Menos é mais - Como os conceitos da Bauhaus se transmormam no design digital

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Entrevista concedida para a edição 69 (setembro/2009) da Revista Webdesign.

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Uma das frases mais famosas do filósofo

George Santayana dizia que “aqueles que não podem

lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. Nesta

mesma linha, o intelectual alemão Karl Marx ressaltava

que a história pode se repetir em forma de farsa ou até

mesmo de tragédia.

Analisando estes pensamentos dentro do processo

de produção de ambientes digitais e interativos, seja

para seguir as boas práticas, ou até mesmo na hora de

quebrar os padrões convencionais, as soluções criadas

pelo designer devem estar sempre embasadas em

conceitos que justifiquem a sua eficácia.

Assim, conhecer os ideais e estudar as

metodologias que ajudaram a construir a prática do

design contemporâneo torna-se fundamental para

fortalecer o discurso de defesa de um projeto. “Os

benefícios estão no fato de que este processo faz com

que passemos (se o processo for bem feito, tanto por

quem ensina quanto por quem aprende) a integrar estes

pensamentos do design como um alicerce em nosso

processo criativo. E, a partir disso, instigar um rigor

crítico que seja acessível e faça sentido em contexto

contemporâneo. A figura dos ideais como alicerce

reforça justamente o discurso de Santayana de que não

devemos repetir o passado, mas lembrá-lo e a partir dele

construir o nosso presente”, afirma Marcos Nähr, gerente

de desenvolvimento web da Dell e professor do curso de

comunicação digital da UNISINOS.

“O designer que possui repertório e referências de

diversas escolas consegue aprimorar o seu processo

criativo, revisitando conceitos e ideais de cada época.

Com esta bagagem, poderá avaliar e sugerir novos usos

e/ou combinações de tecnologias, materiais, fontes,

cores, padrões visuais. Fazer arte abstrata, sem ter

conhecimento de escolas clássicas, pode deixar o trabalho

final pouco elaborado. Neste aspecto, gosto muito do

livro ‘Das coisas nascem coisas’, de Bruno Munari, que

li quando ainda cursava a Faculdade de Arquitetura

e Urbanismo da UFRGS. Nele, o autor mostra vários

estudos fundamentais para a Comunicação Visual e Artes

Como os conceitos da Bauhaus se transformam no design digital

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Plásticas. Além disso, adoro quando ele questiona: você

acha melhor ter uma torneira de ouro que serve água

poluída, ou uma boa torneira cromada ou mesmo plástica,

com água potável e filtrada?”, revela Gladimir Dutra,

sócio-fundador e gestor executivo da Aldeia | Agência de

Internet (www.aldeiainternet.com.br).

Como exemplo prático das questões envolvendo o

mundo digital, Marcelo Gluz, gerente de novas mídias

dos canais Globosat, destaca, por exemplo, o uso

inadequado do Flash na criação de elementos de uma

interface. “Ignorar o passado é tão comum e equivocado

quanto se prender demais a ele. Negar um conceito

de design estabelecido é algo necessário, se for feito

conscientemente. Quando surgiu o Flash com toda aquela

facilidade de criar objetos com movimento, muita gente

pensou ‘pra que fazer um menu parado se ele pode se

mexer pela página?’. Ficaram seduzidos pelo recurso

e esqueceram o que já se sabia sobre dispositivos de

navegação em design de produto: que eles devem servir

de porto seguro para os usuários e que sua razão de

existir é funcional. Esse é o exemplo de uma ruptura tola.”

Diante disso, para evitar que o deslumbramento

prejudique o seu processo criativo, vamos analisar como

os ideais originados por um dos principais movimentos

históricos da sociedade moderna devem ser aplicados e

transformados no desenvolvimento de projetos web.

“Acredito que uma das maiores contribuições da

Bauhaus para a profissão e a oficialização da figura do

designer foi sua pedagogia. Mais do que as obras e

objetos que saíram daquela escola. O ensino, através de

uma proposta com métodos particulares a cada realidade

e necessidade, é facilmente transposto ao ambiente web.

Empresas como a Adaptive Path e o próprio Google,

em suas devidas proporções, utilizam métodos quase

científicos e questionamentos muito semelhantes aos da

Bauhaus”, explica Eduardo de La Rocque, designer visual

e de interação (www.delarocque.com.br/).

