immolent Christiani. / Agnus
redemit oves: Christus
innocens Patri reconciliavit
peccatores. / Mors et Vita
duello conflixere mirando:
Dux Vitæ mortuus, regnat
vivus. / Dic nobis, Maria,
quid vidisti in via? Sepulcrum
Christi viventis, et gloriam vidi
resurgentis, / angelicos testes,
sudarium et vestes. Surrexit
Christus spes mea: præcedet
suos in Galilaeam. / Scimus
Christum surrexisse a mortuis
vere: Tu nobis, victor Rex,
miserere.
O CRISTÃO | THE CRISTIAN
Quando os míseros coravam
de vergonha, errando
perdidos, gerações a fio, no
exílio da queda, surgiste e
fizeste ouvir a tua límpida
voz: e assim salvaste a
humanidade da sua miseranda
condição.
Rosa perfumada, primeiro
rebento da primavera, / liberta
os teus servos do mal: / tu,
espelho da glória, receptáculo
do sol, / concede aos teus
devotos a alegria eterna após
o exílio deste mundo.
Eleve-se à vítima pascal
o sacrifício de louvor, / o
Cordeiro redimiu o rebanho,
Cristo inocente reconciliou os
pecadores com o Pai. / Morte
e Vida defrontaram-se num
duelo extraordinário: o Senhor
da vida estava morto, agora,
reina vivo. / “Maria, conta-
nos, o que viste no caminho?”
/ “O túmulo do Cristo vivo,
a glória do renascido; / e os
anjos, suas testemunhas, o
sudário e as vestes; / Cristo, a
minha esperança, ressuscitou e
precede os seus na Galileia.” /
Sabemos que Cristo ressuscitou
verdadeiramente. Rei vitorioso,
tem piedade de nós.
(Triplum) Ortorum virentium /
fons irrigans corda, / aquarum
viventium / puteus et corda; /
erga tuum filium / precantes
concorda, / et celeste bravium
/ virginum decorda.
(Motetus) Virga Yesse, flos
virginum / et immarcescibilis,
/ inter natas mulierum / nulla
tibi similis, / nobis fuit partus
tuus / multipictus utilis; / roga
tuum filium, / precor virgo
nobilis, / ne nos pro peccatis
capiat / infernus terribilis.
(Tenor) Victimae paschali
laudes/ immolent christiani.
O sacra Virgo beata, super
omnes exaltata, Kyrie eleison.
Mater Dei illibata, excellenter
coronata, Kyrie eleison.
Stella maris nuncupata, et
pauperum advocata, Kyrie
eleison.
Ora pro nobis Dominum,
patrem et tuum fillium Christe
eleison.
Ut nos a malis liberet,
virtutibus corroboret, Christe
eleison.
(Triplum) Ó fonte que do
teu abundante e fértil jardim
asperges os corações, fonte
de água vivificante, roga por
nós ao teu Filho, para que
nos conceda a recompensa
celeste.
(Moteto) Ramo de Jassé,
flor imortal das virgens,
nenhuma entre as mulheres
pode comparar-se a ti; por
nós pariste o filho que tanto
nos falta; nobre virgem, te
pedimos, roga por nós ao
teu Filho, para que o terrível
inferno não nos engula pelos
nossos pecados.
(Tenor) Eleve-se à vítima
pascal /o sacrifício de louvor.
Santa Virgem Beata, exaltada
acima de tudo, Senhor
piedade.
Mãe de Deus imaculada,
coroada de excelência, Senhor
piedade.
Proclamada estrela dos mares
e defensora dos pobres,
Senhor piedade.
Rogai por nós ao Senhor, pai e
vosso filho, Cristo piedade.
Para que nos livre do mal e
nos fortaleça na virtude, Cristo
piedade.
Tranquillitatem tribuat, in pace
nos custodiat Christe eleison.
Ut cum mors dira venerit,
preces tuas audierit, Kyrie
eleison.
Ut per te fraudes Sathane,
queamus sic evadere Kyrie
eleison.
Ut callidus dyabolus non nos
percutet invidus Kyrie eleison.
