Mensagem de fernando pessoa

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Mensagem de Fernando Pessoa Analise do poema: Mar Português Carlos Évora Xué Disc. Português CP|Fotografia

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Mensagem de Fernando PessoaAnalise do poema: Mar Português

Carlos Évora Xué

Disc. Português

CP|Fotografia

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Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.

Quem quer passar além do BojadorTem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

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Analise do poema

Titulo: No título, constituído por duas palavras, há a destacar o adjetivo «português»,

que remete para a conquista e o domínio dos mares pelos Portugueses, que os ligaram

e fizeram com que existisse apenas o «mar» conhecido. Essa união foi o resultado do

sofrimento e da coragem dos lusitanos; daí o mar ser «português». Por outro lado,

apesar de os Portugueses já não cruzarem o mar no presente, o título deixa entender

que ele será sempre lusitano.

Tema: O mar, glória e desgraça do povo português.

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Estrutura interna

1.ª parte (1.ª estrofe) – Interpelação do sujeito poético ao mar, a que, relembra o preço (os sacrifícios) pago pelos Portugueses para conquistarem o mar.

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Os sacrifícios necessários para que os Portugueses conquistassem o mar traduzem-se

na morte de muitos dos que partiram e no sofrimento dos que ficaram em terra, daí que o poeta dê realce, através do uso de uma linguagem emotiva (marcada pelas exclamações e pelo uso da 2.ª pessoa, que estabelece uma relação afetiva com o mar) e do campo lexical de sofrimento («lágrimas», «choraram», «rezaram»), ao amor familiar: o amor maternal («quantas mães choraram»), o amor filial (as orações dos filhos) e o amor das noivas que ficaram por casar (notar a construção em anáfora dos versos 3, 4 e 5 e o uso de quantificadores - «quantas mães», «Quantos filhos», «Quantas noivas» -, que aumentam o dramatismo das situações evocadas. Deste modo, realça-se o facto de o sacrifício afetar as famílias já constituídas e as que o seriam, mas não o serão mais, em razão da morte dos «noivos». Outra ideia que ressalta da 1.ª estrofe é a de que o mar é português, tão alto foi o custo que a sua conquista implicou.

O sofrimento pertence ao passado, daí as formas verbais no pretérito perfeito do indicativo, mas também o infinitivo pessoal «cruzarmos» (v. 3), exprimindo determinação continuada, persistência. Porém, o facto de isso se ter verificado no passado e de os Portugueses já não cruzarem o mar não significa que ele tenha deixado de ser português.

Em síntese, as consequências da saga das descobertas são a dor, o sofrimento(consequências emocionais), o desamparo das famílias (consequências sociais e económicas), o despovoamento do reino (consequências políticas).

1.ª parte (1.ª estrofe)

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2.ª parte (2.ª estrofe)

2.ª parte (2.ª estrofe) - Balanço / justificação dos sacrifícios: os grandes feitos (a conquista e o domínio do mar) pressupõem sofrimento, mas todo o esforço e dor arrastam consigo alguma compensação, daí que o esforço e o sacrifício dos Portugueses não tenham sido em vão.Esta segunda estrofe assenta na apresentação da resposta, através de três frases declarativas, à interrogação inicial que introduz a reflexão:

«Valeu a pena?», isto é, valeu a pena, justificou-se tanto sacrifício?

«Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena»: todos os sacrifícios são justificáveis se o objetivo que estiver na sua base for nobre e se se agir com ousadia, coragem, determinação e abnegação; tudo vale a pena para atingir o ideal sonhado, a heroicidade.

«Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor»: quem quer alcançar o objetivo desejado tem de superar os obstáculos que se lhe depararem e a própria dor. É necessário superar os limites da frágil condição humana.

«Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu»: quem superar, sofrendo, os perigos do mar, alcançará a glória suprema, que é o mesmo que dizer que tudo o que é verdadeiramente custoso tem o seu preço e a sua compensação. O «mar» é símbolo de sofrimento e morte («perigo» e «abismo»), mas também símbolo de realização do sonho, de glória e imortalidade, já que foi nele que deus fez «espelhar» o céu. Quem conquistar o mar ascenderá ao plano divino. Se, na 1.ª estrofe, se lamentou o preço pago pela conquista do mar, na segunda, anuncia-se o prémio.

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Nestas três frases, estão compreendidos os elementos atitéticos fundamentai para a

compreensão do poema: o negativo (pena, dor, perigo) e o positivo (céu). Quer isto

dizer que a dor é sempre o preço da glória.

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Linguagem e recursos poético-estilísticos

Nível fónico

. Estrofes: duas sextilhas, o que se adapta á contraposição dos aspetos desagradáveis (1.ª estrofe) e agradáveis (2.ª estrofe).

. Métrica: alternância de versos decassílabos e octossílabos, com alguma irregularidade.

. Rimas:

- esquema rimático: aabbcc;

- emparelhada;

- agudas e graves;

- pobres e ricas;

- as palavras rimantes são, na maior parte, palavras-chave do poema: sal, Portugal, choraram, rezaram, Bojador, dor, céu.

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