“Fazer um design que atenda a todos, ou seja,

socialmente responsável, foi um lema da Bauhaus

influenciado por movimentos artísticos como

Suprematismo, Construtivismo e De Stijl. Com certeza,

é uma das filosofias que ajudam a embasar os conceitos

de acessibilidade, usabilidade e, principalmente, design

universal de hoje. Nessa perspectiva, tornar algo

usável e acessível não se trata

apenas de uma ação simplória,

mas uma atitude e uma filosofia de

desenvolvimento que visa contemplar o

máximo de pessoas possível independente

de características físicas, que possam prejudicar

sua interação com a interface. O fato de governos

de o mundo inteiro passar a adotar padrões rígidos

de acessibilidade para seus websites é um exemplo

claro de que esses conceitos têm forte apelo social

de acesso democrático às informações importantes

para a população”, complementa Eduardo Loureiro,

experience designer e coordenador de experiência do

usuário da Mapa Digital (www.mapadigital.net).

Primeira lição: forma e função

No artigo “Princípios de design para a internet (sem

dogmas)” (http://migre.me/4hpY), o designer Marcelo

Gluz cita três princípios da Bauhaus que vêm sendo

aplicados no processo de desenvolvimento das novas

mídias: “a elegância pela economia de formas, o enfoque

funcional e a redução de custos de produção”. Inclusive,

o primeiro deles é muito utilizado para justificar a ideia de

que “a forma deve seguir a função do objeto”.

"Fico muito feliz quando esta frase, que resume o

design como atividade, está presente nas discussões.

Principalmente, quando este conceito também migra

para as mídias digitais. Muitos profissionais desconhecem

este princípio ou, quando o relacionam, não sabem

muito bem de onde surgiu. A Bauhaus está fazendo 90

anos. Há uma história que a justifica. Anteriormente à

Bauhaus, e ainda em seu início, havia um movimento

simbólico-romântico trazendo consigo ideias que ligavam

a arte e a natureza. No entanto, aos poucos, com a

disseminação dos preceitos da Revolução Industrial, a

objetividade e o construtivismo foram tomando espaço.

Foi a continuidade deste processo que estabeleceu este

princípio - cores e formas interagem em um sistema

que se integra funcionalmente. Dessa forma, o design

tornou-se o resultado da aplicação de uma metodologia

de projeto para o desenvolvimento funcional e estético

de objetos visuais ou tridimensionais”, explica José

Ricardo Cereja, coordenador pedagógico da Escola de

Design do Instituto Infnet.

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Sobre os benefícios de sua aplicação no design de

interfaces, algumas características terão que ser avaliadas

pelos profissionais. “Diferentemente de outras mídias,

onde geralmente apenas um sentido é requerido, a mídia

interativa proporciona o uso de vários sentidos ao mesmo

tempo. Aqui as pessoas usam as interfaces, ou seja, elas

promovem ações e recebem resultados. Assim, a função

exerce papel fundamental nesse contexto. A decisão

de se trabalhar um design que privilegia a função ao

tirar o foco ornamental dos elementos gráficos é uma

estratégia muito utilizada para manter o foco das pessoas

na realização das tarefas que elas estão desempenhando

na interface. A aplicação do preceito da simplicidade, um

dos pilares da usabilidade, nas interfaces dos projetos

interativos, com toda certeza é consequência do que a

Bauhaus começou há 90 anos. O principal aprendizado

para as interfaces web é a busca por objetivos claros, ou

seja, foco”, diz Eduardo Loureiro.

“Quando o excesso é eliminado, o principal

sobressalta. Encontrar o que se procura passa a ser

mais fácil, claro e rápido se não estiver escondido

por um emaranhado de efeitos visuais e informações

desnecessárias. Para o designer de interface, trabalhar

a elegância pela economia de formas traz a enorme

vantagem de garantir a comunicação/interação de uma

forma mais simples”, completa Marcia Maia, especialista

em ergonomia e usabilidade pela PUC-RJ.