Nos conceda a tranquilidade
e nos proteja na paz, Cristo
piedade.
Para que chegada a morte
com presságios funestos ouça
as vossas preces, Senhor
piedade.
Para que através de vós
consigamos livrar-nos das
tentações do Mal, Senhor
piedade.
Para que o vil e funesto
demónio não nos tente,
Senhor piedade.
LAREVERDIE
Em 1986, as irmãs Claudia e Livia Caffagni
e as irmãs Elisabetta e Ella De Mircovich criaram
o grupo musical medieval laReverdie, que, ao longo
dos últimos quase 30 anos, foi cativando públicos
e críticos pela variedade da sua abordagem a um vasto
repertório da Idade Média e do início da Renascença.
Em 1993, Doron David Sherwin juntou-se ao grupo,
como tocador de corneto e cantor. Em 2008, Ella
de Mircovich deixou o grupo.
Atualmente, laReverdie apresenta-se em formatos
que variam entre os 3 e os 14 músicos, consoante
o repertório. A profunda pesquisa desenvolvida, aliada
à experiência alcançada durante a sua longa e intensa
carreira, tornou o laReverdie um grupo musical único,
tanto pelo entusiasmo que partilha e comunica
ao público como pela confiança e pelo virtuosismo
natural das suas interpretações, testemunhadas por
públicos de toda a Europa e também do México.
A sua discografia inclui vinte CD, 16 dos quais para
a Arcana/WDR, que lhe granjearam inúmeros prémios
ao longo dos anos. A sua gravação mais recente,
intitulada “Venecie Mundi Splendor” (2015), é dedicada
à música celebrativa dos doges de Veneza entre 1330
e 1430.
Desde 1997 que os membros do grupo se dedicam
ao ensino em cursos de verão, como o Curso
Internacional de Música Antiga em Urbino (Itália), bem
como em cursos de mestrado e de formação geral em
instituições como a Civica Scuola di Musica C. Abbado,
em Milão, e a Hochschule Trossingen, na Alemanha.
Projetos especiais levaram o laReverdie a colaborar
com artistas/ instituições tão diversos como Franco
Battiato, Carlos Nuñez, Teatro del Vento, Gérard
Dépardieu, Mimmo Cuticchio e David Riondino.
LAREVERDIE
In 1986, Caffagni sisters Claudia and Livia and De
Mircovich sisters Elisabetta and Ella created the
Medieval ensemble laReverdie, which for almost 30
years now has been captivating audiences and critics
alike for the variety of their approach to a vast repertoire
from the Middle Ages and early Renaissance. In 1993,
Doron David Sherwin joined the group, both as cornetto
player and singer. In 2008, Ella de Mircovich said farewell
to the group.
Presently laReverdie performs in groups ranging from 3
to 14 musicians, depending on the repertoire. The deep
research coupled with the experience reached during
their long and intense activity, have made laReverdie
a unique ensemble, both for the enthusiasm they
share and communicate to their audiences, as for the
assuredness and natural virtuosity of their performances,
witnessed by audiences all across Europe and also
in Mexico.
Their discography comprises twenty CD’s, 16 of them for
Arcana/WDR, which have earned them numerous awards
over the years. Their latest recording, called “Venecie
Mundi Splendor” (2015) is dedicated to celebrative music
for Venetian doges between 1330-1430.
Since 1997 the group’s members have been involved in
teaching at summer courses such as the International
Early Music Course in Urbino (Italy), as well as
masterclasses and regular instruction at institutions such
as the Civica Scuola di Musica C. Abbado-Milan, or the
Hochschule Trossingen, in Germany.
Special projects have lead laReverdie to collaborate with
artists/institutions as diverse as Franco Battiato, Carlos
Nuñez, Teatro del Vento, Gérard Dépardieu, Mimmo
Cuticchio or David Riondino.
[email protected] • Tel.(+351) 21 923 73 00 junho | June 2017
ORGANIZAÇÃO | ORGANIZATION MEDIA PARTNER APOIO | SUPPORT