Mensagens Múltiplas na Linguagem Visual
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Mensagens Múltiplas na Linguagem Visual
Prof. Cristiano Leal
No vídeo, assim como no cinema e na televisão, temos uma mensagem visual e uma mensagem sonora, constituindo as duas dimensões espaciais, registradas
numa fita magnética ou em suporte digital, o que constitui a dimensão temporal.
O indivíduo comunica-se com o mundo circundante orientando sua atenção para
um dos seus aspectos - visual, auditivo, etc.
Por um esforço voluntário, procuramos suprimir certas excitações, em proveito das outras sobre as quais concentramos nossa receptividade, e parece que ai reside uma
das condições da situação estética: se escutamos (e não apenas ouvimos
passivamente) a música que nos fornece o rádio, não temos atenção disponível para a
página impressa, e assim por diante.
A comunicação audiovisual propicia uma mensagem múltipla, onde vários canais, ou vários modos de utilização destes na comunicação, são empregados simultaneamente numa síntese estética ou perceptível, em que não há interferência, mas concordância das significações lógicas transportadas de comum acordo pelos diferentes modos.
O problema essencial formulado pela mensagem múltipla é o da atenção de quem assiste.
Não existe uma atenção auditiva e uma atenção visual, mas sim uma atenção global do indivíduo às mensagens sensoriais do mundo exterior.
Esta atenção pode ora difundir-se no conjunto dessas mensagens, ora orientar-se somente para uma dentre elas, em detrimento das demais.
Assim, somos levados a um jogo de equilibro entre as informações contidas nas diferentes mensagens.
Todos os meios de comunicação de mensagem múltipla colocam, pois, a
inteligibilidade no primeiro plano, do teatro grego ao vídeo, visando significar: não se pode fazer um teatro que nada signifique, não se pode fazer um vídeo ininteligível.
Um texto escrito para um vídeo não vai perseguir as mesmas qualidades necessárias para uma obra literária. Não desenvolverá conceitos abstratos, sentimentos complicados, ou toda uma riqueza de evocação poética ilimitada.
As idéias expressas serão simples e utilizarão vocabulário corrente, numa sintaxe lógica.
A mensagem múltipla é uma mensagem instável, logrando, no curso de sua evolução histórica, uma dissolução de suas partes constitutivas que, em lugar de se fundirem de maneira cada vez mais homogênea, tendem a se separar em mensagens simples alternadas.
Portanto, o vídeo, que trabalha com mensagens múltiplas, tende a ser um instrumento particularmente viável para os processos de comunicação, na medida em que atinge seu ápice de inteligibilidade quando trabalha com idéias simples e lógicas, utilizadas de forma alternada.
Talvez por se tratar de uma linguagem nova, ou por deficiência de reflexão, quando pensamos na expressão audiovisual, consideramos a soma de dois discursos, de duas mensagens: uma visual e outra auditiva.
Na realidade, esses dois elementos, visual e sonoro, não se somam, mas se integram.
Os elementos da pista de vídeo são apenas imagens, processadas como cenas e seqüências e editadas de diferentes formas, mas sempre imagens.
Os Elementos da pista sonora:
1. Locução/narração, ou discurso verbal de uma única fonte de emissão.
2. Diálogo, ou discurso verbal de duas fontes de emissão relacionadas.
3. Conversação, ou discursos verbais entrelaçados e várias fontes.
4. Música. Erudita ou popular, de caráter significativo e/ou ilustrativo.
5. Som ambiente, de caráter natural ou produzido pela atividade do homem.
6. Silêncio. Permite concentrar a atenção na imagem.
As relações de volume sonoro relativo para cada um desses elementos são as seguintes:
Locução100% ou máximo
Diálogo (quando significativo) 100%
Diálogo ilustrativo 40% a 60%
Música (na abertura, no final, ou quando significativa)
100%
Música ilustrativa 40%
Som ambiente: nível significativo. 80%
Som ambiente: nível ilustrativo. 40%
Composição de uma pista de áudio
Locução Diálogo Conversação MúsicaSom
ambiente
Locução Não Sim (20%) NãoSim, abaixo
de 20%
Diálogo Não Não NãoSim, abaixo
de 20%
ConversaçãoSim, 20%
Não Sim Sim
Música Não Não Sim Sim
Som ambienteSim, 20%
Sim, 20%
Sim Sim
O processo produtivo audiovisual possui uma fase que passa necessariamente pelo tratamento escrito: o argumento.
Portanto, vale a pena analisar as diferenças mais notáveis entre a palavra do argumento e a palavra do roteiro.
A análise dessas diferenças torna mais simples a tradução de um tratamento para o outro.
Palavra do argumento Palavra do roteiro
Concreta
Primeiro nível de abstração, adicional a imagem, opera como elemento conectivo ou de reflexão.
Extensa Sintética
Estruturada como discursoEstruturada como elemento audiovisual
Formando um discurso linear
Formando um discurso linear, mas com referencial no discurso icônico, portanto permitindo elipses.
Palavra do argumento Palavra do roteiro
Explicativa Conectiva
Descritiva
Narrativa
Conectiva
Por exemplo: Para ajustar os dois valores numa câmera fotográfica, processa-se da seguinte forma:
“Os dois valores ajustam-se assim:”
Apertamos o botão (A), que põe em movimento o fotômetro.
“Acionamos o fotômetro.”
Observamos no visor a posição da agulha indicadora. Se ela se encontra próxima ou sobre o signo, movimenta mos o diafragma, fechando-o, ou o regulador de velocidade, aumentando a velocidade de obturação.
“Ou fechamos o diafragma ou reduzimos a exposição.”
A música, no cinema, teve como primeira idéia apoiar uma obra-prima, ou seja, uma tentativa de utilizar para uma mensagem visual supostamente válida, obras consagradas da música erudita, sinfonias, por exemplo.
Logo ficou evidente que, nesse momento, a mensagem sonora se impunha abusivamente ao ouvinte, em detrimento da mensagem visual, e interferia nela de maneira arbitrária.
Posteriormente, o cinema passou a utilizar um tipo de música mais incolor, que se mostrou bem mais eficiente.
Aprendemos sobre coisas que não podemos experimentar diretamente graças aos meios audiovisuais, graças às demonstrações, aos exemplos em forma de modelo.
Ainda que uma descrição verbal possa ser uma explicação bastante efetiva, o caráter dos meios audiovisuais diferencia-se muito da linguagem oral, particularmente pela sua natureza direta.
Não é necessário utilizar nenhum sistema codificado para facilitar a compreensão esperar nenhuma decodificação.
Muitas vezes basta ver e ouvir um processo para compreender seu funcionamento.
Ver e ouvir uma ação proporciona, freqüentemente, um conhecimento suficiente para avaliá-la e compreendê-la.
Confiamos em nossos olhos e ouvidos, e dependemos deles: linguagem audiovisual.