Porém, como destaca Marcos Nähr, é preciso cuidado

para que este princípio não seja interpretado de forma

errônea. “O maior erro que podemos cometer ao seguirmos

cegamente o ensinamento de que ‘a forma deve seguir a

função’ é imaginar que uma função terá necessariamente

apenas uma forma. Normalmente, quando começo

a desenvolver esse raciocínio com os meus alunos, a

impressão que eles têm é de que esta é quase uma fórmula

mágica que irá transformar a função automaticamente

em uma forma. Henry Petroski, em seu livro ‘Small Things

Considered: why there is no perfect design’, argumenta

que esta ideia mágica pode nos levar a outra máxima, a

de que ‘a forma segue o fracasso’. Ao invés de existir

apenas uma forma certa (predestinada) de se fazer algo,

vamos perceber que o design deve trabalhar como uma

forma de evolução, onde novas ideias construídas muitas

vezes a partir do fracasso de outras ideias ajudam a obter

melhores resultados. Este aspecto pode ser muito bem

utilizado na web, onde a observação do que funciona e

do que não funciona é praticamente imediata e o design

pode ser usado como forma de evoluir para se alcançar

resultados cada vez melhores.”

Na seja simplório!

Um dos conceitos da Bauhaus que mais se

popularizou foi o “menos é mais” (“less is more”), criado

pelo arquiteto alemão Ludwig Mies Van der Rohe.

Para se ter uma ideia de sua disseminação, ele

tornou-se uma espécie de oração na hora de se

apresentar argumentos sobre a simplicidade e a

funcionalidade de um projeto.

Segundo Marcelo Gluz, tal frase está intimamente

ligada às características presentes atualmente no

design de mídias interativas.

“Encaixo o conceito em três pilares, igualmente

importantes. O primeiro é a redução de complexidade

das interfaces. Ela não deve apresentar opções demais

para o usuário. No livro ‘The Paradox of Choice’, o

professor Barry Schwartz discorre sobre como a vontade

de proporcionar mais opções ao usuário pode criar

barreiras de compreensão e consumo. Abrir mão de

recursos de interface secundários é importante para

privilegiar o uso das funcionalidades principais. O

segundo diz respeito ao escopo inicial de um projeto.

A primeira versão do produto deve ter somente o set

mínimo de funcionalidades, deixando espaço para evoluir

na direção apontada pelo uso do produto. Por último,

entra a questão mais subjetiva: o minimalismo estético.

Em minha opinião, deve-se dar menos destaque para

a moldura e mais para o conteúdo. Menos foco nas

decorações supérfluas e mais nos dispositivos funcionais.

“Não devemos repetir o passado, mas

lembrá-lo e a partir dele construir o

nosso presente” (Marcos Nähr)

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solução simplória”, ressalta Gladimir Dutra.

Para fechar este assunto, Renato Costa, co-fundador

e professor do Instituto Faber-Ludens (www.faberludens.

com.br), lembra da discussão sobre a validade no uso

deste conceito na página principal do mais popular

mecanismo de buscas pela web. “O maior erro na

aplicação desse conceito é confundir simplicidade

com simplismo. Uma interface simples apresenta o

mínimo de elementos necessários para compreensão

do complexo de informações que estão por trás dela.

Uma interface simplista ultrapassa esse limite mínimo de

elementos e começa a prejudicar a percepção de todas

as possibilidades oferecidas. Um exemplo de simplismo

na web é a página inicial do Google, que, como foi muito

bem observado no artigo ‘The truth about Google’s

so-called simplicity’ (http://migre.me/4Yhe), de Donald

Norman, não representa a quantidade de serviços

oferecidos pela empresa.”

Estética não exclui Funcionalidade. E vice-versa

Aproveitando a citação anterior de artigo escrito

pelo respeitado professor Donald Norman (http://

migre.me/4YUE), vamos recorrer a um de seus livros

mais famosos, “O design do dia-a-dia”, que trata das

principais questões envolvendo a metodologia de design

centrado no usuário.

Dentre seus pensamentos, ele destaca que “a arte e a

beleza desempenham papéis essenciais em nossas vidas.

Bons designs incluem tudo isso - prazer estético, arte,

criatividade - e ao mesmo tempo são usáveis, de fácil

operação e prazerosos”. Levando-se em consideração

os princípios da Bauhaus, o designer precisará trabalhar

alguns aspectos para atingir harmonia e equilíbrio na

criação de um projeto, ou seja, para produzir interfaces

com estética e funcionalidade adequadas, sem que um

conceito elimine o outro.

“Ser bonito e fácil de usar não são características

excludentes. Existem projetos onde o primeiro é mais

importante e outros onde o segundo importa mais.

Menos discussão sobre a aplicação de grafismos da marca

e mais sobre como transformar os valores dessa marca em

funcionalidades de sucesso.”

Além disso, os especialistas recomendam um

posicionamento crítico para evitar que erros sejam

cometidos em sua aplicação pelos diversos tipos de

projetos digitais. “O conceito se traduz na priorização

da ‘função’ que o projeto tem que entregar. Essa função

pode ser atendida por uma combinação de premissas

básicas e devemos nos perguntar o tempo todo, ao

longo do processo, se elas estão sendo comunicadas

claramente e zelar para que se mantenham assim. Se o

objetivo do website é claro, se o público para o qual ele

é endereçado tem essa percepção e se identifica com o

produto final. Podemos testar isso de inúmeras maneiras

- de uma forma simples e rápida entre os nossos colegas

de trabalho; ou de uma forma mais dispendiosa, científica

e complexa, através de testes de usabilidade. Por outro

lado, devemos tomar cuidado com o jargão do ‘menos

é mais’, que pode ser interpretado de forma errônea,

levando a caminhos não imaginativos e a uma falta de

exploração de inúmeras novas possibilidades. Costumo

brincar dizendo que ‘simples não é simplório’. E nem

sempre ‘menos é mais’. Às vezes, ‘mais é mais’. Basta

olhar uma peça de tapeçaria oriental, por exemplo... Tudo

vai depender das características do projeto em questão”,

diz Eduardo de La Rocque.

“Para chegar numa solução minimalista e simples,

há um processo de análise e testes onde você lapida os

elementos. Pensa no todo, separa em partes, organiza as

partes e volta ao todo. Este processo ocorre em espiral

de iterações. Quanto mais iterações, mais profunda

a análise. Até que você chega à solução sintética,

simples, minimalista. E onde você acaba encontrando os

elementos fundamentais de sua interface. Este conceito

de menos é mais acaba sendo erroneamente confundido

com fazer tudo ‘ligeirinho’ e ‘sem stress’. O que era para

ser simples acaba virando simplório! E há uma grande

diferença entre uma solução simples e elegante e uma

“Por trás de um bom projeto, há um bom

profissional. É este ‘humanware’ que faz

a diferença” (José Cereja)

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36 :: Webdesign36 :: Webdesign

Não dá para pôr o portfólio de um designer e um site

de internet banking na mesma cesta. No entanto, é

fácil perceber que existe um ‘tipo de beleza’ comum

aos produtos bem-sucedidos na web. E é uma beleza

minimalista, de formas cartesianas, fundos claros,

grids bem pensados e teor funcional. Os exemplos

óbvios são Flickr, Amazon, Twitter e Facebook, mas

a lista é bem maior. Talvez a simplicidade seja o valor

mais difícil de atingir, mas quando se atinge surgem

produtos maravilhosos. Esse foi o legado de Miles

Davis para música, é a grande sacada do fenômeno

iPod, permeia as obras mais geniais do Niemeyer

na arquitetura e as carreiras dos maiores craques

de futebol. Tornar um problema complexo em algo

simples”, argumenta Marcelo Gluz.

“De fato, estética e função são aspectos que devem

ser trabalhados juntos e de forma plena nas interfaces.

Pensar que são dois fatores antagônicos ou conflitantes

é um erro grave em projetos interativos. A usabilidade

desempenha um papel muito importante para produtos

interativos, mas o apelo estético também é fundamental

para que as pessoas sejam instigadas a utilizar o produto e

sintam prazer durante o uso. A estética influi diretamente

na emoção das pessoas e esse é um fator que consegue

até mesmo sobrepor a questão da facilidade de uso,

como mostrou o próprio Donald Norman, em seu outro

livro, ‘Design Emocional’. Para trabalhar forma e função

da maneira correta, é preciso traçar corretamente os

objetivos dos projetos. Alguns necessitarão de maior

facilidade de uso para diminuir a carga cognitiva dos

usuários e assim a forma tem que seguir uma linha mais

minimalista, como, por exemplo, um internet banking.

Porém, outros projetos poderão seguir uma corrente

contrária, ao precisarem estimular o raciocínio das pessoas,

e aí o apelo estético tem que ser muito mais forte e

contundente”, complementa Eduardo Loureiro.

Cores na Bauhaus

Johannes Itten (http://migre.me/4YNP) foi um

dos principais pensadores dentro do movimento da

Bauhaus. Uma de suas realizações mais importantes

envolveu a criação do disco de cores (ver box página

38), elemento fundamental no estudo da harmonia e do

contraste cromático. Diante da variedade dos dispositivos

existentes para o manuseio de projetos digitais, de

que maneira esta “ferramenta” deve ser utilizada pelos

profissionais de criação?

“Muitas vezes, o designer já possui a habilidade

nata de criar contrastes cromáticos harmônicos sem a

necessidade de ferramentas ou do conhecimento das

teorias, mas não podemos esquecer que o cliente precisa

ser convencido daquilo que o designer está fazendo e um

singelo ‘porque assim fica melhor’ nem sempre convence

os mais desconfiados. Assim, conhecer as teorias que

existem por trás de nossas escolhas é fundamental. Saber

explicar a necessidade de cores tônicas, dominantes ou

intermediárias, defender a escolha de uma harmonia

assonante para uma interface e argumentar que existe

a necessidade de trabalhar o equilíbrio da matiz de

algum elemento pode ser de grande valia no dia-a-dia do

designer”, explica Marcos Nähr.

“O disco de cores do Johannes Itten continua tendo

fundamental importância no estudo de harmonia e

contraste cromático. No entanto, ao trabalhar com cores

em projetos digitais, é preciso levar em consideração que

a ‘superfície de impressão’ é uma tela. Então, deve-se

estar atento para a emissão de luz e a quantidade de

cores do monitor (laptop, desktop, mobile, palm top etc.).

Além disso, não podemos deixar de analisar questões

fundamentais de acessibilidade, como, por exemplo: se

utilizar sinalização em cores para alguma informação,

é indicado utilizar um texto em conjunto. Atualmente,

No site da Revista Webdesign, seção Downloads,

é possível baixar gratuitamente um PDF

onde você poderá conferir uma lista de livros

específicos que apresentam as histórias e as

particularidades sobre a escola alemã Bauhaus.

Acesse: www.revistawebdesign.com.br

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38 :: Webdesign38 :: Webdesign

temos algumas ferramentas que nos ajudam a verificar

contraste e simular a visualização do site por pessoas

daltônicas: Colour Check (http://migre.me/4YNA), Colour

Blind Simulator (http://migre.me/4YNE) e VischeckURL

(http://migre.me/4YNI)”, relata Marcia Maia.

Tecnologia como suporte ao trabalho criativo

Outro fator importante introduzido pela Bauhaus

foi a valorização da tecnologia com intuito de inserir

um caráter industrial na produção do design e das

artes. Quando falamos do mercado de internet, é

possível apontar uma variada e expansiva oferta dos

aparatos tecnológicos disponíveis para criação e

desenvolvimento de ambientes virtuais.

Neste contexto, dois questionamentos surgem

pelo caminho: como os princípios da Bauhaus podem

contribuir para que os projetos sejam concebidos com as

tecnologias mais adequadas ao seu objetivo final? E como

evitar o uso apenas pelo uso da tecnologia na web?

“Tenho refletido muito ultimamente sobre o que,

de fato, forma um designer. E acabo sempre voltando

a pensar na gênese do design. Para mim, não é a

tecnologia que faz um designer, mas o seu saber projetar

utilizando as tecnologias. A oferta crescente de novos

recursos tecnológicos, as falácias estéticas produzidas

por softwares cada vez mais automatizados não são,

definitivamente, determinantes para a produção de um

bom projeto na área. Por trás de um bom projeto, há um

bom profissional. É este ‘humanware’ que faz a diferença.

E tanto o fará quanto for sua formação em conteúdo

próprio e aprofundado sobre o design. Para ilustrar, vou

usar um exemplo que todos conhecem: a oferta de fontes

nos softwares gráficos. Nos primórdios do surgimento

dos softwares gráficos havia disponíveis apenas cerca de

três famílias de fontes (Helvética, Times e Courier). Hoje,

há centenas de possibilidades. No entanto, em um bom

projeto de design, quantas fontes são utilizadas de fato? E

quantas destas fontes guardam o mesmo estilo ou desenho

das pioneiras? Sem me aprofundar nesta discussão, o que

quero ressaltar é que designers devem ser conhecedores

dos processos para desenvolverem bem seus projetos. A

tecnologia pela tecnologia não resolve nada, não assegura

bons resultados”, alerta José Cereja.

“Para projetos de interfaces de mídias interativas, a

tecnologia é apenas uma ferramenta que deve ajudar a

viabilizar soluções. Muitas vezes, os projetos são iniciados

pelo caminho inverso, ou seja, pensando no recurso

para depois pensar no problema a ser solucionado. Por

exemplo, ao invés de começar as definições de um site

com afirmativas do tipo ‘quero que tenha um App do

Google Maps no meu site’ ou ‘quero que, na página

inicial, tenha um Flash bem grande’, devemos fazer

perguntas como: ‘por quê?’, ‘pra quê?’e ‘faz sentido?’. E

só depois identificar qual é a tecnologia mais adequada

para resolver o problema. Como diz Pierre Lévy, a

tecnologia não é boa nem má. O importante é o uso que

fazemos dela”, orienta Marcia Maia.

Para consolidar os assuntos abordados nesta

edição, vamos conferir exemplos práticos da

aplicação dos conceitos da Bauhaus em projetos

web, selecionados especialmente pelos profissionais

consultados nesta reportagem.

Fonte: Curso web para designers

Desenhado por Johannes Itten, em 1928. No centro

do círculo estão as cores primárias, que são magenta,

amarelo e azul cyan. Essas cores são usadas na criação de

todas as outras. Combinando as primárias, duas a duas,

em proporções similares, surgem três cores secundárias:

vermelho, verde e violeta. As seis cores terciárias são

formadas através da mistura de uma primária com uma

secundária adjacente. Exemplos: magenta com vermelho,

magenta com violeta, amarelo com verde, amarelo com

vermelho, azul cyan com verde, azul cyan com violeta etc.

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40 :: Webdesign40 :: Webdesign

AREA 17www.area17.com

“Com relação à influência estética, o

site desta agência interativa é um bom

exemplo pela aplicação da tipografia

e pela ausência de ornamentos ao

optar pelo minimalismo no design dos

elementos e formas.” (Eduardo Loureiro)

Bauhaus Dessau Fundationwww.bauhaus-dessau.de

“O próprio site da Bauhaus é um

exemplo da aplicação dos conceitos à

representação visual da própria escola. A

distribuição dos menus, a navegação, as

animações concisas, a forma cartesiana

de dispor informação objetivamente.”

(José Cereja)

Edenspiekermannwww.edenspiekermann.com/en/

“O site consegue ser elegante e

simples. Ao mesmo tempo sua beleza

não interfere nos trabalhos que são

mostrados nele, favorecendo seu

conteúdo e funcionando como apoio.”

(Eduardo de La Rocque)

Conceitos da Bauhaus

aplicados pela web

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Edigma.comwww.edigma.com

“É uma empresa de gestão de projetos

digitais. Seu site tem uma excelente

organização da informação. Os

agrupamentos dos assuntos por interesse

e as formas gráficas que os contém são um

ótimo exemplo da harmonia entre forma e

função.” (José Cereja)

Google Analyticswww.google.com/analytics/

“Traduz dados estatísticos de forma leve e

interessante. É fácil perdermos um bom tempo

nele, onde informações matemáticas são facilmente

‘digeríveis’ através de uma interface simples. Sua

beleza vem simplesmente da interpretação de

dados.” (Eduardo de La Rocque)

Panasonic Design Museumwww.panasonic.eu/designmuseum

“Ótima combinação de uso de Flash, com

navegação funcional e tempo de carregamento

adequado aliados a uma estética simples e linda!”

(Gladimir Dutra)

UX Magazinewww.uxmag.com

“Um dos aspectos que mais chama a atenção

na interface é o modo como uma quantidade

grande de informação pode ser disponibilizada

sem agredir o usuário. Isto foi feito por meio

de elementos que procuraram ‘simplificar a

complexidade’.” (Marcos Nähr)

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